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ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAIS BASE: LIVRO "NO MUNDO MAIOR" André Luiz, Francisco Cândido Xavier, FEB REALIZAÇÃO : Instituto André Luiz http://www.institutoandreluiz.org/ DIVULGAÇÃO ESPÍRITA VIRTUAL Estudo meramente comparativo entre doenças mentais citadas na obra espírita e textos explicativos de profissionais da saúde. Os textos foram retirados da Internet, de sites específicos e estão acompanhados, neste estudo, dos devidos créditos. Desejando uma consulta mais abrangente sobre os temas, favor acessar os sites pelos seus respectivos links, ao final de cada texto. Caso o link esteja quebrado ou já não exista mais, veja pelo GOOGLE novos endereços para o assunto de seu interesse. Este estudo não deve substituir orientação e acompanhamento médico, sempre que necessários. Parte I Prefácio de EMMANUEL Cap. 1 – “Entre Dois Planos” A PRECE DE EUSÉBIO Na jornada evolutiva Dos quatro cantos da Terra diariamente partem viajores humanos, aos milhares, demandando o país da Morte. Vão-se de ilustres centros da cultura européia, de tumultuárias cidades americanas, de velhos círculos asiáticos, de ásperos climas africanos. Procedem das metrópoles, das vilas, dos campos ... Raros viveram nos montes da sublimação, vinculados aos deveres nobilitantes. A maioria constitui-se de menores de espírito, em luta pela outorga de títulos que lhes exaltem a personalidade. Não chegaram a ser homens completos. Atravessaram o “mare magnum” da humanidade em contínua experimentação. Muita vez, acomodaram-se com os vícios de toda a sorte, demorando voluntariamente nos trilhos da insensatez. Apesar disso, porém, quase sempre se atribuíam a indébita condição de “eleitos da Providência”; e, cristalizados em tal suposição, aplicavam a justiça ao próximo, sem se com penetrarem das próprias faltas, esperando um paraíso de graças para si e um inferno de intérmino tormento para os outros. Quando perdidos nos intrincados meandros do materialismo cego, fiavam, sem justificativa, que no

ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAIS

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ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAISBASE: LIVRO "NO MUNDO MAIOR"

André Luiz, Francisco Cândido Xavier, FEB

REALIZAÇÃO :Instituto André Luiz

http://www.institutoandreluiz.org/DIVULGAÇÃO ESPÍRITA VIRTUAL

Estudo meramente comparativo entre doenças mentais citadas na obra espírita e textos explicativos de profissionais da saúde. Os textos foram retirados da Internet, de sites específicos e estão acompanhados, neste estudo, dos devidos créditos. Desejando uma consulta mais abrangente

sobre os temas, favor acessar os sites pelos seus respectivos links, ao final de cada texto. Caso o link esteja quebrado ou já não exista mais, veja pelo

GOOGLE novos endereços para o assunto de seu interesse.Este estudo não deve substituir orientação e acompanhamento médico,

sempre que necessários.

Parte IPrefácio de EMMANUEL

Cap. 1 – “Entre Dois Planos”A PRECE DE EUSÉBIO

Na jornada evolutiva

Dos quatro cantos da Terra diariamente partem viajores humanos, aos milhares, demandando o país da Morte. Vão-se de ilustres centros da cultura européia, de tumultuárias cidades americanas, de velhos círculos asiáticos, de ásperos climas africanos. Procedem das metrópoles, das vilas, dos campos ... Raros viveram nos montes da sublimação, vinculados aos deveres nobilitantes. A maioria constitui-se de menores de espírito, em luta pela ou-torga de títulos que lhes exaltem a personalidade. Não chegaram a ser homens completos. Atravessaram o “mare magnum” da humanidade em contínua experimentação. Muita vez, acomodaram-se com os vícios de toda a sorte, demorando voluntariamente nos trilhos da insensatez. Apesar disso, porém, quase sempre se atribuíam a indébita condição de “eleitos da Providência”; e, cristalizados em tal suposição, aplicavam a justiça ao próximo, sem se com penetrarem das próprias faltas, esperando um paraíso de graças para si e um inferno de intérmino tormento para os outros. Quando perdidos nos intrincados meandros do materialismo cego, fiavam, sem justificativa, que no túmulo se lhes encerraria a memória; e, se filiados a escolas religiosas, raros excetuados, contavam, levianos e incon-seqüentes, com privilégios que jamais nada fizeram por merecer. Onde albergar a estranha e infinita caravana? como designar a mesma estação de destino a viajantes de cultura, posição e bagagem tão diversas?

Perante a Suprema Justiça, o malgache e o inglês fruem dos mesmos direitos. Provavelmente, porém, estarão distanciados entre si, pela conduta Individual, diante da Lei Divina, que distingue, invariavelmente, a virtude e o crime, o trabalho e a ociosidade, a verdade e a simulação, a boa vontade e a indiferença. Da contínua peregrinação do sepulcro, participam, todavia, santos e malfeitores, homens diligentes e homens preguiçosos.

Como avaliar por bitola única recipientes heterogêneos? Considerando, porém, nossa origem comum, não somos todos filhos do mesmo Pai? E por que motivo fulminar com inapelável condenação os delinqüentes, se o dicionário divino inscreve a letras de logo as palavras “regeneração”, “amor” e “misericórdia”? Determinaria o Senhor o cultivo compulsório da esperança entre as criaturas, ao passo que Ele mesmo, de Sua parte, desesperaria? Glorificaria a boa vontade, entre os homens, e conservar-se-ia no cárcere escuro da negação? O selvagem que haja eliminado os semelhantes, a flechadas, teria recebido no mundo as mesmas oportunidades de aprender que felicitam o europeu supercivilizado, que extermina o próximo à metralhadora? estariam ambos preparados ao ingresso definitivo no paraíso de bem-aventurança infindável tão sÔmente pelo batismo simbólico ou graças a tardio arrependimento no leito de morte?A lógica e o bom-senso nem sempre se compadecem com argumentos teológicos imutáveis. A vida nunca interrompe atividades naturais, por im-posição de dogmas estatuídos de artifício. E, se mera obra de arte humana, cujo termo é a bolorenta placidez dos museus, exige a paciência de anos para ser empreendida e realizada, que dizer da obra sublime do aperfeiçoamento da alma, destinada a glórias imarcescíveis?

Vários companheiros de ideal estranham a cooperação de André Luiz, que nos tece informações sobre alguns setores das esferas mais próximas ao comum dos mortais.

Iludidos na teoria do menor esforço, inexistente nos círculos elevados, contavam com preeminência pessoal, sem nenhum testemunho de serviço e distantes do trabalho digno, em um céu de gozos contemplativos, exuberante de conforto melifico. Prefeririam a despreocupação das galerias, em beatitude permanente, onde a grandeza divina se limitaria a prodigioso. espetáculos, cujos números mais surpreendentes estariam a cargo dos Espíritos Superiores, convertidos em jograis de vestidura brilhante.

A missão de André Luiz é, porém, a de revelar os tesouros de que somos herdeiros felizes na Eternidade, riquezas imperecíveis; em cuja posse jamais entraremos sem a Indispensável aquisição de Sabedoria e de Amor.

Para isto, não lidamos em milagrosos laboratórios de felicidade improvisada, onde se adquiram dotes de vil preço e ordinárias asas de cera. Somos filhos de Deus, em crescimento. Sela nos campos de forças condensadas, quais os da luta física, seja nas esferas de energias sutis, quais as do plano superior, os ascendentes que nos presidem os destinos são de ordem evolutiva, pura e simples, com indefectível justiça a seguirmos de perto, à claridade gloriosa e com passiva do Divino Amor.

A morte a ninguém propIciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca promoverá compulsoriamente homens a anjos. Cada criatura trans-porá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos imutáveis da Lei, em toda parte.

Ninguém, depois do sepulcro, gozará de um descanso a que não tenha feito jus, porque “o Reino do Senhor não vem com aparências externas”.

Os companheiros que compreendem, na experiência humana, a escada sublime, cujos degraus há que vencer a preço de suor, com o proveito das bênçãos celestiais, dentro da prática Incessante do bem, não se surpreenderão com as narrativas do mensageiro interessado no servir por amor. Sabem eles que não teriam recebido o dom da vida para matar o tempo, nem a dádiva da’ fé para confundir os semelhantes, absorvidos, que se acham, na execução dos Divinos Desígnios. Todavia, aos crentes do

favoritismo, presos à teia de velhas ilusões, ainda quando se apresentem com os mais respeitáveis títulos, as afirmativas do emissário fraternal provocarão descontentamento e perplexidade.

É natural, porém: cada lavrador respira o ar do campo que escolheu.Para todos, contudo, exoramos a bênção do Eterno: tanto para eles,

quanto para nós.

EMMANUELPedro Leopoldo, 25 de março de 1947.

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1Entre dois planos

Esplendia o luar, revestindo os ângulos da paisagem de intensa luz. Maravilhosos cúmulos a Oeste, espraiados no horizonte, semelhavam-se a castelos de espuma láctea, perdidos no imenso azul; confinando com a amplidão, o quadro terrestre contrastava com o doce encantamento do alto, deixando entrever a vasta planície, recamada de arvoredo em pesado verde-escuro. Ao Sul, caprichosos cirros reclinavam-se do Céu sobre a Terra, simbolizando adornos de gaze esvoaçante; evoquei, nesse momento, a juventude da Humanidade encarnada, perguntando a mim mesmo se aquelas bandas alvas do firmamento não seriam faixas celestiais. a protegerem o repouso do educandário terrestre.

A solidão imponente do plenilúnio infundia-me quase terror pela melancolia de sua majestosa e indizível beleza.

A idéia de Deus envolvia-me o pensamento, arrancando-me notas de respeito e gratidão, que eu, entretanto, não chegava a emitir. Em plena casa da noite, rendia culto de amor ao Eterno, que lhe criara os fundamentos sublimes de silêncio e de paz, em refrigério das almas encarnadas na Crosta da Terra.

O luminoso disco lunar irradiava, destarte, maravilhosas sugestões. Aos seus reflexos, iniciara-se a evolução terrena, e numerosas civilizações ha-viam modificado o curso das experiências humanaS. Aquela mesma lâmpada suspensa clareara o caminho dos seres primitivos, conduzira os passos dos conquistadores, norteara a jornada dos santos. Testemunha impassível, observara a fundação de cidades suntuosas, acompanhando-lhes a prosperidade e a decadência; contemplara as incessantes renovações da geografia política do mundo; brilhara sobre a testa coroada dos príncipes e sobre o cajado de misérrimos pastores; presenciava, todos os dias, há longos milênios, o nascimento e a morte de milhões de seres. Sua augusta serenidade refletia a paz divina, Cá em baixo, desencarnados e encarnados, possuidores de relativa inteligência, podíamos proceder a experimentos, reparar estradas, contrair compromissos ou edificar virtudes, entre a esperança e a inquietação, aprendendo e recapitulando sempre; mas a Lua, solitária e alvinitente, trazia-nos a idéia da tranquilidade inexpugnável da Divina Lei.

— A região do encontro está próxima.A palavra do Assistente Calderaro interrompeu-me a meditação.O aviso fazia-me sentir o trabalho, a responsabilidade; lembrava,

sobretudo, que não me encontrava só.Não viajávamos, ambos, sem objetivo.Em breves minutos, partilharíamos os trabalhos do Instrutor Eusébio,

abnegado paladino do amor cristão, em serviço de auxílio a companheiros necessitados.

Eusébio dedicara-se, de há muito, ao ministério do socorro espiritual, com vastíssimos créditos em nosso plano. Renunciara a posições de realce e adiara sublimes realizações, consagrando-se inteiramente aos famintos de luz. Superintendia prestigiosa organização de assistência em zona inter-mediária, atendendo a estudantes relativamente espiritualizados, pois ainda jungidos ao círculo carnal, e a discípulos recém-libertos do campo físico.

A enorme instituição, a que dedicava direção fulgurante, regurgitava de almas situadas entre as esferas inferiores e as superiores, gente com imen-sidão de problemas e de indagações de toda a espécie, a requerer-lhe paciência e sabedoria; entretanto, o indefesso missionário, mau grado ao constante acúmulo de serviços complexos, encontrava tempo para descer semanalmente à Crosta Planetária, satisfazendo interesses imediatos de aprendizes que se candidatavam ao discipulado, sem recursos de elevação para vir ao encontro de seu verbo iluminado, na sede superior.

Não o conhecia pessoalmente. Calderaro, porém, recebia-lhe a orientação, de conformidade com o quadro hierárquico, e a ele se referira com o entusiasmo do subordinado que se liga ao chefe, guardando o amor acima da obediência.

O Assistente, a seu turno, prestava serviço ativo na própria Crosta da Terra, a atender, de modo direto, aos irmãos encarnados. Especializara-se na ciência do socorro espiritual, naquela que, entre os estudiosos do mundo, poderíamos chamar «psiquiatria iluminada», setor de realizações que há muito tempo me seduzia.

Dispondo de uma semana sem obrigações definidas, dentre os encargos que me diziam respeito, solicitei ingresso na turma de adestramento, da qual se fizera Calderaro eminente orientador, tendo-me ele aceito com a gentileza característica dos legítimos missionários do bem e propondo-se conduzir-me carinhosamente. Encontrava-se em opor-tunidade favorável aos meus propósitos de aprender, pois a equipe de preparação, que lhe recebia ensinamentos, excursionava em outra região, a labutar em atividades edificantes; à vista disso, poderia dispensar-me toda a atenção, auxiliando-me os desejos.

Os casos que lhe eram atinentes, explicou-me solícito, não apresentavam continuidade substancial: desdobravam-se; constituíam obra de improviso, obedeciam ao inopinado das ordens de serviço ou das situações. Noutros campos de ação, fazia-se imprescindível o roteiro, previstas as condições e as circunstâncias. No quadro de responsabilidades, porém, que lhe estavam afetas, diferiam as normas; importava acompanhar os problemas, quais imprevistas manifestações da própria vida. Em virtude de tais flutuações, não traçava, a rigor, programas quanto a particularidades. Executava os deveres que lhe competiam, onde, como e quando determinassem os desígnios superiores. O escopo fundamental da tarefa circunscrevia-se ao socorro imediato aos infelizes, evitando-se, quanto possível, a loucura, o suicidio e os extremos desastres morais. Para isto, o missionário atuante era compelido a conhecer profundamente o jogo das forças psíquicas, com acendrado devotamento ao bem do próximo. Calderaro, neste particular, não deixava perceber qualquer dúvida. A bondade espontânea lhe era indício da virtude, e a inquebrantável sereni-dade revelava-lhe a sabedoria.

Não lhe gozava o convívio desde muitos dias. Abraçara-o na véspera pela primeira vez; bastou, no entanto, um minuto de sintonia, para que se estabelecesse entre nós sadia intimidade. Embora lhe reconhecesse a

sobriedade verbal, desde o momento do nosso encontro permutávamos impressões como velhos amigos.

Seguindo-lhe, pois, os passos, afetuosamente, de alma edificada na fraternidade e na confiança, vi-me a reduzida distância de extenso parque, em plena natureza terrestre.

Em torno, árvores robustas, de copas farfalhantes, alinhavam-se, à maneira de sentinelas adrede postadas para velar-nos pelos serviços.

O vento passava cantando, em surdina; no recinto iluminado de claridades inacessíveis à faculdade receptiva do olhar humano, aglomeravam-se algumas centenas de companheiros, temporàriamente afastados do corpo físico pela força liberativa do sono.

Amigos de nossa esfera atendiam-nos com desvelo, mostrando interesse afetivo, prazer de servir e santa paciencia. Reparei que muitos se mantinham de pé; outros, contudo, se acomodavam nas protuberâncias do solo alcatifado de relva macia, em palestra grave e respeitosa.

Ambientando-me para aquela hora de extrema beleza espiritual, Calderaro avisou-me:

— Na reunião de hoje o Instrutor Eusébio receberá estudantes do espiritualismo, em suas correntes diversas, que se candidatam aos serviços de vanguarda.

— Oh! — exclamei, curioso — Não se trata, pois, de assembleia, que agrupe indivíduos filiados indiscriminadamente às escolas da fé?

O Assistente esclareceu, de pronto:— A medida não seria aconselhável no círculo de nossa especialidade. O

Instrutor afeiçoou-se ao apostolado de assistência a criaturas encarnadas e a recém-libertas da zona física, em particular, precisando aproveitar o tempo com as horas de preleção, para o máximo de aproveitamento. A heterogeneidade de princípios em centenas de individuos, cada qual com sua opinião, obrigaria a digressões difusas, acarretando condenáveis desperdícios de oportunidades.

Fixou a multidão demoradamente, e acrescentou:— Temos aqui, em cálculo aproximado, mil e duzentas pessoas. Deste

número oitenta per cento se constituem de aprendizes dos templos espiritualistas, em seus ramos diversos, ainda inaptos aos grandes vôos do conhecimento, conquanto nutram fervorosas aspirações de colaboração no Plano Divino. São companheiros de elevado potencial de virtudes. Exemplificam a boa vontade, exercitam-se na iluminação interior através de esforço louvável; contudo, ainda não criaram o cerne da confiança para uso próprio. Tremem ante as tempestades naturais do caminho e hesitam no círculo das provas necessárias ao enriquecimento da alma, exigindo de nós particular cuidado, pois que, pelos seus testemunhos de diligência na obra espiritualizante, são os futuros instrumentos para os serviços da frente. Apesar da claridade que lhes assinala as diretrizes, ainda padecem desarmonias e angústias, que lhes ameaçam o equilíbrio incipiente. Não lhes falece, porém, a assistência precisa. Instituições de restauração de forças abrem-lhes as portas acolhedoras em nossas esferas de ação. A libertação pelo sono é o recurso imediato de nossas manifestações de amparo fraterno. A princípio, recebem-nos a influência inconscientemente; em seguida, porém, fortalecem a mente. devagarinho, gravando-nos o con-curso na memória, apresentando idéias, alvitres, sugestões, pareceres e inspirações beneficentes e salvadoras, através de recordações imprecisas.

Fez breve pausa e concluiu:— Os demais são colaboradores de nosso plano em tarefa de auxílio.A organização dos trabalhos era digna de sincera admiração. Estávamos

num campo substancialmente terrestre. A atmosfera, impregnada de aromas que o vento espargia em torno, recordava-me o lar na Terra, contornado de seu jardim, em noite cálida.

Que teria eu realizado no mundo físico se recebesse, em outro tempo, aquela bendita oportunidade de iluminação? Aquele punhado de mortais, sob os raios da Lua, afigurou-se-me assembleia de privilegiados, favorecidos por celestes numnes. Milhões de homens e mulheres a dormir em cidades Próximas, algemados aos interesses imediatoS e ansiando a permuta das mais vis sensações, nem de longe suspeitariam a existência daquela original aglomeração de candidatos à luz intima, convocados à preparação intensiva para incursões mais longas e eficientes na espiritualidade superior. Teriam a noção do sublime ensejo que lhes aprazia? aproveitariam a dádiva com suficiente compreensão dos valores eternos? marchariam desassombrados para a frente, OU estacionariam ao contacto dos primeiros óbices, no esforço iluminativo?

Calderaro percebeu-me as silenciosas perquirições e acrescentou:— Nossa comunidade de trabalho se dedica, essencialmente, à

manifestação do equilíbrio. Não ignoras que a. codificação do plano mental das criaturas ninguém jamais a impõe: é fruto de tempo, de esforço, de evolução; e o edifício da sociedade humana, em o atual momento do mundo, vem sendo abalado nos próprios alicerces, compelindo imenso número de pessoas a imprevistas renovações. Certo, não te surpreenderás se eu disser que, em face do surto da inteligência moderna, que embate na paralisia do sentimento, periclita a razão. O progreSsO material atordoa a alma do homem desatento. Grandes massas, há séculos, permanecem distanciadas da luz espiritual. A civiliZaçãO puramente científica é um Saturno devorador, e a humanidade de agora se defronta com implacáveis exigências de acelerado crescer mental. Daí o agravo de nossas obrigações no setor da assistência. As necessidades de preparação do espírito in-tensificam-se em ritmo assustador.

Nesse instante, alcançamos a multidão pacífica.Meu interlocutor sorriu, frisando:— O acaso não opera prodígios. Qualquer realização há que planejar,

atacar, por a termo. Para que o homem físico se converta em homem espi ritual, o milagre exige muita colaboração de nossa parte.

Lançou-me olhar significativo e concluiu:— As asas sublimes da alma eterna não se expandem nos acanhados

escaninhos de uma chocadeira. Há que trabalhar, brunir, sofrer.Nesse momento, aproximou-se alguém dirigindo-nos a palavra: era um

solícito companheiro, informando-nos que Eusébio penetrara o recinto. Efetivamente, em saliência próxima, comparecia o missionário, ladeado por seis assessores, todos envoltos em halos de intensa luz.

O abnegado orientador não exibia os traços de venerável senectude com que em geral imaginamos os apóstolos das revelações divinas; mos-trava-se-nos com a figura dos homens robustos, em plena madureza espiritual; os olhos escuros e tranquilos pareciam fontes de imenso poder magnético. Contemplava-nos sorridente, qual simples colega.

A presença dele impusera, porém, respeitoso silencio. Cessaram todas as conversações que aqui e ali se entretinham, e ante os fios de luz que os trabalhadores de nosso plano teciam em derredor, isolando-nos de qualquer assédio eventual das forças inferiores, apenas o vento calmo erguia a voz, sussurrando algo de belo e misterioso à folhagem.

Sentamo-nos todos, à escuta, enquanto o Instrutor se mantinha de pé; observando-o, quase frente a frente, eu podia agora apreciar-lhe a figura

majestosa, respirando segurança e beleza. Do rosto imperturbável, a bondade e a compreensão, a tolerância e a doçura irradiavam simpatia inexcedível. A túnica ampla, de tom verde-claro, emitia esmeraldinas cintilações. Aquela vigorosa personalidade infundia veneração e carinho, confiança e paz.

Consolidada a quietude no ambiente, elevou a destra para o Alto e orou com inflexão comovedora:

Senhor da Vida,Abençoa-nos o propósito

De penetrar o caminho da Luz!...

Somos Teus filhos,Ainda escravos de círculos restritos,

Mas a sede do InfinitoDilacera-nos os véus do ser.

Herdeiros da imortalidade,Buscamos-Te as fontes eternas

Esperando, confiantes, em Tua misericórdia.

De nós mesmos, Senhor, nada podemos.Sem Ti, somos frondes decepadas

Que o fogo da experiênciaTortura ou transforma...

Unidos, no entanto, ao Teu Amor,Somos continuadores gloriososDe Tua Criação interminável.

Somos alguns milharesNeste campo terrestre;

E, antes de tudo,Louvamos-Te a grandeza

Que não nos oprime a pequenez...

Dilata-nos a percepção diante da vida,Abre-nos os olhos

Enevoados pelo sono da ilusãoPara que divisemos Tua glória sem fim!...

Desperta-nos docemente o ouvido,A fim de percebermos o cântico

De tua sublime eternidade.Abençoa as sementes de sabedoria

Que os teus mensageiros esparziramNo campo de nossas almas;Fecunda-nos o solo interior,

Para que os divinos germens não pereçam.

Sabemos, Pai,Que o suor do trabalho

E a lágrima da redençãoConstituem adubo generoso

A floração de nossas sementeiras;

Todavia,Sem Tua bênção,

O suor elanguesceE a lágrima desespera...

Sem Tua mão compassiva,Os vermes das paixões

E as tempestades de nossos víciosPodem arruinar-nos a lavoura incipiente.

Acorda-nos, Senhor da Vida,Para a luz das oportunidades presentes;

Para que os atritos da luta não as inutilizem,Guia-nos os pés para o supremo bem;

Reveste-nos o coraçãoCom a Tua serenidade paternal,Robustecendo-nos a resistência!

Poderoso Senhor,Ampara-nos a fragilidade,

Corrige-nos os erros,Esclarece-nos a ignorância,

Acolhe-nos em Teu amoroso regaço.

Cumpram-se, Pai Amado,Os Teus desígnios soberanos,

Agora e sempre.Assim seja.

Finda a comovente rogativa, o orientador baixou os olhos nevoados de pranto, e então vi, dominado de júbilo, que da incognoscível altura uma claridade diferente caía sobre nós, em jorros cristalinos.

Partículas semelhantes a prata eterizada choviam no recinto, infiltrando-se nas raízes das árvores mais próximas, lá fora.

Ignoto encantamento fizera-se em minhalma. Ao contacto dos eflúvios divinos, reparei que minhas forças gradualmente serenavam, em receptivi-dade maravilhosa. Em torno, pairavam as mesmas notas de alegria e de beleza, pois a calma e a ventura transpareciam de todos os rostos, voltados, extáticos, para o Instrutor, em redor do qual se mostravam mais intensas as ondas de luz celeste.

Sublime felicidade inundava-me todo o ser, mergulhara-me em indefinível banho de energias renovadoras.

Meus olhos foram impotentes para conter as lágrimas felizes que as formosas cintilações me destilavam das fontes ocultas do espírito. E, antes que o nobre mentor retomasse a palavra, agradeci em silêncio a resposta do Céu, reconhecendo na prece, mais uma vez, não só a manifestação da reverência religiosa, senão também o recurso de acesso aos inesgotáveis mananciais do Divino Poder.

PARTE II – Caps. 7 e 8 de “NO MUNDO MAIOR”

7Processo redentor

Retirando-nos do hospital, em a noite que precedeu à desencarnação de

Cândida, o Assistente observou:— Não temos tempo a perder.Efetivamente, o trabalho de socorro à prezada enferma absorvera-nos

algumas horas.—Nosso esforço — continuou o prestimoso amigo — tem por especial escopo impedir a consumação dos processos tendentes à loucura. A rede de amparo espiritual, neste sentido, é quase infinita. A positiva declaração de desarmonia mental constitui sempre o término de longa luta. Claro está que não incluimos aqui os casos puramente fisiológicos, mormente em se tratando da invasão da sífilis na matéria cerebral; reportamo-nos aos dramas íntimos da personalidade prisioneira da introversão, do desequilíbrio, dos fenômenos de involução, das tragédias passionais, episódios esses que deflagram no mundo, aos milhares por semana. Nas esferas imediatas à luta do homem vulgar, onde nos achamos presentemente, são inúmeras as organizações socorristas dessa natureza. É imprescindível amparar a mente humana na Crosta Planetária, em seus deslocamentos naturais. A vasta escola terrestre exige incessante e complexa colaboração espiritual. indubitavelmente, a Divina Sabedoria não se descuidou da programação prévia de serviço, neste particular. Se encarregou a Ciência de superintender o desdobramento harmonioso dos fenômenos pertinentes à zona física, se incumbiu a Filosofia de acompanhar essa mesma Ciência, enriquecendo-lhe os valores intelectuais, confiou à Religião a tarefa de velar pelo desenvolvimento da alma, propiciando-lhe abençoadas luzes para a jornada de ascensão. A crença religiosa, todavia, mormente nos últimos anos, tem-se revelado incapaz de tal cometimento: falta-lhe pessoal adequado. Enquanto a edificação científica no mundo se apresenta qual árvore gigantesca, abrigando, em seus ramos refertos de teorias e raciocínios, as inteligências encarnadas, a Religião, subdividida em numerosos setores, dá a ideia de erva raquítica, a definhar no solo. O Amor Divino, porém, não ignora os obstáculos que assoberbam os círculos da fé. Se à investigação do conhecimento basta o valor intelectual, o problema religioso demanda altas possibilidades de sentimento. A primeira requer observação e persistência; o segundo, todavia, implica vocação para a renúncia. A vista disto, colaborando com os trabalhadores decididos, inúmeras legiões de auxiliares invisíveis ao olhar humano se desdobram, em toda parte, socorrendo os que sofrem, incentivando os que esperam firmemente no bem, melhorando sempre. Nosso esforço, portanto, em torno da mente encarnada, é extenso e múltiplo. Forçoso é convir, no entanto, que, se o programa dá motivo a preocupações, é também fonte de prazer. Experimentamos o contentamento de irmãos mais velhos, capazes de prestar auxilio aos mais novos. Indiscutívelmente, somos, em humanidade, uma só família.

Verificando-se pausa natural nos esclarecimentos de Calderaro, indaguei, curioso:

— Como se opera, entretanto, a administração de tais auxílios? Indiscriminadamente?

— Não — explicou o interpelado —, o senso de ordem preside-nos à atividade em todas as circunstâncias Quase sempre é a força intercessória que determina os processos de ajuda. A prece, representada pelo desejo não manifestado, pelas aspirações íntimas ou pelas petições declaradas, proveniente da zona superior ou surgida do fundo vale, onde se agitam as paixões humanas, é, a rigor, o ascendente de nossas atividades.

Dispunha-me a formular certa pergunta, oriunda de velhas concepções do separatismo religioso, quando Calderaro, percebendo-me a ponderação

prestes a exprimir-se, acrescentou, calmo:— Não aludimos, aqui, a orações ou a aspirações de correntes

idealísticas determinadas: o dístico não interessa. Colaboramos com o espírito eterno em sua ascensão à zona divina, aduzindo novas forças ao bem, onde ele se encontre, independentemente de fórmulas dogmáticas, ou não, com que ele se manifeste nos círculos humanos. Nosso problema não é de favoritismo, senão de espiritualidade superior, mercê da união dos valores substanciais, em favor da vida melhor.

A essa altura das lições que eu recebia em forma de palestra ligeira, enquanto nos movimentávamos em serviço, atingimos residência de aspec-to simples, que se distinguia pelo jardim bem cuidado, em toda a volta.

— Temos, aqui — disse-me, o instrutor —, indefesso companheiro de outras épocas, reencarnado em dolorosas condições. De algumas semanas para cá, assisto-lhe a mãezinha através de passes reconfortantes. Em virtude da horrível estrutura orgânica do filho, a ela encadeado há muitos séculos, a razão da pobrezinha está periditando; prendem-se mútuamente por grilhões de graves compromissos. Considerando-lhe o nobre costume da oração em horário prefixado, valemo-nos dessas ocasiões para vir-lhe em amparo.

Admirando a ordem instituída para os quefazeres de nosso plano, e que transparecia nas mínimas ações, silenciosamente acompanhei Calderaro ao interior doméstico.

Em rápidos minutos achávamo-nos em pequena câmara, onde magro doentinho repousava, choramingando. Cercavam-no duas entidades tão infelizes quanto ele mesmo, pelo estranho aspecto que apresentavam. O menino enfermo inspirava piedade.

— É paralítico de nascença, primogênito de um casal aparentemente feliz, e conta oito anos na existência nova — informou Calderaro, indicando-o —; não fala, não anda, não chega a sentar-se, vê muito mal, quase nada ouve dá esfera humana; psiquicamente, porém, tem a vida de um sentenciado sensível, a cumprir severa pena, lavrada, em verdade, por ele próprio. Há quase dois séculos, decretou a morte de muitos compatriotas numa insurreição civil. Valeu-se da desordem político-administrativa para vingar-se de desafetos pessoais, semeando ódio e ruínas. Viveu nas regiões inferiores, apartado da carne, inomináveis suplícios. Inúmeras vítimas já lhe perdoaram os crimes; muitas, contudo, seguiram-no, obstinadas, anos afora... A malta, outrora densa, rareou pouco a pouco, até que se reduziu aos dois últimos inimigos, hoje em processo final de transformação. Com as lutas acremente vividas, em sombrias e dantescas furnas de sofrimento, o desgraçado aprestou-se para esta fase conclusiva de resgate; conseguiu, assim, a presente reencarnação com o propósito de completar a cura efetiva, em cujo processo se encontra, faz muitos anos.

A paisagem era triste e enternecedora. O doente, de ossos enfezados e carnes quase transparentes, pela idade deveria ser uma criança bela e feliz; ali, entretanto, se achava imóvel, a emitir gritos e sons guturais, próprios da esfera sub-humana.

Com o respeito devido à dor e com a observação imposta pela Ciência, verifiquei que o pequeno paralítico mais se assemelhava a um descendente de símios aperfeiçoados.

- Sim, o espírito não retrocede em hipótese alguma — explicou Calderaro —; todavia, as formas de manifestação podem sofrer degenerescência, de modo a facilitar os processos regenerativos. Todo mal e todo bem praticados na vida impõem modificações em nosso quadro representativo. Nosso desventurado amigo envenenou para muito tempo os

centros ativos da organização perispiritual. Cercado de inimigos e desafetos, frutos da atividade criminosa a que se consagrou voluntàriamente, permanece quase embotado pelas sombras resultantes dos seus tremendos erros. No campo consciencial, chora e debate-se, sob o aguilhão de reminiscências torturantes que lhe parecem intérminas; mas os sentidos, mesmo os de natureza física, mantêm-se obnubilados, à maneira de potências desequilibradas, sem rumo... Os pensamentos de revolta e de vingança, emitidos por todos aqueles aos quais dellberadamente ofendeu, vergastaram-lhe o corpo perispiritual por mais de cem anos consecutivos, como choques de desintegração da personalidade, e o infeliz, distante do acesso à zona mais alta do ser, onde situamos o (castelo das noções superiores, em vão se debateu no (Campo do esforço presente, isto é, à altura da região em que localizamos as energias motoras; é que os adversários implacáveis, apegando-se a ele, através da influência direta, compeliram-lhe a mente a fixar-se nos impulsos automáticos, no império dos instintos; permitiu a Lei que assim acontecesse, naturalmente porque a conduta de nosso infortunado irmão fora igual à do jaguar que se aproveita da força para dominar e ferir. Os abusos da razão e da autoridade constituem faltas graves ante o Eterno Governo dos nossos destinos.

O estimado Assistente fitou-me com seus olhos muito lúcidos e perguntou:

— Compreendeste?Como desejasse ver-me suficientemente esclarecido, acrescentou:— Espiritualmente, este pobre doente não regrediu. Mas o processo de

evolução, que constitui o serviço do espírito divino, através dos milênios, efetuado para glorioso destino, foi por ele mesmo (o enfermo) espezinhado, escarnecido e retardado. Semeou o mal, e colhe-o agora. Traçou audacioso plano de extermínio, valendo-se da autoridade que o Pai lhe conferira, concretizou o deplorável projeto e sofre-lhe as consequências naturais de modo a corrigir-se. Já passou a pior fase. Presentemente, já se afastou do maior número de inimigos, aproximando-se de amoroso coração materno, que o auxilia a refazer-se, ao término de longo curso de regeneração.

Reparando a estranha atitude dos infelizes desencarnados que o seguiam, pretendia indagar algo relativamente a eles, quando Calderaro veio ao encontro de meus desejos, continuando:

— Também os míseros perseguidores são duendes do ódio e da vingança, como o nosso enfermo é um remanescente do crime. São náufragos na derradeira fase de salvação, após enorme hecatombe no mar da vida, onde se perderam por muitos anos, por incapazes de usar a bússola do perdão e do bem. Aproximam-se, porém, do porto socorrista. Voltarão ao Sol da existência terrestre, por intermédio de um coração de mulher que compreendeu com Jesus o valor do sacrifício. Em breve, André, consoante o programa redentor já delineado, ingressarão neste mesmo lar na qualidade de irmãos do antigo adversário. E quando entrelaçarem as mãos sobre ele, consumindo energias por ajudá-lo, assistidos pela ternura de abnegada mãe, amorosa e justa, beijarão o velho inimigo com imenso afeto. Transmudar-se-ão as negras algemas do ódio em alvinitentes liames de luz, nos quais refulgirá o amor eterno. Chegado esse tempo, a força do perdão restituirá nosso doente à liberdade; largará ele, qual pássaro feliz, este mirrado corpo físico, sufocante cárcere do crime e suas consequências, onde se debateu por quase dois séculos. Até lá, importa zelar com empenho pela valorosa mulher que é essa, vestalina senhora deste lar, em quem as Forças Divinas respeitam a vocação para o martírio, por iluminar a vida e enriquecer a obra de Deus.

Mal terminava Calderaro as elucidações, quando um dos verdugos desencarnados se moveu e tocou com a destra o cérebro do doentinho, recomendando-me o Assistente examinasse os efeitos desse contacto.

Extrema palidez e enorme angústia transpareceram no semblante do paralítico. Notei que a infeliz entidade emitia, através das mãos, estrias negras de substância semelhante ao piche, as quais atingiam o encéfalo do pequenino, acentuando-lhe as impressões de pavor.

Dirigi ao Assistente um olhar interrogativo, e Calderaro informou:— Se o amor emite raios de luz, o ódio arremessa estiletes de treva. Nos

lobos frontais recebemos os «estímulos do futuro», no córtex abrigamos as «sugestões do presente», e no sistema nervoso, propriamente dito, arquivamos as dembranças do passado». Nosso pobre amigo está sendo «bombardeado» por energias destrutivas do ódio na região de «serviços do presente», isto é, em suas capacidades de crescimento, de realização e de trabalho nos dias que correm. Tal situação, derivante da culpa, compele-o a descer mentalmente para a zona de «reminiscências do passado», onde o seu comportamento é inferior, ralando pela semi-inconsciência dos estados evolucionários primitlvos. Esmagadora maioria dos fenômenos de alienação psíquica procedem da mente desequilibrada. Repara o cosmo orgânico.

O doentinho, da aflição, em que se mergulhara, passou às contorções, evidenciando todos os característicos da idiotia clássica. Os órgãos revelavam agora estranhos deslocamentos, O sistema endócrino patenteava indefiníveis perturbações.

Compadecido, inclinou-se o instrutor sobre o doente, e esclareceu:— Os raios destrutivos alcançam-lhe a zona motora, provocando a

paralisação dos centros da fala, dos movimentos, da audição, da visão e do governo de todos os departamentos glandulares. Na verdade, essa dolorosa situação cronicificou-se, pela repetição desta ocorrência milhares de vezes, em quase duas centenas de anos.

Fez intervalo significativo e tornou:— Examina a conduta do enfermo. Fixando a mente na

extrema .<região dos impulsos automáticos», seu padrão de comportamento é efetivamente sub-humano. Volta a viver estados primários, dos quais a individualidade já emergiu há muitos séculos. Em outros casos menos graves, a medicina atual vem utilizando a terapêutica do choque, àmaneira do experimentador que investiga nas sombras, examinando efeitos e ignorando as causas. Cumpre-nos, no entanto, reconhecer que o belo esforço da psiquiatria moderna merece o maior ca-rinho de nossas autoridades espirituais, que patrocinam os médicos diligentes e devotados, orientando-os para o bem comum, simultâneamente em diversos centros culturais; por enquanto, não podem aceitar a verdade como seria de desejar, em virtude da necessidade de guardar-se a medicina terrena em campo conservador, menos aberto aos aventureiros; todavia, mais tarde os sacerdotes da saúde humana compreenderão que o choque elétrico, ou a hipoglicemia, provocada pela invasão da insulina, constituem apelos vivos aos centros do organismo perispirítico, convocando-os ao reajustamento e compelindo os neurônios a se readaptarem para o serviço da mente em processo regenerador. A bem dizer, é de notar que esse recurso às reservas profundas do cosmo psíquico não é novo. Outrora, as vítimas da loucura eram conduzidas a poços de víboras, a fim de que a aborrível comoção operasse a transformação súbita da mente dese-quilibrada; é que, desde remota antigüidade, compreendeu o homem, intuitivamente, que a maioria dos casos de alienação mental decorrem da ausência voluntária ou involuntária da alma à realidade. E, em nosso campo

de observação mais clara, podemos adir que todo desequilíbrio promana do afastamento da Lei.

Silenciou Calderaro por alguns instantes e, em seguida, indicou o pequeno, acentuando:

— Neste caso, porém, o choque aplicado pela ciência dos homens não surtiria vantagem alguma. Estamos perante o eclipse total da mente, pela total ausência da Lei com que se conduziu o interessado no socorro. A retificação, aqui, reclama tempo. As águas pantanosas do mal, longamente represadas no coração, não se escoam fàcilmente. O plano mental de cada um de nós não é vaso de conteúdo imaginário: é repositório de forças vivas, qual o veículo físico de manifestação, que nos é próprio, enquanto peregrinamos na Crosta Planetária.

— Não estamos, porém, cientificamente falando — indaguei —, diante de um caso típico de mongolismo?

O Assistente respondeu sem se embaraçar:— Acompanhamos um fenômeno de desequilíbrio espiritual absoluto. Em situações raríssimas, teremos perturbações dessa natureza com causas substancialmente fisiológicas. Impossível é desconhecer, na esfera carnal, o paralelismo psico-físico. Quem vive na Crosta Terrestre terá sempre a defrontar com a forma perecível, em primeiro lugar. Daí, não podermos excluir da patologia da alma o envoltório denso, nem menosprezar a colaboração dos fisiologistas abnegados, que atentos se dedicam às investigações da fauna microscópica, do reajustamento das formas, do quadro dos efeitos. Não nos esqueça, contudo, que analisamos agora o dominio das causas...

O desvelado amigo parecia disposto a prosseguir, dilatando-me os conhecimentos a respeito do assunto, quando ouvimos passos de alguém que se aproximava. Certo, a dona da casa vinha ao aposento da criança, à procura do socorro da oração.

Concluiu Calderaro, apressadamente:— Nossos companheiros da medicina humana batizam as moléstias

mentais como lhes apraz, detendo-se nas questões da periferia, por distraídos dos problemas fundamentais do espírito. Relativamente aos assuntos científicos, conversaremos amanhã, quando prestaremos assistência a jovem amigo.

Nesse momento, a mãezinha, que ainda não contava trinta anos, acercou-se do enfermo, sem se dar conta de nossa presença espiritual. Estacou, tristonha, de pé junto ao berço, afagando-lhe a fronte aljofrada de suor, ao termo das contorções finais. Afastou a colcha rendada, levantou-o, cuidadosa, e abraçou-o, ungindo-o com o mais terno dos carinhos.

O menino aquietou-se.Logo após, a genitora entrou a orar, banhada em lágrimas, afigurando-

se-me um cisne da região espiritual a desferir maravilhoso cântico.Enquanto Calderaro operava, reparando-lhe as forças nervosas em

verdadeira transfusão de fluidos sadios que o dedicado colaborador transferia de si próprio, eu, de minha parte, acompanhava com vivo interesse a prece maternal.

A jovem senhora entremeava de ponderações humanas a cordial rogativa.

Porque não a ouvia o Senhor, nos Altos Céus, permitindo um milagre que restituisse o filhinho ao equilíbrio tão necessário? Casara-se, havia nove anos, sonhando um jardim doméstico, repleto de rebentos felizes; entretanto, a primeira flor de suas aspirações femininas ali se encontrava ironicamente aberta, numa fácies horrível de monstruosidade e de

sofrimento... Porque, interrogava súplice, nasciam crianças na Terra com a destinação de tamanha angústia? Porque o martirológio dos seres pequeninos? Em vão percorrera gabinetes médicos e ouvira especialistas. Sempre as mesmas decepções, os mesmos desenganos. O filhinho parecia inacessível a qualquer tratamento. Sentia-se frágil e extenuada... E chorava, implorando a bênção divina, para que as energias lhe não faltassem na luta.

Calderaro, finda a tarefa que lhe competia, acercou-se de mim, perguntando:

— Desejas responder à rogativa, em nome da Inspiração Superior?Oh! não! Declinei de tal convite alegando que isso me era de todo

impraticável, depois de haver ouvido Irmã Cipriana renovando corações com o verbo inflamado de amor.

Objetou o orientador num gesto bondoso:— Aqui, porém, não falaremos a corações que odeiam, e sim a torturado

espírito materno, que reclama estimulo fraternal. O conhecimento e a boa vontade podem fazer muito.

Sorriu, benevolente, e acrescentou:— Ao demais, é necessário diplomar-nos também na ciência do amor.

Para isso, comecemos a ser irmãos uns dos outros, com sinceridade e fiel disposição de servir.Agradeci, comovido, a deferência, mas esquivei-me. Falaria ele mesmo, Calderaro. Minha condição era a do aprendiz. Ali me encontrava para ouvir-lhe as sublimes lições.

O abnegado amigo colocou as mãos sobre os lõbos frontais dela, como atraindo a mente materna para a região mais elevada do ser, e passou a irradiar-lhe tocantes apelos, como se lhe fora dezvelado pai falando ao coração. Fundamente sensibilizado, assinalava-lhe as palavras de ânimo e de consolação, que a afetuosa mãezinha recebia em forma de ideias e sugestões superiores.

Notei que a disposição íntima da jovem senhora tomava pouco a pouco um renovado alento. Observei que na epffise lhe surgira suave foco de claridade irradiante e que de seus olhos começaram a brotar lágrimas diferentes. A claridade branda, fluindo do cérebro, desceu para o tórax, de onde, então, se evolaram tênues fios de luz que a ligaram ao filhinho infeliz. Contemplou o pequeno, agora calmo, através do espesso véu de pranto e ouvi-lhe os pensamentos sublimes.Sim, Deus não a abandonaria — meditava; dar-lhe-ia forças para cumprir até ao fim o cometimento que tomara a ombros, com a beleza do primeiro sonho e com a ventura da primeira hora. Sustentaria o desventurado rebento de sua carne, como se fora um tesouro celeste. Seu amor avultaria com os padecimentos do filhinho muito amado; seus sacrifícios de mãe seriam mais doces, toda vez que a dor o visitasse com maior intensidade. Não era ele mais digno de seu devotamento e renúncia pela aflitiva condição em que nascera? Os filhos de antigas companheiras eram formosos e inteligentes, como botões perfumados da vida, prometendo infinitas alegrias no jardim do futuro; também seu pequenino paralítico era belo, necessitando, porém, de mais blandícia e arrimo. Saberia Deus porque viera ele ao mundo, sem a faculdade da palavra e sem manifestações de inteligência. Não lhe bastaria confiar no Supremo Pai? Serviria ao Senhor sem indagar; amaria seu filho pela eternidade; morreria, se preciso fora, para que ele vivesse.

Num transporte de indefinível carinho, a jovem mãe inclinou-se e beijou o doentinho nos lábios, com o júbilo de quem osculasse um anjo celestial. vi, surpreendido, que numerosas centelhas de luz se desprendiam do contacto

afetivo entre ambos e se derramavam sobre as duas entidades inferiores; estas, de sua parte, se inclinaram também, como que menos infelizes, perante aquela nobre mulher que mais tarde lhes serviria de mãe.

Calderaro tocou-me de leve o ombro e informou:— Nosso trabalho de assistência está findo. Vamo-nos.E, indicando mãe e filho juntos, concluiu:— Examinando essa criança sofredora como enigma sem solução,

alguns médicos insensatos da Terra se lembrarão talvez da morte suave’; ignoram que, entre as paredes deste lar modesto, o Médico Divino, utilizando um corpo incurável e o amor, até o sacrifício, de um coração materno, restitui o equilíbrio a espíritos eternos, a fim de que sobre as ruínas do passado possam irmanar-se para gloriosos destinos.

8No Santuário da Alma

Noite fechada. Calderaro e eu penetramos casa confortável e nobre, onde o instrutor, segundo prometera, me proporcionaria alguns esclarecimentos novos com referência aos desequilíbrios da alma.— Não é caso tão grave quanto aquele do paralítico que visitamos — adiantou o prestimoso orientador; trata-se, a bem dizer, de questão quase vencida. Há muito tempo assisto Marcelo com fluidos reconfortantes, e a sua situação é de triunfo integral. Dócil à nossa influência, encontrou na prece e na atividade espiritual o suprimento de energias de que necessitava. Vimos ontem um caso de destrambelho total dos elementos perispiríticos, com a consequente desagregação do sistema nervoso, em doloroso quadro que só o tempo corrigirá. Aqui, entretanto, a paisagem é outra, O problema de perturbação essencial já está resolvido, o rea-justamento da vida surgiu pleno de esperanças novas, a paz regressou ao tabernáculo orgânico; mas perseveram ainda as recordações, os remanescentes dos dramas vividos no passado aflorando sob forma de fenômenos epileptóides, as ações reflexas da alma, que emergem de vasto e intricado túnel de sombras e que tornam, em definitivo, ao império da luz. Se o mal demanda tempo para fixar-se, éóbvio que a restauração do bem não pode ser instantânea. Assim ocorre com a doença e a saúde, com o desvio e o restabelecimento do equilíbrio.

Após atravessar o pórtico, dirigimo-nos, devidemente autorizados, ao interior, onde agradavelmente me surpreendeu encantadora cena de pie-dade doméstica: um cavalheiro, uma senhora e um rapaz achavam-se imersos nas divinas vibrações da prece, cercados de grande número de amigos do nosso plano.

Fomos recebidos amorosamente.Convidou-me o orientador a colaborar nos trabalhos em curso, de vez

que, com a valiosa cooperação daqueles três companheiros encarnados, se prestavam a irmãos recém-libertos da Crosta reais auxílios, de modalidades várias.

Digna de registro era a respeitável beleza daquela reduzida assembleia, consagrada ao bem e àiluminação do espírito.

Admirando a harmonia daqueles três corações unidos nos mesmos nobres pensamentos e propósitos, e que miríficos fios de luz entrelaçavam, o Assistente amigo comentou com oportunidade:

— A família é uma reunião espiritual no tempo, e, por isto mesmo, o lar é um santuário. Muitas vezes, mormente na Terra, vários de seus com-ponentes se afastam da sintonia com os mais altos objetivos da vida; todavia, quando dois ou três de seus membros aprendem a grandeza das suas probabilidades de elevação, congregando-se Intimamente para as realizações do espírito eterno, são de esperar maravilhosas edificações.

Compreendi que o instrutor estimaria prestar-me outros esclarecimentos, ampliando a santificante concepção da família; contudo, o serviço urgente não nos permitia mais longa palestra.

O trabalho de socorro a irmãos sofredores prosseguiu ativo, em «nosso lado». Terminado o concurso do trio familiar, com expressiva e comovedora oração, começou a retirada dos companheiros de nossa esfera, enquanto os amigos encarnados entravam em carinhosa conversação.

O cavalheiro, com o sorriso feliz do trabalhador que bem cumpriu o dever, dirigiu-se aos circunstantes em voz alta:

— Graças a Deus, tudo normal.Encarando o rapaz com imensa ternura paternal, indagou:— E você, Marcelo, continua bem?— Oh! sem dúvida — respondeu o interpelado, alegre; estou

maravilhado, papai, com os excelentes resultados que venho colhendo em nossas reuniões das quintas-feiras.

— Têm voltado os ataques noturnos?— Não. À proporção que me esforço no conhecimento das verdades

divinas, cooperando com a minha própria vontade no terreno da aplicação prática das lições recebidas, sinto que passo cada vez melhor, que me reforço intimamente, recuperando a saúde perdida. Reconheço também que, em me desinteressando da edificação espiritual, distraído da minha necessidade de elevação, voltam as perturbações com intensidade. Nessas fases nocivas, desperto alta noite com os membros cansados e doloridos, e assaltam-me evidentes sinais das convulsões, deixando-me longos momentos sem sentido...

O jovem sorriu a esta sua singela confissão filial e prosseguiu:- Felizmente, porém, agora que me consagro, zeloso e assíduo, à tarefa

espiritualizante, reconheço que os passes de mamãe são mais eficientes. Estou mais receptivo e observo que a boa vontade é fator decisivo em meu bem-estar.

Os ouvintes entreolharam-se, contentes, e o entendimento intimo continuou, edificante, repleto de belas sugestões.

O Assistente, preparando-me o raciocínio, informou:—Certo, não precisarei de esclarecer que Marcelo se entretém com os pais. Possui outros irmãos que ainda não se afinam com a sagrada missão do casal. Ele, porém, é portador de sentimentos elevados e generosos. Tem, como quase todos nós, um pretérito intensamente vivido nas paixões e excessos da autoridade. Exerceu, outrora, enorme poder de que não soube usar em sentido construtivo. Senhor de vigorosa inteligênCia, planou em altos níveis intelectuais, de onde nem sempre desceu para confortar ou socorrer. Portador de vários títulos honoríficos, muita vez os esqueceu, precipitando-se na vala comum dos caprichos criminosos. Impôs-se pelo absolutismo, e intensificou a lavra de espinhos que o dilacerariam mais tarde. Chegada a colheita de nefanda messe, experimentou sofrimentos atrozes. Inúmeras vítimas o esperavam além do sepulcro, e arremeteram contra ele. Entretanto, se errou clamorosamente, Marcelo, em muitas ocasiões, desejou ser bom e formou dedicações valiosas em torno de seu nome; tais devotamentos, contudo, houveram que aguardar oportunidade por auxiliá-lo. Os inimigos eram massa compacta e gritavam furiosamente, invocando a justiça vulgar; retiveram-no longo tempo nas regiões inferiores, saciaram velhos propósitos de vingança, seviciando-lhe a organização perispiritUal. Marcelo, em plena sombra da consciência, rogou, chorou e penitenciou-se vastos anos. Por mais que suplicasse e por muito que insistissem os elementos intereessóriOs, a anaiada libertação demorou mui-tíssimo, porque o remorso é sempre o ponto de sintonia entre o devedor e o credor, e o nosso amigo trazia a consciência fustigada de remorsos cruéis, Os desequilíbrios perispiríticos flagelaram-no, assim, logo que atravessou o pórtico do túmulo, obstinando-se anos a fio...

Feito breve intervalo nas explicações, acrescentei, curioso:— Isso quer, então, dizer que o fenômeno epileptóide...— ... mui raramente ocorre por meras alterações no encéfalo, como

sejam as que procedem de golpes na cabeça — elucidou o Assistente, cor-tando-me a observação reticenciosa —, e, geralmente, é enfermidade da

alma, independente do corpo físico, que apenas registra, nesse caso, as ações reflexas. Longe vai o tempo em que a vazão admitia o paraíso ou o purgatório como simples regiões exteriores: céu e inferno, em essência, são estados conscienciais; e, se alguém agiu contra a Lei, ver-se-á dentro de si mesmo em processo retificador, tanto tempo quanto seja necessário. Ante a realidade, portanto, somos compelidos a concluir que, se existem múltiplas enfermidades para as desarmonias do corpo, outras inúmeras há para os desvios da alma.

O instrutor fez pausa curta, apontou para o rapaz e continuou:— Mas, regressando às informações a respeito de Marcelo, cabe-me

dizer-te que, pouco a pouco, esgotou ele as substâncias mais pesadas do fundo cálice de provas. Longos anos de desequilíbrio, em que as vítimas, tornadas em algozes, o abalaram com tremendas convulsões, através de choques e padecimentos inenarráveis, clarearam-lhe os horizontes internos, tendo nosso irmão afinal logrado entender-se com prestimoso e sábio orientador espiritual, a quem se liga desde remoto passado. Foi socorrido e amparado. Indagou, ansioso, por almas que lhe eram particularmente queridas, sendo-lhe cientificado que os seus laços mais fortes já se encontravam de novo na carne, em testemunhos e labores dignificantes. Suplicou a reencarnação, prometeu aceitar compromissos de concurso espiritual na Crosta, a fim de resgatar os enormes débitos, colaborando no bem e na evolução dos inimigos de outrora, e conseguiu a dádiva, apoiado por abnegado mentor que o estima de muitos séculos. Tornou à esfera carnal e reiniciou o aprendizado. Ultimamente renasceu estreitado em braços carinhosos, aos quais se sente vinculado no curso de várias existências vividas em comum. Agora, sinceramente aproveitando as bênçãos recebidas, desde os mais tenros anos, preocupa-se em reajustar as preciosas qualidades morais: caracteriza-se, desde menino, pela bondade e obediência, docilidade e ternura naturais. Passou a infância tranquilo, embora continuamente espreitado por antigos perseguidores invisíveis. Não se achava a eles atraído, em virtude do serviço regenerador a que se submetera; mas ao topar com algum dos adversários, nos minutos de parcial desprendimento propiciado pelo sono físico, sofria amargamente com as recordações. Tudo prosseguia sem novidades dignas de menção. Sob a vigilância dos pais e com o amparo dos benfeitores invisíveis, preparava-se o menino para os trabalhos futuros. Contudo, logo que se lhe consolidou a posse do patrimônio físico, ultrapassados os catorze anos de idade, Marcelo, com a organização perispiritual plenamente identificada com o invólucro fisiológico, passou a rememorar os fenômenos vividos, e surgiram-lhe as chamadas convulsões epilépticas com certa intensidade. O rapaz, todavia, encontrou imediatamente os antídotos necessários, refugiando-se na “residência dos princípios nobres», isto é, na região mais alta da personalidade, pelo hábito da oração, pelo entendimento fraterno, pela prática do bem e pela espiritualidade superior. Limitou, destarte, a desarmonia neuro-psíquica e reduziu a disfunção celular, reconquistando o próprio equilíbrio, dia a dia, mobilizando as armas da vontade. Nesse esforço, dentro do qual se fêz extremamente simpático, recebeu vultosa colaboração de nossa esfera, aproveitando-a integralmente pela adesão criteriosa ao esforço construtivo do bem. Recebendo a luta com serenidade e paciência, instalou em si mesmo valiosas qualidades receptivas, fa-vorecendo-nos o concurso e dispensando, por isso mesmo, a terapêutica dos hipnóticos ou dos choques, a qual, provocando estados anormais no organismo perispirítico, quase sempre nada consegue senão deslocar os males, sem os combater nas origens. O caso de Marcelo oferece por isto

características valiosas. Atendendo as sugestões daqueles que o beneficiam, adaptando-se à realidade vem sendo o médico de si mesmo, única fórmula em que o enfermo encontrará a própria cura.

Nesse instante, o rapaz despedia-se delicada-mente dos pais, retirando-se para o quarto particular, onde se recolheu ao leito, após abluir a mente em pensamentos de paz e de gratidão a Deus.

Dentro de breves minutos afastava-se do veículo denso e vinha ter conosco, saudando Calderaro com especial carinho.

O Assistente apresentou-me, afável.Mostrava o jovem profunda lucidez. Abraçado a nós ambos, com

inequívocas demonstrações de alegria, comentou suas esperanças no porvir. Expôs-nos ardente desejo de trabalhar pela difusão do Espiritismo evangélico, disposto a colaborar na obra edificante que os genitores vêm realizando. Referiu-se, para admiração minha, às atividades de nossa colônia espiritual, indagou das minhas impressões de (Nosso Lar), seduzindo-me pela oportunidade de conceitos e pela beleza das apreciações inteligentes e espontâneas (1).

(1)Referencia ao livro “Nosso Lar”. — (Nota do autor espiritual.) Ia a conversa a meio, quando dois vultos sombrios cautelosamente se

aproximaram de nós. Quem seriam, senão míseros transeuntes desencar-nados? Inteiramente distraído, continuei nos comentários humildes, mas o estimado interlocutor perdeu visívelmente a calma. Qual se fora tocado no intimo por forças perturbadoras, Marcelo empalideceu, levou a destra ao peito e arregalou os olhos desmesuradamente. Reparei que as ideias lhe ba-ralhavam no cérebro perispiritual, que não conseguia ouvir-nos com tranquilidade, e, desprendendo-se, célere, de nossos braços, correu desabalado, retomando ao corpo.

Quis detê-lo, penalizado, pois conosco estava perfeitamente sintonizado; algo mais forte que o conhecimento cordial unia-me ao novo amigo, o que reconheci desde o primeiro contacto; não pude, porém, fazê-lo.

Reteve-me Calderaro, com vigor, e exclamou:— Deixa-o, André. Acompanhemo-lo. Não podemos olvidar que Marcelo

não se encontra perfeitamente curado.Indicando as entidades provocadoras, a pequena distância, prosseguiu

esclarecendo:— A simples reaproximação dos inimigos de outra época altera-lhe as

condições mentais. Receoso, aflito, teme o regresso à situação dolorosa em que se viu, há muitos anos, nas esferas inferiores, e busca, apressado, o corpo físico, à maneira de alguém que se socorre do único refúgio de que dispõe, em face da tempestade iminente.

Os espíritos erradios bateram em retirada, e tomamos ao interior doméstico, onde encontramos o jovem tomado de contorções.

Abracei-o, como se o fizesse a um filho querido.O ataque amainou, sem, contudo, cessar de todo. Ergui os olhos para o orientador, em muda interrogação. Porque tal distúrbio? A câmara de Marcelo permanecia isolada, quanto ao contacto direto com as entidades inferiores. Permanecíamos os três em palestra edificante. Por que motivo a perturbação, se nos mantínhamos em salutar atmosfera de santificantes pensamentos?

O instrutor contemplou-me, bondoso, e recomendou:— Observa o campo orgânico, examinando particularmente o cérebro.

Notei que a luz habitual dos centros endócrinos empalidecera, persistindo sõmente a epífise a emitir raios anormais. No encéfalo o desequilíbrio era completo. Das zonas mais altas do cérebro partiam raios de luz mental, que, por assim dizer, bombardeavam a colmeia de células do córtex. Os vários centros motores, inclusive os da memória e da fala, jaziam desorganizados, inânimes. Esses raios anormais penetravam as camadas mais profundas do cerebelo, perturbando as vias do equilibrio e destrambelhando a tensão muscular; determinavam estranhas transformações nos neurônios e imergiam no sistema nervoso cinzento, anulando a atividade das fibras. Via-se totalmente inibido o delicado aparelho encefálico. As zonas motoras, açoitadas pelas faíscas mentais, perdiam a ordem, a disciplina, o autodomínio, por fim cedendo, baldas de energia. Enquanto isso, Marcelo-espírito contorcia-se de angústia, justaposto ao Marcelo-forma, encarcerado na inconsciência orgânica, presa de convulsões que me confrangiam a alma.

Após detido exame, indaguei de Calderaro:— Como explicar essa ocorrência? Afinal de contas, nosso amigo não se

encontra aqui sob o guante dos perseguidores desencarnados, mas em nossa exclusiva companhia.Oorientador, agora em ação de socorro magnético, interferia, restaurando o equilíbrio, recomendando-me aguardar alguns minutos. Em breve, dominou a desarmonia. Envolvendo-lhe o campo mental em emissões fluídico-balsâmicas, o desastre não chegou a termo. Marcelo aquietou-se. Refez-se a atividade cerebral, qual praça em tumulto logo descongestionada. As células nervosas retomaram sua tarefa, normalizaram-se as vias do tráfego, o sistema endocrínico regressou à regularidade, as redes de estímulos restabeleceram os serviços costumeiros.

Marcelo, desapontado e abatido, caiu em profundo sono, pois Calderaro entendeu conveniente proporcionar-lhe maior repouso, não lhe permitindo a retirada em corpo perispiritual nos primeiros minutos de paz que se sucederam à forte crise.

Observando o rapaz, no conchego do leito, o instrutor fitou-me, benévolo, e perguntou:

— Lembras-te dos reflexos condicionados de Pavlov?Como não? recordava-me, sim, da famosa experiência com cães,

aplicada a fenômenos outros.— Pois bem — prosseguiu Calderaro, bondoso

—, o caso de Marcelo verifica-se em consonância com os mesmos princípios. Em existências passadas, errou em múltiplos modos, e o remorso, imperiosa força a serviço da Divina Lei, guardou-lhe a consciência, qual sentinela vigilante, entregando-o aos seus inimigos nos planos inferiores e condu-zindo-o à colheita de espinhos que semeara, logo após a perda do vaso físico, num dos seus períodos mais intensos de queda espiritual. Em consequência de tais desvios, perambulou desequilibrado, de alma doente, exposto à dominação das antigas vitimas. Desarranjou os centros perispirituais, enfermando-os para muito tempo. Sustentado pelo socorro de um grande instrutor que intercedeu por ele, renasceu mais calmo, agora, para importante serviço de resgate. Todavia, a cooperação valiosa recebida do exterior não poderia transformar-lhe de modo visceral a situação íntima. Conservava-se desafogado dos impiedosos adversários, aos quais deveria ajudar doravante; contudo, o organismo perispirítico arquivava a lembrança fiel dos atritos experimentados fora do veículo denso. As zonas motoras de Marcelo, em razão disso — salientou o atencioso orientador —, simbolizando a moradia das (forças conscientes», em sua atualidade de trabalho,

constituem uma «região perispiritual em convalescença», quais as sensíveis cicatrizes do corpo físico. Ao se reaproximar de velhos desafetos, o rapaz, que ainda não consolidou o equilíbrio integral, sujeita-se aos violentos choques psíquicos, com o que as emoções se lhe desvairam, afastando-se da necessária harmonia. A mente desorientada abandona o leme da organização perispirítica e dos elementos fisiológicos, assume condições ex-cêntricas, dispersa as energias, que lhe são peculiares, em movimentos desordenados; passam, então, essas energias a atritarem-se e a emitir radiações de baixa frequência, aproximadamente igual à da que lhe incidia do pensamento alucinado de suas vítimas. Essas emissões destruidoras invadem a matéria delicada do córtex encefálico, assenhoreiam-se dos centros corticais, perturbam as sedes da memória, da fala, da audição, da sensibilidade, da visão, e inúmeras outras sedes do governo de vários estímulos; temos, destarte, o «grande mal», de sintomatologia aparatosa, determinando as convulsões, nas quais o corpo físico, prostrado, vencido, mais se assemelha a embarcação repentinamente à matroca.As elucidações de Calderaro enchiam-me de respeito pelos fundamentos morais da vida. Compreendia agora a impossibilidade de uma psiquiatria sem as noções do espírito. Lembrou-me a luta secular entre fisiologistas e psicologistas, disputando a norma de socorro aos alienados mentais. Mesmer e Charcot, Pinel e Broca desfilaram ante minha imaginação, enriquecida de novos conhecimentos.

A interrupção das digressões do Assistente não durou muito. Devo, na verdade, consignar que, desde a primeira hora de nossas conversações, tais intermitências se fizeram habituais, parecendo-me que Calderaro intencional-mente me proporcionava tréguas para ruminar-lhe os conceitos.

Respondendo-me às Intimas ponderações, continuou:— Impossível é pretender a cura dos loucos à força de processos

exclusiva-mente objetivos.É indispensável penetrar a alma, devassar o cerne da personalidade, melhorar os efeitos socorrendo as causas; por conseguinte, não restauraremos corpos doentes sem os recursos do Médico Divino das almas, que é Jesus-Cristo. Os fisiologistas farão sempre muito, tentando retificar a disfunção das células; no entanto, é mister intervir nas origens das perturbações. O caso de Marcelo é tão somente um dos múltiplos aspectos do fenômeno epileptóide», para empregarmos a terminologia dos médicos encarnados. Esse desequilíbrio perispiritual assinala-se, todavia, por gradação demasiado complexa. A confirmação da teoria dos reflexos condicionados não se aplica exclusivamente a ele. Temos milhões de pessoas irascíveis que, pelo hábito de se encolerizarem fàcilmente, viciam os centros nervosos fundamentais pelos excessos da mente sem disciplina, convertendo-se em portadores do «pequeno mal”, em dementes precoces, em neurastênicoS de tipos diversos ou em doentes de franjas epilépticas, que andam por aí, submetidos à hipoglicemia insulínica ou ao metrazol; enquanto isso, o serem educados mentalmente, para a correção das pró-prias atitudes internas no ramerrão da vida, lhes seria tratamento mais eficiente e adequado, pois regenerativo e substancial. Enunciando tais verdades, não subestimamos o ministério dos psiquiatras abnegados, que consomem a existência na dedicação aos semelhantes, nem avançamos que todos os doentes, sem exceção, possam dispensar o concurso dos choques renovadores, tão necessários a muita gente, como ducha para os nervos empoeirados). Desejamos apenas salientar que o homem, pela sua conduta, pode vigorar a própria alma, ou lesá-la. O caráter altruísta, que aprendeu a sacrificar-se para o bem de todos, estará engrandecendo os ce-

leiros de si mesmo, em plena eternidade; o homicida, esparzindo a morte e a sombra em sua cercama, estabelece o império do sofrimento e da treva no próprio íntimo. Ao topar com irmãos nossos sob o domínio das lesões perispiríticas, consequências vivas dos seus atos, exarados pela Justiça Universal, é indispensável, para assisti-los com êxito, remontar à origem das perturbações que os molestam; isto se fará não a golpes verbalísticos de psicanálise, mas socorrendo-os com a força da fraternidade e do amor, a fim de que logrem a iinprescindível compreensão com que se modifiquem, reajustando as próprias forças...

Nesse instante, observando que o Marcelo se reerguia, o instrutor interrompeu-se nas elucidações e convidou-o a vir ter conosco novamente.

O rapaz abraçou-nos, comovido.— Então — disse fitando humildemente Calderaro —, fraquejei e caí...— Oh! não! — exclamou o orientador, afagando-o —, não te sintas em

queda. Estás ainda em tratamento, e não podemos esquecer a realidade. Teu esforço é admirável; entretanto, há que aguardar a contribuição do tempo.

Sorriu e acentuou:— Em épocas recuadas perdeste valioso ensejo de seguir na senda

progressiva, a escorregar, a resvalar... Agora, é imprescindível retomar a subida cautelosamente. O pássaro de asas débeis não pode abusar do voo.

O jovem cobrou esperanças novas e, contemplando Calderaro, reconhecidamente, inquiriu:

— Acredita o meu benfeitor que deva optar pelo uso de hipnóticos?— Não. Os hipnóticos são úteis só na áspera fase de absoluta ignorância

mental, quando é preciso neutralizar as células nervosas ante os prováveis atritos da organização perispirítica. Em teu caso, Marcelo, para a tua consciência que já acordou na espiritualidade superior, o remédio mais eficaz consiste na fé positiva, na autoconfiança, no trabalho digno, em pensamentos enobrecedores. Permanecendo na zona mais alta da personalidade, vencerás os desequilíbrios dos departamentos mais baixos, competindo-te, por isto mesmo, atacar a missão renovadora e sublime que te foi confiada no setor da própria iluminação e no bem do próximo. Os elementos medicamentosos podem exercer tutela despótica sobre o cosmo orgânico, sempre que a mente não se disponha a controlá-la, recorrendo aos fatores educativos.

O rapaz osculou-lhe as mãos enternecidamente. e Calderaro, ocultando a comoção, falou, bem-humorado:

— Nada fizemos ainda por merecer o reconhecimento de qualquer criatura. Somos não mais do que trabalhadores imperfeitos em serviço, e o serviço é a maior força que nos põe de manifesto nossas próprias imperfeições. Todos temos um credor divino em Jesus, cuja infinita bondade não nos é lícito esquecer.

E, acariciando-lhe os cabelos, acentuou:- Já lhe ouviste a palavra celestial, abandonando o mal, “para que te

não suceda coisa pior. Assim sendo, és agora feliz. Em verdade, somos presentemente felizes, porque nosso objetivo de hoje é a realização do Reino de Deus, em nós, com o Cristo. Trabalhemos com Ele, por Ele e para Ele, curando nossos males para sempre.

O jovem abraçou-se a nós, qual se fora um filho, de encontro aos nossos corações, e saímos juntos em agradável excursão de estudos, enquanto seu corpo físico repousava tranqüilamente.” (“No Mundo Maior”, André Luiz, Francisco Cândido Xavier)

PARTE II - PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

ANSIEDADEO QUE É? A ansiedade é um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas como vazio (ou frio) no estômago (ou na espinha), opressão no peito, palpitações, transpiração, dor de cabeça, ou falta de ar, dentre várias outras.A ansiedade é um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para enfrentar ameaças. O medo é a resposta a uma ameaça conhecida, definida; ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, vaga.A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações potencialmente danosas, como punições ou privações, ou qualquer ameaça a unidade ou integridade pessoal, tanto física como moral. Desta forma, a ansiedade prepara o organismo a tomar as medidas necessárias para impedir a concretização desses possíveis prejuízos, ou pelo menos diminuir suas conseqüências. Portanto a ansiedade é uma reação natural e necessária para a auto-preservação. Não é um estado normal, mas é uma reação normal, assim como a febre não é um estado normal, mas uma reação normal a uma infecção. As reações de ansiedade normais não precisam ser tratadas por serem naturais e auto-limitadas. Os estados de ansiedade anormais, que constituem síndromes de ansiedade são patológicas e requerem tratamento específico. Os animais também experimentam ansiedade. Neles a ansiedade prepara para fuga ou para a luta, pois estes são os meios de se preservarem.A ansiedade é normal para o bebê que se sente ameaçado se for separado de sua mãe, para a criança que se sente desprotegida e desamparada longe de seus pais, para o adolescente no primeiro encontro com sua pretendente, para o adulto quando contempla a velhice e a morte, e para qualquer pessoa que enfrente uma doença. A tensão oriunda do estado de ansiedade pode gerar comportamento agressivo sem com isso se tratar de uma ansiedade patológica. A ansiedade é um acompanhamento normal do crescimento, da mudança, de experiência de algo novo e nunca tentado, e do encontro da nossa própria identidade e do significado da vida. A ansiedade patológica, por outro lado caracteriza-se pela excessiva intensidade e prolongada duração proporcionalmente à situação precipitante. Ao invés de contribuir com o enfrentamento do objeto de origem da ansiedade, atrapalha, dificulta ou impossibilita a adaptação. (Fonte)

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ANSIEDADE GENERALIZADA

O QUE É? O transtorno de ansiedade generalizada é basicamente uma preocupação ou ansiedade excessivas, ou com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível de ansiedade observado. Para que se faça o diagnóstico de ansiedade generalizada é preciso que outros transtornos de ansiedade como o pânico e a fobia social- por exemplo= tenham sido descartadas. É preciso que essa ansiedade excessiva dure por mais de seis meses continuamente e precisa ser diferenciada da ansiedade normal.

Preocupar-se e ficar ansioso não é apenas uma reação normal, mas necessária para a boa adaptação individual à sociedade e ao ambiente. Como o estado de ansiedade perturba a visão que a pessoa tem a respeito de si mesma e a respeito do que acontece no ambiente é necessário que esse diagnóstico seja sempre feito por um especialista. No caso do paciente ser um profissional da saúde mental, por um outro especialista que não ele próprio. A informação das características da ansiedade generalizada não é suficiente para que uma pessoa se autodiagnostique.Mesmo um psiquiatra não teria condições de realizar esse diagnóstico a respeito de si mesmo porque ele não teria imparcialidade para julgar o que tem.

DiagnósticoUma das maneiras de diferenciar a ansiedade generalizada da ansiedade normal é através do tempo de duração dos sintomas. A ansiedade normal se restringe a uma determinada situação, e mesmo que uma situação problemática causadora de ansiedade não mude, a pessoa tende a adaptar-se e tolerar melhor a tensão diminuindo o grau de desconforto com o tempo, ainda que a situação permaneça desfavorável. Assim uma pessoa que permaneça apreensiva, tensa, nervosa por um período superior a seis meses, ainda que tenha um motivo para estar ansiosa, começa a ter critérios para diagnóstico de ansiedade generalizada. Uma vez eliminada a ocorrência de outros transtornos mentais assim como eliminada a possibilidade do estado estar sendo causado por alguma substância ou doença física, podemos admitir o diagnóstico de ansiedade generalizada. Respeitadas essas condições os sintomas que precisam estar presentes são:

1. Dificuldade para relaxar ou a sensação de que está a ponto de estourar, está no limite do nervosismo2. Cansa-se com facilidade3. Dificuldade de concentração e freqüentes esquecimentos4. Irritabilidade5. Tensão muscular6. Dificuldade para adormecer ou sono insatisfatórioPor fim, um critério presente em todos transtornos mentais é o prejuízo no funcionamento pessoal ou marcante sofrimento. Não podemos considerar os sintomas como suficientes para dar o diagnóstico caso o paciente não tenha seu desempenho pessoal, social e familiar afetados.

Características Associadas - A ansiedade patológica se manifesta da mesma forma como a ansiedade normal, ou seja, de múltiplas maneiras, tanto fisicamente como mentalmente. Além de amplamente variáveis os sintomas mudam ao longo do tempo e oscilam permitindo que a pessoa se sinta completamente bem em algumas ocasiões e pior noutras. Nos períodos que os pacientes estão livres dos sintomas, o que pode durar de horas a dias, os pacientes acreditam que ficaram recuperados. Antes de procurar um médico praticamente todos os paciente tentaram algo para melhorar seu mal estar, seja através de coisas simples como mudar a cor das roupas que veste, seja por meios mais complexos como medicações naturais ou florais. A aparente melhora que muitas vezes obtêm, só faz confundir o paciente pela coincidência que aconteceu entre uma melhora espontânea e temporária da ansiedade . Depois de alguns dias, quando a ansiedade volta, o paciente fica confuso pois a tentativa inicialmente havia funcionado e depois perdeu a eficácia. As mesmas tentativas são reforçadas ou modificadas e a ausência de resultado ou a falta de correlação entre

novas tentativas com o resultado vão deixando o paciente embaraçado, nos casos dessas tentativas de "autotratamento". Geralmente após alguns meses as pessoas se cansam e procuram um especialista. Não sabemos por enquanto se este atraso no início do tratamento prejudica o tratamento posterior, tornando-o mais difícil de ser solucionado.

Os Sintomas - A preocupação com a possibilidade de vir a adoecer com algo grave ou sofrer um acidente embora não existam indicativos de que essas coisas possam vir a acontecer é o foco mais comum das preocupações das pessoas com ansiedade generalizada. Algumas pessoas temem mais que os entes queridos sofram algum desses males, como os pais, ou filhos. Estes pacientes estão sempre imaginando situações como essas e freqüentemente se consideram incapazes de lidar com elas caso realmente venham a acontecer.As variedades dos sintomas de ansiedade são enormes e muitas vezes pessoais. Ganho de peso, por exemplo, tanto pode não ter nenhuma relação com ansiedade como pode, para determinadas pessoas, ser a manifestação mais freqüente. Os sintomas mais comuns então são: boca seca, mãos ou pés úmidos, enjôos ou diarréia, aumento da freqüência urinária, sudorese excessiva, dificuldade de engolir ou sensação de um bolo na garganta, assustar-se com facilidade e de forma mais intensa, sintomas depressivos são comuns desde que não sejam mais exuberantes que os de ansiedade pois isso mudaria o diagnóstico.O fato desses sintomas citados se parecerem com os sintomas do transtorno do pânico exigem um procedimento para distinção deste porque no pânico, o surgimento de agorafobia é mais comum e requer a indicação de terapia cognitiva. Na ansiedade generalizada não há crises mas estados permanentes e prolongados de desconforto ansioso. Os pacientes com pânico podem experimentar estados de ansiedade prolongada entre uma crise e outra mas as crises de pânico diferenciam um transtorno do outro.

Grupo de Risco - As mulheres são duas vezes mais acometidas pela ansiedade generalizada do que os homens. A prevalência desse transtorno na população é relativamente alta, em torno de 3% da população geral sendo também o tipo de transtorno de ansiedade mais freqüente do grupo dos transtornos de ansiedade. Nos períodos naturais de estresse os sintomas tendem a piorar, ainda que o estresse seja bom, como o próprio casamento ou um novo emprego. As mulheres abaixo de 20 anos são as mais acometidas, podendo, contudo, começar antes disso, desde a infância, ou pelo contrário, em idades mais avançadas, apesar da idade avançada diminuir as chances do surgimento de transtornos de ansiedade.

Transtornos Associados - Os problemas clínicos como feocromocitoma e alterações dos hormônios tireoideanos, por exemplo, devem sempre ser descartados porque a manifestação clínica dessas doenças é semelhante ao transtorno de pânico. Os demais transtornos de ansiedade também podem confundir o diagnóstico da ansiedade generalizada.A sistemática eliminação de sintomas serve como procedimento para eliminar transtornos de ansiedade que se parecem com a ansiedade generalizada. A eliminação de crises de ansiedade descarta o transtorno do pânico. A eliminação do comportamento de evitação por lugares específicos descarta a agorafobia; a evitação por submeter-se a avaliação dos outros revela a fobia social; o medo de objetos como sangue ou animais revela a fobia específica; a recorrência de pensamentos revela o transtorno obsessivo-compulsivo e a

ausência de acontecimentos traumáticos descarta o estresse pós-traumático. Na verdade a quantidade de transtornos psiquiátricos ou clínicos é numeroso. Portanto o psiquiatra deve estar sempre atento a sinais ou sintomas que surgem. Há sempre a possibilidade de se tratar de uma outra doença que provoca os sintomas semelhantes a ansiedade generalizada. Geralmente os outros problemas médicos apresentam sintomas inexistentes na ansiedade generalizada, o que deve motivar uma investigação mais detalhada com auxílio de exames de laboratório.

Curso - O transtorno de ansiedade generalizada costuma ser crônico, duradouro com pequenos períodos de remissão dos sintomas mas geralmente leva o paciente a sofrer com o estado de ansiedade elevado durante anos. Pode vir a ceder espontaneamente em alguns casos e não há meios de se prever quando isso acontecerá.

Tratamento - As medicações como os tranquilizantes benzodiazepínicos ou a buspirona são eficazes assim como os antidepressivos. É curioso que os antidepressivos sejam eficazes porem empiricamente observamos esse fato: alguns antidepressivos com mais eficácia do que outros. Além das medicações, terapias também proporcionam bons resultados sendo muitas vezes recomendada a combinação de ambas as técnicas. A terapia cognitivo-comportamental é a que mais vem sendo estudada e apresentado bons resultados. (Fonte)

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STRESS

O que é o Stress? O "STRESS" é o resultado de uma reação que o nosso organismo tem quando estimulado por fatores externos desfavoráveis. A primeira coisa que acontece com o nosso organismo nestas circunstâncias é uma descarga de adrenalina no nosso organismo, e os órgãos que mais sentem são o aparelho circulatório e o respiratório.No aparelho circulatório a adrenalina promove a aceleração dos batimentos cardíacos (taquicardia) e uma diminuição do tamanho dosvasos sangüíneos periféricos. Assim, o sangue circula mais rapidamente para uma melhor oxigenação, principalmente, dos músculos e do cérebro já que ficou pouco sangue na periferia, o que também diminui sangramentos em caso de ferimentos superficiais.No aparelho respiratório, a adrenalina promove a dilatação dos brônquios(broncodilatação) e induz o aumento dos movimentos respiratórios(taquipnéia) para que haja maior capitação de oxigênio, que vai ser mais rapidamente transportado pelo sistema circulatório, também devidamente preparado pela adrenalina. Quando o perigo passa, o nosso organismo para com a super produção de adrenalina e tudo volta ao normal. No mundo de hoje as situações não são tão simples assim e o perigo e a agressão estão sempre nos rodiando. Por isso a reação do organismo frente ao stress é de taquicardia, palidez, sudorese e respiração ofegante. Pode haver também um descontrole da pressão arterial e provocar um aumento da pressão à níveisbem altos, mas não siginifica que a pessoa seja hipertensa.

Medidas para combater o "Stress" - O combate ao stress não é fácil, mas existem algumas medidas que aliviam e podem ajudar muito. Quaisquer que sejam as medidas indicadas, o reconhecimento do problema é o primeiro passo para a cura. A partir de então programe o que fazer, o importante é tentar e mudar.

Faça exercícios físicos ou pratique esportes regularmente. Abaixa a pressão e alivia as tensões causadas pelo stress. Arrume um hobby ou um passatempo, isto ajuda a desviar a sua atenção e alivia o stress. Controle a sua dieta, melhorando seus hábitos, diminuindo o consumo de bebidas alcóolicas e deixe de fumar. Ao contrário do que muita gente pensa estas atitudes não são estressantes mas, contribuem para a diminuição do stress. Procure conversar mais com as outras pessoas, melhore o seu relacionamento, isto não vai curar mas alivia as tensões. Procure sair de férias, se for possível, e deixe de se preocupar tanto. (Lúcia Helena Salvetti De Cicco)

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O Que Provoca o Stress?

São os grandes problemas da nossa vida que, de modo agudo, ou crônico, nos lançam no estresse. Diversos pesquisadores notaram que a mudança é um dos mais efetivos agentes estressores. Assim, qualquer mudança em nossas vidas tem o potencial de causar estresse, tanto as boas quanto as más. O estresse ocorre, então, de forma variável, dependendo da intensidade do evento de mudança, que pode ir desde a morte do cônjuge, o índice máximo na escala de estresse, até pequenas infrações de trânsito ou mesmo a saída para as tão merecidas férias.

Certos eventos em nossas vidas são tão estressantes, que caracterizam a situação de trauma (lesão ou dano) psíquico. Recentemente as ciências mentais reconheceram uma nova síndrome, batizada de Distúrbio de estresse pós-traumático, uma verdadeira doença, pertencente ao estudo da angústia. Tornou-se bem sistematizada a partir da volta dos "viet-vets", ou veteranos da guerra do Vietnam. Esta doença ocorre com quadros agudos de angústia, grave e até invalidante, quando a ex-vítima é exposta a situações similares, tornando a desencadear todos os sintomas ansiosos severos, que conheceram durante a violência a que estiveram submetidos: são os "flash-backs", que revivenciam as situações traumatizantes.

Isto não é aplicado apenas a veteranos de guerra; vejam-se os crescentes índices de violência urbana e as suas vítimas, que vivem quadros de desespero permanente, quando não atendidos adequadamente em serviço psiquiátrico de reconhecida competência na área. Bombas, acidentes automobilísticos ou aéreos, desabamentos, assaltos com extrema violência, sequestros prolongados, estupros, etc. são causas comuns do distúrbio de estresse pós-traumático. O tratamento costuma ser demorado, mas tende a um bom prognóstico.

Quais São as Bases Funcionais do Stress? Da Silva, um cirurgião americano do século passado, foi o primeiro a perceber que soldados feridos só caíam prostrados após alcançarem a meta: isto é, lutavam ainda sob efeito de 'adrenalina'. O fisiologista Walter Cannon observou que as reações

alerta/luta e fuga em animais desencadeavam um maciço aumento das catecolaminas urinárias (substâncias decorrentes do metabolismo da adrenalina). O cientista que estudou pela primeira vez o estresse, Hans Selye descreveu uma resposta fisiológica generalizada ao estresse, caracterizada pela seguinte seqüência:

A percepção de um perigo eminente ou de um evento traumático é realizado pela parte do cérebro denominado córtex; e interpretado por uma enorme rede de neurônios que abrange grandes partes do encéfalo, envolvendo, inclusive, os circuitos da memória; Determinada a relevância do estímulo, o córtex aciona um circuito cerebral subcortical, localizado na parte do cérebro denominada sistema límbico, através das estruturas que controlam as emoções e as funções dos sistemas viscerais (coração, vasos sanguíneos, pupilas, sistema gastrointestinal, etc.) através do chamado sistema nervoso autônomo. Estas estruturas são a amígdala e o hipotálamo, principalmente. A ativação dessas vias vai causar alterações como dilatação pupilar, palidez, aceleração e aumento da força das batidas cardíacas e da respiração, erecção dos pelos, sudorese, paralisação do trânsito gastrointestinal, secreção da parte medular das glândulas adrenais (adrenalina e noradrenalina), etc.; e que constituem os sinais e sintomas da ativação tipo luta-ou-fuga descrevidos por Cannon; Ao mesmo tempo, o hipotálamo comanda uma ativação da glândula hipófise, situada na base do cérebro, com a qual tem estreitas relações. No estresse, o principal hormônio liberado pela hipófise é o ACTH (o chamado hormônio do estresse), que, carregado pelo sangue, vai até a parte cortical (camada externa) das glândulas adrenais (situadas sobre os dois rins), e provocando um aumento da secreção de hormônios corticosteróides. Estes hormônios têm amplas ações sobre praticamente todos os tecidos do corpo, alterando o seu metabolismo, a síntese de proteinas, a resistência imunológica, as inflamações e infecções provocadas por agressões externas, etc. O seu grau de ativação pode ser avaliado medindo-se a quantidade de cortisol no sangue.

Essa descarga dupla de agentes hormonais de intensa ação orgânica: de um lado a adrenalina, pela medula da adrenal, e de outro, os corticóides, pela sua camada cortical, levaram os cientistas a caracterizar essas glândulas como sendo o principal mediador do estresse. Essas respostas são normais em qualquer situação de dano, perigo, doença, etc. Assim, dizemos que existe um certo nível de estresse que é normal e até importante para a defesa do organismo, ao qual denominamos de eustress. O perigo para o organismo passa a ocorrer quando a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal se torna crônico e repetido. Nesse momento, começam a surgir as alterações patológicas causadas pelo nivel constantemente elevado desses hormônios. Assim, reconhece-se que o estresse tem três fases, que se sucedem quando os agentes estressores continuam de forma não interrompida em sua ação:

A fase aguda - Esta é a fase em que os estímulos estressores começam a agir. Nosso cérebro e hormônios reagem rapidamente, e nós podemos perceber os seus efeitos, mas somos geralmente incapazes de notar o trabalho silencioso do estresse crônico nesta fase.

A fase de resistência - Se o estresse persiste, é nesta fase que começam a aparecer as primeiras conseqüências mentais, emocionais e físicas do

estresse crônico. Perda de concentração mental, instabilidade emocional, depressão, palpitações cardíacas, suores frios, dores musculares ou dores de cabeça freqúentes são os sinais evidentes, mas muitas pessoas ainda não conseguem relacioná-los ao estresse, e a síndrome pode prosseguir até a sua fase final e mais perigosa:

A fase de exaustão - Esta é a fase em que o organismo capitula aos efeitos do estresse, levando à instalação de doenças físicas ou psíquicas.

Problemas Causados pelo Stress - O estresse pode ser causador e/ou agravador de uma série de doenças, que vão da asma, às doenças dermatológicas, passando pelas alérgicas e imunológicas; todas elas relacionadas de alguma forma à ativação excessiva e prolongada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.Na área do sistema digestivo, é sabido por todos que o estresse pode desencadear desde uma simples gastrite, até uma úlcera: o famoso cirurgião Alípio Corrêa Neto, da USP e da Escola Paulista de Medicina (hoje Universidade Federal de São Paulo), dizia que se alguém afirmasse, há 20 anos atrás, que a úlcera péptica era psicossomática (leia-se somatoforme), ririam dele; hoje, se deixasse de dizê-lo, ririam dele. Mas, é principalmente a nível de coração, ou mais precisamente, a nível das coronárias, que o estresse pode ser um matador silencioso. Uma ativação repetida e crônica do sistema nervoso autônomo, numa pessoa que já tenha problemas de lesão da camada interna das arterias coronárias (aterosclerose), provocadas por fumo, gordura excessiva na alimentação, obesidade ou colesterol elevado, etc., vai levar a muitos problemas, tais como: diminuição do fluxo sangüineo adequado para manter a oxigenação dos tecidos musculares cardíacos (miocárdio). Isso leva à chamada isquemia do miocárdio, que é acompanhada de dores no coração (angina), principalmente quando se faz algum esforço, e até ao infarto do coração (ataque cardíaco), provocado pela morte das células musculares do coração, por falta de oxigênio. A adrenalina tem o poder de contrair esses vasos, agravando o problema de quem já os tem com o diâmetro reduzido pelas placas. O resultado para essas pessoas pode ser até a morte, que muitas vezes acompanha um estresse agudo. Outros problemas comuns são a ruptura da parede dos vasos enfraquecidos pela placa aterosclerótica, ou a trombose (entupimento completo do vaso coronariano). Um pequeno coágulo (trombo) pode desencadear uma cascata de coagulação, que também pode levar à morte. O nível elevado de adrenalina também pode provocar alterações irregulares do ritmo cardíaco, denominadas de arritmias ("batedeira"), que também diminuem o fluxo de sangue pelo sistema cardiovascular.

Outros sintomas - No campo clínico (somático) os distúrbios ainda ditos 'neuro-vegetativos' são comuns: quadro de astenia (sensação de fraqueza e fadiga), tensão muscular elevada com cãibras e formação de fibralgias musculares (nódulos dolorosos nos músculos dos ombros e das costas, por exemplo), tremores, sudorese (suor intenso), cefaléias tensionais (dores de cabeça provocas pela tensão psíquica) e enxaqueca, lombalgias e braquialgias (dores nas costas e nos ombros e braços), hipertensão arterial, palpitações e batedeiras, dores pré-cordiais, colopatias (distúrbios da absorção e da contração do intestino grosso) e até dores urinárias sem sinais de infecção. O laboratório clínico fornece outros detalhes indicativos da intensa ativação patológica no estresse: aumento da concentração do

sangue e do conteúdo de plaquetas (células responsáveis pela coagulação sangüínea), alteração do nível de cortisol, alterações de catecolaminas urinárias e alterações de hormônios hipofisários e sexuais, além dos aumentos de glicemia (açucar no sangue) e colesterol, este por conta do LDL, ou o 'mau colesterol'.

Sintomas psíquicos - Nas ocasiões estressantes, e mesmo fora delas, manifesta-se uma gama de reações de ordem psicológica e psiquiátrica. Ou, pelo menos temporárias, perturbações de comportamento ou exacerbação de problemas sociopáticos. Os problemas ansiosos com a sintomatologia clínica, além de irritabilidade, fraqueza, nervosismo, medos, ruminação de idéias, exacerbação de atos falhos e obsessivos, além de rituais compulsivos, aumentam sensivelmente. A angústia é comum e as exacerbações de sensibilidade com provocações e discussões são mais freqüentes. Do ponto de vista depressivo, a queda ou o aumento do apetite, as alterações de sono, a irritabilidade, a apatia e adinamia, o torpor afetivo e a perda de interesse e desempenhos sexuais são comumente encontrados. Existem também as "fugas", que todos conhecemos. Quando não se apela para a auto-medicação com ansiolíticos (um perigo!), a pessoa refugia-se na bebida e mesmo no consumo de drogas ilícitas de uso e abuso, além de aumentar a quantidade de cigarros fumados, quando for fumante. São estas as condições da derrocada à qual o estresse leva a pessoa, principalmente quando esta tiver uma personalidade hiperativa.

Como Diminuir o Stress ? - Em um excelente artigo sobre estresse, principalmente no trabalho (e a maior parte de nós trabalha), o psiquiatra Cyro Masci sugere medidas profiláticas iniciais, secundárias e terciárias. Mas, em resumo, quando possível, devemos parar para pensar; para nos darmos a liberdade de termos um tempo para refletir sobre cada um de nós e seus esquemas pessoais, familiares, sociais, de trabalho, de estudos e até econômico-financeiros. Devemos reformular a vida, procurando reduzir as áreas geradoras de estresse. Um bom psiquiatra pode nos ajudar nesta tarefa. Muitas vezes haverá a necessidade de uso concomitante de um tratamento medicamentoso, geralmente através dos modernos antidepressivos serotoninérgicos (ISRS) com ou sem ansiolíticos e/ou beta-bloqueadores por um tempo definido: começo, meio e fim.Quando já existe um quadro orgânico instalado, desde uma simples gastrite a asma ou alteração cardiorrespiratória, a busca de atendimento clínico é fundamental. A correção da alteração clínica é imprescindível. E esta pode ir de um simples a complexo tratamento ou resumir-se somente às necessárias mudanças do modo de viver, incluindo lazer ou uma pequena prática esportiva constante (porque não uma caminhada diária?, que faz bem a qualquer um de nós). Mas, a principal atitude ainda é um alerta ao modo de viver e de trabalhar com as vivências e com as emoções que a vida nos proporciona. E aí está verdadeira e milenar sabedoria. (Fonte)

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Síndrome do Pânico

O que é Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico? - Síndrome do Pânico não é uma doença do cérebro causada por algum "defeito da Serotonina". Quase ninguém precisa medicação "para o resto da vida". Transtorno do Pânico cura sim, porque ele quase sempre é uma reação do

seu organismo uma situação estressante cuja saída envolve decisões importantes, perdas afetivas, financeiras, mudanças de estilo de vida, etc. Por isso recomendamos algumas medidas além da medicação. Entre elas uma forma de psicoterapia, ou Yoga ou Meditação, dependendo do caso.

1) Sintomas da Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico: Os sintomas físicos mais comuns são taquicardia, sudorese, sensação de falta de ar (não se preocupe porque ninguém jamais morreu sufocado por causa de Pânico), tremor, fraqueza nas pernas, ondas de frio ou de calor, tontura, sensação de que o ambiente está estranho, que a pessoa "não está lá" (isso se chama desrealização e não tem nada a ver com loucura, não se preocupe), de que vai desmaiar, de que vai ter um infarto, de uma pressão na cabeça, de que vai "ficar louco", de que vai engasgar com alimentos, assim como crises noturnas de acordar sobressaltado com o coração disparando e com sudorese intensa.Alguns pacientes referem diarréias intensas em determinadas situações. Outros tem todos os sintomas de uma Labirintite. Outros passam a ter pensamentos que não saem da cabeça de que poderiam ter doenças graves mesmo que todos os exames sejam normais, ou de que poderiam fazer mal a si mesmo ou a outras pessoas. Podem ocorrer pensamentos que a pessoa sabe que não fazem sentido, mas não consegue tirar da cabeça, por exemplo se atirar de uma janela, machucar alguém ou ela mesma com uma faca. Tecnicamente falando, pensamentos obsessivos, fazem do quadro clínico e desaparecem com o tratamento do pânico.

Um medo muito comum é o de "voltar a sentir medo". Muitas vezes o simples pensamento de entrar num avião ou passar ao lado de um abismo já desencadeiam a crise. Algumas pessoas vão a um cinema, teatro ou restaurante e procuram sentar-se perto da saída, outras não trancam a porta quando vão ao banheiro, sempre para sair facilmente caso venham a passar mal.É comum a pessoa ter passado por cardiologistas, clínicos, hospitais, laboratórios, etc., com todos os exames normais, a não ser, com certa freqüência, um Prolapso de Válvula Mitral, que os cardiologistas não consideram patológico. Muitas vezes as primeiras crises aparecem subitamente em situações normais e habituais. É claro que a maioria das pessoas não tem todos os sintomas acima.Uma forma mais específica da Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico se chama Fobia Social e se caracteriza por crises de ansiedade em situações como por exemplo reuniões, apresentações, discussões com superiores, assinar algum documento, cheques ou mesmo levantar uma xícara de café em público. Algumas vezes os sintomas aparecem após uma experiência traumática na qual a pessoa se sentiu indefesa ou humilhada ou sem possibilidade de reação, por exemplo assalto, seqüestro, acidentes. Essa forma mais específica de distúrbio de ansiedade se chama Distúrbio de Stress Pós Traumático.

2) Desenvolvimento de fobias: Após ter tido muitas crises, a pessoa pode não sentir mais os sintomas físicos mas continua com medos que ela mesmo percebe que não são lógicos, como por exemplo de dirigir (principalmente em congestionamentos, túneis ou estradas), de pegar ônibus, metrô, avião, de participar de reuniões, de viajar, de ficar sozinha ou de sair sozinha de casa, ou de escuridão, de ficar em lugares com muita gente como Shopping, cinema, restaurantes, filas, elevadores, ou então de

lugares muito abertos e vazios. Às vezes aparece até mesmo medo de dormir, quando a pessoa teve crises noturnas, ou de se alimentar, quando teve sensações de engasgar.

3) Causas: Psicológicas (são as mais comuns): reação a um Stress ou a uma situação difícil cuja solução é igualmente difícil. Essa situação difícil pode ser profissional, afetiva, financeira, de saúde, etc. Físicas: alterações no organismo provocadas, por medicamentos, doenças físicas, por abuso de álcool em drogas. Genética familiar de Pânico, Depressão, DOC, TAG, PTSD, DDA, etc. Atenção: predisposição genética não quer dizer hereditariedade. Ou seja, Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico não passa de pai para filho, não se preocupe. O mais comum é uma combinação de várias causas. Sofrer de Pânico não tem nada a ver com personalidade forte ou fraca, com a pessoa ser ou não corajosa.

4) O tratamento da Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico envolve: Acabar com os sintomas físicos, que costumam passar rapidamente com medicamentos. Tratar a Ansiedade Antecipatória, as Fobias e o comportamento de evitação. Nesta fase o tratamento mais eficaz é a combinação de medicação com Psicoterapia, principalmente a Cognitivo Comportamental.

5) Para a família: Geralmente a família sofre porque não consegue ajudar e sobrecarrega o paciente porque vê a pessoa passar por cardiologistas, clínicos, neurologistas, gastroenterologistas, otorrinolaringologistas, etc., fazer exames, tomar calmantes, estimulantes e vitaminas sem melhora. Então começa a dizer que é fita, "frescura", falta de força de vontade, de coragem, e começa a dar palpites para você "se ajudar" "se animar" "reagir" e etc., como se você não soubesse de tudo isso.

6) Observações: Existem alguns casos em que o primeiro remédio não produz resultado. Isso não quer dizer caso grave e nem incurável. Na maioria das vezes basta trocar a medicação. Mesmo que você já esteja se sentindo bem, não interrompa a medicação. Interromper a medicação antes da hora significa quase sempre uma recaída. A Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico é benigna e curável, quase todos os sintomas desaparecem nas primeira horas de tratamento, porem ela é muito "teimosa" e o tratamento de manutenção é longo. Evidentemente que sem sintomas, mas com a manutenção da medicação. A Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico pode reaparecer sim, mesmo que os problemas tenham acabado. Durante o Transtorno do Pânico ou Síndrome do Pânico a pessoa pode passar por fases de depressão. Isso não quer dizer que você sofra de duas doenças. Algumas pessoas com Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico tem receio de fazer ginástica. Pelo contrário, um bom condicionamento físico é sempre importante, ainda mais para quem está sujeito a ter crises de taquicardia. Além disso, ginástica libera Endorfinas, que são nossos Antidepressivos naturais e aumentam nosso bem estar. Yoga, meditação, massagem de relaxamento: sempre ajudam e muito, principalmente as duas primeiras. Diminuir álcool e cafeína (café, chá preto, chá mate, refrigerantes) sempre ajuda. (Fonte)

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Síndrome do Pânico: É um ataque repentino de pânico, ou seja, de repente sente-se algumas alterações no corpo, que causam desconforto e medo de morrer de um ataque cardíaco, derrame ou coisa parecida. Neste momento, a pessoa se desconecta do mundo e passa a perceber somente as reações do seu corpo. Uma vez em pânico ela vai sentir sensações sufocantes como dor no peito, falta de ar, formigamento nas mãos e passa a acreditar que esta tendo um treco, são sensações horríveis e reais. É muito comum a pessoa sair abruptamente do local e procurar ajuda num pronto socorro. O estresse é um dos principais causadores da síndrome do pânico, sendo responsável por 80% dos crises de pânico. As drogas representam outro enorme fator de risco. Desde os “energéticos”, na realidade estimulantes do sistema nervoso, até, evidentemente, as drogas ilícitas.

A síndrome do pânico acomete, principalmente, mulheres (na proporção de 2:1 em relação aos homens) no final da adolescência e início da juventude, mas pode ocorrer em qualquer idade. A partir da primeira crise síndrome do pânico é comum o medo e a ansiedade antecipatória de ter outra parecida. A pessoa passa a ter medo de sentir medo e começa a restringir alguns locais ou situações que possam colocá-lo novamente em pânico, é o que chamamos de fobia. Além desta ansiedade e de várias fobias, o portador também se preocupa em evitar lugares cheios demais, ou muito fechados que não dá para fugir se precisar de ajuda imediata, agorafobia. Muitas vezes o portador de pânico pode ser visto como uma pessoa medrosa, fraca e às vezes as pessoas não têm muita paciência, principalmente se já foram feitos vários exames e nada foi detectado.

SINTOMAS DA SÍNDROME DO PÂNICO: A pessoa está numa situação de tranqüilidade. Em casa, vendo TV, lendo ou conversando com amigos.De repente “aquilo” VEM! Uma sensação horrível de terror, vindo aparentemente do nada, toma conta dela. O coração dispara, há sensação de sufocação, tontura, tremores, as pernas ficam bambas e ele acha que vai morrer, ter um ataque cardíaco, ficar louca ou perder o controle. Essa sensação terrível, das mais angustiantes narradas pelo ser humano, dura cerca dez minutos entre o inicio e o final. É o chamado ataque de pânico. Se esta pessoa apresentar um único ataque seguido de medo de ter outro ou se os ataques se repetirem ela desenvolve o Transtorno de Pânico. Os principais sintomas da síndrome do pânico são: taquicardia, sudorese, falta de ar, tremor, fraqueza nas pernas, ondas de calor e frio, tontura, sensação que vai desmaiar, ter um enfarto, derrame, pressão na cabeça, sensação que o ambiente é estranho (perigoso), perigo de morte, medo de sair de casa, medo de fazer as coisas mais simples como viajar, dirigir, ir a lugares com muita gente, cinema, feiras e etc.

CAUSAS DA SÍNDROME DO PÂNICO: O estresse é um dos principais causadores da síndrome do pânico, sendo responsável por 80% dos crises de pânico. As drogas representam outro enorme fator de risco. Desde os “energéticos”, na realidade estimulantes do sistema nervoso, até, evidentemente, as drogas ilícitas.

- Abuso de medicamentos, doenças físicas, drogas ou álcool.- Reação a um stress ou situação difícil.- Predisposição genética

TRATAMENTO DA SÍNDROME DO PÂNICO: Sem tratamento adequado, a síndrome do pânico é altamente incapacitante. No tratamento da síndrome do pânico, são utilizados medicamentos para a crise de pânico, habitualmente antidepressivos, acompanhado de Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. Para as seqüelas da síndrome do pânico, nos medos decorrentes, a medicação não atua. O tratamento de escolha da síndrome do pânico é a psicoterapia comportamental e cognitiva. O mesmo se aplica ao trabalho necessário para reconduzir o paciente à sua vida normal.

Quais são as chances de recuperação no tratamento da síndrome do pânico ? - Apesar da gravidade dos sintomas, a síndrome do pânico mostra bom prognóstico ao tratamento: cerca de 70 a 90% de recuperação. Mas o INMH (Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA) adverte que apenas um terço das pessoas que tem síndrome do pânico recebem tratamento adequado. Desse modo, percebe-se a necessidade de se procurar auxilio de um psicólogo quando o individuo se vê acometido pela síndrome do pânico. A psicoterapia ajuda a trabalhar a ansiedade, as fobias e mudar a atitude perante a doença. O entrosamento e a vontade de se curar do paciente é fundamental para o tratamento da síndrome do pânico. Pode ser necessário também iniciar um tratamento psiquiátrico, com antidepressivos e ou ansiolíticos, para acabar com os efeitos físicos, provocados pelo desequilíbrio bioquímico. (Fonte)

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MEDO

MEDO - O que é? - O medo é um sentimento que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente. Pavor é a ênfase do medo. O medo pode provocar reações físicas como descarga de adrenalina, aceleração cardíaca e tremor. Pode provocar atenção exagerada a tudo que ocorre ao redor, depressão, pânico etc.Medo é uma reação obtida a partir do contato com algum estímulo físico ou mental (interpretação, imaginação, crença) que gera uma resposta de alerta no organismo. Esta reação inicial dispara uma resposta fisiológica no organismo que libera hormônios do estresse (adrenalina, cortisol) preparando o indivíduo para lutar ou fugir. A resposta anterior ao medo é conhecida por ansiedade. Na ansiedade o indivíduo teme antecipadamente o encontro com a situação ou objeto que lhe causa medo. Sendo assim, é possível se traçar uma escala de graus de medo, no qual, o máximo seria o pavor e, o mínimo, uma leve ansiedade. O medo pode se transformar em uma doença (a Fobia) quando passa a comprometer as relações sociais e a causar sofrimento psíquico. A técnica mais utilizada pelos psicólogos para tratar o medo se chama Dessensibilização Sistemática. Com ela se constrói uma escala de medo, da leve ansiedade até o pavor, e, progressivamente, o paciente vai sendo encorajado a enfrentar o medo. Ao fazer isso o paciente passa, gradativamente, por um processo de reestruturação cognitiva em que ocorre uma re-aprendizagem, ou ressignificação, da reação que anteriormente gerava a resposta de alerta no organismo para uma reação mais equilibrada. (Fonte)

MEDO:Está escuro e você está sozinho em casa. Com exceção do programa que você está assistindo na TV, o silêncio é total. Então, você ouve a porta da frente repentinamente batendo. Sua respiração acelera. Seu coração dispara. Seus músculos enrijecem. Um segundo depois, você percebe que não tem ninguém tentando entrar em sua casa. Era apenas o vento. Mas, por meio segundo, você sentiu tanto medo que reagiu como se sua vida estivesse em perigo. O que causa essa reação tão intensa? O que é o medo exatamente? Neste artigo, vamos examinar as propriedades físicas e psicológicas do medo, descobrir o que causa uma reação de medo e ver algumas maneiras de derrotá-lo.

O que é o medo? O medo é uma reação em cadeia no cérebro que tem início com um estímulo de estresse e termina com a liberação de compostos químicos que causam aumento da freqüência cardíaca, aceleração na respiração e energização dos músculos. O estímulo pode ser uma aranha, um auditório cheio de pessoas esperando que você fale ou a batida repentina da porta de sua casa.

Medo de dirigir: - Estima-se que o pânico ao volante afeta cerca de metade dos habilitados a guiar, de acordo com pesquisa nacional. Confira dicas para superar o problema. O cérebro é um órgão extremamente complexo. Mais de 100 bilhões de células nervosas compõem uma intrincada de rede de comunicações que é o ponto de largada para tudo o que sentimos, pensamos ou fazemos. Algumas dessas comunicações levam ao pensamento e à ação consciente, ao passo que outras produzem respostas autônomas. A resposta ao medo é quase inteiramente autônoma: não a disparamos conscientemente. Como as células do cérebro estão constantemente transferindo informações e iniciando respostas, há dúzias de áreas do cérebro envolvidas no sentimento de medo. Mas pesquisas mostram que determinadas partes desempenham papéis centrais nesse processo:

Tálamo - decide para onde enviar os dados sensoriais recebidos (dos olhos, dos ouvidos, da boca e da pele). Córtex sensorial - interpreta os dados sensoriais. Hipocampo - armazena e busca memórias conscientes, além de processar conjuntos de estímulos para estabelecer um contexto. Amígdala (Tonsila cerebelar) - decodifica emoções, determina possíveis ameaças e armazena memórias do medo. Hipotálamo - ativa a reação de "luta ou fuga".

O processo de criação do medo começa com um estímulo assustador e termina com a reação de luta ou fuga. Mas há pelo menos dois caminhos entre o início e o final do processo.

Criando medo - O processo de criação do medo acontece no cérebro e é totalmente inconsciente. Há dois caminhos envolvidos na reação de medo: o caminho baixo é rápido e desordenado, ao passo que o caminho alto leva mais tempo e entrega uma interpretação mais precisa dos eventos. Ambos os processos acontecem simultaneamente. A idéia por trás do caminho baixo é "não arrisque". Se a porta da frente de sua casa repentinamente bate, pode ser o vento, mas também pode ser um ladrão tentando entrar. É muito menos perigoso presumir que se trata de um ladrão e descobrir que

era só o vento do que presumir que é o vento e aparecer um ladrão em sua frente. O caminho baixo é do tipo que atira primeiro e pergunta depois. O processo desse caminho é mais ou menos assim: A porta batendo é o estímulo. Quando você ouve o som e vê o movimento, seu cérebro envia esses dados sensoriais para o tálamo. Nesse ponto, o tálamo não sabe se os sinais que está recebendo são sinais de perigo ou não. Mas, pelo fato de poder ser, ele encaminha a informação para a amígdala. A amígdala, por sua vez, recebe os impulsos neurais e age para proteger você: ela diz ao hipotálamo para iniciar a reação de luta ou fuga. O caminho alto é muito mais ponderado. Ele reflete sobre todas as opções. Será um ladrão ou será que é o vento? Esse é um processo mais longo. Quando seus olhos e ouvidos captam o som e o movimento da porta, eles desviam essa informação para o tálamo, que, por sua vez, envia a informação para o córtex sensorial, no qual é interpretada em busca de um significado. O córtex sensorial determina que há mais de uma interpretação possível para os dados e os envia ao hipocampo para que ele estabeleça um contexto. O hipocampo faz perguntas como: "Eu já vi este estímulo específico antes? Se vi, o que significou naquela vez? O que mais está acontecendo que pode me indicar se isso é um ladrão ou efeito de um vento forte"? O hipocampo pode captar outros dados sendo enviados pelo caminho alto, como o bater de galhos contra a janela, ruídos externos, etc. E, levando em consideração essas outras informações, ele determina que a batida da porta provavelmente foi resultado do vento. Depois, envia uma mensagem para a amígdala dizendo que não há perigo e a amígdala informa ao hipotálamo para desligar a reação de luta ou fuga. Os dados sensoriais a respeito da porta (os estímulos) seguem os dois caminhos ao mesmo tempo. Mas o caminho alto leva mais tempo do que o caminho baixo. É por isso que você tem um ou dois momentos de medo antes de se acalmar. Tanto o caminho alto quanto o caminho baixo levam ao hipotálamo. Essa parte do cérebro controla a reação de sobrevivência chamada de reação de luta ou fuga.

Luta ou fuga - Para produzir a reação de luta ou fuga, o hipotálamo ativa dois sistemas: o sistema nervoso simpático e o sistema adrenocortical. O primeiro usa vias nervosas para iniciar reações no corpo, ao passo que o segundo usa a corrente sangüínea. Os efeitos combinados dos dois sistemas são a reação de luta ou fuga. Quando o hipotálamo informa ao sistema nervoso simpático que é hora de entrar em ação, o efeito geral é que o corpo acelera, fica tenso e mais alerta. Se houver um ladrão à porta, você vai ter de fazer algo, e rápido. O sistema nervoso simpático envia impulsos para as glândulas e músculos lisos e diz à medula adrenal para liberar adrenalina e noradrenalina na corrente sangüínea. Esses "hormônios do estresse" efetuam várias mudanças no corpo, incluindo um aumento na freqüência cardíaca e na pressão sangüínea. Ao mesmo tempo, o hipotálamo livra o fator de liberação de corticotropina (CRF) na glândula pituitária, ativando o sistema adrenocortical. A glândula pituitária (uma das principais glândulas endócrinas - em inglês) secreta o hormônio ACTH (hormônio adrenocorticotrópico), que se move pela corrente sangüínea e finalmente chega ao córtex adrenal, no qual ativa a liberação de aproximadamente trinta hormônios diferentes para preparar o corpo para lidar com uma ameaça. A vazão repentina de adrenalina, noradrenalina e vários outros hormônios causa mudanças no corpo: aumento da pressão arterial e freqüência cardíaca; as pupilas dilatam para receber a maior quantidade possível de luz; as artérias da pele se contraem para enviar uma

quantidade de sangue mais significativa aos grupos musculares maiores (reação responsável pelo "calafrio" muitas vezes associado com o medo - há menos sangue na pele para mantê-lo aquecido); o nível de glicose sangüínea diminui; os músculos enrijecem, energizados por adrenalina e glicose (reação responsável pelos arrepios - quando pequenos músculos conectados a cada pêlo da superfície da pele tensionam, os fios são forçados para cima, puxando a pele com eles); a musculatura lisa relaxa para permitir que entre uma maior quantidade de oxigênio nos pulmões; sistemas não essenciais (como o digestivo e o imunológico) são desligados para guardar a energia para as funções de emergência; há dificuldade para se concentrar em tarefas pequenas (o cérebro deve se concentrar em somente uma coisa para determinar de onde vem a ameaça). Todas essas reações físicas têm a intenção de lhe ajudar a sobreviver a uma situação perigosa. O medo (e a reação de luta ou fuga em particular) é um instinto que todo animal possui. (Fonte)

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A RAIVA

A RAIVA: Não erraria totalmente se dissesse que vivemos a Era da raiva. Tentando verificar a aprovação social das manifestações da raiva, quatro estudos examinaram a consideração social que o sistema atribui para as pessoas “raivosas”. Esses estudos mostram que o povo atribui mais status às pessoas que expressam raiva do que às pessoas que expressam tristeza ou mágoa.

A RAIVA E O CORAÇÃO: A raiva de fato mata ou, pelo menos, aumenta significativamente os riscos de ter algum problema sério de saúde, onde se inclui desde uma simples crise alérgica, uma grave úlcera digestiva, até um fulminante ataque cardíaco.Janice Williams (médica) acompanhou por seis anos 13.000 homens e mulheres com idade entre 45 e 64 anos e, tomando o comportamento como base, descobriu que as pessoas que se irritam intensamente, e com freqüência, têm três vezes mais probabilidades de sofrer um infarto do que aquelas que encaram as adversidades com mais serenidade. Isso ocorre porque, a cada episódio de raiva, o organismo libera uma carga extra de adrenalina no sangue (veja o que acontece nas suprarenais durante o estresse). O aumento da concentração de adrenalina aumenta o número de batimentos cardíacos e, simultaneamente, torna mais estreitos os vasos sanguíneos, o que aumenta a pressão arterial. A repetição desses episódios pode gerar dois problemas em geral associados ao infarto; alteração do ritmo cardíaco (arritmia), aumento da pressão arterial e uma súbita dilatação das placas de gordura que, porventura, estejam nas artérias. A medicina tem enfatizado exaustivamente as condições de vida e de personalidade que favorecem a doença cardíaca; quem fuma, como se sabe, tem até cinco vezes mais possibilidades de sofrer um ataque cardíaco, pessoas de vida sedentária apresentam risco 50% maior de ter problemas de coração, obesidade, idem. Agora, depois de muitos estudos sabe-se que a influência da raiva no desenvolvimento de doenças cardíacas é comparável a essas causas anteriormente conhecidas, e mais, independentemente delas (Williams, 2000). Isso quer dizer que, se a pessoa não tiver nenhuma dessas condições relacionadas ao desenvolvimento de

doenças cardíacas mas for raivosa, estará igualmente sujeito à elas.A ansiedade e a raiva são perigosas à saúde. Um recente artigo de Suinn oferece uma revisão seletiva da pesquisa nessa área e ilustra como a ansiedade e a raiva aumentam a vulnerabilidade às doenças, comprometem o sistema imune, aumentam níveis de gordura no sangue, exacerbam a dor, e aumentam o risco da morte por doença cardiovascular. Os mecanismos possíveis para tais efeitos foram identificados por , incluindo o papel da resposta cardiovascular a essas emoções no agravamento da saúde (Suinn, 2001).Assim sendo, as pessoas cuja personalidade se classifica como Pavio Curto, está provado, têm muito mais chances de sofrer do coração. Parar de fumar, fazer exercícios regularmente e ter uma alimentação saudável já é difícil, hoje em dia, dominar a raiva, é mais difícil ainda. Mas é possível, graças à Deus.

Não se pode tentar estabelecer alguma relação entre raiva e agente estressor desencadeante da raiva. Essa questão varia de pessoa para pessoa e depende, basicamente, da valoração que a pessoa dá aos objetos do mundo à sua volta e dos traços de sua personalidade. Mas há um estudo que procurou relacionar os efeitos estressores do preconceito racial no sistema cardiocirculatório. Nessa pesquisa, a hostilidade e raiva elevadas foram associadas com os níveis mais elevados da pressão arterial. E mesmo a exposição indireta ao conflito racial (filmes) determina uma reação hipertensiva em pessoas previamente sujeitas ao sentimento da raiva.

A raiva como Forma de Violência: Seus sinônimos são: ira, fúria, furor, zanga. As idéias polêmicas e controvertidas de que reprimir a raiva faz mal a saúde, traz outras conseqüências psíquicas e orgânicas ou coisas do gênero, tem gerado um sem número de compressões errôneas. A raiva pode ser entendida como uma sensação de frustração que sentimos, quando esboçamos um desejo e ele não acontece. Então surge a frustração com vontade de revidar, que é a raiva. A raiva, que é a geradora de impulsos violentos contra os que nos ofendem, ferem ou invadem a nossa dignidade é a responsável por um sem número de atos de violência, incluindo a autoviolência, contra nossa própria saúde.

A Raiva e Risco de Suicídio: Sendo a raiva, teoricamente, estimulada por agentes externos (raiva de alguém, de alguma coisa...), e preocupada em saber se esses agentes externos poderiam ser responsáveis por suicídio, a psiquiatria tem pesquisado junto à pessoa portadora de Transtorno por Estresse Pós-traumático, (Veja em PsiqWeb) os fatores mais agravantes. Algumas pesquisas mostram que a pessoa portadora de Transtorno por Estresse Pós-traumático apresenta mais risco de suicídio, de acordo com sentimentos de raiva e com traços de impulsividade na personalidade, do que aquela mais serena e também portadora de Transtorno por Estresse Pós-traumático (Kotler, 2001)

A Raiva e Problemas de Relacionamento e Adaptação Social: A violência e agressividade no ambiente de trabalho são freqüentes problemas do cotidiano. Há estudos sobre a predisposição para o sarcasmo e para a raiva no ambiente do trabalho e determinados traços da personalidade (Calabrese, 2000). Concluiu-se que existem muitas variáveis para a exarcebação da raiva no ambiente de trabalho. Entre essas variáveis se incluem as influências da cultura, pessoal e do sistema, o próprio

ambiente de trabalho, se hostil ou não, os mecanismos psicológicos pessoais de defesa, as atitudes da liderança, o estresse vigente e, finalmente, das diferenças da personalidade.Outra investigação avaliou se as pessoas que haviam perpetrado algum tipo de violência, poderiam ser diferenciadas de pessoas não violentas através de medidas da raiva e da distorção cognitiva. Vê-se, como já se suspeita pelo bom senso, que as pessoas violentas tiveram níveis bem mais elevados de raiva dirigida ao exterior do que os participantes não violentos. Quando algum teste mostrava não haver diferença entre níveis da raiva entre os participantes violentos e não violentos, além do ato agressivo, os resultados sugeriam que os indivíduos mais violentos têm dificuldade em controlar sentimentos de irritabilidade e, por isso, muito mais facilidade em expressar a raiva. Nenhuma diferença significativa surgou com relação à racionalidade e intelectualidade dos dois grupos (Dye, 2000).

RAIVA E ÓDIO: O Ódio é mais profundo que a raiva. Enquanto a raiva seria predominantemente uma emoção, o Ódio seria, predominantemente, um sentimento. Paradoxalmente podemos dizer que o ódio é um afeto tão primitivo quanto o amor. Tanto quanto o amor, o ódio nasce de representações e desejos conscientes e inconscientes, os quais refletem mais ou menos o narcisismo fisiológico que nos faz pensar sermos muito especiais. Assim como o amor, só odiamos aquilo que nos for muito importante. Não há necessidade de ser-nos muito importantes as coisas pelas quais experimentamos raiva, entretanto, para odiar é preciso valorizar o objeto odiado.Em termos práticos podemos dizer que a raiva, como uma emoção, não implica em mágoa, mas em estresse, e o ódio, como sentimento, implica numa mágoa crônica, numa angústia e frustração. Nenhum dos dois é bom para a saúde; enquanto a raiva, através de seu aspecto agudo e estressante proporciona uma revolução orgânica bastante importante, às vezes suficientemente importante para causar um transtorno físico agudo, do tipo infarte ou derrame (AVC), o ódio consome o equilíbrio interno cronicamente, mais compatível com o câncer, com arteriosclerose, com a diabetes, hipertensão crônica.

O ÓDIO: A força do ódio é muito grande. Grandes grupamentos humanos podem se irmanarem através do ódio (à um inimigo comum) ou se destruírem (numa relação do tipo perseguido-perseguidor). De qualquer forma, o ódio tem uma predileção especial para se nutrir das diferenças entre o outro e o eu e, de acordo com observações clínicas, onde se cruza com o ódio há, inelutavelmente, um excesso de sofrimento físico e psíquico. O sofrimento e o ódio são tão próximos e íntimos que cada um acaba se tornando a causa do outro. (Ballone GJ - raiva e Ódio, emoções negativas - in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://gballone.sites.uol.com.br/lidando/raiva.html

Ódio é um termo que se origina do latim odiu, que é a paixão que impele a causar ou desejar mal a alguém; execração, rancor, raiva, ira: aversão a pessoa, atitude, coisa, etc.; repugnância, antipatia, desprezo, repulsão rancor profundo e duradouro que se sente por alguém; aversão ou repugnância, antipatia, etc. . O ódio pode estar voltado a inúmeros fatores como por exemplo aos desonestos, à violência, aos pobres, ricos, etc. . É um sentimento que abala relacionamentos, e cria vínculos a serem reparados,

sendo encontrado, em suas várias modalidades de manifestação e em seus variados graus de intensidade.

O ódio solapa o ser humano considerado verdadeiro flagelo psicológico. Com muita propriedade a filosofia chinesa assevera: "sentir ódio é como beber água salgada, aumenta mais a sede". (Fonte: http://www.psicologia.org.br/internacional/ap21.htm )

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Terror Noturno

Terror Noturno: Pesadelos são parte da natureza humana, entretanto, existe um tipo raro de fenômeno ameaçador durante o sono que não é exatamente como um pesadelo. Ele é chamado de "terror noturno"ou "Pavor Nocturnus" e é um severo distúrbio do sono, consistindo de ataques de terror agudo emergindo do sono profundo sem sonhos. É acompanhado por violentos movimentos corporais, agitação extrema, gritos, gemidos, falta de ar, suor, confusão, e em alguns casos, fuga da cama ou do quarto, comportamento destrutivo e agressão dirigida a objetos ou contra eles mesmos ou outras pessoas. Feridas, fraturas e lesões podem ocorrer em consequência. O terror noturno ocorre durante a fase do sono não-REM, geralmente dentro de uma hora após o sujeito ir para a cama. Um episódio pode acontecer em qualquer lugar e durar de cinco a vinte minutos enquanto o sujeito ainda está sonolento. Os olhos podem se abrir. O paciente geralmente é incapaz de se lembrar de qualquer coisa após o acontecido.

Terror noturno pode coincidir com sonambulismo, em cujo caso andar e correr ocorre em conjunção com gritos, saltos e agitação violenta. Durante o ataque de terror noturno, existe uma superativação do sistema nervoso autônomo simpático, incluindo dilatação das pupilas, sudorese, aumento nas taxas respiratórias e cardíaca, e aumento na pressão arterial. A taxa do coração (taquicardia) pode aumentar até 160 a 170 batimentos por minuto (o normal geralmente é de 60 a 100 no adulto), os quais são maiores que aqueles ocorrendo durante os episódios de estresse mais severos.

Diagnóstico:Os seguintes os critérios são usados para diagnosticar o distúrbio do terror noturno: Episódios repetitivos de despertar abrupto do sono, geralmente durante o primeiro terço de hora de sono, começando com um grito de pânico; Medo intenso e sinais de excitação autonômica; Não-responsividade relativa aos esforços para confortar a pessoa durante o episódio; O paciente lembra-se de um sonho não-detalhado e existe uma amnésia (esquecimento) do episódio; O episódio causa sofrimento ou prejuízo na vida social, trabalho ou outras áreas importantes da vida; O distúrbio não é devido aos efeitos diretos de uma droga de abuso ou medicação, ou condição médica geral.

As Causas do Terror Noturno: As causas do terror noturno ainda são desconhecidas, mas é acreditado ser fisiológico e não psicológico. Ansiedade extrema, estresse e conflitos, conscientes ou subconscientes são

fatores facilitadores. Em crianças, a precipitação de eventos traumáticos, febre e distúrbio emocional pode exibir um papel. Algumas teorias biológicas do terror noturno apontam para uma imaturidade do sistema nervoso como possível causa, mas ela não foi comprovada. Adultos podem experimentar episódios semanalmente, e algumas vezes, várias vezes na semana. O distúrbio pode levar anos para desaparecer e o tratamento é mais difícil. (Fonte)

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Deficiência física congênita e Saúde MentalPaula Costa Mosca Macedo *Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo

Introdução:As chamadas Deficiências Físicas Congênitas definem-se como qualquer perda ou anormalidade de estrutura ou função fisiológica ou anatômica, desde o nascimento, decorrente de causas variadas, como por exemplo: prematuridade, anóxia perinatal, desnutrição materna, rubéola, toxoplasmose, trauma de parto, exposição à radiação, uso de drogas, causas metabólicas e outras desconhecidas.Esta deficiência pode ser uma alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, podendo apresentar-se sob as formas de: paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral e membros com malformação.

Abaixo segue uma breve definição de cada uma destas várias formas de deficiência: - Paraplegia: paralisia total ou parcial da metade inferior do corpo, comprometendo as funções das pernas.- Paraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores.- Monoplegia: perda total das funções motoras de um só membro (podendo ser membro superior ou membro inferior).- Monoparesia: perda parcial das funções motoras de um só membro (podendo ser membro superior ou membro inferior).- Tetraplegia: paralisia total ou parcial do corpo, comprometendo as funções dos braços e pernas. - Tetraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores.- Triplegia: perda total das funções motoras em três membros.- Triparesia: perda parcial das funções motoras em três membros.- Hemiplegia: perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo).- Hemiparesia: perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo).- Paralisia Cerebral: termo amplo que designa um grupo de limitações psicomotoras resultantes de uma lesão do sistema nervoso central. Geralmente os portadores de paralisia cerebral possuem movimentos involuntários, espasmos musculares repentinos, fenômeno chamado de espasticidade. A paralisia cerebral apresenta diferentes níveis de comprometimento, dependendo da área lesionada no cérebro. Embora haja casos de pessoas com paralisia cerebral e deficiência mental, essas duas

condições não acontecem necessariamente ao mesmo tempo.- Malformação Congênita: anomalia física desde o nascimento.Pode ocorrer a associação de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa, e são chamadas de deficiências múltiplas.

Qualquer que seja a forma pela qual o indivíduo tenha a deficiência (congênita ou adquirida), ela repercute com profundas implicações psicológicas, desde a rejeição pura e simples até a dificuldade de elaborar a própria diferença em relação aos outros. O aspecto social, juntamente com o psicológico e o biológico formam um tripé sobre o qual se apóia a experiência vivida de cada pessoa portadora de deficiência.

Deficiência e Cultura: Em nossa cultura, a palavra "deficiente" tem um significado muito estigmatizante, onde a aparência de normalidade ou a invisibilidade do desvio em relação à norma são os principais elementos que podem determinar a inclusão ou a exclusão social.O que se observa é que a questão da identidade do deficiente, apesar de ser constantemente justificada pela dimensão biológica, é, na verdade, fortemente influenciada pela dimensão cultural. Não se deve, é claro, confundir essa influência com um determinismo cultural. A questão da deficiência deve ser tratada sob o ponto de vista do homem total, ou seja, de um sujeito que é biopsicossocial em sua essência.Quando dizemos que o social contribui enormemente para a definição da identidade do deficiente, não estamos afirmando que exista um determinismo social e nem tampouco que as sociedades sejam rigidamente organizadas, sem nenhum espaço para qualquer elemento desviante. Porém, é claro que qualquer "desviante" da "normalidade" em qualquer sociedade, não é inserido nos grupos e padrões sociais sem que ocorram importantes níveis de tensões.

É preciso esclarecer que as sociedades são realidades vivas e, portanto, dinâmicas, sempre sujeitas a tensões e ajustes que tentam lidar com os problemas concretos e históricos que lhes são pertinentes, inclusive com as questões relativas ao poder e a desigualdade. Mas nos importa repensar a grande carga simbólica atribuída às pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, e que só pode ser dada pelo aspecto cultural.

Filhos desejados X Filhos reais: Um outro aspecto relevante na abordagem do tema Deficiências Físicas Congênitas é o fato de que culturalmente, somos ensinados a esperar e a planejar o futuro de um filho-sonho. Desde o início imaginamos um futuro brilhante para nossos filhos. A gestação, o parto, os primeiros dias em casa, tudo se transforma em apreensão e ansiedade. Porém, alguns recém-nascidos são bem diferentes daqueles acalentados em nossos sonhos. Mas, o que acontece quando o bebê real é muito diferente do bebê desejado? Incentivados por toda a vida para receber filhos perfeitos, é natural que os pais sintam dificuldade em lidar com este filho real que apresenta diferenças e que frustram seus desejos mais íntimos de “normalidade”, além de terem que lidar com o “olhar social”.Os profissionais de saúde envolvidos neste contexto, com freqüência também costumam ser pouco hábeis diante do recém-nascido que não corresponde à expectativa dos familiares e da equipe médica. Em vez de

fortalecerem os vínculos afetivos entre pais e filho, que se inicia naquele instante, muitos profissionais da área de saúde (os primeiros a ter contato com a família), por falta de informação, de conhecimento técnico, por preconceito ou por não terem consciência sobre a importância de seu papel, agem com constrangimento, dando àquele bebê o lugar de "doente", do "diferente".

Voltando ao recém-nascido, se a limitação apresentada é grave, ou pelo menos visível, até as visitas, ansiosas e bem intencionadas perdem a naturalidade e evitam fazer comentários ou perguntas, todos apresentam dificuldades no momento de abordar o assunto. Tantos equívocos de abordagem refletem a imensa dificuldade que temos com aquela que deveria ser a mais estimulada de todas as reflexões, desde a infância: a ética do indivíduo com sua espécie e o respeito à diversidade. Discutir diversidade humana ainda é uma necessidade em tempos modernos, já que é a característica mais intrínseca do gênero humano. O bebê com deficiência nos surpreende com suas diferenças, suscita fantasias, nos remete ao desconhecido.

O que muito frequentemente e lamentavelmente ocorre, é que o meio familiar baixa imediatamente suas expectativas em relação ao seu recém-nascido real por não conseguir adequá-lo à imagem do seu recém-nascido desejado. Inabilidade esta que tende a se replicar no relacionamento familiar, e se multiplicar pelas vias sociais, contagiando de forma discriminatória todo o meio social. A deficiência se impõe à vida emocional da família, trazendo uma concretude difícil de se lidar, gerando inúmeros sentimentos ambivalentes e angustiantes, reações emocionais variadas e sentimentos de culpa. Observa-se que ao abrir caminhos para a dimensão simbólica desta vivência, o processo pode tornar-se muito mais criativo e portanto, mais adaptativo. (Fonte)

*Psicóloga do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP. Coordenadora do Programa de Capacitação e Assessoria ao Profissional de Saúde do SAPIS (Serviço de Atenção Psicossocial Integrada em Saúde).E-mail: [email protected]

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AUTISMO

Autismo - O que é? Autismo é uma desordem na qual uma criança jovem não pode desenvolver relações sociais normais, se comporta de modo compulsivo e ritualista, e geralmente não desenvolve inteligência normal. O autismo é uma patologia diferente do retardo mental ou da lesão cerebral, embora algumas crianças com autismo também tenham essas doenças. Sinais de autismo normalmente aparecem no primeiro ano de vida e sempre antes dos três anos de idade. A desordem é duas a quatro vezes mais comum em meninos do que em meninas.

Causas:A causa do autismo não é conhecida. Estudos de gêmeos idênticos indicam que a desordem pode ser, em parte, genética, porque tende a acontecer em ambos os gêmeos se acontecer em um. Embora a maioria dos casos não

tenha nenhuma causa óbvia, alguns podem estar relacionados a uma infecção viral (por exemplo, rubéola congênita ou doença de inclusão citomegálica), fenilcetonúria (uma deficiência herdada de enzima), ou a síndrome do X frágil (uma dosagem cromossômica).

Sintomas e diagnóstico: Uma criança autista prefere estar só, não forma relações pessoais íntimas, não abraça, evita contato de olho, resiste às mudanças, é excessivamente presa a objetos familiares e repete continuamente certos atos e rituais. A criança pode começar a falar depois de outras crianças da mesma idade, pode usar o idioma de um modo estranho, ou pode não conseguir - por não poder ou não querer - falar nada. Quando falamos com a criança, ela freqüentemente tem dificuldade em entender o que foi dito. Ela pode repetir as palavras que são ditas a ela (ecolalia) e inverter o uso normal de pronomes, principalmente usando o tu em vez de eu ou mim ao se referir a si própria.Sintomas de autismo em uma criança levam o médico ao diagnóstico, que é feito através da observação. Embora nenhum teste específico para autismo esteja disponível, o médico pode executar certos testes para procurar outras causas de desordem cerebral.A maioria das crianças autistas tem desempenho intelectual desigual, assim, testar a inteligência não é uma tarefa simples. Pode ser necessário repetir os testes várias vezes. Crianças autistas normalmente se saem melhor nos itens de desempenho (habilidades motoras e espaciais) do que nos itens verbais durante testes padrão de Q.I. Acredita-se que aproximadamente 70 por cento das crianças com autismo têm algum grau de retardamento mental (Q.I. menor do que 70).

Entre 20 e 40 por cento das crianças autistas, especialmente aquelas com um Q.I. abaixo de 50, começam a ter convulsões antes da adolescência. lgumas crianças autistas apresentam aumento dos ventrículos cerebrais que podem ser vistos na tomografia cerebral computadorizada. Em adultos com autismo, as imagens da ressonância magnética podem mostrar anormalidades cerebrais adicionais.Uma variante do autismo, às vezes chamada de desordem desenvolvimental pervasiva de início na infância ou autismo atípico, pode ter início mais tardio, até os 12 anos de idade. Assim como a criança com autismo de início precoce, a criança com autismo atípico não desenvolve relacionamentos sociais normais e freqüentemente apresenta maneirismos bizarros e padrões anormais de fala. Essas crianças também podem ter síndrome de Tourette, doença obsessivo-compulsiva ou hiperatividade. Assim, pode ser muito difícil para o médico diferenciar entre essas condições.

Lista de Checagem do Autismo: lista serve como orientação para o diagnóstico. Como regra os indivíduos com autismo apresentam pelo menos 50% das características relacionadas. Os sintomas podem variar de intensidade ou com a idade.

- Dificuldade em juntar-se com outras pessoas, - Insistência com gestos idênticos, resistência a mudar de rotina, - Risos e sorrisos inapropriados, - Não temer os perigos- Pouco contato visual, - Pequena resposta aos métodos normais de ensino,

- Brinquedos muitas vezes interrompidos, - Aparente insensibilidade à dor, - Ecolalia (repetição de palavras ou frases), - Preferência por estar só; conduta reservada, - Pode não querer abraços de carinho ou pode aconchegar-se carinhosamente, - Faz girar os objetos, - Hiper ou hipo atividade física, - Aparenta angústia sem razão aparente, - Não responde às ordens verbais; atua como se fosse surdo, - Apego inapropriado a objetos, - Habilidades motoras e atividades motoras finas desiguais, e - Dificuldade em expressar suas necessidades; emprega gestos ou sinais para os objetos em vez de usar palavras. (Fonte)

RETARDO MENTAL: e maneira geral, um indivíduo pode ser definido como tendo retardo mental baseado nos seguintes três critérios: - nível de funcionamento intelectual (QI) abaixo de 70 - 75, - presença de limitações significativas em duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, - a condição está presente antes dos 18 anos de idade.

Definição de retardo mental: Retardo mental diz respeito a limitações significativas no funcionamento intelectual. É caracterizado por: - retardo mental que se manifesta antes dos 18 anos de idade, - funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, concomitante a limitações em duas ou mais das seguintes áreas de habilidades adaptativas: - Comunicação e Cuidado pessoal - Vida em casa e Habilidades sociais - Funcionamento na comunidade e Autodeterminação - Saúde e segurança e Habilidades acadêmicas funcionais - Lazer e Trabalho

Quadro clínico: Os efeitos do retardo mental variam consideravelmente de pessoa para pessoa, assim como as habilidades individuais variam entre as pessoas que não tem retardo mental.

Das pessoas com retardo mental, aproximadamente 87% serão afetadas de maneira bastante leve, e serão somente um pouco mais lentas na aquisição de novas habilidades e informações. Quando crianças, seu retardo mental não é facilmente identificável, podendo não ser evidente até que elas entrem para a escola. Muitas delas, quando adultas, conseguirão levar uma vida independente na comunidade e não serão mais vistas como tendo retardo mental. Os restantes 13% da população afetada, aqueles com QI abaixo de 50, terão sérias limitações de funcionamento. Contudo, com intervenções precoces, educação funcional e com suporte adequado, quando adultos, todos poderão levar vidas satisfatórias na sua comunidade.

Causas do retardo mental: O retardo mental pode ser causado por qualquer condição que prejudique o desenvolvimento cerebral antes do nascimento, durante o nascimento ou nos anos de infância. Várias centenas de causas têm sido descobertas, mas a causa permanece indefinida em

aproximadamente um terço dos casos. As três principais causas identificadas de retardo mental são: 

a Síndrome de Down, a Síndrome alcoólico-fetal e a Síndrome do X frágil.

As causas podem ser divididas em categorias:

Condições genéticas: Resultam de anormalidades nos genes herdadas dos pais, devidas a erros de combinação genética ou de outros distúrbios dos genes ocorridos durante a gestação. Centenas de distúrbios genéticos associam-se ao retardo mental. Alguns exemplos são a fenilcetonúria, a Síndrome de Down e a Síndrome do X frágil.

Problemas durante a gestação: O uso de álcool ou outras drogas durante a gestação pode levar ao retardo mental. Alguns trabalhos têm relacionado o fumo na gestação com um risco maior de retardo mental na criança.

Outros problemas incluem a desnutrição, toxoplasmose, infecção por citomegalovírus, rubéola e sífilis. Gestantes infectadas pelo vírus HIV (AIDS) podem passar o vírus para a criança levando a dano neurológico futuro.

Problemas ao nascimento: Qualquer condição de estresse aumentado durante o parto pode levar a lesão cerebral do bebê; contudo, a prematuridade e o baixo peso ao nascer são fatores de risco independentes mais freqüentes que qualquer outra condição.

Problemas após o nascimento: Doenças da infância como catapora, sarampo, coqueluche e a infecção pelo Haemophilus tipo B, que podem levar a meningite e encefalite, também podem causar danos ao cérebro. Acidentes, intoxicações por chumbo, mercúrio e outros agentes tóxicos também podem causar danos irreparáveis ao cérebro e sistema nervoso.

Estado socioeconômico: A desnutrição também pode levar ao retardo mental. Alguns estudos também sugerem que a pouca estimulação, que ocorre em áreas muito desprovidas das experiências culturais e ambientais normalmente oferecidas às crianças, pode surgir como causa de retardo mental. (Fonte)

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SÍNDROME DE DOWN (Trissomia do Cromossomo 21)

O que é? A síndrome de Down é a forma mais freqüente de retardo mental causada por uma aberração cromossômica microscopicamente demonstrável. É caracterizada por história natural e aspectos fenotípicos bem definidos. É causada pela ocorrência de três (trissomia) cromossomos 21, na sua totalidade ou de uma porção fundamental dele.

Características Clínicas: A síndrome de Down, uma combinação específica de características fenotípicas que inclui retardo mental e uma face típica, é causada pela existência de três cromossomos 21 (um a mais do que o normal, trissomia do 21), uma das anormalidades cromossômicas mais comuns em nascidos vivos.

É sabido, há muito tempo, que o risco de ter uma criança com trissomia do 21 aumenta com a idade materna. Por exemplo, o risco de ter um recém-nascido com síndrome de Down, se a mãe tem 30 anos é de 1 em 1.000, se a mãe tiver 40 anos, o risco é de 9 em 1.000. Na população em geral, a freqüência da síndrome de Down é de 1 para cada 650 a 1.000 recém-nascidos vivos e cerca de 85% dos casos ocorre em mães com menos de 35 anos de idade.

As pessoas com síndrome de Down costumam ser menores e ter um desenvolvimento físico e mental mais lento que as pessoas sem a síndrome. A maior parte dessas pessoas tem retardo mental de leve a moderado; algumas não apresentam retardo e se situam entre as faixas limítrofes e médias baixa, outras ainda podem ter retardo mental severo.

Existe uma grande variação na capacidade mental e no progresso desenvolvimental das crianças com síndrome de Down. O desenvolvimento motor destas crianças também é mais lento. Enquanto as crianças sem síndrome costumam caminhar com 12 a 14 meses de idade, as crianças afetadas geralmente aprendem a andar com 15 a 36 meses. O desenvolvimento da linguagem também é bastante atrasado. (Fonte)

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EPILEPSIA – Capítulo especial do livro “Nos Domínios da Mediundade”, de André Luiz/Chico Xavier:

Possessão

O cavalheiro doente, na pequena fila de quatro pessoas que haviam comparecido à cata de socorro, parecia incomodado, aflito... Articulava palavras que eu não conseguia registrar com clareza, quando o irmão Clementino, consultado por Áulus, disse, cortês, para o Assistente:

— Sim, já que o esforço se destina a estudos, permitiremos a manifestação.

Percebi que o nosso orientador solicitava alguma demonstração importante. Convidados pelo instrutor, abeiramo-nos do moço enfermo que se fazia assistir por uma senhora de cabelos grisalhos, sua própria mãezinha.

Atendendo às recomendações do supervisor, os guardas admitiram a passagem de uma entidade evidentemente aloucada, que atravessou, de chofre, as linhas vibratórias de contenção, vociferando, frenética:

— Pedro! Pedro!...

Parecia ter a visão centralizada no doente, porque nada mais fixava além dele. Alcançando o nosso irmão encarnado, este, de súbito, desfecha um

grito agudo e cai desamparado. A velha progenitora mal teve tempo de suavizar-lhe a queda espetacular.

De imediato, sob o comando de Clementino, Silva determinou que o rapaz fosse transferido para um leito de câmara próxima, isolando-o da assembléia.

Dona Celina foi incumbida do trabalho de assistência.

Junto dela acompanhamos o enfermo com carinhoso interesse.

As variadas tarefas do recinto prosseguiram sem quebra de ritmo, enquanto nos insulávamos no aposento para a cooperação que o caso exigia.

Pedro e o obsessor que o jugulava pareciam agora fundidos um no outro.

Eram dois contendores engalfinhados em luta feroz.

Fitando o companheiro encarnado mais detidamente, concluí que o ataque epiléptico, com toda a sua sintomatologia clássica, surgia claramente reconhecível.

O doente trazia agora a face transfigurada por indefinível palidez, os músculos jaziam tetanizados e a cabeça, exibindo os dentes cerrados, mostrava-se flectida para trás, enquanto que os braços se assemelhavam a dois galhos de arvoredo, quando retorcidos pela tempestade.

Dona Celina e a matrona afetuosa acomodaram-no na cama e dispunham-se à prece, quando a rigidez do corpo se fez sucedida de estranhas convulsões a se estenderem aos olhos que se moviam em reviravoltas continuas.

A lividez do rosto deu lugar à vermelhidão que invadiu as faces congestas.

A respiração tornara-se angustiada, ao mesmo tempo que os esfíncteres se relaxavam, convertendo o enfermo em torturado vencido.

O insensível perseguidor como que se entranhara no corpo da vítima.

Pronunciava duras palavras, que somente nós outros conseguíamos assinalar, de vez que todas as funções sensoriais de Pedro se mostravam em deplorável inibição.

Dona Celina, afagando o doente, pressentia a gravidade do mal e registrava a presença do visitante infeliz, contudo, permanecia alerta de modo a manter-se, valorosa, em condições de auxiliá-lo.

Anotei-lhe a cautela para não se apassivar, a fim de seguir, por si própria, todos os trâmites do socorro.

Bondosa, tentou estabelecer um entendimento com o verdugo, mas em vão.

O desventurado continuava gritando para os nossos ouvidos, sem acolher-lhe os apelos comovedores.

— Vingar-me-ei! vingar-me-ei! Farei justiça por minhas próprias mãos!... — bradava, colérico.

Repreensões injuriosas apagavam-se na sombra, porqüanto não conseguiam exteriorizar-se através das cordas vocais da vítima, a contorcer-se.

Permanecia o cavalheiro plenamente ligado ao algoz que o tomara de inopino. O córtex cerebral apresentava-se envolvido de escura massa fluídica.

Reconhecíamos no moço incapacidade de qualquer domínio sobre si mesmo.

Acariciando-lhe a fronte suarenta, Áulus informou, compadecido:

— É a possessão completa ou a epilepsia essencial.

— Nosso amigo está inconsciente? — aventurou Hilário, entre a curiosidade e o respeito.

— Sim, considerado como enfermo terrestre, está no momento sem recursos de ligação com o cérebro carnal. Todas as células do córtex sofrem o bombardeio de emissões magnéticas de natureza tóxica. Os centros motores estão desorganizados. Todo o cerebelo está empastado de fluidos deletérios. As vias do equilíbrio aparecem completamente perturbadas. Pedro temporariamente não dispõe de controle para governar-se, nem de memória comum para marcar a inquietante ocorrência de que é protagonista. Isso, porém, acontece no setor da forma de matéria densa, porque, em espírito, está arquivando todas as particularidades da situação em que se encontra, de modo a enriquecer o patrimônio das próprias experiências.

Fitei, sensibilizado, o quadro triste e perguntei, com objetivo de estudo:

— De vez que nos achamos defrontados por um encarnado e por um desencarnado, jungidos um ao outro, não obstante a dolorosa condição de sofrimento em que se caracterizam, será lícito considerar o fato sob nosso exame como sendo um transe mediúnico?

Embora ativo na tarefa assistencial, o instrutor respondeu:

— Sim, presenciamos um ataque epiléptico, segundo a definição da medicina terrestre, entretanto, somos constrangidos a identificá-lo como sendo um transe mediúnico de baixo teor, porqüanto verificamos aqui a associação de duas mentes desequilibradas, que se prendem às teias do ódio recíproco.

E, fixando o par de infelizes em contorções, acrescentou:

— Nessa aflitiva situação achava-se Pedro nas regiões inferiores, antes da presente reencarnação que lhe constitui uma bênção. Por muitos anos, ele e o adversário rolaram nas zonas purgatoriais, em franco duelo.

Presentemente, melhorou. Qual ocorre em muitos processos semelhantes, os reencontros de ambos são agora mais espaçados, dando azo ao fenômeno que observamos, em razão de o rapaz ainda trazer o corpo perispirítico provisoriamente lesado em centros importantes.

Nesse ínterim, percebendo a dificuldade para atingir o obsessor com a palavra falada, Dona Celina, com o auxílio de nosso orientador, formulou vibrante prece, implorando a Compaixão Divina para os infortunados companheiros que ali se digladiavam inutilmente.

As frases da venerável amiga libertavam jactos de força luminescente a lhe saltarem das mãos e a envolverem em sensações de alívio os participantes do conflito.

Vimos que o perseguidor, qual se houvesse aspirado alguma substância anestesiante, se desprendeu automaticamente da vítima, que repousou enfim, num sono profundo e reparador.

Guardas e socorristas conduziram o obsessor semi-adormecido a um local de emergência.

E enquanto Dona Celina ministrava um pouco dágua fluidificada à genitora do enfermo, chorosa e assustadiça, retornamos à conversação cordial.

— Apesar da carga doentia que suporta na atualidade, devemos aceitar o nosso Pedro na categoria de um médium? — perguntou Hilário, atencioso.

— Pela passividade com que reflete o inimigo desencarnado, será justo tê-lo nessa conta, contudo, precisamos considerar que, antes de ser um médium na acepção comum do termo, é um Espírito endividado a redimir-se.

— Mas não poderá cogitar do próprio desenvolvimento psíquico?

O Assistente sorriu e observou:

— Desenvolver, em boa sinonímia, quer dizer “retirar do invólucro”, “fazer progredir” ou produzir. Assim compreendendo, é razoável que Pedro, antes de tudo, desenvolva recursos pessoais no próprio reajuste. Não se constroem paredes sólidas em bases inseguras. Necessitará, portanto, curar-se. Depois disso, então...

— Se é assim — objetou meu colega —, não resultará infrutífera a sua freqüência a esta casa?

— De modo algum. Aqui recolherá forças para refazer-se, assim como a planta raquítica encontra estímulo para a sua restauração no adubo que lhe oferecem. Dia a dia, ao contacto de amigos orientados pelo Evangelho, ele e o desafeto incorporarão abençoados valores em matéria de compreensão e serviço, modificando gradativamente o campo de elaboração das forças mentais. Sobrevirá, então, um aperfeiçoamento de individualidades, a fim de que a fonte mediúnica surja, mais tarde, tão cristalina quanto desejamos. Salutares e renovadores pensamentos assimilados pela dupla de sofredores em foco expressam melhoria e recuperação para ambos, porque, na

imantação recíproca em que se vêem, as idéias de um reagem sobre o outro, determinando alterações radicais.

Diante da nossa atitude cismarenta, no exame das questões complexas de que nos sentíamos rodeados, o Assistente ponderou:

— Aparelhos mediúnicos valiosos naturalmente não se improvisam. Como todas as edificações preciosas, reclamam esforço, sacrifício, coragem, tempo... E sem amor e devotamento, não será possível a criação de grupos e instrumentos louváveis, nas tarefas de intercâmbio.

Voltando, porém, a atenção para o doente adormecido, Áulus continuou:

— Nosso amigo está preso a significativo montante de débitos com o passado e ninguém pode avançar livremente para o amanhã sem solver os compromissos de ontem. Por esse motivo, Pedro traz consigo aflitiva mediunidade de provação. É da Lei que ninguém se emancipe sem pagar o que deve. A rigor, por isso, deve ser encarado como enfermo, requisitando carinho e tratamento.

Em seguida, como se quisesse recolher dados informativos para completar a lição, tocou a fronte de Pedro, auscultando-a demoradamente.

Decorridos alguns instantes de silêncio, informou:

— A luta vem de muito longe. Não dispomos de tempo para incursões no passado, mas, de imediato, podemos reconhecer o verdugo de hoje como vítima de ontem. Na derradeira metade do século findo, Pedro era um médico que abusava da missão de curar. Uma análise mental particularizada identificá-lo-ia em numerosas aventuras menos dignas. O perseguidor que presentemente lhe domina as energias era-lhe irmão consangüíneo, cuja esposa nosso amigo doente de agora procurou seduzir. Para isso, insinuou-se de formas diversas, além de prejudicar o irmão em todos os seus interesses econômicos e sociais, até incliná-lo à internação num hospício, onde estacionou, por muitos anos, aparvalhado e inútil, à espera da morte. Desencarnando e encontrando-o na posse da mulher, desvairou-se no ódio de que passou a nutrir-se. Martelou-lhes, então, a existência e aguardou-o, além-túmulo, onde os três se reuniram em angustioso processo de regeneração. A companheira, menos culpada, foi a primeira a retornar ao mundo, onde mais tarde recebeu o médico delinqUente nos braços maternais, como seu próprio filho, purificando o amor de sua alma. O irmão atraiçoado de outro tempo, todavia, ainda não encontrou forças para modificar-se e continua vampirizando-o, obstinado no ódio a que se rendeu impensadamente.

Respondendo com um olhar amigo à nossa expressão de assombro, acrescentou:

— Penetramos forçosamente no inferno que criamos para os outros, a fim de experimentarmos, por nossa vez, o fogo com que afligimos o próximo. Ninguém ilude a justiça. As reparações podem ser transferidas no tempo, mas são sempre fatais.

O ensinamento era simples, contudo, a terrível situação do enfermo fatigado e triste infundia-nos justificável espanto.

Estudando sempre, Hilário considerou:

— Se Pedro, no entanto, é ainda um médium torturado, que poderá fazer num agrupamento como este?

O instrutor sorriu e obtemperou:

O acaso não consta dos desígnios superiores. Não nos aproximamos uns dos outros sem razão. Decerto, nosso amigo possui aqui ligações afetivas do pretérito com o dever de auxiliá-lo. Se não pode, desse modo, ser um elemento valioso ao conjunto, de imediato, pode e precisa receber o concurso fraterno, imprescindível ao seu justo soerguimento.

— Curar-se-á, contudo, em tempo breve? —indaguei por minha vez.

— Quem sabe? — retrucou Áulus, sereno.

E, com o grave entono de quem pesa a substância das próprias palavras, prosseguiu:

— Isso dependerá muito dele e da vítima com quem se encontra endividado. A assimilação de princípios mentais renovadores determina mais altas visões da vida. Todos os dramas obscuros da obsessão decorrem da mente enfermiça. Aplicando-se com devotamento às novas obrigações de que será investido, caso persevere no campo de nossa Consoladora Doutrina, sem dúvida abreviará o tempo de expiação a que se acha sujeito, de vez que, em se convertendo ao bem, modificará o tonus mental do adversário, que se verá arrastado à própria renovação pelos seus exemplos de compreensão e renúncia, humildade e fé. Ainda assim, depois de se extinguirem os acessos de possessão, Pedro sofrerá os reflexos do desequilíbrio em que se envolveu, a se exprimirem nos fenômenos mais leves da epilepsia secundária, que emergirão, por algum tempo, ante as simples recordações mais fortes da luta que vem atravessando, até o integral reajuste do corpo perispirítico.

— E isso é trabalho de longa duração? — inquiriu Hilário, algo aflito.

Nosso interlocutor estampou significativa expressão fisionômica e ponderou:

— Quem poderá penetrar a consciência alheia? Com o esforço da vontade é possível apressar a solução de muitos enigmas e reduzir muitas dores. O assunto, porém, é de foro íntimo... Estejamos entretanto convencidos de que as sementes da luz jamais se perdem. Os médiuns que hoje se enlaçam a tremendas provas, se persistirem na plantação de melhores destinos, transformar-se-ão em valiosos trabalhadores no futuro que a todos aguarda em abençoadas reencarnações de engrandecimento e progresso...

E, ante a nossa admiração, concluiu:

— O problema é de aprender sem desanimar e de servir ao bem sem esmorecer.

(NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, CAPÍTULO 9, ANDRÉ LUIZ / FCXAVIER)

PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

EPILEPSIA

Definição: É uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois hemisférios cerebrais, generalizada. Por isso, algumas pessoas podem ter sintomas mais ou menos evidentes de epilepsia, não significando que o problema tenha menos importância se a crise for menos aparente.

Sintomas: Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se "desligada" por alguns instantes, podendo retomar o que estava fazendo em seguida. Em crises parciais simples, o paciente experimenta sensações estranhas, como distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do corpo. Ele pode sentir um medo repentino, um desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a consciência, a crise será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Tranqüilize-a e leve-a para casa se achar necessário. Em crises tônico-clônicas, o paciente primeiro perde a consciência e cai, ficando com o corpo rígido; depois, as extremidades do corpo tremem e contraem-se. Existem, ainda, vários outros tipos de crises. Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a pessoa recupere a consciência, são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais.

Causas: Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem em ferimentos sofridos na cabeça, recentemente ou não. Traumas na hora do parto, abusos de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas também facilitam o aparecimento da epilepsia.

Diagnóstico: Exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem são ferramentas que auxiliam no diagnóstico. O histórico clínico do paciente, porém, é muito importante, já que exames normais não excluem a possibilidade de a pessoa ser epiléptica. Se o paciente não se lembra das crises, a pessoa que as presencia torna-se uma testemunha útil na investigação do tipo de epilepsia em questão e, conseqüentemente, na busca do tratamento adequado.

Cura: Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação, pode ser considerada curada. O principal, entretanto, é procurar auxílio o quanto antes, a fim de receber o tratamento adequado. Foi-se o tempo que epilepsia era sinônimo de Gardenal, apesar de tal medicação ainda ser utilizada em certos pacientes. As drogas antiepilépticas são eficazes na maioria dos casos, e os efeitos colaterais têm sido diminuídos. Muitas

pessoas que têm epilepsia levam vida normal, inclusive destacando-se na sua carreira profissional.

Outros Tratamentos: Existe uma dieta especial, hipercalórica, rica em lipídios, que é utilizada geralmente em crianças e deve ser muito bem orientada por um profissional competente. Em determinados casos, a cirurgia é uma alternativa.

Recomendações: Não ingerir bebidas alcoólicas, não passar noites em claro, ter uma dieta balanceada, evitar uma vida estressada demais.

Crises: Se a crise durar menos de 5 minutos e você souber que a pessoa é epiléptica, não é necessário chamar um médico. Acomode-a, afrouxe suas roupas (gravatas, botões apertados), coloque um travesseiro sob sua cabeça e espere o episódio passar. Mulheres grávidas e diabéticos merecem maiores cuidados. Depois da crise, lembre-se que a pessoa pode ficar confusa: acalme-a ou leve-a para casa. (Fonte)

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EPILEPSIA / CONVULSÃO - ATAQUE EPILÉPTICO. Sinônimos: epilepsia, ter um ataque, finar-se; desmaio com tremor

O que é? Epilepsia é uma doença neurológica crônica, podendo ser progressiva em muitos casos, principalmente no que se relaciona a alterações cognitivas, freqüência e gravidade dos eventos críticos. É caracterizada por crises convulsivas recorrentes, afetando cerca de 1% da população mundial.

Uma crise convulsiva é uma descarga elétrica cerebral desorganizada que se propaga para todas as regiões do cérebro, levando a uma alteração de toda atividade cerebral. Pode se manifestar como uma alteração comportamental, na qual o indivíduo pode falar coisas sem sentido, por movimentos estereotipados de um membro, ou mesmo através de episódios nos quais o paciente parece ficar "fora do ar", no qual ele fica com o olhar parado, fixo e sem contato com o ambiente. A descarga elétrica neuronal anômala que geram as convulsões podem ser resultante de neurônios com atividade funcional alterada (doentes), resultantes de massas tumorais, cicatrizes cerebrais resultantes de processos infecciosos (meningites, encefalites),isquêmicos ou hemorrágicos (acidente vascular cerebral), ou até mesmo por doenças metabólicas (doenças do renais e hepáticas), anóxia cerebral (asfixia) e doenças genéticas. Muitas vezes, a origem das convulsões pode não ser estabelecida, neste caso a epilepsia é definida como criptogênica.

Como se desenvolve? O mecanismo desencadeador das crises pode ser multifatorial. Em muitas pessoas, as crises convulsivas podem ser desencadeadas por um estímulo visual, auditivo, ou mesmo por algum tipo específico de imagem. Nas crianças, podem surgir na vigência de febre alta, sendo esta de evolução benigna, muitas vezes não necessitando de tratamento.

Nem toda crise convulsiva é caracterizada como epilepsia. Para tal, é preciso que o indivíduo tenha apresentado, no mínimo, duas ou mais crises convulsivas no período de 12 meses, sem apresentar febre, ingestão de álcool , intoxicação por drogas ou abstinência, durante as mesmas.

O que se sente? A sintomatologia apresentada durante a crise vai variar conforme a área cerebral em que ocorreu a descarga anormal dos neurônios. Pode haver alterações motoras, nas quais os indivíduos apresentam movimentos de flexão e extensão dos mais variados grupos musculares, além de alterações sensoriais, como referidas acima, e ser acompanhada de perda de consciência e perda do controle esfincteriano. As crises também podem ser precedidas por uma sintomatologia vaga, como sensação de mal estar gástrico, dormência no corpo, sonolência, sensação de escutar sons estranhos, ou odores desagradáveis e mesmo de distorções de imagem que estão sendo vistas. A grande maioria dos pacientes, só percebem que foram acometidos por uma crise após recobrar consciência, além disso podem apresentar, durante este período, cefaléia, sensibilidade à luz, confusão mental, sonolência, ferimentos orais (língua e mucosa oral).

Como o médico faz o diagnóstico? O diagnóstico é realizado pelo médico neurologista através de uma história médica completa, coletada com o paciente e pessoas que tenham observado a crise. Além disso, pode ser necessário exames complementares como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem, como tomografia e/ou ressonância magnética de crânio. O EEG é um exame essencial, apesar de não ser imprescindível, pois o diagnóstico é clínico.

Ele não serve apenas para o diagnóstico, como também para monitorar a evolução do tratamento. Outro exame complementar que pode ser utilizado é o vídeo-EEG, no qual há registro sincronizado da imagem do paciente tendo a crise e o traçado eletroencefalográfico deste momento. As técnicas de neuroimagem são utilizadas para investigação de lesões cerebrais capazes de gerar crises convulsivas, fornecendo informações anatômicas, metabólicas e mesmo funcionais.

Como se trata? O tratamento da epilepsia é realizado através de medicações que possam controlar a atividade anormal dos neurônios, diminuindo as cargas cerebrais anormais. Existem medicamentos de baixo custo e com poucos riscos de toxicidade. Geralmente, quando o neurologista inicia com um medicamento, só após atingir a dose máxima do mesmo, é que se associa outro , caso não haja controle adequado da epilepsia.

Mesmo com o uso de múltiplas medicações, pode não haver controle satisfatório da doença. Neste caso, pode haver indicação de cirurgia da epilepsia. Ela consiste na retirada de parte de lesão ou das conexões cerebrais que levam à propagação das descargas anormais. O procedimento cirúrgico pode levar à cura, ao controle das crises ou à diminuição da freqüência e intensidade das mesmas. (Fonte)

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FOBIASQuando o Medo é Uma Doença Por Dr. Cyro Masci, (psiquiatra)

Introdução: Medo é um sentimento universal e muito antigo. Pode ser definido como uma sensação de que você corre perigo, de que algo de muito ruim está para acontecer, em geral acompanhado de sintomas físicos que incomodam bastante. Quando esse medo é desproporcional à ameaça, por definição irracional, com fortíssimos sinais de perigo, e também seguido de evitação das situações causadoras de medo, é chamado de fobia. A fobia na verdade é uma crise de pânico desencadeada em situações específicas. Existem três tipos básicos de fobias, que são: A agorafobia (literalmente, medo da ágora, as praças de mercado - o nome é muito antigo) que é o medo generalizado de lugares ou situações aonde possa ser difícil ou embaraçoso escapar ou então aonde o auxílio pode não estar disponível. Isso inclui estar fora de casa desacompanhado, no meio de multidões ou preso numa fila, ou ainda viajar desacompanhado

A fobia social, quando a pessoa tem um medo acentuado e persistente de "passar vergonha" na frente de outros, muitas vezes por temor de que as outras pessoas percebam seus sinais de ansiedade. Ela pode ser específica para uma situação (por exemplo assinar cheques ou escrever na frente dos outros) ou generalizada (por exemplo participar de pequenos grupos, iniciar ou manter conversação, ter encontros românticos, falar com figuras de autoridade, etc.)

E as fobias específicas, quando o medo acentuado e persistente é na presença (ou simples antecipação) de coisas como voar, tomar injeção, ver sangue, altura. Ou ainda o medo específico de elevador, dirigir ou permanecer em locais fechados como túneis ou congestionamentos.

Origem:Seis em cada dez pessoas com fobias conseguem se lembrar da primeira vez que a crise de medo aconteceu pela primeira vez, quando as sensações de pânico ficaram ligadas ao local ou situação em que a crise ocorreu. Para essas pessoas, há uma ligação muito clara entre o objeto e a sensação de medo. Por exemplo, uma pessoa tem uma crise de pânico ao dirigir, e a partir desse dia passa a evitar dirigir desacompanhada, com temor de passar mal e não ter ninguém por perto para auxiliá-la. E talvez esse temor se expanda para um local aonde a saída seja difícil em caso de "passar mal", como cinemas e teatros. Surgiu assim uma agorafobia, um medo generalizado a "passar mal" e não ter como escapar ou receber auxílio. Uma outra pessoa, por exemplo, pode ter tido uma experiência traumática de um acidente de carro, e a partir desse dia não querer mais andar de carro, desenvolvendo uma fobia específica a carros. Perceba que o medo de andar de carros é igual, mas a origem, e na verdade o próprio medo, são fundamentalmente diferentes. No primeiro caso, o que se evita é ficar numa situação em que o socorro possa ser complicado, e no segundo caso, o que se evita é o carro em si mesmo.

Mas por qual motivo uma pessoa desenvolve uma fobia? E ainda, por quais razões algumas fobias são mais comuns que outras? Vários neurocientistas

acreditam que fatores biológicos estejam francamente ligados. Por exemplo, encontrou-se um aumento do fluxo sangüíneo e maior metabolismo no lado direito do cérebro em pacientes fóbicos. E já foi constatado casos de gêmeos idênticos educados separadamente que desenvolveram um mesmo tipo de fobia, apesar de viverem e serem educados em locais diferentes.

Também parece que humanos nascem preparados biologicamente para adquirir medo de certos animais e situações, como ratos, animais peçonhentos ou de aparência asquerosa (como sapos, lesmas ou baratas). Numa experiência clássica, Martin Seligman associava um estímulo aversivo (um pequeno choque) a certas imagens. Dois ou quatro choques eram suficientes para criar uma fobia a figuras de aranha ou cobra, e muitas mais exposições eram necessárias para uma figura de flor, por exemplo.

A provável explicação é que esses temores foram importantes para a sobrevivência da espécie humana há milênios, e ao que parece trazemos essa informação muitas vezes adormecida mas que pode ser despertada a qualquer momento.

Outra razão para o desenvolvimento das fobias pode ser o fato de que associamos perigo a coisas ou situações que não podemos prever ou controlar, como um raio numa tempestade ou o ataque de um animal. Nesse sentido, pacientes com quadro clínico de transtorno de pânico acabam desenvolvendo fobia a suas próprias crises, e em conseqüência evitando lugares ou situações que possam se sentir embaraçados ou que não possam contar com ajuda imediata. E por fim, há clara influência social. Por exemplo, um tipo de fobia chamada taijin kyofusho é comum apenas no Japão. Ao contrário da fobia social (em que o paciente sente medo de ser ele mesmo humilhado ou desconsiderado em situação social) tão comum no ocidente, o taijin kyofusho é o medo de ofender as outras pessoas por excesso de modéstia e consideração. O paciente tem medo que seu comportamento social ou um defeito físico imaginário possa ofender ou constranger as outras pessoas. Como se percebe, esse tipo de fobia é bem pouco encontrado em nosso meio... O que há em comum em todas as fobias é o fato de que o cérebro faz poderosos links em situações de grande emoção. Para entender o que se passa, é interessante lembrar de uma situação universal: você provavelmente, em algum tempo de sua vida, estava com outra pessoa, numa situação bastante agradável, e ao fundo tocava uma música. Agora, quando você ouve a música, lembra da situação. E se parar para pensar bem, não apenas lembra da situação, mas talvez sinta as mesmas sensações agradáveis.

Para o cérebro, o fenômeno é o mesmo. Fortes emoções em geral ficam ligadas ao que acontece em volta. Em geral as fobias ocorrem quando a crise de pânico é desencadeada em situações que já são potencialmente perigosas. Por exemplo: nenhum animal (e nós somos animais, lembra-se?) gosta de ficar acuado ou perto de algum outro animal que possa lhe trazer riscos. Estar preso no trânsito, num elevador, num shopping é, para quem sofre de certos tipos de fobia, uma situação de "ficar acuado", sem saída. Por isso, muitos pacientes com pânico acabam desenvolvendo fobias a lugares fechados.

Fobias e Pânico: Já que as fobias são um "pânico com objeto", ou seja, são crises de pânico que somente acontecem em situações ou lugares

específicos, é importante entender como uma crise de pânico é formada. Para isso, é interessante comparar sua cabeça com um carro que possui um alarme contra ladrões, desses que basta você encostar na carroceria para ele disparar. Esse sistema de alarme é o cérebro antigo, em especial o sistema límbico, com suas reações de luta ou fuga. Esse alarme tem que tocar em situações de perigo real. No entanto, para certas pessoas, esse sinal de perigo é desencadeado sem nenhuma razão aparente, como você talvez já tenha visto em estacionamentos, quando um alarme de carro dispara sem que nada tenha acontecido. Essa situação é conhecida como ataque de pânico. Para outras pessoas, esse alarme é disparado em situações indevidas, como por exemplo em elevadores, lugares fechados, ou no trânsito. Essa situação é conhecida como fobia.

A síndrome do pânico é uma mistura dessas duas situações. Numa primeira fase, quem tem o transtorno (= síndrome) do pânico, tem ataques sem motivo algum. E numa segunda fase, passa a ter os mesmos sintomas nas situações ou lugares em que já teve os ataques. Assim, se a pessoa tem um ataque dentro de um carro, passa a evitar dirigir sozinha, ou não dirige mais. Se foi num lugar fechado, passa a não entrar em bancos, shopping centers, cinemas, teatros. Ou se entra, procura ficar bem próximo da saída... E para muitos, o simples fato de pensar, lembrar ou ver uma imagem da situação já é o bastante para desencadear a crise.

Sintomas:Quem sofre de fobia, ao se deparar (ou às vezes simplesmente imaginar...) com as situações que desencadeiam suas crises, sentem um enorme medo, em geral acompanhados de pelo menos quatro dos seguintes sintomas:

- falta de ar, - palpitações, - dor ou desconforto no peito, - sensação de sufocamento ou afogamento, - tontura ou vertigem, - sensação de falta de realidade, - formigamento, - ondas de calor ou de frio, - sudorese, - sensação de desmaio, tremores ou sacudidelas, - medo de morrer ou de enlouquecer ou de perder o controle.

O que diferencia em grande parte alguém que tenha fobia de uma pessoa que tenha simples medo, é que pessoas com fobia passam a evitar a qualquer custo as situações que desencadeiam as crises, alterando sua rotina de vida. Pacientes fóbicos com freqüência têm suas vidas complicadas por dois fatores. O primeiro é que em geral não confiam na sua capacidade de enfrentar os sintomas, temendo qualquer lugar aonde não possa contar com ajuda. E o segundo é que costumam super valorizar os sintomas, achando literalmente que vão morrer, que vão ter um ataque do coração, um derrame, ou que possuem alguma doença grave e misteriosa. A maior conseqüência da primeira complicação (a falta de confiança nos próprios recursos) é um isolamento progressivo, um empobrecimento de vida que impede a maioria das ações do dia-a-dia. E a maior conseqüência da segunda complicação (a catastrofização dos sintomas) é uma eterna busca por cuidados médicos ao mesmo tempo em que pequenos sinais do

corpo já são interpretados como indícios de que a crise está vindo, de que a morte pode chegar a qualquer momento.

O ciclo vicioso das fobias: Quem sofre de fobia tem suas crises de pânico desencadeadas por alguma situação específica (as fobias) no cérebro antigo. Quando começa a sentir as sensações de luta ou fuga (o alarme de emergência), imediatamente é inundado por imagens de catástrofe. Essa interpretação dos sintomas como sendo uma catástrofe é recebida pelo cérebro antigo novamente, aumentando os sintomas a níveis estratosféricos. Ao mesmo tempo, sua respiração fica bastante alterada, o que muda a química do sangue de maneira significativa. Essa mudança na química do sangue, por si só, aumenta ou desencadeia novas crises. Aí então os sintomas são muito assustadores. Como os sintomas são muito desagradáveis, isso acaba por confirmar na cabeça da pessoa que realmente os sintomas iniciais indicavam um grande problema. Em outras palavras, os sintomas asseguram na imaginação da pessoa que ela realmente corria perigo. Essa situação é percebida pelo cérebro antigo, que tenta ajudar da única maneira que consegue: desencadeando novas reações de luta ou fuga, novas crises de pânico. E assim o ciclo vicioso se fechou...

http://www.cerebromente.org.br/n05/doencas/fobias.htm http://www.cerebromente.org.br/n05/doencas/fobias2.htm#FP

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O que é fobia?

A fobia não é uma doença, mas um sintoma que pode aparecer em várias doenças mentais. Um quadro psicótico, ou depressivo, ou neurótico, podem apresentar, como sintoma, uma fobia. Resumidamente, a fobia é um medo de alguma coisa deslocado para um medo de outra coisa. É uma angústia relativa a uma situação difícil de se lidar. A mente desloca a angústia dessa situação para uma outra que, aparentemente, não tem nada a ver. Por exemplo, tem gente que tem pânico de entrar no elevador. Por quê? Elevador é perigoso? Pode até ser, mas não tem gente morrendo o tempo todo por cair de elevador. O medo de elevador, portanto, não é razoável, não é lógico, não é coerente. Por quê essa pessoa tem esse medo? Não tem nada a ver com o elevador propriamente dito. Têm a ver com o espaço fechado, trancado, e com algum outro medo da história psicológica dessa pessoa, do seu desenvolvimento psíquico, relacionado com se sentir fechado, trancado, isolado, desamparado, sozinho. Este tipo de medo está deslocado para a situação do elevador.

Qualquer fobia é sempre assim: um medo que está inserido na história psíquica dessa pessoa, no desenvolvimento psíquico dela, das angústias que ela passou durante o seu desenvolvimento, que a sua mente não conseguiu elaborar. Esse medo está lá, de prontidão. A pessoa precisa eleger um determinado objeto ou situação para responsabilizar por esse medo.

Qual a diferença entre o medo normal e a fobia? O medo é uma reação psicológica e fisiológica normal, em resposta a alguma ameaça ou perigo, ou à antecipação dos mesmos. A fobia é um medo excessivo e

irracional, desencadeado pela exposição ou antecipação de determinada situação ou objeto. As pessoas com fobias específicas percebem que seu nível de medo é excessivo, mas mesmo assim evitam qualquer exposição ao objeto/situação temido. Essa hesitação leva a ansiedade, e esses dois fatores causam grande impacto na vida da pessoa.

Existe relação entre fobia e trauma? Existe, em termos leigos, a idéia de que os problemas psicológicos são causados por traumas. Na verdade, não existe bem um trauma, o importante não é pensar numa coisa que aconteceu, mas nas dificuldades que esta pessoa foi tendo no desenvolvimento da sua personalidade para se constituir como sujeito. Essa série de dificuldades é que vão gerar angústias. E são essas angústias que são passadas para uma determinada situação. Então não dá para pensar em um trauma, mas numa sucessão de traumas, de questões ou de problemas.

As fobias "crescem"? Sabe-se que sim. Existe o caso famoso de Hans, estudado por Freud: a fobia do pequeno Hans. O menino que tinha fobia de cavalo. No início ele tem fobia de cavalos, depois do lugar onde ficam os cavalos, depois a fobia passa para qualquer rua onde talvez possa ser encontrado um cavalo, depois a fobia se estende às carroças carregadas que estão sendo puxadas por cavalos, de tal forma que a fobia vai se estendendo tanto que limita a vida do indivíduo. Chega um ponto em que ele não pode mais sair na rua, não pode mais fazer nada.

Quando é mais comum o surgimento das fobias? Pode-se dizer que no início da infância é comum o aparecimento de algumas fobias. É muito raro encontrar-se uma criança que não passou por uma fobia ou por um período de fobia na infância. Algum tipo de fobia, como por exemplo, fobia de escuro, é muito comum. Quase todas as crianças têm fobia de escuro. Fobia de raio, trovão, tempestade. É quase normal que uma criança na primeira infância tenha quadros fóbicos, que se resolvem espontaneamente. Na verdade, estas fobias são um jeito que a cabeça da gente arruma para lidar com as angústias, e que a criança está tendo que dar conta. Então, ela tem medo do bicho papão, ou não dorme no escuro de jeito nenhum. São quadros fóbicos quase normais na primeira infância. É que à medida que a criança cresce, deixam de ser significativos, desaparecem e pronto.

Existe prevenção para a fobia? Não há como prevenir a fobia. O que se pode fazer é criar uma estrutura psicológica mais firme. Uma criança criada com mais segurança, com mais amor, mais afeto, amparo, mais protegida adequadamente, porém não de maneira exagerada. Essa criança tem o seu desenvolvimento psicológico mais adequado, estando menos sujeita às fobias do que uma outra criança com uma série de problemas, encrencas, de pais separados e outras questões... Uma insegurança na constituição psicológica é que vai determinar o aparecimento de fobias.

Uma fobia pode surgir na idade adulta? A fobia pode aparecer em qualquer momento da vida do indivíduo. Um sintoma que não tinha antes e, de repente, pode aparecer. O mais comum, desse tipo de aparecimento, é a famosa síndrome do pânico, que também é um quadro que apresenta uma série de fobias, podendo aparecer a qualquer hora. De repente a pessoa começa a ter pânicos e medos.

Existe lugar para o tratamento medicamentoso na fobia? Às vezes, sim, como na síndrome de pânico. Nela, é importante haver o tratamento medicamentoso para controlar as crises. Porém, o tratamento medicamentoso isolado não adianta, porque se deve ajudar a pessoa a desenvolver a capacidade de desassociar seus medos do objeto escolhido. É preciso enriquecer a cabeça da pessoa, para ajudá-la a fazer historinhas, dramatizar mais, para dar conta da angústia. Se você, apenas, tira o sintoma da crise e não ajudar a cabeça a funcionar melhor, com a medicação ela vai acabar desenvolvendo outro tipo de sintoma.

Qual o tempo de tratamento? O tratamento consiste em tentar restabelecer as conexões perdidas. É um tratamento psicoterápico, de duração indeterminada. Você começa a lidar com a questão e poderá lidar alguns meses ou muitos anos, não tem uma regra. Depende tanto da pessoa, como do terapeuta, acharem que tem sentido continuar lidando ou não.

Qual o maior impacto da fobia na vida da pessoa? É o impedimento da vida; as pessoas ficam cerceadas, se trancam no quarto, não saem mais de casa. Esse é o grau máximo, o impedimento de vida. É a pessoa que só sai à rua com uma entidade denominada "acompanhante fóbico". São pessoas que só saem na rua acompanhadas, caso contrário, não conseguem sair para lugar nenhum. Esse é um cerceamento relativo, mas existem casos mais graves.

Copyright © 2007 Bibliomed, Inc. 01 de novembro de 2007 http://boasaude.uol.com.br/lib/showdoc.cfm?LibCatID=-1&Search=&CurrentPage=0&LibDocID=5161

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Lista de Fobias: Apresentamos a seguir uma compilação de termos de psicologia e psiquiatria a partir do dicionário Aurélio para os tipos de fobias mais comuns. Caso tenha dúvidas nas legendas clique aqui. Termos de psiquiatria e psicologia não conhecidos podem ser encontrados em nosso dicionário.

abissofobia: [De abisso + -fobia.] Horror a abismos e a precipícios.

acarofobia: (àca). [De acaro- + -fobia.] Receio patológico de ácaros.

acrofobia: [De acr(o)-1 + -fobia.] Medo mórbido de altura, de lugares elevados.

acusticofobia: (cùs). [De acustico- + -fobia.] Medo patológico de sons.

aerodromofobia: [De aer(o)- + -drom(o)- + -fobia.] Medo patológico de viagem aérea.

aerofobia: [De aer(o)- + -fobia.] Medo mórbido do ar, de correntes de ar, etc.

agorafobia: [De agora- + -fobia.] Medo mórbido e angustiante de lugares públicos e grandes espaços descobertos.

[Cf. agorafilia e claustrofobia.]

ailurofobia: [De ailur(o)- + -fobia.] V. elurofobia.

algofobia: [De alg(o)-2 + -fobia.] Terror mórbido de sensação dolorosa. [Opõe-se a algofilia.]

amaxofobia: (cs). [De amaxo- + -fobia.] Sensação de medo em presença de veículos.

amicofobia: [De amico- + -fobia.] Receio mórbido de ser arranhado, como, p. ex., por garra de animal.

androfobia: [De andr(o)- + -fobia.] Horror ao sexo masculino.

nemofobia: [De anemo- + -fobia.] Medo patológico de vento.

antofobia: [De ant(o)- + -fobia.] Aversão patológica a flores.

apifobia: [De ap(i)- + -fobia.] Medo patológico de abelhas e de seus ferrões.

aracnofobia: [De aracn(o)- + -fobia.] Medo mórbido de aranha.

astrofobia: [De astr(o)- + -fobia.] 1. Medo mórbido de trovões e relâmpagos. 2. Medo de astros, do espaço celeste.

ataxofobia: (cs). [De ataxo- + -fobia.] Medo patológico de desordem.

autofobia: [De aut(o)-1 + -fobia.] Medo patológico de si mesmo e de solidão.

automisofobia: [De aut(o)-1 + misofobia.] Horror patológico à sujeira pessoal.

bacilofobia: [De bacilo + -fobia.] Medo patológico de germes patogênicos.

basifobia: [De bas(i)- + -fobia.] Medo mórbido de cair, ao andar; basiofobia, basofobia.

basiofobia: [De basio- + -fobia.] V. basifobia.

basofobia: [De baso- + -fobia.] V. basifobia.

batmofobia: [De batmo- + -fobia.] Medo patológico de escadas ou de ladeiras altas.

batofobia: batofobia1 [De bato-2 + -fobia.] 1. Horror a lugares profundos, ou como que profundos. 2. Medo patológico de passar perto de, ou entre estruturas altas, como edifícios, montanhas, etc.

batracofobia: [De batrac(o)- + -fobia.] Medo mórbido de batráquios.

bromidrosefobia: [De bromidrose + -fobia.] ng: 0; margin: 0">Medo patológico de odores corporais, com percepções ilusórias quanto a eles.

brontofobia: [De bront(o)- + -fobia.] Medo mórbido de trovão.

cardiopatofobia: [De cardi(o)- + -pat(o)- + -fobia.] Medo patológico de cardiopatia.

catoptrofobia: [De catoptro- + -fobia.] Aversão patológica a espelhos.

cenofobia: [De cen(o)-1 + -fobia.] 1. Medo patológico de grandes espaços abertos. 2. Medo patológico de coisas novas; cenotofobia, neofobia.

cenotofobia: [De cenoto- + -fobia.] V. cenofobia 2.

cinofobia: [De cin(o)- + -fobia.] Medo mórbido dos cães.

cipridofobia: [Do mit. gr. K Wpris, idos, 'Afrodite', + -fobia.] 1. Medo patológico de doença venérea. 2. Medo patológico de relação sexual.

[Sin. ger.: venereofobia.] claustrofobia: [De claustro- + -fobia.] Estado psicopatológico caracterizado pelo medo de estar ou passar em lugares fechados ou de tamanho reduzido.

[Opõe-se a claustrofilia. Cf. agorafobia.] cleptofobia: [De clepto- + -fobia.] Medo mórbido de ser roubado, ou de cometer furto, ou de estar em débito.

climacofobia: [De climaco- + -fobia.] Medo patológico de escadas ou de galgá-las.

coitofobia: [De coito1 + -fobia.] Medo patológico de coito1.

coprofobia: [De copr(o)- + -fobia.] Repugnância patológica à defecação e às fezes.

coprostasofobia: [De copr(o)- + -(e)stas(i)- + -o- + -fobia.] Medo patológico de sofrer de constipação (1).

crematofobia: [De cremato- + -fobia.] Aversão patológica a dinheiro.

cremnofobia: [De cremno- + -fobia.] Medo patológico de precipícios.

cromatofobia: (crô). [De cromat(o)- + -fobia.] Medo patológico de cor(es).

cronofobia: [De cron(o)- + -fobia.] Medo patológico do tempo, ou do envelhecimento.

demofobia: [De demo- + -fobia.] Temor patológico a multidão.

dendrofobia: [De dendr(o)- + -fobia.] Horror às árvores. [Opõe-se a dendrofilia.]

dismorfofobia: [De dismorfo- + -fobia.] Medo patológico de deformidade corporal, presente ou futura.

domatofobia: (dô). [De domato- + -fobia.] Medo patológico de estar dentro de uma casa.

dorafobia: [De dora- + -fobia.] Medo patológico de pele ou pêlo de animal.

elurofobia: [De elur(o)- + -fobia.] Medo patológico de gato. [F. impr.: ailurofobia.]

emetofobia: (êm). [De emet(o)- + -fobia.] Horror ao vômito.

entomofobia De entom- + -fobia.] Medo patológico à insetos.

eremofobia: [De eremo- + -fobia.] Medo patológico à solidão.

ereutofobia: [De ereuto- + -fobia.]

Medo de enrubescer na presença de outrem.

ergasiofobia: (gà). [De ergasio- + -fobia.] 1. Aversão patológica a trabalho. 2. Medo indevido de sofrer intervenção cirúrgica.

eritrofobia: [De eritr(o)- + -fobia.] 1. Manifestação neurótica caracterizada por enrubescimento ao menor estímulo. 2. Medo patológico de enrubescer. 3. Aversão patológica à cor vermelha.

erotofobia: [De erot(o)- + -fobia.] Horror ao ato sexual.

escopofobia: [De escopo- + -fobia.] Receio mórbido de ser visto.

estasiofobia: [De estasi(o)- + -fobia.] Medo mórbido de se pôr de pé.

fagofobia: [De fag(o)- + -fobia.] Medo patológico de alimentar-se.

filofobia: [De fil(o)-2 + -fobia.] Medo patológico de fazer amigos.

fobofobia: [De fob(o)- + -fobia.] Medo de seus próprios medos.

fonofobia: [De fon(o)- + -fobia.] Aversão patológica a sons, e à fala em tom alto.

ftiriofobia: [De ftirio- + -fobia.] Aversão patológica a piolhos.

gamofobia: [De gam(o)- + -fobia.] Medo patológico de casamento.

gefirofobia: (è). [De gefiro- + -fobia.] Medo patológico de andar em ponte, margem de rio, ou outro local perto de água.

gimnofobia: [De gimn(o)- + -fobia.] Aversão ao, ou medo do nu. [Cf. ginofobia. ]

ginecofobia: (è). [De gineco- + -fobia.] Aversão patológica a convívio com mulheres; ginofobia. ginofobia: [De gin(o)- + -fobia.] V. ginecofobia. [Cf. gimnofobia.]

grafofobia: [De graf(o)- + -fobia.]

Medo patológico de escrever.

hafefobia: [De haf(e)- + -fobia.] Receio patológico de tocar ou de ser tocado.

heliofobia: (è). [De heli(o)- + -fobia.] Medo patológico da luz solar.

helmintofobia: [De helmint(o)- + -fobia.] Medo patológico de ser infectado por helminto, por verme.

hematofobia: [De hemat(o)- + -fobia.] S. f. Psiq Horror ao sangue.

herpetofobia: [De herpet(o)-1 + -fobia.] Medo patológico de répteis.

hialofobia: [De hial(o)- + -fobia.] Medo patológico de vidro.

hidrofobia: [Do gr. hydrophobía, pelo b.-lat. hydrophobia.] Horror aos líquidos.

hidrofobofobia: [De hidrófobo + -fobia.] V. lissofobia.

higrofobia: [De higr(o)- + -fobia; lat. hygrophobia.] Horror à umidade, que não se adapta a ela.

hipnofobia: [De hipn(o)- + -fobia.] 1 Medo de dormir. 2. Terror ou medo durante o sono.

hipsofobia: [De hips(o)- + -fobia.] Medo mórbido das alturas.

hodofobia: [De hodo- + -fobia.] Aversão patológica a percorrer caminhos.

homofobia: [De hom(o)- + -fobia.] Aversão a homossexuais ou ao homossexualismo

ictiofobia: (ìc). [De icti(o)- + -fobia.] versão patológica a peixes.

ideofobia: (ìd). [De ideo- + -fobia.] 1 Medo mórbido de perder a razão. 2. Medo ou desconfiança de idéia(s).

iofobia: [De io- + -fobia.] Medo patológico de venenos.

lalofobia: [De lal(o)- + -fobia.]

Medo mórbido de falar, decorrente, por vezes, de gagueira; logofobia.

lemofobia: [De lemo- + -fobia.] Horror à peste (1), ou a qualquer doença altamente contagiosa.

levofobia: [De lev(o)- + -fobia.] Medo mórbido de tudo que se situa do lado esquerdo daquele que sofre de tal fobia.

lissofobia: [De liss(o)-2 + -fobia.] Medo mórbido de contrair raiva (1); hidrofobofobia.

livrofobia: [De livro + -fobia.] Horror aos livros.

logofobia: [De log(o)- + -fobia.] Lalofobia (q. v.).

maieusofobia: [De maieuso- + -fobia.] Medo mórbido do parto.

melofobia: [De mel(o)-1 + -fobia.] Musicofobia (q. v.).

misofobia: [De miso- + -fobia.] Temor doentio dos contatos, pelo receio de infecção ou contaminação.

monofobia: [De mon(o)- + -fobia.] Horror mórbido à solidão.

musicofobia: (mù). [De musico- + -fobia.] Aversão à música; melofobia.

necrofobia: [De necr(o)- + -fobia.] Horror mórbido à morte.

neofobia: [De ne(o)- + -fobia.] V. cenofobia2.

nictofobia: [De nict(o)- + -fobia.] Medo doentio da noite, da escuridão.

nosofobia: [De noso- + -fobia.] Medo de adoecer, que pode levar alguém a tratar-se de doenças de que não sofre. [Sin. ger.: patofobia.]

nudofobia: [De nudo- + -fobia.] Aversão ou sensação mórbida que se experimenta por ficar nu.

oclofobia: [De oclo- + -fobia.] Horror ou aversão à plebe, à multidão.

odinofobia: [De odin(o)- + -fobia.]

Medo patológico de dor.

ofidiofobia: (fì). [De ofídio2 + -fobia.] Medo mórbido de ofídios.

ombrofobia: [De ombro- + -fobia.] Medo mórbido de chuvas, temporais e tempestades.

orofobia: [De or(o)- + -fobia.] Horror mórbido às montanhas.

pacnofobia: [De pacno- + -fobia.] Medo patológico de neve; quionofobia.

panfobia: [De pan- + -fobia.] V. pantofobia.

panofobia: [De pan- + -o- + -fobia.] V. pantofobia.

pantofobia: [De pant(o)- + -fobia.] Estado de ansiedade que induz o indivíduo a ter medo de tudo; panfobia, panofobia.

parasitofobia: [De parasit(o)- + -fobia.] Medo patológico de parasito, ou de contrair moléstias parasitárias.

partenofobia: [De parteno- + -fobia.] Medo mórbido de mulher virgem.

patofobia: [De pato- + -fobia.] V. nosofobia.

pecatifobia: [Do lat. peccatum, i, 'falta', 'pecado', + -fobia.] Medo patológico de pecar; pecatofobia.

pecatofobia: [Do lat. peccatum + -fobia.] V. pecatifobia.

pedofobia: [De ped(o)- + -fobia.] Aversão às crianças.

pirofobia: [De piro- + -fobia.] Horror doentio ao fogo.

pnigofobia: [De pnigo- + -fobia.] Medo mórbido de morrer por asfixia.

polifobia: [De poli-1 + -fobia.] Medo patológico de múltiplas coisas.

ponofobia: [De pono- + -fobia.] Medo patológico de trabalho; indolência (3) mórbida.

potamofobia: [De potam(o)- + -fobia.] Medo patológico de rio, de correntes de água.

proctofobia: [De proct(o)- + -fobia.] Estado de apreensão manifestado em doente com doença anal e/ou retal.

pseudofobia: [De pseud(o)- + -fobia.] Medo mórbido de algo que não causa dor nem molesta, mas apenas desgosta.

psicrofobia: [De psicro- + -fobia.] Medo mórbido de frio.

querofobia: [De quero- + -fobia.] Desgosto ou medo patológico de alegria, de jovialidade.

quionofobia: [De quion(o)- + -fobia.] V. pacnofobia.

sifilofobia: (sì). [De sifilo- + -fobia.] 1 Medo patológico de ter sífilis. 2. Ilusão de estar com sífilis.

sitiofobia: [De sitio- + -fobia.] Sitofobia (q. v.). sitofobia: [De sito- + -fobia.] Medo patológico de alimentar-se; sitiofobia.

sociofobia: (sò). [De socio- + -fobia.] Aversão ao que seja relativo a social.

tafofobia: [De tafo- + -fobia.] Medo doentio de ser sepultado vivo.

talassofobia: [De talass(o)- + -fobia.] Medo patológico de mar.

tanatofobia: [De tanato- + -fobia.] 1. Medo injustificado de morte iminente. 2. Medo patológico da morte.

tassofobia: [Do rad. do v. gr. thássein, 'sentar-se', + -o- + -fobia.] Medo patológico de estar sentado ociosamente.

taurofobia: [De tauro- + -fobia.] Medo patológico de touros.

teofobia: [De te(o)- + -fobia.] Temor patológico a Deus ou deuses.

teratofobia: [De terat(o)- + -fobia.] 1 Aversão patológica a monstro (1). 2. Medo patológico de dar à luz um monstro (1).

termofobia: [De term(o)- + -fobia.] Aversão patológica a temperatura elevada.

tocofobia: [De toc(o)- + -fobia.] Medo patológico de parir.

tonitrofobia: (tô). [De tonitr(o)- + -fobia.] Medo patológico de trovão.

topofobia: [De top(o)- + -fobia.] Medo mórbido de determinados lugares.

toxicofobia: (òcs). [De toxic(o)- + -fobia.] Medo patológico de veneno.

uiofobia: (ui-o). [De uio- + -fobia.] Mania que consiste na aversão aos próprios filhos.

venereofobia: (nè). [De venéreo + -fobia.] V. cipridofobia.

xenofobia: [De xen(o)- + -fobia.] Aversão a pessoas e coisas estrangeiras; xenofobismo. [Antôn.: xenofilia.]

zoofobia: (ô-o). [De zo(o)- + -fobia.] Medo mórbido a qualquer animal:

Fonte:http://www.alppsicologa.hpg.com.br http://www.alppsicologa.hpg.ig.com.br/listfobias.htm(As informações que constam nessas homepages não excluem a necessidade de consultas com psicólogos, médicos ou outros profissionais da saúde sempre que necessário.)

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PARANÓIA:

O que é: No senso comum, a paranóia caracteriza-se como uma dificuldade de relacionamento, a pessoa começa a achar que os outros estão sempre contra ela, é muito desconfiada, e esta caracterização do senso comum pode apontar, apenas, para pessoas inseguras. A paranóia é um quadro psicótico onde a pessoa descreve tramas contra si própria, onde há um sentimento de perseguição, a pessoa sente-se como se o mundo estivesse contra ela e tudo que acontece parece ser uma conspiração. Para o paciente paranóico, até mesmo familiares, amigos e vizinhos podem estar envolvidos na conspiração. A pessoa diz que as pessoas da rua, da televisão e do rádio falam mal dela, que fazem “macumba” contra ela e geralmente refere-se a gravadores, câmeras escondidas e outros aparelhos que a ficam vigiando tempo integral. Mostrar a um paciente que tudo isto que ele relata é irreal, é uma atitude inútil, porque este tipo de avaliação errônea da realidade é um delírio. O paciente ainda apresenta outras complicações como alucinações auditivas, onde ouve vozes que o ofendem ou comentam seus

atos e que, em alguns casos, podem ser vozes que ordenam coisas que o paciente sente-se incapaz de desobedecer. Alguns paranóicos podem negar que estão ouvindo vozes, mas se o profissional observá-lo cuidadosamente, pode surpreendê-los falando sozinhos ou rindo sem motivo, como se estivessem ouvindo algo. O paciente pode se referir a uma perda do controle de seus atos e pode, também, interromper seu discurso ou começar a falar coisas sem sentido, sem conexão com o assunto anterior. Muitas vezes o paranóico pensa que os outros podem saber o que ele está pensando e tem a sensação de que seus pensamentos saem de sua cabeça como um alto-falante. Em alguns casos o paranóico pode se tornar agressivo. (http://www.coladaweb.com/psicologia/paranoia.htm  )

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PARANÓIA:

A palavra Paranóia é um termo utilizado por especialistas em saúde metal para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada. A palavra é freqüentemente utilizada na conversação cotidiana, em geral em momentos de rancor e de forma incorreta. Simples desconfiança não é paranóia - especialmente se fundamentada em experiência passada ou em expectativas baseadas na experiência alheia. A paranóia pode ser discreta e a pessoa afetada ser razoavelmente bem ajustada socialmente ou pode ser tão grave que o indivíduo se tora incapacitado. Às vezes o diagnóstico é difícil, já que muitos distúrbios psiquiátricos são acompanhados de alguma característica paranóide. As paranóias podem ser classificadas em três categorias principais: distúrbio paranóide de personalidade, distúrbio delirante paranóide e esquizofrenia paranóide.

Distúrbio Paranóide de Personalidade: Oswaldo trabalhava em um grande escritório como programador de computação. Quando outro programador foi promovido, Oswaldo achou que seu supervisor tinha raiva dele e que jamais reconheceria seu valor. Estava certo de estar sendo sutilmente menosprezado pelos colegas. Muitas vezes nos intervalos para o cafezinho, observando-os em pequenos grupos, imaginava que estivessem falando dele. Se visse um grupo de pessoas rindo, pensava que estivessem rindo dele. Passava tanto tempo remoendo tais idéias, que seu rendimento no trabalho caiu a ponto de seu supervisor alertá-lo de que precisaria melhorar seu desempenho para não receber uma avaliação insatisfatória. Esta atitude reforçou as suspeitas de Oswaldo, que decidiu procurar emprego em outra grande empresa. Após algumas semanas em seu novo serviço, começou a achar que os colegas de escritório não gostavam dele, excluindo-o de conversas, ridicularizando-o pelas costas e denegrindo seu trabalho. Oswaldo mudou de emprego seis vezes nos últimos sete anos. Ele sofre de distúrbio paranóide de personalidade. Algumas pessoas tornam-se desconfiadas sem motivo, em tal grau que seus pensamentos paranóides destroem sua vida profissional e familiar. Diz-se que tais pessoas têm distúrbio paranóide de personalidade.

Elas são:

Desconfiadas: A desconfiança permanente é um sinal inconfundível de paranóia. Pessoas com distúrbio paranóide de personalidade estão constantemente em guarda, por enxergarem o mundo como um lugar ameaçador. Tendem a confirmar suas expectativas, agarrando-se a mínimas evidências que confirmem suas suspeitas, e ignoram ou distorcem qualquer prova em contrário. Estão sempre alertas, procurando sinais de alguma ameaça. Qualquer pessoa em uma situação nova — nos primeiros dias em um emprego ou iniciando um relacionamento, por exemplo — é cautelosa e de certa forma reservada, até sentir que seus temores são infundados. Pessoas com paranóia não conseguem abandonar seus temores. Continuam a esperar por armadilhas e duvidam da lealdade dos outros. No relacionamento pessoal ou no casamento, essa desconfiança pode apresentar-se sob a forma de ciúme patológico e infundado.

Hipersensíveis: Por estarem excessivamente alertas, as pessoas com distúrbio paranóide de personalidade percebem qualquer minúcia e podem ofender-se sem motivo. Em conseqüência, tendem a ser excessivamente defensivas e hostis. Quando cometem algum erro, não reconhecem a culpa, nem aceitam a mais leve crítica. Entretanto, são extremamente criticas em relação aos outros. Pode-se dizer que tais pessoas fazem “tempestade em copo d’água”.

Frias e Distantes: Além de serem polemistas e irredutíveis, as pessoas com distúrbio paranóide de personalidade têm dificuldade de manter vínculos afetivos. Parecem frias e evitam relacionamentos interpessoais. Orgulham-se de serem racionais e objetivas. Pessoas com uma perspectiva paranóide em relação à vida raramente procuram auxílio médico - não faz parte de sua natureza pedir ajuda. Profissionalmente podem atuar com competência. Pode procurar redutos sociais onde o estilo moralista e punitivo seja aceitável ou, até certo ponto, tolerável.

Distúrbio Delirante Paranóide: Os psiquiatras fazem distinção entre o discreto distúrbio paranóide de personalidade, descrito acima, e O distúrbio delirante paranóide, mais incapacitante. A característica mais marcante deste último é a presença de um tipo de delírio persistente e não bizarro, sem sintomas de qualquer outro distúrbio mental.

Delírios são crenças fortes, não verdadeiras, não compartilhadas por outras pessoas da mesma cultura e não facilmente modificáveis. Cinco tipos de delírios são observados. Em alguns indivíduos, mais de um pode ocorrer.

Ruth é uma secretária eficiente e prestativa. Seus superiores e colegas de trabalho valorizam muito sua contribuição no escritório. No entanto. Ruth passa suas noites escrevendo cartas a autoridades. Sente que Deus abriu sua mente e lhe ensinou a cura do câncer. Quer que algum importante centro de tratamento utilize essa cura em todos os pacientes, para provar ao mundo que está certa. Muitas de suas cartas não são respondidas, outras recebem respostas evasivas, o que a faz sentir que ninguém compreende que ela seria capaz de salvar todos os pacientes de câncer, se lhe fosse dada à chance. Quando alguma de suas cartas é respondida por um assessor da autoridade a quem foi dirigida, ela tem certeza de que o destinatário foi deliberadamente mantido desinformado de seu conhecimento e capacidade. Algumas vezes desespera-se com o fato de que o mundo jamais saberá o quanto ela é maravilhosa, porém não desiste

e continua a escrever. Ruth sofre de um dos tipos de distúrbio delirante, o delírio de grandeza (ou megalomania).

O delírio mais comum nos distúrbios delirantes é persecutório. Enquanto que têm personalidade paranóide podem suspeitar de que seus colegas estão rindo à sua custa, pessoas com delírio de perseguição desconfiam que os outros estejam elaborando grandes tramas para perseguí-las. Acreditam que estão sendo envenenadas, drogadas, espanadas, ou que são alvo de conspirações com o intuito de arruinar sua reputação ou até lhes causar a morte. Às vezes, movem ações judiciais com a intenção de serem ressarcidas por injustiças imaginárias.

Outro tipo freqüentemente observado é o delírio de ciúme. Qualquer indício — até uma mancha insignificante na roupa ou um pequeno atraso para chegar em casa — é interpretado como evidência de que o cônjuge está sendo infiel.

Delírios eróticos envolvem uma fixação romântica por uma pessoa, geralmente alguém de nível social mais elevado ou alguma celebridade. Indivíduos com delírios eróticos muitas vezes assediam pessoas através de inúmeras cartas, telefonemas, visitas e vigilância furtiva.

Pessoas com delírios de grandeza geralmente acham que são dotadas de poderes especiais e que, se autorizadas a praticar esses poderes, poderiam curar doenças, erradicar a pobreza, assegurar a paz mundial ou executar feitos extraordinários.

Indivíduos com delírios hipocondríacos estão convencidos de que há algo errado com seu corpo — acham que exalam mau cheiro, sentem-se infestados por insetos ou se julgam deformados e feios. Devido a esse tipo de delírio, tendem a evitar o convívio social e passam muito tempo consultando médicos sobre suas doenças imaginárias.

Ainda não foi avaliada de forma sistemática a hipótese de que pessoas com distúrbio delirante possam constituir perigo para outras, mas a experiência clínica sugere que tais pessoas raramente são homicidas. Os indivíduos delirantes geralmente são irritáveis e. por isso, são tidos como ameaçadores. Nos raros casos em que indivíduos com distúrbio delirante tornam-se violentos, suas vítimas geralmente são pessoas que inadvertidamente se encaixam em seu esquema delirante. A pessoa em maior perigo no relacionamento com um indivíduo com distúrbio delirante é o cônjuge ou amante.

Esquizofrenia Paranóide: Alfredo, não gostava muito de escola e estava feliz por ter concluído o colegial e conseguido um emprego. Mas, quando se deu conta de que necessitava de melhor formação para atingir seus objetivos, matriculou-se em uma faculdade próxima. Alugou uma casa com outros jovens e se aplicou nos estudos. Próximo do final do segundo ano parou de fazer as refeições com os colegas e passou a se alimentar só de enlatados, para ter certeza de que não estava sendo envenenado. Ao andar pelo campus, evitava as moças, pois achava que elas lhe lançavam teias envenenadas que envolveriam seu corpo como uma gigantesca teia de aranha. Quando começou a temer que seus colegas colocassem gás envenenado em seu quarto, abandonou a escola e voltou para casa. Limpou

seu quarto e colocou uma tranca na porta, para que os pais não pudessem entrar e contaminar o recinto. Comprou um fogareiro elétrico e passou a preparar a própria comida. Se sua mãe insistisse para que fizesse uma refeição com a família, ele a acusava de tentar envenená-lo. Seus pais finalmente conseguiram convencê-lo a procurar um psiquiatra que diagnosticou “esquizofrenia paranóide” Com medicamentos, terapia individual e de grupo. Alfredo melhorou o suficiente para trabalhar em um escritório sob a supervisão de um chefe compreensivo e encorajador.

Idéias e comportamento paranóides são características de uma forma de esquizofrenia chamada esquizofrenia paranóide. Indivíduos que sofrem de esquizofrenia paranóide normalmente são acometidos de delírios extremamente bizarros ou alucinações, quase sempre sobre um tema especifico. Freqüentemente ouvem vozes que outros não podem ouvir ou acreditam que seus pensamentos estão sendo controlados ou divulgados em voz alta. Além disso, seu desempenho em casa e no emprego se deteriora, muitas vezes com um grau menor de expressividade emocional.

Por outro lado, as pessoas com distúrbio delirante paranóide relativamente mais discreto podem ter sintomas como delírios persecutórios ou de ciúmes, mas não as alucinações acentuadas ou impossíveis e os delírios bizarros da esquizofrenia paranóide. Tais pessoas geralmente podem trabalhar e seu comportamento e expressão emocional são coerentes com o tema de seus delírios. Excetuando os delírios, seu pensamento permanece sistematizado e lógico, ao contrário das pessoas com esquizofrenia paranóide, que com freqüência, têm o pensamento desorganizado e confuso.

Causas da Paranóia:

Fatores Genéticos: Pouco se tem estudado sobre o papel da hereditariedade na paranóia. Pesquisadores observaram que famílias de pacientes paranóides não apresentam incidência de esquizofrenia ou depressão acima do normal. Entretanto, há evidências de que sintomas paranóides na esquizofrenia podem ter influência genética. Alguns estudos em gêmeos idênticos com esquizofrenia mostraram que, quando um dos gêmeos apresenta sintomas paranóides, geralmente o outro também os manifesta. Além disso, pesquisas recentes têm indicado que distúrbios paranóides são significativamente mais comuns em parentes de pessoas com esquizofrenia do que na população em geral. Ainda não se sabe se os distúrbios paranóides — ou a predisposição para apresentá-los — são hereditários ou não.

Fatores Bioquímicos: A descoberta de que a psicose (estado no qual o indivíduo perde o contato com a realidade) é tratável com drogas antipsicóticas tem levado os pesquisadores a procurar as origens de distúrbios mentais graves em anomalias químicas no cérebro. A pesquisa tem se tornado muito complexa à medida que se descobrem mais e mais substâncias químicas que transmitem mensagens de uma célula nervosa para outra - os neurotransmissores. Até agora, não se encontraram respostas definidas. Como nos estudos genéticos, também não houve estudos bioquímicos específicos em paranóia, a não ser como um subtipo de esquizofrenia. Há, no entanto, algumas evidências de que a esquizofrenia paranóide é bioquimicamente distinta das formas não-paranóides deste distúrbio.

O abuso de drogas como anfetaminas, cocaína, maryuana, PCP (“pó de anjo”), LSD ou outros estimulantes ou compostos “psicodélicos” pode produzir pensamentos ou comportamento paranóides, ou agravar os sintomas já existentes em pacientes com doença mental grave, como esquizofrenia. Pesquisadores estão estudando a ação bioquímica de tais drogas, a fim de compreender como elas produzem mudanças no comportamento, Isso poderá nos ajudar a aprender mais sobre a neuroquímica dos distúrbios paranóides.

“Stress”: Alguns especialistas acreditam que a paranóia pode ser uma reação a altos níveis de “stress”. Reforçando essa opinião, há evidência de que a paranóia incide mais entre imigrantes, prisioneiros de guerra e outras pessoas submetidas a altos níveis de “stress”. Há pessoas que apresentam uma forma aguda de paranóia, quando submetidas a uma situação nova e altamente estressante, com delírios que se desenvolvem em um curto espaço de tempo e duram apenas alguns meses.

Alguns estudos demonstram que a paranóia tem ocorrido com maior freqüência no século XX. A relação entre o “stress” e a paranóia não exclui, é claro, outros fatores causais. Um defeito genético, uma anomalia cerebral, um distúrbio no processamento de informações — ou todos os três fatores — poderiam predispor uma pessoa á paranóia; o “stress” poderia simplesmente atuar como fator desencadeante.

Tratamento da Paranóia: A desconfiança das pessoas paranóides torna difícil o tratamento da doença. Raramente, falarão com espontaneidade em uma consulta. Desconfiam do tipo de sondagem aberta que muitos terapeutas utilizam para conhecer a história do paciente (por exemplo: “fale-me de seu relacionamento com seus colegas de trabalho”). Podem não aceitar medicamentos ou uma internação, temendo a perda de controle ou outros perigos, reais ou imaginários.

Tratamento Medicamentoso: O tratamento com medicamentos antipsicóticos apropriados pode ajudar o paciente paranóide a superar alguns sintomas. Embora o comportamento do paciente possa ser melhorado, os sintomas paranóides freqüentemente permanecem inalterados. Alguns estudos indicam uma melhora dos sintomas com o tratamento medicamentoso, porém resultados semelhantes ocorrem, freqüentemente, em pacientes que recebem placebo (“remédio” sem ingrediente ativo). Esta observação sugere que, em alguns casos, a paranóia diminui mais por razões psicológicas do que pela ação do medicamento. Pacientes paranóides em tratamento com medicamentos devem ser mantidos sob rigorosa observação. A desconfiança e o delírio de perseguição os levam, muitas vezes, a recusar ou sabotar o tratamento - por exemplo, conservar o comprimido dentro da boca, sem engolir, até ficarem sozinhos e então cuspi-lo.

Psicoterapia: Relatos de casos individuais sugerem que a oportunidade de expressar seus temores e desconfianças de forma regular, como é propiciada pela psicoterapia, pode ajudar o paciente paranóide a se ajustar à vida social. Embora as idéias paranóides pareçam persistir, elas podem tornar-se menos prejudiciais. Outros tipos de psicoterapia, com os quais se observa uma melhora do comportamento social, sem redução apreciável

dos delírios paranóides, são a terapia familiar, a terapia de grupo e a arteterapia.

Perspectivas para os Pacientes Paranóides: Apesar das dificuldades de tratamento, pacientes com um distúrbio paranóide podem ajustar-se razoavelmente bem. Mesmo que suas idéias paranóides sejam aparentemente inabaláveis, vários tratamentos parecem eficazes, melhorando o ajustamento social, e evitando hospitalizações prolongadas. Os sintomas são menos bizarros do que os associados à esquizofrenia paranóide. Os distúrbios paranóides parecem, também, causar menos desorganização da personalidade e ruptura na vida social e familiar. Ao contrário da esquizofrenia, que pode se tornar progressivamente pior, o distúrbio paranóide parece atingir um certo grau de gravidade e se estabilizar.

National Institute of Mental Health EUASociedade Bras. de Psiquiatria Clínica *http://www.psiquiatriageral.com.br/tema/paranoia.htm

* Dr. David Shoe, M.D.Dr. David Picka, M.D.Dr. Darryl G.Kirch, M.D.

TRANSTORNO BIPOLAR DO HUMOR (PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA)

Sinônimos e nomes relacionados: Psicose maníaco-depressiva, transtorno ou doença afetivo bipolar, incluindo tipos específicos de doenças ou transtornos do humor, como ciclotimia, hipomania e transtorno misto do humor.

O que é a doença bipolar do humor: O Transtorno Bipolar do Humor, antigamente denominado de psicose maníaco-depressiva, é caracterizado por oscilações ou mudanças cíclicas de humor. Estas mudanças vão desde oscilações normais, como nos estados de alegria e tristeza, até mudanças patológicas acentuadas e diferentes do normal, como episódios de MANIA, HIPOMANIA*, DEPRESSÃO e MISTOS. É uma doença de grande impacto na vida do paciente, de sua família e sociedade, causando prejuízos freqüentemente irreparáveis em vários setores da vida do indivíduo, como nas finanças, saúde, reputação, além do sofrimento psicológico. É relativamente comum, acometendo aproximadamente 8 a cada 100 indivíduos, manifestando-se igualmente em mulheres e homens.

O que causa a doença bipolar do humor: A base da causa para a doença bipolar do humor não é inteiramente conhecida, assim como não o é para os demais distúrbios do humor. Sabe-se que os fatores biológicos (relativos a neurotransmissores cerebrais), genéticos, sociais e psicológicos somam-se no desencadeamento da doença. Em geral, os fatores genéticos e biológicos podem determinar como o indivíduo reage aos estressores psicológicos e sociais, mantendo a normalidade ou desencadeando doença. O transtorno bipolar do humor tem uma importante característica genética, de modo que a tendência familiar à doença pode ser observada.

Como se manifesta a doença bipolar do humor: *** Pode iniciar na infância, geralmente com sintomas como irritabilidade intensa, impulsividade e aparentes “tempestades afetivas”. Um terço dos indivíduos manifestará a doença na adolescência e quase dois terços, até os 19 anos de idade, com muitos casos de mulheres podendo ter início entre os 45 e 50 anos. Raramente começa acima dos 50 anos, e quando isso acontece, é importante investigar outras causas.

A mania (eufórica) é caracterizada por: Humor excessivamente animado, exaltado, eufórico, alegria exagerada e duradoura; Extrema irritabilidade, impaciência ou “pavio muito curto”; Agitação, inquietação física e mental; Aumento de energia, da atividade, começando muitas coisas ao mesmo tempo sem conseguir terminá-las Otimismo e confiança exageradas; Pouca capacidade de julgamento, incapacidade de discernir; Crenças irreais sobre as próprias capacidades ou poderes, acreditando possuir muitos dons ou poderes especiais; Idéias grandiosas; Pensamentos acelerados, fala muito rápida, pulando de uma idéia para outra,tagarelice; Facilidade em se distrair, incapacidade de se concentrar; Comportamento inadequado, provocador, intrometido, agressivo ou de risco; Gastos excessivos; Desinibição, aumento do contato social, expansividade; Aumento do impulso sexual; Agressividade física e/ou verbal; Insônia e pouca necessidade de sono; Uso de drogas, em especial cocaína, álcool e soníferos.

*** Três ou mais sintomas aqui relacionados devem estar presentes por, no mínimo, uma semana; *A hipomania é um estado de euforia mais leve que não compromete tanto a capacidade de funcionamento do paciente. Geralmente, passa despercebida por ser confundida com estados normais de alegria e devem durar no mínimo dois dias.

Humor melancólico, depressivo; Perda de interesse ou prazer em atividades habitualmente interessantes; Sentimentos de tristeza, vazio, ou aparência chorosa/melancólica; Inquietação ou irritabilidade; Perda ou aumento de apetite/peso, mesmo sem estar de dieta; Excesso de sono ou incapacidade de dormir; Sentir-se ou estar agitado demais ou excessivamente devagar (lentidão); Fadiga ou perda de energia; Sentimentos de falta de esperança, culpa excessiva ou pessimismo; Dificuldade de concentração, de se lembrar das coisas ou de tomar decisões; Pensamentos de morte ou suicídio, planejamento ou tentativas de suicídio; Dores ou outros sintomas corporais persistentes, não provocados por doenças ou lesões físicas.

O estado misto é caracterizado por: Sintomas depressivos e maníacos acentuados acontecendo simultaneamente; A pessoa pode sentir-se deprimida pela manhã e progressivamente eufórica com o passar do dia, ou vice-versa; Pode ainda apresentar-se agitada, acelerada e ao mesmo tempo queixar-se de angústia, desesperança e idéias de suicídio; Os sintomas freqüentemente incluem agitação, insônia e alterações do apetite. Nos casos mais graves, podem haver sintomas psicóticos (alucinações e delírios) e pensamentos suicidas;

De que outras formas a doença bipolar do humor pode se manifestar: Existem três outras formas através das quais a doença bipolar do humor pode se manifestar, além de episódios bem definidos de mania e depressão:

Uma primeira forma seria a hipomania, em que também ocorre estado de humor elevado e expansivo, eufórico, mas de forma mais suave. Um episódio hipomaníaco, ao contrário da mania, não é suficientemente grave para causar prejuízo no trabalho ou nas relações sociais, nem para exigir a hospitalização da pessoa.

Uma segunda forma de apresentação da doença bipolar do humor seria a ocorrência de episódios mistos, quando em um mesmo dia haveria a alternância entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, sentindo-se sem valor e sem esperança, e no momento seguinte estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, ou irritada, falante e agressiva.

A terceira forma da doença bipolar do humor seria aquela conhecida como transtorno ciclotímico, ou apenas ciclotimia, em que haveria uma alteração crônica e flutuante do humor, marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos períodos com sintomas depressivos, que se alternariam. Tais sintomas depressivos e maníacos não seriam suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza de se tratar de depressão e de mania, respectivamente. Seria, portanto, facilmente confundida com o jeito de ser da pessoa, marcada por instabilidade do humor.

Como se diagnostica a doença bipolar do humor: O diagnóstico da doença bipolar do humor deve ser feito por um médico psiquiátrico baseado nos sintomas do paciente. Não há exames de imagem ou laboratoriais que auxiliem o diagnóstico. A dosagem de lítio no sangue só é feita para as pessoas que usam carbonato de lítio como tratamento medicamentoso, a fim de se acompanhar a resposta ao remédio.

Como se trata a doença bipolar do humor: O tratamento, após o diagnóstico preciso, é medicamentoso, envolvendo uma classe de medicações chamada de estabilizadores do humor, da qual o carbonato de lítio é o mais estudado e o mais usado. A carbamazepina, a oxcarbazepina e o ácido valpróico também se mostram eficazes. Um acompanhamento psiquiátrico deve ser mantido por um longo período, sendo que algumas formas de psicoterapia podem colaborar para o tratamento. (FONTE)

TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE:

Personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de comportamento de um indivíduo (caráter). Pode-se dizer que é o "jeitão" de ser da pessoa, o modo de sentir as emoções ou o "jeitão" de agir. Um transtorno de personalidade aparece quando esses traços são muito inflexíveis e mal-ajustados, ou seja, prejudicam a adaptação do indivíduo às situações que enfrenta, causando a ele próprio, ou mais comumente aos que lhe estão próximos, sofrimento e incomodação. Geralmente esses indivíduos são pouco motivados para tratamento, uma vez que os traços de caráter pouco geram sofrimento para si mesmos, mas perturbam suas relações com outras pessoas, fazendo com que amigos e familiares aconselhem o tratamento. Geralmente aparecem no início da idade adulta e são cronificantes (permanecem pela vida toda) se não tratados. As causas destes transtornos geralmente são múltiplas, mas relacionadas com as vivências infantis e as da adolescência do indivíduo. O tratamento desses transtornos é bastante difícil e igualmente demorado, pois em se tratando de mudanças de caráter, o indivíduo terá de mudar o seu próprio "jeito de ser" para que o tratamento seja efetivo.

Existem muitos tipos desses transtornos, como se vê a seguir:

Transtorno de Personalidade Paranóide: Indivíduos desconfiados, que se sentem enganados pelos outros, com dúvidas a respeito da lealdade dos outros, interpretando ações ou observações dos outros como ameaçadoras. São rancorosos e percebem ataques a seu caráter ou reputação, muitas vezes ciumentos e com desconfianças infundadas sobre a fidelidade dos seus parceiros e amigos.

Transtorno de Personalidade Esquizóide: Indivíduos distanciados das relações sociais, que não desejam ou não gostam de relacionamentos íntimos, realizando atividades solitárias, de preferência. Pouco ou nenhum interesse em relações sexuais com outra pessoa, e pouco ou nenhum prazer em suas atividades. Não têm amigos íntimos ou confidentes, não se importam com elogios ou críticas, sendo frios emocionalmente e distantes.

Transtorno de Personalidade Esquizotípica: Indivíduos excêntricos e estranhos, que têm crenças bizarras, com experiências de ilusões e pensamento e discurso extravagante. Falta de amigos e muita ansiedade no convívio social.

Transtorno de Personalidade Borderline: Indivíduos instáveis em suas emoções e muito impulsivos, com esforços incríveis para evitar abandono (até tentativas de suicídio). Têm rompantes de raiva inadequada. As pessoas a sua volta são consideradas ótimas, mas frente a recusas tornam-se péssimas rapidamente, sendo desconsideradas as qualidades anteriormente valorizadas. Costumam apresentar uma hiper reatividade afetiva, em que as situações boas são ótimas ou excelentes, e as ruins ou desfavoráveis são péssimas ou catastróficas.

Transtorno de Personalidade Narcisista: Indivíduos que se julgam grandiosos, com necessidade de admiração e que desprezam os outros, acreditando serem especiais e explorando os outros em suas relações sociais, tornando-se arrogantes. Gostam de falar de si mesmos, ressaltando

sempre suas qualidades e por vezes contando vantagens de situações. Não se importam com o sofrimento que causam nas outras pessoas e muitas vezes precisam rebaixar e humilhar os outros para que se sintam melhor.

Transtorno de Personalidade Anti-social: Indivíduos que desrespeitam e violam os direitos dos outros, não se conformando com normas. Mentirosos, enganadores e impulsivos, sempre procurando obter vantagens sobre os outros. São irritados, irresponsáveis e com total ausência de remorsos, mesmo que digam que têm, mais uma vez tentando levar vantagens. Podem estabelecer relacionamentos afetivos superficiais, mas não são capazes de manter vínculos mais profundos e duradouros.

Transtorno de Personalidade Histriônica: Indivíduos facilmente emocionáveis, sempre em busca de atenção, sentindo-se mal quando não são o centro das atenções. São sedutores, com mudanças rápidas das emoções. Tentam impressionar aos outros, fazendo uso de dramatizações, e tendem a interpretar os relacionamentos como mais íntimos do que realmente são.

Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva: Indivíduos preocupados com organização, perfeccionismo e controle, sempre atento a detalhes, listas, regras, ordem e horários. Dedicação excessiva ao trabalho, dão pouca importância ao lazer. Teimosos, não jogam nada fora ("pão-duro") e não conseguem deixar tarefas para outras pessoas.

Transtorno de Personalidade Esquiva: Indivíduos tímidos (exageradamente), muito sensíveis a críticas, evitando atividades sociais ou relacionamentos com outros, reservados e preocupados com críticas e rejeição. Geralmente não se envolvem em novas atividades, vendo a si mesmos como inadequados ou sem atrativos e capacidades.

Transtorno de Personalidade Dependente: Indivíduos que têm necessidade de serem cuidados, submissos, sempre com medo de separações. Têm dificuldades para tomar decisões, necessitam que os outros assumam a responsabilidade de seus atos, não discordam, não iniciam projetos. Sentem-se muito mal quando sozinhos, evitando isso a todo custo.

O tratamento desses transtornos baseia-se na Psicoterapia (de orientação analítica ou comportamental na maioria dos casos) e Psicanálise. Algumas vezes deve-se também tratar outros transtornos que se desenvolvem juntamente com esses, e na maioria das vezes, por causa desses. Aparecem comumente depressão e ansiedade associados a esses transtornos. A procura pelo atendimento é geralmente estimulada pelos amigos e familiares, que são muito mais incomodados pelo transtorno que o próprio indivíduo. Não se pode esquecer que muitas dessas características fazem parte dos traços normais de muitos indivíduos, e somente quando esses traços são muito rígidos e não adaptativos é que constituem um transtorno. (FONTE)

ColaboradorasDra. Alice Sibile KochDra. Dayane Diomário da Rosa

TOC - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO O que é o TOC e quais são os seus sintomas? O TOC é um transtorno mental incluído pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) entre os chamados transtornos de ansiedade. Manifesta-se sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações excessivas) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões: pensamentos, imagens ou impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade ou desconforto, e das compulsões ou rituais: comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, realizados para reduzir a aflição que acompanha as obsessões. Dentre as obsessões mais comuns estão a preocupação excessiva com limpeza (obsessão) que é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Um outro exemplo são as dúvidas (obsessão), que são seguidas de verificações (compulsão).  O que são obsessões? Obsessões são pensamentos ou impulsos que invadem a mente de forma repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases, números, músicas, etc. Sentidas como estranhas ou impróprias, as obsessões geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer. O indivíduo, no caso do TOC, mesmo desejando ou se esforçando, não consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas absurdas ou ilógicas, causam ansiedade, medo, aflição ou desconforto que a pessoa tenta neutralizar realizando rituais ou compulsões, ou através de evitações (não tocar, evitar certos lugares).  As obsessões mais comuns envolvem: Preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação Dúvidas Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir outras pessoas Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios, relacionados a sexo (comportamento sexual violento, abusar sexualmente de crianças, falar obscenidades, etc.) Preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar Preocupações com doenças ou com o corpo Religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias) Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais, cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças) Palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e indesejáveis

O que são compulsões ou rituais? Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em resposta a obsessões, ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar objetos sem utilidade, repetir perguntas, etc. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade associada às obsessões, levando o

indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão. Por esse motivo se diz que as compulsões têm uma relação funcional (de aliviar a aflição) com as obsessões. E, como são bem sucedidas, o indivíduo é tentado a repeti-las, em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por perpetuá-los, tornando-se ao mesmo tempo prisioneiro dos seus rituais.  Nem sempre as compulsões têm uma conexão realística com o que desejam prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça). Nesse caso, por trás desses rituais existe um pensamento ou obsessão de conteúdo mágico, muito semelhante ao que ocorre nas superstições.  Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como sinônimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão, na medida em que praticamente todas as religiões e diversos grupos culturais adotam comportamentos ritualísticos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-marias, ladainhas, rezar 3 ou 5 vezes ao dia, benzer-se ao passar diante de uma igreja. Existem rituais para batizados, casamentos, funerais, etc. Além disso, certos costumes culturais, como a cerimônia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os índios, ou um funeral com honras militares, envolvem ritos que lembram as compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa preferência para o termo “compulsão” quando se fala em TOC.  As compulsões mais comuns são: De lavagem ou limpeza Verificações ou controle Repetições ou confirmações Contagens Ordem, simetria, seqüência ou alinhamento Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar ou economizar Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos. Compulsões Mentais Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores, observáveis. Elas têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento. Alguns exemplos: Repetir palavras especiais ou frases Rezar Relembrar cenas ou imagens Contar ou repetir números Fazer listas Marcar datas Tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos contrários.  Quais as causas do TOCA ciência tem conseguido esclarecer vários fatos em relação ao TOC embora não consiga ainda esclarecer suas verdadeiras causas. Provavelmente

concorrem vários fatores para o seu aparecimento: de natureza biológica envolvendo aspectos genéticos, neuroquímica cerebral, lesões ou infecções cerebrais; fatores psicológicos como a aprendizagem; certas formas errôneas de ver e interpretar a realidade próprias dos portadores do TOC, e até culturais.

Na medida em que as pesquisas avançam tem ficado mais evidente a importância dos fatores de natureza biológica. As evidências neste sentido são o fato de o TOC ocorrer após traumatismos, lesões ou infecções cerebrais; ser muito comum que numa mesma família existam vários indivíduos acometidos sugerindo uma predisposição genética. Além destes fatos foi sobretudo importante a descoberta de que determinados medicamentos que estimulam de alguma forma a assim chamada função serotonérgica cerebral reduzem os sintomas de TOC. Este último fato nos faz pensar que possa existir um distúrbio neuroquímico do cérebro envolvendo o funcionamento das vias nervosas que utilizam a serotonina (substância que existe naturalmente no cérebro) para transmitir seus impulsos.

Observou-se ainda que certas zonas cerebrais são hiperativas em portadores de TOC, isto é, funcionam mais do que em indivíduos normais (na parte frontal - região periorbital, em regiões mais profundas do cérebro - gânglios ou núcleos da base). Esta hiperatividade tende a se normalizar tanto com o tratamento farmacológico bem como com a terapia cognitivo-comportamental. Como se vê, são evidências, embora muito genéricas, para a hipótese de que existe algum tipo de disfunção neuroquímica no funcionamento cerebral.

Existem, entretanto, fatos que a pesquisa não conseguiu esclarecer: a resposta de muitos pacientes aos medicamentos inibidores da recaptação da serotonina é parcial ou muitas vezes nula, e se desconhece o motivo. Além disso ocorrem obsessões e compulsões em doenças neurológicas como encefalites, associadas a tiques - no assim chamado Transtorno de Gilles de la Tourette, à febre reumática ou mesmo a outras doenças nervosas ou psiquiátricas. São fatos cujo esclarecimento continua desafiando os cientistas do mundo inteiro.

Sabe-se ainda que fatores de natureza psicológica influem no surgimento, na manutenção e no agravamento dos sintomas de TOC. É bastante comum que os sintomas surjam depois de algum estresse psicológico; conflitos psíquicos agravam os sintomas, e tem cada vez ficado mais claras certas alterações no modo de pensar, de perceber e avaliar a realidade por parte destes pacientes. Eles tendem a supervalorizar a importância dos pensamentos como se pensar fosse o mesmo que agir; tendem a supervalorizar o risco e as possibilidades de ocorrerem eventos desastrosos (contrair doenças, perder familiares, contaminar-se); tendem a superestimar a própria responsabilidade quanto a provocar ou prevenir eventos futuros; são perfeccionistas, perdendo muito tempo com a preocupação de fazer as coisas bem feitas e evitar possíveis falhas ou imperfeições e imaginam modificar o curso futuro dos acontecimentos com a execução dos rituais (pensamento mágico). Cada paciente pode apresentar uma ou mais destas distorções, que são mantidas mesmo as evidências sendo contrárias a elas, ou apesar de não terem comprovação na realidade.

Estes pacientes aprendem a usar rituais ou outras manobras psicológicas como atos mentais e a evitação como forma de aliviar a aflição que normalmente acompanha as obsessões, e por este motivo passam a repetí-los, mesmo que isto significa estar mantendo a doença.Evitam também de enfrentar seus temores até mesmo para confirmar que são infundados, o que permitiria livrar-se deles.Supõe-se ainda que fatores ligados ao tipo de educação (mais ou menos severa ou exigente, incutindo culpa ou não), ao tipo de cultura social e familiar, possam também influir sob a forma de crenças e regras que regem a vida da pessoa criando uma espécie de terreno propício para o surgimento do transtorno. Por estes motivos usualmente se associam aos medicamentos, terapias psicológicas - a terapia cognitivo-comportamental no seu tratamento.  Que tratamentos existem para o TOC:Os tratamentos mais efetivos no momento incluem o uso de certos medicamentos, inicialmente utilizados no tratamento da depressão, que posteriormente se descobriu serem efetivos também do TOC, e algumas técnicas psicoterápicas chamadas de cognitivas e comportamentais. Os medicamentos são efetivos para 40 a 60% dos pacientes e são a primeira escolha, principalmente quando, além do TOC, existem outros problemas associados como depressão, ansiedade, o que é muito comum. Também é usual se iniciar com um medicamento quando os sintomas são muito graves ou incapacitantes. O maior problema que eles apresentam é o fato de raramente eliminarem por completo os sintomas. Além disso, com freqüência, provocam efeitos colaterais indesejáveis, embora os mais modernos sejam bem melhor tolerados. Além dos medicamentos, utiliza-se no TOC uma modalidade de terapia – a chamada terapia cognitivo-comportamental (TCC), da qual foram adaptadas algumas técnicas como para combater os sintomas do TOC. Ao redor de 70% dos que realizam a TCC podem obter uma boa redução ou até a eliminação completa dos sintomas. Ela é efetiva especialmente quando predominam rituais, não existem outros problemas psiquiátricos graves, e os pacientes se envolvem efetivamente nas tarefas de casa, parte fundamental dessa forma de tratamento. Estudos mais recentes têm demonstrado que os resultados da terapia tem sido Um problema de ordem prática é o fato de a TCC ser um método pouco conhecido e pouco utilizado em nosso meio. Por isso, este manual tem como objetivo contribuir para a sua divulgação entre os profissionais, os portadores do TOC, seus familiares e a população em geral. Como tanto os medicamentos como a terapia tem suas limitações recomenda-se, na prática, associá-los.  

TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO: PERGUNTAS E RESPOSTASAristides Volpato CordioliElizeth HeldtAndréa Litvin Raffin

SOU OU NÃO UM PORTADOR DE TOC?Muitos pacientes com TOC só reconhecem sua condição ao ler ou ouvir na mídia algo sobre a doença. Estudos demonstram há uma demora, em média, de mais de oito anos entre o aparecimento dos sintomas do TOC até ele ser diagnosticado por algum profissional. Se você tem dúvida se é ou não portador do TOC procure responder às perguntas a seguir:

- Preocupo-me demais com sujeira, germes, contaminação, pó ou doenças.- Lavo as mãos a todo o momento ou de forma exagerada.- Limpo ou lavo demasiadamente o piso, móveis, roupas ou objetos.- Tomo vários banhos por dia ou demoro demasiadamente no banho.- Não toco em certos objetos (corrimãos, trincos de portas, dinheiro, etc.) sem lavar as mãos depois.- Evito certos lugares (banheiros públicos, hospitais, cemitérios) por considerá-los pouco limpos ou achar que posso contrair doenças.- Verifico portas, janelas, o gás, mais do que o necessário;- Verifico repetidamente o fogão, as torneiras, aparelhos elétricos, interruptores de luz mesmo após desligá-los.- Minha mente é invadida por pensamentos desagradáveis e impróprios, que me causam aflição e que nem sempre consigo afastá-los.- Tenho sempre muitas dúvidas, repetindo várias vezes a mesma tarefa ou pergunta para ter certeza de que não vou errar.- Preocupo-me demais com a ordem, o alinhamento ou simetria das coisas, e fico aflito(a) quando estão fora do lugar.- Necessito fazer coisas de forma repetida e sem sentido (tocar, repetir certos números, palavras ou frases).- Sou muito supersticioso com números, cores, datas ou lugares.- Necessito contar, repetir frases, palavras, enquanto estou fazendo coisas.- Guardo coisas inúteis (jornais velhos, caixas vazias, sapatos ou roupas velhas) e tenho muita dificuldade em desfazer-me delas.Se uma das respostas for positiva, é bem provável que você seja portador de TOC.

O QUE É TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO?O TOC é um transtorno mental incluído pela classificação da Associação Psiquiátrica Americana entre os chamados transtornos de ansiedade. Está classificado ao lado das fobias (medo de lugares fechados, elevadores, pequenos animais como ratos ou insetos), da fobia social (medo de expor-se em público ou diante de outras pessoas), do transtorno de pânico (ataques súbitos de ansiedade e medo de freqüentar os lugares onde ocorreram os ataques), etc. Os sintomas do TOC envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou ruim, obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões e/ou compulsões ou rituais. Além disso, os portadores do TOC sofrem de muitos medos (de contrair doenças, de cometerem falhas, de serem responsáveis por acidentes). Em razão desses medos, evitam fazer coisas que de acordo com o que acreditam poderia provocar tais desastres. Em razão disso, no TOC são muito comuns comportamentos evitativos ou evitações (não tocar em trincos de portas, não cumprimentar outras pessoas, não usar banheiros públicos, etc.). As evitações, embora não específicas do TOC, são, em grande parte, as responsáveis pelas limitações que o transtorno acarreta. Esses são os sintomas-chave do TOC.

QUAIS AS CAUSAS DA TOC? A ciência tem conseguido esclarecer vários fatos em relação ao TOC, embora não consiga ainda esclarecer suas verdadeiras causas. Provavelmente, concorrem vários fatores para o seu aparecimento, tornando-se cada vez mais evidente que na origem dos sintomas do TOC concorrem diversos fatores: de natureza biológica envolvendo aspectos genéticos, neuroquímica cerebral, lesões ou infecções

cerebrais; fatores psicológicos, como por exemplo, aprendizagens erradas (aprender a aliviar uma o medo que acompanha uma obsessão realizando compulsões); crenças distorcidas (superestimar o risco de contaminação ou de cometer falhas) estressores, e até culturais como o tipo de cultura ou educação recebida. Na verdade não estão bem esclarecidas as causas do TOC, até pelo fato de que seus sintomas, seu curso, e a resposta aos tratamentos são muito diversos.

Os fatores neurobiológicos: Na medida em que as pesquisas avançam, tem ficado mais evidente a importância dos fatores de natureza biológica na origem dos sintomas do TOC. As evidências neste sentido são o fato de o TOC ocorrer após traumatismos, lesões ou infecções cerebrais; ser muito comum que numa mesma família existam vários indivíduos acometidos, sugerindo uma predisposição genética. Além destes fatos, foi, sobretudo importante a descoberta de que determinados medicamentos que estimulam de alguma forma a assim chamada função serotonérgica cerebral reduzem os sintomas de TOC. Este último fato nos faz pensar que deva existir um distúrbio neuroquímico do cérebro dos portadores do transtorno, envolvendo o funcionamento das vias nervosas quem utilizam a serotonina (substância que existe naturalmente no cérebro) e que está envolvida na transmissão dos impulsos nervosos. Observou-se, ainda, que certas zonas cerebrais são hiperativas em portadores de TOC, isto é, funcionam mais do que em indivíduos que não são portadores (na parte frontal região periorbital, em regiões mais profundas do cérebro gânglios ou núcleos da base como o tálamo, o núcleo caudado, putamen). Esta hiperatividade tende a se normalizar tanto com o tratamento medicamentoso, como com a terapia congnitivo-comportamental.

O TOC é também uma doença familiar: se existe um portador na família, a chance de existirem outros indivíduos comprometidos aumenta ao redor de 4 vezes. Também é muito mais comum em gêmeos idênticos (univitelinos) do que em gêmeos não idênticos. Esses fatos levam a crer que possa existir um componente genético no TOC. Como se vê, são evidências, porém muito genéricas, para a hipótese de que exista algum tipo de disfunção neuroquímica no funcionamento cerebral nos portadores do TOC. Existem, entretanto, fatos que a pesquisa não conseguiu esclarecer: a resposta de muitos pacientes aos medicamentos inibidores da recaptação de serotonina é parcial ou mesmo nula, e se desconhece o motivo. Além disso, ocorrem obsessões e compulsões em doenças neurológicas como encefalites, associadas a tiques, ao Transtorno de Gilles de la Tourette, à febre reumática ou mesmo a outras doenças neurológicas ou psiquiátricas. São fatos cujo esclarecimento continua desafiando os cientistas do mundo inteiro.

Fatores de natureza psicológica: Sabe-se, ainda, que os fatores de natureza psicológica influem no surgimento, na manutenção e no agravamento dos sintomas de TOC. Os pacientes aprendem que usando certos rituais ou outras manobras psicológicas, como atos mentais ou evitando o contato com as situações ou os objetos temidos, obtêm alívio da aflição e do medo (neutralizam) que normalmente acompanham seus pensamentos (obsessões), e por este motivo passam a repeti-los, mesmo que isto signifique estar mantendo ou agravando a doença. É bastante comum ainda que os sintomas surjam depois de algum estresse psicológico. Sabe-se também que conflitos psíquicos agravam os sintomas. Cada vez

mais claro a existência de certas alterações no modo de pensar, de perceber e avaliar a realidade por parte destes pacientes (distorções cognitivas). Eles tendem a supervalorizar a importância dos pensamentos como se pensar fosse o mesmo que agir ou desejar; exageram o risco e as possibilidades de ocorrerem eventos desastrosos (contrair doenças, perder familiares, contaminar-se); tendem a superestimar a própria responsabilidade quanto a provocar ou prevenir eventos futuros; são perfeccionistas, perdendo muito tempo com a preocupação de fazer as coisas bem feitas e evitar possíveis falhas ou imperfeições; e imaginam modificar o curso futuro dos acontecimentos, de impedir que desastres ou doenças aconteçam, com a execução dos rituais (pensamento mágico). Cada paciente pode apresentar uma ou mais destas distorções, que são mantidas, mesmo com as evidências sendo contrárias a elas, ou apesar de não terem comprovação na realidade.Supõe-se ainda que fatores ligados ao tipo de educação (mais ou menos severa ou exigente, incutindo culpa ou não), ao tipo de cultura social e familiar, possam também influir na origem de crenças e regras que regem a vida da pessoa criando uma espécie de terreno propício para o surgimento do transtorno. Por estes motivos, usualmente se associam aos medicamentos, terapias psicológicas a terapia cognitivo-comportamental no seu tratamento.

O TOC TEM TRATAMENTO? Até bem pouco tempo não se dispunha de um tratamento efetivo para o TOC. Felizmente, foram desenvolvidas terapias que conseguem melhorar a vida de mais de 80% dos pacientes e, em muitas situações, eliminar os sintomas completamente. No entanto, alguns pacientes, infelizmente, não melhoram, ou melhoram muito pouco, mesmo com os tratamentos mais modernos que consistem na associação de duas modalidades: medicamentos e terapia cognitivo-comportamental (TCC), razão pela qual em todo mundo muito se pesquisa ainda para conhecer melhor a etiologia do TOC e para desenvolver métodos mais eficazes de tratamento.

QUAIS SÃO OS MEDICAMENTOS USADOS NO TRATAMETNO DO TOC? São medicamentos chamados de antidepressivos e que se descobriu que possuíam também uma ação antiobsessiva. São os seguintes: Clomipramina (Anafranil), Paroxetina (Aropax, Pondera, Cebrilin), Fluvoxamina (Luvox), Fluoxetina (Prozac, Psiquial, Verotina, Daforin, etc.), Sertralina (Zoloft, Tolrest), Citalopram (Cipramil, Procimax). Foram recentemente lançados os genéricos da maioria desses medicamentos.As doses, em geral, são mais elevadas do que as utilizadas na depressão. Não se assuste se o médico lhe recomendar doses aparentemente muito altas.

A RESPOSTA AOS MEDICAMENTOS É IMEDIATA? Em geral não é. Pode demorar até 12 semanas para iniciar, razão pela qual o medicamento não deve ser interrompido se o paciente não sentir benefício após as primeiras semanas de uso. O médico, em geral, procura usar inicialmente uma dose média e, caso não haja nenhuma resposta em 4 a 8 semanas ou uma resposta parcial em 5 a 9 semanas, poderá elevar as doses para os seus níveis máximos, pois alguns pacientes só melhoram com níveis bastante elevados do medicamento.É importante salientar que 20% dos que não respondem a uma droga poderão responder a uma segunda. Por este motivo é possível que o médico

queira experimentar uma segunda droga depois de algum tempo. Também é comum a associação com outras drogas quando a resposta não é satisfatória.

O DESAPARECIMENTO DOS SINTOMAS PODE DEMORAR MUITO? Em geral é gradual, podendo ser progressivo ao longo de vários meses e não rapidamente como ocorre em outras doenças como a depressão ou o pânico. A melhora tende ainda a ser incompleta, isto é, não há em geral uma eliminação total dos sintomas, embora 40 a 60% dos pacientes obtenham uma redução significativa na sua quantidade e intensidade.

PODEM OCORRER RECAÍDAS? É alto o índice de recaídas se houver interrupção da medicação, quando ela está sendo utilizada isoladamente. Uma pesquisa mostrou que em até 90% dos pacientes ocorre um retorno dos sintomas 4 meses após a descontinuação do medicamento. Aparentemente, esta recaída é maior do que a que ocorre com pacientes que realizaram terapia cognitivo-comportamental, razão pela qual sempre é recomendável utilizar os dois tratamentos ao mesmo tempo. Mesmo durante o uso do medicamento, embora seja mais raro, podem ocorrer recaídas ou piora dos sintomas.

É POSSÍVEL UM DIA DEIXAR DE USAR A MEDICAÇÃO? Naqueles pacientes que têm um transtorno crônico e que apresentaram uma boa resposta usando apenas medicação, os especialistas recomendam manter o tratamento pelo menos durante um ano depois do desaparecimento dos sintomas. Caso tenham realizado também terapia cognitivo comportamental devem manter, pelo menos, por mais 6 meses. Depois deste período, recomenda-se uma retirada gradual, retirando 25% da droga a cada dois meses. Em pacientes que tiveram 3 ou 4 recaídas leves ou moderadas ou 2 a 4 recaídas graves, estuda-se a possibilidade de manter a medicação por períodos maiores ou talvez por toda a vida.É bom lembrar que estes medicamentos não provocam dependência (não viciam), embora possa haver algum desconforto se eles forem suspensos abruptamente (síndrome da retirada). Não há problemas maiores em se utilizar por longos períodos. É importante comunicar ao médico todos os demais medicamentos que, eventualmente, estiver utilizando, pois podem ocorre algumas interações importantes.

O QUE É A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)?A TCC é considerada um dos tratamentos de primeira linha para o TOC, juntamente com os medicamentos. A TCC baseia-se no fato de que se o paciente desafia seus medos, por exemplo, expondo-se às situações que evita ou tocando nos objetos que considera contaminados (exposição) e, ao mesmo tempo, deixa de realizar os rituais de descontaminação ou verificações (prevenção da resposta ou prevenção de rituais), em pouco tempo a ansiedade e o desconforto desaparecem espontaneamente (habituação), um fenômeno bastante conhecido: sensações desagradáveis, como ruídos intensos, cheiros, reações de medo desaparecem com o passar do tempo se ficarmos expostos a elas. No TOC a aflição costuma desaparecer entre 15 minutos e 3 horas. A cada exercício a intensidade e a duração do desconforto são menores. Repetindo tais exercícios, os medos, o desconforto e conseqüentemente a necessidade de realizar rituais, acabam desaparecendo por completo.

No momento a chamada terapia comportamental de exposição e prevenção de rituais é considerada um dos tratamentos de primeira linha para o TOC, ao lado dos medicamentos. Estudos mais recentes têm demonstrado inclusive que essa modalidade de tratamento tem um efeito maior que os medicamentos, na eliminação das compulsões, na intensidade com que reduz os sintomas e na prevenção de recaídas.Além da exposição e da prevenção de rituais, a TCC utiliza técnicas para correção das crenças e pensamentos distorcidos comuns em portadores do TOC, com o objetivo de realizar a assim chamada reestruturação cognitiva: treino dos pacientes na identificação de pensamentos e crenças distorcidas e disfuncionais; questionamento de tais crenças, discussão de evidências a favor ou contra tais crenças, testes quanto á sua veracidade, exposição aos pensamentos, ouvindo fitas gravadas ou escrevendo, etc, são algumas das técnicas utilizadas para corrigi-las. A terapia pode ser individual e, mais recentemente, vem sendo desenvolvida uma forma de tratamento em grupo. Além de comparecer às sessões nas quais recebe uma série de informações e realiza exercícios, o paciente realiza também exercícios no seu próprio domicílio ou local de trabalho. A maioria dos pacientes que faz os exercícios e completa o tratamento, apresenta melhoras substanciais podendo inclusive eliminar por completo os sintomas.

COMO SE FAZ A EXPOSIÇÃO E A PREVENÇÃO DE RITUAIS? Usualmente, no início do tratamento, junto com o médico ou seu terapeuta, o paciente elabora uma lista de todas as suas obsessões, evitações e rituais e os classifica de acordo com o grau de aflição que imagina venha a sentir caso deixe de executar as manobras que usualmente utiliza para não sentir tal aflição ou para neutralizá-la (rituais, evitação). A partir desta lista, semanalmente, são escolhidas as tarefas de casa, de exposição e prevenção de rituais a serem realizadas nos intervalos das sessões. Começa-se pelas mais fáceis e que produzem menos ansiedade e se deixa para mais adiante as mais difíceis. O paciente deverá dedicar um mínimo de tempo (1 a 2 horas) por dia para realizar suas tarefas, com um mínimo de 20 horas no total. O terapeuta poderá, ainda, solicitar que registre em um diário as tarefas realizadas, o grau de desconforto sentido e de dificuldade encontrada, para discussão nas sessões. As tarefas mais comuns de exposição e prevenção de rituais são as de tocar em objetos considerados contaminados evitando realizar lavagens após, ou de evitar realizar verificações, contagens, repetições, alinhamentos, etc.Ao propor as tarefas, o terapeuta auxilia o paciente a identificar os pensamentos e crenças errôneas (avaliação exagerada dos riscos e da responsabilidade, perfeccionismo, pensar é igual a agir, etc.) que muitas vezes o impedem de correr o risco de contrariar o que já está habituado a realizar como forma de livrar-se de seus sintomas, mesmo que desta forma acabe realimentando a doença eventualmente para toda a vida. Uma vez identificadas tais crenças, o paciente aprende algumas técnicas que o auxiliam na sua correção. Outras vezes o terapeuta propõe experimentos para testar sua veracidade, podendo corrigir tais erros de percepção e avaliação.

O QUE O PACIENTE DEVE FAZER QUANDO SENTE A NECESSIDADE DE EXECUTAR SEUS RITUAIS? Na verdade a terapia cognitivo-comportamental exigirá um esforço bastante grande por parte do paciente para fazer o contrário do que estava habituado. São mencionadas algumas recomendações:

. Tudo o que costuma evitar tocar por considerar sujo ou contaminado, toque por tempo prolongado (15 a 20 minutos ou até não sentir mais nenhuma aflição);. Se sentir vontade de lavar as mãos, depois de tocar em algo que considera sujo ou contaminado, evite fazê-lo por pelo menos uma hora e meia (até esquecer );. Lave as mãos só por motivos de higiene: depois de usar o banheiro, ou quando estejam de fato sujas em função de trabalhos executados. Se tiver alguma dúvida, observe como a maioria das pessoas se comporta é uma forma de constatar quando um determinado comportamento pode ser exagerado;. Verifique portas e janelas, gás, apenas uma vez, e contenha-se em fazer novas verificações;. Não fique vigiando para observar quando sua mente é invadida por obsessões (idéias fixas, medos ou pensamentos absurdos ou exagerados os maus pensamentos ou pensamentos ruins). São apenas sintomas do TOC e não significam que você é um assassino em potencial ou que tem um lado perverso em sua personalidade que a qualquer momento pode perder o autocontrole. Não dê importância aos seus maus pensamentos e não lute contra eles;. Não fique ruminando suas dúvidas que eventualmente não podem ser esclarecidas.. Aprenda a conviver com incertezas;. Interrompa rituais ou ruminações com a palavra Pare e procure distrair-se com algo que prenda mais sua atenção.. Pergunte para você mesmo se você tem alguma comprovação para o desastre que você imagina, ou de que você de fato seja capaz de cometer as coisas horríveis que lhe passam pela cabeça, ou se na verdade estes pensamentos lhe ocorrem porque você tem TOC;. Observe como a maioria das pessoas pensa, avalia, sente e se comporta diante de situações idênticas: todos têm os mesmos medos ou só você? Todos fazem as mesmas verificações ou repetem as coisas como você, ou isto ocorre porque você tem um transtorno (TOC)? . Seus medos têm alguma comprovação de que podem ser verdadeiros ou são claramente exagerados?. Procure enfrentar tudo o que tem evitado e deixe de fazer tudo o que lhe dá alívio.. Lembre-se de que, em pouco tempo, a ansiedade desaparece com a repetição dos exercícios;. Quanto maior o tempo dedicado a estes exercícios e maior o número de vezes em que os realizou, mais rápida é a redução dos sintomas;Para convencer-se de que seus medos são absurdos, exagerados ou infundados, nada melhor do que testá-los na prática.

COMO A FAMÍLIA DO PACIENTE COM TOC PODE COLABORAR? Nem sempre é fácil conviver com o paciente portador de TOC. Seus sintomas muitas vezes são absurdos, vistos como manias e a família não aceita que fujam ao seu controle voluntário. Em outras ocasiões, seus rituais de limpeza, necessidades de verificação ou lentidão motora acabam interferindo nas rotinas da família, o que pode se tornar uma fonte de conflitos e agravar ainda mais os sintomas. Sabe-se que mais de 80% das famílias acabam se envolvendo de alguma forma ou mudando seu comportamento para acomodar-se aos sintomas do paciente. A vida social

fica comprometida na maioria dos casos e não raro podem levar à ruptura de relações conjugais.A família, no entanto, pode se transformar em um suporte importante para o diagnóstico e tratamento do TOC. Pode auxiliar a identificar rituais encobertos e não percebidos pelo próprio paciente, na elaboração das listas de rituais e de evitações (essencial para a terapia cognitivo/comportamental). Para tanto, é necessária a compreensão de como se dá o processo de cura, conhecer o fenômeno da habituação a aflição passa, por mais elevados que sejam seus níveis, e é suportável. É fundamental o apoio às tentativas de exposição e prevenção de rituais e à adesão ao tratamento, além da paciência e tolerância para eventuais aumentos de ansiedade ou retrocessos do paciente.Se houver um familiar com o qual o paciente tenha uma melhor relação, este poderá ser escolhido, em acordo com o terapeuta, para apoiar na realização das tarefas. É importante saber que, em princípio, o paciente deve se esforçar para deixar de fazer (prevenção da resposta) tudo o que lhe dá algum alívio, e tocar em tudo o que evita de tocar (exposição).

ONDE BUSCAR AJUDA? Os médicos psiquiatras e terapeutas qualificados, de uma maneira geral, estão aptos a fazer o diagnóstico e o tratamento do TOC. Em nosso meio, a maioria conhece os medicamentos e como utilizá-los, entretanto relativamente poucos conhecem e sabem utilizar a terapia cognitivo/comportamental. Procure orientar-se com um profissional da área da saúde de sua confiança.http://www.ufrgs.br/toc/http://www.ufrgs.br/toc/oque_toc.htm

ALIENAÇÃO MENTALEmmanuel

Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da consciência se nos estampam na alma, segundo a modalidade de nossos desregramentos.

É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso desequilíbrio da mente, quantos se consagraram no mundo à crueldade e à injustiça, furtando a segurança e a felicidade dos outros.

Fazedores de guerra que depravaram a confiança do povo com peçonhento apetite de sangue e ouro, legisladores despóticos que perverteram a autoridade, magnatas do comércio que segregaram o pão, agravando a penúria do próximo, profissionais do direito que buscaram torturar a verdade em proveito do crime, expoentes da usura que trancafiaram a riqueza coletiva necessária ao progresso, artistas que venderam a sensibilidade e a cultura, degradando os sentimentos da multidão, e homens e mulheres que trocaram o templo do lar pelas aventuras da deserção, acabando no suicídio ou na delinqüência, encarceram-se nos vórtices da loucura, penetrando, depois, na vida espiritual como fantasmas de arrependimento e remorso, arrastando consigo as telas horripilantes da culpa em que se lhes agregam os pensamentos.

E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta aos berços de sombra em que, através da reencarnação redentora, ressurgem no vaso físico — cela preciosa de tratamento —, na condição de crianças-problemas em dolorosas perturbações.

Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos tristes, no eclipse da razão, aconchegai-os com paciência e ternura, porquanto são, quase sempre, laços enfermos de nosso próprio passado, inteligências que decerto auxiliamos irrefletidamente a perder e que, hoje, retornam à concha de nossos braços, esmolando entendimento e carinho, para que se refaçam, na clausura da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e para a glória da luz.

EMMANUEL(Do livro Religião dos Espíritos, 6, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)

Reunião pública de 23/1/59 /Questão nº 373

Estudo das Doenças Mentais Parte III

ESQUIZOFRENIAVídeos sobre Esquizofrenia: http://duplavista.com.br/arquivo/programa-transicao-visao-espirita-06-set-esquizofreniaVisão espírita sobre a doença, com o médico João Lourenço.  É importante que todos vejam!

Filme sugerido: "Uma Mente Brilhante": Sinopse: John Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua genialidade e o tornou aclamado no meio onde atuava. Mas aos poucos o belo e arrogante John Nash se transforma em um sofrido e atormentado homem, que chega até mesmo a ser diagnosticado como esquizofrênico pelos médicos que o tratam. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel.

http://www.youtube.com/watch?v=24og4X-JBUYhttp://www.youtube.com/watch?v=vPTdNJexVCk

INTRODUÇÃO: capítulo 12 do livro "NO MUNDO MAIOR".“Estranha Enfermidade” (Muita atenção aos esclarecimentos de Calderaro!)

Acompanhando o abnegado irmão dos sofredores, penetrei confortável residência, onde Calderaro me conduziu, incontinente, à presença de um nobre cavalheiro em repouso.

Achamo-nos em elegante aposento, decorado em ouro-velho. Magnífico tapete completava a graça ambiente, exibindo caprichosos arabescos em harmonia com os desenhos do teto. Estirado num divã, o enfermo que visitávamos engolfava-se em profunda meditação. Ao lado, humilde entidade de nossa esfera como que nos aguardava.

Aproximou-se e cumprimentou-nos, gentil. Às fraternas interpelações do Assistente, respondeu solícita: — Fabrício vai melhorando; no entanto, continuam os fenômenos de angústia. Tem estado inquieto, aflito... O orientador lançou expressivo olhar ao doente e insistiu: — Mantém ainda o autodomínio? não se abandonou totalmente às impressôes destrutivas? A interlocutora, revelando contentamento, informou: — A Divina Misericórdia não tem faltado. O desequilíbrio integral, por enquanto, não erigiu seu império. Em nome de Jesus, nossa colaboração tem prevalecido.

Calderaro, então, fraternalmente indagou, dirigindo-se a mim:— Chegaste, alguma vez, a examinar casos declarados de

esquizofrenia?Não adquirira conhecimentos epecializados da matéria; todavia, não

ignorava constituir esse morbo uma das mais inquietantes questôes da psiquiatria moderna.

— Este ramo ingrato da Ciência, que estuda a patologia da alma — declarou o companheiro, compreendendo a minha Insipiência —, é, há muito tempo, campo de batalha entre fisiologistas e psicologistas; tal conflito é, em verdade, lamentável e bizantino, de vez que ambas as correntes possuem razões substanciais nos argumentos com que se digladiam. Somos, contudo, forçados a reconhecer que a psicologia ocupa a melhor posição, por escalpelar o problema nas adjacências das causas profundas, ao passo que a fisiologia analisa os efeitos e procura remediá-los na superfície.

Logo após, o Assistente recomendou-me examinar a esfera mental do visitado.

Auscultei-lhe o íntimo, ficando aterrado com as inquietudes que lhe povoavam o ser, O cérebro apresentava anomalias estranhas. Toda a face inferior mostrava manchas sombrias. Os distúrbios da circulação, do movimento e dos sentidos eram visíveis. Calderaro apresentara-me Fabrício, classificando-o como esquizofrênico; mas não estaríamos, ali, perante um caso de neurastenia cérebro-cardíaca?

O instrutor ouviu-me pacientemente e observou:— Diagnóstico exato, no aspecto em que o nosso amigo se apresenta hoje. A esquizofrenia, contudo, originando-se de sutis perturbações do organismo perizpirítico, traduz-se no vaso rico por surpreendente conjunto de moléstias variáveis e indeterminadas. No momento, temos aqui a doença de Kriahaber com todos os característicos especiais.

Mostrando grave expressão no semblante, acrescentou:— Repara, contudo, além dos efeitos mutáveis. Analisa a mente e os

domínios das sensações.Lancei mais profundamente a sonda de minha observação sobre os

quadros interiores do enfermo e percebi-lhe imagens torturantes na tela da memória.

Ensimesmado, Fabrício não se dava conta do que ocorria no plano externo. Braços imóveis, olhos parados, mantinha-se distante das sugestões ambientes; no íntimo, todavia, a zona mental semelhava-se a fornalha ardente.

A imaginação superexcitada detinha-se a ouvir o passado... Recordava-lhe a figura de um velhinho agonizante. Escutava-lhe as palavras da última hora do corpo, a recomendar-lhe aos cuidados três jovens presentes

também ali, na paisagem de suas reminiscências. O moribundo devia ser-me o genitor, e os rapazes, irmãos. Conversavam, entre si, lacrimosos. De repente, modificavam-se-lhe as lembranças. O ancião e os jovens pareciam revoltados contra ele, acusando-o. Nomeavam-no com descaridosas designações...

O doente ouvia as vozes internas, ansioso, amargurado. Desejava desfazer-se do pretérito, pagaria pelo esquecimento qualquer preço, ansiava de fugir a si próprio, mas em vão: sempre as mesmas recordações atrozes vergastando-lhe a consciência.

Verificava-lhe eu os estragos orgânicos, resultantes do uso intensivo de analgésicos. Aquele homem deveria estar duelando consigo mesmo, desde muitos anos.

Achava-me no exame da situação, quando uma senhora idosa surgiu no aposento, tentando chamá-lo à realidade.

— Vamos, Fabrício! não se alimenta hoje?O interpelado vagueou o olhar pela sala, esboçou uma resposta

negativa sem palavras e deixou-se ficar na mesma posição.A matrona insistiu, afável, mas não conseguiu demovê-lo. E porque

prosseguisse, atenciosa, buscando ministrar-lhe um caldo, o enfermo levantou-se, de súbito, como se houvera repentinamente enlouquecido. Esbravejou expressões inconvenientes e ingratas; rubro de cólera, repeliu o oferecimento, surpreendendo-me pela crise de nervos destrambelhados.

A esposa regressou ao interior da casa, enxugando os olhos, enquanto Calderaro me esclarecia, comovido:

— Está no limiar da loucura, e ainda não enveredou francamente pelo terreno da alienação mental, graças à dedicação de velha parenta desen-carnada que o assiste, vigilante.

Logo após, o Assistente o submeteu a operações magnéticas de reconforto, vigorando-lhe a resistência.

Ante o neurastênico, mais calmo agora, narrou, com serenidade:- Nosso irmão enfermo teve a infelicidade de apropriar-se indebitamente

de grande herança, depois de haver prometido ao genitor moribundo velar pelos irmãos mais novos, na presença destes; ao se sentir, porém, senhor da situação, desamparou os manos e expulsou-os do lar, valendo-se de rábulas bem remunerados, desses que, sem escrúpulo, vivem de inquinar os textos legais. Por mais enérgicas e convincentes as reclamações arrazoa-das, por mais comovedores os apelos à amizade fraterna, manteve-se ele em clamorosa surdez, arrojando os irmãos à penúria e a dificuldades de toda a sorte. Dois deles morreram num sanatório em catres da indigência, minados pela tuberculose que os surpreendeu em excessivas tarefas noturnas; e o outro desencarnou em míseras condições de infortúnio, relegado ao abandono, antes dos trinta anos, presa de profunda avitaminose, consequente da subalimentação a que fora compelido. Tudo isto nosso desditoso amigo conseguiu fazer, escapando à justiça terrena; entretanto, não pôde eliminar dos escaninhos da consciência os resquícios do mal praticado; os remanescentes do crime são guardados em sua organização mental como carvões em paisagem denegrida, após incêndio devorador; e esses carvões convertem-se em brasas vivas, sempre que excitados pelo sopro das recordações. O mau filho e perverso irmão, enquanto senhor dos patrimônios de resistência que a virilidade do corpo lhe permitia, lograva fugir de si mesmo, sem grandes dificuldades. O dinheiro fácil, a saúde sólida, os divertimentos e prazeres, desempenhavam para ele a função de pesadas cortinas entre o personalismo arrogante e a realidade viva. Todavia, o tempo cansou-lhe o aparelho fisiológico e consu-

miu-lhe a maioria das ilusões; pouco a pouco, encontrou-se a si mesmo; na viagem de volta ao próprio eu, viu-se, porém, a sós com as lembranças de que não conseguira escoimar-se. Debalde intentou descobrir o bom ânimo e o bem-estar: estes se lhe ocultavam. Impossível era concentrar-se no próprio ser, sem ouvir o pai e os irmãos, acusando-o, exprobrando-lhe a vileza... A mente atormentada não achava refúgio consolador. Se rememorava o pretérito, este lhe exigia reparação; se buscava o presente, não obtinha tranquilidade para se manter no trabalho sadio; e, quando tentava erguer-se a plano superior, desejoso de orar ao Altíssimo, era surpreendido, ainda aí, por dolorosas advertências, no sentido de inadiável correção da falta cometida. Nesse estado espiritual, interessou-se tardiamente pelo destino dos irmãos. As informações colhidas não lhe deixavam margem ao pagamento imediato; haviam todos partido, precedendo-o na grande jornada do túmulo. Desde então, verificando a impraticabilidade de rápida retificação do tortuoso destino, o infeliz fixou-se nas zonas mais baixas do ser. Perdeu as ambições nobres e os ideais sadios, passou a ignorar os recursos da esperança. As vantagens materiais, ao invés de confortá-lo, infundiam-lhe, agora, pavoroso tédio e indizível desgosto. Engrazado à máquina das responsabilidades financeiras, criadas por ele mesmo sem o espírito de possuir para dar em nome do Bem Universal, não lhe foi possível esquivar-se às imposições da vida social, na qualidade de homem de alto comércio, até que baqueou, em supremo torpor. Sentindo-se incriminado no tribunal da própria consciência, começou a ver perseguidores em toda a parte. Adquiriu, assim, fobias lamentáveis. Para ele, todos os pratos estão envenenados. Desconfia de quase todos os familiares e não tolera as antigas relações.

O excesso de recursos materiais fê-lo descrente da amizade sincera, conferiu-lhe noções de privilégio que nunca mereceu, acentuou-lhe a independência destrutiva, extinguiu-lhe no coração a bendita luz do verbo “servir”. Como vemos, sua situação éabsolutamente desfavorável ao necessário reerguimento. A condição, a que se impôs pelos desejos menos nobres que sempre nutriu, é de apatia e de esterilidade...

A essa altura da narrativa, Calderaro apontou em particular o cérebro doente, e explicou: — O sistema nervoso, que se liga à câmara encefálica através de processos indescritíveis na técnica da ciência humana, mais não é do que a representação de importante setor do organismo perispirítico, segundo acabamos de estudar. A mente falida de Fabrício, experimentando insistentes remorsos e aflitivas preocupações, intoxicou esses centros vitais com a incessante emissão de energias corruptoras. Consequentemente, verificou-se o que em boa psiquiatria poderíamos designar por desão generalizada do sistema nervoso». Tal desastre atingiu, em primeiro lugar, as sedes das conquistas mais recentes da personalidade, isto é, as células e os estímulos mais jovens, que se localizam nos lobos frontais e no córtex motor, inutilizando temporàriamente o nosso amigo, para a meditação ele-vada e para o trabalho sadio, e obrigando-o a regredir, no terreno espiritual, para dentro de si mesmo. De mente estacionária agora, em plena região instintiva da individualidade, nosso enfermo ainda não se acha positivamente desequilibrado, graças à contínua assistência de nosso plano.

Calando-se o Assistente, ousei interrogar:— Mas há esperança de reequilibrio para breve?— Absolutamente não — respondeu o interpelado, de maneira

significativa —; no caso dele, funcionariam em vão as terapêuticas em uso. O espírito delinquente pode receber os mais variados gêneros de

colaboração, mas será imperiosamente o médico de si mesmo. A Justiça Divina exerce invariável ação, embora os homens não a identifiquem no mecanismo de suas relações ordinárias. Os criminosos podem, por muito tempo, escapar ao corretivo da organização judiciária do mundo; no entanto, mais cedo ou mais tarde, vaguearão, perante os seus irmãos em humanidade, em baixo terreno espiritual, representado no quadro de af li-ções punitivas. Para os familiares e amigos, Fabrício é um esquizofrênico, incapaz de resistir às aplicações do choque insulínico em virtude do coração frágil e cansado; todavia, para nós é um companheiro acidentado na ambição inferior, curtindo amargos resultados de seus propósitos de dominar egoisticamente na vida.

Interrompendo-se o orientador, dei guarida a interrogações naturais no campo Intimo.

Se o doente não oferecia perspectivas de melhoras substanciais, qual o objetivo de nossa assistência? porque nos demorarmos à frente de um caso insolvível, qual aquele, pela impossibilidade de próximo reencontro entre o criminoso e suas vítimas?

Calderaro não me deixou sem resposta.— Estamos aqui — elucidou, atencioso —, a fim de proporcionar-lhe

morte digna. Não chegará a enlouquecer em definitivo. Com o nosso concurso fraterno, desencarnará antes do eclipse total da razão.

E porque me mostrasse espantado, o prestimoso amigo acrescentou:— Fabrício desposou uma criatura, por todos os títulos credora do

amparo celestial, e essa mulher quase sublime deu-lhe três filhos, pos quais ele se consagrou nobremente, preparando-os para elevado ministério social. São eles, presentemente, dois professores e um médico, dedicados ao ideal superior de servir ao bem coletivo. Fabrício não tem o direito de perturbar a família organizada à sombra de seu amparo material, mas educada sem o seu personalismo despótico. Pelo serviço que prestou à esposa e aos filhos, recebe do Alto o socorro de agora, de maneira a transferir residência, por imposição da morte, preparado para o futuro de reajustamento. As preces da companheira e dos filhos garantem-lhe uma “boa morte” próxima, para a qual vamos organizando as suas energias e habituando pari passu a família a permanecer em missão ativa no bem sem a presença material dele.

Silenciou o Assistente, dispondo-se a fazer-lhe aplicações magnéticas no aparelho circulatório. Demorou-se minutos longos administrando-lhe

forças ao redor dos vasos mais importantes e, em seguida, desenvolveu passes longitudinais, destinados à quietação dos nervos.

Ante minha admiração natural, Calderaro explicou-se:— Preparamos acesso à trombose pela calcificação de certas veias. A

desencarnação chegará suavemente, dentro de alguns dias, como providên-cia compassiva, indispensável à felicidade do euferino e de quantos lhe seguem de perto o martírio.

O doente, mais calmo, parecia haver sorvido milagroso analgésico. Aquietou-se, descansando a cabeça nos travesseiros alvos.

Dentro do silêncio que se fizera entre nós, iadaguei, curioso:— Considerando, no entanto, o decesso, em breves dias, como

prosseguirá o processo de resgate do nosso amigo?— A liquidação já começou — redarguiu o instrutor, sereno.— Como?Calderaro fêz expressivo gesto e recomendou:— Espera.Nesse mesmo instante, o enfermo acionou a campainha à cabeceira. A

esposa atendeu, à pressa. Encontrou-o melhor e sorriu, feliz.

O velho, mais tranquilo, rogou:— Inês, posso ver o Fabricinho?— Como não? — respondeu a companheira delicadamente — vou buscá-

lo.Em poucos minutos, regressava trazendo um menino de seus oito anos.

O pequeno atirou-se-lhe aos braços esqueléticos, com extremado carinho, e perguntou:

— Está melhor, vovô?O doente contemplou-o, enternecido, informando:— Estou melhor, meu filhinho... Porque não veio de manhã?— Vovó não deixou.— Sim, é verdade; eu não me achava bem...A senhora retirou-se, para acompanhar a cena do outro lado da cortina.Avô e neto sentiram-se mais à vontade.Totalmente transfigurado com a presença do menino, nosso quase

demente amigo suplicou:— Fabricinho, eu desejo que você reze por mim...O petiz não se fêz rogado.Ajoelhou-se ali mesmo e disse, respeitosa-mente, a oração dominical.Terminada a prece, o doente pediu, de olhos umidos:— Não se esqueça, meu filho, de orar por mim quando eu morrer.O menino, agora de pé, enlaçou-lhe o busto e exclamou, chorando

discretamente:— O senhor não morrerá!... Mostrando-se aliviado, o velhinho correspon-

deu ao gesto afetivo, fitou o neto e inquiriu, com estranho fulgor no olhar:— Fabricinho, você acredita que Deus perdoa aos pecadores como eu?O pequeno respondeu, lacrimoso e confundido:— Eu acho, vovô, que Deus perdoa todos nós.Revelando as ansiedades que lhe povoavam a alma, voltou à indagação:— Mesmo a um homem que trai a confiança paterna e rouba aos

irmãos?O netinho hesitou, incapaz de apreender toda a extensão daquela

pergunta intencional; entretanto, no desejo de agradar ao doente, de qualquer modo, balbuciou com toda a simplicidade infantil:

— Eu penso que Deus perdoa sempre...— É o que eu pretendia saber — acentuou o velhinho, mais confortado.A conversação entre ambos prosseguiu afetuosa e amena.Após detido exame, Calderaro apontou para a criança e esclareceu:— Este menino é o ex-pai de Fabricio, que volta ao convívio do filho

delinqüente pelas portas benditas da reencarnação. É o único neto do en-fermo e, mais tarde, assumirá a direção dos patrimônios materiais da família, bens que inicialmente lhe pertenciam. A Lei jamaiS dorme.

Assombrado com a informação, remol as perguntas que me afloravam, espontâneas.

Como se redimiria, por sua vez, o velho FabríciO? RegreSsaria também, em dias futuros, àquele mesmo lar? Sofreria o desequilíbrio completo, depois da morte do corpo denso? Demorár-se-ia em perturbação?

Calderaro, dando por findos nOSSOS trabalhos de assistência na casa, sorriu para mim, preparou-se para a retirada e obtemperou:

— Nosso amigo enfermo, guardando na mente os resíduoS da ação criminosa, logo após o abandono do domicílio fisiológico experimentará, por muito tempo, os resultados de sua queda, até que o sofrimento alije os elementos malignos que lhe intoxicam a alma. Quando esse serviço purgatonal estiver completo, então...

— Regressará aos seus familiares? — inquiri, ansioso, ante a frase suspensa.

— Se o grupo consangüíneo atual houver elevado o padrão espiritual a luminosas culminâncias, será compelído a esforçar-se intensivamente pelo alcançar. Entretanto, jamais estará desamparado. Todos temos a imensa família, dentro da qual nos integramos desde a origem — a Humanidade.

Nesse instante, abandonávamos o aposento suntuoso.Em breves segundos, tornávamos à Natureza gozando a bênção do céu

muito límpido. E enquanto o meu instrutor se refugiava em si mesmo, atento às responsabilidades do serviço, dei expansão a novos pensamentos, relativos à amplitude e à grandeza do império da justiça.

PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

ESQUIZOFRENIA:

A esquizofrenia (do grego mente dividida) é uma doença mental grave que se caracteriza classicamente por uma coleção de sintomas, entre os quais avultam alterações do pensamento, alucinações (sobretudo auditivas), delírios e embotamento emocional com perda de contacto com a realidade, podendo causar um disfuncionamento social crônico.

É hoje encarada não como uma doença única mas sim como um grupo de patologias, atingindo todas as classes sociais e grupos humanos. A sua prevalência atinge 1% da população mundial, [1] manifestando-se habitualmente entre os 15 e os 25 anos, nos homens e nas mulheres, podendo igualmente ocorrer na infância ou na meia-idade. Um exemplo de um esquizofrênico famoso é o matemático americano John Forbes Nash, que fez importantes contribuições na área da economia, biologia e teoria dos jogos. Eugen Bleuler deu nome à Esquizofrenia, desordem que era conhecida anteriormente como dementia praecox.

Sintomas:A esquizofrenia é uma doença funcional do cérebro que se caracteriza essencialmente por uma fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas. Embora primariamente uma doença que afeta os processos cognitivos [de conhecimento], os seus efeitos repercutem-se também no comportamento e nas emoções.

Os sintomas da esquizofrenia não são os mesmos de indivíduo para indivíduo, podendo aparecer de forma insidiosa e gradual ou, pelo contrário, manifestar-se de forma explosiva e instantânea. Estes podem ser divididos em duas grandes categorias: sintomas positivos e negativos.

Sintomas positivos - Os sintomas positivos estão presentes com maior visibilidade na fase aguda da doença e são as perturbações mentais "muito fora" do normal, como que “acrescentadas” às funções psicológicas do indivíduo. Entende-se como sintomas positivos os delírios — idéias delirantes, pensamentos irreais, “ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo”[2], por exemplo, um indivíduo que acha

que está a ser perseguido pela polícia secreta, e acha que é o responsável pelas guerras do mundo; as alucinações, percepções irreais – ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequente as alucinações auditivo-visuais; pensamento e discurso desorganizado, elaborar frases sem qualquer sentido ou inventar palavras; alterações do comportamento, ansiedade, impulsos, agressividade.

Sintomas negativos: Os sintomas negativos são o resultado da perda ou diminuição das capacidades mentais, ”acompanham a evolução da doença e refletem um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais”[2], como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento social; apatia; indiferença emocional; pobreza do pensamento.Estes sinais não se manifestam todos no indivíduo esquizofrênico. Algumas pessoas vêem-se mais afetadas do que outras, podendo muitas vezes ser incompatível com uma vida normal. A doença pode aparecer e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões.“Não há, contudo, sinais nem sintomas patognomônicos da doença, podendo-se de alguma forma fazer referência a um quadro prodrómico que são em grande parte sintomas negativos, como por exemplo inversão do ciclo de sono, isolamento, perda de interesse por atividades anteriormente agradáveis, apatia, descuido com a higiene pessoal, idéias bizarras, comportamentos poucos habituais, dificuldades escolares e profissionais, entre outras. Posterior a esta fase inicial surgem os sintomas positivos”[3]. “Diz-se que os primeiros sinais e sintomas de esquizofrenia são insidiosos. O primeiro sintoma de sossego/calma e afastamento, visível num adolescente normalmente passa despercebido como tal, pois remete-se o fato para “é uma fase”. Pode inclusivamente ser um enfermeiro de saúde escolar ou um conselheiro a começar a notar estas mudanças. (…) É importante dizer-se que é muito fácil interpretar incorretamente estes comportamentos, associando-os à idade.”[4].

Causas: Sabe-se atualmente que não existe uma única causa, mas sim várias que concorrem entre si para o seu aparecimento, sendo muitas as teorias que surgiram para explicar esta doença:

Teoria genética: A teoria genética admite que vários genes podem estar envolvidos, contribuindo juntamente com os fatores ambientais para o eclodir da doença. Sabe-se que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família. "No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes diretos é de 12%. É o caso do esquizofrênico matemático norte-americano John Nash que divide com o filho, John Charles Martin, a mesma doença. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%"[5]. No entanto, mesmo na ausência de história familiar, a doença pode ainda ocorrer.”[2]. Segundo Gottesman (1991), referenciado por Pedro Afonso (2002), sabe-se ainda que cerca de 81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afetado.

Teoria neurobiológica: As teorias neurobiológicas defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial com uma disfunção dopaminérgica,

embora alterações noutros neurotransmissores estejam também envolvidas. A maioria dos neurolépticos (antipsicóticos) atua precisamente nos receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste neurotransmissor. Exatamente por isso, alguns sintomas característicos da esquizofrenia podem ser desencadeados por fármacos que aumentam a atividade dopaminérgica (ex: anfetaminas)[3]. Esta teoria é parcialmente comprovada pelo fato de a maioria dos fármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia (neurolépticos) atuarem através do bloqueio dos receptores (D2) da dopamina.

Teoria psicanalítica: As teorias psicanalíticas (ou de relação precoce) têm como base a teoria freudiana da psicanálise, e remetem para a fase oral do desenvolvimento psicológico, na qual “a ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebê conduz igualmente as personalidades “frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações”[4]. A ausência de relações interpessoais satisfatórias estaria assim na origem da esquizofrenia.

Teoria familiar: Este artigo ou secção não cita as suas fontes ou referências. Ajude a melhorar este artigo providenciando fontes fiáveis e independentes, inserindo-as no corpo do texto ou em notas de rodapé. Encontre fontes: Google – news, books, scholar, Scirus As teorias familiares, apesar de terem bastante interesse histórico, são as que menos fundamento cientifico têm. Surgiram na década de 1950, baseadas umas no tipo de comunicação entre os vários elementos das famílias e aparecendo outras mais ligadas às estruturas familiares. Dos estudos desenvolvidos surge o conceito «mãe esquizofrenogénica», mães possessivas e dominadoras com seus filhos, como gerador de personalidades esquizofrênicas. Estudos posteriores vieram contudo desconfirmar esta hipótese, relacionando aquele comportamento mais com etiologias neuróticas e não com a psicose.

Teoria dos neurotransmissores: Têm-se um excesso de dopamina na via mesolímbica e falta dopamina na via mesocortical.Apesar de existirem todas estas hipóteses para a explicação da origem da esquizofrenia, nenhuma delas individualmente consegue dar uma resposta satisfatória às muitas dúvidas que existem em torno das causas da doença, reforçando assim a idéia de uma provável etiologia multifactorial.

Tipos de esquizofrenia: O diagnóstico da esquizofrenia, como sucede com a maior parte das doenças do foro psiquiátrico, não se pode efetuar através da análise de parâmetros fisiológicos ou bioquímicos, e resulta apenas da observação clínica cuidada das manifestações da doença ao longo do tempo. A quando do diagnóstico, é importante que o médico exclua outras doenças ou condições que possam produzir sintomas psicóticos semelhantes (abuso de drogas, epilepsia, tumor cerebral, alterações metabólicas). O diagnóstico da esquizofrenia é por vezes difícil.

Para além do diagnóstico, é importante que o médico identifique qual é o subtipo de esquizofrenia em que o doente se encontra. Atualmente, segundo o DSM IV, existem cinco tipos:

Paranóide, é a forma que mais facilmente é identificada com a doença, predominando os sintomas positivos. O quadro clínico é dominado por um

delírio paranóide relativamente bem organizado. Os doentes com esquizofrenia paranóide são desconfiados, reservados, podendo ter comportamentos agressivos.[1]

Desorganizado, em que os sintomas afetivos e as alterações do pensamento são predominantes. As idéias delirantes, embora presentes, não são organizadas. Alguns doentes pode ocorrer uma irritabilidade marcada associada a comportamentos agressivos. Existe um contacto muito pobre com a realidade.[1]

Catatônico, é caracterizada pelo predomínio de sintomas motores e por alterações da atividade, que podem ir desde um estado de cansaço e acinético até à excitação.[1]

Indiferenciado, apresenta habitualmente um desenvolvimento insidioso com um isolamento social marcado e uma diminuição no desempenho laboral e intelectual. Observa-se nestes doentes uma certa apatia e indiferença relativamente ao mundo exterior.[1]

Residual, nesta forma existe um predomínio de sintomas negativos, os doentes apresentam um isolamento social marcado por um embotamento afetivo e uma pobreza ao nível do conteúdo do pensamento. [1]

Existe também a denominada Esquizofrenia Hebefrênica, com incidência da adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às demais variações da doença, e com grandes probabilidades de prejuízos cognitivos e sócio-comportamentais. Estes subtipos não são estanques, podendo um doente em determinada altura da evolução da sua doença apresentar aspectos clínicos que se identificam com um tipo de esquizofrenia, e ao fim de algum tempo poder reunir critérios de outro subtipo. Existem várias abordagens terapêuticas na intervenção ao doente esquizofrênico, que na maioria dos casos tem indicação de um tratamento interdisciplinar: o acompanhamento médico-medicamentoso, a psicoterapia, a terapia ocupacional (individual ou em grupos), a intervenção familiar, a musicoterapia e a psicoeducação são os procedimentos indicados para estes doentes.

Apesar de não se conhecer a sua cura, o tratamento pode ajudar muito a tratar os sintomas, e a permitir que os doentes possam viver as suas vidas de forma satisfatória e produtiva. A experiência clínica indica que o melhor período para o tratamento da esquizofrenia é com o aparecimento dos primeiros sintomas. Se sintomatologia psicótica permanecer sem tratamento por longos períodos o prognóstico do tratamento é menos favorável. Assim é vital o reconhecimento precoce dos sinais da esquizofrenia para que se possa procurar uma ajuda rápida.[6

Diagnóstico e questões polêmicas: A esquizofrenia como entidade de diagnóstico tem sido criticada como desprovida de validade científica ou confiabilidade e é parte de críticas mais amplas à validade dos diagnósticos psiquiátricos em geral. Uma alternativa sugere que os problemas com o diagnóstico seriam melhor atendidos como dimensões individuais ao longo das quais todos variam, de tal forma que haveria um espectro contínuo em vez de um corte de entre normal e doente. Esta abordagem parece coerente com a investigação sobre esquizotipia e de uma relativamente alta

prevalência na experiência dos psicóticos e, muitas vezes, crenças delusionais não perturbadoras entre o público em geral.Outra crítica é que falta coerência nas definições utilizadas para os critérios; é particularmente relevante para a avaliação das ilusões a desordem no pensamento. Mais recentemente, foi alegado que sintomas psicóticos não são uma boa base para a elaboração de um diagnóstico de esquizofrenia como "psicose é a 'febre' de doença mental - um grave mas inespecífico indicador". Talvez por causa desses fatores, estudos examinando o diagnóstico de esquizofrenia geralmente têm mostrado relativamente baixas ou inconsistentes níveis de confiabilidade diagnóstica. Na maioria dos famosos estudos de David Rosenhan em 1972 a ser publicados como saudáveis em lugares demente, demonstrou que o diagnóstico de esquizofrenia foi (pelo menos no momento) muitas vezes subjetivo e pouco fiáveis. Estudos mais recentes têm encontrado acordo entre quaisquer dois psiquiatras, quando o diagnóstico de esquizofrenia tende a atingir cerca de 65%, na melhor das hipóteses. Este, e os resultados de estudos anteriores de fiabilidade de diagnóstico (que normalmente relataram níveis ainda mais baixos de acordo), levaram alguns críticos a afirmar que o diagnóstico de esquizofrenia deve ser abandonado.

Em 2004, no Japão, o termo japonês para esquizofrenia foi alterado de Seishin-Bunretsu-Byo (doença da mente dividida) para Togo-shitcho-sho (desordem de integração). Em 2006, ativistas no Reino Unido, sob o estandarte de Campanha para a Abolição do Rótulo de Esquizofrenia, defenderam uma semelhante rejeição do diagnóstico de esquizofrenia e uma abordagem diferente para a compreensão e tratamento dos sintomas associados a ela neste momento. Alternativamente, os outros proponentes apresentaram utilizando a presença de déficits neurocognitivas específicas para fazer um diagnóstico. Estes assumem a forma de uma redução ou de comprometimento em funções psicológicas básicas, como memória, atenção, função executiva e resolver problemas. É este tipo de dificuldades, em vez de os sintomas psicóticos (que, em muitos casos, pode ser controlado por medicamentos antipsicóticos), que parece ser a causa da maioria dos deficiência na esquizofrenia. No entanto, este argumento é relativamente novo e é pouco provável que o método de diagnóstico de esquizofrenia vá mudar radicalmente no futuro próximo.

O diagnóstico de esquizofrenia foi usado para fins políticos em vez de terapêuticos, na União Soviética mais uma sub-classificação de "esquizofrenia que progride lenta" foi criado. Particularmente no RSFSR (República Socialista Federativa Soviética da Rússia), este diagnóstico foi utilizado com a finalidade de silenciar os dissidentes políticos ou forçá-los a desistir de suas idéias através da utilização forçada de confinamento e tratamento. Em 2000, houve preocupações semelhantes quanto detenção e 'tratamento' de praticantes do movimento Falun Gong pelo governo chinês. Isso levou a Comissão da Associação Psiquiátrica Americana Sobre o Abuso de Psiquiatria e psiquiatras a aprovar uma resolução que inste a Associação Psiquiátrica Mundial a investigar a situação na China.

A interação com pacientes: A doença mental é com frequência relacionada com o mendigo que deambula pelas ruas, que fala sozinho, com a mulher que aparece na TV dizendo ter 16 personalidades e com o homicida “louco” que aparece nos filmes. Esta foi durante muitos anos sinônimo de exclusão social, e o diagnóstico de esquizofrenia, significava

como destino “certo” os hospitais psiquiátricos ou asilos, onde os pacientes ficavam durante muitos anos. O matemático norte-americano John Nash, que, em sua juventude, sofria de esquizofrenia, conseguiu reverter sua situação clínica e ganhar o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1994.Em muitos casos, os indivíduos com esquizofrenia foram crianças tímidas, introvertidas, com dificuldades de relacionamento e com pouca interação emocional. As crianças apresentam ainda dificuldades ao nível da atenção e do comportamento. Durante a adolescência o isolamento vai se tornando cada vez maior e o rendimento escolar diminuindo. Estas modificações são frequentemente associadas à crise da adolescência. “Para o adolescente este é um período de confusão, sente-se desconcentrado, não sabe o que se está a passar com ele. O jovem começa a passar grandes períodos frente ao espelho a observar o seu corpo revelando a presença de alterações do seu esquema corporal que podem surgir associadas à vivência psicótica. Isto não acontece só ao nível do corpo, mas também na consciência de si próprio (perturbação da vivência do «eu») apresentando neste caso sentimentos de despersonalização”[2].

Uma crise psicótica pode ser precipitada por vários fatores, como por exemplo, mudar de casa, perder um familiar, rompimento com um(a) namorado(a), entrar na universidade... Neste tipo de doença, é raro o indivíduo ter consciência de que está realmente doente, o que torna difícil a adesão ao tratamento. Um dos maiores medos que a pessoa com esquizofrenia sente é o de ser estigmatizada por preconceitos sociais relativamente à sua doença, especialmente a idéia de que a pessoa é violenta, intrinsecamente perigosa, idéia essa que estudos recentes põem completamente de parte, mostrando que a incidência de comportamento violento nestes doentes e na população em geral é idêntico, se não mesmo inferior. “Quero que as pessoas entendam que sou como os outros. Sou um indivíduo e deveria ser tratada como tal pela sociedade. Não deveriam fechar-me numa caixa com a etiqueta de esquizofrenia”[7] (Jane). “As pessoas com esquizofrenia têm muitas vezes dificuldade em satisfazer as suas necessidades devido à sua doença”[7].

É importante que o processo de reabilitação seja um processo contínuo, para que possa ter sucesso, proporcionando uma maior qualidade de vida, maior autonomia e realização pessoal. Para atingir estes objetivos, foram criadas estruturas de apoio, os chamados equipamentos substitutivos (à estrutura manicomial) como os CAPS (Centros de Atenção psicossocial), Centros de Convivência, Oficinas, hospitais dia, serviços residenciais terapêuticos, empregos apoiados, fóruns sócio-ocupacionais. Uma das grandes dificuldades destes doentes é a sua integração no mercado de trabalho, visto existir uma grande competitividade, levando a que muitos acabem por desistir. Daí ser relevante o acompanhamento destes no período de adaptação. É bastante útil que o doente tenha conhecimentos sobre a doença e os seus sintomas e que tenha um papel ativo no tratamento e controlo sobre a mesma. Sendo por isso vantajoso que estes sigam alguns cuidados, nomeadamente:

Permanecer fiel ao seu tratamento; se achar que a medicação não está a ajudar ou sentir efeitos não desejáveis deve avisar o médico Ter o cuidado de conservar um ritmo de sono e vigília correto, com as horas de sono necessárias Evitar o stress

Deve manter rotinas normais, de higiene, alimentação, atividade em casa e no exterior Evitar as drogas Procurar ter horas para dormir, comer, trabalhar Fixar um programa de atividades para cada dia Permanecer em contacto com as outras pessoas Manter o contacto com o psiquiatra/equipa de saúde mental Praticar desporto pelo menos uma vez por semana. Os doentes esquizofrênicos podem apresentar também sintomas depressivos, que nem sempre têm origem em aspectos biológicos ou neuroquímicos da doença. “O desapontamento e a desilusão vividos por alguns deste doentes perante os repetidos fracassos em manterem um emprego, em conseguirem voltar a estudar ou terem um grupo de amigos torna-se uma realidade incontornável”[2], levando a sentimentos de frustração.

Um outro aspecto associado à depressão na esquizofrenia é a questão do suicídio, que pode ter origem em vários fatores: o sofrimento psíquico associado à própria vivência psicótica, o aspecto crônico e recorrente da doença que afeta muitos jovens.

O papel ativo da família é essencial para o tratamento, reabilitação e reinserção social do seu familiar que sofre de esquizofrenia. Muitas famílias procuram o apoio junto aos técnicos de saúde, permitindo assim que estas superem e sobrevivam às dificuldades que encontram; no entanto, há aquelas que não o fazem, levando ao seu adoecimento, ou seja, não conseguem lidar com as crises, conduzindo à sua desestruturação ou destruição.

A família deve estar preparada para o fato do doente poder ter recaídas ao longo do tempo, o que pode conduzir a um possível internamento hospitalar. É bastante importante o apoio da família ao doente durante o tempo da sua permanência no hospital, através de reforço positivo, comunicação, visitas, mostrar interesse em saber como vai a evolução da sua doença. É natural que muitas dúvidas surjam na família em relação ao comportamento que vão ter de adotar perante esta nova etapa da vida do seu familiar. Em primeiro lugar é importante que o familiar comece por se colocar no lugar da outra pessoa.

Os problemas que geralmente ocorrem na família do esquizofrênico são os seguintes:

Medo… “Ele poderá fazer mal a si ou às outras pessoas?” Negação da gravidade… “Isso daqui a pouco passa” Incapacidade de falar ou pensar em outra coisa que não seja a doença… “Toda a nossa vida gira em torno do nosso filho doente” Isolamento social… “As pessoas até nos procuram, mas não temos como fazer os programas que nos propõem” Constante busca de explicações… “Ele está assim por algo que fizemos?” Depressão… “Não consigo falar da doença do meu filho sem chorar”.

Em suma, o impacto que uma pessoa com esquizofrenia tem na família e a forma como esta se adapta face à situação depende da singularidade de

cada um dos seus membros, mas também da forma como a doença surge (insidiosa ou abrupta), o seu curso, a suas consequências, no sentido de haver risco de vida ameaçada ou não (fase de crise à fase crônica), e ao grau de incapacidade gerado. Todos estes fatores têm de ser vistos numa perspectiva psicosocial e não isoladamente. Deve ser dada atenção extrema ao fato de que o próprio esforço de adaptação por parte da família pode ter como consequência um estado de exaustão.

Esquizofrenia e inteligência: O mesmo gene pode dar origem a uma inteligência fora do comum e a esquizofrenia, segundo um estudo conduzido por investigadores do Instituto Nacional para a Saúde Mental dos Estados Unidos, em Bethesda. Este gene, que os cientistas identificaram como DARPP-32, aumenta a capacidade de raciocínio e de processar informação e melhora o desempenho da memória. No entanto, uma investigação com 257 famílias com historial de esquizofrenia demonstrou que a presença do mesmo gene é bastante comum nas pessoas com a doença. Os cientistas suspeitam que a esquizofrenia possa ser um “efeito secundário” de ter uma inteligência acima da média e que resulta de uma dificuldade do cérebro em lidar com as capacidades “extras”. Isto explicaria por que tantos gênios famosos foram também diagnosticados como esquizofrênicos. São exemplo o matemático John Nash, o escritor Jack Kerouac ou o pintor Van Gogh. Atualmente, estima-se que a esquizofrenia afeta um por cento da população mundial. A doença pode provocar alucinações e delírios mas, embora não tenha cura, existem tratamentos que podem ajudar os doentes a ter uma vida quase normal.

Referências1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 ABC da Saúde - ESQUIZOFRENIA E OUTROS TRANSTORNOS PSICÓTICOS. Página visitada em 25/01/2009. 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 Afonso, Pedro (Agosto 2002), Esquizofrenia: Conhecer a Doença, Lisboa, Climepsi Editores. 3,0 3,1 Freitas, Carlos; Luís, Helena e Ferreira, Luís (2000), Vivências dos pais enquanto cuidadores de um filho com esquizofrenia, Lisboa, Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda Resende no âmbito do 2°Curso de estudos superiores Especializados em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. 4,0 4,1 Neeb, Kathy (1997), Fundamentos de Enfermagem de Saúde Mental, Loures, Lusociência. Kaplan, Harnold; Sadock, Benjamin (1990), Compêndio de Psiquiatria, Porto Alegre, Editora Artes Médicas. Psiqweb - Perguntas mais comuns sobre esquizofrenia. Página visitada em 25/01/2009. 7,0 7,1 Organização Mundial de Saúde, Genebra – Divisão de Saúde Mental (1998), A Esquizofrenia – Informação para as famílias, Lisboa, Associação Comunitária de Saúde de Loures Ocidental.

BibliografiaAlves, Júlio Leonel (Setembro, 1998), “O Doente Mental e a Família Perante a Alta”, Sinais Vitais, nº20, p.45. Atkinson, Jacqueline M. e Coia (1995), Families coping with schizophrenia – A practitioner’s guide to family groups, England, Wiley – University of Glasgow. Hatfield, Agnes B. (1990), Family education in mental illness, New York, The Guilford Press.

Santos, José Carlos (Setembro 1997), O Enfermeiro de Saúde Mental no Hospital Geral, Sinais Vistais, nº 14, p.33-36. Taylor, Cecília Monat (1992), Fundamentos de Enfermagem Psiquiátrica, Porto Alegre, Artes Médicas. Teschinsky, Ursula (2000), “Living with schizophrenia: The family illness experience”, Mental Health Nursing, nº 21, p. 387-396. Pereira, Manuel Gonçalves (1996), Repercussões da Doença Mental na Família – Um estudo de Familiares de Doentes Psicóticos, Lisboa, Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa. Freitas, Luís (Set./Out. 2002), “Destigmatizando a Doença Mental”, Servir, vol. 50, nº 5, p. 250-253. Afonso, Delmina (Jan. 2000), “A Esquizofrenia”, Sinais Vitais, nº 28, p.46-47. Milheiro, Jaime (2000), Loucos são os outros, Lisboa, Edições Fim de Século. Minuchin, Salvador (1990), Famílias: funcionamento e tratamento, Porto Alegre, Artes Médicas.

Ligações externaswww.esquizofrenia.org  - Notícias sobre esquizofreniaAssociação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia

ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAISParte IV – DEPRESSÃO

Capítulos 10 e 13 do livro “No Mundo Maior”

Cap. 10Dolorosa perda

Dentro da noite, defrontamos com aflito coração materno. A entidade, que nos dirigia a palavra, infundia compaixão pela fades de horrível so-frimento.

— Calderaro! Calderaro! — rogou, ansiosa — ampara minha filha, minha desventurada filha!

— Oh! teria piorado? — inquiriu o instrutor, evidenciando conhecimento da situação.

— Muito! muito!... — gemeram os trementes lábios da mãe aflita —; observo que enlouqueceu de todo...

— Já perdeu a grande oportunidade?— Ainda não — informou a interlocutora —, mas encontra-se à beira de

extremo desastre.Prometeu o orientador correr à doente em breves minutos, e voltamos à

intimidade.Interessando-me no assunto, o atencioso Assistente sumariou o fato.— Trata-se de lamentável ocorrência — explicou-me, bondoso —, na

qual figuram a leviandade e o ódio como elementos perversores. A irmã que se despediu, há momentos, deixou uma filha na Crosta Planetária, há oito anos. Criada com mimos excessivos, a jovem desenvolveu-se na ignorância do trabalho e da responsabilidade, não obstante pertencer a nobilíssimo quadro social. Filha única, entregue desde muito cedo ao capricho pernicioso, tão logo se achou sem a materna assistência no plano carnal, dominou governantes, subornou criadas, burlou a vigilância paterna e, cercada de facilidades materiais, precipitou-se, aos vinte anos, nos

desvarios da vida mundana. Desprotegida, assim, pelas circunstâncias, não se preparou convenientemente para enfrentar os problemas do resgate próprio. Sem a proteção espiritual peculiar à pobreza, sem os abençoados estímulos dos obstáculos materiais, e tendo, contra as suas necessidades íntimas, a profunda beleza transitória do rosto, a pobrezinha renasceu, seguida de perto, não por um inimigo prôpriamente dito, mas por cúmplice de faltas graves, desde muito desencarnado, ao qual se vinculara por tremendos laços de ódio, em passado próximo. Foi assim que, abusando da liberdade, em ociosidade reprovável, adquiriu deveres da maternidade sem a custódia do casamento. Reconhecendo-se agora nesta situação, aos vinte e cinco anos, solteira, rica e prestigiada pelo nome da família, deplora tardiamente os compromissos assumidos e luta, com desespero, por desfazer-se do filhinho imaturo, o mesmo comparsa do pretérito a que me referi; esse infeliz, por «acréscimo de misericórdia divina’, busca destarte aproveitar o erro da ex-companheira para a realização de algum serviço redentor, com a supervisão dos nossos Maiores.

Ante o espanto que inopinadamente me assaltara, sabendo eu que a reencarnação constitui sempre uma bênção que se concretiza com a ajuda superior, o Assistente afiançou, tranquilizando-me:

— Deus é o Pai amoroso e sábio que sempre nos converte as próprias faltas em remédios amargos, que nos curem e fortaleçam. Foi assim que Cecilia, a demente que dentro em pouco visitaremos, recolheu da sua leviandade mesma o extremo recurso, capaz de retificar-lhe a vida... Entre-tanto, a infortunada criatura reage ferozmente ao socorro divino, com uma conduta lastimável e perversa. Coopero nos trabalhos de assistência a. ela, de algumas semanas para cá, em virtude das reiteradas e comoventes Intercessões maternas junto a nossos superiores; todavia, acalento vaga esperança numa reabilitação próxima. Os laços entre mãe e filho presuntivo são de amargura e de ódio, consubstanciando energias desequillbrantes; tais vínculos traduzem ocorrência em que o espírito feminino há que recolher-se ao santuário da renúncia e da esperança, se pretende a vitória. Para isso, para nívelar caminhos salvadores e aperfeiçoar sentimentos, o Supremo Senhor criou o tépido e veludoso ninho do amor materno; contudo, quando a mulher se rebela, insensível às sublimes vibrações da inspiração divina, é difícil, senão impossível, executar o programa delineado. A infortu-nada criatura, dando asas ao condenável anseio, buscou socorrer-se de médicos que, amparados de nosso plano, se negaram a satisfazer-lhe o criminoso intento; valeu-se, então, de drogas venenosas, das quais vem abusando intensivamente. A situação mental dela é de lastimável desvario.

Findo o breve preâmbulo, Calderaro continuou:— Mas, não temos minuto a perder. Visitemo—la.Decorridos alguns instantes, penetrávamos aposento confortável e

perfumado.Estirada no leito, jovem mulher debatia-se em convulsões atrozes. Ao

seu lado, achavam-se a entidade materna, na esfera invisível aos olhos car-nais, e uma enfermeira terrestre, dessas que, à força de presenciar catástrofes biológicas e dramas morais, se tornam menos sensíveis à dor alheia.

A genitora da enferma adiantou-se e informou-nos:— A situação é muito grave! ajudem-na, por piedade! Minha presença aqui se limita a impedir o acesso de elementos perturbadores que prosseguem, implacáveis, em ronda sinistra.

O Assistente inclinou-se para a doente, calmo e atencioso, e recomendou-me cooperar no exame particular do quadro fisiológico.

A paisagem orgânica era das mais comoventes. A compaixão fraterna dispensar-nos-á da triste narrativa referente ao embrião prestes a ser expulso.

Circunscrito à tese de medicação a mentes alucinadas, cabe-nos apenas dizer que a situação da jovem era impressionante e deplorável.

Todos os centros endócrinos estavam em desordem, e os órgãos autônomos trabalhavam aceleradamente. O coração acusava estranha arritmia, e debalde as glândulas sudoríparas se esforçavam por expulsar as toxinas em verdadeira torrente invasora. Nos lobos frontais, a sombra era completa; no córtex encefálico, a perturbação era manifesta; sômente nos gânglios basais havia suprema concentração de energias mentais, fazendo-me perceber que a infeliz criatura se recolhera no campo mais baixo do ser, dominada pelos impulsos desintegradores dos próprios sentimentos, transviados e incultos. Dos gânglios banais, onde se aglomeravam as mais fortes irradiações da mente alucinada, desciam estiletes escuros, que assaltavam as trompas e os ovários, penetrando a câmara vital quais tenuíssimos venábulos de treva e incidindo sobre a organização embrionária de quatro meses.

O quadro era horrível de ver-se.Buscando sintonizar-me com a enferma, ouvia-lhe as afirmativas cruéis,

no campo do pensamento:— Odeio!... odeio este filho intruso que não pedi à vida!... Expulsá-lo-

ei!... expulsá-lo-ei!...A mente do filhinho, em processo de reencarnação, como se fora

violentada num sono brando, suplicava, chorosa:— Poupa-me! poupa-me! quero acordar no trabalho! quero viver e

reajustar o destino... ajuda-me! resgatarei minha dívida!... pagar-te-ei com amor.... não me expulses! tem caridade!...

— Nunca! nunca! amaldiçoado sejas! — dizia a desventurada, mentalmente —; prefiro morrer a receber-te nos braços! Envenenas-me a vida, perturbas-me a estrada! detesto-te! morrerás ....

E os raios trevosos continuavam descendo, a jacto continuo.Calderaro ergueu a cabeça respeitável, encarou-me de frente e

perguntou:— Compreendes a extensão da tragédia?Respondi afirmativamente, sob indizível impressão.Nesse instante de nossa angustiosa expectativa, Cecilia dirigiu-se com

decisão à enfermeira:— Estou cansada, Liana, muitíssimo cansada, mas exijo a intervenção

esta noite!— Oh! mas assim, nesse estado?! — ponderou a outra.— Sim, sim — tornou a doente, inquieta —; não quero adiar essa

intervenção. Os médicos negaram-se a fazê-la, mas eu conto com a tua dedicação. Meu pai não pode saber disso, e eu odeio esta situação que terminantemente não conservarei.

Calderaro pousou a destra na fronte da responsável pelos serviços de enfermagem, no intuito evidente de transmitir alguma providência conci-liatória, e a enfermeira ponderou:

— Tentemos algum repouso, Cecilia. Modificarás possívelmente esse plano.

— Não, não — objetou a imprevidente futura mãe, com mau humor indisfarçável —; minha resolução é inabalável. Exijo a intervenção esta noite.

Mau grado à negativa peremptória, sorveu o cálice de sedativo que a

companheira Lhe oferecia, atendendo-nos a influência indireta.Consumara-se a medida que o meu instrutor desejava.Parcialmente desligada do corpo físico, em compulsória modorra, pela

atuação calmante do remédio, Calderaro aplicou-lhe fluidos magnéticos sobre o disco foto-sensível do aparelho visual, e Cecilia passou a ver-nos, embora imperfeitamente, detendo-se, admirada, na contemplação da genitora.

Reparei, contudo, que, se a mãezinha exuberava copioso pranto de comoção, a filha se mantinha impassível, não obstante o assombro que se lhe estampara no olhar.

A matrona desencarnada avançou, abraçou-se a ela e pediu, ansiosa:— Filha querida, venho a ti, para que te não abalances à sinistra

aventura que planejas. Reconsidera a atitude mental e harmoniza-te com a vida. Recebe minhas lágrimas, como apelo do coração. Por piedade, ouve-me! não te precipites nas trevas, quando a mão divina te abre as portas da luz. Nunca é tarde para recomeçar, Cecilia, e Deus, em seu infinito devotamento, transforma as nossas faltas em redes de salvação.

A mente desvairada da ouvinte recordou as convenções sociais, de modo vago, como se vivera um minuto de pesadelo indefinível.

A palavra materna, porém, continuou:— Socorre-te da consciência, antes de tudo! O preconceito é respeitável,

a sociedade tem os seus princípios justos; entretanto, por vezes, filhinha, surge um momento na esfera do destino e da dor, em que devemos permanecer com Deus, exclusivamente. Não abandones a coragem, a fé, o desassombro... A maternidade, iluminada pelo amor e pelo sacrifício, é feliz em qualquer parte, ainda mesmo quando o mundo, ignorando a causa de nossas quedas, nos nega recursos à reabilitação, relegando-nos à reincidência e ao desamparo. Por agora, defrontarás com a tormenta de lágrimas; o temporal da incompreensão e da intolerância vergastará teu rosto... Contudo, a bonança voltará. O caminho é empedrado e árido, os espinhos dilaceram, mas terás, de encontro ao coração, um filhinho amoroso, indicando-te o futuro! Em verdade, Cecilia, deverias erguer teu ninho de felicidade na árvore do equilíbrio, glorificando, em paz, a realização de cada dia e a bênção de cada noite: entretanto, não pudeste esperar... Cedeste aos golpes infrenes da paixão, abandonaste o ideal aos primeiros impulsos do desejo. Ao invés de construir na tranquilidade e na confiança, em bases seguras, elegeste o caminho perigoso da precipitação. Agora, é imprescindível evitar o despenhadeiro fatal, contornar a voragem traiçoeira, agarrando-te ao salva-vidas do supremo dever. Volta, pois, minha filha, à serenidade do principio, e resigna-te ante o novo aspecto que imprimiste ao próprio roteiro, aceitando o ministério da maternidade dolorosa com o sacrifício de encantadoras aspirações. No silêncio e na obscuridade da proscrição social, muitas vezes logramos a felicidade de co-nhecer-nos, O desprezo público, se precipita os mais fracos no esquecimento de si mesmos, ergue os fortes para Deus, sustentando-os no trilho anônimo das obrigações humildes, até à montanha da redenção. É provável que teu pai te amaldiçoe, que os nossos entes mais caros na Terra te menos-cabem e tentem aviltar; no entanto, que martírio não enobrecerá o espírito disposto ao resgate dos seus débitos, com dedicação ao bem e serenidade na dor? Não será melhor a coroa de espinhos na fronte do que o monte de brasas na consciência? O mal pode perder-nos e transviar-nos; o bem retifica sempre. Além disto, se é certo que o padecimento da vergonha açoitará tua sensibilidade, a glória da maternidade resplenderá em teu caminho... Tuas lágrimas orvalharão uma flor querida e sublime, que será o

teu filho, carne de tua carne, ser de teu ser. Que não fará no mundo a mulher que sabe renunciar? A tormenta rugirá, mas sempre fora de teu coração, porque, lá dentro, no santuário divino do amor, encontrarás em ti mesma o poder da paz até à vitória...

A enferma escutava, quase indiferente, disposta a não capitular. Recebia os apelos maternos, sem alteração de atitude. A mãezinha, porém, mobilizando todos os recursos ao seu alcance, prosseguia após intervalo mais longo:

— Ouve. Cecilia! não te fiques nessa atitude impassível. Não isoles do cérebro o coração, a fim de que teu raciocínio se beneficie com o senti-mento, de modo a venceres na prova áspera. Não te detenhas em primazias da forma física, nem suponhas que a beleza espiritual e eterna erga seu templo no corpo de carne, em trânsito para o pó. A morte virá de qualquer modo, trazendo a realidade que confunde a ilusão. Não persistas no véu da mentira. Humilha-te na renúncia construtiva, toma a tua cruz e segue para a compreensão mais alta... No teu madeiro de sofrimento íntimo, ouvirás enternecedoras vozes de um filho abençoado... Se te alancear o abandono do mundo, será ele, junto de ti, o suave representante da Divindade... Que falta te fará o manto das fantasias, se dois pequeninos braços de veludo te cinjam, carinhosos e fiéis, conduzindo-te à renovação para a vida superior?

Foi então que Cecilia, infundindo-me assombro pela agressividade, objetou em pensamento:—Como não me disseste isso antes? Na Terra, sempre satisfazias meus desejos. Nunca me permitiste o trabalho, favoreceste-me o ócio, fizeste-me crer em posição mais elevada que a das outras criaturas; incutiste-me a suposição de que todos os privilégios especiais me eram devidos; não me preparaste, enfim! Estou sôzinha, com um problema atribulativo... Não tenho, agora, coragem de humilhar-me... Esmolar serviço remunerado não é o ideal que me deste, e enfrentar a vergonha e a miséria será para mim pior que morrer. Não, não!... não desisto, nem mesmo à tua voz que, a despeito de tudo, ainda amo! É-me impossível retroceder.

A comovedora cena estarrecia. Observava eu, ali, o milenário conflito da ternura materna com a vida real.

A venerável matrona chorou com mais amargura, agarrou-se à filha com mais veemência e suplicou: — Perdoa-me pelo mal que te fiz, querendo-te em demasia... Ó filha querida, nem sempre o amor humano avança vigilante! Por vezes a cegueira nos compele a erros clamorosos, que só o golpe da morte em geral expunge. Não consideras, porém, a minha dor? Reconheço minha participação indireta em teu presente infortúnio, mas entendendo, agora, a extensão e a delicadeza dos deveres maternos, não desejo que venhas colher espinhos no mesmo lugar onde sofro os resultados amargos de minha imprevidência. Porque eu haja errado por excesso de ternura, não te desvies por acúmulo de ódio e de inconformação. Depois do sepulcro, o dia do bem é mais luminoso, e a noite do mal é, sobremaneira, mais densa e tormentosa. Aceita a humilhação como bênção, a dor como preciosa oportunidade. Todas as lutas terrenas chegam e passam; ainda que perdurem, não se eternizam. Não compliques, pois, o destino. Submeto-me às tuas exprobrações. Merece-as quem, como eu, olvidou a floresta das realizações para a eternidade, retendo-se voluntàriamente no jardim dos caprichos amenos, onde as flores não se ostentam mais do que por fugaz minuto. Esqueci-me, Cecilia, da enxada benfazeja do esforço próprio, com a qual devera arrotear o solo de nossa vida, semeando dádivas de trabalho edificante, e ainda não chorei suficientemente, para redimir-me de tão lastimável erro. Todavia, confio em

ti, esperando que te não suceda o mesmo na áspera trilha da regeneração. Antes mendigar o pão de cada dia, amargar os remoques da maldade humana, aí na Terra, que menosprezar o pão das oportunidades de Deus, permitindo que a crueldade nos avassale o coração. O sofrimento dos vencidos no combate humano é celeiro de luz da experiência. A Bondade Divina converte as nossas chagas em lâmpadas acesas para a alma. Bem-aventurados os que chegam àmorte crivados de cicatrizes que denunciam a dura batalha. Para esses, uma perene era de paz fulgurará no horizonte, porqüanto a realidade não os surpreende quando o frio do túmulo lhes assopra o coração. A verdade se lhes faz amiga generosa; a esperança e a compreensão lhes serão companheiras fiéis! Retorna, minha filha, a ti mesma; restaura a coragem e o otimismo, mau grado às nuvens ameaçadoras que te pairam na mente em delírio... Ainda é tempo! Ainda é tempo!

A enferma, contudo, fêz supremo esforço por tornar ao invólucro de carne, pronunciando ríspidas palavraS de negação, inopinadas e ingratas.

Desfazendo-se da influência pacificadOrø de CalderarO, regressou gradativamente ao campo sensorial, em gritos roucos.

O instrutor aproximou-Se da genitora, chorosa, e informou:— Infelizmente, minha amiga, o processo de loucura por insurgência

parece consumado. Confiemo-la, agora, ao poder da Suprema Proteção Divina.

Enquanto a entidade materna se debulhaVa em lágrimas, a doente, conturbada pelas emissões mentais em que se comprazia, dirigiu-se à enfer-meira, reclamando:

— Não posso! não posso mais! não suporto... A intervenção, agora! não quero perder um minuto!

Fixando a companheira, por alguns instantes, com terrifica expressão, ajuntou:

— Tive um pesadelo horrível... Sonhei que minha mãe voltava da morte e me pedia paciência e caridade! Não, não!... Irei até ao fim! Preferirei o suicídio, afinal!

Inspirada pelo meu orientador, a enfermeira fêz ainda várias ponderações respeitáveis.

Não seria conveniente aguardar mais tempo?Não seria o sonho um providencial aviso? O abatimento de Cecilia era enorme. Não se sentiria amparada por uma intervenção espiritual? Julgava, desse modo, oportuno adiar a decisão.

A paciente, no entanto, ficou irredutível. E, com assombro nosso, ante a genitora desencarnada, em pranto, a operação começou, com sinistros prognósticos para nós, que observamos a cena, sensibilizadíssimos.

Nunca supus que a mente desequilibrada pudesse infligir tamanho mal ao próprio patrimônio.

A desordem do cosmo fisiológico acentuou-se,instante a instante.

Penosamente surpreendido, prossegui no exame da situação, verificando com espanto que o embrião reagia ao ser violentado, como que aderindo, desesperadamente, às paredes placentárias.

A mente do filhinho imaturo começou a despertar à medida que aumentava o esforço de extração. Os raios escuros não partiam agora só do encéfalo materno; eram igualmente emitidos pela organização embrionária, estabelecendo maior desarmonia.

Depois de longo e laborioso trabalho, o entezinho foi retirado afinal...Assombrado, reparei, todavia, que a ginecologista improvisada subtraia ao

vaso feminino somente pequena porção de carne inânime, porque a entidade reencarnante, como se a mantivessem atraida ao corpo materno forças vigorosas e indefiníveis, oferecia condições especialíssimas, adesa ao campo celular que a expulsava. Semidesperta, num atro pesadelo de sofrimento, refletia extremo desespero; lamentava-se com gritos aflitivos; expedia vibrações mortíferas; balbuciava frases desconexas.

Não estaríamos, ali, perante duas feras terrívelmente algemadas uma à outra? O filhinho que não chegara a nascer transformara-se em perigoso verdugo do psiquismo materno. Premindo com impulsos involuntários o ninho de vasos do útero, precisamente na região onde se efetua a permuta dos sangues materno e fetal, provocou ele o processo hemorrágico, violento e abundante.

Observei mais.Deslocado indebitamente e mantido ali por forças incoercíveis, o

organismo perispirítico da entidade, que não chegara a renascer, alcançou em movimentos espontâneos a zona do coração. Envolvendo os nódulos da aurícula direita, perturbou as vias do estímulo, determinando choques tre-mendos no sistema nervoso central.

Tal situação agravou o fluxo hemorrágico, que assumiu intensidade imprevista, compelindo a enfermeira a pedir socorros imediatos, depois de delir, como pôde, os vestígios de sua falta.

— Odeio-o! odeio-o! — clamava a mente materna em delírio, sentindo ainda a presença do filho na intimidade orgânica. — Nunca embalarei um intruso que me lançaria à vergonha!

Ambos, mãe e filho, pareciam agora, por dizer mais exatamente, sintonizados na onda de ódio, porque a mente dele, exibindo estranha forma de apresentação aos meus olhos, respondia, no auge da ira:—Vingar-me-ei! Pagarás ceitil por ceitil! não te perdoarei!... Não me deixaste retomar a luta terrena, onde a dor, que nos seria comum, me en-sinaria a desculpar-te pelo passado delituoso e a esquecer minhas cruciantes mágoas... Renegaste a prova que nos conduziria ao altar da reconciliação. Cerraste-me as portas da oportunidade redentora; entretanto, o maléfico poder, que impera em ti, habita igualmente minhalma... Trouxeste à tona de minha razão o lodo da perversidade que dormia dentro em mim. Negas-me o recurso da purificação, mas estamos agora novamente unidos e arrastar-te-ei para o abismo... Condenaste-me à morte, e, por isso, minha sentença é igual. Não me deste o descanso, impediste meu retorno à paz da consciência, mas não ficarás por mais tempo na Terra... Não me quiseste para o serviço do amor... Portanto, serás novamente minha para a satisfação do õdio. Vingar-me-ei! Seguirás comigo!

Os raios mentais destruidores cruzavam-se, em horrendo quadro, de espírito a espírito.

Enquanto observava a intensificação das toxinas, ao longo de toda a trama celular, Calderaro orava, em silêncio, Invocando o auxilio exterior, ao que me pareceu. Efetivamente, dai a instantes, pequena turma de trabalhadores espirituais penetrou o recinto. O orientador ministrou instruções. Deveriam ajudar a desventurada mãe, que permaneceria junto da filha infeliz, até à consumação da experiência.

Em seguida, o Assistente convidou-me a sair, acrescentando:— Verificar-se-á a desencarnação dentro de algumas horas. O ódio, André, diàriamente extermina criaturas no mundo, com Intensidade e eficiência mais arrasadoras que as de todos os canhões da Terra troando a uma vez. É mais poderoso, entre os homens, para complicar os problemas e destruir a paz, que todas as guerras conhecidas pela Humanidade no transcurso dos

séculos. Não me ouves mera teoria. Viveste conosco, nestes momentos, um fato pavoroso, que todos os dias se repete na esfera carnal. Estabelecido o império de forças tão detestáveis sobre essas duas almas desequilibradas, que a Providência procurou reunir no instituto da reencarnação, é necessário confiá-las doravante ao tempo, a fim de que a dor opere os corretivos indispensáveis.

— Oh! — exclamei aflito, contemplando o duelo de ambas as mentes torturadas —, como ficarão? permanecerão entrelaçadas, assim? e por quanto tempo?

Calderaro fitou-me com o acabrunhamento de um soldado valoroso que perdeu temporariamente a batalha, e informou:

— Agora, nada vale a intervenção direta. Só poderemos cooperar com a oração do amor fraterno, aliada à função renovadora da luta cotidiana. Consumou-se para ambos doloroso processo de obsessão recíproca, de amargas consequências no espaço e no tempo, e cuja extensão nenhum de nós pode prever.

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Cap. 13Psicose afetiva

Seguindo Calderaro, fomos, em plena noite, atender infortunada irmã quase suicida.

Penetramos a residência. confortável, conquanto modesta, percebendo a presença de várias entidades infelizes.

O Assistente pareceu-me apressado. Não se deteve em nenhuma apreciação.

Acompanhei-o, por minha vez, até humilde aposento, onde fomos encontrar jovem mulher em convulsivo pranto, dominada por desespero incoercível. A mente acusava extremo desequilíbrio, que se estendia a todos os centros vitais do campo fisiológico.

— Pobrezinha! — disse o orientador, comovidamente — não lhe faltará a Divina Bondade. Tudo preparou de modo a fugir pelo suicídio, esta noite; entretanto, as Forças Divinas nos auxiliarão a intervir...

Colocou a destra sobre a fronte da irmã em lágrimas e esclareceu; - É Antonina, abnegada companheira de luta. Órfã de pai, desde muito cedo, iniciou-se no trabalho remunerado aos oito anos, para sustentar a genitora e a irmãzinha. Passou a infância e a primeira juventude em sacrifícios enormes, ignorando as alegrias da fase risonha de menina e moça. Aos vinte anos perdeu a mãezinha, então arrebatada pela morte, e, não obstante seus formosos ideais femininos, foi obrigada a sacrificar-se pela irmã em vésperas de casamento. Realizado este, Antonina procurou afastar-se, para tratar da própria vida; muito cedo, verificou, porém, que o esposo da irmãzinha se caracterizava por nefanda viciosidade. Perdido nos prazeres inferiores, entregava-se ao hábito da embriaguez, diariamente, retornando ao lar, em hora tardia, a distribuir pancadas, a vomitar insultos. Sensibilizada ante o destino da companheira, nossa dedicada amiga perma-neceu em casa, a serviço da renúncia silenciosa, aliviando-lhe os pesares e auxiliando-a a criar os sobrinhos e a assisti-los. Corriam os anos, tristes e vagarosos, quando Antonina conheceu certo rapaz necessitado de arrimo, a sustentar pesado esforço por manter-se nos estudos. Identificavam-Se pela idade e pela comunhão de ideias e de

sentimentos. Devotada e nobre, correspondeu-lhe à simpatia, convertendo-se em abnegada irmã do jovem. A companhia dele, de algum modo, projetava abençoada luz em sua noite de solidão e sacrifício ininterruptos. Repartindo o tempo e az possibilidades entre a irmã, quatro pequenos sobrinhos e o co-participe de sonhos fulgurantes, consagrava-se ao trabalho redentor de cada dia, animada e feliz, aguardando o futuro. Idealizava também obter, um dia, a coroa da maternidade, num lar singelo e pobre, mas suficiente para caber a felicidade de dois corações para sempre unidos diante de Deus. Todavia, Gustavo, o rapaz que se valeu de sua amorosa colaboração durante sete anos consecutivos após a jornada universitária sentiu-se demasiado importante para ligar seu destino ao da modesta moça. Independente e titulado, agora, passou a notar que Antonina não era, fisicamente, a companheira que seus propósitos reclamavam. Exibindo um diploma de médico e sentindo urgente necessidade de constituir um lar, com grandioso programa na vida social, desposou jovem possuidora de vultosa fortuna, menosprezando o coração leal que o ajudara nos instantes incertos. Fundamente humilhada, nossa desditosa irmã procurou-o, mas foi recebida com escarnecedora frieza. Gustavo, com presunção repulsiva, transmitiu-lhe a novidade, asperamente: Necessitava pôr em ordem os ne-gócios materiais que lhe diziam respeito, e, por isto, escolhera melhor partido. Além disso, declarou, sua posição requeria uma esposa que não procedesse de um meio de atividades humilhantes; pretendia alguém que não fôsse operária de laboratório, que não tivesse mãos calejadas, nem fios prateados na cabeça. A moça tudo ouviu debulhada em lágrimas, sem reação, e tornou à residência, ontem, minada pelo anseio de morrer, fosse como fôsse. Sente que as esperanças se lhe esvaneceram, esfaceladas pelo golpe inopinado, que a existência se reduz em cinza e poeira, que a renúncia abre as portas da ruína e da morte. Conseguiu certa dose de substância mortífera, que pretende ingerir ainda hoje.

Dando pequeno intervalo às elucidações, recomendou-me:— Examina-a, enquanto administro os socorros iniciais.Detive-me em perquirição minuciosa, por longos minutos.Dos olhos de Antonina caíam pesadas lágrimas; no entanto, da câmara

cerebral partiam raios purpúreos, que invadiam o tórax e envolviam par-ticularmente o coração. Torturantes pensamentos baralhavam-lhe a mente. Registrando-lhe os secretos apelos, compungia ouvir-lhe os gritos de desespero e as súplicas ardentes.

Seria crime — pensava — amar alguém com tal excesso de ternura? onde jazia a Justiça do Céu, que lhe não premiava os sacrifícios de mulher dedicada à paz doméstica? aspirava a ser alegre e feliz, como as venturosas companheiras de sua meninice; anelava a tranquilidade do matrimônio digno, com a expectativa de receber alguns filhinhos, concedidos pela Bondade Infinita de Deus!

Seria aspiração condenável sonhar com a edificação de modesto lar, com a proteção de um companheiro simples e bondoso, quando as próprias aves possuiam seus ninhos? Não trabalhara sempre pela felicidade dos outros? por que desconhecidas razões a relegara Gustavo ao abandono? Os calos das mãos e os sinais do rosto não lhe roboravam a dedicação ao serviço honesto? Teria valido a pena sofrer tantos anos, perseguindo uma realização que se lhe afigurava, agora, impossível? Não! não pretendia demorar-se num mundo onde o vício triunfava tão facilmente, espezinhando a virtude! Não obstante a fé que lhe alentava o coração, preferia morrer, enfrentar o desconhecido... Sentia-se desajustada, sem rumo, quase louca.

Não seria mais razoável — inquiria a si própria — buscar as trevas do sepulcro de que apodrecer num catre de hospício?

Estirada no leito, a infeliz mergulhava o rosto nas mãos, soluçando sôzinha, inspirando-nos piedade.

Calderaro interrompeu o serviço de assistência, fitou-me com. significativa expressão e comumcou:

— Tenho instruções para impor-lhe o sono mais profundo, logo depois da meia-noite.

E, verificando que o relógio informava não estar distante o momento prefinido, o Assistente começou a ministrar-lhe aplicações fluídicaa ao longo do sistema nervoso simpático.

A vasta rede de neurônios experimentou a influência anestesiante. Ãntonina tentou levantar-se, gritar, mas não conseguiu. A intervenção era demasiado vigorosa para que a enferma pudesse reagir.

O orientador prosseguiu atento, envolvendo-a mansamente, em fluidos calmantes. Dentro em pouco, cedendo à irresistível dominação, a moça recostou-se vencida nos travesseiros, no estado a que o magnetizador comum chamaria hipnose profunda).

Manteve-a Calderaro em completo repouso por mais de meia hora. Decorrido esse tempo, duas entidades, aureoladas de intensa luz, deram en-trada no recinto. Abraçaram meu instrutor, que mas apresentou cordialmente.

Estavam, agora, junto de nós, Mariana, que fora dedicada genitora de Ãntonina, e Márcio, iluminado espírito ligado a ela, desde séculos remotos.

Agradeceram, sensibilizados, a atuação de meu orientador, que passou a doente à direção materna.

A simpática senhora desencarnada inclinou-se sobre a filha e chamou-a, docemente, como o fazia na Terra. Parcialmente desligada do envoltório grosseiro, Antonina ergueu-se, em seu organismo perispirítico, encantada, feliz...

— Mamãe! mamãe! — gritou, desabafando-se, a refugiar-se entre os braços maternais.

Mariana recolheu-a, carinhosa, estringiu-a de encontro ao peito, pronunciando palavras enternecedoras.

— Mãezinha, ajude-me! não quero mais viver na Terra! não me deixe voltar ao corpo pesado... O destino escorraça-me. Sou infeliz! Tudo me é adverso... Arrebate-me daqui... para sempre!

A nobre matrona contemplava-a, triste, quando Márcio se aproximou, fazendo-se visto pela estimada enferma.

A moça abriu desmesuradamente os olhos e ajoelhou-se instintivamente, amparada pela mãe. Parecia esforçar-se por trazer à lembrança alguém que ficara em pretérito longínquo... Observava-se-lhe a extrema dificuldade para recordar com precisão. Contemplava o emissário, banhada em pranto diferente: não vertia as lágrimas lutuosas de momentos antes; tocava-se, agora, de sublime conforto, de júbilo místico, que lhe nascia, inexplicavelmente, das profundezas do coração.

Acercou-se Márcio mais intimamente, pousou-lhe a luminosa destra sobre a fronte e falou com ternura:

— Antonina, porque esse desânimo, quando a luta redentora apenas começa? olvidaste, acaso, que não somos órfãos? Acima de todos os obstá-culos paira a Infinita Bondade. Recusas a “porta estreita”, que nos proporcionará o venturoso acesso ao reencontro?

Talvez porque a interlocutora estivesse de si mesma postulando excessivo trabalho para reavivar paisagens perdidas no tempo, o

mensageiro advertiu, fraternal:— Não forces a situação! acalma-te! não nos bastará o presente, cheio

de abençoado serviço e renovadora luz? Um dia, reconquistarás o patri-mônio da memória total; por ora, contenta-te com as dádivas limitadas. Aproveita os minutos na recomposição do destino, vale-te das horas para reconduzir tuas aspirações a esferas superiores. Que motivos te sugerem esse crime, que é o provocar a morte? que razões te conduzem os passos na direção do precipício tenebroso? Tua mãe e eu sentimos, de longe, o perigo, e aqui estamos para ajudar-te...

Fez longa pausa, fixando-a amorosamente, e contmuou:- Ó minha abençoada amiga, como abriste assim o coração aos monstros

do desespero? Dize-me! não te mantenhas silenciosa... Não sou teu juiz, sou teu amigo da eternidade. Não terei o consolo de ouvir-te?

A enferma desejava falar; entretanto, os suaves raios de luz, emitidos por Márcio, cercavam-na toda, sufocando-lhe a garganta, no êxtase daque-les instantes inesquecíveis.

Ele, porém, desejando evidentemente proporcionar-lhe oportunidade a mais amplo desabafo, levantou-a, cuidadoso, e insistiu:

— Fala!... Animada, Antonina balbuciou, tímida: — Estou exausta...

— Contudo, jamais foste esquecida. Recebeste mil recursos diversos da Providência, indispensáveis ao valioso serviço de redenção. O corpo terreno, as bênçãos do Sol, as oportunidades de trabalho, as maravilhas da Natureza, os laços afetivos e as próprias dores da experiência humana não serão inestimáveis dons do Divino Suprimento? Ignoras, querida, a felicidade do sacrifício, renegas a possibilidade de amar?

Foi então que vi a jovem mulher contemplá-lo mais confiadamente. Sentindo-se forte, ante a insofismável demonstração de carinho, abriu-se com franqueza fraternal:

— Tenho sonhado com a posse de um lar. Desejo viver para um homem que, a seu turno, me auxilie a levar a existência.... idealizo receber de Deus alguns filhinhos que eu possa acariciar! Será pecado, celeste mensageiro, anelar tais coisas? Será delinqüente a mulher que busca santificar os prin-cípios naturais da vida? Depois de mourejar anos a fio pela felicidade dos que me são caros, noto que o destino escarnece de minhas esperanças. Será virtude viver entre pessoas alegres e felizes, quando nosso coração queda morto?

Márcio ouviu-a fraternalmente, afagando-lhe as mãos, e, evidenciando suas altas aquisições de verdadeiro amor, acrescentou, mais compreensivo e mais terno:

— Abnegada amiga, não permitas que a sombra de algumas horas te empane a luz dos séculos porvíndouros. É possível, Antonina, que te sintas tão lamentàvelmente só, quando o Supremo Senhor te concedeu o sublime lar no mundo inteiro? A Humanidade é nossa família, os filhinhos da dor nos pertencem. Reconheço que transitórias humilhações do sentimento te laceraxn a alma, que desejarias arrimar-te ao carinhoso braço de um com-panheiro digno e fiel. No entanto, querida, é da Vontade Superior que recebas, por enquanto, as vantagens que podem ser encontradas na solidão. Se há períodos de florescimento nos vales humanos, dentro dos quais nos inebriamos em plena primavera da Natureza, existências se verificam, aparentemente isoladas e desditosas, nas culminâncias da meditação e da renúncia, a cuja luz nos preparamos para novas jornadas santificadoras.

(Não suponhas que a fatal passagem do sepulcro nos abra portas à liberdade: segue-nos a Lei, a toda parte, e o Supremo Senhor, se exerce a infinita compaixão, não despreza a justiça inquebrantável. Dá-nos, invariàvelmente, a Eterna Sabedoria o lugar onde possamos ser mais úteis e mais felizes.

(Declaras-te deserdada e infeliz, e, no entanto, ainda não recenseaste as possibilidades sublimes que te rodeiam. Dizes-te incapacitada de abraçar os pequeninos de Deus, mas, porque tamanho exclusivismo para os rebentos consangüíneos? não enxergaste, até hoje, as crianças abandonadas, nunca viste os filhinhos da miséria e da privação? Se não podes ser mãe de flores da própria carne, por que motivo não te fazes tutora espiritual dos pequenos necessitados e sofredores? Acreditas, Antonina, que possamos ser absolutamente felizes, escutando gemidos à nossa porta? haverá perfeita alegria num coração que pulsa ao lado de um coro de lágrimas? O mundo não é propriedade nossa. Nós, os filhos do Altíssimo, é que fomos trazidos a cooperar nas obras que nos cercam. É verdadeira infelicidade acreditar-se alguém favorito dos Céus, como se o Pai Compassivo e Sábio não passasse de frágil e parcial ditador! Sacode a consciência adormecida... Lembra-te de que o Todo Poderoso não se adstringe ao nosso particularismo de criaturas falíveis, e não te esqueças de que nos pesam, perante a universalidade dele, inalienáveis deveres de trabalho, exercitando os precio-sos recursos que nos concedeu, a fim de alcançarmos, um dia, a perfeição da sabedoria e do amor.

“Sofres em tua organização, que orientaste para o personalismo, porque um homem, cujo padrão psíquico se harmonizou com o teu em muitos aspectos, modificando depois seu rumo de vida, te relegou ao esquecimento. Choras, porqüanto esperavas encontrar em sua companhia algo da Divina Presença, que traria serenidade às tuas angustiosas esperanças de mulher delicada e sensível... As inquietações do sexo tomaram vulto na intimidade do teu santuário, e padeces longo assédio de tribulações. Mas... dar-se-á que presumas no sexo a fonte exclusiva do amor? Serás também vítima desse fatal engano? O amor é sol divino a irra-diar-se através de todas as magnificências da alma.

“Por vezes, somos privados de sensaçôes que ansiáraznos, inibidos de usar as energias criadoras das formas físicas, a fim de buscarmos patrimônios mais altos do ser; nem por isso, contudo, tais percalços nos impedem a exteriorização do sublime sentimento; represar-lhe o curso redundaria em extinguir o Universo, O que tortura a mente humana em tais ocasiões é o clima do cárcere organizado por nós mesmos; amurados no egoísmo feroz, não sabemos perder por alguns dias, para ganhar na eternidade, nem ceder valores transitários, para conquistar os dons definitivos da vida”.

Ante a moça que o contemplava, embevecida, através de espesso véu de lágrimas, o mensageiro prosseguiu:

— Efetivamente, se não podes partilhar a experiência do homem escolhido, em face das circunstâncias que te compelem à renúncia, porque não lhe consagrar o puro amor fraternal, que eleva sempre? Estaríamos, acaso, impedidos de transformar em irmãos os seres que admiramoS? Não deves outrossim esquecer que o noivo perjuro, atualmente belo na figura fisiológica, vestirá também, mais tarde, o puido traje do cansaço e da velhice, se em breve não afívelar ao rosto a máscara da enfermidade e da morte. Conhecerá o desencanto da carne e estimará no silêncio a procura do espírito. Se o amas, em verdade, porque torturá-lo com o sarcasmo do suicídio, ao invés de cobrar forças para esperá-lo, ao fim do dia da

existência mortal? Se não podes ser o cântaro de água pura para o viajor querido, porque não ser o oásis que o aguardará no deserto das desilusões inevitáveis? Além disto, como chegaste a sentir tão clamoroso desamparo, se também te aguardamos, ávidos aqui de tua afeição e de teu carinho?

Antonina sorriu, em êxtase, a despeitO do pranto que lhe rolava a flux.Observando o salutar efeito de suas palavras animadoras, Márcio

acariciou-lhe os cabelos, murmurando:— Por que razão esperar os rebentOS da carne para exemplificar o

verdadeiro amor? Jesus não os teve, e, no entanto, todos nos sentimos tuteladOS de sua infinita abnegação. Prometes, Antonina, modificar as disposições mentais doravante? A mulher digna e generosa, excelsa e cristã, olvida o mal e sina sempre...

Comovidos, vimos a interlocutora ajoelhar-se de novo, e exclamar solenemente:

— Comprometo-me a modificar minha atitude, em nome de Deus.Nesse instante, o emissário espalmou as mãos sobre a fronte da enferma, envolvendo-a em jactos de luz que não tocaram tão sômente a matéria perispiritica, mas se estenderam além, até no corpo denso, fixando-se particularmente nas zonas do encéfalo, do tórax e dos órgãos feminis. Logo após, Antonina, empolgada pela mãezinha e pelo companheiro da espiritualidade superior, afastou-se para agradável e repousante excursão. Incumbiu-se Calderaro de auxiliá-la a retomar o veículo pesado nas primeiras horas da manhã clara.

Edificado com as observações da noite, regressei, em companhia dele, ao quarto da senhorita quase suicida.

Entre as seis e sete horas, a genitora desencamada trouxe a filha, em cuja fisionomia fulgurava ignota e incompreensível felicidade.

O instrutor ajudou-a reapossar-se do envoltório fisiológico, cercando-lhe o cérebro de emanações fluídicas anestesiantes, para que lhe não fôsse permitido o júbilo de recordar, em todas as suas particularidades, a experiência da noite; se guardasse a lembrança integral, disse Calderaro, provavelmente enlouqueceria de ventura. Destarte, as alegrias por ela intensamente vividas seriam arquivadas em seu organismo sob forma de forças novas, estímulos desconhecidos, coragem e satisfação de procedência ignorada.

Com efeito, daí a minutos Antonina despertou, como que outra criatura; sentia-se inexplicavelmente reanimada, quase feliz.

Um dos pequenos sobrinhos penetrou o aposento, chamando-a. A generosa tia contemplou-o, enlevada.

Alguma energia prodigiosa, que lhe não era dado conhecer, religara-a ao interesse pela vida. Achou indizível contentamento no Sol que atraves-sava a vidraça, bendizia o quarto humilde onde lutava por atender aos desígnios de Deus, e sorria-se de haver, na véspera, pensado em fugir, sem razão, ao aprendizado do mundo. Não fora aquinhoada pela Providência com maravilhoso número de bênçãos? Contemplou a encantadora criança pobremente vestida, a solicitar-lhe a companhia para descerem ao pequeno jardim, onde flores novas desabrochavam. Que importa insignificante ma-logro do coração diante dos trabalhos sublimes que poderia executar, na sua posição de mulher sadia e jovem? Os filhinhos da. irmã não lhe pertenciam igualmente? não seria mais nobre viver para ser útil, esperando sempre da Inesgotável Misericórdia?

— Titia Antonina! Titia Antonina, vamos! Vamos ver a roseira nova! — gritava o trêfego menino de cinco anos, em alegre invite à vida. Observando-lhe a restauração das forças, vimo-la, sinceramente

rejubilados, levantar-se a responder, sorrindo:— Espera! já vou, meu filho!_________________________________________________________________________

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PSICOLOGIA – PSIQUIATRIA

DEPRESSÃO

Sinônimos e nomes relacionados: Transtorno depressivo, depressão maior, depressão unipolar, incluindo ainda tipos diferenciados de depressão, como depressão grave, depressão psicótica, depressão atípica, depressão endógena, melancolia, depressão sazonal.

O que é a depressão? Depressão é uma doença que se caracteriza por afetar o estado de humor da pessoa, deixando-a com um predomínio anormal de tristeza. Todas as pessoas, homens e mulheres, de qualquer faixa etária, podem ser atingidas, porém mulheres são duas vezes mais afetadas que os homens. Em crianças e idosos a doença tem características particulares, sendo a sua ocorrência em ambos os grupos também freqüente.

Como se desenvolve a depressão? Na depressão como doença (transtorno depressivo), nem sempre é possível haver clareza sobre quais acontecimentos da vida levaram a pessoa a ficar deprimida, diferentemente das reações depressivas normais e das reações de ajustamento depressivo, nas quais é possível localizar o evento desencadeador. As causas de depressão são múltiplas, de maneira que somadas podem iniciar a doença. Deve-se a questões constitucionais da pessoa, com fatores genéticos e neuroquímicos (neurotransmissores cerebrais) somados a fatores ambientais, sociais e psicológicos, como:

Estresse Estilo de vida Acontecimentos vitais, tais como crises e separações conjugais, morte na família, climatério, crise da meia-idade, entre outros.

Como se diagnostica a depressão? Na depressão a intensidade do sofrimento é intensa, durando a maior parte do dia por pelo menos duas semanas, nem sempre sendo possível saber porque a pessoa está assim. O mais importante é saber como a pessoa sente-se, como ela continua organizando a sua vida (trabalho, cuidados domésticos, cuidados pessoais com higiene, alimentação, vestuário) e como ela está se relacionando com outras pessoas, a fim de se diagnosticar a doença e se iniciar um tratamento médico eficaz.

O que sente a pessoa deprimida? Freqüentemente o indivíduo deprimido sente-se triste e desesperançado, desanimado, abatido ou " na fossa ", com " baixo-astral ". Muitas pessoas com depressão, contudo, negam a existência de tais sentimentos, que podem aparecer de outras maneiras, como por um sentimento de raiva persistente, ataques de ira ou tentativas constantes de culpar os outros, ou mesmo ainda com inúmeras dores pelo corpo, sem outras causas médicas que as justifiquem. Pode

ocorrer também uma perda de interesse por atividades que antes eram capazes de dar prazer à pessoa, como atividades recreativas, passatempos, encontros sociais e prática de esportes. Tais eventos deixam de ser agradáveis. Geralmente o sono e a alimentação estão também alterados, podendo haver diminuição do apetite, ou mesmo o oposto, seu aumento, havendo perda ou ganho de peso. Em relação ao sono pode ocorrer insônia, com a pessoa tendo dificuldade para começar a dormir, ou acordando no meio da noite ou mesmo mais cedo que o seu habitual, não conseguindo voltar a dormir. São comuns ainda a sensação de diminuição de energia, cansaço e fadiga, injustificáveis por algum outro problema físico.

Como é o pensamento da pessoa deprimida? Pensamentos que freqüentemente ocorrem com as pessoas deprimidas são os de se sentirem sem valor, culpando-se em demasia, sentindo-se fracassadas até por acontecimentos do passado. Muitas vezes questões comuns do dia-a-dia deixam os indivíduos com tais pensamentos. Muitas pessoas podem ter ainda dificuldade em pensar, sentindo-se com falhas para concentrar-se ou para tomar decisões antes corriqueiras, sentindo-se incapazes de tomá-las ou exagerando os efeitos "catastróficos" de suas possíveis decisões erradas.

Pensamentos de morte ou tentativas de suicídio: Freqüentemente a pessoa pode pensar muito em morte, em outras pessoas que já morreram, ou na sua própria morte. Muitas vezes há um desejo suicida, às vezes com tentativas de se matar, achando ser esta a " única saída " ou para " se livrar " do sofrimento, sentimentos estes provocados pela própria depressão, que fazem a pessoa culpar-se, sentir-se inútil ou um peso para os outros. Esse aspecto faz com que a depressão seja uma das principais causas de suicídio, principalmente em pessoas deprimidas que vivem solitariamente. É bom lembrar que a própria tendência a isolar-se é uma conseqüência da depressão, a qual gera um ciclo vicioso depressivo que resulta na perda da esperança em melhorar naquelas pessoas que não iniciam um tratamento médico adequado.

Sentimentos que afetam a vida diária e os relacionamentos pessoais: Freqüentemente a depressão pode afetar o dia-a-dia da pessoa. Muitas vezes é difícil iniciar o dia, pelo desânimo e pela tristeza ao acordar. Assim, cuidar das tarefas habituais pode tornar-se um peso: trabalhar, dedicar-se a uma outra pessoa, cuidar de filhos, entre outros afazeres podem tornar-se apenas obrigações penosas, ou mesmo impraticáveis, dependendo da gravidade dos sintomas. Dessa forma, o relacionamento com outras pessoas pode tornar-se prejudicado: dificuldades conjugais podem acentuar-se, inclusive com a diminuição do desejo sexual; desinteresse por amizades e por convívio social podem fazer o indivíduo tender a se isolar, até mesmo dificultando a busca de ajuda médica.

Como se trata a depressão? A depressão é uma doença reversível, ou seja, há cura completa se tratada adequadamente. O tratamento médico sempre se faz necessário, sendo o tipo de tratamento relacionado ao perfil de cada paciente. Pode haver depressões leves, com poucos aspectos dos problemas mostrados anteriormente e com pouco prejuízo sobre as atividades da vida diária. Nesses casos, o acompanhamento médico é fundamental, mas o tratamento pode ser apenas psicoterápico. Pode haver também casos de depressões bem mais graves, com maior prejuízo sobre o

dia-a-dia do indivíduo, podendo ocorrer também sintomas psicóticos (como delírios e alucinações) e ideação ou tentativas de suicídio. Nessa situação, o tratamento medicamentoso se faz obrigatório, além do acompanhamento psicoterápico. Os medicamentos utilizados são os antidepressivos, medicações que não causam “dependência”, são bem toleradas e seguras se prescritas e acompanhadas pelo médico. Em alguns casos faz-se necessário associar outras medicações, que podem variar de acordo com os sintomas apresentados (ansiolíticos, antipsicóticos). (Fonte) (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa)

DISTIMIA - ESTADO CRÔNICO DE DEPRESSÃO:

Sinônimos e nomes populares: Transtorno distímico, neurose depressiva, depressão neurótica, neurastenia, transtorno depressivo de personalidade.

O que é? A distimia é uma doença do humor, como a depressão, porém ocorrendo de uma forma crônica, com a persistência de tristeza por longo tempo (pelo menos dois anos), durando a maior parte do dia, na maioria dos dias.

O que se sente? Além do humor triste de forma prolongada, a pessoa pode sentir o apetite aumentado ou diminuído, insônia ou muita sonolência, sensação de baixa energia e cansaço, baixa auto-estima, com pensamentos de não ter valor ou ser incapaz, apresentando ainda dificuldade em concentrar-se ou em tomar decisões, além de ter sentimentos de falta de esperança. Não necessariamente todos esses sintomas deverão estar presentes, mas muitos são comuns. Diferentemente da depressão, a distimia pode deixar o indivíduo com a sensação de que este é o seu jeito normal de ser, com dizeres como "sempre fui desse jeito ". Há, portanto, uma perda de autocrítica quanto à doença, o que, somado ao baixo interesse em várias áreas da vida, pode levar ao isolamento ou a uma vida limitada, com poucos relacionamentos sociais, inclusive dificuldades profissionais e familiares. Normalmente não há um período mais agudo da doença, com os sintomas sendo mantidos de uma forma estável durante anos, porém é comum ocorrer a depressão propriamente dita em uma pessoa previamente com distimia, o que costuma ser chamado de depressão dupla. Em outros casos, pode ocorrer inicialmente um episódio depressivo, em que não ocorre remissão total dos sintomas, e que o quadro clínico residual caracteriza um episódio distímico.

Como se desenvolve? A distimia freqüentemente começa cedo na vida, na infância, adolescência ou início da idade adulta, por isso facilmente confundindo-se com o jeito de ser da pessoa. Em crianças, muitas vezes expressa-se por irritabilidade e mau humor, ou então pode parecer “boazinha” demais, sendo uma criança que brinca e permanece quieta a maior parte do tempo, que não faz bagunça, não incomoda, e não raro, diz-se que esse é o “jeitinho” dela. Em adolescentes pode associar-se principalmente à rebeldia e irritabilidade, mas isolamento e abuso de drogas podem ocorrer.

Qual a importância de se tratar a distimia? Comumente a pessoa com distimia não procura tratamento por esse problema. Porém, esta é uma doença freqüentemente associada a outras, como depressão, transtornos de ansiedade (principalmente transtorno do pânico), abuso de álcool e drogas e múltiplas queixas físicas (dores, por exemplo) de origem psicológica. Portanto, são pessoas que terminam por recorrer a vários tratamentos médicos, muitas vezes usando várias medicações, mas não tratando especificamente a distimia.

Como se trata? A distimia em geral requer tratamento medicamentoso e psicoterápico. A medicação utilizada geralmente envolve antidepressivos, e nos casos em que há comorbidade com outras patologias, o tratamentos destas também se faz necessário. A psicoterapia é fundamental no tratamento desses pacientes, podendo ser cognitivo-comportamental, ou de orientação analítica. Em alguns casos, a terapia familiar pode auxiliar na melhora do paciente e de sua família, uma vez que eles vem há muitos anos com um padrão disfuncional de comportamento e relacionamento entre os membros. (FONTE) (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa)

REAÇÕES DEPRESSIVAS NORMAIS E DE AJUSTAMENTO: Depressão é um problema médico que requer tratamento. Porém, não é sempre que a palavra depressão é utilizada neste sentido. Às vezes esse termo é utilizado pela população leiga, para se referir à sensação de tristeza, desânimo, vontade de chorar, sem necessariamente caracterizar um episódio depressivo.

O termo depressão, contudo, quando utilizado como sinônimo da doença depressão (transtorno depressivo), significa uma alteração geral no estado de humor da pessoa, que inclui sintomas físicos como alterações de sono e de apetite, podendo apresentar também queixas somáticas como dores de cabeça, dor de estômago e dores musculares. Também apresenta como parte dos sintomas, tristeza, desânimo, dificuldade em sentir alegria ou prazer, falta de vontade ou de interesse para realizar atividades que anteriormente gostava.

Porém deve ser levado em consideração que tristeza, desânimo e falta de prazer não serão sempre e necessariamente sinônimos de doença. Existem relações da vida de qualquer pessoa que serão marcadas pela tristeza, como:

- luto pela morte de um familiar ou amigo - a separação no casamento - a demissão de um emprego - o fracasso em um concurso - entre incontáveis outros eventos.

O limite entre o que é doença e o que é uma reação normal à vida depende de quão intenso é o sofrimento da pessoa e de como ela reage no seu cotidiano aos fatores que a estão deixando triste. Podemos, assim, agrupar em quatro modalidades os estados depressivos, principalmente de acordo com a intensidade do sofrimento psíquico. São eles:

- reações normais de depressão: luto e pesar - reações de ajustamento depressivo - distimia ou estado crônico de depressão - depressão (transtorno depressivo).

Apenas os três últimos são considerados doenças, sendo a última modalidade o que se denomina transtorno depressivo, ou depressão maior, a depressão propriamente dita.

REAÇÕES NORMAIS DE DEPRESSÃO: LUTO E PESAR: Uma reação normal de tristeza ocorre quando um acontecimento da vida tira a pessoa de seu estado habitual de humor, mas ela retorna espontaneamente a ele após cessado o seu período de tristeza. Um jovem que estuda durante longo período para o vestibular pode entristecer-se quando recebe o resultado negativo, a reprovação e chorar, tornar-se desanimado por alguns dias; mas na semana seguinte faz sua matrícula para mais um semestre de pré-vestibular. Um término de namoro, uma discussão séria no casamento, a doença de uma pessoa querida, vários podem ser os fatores que deixam alguém com pesar: sentimento de tristeza, desânimo, sensação de falta de prazer com tarefas que antes davam satisfação, choro mais fácil, dificuldade de concentração para trabalhar ou estudar. Porém são sentimentos que têm uma pequena duração no tempo, por dias ou semanas, no máximo, que geralmente não perduram o dia inteiro, não impedindo a pessoa de se cuidar, de fazer suas obrigações profissionais e sociais.

Da mesma forma pode ocorrer com o sentimento de perda, a sensação de vazio passageira, bem limitada no tempo, pela morte de um familiar próximo ou amigo. Ou ainda pela perda de um emprego, pelo fim de um casamento, pela mudança de cidade do filho que vai estudar, ou até, muitas vezes, pela decepção de um projeto de vida, que não seja mais possível realizar. Esse sentimento de perda caracteriza a tristeza do luto.

São, portanto, reações normais aos acontecimentos mais difíceis da vida de qualquer pessoa, que se instalam e persistem por alguns dias ou semanas, e em seguida cessam, gradualmente. A maioria das vezes tais reações depressivas não requerem tratamento, mas algumas vezes um tratamento médico baseado em psicoterapia é aconselhado, mesmo por um curto período, pois não raro essas reações normais podem ser também fatores que desencadeiam um estado de depressão que se prolongue mais que o normal.

REAÇÕES DE AJUSTAMENTO DEPRESSIVO: São reações um pouco mais graves que as vistas nas reações depressivas normais da vida, mas não tão intensas quanto acontece na depressão propriamente dita. Ocorre geralmente um estado de angústia com humor deprimido, ansiedade, preocupação e um sentimento de incapacidade de adaptação que surgem após um acontecimento de vida estressante, como separações, mortes na família, acidentes, doenças físicas graves, entre outros sentimentos. O início dos sintomas é usualmente dentro de um mês da ocorrência do evento estressante, freqüentemente não excedendo 6 meses de duração. Em geral são eventos normais (mesmo que indesejáveis) da vida, que causam estresse e angústia, ou mudanças de vida, mas que resultam em uma reação na pessoa que é um pouco mais severa do que o esperado, sendo

mais intensa e persistindo por mais tempo. Geralmente requerem um tratamento médico com psicoterapia, raramente com uso de medicação por um curto período. É caracterizada por um período longo (mais de 2 anos em adultos e mais de 1 ano em crianças) em que a pessoa se sente constantemente triste e desanimada. Não chega a ser uma tristeza tão intensa ou incapacitante como o que ocorre nos episódios de depressão maior. Porém, em razão de sua cronicidade e persistência, causa muito prejuízo e sofrimento, tendo repercussões sobre diversas esferas como trabalho, vida social e afetiva. Um episódio de distimia pode ser subseqüente a uma depressão com remissão parcial dos sintomas ou então à uma reação de ajustamento depressivo que não se resolveu ou que não foi tratada. Geralmente há necessidade de associar tratamento medicamentoso à psicoterapia (ou comportamental ou de orientação analítica). (FONTE) (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa)

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ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAISParte V – SEXO

Capítulo 11 do livro “No Mundo Maior”

Cap. 11Sexo

Ainda sob a impressão desagradável colhida do drama de Cecilia, acompanhei Calderaro a curioso centro de estudos, onde elevados mentores ministram conhecimentos a companheiros aplicados ao trabalho de assistência na Crosta.

— Não é templo de revelações avançadas —informou o instrutor —, mas instituição de socorro eficiente às ideias e empreendimentos dos colabora-dores militantes nas oficinas de amparo espiritual; cátedra de amizade, criada para discípulos a quem o esforço perseverante enobrece.

Ante minha indagação de aprendiz, continuou, bondoso:— Esses amigos reúnem-se uma vez por semana, a fim de ouvirem

mensageiros autorizados no tocante a questões que interessam de perto nosso ministério de auxilio aos homens. Estimo teu comparecimento hoje, porqüanto o emissário da noite comentará problemas atinentes ao sexo. Uma vez que estudas, nestes dias, os enigmas da loucura, com tempo curto para a realização de experiências diretas, a palestra vem ao encontro de nossos desejos.

Não foi possível maior conversação preliminar.O Assistente observou que os trabalhos já estariam iniciados; seguimos, por isso, sem maiores delongas. Com efeito, encontramos a assembléia em plena função. Pouco mais de duas centenas de companheiros do nosso plano ouviam, atenciosos, iluminado condutor de ahnas.

Sentamo-nos, por nossa vez, respeitosamente à escuta.O portador da sabedoria, cercado de viva luminosidade, prelecionava

sem afetação. Palavra bem timbrada, penetrando-nos o íntimo pela inflexão da sinceridade, falava, simples:

— «No exame das causas da loucura, entre individualidades, sejam encarnadas, sejam ausentes da carne, a ignorância quanto à conduta sexual édos fatores mais decisivos.

«A incompreensão humana dessa matéria equivale a silenciosa guerra

de extermínio e de perturbação, que ultrapassa, de muito, as devastações da peste referidas na história da Humanidade. Vocês sabem que só a epidemia de bubões, no século 6º de nossa era, chamada «peste de Justiniano’, eliminou quase cinquenta milhões de pessoas na Europa e na Asia... Pois esse número expressivo constitui bagatela, comparado com os milhões de almas que as angústias do sexo dilaceram todos os dias. Problema premente este, que já ensandeceu muitos cérebros de escol, não podemos atacá-lo a tiros de verbalismo, de fora para dentro, à moda dos médicos superficiais, que prescrevem longos conselhos aos pacientes, tendo, na maioria das vezes, absoluto desconhecimento da enfermidade.

«Agora, que nos distanciamos das imposições mais rijas da forma, sem nos libertarmos, contudo, dos ascendentes fundamentais de suas leis, que ainda nos subordinam as manifestações, compreendemos que os enigmas do sexo não se reduzem a meros fatores fisiológicos. Não resultam de auto-matismos nos campos de estrutura celular, quais aqueles que caracterizam os órgãos genitais masculinos e femininos, em verdade substancialmente idênticos, diferençando-se unicamente na expressão de sinalética. A este respeito formulamos conceitos mais avançados. Se aí residem forças procriadoras dominantes, atendendo aos estatutos da natureza terrestre, reguladores da vida física, temos, na inquietação sexual, fenômeno peculiar ao nosso psiquismo, em marcha para superiores zonas da evoltição.

(Doloroso é, porém, verificar a desarmonia em que se afundam os homens, com sombrios reflexos nas esferas imediatas à luta carnal. Inúmeros movimentos libertadores estalaram através dos séculos, no anseio da vida melhor. Guerras sangrentas de povo contra povo, revoluções civis espalhando padecimentos inomináveis, têm sido alimentadas na Terra, no curso do tempo, em nome de princípios regeneradores, segundo os quais se abrem novas conquistas do direito do mundo; no entanto, o cativeiro da ignorância, no campo sexual, continua escravizando milhões de criaturas.

“Inútil é supor que a morte física ofereça solução pacífica aos espíritos em extremo desequilíbrio, que entregam o corpo aos desregramentos passionais. A loucura, em que se debatem, não procede de simples modificações do cérebro: dimana da desassociação dos centros - perispiríticos, o que exige longos períodos de reparação.

“Indiscutívelmente, para a maioria dos encarnados, a fase juvenil das forças fisiológicas representa delicado estádio de sensações, em virtude das leis criadoras e conservadoras que regem a família humana; Isto, porém, é acidente e não define a realidade substancial. A sede do sexo não se acha no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização.

(Na Esfera da Crosta, distinguem-se homens e mulheres segundo sinais orgânicos, específicos. Entre nós, prepondera ainda o jogo das recordações da existência terrena, em trânsito, como nos achamos, para as regiões mais altas; nestas sabemos, porém, que feminilidade e masculinidade constituem característicos das almas acentuadamente passivas ou francamente ativas.

Compreendemos, destarte, que na variação de nossas experiências adquirimos, gradativamente, qualidades divinas, como sejam a energia e a ternura, a fortaleza e a humildade, o poder e a delicadeza, a inteligência e o sentimento, a iniciativa e a intuição, a sabedoria e o amor, até lograrmos o supremo equilíbrio em Deus.

Convictos desta realidade universal, não devemos esquecer que nenhuma exteriorização do instinto sexual na Terra, qualquer que seja a sua forma de expressão, será destruída, senão transmudada no estado de sublimação. As manifestações dos próprios irracionais participam do mesmo impulso ascensional. Nos povos primitivos, a eclosão sexual primava pela

posse absoluta.A personalidade integralmente ativa do homem dominava a

personalidade totalmente passiva da mulher.O trabalho paciente dos milênios transformou, todavia, essas relações.

A mulher-mãe e o homem-pai deram acesso a novos sopros de renovação do espírito. Com bases nas experiências sexuais, a tribo converteu-se na família, a taba metamorfoseou-se no lar, a defesa armada cedeu ao direito, a floresta selvagem transformou-se na lavoura pacífica, a heterogeneidade dos impulsos nas imensas extensões de território abriu campo à comunhão dos ideais na pátria progressista, a barbárie ergueu-se em civilização, os processos rudes da atração transubstanciaram-se nos anseios artísticos que dignificam o ser, o grito elevou-se ao cântico: e, estimulada pela força criadora do sexo, a coletividade humana avança, vagarosamente embora, para o supremo alvo do divino amor. Da espontânea manifestação brutal dos sentidos menos elevados a alma transita para gloriosa iniciação.

“Desejo, posse, simpatia, carinho, devotamento, renúncia, sacrifício, constituem aspectos dessa jornada sublimadora. Por vezes, a criatura demora-se anos, séculos, existências diversas de uma estação a outra. Raras individualidades conseguem manter-se no posto da simpatia, com o equilíbrio indispensável. Muito poucas atravessam a província da posse sem duelos cruéis com os monstros do egoísmo e do ciúme, aos quais se entregam desvairadamente. Reduzido número percorre os departamentos do carinho sem se algemarem, por largo trecho, aos gnomos do exclusivismo. E, às vezes, só após milênios de provas cruciantes e purifica-doras, consegue a alma alcançar o zênite luminoso do sacrifício para a suprema libertação, no rumo de novos ciclos de unificação com a Divindade

“O êxtase do santo foi, um dia, mero impulso, como o diamante lapidado — gota celeste eleita para refletir a. claridade divina — viveu na aluvião, ignorado entre seixos brutos. Claro está que, assim como se submete o diamante ao disco do lapidário, para atingir o pedestal da beleza, assim também o Instinto sexual, para coroar-se com as glórias do êxtase, há que dobrar-se aos imperativos da responsabilidade, às exigências da disciplina, aos ditames da renúncia.

(Estas conclusões, contudo, não nos devem induzir a programas de santificação compulsória no mundo carnal. Nenhum homem conseguiria negar a fase da evolução em que se encontra. Não podemos exigir que o hotentote inculto envergue a beca de um catedrático e se ponha, de um dia para outro, a ensinar o Direito Romano. Irrisório seria, pois, reclamar do homem de evolução mediana a conduta do santo. A Natureza, representação da Inesgotável Bondade, é mãe benigna que oferece trabalho e socorro a todos os filhos da Criação. Sua determinação de amparar-nos é sempre tanto mais forte, quanto mais decidido é o nosso propósito de progredir na direção do Bem Supremo.

“Não desejamos, portanto, preconizar no mim-do normas rigoristas de virtude artificial, nem favorecer qualquer regime de relações inconscientes. Nossa bandeira é. sobretudo, a do entendimento fraternal. Trabalhemos para que a luz da compreensão se faça entre os nossos amigos encarnados, a fim de que as angústias afetivas não arrojem tantas vítimas à voragem da morte, intoxicadas de criminosas paixões.

Devidos à incompreensão sexual, incontáveis crimes campeiam na Terra, determinando estranhos e perigosos processos de loucura, em toda parte.

«De quando em quando, uma que outra vítima procura os hospitais de alienados, submete-se ao tratamento médico, como o operário que traz

àoficina de consertos seu instrumento danificado; nos hospícios encontramos, porém, tão somente aqueles que desgalgaram até ao fundo do abismo, amargurados e vencidos. Milhões de irmãos nossos se conservam semiloucos nos lares ou nas instituições; são os companheiros incapazes do devotamento e da renúncia, a submergirem, pouco a pouco, no caliginoso tijuco das alucinações... De mente desvairada, fixa no socavão da subconsciência, perdem-se no campo dos automatismos inferiores, obstinando-se no conservarem deprimentes estados psíquicos. O ciúme, a insatisfação, o desentendimento, a incontinência e a leviandade alastram terríveis fenômenos de desequilíbrio.

“Inquietantes quadros mentais se pintam na Terra, compelindo-nos a estafante serviço socorrista, de modo a limitar o círculo de infortúnio e de pavor dos que se lançam, incautos, a temerárias aventuras do sentimento animalizado.

“Não solucionaremos tão complexo problema do mundo simplesmente à força de intervenção médica, embora seja admirável a contribuição da Ciência no terreno dos efeitos, sem atingir, contudo, a intimidade das causas. A personalidade não é obra da usina interna das glândulas, mau produto da qulmica mental.

“A endocrinologia poderá fazer muito com uma Injeção de hormônios, à guina de pronto-socorro às coletividades celulares, mas não sanará lesões do pensamento. A genética, mais hoje, mais amanhã, poderá interferir nas câmaras secretas da vida humana, perturbando a harmonia dos cromossomos, no sentido de impor o sexo ao embrião; todavia, não atingirá a zona mais alta da mente feminina ou masculina, que manterá característicos próprios, independentemente da forma exterior ou das con-venções estatuídas. A medicina inventará mil modos de auxiliar o corpo atingido em seu equilíbrio interno; por essa tarefa edificante, ela nos mere-cerá sempre sincera admiração e fervente amor; entretanto, compete a nós outros praticar a medicina da alma, que ampare o espírito enleado nas sombras...

“É mister acender, em derredor de nossos irmãos encarnados na Terra, a luz da compaixão fraterna, traçando caminhos definidos à respon-sabilidade individual. Haja mais amor ante os vales da demência do instinto, e as derrocadas cederão lugar a experiências santificantes.

“Como fazer valer o abençoado serviço do médico à vítima da angústia sexual, se tem a defrontá-lo, vibrante, a hostilídade da família? como salvar doentes da alma, numa instituição de benemerência, se o organismo social esmaga os enfermos com todo o peso de sua opinião e de sua autoridade? Naturalmente, constituiria pieguice rogar àsociologia a transformação imediata de seus códigos, ou impor à sociedade humana certas normas de tolerância, incompatíveis com as suas necessidades de defesa. Mas podemos manter louvável serviço de compreensão mais ampla, melhorar as disposiçoes dos nossos amigos encarnados na Crosta do Mundo e despertá-Los lentamente para a solução que nos interessa a todos.

“O amor espiritualizado, filho da renúncia cristã, é a chave capaz de abrir as portas do abismo para onde rolaram e rolam milhares de criaturas, todos os dias.

“Distribuamos a bênção do entendimento entre os homens; estendamos mão forte a todos os espíritos que se encontram prisioneiros do distúrbio das sensações, fazendo-lhes sentir que as oficinas do trabalho renovador permanecem abertas a todos os filhos de Deus, aperfeiçoando-lhes os sentimentos, sublimando-lhes os impulsos, dilatando-lhes a capacidade espiritual.

Lembremos aos corações desalentados que tal é o sexo em face do amor, quais são os olhos para a visão, e o cérebro para o pensamento: não mais do que aparelhamento de exteriorização. Erro lamentáveL é supor que só a perfeita normalidade sexual, consoante as respeitáveis convenções hu-manas, possa servir de templo às manifestações afetivas. O campo do amor é infinito em sua essência e manifestação. Insta fugir às aberrações e aos excessos; contudo, é imperioso reconhecer que todos os seres nasceram no Universo para amar e serem amados. Por vezes, vigoram para muitos deles, temporàriamente, os imperativos da prova benéfica, os deveres do estatuto expiatório. as exigências do serviço especializado, em que estudantes, devedores e missionários se obrigam a longas fases de fome e sede do coração. Isso, porém, não representa obstáculo ao amor. Jesus não partilhou o matrimônio normal na Terra, e, no entanto, a família de seu coração cresce com os dias; suas forças não geraram formas passageiras nos círculos carnais, e, contudo, suas energias fecundantes renovaram a civilização, transformando-lhe o curso, prosseguindo, até hoje, no apri-moramento do mundo. Simbologia sublime transparece da conduta do Mestre que, desse modo, se inclinou para os vencidos da convenção humana, solitários e humilhados, fazendo-lhes ver que épossível cooperar na extensão do Infinito Bem, amando e abnegando-se, com exclusão do egoísmo e do propósito inferior de serem amados, segundo os caprichos próprios.

(A construção da felicidade real não depende do instinto satisfeito. A permuta de células sexuais entre os seres encarnados, garantindo a continuidade das formas físicas em processo evolucionário, é apenas um aspecto das multiformes permutas de amor. Importa reconhecer que o intercâmbio de forças simpáticas, de fluidos combinados, de vibrações sintonizadas entre almas que se amam, paira acima de qualquer exteriorização tangível de afeto, sustentando obras imperecíveis de vida e de luz, nas ilimitadas esferas do Universo.

(Desenvolvamos, pois, carinhosa assistência aos que desesperam no mundo, sentindo-se na transitória condição de deserdados. Ensinemo-los a libertar a mente das malhas do instinto, abrindo-lhes caminho aos ideais do amor santificante, recordando-lhes que fixar o pensamento no sexo torturado, com desprezo dos demais departamentos da realização espiritual, através do cosmo orgânico, é estacionar, inutilmente, no trilho evolutivo; é entregar-se, inerme, à influência de perigosos monstros da imaginação, quais o despeito e a inveja, o desespero e a amargura, que abrem ruinosas chagas na alma e que cominam ao exclusivismo, pena que pode avultar até à loucura e à inconsciência. Convidemo-los a rasgar horizontes mais longes no coração. O amor encontrará sempre mundos novos. E para que tais descobertas se coroem de luz divina, bastará à criatura o abandono da ociosidade, que por si mesma combaterá a nefanda ignorância. Dentro de cada um de nós esplende, sem desmaio, a claridade libertadora, no pensamento de renovação para o bem comum que devemos cultivar e intensificar em cada dia da vida.

(O cativeiro nos tormentos do sexo não é problema que possa ser solucionado por literatos ou médicos a agir no campo exterior: é questão da alma, que demanda processo individual de cura, e sobre esta só o espírito resolverá no tribunal da própria consciência. É inegável que todo auxílio externo é valioso e respeitável, mas cumpre-nos reconhecer que os escravos das perturbações do campo sensorial só por si mesmos serão liberados, isto é, pela dilatação do entendimento, pela compreensão dos sofrimentos alheios e das dificuldades próprias, pela aplicação, enfim, do

(ama-vos uns aos outros», assim na doutrinação, como no imo da alma, com as melhores energias do cérebro e com os melhores sentimentos do coração.

Notei que a preleção terminara em meio ao respeito geral.A palavra do mensageiro fascinara-me. Aquelas noções de sexologia

eram novas para mim. Não eram repetições de compêndios descritivos, não eram fruto de frias observações de cientistas e escritores, preocupados em armar ao efeito com palavras balofas. Nasciam do verbo inflamado de amor fraternal de um orientador dedicado às necessidades de seus irmãos ainda frágeis e menos felizes.

Fizera-se, em torno, certa movimentação. Compreendi que os presentes poderiam formular perguntas relativas ao tema da noite, e, com efeito, fizeram-se várias indagações, com respostas preciosas, por elucidativas e edificantes.

O inquérito educativo continuava proveitoso, quando um companheiro ventilou certa questão que me aguçou a curiosidade.

— Venerável instrutor — disse, reverente nos últimos tempos, na Terra, os psicologistas encarnados, em número considerável, esposaram os princípios freudianos como bases de investigação dos distúrbios da alma. Para o grande médico austríaco, quase todas as perturbações psíquicas se radicam no sexo desviado. Alguns discípulos dele, porém, modificaram-lhe algo as teorias. Corrigindo a tese das alucinações eróticas que a psicanálise aplicou largamente às próprias crianças, no estudo dos sonhos e das emoções, pensadores eminentes apuseram a afirmativa de que todo homem e toda mulher são portadores do desejo inato de se darem importância, o qual os compele a manter hnpulsos primitivistas de dominação; outros expoentes da cultura intelectual asseveram, a seu turno, que o ser humano é repositório de todas as experiências da raça, trazendo consigo vasto arsenal de tendências para determinadas linhas do pensamento.

O consulente fêz uma pausa, ante o silêncio geral que reinava em derredor de sua valiosa indagação, e prosseguiu:

— Sabemos hoje, distanciados do corpo denso de carne, que a vida do espírito é desconcertante em surpresas para a ciência terrestre; entretanto, já que nos consagramos à tarefa de auxiliar os companheiros torturados da Crosta Planetária. não poderíamos receber elucidações adequadas a respeito, com o fim de passá-las adiante?

O sábio instrutor não se fez rogado e esclareceu:— Já sei o que deseja. Refere-se você aos movimentos da psicologia

analítica, chefiados por Freud e por duas correntes distintas de seus cola-boradores. O notável cientista centralizou o ensino no impulso sexual, conferindo-lhe caráter absoluto, enquanto as duas correntes de psicologistas, micialmente filiadas a ele, se diferenciaram na interpretação. A primeira estuda o anseio congênito da criatura, no que se refere ao relevo pessoal, enquanto a segunda proclama que, além da satisfação do sexo e da importância individualista, existe o impulso da vida superior que tortura o homem terrestre mais aparentemente feliz. Para o círculo de estudiosos essencialmente freudianos, todos os problemas psíquicos da personalidade se resumem à angústia sexual; para grande parte de seus colaboradores, as causas se estendem à aquisição de poder e à ideia de superioridade. Diremos, por nossa vez, que as três escolas se identificam, portadoras todas elas de certa dose de razão, faltando-lhes, todavia, o conhecimento básico do reencarnacionismo. Representam belas e preciosas casas dos princípios científicos, sem, contudo, o telhado da lógica. Não podemos afirmar que

tudo, nos círculos carnais, constitua sexo, desejo de importância e aspiração superior; no entanto, chegados à compreensão de agora, podemos assegurar que tudo, na vida, é impulso criador. Todos os seres que conhecemos, do verme ao anjo, são herdeiros da Divindade que nos confere a existência, e todos somos depositários de faculdades criadoras. O vegetal, instigado pelo heliotropismo, surge na. paisagem, distribuindo a vida e renovando-a. O pirilampo cintila na sombra, buscando perpetuar-se. O batráquio sente vibrações de amor e de paternidade nos recessos do charco. Aves minúsculas viajam longas distâncias, colhendo material para tecer um ninho. A fera olvida a índole selvagínea, ao lamber, com ternura, um filho recém-nato. E mais da metade dos milhões de espíritos encarnados na Crosta da Terra, de mente fixa na região dos movimentos instintivos, concentram suas faculdades no sexo, do qual se derivam naturalmente os mais vastos e frequentes distúrbios nervosos; constituem eles compactas legiões, nas adjacências da paisagem primitiva da evolução planetária, irmãos nossos na infância do conhecimento, que ainda não sabem criar sensações e vida senão mobilizando os recursos da força sexual. Grande parte de criaturas, contudo, havendo conquistado a razão, acima do instinto, permanecem nos desatinos da prepotência, seduzidas pelo capricho autoritário, famintas de evidência e realce, ainda que atidas a tra-balho proveitoso e a paixões nobres, muitas vezes... Pequeno grupo de homens e de mulheres, por fim, após atingir o equilíbrio sexual na zona instintiva do ser e depois de obter os títulos que lhes confere seu trabalho e com os quais dominam na vida, regendo as energias próprias, em pleno regime de responsabilidade individual, passam a fixar-se na região sublime, na superconsciência, não mais encontrando a alegria integral no con-tentamento do corpo físico ou na evidência pessoal; procuram alcançar os círculos mais altos da vida, absorvidos em idealismo superior; sentem-se no limiar de esferas divinas, já desde a estrada nevoenta da carne, à maneira do viajor que, após vencer caminhos ásperos na treva noturna, estaca, desajustado, entre as derradeiras sombras da noite e as promessas indefiníveis da aurora... Para esses, o sexo, a importância individual e as vantagens do imnediatismo terrestre são sagrados pelas oportunidades que oferecem aos propósitos de bem fazer; entretanto, no santuário de suas almas resplandece nova luz... A razão particularista converteu-se em entendimento universal. Cresceram-lhes os sentimentos sublimados na direção do campo superior. Pressentem a Divindade e anseiam pela identificação com ela. São os homens e as mulheres que, havendo realizado os mais altos padrões humanos, se candidatam à angelitude...

De um modo ou de outro, porém, tudo isto são sempre as faculdades criadoras, herdadas de Deus, em jogo permanente nos quadros da vida. Todo ser é impulsionado a criar, na organização, conservação e extensão do Universo!... »

O Instrutor estampou significativa expressão fisionômica, imprimiu longa pausa à preleção em curso e, em seguida, acrescentou, bem humorado:

— Muita vez, as criaturas instituem o mal, desviam a corrente natural das circunstâncias benéficas, envenenam as oportunidades, estacionando longulssimo tempo em tarefas reparadoras ou expiatórias; entretanto, ainda aí é forçoso observar a manifestação incessante do poder criador que nos é próprio, mesmo naqueles que se transviam... Em verdade, caem nos despenhadeiros do crime, lançam-se aos vales da sombra, mas, organizando e reorganizando as próprias ações, adquirem o patrimônio bendito da experiência; e, com a experiência, alcançam a luz, a paz, a sabedoria e o amor com que se aproximam de Deus. Concluímos, deste

modo, que, se a psicologia analítica de Freud e de seus colaboradores avançou muito no campo da investigação e do conhecimento, resolvendo, em parte, certos enigmas do psiquismo humano, falta-lhe, no entanto, a chave da reencarnação, para solucionar integralmente as questões da alma. Impossível é resolver o assunto em caráter definitivo, sem as noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade. Não vale descobrir complexos e frustrações, identificar lesões psíquicas e deficiências mentais, sem as remediar... Em suma, não satisfaz o simples exame da casca: é essencial atingir o cerne e determinar modificações nas causas. Para isto, é imprescindível confessar a realidade do reencarna-cionismo e da imortalidade. Até lá, portanto, auxiliemos nossos amigos do mundo na conquista da confiança em si mesmos, na. penetração da espe-rança divina e no contínuo auto-aprimoramento pelo trabalho redentor.

Calou-se o emissário, sorridente.Outras perguntas surgiram, interessantes e oportunas, obtendo

respostas claras e edificantes, com real proveito para todos os ouvintes.

Encerrada a reunião, retirei-me em silêncio, ao lado de Calderaro, que também se recolhia, como a reter a luz reveladora dos conceitos ouvi-dos. Não sei o que pensaria o prestimoso Assistente, submerso em funda meditação. Reconhecia tão só que, por minha vez, descobrira novo campo de conhecimento na província da sexologia. Daquele momento em diante, outras noções de amor desabrochavam-me na consciência, iluminando-me o ser.

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PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

A SEXUALIDADE NORMAL E TRANSTORNOS SEXUAIS

O comportamento sexual humano é diversificado e determinado por uma combinação de vários fatores tais como os relacionamentos do indivíduo com os outros, pelas próprias circunstâncias de vida e pela cultura na qual ele vive. Por isso é muito difícil conceituar o que é "normal" em termos da sexualidade. O que se pode afirmar em relação a isso é que a normalidade sexual está relacionada ao fato da sexualidade ser compartilhada de forma que o casal esteja de acordo com o que é feito, sem caráter destrutivo para o indivíduo ou para o parceiro e não afronta regras comuns da sociedade em que se vive. A anormalidade pode ser definida quando há uma fixação em determinada forma de sexualidade ou em determinada pessoa, ou ainda quando a pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer.

A anormalidade pode ser definida quando:

- há uma fixação em determinada forma de sexualidade; - a pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer, como, por exemplo, no voyeurismo em que só consegue obter prazer ao masturbar-se, observando pessoas sem o consentimento delas; - a pessoa não consegue ter relacionamento sexual com outras pessoas.

O que deve ser lembrado é que a sexualidade humana envolve, além do ato sexual em si, outras atividades, como fantasias, pensamentos eróticos, carícias e masturbação. As fantasias sexuais são pensamentos representativos dos desejos sexuais mais ardentes de uma pessoa e tem a função de complementar e estimular a sexualidade, tanto da realização do ato sexual com um parceiro quanto da estimulação auto-erótica (masturbação). A masturbação também é componente normal da sexualidade, e consiste no toque de si mesmo, em áreas que dão prazer ao indivíduo (áreas erógenas), que incluem os genitais e/ou outras partes do corpo, com a finalidade de obter prazer. No ser humano, as sensações sexuais despertadas, seja por fantasias, por masturbação ou pelo ato sexual em si, ocorrem numa sucessão de fases que estão interligadas entre si, que são chamadas de as Fases da resposta sexual humana. São elas:

- Desejo: Consiste numa fase em que fantasias, pensamentos eróticos, ou visualização da pessoa desejada despertam vontade de ter atividade sexual. - Excitação: Fase de preparação para o ato sexual, desencadeada pelo desejo. Junto com sensações de prazer, surgem alterações corporais que são representadas basicamente no homem pela ereção (endurecimento do pênis) e na mulher pela lubrificação vaginal (sensação de estar intimamente molhada). - Orgasmo: É o clímax de prazer sexual, sensação de prazer máximo, que ocorre após uma fase de crescente excitação. No homem, junto com o prazer, ocorre a sensação de não conseguir mais segurar a ejaculação, e então ela ocorre; e na mulher, ocorrem contrações da musculatura genital. - Resolução: Consiste na sensação de relaxamento muscular e bem-estar geral que ocorre após o orgasmo que, para os homens em geral, associa-se ao seu período refratário (intervalo mínimo entre a obtenção de ereções). Na mulher, este período refratário não existe: ela pode, logo após o ato sexual ter novamente desejo, excitação e novo orgasmo, não necessitando esperar um tempo para que isso ocorra novamente.

DISFUNÇÕES OU TRANSTORNOS SEXUAIS: Disfunções ou transtornos sexuais são problemas que ocorrem em alguma das fases da resposta sexual humana.

Disfunções Sexuais Femininas: Na mulher, as disfunções sexuais mais comuns são: as inibições do desejo sexual, a anorgasmia, o vaginismo e a dispareunia. As inibições do desejo sexual ou transtorno do desejo sexual hipoativo, constituem a falta ou diminuição da motivação para a busca de sexo, ou seja, a pessoa não tem vontade de manter relações sexuais. Isso ocorre mais comumente devido a:

- problemas no casamento (brigas, desentendimentos quanto ao que cada um espera do relacionamento) falta de intimidade - dificuldades de comunicação entre o casal, ou ainda, devido a tabus sobre a própria sexualidade, como, por exemplo, associações de sexo com pecado, com desobediência ou com punições - Inibições decorrentes de traumas sexuais (abuso sexual, estupro) doenças, a problemas hormonais e ao uso de certas drogas e remédios.

O diagnóstico pode ser feito por médico clínico, ginecologista, psiquiatra ou psicólogo, através das queixas apresentadas pela paciente; dependendo das queixas, pode ser necessária a realização de exames, para se descobrir a origem da falta de desejo. O tratamento se faz de acordo com a causa. Quando houver problemas clínicos (doenças), a paciente deve ser encaminhada para um especialista, quando necessário (por exemplo, um endocrinologista quando houver problemas hormonais), sendo que cada tipo de diagnóstico vai requerer um tipo específico de tratamento. Entretanto, a maioria dos casos deve-se a problemas psicológicos ou problemas no relacionamento do casal, e esses deverão ser tratados por psicólogo ou psiquiatra, tentando descobrir as causas, compreendê-las e resolvê-las.

Disfunções Sexuais Masculinas: As disfunções sexuais masculinas mais comuns são: a disfunção erétil (impotência) e a ejaculação precoce. A disfunção erétil conhecida como impotência, consiste na incapacidade em obter ou manter uma ereção que permita manter uma relação sexual, ou seja, o homem não consegue que seu pênis fique e permaneça duro e assim consiga ter relação sexual com penetração. As causas mais comuns são:

- doenças como diabetes, pressão alta, colesterol alto - traumas ou acidentes envolvendo a medula espinhal ou o próprio pênis o fumo, uso de drogas e alguns medicamentos (principalmente aqueles usados para tratamento de problemas do coração) - abuso de álcool - causas psicológicas (medos ou tabus em relação à sexualidade) O paciente poderá ser encaminhado ao urologista (especialista que trata esses casos), onde certos exames podem ser feitos para descobrir a causa da impotência. O tratamento dependerá da causa. Para alguns casos de impotência existem medicamentos ou injeções intrapenianas, que deverão ser usados apenas com prescrição médica, pois são indicados para casos específicos.É importante lembrar que muitas vezes fatores psicológicos podem causar disfunção erétil. Conversar sobre esses conflitos internos com psicólogo ou psiquiatra podem resolver o problema sem ser necessário outros tipos de tratamento. (Fonte)(Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa)

SEXO COMPULSIVO: Sexo Compulsivo: Verdades Sobre a Erotomania, Ninfomania, Hipersexualidade, Desejo Sexual Hiperativo

O desejo sexual pode ser demonstrado por um modelo hipotético, em um continuum onde o desejo, em um extremo, é praticamente nulo, correspondendo ao Transtorno de Aversão Sexual, e no outro, o Desejo Sexual Hiperativo, quando o desejo está em excesso.A erotomania e a ninfomania são termos que indicam um exagero do desejo sexual por parte de um homem e de uma mulher, respectivamente. Tais quadros são cientificamente conhecidos como Desejo Sexual Hiperativo (DSH) e manifestam-se principalmente por desregulação ou falta de controle da motivação sexual.

Como se manifesta o Desejo Sexual Hiperativo? A pessoa espontaneamente apresenta um nível elevado de desejo e de fantasias sexuais, aumento de freqüência sexual com compulsividade ao ato, controle inadequado dos impulsos e grande sofrimento. Preocupa-se a tal ponto com seus pensamentos e sentimentos sexuais que acaba por prejudicar suas atividades diárias e relacionamentos afetivos. Em geral não apresenta disfunções sexuais (como ejaculação precoce ou impotência), funcionando relativamente bem como um todo. Engaja-se em atividade masturbatória ou no coito, mesmo sob risco de perder os seus relacionamentos amorosos (busca de alta rotatividade de parceiros) ou a própria saúde (Hepatite B e C, HIV). Quando tenta evitar e controlar o impulso para o sexo, a pessoa pode ficar tensa, ansiosa ou depressiva. A pressão para a expressão sexual retorna e a pessoa sente-se escrava de seus próprios desejos. A ansiedade pré-atividade sexual, a intensa gratificação após o orgasmo e a culpa após o ato não são raras. Pode-se observar níveis diferentes de adição ao sexo, desde masturbação compulsiva e prostituição, a alguns comportamentos parafílicos (perversos) como exibicionismo, voyeurismo ou mesmo pedofilia (abuso sexual de crianças) e estupro.

Hoje em dia, com o maior acesso aos meios de comunicação como Internet, encontramos uma nova modalidade de hipersexualidade: compulsão sexual virtual (sexo virtual), atingindo mais de 2.000.000 de pessoas que gastam de 15 a 25 horas em frente ao computador navegando em sites de sexo.

O que causa? O Desejo Sexual Hiperativo é uma síndrome que pode se originar de diferentes causas. Por vezes, é visto como um problema de adição e dependência ao sexo, similar às drogadições de cocaína, álcool ou heroína. Pode ser encarado como um problema de comportamento mal adaptado, onde o ato repetitivo de busca de prazer sexual foi aprendido ao longo da vida como tranqüilizante, diminuindo sentimentos de ansiedade, medo e solidão. Também podemos compreender esse distúrbio como uma doença, com alterações anormais no balanço de substâncias neurais (neurotransmissores).

Nas teorias psicanalíticas, a hipersexualidade pode ser entendida como uma fixação nos níveis pré-edípicos do desenvolvimento sexual, na fase anal, mais especificamente, onde as ansiedades são deslocadas para comportamentos compulsivos. O conjunto de sintomas apresentados pelo DSH pode, na verdade, representar transtornos diferentes, cada qual devendo ser tratado de forma distinta, conforme sua possível causa.

E tem tratamento? Normalmente é o psiquiatra ou o terapeuta sexual que é procurado ou indicado para esse tipo de transtorno. As linhas de tratamento podem ser empregadas isoladas, mas tem se recorrido muito a tipos de tratamentos combinados, como o uso de medicação concomitantemente à psicoterapia cognitivo comportamental ou focal.

Os grupos de apoio tem demonstrado grande utilidade como terapia adjuvante. Algumas drogas podem ser utilizadas nos casos em que a compulsão ao sexo é predominante, como os Inibidores da Recaptação da Serotonina. Para aquelas pessoas que apresentam sintomas de voyeurismo ou exibicionismo, a psicoterapia de orientação analítica é a mais indicada, exigindo maior tempo de tratamento.

Em casos mais graves, onde a compulsão coloca outras pessoas também em risco (como abuso sexual ou estupro), pode-se fazer uso de algumas medicações a base de hormônios (progesterona) que inibam o desejo sexual. Em alguns casos, a internação do paciente se faz necessária para contenção de riscos. (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa) http://www.abcdasaude.com.br/

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COMPLEMENTO: Disciplina Afetiva e Sexohttp://ideal.andreluiz.vilabol.uol.com.br/disciplina_afetiva.html

Em que bases se verifica a disciplina efetiva nas sociedades espirituais das Esferas Superiores? Enganam-se lamentavelmente quantos possam admitir a incontinência sexual como regra de conduta nos planos superiores da Espiritualidade. Médiuns que tenham observado as regiões de licenciosidade, ou desencarnados que a respeito delas venham traçar essa ou aquela notícia, reportando-se apenas a lugares naturalmente inferiores, extremamente afins com a poligamia embrutecente, por mais brilhantes se lhe externem as conceituações filosóficas.Nos planos enobrecidos, realiza-se também o casamento das almas, conjugadas no amor puro, verdadeira união esponsalícia de caráter santificante, gerando obras admiráveis de progresso e beleza, na edificação coletiva*, e quando semelhante enlace deva ser adiado, por circunstâncias inamovíveis, os Espíritos de comportamento superior aceitam, na Terra, a luta pela sublimação das forças genésicas, aplicando-as em trabalho digno, com abstenção do comércio poligâmico, tanto mais intensamente quanto mais ativo se lhes revele o esforço no acrisolamento próprio.Aliás, cabe considerar que na renúncia construtiva a que se entregam, na expectativa, às vezes longa, do amor que os integrará na complementação desejada, encontram, no serviço aos semelhantes, preciosas oportunidades de burilamento e progresso, acentuando em si mesmos os altos valores da cultura e da emoção, que lhes propiciem gozos íntimos dos mais alevantados e mais puros.(Evolução em Dois Mundos, Parte II, Cap. X, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

Para mais clara compreensão do delicado assunto que André Luiz ora focaliza, pedimos ao leitor reler com atenção, no livro "Missionários da Luz", recebido mediunicamente por Francisco Cândido Xavier, as elucidações compreendidas entre as páginas 198 e 203 e reproduzido abaixo.

"MISSIONÁRIOS DA LUZ" - O SEXO - "O sexo tem sido tão aviltado pela maioria dos homens reencarnados na Crosta que é muito difícil para nós outros, por enquanto, elucidar o raciocínio humano, com referência ao assunto. Basta dizer que a união sexual entre a maioria dos homens e mulheres terrestres se aproxima demasiadamente das manifestações dessa natureza entre os irracionais. No capítulo de relações dessa espécie, há muita inconsciência criminosa e indiferença sistemática às leis divinas. Desse plano não seria razoável qualquer comentário de nossa parte. Trata-se de um domínio de semi-brutos, onde muitas inteligências admiráveis preferem demorar em baixas correntes evolutivas.  É inegável que aí também funcionem as tarefas de abnegados construtores espirituais, que colaboram na formação básica dos corpos, destinados a servirem às

entidades que reencarnam nesses círculos mais grosseiros. Entretanto, É preciso considerar que o serviço, em semelhante esfera, é levado a efeito em massa, com características de mecanismo primitivo. O amor, nesses planos mais baixos, é tal qual o ouro perdido em vasta quantidade de ganga, exigindo largo esforço e laboriosas experiências para revelar-se aos entendidos. Entre as criaturas, porém, que se encaminham, de fato, aos montes de elevação, a união sexual é muito diferente. Traduz permuta sublime das energias perispirituais, simbolizando alimento divino para a inteligência e para o coração e força criadora não somente de filhos carnais, mas também de obras e realizações generosas da alma para a vida eterna.

"Lembre-se, André, de que me referi a objetivos sagrados da Criação não exclusivamente ao trabalho procriador. A procriação é um dos serviços que podem ser realizados por aquele que ama, sem ser o objeto exclusivo das uniões. O Espírito que odeia ou que se coloca em posição negativa, diante da Lei de Deus, não pode criar vida superior em parte alguma." É necessário deslocar a concepção do sexo, abstendo-nos de situá-la tão-somente em determinados órgãos do corpo transitório das criaturas. Vejamos o sexo como qualidade positiva ou passiva, emissora ou receptora da alma. Chegados a este entendimento, verificamos que toda manifestação sexual evolute com o ser. Enquanto nos mergulhamos no charco das vibrações pesadas e venenosas, experimentamos, nesse domínio, simplesmente sensações. À medida que nos dirigimos a caminho do equilíbrio, colhemos material de experiências proveitosas, oportunidades de retificação, força, conhecimento, alegria e poder. Em nos harmonizando com as leis supremas, encontramos a iluminação e a revelação, enquanto os Espíritos Superiores colhem os valores da Divindade. Substituamos as palavras "união sexual" por "união de qualidades" e observaremos que toda a vida universal se baseia nesse divino fenômeno, cuja causa reside no próprio Deus, Pai Criador de todas as coisas e de todos os seres." Essa "união de qualidades", entre os astros, chama-se magnetismo planetário de atração, entre as almas denomina-se amor, entre os elementos químicos é conhecida por afinidade. Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da vida universal, circunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do aparelho físico. A paternidade ou a maternidade são tarefas sublimes; não representam, porém, os únicos serviços divinos, no setor da Criação infinita.O apóstolo que produz no domínio da Virtude, da Ciência ou da Arte, vale-se dos mesmos princípios de troca, apenas com a diferença de planos, porque, para ele, a permuta de qualidades se verifica em esferas superiores. Há fecundações físicas e fecundações psíquicas. As primeiras exigem a disposição das formas, a fim de atenderem a exigências da vida, em caráter provisório, no campo das experiências necessárias. As segundas, porém, prescindem do cárcere de limitações e efetuam-se nos resplandecentes domínios da alma, em processo maravilhoso de eternidade. Quando nos referimos ao amor do Onipresente, quando sentimos sede da Divindade, nossos espíritos não procuram outra coisa senão a troca de qualidade com as esferas sublimes do Universo, sequiosos do Eterno Princípio Fecundante..." É lamentável que a maioria de nossos irmãos encarnados na Crosta tenha menosprezado as faculdades criativas do sexo, desviando-as para o vórtice de prazeres inferiores... Todo ato criador está cheio de sagradas comoções da Divindade e são essas comoções sublimes da participação da alma, nos poderes criadores da Natureza, que os homens conduzem, imprevidentemente, para a zona do abuso e da viciação. Tentam arrastar a luz para as trevas e converter os atos sexuais, profundamente

veneráveis em todas as suas características, numa paixão viciosa tão deplorável como a embriaguez ou a mania do ópio. Entretanto, André, sem que os olhos mortais lhes observem as angústias retificadoras, todos os infelizes, em semelhantes despenhadeiros, são punidos severamente pela Natureza divina."

"Não há criação sem fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus. O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, é manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no seio da Divindade." (Diálogo entre o Instrutor Alexandre e André Luiz, no capítulo referente a reencarnação de Sigismundo). (Missionários da Luz, cap. 13, André Luiz/Chico Xavier, FEB)

PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

QUANDO O SEXO ADOECE: PERVERSÕES SEXUAIS OU PARAFILIAS

As parafilias, antigamente chamadas de perversões sexuais, são atitudes sexuais diferentes daquelas permitidas pela sociedade, sendo que as pessoas que as praticam não têm atividade sexual normal, ou seja, a sua preferência sexual "desviada" se torna exclusiva. Tais atitudes (exceto a pedofilia) podem estar presentes em pessoas com vida sexual normal, apenas sendo uma variação da maneira de se obter prazer, sem que se caracterize um transtorno. Para se tornar patológica essa preferência deve ser de grande intensidade e exclusiva, isto é, a pessoa não se satisfaz ou não consegue obter prazer com outras maneiras de praticar a atividade sexual. É importante ressaltar que ela se torna exclusiva porque exclui o normal, mas pessoas parafílicas podem ter dois ou mais tipos de parafilias ao mesmo tempo. As parafilias são praticadas por uma pequena porcentagem da população, mas como essas pessoas cometem atitudes parafílicas com muita freqüência e repetição, tem ocorrido um grande número de vítimas delas. Em geral, as perversões sexuais são mais comumente vistas em homens, e o tipo de parafilia mais comum é a pedofilia.

Os tipos de parafilia são abaixo descritos:

Exibicionismo É quando a pessoa mostra seus genitais a uma pessoa estranha, em geral em local público, e a reação desta pessoa a quem pegou de surpresa lhe desperta excitação e prazer sexual, mas geralmente não existe qualquer tentativa de uma atividade sexual com o estranho. As pessoas que abaixam as calças em sinal de protesto ou ataque a preceitos morais não são exibicionistas, pois não fazem isso com finalidade sexual.

Fetichismo É quando a preferência sexual da pessoa está voltada para objetos, tais

como calcinhas, sutiãs, luvas ou sapatos, sendo que a pessoa utiliza tais objetos para se masturbar ou exige que a parceira sempre use o objeto em questão durante o ato sexual, caso contrário não conseguirá se excitar e realizar o ato sexual. 

Fetichismo transvéstico: É caracterizado pela utilização de roupas femininas por homens heterossexuais para se excitarem, se masturbarem ou realizarem o ato sexual, sendo que em situações não sexuais se vestem de forma normal. Quando passam a se vestir como mulheres a maior parte do tempo, pode haver um transtorno de gênero, tipo transexualismo por baixo dessa atitude. É importante ressaltar que o fetichismo transvéstico também só é diagnosticado como uma parafilia quando é feito de forma repetitiva e exclusiva para obter prazer sexual.

Frotteurismo É a atitude de um homem que para obter prazer sexual, necessita tocar e esfregar seu pênis em outra pessoa, completamente vestida, sem o consentimento dela, excitando-se e masturbando-se nessa ocasião. Isso ocorre mais comumente em locais onde há grande concentração de pessoas, como metrôs, ônibus e outros meios de locomoção públicos.

Pedofilia Envolve pensamentos e fantasias eróticas repetitivas ou atividade sexual com crianças menores de 13 anos de idade. Está muito comumente associado a casos de incesto, ou seja, a maioria dos casos de pedofilia envolve pessoas da mesma família (pais/padrastos com os filhos e filhas). Em geral o ato pedofílico consiste em toques, carícias genitais e sexo oral, sendo a penetração menos comum. Hoje em dia, com a expansão da internet, fotos de crianças têm sido divulgadas na rede, sendo que olhar essas fotos, de forma freqüente e repetida, com finalidade de se excitar e masturbar-se consiste em pedofilia.

Masoquismo e Sadismo Sexual: Existe masoquismo quando a pessoa tem necessidade de ser submetida a sofrimento, físico ou emocional, para obter prazer sexual, e o sadismo é quando a pessoa tem necessidade em infligir sofrimento (físico ou emocional) a um outro, e disso decorre excitação e prazer sexual. O mais comum ao se pensar em sadomasoquismo é associar o sofrimento a agressões físicas e torturas, mas o sofrimento psicológico também pode ser considerado forma de sadomasoquismo, e consiste na humilhação que se pode sentir ou impor. Atos sadomasoquistas só serão considerados parafilias quando forem repetitivos e exclusivos, sendo que quando eles ocorrem ocasionalmente, dentro de um relacionamento sexual normal, são apenas formas alternativas de prazer, e não uma perversão.

Voyeurismo É quando alguém precisa observar pessoas que não suspeitam estarem sendo observadas, quando elas estão se despindo, nuas ou no ato sexual, para obter excitação e prazer sexual.

É importante ressaltar que essas condições só serão consideradas doenças quando elas forem a única forma de sexualidade do indivíduo, e que a tentativa dele em recorrer a outras formas de sexualidade para obter prazer

sexual geralmente serão fracassadas, o que levará a pessoa a continuar insistindo na mesma atitude.

As parafilias decorrem de alterações psicológicas durante as fases iniciais do crescimento e desenvolvimento da pessoa. Em geral pessoas que apresentam tais problemas não buscam tratamento espontaneamente, o que só acontecerá quando seu comportamento gerar conflitos com o parceiro sexual ou com a sociedade. Sendo assim, tais pessoas aparecem em consultórios psiquiátricos trazidas contra sua vontade ou são presas por serem flagradas ou denunciadas.

O tratamento se constitui em tratamentos psicológicos (psicanálise, psicoterapias) e, ou uso de algumas medicações. O tratamento dependerá da avaliação do caso específico de cada paciente e em geral não se consegue uma boa resposta, ou seja, é muito difícil ter melhoras nesses casos. (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa) http://www.abcdasaude.com.br/

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COMPLEMENTO: (André Luiz em "Evolução em Dois Mundos")

ENFERMIDADES DO INSTINTO SEXUAL - As cargas magnéticas do instinto, acumuladas e desbordantes na personalidade, à falta de sólido socorro intimo para que se canalizem na direção do bem, obliteram as faculdades, ainda vacilantes, do discernimento e, à maneira do esfaimado, alheio ao bom-senso, a criatura lesada em seu equilíbrio sexual costuma entregar-se à rebelião e à loucura em síndromes espirituais de ciúme ou despeito  A face das torturas genésicas a que se vê relegada, gera aflitivas contas cármicas a lhe vergastarem a alma no espaço e a lhe retardarem 0o progresso no tempo. Dai nascem as psiconeuroses, os colapsos nervosos decorrentes do trauma nas sinergias do corpo espiritual, as fobias numerosas, a "histeria de conversão", a "histeria de angustia", os "desvios da libido", a neurose obsessiva, as psicoses e as fixações mentais diversas que originam na ciência de hoje as indagações e os conceitos da psicologia de profundidade, na esfera da Psicanálise, que identifica as enfermidades ou desajustes do instinto sexual sem oferecer-lhes medicação adequada, porque apenas o conhecimento superior, gravado na própria alma, pode opor barreiras à extensão do conflito existente, traçando caminhos novos à energia criadora do sexo, quando em perigoso desequilíbrio.

Desse modo, por semelhantes ruturas dos sistemas psicossomáticos, harmonizados em permutas de cargas magnéticas afins, no terreno da sexualidade física ou exclusivamente psíquica, é que múltiplos sofrimentos são contraídos por nós todos, no decurso dos séculos, porquanto, se forjamos inquietações e problemas nos outros, com o instinto sexual, é justo venhamos a soluciona-los em ocasião adequada, recebendo por filhos e associados de destino, entre as fronteiras domesticas, todos aqueles que constituímos credores do nosso amor e da nossa renuncia, atravessando, muitas vezes, padecimentos inomináveis para assegurar-lhes o refazimento preciso. Compreendamos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual, e conseqüentemente no corpo físico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecera dele, desarmonizando-lhe as forcas, sem escarnecer e

desarmonizar a si mesmo. (Evolução em Dois Mundos, XVII, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

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Estudo das Doenças MentaisParte VI – MEDIUNIDADE

Do livro “No Mundo Maior”Cap. 9 - Mediunidade (Animismo)

Cap. 9Mediunidade

Sobremodo interessado no expressivo caso de Marcelo, apresentei a Calderaro, no dia seguinte, certas questões que fortemente me preocupavam.

Os reflexos condicionados não se aplicariam, igualmente, a diversos fenômenos medianimicos? não elucidavam as mistificações inconscientes que, muita vez, perturbam os círculos dos experimentadores encarnados?

Alguns estudiosos do Espiritismo, devotados e honestos, reconhecendo os escolhos do campo do mediunismo, criaram a hipótese do fantasma aní-mico do próprio medianeiro, o qual agiria em lugar das entidades desencarnadaS. Seria essa teoria adequada ao caso vertente? Sob a evocação de certas imagens, o pensamento do médium não se tornaria sujeito a determinadas associaçõeS, interferindo automàticamente no intercâmbio entre os homens da Terra e os habitantes do Além? Tais intervenções, em muitos casos, poderiam provocar desequilíbrioS intensos. Ponderando observações ouvidas nos últimos tempos, em vários centros de cultura espiritualista, com referência ao assunto, inquiria de mim mesmo se o problema oferecia relações com os mesmos princípios de Pavlov.

O instrutor ouviu-me, paciente, até ao fim de minhas considerações, e respondeu, benévolo: - A consulta exige meditação mais acurada. A tese animista é respeitável. Partiu de investigadores conscienciosos e sinceros, e nasceu para coibir os prováveis abusos da imaginação; entretanto, vem sendo usada cruelmente pela maioria dos nossos colaboradores encarnados, que fazem dela um órgão inquisitorial, quando deveriam aproveitá-la como elemento educativo, na ação fraterna. Milhares de companheiros fogem ao trabalho, amedrontados, recuam ante os percalços da iniciação mediúnica, porque o animismo se converteu em Cérbero. Afirmações sérias e edificantes, tornadas em opressivo sistema, impedem a passagem dos candidatos ao serviço pela gradação natural do aprendizado e da aplicação. Reclama-se deles precisão absoluta, olvidando-se lições elementares da natureza. Recolhidos ao castelo teórico, inúmeros amigos nossos, em se reunindo para o elevado serviço de intercâmbio com a nossa esfera, não aceitam comumente os servidores, que hão-de crescer e de aperfeiçoar-se com o tempo e com o esforço. Exigem meros aparelhos de comunicação, como se a luz espiritual se transmitisse da mesma sorte que a luz elétrica por uma lâmpada vulgar. Nenhuma árvore nasce produzindo, e qualquer faculdade nobre requer burilamento. A mediunidade tem, pois sua evolução, seu campo, sua rota. Não é possível laurear o estudante no curso superior, sem que ele tenha tido suficiente aplicação nos cursos preparatórios, através de alguns anos de luta, de esforço, de disciplina. Daí, André, nossa legitima preocupação em face da tese animista, que pretende enfeixar toda a responsabilidade do trabalho espiritual numa cabeça única, isto é, a do instrumento mediúnico. Precisamos de apelos mais altos, que animem os cooperadores incipientes, proporcionando-lhes mais vastos recursos de conhecimento na estrada por eles mesmos perlustrada, a fim de que a espiritualidade santificante penetre os fenômenos e estudos atinentes ao espírito.

Fez pequeno intervalo que não ousei interromper, fascinado pela elevação dos conceitos ouvidos, e continuou:

— Vamos à tua sugestão. Os reflexos condicionados enquadram-se, efetivamente, no assunto; no entanto, cumpre-nos investigar domínio de

mais graves apreciações. Os animais de Pavlov demonstravam capacidade mnemônica; memorizavam fatos por associações mentais espontâneas. Isto quer dizer que mobilizavam matéria sutil, independente do corpo denso; que jogavam com forças mentais em seu aparelhamento de impulsos primitivos. Se as «onsciênciaS fragmentádaSi’ do experimento eram capazes de usar essa energia, provocando a repetição de determinados fenômenos no cosmo celular, que prodígios não realizará a mente de um homem, cedendo, não a meros reflexos condicionados, mas a emissões de outra mente em sintonia com a dele? Dentro de tais princípios, é imperioso que o intermediário cresça em valor próprio. Ocorrências extraordinárias e desconhecidas ocupam a vida em todos os recantos, mas a elevação condiciona fervorosa procura. Ninguém receberá as bênçãos da colheita, sem o suor da sementeira. Lamentàvelmente, porém, a maior parte de nossos amigos parece desconhecerem tais imposições de trabalho e de cooperação: exigem faculdades completas. O instrumento mediúnico é automaticamente desclassificado se não tem a felicidade de exibir absoluta harmonia com os desencarnados, no campo tríplice das forças mentais, perispirituais e fisiológicas. Compreendes a dificuldade?

Sim, começava a entender. As elucidações, todavia, eram demasiado fascinantes para que me abalançasse a qualquer apontamento; guardei, por isto, a continuação das definições, na postura de humilde aprendiz.

O Assistente percebeu minha íntima atitude e continuou:— Buscando símbolo mais singelo, figuremos o médium como sendo

uma ponte a ligar duas esferas, entre as quais se estabeleceu aparente solução de continuidade, em virtude da diferenciação da matéria no campo vibratório. Para ser instrumento relativamente exato, é-lhe imprescindível haver aprendido a ceder, e nem todos os artífices da oficina mediúnica realizam, a breve trecho, tal aquisição, que reclama devoção à felicidade do próximo, elevada compreensão do bem coletivo, avançado espírito de concurso fraterno e de serena superioridade nos atritos com a opinião alheia. Para conseguir edificação dessa natureza, faz-se mister o refúgio frequente à “moradia dos princípios superiores». A mente do servidor há-de fixar-se nas zonas mais altas do ser, onde aprenderá o valor das concepções sublimes, renovando-se e quintessenciando-se para constituir elemento padrão dos que lhe seguem a trajetória, O homem, para auxiliar o presente, é obrigado a viver no futuro da raça. A vanguarda impõe-lhe a soledade e a incompreensão, por vezes dolorosas; todavia, essa condição representa artigo da Lei que nos estatui adquirir para podermos dar. Ninguém pode ensinar caminhos que não haja percorrido. Nasce daí, em se tratando da mediunidade edificante, a necessidade de fixação das energias instrumentais no santuário mais alto da personalidade. Fenômenos — não lhes importa a natureza — é forçoso reconhecer que assediam a criatura em toda parte. A ciência legítima é a conquista gradual das forças e operações da Natureza, que se mantinham ocultas à nossa acanhada apreensão. E como somos filhos do Deus Revelador, infinito em grandeza, éde esperar tenhamos sempre à frente ilimitados campos de observação, cujas portas se abrirão ao nosso desejo de conhecimento, à maneira que gradeçam nossos títulos meritórios. Por isto, André, consideramos que a mediunidade mais estável e mais bela começa, entre os homens, no império da intuição pura. Moisés desempenhou sua tarefa, compelido pelas expressões fenomênicas que o cercavam; recebe, sob incoercível comoção, os sublimes princípios do Decálogo, sentindo defrontar-se com figuras e vozes materializadas do plano espiritual; entretanto, ao mesmo tempo que transmite o “não matarás”, não parece muito inclinado ao inquebrantável respeito pela vida

alheia; sua doutrina, venerável embora, baseia-se no exclusivismo e no temor. Com Jesus, o aspecto da mediunidade é diferente. Mantém-se o Mestre em permanente contacto com o Pai, através da própria consciência, do próprio coração; transmite aos homens a Revelação Divina, vivendo-a em si mesmo; não reclama justiça, nem pede compreensão imediata; ama as criaturas e serve-as, mantendo-se unido a Deus. Em razão disto, a Boa-Nova é mensagem de confiança e de amor universal. Vemos, pois, dois tipos de medianeiros do próprio Céu, eminentemente diversos, mostrando qual o padrão desejável. No mediunismo comum, portanto, o colaborador servirá com a matéria mental que lhe é própria, sofrendo-lhe as imprecisões naturais diante da investigação terrestre; e, após adaptar-se aos imperativos mais nobres da renúncia pessoal, edificará, não de improviso, mas à custa de trabalho incessante, o templo interior de serviço, no qual reconhecerá a superioridade do programa divino acima de seus caprichos humanos. Atingida essa realização, estará preparado para sintonizar-se com o maior número de desencarnados e encarnados, oferecendo-lhes, como a ponte benfeitora, oportunidade de se encontrarem uns com os outros, na posição evolutiva em que permaneçam, através de entendimentos cons-trutivos. Devo dizer-te que não cogitamos aqui de faculdades acidentais, que aparecem e desaparecem entre candidatos ao serviço, sem espírito de ordem e de disciplina, verdadeiros balões de ensaio para os vôos do porvir; referimo-nos à mediunidade aceita pelo cooperador e mobilizável em qualquer situação para o bem geral. Comentando atividades e tarefas, devemos salientar os padrões que lhes digam respeito, e este é o característico da instrumentalidade espiritual nas esferas superiores. Logicamente, é impossível alcançá-lo de vez; toda obra impõe começo.

Como revelasse nos olhos a indomável comoção que se apossara de mim ante os conceitos ouvidos, o Assistente modificou a inflexão da voz e tranquilizou-me:— Reportando-nos ainda ao Cristo, importa-nos reconhecer que o Mestre viveu insulado no «monte divino da consciência», abrindo caminho aos vales humanos. Claro está que nenhum de nós abriga a pretensão de copiar Jesus; contudo, precisamos inspirar-nos em suas lições. Há milhões de seres humanos, encarnados e desencarnados, de mente fixa na região menos elevada dos impulsos inferiores, absorvidos pelas paixões instintivas, pelos remanescentes do pretérito envilecido, presos aos reflexos condicionados das comoções perturbadoras a que, inermes, se entregaram; outros tantos mantêm-se, jungidos à carne e fora dela, na atividade desordenada, em manifestações afetivas sem rumo, no apego desvairado à forma que passou ou à situação que não mais se justifica; outros, ainda, param na posição beata do misticismo religioso exclusivo, sem realizações pessoais no setor da experiência e do mérito, que os integre no quadro da lídima elevação. Subtraído o corpo físico, a situação prossegue quase sempre inalterada, para o organismo perispirítico, fruto do trabalho paciente e da longa evolução. Esse organismo, constituído, embora, de elementos mais plásticos e sutis, ainda é edifício material de retenção da consciência. Muita gente, no plano da Crosta Planetária, conjetura que o Céu nos revista de túnica angelical, logo que baixado o corpo ao sepulcro. Isto, porém, 6 grave erro no terreno da expectativa. Naturalmente, não nos referimos, nestas considerações, a espíritos da estofa de um Francisco de Assis, nem a criaturas extremamente perversas, uns e outros não cabíveis em nosso quadro: o zênite e o nadir da evolução terrestre não entram em nossas cogitações; falamos de pessoas vulgares, quais nós mesmos, que nos vamos em jornada progressiva, mais ou menos normal, para concluir que,

tal o estado mental que alimentamos, tais as inteligências, desencarnadas ou encarnadas, que atraímos, e das quais nos fazemos instrumentos naturais, embora de modo indireto. E a realidade, meu amigo, é que todos nós, que nos contamos por centenas de milhões, não prescindimos de medianeiros iluminados, aptos a colocar-nos em comunicação com as fontes do Suprimento Superior. Necessitamos do auxílio de mais alto, requeremos o concurso dos benfeitores que demoram acima de nossas paragens. Para isto, há que organizar recursos de receptividade. Nossa mente sofre sede de luz, como o organismo terreno tem fome de pão. Amor e sabedoria são substâncias divinas que nos mantêm a vitalidade.

O instrutor fez breve interrupção e acres-centou:— Compreendes agora a importância da mediunidade, isto é, da

elevação de nossas qualidades receptivas para alcançarem a necessária sintonia com os mananciais da vida superior?

Sim, respondi, entendera-lhe as observações, ponderando-lhes a magnitude.

— Não é serviço que possamos organizar da periferia para o centro — prosseguiu Calderaro— e sim do interior para o exterior. O homem encarnado, quase sempre empolgado pelo sono da ilusão, poderá começar pelo fenômeno; à maneira, porém, que desperte as energias mais profundas da consciência, sentirá a necessidade do reajustamento e regressará à causa de modo a aperfeiçoar os efeitos. Obra de construção, de tempo, de paciência...

Chegados a essa altura da conversação, o orientador convidou-me ao serviço de assistência a dedicada senhora, médium em processo de for-mação, que lhe vinha recebendo socorro para prosseguir na tarefa, com a fortaleza e serenidade indispensáveis.

Propiciando-me o feliz ensejo, meu gentil interlocutor concluiu:— O caso é oportuno. Observarás comigo os obstáculos criados pela

tese animista.Marcava o relógio precisamente vinte horas, quando penetramos

confortável recinto. Várias entidades de nosso plano ali se moviam, ao lado de onze companheiros reunidos em sessão íntima, consagrada ao serviço da oração e do desenvolvimento psíquico. Logo à entrada, recebeu-nos atencioso colega, a quem fui apresentado com sincera satisfação.

Recebi dele, de início, informações condensadas que anotei, contente. Fora igualmente médico. Deixara a experiência física antes de concretizar velhos planos de assistência fraternal aos seus inumeráveis doentes pobres. Guardava o júbilo de uma consciência tranquila, zelara o bem geral quanto lhe fora possível; contudo, entrevendo a probabilidade de algo fazer além-túmulo, recebera permissão para cooperar naquele reduzido grupo de ami-gos, com o objetivo de efetuar certo plano de socorro aos enfermos desamparados. O intercâmbio com os desencarnados não poderia transformar os homens em anjos de um dia para outro, mas poderia ajudá-los a ser criaturas melhores. Impossível seria instalar o paraíso na Crosta do mundo em algumas semanas; entretanto, era lícito cooperar no aprimoramento da sociedade terrestre, incentivando-se a prática do bem e a devoção à fraternidade. Para esse fim, ali permanecia, interessado em contribuir na proteção aos doentes menos aquinhoados.

Acompanhando-lhe os argumentos com admiração, mantive-me silencioso, mas Calderaro indagou, cortês, após inteirar-se das ocorrências:

— E como vai no desenvolvimento de seus elevados propósitos?— Dificilmente — informou o interpelado —, os recursos de comunicação

ao meu alcance ainda não são de molde a inspirar confiança à maioria dos

companheiros encarnados. A bem dizer, não me interessa comparecer aqui, de nome aureolado por terminologia clássica, e nem me abalançaria a oferecer teses novas, concorrendo com o mundo médico. Guia-me, agora, tão somente o sadio desejo de praticar o bem. Entretanto...

— Ainda não lhe ouviram os apelos, por intermédio de Eulália? — perguntou o meu instrutor.

— Não; por enquanto, não. Sempre a mesma suspeita de animismo, de mistificação Inconsciente...

Ia a palestra a meio, quando o diretor espiritual da casa convidou o colega a experimentar. Chegara o minuto aprazado. Poderia acercar-se da médium.

Aproximamo-nos do grupo de amigos, imersos em profunda concentração.

Enquanto o novo conhecido se abeirava de uma senhora de porte distinto, certamente ensaiando a transmissão da mensagem que desejava passar à esfera carnal, Calderaro observou-me:

— Repara o conjunto. Já fiz meus apontamentos. Com exceção de três pessoas, os demais, em número de oito, guardam atitude favorável. Todos esses se encontram na posição de médiuns, pela passividade que demonstram. Analisa a irmã Eulália e reconhecerás que o estado receptivo mais adiantado lhe pertence; dos oito cooperadores prováveis, é a que mais se aproxima do tipo necessário. No entanto, o nosso amigo médico não encontra em sua organização psicofísica elementos afins perfeitos: nossa colaboradora não se liga a ele através de todos os seus centros perispirituais; não é capaz de elevar-se à mesma frequência de vibração em que se acha o comunicante; não possui suficiente espaço interior” para comungar-lhe as idéias e conhecimentos; não lhe absorve o entusiasmo total pela Ciência, por ainda não trazer de outras existências, nem haver construído, na experiência atual, as necessárias teclas evolucionárias, que só o trabalho sentido e vivido lhe pode conferir. Eulália manifesta, contudo, um grande poder — o da boa vontade criadora, sem o qual é impossível o inicio da ascensão às zonas mais altas da vida. É a porta mais importante, pela qual se entenderá com o médico desencarnado. Este, a seu turno, para realizar o nobre desejo que o anima, vê-se compelido, em face das circunstâncias, a pôr de lado a nomenclatura oficial, a técnica científica, o patrimônio de palavras que lhe é peculiar, as definições novas, a ficha de renome, que lhe coroa a memória nos círculos dos conhecidos e dos clien-tes. Poderá identificar-se com Eulália para a mensagem precisa, usando também, a seu turno, a boa vontade; e, adotando esta forma de comunicação, valer-se-á, acima de tudo, da comunhão mental, reduzindo ao mínimo a influência sobre os centros neuropsíquicos; é que, em matéria de mediunismo, há tipos idênticos de faculdades, mas enormes desigualdade nos graus de capacidade receptiva, os quais variam infinitamente, como as pessoas.

O instrutor silenciou por momentos e prosseguiu:— Não nos esqueça que formamos agora uma equipe de trabalhadores

em ação experimental. Nem o provável comunicante chegou a concretizar as bases de seu projeto, nem a médium conseguiu ainda suficiente clareza e permeabilidade para cooperar com ele. Num terreno de atividades definidas, neste particular, poderíamos agir à vontade; aqui, não: nosso procedimento deve ser de neutralidade mental, não de interferência. Compreendendo, pois, que todos os recursos cumpre serem aproveitados no êxito da louvável edificação, nenhum de nós intervirá, perturbando ou consumindo tempo. é-nos facultado permutar ideias, analisar a ocorrência,

mas com absoluta Isenção de ânimo. O momento pertence ao comunicante, que não dispõe de aparelhamento mais perfeito para a transmissão.

Nesse instante, indicou-me o colega que, de pé, junto de Eulália, mantinha a mente iluminada e vibrante num admirável esforço por derruir a natural muralha, entre a nossa esfera e o campo de matéria densa.

— Anota as particularidades do serviço — disse-me Calderaro, com significativa inflexão de voz —; todos os companheiros em posição receptiva estão absorvendo a emissão mental do comunicante, cada qual a seu modo. Repara calmamente.

Circulei a mesa e vi que os raios de força positiva do mensageiro efetivamente incidiam em oito pessoas. Reconheci que o tema central do desejo formulado por nosso amigo, no tocante ao projeto de assistência aos enfermos, alcançava o cérebro dos que se conservavam em atitude passiva; na tela animada de concentração de energias mentais, cada irmão recebia o influxo sugestivo, que de logo lhes provocava a livre associação dos psicanalistas.

Fixei as particularidades com atenção.Ao receberem a emissão de forças do trabalhador do bem, um

cavalheiro recordou comovente paisagem de hospital; outro rememorou o exemplo de uma enfermeira bondosa que com ele travara relações; outro abrigou pensamentos de simpatia para com os doentes desamparados; duas senhoras se lembraram da caridosa missão de Vicente de Paulo; a uma velhinha acudiu a ideia de visitar algumas pessoas acamadas que lhe eram queridas; um jovem reportou-se, em silêncio, a notáveis páginas que lera sobre piedade fraternal para com todos os semelhantes afastados do equilíbrio físico.

Examinei também as três pessoas que se mantinham impermeáveis ao serviço benemérito daquela hora. Duas delas contristavam-se por haver perdido uma sessão cinematográfica, e a outra, uma senhora na idade provecta, retinha a mente na lembrança das ocupações domésticas, que supunha imperiosas e inadiáveis, mesmo ali, num círculo de oração, onde devera beneficiar-se com a paz.

Somente Eulália recebia o apelo do comunicante com mais nitidez. Sentia-se ao seu lado; envolvia-se em seus pensamentos; possuía-se, não só de receptividade, mas também de boa disposição para servi-lo.

Decorridos alguns minutos de expectativa e de preparo silencioso, a mão da médium, orientada pelo médico e movida em cooperação com os estímulos psicofísicos da intermediária, começou a escrever, em caracteres irregulares, denunciando o natural conflito de dois cosmos psíquicos dife-rentes, mas empenhados num só objetivo — a produção de uma obra elevada.

Acompanhei a cena com interesse.Mais alguns momentos, e fazia-se a leitura do pequeno texto obtido.O comunicado era vazado em forma singela, como um apelo fraternal.“Meus irmãos — escrevera o emissário —, que Deus nos abençoe.‘Identificados na construção do bem, trabalhemos na assistência aos

enfermos, necessitados de nosso concurso entre os longos sofrimentos da provação terrestre, O serviço pertence à boa vontade unida à fé viva. E a sementeira reclama trabalhadores abnegados, que ignorem cansaço, tristeza e desânimo.

“Sigamos para a frente.(Cada pequenina demonstração de esforço próprio, nas realizações da

caridade, receberá do Senhor a Divina Bênção.(Aprendamos, pois, a socorrer nossos amigos doentes. Através de

espessa noite de dor, sofrem e choram, muita vez em pleno abandono.(Não vos magoará a contemplação de tal quadro? Lembremo-nos

dAquele Divino Médico que passou, no mundo, fazendo o bem. DEle recebe-remos a força necessária para progredir. Estará conosco na grande jornada de comiseração pelos que padecem.

(Fiamos em vós, em vossa dedicação à causa da bondade evangélica.(A estrada será talvez difícil e fragosa; entretanto, o Senhor

permanecerá conosco.(Prossigamos, intimoratos, e que Ele nos abençoe agora e sempre.O comunicante assinou o nome, e, daí a alguns minutos, encerravam-se

os serviços espirituais da noite.O presidente da sessão, seguido pelos demais companheiros, Iniciou o

estudo e debate da mensagem. Concordou-se em que era edificante na es-sência, mas não apresentava índices concludentes da identificação individual; não procedia, possívelmente, do conhecido profissional que a subscrevera; faltavam-lhe os característicos especiais, pois um médico usaria nomenclatura adequada, e se afastaria da craveira comum.

E a tese animista apareceu como tábua de salvação para todos. Transferiu-se a conversação para complicadas referências ao mundo europeu; falou-se extensalnente de Richet e do metapsiquismo internacional; Pierre Janet, Charcot, De Rochas e Aksakof eram a cada passo trazidos à balha.

O comunicante, em nosso plano de ação, dirigiu-se, desapontado, ao meu orientador e comentou:

— Ora essa! jamais desejei despertar semelhante polêmica doméstica. Pretendemos algo diferente. Bastar-nos-ia um pouco de amor pelos en-fermos, nada mais.

Calderaro sorriu, sem dizer palavra, e evidenciando preocupação em objetivo mais importante, acercou-se de Eulália, entristecida.

A médium ouvia as definições preciosas com irrefreável amargura.Turvara-se-lhe a mente, agora, empanada por densos véus de dúvida. A

argumentação em curso nublava-lhe o entendimento. Marejavam-se-lhe os olhos de lágrimas, que não chegavam a cair.

Abeirando-se dela, o instrutor falou-me, bondoso:— Nossos amigos encarnados nem sempre examinam as situações pelo

prisma da justiça real. Eulália é colaboradora preciosa e sincera. Se ainda não completou as aquisições culturais no campo científico, é suficientemente rica de amor para contribuir à sementeira de luz. Encontra-se, porém, desabrigada, entre os companheiros invigilantes. Permanece sozinha e, assediada como está, é suscetível de abater-se. Auxiliemo-la sem detença.

A destra do Assistente espalmada sobre a cabeça de nossa respeitável irmã expendia brilhantes raios, que lhe desciam do encéfalo ao tórax, qual fluxo renovador.

A médium, que antes parecia torturada, sopitando a custo a natural reação às opiniões que ouvia, voltou à serenidade. Caiu-lhe a máscara de descontentamento, dissipou-se-lhe a tristeza destrutiva; os centros perispiríticos tornaram à normalidade; a epífise irradiou branda luz. As nuvens de mágoa, que se lhe esboçavam na mente, esfumaram-se como por encanto. Em suma, amparada pela atuação direta do meu orientador, Eulália sabia dos percalços do trabalho e mergulhava-se gradativamente no ameno clima da compreensão.

Restabelecendo-lhe a tranquilidade, o instrutor, em seguida, conservou as mãos apoiadas aos lobos frontais, agindo-lhe sobre as fibras inibidoras.

Observei, então, nova mudança. A mente da médium, como que se introvertia, desinteressando-se da conversação em torno e ficando mais atenta ao nosso campo de ação. O contacto benéfico do Assistente cortava-lhe, de modo imperceptível para ela, o interesse pelas referências sem pro-veito, convocando-a a mais íntimo intercâmbio conosco.

Com ternura paternal, Calderaro, conservando as mãos na mesma postura, inclinou-se-lhe aos ouvidos e falou carinhosamente:

— “Eulalia, não desanimes! A fé representa a força que sustenta o espírito na vanguarda do combate pela vitória da luz divina e do amor uni-versal. Nossos amigos não te acusam, nem te ferem: tão sõmente dormem na ilusão e sonham, apartados da verdade; exculpa-os pelas futilidades do momento. Mais tarde eles despertarão para o esforço de espalhar-se o bem... Investigam com os olhos a superfície das coisas, mas seus ouvidos ainda não escutaram o sublime apelo à redenção. Sigamos para a frente. Estaremos contigo na tarefa diária. É necessário amar e perdoar sempre, esquecendo o dia obscuro, a fim de alcançar os milênios luminosos. Não desfaleças! O Eterno Pai te abençoará.”

Reparei que Eulália não registrava aquelas palavras com os tímpanos de carne. Encheram-se-lhe os lobos frontais de intensa luz. As frases como-vedoras do instrutor represaram-se-lhe no cérebro e no coração, quais pensamentos sublimes que lhe caiam do céu, saturados de calor reconfortante e bendito.

Sim — respondia, do fundo d’alma, a devotada colaboradora, embora os lábios se lhe cerrassem no incompreendido silêncio —, trabalharia até ao fim, consciente de que o serviço da verdade pertence ao Senhor, e não aos homens. Olvidaria todos os golpes. Receberia as objeções dos outros, transformando-as em auxílios. Converteria as opiniões desanimadoras em motivos de energia nova. Dar-se-ia pressa em reconhecer os próprios defei-tos, sempre que fôssem indigitados pela franqueza de alguém, rendendo graças pela oportunidade de corrigi-los, quanto possível. Caminharia para a frente. Ser-lhe-ia a mediunidade um campo de trabalho, onde aperfeiçoaria os sentimentos que nutria, sem cogitar dos utensílios para servi-la: que lhe importavam, com efeito, as dificuldades psicográficas, se lhe pulsava um coração disposto a amar? Sim, ouviria as sugestões do bem, antes de tudo. Seria fiel a Deus e a si mesma. Se os companheiros humanos não a pudessem entender, não lhe restava o conforto de ser compreendida pelos amigos da vida espiritual? Ao termo da experiência terrestre, haveria suficiente luz para todos. Cumpria-lhe crer, trabalhar, amar e esperar no Divino Senhor.

O Assistente retirou as mãos, deixando-a livre e, reaproximando-se de mim, asseverou:

— Nossa irmã foi auxiliada e está bem, louvado seja Deus!Observando os lobos frontais da médium, tão revestidos de

luminosidade, fiz sentir a Calderaro minha admiração.O instrutor amigo, não se esquivando a novos esclarecimentos,

informou:— Eulália, neste instante, fixa-se mentalmente na região mais alta que

lhe é possível. Recolhe-se, calma, no santuário mais intimo, de modo a compreender e desculpar com proveito.

Indicando a referida região cerebral, concluiu:

— Nos lobos frontais, André, exteriorização fisiológica de centros perispiríticos importantes, repousam milhões de células, à espera, para funcionar, do esforço humano no setor da espiritualização. Nenhum homem,

dentre os mais arrojados pensadores da Humanidade, desde o pretérito até os nossos dias, logrou jamais utilizá-las na décima parte. São forças de um campo virgem, que a alma conquistará, não sõmente em continuidade evolutiva, senão também a golpes de auto-educação, de aprimoramento moral e de elevação sublime; tal serviço, meu amigo, só a fé vigorosa e reveladora pode encetar, como indispensável lâmpada vanguardeira do progresso individual.

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MEDIUNIDADE E ANIMISMO — Alinhando apontamentos sobre a mediunidade, não será licito esquecer algumas considerações em torno do animismo ou conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação.Temos aqui muitas ocorrências que podem repontar nos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria Inteligência encarnada comandando manifestações ou delas participando com diligência, numa demonstração que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se e atuar com os seus recursos e implementos característicos, como consciência pensante e organizadora, fora do carro físico.A verificação de semelhantes acontecimentos criou entre os opositores da Doutrina Espírita as teorias de negação, porquanto, admitida a possibilidade de o próprio Espírito encarnado poder atuar fora do traje fisiológico, apressaram-se os cépticos inveterados a afirmar que todos os sucessos medianímicos se reduzem à influência de uma força nervosa que efetua, fora do corpo carnal, determinadas ações mecânicas e plásticas, configurando, ainda, alucinações de variada espécie. Todavia, os estardalhaços e pavores levantados por esses argumentos indébitos, arredando para longe o otimismo e a esperança de tantas criaturas que começam confiantemente a iniciação nos serviços da mediunidade, não apresentam qualquer significado substancial, porque é forçoso ponderar que os Espíritos desencarnados e encarnados não se filiam a raças antagônicas que se devam reencontrar em condições miraculosas.

SEMELHANÇAS DAS CRIATURAS — Somos necessariamente impelidos a reconhecer que, se os vivos da Terra e os vivos do Além respirassem climas evolutivos fundamentalmente diversos, a comunicação entre eles resultaria de todo impossível, pela impraticabilidade do ajuste mental. Seres em desenvolvimento para a vida eterna, uns e outros guardam consigo, seja no plano extra-físico, preparando o retorno ao campo terrestre, ou no plano físico, em direção à esfera espiritual, faculdades adquiridas no vasto caminho da experiência, as quais lhes servirão de recursos à percepção no ambiente próximo.

Tem cada Espírito, em vias de reencarnação, todos os meios de que já se muniu para continuar no círculo dos encarnados o trabalho de aperfeiçoamento que lhe é próprio, conservando-os potencialmente no feto, tanto quanto possui o Espírito encarnado todas as possibilidades que já entesourou em si mesmo para prosseguir em suas atividades no Plano Espiritual, depois da morte.

Assinalada essa observação, é fácil anotar que a criatura na Terra partilha, assim, até certo ponto, dos sentidos que caracterizam a criatura

desencarnada, nas esferas imediatas à experiência humana, conseguindo, às vezes, desenfaixar-se do corpo denso e proceder como a Inteligência desenleada do indumento carnal ou, ainda, obedecer aos ditames dos Espíritos desencarnados, como agente mais ou menos fiel de seus desejos.

Encontramos, nessa base, a elucidação clara de muitos dos fenômenos do faquirismo vulgar, em que o Espírito encarnado, ao desdobrar-se, pode provocar, em relativo estado de consciência, certa classe de fenômenos físicos, enquanto o corpo carnal se demora na letargia comum.

OBSESSÃO E ANIMISMO — Muitas vezes, conforme as circunstâncias, qual ocorre no fenômeno hipnótico isolado, pode cair a mente nos estados anômalos de sentido inferior, dominada por forças retrógradas que a imobilizam, temporariamente, em atitudes estranhas ou indesejáveis.Nesse aspecto, surpreendemos multiformes processos de obsessão, nos quais Inteligências desencarnadas de grande poder senhoreiam vítimas inabilitadas à defensiva, detendo-as, por tempo indeterminado, em certos tipos de recordação, segundo as dividas cármicas a que se acham presas.Freqüentemente, pessoas encarnadas, nessa modalidade de provação regeneradora, são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas, sob o fascínio constante dos desencarnados que as subjugam.

ANIMISMO E HIPNOSE — Imaginemos um sensitivo a quem o magnetizador intencionalmente fizesse recuar até esse ou aquele marco do pretérito, pela deliberada regressão da memória, e o deixasse nessa posição durante semanas, meses ou anos a fio, e teremos exata compreensão dos casos mediúnicos em que a tese do animismo é chamada para a explicação necessária. O «sujet», nessa experiência, declarar-se-ia como sendo a personalidade invocada pelo hipnotizador, entrando em conflito com a realidade objetiva, mas não deixaria, por isso, de ser ele mesmo sob controle da idéia que o domina.

Nas ocorrências várias da alienação mental, encontramos fenômenos assim tipificados, reclamando larga dose de paciência e carinho, porquanto as vítimas desses processos de fixação não podem ser categorizadas à conta de mistificadores inconscientes, pois representam, de fato, os agentes desencarnados a elas jungidos por teias fluídicas de significativa expressão, tal qual acontece ao sensitivo comum, mentalmente modificado, na hipnose de longo curso, em que demonstra a influência do magnetizador.

DESOBSESSÃO E ANIMISMO — Nenhuma justificativa existe para qualquer recusa no trato generoso de personalidades medianímicas provisoriamente estacionadas em semelhantes provações, de vez que são, em si próprias, Espíritos sofredores ou conturbados quanto quaisquer outros que se manifestem, exigindo esclarecimento e socorro. O amparo espontâneo e o auxílio genuinamente fraterno lhes reajustarão as ondas mentais, concurso esse que se estenderá, inevitável, aos companheiros do pretérito que lhes assediem o pensamento, operando a reconstituição de caminhos retos para os sensitivos corporificados na Terra, tão importantes e tão nobres em sua estrutura quanto aqueles que os doutrinadores encarnados se propõem traçar para os amigos desencarnados menos

felizes. Aliás, é preciso destacar que o esforço da escola, seja ela o recinto consagrado à instrução primária ou a instituto corretivo, funciona como recurso renovador da mente, equilibrando-lhe as oscilações para níveis superiores. Não há novidade alguma no impositivo da acolhida magnânima aos obsessos dessa natureza, hipnotizados por forças que os comandam espiritualmente, a distância.

ANIMISMO E CRIMINALIDADE — Os manicômios e as penitenciárias estão repletos de irmãos nossos obsidiados que, alcançando o ponto específico de suas recapitulações do pretérito culposo, à falta de providências reeducativas, nada mais puderam fazer que recair na loucura ou no crime, porque, em verdade, a alienação e a delinquência, na maioria das vezes, expressam a queda mental do Espírito em reminiscências de lutas pregressas, à semelhança do aluno que, voltando à lição, com recursos deficitários, incorre lamentavelmente nos mesmos erros.O ressurgimento de certas situações e a volta de marcadas criaturas ao nosso campo de atividade, do ponto de vista da reencarnação, funcionam em nossa vida íntima como reflexos condicionados, comprovando-nos a capacidade de superação de nossa inferioridade, antigamente positivada.Se estivermos desarmados de elementos morais suscetíveis de alterar-nos a onda mental para a assimilação de recursos superiores, quase sempre tornamos à mesma perturbação e à mesma crueldade que nos assinalaram as experiências passadas. Nesse fenômeno reside a maior percentagem das causas de insânia e criminalidade em todos os setores da civilização terrestre, porquanto é aí, nas chamadas predisposições mórbidas, que se rearticulam velhos conflitos, arrasando os melhores propósitos da alma, sempre que descure de si mesma.

Convenhamos, pois, que a tarefa espírita é chamada, de maneira particular, a contribuir no aperfeiçoamento dos impulsos mentais, favorecendo a solução de todos os problemas suscitados pelo animismo. Através dela, são eles endereçados à esfera iluminativa da educação e do amor, para que os sensitivos, estagnados nessa classe de acontecimentos, sejam devidamente amparados nos desajustes de que se vejam portadores, impedindo-se-lhes o mergulho nas sombras da perturbação e recuperando-se-lhes a atividade para a sementeira da luz. (ANDRÉ LUIZ, "MECANISMOS DA MEDIUNIDADE", cap. 23, FCXavier, FEB)

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Estudo das Doenças MentaisParte 7: EVANGELHO NO LAR

Do livro “No Mundo Maior”Cap. 8 – “No Santuário da Alma” (a terapêutica* do Evangelho no Lar)

* ciência de cuidar e tratar de doentes ou de doenças.

Cap. 7Processo redentor

Retirando-nos do hospital, em a noite que precedeu à desencarnação de Cândida, o Assistente observou:

— Não temos tempo a perder.Efetivamente, o trabalho de socorro à prezada enferma absorvera-nos

algumas horas.—Nosso esforço — continuou o prestimoso amigo — tem por especial escopo impedir a consumação dos processos tendentes à loucura. A rede de amparo espiritual, neste sentido, é quase infinita. A positiva declaração de desarmonia mental constitui sempre o término de longa luta. Claro está que não incluimos aqui os casos puramente fisiológicos, mormente em se tratando da invasão da sífilis na matéria cerebral; reportamo-nos aos dramas íntimos da personalidade prisioneira da introversão, do desequilíbrio, dos fenômenos de involução, das tragédias passionais, episódios esses que deflagram no mundo, aos milhares por semana. Nas esferas imediatas à luta do homem vulgar, onde nos achamos presentemente, são inúmeras as organizações socorristas dessa natureza. É imprescindível amparar a mente humana na Crosta Planetária, em seus deslocamentos naturais. A vasta escola terrestre exige incessante e complexa colaboração espiritual. Indubitavelmente, a Divina Sabedoria não se descuidou da programação prévia de serviço, neste particular. Se encarregou a Ciência de superintender o desdobramento harmonioso dos fenômenos pertinentes à zona física, se incumbiu a Filosofia de acompanhar essa mesma Ciência, enriquecendo-lhe os valores intelectuais, confiou à Religião a tarefa de velar pelo desenvolvimento da alma, propiciando-lhe abençoadas luzes para a jornada de ascensão. A crença religiosa, todavia, mormente nos últimos anos, tem-se revelado incapaz de tal cometimento: falta-lhe pessoal adequado. Enquanto a edificação científica no mundo se apresenta qual árvore gigantesca, abrigando, em seus ramos refertos de teorias e raciocínios, as inteligências encarnadas, a Religião, subdividida em numerosos setores, dá a ideia de erva raquítica, a definhar no solo. O Amor Divino, porém, não ignora os obstáculos que assoberbam os círculos da fé. Se à investigação do conhecimento basta o valor intelectual, o problema religioso demanda altas possibilidades de sentimento. A primeira requer observação e persistência; o segundo, todavia, implica vocação para a renúncia. A vista disto, colaborando com os trabalhadores decididos, inúmeras legiões de auxiliares invisíveis ao olhar humano se desdobram, em toda parte, socorrendo os que sofrem, incentivando os que esperam firmemente no bem, melhorando sempre. Nosso esforço, portanto, em torno da mente encarnada, é extenso e múltiplo. Forçoso é convir, no entanto, que, se o programa dá motivo a preocupações, é também fonte de prazer. Experimentamos o contentamento de irmãos mais velhos, capazes de prestar auxilio aos mais novos. Indiscutívelmente, somos, em humanidade, uma só família.

Verificando-se pausa natural nos esclarecimentos de Calderaro, indaguei, curioso:

— Como se opera, entretanto, a administração de tais auxílios? Indiscriminadamente?

— Não — explicou o interpelado —, o senso de ordem preside-nos à atividade em todas as circunstâncias Quase sempre é a força intercessória que determina os processos de ajuda. A prece, representada pelo desejo não manifestado, pelas aspirações íntimas ou pelas petições declaradas, proveniente da zona superior ou surgida do fundo vale, onde se agitam as paixões humanas, é, a rigor, o ascendente de nossas atividades.

Dispunha-me a formular certa pergunta, oriunda de velhas concepções do separatismo religioso, quando Calderaro, percebendo-me a ponderação prestes a exprimir-se, acrescentou, calmo:

— Não aludimos, aqui, a orações ou a aspirações de correntes idealísticas determinadas: o dístico não interessa. Colaboramos com o

espírito eterno em sua ascensão à zona divina, aduzindo novas forças ao bem, onde ele se encontre, independentemente de fórmulas dogmáticas, ou não, com que ele se manifeste nos círculos humanos. Nosso problema não é de favoritismo, senão de espiritualidade superior, mercê da união dos valores substanciais, em favor da vida melhor.

A essa altura das lições que eu recebia em forma de palestra ligeira, enquanto nos movimentávamos em serviço, atingimos residência de aspec-to simples, que se distinguia pelo jardim bem cuidado, em toda a volta.

— Temos, aqui — disse-me, o instrutor —, indefesso companheiro de outras épocas, reencarnado em dolorosas condições. De algumas semanas para cá, assisto-lhe a mãezinha através de passes reconfortantes. Em virtude da horrível estrutura orgânica do filho, a ela encadeado há muitos séculos, a razão da pobrezinha está periditando; prendem-se mútuamente por grilhões de graves compromissos. Considerando-lhe o nobre costume da oração em horário prefixado, valemo-nos dessas ocasiões para vir-lhe em amparo.

Admirando a ordem instituída para os quefazeres de nosso plano, e que transparecia nas mínimas ações, silenciosamente acompanhei Calderaro ao interior doméstico.

Em rápidos minutos achávamo-nos em pequena câmara, onde magro doentinho repousava, choramingando. Cercavam-no duas entidades tão infelizes quanto ele mesmo, pelo estranho aspecto que apresentavam. O menino enfermo inspirava piedade.

— É paralítico de nascença, primogênito de um casal aparentemente feliz, e conta oito anos na existência nova — informou Calderaro, indicando-o —; não fala, não anda, não chega a sentar-se, vê muito mal, quase nada ouve dá esfera humana; psiquicamente, porém, tem a vida de um sentenciado sensível, a cumprir severa pena, lavrada, em verdade, por ele próprio. Há quase dois séculos, decretou a morte de muitos compatriotas numa insurreição civil. Valeu-se da desordem político-administrativa para vingar-se de desafetos pessoais, semeando ódio e ruínas. Viveu nas regiões inferiores, apartado da carne, inomináveis suplícios. Inúmeras vítimas já lhe perdoaram os crimes; muitas, contudo, seguiram-no, obstinadas, anos afora... A malta, outrora densa, rareou pouco a pouco, até que se reduziu aos dois últimos inimigos, hoje em processo final de transformação. Com as lutas acremente vividas, em sombrias e dantescas furnas de sofrimento, o desgraçado aprestou-se para esta fase conclusiva de resgate; conseguiu, assim, a presente reencarnação com o propósito de completar a cura efetiva, em cujo processo se encontra, faz muitos anos.

A paisagem era triste e enternecedora. O doente, de ossos enfezados e carnes quase transparentes, pela idade deveria ser uma criança bela e feliz; ali, entretanto, se achava imóvel, a emitir gritos e sons guturais, próprios da esfera sub-humana.

Com o respeito devido à dor e com a observação imposta pela Ciência, verifiquei que o pequeno paralítico mais se assemelhava a um descendente de símios aperfeiçoados.

- Sim, o espírito não retrocede em hipótese alguma — explicou Calderaro —; todavia, as formas de manifestação podem sofrer degenerescência, de modo a facilitar os processos regenerativos. Todo mal e todo bem praticados na vida impõem modificações em nosso quadro representativo. Nosso desventurado amigo envenenou para muito tempo os centros ativos da organização perispiritual. Cercado de inimigos e desafetos, frutos da atividade criminosa a que se consagrou voluntàriamente, permanece quase embotado pelas sombras resultantes

dos seus tremendos erros. No campo consciencial, chora e debate-se, sob o aguilhão de reminiscências torturantes que lhe parecem intérminas; mas os sentidos, mesmo os de natureza física, mantêm-se obnubilados, à maneira de potências desequilibradas, sem rumo... Os pensamentos de revolta e de vingança, emitidos por todos aqueles aos quais dellberadamente ofendeu, vergastaram-lhe o corpo perispiritual por mais de cem anos consecutivos, como choques de desintegração da personalidade, e o infeliz, distante do acesso à zona mais alta do ser, onde situamos o (castelo das noções superiores, em vão se debateu no (Campo do esforço presente, isto é, à altura da região em que localizamos as energias motoras; é que os adversários implacáveis, apegando-se a ele, através da influência direta, compeliram-lhe a mente a fixar-se nos impulsos automáticos, no império dos instintos; permitiu a Lei que assim acontecesse, naturalmente porque a conduta de nosso infortunado irmão fora igual à do jaguar que se aproveita da força para dominar e ferir. Os abusos da razão e da autoridade constituem faltas graves ante o Eterno Governo dos nossos destinos.

O estimado Assistente fitou-me com seus olhos muito lúcidos e perguntou:

— Compreendeste?Como desejasse ver-me suficientemente esclarecido, acrescentou:— Espiritualmente, este pobre doente não regrediu. Mas o processo de

evolução, que constitui o serviço do espírito divino, através dos milênios, efetuado para glorioso destino, foi por ele mesmo (o enfermo) espezinhado, escarnecido e retardado. Semeou o mal, e colhe-o agora. Traçou audacioso plano de extermínio, valendo-se da autoridade que o Pai lhe conferira, concretizou o deplorável projeto e sofre-lhe as consequências naturais de modo a corrigir-se. Já passou a pior fase. Presentemente, já se afastou do maior número de inimigos, aproximando-se de amoroso coração materno, que o auxilia a refazer-se, ao término de longo curso de regeneração.

Reparando a estranha atitude dos infelizes desencarnados que o seguiam, pretendia indagar algo relativamente a eles, quando Calderaro veio ao encontro de meus desejos, continuando:

— Também os míseros perseguidores são duendes do ódio e da vingança, como o nosso enfermo é um remanescente do crime. São náufragos na derradeira fase de salvação, após enorme hecatombe no mar da vida, onde se perderam por muitos anos, por incapazes de usar a bússola do perdão e do bem. Aproximam-se, porém, do porto socorrista. Voltarão ao Sol da existência terrestre, por intermédio de um coração de mulher que compreendeu com Jesus o valor do sacrifício. Em breve, André, consoante o programa redentor já delineado, ingressarão neste mesmo lar na qualidade de irmãos do antigo adversário. E quando entrelaçarem as mãos sobre ele, consumindo energias por ajudá-lo, assistidos pela ternura de abnegada mãe, amorosa e justa, beijarão o velho inimigo com imenso afeto. Transmudar-se-ão as negras algemas do ódio em alvinitentes liames de luz, nos quais refulgirá o amor eterno. Chegado esse tempo, a força do perdão restituirá nosso doente à liberdade; largará ele, qual pássaro feliz, este mirrado corpo físico, sufocante cárcere do crime e suas consequências, onde se debateu por quase dois séculos. Até lá, importa zelar com empenho pela valorosa mulher que é essa, vestalina senhora deste lar, em quem as Forças Divinas respeitam a vocação para o martírio, por iluminar a vida e enriquecer a obra de Deus.

Mal terminava Calderaro as elucidações, quando um dos verdugos desencarnados se moveu e tocou com a destra o cérebro do doentinho, recomendando-me o Assistente examinasse os efeitos desse contacto.

Extrema palidez e enorme angústia transpareceram no semblante do paralítico. Notei que a infeliz entidade emitia, através das mãos, estrias negras de substância semelhante ao piche, as quais atingiam o encéfalo do pequenino, acentuando-lhe as impressões de pavor.

Dirigi ao Assistente um olhar interrogativo, e Calderaro informou:— Se o amor emite raios de luz, o ódio arremessa estiletes de treva. Nos

lobos frontais recebemos os «estímulos do futuro», no córtex abrigamos as «sugestões do presente», e no sistema nervoso, propriamente dito, arquivamos as dembranças do passado». Nosso pobre amigo está sendo «bombardeado» por energias destrutivas do ódio na região de «serviços do presente», isto é, em suas capacidades de crescimento, de realização e de trabalho nos dias que correm. Tal situação, derivante da culpa, compele-o a descer mentalmente para a zona de «reminiscências do passado», onde o seu comportamento é inferior, ralando pela semi-inconsciência dos estados evolucionários primitlvos. Esmagadora maioria dos fenômenos de alienação psíquica procedem da mente desequilibrada. Repara o cosmo orgânico.

O doentinho, da aflição, em que se mergulhara, passou às contorções, evidenciando todos os característicos da idiotia clássica. Os órgãos revelavam agora estranhos deslocamentos, O sistema endócrino patenteava indefiníveis perturbações.

Compadecido, inclinou-se o instrutor sobre o doente, e esclareceu:— Os raios destrutivos alcançam-lhe a zona motora, provocando a

paralisação dos centros da fala, dos movimentos, da audição, da visão e do governo de todos os departamentos glandulares. Na verdade, essa dolorosa situação cronicificou-se, pela repetição desta ocorrência milhares de vezes, em quase duas centenas de anos.

Fez intervalo significativo e tornou:— Examina a conduta do enfermo. Fixando a mente na

extrema .<região dos impulsos automáticos», seu padrão de comportamento é efetivamente sub-humano. Volta a viver estados primários, dos quais a individualidade já emergiu há muitos séculos. Em outros casos menos graves, a medicina atual vem utilizando a terapêutica do choque, 156rás156ira do experimentador que investiga nas som156rás, examinando efeitos e ignorando as causas. Cumpre-nos, no entanto, reconhecer que o belo esforço da psiquiatria moderna merece o maior ca-rinho de nossas autoridades espirituais, que patrocinam os médicos diligentes e devotados, orientando-os para o bem comum, simultâneamente em diversos centros culturais; por enquanto, não podem aceitar a verdade como seria de desejar, em virtude da necessidade de guardar-se a medicina terrena em campo conservador, menos aberto aos aventureiros; todavia, mais tarde os sacerdotes da saúde humana compreenderão que o choque elétrico, ou a hipoglicemia, provocada pela invasão da insulina, constituem apelos vivos aos centros do organismo perispirítico, convocando-os ao reajustamento e compelindo os neurônios a se readaptarem para o serviço da mente em processo regenerador. A bem dizer, é de notar que esse recurso às reservas profundas do cosmo psíquico não é novo. Outrora, as vítimas da loucura eram conduzidas a poços de víboras, a fim de que a aborrível comoção operasse a transformação súbita da mente dese-quilibrada; é que, desde remota antigüidade, compreendeu o homem, intuitivamente, que a maioria dos casos de alienação mental decorrem da ausência voluntária ou involuntária da alma à realidade. E, em nosso campo de observação mais clara, podemos adir que todo desequilíbrio promana do afastamento da Lei.

Silenciou Calderaro por alguns instantes e, em seguida, indicou o

pequeno, acentuando:— Neste caso, porém, o choque aplicado pela ciência dos homens não

surtiria vantagem alguma. Estamos perante o eclipse total da mente, pela total ausência da Lei com que se conduziu o interessado no socorro. A retificação, aqui, reclama tempo. As águas pantanosas do mal, longamente represadas no coração, não se escoam fàcilmente. O plano mental de cada um de nós não é vaso de conteúdo imaginário: é repositório de forças vivas, qual o veículo físico de manifestação, que nos é próprio, enquanto peregrinamos na Crosta Planetária.

— Não estamos, porém, cientificamente falando — indaguei —, diante de um caso típico de mongolismo?

O Assistente respondeu sem se embaraçar:— Acompanhamos um fenômeno de desequilíbrio espiritual absoluto. Em situações raríssimas, teremos perturbações dessa natureza com causas substancialmente fisiológicas. Impossível é desconhecer, na esfera carnal, o paralelismo psico-físico. Quem vive na Crosta Terrestre terá sempre a defrontar com a forma perecível, em primeiro lugar. Daí, não podermos excluir da patologia da alma o envoltório denso, nem menosprezar a colaboração dos fisiologistas abnegados, que atentos se dedicam às investigações da fauna microscópica, do reajustamento das formas, do quadro dos efeitos. Não nos esqueça, contudo, que analisamos agora o dominio das causas...

O desvelado amigo parecia disposto a prosseguir, dilatando-me os conhecimentos a respeito do assunto, quando ouvimos passos de alguém que se aproximava. Certo, a dona da casa vinha ao aposento da criança, à procura do socorro da oração.

Concluiu Calderaro, apressadamente:— Nossos companheiros da medicina humana batizam as moléstias

mentais como lhes apraz, detendo-se nas questões da periferia, por distraídos dos problemas fundamentais do espírito. Relativamente aos assuntos científicos, conversaremos amanhã, quando prestaremos assistência a jovem amigo.

Nesse momento, a mãezinha, que ainda não contava trinta anos, acercou-se do enfermo, sem se dar conta de nossa presença espiritual. Estacou, tristonha, de pé junto ao berço, afagando-lhe a fronte aljofrada de suor, ao termo das contorções finais. Afastou a colcha rendada, levantou-o, cuidadosa, e abraçou-o, ungindo-o com o mais terno dos carinhos.

O menino aquietou-se.Logo após, a genitora entrou a orar, banhada em lágrimas, afigurando-

se-me um cisne da região espiritual a desferir maravilhoso cântico.Enquanto Calderaro operava, reparando-lhe as forças nervosas em

verdadeira transfusão de fluidos sadios que o dedicado colaborador transferia de si próprio, eu, de minha parte, acompanhava com vivo interesse a prece maternal.

A jovem senhora entremeava de ponderações humanas a cordial rogativa.

Porque não a ouvia o Senhor, nos Altos Céus, permitindo um milagre que restituisse o filhinho ao equilíbrio tão necessário? Casara-se, havia nove anos, sonhando um jardim doméstico, repleto de rebentos felizes; entretanto, a primeira flor de suas aspirações femininas ali se encontrava ironicamente aberta, numa fácies horrível de monstruosidade e de sofrimento... Porque, interrogava súplice, nasciam crianças na Terra com a destinação de tamanha angústia? Porque o martirológio dos seres pequeninos? Em vão percorrera gabinetes médicos e ouvira especialistas.

Sempre as mesmas decepções, os mesmos desenganos. O filhinho parecia inacessível a qualquer tratamento. Sentia-se frágil e extenuada... E chorava, implorando a bênção divina, para que as energias lhe não faltassem na luta.

Calderaro, finda a tarefa que lhe competia, acercou-se de mim, perguntando:

— Desejas responder à rogativa, em nome da Inspiração Superior?Oh! Não! Declinei de tal convite alegando que isso me era de todo

impraticável, depois de haver ouvido Irmã Cipriana renovando corações com o verbo inflamado de amor.

Objetou o orientador num gesto bondoso:— Aqui, porém, não falaremos a corações que odeiam, e sim a torturado

espírito materno, que reclama estimulo fraternal. O conhecimento e a boa vontade podem fazer muito.

Sorriu, benevolente, e acrescentou:— Ao demais, é necessário diplomar-nos também na ciência do amor.

Para isso, comecemos a ser irmãos uns dos outros, com sinceridade e fiel disposição de servir.Agradeci, comovido, a deferência, mas esquivei-me. Falaria ele mesmo, Calderaro. Minha condição era a do aprendiz. Ali me encontrava para ouvir-lhe as sublimes lições.

O abnegado amigo colocou as mãos sobre os lõbos frontais dela, como atraindo a mente materna para a região mais elevada do ser, e passou a irradiar-lhe tocantes apelos, como se lhe fora dezvelado pai falando ao coração. Fundamente sensibilizado, assinalava-lhe as palavras de ânimo e de consolação, que a afetuosa mãezinha recebia em forma de ideias e sugestões superiores.

Notei que a disposição íntima da jovem senhora tomava pouco a pouco um renovado alento. Observei que na epffise lhe surgira suave foco de claridade irradiante e que de seus olhos começaram a brotar lágrimas diferentes. A claridade branda, fluindo do cérebro, desceu para o tórax, de onde, então, se evolaram tênues fios de luz que a ligaram ao filhinho infeliz. Contemplou o pequeno, agora calmo, através do espesso véu de pranto e ouvi-lhe os pensamentos sublimes.Sim, Deus não a abandonaria — meditava; dar-lhe-ia forças para cumprir até ao fim o cometimento que tomara a ombros, com a beleza do primeiro sonho e com a ventura da primeira hora. Sustentaria o desventurado rebento de sua carne, como se fora um tesouro celeste. Seu amor avultaria com os padecimentos do filhinho muito amado; seus sacrifícios de mãe seriam mais doces, toda vez que a dor o visitasse com maior intensidade. Não era ele mais digno de seu devotamento e renúncia pela aflitiva condição em que nascera? Os filhos de antigas companheiras eram formosos e inteligentes, como botões perfumados da vida, prometendo infinitas alegrias no jardim do futuro; também seu pequenino paralítico era belo, necessitando, porém, de mais blandícia e arrimo. Saberia Deus porque viera ele ao mundo, sem a faculdade da palavra e sem manifestações de inteligência. Não lhe bastaria confiar no Supremo Pai? Serviria ao Senhor sem indagar; amaria seu filho pela eternidade; morreria, se preciso fora, para que ele vivesse.

Num transporte de indefinível carinho, a jovem mãe inclinou-se e beijou o doentinho nos lábios, com o júbilo de quem osculasse um anjo celestial. Vi, surpreendido, que numerosas centelhas de luz se desprendiam do contacto afetivo entre ambos e se derramavam sobre as duas entidades inferiores; estas, de sua parte, se inclinaram também, como que menos infelizes, perante aquela nobre mulher que mais tarde lhes serviria de mãe.

Calderaro tocou-me de leve o ombro e informou:— Nosso trabalho de assistência está findo. Vamo-nos.E, indicando mãe e filho juntos, concluiu:

— Examinando essa criança sofredora como enigma sem solução, alguns médicos insensatos da Terra se lembrarão talvez da morte suave’; ignoram que, entre as paredes deste lar modesto, o Médico Divino, utilizando um corpo incurável e o amor, até o sacrifício, de um coração materno, restitui o equilíbrio a espíritos eternos, a fim de que sobre as ruínas do passado possam irmanar-se para gloriosos destinos.

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O EVANGELHO NO LARBezerra de Menezes

Trabalhemos pela implantação do Evangelho no lar, quando estiver ao alcance de nossas possibilidades.A seara depende da sementeira.Se a gleba sofre o descuido de quem lavra e prepara, se o arado jaz inerte e se o cultivador teme o serviço, a colheita será sempre desengano e necessidade, acentuando o desânimo e a inquietação.É importante nos unamos todos no lançamento dos princípios cristãos no santuário doméstico.Trazer as claridades da Boa Nova ao templo da família é aprimorar todos os valores que a experiência terrestre nos pode oferecer.Não bastará entronizar as relíquias materiais que se reportem ao Divino Mestre, entre os adornos da edificação de pedra e cal, onde as almas se reúnem sob os laços da comunidade ou da atração afetiva. É necessário plasmar o ensinamento de Jesus na própria vida, adaptando-se-lhe o sentimento à beleza excelsa.Evangelho no Lar é Cristo falando ao coração. Sustentando semelhante luz nas igrejas vivas do lar, teremos a existência transformada na direção do Infinito Bem.O Céu, naturalmente, não nos reclama a sublimação de um dia para outro nem exige de nós, de imediato, as atitudes espetaculares dos heróis.O trabalho da evangelização é gradativo, paciente e perseverante. Quem recebe na inteligência a gota de luz da Revelação Cristã, cada dia ou cada semana transforma-se no entendimento e na ação, de maneira imperceptível.Apaga-se nas almas felicitadas por essa bênção o fogo das paixões, e delas desaparecem os pruridos da irritação inútil que lhe situa o pensamento nos escuros resvaladouros do tempo perdido.Enquanto isso ocorre, as criaturas despertam para a edificação espiritual com o serviço por norma constante de fé e caridade, nas devoluções a que se afeiçoam, de vez que compreendem, por fim, no Senhor, não apenas o amigo Sublime que ampara e eleva, mas também o orientador que corrige e educa para a felicidade real e para o bem verdadeiro.Auxiliemos a plantação do cristianismo no santuário familiar, à luz da Doutrina Espírita, se desejamos efetivamente a sociedade aperfeiçoada no amanhã.Em verdade, no campo vasto do mundo as estradas se bifurcam, mas é no lar que começam os fios dos destinos e nós sabemos que o homem na essência é o legislador da própria existência e o dispensador da paz ou da

desesperação, da alegria ou da dor a si mesmo.Apoiar semelhante realização, estendendo-se nos círculos das nossas amizades, oferecendo-lhe o nosso concurso ativo, na obra de regeneração dos espíritos na época atormentada que atravessamos, é obrigação que nos reaproximará do Mentor Divino, que começou o seu apostolado na Terra, não somente entre os doutores de Jerusalém, mas também nos júbilos caseiros da festa de Caná, quando, simbolicamente, transformou a água em vinho na consagração da paz familiar.Que a providência Divina nos fortaleça para prosseguirmos na tarefa de reconstrução do lar sobre os alicerces do Cristo, nosso Mestre e Senhor, dentro da qual cumpre-nos colaborar com as nossas melhores forças.

BEZERRA DE MENEZES(Do livro "Temas da Vida" - Francisco Cândido Xavier)

LUZ NO LARScheilla

Organizemos o nosso agrupamento doméstico do Evangelho.O Lar é o coração do organismo social.Em casa, começa nossa missão no mundo.Entre as paredes do templo familiar, preparamo-nos para a vida com todos.Seremos, lá fora, no grande campo da experiência pública, o prosseguimento daquilo que já somos na intimidade de nós mesmos.Fujamos à frustração espiritual e busquemos no relicário doméstico o sublime cultivo dos nossos ideais com Jesus. O Evangelho foi iniciado na Manjedoura e demorou-se na casa humilde e operosa de Nazaré, antes de espraiar-se pelo mundo.Sustentemos em casa a chama de nossa esperança, estudando a Revelação Divina, praticando a fraternidade e crescendo em amor e sabedoria, porque, segundo a promessa do Evangelho Redentor, "onde estiverem dois ou três corações em Seu Nome", aí estará Jesus, amparando-nos para a ascensão à Luz Celestial, hoje, amanhã e sempre.

SCHEILLA(Do livro "Luz no Lar", Francisco Cândido Xavier, edição FEB)Mensagem publicada no blog "Alvorada Espiritual" http://institutoandreluiz.blogspot.com/

O CULTO DO EVANGELHO NO LARNeio Lúcio

Povoara-se o firmamento de estrelas, dentro da noite prateada de luar, quando o Senhor, instalado provisoriamente em casa de Pedro, tomou os Sagrados Escritos e, como se quisesse imprimir novo rumo à conversação que se fizera improdutiva e menos edificante, falou com bondade:Simão , que faz o pescador quando se dirige para o mercado com os frutos de cada dia?O apóstolo pensou alguns momentos e respondeu, hesitante:

Mestre, naturalmente, escolhemos os peixes melhores. Ninguém compra resíduos da pesca.JESUS sorriu e perguntou, de novo:E o oleiro? Que faz para atender à tarefa a que se dispõe?Certamente, Senhor – redargüiu o pescador, intrigado -, modela o barro, imprimindo-lhe a forma que deseja.O amigo Celeste, de olhar compassivo e fulgurante, insistiu:E como procede o carpinteiro para alcançar o trabalho que pretende?O interlocutor, muito simples, informou sem vacilar:Lavará a madeira, usará a enxó e o serrote, o martelo e o formão. De outro modo, não aperfeiçoará a peça bruta.Calou-se JESUS, por alguns instantes, e aduziu:- Assim também, é o lar diante do mundo.O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum. Se o negociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro não consegue fazer um barco sem afeiçoar a madeira aos seus propósitos, como esperar uma comunidade segura e tranqüila sem que o lar se aperfeiçoe? A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se nos não habituamos a amar irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?JESUS relanceou o olhar pela sala modesta, fez pequeno intervalo e continuou:- Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procuram a assistência fraterna, uma claridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela, recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no pensamento? O Pai, que nos dá o trigo para o celeiro, através do solo, envia-nos a luz através do céu. Se a claridade é a expansão dos raios que constituem, a fartura começa no grão. Em razão disso, o Evangelho não foi iniciado sobre a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e dos animais.Simão Pedro fitou no Mestre os olhos humildes e lúcidos e, lúcidos e, como não encontrasse palavras adequadas para explicar-se, murmurou, tímido:Mestre, seja feito como desejas.Então JESUS, convidando os familiares do apóstolo à palestra edificante e à meditação elevada, desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o primeiro culto cristão do Lar.

(Do Livro "Jesus no Lar", Neio Lúcio, Francisco C. Xavier)

DECÁLOGO PARA ESTUDOS EVANGÉLICOS

André Luiz (em azul)Instituto André Luiz (em itálico)

1. Peça a inspiração divina e escolha o tema evangélico destinado aos estudos e comentários da noite.A prece de abertura pode ser espontânea ou seja, uma emissão breve e sincera de palavras nascidas do coração e do entendimento, e que vão servir de indicador ao Plano Espiritual das necessidades pessoais ou gerais, naquele momento. A partir da prece inicial e averiguados os pensamentos e disposições dos componentes do evangelho, será selecionado um tema

específico pela Espiritualidade, para ser lido pela pessoa encarregada, e após comentado por todos.Se houver a preferência por uma prece pronta, como o "Pai Nosso", por exemplo, não há inconveniente nenhum, bastando que cada palavra seja verdadeiramente pensada e sentida, em sua essência, qual diálogo real com Deus.

2. Não fuja ao espírito do texto lido.Às vezes o tema escolhido parece não vir de encontro ao que se esperava... Por exemplo: alguém no grupo, ou a própria pessoa que promove o evangelho, está passando por aflições no campo afetivo e o tema recai sobre bens materiais, ou vice-versa. Há um certo desapontamento e a sensação de que o canal de comunicação com o Plano Espiritual está bloqueado, ou que o problema não está recebendo a devida consideração... No entanto, é importante que o tema escolhido pelos benfeitores espirituais seja debatido com todo o entusiasmo e concentração possíveis, na certeza de que o problema que se esperava ver solucionado será avaliada com muito carinho pelos mentores do grupo no momento oportuno.

3. Fale com naturalidade.Não há a menor necessidade de se alterar o modo de falar ou de se expressar, simplesmente porque o momento é solene. Adotar atitudes estranhas ou empolar o linguajar podem causar impressão contrária à desejada. Por exemplo, se você habitualmente se refere a si mesmo como "eu", ou seja, na primeira pessoa do singular, não passe, de repente, a se referir a si como "nós". Espontaneidade, eis a palavra-chave de uma reunião de estudos agradável e produtiva. O momento exige respeito, educação e sobriedade... mas não máscaras. Seja sempre você mesmo e incentive o grupo a conservar a autenticidade, igualmente.

4. Não critique, a fim de que a sua palavra possa construir para o bem.É quase impossível, nos dias atuais, não criticar-se algo. Critica-se o governo, os políticos, o sistema financeiro, a polícia, os esportistas, a mídia, as pessoas, o tempo... Sempre existe algo ou alguém em especial que está fazendo alguma que nos desagrada imensamente. No entanto, surge o evangelho em nossa vida justamente para que encontremos um entendimento maior para com o mundo em que vivemos, que conquistemos paciência, tolerância, compreensão, amor e misericórdia para com tudo e com todos...Quando criticamos, expondo o mal de outrem, estamos na verdade perdendo tempo precioso que poderia ser empregado na busca de valores morais mais elevados e mais justos em nosso próprio benefício, de vez que também somos passíveis de errar neste ou naquele setor da vida.Jesus salientava sempre que não se encontrava entre os homens para julgar, mas sim para salvar... E salvar significa não ignorar o problema, mas sim anotar-lhe o teor e buscar uma solução digna à sua erradicação.Portanto, natural que se exponha algo que julguemos errado - sempre de acordo com o texto selecionado -, mas é importante que se busque soluções individuais para o problema, visto que mundo melhora sempre quando nós nos tornamos melhores.

5. Não pronuncie palavras reprováveis ou inoportunas, suscetíveis de criar imagens mentais de tristeza, ironia, revolta ou desconfiança.Espiritismo é a doutrina da fé raciocinada e nela não cabem palavras quais

sorte, azar, desgraça, acaso, pecado, culpa, castigo e etc.Comentários sobre tragédias, crimes e catástrofes também devem ser evitados, por desnecessários ao momento.Somos todos viajores no vale da experiência humana e quanto mais esclarecidos quanto aos enigmas existenciais, menos devemos valorizar-lhe os mecanismos inferiores de ação.Importante também salientar que, havendo jovens à mesa, a linguagem deverá ser leve e compreensível, porém jamais mesclada com as gírias e os palavrões tão em voga e utilizados com desenvoltura pela sociedade atual. É perfeitamente possível estar-se de acordo com a época sem contudo sorver-lhe as inclinações e os vícios.Outro motivo para acautelar-se contra palavras ou conceitos reprováveis ou inoportunos, será a lembrança de que, provavelmente, se encontrarão no ambiente espíritos desencarnados trazidos pelos Espíritos Benfeitores, e que nem sempre estarão, em relação a nós, em posição de entendimento e harmonia, paz ou boa vontade.

6. Não faça leitura, em voz alta, além de cinco minutos, para não cansar os ouvintes.Nem sempre aquilo que nos toca o coração, toca o coração do nosso próximo... Por isso, não é necessário que se leia o texto escolhido na íntegra, visto serem alguns deles, quais os encontrados nos livros da Codificação, bastante longos e por isso mesmo cansativos para uma reunião singela de estudos. Basta ler-se a introdução e depois fazer-se um breve resumo do assunto, passando-se em seguida à explanação.

7. Converse ajudando aos companheiros, usando caridade e compreensão.Um diálogo sereno, assentado sobre legítima orientação cristã, pode produzir resultados surpreendentes visto que se estará sendo conduzido pela Espiritualidade presente e que, conhecendo as dificuldades e os questionamentos íntimos de cada um, buscará ministrar, através dos próprios participantes, as respostas adequadas.

8. Não faça comparações, a fim de que seu verbo não venha ferir alguém.Comparações serão sempre desnecessárias, notadamente no ambiente doméstico. Recordemo-nos sempre de que cada pessoa é alguém com atitudes e reações absolutamente singulares, e portanto sempre diferenciadas, mesmo no seio de família homogênea.Converse esclarecendo e auxiliando, referindo-se a cada um com o apreço merecido.

9. Guarde tolerância e ponderação.Em reuniões de estudo evangélico, e não obstante a elevação do momento, podem surgir palavras ou colocações impróprias, por parte de algum dos participantes.Importante que se guarde tolerância e ponderação nesta hora, porque a tolerância adoça o coração e a ponderação suaviza o verbo.Toda contenda deve ser evitada para que o choque de opiniões não desestabilize a reunião que deve sempre ser produtiva, em todos os sentidos.

10. Não retenha indefinidamente a palavra; outros companheiros precisam falar na sementeira do Bem.Grande alegria se apossa de nossa alma quando, em clima de harmonia e

elevação, nos sentimos em contato com os nossos amigos do Mais Alto... Sentimo-nos capazes de falar horas incontáveis, tamanha a torrente de idéias luminosas que nos invadem o entendimento.Porém, para quem ouve, esses momentos podem se transformar em desconforto imenso se o palestrante se alonga em excesso, esquecendo-se de dar a palavra aos demais.Importante que se transforme a reunião, sempre, em verdadeiro diálogo fraterno, na certeza de que somos todos portadores de informes proveitosos ao ambiente que nos acolhe.

ANDRÉ LUIZ(Mensagem recebida por Chico Xavier em 21 de março de 1952, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, Pedro Leopoldo, MG.)Comentários (em itálico) sugeridos pelo Plano Espiritual  em reunião do Instituto André Luiz, em 07 de julho de 2002.)Atenção: estes comentários foram indexados a título de complemento e não fazem parte da mensagem original.

ROTEIRO PARA EVANGELHO NO LAR

Instituto André Luizhttp://institutoandreluiz.org/evangelho_no_lar.html

1. Escolha o dia de sua preferência. Sugerimos um dia de fácil memorização, por exemplo, segunda ou sexta-feira.

2. Escolha um aposento silencioso e agradável da casa, de preferência a sala de jantar, e que esteja com os aparelhos  eletro-eletrônicos desligados.

3. Coloque uma jarra com água sobre a mesa, para fluidificação. Na falta dessa podem ser utilizados copos, qualquer um, em número correspondente aos integrantes do Evangelho.

4. Sentar-se à mesa sem alarde e sem barulho.

5. Fazer a prece de abertura, a que toque mais fundamente o sentimento familiar. Pode ser uma prece pronta ou uma prece espontânea, o importante é, repetimos, o sentimento da fé e a confiança na Proteção Divina.

6. Após, fazer uma leitura breve de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Comentar com palavras próprias o trecho lido. No início poderá existir certa timidez mas, com o correr do tempo, os comentários surgirão espontaneamente pois que os Espíritos amigos estarão auxiliando na compreensão dos textos selecionados.

7. Os demais integrantes poderão tecer comentários também, caso o desejem, mesmo que estes levem a assuntos pessoais e/ou a diálogos, naturalmente que sempre pertinentes ao tema em foco. O Evangelho no Lar é antes de tudo uma reunião de Espíritos reencarnados no mesmo ambiente, buscando através da prece, da elevação de pensamentos e do diálogo fraterno, o amparo e o auxílio do Mais Alto para

seus problemas e necessidades. Não deve ser jamais solene ou ritualístico, com palavras e movimentos decorados a lembrar missas e demais cultos.

8. Para incentivar a participação dos filhos ou demais membros, com exceção do pequeninos, é conveniente pedir que leiam mensagens espíritas, para reflexão do grupo. Incentivar também, com carinho, o comentário após a leitura. Sugerimos aqui os livros Fonte Viva e/ou Pão Nosso, de Emmanuel, Agenda Cristã e/ou Sinal Verde, de André Luiz.

9. Proferir a prece de encerramento e rogar, como exemplo, pela paz, harmonia, saúde e felicidade dos membros da reunião e de todos com os quais convivem. Desejando, rogar também pelos doentes, desamparados e infelizes da Terra. Por último, pedir a bênção de Deus para os familiares desencarnados, sem temor. A lembrança da prece alegra e pacifica os que partiram.

10. É completamente desaconselhável qualquer manifestação mediúnica durante o Evangelho no Lar.

11. Servir, após a prece de encerramento, a água fluidificada.

12. Tempo: o necessário para a família. Sugerimos uma reunião de 15 a 30 minutos. Música: sim, se for do agrado de todos. Sugerimos música instrumental, em volume baixo.

VISITE PÁGINA: http://institutoandreluiz.org/evangelho_no_lar.html Roteiro elaborado pelo Instituto André LuizSite Espírita André Luiz - www.institutoandreluiz.org/

EVANGELHO E VIDA

Scheilla

No mundo de hoje, há boa vida e há vida boa.Boa vida é bem-estar.Vida boa é estar bem.Por isso, temos criaturas de boa vida e criaturas de vida boa.As primeiras servem a si mesmas.As segundas respiram no auxílio incessante aos outros.A boa vida tem rastros de sombra.A vida boa apresenta marcas de luz.A desordem favorece a boa vida.A ordem garante a vida boa.Palavra enfeitada costuma escorar voa vida.Bom exemplo assegura vida boa.Preguiça mora na boa vida.Trabalho brilha na vida boa.Ignorância escurece a boa vida.Educação ilumina a vida boa.Egoísmo alimenta a boa vida.Caridade enriquece a vida boa.

Indisciplina é objetivo da boa vida.Disciplina é roteiro da vida boa.

Vejamos as lições do Evangelho.Madalena, obsidiada, perdera-se nos encantos da boa vida, mas encontrou em nosso Divino Mestre a necessária orientação para vida boa.Zaqueu, afortunado, apegara-se em demasia às posses efêmeras da boa vida, entretanto, ao contato de Nosso Senhor, aprendeu como situar os próprios bens na direção da vida boa.Judas, os discípulo invigilante, procurando a boa vida, entregou-se à deserção, e sentindo extrema dificuldade para voltar à vida boa, foi colhido pela loucura.Simão Pedro, o apóstolo receoso tentando conservar a boa vida, instintivamente, negou o Divino Amigo por três vezes numa só noite, entretanto, regressando, prudente, à vida boa, abraçou o sacrifício pela própria ascensão, desde o dia de Pentecostes.Pilatos, o juiz dúbio, interessado em desfrutar boa vida, lavou as mãos quanto ao destino do Excelso Benfeitor, adquirindo o arrependimento e o remorso que o distanciaram da vida boa.Todos os que crucificaram Jesus pretendiam guardar-se nas ilusões da boa vida, no entanto, o Senhor preferiu morrer na cruz da extrema renúncia para ensinar-nos o caminho da vida boa.

Como é fácil observar, nas estradas terrestres, há muita gente de boa vida e pouca gente de vida boa, porque a boa vida obscurece a alma e a vida boa mantém a consciência acordada para o desempenho das próprias obrigações.Estejamos alertas quanto à posição que escolhemos, porquanto, pelo tipo de nossa experiência diária, sabemos com segurança em que espécie de vida seguimos nós.

Scheilla(Do livro “Comandos do Amor”, Francisco Cândido Xavier)

"A proteção da Esfera Superior é inegável para todos nós que ainda nos movimentamos na sombra.

Ai de nós, todavia, se não procurarmos as bênçãos da luz!..." - André Luiz

ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAISENCERRAMENTO

Cap. 16 - Alienados mentais

Antes de visitarmos as cavernas de sofrimento, Calderaro instou-me a faser com ele rápida visita a grande instituto Consagrado ao recolhimento de alienados mentais, na Esfera da Crosta.

— Compreenderás, então, mais exatamente —explicou, generoso, dirigindo-se a mim com a delicadeza que lhe é peculiar — a tragédia dos homens desencarnados, em pleno desequilíbrio das sensações. Excetuados os casos puramente orgânicos, o louco é alguém que procurou forçar a

libertação do aprendizado terrestre, por indisciplina ou ignorância. Temos neste domínio um gênero de suicídio habilmente dissimulado, a auto-eliminação da harmonia mental, pela inconformação da alma nos quadros de luta que a existência humana apresenta. Diante da dor, do obstáculo ou da morte, milhares de pessoas capitulam, entregando-se, sem resistência, à perturbação destruidora, que lhes abre, por fim, as portas do túmulo. A princípio, são meros descontentes e desesperados, que passam des-percebidos mesmo àqueles que os acompanham de mais perto. Pouco a pouco, no entanto, transformam-se em doentes mentais de variadas gradações, de cura quase impossível, portadores que são de problemas inextricáveis e ingratos. Imperceptíveis frutos da desobediência começam por arruinar o patrimônio fisiológico que lhes foi confiado na Crosta da Terra, e acabam empobrecidos e infortunados. Aflitos e semimortos, são eles homens e mulheres que desde os círculos terrenos padecem, en-covados em precipícios infernais, por se haverem rebelado aos desígnios divinos, preterindo-os, na escola benéfica da luta aperfeiçoadora, pelos ca-prichos insensatos.

Guardando carinhosamente a observação, acompanhei-o na excursão matinal ao grande estabelecimento, onde os mentecaptos eram em grande número.

No primeiro pátio que topamos, compacta era a quantidade de mulheres desequilibradas que palestravam.

Uma velha de cabelos nevados, mostrando acerba ferocidade no olhar, envergava o uniforme da casa, como quem arrastasse um vestido real, e dizia a duas companheiras apáticas:

— Na minha qualidade de marquesa, não tolero a intromissão de médicos inconscientes. Creio estar presa por motivos secretos de família, que averiguarei na primeira oportunidade. Tenho poderosos inimigos na Corte; contudo, as minhas amizades são mais prestigiosas e fiéis.

Baixou a voz, como receando espias ocultos, e falou ao ouvido de uma das irmãs de sofrimento:

— O Imperador está interessado em meu caso e punirá os culpados. Segregaram-me por miseraveis questões de dinheiro.

Elevando o diapasão, inesperadamente, bradou:— Todos pagarão! Todos pagarão!E continuava explicando-se com gestos de grande senhora.Compungia-me observar a promiscuidade entre as enfermas

encarnadas e as entidades infelizes, que ali se acotovelavam. Preso ainda ao meu antigo vezo de curiosidade, tentei estacar, a fim de ouvir a demente até ao fim, mas o Assistente deu-se pressa em considerar:

— Não nos detenhamos. Infelizmente, atraVessamos vasta galeria de padecimento expiatório, onde nossos recursos socorristas não ofereceriam vantagens imediatas. Aqui, quase todos os alienados são criaturas que abdicaram a realidade, atendo-se a circunstâncias do passado sem mais razão de ser. Essa desventurada irmã já possuiu titulos de nobreza em existência anterior; perpetrou clamorosas faltas, dando expansão às energias cegas do orgulho e da vaidade. Renascendo em aprendizado humilde para o reajustamento imprescindível, alarmou-se ante as primeiras provações mais rudes da correção benfeitora, reagiu contra os resultados da própria sementeira, entregou o invólucro físico ao curso de ocorrências nefastas; e, por fim, situou-se mentalmente em zonas mais baixas da personalidade, passando a residir, em pensamento, no pretérito de mentiras brilhantes. Agarrou-se, desesperada, às recordações da marquesa vaidosa de salões que já desapareceram, e perambula nos vales da demência em

lastimáveis condições.Não déramos muitos passos, encontramos novo ajuntamento, em que

sobressaía curiosa dama, extremamente nervosa.— Deus me livre de todos, Deus me livre de todos! — gritava, inquieta.

— Não voltarei! nunca, nunca!...Aproxima-se, cordata, a enfermeira, e pede:— Senhora, mais calma! É seu marido que vem à visita. Vamos ao

guarda-roupa.E sorrindo:— Não se sente feliz?— Jamais! — bradava a demente com espantoso semblante de angústia.

— Não quero vê-lo! odeio-o, odeio, com tudo o que lhe pertence!tRepetindo expressões de desprezo, inteiriçou-se, caindo em lamentável

crise de nervos, pelo que a auxiliar da enfermagem houve que requisitar so-corro urgente.

Desejei reter-me, a fim de estudar a situação, mas o Assistente impediu-me, esclarecendo:

— Não percas tempo. Não remediarias o mal. Nossa passagem aqui é rápida. Recomendo apenas anotes o refúgio de todos os que se esquecem dos deveres presentes, pretendendo escapar aos imperativos da realidade educadora.

Modificou a inflexão da voz e prosseguiu:— Não asseguramos que todos os casos do hospício se relacionem

exclusivamente com esse fator. Muita gente atravessa este paVorosO túnel, premida por exigências da prova retificadora; é, no entanto, forçoso reconhecer que a maioria encetou o pungitivo drama em si mesma. São irmãos nossos, revoltados ante os desígnios superiores que os conduzirem a recapitular ensinamentos difíceis, qual o de se reaproximarem de velhos inimigos por intermédio de laços consangüíneos ou o de enfrentarem obstáculos aparentemente insuperáveis.

“Para que se efetue a jornada iluminativa do espírito é indispensável deslocar a mente, revolver as idéias, renovar as concepções e modificar, invariavelmente, para o bem maior o modo Intimo de ser, tal qual procedemoS com o solo na revivificação da lavoura produtiva ou com qualquer instituto humano em reestruturação para o progresso geral. Negando-Se, porém, a alma a receber o auxilio divino, através dos processos de transformação incessante que lhe são oferecidos, em seu be-nefício próprios pelas diferentes situações de que os dias se compõem no aprendizado carnal, recolhe-se á margem da estrada, criando paisagens perturbadoras com desejos injustificáveis.

Quase podemos afirmar que noventa em cem dos casos de loucura, excetuados aqueles que se originam da incursão microbiana sobre a matéria cinzenta, começam nas conseqüências das faltas graves que praticamos, com a impaciência ou com a tristeza, isto é, por intermédio de atitudes mentais que imprimem deploráveis reflexos ao caminho daqueles que as acolhem e alimentam. instaladas essas forças desequilibrantes no campo íntimo, inicia-se a desintegração da harmonia mental: esta por vezes perdura, não só numa existência, mas em várias delas, até que o interessado se disponha, com fidelidade, a valer-se das bênçãos divinas que o aljofram, para restabelecer a tranqüilidade e a capacidade de renovação que lhe são inerentes à individualidade, em abençoado serviço evolutivo. Pela rebeldia, a alma responsável pode encaminhar-se para muitos crimes, a cujos resultados nefastos se cativa indefinidamente; e, pelo desânimo, é propensa a cair nos despenhadeiros da inércia, com fatal atraso nas

edificações que lhe cabe providenciar.Nesse ponto dos esclarecimentos, penetrávamos extensa varanda no

departamento masculino e logo se nos deparou um homem que decerto se enquadrava entre os esquizofrênicos absolutos. Rodeavam-no algumas entidades de sombrio aspecto. Semelhava-se o doente a perfeito autômato, sob o guante de tais companheiros. Exibia gestos maquinais, e, ao guarda que se aproximava, cauteloso, explicou em tom muito sério:

— Venha, “seus João. Não tenha receio. Ontem eu era o “leão”, mas hoje, sabe o senhor o que eu sou?

Ante o enfermeiro hesitante, concluiu:— Hoje sou a “bananeira”.Encontraria, eu, sem dúvida, no caso, excelente ensejo de enriquecer

experiências, porqüanto de pronto reconhecera a entrosagem completa en-tre a vitima e os obsessores que lhe eram invisíveis. O desditoso era rematado fantoche nas mãos dos algozes tipicamente perversos.

Calderaro, porém, não me permitiu interromper a marcha.— O processo de desequilíbrio está consumado — informou —, e não

encontrarias possibilidade de recompor-lhe, em serviçO rápido, as energias mentais centralizadas na região inferior. O infeliz vem sendo objeto de práticas hipnóticas de implacáveis perseguidores; acha-se exposto a emissões contínuas de forças que o deprimem e enlouquecem.

— Céus! — exclamei, aparvalhado — como socorrê-lo?— Trata-se de um homem — acrescentou o orientador — que em

encarnações anteriores abusou do magnetismo pessoal.Não pude sopitar a objeção que me nasceu espontânea:— Como? as ciências magnéticas são de ontem...Calderaro estampou no olhar a condescendência que lhe é

característica e retorquiu:— Acreditas que teriam sido iniciadas com Mesmer?E, sorridente, ajuntou:— Se consideráramos o sentido literal do texto, o abuso de magnetiSmo

pessoal teria começado com Eva, no paraíso...Indicou o enfermo e prossegUiU:

— Em pretérito não muito remoto, nosso imprevidente amigo se excedeu em seu potencial de fascínio, desviando-o para aventuras menos dignas. Várias mulheres que lhe sofreram a ação corrosiva, assestaram contra ele incessantes explosões de ódio doentio e corruptor, extravasamentos que o pobre companheiro merecia em conseqüência da atividade condenável a que se dedicou por muitos anos. Minado pela reação persisttente, minguou-lhe o cabedal de resistência; converteu-se, destarte, em joguete das forças destrutivas, às quais, a bem dizer, voluntariamente se unira, ao abraçar, entusiasta, a declarada prática do mal. Até quando se demorará em tal atitude, não será possível prever. Geralmente, ao delinqüirmos, podemos precisar o instante exato de nossa penetração na desarmonia; jamais sabemos, porém, quando soará o momento de abandoná-la. No retorno à estrada reta, através de atoleiros em que chafurdamos, por indiferença e má fé, não podemos prefixar calendários para a volta: implicamo-nos em jogos circunstanciais, de que só nos despeamos após doloroso reajustamento...

Observando-me a admiração, ante a experiência hipnótica que os frios verdugos levavam a efeito, o Assistente considerou:

— Não te impressiones. A morte física não modifica de súbito as inteligências votadas ao mal, nem o duelo da luz com a sombra se adstringe aos estreitos círculos carnais.

Logo após, éramos surpreendidos por dois velhinhos atoleimados, a pronunciar frases desconexas.

— O tempo — elucidou o orientador, indicando-os — acaba sempre por denunciar a nossa posição verdadeira. Quando a criatura não haja feito da existência o sacerdócio de trabalho construtivo, que nos cumpre na Terra, os fenômenos senis do corpo são mais tristes para a alma, pois, neste caso, o indivíduo já não domina as conveniências forjadas pelo imediatismo humano, patenteando-se-lhe a fixação da mente nos impulsos inferiores. Milhões de irmãos nossos permanecem, séculos afora, na fase infantil do entendimento, por não se animarem ao esforço de melhoria própria. En-quanto recebem a transitória cooperação de saúde física relativa, das convenções terrenas, das possibilidades financeiras e das variadas impressões passageiras que a existência na Crosta Planetária oferece aos que passam pela carne, esteiam-se nos títulos de cidadãos que a sociedade lhes confere; logo, porém, que visitados pelo morbo, pela escassez de recursos ou pela decrepitude, revelam a infância espiritual em que jazem: voltam a ser crianças, não obstante a idade provecta manifestada pelo veículo de ossos, por se haverem excessivamente demorado nos sítios superficiais da vida.

A exposição não podia ser mais lógica; todavia, examinando aquele vasto ambiente, onde tantos loucos de ambos os sexos modorravam distantes do realismo do mundo, sem a mais leve perspectiva de desencarnação próxima, pensei nas criaturas que já renascem imperfeitas e perturbadas; nas crianças atrasadas e nos moços em luta com a demência juvenil; nas fobias sem número que amofinam pessoas respeitáveis e prestativas, e solicitei, então, do instrutor esclarecimentos sobre os quadros de sofrimento desse jaez, que de improviso assaltam os ambientes domésticos mais distintos.

O Assistente não se surpreendeu, e observou:— Estudamos aqui, André, a messe das sementeiras, assim do presente,

como do passado. Ponderamos não só a aprendizagem de uma existência efêmera, mas também a romagem da alma nos caminhos infinitos da vida, da vida imperecível que segue sempre, vencendo as imposições e as injunções da forma, purificando-se e santificando-se cada dia. Verificarás, conosco, afligente quadro de padecimentos espirituais, e é provável que apreendas, num hospício humano, algo dos desequilíbrios que afetam a mente desviada das Leis Universais. Em verdade, na alienação mental co-meça a «descida da alma às zonas inferiores da morte». Através do manicômio é possível entender, de certo modo, a loucura dos homens e das mulheres que, aparentemente equilibrados no campo social da Crosta Terrestre, onde permutam os eternos valores divinos por satisfações ilusórias imediatas, são relegados depois, além do sepulcro, a inominável desespero do sentimento. Quanto às perturbações que acompanham a alma no renascimento ou na infância do corpo, na juventude ou na senilidade, é mister reconhecer que o desequilíbrio começa na inobservância da Lei, como a expiação se inicia no crime. Adotada a conduta em desacordo com a realidade, encontra o espírito, invariavelmente, em todos os círculos onde se veja, os efeitos da própria ação. Seja nos mecanismos da hereditariedade fisiológica, seja fora de sua influência, a mente, encarnada ou não, revela-se na colheita do que haja semeado, no campo de evolução do esforço comum, no monte da elevação pela prática do sumo bem, ou no vale expiatório pelo exercício do mal.

O Assistente, que se dispunha a retirar-se, fitou-me demoradamente, e rematou:

- O louco, em geral, considerando-se não só o presente, senão até o passado longínquo, é alguém que aborreceu as bênçãos da experiência humana, preferindo segregar-se nos caprichos mentais; e a entidade espiritual atormentada após a morte é sempre alguém que deliberadamente fugiu às realidades da Vida e do Universo, criando regiões purgatórias para si mesmo.

Compreendeste?Fixei o instrutor, reconhecidamente.Sim, havia entendido. E, ponderando a lição da manhã, segui o

orientador, que silente abandonava o campo de observação, a fim de mais tarde nos avistarmos com os benfeitores que visitariam as cavernas, em missão de amor e de paz.

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ALIENAÇÃO MENTAL

EmmanuelReunião pública de 23/1/59

Questão nº 373

Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da consciência se nos estampam na alma, segundo a modalidade de nossos desregramentos.É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso desequilíbrio da mente, quantos se consagraram no mundo à crueldade e à injustiça, furtando a segurança e a felicidade dos outros. Fazedores de guerra que depravaram a confiança do povo com peçonhento apetite de sangue e ouro, legisladores despóticos que perverteram a autoridade, magnatas do comércio que segregaram o pão, agravando a penúria do próximo, profissionais do direito que buscaram torturar a verdade em proveito do crime, expoentes da usura que trancafiaram a riqueza coletiva necessária ao progresso, artistas que venderam a sensibilidade e a cultura, degradando os sentimentos da multidão, e homens e mulheres que trocaram o templo do lar pelas aventuras da deserção, acabando no suicídio ou na delinqüência, encarceram-se nos vórtices da loucura, penetrando, depois, na vida espiritual como fantasmas de arrependimento e remorso, arrastando consigo as telas horripilantes da culpa em que se lhes agregam os pensamentos.E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta aos berços de sombra em que, através da reencarnação redentora, ressurgem no vaso físico — cela preciosa de tratamento —, na condição de crianças-problemas em dolorosas perturbações.

Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos tristes, no eclipse da razão, conchegai-os com paciência e ternura, porquanto são, quase sempre, laços enfermos de nosso próprio passado, inteligências que decerto auxiliamos irrefletidamente a perder e que, hoje, retornam à concha de nossos braços, esmolando entendimento e carinho, para que se refaçam, na clausura da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e para a glória da luz. (Emmanuel, do livro "Religião dos Espíritos", 6, FCXavier, FEB)

DOENÇAS DA ALMAEmmanuel

Na forja moral da luta em que temperas o caráter e purificas o sentimento, é possível acredites estejas sempre no trato de pessoas normais, simplesmente porque se mostrem com a ficha de sanidade física.

Entretanto, é preciso lembrar que as moléstias do espírito também se contam.

O companheiro que te fala, aparentemente tranqüilo, talvez guarde no peito a lâmina esbraseada de terrível desilusão.

A irmã que te recebe, sorrindo, provavelmente carrega o coração ensopado de lágrimas.

Surpreendeste amigos de olhos calmos e frases doces, dando-te a impressão de controle perfeito, que soubeste, mais tarde, estarem caminhando na direção da loucura.

Enxergaste outros, promovendo festas e estadeando poder, a escorregarem, logo após, no engodo da delinqüência. É que as enfermidades do espírito atormentavam as forças da criatura, em processos de corrosão inacessíveis à diagnose terrestre. Aqui, o egoísmo sombreia a visão; ali, o ódio empeçonha o cérebro; acolá, o desespero materializa fantasmas; adiante, o ciúme converte a palavra em látego de morte...

Não observes o semelhante pelo caleidoscópio das aparências.

É necessário reconhecer que todos nós, espíritos encarnados e desencarnados em serviço na Terra, ante o volume dos débitos que contraímos nas existências passadas, somos doentes em laboriosa restauração. O mundo não é apenas a escola, mas também o hospital em que sanamos desequilíbrios recidivantes, nas reencarnações regenerativas, através do sofrimento e do suor, a funcionarem por medicação compulsória.

Deixa, assim, que a compaixão retifique em ti próprio os velhos males que toleras nos outros. Se alguém te fere ou desgosta, debita-lhe o gesto menos feliz à conta da moléstia obscura de que ainda se faz portador. Se cada pessoa ofendida pudesse ouvir a voz inarticulada do Céu, no instante em que se vê golpeada, escutaria, de pronto, o apelo da Misericórdia Divina: “Compadece-te”.

Todos somos enfermos pedindo alta.

Compadeçamo-nos uns dos outros, a fim de que saibamos auxiliar.

E mesmo que te vejas na obrigação de corrigir alguém — pelas reações dolorosas das doenças da alma que ainda trazemos —, compadece-te mil vezes antes de examinar uma só. (Emmanuel, do livro Justiça Divina, Francisco Cândido Xavier)

OUTRO LADO: PARA LER E ANALISAR: SOFRER É SEMPRE RUIM?

O LADO BRILHANTE DA DEPRESSÃOPesquisadores sugerem que a depressão não é uma desordem mental, mas uma adaptação que serve para analisar melhor problemas http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI90115-15257,00.html 27/08/2009 - 15:01 - Atualizado em 27/08/2009 - 15:26

(REDAÇÃO ÉPOCA) Os cientistas americanos Paul Andrews e J. Anderson Thomson escreveram esta semana para a revista Scientific American explicando o artigo The bright side of being blue: Depression as an adaptation for analyzing complex problems (O lado brilhante de estar triste: Depressão como uma adaptação para analisar problemas complexos, em uma tradução livre), publicado recentemente por eles no periódico científico Psychological Review. Para Andrews e Thomson, a depressão não é uma desordem mental, mas uma adaptação que, apesar de dificultar em vários aspectos a vida das pessoas que se encontram nesse estado, também traz benefícios.

"Isso não quer dizer que a depressão não seja um problema", escreveram os pesquisadores na Scientific American. "Pessoas depressivas têm problemas em realizar atividades diárias, não conseguem se concentrar em seus trabalhos, tendem a se isolar, são letárgicas, e muitas vezes perdem a capacidade de sentir prazer em atividade como comer e fazer sexo".

Mas mesmo com todos esses problemas, Andrews e Thomson acreditam que exista algo útil sobre a depressão: depressivos, os cientistas afirmam, pensam mais intensamente em seus problemas; ficam meditando sobre esses problemas e têm dificuldade em pensar sobre qualquer outra coisa. Segundo Andrews e Thomson, diversos estudos mostram que esse tipo de pensamento pode ser altamente analítico. "[Pessoas em depressão] demoram-se em um problema complexo, dividindo-o em componentes menores, que são considerados um de cada vez", afirmam. "Esse estilo de pensamento analítico pode ser bastante produtivo".

Andrews e Thomson afirmam ter encontrado evidências de que pessoas que ficam mais deprimidas enquanto resolvem um problema complexo em um teste de inteligência tiram notas maiores no teste; pessoas em depressão também resolvem mais facilmente dilemas sociais. Para eles, a possibilidade de "ligar" um estado de depressão parece ser uma habilidade importante, não apenas uma desordem ou um acidente, que serve para resolver um problema social complexo.

TRISTEZA NÃO É DOENÇAhttp://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78970-9556-486,00.html Entrevistas da Semana 08/09/2007 - 00:04 | Edição nº 486

Sociólogo americano diz que a psiquiatria transformou um sentimento normal em um problema médicoEntrevista com o sociólogo Allan V. Horwitzpor SUZANE FRUTUOSO

Ficar triste dói. O sentimento pode ser passageiro ou durar muito tempo. Mesmo nesses casos, não significa que ele só possa ser superado com remédios, diz o sociólogo americano Allan V. Horwitz. O livro que lançou nos Estados Unidos em julho, The Loss of Sadness: how Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder (A Perda da Tristeza: como a Psiquiatria Transformou a Tristeza Comum em Desordem Depressiva), em parceria com o psiquiatra Jerome Wakefield, é uma tentativa de alertar sobre o que considera um excesso de diagnósticos de depressão.

ÉPOCA – O que significa a “perda da tristeza” que dá nome ao livro? Allan V. Horwitz – Tristeza é a resposta normal a perdas que sofremos na vida. Agora se tornou comum chamá-la de “depressão”. Algo normal foi transformado em doença. A cultura dos antidepressivos transformou em doença dificuldades que fazem parte da vida.

ÉPOCA – Segundo calcula a Organização Mundial da Saúde (OMS), 121 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão. O que o senhor acha desse número? Horwitz – É uma estimativa muito elevada. A OMS usa os sintomas da tristeza, que até podem ser os mesmos da depressão, sem considerar o contexto do acontecimento que deixou a pessoa triste. Incluem na mesma estatística quem sente uma tristeza normal e quem realmente é depressivo.

ÉPOCA – Que sintomas caracterizam a tristeza e a depressão? Horwitz – Segundo o manual de diagnósticos da psiquiatria (DSM-4), se cinco sintomas de uma lista de nove durarem mais de duas semanas, os médicos dizem que há depressão. São eles: perda do humor; perda de interesse por atividades prazerosas; ganho de peso ou perda de apetite; insônia ou excesso de sono; agitação ou apatia; cansaço; sentimento de culpa e baixa auto-estima; dificuldade de concentração e de decisão; pensamentos recorrentes sobre morte ou tentativa de suicídio.

ÉPOCA – Então, qual é a diferença entre tristeza e depressão? Horwitz –Ficamos naturalmente tristes pelas perdas do dia-a-dia, como de um relacionamento amoroso, de um emprego, de uma notícia de que seu estado de saúde não é bom. Ou quando há condições estressantes – como a pobreza – ou relações sociais em que se sofrem abusos, como os de poder. São situações ruins, mas sofrê-las não significa que algo esteja errado. É diferente da depressão, que surge sem razão específica. Não precisa ter acontecido algo terrível para surgir a depressão, que tem características biológicas. Ainda assim, a maior diferença não é o que acontece no cérebro. É o que ocorre dentro do contexto social. É dar à tristeza o ar de doença.

ÉPOCA – Depois de quanto tempo a tristeza passa a ser um quadro preocupante? Horwitz – Não existe uma linha divisória definida. Podemos dizer que se uma tristeza dura mais de dois meses algo pode estar errado. Mas não significa que não tenha solução. O que importa é que estão tratando quem levou um

fora do namorado e não consegue se concentrar, dormir ou comer direito da mesma maneira que a alguém com sintomas que persistem por longos períodos. Ficar na fossa quando um namoro acaba é a resposta natural a um estresse, e não um distúrbio mental.

ÉPOCA – A tristeza pode ser boa? O que podemos aprender com ela? Horwitz – Uma situação dolorosa nunca é boa. A tristeza que envolve a perda pela morte de alguém que foi importante para nós é dura e custa a passar. Por outro lado, a perda do emprego e o fim de um relacionamento amoroso são circunstâncias que nos fazem parar para pensar. Revemos defeitos, analisamos conseqüências de nossos atos. Isso ajuda a encontrar equilíbrio na hora de começar de novo. A pessoa ganha maturidade.

ÉPOCA – O sentimento de perda provocado pela morte de alguém que amamos é depressão? Horwitz – Não. É uma situação pesada. Mas a perda pela morte também faz parte da vida. Todos vamos perder pessoas queridas, e todos vamos morrer.

ÉPOCA – Como superar as fases mais complicadas? Horwitz – O melhor a fazer é conversar com pessoas próximas. Falar com amigos e parentes. Procurar o apoio de quem nos conhece é o remédio ideal. A terapia também pode ajudar. Especialmente nos casos em que a tristeza se prolonga.

ÉPOCA – Desde quando a tristeza passou a ser medicada como doença? Horwitz – Desde 1980, quando a Associação Americana de Psiquiatria lançou uma nova versão do manual de diagnósticos, que hoje está na quarta versão. O diagnóstico para distúrbios mentais se tornou generalista. Se alguém apresentar cinco sintomas daquela lista, é depressivo. Mas os médicos não se preocupam em questionar as circunstâncias.

"Ficar na fossa quando um namoro acaba é a resposta natural a um estresse. Não é um distúrbio mental."

ÉPOCA – Qual é a responsabilidade dos médicos nesse cenário? Horwitz – Os médicos deixaram de considerar em que contexto esses sintomas surgem. Sei que no fundo é difícil para eles investigar as causas da tristeza, porque gastam no máximo 15 minutos com um paciente. É um contato muito breve – e fica mais fácil receitar uma pílula. Nem sempre é o que acreditam ser o melhor. Mas eles são pressionados pelo sistema de saúde – especialmente nos Estados Unidos – a não se prolongar em consultas. Os médicos estão falhando. Mas existem razões para essa falha.

ÉPOCA – E o paciente? Tem culpa? Horwitz – Sim. Os médicos também cedem àquilo que o paciente deseja. Eles receitam o que o paciente pede quando chega ao consultório. Se não há evidências de que o paciente realmente sofre de algum transtorno, é uma atitude irresponsável.

ÉPOCA – O que é mais grave: tomar antidepressivos sem precisar ou ter uma depressão não tratada? Horwitz – Alguém com depressão realmente precisa de tratamento. A intenção de nosso livro não é dizer que pessoas com problemas reais não

devam ser tratadas da forma adequada, com remédios. Mas nos últimos anos ficou claro que consumir antidepressivos sem necessidade é um perigo. As duas situações são alarmantes.

ÉPOCA – A indústria farmacêutica colaborou para essa cultura de tratar a tristeza com medicamentos? Horwitz – A indústria farmacêutica ganha muito dinheiro com antidepressivos. Promove esses produtos com anúncios mostrando pessoas felizes, que superaram seus problemas ao engolir uma pílula. É uma cena comum apresentada na publicidade. São casais, pais e filhos em situações do cotidiano, da família, do trabalho, que estão bem graças a um remédio. É um marketing poderoso e perigoso.

Allan V. Horwitz QUEM É Americano, tem 59 anos. Nasceu em Minneapolis, no Estado de Minnesota. Divorciado, tem três filhas PROFISSIONAL Professor de Ciências Sociais e do Comportamento e diretor do Pós-Doutorado em Doenças Mentais da Universidade Rutgers, do Estado de Nova Jersey O QUE PUBLICOU É autor também de Creating Mental Illness (Criando Doenças Mentais), de 2002

O VALOR DA TRISTEZAhttp://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG82052-8055-511,00-O+VALOR+DA+TRISTEZA.html 29/02/2008 - 23:35 | Edição nº 511

Um estudo questiona a eficácia dos antidepressivos. E novas pesquisas mostram que a infelicidade pode ser boa para nós.

Quando foi lançado nos Estados Unidos, em 1987, o mais famoso medicamento antidepressivo do mundo chegou a ser apontado, pela revista Scientific American, como um “anjo que ilumina as trevas da alma”. O Prozac foi o primeiro de uma série de remédios que visam alterar o nível de serotonina, uma substância química do cérebro relacionada à sensação de prazer. Com as mudanças das últimas duas décadas no modo como a ciência médica encara a depressão, esses medicamentos se tornaram campeões de venda. O número de pílulas consumidas no mundo inteiro pulou de 4 bilhões, em 1995, para 10 bilhões, em 2004, um aumento de 150%. No Brasil, também se registrou um salto. Há três anos, 20,6 milhões de comprimidos foram vendidos no país. No ano passado, foram 24,4 milhões (um aumento de 18,5%). Por isso, um estudo lançado na semana passada na Public Library of Science Medicine (Biblioteca Pública da Ciência Médica) causou grande impacto. O pesquisador Irving Kirsch, da Universidade de Hull, no Reino Unido, e seus colegas revisaram os estudos clínicos de vários antidepressivos e concluíram que, nos casos de depressão leve, seus efeitos não são melhores que os de placebos. (Os placebos, pílulas sem substância ativa, são usados em um grupo separado de

pacientes para avaliar quanto da melhora se deve ao remédio e quanto apenas ao efeito psicológico de ser atendido e medicado.)

Kirsch utilizou estudos que a indústria não havia divulgado. Os laboratórios foram obrigados a liberá-los pela Food And Drug Administration, o órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos. A indústria rebateu a conclusão, dizendo que Kirsch analisou poucos estudos. Além disso, outro estudo, lançado também na semana passada pelo Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas dos Estados Unidos, afirma que o uso de antidepressivos ajuda a diminuir a taxa de suicídios. Essa discussão provavelmente terá vida longa. E dá força a uma questão de fundo: s por que buscamos com tamanha avidez a felicidade? Boa parte do sucesso dos remédios está não numa epidemia de depressão, como apontou o psiquiatra Derek Summerfield em um recente artigo no Journal of the Royal Society of Medicine, mas numa “epidemia de receitas de antidepressivos”.Os antidepressivos são um avanço extraordinário, diz o psiquiatra paulista Renato Del Sant, diretor do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. “Mas, para receitá-los, é preciso uma avaliação longa e precisa. Hoje, os psiquiatras estão mais preocupados em acompanhar os avanços da neurociência do que em se debruçar no histórico do paciente, muitas vezes até por falta de tempo. Por isso, o diagnóstico está cada vez mais superficial.”

Nessas horas, confunde-se tristeza com depressão. E dá-lhe remédio. É como se quiséssemos abolir de nossa vida toda e qualquer contrariedade. “Eu não tenho problemas de depressão, apenas de mau humor e timidez”, diz um internauta da comunidade Confissões de um Prozaquiano, que tem 160 membros no site de relacionamento Orkut. “Uso pelo estresse do dia-a-dia mesmo. É um santo remédio.” O próprio Del Sant é um exemplo contra o abuso. No ano passado, uma de suas filhas, Carlota, sofreu um acidente de trânsito e está em coma até agora. Já passou por 16 cirurgias. “Eu, minha mulher, Solange, e minha outra filha, Lorena, estamos profundamente tristes. Muitas vezes, choramos. Sentimos falta da nossa Carlota. Mas não estamos depressivos.” Assustado com a enorme indústria que se formou em torno de nossa necessidade de ser felizes acima de tudo, um dos pioneiros do estudo da felicidade, o psicólogo americano Edward Diener – por muito tempo alcunhado de Doutor Felicidade – voltou atrás. Não à toa, seu próximo livro, em parceria com o filho, Robert Biswas-Diener, terá o título de Rethinking Happiness (Repensando a Felicidade). Diener não renega sua tese central, de que as pessoas felizes vivem mais (por ter sistemas imunes mais fortes) e são mais bem-sucedidas. Mas ele aprofundou suas pesquisas. Em geral, os estudos sobre o tema comparam pessoas felizes com pessoas infelizes. Desta vez, Diener comparou pessoas felizes e pessoas extremamente felizes. Aí, o resultado é outro. Os extremamente felizes vivem menos que os moderadamente felizes, e são menos bem-sucedidos.

Sua conclusão: há um nível de felicidade ótimo, além do qual ela se torna mais prejudicial que benéfica. Segundo ele, numa escala de 0 a 10, sendo 0 o sujeito miserável e 10 a pessoa inabalavelmente contente, o melhor é uma nota 8, nível médio de felicidade. Ele garante uma existência aprazível e traz uma margem de insatisfação que evita a letargia. Como diz Diener, há uma lista enorme de pessoas que querem que você seja mais feliz – não importa quanto você já seja. Essa lista inclui os ativistas da psicologia

positiva, uma corrente que se tornou preponderante nos Estados Unidos no fim da década de 90 e afirma que, em vez de apenas curar doenças, a medicina da mente deve tratar de elevar nosso bem-estar. Também inclui os autores de livros com receitas para sermos mais contentes, os políticos em quem você votou (porque a probabilidade é que os reeleja), os profissionais de auto-ajuda, os técnicos de laboratórios que buscam drogas cada vez mais eficazes para combater a tristeza. Até sua mãe, “porque ela o ama e provavelmente se sentirá um fracasso se você for uma pessoa infeliz”. Há, no entanto, uma corrente cada vez mais vigorosa contra essa indústria da felicidade. Ela inclui quatro vertentes de combate:

1. Felicidade tem limite Nesse campo estão os argumentos apresentados por Diener: ser feliz demais não é bom. O contentamento em excesso torna as pessoas menos capazes, menos saudáveis, menos atentas a riscos. Além do pragmatismo de Diener, há uma questão de essência. “Cedo ou tarde na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável”, escreveu o escritor italiano Primo Levi, um sobrevivente de um campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial. “Poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza, eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer ‘infinito’.”

Há ainda uma terceira forma de entender os limites da felicidade. Só conseguimos ter a percepção de um sentimento em comparação com outros estados de ânimo. Como demonstram vários estudos, é a variação do humor que nos causa espasmos de alegria ou de tristeza. “Felicidade em excesso é indesejável, porque leva a uma capacidade menor de apreciá-la”, diz o historiador inglês Stuart Walton, autor de Uma História das Emoções, publicado no ano passado no Brasil. No livro, Walton examina as emoções que considera primordiais (como medo, raiva, tristeza e felicidade) e as relaciona à vida moderna. “Se você tem algo o tempo todo, não pode dizer se aquilo é bom ou ruim”, diz. “É preciso descartá-lo para saber se a tal coisa lhe oferece ganhos ou perdas.” Portanto, quem diz que é 100% feliz pode não estar falando a verdade. Felicidade, por definição, não é um estado de espírito permanente. Fosse assim, as pessoas seriam mais fortes na vida. “A felicidade pode chegar com um amor, com uma conquista, com um fato que transformou de maneira positiva o indivíduo”, diz Walton. “Mas ela não fica para sempre. De uma hora para outra, pode e provavelmente vai partir.” Assim como a infelicidade.Ser feliz demais não é bom. O contentamento em excesso torna as pessoas menos capazes, menos saudáveis e menos atentas a riscos .

2. Sem obstáculos, não há vitória: Uma segunda defesa da tristeza pode ser resumida pelo famoso ditado do filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “O que não me mata me torna mais forte”. Ele aponta para o valor da adversidade. Como disse Paulo, em sua Carta aos Romanos: “O sofrimento produz resistência, a resistência produz caráter e o caráter produz a fé”. Algumas pessoas que passam por grandes traumas, como a perda de um ente querido, relatam que se tornaram mais completas depois de passar pela experiência, afirma o psicólogo Jonathan Haidt, da Universidade de Virgínia, nos EUA, em seu livro The Happiness Hypothesis (A Hipótese da Felicidade). “Quem passa por episódios traumáticos aprende a se conhecer

melhor e passa a valorizar as coisas que realmente têm importância”, escreveu Haidt. Elas dão mais valor à amizade, à família, ao tempo livre, apreciam o que têm e entendem melhor seus limites. “Só quem vive emoções profundas e passa pela dor e pelo sofrimento é capaz de se realizar na plenitude. O homem é um ser ambíguo”, diz o filósofo brasileiro Franklin Leopoldo e Silva, que no ano passado publicou um livro chamado Felicidade – Dos Filósofos Pré-Socráticos aos Contemporâneos.

Não é por algum ingrediente precioso que o sofrimento molda o caráter. Para Haidt, isso acontece porque nós somos seres viciados em contar histórias. O que sabemos sobre nós mesmos é um relato que continuamente reescrevemos, escolhendo o que lembrar do passado e o que projetar para o futuro. As adversidades nos ajudam a criar histórias melhores. (Ou você acha que a Branca de Neve seria um bom conto se a bruxa nunca a tivesse envenenado? Hamlet teria feito sucesso se não vivesse atormentado pelo drama do assassinato de seu pai?) É claro que os traumas, assim como podem “purificar”, podem matar. Ou estragar uma vida inteira. Crianças são especialmente suscetíveis. Algumas pesquisas mostram que a melhor época para enfrentar um grande desafio na vida é a que vai do início da adolescência até os 20 e poucos anos – quando é assim, a probabilidade de o episódio servir de estímulo, em vez de fator de paralisia, é maior. Os estudos modernos estão de acordo com as teses levantadas há meio século por um dos maiores estudiosos de mitologia do mundo, o americano Joseph Campbell. No livro O Herói das Mil Faces, ele descreve um esquema comum a quase todos os grandes mitos da humanidade, incluindo as grandes religiões. Para se tornar um herói, a personagem recebe um “chamado”, tenta rejeitá-lo, é obrigada finalmente a aceitar a missão, viaja, passa por alguma provação, encontra alguém ou algum objeto mágico que lhe forneça uma revelação, volta mais forte, vence o obstáculo inicial e, com isso, liberta os demais, ou lidera-os no caminho da redenção. Pense em seu herói favorito, ou na história de Moisés, Jesus, Maomé, Buda, e compare com o roteiro de Campbell.

Por que é sempre assim? Para Campbell, essa trajetória faz parte de nossa psique. Em nossa formação individual, passamos também por um enredo parecido. Somos os heróis de nossa história. Quando o obstáculo é feroz demais, ou quando nos perdemos no deserto, estabelece-se o quadro neurótico. Nesses casos, o remédio é indicado. Mas tomá-lo antes de ter a oportunidade de confrontar nossos demônios é desperdiçar a oportunidade de crescer.

Marvin Minsky, um dos pais da inteligência artificial e pesquisador do MIT, nos EUA, uma das universidades mais renomadas do mundo, resumiu a questão de forma precisa. “Se pudéssemos deliberadamente controlar nossos sistemas de prazer, seríamos capazes de reproduzir o prazer do sucesso sem a necessidade de realizar coisa alguma – e isso seria o fim de tudo. ”Pessoas que passam por grandes traumas, como a perda de um ente querido, aprendem a valorizar as coisas que realmente importam.

3. A alegria ou a vida: Um terceiro ponto de defesa da tristeza vem da teoria evolucionista. Os sentimentos negativos, como angústia, tristeza e pessimismo, fazem parte de nossa natureza. A seleção natural os favoreceu porque, se não os tivéssemos, seríamos presas fáceis de adversidades.

Imagine um homem pré-histórico extremamente feliz e despreocupado, saindo desarmado no meio da selva. Se esse ancestral existiu algum dia, ele morreu, provavelmente comido por um grande felino. O que sobreviveu, e deu origem à espécie humana, foi seu primo preocupado, atento – por vezes angustiado e rabugento. É assim com todos os animais. O estado de tensão é uma condição necessária à vida. No livro Felicidade, o economista Eduardo Giannetti aponta outros riscos que o contentamento exagerado traria para a sobrevivência da civilização. Segundo Giannetti, a invenção de uma pílula que provesse todos os cidadãos de felicidade provocaria danos irreparáveis ao mundo. Na ausência de sentimentos negativos como culpa, vergonha, remorso e arrependimento, todos eles neutralizados pelo tal remédio, haveria um enfraquecimento do respeito às normas morais de convivência. As pessoas não se sentiriam psicologicamente inibidas para praticar atos terríveis porque, ao tomar a pílula, deixariam de sentir culpa ao prejudicar alguém. O resultado seria o caos completo, que muito provavelmente resultaria no aniquilamento do mundo tal qual o conhecemos.É durante as fases de depressão que surgem os questionamentos que despertam a criatividade da pessoa atormentada.

A GRANDE INSTRUTORAEmmanuel

Benemérita instrutora existe, cuja visitação sempre recebemos com alarme e às vezes com reclamações infindáveis.Orienta sem gritaria e ampara sem violência.Semelhante mentora palmilha todas as estradas humanas e chama-se “enfermidade”.Nesta afirmativa não há lirismo simbólico.Desejamos apenas considerar que a doença é a correção provocada por nossos próprios desequilíbrios, agora ou no passado, atuando, a fim de que não venhamos a cair em maiores padecimentos na esteira do tempo.Por isso mesmo, vale receber-lhe a presença com respeito, moderação e bom ânimo.Se a dor te não impede a movimentação orgânica, persevera com o trabalho, sem desprezá-lo, embora não possas atender a todos deveres na feição integral, e não olvides que enquanto o corpo é suscetível de ação própria, o serviço é o melhor reconstituinte para as deficiências da vida física e o melhor sedativo para os aborrecimentos morais.Se a enfermidade age nas células que permanecem a teu serviço, confia-te pensamento reto.Nunca te entregues à revolta, ao desalento ou à indisciplina.Esse trio de sombras te encarceraria em maiores conflitos mentais.A mente insubmissa ou desesperada não poderá governar o cosmo vital a que se ajusta, agravando os seus próprios problemas.Ergue-te, em espírito, na intimidade do coração, trabalha sempre e não percas o sorriso de confiança.Cada dia é nova folha do livro infinito da vida e a proteção do Senhor não nos abandona.Se tens o corpo atado ao leito, incapaz de mobilizar as próprias energias a benefício de ti mesmo recorda que, por

vezes, a lição da enfermidade deve ser mais longa, a favor de nossa grande libertação no futuro.Toda perturbação guarda origens profundas na alma e se o veículo físico passará sempre, à feição de veste corruptível, o espírito é o herdeiro da vida imortal.Indispensável pensar nisso para que a serenidade nos dignifique nas horas de crise, porquanto representam grande apoio para nós mesmo a calma e a coragem que espalhamos naqueles que nos cercam.O doente inconformado é um centro de sombrios pensamentos, ligados à discórdia, à rebelião e ao desânimo.A enfermidade exerce a função de mestre precioso.Faze silêncio em ti e ouve-lhe os avisos ligeiros ou as advertências profundas.E ainda que te encontres à frente da morte, lembra-te do Amigo Divino que demandou a ressurreição através do leito erguido na cruz, usando o infinito amor e a extrema renúncia, no próprio sacrifício, para sanar as dores da Humanidade.(Emmanuel, do livro "Visão Nova" - Francisco Cândido Xavier - Autores Diversos)

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A PRECE DE CIPRIANA(Cap. Final do livro “No Mundo Maior”)

http://www.institutoandreluiz.org/a_prece_de_cipriana.html

«Senhor Jesus,Permanente inspiração de nossos caminhos,

Abre-nos, por misericórdia,Como sempre,

As portas excelsasDe tua providência incomensurável...

Doador da Vida,Acorda-nos a consciência

Para semearmos ressurreiçãoNos vales sombrios da morte;

Distribuidor do Sumo Bem,Ajuda-nos a combater o malCom as armas do espírito;

Príncipe da Paz,Não nos deixes indiferentes

À discórdiaQue vergasta O coração

De nossos companheiros sofredores;

Mestre da SabedoriaAfugenta para longe de nós

A sensação de cansaçoÀ frente dos serviçosQue devemos prestar

Aos nossos irmãos ignorantes;

Emissário do Amor Divino,Não nos concedas paz

Enquanto não vencermosOs monstros da guerra e do ódio,

Cooperando contigo,Em tua augusta obra terrestre;

Pastor da Luz Imortal,Fortalece-nos,

Para que nunca nos intimidemosPerante as angústias e desesperos das trevas;

Distribuidor da Riqueza Infinita,Supre-nos as mãos

Com teus recursos ilimitados,Para que sejamos úteis

A todos os seres do caminho,Que ainda se sentem minguados

De teus dons imperecíveis;

Embaixador Angélico,Não nos abandones ao desejoDe repousar indebitamente,

E converte-nosEm teus servidores humildes,

Onde estivermos;

Mensageiro da Boa Nova,Não permitas

Que nossos ouvidos adormeçamAo coro dos soluços

Dos que clamam por socorroNos círculos do sofrimento;

Companheiro da Eternidade,Abençoa-nos as responsabilidades e deveres;

Não nos relegues à imperfeiçãoDe que ainda somos portadores!

Dá-nos, amado Jesus, o favor de servir-TeE que o Supremo Senhor do Universo Te glorifique

Para sempre.Assim seja!...

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REALIZAÇÃO:Instituto André Luiz

http://www.institutoandreluiz.org/ Divulgação Espírita Virtual