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Relatório técnico referente a prestação de contas de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Estudo de caso da ASSEMA, Médio Mearim – Maranhão, Nordeste.
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Julian Perez CassarinoDaniela Oliveira
ANA – Articulação Nacional de Agroecologia
GT SSA – Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar
RELATÓRIO 3
Estudo de caso da ASSEMA, Médio Mearim – Maranhão.
Relatório técnico referente a prestação de contas de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Estudo de caso da ASSEMA, Médio Mearim – Maranhão, Nordeste.
Curitiba – ParanáOutubro/2010
Sumário1 – INTRODUÇÃO..................................................................................................................3
2 DESCRIÇÃO, OBJETIVOS, ESTRUTURA E CONTEXTO EM QUE A ASSEMA EMERGE....4
3 SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA,
CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES........................................................8
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS...........................................................................................24
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................29
ANEXO I – Listas de Presença...............................................................................................33
ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital).........................................35
ANEXO III – Imagens do trabalho de campo........................................................................35
3
1 – INTRODUÇÃO
O objetivo deste produto é apresentar o estudo de caso realizado junto a Associação em
Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA, Médio Mearim, Maranhão.
A coleta das informações aqui apresentadas foi realizada durante os dias 27, 28 e 29 de
setembro de 2010. As unidades analisadas foram à associação ASSEMA, através de duas oficinas de
sistematização. As técnicas utilizadas nas oficinas de sistematização são apresentadas no quadro a
seguir.
Quadro 1: Técnicas utilizadas nas oficinas de sistematização da ASSEMA. Outubro de 2010.
OFICINAS DE SISTEMATIZAÇÃO
ASSEMA
Técnicas ParticipantesLinha do Tempo Oficina 1:
Equipe de sistematizaçãoTécnicos da equipe localSócios da ASSEMA/Grupo de Santana
Oficina 2:Equipe de sistematizaçãoTécnicos da equipe localSócios da ASSEMA/AMTR e COOPALJ
Desenho do Fluxograma de comercializaçãoDiagrama de Venn (mapeamento das entidades parceiras e sua importância no processo).
Previamente à realização da oficina de sistematização, foi realizada uma reunião com a
equipe técnica de assessoria e com membros da direção da ASSEMA, a fim de expor e debater a
metodologia e adequála à realidade e às possibilidades do grupo. Também foi objetivo
contextualizar as organizações a respeito do processo de sistematização e o contexto em que se
encontra inserido, em diálogo com o GT de Soberania e Segurança Alimentar da Articulação
Nacional de Agroecologia (GT SSA/ANA).
No segundo dia de trabalho realizamos a primeira oficina de sistematização que contou com
a participação de representantes de um dos grupos que compõem a ASSEMA, neste caso o Grupo
das Mulheres de Santana. No terceiro dia repetimos o processo, neste caso com a Associação das
Mulheres Trabalhadoras Rurais – AMTR e com a Cooperativa de Pequenos Produtores
Agroextrativistas do Lago do Junco – COOPALJ. Ou seja, apesar da ASSEMA ser formada por 5
grupos/associações neste trabalho optamos pela sistematização detalhada de apenas 3 destes
grupos.
Um maior detalhamento da metodologia assim como uma descrição dos objetivos de cada
uma das dinâmicas podem ser encontrado no Produto 2 desta consultoria.
Este relatório está estruturado nas seguintes partes: Na primeira parte apresentamos uma
breve descrição da ASSEMA, de seus objetivos, estrutura e do contexto em que a associação emerge.
Na segunda parte apresentamos uma série de informações relacionadas ao processo de
4
comercialização que vem sendo construído pelo grupo. Na terceira parte o objetivo é relacionar as
informações coletadas e apresentar algumas conclusões a respeito do processo de construção de
mercados e da relação deste com os governos e com as políticas públicas. Por fim, são apresentadas
as considerações finais sobre o processo de sistematização realizado.
Compõe este informe a (i) descrição e análise dos dados coletados, (ii) listas de presença das
atividades realizadas e imagens do processo de sistematização realizado.
2 DESCRIÇÃO, OBJETIVOS, ESTRUTURA E CONTEXTO EM QUE A ASSEMA EMERGE
A Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA), é uma
organização dirigida por trabalhadores rurais e quebradeiras de coco babaçu que tem atuação no
Médio Mearim, região central do Estado do Maranhão, situado no Meio Norte do Brasil.
Mapa 1: Mapa da região Médio Mearim/Maranhão.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregi%C3%A3o_do_M%C3%A9dio_Mearim
5
Mapa 2: Mapa da região de atuação da ASSEMA/Médio Mearim/Maranhão.
O Estado do Maranhão juntamente com Piauí e Tocantins concentra as maiores extensões de
matas onde predomina a palmeira babaçu, formando agrupamentos homogêneos e bastante den
sos de coqueirais. É praticamente o único sustento de grande parte da população interiorana destas
regiões e apenas no Estado do Maranhão a extração de sua amêndoa envolve o trabalho de mais de
300 mil famílias. Em especial, mulheres acompanhadas de suas crianças: as "quebradeiras", como
são chamadas.
De acordo com o MIQCB1 é possível identificarmos entre as famílias quebradeiras duas situa
ções, no que se refere ao acesso a terra: famílias com terra e famílias sem terra. No entanto o fato
de existirem situações em que as quebradeiras tenham acesso garantido a terra não significa neces
sariamente que naquela área haja incidência de palmeiras de babaçu, obrigandoas a um desloca
mento permanente em busca do babaçu em outras áreas. Além disto verificouse que há prevalência
de incidência das palmeiras em áreas não pertencentes às quebradeiras de coco em função do pro
cesso de apropriação e cercamento sistemático das áreas de ocorrência de babaçu, o que as tornam
sujeitas aos chamados contratos. No Estado do Maranhão esse processo se consolidou com a edição
da Lei nº 2.979/1969, conhecida como a Lei de Terras Sarney. Nessas situações as mulheres são
obrigadas ao pagamento de uma renda constituída por meio das amêndoas, transformadas em moe
da de troca. Elas somente têm acesso às palmeiras sob a condição de pagamento da metade ou mais
da produção ao fazendeiro. Uma outra forma de sujeição é a venda ou a troca de toda a produção
1 Movimento das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu
Fonte: http://www.assema.org.br/
6
por mercadoria, exclusivamente para o dono da terra em cantinas estabelecidas nos povoados.
Quando as quebradeiras de coco se recusam a esse tipo de relação, são proibidas de utilizarem o
coco ou acusadas formalmente de furto de babaçu.
É como reação a esta situação que emerge o movimento babaçu livre2 que consiste na busca
pelo direito de livre acesso e uso comum das palmeiras de babaçu pelas quebradeiras de coco e suas
famílias, estejam elas em domínio privado ou público. O argumento do movimento é que o livre
acesso ao babaçu é preexistente ao processo de apropriação e cercamento de áreas quando a ativi
dade extrativa era realizada sem nenhuma restrição, pois as palmeiras não tinham dono.
Paralelo a este movimento de luta pelo livre acesso as áreas de babaçu ocorrem mobilizações
camponesas voltadas para a implantação de assentamentos de reforma agrária. Num primeiro mo
mento, entre 1985 e 1989, o maior número desses assentamentos estarão concentrados em áreas de
forte organização camponesa, que é o caso da região do Médio Mearim. Neste contexto organizase
a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA, que é uma organização
liderada por trabalhadores rurais e mulheres quebradeiras de coco babaçu que promove a produção
familiar, utilizando e preservando os babaçuais, para a melhoria da qualidade de vida no campo.
A ASSEMA foi fundada em 1989, por iniciativa de lideranças sindicais dos municípios de
Esperantinópolis, Lima Campos, São Luiz Gonzaga do Maranhão e Lago do Junco e desde então
vem prestando assessoria técnica, jurídica, econômica e política às famílias de trabalhadores rurais,
em especial às famílias quebradeiras de coco babaçu. Seu trabalho envolve famílias de 17 áreas de
assentamento dos municípios de São Luiz Gonzaga do Maranhão, Lima Campos, Lago do Junco,
Lago dos Rodrigues, Esperantinópolis e Peritoró, todos situados na região Médio Mearim. Entre suas
principais contribuições destacamse:
Fortalecimento do direito à cidadania das famílias de trabalhadores rurais e quebradeiras de
coco babaçu;
A criação de iniciativas econômicas sustentáveis e solidárias;
Promoção da equidade nas relações de gênero, entre gerações e etnias;
A sensibilização para a importância da agricultura agroecológica;
Combate ao êxodo rural com alternativas que ajudem as pessoas a permanecerem na terra
conquistada;
Luta ela implementação de políticas públicas que primam pela preservação dos babaçuais e
de leis municipais que garantem às quebradeiras de coco o livre acesso às áreas de babaçu.
2 Ver: http://www.assema.org.br/artigos2.php?id_artigo=11
7
Quadro 2: Algumas informações a respeito da ASSEMA. Outubro de 2010.
Estado MA
Região Médio Mearim
Municípios de atuação
São Luiz Gonzaga do Maranhão Lima Campos Lago do Junco Lago dos Rodrigues Esperantinópolis Peritoró
Associações que compõem a organização
Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas e Quebradeiras de Coco Babaçu Livre (Cooperativa Babaçu Livre) Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas do Lago do Junco/MA (COPPALJ) Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de Esperantinópolis/MA (COOPAESP) Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues/MA (AMTR) Associação de Jovens Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues/MA (AJR)Associação de Mulheres de Santana –São Luis Gonzaga/MA
Fundação 1989
Número de famílias associadas 460
Número de famílias assessoradas direta e indiretamente pela ASSEMA
45 associações comunitárias e 63 comunidades tradicionais, distribuídas em 22 áreas de assentamentos de reforma agrária, perfazendo um número em torno de 3.500 (três mil e quinhentas) famílias assessoradas
Número de famílias que comercializam pela entidade
460
Principais produtos comercializados
Óleo de babaçú: 15 toneladas/ mês Sabonete: 05 mil unidades/mês Pastas, blocos, envelopes de papel reciclado com fibras de
babaçu: 02 mil unidades/mês Torta de babaçu: 06 toneladas/mês Mesocarpo: 800 Kg /mês Compota de manga: 08 caixas /mês (24 potes por caixa) Licor de jenipapo: 06 caixas/mês (12 garrafas por caixa)
Acreditação/Certificação
IBD – mercado de orgânicos UNICAFES – Comércio Justo
8
3 SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES
A ASSEMA foi fundada em 1989 desde quando discute a necessidade de canais alternativos
de comercialização para os produtos das famílias membros da associação. A primeira iniciativa de
comercialização no âmbito da ASSEMA deuse nos anos de 1991/92 através das recém fundadas
cooperativas do Lago do Junco (COOPALJ) e Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas
de Esperantinópolis (COOPAESP). Na época os produtos comercializados foram amêndoas de
babaçu, arroz, carvão de casca de babaçu e aipim. Com o passar do tempo outras organizações
foram criadas e os canais de comercialização diversificaramse, assim como a pauta de produtos
oferecidos. No diagrama a seguir sintetizamos a história de construção de canais alternativos de
comercialização por parte dos associados da ASSEMA.
Quadro 3: Síntese da construção de canais de comercialização pela ASSEMA. Outubro de 2010.
ANO EVENTO
1989Fundação ASSEMA
Fundação AMTR: Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais
1990 Início das discussões a respeito da comercialização no âmbito da ASSEMA
1991
Fundação COOPALJI: Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas do Lago do Junco/MA
COOPALJ assume a gerencia e controle de 7 cantinas em povoados onde residem os sócios. Estas cantinas tem o objetivo de recolher amêndoas dos associados e comercializar alimentos para estes. Cantinas são uma forma de comercialização bastante antiga em povoados do Maranhão e uma forma de dominação das famílias. No esquema tradicional a troca de amêndoas por alimentos é feita sem uma transparência de valores a receber e valores em haver, sujeitando as famílias à dívidas crescentes. O controle destes espaços por parte da COOPALJ representa um fato bastante importante na construção dos mercados pela agricultura familiar da região (fotos em anexo).
1992Fundação COOPAESP: Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de Esperantinópolis/MA
Comercialização de amêndoas de babaçu, arroz, carvão e mandioca pela COOPAESP
1993 Início do processamento da amêndoa de babaçu: óleo e mesocarpo
1994Primeiros contatos com saboeiras da região
Primeiros contatos com certificadora IBD
1995 Contato com Body Shop na Inglaterra
1996 Primeira venda para Body Shop (Inglaterra), através de uma refinadora de óleo da Holanda
1997
Ampliação do mercado Visitas comerciais de importadores de óleos para cosméticos
Vendas para AVEDA CorporationCertificação IBD
1998
Início da comercialização mesocarpo. Até 2000 as vendas somente ocorrem para fora da região: Lojas Mundo Verde no RJ Padarias no Ceará Lojas de produtos naturais
1999 Estruturação das vendas e definição de nome, logomarca da ASSEMA e grupos;
9
Início da produção e comercialização do sabonete de óleo de babaçu – AMTR: Vendas no mercado local e regional
Vendas em feiras e eventos
Mercado internacional (Pacifica Sensual) Vendas sem contratos, somente através de pedidos.
Início da produção do papel reciclado para embalagem dos sabonetes. Somente sob pedido.
2000
Reativação dos trabalhos no grupo de Santana: geléias e compotas comercializadas: Na embaixada do babaçu em São Luiz Em eventos regionais e nacionais Entregas nas residências em Pedreiras Contatos da ASSEMA
COOPALJ inicia vendas de torta de babaçu para ração animal nas próprias comunidades da região e em outras comunidades a região.
2003
Loja em São Luiz – Embaixada do babaçu Livre.
Fundação da Cooperativa do Babaçu Livre: 5 famílias de cada um dos grupos formadores da ASSEMA. Papel de uma central de comercialização. Possibilita vendas de grupos ainda não formalizados para comercializar e estimula venda dos demais.
2004
Início da produção do licor de Jenipapo
Busca de melhorias na gestão e de sustentabilidade nas vendas Manutenção nos mercados já alcançados Melhor estruturação/reformas das agroindústrias mesocarpo e sabonete
2004 Primeiros contatos com Natura
2005
Vendas de mesocarpo para o PAA
Envio de amostras para Natura e discussões a respeito dos direitos dos agricultores3
Contrato de fornecimento com Natura
2006 Comercialização de óleo de babaçu para Mundo Solidário, na Itália.
2007 Primeiras vendas de licor de Jenipapo através da ASSEMA
2008
Redução vendas Natura devido a problemas técnicos e a indefinição da questão dos direitos sociais
Associação dos Jovens Rurais inicia produção de biojoias Vendas jóias: feiras e alguns pedidos para Inglaterra Dificuldade: equipamentos ainda inadequados
Melhoria nas vendas de licor e compotas
2009Retorno produção contrato Natura
Mudanças nos rótulos / fechamento da embaixada do babaçu (São Luis)
2010
Ampliação contrato com Natura
Perspectiva de contratos com alimentação escolar/PNAE: produtos agropecuários
Inclusão da amêndoa de babaçu no Programa Biodiversidade/PGPM: R$ 1,45/kg (R$ 0,30 passa a ser pago pelo Estado, já que o preço pago pela cooperativa é R$ 1,15/kg)Ampliação contrato com Natura
Novos rótulos
Fundação da Cooperativa Central do Cerrado: MG, MT, GO, TO, DF, MS. Comercialização através de ponto de venda em Brasília.
3 A ASSEMA iniciou um processo de diálogo junto à NATURA para seu uso em cosméticos, porém a proposta inicial da Natura, após a realização e aprovação de seu uso, no que se referia á repartição de benefícios não agradou aos associados da ASSEMA, fazendo com que recuassem no fornecimento até que a empresa revisse sua postura e aceitasse a proposta da Associação, baseada nas discussões internacionais sobre acesso a repartição de benefícios.
Diagrama 1: Fluxograma de comercialização no Grupo de Mulheres de Santana/ASSEMA: – DOCES DE MANGA E JENIPAPO. Outubro de 2010.
PRODUÇÃO COLHEITA (em grupo)
CLASSIFICAÇÃOSECAGEM
BENEFICIAMENTO EMBALAGEM
Feiras e eventos regionais
Reuniões Locais/município
Na sede da ASSEMA
Na fábrica
Para as cantinas da COOPAESC
Lojas em BrasíliaRede Cerrado
MEIOS DE TRANSPORTE
Grupo não possui transporte próprio:
• Carros da ASSEMA
• Pagam moto táxi para envio de produtos para feiras e eventos
• Caronas
ESTRUTURA:
Agroindústria do grupo
Doação Action Aid e MMA/Brasil
FABRICAÇÃOEM
AGROINDUSTRIA COLETIVA NA COMUNIDADE
COMERCIALIZAÇÃO
Equipamentos e meios de transporte utilizados na comercialização
Canais de venda através da ASSEMA
LEGENDA:
Diagrama 2: Fluxograma de comercialização COOPALJ: ÓLEO E TORTA DE BABAÇU. Outubro de 2010.
Trabalho coletivo
Equipamentos e meios de transporte utilizados na
comercialização
Canais de venda através
da ASSEMA
LEGENDA:
QUEBRA deBabaçu
TRANSPORTE para fábrica
PESAGEM E ESTOCAGEM
20 Saboeiras da região Médio Mearin: sem
contratos
40 Fábrica de sabonete AMTR
10 Exportações: Sob contratos
30 Saboeiras em São Paulo e Manaus: sem
contratos
TRANSPORTE
• 2 caminhões COOPALJ que recolhe amêndoas nas cantinas
• 1 caminhão contratado que transporta óleo até porto em Fortaleza (exportação)
ESTRUTURA:
7 Cantinas: prédio, balanças, prateleiras,
balcões, freezer, depósito de mercadorias, área para recepção das amêndoas
Agroindústria COOPALJ
Indústria extratora de óleo pertencente a COOPALJ
EXTRAÇÃO ÓLEO DE BABAÇU:
DecantaçãoFiltragem
ArmazenamentoAtividades realizadas no âmbito das famílias
individuais
Comercialização amêndoas nas
cantinas da COOPALJ:
troca por produto ou R$
TORTA DE BABAÇU- alimentação animal
-Comercialização nas cantinas da ASSEMA
Comercialização direto na fábrica
Europa: Inglaterra - Body Shop Itália: Mundo SolidárioEUA: Aveda
Corporation
EXTRAÇÃO de Babaçu
Diagrama 3: Fluxograma de comercialização AMTR: SABONETE DE BABAÇU. Outubro de 2010.
ESTOCAGEM do óleoANÁLISE do óleo
Comercialização na fábrica
Lojas no Centro Histórico de São Luiz
Comercialização através da ASSEMA
Central do Cerrado: Brasília
TRANSPORTE
• Grupo não tem transporte próprio
• Uso transporte da COOPALJ
• Aluguel de transporte
• Carona com técnicos da ASSEMA
ESTRUTURA:
Fábrica de sabonetes
Indústria extratora de óleo pertencente a COOPALJ
PRODUÇÃO DO SABONETE:
Mistura para massaFormasCorte
AnáliseLimpeza
EmbalagemRotulagem
Armazenamento
COOPAESC
Representantes em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife,
Manaus
Feiras e eventos
Visitas
Cantinas
Comunidade
Feiras e eventos
Equipamentos e meios de transporte utilizados na comercialização
Canais de venda através da ASSEMA
LEGENDA:
Figura 1: Síntese canais de comercialização ASSEMA. Outubro de 2010.
Figura 2: Estrutura de comercialização utilizada pela ASSEMA. Outubro de 2010.
Quadro 4: Valores comercializados (R$) pela Grupo de Santana durante os anos de 2008 e 2009.
Produtos 2008 2009Compotas de abacaxi 40,5Compotas de manga 208,0 336,0Geléias 16,0 190,0Abacaxi frutas 1.157,5 0,0Licor 580,0 1.044,0Mudas 0,0 0,0Frutas in natura 292,0Total (R$) 2.002,0 1.862,0
Quadro 5: Valores comercializados (R$) pela COOPALJ durante os anos de 2008 e 2009.
COOPALJ 2008 2009Óleo de babaçu 662.557,10 1.066.153,69Torta de babaçu 22.465,87 4.469.271,00Borra 934,65 3.299,60Babaçu Feijão 60,10 Frete 43.226,00 51.787,00Carvão Mel 923,60 1.728,80
Propriedade 3.488,30 3.550,65Vendas cantinas 327.343,87 455.709,14Total (R$) 1.065.019,49 1.626.921,59
Figura 3: Dificuldades relacionadas ao processo de comercialização na ASSEMA. Outubro, 2010.
Quadro 4: Prioridades na solução dos problemas relacionados à comercialização. ASSEMA, outubro de 2010.
Dificuldades Soluções Responsáveis PrioridadeGrupo Santana
1. Transporte de produtos
Aquisição de uma moto
Melhoria das estradas
Grupo/ ASSEMA MDA/Gov.FederalPrefeitura
1
2. Organização da comercialização
Contratação de uma pessoa liberada para o trabalho de comercialização na ASSEMA
ASSEMA MDA/Gov.Federal
2
3. Equipamentos para processamento
Projeto para adquirir equipamentos ASSEMAMDA/Gov.Federal
3
4. Registros sanitários Adequar estruturaEncaminhar processo de registro
ASSEMASecretaria do Meio Ambiente e Secretaria da Saúde
4
AMTR1. Registros sanitários Adequar estrutura
Encaminhar processo de registroAMTRASSEMA
1
2. Licenciamento ambiental Contratação de consultoria na área ambiental para adequação da fábrica à legislação ambiental
COOPALJAMTRASSEMAGov. do Estado
2
3. Falta assessoria na área química
Contratação de técnico especializado COOPALJAMTRASSEMAMDA/Gov.Federal
2
4. Certificação como produto orgânico
Redução de custoAdequar a realidade local
CEPORGS Federal e EstadualAMTRASSEMA
3
5. Soda Substituto para a soda na formulação dos sabonetes
AMTRASSEMA
3
6. Transporte Aquisição de meio de transporte AMTRASSEMAMDA/Gov.Federal
4
7. Eliminação dos babaçuais Aprovação da Lei do Babaçu Livre – Estadual e Federal
Congresso NacionalMIQCBANAASSEMASindicato das indústrias de óleo
5
COOPALJ1. Licenciamento ambiental Contratação de consultoria na área
ambiental para adequação da fábrica à legislação ambiental
COOPALJAMTRASSEMAGov. do Estado
1
2. Falta assessoria na área química
Contratação de técnico especializado COOPALJAMTRASSEMAMDA/Gov.Federal
1
3. Mercados: ampliação do número de compradores e dos volumes de vendas
Garantia de maiores quantidades de produtos com qualidade e regularidadeCapital de giro com juro subsidiado
COOPALJASSEMAAMTR
2
4. Falta de matériaprima de qualidade
Ampliação da área de atuação da COOPALJExpansão do número de cantinas
COOPALJ 2
5. DAP Credenciamento da ASSEMA para fornecimento de DAPsNegociação com MDA para que este aceite que DAPs de assentados sejam fornecidas pelos STR e não somente pelo INCRA e
ASSEMAMDA/INCRA/ITERRAANA
3
órgãos vinculados6. Preço do produto Inclusão das famílias no PGPM da sócio
biodiversidadeDiscussão e negociação de preços em nível de cadeia da produção do babaçu pela agricultura familiarMecanismos de diferenciação de preços
ASSEMACOOPALJCooperativa Babaçu Livre
3
7. Transporte: logística de transporte adequada ao óleo de babaçu
Empresa de fornecimento deste serviço 4
8. Falta de assessoria Recursos para contratação de técnicos ASSEMACOOPALJMDA/Gov.Federal
5
9. Eliminação dos babaçuais Aprovação da Lei do Babaçu Livre – Estadual e Federal
Congresso NacionalMIQCBANAASSEMASindicato das indústrias de óleo
6
Quadro 5: Relação com governos e políticas públicas estabelecidas pela ASSEMA, outubro de 2010.
Política/Programa Nível federação Descrição
Grupo Santana
MDA Federal Recursos para instalação de viveiros e abertura de poços de água na comunidade
MMA Federal Recursos para aquisição de equipamentos para agroindústriaMDS Federal Recursos para aquisição de equipamentos para agroindústria
Relação com prefeitura municipal
Municipal
Fornecimento de energia elétrica e de água potável não abrange todas as famílias do município. Estes dois representam problemas para a agroindústria do grupoMá conservação das estradasNão execução do PNAE
AMTRMMA Federal Recursos para aquisição de equipamentos para agroindústriaPRODIM Programa estadual de combate à fome e à pobreza rural. Parceria Governo Estado/Banco Mundial
Estadual Reforma e ampliação da fábrica
COOPALMAPA – PGPM para produtos da sócio biodiversidade
Federal Em tratativas e dependendo do acesso as DAPs
MAPA/PAA Federal Comercialização de mesocarpo de babaçuMEC/PNAE Federal Fornecimento de alimentos para alimentação escolar: em tratativas
Legenda:
Relação negativa Relação positiva
Quadro 6: Relação com entidades de apoio não governamentais estabelecidas pela ASSEMA, outubro de 2010.Entidade/programa Descrição
Grupo SantanaSEBRAE Capacitação e apoio a participação em feiras e eventosCristian Aid Recursos para instalação da agroindústriaAction Aid Recursos para instalação da agroindústriaACESA Cursos de formação em processamento de compotasAMTRMisereor Recursos para instalação da agroindústriaUNICEF Recursos para instalação da agroindústriaAction Aid Recursos para equipamentos, embalagens e rótulosOxfam Recursos para assessoria técnicaAVEDA Recursos para assistência técnica na produção de essências
SEBRAE Capacitação e apoio a participação em feiras e eventosApoio no processo de registro dos sabonetes
COOPALJ
Misereor
Projeto institucional da ASSEMA: assessoria técnicaCapital de giroRecursos para instalação da fábrica de óleo: prensa, depósito, armazéns, cantinas, caminhão e manutenção deste por 1 ano
Pão para o mundo Recursos para ampliação da fábrica AVEDA Recursos para assistência técnica
Figura 4: Sugestões de políticas públicas/atuação dos governos pelas famílias entrevistadas. Agosto, 2010.
Diagrama 4: Relações e parcerias Grupo de Santana. Outubro de 2010.
GRUPO DE SANTANA15 famílias
Rede Cerrado
SEBRAE
ASSEMA
Cooperativa Babaçu Livre
STRs
COOPAESC
MIQCBCentro Cultural Negro - CCN
COOPALJ
UNICAFES MMAMDA
MDS
Diagrama 5: Relações e parcerias AMTR/COOPALJ. Outubro de 2010.
AMTR102 sócias
COOPALJ158 famílias
SEBRAE
ASSEMA
Cooperativa Babaçu Livre
STRs
COOPAESC
MIQCBMST
ACESA
UNICAFES MMANatura
Banco do Brasil
Governo do Estado
ITERRA
Banco do Nordeste
EFA
Território da Cidadania
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A ASSEMA é uma associação que abrange um elevado número de famílias organiza
das em cinco grupos/cooperativas. Devido a isto se pode identificar no âmbito da associa
ção um número considerável de produtos, bem como de estratégias de comercialização uti
lizadas. Pelo visto, a ASSEMA tem ao longo dos anos de trabalho estimulado a diversifica
ção das fontes de renda, a agregação de valor aos produtos das famílias associadas e a cons
trução de canais alternativos de comercialização.
Ganha destaque na sua atuação a intervenção na cadeia de produção e beneficia
mento do cocobabaçu, criando espaços de recepção e distribuição, através da implantação
de cantinas para compra de amêndoa e comercialização de bens de primeira necessidade e
alimentares. Da mesma forma, tem implantada uma unidade de produção de óleo e outra
de mesocarpo. Ambas propostas significaram importante influência na quebra do monopó
lio dos intermediários e fortalecimento da autonomia junto às famílias associadas a ASSE
MA.
Entre os produtos destacamse (a) os derivados de babaçu: óleo, amêndoas, meso
carpo, torta, carvão, sabonetes, biojóias, pastas, blocos, envelopes de papel reciclado com fi
bras de babaçu; (b) os doces, licores e frutas in natura produzidos pelo grupo de mulheres
de Santana. Entre os canais de comercialização citamos como os mais importantes: (a) as
exportações de óleo de babaçu; (b) a comercialização com fábricas de sabão na região do
Médio Mearim e também fora do estado do Maranhão; (c) o contrato com a Natura Cosmé
ticos; (d) a comercialização de torta de babaçu a nível local (nas cantinas da COOPALJ ou
na própria fábrica). Quanto ao sabonete de óleo de babaçu (AMTR) e os doces/compotas
(Mulheres de Santana) os canais de comercialização ainda estão em construção e as vendas
ainda são bastante dependentes de viagens e participação das sócias dos grupos em feiras e
eventos e/ou de visitas que recebem nas agroindústrias ou na sede da ASSEMA em Pedrei
ras.
Nos quadros 4 e 5 podemos encontrar alguns números relativos a comercialização.
Nestes, podemos ver que no grupo de Mulheres de Santana, no qual se destaca a
comercialização de licores, compotas e de frutas de abacaxi, os valores comercializados
ainda são bastante baixos. De acordo com as entrevistadas, isto decorre das dificuldades de
acesso e transporte dos produtos (estradas precárias e grupo sem transporte próprio) e da
inexistência de canais constantes de comercialização. Neste caso, as vendas são pontuais e
dependem da participação das mulheres associadas em eventos e de visitas que estas
recebem na comunidade e agroindústria. Para vendas em locais fora da comunidade as
associadas dependem do transporte alugado ou de caronas com os técnicos da ASSEMA que
visitam a comunidade.
Na COOPALJ, o grande destaque como produtos comercializados são o óleo de
babaçu e os alimentos comercializados nas cantinas da associação. Em 2009, a
comercialização de óleo de babaçu movimentou R$ 1.066.557,10. Neste grupo os principais
canais de vendas de óleo são as exportações sob contratos para fabricantes de cosméticos
na Inglaterra, Itália e EUA; as vendas para saboeiras da região e também de outros estados
do Brasil e o repasse de óleo para a fabricação de sabonetes de óleo de babaçu pela AMTR.
Além do óleo a torta de babaçu é um importante produto comercializado, tendo
movimentado em 2009 R$ 44.692,71. A torta é comercializada nas cantinas da COOPALJ e
diretamente na fábrica sendo utilizada na alimentação de animais da região.
Destacase ainda, apesar da visita não ter possibilitado um estudo mais aprofundado
da COOPAESP, vinculada à ASSEMA, a comercialização que esta realiza do mesocarpo do
cocobabaçu. Relatos feitos pelo presidente da Cooperativa, bem como o resgate da linha do
tempo da ASSEMA, indicam que esta comercializa o mesocarpo junto ao PAA, lojas de
produtos naturais do Rio de Janeiro e São Paulo, bem como no contrato feito junto à
Natura, para a produção de cosméticos.
Uma importante ação de comercialização no âmbito da COOPALJ são as cantinas
(7) que a cooperativa possui em povoados rurais.. Estas cantinas tem o objetivo de recolher
amêndoas dos associados e comercializar alimentos e produtos de primeira necessidade
para estes. Cantinas são uma forma de comercialização bastante antiga em povoados do
Maranhão e uma forma de dominação das famílias. No esquema tradicional a troca de
amêndoas por alimentos é feita sem uma transparência de valores a receber e valores em
haver, sujeitando as famílias à dívidas crescentes. Em 2009 as cantinas movimentaram R$
455.709,14.
No que se refere à estrutura disponível e utilizada para a comercialização podemos
ver grandes diferenças entre os grupos (figuras 1 e 2). Dos três grupos pesquisados somente
a COOPALJ possui uma estrutura de comercialização considerada suficiente pelos
entrevistados: caminhão, cantinas, canais estabelecidos e sob contrato. Nos demais (grupo
de Santana e AMTR) a precariedade na estrutura de comercialização ganha destaque.
Nenhum dos dois possui meios de transporte próprio e em ambos as vendas são somente
eventuais. Ambos os grupos afirmaram a necessidade de uma maior e melhor organização
da comercialização, com pessoas liberadas, logística de recolhimento de produtos e
distribuição aos clientes, etc, o que poderia ser realizado através da ASSEMA, assim
contemplando os demais grupos de associados à entidade.
No que se refere às dificuldades na comercialização, ou fatores impeditivos, a figura
3 apresenta as dificuldades nos três grupos pesquisados. De forma sintética as principais
dificuldades agrupamse como:
(a) Relacionadas aos registros sanitários e licenças ambientais, devido, por um lado, à
inadequação das estruturas das agroindústrias e, por outro, à dificuldade de
realizar/executar o processo de registro. Segundo os entrevistados, esta
dificuldade decorre da falta de informações, ou de informações contraditórias,
que são repassadas pelos técnicos dos órgãos onde os registros devem ser
requeridos. Porém, ganha destaque a leitura sobre a inadequação da legislação
à realidade da agricultura familiar, onde não há marco regulatório adequado a
pequenas unidades produtivas, mesmo que o produto final tenha igual ou
superior qualidade aos produtos comerciais;
(b) Ao transporte: condições precárias das estradas e vias de acesso e ausência de
meios de transporte adequado nos grupos. Destacase aqui também, uma
demanda frequente das organizações pela necessidade de subsídio ao
transporte, pelas características inovadoras das experiências;
(c) Dificuldade de acesso à DAP: tem sido apontada como determinante para o não
acesso aos programas federais de apoio a comercialização, tais como PNAE, PAA
e PGPM para produtos da sócio biodiversidade. Esta dificuldade se destaca no
caso de famílias assentadas, onde há dificuldades de se acessar as DAPs junto ao
Instituto de Terras do Estado e INCRA, havendo conflito entre eles, inclusive;
(d) Questões de assessoria também foram recorrentes, sejam relacionadas à
comercialização, sejas relacionadas a parte técnica nas agroindústrias. Neste
caso técnicos especializados em química de alimentos e na área de
licenciamento ambiental;
(e) O custo excessivamente elevado e a inadequação da certificação de produção
orgânica à realidade das famílias da ASSEMA.
(f) Em dois dos grupos pesquisados (AMTR e grupo de Santana) ficou claro que
apesar destes possuírem estrutura de fabricação montada as vendas são
eventuais e dependentes de eventos, visitas, caronas de técnicos etc. Neste
sentido apontam a necessidade de uma melhor organização para a
comercialização no âmbito da ASSEMA, com pessoas liberadas, logística de
recolhimento de produtos, contatos com clientes etc.
No quadro 4 são apontados as possíveis soluções para os problemas identificados.
Os quadros 5 e 6 apresentam as relações/apoio dos governos e das políticas públicas
(quadro 5) e de programas e instituições não governamentais (quadro 6). Pela descrição
dos tipos de apoio e recursos recebidos podese inferir que o apoio de instituições e órgãos
não governamentais foi mais importante e determinante para o trabalho destes grupos que
o apoio dos governos e das políticas públicas. Também foi dito pelos entrevistados que o
apoio do Estado e das políticas públicas tem sido mais recente, principalmente a partir de
2003, enquanto as instituições não governamentais, principalmente a cooperação
internacional, têm atuado junto a ASSEMA desde a fundação desta em 1989. No entanto
aqui, ao contrário do que foi visto em outros grupos pesquisados, como a AGROFLOR/PE e
a ECOTERRA/RS, na ASSEMA não foi possível identificarmos uma relação negativa com o
Estado, a não ser no que se refere a precariedade dos serviços básicos fornecidos, ou que
deveriam ser, pelas prefeituras, como luz elétrica, água potável e condições das estradas.
Outro ponto que chama atenção neste grupo é a importância dos recursos próprios
gerados pelo grupo na aquisição de estruturas produtivas, neste caso na COOPALJ. Segundo
os entrevistados foram adquiridos com recursos próprios: 2 caminhões; 51 ha de terra,
algumas das cantinas, 20 ha de terra doados para uma Escola Família Agrícola, uma
segunda prensa usada na moagem de amêndoas.
Como sugestões de políticas públicas as famílias apontam (figura 3):
• Recursos subsidiados para aquisição de meios de transporte• Capital de giro para agroindústrias• Recursos a fundo perdido para estruturas de beneficiamento/processamento• Aprovação da Lei do Babaçu Livre nos níveis municipal, estadual e federal• Facilitação do processo de registro das agroindústrias
1. Redução das etapas do processo2. Adequação da legislação para a agricultura familiar 3. Maior capacidade de informação e de atuação por parte dos órgãos competentes
• Facilidades do acesso às DAPs
1. Credenciamento da ASSEMA2. Desvinculação do fornecimento de DAPs aos assentados unicamente pelo INCRA
e órgãos relacionados, neste caso ITERRA. O fornecimento pelos STRs em geral é mais eficiente.
• Disponibilidade de recursos para apoio à comercialização: centrais de comercialização, por exemplo.
• Manutenção de estradas e vias de acesso nos municípios• Participação do governo federal MAPA no estabelecimento de uma política
nacional de definição de preços de amêndoas e derivados de babaçu.
A leitura do Diagrama de Venn, elaborado junto aos grupos entrevistados,
demonstra que o processo histórico da luta pela terra e da construção da ASSEMA fez com
que seus grupos vinculados se caracterizem pelo estabelecimento de importantes relações
políticas e institucionais na região. Mesmo em grupos onde a estrutura produtiva ainda é
pequena (Grupo Santana, por exemplo), observase que a articulação política deste na
região, e consequentemente sua influência local, é bastante ampla. Este fato também pode
ser constatado pela expressiva formação políticas das lideranças da região.
É neste sentido que a ASSEMA ocupa relevante papel na constituição e organização
do MIQCB, bem como na luta pela terra e por direitos dos agricultores na região. A relação
estabelecida com a Natura, exemplifica bem este papel político ocupado pela ASSEMA na
região, onde contratos foram suspensos pela não concordância das comunidades com a
política de repartição de benefícios da empresa. A negociação só foi retomada, quando as
demandas das organizações foram atendidas.
Assim, para além da viabilização econômica das famílias envolvidas, a ASSEMA
cumpre importante papel de articulação e mobilização política na região, aspecto também
relevante na ECOTERRA e AGROFLOR, porém com maior destaque, abrangência e
relevância dentro da ASSEMA.
Ainda da leitura dos digramas de relações sociais, podese destacar no caso da
COOPALJ, a articulação feita pela organização de relações de cunho político e comercial de
forma concomitante. Ao mesmo tempo que esta exerce importância influência política na
região e no município, também se ocupa das operações de exportação e das relações com
seus parceiros comerciais no exterior e na região.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de comercialização desenvolvido pela ASSEMA possui características
bastante diferenciadas em relação as outras duas organizações sistematizadas (AGROFLOR
e ECOTERRA). Tais diferenças podem ser explicadas por diversos aspectos, mas aqui podem
se destacar a formação histórica da ASSEMA, muito vinculada à luta pela terra; a
incorporação de debate sobre populações tradicionais e extrativismo através da luta pelo
babaçulivre e o perfil sócioeconômicoprodutivo das famílias da região, dado pelo
predomínio da extração do babaçu como produto central das estruturação econômica das
famílias.
Neste sentido, ganha relevância na leitura do processo de comercialização da
ASSEMA, o busca da quebra do processo de intermediação na cadeia de produção do coco
babaçu, bem como a estruturação de canais de comercialização, bem como de alternativas
de uso dos subprodutos do coco (ex: mesocarpo, sabonetes, papel reciclado, biojóias, etc...).
Nesta perspectiva, o perfil de atuação no campo da comercialização é diferenciados
dos dois demais casos, uma vez que a busca pelo estabelecimento de circuitos curtos e
fortalecimento de mercados locais se vê limitada pelas características do principal produto
elaborado (óleo, torta e mesocarpo).
No entanto, a função realizada pelas cantinas, por exemplo, representa uma
importante intervenção no mercado local, em termos de melhoria da remuneração das
famílias e de seu domínio sobre a cadeia produtiva. Da mesma forma, as estratégias
construídas para comercialização do óleo, principal produto, primam pela garantia da
autonomia das organizações no processo.
Relatos dos agricultores demonstram clareza no que se refere a importância da
diversificação das estratégias de comercialização, evitando, por exemplo, a dependência
dos canais de exportação, mesmo que este pudesse absorver toda a produção e
considerando que promove melhor remuneração por quilograma de produto.
Assim, as estratégias adotadas refletem esta preocupação, atuando também junto a
pequenas indústrias locais e outros espaços locais e regionais na comercialização do óleo.
Da mesma forma, ganha destaque o objetivo claro explicitado pelos agricultores em
viabilizar o processo de refino do óleo. Este processo é considerado como prioritário, em
função de poder viabilizar a venda deste como alimento, ampliando as possibilidades de
mercado, inclusive dando maior ênfase aos mercado locais e institucionais.
No âmbito da estratégia de comercialização de outros produtos, para além do óleo e
do mesocarpo, percebese que ainda há espaço para se avançar nesta questão. No caso das
compotas e licor, há uma clara restrição dada pelas condições das estradas e a falta de
transporte, para poder viabilizar maiores volumes de produção. Há potencial produtivo e
estrutura de beneficiamento suficiente à produção de maiores volumes, porém, a falta de
espaços de comercialização e, por outro lado, uma dificuldade em organizar e diversificar a
base de produtos a serem elaborados, também se torna um impeditivo para um maior
avanço.
No que se refere aos sabonetes, a demanda é grande e a estrutura está em fase de
regularização – não sem as dificuldades já descritas para o registro –, no entanto, concluído
este processo, haverá a necessidade de estruturar melhor a organização e logística de
comercialização, uma vez que até o momento esta se concentra em eventos e feiras
pontuais, além de parceiros próximos à ASSEMA. A estrutura implantada, bem como a
qualidade e apresentação do produto possuem grande potencial de expansão da
comercialização. Cabe uma breve ressalva em relação à necessidade de se ter uma
alternativa tecnológica ao uso da soda cáustica, de forma a permitir a certificação orgânica
do produto, o que possibilitaria uma excelente oportunidade de comercialização dentro das
próprias redes estabelecidas entre as organizações do campo agroecológico.
Neste sentido, podemse destacar as seguintes questões em relação ao processo de
comercialização desenvolvido pela ASSEMA:
A marcante intervenção, mesmo que em âmbito local, na quebra das relações de
intermediação na cadeia produtiva do cocobabaçu, beneficiando as famílias
permitindo a estruturação da Cooperativa;
A relevância do processo de articulação entre a construção de alternativas de
beneficiamento e comercialização do cocobabaçu com a luta política pela terra,
organização das quebradeiras de coco e pelos direitos das populações
tradicionais;
O caráter participativo do processo de construção das organizações locais e das
estratégias de comercialização;
O diálogo e articulação política da ASSEMA com seus parceiros comerciais no
exterior, construído de forma a respeitar a dinâmica e os princípios de
organização da entidade;
A capacidade de negociação no que se refere às questões de repartição de
benefícios junto à Natura, estabelecendo um parâmetro para outras
organizações na região e no país;
A perspectiva política e técnica de fortalecer a produção de alimentos para
comercialização, notadamente no refino do óleo babaçu e na produção local
para o abastecimento ao PNAE como possibilidade em breve;
A presença marcante de agências de cooperação na estruturação dos espaços de
comercialização e beneficiamento das organizações locais. Da mesma forma,
observase um maior acesso a programas de apoio de determinados ministérios
em relação às demais experiências;
Porém, observase uma ausência, assim como nas demais experiências,
significativa do Estado na viabilização dos processo de comercialização, sendo a
questão sanitária um impeditivo marcante ao desenvolvimento da proposta;
Em termos de políticas públicas, podemse destacar os seguintes aspectos levantados
no âmbito geral da ASSEMA, considerando as diferentes realidades e perfil produtivo de
cada organização visitada:
Quadro 7: Proposições de ações/políticas públicas a partir da ECOTERRA.
Dimensão Demanda
Assistência Técnica e Extensão Rural
Apoio à programas de organizações locais de ATER, Fomento à processos de formação em gestão, beneficiamento
da produção, elaboração de projetos, etc;
Logística e Estrutura de comercialização
Cessão e financiamento de infraestrutura e insumos para processamento de produtos;
Viabilização estruturas de comercialização, como centrais e recursos humanos para tal;
Transporte Subsídios ao transporte de produtos, pela dispersão das unidades de produção e pelos volumes ainda pequenos;
Viabilização da aquisição de veículos; Melhoria de condições estruturais para o transporte,
principalmente estradas rurais;
Vigilância sanitária Adequação da legislação à realidade de unidades de produção familiares;
Viabilização de estruturas adequadas à legislação; Viabilização de recursos humanos especializados para
elaboração de projetos e tramitação de processos de regularização.
Legislação Adequação da legislação sanitárias à realidade das estruturas familiares de beneficiamento;
Aprovação da lei Babaçulivre;
Por fim, destacase nestas considerações finais aspectos relativos aos avanços inter
nos considerados necessários à ASSEMA. Observase um processo extremamente exitoso no
que se refere à intervenção na cadeia produtiva do cocobabaçu. No entanto, observase que
fazse necessário o avanço na abordagem aos sistemas de produção agrícolas, notadamente
na produção para o autoconsumo e culturas de potencial produtivo na região, como tem se
mostrado a produção de frutas, a partir da experiência do Grupo de Santana.
A ASSEMA tem inciado o trabalho nestes aspectos, visando o atendimento ao PNAE
e abertura de outras estratégias de comercialização. Desta maneira, observase a necessida
de de um maior avanço na capacidade produtiva notadamente na produção de compotas,
licores e o potencial de desenvolvimento de outros produtos, como doces, sucos e compotas
de outras frutas da região, que poderiam ser o canal para entrada em novos canais de co
mercialização e no mercado institucional, viabilizando transporte com maiores volumes e
fortalecendo a autonomia da organização local em relação à ASSEMA no que se refere a
participação na comercialização.
Observase que a análise da ASSEMA permitiu um importante complemento ao pro
cesso de sistematização realizado, trazendo para o debate aspectos relativos a estruturação
de cadeias de produção mais especializadas, bem como no acesso ao mercado externo. Ao
mesmo tempo, traz uma importante referência a reestruturação de uma cadeia produtiva
importante na região, como no caso da criação das cantinas e montagem da unidade de ex
tração do óleo babaçu. Assim, contemplamse diferentes abordagem e alternativas no que
se refere à construção de mecanismos de mercados alternativos na produção ecológica, per
mitindo uma leitura ampla e abrangente da participação e ausência do Estado no estímulo
e viabilização destas iniciativas.
ANEXO I – Listas de Presença
Lista de presença reunião com equipe técnica e direção da ASSEMA
Lista de presença Oficina Grupo Santana Lista de presença Oficina COOPALJ + AMTR
ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital)
ANEXO III – Imagens do trabalho de campo