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Julian Perez Cassarino Daniela Oliveira ANA – Articulação Nacional de Agroecologia GT SSA – Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar RELATÓRIO 3 Estudo de caso da ASSEMA, Médio Mearim – Maranhão. Relatório técnico referente a prestação de contas de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Estudo de caso da ASSEMA, Médio Mearim – Maranhão, Nordeste. Curitiba – Paraná Outubro/2010

Estudo de Caso da ASSEMA

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Relatório técnico referente a prestação de contas de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Estudo de caso da ASSEMA, Médio Mearim – Maranhão, Nordeste.

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Page 1: Estudo de Caso da ASSEMA

Julian Perez CassarinoDaniela Oliveira

ANA – Articulação Nacional de Agroecologia

GT SSA – Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar

RELATÓRIO 3

Estudo de caso da ASSEMA, Médio Mearim – Maranhão.

Relatório técnico referente a prestação de contas   de   serviço   em   sistematização   de experiências para o GT SSA/ANA.  Estudo de   caso   da   ASSEMA,  Médio   Mearim   – Maranhão, Nordeste.

Curitiba – ParanáOutubro/2010

Page 2: Estudo de Caso da ASSEMA

Sumário1 – INTRODUÇÃO..................................................................................................................3

2 ­ DESCRIÇÃO, OBJETIVOS, ESTRUTURA E CONTEXTO EM QUE A ASSEMA EMERGE....4

3 ­ SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, 

CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES........................................................8

4 ­ ANÁLISE DOS RESULTADOS...........................................................................................24

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................29

ANEXO I – Listas de Presença...............................................................................................33

ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital).........................................35

ANEXO III – Imagens do trabalho de campo........................................................................35

Page 3: Estudo de Caso da ASSEMA

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1 – INTRODUÇÃO

O objetivo deste produto é apresentar o estudo de caso realizado junto a Associação em 

Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA, Médio Mearim, Maranhão.

A coleta das informações aqui apresentadas foi realizada durante os dias 27, 28 e 29 de 

setembro de 2010. As unidades analisadas foram à associação ASSEMA, através de duas oficinas de 

sistematização. As técnicas utilizadas nas oficinas de sistematização são apresentadas no quadro a 

seguir. 

    Quadro 1: Técnicas utilizadas nas oficinas de sistematização da ASSEMA. Outubro de 2010.

OFICINAS DE SISTEMATIZAÇÃO

ASSEMA

Técnicas ParticipantesLinha do Tempo Oficina 1:

Equipe de sistematizaçãoTécnicos da equipe localSócios   da   ASSEMA/Grupo   de Santana

Oficina 2:Equipe de sistematizaçãoTécnicos da equipe localSócios   da   ASSEMA/AMTR   e COOPALJ

Desenho   do   Fluxograma   de comercializaçãoDiagrama   de   Venn  (mapeamento das   entidades   parceiras   e   sua importância no processo).

Previamente à   realização da oficina de sistematização,   foi  realizada uma reunião com a 

equipe técnica de assessoria e com membros da direção da ASSEMA, a fim de expor e debater a 

metodologia   e   adequá­la   à   realidade   e   às   possibilidades   do   grupo.   Também   foi   objetivo 

contextualizar as organizações a respeito do processo de sistematização e o contexto em que se 

encontra   inserido,   em  diálogo   com o  GT  de  Soberania   e   Segurança  Alimentar   da  Articulação 

Nacional de Agroecologia (GT SSA/ANA).

No segundo dia de trabalho realizamos a primeira oficina de sistematização que contou com 

a participação de representantes de um dos grupos que compõem a ASSEMA, neste caso o Grupo 

das Mulheres de Santana. No terceiro dia repetimos o processo, neste caso com a Associação das 

Mulheres   Trabalhadoras   Rurais   –   AMTR   e   com   a   Cooperativa  de   Pequenos   Produtores 

Agroextrativistas do Lago do Junco – COOPALJ. Ou seja, apesar da ASSEMA ser formada por 5 

grupos/associações   neste   trabalho   optamos   pela   sistematização   detalhada   de   apenas   3   destes 

grupos.

 Um maior detalhamento da metodologia assim como uma descrição dos objetivos de cada 

uma das dinâmicas podem ser encontrado no Produto 2 desta consultoria.

Este relatório está estruturado nas seguintes partes: Na primeira parte apresentamos uma 

breve descrição da ASSEMA, de seus objetivos, estrutura e do contexto em que a associação emerge. 

Na   segunda   parte   apresentamos   uma   série   de   informações   relacionadas   ao   processo   de 

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comercialização que vem sendo construído pelo grupo. Na terceira parte o objetivo é relacionar as 

informações coletadas e apresentar algumas conclusões a respeito do processo de construção de 

mercados e da relação deste com os governos e com as políticas públicas. Por fim, são apresentadas 

as considerações finais sobre o processo de sistematização realizado.

Compõe este informe a (i) descrição e análise dos dados coletados, (ii) listas de presença das 

atividades realizadas e imagens do processo de sistematização realizado.

2 ­ DESCRIÇÃO, OBJETIVOS, ESTRUTURA E CONTEXTO EM QUE A ASSEMA EMERGE

A   Associação   em   Áreas   de   Assentamento   no   Estado   do   Maranhão   (ASSEMA),   é   uma 

organização dirigida por trabalhadores rurais e quebradeiras de coco babaçu que tem atuação no 

Médio Mearim, região central do Estado do Maranhão, situado no Meio Norte do Brasil.

Mapa 1: Mapa da região Médio Mearim/Maranhão.  

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregi%C3%A3o_do_M%C3%A9dio_Mearim

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Mapa 2: Mapa da região de atuação da ASSEMA/Médio Mearim/Maranhão.  

O Estado do Maranhão juntamente com Piauí e Tocantins concentra as maiores extensões de 

matas onde predomina a palmeira babaçu, formando agrupamentos homogêneos e bastante den­

sos de coqueirais. É praticamente o único sustento de grande parte da população interiorana destas 

regiões e apenas no Estado do Maranhão a extração de sua amêndoa envolve o trabalho de mais de 

300 mil famílias. Em especial, mulheres acompanhadas de suas crianças: as "quebradeiras", como 

são chamadas.

De acordo com o MIQCB1 é possível identificarmos entre as famílias quebradeiras duas situa­

ções, no que se refere ao acesso a terra: famílias com terra e famílias sem terra. No entanto o fato 

de existirem situações em que as quebradeiras tenham acesso garantido a terra não significa neces­

sariamente que naquela área haja incidência de palmeiras de babaçu, obrigando­as a um desloca­

mento permanente em busca do babaçu em outras áreas. Além disto verificou­se que há prevalência 

de incidência das palmeiras em áreas não pertencentes às quebradeiras de coco em função do pro­

cesso de apropriação e cercamento sistemático das áreas de ocorrência de babaçu, o que as tornam 

sujeitas aos chamados contratos. No Estado do Maranhão esse processo se consolidou com a edição 

da Lei nº 2.979/1969, conhecida como a Lei de Terras Sarney. Nessas situações as mulheres são 

obrigadas ao pagamento de uma renda constituída por meio das amêndoas, transformadas em moe­

da de troca. Elas somente têm acesso às palmeiras sob a condição de pagamento da metade ou mais 

da produção ao fazendeiro. Uma outra forma de sujeição é a venda ou a troca de toda a produção 

1 Movimento das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu

Fonte: http://www.assema.org.br/

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por mercadoria,  exclusivamente para o dono da  terra  em cantinas estabelecidas nos  povoados. 

Quando as quebradeiras de coco se recusam a esse tipo de relação, são proibidas de utilizarem o 

coco ou acusadas formalmente de furto de babaçu.

É como reação a esta situação que emerge o movimento babaçu livre2 que consiste na busca 

pelo direito de livre acesso e uso comum das palmeiras de babaçu pelas quebradeiras de coco e suas 

famílias, estejam elas em domínio privado ou público. O argumento do movimento é que o livre 

acesso ao babaçu é preexistente ao processo de apropriação e cercamento de áreas quando a ativi­

dade extrativa era realizada sem nenhuma restrição, pois as palmeiras não tinham dono.

Paralelo a este movimento de luta pelo livre acesso as áreas de babaçu ocorrem mobilizações 

camponesas voltadas para a implantação de assentamentos de reforma agrária. Num primeiro mo­

mento, entre 1985 e 1989, o maior número desses assentamentos estarão concentrados em áreas de 

forte organização camponesa, que é o caso da região do Médio Mearim. Neste contexto organiza­se 

a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA, que é uma organização 

liderada por trabalhadores rurais e mulheres quebradeiras de coco babaçu que promove a produção 

familiar, utilizando e preservando os babaçuais, para a melhoria da qualidade de vida no campo. 

A ASSEMA foi fundada em 1989, por iniciativa de lideranças sindicais dos municípios de 

Esperantinópolis, Lima Campos, São Luiz Gonzaga do Maranhão e Lago do Junco e desde então 

vem prestando assessoria técnica, jurídica, econômica e política às famílias de trabalhadores rurais, 

em especial às famílias quebradeiras de coco babaçu. Seu trabalho envolve famílias de 17 áreas de 

assentamento dos municípios de São Luiz Gonzaga do Maranhão, Lima Campos, Lago do Junco, 

Lago dos Rodrigues, Esperantinópolis e Peritoró, todos situados na região Médio Mearim. Entre suas 

principais contribuições destacam­se: 

Fortalecimento do direito à cidadania das famílias de trabalhadores rurais e quebradeiras de 

coco babaçu;

A criação de iniciativas econômicas sustentáveis e solidárias;

Promoção da equidade nas relações de gênero, entre gerações e etnias;

A sensibilização para a importância da agricultura agroecológica;

Combate ao êxodo rural com alternativas que ajudem as pessoas a permanecerem na terra 

conquistada;

Luta ela implementação de políticas públicas que primam pela preservação dos babaçuais e 

de leis municipais que garantem às quebradeiras de coco o livre acesso às áreas de babaçu. 

2 Ver: http://www.assema.org.br/artigos2.php?id_artigo=11

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Quadro 2: Algumas informações a respeito da ASSEMA. Outubro de 2010.

Estado MA

Região Médio Mearim

Municípios de atuação

São Luiz Gonzaga do Maranhão Lima Campos Lago do Junco Lago dos Rodrigues Esperantinópolis Peritoró

Associações que com­põem a organização 

Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas e Quebradeiras de Coco Babaçu Livre (Cooperativa Babaçu Livre) Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas do Lago do Junco/MA (COPPALJ) Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de Es­perantinópolis/MA (COOPAESP) Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues/MA (AMTR) Associação de Jovens Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues/MA (AJR)Associação de Mulheres de Santana –São Luis Gonzaga/MA

Fundação 1989

Número de famílias as­sociadas 460

Número de famílias as­sessoradas direta e indi­retamente pela ASSEMA

45 associações comunitárias e 63 comunidades tradicionais, distribu­ídas em 22 áreas de assentamentos de reforma agrária, perfazendo um número em torno de 3.500 (três mil e quinhentas) famílias as­sessoradas

Número de famílias que comercializam pela en­tidade

460

Principais produtos co­mercializados

Óleo de babaçú: 15 toneladas/ mês Sabonete: 05 mil unidades/mês Pastas, blocos, envelopes de papel reciclado com fibras de 

babaçu: 02 mil unidades/mês Torta de babaçu: 06 toneladas/mês Mesocarpo: 800 Kg /mês Compota de manga: 08 caixas /mês (24 potes por caixa) Licor de jenipapo:  06 caixas/mês (12 garrafas por caixa)

Acreditação/Certifica­ção

IBD – mercado de orgânicos UNICAFES – Comércio Justo

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3 ­ SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES

A ASSEMA foi fundada em 1989 desde quando discute a necessidade de canais alternativos 

de comercialização para os produtos das famílias membros da associação. A primeira iniciativa de 

comercialização no âmbito da ASSEMA deu­se nos anos de 1991/92 através das recém fundadas 

cooperativas do Lago do Junco (COOPALJ) e Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas 

de   Esperantinópolis  (COOPAESP).   Na   época   os   produtos   comercializados   foram   amêndoas   de 

babaçu, arroz, carvão de casca de babaçu e aipim.   Com o passar do tempo outras organizações 

foram criadas e os canais de comercialização diversificaram­se, assim como a pauta de produtos 

oferecidos. No diagrama a seguir sintetizamos a história de construção de canais alternativos de 

comercialização por parte dos associados da ASSEMA.

     Quadro 3: Síntese da construção de canais de comercialização pela ASSEMA. Outubro de 2010.

ANO EVENTO

1989Fundação ASSEMA

Fundação AMTR: Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais

1990 Início das discussões a respeito da comercialização no âmbito da ASSEMA

1991

Fundação COOPALJI: Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas do Lago do Junco/MA

COOPALJ assume a gerencia e controle de 7 cantinas em povoados onde residem os sócios. Estas can­tinas tem o objetivo de recolher amêndoas dos associados e comercializar alimentos para estes. Canti­nas são uma forma de comercialização bastante antiga em povoados do Maranhão e uma forma de dominação das famílias. No esquema tradicional a troca de amêndoas por alimentos é feita sem uma transparência de valores a receber e valores em haver, sujeitando as famílias à dívidas crescentes.  O controle destes espaços por parte da COOPALJ representa um fato bastante importante na construção dos mercados pela agricultura familiar da região (fotos em anexo).

1992Fundação COOPAESP: Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de Esperantinópolis/MA

Comercialização de amêndoas de babaçu, arroz, carvão e mandioca pela COOPAESP

1993 Início do processamento da amêndoa de babaçu: óleo e mesocarpo

1994Primeiros contatos com saboeiras da região

Primeiros contatos com certificadora IBD

1995 Contato com Body Shop na Inglaterra

1996 Primeira venda para Body Shop (Inglaterra), através de uma refinadora de óleo da Holanda

1997

Ampliação do mercado  Visitas comerciais de importadores de óleos para cosméticos

Vendas para AVEDA CorporationCertificação IBD

1998

Início da comercialização mesocarpo. Até 2000 as vendas somente ocorrem para fora da região: Lojas Mundo Verde no RJ Padarias no Ceará Lojas de produtos naturais

1999 Estruturação das vendas e definição de nome, logomarca da ASSEMA e grupos;

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Início da produção e comercialização do sabonete de óleo de babaçu – AMTR:  Vendas no mercado local e regional        

 Vendas em feiras e eventos    

Mercado internacional (Pacifica Sensual)                 Vendas sem contratos, somente através de pedidos.

Início da produção do papel reciclado para embalagem dos sabonetes. Somente sob pedido. 

2000

Reativação dos trabalhos no grupo de Santana: geléias e compotas comercializadas: Na embaixada do babaçu em São Luiz Em eventos regionais e nacionais Entregas nas residências em Pedreiras Contatos da ASSEMA

COOPALJ inicia vendas de torta de babaçu para ração animal nas próprias comunidades da região e em outras comunidades a região.

2003

Loja em São Luiz – Embaixada do babaçu Livre. 

Fundação da Cooperativa do Babaçu Livre: 5 famílias de cada um dos grupos formadores da ASSEMA. Papel de uma central de comercialização. Possibilita vendas de grupos ainda não formalizados para comercializar e estimula venda dos demais.

2004

Início da produção do licor de Jenipapo

Busca de melhorias na gestão e de sustentabilidade nas vendas Manutenção nos mercados já alcançados Melhor estruturação/reformas das agroindústrias mesocarpo e sabonete

2004 Primeiros contatos com Natura

2005

Vendas de mesocarpo para o PAA

Envio de amostras para Natura e discussões a respeito dos direitos dos agricultores3

Contrato de fornecimento com Natura

2006 Comercialização de óleo de babaçu para Mundo Solidário, na Itália.

2007 Primeiras vendas de licor de Jenipapo através da ASSEMA

2008

Redução vendas Natura devido a problemas técnicos e a indefinição da questão dos direitos sociais

Associação dos Jovens Rurais inicia produção de biojoias Vendas jóias: feiras e alguns pedidos para Inglaterra Dificuldade: equipamentos ainda inadequados

Melhoria nas vendas de licor e compotas

2009Retorno produção contrato Natura

Mudanças nos rótulos / fechamento da embaixada do babaçu (São Luis)

2010

Ampliação contrato com Natura

Perspectiva de contratos com alimentação escolar/PNAE: produtos agropecuários

Inclusão da amêndoa de babaçu no Programa Biodiversidade/PGPM: R$ 1,45/kg (R$ 0,30 passa a ser pago pelo Estado, já que o preço pago pela cooperativa é R$ 1,15/kg)Ampliação contrato com Natura

Novos rótulos

Fundação da Cooperativa Central do Cerrado: MG, MT, GO, TO, DF, MS. Comercialização através de ponto de venda em Brasília.

3 A ASSEMA iniciou um processo de diálogo junto à NATURA para seu uso em cosméticos, porém a proposta inicial da Natura, após a realização e aprovação de seu uso, no que se referia á repartição de benefícios não agradou aos associados da ASSEMA, fazendo com que recuassem no fornecimento até que a empresa revisse sua postura e aceitasse a proposta da Associação, baseada nas discussões internacionais sobre acesso a repartição de benefícios.

Page 10: Estudo de Caso da ASSEMA

Diagrama 1: Fluxograma de comercialização no Grupo de Mulheres de Santana/ASSEMA: – DOCES DE MANGA E JENIPAPO. Outubro de 2010.

PRODUÇÃO COLHEITA (em grupo)

CLASSIFICAÇÃOSECAGEM

BENEFICIAMENTO EMBALAGEM

Feiras e eventos regionais

Reuniões Locais/município

Na sede da ASSEMA

Na fábrica

Para as cantinas da COOPAESC

Lojas em BrasíliaRede Cerrado

MEIOS DE TRANSPORTE

Grupo não possui transporte próprio:

• Carros da ASSEMA

• Pagam moto táxi para envio de produtos para feiras e eventos

• Caronas

ESTRUTURA:

Agroindústria do grupo

Doação Action Aid e MMA/Brasil

FABRICAÇÃOEM

AGROINDUSTRIA COLETIVA NA COMUNIDADE

COMERCIALIZAÇÃO

Equipamentos e meios de transporte utilizados na comercialização

Canais de venda através da ASSEMA

LEGENDA:

Page 11: Estudo de Caso da ASSEMA

Diagrama 2: Fluxograma de comercialização COOPALJ: ÓLEO E TORTA DE BABAÇU. Outubro de 2010.

Trabalho coletivo

Equipamentos e meios de transporte utilizados na

comercialização

Canais de venda através

da ASSEMA

LEGENDA:

QUEBRA deBabaçu

TRANSPORTE para fábrica

PESAGEM E ESTOCAGEM

20 Saboeiras da região Médio Mearin: sem

contratos

40 Fábrica de sabonete AMTR

10 Exportações: Sob contratos

30 Saboeiras em São Paulo e Manaus: sem

contratos

TRANSPORTE

• 2 caminhões COOPALJ que recolhe amêndoas nas cantinas

• 1 caminhão contratado que transporta óleo até porto em Fortaleza (exportação)

ESTRUTURA:

7 Cantinas: prédio, balanças, prateleiras,

balcões, freezer, depósito de mercadorias, área para recepção das amêndoas

Agroindústria COOPALJ

Indústria extratora de óleo pertencente a COOPALJ

EXTRAÇÃO ÓLEO DE BABAÇU:

DecantaçãoFiltragem

ArmazenamentoAtividades realizadas no âmbito das famílias

individuais

Comercialização amêndoas nas

cantinas da COOPALJ:

troca por produto ou R$

TORTA DE BABAÇU- alimentação animal

-Comercialização nas cantinas da ASSEMA

Comercialização direto na fábrica

Europa: Inglaterra - Body Shop Itália: Mundo SolidárioEUA: Aveda

Corporation

EXTRAÇÃO de Babaçu

Page 12: Estudo de Caso da ASSEMA

Diagrama 3: Fluxograma de comercialização AMTR: SABONETE DE BABAÇU. Outubro de 2010.

ESTOCAGEM do óleoANÁLISE do óleo

Comercialização na fábrica

Lojas no Centro Histórico de São Luiz

Comercialização através da ASSEMA

Central do Cerrado: Brasília

TRANSPORTE

• Grupo não tem transporte próprio

• Uso transporte da COOPALJ

• Aluguel de transporte

• Carona com técnicos da ASSEMA

ESTRUTURA:

Fábrica de sabonetes

Indústria extratora de óleo pertencente a COOPALJ

PRODUÇÃO DO SABONETE:

Mistura para massaFormasCorte

AnáliseLimpeza

EmbalagemRotulagem

Armazenamento

COOPAESC

Representantes em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife,

Manaus

Feiras e eventos

Visitas

Cantinas

Comunidade

Feiras e eventos

Equipamentos e meios de transporte utilizados na comercialização

Canais de venda através da ASSEMA

LEGENDA:

Page 13: Estudo de Caso da ASSEMA
Page 14: Estudo de Caso da ASSEMA

Figura 1: Síntese canais de comercialização ASSEMA. Outubro de 2010.

Figura 2: Estrutura de comercialização utilizada pela ASSEMA. Outubro de 2010.

Page 15: Estudo de Caso da ASSEMA

Quadro 4: Valores comercializados (R$) pela Grupo de Santana durante os anos de 2008 e 2009. 

Produtos 2008 2009Compotas de abacaxi 40,5Compotas de manga 208,0 336,0Geléias 16,0 190,0Abacaxi ­ frutas 1.157,5 0,0Licor 580,0 1.044,0Mudas 0,0 0,0Frutas in natura 292,0Total (R$) 2.002,0 1.862,0

Quadro 5: Valores comercializados (R$) pela COOPALJ durante os anos de 2008 e 2009. 

COOPALJ 2008 2009Óleo de babaçu 662.557,10 1.066.153,69Torta de babaçu 22.465,87 4.469.271,00Borra 934,65 3.299,60Babaçu ­ ­Feijão 60,10 ­Frete 43.226,00 51.787,00Carvão ­Mel 923,60 1.728,80

Page 16: Estudo de Caso da ASSEMA

Propriedade 3.488,30 3.550,65Vendas cantinas 327.343,87 455.709,14Total (R$) 1.065.019,49 1.626.921,59

Figura 3: Dificuldades relacionadas ao processo de comercialização na ASSEMA. Outubro, 2010. 

Page 17: Estudo de Caso da ASSEMA

Quadro 4: Prioridades na solução dos problemas relacionados à comercialização. ASSEMA, outubro de 2010.

Page 18: Estudo de Caso da ASSEMA

Dificuldades Soluções Responsáveis PrioridadeGrupo Santana

1. Transporte de produtos

Aquisição de uma moto

Melhoria das estradas

Grupo/ ASSEMA MDA/Gov.FederalPrefeitura

1

2. Organização da comercialização

Contratação de uma pessoa liberada para o trabalho de comercialização na ASSEMA

ASSEMA MDA/Gov.Federal

2

3. Equipamentos para processamento

Projeto para adquirir equipamentos ASSEMAMDA/Gov.Federal

3

4. Registros sanitários Adequar estruturaEncaminhar processo de registro

ASSEMASecretaria do Meio Ambiente e Secretaria da Saúde

4

  AMTR1. Registros sanitários Adequar estrutura

Encaminhar processo de registroAMTRASSEMA

1

2. Licenciamento ambiental Contratação de consultoria na área ambiental para adequação da fábrica à legislação ambiental

COOPALJAMTRASSEMAGov. do Estado

2

3. Falta assessoria na área química

Contratação de técnico especializado COOPALJAMTRASSEMAMDA/Gov.Federal

2

4. Certificação como produto orgânico

Redução de custoAdequar a realidade local

CEPORGS Federal e EstadualAMTRASSEMA

3

5. Soda Substituto para a soda na formulação dos sabonetes

AMTRASSEMA

3

6. Transporte Aquisição de meio de transporte AMTRASSEMAMDA/Gov.Federal

4

7. Eliminação dos babaçuais Aprovação da Lei do Babaçu Livre – Estadual e Federal

Congresso NacionalMIQCBANAASSEMASindicato das indústrias de óleo

5

 COOPALJ1. Licenciamento ambiental Contratação de consultoria na área 

ambiental para adequação da fábrica à legislação ambiental

COOPALJAMTRASSEMAGov. do Estado

1

2. Falta assessoria na área química

Contratação de técnico especializado COOPALJAMTRASSEMAMDA/Gov.Federal

1

3. Mercados: ampliação do número de compradores e dos volumes de vendas

Garantia de maiores quantidades de produtos com qualidade e regularidadeCapital de giro com juro subsidiado

COOPALJASSEMAAMTR

2

4. Falta de matéria­prima de qualidade

Ampliação da área de atuação da COOPALJExpansão do número de cantinas

COOPALJ 2

5. DAP Credenciamento da ASSEMA para fornecimento de DAPsNegociação com MDA para que este aceite que DAPs de assentados sejam fornecidas pelos STR e não somente pelo INCRA e 

ASSEMAMDA/INCRA/ITERRAANA

3

Page 19: Estudo de Caso da ASSEMA

órgãos vinculados6. Preço do produto Inclusão das famílias no PGPM da sócio 

biodiversidadeDiscussão e negociação de preços em nível de cadeia da produção do babaçu pela agricultura familiarMecanismos de diferenciação de preços

ASSEMACOOPALJCooperativa Babaçu Livre

3

7. Transporte: logística de transporte adequada ao óleo de babaçu

Empresa de fornecimento deste serviço 4

8. Falta de assessoria Recursos para contratação de técnicos ASSEMACOOPALJMDA/Gov.Federal

5

9. Eliminação dos babaçuais Aprovação da Lei do Babaçu Livre – Estadual e Federal

Congresso NacionalMIQCBANAASSEMASindicato das indústrias de óleo

6

Quadro 5: Relação com governos e políticas públicas estabelecidas pela ASSEMA, outubro de 2010.

Política/Programa Nível federação Descrição

Grupo Santana

MDA Federal Recursos para instalação de viveiros e abertura de poços de água na comunidade

MMA Federal Recursos para aquisição de equipamentos para agroindústriaMDS Federal Recursos para aquisição de equipamentos para agroindústria

Relação com prefeitura municipal

Municipal

Fornecimento de energia elétrica e de água potável não abrange todas as famílias do município. Estes dois representam problemas para a agroindústria do grupoMá conservação das estradasNão execução do PNAE

AMTRMMA Federal Recursos para aquisição de equipamentos para agroindústriaPRODIM Programa estadual de combate à fome e à pobreza rural. Parceria Governo Estado/Banco Mundial

Estadual  Reforma e ampliação da fábrica

COOPALMAPA – PGPM para produtos da sócio­  biodiversidade

Federal Em tratativas e dependendo do acesso as DAPs

MAPA/PAA Federal Comercialização de mesocarpo de babaçuMEC/PNAE Federal Fornecimento de alimentos para alimentação escolar: em tratativas

Legenda:

Relação negativa Relação positiva

Page 20: Estudo de Caso da ASSEMA

Quadro 6: Relação com entidades de apoio não governamentais estabelecidas pela ASSEMA, outubro de 2010.Entidade/programa Descrição

Grupo SantanaSEBRAE Capacitação e apoio a participação em feiras e eventosCristian Aid Recursos para instalação da agroindústriaAction Aid Recursos para instalação da agroindústriaACESA Cursos de formação em processamento de compotasAMTRMisereor Recursos para instalação da agroindústriaUNICEF Recursos para instalação da agroindústriaAction Aid Recursos para equipamentos, embalagens e rótulosOxfam Recursos para assessoria técnicaAVEDA Recursos para assistência técnica  na produção de essências

SEBRAE Capacitação e apoio a participação em feiras e eventosApoio no processo de registro dos sabonetes

COOPALJ

Misereor

Projeto institucional da ASSEMA: assessoria técnicaCapital de giroRecursos para instalação da fábrica de óleo: prensa, depósito, armazéns, cantinas, caminhão e manutenção deste por 1 ano

Pão para o mundo Recursos para ampliação da fábrica AVEDA Recursos para assistência técnica

Page 21: Estudo de Caso da ASSEMA

Figura 4: Sugestões de políticas públicas/atuação dos governos pelas famílias entrevistadas. Agosto, 2010.

Page 22: Estudo de Caso da ASSEMA

Diagrama 4: Relações e parcerias Grupo de Santana. Outubro de 2010.

GRUPO DE SANTANA15 famílias

Rede Cerrado

SEBRAE

ASSEMA

Cooperativa Babaçu Livre

STRs

COOPAESC

MIQCBCentro Cultural Negro - CCN

COOPALJ

UNICAFES MMAMDA

MDS

Page 23: Estudo de Caso da ASSEMA

Diagrama 5: Relações e parcerias AMTR/COOPALJ. Outubro de 2010.

AMTR102 sócias

COOPALJ158 famílias

SEBRAE

ASSEMA

Cooperativa Babaçu Livre

STRs

COOPAESC

MIQCBMST

ACESA

UNICAFES MMANatura

Banco do Brasil

Governo do Estado

ITERRA

Banco do Nordeste

EFA

Território da Cidadania

Page 24: Estudo de Caso da ASSEMA

4 ­ ANÁLISE DOS RESULTADOS

A ASSEMA é uma associação que abrange um elevado número de famílias organiza­

das em cinco grupos/cooperativas. Devido a isto se pode identificar no âmbito da associa­

ção um número considerável de produtos, bem como de estratégias de comercialização uti­

lizadas. Pelo visto, a ASSEMA tem ao longo dos anos de trabalho estimulado a diversifica­

ção das fontes de renda, a agregação de valor aos produtos das famílias associadas e a cons­

trução de canais alternativos de comercialização. 

Ganha destaque na sua atuação a intervenção na cadeia de produção e beneficia­

mento do coco­babaçu, criando espaços de recepção e distribuição, através da implantação 

de cantinas para compra de amêndoa e comercialização de bens de primeira necessidade e 

alimentares. Da mesma forma, tem implantada uma unidade de produção de óleo e outra 

de mesocarpo. Ambas propostas significaram importante influência na quebra do monopó­

lio dos intermediários e fortalecimento da autonomia junto às famílias associadas a ASSE­

MA.

Entre os produtos destacam­se (a) os derivados de babaçu: óleo, amêndoas, meso­

carpo, torta, carvão, sabonetes, biojóias, pastas, blocos, envelopes de papel reciclado com fi­

bras de babaçu; (b) os doces, licores e frutas in natura produzidos pelo grupo de mulheres 

de Santana. Entre os canais de comercialização citamos como os mais importantes: (a) as 

exportações de óleo de babaçu; (b) a comercialização com fábricas de sabão na região do 

Médio Mearim e também fora do estado do Maranhão; (c) o contrato com a Natura Cosmé­

ticos; (d) a comercialização de torta de babaçu a nível local (nas cantinas da COOPALJ ou 

na própria fábrica). Quanto ao sabonete de óleo de babaçu (AMTR) e os doces/compotas 

(Mulheres de Santana) os canais de comercialização ainda estão em construção e as vendas 

ainda são bastante dependentes de viagens e participação das sócias dos grupos em feiras e 

eventos e/ou de visitas que recebem nas agroindústrias ou na sede da ASSEMA em Pedrei­

ras.

Nos quadros 4 e 5 podemos encontrar alguns números relativos a comercialização. 

Nestes,   podemos   ver   que   no   grupo   de   Mulheres   de   Santana,   no   qual   se   destaca   a 

comercialização de  licores,  compotas e de frutas de abacaxi,  os valores comercializados 

ainda são bastante baixos. De acordo com as entrevistadas, isto decorre das dificuldades de 

Page 25: Estudo de Caso da ASSEMA

acesso e transporte dos produtos (estradas precárias e grupo sem transporte próprio) e da 

inexistência de canais constantes de comercialização. Neste caso, as vendas são pontuais e 

dependem da  participação  das  mulheres   associadas   em eventos   e  de  visitas  que  estas 

recebem na comunidade e agroindústria.  Para vendas em locais fora da comunidade as 

associadas dependem do transporte alugado ou de caronas com os técnicos da ASSEMA que 

visitam a comunidade. 

Na COOPALJ,  o  grande  destaque como produtos  comercializados   são o  óleo  de 

babaçu   e   os   alimentos   comercializados   nas   cantinas   da   associação.   Em   2009,   a 

comercialização de óleo de babaçu movimentou R$ 1.066.557,10. Neste grupo os principais 

canais de vendas de óleo são as exportações sob contratos para fabricantes de cosméticos 

na Inglaterra, Itália e EUA; as vendas para saboeiras da região e também de outros estados 

do Brasil e o repasse de óleo para a fabricação de sabonetes de óleo de babaçu pela AMTR. 

Além   do   óleo   a   torta   de   babaçu   é   um   importante   produto   comercializado,   tendo 

movimentado em 2009 R$ 44.692,71. A torta é comercializada nas cantinas da COOPALJ e 

diretamente na fábrica sendo utilizada na alimentação de animais da região.

Destaca­se ainda, apesar da visita não ter possibilitado um estudo mais aprofundado 

da COOPAESP, vinculada à ASSEMA, a comercialização que esta realiza do mesocarpo do 

coco­babaçu. Relatos feitos pelo presidente da Cooperativa, bem como o resgate da linha do 

tempo da ASSEMA,  indicam que esta comercializa o mesocarpo  junto ao PAA,  lojas  de 

produtos naturais  do Rio de Janeiro e  São Paulo,  bem como no contrato feito  junto  à 

Natura, para a produção de cosméticos.

Uma importante ação de comercialização no âmbito da COOPALJ são as cantinas 

(7) que a cooperativa possui em povoados rurais.. Estas cantinas tem o objetivo de recolher 

amêndoas dos associados e comercializar alimentos e produtos de primeira necessidade 

para estes. Cantinas são uma forma de comercialização bastante antiga em povoados do 

Maranhão e uma forma de dominação das  famílias.  No esquema tradicional a  troca de 

amêndoas por alimentos é feita sem uma transparência de valores a receber e valores em 

haver, sujeitando as famílias à dívidas crescentes. Em 2009 as cantinas movimentaram R$ 

455.709,14.

No que se refere à estrutura disponível e utilizada para a comercialização podemos 

ver grandes diferenças entre os grupos (figuras 1 e 2). Dos três grupos pesquisados somente 

a   COOPALJ   possui   uma   estrutura   de   comercialização   considerada   suficiente   pelos 

entrevistados: caminhão, cantinas, canais estabelecidos e sob contrato. Nos demais (grupo 

Page 26: Estudo de Caso da ASSEMA

de  Santana  e  AMTR)  a  precariedade  na  estrutura  de   comercialização  ganha  destaque. 

Nenhum dos dois possui meios de transporte próprio e em ambos as vendas são somente 

eventuais. Ambos os grupos afirmaram a necessidade de uma maior e melhor organização 

da   comercialização,   com   pessoas   liberadas,   logística   de   recolhimento   de   produtos   e 

distribuição   aos   clientes,   etc,   o   que   poderia   ser   realizado   através   da   ASSEMA,   assim 

contemplando os demais grupos de associados à entidade.

No que se refere às dificuldades na comercialização, ou fatores impeditivos, a figura 

3 apresenta as dificuldades nos três grupos pesquisados. De forma sintética as principais 

dificuldades agrupam­se como:

(a) Relacionadas aos registros sanitários e licenças ambientais, devido, por um lado, à 

inadequação das estruturas  das  agroindústrias  e,  por outro,  à  dificuldade de 

realizar/executar   o   processo   de   registro.   Segundo   os   entrevistados,   esta 

dificuldade decorre da falta de informações, ou de informações contraditórias, 

que   são   repassadas   pelos   técnicos   dos   órgãos   onde   os   registros   devem   ser 

requeridos. Porém, ganha destaque a leitura sobre  a inadequação da legislação 

à realidade da agricultura familiar, onde não há marco regulatório adequado a 

pequenas   unidades   produtivas,   mesmo   que   o   produto   final   tenha   igual   ou 

superior qualidade aos produtos comerciais;

(b) Ao transporte:  condições precárias das estradas e vias de acesso e ausência de 

meios   de   transporte   adequado   nos   grupos.   Destaca­se   aqui   também,   uma 

demanda   frequente   das   organizações   pela   necessidade   de   subsídio   ao 

transporte, pelas características inovadoras das experiências;

(c) Dificuldade de acesso à DAP:  tem sido apontada como determinante para o não 

acesso aos programas federais de apoio a comercialização, tais como PNAE, PAA 

e PGPM para produtos da  sócio biodiversidade.  Esta dificuldade se destaca no 

caso de famílias assentadas, onde há dificuldades de se acessar as DAPs junto ao 

Instituto de Terras do Estado e INCRA, havendo conflito entre eles, inclusive;

(d) Questões   de   assessoria   também   foram   recorrentes,   sejam   relacionadas   à 

comercialização,   sejas   relacionadas  a  parte   técnica  nas  agroindústrias.  Neste 

caso   técnicos   especializados   em   química   de   alimentos   e   na   área   de 

licenciamento ambiental;

(e) O custo excessivamente elevado e a inadequação da certificação de produção 

orgânica à realidade das famílias da ASSEMA.

Page 27: Estudo de Caso da ASSEMA

(f) Em dois dos grupos pesquisados (AMTR e grupo de Santana) ficou claro que 

apesar   destes   possuírem   estrutura   de   fabricação   montada   as   vendas   são 

eventuais   e   dependentes   de   eventos,   visitas,   caronas   de   técnicos   etc.  Neste 

sentido   apontam   a   necessidade   de   uma   melhor   organização   para   a 

comercialização  no   âmbito  da  ASSEMA,   com  pessoas   liberadas,   logística  de 

recolhimento de produtos, contatos com clientes etc.

No quadro 4 são apontados as possíveis soluções para os problemas identificados. 

Os quadros 5 e 6 apresentam as relações/apoio dos governos e das políticas públicas 

(quadro 5) e de programas e instituições não governamentais (quadro 6). Pela descrição 

dos tipos de apoio e recursos recebidos pode­se inferir que o apoio de instituições e órgãos 

não governamentais foi mais importante e determinante para o trabalho destes grupos que 

o apoio dos governos e das políticas públicas. Também foi dito pelos entrevistados que o 

apoio do Estado e das políticas públicas tem sido mais recente, principalmente a partir de 

2003,   enquanto   as   instituições   não   governamentais,   principalmente   a   cooperação 

internacional, têm atuado junto a ASSEMA desde a fundação desta em 1989. No entanto 

aqui, ao contrário do que foi visto em outros grupos pesquisados, como a AGROFLOR/PE e 

a ECOTERRA/RS, na ASSEMA não foi possível identificarmos uma relação negativa com o 

Estado, a não ser no que se refere a precariedade dos serviços básicos fornecidos, ou que 

deveriam ser, pelas prefeituras, como luz elétrica, água potável e condições das estradas.

Outro ponto que chama atenção neste grupo é a importância dos recursos próprios 

gerados pelo grupo na aquisição de estruturas produtivas, neste caso na COOPALJ. Segundo 

os  entrevistados foram adquiridos com recursos próprios:  2 caminhões;  51 ha de terra, 

algumas  das   cantinas,   20  ha  de   terra  doados  para  uma  Escola   Família  Agrícola,  uma 

segunda prensa usada na moagem de amêndoas. 

Como sugestões de políticas públicas as famílias apontam (figura 3): 

• Recursos subsidiados para aquisição de meios de transporte• Capital de giro para agroindústrias• Recursos a fundo perdido para estruturas de beneficiamento/processamento• Aprovação da Lei do Babaçu Livre nos níveis municipal, estadual e federal• Facilitação do processo de registro das agroindústrias

1. Redução das etapas do processo2. Adequação da legislação para a agricultura familiar 3. Maior capacidade de informação e de atuação por parte dos órgãos competentes

• Facilidades do acesso às DAPs  

Page 28: Estudo de Caso da ASSEMA

1. Credenciamento da ASSEMA2. Desvinculação do fornecimento de DAPs aos assentados unicamente pelo INCRA 

e órgãos relacionados, neste caso ITERRA. O fornecimento pelos STRs em geral é mais eficiente.

• Disponibilidade   de   recursos   para   apoio   à   comercialização:   centrais   de comercialização, por exemplo.

• Manutenção de estradas e vias de acesso nos municípios• Participação   do   governo   federal   ­   MAPA   ­   no   estabelecimento   de   uma   política 

nacional de definição de preços de amêndoas e derivados de babaçu.

A   leitura   do   Diagrama   de   Venn,   elaborado   junto   aos   grupos   entrevistados, 

demonstra que o processo histórico da luta pela terra e da construção da ASSEMA fez com 

que seus grupos vinculados se caracterizem pelo estabelecimento de importantes relações 

políticas e institucionais na região. Mesmo em grupos onde a estrutura produtiva ainda é 

pequena (Grupo Santana,  por  exemplo),  observa­se  que a  articulação política  deste  na 

região, e consequentemente sua influência local, é bastante ampla. Este fato também pode 

ser constatado pela expressiva formação políticas das lideranças da região.

É neste sentido que a ASSEMA ocupa relevante papel na constituição e organização 

do MIQCB, bem como na luta pela terra e por direitos dos agricultores na região. A relação 

estabelecida com a Natura, exemplifica bem este papel político ocupado pela ASSEMA na 

região,  onde contratos  foram suspensos pela não concordância das comunidades com a 

política de repartição de benefícios da empresa. A negociação só foi retomada, quando as 

demandas das organizações foram atendidas.

Assim,  para além da viabilização econômica  das  famílias  envolvidas,  a  ASSEMA 

cumpre importante papel de articulação e mobilização política na região, aspecto também 

relevante   na   ECOTERRA   e   AGROFLOR,   porém   com   maior   destaque,   abrangência   e 

relevância dentro da ASSEMA.

Ainda da   leitura  dos  digramas  de   relações   sociais,  pode­se  destacar  no caso  da 

COOPALJ, a articulação feita pela organização de relações de cunho político e comercial de 

forma concomitante. Ao mesmo tempo que esta exerce importância influência política na 

região e no município, também se ocupa das operações de exportação e das relações com 

seus parceiros comerciais no exterior e na região.

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5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo  de  comercialização  desenvolvido  pela  ASSEMA possui   características 

bastante diferenciadas em relação as outras duas organizações sistematizadas (AGROFLOR 

e ECOTERRA). Tais diferenças podem ser explicadas por diversos aspectos, mas aqui podem 

se   destacar   a   formação   histórica   da   ASSEMA,   muito   vinculada   à   luta   pela   terra;   a 

incorporação de debate sobre populações tradicionais e extrativismo através da luta pelo 

babaçu­livre   e   o   perfil   sócio­econômico­produtivo   das   famílias   da   região,   dado   pelo 

predomínio da extração do babaçu como produto central das estruturação econômica das 

famílias.

Neste   sentido,   ganha   relevância   na   leitura   do   processo   de   comercialização   da 

ASSEMA, o busca da quebra do processo de intermediação na cadeia de produção do coco­

babaçu, bem como a estruturação de canais de comercialização, bem como de alternativas 

de uso dos subprodutos do coco (ex: mesocarpo, sabonetes, papel reciclado, biojóias, etc...). 

Nesta perspectiva, o perfil de atuação no campo da comercialização é diferenciados 

dos dois demais casos, uma vez que a busca pelo estabelecimento de circuitos curtos e 

fortalecimento de mercados locais se vê limitada pelas características do principal produto 

elaborado (óleo, torta e mesocarpo).

No   entanto,   a   função   realizada   pelas   cantinas,   por   exemplo,   representa   uma 

importante  intervenção no mercado  local,  em termos de  melhoria  da remuneração das 

famílias   e   de   seu  domínio   sobre   a   cadeia   produtiva.  Da  mesma   forma,   as   estratégias 

construídas   para   comercialização  do   óleo,   principal  produto,  primam pela  garantia   da 

autonomia das organizações no processo. 

Relatos  dos  agricultores  demonstram clareza  no que se   refere  a   importância  da 

diversificação das estratégias de comercialização, evitando,  por exemplo, a dependência 

dos   canais   de   exportação,   mesmo   que   este   pudesse   absorver   toda   a   produção   e 

considerando que promove melhor remuneração por quilograma de produto.

Assim, as estratégias adotadas refletem esta preocupação, atuando também junto a 

pequenas indústrias locais e outros espaços locais e regionais na comercialização do óleo. 

Da   mesma   forma,   ganha   destaque   o   objetivo   claro   explicitado   pelos   agricultores   em 

viabilizar o processo de refino do óleo. Este processo é considerado como prioritário, em 

função de poder viabilizar a venda deste como alimento, ampliando as possibilidades de 

mercado, inclusive dando maior ênfase aos mercado locais e institucionais.

No âmbito da estratégia de comercialização de outros produtos, para além do óleo e 

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do mesocarpo, percebe­se que ainda há espaço para se avançar nesta questão. No caso das 

compotas e licor, há  uma clara restrição dada pelas condições das estradas e a falta de 

transporte, para poder viabilizar maiores volumes de produção. Há potencial produtivo e 

estrutura de beneficiamento suficiente à produção de maiores volumes, porém, a falta de 

espaços de comercialização e, por outro lado, uma dificuldade em organizar e diversificar a 

base de produtos a  serem elaborados,   também se torna um impeditivo para um maior 

avanço.

No que se refere aos sabonetes, a demanda é grande e a estrutura está em fase de 

regularização – não sem as dificuldades já descritas para o registro –, no entanto, concluído 

este  processo,  haverá   a  necessidade  de  estruturar  melhor  a  organização  e   logística  de 

comercialização,   uma   vez   que   até   o   momento   esta   se   concentra   em   eventos   e   feiras 

pontuais,  além de parceiros próximos à  ASSEMA. A estrutura  implantada,  bem como a 

qualidade   e   apresentação   do   produto   possuem   grande   potencial   de   expansão   da 

comercialização.   Cabe   uma   breve   ressalva   em   relação   à   necessidade   de   se   ter   uma 

alternativa tecnológica ao uso da soda cáustica, de forma a permitir a certificação orgânica 

do produto, o que possibilitaria uma excelente oportunidade de comercialização dentro das 

próprias redes estabelecidas entre as organizações do campo agroecológico.

Neste sentido, podem­se destacar as seguintes questões em relação ao processo de 

comercialização desenvolvido pela ASSEMA:

A marcante intervenção, mesmo que em âmbito local, na quebra das relações de 

intermediação na  cadeia  produtiva  do   coco­babaçu,  beneficiando  as   famílias 

permitindo a estruturação da Cooperativa;

A relevância do processo de articulação entre a construção de alternativas de 

beneficiamento e comercialização do coco­babaçu com a luta política pela terra, 

organização   das   quebradeiras   de   coco   e   pelos   direitos   das   populações 

tradicionais;

O caráter participativo do processo de construção das organizações locais e das 

estratégias de comercialização;

O diálogo e articulação política da ASSEMA com seus parceiros comerciais no 

exterior,   construído   de   forma   a   respeitar   a   dinâmica   e   os   princípios   de 

organização da entidade;

A capacidade  de  negociação  no  que   se   refere   às  questões  de   repartição  de 

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benefícios   junto   à   Natura,   estabelecendo   um   parâmetro   para   outras 

organizações na região e no país;

A perspectiva  política   e   técnica  de   fortalecer  a  produção de  alimentos  para 

comercialização,  notadamente no refino do óleo babaçu e na produção local 

para o abastecimento ao PNAE como possibilidade em breve;

A presença marcante de agências de cooperação na estruturação dos espaços de 

comercialização e  beneficiamento das  organizações   locais.  Da  mesma  forma, 

observa­se um maior acesso a programas de apoio de determinados ministérios 

em relação às demais experiências;

Porém,   observa­se   uma   ausência,   assim   como   nas   demais   experiências, 

significativa do Estado na viabilização dos processo de comercialização, sendo a 

questão sanitária um impeditivo marcante ao desenvolvimento da proposta;

Em termos de políticas públicas, podem­se destacar os seguintes aspectos levantados 

no âmbito geral da ASSEMA, considerando as diferentes realidades e perfil produtivo de 

cada organização visitada:

 Quadro 7: Proposições de ações/políticas públicas a partir da ECOTERRA.

Dimensão Demanda

Assistência Técnica e Extensão Rural

Apoio à programas de organizações locais de ATER, Fomento à processos de formação em gestão, beneficiamento 

da produção, elaboração de projetos, etc;

Logística e Estrutura de comercialização

Cessão e financiamento de infra­estrutura e insumos para processamento de produtos;

Viabilização estruturas de comercialização, como centrais e recursos humanos para tal;

Transporte Subsídios ao transporte de produtos, pela dispersão das unidades de produção e pelos volumes ainda pequenos;

Viabilização da aquisição de veículos; Melhoria de condições estruturais para o transporte, 

principalmente estradas rurais;

Vigilância sanitária Adequação da legislação à realidade de unidades de produção familiares;

Viabilização de estruturas adequadas à legislação; Viabilização de recursos humanos especializados para 

elaboração de projetos e tramitação de processos de regularização.

Legislação Adequação da legislação sanitárias à realidade das estruturas familiares de beneficiamento;

Aprovação da lei Babaçu­livre;

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Por fim, destaca­se nestas considerações finais aspectos relativos aos avanços inter­

nos considerados necessários à ASSEMA. Observa­se um processo extremamente exitoso no 

que se refere à intervenção na cadeia produtiva do coco­babaçu. No entanto, observa­se que 

faz­se necessário o avanço na abordagem aos sistemas de produção agrícolas, notadamente 

na produção para o auto­consumo e culturas de potencial produtivo na região, como tem se 

mostrado a produção de frutas, a partir da experiência do Grupo de Santana.

A ASSEMA tem inciado o trabalho nestes aspectos, visando o atendimento ao PNAE 

e abertura de outras estratégias de comercialização. Desta maneira, observa­se a necessida­

de de um maior avanço na capacidade produtiva notadamente na produção de compotas, 

licores e o potencial de desenvolvimento de outros produtos, como doces, sucos e compotas 

de outras frutas da região, que poderiam ser o canal para entrada em novos canais de co­

mercialização e no mercado institucional, viabilizando transporte com maiores volumes e 

fortalecendo a autonomia da organização local em relação à ASSEMA no que se refere a 

participação na comercialização.

Observa­se que a análise da ASSEMA permitiu um importante complemento ao pro­

cesso de sistematização realizado, trazendo para o debate aspectos relativos  a estruturação 

de cadeias de produção mais especializadas, bem como no acesso ao mercado externo. Ao 

mesmo tempo, traz uma importante referência a reestruturação de uma cadeia produtiva 

importante na região, como no caso da criação das cantinas e montagem da unidade de ex­

tração do óleo babaçu. Assim, contemplam­se diferentes abordagem e alternativas no que 

se refere à construção de mecanismos de mercados alternativos na produção ecológica, per­

mitindo uma leitura ampla e abrangente da participação e ausência do Estado no estímulo 

e viabilização destas iniciativas.

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ANEXO I – Listas de Presença

Lista de presença reunião com equipe técnica e direção da ASSEMA

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Lista de presença Oficina Grupo Santana Lista de presença Oficina COOPALJ + AMTR

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ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital)

ANEXO III – Imagens do trabalho de campo

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