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V Encontro Internacional de Economia Solidária “O Discurso e a Prática da Economia Solidária” 1 EXTRATIVISMO, ECONOMIA SOLIDÁRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA REGIÃO DOS LENÇÓIS MARANHENSES Área Temática: 4 - Tecnologia e Sustentabilidade Nicholas Allain Saraiva- ONG Pivot MA e Universidade de Brasília/UnB [email protected] Érika Fernandes-Pinto- IBAMA [email protected] Resumo Paulino Neves situa-se na região dos Lençóis Maranhenses, numa zona de transição entre os biomas Amazônico, Caatinga e Cerrado. A população, essencialmente rural, conjuga atividades de lavoura de subsistência, criação de pequenos animais, pesca artesanal e extrativismo de produtos vegetais principalmente da fibra do buriti para o artesanato. A situação de pobreza da população local, a baixa perspectiva de mudança frente ao atual paradigma mercadológico e os impactos ambientais que assolam os buritizais, exigem uma ação imediata. A Economia Solidaria surge neste contexto como uma importante alternativa para aliar o desenvolvimento com valorização dos aspectos socioculturais e ambientais. Economia Solidária e extrativismo são dois conceitos complexos e com alto potencial de sustentabilidade na região, que associados ao artesanato do buriti trazem a perspectiva de um novo modelo de desenvolvimento para as populações rurais dos Lençóis Maranhenses, proposta que a ONG Pivot vem desenvolvendo através do projeto Olho Vivo. Palavras-chave: Buriti; Extrativismo; Conservação Ambiental; Artesanato; Economia Solidária 1. Introdução O Município de Paulino Neves situa-se na região dos Lençóis Maranhenses, na parte oriental do Estado do Maranhão a cerca de 310 km da capital, São Luis. O acesso ao município se dá através da MA-405 que vai até Barreirinhas e a partir daí são cerca de 40 km de trilhas na areia, onde só trafegam veículos com tração. O clima da região é classificado como sub-úmido seco e apresenta médias de temperatura anuais de 26ºC e pluviosidade de 1.750 mm com duas estações bem definidas, uma chuvosa (de janeiro a julho) e uma seca (de agosto a dezembro). A sazonalidade das chuvas, aliado ao solo extremamente arenoso, salino e friável faz com que a região seja considerada área sujeita à desertificação (ASD) (MMA, 2004) e estar inserida dentro da região de ação da ASA (Articulação para o Semi-Árido). O município possui uma área de 979 Km2 e encontra-se inserido parcialmente em três Áreas de Proteção Ambiental (duas APAs Estaduais e na APA Federal do Delta do Parnaíba) e em parte do território está proposta a criação de uma Reserva Extrativista.

EXTRATIVISMO, ECONOMIA SOLIDÁRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA REGIÃO DOS LENÇÓIS MARANHENSES

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V Encontro Internacional de Economia Solidária

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  • V Encontro Internacional de Economia Solidria

    O Discurso e a Prtica da Economia Solidria

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    EXTRATIVISMO, ECONOMIA SOLIDRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NA REGIO DOS LENIS MARANHENSES

    rea Temtica: 4 - Tecnologia e Sustentabilidade

    Nicholas Allain Saraiva- ONG Pivot MA e Universidade de Braslia/UnB [email protected] rika Fernandes-Pinto- IBAMA [email protected]

    Resumo

    Paulino Neves situa-se na regio dos Lenis Maranhenses, numa zona de transio entre os biomas Amaznico, Caatinga e Cerrado. A populao, essencialmente rural, conjuga atividades de lavoura de subsistncia, criao de pequenos animais, pesca artesanal e extrativismo de produtos vegetais principalmente da fibra do buriti para o artesanato. A situao de pobreza da populao local, a baixa perspectiva de mudana frente ao atual paradigma mercadolgico e os impactos ambientais que assolam os buritizais, exigem uma ao imediata. A Economia Solidaria surge neste contexto como uma importante alternativa para aliar o desenvolvimento com valorizao dos aspectos socioculturais e ambientais. Economia Solidria e extrativismo so dois conceitos complexos e com alto potencial de sustentabilidade na regio, que associados ao artesanato do buriti trazem a perspectiva de um novo modelo de desenvolvimento para as populaes rurais dos Lenis Maranhenses, proposta que a ONG Pivot vem desenvolvendo atravs do projeto Olho Vivo. Palavras-chave: Buriti; Extrativismo; Conservao Ambiental; Artesanato; Economia Solidria

    1. Introduo

    O Municpio de Paulino Neves situa-se na regio dos Lenis Maranhenses, na parte oriental do Estado do Maranho a cerca de 310 km da capital, So Luis. O acesso ao municpio se d atravs da MA-405 que vai at Barreirinhas e a partir da so cerca de 40 km de trilhas na areia, onde s trafegam veculos com trao.

    O clima da regio classificado como sub-mido seco e apresenta mdias de temperatura anuais de 26C e pluviosidade de 1.750 mm com duas estaes bem definidas, uma chuvosa (de janeiro a julho) e uma seca (de agosto a dezembro). A sazonalidade das chuvas, aliado ao solo extremamente arenoso, salino e frivel faz com que a regio seja considerada rea sujeita desertificao (ASD) (MMA, 2004) e estar inserida dentro da regio de ao da ASA (Articulao para o Semi-rido).

    O municpio possui uma rea de 979 Km2 e encontra-se inserido parcialmente em trs reas de Proteo Ambiental (duas APAs Estaduais e na APA Federal do Delta do Parnaba) e em parte do territrio est proposta a criao de uma Reserva Extrativista.

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    A regio insere-se numa zona de transio entre diferentes os biomas Amaznico, Caatinga e Cerrado, incluindo um mosaico de ecossistemas como praias, restingas, campos de inundao, campos de dunas livres e fixas, manguezais, veredas e extensas reas de cerrado.

    A fragilidade dos ecossistemas, aliada ausncia de informaes tcnicas e cientficas sobre a scio-biodiversidade local, fizeram com que a regio fosse considerada de extrema importncia e prioridade para a conservao do cerrado, no mapeamento de reas prioritrias para conservao e uso sustentvel da biodiversidade brasileira, onde a ao prioritria sugerida foi a criao de Unidades de Conservao de Uso Sustentvel (MMA, 2007).

    Permeando este rico mosaico de ecossistemas est distribuda uma populao predominantemente rural de cerca de oito mil moradores, espalhada em todo o territrio em 132 localidades. A infra-estrutura bsica na maioria destas localidades precria. Menos de 6% delas tem acesso servio de energia eltrica, nenhuma assistida por rede de abastecimento ou tratamento de gua, saneamento ou coleta de resduos slidos. O acesso s localidades difcil, atravs de trilhas nas areias que permeiam a vegetao e que podem ficar intrafegveis em parte do ano (SARAIVA et al., 2006).

    A populao nestes povoados conjuga atividades de lavoura de subsistncia, criao de animais, pesca artesanal, extrativismo de produtos vegetais e artesanato. Na atividade agrcola, destacam-se as roas de mandioca para produo de farinha, principal base da economia local. Na atividade artesanal destacam-se os produtos confeccionados a partir da fibra da palmeira buriti (Mauritia flexuosa - famlia Arecaceae). Estas duas atividades so praticadas em todos os povoados do municpio de Paulino Neves e em quase todos da regio. Enquanto a roa de mandioca uma atividade que ocupa considervel tempo de toda a famlia, inclusive dos jovens, crianas e mulheres, o artesanato do linho do buriti praticado quase que exclusivamente pelas mulheres (SARAIVA et al., 2006).

    O municpio apresenta uma populao rural historicamente relacionada com sua rea, caracterizada por manter uma grande integrao com os ecossistemas naturais circundantes e uma forte interao com a fauna e flora nativa (FERNANDES-PINTO & SARAIVA, 2006a, 2006b; SARAIVA & FERNANDES-PINTO, 2006).

    A renda familiar mdia na zona rural no atinge meio salrio mnimo e a aposentadoria dos idosos uma das principais fontes de renda monetria para muitas famlias. Os empregos formais so raros e na sua grande maioria esto vinculados ao poder pblico local. A base da alimentao a farinha de mandioca, complementada por feijo, peixe ou carne e o consumo de verduras baixssimo (SARAIVA et al., 2006).

    Paulino Neves figura entre os municpios mais pobres do Brasil, o que pode ser comprovado pelo baixo ndice de desenvolvimento humano IDH = 0,58, que est entre os dez mais baixos do pas - e de desenvolvimento infantil IDI = 0,42 (MARANHO, 2003). A regio do Semi-rido, onde se localiza este municpio, apresenta tambm os piores ndices nacionais de pobreza e concentrao de renda1. Estes aspectos, associados excluso social e falta de investimentos em

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    polticas pblicas sociais e ambientais, refletem diretamente na violao de direitos bsicos, como o acesso sade e educao de qualidade. (SARAIVA et al., 2006).

    A baixa renda familiar e a falta de acesso a servios e assistncias sociais bsicas, aliados a fatores como baixa auto-estima e expectativa de futuro e desinformao da populao geral contribuem para os altos ndices de desnutrio infantil, de doenas de terceiro mundo - como verminoses e diarrias - e de evaso escolar (SARAIVA et al., 2006).

    Considerada uma das palmeiras mais abundantes do pas, o buriti ocorre em toda a Amaznia, Brasil Central, Bahia, Cear, Maranho, Minas Gerais, Piau e So Paulo nas reas baixas de florestas abertas e fechadas, sobre solos mal drenados, brejosos ou inundados (LORENZI et al., 2004).

    Nos Lenis Maranhenses o buriti pode ser considerado a espcie-smbolo de toda a regio. Presente abundantemente em todas reas de solo hidromrfico e margens de rios, brejos, vargens ou veredas, os buritizais so reconhecidos pela populao local por sua importncia como fonte de alimento, abrigo e renda e pelo uso mltiplo de praticamente todas as suas partes2. Destacam-se principalmente o uso das folhas secas (palha) para cobertura de casas e outras construes; dos frutos para doces e sucos e dos brotos das folhas jovens para extrao das fibras usadas no artesanato (SARAIVA et al., 2006).

    Os buritizais tm tambm um papel fundamental no equilbrio dos ecossistemas locais, por possurem caractersticas singulares de manter a umidade do solo e auxiliar na manuteno dos corpos hdricos, principalmente nas pocas secas. Desta forma, tambm evitam o assoreamento dos rios e servem como local de habitat, abrigo e fonte de alimento para uma ampla diversidade de fauna associada (FERNANDES-PINTO & SARAIVA, 2006c). Os buritizais so ainda essenciais para suprir a maior necessidade social existente em qualquer povoao humana - a gua. No saber local, onde h buritis, h gua. Utilizando-se deste mesmo princpio, onde se extinguem os buritizeiros h visvel diminuio na oferta hdrica.

    Nos ltimos anos uma srie de transformaes na realidade regional tm levado a uma sobre-explorao dos buritizais, que sofrem muitas presses e impactos negativos, gerando a necessidade de uma adequao das prticas de manejo e de controle da atividade.

    2. Objetivos e Metodologia

    Diante deste contexto, o presente trabalho objetiva analisar a realidade local quanto a aspectos da cadeia produtiva do extrativismo e artesanato da fibra do buriti e o estado de conservao dos buritizais na regio, avaliando como os preceitos da economia solidria poderiam estar promovendo uma mudana do quadro da realidade scio-ambiental regional.

    Para tanto foram realizadas pesquisas em fontes secundrias, entrevistas e reunies em comunidades, com artess e coletores de buriti, lideranas comunitrias e poder pblico local, alm de excurses na zona rural do municpio e nas reas de ocorrncia de buritizais.

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    O trabalho de campo permitiu que se identificassem, alm das potencialidades, os entraves, as necessidades e desafios existentes no sistema atual. Com a pesquisa terica, foi possvel estabelecer alguns dos referenciais para a busca de melhoria do quadro geral e de um desenvolvimento regional compatvel com a realidade.

    3. Anlise dos Resultados

    O contexto atual da atividade artesanal a partir da fibra do buriti

    O diagnstico realizado pela PIVOT em junho de 2006, identificou que o artesanato de buriti praticado em 100% dos povoados do municpio de Paulino Neves, constituindo-se na terceira maior fonte de renda da populao local - atrs apenas da produo da farinha de mandioca e auxlios governamentais como aposentadoria, bolsa famlia, bolsa escola (SARAIVA et al., 2006).

    O artesanato do linho do buriti, da maneira como praticado na regio gera um produto extremamente fino e delicado, de traos marcantes e identificadores da cultura que se desenvolveu em torno desta palmeira nos Lenis Maranhenses, sendo nico no Brasil.

    A fibra do buriti chamada de linho na regio dos Lenis Maranhenses e para sua obteno so coletados os brotos das folhas jovens - chamados de olho. A coleta dos olhos pode ser realizada por membros de toda a famlia. Mulheres e crianas geralmente coletam das palmeiras jovens, enquanto a coleta nas palmeiras altas feita exclusivamente por homens.

    A coleta de olhos, se mal manejada, pode exercer uma grande presso sobre os recursos e levar as palmeiras morte. FERNANDES-PINTO (2006) identificou na regio de Barreirinhas cidade vizinha a Paulino Neves - uma situao crtica de sobre-explorao dos buritizais e quinze atividades que geravam impactos negativos diretos nestas reas.

    A partir da coleta do olho, a atividade envolve uma srie de etapas, que so realizadas quase exclusivamente pelas mulheres. Para a maior parte das mulheres do municpio, o artesanato do linho do buriti representa uma das nicas fontes de renda.

    Apesar da imensa gama de produtos que podem ser feitos e confeccionados a partir do linho do buriti (bolsa, sacola, carteira, rede, jogo americano, etc.), nos povoados do Municpio de Paulino Neves a produo limita-se aos chamados tapetes e mamucabos. Os tapetes consistem de esteiras de linho de mais de dois metros quadrados que so a base para a produo das peas finais como bolsas, sacolas, carteiras e outros produtos que possuem valor agregado muito mais elevado. O mamucabo uma fita fina e comprida feita de linho tranado tambm chamado de cintos usado no acabamento dos produtos finais.

    A comercializao da produo se d principalmente atravs de intermedirios ou atravessadores que buscam a produo diretamente nos povoados ou nos pequenos comrcios das sedes municipais de Barreirinhas e Paulino Neves. De acordo com o diagnstico realizado pela PIVOT em 2006, um tapete de 2,4m2 era comprado das artess por R$3,50 e o mamucabo, a R$0,80 o

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    metro. Por outro lado, alguns produtos finais como bolsas e sacolas chegam a valer mais de R$50,00 nos mercados externos (SARAIVA et al., 2006).

    Nos povoados so poucas as mulheres que detm a habilidade de trabalhar a matria-prima at o seu produto final e, quando o sabem, no tm como praticar e difundir as tcnicas por falta de equipamentos bsicos - como mquinas de costura e tesouras - ou por falta de tempo, j que precisam cuidar dos filhos e de todos os servios domsticos, alm de tambm ajudarem os maridos na lavoura. Tambm no h nenhum tipo de organizao formal da produo artesanal.

    Em grande parte das localidades esta atividade ainda vista socialmente como uma espcie de passatempo das mulheres, praticado no tempo livre entre os inmeros afazeres domsticos cotidianos, e no como uma possibilidade real de gerao de renda.

    Percebe-se que apesar dos fortes laos culturais e comunitrios que identificam as comunidades da regio, a organizao social ainda incipiente, fragmentada e restrita a pequenos ncleos um pouco mais politizados. Esta caracterstica se intensifica ainda mais quando trata-se da organizao social entorno do extrativismo do buriti, o que dificulta a formao de representatividades, repercute negativamente no poder de negociao coletivo e refora a dependncia aos atravessadores e auxlios de governo.

    Alm deste, inmeros outros fatores, como baixa auto-estima, pouca profissionalizao na atividade, deficincias na qualidade do produto e dificuldades de escoamento da produo reforam os ciclos de dependncia, contribuindo para que o artesanato seja extremamente desvalorizado dentro das comunidades e pelas prprias artess.

    Nos anos de 2005 e 2006 a partir de iniciativas do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Secretaria do Estado de Turismo e da Prefeitura Municipal de Paulino Neves, as artess da sede do municpio receberam treinamento de aperfeioamento do artesanato e de associativismo, o que culminou na criao de uma cooperativa de artess. Esta cooperativa formada exclusivamente por mulheres moradoras da sede do municpio, que trabalham principalmente com a produo final, como bolsas, sacolas, entre outros. A articulao destas com as artess do interior praticamente inexistente e no h iniciativas concretas de aumentar o dilogo, a cooperao e mudar as relaes presentes entre estas duas instncias produtivas. Da mesma maneira no h nenhuma preocupao em buscar adquirir matrias-primas de origem scio-ambientalmente sustentveis.

    A demanda por produtos artesanais na regio dos Lenis Maranhenses tm aumentado significativamente, estando relacionada principalmente com dois aspectos: o aumento da demanda por artesanato na regio pelos turistas que a visitam e o aumento do interesse por este tipo de produto nos grandes centros urbanos do pas.

    A atividade turstica concentra-se principalmente no Parque Nacional dos Lenis Maranhenses e o seu entorno (no municpio vizinho de Barreirinhas) e, em menor escala, no municpio de Paulino Neves - cuja regio conhecida como Pequenos Lenis, onde a visitao concentra-se na sede municipal.

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    Estes novos e emergentes mercados trazem como efeito o aumento da demanda pelos produtos artesanais e conseqentemente, maior presso sobre os recursos naturais que so fonte de matria-prima. Os impactos disso j podem ser percebidos em inmeros locais de visvel depauperao na qualidade dos buritizais, na diminuio da capacidade reprodutiva e na morte de muitas palmeiras.

    A sobre-explorao dos buritizais causada tambm pela venda de olhos de buriti in natura e de linho no beneficiado para outros municpios da regio, para So Lus e at mesmo para outros estados, sendo esta uma alternativa imediatista da populao local que demonstra a baixa valorizao da atividade na regio3.

    Os efeitos da degradao dos buritizais foram amplamente verificado nos estudos prvios realizados pela ONG PIVOT, onde se identificou em todo o municpio inmeros leitos de riachos secos e em que corre gua apenas durante o auge da estao chuvosa. Segundo o relato dos moradores mais antigos isto no acontecia at poucos anos atrs, quando a quantidade e a qualidade dos buritizeiros nas matas ciliares eram maiores (SARAIVA et al, 2006; FERNANDES-PINTO & SARAIVA, 2006d e 2006e).

    Economia Solidria uma alternativa para o desenvolvimento local?

    As origens do que se chama de economia solidria reportam ao sculo XIX. De acordo com SINGER (2000) este movimento foi idealizado por tericos considerados socialistas utpicos - como Robert Owen e Charles Fourier - que conceberam modelos de comunidades cooperativas denominadas de Falanstrios. Ainda no sculo XIX a situao do mundo do trabalho provocou o surgimento de um movimento operrio associativo e das primeiras cooperativas autogestionrias de produo (FILHO, 2002; GAIGER, 2003; MATOS, 2006; SINGER, 2004).

    Desde ento as iniciativas de economia social sempre estiveram presentes. Durante as dcadas de 1980 e 1990, aparecem vrias denominaes e diferentes abordagens como Economia Solidria, Economia Popular Solidria, Socioeconomia Solidria, Economia da Solidariedade, Economia Social, Economia da Proximidade, Economia de Comunho, Humanoeconomia, Colaborao Solidria, entre outros termos. Apesar da diversidade de termos, tem-se em comum a introduo de valores ticos e solidrios em torno do termo Economia (FREITAS, 2004 e FILHO, 2002).

    Alguns autores consideram que o ressurgimento desta temtica nos mais diversos pases se deu sob impulso da crise do capitalismo e do trabalho, a partir da dcada de 1970, que contribuiu para a busca de alternativas econmicas no mercado de trabalho informal de forma coletiva (FILHO, 2002 e SINGER, 2000). A sua existncia explicada principalmente pelos fracassos do mercado quanto a reduo das assimetrias informacionais, como tambm pela falncia do Estado na sua capacidade de satisfazer as demandas das classes mais desfavorecidas (LAVILLE, 2000 apud FILHO, 2002)

    A crise do capitalismo entra no seu perodo de pice em meados da dcada de 1970, com a decadncia do Estado de Bem-Estar Social4 e surgimento do modelo neoliberal (SINGER, 1998; PEREIRA, 2006). Os resultados sociais esperados com o neoliberalismo so perversos e deliberadamente aceitos pelos seus defensores com os argumentos (econmicos) que os gastos governamentais com polticas sociais so nefastos para a economia; que a regulao do mercado

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    negativa, pois cerceia o direito da livre concorrncia; e que a proteo social pblica perniciosa para o desenvolvimento econmico. Desta maneira, a criao de sociedades marcadamente desiguais e duais so vistas por seus defensores como um fator positivo, pois propiciam a emancipao do cidado da tutela estatal e incentivam a participao popular social e poltica (PEREIRA, 2006).

    No capitalismo moderno, as polticas de desenvolvimento so fundamentadas no crescimento da economia atravs da superproduo e pouco se leva em conta aspectos sociais e ambientais. As bases morais e ticas do consumo so esquecidas e somos (sociedade) direcionados por foras externas que ns no controlamos, apenas conformamos (NEF, 1989).

    As doutrinas capitalista e tecnicista fundamentam nos seus prprios paradigmas, a soluo para os problemas por elas criados e recriados. A alta produtividade, o desenvolvimento tecnolgico acelerado e o consumo exacerbado so reconhecidamente insustentveis para o meio ambiente e tambm desencadeadores de uma srie de problemas socioambientais. A excluso social, o desemprego, o esgotamento dos recursos naturais, a extino de espcies e de culturas humanas e a deteriorao da qualidade de vida so conseqncias deste modelo hegemnico. Apesar de gritante paradoxo, estes so os pilares de sustentao da maioria das sociedades modernas e que identificam a si mesmos como os guias que levaro a humanidade ao desenvolvimento.

    A economia capitalista fundamentada no individualismo metodolgico nega a solidariedade coletiva como base das relaes sociais (MATOS, 2006). Segundo CAPRA (2002), este mesmo capitalismo tambm coloca em risco e destri inmeras comunidades locais pelo mundo, violando o carter sagrado da vida, transformando diversidade em monocultura, ecologia em engenharia e a prpria vida em mercadoria.

    A Economia Solidria emerge neste contexto como a anttese da economia capitalista, propondo um outro modo de organizao e produo que tem como cerne a humanizao dos processos produtivos, o resgate dos valores solidrios, a cooperao, a reciprocidade e a partilha, a democracia, o respeito, a transparncia e a auto-gesto, na busca da construo de uma nova realidade (FILHO, 2002; SINGER, 2000 e 2004; GAIGER, 2003)

    Dentre as estratgias desenvolvidas segundo os preceitos da Economia Solidria surgem as empresas autogestionrias (empresas que estavam em processo de falncia e passam a ser geridas pelos prprios trabalhadores), as cooperativas de trabalho, os clubes de troca, os bancos do povo, as redes de cooperao, as associaes e outros grupos produtivos.

    A construo conjunta da oferta e da demanda, vinculadas s necessidades reais vividas pelas populaes locais so elementos intrnsecos da ideologia da Economia Solidria. O aspecto mercantil no descartado, e sim hibridizado com outras formas da economia, valorizando as interaes no-mercantis e no-monetrias, onde os benefcios sociais fruto do seu desenvolvimento so tambm computados como ativos desta economia (FILHO, 2002).

    A auto-gesto ou gesto descentralizada so tambm aspectos do carter redistributivista da Economia Solidria, criando tambm um cenrio onde as

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    hierarquias tendem a desaparecer e os aspectos democrticos, a prosperarem, gerando internamente um sentimento de dependncia mtua (MATOS, 2006)

    Os retornos da auto-gesto e descentralizao no so apenas econmicos, mas tambm ecolgicos, sociais, polticos e territoriais. Segundo GODOY (2006) diversos autores apresentam estudos em que as comunidades souberam administrar seus bens comuns de maneira durvel, compartilhando a gesto com grupos de atores locais e Organizaes No-Governamentais.

    Alm disso, a descentralizao da gesto traz um aspecto positivo que a diviso mais eqitativa e freqentemente mais sustentvel do uso dos recursos naturais, onde decises so tomadas localmente por aqueles que faro o uso dos mesmos, contribuindo para monitorar, fiscalizar e implementar polticas pblicas conservacionistas (GODOY, 2006).

    A busca simultnea pela sustentabilidade social, cultural, ecolgica, territorial e econmica presente nos conceitos da Economia Solidria so, desta maneira, inteiramente sinrgicas com os cinco pilares do desenvolvimento sustentvel propostos por Ignacy Sachs a sociedade, o meio ambiente, o territrio, a economia e a poltica (SACHS, 2004) e com os princpios da Declarao do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92) e da Declarao de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentvel, compactuada pelos governos mundiais em 2002 na frica do Sul (MMA, 2007).

    Entretanto, apesar de todos os benefcios que a Economia Solidria e outras alternativas ao atual regime econmico podem trazer para a sociedade em geral, aparentemente a sua capacidade de insurgncia limitada e subordinada. Muitas das concepes dominantes historicamente tm atrelado a noo de Economia Solidria a uma economia dos pobres, de carter subordinado e destituda de poder transformador (FILHO, 2002).

    Um dos grandes pensadores da Economia Solidria no Brasil - Paul Singer - afirma que, qualquer regime alternativo ao neoliberalismo s ter xito quando for assumido pelo governo federal, atravs de um regime poltico, fiscal e monetrio com o Estado como coordenador e rbitro do processo de democratizao (SINGER, 2000). Outros autores reforam que, alm de aes do poder pblico, so necessrias intervenes por meio de cooperaes internacionais e da sociedade civil, em prol da sua viabilidade econmica deste modelo (CARVALHO, 2007 e TAUILE, 2007).

    Apesar das crticas e do baixo incentivo que a Economia Solidria recebe no Brasil, possvel encontrar bons exemplos de iniciativas desta natureza, a maioria delas muito recentes e com pouco apoio efetivo dos governos5 (SINGER, 2000). As cooperativas - que so uma forma comum de organizao presente nas redes de comrcio solidrio - so responsveis no Brasil por 6% do produto interno bruto e pelo emprego de 1,5 milho de pessoas, superando 17 bilhes de reais em salrios (MATOS, 2006). A Economia Solidria na organizao do trabalho , portanto, o reconhecimento da possibilidade de que h outros meios de sustentao das sociedades, no centradas no Estado e nem no mercado (FILHO, 2002).

    Economia Solidria, Extrativismo e Conservao Socioambiental um caminho possvel

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    O Brasil considerado um pas megadiverso pela sua importncia no cenrio mundial quanto diversidade biolgica. Mas, alm disso, tambm um dos pases que apresentam a maior diversidade cultural ou sociodiversidade. Alm das populaes indgenas - que constituem mais de 200 etnias (FUNAI, 2007), pesquisas recentes j identificaram 30 povos ou comunidades tradicionais no-indgenas, num contingente de mais de 5 milhes de pessoas (ALMEIDA, 2004). Esta pluralidade cultural representa tambm uma grande diversidade de formas de interao com os ambientes naturais, refletida em diferentes formas de usos dos recursos naturais, de manejo e de ocupao territorial, alm de um amplo e aprofundado conhecimento tradicional (DIEGUES & ARRUDA, 2001).

    A conciliao entre o desenvolvimento econmico e a conservao dos recursos naturais uma preocupao crescente em todo o mundo. J se reconhece nos dias atuais a possibilidade e as vantagens de se aliar conservao ambiental e o uso sustentvel da biodiversidade e a importncia dos povos e comunidades tradicionais neste sentido, particularmente das que tem o extrativismo como base de sua subsistncia e reproduo scio-cultural. (podemos deixar como frase nossa ou colocar vrias citaes).

    Entretanto, destacada a necessidade de insero dos produtos da resultantes em mercados locais e globais promovendo benefcios reais para as comunidades que conhecem, guardam e manejam esta biodiversidade (MEDAETS et al., 2007)

    crescente, na economia brasileira, a diversidade e importncia de arranjos scio-produtivos que esto se desenvolvendo a partir de produtos da agrobiodiversidade nativa. Apesar da carncia de estatsticas oficiais, dados do IBGE sobre produtos de extrao vegetal e silvicultura apontam um aumento da produo e diversificao das espcies utilizadas (IBGE, 2005). Segundo MEDAETS et al. (2007), constata-se no Brasil nos ltimos 10 anos uma introduo massiva de novos produtos da agrobiodiversidade nativa nos sistemas agroflorestais, nas indstrias da sade e de cosmticos e no artesanato.

    Ocorre em nvel mundial uma combinao de elementos como a busca por conhecer novos alimentos; a tendncia diversificao alimentar; a procura por produtos e alimentos naturais e culturais e a sensibilizao de diferentes segmentos da sociedade civil que resultam na elevao do valor de troca atribudo aos produtos da agrobiodiversidade, em um mercado crescente e que abre espao para produtos diferenciados (MEDAETS et al., 2007).

    As desigualdades do mercado, entretanto, geram necessidade de intervenes e polticas pblicas adequadas que favoream estes processos. Grande parte destes produtos tem seu processo produtivo inicial baseado no extrativismo ou no agroextrativismo, onde a produo quase integralmente familiar e desorganizada do ponto de vista da economia de escala. Mas, ao se atingir um determinado nvel de demanda, os produtos tornam-se atraentes para empreendedores externos unidade de produo familiar e pode desencadear-se a estruturao de um conjunto de arranjos diferenciados. Muitas vezes estes elementos externos que passam a coordenar os custos das transaes e os canais de distribuio e a competir entre si no mercado, alm de investir nas etapas finais de transformao dos produtos primrios em derivados, apropriando-se dos

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    valores agregados mais expressivos. Este modelo de presso econmica muitas vezes pode levar a um desequilbrio causado pela explorao acima da capacidade suporte das espcies e dos ecossistemas e tende tambm a afetar os vnculos e a estrutura organizacional das comunidades locais de onde se originam os produtos (MEDAETS et al., 2007).

    Sendo a Economia Solidria uma proposta de mudana no conjunto de valores que regem os mercados convencionais e podendo a mesma ser adaptada a variadas situaes, tanto no meio urbano quanto rural, considera-se que este sistema pode potencialmente promover uma melhora significativa na qualidade de vida de populaes rurais, em especial de comunidades extrativistas.

    Entretanto, fazer com que populaes acostumadas com prticas assistencialistas e paliativas sejam protagonistas de um processo de desenvolvimento local numa perspectiva transformadora um dos grandes desafios a serem enfrentados por inmeros empreendimentos de Economia Solidria.

    necessrio propiciar uma ampla e profunda re-significao das relaes sociais e na educao, com a construo e implementao de novas ferramentas de interveno e gesto de carter participativo, com ao ativa dos sujeitos envolvidos, no apenas nas fases de diagnstico, mas em todas as etapas de planejamento, execuo e repartio dos benefcios gerados.

    JESUS (2005) ressalta que o diferencial do planejamento participativo no est nas tcnicas empregadas, mas na efetiva participao popular e que se pode trabalhar com uma infinidade de tcnicas que sero todas em vo se no alcanarem o objetivo de fazer aflorar o sujeito.

    A complexidade da organizao da atividade extrativista, tambm aumenta a necessidade da organizao social e da participao poltica das comunidades para a sustentabilidade econmica e socioambiental da atividade extrativista e a necessidade de aprofundamento nas aes relativas ao manejo de ecossistemas (CARVALHO, 2007).

    MATOS (2006) coloca que as dificuldades associativistas na sociedade brasileira - e em especial dos segmentos sociais mais excludos do atual modelo econmico tambm representam uma fragilidade que precisa ser superada para viabilizar projetos de Economia Solidria. Este autor alerta ainda para o perigo de colocar o foco das motivaes associativas numa lgica utilitarista dos recursos naturais, o que levaria a um paradoxo que compromete a prpria ao coletiva.

    No Brasil existem alguns bons exemplos de situaes em que se busca conciliar uma integrao entre Economia Solidria, extrativismo, conservao ambiental e sociodiversidade; onde o extrativismo de produtos da natureza promovem meios de vida sustentvel para populaes locais, com gerao de renda e qualidade de vida em consonncia com a conservao dos recursos naturais.

    So projetos que valorizam a diversidade de espcies alimentcias nativas - como a fbrica de polpa de frutas Frutas no cerrado do Maranho e Tocantins (que estabelece uma cooperao entre indgenas Timbira e pequenos agricultores locais e cujos lucros se destinam a dar suporte a aes e objetivos sociais das comunidades), a Cooperativa Grande Serto (CGS), no norte de Minas Gerais (que

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    envolve 1556 famlias de 148 comunidades pertencentes a 21 municpios na compra, beneficiamento e comercializao de espcies de frutos do Cerrado) e a atividade artesanal do capim-dourado na regio do Jalapo, estado do Tocantins.

    Segundo CARVALHO (2007), uma vez que o extrativismo passa a ser fonte de um valor financeiro, a populao local passa a valorizar mais estas espcies e a atuar como guardies das suas reas de coleta. Neste sentido, diversos autores reforam a necessidade de projetos de extrativismo desenvolverem aes relativas ao manejo e/ou recuperao de ecossistemas, desenvolvidos com ampla participao comunitria e com base nos conhecimentos locais para prevenir conflitos sociais e potencializar a adeso dos comunitrios (BENNETT, 2002; FERNANDES-PINTO & SARAIVA, 2006; CARVALHO, 2007; GUILLN, 2002).

    A questo de crdito tambm ressaltada como essencial para o sucesso dos empreendimentos. TAUILE (2002) afirma que a questo do crdito para os empreendimentos de Economia Solidria mais ampla do que parece a primeira vista. O autor coloca como um fator decisivo para o sucesso das iniciativas de auto-gesto a criao de mecanismos alternativos, que saiam da lgica fria do mercado financeiro.

    Neste sentido, CARVALHO & SILVEIRA-JNIOR (2005) ao analisarem o empreendimento solidrio FRUTAS destacam que financiamentos a fundo perdido so necessrios, especialmente nos momentos iniciais de projetos que gerem benefcios socioambientais e que esta necessidade pode ser diminuda a um nvel baixo medida que o empreendimento atinja seu ponto de equilbrio, mas dificilmente podero ser completamente extintos. Estes autores defendem, ainda, que a lucratividade esperada dos empreendimentos regidos pela lgica da Economia Solidria no deve ser a mesma de um empreendimento privado, pois devem-se levar em conta os benefcios sociais, culturais e ambientais que constituem os principais retornos dos investimentos.

    Analisando-se alguns empreendimentos de Economia Solidria baseados em produtos extrativistas nativos (GUILLN, 2002; CARVALHO, 2007; CARVALHO & SILVEIRA-JNIOR, 2005; MEDAETS et al., 2007; SCHMIDT, 2007), avalia-se que muitos deles trazem caractersticas intrnsecas que se tornam entraves para sua viabilidade, seja econmica, social, territorial ou ambiental.

    Os empreendimentos analisados, especialmente aqueles que trabalham com processamento de alimentos, em geral necessitam de infra-estrutura bsica local adequada (como servio de energia eltrica, abastecimento de gua e rede de transporte), investimentos iniciais relativamente altos (para capacitaes tcnicas especficas, construo de galpes, aquisio de equipamentos para processamento, cmaras frias, entre outros). Nestes empreendimentos os custos operacionais tendem a ser elevados (havendo gastos com energia, transporte especializado e outros) e o valor agregado final dos produtos, baixo. Em alguns casos, tambm exigncias fito-sanitrias como as dos servios de inspeo federal e estaduais - SIF ou SIE, podem ser fatores complicadores ou impeditivos para este tipo de empreendimento.

    Alm disto, empreendimentos extrativistas que trabalham com coleta de frutos nativos geralmente esto altamente sujeitos sazonalidade da safra e,

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    conseqentemente, da prpria produo. No obstante, comum comunidades extrativistas estarem situadas em reas de conflitos por uso e posse de terras, o que freqentemente impede ou dificulta estas comunidades de acessarem os recursos extrativistas (MAY, 1990; GUILLN, 2002; SCHMIDT, 2007).

    O artesanato do linho do buriti produzido na regio dos Lenis Maranhenses e mais especificamente no Municpio de Paulino Neves analisado luz de outros empreendimentos de Economia Solidria baseados em produtos extrativistas apresenta uma srie de diferenciais, no enfrentando diversos dos principais entraves destacados nos empreendimentos dos estudos de caso.

    Dentre os principais diferenciais, podemos destacar que a confeco do artesanato local no depende de infra-estrutura bsica e no necessita obrigatoriamente de uma unidade centralizadora, uma vez que todas as etapas so manuais e podem ser feitas nas prprias residncias. Os investimentos iniciais so baixos, restritos apenas a equipamentos construdos a partir de matrias-primas naturais encontradas na regio, aquisio de maquinas de costura e outros pequenos insumos de baixo custo, alm do aprendizado pessoal, que repassado pela comunidade. Os custos operacionais tambm so mnimos. Mesmo considerando-se a expanso da cooperativa e a manuteno da mesma, os investimentos iniciais so baixos e os subsdios necessrios neste caso so poucos.

    O artesanato do linho do buriti um produto de valor agregado potencialmente bastante alto, que no necessita de cuidados especiais para armazenamento e transporte, alm de ser muito leve. Sendo um produto de origem vegetal no-alimentcio e no-perecvel est tambm isento de regulao pelos selos e barreiras fito-sanitrias. Tambm no necessita de autorizao para transporte de produtos florestais.

    Finalmente, a produo de olhos de buriti constante todo o ano e no depende de safras, eliminando o problema da sazonalidade to presente em outras produes extrativistas.

    Em Paulino Neves existem relativamente poucos conflitos fundirios, uma vez que todas as terras do municpio so demarcadas e registradas, em sua grande maioria pertencentes s associaes de comunidades ou de pequenos produtores rurais. As situaes fundirias regularizadas, aliadas baixa densidade demografica, ao isolamento geogrfico e aridez do solo, tm garantido a conservao das reas naturais e evitado a introduo de monoculturas que avanam de modo desenfreado em outras regies do estado do Maranho, contribuindo assim para a garantia da oferta de disponibilidade de matria-prima e segurana no empreendimento. A Reserva Extrativista federal que se encontra em processo de criao na regio tem tambm como um de seus objetivos principais a preservao dos buritizais e do modo de vida tradicional que se criou em funo deste recurso.

    O extrativismo do olho da palmeira buriti, se manejado adequadamente, no compromete o recrutamento da espcie, uma vez que a produo dos frutos no afetada pela atividade. Entretanto, cabe destacar que o incremento da atividade artesanal deve necessariamente vir atrelado ao desenvolvimento de mecanismos de controle e regulao da atividade extrativista, com a implantao de medidas para garantir a formao de novas folhas, impedindo a sobre-explorao dos buritizais. O

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    aspecto do manejo associado insero de valores ambientais na rede do artesanato local e a promoo da organizao social comunitria podem ser considerados os principais desafios para implementao de um projeto de Economia Solidria em Paulino Neves e em toda regio dos Lenis Maranhenses.

    O artesanato do linho do buriti j conhecido e comercializado em diversas regies do Brasil, havendo um mercado em expanso e ainda bastante vido pelos produtos regionais. O mercado exterior, principalmente o Europeu, tambm uma possibilidade bastante promissora e plausvel. Atualmente os Correios oferecem condies para empresas e pessoas fsicas (artesos, agricultores, etc.) exportarem seus produtos com facilidade e poucas burocracias. Entretanto, identificar e estabelecer parcerias com mercados diferenciados e inseridos em redes de comercializao solidria, alm de conseguir oferecer qualidade, segurana e estabilidade na produo so tambm alguns dos grandes desafios do artesanato dos Lenis Maranhenses.

    4. Concluses

    Considera-se que h uma enorme contradio na situao atual do Municpio de Paulino Neves e na regio dos Lenis Maranhenses como um todo - uma regio formada por riquezas e potenciais naturais extraordinrios, com uma populao culturalmente rica, diversificada e com acesso terra, porm detentora dos piores resultados nos ndices sociais e de desenvolvimento humano do pas.

    O artesanato da fibra do buriti uma atividade singular e com alto potencial para contribuir com o bom desenvolvimento regional, por conjugar aspectos sociais, econmicos, culturais, ambientais, polticos, de relaes de gnero, entre outros. Entretanto, o quadro atual revela uma situao de desvalorizao da atividade e de explorao das artess por um comrcio injusto e marcado por desigualdades, alm de estar gerando impactos e ameaas ambientais em inmeros locais.

    Para reverter o quadro atualmente vigente nos povoados de Paulino Neves necessrio empreender uma srie de aes sociais e ambientais articuladas conjuntamente, que visem melhorar as condies de vida da populao atravs de mecanismos de incentivo ao desenvolvimento do potencial local, com base em critrios socialmente justos e ambientalmente sustentveis. Neste sentido o municpio apresenta elementos humanos, ecolgicos, culturais, institucionais e polticos com alto potencial para implementao de propostas alternativas de desenvolvimento e gerao de renda baseados nos princpios da Economia Solidria. O artesanato do extrativismo da fibra do buriti emerge a atividade que apresenta maior potencial neste sentido, uma vez que conjuga o conjunto de elementos necessrios j destacados.

    Neste sentido, desde 2006 a ONG Pivot tem trabalhado em duas comunidades rurais do municpio, na construo e implementao participativa do Projeto Olho Vivo, promovendo aes para estimular a organizao do grupo de artess locais e a qualificao da produo artesanal, alm de construir uma proposta de manejo sustentvel dos buritizais. Percebe-se no momento atual do projeto que necessrio aumentar a articulao entre todas as artess do municpio - da sede e do interior - promovendo espaos de dilogos e fortalecendo os laos que j existem naturalmente, mas que no so aproveitados neste sentido.

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    No contexto local a mobilizao e organizao social mostram-se como peas-chave a serem estimuladas para promover o desenvolvimento local. Estes dois elementos devem se complementar para a abertura de canais de dilogo estabelecidos de forma horizontal, com comprometimento e respeito mtuo entre as artess do interior - que so as reais detentoras dos recursos naturais, das fontes de matrias primas e dos produtos-base (tapetes e mamucabos) - e as artess da sede - que detm o conhecimento tcnico da manufatura dos produtos finais, maior domnio das fases finais da produo e que tm maior facilidade de acessar o mercado consumidor.

    Aplicando-se os preceitos da Economia Solidria e do Desenvolvimento Sustentvel dentro desta proposta, percebe-se que fundamental que se mantenha a separao entre estes dois elos da rede, mantendo-se espao para o respeito e a valorizao da diversidade cultural.

    Na busca por melhores condies de mercado, no se pode esperar, por exemplo, que as artess do interior saiam do seu meio para comercializar e negociar produtos, se distanciando assim de suas razes e cultura. A caracterstica descentralizada da produo proposta oferece condies para a permanncia das artess em suas casas - seja na sede ou interior - permitindo que elas continuem a desempenhar seus afazeres dirios e contribuindo para a manuteno dos laos familiares, cotidianos e comunitrios.

    Um pequeno aumento monetrio na renda destas famlias pode representar percentualmente uma mudana significativa no oramento domstico, uma vez que a mdia da regio de menos de um salrio mnimo por ms. Alm disso o fato desta renda se concentrar especificamente nas mos das mulheres pode aumentar a possibilidade de que ela seja bem aproveitada e investida na qualidade de vida da famlia.

    Um dos grandes desafios do projeto est em estabelecer critrios para que a diviso dos lucros e da contagem dos dividendos seja feita de modo justo e solidrio. O entendimento do que so critrios justos e solidrios perpassam por todos os aspectos discutidos neste texto, abordando os campos simblicos da valorizao dos bens no-mercantis e no-monetrios, especialmente os valores culturais e dos recursos naturais, que devem necessariamente ser computados como ativos desta rede de Economia Solidria e que podem se tornar o grande diferencial deste empreendimento.

    Emergem ainda como aes prioritrias desta proposta a execuo de estudos que, promovendo um dilogo entre os saberes tradicionais/locais e os cientficos, estabeleam os limites do potencial e da sustentabilidade do extrativismo do buriti. Articular tambm uma maior interveno do poder pblico local, no sentido de reconhecimento deste segmento social de grande importncia regional e no estabelecimento de marcos legais que protejam e preservem a cultura do artesanato e os buritizais no municpio, principalmente evitando a evaso de olhos in-natura.

    Como os demais municpios que compem o territrio dos Lenis Maranhenses apresentam condies similares a Paulino Neves em relao situao ecolgica, econmica e scio-cultural existe uma importante oportunidade

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    para que os resultados deste trabalho ampliem-se para o desenvolvimento de toda a regio, cujo potencial encontra-se ainda latente.

    A revalorizao do Municpio de Paulino Neves e da regio dos Lenis Maranhenses, de suas riquezas naturais, histricas e culturais, associadas ao fortalecimento das comunidades rurais representa uma oportunidade mpar para se inovar e consolidar uma contra-corrente dentro das tendncias dominantes do mercado massificado e das sociedades urbano-industriais. H no Brasil experincias bem sucedidas de Economia Solidria que permitem crer na real possibilidade de uma mudana e uma nova economia baseada no interesse, no respeito e no estmulo diversidade social e ambiental.

    A complexidade de se aliar os preceitos da Economia Solidria com as particularidades e a no-linearidade da produo agroextrativista dos Lenis Maranhenses pode levar estruturao de redes sociais que agreguem valores das dimenses culturais, sociais, ambientais e histricas, dando margem a uma reflexo e resignificao da prpria epistemologia do Desenvolvimento Sustentvel na regio.

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    1 De acordo com informaes do Selo Unicef (2004), as condies de vida no semi-rido brasileiro configuram um cenrio em que em 95% dos municpios a taxa de mortalidade infantil superior mdia nacional; cerca de 75% das crianas e dos adolescentes vivem em famlias com renda menor que meio salrio mnimo; uma em cada seis crianas trabalha e mais de 390 mil adolescentes so analfabetos. 2 FERNANDES-PINTO (2006) levantou 16 categorias de uso da palmeira buriti no municpio de Barreirinhas, vizinho Paulino Neves. 3 Nesta situao, um olho de buriti que geraria matria-prima suficiente para a produo de vrios produtos - vendido por cerca de R$ 0,50. 4 Estado de Bem-estar Social ou Welfare Sate um tipo de organizao poltica e econmica que coloca o Estado (pas) como agente da promoo (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientao, o Estado o agente regulamentador de toda vida e sade social, poltica e econmica do pas em parceria com sindicatos e empresas privadas, em nveis diferentes, de acordo com a nao em questo. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir servios pblicos e proteo populao. Os defensores do neoliberalismo so grandes crticos desta forma de poltica de Estado e alegam que o protecionismo estatal foi o grande responsvel pela crise econmica iniciada nos fins dos anos 70 e pregam valores semelhantes ao antigo liberalismo burgus do sculo XIX, de desregulamentao e liberdade. 5 Em 2004 foi criado a Secretaria Nacional de Economia Solidria vinculada ao Ministrio do Trabalho e Emprego e trata-se de uma iniciativa governamental para tentar reverter este quadro.