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Faculdade Boa Viagem | DeVry Brasil Mestrado Profissional em Gestão Empresarial MPGE VINHOS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO: QUEBRA DE PARADIGMAS NA PRODUÇÃO DE VINHOS FINOS NOS TRÓPICOS UM ESTUDO DE CASO DA VÍNÍCOLA VINIBRASIL, EM PERNAMBUCO EDNA SUELY DE AZEVÊDO RECIFE 2018

Faculdade Boa Viagem | DeVry Brasil Mestrado Profissional ... · A minha jovem mãe que, aos 93 anos, não cansa de orar, de me abençoar sempre e acreditar em tudo que fiz e faço

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Faculdade Boa Viagem | DeVry Brasil

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE

VINHOS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO: QUEBRA DE PARADIGMAS NA

PRODUÇÃO DE VINHOS FINOS NOS TRÓPICOS – UM ESTUDO DE CASO DA

VÍNÍCOLA VINIBRASIL, EM PERNAMBUCO

EDNA SUELY DE AZEVÊDO

RECIFE

2018

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração- CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso a

monografias do Mestra

do de Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade

Boa Viagem é definido em três graus:

- "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);

- "Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência, restrita a

consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;

- "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto, se

confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia.

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

_________________________________________________________________

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO

VINHOS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO: QUEBRA DE PARADIGMAS NA PRODUÇÃO

DE VINHOS FINOS NOS TRÓPICOS – UM ESTUDO DE CASO DA VÍNÍCOLA

VINIBRASIL, EM PERNAMBUCO

Nome da Autora: Edna Suely de Azevêdo

Data da aprovação: 15 de janeiro de 2018

Classificação, conforme especificação acima:

Grau 1 x

Grau 2

Grau 3

Recife, 29 de janeiro de 2018

Assinatura da autora

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EDNA SUELY DE AZEVÊDO

VINHOS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO: QUEBRA DE PARADIGMAS NA

PRODUÇÃO DE VINHOS FINOS NOS TRÓPICOS – UM ESTUDO DE CASO DA

VÍNÍCOLA VINIBRASIL, EM PERNAMBUCO

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

Profissional em Gestão Empresarial do Centro de

Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da

Faculdade Boa Viagem – Devry Brasil, como

requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em

Administração.

Orientador: Prof. Olímpio de Arroxelas Galvão,

Ph.D.

RECIFE

2018

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Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

A994v Azevêdo, Edna Suely de.

Vinhos do semiárido Nordestino - quebra de paradigmas na

produção de vinhos finos nos Trópicos: um estudo de caso da

vinícola ViniBrasil, em Pernambuco / Edna Suely de Azevêdo. –

Recife : DeVry | UniFBV, 2018.

88 f. : il.

Orientador(a): Olímpio de Arroxelas Galvão.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

1. Vale do São Francisco. 2. Vitis vinífera. 3. Terroir. 4.

Vinhos finos. I. Título. DISS

658[17.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca.

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Dedico a DEUS, por ter-me dado o

privilégio de nascer de criaturas tão

maravilhosas, como meus pais LÍDIA e

JOÃO AZEVÊDO (in memoriam), e que

estão muito além do que são definidos por

perfeitos.

6

AGRADECIMENTOS

Ao professor Olímpio de Arroxelas Galvão, por ter-me recebido a pouco mais de quatro meses

como sua orientanda, e ter conseguido transformar um projeto desafiador, em algo agradável e

encantador no semiárido do Vale do submédio São Francisco, através de toda sua sabedoria,

paciência e acima de tudo, carinho, atenção e colaboração.

Aos examinadores da minha dissertação, professores doutores Maria Auxiliadora e José

Raimundo Vergolino, a este último, meus mais profundos agradecimentos pelas críticas

construtivas, devidamente, acatadas.

Ao Coordenador do Mestrado, professor Dr. Diogo Helal, por toda sua compreensão e

colaboração para que eu chegasse até aqui, através do qual, agradeço à Faculdade de Boa

Viagem, pela bolsa e pelos ensinamentos através de seus professores.

À professora e mestra Isabella Jarocki, que me levou ao mundo acadêmico.

Aos colegas do Mestrado, que tornaram a caminhada mais amena, entre muito estudo,

brincadeiras e gargalhadas. Em especial, a Lorena Bezerra, pelas caronas, os cafés das manhãs,

divisão dos trabalhos e por escutar os desabafos nas horas de angústia e momentos de fraqueza.

Um beijo terno e suave em seu coração.

A Edvania de Oliveira, com quem nos encontramos, ainda no processo de classificação, pela

força e incentivo, além de inúmeras caronas de volta a Caruaru. Você tem um lugar especial no

meu coração.

A Micheline Bastos, que no último semestre dividiu os seminários, a ansiedade pelas trocas de

meus orientadores e os muitos conselhos para manter-me firme na busca do meu ideal. Você

permanecerá para sempre como uma amiga muito especial.

Às amigas e mestras Vivian Torres e Adriana Coutinho, pelo incentivo e apoio constantes.

À minha coaching Rosy França, por toda ajuda profissional, além do apoio como amiga.

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Enfim, à amiga Edilene Leandro, que se aventurou pelas estradas do sertão do semiárido

nordestino, para que eu realizasse minha pesquisa de campo, meu mais sincero e profundo

agradecimento.

Aos amigos, que desculparam minhas ausências e aceitaram minhas desculpas.

A minha jovem mãe que, aos 93 anos, não cansa de orar, de me abençoar sempre e acreditar em

tudo que fiz e faço.

Aos meus irmãos, cunhadas e sobrinhos amados, pelo apoio, incentivo e torcida.

Aos primos queridos, que moram e fazem do Vale São Francisco um lugar acolhedor e belo.

A DEUS pelo dom da vida, por ter me guiado nas idas e vindas ao Recife, a quem expresso todo

o meu sentimento através de uma única palavra, GRATIDÃO.

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“Talvez não tenha conseguido fazer o

melhor, mas lutei para que o melhor fosse

feito. Não sou o que deveria ser, mas

Graças a Deus, não sou o que era antes”.

(Martin Luther King)

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RESUMO

Esta dissertação objetivou identificar a quebra de paradigmas pelos vinhos finos produzidos no

Vale do São Francisco com um estudo de caso sobre a marca Rio Sol. A pesquisa foca na

caprichosa vitis do tipo vinifera, responsável pela produção de vinhos finos tranquilos, oriunda da

região caucásia de clima temperado, marcado por invernos congelantes. No Sul do Brasil, a vitis

vinifera não encontrou terroir que permitisse produzir vinhos finos a agradar aos paladares de

enólogos, sommeliers e enófilos, abrindo assim, mercado aos vinhos tintos secos importados.

Porém, o Vale do São Francisco desponta como uma região promissora, na medida em que a cada

ano, os rótulos trazem os registros das conquistas de premiações internacionais inéditas aos

vinhos finos brasileiros. Através do procedimento de Estudo de Caso, a pesquisa transcorre numa

abordagem qualitativa traçando um paralelo da marca Rio Sol com uma breve análise do estado

da arte sobre a viniticultura do Vale do São Francisco e que está transformando os padrões

exigidos pela vitis vinifera e todos os seus cuidados conhecidos por milênios em seu habitat, em

mito, além de apresentar ao mercado nacional e internacional, um vinho fino com características

únicas e adentrando o mercado exigente dos vinhos finos.

Palavras chave: Vale do São Francisco; vitis vinifera; terroir; vinhos finos.

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ABSTRACT

This dissertation aimed to identify the paradigm break by the fine wines produced in the São

Francisco Valley with a case study about the Rio Sol brand. The research focuses on capricious

vitis of the vinifera type, responsible for the production of still and fine wines, coming from

Caucasus region of temperate climate, known by freezing winters. In the South of Brazil, vitis

vinifera did not find terroir that allowed to produce fine wines to please the palates of

winemakers, sommeliers and oenophiles, opening, therefore, the market to imported dry red

wines. However, the Valley of the São Francisco emerges as a promising region, as each year,

the labels bring the records of the achievements of international prizes unprecedented to

Brazilian fine wines. Through the Case Study procedure, the research takes place in a qualitative

approach drawing a parallel of the Rio Sol brand with a brief analysis of the state of the art on

the viniticultura of the São Francisco Valley and that is transforming the standards required by

vitis vinifera and all its care known for millennia in its habitat, in myth, besides presenting to the

national and international market, a fine wine with unique characteristics and entering the

demanding market of the fine wines.

Key words: São Francisco Valley, vitis vinifera, terroir, fine wines.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Demarcação mundial na produção da vitis para vinhos finos

Figura 2 – Locais de produção de vinhos finos no Brasil

Figura 3 – Indicação Geográfica do Brasil para vinhos finos tranquilos e espumantes

Figura 4 – Símbolo da ilha de Itamaracá criado por Frans Post século XVII

Figura 5 – Bandeira e brasão atual da ilha de Itamaracá

Figura 6 – Casta Aragonês/Tempranillo

Figura 7 – Casta Alicante Bouschet

Figura 8 – Casta Cabernet Sauvignon

Figura 9 – Casta Syrah

Figura 10 – Casta Touriga Nacional

Figura 11 – Casta Viognier

Figura 12 – Casta Merlot

Figura 13 – Casta Egiodola

Figura 14 – Casta Moscato

Figura 15 – Casta Chenin Blanc

Figura 16 – Casta Arinto

Figura 17 – Divulgação de premiações no site Rio Sol

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Características da viticultura no semiárido quanto à produção

Quadro 2 – Regiões, marcas e identidade dos vinhos de domínio da Global Wines

Quadro 3 – Ficha Técnica 1 dos vinhos tranquilos e espumantes Rio Sol

Quadro 4 – Ficha Técnica 2 dos vinhos tranquilos e espumantes Rio Sol

Quadro 5 – Produtos da Vinibrasil e as estratégias básicas de marketing

Quadro 6 – Volume em mililitro oferecido por produto ao mercado

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LISTA DE FOTOS

Foto 1 – Imagem aérea de cultivo de vinhedos no Vale do São Francisco

Foto 2 – Espumante premiado em 2017 pelo Concurso de Bruxelas

Foto 3 – Espumante premiado em 2017 em Concurso Nacional

Foto 4 – A combinação sol e rio na comunicação da marca Rio Sol

Foto 5 – Comunicação Rio Sol com recursos de cores quentes

Foto 6 – Capela da vinícola produtora dos vinhos Rio Sol

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALICE WEB Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior

AMBEV America’s Beverage Company

BA Bahia

BR Brasil

d.C Depois de Cristo

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Ha Hectare

Hl Hectolitro

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBRAVIN Instituto Brasileiro do Vinho

IG Indicação Geográfica

INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial

IP Indicação de Procedência

ITEP Instituto de Tecnologia de Pernambuco

IVV Instituto da Vinha e do Vinho

MA Maranhão

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

MG Minas Gerais

MinC Ministério da Cultura

NE Nordeste

OIV Organização Internacional da Vinha e do Vinho

ONG Organização Não Governamental

PE Pernambuco

RS Rio Grande do Sul

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SOGRAPE Sociedade Comercial dos Grandes Vinhos de Mesa de Portugal

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UE União Europeia

VSF Vale do São Francisco

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

1.1 OBJETIVO GERAL

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1.3 JUSTIFICATIVAS

1.3.1 Justificativa Teórica

1.3.2 Justificativa Prática

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 VELHO CHICO, NOVOS VINHOS

2.2 O SEMIÁRIDO BRASILEIRO E O SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO

2.3 DEVORA-ME E DECIFRA-ME: O DEGUSTADOR DO

ENIGMÁTICO VINHO

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 ESCOLHA DO TEMA

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

3.3 QUANTO À ABORDAGEM

3.4 QUANTO AO PROCEDIMENTO

3.5 QUANTO AOS FINS

3.6 TÉCNICAS PARA A COLETA DE DADOS

4 O CASO RIO SOL

5 CONCLUSÕES

6 REFERÊNCIAS

7 ANEXOS

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1 INTRODUÇÃO

Detentor de registros tão antigos quando a existência do homem na terra, o vinho atraiu o

olhar da ciência nos seus mais diversos aspectos: da atividade primária, à agricultura e aos

sofisticados mercados vitivinícolas do marketing, há uma intensa produção acadêmica. Por

demais, a sensação a quem pesquisa, é de lacunas deixadas pelas pesquisas de uma cultura e

produto milenar, que adentra o século XXI quebrando paradigmas quanto aos novos locais de

produção, como os trópicos, em específico, o semiárido brasileiro e os desafios ao consumidor

moderno buscando novas experiências nos paladares.

Ao longo dos séculos, a vitis vinifera atraiu estudos primorosos ao seu comportamento e

necessidades. O século XX é marcado pelo avanço da ciência e tecnologia na área da

vitivinicultura, a considerar sua importância em muitas sociedades. O vinho adquiriu status tal

que, hoje, há regiões que se tornaram impossíveis ter a sua história desmembrada da sua

produção vinícola, como parte da França e da Itália, locais em que a expansão do Império

Romano já fazia com o plantio dos vinhedos (JOHNSON E ROBINSON, 2014).

Seria impensável aos romanos antigos, caso a expansão do seu império tivesse

atravessado o Atlântico, que a região do chamado Vale do São Francisco, mais especificamente

três municípios (um baiano e dois pernambucanos) pudessem produzir algumas entre as centenas

de variedades da espécie vitis vinifera e, com um particular: enquanto os vinhedos tradicionais

oferecem uma colheita ao ano, a do semiárido nordestino oferece duas ao ano. Ou talvez,

tivessem a percepção de Gabirel Soares de Sousa que, em 1587, registra um comportamento

diferenciado das vinhas produzidas na Bahia. Ou mesmo, o vislumbre do holandês Maurício de

Nassau sobre a produção da vinha na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, e sua solicitação ao

pintor neerlandês Frans Post a desenhar três cachos de uvas como heráldica e o símbolo foi

preservado e encontra-se na bandeira da ilha (VALDUGA, 2017).

Nos experimentos com a vinha no Brasil Colônia e Imperial, a vitis vinifera não passou de

atividades pontuais no país. Quando os alemães, mas principalmente os italianos, começaram a

chegar ao Brasil, no Século XIX, a introdução da espécie vitis vinifera foi um grande fracasso,

por razões climáticas e desconhecimento de tecnologias mais sofisticadas. Por muitas décadas e

até por mais de um século, esses imigrantes e seus descendentes passaram a fazer experiências

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com castas norte-americanas, que se mostraram mais robustas e adaptadas ao solo das regiões Sul

e Sudeste.

Apenas no Sul do país esses imigrantes encontraram condições climáticas parecidas com

as da Europa. Por isso, a vinha teve destaque entre as culturas por encontrar um terroir mais

aproximado do conhecido europeu. Mas, será o desenvolvimento da ciência e da tecnologia sobre

a produção de vinho que viabiliza a melhora na qualidade da bebida no Brasil, o que só veio a

acontecer com a introdução e o plantio em maior escala das castas europeias da espécie vitis

vinifera. Porém, o produto nacional das vinícolas das regiões ao sul do país não conseguiu

agregar ativos positivos em estimular o consumidor nacional, que é um dos que menos bebe

vinho no mundo (2 litros por pessoa), a ter a preferência no momento da compra. A realidade

apresenta-se nos números da importação do produto e nas adegas do varejo com vendas e maior

valor pago aos vinhos internacionais, com especial destaque aos vinhos dos nossos vizinhos Chile

e Argentina e do colonizador, Portugal (IBRAVIN, 2017).

Comparado aos milênios de produção na Europa e Oriente, ou mesmo às décadas de

produção do sul da América abaixo do trópico de capricórnio, o Vale do São Francisco teve a

presença da ciência e da tecnologia mas, sem dúvidas, foram as generosas águas do Rio São

Francisco, como já previa Caminha em sua missiva ao rei D. Manoel, o quão admirado ficou com

o volume dos rios existentes na Terra de Vera Cruz e a capacidade da terra fértil, que tornaram

possível que no paralelo de latitude 8 e 9, a vitis vinifera florescesse e, surpreendendo a tradição

da colheita (uma por ano), fornecesse duas safras ao ano.

A capacidade do submédio São Francisco nos últimos 25 anos em atrair indústrias de

vinhos do sul do Brasil atraiu produtores tradicionais europeus. O motivo da atração foi a

plantação irrigada de frutas a partir dos anos 1979 a 1983 e, entre elas, as uvas de espécie vitis

vinifera, com produção acima da média mundial (duas safras ao ano, enquanto nos demais locais,

é de apenas uma) e com possibilidade de produzir vinhos capazes em competir com regiões de

plantio milenar.

Dentro desta área há várias empresas viníferas instaladas, porém, esta pesquisa concentra-

se em uma, a ViniBrasil, detentora da marca Rio Sol. Escolhida para confrontar as informações

com a literatura já existente e com observações pertinentes e cabíveis a uma dissertação. A marca

dos vinhos em estudo expressa em seu logotipo o paralelo 8, localização geográfica da vinícola

no Vale do São Francisco, em seu curso no submédio, como estratégia em informar ao

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consumidor a origem do plantio. Esta empresa pertence ao grupo Global Wines localizada na

região do Dão, em Portugal, área tradicional na produção de vinhos (a primeira região demarcada

de vinhos não fortificados desse país) e foi uma das primeiras a ser atraídas para lá. A Global

Wines trouxe para o sertão pernambucano técnicas na fabricação de vinhos finos, com qualidade.

Seu desempenho soma-se aos demais produtores e permite ser a região enquadrada na lista de

produtores mundiais.

Mas isso significa também o emprego de pesquisa e tecnologia para atingir um produto

diferenciado, mas com as características exigidas pela Organização Internacional da Vinha e do

Vinho (OIV, 2017). No site, há disponíveis documentos que regem desde a prática da

vitivinicultura sustentável até os parâmetros (álcool, açúcares, ph, entre outros fatores) de um

vinho e todas as bebidas provenientes das uvas. Portugal é um dos 46 países a integrarem a OIV

(SOGRAPE, 2017), e o padrão internacional na produção de vinhos e espumantes faz parte do

cotidiano da vinícola Santa Maria.

Na Rio Sol, enólogo e marketing fazem parceria. A produção e pesquisa estão

intimamente ligadas às orientações do marketing quanto aos nichos de mercados identificados e à

necessidade em ter um produto diferenciado, com qualidade e com forte competitividade na

disputada adega do varejo junto ao consumidor final. A percepção de mercado, unida à enologia,

possibilita à Global Wines (2017) apresentar em suas regiões produtivas opções para segmentos e

harmonizações diversas com o vinho. Explorando as condições geográficas a partir da marca

principal, Rio Sol, a Global Wines conceitua a produção de seus vinhos do Vale como insólitos

(raros, singulares), coloridos e alegres.

Mesmo em um Mestrado com um dos seus focos em marketing, a fundamentação dessa

pesquisa pouco menciona os tradicionais autores da área, mas dada às particularidades do vinho,

há uma imersão sobre o produto. A própria empresa estudada não desassocia o marketing do

produto. O enólogo é a base para atender as necessidades de mercado na produção de um vinho

com diferenciais aos degustadores. Para ressaltar sua importância, as premiações que os produtos

da Rio Sol conquistam a cada ano reforçam a necessidade deste trabalho em debruçar-se sobre a

produção no Vale do Rio São Francisco, em pleno semiárido nordestino, e como esse

desempenho quebra os paradigmas da produção de vinhos finos e de grande qualidade nos

trópicos brasileiros.

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Conquistar o consumidor moderno é apresentar informações que tornem a experiência no

consumo de vinho coerente com a comunicação, facilmente encontrada nas redes sociais e canal

do YouTube. Mas para isso, a empresa trabalha para a conquista do degustador experiente.

Enólogos, sommeliers e enófilos possuem um campo sensorial diferenciado. Treinado. Um aroma

aciona a sinestesia. Lembranças das mais diversas são acionadas e há uma relação emocional na

experiência com uma taça ao apreciar o vinho a partir do olfato. Johnson e Robinson (2014, p.40)

afirmam que “sommeliers experientes muitas vezes confiam na reação imediata de sua memória à

primeira cheirada de um vinho”. Para um novato ou um consumidor que apenas aprecia a bebida,

pode não ter essa sensação de imediato, mas segundo os autores, um bom vinho remete às

sensações agradáveis. Por isso, a degustação pode ser percebida como um ato de prazer em beber

com amigos até a fina arte da percepção completa de um profissional experiente com vinho

(JOHNSON e ROBINSON, 2014). Mas, cada particularidade é possível através do terroir, um

conjunto de fatores resumido em uma garrafa de vinho.

Com respeito a sua estrutura este trabalho é composto por quatro partes. O primeiro

capítulo introduz o leitor ao pensamento geral da temática e apresenta a questão norteadora da

pesquisa e os objetivos que buscou alcançar. O segundo capítulo é uma curta revisão do estado da

arte sobre o tema: o que já foi pesquisado sobre a produção da vinha acima dos paralelos 30 dos

hemisférios Norte e Sul, e uma comparação ao comportamento da vinha nos paralelos 8 e 9 do

semiárido brasileiro. Com isso, é possível, nesse capítulo, analisar o produto vinho na produção,

por ser o terroir fator importante na diferenciação do produto. Para melhor exemplificar, alguns

registros históricos são apresentados com breves comentários, mas com foco do quão antiga é a

percepção do consumidor nos critérios de qualidade da bebida, assim como seu mercado. Quanto

ao Brasil, é neste capítulo em que há as referências de autores que observaram as diferenças no

comportamento da vinha nos trópicos desde o século XVI e um breve relato do desenvolvimento

da vitis vinifera no país. O trabalho não aprofunda as razões do baixo consumo de vinho no país

(2 litros por pessoa), mas menciona sobre o preconceito ao produto nacional entre os apreciadores

de vinho. Finaliza sobre o Concours Mondial de Bruxelles, estratégias das vinícolas de todo o

mundo para posicionar ou entrar no mercado de vinho. Concurso este, em que os vinhos

produzidos no Vale do São Francisco foram os primeiros do país a conquistar os selos de ouro,

prata e bronze das vitórias, prova do terroir diferenciado do semiárido brasileiro.

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Há, no capítulo 3, a apresentação da metodologia empregada na construção desta

dissertação, composta por uma abordagem qualitativa e no procedimento - um Estudo de Caso - a

partir de uma revisão bibliográfica sobre metodologia. Também há a defesa das técnicas

empregadas para coleta de informações e delimitação do tema.

O último capítulo é destinado ao Estudo de Caso com a marca Rio Sol, resultado de

diversos contatos pessoais com os dirigentes e profissionais que trabalham na empresa, de várias

visitas à vinícola e suas plantações, consulta a outros autores especialistas em vitivinicultura,

além da participação do seminário em Petrolina (ver Anexo 2) que reuniu pesquisadores da

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), universidades e outros centros de

pesquisas sobre a vinha e potencial do submédio São Francisco. Por fim, nas conclusões,

reforçam-se os pontos da quebra dos paradigmas propostos a partir do título deste trabalho e a

questão que norteou esta pesquisa: ao considerar o estudo da marca Rio Sol é possível aos

vinhos produzidos no Vale do São Francisco, em Pernambuco, quebrarem paradigmas no

mercado vitivinícola?

1.1 OBJETIVO GERAL

Identificar a quebra de paradigmas pelos vinhos produzidos no Vale do São Francisco com um

estudo de caso sobre a marca Rio Sol

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar as características do Vale do São Francisco, em seu curso do sub médio

• Descrever as variedades das vitis vinifera mais adaptadas ao terroir do Vale do São

Francisco e com comentários sobre cada uma delas

• Investigar, como estudo de caso, a marca Rio Sol

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1.3 JUSTIFICATIVAS

1.3.1 JUSTIFICATIVA TEÓRICA

Como ponto de partida para início dos trabalhos, a elaboração do problema esteve em

sintonia com a proposta de Gil (2017): conter relevância teórica e prática. Nesse sentido, a

avaliação da possibilidade de quebra de paradigmas quanto à produção de vinhos finos de

qualidade serem produzidos no Sul do Brasil, e os feitos no Nordeste brasileiro estarem entre os

bons vinhos internacionais, é importante não apenas para a economia do país e das duas regiões,

como para os consumidores.

Ponderou-se neste trabalho a sugestão de Gil (2008) para o pesquisador. Ao formular o

problema a ser investigado, ter em mente a importância do fenômeno em questão, indagando o

porquê de realizar o estudo e mesmo a quem os resultados possam interessar. As respostas

sempre estiveram muito nítidas, pois antes mesmo do ingresso no curso de mestrado, com a

formação de sommelière e professora no curso de gastronomia, era cada vez mais crescente a

necessidade de ampliar os conhecimentos sobre vinhos.

Pesquisar sobre o vinho é sempre instigante. A pesquisa trata de uma nova região

produtora de vitis vinifera que, aos poucos, entra no cenário mundial. Por ser recente na produção

de vinhos (três ou duas décadas é muito pouco em comparação às regiões históricas como França

e Itália), a região do Vale do São Francisco é um campo fértil para a academia.

Ao pesquisador, deter-se com tal situação é desafiadora. Os estudos sistematizados sobre

o Vale do São Francisco, como produtor de vinhos finos, ainda são escassos, e tal escassez

amplia enormemente a relevância da presente pesquisa na busca de informações que permitam

aos acadêmicos, em todos os níveis, subsídios para atuação profissional ou, aos apreciadores,

conteúdos a uma conversa entre amigos, brindada com taças cheias do melhor vinho produzido

em uma região que, por séculos, foi relegada ao abandono por ser seca demais. Isso por si só, já é

um convite para uma boa leitura!

22

1.3.2 JUSTIFICATIVA PRÁTICA

Por morar e trabalhar na cidade de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, conhecer de

maneira mais detalhada, profunda e intensa a produção de vinhos do Vale do Rio São Francisco,

no Nordeste brasileiro, tornou-se uma exigência aprofundar as teorias e pesquisas existentes

confrontando-as com as informações do mercado, uma vez que os melhores supermercados da

região trazem em suas prateleiras, vinhos provenientes do Rio Grande do Sul e de outros países, a

exemplo do Chile, Argentina, Portugal e produtores mundiais referenciados pelo mercado. Além

do mais, predomina a cultura de que todas as bebidas estrangeiras têm qualidade superior. Até

certo ponto isto era uma realidade, mas os vinhos do Vale do São Francisco estão começando a

transformar este cenário, com as conquistas de prêmios internacionais importantes.

Realizar um estudo sobre uma determinada marca de vinho feito em Pernambuco, na

perspectiva de identificar sua qualidade, em igualdade com os considerados bons vinhos

disponíveis no mercado, é do interesse não apenas de quem realiza o trabalho e do fabricante

mas, também, do cliente (aquele que compra uma garrafa) e do consumidor final (aquele que

saboreia a bebida).

Também é uma tentativa de se discutir uma possível quebra de paradigmas, uma vez que

adentra um campo onde conceitos pré-estabelecidos por clientes brasileiros rotulam uma garrafa

de vinho como ruim, bom ou ótimo considerando, muitas vezes, apenas o local de produção,

desprezando outros aspectos importantes para classificação do vinho.

Os registros sobre a produção de vinhos pela IBRAVIN (2017) são claros quanto ao

volume superior na produção de vinhos de mesa no Brasil, porém a proposta desse trabalho não é

levantar um questionamento sobre a preferência do consumidor brasileiro pelo adocicado, mas

apresentar as potencialidades dos vinhos produzidos pelo Vale do São Francisco com sabores

próprios, porém com as qualidades exigidas pelos já apreciadores de vinhos finos. Para não haver

arrependimentos dos consumidores em optar por um vinho fino produzido no Vale do São

Francisco, as premiações internacionais estão nos rótulos, premiações, vale ressaltar, nunca antes

conquistadas por um vinho produzido pelas melhores vinícolas do Sul do país.

23

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Guarinello (1997) e Leão (2010), o vinho é um produto já apreciado pelo

homem pré-histórico antes de descobrir a agricultura e da sua fixação em um determinado local.

Isso porque, as uvas ao caírem no solo em condições para fermentação, resultava com o tempo,

um líquido com teor alcóolico (o vinho) apreciado por quem o encontrava. Vários autores

(JOHNSON e ROBINSON, 2014; PINTO, 2009; LEÃO, 2010), apontam a região do mar Cáspio

como o local originário da videira do tipo vitis vinifera. Os registros do plantio e do consumo

estão em praticamente todos os povos antigos. Nem todas as localidades produziam bons vinhos,

mas consumiam bons vinhos. Isso significa a formação de um mercado do produto na

antiguidade.

Nas escavações históricas, tanto na Europa quanto no Oriente, restos de cerâmicas e jarros

praticamente intactos, específicos para transportes da bebida, foram encontrados, além de

sementes de uvas de antigos vinhedos e registro de importação do vinho, como na antiga região

da Assíria (GUARINELLO 1997; LAROUSSE DO VINHO, 2004). Segundo o Larousse do

Vinho (2004) foram encontradas no Egito antigo jarras contendo o ano, o vinhedo e o vinhateiro

e uma espécie de rótulo para garantir ao degustador, a origem, a procedência e a qualidade da

bebida.

A importância histórica do vinho fez o antigo Império Romano definir a cultura agrícola

de parte da Gália, atual França, e da Itália. Os chamados povos bárbaros que invadiram o Império

Romano ao longo de cinco séculos d.C, conservaram a cultura da vinha, até porque eram

consumidores de vinho. O tanino, responsável pelo gosto do vinho tinto, em abundância natural

nas vitis vinifera cultivadas em terroir francês, ampliou e definiu o conceito de um bom vinho.

Há registros históricos nos quais, por milênios, os consumidores utilizam padrões

definidos para identificar um vinho de qualidade superior, do mediano e do inferior. Isso porque a

degustação proporciona experiências diversas e há uma série de particularidades sobre o cultivo

da vitis vinifera e o processo de fabricação do vinho que definem a qualidade final do produto.

Os padrões de qualidade são milenares. Segundo Beato (2007) cada região pode

desenvolver o seu padrão, mas não deixa de ter um referencial de conhecimento secular. Dizer

que cada região desenvolve o seu padrão não é uma expressão correta para alguns autores, como

Bernardo (2006) e Johnson e Robinson (2014) e, também, para o grupo que autorizou a utilizar

24

uma de suas marcas como estudo de caso deste trabalho, a Global Wines (2017). Para eles, cada

região busca encontrar uma característica própria ao vinho fino, a partir das potencialidades do

terroir. Isso porque, o apreciador do vinho moderno está vivenciando o aparecimento de vinhas,

muitas cultivadas nos países tropicais, antes pouco apreciadas, apenas possível graças ao terroir

dos trópicos (JOHNSON E ROBINSON, 2014).

Um apreciador depurado de vinhos é um conhecedor dos tipos de vitis vinifera, do terroir,

e do ano da colheita. O termo em francês, terroir, grosso modo, poderia ser compreendido por

solo, porém este reúne uma série de condições do plantio envolvendo solo e subsolo, com suas

propriedades químicas e físicas, água, clima, altitude, tempo de insolação, vida orgânica, ou seja,

fauna e flora, todos esses fatores definindo o vinhedo, ou mesmo, a videira e, incluindo-se

também, a ação humana (JOHNSON E ROBINSON, 2014).

O gosto e o significado dessa bebida para as diversas sociedades fizeram o plantio e a

técnica expandirem-se e aprimorarem-se nos países de climas temperados e, há séculos, a Europa

é uma grande produtora das diversas variedades da vitis vinifera. Cada país produtor europeu

possui normas regidas pelo Estado para garantir o controle de produção e segurança

mercadológica e, em tempos de globalização (mesmo com as discordâncias políticas atuais), a

União Europeia (UE) também tem uma legislação a orientar os países do bloco e os padrões para

qualquer vinícola do mundo produzir um bom vinho (INSTITUTO DA VINHA E DO VINHO,

PORTUGAL, 2016).

Johnson e Robinson (2014), Pinto (2009) e o Instituto da Vinha e do Vinho (2016),

apresentam a vitis vinifera em seu habitat natural. Compreende-se assim, de uma plantação em

regiões de clima temperado, com a necessidade de um inverno próximo ou abaixo de 0ºC para a

dormência da vinha e um verão que não ultrapasse dos 35ºC. Não ignoram as experiências bem-

sucedidas dos trópicos, mas com vinhedos localizados no paralelo acima de 30, tanto para o sul

como ao norte dos hemisférios. Porém, a literatura mundial ignora ou pouco menciona, o que

ocorre nos paralelos 8 e 9 abaixo da linha do equador no semiárido brasileiro. A Figura 1 traz o

mapa mundial dos lugares produtores das vitis. Das pesquisas realizadas em livros e sites, são

raros os autores que demarcam em seus mapas o Vale do São Francisco, no Brasil e na Etiópia no

continente africano. Vale ressaltar que são pontos isolados, entre os trópicos (o Brasil ao Sul, e a

Etiópia ao Norte da linha do Equador), com experiência bem-sucedida, como a do Vale do São

Francisco (VSF). Mas, é um caso extraordinário, devido ao que se acreditava das exigências

25

climáticas da vinha. O semiárido brasileiro parece quebrar todos os padrões conhecidos por

séculos sobre o cultivo da vitis vinifera (SOARES e LEÃO, 2009).

Figura 1 – Demarcação mundial na produção de vitis para vinhos finos

Fonte: Johnson e Robinson (2014, p. 42-43)

Regiões da Austrália, Estados Unidos e a parte sul da América (Argentina, Chile e o sul

do Brasil) têm destaques como produtores de vinhos, mas lá o clima é temperado ou do tipo

subtropical, mesotérmico úmido, com verões amenos e úmidos e, como se observa na Figura 1,

estão localizados, a maioria, abaixo do paralelo 30 (Austrália e Chile). Nada comparado ao

semiárido brasileiro, quente, com sol o ano todo, e seco. A Figura 2 situa o leitor sobre a

produção de vinhos no Brasil.

26

Figura 2 – Locais de produção de vinhos finos no Brasil

Fonte: http://www.destemperados.com.br/bebidas/o-mapa-do-vinho-no-brasil

A região do VSF atrai cada vez mais pesquisadores, em especial, os da EMBRAPA.

Equipe da instituição com experiência nos vinhedos do Sul do Brasil, a partir do início dos anos

de 1990 faz parcerias em pesquisas com a EMBRAPA do Semiárido. Desde 2010, os estudos se

intensificaram com vistas à formatação do documento para solicitação de registro de Indicação

Geográfica (IG) e Indicação de Procedência (IP) junto ao Instituto Nacional da Propriedade

Industrial (INPI). O resultado de parte dessas pesquisas foi apresentado em um seminário entre os

dias 18 e 19 de outubro de 2017 na cidade de Petrolina-PE, conforme programação anexa, e do

qual esta autora participou. Parte das informações foi disponibilizada ao público, mas a grande

maioria precisa permanecer inédita, até o almejado registro junto ao INPI, coordenado pela

instituição que reúne os produtores de vinhas e vinhos do Vale do São Francisco, o Instituto

Valexport (EMBRAPA, 2017).

A vinha é conhecida por ser uma planta caprichosa, exigente em temperaturas. Precisa de

calor, no máximo 40ºC (SOARES e LEÃO, 2009) ou para alguns, máximo de 35ºC (JOHNSON

e ROBINSON, 2014) e sofre com geadas. As temperaturas médias consideradas ideais são entre

11ºC e 18ºC. Esses são os aspectos climáticos dos plantios tradicionais (Europa e trópicos no

paralelo acima de 30°). Nesses locais são realizadas uma poda e uma colheita ao ano. Outra

27

exigência, seguindo a tradição, é o estado de dormência da vinha, que suporta frio de até -12ºC.

Abaixo disso, como nos vinhedos russos, parte da planta é aterrada para não sofrer danos com o

frio intenso (SOARES e LEÃO, 2009; JOHNSON e ROBINSON, 2014). Este período em que a

vinha hiberna, sempre foi analisado como uma etapa necessária, mas essa exigência não existe no

VSF e os enólogos da região provaram ser essa necessidade da videira, um mito.

Os elementos climáticos são fatores importantes para o desenvolvimento do vinhedo.

Somam-se às condições do solo e todos os minerais necessários ao crescimento dos frutos; à ação

humana, e, tipo de colheita (mecanizada ou manual). Mas, ainda sobre as exigências climáticas, a

vinha precisa de sol para a uva produzir o açúcar e os bagos amadurecerem da forma mais

integral possível. Chuva no período da colheita, por exemplo, pode comprometer a qualidade dos

bagos de toda a safra.

O sol! Este elemento está presente em quase todos os 365 dias do ano no semiárido

brasileiro. Combinado com o fator irrigação, possível com as águas do Rio São Francisco, faz

desta combinação a explicação dos paradoxos acreditados, por séculos, como condição sine qua

non ao desenvolvimento da videira e ao surgimento de um vinho de qualidade internacional. O

terroir do Vale do São Francisco, no semiárido nordestino desponta, com sua característica

própria, oferecendo ao mercado vinhos com sabores únicos, mas nas exigências requeridas ao

apreciador com degustação apurada.

2.1 VELHO CHICO, NOVOS VINHOS

Quando Pero Vaz de Caminha enviou sua carta ao Rei D. Manuel I em 1500, narrou as

impressões da tripulação sobre as terras do Novo Mundo. Nas últimas frases, comunica não terem

encontrado nem ouro, nem prata ou algum metal, já que os nativos não cobriam suas vergonhas e

em seus adornos usavam penas, madeiras e ossos. Porém, ao final da carta afirma: “Águas são

muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por

bem das águas que tem” (MINISTÉRIO DA CULTURA, p. 14, 2017).

No início do processo de colonização, a Capitania de Pernambuco foi a mais próspera por

conter o tipo de solo adequado para o plantio da cana de açúcar, cabendo aos sertões, a criação do

gado de corte. A relativa aridez da região não trouxe interesse para sua exploração pela Coroa

28

Portuguesa, resultando no seu abandono, por também não serem encontrados nem ouro, nem

prata ou metal algum e nem ter sido implantada nenhuma técnica de irrigação para investimentos

agrícolas. O foco da Metrópole (Portugal) era explorar e extrair os recursos já existentes no

interior da colônia (FURTADO, 2009).

A história registra séculos de abandono. Primeiro, da Coroa Portuguesa, depois, do

Império Brasileiro e na sequência, da República. Porém, a ocupação deu-se ao longo dos séculos

e a persistência da sobrevivência e a capacidade do homem em alterar o seu habitat fizeram as

últimas décadas do século XX ser marcadas pela ação humana em alguns dos municípios

surgidos ao longo do Rio São Francisco, graças ao potencial de suas águas.

Minas Gerais, que ganhou essa denominação por ter sido a região onde se encontrou ouro,

prata e todo tipo de metal, é o Estado da nascente do rio que avança cortando o semiárido

nordestino ao encontro com o mar. É no chamado submédio São Francisco, em cujo vale tem por

cidade polo a pernambucana Petrolina, e por parte da Bahia, Juazeiro onde, com o

aproveitamento de suas águas (assim como sugere Caminha em sua carta ao Rei) floresceram

culturas frutíferas diversas, entre elas a mais caprichosa, denominada vitis vinifera, popularmente

chamada de uva do vinho, destinada à produção de vinhos finos.

No tipo de cultura da vitis vinifera três municípios se destacam atualmente no submédio

São Francisco: Casa Nova, no Estado da Bahia e, em Pernambuco, Lagoa Grande e Santa Maria

da Boa Vista. Porém, outros cinco municípios entram na delimitação para a IG, por já terem

sistema de irrigação com o plantio de outras culturas frutíferas, e terroir passível de cultivo da

vitis vinifera. São eles:

- Bahia: Curaçá, Juazeiro e Sobradinho

- Pernambuco: Petrolina e Orocó

Os oito municípios juntos somam um território 33.453 Km² (IBGE, 2017). Todos eles

reúnem as características de produção, além de outros atrativos geográficos, sociais e culturais

que tornam viável outra atividade importante relacionada ao vinho, que é o enoturismo. A esse

respeito, vale mencionar a fala do presidente do instituto, José Gualberto de Freitas Almeida,

também proprietário da vinícola Botticelli, localizada na cidade de Santa Maria da Boa Vista,

29

pioneiro na fabricação de vinhos em 1986, na abertura do seminário em Petrolina (2017) entre os

dias 17 e 18 de outubro de 2017:

A produção da vitivinicultura no Vale é recente. Um pouco mais que 30 anos é muito

pouco, comparados às demais partes do mundo. Mas atingimos em tempo curto, uma

qualidade na produção e características únicas ao nosso vinho, que a cada dia estamos

adentrando o mercado nacional. Sabemos que é quase nada, também, mas podemos

atrair visitantes ao Vale com a mídia espontânea que nossa região vem conquistando.

Não queremos receber mal o nosso turista. Temos tudo para que o visitante venha e

ainda queira voltar. O enoturismo precisa ser planejado e estruturado (GUALBERTO, 17

de outubro de 2017)

O seminário também serviu para apresentar o potencial da região que favorece o

enoturismo e que fará parte do documento a ser entregue ao INPI para a solicitação da IG, mas

não foi disponibilizado para publicação desta dissertação. A Figura 3 apresenta as IGs de vinhos

finos no Brasil e as que estão em andamento como a do Vale do São Francisco.

Figura 3 – Indicações Geográficas do Brasil para vinhos finos tranquilos e espumantes

Fonte: Tornietto, Prado e Falcante (2017) apud Tornietto (2017)

30

Explorando a fala do senhor Gualberto, atento às necessidades da região em melhorar o

serviço de recepção em hospedagem, bares e restaurantes, este trata sobre o volume de

reportagens nacionais e internacionais em que o Vale do São Francisco é destacado por conta de

suas particularidades na produção de culturas irrigadas. A Foto 1 é uma imagem facilmente

encontrada na internet, quando a pesquisa em sites de busca refere-se à irrigação, vinhos e

vinhedos do VSF.

Foto 1 - Imagem aérea de cultivo de vinhedos no Vale do São Francisco

Fonte: http://www.carlosbritto.com/irrigacao-magnetizada-podera-chegar-fruticultura-irrigada-vale/ (2017)

A Foto 1 torna-se uma imagem emblemática, apresentando vários estádios fenológicos ao

mesmo tempo. O produtor escolhe em quais das 52 semanas do ano pretende fazer a colheita e

assim, programa a poda, hoje, guiada por estudos climáticos. Como não há dormência e com o

sol constante, poda e colheita são programadas. Isso permite dividir o plantio em lotes e toda

semana ter uvas maduras a serem colhidas e preparadas entre os vários produtos possíveis com as

vinhas, em especial, os espumantes com boa entrada no mercado nacional e é responsável por

60% da transformação da uva no Vale.

Enquanto nas regiões do mundo a colheita manual (ou mecânica) é um trabalho sazonal, a

mão de obra no Vale é fixa. Não há dormência; a fotossíntese da planta é controlada de acordo

com os critérios do responsável técnico; como as chuvas são raras e pontuais, o controle hídrico é

feito pela irrigação e interrompida quando a videira necessita de um período seco. Com isso, o

Videiras podadas

Floração

Brotação

Videiras podadas

Caatinga

Caatinga

Rio São Francisco

Colheitas

31

terroir do Vale do São Francisco tem grande intervenção humana. O resultado são duas colheitas

por videira durante o ano.

Alguns pesquisadores da EMBRAPA (MOURA, TEXEIRA e SOARES, 2009) afirmam

ser este fenômeno único no mundo, mas como as pesquisas são recentes, esta autora pondera

aguardar a mesma experiência em plantio das diversas espécies da vitis em outros lugares do

mundo de clima tropical onde é possível irrigação, para poder afirmar ser um fenômeno exclusivo

do semiárido brasileiro.

O potencial da vinha nos ares quentes foi observado por Gabriel Soares de Sousa em

1587. Segundo Azevedo (2007), Sousa foi um colonizador português, que se instalou na Bahia

em 1569 e tornou-se dono de engenho. Quando o Brasil estava sob o domínio espanhol, Sousa

escreveu um tratado sobre o Brasil em detalhes sobre a botânica e geografia humana e física da

colônia e entregou ao Rei Felipe, denominado I em Portugal e II na Espanha, um documento para

solicitar apoio e permissão para explorar os sertões em busca de metais e pedras preciosas,

seguindo o curso do Rio São Francisco que, durante o período colonial, serviu como guia aos

exploradores para adentrar o interior do Brasil e, claro, buscar ouro de aluvião, só encontrado em

fins do século XVII (FURTADO, 2009). Segundo Azevedo (2007), o documento atende aos

moldes medievais, porém é um registro importante da história brasileira do século XVI. Sousa

(1587) descreve sobre o cultivo da videira, mas não menciona a irrigação como recurso, mas

fornece informação sobre o comportamento da vinha em ser diferente da cultivada em terras

conhecidas pelo Rei Felipe I de Portugal e II da Espanha:

Das árvores a principal é a parreira, a qual se dá de maneira nesta terra, que nunca lhe

cai a folha, se não quando a podam que lha lançam fora; e quantas vezes a podem, tantas

dá fruto; e porque duram poucos anos com a fertilidade, se as podam muitas vezes no

ano; é a poda ordinária duas vezes para darem duas novidades, o que se faz em qualquer

tempo do ano conforme ao tempo que cada um quer as uvas, porque em todo o ano

amadurecem e são muito doces e saborosas, e não amadurecem todas juntas; e há

curiosos que têm nos seus jardins pé de parreira que têm uns braços com uvas maduras,

outros com agraços, outros com frutos em flor e outros podados de novo; e assim em

todo o ano têm uvas maduras, numa só parreira. (SOUSA, 1587, p. 145)

O texto de Sousa, datado de 1587, é o registro mais antigo do Brasil sobre a vinha e

apresenta um comportamento da videira diferente das regiões tradicionais dos paralelos acima de

40° (paralelos de clima temperado). Há informações muito relevantes como a produtividade

anual e o quão doce são as uvas. Sobre os açúcares, a França tem um rígido controle no

acréscimo quando os bagos não receberam sol suficiente para a elaboração natural do açúcar na

32

uva (JOHNSON e ROBINSON, 2014). Nas vinhas do Vale do São Francisco ocorre o contrário.

Sobra açúcar na uva.

Em Pernambuco, há registro do plantio da vinha na Ilha de Itamaracá, no período em que

Maurício de Nassau foi o governador holandês no Brasil, a partir de 1637. O sucesso do plantio

foi tal, que Nassau pediu para Frans Post, artista neerlandês, a transformar três cachos na

heráldica da ilha, conforme Figura 4 (VALDUGA, 2017). Esta simbologia ainda permanece na

bandeira de Itamaracá conforme mostra as Figuras 4 e 5, contendo as duas imagens.

Figura 4 – Símbolo da ilha de Itamaracá criado por Frans Post, Século XVII

Fonte: http://brasiliana-heraldica.blogspot.com.br/2014/

Figura 5 – Bandeira e brasão atual da Ilha de Itamaracá

Fonte: http://blog.famigliavalduga.com.br

33

A expulsão dos holandeses desmantelou a proposta vinícola da ilha e o foco retorna à

cana de açúcar. Mas será a ciência e a tecnologia do final do Século XX que irá dar as condições

de correções de solo e estudo de todos os compostos do terroir, sistema de refrigeração e

materiais adequados para o desenvolvimento de vinhos finos entre os paralelos 8 e 9 do

Hemisfério Sul e, dessa vez, sem possibilidade de interrupções.

Grande parte da literatura (inclusive teses e dissertações) elaboradas na última década,

refletindo sobre a realidade dos produtos do VSF, hoje contém muitas observações ultrapassadas,

como, por exemplo, a de Souza (2009). No momento dessas pesquisas, os vinhos produzidos no

Nordeste brasileiro não eram competitivos tanto no mercado nacional quanto no mercado

internacional, além de enfrentarem forte preconceito regional. A implantação de parte das

pesquisas realizadas pela EMBRAPA, universidades e produtores tradicionais, como a Miolo do

Sul do Brasil, e a portuguesa Global Wines, estão contribuindo para alterar completamente esta

percepção equivoca, seja dos pesquisadores, seja do mercado.

2.2 O SEMIÁRIDO BRASILEIRO E O SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO

O IBGE (2017) classifica de região semiárida a área correspondente a 982.563,3 Km²

caracterizada por precipitação pluviométrica abaixo de 800 mm/ano e com índice acima de 60%

de risco de seca. Sua maior parte, 89,9% está no Nordeste, com exceção do Maranhão, e 10,5%

no Sudeste, no estado de Minas Gerais. Os rios não suportam estiagens prolongadas e o São

Francisco assume importância fundamental no sertão.

Segundo Azevedo (2007), Gabriel Sousa (mencionado acima) conseguiu a autorização do

Rei de Portugal para explorar os sertões no início de 1590. Seguiu o rio São Francisco e chegou

até uma de suas nascentes, mas o registro é que morreu no retorno por contrair uma forte febre.

Em sua busca, Gabriel Souza não encontrou metais, pedras preciosas e nem o tão procurado ouro.

A riqueza estava nas águas caudalosas do Rio São Francisco, assim como observou Pero Vaz de

Caminha sobre o potencial hídrico das novas terras, mas esse potencial só passou a ser explorado

a partir da década de 1950 (SOUZA e LEÃO, 2009).

O próprio Sousa, na sua descrição sobre as vinhas em 1587, não conseguia explicar o

porquê de a videira ser tão produtiva aqui nas terras do Novo Mundo. A ciência prova que o Sol

34

quase constante, provocando uma insolação média de 2.800 hora/ano, chegando até 3.200

hora/ano; temperatura anual média de 23ºC a 27ºC, evaporação de 2.000 mm ano e umidade

relativa do ar em torno de 50% (MOURA et al., 2007), são as condições prevalecentes do

semiárido que, somadas à velocidade dos ventos, à baixa precipitação, e à irrigação com as águas

do Rio São Francisco, controladas pelo homem, permitem uma experiência nova no mundo e de

sucesso com o plantio da vitis vinifera (MOURA, TEXEIRA, SOARES, 2009).

Nova, se comparada aos séculos de plantio do velho mundo. As experiências com as

primeiras mudas de vinha no submédio São Francisco iniciaram na década de 1950. De acordo

com Soares e Leão (2009), em 1956 foram plantadas 100 mil videiras. Eram videiras híbridas

norte-americanas que, mais adiante, dariam margem aos primeiros experimentos de sucesso com

uvas para vinho de mesa. A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) criou

áreas de experimento nas regiões de Bebedouro em Petrolina (PE) e Mandacaru em Juazeiro

(BA) a partir de 1963, com o cultivo de uvas para mesa e vinho. A EMBRAPA Semiárido inicia

as pesquisas, incluindo irrigação de outras culturas, a partir de 1975 (SOUZA e LEÃO, 2009).

Esses anos iniciais permitem aos empreendedores agrícolas atraídos de outras regiões do

país, na maioria descendentes de italianos, espanhóis e japoneses que já moravam no Brasil, a

investirem na plantação irrigada no início dos anos 1980. São esses agricultores que iniciam a

transformação definitiva do Vale em uma região grande produtora de frutas, com praticamente

toda a produção voltada para o exterior. As vinhas de mesa estão entre elas, com a grande

vantagem das duas vindimas ao ano, programada no período da entressafra na Europa, em que o

valor das uvas atinge altos preços (SOUZA e LEÃO, 2009).

Segundo Lima Filho et al. (2009), nos aspectos fisiológicos da videira, o sol do semiárido

favorece a fotossíntese da planta, mas é necessário estudar cada tipo de vitis vinifera. Cada

espécie exige dias diferentes de exposição das folhas variando de 110 a 150 dias. O importante

papel da EMBRAPA, das universidades e também do Instituo de Tecnologia de Pernambuco

(ITEP) foi mapear o momento certo de podas para cada vitis vinifera fornecendo mais precisão no

manejo da videira. Com isso, as uvas retêm maiores concentrações de nutrientes com a

fotossíntese. O reflexo desse cuidado é a alta produtividade e a qualidade nos bagos resultando na

qualidade dos produtos finais.

As vitis vinifera cultivadas atualmente no Vale do São Francisco são listadas a seguir,

juntamente com uma descrição de suas características principais.

35

Figura 6 – Casta Aragonês/Tempranillo

Fonte: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/aragones e https://www.vinha.pt/wikivinha/casta-

vinho/aragones/

Figura 7 – Casta Alicante Bouschet

Fonte: https://www.vinha.pt/wikivinha/casta-vinho/alicante-bouschet/

36

Figura 8 – Casta Cabernet Sauvignon

Fonte: http://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-todo-poderosa-cabernet-sauvignon_8168.html#ixzz519RQjnUa

e https://www.vinha.pt/wikivinha/casta-vinho/cabernet-sauvignon/

Figura 9 – Casta Syrah (ou Shiraz)

Fonte: https://www.vinha.pt/wikivinha/casta-vinho/syrah/

37

Figura 10 – Casta Touriga Nacional

Fonte: https://www.vinha.pt/wikivinha/casta-vinho/touriga-nacional/

Figura 11 – Casta Viognier

Fonte: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/viognier e https://www.vinha.pt/wikivinha/casta-

vinho/viognier/

38

12 – Casta Merlot

Fontes: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/30

e http://revistaadega.uol.com.br/artigo/merlot_4226.html#ixzz519cG4Ev1merlot

Figura 13 – Casta Egiodola

Fontes: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/culinaria/alem-do-cabernet-e-merlot-conheca-30-uvas-que-

fazem-vinhos-no-brasil,03044bfedd3fc310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html e

http://www.vinhosdecorte.com.br/pizzato-reserva-egiodola-2004/

39

Figura 14 – Casta Moscato

Fonte: http://boccativinhos.blogspot.com.br/2015/11/os-diferentes-tipos-de-uva.html

Figura 15 – Casta Chenin Blanc

Fontes: http://www.palcodovinho.com.br/post/chenin-blanc-quem-e-205.html e

https://sonoma.com.br/explorar/uvas/chenin-blanc-a-prata-da-casa-francesa-de-vinhos

40

Figura 16– Casta Arinto

Fonte: https://www.vinha.pt/wikivinha/casta-vinho/arinto/

As 11 vitis vinifera destacadas entre as figuras 6 até a 16, são as que melhor se adaptam

ao terroir do VSF. Existem mais de 1.500 tipos de vinifera em todo o mundo. Como o tempo

entre o plantio das mudas e finalização do produto leva-se tempo em anos, é possível que na

história futura do VSF poderá apresentar outras castas com bons resultados à produção de vinhos

finos e espumantes. Sobre o comportamento dos vinhedos do submédio São Francisco em

comparação com mesma atividade acima do paralelo 30.

Quadro 1 – Características da viticultura no semiárido quanto à produção

acima do paralelo 30 Nos paralelos 8 e 9 – Vale do São

Francisco

Temperatura máxima Até 35ºC Acima de 35ºC

Dormência Necessária Não existe – mito

Sol Moderado e + intenso com um curto

verão

Quase 365 dias no ano

Poda Uma vez ao ano Duas vezes ao ano

41

Período de colheita Hemisfério Norte: set/out

Hemisfério Sul: mar/abr

Possível nas 52 semanas do ano

Fonte: pesquisa da autora

Essa diferença na produção se reflete na competitividade da região face ao mundo. As

pesquisas avançam, mas as conquistas de prêmios internacionais importantes conferidas às

marcas dos vinhos e espumantes do VSF, demonstram o potencial positivo ao futuro dos vinhos

finos junto aos degustadores exigentes como enólogos, sommeliers e enófilos.

2.3 DEVORA-ME E DECIFRA-ME: O DEGUSTADOR DO ENIGMÁTICO VINHO

Capazes de se prestar à fabricação de vinhos tintos, vinhos brancos, rosés, licorosos,

fortificados, frisantes, espumantes, aguardentes, todos nos mais diferentes tempos de preparo,

sabores e aromas, com maturação ou não, as vitis vinifera produzem uma série de bebidas com

variados teores etílicos. Os consumidores têm a sua satisfação garantida com suas preferências de

consumo para cada categoria de vinho ou destilado. Porém, a vitis vinifera tem particularidades

em reter em suas mais de mil variedades, as propriedades do local de cultivo e a arte, hoje

também ciência, do processo da fabricação da bebida.

Do sagrado ao profano. Das alegres festas ao mais profundo estado de depressão do

psiquismo humano, por ser uma bebida milenar, o vinho encontra-se mencionado em muitas

literaturas e escritos antigos, no cenário das relações sociais ou particularidades da vivência

humana. Seus consumidores relatam suas preferências e classificação de bom ou ruim, e para

alguns, não há espaço para o mediano.

Sem exagero, pode-se afirmar que, talvez depois da água (o vinho era muitas vezes mais

saudável do que a própria água, ainda nos tempos dos gregos e romanos), o vinho é o líquido

mais importante nos registros históricos de parte das sociedades antigas do Oriente e da Europa.

Presente nos hieróglifos, nos poemas homéricos e em toda literatura em que há uma celebração,

ou em um momento íntimo de um personagem, o vinho geralmente, faz-se presente. Sua

importância está também nos ritos religiosos, como entre os cristãos. Consta no evangelho de

João que o primeiro milagre realizado por Jesus, foi transformar água em vinho em uma festa de

42

casamento e, pelo que se narra, é possível perceber a importância da bebida e a percepção do

consumidor quanto à qualidade:

[...] e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber

de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então

chamou o noivo e disse: "Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os

convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor

até agora". (EVANGELHO DE JOÃO cap. 2, v. 9 e 10)

Se não houve adulteração ao longo dos séculos nessa parte do evangelho de João, no texto

extraído é possível identificar a quão antiga é a capacidade do consumidor em distinguir a

qualidade da bebida. Jesus transformou a água em vinho, mas na Idade Média não se apelou para

o milagre contrário: transformar o vinho em água. A considerar as afirmativas de Johnson e

Robinson (2014), a não confiabilidade na qualidade da água durante a idade média, tornou o

vinho a bebida para matar a sede de parte da população europeia e, a fome (pois, desde épocas

remotas, e ainda nos dias atuais, o vinho é considerado, na Europa, como alimento). Mas nem

todos os vinhos são benéficos à saúde. O vinho fino, em especial o tinto, é uma bebida com

propriedades recomendadas à saúde quando tomado moderadamente. Segundo Carvalho (2017),

em suas pesquisas, a dosagem varia de 150ml a 180ml considerando sexo, idade, massa

muscular, combinado com exercícios físicos.

Hoje, o mercado tem uma forte concorrência mundial na existência de uma infinidade de

rótulos e regiões na produção de vinhos finos. O desenvolvimento de um vinho com identidade

própria não é tarefa fácil a um enólogo e toda a equipe envolvida. Mas, além da concorrência de

mercado existem as limitações do terroir e as exigências a serem seguidas na produção. Cada

vinícola busca identificar as qualidades únicas ao vinho, possíveis com o terroir que sempre é

único. O marketing é uma estratégia fundamental para o desenvolvimento de um produto

adequado a um determinado público, mas no caso do vinho, marketing e enólogo formam um

conjunto. O desenvolvimento de um produto necessita seguir os critérios fornecidos pela OIV –

Organização Internacional da Vinha e do Vinho (2017) para ter reconhecimento internacional, em

especial, através dos concursos.

Por outro lado, também não é fácil ao consumidor em geral, deparar-se com as adegas dos

supermercados e a heterogeneidade da bebida, a complexidade de seus atributos e as

possibilidades de harmonizações. Solomon (2016) trata o consumidor também como um ser

complexo ao definir a sua escolha de compra. O autor recomenda ao marketing um mapeamento

43

detalhado das condições macro até ao estilo de vida, por segmento, para facilitar o

desenvolvimento de produtos a um público alvo. Produto diferenciado é a combinação desejada.

Quanto às questões macro, no tocante ao vinho, há uma série de organismos internacionais que

trazem informações relevantes sobre o mapeamento de produção, comercialização e consumo de

vinho. Somam-se estes às instituições dos países produtores e às próprias vinícolas, que fornecem

informações detalhadas (e obrigatoriamente confiáveis) ao marketing, para que sejam definidas

as estratégias de mercado.

O advento da internet e da revolução digital nas últimas décadas fez com que as

informações circulassem mais rapidamente. Ao mesmo tempo, aumentou muito a exigência do

consumidor em relação aos vinhos.

A OIV (2017) possui dados importantes ao setor vitivinícola com a compilação de dados

armazenados durante anos do mercado mundial. O consumo de vinho mundial sofreu uma

pequena queda nos últimos 10 anos. O auge foi em 2007, com o consumo registrado de 250

milhões de hl1. Em 2016, chegou 242 milhões de hl e para 2017 segue a mesma previsão. Este

mesmo estudo da OIV aponta a crise econômica como fator na diminuição de consumo. Johnson

e Robinson (2017) mencionam que um dos fatores de queda ao consumo são as campanhas dos

governos e Organizações Não Governamentais (ONG) para redução no consumo de bebidas

alcóolicas em países que apontam alto consumo, como nos países europeus.

Porém, há países, como o Brasil, em que o consumo de vinho não chega a 2 litros por

pessoa/ano, o que não significa que a população seja abstêmia, mas que tem preferência por

outras bebidas etílicas (EMPRAPA SEMIÁRIDO, 2017; IBRAVIN; 2017). Quanto ao vinho

nacional, há um agravante: o preconceito do consumidor brasileiro com relação aos vinhos finos

produzidos no país. No caso dos vinhos do VSF, há um duplo preconceito: por ser nacional, e por

ser nordestino. A bebida procedente do exterior, como Chile, Portugal, Argentina, França e Itália

é mais aceita no mercado nacional do que a produzida nos estados do Sul brasileiro, região

tradicionalmente tida como fabricante dos melhores vinhos brasileiros, em função da colonização

italiana.

Mas os vinhos produzidos na chamada região tradicional do Brasil, o Sul do país, não

venceram concursos internacionais de relevância. A não conquista de premiações importantes

contribuiu para a construção de uma imagem pejorativa ao vinho fino nacional. Quanto aos

1 hl é a unidade de medida para hectolitro. Cada 1 hectolitro corresponde a 100 litros

44

vinhos chilenos e argentinos, estes competem não somente pela qualidade, reconhecida

internacionalmente, através de premiações importantes, mas também em preço, por conta dos

acordos de livre comércio entre o Brasil e os dois países do Cone Sul.

Como sugerido acima, o vinho do Vale do São Francisco sofre duplo preconceito.

Primeiro por ser nacional e, segundo, por ser nordestino, dado o processo de exclusão regional

que existe no Brasil (BATISTA et al., 2014). Um dos aspectos que embasam essa situação é o

fato de a região ser acometida por secas e outros aspectos socioeconômicos historicamente

construídos (ALBUQUERQUE, 2009). Logo, no imaginário coletivo, se os melhores vinhos são

os estrangeiros, as melhores uvas para o preparo da bebida não poderiam ser plantadas numa terra

onde prevalecem sol e altas temperaturas o ano todo.

Mas o preconceito com relação ao do vinho nacional, acentuado pela não conquista de

premiações internacionais pelas vinícolas do Sul do país durante anos, começa a ser derrubado,

curiosamente, pelos vinhos do Vale do São Francisco, apresentando-se como um dos paradigmas

quebrados até para a própria agricultura do semiárido, na constatação de um terroir apropriado ao

exigente vinho fino. Vários rótulos de vinhos nordestinos estão vencendo concursos e disputas

importantes, o que beneficia a entrada do Brasil no mercado internacional ainda incipiente aos

vinhos finos brasileiros. Os vinhos da marca Rio Sol, obtiveram conquistas importantes, em

especial no Concours Mondial de Bruxelles. O caso Rio Sol será retomado no Capítulo 4 desta

dissertação.

Ainda sobre o consumo do vinho brasileiro há uma questão muito importante a ser levada

em conta, e que constitui uma explicação adicional para a pouca preferência pela bebida do que é

considerado como vinho fino seco.

Segundo dados da IBRAVIN (2017), a produção de vinhos no Brasil, no ano de 2016, era

como segue abaixo:

- Vinhos finos tranquilos e espumantes: 65,9 milhões de litros

- Vinhos comuns: 204,3 milhões de litros.

Observa-se, pelas informações acima, que a produção de vinhos comuns é de quase três

vezes maior que a dos vinhos chamados de tranquilos e espumantes secos. Vale notar que os

vinhos comuns são chamados de vinhos suave de mesa (ou seja, doce). São vinhos açucarados e

45

que não passam pelas técnicas de vinificação apurada do chamado vinho fino seco, que tem

muito maior complexidade em sabor e aroma. Além do mais, os vinhos comuns (elaborados com

castas não europeias, ou seja, de variedades norte-americanas e não da vitis vinifera) são muito

mais baratos do que os finos e secos. Assim, o problema da preferência pelo vinho de mesa doce

(ou SUAVE, na classificação oficial do Brasil), além de ser muito mais consumido pelo seu preço

bem mais baixo, também o é por uma questão claramente cultural: apreciar um bom vinho seco,

exige mudança de hábitos e o convencimento de que os bons vinhos, em sua grande maioria, são

secos. Por outro lado, o vinho seco é mais difícil de agradar ao paladar de pessoas com baixa

instrução. Gostar de vinho seco faz parte de um processo educativo, de mudança cultural e até de

nível de renda.

Outra questão registrada pelo IBRAVIN (2017) e EMBRAPA (2017) é a referente à

importação. Segundo o Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (Alice Web),

os vinhos chilenos dominam o mercado brasileiro de vinhos finos. Entre janeiro e agosto de 2017

entraram no país 32,9 milhões de litros de vinhos do Chile. Portugal é o segundo país com 10,5

milhões de litros importados pelo Brasil. Isso representa uma preferência por produto importado,

do tipo fino, mas, como sugere Souza (2009), o aumento anual no consumo de vinho importado

está intimamente ligado à percepção da pouca qualidade do vinho nacional e à melhoria no poder

aquisitivo do brasileiro, segundo a IBRAVIN (2017) e EMBRAPA (2017), bem como também à

não cobrança de imposto de importação sobre os vinhos chilenos e argentinos.

O preconceito contra os vinhos do Nordeste é um dos fatores contra os quais as

vinícolas do Vale do São Francisco estão trabalhando para mudança no cenário nacional. Tal

mudança é sem dúvida possível, mas demanda iniciativas em várias dimensões e com o

envolvimento de diversos stakeholders, desde os próprios produtores, ao governo, universidades

e instituições de pesquisa em atuação no Vale. A busca permanente pela melhoria da qualidade

dos vinhos produzidos na região deve ser uma prioridade absoluta. Uma estratégia inteligente de

marketing e de promoção das marcas dos vinhos é outra iniciativa a merecer destaque –

principalmente nos restaurantes, em lojas especializadas de venda do produto e nos

supermercados. Uma boa divulgação dos vinhos da região do São Francisco por associações de

amantes e degustadores de vinhos finos constitui um requisito indispensável para a viabilização

comercial das marcas da região. A conquista do reconhecimento da qualidade e da singularidade

dos vinhos do São Francisco, em processo de concretização, constituirá, sem dúvidas, em divisor

46

de águas para a vitivinicultura da região e tal reconhecimento deverá ser apropriadamente

utilizado para a realização de um marketing inteligente, tanto no mercado regional quanto no

nacional. Por ouro lado, e talvez ainda mais importante, são os testes quanto à qualidade do vinho

da região do São Francisco realizados em eventos e competições internacionais, nos quais são

conferidas premiações a vinhos de diversos países. A premiação internacional já alcançada por

alguns vinhos da região na Europa, como será visto mais adiante, por certo constituirá um

argumento definitivo para a sacramentação da qualidade do vinho do São Francisco e uma

confirmação do enorme potencial da vitivinicultura da região – o que certamente resultará na

abertura de mercados tanto em nível nacional quanto no internacional.

Dos concursos internacionais, o de maior visibilidade é o Concours Mondial de Bruxelles.

A cada edição um país é escolhido como sede da competição. Em 2018, a capital da China será a

sede da 25ª edição. Os rigores na escolha do júri, os critérios de degustação e o alto grau de

organização operacional elevaram a competição a níveis de excelência. A vitória permite ao

vencedor inserir a medalha de sua conquista no rótulo. Todas as informações e classificação dos

vinhos ficam disponíveis para consulta do consumidor. Para o novo perfil do consumidor

moderno, interligado aos canais digitais, com um celular com acesso à internet, estar em frente da

adega do varejo deixa de ser um mistério e o site do Concours Mondial de Bruxelles é facilmente

consultado. Segundo as notícias de entrevistados pelos organizadores, a depender do mercado, as

vendas crescem até 40% do rótulo vencedor (CONCOURS MONDIAL DE BRUXELLES,

2017). Os vinhos brasileiros buscam vitórias para impulsionar suas vendas como o caso da Rio

Sol, melhor descrito no Capítulo 4.

47

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Um estudo científico requer rigor por parte do investigador no desenvolvimento de cada

trabalho. Nesse sentido, o método adotado nesta dissertação deve ser apresentado para uma maior

compreensão do assunto e para certificação de que se trata de uma pesquisa realizada com os

critérios necessários a um trabalho científico.

Inicialmente, foi considerado o universo a ser pesquisado e definida uma amostra. A

abordagem foi qualitativa e o procedimento, um Estudo de Caso. As técnicas empregadas foram

análise bibliográfica, entrevistas durante visitas feitas à região do VSF e na vinícola escolhida

para a amostra da pesquisa, a Vinibrasil. Outras técnicas foram necessárias para complementar o

estudo, como a observação e o empirismo, neste último aspecto, levando-se em conta que o vinho

faz parte do cotidiano de trabalho e estudo da autora, professora da disciplina de Enogastronomia.

A descrição é o recurso necessário para a apresentação dos dados expostos dentro da abordagem

qualitativa.

3.1 ESCOLHA DO TEMA

Já na escolha da temática a ser estudada, o conhecimento sobre vinhos adquirido pela

pesquisadora ao longo dos últimos nove anos, a partir de uma formação em gastronomia italiana

e como sommelière, foi fator determinante para o tema abordado e assim, concordando com Gil

(2017) quando afirma a necessidade de o tema ser de interesse do pesquisador.

Martins e Theóphilo (2009, p. 6) ressaltam como a leitura de livros e, principalmente, de

periódicos especializados, constituem recurso valioso na exploração do tema a ser pesquisado,

pois há situações de “o aluno-autor querer desenvolver um trabalho científico, mas não saber ao

certo o que escrever”. Mesmo com o objeto de estudo definido, a pesquisadora-autora buscou

fazer uma sondagem para elaborar o pré-projeto e viabilizar a pesquisa.

Visitou algumas vinícolas do Vale do São Francisco - VSF, entrando em contato com

enólogos e equipe de marketing, confirmando in loco dados anteriormente conhecidos sobre os

vinhos produzidos na região, quando ficou evidente a necessidade de um estudo atualizado sobre

a fabricação de vinhos e as estratégias empregadas para o reconhecimento da qualidade do

produto no seletivo e concorrido mercado de vinhos finos tranquilos.

48

Ainda se referindo à leitura de produções sobre o tema escolhido para uma pesquisa,

Martins e Theóphilo (2009, p. 6) sugerem a leitura de teses, dissertações e mesmo ter acesso a

anais de congressos, encontros e seminários na intenção de se conhecer o que vem sendo

estudado no Brasil e de inspirar novas pesquisas. Com o acesso aos repositórios digitais de

universidades públicas e particulares, foi possível realizar consultas mais precisas.

Dessa forma, foram realizadas buscas com os descritores vinho + dissertação, vinho +

tese, sendo eleitas apenas publicações de universidades públicas e foram identificados vários

estudos sobre vinho nas áreas de Administração, Segurança Alimentar, Química, Geografia,

História e de textos fora dos círculos universitários, mas com todos os rigores científicos como os

produzidos pela EMBRAPA.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

As pesquisas referentes ao produto vinho podem ser amplas com variáveis múltiplas. O

conhecimento sobre vinho propõe temas relevantes de estudo. Dos muitos aspectos possíveis a

serem abordados, este estudo está focado na relação local geográfico da plantação/e consumidor.

A escolha em delimitar este aspecto dá-se pelo fato de que do mesmo tipo de uva, ao ser plantada

em regiões diferentes, poderão resultar diferentes sabores e aromas da bebida.

Oferecer ao consumidor um novo sabor, buscar a excelência e fincar a região no mapa da

qualidade requer sofisticadas técnicas de produção. As competições de vinho são um termômetro

e as estratégias para conquistar o consumidor na decisão de compra são várias, mas com peso

considerável no tipo e na origem da vitis vinifera.

Mesmo com um estudo de caso pode-se afirmar que o universo pesquisado é a produção

de vinho e a amostra a ser estudada é uma área geográfica definida, - o VSF pernambucano. Com

isso, do universo das empresas que plantam uvas no VSF, a amostra pesquisada será a empresa

ViniBrasil – uma de mais de uma dezena de outras empresas produtoras de uvas e vinho na

região.

49

3.3 QUANTO À ABORDAGEM

A abordagem utilizada é qualitativa, a partir do método indutivo, o qual tem como

objetivo “[...] chegar a conclusões mais amplas do que o conteúdo estabelecido pelas premissas

nas quais está fundamentado” (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 63). Isso ocorre, também,

porque valendo-se do método dedutivo, parte-se do geral para o particular (Lakatos e Marconi,

2011) ressaltando-se que, neste caso, o conhecimento inicial da pesquisadora sobre vinhos foi a

base para destrinchar as demais etapas do trabalho.

Creswel (2007) observa que processo indutivo é, geralmente, empregado na análise de

dados de pesquisa qualitativa. Por outro lado,

[...] o objetivo fundamental da pesquisa qualitativa não reside na produção de opiniões

representativas e objetivamente mensuráveis de um grupo; está no aprofundamento da

compreensão de um fenômeno social por meio de entrevistas em profundidade e análises

qualitativas da consciência articulada dos atores envolvidos no fenômeno

(RICHARDSON, 2007, p. 102).

Desta forma, trata-se de uma abordagem que, ao contrário da pesquisa quantitativa, não

busca mensurar o fenômeno numericamente e quantitativamente, mas promover um estudo

profundo do fenômeno estudado, detalhando características, variáveis, circunstâncias e demais

aspectos relativos ao foco do estudo.

Embora Richardson (2007) se reporte a um fenômeno social, Schwandt (2006) relata que

essa abordagem metodológica, inicialmente mais utilizada pela Antropologia e a Sociologia,

passou a ser mais empregada a partir da década de 1970 por outros segmentos das ciências

sociais e comportamentais como, por exemplo, a ciência política, a educação e os negócios.

A pesquisa qualitativa, observa Minayo (2011), tem a subjetividade e o empirismo como

pontos negativos, além da possibilidade de o pesquisador poder se envolver emocionalmente com

o processo de pesquisa. Geralmente, essa abordagem metodológica é empregada em pesquisa

documental, etnográfica e estudos de casos na qual podem ser usados três métodos de coleta de

dados: observação, entrevista e pesquisa ou análise documental/entrevista.

Todos os métodos e técnicas têm suas limitações e podem ser superadas quando o

pesquisador conhece os princípios e sua aplicação (MARTINS e THEÓPHILO, 2009). Ao longo

de seu desenvolvimento, esse estudo emprega uma abordagem metodológica empírica, por se

50

tratar de uma dissertação de mestrado sobre vinho produzido no Nordeste do Brasil, discutindo

alguns assuntos conhecidos por admiradores da bebida e até mesmo empregando a experiência

sensorial da pesquisadora.

Para reduzir os aspectos negativos dos métodos e técnicas, sobretudo no tocante ao

empirismo, deve-se considerar o conhecimento sobre vinhos adquirido a partir de estudos e da

vivência da autora-pesquisadora para iniciar os trabalhos, em concordância ao princípio que

“todo o nosso conhecimento começa com a experiência, mas nem tudo deriva dela” (KANT,

apud GIROTTI 2011, p. 22) e, assim, ficou evidente o viés empírico no início dos trabalhos.

No empirismo “considera-se que o fato existe independentemente de qualquer atribuição

de valor ou posicionamento teórico, e possui um conteúdo evidente, livre de pressupostos

subjetivos” (MARTINS e THEÓPHILO, 2009, p. 39) enquanto Girotti (2011, p. 23) observa que

o empirismo “configura a experiência como sua fonte de conhecimento, bem como o elemento

que decide sobre a validade do conhecimento”. Assim, o vinho e todo o seu processo de produção

são discutidos há centenas de anos e conceitos sobre o que define os melhores produtos já foram

testados cientificamente como, por exemplo, o tipo de solo e o clima onde se desenvolve a vinha,

os tipos de uva usados na fabricação dos diversos vinhos e as técnicas da degustação.

3.4 QUANTO AO PROCEDIMENTO

Essa pesquisa é constituída por um Estudo de Caso. Podendo ou não preceder uma

pesquisa de campo, o estudo de caso exige do pesquisador um conhecimento prévio sobre o

assunto e o cuidado para não deixar sua opinião influenciar os resultados obtidos (MARTINS e

THEÓPHILO, 2009, p. 62). A principal característica deste meio de pesquisa é o foco em um

elemento, com caráter de profundidade e detalhamento maior até mesmo ao definido em um

estudo de campo (VERGARA, 2010).

Gil (2008) adverte sobre a necessidade de investigação de todos os aspectos do objeto em

estudo, promovendo um levantamento exaustivo, amplo e detalhado do que se pretende conhecer.

De acordo com Martins e Theóphilo (2009) tanto objetivos quanto hipóteses podem ser

substituídos pelas proposições encontradas nas teorias preliminares constantes do levantamento

bibliográfico e, assim, “[...] em um Estudo de Caso, buscam-se elementos e evidências para

51

demonstrar uma teoria – construir uma teoria – (Grounded Theory) – sobre o caso, ou seja, ao

invés de testar a teoria, tenta-se construir a teoria” (MARTINS e THEÓPHILO, 2009, p. 61).

É uma modalidade que exige planejamento para o processo de coleta de dados e isso não

implica seguir uma rotina, mas, sim obriga o investigador a ser flexível e adaptável e “a estratégia

de pesquisa Estudo de Caso pede avaliação qualitativa, pois seu objetivo é o estudo de uma

unidade social que se analisa profunda e intensamente” (MARTINS e THEÓPHILO, 2009, p.

61).

3.5 QUANTO AOS FINS

A pesquisa é de cunho descritivo. Como a própria nomenclatura sugere, uma pesquisa

descritiva tem como propósito principal descrever com detalhes fatos e outras características do

fenômeno analisado na perspectiva de levantar a maior quantidade de informação possível,

apresentando novas percepções sobre o objeto em estudo (GIL, 2008).

Mesmo tendo o propósito de apurar o maior número possível de informações sobre o

objeto da pesquisa, esse modelo “não têm o compromisso de explicar os fenômenos que

descreve, embora sirva de base para tal explicação” (VERGARA, 2010, p. 47). Ainda de acordo

com Gil (2008), é possível que uma pesquisa descritiva ganhe forma de um estudo de caso.

3.6 TÉCNICAS PARA A COLETA DE DADOS

No processo de coleta de dados para a pesquisa foram usados três instrumentos: a

observação sistemática; a entrevista e um questionário com perguntas semiestruturadas. Sendo

um estudo de caso, o emprego de mais de um recurso foi necessário para que não ficassem

lacunas durante todo o levantamento de informações. De acordo com Martins e Theóphilo (2009,

p. 86), “técnicas observacionais são procedimentos empíricos de natureza sensorial”, ou seja, o

pesquisador observa o evento de maneira diferente de como faria no cotidiano, dessa vez

envolvendo uma percepção sensorial, coletando dados e evidências relevantes à pesquisa.

Gil (2017) adverte sobre a existência de três tipos de observação: a participante, a não

participante e a sistêmica. Como a denominação sugere, na primeira modalidade, o pesquisador

participa da experiência, enquanto na segunda, não há o envolvimento com o objeto pesquisado.

52

Já para a observação sistemática é necessário um conhecimento sobre os aspectos mais

significativos do fenômeno em questão e o plano de observação deve ser elaborado previamente.

A entrevista é

[...] uma técnica de pesquisa para coleta de informações, dados e evidências cujo

objetivo básico é entender o significado que entrevistados atribuem a questões e

situações, em contextos que não foram estruturados anteriormente, com base nas

suposições e conjecturas do pesquisador (MARTINS e THEÓPHILO, 2009, p. 88).

Para o trabalho foi empregada a conversação livre e, em seguida, entrevista

semiestruturada, quando foi seguido um roteiro, mas foram acrescentadas outras questões quando

a pesquisadora sentia necessidade de maiores esclarecimentos. Após essa etapa, foi entregue um

questionário, via correio eletrônico (e-mail), com perguntas semiestruturadas. Gil (2008) aponta a

versatilidade do questionário como um dos pontos positivos entre os instrumentos de coleta de

dados, pois é possível ajustá-lo de acordo com a necessidade surgida.

Os entrevistados contatados para este trabalho foram:

- João Santos - Diretor do grupo Global Wines no Brasil. Foi realizada uma visita técnica ao

local e a apresentação da vinícola de nome fantasia Santa Maria, localizada no município de

Lagoa Grande-PE. Houve três outros contatos telefônicos e entrevista via e-mail.

- Ricardo Henriques – Enólogo e técnico responsável pela vinícola. Aplicação da entrevista livre

em 19 de outubro de 2017. A partir das informações coletadas foi elaborado um questionário

(Anexo 1). A partir das respostas seguiu-se uma pesquisa para fundamentação teórica e a

organização física do estudo de caso composto no capítulo 4.

- Palestrantes/pesquisadores do Seminário Indicação Geográfica para os Vinhos Finos Tranquilos

e Espumantes do Vale do São Francisco, entre os dias 17 e 18 de outro de 2017. No Anexo 2,

encontra-se o folder com os temas e nomes dos palestrantes. Porém, grande parte das pesquisas

apresentadas no seminário não teve autorização a ser publicada, mas serviram de norte para busca

de informações do que já existem em áreas tradicionais de produção da vitis vinifera.

53

4 O CASO RIO SOL

O Grupo Global Wines, detentor da marca Rio Sol, foi criado em 1990 com a fundação da

Dão Sul – Sociedade Anônima Vitivinícola S.A., em Carregal do Sal, na região do Dão, Portugal.

Trata-se de um grupo jovem, mas merece o mérito da tradição, por ser mantenedor da qualidade

de uma das regiões europeias referenciadas na produção de vinhos finos: a região do Dão. A

Global Wines, ao comprar uma vinícola, adquire seus ativos intangíveis como a tradição (a

empresa incorporou vinícola em Portugal com início das atividades em 1790), mas as

modernizam com investimentos em pesquisas no campo da ciência e tecnologia com destaques na

enologia e marketing.

O grupo firma-se na modernização do mercado de vinhos e na compreensão desse

consumidor moderno, paralelo à melhoria constante dos produtos oferecidos, mas a partir da

identificação de perfis mercadológicos. A preocupação com a comercialização e o status do vinho

português consta na missão da empresa, disponível no site da Global Wines:

A Global Wines defende como sua missão a promoção e divulgação dos vinhos

portugueses em nível nacional e internacional, procurando sempre uma melhoria

contínua em termos de padrões de qualidade dos produtos colocados ao dispor dos seus

consumidores (GLOBAL WINES, 2017).

Com foco no consumo de um produto milenar como o vinho, o grupo afina-se na

percepção do consumidor nas últimas décadas atento às transformações da sociedade e sua

consequente dinâmica do mercado. O desenvolvimento ou aperfeiçoamento do produto ocorre a

partir de estudos mercadológicos.

Com foco no perfil do consumidor moderno de vinho, envolto a um volume de ofertas e

informações, e que quer qualidade, mas facilidades ao comprar e beber um vinho, a Global

Wines, em suas vinícolas, buscou associar as potencialidades do terroir para o desenvolvimento

de bebidas com sabores e aromas únicos, harmonizando-os com alimentos ou situações de

consumo e explora as características da região (geografia e história) na comunicação. Para

garantir a qualidade do vinho, não compram uvas de outros produtores.

A missão do grupo concentra-se nos vinhos portugueses, mas estão sintonizados na

procura de oportunidades de negócios. Na participação em feiras internacionais de vinho, os

diretores descobriram o Vale do São Francisco. Após uma visita técnica à região do submédio

São Francisco e a constatação positiva da combinação terroir + custo baixo, 1.200ha foram

54

adquiridos no município pernambucano de Lagoa Grande, distante 659 Km da capital, Recife no

ano de 2002.

Em 2003 é constituída a empresa Sociedade Vitivinícola Ltda. e Vinibrasil – Vinhos do

Brasil S.A. Há dois escritórios comerciais no Brasil localizados nas cidades do Jaboatão dos

Guararapes, em Pernambuco, e de São Paulo. Ou seja, a Global Wines instala-se no Brasil e na

fazenda Planaltino foi inaugurada a vinícola Vinibrasil, com nome fantasia de Santa Maria,

produtora dos vinhos e dos espumantes com a marca Rio Sol. A plantação das primeiras vinhas

inicia-se em 2003 em uma área de 170ha. As primeiras castas plantadas foram a Syrah, Aragonês,

Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Egiodola.

Com o desenvolvimento da produção foi-se experimentando novas castas como a

Viognier, Arinto e Moscato Canelli. Com o terroir do semiárido, mas especificamente a ação do

sol constante combinado com a irrigação, inicialmente por inundação (a passagem para irrigação

por gotejamento deu-se paulatinamente), ao final de 2003 já foi possível a primeira vindima e a

consequente produção de vinhos finos e espumantes.

Com o tempo, outras vitis vinifera foram plantadas e o processo de produtividade por

hectare, ajustado. Dos 170ha plantados inicialmente, hoje são 120ha, mas com uma produtividade

ganha em 70% em relação à primeira colheita em 2003. A vitis que melhor se adaptou ao

semiárido foi a Syrah, seguida por Sauvignon Blanc, Baga, Sangiovese, Nebiolo, Vinhão e

Alvarinho.

Os primeiros vinhos produzidos pela ViniBrasil foram Rio Sol Cabernet Sauvignon 2003,

Rio Sol Assemblage 2003, Espumante Rio Sol Moscatel, Espumante Rio Sol Brut e Rio Sol

Branco. Nesses 15 anos, a ViniBrasil desenvolveu outros produtos (ver Quadro 6) com foco

estratégico em encontrar as características únicas extraídas do terroir do VSF.

A vinícola do Vale do São Francisco teve sua produção inicial voltada para o mercado

internacional, porém, atualmente, 95% da produção são para atender ao mercado brasileiro que,

aos poucos, está descobrindo a qualidade dos vinhos e espumantes produzidos no semiárido

nordestino.

A conquista do mercado não foi e não está sendo uma tarefa fácil no Brasil, porém

apresenta-se promissor. Para isso, o grupo importou tecnologia e pessoal (o responsável técnico

da vinícola, especializado em enologia, é português), e utiliza-se das estratégias de marketing

para romper o preconceito com as bebidas produzidas no país e o preconceito das demais regiões

55

brasileiras em relação ao Nordeste. O fator preconceito do vinho nacional e da cultura nordestina

foi identificado pelo grupo, mas, segundo entrevista com o enólogo responsável pelos produtos

Rio Sol:

“Os sabores e aromas dos produtos do Vale do São Francisco são diferenciados. Únicos.

Esta é a magia do terroir: a capacidade em tornar uma mesma variedade de vitis vinifera,

cultivada em vinhedos diversos espalhados pelo mundo, mas fornecer uma identidade

própria ao vinho de cada região em que foi plantada. Esta possibilidade atende ao

preconizado pela Global Wines. Não queremos ter vinhos melhores do que o sul do

Brasil ou franceses ou quaisquer outras partes do mundo. A proposta é qualidade? Sim,

mas com identidade própria. O terroir somado ao trabalho humano são os responsáveis

e, por isso, ninguém copia e, é por isso mesmo, que não precisamos ser melhores do que

ninguém. O vinho do Vale do São Francisco tem identidade bem aceita. A prova são as

vitórias nos concursos internacionais que os vinhos daqui conquistaram e que outras

vinícolas do país nunca conseguiram” (RICARDO HENRIQUES, ENÓLOGO, RIO

SOL, 2017).

Durante a entrevista, a preocupação do grupo é a de não se colocar superior a ninguém,

porém, a quebra do preconceito só é possível quando a localidade tem a consciência do valor da

sua cultura e identidade e da valorização. Na construção de ativos positivos para a marca de um

vinho, não é apenas a técnica empregada na produção e o terroir onde a vinha está plantada. A

sociedade e a cultura da região muito influenciam.

Souza (2009), em sua pesquisa sobre os vinhos do Vale do São Francisco, afirma o

binário sociedade/cultura como aspectos muito fortes também para a identidade dos vinhos,

porque são basilares na comunicação e comercialização dos produtos. Explorar o potencial de

cada região é uma realidade de muitas vinícolas. A Global Wines adota essa percepção e

relaciona a identidade e a cultura, como também as condições geográficas, como se fossem o

terroir da identidade cultural, de todas as suas vinícolas. Essas informações estão no site do

grupo. As informações foram extraídas e organizadas pela autora no Quadro 2.

Quadro 2 – Regiões, marcas e identidade dos vinhos de domínio da Global Wines

REGIÃO MARCA IDENTIDADE

Região dos

Vinhos Verdes

entre Douro e

Minho – Portugal

Quinta de

Lourosa

Contemporâneos e frescos, os vinhos Quinta de Lourosa são

produzidos numa propriedade que se desenvolveu em torno de

edifícios históricos datados dos séculos XVII e XVIII. Equilibrados e

com uma acidez crocante, são vinhos cativantes que pedem uma boa

companhia, preferencialmente à beira mar

Douro - Portugal Palestra Os vinhos Palestra são produzidos na região mais conceituada de

Portugal – Douro. Elegantes e harmoniosos, resultam da dedicação e

56

do respeito pela terra que lhes dá origem, sendo uma ótima opção

para o dia-a-dia.

Sá de

Baixo

Elegante e harmonioso, o vinho tinto Sá de Baixo resulta das

características intrínsecas da região do Douro, onde é produzido. Este

vinho, que reflete a versatilidade e qualidade da região na criação de

vinhos, é uma ótima escolha para acompanhar as suas refeições do

dia-a-dia.

Alentejo –

Portugal

Monte da

Cal

Os vinhos Monte da Cal são o resultado de um conjunto de fatores,

como a geologia do solo de carácter xistoso, temperaturas elevadas

durante o dia e frescas à noite, características que conferem aos

vinhos o verdadeiro patrimônio alentejano.

Lisboa – Portugal Cortello

A marca Cortello apresenta vinhos equilibrados e harmoniosos.

Marcados pelo clima temperado, com uma forte influência do Oceano

Atlântico, são vinhos versáteis e acessíveis, que lembram espírito

cosmopolita de uma cidade fervilhante e dinâmica.

Bairrada –

Portugal

QdoE

Dotada de uma visão diferenciada, a marca QdoE produz vinhos e

espumantes que evidenciam uma abordagem distinta na região

Bairrada. Elegantes e ousados, os vinhos e espumantes QdoE são

ideais para momentos marcantes, mas descomplicados, onde a

irreverência e o glamour são palavras-chave.

Encontro

Os vinhos ENCONTRO assentam numa perspectiva moderna de

produção. Centrados num portfolio que evidencia a irreverência e

numa abordagem distinta na região da Bairrada, são produzidos

vinhos singulares com um perfil elegante, vinificados numa adega de

tecnologia e controle avançados.

Dão – Portugal

Cabriz

CABRIZ, marca líder do grupo, apresenta portfólio diversificado e

inspirador, assente na qualidade da região do Dão. Os seus vinhos são

produzidos no centro de vinificação de Carregal do Sal, a sede do

grupo GLOBALWINES. Dos brancos aos tintos, passando pelos

espumantes e aguardentes, os vinhos Cabriz são a companhia perfeita

para qualquer ocasião.

Casa de

Santar

Os vinhos Casa de Santar distinguem-se pela complexidade e

nobreza, características que advêm do terroir que lhes dá origem e

que ilustram toda a vivência histórica e que unem a tradição e

autenticidade de mais de 400 anos de história, com uma envolvente

singular.

Paço dos

Cunhas

Os vinhos Paço dos Cunhas de Santar revelam intensidade e

personalidade, e têm a particularidade de surgirem de vinhas em

57

modo de agricultura biológica.

Grilos

O vinho Grilos, jovem e frutado, é de uma enorme frescura,

equilíbrio e versatilidade. Um vinho para apreciar em qualquer

momento.

Vale do São

Francisco –

Brasil

Rio Sol

Insólito, colorido e alegre, são os adjetivos que melhor caracterizam a

qualidade e consistência dos vinhos da marca Rio Sol

Fonte: Global Wines <http://www.globalwines.pt/> (2017)

Na apresentação da identidade encontrada para cada marca, algumas têm traços muito

distintos da geografia, como a marca Monte da Cal da região do Alentejo, ou dos sabores

frutados da marca Grilos da região do Dão. É sabido que os vinhos em seus aromas e sabores

possuem essas evidências devido às condições do terroir. Porém, há subjetividade como a

elegância, irreverência, jovialidade, nobreza e, no caso da Rio Sol, conceitos subjetivos do

imaginário ao que uma região ensolarada nos 365 dias do ano e marcada por uma cultura festiva

(carnaval, São João), podem oferecer.

Classificar os vinhos do Vale do São Francisco como insólitos (raros, singulares) é

resumir em uma palavra todas as quebras de paradigmas relativas à produção e consumo. Em

nenhuma outra região da Europa é possível um cultivo e manejo da vinha, principalmente, poda e

colheita como já descrito no capítulo anterior. Ou seja, os vinhos do Vale do São Francisco, no

mundo atual, são uma possibilidade rara, como já mencionado, nos registros do século XVI sobre

o plantio da vinha na Bahia e Pernambuco, mas que não foram explorados em seus potenciais.

É importante assinalar que a cultura do brasileiro leva a um baixo consumo do vinho, mas

este é relativamente alto no caso da cerveja. Sousa (2017) ainda assinala que tem ocorrido, nos

últimos anos, uma pequena queda consumo de cerveja no Brasil – por certo em consequência da

forte recessão que o país tem enfrentado. O mesmo autor, porém, destaca um fato muito

relevante: ao mesmo tempo em que caiu o consumo total de cervejas, as classificadas como do

tipo premium, ou seja, as mais caras, experimentaram uma elevação de suas vendas em cerca de

18%. Além do mais, a imprensa tem destacado com muita ênfase, que tem havido nos últimos

anos, uma explosão do crescimento tanto no número de novas cervejarias do tipo artesanal, em

todo o Brasil, inclusive no Estado de Pernambuco – que já conta hoje com mais de 15 fabricantes

58

– como também no consumo de tais cervejas, valendo ressaltar que os seus preços são sempre

bem mais elevados do que as cervejas comuns.

Embora o estudo citado só traga informações sobre a cerveja, é perfeitamente possível

especular que, se está ocorrendo um aumento expressivo no consumo de cervejas mais caras,

haveria também consumidores brasileiros dispostos a pagar um pouco mais por outro tipo de

bebida, especialmente se esta pode, de forma bastante razoável, ser consumida como uma opção a

quem não gosta de cerveja ou de bebida destilada. Ou, ainda, para quem está disposto a mudar

para uma bebida mais requintada.

É exatamente aí que a Rio Sol, assim como outras vinícolas da região do São Francisco,

percebeu a existência de um novo nicho de mercado, que é a do espumante – uma bebida a ser

servida bem gelada, com um teor alcóolico mais baixo do que os vinhos chamados de

“tranquilos” – ou seja, os tintos e brancos finos não espumantes.

No Vale do Rio São Francisco, em seu curso no sub médio, entre 50 a 60% de suas uvas

cultivadas para produção de vinhos finos estão sendo destinadas à produção de espumantes.

Dois tipos de vinhos espumantes são produzidos, no São Francisco: os sem maturação,

como é o caso da maioria dos fabricados por todas as vinícolas, e os maturados, que são uma das

especialidades da Rio Sol. Os espumantes não maturados levam um tempo muito menor entre a

colheita e o envase do líquido, e dentro de 40 dias estão prontos para o consumo. A marca Rio

Sol produz um espumante especial, o Rio Sol Brut Branco Premium, o único que tem maturação

de 9 meses de autólise (processo em que os organismos vivos, ou seja, as leveduras, se auto

destroem totalmente) e mais 3 meses de descanso em adega, após engarrafado quando, então, é

destinado à comercialização.

Os vinhos tranquilos, todos produzidos com as castas europeias mais nobres, sejam

varietais ou de corte (assemblage), sejam brancos ou tintos, constituem a maior parte do portfólio

de rótulos denominados de Rio Sol, apesar do maior volume, isoladamente, dos espumantes,

também produzidos com as vinhas mais nobres da espécie vitis vinifera. Mas estes últimos

exercem uma importância estratégica para a marca Rio Sol, em decorrência de suas premiações

internacionais, inclusive com o recebimento de medalha de ouro em concurso na Europa – como

será ressaltado adiante. Tais vinhos e suas premiações têm o importante papel de alavancar as

vendas das outras marcas da vinícola, e, até mesmo de todos os vinhos produzidos na região do

59

São Francisco, por obviamente comprovarem o reconhecimento e a concretização do enorme

potencial da vitivinicultura dos sertões nordestinos.

Ao comemorar o sucesso de sua luta pela conquista do mercado nacional a empresa

Global Wines apresenta números animadores. Nos 14 anos da implantação da sua vinícola, após

o início da primeira colheita (um pouco mais de dois anos após a plantação), a produção, antes

focada no mercado internacional, passou a se destinar praticamente toda ao Brasil, como afirma

Henriques na entrevista para esta pesquisa.

“O mercado brasileiro é extremamente promissor. O consumo de vinho é muito baixo, o

que possibilita fazer um trabalho de estimulo a uma nova cultura em beber vinho sem

complicação. Nossos rótulos trazem as possibilidades de harmonização dos vinhos com

alimentos. E todo este sol e calor de um país tropical, um espumante gelado pode ser

consumido numa praia, na piscina ou no churrasco. O marketing observou isto e nós, da

equipe técnica, desenvolvemos produtos para atender a essa nova demanda. Quando a

Vinibrasil iniciou a produção de vinhos e espumantes no Vale do São Francisco,

praticamente toda a produção era exportada. Hoje, exportamos apenas 5%. O mercado

nacional absorve toda a produção (RICARDO HENRIQUES, ENÓLOGO, RIO SOL,

2017).

A Rio Sol oferece ao mercado novas experiências de consumo. Quando perguntado sobre

a diferença no teor etílico entre as cervejas, na média de 5% de álcool, contra os 8% a 12% nos

espumantes, a resposta foi: “Não tem comparação. O consumo tem a ver com o gosto do

consumidor e não com o teor alcóolico” (RICARDO HENRIQUES, ENÓLOGO, RIO SOL,

2017).

De olho no consumidor que quer informações fáceis para agilizar seu processo de decisão

de compra e ficar satisfeito na experiência do consumo, a Rio Sol disponibiliza o maior número

de informações nos rótulos. No site encontra-se a ficha técnica dos produtos e estão organizadas

pela autora nos Quadros 3 e 4.

Quadro 3 – Ficha técnica 1 dos vinhos tranquilos e espumantes Rio Sol

Rio Sol Brut

Branco

Premium

Brut

Branco

Arinto, Viognier e

Touriga Nacional

8-10ºC 12.5% Como aperitivo, para celebrar

a vida em momentos de puro

prazer ou com as melhores

iguarias

60

Rio Sol

Premium

Tinto

Seco

Cabernet

Sauvignon, Syrah,

Alicante Bouschet,

Touriga Nacional e

Aragonês

18ºC 13.5% Acompanha bem carnes

vermelhas, cozidas ou assadas

no forno e queijos estruturados

Vinha Maria

Reserva

Selecionada

Tinto

Seco

Cabernet

Sauvignon e

Touriga Nacional

18ºC 14% Carré de Cordeiro ou carnes

vermelhas, de uma maneira

geral, de preferência cortes

mais gordos

Rio Sol Gran

Reserva

Alicante

Bouschet

Tinto

Seco

Alicante Bouschet 18ºC 13% Carnes vermelhas e

preparações da gastronomia

mediterrânea e oriental

Rio Sol Gran

Reserva

Touriga

Nacional

Tinto

Seco

Touriga Nacional 18ºC 13% Acompanha bem pratos de

carnes vermelhas, bem

condimentados e estruturados

Rio Sol

Reserva

Tinto

Seco

Cabernet

Sauvignon, Syrah e

Alicante Bouschet

18ºC 13.5% Guisados ou grelhados de

carnes vermelhas e queijos

bem estruturados

Rio Sol

Branco

Branco Chenin Blanc e

Viognier

12ºC 12% Entradas, saladas, peixes e

frutos do mar

Rio Sol

Syrah

Tinto

Seco

Syrah 18ºC 13% Risotos, massas e pratos de

peixes mais condimentados

Rio Sol

Cabernet

Sauvignon

Tinto

Seco

Cabernet

Sauvignon

18ºC 13% Carnes vermelhas pouco

condimentadas e churrasco

Rio Sol

Tempranillo

Tinto

Seco

Tempranillo 18ºC 13% Queijos, embutidos e pratos da

gastronomia mediterrânea

Rio Sol

Assemblage

Tinto

Seco

Cabernet

Sauvignon e Syrah

18ºC 13% Grelhados de carnes vermelhas

e frango, assim como queijos

delicados.

Rendeiras

Syrah

Tinto

Meio

Seco

Syrah 16ºC 12% Saladas, queijos leves, massas

e pizzas

Vinha Maria Tinto Cabernet 16ºC 12.5% Entradas, queijos e carnes

61

Nature Suave

(Doce)

Sauvignon vermelhas

Rio Sol

Espumante

Brut Branco

Brut

branco

Syrah 8ºC 12% Entradas, saladas, carnes

brancas grelhadas e queijos

leves

Rio Sol

Espumante

Brut Rosé

Brut Rosé Syrah 8ºC 12% Peixes, saladas ou pratos da

gastronomia mediterrânea.

Rio Sol

Espumante

Demi-Sec

Demi-Sec

Branco

Sirah 8ºC 12% Entradas, saladas ou

sobremesas cítricas

Rio Sol

Espumante

Moscatel

Moscatel Moscato Canelli 6ºC 8º% Sobremesas cítricas e queijos

azuis

Adega do

Vale Seco

Tinto

Seco

Cabernet

Sauvignon

16ºC 10.5% Preparações leves, à base de

peixes ou carnes brancas,

saladas, risotos e massas

Adega do

Vale Suave

Tinto

Suave

Cabernet

Sauvignon

16ºC 10.5% Preparações leves, à base de

peixes ou carnes brancas,

saladas, risotos e massas

Fonte: http://www.vinhosriosol.com.br (2017)

Quadro 4 - Ficha técnica 2 dos vinhos tranquilos e espumantes Rio Sol

Rio Sol Brut

Branco

Premium

Cristalino,

com bolha

fina e

persistente

Abundante

coroa

Cor

citrina

definida

Complexo, rico em

notas florais, frutos

secos, biscoito, cereal

tostado e geleia de

frutos brancos

Boa mousse, crocante, alguma

untuosidade e com volume de

boca

Rio Sol

Premium

Límpido Rubi

intenso

com

ligeira

Fruta bem madura,

como goiaba, morango e

frutas silvestres, com

ligeiras notas balsâmicas

Boca volumosa e longa, com

taninos bem sedosos e

persistentes

62

evolução

Vinha Maria

Reserva

Selecionada

Límpido Rubi

intenso

com tons

violetas

Bergamota misturada

com ameixa e

framboesa, com notas de

tostados e de especiarias

Na boca revela-se austero, de

perfil clássico, seco com

taninos firmes e final muito

longo

Rio Sol Gran

Reserva

Alicante

Bouschet

Límpido Rubi

Intenso

Compotas de frutas

vermelhas, com aromas

de tabaco e especiarias

Imponente, com uma boca

marcante, volumosa e elegante

Rio Sol Gran

Reserva

Touriga

Nacional

Límpido Violeta Notas florais e de frutas

vermelhas maduras

Vinho volumoso, com boa

presença e final persistente

Rio Sol

Reserva

Límpido Rubi

intenso

com leve

evolução

Notas de especiarias e

frutas silvestres maduras

Delicado, com boa acidez, com

taninos elegantes e macios

Rio Sol

Branco

Límpido e

cristalino

Esverdead

a

Frutas de polpa branca,

como pêssego e lichia,

com notas florais

Delicado, com boa acidez e

toques cítricos

Rio Sol

Syrah

Límpido Rubi com

tons

violetas

Ameixa e frutos

silvestres

Delicado, com boa acidez e

taninos elegantes

Rio Sol

Cabernet

Sauvignon

Límpido Rubi

intenso

Delicado, com nuances

de azeitona preta,

pimentão e especiarias

Robusto, com bons taninos e

boa presença de acidez

Rio Sol

Tempranillo

Límpido Rubi

intenso

Cereja, framboesa e

notas de compota de

frutas

Delicado, com boa acidez, com

taninos elegantes e macios

Rio Sol

Assemblage

Límpido Rubi

intenso

Notas de pimentão

verde, compota de

ameixa e especiarias

Taninos elegantes e firmes,

com boa acidez

Rendeiras

Syrah Meio

Seco

Límpido Rubi

intenso

Aroma marcante de

frutas vermelhas

Bom volume de boca, com

acidez e taninos redondos e

delicados

Vinha Maria Límpido Rubi Notas de chocolate, café Na boca é suave, com taninos

63

Nature intenso e compotas de frutas

vermelhas

polidos

Rio Sol

Espumante

Brut Branco

Cristalino,

com bolha

fina e

persistente

Amarelo-

palha com

tons

dourados

Aroma de flores

brancas, combinadas

com toques de frutas

tropicais e cítricas

É equilibrado, possuindo boa

acidez, com ligeiro toque de

frutos secos

Rio Sol

Espumante

Brut Rosé

Cristalino,

com bolha

fina e

persistente

Rosada Rico em sensações

aromáticas de morango

e framboesa,

combinadas com toques

de frutas tropicais e

cítricas

Equilibrado e cítrico. Leve,

refrescante e fácil de beber,

com perlage fina e persistente

Rio Sol

Espumante

Demi-Sec

Cristalino,

com

perlage fina

e delicada

Ouro

palha

Aroma de frutas frescas

e tropicais, com notas

florais e cítricas

Aroma de frutas frescas e

tropicais, com notas florais e

cítricas

Rio Sol

Espumante

Moscatel

Límpido,

com

perlage fina

e

persistente

Amarelo-

esverdead

o claro

Intenso, floral e com

notas cítricas

Com paladar e final de boca

refrescante

Adega do

Vale Seco

Límpido Rubi

brilhante

Frutas vermelhas, como

framboesa e morango,

com notas de especiarias

Taninos leves e delicados, bem

harmonizados com o volume

de boca e acidez

Adega do

Vale Suave

Límpido Rubi

brilhante

Frutas vermelhas, como

framboesa e morango,

com notas de especiarias

Taninos leves e delicados, bem

harmonizados com o volume

de boca e acidez

Fonte: http://www.vinhosriosol.com.br (2017)

A Vinibrasil trabalha outras marcas além dos rótulos Rio Sol: Adega do Vale, Rendeiras e

Vinha Maria. Mas, é a marca Rio Sol a que possui o maior mix de produção e que concentra os

esforços do marketing. Nas estratégias mercadológicas, há um mapeamento do perfil e foco de

ponto de venda a ser explorado por produto, conforme mostra o Quadro 5:

64

Quadro 5 – Produtos da ViniBrasil e as estratégias básicas de mercado

PRODUTO CLASSE

ECONÔMICA

SOCIAL

PONTO DE

VENDA

Rio Sol Brut Branco Premium A HORECA

Rio Sol Premium A HORECA

Vinha Maria Reserva Selecionada A HORECA

Rio Sol Gran Reserva Alicante

Bouschet

A B+ HORECA

Rio Sol Gran Reserva Touriga

Nacional

A B+ HORECA

Rio Sol Reserva B+ Atacado varejo

Rio Sol Branco B B+ Atacado varejo

Rio Sol Syrah B B+ Atacado varejo

Rio Sol Cabernet Sauvignon B B+ Atacado varejo

Rio Sol Tempranillo B B+ Atacado varejo

Rio Sol Assemblage B B+ Atacado varejo

Rendeiras Syrah Meio Seco B B- C Atacado varejo

Vinha Maria Nature B B+ Atacado varejo

Rio Sol Espumante Brut Branco B+ A Atacado varejo

Rio Sol Espumante Brut Rosé B+ A Atacado varejo

Rio Sol Espumante Demi-Sec B+ A Atacado varejo

Rio Sol Espumante Moscatel B+ A Atacado varejo

Adega do Vale Seco C Atacado varejo

Adega do Vale Suave C Atacado varejo Fonte: Ricardo Henriques, enólogo Vinibrasil, 2017

HORECA é um termo português, também utilizado por outros países europeus, para

expressar CANAL DE VENDA nomenclatura hoteleira, de restaurante e cafeteria. A expressão

utilizada pelo entrevistado foi conservada. Para explorar esse canal, o marketing da Rio Sol

observou que as cervejarias utilizam refrigeradores que permitem a bebida ficar a -3ºC,

temperatura ideal para conservação dos espumantes. “O sistema de refrigeração já existe no

canal horeca. Cabe-nos colocar nossos espumantes e o cliente ter a opção no menu e a

orientação do sommelier”, afirma Henriques (2017).

No mercado, os produtos chegam, na maioria, em garrafas de 750 ml, mas há a opção de

375 ml para alguns espumantes conforme mostrado no Quadro 6.

65

Quadro 6 – Volume em mililitro oferecido por produto ao mercado

PRODUTO TIPO 375ml 750ml 1L

Rio Sol Brut Branco Premium Espumante Brut Branco X

Rio Sol Premium Tinto Seco Fino X

Vinha Maria Reserva Selecionada Tinto Seco Fino X

Rio Sol Gran Reserva Alicante Bouschet Tinto Seco Fino X

Rio Sol Gran Reserva Touriga Nacional Tinto Seco Fino X

Rio Sol Reserva Tinto Seco Fino X

Rio Sol Branco Branco Seco Fino X

Rio Sol Syrah Tinto Seco Fino X

Rio Sol Cabernet Sauvignon Tinto Seco Fino X

Rio Sol Tempranillo Tinto Seco Fino X

Rio Sol Assemblage Tinto Seco Fino X

Rendeiras Syrah Meio Seco Tinto fino meio seco X

Vinha Maria Nature Tinto Fino Suave X

Rio Sol Espumante Brut Branco Brut Branco X

Rio Sol Espumante Brut Rosé Brut Rosé X X

Rio Sol Espumante Demi-Sec Demi sec Branco X

Rio Sol Espumante Moscatel Moscatel X X

Adega do Vale Seco Tinto Seco Fino X

Adega do Vale Suave Tinto Fino Suave X

Suco X X

No canal horeca há um perfil bem definido voltado para o público A e B+, a ser atingido

pela Vinibrasil. Para um tipo de produto que sofre o preconceito de não ter qualidade por ser

nacional, o marketing, sabedor desse preconceito, estabeleceu como uma de suas estratégias o

enoturismo, desenvolvido na vinícola do Vale do São Francisco com o atendimento especial

dispensado aos seus visitantes com degustação da bebida e quando são destacadas as premiações

alcançadas, que também são divulgadas no site da empresa, conforme mostra a Figura 17.

66

Fig

ura

17

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Sol

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20

17

67

A internet é, no momento, o principal canal de comunicação de massa da Rio Sol com o

consumidor. Há a mídia espontânea instigada pela forma diversa no comportamento da videira na

região, em comparação com o que ocorre nas regiões vinícolas de clima temperado (ou seja, duas

colheitas por ano). As características da produção da vinha e do vinho em regiões tropicais

semiáridas despertam o interesse do consumidor em conhecer as vinícolas da região, além do

próprio Rio São Francisco e todo o seu atrativo que inclui navegar e nadar em suas águas.

Um ponto muito importante ainda a destacar diz respeito às ações das vinícolas do São

Francisco para a conquista da Indicação Geográfica junto ao INPI. Sobre esse assunto, o enólogo

entrevistado afirma estar confiante nos efeitos positivos que uma IG traz a uma região, mas

lembra que é necessário muito trabalho das vinícolas para manter a qualidade dos produtos e o

trabalho de recepção do turista. Segundo ele, “tarefa constante”.

Além do site da marca, a Rio Sol possui uma página na rede social Facebook. Os posts

são constantes e exploram a divulgação das premiações, conforme as Fotos 2 e 3.

Foto 2 - Espumante premiado em 2017 pelo concurso de Bruxelas

Fonte: https://www.facebook.com/vinhosriosol/, 2017

68

Foto 3 – Espumante premiado em 2017 em concurso nacional

Fonte: https://www.facebook.com/vinhosriosol/, 2017

No atendimento ao consumidor moderno, a participação e conquista de premiações é um

recurso essencial para impulsionar a decisão na hora da compra. Os jurados dos concursos

possuem técnicas avançadas para classificação de bons vinhos. Um vinho premiado significa que

atendeu aos requisitos sensoriais de degustadores apurados e exigentes.

Retomando a identidade dos vinhos da Rio Sol, apresentados pela Global Wines como

insólitos, coloridos e alegres, somada à comunicação, através das postagens no Facebook, é

possível validar a prática dos ativos da marca com a teoria no tocante aos aspectos na decisão de

compra referente à natureza simbólica, hedônica e estética (HOLBROOK e HIRSCHMAN,

1982). Quanto à comunicação, a Rio Sol explora o fator principal da região, sol e rio. Aliás, esta

combinação geográfica forneceu o nome da marca, Rio Sol, reforçada com frases de efeitos

conforme Foto 4) que busca despertar a necessidade de lazer, sol, descontração. A comunicação

visual explora também as cores, muito presente na cultura nordestina, e, especialmente, a

pernambucana, fornecendo a proposta do colorido, conforme Foto 5.

69

Foto 4 – A combinação sol e rio na comunicação da marca Rio Sol

Fonte: https://www.facebook.com/vinhosriosol/, 2017

Foto 5 – Comunicação Rio Sol com recursos de cores quentes

Fonte: https://www.facebook.com/vinhosriosol/, 2017

70

As questões simbólicas no tocante a cores são bem exploradas na comunicação da Rio

Sol. Farina, Perez e Bastos (2011) apresentam as cores vermelha, laranja e amarela como cores

quentes. Para Santaella (2011, p. 87), a sensação visual do vermelho, numa perspectiva semiótica,

significa “calor, dinamismo, ação, excitação”. Para essa autora, a cor tem forte influência na

decisão de escolhas das pessoas. Quanto ao texto presente na propaganda na Foto 5, este remete à

descontração, ao prazer e à celebração à vida. As chamadas nos anúncios remetem ao hedonismo.

O vinho é o elemento concreto para alcançar tais objetivos. Mas, não apenas as cores

denominadas quentes são utilizadas. As chamadas frias, como o azul, verde e branco, são

utilizadas na imagem, permitindo um equilíbrio visual, como nas fotos da apresentação da

vinícola, mas claro, dourada pelo sol, conforme Foto 6.

Foto 6 – Capela da vinícola produtora dos vinhos Rio Sol

Fonte: https://www.facebook.com/vinhosriosol/, 2017

Diferentemente dos noticiários nacionais, que por décadas apresentaram o solo seco e

rachado castigado pelo sol e a ausência de chuvas, a Rio Sol quebra o paradigma do imaginário

sofrido do povo sertanejo, como expresso no conhecido quadro de Cândido Portinari intitulado

Os Retirantes. A agricultura irrigada possibilita uma nova estética social à região. A Foto 6, traz

um cenário seco, mas apresenta uma beleza na aridez da paisagem e simboliza uma nova ação do

sol nas terras do sertão nordestino. É essa identidade cultural em ser insólito, colorido e alegre

que os vinhos da Rio Sol se firmam para uma experiência estética diferenciada ao consumidor

moderno de vinho. Se é insólito, único, singular, raro, não se pode copiar. É isso que, no mundo

globalizado, cada vez mais o consumidor procura: identidade regional, por mais contraditório que

pareça tal afirmação.

71

5. CONCLUSÕES

A afirmativa presente no título deste trabalho é ressaltada em toda a fundamentação

teórica e no Estudo de Caso feito com a marca Rio Sol. Tudo o que, durante séculos se acreditava

ser essencial ao cultivo da vinha, o Vale do submédio São Francisco vivencia o que, de fato, uma

planta necessita: sol para a fotossíntese, água e nutrientes para suprir a necessidade hídrica e

correções do solo, quando necessário. Assim, a videira permite uma produção generosa com o sol

do semiárido nordestino.

Quanto ao preconceito do consumidor nacional com os vinhos finos produzidos no Brasil,

este está sendo quebrado pela região que sofre o estigma em ser inferior em relação às regiões do

Sul e Sudeste do país e com isso: ser vinho do Vale do São Francisco e nordestino.

Porém, a qualidade apresentada pelos vinhos finos produzidos no Vale do São Francisco

está conquistando o consumidor moderno de vinho, bastando ficar atento à pesquisa rápida na

internet e que não se decepciona ao consumir os vinhos do Vale. Nessa dissertação não foi

entrevistado o consumidor final, mas consultados os números da empresa que cedeu de base para

o Estudo de Caso, a empresa Vinibrasil do grupo português Global Wine e que produz o vinho da

marca Rio Sol. A empresa instalada no VSF em 2003, iniciou sua produção em vinhos para a

exportação. Apenas 5% ficavam no Brasil para iniciar o trabalho de abertura de mercado, mas

sem grandes perspectivas dada à resistência do consumidor ao vinho fino nacional. Mas,

surpreenderam-se com a própria qualidade atingida com o terroir do VSF. Os números da

empresa mostram essa preferência. Hoje, 95% de toda a produção são consumidos no Brasil com

perspectivas de rápido crescimento pela empresa.

É uma transformação ao mercado de vinhos finos brasileiros. O espumante, também um

tipo de vinho, mas com acréscimo do gás carbônico, pode ser considerado um grande produto

para abertura de mercado. Vinhos tintos e brancos tranquilos e espumantes estão conquistando

premiações internacionais e com isso, contribuindo para construir uma imagem extremamente

positiva aos vinhos do Vale do São Francisco.

Retomando aos objetivos perseguidos nesta pesquisa, vale relembrar que os critérios

utilizados pelos degustadores (enólogos, sommeliers e enófilos), tornam racionais o que a um

consumidor não há lógica, porém é uma experiência sensorial e sinestésica. Não há como

72

desassociar o vinho do prazer em degusta-lo, seja a um apreciador que domine todas as técnicas

da degustação ou a um consumidor que tem no vinho sua preferência na bebida.

Aliás, a estratégia da Rio Sol para conquistar a preferência do consumidor na já referida

disputada adega do varejo, está na apresentação dos vinhos aos degustadores referenciados,

presentes como jurados nos concursos. A propaganda de massa é a rede social e o canal do

YouTube, com a inserção de pôsteres e vídeos produzidos que exploram o colorido acentuado

pelo sol do Nordeste e a abundância do rio São Francisco, navegável, possível de permitir o

banho em suas margens e ilhas, e, generoso para a irrigação das terras do semiárido - por séculos

exclusivas da presença da caatinga, tipo de vegetação do sertão nordestino, única no mundo.

A caatinga não é desprezada. Ela está presente também na comunicação, mas numa

perspectiva completamente diferente do imaginário apresentado por décadas: em um solo rachado

pelo sol e este visto como um vilão. Hoje o sol é a bênção, literalmente vinda do céu, para adoçar

a uva e permitir a abundância de duas colheitas ao ano, ao contrário das áreas tradicionais, que

apenas produzem uma safra.

O sol permite açúcares em teores altos. A videira, vista como exigente, no Vale do São

Francisco quem a faz é o sol que realiza o capricho em colher a uva em qualquer semana do ano,

a depender da decisão humana, hoje baseada pelos estudos de clima, em definir a poda, e o

momento certo da irrigação.

Toda essa exuberância da natureza do sertão nordestino, antes desprezada e marginalizada

até pela própria população do Nordeste, está sendo explorada na estética da comunicação da Rio

Sol, ressaltando os aspectos hedônicos e a natureza simbólica a estimular o consumidor, não

apenas a consumir, mas ter a experiência em visitar a região no enoturismo.

73

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80

ANEXO 1

ENTREVISTA REALIZADA COM O SR. RICARDO HENRIQUES, DIRETOR TÉCNICO E

ENÓLOGO, DO GRUPO GLOBAL WINES, DA FAZENDA SANTA MARIA, DETENTOR

DA MARCA RIO SOL, EM 19 DE OUTUBRO DE 2017:

1. O Grupo Global Wines, que detém a marca rio sol está há quanto tempo no mercado

mundial?

2. Quais localidades o grupo possui outras vinícolas, tempo de existência na produção de

vinhedos e quais as marcas de cada uma delas?

3. Quantos rótulos possui cada vinícola do grupo?

4. O grupo compra vinho a granel para envase na região do semiárido do Vale do São

Francisco ou é autossuficiente na produção?

5. Quantos hectares são plantados atualmente?

6. Quantas toneladas de uvas do tipo vitis vinifera são colhidas ao ano?

7. Quantas colheitas são feitas ao ano?

8. Quantos litros de bebidas são produzidos ao ano?

9. Quantos envases são realizados ao ano?

10. Preencher o quadro quantitativo com a quantidade de ml que são engarrafados os tipos de

vinhos, espumantes e suco:

81

PRODUTO TIPO 375 ml 750ml 1L

Rio Sol Brut Branco Premium Espumante Brut Branco

Rio Sol Premium Tinto Seco Fino

Vinha Maria Reserva Selecionada Tinto Seco Fino

Rio Sol Gran Reserva Alicante

Bouschet

Tinto Seco Fino

Rio Sol Gran Reserva Touriga

Nacional

Tinto Seco Fino

Rio Sol Reserva Tinto Seco Fino

Rio Sol Branco Branco Seco Fino

Rio Sol Syrah Tinto Seco Fino

Rio Sol Cabernet Sauvignon Tinto Seco Fino

Rio Sol Tempranillo Tinto Seco Fino

Rio Sol Assemblage Tinto Seco Fino

Rendeiras Syrah Meio Seco Tinto fino meio seco

Vinha Maria Nature Tinto Fino Suave

Rio Sol Espumante Brut Branco Brut Branco

Rio Sol Espumante Brut Rosé Brut Rosé

Rio Sol Espumante Demi-Sec Demi sec Branco

Rio Sol Espumante Moscatel Moscatel

Adega do Vale Seco Tinto Seco Fino

Adega do Vale Suave Tinto Fino Suave

Suco

82

11. É possível, hoje, de o sul do país conseguir produzir vinhos e espumantes tão refinados e

de sabores únicos como os existentes no semiárido do Vale do São Francisco, com a

tecnologia atual? se não, por quê?

12. Como ocorre o desenvolvimento de produtos da marca Rio Sol? Enólogo e marketing

estão integrados?

13. Na análise do marketing, a proposta em tornar o espumante como bebida bem gelada a ser

tomada em áreas quentes (piscina, praia, churrasco, etc) como substituição à cerveja, foi

uma descoberta do marketing ou uma migração natural e sem necessidade de estímulo ao

consumidor?

14. As cervejarias montaram na cadeia de bares e restaurantes, refrigeradores de -3 a -5 graus

célsius, o que significa redução nos investimentos iniciais no ponto de venda para

implantar o espumante , porém, como o marketing pretende estimular o consumo dos

espumantes?

15. Como referência, no Brasil, há preços de cervejas mais altos (uma minoria, mas é

consumida por clientes com maior poder aquisitivo) do que os espumantes da marca Rio

Sol, porém com teor alcoólico menor. Isso significa que, em ambientes quentes, o

consumidor se predispõe a ingerir mais líquido. Como concorrer em teor alcoólico já que

as cervejas possuem na grande maioria das marcas, mesmo as artesanais, média de 5% de

álcool, enquanto os espumantes da marca Rio Sol variam de 8% a 12,5%?

16. Todas as vinícolas do grupo compram uvas produzidas por terceiros? Se sim, como é

mantida a qualidade da vitis vinifera?

17. Desde quando a Fazenda Santa Maria está instalada no semiárido do Vale do São

Francisco?

18. O Grupo tem vinhedos em outra região do Brasil além do semiárido do Vale do São

Francisco?

83

19. O Brasil não possuía tradição na produção de vinhos finos de qualidade refletidos na não

conquista de concursos importantes. E. no caso do Brasil, o Nordeste sofre o preconceito

do Sul e Sudeste. Daí a dúvida: quais fatores influenciaram a decisão do Gripo a

instalarem-se no semiárido do Vale do São Francisco com garantias de sucesso na

produção de vinhos finos e espumantes?

20. Já que a técnica de produção de vinhos e espumantes são é mais segredo no segmento da

vitinicultura, como explicar a excelência atingida pela marca Rio Sol refletida na

conquista de prêmios internacionais?

21. Qual a sua percepção para a conquista da Indicação Geográfica? Irá beneficiar a região,

em especial, romper com o estigma do Nordeste como área infértil e castigada pelo sol?

22. Como o Grupo Global Wines, descobriu o semiárido do Vale do São Francisco?

23. Sendo o sol um dos fatores predominantes para os níveis de açúcares, qual a diferença

desses níveis em relação as vitis vinifera das regiões tradicionais da Europa, e seu impacto

na qualidade do vinho? Sobra açúcar ou é necessário o acréscimo?

24. Os espumantes da marca Rio Sol, como também, os verificados em outras marcas

produzidas no semiárido do Vale do São Francisco não possuem tempo de maturação, isto

ocorre em outros lugares do mundo, ou é um diferencial competitivo da região?

25. Qual o sistema de irrigação implantado na vinícola Santa Maria?

26. Qual o destino dos resíduos gerados pela vinícola?

27. Quais as vitis vinífera adaptadas e utilizadas para a produção de vinhos e espumantes?

28. Qual a vitis vinífera que melhor se adaptou ao solo do semiárido do Vale do São

Francisco?

29. Como é o processo de enxertia da videira na região do semiárido do Vale do São

Francisco?

84

30. Sobre o segmento de mercado, qual o perfil de situações de consumo proposto pelo

marketing a ser alcançado pela marca Rio Sol?

PRODUTO CLASSE

ECONÔMICA

SOCIAL

SITUAÇÕES DE

CONSUMO

PONTO DE

VENDA

Rio Sol Brut Branco Premium

Rio Sol Premium

Vinha Maria Reserva Selecionada

Rio Sol Gran Reserva Alicante Bouschet

Rio Sol Gran Reserva Touriga Nacional

Rio Sol Reserva

Rio Sol Branco

Rio Sol Syrah

Rio Sol Cabernet Sauvignon

Rio Sol Tempranillo

Rio Sol Assemblage

Rendeiras Syrah Meio Seco

Vinha Maria Nature

Rio Sol Espumante Brut Branco

Rio Sol Espumante Brut Rosé

Rio Sol Espumante Demi-Sec

Rio Sol Espumante Moscatel

Adega do Vale Seco

Adega do Vale Suave

85

ANEXO 2

PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO INDICAÇÃO GEOGRÁFICA PARA OS VINHOS

FINOS TRANQUILOS E ESPUMANTES DO VALE DO SÃO FRANCISCO, 17 E 18 DE

OUTUBRO DE 2017, PETROLINA-PE

86

87

88