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FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DA
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Licenciatura em Biologia 2007/2008
Detecção de lípidos em sementes de grão-de-bico
(Cicer arientinum L.)
Técnica histológica normal com negro de Sudão B
Grupo P1 L2:
Ana C. S. Alves, N.º 2007103940
Inês B. Costa, N.º2007108806
João F. S. Martins, N.º 2007102700
Melissa P. Alves, N.º2007107970
Coimbra, 24 de Janeiro de 2008
ÍNDICE
1_Introdução …………………………………………………………………………. 3
2_ Materiais e Métodos ………………………………………………………………. 13
3_Resultados …………………………………………………………………………. 16
4_ Discussão | Conclusão …………………………………………………………….. 17
5_Bibliografia ………………………………………………………………………… 19
2
Figura_1 | Grãos- de-bico (castanhos-claro e verdes)
1_INTRODUÇÃO
Este trabalho teve como objectivo a observação de lípidos, recorrendo para o
efeito a sementes de grão-de-bico.
O grão-de-bico, de nome científico Cicer arietinum
L., é uma leguminosa, da família das fabáceas (Fabaceae),
sub-família Faboideae 1. Esta família (Fabaceae) possui
aproximadamente 700 géneros e 17000 espécies de
plantas, com uma distribuição geográfica cosmopolitana e
um importante uso económico (Heywood, 1996).
É uma planta arbustiva; herbácea; anual; que se
desenvolve e produz bem em condições de clima frio a
ameno e em solos férteis, não sujeitos a inundação e com
boa disponibilidade de água durante todo o
desenvolvimento vegetativo e frutificação; ainda assim
apresenta boa tolerância à seca 2. A propagação é por
sementes e o plantio é feito directamente no campo. A colheita ocorre 110 a 140 dias
após a semeadura, quando as vagens secam 2.
Atinge cerca de 60cm de altura. Tem caule anguloso e sulcado. As suas folhas
são compostas de 9 a 19 folíolos, formato oval, com 1,6cm de comprimento. As cores
das flores, conforme as variedades, podem ser brancas, avermelhadas ou azuladas. Os
frutos (vagens) são pendentes ou erectos, cilíndricos e contêm uma a duas sementes
cada. As sementes apresentam grande variação na forma, tamanho e cor, relacionada às
diferentes variedades2. Podem ser de cor castanho-claro (ou também verdes), são
arredondadas, tendo uma pequena “espora” 1. A planta é hermafrodita (tem os dois
sexos na mesma flor) e autoférteis (o pólen fecunda a flor da mesma planta que
produziu) 2.
O grão-de-bico, originariamente proveniente do Sudeste da Turquia 2, é
actualmente cultivado mundialmente 2, muito distribuído sobretudo na Índia e no
Mediterrâneo 1. Em Espanha e em Portugal usam-no muito nos seus pratos nacionais de
uso quotidiano 2.
3
É um legume com importantes qualidades culinárias e nutritivas 1. Tem como
principais componentes as vitaminas A, B, B2, B5, C; minerais como cálcio, ferro,
fósforo, zinco, cobre, enxofre, potássio, magnésio e manganês 3; proteínas (que
abrangem cerca de 80% do peso total das semnetes secas) 4. A proteína do grão tem sido
considerada de melhor valor nutricional entre as leguminosas 4.
Apesar de ser o mais elevado das leguminosas secas, tem um baixo teor de
lípidos, sendo predominantemente monoinsaturados. Desta forma, o valor energético,
apesar de moderado, é dos mais elevados do grupo das leguminosas secas. Além disso,
destaca-se o conteúdo em fibra alimentar 5. A grande quantidade de celulose contida na
casca estimula o funcionamento dos intestinos 1.
O grão-de-bico tem importantes propriedades medicinais. É afrodisíaco,
antibiótico, anti-inflamatório, diurético, energizante, mineralizante, nutritivo, tónico e
vitamínico 3.
A planta é um excelente adubo verde, porque produz muitas folhas e ramos e as
suas raízes, através dos nódulos, fixam o nitrogénio atmosférico 2. As suas folhas são
usadas na alimentação animal (forragem) 2.
Não menos importante, é a simbologia, a relação do grão com a morte. Os
gregos da Época Clássica comiam grãos nos banquetes fúnebres. Na região de Niza é
tradição comer grãos na Quarta-feira de Cinzas, na Sexta-feira Santa e no Dia de Todos
os Santos. A mesma tradição existe em numerosos lugares de Espanha, durante a Sexta-
feira Santa, quando se come uma suculenta sopa de grãos 6.
Depois de analisado o grão, abordaremos os lípidos, uma vez que o seu estudo é
essencial para a compreensão deste trabalho.
Os lípidos (do grego Lypos) 5 são compostos orgânicos, a maioria biomoléculas;
formados principalmente por carbono (C), hidrogénio (H) e oxigénio (O, em menor
quantidade); também podem conter azoto (N), fósforo (P) e enxofre (S).
Apesar das diversas características químicas, apresentam propriedades físicas
comuns: são hidrofóbicas (insolúveis em água), dissolvendo-se em substâncias
orgânicas como por exemplo: álcool, benzeno, clorofórmio acetona, sulfureto de
carbono e tetracloreto de carbono. Estas propriedades gerais dos lípidos devem-se ao
4
predomínio de longas cadeias hidrocarbonadas. Alguns lípidos (pelo facto de possuírem
um grupo polar), são capazes de se ligarem à água por ligações de hidrogénio (De
Robertis & De Robertis, 1996). Por esta razão, afirmar que os lípidos são insolúveis em
água é enganoso, uma vez que alguns lípidos são tão solúveis em água como em
solventes orgânicos.6
Habitualmente os lípidos são chamados de gorduras, uma designação incorrecta
uma vez que as gorduras são apenas um tipo de lípidos de origem animal. 7
Os ácidos gordos são a unidade básica da maioria dos lípidos e consistem em
moléculas hidrocarbonadas de cadeia longa com um número par de átomos de carbono
(12 a 22) e um grupo
carboxilo terminal. 7
Dividem-se em dois grupos:
o Saturados: possuem ligações simples, são por isso flexíveis;
o Insaturados (ou Poli insaturados): na cadeia há ligações duplas ou triplas, o que os
torna rijos.8
Propriedades físico-químicas:
1. Carácter anfipático: uma vez que o ácido gordo é formado por um grupo carboxilo e
uma cadeia hidrocarbonada, esta ultima possui a característica hidrofóbica
responsável pela sua insolubilidade em água;
2. Ponto de fusão: depende do comprimento da cadeia e do número de insaturações,
sendo os insaturados os que requerem menos energia para fundir-se;
3. Estérificação: os ácidos gordos podem formar ésteres com grupos álcool de outras
moléculas;
4. Auto-oxidação: os ácidos gordos insaturados podem oxidar-se espontaneamente,
resultando aldeídos onde existiam ligações covalentes duplas;
5. Saponificação: por hidrólise alcalina, os ésteres (formados por estérificação), dão
origem a um sal.7
Devido ao carácter anfipático (zona polar e zona apolar), os lípidos em contacto
com a água auto organizam-se. A zona apolar (hidrofóbica), tende a minimizar o
5
Figura_2 | Estrutura molecular de um ácido gordo.
Figura_4 | Fosfolípido (lecitina).
Figura_3 | Esquema de uma micela (esquerda) e uma bicamada (direita).
contacto com a água, enquanto que a zona polar (hidrofílica), se orienta no sentido
oposto.
Dependendo do meio e do tipo de lípidos envolvidos (bem como da sua
concentração), formam-se:
o Micelas: esferas com uma única camada de
lípidos;
o Bicamadas lipídicas: duas camadas de
lípidos que se podem dobrar formando
esferas vazias – membrana plasmática.
Atendendo a que possuem na sua composição
ácidos gordos (lípidos saponificáveis) ou por outro lado não os possuem (lípidos
insaponificáveis), podemos dividir os lípidos em dois grupos:5 e 7
1. Lípidos saponificáveis
Simples (ou neutros)
a. Glicéridos: lípidos simples formados por glicerol estérificado e por um, dois
ou três ácidos gordos (mono, di ou triglicéridos). Tendo em conta a
temperatura de fusão classificam-se como: azeites, manteigas e sebos. Os
azeites encontram-se em plantas oleaginosas como a semente de girassol,
milho, soja e outras. 9
b. Céridos (ceras): são ésteres de um ácido de cadeia longa, sólidos a temperatura
ambiente e que têm como função impermeabilizar, encontrando-se por isso na
pele, pêlo e penas nos animais (exoesqueleto no caso dos insectos), e
formando uma película nas plantas. A mais conhecida é a cera de abelha.10
Complexos
a. Glicerolípidos: formados por ácidos gordos ligados a dois
grupos álcool da glicerina (possui três); dividem-se em:
o Glicolípidos: se ao terceiro grupo álcool da glicerina
se liga um glícido. Encontram-se nas membranas de
bactérias e células vegetais.
o Fosfolípidos: se é o ácido fosfórico a ligar-se ao
grupo álcool. Os fosfolípidos têm um importante
6
interesse biológico por serem importantes componentes estruturais das
membranas celulares.
b. Esfingolípidos: estrutura derivada da ceramida (formada por ácidos gordos
ligados à esfingosina); podem ser:
o Esfingoglucolípidos: resultam da união da
ceramida com um conjunto de monossacarídeos (por exemplo glucose e
galactose). Fazem parte das membranas celulares especialmente da
plasmática onde se intercalam com fosfolípidos.
o Esfingofosfolípidos: resultantes de reacções
envolvendo a ceramida e o ácido fosfórico entre outros. Estão presentes no
tecido nervoso (bainhas de mielina).11
2. Lípidos insaponificáveis
Nesta classe encontram-se substâncias muito variadas, como as vitaminas D, E e
K, os compostos isoprénicos e as
prostaglandinas. Os compostos isoprénicos
constituem um importante grupo de
compostos orgânicos presentes tanto em
animais como nas plantas. Resultam da
condensação de unidades de isopreno, um
hidrocarboneto insaturado com 5 átomos de
carbono. Entre os compostos isoprénicos,
destaca-se o grupo dos esteróides, do qual
fazem parte diversas hormonas (androgénios,
estrogénios, etc.) e o colesterol. Este faz parte
das membranas biológicas às quais confere resistência, por outro lado é o
precursor de muitos esteróides.12
Funções dos lípidos
Os lípidos desempenham diferentes tipos de funções biológicas:
a. Função de reserva energética: são a principal reserva de energia dos animais, já
que uma grama produz 9,4 Kcal nas reacções metabólicas de oxidação (as
proteínas e os glícidos só produzem 4,1 Kcal/g);
7
Figura_5 | Colesterol na bicamada lipídica
b. Função estrutural: formam as bicamadas lipídicas das membranas celulares.
Além disto recobrem e proporcionam consistência aos órgãos, protegem
mecanicamente estruturas ou são isolantes térmicos como o tecido adiposo;
c. Função catalizadora (hormonal): facilitam determinadas reacções químicas e os
esteróides têm funções hormonais;
d. Função transportadora: são absorvidos no intestino graças à emulsão dos sais
biliares e ao transporte de lípidos pelo sangue e linfa;
e. Função relaxante: acumulam-se no tecido adiposo formando grandes tecidos
gordurosos que se manifestam no aumento de peso em caso de sedentarismo.7
Depois de apresentadas as biomoléculas descreveremos a técnica utilizada.
O primeiro passo da histoquímica foi dado sensivelmente há 170 anos atrás
quando Rrenchma Respail usou iodo para colorir e identificar o amido. Desde este
primeiro passo até aos dias de hoje, as técnicas histológicas sofreram evoluções, sendo
hoje largamente utilizadas na identificação e localização de vários compostos nas mais
diversas amostras e nos mais variáveis campos de aplicação (High, 1984).
A técnica histológica normal tem como objectivo tratar as células mortas,
fazendo com que nestas sejam preservadas a sua estrutura e composição química num
estado semelhante ao que possuíam enquanto vivas, podendo desta forma ser
observadas ao Microscópio Óptico.
Esta técnica possui como etapas: a fixação, a desidratação, a impregnação e
inclusão, microtomia e, por último, a coloração.
A preparação do material biológico para a observação microscópica é morosa,
correndo o risco das enzimas celulares destruírem parte das estruturas que se pretendem
observar. Para impedir este processo procede-se, em primeiro lugar, à fixação
citológica. Esta é uma etapa que envolve uma série de reacções químicas e que tem
como objectivo evitar a autólise das células (High, 1984. Hoopwood, 1994), assim
como o ataque bacteriano da amostra, preservar a estrutura e composição química dos
componentes celulares de modo semelhante ao estado vivo, endurecer os tecidos,
tornando-os mais resistentes às etapas seguintes e aumentar a afinidade das estruturas
celulares para os corantes citológicos, com o objectivo da coloração ser facilitada (Dinis
et al., 2006).
8
A fixação é um processo que pode ser físico ou químico. Na fixação física são
usados o frio – utilizado em criotécnicas – e o calor – usado em bacteriologia,
microbiologia, entre outros. A fixação química é a mais utilizada em histologia,
podendo ser realizada por fixadores simples ou misturas fixadoras. Os primeiros
fixadores utilizados foram fixadores simples, como os álcoois, a acetona, ácidos ou sais,
mas como apresentam vários inconvenientes, começaram a utilizar-se misturas
fixadoras, com o objectivo de um maior aproveitamento das qualidades de cada um e
minimizar as suas características menos boas. (Dinis et al., 2006).
Outros factores são importantes para além da escolha do fixador mais apropriado
para uma boa fixação. A fixação é afectada por outros factores como: o pH da solução
fixadora, a osmolaridade, a concentração do fixador e o tempo de fixação. Por estas
razões, os fixadores são, normalmente, preparados em solução tampão, que funcionam
como veículos dos fixadores ajudando a manter as condições de maneira mais
semelhante possível ás células vivas (Dinis et al., 2006).
Após a fixação, as amostras de material são lavadas várias vezes na solução
tampão usada como veículo do fixador e, posteriormente desidratadas.
Esta nova etapa, a desidratação, permite a remoção da água dos tecidos pela
passagem do material por soluções alcoólicas – agentes de desidratação – de
concentração crescente, iniciando nos 70%, seguindo para os 80%, 90%, 95% e,
finalmente, 100%. A remoção da água dos tecidos é muito importante, pois há
necessidade de impregnar e incluir as amostras de material num meio que possibilite a
realização de cortes, o suficientemente finos, para serem observados ao Microscópio
Óptico, uma vez que grande parte dos meios de inclusão não são solúveis em água
(Dinis et al., 2006).
Seguidamente faz-se a impregnação, onde o agente desidratante usado é
substituído pelo meio de inclusão, que vai sendo progressivamente adicionado às
amostras de material, em misturas cada vez mais concentradas deste e menos do
desidratante. Os tecidos devem ser embebidos num meio consistente que confere
resistência à amostra, tendo como objectivo conseguir os cortes suficientemente finos
para que se proceda à sua visualização microscópica.
9
O meio de inclusão mais vulgarmente utilizado em microscopia óptica é a
parafina, o seu ponto de ebulição está entre 56 e 58ºC. O material é colocado nos
moldes de plástico – cassetes – onde é colocada também a parafina fundida. Se o meio
de inclusão não for solúvel no desidratante, é necessário recorrer a uma pré-
impregnação utilizando um solvente intermediário. (Dinis et al., 2006).
Procede-se a microtomia. Nesta etapa utilizam-se
micrótomos do tipo Minot, que possuem uma navalha fixa,
diante da qual se move um disco rotativo que contém o bloco
do material envolto em parafina; uma manivela lateral que faz
com que esse bloco se movimente verticalmente avançando
para a navalha de acordo com um avanço predefinido, o qual
determina a espessura do corte. As espessuras podem variar de
5 a 20 μm (Dinis et al., 2006). Se a inclusão estiver bem feita,
após cada movimento da lâmina do micrótomo sai um corte e o que se segue vai colar-
se ao anterior pela aresta vizinha, de forma a se constituírem assim, fitas ou ténias de
cortes (High & Lake, 1994). Posteriormente as ténias são colocadas em lâminas de
vidro com a sua parte brilhante voltada para baixo, para serem observadas ao
microscópio óptico após a coloração (Dinis et al., 2006).
A maioria dos tecidos é incolor, o que torna dificultada a tarefa da visualização
microscópica, é então necessário proceder à coloração dos tecidos para tornar os seus
componentes mais visíveis e destacados (Junqueira & Carneiro, 1971).
Na coloração torna-se necessário remover a parafina e re-hidratar os cortes,
sendo a sequência utilizada a inversa da desidratação. A coloração depende da afinidade
entre o corante e o tecido, isto devido a forças de atracção, como interacções
hidrofóbicas, interacções reagente – reagente, ou devido a interacções reagente – tecido,
como é o caso das forças de Van der Waals, atracção de Coulomb, pontes de hidrogénio
ou ligações covalentes (High & Lake, 1994).
A coloração é feita à base de misturas de substâncias químicas – corantes, sendo
a maioria deles soluções de substâncias aromáticas, e como tal, apresentam anéis de
benzeno (anéis aryl). Os corantes possuem na sua constituição um ou mais grupos de
cromóforos – responsáveis pela cor do corante, alterando a energia da nuvem de
electrões do anel aromático, fazendo com que o corante absorva radiação na gama da
10
Figura_6 | Micrótomo
tipo Minot.
luz visível – e um grupo auxócromo – responsável pela dissociação electroquímica e
ligação do corante a componentes celulares, melhorando ou intensificando a cor de um
determinado composto (Dinis et al., 2006).
Em histologia, grande parte dos corantes comportam-se como ácidos ou como
bases, e, tendem a formar ligações salinas com radicais ionizáveis presentes nos tecidos.
Estes componentes se têm afinidade por corantes básicos denominam-se basófilos, e, se
têm afinidade por corantes ácidos são denominados acidófilos (Junqueira & Carneiro,
1971).
Os lípidos são, geralmente, identificados por corantes que se dissolvem
avidamente nas gorduras – lisocromos. Estes não são corantes na verdadeira acepção da
palavra, dado que não possuem o grupo auxócromo. Trata-se, assim, de um processo
mais físico que químico – difusão preferencial. Tecidos contendo gotículas lipídicas são
colocados em soluções alcoólicas saturadas de corantes muito lipossolúveis e
fracamente álcool-solúveis. Devido à característica acima descrita, após um certo
período de tempo o corante utilizado transfere-se do álcool para os lípidos dos tecidos
corando-os (Dinis et al., 2006). Os corantes mais utilizados são o Óleo de Vermelho O
(Horobin, 1994), o Sudão IV, o Sudão III e o negro Sudão B. Existem também várias
outras técnicas descritas que nos permitem identificar o colesterol e os seus ésteres,
fosfo e glicolípidos (Junqueira & Carneiro, 1971).
O negro Sudão B (C26H24N4O) é um lisocromo usado para corar triglicéridos e
outros lípidos em secções congeladas e algumas glicoproteínas em secções parafinadas.
A sua aparência é de um pó castanho-escuro ou preto, com um máximo de
absorção entre 596 – 605 ηm e ponto de fusão entre 120 a 124ºC. A sua coloração
presente nos tecidos é de um azul-escuro ou preto.13
São conhecidas outras utilidades do corante negro Sudão B, uma delas para o
melhoramento das impressões digitais, uma vez que é útil para detectar gorduras que
11
Figura_7 | Estrutura química do Negro Sudão B.
estão contaminadas com óleo13, outra utilidade é ao nível da medicina, em que é
possível, através deste corante a diferenciação entre a leucemia miéloide aguda e a
leucemia linfóide aguda.14
12
2_ MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 | Materiais
Material vegetal utilizado: Cicer arietinum L. (grão-de-bico).
2.2 | Métodos
Técnica histológica normal.
2.2.1 | Fixação:
Fixação química do material biológico com FAA, formalina aceto-álcool
(5mL de formalina comercial, 5mL de álcool acético glacial e 90mL de etanol a 50%).
Este processo demora 48 horas, com subsequente lavagem com água destilada.
2.2.2 | Desidratação:
10-30 Minutos em álcool a 70%;
10-30 Minutos em álcool a 80%;
10-30 Minutos em álcool a 90%;
30 a 45 Minutos em álcool a 95% (2 vezes);
45 a 60 Minutos em álcool a 100% (2 vezes).
2.2.3 | Impregnação e Inclusão:
Inclusão de amostras de material em parafina.
2.2.3.1 | Pré-impregnação:
Imersão do material biológico numa mistura 2:1 de Etanol e Isoparafina H,
durante algumas horas.
Imersão do material biológico numa mistura 1:1 de Etanol e Isoparafina H,
durante algumas horas.
Imersão do material biológico numa mistura de 1:2 de Etanol e Isoparafina
H, durante algumas horas.
13
Imersão do material biológico em Isoparafina H pura, durante o mesmo
período de tempo.
Adição de pedaços de parafina (agente impregnante) à Isoparafina H (agente
pré-impregnante) até à sua saturação.
2.2.3.2 | Impregnação:
Saturação da Isoparafina H com Parafina;
Inclusão do material em parafina pura fundida, em moldes
de plástico – cassetes.
2.2.4 | Microtomia
Colocação correcta do material
devidamente impregnado no micrótomo
tipo Minot.
Obtenção de cortes semi-finos da
amostra – ténias.
Disposição das ténias em lâminas;
Disposição das lâminas numa placa de aquecimento;
Colocação das lâminas na estufa;
Uso de DPX para colocar as lamelas;
Colocação das preparações na estufa.
2.2.5 | Coloração
Coloração dos lípidos com negro Sudão B.
2.2.5.1 | Hidratação:
Desparafinação à chama;
Lavagem com Isoparafina H utilizando um conta-gotas;
14
Figura_8 | Molde de plástico para inclusão – Cassete.
Figura_9 | Visualização da obtenção de ténias no Micrótomo de tipo Minot.
Disposição das lâminas numa tina com ranhuras com Isoparafina H por 5
minutos;
Passagem por: Isoparafina H, Isoparafina H com etanol, etanol absoluto,
etanol a 95%, etanol a 90%, etanol a 80% e etanol a 70%;
Lavagem em água corrente durante 15 minutos.
2.2.5.2. | Negro de Sudão B:
Preparação da solução de negro Sudão B: 0,25g de Negro de Sudão B em
100mL de etanol a 70%;
Filtração da solução antes de usar.
Revestimento das lâminas com a solução de Negro de Sudão B por 30
minutos;
Lavagem em etanol a 70% durante 5 minutos;
Lavagem em água bidestilada;
Passagem por: etanol a 70%, etanol a 80%, etanol a 90%, etanol a 95%,
etanol absoluto;
Secagem na estufa a 30oC;
Montagem em DPX.
2.3 | Finalização
Observação das preparações ao microscópio;
Obtenção das fotografias.
15
3_RESULTADOS
2
3
4
6 7 5
8
3.1_Legenda | Figura_10 3.2_ Legenda | Figura_11
1_Gotas lipídicas 5_Membrana Celular
2_Parede Celular 6_Parede Celular
3_Citoplasma 7_Gotas lipídicas
4_Espaço intercelular 8_Citoplasma
16
1
Figura_10 | Corte de grão (x1440)
Figura_11 | Corte de grão (x550)
4_DISCUSSÃO | CONCLUSÃO
Uma vez terminado todo o procedimento do protocolo, foi possível observar as
gotículas lipídicas podendo assim ser comprovado o sucesso da experiência e evidenciar
a eficácia do método histológico normal.
Este conjunto de técnicas tem sido utilizado durante anos. Com passar do tempo
foram modificados quer reagentes, quer o material utilizado. Um desses casos é o uso da
Isoparafina H, em vez de Xilol; esta mudança deve-se à menor toxicidade do primeiro.
Outra das alterações feitas foi a montagem em DPX, deixando-se assim em desuso o
bálsamo de Canadá. Esta alteração está relacionada com o facto do antigo reagente ser
mais tóxico, menos transparente, menos solúvel e demorar mais tempo a secar. O DPX
tem, porém, uma desvantagem relacionada com a formação de bolhas de ar. Por esta
razão deve ser extrema a preocupação com este inconveniente, pois a sua ocorrência
pode comprometer a visualização da preparação.
A fixação dos lípidos poderia ser melhor conseguida caso se utilizasse uma
técnica a frio. O mesmo podia ter acontecido coma desidratação, sendo uma alternativa
a esta a criodessecação.
Durante a desidratação é possível que os lípidos tivessem sido lavados das
células. Para minimizar este efeito, esta etapa deveria ser o mais curta possível e
realizada a uma temperatura de 4ºC (Sanderson, 1994).
Outra alteração introduzida ao método histológico normal ocorreu durante a
impregnação, visto que foram utilizados moldes de plástico, em vez de barras de
Leuckart.
A escolha do corante foi adequada mas, poderia optar-se por um corante mais
específico. Uma alternativa ao negro Sudão B seria o Óleo de Vermelho (Horobin,
1994).
A realização de uma experiência controlo, uma preparação com o material
biológico sem o corante, iria permitir-nos confirmar se de facto, estávamos sob a
presença ou não, de lípidos na semente.
Uma outra questão que levantou problemas durante a identificação foi a focagem
das fotografias. Esse problema foi causado pela falta de experiência, podendo apenas ser
resolvido com recurso à insistência e prática repetida. Também relacionada com as
fotografias pode referir-se que, algumas fotografias ficaram comprometidas devido a
17
erros diversos, dado isto, a atribuição aos grupos das respectivas fotos foi feita mediante
um processo diferente daquele que era de esperar, sendo então disponibilizados grupos
de fotografias que os diversos grupos puderam requisitar, sem a prévia identificação de
grupos como outrora se tinha realizado.
Apesar de alguns inconvenientes e com recurso a novas técnicas, o objectivo do
trabalho foi alcançado, podendo agora provar a existência de lípidos em sementes de
grão.
18
5_BIBLIOGRAFIA
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7. http://www.um.es/molecula/lipi00.htm
19
8. http://www.lipidlibrary.co.uk/Lipids/whatlip/índex.htm
9. http://es.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADpido
10. http://www.um.es/molecula/lipi01.htm
11. http://www.um.es/molecula/lipi02.htm
12. http://www.um.es/molecula/lipi04.htm
13. http://www.um.es/molecula/lipi03.htm
14. http://www.dbio.uevora.pt/jaraujo/biocel/lipidos.htm
15. http://en.wikipedia.org/wiki/Sudan_Black_B
16. http://www.cursocitologia.br/html/estudo/Coloracao.htm
Imagens da capa – http://www.gradinamea.ro/_files/Image/articole/5/naut.jpg
- http://www.jardirom.net/icicerarietinum02.jpg
Figura_1 | http://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A3o-de-bico
Figura_2 | http://www.dbio.uevora.pt/jaraujo/biocel/lipidos.htm
Figura_3 | http://www.um.es/molecula/lipi01.htm
Figura_4 | http://www.um.es/molecula/lipi03.htm
Figura_5 | http://www.um.es/molecula/lipi05.htm
Figura_6 | http://www.gmi-inc.com/CliniLab/microm_hm325_microtome.jpg
Figura_7 | http://en.wikipedia.org/wiki/Sudan_Black_B
Figura_9 | http://www.conganat.org/7congreso/imagenes_trabajos/9CVHAP/768-PICT3960.JPG
Figura_10 | Fotografia tirada na aula de MTCF.
Figura_ 11 | Fotografia tirada na aula de MTCF.
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