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FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA THEREZINHA MOURA JORGE Identificação das abordagens psicológicas humanistas utilizadas na Escuta Terapêutica desenvolvida na Associação Casas do Servo Sofredor, Paraná. Florianópolis 2013

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FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA

THEREZINHA MOURA JORGE

Identificação das abordagens psicológicas humanistas utilizadas na Escuta Terapêutica

desenvolvida na Associação Casas do Servo Sofredor, Paraná.

Florianópolis

2013

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Therezinha Moura Jorge

Identificação das abordagens psicológicas humanistas utilizadas na Escuta Terapêutica

desenvolvida na Associação Casas do Servo Sofredor, Paraná.

Monografia apresentada à Faculdade Luterana

de Teologia, como requisito parcial para a

conclusão do Curso Lato Sensu em

Dependência Química e Comunidade

Terapêutica.

Orientador: Prof. Ms. Guilherme Falcão

Florianópolis

2013

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THEREZINHA MOURA JORGE

Identificação das abordagens psicológicas humanistas utilizadas na Escuta Terapêutica

desenvolvida na Associação Casas do Servo Sofredor, Paraná.

Monografia apresentada à Faculdade Luterana

de Teologia, como requisito parcial para a

conclusão do Curso Lato Sensu em

Dependência Química e Comunidade

Terapêutica.

PROFESSOR AVALIADOR

________________________________________________________

Prof. Ms. Guilherme Falcão

Faculdade Luterana de Teologia

Florianópolis

2013

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Dedico o presente estudo

Ao Senhor Deus da vida, em cuja presença estou.

A Ele que revelou sua Face e bondade em Seus

filhos e filhas que sustentam este trabalho.

A cada uma dessas pessoas que contribuíram das

mais diversas formas. A começar por minha

família pelo amor incondicional, compreensão e

incentivo. Aos mestres que me apresentaram as

fontes de sabedoria. A todos que estiveram ao

meu lado nos caminhos que trilhei para

desenvolver esse estudo. Às pessoas amigas que,

em meio aos seus compromissos, pararam, me

escutaram e mostraram caminhos abertos onde

eu via limitações. Àqueles que talvez não

saibam, mas tiveram presença determinante

nesse momento: os profissionais que cuidaram

de minha saúde, os cristãos que ofertaram sua

prece, as boas almas que concederam a partilha

do abraço e do pão e disseram: Estou aqui!

À Senhora do Lugar por sua proteção de Mãe

que me conduz onde preciso estar e que acolheu

este estudo gerado do propósito de Servir,

oportunizando que se fizesse aqui apalavra e a

resposta de uma verdadeira comunidade.

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RESUMO

Em um lugar em que a vida se renova a cada momento por meio de sua natureza, suas

metas, suas pessoas, se fez pertinente a realização do estudo científico que proporciona

compreender a terapia que oferece a mudança de paradigmas, de sentimentos e o despertar de

oportunidades que conduzem para o renascer da fé em si mesmo e na vida que se manifesta

dentro e entorno de cada pessoa.

Nas páginas desse material se discorre sobre a Escuta Terapêutica desenvolvida na

Associação Casas do Servo Sofredor que é vista atualmente como um dos pilares que

sustentam os consideráveis índices de recuperação das pessoas dependentes de substâncias

psicoativas que passam pela instituição.

A missão de demonstrar academicamente o que ocorre nas casas da Associação foi

entendida como um desafio no qual se tornou necessário estar de ouvidos, mente e coração

abertos para captar e relatar o que já existe. Ter a consciência de que não se criaria algo novo,

mas sim, se reuniria percepções e conhecimentos que mobilizam e transformam pessoas. Ter

como foco uma abordagem terapêutica que se torna simples e eficaz diante da complexa

dependência química. Realmente, escutar se mostrou longe de ser algo fácil e simples!

As conclusões obtidas identificam a intervenção terapêutica da Associação como um

procedimento confiável para os colaboradores e residentes, os quais se adaptam facilmente a

essa terapia que propicia visível melhora à saúde e rotina de cada um. Melhoria esta,

sustentada por uma mística particular da Associação, a qual está acima das diferenças entre as

casas. Algumas sugestões são apresentadas para o aprimoramento dessa realidade que revela a

partilha, o crescimento e a identificação no relato da maioria de colaboradores entrevistados.

Palavras chave: Escuta Terapêutica, Psicologia Humanista, Comunidade Terapêutica.

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ABSTRACT

In a place in which life is renewed at every moment, through its nature, goals and

people, it’s pertinent to realize a scientific study that permits the comprehension of a therapy

that offers a change of paradigms, feelings and the rise of opportunities that conduce to faith’s

revive and to life, that is expressed inside and around each person.

In the pages of this material it’s discoursed about the Therapeutic Listen developed at

the Associação Casas do Servo Sofredor. Nowadays it’s seen as one of the pillars that support

the considerable indices of recuperation of dependents of psychoactive substances that pass

by the institution.

The mission of demonstrating academically what occurs in the Association was

understood as a challenge in which was necessary to be with ears, mind and heart opened to

capture and describe what already exists. It was needed to have the conscience that something

new was not going to be created, but it would be possible to gather perceptions and

knowledge that mobilize and transform people. It was also needed to have as focus a

therapeutic intervention that becomes simple and efficient face to the complex chemical

dependence. Listening is really too far from being easy!

The conclusions obtained identify the therapeutic intervention of the association as a

reliable procedure for the collaborators and residents, who easily adapt to this therapy that

provides a improvement for their health and routine. This improvement is supported by a

particular mystique, that is above differences of each house of the institution. Some

suggestions are introduced for the upgrade of this reality that shows share, growth and

identification in the stories of the majority of the collaborators interviewed.

Key words: Therapeutic Listen, Humanistic Psychologist and Therapeutic Community.

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LISTA DE QUADROS E ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Casas da Associação CSS................................................................................. 10

Quadro 2 Quadro sobre Desqualificação.......................................................................... 21

Quadro 3 Quadro de Análise............................................................................................ 36

Figura 1 Estados de Ego................................................................................................. 19

Figura 2 Curral OK......................................................................................................... 21

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 08

2 ASSOCIAÇÃO CASAS DO SERVO SOFREDOR - CSS.................................... 09

3 PSICOLOGIA HUMANISTA E A PALAVRA DE SEUS AUTORES............... 12

3.1 A expressão que humaniza.......................................................................................... 13

3.2 A palavra de Carl Rogers............................................................................................ 14

3.3 A palavra de Eric Berne.............................................................................................. 18

3.4 A palavra de Viktor Frankl.......................................................................................... 23

4 PROCEDIMENTOS SISTEMATIZADOS............................................................ 26

4.1 Relação de Ajuda........................................................................................................ 26

4.2 Aconselhamento Pastoral............................................................................................ 28

4.3 Psicoterapia Breve....................................................................................................... 30

5 METODOLOGIA DA PESQUISA.......................................................................... 34

5.1 Formulação do problema............................................................................................. 34

5.2 Delineamento da pesquisa........................................................................................... 35

5.3 Quadro de análise........................................................................................................ 36

6 ENCONTRO: ASSOCIAÇÃO CSS E PSICOLOGIA HUMANISTA................ 37

6.1 Apalavra da CSS sobre seus processos terapêuticos.................................................. 37

6.1.1 O vínculo das pessoas entrevistadas com a Associação CSS..................................... 38

6.1.2 Origem e desenvolvimento da proposta terapêutica da CSS...................................... 38

6.1.3 Percepção da psicologia da CSS................................................................................. 40

6.1.4 Percepção da Escuta Terapêutica da CSS................................................................... 43

6.1.5 Expectativas para a Escuta Terapêutica da CSS......................................................... 47

6.2 O diálogo entre os conhecimentos............................................................................... 49

6.3 Identificação sistemática dos processos terapêuticos da CSS.....................................52

6.3.1 Processos psicoterapêuticos da CSS...........................................................................52

6.3.2 Escuta Terapêutica da CSS..........................................................................................53

7 CONCLUSÕES..........................................................................................................56

REFERÊNCIAS.........................................................................................................60

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INTRODUÇÃO

O crescente número de pessoas dependentes de substâncias psicoativas que procuram

tratamento no Brasil é um fato que aparece nos sistemas de saúde e se reflete como destaque

na mídia. As Comunidades Terapêuticas aparecem nesse contexto como importantes meios de

tratamento utilizados para reabilitar as vidas atingidas pela dependência química.

Como essas instituições atuam frente ao comportamento humano da doença? A

variedade de modelos apresentados é algo que chama a atenção, inclusive de alguns conselhos

federais. Vem se buscando profissionalizar as metodologias psicoterapêuticas, que surgem

como válida ferramenta que compõe os tratamentos.

A psicologia apresenta um abrangente leque de atuação por meio de suas linhas,

escolas, autores e modelo se o contexto das comunidades terapêuticas revela essa diversidade.

Por qual razão, então, este estudo volta-se para a linha humanista para traduzir as ações da

Associação Casas do Servo Sofredor? Ao se conhecer um pouco dessa Comunidade

Terapêutica, talvez a resposta se aproxime do óbvio.

Desde 1994, quando foi inaugurada, a organização demonstra seu crescimento e

reconhecimento social. Por meio do diálogo, busca informações científicas e melhoria de

resultados para promover a qualidade de vida de seus residentes. São constantes os trabalhos

em estruturas, parcerias e consentimento para leituras a seu respeito. Já representou fonte de

dois estudos de dissertação de mestrado, além de outros estudos acadêmicos.

A Escuta Terapêutica aparece como um procedimento que se destaca, sendo realizada

desde o início da instituição. Acontecimento que chamou a atenção de Márcio de Miranda,

discípulo da psicologia humanista que em 2004desenvolveu um treinamento sobre Relação de

Ajuda para os colaboradores da Associação Casas do Servo Sofredor. Desde então, a Escuta

Terapêutica amplia sua voz junto às demais propostas de tratamento da instituição, sendo

vista hoje como um dos pilares que sustentam os consideráveis índices de recuperação das

pessoas dependentes de substâncias psicoativas.

Torna-se assim, interessante compreender e identificar as abordagens psicológicas

utilizadas pela Escuta Terapêutica, de maneira a aproximar as suas práticas com as teorias

humanistas da psicologia. Este estudo busca esclarecer e sistematizar as técnicas eficazes em

atendimentos terapêuticos, além de identificar elementos que propiciem a compreensão e o

bom emprego deste modelo também em outras instituições que trabalhem com o

desenvolvimento humano.

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2 ASSOCIAÇÃO CASAS DO SERVO SOFREDOR - CSS

Aqui contemplamos Deus trabalhando no homem,

na natureza e no universo. - Frei Chico, O.C.1

A Associação Casas do Servo Sofredor, também chamada CSS, identifica-se como

entidade religiosa e filantrópica. A primeira casa a ser inaugurada foi a CSS Santa Terezinha

em 1995 com o propósito de acolher os “mendigos e alcoolistas” que passaram da condição

de excluídos para formarem um grupo que tinha sua morada e um objetivo em comum.

Atualmente, a instituição tem como propósito reabilitar vidas. Sua finalidade está

voltada para acolher pessoas que perderam o convívio social devido à dependência do álcool e

outras drogas, sem distinção de sexo, raça, nacionalidade, posição social, estado civil e

convicção política ou religiosa. Os princípios baseiam-se no humanismo, ética, paz, direitos

humanos e outros valores universais, desenvolvendo a qualidade de vida através de educação

profissional, especial e ambiental.

Fundamentada no modelo de comunidade terapêutica, seu programa constitui-se no

tratamento da saúde física, mental, social e espiritual. A primeira etapa conhecida por ser o 1º

Passo do tratamento, consiste nos seguintes procedimentos:

Desintoxicação: Realizada em unidade preparada para esse atendimento.

Medicamentos: Prescrição conforme a necessidade de cada residente.

Alimentação: Refeições diárias e balanceadas em horários regulares.

Processo Terapêutico: Equipe multidisciplinar com profissionais de psiquiatria,

psicologia, e assistência social. Atendimento clínico e odontológico via SUS.

Yoga, meditação e escuta terapêutica realizada por voluntários habilitados.

Convivência em pares: Pequenos grupos acompanhados por coordenadores e

educadores terapêuticos com reuniões periódicas de correção fraterna.

Laborterapia: Exercício da disciplina e tarefas regulares. Exemplos:

jardinagem, horta, cozinha, limpeza, panificação e artefatos de cimento.

Espiritualidade: Missas e terços diários. Catequese, batismo e crisma opcionais.

Grupos de ajuda mútua: Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos.

Família: Visitas periódicas e reaproximação gradativa.

1CHICO, Frei. Placa de madeira. In: CSS Mosteiro Monte Carmelo. Curitiba.

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Processos trabalhistas e judiciais: Reabilita os direitos e deveres do residente,

enquanto cidadão.

Cursos profissionais e emissão de documentos: Prepara o retorno ao mercado

de trabalho.

A segunda etapa do tratamento consiste na reinserção social sendo identificada como o

2º Passo do tratamento. Ocorre por meio de convivência, trabalho interno e externo e

acompanhamento pessoal. Desenvolve a pessoa enquanto cidadão qualificado para

convivência em sociedade.

A CSS conta hoje com nove casas em diferentes locais, estando assim organizada:

Casas da Associação CSS

Região 1º Passo do tratamento 2º Passo do tratamento

Curi

tiba

e R

egiã

o

CSS Mosteiro

Monte Carmelo

Curitiba

Sede

administrativa e

ponto de

referência da

instituição.

CSS Frei Caneca

Curitiba

CSS Isidoro

Bakanja

Curitiba

CSS Santa

Terezinha

Curitiba

CSS Mosteiro da Misericórdia

Contenda

Em construção para acolher o 1º Passo

Feminino.

CSS Edith Stein

Curitiba

Atualmente, o espaço feminino da CSS, abriga

mulheres que se encontram no 1º e 2º Passo.

Par

anav

aí e

Reg

ião

CSS Mosteiro

da Compaixão

Nova Aliança do

Ivaí.

CSS Maria Mãe do

Carmelo

Paranavaí.

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Quadro 1 – Casas da Associação CSS - Fonte: Relatório Janeiro a Dezembro de 2012.

Toda essa estrutura apresentou no período de 2012 (Relatório 2012, p.5) atendimentos

que alcançaram 331 pessoas, considerando que:

(...) as pessoas que retornam para os seus familiares, conseguem manter-se sóbrias,

se não definitivamente, pelo menos por um período considerável, sendo que

algumas, quando acontece de recaírem, novamente procuram a CSS para retomada

do tratamento. Cabe mencionar que durante o tratamento, as pessoas convivem por

um período predeterminado, no qual tomam conhecimento de ferramentas que as

possibilitem viver sobriamente e, reaprendem a viver em comunidade, aprendendo

a aceitar o outro com as suas diferenças. Nesta fase, eles(as) fazem todo um

trabalho interior com eles(as) próprios(as) para se redescobrirem, no sentido de

conhecer suas dificuldades, limitações e fraquezas, a fim de que consigam enfrentar

os problemas da vida com sobriedade e serenidade.

Para que cada residente seja atendido com dignidade, são constantes os trabalhos em

estruturas, parcerias e consentimento de leituras a respeito do tratamento realizado. A CSS já

representou fonte de um estudo de Pós Graduação em Dependência Química (ALENCAR;

NOGUEIRA, 2003) e duas dissertações de Mestrado, sendo um em Administração (SILVA,

2007) e outro em Teologia (CARVALHO, 2010). Todos por meio da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná – PUC/PR, além de estudos acadêmico sem outras instituições de ensino

(ARANHA; MATSUNE, 2011). A singularidade da CSS é o fato de sua raiz estar no carisma

carmelitano que apresenta visão peculiar de existência humana, comunidade e oração,

entendida por Cera (2011, p.75) como uma atitude dinâmica e “(...) se apresenta como um

convite para aprender e a desenvolver uma atitude de escuta, que não consiste num simples

ouvir, mas, sobretudo, no acolher a Palavra, realizando-a na própria vida”.

No ano de 2009a CSS efetivou parcerias que oportunizaram aprimoramentos em seus

trabalhos. As melhorias aconteceram também na Escuta Terapêutica, no sentido de

sistematizar e multiplicar esta atuação nas casas. Passou a acontecer periodicamente o

encontro dos terapeutas da Escuta de Curitiba, como espaço de estudos científicos e debates.

O caminho trilhado permitiu que ao final de 2012 a equipe da regional Curitiba estivesse

constituída por seis pessoas com experiências que variam de um até nove anos na CSS.

As pessoas denominadas Terapeutas da Escuta são voluntários com diferentes

formações, experiências e objetivos de vida. Como resultado dessa desigualdade se gerou um

fértil ambiente de aprendizado. A consciência que unifica é de que todos que ali se encontram

CSS Nossa Senhora de Fátima

Graciosa (distrito de Paranavaí).

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são aptos, em razão de suas experiências pessoais, profissionais e espirituais para estarem à

frente de pessoas que buscam e precisam recuperar sua integridade.

Com esse jeito de ser e de proceder, a Escuta Terapêutica expande seu campo de

atuação, ampliando sua voz junto às demais intervenções terapêuticas oportunizadas pela

casa. Seu objetivo é propiciar um momento em que a pessoa valorize seus conteúdos internos

e sua visão de mundo. Ganhou adesão dos residentes, que comumente solicitam e se adaptam

a esse momento que passa a fazer parte de sua rotina semanal. As pessoas envolvidas nesta

proposta agregam uma importância que faz com que a Escuta Terapêutica se destaque na

instituição. Relatório CSS de 2012 (2013, p.10) que demonstra o trabalho desenvolvido,

aponta que nesse período houve1590 atendimentos de Escuta Terapêutica com participação de

327 residentes.

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3 PSICOLOGIA HUMANISTA E A PALAVRA DE SEUS AUTORES

O importante não é aquilo que fazem de nós,

mas o que nós mesmos fazemos do que os outros

fizeram de nós. - Jean-Paul Sartre2

Este tópico apresenta a abordagem humanista que possui suas raízes no século XV,

época em se passa a nomear a educação e a formação do homem. Outros exemplos de termos

originados nessa época são: "jurista", "legista", "canonista" e "artista". Segundo Falcão (2010)

humanista se refere a “uma corrente de pensamento que tem o homem como valor primeiro e

último das preocupações humanas”. Está relacionada com os movimentos que procuram

descobrir a essência do homem e de seus problemas. Diferente de demais correntes filosóficas

que podem priorizar aspectos como a vida civil e suas dificuldades, por exemplo.

Ao unir o Humanismo aos estudos do comportamento humano, nasce o que é chamado

de Terceira Força, uma vez que existem três grandes grupos na Psicologia, que são:

1. Comportamentalismo – considera as influências ambientais ou do meio.

2. Psicanalismo – enfatiza fatores internos – inconsciente e instinto.

3. Humanismo e Existencialismo – destacam o homem e o que lhe é essencial.

Este estudo reconhece a seriedade, amplitude e importância dos vastos conhecimentos

que compõe a Primeira e a Segunda Força. Concentra-se na corrente do Humanismo por

compreender que as expressões de Carl Rogers, Eric Berne e Viktor E. Frankl, entre outros

autores, permanecem em sintonia com o ambiente estudado.

Os princípios e os discípulos do Humanismo são mencionados como diretrizes das

pessoas que constituem a CSS. Viver com valores diante das limitações e possibilidades, além

de serem pensamentos de Max Scheller (FALCÃO, 2010) são palavras que permanecem no

dia-a-dia nas casas da instituição. Viver a “Filosofia da Esperança - De ser homem e caminhar

com Deus” concebida por Gabriel Marcel (FALCÃO, 2010) igualmente está em meio aos

valores cultivados nesse ambiente. Junto a esses preceitos se encontra a certeza de que a fé

cristã, além de sua exterioridade ou mero formalismo, incluiu o risco, a interioridade e o

sofrimento, conforme a concepção de Kierrkegaard (FALCÃO, 2010), que formulou uma

visão crítica do cristianismo de sua época.

2 SARTRE, Jean-Paul. Frases de Sartre. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frases_de_sartre>. Acesso

em 26 abr. 2013.

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Ao aproximar o Humanismo da CSS, se vê a necessidade de acolher a diversidade em

prol do bem que é a vida humana, o que se manifesta nas palavras de Leloup (2007) ao falar

sobre a Arte de Cuidar e a transdisciplinariedade sob a seguinte perspectiva:

Saber que há diferentes pontos de vista sobre uma mesma realidade. E que

precisamos de todos eles para ver melhor. Os Antigos Terapeutas [de Alexandria]

buscavam despertar, em si, o que chamamos o olho do Querubim. O Querubim, na

tradição antiga, é um estado de visão, representado como asas repletas de olhos.

Essa imagem é encontrada em diversas culturas, particularmente na tradição da

Etiópia, onde há querubins nos tetos das igrejas: olhos que nos olham. Há a visão

do médico, do psicólogo, dos amigos, mas há também o olhar do Anjo. Esse olhar que vê o que acontece segundo um outro ponto de vista, de outra profundidade e

que contempla a nossa doença ou sintomas não somente como os olhos humanos

são capazes. Então pode se abrir, talvez, uma outra interpretação sobre aquilo que

nos ocorre.Assim, convido-o a imaginar um olho, com facetas, como o de uma

abelha. Como ele nos veria nesse momento? Não tem nada a ver com a nossa

maneira habitual de olhar. Ou um cavalo – você já pensou em mirar alguém com o

olhar de um cavalo? Aparecemos com uma forma completamente diferente. Trago

essas imagens para nos lembrar que a visão do mundo que temos é ligada ao nosso

instrumento de percepção e no olho de um cavalo ou de uma abelha há todo um

outro mundo. A maneira de ver alguém pode mudar, segundo a qualidade do nosso

olhar. Então, a tarefa é despertar em nós essas diferentes facetas. Isso me faz pensar

nas diferentes áreas do cérebro, nas diferentes capacidades de apreender o mundo.

O autor classifica a somatória de sete maneiras de olhar. Cada uma com seu objetivo

distinto e igualmente importante. Finaliza sua visão do assunto ao falar a respeito do sétimo

olhar aqui relatado por se perceber sua sintonia com o estudo proposto:

O sétimo olhar é o que direciona e liberta – vá com sentido! Da mesma maneira que

dizemos:- Vá com Deus! Poderíamos dizer: - Vá com sentido! Vá com a

interpretação da sua doença, não apenas na sua dimensão mental; também com os

meios de curá-la, de cuidar de você. Essa é a grande palavra dos Terapeutas: Vá em

direção a você mesmo, eu estou com você! Esta foi a palavra de Deus dirigida a

Abraão. – Leloup, 2007.

3.1 A expressão que humaniza

Felizes, antes, os que escutam a palavra de Deus

e a cumprem. - Lucas 11:283

Para esclarecer o que vem a ser a humanização proposta neste estudo, apresenta-se a

citação de Hurding (1995), ao afirmar que “...o objeto de estudo da psicologia é a experiência

humana, sendo seu método a compreensão do significado dessa experiência tendo em mente

os alvos de vida e os valores básicos de alguém.”

3BÍBLIA. Português. Bíblia do Peregrino. Coordenação Editorial Paulo Bazaglia. São Paulo: Paulus, 2002.

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O autor alega (HURDING, 1995) que os demais psicólogos humanistas se colocam

fortemente contra ao reducionismo apresentado por teorias que esclarecem o comportamento

humano considerando apenas o aspecto biológico. O Humanismo tem a proposta clara de que

se investiguem todos os campos da existência humana, valorizando o seu sentido de vida.

Prefere o estudo do ser humano em seu potencial positivo e trabalha a psicologia a partir da

saúde e do crescimento.

Um subsídio apropriado para esclarecer a visão humanista vem de Crema (1985, p.14)

quando afirma que a proposta junto à pessoa é “... que não vise ao poder de curar e, sim,

facilite apenas que a pessoa atualize seu potencial de saúde e sua vocação para a vida,

devolvendo a ela seu poder”. Coloca a necessidade de escutar a pessoa e conhecer a sua vida.

Aqui se encontra um denominador comum vindo dos autores referidos neste estudo:

Escutar! De forma autônoma, inclinar-se para que essa escuta tenha como principal foco o ser

humano, o qual se iguala ao terapeuta em sua essência, mas que se distingue enquanto pessoa

que precisa escutar a si mesma.

Parece ser nessa seiva que se fortalecem e caminham para suas particularidades os

ensinamentos propostos por Carl Rogers, Eric Berne e Viktor Frankl, junto a alguns de seus

discípulos, com a proposta de ouvi-los em suas valiosas contribuições à humanidade.

Esses pensadores, além de outros da Psicologia Humanista, contribuem com o pensar

e agir do homem do século XXI e igualmente com a instituição não governamental aqui

estudada, colaborando para o seu crescimento estrutural e humano.

Considera-se natural a opção por algumas aberturas e enfoques neste estudo que busca

sua proximidade e identificação em meio a diferentes abordagens. Os caminhos percorridos

pelos autores apresentados são escolhidos por simplesmente ponderar um dos princípios

básicos do Humanismo: o direito e a natural necessidade de exercitar a escolha.

3.2 A palavra de Carl Rogers

(...) Apenas uma pessoa pode saber que eu

procedo com honestidade, com aplicação, com

franqueza e com rigor, ou se o que faço é falso,

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defensivo e fútil. E essa pessoa sou eu mesmo. –

Carl Rogers4

Considerando suas pesquisas e observações clínicas, Carl Rogers (1978, p.221) propôs

em 1940uma maneira diferente de abordar a psicoterapia individual, apresentando um método

original e revolucionário para esse momento. Assim surgiu a teoria denominada Abordagem

Centrada na Pessoa, fazendo com que Rogers ficasse reconhecido como precursor no

desenvolvimento da Psicologia Humanista. Por meio de consideráveis estudos sobre suas

experiências terapêuticas, ele agregou contribuições para a psicoterapia num primeiro

momento para que, na sequência, suas ideias se expandissem para as demais áreas do

conhecimento que trabalham com desenvolvimento humano.

A ênfase dos seus estudos esteve na experiência atual da pessoa, entendida como os

conteúdos trazidos pelo cliente e também por suas vivências e sentimentos mais íntimos. A

abordagem aplicada parte do princípio de que o ser humano, constituído por corpo e mente, é

digno de confiança e que possui extensos recursos de autoconhecimento e de modificação de

atitudes. Para exemplificar esses pressupostos, Rogers (1977) esclarece da seguinte forma:

O ser humano, como todos os organismos, tende a crescer e a se atualizar. É claro

que todos os fatores sociais, econômicos e familiares podem interromper esse

crescimento, mas a tendência fundamental é em direção ao crescimento, ao seu

próprio preenchimento ou satisfação. Costumo exemplificar esse processo

lembrando batatas que guardávamos no porão da nossa casa na fazenda. Elas

criavam brotos porque havia uma janelinha no quarto. Era uma tentativa inútil, mas

parte da tentativa do organismo de se satisfazer. Você consegue um produto muito

diferente quando planta uma batata na terra, e comparo esse processo ao que pode

ser encontrado em delinquentes e em pessoas que são tidas como doentes mentais: o modo como suas vidas se desenvolveram pode ser muito bizarro, anormal; no

entanto, tudo o que elas estão fazendo é uma tentativa para crescer, para atualizar

seus potenciais. O fato de essa tentativa causar maus resultados situa-se mais no

meio ambiente do que na tendência básica do indivíduo. A pedra fundamental da

psicologia humanista pelo menos como eu vejo, é portanto essa crença de que o ser

humano tem um organismo positivo e construtivo.

Entende-se que o papel do terapeuta nesse contexto é ser o facilitador do processo, de

maneira que suas atitudes e comentários funcionem como um espelho para os sentimentos e

pensamentos do cliente. Partindo da crença no potencial humano, o terapeuta acolhe e

considera seu cliente em todos os seus aspectos, quer sejam positivos, negativos ou ambíguos,

de maneira a captar as emoções e vivências ainda não explicitadas (ROGERS, 1978 p.264).

Outros fatores que também contribuem com o processo são a consideração positiva

4ROGERS, Carl Ransom. Tornar-se Pessoa. 3ª ed., pg.34. Livraria Martins Fontes Editora. São Paulo: 1978.

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incondicional em relação ao cliente, a compreensão empática, o senso de humor, a humildade

e a curiosidade.

Forma-se uma relação que propicia a consciência e contato do cliente com o seu

material vivencial, facilitando para que ele perceba aspectos de sua personalidade e de seus

comportamentos que lhe escapavam anteriormente. Um dos principais objetivos é facilitar

para que o cliente consiga ser ele mesmo e utilize sua liberdade. Assim ocorre a ajuda

terapêutica que pode modificar ou amadurecer o conceito que a pessoa tem de si,de suas

estratégias de vida e visão de mundo.

Os estudos de Rogers o levaram a acreditar na importância do cliente dirigir seu

processo e do psicoterapeuta o ajudar a se ajudar, de maneira a encontrar suas próprias

respostas, propiciando assim que ambos se tornem mais humanos. A visão rogeriana passa por

entender que:

A consulta psicológica eficaz consiste numa relação permissiva, estruturada de uma

forma definida que permite ao cliente alcançar uma compreensão de si mesmo num

grau que o capacita para progredir à luz de sua nova orientação. – Carl Rogers,

1979, p. 29.

Outra particularidade da abordagem rogeriana é o uso da palavra "cliente" ao invés do

termo "paciente". Para ele, um paciente é alguém doente que está sob os cuidados de

profissionais ativos, que detêm o conhecimento e a competência. Já o cliente é visto como a

pessoa capaz de entender e atuar sobre a sua própria situação; é alguém que precisa de um

serviço que não pode obter sozinho, mas que se encontra em igualdade com quem o atende,

sendo assim, mais ativo e competente que o paciente.

Segundo Rogers, cada pessoa possui a capacidade de ser ela mesma, autenticamente.

A condição para isso ocorrer, apresentada por Falcão (2010), se faz por meio de um ambiente

acolhedor que oportuniza ao organismo atingir seu ponto de equilíbrio e desenvolvimento,

assim como a capacidade de ser congruente e de aceitar-se a si mesmo.

Nesse sentido, Rogers (1978, p. 264) entende o processo terapêutico como:

...um tipo de aprendizagem significativa que ocorre quando cinco condições estão

reunidas:

O cliente sente-se confrontado com um problema sério e significativo.

O terapeuta é uma pessoa congruente na relação, capaz de ser a pessoa que é.

O terapeuta sente uma consideração positiva incondicional em relação ao seu cliente.

O terapeuta sente uma compreensão empática aguda do mundo privado do cliente e

comunica-lhe essa compreensão.

O cliente apreende num grau maior ou menor a congruência, a aceitação e a

empatia do terapeuta.

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Ele acreditava que a capacidade de tornar-se pessoa é algo que vai muito além do

espírito de competição que existe em nossa sociedade e do que existe de mal na vida das

pessoas. Ao ser questionado sobre esse aspecto, Rogers (1977), afirmou:

Fui muitas vezes acusado de não compreender a maldade nas pessoas – e levo a

sério este tipo de crítica, isso pode até ser verdade. Mas cheguei a uma posição, não

através de pensamentos passivos, mas através de meus contatos diretos com

pessoas, tanto em terapia quanto em grupos, ou mesmo em salas de aula, nos quais

percebi que, se confio plenamente em sua capacidade de se compreenderem melhor

e ser mais auto dirigidas, essas escolhem direções que são sociais e não

antissociais, ou más. Dizem que com esse tipo de terapia o indivíduo pode muito bem ser um melhor ladrão ou um melhor assassino, e para mim essa é uma

possibilidade bastante lógica. Mas, de acordo com minhas experiências, isso

simplesmente não acontece. Se ofereço a uma pessoa a possibilidade de se

expressar, de buscar suas próprias direções, ela não escolhe ser um melhor ladrão

ou coisa semelhante, mas procura seguir a direção de maior harmonia com seus

companheiros.

Entende-se que a Abordagem Centrada na Pessoa apresenta grande aplicabilidade e

soluções diante dos fenômenos humanos em desenvolvimento.

Em nosso país também se encontram estudos e trabalhos profissionais, reconhecidos

por sua coerência acadêmica, que cultivam os princípios Rogerianos. Um exemplo vem de

Márcio Lúcio de Miranda- discípulo brasileiro de Carl Rogers, médico e psicoterapeuta de

Minas Gerais - que trabalha no que denominou de Relação de Ajuda. Com especialização no

Modelo de Ajuda no Carkhuff Institute of Human Technology, Massachusetts, Estados

Unidos, é atualmente autor de vários livros que abordam o relacionamento interpessoal, além

de estar à frente de instituições e trabalhos que também se constituem nessa mesma área.

(MESTERS; MIRANDA 2010).

Em seus estudos, Feldman e Miranda (2001, p.46) citam Paul Tournier ao abordar a

intensa necessidade que as pessoas têm de serem ouvidas, afirmando que:

Bem no cerne de toda psicoterapia permanece esse tipo de relacionamento em que

alguém pode falar tudo a seu respeito, como uma criança fala tudo à sua mãe.

Ninguém pode se desenvolver livremente nesse mundo, nem encontrar uma vida

plena, sem sentir-se compreendido por uma pessoa, pelo menos... Aquele que se

quiser perceber com clareza deve se abrir com um confidente escolhido livremente

e merecedor de tal confiança. Ouça todas as conversas desse mundo, tanto entre

nações quanto entre casais. São, na maior parte, diálogos entre surdos.

Ao mesmo tempo em que se revela aqui uma crítica a esta equivocada modalidade de

comunicação atual, se evidencia a necessidade que os autores apresentam de se trabalhar em

meio a essas abordagens. Rogers (1978, p.29) já chamava atenção para essa necessidade em

sua própria experiência pessoal. Considerou que uma de suas aprendizagens foi descobrir que

“sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me e quando posso ser eu

mesmo.”

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Partindo do princípio de que “Ninguém sai ileso de um encontro com outra pessoa”,

Feldman e Miranda (2001, p.45) trabalham a necessidade de escutar e conhecer a vida

daquele que precisa se expressar e valorizar sua voz no ambiente onde está.

Como ele, são vários outros profissionais que atuam tendo como base a teoria de Carl

Rogers e que vem conquistando importantes espaços e demonstrando resultados eficazes em

trabalhos com pessoas e organizações. Atualmente se vê exemplos na Educação, nas

Organizações e em Comunidades Terapêuticas, integrando o programa de tratamento em

dependência química.

3.3 A palavra de Eric Berne

Dizer Olá corretamente é ver a outra pessoa, ter

consciência dela como um fenômeno, acontecer

para o outro e estar pronto para que o outro

aconteça para você. - Eric Berne5

Apresenta-se nesse espaço um estudo que possui suas raízes no Existencialismo e se

destaca por sua singularidade que une o simples, o acessível e a eficácia. Sua definição de

personalidade, entendida como “... um sistema biopsicossocial aberto e dinâmico, constituído

por três subsistemas genericamente denominados de Estados de Ego” (KRAUSZ, 1999 p. 25)

apresenta alguns pontos principais de sua concepção.

Eric Berne, criador da Análise Transacional (AT) na década de 1950, foi um médico

psiquiatra canadense que desenvolveu seus estudos em hospitais psiquiátricos, em consultório

particular e nas Forças Armadas Americanas. Em seu livro Intuição e Estados de Ego (2008,

p.13-14) essa experiência é relatada. Para realizar uma avaliação psiquiátrica, ele dispunha de

40 a 60 segundos. Com as perguntas “Você é nervoso?” e “Você já foi a um psiquiatra?”

(BERNE, 2008, p.14) dava respostas em sua mente, com alto grau de precisão, antes da

resposta que o soldado daria a ele. Conforme esclarece Silveira (2012), numa segunda

instância ele tentou adivinhar a profissão de cada soldado e, mais uma vez precisamente, ele

acertava as respostas dos mecânicos e fazendeiros. Berne não conseguia explicar como

5BERNE, Eric. O Que Você Diz Depois De Dizer Olá? São Paulo: Nova Ed. Nobel, 1988.

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chegava aos resultados. Iniciou seus estudos e registros sobre intuição, o que o levou a

publicar artigos que vieram a compor a origem da Análise Transacional mais tarde.

Crema (1985 p.35), ao comentar sobre os conceitos de Berne, afirma que:

Este pressuposto significa confiar na natureza humana, acreditando na sua vocação

para a saúde, no seu instinto para a Luz. Assim como a planta tem um tropismo

para crescer e, com suas raízes, buscar a água, e, com seu caule, dirigir-se ao sol,

assim também o ser humano possui tendência ao autodesenvolvimento,

autoregulação e autorealização.

Essa tendência ocorre, segundo o autor, mesmo se a pessoa encontrar forças contrárias

no decorrer da vida, entendendo que “todo sintoma psicopatológico é uma denúncia social. A

disfunção psíquica representa um estrangulamento de nossa inclinação para a integração e

harmonia, e, também, um grito de socorro de alguém impedido de crescer” (CREMA, 1985,

p. 36).

Berne instituiu uma metáfora que apresenta a personalidade e seus subsistemas criando

um vocabulário psicológico e psiquiátrico ao alcance de todos e não apenas para a elite

médica e acadêmica. Um dos seus objetivos era esclarecer o assunto de forma que até uma

criança de oito anos pudesse compreender. E assim ele fez. Com traçados simples (figura 1),

Berne (2005, p 25), define que:

Um Estado de Ego pode ser descrito como um sistema coerente de sentimentos ou

como um conjunto de padrões coerentes de comportamento. Cada indivíduo parece

dispor de um repertório limitado de Estados de Ego. [...] Coloquialmente, suas

manifestações são chamadas de Pai, Adulto ou Criança, termo simples que servem

para todas as discussões a que nos propomos.

Figura 1: Estados de Ego.

A partir dessa concepção, o autor da AT (BERNE 1988, p. 25) entendeu que cada um

desses subsistemas possui características próprias:

1. Os que se derivam das figuras parentais, coloquialmente denominado o Pai.

Neste estado a pessoa sente, fala e reage como um de seus progenitores fazia quando ela era pequena.

2. O Estado de Ego no qual a pessoa analisa seu meio ambiente objetivamente,

calculando suas possibilidades e probabilidades com base em experiências

passadas, é chamado Adulto ou Estado de Ego Adulto. Este funciona como um

computador.

3. Cada ser humano carrega dentro de si um menininho ou uma menininha que

sente, pensa, fala e reage de forma semelhante ao que fazia quando ele ou ela eram

crianças. Este Estado de Ego é chamado de Criança.

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A teoria ateniana leva em conta várias fontes do conhecimento. Uma delas vem de

Sartre, um dos lúcidos pensadores do século XX. Conforme apresenta Crema (1985, p. 32), ao

falar da interpretação do ser, escolhas e decisões, Sartre acredita que:

Estamos sós e sem desculpas. Traduzirei, dizendo que o homem está condenado a

ser livre: condenado, porque não se criou a si próprio e, no entanto, livre, porque

uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer.

Considerações relevantes para a AT que segue esses pressupostos e acredita na total

responsabilidade do Homem perante sua vida. Termos como crescimento, o que idade e

autonomia, representam ideias centrais nessa linha de conhecimento.

Berne considerou que já nos primeiros anos de vida a pessoa forma uma opinião sobre

si mesma e sobre os demais, a qual tende a repercutir no estilo de relacionamentos e na sua

forma de se colocar diante dos fatos. Criou, assim, a Posição Existencial, a qual é entendida

como “o conceito que as pessoas têm de si e dos outros” (Krausz, 1999, p. 84). De maneira

simples, Berne classifica quatro possibilidades:

OK – OK (+/+): Característica natural do ser humano e única posição existencial

saudável. Abrange respeito, afeto, reconhecimento das qualidades e limitações,

além de outros aspectos positivos relacionados à compreensão de si mesmo e do

outro.

OK – NÃO OK (+/-): Posição projetiva. A pessoa considera que a responsabilidade

dos seus próprios erros e fracassos é do outro. É a posição existencial peculiar às

pessoas egocêntricas que agem defensivamente para evitar sentirem-se Não OK. NÃO OK – OK (-/+): Nesta posição, a pessoa age de maneira introjetiva,

atribuindo seus desacertos à sua incapacidade. É típico das pessoas submissas e

com baixa autoestima, com dificuldade de respeitar a si e aos outros.

NÃO OK – NÃO OK (-/-): Denominada de posição negativista em razão de

prevalecer aqui o pessimismo. A pessoa transmite desinteresse pelos demais, pelo

mundo e por si mesmo, deixando de reconhecer as qualidades e as limitações.

São maneiras de se relacionar que identificam a posição básica em que cada pessoa se

coloca. Essas formas típicas e parciais de ver o mundo se alternam frente às situações internas

e externas e que podem ser modificadas no transcorrer da vida.

Os sinais entre parênteses indicam quando as posições existenciais são positivas ou

negativas. São reforçadas pelos Jogos Psicológicos, que são descritos por Berne (2005, p.49)

como “uma série de lances com uma cilada ou truque no meio ou no fim” onde aparece a

dramaticidade e desonestidade, podendo chegar à manipulação.

Um estudo de Berne que contribui na abordagem com dependentes químicos é o que

foi denominado por ele como Desqualificação, entendida como “... um mecanismo interno

que envolve pessoas minimizando ou ignorando algum aspecto de si mesmas, dos outros ou a

situação da realidade” - Krausz (1999, p.168). A desqualificação pode apresentar tipos e

modos diferenciados:

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Tipos Estímulos Internos: sentimentos, sensações.

Externos: informações, sinalizações, acontecimentos.

Problemas Identificação de questões internas ou externas a serem resolvidas

Opções Alternativas possíveis para resolver as questões.

Modos Existência Não ter a capacidade de tomar conhecimento do estímulo.

Significado Embora reconheça a existência, distorce o significado do estímulo.

Possibilidade

de mudança

Existe a consciência do estímulo, compreende o seu significado, mas acredita que

não há como mudá-lo.

Capacidade

pessoal

Existe a consciência do estímulo, compreende o seu significado, acredita que há

como mudá-lo, mas desqualifica sua própria capacidade de intervir na mudança.

Quadro 2 - Quadro sobre Desqualificação - Fonte: Krausz (1999)

São variáveis que permitem identificar a maneira como a dificuldade aparece.Quando

combinadas,contribuem para solucionar o problema e sinalizar as intervenções necessárias.

Desta forma de agir, surgem também os padrões de relacionamento. Para ilustrar seus

estilos, outro reconhecido analista transacional chamado Franklin Ernst criou o Curral OK,

representado por Krausz (1999, p. 90) da seguinte forma:

Você está OK comigo

Eu não estou OK

comigo

-/+

Afastar-me

de

+/+

Seguir com

Eu estou OK

comigo Ir a nenhum

lugar

-/-

Livrar-me

de

+/-

Você não está OK comigo

Figura 2 – Curral OK

A figura expõe as possibilidades de relacionamento entre pessoas ou grupos, além de

prever os comportamentos de ambas as partes com alto grau de acerto. É a representação de

um dos princípios da AT, entendendo que as pessoas estão conectadas umas com as outras.

Berne desenvolveu a ideia de transação que ocorre quando dois indivíduos interagem, gerando

estímulos e respostas. Junto a isso, atribui importância a vivência da intimidade nos

relacionamentos, percebida como resultado de autenticidade e da ausência de jogos

psicológicos.

Segundo Silveira (2012), Berne acreditava na parceria entre terapeuta e paciente,

desafiava as pessoas, estimulava-as a usar sua capacidade de percepção, a ver as coisas como

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elas são e não como gostariam que fossem. Para atingir esse objetivo, os analistas

transacionais entendem que o cliente é o centro desse enfoque. Jane Costa (2011,p. 65) que é

médica, psicoterapeuta e Didata em AT, atua com a metodologia ateniana a partir da

compreensão de que “todos nós nascemos com capacidade para desenvolver nossos potenciais

para sermos autônomos”. Trabalhar com cada pessoa que tem script próprio a partir do seu

direito de liberdade é uma diretriz fundamental para os analistas transacionais.

Foi a partir dessa abordagem que o psicólogo Claude Steiner levou a diante seus

estudos que se tornaram referência para o tratamento de severas disfunções, incluindo a

dependência química. Como afirma em uma de suas obras (STEINER 1974, p.18-19), Eric

Berne entendia que a cura não seria apenas “transformar esquizofrênicos em esquizofrênicos

bonzinhos ou alcoólatras em alcoólatras presos, mas, auxiliá-los a retornarem ao seu lugar na

raça humana”. Em seu livro Os papéis que vivemos na vida (1976), considerou os scripts a

partir de três formas pelas quais as pessoas desenvolvem a frustração e a distorção de sua

autonomia. São eles: Script de Falta de Amor (depressão); Script de Falta de Cabeça (loucura)

e Script de Falta de Alegria (drogas). Formas essas, que aparecem na vida cotidiana como

resultado intermediário, de maneira que uma pessoa pode estar sob influência de um, de dois

ou dos três scripts.

Tal abordagem é confirmada nas palavras do discípulo contemporâneo da Análise

Transacional, Leonhard Schlegel (1997/1998, p. 15), que considera Eric Berne um defensor

apaixonado da comunicação direta, sem rodeios, desvios ou defesas. Menciona a terapia de

comunicação em AT, que pode ser usada para interromper jogos de manipulação, entendidos

por Berne como sendo sempre destrutivos.

Nessa arte da comunicação incluem-se algumas habilidades e cuidados para o

terapeuta que a desenvolve. Para falar a respeito, Berne (1988, p.260) escreveu algumas

regras sob o título de “Como ouvir”, que são as seguintes:

1. O ouvinte deverá estar em boas condições físicas, tendo dormido bem e não

estar sob influência de álcool, medicação ou drogas que prejudicam sua

eficácia mental.

2. Sua mente deverá estar livre de preocupações exteriores.

3. Deve por de lado todos os preconceitos e sentimentos Parentais, incluindo a

necessidade de “ajudar”.

4. Deve por de lado todas as pré-concepções sobre seus pacientes em geral e

sobre o paciente específico que ele está ouvindo.

5. Não deve permitir que o paciente o distraia com perguntas ou outras

solicitações e precisará aprender como repelir tais interrupções de forma não

prejudicial. 6. Seu Adulto ouve o conteúdo do que diz o paciente, enquanto o Professor-

Criança escuta a maneira como as coisas são ditas.

7. Quando começar a sentir-se cansado pare de ouvir e comece, em vez, a ver e a

falar.

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Por meio desses relevantes conhecimentos dos Analistas Transacionais, se constituem

as ferramentas para Escuta Terapêutica da CSS e para outros trabalhos que promovem o

desenvolvimento e os cuidados com as pessoas. São conteúdos que facilitam a compreensão

de atitudes pessoais e inter-relacionais dos residentes e colaboradores que convivem nessa

comunidade terapêutica.

Segundo informações da União de Analistas Transacionais - UNAT - Brasil (2011) a

AT já conquistou seu reconhecimento frente aos meios acadêmicos e continua em pleno

crescimento em seus campos de estudos e de atuação em nosso país. São crescentes os

números de profissionais que buscam formação nessa abordagem. Da mesma forma, são

organizações que aderem a esse trabalho e alcançam visíveis resultados positivos.

3.4 A palavra de Viktor Frankl

Encontrei o significado da minha vida, ajudando

os outros a encontrarem o sentido de suas vidas.

- Viktor Emil Frankl6

O aprendiz de Freud e também de Adler, em nome de uma imagem diferente do

homem, se tornou um crítico dessas abordagens e, posteriormente, um existencialista e criador

da Psicoterapia do Sentido da Vida e‏ Fundador da Terceira Escola de Viena.

O Professor e Doutor Viktor Emil Frankl (2006, p. 96) defendeu a necessidade de se

considerar que “a saúde mental está baseada em certo grau de tensão, tensão entre aquilo que

já se alcançou e aquilo que ainda se deveria alcançar”. Visão que adquiriu acentuado prestígio

e o levou a ministrar aulas nas Universidades da Califórnia, Harvard, Stanford, Dallas e

Pitsburgh, além de se tornar um renomado literário.

Tamanho reconhecimento está baseado na experiência desse psicólogo que sobreviveu

às situações extremas do campo de concentração nazista durante a 2ª Guerra Mundial. Ele

vivenciou o limite da capacidade humana, passando a crer que “só pode sobreviver quem

consegue manter um sentido para a vida; particularmente em referência a Deus, que é o Supra

Sentido para a vida” (ibid., p. 105). Entendimento que levou Viktor Frankl a definir sua

posterior trajetória. A finalidade era que a barbárie que via diante de seus olhos e com ele

6FALCÃO, Guilherme. Disciplina: Teorias Humanas e Existencialistas ministrada no curso de Pós Graduação

em Dependência Química da FLT. 24 de abril de 2010.

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mesmo nunca mais tornasse a acontecer. Para isso, se sustentou na fé em Deus e no intenso

desejo de rever sua família. Como caminho, tomou a resolução de escrever os fatos e suas

impressões da maneira como lhe era possível naquelas circunstâncias: num rolo de papel

higiênico. Procedendo dessa forma, conseguiu sair do campo de concentração e multiplicar

mundialmente sua vivência e seus fortes aprendizados.

Assim nasce a logoterapia. Palavra que tem em sua própria raiz, a reveladora

definição: logos=sentido. Para esta abordagem, a busca de sentido na vida da pessoa é a

principal força motivadora no ser humano. Viktor Frankl considera (ibid., p. 100) o sentido da

vida como algo dinâmico. Passa por constantes modificações, mesmo estando sempre

presente na vida humana e pode ser encontrado de três diferentes maneiras:

1. Criando um trabalho ou praticando um ato;

2. Experimentando algo ou encontrando alguém;

3. Pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável.

O fundador da Terceira Escola de Viena aponta a necessidade de personificação desse

sentido da vida. Esclarece que mais do que o encontrar de forma abrangente, é necessário que

cada pessoa busque o seu sentido específico. Que essa busca não ocorra de maneira abstrata,

sem os objetivos palpáveis a serem alcançados. Defende que essas realizações se diferenciam

entre as pessoas, assim como mudam conforme o dia, a hora, o momento da vida:

Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida; cada um precisa

executar uma tarefa concreta, que está a exigir realização. Nisto a pessoa não pode

ser substituída, nem pode ser sua vida repetida. Assim, a tarefa de cada um é tão

singular como a sua oportunidade específica de levá-la a cabo. (FRANKL 2006, p.

98)

A logoterapia possui as contribuições do existencialismo em suas bases. Segundo

Falcão (2010), encontra-se os pressupostos de Martin Heidegger, por exemplo, nesses

princípios. Considerações como: vida autêntica e inautêntica; ser temporal: unir essência com

existência; ser em situação; entre outros, fazem parte dessa abordagem.

O criador da logoterapia considera, assim como outros autores humanistas, o valor da

decisão. Ao se referir à transitoriedade da vida, Frankl (ibid., p. 106) defende que:

O ser humano está constantemente fazendo uma opção diante da massa de

potencialidades presentes; quais delas serão condenadas ao não-ser, e quais serão

concretizadas? (...) A todo e qualquer momento, a pessoa precisa decidir para o

bem ou para o mal, qual será o monumento de sua existência.

Diferente de demais estudos do comportamento humano, afirma (ibid., p. 112) que o

condicionamento e a determinação não são a totalidade de fatores que representam as atitudes

de cada pessoa. Segundo considerações de Crema (1985, p. 43), foi Victor Frankl que

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comprovou o quanto a fé é decisiva diante dos colapsos existenciais. Ao ser questionado sobre

o que é o ser humano, a resposta de Frankl foi:

É um ser que sempre decide o que é. Um ser que, em proporções idênticas, traz

consigo as possibilidades de descer ao nível do animal ou de se elevar à vida do

santo. O homem é a criatura que inventou a câmara de gás; mas ao mesmo tempo, é

a criatura que foi para a câmara de gás de cabeça erguida, rezando o Padre-Nosso

ou com a prece fúnebre dos judeus nos lábios. (CREMA 1985, p. 43)

A utilização de substâncias psicoativas é um dos assuntos abordados por Frankl e

igualmente entendido sob a capacidade inerente de cada pessoa. Ao iniciar esse tema, afirma

ser uma das conseqüências do “sentimento de falta de sentido que resulta de uma frustração

de nossas necessidades existenciais” (FRANKL 2006, p. 120). Defende a possibilidade de se

elevar acima da condição de dependência. Cita testes e estatísticas que demonstram que 100%

das pessoas diagnosticadas como dependentes de SPA’s acreditavam que “as coisas pareciam

sem sentido” (ibid., p. 123). Enfatiza que a importância maior está em percorrer o caminho

que leva a pessoa, ainda que em condições desfavoráveis, a “mudar-se a si mesma” e

“transformar a tragédia pessoal em triunfo” (ibid., p. 124). Afirmações não apenas baseadas

em sua experiência pessoal, mas também em outros estudos e demais profissionais que,

citados em suas obras, também confirmam a visão e os resultados de Frankl.

Atualmente, a logoterapia é considerada uma abordagem capaz de animar pessoas,

levando-as a resgatar sua liberdade interior e o sentido transcendente da vida. O próprio autor

dessa teoria defendeu a necessidade de cada ser humano perdoar e espalhar o amor e afirmou

ter perdoado os nazistas após tudo que viveu.

Para este estudo que procura a identificação de abordagens da CSS, a logoterapia é

percebida como um conhecimento que concilia com os princípios dessa comunidade

terapêutica. Assim como o psicólogo do campo de concentração, entende-se a urgente

necessidade de estarmos alertas e atuarmos de maneira consciente frente ao mundo atual:

Alerta em duplo sentido:

Desde Auschwitz nós sabemos do que o ser humano é capaz.

E desde Hiroshima nós sabemos o que está em jogo. (ibid., 2006, p. 129)

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4 PROCEDIMENTOS SISTEMATIZADOS

Seguindo o caminho trilhado pela psicologia humanista, entende-se como pertinente

identificar procedimentos que são utilizados nas instituições, mas que nem sempre contam

com a necessária distinção entre si.

Diante de um momento de encontro entre duas pessoas, onde exista um objetivo

terapêutico, como se torna possível identificar a intervenção realizada ou a maneira como se

desenvolve essa comunicação? Quais as diferenças, por exemplo, entre Relação de Ajuda,

Aconselhamento Pastoral e Psicoterapia?

Em meio a um estudo que procura definir os conhecimentos científicos que fazem

parte das abordagens práticas, se vê como necessária a busca por essas respostas. O conteúdo

abaixo segue com o objetivo de oportunizar a identificação e o devido esclarecimento das

abordagens psicológicas utilizadas a Escuta Terapêutica desenvolvida na Associação CSS.

4.1 Relação de Ajuda

Bem-aventurado quem for capaz de uma boa

conversa; ele vai encontrar alívio para sua dor!

Frei Carlos Mesters7

Eis um propósito que se estabelece na simplicidade de oportunizar o bem-estar para

aqueles que precisam, se sustentando em uma relação de fundamentos claros e objetivos e

sendo fonte de várias literaturas. Com suas bases no princípio do diálogo, que também pode

ser entendido como um encontro entre pessoas, se constitui a Relação de Ajuda.

O foco volta-se para o sofrimento cotidiano, que pode se apresentar de diferentes

formas. O público-alvo constitui-se de pessoas, sem qualquer distinção entre si. Afinal, quem

ainda não passou por momentos de dor no corpo ou na alma?

Para desenvolver esse assunto, recorre-se a um estudioso residente em São Paulo e

reconhecido mundialmente em razão de suas respeitáveis autorias e graduações. Com o título

de doutor em Bíblia, Frei Carlos Mesters também se dedicou aos estudos sobre

relacionamento entre as pessoas.

7MESTERS, Frei Carlos; MIRANDA, Márcio Lúcio de. Jesus da escuta amorosa: as bem-aventuranças ontem

e hoje. 1ª ed. Belo Horizonte: O Lutador: CEAP editora; São Leopoldo: CEBI; São Paulo: Paulus, 2010.

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Mesters afirma (2010, p.57) que “só a verdadeira escuta leva à compreensão e a

clareza, e que sem clareza não há movimento, sem movimento não há transformação.”. Ele

acredita na prática da Escuta por meio de sabedoria que se revelam em palavras simples.

Lembra que “É conversando que as pessoas se convencem, se convertem. A conversa produz

conversão e se torna fonte de felicidade para muita gente!”(MESTERS; MIRANDA, 2010,

p.15). Na continuidade, afirma que:

Estes sofrimentos do dia a dia são os que provocam a maior parte das conversas

entre as pessoas, pois é neste ponto de sofrimento que todos nós temos alguma

experiência, descobrimos algum remédio ou consolo para partilhar com os outros,

mesmo sem nunca ter lido a bula. (MESTERS 2010, p.17)

Ao mencionar “remédio ou consolo”, o autor traduz de maneira singela o objetivo da

Relação de Ajuda, a qual ele chama também de Escuta Amorosa. Para entender o que o autor

quer dizer quando apresenta esse termo é necessário verificar o significado atribuído a essas

palavras. Mais do que alguém estar diante da pessoa amada e venerar suas palavras, esse

procedimento é constituído de lucidez, interação e de um amor que, mais do que sentimentos,

revela as atitudes de comprometimento com o outro.

Assim se faz uma abordagem terapêutica, apontada por Miranda (2001, p. 227) como

um trabalho que propicia "(...) abandonar o papel da vítima que passivamente se submete a

condições de vida insatisfatórias e se transformar no agente da própria mudança”.

Já aqueles que exercem essa terapia são denominados por Feldman e Miranda (2001,

p.28) como pessoas significativas por serem aquelas que “tem internalizadas as dimensões:

aceitação incondicional, empatia, transparência, imediaticidade, confrontação para melhor e

concreticidade”.

Por entenderem a relevância desse tema, Frei Carlos Mesters e Marcio de Miranda

desenvolveram um trabalho denominado Jesus da Escuta Amorosa (2010). Das produtivas

conversas entre os dois, além de outros colaboradores, surgiu um fruto que revela um

agradável sabor na medida em que se experimenta a leitura de páginas recheadas de histórias

de pessoas comuns, entendidas a partir das bem aventuranças de Jesus Cristo. Tudo

desenvolvido com base no Humanismo e na valorização da Relação de Ajuda.

Em uma das citações, é apresentado (MESTERS; MIRANDA 2010, p.29) “o melhor

livro da Relação de Ajuda que existe no mundo”: a Bíblia. Esta consideração se deve ao

modelo cristão sobre o qual as Escrituras falam. Um exemplo se faz na apresentação das bem-

aventuranças proclamadas por Cristo, que são entendidas como “um resumo bonito e eficaz

das conversas que acompanhavam os conselhos com que o povo procurava ajudar os outros

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para aliviar sua dor, melhorar sua vida.” (MESTERS; MIRANDA, 2010, p.24). Conselhos

antes aprendidos e praticados pelo próprio Cristo, ao longo de sua vida em Nazaré.

Entre valiosos detalhes dessa obra, vale ressaltar os que estão na contracapa e folha de

rosto: a foto de um encontro comunitário entre os residentes da CSS Mosteiro Monte

Carmelo. Essa escolha não foi obra do acaso, mas sim pelo fato dos dois autores conhecerem

a CSS e, em épocas distintas, terem desenvolvidos trabalhos sobre Relação de Ajuda,

solidariedade e outros conhecimentos que permanecem nos comentários das pessoas que

fazem parte dessa comunidade.

4.2 Aconselhamento Pastoral

Cristãos comprometidos correm os riscos da

escuridão, da perseguição, do choque com seus

limites, enquanto vivem sua vida nos paradoxos

das bem-aventuranças. - Karin Wondracek8

Transcorre nas próximas linhas a metodologia que se faz presente na vida de uma

considerável gama de pessoas. Além de se mostrar como um procedimento que atravessa

séculos de existência, ganha adeptos e estudos em distintos grupos cristãos, nos mais

diferentes países.

Ao iniciar tal abordagem, torna-se prudente remeter-se às ações de um homem

reconhecido pela comunidade cristã pela sua significativa conversão, deixando cair por terra

suas convicções, seus valores, após ter ouvido a voz que dizia “Saulo, Saulo, porque me

persegues?” (BÍBLIA, N. T. At 22:7). Palavra dirigida inteiramente a ele, expressando seu

nome e o amor em plenitude num questionamento. Palavras que levaram essa pessoa a uma

profunda transformação em sua visão e fé, levando-o a se tornar o apóstolo Paulo. Em cartas

dirigidas a diferentes comunidades e em suas ações posteriores ele é percebido como um

Curadàlma. Termo designado para quem detinha o poder da cura e atenção para aqueles que

necessitavam.

Por meio das considerações de Krüger (2010b) verifica-se que os conceitos presentes

na Bíblia mostra o ser humano como alguém que necessita de cuidado e, portanto,

8WONDRACEK, Karin H. K. Aconselhamento em Tempos de Barbárie: Sofrimento, Vida e Encarnação,

Estudos Teológicos, p. 285. São Leopoldo v. 50 n. 2 p. 273-287 jul./dez. 2010.

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apresentado na figura da ovelha. As passagens também se remetem ao Deus que cuida. Nos

tempos neotestamentários aparece a figura do Pastor de ovelhas, considerada uma atividade

humilde e desfavorecida da época. Esse título foi adotado por Jesus (BÍBLIA, N. T. Jo 10:1-

30), além de ser delegado a Pedro (BÍBLIA, N. T. Jo 21:16ss) e aparecer no Ato dos

Apóstolos, referindo-se Paulo a pastorear a igreja de Deus (BÍBLIA, N. T. At 20:28). Em

todas essas passagens, pastorear representava acompanhar e exercer o cuidado por completo.

O Acompanhamento Pastoral ocorre por meio do diálogo a partir da visão ampla do

ser humano, o considerando pertencente à comunidade. Todo cristão é chamado a exercer esse

cuidado, independente da sua área de trabalho. Significa que na doença, por exemplo, o

conselheiro não age como médico, mas como ouvidor do sofrimento e incentivador do

tratamento. Como argumenta Wachholz, (2010, p.216) “Se Deus se apresenta de forma

dialogal em Cristo, o aconselhamento somente pode ter essa dimensão, jamais um caráter de

informação e despejo de verdades desencarnadas e opressoras com roupagens bíblicas”.

Na perspectiva de Krüger (2010b), esse cuidado enxerga o todo e oportuniza o

Aconselhamento Pastoral, procedimento definido por diferentes autores, como se segue:

Uma atividade com o objetivo de ajudar os outros em todo e qualquer

aspecto da vida, dentro de um relacionamento de cuidado – Hurding

É um relacionamento interpessoal em que o conselheiro assiste ao

indivíduo em sua totalidade no processo de ajustar-se melhor consigo

mesmo e com seu ambiente – McKinney

É o uso de várias técnicas para uma pessoa ajudar-se a resolver melhor seus conflitos e ajustar sua vida – Narramore

É a arte de ajudar a indivíduos a alcançar objetivos específicos que

satisfaçam as suas necessidades – Nichols - (KRÜGER, 2010b)

Considera-se que não é o conselho que causa impacto, mas sim o conselheiro, a partir

de sua postura e capacidade de “olhar junto com o aconselhando para frente, para a infinitude,

para Deus, e trilhar o caminho de fé. Assim, ambos perceberão que o aconselhamento pastoral

é lugar de reconhecimento da própria finitude.” – Wachholz (2010, p.216).

Em nossos dias o termo aconselhamento encontra-se sendo questionado para definir

tal metodologia. Já o termo pastoral se tornou referência ao trabalho que se limita à igreja, à

alma, a uma parte do ser humano. Atualmente a abordagem está sendo entendida como

direcionamento, de maneira a ser iniciada de maneira não diretiva e, na continuidade do

caminho, ser conduzido para o diretivo.

O Aconselhamento se estende numa dimensão que vai além da palavra que se

expressa, atingindo também o sentimento e os demais teores do ser que, por muitas vezes, se

esconde por trás dessas palavras. É necessário o conselheiro entender o que significa dizer

algo para a pessoa que está a sua frente, conforme esclarece Wachholz, (2010, p.204):

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Dizer é sempre já uma interpretação. Portanto, tem a ver com o tom do dizer, o

olhar ao dizer, as palavras de como dizer. Por isso o conselheiro terá que,

inicialmente, dar-se conta de que precisa “morrer para sua verdade e preconceitos”

ao dizer, afinal, que a verdade não é a sua verdade.

De forma didática e objetiva, Krüger (2010) aborda os requisitos considerados

necessários para o Conselheiro Pastoral. São apresentadas como imprescindíveis as seguintes

competências: Convicções; Coragem; Compaixão; Imparcialidade; Conselheiro (ter alguém

para se aconselhar); Autenticidade; Receptividade com distanciamento; Metacomunicação

(tudo o que é transmitido pelo conselheiro, sendo que apenas 7% é transmitido pela fala); e

Empatia (a sensibilidade do terapeuta com os sentimentos existentes).

As condições para o Conselheiro também são apresentadas por Wondracek (2010,

p.285) ao apresentar a contribuição de Lothar Carlos Hoch, concluindo que:

Olhando de um lado, para os grandes personagens bíblicos, verdadeiros ícones da

fé, nos quais nos inspiramos, e, de outro lado, para a nossa própria fragilidade

diante do tamanho da nossa tarefa de ajudar os outros – convém que, quando vamos

a campo, tenhamos consciência dos nossos próprios limites. Resiliência tem a ver

com superação de limites, tem a ver com teimosia para viver. E é bom que assim

seja.

Essas parecem ser as qualificações necessárias para denominar a pessoa como um

autêntico Curadàlma, um Pastor. Pessoas que a partir de atitudes maduras e saudáveis tornam

possível o trabalho fraterno. O Aconselhamento Pastoral é um dos caminhos que leva a pessoa

ser autônoma em sua caminhada: Atuação diretamente ligada a visão ampla do ser humano e

ao imaginário sobre Deus.

4.3 Psicoterapia Breve

É impossível descrever-se a necessidade imensa

que têm as pessoas de serem realmente ouvidas,

levadas a sério, compreendidas. A Psicologia de

nossos dias nos tem, cada vez mais, chamado a

atenção para esse aspecto. - Paul Tournier9

9 FELDMAN, Clara; MIRANDA, Marcio Lucio de. Construindo a relação de ajuda. p.46. 12ª ed. Belo

Horizonte: Crescer, 2001.

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A palavra psicoterapia tem a sua origem no termo grego therapon que significa servo

e pode ser entendido como: ser útil à psique. O termo foi utilizado pela primeira vez por

Tuke, na Inglaterra em 1872. A partir desse marco histórico, foi desenvolvida uma

multiplicidade de modelos psicoterapêuticos e de conceitos para definir essa abordagem.

Segundo as considerações de Inghilleri (2005, p.1):

A atual variedade de intervenções não permite encontrar uma definição unitária

para o que seria oportuno entender com o termo psicoterapia, atribuindo-lhe um significado compartilhável por qualquer «escola» ou por todos os terapeutas. [...]

porque cada profissional, em última análise, interpreta de modo pessoal a própria

orientação, a aplica de maneira peculiar. Até mesmo a figura profissional do

psicoterapeuta: a sua formação básica, sua formação específica, qual modalidade de

tratamento utilizar e também quais tipos de «distúrbios» podem ser tratados com as

diferentes técnicas, é até agora objeto de discussões, controvérsias e diferenças que

parecem não ter colocado ninguém de acordo”.

Trazendo essa concepção para as abordagens consideradas neste estudo, verifica-se

que para Rogers, por exemplo, a empatia, a aceitação incondicionada e a autenticidade da

parte do psicoterapeuta, são elementos necessários no processo psicoterapêutico. Já para a

Análise Transacional, são importantes: o contrato terapêutico, os conceitos de permissão, de

proteção, de poder e de jogos psicológicos.

Uma constante em meio aos diversos olhares atuais se faz na busca pela resolução.

Seja de um problema, na busca do aprimoramento pessoal, do autoconhecimento, as pessoas

que desenvolvem o processo psicoterapêutico esperam encontrar a respostadas questões que

lhe incomodam. Independente das razões é indiscutível a validade do processo

psicoterapêutico e os benefícios que se obtêm a partir desse trabalho.

Abordando a perspectiva de mudança a partir de um processo psicoterápico em

Comunidade Terapêutica (CT), se percebe que a intervenção possível e adequada é a

psicoterapia de orientação psicodinâmica, também chamada de Psicoterapia Breve. Como

apresenta Leonhard Schlegel (1997/1998, p. 8), este é um trabalho que raramente requer o

tempo exigido pelas demais abordagens clássicas, considerando que:

Em certos casos exige um par de anos e em alguns poucos, apenas uma sessão. Por

essa razão é também conhecida como terapia breve. Alguns terapeutas fixam o

número de sessões como terapia breve. Alguns terapeutas fixam o número de sessões no início, em geral até um teto de trinta sessões.

As referências à realidade, contratos sobre objetivos e estratégias de solução,

desenvolvimento de alternativas comportamentais, mesmo somente como tentativa, são

fatores que determinam o andamento desse trabalho. O autor esclarece que “as alternativas

comportamentais, entretanto, não são indicadas ao paciente de modo autoritário. De

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preferência serão desenvolvidas pelo paciente e não especificamente estimuladas pelo

psicoterapeuta” (SCHLEGEL, 1997/1998, p. 8). Visão que revela a necessidade de cliente e

terapeuta estarem no mesmo patamar de importância, de igualdade em grau de saberes e de

responsabilidades, apenas com papéis diferentes. O espaço adquire um diferencial, uma vez

que a orientação é no sentido de que o cliente e o terapeuta permaneçam sentados um em

frente ao outro.

É nesse cenário terapêutico que ocorre a transformação, como proposta do tratamento.

A importância da psicoterapia em CTs se torna evidente aos profissionais e organizações

competentes no assunto. Um exemplo vem do Instituto NIDA – National Institute On Drug

Abuse, organização mundialmente reconhecida. Ao apresentar os Princípios De Tratamento

Da Dependência Química declara no item 7 que: “Aconselhamento (individual e/ ou em

grupo) e outras terapias comportamentais são componentes cruciais para um tratamento

eficaz.” (COSTA, 2011).

É uma diretriz somada aos conhecimentos de De Leon, reconhecido como a principal

autoridade na pesquisa sobre CTs. Seu livro A Comunidade Terapêutica (2009) veio como

resultado de estudos que, entre outras questões procuraram esclarecer: O que acontece na CT

que influencia os residentes a mudar sua vida? O que são essas mudanças e como elas

ocorrem? A resposta se fez em um dos capítulos denominado O Processo de Mudança. Ao

considerar as várias dimensões do ser humano, o autor afirma que o desenvolvimento e a

dimensão psicológica representam a “evolução do indivíduo como pessoa única, de acordo

com seu crescimento pessoal, sua personalidade e sua função psicológica” (DE LEON, p.

332). Para ocorrer tal evolução, entende como necessária a experiência de cura emocional, a

qual define como:

Amenizar ou reduzir sentimentos de dor e desconforto emocional em suas várias

formas. Medos, raiva, culpas, mágoa, confusão e solidão são exemplos de dores

emocionais comuns a residentes de CTs. Estas são associadas a tensões, pressões,

ameaças circunstanciais específicas e danos psicológicos mais antigos e a

isolamento pessoal e social. Para muitos residentes de CT, o uso de drogas foi o

principal, se não o único meio de reduzir suas dores emocionais. Assim, sem o alívio das dores emocionais ou a aprendizagem de como tolerar esses sentimentos,

a extensão ou estabilidade da mudança individual geral permanece limitada. (ibid.,

p. 347)

Considerando essas informações, se torna evidente a necessidade do Processo

Psicoterapêutico em CTs. Como De Leon conclui, a pessoa se transformar integralmente

“significa integrar os comportamentos, cognições, emoções, experiências e percepções do

individuo”. (ibid., p. 371)

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O que se diferencia nas CTs profissionalizadas são apenas as formas de abordagem.

Enquanto o modelo de Psicoterapia Centrada na Pessoa, acredita que a mudança consiste em

chegar à consciência do Eu genuíno e à realização plena de si, a Análise Transacional procura

recuperar a capacidade da pessoa perceber os acontecimentos com objetividade, além de

recuperar sua espontaneidade e intimidade, adquirindo autonomia em relação ao seu Script de

vida.Para o modelo Existencial, mudar significa ser mais consciente das próprias capacidades

e responsabilidade de escolha e de crescimento. Em suma, adquirir a liberdade e se tornar de e

responsável, guiando o sentido da própria vida.

Outra particularidade é verificada nas psicoterapias em CT. Para quem já teve essa

experiência, fica evidente que não é possível conceber esse trabalho da mesma forma como se

procede na rotina do consultório particular, por exemplo. As diferenças são evidentes e

necessárias de serem explicitadas, assim como faz Rolf Kruger (2011):

No atendimento psicológico nós não temos vida social com o terapeuta. Na CT já

existe essa vida social: eles percebem todas as nossas atitudes. O psicólogo fica

exposto. A grande vantagem aqui é o fato de que é necessário estar primeiro a

minha pessoa, para depois o que eu faço. Aqui o risco é entrar na doença do outro.

Esse fato que já existe em consultório, na CT é mais intenso. Ocorre algumas vezes

fuga, em razão desse risco: a pessoa pode se tornar uma geladeira, ou então levar

tudo na brincadeira, entre outras possibilidades. Por isso, no começo é necessário

ter cuidado, ter consciência do que estou fazendo a cada momento dentro da CT.

Nesse sentido, nosso comentário vai convidar ou vai afastar as pessoas para a

terapia. Temos a vantagem de cuidar melhor de nosso comportamento ético. Não precisamos ser uma imagem de perfeição, precisamos ser natural, mas fazer de tudo

para não quebrar nossa confiabilidade.

As informações acima relatadas sobre processo psicoterapêutico, ao serem olhadas por

outro prisma, relatam conteúdos valorizados e incentivados na rotina da CSS desde a sua

concepção. Na CSS Mosteiro Monte Carmelo, por exemplo, se encontra naturalmente três

profissionais de psicologia formando uma equipe responsável pelo atendimento de todos os

residentes, que representam em torno de 80 pessoas. É apenas um fato, masque pode ser

entendido como um ícone que representa realidades similares que trabalham na saúde integral

do ser humano e precisam de valorização de seus métodos.

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5 METODOLOGIA DA PESQUISA

O vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é

diferente em cada folha; somente a árvore seca

fica imóvel entre borboletas e pássaros. - Cecília

Meireles10

5.1 Formulação do problema

Esta leitura científica busca responder a seguinte questão: A Escuta Terapêutica

desenvolvida na Associação CSS se identifica por meio de quais aportes teóricos da

psicologia humanista?

Algumas hipóteses, baseadas nos objetivos específicos do trabalho e que aproximam a

psicologia aplicada e a realidade da Comunidade Terapêutica Associação CSS, orientam o

processo de pesquisa da seguinte maneira:

a. Quais as abordagens da psicologia humanista se aproximam da prática da

Escuta Terapêutica desenvolvida com dependentes químicos e/ou alcoólicos na

Associação CSS?

b. É possível identificar a Escuta Terapêutica em questão por meio de uma linha

específica da psicologia humanista ou essa intervenção consiste na soma de

diferentes abordagens?

c. Quais intervenções da Escuta Terapêutica aplicada à realidade da dependência

química nesse contexto institucional auxiliam na melhoria da saúde mental do

indivíduo?

d. A Escuta Terapêutica pode ser reduzida à análise da psicologia humanista ou

sua abordagem abrange também outras áreas do conhecimento como Teologia

e Filosofia, por exemplo?

e. É possível sistematizar a Escuta Terapêutica ou esse trabalho é distinto em

suas diferentes aplicações por meio das diversas pessoas, em distintos lugares

que a desenvolvem, uma vez que não há padronização até o momento?

f. Uma vez definida essa padronização, quais as reais possibilidades desse

método ser utilizado nas diferentes realidades que compõem as Casas da CSS?

10FALCÃO, Guilherme. Disciplina: Teorias Humanas e Existencialistas ministrada no curso de Pós Graduação

em Dependência Química da FLT. 24 de abril de 2010.

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5.2 Delineamento da pesquisa

A técnica utilizada para este estudo consiste em pesquisa qualitativa transversal. Seu

desenvolvimento se fez com observação direta, pesquisa de campo e entrevistas. Foi

desenvolvido um questionário semiestruturado para essa finalidade, o qual foi utilizado com

todas as pessoas. A escolha de cada um passou pelo critério de exercerem papéis relevantes na

Associação CSS. Os relatos foram desenvolvidos nas casas das regionais de Curitiba e

Paranavaí, gravados com o devido consentimento pessoal e, na sequência, reunidos e

estudados para compor a presente pesquisa. Iniciou-se a entrevista com a diretoria da

instituição para, em seguida, desenvolvê-la com os psicólogos, coordenadores, terapeutas da

Escuta Terapêutica e residentes em processo de recuperação.

Os objetivos desta ação consistiram em:

a. Sistematizar a pesquisa de campo sobre a prática da Escuta Terapêutica realizada

na Associação Casas do Servo Sofredor, Paraná, verificando os procedimentos

tomados e os passos que fazem parte do desenvolvimento desse trabalho.

b. Reunir informações daqueles que detêm o conhecimento empírico sobre a Escuta

Terapêutica, dos que iniciaram e idealizaram esse trabalho e de quem o realiza

atualmente.

c. Propiciar o encontro entre os fatos ocorridos na Escuta Terapêutica da Associação

Casas do Servo Sofredor e as contribuições da psicologia humanista procurando

similaridades e aproximações entre esses dois conhecimentos.

d. Identificar de forma ordenada como se realiza a Escuta Terapêutica da

Associação Casas do Servo Sofredor por meio das bases humanistas da

psicologia.

5.3 Quadro de análise

Trata-se aqui de um instrumento elaborado para atender um dos objetivos específicos

deste estudo que é: Propiciar o encontro entre os fatos ocorridos na Escuta Terapêutica da

Associação Casas do Servo Sofredor e as contribuições da psicologia humanista procurando

similaridades e aproximações entre esses dois conhecimentos.

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Optou-se por desenvolver o quadro de análise que se compõe com os temas

trabalhados, o roteiro das entrevistas realizadas e as respostas obtidas, apresentadas ao lado

das hipóteses e informações já descritas anteriormente, que representam o foco deste estudo.

Se expõe da seguinte forma:

Tema Questão Relação com as hipóteses e informações pesquisadas:

1. História do

entrevistado com a

Associação CSS

1.1. Desde quando conhece a Associação CSS? Identificação do vínculo do entrevistado com a CSS.

1.2. Como foi a trajetória de cargos e/ou papeis na

Associação CSS e data que iniciou?

Identificação da trajetória do Entrevistado na CSS e na

Escuta Terapêutica.

1.3. Tarefas que exerce na Associação CSS e data que

iniciou?

Identificação das diferentes atividades que fazem parte da

rotina do Entrevistado na CSS e no acompanhamento da

Escuta Terapêutica.

1.4. Como passou a exercer a Escuta Terapêutica? –

somente para os terapeutas da Escuta.

Identificação da forma como o Entrevistado passou a fazer

parte da Escuta Terapêutica.

2. História da

Escuta Terapêutica

da CSS –Diretoria,

Coordenadores e

Psicólogos.

2.1. Quando a Escuta Terapêutica foi iniciada na CSS? Mapeamento do conhecimento empírico sobre a Escuta

Terapêutica da CSS, reunindo informações daqueles que

iniciaram e idealizaram esse trabalho e daqueles que o

realizam atualmente.

2.2. Por meio de quem e como?

Mapeamento do conhecimento empírico sobre a Escuta

Terapêutica da CSS, reunindo informações daqueles que

iniciaram e idealizaram esse trabalho e daqueles que o

realizam atualmente.

2.3. Ao longo da história da CSS, o que vem ocorrendo

com a Escuta Terapêutica?

Mapeamento do conhecimento empírico sobre a Escuta

Terapêutica da CSS, reunindo informações daqueles que

iniciaram e idealizaram esse trabalho e daqueles que o

realizam atualmente.

2.4. Em meio aos demais procedimentos terapêuticos

da CSS, qual a contribuição da Escuta Terapêutica?

Contribuição atual da Escuta Terapêutica no contexto da

CSS.

3. Percepção da

Psicologia da CSS –

Diretoria,

Psicólogos e

Estagiários.

3.1. Como você vê a psicologia da CSS? Aproxima-se

de alguma teoria ou conhecimento psicológico que

você conhece?

Identificação de forma ordenada de como se realiza a

Psicoterapia e a Escuta Terapêutica da CSS por meio das

bases humanistas da psicologia.

3.2. Quais as abordagens da psicologia humanista se

aproximam da prática da Escuta Terapêutica

desenvolvida na Associação CSS?

Identificação de forma ordenada de como se realiza a

Psicoterapia e a Escuta Terapêutica da CSS por meio das

bases humanistas da psicologia.

3.3. É possível identificar a Escuta Terapêutica por

meio de uma linha específica da psicologia humanista

ou essa intervenção consiste na soma de diferentes

abordagens?

Identificação de forma ordenada de como se realiza a

Psicoterapia e a Escuta Terapêutica da CSS por meio das

bases humanistas da psicologia.

3.4. A Escuta Terapêutica pode ser reduzida à análise

da psicologia humanista ou sua abordagem abrange

também outras áreas do conhecimento como Teologia

e Filosofia, por exemplo?

Identificação das abordagens utilizadas, diferenciando-as

entre Relação de Ajuda, Aconselhamento Pastoral e

Psicoterapia Breve.

4. Percepção da

Escuta Terapêutica

da CSS

4.1. Quantas Escutas Terapêuticas realiza

semanalmente?

Relevância quantitativa das respostas do entrevistado.

4.2. Para você o que é a Escuta Terapêutica da CSS? Identificação das abordagens utilizadas, diferenciando-as

entre Relação de Ajuda, Aconselhamento Pastoral e

Psicoterapia Breve.

4.3. O que o Escutador faz que auxilia na melhoria da

saúde da pessoa?

Identificação das abordagens utilizadas, diferenciando-as

entre Relação de Ajuda, Aconselhamento Pastoral e

Psicoterapia Breve.

4.4. Em que aspectos aparecem as melhoras na saúde

da pessoa?

Quais intervenções da Escuta Terapêutica aplicada à

realidade da dependência química nesse contexto

institucional auxiliam na melhoria da saúde do indivíduo?

4.5. É possível dizer que a Escuta Terapêutica da CSS

possui uma unidade ou esse trabalho é distinto nas

Casas por meio das diversas pessoas que a

desenvolvem, uma vez que não há padronização?

Identificação de possíveis diferenças de abordagens nas

várias Casas que constituem a CSS.

5. Expectativas

sobre a Escuta

Terapêutica da

CSS

5.1. Uma vez definida a padronização da Escuta

Terapêutica da CSS, quais as possibilidades desse

método ser utilizado nas diferentes realidades que

compõem as Casas da CSS?

Informações que podem contribuir para a sistematização da

Escuta Terapêutica.

5.2. O que é para você a Escuta Terapêutica ideal na

CSS?

Informações que podem contribuir para a sistematização e

melhorias da Escuta Terapêutica.

Quadro 3 - Quadro de Análise - Roteiro de Entrevista conciliado com as hipóteses e informações pesquisadas.

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6 ENCONTRO: ASSOCIAÇÃO CSS E PSICOLOGIA HUMANISTA

O encontro entre os fatos ocorridos nos processos terapêuticos da Associação CSS e os

subsídios da psicologia humanista é o objetivo deste tópico. Busca-se similaridades e

aproximações entre esses dois conhecimentos e, na sequência, sistematizar de forma ordenada

esses processos.

6.1. Apalavra da CSS sobre seus processos terapêuticos

Nossa filosofia é ajudar a quem quer se ajudar.

Frei Chico, O.C.11

Por meio dos dados obtidos na pesquisa de campo, apresenta-se o conhecimento

empírico dos processos da Associação CSS. São consideradas a psicoterapia e Escuta

Terapêutica, a partir deste ponto identificada por ET, de maneira a reunir informações

daqueles que iniciaram e idealizaram esse trabalho, bem como, dos que o realizam

atualmente.Essas informações se apresentam na mesma sequência de questões e assuntos

explanados com as pessoas entrevistadas.

Iniciadas no dia 02 de dezembro de 2011, as primeiras entrevistas aconteceram na CSS

Mosteiro Monte Carmelo. Fazia um dia frio de primavera, atípico para essa época do ano,

porém comum ao se tratar de Curitiba, em meio às diversas temperaturas e intercorrências que

se apresentam num curto espaço de tempo. Em meio a essa inconstância, num lugar repleto

das instabilidades apresentadas por seus residentes, se fez no ar as vozes dos entrevistados e,

ao fundo, o belo canto de uma diversidade de pássaros, em perfeita sintonia. Efeitos

especiais? Certamente que sim, elaborados com especial cuidado pela natureza do ambiente,

pelas incontáveis ações benéficas que se obtêm quando alguém se propõe a Escutar,

simplesmente. Escutar as palavras, perceber os gestos, considerar as ênfases que, aos poucos,

deixam revelar o que se entende por verdade, crença, sentimentos. Todos esses elementos

necessários quando se procura compreender a totalidade que flui nesse lugar em que, mesmo

na ausência do sol, oferece sua brisa, suas folhas que brilham, seus pássaros a perseverar em

seus dons junto àqueles que se colocam a serviço do mistério da vida.

11CHICO, Frei. Placa de madeira. In: CSS Mosteiro Monte Carmelo. Curitiba.

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6.1.1. O vínculo das pessoas entrevistadas com a Associação CSS

Entre algumas cidades, climas, estações, idades e opiniões, as entrevistas se

desenvolveram ao todo com 19 pessoas, que compõem a amostra do que acontece na

Associação. Cada um desses encontros realizado durante 1h e 30min, em média, reunindo os

entrevistados, a pesquisadora, o tema e instrumentos de estudo. Todas as entrevistas

representam significativas vivências e olhares sobre o cotidiano da CSS. São pessoas que

assumem papéis distintos, representadas da seguinte forma:

a. Quatro entrevistas com gestores da Associação.

b. Duas entrevistas com profissionais de psicologia das diferentes regionais.

c. Seis entrevistas com pessoas voluntárias na Escuta Terapêutica que, no total,

representam o trabalho desenvolvido em três casas da CSS.

d. Quatro entrevistas com atuais colaboradores que passaram pelo processo de

tratamento na CSS a alguns anos.

e. Três entrevistas com residentes em processo de recuperação, a mais de cinco

meses na Casa.

O conhecimento dessas pessoas com relação à CSS varia num período que vai de

dezenove a três anos de trabalho e/ou vivência. A trajetória de seus cargos ou papéis, em sua

maioria, se deu inicialmente de forma voluntária, pelo próprio caráter da Associação. Entre

colaboradores e pessoas que buscaram tratamento, se manifestam como exemplos de

identificação com a causa e de gratidão pelo bem estar encontrado. Alguns dedicam sua vida

para esse trabalho. Outros, algumas horas durante a semana. Todos, sem exceção,

descobriram um nobre sentido no que fazem.

6.1.2. Origem e desenvolvimento da proposta terapêutica da CSS

As informações obtidas com a diretoria, coordenadores e profissionais de psicologia

da CSS são apresentadas em seguida. As entrevistas são consideradas a partir do relato de Frei

Chico, fundador da Associação, ao contar que:

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Desde o início a Escuta Terapêutica fez parte. Eu lembro que a primeira pessoa que

escutou os alcoólatras de rua fui eu mesmo. Fiquei alguns anos escutando os

favelados. Depois eu vi que alguns líderes daqueles da favela estavam pela rua no

Centro da cidade, no Guadalupe, na rodoviária. Num primeiro momento eram os

menores de rua que a gente começou escutando. Depois fomos escutar os

alcoólatras que estavam caídos ali que eram amigos nossos, que conhecemos na

favela ou que eram filhos de amigos nossos. Depois eles foram para a Casa, quando

compramos e uma das consciências da gente é que teria que escutar a história de

cada um. A gente escutava e fazia reuniões de grupo.

A partir desses fatos vem ocorrendo mudanças e ações que revelam a gradativa

estruturação da proposta terapêutica da CSS. Frei Chico descreve esse caminho percorrido:

A gente viu que era importante escolher pessoas para a Escuta Terapêutica (ET) e

foi quando a gente começou a estruturar. No princípio foram os estudantes nossos

que foram para a ET, depois a gente viu que precisava convidar pessoas de fora,

com outra visão. O Frei Teodoro entrou e o objetivo dele, além da organização da

casa, era escutar. A gente foi treinando ele melhor para a ET. Depois fomos

estruturando melhor quando viemos para o Mosteiro. Começamos a convidar

psicólogos também para ajudar e foi aí que veio o Márcio de Belo Horizonte. A

gente fez um treinamento para essa Escuta. Foi quando nos convencemos que um

dos elementos para ajudar no tratamento é escutar os sofrimentos, as dores, as

angústias, decepções, as alegrias daqueles que vem de uma situação de sofrimento. Tanto cresce a gente quanto eles. É uma via de mão dupla, tanto a gente ganha

como eles ganham.

Valorizar os conhecimentos profissionais e os resultados cotidianos dessa proposta se

mostraram como pontos fundamentais para as melhorias que ocorreram na sequência.

Instrumento que visivelmente ajudou a trabalhar a dependência química, a Escuta Terapêutica

trouxe sua contribuição em meio às demais propostas de tratamento da CSS. Ainda que não

seja entendida por profissionais que permanecem no entorno da Associação, esta abordagem

recebe seu reconhecimento, como se percebe nas considerações de Frei Chico:

A gente vem se convencendo cada vez mais que a ET é o elemento central do

tratamento. Cresceu, ao longo desses anos, a convicção, o conhecimento.

Cresceram também as pessoas que estão na ET, dando uma contribuição profunda

no tratamento. A gente percebe a estruturação, a organização. Percebemos também

algumas pessoas que escreveram alguns trabalhos nesse sentido, dão o testemunho

de que foi um crescimento para elas mesmas. Por isso que eu digo que é uma mão dupla. A gente percebe que é um elemento essencial na Casa, que devemos

estruturar melhor.

A percepção de quem realiza a Escuta Terapêutica e psicologia da CSS nos dias atuais

também permanece com essa visão. As intervenções aplicadas se revelam como

procedimentos fundamentais na promoção da saúde mental dos residentes. Esta é uma

constatação que se construiu durante todo o desenvolvimento deste estudo. Pareceres

frequentes nesse sentido são exemplificados no seguinte relato de um residente:

O primeiro internamento foi bem doído, pesado e a ET é um desabafo que a gente

tem. Eu gosto, me sinto bem fazendo ET. Sofri muito no primeiro, mas foi bom

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porque tive a psicóloga me ajudando nesse momento. Acho essencial esse trabalho

numa casa de recuperação.

Já outros profissionais que acompanham a ET durante anos, a consideram como

fundamental na Associação. Esta foi a opinião demonstrada por todas as pessoas

entrevistadas, presente em expressões como esta:

A ET é um dos diferenciais positivos da Casa. A partir do momento que foi

colocada como parte da metodologia, foi uma decisão muito acertada. Não consigo

ver a CSS atendendo as pessoas sem a ET, não teria como. As outras terapias são

importantes, mas a ET dá uma contribuição excepcional para as pessoas que estão

em tratamento.

6.1.3. Percepção da psicologia da CSS

A proposta terapêutica da CSS se aproxima de teorias psicológicas?Com o objetivo de

se chegar a essa resposta, apresenta-se as considerações do grupo de pessoas que atuam e

acompanham diretamente os processos psicoterapêuticos da CSS.

As pesquisas e relato das pessoas envolvidas, sem exceção, evidenciam o caráter

existencialista proposto no início deste estudo e demonstram a valorização do ser humano e

de tudo o que faz parte de sua vida. Princípio do humanismo presente no cotidiano da CSS,

que se apresenta, por exemplo, neste relato de uma de suas profissionais de psicologia:

O que faço? Atender em baixo da arvore, na porta do refeitório, quando chamam

para conversar eu sempre vou. Para algum que está lá na UD (Unidade de

Desintoxicação), que não tem condições de levantar, então eu vou sento na cama

do vizinho e converso com ele ali. Onde é possível. Onde é necessário e possível. É

necessário ali? É! Então vamos lá e vamos ver o que é possível.

Essa valorização do ser humano se confirma em pessoas que permaneceram ausentes

de compreensão em determinada fase da vida e depois tiveram à sua frente alguém com o

propósito de ser o seu terapeuta. Aqui não se fala apenas de algumas situações, mas sim no

que se faz comum em vidas que estão em nossa sociedade e que precisam de uma escuta

atenta. Uma dessas vidas, residente da CSS, afirma que:

Esse é o grande prazer que eu tenho na Escuta: É eu poder falar sem que me venha

um retorno pejorativo, me julgando. A Escuta também é para aliviar o peso das

descobertas que a gente tem aqui dentro. Quando a gente começa a descobrir o

verdadeiro eu, é claro que tem muita coisa boa. Também é uma coisa que a gente

gosta de poder compartilhar, de dizer: Poxa, eu descobri que tenho um bom coração

e quando for mostrar isso, mostrar em forma de ação. É um momento para poder

dizer isso. – Residente da CSS.

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Relato de um profissional de psicologia que atua nessa realidade, esclarece que seu

trabalho acontece de maneira a:

(...) encarar o outro com o devido valor que ele precisa ter e eu até procuro a olhar a

pessoa com os olhos dela e não com o meu. Isso me permite fazer um atendimento

não só mais humano, mas também no sentido de fraternidade, de compartilhar.

Porque a gente passa a fazer parte da vida deles e eles da nossa também, porque o

que eles trazem de conteúdo deles. Nossa! É uma lição de vida a cada trinta minutos, que a gente recebe.

Ainda que a psicologia da CSS e ET não estivesse sistematizada até o momento, sua

aplicação revela um trabalho de embasamento claro desde que foi iniciado.As bases

conseguem aproximar o viver carmelitano do que Feldman e Miranda (2001, p.21)

denominam como pessoas significativas.Entende-se que para: “Viver com o coração puro e a

consciência reta, para que no serviço a gente possa contemplar o rosto de Cristo no irmão”

(CARISMA CARMELITANO, 2011) torna-se necessário colocar em prática as habilidades

interpessoais de: aceitação incondicional,confrontação para melhor, concreticidade, ver,

ouvir com imediaticidade transparência, valorização e empatia. Em sua descrição, Frei Chico

explica que:

A gente tem como modelo o profeta Elias e Maria, da qual a gente busca o exemplo

do silêncio e do serviço silencioso. No profeta a gente busca a contemplação do

rosto do Deus vivo e isso deve aparecer no trabalho. O serviço por si só deve falar

isso para o mundo. Outra coisa que influencia é a própria Palavra de Deus. A gente

lê aqui no dia-a-dia e isso vai influenciando. A Palavra vai levando para esses

caminhos de fraternidade, de solidariedade, de busca do Deus amoroso. [...]

Quando a gente olha para Jesus Cristo como filho de Deus encarnado, Ele também

vem com esse profetismo, essa visão libertadora.

Falando em modelos, considera-se necessário colocar em pauta a diferença entre a

psicoterapia e a ET, uma vez que são termos facilmente confundidos na própria Associação.

Aparecem entre as propostas da Casa algumas vezes como uma terapia só. No entanto, a visão

de quem concebeu esse trabalho deixa clara a distinção:

A ET a psicoterapia têm diferenças. Até porque os psicólogos tem o conhecimento técnico. Os voluntários estão isentos da ciência e agem muito mais na naturalidade

da vida. Vai sempre haver as diferenças. O teórico ilumina a realidade. Quem pode

ajudar os leigos são os técnicos. No aconselhamento, por exemplo, mesmo os

psicólogos que estão terminando o curso ficam no conselho. O leigo cai muito fácil

na manipulação, não percebe. A necessidade que o doente cria se torna para o leigo

algo sentimental. Ele entra na frustração se não satisfazer a manipulação do

dependente por não ser profissional. Se sente responsável pela resolução daquele

problema, quando a necessidade é escutar. Os escutadores vêm para escutar. Com

os psicólogos é mais claro, mas nem todos. Eu vejo alguns que estão iniciando ou

estagiários e eu falo a partir da Escuta que eu faço com o dependente depois. Isso

não deve fazer parte da ET. A ET é terapêutica porque é para escutar, isso é terapêutico. Resolver o problema não é terapêutico, isso é fazer o jogo que a família

entrou que é fazer a vontade do dependente, que a sociedade às vezes também

entra. – Frei Chico.

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Terapêuticas distintas, modalidade de tratamento semelhante. São informações como

essas que revelam o momento pelo qual a proposta psicoterapêutica da CSS está passando.

Segundo parecer dos profissionais da área é um trabalho que recebe influência “com certeza

das teorias humanistas.” – Profissional de Psicologia. As opiniões dos profissionais são no

sentido de considerar a fase da CSS com relação a esse assunto:

A Psicologia está em construção. Nós não temos a psicologia da Associação, pois

cada um tem a sua. Nós temos uma característica na instituição que é a ET, mas a abordagem não. [...] A maioria das Comunidades Terapêuticas estão se

estruturando agora. Acho que estamos caminhando. – Profissional de Psicologia.

Entendendo que o momento passa por essa mencionada construção, questiona-se:

Quais as abordagens da psicologia humanista se aproximam da prática da Escuta Terapêutica

desenvolvida na Associação CSS? Opiniões expressas por gestores e profissionais de

psicologia dão conta de que “O método da Associação é totalmente voltado para o humano”.

Em uma das entrevistas, ocorre esta afirmação:

Percebo que, por enquanto, veio de uma junção de várias teorias. Desde o início foi

se aproveitando o conhecimento de cada psicólogo com seu método, seu

conhecimento. Depois cresceu e a gente abraçou a metodologia do counseling com o Márcio, quando ele veio. Tende a crescer nessa direção, aproveitando toda

experiência do Márcio e toda metodologia dele. Vai se caminhando para que a

gente não vá perdendo a direção. Ter algo próprio: É o esforço que estamos

fazendo, buscando mais a linha do Carl Rogers.

É nesse contexto que vai clareando a identificação das bases da Escuta Terapêutica. As

diferentes abordagens da psicologia humanista aparecem também como sustentação do

tratamento, conforme se descreve nos seguintes relatos dos profissionais que desenvolvem

psicoterapia e outros que realizam ET: “É uma realidade que se utiliza de recursos de forma

sistêmica, comunitária” ou ainda “Parece-me pertinente usar a linha proposta por Márcio

Miranda e a Análise transacional por esta apresentar ferramentas eficazes no processo

terapêutico”. Fragmentos que exemplificam as opiniões manifestadas, onde aparecem várias

áreas do conhecimento sendo reconhecidas na proposta terapêutica da CSS. Uma expansão

nesse significado se faz na visão de Frei Chico, ao afirmar que:

Psicologicamente falando, a gente vai muito dentro da linha do Carl Rogers. Mais

aí a gente vai vendo que tem influência da metodologia do Paulo Freire, de uma

teologia que a gente pode chamar de Teologia da Libertação que veio influenciando

o pensamento latino americano. Também há uma influência da antropologia latino-

americana. Há algo novo, relações novas nesse mundo. Tenta se pegar o homem

latino americano e trabalhar a partir de suas angustias, suas necessidades

psicológicas, teológicas, filosóficas. A política também influencia, pois é uma

política de mais transparência, mais ética dentro do trabalho que a gente tem aqui, procurando trabalhar no homem uma concepção dos seus valores, direitos e

deveres. Também influencia a questão da própria natureza. A gente trabalha essa

natureza, valorizando como um elemento da pedagogia das Casas dos Servos.

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Múltiplos conhecimentos e referências. Como afirma um dos voluntários da ET “Está

tudo interligado” e a sintonia desta visão parece permear entre os demais terapeutas da ET,

como se verifica na seguinte afirmação:

Pelas minhas crenças e convicções eu não tenho como separar a psicologia da

filosofia e da teologia. Uma coisa está atrelada a outra. Não tem como separar a

essência. E o que é a essência se não Deus na vida da gente? Eu posso atender

(como psicóloga) baseada numa abordagem científica. Tudo certinho! Mas eu não

tenho como abrir mão da filosofia e da teologia.

São visões como essas que enriquecem a abordagem terapêutica que pode ser

considerada como uma simples conversa de meia hora. Para quem concebeu e para aqueles

que atuam nesse trabalho, a visão multidisciplinar aparece valorizada na maioria dos relatos.

6.1.4. Percepção da Escuta Terapêutica da CSS

Os chamados terapeutas da Escuta realizam semanalmente seu trabalho. A quantia se

apresenta de acordo com cada uma das Casas e sua respectiva região, variando de três até seis

atendimentos individuais.

Ao serem questionados sobre o que é a Escuta Terapêutica da CSS, emitiram respostas

que não podem ser apresentadas aqui em sua totalidade, uma vez que expressões, gestos e o

brilho no olhar falam mais do que muitas palavras. Mas na tentativa de descrever, ainda que

seja de forma parcial, pode-se afirmar que foram sorrisos, olhares para o infinito e ênfases em

seus traços e suas declarações. Manifestações que pareciam expressar uma valiosa atribuição

que faz parte de cada um deles, exemplificadas nas seguintes respostas:

É uma ferramenta de trabalho maravilhosa. Com a ET se tem muito mais

possibilidades de melhorar o tratamento para eles. Você vai conversando, vai

conhecendo a pessoa e mesmo que seja aquele atendimento focal, naquele

momento. Porque não vai ser um processo terapêutico, pois a gente nem sabe se eles vão ficar o tempo que precisam aqui. Mas ela é de muita ajuda porque naquele

momento aquilo que você houve, você pode ajudar a pessoa a pensar, a elaborar,

encontrar respostas. Isso dá uma sustentação melhor para eles, para levar o

tratamento adiante. Contribui, ao meu ver, para a adesão deles ao tratamento.

É no sentido de levar eles a meditar sobre essa vida que eles têm levado até agora.

Quando eu venho para cá eu faço um propósito de me colocar na mão de Deus para

que Ele possa através de mim fazer um bem, ouvir tudo aquilo que ele tem para

falar para a gente. Porque alguns têm dificuldade, outros têm uma facilidade maior,

mas eles enfrentam problemas. A gente não tem a formação acadêmica, mas a gente

pode, dando esse tempo para eles, a gente pode estar ajudando de alguma forma.

A oportunidade para o residente desenvolver sua autoconsciência,

autoconhecimento, fortalecendo seu processo de sobriedade.

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Para os residentes entrevistados, as definições assim se apresentam:

A ET é uma experiência que dificilmente eu vou ter alguma coisa parecida.

Dificilmente eu vou esquecer, foi uma mudança de ares. O caminho para isso acontecer eu encontrei aqui. Eu vi [...] que a maioria das dificuldades são resolvidas

quando eu começo olhar para dentro de mim mesmo. Quando a gente começa a

conversar na ET, a gente começa a ver que não é o outro, não é a família. Você

começa ver que é dentro de você que tem que mexer, tem que mudar. É dentro de

você que você pode mudar, e muitas vezes na ET você consegue falar isso.

Em comum, o grupo manifesta a confiança na ET e a entende como o momento de

poderem falar abertamente e “...que faz agente sair bem”, conclui um dos que são escutados.

Diferente dos terapeutas e residentes, é o acompanhamento dos gestores com relação à

ET, uma vez que eles possuem o olhar de quem vê esse procedimento de fora. Visões

discordantes? Pelo contrário! Se encontra valor e definição semelhante na totalidade dos

relatos que, em sua essência, se apresentam como estes:

Hoje seria como que o ar que a gente respira. Sem a ET a gente não consegue mais

o trabalho nosso. Parece que a ET tornou-se como o oxigênio da respiração das

Casas.

Quase sempre ele (residente) não sabe o que é. Eu explico que é um momento que

ele vai ter alguém treinado para escutar. É no sentido de se trabalhar mesmo. E a

gente percebe que toda vez que consegue colocar essas coisas para fora, sente um

alívio muito grande. Tento passar nesse sentido, além de ser um momento em que o

escutando pode também receber alguma orientação, alguma sugestão.

Ferramenta importante no tratamento, “oxigênio de respiração das Casas”. Com essa

comparação, pode-se afirmar que os terapeutas da Escuta estão frente a responsabilidade de

prover esse “oxigênio”. O que eles precisam fazer para contribuir nesse sentido? Como

auxiliar na melhoria da saúde da pessoa que busca recuperação? Segundo depoimentos dos

próprios Terapeutas, seus atendimentos buscam proporcionar “... um tempo para que a pessoa

olhe para dentro de si e descubra novas opções de vida”. Outras considerações se remetem ao

trabalho voltado para o sentido da vida e a felicidade do residente. Em todas as respostas,

aparece a necessidade de estar à disposição ou de se colocar à serviço:

Eu acho que é essa atitude receptiva que a gente tem, de estar pronta para ouvir sem

nenhuma crítica, sem nenhum julgamento. Então eles vêm para cá sabendo que eles

podem falar, que eles vão ser acolhidos, ouvidos e que não vai haver nenhuma

condenação. Isso, acredito, repercute até em abaixar a ansiedade deles, de trazer

mais autonomia, serenidade. Isso ajuda bastante.

A gente se dispor a ouvir alguém que tem algum problema e quer partilhar isso. A gente tem que se portar de uma forma que ele se sinta a vontade para poder

partilhar. É a gente se pôr de um modo franco, aberto, se pôr à disposição de ouvir

o que a pessoa tem a dizer. A gente não vai querer dar uma receita, quem somos

nós? De alguma forma, levar as pessoas a perceber essas feridas.

Dentro da história dele, da leitura dele, eu posso mostrar o outro lado que ele ainda

não viu. Abrir um outro leque que ele naquele momento, não viu que existia. Por

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exemplo, quando chegam eles não tem socialização [...]. A nossa ET faz com ele

comece a trabalhar a ele próprio, leva ao autoconhecimento, a começar olhar o

outro e tirar a visão do próprio umbigo e ver que os outros também sofrem.

Tão importante quanto essas palavras, são as impressões daqueles que são convidados

a falarem de si. Como os residentes veem as pessoas que se colocam à sua frente para escutá-

los? Os entrevistados que passam por essa experiência entendem que o Terapeuta proporciona

algo de bom a eles. São valorizadas as ações como a doação de tempo, disposição, escuta sem

julgamento, entre outros, exemplificados nesta fala:

Primeiro a liberdade. Independente do que eu faça ou fale, não há um

questionamento, não há uma repreensão. Acho que é o mais importante porque a

gente se sente a vontade para poder falar as coisas, acaba tendo confiança. Também

é fundamental o outro ponto de vista. A gente, que é usuário, acaba tendo uma

visão um pouco mais conturbada, problemática. Outra pessoa vendo por outro

ângulo, ela ajuda de uma forma a encontrar uma solução, um alívio.

Opiniões atuais que se mostram em sintonia com os fundamentos da pessoa que

concebeu esse trabalho na CSS. Frei Chico entende a ação do terapeuta de forma que:

O papel seria escutar realmente as pessoas e fazer o máximo de silêncio para que, a

partir do nosso silêncio, a pessoa pudesse então perceber que tem alguém diante

dela querendo escutar e aí ela conseguir abrir-se. Às vezes se tem a dificuldade de

falar e também de se confiar. Se vou ser compreendido, se não vou ser depois

debochado, pois acho que minha história pode ser ridícula diante do outro. As

vezes a gente vê pessoas que buscam ser transparentes num mundo em que a gente

vê que não tem tanta transparência. E é muito difícil. Por isso que o Escutador deve escutar e respeitar mesmo que o outro diga possa ser absurdo para ele. Ele está aí

para respeitar o absurdo do outro.

Com base em expressões como essas, se vê acontecer na ET mais do que um diálogo

semanal. Para ambos os lados se evidencia um momento esperado, uma relação de confiança,

o envolvimento intenso das pessoas que estão frente a frente.

Aparecem melhorias na saúde da pessoa a partir dessa maneira de se relacionar?Nesse

quesito as opiniões são unânimes. As informações levantadas apontam para avanços

importantes nesse sentido:

O que a gente percebe é que as pessoas chegam aqui confusas, quebradas. Com a

ET, a gente percebe que a pessoa vai entrando em um ambiente de centralidade.

Ficam mais centradas no tratamento, na questão espiritual, na laborterapia, naquilo

que eles vão falar e conversar com o outro. [...] Eles ficam mais humanos uns com

os outros. Quando eles chegam, antes das Escutas, a gente vê que as respostas são

mais bruscas, duras, tem desconfiança, não acreditam no tratamento. Depois a gente vê que eles passam a acreditar no tratamento, a dar respostas mais meigas,

mais doces, mais sensíveis para como os outros. A gente percebe que o estado

emocional melhora muito quando eles vão sendo escutados. - Frei Chico

Ao abordar esse assunto com os residentes, de maneira direta e pessoal, a questão foi

“A Escuta Terapêutica vem contribuindo com sua saúde?”. As respostas são todas

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afirmativas, apontando para os benefícios que cada um percebe em si. Contribuições na saúde

mental:

Quando a gente está na Escuta, a gente consegue organizar os pensamentos e

consegue esclarecer algumas coisas que você não entendia. Você vai falando e, de

repente quando vê, vai abrindo um caminho que você não tinha encontrado

sozinho. Você precisou falar com alguém. Parece que só de uma pessoa estar te

ouvindo, ajuda você a raciocinar, colocar as ideias no lugar e se ouvir mesmo.

Contribuições na história de vida: “A Escuta foi um marco: O que eu era antes e

depois da Escuta”, como descreve um residente. Foram relatadas as melhoras imediatas no

sentido de se aliviarem por falar o que incomodava: “Isso que precisava sair, saiu [!] A gente

vê onde a gente errou, acertou, a gente vai encaixando as peças”.

Mudanças que são percebidas por todos os gestores entrevistados. Um deles afirma

que “É bem notória a sensação de alívio, sensação de ter tirado um peso das costas”. Assim

como os residentes, os gestores reconhecem os benefícios oportunizados pela ET.

Já no parecer dos profissionais de psicologia, a ET se mostrou relacionada a mudança

e fortalecimento. Um deles aponta que:

As melhoras mais perceptíveis são em relação ao psiquismo, ao comportamento.

Eles estarem mais serenos, mais assertivos, mais receptivos. [...] Contribui para eles

irem discriminando o que eles podem fazer para melhorar a estadia deles aqui. É

muito bom para o crescimento deles, não só em termos de adesão ao tratamento,

mas na evolução do tratamento deles aqui.

Além da Escuta enquanto terapia, identifica-se também uma escuta informal que

ocorre em toda CSS. Trata-se dos encontros frequentes que não constam em nenhum relatório

oficial da Associação, mas que acontece entre os residentes, os colaboradores da casa, os

gestores, técnicos, a diretoria, todos os entrevistados. É algo que vai além das funções pré-

estabelecidas dessas pessoas, que atribuem alto grau de importância, assim revelados:

Quando eu tenho algum problema, sempre procuro o [...]. Tem algumas coisas que

converso com outras pessoas. Eu tive um deslize, cheguei no Mosteiro muito mal.

É uma situação muito difícil para a pessoa que passou pelo tratamento. Eu quase fui

embora. Conversei muito com uma pessoa e aquilo me deu forças para admitir meu

erro e recomeçar. [...] Assim eu procuro dar atenção para as pessoas que estão em tratamento. Elas têm dificuldades em uma série de coisas, chegam muito confusas,

sem saber quem são, o que querem, sem expectativa nenhuma, às vezes. A gente,

enquanto coordenador precisa estar com o ouvido pronto para essas pessoas.

Precisei conversar com o [...] sobre várias coisas. Conversei também com o Frei

[...]. De maneira informal se deu esse acompanhamento psicológico. Eram

conversas esporádicas, sempre que tinha oportunidade. Todo mundo precisa de uma

pessoa para partilhar diversas coisas.

A crença de que é necessário partilhar os problemas ou a vida se apresentou na maioria

das entrevistas concedidas. Por vezes de maneira explícita, como se demonstra acima, outras

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vezes nos relatos que mencionam conversas frequentes, amizades, a atenção concedida pelas

pessoas que compõem esse jeito de ser e de atuar na Associação.

O fato da CSS ser formada atualmente por casas distribuídas em várias regiões leva a

se questionar até onde vai a unidade de seus procedimentos. Como são vistos os atendimentos

de psicoterapia e escuta, uma vez que carecem de padronização? Possuem uma unidade ou

são distintos, por meio das diversas pessoas que realizam esse trabalho? As questões foram

respondidas pelos entrevistados de maneira que se obtêm considerações tanto voltadas para a

metodologia, quanto outras que evidenciam as diferenças nas abordagens das pessoas.

Exemplos nesse sentido se mostram nas falas dos seguintes colaboradores:

Vejo que tem uma especificidade em cada casa, mas eu acredito que a ET traz uma unidade. Tem o mesmo perfil. As pessoas são diferentes, mas tem uma linha

condutora para trabalhar. A causa é uma, então se todos estão falando a mesma

língua para a mesma causa, até a troca de experiência dá para ser. Eu sei que a

gente tem um elo em comum. Qualquer lugar que esteja a didática pode ser

diferente, mas o objetivo vai ser o mesmo, a técnica vai variar pouca coisa.-

Terapeuta da Escuta.

Acho que atua como uma unidade. É distinto nas diversas casas, mas cada pessoa

tem o seu jeito de trabalhar, tem o seu estilo, mas é uma unidade no sentido de

trabalho da casa. As pessoas que fazem a ET trabalham no mesmo fim, no mesmo

objetivo. Isso constitui uma unidade. – Profissional de Psicologia.

A partir do foco de cada pessoa, se apresenta a distinção de opiniões na totalidade das

respostas, enquanto a proposta metodológica da Associação é entendida como única na maior

parte das opiniões.

6.1.5. Expectativas para a Escuta Terapêutica da CSS

As atividades terapêuticas da CSS passam por frequentes cuidados e busca de

aprimoramentos. A abordagem psicoterapêutica é um processo que vem mudando e se

estrutura melhor com o passar do tempo. No momento, se busca as padronizações referentes à

psicoterapia e a Escuta Terapêutica. As possibilidades desses métodos serem utilizados nas

várias casas da CSS, aparecem nos relatos dos entrevistados, assim como se verifica nesta

visão:

Eu acho que tem Escuta e Escuta! Às vezes tem Escuta mais porque a psicologia se

tornou uma ciência e a metodologia das Casas do Servo tem um diferencial que a

Escuta é mais por amor mesmo. Vejo que tem a ET profissional e tem a ET mais

dentro do voluntariado, que é uma coisa feita por amor, com carinho. Aqui no

Mosteiro tem sido feito isso por amor. As pessoas entraram como voluntárias e se algumas se tornaram depois remuneradas, elas vêm de um voluntariado, não vem

da remuneração. Essa metodologia é que deveria ser levada em conta. Então é um

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profissional que entrou por amor e que faz com a categoria profissional. Eu acho

que é isso que está sendo feito. Sendo sistematizada, a ET vai ser aproveitada por

muita gente e vai ajudar muita gente. – Frei Chico.

Nessa perspectiva histórica de programa terapêutico, Frei Chico revela o que também

aparece na opinião dos profissionais que atuam, contempladas nas seguintes afirmações:

É importante sistematizar. Já que é característica da instituição, não pode ter cada

local de um jeito. Tem que ter um perfil do Escutador, uma formação sistemática

para todos. Que tenha conteúdos similares, que busque os mesmos objetivos. Acho

que a gente (psicólogos) poderia se aproximar um pouco mais. Ninguém vai mudar de linha terapêutica, mas nós podemos agregar algumas coisas que funciona e que

tem que colocar em prática. Porque não agregar alguns recursos? Poderia se

aproximar para ter uma identidade.

Acredito muito na unidade na diversidade. Que se tenha o mesmo ideal. É

necessário através de encontro, de assembleia somando. Como um time de futebol,

que tem que ter uma harmonia. Precisa ter diálogo para se saber onde se quer

chegar. Acredito que estamos no caminho.

Levando-se em conta tais informações, a diversidade parece ter ainda um caminho a

percorrer até chegar à unidade. No entanto, cada pessoa se mostra aberta e disposta para

trilhar seus passos em busca da identidade própria da CSS e das abordagens terapêuticas

realizadas nas casas.

Chegar no lugar possível! Assim os colaboradores expõem suas recomendações para a

CSS, a partir da seguinte questão: Partindo do momento atual e do panorama que se encontra

o que pode ser melhorado no contexto de psicoterapia e Escuta Terapêutica? Apresenta-se,

inicialmente, a sugestão de Frei Chico, ao declarar que:

O ideal é que o grupo que escuta tivesse uma interação profunda entre si, que

pudesse partilhar sua experiência. Isso seria algo muito interessante. Acho que esse

grupo deixaria um legado muito grande para a profissão de psicólogos,

aproveitando a interação de todas as experiências que vivemos aqui, em termos de

convivência humana. Vejo que uma coisa não está desligada da outra. O ar que

respiramos aqui nas Casas dos Servos deveria ser respirado aqui, em Paranavaí, Nova Aliança, onde nós temos casas o ar deveria ser o mesmo. E para isso

precisava de uma troca de experiência, de partilha entre o grupo de voluntariado e

de profissionais que escutam o dia a dia dessa realidade do álcool e da droga.

Parece-me que uma experiência maior de troca de ideias, faz crescer dentro de cada

um essa concepção de psicologia partilhada, grupal.

Na mesma intenção de partilha e melhorias, todos os profissionais de psicologia

comentam sobre a necessidade de aprimoramento próprio e da equipe:

As duas coisas têm que sistematizar o trabalho, tanto da ET quanto da psicoterapia.

Vamos definir qual a nossa forma de trabalho, tanto para os que estão quanto

aqueles que vão entrar.

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Os terapeutas da Escuta igualmente mencionam a necessidade de progressos,

considerando a necessidade da busca de conhecimento, estudos, reflexões entre outras

atitudes. Mencionam sugestões como esta:

As pessoas que estão envolvidas precisam fazer parte em certo momento e a gente

estar partilhando aquilo ali para melhora dele (residente). Então eu estou mostrando

um outro lado do indivíduo que as outras quatro partes pode não ter visto ou visto

de maneira diferente. Então colocar essas partes do indivíduo e trabalhar em

conjunto.

Outro fator presente nos relatos dos terapeutas, já identificado em opiniões dos demais

entrevistados, é o cuidado com a continuidade desse trabalho. Um deles considera que: “Para

as coisas desandar, não fazer nada é suficiente”.

Fica assim evidente a necessidade de melhorias, bem como, se descreve como e onde

esses aprimoramentos podem acontecer. Constatação esta, que pode ser um dos subsídios para

a CSS direcionar seus próximos passos.

6.2. O diálogo entre os conhecimentos

Bons diálogos, bons encontros, são geralmente produtivos. Por essa razão, considera-

se relevante aproximar os fatos ocorridos na Escuta Terapêutica da Associação com as

contribuições da psicologia humanista, procurando similaridades entre esses conhecimentos.

Olhando por meio dos prismas da Análise Transacional, Abordagem Centrada na

Pessoa e demais conhecimentos humanistas, verifica-se que a valorização do ser humano está

presente nas abordagens utilizadas nas casas da CSS.

Ao criar suas finalidades, a CSS formulou três itens de assistência. Um deles é

relatado nos seguintes termos: “Incrementar as virtudes do humanismo, promoção da ética, da

paz, da caridade, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores

universais.” (RELATÓRIO, 2013). Em leitura, pode-se considerar que “humanismo” seja

apenas uma coincidência de palavras. No entanto, ao se inclinar atentamente para o que

acontece no chão batido e firme da CSS, percebe-se que conhecimentos da psicologia

humanista se fazem presentes no dia-a-dia dessa comunidade. Revela-se nos comentários, nas

discussões sobre o trabalho, nas orientações que são transmitidas pela diretoria da casa,nos

cuidados e tratamento que a CSS acredita como caminho de promoção da vida.

Além das premissas que constam em documentos, no dia-a-dia da CSS a atenção com

o humano e tudo que lhe é essencial também aparece. Em comentários e reuniões entre

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colaboradores, por exemplo, se escuta a necessidade de se manter o foco no “só por hoje”, de

se estimular o Adulto de cada um e se colocar em igualdade com todos, incluindo as pessoas

em recuperação. Situações essas, que parecem ser um convite ao que Eric Berne considera

como "intimidade", que inclui "desfrutar o que está aqui e agora" e "viver agora mesmo...

vendo a árvore e ouvindo os pássaros cantando" (SCHLEGEL, 1997/1998).

Um dos acontecimentos cotidianos nas casas da CSS são os pedidos de famílias ou de

pessoas sozinhas que procuram a Associação. São contatos que fazem parte da rotina dos

colaboradores, independente de suas funções. No momento em que se recebe pessoas

mobilizadas por algum problema, parece já ocorrer um importante encontro. A primeira

atitude é parar o que se está fazendo, ouvir e procurar entender. Depois, partilhar o que o

outro necessita: acolhimento, informação, encaminhamento, uma simples refeição que seja ou

ainda um dado de realidade: “Hoje não temos vaga.”. As soluções imediatas dificilmente

acontecem ali, naquele momento, mas ocorre sim a oportunidade de uma demanda ser ouvida

por alguém atento a necessidade intensa que envolve saúde e vidas humanas. Esse parece ser

o jeito ou método de agir da CSS.

Segundo os estudos da logoterapia, uma das formas de se descobrir o sentido da vida é

“pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável” (FRANKL, 2006, p.100).

Caminho que se encontra nos princípios da CSS (RELATÓRIO, 2013) ao propor “Apoiar e

desenvolver ações para a defesa, elevação e manutenção da qualidade de vida do ser humano

e no meio ambiente, através das atividades de educação profissional, especial e ambiental -

Atitude ativa frente ao sofrimento”. A proximidade entre essas duas formas de se sensibilizar

e de agir diante do sofrimento humano se torna, assim, evidenciada.

Na Associação, que procura restabelecer a dignidade de cada um, se vê as premissas

de Claude Steiner (1974, p.16), um renomado Analista Transacional: “Os seres humanos são,

por natureza, inclinados e capazes de viver em harmonia consigo mesmo, uns com os outros e

com a natureza. ”.Demais situações utilizando o conhecimento de AT se tornam facilitadoras

para os conteúdos abordados na rotina da equipe e também durante os atendimentos da Escuta

Terapêutica. Durante as reuniões periódicas entre os profissionais de psicologia e os

terapeutas da Escuta são comuns os estudos e os diálogos que envolvem Análise Transacional

no objetivo de entender e partilhar a prática experimentada por cada profissional.

Que atitude pode ser mais humanitária do que realizar a Escuta Terapêutica? Este é um

fato que já vem na concepção desse trabalho, conforme este depoimento:

Às vezes fico pensando assim: Quanto mais a gente vai exercitando a escuta, mais a

gente percebe o mistério do ser humano. Quanto mais a gente escuta, mais a gente

se surpreende [!] Por isso que é preciso ter um equilíbrio ao escutar para perceber

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que cada ser humano tem uma singularidade. Quando eu comecei a trabalhar com o

drogado e com o alcoólatra eu tinha uma concepção, conceitos pré-concebidos e

hoje eu tenho outro modo de ver. Mas quem mudou? Foram os alcoólatras, os

drogados? Eu mudei a maneira de ver, de acolher, de pensar em relação ao álcool e

a droga. Eu fumava quando comecei a trabalhar. Depois, uma das coisas que eu

ganhei muito foi que eu parei. Vi o fumo de maneira diferente. Eu parei com a

bebida porque vi diferente. As drogas que eu tinha usado eu parei, porque percebi

as consequências de alguns produtos que os seres humanos estão usando. Cada vez

mais, quando vejo um alcoólatra ou drogado, fico consciente que estou diante de

um ser humano que não conseguiu perceber as consequências do mundo em que

estava se tornando dependente. Fez o caminho errado. Não porque queria [!] Ninguém quer entrar no caminho de sofrimento, de dependência, mas o certo é que

dependência é como um buraco, a gente não percebe, cai dentro. Pude ver também

que tenho meus limites, minhas fragilidades, dificuldades. Vejo também que a

dependência do outro é a dificuldade, a fragilidade, mas eu tenho as minhas

também. Aí a gente não se escandaliza com o que o humano faz. Por mais

aberração que seja, eu sei que sou capaz de fazer a mesma coisa, porque sou

humano. – Frei Chico.

Não se escandalizar com o que o ser humano faz. Parece estar aqui um dos benefícios

para quem se dispõe a praticar a escuta e transformar suas concepções e gestos, na medida em

que se aproximadas pessoas. Em outras palavras, um gesto humanitário.

Talvez para alguns se torne difícil, ainda mais quando se deparam com os

acontecimentos bárbaros que permeiam a dependência química. Nesse sentido, o Humanismo

aponta a existência de diferentes prismas e convida, como faz Leloup (2007), para a visão de

olhos de querubim para se ver melhor. Despertar em si não apenas diferentes concepções

filosóficas, mas ativar áreas de nosso cérebro que permitem apreender do mundo e das

pessoas diferentes facetas, até então desconhecidas para nós. Acreditar na natureza humana

começando pela fé em si mesmo e procurar onde está o “buraco” que “a gente não percebe,

cai dentro”. Esse é o convite que, além de existencialista, se faz no relato acima, enquanto

possibilidade real.

Não se torna possível afirmar se Max Scheller (FALCÃO, 2010) ao falar sobre viver

com valores diante das limitações e possibilidades, pensou em atitudes como essas. É possível

sim identificar várias similaridades entre a realidade exposta e as concepções desse autor.

Nessa realidade um profissional de psicologia fala sobre o trabalho que desenvolve:

“Você vai conversando, vai conhecendo a pessoa e mesmo que seja aquele atendimento focal,

naquele momento. [...] é de muita ajuda porque naquele momento aquilo que você ouve, você

pode ajudar a pessoa a pensar, a elaborar, encontrar respostas”. Atendimento claramente

identificado por seu caráter humanista.

Fazer o que é possível e priorizar o desenvolvimento humano a pessoas que vem de

um histórico de sofrimento, parece se aproximar das considerações apresentadas já no século

passado por Carl Rogers, (1978a, p.179):

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...a liberdade é irreversível. Desde que uma pessoa – criança ou adulto – tenha

vivenciado a liberdade responsável, continuará lutando por ela. Essa liberdade pode

ser completamente reprimida no comportamento pela utilização extrema de todos

os tipos de controle, inclusive a força, mas não pode ser eliminada ou extinguida.

A busca de liberdade parece ocorrer no momento em que a pessoa sente-se aceita e

compreendida em suas necessidades humanas. O que Carl Rogers acredita germina nas

considerações das pessoas ouvidas nesse trabalho, resumida sem na frase de um residente ao

dizer de maneira enfática: “Eu quero trabalhar o meu ser, eu quero crescer [!]”.

6.3. Identificação sistemática dos processos terapêuticos da CSS

As hipóteses formuladas no início deste estudo junto às informações levantadas no seu

desenvolvimento, tornam possível algumas considerações. Avançando nesse caminho, se

apresenta análise se sugestões de pontos entendidos como relevantes nas terapias de

comportamento da CSS para pessoas dependentes de substâncias psicoativas.

6.3.1. Processos psicoterapêuticos da CSS

A citação de Inghilleri (2012) ao afirmar que “o número dos modelos

psicoterapêuticos é igual ao número dos psicoterapeutas”, parece ser apropriada para iniciar

essa identificação. Frase pertinente na realidade da CSS, uma vez que seus profissionais

possuem distinções entre si, que vão desde a localidade onde atuam, passando pela formação

acadêmica de cada um e chegam até as condições que se fazem possíveis no momento em que

o trabalho é solicitado.

Apresenta-se constante o fato de se atuar numa organização que possui a modalidade

de atendimento definida nos padrões de comunidade terapêutica. O processo psicoterapêutico,

conforme cita De Leon (2009, p.347), trabalha para “amenizar ou reduzir sentimentos de dor e

desconforto emocional em suas várias formas” que são habituais aos dependentes químicos

que se encontram em CTs.

Considerando outros autores que discorrem sobre o assunto e os dados obtidos sobre a

CSS, que incluem os profissionais de psicologia entrevistados, se constata que a psicoterapia

breve é a intervenção apropriada para esta realidade.

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O fato dos profissionais encontrarem a referência de seus trabalhos nas linhas

humanistas da psicologia aparece como uma particularidade da CSS. Entre conhecimentos

rogerianos, atenianos, sistêmicos, logoterápicos e outros, se encontra a abertura ao diálogo

revelada nas entrevistas.

Destaca-se a estabilidade dos profissionais na CSS, buscando desenvolvimento

individual e da equipe que inclui os terapeutas da Escuta e demais colaboradores.

Se identifica um campo de trabalho promissor, tanto no aprimoramento dos métodos

utilizados pelos atuais profissionais, quanto na sistematização do trabalho da CSS, para

aqueles que também vierem a fazer parte desse grupo.

6.3.2 Escuta Terapêutica da CSS

Considera-se possível e adequado identificar a Escuta Terapêutica por meio da

psicologia humanista. Essa afirmação parte do pressuposto de que, assim como se concebe o

Existencialismo como a somatória de várias correntes psicológicas, se entende também a ET

como o resultado de várias linhas. Entre elas, destaca-se a teoria de Carl Rogers, pelo fato

desses pressupostos aparecerem na maior parte das informações levantadas. Na sequência,

percebe-se a constante presença da Análise Transacional e seus conceitos, utilizados na

regional de Curitiba como ferramenta para o desenvolvimento das ETs, para os encontros dos

terapeutas e para as conversas informais que fazem parte dessa rotina. A abordagem sistêmica

prevalece em Paranavaí pelo fato da profissional ter essa formação e ser responsável por todo

desenvolvimento de psicoterapia nessa regional.

Verifica-se a presença de outras abordagens como a logoterapia nas considerações da

CSS sobre sentido da vida e nas ações decorrentes dessa visão. Aparecem as citações de De

Leon, ainda que identificado como da corrente psicanalítica, contribuindo com seu

reconhecido trabalho sobre comunidades terapêuticas. Enfim, estas são apenas algumas

citações que ficam aqui registrada se que fogem da pretensão de abranger a totalidade de

conhecimentos psicológicos utilizados pelas casas, que se identificam justamente pelo seu

caráter de acolhimento universal em favor da paz e da saúde.

Qual é a definição de Escuta Terapêutica da CSS a partir dessas considerações? Uma

possível definição se faz nas palavras daqueles que a desenvolvem, aqui compreendida e

sugerida da seguinte maneira: Atendimento que compõe o Programa Terapêutico da CSS e

que oferece a oportunidade da pessoa expor, refletir e conversar sobre as situações da sua

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vida a partir de sua força de vontade e potencialidades. Seu objetivo é a Escuta autêntica, em

um ambiente de sigilo, confiança, honestidade, compreensão e aceitação incondicional. É um

encontro significativo entre uma pessoa voluntária e capacitada pela Associação e o

residente que busca desenvolver o autoconhecimento, a consciência, a autonomia e a saúde

mental.

Sobre as intervenções da Escuta Terapêutica atuando na saúde do dependente químico,

pode-se afirmar que estamos diante de um vasto leque de possíveis melhorias. Inicia pelo fato

do residente “desabafar”, como eles mesmos dizem, já ocasionando o “alívio” sentido por eles

e percebido pelos coordenadores que os acompanham. Além disso, ter à frente uma pessoa

interessada no que o residente tem a dizer e o aceitando de maneira incondicional, para muitos

que enfrentam a dependência química é uma situação inédita em suas vidas e que atua

diretamente em sua autoestima. Assumir novos modelos de relacionamento é outro importante

benefício. Como citado acima, é comum as pessoas chegarem na CSS com vocabulário,

crenças e regras próprias do mundo da drogadição que, de fato, tem suas particularidades bem

definidas. Trocar, por exemplo, o isolamento por relacionamento; a desconfiança pela fé; a

manipulação pela autenticidade; a postura de cabeça baixa por olhar nos olhos de quem está à

sua frente, são fatores entre muitos outros que a Escuta Terapêutica propicia.

Fica evidenciado nos conteúdos de pesquisa a influência das demais áreas do

conhecimento na Escuta Terapêutica. Além das linhas já citadas, outras ciências ligadas direta

ou indiretamente ao humanismo são encontradas nos relatos coletados por este estudo.

Mesmo se diferenciando do Aconselhamento Pastoral, essa abordagem terapêutica tem

bases nos conhecimentos e ciências voltadas ao transcendente. Ao examinar a Teologia e

Filosofia que influenciam a Escuta Terapêutica da CSS, encontram-se traços da Teologia da

Libertação que apresenta seus passos metodológicos resumidamente como:

(1) um encontro espiritual, vale dizer, uma experiência do Crucificado sofrendo nos

crucificados. (2) uma indignação ética pela qual se condena e rejeita tal situação

como desumana que reclama superação; (3) um ver atento que implica uma análise

estrutural dos mecanismos produtores de pobreza-opressão; (4) um julgar crítico

seja aos olhos da fé seja aos olhos da sã razão sobre o tipo de sociedade que temos,

marcada por tantas injustiças e a urgência de transformá-la; (5) um agir eficaz que

faz avançar o processo de libertação a partir dos oprimidos; (6) um celebrar que é

um festejar coletivo das vitórias alcançadas. (BOFF, 2011)

A pedagogia de Paulo Freire também é citada enquanto influência e aparecem

semelhanças ao considerar que esse autor procurava desenvolver “uma educação que

possibilitasse ao homem a discussão corajosa de sua problemática” (FREIRE 2007, p.97).

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Outros conhecimentos citados passam pela antropologia latino americana (que trabalha

as necessidades psicológicas, teológicas e filosóficas); a política ética, relacionando com o

trabalho da CSS sobre valores, direitos e deveres de cada pessoa;a natureza que aparece em

vários relatos como elemento e instrumento facilitador que conduz os trabalhos com os

residentes. Por estas evidências, também seria incorreto reduzir a ET à análise da psicologia

humanista.

Os voluntários que realizam a ET possuem perfis diferenciados, o que chama a

atenção. Têm em comum seu vínculo com a casa, se disponibilizam de forma disciplinada há

alguns anos, estão dispostos a aprenderem e crescerem enquanto pessoas e membros da

equipe de Escuta. Além disso, a maioria expressa sua sensação de agradecimento por

exercerem esse papel, trocam informações entre si sobre a proposta terapêutica, rezam juntos

para pedirem as bênçãos sobre sua atuação na ET dessa Associação Carmelitana. Parecem ser

pessoas focadas que evidenciam uma identificação peculiar a essa proposta terapêutica.

Considerando as conclusões até o momento apresentadas, entende-se a ET da CSS

como um processo em construção. Na busca de unidade na proposta terapêutica da casa, se

percebe duas visões da mesma realidade: É distinta ao verificar suas aplicações nas regionais

por meio das diferentes pessoas que a desenvolvem. É sinal de unidade ao observar sua

essência, que evidencia ser a mesma nos profissionais e nos lugares considerados por este

estudo. É correto entender que há padronização na proposta terapêutica, provavelmente vinda

como resultado da visão que trabalha no sentido de que “O ar que respiramos aqui nas Casas

dos Servos deveria ser respirado aqui (Curitiba), em Paranavaí, Nova Aliança, onde nós

temos casas o ar deveria ser o mesmo” – Frei Chico.

Denominações distantes aparecem nos autores que discorrem sobre essa forma de

intervenção. Cada qual considerando suas vivências, seus olhares, seu modo de se expressar.

Todas, de algum modo, se referindo ao que se faz tão necessário ao ser humano quanto o seu

respirar: Ouvir, escutar, Shema Ysrael (Ouve, oh Israel!). Orientação presente nas palavras de

pessoas que a séculos se expressaram. De maneira tão forte a ponto de continuar ecoando até

hoje em meio aos nossos estudiosos, nossos escritos, neste presente estudo... “Ieshua

respondeu-lhe: o primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel...” (BÍBLIA, N. T.

Marcos 12:29).

Quando se compara a ET ao “ar que a gente respira”, entende-se que tal afirmação vai

além do processo terapêutico formal e abrange o jeito de ser da casa na valorização desse

gesto compartilhado por todos: escutar!

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7 CONCLUSÕES

Aprenda a escutar. Em breve você ficará

admirado com o que aprendeu enquanto ficou

calado. - Ray Robertson12

Este estudo constituiu-se a partir do objetivo de identificar as abordagens psicológicas

utilizadas na Escuta Terapêutica, de maneira a aproximar o trabalho desenvolvido na

instituição com as teorias humanistas da psicologia.

Propósito que parece estar alinhado com vários outros trabalhos, procedentes do Brasil

e demais países, que conciliam as perspectivas teóricas do conhecimento tácito e seus

resultados positivos. Optou-se por limitar sua base no Existencialismo, nas palavras de Carl

Rogers, Eric Berne e Victor Frankl e seus discípulos, por perceber proximidades com a

Associação estudada.

Os primeiros passos foram trilhados pela direção da CSS que percebeu a necessidade

de sistematizar as práticas psicológicas desenvolvidas na Associação. Veio em seguida o

convite e a oportunidade única para alguém que prova em seu cotidiano o bem e a Graça que

nascem dessas fontes que são a psicologia humanista e a prática psicoterapêutica da casa.

Conhecer o trabalho desenvolvido por alguns anos de atuação nesse ambiente, se

mostrou importante facilitador para o desenvolvimento desta leitura. A missão de demonstrar

academicamente o que se faz em meio a brisa suave que permeia a CSS foi entendida como

um desafio. Talvez por essa razão o presente trabalho tenha se estendido bem mais do que o

seu prazo inicialmente estabelecido. Dificuldades apareceram ao longo do caminho,

necessidade de inúmeras adequações, mudanças de rumo, de textos e da autora, que se

deslocou diversas vezes na busca de subsídios e de pessoas que sustentam esse contexto.

Pessoas, aliás, as mais diversas. Foi um privilégio o encontro com cada uma delas. Por mais

que o projeto já contemplasse a necessidade de pesquisa de campo e de entrevistas, o caminho

que se fez foi surpreendente. O que se realizou não era o imaginado e quantificado

inicialmente. Melhor assim! Fica como prova de que além dos projetos elaborados existem

planos bem mais sofisticados, provenientes de uma vontade maior. Vontade sentida a cada

instante como presença que direcionou e permitiu que fluísse naturalmente cada decisão, cada

encontro e todo conteúdo aqui apresentado.

12ROBERTSON, Ray. Frase. Disponível em: <http://www.milfrases.com.br/2010/05/aprenda-escutar.html>

Acesso em 27 nov. 2012.

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Nessa diversidade permaneceu constante um único e maior desafio: Escutar! Estar de

ouvidos, mente e coração abertos para captar e relatar o que já existe. Ter a consciência de

que não se criaria algo novo, mas se reuniria em um documento percepções, conhecimentos e

conclusões que mobilizam e transformam pessoas. Ter como foco a abordagem terapêutica

que acontece em meio a atitudes pessoais e sistêmicas, que se apresenta de maneira

transparente e eficaz diante da complexa dependência química. Realmente, escutar está longe

de ser algo fácil e simples!

Uma das conclusões obtidas nessa busca foi que a abordagem psicoterapêutica da

Associação CSS se revela como procedimento que gera confiabilidade e visíveis resultados

positivos. É um processo no qual os residentes se adaptam facilmente, aderindo como parte de

sua rotina semanal e de seus novos hábitos saudáveis de vida.

Enquanto na Regional de Curitiba o termo Escuta Terapêutica engloba também a

Psicoterapia, em Paranavaí e região as diferenças entre os dois procedimentos estão

delimitadas e claras. Várias outras diferenças são possíveis de se identificar nesse cenário da

CSS. Porém, entre as distantes Regionais, linhas de atuação, pessoas que atuam, se percebe a

consolidação do trabalho do seu fundador, Frei Chico.

A abordagem é constituída na atuação da equipe. Ainda que não haja encontros

frequentes entre todos, os atendimentos dos profissionais de psicologia e dos voluntários

possuem um padrão de funcionamento, uma unidade, um mesmo arquétipo, na proposta

terapêutica e na identificação com o trabalho realizado. Tudo se manifestando no cotidiano de

cada pessoa e em todas as casas envolvidas na mística carmelitana.

São resultados obtidos a partir da visão terapêutica que se divulga e se multiplica. Nas

sugestões e pareceres dos próprios colaboradores, a necessidade de progresso da CSS fica

evidenciada para se chegar o tempo em que todos possam sentir e absorver como seu o ar que

se respira nas casas.

Uma particularidade da CSS se mostra no fato de que vários profissionais que

iniciaram de maneira voluntária, se encontram hoje desempenhando seus cargos em caráter

efetivo nas casas. Considera-se este um princípio a ser acatado nos aprimoramentos na

proposta terapêutica, uma vez que se fez presente no relato da maioria das pessoas

entrevistadas e nas as palavras do fundador, Frei Chico.

Com base nos dados obtidos registra-se na sequência e de forma resumida, o que se

entende como possíveis sugestões ao ambiente e sua proposta terapêutica:

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Atender a necessidade colocada pela maioria dos entrevistados de sistematizar

procedimentos da CSS, realizar trabalhos de partilha, oportunizando crescimento e

identificação para e cada um de seus profissionais.

Trabalhar com todos os terapeutas sobre o que vem a ser a Escuta Terapêutica,

diferenciando-a do Aconselhamento Pastoral e demais procedimentos.

Considerar as dificuldades humanas de atender determinados residentes,

oportunizando a troca entre os Terapeutas.

Promover a decisão compartilhada sobre os atendimentos. Não somente entre os

colaboradores, mas também com os residentes para que se vejam incluídos no

processo e não incomodados pela mudança das ETs sem aviso prévio.

Após o levantamento das informações, conclui-se que acima das diferenças está a

mística da CSS. Estar, por exemplo, na área verde do Mosteiro Monte Carmelo ou no amplo e

acolhedor Seminário de Graciosa ou ainda na produtiva fazenda em Nova Aliança, a qual

possui uma admirável visão para o horizonte, é receber um convite para a contemplação.

Contemplar em cada um desses lugares a natureza que se faz exuberante, os pássaros que, de

maneira admirável, concederam sua participação especial em todas as entrevistas gravadas, os

residentes que vieram de vários lugares e fazem daquele espaço a sua casa, a casa do pai onde

eles voltam a reconhecer sua identidade.

A possibilidade de Escuta também é algo que se torna possível em todos esses

ambientes. Para perceber é necessário, antes de tudo, silenciar e ouvir. A partir do propósito

de acalmar o coração e acolher o que está à sua volta, se torna possível perceber a brisa suave

que chega até a face. Sentir o movimento da vida que se faz em plenitude, nas suas diversas

manifestações é escutar a Divindade agindo. É receber a paz ofertada pelo momento, que é

presente. É a Mística, até onde se fez possível conceber.

Entende-se que as informações e conclusões obtidas neste estudo podem abrir

possibilidades para pesquisas futuras que não foram contempladas neste documento e que

podem se apresentar como relevantes em razão da riqueza de material a ser explorado. Como

exemplos verificados nesse sentido, relacionam-se alguns temas:

O olhar da ET por outros autores além dos que foram eleitos por esta pesquisa.

O grau de influência da ET sobre os resultados de recuperação do residente.

Características pessoais dos terapeutas da Escuta sobre a qualidade desta

abordagem.

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O trabalho de grupo terapêutico desenvolvido pela CSS e demais comunidades

terapêuticas.

São apenas algumas continuidades possíveis identificadas que aparecem junto ao

intenso desejo de que esse caminho continue a ser trilhado. Afinal, os registros que se obtém

como resultado de pesquisas como esta podem ir além dos pressupostos teóricos trabalhados.

São fatos que possibilitam a transformação de paradigmas, de sentido e de jeito de caminhar

para aqueles que se desafiam a fazer seus passos por meio dessa senda.

Este estudo chega ao seu último parágrafo por ter completado o caminho que se

propôs a trilhar. Para você que desenvolveu sua leitura até aqui permanece a gratidão e o

convite para despertar, cultivar e levar adiante sua própria visão do assunto, seu olhar que

direciona e liberta.

Então... Reúna o Povo, conte a história e reparta o pão – Frei Chico.13

Assim Seja!

13CHICO, Frei. Placa de madeira. In: CSS Mosteiro Monte Carmelo. Curitiba.

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