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FARMACIA DA FAMLIA:
uma proposta para a Gesto da Assistncia Farmacutica
RECIFE
2008
FUNDAO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHES
Especializao em Gesto de Sistemas e
Servios de Sade
Cleonilda Correia de Queiroz
Maria Nelly Sobreira de Carvalho Barreto
Meire Lcia Medeiros Coutinho
Sueli Ribeiro de Albuquerque
Cleonilda Correia de Queiroz
Maria Nelly Sobreira de Carvalho Barreto
Meire Lcia Medeiros Coutinho
Sueli Ribeiro de Albuquerque
FARMACIA DA FAMLIA:
uma proposta para a Gesto da Assistncia Farmacutica
Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Gesto de Sistemas e Servios de Sade do Departamento de Sade Coletiva do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhes, Fundao Oswaldo Cruz para obteno do ttulo de Especialista em Gesto de Sistemas e Servios de Sade.
Orientadora
Pricila Melissa Honorato Pereira
RECIFE
2008
Catalogao na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhes
F233 Farmcia da famlia: uma proposta para a Gesto da Assistncia Farmacutica/ Cleonilda Correia de Queiroz... [et al.] Recife: Os autores, 2008. 67 f.: il.
Monografia (Especializao em Gesto de Sistemas e Servios de Sade) Departamento de Sade Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhes, Fundao Oswaldo Cruz.
Orientadora: Pricila Melissa Honorato Pereira.
1. Assistncia Farmacutica. 2. Servios Comunitrios de Farmcia. 3. Farmcia. Pereira, Pricila Melissa Honorato. II. Ttulo.
CDU 615
Cleonilda Correia de Queiroz
Maria Nelly Sobreira de Carvalho Barreto
Meire Lcia Medeiros Coutinho
Sueli Ribeiro de Albuquerque
FARMACIA DA FAMLIA:
uma proposta para a Gesto da Assistncia Farmacutica
Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Gesto de Sistemas e Servios de Sade do Departamento de Sade Coletiva do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhes, Fundao Oswaldo Cruz para obteno do ttulo de Especialista em Gesto de Sistemas e Servios de Sade.
Data de aprovao: 26/05/2008
BANCA EXAMINADORA
________________________________
Ms. Pricila Melissa Honorato
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhes/Fiocruz
________________________________
Ms. Jos de Arimatia Rocha Filho
Secretaria de Sade do Estado de Pernambuco
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar presente em nossas vidas, nos desafios, nos momentos
de dificuldades, nas vitrias, enfim, em toda nossa trajetria, conduzindo-nos e
fazendo-nos crer que com o seu CONSENTIMENTO e seu AMOR INFINITO, tudo
possvel.
As nossas famlias, razo maior da nossa existncia, por estarem sempre
torcendo e se alegrando com as nossas conquistas. Gratas ficamos pela
compreenso, pacincia, fora e carinho que nos impulsionou a perseguir o nosso
ideal.
A Secretaria Municipal de Sade de Recife e Moreno e direo do HEMOPE
por ter nos favorecido essa grande oportunidade de engrandecimento profissional.
Ao Prefeito do Recife, Joo Paulo, pela credibilidade depositada e deciso
de realizar o Programa Farmcia da Famlia.
A toda equipe envolvida na realizao do referido Programa, em especial,
Evaldo Melo - Ex -Secretrio de Sade da Prefeitura da Cidade do Recife, Tereza de
Jesus Campos Neta - Secretria Municipal de Sade de Recife e Maria das Graas
Cavalcante Diretora de Ateno Sade, pelo grande apoio e engajamento da
equipe na sua concretizao.
A Hermias Veloso da Silveira Filho - Gerente da Assistncia Farmacutica
por nos subsidiar com as informaes necessrias para a realizao da Monografia
e pelo exemplo de persistncia e perseverana para alcanar os ideais.
Agradecemos a equipe da EMPREL pela dedicao com que abraou a
implantao do Sistema de Controle Dispensao e Custeio da Assistncia
Farmacutica.
Aos farmacuticos da Prefeitura do Recife pela dedicao e colaborao
pelo aprimoramento da Assistncia Farmacutica no nosso municpio.
Aos que fazem a Farmcia da Famlia direta ou indiretamente, pois
necessrio a colaborao de todos para levar adiante o sonho de favorecer uma
melhor condio de atendimento aos menos privilegiados.
A Pricila Honorato, nossa orientadora, pela pacincia, disponibilidade,
ateno, considerao e, principalmente, pela contribuio terica e prtica que com
dedicao e sabedoria nos proporcionou.
Ao debatedor, Jos de Arimatia Rocha Filho, Gerente da Assistncia
Farmacutica do Estado, por aceitar nosso convite e compartilhar conosco essa
experincia.
A professora Eduarda Cesse pelas orientaes iniciais e pelo grande
incentivo para que enfrentssemos com coragem e sucesso este novo desafio.
A professora Id Gurgel pelas orientaes e sua maneira simples e didtica
que nos impulsionou e deu confiana no momento final.
Aos demais docentes que com dedicao nos repassaram experincias
valiosas que contribuiro no decorrer do nosso processo de trabalho.
A Coordenao, aos funcionrios do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhes
e aos colegas pelo tempo de convvio e a troca de experincias.
Agradecemos umas as outras que unidas, numa ao conjunta e solidria,
cientes da nossa responsabilidade, procuramos nos esforar para desenvolver um
trabalho eficiente e profcuo. Somos cientes que o compartilhar nos possibilita um
maior crescimento e, assim, integradas realizamos este trabalho.
E por fim, a todos que direta ou indiretamente contriburam de forma
expressiva para realizao deste estudo.
Todas as propostas devem ter como objetivo principal a
melhoria das condies de sade da populao brasileira, a
garantia dos direitos do cidado, o respeito aos pacientes
E a humanizao da prestao de servios.
(Carta de Braslia apresentada no
VIII Simpsio sobre Poltica Nacional
de Sade em junho de 2005)
RESUMO
O elevado consumo de medicamentos no Brasil, associado ao baixo poder aquisitivo da populao brasileira, um entrave para as aes de sade. Esta situao amplia a responsabilidade das trs esferas de gesto: federal, estadual e municipal, as quais cabem estabelecer mecanismos que assegurem, alm do acesso aos medicamentos, o seu uso racional. A descentralizao das aes de sade colocou os municpios brasileiros em foco no que diz respeito organizao e prestao dos servios de sade populao. No ano de 2006 o municpio do Recife comeou a investir em um projeto denominado Farmcia da Famlia, que prope uma nova forma de realizar a gesto dos medicamentos, principalmente para a ateno bsica. O presente estudo teve por objetivo descrever o processo de construo e a operacionalizao do Projeto Farmcia da Famlia na Assistncia Farmacutica da cidade do Recife-PE. A estratgia de pesquisa adotada foi descritiva. Foram utilizados documentos relativos aos seus princpios e diretrizes operacionais. Tambm foi enfocado o sistema de informao criado para auxiliar no gerenciamento dos medicamentos, o Sistema de Controle e Dispensao da Assistncia Farmacutica (SCDCAF). Os resultados demonstraram a diversidade de atores envolvidos nas etapas de construo, considerando a ampla gama de medicamentos envolvidos nos diversos programas existentes no municpio. O fluxo de distribuio dos medicamentos para populao ganhou uma nova conformao com vistas a aperfeioar a gesto dos medicamentos evitando gastos desnecessrios e aproveitando os recursos humanos capacitados. Isto foi aliado a diretrizes bsicas como distncia mnima entre a Unidade de Sade da Famlia e a Farmcia da Famlia, com vistas a garantir o acesso dos usurios aos medicamentos. O SCDCAF foi considerado uma importante ferramenta, fornecendo subsdios para a gesto da assistncia farmacutica e relevantes contribuies para as aes de sade. A amplitude do projeto ainda pequena considerando seu curto perodo de implantao. Este estudo teve carter exploratrio e aponta alguns desafios a serem perseguidos como a necessidade de ampliar o nmero de farmcias para atingir uma maior cobertura e implantao a ateno farmacutica. Assim, enfocada a necessidade de outros estudos a fim de aprofundar a anlise acerca do Projeto e sua operacionalizao no municpio. Ressalta-se a importncia da descrio das etapas de construo e implantao do mesmo, no intuito de divulgar esta experincia na rea de gesto da assistncia farmacutica na esfera municipal.
Palavras-chave: Assistncia Farmacutica. Servios Comunitrios de Farmcia. Farmcia
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AF Assistncia Farmacutica
ANVISA Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria
CP - Coordenaes dos programas
CAPS Centro de Ateno Psicossocial
CAPSad - Centro de Ateno Psicossocial para tratamento de lcool e outras drogas
CEME Central de Medicamentos
CF Constituio Federal
CP - Coordenao de Polticas Especficas
CONAS Conselho Nacional de Sade
CONASEMS Conselho Nacional de Secretrios Municipais de Sade
CSI - Coordenadoria de Sade do Interior
DC Diretoria do Centro
DCI Denominao Comum Internacional
DGAS - Diretoria Geral de Ateno Sade
DRSS - Diretorias Regionais de Sade
DS - Distrito Sanitrio
DGT - Diretoria de Gesto do Trabalho
DAF - Diretoria Administrativa Financeira
EMPREL Empresa Municipal de Informtica
ESF Estratgia de Sade da Famlia
FB - Farmcia Bsica
FE - Farmcia Essencial
FF Farmcia da Famlia
FUNED - Fundao Ezequiel Dias
FURP - Fundao para o Remdio Popular
GD Gerentes Distritrais
GAF - Grupo de Assistncia Farmacutica
GEAF Gerncia Executiva de Assistncia Farmacutica
GM - Gabinete do Ministrio
GTPA - Grupo Tcnico de Planejamento e Avaliao
HIPERDIA Programa de Controle da Hipertenso e Diabetes
IAFB Incentivo Assistncia Farmacutica Bsica
IDH - ndice de Desenvolvimento Humano
IS - ndice de Salubridade
LBM - Lista de Medicamentos Bsicos
LOS Lei Orgnica da Sade
MMH Material Mdico Hospitalar
MR Micro-regio
MS Ministrio da Sade
NASF - Ncleo de Apoio Sade da Famlia
OMS Organizao Mundial de Sade
PACS - Programa de Agentes Comunitrios de Sade
PAF - Programa de Assistncia Farmacutica
PFB - Programa de Farmcia Bsica
PFE - Projeto de Farmcia Essencial
PNAF Poltica Nacional de Assistncia Farmacutica
PNH Poltica Nacional de Humanizao
PNM Poltica Nacional de Medicamentos
RENAME - Relao Nacional de Medicamentos
RPA - Regies Poltico-Administrativas
SAME Servio de Arquivo Mdico
SCDCAF Sistema de Controle e Custeio da Assistncia Farmacutica
SES - Secretaria Estadual de Sade
SESPR - Secretaria Estadual de Sade do Paran
SESSP - Secretaria de Estado de Sade de So Paulo
SICLON Sistema de Controle e Logstica de Medicamentos
SINDUSFARM - Sindicato de Indstria de Projetos Farmacuticos do Estado de So
Paulo
SISAFE - Sistema de Informao do Programa Formao Essencial
SISIPAF - Sistema de informao do Programa de Assistncia Farmacutica
SMS Secretaria Municipal de Sade
SVS Secretaria de Vigilncia Sanitria
SUS Sistema nico de Sade
UBS - Unidades Bsicas de Sade
SUMRIO
1 INTRODUO 10
2 MARCO CONCEITUAL 13
2.1 Contextualizao Histrica da Assistncia Farmacutica no Brasil 14
2.2 Poltica Nacional de Medicamentos 16
2.3 Poltica Nacional de Assistncia Farmacutica 17
2.4 A Organizao dos Servios de Assistncia Farmacutica na
Ateno Bsica de Sade
20
3 JUSTIFICATIVA 23
4 OBJETIVOS 26
4.1 Objetivo Geral 27
4.2 Objetivos Especficos 27
5 MTODO 28
5.1 Estratgia da Pesquisa 29
5.2 rea do Estudo 29
5.3 Perodo do Estudo 31
5.4 Anlise dos Dados 31
5.5 Aspectos ticos 31
6 RESULTADOS 33
6.1 Processo de Implantao da Farmcia da Famlia 34
6.2 Princpios e diretrizes operacionais do Programa Farmcia da
Famlia
36
6.3 Caractersticas do Sistema de Controle Dispensao e Custeio da
Assistncia Farmacutica SCDCAF
39
7 DISCUSSO 43
8 CONSIDERAES FINAIS 47
REFERNCIAS 50
ANEXOS 57
10
IINNTTRROODDUUOO
11
1 INTRODUO
O elevado consumo de medicamentos no Brasil, associado ao baixo poder
aquisitivo da populao brasileira, um entrave para as aes de sade. Neste
contexto, ao longo dos ltimos 40 anos, diversas medidas foram adotadas,
buscando estabelecer mecanismos que assegurem, alm do acesso aos
medicamentos o seu uso racional populao brasileira.
Em 1971 foi criada a Central de Medicamentos (CEME), e apesar de ter sido
um importante marco na assistncia farmacutica no pas, apresentava problemas
em relao sua forma de organizao baseada em um modelo centralizado e
pouco articulado com a realidade dos municpios e estados. Alguns problemas
observados foram relacionados ao mau gerenciamento e planejamento na aquisio
e distribuio de medicamentos gerando sua falta ou excesso, alm de prazos de
validade expirados, ocasionando desperdcios que agravaram, ainda mais, o quadro
de inadequao da distribuio de medicamentos no pas (BERMUDEZ, 1995). A
insatisfao dos usurios com a CEME que no conseguia equacionar suas
complexidades resultou na sua extino.
Em 1988, foi criado o Sistema nico de Sade (SUS), tendo como princpios
garantir a universalidade, a eqidade, a integralidade e o controle social no
atendimento sade. Em 1990, a Lei Orgnica da Sade (LOS), regulamentou
esses princpios, definindo as diretrizes sobre o SUS, inclusive referenciando a
assistncia farmacutica em seu artigo 6 que afirma (BRASIL, 1990):
Esto includas ainda no campo de atuao do Sistema nico de Sade - SUS: I - a execuo de aes: a) de vigilncia sanitria; b) de vigilncia epidemiolgica; c) de sade do trabalhador; d) de assistncia teraputica integral, inclusive farmacutica.
Foi nesse contexto que se buscou descentralizar as aes de assistncia
farmacutica atravs da instaurao da Poltica Nacional de Medicamentos
(PNM), aprovada pela Portaria GM n 3.916, de 30/10/98 (BRASIL, 1998b), definida
pelo Ministrio da Sade (MS) como: uma poltica que tem como meta a garantia da
necessria segurana, eficcia e qualidade dos medicamentos, bem como a
12
promoo do uso racional pela populao dos medicamentos considerados
essenciais.
Desde a implantao da Poltica Nacional de Medicamentos iniciativas a
nvel estadual e municipal tm sido estimuladas pelo Ministrio da Sade, buscando
a qualificao do gerenciamento da Assistncia Farmacutica. Desta forma, a
Prefeitura do Recife lanou o Programa Farmcia da Famlia, com o apoio financeiro
do Ministrio da Sade, cujo objetivo precpuo otimizar os recursos para
assistncia integral, ampliar o acesso e favorecer o gerenciamento informatizado da
Assistncia Farmacutica.
13
MMAARRCCOO CCOONNCCEEIITTUUAALL
14
2 MARCO CONCEITUAL
2.1 Contextualizao Histrica da Assistncia Farmacutica no Brasil
Os esforos para assegurar o acesso aos medicamentos populao sem
condies econmicas para adquiri-los um grande desafio dos gestores da sade.
Assim, segundo Cosendey et al. (2000), a Assistncia Farmacutica, como poltica
pblica no Brasil, teve incio em 1971 com a instituio da Central de Medicamentos
(CEME), que tinha como objetivos principais a promoo e a organizao das
atividades de assistncia farmacutica aos estados populacionais de reduzido poder
aquisitivo, o incremento pesquisa cientfica e tecnolgica no campo qumico-
farmacutico, e o incentivo instalaes de fbricas de matrias primas e de
laboratrios pilotos.
Em 1975 foi instituda a Relao Nacional de Medicamentos Essenciais
(RENAME) (Portaria n 223/75) do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social,
com a proposta de ser periodicamente revisada (BERMUDEZ, 1995). A RENAME
era um instrumento estratgico da Poltica Nacional de Medicamentos. Tcnicos da
CEME, aps diversos estudos, chegaram a listar 305 substncias farmacuticas
(frmacos bsicos) que possibilitariam atender 99% das necessidades mdicas da
populao, racionalizando os critrios e procedimentos de compra (PEREIRA, 1995).
Em 1987, a CEME realizou um diagnstico institucional, reconhecendo a
pouca utilizao da Rename pelos prescritores, desperdcios considerveis de
medicamentos, recursos financeiros insuficientes e pouco conhecimento das
doenas prevalentes no pas, os quais contribuam para a ineficincia do Programa
de Assistncia Farmacutica desse perodo. Diante deste diagnstico foi definida
como estratgia a criao da Farmcia Bsica CEME, como forma de racionalizar
a disponibilidade de medicamentos ao atendimento primrio (GOMES, 2007).
Aps 15 anos da ltima reviso publicada no pas, em 1998, a RENAME foi
seguindo diretrizes recomendadas pela Organizao Mundial de Sade (OMS),
conferindo nfase avaliao de segurana e eficcia, alm de considerar a
disponibilidade dos produtos no mercado interno. Essa lista continha 303 princpios
15
ativos em 545 apresentaes destinadas a atender as principais nosologias
prevalentes no Brasil (BRASIL, 1998 apud COSENDEY et al., 2000).
Embora a RENAME fosse uma lista de medicamentos prioritrios, o seu
fornecimento por parte do governo para as unidades de sade foi deficiente durante
um grande perodo da existncia da CEME. Mesmo com as deficincias citadas,
Pepe e Veras (1995), acreditaram que seu surgimento simbolizou um esforo em
conduzir a Assistncia Farmacutica em uma direo mais eficaz e de melhor
qualidade.
Na continuidade, para suprir as necessidades de medicamentos bsicos, em
1997 o MS criou o Programa Farmcia Bsica (PFB), sob coordenao da Diretoria
de Programas Estratgicos, desenvolvido com base nos mesmos parmetros da
Farmcia Bsica da CEME, modulado para atender 3mil habitantes em municpios
com populao de at 21 mil habitantes. O PFB, ao longo de sua execuo foi
excluindo a participao da esfera estadual no momento em que vrias Unidades da
Federao procuravam organizar a Assistncia Farmacutica (CONSELHO
NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007).
A implantao da Farmcia Bsica por um mdulo-padro em nvel nacional
no contemplou as diversidades regionais. O mesmo mdulo-padro era fornecido
para todas as regies do Brasil que apresentavam perfis epidemiolgicos totalmente
diferenciados (CONSENDEY et al., 2000).
Em 1998, em oficina realizada, o CONASS solicitou ao MS a insero do
PFB no mbito de uma Poltica Nacional de Assistncia Farmacutica (CONSELHO
NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007).
Em decorrncia da desarticulao da Assistncia Farmacutica face as
mudanas que vinham ocorrendo na rea de sade, em especial aos processos de
descentralizao das aes do SUS, bem como as irregularidades no abastecimento
de medicamentos destinados rede ambulatorial , entre eles, os medicamentos para
ateno bsica, foi publicada a Poltica Nacional de Medicamentos (PNM), por meio
da Portaria GM/MS n3.916, em outubro de 1998 (BRAS IL, 1998b).
16
2.2 Poltica Nacional de Medicamentos
A PNM como instrumento norteador de todas as aes no campo da poltica
de medicamentos no pas definida como:
grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as aes de sade demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e cada uma de suas etapas constitutivas, a conservao e controle de qualidade, a segurana e eficcia teraputica dos medicamentos, o acompanhamento e a avaliao da utilizao, a obteno e a difuso de informao sobre medicamentos e a educao permanente dos profissionais de sade, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos (BRASIL, 2002 apud CONSELHO NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007, p. 16).
Para o alcance do propsito nela estabelecido, os gestores do SUS, nas trs
esferas de Governo, devem atuar em estreita parceria e na conformidade das oito
diretrizes fixadas, a saber:
a) adoo de relao de medicamentos essenciais;
b) regulamentao sanitria de medicamentos;
c) reorientao da assistncia farmacutica;
d) promoo do uso racional de medicamentos;
e) desenvolvimento cientfico e tecnolgico;
f) promoo da produo de medicamentos e;
g) desenvolvimento e capacitao de recursos humanos.
De acordo com as diretrizes estabelecidas algumas prioridades foram
definidas, dentre elas: reviso permanente da RENAME, promoo do uso racional
de medicamentos, organizao de vigilncia sanitria de medicamentos e a
reorientao da assistncia farmacutica. Esta ltima fundamenta-se na
descentralizao da gesto, otimizao e eficcia do sistema de distribuio no setor
pblico e no desenvolvimento de iniciativas que possibilitem a reduo dos preos
dos produtos (CONSELHO NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007).
17
2.3 Poltica Nacional de Assistncia Farmacutica
A Assistncia Farmacutica representa hoje um dos setores de maior
impacto financeiro no mbito das Secretarias de Sade e a tendncia de demanda
por medicamentos crescente. A ausncia de um gerenciamento efetivo pode
acarretar grandes desperdcios, sendo considerado recurso crucial (CONSELHO
NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007, p. 19).
Fundamentado nas propostas aprovadas na I Conferncia Nacional de
Medicamentos e Assistncia Farmacutica realizada em 2003, o Conselho Nacional
de Sade (CNS) aprovou em 2004, atravs da Resoluo n 338, a Poltica Nacional
de Assistncia Farmacutica (PNAF), que a define como:
Um conjunto de aes voltadas promoo, proteo e recuperao da sade, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e o seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produo de medicamentos e insumos, bem como a sua seleo, programao, aquisio, distribuio, dispensao, garantia da qualidade dos produtos e servios, acompanhamento e avaliao de sua utilizao, na perspectiva da obteno de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 2004 apud CONSELHO NACIONAL DE SADE, 2004, p. 18).
Para tanto, desempenha, entre outras, as seguintes funes/atividades:
a) Planeja, coordena,executa, acompanha e avalia as aes; b) Elabora normas e procedimentos tcnicos e administrativos; c) Elabora instrumentos de controle e avaliao; d) Seleciona e estima as necessidades de medicamentos; e) Gerencia o processo de aquisio de medicamentos; f) Garante condies adequadas para o armazenamento de
medicamentos; g) Promove a gesto dos estoques; h) Distribui e dispensa medicamentos; i) Organiza e estrutura os servios; j) Desenvolve sistema de informao e comunicao; k) Desenvolve e capacita recursos humanos; l) Participa de comisses tcnicas; m) Promove o uso racional de medicamentos; n) Presta cooperao tcnica (CONSELHO NACIONAL DE SADE, 2004).
A Assistncia Farmacutica desempenha uma atividade multidisciplinar.
Exige articulao permanente com reas tcnicas, administrativas, coordenaes de
programas estratgicos de sade Hansenase, Tuberculose, Sade Mental,
18
Programa Sade da Famlia (PSF), Programa de Agentes Comunitrios de Sade
(PACS), Vigilncia Sanitria, Epidemiolgica, rea administrativa-financeira,
planejamento, material e patrimnio, licitao, auditoria, Ministrio Pblico, rgos
de controle, Conselhos de Sade, profissionais de sade, entidades de classe,
universidades, fornecedores, entre outros.
O Conselho Nacional de Secretrios de Sade ressalta a importncia:
de forma permanente, a estrutura fsica, a capacidade instalada, a modernizao, a ampliao e os equipamentos necessrios estruturao da Assistncia Farmacutica. O armazenamento adequado e a distribuio de medicamentos tm especial importncia devendo ser adequados s recomendaes das Boas Prticas de Armazenamento (BRASIL, 2002 apud CONSELHO NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007, p. 16)
Transcorridas quase duas dcadas do processo de institucionalizao do
SUS, reconhece-se que o processo de descentralizao foi um grande avano, pois
ampliou o contato do sistema com a realidade social, poltica e administrativa do pas
e com suas especificidades regionais, alm de colocar os gestores frente aos
desafios que busquem superar a fragmentao das polticas e programas de sade
por meio da organizao de uma rede regionalizada e hierarquizada de aes e
servios de qualificao da gesto (BRASIL, 2006c).
Frente a esta nova realidade, o Ministrio da Sade, o Conselho Nacional de
Sade (CONASS) e o Conselho Nacional dos Secretrios Municipais de Sade
(CONASEMS), pactuaram responsabilidades entre os trs gestores do SUS, no
campo do sistema e da ateno sade. A implantao do Pacto, nas suas trs
dimenses - Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de gesto-, possibilita a
efetivao de acordos entre as trs esferas de gesto do SUS, visando alcanar
maior efetividade, eficincia e qualidade, de acordo com as peculiaridades regionais.
Dentre as seis prioridades contempladas no Pacto pela Vida, merece destaque para
o tema em estudo, a promoo sade e o fortalecimento da ateno primria1,
com aes estratgicas voltadas ao acolhimento, ateno integral e acesso ao
tratamento (BRASIL, 2006c).
1 A ateno primria desenvolvida por meio do exerccio de prticas gerenciais e sanitrias, democrticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, e dirigidas a populaes de territrios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitria, considerando a dinamicidade existente no territrio em que vivem essas populaes. o contato preferencial dos usurios com os sistemas de sade, orienta-se pelos princpios da universalidade, da acessibilidade e da coordenao do cuidado, do vinculo e da continuidade, da integralidade, da responsabilizao, da humanizao, da equidade e da participao social [...] (CONSELHO NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007).
19
Quanto ao financiamento federal da Assistncia Farmacutica no SUS, ao
longo dos ltimos anos, restringiu-se a medicamentos, no havendo uma poltica
especfica capaz de prever recursos para a estruturao e a organizao de servios
farmacuticos. Em 2006, o Pacto pela Sade trouxe tona esta realidade,
estabelecendo que todas as esferas de gesto do SUS so responsveis por:
promover a estruturao da assistncia farmacutica e garantir, em conjunto com as demais esferas de governo, o acesso da populao aos medicamentos cuja dispensao esteja sob sua responsabilidade, fomentando seu uso racional e observando as normas vigentes e pactuaes estabelecidas (BRASIL, 2006c).
A Portaria GM/MS n 204/2007 de 29 de janeiro de 2007 prev
financiamento para a estruturao dos servios e a organizao de aes da
Assistncia Farmacutica (BRASIL, 2007).
imprescindvel, alm de uma estrutura fsica adequada, uma equipe
integrada, envolvida, motivada e com conhecimentos tcnicos para desempenhar
todas as aes pertinentes ao Ciclo Logstico da Assistncia Farmacutica (Anexo
A), como tambm, apta a fornecer orientaes quanto correta utilizao de
medicamentos. Tais aspectos esto referenciados na Poltica Nacional de
Humanizao (PNH) que dentre os seus princpios relevante destacar:
Valorizao dos diferentes sujeitos implicados no processo de
produo de sade: usurios, trabalhadores e gestores;
Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos;
Aumento do grau de co-responsabilidade na produo de sade e de
sujeitos.
Tambm pertinente destacar que o compromisso com a ambincia e a
melhoria das condies de trabalho e de atendimento uma das premissas da PNH.
Pois, assim sendo, possibilita a valorizao da ambincia, como organizao de
espaos saudveis e acolhedores de trabalho. Portanto, a mudana nos modelos de
ateno e gesto, tendo como foco as necessidades dos cidados, a produo de
sade e o prprio processo de trabalho em sade, valorizando os trabalhadores e as
relaes sociais no trabalho so essenciais para garantir a implementao do SUS.
Logo, entendemos que a Poltica de Assistncia Farmacutica est alinhada
a proposta da PNH e prioriza em suas diretrizes as aes de humanizao que tem
interface com a Poltica de Assistncia Farmacutica.
20
Considera-se tambm, que os avanos ocorridos nos ltimos anos,
principalmente na Ateno Primria, devido extenso do Programa de Sade da
Famlia (PSF), agora tratado como estratgia de ateno sade, e portanto,
responsvel por trabalhar a preveno primria e o controle mais adequado de
agravos (PEREIRA, 2005), requer uma consonncia com a Poltica de Assistncia
Farmacutica na perspectiva da garantia do acesso ao tratamento (CONSELHO
NACIONAL DE SECRETRIOS DE SADE, 2007).
O processo de descentralizao em Sade junto aos municpios ampliou
suas responsabilidades pelas aes integrais de sade, inclusive a Assistncia
Farmacutica e suas aes vo mais alm do que adquirir e distribuir
medicamentos.
2.4 A Organizao dos Servios de Assistncia Farmacutica na Ateno
Bsica de Sade
Segundo o Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos
Estratgicos do Ministrio da Sade, a Assistncia Farmacutica se constituiu
historicamente dentro do SUS como suprimento para as aes e servios de sade,
com baixa ou nenhuma insero na programao e organizao dessas aes e
servios. Essa lgica constitutiva decorrente de diversos fatores, em especial, do
fato de que o produto/medicamento chegou ao usurio antes do servio. nesta
origem que se encontra o entendimento, ainda existente, da assistncia
farmacutica como fornecedora de medicamentos, descolada na maioria das vezes,
da organizao da assistncia e da ateno sade (BRASIL, 2008).
A Ateno Bsica, no decorrer dos anos, vem assumindo papel relevante no
processo de construo do SUS no pas. Neste contexto, necessrio que as aes
desenvolvidas na assistncia farmacutica, que devem integrar as aes de sade,
acompanhem esse processo, capacitando-se para atender as novas demandas que
esta realidade impe. Vrios cenrios apontam para necessidade de uma mudana
de paradigma nessa rea, imprescindvel para o enfrentamento dos desafios
sanitrios econmicos e sociais da sade, em especial no SUS, na qual a
21
assistncia farmacutica possui papel relevante (CONSELHO NACIONAL DE
SECRETRIOS DE SADE, 2004, p. 38).
Na perspectiva que o medicamento deve ser instrumento para o aumento da
resolutividade do atendimento ao usurio, o MS responsabilizou-se por articular a
Poltica de Assistncia Farmacutica, parte integrante da Poltica Nacional de
Sade, como define a Resoluo CNS n 338, de 6 de maio de 2004 (CONSELHO
NACIONAL DE SADE, 2004). Para tanto, publicou portarias referentes
organizao dos servios, tais como: Portaria GM n 2.084/2005 que estabelece os
mecanismos e as responsabilidades para o financiamento da Assistncia
Farmacutica na Ateno Bsica e a Portaria GM n 698/2006 trata sobre a
organizao dos recursos federais de custeio em Blocos de Financiamento. Apenas
em 2006, a partir da publicao da portaria GM/MS n 399/2006 que divulga o Pacto
pela Sade e da publicao da portaria GM/MS n 699 /2006 que regulamenta as
Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida e de Gesto, que se estabeleceu
que todas as esferas de gesto do SUS so responsveis por promover a
estruturao da assistncia farmacutica e garantir em conjunto com as demais
esferas de governo, o acesso da populao aos medicamentos cuja dispensao
esteja sob sua responsabilidade (BRASIL, 2005, 2006a, 2006b, 2006d).
O crescente e rpido desenvolvimento das tecnologias de frmacos, aliados
a maior oferta e acesso aos servios de sade, tem elevado significativamente os
recursos dirigidos a medicamentos, sendo absolutamente necessrio constituir
servios adequados para responder a essa demanda.
O aumento na descentralizao de recursos financeiros do MS para os
municpios, visando a execuo dos servios de assistncia farmacutica, dever
promover e enfatizar a necessidade de constituir servios em municpios onde no
esto disponveis e de aperfeioar e organizar naqueles em que j se encontram
organizados de alguma forma.
Investir na estruturao e na organizao dos servios de assistncia
farmacutica significa qualificar a aplicao dos recursos financeiros, na medida em
que um servio organizado pode reduzir perdas, evitar o uso de medicamentos mais
caros, reduzir os erros de medicao e incentivar o uso racional de medicamentos.
22
Assim, alguns Estados e municpios brasileiros vem buscando alternativas
para implementar as diretrizes da PNM, como relata Consendey et al. (2000) em
algumas experincias nos estados do Paran, So Paulo e Minas Gerais. O autor
refere que estes se destacaram por elaborar no mbito da poltica de assistncia
farmacutica, programas que incluam a distribuio de medicamentos essenciais
para a ateno primria que apresentaram como objetivo comum garantir o
tratamento eficaz das patologias mais freqentes em cada estado, expandindo o
acesso e a resolubilidade da rede no atendimento das necessidades individuais e
coletivas da populao de baixa renda, integralizando a distribuio e dispensao
de medicamentos s aes de sade em nvel bsico (COSENDEY et al., 2000).
No municpio de Recife, esforos foram empreendidos no sentido de
reestruturar a Assistncia Farmacutica que necessitou de uma soluo criativa,
inovadora, com a perspectiva da garantia do acesso aos medicamentos, respeito
aos direitos de cidadania do usurio e maior eqidade. Portanto, nos propomos a
apresentar um novo modelo de Assistncia Farmacutica idealizado pela Gerencia
de Assistncia Farmacutica da Secretaria de Sade da Prefeitura do Recife
intitulado Farmcia da Famlia.
Apesar dos avanos alcanados e do esforo para consolidar a assistncia
farmacutica, com a busca incessante da melhoria do acesso aos medicamentos
essenciais pela populao, a realidade brasileira ainda se caracteriza por uma
situao desigual no que diz respeito ao acesso aos medicamentos, em especial, os
destinados a ateno primria.
23
JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA
24
3 JUSTIFICATIVA
A Prefeitura do Recife buscando propiciar uma maior abrangncia dos
cuidados com a sade da populao ampliou, significativamente, a rede municipal
de sade, sobretudo com a expanso do Programa Sade da Famlia (PSF) que
passou de 21 para 220 Equipes de Sade da Famlia e Centros de Ateno
Psicossocial (CAPS) que passou de 01 CAPS para 16 CAPS, dos quais 06 so
CAPS/AD. A conseqncia dessa ampliao gerou um acrscimo para 147 pontos
de dispensao de medicamentos na rede de estabelecimentos de sade.
Apesar dos esforos para obter xito, no intuito de melhorar o atendimento
aos seus usurios, as Farmcias das Unidades de Sade, em especial da Ateno
Primria, ainda, possuem uma estrutura fsica inadequada para o
recebimento/distribuio de medicamentos, alm de no serem informatizadas.
Aliado a isso h carncia de recursos humanos especficos e qualificados
para o atendimento. Essa situao dificulta o controle e o cadastramento de
usurios, levando peregrinao de alguns destes por diversas unidades ou
permitindo o recebimento de medicao acima do necessrio. Desse modo, ampliou-
se o custeio da Assistncia Farmacutica, embora no se tenha resolvido o
problema do desabastecimento da rede, provocando grande insatisfao da
populao.
O incremento dos CAPS, que muito favoreceu o atendimento aos portadores
de transtornos mentais, teve como conseqncia o aumento da demanda por
medicamentos, principalmente aos usurios, que aps a sua alta clnica devem ter
assegurado o tratamento contnuo.
Visando cumprir os preceitos da Portaria n 344/98 (BRASIL, 1998a), a
dispensao de medicamentos sob controle especial ficou centralizada nas
Policlnicas, enquanto nos CAPS os farmacuticos distritais subsidiaram o
atendimento dos usurios em tratamento. Em contrapartida a Equipe de Sade da
Famlia foi treinada ao atendimento em Sade Mental, ocasionando um aumento das
prescries, encaminhadas para atendimento nas Policlnicas, gerando tumultos por
ter que atender, alm dos seus usurios, aos usurios em alta dos CAPS e todos
aqueles provenientes da Ateno Primria.
25
Outro fator relevante, para repensar o modelo de Assistncia Farmacutica
a multiplicidade de sistemas de informao especficos para cada programa de
sade como, por exemplo, SIS-HIPERDIA, Sistema de Controle e Logstica de
Medicamentos (SICLOM) que sem a interligao das informaes e sem
compartilhamento de dados, dificulta o monitoramento dos indicadores de sade. A
falta de informaes em tempo ocasiona elevadas taxas de abandonos de
tratamentos das enfermidades que precisam do uso contnuo de medicamentos e,
conseqentemente, ocorre baixa efetividade das medidas de controle das doenas
tais como tuberculose, hansenase, hipertenso e diabetes.
Assim sendo, considerando:
a) a importncia da Assistncia Farmacutica na organizao da ateno
sade da populao;
b) o processo de desenvolvimento da Assistncia farmacutica no pas,
enfocando os momentos mais recentes nos quais predominam as
aes de descentralizao, tanto no contexto geral do SUS quanto
especificamente na Assistncia Farmacutica;
c) a necessidade de enfocar as experincias municipais no campo da
Assistncia farmacutica, bem como a escassez de relatos literrios
referente a tais experincias;
d) o contexto favorvel do municpio de Recife que tem a experincia da
Farmcia da Famlia como um dos motes centrais da gesto da Sade.
Acredita-se que a elaborao do presente estudo contribuir,
consideravelmente, para o acmulo de conhecimento nessa rea, assim como
fortalecer o Projeto Farmcia da Famlia, socializando a experincia como
estratgia para com outros municpios ou servios que tenham o paciente como foco
de interesse no mbito do SUS.
26
OOBBJJEETTIIVVOOSS
27
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo Geral
Descrever o processo de implantao e as diretrizes operacionais do
Programa Farmcia da Famlia da cidade do Recife/PE.
4.2 Objetivos Especficos
a) Caracterizar o processo de construo do Programa Farmcia da Famlia no
municpio do Recife;
b) Apresentar os princpios e diretrizes operacionais do Programa Farmcia da
Famlia;
c) Identificar as potencialidades do Sistema de Controle e Custeio da
Assistncia Farmacutica (SCDCAF), software que subsidia a
operacionalidade do Programa Farmcia da Famlia.
28
MMTTOODDOO
29
5 MTODO
5.1 Estratgia da Pesquisa
Tratou-se de um estudo descritivo da experincia do municpio do Recife,
referente gesto da assistncia farmacutica implantada no ano de 2006, o
Programa Farmcia da Famlia.
O estudo descreve os aspectos relacionados operacionalizao do
Programa Farmcia da Famlia, os seus princpios e diretrizes, alm de demonstrar
as potencialidades do Sistema SCDCAF.
A coleta de dados para subsidiar o estudo foi realizada partir de
documentos produzidos pela equipe de gesto do municpio do Recife, quais sejam:
Cadernos de Informaes SUS - Recife 2001-2007, Plano Municipal de Sade do
Recife: 2006-2009, Manual de Orientaes para Implantao das Farmcias da
Famlia, e Manual e Relatrios do SCDCAF, Recife 2007.
5.2 rea do Estudo
Recife a capital do estado de Pernambuco, possui uma extenso territorial
de 209 Km2 e uma populao de 1.501.010 habitantes (populao estimada pelo
IBGE para 2005). O territrio do Recife subdividido, desde 1988, em 94 bairros,
mediante Decreto n. 14.452/88.
Para efeito da gesto do sistema de sade o municpio est dividido em seis
Regies Poltico-Administrativas (RPA) ou Distritos Sanitrios (DS). A figura 1
mostra o territrio do Recife demarcado por RPA, cada uma com trs microrregies
(MR) e o quadro 1 mostra o quantitativo da populao em cada nos seis Distritos
Sanitrios do municpio.
30
Cada Distrito Sanitrio possui uma sede com estrutura organizacional para
administrar os servios de sade em conjunto com o nvel central municipal. A rede
de sade do municpio complexa. Os hospitais de grande porte atendem a mdia
complexidade, mas principalmente, a alta complexidade que encontra-se sob a
gesto estadual. A rede municipal conta com os seguintes equipamentos de sade
(RECIFE, 2007):
a) 15 unidades hospitalares (sendo 05 da rede prpria e 10 conveniados
destes 03 so voltadas para atendimento peditrico, outras 03 so
maternidades, 06 so hospitais psiquitricos e apenas 03 so de
atendimento geral);
b) rede ambulatorial composta por setenta e duas (72) unidades
especializadas, 106 unidades bsicas tradicionais e duzentas e vinte
(224) equipes de sade da famlia;
c) 07 unidades de Farmcia da Famlia;
d) 16 Centro de Apoio Psicossocial- CAPS (10 unidades destinadas ao
atendimento dos sofrimentos psquicos e 06 para tratamento da
dependncia qumica);
e) 01 unidade de cuidados integrais sade.
Figura 1 - Regies Poltico-administrativas do Recife. Fonte: Recife (2007).
DS III
DS II
DS I
DS V
DS IV
DS VI
31
Distritos Sanitrios Nmero de
ESF
DS I 15
DS II 39
DS III 39
DS IV 38
DS V 29
DS VI 64
Recife 224
5.3 Perodo do Estudo
O perodo do estudo contempla desde o incio das discusses para a
implantao do Projeto no ano de 2006 at o ano 2007.
5.4 Anlise dos Dados
Foi realizada a reviso de documentos oficiais que regulamentam o Projeto
Farmcia da Famlia no municpio do Recife.
5.5 Aspectos ticos
O projeto de pesquisa foi submetido aprovao do Comit de tica do
Centro de Pesquisa Aggeu Magalhes, como tambm a anuncia da Gerncia de
Assistncia Farmacutica da Secretaria de Sade do Recife. Uma vez aprovada,
Quadro 1 Nmero de Equipes de Sade da Famlia por Distrito Sanitrio do municpio do Recife em 2007. Fonte: Recife (2007).
32
constituiu o trabalho de concluso do Curso de Especializao em Gesto de
Sistema e Servios de Sade.
Haver o comprometimento em repassar ao servio pblico de sade,
Secretaria Municipal de Sade e s instncias cabveis, o resultado dessa pesquisa,
visando contribuir para uma maior adequao do Programa, sendo o usurio o maior
beneficiado.
33
RREESSUULLTTAADDOOSS
34
6 RESULTADOS
Os resultados esto apresentados em trs etapas. A primeira descreve os
aspectos relacionados implantao do Programa Farmcia da Famlia, a segunda
descreve os seus princpios e diretrizes operacionais e a terceira etapa demonstra
as potencialidades do Sistema SCDCAF, atravs da anlise dos relatrios
previamente selecionados.
6.1 Processo de Implantao da Farmcia da Famlia
A implantao do Programa Farmcia da Famlia contou com o apoio
financeiro do Ministrio da Sade e da Secretaria Municipal de Sade, alm de
envolvimento intersetorial de outros segmentos da estrutura municipal.
O quadro 2 abaixo destaca as principais etapas na construo do Programa
Farmcia da Famlia e os principais atores e instncias envolvidas em cada uma
delas.
ETAPAS ATORES ENVOLVIDOS
1 - Construo da proposta inicial Farmacuticos do Nvel Central e Distrital
2 - Apresentao e discusso da proposta inicial com
atores chave inseridos no desenvolvimento de polticas
prioritrias do municpio para definio do conjunto de
medicamentos a serem includos, assim como sua forma
de distribuio considerando as diretrizes dos programas.
Secretaria Municipal de Sade, Diretoria
Geral de Ateno Sade, Gerncia de
Assistncia Farmacutica, Diretoria de
Planejamento e Gesto, Diretoria de
Regulao do Sistema, Gerentes e
farmacuticos dos Distritos Sanitrios,
Diretoria de Gesto do Trabalho,
Empresa Municipal de Informtica
EMPREL.
3 - Construo da proposta do software Gerncia de Assistncia Farmacutica,
EMPREL
4 - Implantao do projeto piloto no Centro Mdico Sen.
Jos Hermirio de Moraes
Secretaria Municipal de Sade, Diretoria
Geral de Ateno Sade, Gerncia de
Assistncia Farmacutica, Gerncia do
35
Distrito Sanitrio III, Diretora do Centro
Sen. Jos Hermirio de Moraes,
Farmacuticos do DS III e do Centro
5 - Apreciao do projeto piloto para adequao da
proposta e apresentao dos resultados s instncias de
controle social
Secretaria Municipal de Sade, Diretoria
Geral de Ateno Sade, Gerncia de
Assistncia Farmacutica,
6 - Seleo das unidades para implantao do projeto de
acordo com critrios de localizao e possibilidade de
reforma e adequao da estrutura.
Engenharia do Nvel Central e Distrital
7 - Elaborao da verso final do PFF nos parmetros de
envio para convnio com o MS -convnio 097/05.
Secretaria Municipal de Sade, Diretoria
Geral de Ateno Sade, Gerncia de
Assistncia Farmacutica, Diretoria de
Planejamento e Gesto, Diretoria de
Regulao do Sistema,
8 - Reforma das Unidades para adequao da infra-
estrutura fsica de acordo com as diretrizes do Projeto,
aquisio de equipamentos, mobilirio e material de
consumo.
Gerncia de Assistncia Farmacutica,
Diretoria de Planejamento e Gesto,
Diretoria de Regulao do
Sistema,Diretoria Administrativa
Financeira, Engenharia do Nvel Central e
Distrital
9 Nomeao e Capacitao dos farmacuticos e
agentes administrativos para a utilizao do sistema-
SCDCAF e conhecimento do fluxo de atendimento no
PFF.
Gerncia de Assistncia Farmacutica,
EMPREL, Diretoria de Gesto de
Trabalho
10 - Cadastramento dos usurios de acordo com critrios
pr-definidos
Gerncia de Assistncia Farmacutica,
EMPREL, Equipe do SAME
No perodo de Junho de 2006 a Dezembro 2007 foram implantadas mais 06
Farmcias da Famlia. O resultado de todo o processo de discusso realizado no
municpio resultou na definio dos princpios e diretrizes do projeto descrito a
seguir.
Quadro 2 Principais etapas na construo do Projeto Farmcia da Famlia e atores envolvidos. Fonte: Veloso et al. (2007a) com adaptao dos autores.
36
6.2 Princpios e diretrizes operacionais do Programa Farmcia da Famlia
O Programa Farmcia da Famlia segue o princpio da territorializao,
tambm adotado pela Estratgia Sade da Famlia. Assim, as Farmcias da Famlia
so designadas ao atendimento da demanda de um nmero de USF adstritas
(Quadro 3). As farmcias no podem distar mais de 2 Km destas USF, nas quais os
pacientes realizam a sua consulta. A distncia de 2 Km foi definida por ser
considerada, no momento da construo da proposta, como a distncia mxima em
que o paciente possa se deslocar sem custos adicionais de transporte. No caso dos
usurios acamados e de difcil locomoo, fica a cargo do ACS da micro rea ou do
familiar o recebimento do medicamento.
Os requisitos bsicos para recebimento do medicamento pelos usurios na
FF so: possurem cadastro na USF a ela referenciada; serem usurios das
policlnicas onde esto situadas e/ou terem sido encaminhados de CAPS
referenciado pela FF, aps a sua alta. A populao coberta por cada FF em torno
de 30.000 a 40.000 habitantes, estimando um atendimento mdio de 30 a 35% desta
populao/ms ou 500 a 1.000 pacientes atendidos ao dia (VELOSO et al., 2007a).
Para ter acesso ao medicamento, o usurio precisa se dirigir Farmcia da
Famlia ligada sua USF com a prescrio do mdico. Uma vez cadastrado no
Sistema de Controle e Custeio da Assistncia Farmacutica, o usurio de posse de
uma receita mdica com solicitao de at 06 meses estar automaticamente
agendado o recebimento dos medicamentos prescritos nos meses subseqentes.
No total foram implantadas at o momento 07 FF, em 05 DS,
proporcionando uma cobertura de 18% das ESF do Recife (VELOSO et al., 2007a).
Na tabela abaixo esto listadas as Farmcias da Famlia, e a proporo de
equipes cobertas por Distrito Sanitrio em Recife.
37
Tabela 1 Nmero de Farmcias da Famlia, Equipes de Sade da Famlia coberta segundo Distrito Sanitrio do Recife, 2007.
DS I DS II DS III DS IV DS V DS VI RECIF
E
Nmero de FF 0 2 2 1 1 1 7
Nmero de ESF 0 22 6 3 4 4 39 Proporo de ESF contempladas 0.0 56.4 15.4 7.9 13.8 6.3 18.7
O Projeto Farmcia da Famlia incluiu a reestruturao fsica das Unidades e
a criao de um fluxo de distribuio de medicamentos.
A estruturao das Farmcias da Famlia deu-se a partir da definio de
um padro mnimo em termos de espao, instalaes, equipamentos e materiais
necessrios a fim de garantir a qualidade de atendimento e a eficincia de
funcionamento requerida. A partir dessa relao de equipamentos e materiais
bsicos necessrios, a depender do nmero de pacientes atendidos por dia e do
nvel de complexidade da unidade, foram feitos os ajustes e adequaes.
Quanto rea fsica2: ampliao e adequao da rea fsica, conforme
planta baixa simplificada, definido pela equipe de engenharia (Anexo B). A fim de
comportar o atendimento de 500 a 1000 pessoas /dia, foi definido uma rea fsica
em torno de 100 m, que contemplou as boas prticas de armazenamento/
estocagem e dispensao com luminosidade, umidade, temperatura e ventilao e
exausto adequadas.
O espao foi dividido da seguinte forma:
a) uma sala para orientao/atendimento/espera/dispensao com 50 m2,
com acomodaes para os usurios: cadeiras, televiso e vdeos,
bebedouro, painel eletrnico para organizao das filas e chamada das
senhas dos pacientes da vez, etc.
b) outro ambiente de 50 m2 dividido e destinado para:
- o armazenamento dos medicamentos e correlatos, guarnecida de
estrados e prateleiras em madeira, com bancadas e espao para 03 a 04
microcomputadores com internet;
2 Definio: Espao destinado ao armazenamento, controle de estoque e atendimento de usurios para dispensao de medicamentos, reunies de gerenciamento, ateno farmacutica (programas de sade e orientaes gerais), aes educativas em sade, uso racional e problemas relacionados aos medicamentos.
38
- atendimento ao usurio e tambm reservado para reunies, estudo e
controle gerencial da unidade.
Quanto ao mobilirio e aos equipamentos foram definidos padres para
todas as farmcias. Os detalhes podem ser vistos no Anexo C.
Quanto a recursos humanos: ampliao de recursos humanos farmacuticos
e agentes administrativos nomeados atravs de concurso pblico. Foi estabelecido
que para cada Farmcia da Famlia com mais de 450 atendimentos/dia ou que
atendem mdia complexidade seria necessrio 02 farmacuticos com carga horria
de 6 horas/dia e 08 agentes administrativos de nvel mdio. As que atendem menos
de 450 usurios/dia foi definido o quantitativo de 01 farmacutico com carga horria
de 06 horas/dia e 06 agentes administrativos de nvel mdio.
Todos os farmacuticos e auxiliares foram capacitados para utilizao do
sistema e anlise dos relatrios do SCDCAF para avaliao do acesso
(atendimentos/ms). Foi contratada uma equipe inicial de apoio ao para
cadastramento dos usurios provenientes das unidades referenciadas ao PFF.
Foram contratados de 03 a 05 digitadores por um prazo de 30 a 60 dias, a depender
do porte das unidades referenciadas.
Houve reformulao do fluxo de atendimento e dispensao de
medicamentos na ateno bsica. Os usurios pertencentes s USF referenciadas
para a Farmcia da Famlia foram cadastrados inicialmente no Sistema de Arquivo
Mdico (SAME) da US que tem FF o qual encontra-se interligado ao SCDCAF As
farmcias destas unidades de sade foram desativadas, passando a receber apenas
medicamentos e insumos de Emergncia. A sistemtica de aquisio, programao
e controle de medicamentos, passou a ser realizada atravs dos relatrios emitidos
pelo SCDCAF.
O cadastramento do usurio nas FF realizado a partir do nmero do
pronturio aberto na sua Unidade de Sade de origem. Alguns dados alm dos que
j constam do pronturio so adicionados no cadastramento para a FF. A
numerao dos pronturios dos PSFs e Unidades Bsicas mantida, mas adiciona-
se um nmero seqencial para que cada componente da famlia tenha identidade
prpria no sistema informatizado das FF.
39
Quando a FF est localizada dentro de uma unidade de mdia complexidade
(Policlnicas com ou sem SPA, centros especializados etc.) o cadastramento para
atendimento na FF feito no SAME. Aps o incio de atividades da FF, os
cadastramentos de novos usurios tambm podem ser feitos diretamente na FF. Em
caso de prescrio de medicao de uso contnuo agendada uma nova data para
retorno do usurio. A figura a seguir demonstra o Fluxo do atendimento e
distribuio de medicamentos na FF:
Figura 2 Fluxo do atendimento na Farmcia da Famlia. Fonte: Elaborado pelas autoras3.
6.3 Caractersticas do Sistema de Controle Dispensao e Custeio da
Assistncia Farmacutica SCDCAF
A informatizao das Farmcias da Famlia atravs da implantao de um
software para controle da dispensao e distribuio de medicamentos e Materiais
Mdicos Hospitalares (MMH) aconteceu em parceira com a Empresa Municipal de
3 Com a colaborao da farmacutica da PCR Marise A. Matwijszyn e o estagirio de Farmcia da PCR Mrcio J. M. Oliveira.
40
Informtica (EMPREL). O sistema integra toda a rede e todos os programas de
sade atravs de um nico software identificado como SCDCAF.
O SCDCAF tem duas funcionalidades principais: a primeira de funcionar
como um controle de estoque normal, para Central de Abastecimento Farmacutica
(CAF) e para as prprias unidades. A segunda voltada especialmente para atender
todas as necessidades de uma farmcia, funcionando como sistema de distribuio
por prescrio individual, identificando lote/validade dos produtos, movimentaes e
relatrios, podendo filtrar as informaes por produto, por programa de sade,
pacientes atendidos e unidades atendidas.
O SCDCAF interliga o SAME com as farmcias da famlia da prpria unidade
de sade. Este sistema encontra-se implantado em cada uma das unidades do
Programa Farmcia da Famlia e, tambm, na Gerncia de Assistncia
Farmacutica (GEAF) que possibilita um acompanhamento dos Programas de
Sade, o custeio da assistncia farmacutica nas unidades, bem como a evaso nos
tratamentos, otimizando o acesso ao medicamento e o seu uso racional.
A implantao do SCDCAF permitiu:
Controlar o fluxo de medicamentos nas unidades de sade no mbito da
PCR;
Controlar o custeio da Assistncia Farmacutica, integrando todos os
programas de sade;
informar a real necessidade de medicamentos e insumos da rede pblica de
sade, possibilitando a sua identificao e evitando o desperdicio;
Identificar o abandono de tratamento nos programas estratgicos;
Acompanhar a validade e lote dos medicamentos e MMH;
Controlar a aquisio de produtos atravs de compra, doao, devoluo e
recebimento da Farmcia Central;
Solicitar reposio automtica de medicamentos;
Dispensar medicamentos para os pacientes de acordo com o receiturio
apresentado, agendando nova dispensao para os medicamentos de
tratamento de uso contnuo;
Tornar pblico a cada usurio o custo dos medicamentos concedidos atravs
de um boleto emitido no ato do recebimento.
41
Gerar relatrios gerenciais e operacionais peridicos.
O sistema SCDCAF foi desenvolvido em liguagem Borland Delphi 5 com
acesso ao banco de dados Oracle 9.i, sendo armazenado no servidodr de dados da
EMPREL (VELOSO et al., 2007b).
As principais telas do SCDCAF esto apresentadas no quadro 3 a seguir:
TELA FUNO
Principal Acesso, identificao do usurio, opes de entrada de
relatrios e demais configuraes.
Produto Relao de medicamentos e insumos com cdigo e
descrio.
Movimentao Opes de movimentao do produto na farmcia:
inventrio, pedido, entrada e sada.
Relatrios Dividos em analtos e sintticos com argumentos
estatsticos, operacionais, administrativos, financeiros e
gerenciais.
Figura 3 Tela de abertura do SCDAF.
Quadro 3 - Resumo das principais telas do SCDAF. Fonte: Elaborado pelas autoras.
42
Os relatrios podem ser emitidos pelo SCDCAF por perodos, por unidade
de sade, por programa de sade, por medicamento, por paciente, por sexo. Estes
relatrios permitem a obteno de informaes relacionadas :
a) medicamentos dispensados;
b) demanda no atendida;
c) custo do produto;
d) planilha clculo de compra;
e) estoque por programa de sade;
f) situao do usurio que retrata alta/abandono/falta/bito;
Exemplificando o SCDCAF apresentamos, em anexo, alguns tipos de
relatrios contendo as seguintes informaes: custo de medicamentos e material
mdico (Anexo D), entrada de itens (Anexo E), relatrio situao do paciente (Anexo
F) medicamentos dispensados por departamento (Anexo G).
A implantao das 07 farmcias da famlia proporcionou uma cobertura de
18% do total das equipes de sade da famlia, sendo possvel vislumbrarmos
diversos beneficirios com a implantao do programa:
a) Nvel central: SMS, DGAS, GEAF, COORDENAES DOS PROGRAMAS
DE SADE detm os dados referentes ao fluxo de Medicamentos e Material
Mdico Hospitalar em toda a rede de sade do Municpio. Alm dos dados
epidemiolgicos e de custeio, tem uma maior segurana na programao das
necessidades e previso de compras. A otimizao dos custos foi outro fator
de grande relevncia;
b) Unidades de sade: organizao interna da Farmcia e insero do
farmacutico na equipe multiprofissional;
c) Usurios: os usurios cadastrados nas FF por terem seu tratamento
agendado com a garantia da medicao na data prevista, busca ativa no caso
de falta e uma estrutura fsica e humana mais acolhedora, favoreceu para um
atendimento mais humanizado;
d) Demais componentes da equipe: o trabalho multiprofissional contribuiu, em
especial, para as coordenaes de hansenase e tuberculose, a partir da
implantao da dispensao individualizada de medicamentos e anlise dos
faltosos. Os prescritores tiveram uma maior flexibilidade para agendar o
retorno do usurio, sem correr o risco do mesmo ficar sem tratamento.
43
DDIISSCCUUSSSSOO
44
7 DISCUSSO
luz da pesquisa realizada na rea de Assistncia Farmacutica no Brasil,
constatou-se os esforos empreendidos pelo Ministrio da Sade para suprir as
necessidades de medicamentos, principalmente queles considerados bsicos.
Ainda na poca da CEME criou-se a RENAME sob a forma de nortear a relao de
medicamentos essenciais. Surge ento a Poltica Nacional de Medicamentos, que
envolve atividades relativas ao abastecimento, conservao, garantia da qualidade,
segurana, eficcia teraputica, acompanhamento e avaliao do uso racional do
medicamento, tendo os gestores do SUS o compromisso, entre outros de reorientar
a Assistncia Farmacutica. Com base nestes princpios lanada a Poltica
Nacional de Assistncia Farmacutica que tem o medicamento como insumo
essencial contemplando um conjunto de aes relativas ao medicamento, tais como:
seleo, programao, distribuio, acompanhamento e avaliao visando seu
acesso e uso racional.
Neste cenrio figurou as experincias dos Estados do Paran, So Paulo e
Minas Gerais que, na tentativa de organizar a AF, criaram sua lista padro de
medicamentos, tendo como base na RENAME /1983 e a Lista de medicamentos
essenciais comendados pela OMS. Assim como estes Estados, o Estado de
Pernambuco, tambm se norteia pela RENAME para elaborar a sua relao de
medicamentos essenciais para o Municpio (PERNAMBUCO, 2008).
Tendo como premissa que a etapa inicial do ciclo logstico da Assistncia
Farmacutica a SELEO, a definio do elenco de medicamentos padronizados
na rede municipal de sade, com a equipe multiprofissional, foi a preocupao inicial
da SMS do Recife, tomando por base a RENAME e a Relao Estadual de
Medicamentos Essenciais.
Castro e Miranda (2007) relatam a escassez de estudos sobre o tema
Assistncia Farmacutica, ressaltando que apenas o campo da avaliao tem
congregado recentes e amplas pesquisas nessa rea, como por exemplo: o
Diagnstico da Farmcia Hospitalar no Brasil (2002-2003), a Avaliao das Polticas
Farmacuticas no Brasil (OMS) (2003-2004) e a Avaliao da Dispensao de
Antiretrovirais (ARV).
45
O tema abordado no estudo suscitou a dificuldade de reflexes que
ensejassem comparaes, pois o enfoque abordado no Programa Farmcia da
Famlia no que tange a intersetorialidade das aes para a execuo do projeto; a
territorializao, critrio adotado de distncia mnima entre as Farmcias e o pr-
cadastro de usurios, foram estratgias adotadas para a organizao da
Assistncia Farmacutica na Ateno Bsica, no encontrada na bibliografia
consultada. Assim, consiste o diferencial do Programa Farmcia da Famlia que vem
buscando a qualificao do atendimento.
A literatura consultada j aponta para a necessidade que os gestores tm na
informao em tempo hbil e, portanto, a informatizao nesse aspecto torna-se um
instrumento imprescindvel como verificou-se nos estados de So Paulo, Paran e
Minas Gerais que priorizaram o sistema informatizado para subsidiar a gesto da
Assistncia Farmacutica (COSENDY et al., 2000; GOMES, 2007). Outras
experincias a nvel federal como o caso da implantao do Sistema SICLOM
(MINAS GERAIS, 2008) e o Sistema HIPREDIA que permite cadastrar e
acompanhar os portadores de hipertenso arterial e/ou diabetes mellitus (BRASIL,
2008), denotam a necessidade do controle informatizado da distribuio de
medicamentos. Entretanto, incorporam programas isolados. A lgica destes sistemas
subsidiou a criao do SCDCAF que tem a capacidade de interagir com os
programas de sade recomendados pelo MS, superando a deficincia dos sistemas
citados acima.
O sistema SCDCAF tem uma contribuio significativa para a organizao
da gesto da Assistncia Farmacutica. As informaes estratgicas geradas por
este sistema favorecem o acompanhamento do seu ciclo logstico em todas as
etapas, contribui para o uso racional do medicamento e otimizao dos custos,
medida que, proporciona um melhor acompanhamento da distribuio e favorecendo
ainda, uma programao de medicamentos em consonncia com a realidade.
As diretrizes adotadas pelo programa FF quanto ao envolvimento
intersetorial e multiprofissional, a territorializao e a otimizao dos custos foram
aspectos positivos do Programa. No entanto, o mesmo necessita avanar no que
tange a implantao da Ateno Farmacutica e utilizar das potencialidades do
sistema para realizar Estudos de Utilizao de Medicamentos. A anlise de outros
trabalhos demonstram a preocupao com a orientao farmacutica e a promoo
46
da adeso ao tratamento farmacolgico (CONSENSO..., 2002; MARIN et al., 2003;
TASCA, 1998; TEIXEIRA, 1998).
H necessidade de ampliar o nmero de farmcias da famlia para
proporcionar uma maior cobertura, alm de realizar monitoramento e avaliao
contnua das farmcias da famlia j implantadas. Inclusive no que concerne a
satisfao do usurio, vislumbrando incorporar ao Programa os preceitos do
atendimento humanizado, considerando que a prpria estrutura fsica j induz a esse
princpio.
Essas consideraes devem ser perseguidas pela gesto da Assistncia
Farmacutica do municpio, a fim de aprimorar e uniformizar o programa FF, de
forma que toda a populao possa usufruir com equidade de uma assistncia e
ateno farmacutica qualificada.
47
CCOONNSSIIDDEERRAAEESS FFIINNAAIISS
48
8 CONSIDERAES FINAIS
O apoio do Ministrio da Sade, alm do engajamento da equipe gestora, foi
imprescindvel para a concretizao do Programa Farmcia da Famlia pela
Secretaria Municipal de Sade do Recife.
O amplo envolvimento intersetorial e a discusso com as diversas categorias
demonstrou um aspecto relevante na gesto do municpio. O nmero de atores co-
responsveis no programa aponta para a sua complexidade. Esta envolveu
diferentes polticas municipais, na tentativa de otimizar o processo de aquisio,
distribuio e controle de medicamentos nas reas especficas.
O presente estudo buscou contribuir com a Poltica de Assistncia
Farmacutica e foi desenhado para conhecer a prtica de gesto implantada pela
Secretaria de Sade do Recife. Este propsito serviu tambm inteno de
subsidiar reflexes acerca do cuidado que se deve ter com o medicamento, bem
como, por conseqncia, mostrar a relevncia de uma gesto comprometida com a
Poltica de Assistncia Farmacutica (PAF) para resolubilidade teraputica.
A literatura mostra os agravos associados a uma prtica de gesto incipiente
na PAF, ou seja, relacionada apenas aquisio e distribuio do medicamento.
Assim, atuar neste campo nos servios de sade sem lidar com as
responsabilidades que devem ser assumidas pelas trs instncias gestoras, com o
compromisso pblico de garantir ao usurio do SUS, eficcia, segurana e qualidade
dos medicamentos, alm de promover o uso racional e o acesso da populao aos
medicamentos considerados essenciais, tem levado ineficcia assistencial por
parte dos servios de sade.
Por essas razes, acreditamos que, a Poltica de Assistncia Farmacutica
requer aes intersetoriais e integradas, devendo ser organizada, prioritariamente, a
partir da ateno bsica, de forma efetiva em todas as suas etapas e a definio do
perfil da necessidade dos medicamentos deve se dar a partir do diagnstico da
situao de sade de uma localidade.
Investir na estruturao e na organizao dos servios de assistncia
farmacutica significa qualificar a aplicao dos recursos financeiros em estrutura
49
fsica, capacidade instalada, modernizao tecnolgica, equipamentos e recursos
humanos. Isto representa uma nova prtica na gesto da assistncia farmacutica
inserida nos servios de sade e com a possibilidade de efetivamente virem a
compor elemento fomentador para as transformaes da assistncia farmacutica, e
desta forma, vislumbrar um caminho para o efetivo desenvolvimento da Assistncia
Farmacutica no SUS.
50
RREEFFEERRNNCCIIAASS
51
REFERNCIAS
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57
AANNEEXXOOSS
58
ANEXO A - CICLO LOGSTICO DA ASSISTNCIA FARMACUTICA
59
ANEXO B - MMOODDEELLOO PPAADDRROO DDAA EESSTTRRUUTTUURRAA FFSSIICCAA PPAARRAA AASS
FFAARRMMCCIIAASS DDAA FFAAMMLLIIAA
60
ANEXO C - RECURSOS MATERIAIS NECESSRIOS PARA
IMPLANTAO DA FARMCIA DA FAMLIA
N Item TIPO DE MATERIAL - ESPECIFICAES Quantitati
vo PADRO
MOBILIRIO
1 Cadeira giratria com brao e com rodzio
para digitao 4
2 Cadeira giratria sem brao e com rodzio. 1
3 Mocho em corvim na cor preta, com encosto e
altura regulvel para atendimento no guich 4
4 Longarinas com 03 lugares. 10
5 Longarinas com 05 lugares. 10
6 Bancada para 4 computadores, em madeira
revestida de material impermevel 1
7 Bancada 4 guichs, em madeira revestida de
material impermevel 1
8 Armrio com chave, 3 portas, em madeira
revestida de material impermevel 1
9 Cesto de lixo plstico lavvel 4
10 Suporte para TV, capacidade para 21 ou 29
polegadas 1
11 Cadeira em PVC com 04 ps capacidade:
120KG. 3
12 Estantes (1 x 0,30 x 2,10) 12
13 Tapete tipo capacho com aproximadamente
1,5 m x 1m 2
14 Cesto pltico para guarda de medicamentos 80
15 Cesto pltico para separao dos
medicamentos em dispensao
Total Mobilirio 134
EQUIPAMENTOS
61
15
Aparelho fone e fax, bobina, secretria
eletrnica e visor. 1
16 Caixa amplificadora, uso ambiente fechado
c/aproxim. 30 m 1
17 Microfone com fio compatvel com a caixa
amplificadora 1
18 Bebedouro de presso, corpo em inox,
modelo vertical 1
19 Aparelho telefnico com chave 1
20 Aparelho TV em cores, controle remoto,
garantia mn, 01 ano 1
21 Computador 5
22 Impressora 40 colunas 4
23 Impressora 80 colunas 1
24 Geladeira 1
25 Painel Eletrnico 1
26 Acionador de Painel 4
27 Mquina Seladora 1
28 Fita para seladora 1
29 Resistncia para seladora 1
30 Aparelho de DVD 1
31 Equipamento para filmagem de segurana (2
a 3 filamdoras) 1
32 Escadinha de 4 degraus 1
Total Equipamentos 28
62
ANEXO D CUSTO DE MEDICAMENTOS E MMH NO
MUNICPIO DE RECIFE A
NE
XO
4
63
ANEXO E ENTRADA DE ITENS POR DISTRITO/UNIDADE
DE SADE
64
ANEXO F RELATRIO SITUAO DO PACIENTE POR
PROGRAMA SADE/DISTRITO/UNIDADE/PACIENTE
65
ANEXO G PRODUTOS DISPENSADOS POR DEPARTAMENTO