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Farmácia Castro
Dina Isabel Sousa Carvalho das Neves
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia Castro
maio de 2018 a agosto de 2018
Dina Isabel Sousa Carvalho das Neves
Orientador: Dr.(a) Maria Angelina Alves Castro Neves
Tutor FFUP: Prof. Doutor(a) Maria Beatriz Vasques Neves Quinaz
Garcia Guerra Junqueiro
outubro de 2018
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | ii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente
noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros
autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da
atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas,
de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio
e auto-plágio constitui um ilícito académico.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 1 de outubro de 2018
Dina Isabel Sousa Carvalho das Neves
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | iii
AGRADECIMENTOS
À Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, professores, funcionários e
colegas por me terem proporcionado todas as condições necessárias para concluir o
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Um particular agradecimento à
Professora Paula Andrade por todas as oportunidades que me tem proporcionado no
laboratório de Farmacognosia do Departamento de Química.
À Comissão de Estágios expresso o meu sincero agradecimento, nomeadamente, à
minha tutora Professora Doutora Beatriz Quinaz, agradeço o seu cuidado na correção
deste relatório e a disponibilidade permanente.
À minha orientadora Dra. Maria Angelina, agradeço a oportunidade de realizar o
estágio na Farmácia Castro, os ensinamentos, o estímulo e a disponibilidade permanente.
Agradeço ainda a sua alegria e capacidade de motivar os estagiários.
A toda a equipa da Farmácia Castro, a quem exprimo as minhas saudades, agradeço
todo o auxílio e atenção prestados, a partilha de experiências profissionais, o empenho e
paciência que tiveram para comigo.
Ao meu colega estagiário Luís Reis, obrigada pelo espírito de interajuda.
Às minhas colegas farmacêuticas, Sara Gomes, Joana Andrade, Sara Pereira, Helena
Sousa, Cláudia Meneses, Juliana Azevedo e Rita Silva por serem as “substâncias ativas”.
Um especial obrigado à Andreia Fernandes por todo apoio que me concedeu ao longo
desta caminhada.
A todos os meus amigos, em especial aos mais pequeninos, Bruna, Íris, Leonor, Sara,
Cristiana, Rui e João, por fazerem parte da minha vida; e a toda a minha família, em
especial, aos meus primos e às minhas avós Dina e Conceição pelo apoio e compreensão
incondicionais.
Ao Carlos por ser a calma no meio da tempestade.
Ao meu pai José e à minha mãe Isabel e aos meus irmãos Xavier e Válter pelo o amor.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | iv
RESUMO
O presente relatório foi realizado no âmbito na unidade curricular Estágio do
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Trata-se do resultado final de quatro
meses de estágio na Farmácia Castro em Gondomar, que se divide fundamentalmente em
duas partes: a descrição da farmácia e das atividades realizadas durante o estágio; e a
descrição dos projetos desenvolvidos durante o estágio.
A primeira parte relata a minha envolvência nos procedimentos básicos que
ocorrem na Farmácia Castro, no que diz respeito à gestão da farmácia, dispensa de
produtos e serviços prestados à população. Também se encontra descrito a minha opinião
sobre o balanço final do estágio. Destaca-se que a Farmácia Castro é farmácia-piloto na
implementação da nova versão nacional do Sifarma®, pelo que são também descritas as
vantagens do programa em relação à versão atual.
Na segunda parte, encontram-se descritos os projetos que desenvolvi na farmácia,
nomeadamente, “Sete caminhos para saúde mental” e “Rigidez arterial, o aumento”. De
um modo geral, em ambos os projetos, os objetivos visaram o aumento da literacia em
saúde e foram cumpridos com sucesso. O projeto “Sete caminhos para saúde mental”
dividiu-se em duas vertentes principais: a Farmácia Castro, onde se realizou uma
campanha de sensibilização para promoção da literacia em saúde mental e um inquérito
de avaliação do consumo responsável de benzodiazepinas e Z-hipnóticos; e a comunidade
onde a Farmácia Castro se insere, onde se realizou uma intervenção em lares de idosos.
O projeto “Rigidez arterial, o aumento” englobou a elaboração de um folheto informativo
para sensibilizar os utentes da Farmácia Castro para a temática.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | v
ÍNDICE
Parte I – Descrição da farmácia e das atividades realizadas durante o estágio......... 1
A. DESCRIÇÃO DA FARMÁCIA CASTRO ................................................................ 2
1. Localização geográfica ....................................................................................... 2
2. Horário de funcionamento ................................................................................... 2
3. Recursos humanos ............................................................................................. 2
4. Perfil de utentes .................................................................................................. 3
5. Espaço físico e equipamentos ............................................................................ 3
6. Fontes de informação ......................................................................................... 5
7. Sistema informático ............................................................................................ 5
8. Cartão de cliente Farmaco® ............................................................................... 7
9. Comunicação interna e externa .......................................................................... 7
B. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O ESTÁGIO ..... 8
1. Gestão da Farmácia ........................................................................................... 8
1.1. Realização de encomendas ......................................................................... 8
1.2. Receção e verificação de encomendas ....................................................... 9
1.3. Armazenamento de produtos ......................................................................10
1.4. Gestão de devoluções ................................................................................10
1.5. Controlo de prazos de validade ..................................................................11
1.6. Contagem física de stocks ..........................................................................11
2. Dispensa de produtos ........................................................................................12
2.1. Medicamentos sujeitos a receita médica ....................................................12
2.2. Medicamentos não sujeitos a receita médica..............................................16
2.3. Outros produtos de saúde ..........................................................................17
3. Serviços prestados ............................................................................................19
4. Formação profissional .......................................................................................20
C. BALANÇO FINAL .................................................................................................20
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | vi
Parte II – Descrição dos projetos desenvolvidos durante o estágio ..........................21
PROJETO 1: SETE CAMINHOS PARA SAÚDE MENTAL ...........................................21
1. Introdução .............................................................................................................21
2. Motivação e Objetivos ...........................................................................................24
3. Métodos ................................................................................................................24
3.1. Cartaz e marcadores de livro para sensibilização da saúde mental ............24
3.2. Atividades de estímulo mental em lares de idosos próximos da FC ............25
3.3. Inquérito de avaliação do uso de BZD e Z-H na FC ....................................25
4. Resultados e Discussão ........................................................................................26
4.1. Campanha de sensibilização na FC ............................................................26
4.2. Intervenção nos lares de idosos ..................................................................26
4.3. Utilização de BZD e de Z-H pelos utentes da FC ........................................27
5. Conclusões ...........................................................................................................36
PROJETO 2: RIGIDEZ ARTERIAL, O AUMENTO .......................................................37
1. Introdução. ............................................................................................................37
1.1. Conceitos e epidemiologia ..........................................................................37
1.2. Fisiopatologia e sintomas ............................................................................37
1.3. Fatores de risco, diagnóstico e tratamento ..................................................38
2. Motivação e Objetivos ...........................................................................................39
3. Métodos – Panfleto informativo sobre RA .............................................................40
4. Resultados e Conclusões ......................................................................................40
REFERÊNCIAS .............................................................................................................41
ANEXOS .......................................................................................................................47
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | vii
LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS
ANF Associação Nacional de Farmácias
BZD Benzodiazepinas
CNP Código Nacional Português
FC Farmácia Castro
FEFO Fist Expired, First Out
FIFO First In, First Out
INFARMED Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde
IVA Imposto de Valor Acrescentado
MICF Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
MM Medicamentos Manipulados
MNSRM Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica
MNSRM-EF Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica de Dispensa Exclusiva
em Farmácia
MSRM Medicamentos Sujeitos a Receita Médica
OMS Organização Mundial de Saúde
OTC Produtos de venda livre Over The Counter
PCHC Produtos Cosméticos e de Higiene Corporal
PIC Preço Inscrito na Cartonagem
PV Prazo de Validade
PVF Preço de Venda à Farmácia
PVP Preço de Venda ao Público
RA Rigidez arterial
RCM Resumo das Características dos Medicamentos
SNS Serviço Nacional de Saúde
Z-H Z-hipnóticos
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | viii
ÍNDICE DE TABELAS E FIGURAS
Tabela 1 – Dados de identificação da Farmácia Castro. ................................................... 1
Tabela 2 – Cronograma das principais atividades realizadas durante o estágio. .............. 1
Tabela 3 – Número total de utentes consumidores de BZD e Z-H, discriminado por género, relativo a cada tópico inquirido e por cada resposta possível. ..........................................29
Figura 1 – Balanço das principais vantagens entre Sifarma® Módulo de atendimento e Sifarma® 2000. ................................................................................................................. 6
Figura 2 – Principais características das diferentes encomendas consoante o tipo de pedido. .............................................................................................................................. 8
Figura 3 – Percentagens de PVP comparticipadas relativas a cada escalão de regime geral ou especial. .....................................................................................................................15
Figura 4 – Serviços farmacêuticos prestados na FC. ......................................................19
Figura 5 – Distribuição por faixa etária dos utentes consumidores de BZD e Z-H inquiridos do sexo feminino (linha preta sólida) e do sexo masculino (linha cinzenta tracejada). .....27
Figura 6 – (A) Prevalência (em percentagem) de perturbações mentais (depressão, ansiedade, pânico), insónia e dor nos utentes consumidores de BZD e Z-H inquiridos; (B) Histograma do número de utentes por BZD ou Z-H dispensado. .....................................28
Figura 7 – Número de utentes (em percentagem) que usam BZD e Z-H, de forma responsável ou de forma irresponsável, por cada tópico inquirido relativo ao uso do medicamento. ..................................................................................................................30
Figura 8 – Proporção do número de utentes que usam BZD e Z-H, de forma responsável (A) e de forma irresponsável (B) relativamente a cada tópico inquirido, em função das possíveis respostas sobre interrupção da terapêutica (com ou sem interrupção), horário de tratamento (toma no horário indicado ou quando necessário), quantidade ingerida (toma a quantidade prescrita ou quantidade diferente) e indicação terapêutica (com ou sem indicação médica). ...........................................................................................................31
Figura 9 – Número de utentes com dependência às BZD e Z-H (linha preta sólida) ou que estão a fazer redução da dose terapêutica (linha cinzenta tracejada) em função do tempo de consumo. ....................................................................................................................33
Figura 10 – Número de utentes (em percentagem) com e sem dependência às BZD e Z-H em função das possíveis respostas sobre os tópicos perceção de risco e eficácia terapêutica. ......................................................................................................................34
Figura 11 – Representação do processo ventricular em artéria com RA normal (A) em artéria com RA aumentada (B) (adaptada de [71]). ..........................................................38
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 1
Parte I – Descrição da farmácia e das atividades realizadas durante o estágio
O meu estágio curricular em farmácia comunitária ocorreu na Farmácia Castro (FC)
de 1 de maio a 31 de agosto de 2018. A Tabela 1 mostra os principais dados identificativos
da FC. Durante o meu estágio na FC, realizei várias atividades como mostra o cronograma
disposto na Tabela 2. Todas as atividades visaram o objectivo-base do estágio curricular:
adquirir e consolidar os conhecimentos teóricos obtidos no Mestrado Integrado em
Ciências Farmacêuticas (MICF) e desenvolver novas aptidões por contacto direto com
outros profissionais de saúde e utentes. [1] Considerando as atividades descritas, nota-se
que aprendi duas versões do mesmo sistema informático. De facto, a FC está a ser pioneira
na implementação da futura versão nacional do Sifarma®. Considero que ter aprendido as
duas versões foi uma das experiências mais desafiantes e autónomas que fiz na FC.
Tabela 1 – Dados de identificação da Farmácia Castro.
Tabela 2 – Cronograma das principais atividades realizadas durante o estágio.
Dados de identificação Farmácia Castro
Proprietária Dra. Maria Angelina Alves Castro Neves
Direção Técnica Dra. Maria Angelina Alves Castro Neves
Morada Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, nº 657
4420-237 Gondomar
Contacto telefónico 22 483 73 21
E-mail [email protected]
Atividade realizada maio junho julho agosto
Conhecimento dos produtos disponíveis
Aprendizagem do Sifarma®2000
Aprendizagem do Sifarma® – Módulo de atendimento
Receção e verificação de encomendas
Gestão de devoluções
Armazenamento de produtos
Atendimento ao balcão com acompanhamento
Atendimento ao balcão sem acompanhamento
Avaliação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos
Projeto 1 – Sete caminhos para saúde mental
Projeto 2 – Rigidez arterial, o aumento
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 2
A. DESCRIÇÃO DA FARMÁCIA CASTRO
1. Localização geográfica
A FC, inaugurada em fevereiro de 1987, celebra este ano 31 anos de existência,
sendo uma das farmácias mais antigas do concelho de Gondomar. A FC situa-se na Rua
Dr. Francisco Sá Carneiro, na rotunda dos Sete caminhos, pertencente à união de
freguesias de Gondomar S. Cosme, Valbom e Jovim (Anexo I). A rotunda dos Sete
Caminhos é uma das rotundas mais movimentadas do concelho de Gondomar e é muito
próxima das Unidades de saúde familiar Sete Caminhos, Monte Castro e Renascer e do
Colégio Paulo VI. Para além disso, a posição privilegiada da FC também se relaciona com
o facto de ser vizinha de uma clínica dentária e por de ser contigua, recentemente, com
um laboratório de análises clínicas. A FC localiza-se no rés-do-chão de um prédio de uma
urbanização com bastantes lugares de estacionamento e na proximidade de paragens de
autocarro. Como se encontra ao nível da rua, não há qualquer impedimento a acesso de
crianças, idosos ou cidadãos portadores de deficiência.
2. Horário de funcionamento
A FC apresenta um horário de funcionamento interrupto nos dias úteis das 9h às
22h e ao sábado das 9h às 21h. Ocasionalmente, em rotação com as outras farmácias do
município, funciona durante 24h como farmácia de serviço. Durante o meu estágio, tive
horário rotativo semanalmente: das 9h às 14h nos dias úteis e das 13h às 20h ao sábado
ou das 13h às 20h nos dias úteis e das 9h às 14h ao sábado. A partir de julho, devido à
presença do meu colega estagiário do MICF Luís Reis, passei a ter o horário rotativo à
semana: das 9h às 14h nos dias úteis e das 14h às 20h ao sábado ou das 14h às 20h nos
dias úteis e das 9h às 14h ao sábado.
3. Recursos humanos
A equipa da FC é constituída por 11 profissionais de saúde qualificados: diretora
técnica e proprietária, Dra. Maria Angelina Neves; 5 farmacêuticos (Dra. Cármen Sousa,
Dra. Ana Marques, Dra. Marta Pereira, Dr. Fábio e Dr. José Oliveira); 3 técnicos de farmácia
(Fernando Ramos, Iolanda Paiva, Maria José Soares); 1 enfermeira (Dr. Luísa Leal). A FC
conta também com um contabilista na gestão financeira e uma auxiliar de limpeza. A equipa
da FC é jovem e dinâmica, sendo bastante valorizada pelos utentes, que se sentem
confiantes no aconselhamento prestado e satisfeitos com a simpatia demonstrada.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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4. Perfil de utentes
Devido à sua localização geográfica, a FC apresenta um fluxo constante de clientes
(≃ 200 clientes por dia), que provém maioritariamente, das unidades de saúde familiar. São
clientes habituais ou ocasionais de faixas etárias variadas e de classes económicas
diferentes. De facto, não se verifica uma diferença significativa na proporção de utentes
idosos e de utentes jovens na FC. Contudo, a maioria dos utentes idosos encontra-se
fidelizado há anos e são utentes polimedicados, com pouca literacia em saúde e que
procuram as alternativas mais baratas. Importa referir que a FC é também a farmácia de
referência dos lares de idosos mais próximos.
5. Espaço físico e equipamentos
O espaço físico (interior e exterior) e equipamentos da FC estão de acordo com a
legislação em vigor e com as Boas Práticas Farmacêuticas para a farmácia comunitária.
[1, 2] O espaço exterior da FC é envidraçado e destaca-se pela presença de um letreiro
horizontal com a designação “Farmácia Castro”, um letreiro vertical com a designação
“Farmácia” e uma 1 “cruz verde” que está sempre iluminada à noite (Anexo I). Neste
espaço, elaboram-se montras profissionais e existe um painel de grandes dimensões que
faz promoção constante de produtos e/ou serviços de interesse para a farmácia. Para além
disso, no espaço exterior encontram-se as informações sobre direção técnica, horário de
funcionamento e escalas de turno das farmácias de serviço. Por outro lado, o espaço
interior da FC é tipicamente caracterizado em duas grandes áreas: área de atendimento e
armazém (Anexo II). Trata-se de um espaço climatizado (condições de temperatura e
humidades controladas periodicamente) e bem iluminado, já que o contacto com o exterior
é feito através de painéis de vidro. Também neste espaço, é possível encontrar algum
marketing farmacêutico, que vai sendo adequado à época do ano, tipo de utentes e
campanhas promocionais existentes.
i) Área de atendimento, inclui:
⎯ 8 balcões de atendimento
Cada balcão está separado fisicamente e equipado com um computador, um
terminal multibanco, uma impressora, leitor ótico e caixa registadora. O balcão onde atendi
a maioria das vezes contém uma mesa anexa para medição automática da pressão arterial.
⎯ Gôndolas e lineares com produtos de venda livre – Over the Counter (OTC)
Os OTCs, medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM), estão dispostos
de acordo com marca comercial e com a finalidade de utilização e incluem produtos de
dermofarmácia e cosmética, ortopedia, higiene oral, higiene íntima, puericultura, óculos,
protetores solares, produtos dietéticos, suplementos alimentares, uso veterinário, entre
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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outros. Atendendo que o estágio englobou o Verão, tive contacto com várias campanhas
promocionais de protetores solares e repelentes de insetos.
⎯ Sistema de senhas e zona de conforto
A FC dispõe de um sistema de senhas no atendimento constituído por uma máquina
própria em que cada utente tira senha; e por um ecrã que faz a chamada do utente
dependendo do número da senha. Para proporcionar o máximo de conforto aos seus
utentes enquanto aguardam a sua vez no atendimento, a FC tem uma zona de conforto
com vários sofás e com material infantil. Acho que o sistema de senhas é imprescindível
na FC, dado o afluxo constante de clientes e o ajuntamento que por vezes ocorre. Perto da
zona de conforto, a FC possui também uma balança para medição autónoma do peso
corporal.
⎯ 2 gabinetes para atendimento personalizado
Um gabinete possui todo o material necessário para administração de injetáveis,
determinação manual da pressão arterial e avaliação de parâmetros bioquímicos, enquanto
que o outro gabinete é destinado à realização de consultas de nutrição prestadas por um
nutricionista com periocidade mensal. Durante o meu estágio, neste último gabinete
ocorreram dois eventos: rastreio “Coração sem Risco” para avaliação da rigidez e tensão
arterial e evento “Bebé 4D” que oferecia 5 minutos de ecografia em 4D a grávidas.
ii) Armazém, inclui:
⎯ Gavetas deslizantes e frigorífico
Nestas gavetas, os produtos estão ordenados alfabeticamente e por forma
farmacêutica e/ou tamanho para atendimento mais rápido e eficiente. Tratam-se
maioritariamente de medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM). Contudo, não existe
divisão entre medicamentos genéricos ou comerciais, e os medicamentos psicotrópicos
também não se encontram separados dos restantes medicamentos. O frigorifico é
destinado ao armazenamento de produtos que requerem conservação entre 2º e 8ºC.
⎯ Móveis de prateleiras para os produtos excedentes
Nestes móveis são arrumados os produtos excedentes das gavetas e dos lineares
da área de atendimento. Os produtos em excesso são ordenados por ordem alfabética e
por forma farmacêutica e/ou tamanho da mesma forma que nas gavetas deslizantes.
⎯ Zona de receção e de verificação de encomendas
A receção de encomendas ocorre através de uma porta de acesso ao exterior. Os
contentores dos vários fornecedores que trabalham com a FC são colocados num local
específico. A zona de verificação de encomendas é constituída por computadores,
impressora, impressora de etiquetas, fax, leitores óticos e material de escrita. Assim, nesta
área, procede-se ao arquivo de todos os documentos referentes a faturas de encomenda,
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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notas de devolução e crédito, para posterior envio à contabilidade. Neste local, encontra-
se também o contentor do Valormed®.
Para além da área de atendimento e do armazém, o espaço interior da FC contém:
⎯ Laboratório equipado para preparação de medicamentos manipulados (MM);
⎯ Gabinete de direção técnica, onde se faz a gestão interna e financeira da FC e
ocorrem as reuniões com os delegados de informação médica;
⎯ Armazém de produtos fora do prazo de validade (PV), que se destinam a ser
devolvidos aos respetivos fornecedores, de materiais utilizados na elaboração das
montras e de toda a documentação que necessita de ser guardada;
⎯ Espaço para descanso e arrumação de bens pessoais dos funcionários;
⎯ Copa para realizar refeições em caso de necessidade;
⎯ Instalações sanitárias.
6. Fontes de informação
De acordo com a legislação prevista, as farmácias têm que ter, obrigatoriamente, a
Farmacopeia Portuguesa em vigor. [3] Também Prontuário Terapêutico, Formulário
Galénico Português, Resumo das Características dos Medicamentos (RCM), Medscape,
Epocrates, Centro de Informação do Medicamento da Ordem dos Farmacêuticos e Centro
de Informação sobre Medicamentos da Associação Nacional das Farmácias (ANF)
constituem outras fontes comuns para esclarecimento de dúvidas na FC. Durante o meu
estágio, utilizei bastante o RCM via online para dúvidas próprias ou para esclarecimento
dos utentes. Relato o seguinte exemplo vivido: uma utente com prescrição de metilfenidato
tem indicação médica para comprar metilfenidato sem lactose devido a intolerância,
contudo, a utente não sabe a marca do metilfenidato sem lactose; assim foi necessário
recorrer a todos os RCM de todos os metilfenidatos existentes para dispensar o indicado à
utente.
7. Sistema informático
Atualmente, a FC utiliza duas versões do sistema informático Sifarma® da Glintt®:
o Sifarma® 2000 e o Sifarma® Módulo de atendimento. O Sifarma® Módulo de
atendimento constitui a atualização mais recente do Sifarma® 2000 e está a ser testado
pela Glintt® apenas num grupo restrito de farmácias a nível nacional. A FC iniciou a
implementação do Sifarma® Módulo de atendimento em abril de 2018, contudo como o
programa está ainda em construção, há necessidade de recorrer, concomitantemente, à
versão Sifarma® 2000. De facto, o Sifarma® Módulo de atendimento, ao contrário do
Sifarma® 2000, apresenta apenas ferramentas referentes a atendimento e não a
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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processos de gestão e de estatística (e.g. gestão de stocks, encomendas, devoluções e
receituário). Desta forma, é apenas possível comparar as duas versões em relação à
metodologia de atendimento. Nota-se que ambas as versões do Sifarma® garantem um
excelente serviço de atendimento, proporcionando funções semelhantes relativas a:
identificação do cliente/utente, processo de componentes com ou sem comparticipação e
de receitas manuais ou eletrónicas, verificação do produto dispensado, formas de
pagamento, débito e/ou crédito, e informações técnico-científicas (Anexo III). A Figura 1
mostra o balanço das principais vantagens entre Sifarma® Módulo de atendimento e
Sifarma® 2000 face ao processo de atendimento. Para além da evidente mudança de
interfase, o Sifarma® Módulo de atendimento permite associar o cliente ao utente ou a
vários utentes e proceder à emissão de faturas/recibos individualizadas por utente numa
venda com vários utentes e/ou por tipo de produto dispensado (com ou sem receita). De
um modo geral, permite um atendimento mais rápido, nomeadamente, aquando pedido de
encomendas instantâneas (num mesmo ecrã apresenta-se a disponibilidade do produto
em falta em todos os fornecedores). Esta versão também propõe uma vasta gama de
posologias para um mesmo produto, de modo a ser mais fácil de selecionar a posologia
especifica a cada utente; e pede justificação perante cancelamento do atendimento,
concedendo dados úteis para estatísticas de erros. Adicionalmente, o Sifarma® Módulo de
atendimento também se pode associar diretamente ao cartão Sauda+ das Farmácias
Portuguesas (não é aplicável à FC).
Figura 1 – Balanço das principais vantagens entre Sifarma® Módulo de atendimento e Sifarma® 2000.
Sifarma® 2000Sifarma® Módulo de
atendimento
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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A única vantagem do Sifarma® 2000 face à nova versão aquando o atendimento é
permitir o processamento de descontos e de promoções, que ainda não é possível no
Sifarma® Módulo de atendimento. Noto que a implementação do Sifarma® Módulo de
atendimento é um desafio para a FC, pois exige visitas de avaliação periódicas, leitura de
tutoriais e atenção permanente às atualizações do programa. A FC está a cumprir com os
objetivos preconizados pelo projeto piloto: 90% dos atendimentos na FC são efetuados no
Sifarma® Módulo de atendimento.
A nível pessoal, nunca tinha contactado com o Sifarma®, pelo que aprender as
duas versões foi trabalhoso. Considero que o Sifarma® Módulo de atendimento é mais
intuitivo, com ferramentas mais simples e, na globalidade, oferece um atendimento menos
moroso.
8. Cartão de cliente Farmaco®
Com o objetivo de fidelizar os clientes, a FC dispõe de um cartão virtual de
descontos pelo software Farmaco®. Em cada venda, o cartão de cliente acumula, em
dinheiro, 2% do valor total pago. Posteriormente, o cliente poderá utilizar o dinheiro
acumulado na aquisição de qualquer medicamento, produto e/ou serviço na FC desde que
o valor existente em cartão seja igual ou superior ao da aquisição pretendida. Como se
trata de um cartão virtual, a sua requisição consiste apenas no preenchimento de uma ficha
virtual com os dados pessoais do cliente (e.g. nome, número de contribuinte, morada, data
de nascimento, contacto telefónico). Durante o meu estágio, procedi a vários registos de
novos clientes, à acumulação de saldo nos cartões e/ou à realização de vendas com o
saldo do cartão. De acordo com o novo Regulamento Geral de Proteção de Dados que
entrou em vigor a 25 de maio de 2018 [4], a FC foi obrigada a fazer um registo documentado
de todas as atividades de tratamento de dados pessoais. Desta forma, durante o
atendimento, a cada cliente da FC titular de cartão pedi consentimento sobre o tratamento
de dados, através do preenchimento de um contrato que aferia todas as atividades
realizadas pela FC relativas ao cartão.
9. Comunicação interna e externa
A comunicação interna da FC realiza-se principalmente por dois modos: via e-mail
e/ou mensagens enviadas através do Sifarma 2000® pelos funcionários da FC. Por outro
lado, a comunicação externa ocorre via e-mail ou mensagens telefónicas, recorrendo aos
dados registados no Cartão de cliente Farmaco®. Maioritariamente, os clientes recebem
informação sobre os serviços prestados e/ou campanhas promocionais. Noto que a FC não
possui qualquer tipo de redes sociais (e.g. Facebook, Instagram). Também a decoração
das montras visa a comunicação externa e é efetuada de forma muito cuidada na FC.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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B. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O ESTÁGIO
1. Gestão da Farmácia
1.1. Realização de encomendas
De um modo geral, a FC realiza encomendas de produtos aos seguintes
fornecedores: OCP Portugal®, Cooprofar® e Empifarma®, sendo a Alliance Healthcare®
o fornecedor secundário. A OCP Portugal® é o fornecedor maioritário, ao qual a FC solicita
três encomendas por dia. Contudo, produtos de cosmética e higiene corporal são
normalmente encomendados à Cooprofar® devido a condições comerciais mais
vantajosas. De facto, a escolha dos fornecedores é efetuada consoante a disponibilidade
e condições comerciais dos produtos. As encomendas podem classificar-se consoante o
tipo de pedido conforme representado pela Figura 2. Durante o meu estágio, pude assistir
à elaboração de todos os tipos de encomendas e realizei maioritariamente encomendas
instantâneas pelo Sifarma® aquando do atendimento e encomendas manuais na receção
de encomendas.
Figura 2 – Principais características das diferentes encomendas consoante o tipo de pedido.
Diária
Instantânea
Via Verde
Direta a laboratório
ou a delegados
Manual
✓ Gerada automaticamente pelo Sifarma®✓ De acordo com stocks máximo e mínimo ✓ Grande volume de produtos✓ Verificada por funcionário para ver se cumpre
as necessidades atuais
✓ Gerada quando produto requerido pelo utente não está disponível na FC
✓ Por contacto telefónico ou Sifarma®✓ Permite selecionar o fornecedor com produto
mais barato e informar o utente do preço e hora de chegada prevista
✓ Chegada à FC em menos de 24h após pedido
✓ Aquisição urgente de medicamentos que estão sem stock ou em rutura (ex: Lovenox®, Jardiance®, Trajenta®, Spiriva®)
✓ Exige notificação prévia ao INFARMED ✓ Chegada à FC no prazo de 48h após pedido✓ Exige receita médica do produto pedido
✓ Grande volume de produtos✓ Para produtos de alta rotação✓ Realização periódica mensal✓ Exige quantidade mínima a ser encomendada✓ Oferece condições comerciais vantajosas
✓ Gerada pontualmente quando produto está rateado ou se a encomenda diária já tiver sido efetuada
✓ Por contacto telefónico ou Sifarma®
ENCOMENDA
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1.2. Receção e verificação de encomendas
A receção e verificação de encomendas é fundamental em farmácia comunitária,
pois admite que os produtos encomendados passem a constituir stock. Qualquer tipo de
encomenda é rececionada na FC em contentores apropriados e com respetiva fatura ou
guia de remessa (Anexo IV). De referir que os produtos de frio (2ºC a 8ºC) são retirados
imediatamente dos contentores e são colocados no frigorífico, separados dos restantes
produtos que já deram entrada no stock e agregados ao papel identificativo do contentor
que os transportou. No caso de medicamentos sujeitos a controlo especial pela Autoridade
Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED) (e.g. medicamentos
estupefacientes e psicotrópicos e/ou benzodiazepinas) [5, 6], é enviado, juntamente com a
fatura, uma guia de requisição específica por cada medicamento, em duplicado, aprovada
pela entidade competente e assinada pelo fornecedor (Anexo V). Estas guias são
carimbadas e assinadas pela diretora técnica e, posteriormente, uma é arquivada na FC e
outra é devolvida ao fornecedor. Cada fatura contém: indicação do fornecedor, destinatário,
número da fatura, data de encomenda, produtos encomendados e respetivo Código
Nacional Português (CNP), quantidades encomendadas e enviadas, valor total da fatura,
Preço de Venda à Farmácia (PVF), Imposto de Valor Acrescentado (IVA) e Preço de Venda
ao Público (PVP) de cada produto encomendado.
A receção de encomenda é efetuada no Sifarma® 2000 através da identificação do
número da fatura por leitura ótica do código de barras ou manualmente e introdução do
valor total da encomenda. Posteriormente, por leitura ótica do código de barras ou por
introdução do CNP, cada produto da encomenda vai sendo introduzido no sistema
informático. Durante ou após a introdução dos produtos, faz-se verificação:
Verificação do PVP após introdução de PVF
Se produto tiver Preço Inscrito na Cartonagem (PIC), PVP deve corresponder ao
indicado no Sifarma®; se produto for OTC, PVP é estabelecido pela FC,
procedendo-se ao ajuste da margem de lucro.
Verificação do PV
Se produto rececionado possui PV inferior aos dos produtos existentes ou se tem
stock informático a zero, Sifarma® alerta para mudança para PV atual.
Verificação de quantidade
Se o número de embalagens rececionadas coincide com número de embalagens
faturadas por produto e na totalidade.
Verificação de integridade
Se as embalagens dos produtos estão integras, apresentando as condições
necessárias para venda.
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Dina Neves | 10
Verificação da existência de bonificações e do valor total
Se existem medicamentos com bónus e se o valor total obtido pelo Sifarma® no
final da receção corresponde ao valor total faturado.
Após processo de verificação, finaliza-se a receção de encomenda no Sifarma®: os
produtos entram automaticamente no stock da FC, assina-se e arquiva-se a fatura. Na FC,
é comum aquando receção de encomenda, separar os produtos encomendados que já
foram pagos por clientes (reservas). Em caso de inconformidades na fatura (e.g. produtos
faturados não enviados ou produtos enviados não faturados), efetua-se a reclamação ao
distribuidor que emite uma nota de crédito para a regularização do processo.
Rececionar e verificar encomendas foi a primeira atividade que fiz na FC. Considero
que é um processo fundamental para contacto primário com os produtos disponíveis na FC
e com o Sifarma® 2000 e contribui muito para a capacidade de reconhecimento dos
produtos aquando o atendimento. Durante o estágio, deparei-me várias vezes com
inconformidades nas faturas, pelo que senti necessidade de criar um suporte para registo
das reclamações (Anexo VI). Tratou-se de um pequeno projeto, muito útil e valorizado
pelos funcionários da FC, na medida em que oferece um histórico de erros.
1.3. Armazenamento de produtos
Na FC, o armazenamento de produtos é efetuado através do método Fist Expired,
First Out (FEFO): organização dos produtos por PV, mantendo os que têm menor PV no
local mais acessível para que sejam dispensados em primeiro lugar. Contudo, para
produtos que não têm PV, a FC segue o método First In, First Out (FIFO) no qual os
produtos mais antigos são os primeiros a serem vendidos. [7] Importa referir que os
produtos são também armazenados sob condições de conservação adequadas, na sua
maioria, acondicionados à temperatura ambiente 25±1ºC e humidade relativa 60%, e os
produtos de frigorifico entre 2ºC a 8ºC. [8] Na FC, todos os funcionários garantem a
reposição do stock nas gavetas deslizantes e nos lineares e gondolas da área de
atendimento. A nível pessoal, o processo de armazenamento foi crucial para conhecer a
localização dos produtos na FC, garantindo uma maior rapidez aquando da dispensa ao
utente e um menor período de tempo associado à sua procura.
1.4. Gestão de devoluções
De um modo geral, a devolução ocorre quando os produtos: i) têm PV expirado ou
a expirar; ii) são encomendados/faturados por engano; iii) não apresentam integridade
aquando receção; iv) são faturados com preço diferente do PIC; v) exigem recolha
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obrigatória. Trata-se de um processo que é limitado por prazos específicos ordenados pelo
fornecedor, cujo cumprimento é essencial para que o produto não fique na FC sem
utilidade. Numa primeira fase, as devoluções são efetuadas por registo no Sifarma®,
emitindo-se uma nota de devolução que contém: designação do produto devolvido,
justificação da devolução, o preço de custo, IVA e o número da fatura de origem. Numa
segunda fase, a nota de devolução é impressa em triplicado e devidamente rubricada e
carimbada pela FC. O triplicado é arquivado na FC, enquanto que o original e o duplicado
são anexados ao produto a ser devolvido ao fornecedor. Se a devolução é aceite, o
fornecedor emite uma nota de crédito ou substitui o produto; se a devolução não é aceite,
o produto é devolvido à FC. Caso o produto não apresente condições para venda, a FC
terá de proceder à sua quebra e eliminação via Valormed®. Durante o estágio, realizei
várias devoluções, nomeadamente, de produtos que foram faturados por engano e/ou que
não apresentavam integridade aquando receção. Também ajudei no processo de recolha
obrigatória de lotes de medicamentos contendo Valsartan na sequência da deteção de uma
impureza pelo INFARMED. [9]
1.5. Controlo de prazos de validade
O controlo de PV é realizado essencialmente em dois momentos: i) durante a
receção de encomendas pela introdução do PV atual; ii) mensalmente por emissão de uma
lista gerada pelo Sifarma® que contém os produtos cujo PV irá expirar no mês seguinte.
Como referido em 1.4., os produtos com PV expirado ou a expirar são devolvidos ao
fornecedor. Também existe a possibilidade de vender produtos com PV a expirar através
de promoções evitando a sua desvalorização total ou parcial. Com efeito, deve-se proceder
às correções necessárias no Sifarma® para que o stock físico corresponda ao stock
informático. Durante o meu estágio, assegurei o controlo de PV aquando a receção de
encomendas e assisti ao controlo por lista. Notei que o PV é um fator preponderante para
vários clientes da FC, que se preocupam em verificar se produtos dispensados tem ou não
PV expirado e/ou a duração do mesmo.
1.6. Contagem física de stocks
A gestão de stocks depende da qualidade dos processos previamente referidos:
realização e receção de encomendas e/ou armazenamento de produtos. Também o ato de
dispensa dos produtos garante uma gestão adequada, uma vez que a gestão de stocks
corresponde ao equilíbrio entre o número de produtos em stock e o número de produtos
dispensados. Frequentemente, este equilíbrio é avaliado pelo equilíbrio entre o stock físico
e stock informático indicado pelo Sifarma® 2000. De facto, o Sifarma® apresenta um papel
fundamental na gestão de stocks, na medida em que indica o stock existente de cada
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produto e/ou o seu stock mínimo e máximo; e alerta para falta de stocks. Desta forma, uma
correta gestão de stocks evita que o utente seja lesado pela falta de produto e que a FC
seja afetada pelo excesso de produtos sem saída.
2. Dispensa de produtos
A dispensa de medicamentos e/ou de outros produtos de saúde é o maior propósito
da farmácia comunitária. De facto, aquando da dispensa, o farmacêutico apresenta um
papel fundamental na promoção do uso responsável dos produtos e na avaliação correta
da prescrição e indicação terapêutica. Consequentemente, o aconselhamento
farmacêutico é preditor de uma boa adesão à terapêutica, diminuindo a taxa de problemas
associados com medicamentos.
2.1. Medicamentos sujeitos a receita médica
2.1.1. Prescrição médica
A prescrição médica é essencial para dispensa de MSRM, sendo o principal meio
de comunicação entre farmacêutico, médico e utente. Atualmente, a prescrição médica
ocorre essencialmente por receita manual (ou materializada) ou por receita eletrónica
(desmaterializada). A receita manual encontra-se em desuso e trata-se de uma receita
materializada em papel e a que apenas pode ser prescrita em situações específicas: a)
falência do sistema informático; b) inadaptação do prescritor; c) prescrição ao domicílio; d)
até um máximo de 40 receitas por mês. [10] Desta forma, a receita eletrónica garante a
maior parte das prescrições médicas. O suporte eletrónico da prescrição médica visa
sobretudo aumentar a segurança no processo de prescrição e no ato de dispensa, contudo
ainda não se encontra totalmente desmaterializado. De facto, verifica-se a coexistência de
duas formas de prescrição eletrónica: i) receita eletrónica desmaterializada ou receita sem
papel; ii) receita eletrónica materializada (prescrição impressa em papel). Em média,
considero que na FC, 90% dos utentes tem prescrição médica por receita eletrónica (80%
desmaterializada e 10% materializada) e 10% por receita manual.
A prescrição médica inclui obrigatoriamente a denominação comum internacional
da substância ativa, a forma farmacêutica, a dosagem, a quantidade e a posologia. Apenas
quando se trata de um medicamento de marca sem similar ou medicamento genérico
similar ou quando existe alguma justificação técnica, nomeadamente a) margem ou índice
terapêutico estreito; b) reação adversa prévia e c) continuidade de tratamento superior a
28 dias, a prescrição por nome comercial do medicamento ou do titular pode acontecer.
Nesta última exceção, o utente pode optar por um medicamento equivalente ao prescrito,
desde que seja de preço inferior. Em receita materializada ou manual, apenas se pode
prescrever até quatro medicamentos distintos. Nestes casos, também é apenas possível
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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prescrever um máximo de quatro embalagens por receita e duas embalagens por cada
medicamento. Em receita desmaterializada, pode ser prescrito até um máximo de duas
embalagens de cada produto, ou seis, se se tratar de um medicamento destinado a
tratamento prolongado. [10] Importa referir que em regra, as receitas têm validade de 30
dias a partir da data de prescrição, no entanto receitas eletrónicas materializadas podem
ser renováveis, contendo até três vias, com validade de 6 meses. Também as receitas
desmaterializadas podem ter validade até seis meses no caso de prescrição de
medicamentos destinados a doenças ou tratamentos prolongados. Cada receita vem
acompanhada de uma guia de tratamento que chega ao utente através de mensagem de
texto, correio eletrónico ou em papel, no caso de ser pedido pelo utente ou se o prescritor
considerar apropriado.
No estágio contactei com todo o tipo de receitas durante o atendimento. Na FC,
senti que vários utentes se confundem com as guias de tratamento de receitas
desmaterializadas. Relato o exemplo mais comum: utente tem a mesma guia de tratamento
em mensagem telefónica e em papel; a primeira vez que vai à FC usa mensagem telefónica
para levantar todas as embalagens da receita; na segunda vez que vai à FC utiliza a guia
em papel para levantar todas as embalagens da receita; utente fica confuso, porque pensa
que ainda tem as embalagens por levantar, quando na realidade, estas já foram
dispensadas na primeira vez que foi à FC.
2.1.2. Ato de dispensa
O ato de dispensa inicia com introdução da receita no Sifarma® através dos códigos
de acesso facultados na receita ou guia de tratamento de receitas eletrónicas ou na própria
receita no caso de receitas manuais. No ato da dispensa de receitas manuais ou
materializadas, é necessário validar a prescrição médica, verificando alguns requisitos
específicos, como: numeração e respetivo código de barras da receita; identificação do
médico e local de prescrição; dados do utente (nome, número de utente, número de
beneficiário da entidade financeira responsável e regime especial de comparticipação, se
aplicável), data de prescrição e validade da receita. De facto, em receitas manuais, é
necessário proceder à introdução manual, no Sifarma®, dos medicamentos e respetivo
regime de comparticipação ou diploma legal que atribua uma comparticipação especial, o
que possibilita a ocorrência de mais erros. Para qualquer tipo de receita, o farmacêutico
deve sempre interpretar a prescrição médica de acordo com a necessidade e adequação
da mesma ao utente. Durante a dispensa, deve existir uma comunicação ativa entre utente
e farmacêutico. O farmacêutico deve perguntar ao utente se pretende adquirir a totalidade
dos produtos ou se apenas pretende que lhe sejam dispensados em parte. Também é
importante saber se se trata de uma medicação habitual ou se foi prescrita pela primeira
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vez, de forma a poder ajudar o utente no esclarecimento de todas as dúvidas que possam
existir relativas a: para que serve o medicamento, início do efeito, posologia, a duração do
tratamento, os cuidados específicos relativos à toma e armazenamento, possíveis
interações com alimentos e/ou medicamentos, reações adversas ou efeitos secundários
mais frequentes e o que fazer em caso de omissão de uma dose. No caso de ser
medicação habitual deve ser questionado ao utente qual o medicamento que habitualmente
leva e, no caso de não ser medicação habitual, se tem preferência por medicamento de
marca ou genérico. Nota-se que o utente pode optar por qualquer medicamento com a
mesma denominação comum internacional, forma farmacêutica, dosagem e dimensão das
embalagens, independentemente do seu preço. A dispensa termina após o farmacêutico
ter entregue os medicamentos prescritos ao utente e finalizado o processo de atendimento
no Sifarma®. Durante o estágio, aquando da dispensa, percebi que muitos utentes da FC
não percebem a necessidade de receita médica para determinados grupos de
medicamentos, nomeadamente antibióticos e benzodiazepinas.
2.1.3. Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes
De acordo com o decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, os medicamentos
psicotrópicos e estupefacientes estão sujeitos a um controlo especial. De facto, são
medicamentos que apenas devem ser utilizados em casos específicos devido ao elevado
risco de tolerância e dependência. Em receitas manuais ou materializadas, cada
medicamento psicotrópico e estupefaciente é prescrito isoladamente por receita; enquanto
que em receitas desmaterializadas, pode ser prescrito em conjunto com outro tipo de
medicamentos desde que a linha de prescrição seja indicativa do tipo de medicamento. O
levantamento deste tipo de medicamentos pode ser efetuado ou não pelo próprio utente,
contudo carece sempre de apresentação de um documento de identificação (e.g. cartão de
cidadão). É efetuado o registo do nome e morada do adquirente e do nome, morada,
número de identificação, data da validade do cartão de cidadão e idade do utente. No final
da dispensa do medicamento, é impresso um talão de faturação em duplicado, que é
anexado à cópia da receita e assinado pelo adquirente. Posteriormente, todos os
documentos são digitalizados e enviados ao INFARMED até ao dia 8 do mês seguinte ao
da sua faturação; e arquivados por 3 anos na FC. Durante o período de atendimento, tive
oportunidade de proceder à dispensa deste tipo de medicamentos e percebi que vários
utentes não percebem a importância do registo suprarreferido.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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2.1.4. Sistemas de comparticipação de medicamentos
O Estado Português comparticipa uma percentagem do PVP de determinados
medicamentos a beneficiários do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou de outros
subsistemas públicos. As percentagens de comparticipação do PVP são fixadas de acordo
com os seguintes escalões representados na Figura 3, previamente definidos pelo
Ministério da Saúde em função dos grupos e subgrupos farmacoterapêuticos. [11] Nota-se
que existem fundamentalmente dois tipos de regime de comparticipação, regime geral e
regime especial, cada um dividido em quatro escalões de comparticipação (A. B, C, D).
Figura 3 – Percentagens de PVP comparticipadas relativas a cada escalão de regime geral ou especial.
O regime geral aplica-se a todos os beneficiários do SNS. O regime especial varia
em função dos beneficiários ou das patologias/grupos especiais de utentes. Em função dos
beneficiários, o regime especial é dividido nos quatros escalões representados e é aplicado
aos pensionistas “cujo rendimento total anual não exceda 14 vezes a retribuição mínima
mensal garantida em vigor no ano civil transato ou 14 vezes o valor do indexante dos apoios
sociais em vigor, quando este ultrapassar aquele montante.” [12] Em função das
patologias/grupos especiais de utentes, a comparticipação tem de estar definida por um
diploma legal (e.g. para artrite reumatoide, psoríase) que é obrigatoriamente mencionado
em receita pelo prescritor. Em ambos os regimes especiais, no escalão A há um acréscimo
de 5% na comparticipação e de 15% para os restantes escalões comparativamente ao
regime geral. Os beneficiários do SNS podem também beneficiar de outros sistemas
subsistemas (e.g. Savida, SAMS, Multicare) que oferecem uma comparticipação extra. Em
utentes que possuem subsistemas, aquando o atendimento, é necessário imprimir um
comprovativo relativo à comparticipação; e caso a prescrição seja por receita materializada
ou manual, é necessário fotocopiar a receita. Durante o atendimento, contactei
maioritariamente com os regimes de comparticipação 01 (Regime Geral do SNS) e 48
(Regime Pensionista do SNS) e com os subsistemas Savida e SAMS.
• Regime geral
• Regime especial
• Regime geral
• Regime especial
• Regime geral
• Regime especial
• Regime geral
• Regime especial
A B
CD
90%
95%
69%
84%
37%
52%
15%
30%
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Dina Neves | 16
2.1.5. Conferência do receituário e faturação
A conferência do receituário e faturação é essencial para que a FC receba o valor
correspondente à comparticipação dos medicamentos. Após atendimento, as receitas
manuais e materializadas são organizadas primariamente por série e depois por lote. A
organização das receitas por série consiste em separar as receitas consoante organismos
de comparticipação. Por cada série, as receitas são numeradas e organizadas em lotes de
30. As receitas são conferidas por processo semelhante ao da validação das prescrições
aquando o atendimento. Após conferência, no final de cada mês, a diretora técnica faz a
faturação das receitas, emitindo os verbetes de identificação dos lotes e a relação de
resumo de lotes e a respetiva fatura mensal. Os verbetes contêm a importância total do
lote correspondente ao PVP; importância total do lote paga pelos utentes; importância total
do lote a pagar pela entidade responsável; importância total do lote a pagar relativamente
à remuneração específica da farmácia; e discriminação individual de cada receita. A
relação de resumo de lotes contém informações relativas a cada lote de receitas,
nomeadamente: código, tipo e número sequencial do lote; número total dos lotes entregues
no mês; importância total do lote correspondente ao PVP; importância total do lote paga
pelos utentes; importância total do lote a pagar pelo Estado; e importância total da
remuneração especifica da farmácia. [13] Todos os documentos são enviados para cada
entidade comparticipante, centro de conferência de faturas do SNS (caso organismo seja
SNS) e/ou para ANF (caso sejam outros organismos) até ao dia 10 do mês seguinte. Em
caso de inconformidades, ocorre devolução à FC das receitas que não cumprem os
requisitos. Durante o estágio, assisti à conferência de receituário pelos funcionários da
FC e à faturação do receituário pela diretora técnica.
2.2. Medicamentos não sujeitos a receita médica
Ao contrário dos MSRM, os MNSRM podem ser vendidos fora das farmácias em
locais devidamente autorizados pelo INFARMED. Contudo existem MNSRM de Dispensa
Exclusiva em Farmácia (MNSRM-EF) (e.g. Fucidine®, Actifed®), que podem apenas ser
dispensados nas farmácias mediante um protocolo de dispensa respetivo. Durante a
dispensa de MNSRM, o farmacêutico deve avaliar se o medicamento é efetivamente
necessário e/ou adequado à pessoa que se destina, analisando o motivo pelo qual o utente
apresenta queixas, duração e intensidade dos sintomas, a presença de comorbilidades e
de outra medicação que possa estar a tomar. No ato da dispensa, deve-se transmitir
informação sobre a posologia, contraindicações e efeitos secundários dos MNSRM e
alertar para consulta médica caso a situação não apresente melhorias num determinado
período de tempo. Durante o estágio, tive de indicar MNSRM em bastantes ocasiões. No
primeiro mês do estágio (maio), os MNSRM dispensados na FC eram maioritariamente
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dirigidos a alergias e mordeduras de insetos. Posteriormente, nos meses seguintes, com a
chegada do Verão, os MNSRM mais vendidos eram relativos a proteção solar,
queimaduras e produtos associados a férias e viagens (laxantes, antidiarreicos). Senti
dificuldade no aconselhamento de vários produtos, e tive, por várias vezes de pedir ajuda
aos colegas da FC aquando o atendimento.
2.3. Outros produtos de saúde
2.3.1. Medicamentos de uso veterinário
Na FC, MSRM veterinários (e.g. antiparasitários internos) encontram-se no
armazém, enquanto MNSRM e outros produtos veterinários (e.g. antiparasitários externos,
vitaminas, suplementos alimentares, produtos de higiene) estão expostos num linear da
sala de atendimento. Atendendo que o meu período de estágio coincidiu com altura do ano
em que há maior predomínio de pragas (e.g. carraças), na FC dispensei imensos
desparasitantes de uso interno e externo para animais domésticos (cão e gato). Também
assisti a situações particulares de pedidos de medicação para infeções bacterianas em
cavalos e galinhas. Por outro lado, fui abordada algumas vezes sobre a segurança de
administração de medicamentos de uso humano, nomeadamente, benzodiazepinas, em
animais, situações em que tive bastante dificuldade em dar resposta. Também tive contacto
com receitas médico-veterinárias de medicamentos de uso humano, nomeadamente
antibióticos e inibidores da bomba de protões. De facto, na FC existe uma grande procura
deste tipo de medicamentos. Como a minha formação em medicação veterinária não era
muito coesa, noto que aprendi muito nesta área da farmácia, não só através dos
conhecimentos transmitidos pela equipa da FC, como por contacto com os clientes.
2.3.2. Dispositivos médicos
Os dispositivos médicos não apresentam ações farmacológicas, metabólicas ou
imunológicas, contudo são utilizados para fins comuns aos dos medicamentos. Na FC, não
existe uma gama alargada de dispositivos relacionados com ortopedia, contudo as meias
de descanso e de compressão são dos dispositivos médicos mais dispensados. Também
pulsos elásticos, lancetas e agulhas associadas à diabetes, testes de gravidez,
preservativos, material de penso, tampões de ouvidos constituem dispositivos que foram
procurados pelos clientes aquando o meu estágio.
2.3.3. Produtos Cosméticos e de Higiene Corporal
Na FC, há uma vasta procura de Produtos Cosméticos e de Higiene Corporal
(PCHC), pelo que a maioria dos lineares da zona de atendimento apresenta PCHC
expostos. Na FC, estão disponíveis algumas linhas completas de dermofarmácia como
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Avene® e Uriage®. De referir que há uma procura quase diária da gama de perfumes IAP
Pharma®. A FC também possui uma grande oferta de produtos para higiene e cuidado
diário do corpo e zonas íntimas. Destacam-se também produtos destinados à higiene oral,
nomeadamente, pastas dentífricas, colutórios, escovas e cuidado de próteses dentárias.
Durante o estágio, como o balcão de atendimento em que me encontrava situava-se muito
perto dos lineares de produtos de higiene oral e higiene íntima, procedi quase diariamente
a aconselhamento de produtos destas áreas.
2.3.4. Produtos de puericultura
A FC apresenta uma vasta gama de produtos de puericultura. De um modo geral,
a FC trabalha com duas linhas completas (e.g. Mustela®, Aveeno® Baby), mas tem sempre
disponíveis produtos de marcas específicas que possam agradar a diferentes clientes.
Destacam-se também os leites adaptados às diferentes idades (e.g. Aptamil®), acessórios
de amamentação para a mãe (e.g. discos de amamentação Medela®) e biberões (e.g.
Nuk®). Durante o atendimento, dispensei frequentemente fraldas, discos de amamentação
e leites adaptados.
2.3.5. Suplementos alimentares
Os suplementos alimentares são definidos como “géneros alimentícios que se
destinam a complementar e/ou suplementar o regime alimentar normal e que constituem
fontes concentradas de determinados nutrientes ou outras substâncias com efeito
nutricional ou fisiológico”. [14] Na FC, a procura de suplementos alimentares não é tão alta
como PCHC, contudo constitui um volume considerável de vendas. Durante o atendimento,
dispensei sobretudo suplementos vitamínicos e/ou para a fadiga física e intelectual na
população jovem (e.g. MagnesioOK®, Centrum®, Pharmaton®). De referir também que
suplementos alimentares para regulação do sono (e.g,Valdispert NoiteTotal®, Stilnoite®)
são bastante procurados pela população adulta da FC. De um modo geral, a FC aposta na
gama suplementos Tecnilor®, sendo que MoviArtrose Tecnilor® e VenoTecnilor® foram os
suplementos que mais vendi a idosos. Atendendo ao período de estágio, também assisti a
clientes que visavam a compra de suplementos alimentares para autobronzeamento.
2.3.6. Medicamentos manipulados
Um MM é “qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal preparado ou
dispensado sob a responsabilidade do farmacêutico”. [15] Tal como referido em 1.5., a FC
possui um laboratório dirigido à preparação de MM. Na FC, o processo de preparação de
MM inclui: elaboração de ficha de preparação, registo do movimento das matérias-primas
e a criação de rótulo no Sifarma® 2000. Também é necessário calcular o preço do MM de
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acordo com a legislação em vigor e com comparticipação (se aplicável). [16, 17] Caso os
MM sejam sujeitos a comparticipação, a sua prescrição ocorre em receita manual onde
deve estar inscrito “medicamento manipulado” ou “f.s.a.” (faça segundo a arte).
Habitualmente na FC, a procura de MM é reduzida. Contudo, durante o meu estágio tive a
oportunidade de realizar os seguintes MM: pomada de vaselina enxofrada a 6% para
tratamento da escabiose e solução tópica de Minoxidil a 5% para tratamento da calvície.
3. Serviços prestados
De acordo com a legislação, as farmácias comunitárias podem prestar serviços
farmacêuticos que promovam a saúde e o bem-estar dos utentes [18], não estando
limitadas apenas à dispensa de produtos. Na Figura 4 estão representados os principais
serviços farmacêuticos prestados pela FC, que visam também fidelização dos clientes.
Com exceção do Valormed®, todos os serviços da FC são pagos e ocorrem em gabinetes
de atendimento personalizado.
Figura 4 – Serviços farmacêuticos prestados na FC.
Na FC, a administração de injetáveis (e.g. Lentocilin®, Diprofos®) e de vacinas não
incluídas no Plano Nacional de Vacinação (e.g. Bexero®, Vaqta®) é um serviço apenas
prestado pela enfermeira que integra a equipa. Relativamente à determinação de
parâmetros bioquímicos e fisiológicos, a FC dispõe da avaliação dos parâmetros
bioquímicos colesterol total, triglicerídeos e glicemia e do parâmetro fisiológico pressão
arterial. Considerando todos os serviços disponíveis, a medição automática da pressão
arterial é o serviço mais comum na FC (também é possível a medição manual da pressão
arterial, contudo é pouco solicitada). Os parâmetros bioquímicos são medidos a partir de
sangue capilar em aparelho Refletron® Plus por espectrofotometria. Para ambos os tipos
de parâmetros, os valores obtidos são registados num cartão afim de fazer o
acompanhamento do utente. Embora hajam inconformidades em que o farmacêutico pode
estimular a aquisição de hábitos saudáveis, existem outras mais graves que exigem o
encaminhamento para médico. Durante o estágio, como o balcão de atendimento em que
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estive é anexo à mesa onde se efetua o controlo automático da pressão arterial, executei
com bastante frequência esta medição. Quanto a parâmetros bioquímicos, inicialmente tive
acompanhamento na execução das medições e depois passei a ter autonomia completa.
Estes serviços ajudaram-me muito na comunicação com os utentes e a melhorar o espírito
crítico face às situações novas do dia-a-dia. Na FC, também é possível realizar consultas
de nutrição. Trata-se de um serviço mensal que tem de ser previamente marcado com o
nutricionista responsável. Durante o estágio, apesar de ter tido contacto com marcações
de consultas, não tive a oportunidade de assistir a nenhuma. Relativamente ao Valormed®,
é um serviço com adesão crescente na FC. A FC disponibiliza contentores da Valormed®
aos utentes para entrega responsável das suas embalagens vazias e medicamentos fora
de uso. Considero que os utentes na FC estão muito sensibilizados para esta temática,
havendo vários utentes que apenas vão à FC com o instituto de descarregar os
contentores. De facto, a FC dispõe de uma campanha permanente referente a Valormed®,
existindo em cada balcão de atendimento um destes contentores. Durante o estágio,
também auxiliei na preparação de entrega dos contentores ao distribuidor.
4. Formação profissional
O farmacêutico deve “melhorar e aperfeiçoar constantemente a sua atividade
técnico-científica, por forma que possa desempenhar conscientemente as suas obrigações
profissionais perante a sociedade”. [19] Pelo exposto, durante estágio, assisti a várias
apresentações na FC promovidas pelos delegados representantes dos laboratórios sobre
produtos existentes ou novos produtos, como: Daflon®, Nutriben®, Parodontax®, Uriage®
e Avene® (solares) e Postinor®. Para além disso, atendendo à implementação da nova
versão do Sifarma® na FC, realizei um curso online sobre o “Sifarma: Módulo de
Atendimento” da Escola de Pós-graduação em Saúde e Gestão da ANF e assisti a uma
reunião interna de avaliação do programa.
C. BALANÇO FINAL
Faço um balanço final muito positivo do estágio curricular na FC. Considero que o
meu estágio curricular foi bastante desafiante, pondo-me à prova todos os dias. Consolidei
os conhecimentos teórico-práticos adquiridos no MICF e adquiri competências práticas da
atividade profissional. A minha maior dificuldade foi a comunicação e sinto que melhorei
muito após contacto com os utentes. Devo todas as competências adquiridas à fantástica
equipa da FC, que não se poupou a esforços para que eu adquirisse todos os seus
conhecimentos para me tornar uma excelente profissional. Hoje não tenho qualquer dúvida
do papel que o farmacêutico vigora na sociedade e considero uma mais-valia a
oportunidade de ajudar os utentes todos os dias.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 21
Parte II – Descrição dos projetos desenvolvidos durante o estágio
PROJETO 1: SETE CAMINHOS PARA SAÚDE MENTAL
1. Introdução
Sem saúde mental não há verdadeira saúde. [20, 21] A saúde mental é componente
da definição de saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não apenas a ausência de doença ou de enfermidade”. [22] Trata-se de “um estado de
bem-estar no qual o individuo realiza as suas capacidades próprias, pode manejar as
dificuldades normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutuosa, é capaz de
prestar uma contribuição para a sua comunidade” e que geralmente está associado a
ausência de doença e/ou de perturbação mental. [22, 23] Um estado de boa saúde mental
é caracterizado por sentimentos de felicidade e de satisfação, contrariando os conceitos
de perturbação mental (alteração de comportamento e/ou de pensamento associada a
sofrimento psíquico) e de doença mental (perturbação mental diagnosticável). As
perturbações mentais podem afetar qualquer pessoa independentemente da sua idade,
sexo e/ou classe social, sendo tradicionalmente agrupadas como: i) perturbações mentais
comuns (e.g. perturbações depressivas, de ansiedade, de uso de álcool ou outras
substancias); ii) perturbações mentais graves (e.g. esquizofrenia, doença bipolar,
depressão major); iii) demências (e.g. doença de Alzheimer); iv) perturbações do
comportamento alimentar (e.g. bulimia nervosa); v) perturbações do desenvolvimento (e.g.
autismo). [24, 25] Contudo, não existe uma oposição absoluta no binómio saúde/patologia
mental, dado que a ausência de perturbação mental não define por si só indivíduos
mentalmente sãos, bem como a presença de perturbação mental não implica por si só a
ausência de episódios de saúde mental. [24] Assim, a saúde mental não apresenta uma
definição completa, podendo ser entendida como um espectro instável que contém as
experiências em saúde, perturbação ou doença mental que os indivíduos apresentam nos
vários momentos da sua vida. [24, 26]
De facto, a saúde mental e as perturbações mentais resultam de interações
complexas entre fatores socioeconómicos, biológicos e ambientais que ainda não são
totalmente compreendidas. Numerosos estudos reportam que os valores individuais de
título cognitivo e social (e.g. capacidade de modular as próprias emoções, de enfatizar com
os outros, de lidar com eventos adversos da vida) são fundamentais para boa saúde
mental. [23, 27] História familiar, consumo de álcool ou de drogas, violência, pobreza,
exclusão social, experiências traumáticas ou de stress, estilos de vida pouco saudáveis,
envelhecimento e doenças físicas são os fatores de risco mais aludidos para o
desenvolvimento de perturbação mental. [28-30] Adicionalmente, existem fortes estigmas
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 22
(e.g. autoestigma e estigma social) ligados à saúde mental que comprometem a promoção
do bem-estar. [24, 31]
A saúde mental é um dos maiores desafios do mundo em geral e de Portugal em
particular. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença mental é
uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo, afetando mais de 1 bilhão
de pessoas. [32-34] Estima-se que 4,4% da população mundial sofra de perturbação
depressiva e que 3,6% sofra de transtorno de ansiedade. [35] O número de mortos por
doença mental relaciona-se maioritariamente com o suicídio. [21, 36] No contexto europeu,
Portugal é o segundo país com maior prevalência de perturbações mentais, sendo apenas
superado pela Irlanda do Norte. [24, 37] Dados recentes mostram que o registo de
portugueses com perturbações mentais tem vindo a aumentar tendencialmente desde
2011, no que diz respeito às perturbações de ansiedade, às perturbações depressivas e
às demências. [37, 38] Atualmente, mais de um quinto dos portugueses sofre de
perturbação mental e a taxa de suicídio portuguesa está acima da média mundial. [5] Este
aumento da carga global de doença mental acarreta elevados custos em termos de
sofrimento humano, incapacidade e prejuízos económicos [24, 30] e parece relacionar-se
sobretudo com o envelhecimento da sociedade, com o agravamento dos problemas sociais
(e.g. crime económica, terrorismo) e com a falta de políticas, de tratamentos adequados e
de literacia em saúde mental. [37, 39, 40, 41]
A existência de uma população cada vez mais idosa concorre para maior incidência
global de perturbação mental, em primeiro lugar porque o aumento da idade é preditor de
declínio cognitivo, e em segundo lugar, porque os idosos estão mais vulneráveis a
isolamento social, doenças crónicas e negligência física. [36, 37] Em Portugal, existe um
grave envelhecimento demográfico, tendo o índice de envelhecimento atingido os 153
idosos por cada 100 jovens em 2017. [42, 43] A última revisão do Programa Nacional para
Saúde Mental relata que efetivamente os portugueses estão a viver mais anos, mas com
mais incapacidades na área da saúde mental. [37] O processo normal e/ou patológico de
envelhecimento é encarado como um fardo social, pelo que são frequentes a solidão e a
institucionalização nos idosos portugueses. [44]
Também a falta de literacia no domínio da saúde constitui um dos maiores
problemas relacionados com a carga de doença mental nas comunidades portuguesas.
[45] A literacia em saúde mental trata-se de um conjunto de atributos (capacidade,
compreensão, comunicação) em saúde e em doença mental, que oferece aos indivíduos
competências para tomar decisões apropriadas sobre as mesmas. [46, 47] Com efeito, o
uso incorreto de medicamentos é considerado uma das principais consequências da falta
de literacia em saúde. [46] Em Portugal, existe uma sobreutilização de benzodiazepinas
(BZD) e de Z-hipnóticos (Z-H), psicofármacos utilizados no tratamento da ansiedade e da
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 23
insónia. [37, 48, 49] Estes medicamentos são classificados em função da indicação
terapêutica e da duração de ação (Anexo VII-A) [49] e só devem ser administrados se
insónia for grave e/ou incapacitante e por um período máximo de 4 semanas.
Relativamente ao tratamento de perturbações de ansiedade, as BZD têm indicação
terapêutica para alívio a curto prazo (8-12 semanas) da ansiedade grave e/ou incapacidade
isolada ou em associação com depressão, devendo ser descontinuadas gradualmente. [25,
50] A utilização excessiva de BZD e de Z-H aumenta o risco de défice cognitivo, de
tolerância e de dependência, o que dificulta a interrupção do tratamento. [50, 51] As
pessoas que se tornam dependentes de BZD em doses terapêuticas apresentam
comportamentos específicos (Anexo VII-B) que sugerem a falta de literacia nesta matéria.
Também a interrupção abrupta da terapêutica pode afetar a saúde mental, levando a
sintomas psicopatológicos. [50] O uso inapropriado destes medicamentos remete,
maioritariamente, à prática de automedicação, que para além do risco de dependência,
inclui: autodiagnóstico incorreto, atraso na busca de ajuda médica, reações adversas,
interações medicamentosas perigosas, forma incorreta de administração, dosagem
incorreta e/ou escolha incorreta da terapia. [52]
Evidências consistentes suportam a premissa de que intervenções comunitárias
(e.g. campanhas de sensibilização, de informação e de formação) têm impacto direto na
literacia em saúde mental [46], pelo que consequentemente são consideradas estratégias
eficazes na promoção do bem-estar mental e na prevenção das doenças mentais. [21, 28]
Promover a saúde mental e prevenir a doença mental são objetivos complementares, que
podem ser alcançados através da comunicação de medidas simples como: adoção de
estilos de vida saudável, reforço de laços familiares e de amizade, promoção da autoestima
e do prazer pela vida, estabelecimento de objetivos profissionais, realização de atividades
que melhorem as capacidades cognitivas. [29, 47, 53-55] Vários estudos indicam que os
farmacêuticos comunitários desempenham um papel importante na prestação de cuidados
de saúde mental. [56, 57] As intervenções farmacêuticas apresentam resultados positivos
na deteção precoce e no acompanhamento de indivíduos com doenças mentais, na adesão
e uso correto de tratamentos e no combate ao estigma. [56, 58, 59]
Pelo exposto, estudos concebidos, a nível de farmácia comunitária, para melhorar
a literacia em saúde mental e para promover a saúde mental na população idosa ajudariam
a diminuir a carga de doença mental nas comunidades portuguesas. Atendendo às
proporções epidemiológicas e ao facto de Portugal se estar a afastar progressivamente
das metas preconizadas pela OMS relativas às políticas e serviços de saúde mental [40],
é urgente aumentar os cuidados em saúde mental no país.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 24
2. Motivação e Objetivos
Durante o estágio, percebi que a realidade portuguesa de doença mental se
estendia à FC. Aproximadamente 50% das pessoas que atendi, consumiam algum tipo de
medicamentos associados à área da saúde mental, e muitas delas não sabiam o propósito
dos medicamentos. Para além disso, presenciei crises de ansiedade grave em vários
utentes da FC que exigiram chamada de emergência médica. Também percebi que na FC
nunca ninguém fizera uma iniciativa na área da saúde mental.
Assim, achei pertinente a conceção de um projeto para promover o bem-estar
mental e prevenir as doenças mentais na população que integra a FC e na comunidade
onde esta se insere. A nível da comunidade, considerei importante atingir a população de
idosos institucionalizados em lares próximos da farmácia, na medida em que estas pessoas
não têm capacidade de ir à FC e estão mais propensas ao desenvolvimento de doenças
mentais. A ideia do projeto ficou definida quando a diretora técnica me propôs a elaboração
de uma atividade no âmbito da campanha “Dormir e relaxar sem depender de
benzodiazepinas”, projeto nacional que visa diminuir a sobreutilização de BZD e Z-H [50]
e que está a ser instituído nas farmácias do conselho de Gondomar por iniciativa da ANF.
Desta forma, criei o projeto “7 caminhos para Saúde Mental” com o principal objetivo
de promover a saúde e prevenir a doença mental nos utentes da FC e respetiva
comunidade, durante os meses de junho a agosto. O nome do projeto remete para a
localização geográfica da FC (Sete Caminhos) e para as opções (caminhos) fundamentais
para alcançar boa saúde mental. Especificamente, este trabalho pretendeu:
⎯ Aumentar a literacia em saúde mental, sensibilizando os utentes da FC para a
gravidade da carga de doença mental em Portugal e para as medidas básicas de
promoção de saúde e prevenção de doença mental;
⎯ Promover saúde e prevenir a doença mental subjacente ao envelhecimento,
estimulando as capacidades cognitivas de idosos institucionalizados em lares
próximos da FC;
⎯ Definir o perfil do utente da FC que toma BZD e Z-H, avaliando as características
sociodemográficas, o padrão de consumo, o uso responsável dos medicamentos e
literacia em saúde mental.
3. Métodos
3.1. Cartaz e marcadores de livro para sensibilização da saúde mental
Para aumentar a literacia em saúde mental na população da FC realizei uma
campanha de sensibilização entre os meses de junho e de agosto. A campanha foi
efetuada através da afixação de um cartaz na FC e da distribuição de marcadores de livro
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 25
com linguagem e mensagens simples relacionadas com a saúde mental. O cartaz foi
colocado à entrada da FC e pretendeu sensibilizar os utentes para a problemática
portuguesa relacionada com a saúde/doença mental (Anexo VIII-A). Os marcadores de
livro continham inscritas sete medidas básicas para promoção da saúde e prevenção da
doença mental (“7 caminhos para Saúde Mental”), previamente reportadas em [47], e
destinavam-se aos utentes da FC em geral (Anexo VIII-B).
3.2. Atividades de estímulo mental em lares de idosos próximos da FC
Para promover saúde e prevenir doença mental na comunidade onde a FC se
insere, construi um programa de atividades lúdicas de estímulo mental dirigidas a idosos
institucionalizados em lares próximos da FC. O Programa “Ca-7” (cassete) visa a
realização de diferentes atividades que estimulam as capacidades cognitivas,
particularmente, o centro da memória (Anexo IX). Tratam-se de atividades simples e
facilmente adaptáveis, idealizadas para não comprometer a participação dos idosos com
mobilidade reduzida ou com incapacidade em escrever, falar e/ou ouvir.
Após tentativa de contacto telefónico e e-mail com vários lares de idosos próximos
da FC, o Lar D. Miguel e o Lar Dienia mostram disponibilidade e interesse neste projeto.
Marquei uma reunião com cada diretora do lar para entender quais as atividades do
Programa Ca-7 mais adequadas aos respetivos utentes. A intervenção no Lar D. Miguel foi
realizada durante a tarde do dia 24 de julho, executando as atividades “Caixa de pandora”
e “Jogo da bata-quente”, com um grupo de 22 idosos com idades compreendidas entre 80-
90 anos. A intervenção no Lar Dienia ocorreu na tarde do dia 26 de julho com um grupo de
10 idosos entre os 75 e os 95 anos de idade, realizando a atividade previamente acordada
“Caixa de pandora”. No Lar Dienia, a pedido da diretora do lar, também promovi uma
atividade sobre o “Dia dos Avós” (dia da data de intervenção no lar). Esta atividade consistiu
no preenchimento de um certificado (Anexo X-A) pelos idosos para oferecerem aos seus
netos. No total, em cada lar, as duas atividades programadas no âmbito da saúde mental
demoraram cerca de 90 minutos.
3.3. Inquérito de avaliação do uso de BZD e Z-H na FC
A população da FC que consome BZD e Z-H foi avaliada através da realização de
um inquérito, durante os meses de julho e de agosto, aos utentes da FC a quem se
dispensava um destes medicamentos. Para além das características sociodemográficas
(género e idade), o inquérito foi constituído por 10 perguntas de resposta rápida
relacionadas com o uso do medicamento (Anexo XI). Para não perturbar o ritmo normal
da FC, solicitava aos utentes que preenchessem o inquérito quando eu ia buscar a
medicação; e no final, eu escrevia o nome da BZD e Z-H dispensada na parte de trás da
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 26
folha do inquérito. As respostas obtidas no inquérito foram utilizadas para caracterizar o
padrão sociodemográfico e de consumo de BZD e Z-H dos utentes inquiridos e para avaliar
o seu uso responsável relativo a indicação, quantidade, horário e interrupção de
terapêutica. Estimou-se o nível de dependência às BZD e Z-H da população inquirida
considerando as respostas relativas a tempo de consumo e redução da dose; e o nível de
literacia, atendendo aos dados de perceção de risco e de eficácia terapêutica. Todos os
resultados permitiram estabelecer o perfil do utente comum da FC que toma BZD e Z-H.
Para averiguar diferenças entre utentes do sexo feminino e do sexo masculino, foi efetuada
uma análise estatística através do teste T-student pelo software KaleidaGraph 4.0 Synergy,
considerando os dados não emparelhados com variância desigual. As diferenças foram
consideradas estatisticamente significativas quando p<0,05.
4. Resultados e Discussão
4.1. Campanha de sensibilização na FC
Considero que a campanha de sensibilização teve resultados bastante positivos na
promoção da literacia em saúde mental na FC. Dispensei 80 marcadores de livro e houve
vários utentes que me abordaram sobre o cartaz exposto. Como foi a primeira vez que
alguém abordou um tema relacionado com saúde mental na FC, vários utentes
comentaram a necessidade de se “falar mais” sobre esta matéria, nomeadamente, as
camadas mais jovens afetadas por perturbação mental.
4.2. Intervenção nos lares de idosos
A intervenção nos lares de idosos foi muito enriquecedora a nível pessoal e
profissional, tendo superado as minhas expectativas. Em ambas as reuniões com as
diretoras do lar, tinha sido previamente alertada para que muitos idosos não quisessem
participar nas atividades propostas. No entanto, em ambos os lares, a maioria dos utentes
integrou as atividades, compreendeu o seu propósito e realizou-as com sucesso (algumas
fotografias das atividades estão expostas no Anexo X-B). Mostraram-se muito contentes
e acharam interessante que fosse promovida por um elemento da farmácia. Importa referir
que, de um modo geral, os idosos participantes se caracterizavam por ter mobilidade
reduzida e vários apresentavam doença de Alzheimer. No Lar D. Miguel, tive mesmo de
adaptar as atividades para serem passiveis de ser realizadas pelos idosos com a ajuda da
animadora residente. No Lar Dienia, no âmbito do “Dia dos Avós”, os familiares dos idosos
estiveram presentes na intervenção e apelaram à participação dos idosos nas atividades.
Também me comunicaram, da mesma forma que os utentes da FC, que era um tema
pertinente e raramente abordado.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 27
4.3. Utilização de BZD e de Z-H pelos utentes da FC
4.3.1. Caracterização sociodemográfica e do padrão de consumo dos utentes
No total, obteve-se uma amostra de 46 utentes consumidores de BZD e de Z-H,
constituída por 36 mulheres e por 10 homens. Atendendo que o inquérito foi efetuado em
período de férias (julho e agosto), em que a FC atendia em média, 100 utentes por dia,
considero que a amostra obtida (46 utentes) é representativa da população de utentes
consumidores de BZD e Z-H da FC. O predomínio de utentes consumidores do sexo
feminino (78%) está de acordo o padrão de consumo nacional [49, 50] e sugere que na FC
haja maior prevalência de perturbação mental em utentes mulheres do que em homens.
A Figura 5 mostra a distribuição por faixa etária, discriminada por género, dos
utentes consumidores de BZD e de Z-H inquiridos na FC. Os dados indicam que a maioria
das mulheres consumidoras têm idade compreendida entre os 37-53 anos, enquanto que
a maioria dos utentes homens está na faixa dos 54-70 anos. Para ambos os sexos, verifica-
se um decréscimo do número de utentes entre as faixas etárias 54-70 e 71-87 anos, o que
indica que não há aumento de consumo de BZD e Z-H com o aumento da idade. De facto,
é nas mulheres entre 37-53 anos que se verifica maior consumo de BZD e Z-H. Em
Portugal, a proporção da população que usa BZD e Z-H tende a aumentar tendencialmente
com o envelhecimento. Pelo exposto, na FC, o consumo de BZD e de Z-H parece ocorrer,
maioritariamente, em mulheres de idade precoce.
Figura 5 – Distribuição por faixa etária dos utentes consumidores de BZD e Z-H inquiridos do sexo feminino
(linha preta sólida) e do sexo masculino (linha cinzenta tracejada).
De acordo com a literatura [50], a maioria dos utentes consumidores de BZD e Z-H
da FC utiliza a medicação para o tratamento da insónia e da ansiedade (Figura 6A). Cerca
de 13% dos indivíduos inquiridos utiliza BZD ou Z-H para tratar depressão, e 4% dos
utentes utiliza os medicamentos para o tratamento de crises de pânico ou de dor. Os dados
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20-36 37-53 54-70 71-87
Nº
de
ute
nte
s
Faixa etária (anos)
Sexo feminino
Sexo masculino
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 28
obtidos, discriminados por género, estão descritos na Tabela 3 e apresentam diferenças
estatísticas significativas entre si. Analisando o padrão de consumo por cada BZD e Z-H
(Figura 6B), observa-se que 12 BZD diferentes e 1 Z-H foram dispensados durante o
inquérito. Na totalidade de BZD e Z-H, a substância mais consumida entre os utentes
inquiridos é Alprazolam, e depois, Zolpidem, único Z-H comercializado em Portugal.
Relativamente às BZD, os utentes da FC consomem mais BZD ansiolíticas (89%)
que BZD hipnóticas (10%). Predominam as BZD ansiolíticas de ação intermédia e a seguir
as BZD de ação longa com número igual de utentes relativos a Zolpidem. Com efeito,
Alprazolam, Lorazepam e Diazepam, as três BZD mais utilizadas a nível nacional [48, 49],
são também as BZD mais utilizadas pelos utentes da FC. Não existem diferenças
importantes no padrão de consumo de BZD hipnóticas. Assim, o utente comum da FC que
consome BZD e Z-H caracteriza-se por usar, predominantemente, BZD ansiolíticas de ação
intermédia ou Z-H de curta ação no tratamento de insónia ou de ansiedade.
Figura 6 – (A) Prevalência (em percentagem) de perturbações mentais (depressão, ansiedade, pânico), insónia
e dor nos utentes consumidores de BZD e Z-H inquiridos; (B) Histograma do número de utentes por BZD ou Z-
H dispensado.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 29
Tabela 3 – Número total de utentes consumidores de BZD e Z-H, discriminado por género, relativo a cada
tópico inquirido e por cada resposta possível.
(a) Diferenças estatísticas significativas entre indivíduos do sexo feminino e utentes do sexo masculino com p<0,05.
Número de utentes
Tópico Resposta possível Sexo
feminino(a) (Total= 36)
Sexo masculino(a)
(Total= 10)
Total (Total= 46)
Perturbação que exige tratamento com BZD ou Z-H
Insónia 17 5 22 Ansiedade 10 4 14 Depressão 5 1 6
Pânico 2 0 2
Dor 2 0 2
Indicação terapêutica
Por prescrição médica 32 9 41 Por iniciativa própria ou
conselho de familiar/amigo 4 1 5
Horário de tratamento
Toma no horário indicado pelo médico
29 9 38
Toma quando acha necessário 7 1 8
Quantidade ingerida
Toma o número de comprimidos indicado pelo médico
26 8 34
Às vezes, toma mais comprimidos
6 1 7
Às vezes, toma menos comprimidos
4 1 5
Interrupção da terapêutica
Parou de tomar voluntariamente o medicamento durante o
período de tratamento prescrito 10 4 14
Não parou de tomar voluntariamente o medicamento durante o período de tratamento
prescrito
26 6 32
Tempo de consumo
Menos de 1 mês 4 1 5 Mais de 1 mês 3 0 3 Mais de 1 ano 15 4 19 Mais de 5 anos 14 5 19
Dependência Sente que precisa do medicamento para realizar as
tarefas do dia-a-dia 21 6 27
Não sente que precisa do medicamento para realizar as
tarefas do dia-a-dia 15 4 19
Redução da dose
Está a fazer redução da dose 5 1 6 Não está a fazer redução da
dose 31 9 40
Perceção de risco
Conhece os riscos do uso incorreto do medicamento
26 4 30
Não conhece os riscos do uso incorreto do medicamento
10 6 16
Perceção de eficácia terapêutica
Considera que o medicamento é eficaz contra o seu problema
32 9 41
Não considera que o medicamento é eficaz contra o
seu problema 4 1 5
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 30
4.3.2. Avaliação do uso responsável de BZD e Z-H pelos utentes
4.3.2.1. Indicação, quantidade, horário e interrupção de terapêutica
O uso responsável de BZD e Z-H pelos utentes da FC foi avaliado através das
respostas ao inquérito relacionadas com indicação terapêutica, horário de tratamento,
quantidade ingerida e interrupção da terapêutica. O número de utentes por resposta a cada
tópico está descrito na Tabela 3. Considera-se que o utente usa BZD e Z-H de forma
responsável quando: i) tem indicação terapêutica por médico; ii) toma o medicamento no
horário e/ou na dose indicados pelo médico; ou iii) não interrompe voluntariamente o
tratamento durante o período prescrito. Assim, o uso irresponsável de BZD e Z-H ocorre
quando o utente: i) não tem indicação terapêutica por médico, mas por conselho de
familiar/amigo; ii) não toma o medicamento no horário e/ou na dose indicados pelo médico;
ou iii) interrompe voluntariamente o tratamento durante o período prescrito.
A Figura 7 mostra a distribuição do número de utentes por uso responsável e por
uso irresponsável relativamente aos tópicos indicação terapêutica, horário de tratamento,
quantidade ingerida e interrupção da terapêutica. Para todos os tópicos, a percentagem de
utentes que faz uso responsável é superior à percentagem de utentes que faz uso
irresponsável. Contudo, há, em média, 21% de utentes que não fazem uso correto de BZD
e Z-H. Embora mais de 80% dos utentes afirme tomar BZD e Z-H por indicação médica e
no horário indicado, aproximadamente 30% diz não tomar a quantidade prescrita e
interromper o tratamento.
Figura 7 – Número de utentes (em percentagem) que usam BZD e Z-H, de forma responsável ou de forma
irresponsável, por cada tópico inquirido relativo ao uso do medicamento.
Os maiores contributos para as percentagens de uso responsável e de uso
irresponsável são, respetivamente, a percentagem de utentes com indicação terapêutica
por médico (89%) e a percentagem de utentes que interrompem a terapêutica (30%).
30%
26%
17%
11%
70%
74%
83%
89%
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Interupção da terapêutica
Quantidade ingerida
Horário de tratamento
Indicação terapêutica
Número de utentes
Uso irresponsável
Uso responsável
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A Figura 8 mostra as proporções do número de utentes que usam BZD e Z-H, de
forma responsável (Figura 8A) e de forma irresponsável (Figura 8B), por cada tópico
inquirido em função das possíveis respostas a cada tópico. Os dados da Figura 8A indicam
que a maioria dos utentes que tem indicação médica para fazer BZD ou Z-H não interrompe
o tratamento e que toma o medicamento no horário indicado e na quantidade prescrita pelo
médico. Verifica-se um padrão semelhante em utentes que iniciaram o tratamento sem
indicação médica (Figura 8B). Contudo, em utentes que aferiram tomar BZD e Z-H porque
o médico indicou, há cerca de duas vezes menos casos de utentes que tomaram BZD e Z-
H em quantidade diferente da prescrita e de utentes que tomaram BZD e Z-H quando
acham necessário. Relativamente à quantidade ingerida, observa-se que todos os utentes
que tomam BZD e Z-H na quantidade prescrita cumprem o horário de tratamento. De facto,
a maioria dos utentes que toma o medicamento em quantidade diferente, tomam-no
principalmente quando acham necessário. Com efeito, verifica-se que todos os indivíduos
que tomam o medicamento fora de horário de tratamento, ingerem uma quantidade
diferente da prescrita. Nestes utentes, também ocorre maior proporção de casos de
interrupção da terapêutica e associados a falta de indicação médica.
Figura 8 – Proporção do número de utentes que usam BZD e Z-H, de forma responsável (A) e de forma
irresponsável (B) relativamente a cada tópico inquirido, em função das possíveis respostas sobre interrupção
da terapêutica (com ou sem interrupção), horário de tratamento (toma no horário indicado ou quando
necessário), quantidade ingerida (toma a quantidade prescrita ou quantidade diferente) e indicação terapêutica
(com ou sem indicação médica).
Horário indicado Quando necessário Quantidade prescrita Quantidade diferente
Sem interrupção da terapêutica Com interrupção da terapêutica Com indicação médica Sem indicação médica
Horário de tratamento
Interrupção da terapêutica
Quantidade ingerida
Indicação terapêutica
A B
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Dina Neves | 32
Nos usos responsável e irresponsável de BZD e Z-H, observam-se proporções
praticamente iguais de utentes que interrompem a terapêutica nos tópicos relativos a
quantidade ingerida e horário de tratamento. Verifica-se que em utentes que interrompem
a terapêutica, é mais frequente que tomem BZD e Z-H quando acham necessário e numa
dose diferente do que em utentes que não interrompem a terapêutica. Curiosamente,
existem mais casos de utentes com indicação médica em utentes que interrompem a
terapêutica do que em utentes que não interrompem a terapêutica. Estes dados confirmam
que não há proporcionalidade direta entre indicação terapêutica.
Por outro lado, é evidente que existe uma correlação positiva entre horário de
tratamento, quantidade ingerida e interrupção da terapêutica. Os utentes consumidores de
BZD e Z-H da FC que tomam o medicamento na dose prescrita são maioritariamente
utentes que cumprem o horário de tratamento e vice-versa. Utentes que tomam BZD e Z-
H em quantidade diferente, geralmente, são utentes que não cumprem no horário errado e
vice-versa. Também se nota que a interrupção da terapêutica ocorre mais frequentemente
em indivíduos que não tomam BZD e Z-H na dose e no horário prescrito, do que em
indivíduos que fazem uso responsável nestes tópicos. Portanto, a utilização responsável
relativa a um destes tópicos (quantidade ingerida, horário de tratamento ou interrupção da
terapêutica) predita a utilização responsável dos restantes.
4.3.2.2. Dependência e redução da dose
O uso responsável de BZD e Z-H pelos utentes da FC foi também avaliado através
das respostas ao inquérito relacionadas com dependência às BZD e Z-H, redução da dose
terapêutica e tempo de consumo. Os utentes que aferiram precisar do medicamento para
realizar as tarefas do dia-a-dia foram considerados dependentes às BZD e Z-H. Considera-
se que os utentes utilizam BZD e Z-H, de forma responsável, quando procedem à redução
da dose de BZD ou Z-H por um período máximo de 3 meses, evitando risco de
dependência. Note-se que em cerca de metade dos doentes que utilizam BZD por mais de
1 mês ocorre dependência. [50] Os dados obtidos em inquérito (Tabela 3) sugerem que a
maioria dos utentes da FC utilize BZD e Z-H de forma irresponsável nestes tópicos, porque
cerca de 80% dos inquiridos utilizam BZD ou Z-H há mais de 1 ou 5 anos; e existem cerca
de seis vezes mais casos de utentes dependentes (60% dos indivíduos inquiridos) do que
utentes que estão a fazer redução da dose (13% dos indivíduos inquiridos). A Figura 9
mostra a variação do número de utentes com dependência às BZD e Z-H ou que estão a
fazer redução da dose terapêutica em função do tempo de consumo do medicamento. Os
níveis de dependência e de redução da dose de BZD e Z-H apresentam um comportamento
similar ao longo do tempo de consumo, no entanto para o mesmo tempo de consumo, há
mais utentes dependentes do que utentes em redução de dose.
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Figura 9 – Número de utentes com dependência às BZD e Z-H (linha preta sólida) ou que estão a fazer redução
da dose terapêutica (linha cinzenta tracejada) em função do tempo de consumo.
Os dados da figura sugerem que o número de utentes com dependência e com
redução da dose aumente com o aumento do tempo de consumo. Em ambos os tópicos,
se verifica um aumento exponencial do número de utentes entre consumo há mais de 1
mês e consumo há mais de 1 ano; e não existem diferenças significativas no número de
utentes que está a tomar o medicamento há menos ou há mais de 1 mês, bem como há
mais de 1 ano ou há mais de 5 anos. De facto, a Tabela 3 mostra que, na totalidade, existe
um número igual de utentes que tomam o medicamento há mais de 1 ano e há mais de 5
anos (19 em 46 utentes). O aumento do nível de dependência com aumento do tempo está
previsto pela literatura [50], todavia o aumento do nível de redução da dose após 1 mês
não é adequado. De facto, verifica-se que a maioria dos utentes dependentes e dos utentes
com redução da dose consome BZD e Z-H há mais de 1 ano. Desta forma, não ocorre a
proporcionalidade inversa prevista para dependência e redução da dose terapêutica, o que
confirma a premissa de que os utentes da FC não fazem uso responsável de BZD e Z-H
relativamente ao tempo de consumo.
4.3.2.3. Perceção de risco e de eficácia terapêutica
As respostas ao inquérito, associadas a perceção de risco e de eficácia terapêutica,
foram utilizadas para correlacionar o nível de dependência às BZD e Z-H dos utentes da
FC com o seu grau de literacia em saúde mental e de uso responsável. Considerou-se que:
i) utentes que aferiram conhecer os riscos para a saúde do uso incorreto de BZD e Z-H têm
maior literacia em saúde do que aqueles aferiram não conhecer os riscos; ii) utentes que
acham que BZD e Z-H tomada não é eficaz contra o seu problema fazem uso irresponsável,
porque se a toma não é eficaz pode não ser a mais adequada para o utente.
0
2
4
6
8
10
12
14
Menos de1 mês
Mais de 1mês
Mais de 1ano
Mais de 5anos
Nº
de
ute
nte
s
Tempo de consumo
Dependência
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Os resultados previamente descritos na Tabela 3 mostram que 35% dos utentes
consumidores de BZD e Z-H não conhece os riscos do uso irresponsável do medicamento,
e por isso carece de literacia nesta matéria. Ao invés dos outros tópicos abordados,
observa-se um padrão diferente de perceção de risco entre indivíduos do sexo feminino e
do sexo masculino. Verifica-se que, ao contrário das mulheres, há mais homens que não
conhecem os riscos de uso irresponsável do que homens que conhecem (esta é a única
proporção com relevância suficiente encontrada entre sexos). Por outro lado, 90% da
população inquirida afirma que BZD e Z-H são eficazes contra o seu problema, o que
sugere uso responsável relativo à finalidade do medicamento.
A Figura 10 mostra o número de utentes considerados dependentes e não
dependentes de BZD e Z-H em função de cada resposta possível relativa à perceção de
risco e eficácia terapêutica. Utentes dependentes e utentes não dependentes apresentam
proporções similares relativamente ao tópico de perceção de risco, pelo que utentes com
dependência às BZD e Z-H apresentam nível semelhante de literacia em saúde que utentes
não dependentes. A dependência às BZD e Z-H em utentes da FC parece não se
correlacionar diretamente com falta de literacia, porque a maioria dos utentes dependentes
conhece os riscos de uso irresponsável.
A principal diferença entre os dois grupos de utentes relaciona-se principalmente
com a sua opinião sobre a eficácia terapêutica de BZD e Z-H. Em indivíduos não
dependentes, existe cerca de quatro vezes mais utentes que acham que a terapêutica não
é eficaz relativamente a utentes dependentes; logo utentes não dependentes fazem uso
irresponsável, porque se a toma não é eficaz pode não ser a mais adequada para o utente.
Estes dados estão de acordo com o conceito de dependência: utentes consideram BZD e
Z-H tão eficaz no seu problema que não conseguem parar o tratamento (Anexo VII-B).
Figura 10 – Número de utentes (em percentagem) com e sem dependência às BZD e Z-H em função das
possíveis respostas sobre os tópicos perceção de risco e eficácia terapêutica.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Dependentes Nãodependentes
Nú
me
ro d
e u
ten
tes
Nível de dependência
Não conhecem
Conhecem
Não eficaz
Eficaz
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De um modo geral, os resultados sobre o uso de BZD e Z-H mostram que os utentes
da FC não fazem uso responsável em todos os tópicos referentes ao uso do medicamento.
A maioria dos utentes da FC consumidores de BZD e Z-H fazem uso responsável de BZD
e Z-H relativamente a indicação terapêutica, quantidade ingerida, horário e eficácia
terapêutica. No entanto, existe uma percentagem significativa de uso irresponsável, que
parece estar associada, maioritariamente com a interrupção da terapêutica ou com o
elevado tempo de consumo (sobreutilização). A maioria dos utentes alega ter dependência
às BZD e não há praticamente utentes que estejam a reduzir a dose terapêutica. Este uso
irresponsável não se relaciona com a falta de literacia em saúde mental.
4.3.3. Perfil do utente comum da FC que consome BZD e Z-H
O perfil do utente da FC que toma BZD e Z-H foi elaborado através dos resultados
da caracterização sociodemográfica e do padrão de consumo dos utentes e da avaliação
do uso responsável de BZD e Z-H. Com efeito, o utente comum da FC que consome BZD
e Z-H caracteriza-se predominantemente por:
⎯ Ser do sexo feminino com idade compreendida entre os 37-53 anos;
⎯ Utilizar Alprazolam e Zolpidem no tratamento da ansiedade e da insónia;
⎯ Utilizar BZD e Z-H de forma responsável, nomeadamente:
▪ Tomar BZD e Z-H por indicação médica;
▪ Cumprir a dose prescrita no horário prescrito;
▪ Não interromper voluntariamente a terapêutica;
▪ Considerar que BZD e Z-H é eficaz no tratamento;
⎯ Utilizar BZD e Z-H de forma irresponsável, nomeadamente:
▪ Tomar BZD e Z-H há mais de 1 ou 5 anos;
▪ Não fazer redução da dose terapêutica;
▪ Ter dependência às BZD e Z-H;
⎯ Conhecer o risco do uso irresponsável de BZD e Z-H;
▪ Se for do sexo masculino, ter menor literacia na perceção de risco.
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5. Conclusões
Considerando os resultados na sua globalidade, pode-se concluir que os objetivos
estipulados para o projeto Sete caminhos para saúde mental foram cumpridos. A
campanha de sensibilização na FC atingiu pelo menos 80 utentes e constituiu um contacto
primário de muitos com a problemática nacional e com sete medidas básicas de promoção
de saúde e prevenção de doença mental. A intervenção nos lares de idosos permitiu uma
projeção local do tema saúde/doença mental, atingindo pessoas que não teriam
capacidade para ir à FC e que estão mais propensas ao desenvolvimento de doença
mental. Quer na FC quer nos lares de idosos, o projeto foi a primeira intervenção
farmacêutica realizada sobre saúde/doença mental, pelo que foi considerada inovadora a
nível comunitário, e bastante motivante, a nível pessoal.
Neste projeto, a minha principal dificuldade foi a elaboração do inquérito de
avaliação do uso de BZD e Z-H, porque tive bastante dificuldade em obter a amostra de
utentes. Os resultados obtidos do inquérito permitiram construir uma proposta coerente do
perfil do utente comum da FC que consome BZD e Z-H, que será posteriormente
apresentada pela diretora técnica em reunião da ANF, no âmbito da campanha “Dormir e
relaxar sem depender de benzodiazepinas”.
Na FC, há sobreutilização de BZD e Z-H, maioritariamente, sem redução da dose
e por mulheres em idade precoce; contudo, geralmente os utentes consumidores tomam
BZD e Z-H na quantidade e horário prescrito e não interrompem a terapêutica. De facto, a
maioria dos consumidores apresenta dependência às BZD e Z-H. A sobreutilização e a
dependência sugerem uso irresponsável pelos utentes da FC e falta de literacia em saúde
mental, todavia a maioria dos consumidores diz conhecer os riscos do uso irresponsável
de BZD e Z-H. Estes resultados sugerem que os utentes, particularmente os que tem
dependência às BZD e Z-H, não estejam bem informados para a temática. Por outro lado,
a falta de perceção de eficácia em utentes não dependentes predita que estes utentes não
estejam a fazer uso mais adequado de BZD e Z-H. Assim, conclui-se que na população de
utentes consumidores de BZD e Z-H da FC é urgente implementar estratégias para diminuir
a sobreutilização, dependência e uso irresponsável destes medicamentos.
Pelo exposto, o projeto Sete caminhos para saúde mental providenciou iniciativas
de promoção da saúde e prevenção da doença mental nos utentes da FC e na respetiva
comunidade, nomeadamente em idosos institucionalizados. Acho que a implementação
deste projeto desempenhou um papel preponderante no arranque à promoção da literacia
em saúde mental da população da FC, particularmente, por oferecer informação útil para
elaboração de futuras intervenções farmacêuticas dirigidas a consumidores de BZD e Z-H.
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Dina Neves | 37
PROJETO 2: RIGIDEZ ARTERIAL, O AUMENTO
1. Introdução
1.1. Conceitos e epidemiologia
A rigidez arterial (RA) corresponde à rigidez das artérias, propriedade mecânica
resistente à deformação. [60, 61] As artérias com RA adequada asseguram o transporte
de sangue aos tecidos periféricos em função da pressão exercida pelas ejeções
sanguíneas do coração, nomeadamente, do ventrículo esquerdo. [62] Assim, a RA é
entendida como a relação entre a mudança na pressão e a mudança no volume de sangue
nas artérias e depende da elasticidade, compilância e distensibilidade das mesmas. [60]
Em estado fisiológico, as artérias distendem-se quando a pressão arterial aumenta
para acomodar o fluxo sanguíneo durante a sístole (contração dos ventrículos e ejeção
ventricular); e posteriormente, recuam quando a pressão arterial diminui para promover o
fluxo sanguíneo para a circulação periférica durante a diástole (relaxamento dos
ventrículos, enchimento passivo ventricular) (Figura 11A). Apenas artérias com RA normal
têm capacidade de promover este efeito de amortecimento na flutuação da pressão
sanguínea (efeito Windkessel) e assim, permitir o normal funcionamento do transporte de
sangue. [63, 64] Concomitantemente, a cada batimento cardíaco é gerada uma onda (onda
de pulso) que percorre as artérias a uma dada velocidade, e que quando encontra
resistência periférica, gera uma nova onda refletida ao coração. [65, 66] A velocidade da
onda refletida e o momento cardíaco em que ocorre (sístole ou diástole) dependem da RA;
sendo que, numa situação normal, a onda é refletida mais tarde no ciclo cardíaco e atinge
o coração na diástole. [65]
O aumento da RA (enrijamento) é consequência da arteriosclerose subjacente ao
processo normal de envelhecimento, que se caracteriza pelo endurecimento, perda de
elasticidade e espessamento progressivo das paredes das artérias (endotélio). [62, 66]
Desta forma, o incremento da RA é preditor de doença cardiovascular, contribuindo para a
elevada prevalência de doença cardiovascular no mundo. [61, 66] Note-se que as doenças
cardiovasculares são a primeira causa de morte no mundo, atingindo 17.7 milhões pessoas
por ano. [67] Em Portugal, nos últimos anos, tem-se verificado uma redução do número de
mortes por doença cardiovascular em detrimento do aumento do número de tumores
malignos, contudo as doenças cardiovasculares continuam a ser a primeira causa de morte
no país que apresenta um grave envelhecimento demográfico. [68, 69]
1.2. Fisiopatologia e sintomas
O processo de RA aumentada é resultado de interações complexas entre os
componentes do endotélio vascular. [63, 66] Note-se que o endotélio dos vasos é
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
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constituído por três camadas: i) túnica externa ou adventícia, composta por tecido
conjuntivo e tecido elástico; ii) túnica média, composta por células musculares lisas e tecido
elástico; iii) túnica interna ou intima, constituída por células endoteliais, colagénio e tecido
elástico. [62] Com a progressão da idade, há perda de organização do tecido elástico, com
fragmentação e perda de fibras de elastina, deposição de colagénio e hipertrofia das
células de músculo liso, assim como espessamento desordenado da túnica média com
deposição de glicosaminoglicanos, fibrose e calcificação. [63,70] Ocorre também disfunção
endotelial e alterações na modulação dos recetores da angiotensina tipo dois, síntese de
NO e de aldosterona. [60, 62]
Figura 11 – Representação do processo ventricular em artéria com RA normal (A) em artéria com RA
aumentada (B) (adaptada de [71]).
Consequentemente, as artérias ficam mais rígidas (menor complacência,
elasticidade, distensibilidade), diminuindo o efeito de Windkessel (Figura 11B). [63] Por
sua vez, este processo resulta num aumento da velocidade de onda de pulso, que tende a
acontecer na sístole. [65] Verifica-se o aumento da pressão sistólica e diminuição da
pressão diastólica, com consequente aumento da frequência e da carga de trabalho
cardíaca e redução da perfusão coronária. [66] De facto, as artérias perdem a capacidade
de acomodar o sangue ejetado pelo ventrículo esquerdo, exigindo uma maior quantidade
de força do coração para expandir. Ao longo do tempo, este aumento de carga pode levar
a disfunção e falha do ventrículo esquerdo. [60, 62] Macroscopicamente, as artérias
parecem disformes e dilatadas.
1.3. Fatores de risco, diagnóstico e tratamento
Para além do envelhecimento, a RA aumentada depende de condições fisiológicas
(baixo peso ao nascer, ciclo menstrual, menopausa), características genéticas (história
familiar de hipertensão, diabetes ou enfarte do miocárdio, polimorfismos genéticos), fatores
A B
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 39
de risco cardiovascular (sedentarismo, obesidade, tabagismo, hipertensão, dislipidemia,
intolerância a glucose, stress, síndrome metabólica, diabetes), doenças cardiovasculares
e também doenças não cardiovasculares, nomeadamente doença renal crónica, artrite
reumatoide ou lúpus eritematoso sistêmico. [65, 72] Estudos recentes sugerem que a
depressão seja também fator de risco para incremento de RA. [73] O diagnóstico de RA
aumentada pode ser por métodos invasivos e não invasivos. Na atualidade, os métodos
não invasivos encontram aplicabilidade crescente, sendo que a medida da velocidade de
onda de pulso por tonometria arterial é considerada o padrão-ouro dos estudos
hemodinâmicos. [63, 66] O formato de cada onda e o valor da sua velocidade traduzem
indiretamente a medida da rigidez das artérias. Assim, este método consegue prever a
mortalidade cardiovascular, pois permite detetar precocemente o dano nas artérias. De
facto, numerosos estudos mostraram que a velocidade da onda de pulso poderia ser aditiva
ao score de risco de Framingham para avaliação do risco cardiovascular em indivíduos
com diabetes e hipertensão. [61] A RA aumentada é considerada um processo pouco
reversível, pelo que o tratamento farmacológico que existe é maioritariamente sintomático
e não efetivo (e.g. agentes antihipertensores, hipoglicemiantes). Por outro lado, medidas
não farmacológicas parecem ter um impacto direto na RA [74-76], nomeadamente: adoção
de estilos de vida saudável, prática de exercício físico, redução da ingestão de sal, moderar
o consumo de álcool.
2. Motivação e Objetivos
Poucas semanas após o início do estágio, fui informada que iria ocorrer um rastreio
na FC sobre RA. O rastreio, que visava a avaliação da RA e tensão arterial nos utentes da
FC, iria ser realizado no âmbito do programa “Coração sem Risco”, promovido pelos
laboratórios KRKA, que pretende sensibilizar e prevenir as doenças cardiovasculares no
território nacional. Apesar de ser gratuito, a logística do rastreio exigia que os utentes
interessados procedessem à marcação do mesmo na FC. Para melhor integração na
temática do rastreio, os funcionários da FC entregaram-me o panfleto do programa
“Coração sem Risco” que iria ser distribuído aos participantes. Notei que este panfleto se
focava nas medidas básicas de prevenção de doenças cardiovasculares e não tinha
qualquer informação sobre RA. Por outro lado, senti que não tinha conhecimento suficiente
nesta matéria para dar resposta aos utentes.
Desta forma, elaborei o projeto “Rigidez arterial, o aumento” com o principal objetivo
de aumentar a literacia em saúde sobre RA em utentes participantes no rastreio.
Especificamente, este projeto pretendeu sensibilizar os utentes da FC para: i) gravidade
de RA aumentada; ii) importância da determinação da medida da RA; iii) medidas básicas
de prevenção de RA aumentada.
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Dina Neves | 40
3. Métodos – Panfleto informativo sobre RA
Para aumentar a literacia em saúde sobre RA nos utentes participantes, elaborei
um panfleto informativo sobre a temática para ser distribuído durante o rastreio. O panfleto
foi construído com linguagem e mensagens simples relacionadas com RA, destacando a
fisiopatologia, fatores de risco, sintomas, diagnóstico e prevenção de RA aumentada
(Anexo XII). O rastreio foi realizado durante todo o dia 16 de maio de 2018 no gabinete de
atendimento personalizado da FC com participação prevista de 10 utentes e sob orientação
de uma profissional de saúde especializada na avaliação da RA.
4. Resultados e Conclusões
Considero que este projeto teve resultados positivos na promoção da literacia em
saúde nos utentes participantes no rastreio. A adesão ao rastreio foi superior à esperada,
sendo que, no total, 15 panfletos foram dispensados. A orientadora do rastreio referiu que
o panfleto ajudou a que muitos utentes se apercebessem da importância da determinação
da medida da RA e consequentemente que aderissem ao rastreio. Também referiu que
embora muitos utentes conhecessem as medidas básicas de prevenção, não as colocavam
em prática; pelo que, o panfleto foi útil para alertar os utentes para a gravidade de RA
aumentada. A nível pessoal, após ter realizado este projeto, sinto-me mais preparada para
encarar a temática, sendo capaz de reconhecer os aspetos fundamentais de RA
aumentada.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 41
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Dina Neves | 47
ANEXOS
Anexo I – Espaço exterior da FC.
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Anexo II – Área de atendimento (A) e armazém (B) da FC.
A B
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Anexo III – Sifarma® Módulo de Atendimento: (A) identificação do cliente/utente; (B) processo de
componentes com ou sem comparticipação e de receitas manuais ou eletrónicas (C), verificação do
produto dispensado (D), formas de pagamento, débito e/ou crédito (E).
A
B
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C
D
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E
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Anexo IV – Exemplo de fatura.
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Anexo V – Exemplo de guia de requisição de estupefacientes e psicotrópicos e/ou BZD.
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Anexo VI – Suporte para registo de erros de encomendas.
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Anexo VII – (A) Classificação de BZD e Z-H baseada nos efeitos clínicos e na duração de ação; (B)
Comportamentos correlacionados com dependência às BZD e Z-H. Ambas as figuras são adaptadas
de [50].
A
B
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Dina Neves | 56
Anexo VIII – (A) Cartaz de sensibilização para a problemática portuguesa relacionada com a
saúde/doença mental; (B) Marcador de livro para sensibilização de sete medidas básicas para
promoção de saúde e prevenção da doença mental.
A
B
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Dina Neves | 57
Anexo IX – Descrição das atividades lúdicas realizadas no âmbito do Programa Ca-7 para
promoção e a prevenção da saúde mental em utentes dos lares de idosos D. Miguel e Dienia.
Jogo da bata-quente
O grupo reúne-se em círculo com o animador. À medida que uma música começa a tocar,
o animador passa uma pequena bola ao grupo de participantes, que vai passando de
participante em participante. Quando a música para, a pessoa que ficou com a bola deve
apenas dizer o seu nome. Depois, a música começa a tocar novamente e a bola vai
passando. Quando a música parar, a pessoa que ficar com a bola deve dizer o seu nome
e indicar o nome da pessoa que anteriormente tinha ficado com a bola.
Caixa de pandora
Coloca-se vários objetos (colher, pente, escova de dentes, tesoura, jornal, lápis, ect),
dentro de uma caixa. Com os participantes reunidos, o animador retira e mostra cada objeto
aos participantes, dizendo o nome e colocando-o em cima de uma mesa. Após todos os
objetos estarem em cima da mesa, o animador cita o nome de todos os objetivos e coloca-
os novamente dentro da caixa. Com os objetos guardados, pede-se aos participantes que
referiram o maior número de objetos que se lembrem. O animador regista os nomes e
depois retira novamente um objeto de cada vez da caixa, conferindo se ele foi ou não
lembrado.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 58
Anexo X – (A) Certificado de excelência elaborado no âmbito da atividade “Dia dos Avós” proposta
pelo Lar Dienia; (B) Fotografias da intervenção nos lares de idosos.
A
B
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Dina Neves | 59
Anexo XI – Inquérito de avaliação do uso de BZD e Z-H, distribuído durante os meses de julho e de
agosto, aos utentes da FC a quem se dispensava um destes medicamentos.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária | Farmácia Castro
Dina Neves | 60
Anexo XII – Panfleto informativo sobre RA.
Hospital Geral de Santo António – Centro Hospitalar do Porto
Dina Isabel Sousa Carvalho das Neves
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Hospital Geral de Santo António – Centro Hospitalar do Porto
março de 2018 a abril de 2018
Beatriz Afonso Namora Baldaque Marinho
Carina Tavares da Costa
Dina Isabel Sousa Carvalho das Neves
Jéssica Carina Silva Rodrigues
Orientador: Dra. Teresa Alexandra Teixeira Almeida
outubro de 2018
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | ii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado
previamente noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As
referências a outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam
escrupulosamente as regras da atribuição, e encontram-se devidamente
indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as normas de
referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio
constitui um ilícito académico.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 1 de outubro de 2018
Dina Isabel Sousa Carvalho das Neves
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | iii
AGRADECIMENTOS
À Comissão de Estágios da Faculdade de Farmácia da Universidade do
Porto, por nos ter dado a oportunidade de conhecer a realidade da farmácia
hospitalar.
À Doutora Patrocínia Rocha, Diretora dos Serviços Farmacêuticos, e ao
Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto pela oportunidade de
realizarmos o estágio nesta que é uma instituição de referência no nosso país.
À Doutora Teresa Almeida, nossa orientadora e um pilar da nossa
aprendizagem, pela disponibilidade, dedicação e simpatia. Pela forma como nos
recebeu, nos orientou e nos transmitiu os seus conhecimentos.
A todos os farmacêuticos, técnicos de farmácia, assistentes técnicos e
operacionais dos Serviços Farmacêuticos do Centro Hospital do Porto, que nos
acolheram nas diversas unidades, pelos valiosos conhecimentos científicos e
técnicos partilhados connosco.
À nossa família e amigos por todo o seu apoio.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | iv
RESUMO
No âmbito do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, realizamos
o nosso estágio curricular em farmácia hospitalar nos Serviços Farmacêuticos
do Centro Hospitalar do Porto. Com uma duração de 8 semanas, tivemos a
oportunidade de contactar com a realidade de um Farmacêutico Hospitalar
intervindo em todos os setores que constituem os Serviços Farmacêuticos.
Neste relatório, descrevemos a organização dos Serviços Farmacêuticos,
relatando as tarefas diárias desempenhadas pelos profissionais de saúde, bem
como a nossa experiência neste estágio. Descreve-se todo o circuito do
medicamento, desde da sua aquisição à sua dispensa. Exploramos também a
organização e tarefas desempenhadas nas áreas de produção de medicamentos
estéreis, não estéreis e citotóxicos. Ainda dentro dos diferentes setores com que
contactamos nos Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto,
descrevemos a nossa intervenção no circuito do medicamento experimental e os
procedimentos característicos deste setor.
Neste seguimento, tentamos explicar as diversas regras, e exigências de
qualidade, reguladas por leis específicas que regulam o meio hospitalar e ainda
relatar a importância do Farmacêutico e da sua Intervenção na promoção da
saúde pública.
Por último, é apresentada uma conclusão onde é realizada uma análise
SWOT referente aos Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | v
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
1. Centro Hospitalar do Porto ...................................................................... 1
1.1. Serviços Farmacêuticos ....................................................................... 1
1.2. Organização do Estágio Curricular ...................................................... 2
II. CIRCUITO DO MEDICAMENTO ........................................................................ 2
1. Armazém de Produtos Farmacêuticos .................................................... 2
1.1. Seleção e aquisição de medicamentos e de produtos farmacêuticos .. 3
1.2. Gestão de stock ................................................................................... 4
1.3. Receção, armazenamento e conservação de medicamentos .............. 4
2. Unidade de Farmacotecnia ....................................................................... 5
2.1. Processo de produção de medicamentos estéreis .............................. 6
2.2. Processo de produção de medicamentos não estéreis........................ 7
2.3. UFO: produção de medicamentos citotóxicos ...................................... 8
2.4. Fracionamento de medicamentos para reembalagem ....................... 10
3. Distribuição ............................................................................................. 10
3.1. Distribuição Clássica .......................................................................... 11
3.2. Distribuição em Regime de Ambulatório ............................................ 11
3.3. Distribuição Individual Diária: sistema em dose unitária .................... 14
3.3.1. Validação e monitorização das prescrições médicas ........................... 14
3.3.2. Dispensa de medicamentos e de produtos farmacêuticos ................... 15
4. Investigação e Desenvolvimento ........................................................... 16
4.1. Ensaios Clínicos................................................................................. 16
4.2. Circuito do Medicamento Experimental .............................................. 17
III. INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA E CUIDADOS FARMACÊUTICOS ......... 19
IV. CONCLUSÃO ................................................................................................. 20
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 21
ANEXOS .............................................................................................................. 25
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | vi
LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS
AO Assistente Operacional
APF Armazém de Produtos Farmacêuticos
BPC Boas Práticas Clínicas
CA Conselho de Administração do CHP
CAUL Certificado de Autorização de Utilização de Lotes
CdM Circuito do Medicamento
CFT Comissão de Farmácia e Terapêutica
CFLv Câmara de Fluxo Laminar Vertical
CHP Centro Hospitalar do Porto
CMIN Centro Materno Infantil do Norte
DCI Denominação Comum Internacional
DID Distribuição Individual Diária
DL Decreto-Lei
EC Ensaios Clínicos
FEFO First Expired, First Out
FNM Formulário Nacional do Medicamento
GHAF Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia
HGSA Hospital Geral de Santo António
HJU Hospital Joaquim Urbano
HLS Hospital Logistics System
HMP Hospital Maria Pia
HBV Hepatite B
ID Investigação e Desenvolvimento
INFARMED Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento
ME Medicamento Experimental
OP Ordem de Preparação
PF Produtos Farmacêuticos
PV Prazo de Validade
RCM Resumo das Características do Medicamento
SA Serviços de Aprovisionamento
SC Serviços Clínicos
SF Serviços Farmacêuticos
SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities, Treats
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | vii
TDT Técnico de Diagnóstico e Terapêutica
TSS Técnico Superior de Saúde
UF Unidade de Farmacotecnia
UFA Unidade de Farmácia de Ambulatório
UFO Unidade de Farmácia Oncológica
INDICE DE ANEXOS
Anexo I – Cronograma do plano individual de estágio curricular. ................................ 25
Anexo II – Sistema de gestão de stocks por cartão Kanban. ...................................... 25
Anexo III – Exemplo de uma Ordem de Preparação de Produtos Estéreis. .................. 26
Anexo IV – Exemplo de uma Ordem de Preparação de Nutrição Parentérica. .............. 27
Anexo V – Exemplo de ordem de preparação de um manipulado não estéril. .............. 28
Anexo VI – Exemplo de um rótulo de um manipulado não estéril. ............................... 29
Anexo VII – Cálculos de volumes de Mesna e de solução diluidora necessários para emissão de OP de medicamento Mesna sob forma de bomba perfusora, prescrita para
perfundir 1800 mg de fármaco durante 18h. .............................................................. 30
Anexo VIII – Exemplo de tabuleiro com material necessário para preparação e reembalagem de medicamento Mesna sob forma de bomba perfusora. (a) Mesna; (b)
bomba perfusora; (c) dois rótulos identificativos. ........................................................ 31
Anexo IX – Patologias abrigadas por diploma legal para distribuição em Ambulatório. .. 32
Anexo X – Modelo Nº1804 INCM: impresso para requisição/distribuição/administração de
Hemoderivados. ...................................................................................................... 33
Anexo XI – Impresso para prescrição de medicamentos em terapêutica programada, em
regime de ambulatório, usado pelo serviço de Gastrenterologia e Nutrição. ................. 34
Anexo XII – Folheto Informativo elaborado por grupo de estagiários. .......................... 35
Anexo XIII – Termo de Responsabilidade entregue aos doentes de ambulatório. ......... 36
Anexo XIV – (1) Sala para atividades diárias dos TSS; (2) Carro de aviamento; (3) Caixas para dispensa de estupefacientes e psicotrópicos; (4) Medicamento em dose unitária; (5)
Exemplo de dispensa de hemoderivados. ................................................................. 37
Anexo XV - Accoutabillity Record, Registo de Receção, Dispensa e Devolução por número
de kit. 38
Anexo XVI – Modelo de Prescrição de Medicamentos de Ensaio Clínico. .................... 39
Anexo XVII – Análise SWOT. .................................................................................. 40
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | 1
I. INTRODUÇÃO
1. Centro Hospitalar do Porto
O Centro Hospital do Porto (CHP) é uma entidade pública empresarial criada em
2007 pelo Decreto-Lei (DL) nº 326/2007, de 28 de setembro, que resulta da união dos
hospitais da cidade do Porto: Hospital Geral de Santo António (HGSA), Hospital Maria Pia e
Maternidade de Júlio Dinis [1]. Em 2011, aliou-se o Hospital Joaquim Urbano, e em 2013 o
Centro de Genética Médica Doutor Jacinto Magalhães. A junção de especialidades na área
da saúde da criança e da mulher, existentes previamente no HGSA, Hospital Maria Pia e
Maternidade de Júlio Dinis, permitiu criar o Centro Materno Infantil do Norte (CMIN). Assim,
o CHP tem, atualmente, duas localizações diferentes: o HGSA, que se localiza no Largo do
Professor Abel Salazar, e o edifício do CMIN, que se localiza no Largo da Maternidade Júlio
Dinis. O nosso estágio realizou-se no HGSA, mas tivemos a oportunidade de conhecer as
instalações e o funcionamento do CMIN.
1.1. Serviços Farmacêuticos
Os Serviços Farmacêuticos (SF) são localizados no edifício neoclássico do CHP,
com exceção da Unidade de Farmácia Oncológica (UFO), localizada no edifício Doutor Luís
de Carvalho no Serviço de Hematologia Clínica. Sob a direção técnica da Doutora Patrocínia
Rocha, os SF correspondem a uma equipa multidisciplinar constituída por 22 técnicos
superiores de saúde (TSS), 27 técnicos de diagnóstico e de terapêutica (TDT), 15
assistentes operacionais (AO) e 3 assistentes técnicos. Num sistema de rotatividade, os
vários colaboradores dos SF dividem-se pelos diferentes setores dos SF com funções bem
discriminadas: Unidade de Farmácia de Ambulatório (UFA), Armazém de Produtos
Farmacêuticos (APF), Distribuição Individual Diária (DID), Investigação e Desenvolvimento
(ID) e Unidade de Farmacotecnia (UF), subdividida na produção de estéreis, não estéreis e
UFO. As funções atribuídas aos profissionais de saúde referentes a cada setor e os
respetivos protocolos são apresentados nas instruções de trabalho dos SF.
Essenciais na gestão do circuito do medicamento (CdM), os SF têm como principais
áreas de intervenção: a seleção da medicação e a sua aquisição, armazenamento,
realização de preparações, distribuição da medicação, controlo da qualidade, bem como
garantir a segurança e eficácia das terapêuticas aplicadas, entre outros. Estas atividades
são validadas por comissões técnicas e grupos de trabalho dos SF, como a Comissão de
Farmácia e Terapêutica (CFT). Para garantir o cumprimento de procedimentos e identificar
oportunidades da melhoria dos SF, são realizadas auditorias periódicas, essenciais para o
controlo de qualidade dos serviços prestados.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | 2
1.2. Organização do Estágio Curricular
O nosso estágio curricular no CHP realizou-se durante os meses de março e abril
de 2018 e integrou outros colegas estagiários, um colega do Mestrado Integrado em
Ciências Farmacêuticas da Facoltà di Scienze del Fármaco da Università di Pavia e uma
colega do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade do Algarve. O plano de estágio foi organizado de acordo com o
cronograma disposto no Anexo I, a título individual. Destacamos que o início do estágio
(março) foi marcado pelo surto de sarampo no CHP, que obrigou a medidas extraordinárias
de assepsia nos SF.
Na primeira semana de estágio, foram apresentados os aspetos gerais de cada setor
dos SF através de exposições em PowerPoint; e procedeu-se à formação dos grupos de
trabalho, cada um com dois elementos. Posteriormente, em cada semana, cada grupo de
trabalho foi distribuído por um dos setores dos SF. Às segundas-feiras, cada grupo procedia
à leitura das matrizes de processo e das instruções de trabalho do setor atribuído, e nos
restantes dias, participava nas atividades diárias do setor. Na última semana do estágio
curricular, procedeu-se à elaboração do presente relatório. De referir que, durante o período
de estágio, tivemos oportunidade de visitar o Museu do CHP, uma área expositiva do
contexto farmacêutico dos séculos XIX e XX; e presenciamos uma auditoria geral aos SF,
que avaliou criteriosamente as atividades de todos os setores.
II. CIRCUITO DO MEDICAMENTO
1. Armazém de Produtos Farmacêuticos
O APF é o armazém central do CHP, que assegura a disponibilização de
medicamentos e produtos farmacêuticos (PF) em quantidade e qualidade adequadas, no
prazo expectável e ao menor custo possível [2]. É neste setor que se inicia a primeira fase
do CdM [3, 4], que engloba o processo de aquisição, receção, armazenamento,
conservação, gestão e distribuição dos medicamentos e PF. De forma a garantir uma gestão
eficaz de todos estes processos, aplica-se o sistema Kanban [5]. Este sistema consiste em
utilizar um cartão identificativo junto ao stock de cada medicamento ou PF, que descreve o
produto, indicando quando é que se atinge o ponto de encomenda (o stock mínimo do
produto no armazém até nova encomenda), a quantidade a encomendar após se atingir o
ponto de encomenda, o código de barras e a sua localização no setor. A título de exemplo,
o Kanban referido no Anexo II indica que quando o stock de Mesna atingir as 200 unidades,
é necessário realizar um novo ponto de encomenda de 200 unidades de Mesna.
O APF organiza-se em vários setores como: o armazém geral, destinado à
generalidade dos medicamentos identificados por ordem alfabética através da Denominação
Comum Internacional (DCI); um corredor destinado ao armazenamento de colírios, pomadas
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | 3
oftálmicas, gotas auriculares, soluções nasais, antídotos, medicamentos manipulados e
agentes de contraste radiológico; nutrição artificial; material de penso; uma sala de
armazenamento de medicamentos estupefacientes e psicotrópicos, com acesso restrito;
uma câmara frigorífica, com sistema de controlo e registo da temperatura e alarme,
destinada ao armazenamento de medicamentos termolábeis; uma sala de antisséticos e
produtos inflamáveis; uma zona destinada a medicamentos ou outros PF de grande volume;
e dois corredores destinado a medicamentos pertencentes à UFA e à DID.
1.1. Seleção e aquisição de medicamentos e de produtos farmacêuticos
A seleção dos medicamentos e PF a adquirir é da maior importância, uma vez que
uma seleção adequada permite obter medicamentos e PF na quantidade, qualidade e prazo
requeridos pelos SF [4]. Esta seleção é baseada em evidências clínicas, eficácia, segurança
e qualidade, tendo em consideração a relação custo/benefício. Regularmente são também
revistos os preços praticados pelos diferentes laboratórios com vista a obter o menor custo
ao CHP, não comprometendo parâmetros essenciais como a qualidade e segurança. Para
este fim, recorre-se ao Formulário Nacional do Medicamento (FNM), adaptando-o à
realidade de cada hospital, através de adendas elaboradas pela CFT. Após seleção dos
medicamentos e PF e posterior autorização para o seu uso no hospital, estes vão sendo
continuamente encomendados sempre que se atinjam os designados pontos de encomenda
definidos pelos respetivos Kanban. Quando tal se verifica os Kanban são retirados e
colocados em local próprio. Diariamente, os Kanban são recolhidos e introduzidos na lista
comum, acessível através do software informático de Gestão Hospitalar de Armazém e
Farmácia (GHAF), programa experimental de processamento e aquisição de dados
implementado em todos os setores dos SF. Posteriormente, os serviços de
aprovisionamento (SA) efetuam a compra dos medicamentos e PF introduzidos. Após
emissão da nota de encomenda, os Kanban são guardados na zona de receção até entrega
da encomenda.
Existe ainda outra forma de obter medicamentos e PF, através de empréstimos
obtidos por parte de outros hospitais, podendo também verificar-se o oposto, cedência de
empréstimos. Sempre que tal se verifica são emitidas duas vias do documento de
empréstimo (uma que é arquivada e outra que segue com o medicamento/PF) e uma guia
de transporte.
Outra alternativa é realizar uma encomenda à Farmácia Lemos, ainda que esta
situação apenas se verifique para alguns manipulados ou PF de utilização esporádica. Pode
ainda ser necessário adquirir medicamentos extra-formulário, ou seja, medicamentos que
não constem nem no FNM nem nas respetivas adendas. Nestas situações, e caso não exista
Autorização de Introdução no Mercado é solicitada uma Autorização de Utilização Especial
ao Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (INFARMED).
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | 4
1.2. Gestão de stock
Uma gestão eficiente de stock é crucial para que garantir que se encontram
disponíveis os medicamentos necessários para suprir as necessidades dos doentes do
hospital, e assim assegurar um tratamento eficaz, sem atrasos ou interrupções. Desta forma,
é preciso encontrar um equilíbrio entre adquirir a quantidade suficiente dos produtos para
suprir as necessidades e não um excesso que conduza à sua inutilização por expiração do
prazo de validade (PV). Para tal estão implementadas várias metodologias que, em
conjunto, contribuem para uma gestão de stock racional. O stock pode ser gerido
informaticamente no GHAF, por sistema manual Kanban [6], por reposição Hospital Logistics
System (sistema de caixas, trocando-se as caixas SUC® vazias por cheias) e por reposição
de stocks nivelados.
Os medicamentos e PF encontram-se organizados nas prateleiras por ordem
alfabética da DCI e é aplicada a regra de “First Expired, First Out” (FEFO), que indica que
em primeiro lugar se utilizam os produtos com o PV mais curto. Na última semana de cada
mês, verificam-se quais os medicamentos e PF com o PV inferior a 3 meses sendo estes
assinalados com uma etiqueta específica. No próprio mês também se verificam os produtos
que terminam nesse mês sendo colocados em local próprio. Quando se encontram
expirados, danificados ou impróprios para consumo, os produtos são enviados para
incineração [7]. Para efetuar um controlo interno mais eficiente são realizados e atualizados
inventários a fim de se confirmar se o stock informático corresponde ao stock físico.
Concomitantemente, é necessário que as entradas, débitos, transferências, créditos,
inutilizações e devoluções sejam atualizadas [8].
1.3. Receção, armazenamento e conservação de medicamentos
A receção e conferência de encomendas é o primeiro passo da cadeia que garante
que os produtos recebidos estão em conformidade com o que foi pedido. Quando a
encomenda chega, o AO prepara-a para ser conferida pelo TDT. O TDT fica então
responsável por verificar uma série de parâmetros como: se a encomenda se destina ao
hospital, se o número de volumes de mercadorias entregues corresponde ao que está
indicado na guia de remessa e na nota de encomenda; conferir o estado das embalagens,
o lote e o PV; e verificar qual o seu destino interno (APF ou outro armazém). De seguida,
associa-se o respetivo Kanban, que é colocado junto da encomenda para ser arrumado no
devido local. A documentação como as guias de remessa, faturas e notas de encomenda
segue para os SA para que seja inserida no GHAF [3]. Existem casos especiais em que este
circuito é diferente. Para produtos cujo PV não é superior a 6 meses, a encomenda fica
sujeita a uma “validação condicional”, ou seja, só será aceite com a condição de garantia de
troca por outros produtos com PV mais alargado. No caso de uma encomenda conter
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produtos termolábeis, estes são os primeiros a ser conferidos, de modo a não quebrar a
cadeia de frio [3].
Os medicamentos hemoderivados ou derivados do plasma humano devem incluir
uma etapa de verificação do respetivo certificado do INFARMED - Certificado de Autorização
de Utilização de Lotes (CAUL). Relativamente a matérias-primas, deve estar presente o
documento que comprova a qualidade do lote (Boletim de Análise). Os estupefacientes e
psicotrópicos são enviados para o farmacêutico responsável e armazenados numa sala
fechada de acesso condicionado [3]. Em relação aos dispositivos médicos, é necessário a
confirmação da presença da marcação “CE” e arquivar os respetivos certificados que os
acompanham. Durante esta verificação, qualquer não conformidade deve ser devidamente
registada e comunicada para posterior decisão.
O armazenamento é um outro parâmetro essencial para garantir a qualidade e
eficácia dos medicamentos, que deve ter em consideração as características dos mesmos,
de forma a garantir que são conservados em condições adequadas de luminosidade,
temperatura e humidade. O APF reúne as condições que satisfazem a correta conservação
dos medicamentos, sendo estas monitorizadas por um sistema de controlo e registo
automático de funcionamento contínuo [3].
Neste setor, tivemos a oportunidade de proceder ao aviamento de estupefacientes
para os diferentes serviços bem como de hemoderivados. Pudemos ainda participar na
preparação do stock de ambulatório, organizar Kanban e dar entrada na lista comum dos
diferentes produtos.
2. Unidade de Farmacotecnia
A unidade de farmacotecnia (UF) é um dos setores dos SF e que tem como objetivo
preparar medicamentos necessários ao hospital, que não se encontram disponíveis no
mercado ou cuja manipulação seja uma mais valia. Este setor revela-se de grande
importância, dado que hoje em dia a personalização da terapêutica é essencial em inúmeros
casos e, por outro lado, permite o fracionamento/reembalamento de certos medicamentos,
levando a uma redução de desperdícios e de custos para o CHP.
Independentemente da preparação farmacêutica em causa, os medicamentos
manipulados devem ser preparados tendo em conta a garantia de qualidade exigida por lei,
em ambientes controlados e seguindo normas adequadas. Por este motivo, têm que cumprir
as “Boas Práticas a observar na Preparação de Medicamentos Manipulados em Farmácia
de Oficina e Hospitalar”, regulada pelos DL nº 90/2004, de 20 de abril e nº 95/2004, de 22
de abril e pela portaria nº 594/2004, de 2 de junho [9, 10, 11].
Os processos que requerem esterilização do local de produção, como é o caso da
produção de medicamentos estéreis e de citotóxicos na UFO, devem decorrer numa Câmara
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de Fluxo Laminar Vertical (CFLv), recorrendo a técnica assética, numa sala com ambiente
controlado, ao nível de temperatura, humidade e pressão. Na sala de preparação de
produtos estéreis, a pressão é positiva, de forma a evitar a contaminação do ambiente
interno, enquanto que na sala de preparação de produtos citotóxicos, a pressão da sala é
negativa, evitando a contaminação do ambiente externo à sala com produtos tóxicos. Em
ambos estes setores da UF, há uma divisão em 3 zonas, com grau de esterilidade crescente:
a zona negra, que consiste numa zona de apoio logístico, a zona cinzenta, onde ocorre o
fardamento com bata esterilizada, touca, máscara, protetores de sapatos e luvas estéreis, e
a zona branca, em que se efetua a preparação dos medicamentos na CFLv. Na zona branca,
qualquer produto que entre na CFLv, seja material, matéria-prima ou mãos dos operadores,
deve ser descontaminado com álcool 70º. No início e no final de cada sessão de trabalho
dá-se a desinfeção e limpeza quer da CFLv, quer da restante sala branca.
2.1. Processo de produção de medicamentos estéreis
Este setor é responsável pela produção de estéreis extemporâneos e de nutrição
parentérica, prescritos pelos vários SC do CHP.
Relativamente aos estéreis extemporâneos, são preparados medicamentos de uso
intravenoso e oftálmico, como colírios e medicamentos intravítreos. Os SC podem efetuar o
pedido de preparação por Kanban ou no GHAF. Quando o pedido chega aos SF, e após
validação da requisição por um farmacêutico, este emite a Ordem de Preparação (OP)
(Anexo Iii) e imprime os rótulos, sendo que esta tarefa deve estar sujeita a dupla verificação
por outro TSS. A designação do lote atribuído a cada preparação deve seguir a metodologia
da instrução de trabalho descrita na IT.SFAR.GER.035/2 [12].
Em relação à nutrição parentérica, o procedimento é o mesmo que para os estéreis
extemporâneos. No entanto, a prescrição chega aos SF através do GHAF e a OP é diferente
(Anexo IV). Estas preparações são prescritas, na maioria dos casos, pelos SC de
neonatologia e pediatria, que apresentam utentes com maior défice de aporte nutricional. O
farmacêutico deve validar a prescrição, tendo sempre especial atenção à composição
quantitativa e qualitativa das soluções I e II (hidrossolúvel e lipossolúvel, respetivamente). A
solução I resulta da conjugação de macro com micronutrientes. A adição dos
macronutrientes à bolsa é feita com um sistema automático e a adição dos micronutrientes
é feita manualmente. O enchimento da solução II é realizado de forma manual, sendo
acondicionada numa bolsa ou numa seringa, conforme o volume final. No final da
preparação é feito um controlo gravimétrico da bolsa que contêm a solução I e um controlo
microbiológico da primeira e da última bolsa de cada sessão de trabalho. Cada bolsa é
identificada com os rótulos previamente impressos e embalada em folha de alumínio para
proteção da luz. Exteriormente a esta proteção é também adicionado um rótulo. No final
ambas as soluções são acondicionadas em conjunto em manga termosselada.
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Durante o nosso estágio, tivemos oportunidade de acompanhar várias sessões de
trabalho na CFLv, onde foram preparadas diferentes bolsas de nutrição parentérica,
intravítreos e fracionamentos. Assistimos também à emissão das OP e executámos os
ensaios de verificação de qualidade. Para tal, seguimos todas as normas de fardamento e
proteção individual, as quais estão descritas anteriormente.
2.2. Processo de produção de medicamentos não estéreis
À semelhança das restantes áreas de produção, este setor visa a preparação e
disponibilização de produtos, neste caso específico, de formulações galénicas não estéreis
como as formas farmacêuticas sólidas (ex. papéis farmacêuticos), semissólidas (ex. pastas,
pomadas e cremes) e líquidas (ex. soluções, loções e suspensões), garantindo o
cumprimento da regulamentação e das Boas Práticas Farmacêuticas [13]. Estas
formulações são preparadas em sala específica e para cada uma está definida uma
metodologia de preparação. No entanto, no caso de se tratar de uma formulação nova, esta
tem de ser revista bibliograficamente em conjunto com outros hospitais experientes, de
forma a ser validada corretamente.
A preparação de formulações não estéreis pode desencadear-se por diversas
formas, tais como, através de uma prescrição médica, um pedido de um SC via GHAF, pela
UFA ou pelo sistema de Kanban. Depois de analisada e verificada a validade da requisição
pelo farmacêutico é emitida uma OP e o respetivo rótulo, o qual se deve encontrar em
conformidade com a legislação em vigor. O rótulo deverá conter informação relativa a:
composição qualitativa e quantitativa; número de lote; PV; condições de conservação;
instruções especiais de utilização; via de administração; identificação do local de preparação
e do farmacêutico responsável [14]. Quanto à OP (Anexo V), esta deve incluir para além
dos pontos já referidos para o rótulo (Anexo VI), toda a informação relativa à técnica de
preparação do produto (composição qualitativa e quantitativa, dosagem, forma
farmacêutica, técnica de preparação e número de unidades); informação sobre as matérias-
primas utilizadas quanto ao lote, origem e PV (atribuído de acordo com a
IT.SFAR.GER.083/1); e ensaios de verificação da qualidade do produto final, bem como os
procedimentos específicos de cada preparação, através dos quais se dá como conforme a
preparação em causa.
Durante a execução são preenchidos todos os campos da ficha que permitirão a
rastreabilidade da preparação [15]. A validação e supervisão do produto final são da
responsabilidade do farmacêutico. Para finalizar o processo, é necessário dar saída
informática e manual das matérias-primas utilizadas e criar no GHAF o perfil do produto não
estéril produzido após rotulagem e embalamento do mesmo.
No nosso estágio, tivemos a possibilidade de seguir todo o processo, desde a
emissão das OP até aos registos dos débitos de matérias-primas e entradas das
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composições. De salientar a participação ativa na execução de algumas formulações, como
por exemplo, pomada de Sirolimus, suspensão oral de Sildenafil, Hidrato de Cloral,
substituto de saliva, entre outras. Procedemos também ao fracionamento de embalagens de
comprimidos de cálcio efervescentes bem como à sua posterior e adequada reembalagem.
2.3. UFO: produção de medicamentos citotóxicos
A Unidade de Farmácia Oncológica (UFO), tem o objetivo de providenciar,
diariamente, medicamentos citotóxicos aos doentes em tratamento no Hospital de Dia e no
Serviço de Internamento do CHP, maioritariamente, associados aos SC de Oncologia e de
Hematologia. A UFO integra uma equipa constituída por dois TSS, dois TDT e um AO, que
assegura o cumprimento dos princípios de QuaPos (Quality Standard for the Oncology
Pharmacy Service) [16, 17]. De notar que os fármacos citotóxicos são considerados
medicamentos de alto de risco, pelo que os profissionais responsáveis pela sua produção
estão expostos, ocupacionalmente, a efeitos adversos para a saúde [18]. Como referido em
3., a UFO envolve três zonas distintas, em que a zona negra corresponde ao armazém da
UFO, a zona branca à zona de manipulação/reembalagem de citotóxicos, e a zona cinzenta
ao transfere de tabuleiros entre as zonas branca e negra. Os TSS encontram-se na zona
negra, que contém os suportes informáticos e os armários e frigóricos para arrumação dos
citotóxicos. De um modo geral, as principais atividades diárias dos TSS na UFO consistem
na gestão do armazém e nos processos de validação das prescrições médicas, de
preparação e de dispensa de medicamentos citotóxicos (e.g. mesna, ciclofosfamida,
cisplatina). A gestão do armazém da UFO envolve a verificação de Kanban e consequentes
pedidos de encomenda e reposição de stocks, bem como o controlo das devoluções dos
medicamentos com PV inferior a três meses e de baixa rotatividade. Os processos diários
de validação das prescrições médicas, de preparação e de dispensa de citotóxicos,
realizados pelos TSS, envolvem, sequencialmente, as seguintes etapas [19, 20]:
1. Elaboração prévia da lista de doentes que irão receber tratamento (nomeadamente,
ciclos de quimioterapia), efetuada através do cruzamento de dados do software de
agendamento de tratamentos (SClinico) e do software de validação/prescrição médica
(GHAF, CdM).
2. Validação e monitorização das prescrições médicas via GHAF, iniciada à medida que os
enfermeiros do Hospital de Dia e do Serviço de Internamento confirmam que os doentes
estão aptos para receber tratamento. Considera-se que uma prescrição está validada,
quando está de acordo com os protocolos, autorizações e deliberações do CHP relativos
a quimioterapia [19], o que, de um modo sintético, é expresso pela “6-R-Rule”: Right
Patiente, Right Drug, Right Apllication, Right Dose, Right Docummentattion, Right Time
[21]. De notar que para além da prescrição informática via GHAF, existe um modo de
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prescrição/validação manual de citotóxicos através de folhas próprias para prescrição de
medicação para doentes do Hospital de Dia ou do Serviço de Internamento.
3. Emissão das OP de medicamentos sujeitos a manipulação. Com exceção dos
comprimidos (e.g. dexametasona, ondansetron), imunoglobulinas e medicamentos de ID,
os restantes citotóxicos providenciados pela UFO, requerem manipulação prévia,
efetuada pelos TDT, na zona branca. As OP são elaboradas considerando os cálculos
de volumes de fármaco e de solução diluidora necessários para preparar a forma
farmacêutica prescrita pelos médicos (bombas perfusoras, soluções diluídas ou bólus)
com duração e ritmo de tratamento específicos (Anexo VII).
4. Preparação de tabuleiros com material necessário para preparação e reembalagem dos
medicamentos citotóxicos sujeitos a manipulação. Após emissão das OP, os TSS
preparam os tabuleiros que fazem o transfere da zona negra para a zona branca e que
contêm, individualmente, por doente (Anexo VIII): (a) um fármaco citotóxico, previamente
descartonado; (b) uma solução diluidora; (c) um suporte de preparação, i.e. seringa; (d)
dois rótulos para colocar nas embalagens primária e secundária da preparação final
(aplicável para medicamentos sujeitos e não sujeitos a manipulação).
5. Verificação do processo de manipulação dos medicamentos citotóxicos. Na zona branca,
os TDT operam com fardamento e equipamento de proteção individual próprio em CFLv
vertical (classe IIB) a pressão negativa com dois filtros High Efficiency Particulate
Arrestance, sob as boas práticas de fabrico suportadas por guidelines PiC/S
(Pharmaceutical Inspection Co-operation Scheme), ESMO (Oncology Clinical Practice
Guidelines) e ISOPP (Standards of Practice. Safe Handling of Cytotoxics) [21]. Os TSS
verificam, via GHAF, se a preparação dos citotóxicos pelos TDT está conforme as
respetivas OP, através de visualização de imagens da embalagem primária, capturadas
por uma câmara fotográfica incorporada na CFLv.
6. Validação das preparações finais de medicamentos citotóxicos. As preparações finais
(embalagens primárias) são reembaladas em manga termosselada (embalagem
secundária), protegidas da luz, e libertadas, através do transfere para a zona negra,
aproximadamente 1 hora após a confirmação inicial dada pelos enfermeiros (Anexo VIII).
Na zona negra, os TSS fazem uma nova validação do conteúdo das preparações, e
colocam-nas em contentores referentes a “cadeirões”, “camas” ou “cateteres” de acordo
com a localização dos respetivos doentes no Hospital de Dia ou no Serviço de
Internamento.
7. Dispensa das preparações finais de medicamentos citotóxicos. Considera-se que os
citotóxicos estão dispensados quando são entregues aos doentes no Hospital de Dia ou
no Serviço de Internamento. Os TSS são responsáveis pela entrega dos citotóxicos aos
AO ou enfermeiros que realizam o transporte dos citotóxicos da UFO para os SC, em
contentor fechado, inquebrável e refrigerado (se aplicável)
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Pelo exposto, a UFO apresenta diariamente um papel fundamental na prestação de
cuidados de saúde a doentes oncológicos, garantindo a produção personalizada de
fármacos citotóxicos de qualidade, eficazes e seguros.
Na UFO, os nossos grupos de trabalho tiveram a oportunidade de intervir nas
diferentes etapas dos processos diários de validação das prescrições médicas, de
preparação e de dispensa de citotóxicos. Numa primeira fase, observámos o processo de
validação das prescrições médicas pelos TSS via GHAF, destacando o cuidado dos TSS
em contactar os médicos aquando incerteza das dosagens de citotóxicos prescritas; e
elaboramos cálculos necessários para emissão de OP referentes a bombas perfusoras.
Numa segunda fase, ajudamos os TSS na preparação dos tabuleiros para manipulação dos
citotóxicos, colocando o material necessário nos tabuleiros e elaborando rótulos
identificativos. Aparentemente simples, esta atividade foi bastante enriquecedora, na
medida em que promoveu o nosso contacto primário com medicamentos oncológicos
exclusivos de uso hospitalar. Numa terceira fase, tivemos a oportunidade de acompanhar o
processo de manipulação dos citotóxicos pelos TDT na zona branca. Para além de
integrarmos a equipa da UFO nas suas atividades diárias, presenciámos algumas situações
excecionais, nomeadamente, paragens na linha de produção devido a condições não
adequadas do diferencial de pressão dentro da zona branca, e cuidados redobrados de
higiene/assepsia/segurança dentro da UFO devido à possibilidade de contágio durante o
surto de sarampo.
2.4. Fracionamento de medicamentos para reembalagem
O fracionamento da medicação tem como principal objetivo disponibilizar doses não
existentes no mercado a partir de formulações previamente comercializadas. Sem promover
alterações na qualidade e nas caraterísticas físico-químicas do medicamento, esta atividade
tem como objetivo secundário promover ao máximo da utilização dos medicamentos, sem
desperdício [22]. Os medicamentos passíveis de fracionamento devem ter essa informação
indicada no respetivo RCM.
No âmbito do nosso estágio, tivemos a oportunidade de participar neste processo de
fracionamento, tanto na produção de estéreis como não estéreis, nomeadamente no
fracionamento de comprimidos e de ampolas (exemplo, Bevacizumab). No fracionamento
de ampolas, destacamos a quantidade de “doses” que se consegue obter a partir de um só
frasco de medicamento, evidenciando a importância deste processo para a racionalização
da medicação.
3. Distribuição
A distribuição de todos os medicamentos e PF armazenados é da responsabilidade
dos SF. Esta distribuição garante a satisfação das prescrições referentes a doentes em
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regime de internamento, essencialmente através da distribuição clássica e da DID, e aos
doentes em regime de ambulatório.
3.1. Distribuição Clássica
A distribuição clássica foi o primeiro sistema de distribuição implementado no CHP
e está dividido em três circuitos (A, B e C). Estes circuitos englobam todos os blocos,
Serviços Clínicos (SC), consultas, veículos médicos de emergência e farmácias satélites,
como as farmácias do CMIN e da UFO. O principal objetivo deste sistema de distribuição é
o fornecimento de medicamentos, que pode ocorrer, após o pedido de reposição de stock,
em formato eletrónico ou manual. A reposição por stocks é feita no local após contagem das
unidades consumidas, obedecendo a quantitativos previamente estudados e acordados
entre os SC e os SF, para que todos os procedimentos inerentes à administração da
medicação e à gestão de stocks por parte da farmácia estejam facilitados, assegurando
desta forma um stock fixo no respetivo local [23]. Existem também no CHP dois armazéns
informatizados (um no bloco operatório e outro nos cuidados intensivos) com o sistema
semiautomático Pyxis Medstation®. Dentro da distribuição clássica podem ainda verificar-se
três processos, ainda que, como anteriormente referido, todos sigam quantidades de stock
acordadas entre os SC e os SF. O primeiro sistema ocorre em Hospital Logistics System,
em que os SC e os SF vão trocando caixas SUC® cheias por vazias. O segundo sistema
consiste na reposição por unidades consumidas e, por último, o terceiro processo consiste
na reposição por Kanban [23].
No decurso do nosso estágio participámos na reposição de stock dos diferentes serviços
abrangidos pelos 3 circuitos. Foi-nos ainda proporcionada uma visita ao Pyxis Medstation®
dos cuidados intensivos, onde auxiliamos também na reposição do respetivo stock.
3.2. Distribuição em Regime de Ambulatório
A distribuição em regime de ambulatório tem como missão “assegurar a distribuição
de medicamentos e outros produtos de saúde aos clientes, incluindo os doentes do
ambulatório, nas quantidades, qualidade e prazos exigidos, assegurando a preservação das
características dos mesmos” [24]. Este meio de distribuição surge devido à necessidade de
maior controlo e vigilância na utilização de determinadas terapêuticas associadas a efeitos
adversos mais graves. Desta forma, este regime de distribuição tenta potenciar a adesão
dos doentes à terapêutica. Para além desta vertente, a cedência destes medicamentos, feita
de forma totalmente gratuita, procura melhorar a qualidade de vida dos utentes, já que os
mesmos podem fazer o tratamento em casa, num ambiente mais confortável, reduzindo os
custos associados ao internamento.
A medicação cedida neste regime deve constar no FNM, que está em constante
atualização, e pode estar aprovada por uma de duas vias: através de diplomas legais que
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constam no Diário da República ou através do Conselho de Administração do CHP (CA) e
pela CFT. Alguns exemplos de patologias comuns que estão autorizadas nestes diplomas
(Anexo IX) são: insuficiência renal crónica e profilaxia de rejeição aguda de transplante
renal, síndrome da imunodeficiência adquirida, fibrose quística e doenças oncológicas.
Neste caso, é feita uma comparticipação total por parte do Estado, sendo que muitos destes
medicamentos não estão disponíveis em farmácia comunitária, devido ao seu uso
controlado e custo bastante elevado. No caso de patologias que não estão descritas e
aprovadas no Diário da República, como é o caso da hepatite B, a autorização é dada pelo
CA e pela CFT e os custos são totalmente suportados pelo CHP.
Há ainda uma outra situação que deve ser referida: as utilizações off-label, ou seja,
o uso de medicamentos para indicações não descritas no Resumo das Características do
Medicamento (RCM). Esta situação pode acontecer mesmo numa patologia aprovada por
diplomas legais. No entanto, para que possa ser cedido de forma gratuita, e dado que é para
uma utilização off-label, é necessária uma aprovação pela CFT. Nestes casos, os custos
são suportados na íntegra pelo CHP.
A UFA localiza-se nos SF do CHP, sendo constituída por uma sala de espera para
os utentes e 4 balcões de atendimento, devidamente sinalizados, sendo um dos postos de
atendimento localizado num gabinete separado. Esta unidade tem um horário de
funcionamento das 9h às 17h de segunda a sexta. A medicação encontra-se num módulo
de gavetas, organizando-se por patologias, e dentro destas por ordem alfabética, segundo
a DCI e pelo princípio FEFO. Além disso, existem ainda frigoríficos, onde se localizam os
medicamentos que necessitam de ser conservados entre 2-8ºC, e estantes onde estão
armazenados parte dos produtos de nutrição. Alguns produtos da UFA em excedente
localizam-se no APF.
Para que a dispensa dos medicamentos possa ser feita em regime de ambulatório é
necessário que o utente apresente uma prescrição válida, isto é, uma prescrição eletrónica
de acordo com as normas estabelecidas com modelo apropriado de prescrição médica para
a UFA, que contenha dados de identificação do doente; DCI do medicamento; forma
farmacêutica, dose, frequência, via de administração; identificação da especialidade médica
emissora da prescrição; indicação da próxima consulta; identificação e assinatura do
prescritor; identificação do diploma legal a que obedece a prescrição médica ou, caso seja
necessário, verificar nas deliberações da CFT se o doente se encontra autorizado [25].
Normalmente, a prescrição está em formato eletrónico, mas existem exceções, como é o
caso das prescrições de medicamentos hemoderivados e de prescrições do serviço de
Gastrenterologia e Nutrição (Anexo X, Anexo XI). Nestes casos, é necessário registar o
número do lote e o respetivo CAUL. No que toca à dispensa de medicamentos, estes devem,
sempre que possível, ser cedidos nas suas embalagens originais.
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Durante a dispensa, para que a terapêutica seja segura, eficaz e de qualidade, um
parâmetro importante é a quantidade a dispensar, que está assente nas instruções de
trabalho do CHP, onde se define que qualquer medicamento pode ser dispensado até 3
meses desde que: o montante do seu valor total seja inferior a 100€; para doentes residentes
em qualquer área, ou até 300€, se residirem fora do distrito do Porto, sendo que acima
destes montantes, a medicação apenas pode ser dispensada para 1 mês. A medicação para
doentes transplantados renais ou hepáticos, pode, excecionalmente, ser cedida até 3 meses
[26].
Outro aspeto importante é a informação ao doente, pelo que, na primeira vez que o
mesmo faz o levantamento do tratamento em ambulatório, deve ser-lhe fornecida
informação detalhada, por exemplo, através da entrega de folhetos informativos elaborados
pelos SF (Anexo XII). Além desta informação, deve também ser entregue um termo de
responsabilidade (Anexo XIII), que será assinado pelo doente, onde refere quem é
responsável pelo levantamento, transporte, acondicionamento e toma de forma correta e no
qual pode delegar essas funções a outra pessoa da sua confiança. O farmacêutico é ainda
responsável por ponderar o fornecimento de material acessório à terapêutica, como
contentores de risco biológico, seringas, malas térmicas de transporte, de forma a promover
a segurança e o sucesso da mesma.
No final da dispensa, o farmacêutico deve ainda confirmar se há medicação
pendente daquela prescrição para ser levantada posteriormente. Em caso afirmativo, deve
ser impresso um documento que refira a medicação pendente, que é entregue ao doente
para que, numa próxima, possa levantar a medicação em falta.
Se por algum motivo ocorrer a devolução de algum medicamento, é também da
responsabilidade do farmacêutico fazer a gestão da medicação devolvida, verificando a
origem do medicamento, as condições de conservação, se está em conformidade com as
normas exigidas de integridade física da embalagem primária e secundária, o PV e se os
medicamentos em dose unitária se apresentam devidamente rotulados.
A UFA pode, em situações concretas, estabelecidas no DL nº 206/2000, de 1 de
setembro, e autorizadas pelo Ministério da Saúde, proceder à venda de medicamentos
como, por exemplo, em circunstâncias excecionais, em ocorra o comprometimento do
acesso ao medicamento, por descontinuidades no fornecimento ou distribuição do mesmo
[27, 28].
Neste setor tivemos a oportunidade de preparar a medicação a ser dispensada de
nutrição e fibrose quística, organizar a medicação devolvida, fazer a dispensa ao balcão e
verificação de lotes.
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3.3. Distribuição Individual Diária: sistema em dose unitária
A Distribuição Individual Diária (DID) é o setor dos SF que objetiva a distribuição
diária de medicamentos e de PF, maioritariamente sob sistema de distribuição em dose
unitária, aos doentes dos SC de Internamento do CHP. No processo de distribuição diária
participam TSS, que são responsáveis pela validação das prescrições médicas e pela
respetiva dispensa e devoluções dos fármacos prescritos; uma equipa constituída por TDT,
responsáveis pela identificação, individualização e aviamento dos medicamentos e gestão
de stocks [29]. Desta forma, o espaço físico da DID envolve três áreas distintas, isto é, uma
sala que integra vários computadores para validação e dispensa de medicamentos pelos
TSS (Anexo XIV-1); e duas salas com aparelhos próprios para fracionamento e aviamento
de medicamentos em dose unitária pelos TDT. As atividades diárias dos TSS na DID são
baseadas no conceito “Plan-Do-Check-Act”, que visa a implementação de um ciclo de
planeamento, de execução, de verificação e de atuação sobre os serviços prestados [30].
3.3.1. Validação e monitorização das prescrições médicas
O processo de validação e monitorização das prescrições médicas pelos TSS inicia-
se com a entrada das prescrições médicas no software GHAF (via GHAF ou via Portal
Interno do CHP) à medida que os enfermeiros do serviço de internamento confirmam que
os doentes estão aptos para receber tratamento. A entrada das prescrições médicas via
GHAF é um processo em constante atualização, uma vez que, dirigindo-se a doentes
internados, as prescrições são frequentemente alteradas. Por este motivo, o setor da DID
está aberto durante 24 horas para garantir a distribuição da medicação diária de cada doente
atualizada.
No sistema informático, as prescrições ficam agrupadas consoante o serviço de
internamento de origem. Os TSS iniciam a validação dos grupos de prescrições,
obedecendo a uma ordem de trabalho pré-estabelecida, que indica quando e qual o grupo
de prescrições a ser validado. Caso existam prescrições assinaladas como urgentes, estas
são prioritárias face à ordem de validação pré-estabelecida. De um modo sucinto, validar a
prescrição médica consiste em verificar se o perfil farmacoterapêutico prescrito para o
doente está de acordo com as suas características fisiológicas, condições de administração
e duração do tratamento [30-32]. Em caso de não conformidades, é essencial que os TSS
intervenham diretamente no momento da validação, normalmente contactando os
médicos/enfermeiros envolvidos, a fim de otimizar a farmacoterapia antes da sua dispensa.
Para além da validação das prescrições eletrónicas via GHAF, os TSS são
responsáveis pela validação de prescrições via manual, nomeadamente, referentes a
medicamentos de controlo especial não sujeitos a distribuição em dose unitária (fármacos
estupefacientes, psicotrópicos, hemoderivados, anti-infeciosos, nutrição artificial, antídotos,
insulinas, material de penso). As prescrições deste tipo de fármacos são efetuadas em
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Dina Neves | 15
impressos específicos e têm PV limitados, isto é, estupefacientes e psicotrópicos em Modelo
nº1509 da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) com validade de 24 horas;
hemoderivados em Modelo nº1804 da INCM com validade de 24 horas [33]. Os TSS validam
estas prescrições através do preenchimento de campos referentes a receção/validação nos
impressos.
Adicionalmente, é importante referir que a validação por farmacêuticos das
prescrições médicas tem tido um impacto significativo no uso racional dos medicamentos,
na redução de efeitos adversos à saúde, e consequentemente nos custos associados.
Atualmente, procura-se que este processo de análise da medicação integre o conceito da
reconciliação terapêutica, incorporando dados relativos, por exemplo, a medicamentos não
sujeitos a receita médica, produtos naturais e suplementos alimentares [31, 34].
3.3.2. Dispensa de medicamentos e de produtos farmacêuticos
Após validação das prescrições médicas, independentemente de via GHAF ou
manual, os TSS fazem o débito no software GHAF da medicação a ser dispensada por
doente. Considerando as prescrições médicas via GHAF de medicamentos sujeitos ou não
a distribuição em dose unitária, os TSS emitem listagens da medicação a ser dispensada de
cada serviço de internamento via GHAF ou manual após débito. Primariamente, são
emitidas listas com revertências, uma vez que a medicação dos doentes pode ser alterada
ao longo do dia; posteriormente, caso se verifiquem revertências e a medicação já tenha
sido dispensada, os TSS emitem novas listas sem revertências que incluem as alterações
propostas [29]. Os medicamentos e PF a dispensar são preparados pelos TDT, que se
regem pelas listagens emitidas pelos TSS. Os TDT aviam a medicação por processo manual
ou semiautomático. De notar que se a medicação prescrita for distribuída em dose unitária,
os TDT têm de proceder previamente ao fracionamento da medicação (Anexo XIV-4).
O processo manual consiste em dispensar o stock avançado da DID, que se
encontra alocado nas torres e nas células, respetivamente, para medicamentos de menor e
de maior rotatividade. O aviamento semiautomático realiza-se através da solicitação de
medicamentos pelo TDT ao dispensador automático de medicamentos Pharmapick®, que é
constituído por um conjunto de gavetas, cada uma com um medicamento. Trata-se de um
aviamento feito por medicamento e não por doente, na medida em que o Pharmapick®
dispensa apenas um medicamento de cada vez. Ambos os processos de aviamento visam
a posterior colocação da medicação unitária em carros constituídos por malas (Anexo XIV-
2). Cada mala é referente a um SC de internamento e é constituída por gavetas (cassetes
de unidose). Por sua vez, cada gaveta é referente a um doente e contém a medicação
individual em dose unitária para 24h. Medicação revertida, cuja primária já tenha sido
entregue, não é colocada nos carros, mas depositada em caixas SUC® dentro de envelopes
identificados após aviamento manual.
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No processo de dispensa de medicamentos prescritos via manual, utiliza-se
geralmente o aviamento manual. Contudo, no caso de medicamentos sujeitos a controlo
especial, o aviamento não é realizado nas instalações da DID, mas no APF, ao abrigo dos
decretos-lei e despachos aplicáveis, sob responsabilidade dos TSS. Destacam-se os
estupefacientes e psicotrópicos (morfina, fentanilo, fenobarbital, petidina, etc.) que estão
alocados numa sala de acesso restrito no APF, à qual apenas os TSS têm acesso. O
aviamento deste tipo de medicamentos implica que a medicação e respetiva documentação
de receção/débito sejam colocadas pelos TSS em caixas fechadas, inquebráveis,
identificadas com o nome do serviço de Internamento de destino e refrigeradas se aplicável
(Anexo XIV-3, 5). Após aviamento, toda a medicação dispensada na DID é entregue por AO
nos SC de internamento.
Na DID, os nossos grupos de trabalho participaram ativamente nos processos diários
de validação e de dispensa dos medicamentos e produtos farmacêuticos prescritos.
Observámos a validação das prescrições médicas e respetivas intervenções farmacêuticas,
colaborando com a disponibilização de informação sobre medicamentos através do software
UpToDate. Destacamos a nossa participação numa intervenção farmacêutica invulgar, em
que revemos toda a informação bibliográfica sobre um fármaco de uso veterinário que iria
ser administrado excecionalmente a um doente. Validámos requisições de
estupefacientes/psicotrópicos e de hemoderivados, através do preenchimento dos
respetivos impressos. Relativamente ao processo de dispensa, efetuámos, diariamente, o
débito via GHAF de estupefacientes e psicotrópicos e respetivo aviamento com preparação
das caixas na sala restrita. Consideramos que a repetição desta atividade diária teve um
papel fundamental na nossa familiarização com o software GHAF. Também auxiliámos no
aviamento de medicação revertida, organizando a medicação em dose unitária em caixas
SUC®. Esta atividade permitiu-nos contactar com os processos diários efetuados pelos TDT
nos diferentes suportes de aviamento, células, torres e Pharmapick®.
4. Investigação e Desenvolvimento
No CHP, as atividades de ID são essenciais para o desenvolvimento dos cuidados
de saúde. Assegurando o cumprimento da legislação em vigor e das recomendações
internacionais de Boas Práticas Clínicas (BPC), todas as atividades de ID são realizadas em
coerência com os princípios e regras em vigor no CHP [35].
4.1. Ensaios Clínicos
No âmbito da promoção do desenvolvimento de novos medicamentos para
introdução no mercado ou para a introdução de um medicamento já comercializado com
uma nova indicação terapêutica, é essencial a realização de ensaios clínicos (EC). O DL nº
46/2004, 19 de agosto, carateriza um EC como sendo qualquer tipo de investigação no
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Dina Neves | 17
Homem que objetive a caraterização de Medicamentos Experimentais (ME) a nível
farmacológico, farmacodinâmico, farmacocinético e dos efeitos adversos associados. O
objetivo principal da realização dos EC assenta na determinação da segurança e eficácia
dos ME [36]. O EC corresponde à segunda fase de investigação dos ME, podendo ser
classificado em diferentes formas. Quanto à fase de desenvolvimento, o EC pode distinguir-
se em 4 fases, I, II, III ou IV que envolvem, respetivamente, grupos de pessoas saudáveis,
pequenos e grandes grupos de indivíduos doentes, e grandes grupos de doentes após
atribuição da AIM (estudo de interações medicamentosas e efeitos adversos). A
classificação do EC pode ainda ser feita de acordo com o desenho experimental, número de
centros intervenientes, nível de ocultação e aleatorização [37].
Para o normal funcionamento do EC estão envolvidas um conjunto de intervenientes
em total cooperação como o promotor, autoridades reguladoras, investigador, sujeito de
investigação e, com especial importância, o farmacêutico [37]. O promotor, cuja função é a
de conceção, gestão e financiamento do EC, faz uma visita de pré-estudo aos possíveis
centros de ensaios. Após a aprovação do centro pelo promotor e do estudo pelas
autoridades reguladoras, como o INFARMED e a Comissão de Ética para Investigação
Clínica, é realizada uma visita de iniciação [37]. Esta visita, conduzida por um monitor,
entidade denominada pelo promotor para acompanhamento do estudo até ao seu término,
tem como propósito treinar toda a equipa envolvida para os procedimentos do EC. A
sistematização destes procedimentos em Procedimentos Normalizados de Trabalho (SOP)
é função do farmacêutico responsável pela unidade e têm como objetivo facilitar o
cumprimento das BPC assim como garantir a qualidade de todo o EC [37]. Nos SF, as
instalações atribuídas para o setor dos EC seguem as BPC. O espaço é composto por duas
salas contíguas: o gabinete de trabalho e a sala de armazenamento dos ME.
4.2. Circuito do Medicamento Experimental
O medicamento experimental (ME) tem a si um circuito associado, estritamente
controlado, da responsabilidade do farmacêutico. Como primeiro procedimento do circuito
do ME, surge a receção, onde é confirmada a quantidade de embalagens rececionadas,
bem como o estado de integridade das mesmas, prazos de validade e forma farmacêutica.
Por vezes, as encomendas surgem acompanhadas por um Data Logger cuja principal
funcionalidade é o registo de temperatura durante o transporte. Caso sejam detetados
desvios de temperatura, a medicação é colocada em quarentena à espera de resposta do
promotor [38]. Nesta fase é necessário preencher o formulário de receção (Anexo XV), bem
como notificar o promotor da receção através de métodos pré-estabelecidos (IVRS –
Interactive Voice Response System - ou IWRS – Interactive Web Response System) [37,38].
O acondicionamento da medicação é feito por número de kit e por estudo. A
medicação de frio é armazenada no frigorifico, à temperaturas de 2 a 8ºC, e a medicação
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de temperatura ambiente é sujeita à temperatura entre os 15 e 25ºC. Estas condições são
também controladas com Data Logger cuja informação é avaliada quinzenalmente. Todos
os desvios de temperatura devem ser notificados ao promotor, e de forma semelhante ao
que ocorre na receção, a medicação deve ser colocada em quarentena [38].
Podendo ou não ser sujeita a manipulação prévia, a medicação é dispensada pelo
farmacêutico, na presença de prescrição médica, feita em impresso próprio de acordo com
o protocolo (Anexo XVI). A medicação dispensada deve conter o número do processo do
doente e a data em que foi feita a dispensa. Neste procedimento deve ser preenchido o
formulário de dispensa por kit e/ou por doente (Anexo XV). Comummente, o doente que
efetua o levantamento da medicação traz consigo as embalagens vazias e/ou a medicação
não utilizada. Esta medicação devolvida é contabilizada e registada nos formulários de
devolução (Anexo XV). O promotor é responsável pela destruição da medicação,
respeitando normas previamente estabelecidas, podendo atribuir essa função ao CHP.
Intercaladas com o circuito do ME, surgem as auditorias e visitas do periódicas do monitor,
com o objetivo de garantir a linearidade do processo e o correto funcionamento do estudo
[38]. No final do estudo toda a documentação deve ser arquivada, de acordo com o 20º
artigo do DL 102/2007, por um período mínimo de 5 anos após a conclusão do estudo. A
maioria dos promotores solicita que esse arquivo seja feito por um período de 15 anos, como
tentativa de uniformização do procedimento dos estudos multicentralizados [38].
No nosso estágio foi possível intervir em praticamente todas estas etapas de
implementação e realização dos EC. A participação em visitas de iniciação permitiu-nos
conhecer mais detalhadamente alguns estudos a ser iniciados nos SF do CHP. Após estas
visitas, tivemos a oportunidade de redigir o respetivo SOP. Adicionalmente, pudemos
conhecer estudos já em vigor através da leitura dos respetivos protocolos, bem como
participar em todo o CdM de diferentes EC, preenchendo as fichas de receção, dispensa e
devolução, e selecionando a medicação a dispensar ao utente. Para obtermos um
conhecimento mais avançado sobre a logística dos EC foi-nos ainda disponibilizada a
possibilidade de realização de um curso online sobre este tema e sobre BPC.
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III. INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA E CUIDADOS FARMACÊUTICOS
Como prestador de serviços de saúde, o farmacêutico tem como responsabilidade
educar o doente para a sua doença e para a sua terapêutica de forma a promover o uso
racional da medicação. Contudo, a função do farmacêutico não se restringe apenas à
educação do doente. A intervenção farmacêutica é essencial para a implementação de
processos de reconciliação terapêutica, dos quais o doente só pode beneficiar [39]. A
reconciliação terapêutica corresponde a um processo no qual a medicação do doente é
analisada sempre que sejam realizadas alterações na medicação. O objetivo deste processo
é evitar discrepâncias, nomeadamente omissões, duplicações ou doses inadequadas, e
assim promover a adesão à medicação e prevenir incidentes relacionados com a terapêutica
[40].
Reserva-se ao farmacêutico a função de avaliação de perfis do uso dos
medicamentos/PF através de diferentes indicadores (efeitos adversos, por exemplo) e de
estudos retrospetivos ou prospetivos. A partir desta a avaliação, o farmacêutico tem como
função a elaboração de pareceres técnicos para introdução ou eventual substituição de
medicação [39]. No âmbito dos cuidados farmacêuticos, o farmacêutico pode atuar na
identificação de possíveis interações farmacológicas entre medicamentos prescritos e
noutros problemas relacionados com os medicamentos [41]. Após a identificação destes
aspetos o farmacêutico deve comunicá-los aos clínicos de forma a prevenir os resultados
negativos associados à medicação [42]. Durante o nosso estágio, podemos ter um papel
proativo ao nível da intervenção farmacêutica através da elaboração de um folheto
informativo a ser disponibilizado na UFA (Anexo XII).
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IV. CONCLUSÃO
De forma a resumir a nossa experiência nos serviços farmacêuticos do HGSA,
realizamos uma análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Treats) (Anexo
XVII), na qual salientamos alguns dos pontos que para nós se destacaram ao longo destes
dois meses. Como pontos fortes (Strengths) destacamos a organização dos setores dos SF
com distribuição de tarefas bem definidas pelos diferentes profissionais de saúde; e a
presença de uma equipa multidisciplinar que garante um maior apoio ao doente quer na sua
educação quer na promoção da saúde pública em geral. Relativamente aos pontos fracos
(Weaknesses), do nosso ponto de vista, o sistema de rotatividade dos TSS pelos vários
sectores não permite a sua especialização nos mesmos e consequentemente afeta a
produtividade e a qualidade do trabalho realizado. Um outro aspeto é a localização dos
serviços farmacêuticos, mais concretamente da UFA. Segundo a legislação atual, a UFA
deveria ter um acesso pelo exterior do hospital o qual não se verifica e dificulta a
acessibilidade dos doentes à farmácia, o que em alguns casos pode ser um obstáculo.
Relativamente às oportunidades (Opportunities), salientamos o facto do HGSA promover a
formação contínua dos seus colaboradores e estagiários, frisando que tivemos a
oportunidade de participar em duas formações extra-estágio. Contudo, a falta de recursos
humanos é uma ameaça (Treats) à qualidade e ao normal funcionamento dos SF e ao
cumprimento das tarefas diárias, dado que conduz à sobrecarga dos colaboradores. Posto
isto, o balanço global da nossa passagem pelos SF do HGSA é positivo. Ao longo destes
dois meses, tivemos a possibilidade de conhecer a realidade um SF com as suas limitações
e qualidades, o que para nós se revelou uma aprendizagem. Vemos potencial de
melhoramento e expansão das atividades diárias realizadas e que no futuro isso se traduza
quer na melhoria das condições de trabalho quer na qualidade com que é prestado.
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REFERÊNCIAS
[1] Decreto-Lei nº 326/2007, de 28 de setembro – Constituição do CHP. Diário da República.
[2] Manual da Farmácia Hospitalar, CE. Manual da farmácia hospitalar. Lisboa, Ministério da
Saúde.
[3] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.007/3 – Receção e armazenamento de medicamentos - Hospital de Santo António
- Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[4] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. Matriz de processo
IM.GQ.GER.043/5 - Programa Gestão de Compras - Hospital de Santo António - Centro
Hospitalar do Porto E.P.E.
[5] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.061/2 – Cálculo de Pontos de Encomenda e Quantidades a encomendar –
Hospital de Santo António - Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[6] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.072/2 – Deteção de erros nos quantitativos do stock informático de medicamentos
e produtos farmacêuticos – Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[7] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.123/0 – Orientações de triagem e arrumação de medicamentos doados pelos
doentes - Hospital de Santo António - Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[8] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.062/2 – Procedimento a adotar no inventário dos SF - Hospital de Santo António
- Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[9] Decreto-Lei nº 95/2004, de 22 de abril - Regime jurídico da prescrição e preparação de
medicamentos manipulados. Diário da República.
[10] Decreto-Lei nº 90/2004, de 20 de abril - Regime jurídico da Autorização de Introdução no
Mercado, fabrico, comercialização e comparticipação de medicamentos de uso humano. Diário
da República.
[11] Portaria nº 594/2004, de 2 de junho - Boas práticas a observar na preparação de
medicamentos manipulados em farmácia de oficina e hospitalar. Diário da República.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | 22
[12] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.035/2 – Designação do Lote de Produção - Hospital de Santo António – Centro
Hospitalar do Porto, E.P.E.
[13] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Matriz de processo
IM.GQ.GER.043/5 – Fracionamento de Medicamentos para Reembalagem – Hospital de Santo
António - Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[14] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.101/1- Rotulagem de Não Estéreis- Hospital de Santo António – Centro Hospitalar
do Porto, E.P.E.
[15] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.084/1- Ordem de Preparação de Manipulados Não Estéreis- Hospital de Santo
António – Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[16] European Society of Oncology Pharmacy. QuapoS 4 - Quality Standard for the Oncology
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[17] Ordem dos Farmacêuticos - Conselho do Colégio de Especialidade de Farmácia Hospitalar.
Manual de Boas Práticas de Farmácia Hospitalar: Processos de Suporte 2018.
[18] Suspiro A, Prista J. Occupational exposure to anticancer drugs and adverse health effects.
Revista Portuguesa de Saúde Pública 2012, 30 (1):76-88.
[19] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E.- Matriz de processo
IM.GQ.GER.O43/5 – Gestão da Qualidade – Processo de Produção de Citotóxicos - Hospital de
Santo António – Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[20] Ordem dos Farmacêutico - Conselho do Colégio de Especialidade de Farmácia Hospitalar.
Manual de Preparação de Citotóxicos 2013.
[21] Hospital and Clinical Pharmacy Academy. Best Practice for Preparing and Managing
Oncology Therapy 2014.
[22] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Matriz de Processo
IM.GQ.GER.043/5 – Fracionamento de Medicamentos para Reembalagem - Hospital de Santo
António – Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
Dina Neves | 23
[23] - Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.105/1 – Aviamento de Medicamentos e Produtos Farmacêuticos em Dose Unitária
– Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[24] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Matriz de processo,
IM.GQ.GER.043/5. Hospital Geral de Santo António – Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[25] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.053/1 – Validação e Monitorização da Prescrição Médica de Ambulatório –
Hospital Geral de Santo António – Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[26] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.054/1 - Orientações para a Dispensa de Medicamentos na Farmácia de
Ambulatório - Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[27] Decreto-Lei nº 206/2000, de 1 de setembro - Regime jurídico de dispensa de medicamentos
pela farmácia hospitalar. Diário da República.
[28] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.022/1 - Venda de Medicamentos - Hospital de Santo António – Centro Hospitalar
do Porto, E.P.E.
[29] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. Matriz de processo
IM.GQ.GER.043/5 - Programa Distribuição Individual Diária (DID) - Hospital de Santo António -
Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[30] Ordem dos Farmacêuticos - Conselho do Colégio de Especialidade de Farmácia Hospitalar.
Manual de Boas Práticas de Farmácia Hospitalar: Processos de Suporte 2018.
[31] Clementz A, Jost J, Tchalla A, Julia F, Marie-Daragon A, Karam HH, Ratsimbazafy V.
Prescription validation and pharmaceutical intervention in an adult emergency department:
Implementation and evaluation. Le Pharmacien Hospitalier et Clinicien 2017, 52(2): 47-53.
[32] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.102/1 - Validação e Monitorização da Prescrição Médica DID - Hospital de Santo
António - Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
[33] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. - Instrução de Trabalho
IT.SFAR.GER.105/3 - Aviamento de Medicamentos e Produtos Farmacêuticos em Dose Unitária
- Hospital de Santo António - Centro Hospitalar do Porto E.P.E.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar | Hospital Geral de Santo António
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[34] Direção Geral de Saúde. Norma nº 018/2016 de 30/12/2016 - Reconciliação da medicação.
[35] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. Matriz do processo
IM.GQ.GER.043/5 - Investigação e Desenvolvimento - Hospital de Santo António – Centro
Hospitalar do Porto, E.P.E.
[36] Decreto-Lei n.º 46/2004, de 19 de agosto - Realização de ensaios clínicos com
medicamentos de uso humano. Diário da República
[37] Almeida, T. (2010) Implementação e atividades de uma Unidade de Ensaios Clínicos nos
Serviços Farmacêuticos de um Hospital Central Universitário.
[38] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. Instrução de trabalho
MA.SFAR.GER.003/1- Ensaios Clínicos - Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do
Porto, E.P.E.
[39] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. Instrução de trabalho
IT.SFAR.GER.044/2 - Estudo de utilização de medicamentos - Hospital de Santo António –
Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[40] Direção geral de Saúde. Norma 018/2016. de 30/12/2016. Reconciliação de medicação.
Disponível em: www.dgs.pt (acedido a 25/04/2018).
[41] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. Instrução de trabalho
IT.SFAR.GER.030/1 - Identificação e notificação de interações entre medicamentos - Hospital de
Santo António – Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.
[42] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto E.P.E. Instrução de trabalho
IT.SFAR.GER.031/1 - Identificação e resolução de PRMs - Hospital de Santo António – Centro
Hospitalar do Porto, E.P.E.
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ANEXOS
Anexo I – Cronograma do plano individual de estágio curricular.
Anexo II – Sistema de gestão de stocks por cartão Kanban.
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Anexo III – Exemplo de uma Ordem de Preparação de Produtos Estéreis.
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Anexo IV – Exemplo de uma Ordem de Preparação de Nutrição Parentérica.
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Anexo V – Exemplo de ordem de preparação de um manipulado não estéril.
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Anexo VI – Exemplo de um rótulo de um manipulado não estéril.
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Anexo VII – Cálculos de volumes de Mesna e de solução diluidora necessários para
emissão de OP de medicamento Mesna sob forma de bomba perfusora, prescrita para
perfundir 1800 mg de fármaco durante 18h.
Dados: Cada frasco de Mesna contém 400 mg de Mesna/4 mL. A bomba perfusora
prescrita apresenta uma velocidade de fluxo de 10 mL/h associada a um tempo de
perfusão máximo de 27h, um volume máximo de 270 mL e um volume residual de 8 mL.
• Concentração de Mesna por frasco
= 400 mg/ 4 mL = 100 mg/mL de Mesna
• Volume de Mesna necessário para preparar medicamento com 1800 mg de
Mesna e com concentração de Mesna de 100 mg/mL
= 1800 mg/(100 mg/mL) = 18 mL de Mesna
• Volume total de medicamento a ser perfundido durante 18h, considerando o uso
de bomba perfusora com capacidade de 10 mL/h
= 18 h x 10 mL/h = 180 mL de medicamento
• Correção do volume de Mesna necessário para preparar medicamento a ser
perfundido durante 18h, considerando o uso de bomba perfusora com
capacidade de 10 mL/h e volume residual de 8 mL
= 18 mL de Mesna 180 mL de medicamento
x 180 + 8 mL de medicamento
⇔ x = (18 x (180 + 8))/180 = 18,8 mL de Mesna
• Volume de solução diluidora necessário para preparar medicamento,
considerando o volume de Mesna a adicionar e o uso de bomba perfusora com
capacidade de 10 mL/h e volume residual de 8 mL
= (180 +8) – 18,8 = 169,2 mL
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Anexo VIII – Exemplo de tabuleiro com material necessário para preparação e
reembalagem de medicamento Mesna sob forma de bomba perfusora. (a) Mesna; (b)
bomba perfusora; (c) dois rótulos identificativos.
(a)
(b)
(c)
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Anexo IX – Patologias abrigadas por diploma legal para distribuição em Ambulatório.
Patologias abrigadas por diploma legal para distribuição em
Ambulatório
Acromegália
Antiepilético e Anticonvulsivante
Artrite Idiopática Juvenil Poliarticular, Artrite Psoriática, Artrite Reumatóide, Espondilite Anquilosante, Psoríase em placas
Deficiência da Hormona de Crescimento na criança, Síndrome de Turner, Perturbações do Crescimento, Síndrome de Prader-Will, Terapêutica de
substituição em adultos
Doença de Crohn e Colite Ulcerosa
Esclerose Lateral Amiotrófica
Esclerose Múltipla
Fibrose Quística
HCV
Hiperfenilalaninemia em doentes com Fenilcetonúria e em doentes com deficiência em tetrahidrobiopterina
IRC e transplantes renais
Oncologia
Polineuropatia Amiloidótica Familiar
Paraplegias Espásticas Familiares e Ataxias Cerebelosas Hereditárias
Profilaxia de Rejeição Aguda do Transplante Hepático
Profilaxia de Rejeição Aguda do Transplante Renal
Síndroma de Lennox-Gastaut
Tuberculose
VIH
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Anexo X – Modelo Nº1804 INCM: impresso para requisição/distribuição/administração
de Hemoderivados.
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Anexo XI – Impresso para prescrição de medicamentos em terapêutica programada,
em regime de ambulatório, usado pelo serviço de Gastrenterologia e Nutrição.
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Anexo XII – Folheto Informativo elaborado por grupo de estagiários.
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Anexo XIII – Termo de Responsabilidade entregue aos doentes de ambulatório.
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Anexo XIV – (1) Sala para atividades diárias dos TSS; (2) Carro de aviamento; (3)
Caixas para dispensa de estupefacientes e psicotrópicos; (4) Medicamento em dose
unitária; (5) Exemplo de dispensa de hemoderivados.
(1)
(2) (3)
(4)
(5)
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Anexo XV - Accoutabillity Record, Registo de Receção, Dispensa e Devolução por
número de kit.
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Anexo XVI – Modelo de Prescrição de Medicamentos de Ensaio Clínico.
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Anexo XVII – Análise SWOT.
Dina Neves | 1