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Farmácia Vitória João Filipe Costa Silva

Farmácia Vitória · Mais, sem vocês, não era o homem que sou hoje e só desejo daqui a uns tempos poder ver os meus filhos a fazer exatamente aquilo que acabo de fazer. Obrigado

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Farmácia Vitória

João Filipe Costa Silva

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

Relatório de Estágio Profissionalizante

Farmácia Vitória

janeiro de 2018 a julho de 2018

João Filipe Costa Silva

Orientador: Dr. Rui Manuel Romero

Tutor FFUP: Prof. Doutora Maria da Glória Correia da Silva Queiroz

setembro de 2018

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

Declaração de Integridade

Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente

noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros

autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da

atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências

bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a

prática de plágio e autoplágio constitui um ilícito académico.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 1 de setembro de 2018

João Filipe Costa Silva

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

Agradecimentos

Este relatório simboliza o terminar de um estágio curricular. Apesar disso, quando

se chega a esta etapa, há muito mais simbolismo associado do que apenas essa parte, visto

que se trata de terminar um Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas e não o

conseguiria ter feito sem uma série de apoios que fui tendo ao longo destes 5 anos.

Em primeiro lugar, quero agradecer a toda a excelente equipa da Farmácia Vitória

por me terem proporcionado um estágio ímpar, que primou pela excelência e pelo sentido

de trabalho em equipa. A Dona Zezinha, o apoio “maternal” e aqueles conselhos que mais

ninguém saberia dar quando era preciso, obrigado por ter transmitido toda a sua

sabedoria; Dr. Luís Soares, uma excelente pessoa com noções e conhecimentos na área

que poucos têm; e o Dr. Rui Manuel Romero, meu orientar e Diretor-Técnico, com quem

aprendi tanto em tão pouco tempo. Não consigo descrever aquilo que sinto por se ter

dedicado tanto à minha aprendizagem e por me ter ensinado a ser até mais do que

farmacêutico. Dentro desta vertente, não poderia deixar de agradecer a todos os meus

utentes. Foi de facto comovente, ter chegado ao final e muitos deles se terem despedido

e me terem implorado para ficar ali. Não fui apenas eu que os ajudei, eles ensinaram-me

imenso e talvez seja isso aquilo que mais me encheu o coração durante estes 6 meses.

Seguidamente, agradecer à Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, sem

dúvida alguma, a minha casa ao longo destes 5 anos. Não há palavras que sirvam para

explicar tudo aquilo que lá passei e tudo aquilo que aprendi.

Cheguei ao coração destes anos dourados, a Tuna de Farmácia do Porto. A TFP

foi grande parte da minha vida durante o meu percurso. Quero agradecer a todos vocês

por me terem aturado tanto tempo e por me terem proporcionado o melhor ano da minha

vida enquanto vosso Magister Tunae. Foi uma honra ter-vos liderado, ter-vos ensinado e

ter aprendido com cada um de vós. Foi igualmente uma honra ter-vos comigo no IV

Galenicvs e no 10º aniversário da Tuna. Ficam recordações destes “anos loucos que

voaram” e o sentimento de que voltarei sempre que puder para continuar a partilhar mais

histórias convosco. E que venham outros tantos anos, esta Alma de Tunante não se

esquece e não se perde, fica para sempre num cantinho bem especial do meu coração.

Não tendo integrado estes grupos, não posso deixar de fazer um agradecimento

especial por todos estes anos de companheirismo e amizade às Sirigaitas de Farmácia, ao

Grupo de Fados da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, à Comissão de

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Praxe, à Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e

a todos os outros grupos e associações da FFUP.

Nesta etapa das nossas vidas há sempre uma componente muito importante: os

amigos. E, nesse aspeto, não me posso queixar. Muito obrigado a todos aqueles que me

acompanharam ao longo destes anos. Levo-vos comigo para a vida e já sabem que podem

contar comigo para tudo o que precisarem. Não poderia deixar passar algumas pessoas

que me marcaram de uma forma muito especial: Diana, não agradeço apenas por 5 anos,

agradeço quase por uma vida toda. Obrigado por seres a pessoa que me aturava fora da

faculdade sempre que eu precisava; Mónica, é incrível ver todas as nossas “discussões” e

saber que estamos bem no momento a seguir porque somos assim. Não teria aguentado

tudo aquilo que passei ao longo do meu percurso sem ti e sabes perfeitamente disso. Não

te esqueças disto, de mim, de nós. Aqui, vem também a “chantagista”, Júlia, a

moderadora, a quem tenho muito que agradecer por se ter tornado sem ter dado conta

numa grande amiga. Pleno até ao fim; Rafa, foste a minha primeira grande amiga na FFUP

e não me esqueço que foi por tua causa que, muitas vezes, continuei com os pés assentes

na Terra e que tive sucesso em muitas coisas na minha vida; Hélder, compatriota dia e

noite, que continuemos sempre assim; Paula e Fábio, foi convosco que deixei de ser

“criança”. Foram das melhores pessoas que conheci no meu percurso académico.

Agradeço à minha orientadora de estágio, a Professora Doutora Glória Queiroz e

a todos os outros professores e auxiliares da FFUP que sempre me ensinaram tudo o que

puderam para que eu fosse um excelente ser humano e farmacêutico.

Família, torna-se complicado definir aquilo que sinto neste momento.

Primeiramente, Avô Manuel, que infelizmente já não se encontra entre nós e Avó Maria,

obrigado por todas as ajudas. Espero que estejam orgulhosos do vosso neto tal como eu

sempre estive de vocês. Tiago, Joana, Mateus e Afonso, estou extremamente orgulhoso

da família linda que vocês construíram e tenho também que vos agradecer por toda a

dedicação e carinho que sempre tiveram comigo.

Pai, Mãe, deixei-vos para o final, não por serem os menos importantes, pelo

contrário, mas por saber que sem vocês não estava sequer hoje a escrever estas palavras.

Mais, sem vocês, não era o homem que sou hoje e só desejo daqui a uns tempos poder

ver os meus filhos a fazer exatamente aquilo que acabo de fazer. Obrigado do fundo do

coração por me terem dado a oportunidade de construir o meu futuro. Sei que não foi

fácil, mas conseguiram. E agora vamos celebrar, um brinde a vós.

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Resumo

O estágio curricular do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (MICF) é

o culminar de uma etapa, onde deveremos por em prática todos os conhecimentos

adquiridos ao longo deste ciclo, mas também adquirir novas experiências e

conhecimentos que de outro modo não seria possível.

Neste relatório relato todos os conhecimentos e todo o meu percurso na Farmácia

Vitória do Porto. Numa primeira fase, são abordados os conceitos relativos à própria

farmácia, desde a gestão dos seus stocks, à sua organização e à dispensa de medicamentos,

bem como o próprio aconselhamento farmacêutico. Apesar de ser para a maior parte dos

estagiários de extrema importância a inclusão de um cronograma relativo às diferentes

atividades desenvolvidas ao longo do seu estágio, optei por não incluir um cronograma

neste relatório, uma vez que, desde o meu primeiro dia de estágio, tive a oportunidade de

efetuar todo o tipo de atividades que são normalmente realizadas na farmácia comunitária.

A segunda parte deste relatório diz respeito aos temas que abordei no desenvolver

do meu estágio. O primeiro tema diz respeito às práticas e cuidados ao nível da proteção

solar, aproveitando o facto de o mês de julho ser bastante quente para alertar os utentes

para medidas tão importantes como estas. O segundo tema alerta para a dispensa e

utilização de forma não segura dos fármacos benzodiazepínicos, uma prática bastante

comum neste tipo de meios sociais, aproveitando para elaborar um estudo estatístico

acerca do consumo de benzodiazepinas dos utentes da Farmácia Vitória.

Optei por incidir nestes 2 temas, não só por serem bastante úteis e comuns nos

dias atuais, como também pelo facto de ter reparado, no caso do segundo tema, que existe

uma enorme dependência da população deste tipo de fármacos, procurando também uma

explicação para tal.

Sem mais a acrescentar, espero que toda esta experiência esteja descrita de forma

clara, interessante e explícita ao longo do relatório.

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

Índice

Lista de Abreviaturas………………………………………………………………...I

Índice de Figuras………………………………………………………………….…II

Índice de Anexos…………………………………………………………………....III

PARTE I – DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO

CRRICULAR NA FARMÁCIA VITÓRIA

1. Descrição geral da Farmácia Vitória………………………………………...1

1.1.Localização, Enquadramento Geral e Caracterização de Utentes……….1

1.2.Espaço Físico da Farmácia………………………………………………1

1.3.Recursos Humanos e Horário de Funcionamento……………………….2

1.4.Sistema informativo de gestão e informação……………………………3

2. Gestão Geral da Farmácia…………………………………………………...4

2.1.Gestão de Stocks………………………………………………………...4

2.2.Realização de Encomendas………………………………………….......6

2.3.Receção e Conferência de Encomendas………………………………....7

2.4.Inconformidades e Devoluções……………………………………….....8

2.5.Armazenamento e Controlo de Stocks…………………………………..9

2.6.Gestão de faturação e receituário………………………………………..10

3. Dispensa de Medicamentos……………………………………………….…11

3.1.Medicamentos sujeitos a receita médica e sua prescrição…………….…11

3.1.1. Receita médica com prescrição eletrónica materializada………..13

3.1.2. Receita médica com prescrição manual……………………...…..13

3.1.3. Receita médica com prescrição eletrónica desmaterializada….…14

3.2.Medicamentos sujeitos a receita médica e a sua dispensa……………….15

3.3.Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes e sua dispensa……….…15

3.4.Medicamentos manipulados e a sua preparação e dispensa………….….16

3.5.Dispensa de outros produtos………………………………………….….16

3.6.Regimes de Comparticipação…………………………………………....17

3.7.Medicamentos não sujeitos a receita médica e a sua dispensa……..........18

4. Serviços Farmacêuticos………………………………………………….…..19

5. Cuidados Farmacêuticos………………………………………………….….20

6. Plano de proteção de dados aplicado à Farmácia Vitória…………………....21

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PARTE II – APRESENTAÇÃO DOS TEMAS DESENVOLVIDOS

TEMA I – PROTEÇÃO SOLAR E CANCRO DA PELE

1. Enquadramento geral do tema…………………………………….……..21

2. Fundamento teórico……………………………………………………...22

2.1.A pele, o maior órgão do corpo humano………………………….…22

2.2.A importância das Radiações Ultravioleta………………….……….23

2.3.Cancro da Pele…………………………………………….…………23

2.3.1. Definição e Etiologia………………………………………...23

2.3.2. Tipos de Cancro da Pele…………………………..……........24

2.3.3. Epidemiologia e Incidência………………………………….24

2.3.4. Diagnóstico e Tratamento……………………………….…...25

3. Protetores/Filtros Solares…………………………………………….......26

4. Cuidados a ter na exposição solar………………………………….…….27

5. Qual o papel do farmacêutico nesta temática?...........................................28

6. Projeto desenvolvido…………………………………………….……….29

7. Conclusão……………………………………………………….………..30

TEMA II – DEPENDÊNCIA E ABUSO DE BENZODIAZEPINAS

1. Enquadramento geral do tema…………………………………………....30

2. Fundamento teórico……………………………………………………....31

2.1.O que são Benzodiazepinas?................................................................31

2.2.Introdução histórica……………………………………………….….31

2.3.Tipos de Benzodiazepinas…………………………………………....32

2.4.Mecanismo de ação…………………………………………….….....32

2.5.Indicações Terapêuticas……………………………………………...33

2.6.Benefícios, Riscos e Efeitos adversos da utilização de BZD……......34

3. Consumo de Benzodiazepinas…………………………………………...35

3.1.Consumo de Benzodiazepinas na Farmácia Vitória……………........36

4. Dependência vs Abuso de Benzodiazepinas………………………….....37

5. Qual o papel do farmacêutico nesta temática?..........................................38

6. Projeto desenvolvido………………………………………………….…39

7. Conclusão………………………………………………………………..39

BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………………….41

ANEXOS.....................................................................................................................44

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

Lista de Abreviaturas

AIM – Autorização de Introdução no Mercado

ANF – Associação Nacional das Farmácias

ARS – Porto – Administração Regional de Saúde do Porto

BZD – Benzodiazepina

DCI – Denominação Comum Internacional

DME – Dose mínima de radiação capaz de produzir eritema mínimo

DNA – Ácido Desoxirribonucleico

ECG – Eletroencefalografia

EMA – Agência Europeia do Medicamento

FPS – Fator de Proteção Solar

GABA – Ácido gama-aminobutírico

IMC – Índice de Massa Corporal

LPCC – Liga Portuguesa Contra o Cancro

MNSRM – Medicamento Não Sujeito a Receita Médica

MSRM – Medicamento Sujeito a Receita Médica

NREM – Sono não rápido

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

OF – Ordem dos Farmacêuticos

PABA – Ácido p-aminobenzóico

PVF – Preço de Venda à Farmácia

PVP – Preço de Venda ao Público

RCM – Resumo das Características do Medicamento

RE – Receita Especial

REM – Sono rápido

REPD – Regime Geral da Proteção de Dados

RUV – Radiação Ultravioleta

SAMS – Serviço de Assistência Médico-Social dos Sindicatos dos Bancários

SNC – Sistema Nervoso Central

SNS – Serviço Nacional de Saúde

UV (A,B,C) – Ultravioleta (A,B,C)

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Índice de Figuras

Figura 1 – Vista exterior da Farmácia Vitória..…………………………………..44

Figura 2 – Vista interior da Farmácia Vitória……………...……………………..44

Figura 3 - Póster "Verão, Sol, Calor...O que diz a sua pele?" exposto na Farmácia

Vitória.………………………………………………………………………..…...45

Figura 4 - Projeto 1 sobre Proteção Solar e Cancro da Pele ……………………..46

Figura 5 - Mecanismo de ação das benzodiazepinas …………...………………..48

Figura 6 - Representação esquemática do sono REM …….……………………..49

Figura 7 - Representação esquemática do sono NREM ……..…………………..49

Figura 8 - Instrumento de Auditoria Clínica da Norma "Tratamento Sintomático da

Ansiedade e Insónia com Benzodiazepinas e Fármacos Análogos, segundo a Direção

Geral de Saúde.……………………………………………………………….…..52

Figura 9 - Utilização de ansiolíticos e hipnóticos e sedativos nos países europeus da

OCDE ………………………………………..…………………………………...53

Figura 10 – Comparação do consumo de BZD em Portugal, Dinamarca, Finlândia e

Holanda………………………………………………………..……………….…53

Figura 11 - As 3 substâncias ativas mais utilizadas nos quatro países referidos

anteriormente ………………………………………………………………….....54

Figura 12 - Distribuição por género e faixa etária dos utentes, em Portugal, a quem foi

dispensada pelo menos uma BZD em 2016…..…………………………….……54

Figura 13 - Flyer "Descansar, Relaxar...Só com os seus CALMANTES!!!???" - parte

frontal ……………………………………………………………………………56

Figura 14 - Flyer "Descansar, Relaxar...Só com os seus CALMANTES!!!???" - parte do

verso……………….……………………………………..………………………57

Figura 15 - Flyers distribuídos na Farmácia Vitória para os seus utentes……....58

II

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

Índice de Anexos

ANEXO 1 – Instalações da Farmácia Vitória……………………….……………44

ANEXO 2 – Proteção Solar e Cancro da Pele……………………………………45

ANEXO 3 – Tipos de Benzodiazepinas................................................................ 47

ANEXO 4 – Mecanismo de ação das Benzodiazepinas…………….……………48

ANEXO 5 – Tipos de Sono REM e NREM…………………………………...…49

ANEXO 6 – Tratamento da Ansiedade e da Insónia Patológicas……………..…50

ANEXO 7 – Dados estatísticos sobre o consumo de Benzodiazepinas……….…53

ANEXO 8 – Projeto 2……………………………………………………………56

III

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1

Parte I – Descrição das atividades desenvolvidas no Estágio

Curricular na Farmácia Vitória

1. Descrição geral da Farmácia Vitória

1.1. Localização, enquadramento legal e caracterização de utentes

A Farmácia Vitória está situada na Rua de São Roque da Lameira, nº 704,

pertencendo à freguesia de Campanhã, no Porto. O edifício encontra-se num espaço

destacado, o que lhe permite uma boa visibilidade, tornando-a assim fácil de localizar.

Encontra-se perto dos bairros sociais do Cerco do Porto, São Roque da Lameira,

Falcão e São João de Deus, bairros estes com condições socioeconómicas deficitárias,

com uma grande percentagem de população idosa, com pouco poder económico e

habilitações literárias reduzidas.

De uma forma geral, a farmácia tem um ambiente muito familiar, com inúmeros

utentes fidelizados, sendo assim um ponto essencial de ação sanitária e social. A maioria

dos utentes da farmácia, especialmente os mais idosos, revela uma confiança notável na

equipa técnica da farmácia, o que se pode traduzir por uma possibilidade de atuação em

saúde mais eficaz. No entanto, com os clientes mais jovens, nem sempre é fácil conseguir

um bom desempenho, visto que nem sempre estes são compreensivos.

Para além de tudo isto, por razões económicas, quando os utentes se sentem ligeira

ou moderadamente doentes recorrem inicialmente à farmácia ao invés de recorrerem logo

ao seu centro de saúde. Isto leva a que todo o tipo de dúvidas possam surgir na farmácia,

para as quais o farmacêutico terá que estar preparado para responder, sendo assim

necessário um trabalho de formação contínua a nível técnico-científico, razão pela qual

durante o meu estágio quase todos os casos de consulta farmacêutica foram desafiantes,

interessantes e puseram em prova quase todas as valências que adquiri durante a minha

formação na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e aquilo que o Dr. Rui

Manuel Romero tão sabiamente me foi transmitindo.

1.2. Espaço Físico da Farmácia

A Farmácia Vitória tem umas instalações recentes, resultado de uma renovação

em 2010, estando conforme o Decreto-lei nº171/2012, de 1 de agosto [1], com todas as

divisórias no mesmo piso, sendo compostas por:

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- Área de exposição geral, onde se encontram expostos vários produtos de venda livre

com especial atenção para os produtos de puericultura e de dermocosmética e também

um equipamento para medição de peso, altura e IMC;

- Área de atendimento geral, composta por 4 balcões, que permite um atendimento

simultâneo, reduzindo as filas de espera na farmácia, tendo toda a equipa mais tempo para

um atendimento personalizado;

- Prateleira de exposição dos MNSRM – Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica,

atrás dos balcões de atendimento, sendo mais fácil para toda a equipa da farmácia

proceder a um correto aconselhamento farmacêutico, apresentando os vários produtos

disponíveis;

- Sala de atendimento privado, onde se analisam os parâmetros bioquímicos, se avalia a

tensão arterial, procede-se à administração de injetáveis e se realizam também consultas

farmacêuticas mais privadas;

- Backoffice, onde se efetuam todos os procedimentos relacionados com a receção de

encomendas, armazenamento de medicamentos e verificação de receituário;

- Laboratório, onde se pode efetuar toda a preparação de manipulados, testes de gravidez

e onde se reconstituem as suspensões orais, nomeadamente quando se trata de

antibióticos;

- Escritório e biblioteca, onde se tratam todos os assuntos burocráticos da farmácia. A

biblioteca dispõe de toda a bibliografia obrigatória segundo o decreto-lei referido [1],

tendo ainda uma bibliografia complementar;

- Instalações Sanitárias.

No anexo 1, estão representadas algumas imagens da Farmácia Vitória.

Felizmente, desde o primeiro dia, foi me dada a possibilidade de usufruir de todos

os espaços físicos da farmácia, tendo tido contacto e experienciado todos eles com total

liberdade.

1.3. Recursos Humanos e Horário de Funcionamento

Os recursos humanos de uma farmácia podem ser divididos segundo duas

categorias: o quadro farmacêutico e o não farmacêutico [1].

O quadro farmacêutico deve ser composto por, pelo menos, 2 farmacêuticos,

incluindo o diretor técnico, sendo que os farmacêuticos devem constituir a maioria dos

colaboradores de uma farmácia. O quadro não farmacêutico deverá ser composto por

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

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técnicos de farmácia ou outro pessoal com as devidas qualificações, tendo estes a função

de adjuvar o trabalho dos farmacêuticos.

Na Farmácia Vitória, o quadro farmacêutico é composto por dois 2 farmacêuticos:

o Dr. Rui Manuel Romero, diretor técnico e o Dr. Luís Soares, farmacêutico adjunto. Do

quadro não farmacêutico faz parte a Sra. Maria José, uma técnica de farmácia com vários

anos de experiência. No decorrer do meu estágio, para além de mim enquanto estagiário,

trabalhei também com a Mónica Gomes, de janeiro a maio de 2018, sendo também ela,

estagiária da FFUP.

Em termos de horários de funcionamento a Farmácia Vitória disponibiliza os

seguintes serviços: segunda a sexta-feira das 9h às 13h e das 14h às 20h e sábados das 9h

às 13h. Contudo, dias e horários adicionais de serviço são devidamente disponibilizados

quando solicitados pela Administração Regional de Saúde do Porto (ARS-Porto), com

parecer da Câmara do Porto, Associação Nacional das Farmácias (ANF) e Ordem dos

Farmacêuticos (OF).

1.4. Sistema informático de gestão e de informação

Um sistema centralizado de gestão e informação é essencial para o correto

funcionamento da farmácia, permitindo uma visão atualizada e corrente de todos os

processos em curso na farmácia, a nível de dispensa de medicamentos, gestão de stocks,

contabilidade, informação científica e gestão de utentes. O sistema informático usado pela

Farmácia Vitória é o Sifarma2000®, sistema este associado à ANF, sendo uma versão de

um sistema inovador de gestão farmacêutica criado em 1987 pela mesma associação.

Este sistema, reconhecido pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos

de Saúde I.P (INFARMED) através da legislação, tem como grande vantagem interligar

todas as atividades gerais da farmácia, permitindo que os colaboradores que trabalham ao

balcão tenham noção dos stocks disponíveis, medicamentos mais rentáveis, interações

medicamentosas e cuidados de uso, ao mesmo tempo que os colaboradores de backoffice

se podem dedicar à gestão de encomendas, realizar o estudo das vendas diárias e respetiva

faturação [2,3].

Contudo, este ano, tive o privilégio de assistir a uma nova atualização do sistema

pela Glintt, sendo a Farmácia Vitória, uma das farmácias piloto para testar essa

atualização que estará em vigor em todas as farmácias que possuem o sistema

Sifarma2000® até dezembro do presente ano.

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Este novo sistema, é, para já, constituído apenas pelo módulo de atendimento,

estando todas as outras funcionalidades asseguradas pelo Sifarma2000®. Várias das

limitações do anterior sistema, como por exemplo, o facto de não ser um sistema intuitivo

estão colmatadas nesta nova versão, sendo por isso, na minha opinião, um sistema mais

vantajoso e que traz alterações importantes relativamente ao Sifarma2000®.

Certo é que, cabe também aos farmacêuticos e aos técnicos, adaptarem-se a estas

novas mudanças relativamente ao sistema, sendo que, para isso, terão que passar por uma

fase de formação, assistir a vários vídeos e realizar vários testes para avaliar a aptidão

para trabalhar com esta nova atualização.

Após 3 meses de contacto com este sistema, considero que este apresenta um

conjunto de melhorias relativamente ao anterior. Contudo, algumas coisas têm que ser

ainda muito bem explicadas e é necessário ter em atenção os restantes módulos,

nomeadamente, os módulos de backoffice, encomendas instantâneas e via verde, entre

outros.

2. Gestão geral da Farmácia

Falar de gestão no geral nunca foi um desafio fácil. Falar de gestão de uma

farmácia também não o é. Certo é que, tendo em conta a sociedade e os tempos em que

vivemos, gerir uma farmácia acarreta sempre questões comerciais e éticas, sendo a parte

comercial extremamente importante para garantir a sobrevivência económica da mesma

[4].

2.1. Gestão de Stocks

O stock de uma farmácia é representado pelo total de produtos que existem em

determinada altura e que estão disponíveis para venda ao público [5]. É necessário um

grande investimento para se conseguir ter um stock equilibrado e, como tal, a sua gestão

torna-se essencial. É imperativo conseguir responder às necessidades dos utentes sem que

isso ponha em causa a saúde económica da farmácia. Num modelo ideal, a farmácia

deverá ter a maior quantidade de stock possível que corresponda ao menor valor

económico estagnado, garantindo também uma elevada rotação dos stocks, impedindo

problemas como perdas de medicamentos por prazos de validade e afins [5].

No mercado farmacêutico existem milhares de produtos a comercializar, o que

confere alguma complexidade à gestão de stocks nesta atividade, com a agravante da

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sazonalidade de muitos produtos [4]. É extremamente difícil para as farmácias garantirem

um stock de toda a variedade de produtos disponíveis no mercado, sobretudo aquelas que

são mais sensíveis economicamente. Todo o stock que não é vendido corresponde a

dinheiro estagnado na farmácia que ainda não teve o retorno do seu investimento.

Assim, é preponderante atualizar os níveis de stocks regularmente e em curtos

períodos de tempo, tendo sempre em conta todas as campanhas de marketing que possam

existir numa determinada altura com um determinado produto [4].

Torna-se assim necessário fazer uma previsão eficaz dos stocks tendo em conta as

variáveis de cada farmácia e a cada fornecedor bem como ter em atenção o perfil

comercial e terapêutico dos utentes de cada farmácia.

Como aspetos fundamentais na gestão de stocks, há que analisar o tempo médio

das existências, o valor em stocks de baixa e elevada rotação e fazer uma análise de

Pareto, ou análise ABC, dos produtos disponíveis [4].

O tempo médio de existências mede-se pelo tempo que um determinado produto

ou grupo de produtos permanece em armazém na farmácia. Quanto maior for o tempo de

existência menor será a rentabilização do produto. Este é um dado muito importante e

deve ser tido em consideração para a avaliação ABC e para a determinação dos níveis de

stocks.

A análise ABC é indispensável para a correta gestão de stocks. Esta tem por base

a classificação dos produtos em função da sua importância nas vendas e na faturação. Os

produtos da classe A são os que representam 80% do volume de faturação e correspondem

em média a cerca de 20% do stock presente na farmácia, sendo vitais para a mesma. Os

produtos classe B têm uma contribuição de 15% na faturação total, correspondendo

apenas a 25% dos produtos e, por último, os produtos classe C correspondem a 5% do

total da faturação sendo cerca de 55% dos artigos que se encontram em stock. Assim,

podemos ter a informação de que tipo de produtos permitem a maior faturação, sendo que

estes representam uma pequena parte dos produtos em stock [4].

Os produtos de classe B e C habitualmente são produtos específicos associados a

vendas sazonais, produtos para necessidades especiais de clientes da farmácia como

suplementos alimentares, produtos para pessoas com necessidades especiais como

doentes com determinadas intolerâncias, dispositivos médicos, produtos de cosmética,

produtos de puericultura e outros que possam ter menos saídas, mas nos quais possam ser

aplicadas margens de lucro superiores.

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

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A obrigatoriedade de prescrição por DCI e de que em todas as farmácias deve

haver pelo menos três dos cinco genéricos dos mais baratos para cada substância ativa,

por cumprimento do Estatuto do Medicamento [6,7] complica significativamente a gestão

de stocks e a possibilidade de se gerar liquidez com estes produtos, uma vez que, na

maioria dos utentes já existe uma fidelização a determinado laboratório, que muitas vezes

não consta dos 5 mais baratos do mercado, obrigando a farmácia a ter mais produtos em

stock, tanto em quantidade como em diversidade, de forma a satisfazer as preferências de

todos [4].

Concluindo, os principais tipos de despesa com stocks que uma farmácia enfrenta

são a despesa com a posse de stocks demasiado grandes, a despesa com a rutura de stocks,

uma vez que não tendo não vai satisfazer a procura do seu utente, e a despesa com o

processamento de encomendas, devoluções e abates. O equilíbrio destes pontos é

essencial para a correta gestão dos stocks [4].

Durante o meu estágio tive a oportunidade de poder aprender a trabalhar nas

várias vertentes de gestão de stocks, desde logo, todo o tipo de encomendas, fazer o

estudo dos consumos e necessidades mensais da farmácia, reunir com vários delegados

e estar presente nas suas apresentações e aprender sobre as várias promoções mensais,

quinzenais e semanais promovidas na farmácia.

O importante numa gestão de stocks é saber que cada caso é um caso. É

preponderante ter as bases e saber de facto o que é gerir um stock, mas temos que ter

consciência de que, em outras farmácias, as coisas podem ser diferentes tendo em conta

as suas necessidades.

2.2. Realização de Encomendas

Desde o inicio do estágio foi-me dada a oportunidade de conhecer todo o processo

inerente à realização de encomendas. Estas devem ser feitas em função dos consumos da

farmácia, oportunidades de compra e venda e das diversas épocas sazonais.

É importante também compreender que devem existir boas relações entre todos

os intervenientes do processo, desde fornecedores e laboratórios até ao senhor que

diariamente fica responsável pelo transporte dos produtos.

A Farmácia Vitória trabalha com diversos fornecedores, no entanto, o número um

é a Alliance Healthcare®. Relativamente às plataformas informáticas usadas para a

encomenda de produtos é apenas usada uma, o Sifarma2000®.

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Habitualmente, fazem-se 2 encomendas, uma da parte da manhã e outra ao final

da tarde, normalmente de produtos com necessidade pontual na farmácia e quando há

ruturas de stock.

Por vezes, para garantir a dispensa de produtos que não existem na farmácia

aquando do atendimento, fazem-se encomendas instantâneas, tendo a vantagem de

garantir ao utente que o produto chega e qual é o prazo estimado para a entrega do mesmo.

Para além desta via, existem encomendas por via verde (módulo de encomenda direto

para o fornecedor e supervisionado pela indústria farmacêutica para colmatar as falhas de

medicamentos eventualmente exportadas, em que o método é semelhante ao das

encomendas instantâneas). Poderão também existir encomendas via telefónica,

diretamente com o distribuidor grossista, principalmente quando existem dúvidas acerca

do produto a encomendar ou quanto à data de entrega.

Na realização das encomendas mensais e quinzenais, usando as plataformas

informáticas, é sempre feita uma análise atenta dos produtos consumidos na farmácia ao

longo dos últimos meses, o seu stock atual e exploração das quantidades a encomendar

em função dos preços e possibilidades de promoções. Esta tarefa deve ser feita de forma

minuciosa para garantir o sucesso da gestão de stocks.

Para além destas, convém referir as encomendas de rateados, sendo estes produtos

que, por serem de compra limitada, têm de ser encomendados diretamente na página da

Alliance Healthcare® todos os meses.

No meu estágio tive o privilégio de poder executar todas estas tarefas, incluindo

encomendas instantâneas, por via verde, encomendas mensais e quinzenais e

encomendas de rateados, o que me deu realmente bastantes noções relativamente à

verdadeira gestão de stocks, sendo esta uma área que me deixou bastante interessado.

Por último, as encomendas podem ser feitas diretamente aos laboratórios, e são de

facto muito importantes, uma vez que permitem a compra de uma grande quantidade de

produtos, com grande saída na farmácia e quase sempre associado a promoções e

descontos. A maior parte destas encomendas surge após a visita dos delegados comerciais

à farmácia, quando apresentam novos produtos e novas promoções.

2.3. Receção e Conferência de Encomendas

A receção de encomendas consiste na recolha e controlo dos produtos entregues

pelos distribuidores. É realizado numa área específica das instalações da farmácia por um

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processo pré-estabelecido, para que qualquer elemento da farmácia possa realizar esta

função com o mínimo erro associado.

Quando as embalagens dão entrada na farmácia deve-se confirmar qual foi o

distribuidor que realizou a entrega, verificar que a encomenda foi efetivamente realizada

pela farmácia, através da fatura, e verificar o estado de integridade geral dos produtos

entregues.

Posteriormente, armazenam-se os produtos prioritários, os medicamentos que

necessitam de armazenamento frigorífico e os psicotrópicos, de forma a evitar a

degradação e extravio dos mesmos. Os restantes medicamentos são armazenados durante

os períodos de tempo livre de atendimento dos colaboradores.

A entrada dos medicamentos no stock informático da farmácia realiza-se no menu

“Receção de encomendas” no Sifarma2000®: faz-se a procura da referência da

encomenda, insere-se o número identificativo da guia e o valor da mesma e começa-se

por introduzir os produtos no sistema informático ao mesmo tempo que se corrigem

prazos de validade, o preço de venda à farmácia (PVF), a margem de lucro e o preço de

venda ao público (PVP). Uma vez finalizada esta tarefa, transferem-se os produtos em

falta para novas encomendas e fecha-se a receção. No final, o operador deve assinar as

faturas para efeitos de rastreabilidade de possíveis erros. Convém salientar, no caso das encomendas por via telefónica ou feitas

diretamente a laboratórios, que estas não constam referenciadas no menu “Receção de

encomendas”, pelo que primeiro é necessário gerar uma encomenda manual para que o

sistema informático reconheça que existe uma encomenda por rececionar, sendo que o

posterior procedimento é igual ao mencionado anteriormente.

Durante o meu estágio realizei este tipo de tarefas diariamente. Aliás, esta foi a

primeira tarefa que tive que executar no meu primeiro dia de estágio. É interessante e

permite, mediante um sistema informático, compreender como funciona o processo,

permitindo que ao final de algum tempo, já soubesse ao certo todas as questões

relacionadas com o PVP e prazos de validade de acordo com as necessidades comerciais

da farmácia e dos utentes.

2.4. Inconformidades e Devoluções

Durante o processo de receção de encomendas podem ser detetados alguns erros,

embora sejam raros, necessários de correção junto do fornecedor. Existem casos em que

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são faturados produtos que não foram entregues, produtos que se encontram danificados,

que não foram encomendados ou que não vêm faturados.

O processo de devolução é utilizado para estes diversos casos, como por exemplo,

produtos não solicitados, prazo de validade dos medicamentos está prestes a expirar ou

expirado, embalagem incompleta ou danificada, óbito do doente ou descontinuação da

terapêutica ou em caso de retiradas de lotes de mercado por ordem do INFARMED ou

dos laboratórios. Convém referir que nunca nenhum produto poderá ser devolvido sem

uma justificação válida.

Associado ao processo de devolução são emitidas sempre três notas de devolução,

assinadas e carimbadas, devendo o original ser arquivado na farmácia e os restantes

enviados ao fornecedor de origem junto com os produtos. É necessária uma aceitação

prévia por parte das finanças para se proceder à devolução. Dependendo do modo como

o fornecedor em questão atua, o medicamento a ser devolvido pode simplesmente ser

trocado ou então debitado sob a forma de uma nota de crédito. Contudo, por vezes, as

devoluções não são aceites por motivos devidamente justificados por parte do fornecedor.

Durante o período de estágio, pude efetivamente realizar diversas devoluções

pelos mais variados motivos. A título de exemplo, aconteceu o episódio da retirada de

alguns lotes que continham a substância ativa Valsartan após uma circular emitida pelo

INFARMED [25].

2.5. Armazenamento, Validades e Controlos de Stock

A gestão e qualidade de armazenamento dos produtos da farmácia são de extrema

importância para a mesma, sendo que o local onde é guardado cada medicamento está

dependente das dimensões da embalagem, da forma farmacêutica, das condições

especiais de armazenamento e do tipo de medicamento. Em todos os casos, o

armazenamento é efetuado segundo o sistema first expired, first out.

Na Farmácia Vitória, existem zonas de armazenamento estabelecidas:

- Zona do atendimento geral, onde se armazenam os MNSRM, produtos de higiene

e dermocosmética, produtos de puericultura e ainda alguns dispositivos médicos, uma vez

que assim estão visíveis aos olhos dos clientes podendo captar o seu interesse pela

aquisição dos mesmos;

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- Gavetas no backoffice, onde são armazenadas as formas sólidas orais, pomadas,

cremes, gotas (orais, oculares e auriculares) e também os xaropes, por ordem alfabética

de nome comercial e/ou DCI;

- Prateleiras dos excedentes (armazém), onde é armazenado o reforço dos

medicamentos mais vendidos ou das grandes quantidades resultantes das compras de

promoções e outros, cujas dimensões das embalagens não permitem o seu armazenamento

nas gavetas;

- Frigorífico, onde se armazenam os medicamentos que necessitam de ser

conservados a temperaturas mais baixas, como as insulinas, algumas vacinas, hormonas,

gotas oculares e orais;

- Gaveta dos psicotrópicos, que separa este tipo de medicamentos dos outros,

dadas as suas caraterísticas especiais. É de realçar que esta gaveta se encontra trancada

com chave, permitindo um controlo restrito da entrada e saída dos produtos da mesma.

Quando todos os medicamentos estão devidamente arrumados, é necessário

garantir que não existam erros no stock dos mesmos e que esses medicamentos se

encontrem dentro de um prazo de validade aceitável, para que o serviço prestado pela

farmácia seja de qualidade. Para tal, são impressas listagens mensais, através do

Sifarma2000®, quer para a contagem de stocks (comparando as existências reais com as

do sistema informático) quer para a verificação de prazos de validade.

Todos os meses tira-se uma listagem dos produtos cujo prazo de validade poderá

estar a terminar e faz-se uma verificação dos mesmos, um a um. Posteriormente, os

produtos a caducar são colocados de lado para serem devolvidos e nos restantes são

registados os novos prazos de validade e inseridos no sistema Sifarma2000®.

Durante o meu estágio tive a oportunidade, de vez em quando, de contactar com

estas listas e perceber como se procede tendo em conta as variadas situações, no entanto

a pessoa responsável por esta parte em específico era a Técnica da Farmácia. É

extremamente importante ter noção do que é o stock teórico e stock real. Muitas vezes,

tive que efetuar esta verificação e acertar vários stocks no sistema Sifarma2000®.

2.6. Gestão de faturação e Receituário

Numa farmácia comunitária, o receituário resultante da dispensa de produtos

sujeitos a receita médica, como seria de esperar, constitui o cerne da faturação da mesma.

Por este motivo, é fulcral para a farmácia que exista uma grande qualidade na gestão e

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controlo do receituário, o que permitirá detetar erros de dispensa que não foram detetados

aquando da dispensa e impedir que a farmácia fique prejudicada a nível financeiro.

A faturação da receita eletrónica desmaterializada é ela própria validada on line

sempre no ato da dispensa e é enviada sob o formato eletrónico, no final do mês, aos

organismos responsáveis.

Existe uma conferência contínua do receituário, começando se por se separar as

receitas por organismo, entre os quais se destaca a diferença entre os comparticipados

pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) ordinários e os pensionistas, e organização por

lotes.

Depois de preparar os lotes, compara-se a prescrição médica com os dados

impressos no verso da receita e verifica-se a conformidade entre todos eles,

nomeadamente concordância entre o código nacional do medicamento na receita e do

medicamento dispensado, plano de comparticipação, número da receita, data de dispensa,

assinatura do utente e carimbo da farmácia.

No fim da verificação de um lote, e após estes estarem organizados em grupos de

trinta por ordem crescente, emite-se o mesmo e o respetivo verbete que o acompanha.

Este deve ser um procedimento contínuo ao longo do mês, até ao dia de fechar a faturação

com emissão do “Resumo de lotes” e da fatura, assinada e carimbada pelo farmacêutico.

As faturas do SNS são enviadas para o Centro de Conferência de Receituário na Maia e

as faturas dos restantes organismos são enviadas para a ANF.

Se alguma inconformidade for detetada, a receita será devolvida, ficando a

farmácia lesada no seu valor, através da gestão de notas de crédito. Assim, percebe-se a

importância de fazer um controlo apertado no que diz respeito ao receituário.

Ao longo do meu estágio tive a oportunidade de acompanhar de perto todo este

processo, sendo que foi sempre o farmacêutico adjunto (Dr. Luís Soares) a pessoa

responsável por esta valência.

3. Dispensa de Medicamentos

3.1. Medicamentos sujeitos a receita médica e a sua prescrição

A prescrição médica é um dos elementos chave num sistema integrado de

cuidados de saúde, uma vez que estabelece a ligação entre o médico e o farmacêutico,

tendo o doente como centro comum de atenção. A receita médica, quando utilizada

corretamente, permite uma maior adesão à terapêutica, um esclarecimento das dúvidas do

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utente e também uma análise da prescrição em função do diagnóstico por um outro

profissional de saúde, o farmacêutico, que poderá verificar se a medicação e

características da mesma são as mais indicadas para o doente em questão, validando-a

posteriormente.

A receita médica é um documento obrigatório para a dispensa de MSRM, com um

prazo de validade associado que pode ser de 30 dias ou renováveis de 6 meses, no caso

dos doentes crónicos, e com a informação dos produtos que devem ser dispensados, a que

utente, com um determinado plano de comparticipação e com as respetivas

posologias/medidas terapêuticas.

Os MSRM, assim o são por constituírem um risco para a saúde do doente, direta

ou indiretamente, quando utilizados sem receita médica ou quando utilizados para fins

diferentes dos pretendidos; por conterem substâncias ou preparações à base de

substâncias cuja atividade ou reações adversas sejam indispensáveis aprofundar e/ou por

deverem ser administrados por via parentérica [6, 8].

A receita médica manuscrita é, salvo exceções contempladas na lei, realizad

segundo a denominação comum internacional (DCI), dosagem, forma farmacêutica e

quantidade da embalagem, sendo que há um limite máximo de duas unidades por produto,

para um limite máximo de quatro unidades totais [9]. Relativamente às exceções, elas

podem ser de três tipos: a) medicamento com margem ou índice terapêutico estreito; b)

intolerância ou reação adversa prévia a um medicamento com a mesma substância ativa,

mas identificado por outra denominação comercial; c) medicamento destinado a assegurar

a continuidade de um tratamento com duração estimada superior a 28 dias. Todas estas

exceções se encontram devidamente referidas no Estatuto do Medicamento [6].

Enquanto farmacêuticos que somos, é importante olhar criticamente para estas

exceções. No caso da exceção b), ela assume uma determinada incoerência tendo em

conta os conhecimentos que temos, uma vez que, se há uma determinada reação adversa

a um medicamento com uma determinada substância ativa, o mesmo medicamento de

outro laboratório terá que ser bioequivalente com este e à partida, provocará a mesma

reação adversa que o primeiro. A exceção c) é também ela totalmente controversa, dado

que aqui pressupõe a sua validade para todos os medicamentos destinados às doenças

crónicas. Neste ponto, posteriormente o Legislador manteve o pressuposto que o utente

poderá/deverá exercer o seu direito de opção, o que invalidaria a própria exceção

escolhida pelo prescritor.

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Tudo isto apenas nos indica que enquanto farmacêuticos, que temos cada vez mais

um papel crítico e ativo até no que toca à legislação em vigor, e estas exceções por vezes

limitam um pouco o nosso trabalho.

A receita médica, deverá obedecer às normas legisladas [10] e pode apresentar-se

sobre três formas, que serão explicados de seguida e com os quais contactei ao longo do

meu estágio. Existem exceções que serão explicadas mais à frente.

3.1.1.Receita Médica com prescrição eletrónica materializada

Este é atualmente o tipo de receita mais comum, estando instaurada em Portugal

desde agosto de 2011 [11]. Na validação de uma receita com prescrição eletrónica [7]

temos sempre que atentar aos seguintes pontos:

• Número da receita, via, local de prescrição e identificação do médico prescritor;

• Nome e número de utente;

• Regime de comparticipação dos medicamentos, representados pela letra “R”

aplicável aos utentes pensionistas abrangidos pelo regime especial de comparticipação ou

pela letra “O” destinado aos utentes abrangidos por outro regime especial de

comparticipação identificado por menção ao respetivo diploma legal [7]. Também temos

que verificar se há a existência de organismos adicionais para a comparticipação ou se

existem diplomas ou despachos associados à prescrição da receita;

• Identificação do medicamento, por Denominação Comum Internacional (DCI),

constando a dosagem, forma, dimensão da embalagem e código nacional do produto. No

caso de a prescrição ser por marca comercial, deverá ainda conter o nome comercial do

medicamento ou do respetivo titular de Autorização de Introdução no Mercado (AIM) e

o número de registo do medicamento;

• Posologia e duração do tratamento;

• Data de prescrição e assinatura do médico prescritor.

Este tipo de prescrição facilita muito o ato de dispensa, uma vez que permite uma

busca dos medicamentos por código nacional, através da leitura do código de barras, o

que diminui a taxa de erro por dispensa de um produto errado.

3.1.2.Receita Médica com prescrição manual

A receita manual, de uso muito mais raro, também necessita de ser validada,

seguindo os mesmos requisitos que a receita eletrónica. No entanto, é necessário existir

uma exceção que justifique o seu uso: a) falência informática; b) inadaptação do

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prescritor; c) prescrição no domicílio; d) máximo de 40 receitas/mês, não competindo à

farmácia validar as situações de exceção.

No local de prescrição, deve constar a respetiva vinheta do local de prescrição, se

aplicável. Nas unidades do SNS, se a prescrição se destinar a um doente pensionista

abrangido pelo regime especial, deverá ser aposta a vinheta de cor verde de identificação

da unidade de saúde [7].

A receita manual não pode conter rasuras ou caligrafias diferentes, a utilização de

canetas diferentes ou a prescrição a lápis e a sua validade só poderá ser de trinta dias, não

podendo as receitas renováveis serem emitidas por esta via, o que à partida apresenta logo

uma grande limitação neste aspeto [7].

3.1.3.Receita Médica com prescrição eletrónica desmaterializada

É atualmente a receita médica mais comum; pode ser enviada ao utente por via

eletrónica ou poderá coexistir ou não com um guia terapêutico, todavia no futuro será

para ser apresentada apenas por via eletrónica. Em ambos os casos, são enviados ao utente

os respetivos códigos necessários para aviar a receita [7]. A desvantagem mais comum

é, no caso de os utentes terem dificuldades de manuseio do aparelho, poderem apagar a

mensagem e assim perder a receita eletrónica. Todavia, caso o utente esteja inscrito na

plataforma do utente, tem acesso a todas as prescrições válidas no momento. Também

existe um suporte eletrónico inovador, seguro e sustentável, através do qual os

medicamentos prescritos pelo médico passam a estar acessíveis pelo Cartão de Cidadão.

Na farmácia, com a introdução do cartão no leitor SmartCard o código de acesso presente

na guia de tratamento, o utente e o farmacêutico passam a ter acesso à receita e aos

medicamentos prescritos. Contudo, o facto de muitos utentes não andarem com o

respetivo cartão de cidadão limita a utilização deste excelente canal.

É de realçar que este tipo de receita eletrónica é, sem dúvida, o método ideal e

mais vantajoso para os farmacêuticos, uma vez que permite uma dispensa mais rápida,

sobrando mais tempo para dedicar ao utente e ao aconselhamento farmacêutico

propriamente dito.

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3.2. Medicamentos Sujeitos a Receita Médica e a sua dispensa

A receita médica é a ponte entre o farmacêutico e o médico e não necessariamente

uma ordem do médico, pelo que a comunicação entre todos os intervenientes no sistema

de saúde nunca deverá ser comprometida.

Após a receção da receita médica é necessário analisar se a prescrição é a mais

correta para o doente em causa, se é um tratamento agudo ou crónico, verificar se as

posologias estão corretas ou se não existem interações adversas associadas à

farmacoterapia. O doente deve ser informado da existência dos medicamentos disponíveis

na farmácia com a mesma substância ativa, forma farmacêutica, apresentação e dosagem

do medicamento prescrito, podendo estes ser medicamentos genéricos ou medicamentos

similares, referindo aqueles que têm o preço mais baixo e, ainda, quais os

comparticipados pelo SNS. Assim, as farmácias devem ter sempre disponíveis para

venda, no mínimo, três medicamentos de cada grupo homogéneo, de entre os que

correspondem aos cinco preços mais baixos, devendo dispensar o de menor preço [7],

salvo oposição do utente.

De seguida, devemos informar o doente sobre a posologia e forma de

administração, possíveis efeitos adversos, cuidados com a terapia, educar sobre a

importância da terapêutica não farmacológica e garantir que não existe nenhuma dúvida

associada à terapêutica, para assegurar a adesão [8].

Na parte final de um atendimento, antes do pagamento, existe um menu de

verificação de cada medicamento, sendo que, na nova atualização do sistema informático,

é mesmo obrigatório realizar essa verificação, não sendo possível saltar este passo ao

contrário do que acontecia no Sifarma2000®. Isto permite identificar qualquer erro que

possa existir ao nível da dispensa de medicamentos.

Se estiver tudo em condições, no caso de uma receita manual ou eletrónica

materializada, é impressa a dispensa no verso da receita. Na receita eletrónica

desmaterializada este passo não é necessário.

3.3. Medicamentos Psicotrópicos, Estupefacientes e a sua dispensa

Os medicamentos contendo uma substância classificada como estupefaciente ou

psicotrópica, indicadas na lei, estão sujeitas a um rigoroso controlo, uma vez que são

passíveis de criar fenómenos de dependência física e psíquica [7,12,13].

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A obrigatoriedade de apresentação de uma receita única para a dispensa destes

medicamentos, deixou de ser válida com a desmaterialização da prescrição.

Para a sua dispensa é sempre requisitado o nome do médico prescritor, a

identificação do utente adquirente, através do cartão de cidadão ou bilhete de identidade

e a identificação do utente usuário da medicação. No final, são emitidos dois documentos

designados “documentos de psicotrópicos” que se devem arquivar numa pasta à parte.

3.4. Medicamentos Manipulados e a sua preparação e dispensa

A dispensa de medicamentos manipulados também é conhecida como

manipulação clínica de medicamentos, sendo uma prática farmacêutica integrada que visa

a obtenção de medicamentos manipulados seguros e efetivos, cuja preparação tem em

consideração o perfil fisiopatológico específico de cada doente, obtido através de

entrevista clínica, e disponibilização desses medicamentos acompanhada pela informação

para o uso correto [14]. Os medicamentos manipulados comparticipados devem ser

prescritos isoladamente [15].

Infelizmente, na Farmácia Vitória não tive o privilégio de fazer manipulados, a

não ser a preparação de um shampoo em que tive que pulverizar alguns comprimidos de

dietilenoestradiol e misturar numa formulação já existente. Por essa razão, o meu

conhecimento nesta área é muito mais teórico do que prático.

3.5. Dispensa de outros produtos

Na Farmácia Vitória também são dispensados vários produtos que não se

enquadram nos já mencionados, enquadrando-se cada um na respetiva categoria, como o

caso de: medicamentos homeopáticos [7]; alimentos dietéticos destinados a fins

específicos [17]; géneros alimentícios destinados a uma alimentação especial [18];

medicamentos de uso veterinário [19], dispositivos médicos [20] e artigos de cosmética

e dermocosmética [21].

Uma das maiores dificuldades que fui sentindo ao longo do meu estágio prendeu-

se precisamente com os produtos de uso veterinário. Isto porque, na minha opinião, o

farmacêutico não está bem preparado para opinar e aconselhar neste sentido. Por isso,

considero que esta categoria deveria ter sido contemplada no nosso plano de estudos,

porque o mundo animal compreende uma grande faixa do nosso planeta que não deve

ser desprezada.

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3.6. Regimes de Comparticipação

O modelo de comparticipação de medicação parte de um princípio de que todos

os cidadãos têm o direito de ter acesso à sua medicação e às necessidades básicas de

saúde. A atual legislação prevê a possibilidade de comparticipação de medicamentos

através de um regime geral e de um regime especial, o qual se aplica a situações

específicas que abrangem determinadas patologias ou grupos de doentes [7].

No regime geral de comparticipação, o Estado paga uma percentagem do preço de

venda ao público dos medicamentos de acordo com os seguintes escalões: Escalão A -

90%, Escalão B - 69%, Escalão C - 37%, Escalão D - 15%, consoante a sua classificação

farmacoterapêutica [7].

No regime especial de comparticipação, a comparticipação do Estado no preço

dos medicamentos integrados no escalão A é acrescida de 5% (95%), acrescida de 15%

nos escalões B (84%), C (52%) e D (30%) para os pensionistas do regime especial. A

comparticipação do Estado no preço dos medicamentos para estes pensionistas é ainda de

95% para o conjunto dos escalões, para os medicamentos cujos preços de venda ao

público sejam iguais ou inferiores ao 5.º preço mais baixo do grupo homogéneo em que

se inserem [7].

No caso de medicamentos utilizados no tratamento de determinadas patologias ou

por grupos especiais de utentes, a comparticipação do Estado no preço é definida por

despacho do membro do governo responsável pela área da saúde e, assim, diferentemente

graduada em função das entidades que o prescrevem ou dispensam. Contudo, importa

referir que a comparticipação do medicamento pode ser restringida a determinadas

indicações terapêuticas fixadas no diploma que estabelece a comparticipação, sendo que

para assegurar o seu cumprimento, o prescritor deve mencionar na receita expressamente

o diploma correspondente [7].

Há ainda que referir a existência do protocolo da diabetes, o qual define

comparticipação do Estado no custo de aquisição, as tiras-teste para determinação de

glicemia, cetonemia e cetonúria, assim como as agulhas, seringas e lancetas destinadas

ao controlo da diabetes dos utentes do SNS e subsistemas públicos. Esta comparticipação

é de 85% do preço de venda ao público (PVP) das tiras-teste e 100% das agulhas, seringas

e lancetas, sendo que para efeitos de inclusão no regime de comparticipações estes

produtos estão sujeitos a um preço máximo de venda ao público [7,16].

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Em relação a comparticipações, existem outros sistemas como por exemplo o

SAMS® (Serviço de Assistência Médico-Social do Sindicatos dos Bancários), a

Multicare® (seguros de saúde) ou mesmo a EDP-Savida®.

Durante o meu estágio, tive a oportunidade de contactar por várias vezes com

todos estes regimes de comparticipação.

3.7. Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica e a sua dispensa

Os medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) são substâncias ou

associações de substâncias utilizadas na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças,

bem como outros produtos que, não sendo utilizados para estes fins, sejam tecnicamente

considerados medicamentos.

Para todos deve ser demonstrada uma relação risco/benefício, claramente

favorável à sua utilização, um perfil de segurança determinado, baixos riscos diretos e

indiretos e que seja aceitável no contexto da automedicação. Tal como o nome indica,

não estão sujeitos a receita médica, e podem ser comercializados fora das farmácias,

exceto aqueles de venda exclusiva em farmácia. Geralmente não são comparticipáveis,

sendo as exceções devidamente identificadas na legislação [7, 9].

Uma vez que estes são medicamentos de venda livre é importante que o

farmacêutico, aquando da dispensa, questione e aconselhe o utente o melhor possível,

uma vez que raramente os utentes têm informação sobre a posologia, efeitos adversos e,

mais importante, sobre se aquele fármaco será o mais indicado para tratar a patologia em

causa.

É de realçar a importância de o farmacêutico saber quando é que, perante o estado

de saúde do utente que procura aconselhamento, o deverá encaminhar para o médico,

podendo ou não lhe sugerir uma solução de conforto [8].

É nestes atendimentos que cada vez mais se verifica a importância do cross-selling

e up-selling, permitindo que o utente adquira mais soluções para o tratamento do seu

problema e permitindo que a farmácia aumente o potencial de negócio.

Durante o período de estágio fiz inúmeros aconselhamentos farmacêuticos

relacionados com a venda de MNSRM e, apesar de ter sentido sérias dificuldades no

início, após várias experiências e muito estudo específico para cada patologia comecei

a sentir-me à vontade para realizar os aconselhamentos.

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

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4. Serviços Farmacêuticos

A Farmácia Vitória disponibiliza vários serviços de Cuidados Primários indicados

na legislação [22], sendo os mais comuns: medição da pressão arterial, determinação de

parâmetros bioquímicos como glicémia, colesterol total e triglicerídeos e administração

de injetáveis.

A medição da tensão arterial, faz-se normalmente, usando um tensiómetro

automático. Na Farmácia Vitória, este serviço é gratuito, sendo efetuado na sala de

atendimento privado na qual o farmacêutico pode simultaneamente fazer o devido

aconselhamento, de acordo com o tipo de utente.

A medição dos parâmetros bioquímicos (colesterol total, triglicerídeos e

glicémia), fazem-se com os respetivos aparelhos e tiras-teste, controlos e com as devidas

precauções (como o uso de luvas). Nestes testes os utentes devem estar em jejum. Após

a realização dos mesmos, cabe novamente ao farmacêutico fazer a explicação dos valores

aos utentes, bem como prestar o aconselhamento mais adequado a cada situação. Estes

testes também se realizam na sala de atendimento privado.

Os testes de gravidez são realizados após a utente em questão trazer, num boião

de colheita, a primeira urina do dia. Estes testes são realizados no laboratório, com as

devidas precauções (novamente o uso de luvas), sendo relativamente rápidos (demoram

entre 2 a 3 minutos).

A administração de injetáveis era sempre realizada pelo Dr. Rui ou pelo Dr. Luís

que possuem o curso de injetáveis [23]. Esta vertente era bastante útil e havia imensos

utentes que se deslocavam à farmácia ao invés do centro de saúde ou hospital para este

efeito.

Ao longo dos meus 6 meses de estágio, efetuei todo o tipo de serviços (exceto

administração de injetáveis), tendo acompanhado vários utentes de perto, sobretudo no

que toca à medição da pressão arterial. Mais do que saber efetuar uma medição, é

importante saber explicar o porque de determinado valor, tendo noção dos valores de

referência aplicáveis e dos fatores de risco associados a cada pessoa. Esta foi uma

vertente na qual demonstrei os conhecimentos adquiridos ao longo do curso, mas também

onde aprendi bastante, sobretudo no que toca ao manuseamento dos aparelhos em causa.

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

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5. Cuidados Farmacêuticos

Os Cuidados Farmacêuticos são um serviço continuado, que só o farmacêutico

está apto para o realizar, e abrangem diferentes atividades como a dispensa, indicação

farmacêutica, revisão da terapêutica, reconciliação terapêutica, seguimento

farmacoterapêutico, farmacovigilância e educação para a saúde [14].

O farmacêutico assume um papel preponderante enquanto observador e avaliador,

tendo de ter noção que, independentemente do laboratório ou do produto a dispensar, deve

centrar o seu foco no utente e nas suas necessidades, porque é essa a sua função. A título

de exemplo, descrevo um dos casos que me suscitou interesse e que me fez perceber como

lidar com os utentes, aconselhar e apoiar pessoas.

CASO 1: Utente do sexo feminino desloca-se à farmácia e diz ter um bebé de 18

meses que tem tido muita tosse com expetoração. Refere ainda que “já não é a primeira

vez que acontece. Da outra vez, levei um xarope, acho que era aquele roxo ali”.

Rapidamente percebi que ela se referia ao Pulmiben 2%. Questionei-a acerca do porquê

de ter levado aquele xarope da outra vez e ela disse que “costumava ver um anúncio

disto e achei que era o mais correto”. Alarmado com a situação expliquei à senhora que

numa idade tão precoce é arriscado dar um xarope para tratar a tosse. A senhora não

percebeu porquê e mostrou-se um pouco indignada. Repetidamente, tive que reforçar a

ideia de que um bebé não tem ainda a capacidade de deglutição muito desenvolvida, nem

consegue expulsar a expetoração, correndo o risco de se engasgar ou expelir o xarope

que a mãe lhe dá e que pelo menos até aos 2 anos, não devem ser dados xaropes para

tratamento sintomático da tosse. Expliquei ainda que, a única coisa completamente

segura seria a mãe fazer nebulizações ao bebé e que, caso a tosse continuasse deveria

consultar o seu médico de família ou o pediatra da criança. Após alguns minutos, a mãe

percebeu que de facto estava errada e agradeceu os conselhos, dizendo que ia começar

apenas a fazer nebulizações na criança e consultaria o pediatra da mesma caso a tosse

persistisse.

Este foi um caso interessante e que me despertou curiosidade. Dentro deste

assunto, procurei de imediato, informar-me com o Dr. Rui Romero que, tal como sempre

fez, explicou como proceder em casos semelhantes a este.

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6. Plano da Proteção de Dados aplicado à Farmácia Comunitária

Durante o meu estágio, assisti também à introdução do Regulamento Geral da

Proteção de Dados (RGPD), a partir de 25 de maio de 2018, acerca do consentimento que

cada utente teria que dar para que os seus dados pessoais pudessem ser utilizados. O

regulamento obriga a manter um registo documentado de todas as atividades de

tratamento de dados pessoais. As organizações são obrigadas a demonstrar o

cumprimento de todos os requisitos decorrentes da aplicação do regulamento [24].

Fiquei responsável por todas as alterações que a Farmácia Vitória teve que

efetuar para estar de acordo com a legislação em vigor, incluindo tudo acerca da

impressão de documentos, introdução de placas informativas acerca das câmaras de

segurança e alarme de segurança, entre outras.

Relativamente à proteção de dados propriamente dita, existem documentos na

farmácia que cada utente com ficha na farmácia terá que preencher, autorizando assim

que os seus dados possam ser utilizados. Isto é de extrema importância para as farmácias,

visto que a maioria delas tem uma base de dados enorme com todas as fichas de cliente

criadas, números de telemóvel, e-mails, números de cartão de cidadão e de identificação

fiscal, entre outros.

Parte II - Apresentação dos Temas Desenvolvidos

Tema I – Proteção Solar e Cancro da Pele

1. Enquadramento geral do tema

A pele tem um papel de extrema relevância na proteção do corpo humano e na

regulação da temperatura corporal, sensibilidade e absorção de substâncias, sendo

também uma barreira física a agentes externos como a radiação ultravioleta (RUV). A

exposição a RUV tem efeitos terapêuticos e benéficos, como por exemplo, a produção de

vitamina D, mas pode prejudicar a pele, causando eritemas, queimaduras,

fotossensibilidade e neoplasias cutâneas [26].

Relativamente à proteção solar, a verdade é que todos nós estamos saturados de

ver tanta e tanta campanha de sensibilização, publicidades, anúncios de televisão, etc. No

entanto, a compreensão desta temática continua dificultada, não tanto pela falta de

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22

informação, mas porque as pessoas, na sua maior parte, continuam a não ter a

preocupação necessária com a sua pele.

Resultado disto, a incidência de cancro da pele tem aumentado exponencialmente,

devido, essencialmente, a comportamentos que expõem a pele aos RUV de forma

exagerada ou inadequada [27].

Assim, não sendo este um tema inovador, decidir debruçar-me sobre ele neste

primeiro projeto, não só por constatar precisamente essa falta de cuidado com a proteção

solar e outros cuidados relevantes, mas também porque verifiquei, na Farmácia Vitória,

havia pouca preocupação na população relativamente aos perigos associados à exposição

solar, tendo realizado um póster em tamanho A0 que afixei na entrada da farmácia para

dar a conhecer à população um pouco mais sobre a mais grave consequência de não se

protegerem do sol e da possibilidade de, por essa razão, vir a ter cancro da pele.

2. Fundamento Teórico

2.1. A Pele, o maior órgão do corpo humano

A pele é o maior órgão do corpo humano e também o mais pesado (16% do nosso

peso), sendo a primeira barreira de contacto com o meio externo. Encontra-se dividida

em três camadas: epiderme, derme e hipoderme [28].

A epiderme é a primeira camada da pele, visível a olho nu e envolve todo o corpo.

Tem como função proteger todo o corpo contra danos externos e evitar a saída de água,

além de originar anexos cutâneos como unhas, pelos, glândulas sudoríparas e sebáceas.

Esta camada é formada por quatro células: queratinócitos, melanócitos, células de Merkel

e células de Langerhans [29,30].

A derme é a segunda camada da pele e possui vasos sanguíneos e fibras e

colagénio. Estas últimas estruturas dão elasticidade e firmeza à pele. Na derme existem

também vasos linfáticos e terminações nervosas [29,30].

A hipoderme é a camada mais profunda da pele, formada, essencialmente, por

feixes de tecido envolvendo células adiposas. Atua como isolante térmico e absorve

choques [29,30].

Algumas das funções mais conhecidas da pele são: renovação celular, função de

barreira, perceção sensorial, proteção mecânica, resposta imunológica, resposta vascular,

regulação térmica, produção de suor e produção de vitamina D [29,30].

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2.2 A importância da Radiação Ultravioleta

A radiação solar é essencial para a vida no nosso planeta: ilumina, aquece,

participa na fotossíntese e na síntese de vitamina D. Embora seja utilizada em medicina

– na fototerapia, laserterapia, terapia fotodinâmica, fotoquimioterapia – a parte do espetro

solar que compreende a radiação UV é extremamente prejudicial para o corpo humano,

sobretudo para a pele e a superfície ocular [30].

O espetro eletromagnético é constituído por ondas eletromagnéticas que possuem

diferentes comprimentos de onda. As faixas de comprimento de onda mais conhecidas a

que habitualmente nos referimos são a radiação infravermelha, ultravioleta e a região do

visível [30].

A radiação ultravioleta provem essencialmente do sol, porém, pode ser produzida

também por lasers, lâmpadas fluorescentes e de descarga de mercúrio. Compreende os

290-400 nm e divide-se em três subtipos: UVA, UVB e UVC: a UVA que produz a

chamada luz negra (lâmpada ultravioleta), a UVB que produz eritema e pigmentação,

contribuindo também para a produção de vitamina D e a UVC que tem poder germicida.

Esta última possui elevada energia, é muito lesiva para o homem, com efeitos

carcinogénicos e mutagénicos. Na sua maior parte é absorvida pela camada de ozono,

sendo que apenas uma pequeníssima parte atinge a população [31].

As radiações UVB, embora de menor comprimento de onda e com menor poder

de penetração na pele, são as mais energéticas e intensamente absorvidas pela epiderme.

São as responsáveis pelos danos agudos e crónicos na pele, como por exemplo, as

manchas, queimaduras, descamação e cancro da pele. Por fim, as UVA, de maior

comprimento de onda, são menos energéticas que as UVB, penetram mais profundamente

na pele, atingindo a derme. As radiações UVA originam radicais livres, levando por isso

ao envelhecimento cutâneo precoce, fotossensibilidade e contribuem também para o

desenvolvimento de cancro da pele [31,32].

2.3 Cancro da Pele

2.3.1. Definição e Etiologia

O cancro da pele resulta de uma perturbação do ciclo da vida celular. Os agentes

carcinogénicos, nomeadamente a radiação UV, podem estimular o crescimento exagerado

das células da epiderme e originar mutações no DNA que levam ao aparecimento de

células anormais que se multiplicam. Este fenómeno, caso não seja travado, dá origem a

uma lesão maligna localizada que aumenta gradualmente e origina um tumor [33].

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2.3.2. Tipos de Cancro da Pele

Os tipos de cancro da pele mais frequentes que correspondem a cerca de 97% de

todos os casos são:

- Carcinoma baso-celular (65%): são mais frequentes nas áreas mais expostas ao

sol, nomeadamente o rosto. Neste tipo de lesão ocorre um crescimento lento das células

e muito raramente dá origem a metástases noutras partes do corpo. No entanto, pode

causar recidivas e ser muito invasivo e destrutivo, se não for tratado atempadamente;

- Carcinoma espinocelular ou pavimento-celular (25%): é o carcinoma das células

escamosas. É muito frequente e surge também em áreas menos expostas. É mais agressivo

que o basalioma e pode causar metástases nos gânglios linfáticos e atingir outros órgãos;

- Melanoma (7 a 8%): é a neoplasia associada aos melanócitos, que são as células

da pele responsáveis pela produção do pigmento cutâneo denominado melanina. Pode

estar associado à exposição solar aguda, fatores genéticos, entre outros. O melanoma é,

sem dúvida, a forma mais maligna de cancro da pele, causando o aparecimento de

metástases precocemente, se não for detetado e tratado numa fase inicial [33].

2.3.3. Epidemiologia e Incidência

O Melanoma e o melanoma maligno são os tipos de cancro da pele mais comuns

em populações caucasianas. Ambos apresentam uma taxa crescente de incidência em todo

o mundo, mas uma taxa de mortalidade estável ou decrescente. Estas taxas crescentes de

incidência são provavelmente causadas por uma exposição aumentada à luz ultravioleta,

aumento de atividades ao ar livre, alterações no vestuário, depleção da camada de ozono,

fatores genéticos e imunossupressão [34].

Nas últimas três décadas, a taxa de incidência do melanoma aumentou 5 vezes.

Em 2008, na Alemanha, o melanoma ocupava o quinto lugar em relação à incidência nas

mulheres e o oitavo lugar nos homens. A frequência da sua ocorrência está associada à

cor da pele e à zona geográfica. As taxas de mortalidade do melanoma nos EUA, Austrália

e na Europa demonstram uma crescente estabilização [34].

Portugal apresenta uma taxa de incidência de carcinoma baso-celular semelhante

aos restantes países do mediterrâneo, com 67 novos diagnósticos por cada 100 mil

habitantes registados a cada ano. No caso do carcinoma espinocelular, essa incidência

diminui para 17 em relação ao melanoma maligno, em cada ano registam-se 8 a 10 novos

casos por cada 100 mil habitantes [33,34].

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Comparativamente, Portugal apresenta números muito semelhantes aos dos

restantes países da bacia mediterrânica no que diz respeito aos carcinomas, mas uma

incidência mais baixa de melanomas, quando comparado com os países do norte da

Europa, sendo que este aparente paradoxo deve-se, em grande parte, à facilidade com que

as pessoas dos países nórdicos viajam para países de clima mediterrânico e tropical [33].

2.3.4. Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico do cancro da pele deve ser um diagnóstico clínico acrescido de um

exame histopatológico dos tecidos tumorais. Observa-se ao microscópio o material

recolhido por biópsia ou pela análise da peça operatória obtida por excisão cirúrgica.

Relativamente ao tratamento, sempre que possível recorre-se a uma cirurgia para

remoção total do tumor. Contudo, em doentes idosos ou com tumores múltiplos por

apresentarem um maior risco, existem alternativas de tratamento:

- Curetagem e eletrocoagulação: consiste na raspagem do tumor e destruição dos

tecidos afetados através da utilização de correntes de alta frequência;

- Criocirurgia com azoto líquido: Aplicação dirigida de frio intenso para

eliminação do tumor pela baixa temperatura (- 50º a -196º C);

- Radioterapia: Utilização de radiações ionizantes para destruir a lesão (tumores

avançados);

Além destas opções, existem ainda outras duas menos utilizadas e de menor

importância:

- Cirurgia micrográfica de Mohs: é um tipo de operação que implica a extração de

várias camadas do tumor até a análise microscópica feita no momento poder confirmar

não existir mais tecido tumoral no local;

- Terapia fotodinâmica: aplicação de um agente fotossensibilizante (derivado das

porfirinas) e exposição a uma fonte de luz, na presença de oxigénio molecular, para

eliminar as células neoplásicas de forma seletiva. É o método mais utilizado para tumores

superficiais com resultados cosméticos bastante bons.

Nos últimos anos, a utilização de compostos químicos tem registado bastante

sucesso na terapia da doença avançada do cancro da pele ou quando já existe

disseminação metastásica para outros órgãos [33].

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3. Protetores/Filtros Solares

Os protetores ou filtros solares surgiram após se ter percebido que existiam

substâncias capazes de proteger a pele das radiações solares. Vários compostos como o

sulfato de quinina acidificado e o Antilux evitavam queimaduras solares numa fase

inicial. Ao longo do século XX, muitas substâncias foram descobertas que se mostraram

eficazes na prevenção do eritema solar e o seu uso tornou-se mais comum após a Segunda

Guerra Mundial com o ácido p-amino benzoico (PABA). Os protetores solares são

capazes de diminuir a quantidade de radiação UV que atinge a pele humana por absorção

e/ou reflexão desta radiação [32].

A eficácia dos protetores solares depende da sua capacidade de absorver energia

radiante. A associação de diferentes filtros em formulações também é um recurso para a

eficácia, como por exemplo utilizar um filtro UVA e UVB, permitindo uma proteção de

amplo espetro à pele [32].

Um protetor solar deve ser estável na pele humana e ao calor e ser fotoestável para

permitir proteção durante várias horas, evitando a formação de produtos de degradação.

Para além disso, não deve ser irritante, sensibilizante e fototóxico. Um fator muito

importante é não penetrar a pele para que não ocorra uma exposição sistémica a estas

substâncias. Um bom protetor solar deve ser resistente à água, insípido, inodoro e incolor

e deve ser compatível com as formulações cosméticas [32].

A preparação de um protetor solar requer 2 componentes básicos: os ingredientes

ativos (filtros orgânicos ou inorgânicos) e os veículos (loções hidro-alcoólicas, cremes,

géis e loções emulsionadas). Os protetores inorgânicos também são designados protetores

solares físicos, precisamente por funcionarem como uma barreira física impedindo a

passagem da radiação. Incorporam normalmente umas destas duas partículas: óxido de

zinco e dióxido de titânio. Já os protetores orgânicos, também designados de protetores

solares químicos, incorporam moléculas orgânicas que absorvem a um comprimento de

onda específico, transformando-o noutro tipo de energia. Normalmente, são compostos

aromáticos com grupos carboxílicos [32].

O Fator de Proteção Solar (FPS) é uma técnica que comprova a eficácia dos filtros

solares para a porção UVB do espetro eletromagnético. Como o UVB é o responsável por

causar eritema, um filtro eficaz tem que proteger a pele exposta contra a queimadura solar.

O FPS é uma razão entre o tempo de exposição à RUV necessário para produzir

eritema na pele protegida pelo protetor solar e para a pele desprotegida segundo a fórmula,

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onde, DME é a dose mínima de radiação capaz de produzir um eritema mínimo, expressa

em KJ/min. Para determinar este fator, podem-se realizar testes com seres humanos ou

uma técnica espetrofotométrica [32].

Para que um protetor solar seja considerado de largo espetro, o seu fator de

proteção solar deve ser igual ou superior a 15, sendo que, nesse caso, poderá estar escrito

no rótulo que contribui para a redução do risco de cancro da pele. Em relação ao fator

máximo, recomenda-se que seja 50+.

A Food and Drug Administration recomenda o uso diário de protetor solar com o

objetivo de reduzir o cancro da pele e as manifestações de envelhecimento da pele [35].

4. Cuidados a ter na exposição solar

Nem sempre os comportamentos adotados aquando da exposição solar são

suficientes para evitar queimaduras solares. Durante o Verão, a radiação solar atinge a

Terra com maior intensidade, aumentado o risco de queimaduras e cancro da pele [36].

Nessa altura do ano, devem ter-se cuidados acrescidos, especialmente na praia, onde a

exposição solar é maior:

- A exposição solar deve ser cuidadosa, evitando as horas de maior intensidade;

- Reduzir ao máximo as atividades exteriores entre as 12h e as 16h;

- Utilizar um chapéu, uma camisa ou t-shirt de cor escura e óculos quando estiver

ao sol;

- Uma t-shirt molhada no corpo pode deixar passar os raios UV;

- Cerca de 30 minutos antes de ir para a praia ou piscina, aplicar um creme protetor

com um fator de proteção igual ou superior a 30. Renovar as aplicações de 2 em 2 horas

e após o banho, mesmo que o protetor seja à prova de água;

- Efetuar um autoexame à pele de 2 em 2 meses, dando particular importância à

cor, ao contorno e ao tamanho dos seus nevos;

- Com tempo nublado, não esquecer o protetor solar, uma vez que os raios são

quase tão perigosos como com sol;

- Manter os bebés longe do sol e ensinar a proteção solar às crianças desde cedo.

No primeiro ano de idade, as crianças não devem ser expostas diretamente ao sol, isto

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porque uma queimadura solar nestas idades duplica o risco de mais tarde desenvolver um

cancro da pele;

- Evitar salas de bronzeamento ou solários, porque os raios UV aumentam o risco

de cancro cutâneo e aceleram o envelhecimento da pele;

- Evitar queimaduras solares e escaldões;

- As pessoas ruivas, loiras, com sardas e muitos sinais, devem proteger-se com

maior rigor;

- É necessário utilizar óculos de proteção, particularmente as crianças e as pessoas

de olhos claros;

- Consumir frutas, legumes e beber muita água é importante para proteção da pele

e equilíbrio orgânico;

- Proteger a pele, lábios e olhos do excesso de sol;

- Ter atenção às feridas que não cicatrizam e aos sinais que modificam. Consultar

de imediato o dermatologista.

Todos estes cuidados não devem ser ignorados e embora, alguns pareçam

demasiado peculiares, é importante que toda a gente os respeite, refere a Associação

Portuguesa de Cancro Cutâneo [37].

5. Qual o papel do farmacêutico nesta temática?

“Quem entra numa farmácia não procura (só) o melhor preço. Não procura o maior

desconto nem a maior vantagem. Procura um atendimento de excelência, uma resposta

fiável e fidedigna, procura aconselhamento. Para o farmacêutico, o desafio é enorme –

não basta saber um pouco de tudo – é necessário um conhecimento atual, informado e

abrangente, mas também especializado” [38]. Esta afirmação é bastante realista daquilo

que deve ser um aconselhamento farmacêutico. No caso da pele e do cancro da pele,

especificamente, nem sempre é fácil para os farmacêuticos estar inteiramente dentro do

assunto. Assim, torna-se necessário não só ter uma formação contínua nesta área, mas

também ter conhecimento de todas as alternativas farmacológicas e não farmacológicas

disponíveis no mundo atual.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro reconhece que o papel do farmacêutico se

tornou mais amplo, sendo que a farmácia pode ser uma parceira importante nos cuidados

de saúde e relevante para a promoção de uma saúde de proximidade. Assim, a LPCC tem

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realizado várias formações junto dos Profissionais das Farmácias, procurando contribuir

para um reforço do seu papel enquanto agentes ativos na prevenção do cancro [39].

No que diz respeito á proteção solar, é importante os utentes terem um

aconselhamento personalizado na farmácia. O farmacêutico deve orientar a escolha do

protetor solar mais adequado ao tipo de pele, zona a que se destina, fototipo, prática de

desporto, altitude e condições ambientais.

Apesar do papel relevante do farmacêutico neste contexto, os portugueses

continuam a fazer uma má utilização dos produtos porque não respeitam uma série de

cuidados que devem ser respeitados, tal como referido anteriormente. É de considerar que

os protetores solares podem ser aconselhados como complemento de inúmeras situações,

representando uma possibilidade de cross-selling (tratamento da acne, radioterapia,

atopia, psoríase) [40]. Para além disto, é sempre importante que o farmacêutico saiba

todos os conselhos que deve prestar em relação à exposição solar, sendo também essa,

uma das razões pelas quais decidi abordar esta temática.

6. Projeto desenvolvido

Tendo em conta toda a informação disponibilizada quer pelos sites de instituições

de saúde quer pelo contacto direto com os profissionais de saúde relativamente à proteção

solar e ao cancro da pele, não seria de esperar que fosse ainda necessário remoer mais

neste assunto. Contudo, ao longo dos meus seis meses de estágio na Farmácia Vitória,

verifiquei que os utentes não estavam ainda muito bem elucidados quando queriam

escolher um protetor solar. “O que significa um FPS 30?”, “Quais são as diferenças entre

os protetores solares?”, “Quando devo de facto utilizar um protetor solar?”, “É verdade

que o cancro da pele afeta assim tanta gente?”, foram apenas algumas das questões que

me levaram a debruçar-me sobre este tema.

Decidi fazer um póster em tamanho A0 para colocar no vidro à entrada da

farmácia (Figura 3) e 2 em tamanho A3 para colocar junto aos balcões de atendimento.

Estes pósteres, não só remetem para cuidados básicos a ter com a exposição solar, como

elucidam os utentes sobre o cancro da pele e o que fazer caso tenham alguma suspeita. A

informação colocada é simples e chamativa, porque desta maneira é mais fácil captar a

atenção das pessoas. Na Figura 4 do Anexo 2, encontra-se o primeiro projeto realizado

por mim durante o meu estágio.

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7. Conclusão

De uma forma geral, os utentes aderiram de forma positiva a este projeto e ficaram

satisfeitos com os esclarecimentos que o poster forneceu.

Assim, considero que o impacto causado foi bastante bom e, futuramente, espero

que não apenas os farmacêuticos, mas os restantes profissionais de saúde tomem atenção

principalmente na disponibilização de “pequenos” conselhos relativamente à proteção

solar. Isto porque a maior lição que eu retirei deste trabalho foi a de que, por vezes, temas

mais simples e que andam na boca do mundo sobretudo nesta altura do ano, são os mais

complicados de as pessoas entenderem. E o segredo, neste caso, não está na informação,

até porque toda a gente sabe que deve sair à rua de chapéu ou óculos de sol, o segredo

está na forma como a informação é transmitida e no marketing associado. O marketing,

até porque as vendas de protetores solares e produtos de dermocosmética também

aumentam significativamente.

Tema II – Dependência e Abuso de Benzodiazepinas

1. Enquadramento Geral do Tema

Uma ampla variedade de agentes tem a capacidade de deprimir o Sistema Nervoso

Central (SNC), levando ao efeito calmante ou de sedação. Os fármacos benzodiazepínicos

são um exemplo destes agentes (sedativo-hipnóticos) [41].

Embora os efeitos mais comuns das benzodiazepinas (BZD) incluam sedação e

redução da ansiedade, tem havido relatos de pessoas referindo alterações

comportamentais, nomeadamente comportamentos agressivos [42].

A nível mundial, estes fármacos continuam a ser um dos grupos de medicamentos

mais prescritos, portanto não é de surpreender que a dependência destes seja cada vez

mais comum, atravessando todos os níveis socioeconómicos. Apesar do reconhecimento

do potencial para o desenvolvimento de dependência iatrogénica e da falta de qualquer

tratamento efetivo, os benzodiazepínicos continuam a ser amplamente prescritos na

prática geral [43].

Durante o meu estágio na Farmácia Vitória verifiquei que o consumo exacerbado

destes fármacos a nível mundial, refletem-se também em meios como o local geográfico

e socioeconómico da Farmácia Vitória em que existe um grande número de utentes que

consomem medicamentos para combater a ansiedade e “para dormir”. Assim, decidi

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abordar este tema, não só por ter ficado surpreendido com este facto, mas essencialmente

porque as pessoas não têm a mínima noção das consequências negativas que o abuso e/ou

dependência que estes fármacos têm para a sua saúde. Na sequência disso, procedi à

elaboração de um panfleto para distribuir pelos utentes da Farmácia Vitória abrangendo

as ideias principais que se deve ter em conta quando se fala de BZD e os cuidados que se

deve ter com a sua toma.

2. Fundamento Teórico

2.1.O que são Benzodiazepinas?

As Benzodiazepinas são psicofármacos com efeitos depressores a nível do SNC.

São produzidas por síntese química e existem no mercado sob a forma de cápsulas,

comprimidos ou, embora menos frequentemente, supositórios e ampolas. Normalmente

são administradas via oral, contudo, a via intravenosa também é comum.

O seu consumo provoca efeitos relaxantes, ansiolíticos, hipnóticos e

anticonvulsivantes, sendo utilizadas terapeuticamente para tratamento de ansiedade e da

insónia. No que concerne ao seu mecanismo de ação, facilitam a ação do ácido gama-

aminobutírico (GABA), neurotransmissor do SNC [44].

2.2.Introdução Histórica

Em 1955, Leo Sternbach, da Hoffmann-La Roche, identificou acidentalmente o

primeiro fármaco benzodiazepínico, o clorodiazepóxido. Em 1960, esta mesma empresa

comercializou-o como Librium e procurou investigar acerca de possíveis alterações

moleculares de forma a aumentar a atividade deste composto, tendo assim surgido o

Diazepam em 1963 (Valium).

Inicialmente, as BZD pareciam ser menos tóxicas e menos propensas a causar

dependência do que os compostos mais antigos, tendo havido melhorias ao nível de

alguns efeitos adversos, nomeadamente a depressão respiratória (diferença relativamente

aos barbitúricos). Tendo sido uma descoberta importante, os profissionais de saúde

começaram a reconhecer e prescrever estes medicamentos para muitos utentes. Em

meados da década de 70, as BZD eram os fármacos mais vendidos de sempre.

Foram necessários 15 anos para se associar os efeitos das BZD ao GABA,

descobrindo assim o seu mecanismo de ação. Na década de 80, falou-se pela primeira vez

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de uma preocupação ainda atual: o abuso e a dependência que estes fármacos podem

causar, tendo sido uma preocupação para toda a comunidade.

Realizaram-se várias conferências com médicos e legisladores, tendo resultado

daí uma legislação especial destinada a regular a prescrição de BZD, fornecendo

informações nas normas e diretrizes sobre como proceder à sua utilização.

Paralelamente a esta questão, os médicos começaram a questionar e levantar

preocupações sobre a prescrição de benzodiazepínicos para idosos, referindo a resposta

terapêutica dos mesmos e a sua maior sensibilidade aos efeitos adversos. Problemas estes

que continuam a ser falados hoje em dia, mas a história das BZD continua a evoluir e

inclui questões e preocupações atuais para além das referidas [45].

2.3. Tipos de Benzodiazepinas

As BZD são a família de psicotrópicos mais prescrita, sobretudo nos países

industrializados. Se forem administradas na dose adequada, não existem diferenças

comprovadas nos diversos fármacos disponíveis no mercado. As diferentes substâncias

ativas distinguem-se pela potência, início e duração de ação, ou seja, falamos no seu

tempo de semivida. As BZD são classificadas de acordo com o seu tempo de semivida,

em 3 categorias:

- Curta duração de ação: acumulam-se muito pouco no organismo e estabilizam

rapidamente, menos de 10h (Midazolam e Triazolam);

- Duração de ação intermédia: aproximadamente 30h (Estazolam, Temazepam,

Oxazepam, Alprazolam, Lorazepam e Flunitrazepam);

- Longa duração de ação: acumulam-se lentamente no organismo,

aproximadamente 100h (Cloridiazepóxido, Diazepam, Clonazepam, Bromazepam,

Clobazam, Quazepam, Prazepam, Nitrazepam, Quetazolam, Halazepam, Flurazepam, N-

desmetildiazepam e Clorazepato).

As BZD podem também ser classificadas de acordo com a sua estrutura química

(Tabela 1, Anexo 3). As 1,4-benzodiazepinas são o grupo mais importante e as mais

utilizadas clinicamente [46].

2.4.Mecanismo de ação

Qualquer pessoa que se esforça para parar de tomar BZD vai reparar que, para

além dos seus efeitos terapêuticos, estes medicamentos exercem outros efeitos profundos

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sobre o corpo. As BZD de facto influenciam direta ou indiretamente quase todas as

funções cerebrais. E através de que mecanismo? [47].

Todos os fármacos benzodiazepínicos atuam aumentando a ação de um químico

natural do cérebro, o ácido gama-aminobutírico (GABA) [47] que é um neurotransmissor

com ação inibitória em todo o sistema nervoso central. Os seus efeitos resultam

principalmente da ligação ao recetor GABAA, uma estrutura macromolecular que forma

um canal iónico permeável ao cloreto. Ao ligar-se ao recetor há um aumento da

condutância da membrana celular ao cloro. Este movimento de cloro para dentro da

célula, aumenta a diferença de potencial entre a face externa e interna da membrana e

reduz a excitabilidade neuronal [48].

As BZD ligam-se a um local próprio, denominado recetor das BZD e aumentam

a afinidade do GABA para o recetor GABAA. [48]. Como o GABA tem um efeito

inibitório geral sobre o cérebro (é o hipnótico e tranquilizante natural do cérebro), as BZD

ao atuarem, aumentam a ação do GABA, ocorrendo uma maior inibição dos neurónios

(Figura 5, Anexo 4) [47].

2.5.Indicações Terapêuticas

As BZD podem ser utilizadas com vários objetivos: perturbações de ansiedade

generalizada, queixas de nervosismo, ansiedade, stress e insónia, perturbações de pânico,

algumas fobias, queixas psicossomáticas, contraturas musculares e epilepsia.

Ao serem depressoras do SNC, as BZD, dependendo da sua atividade variam entre

ansiolíticas e hipnóticas, sendo que as primeiras são menos potentes, permitindo uma ação

ansiolítica sem alterar as condições do sono. Já as hipnóticas são bastante mais potentes.

De forma mais pormenorizada, para entendermos como atuam as BZD exercendo

a sua ação hipnótica, é importante explicar como funciona o ciclo do sono e quais as suas

fases. O sono é um fenómeno de extrema complexidade sendo difícil compreender e

definir. Pode ser interpretado como um comportamento, um estado cerebral e um

processo intrinsecamente inter-relacionados e que se manifestam em muitas escalas

espácio-temporais. O sono é regulado pelo ritmo circadiano, sendo que, enquanto se

dorme, o cérebro alterna periodicamente entre 2 estados marcadamente diferentes: o

chamado “sono de onda lenta (NREM)” e sono em que ocorrem movimentos rápidos dos

olhos (REM) que se distinguem por tipos específicos de atividade cerebral [49].

Quando analisada a atividade cerebral através do registo do eletroencefalograma

(ECG) verifica-se que durante o sono NREM, essa atividade caracteriza-se por oscilações

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corticais lentas (potenciais sinápticos de baixa frequência e elevada amplitude). Em

contraste, durante o sono REM, o cérebro parece estar tão ativo como no estado de alerta

e no registo do EEG são observadas ondas rápidas de elevada frequência e baixa

amplitude. Nas figuras 6 e 7 do anexo 5, estão representados esquematicamente as

alterações observadas durante o sono REM e NREM [49].

As BZD hipnóticas aumentam o tempo total do sono, devido sobretudo ao

aumento da duração do sono NREM e os períodos de sono REM são mais curtos, mas o

número de ciclos durante uma noite é maior [46]. A insónia que acompanha o aumento

da idade conduz ao aumento do consumo de BZD hipnóticas nos idosos [50].

Para o tratamento de insónias muito frequentes, podem-se utilizar-se hipnóticos

por um curto período de tempo. No entanto, não se devem utilizar por um longo período

devido, essencialmente, aos seus efeitos adversos. O temazepam, triazolam e flurazepam

são os fármacos de eleição para tratar estes casos [46].

Nas perturbações de ansiedade, prescrevem-se muitas vezes BZD durante longos

períodos de tempo, o que é desaconselhável e contribui para um uso indevido. As BZD

só devem ser prescritas nas situações agudas e por um curto período de tempo. Utilizam-

se nesta situação, o alprazolam e cloxazolam [46].

Segundo a Norma nº055/2011 da Direção Geral de Saúde, o tratamento da

ansiedade e da insónia patológicas deve ser efetuado de acordo com os esquemas 1 e 2

do Anexo 6 [51]. Segundo a mesma norma, deve-se recorrer ao Instrumento de Auditoria

Clínica para o “Tratamento Sintomático da Ansiedade e Insónia com Benzodiazepinas e

Fármacos Análogos” apresentado na Figura 8 do Anexo 6 [51].

Em relação às restantes indicações terapêuticas, utiliza-se o clonazepam e o

alprazolam na perturbação de pânico, o clonazepam e o halazepam nas fobias, o

lorazepam e o diazepam no controlo dos impulsos em deficiência mental, esquizofrenia

e hiperatividade, o clobazam e diazepam em perturbações psicóticas quando existem

convulsões e também o clonazepam quando há perturbações depressivas associadas a

lesão cerebral [46].

2.6.Benefícios, Riscos e Efeitos Adversos da utilização de Benzodiazepinas

Na última década efetuaram-se novas descobertas relativamente aos riscos e

benefícios das BDZ. Segundo o Psychopharmacology Special Interest Group of the Royal

College of Psychiatrists e a British Association for Psychopharmacology, sempre que se

prescrevem fármacos desta classe, o potencial para dependência e outros efeitos nocivos

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deve ser considerado. Contudo, estas organizações acreditam que os riscos da

dependência associados ao consumo prolongado de BZD podem ser equilibrados com os

benefícios que resultam do seu uso durante curtos períodos de tratamento [52].

Os efeitos benéficos das BZD já referidos anteriormente incluem a redução da

ansiedade, indução e manutenção do sono, relaxamento muscular e tratamento de crises

epiléticas. Estes efeitos dependem da potência e da farmacocinética de cada BZD [52].

Como qualquer classe de fármacos, as BZD têm também alguns efeitos adversos

marcados, sendo os principais sonolência, tonturas, sedação e ataxia [53]. Quando

combinadas com o álcool, o efeito das BDZ é potenciado, podendo ocorrer uma overdose.

Contudo, em toma isolada, apresentam baixa toxicidade e mesmo em doses elevadas não

são eficazes nos casos de serem usadas nas tentativas de suicídio [54].

Para além dos efeitos adversos mais marcados, as BZD têm um efeito secundário

na condução rodoviária, dependendo mais uma vez do tipo da BZD, do tempo decorrido

após a ingestão e da dosagem administrada. Existem ainda, quedas com consequentes

sequelas físicas quando usadas cronicamente, especialmente em idosos [55].

Diversos relatos demonstram que as BZD podem provocar agressividade e

irritabilidade em alguns indivíduos, no caso das BZD de ação muito curta, podendo tratar-

se de um sintoma associado à síndrome de abstinência. As BZD podem induzir amnésia

retrógrada e diminuir a capacidade de aprendizagem [46].

Além disso, estes fármacos podem causar uma dependência e perder eficácia ao

longo do tratamento, surgindo fenómenos de tolerância.

3. Consumo de Benzodiazepinas

Portugal é um dos países com maior consumo de ansiolíticos, hipnóticos e

sedativos, maioritariamente benzodiazepinas e análogos.

O INFARMED realizou um estudo estatístico entre 2015 e 2016 relativamente ao

consumo de BZD e análogos em Portugal, cujos resultados foram comparados com o

consumo reportado noutros países.

De acordo com a leitura do gráfico da Figura 9 presente no Anexo 7, Portugal é o

país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com

maior consumo reportado de ansiolíticos e hipnóticos e sedativos, sendo que a proporção

utilizada de ansiolíticos é muito mais elevada. Por outro lado, países como a Alemanha,

Reino Unido, Áustria e Holanda são dos que consomem menos BZD e seus análogos.

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Este estudo, numa vertente mais pormenorizada, compara Portugal com mais três

países: Dinamarca, Finlândia e Holanda. Em Portugal consomem-se essencialmente BZD

ansiolíticas e muito pouco análogos, como o Zolpidem (Figura 10, Anexo 7). Na

Finlândia e Dinamarca, os análogos das BZD (Zolpidem e Zopiclone) estão no top 3 das

substâncias mais utilizadas. Na Figura 11 do Anexo 7, encontram-se as BZD mais

utilizadas nos quatro países em estudo. Destaque para o facto de em Portugal se utilizarem

muitas BZD de ação intermédia (Alprazolam e Lorazepam).

Na caracterização do consumo em função do género, verifica-se que o consumo é

superior no sexo feminino (70%), na faixa etária entre os 55 e os 79 anos (Figura 12,

Anexo 7).

Apesar de útil, este estudo apresenta algumas limitações, nomeadamente a

fórmula utilizada para cálculo da utilização que é, na maior parte dos casos, uma

aproximação da dose diária consumida e o facto dos os dados obtidos se referirem à

prescrição e dispensa de BZD o que não garante que sejam consumidos [56].

O facto de Portugal apresentar níveis bastante elevados de utilização de BZD foi

realçado no relatório do International Narcotic Board, que aconselha Portugal a analisar

as prescrições de BZD de forma mais coerente e segura [57].

3.1.Consumo de Benzodiazepinas na Farmácia Vitória

Tendo em conta o consumo mundial e nacional de BZD, decidi avaliar o perfil de

consumo de BZD na Farmácia Vitória para perceber se a realidade deste meio é coerente

com o panorama nacional.

Durante uma semana, efetuei a contagem de BZD vendidas (Tabela 2, Anexo 7).

Na Tabela 2 é possível verificar que foram vendidas muitas mais BZD de ação intermédia

e longa (Alprazolam, Diazepam e Lorazepam) do que BZD de ação curta. Isto indica que

na Farmácia Vitória vende-se muito mais ansiolíticos do que hipnóticos, mas quando se

trata de problemas relacionados com insónias, os utentes recorrem mais facilmente ao

Zolpidem, um análogo benzodiazepínico.

Concluindo, a Farmácia Vitória segue a tendência de Portugal, em que são mais

consumidas as BZD de ação intermédia (Alprazolam e Lorazepam). No entanto, verifica-

se o oposto em relação à utilização do Zolpidem.

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4. Dependência vs. Abstinência de Benzodiazepinas

Globalmente, os benzodiazepínicos continuam a ser um dos grupos de

medicamentos mais prescritos, e, como referido na introdução deste tema, não é de

estranhar que a dependência destes fármacos seja comum. Esta dependência é

frequentemente associada a síndromes de abstinência e ao desejo que leva as pessoas a

retomarem o seu uso. Por essa razão, torna-se necessário procurar medidas

farmacológicas eficazes para o tratamento desta dependência. No entanto, antes de entrar

nesse capítulo, é necessário clarificar quais são afinal as doses e o tempo correto para

considerar que uma pessoa é dependente de BZD [43].

O tratamento com BZD deve ser iniciado com a dose mínima eficaz e a dose

máxima não deverá ser ultrapassada de acordo com o RCM. Segundo a EMA – Agência

Europeia do Medicamento, o tratamento nunca deve ultrapassar as 8-12 semanas, caso se

trate de ansiedade ou as 4 semanas, caso se trate de uma insónia. Quando o período de

tratamento termina, o paciente deve ser reavaliado, com o objetivo de perceber se

necessita de manter o tratamento. O problema reside no facto de muitas vezes, o número

de prescrições ser superior ao devido, mesmo em situações em que o diagnostico não está

correto. Para além disso, na maior parte das vezes, a duração do tratamento é superior ao

que deveria ser [58].

De facto, convém “dar mais importância” à síndrome de abstinência do que

propriamente à dependência. Isto porque o perigo de abuso é relativamente baixo para

muitas BZD, embora o seu uso indiscriminado faça com que um terço das pessoas que

tomam BZD por mais de 6 meses desenvolva dependência [59].

O mecanismo envolvido na dependência do uso continuado de BZD conduz a uma

down regulation dos recetores das BZD e a um aumento da afinidade das β-carbolinas

(agonistas inversos endógenos), produzindo uma atividade inversa sobre os recetores das

BZD. Para além disso, ocorrem também alterações nos níveis de monoaminas cerebrais

(dopamina e serotonina) a nível mesolímbico e mesocortical [59].

Atualmente, tem sido observado um aumento da dependência física e psicológica.

Os sintomas graves de abstinência incluem convulsões, embora seja um sintoma raro,

sendo que o alprazolam é uma exceção, produzindo sintomas muito graves se for retirado

bruscamente. De forma mais moderada, quando se procede à descontinuação do

tratamento, especialmente quando este aconteceu por largos períodos de tempo, podem

ocorrer uma série de sintomas que incluem hiperexcitabilidade, ansiedade, confusão

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mental e sonambulismo. Podem ainda existir sintomas a nível gastrointestinal,

cardiovascular, neurológico e outros, como hiperventilação, incontinência urinária, perda

da líbido e enrijecimento facial [59].

Sendo este um problema recorrente a nível mundial, é complicado enunciar

estratégias para diminuir a dependência de BZD, mas atualmente existem já alguns

fármacos em estudo, como é o caso da Ramelteona, que podem vir a constituir uma

alternativa às BZD para o tratamento da insónia [60]. Têm surgido também outras

alternativas ainda mais recentes com estudos já comprovados em animais, como por

exemplo, a introdução de um fármaco semelhante ao Valium, mas sem os seus efeitos

colaterais associados [61].

5. Qual o papel do farmacêutico nesta temática?

Segundo uma notícia do Jornal Público de junho do presente ano, a “Europa está

a passar de importadora a fabricante de drogas ilícitas”, tendo sido sugerido que foi

“apreendido meio milhão de comprimidos com novas benzodiazepinas”. A verdade é que,

atualmente, estão a ser monitorizadas na Europa uma série de “novas” BZD, que adotam,

muitas vezes falsamente, o nome do diazepam e do alprazolam [62].

Esta é uma preocupação atual e serve para perceber a extrema importância que os

profissionais de saúde assumem neste aspeto. O farmacêutico deve esclarecer todas as

dúvidas dos utentes e, acima de tudo, juntamente com o médico prescritor, alertar para os

riscos do consumo exacerbado de BZD, nunca ultrapassando o prazo máximo de

tratamento nem a posologia adequada. Assim, será mais fácil controlar os riscos

associados à toma destes fármacos e também permite estabelecer uma relação de

proximidade e de coerência com o médico, até porque quando dois profissionais de saúde

aconselham coisas diferentes ao utente, é este que sai prejudicado. Pensando no bem-estar

e na saúde individual e geral dos utentes, o aconselhamento farmacêutico deve ser

pautado pela clareza e simplicidade. E não esquecer as medidas não farmacológicas que

pode e deve aconselhar. Desde uma simples corrida à realização de rastreios, passando

pelas medidas de higiene do sono, abordagens com grande importância para que o utente

se possa sentir melhor consigo mesmo.

Durante o meu estágio, sempre considerei estes princípios. Reconheço que tal

apenas foi possível graças aos conhecimentos e competências que adquiri durante estes 6

meses.

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6. Projeto desenvolvido

Considerando que os utentes da Farmácia Vitória recorrem muitas vezes à toma

de BZD, maioritariamente para perturbações de ansiedade, decidi debruçar-me sobre este

tema por me ter apercebido da dependência “absurda” de muitos utentes.

Tal como referido anteriormente, registei durante uma semana todas as vendas de

fármacos benzodiazepínicos e não benzodiazepínicos com ação hipnótica, nomeadamente

as vendas de Zolpidem.

Para contextualizar, o Zolpidem é um hipnótico com semelhanças às BZD. Está

indicado no tratamento de curto prazo da insónia. Apenas deve ser prescrito em casos de

insónia grave, debilitante ou se causar stress extremo [63].

Deste modo, elaborei um panfleto (Anexo 8), que imprimi e distribui pelos utentes

da Farmácia Vitória alertando para os riscos do consumo exagerado de BZD. Neste

projeto, existem também algumas informações relativamente à própria definição de BZD

e a alguns dados estatísticos sobre o consumo das mesmas. Esta classe de fármacos, tal

como já referi anteriormente, não tem efeitos adversos marcados se forem utilizados

corretamente. Os profissionais de saúde referem que “os seus benefícios, por terem uma

larga margem de segurança e desde que usadas adequadamente, superam muito os seus

efeitos adversos” [64].

7. Conclusão

De uma forma geral, considero que este projeto teve um impacto positivo nos

utentes. Algumas pessoas questionaram-se sobre o panfleto, muitas vezes por não terem

a informação necessária sobre o tema. “O que é uma benzodiazepina?”, “Isto é assim tão

perigoso?”, “Tomo isto há 4 anos”, foram questões e afirmações, entre outras, que

causaram impacto na forma de ver e lidar com este tema.

A própria palavra “benzodiazepina” é estranha na cabeça das pessoas, o que acaba

por ser “normal”. Na sociedade em que estamos inseridos, o segredo, mais uma vez, está

em adaptarmo-nos às situações, ao grau social de cada utente e aos conhecimentos que

este possui.

Foi um desafio fazer entender, a pessoas diferentes, o mesmo conceito e esse foi

talvez o meu maior projeto na Farmácia Vitória: o de conhecer, falar, cuidar de pessoas.

Relativamente a este tema, há ainda muitas questões, muitas dúvidas e muita

ignorância. Cada pequeno passo que se dê no sentido de contribuir para diminuir a

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dependência de BZD é mais um degrau que se sobe no combate a esta problemática. Por

isso, sinto-me realizado e feliz porque sei que consegui dar o meu parecer e mudar alguma

coisa durante este tempo. De acordo com um artigo de opinião publicado por Vasco

Maria, professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa “É preciso mudar

mentalidades, dar mais informação e alertar que as benzodiazepinas não tratam nenhuma

doença. Só controlam sintomas e, ao fim de algum tempo, nem isso fazem”. “Do lado dos

doentes, o relato mais impressionante foi muitos não saberem que os medicamentos

podiam viciar porque nunca tinham sido informados disso. Ficou-me a frase de um doente

que achava que eram como os medicamentos do coração, para tomar para sempre” [65].

É neste contexto que temos que incidir futuramente. Tornou-se uma preocupação

primária alertar as pessoas para este tipo de situações. Tenho a certeza que, com o trabalho

dedicado a este tema, no meu futuro profissional sempre estarei atento. Conseguir

recuperar “vidas”, deixar um sorriso na cara de alguém é aquilo que me move nesta

profissão e será o meu lema enquanto futuro farmacêutico.

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

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20. Infarmed: Gabinete Jurídico e Contencioso (2009). Decreto-Lei n.o 145/2009, de 17 de junho -

Dispositivos Médicos. Legislação Farmacêutica Compilada.

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de oficina.

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

42

24. Jornal Oficial da União Europeia (2016). REGULAMENTO (UE) 2016/679 DO PARLAMENTO

EUROPEU E DO CONSELHO de 27 de abril de 2016 relativo à proteção das pessoas singulares

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Relatório de Estágio Profissionalizante – João Silva

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51. Direção Geral de Saúde: Norma nº055/2011 " Tratamento Sintomático da Ansiedade e Insónia

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54. Auchewski, L, et al (20049. Evaluation of the medical orientation for the benzodiazepine side

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55. Coutinho, D; Vieira, DN; Teixeira, HM (2011). "Condução sob influência de benzodiazepinas e

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58. EMA - Benzodiazepines as Anxiolytics or Hypnotics/ III/3653/91. Last Rev 1994. Disponível em

http://www.ema.europa.eu/docs/en_GB/document_library/Scientific_guideline/2009/09/WC500

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59. Dra. Mabel Valsecia e Dr. Luis Malgor. "Farmacologia De Las Benzodiazepinas y de la

Transmissión Gabaergica", capitulo 2.

60. Kuriyama, A; Honda, M; Hayashino, Y (2014). "Ramelteon for the treatment of insomnia in

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61. Cheng, T, et al (2018). "Valium without dependence? Individual GABAA receptor subtype

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62. Jornal Público: "Europa está a passar de importadora a fabricante de drogas ilícitas". Acessível

em: https://www.publico.pt [acedido em 21 de agosto de 2018]

63. Infarmed: Resumo das Características do Medicamento "Zolpidem Teva 10 mg comprimidos

revestidos por película". Acessível em: https://www.infarmed.pt [acedido em 20 de agosto de

2018].

64. Magg: "Os riscos das benzodiazepinas ultrapassam os benefícios?". Acessível em: https://magg.pt

[aceiddo em 17 de agosto de 2018].

65. Jornal i: "A receita para combater o vício dos ansiolíticos". Acessível em: https://ionline.sapo.pt

[acedido em 17 de agosto de 2018].

66. AlprazolamFFUP: Alprazolam - Mecanismo de Ação. Acessível em:

https://sites.google.com/site/alprazolamffup/mecanismo-de-accao-1 [acedido a 20 de agosto de

2018].

67. Damásio, M (2011). “Farmacologia das Perturbações do Sono: Insónia”, Dissertação orientada

por Prof. Dr. Bruno Sepodes.

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Figura 1 - Vista exterior da Farmácia Vitória.

Figura 2 - Vista interior da Farmácia Vitória.

Anexos

Anexo 1 – Instalações da Farmácia Vitória

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Figura 3 - Póster "Verão, Sol, Calor...O que diz a sua pele?" exposto na

Farmácia Vitória.

Anexo 2 – Proteção Solar e Cancro da Pele

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Figura 4 - Projeto 1 sobre Proteção Solar e Cancro da Pele. Neste póster estão explicados

cuidados básicos a ter aquando da exposição solar e o aconselhamento no que toca à

possibilidade de adquirir cancro da pele.

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Anexo 3 – Tipos de Benzodiazepinas

Tabela 1 – Classificação das benzodiazepinas de acordo com a sua estrutura

química. Retirado de [46].

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Figura 5 - Mecanismo de ação das benzodiazepinas. O recetor das benzodiazepinas, situado na

estrutura de um dos recetores do GABA designado por GABAa, está bem caracterizado e sabe-

se que as benzodiazepinas modulam a ação do próprio GABA, promovendo a hiperpolarização.

Retirado de [66].

Anexo 4 – Mecanismo de ação das benzodiazepinas

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Figura 6- Representação esquemática do sono REM. Este é o primeiro ponto de regulação

do ciclo do sono, em que a diminuição da atividade das células colinérgicas leva a que as

células gabaérgicas de VLPO deixem de estimular o sistema de hipocretinas, dando início

ao sono REM. Retirado de [67].

Figura 7 - Representação esquemática do sono NREM. Este é o segundo ponto de

regulação do ciclo do sono onde a diminuição da atividade colinérgica do proencéfalo

basal resulta na acumulação de adenosina que em conjunto com NSQ inicia o sono NREM.

Retirado de [67].

Anexo 5 – Fases do sono: REM e NREM

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Anexo 6 – Tratamento da Ansiedade e da Insónia

patológicas

Esquema 1 – Algoritmo clínico do tratamento e avaliação da ansiedade patológica, segundo

a Direção Geral de Saúde. Retirado de [51].

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Esquema 2 – Algoritmo clínico do tratamento e avaliação da insónia patológica, segundo a

Direção Geral de Saúde. Retirado de [51].

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Figura 8 - Instrumento de Auditoria Clínica da Norma "Tratamento Sintomático da Ansiedade e

Insónia com Benzodiazepinas e Fármacos Análogos, segundo a Direção Geral de Saúde.

Retirado de [51].

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Figura 9 - Utilização de ansiolíticos e hipnóticos e sedativos nos países europeus da

OCDE. Portugal é o país com maior consumo de ansiolíticos. Retirado de [56].

Figura 10 - Comparação do consumo de BZD e análogos em Portugal, Dinamarca, Finlândia

e Holanda. Portugal utiliza muitas BZD ansiolítcas e poucos análogos das mesmas, ao

contrário dos restantes países. Retirado de [56]

Anexo 7 – Dados estatísticos sobre o Consumo de

Benzodiazepinas

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Figura 12 - Distribuição por género e faixa etária dos utentes, em Portugal, a quem foi dispensada

pelo menos uma BZD em 2016. A proporção da população que consome BZD aumenta com a

idade. A faixa etária mais prevalente é a dos 55-79 anos e há mais mulheres do que homens a

consumir este tipo de fármacos. Retirado de [56].

Figura 11 - As 3 substâncias ativas mais utilizadas nos quatro países referidos

anteriormente. Em Portugal consomem-se muitas BZD de ação intermédia. Já na

Dinamarca e na Finlândia consomem-se muitos análogos das BZD, como o Zopiclone e

o Zolpidem. Retirado de [56].

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Tabela 2 – Consumo de Benzodiazepinas na Farmácia Vitória de 9 a 14 de julho de 2018.

Notas:

1. Apenas estão indicadas as substâncias ativas das diferentes BZD,

independentemente da dosagem e da posologia;

2. O género não foi tido em conta. No entanto, constatei que eram vendidas mais

BZD a mulheres do que a homens;

3. Todas os outros fármacos benzodiazepínicos e seus análogos que não estão

indicados na tabela não registarem vendas neste período.

Lorazepam Escitalopram Alprazolam Diazepam Bromazepam Mexazolam Clonazepam Zolpidem (não

benzodiazepínico)

9 de

julho

2 1 2 3 0 3 1 1

10 de

julho

5 0 2 1 2 0 2 2

11 de

julho

6 3 5 2 1 0 0 7

12 de

julho

3 1 3 2 0 0 2 0

13 de

julho

8 0 4 0 1 0 0 0

14 de

julho

2 0 2 1 0 1 0 3

TOTAL 26 5 18 9 4 4 5 13

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Figura 13 - Flyer "Descansar, Relaxar...Só com os seus CALMANTES!!!???" - parte frontal

Anexo 8 – Projeto 2

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Figura 14 - Flyer "Descansar, Relaxar...Só com os seus CALMANTES!!!???" - parte do verso

Efeitos Adversos e Sobredosagem:

• Perda da coordenação motora; • Fala arrastada; • Dificuldade em andar; • Perda de memória e défice de

atenção; • Comportamento inapropriado; • Labilidade emocional; • COMA! • MORTE! Fraturas por queda !

Acidentes de viaçã o !

Visão

Equilíbrio e Marcha

Tempo de reação

Sonolênci a

“ Portugal é um dos países com maior consumo de ansiolíticos, hipnóticos e sedativos”, sendo que “este grupo inclui

maioritariamente benzodiazepinas .”

Diga NÃO à dependência de Benzodiazepinas.

E seja feliz !

Os benefícios superam os riscos?

“ Os seus benefícios, por terem uma larga margem de segurança e desde que usadas q.b., superam muito os seus efeitos adversos .”

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Figura 15 - Panfletos distribuídos na Farmácia Vitória para os seus utentes.

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