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Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de trombos e êmbolos - Pré-disposição a trombose e embolia Predisposing factors and laboratory evaluation in the formation of thrombi and emboli - Predisposition to thrombosis and embolism Audrey Freitas Pereira¹, Carolina Ziegler Ribeiro², Thaylise Vey Parodi³ 1,2,3 Departamento de Ciências da Saúde, Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões URI/Santiago, RS, 97700-000, Brasil 3* Autor correspondente: Thaylise Vey Parodi, e-mail: [email protected] RESUMO: Este trabalho abordou os fatores fisiológicos e patológicos predisponentes a formação de trombos e êmbolos. Além disso, foi relatada a importância de se fazer avaliação laboratorial, especialmente os testes ou exames relacionados com a coagulação sanguínea, como fator de profilaxia da trombose venosa profunda (TVP) e da embolia pulmonar (EP), que são causas de óbitos de pacientes que se submeteram a cirurgias. O presente estudo consiste em um levantamento bibliográfico e técnico de artigos científicos e outras publicações relevantes sobre a propensão da formação de trombos e êmbolos, e teve por finalidade a reunião e sintetização de resultados já anteriormente pesquisados e evidenciados sobre o tema em questão. A pesquisa contribuirá com informações preventivas e esclarecedoras ao paciente pré-operatório, que está de certa forma, exposto a riscos e propenso a desenvolver alguma dessas alterações sanguíneas. Sabendo que a TVP e a EP são causadoras de doenças que são letais ou incapacitantes, é de suma importância que se aprofundem os estudos para prevenção e diagnóstico. Palavras-chave: Pré-disposição à trombose, embolia pulmonar, Avaliação laboratorial, Exames pré-operatórios.

Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

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Page 1: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de trombos e

êmbolos - Pré-disposição a trombose e embolia

Predisposing factors and laboratory evaluation in the formation of thrombi and

emboli - Predisposition to thrombosis and embolism

Audrey Freitas Pereira¹, Carolina Ziegler Ribeiro², Thaylise Vey Parodi³

1,2,3Departamento de Ciências da Saúde, Laboratório de Análises Clínicas e

Toxicológicas, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões –

URI/Santiago, RS, 97700-000, Brasil

3*Autor correspondente: Thaylise Vey Parodi, e-mail: [email protected]

RESUMO: Este trabalho abordou os fatores fisiológicos e patológicos

predisponentes a formação de trombos e êmbolos. Além disso, foi relatada a

importância de se fazer avaliação laboratorial, especialmente os testes ou exames

relacionados com a coagulação sanguínea, como fator de profilaxia da trombose

venosa profunda (TVP) e da embolia pulmonar (EP), que são causas de óbitos de

pacientes que se submeteram a cirurgias. O presente estudo consiste em um

levantamento bibliográfico e técnico de artigos científicos e outras publicações

relevantes sobre a propensão da formação de trombos e êmbolos, e teve por

finalidade a reunião e sintetização de resultados já anteriormente pesquisados e

evidenciados sobre o tema em questão. A pesquisa contribuirá com informações

preventivas e esclarecedoras ao paciente pré-operatório, que está de certa forma,

exposto a riscos e propenso a desenvolver alguma dessas alterações sanguíneas.

Sabendo que a TVP e a EP são causadoras de doenças que são letais ou

incapacitantes, é de suma importância que se aprofundem os estudos para

prevenção e diagnóstico.

Palavras-chave: Pré-disposição à trombose, embolia pulmonar, Avaliação

laboratorial, Exames pré-operatórios.

Page 2: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

ABSTRACT: This paper addresses the physiological and pathological factors

predisposing the formation of thrombi and emboli. Furthermore, the importance of

making laboratory tests, particularly the tests or tests related to blood clotting was

reported as prophylaxis factor for deep vein thrombosis (DVT) and pulmonary

embolism (PE), which are patients died of causes who have undergone surgery. This

study consists of a literature and technical papers and other relevant publications on

the propensity of the formation of thrombi and emboli, and aimed to the meeting and

synthesizing results previously researched and evidenced on the subject in question.

The research will contribute to preventive and enlightening information to

preoperative patient, which is somewhat exposed to risks and prone to develop some

of these blood disorders. Knowing that DVT and PE are causing diseases that are

lethal or incapacitating, is of utmost importance to deepen the studies for prevention

and diagnosis

Keywords: Predisposition to thrombosis, pulmonary embolism, laboratory

evaluation, preoperative tests

INTRODUÇÃO

O sangue constitui o principal sistema de transporte do corpo, é um líquido

complexo no qual estão suspensos diversos tipos de células, portanto, as funções

do sangue são dependentes do sistema circulatório, que cria a energia necessária

para que o sangue circule e seja distribuído por todo o organismo (Bozzini, 2004).

Segundo Kolb, et al,1964:

“Dentre as funções do sangue, podemos destacar: a) função respiratória; b) função de nutrição; c)

função de excreção; d) função de defesa; e) função de regulação e equilíbrio hídrico; f) função de

regulação do valor do pH; g) função de regulação da pressão osmótica; h) função de transporte

hormonal; i) função de distribuição do calor; função da pressão sanguínea”

O sangue circula no organismo no interior de vasos. As artérias são os vasos

que transportam sangue arterial, rico em oxigênio, do coração aos tecidos

(circulação arterial, centrífuga). As veias transportam o sangue venoso (rico em gás

carbônico), de volta ao coração. Os capilares são vasos de calibre extremamente

fino e são o local onde ocorre a troca gasosa entre oxigênio e gás carbônico. (Garcia

2005, Navarro 2005).

Page 3: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

As alterações circulatórias estão relacionadas com distúrbios que acometem a

irrigação sangüínea e o equilíbrio hídrico. Essas alterações são comuns na clínica

médica, podendo muitas vezes ser causa de morte e quando há rompimento desse

equilíbrio, surgem alterações, que podem ser agrupadas dentro dos distúrbios

circulatórios. Dentre as alterações por obstrução intravascular encontram-se a

embolia, a trombose, a isquemia e o infarto (Guidugli-Neto, 1997).

Trombo é todo coágulo sanguíneo que se forma dentro do sistema

circulatório, e embolia o desprendimento desse trombo na corrente sanguínea e

consequente oclusão parcial ou total de uma veia ou artéria. O local onde a maioria

dos êmbolos se forma são as veias mais profundas, geralmente dos membros

inferiores, designando assim o nome de Trombose Venosa Profunda (TVP)

(Carameli et al, 2004).

Pela evidência dos fatos trazidos em literatura, a tromboembolia e a

consequente embolia pulmonar (EP) são de elevada incidência, levando em conta

que se trata de doenças preveníveis, faz-se necessário mais estudos para que

sejam feitos exames auxiliares na profilaxia e diagnóstico dessa patologia que é

causa de morte comum em pacientes submetidos a cirurgias e imobilização por

tempo prolongado (Carameli et al, 2004).

A TVP e a EP são complicações que atingem milhares de pessoas a cada

ano. Contudo, estas podem ser evitadas tomando-se algumas precauções, ou

profilaxias como as terapias anticoagulantes, usadas principalmente no pré e pós-

operatório, em baixas doses, como a Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM) ou

Heparina Não Fracionada (HNF). Estas terapias podem ser utilizadas desde que não

haja nenhuma contraindicação ao seu uso como hipersensibilidade à

Heparina, hemofilia e trombocitopenia (Figueiredo et al, 2008).

A terapia mecânica também é uma eficiente forma de prevenção. Estudos

apontam que o uso de Compressão Pneumática Intermitente (CPI), efetiva a

circulação venosa nos membros inferiores melhorando a eficiência do fluxo venoso,

principalmente quando aplicados na perna ou na coxa (Figueiredo et al 2008).

A avaliação laboratorial pré-operatória é realizada por meio de exames como

hemograma completo, tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastia parcial

ativado (TTPa), testes do produto de degradação do fibrinogênio, além de exames

como o eletrocardiograma e ecocardiograma. Outros testes mais específicos podem

ser utilizados como tomografia e ressonância magnética e em alguns casos a

Page 4: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

arteriografia dos pulmões que é considerado o método de maior precisão para

auxiliar neste tipo de diagnóstico (Wallach, 2011).

A presente revisão integrativa tem por objetivo identificar fatores envolvidos

na propensão da formação de trombos e êmbolos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização deste trabalho de avaliação sobre trombose e embolia

foram realizadas buscas sobre o assunto utilizando as seguintes palavras chave:

trombos, trombose, trombocitose, êmbolo, embolia pulmonar, fatores predisponentes

a formação de trombos e êmbolos, profilaxia, e análise laboratorial. As buscas foram

realizadas nos seguintes bancos de dados: Scielo (www.scielo.com.br), Google

acadêmico (https://scholar.google.com.br/) e Periódicos Capes

(www.periodicoscapes.com). A opção metodológica desta pesquisa consiste na

revisão integrativa da literatura, que é um método de pesquisa bastante eficiente.

O tema tratado nesta pesquisa refere-se aos fatores predisponentes de

formação de trombos e êmbolos e avaliação laboratorial contribuindo na profilaxia da

tromboembolia, utilizando os descritores tromboembolia e profilaxia, cuja busca

bibliográfica foi realizada no Acervo da biblioteca da Universidade Regional

Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus de Santiago RS e na base de

dados da internet em sites confiáveis de cunho científico.

A análise dos dados partiu da análise de conteúdo do tipo temática, que se

divide em três etapas: pré-análise; exploração do material e interpretação dos

resultados (Minayo, 2010).

Os critérios de inclusão utilizados para a seleção das produções foram:

- Artigos relacionados com os descritores e publicados em língua portuguesa e

inglesa;

- Publicações que apresentaram definição de termos e formas de conduta que

contribuíram para a pesquisa.

- Produções apresentadas na íntegra e completas contribuindo significativamente

com as informações buscadas.

- Após leitura prévia dos artigos e publicações foram descartados aqueles que não

foram relevantes para a pesquisa e estudados na íntegra os que contribuíram com o

presente estudo.

Page 5: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

- Usou-se como critério de exclusão material que não fosse de cunho científico ou os

que não tivessem fonte referencial fidedigna ou fonte não detectada na busca.

Trombose e embolia

Trombose é a denominação dada a um distúrbio vascular causado pela

formação de um trombo, ou seja, um coágulo de sangue no interior de um vaso

sanguíneo comprometendo o fluxo de sangue (Carameli et al, 2004).

Foi Virchow (1856) que introduziu o termo “trombo” e Hess (2002) ao se

referir a isso reafirma que:

“A fisiopatologia da trombose venosa envolve a ruptura do endotélio, deposição de plaquetas

e formação de um plug hemostático. Em 1856, Virchow introduziu o termo “trombose” e os três

mecanismos potenciais responsáveis por esse quadro (Tríade de Virchow): 1 – Estase, 2 – Lesão

endotelial, 3 – Hipercoagulabilidade”

Vários fatores podem ser predisponentes a formação de um trombo, como a

diminuição do fluxo sanguíneo, aumento da hemoconcentração devido à

desidratação ou hemorragias intensas, pacientes hospitalizados ou restritos muitos

dias ao leito, paraplégicos ou tetraplégicos, etc. (Carameli et al, 2004).

Outros fatores que aumentam a probabilidade de ocorrências de trombos são:

pessoas com predisposição genética ao desenvolvimento de veias varicosas, com

obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, distúrbios de coagulação ou

indivíduos com antecedência tromboembólica e idade avançada, geralmente acima

dos quarenta anos (aumentando gradativamente o risco). Existem dois tipos distintos

de trombose, dependendo do local onde se forma o coágulo, a trombose venosa que

é a obstrução de uma veia e a trombose arterial que é a obstrução de uma artéria. A

trombose venosa profunda (TVP) que ocorre em veias profundas localizadas nos

músculos da perna e da pelve é o tipo mais comum de trombose venosa (Carameli

et al, 2004).

A embolia ocorre como consequência de um trombo que se desprende e se

desloca até uma veia ou artéria causando sua obstrução. O exemplo mais comum é

a embolia pulmonar que consiste no entupimento ou obstrução da artéria pulmonar

em decorrência de um trombo que se desprende do sistema venoso profundo e

atravessa as cavidades direitas do coração obstruindo a artéria pulmonar ou um de

seus ramos (Carameli et al, 2004).

Segundo Engelhorn et al (2002):

Page 6: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

“A embolia pulmonar é a principal causa de óbitos evitáveis em leitos hospitalares. Apesar de

sua incidência ter sofrido um pequeno decréscimo em décadas recentes, a embolia pulmonar e a

trombose venosa profunda ainda constituem um importante problema de saúde pública,

especialmente na senilidade”

Observam-se alterações pulmonares e hemodinâmicas quando um êmbolo se

aloja em um ou mais ramos da artéria pulmonar. As consequências hemodinâmicas

são aumento da pressão proximal ao trombo e diminuição do fluxo sanguíneo distal

do trombo (Marques, 1998). Os locais que também podem ser fontes de êmbolos

são veias superficiais, renais, uterinas, prostáticas e até mesmo das câmaras

cardíacas direitas (Marques, 1998).

Ainda não se compreende totalmente e com exatidão o mecanismo que inicia

o processo de trombose venosa no que diz respeito à patogênese. Ocorre

inicialmente uma agregação de plaquetas ao redor de uma válvula venosa, o que

leva à estimulação dos fatores de coagulação e à formação do trombo vermelho que

cresce através da deposição de novas camadas de plaquetas e fibrina. A resolução

se faz por fibrinólise e/ou organização. A fibrinólise é rápida e processa a dissolução

do trombo, mas se o processamento for incompleto a resolução é concluída através

da organização, que incorpora o trombo residual à parede do vaso com pequena

área de tecido fibrótico e posterior reendotelização. (Marques, 1998).

Cascata de coagulação

O processo de coagulação é descrito como uma série de reações em que o

produto derivado de uma reação fornece a protease essencial para a reação

subsequente, dessa observação derivou o conceito de cascata da coagulação

(Fischbach, 2009).

A cascata de coagulação é um mecanismo fisiológico de controle da perda

sanguínea por meio do equilíbrio entre componentes endoteliais, plaquetas e

proteínas plasmáticas (Piccinato et al, 2010).

Como descrito por Virchow, a estase venosa, o dano vascular e a

hipercoagulabilidade são fatores trombogênicos. Em algumas situações, essa

ativação da cascata de coagulação ocorre de forma inadequada e descontrolada,

como consequência ocorrem eventos trombóticos, arteriais e venosos.

Mecanismo da coagulação sanguínea

Page 7: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

O mecanismo de formação de coágulos (coagulação) pode ser resumido na

cascata da coagulação sanguínea pela ação da via intrínseca e/ou extrínseca

resultando na formação da trombina que age sobre o fibrinogênio circulante

formando a rede de fibrina (Piccinato et al, 2010).

A sequência de reações enzimáticas que se iniciam quando o sangue entra

em contato com a superfície lesada refere-se ao mecanismo intrínseco. Já a

sequência de reações que ocorrem quando a lesão de um vaso sanguíneo resulta

na liberação de extratos teciduais refere-se ao mecanismo extrínseco. (Swenson,

1996). Estas duas vias convergem para a ativação do fator X na via comum, o que

leva, à formação de fibrina (Banks, 1991).

Segundo Guyton & Hall (2002) os fatores de coagulação podem ser

agrupados da seguinte maneira: a) Fatores I (fibrinogênio), V(proacelerina), VIII(fator

anti-hemofílico, globulina anti-hemofílica) e XIII (estabilizante da fibrina), fatores que

se modificam durante a coagulação; b) fatores II(protrombina), VII (proconvertina), IX

(componente tromboplastínico do plasma) e X(fator Stuart-Prower), são fatores do

grupo da protrombina; c) fatores XI(antecedente tromboplastínico do plasma, fator

anti-hemofílico C) e XII (fator Hageman, fator vidro), são fatores do grupo de contato.

Os fatores de coagulação desempenham papéis importantes tanto na via

extrínseca quanto na via intrínseca. A maioria desses fatores consiste em formas

inativas de enzimas proteolíticas que quando ativadas provocam reações

sucessivas, em cascata, do processo de coagulação (Guyton & Hall, 2002).

Segundo Banks (1991):

“A via extrínseca é o meio pelo qual a substância ativadora da protrombina é gerada em resposta ao

contato do sangue com os tecidos extravasculares. O fator III, o cálcio e fator VII formam um complexo que age

enzimaticamente na presença de fosfolipídios para converter o fator X para fator Xa”

A via extrínseca ocorre quando a ativação do fator VII, pelo fator tecidual,

produz a ativação do fator X (Bozzini, 2004).

O tecido traumatizado libera um complexo de vários fatores, denominado fator

tecidual ou tromboplastina tecidual (Guyton & Hall, 2002).

A via intrínseca inicia-se pelo contato do sangue com uma superfície diferente

do endotélio normal e das células sanguíneas (Bozzini, 2004).

Na via intrínseca a sequência de reações enzimáticas produz o coágulo

sanguíneo nas diferentes etapas: (a) fase de contato; (b) a ativação do fator X; (c) a

formação de trombina; (d) a formação de fibrina insolúvel (Swenson, 1996).

Page 8: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

A via comum se tem início na ativação do fator X, pela combinação de uma

variedade de substâncias, fator III, cálcio, fator VII e fosfolipídios teciduais na via

extrínseca e, da mesma maneira, o FP3, fator IX e o fator VII na via intrínseca

(Banks, 1991).

O fator X ativado combina-se com os fosfolipídios liberados pelas plaquetas

ou com os fosfolipídios teciduais, bem como fator V para formar o complexo

denominado ativador de protrombina (Guyton & Hall, 2002).

A substância ativadora de protrombina inicia a ativação do fator II em fator IIa,

ou seja, protrombina em trombina. A principal ação da trombina é a conversão do

fator I (fibrinogênio) em monômeros de fibrina, que são interligados pelo fator XIII

ativado, formando polímeros insolúveis de fibrina (Banks, 1991).

A estabilização ou transformação da fibrina solúvel em um coágulo de fibrina

insolúvel, na presença de cálcio é catalisada pelo fator XIII, que normalmente circula

no plasma sob a forma de proenzima inativa e é convertido em sua forma ativa pela

trombina (Swenson, 1996).

Na década de 1960, foi proposto o esquema da cascata da coagulação com a

divisão do sistema de coagulação em duas vias (Figura I), onde CAPM refere-se ao

cininogênio de alto peso molecular e PK à pré-calicreína (PK). Nesse modelo, a

coagulação ocorre por meio de ativação proteolítica, seqüencial de zimógenos

(precursores inativos de enzimas), por proteases do plasma sanguíneo, formando a

trombina que é convertida em fibrina através da conversão da molécula de

fibrinogênio (Macfarlane, 1964).

FIGURA I -ESQUEMA DA CASCATA DA COAGULAÇÃO, PROPOSTO NA

DÉCADA DE 1960

Page 9: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

Traduzido e adaptado de MACFARLANE RG. An enzyme cascade in the blood clotting mechanism, and its function as a

biochemical amplifier. Nature 202: 498-499, 1964.

Por muito tempo o conceito da "cascata" da coagulação representou um

modelo bem-sucedido e um avanço significativo no entendimento da coagulação.

Entretanto, observações experimentais e clínicas mais recentes mostram que a

hipótese da cascata não reflete completamente os eventos observados na

hemostasia in vivo. (Hoffman, 2003).

As deficiências neste esquema clássico têm se tornado evidente nos últimos

anos. Por exemplo, deficiências de fator XII, precalicreína (PK) ou cianogênio de alto

peso molecular (CAPM) prolongam o tempo de TTPa mas, não causam

sangramento (Malyma et al, 2007).

Ao contrário, a deficiência do fator IX causa hemofilia B e um sangramento

clínico grave. O modelo da "cascata" não explica porque a ativação do fator X pela

via extrínseca é incapaz de compensar o comprometimento da via intrínseca pela

falta de fator VIII (hemofilia A) ou fator IX (hemofilia B). Ademais, o grau de

prolongamento do TTPa em pacientes hemofílicos não necessariamente prediz a

extensão da tendência ao sangramento (Vinea, 2009).

O papel das plaquetas na coagulação sanguínea

Segundo Junqueira & Carneiro (1999), Guyton & Hall (2002), Kerr (2003):

“As plaquetas (também denominadas trombócitos) são corpúsculos anucleados, com a forma

de disco medindo cerca de 2-4μm de diâmetro, derivados de células gigantes e poliplóides da medula

óssea, os megacariócitos. Nos mamíferos, podem ser vistas em esfregaços sangüíneos como

fragmentos granulados de coloração azul pálida, normalmente menores que as hemácias. Exercem

as funções de manutenção do endotélio vascular e reparo do endotélio lesado, funcionando como

parte integrante do processo de coagulação. Promovem a coagulação do sangue, auxiliando na

reparação da parede dos vasos sangüíneos e evitando a hemorragia; desta forma, exercem um papel

central na hemostasia normal. ”

Quando há uma lesão vascular, as plaquetas encontram constituintes da

matriz extracelular, que normalmente estão sequestrados embaixo do endotélio

intacto; estes constituintes são o colágeno, a fibronectina, as proteoglicanas e outras

glicoproteínas consideradas aderentes (Cotran, 2000).

A participação das plaquetas na coagulação sanguínea parte da agregação

primária que é estimulada pela descontinuidade do endotélio derivada de lesão

Page 10: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

vascular, seguida pela absorção de proteínas do plasma sobre o colágeno

adjacente, formando o chamado tampão plaquetário. Na sequência, ocorre a

agregação secundária, onde as plaquetas do tampão plaquetário liberam adenosina

difosfato (ADP), que se trata de um potente indutor da agregação plaquetária e

como resultado dessa agregação ocorre a coagulação sanguínea. Fatores do

plasma sanguíneo, dos vasos lesados e das plaquetas promovem a interação

sequencial em cascata de cerca de treze proteínas plasmáticas, formando tampão

plaquetário. A próxima etapa é a retração do coágulo para o interior do vaso, mas

logo sofre contração devido à ação da actina, miosina e ADP das plaquetas; por

último então ocorre a remoção do coágulo onde a parede do vaso se restaura pela

formação de tecido novo e o coágulo é removido também pelas enzimas liberadas

pelos lisossomos das plaquetas (Junqueira & Carneiro, 1999).

Fatores fisiológicos e patológicos predisponentes na formação de trombos e

êmbolos

Vários fatores podem ser predisponentes na formação de um trombo, o qual

pode ocorrer pela diminuição do fluxo sanguíneo, ou pelo aumento da

hemoconcentração devido à desidratação ou hemorragias intensas. Dentre os

principais fatores de risco para o tromboembolismo venoso estão o trauma não

cirúrgico e cirúrgico, a idade superior a quarenta anos (aumentando

gradativamente), imobilização prolongada em pacientes hospitalizados ou restritos

muitos dias ao leito, paraplégicos ou tetraplégicos, doença maligna, insuficiência

cardíaca e outras cardiopatias, obesidade, predisposição genética ao

desenvolvimento de veias varicosas, uso de estrogênio como fator anticoncepcional,

tromboembolismo venoso prévio, parto e doença pulmonar obstrutiva crônica. As

viagens aéreas por períodos muito longos, devido à pressão exercida pelas altas

altitudes, também estão associadas a casos de embolia pulmonar (Carameli et al,

2004).

É observado um risco elevado para a formação de trombos em pacientes

oncológicos submetidos a procedimentos cirúrgicos, e triplicado para a

tromboembolia pulmonar, isso comparado a outros pacientes não portadores de

algum tipo de câncer. O risco pode ser maior ou menor dependendo do tipo de

cirurgia. Em cirurgias pouco invasivas, como as realizadas em âmbito ambulatorial o

Page 11: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

risco para eventos tromboembólicos é baixo, e mais elevado em cirurgias mais

invasivas de âmbito hospitalar. (Fuzinatto et al, 2011).

Os principais fatores predisponentes da trombose venosa são identificados

pela tríade de Virchow, caracterizada por estase sanguínea, lesão da camada íntima

da parede dos vasos e alterações do sistema de coagulação (Hess, 2002).

Nos estudos de Rocha et al (2010), Pereira et al (2008), Fuzinatto et al (2009)

e Andrade et al (2009) foi realizada uma avaliação sobre a realização de exames

laboratoriais para a profilaxia dos pacientes com risco de desenvolver trombos e

êmbolos. Observa-se que essa prática é subutilizada nos hospitais brasileiros, sendo

que praticamente a totalidade dos pacientes analisados por eles nos respectivos

hospitais estavam em risco, mas menos da metade desses pacientes recebeu

profilaxia adequada devido a não realização de exames laboratoriais para avalição

de risco. Desse modo, medidas profiláticas adequadas não foram utilizadas mesmo

em pacientes com fatores de risco potenciais para desenvolverem tromboembolia e

suas complicações que podem ser irreversíveis levando o paciente ao óbito.

Devido à escassez de leitos, elevado custo de internação e ao risco de

contrair infecções hospitalares, as altas hospitalares estão cada vez mais precoces

resultando em muitos casos de tromboembolia em domicílio, evidenciando-se um

controle insatisfatório da profilaxia. Os mesmos autores afirmam que a implantação

de auditoria com diretrizes aos médicos e demais equipe de enfermagem, poderia

ser uma forma de obter resultados satisfatórios quanto à adequada profilaxia da

tromboembolia (Carneiro et al, 2010).

É, portanto, imprescindível que toda a equipe multidisciplinar conheça e

entenda como funcionam os métodos de prevenção mecânicos, que são de suma

importância no auxílio da profilaxia, juntamente com os métodos medicamentosos,

visando uma melhor assistência e qualidade de vida do paciente, principalmente por

pacientes para os quais os anticoagulantes são contraindicados, restando assim

apenas os métodos mecânicos (Machado, 2008).

Anticoagulantes

Os anticoagulantes são medicamentos considerados indispensáveis na

prevenção de eventos tromboembólicos venosos e arteriais e nas cirurgias

cardíacas e vasculares (Oliveira, 2001).

Page 12: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

A busca por inspiração na natureza, especialmente em animais hematófagos,

serpentes e insetos fez com que os estudos com novos anticoagulantes sofressem

uma evolução significativa. (Yoshida et al, 2011). Novos anticoagulantes orais

podem ser considerados como alternativas para profilaxia em pacientes de risco

para a TVP ou a EP. Um anticoagulante ideal seria caracterizado por ausência de

interação com outros fármacos ou com a dieta do paciente, eficiência primária

superior, grande biodisponibilidade, opções de via de administração, não atravessar

a barreira placentária, não causar trombocitopenia, ser de origem sintética, sem

necessidade de controle laboratorial, ter baixo custo e ser de fácil obtenção (Yoshida

et al, 2011).

Os novos anticoagulantes mais promissores que despontaram após o ano

2000 (Tabela I), estão relacionados de forma ordenada iniciando pelo novo

anticoagulante, seguido pelo laboratório produtor, nível de ação na cascata da

coagulação, via de administração, meia-vida (em horas), via de excreção, fases dos

estudos e disponibilidade de antídotos.

TABELA I - NOVOS ANTICOAGULANTES

YOSHIDA et al; Novos anticoagulantes para profilaxia do tromboembolismo venoso em cirurgias ortopédicas de

grande porte. Jornal Vascular, Brasil 2011.

Relação de eventos predisponentes da Trombose venosa profunda (TVP)

Há muitas décadas, as análises clínicas e epidemiológicas realizadas por

muitos autores de várias partes do mundo, possibilitaram a identificação de uma

Page 13: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

série de eventos e de doenças que predispunham ou acompanhavam os quadros

clínicos da trombose venosa, configurando uma relação de causa e efeito. Esses

eventos podem ser considerados potencializadores ou desencadeadores da

instalação da trombose venosa e posteriormente da trombose arterial (Duque, 2003).

A descrição das condições que favorecem a instalação da TVP (Tabela II)

demonstra que nos pacientes com maior número desses fatores de risco há maior

probabilidade de ocorrer trombose faz-se necessária a avaliação laboratorial como

medida profilática.

TABELA II - CONDIÇÕES QUE FAVORECEM A INSTALAÇÃO DA

TROMBOSE (FATORES DE RISCO, CONDIÇÕES NÃO CONGÊNITAS)

Adenocarcinoma

Anemia

Anestesia geral prolongada

Anticoagulante lúpico

Anticorpo antifosfolipídico

Bacteremia

Câncer

Cirurgia (pelve, bacia, extensa)

Colagenose

Corticosteróides

Estrogênios exógenos

Gravidez

Hemodiluição

Hemoglobinúria paroxística noturna

Hemólise intravascular

Hepatopatias

Hiperhomocisteinemia

Hiperlipidemias

Hiperviscosidade

Homocistenúria

Hormonioterapia estrogênica

Idade

Imobilização geral e/ou de membros inferiores

Page 14: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

Infarto do miocárdio recente

Infecções

Insuficiência cardíaca

Leucose

Lúpus

Mieloma múltiplo

Nefropatias

Obesidade

Paraproteinemias

Policitemia Vera

Poliglobulia

Puerpério

Queimaduras

Sedentarismo

Tabaco

Trauma

Trombose prévia

Uso de anticoncepcional

Vasculite de Behcet

Veias varicosa

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Trombogênese - Trombofilia – Duque FLV etalJVascBr 2003, Vol. 2, Nº2 107

Nos estudos de Caiafa (2001), apud Diogo Filho et al 2009 foi elaborada a

ficha a seguir, (Figura III), onde foi apresentado um protocolo para profilaxia da TVP,

sendo possível através dela a classificação de risco dessa patologia.

Page 15: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

FIGURA III - FICHA DE PROTOCOLO DE PROFILAXIA DA TROMBOSE VENOSA

PROFUNDA

Disponível em Diogo Filho et al (2003), adaptado de Caiafa E Bastos (2001).

Page 16: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

Segundo Fuzinatto et al (2011), a maioria dos pacientes hospitalizados

apresentam no mínimo um fator de risco para a tromboembolia venosa (TEV),

e aproximadamente 40% têm três ou mais.

Embora a TEV seja geralmente associada a trauma e cirurgia, os

pacientes clínicos são os mais afetados, com 50-70% dos eventos de TEP

sintomática e 70% dos casos de TEP fatal, ou seja, seguida de morte. Estudos

mostram que o uso de medicamento para profilaxia da TVP é mais utilizado em

pacientes clínicos, e subutilizado em pacientes cirúrgicos, provavelmente pela

preocupação dos profissionais quanto ao risco de hemorragias. (Carneiro et al,

2010).

Avaliação laboratorial

A avaliação laboratorial deve ser realizada em tempo hábil em casos de

suspeita de embolia para que o médico possa confirmar o diagnóstico e iniciar

o tratamento imediatamente. Salienta-se a importância da história clínica e

atenção aos fatores de risco do paciente para embolia, na ausência desses

fatores de risco aumentam as dificuldades de diagnóstico e de suspeita clínica.

A confirmação do quadro de tromboembolismo pode necessitar de realização

de exames hematológicos, cardiológicos como o eletrocardiograma e o

ecocardiograma e de recurso de imagem do tórax como tomografia e

ressonância magnética. Em alguns casos, é exigido um método mais invasivo e

menos usado na prática, a arteriografia dos pulmões que é considerado o

método de maior precisão para esse tipo de diagnóstico (Wallach, 2011). Nos

exames hematológicos, quando colocado em tubo de ensaio, o sangue coagula

em 4-8 min. Se for adicionado um agente quelante, citrato ou EDTA, a

coagulação é evitada (Majerus, 2003). A adição de vários agentes ao plasma

sanguíneo recalcificado fornece importante informação sobre o mecanismo de

coagulação (Bozzini, 2004).

Um hemograma completo é auxiliar no diagnóstico, pois pode apontar

uma infecção ou uma anemia severa, que são fatores desencadeantes de

taquicardia ou taquipneia, sintomas do paciente com tromboembolia. O

hemograma completo consiste em uma avaliação sanguínea que fornece

informações diagnósticas úteis sobre o sistema hematológico e outros sistemas

orgânicos, prognósticos, resposta ao tratamento e recuperação. Além da

Page 17: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

avaliação dos demais componentes do sangue, é realizada a contagem das

plaquetas, necessárias para coagulação e controle do sangramento e

determinação do volume plaquetário médio (VPM) que é o índice de produção

das plaquetas (Fischbach, 2009).

Para auxiliar no diagnóstico da coagulação intravascular disseminada

(CID) que pode ocasionar trombose venosa após cirurgia em pacientes que se

submeterão a procedimentos cirúrgicos, podem-se realizar antecipadamente os

testes dos produtos de degradação do fibrinogênio (Wallasch, 2011).

Segundo Wallasch (2011) a Coagulação Intravascular Disseminada

refere-se:

“...coagulação causada pela ativação sistêmica maciça excessiva mostrando trombos de fibrina

disseminados na microcirculação com rápida depleção simultânea de plaquetas e das

proteínas da coagulação (causando sangramento) e ativação de trombina, levando a trombose

dos vasos pequenos e médio. ”

O kit do teste rápido de aglutinação com látex detecta valores

aumentados (10 UG/ml) de produtos de degradação do fibrinogênio no soro e

compara os resultados com o método de inibição de hemaglutinação (HAI).

O exame denominado Tempo de Protrombina (TP), fornece indicação

sobre a quantidade total de protrombina presente no sangue (Guyton & Hall,

2002). Este teste é usado para identificar as anormalidades dos fatores

envolvidos no sistema extrínseco, a saber, protrombina e fatores V, VII e X. Os

testes de rotina laboratoriais, que determinam as concentrações de fibrinogênio

no plasma, envolvem a adição de trombina ao plasma para medição da

velocidade com que a fibrina é formada (Swenson, 1996).

O tempo de coagulação é reduzido após recalcificação, onde, é possível

determinar o TP com acréscimo de tromboplastina (um extrato salino que

contém fator tecidual e fosfolipídios) (Majerus, 2003).

O melhor teste de rastreamento isolado para alterações da coagulação é

o TTPa que tria os fatores de coagulação que contribuem para formação da

trombina. Está anormal em até 90% dos pacientes com alterações da

coagulação quando realizado adequadamente. Esse teste não é recomendado

para triagem pré-operatória de paciente assintomático, a menos que o paciente

tenha indicação clínica específica como, por exemplo, sangramento ativo,

alterações hemorrágicas conhecidas ou suspeitas incluindo uso de

anticoagulante, hepatopatia, má absorção, desnutrição, outras condições

Page 18: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

associadas à coagulopatias adquiridas, nas quais o procedimento pode

interferir com a coagulação normal (Wallach, 2011).

O TTPa é o teste mais comumente empregado para verificação do

mecanismo intrínseco da coagulação (Swenson, 1996).

Após adição de cálcio, fosfolipídios de carga negativa e de uma

substância particulada, como caulim (silicato de alumínio), ocorre a ativação

dos fatores XII e XI por essas substâncias, sendo possível determinar o TTPa.

Esse teste é utilizado para o diagnóstico de anomalias dos fatores de

coagulação XII, XI, IX, VIII, X, protrombina e fibrinogênio (Majerus, 2003).

Para o diagnóstico de TVP poderia ser considerado o método ideal, o

uso de uma amostra de sangue periférico. Inúmeras proteínas, como produto

de degradação da fibrina, complexos trombina-antitrombina e inibidores da

ativação do plasminogênio, estão em concentração aumentada no sangue de

pacientes com TVP. No entanto, os testes sanguíneos para detecção dessas

substâncias são de difícil execução, o que impede seu uso na rotina. Além

disso, possuem sensibilidade e especificidade limitadas para o diagnóstico de

TVP. Dentre esses exames, devemos destacar o D-Dímero (DD), que tem se

mostrado útil no diagnóstico da TVP (Rollo et al, 2005). O exame de D-Dímero

é um método adicional, de laboratório, pois o mesmo é um produto do processo

de coagulação, que se eleva abruptamente no sangue de pacientes com

tromboses oriundas de qualquer natureza (Moreira et al, 2012).

Durante a formação de um trombo, ocorre a degradação dos polímeros

da fibrina pela plasmina e passam a dar origem a produtos de degradação de

pesos moleculares diferentes. O menor e melhor caracterizado destes produtos

é o DD, sendo este constituído por duas subunidades idênticas derivadas de

duas moléculas de fibrina (Moresco et al, 2005).

Os ensaios de diagnósticos do DD foram baseados no desenvolvimento

de anticorpos monoclonais capazes de diferenciar os produtos da degradação

da fibrina e o fibrinogênio. Na formação do DD, a trombina converte o

fibrinogênio em fibrina solúvel. Em seguida, o fator XIII ativado (pela trombina)

em presença de cálcio forma o polímero de fibrina com ligações cruzadas. A

clivagem do fibrinogênio pela plasmina ou a fibrina solúvel gera produtos de

degradação – fragmentos X, Y, D e E. A clivagem da fibrina com ligações

cruzadas pela plasmina forma outros produtos de degradação: oligômeros X e

Page 19: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

DD. Desse modo, embora os produtos de degradação do fibrinogênio possam

estar aumentados em presença de trombos, o DD é específico para fibrinólise

(Rutherford, 2007).

Embora baixos níveis de DD possam ser detectados na circulação de

indivíduos saudáveis, seus níveis aumentam significativamente nos pacientes

com TVP, EP, CID, infarto do miocárdio, câncer, complicações da gravidez,

entre outros. O DD é reconhecido atualmente como o mais específico marcador

para trombose e fibrinólise fisiológica. Apresenta uma alta sensibilidade para o

diagnóstico de TVP e EP, mas não é específico para estes distúrbios. A sua

principal aplicação clínica diz respeito à possibilidade de exclusão diagnóstica

de eventos tromboembólicos quando os seus resultados são normais, ou seja,

inferiores a 500 mg/ml (Moresco et al, 2005).

A sensibilidade do DD para a detecção de trombos agudos é de cerca de

95%, já na especificidade é baixa, na faixa dos 50%. Por esse motivo, o DD é

extremamente útil na exclusão do diagnóstico de TVP em pacientes com baixa

ou média probabilidade clínica de ter a doença. O DD é o único exame

laboratorial usado de rotina na investigação de TVP (Moreira et al, 2012).

Este teste apresenta alta sensibilidade e baixa especificidade por isso

apresenta um alto valor preditivo negativo. Devido a sua baixa especificidade a

dosagem do DD é um teste complementar e pode ser associado à avaliação

clínica para selecionar que pacientes necessitarão de estudo com outros

métodos complementares (Melo et al, 2006).

Cuidados na hora da coleta

Deve-se coletar o sangue por punção venosa evitando-se o

garroteamento prolongado e hemólise. Não deve ocorrer punção traumática,

para tanto a agulha deve penetrar uma única vez na veia e o sangue deve fluir

sem que seja aplicada demasiada força ao embolo da seringa e após remover

a agulha deve-se utilizar o sangue central da seringa deixando o das

extremidades para outros testes solicitados (Labtest, 2014).

A seringa utilizada deve ser de plástico bem como o tubo no qual vai ser

centrifugada a amostra pois se forem de material não siliconizado podem ativar

os fatores de coagulação e reduzir falsamente o TTPa (Labtest, 2014).

Page 20: Fatores predisponentes e avaliação laboratorial na formação de

Se for utilizado o método de coleta a vácuo deve-se usar tubo de

plástico ou vidro siliconizado, tubo com tampa azul, contendo citrato e no caso

de coleta múltipla deve-se primeiro usar tubo sem anticoagulante, então coletar

no tubo apropriado para testes da coagulação, de tampa azul com citrato e

após no tubo com EDTA (Labtest, 2014).

RESULTADOS

O presente estudo embasado na literatura disponível sobre a TVP e a

EP buscou os principais aspectos marcantes e de emergência avaliativa e

diagnóstica dessas patologias. Reuniu os conceitos predisponentes e a

detecção prévia dos fatores envolvidos para melhor associação durante a

identificação, diagnóstico médico e laboratorial e tratamento.

Através do estudo da bibliografia disponível sobre o assunto, foram

reunidos dados já anteriormente estudados e evidenciados e constatou-se que

a TVP e a EP podem ser letais ou incapacitantes. Os fatores predisponentes

dessas patologias são de número significativo e devem ser tratados como

fatores de risco das mesmas, enfatizando-se a importância de se fazer

avaliação laboratorial como fator de profilaxia e de diagnóstico em tempo hábil,

possibilitando assim detectar corretamente o tipo de acidente vascular

propriamente dito para que seja aplicada a terapia adequada.

CONCLUSÃO

Este estudo buscou encontrar na literatura meios que auxiliassem a

evitar complicações cirúrgicas como a TVP e a EP, reduzindo assim as mortes

relacionadas às mesmas. A pesquisa contribuiu com informações preventivas

ao paciente pré-operatório e propenso a desenvolver alguma dessas alterações

sanguíneas.

AGRADECIMENTOS: a Instituição de Ensino Superior URI – Campus

Santiago.

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