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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ECONOMIA FERNANDA PIM NASCIMENTO SERRALHA O difícil encontro entre a autonomia para arrecadar recursos próprios, versus a rigidez orçamentária das capitais brasileiras, período: 1995 a 2010 Campinas 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

FERNANDA PIM NASCIMENTO SERRALHA

O difícil encontro entre a autonomia para arrecadar

recursos próprios, versus a rigidez orçamentária das capitais

brasileiras, período: 1995 a 2010

Campinas

2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

FERNANDA PIM NASCIMENTO SERRALHA

O difícil encontro entre a autonomia para arrecadar

recursos próprios, versus a rigidez orçamentária das capitais

brasileiras, período: 1995 a 2010

Prof. Dr. Francisco Luiz Cazeiro Lopreato – orientador

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento

Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do

título de Mestra em Desenvolvimento Econômico, na área de Desenvolvimento Regional e

Urbano.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELA ALUNA FERNANDA PIM

NASCIMENTO SERRALHA, ORIENTADA

PELO PROF. DOUTOR FRANCISCO LUIZ

CAZEIRO LOPREATO

Campinas

2018

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Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de Economia

Mirian Clavico Alves - CRB 8/8708

Serralha, Fernanda Pim Nascimento, 1972-

Se68d SerO difícil encontro entre a autonomia para arrecadar recursos próprios,

versus a rigidez orçamentária das capitais brasileiras, período : 1995-2010 /

Fernanda Pim Nascimento Serralha. - Campinas, SP : [s.n.], 2018.

SerOrientador: Franscisco Luiz Cazeiro Lopreato.

SerCoorientador: Sulamis Dain.

SerDissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Economia.

Ser1. Autonomia. 2. Responsabilidade fiscal. 3. Finanças municipais. 4. Política

fiscal. 5. Transparência no governo. I. Lopreato, Francisco Luiz Cazeiro, 1952-.

II. Dain, Sulamis, 1942-. III. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de

Economia. IV. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The difficult meeting between the autonomy to colletct owm

resources, versus the budgetary rigidity of the brazilian capitals, period : 1995 to 2010

Palavras-chave em inglês:

Autonomy

Fiscal responsability

Municipal finances Fiscal policy

Transparency in government

Área de concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano

Titulação: Mestra em Desenvolvimento Econômico

Banca examinadora:

Francisco Luiz Cazeiro Lopreato [Orientador]

Geraldo Biasoto Junior

Sulamis Dain

Data de defesa: 12-09-2018

Programa de Pós-Graduação: Desenvolvimento Econômico

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

FERNANDA PIM NASCIMENTO SERRALHA

O difícil encontro entre a autonomia para arrecadar

recursos próprios, versus a rigidez orçamentária das capitais

brasileiras, período: 1995 a 2010

Prof. Dr. Francisco Luiz Cazeiro Lopreato – orientador

Defendida em 12/09/2018

COMISSÃO JULGADORA

Prof. Dr. Francisco Luiz Cazeiro Lopreato - PRESIDENTE

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Geraldo Biasoto Junior

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof.ª Dr.ª Sulamis Dain

Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

A Ata de Defesa, assinada pelos membros

da Comissão Examinadora, consta no

processo de vida acadêmica da aluna.

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AGRADECIMENTOS

Caminhos do Coração

Luiz Gonzaga

Há muito tempo que eu saí de casa

Há muito tempo que eu caí na estrada

Há muito tempo que eu estou na vida

Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz

Principalmente por poder voltar

A todos os lugares onde já cheguei

Pois lá deixei um prato de comida

Um abraço amigo, um canto prá dormir e sonhar

E aprendi que se depende sempre

De tanta, muita, diferente gente

Toda pessoa sempre é as marcas

Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende

Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá

E é tão bonito quando a gente sente

Que nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firme

Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos

É tão bonito quando a gente vai à vida

Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração

E aprendi...

E agradeço a Deus pela oportunidade de buscar o conhecimento. Agradeço aos meus

familiares, aos meus amigos e professores, em especial aos meus Professores

Orientadores Dr. Francisco Lopreato e Dra. Sulamis Dain.

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Resumo

No período estudado, 1995 a 2010, compreendeu uma nova agenda fiscal do

Estado brasileiro, com estratégias que contribuíram para suprimir parte da autonomia da

arrecadação das 26 capitais, a partir de interferências que ocorreram dentro da mais pura

legalidade e permitiu a ausência dos governos superiores nas competências comuns de

responsabilidade dos três entes federativos.

Ou seja, sob o âmbito dos limites fiscais estabelecidos, em boa medida, a forma

de efetivarem as ações constitucionais e as ações municipalizadas se deram,

minimamente, através dos convênios e ou transferências discricionárias, instrumento

que desencadeou incertezas para o ciclo orçamentário municipal.

Que somado aos efeitos da desindustrialização e da guerra fiscal, e, sobretudo, das

contrapartidas exigidas do orçamento próprio, ficaram impedidas e sem nenhum diálogo

federativo para planejar ações locais necessárias para assegurar uma infraestrutura

mínima.

Diante disso, os centros urbanos mais populosos, sede de regiões metropolitanas,

endividados e polos provedores dos principais programas nacionais, sofreram com os

efeitos desse modelo. Por um lado, administravam o hiato entre os valores recebidos dos

governos superiores, defasados e ou insuficientes para financiarem os acordos

celebrados; e de outro, criaram inúmeros desafios para a gestão e fiscalização das ações

dos convênios que foram municipalizadas a partir da terceirização.

Nesse formato, a partir de um conjunto de instruções normativas e portarias que

regulamentaram as transferências discricionárias, o orçamento municipal permaneceu

submetido às decisões das esferas superiores de governos.

E parte substancial dos recursos próprios e de livre alocação, fundamental no

financiamento do desenvolvimento urbano foram alocados como contrapartidas das

transferências discricionárias. Nesse sentido, as ações locais foram sendo subtraídas da

estrutura orçamentária, e os recursos acabaram sendo direcionados para as ações que

deveriam se sustentar pelo financiamento tripartite.

A redução dos recursos livres na estrutura orçamentária municipal ocorreu sem

nenhum diálogo federativo democrático e articulado com a sociedade, e, na maioria das

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vezes, desprovidos de mecanismos e instrumentos de controle que prejudicaram a

atuação e gestão dos principais polos provedores das políticas públicas nacionais.

Essas características, a meu juízo, comprometeram não apenas a autonomia

municipal, mas o processo da nossa descentralização fiscal, desde então, com pactuação

confusa. A federação brasileira passou a conviver com disputas de recursos; com

omissão de responsabilidades nas ações metropolitanas; com atrasos nos repasses

financeiros necessários para assegurar as ações de programas nacionais

descentralizados, além das inúmeras restrições fiscais.

Os desequilíbrios ocasionados são incalculáveis e comprometeram os direitos à

cidadania. Dessa forma, torna-se essencial pensar a gestão local, a partir de uma

combinação de esforços entre as três esferas, com políticas redistributivas e com

estratégias não excludentes, que acolham as necessidades locais.

E, acima de tudo, a política nacional precisa assegurar condições para a

implantação e o funcionamento dos programas que incorporem as necessidades

metropolitanas das cidades mais populosas do País. Não há dúvida de que a federação

precisa de um ajuste urgente nas relações federativas e não de um ajuste fiscal.

Além disso, essa pesquisa destacou a necessidade de revermos as metodologias

da distribuição dos recursos constitucionais, que tem contribuído para ampliar as

assimetrias nos valores per capitas entre os municípios brasileiros, e que tem contribuído

para agravar a rigidez orçamentária vigente.

A partir dessas questões, o estudo procurou contextualizar a atual crise federativa,

decorrente de um modelo que se mostrou impotente para edificar uma sociedade em

bases democráticas e de direitos universais.

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Abstract

In the period studied, from 1995 to 2010, it comprised a new fiscal agenda of the

Brazilian State, with strategies that contributed to suppress part of the autonomy of the

collection of the 26 capitals, from interferences that occurred within the purest legality,

and allowed the absence of governments common powers of responsibility of the three

federative entities.

That is to say, under the fiscal limits established, to a great extent, the way of

carrying out the constitutional actions and the municipalized actions were, minimally,

through the agreements and / or discretionary transfers, an instrument that triggered

uncertainties for the budget cycle of the municipality.

In addition to the effects of deindustrialization and the fiscal war, and especially

the required counterparts of the own budget, they were impeded and without any

federative dialogue to plan local actions necessary to ensure a minimum infrastructure.

As a result, the most populous urban centers, home to metropolitan areas, indebted

and poles providers of the main national programs, suffered from the effects of this

model. On the one hand, they managed the gap between the amounts received from

senior governments, lagged and insufficient to finance the agreements reached; and on

the other, created numerous challenges for the management and control of the actions

of the agreements that were municipalized from outsourcing.

In this format, the municipal budget, based on a set of normative instructions and

ordinances regulating discretionary transfers, remained subject to the decisions of the

higher spheres of governments. And a substantial part of the own resources and free

allocation, fundamental in the financing of urban development were allocated as

counterparts to the discretionary transfers. In this sense, the local actions were

subtracted from the budget structure, and the resources directed to the actions that should

be supported by tripartite funding.

The reduction of free resources in the municipal budget structure occurred without

any federative democratic dialogue and articulated with society, and, most of the times,

deprived of mechanisms and instruments of control that hampered the performance and

management of the main poles providers of national public policies.

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These characteristics, in my judgment, have compromised not only municipal

autonomy, but also the process of our fiscal decentralization, since then, with confused

pacts. The Brazilian federation has come to live with resource disputes; with an omission

of responsibilities in the metropolitan actions; with delays in the financial transfers

necessary to ensure the actions of decentralized national programs, in addition to the

numerous fiscal restrictions.

The resulting imbalances are unreckoned and have compromised the rights to

citizenship. In this way, it is essential to think of local management, based on a

combination of efforts between the three spheres, with redistributive policies and with

non-exclusionary strategies that accommodate local needs.

And, above all, national politics need to ensure conditions for the implementation

and operation of programs that incorporate the metropolitan needs of the most populous

cities in the country. The federation undoubtedly needs an urgent adjustment in federative

relations, not a fiscal adjustment.

In addition, this research highlighted the need to revise the methodologies of the

distribution of constitutional resources, which contributed to widen the asymmetries in

per capita values among Brazilian municipalities, which in turn contributed to aggravate

the current budgetary rigidity.

From these questions, the study sought to contextualize the current federative

crisis, emerged from a model that proved incapable to build a society on democratic

bases and universal rights.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução da COFINS e IPI ......................................................................... 78

Figura 2- Evolução do Coeficiente de Endividamento do município mais endividado

do país, a cidade de São Paulo, período: 2001-2010 .................................................... 94

Figura 3- Evolução funcionais do gasto público: 1996-2001, em % ......................... 153

Figura 4 - Evolução funcionais do gasto público: 2002-2010, em % ........................ 155

Figura 5 - Receitas Correntes Próprias Municipais .................................................... 193

Figura 6 - Transferências da União: Constitucionais e Convênios ............................ 194

Figura 7 - Transferências correntes MULTIGOVERNAMENTAIS: União e Estados

.................................................................................................................................... 194

Figura 8 - Transferências do Estado: Constitucionais e Convênios ........................... 195

Figura 9 - Transferências Instituições Privadas e Receitas de Capital ....................... 195

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Evolução do número de municípios por regiões do País 60

Tabela 2-Participação média das principais receitas orçamentárias, por intervalos

populacionais, anos: 1998, 2004 e 2010, em % 61

Tabela 3- Receita Total, Transferências Correntes e FPM per capita, por intervalo

populacional, em R$ 62

Tabela 4 - Participação média das principais categorias da despesa pública no

orçamento total dos municípios brasileiros – Anos: 1998; 2004; e 2010, em % 64

Tabela 5 - Evolução Receita Disponível por esfera de governo, em % 68

Tabela 6 -Evolução da participação do estoque da dívida de longo prazo das 26

capitais no total do estoque da dívida municipal, período: 2000 a 2010 90

Tabela 7 - Evolução média da participação das despesas por Categoria Econômica, 26

capitais: 2002-2010 92

Tabela 8 -População Ocupada Urbana versus PEA: 2000/1991 101

Tabela 9 - Evolução Dívida Interna Líquida do Setor Público em relação ao PIB:1995

a 2010 – em % 102

Tabela 10 - População das 26 capitais versus a População Total de cada Estado, ano

2010 111

Tabela 11 - Evolução da participação média das Categorias Econômicas na Receita na

Receita Orçamentária Total, 26 capitais– em % 113

Tabela 12 - Participação da Receita Própria no Orçamento Corrente das 26 capitais:

1998; 2002; 2006 e 2010 – em % 117

Tabela 13 - Participação em % das Transferências Correntes no total das Receitas

Orçamentárias – 26 capitais 120

Tabela 14 - Participação média das principais transferências constitucionais correntes

dos municípios brasileiros agrupados por intervalos populacionais. Anos: 1998; 2004 e

2010 - em % 121

Tabela 15- Participação em % das Transferências Constitucionais no Total das

Transferências Correntes: anos 1997; 2004; e 2010 123

Tabela 16 - Índice de Participação na Cota parte do ICMS de 14 capitais, anos: 1995 e

2010 132

Tabela 17 Evolução da Participação das Transferências Discricionárias no total das

Transferências Correntes das 26 capitais, em % 138

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Tabela 18 - Participação dos principais programas nacionais: FUNDEF/FUNDEB e

SUS no orçamento corrente das 26 capitais, anos: 1998; 2002; 2006; 2010-em % 141

Tabela 19 - Fonte de financiamento da Saúde nas 26 capitais, média do período: 2002-

2010, em % 143

Tabela 20 - Fonte de financiamento da Educação nas 26 capitais. Média para o

período: 2002 – 2010, em % 148

Tabela 21 - Funcionais infraestrutura, e Encargos Especiais (despesas financeiras) das

26 capitais e por intervalos populacionais – ano 2010, em % 157

Tabela 22 - Participação média por categoria econômica e natureza de despesa, por

intervalo populacional dos 5560 municípios, anos: 1998; 2004 e 2010 - em % 159

Tabela 23 - Participação média da natureza de despesa Outras despesas Correntes nas

despesas correntes, anos: 1995; 2005 e 2010 - em % 161

Tabela 24 - Participação de alguns elementos que compõem a natureza Outras

Despesas Correntes, 26 capitais: Ano 2010 em % 162

Tabela 25 - Principais naturezas das despesas, 26 capitais, ano 2010, em % 165

Tabela 26 - Investimento per capita médio das capitais e por agrupamento

populacional, ano 2010, em valores reais 168

Tabela 27- Evolução da população urbana brasileira, em %, período: 1872 – 2000 189

Tabela 28 - Despesas da União por Função União: 1995-1999 189

Tabela 29 - Despesas da União por Função: 2000-2010 190

Tabela 30 - Estoque do Exigível de longo prazo municipal e das 26 capitais: 2000-

2010 191

Tabela 31 - Estoque do Exigível de longo prazo das 26 Capitais, ano 1998, anterior à

renegociação da dívida 192

Tabela 32 - Investimento per capita por intervalos municipais com maior e menor

população federativa 196

Tabela 33 - Evolução do Investimento no orçamento total, 26 Capitais, anos:

1995;2001;2005;2009 e 2010, em % 197

Tabela 34 - Resultado Primário do Governo Central. Em R$ Milhões - Valores de

Março 2018 / IPCA 198

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARO – Antecipação de Receita Orçamentária

BACEN (ou BC ou BCB) – Banco Central do Brasil

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD – Banco Mundial

BM – Banco Mundial

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNH – Banco Nacional da Habitação

BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo

BRIC – referência às economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China

CAE - Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal

CEF – Caixa Econômica Federal

CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe

CIDE – Contribuição de intervenção no domínio econômico incidente sobre

combustíveis e remessas para o exterior

CMN – Conselho Monetário Nacional

COFINS - Contribuição social dos empregadores para o financiamento da

seguridade social incidente sobre Receitas e Faturamento

CONFAZ - Conselho Nacional de Política Fazendária Coord. - Coordenadores

COPOM – Conselho de Política Monetária

CPMF – Contribuição provisória sobre movimentações financeiras

CSLL - Contribuição social sobre o Lucro Líquido

DCL - Dívida consolidada líquida (LRF)

DLSP – Dívida líquida do setor público

DPMFi – Dívida pública mobiliária federal

DRU – Desvinculação das Receitas da União

EC – Emenda Constitucional

Ed – editores

Et al. (et alli.) – e outros

EU – União Europeia (European Union)

EUA (USA) – Estados Unidos da América

FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FAS – Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social

FED – Banco Central dos EUA (Board of Governors of the Federal Reserve

System)

FEF – Fundo de Estabilização Fiscal

FBKF – Formação Bruta de Capital Fixo

FBK – Formação Bruta de Capital

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FGV – Fundação Getúlio Vargas

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FINAME – Agência Especial de Financiamento Industrial

FNAS- Fundo Nacional de Assistência Social

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FINBRA – Finanças do Brasil (título de levantamento estatístico da STN)

FMI (IMF) - Fundo Monetário Internacional (International Monetary Fund)

FNDU – Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano

FPE - Fundo de Participação dos Estados

FPM - Fundo de Participação dos Municípios

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FSE – Fundo Social de Emergência

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e

de Valorização do Magistério

HBC – Hard Budget Constraint

IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

IAPs - Institutos de Aposentadorias e Pensões

ICM – Imposto de Circulação de Mercadorias

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IGP-DI – Índice Geral de Preços – Disponibilidade InternaIGP – Índice geral de

preços

II - Imposto sobre importação

INSS- Instituto Nacional do Seguro Social

IOF - Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro e sobre operações

relativas a títulos e valores imobiliários IAPS - Institutos de Aposentadorias e

Pensões

IPCA – Índice de preços ao consumidor amplo

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPI - Imposto sobre produtos industrializados

IPMF – Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira

IPTU - Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana

IPVA - Imposto sobre a propriedade de veículos automotores

IR - Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza

IRPF - Imposto sobre a renda de pessoas físicas

IRPJ - Imposto sobre a renda de pessoas jurídicas

ISS - Imposto sobre serviços de qualquer natureza

ITBI - Imposto sobre a transmissão "intervivos" de bens móveis

ITR - Imposto sobre a propriedade rural

IUCL – Imposto Único sobre Combustíveis e Lubrificantes

IVA – Imposto sobre o Valor Adicionado

IVC – Imposto sobre Vendas e Consignações

LDO - Leis de Diretrizes Orçamentárias

LOA – Lei Orçamentária Anual

LRF – Lei de responsabilidade fiscal (Lei Complementar n.101, 4/5/2000)

LFT – Letras Financeiras do Tesouro

LTN – Letras do Tesouro Nacional

M – Meios de pagamento

MF (MINIFAZ) – Ministério da Fazenda

MP – Ministério do Planejamento

MPS – Ministério da Previdência Social.

NFSP – Necessidades de Financiamento do Setor Público

OCDE (OECD) - Organização para a Cooperação do Desenvolvimento

Econômico

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PAI – Programa de Ação Imediata

PASEP - Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

PEA – População Economicamente Ativa

PIB - Produto Interno Bruto

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PIS - Programa de Integração Social

PF – Pessoa física

PJ – Pessoa jurídica

PNB - Produto Nacional Bruto

PIS – Programa de Integração Social

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PND – Plano Nacional de Desestatização

PROER – Programa de Estímulo à reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema

Financeiro Nacional

PROES – Programa Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade

Bancária

PPA - Plano Plurianual

PPP – Parcerias público e privada

RCL – Receita corrente líquida

RLR – Receita Líquida Real

RFB – Secretaria da Receita Federal do Brasil

RGPS – Regime Geral de Previdência Social.

RLR – Receita Líquida Real

RPPS – Regimes Próprios de Previdência Social de Estados e Municípios.

SBC – Soft Budget Constraint

SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (taxa overnight)

SFN – Sistema financeiro nacional

SIAFI - Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal

SOF – Secretaria de Orçamento da União

SPE – Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda

STN - Secretaria do Tesouro Nacional

SUS – Sistema Único de Saúde

RCL - Receita Corrente Líquida (LRF)

TCE – Tribunal de Contas dos Estados

UN – Nações Unidas (United Nations)

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o

Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development)

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

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Sumário Introdução ................................................................................................................................. 17

Capítulo 1: Do Estado Intervencionista econômico ao descompromisso Social ...................... 24

1.1 Introdução ....................................................................................................................... 24

1.2 Marco teórico do gasto público descentralizado ............................................................. 31

Capítulo 2: A Crise federativa: marcada pela crise do endividamento do setor público; pelo

modelo da descentralização fiscal; e as severas imposições fiscais aos governos subnacionais

.................................................................................................................................................. 48

2.1 Introdução ....................................................................................................................... 48

2.2 Colapso do projeto desenvolvimentista do Estado autoritário e os primeiros reflexos da

crise fiscal na década de 80 .................................................................................................. 50

2.3 Mudança Política e a Descentralização Fiscal ................................................................ 53

Capítulo 3: Os percalços dos 1990: ajuste fiscal combinado com descompromisso social ...... 74

3.1 Introdução ....................................................................................................................... 74

3.2. Os impactos da política fiscal dos anos 90 nas finanças públicas das 26 capitais

brasileiras .............................................................................................................................. 76

3.3 A construção da nova Ordem Fiscal: equilíbrio ou observa-se o aprofundamento dos

desequilíbrios fiscais? ........................................................................................................... 99

Capítulo 4: Autonomia ou rigidez orçamentária municipal? .................................................. 106

Análise das 26 capitais no período1995 a 2010 ...................................................................... 106

4.1 Introdução ..................................................................................................................... 106

4.2.O Aumento da participação na Receita Disponível se traduziu em autonomia

orçamentária? ...................................................................................................................... 112

4.3 A rigidez na estrutura orçamentária municipal ............................................................. 151

5. Conclusão final da Dissertação ........................................................................................... 170

6. Bibliografia ......................................................................................................................... 177

7. Anexos ............................................................................................................................ 189

Anexo 01............................................................................................................................. 189

Anexo 02:............................................................................................................................ 189

Anexo 03..............................................................................................................................190

Anexo 04:............................................................................................................................ 191

Anexo 05..............................................................................................................................192

Anexo 06:............................................................................................................................ 193

Anexo 07..............................................................................................................................196

Anexo 08:............................................................................................................................ 197

Anexo 09..............................................................................................................................198

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Introdução

Meu interesse pelo tema das finanças públicas das 26 capitais brasileiras, surgiu

a partir da vontade de entender a ideia de autonomia federativa municipal conquistada

após a promulgação do texto constitucional de 1988, das cidades mais populosas do

País.

De forma quase unânime, os estudos sobre o federalismo brasileiro apontavam

a esfera municipal como a vencedora do processo da descentralização fiscal. No início

da pesquisa, minha percepção era de que, os centros urbanos mais populosos e

dinâmicos, contabilizavam uma capacidade para arrecadar recursos próprios acima da

média do País.

Isto era condizente com a ideia de ganho de autonomia para planejar a aplicação

dos recursos orçamentários nas ações dos programas locais, viabilizando também, nas

ações tripartites, um conjunto de pactuações propostas no texto constitucional.

Com essa expectativa iniciei o estudo, a partir da hipótese de que o aumento na

participação da receita corrente disponível do País teria permitido aos centros mais

populosos e de maior dinamismo econômico, a assunção de suas responsabilidades

constitucionais e o enfrentamento das complexidades sociais e de infraestrutura que

caracterizavam a história da urbanização da maioria das capitais do País.

Ao mesmo tempo, o aumento na receita disponível em mais de 60 pontos

percentuais se contrapunha à ausência e a omissão de inúmeras políticas públicas, que

podia ser sentida em cada esquina das grandes cidades do País. Esta situação

acrescentaria muitas questões complexas à hipótese inicial desse estudo.

Compreender a trajetória fiscal dos centros mais populosos do País e com maior

capacidade para arrecadar recursos próprios seria condição necessária, mas não

suficiente, para responder às questões que caracterizavam a realidade desses centros

urbanos.

Diante dessa realidade, era necessário entender a participação no financiamento

tripartite dos inúmeros programas que estavam sendo descentralizados, e a colaboração

técnica federativa entre eles, a partir das regulamentações elaboradas e promulgadas de

forma centralizada, sem nenhum diálogo federativo franco e claro com os governos

subnacionais e sociedade.

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Nos mais diversos setores foram sendo definidos direitos sociais. Porém, a

definição das responsabilidades comuns aos três entes de governo era caracterizada por

muitas lacunas e sobreposições.

Os desafios gerados pelo modelo federativo a ser implantado eram difíceis de

serem percebidos, pois, apesar do aumento das receitas, as atribuições de cada esfera de

governo não eram facilmente identificadas. A maioria das capitais havia herdado os

equipamentos dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), e se transformado em

sede de região metropolitana, e, portanto, em polos provedores de serviços, responsáveis

por atenderem a população dos municípios do entorno.

Tal cenário, de aumento de responsabilidades, será posto em xeque pela ausência

de um modelo claro de cooperação técnica e de financiamento tripartite, e pelas

exigências fiscais.

No decorrer da década de 90, uma nova disciplina fiscal, progressivamente

implantada pelo governo brasileiro,

contribuiu para justificar o desmonte e a omissão das instâncias superiores de

governo nas políticas municipalizadas e ou descentralizadas. As políticas liberais em

curso suprimiram parte dos direitos constitucionais assegurados em 1988.

No quadro de desindustrialização e privatizações, o governo central

recentralizou sua participação na receita disponível, ocasionando perdas irreparáveis em

vários setores que tinham sua participação na arrecadação dos impostos definida

constitucionalmente. Tais receitas eram fundamentais para compor e abastecer os

fundos de participações dos governos subnacionais que o pacto federativo havia

proposto.

De um modo geral, os governos das capitais começaram a conjeturar o impacto

da queda das transferências constitucionais, além das perdas na arrecadação própria,

devidas ao processo de desindustrialização e à guerra fiscal. Simultaneamente

contabilizavam um aumento da necessidade de recursos próprios como contrapartidas

das transferências discricionárias regulamentadas.

Como se não bastassem essas questões, os municípios endividados eram

submetidos a diversas restrições fiscais, tais como o teto de gastos com pessoal e a

renegociação do estoque da dívida pública municipal.

No momento da renegociação da dívida, final dos anos 90, mais de 70 pontos

percentuais do estoque da dívida municipal pertenciam ao passivo permanente das 26

capitais. Um paradoxo estava criado entre o exercício da autonomia e a responsabilidade

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federativa, assegurando a realização de políticas públicas descentralizadas e ou

municipalizadas, e o cumprimento de metas fiscais e condicionalidades estabelecidas

no contrato da renegociação da dívida.

Esta contradição inspirou a definição do recorte temporal da pesquisa, que visou

analisar as finanças públicas das 26 capitais, de 1995 a 2010, nos 6 exercícios anteriores

à vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)1, e nos 10 anos após a mesma.

Esse recorte permite revelar a mudança ocorrida na evolução do gasto público

dos governos capitais, mediante a vigência das cláusulas pétreas da LRF, que além dos

tetos definidos paras as despesas correntes, assegurou recursos orçamentários e

financeiros para o pagamento das despesas financeiras decorrentes das cláusulas

contratuais.

A LRF também definiu a metodologia do resultado primário e nominal, além de

estabelecer aos municípios um coeficiente de endividamento, que, a meu juízo, trouxe

enormes prejuízos para o arranjo federativo, dificultando a coesão social nos grandes

centros urbanos endividados.

Nesta problemática inspira-se a construção dos quatro capítulos da pesquisa. O

primeiro capítulo apresenta algumas das principais premissas da corrente hegemônica

do federalismo fiscal, que apontam para as condições necessárias para que uma

federação possa desfrutar da autonomia federativa decorrente da descentralização fiscal.

O segundo capítulo contextualiza os entraves e desequilíbrios orçamentários que

impactaram as finanças públicas das 26 capitais, ocasionados pela adoção dos critérios

de partilha adotados em 1988, que favoreceram os municípios menos populosos,

contribuindo para aumentar o número de municípios.

Trata também das consequências da Operação Desmonte2 que permitiu a

recentralização das receitas disponíveis na esfera federal, em pleno processo de

descentralização das atribuições e ou municipalização das políticas públicas aos centros

mais populosos. Ou seja, o movimento condenou as 26 capitais a executarem as ações

dos programas descentralizados em meio a um volume crescente de exigências de

contrapartidas de recursos subtraídos dos orçamentos próprios, comprometendo as

atribuições de competência exclusiva municipal.

1 Lei Complementar nº 101, maio de 2000. 2 O movimento da “operação desmonte” foi idealizado e colocado em prática no governo Sarney.

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O terceiro capítulo procura considerar as medidas fiscais que consolidaram a

rigidez orçamentária, a partir das restrições fiscais e da própria configuração que o pacto

federativo, como estabelecido e regulamentado.

O quarto capítulo aborda a necessidade de estimular novos instrumentos de

arrecadação própria, para inclusive compensar as perdas de recursos constitucionais e

minimizar o aumento do custo orçamentário das contrapartidas exigidas pelas

transferências voluntárias. Também aborda o tema do ônus, para os municípios, das

frequentes decisões do judiciário, mais conhecida como judicialização, que, na sua

realidade, interfere no dia a dia da execução do planejamento orçamentário próprio das

26 capitais do país.

A partir dessas questões, as interrogações postas na pesquisa estavam definidas:

como executar as ações próprias diante da autonomia federativa assegurada no texto

constitucional em meio às diversas restrições fiscais e das medidas liberais? Estava

criado o roteiro do difícil encontro entre a autonomia para arrecadar recursos próprios,

versus a rigidez orçamentária das cidades mais populosas e dinâmicas do País.

O conjunto dessas questões conduziu à temática da dissertação permitindo

caracterizar o difícil encontro. Com essa problemática se alinha a reflexão das

consequências herdadas do rápido processo de urbanização.

Questões que acrescentam um grau de dificuldade para entender a crise urbana

que caracterizam as regiões metropolitanas.

O êxodo, justificado pelo progresso da indústria e pelo progresso técnico de alguns

setores agrícolas atraíram um número expressivo de pessoas que migraram da zona rural

para os grandes centros urbanos a procura de empregos urbanos.

Porém, conforme Santos (2008), parte substancial da população que migrou do

campo para as cidades brasileiras, passou a fazer parte apenas da economia informal e

a conviver com as carências de políticas públicas, pois as estruturas urbanas não estavam

preparadas para receber o grande contingente populacional que passaram a abrigar de

forma precoce e rápida. O anexo 1, apresenta a tabela 27 que mostra a evolução da

população urbana do País, no período de 1872 até 2000.

Para Cano (1989), a evolução da urbanização gerou um caos urbano, pois além da

deficiência na interação da indústria e dos serviços, as cidades conviviam com o inchaço

populacional, enquanto as políticas públicas permaneciam inseridas em um quadro que

fragmentava o acesso.

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Ou seja, o processo desnudou a miséria, nos centros urbanos faltavam luz, água e

habitação. A oferta de bens e serviços públicos não acompanhava a demanda. E,

considerando a postura autoritária do governo, as questões sociais permaneciam

relegadas à segundo plano, e parcela expressiva da população urbana permanecia

ignorada e marginalizada do processo de cidadania.

Assim, os grandes centros urbanos se tornaram sinônimos de desigualdades e de

abomináveis condições de vida, o traslado humano provocado pela urbanização encheu

as cidades de pessoas que permaneceram à margem da sociedade capitalista.

De acordo com Cano (1989), os “de cima” representavam 20% do contingente

humano que acresceu a urbanização, e os 80% “de baixo” foram obrigados a se

instalarem nas periferias das cidades, com precária infraestrutura, falta de saneamento e

débil serviço de transporte. Como não podiam pagar à especulação imobiliária, se

dispuseram a receber o precário atendimento dos serviços públicos, que os impedia de

ter acesso às melhorias no padrão de vida.

Foi um período de intenso crescimento das cidades, acompanhado da especulação

e da multiplicação dos assentamentos humanos nas periferias. O trabalhador foi

obrigado a se distanciar mais do centro urbano e do seu trabalho.

Cabe observar que a própria política do Banco Nacional de Habitação (BNH), o

acesso ao financiamento era quase que restrito à classe média e alta, e, sem dúvida,

contribuiu para o processo de especulação imobiliária e de “periferização” das grandes

cidades. Ou seja, a urbanização resultou na formação das periferias urbanas nas

metrópoles. A valorização imobiliária nos centros metropolitanos só permitiu a

permanência das pessoas que tivessem renda elevada, e os indivíduos e famílias de renda

baixa eram expulsos para a periferia.

Com o passar dos anos, os grandes centros estavam deformados pelos altos índices

de miséria, desigualdade de renda, desemprego, violência, e necessidades básicas como

saúde, educação, cultura, saneamento, transporte e habitação.

Ou seja, a crise do Brasil urbano não é nova e tem raízes históricas. E a

urbanização acelerada e desprovida de um planejamento urbano e orçamentário,

contribuiu para o descontrole das finanças públicas locais que estavam sob condições

autoritárias e submissas aos interesses do capital.

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As políticas do Estado brasileiro, como bem observou Fiori (1989), estimulou a

acumulação politizada3, e promoveu um arrocho salarial como justificativa de conter a

inflação. Por meio de medidas fiscais autoritárias e centralizadas, a carga tributária

cresceu a partir de sucessivas cobranças dos tributos indiretos que incidiam sobre o

consumo, da cobrança de contribuições sobre a folha salarial que confiscava parte

significativa da renda da classe trabalhadora.

Tínhamos um Estado que além de regular a cidadania e produzir intensa

fragmentação ao acesso às políticas públicas, privatizou o espaço público e construiu

políticas e programas voltados aos interesses particulares, empresariais e clientelistas.

Assim, atender às exigências do Brasil urbano em meio à construção de programas

contaminados pelos interesses regressivos, restringiram às oportunidades de enfrentar

os desafios urbanos.

Muitos governos locais saíram em busca do endividamento público como

alternativa de financiamento para determinadas políticas públicas, mas, mediante as

sucessivas crises econômicas e fiscais, os avanços foram inexpressivos. O modelo

engendrou uma ampla e profunda crise fiscal e de endividamento.

A partir destas breves considerações, é fácil entender que administrar e planejar

um orçamento de um centro urbano populoso e endividado, não tem sido tarefa fácil. A

carência de estrutura urbana e social, somada às dificuldades de financiamento e às

condicionalidades da nova disciplina fiscal, caracterizam os principais desafios

orçamentários das 26 capitais que serão contextualizados nessa pesquisa.

Dessa forma, tenho como hipótese central que a trajetória da rápida urbanização,

aliada às confusas relações federativas e somadas às restrições fiscais, dificultaram

qualquer possibilidade de planejamento que se propusesse enfrentar às dificuldades da

estrutura urbana e social de uma grande cidade.

A bem da verdade, apesar da carta magna criar um capítulo para tratar dos desafios

urbanos, os encaminhamentos que ocorreram, autorizar a criação de regiões

metropolitanas, na prática, contou com pouca efetividade para atuar, protelando a

possibilidade de integração e cooperação necessária entre os municípios metropolitanos.

3 Segundo Fiori (1989:105), as contradições embutidas nos compromissos assumidos pelo Estado

brasileiro, utilizou-se da sua autoridade e do seu poder de coordenação da economia para favorecer

determinados grupos, caracterizando o processo que denominou de “acumulação politizada”, por

responder e atender muito mais às regras de mercado, mediante ações que estiveram submetidas às

imposições e interesses de capitais e blocos de poder regional, e se tornou incapaz de impor uma agenda

com políticas que atendessem a heterogeneidade socioeconômica com ações de caráter atuação

distributivo.

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Acredito que as metrópoles brasileiras permaneceram mergulhadas em uma armadilha

que as impedem de exercer de fato a sua autonomia e soberania federativa.

Dessa forma, me parece que as relações atuais se tornaram extremamente custosas

e confusas, e as responsabilidades descentralizadas aos principais polos provedores dos

serviços públicos, as 26 capitais, acarretaram uma rigidez orçamentária que, de certa

forma, impediu os governos de exercerem a responsabilidade federativa anunciada no

texto constitucional de 1988.

Realidade que se traduz pelas palavras de Prud’homme (1995), quando comparou

o processo da descentralização a uma droga potente, quando usada no momento

apropriado e na dose correta teria um efeito saudável e desejável, em circunstâncias

erradas poderia acarretar conflitos em vez de ajudar.

Toda essa problemática abordada nos remete, necessariamente, a uma análise dos

compromissos da descentralização fiscal frente aos atuais compromissos fiscais do

Estado brasileiro. Que, para Stiglitz (2000), em sua “mea culpa” em relação ao ideário

neo-liberal, a promoção do desenvolvimento sustentável só se daria por meio de um

caminho voltado para a construção de uma sociedade mais igualitária e mais estável do

ponto de vista político, isto requereria a promoção da educação, o fomento à tecnologia;

o investimento em infraestrutura, a prevenção à degradação ambiental e a criação e

manutenção de uma rede de seguridade social.

Porém, tais premissas nos parecem distantes, como veremos, ainda hoje, nos

centros urbanos mais ricos do País, a população permanece desprovida de um padrão de

vida urbano que lhe assegurasse a coesão social.

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Capítulo 1: Do Estado Intervencionista econômico ao

descompromisso Social

1.1 Introdução

Conforme observou Oliveira (2012), de tempos em tempos ocorreram mudanças

no comando político do País, mas os interesses do capital permaneceram blindados.

Quando se estuda as decisões e ações que conferiu ao País o status de “Estado

Desenvolvimentista”, enquanto financiador e organizador o processo de

industrialização, percebe-se um modelo de acumulação que colocou a proteção social

apenas como uma possibilidade para os indivíduos que não estavam inseridos na

meritocracia.

Nossa história federativa, segundo Vianna apud CARDOSO (2010, p. 783),

imprimiu um caráter conservador e autoritário que limitou e impediu o acesso à proteção

social, excluiu parte da massa dos trabalhadores urbano e rurais que não estavam

enquadrados nas categorias e ou classes reconhecidas pelo Estado getulista.

A expectativa de acesso à proteção social, de fato, marginalizou parcela

expressiva da população, e a distribuição dos benefícios permaneceu quase sempre

restrita aos empregados do chamado mercado formal de trabalho, combinação que

acarretou resultados de segregação e ampliou a concentração de renda e a desigualdade

regional na federação.

Dessa forma, o Estado brasileiro por meio da sua própria estrutura administrativa

priorizou os interesses privados e escolheu os seus parceiros, protegeu o capital

oligopolístico e concentrou riqueza. Para Fiori (1994), essa arbitragem tornou-se um

processo complexo, na medida em que o poder da burocracia foi usado como argamassa

para soldar seus compromissos e acordos que não lograram acolher a coletitividade.

Diferentemente, o Estado do mundo desenvolvido assumiu um papel de árbitro entre os

diversos interesses, e por meio da sua institucionalidade estatal condensou os conflitos

das classes e a competição dos capitais e resguardou a capacidade operacional da

burocracia estatal.

Ou seja, nosso modelo assegurou que os interesses privados se enraizassem com

uma íntima relação com a burocracia estatal. E a expansão dos programas sociais

ocorreu de forma centralizada, com um indesejável distanciamento entre os

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formuladores, os executores de políticas e os seus beneficiários; consequentemente,

permitiu práticas fraudulentas e clientelísticas. Conforme Draibe (1985:20):

De uma à outra fase da industrialização, com autonomia, força e

capacidade de iniciativa, o Estado brasileiro planejou, regulou e interveio

nos mercados e tornou-se ele próprio produtor e empresário; através de

seus gastos e investimentos, coordenou o ritmo e os rumos da economia

e, através de seus aparelhos e instrumentos, controlou e se imiscuiu até o

âmago da acumulação capitalista. Do ponto de vista social e político,

regulou as relações sociais, absorveu no interior de suas estruturas os

interesses sociais e se transformou numa arena de conflitos, todos eles

“politizados”, mediados e arbitrados pelos seus agentes.

Nesse sentido, ampliou o poder político da burocracia, sobretudo mediante

situações nas quais, precariamente, estava estruturado o sistema de representação de

interesses de uma sociedade civil desarticulada.

Para Martins (1985), o Estado serviu para garantir dividendos ao setor privado,

onde a produção, em parte, encontrava-se nas mãos de atores internacionais, e em parte,

nas mãos de um Estado que agia em nome dos interesses de uma classe dominante.

Assim, o Estado atuaria no sentido de compatibilizar, em nível mais alto, a forma

pública e a forma privada da exploração empresarial capitalista.

A coordenação estatal avançou a partir de fortes ações em vários setores

econômicos, com programas e políticas destinadas a incentivar e a proteger o

investimento privado. Segundo Cardoso de Mello (1982:118)

A ação do Estado foi decisiva, em primeiro lugar, porque se mostrou

capaz de investir maciçamente em infraestrutura e nas indústrias de

base sob sua responsabilidade (...). Coube-lhe, ademais, uma tarefa

essencial: estabelecer as bases da associação com a grande empresa

oligopólica estrangeira, definindo, claramente, um esquema de

acumulação e lhe concedendo favores.

Ou seja, com uma estrutura burocrática administrativa baseada no nível do

executivo central, a elaboração do planejamento orçamentário4 era construída de modo

centralizador e autoritário. E, naquele momento, o Brasil estava inserido em um modelo

em que predominava a cidadania regulada5. A maioria dos programas do governo mais

contribuía para acentuar a acumulação do capital, em detrimento das demandas sociais

4 Segundo Draibe (1985), foi a partir de 1939 que se iniciou a distinção de categorias de despesas entre o

custeio e investimento público. 5 Para Luciano Martins (1977), a cidadania regulada era resultado do modelo de acesso fragmentado,

associado a sistemas de força, barganhas e privilégios e a um baixo grau de universalização e

uniformização dos benefícios sociais ofertados pelo Estado brasileiro.

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da massa populacional que permaneciam fora da estrutura do planejamento

orçamentário do governo central.

Com a intensificação do processo de industrialização e urbanização, as cidades

passaram a receber e a sediar milhares de cidadãos em busca de trabalho, de uma vida

melhor. Enquanto isso, poucos foram os esforços realizados para garantir a reprodução

da força de trabalho e promover políticas de inclusão social.

A tradição e o compromisso do nosso Estado era direcionar grande parte dos

recursos do orçamento fiscal para políticas públicas voltadas para a acumulação do

capital, e, portanto, as questões sociais ficavam submetidas à lógica do mercado. A

prioridade conferida à acumulação politizada, era justificada pelo baixo nível de

desenvolvimento das forças produtivas e pela necessidade de garantir seu avanço, como

condição para libertar o País da situação de atraso econômico, desemprego e pobreza da

população, que impedia que nele se construísse um Estado do bem-estar, como ocorreu

nos Países desenvolvidos (OLIVEIRA, 2012).

Esse modelo assegurou a concentração da renda, a partir de uma poderosa barreira

protecionista que muito contribuiu para a formação de oligopólios dos novos setores

industriais. Os departamentos da economia priorizados não foram capazes de criar

automaticamente meios de pagamentos aos credores internacionais, pois a demanda

interna frente à capacidade instalada não havia sido assegurada, o mercado interno foi

incapaz de gerar as divisas necessárias para cobrir o hiato criado na balança de

transações correntes e assumir o financiamento de longo prazo, variáveis suficientes

para deflagrar a crise fiscal das décadas seguintes.

A implantação desse modelo foi possível dadas às condições político-econômicas

favoráveis na época, quando o financiamento no mercado internacional se encontrava

abundante e barato, que colocou o País em uma condição de recorrentes desajustes, e

absorvia fatias significativas das receitas orçamentárias, via incentivos, isenções,

benefícios fiscais, subsídios creditícios e investimentos para a indústria e setores da

infraestrutura.

Com capacidade fiscal no limite a solução adotada para cobrir as contas

deficitárias e dar continuidade ao modelo de expansão econômica foi o financiamento

inflacionário, o Estado passou a emitir moeda e a se endividar cada vez mais no âmbito

externo.

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Cabe observar que, a reforma tributária6 ocorrida em 1966, não aumentou a

tributação sobre as classes de renda média e alta, apenas eliminou a cobrança em cascata

e introduziu mudanças que contribuíram para aumentar a carga tributária sobre o

consumo e a classe trabalhadora, com o discurso de que era necessário ampliar os

recursos para dar sustentação aos propósitos do crescimento econômico, a cobrança

recaiu sobre os tributos indiretos dos bens de consumo e na folha de salarial.

Não houve preocupação com as imperfeições do sistema, não foi adotada

nenhuma mudança comprometida com a justiça fiscal e/ou progressividade na

tributação. E, como bem destacou Oliveira (1995), o governo lançou mão de

instrumentos que centralizaram a arrecadação e submeteu os estados e municípios à

relação de dependência do poder central para a obtenção de recursos necessários ao

desempenho de suas tarefas, liquidando qualquer possibilidade de autonomia federativa,

tornando-os inoperantes e submissos ao governo central.

Segundo dados da secretaria do Tesouro Nacional, a evolução da centralização

dos recursos na esfera federal foi significativa: em 1967, a participação na receita

disponível das esferas central, estadual e municipal era de 36%; 46,4% e 17,6%; em

1974, a participação era, respectivamente, 50,5%; 36%; e 13,5%. A partir de 1967, o

governo central passou a manipular a receita disponível dos estados7 e municípios, que

foram obrigados a ceder participações nas redistribuições de recursos à esfera central8.

Em 1968, o Ato Complementar n. 40 enfraqueceu ainda mais a força do

instrumento de partilha de recursos entre os governos subnacionais. Sob o argumento

de combate à inflação, foi reduzido drasticamente o percentual das alíquotas de vinte

para doze pontos percentuais, e depois para cinco pontos percentuais dos recursos que

eram destinados para o Fundo de Participação Estadual (FPE) e Fundo de Participação

Municipal (FPM), e dois pontos percentuais destinaram-se para um Fundo Especial. Por

conseguinte, foram sendo integradas àquela estrutura tributária novas fontes de

arrecadação, pautada em uma abundante base de incentivos e subsídios9 que favoreciam

6 Segundo Oliveira (2010), a reforma tributária teve início com a Emenda Constitucional n. 18, de

01/12/1965, e completou-se com a aprovação do Código Tributário Nacional (CTN), pela Lei n. 5.172,

de 25/10/1966. 7 O governo central passou a definir alíquotas de impostos, como a alíquota do Imposto sobre o Consumo

de Mercadorias (ICM) 8A participação do governo central na arrecadação do imposto sobre combustíveis e lubrificantes passou

de 40% para 60%, e reduziu a dos estados e municípios de 60% para 40% (32% para os estados e 8% para

os municípios). 9 Por exemplo: para impulsionar o mercado de ações, formaram-se fundos de investimentos abastecidos

a partir de deduções no IR.

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a concentração da riqueza no País. Ações que não permitiram a modernização e o

fortalecimento do federalismo.

Entretanto, contribuíram para transformar o sistema tributário brasileiro em uma

poderosa ferramenta do processo de acumulação, adequando as receitas do Estado à

nova estrutura de produção, com a preeminência sobre alguns setores da economia, e as

necessidades dos governos subnacionais permaneciam submetidas às vontades e

determinações do governo central.

Cumpre lembrar que, mesmo no auge do período de crescimento acelerado do

País, de 1968 a 1973, a política social permaneceu prejudicada. Com condições

econômicas favoráveis para uma descompressão salarial10 e social, amparadas por

recursos fiscais abundantes, lucros generosos das empresas, o resultado social não

poderia ter sido pior, forte deterioração da distribuição de renda e piora das condições

de moradia e dos serviços públicos marcaram a vida nos centros urbanos. De um modo

geral, nas grandes cidades, as populações de baixa renda eram vitimadas pela piora das

condições de vida.

Baixa prioridade para os programas habitacionais voltados para a população de

baixa renda, apenas 20% dos investimentos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH)

foram destinados às famílias com renda inferior a cinco salários mínimos. Enquanto que

famílias com renda mais elevada, superior a 10 salários mínimos, tiveram participação

em mais de 60% dos programas do SFH. Cenário que mostra o caráter regressivo, elitista

e excludente das políticas sociais do governo militar (Revista PMDB, 1982).

Outros expedientes passaram a consumir crescente parcela do gasto público,

voltados para as necessidades colocadas pelo novo padrão de acumulação e para os

interesses políticos das classes dominantes, como por exemplo, o sistema nacional de

crédito rural (SNCR); as obrigações reajustáveis do tesouro nacional (ORTN); os títulos

da dívida pública de rendimento variável do Banco Central, Conselho Monetário

Nacional (CMN), e Banco do Brasil (LOPREATO, 1993).

A acumualação do capital ainda foi favorecida pela Lei n. 4.131 de 1962, que

passou a permitir o endividamento direto das empresas no exterior, porém com anuência

do Bacen. Com condições externas de créditos volumosos, ágeis e baratos, ocorreu a

10 O modelo de desenvolvimento penalizou fortemente o crescimento dos salários reais dos trabalhadores,

não houve ganho real dos salários, uma política que inclusive contribuiu para expandir a dívida externa,

pois financiava as remessas crescentes dos lucros para o exterior, o denominado capital forâneo, que

estimulava as empresas a exportar o excedente. A esse respeito, ver Belluzzo e Almeida (2002).

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institucionalização de canais de ingresso de capitais externos, que se constituiu a partir

dos últimos anos da década de 1960, em uma das peças fundamentais da alavancagem

dos setores público e privado.

Estava introduzida a indexação financeira por meio da criação do índice de preços,

como forma de tentar regularizar os contratos e evitar o risco do credor face à

desvalorização da moeda. A indexação permitiria neutralizar certos tipos de riscos nos

contratos a prazo, o denominado risco do credor. O risco era tanto maior, quanto mais

alta fosse a taxa de inflação, face a possibilidade de dispersão de preços e rendimentos.

Segundo Belluzzo e Almeida (1992), os únicos agentes dispostos a assumir o novo risco

do credor foram as agências públicas de financiamento, que organizaram sistemas de

indexação nos empréstimos a longo prazo que reduziam o risco para o devedor.

Assim, o Estado passou a financiar diretamente a expansão da acumulação do

capital, acentuando a desigualdade social do País. Segundo Fiori (1994), o projeto

progressista que denominou de Fuga Para Frente11, assegurou o endividamento externo

e a expansão da economia brasileira, porém, desconsiderou uma possível crise cambial

e financeira.

Lembrando que, desde o início dos anos 70 o estoque de endividamento do setor

público sofreu mediante às crises do petróleo, e no final da década de 197012, somado à

crise econômica da primeira metade dos 1980, o resultado das contas públicas passou a

ser insustentável do ponto de vista do financiamento externo.

Dessa forma, os movimentos da política econômica do País, de um modo geral,

cunharam as dificuldades fiscais das contas públicas, e reforçaram e ampliaram as

desigualdades de renda e aumentaram os níveis de pobreza urbana do País.

De acordo com Fiori (1994), as ações do Estado responderam, em sua trajetória,

às regras do mercado, aos interesses do capital e blocos regionais de poder, deixando de

lado os mais fracos economicamente.

Em vez de um Estado de bem-estar social, tivemos um modelo que combinou

paternalismo e repressão, que assegurou a desigualdade social por sua própria ação que

11 Para definição da Fuga Para Frente, ver Fiori (1994). 12 Com a decisão unilateral do governo americano de suspender a convertibilidade e desvalorizar a sua

moeda, o governo rompeu com as regras estabelecidas em Brettton Woods, depois da segunda Guerra

Mundial. Mediante a quebra do padrão monetário internacional pelos países centrais, o mundo assistiu a

uma fuga em massa de capitais em direção a Wall Street e a Londres, em um processo denominado de

desregulação competitiva. Logo depois, essa medida se estendeu por boa parte do mundo capitalista, e os

países latino-americanos aderiram às políticas liberalizantes, pressionados pela crise econômica mundial

e pela renegociação das suas dívidas externas (Fiori, 2001).

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penalizou a grande massa urbana, a fração mais fraca, porém, significativa da sociedade

civil, que não exercia nenhum poder de veto sobre as decisões dos já vitoriosos.

Passamos a conviver com uma crise política, aceleração inflacionária, redução da

atividade econômica e com uma profunda crise fiscal, com aumento dos custos das

despesas públicas e com queda das receitas tributárias, o que quadruplicou o estoque de

endividamento público.

Dessa forma, o ambiente de crise fiscal e política, abriu caminho para a ideia de

que era necessário rever os arranjos federativos e exigir mudanças no formato das

decisões políticas para um projeto de desenvolvimento de âmbito nacional, pensamento

que ganhou força em todas as regiões da federação.

O processo da descentralização13 fiscal passou a ser considerado uma

possibilidade para o resgate da democracia e autonomia usurpada das esferas

subnacionais pelo governo central durante os 21 anos de ditadura militar. Inclusive,

apostando que a descentralização fiscal poderia enfrentar os desequilíbrios regionais,

resultantes de medidas associadas ao Estado da acumulação politizada14.

Ou seja, a descentralização fiscal seria um instrumento importante para o

fortalecimento do poder local e de melhorias na gestão pública. Premissas que

coincidem com os anseios do processo da redemocratização do Brasil. Por todos os

cantos da federação, os movimentos de lutas sociais se multiplicavam e clamavam por

uma ruptura com aquele modelo centralizador, fragmentador e autoritário.

A agenda se pautava por meio da possibilidade de construção de um pacto

federativo que permitisse o desenvolvimento da nação de forma democrática,

comprometido com a redução da heterogeneidade econômica e social, não só entre, mas

intra regiões, com políticas harmônicas e cooperativas que assegurassem a

universalidade da proteção social aos brasileiros.

Conforme Almeida (1996), a agenda estava aliada à proposta de descentralização

fiscal do setor público, que efetivamente passou a ser defendida como resposta e crítica

ao regime autoritário, parecia inevitável a ideia de descentralizar as ações do Estado.

13 Conforme Silva e Costa (1995:262), a noção de descentralização comporta vários significados. A

literatura internacional dá esse mesmo nome a processos muito distintos, tanto no que concerne à natureza

dos fenômenos observados, como às suas trajetórias históricas. Assim, aparecem como processos de

descentralização tanto movimentos de desconcentração de poder de tomada de decisão sobre a alocação

de recursos estatais no interior de uma mesma instância governamental, quanto processos mais estruturais

de transferência de recursos e de poder – de um nível de governo a outro, entre poderes do Estado-Nação

(Executivo, Legislativo e Judiciário), ou ainda do Estado para a sociedade civil. 14 A esse respeito, ver Fiori (1994).

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Porém, a ideia de que a descentralização fiscal reforçaria a autonomia do poder

local compunha as premissas do discurso liberalizante que se alastrava pelo mundo, ao

mesmo tempo, era colocado a necessidade de restringir o papel do Estado. Na verdade,

a proposta predominante era pôr fim às políticas keynesianas e abrir espaço para uma

atuação mínima do Estado.

O discurso neoliberal anunciava que as exigências excessivas feitas ao Estado

desde o pós-guerra eram responsáveis pela ingovernabilidade das economias

endividadas. O principal elemento introduzido pelo Welfare State Keynesiano, deveria

ser substituído pelo Estado regulador, da lógica da maximização e eficiência na provisão

dos bens e serviços públicos por meio de estruturas mínimas e descentralizadas. Pois,

acreditava-se que, para alcançar o equilíbrio e a eficiência no setor público e restaurar o

dinamismo econômico, o Estado deveria encolher seu tamanho, reduzir suas atividades,

desmontar os mecanismos da segurança social e flexibilizar o direito adquirido no

passado, ou seja, estreitar as bases de financiamentos para ajustar o déficit público.

Dessa forma, os instrumentos utilizados pelo processo da descentralização fiscal

brasileira em curso desde os anos 80, defendido pelos organismos internacionais - Banco

Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BIRD) - ocorria em um ambiente de desequilíbrio fiscal, que por sua

vez, legitimava o discurso quanto à necessidade da realização de um ajuste fiscal.

Para entendermos o atual encontro cravado entre a disciplina fiscal e o texto

constitucional vigente, que culminou em uma rigidez orçamentária versus a autonomia

na arrecadação própria dos grandes centros mais dinâmicos do País, ainda que de forma

breve, torna-se fundamental entender os objetivos e premissas das correntes liberais que

se abateram sobre o mundo naquele momento.

Necessidade que se faz, a partir da ideia disseminada de que a descentralização

fiscal deveria assegurar um processo de redistribuição de recursos, espaços de decisões,

competências, atribuições e responsabilidades (SILVA e COSTA, 1995).

1.2 Marco teórico do gasto público descentralizado

As finanças públicas são abordadas pela corrente hegemônica neoclássica a partir

da ideia do individualismo metodológico, da racionalidade do agente, da escassez dos

recursos, onde o preço sinalizava a escassez e deveria garantir a concorrência perfeita

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dos mercados através do ponto de equilíbrio entre a oferta e demanda, mais conhecido

como ponto de equilíbrio geral15.

A partir do reconhecimento da existência de falhas do mercado essa visão foi

superada, e abriu espaço para a Síntese Neoclássica consolidar a importância da

combinação do pensamento keynesiano com alguns novos pensadores neoclássicos, que

reconheceram a importância da presença do Estado na economia para além da correção

das markets failure16, coadunando-se com a expansão da atuação estatal tanto na forma

do Welfare State, quanto nos Estados desenvolvimentistas da periferia mundial.

Ou seja, o mercado não estaria pronto para resolver determinadas funções, dada a

complexidade do sistema capitalista. Assim, as finanças públicas no mundo acadêmico

se transformariam em uma nova disciplina, a Economia do Setor Público, a partir de

funções interventoras, a alocação17 bens e serviços públicos, distribuição18 renda e

estabilização19 da economia.

A evolução do pensamento da teoria tradicional, o federalismo fiscal20 postulou

um novo papel para o Estado, especialmente no que se refere à descentralização das

funções entre as esferas de governos. Para o mainstrean, os problemas cotidianos

deveriam ser enfrentados pela esfera de governo subnacional, e, quanto maior o nível

da descentralização, maior a possibilidade de se maximizar o bem-estar de maneira

eficiente21, entretanto, não entrou no mérito e nas especificidades características de cada

nação.

15 Ótimo de Pareto é uma suposição abstrata de situação de concorrência perfeita, segundo a qual não é

possível melhorar a situação de algum indivíduo, sem prejudicar outro. Nesse sentido, o ótimo não tem

condições de melhorar o bem-estar de um agente econômico sem piorar a situação de outro. A teoria do

equilíbrio geral parte do pressuposto de Pareto, de que o mercado levaria livremente a uma situação de

concorrência perfeita entre a oferta e demanda, por meio do mecanismo de preço, e utilidade marginal,

que seria o guia para maximizar o bem-estar. 16Segundo Musgrave (1980), as Markets failure são indivisibilidade de produtos que não permitiria o

ótimo paretiano; criação de externalidades negativas, casos em que as empresas poderiam causar danos

sobre as demais empresas; mercados imperfeitos (monopólios e oligopólios); além de riscos e incertezas

na oferta de determinados bens que levaria a imperfeição e incertezas. 17 Função alocativa destinada a assegurar a alocação de recursos para a oferta de bens públicos puros,

como segurança, justiça, meio ambiente etc. 18 Função distributiva destinada a auxiliar na distribuição da renda e riqueza, como a oferta de bens, como

saúde, educação, assistência e transferência de renda. 19 Função estabilizadora, destinada a garantir a estabilização econômica, implementando políticas fiscais,

restritivas e ou expansionistas, de arrecadação de receitas, gastos e endividamentos públicos voltados a

combater o desemprego, inflação, com a finalidade de alcançar o equilíbrio macroeconômico interno e

externo. 20 A esse respeito, ver Musgrave (1959); Wallace Oates (1972); Rezende (1983) e Bird (1993). 21 Adequação da oferta de bens e serviços públicos e o nível de tributação afetam a soberania do

consumidor na medida em que a relação entre bens e serviços públicos e privados que serão consumidos

dependem da oferta desses bens e dos seus preços. No caso dos bens públicos, são expressos nos níveis

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Para Musgrave (1980) o Estado deveria corrigir as falhas do mercado e traçar

regras e princípios que auxiliassem em uma conduta eficiente da economia. E, maior

conhecimento e esclarecimento da estrutura do gasto público possibilitaria um

planejamento orçamentário que identificasse as principais necessidades, caso ocorresse

restrição de recursos orçamentários.

Por sua vez, Wallace Oates (1991), reforçou a ideia de que a descentralização

fiscal deveria ser entendida como um instrumento para garantir a eficiência das unidades

fiscais e maximização das funções do setor público. Pois, acreditava que a

descentralização seria uma oportunidade para determinar o ótimo paretiano da unidade

pública, com vistas às demandas individuais e alocação da oferta do bem público

adequadamente às preferências e quantidades.

A principal preocupação era responder sob quais condições a descentralização

acarretaria melhoria na qualidade da capacidade governativa, ou seja, de que forma os

gastos se tornariam mais efetivos. Quanto à arrecadação dos recursos financeiros,

acreditava-se que o governo intermediário poderia ter melhor desempenho na

arrecadação voltada para o consumo; ao passo que o governo local deveria arrecadar a

receita sobre a propriedade imobiliária ou taxas de uso de serviços.

Por sua vez, o governo central deveria exercer um papel arrecadador dos tributos

sobre a renda, e indicar as situações nas quais se manifestassem externalidades na

produção local de bens, compensando os governos descentralizados com subsídios

unitários, levando-os a internalizar os benefícios provenientes dos transbordamentos

entre jurisdições ocorridos na oferta de bens públicos locais. Esses subsídios unitários

encorajariam uma oferta em níveis eficientes pelos governos descentralizados.

Mecanismo que, segundo Vargas (2006) equivaleria às transferências fiscais,

instrumento-chave nas relações intergovernamentais para complementar as receitas dos

governos subnacionais, e garantir uma oferta eficiente de bens públicos nessas esferas.

Ou seja, a partir do princípio da subsidiariedade, os níveis de governo que

estivessem acima deveriam ajudar a financiar quem estivesse abaixo, para corrigir as

imperfeições provocadas pela conduta humana e alcançar a eficiência do setor público.

Nesse quadro teórico, caberia ao governo central definir as atribuições de funções, as

competências tributárias, e os recursos complementares na forma de transferências, que

se tornaram questões centrais do Federalismo, para se obter eficiência na gestão pública.

de tributações e no quanto esta afeta a restrição orçamentária dos consumidores. Na verdade, a “razão

para a ação orçamentária é corrigir a escolha individual” (Musgrave, 1973:30).

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Enquanto que algumas questões, como a exclusão social e a concentração populacional,

pouca ou quase nenhuma atenção receberam nesse debate.

Dessa forma, a descentralização fiscal e as transferências fiscais se notabilizaram

como aspectos cruciais da perspectiva teórica do Federalismo Fiscal. Affonso (2003)

destaca, que a partir dessa visão, o Federalismo se reduzia ao Federalismo Fiscal, e este

último, à questão da descentralização fiscal.

A Lei de Wagner, tentou contribuir com explicações empíricas, apoiadas nas

estatísticas da evolução dos gastos públicos em Países industrializados. Porém, não

tratou das restrições orçamentárias, mediante o aumento da demanda por bens e

serviços, e não se preocupou com as forças políticas, econômicas e sociais que

influenciavam as decisões de gastos do Estado, o que a impediu de perceber, não

somente como as demandas eram colocadas para o Estado por meio da acumulação de

capital, como não deu respostas às demandas oriundas de outros setores e camadas

sociais que influenciavam a composição da despesa pública.

Mesmo sabendo, que as funções estatais decorrentes do avanço do capitalismo, do

crescimento demográfico, aumento do grau de urbanização, da renda per capita da

população, motivariam a ampliação da demanda por bens e serviços públicos ofertados

pelo Estado, essas questões permaneceram excluídas da argumentação teórica da Lei de

Wagner.

Por sua vez, outros autores como Peacock e Wiseman procuraram elementos que

suprissem a limitação da tese de Wagner, e se voltaram para o incremento da carga

tributária, alegando que a sociedade estaria disposta a arcar com o ônus em momentos

de perturbações de ordem socioeconômica, causadas por depressões econômicas,

guerras, calamidades. A elevação dos gastos públicos para os autores, foi denominada

de “efeito translação”.

Diferentemente, no que tange à questão da atuação ativa do Estado nas economias

capitalistas, o referencial teórico keynesiano, reconheceu que para amortecer os efeitos

de crise econômica, alimentar as forças de acumulação, e garantir um mínimo de coesão

social para a reprodução mais harmônica do sistema capitalista, era necessário

disseminar políticas distributivas e estabilizadora na estrutura do planejamento

orçamentário.

O Estado deveria assumir um papel intervencionista, capaz de adotar um

comportamento ativo no âmbito da dinâmica econômica e social, promovendo políticas

e ações indutoras do bem-estar econômico e social. Muitos Países obtiveram resultados

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favoráveis no combate à recessão econômica a partir do uso do gasto público, e o déficit

público tornou-se uma alternativa aos governos que se encontravam politicamente

pressionados por quadros recessivos e de elevado desemprego. E, quando necessário, a

pressão política o colocaria como um ator protagonista da estabilização.

Portanto, a atuação governamental a partir da política fiscal transformou-se em

um instrumento, por excelência, para enfrentar a crise econômica. E, a ideia de

orçamento equilibrado perdeu espaço, tendo em vista a atuação do Estado, direta ou

indiretamente, por meio de ampla utilização de políticas de demanda efetiva e do

crédito, bem como as políticas de desenvolvimento nacional.

Enquanto que para O’Connor (1977 apud Oliveira 2012), o crescimento e a

composição dos gastos do Estado capitalista foram decorrentes de duas funções básicas.

A primeira, estabeleceu que o Estado deveria garantir a reprodução a longo prazo da

acumulação, que constitui as próprias bases de seu poder de arrecadação; a segunda, a

de legitimação para garantir a coesão e o consenso das classes e frações de classes em

torno de um projeto econômico hegemônico. Considerando que a evolução e as

necessidades históricas colocadas pelo sistema, explicariam no tempo, o crescimento

dos gastos estatais, bem como sua composição.

E, como haveria uma multiplicidade de agentes envolvidos nessas trocas e todos

gostariam de maximizar suas utilidades, prestígio, votos etc., a limitação orçamentária

do Estado poderia ser desrespeitada e o déficit público criado. Cenário em que a

economia passaria a conviver com ondas permanentes de instabilidade econômica e

financeira.

Entretanto, a partir da decisão do governo norte-americano de elevar de maneira

significativa a taxa de juros, e da liberalização cambial nas economias de maior peso,

foram desencadeadas muitas turbulências que transformaram e limitaram o

funcionamento da esfera pública.

As ideias conservadoras passaram a ganhar espaço, e a crise mundial era atribuída

às políticas de bem-estar social e keynesianas até então praticadas. O cenário de crise

permitiu que algumas novas contribuições teóricas fossem reconhecidas a partir de teses

de que haveria necessidade de reduzir as funções do Estado. Um conjunto de reformas

foi proposto, em diferentes planos, com ampla desregulamentação dos mercados e

privatizações do Estado, o que resultou em uma nova ordem fiscal. Estava rompida a

visão positiva do Estado na macroeconomia.

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Essa ruptura de pensamento, foi marcada por severas restrições fiscais, a partir

dos anos 1980, empreendidas pela visão das expectativas racionais, tornando-se

hegemônica na Macroeconomia mainstream22. Naquele momento, as restrições fiscais e

financeiras passaram a ser o foco no trato da atuação de um governo.

As propostas chanceladas pela visão liberal, propunham privatizar e reduzir o

papel do Estado. A escola Public Choice defendia a eficiência e eficácia na alocação da

oferta dos bens e serviços públicos, pois o Estado representava quase um sinônimo de

desperdício, responsabilizado pelo crescimento do gasto público e sua composição,

contribuindo para geração de déficits e riscos para sua capacidade de reprodução.

Sua atuação se mostrava mais ineficaz do que o mercado, o que justificaria sua

condição mínima. A escola se fundamentava no agente individual, guiado pela

racionalidade econômica e pelo comportamento maximizante. A descentralização era

qualificada como um instrumento fundamental para promover a eficiência.

A teoria da Public Choice se amparou na restrição do uso das políticas e procurou

explicar como deveria se dar a composição dos gastos públicos, e apontar os elementos

capazes para compreender a multiplicidade das funções assumidas pelo Estado. A

evolução dos gastos públicos ora justificada pelas falhas de mercado, ora pelas questões

que influenciaram as decisões governamentais frente a racionalidade econômica dos

agentes.

Dessa forma, passou a disseminar a necessidade de estabelecer limites

constitucionais aos poderes governamentais e impor regras rígidas para o

comportamento dos políticos e da burocracia estatal, visando a combater o desperdício

e a recuperar a confiança do povo nas instituições políticas tradicionais.

Esse pensamento se consolidou por meio do processo das privatizações, iniciado

nos Países desenvolvidos a partir da década de 1980, e avançou sobre os Países em

desenvolvimento na década de 1990, perdendo força nos 2000, quando os efeitos dessa

política resultaram em crises financeiras que demandaram novamente a intervenção

estatal.

Para Affonso (2003), o objetivo maior do pensamento da Public Choice era a

preservação da riqueza, a partir da prevalência de uma visão de austeridade fiscal. Isso

correspondeu, no âmbito dos governos, ao paulatino desmonte da institucionalidade

regulatória estatal, à intensificação dos processos de privatizações, ao desmonte das

22 A esse respeito, ver Lucas e Krugman (1997b).

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redes de proteção social, e à desregulamentação pública da atividade econômica. O

mercado passou a ser visto como a esfera capaz de promover a eficiência e a

concorrência.

Essa vertente do federalismo fiscal, ainda acreditava que todos os governos

subnacionais passariam a concorrer entre si, por meio de incentivos e de oferta dos bens

públicos. E, como os agentes eram indivíduos racionais, deveriam decidir que mais lhe

interessassem através das escolhas individuais. O papel do governo central seria apenas

de regulador do processo.

Ou seja, os interesses e satisfações individuais encontravam-se no processo

político, mais especificamente no voto individual, traduzido no comportamento dos

agentes individuais, participantes de um jogo de uma sociedade democrática, composta

por indivíduos racionais e livres, na qual todos os jogadores poderiam realizar escolhas

e definir preferências, por meio do deslocamento de uma jurisdição para outra. Para essa

teoria, enquanto alguém ganha, outro perde; para ela, não haveria resultado e soluções

cooperativas.

A concepção individualista da sociedade era retratada pelos votos, que deveriam

expressar e revelar as preferências individuais não homogêneas, mas que, quando

agregadas, alcançariam a completa função do bem-estar social. Ao revelar as

preferências dos indivíduos por bens e serviços públicos através do voto se constituiria

a tese principal dessa escola, de que o Estado, sozinho, não seria suficiente para tomar

decisões, identificar e garantir as preferências do indivíduo consumidor e eleitor.

Apenas a partir das escolhas dos indivíduos racionais seria possível um

comportamento maximizador, e a coletividade, por sua vez, exigiria de volta todos os

tributos pagos através da alocação correta dos benefícios públicos desejados e

esperados.

Acreditavam que haveria uma possibilidade de se maximizar a função alocativa,

pois, dada a proximidade entre os governos subnacionais e o consumidor contribuinte,

a eficiência na oferta e no controle dos bens e serviços públicos seria maior.

Essas premissas enfatizaram a importância de que a tomada de decisão por parte

dos governos subnacionais preconizaria melhores condições de identificar as

preferências locais no que tange os serviços e bens públicos, financiados com

arrecadação de tributos locais, e fiscalizados pelos cidadãos contribuintes, desprezando-

se por completo as questões de desigualdades econômicas e sociais entre e

intrarregionais de cada País.

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A tese central era que quanto maior a área do território, maior deveria ser o ganho

de eficiência com a descentralização fiscal, pois os governos subnacionais atenderiam

com mais facilidade e eficiência as características regionais existentes nas demandas.

A síntese era transferir para os cidadãos contribuintes no nível local a

responsabilidade do agente fiscalizador das instituições envolvidas no processo da

descentralização fiscal. Pois o pressuposto era de que, quanto mais se pagasse de

tributos, mais participativo o contribuinte seria, e, portanto, maior a governabilidade.

Acredito que a crítica a esse modelo deva se pautar, principalmente, nas questões

de Países caracterizados por acentuadas desigualdades econômicas e sociais, entre e

intrarregionais, onde a função alocativa desempenhada pelos governos subnacionais

sofre forte variação de um local para outro, o que pode desencadear prejuízos para o

desenvolvimento econômico e social de toda a nação.

E a relação estabelecida entre esforço fiscal local com governabilidade, acredito

que levou a um reducionismo dos conceitos de controle social do dinheiro público, e de

participação política cidadã, pois passaram a ser definidos por meros critérios fiscais,

deixando de fora o aspecto humano, desprezando por completo a possibilidade da

universalidade dos direitos sociais.

Segundo os críticos, o modelo levaria a uma competição predatória entre as

jurisdições, pois a ideia de alocar os bens e serviços públicos distintos entre as unidades

fiscais, financiados pelos cidadãos contribuintes que as consumissem, do ponto de vista

sociológico, induziria o desenvolvimento de uma política de segregação social.

Entretanto, a convicção era de que, por mais imperfeito que fosse o mercado, ele

seria mais eficiente que o Estado, formado por burocratas com interesses individuais, os

denominados rent seekers23, que atuariam conforme seus lobbies e interesses, por meio

de políticas de regulação de monopólios e oligopólio, do comércio exterior, direitos de

propriedade, e que não tomariam decisões com a preocupação do resultado de soma

positiva para coletividade.

Conforme Vargas (2006), a Public Choice foi uma referência para as iniciativas

concretas de redução dos mecanismos típicos do Welfare State, bem como de desmonte

dos Estados desenvolvimentistas, sancionando a minimização da atuação

governamental em amplas esferas e a extinção de restrições às atividades privadas,

notadamente na esfera financeira.

23 Representavam grupos de interesses individuais em detrimento da coletividade.

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Chancelou uma ampla abertura de espaço para a atuação das forças de mercado,

relegando ao Estado o papel de promotor da desregulamentação, da liberalização, da

privatização e da descentralização, em um ambiente de mínima intervenção estatal, onde

foi assegurado o funcionamento do mercado político.

Dessa forma, a existência de transferências intergovernamentais, do ponto de vista

teórico, se justificava em termos verticais, para complementar o déficit de financiamento

dos governos subnacionais, uma vez que a teoria normativa recomendava que a

competência de tributação dos governos locais se restringisse a tributar apenas bases

imóveis, como as propriedades.

A eficácia seria medida, por meio de custo mínimo possível, para o máximo de

benefício possível (Figueiredo e Figueiredo, 1986), aplicada no sentido de avaliar se as

políticas públicas descentralizadas com metas estabelecidas, sob a análise da relação

ótima entre o custo da implantação da política e o número de benefícios derivados dos

seus resultados, atingiram seus objetivos.

A corrente da Public Choice abriu espaço para os questionamentos, e o

pensamento Neoinstitucionalista24 avançou naquele momento, pois acreditava-se que o

mercado não seria eficiente frente aos problemas de informações, de risco moral, de

mercados incompletos. O Estado, peça indispensável para garantir a continuidade e

reprodução do sistema capitalista, deveria criar condições para promoção de uma nova

disciplina fiscal e reformar as instituições, as quais deveriam assegurar que o

funcionamento do mercado fosse menos imperfeito possível, com maior interação com

a conduta humana.

Caso contrário, acreditavam que o nível de instabilidade levaria a um ambiente

internacional extremamente volátil, de crescente instabilidade das taxas de câmbio e das

taxas de juros, com tendência à ocorrência de choques e sobressaltos financeiros.

Assim, caberia ao Estado definir regras claras, equilibrar as finanças públicas e

assegurar solidez às instituições tornando-as confiáveis, capazes de garantir o

pagamento das dívidas contraídas e, ao mesmo tempo, assegurar a preservação da

riqueza financeira privada (Oliveira, 2012: 133).

Ou seja, o compromisso fiscal dos governos com políticas de preservação da

riqueza financeira era o principal programa na estrutura orçamentária. Tese que de

alguma forma ganhou força nos anos 90, pois, reforçava a ideia de que os Países mais

24 A esse respeito, ver Wiesner (1996) e Riker (1987).

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endividados, e com maior necessidade de financiamento, poderiam gerar riscos e perdas

em escala global.

Dessa forma, as nações endividadas foram submetidas às regras orçamentárias e

financeiras rigorosas, garantidas por meio de um regime de austeridade fiscal. Para

Blanchard (1990), a sustentabilidade dos Países periféricos endividados seria alcançada

por meio da formação de um resultado primário e nominal.

Lembrando que compõem o resultado primário a diferença entre as receitas

primárias e as despesas primárias. As receitas primárias são predominantemente as

receitas correntes (exceto receitas de juros), decorrentes do próprio esforço de

arrecadação das unidades orçamentárias, dos convênios e outras.

Cabe observar que, as receitas financeiras não contribuem para o resultado

primário no exercício financeiro correspondente, uma vez que criam uma obrigação ou

extinguem um direito, ambos de natureza financeira, junto ao setor privado interno e/ou

externo, alterando concomitantemente o ativo e o passivo financeiros. Como por

exemplo, a emissão de títulos, a contratação de operações de crédito por organismos

oficiais, as receitas de aplicações financeiras (juros recebidos, por exemplo), as

privatizações, amortização de empréstimos concedidos e outras.

Enquanto que a despesa primária registra o total das despesas, deduzidos os juros

e encargos da dívida e a amortização da dívida pública.

Para a apuração do resultado nominal observou-se à variação da dívida consolida

líquida em cada período, ao nível corrente da relação dívida/produto. Dessa forma, um

resultado nominal negativo indicaria que houve uma diminuição da dívida consolidada

líquida, já um resultado positivo indicaria que houve um aumento.

Nesse sentido, foram atribuídas às metodologias de apuração dos resultados

primário e nominal tendências opostas, ou seja, quanto mais positivo for o resultado

primário, menor, ou até mesmo negativo seria o resultado nominal.

Os juros passivos tenderiam a aumentar o resultado nominal, dado que aumentam

o montante da dívida consolidada líquida. Enquanto que o resultado primário e os juros

ativos tendem a diminuir o resultado nominal, visto que reduzem o montante da dívida

consolidada líquida.

Em resumo, caso o resultado primário somado aos juros ativos fosse maior que os

juros passivos, a dívida líquida diminuiria e resultado nominal seria negativo. Caso os

juros passivos fossem maiores que a soma do resultado primário com os juros ativos, a

dívida consolidada líquida aumentaria, e o resultado nominal seria positivo.

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De certa forma, a metodologia de apuração dimensionaria o tamanho do ajuste

fiscal necessário para impedir que a dívida se tornasse insustentável, configurando de

forma objetiva os parâmetros de austeridade fiscal que seriam impostos ao mundo em

desenvolvimento e endividado, a partir dos anos 1990.

O relevante para essa visão consistia na possibilidade da comparação entre a

capacidade dos governos de geração no tempo de fluxos de superávits primários,

descontados em valor presente pela diferença entre a taxa real de juros e a taxa de

crescimento da economia, e o nível inicial da dívida.

O objetivo era que os níveis de superávits assegurassem os pagamentos da parcela

de juros reais. O serviço da dívida não deveria ser pago com nova dívida. A elevação da

carga tributária e a redução das despesas primárias eram fundamentais para resultar e

garantir os sucessivos superávits exigidos pelos organismos de controle.

Dessa forma, o esforço fiscal, na tentativa de garantir a sustentabilidade

intertemporal da política fiscal passou a ser definido, regulamentado e fiscalizado pelos

organismos internacionais. Em escala mundial, as economias mais vulneráveis foram

submetidas a nova disciplina fiscal, que intensificou as restrições fiscais para esses

Países.

Como bem destacou Vargas (2006), o uso desses indicadores de sustentabilidade

da dívida dos Países pelas agências de classificação de risco, no bojo do processo de

globalização e da ampla liberalização de capitais, tendeu a se disseminar como uma

referência importante nas decisões de investimentos dos aplicadores financeiros de peso.

Pode-se dizer que essa visão não rompeu com a ideia do critério da escolha

racional, porém introduziu a percepção de que existiriam limites à racionalidade dos

agentes, conceito denominado bounded rationality, pois as soluções dos problemas das

sociedades seriam resultantes de processos específicos de cada uma delas, e as soluções,

não necessariamente, levariam uma situação de ótimo paretiano.

A construção abstrata de um modelo que levasse ao ótimo paretiano não foi

perseguida a qualquer custo por essa escola que reconhecia que os mercados

econômicos e políticos não eram esferas que atuavam isoladamente, dada a presença

dos rent seekers, e que os fatores políticos afetariam os fatores econômicos e por eles

seriam afetados.

Dessa forma, os neoinstitucionalistas não negaram a importância do mercado, pois

acreditavam que as ações racionais individuais visavam eliminar a concorrência, e as

ações racionais coletivas, através das instituições dispunham-se a protegê-las, gerando

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prosperidade para a sociedade. Os neoinstitucionalistas reintroduziram a necessidade de

atuação ativa do governo, ao manter a ênfase nos processos decisórios envolvidos nas

políticas públicas, e a preocupação com atuação dos rent seekers.

Para Wiesner (1996), apenas o Estado poderia assegurar o bom funcionamento

das escolhas efetuadas pela sociedade, e por meio das instituições e das políticas

públicas descentralização, o governo atuaria de forma eficiente, garantindo a

governabilidade de um País. A ideia de operacionalizar políticas de forma

descentralizada aparecia intrinsecamente relacionada com a questão da governabilidade,

pois acreditavam que, quanto maior fosse participação política resultante do esforço

fiscal na comunidade, maior seria a governabilidade.

Ou seja, na linha de defesa das restrições fiscais e financeiras dos governos

subnacionais, a descentralização ficou ainda mais fortalecida para essa visão, a qual

recebeu nova qualificação, que a colocou como instrumento central na construção da

nova disciplina fiscal que se configurava.

A descentralização se tornaria mais viável mediante a construção de

institucionalidades voltadas para mitigar seus riscos e metas nas esferas fiscal e

financeira. Ideia que foi plenamente incorporada pelas agências multilaterais ao final da

década de 1990. Esse argumento dissolveu a dicotomia, que explicitava o velho trade

off entre descentralização e centralização num formato diferente, que destacava a

contraposição entre accountability25 que os sistemas descentralizados promoveriam e a

maior coordenação que os sistemas centralizados embutiriam (OATES, 1994).

A introdução de indicadores fiscais nos cálculos de risco País passaram a orientar

as movimentações financeiras globais e, na prática, funcionou como um enquadramento

direto das políticas fiscais dos Países e dos entes subnacionais. Dessa forma,

estabeleceu-se uma relação entre o perfil de política fiscal dos governos e os fluxos de

capital, em graus variáveis, segundo as particularidades de cada País.

A necessidade de submissão das contas públicas à disciplina fiscal justificava-se

para evitar fuga de capitais. Nesse contexto, toda a exigência de geração de superávits

primários pelos Países e esferas governamentais endividados derivava dessa concepção,

amplamente disseminada pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial.

25 Segundo Aghón (1993), a accountability é definida como uma noção abrangente que vai além de

prestação de contas à sociedade pelos gestores da coisa pública e de sua tradução literal, que é a de

responsabilidade, sendo considerada a essência da eficiência de decisões descentralizadas.

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A capacidade de geração continuada de superávits primários pelos governos

sintetizava a questão da credibilidade do governo junto aos aplicadores em títulos

públicos. Os bons fundamentos fiscais seriam condição necessária de atuação dos

governos centrais, inclusive as esferas subnacionais ganharam crescente importância, e

passaram a considerar as despesas financeiras como a prioridade número um na

execução orçamentária. Essa concepção gerou pressões para o enquadramento das

esferas subnacionais, especialmente em Países federativos mais descentralizados, caso

emblemático do Brasil.

Conforme Vargas (2006), o resgate do governo como um ator ativo resultou em

mudanças na forma de pensar a noção de disciplina fiscal, estando ele voltado para um

quadro mais abrangente da ordem financeirizada. Para tanto, o governo delineou novas

ações e regras de ouro que se tornaram linhas mestras da nova disciplina fiscal. O

objetivo central era cumprir as exigências e controlar as restrições fiscais e financeiras

das esferas subnacionais descentralizadas. Vale observar que tais linhas se deslocaram

do embate que existia entre descentralização versus centralização, para um redesenho

cada vez mais específico de restrições e metas fiscais nas relações intergovernamentais.

Cabe ressaltar que, o governo central tornou-se o formulador das políticas

descentralizadas, de forma a condicionar e estabelecer a regulação dos governos

subnacionais, tanto nas esferas fiscal, financeira e previdenciária, quanto nas despesas

discricionárias, ampliando sobremaneira sua autonomia federativa.

Nesse processo, remodelou algumas institucionalidades, que ganharam papel

importante na qualificação da accountability e na coordenação de cada exigência. Um

conjunto de linhas de abordagem das esferas subnacionais se desenvolveu, denominado

por Oates (2004) como a segunda geração do Federalismo.

Dessa forma, ocorreu uma redefinição teórica da descentralização, para a Países

periféricos endividados, sob o âmbito do modelo do Soft Budget Constraint,

disseminado a partir de fins dos anos 1990. Se consolidou uma nova abordagem para

orientar diretamente a reconstrução institucional e promover a disciplina fiscal em

esferas subnacionais endividadas, sob a égide de restrições orçamentárias fortes, em

contextos descentralizados.

Spanh (1998), um defensor radical da descentralização, acreditava que o processo

poderia ser amplo, inclusive fora da função estritamente alocativa, envolvendo também

as funções estabilizadora e distributiva. Porém, exigiria ações coordenadas de diversas

ordens que assegurassem determinado grau de restrição fiscal e financeira nas esferas

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subnacionais. Reconhecia, no entanto, que a descentralização poderia gerar problemas

caso a gestão dos orçamentos subnacionais e o controle de acesso dos mercados de

capitais não ocorressem.

Em síntese, mesmo os descentralistas mais radicais passaram a aceitar a

ponderação de que era necessário qualificar a descentralização, construindo elementos

adicionais para que ela promovesse a eficiência, e, ao mesmo tempo, evitassem efeitos

danosos sobre a esfera macroeconômica.

As condições de autonomia fiscal e accountability, se dariam a partir da

adequação da tributação de impostos, e do uso mínimo de dependência das

transferências intergovernamentais, que minimizaria a necessidade de transferências

voluntárias, e das pressões por socorro do governo nacional, posto que, uma adequada

distribuição de atribuições e ou encargos e das competências tributárias, os riscos sobre

a esfera macroeconômica seriam mitigados.

Dessa forma, a noção de disciplina fiscal que se consolidou nos anos 1990

qualificou a descentralização, a partir do conceito de accountability e de coordenação,

ultrapassando os limites da esfera fiscal. Assim, a descentralização fiscal juntamente

com esforço tributário local, passaram a ser sinônimos do termo denominado

accountability.

Em outras palavras, o financiamento das políticas públicas, preferencialmente,

deveria se dar no local da ação, para garantir governabilidade democrática, considerada

um dos principais objetivos da descentralização fiscal, política e administrativa.

E, mediante a atuação dos agentes do FMI nos processos de ajuste fiscal estrutural

nos anos 1990, as restrições fiscais e financeiras aos governos subnacionais dos Países

periféricos se aprofundaram. A orientação era que a partir de regras de austeridade

fiscal, e de um mecanismo de controle hierárquico, haveria um enquadramento

macroeconômico.

A visão geral era de que os Países em desenvolvimento endividados, em especial

os com maior nível de descentralização fiscal e de liberdade financeira, requeriam um

redesenho institucional mais cuidadoso. Alguns argumentos defendiam a necessidade

de se redesenhar as instituições, rever a descentralização das atribuições de receitas e

das despesas, assim como o poder de tomar empréstimos das esferas subnacionais.

O modelo de disciplina fiscal, o Hard Budget Constraint (HBC), tinha como

elemento central a construção de uma engenharia de fortes restrições fiscais aos

governos subnacionais. Ou seja, quando os comportamentos das instituições pudessem

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gerar riscos para a atividade econômica, interferindo nos elementos de alocação e

seleção providos pelo mercado, as institucionalidades e seus agentes sofreriam

penalidades.

Dentre os mecanismos institucionais criados para o controle e a coordenação

fiscal, no Brasil, ganhou destaque as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, que

determinou restrições que impactaram no processo da descentralização fiscal e nas

relações intergovernamentais.

Em termos gerais, alguns dos principais mecanismos propostos pelo modelo HBC,

foram os instrumentos criados para responsabilização das esferas subnacionais, por

meio da regra de orçamento equilibrado; limitações do estoque da dívida, a partir da

definição de um coeficiente de endividamento; regras para novos empréstimos

concedidos apenas para financiar as despesas de capital (regra de ouro); e o teto

estipulado para a realização de gastos com pessoal. Imposições justificadas pela

necessidade de se honrar o serviço da dívida passada, por meio do cumprimento de meta

de superávit primário e resultado nominal.

O modelo permitiu que as despesas financeiras com pagamento de juros da dívida

pública crescessem de forma exponencial na estrutura orçamentária, pois se alinhava

com os interesses do capitalismo financeiro globalizado. Nesse sentido, se necessário, o

Estado deveria comprometer e/ou sacrificar políticas essenciais para o desenvolvimento

sustentável. Os acordos e alianças entre unidades federativas permaneceriam sob ação

do governo federal, cada vez mais forte e indutor, em um ambiente de austeridade fiscal.

A responsabilidade fiscal era avaliada como fundamental para o modelo HBC. E,

sistemas federativos descentralizados, principalmente aqueles sustentados pelas

transferências intergovernamentais, sem regras claras, poderiam gerar desdobramentos

perigosos macrofiscais. Dessa forma, deveria se potencializar a base de arrecadação da

receita própria das esferas subnacionais, considerada como necessária para o alcance de

uma posição que identificaria a autonomia dos entes federativos com independência

fiscal, ou mesmo uma quase autossuficiência fiscal e financeira.

No caso do brasileiro, acabávamos de mudar o regime, recuperamos a democracia

e aprovamos a Constituição Cidadã em 1988, que garantiu a universalidade. Mas já no

início dos 90, submetemos o país a um severo ajuste fiscal.

Como veremos, permanecemos praticamente imobilizados pelas determinações

da nova disciplina fiscal. As questões urbanas e sociais de competências exclusivas

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municipais, pactuadas no texto constitucional permaneceram subtraídas da agenda de

desenvolvimento.

E, os municípios, apesar de reconhecidos como entes federativos autônomos,

poucas oportunidades foram viabilizadas para pensar-se o planejamento e

desenvolvimento local. Pois, o aumento dos recursos disponíveis não atendeu às

atribuições descentralizadas, principalmente no caso das 26 capitais, sede de regiões

metropolitanas do País.

Lembrando que, não apenas as restrições fiscais, mas a tradição de indefinições

das fronteiras de atuação de cada esfera de governo, mantida no texto constitucional,

tem permitido a omissão, sobreposição e ausência de cooperação de ações entre os entes

de federativos, comprometendo a construção de um pacto federativo autônomo,

descentralizado e cooperativo.

Segundo Affonso, (1995:57) o pacto federativo brasileiro “(...) consiste, na

verdade, em um conjunto de complexas alianças, na maioria pouco explícitas, soldadas

em grande parte por meio dos fundos públicos”.

A partir daí a federação brasileira travou uma batalha entre as premissas do

pensamento hegemônico versus o pacto social universal e descentralizado vigente,

pactuado por meio de mecanismo de transferências constitucionais e de transferências

voluntárias.

Em um ambiente de restrição fiscal e financeira, as imposições invadiram os

orçamentos dos governos subnacionais, e poucas oportunidades nos restaram para

superarmos o atraso econômico, concomitante com desenvolvimento social,

comprometendo a autonomia federativa, principalmente dos centros urbanos mais

populosos e endividados do País, conforme veremos nos capítulos 3 e 4.

Essa breve reflexão, nos permite construir uma das hipótese desta pesquisa, de

que a experiência da descentralização fiscal brasileira tenha sido uma combinação das

abordagens acima, a descentralização fiscal brasileira mais se pareceu com um

movimento de desconcentração de tarefas e compromisso fiscais, que permitiram a

omissão dos governos superiores nas suas respectivas atribuições, do que propriamente

uma ideia de autonomia fiscal, bem diferente do conceito de descentralização fiscal

definido nas palavras de Silva e Costa (1995:263) como: “um processo de redistribuição

de recursos, espaços de decisões, competências, atribuições e responsabilidades”.

Veremos mais à frente que, a federação brasileira não encontrou um caminho que

permitisse reproduzir de fato autonomia nas relações federativas, a formulação da

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política pública se encontra centralizada na esfera federal face às exigências dessa nova

disciplina fiscal em cursos desde os anos 90.

Inseridos em um modelo de constrangimentos fiscais, os grandes centros urbanos

permaneceram mergulhados numa série de dificuldades econômicas e sociais, expressas

a partir do processo de desindustrialização do País e da guerra fiscal. Ao mesmo tempo,

aumentaram sua participação na receita disponível do País, porém, com o avanço do

processo da descentralização fiscal e omissão das esferas superiores de governo, o hiato

entre a capacidade e necessidade de investimentos tem sido aprofundado.

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Capítulo 2: A Crise federativa: marcada pela crise do

endividamento do setor público; pelo modelo da

descentralização fiscal; e as severas imposições fiscais aos

governos subnacionais

2.1 Introdução

Esse capítulo se propõe a recuperar as dificuldades e mudanças que ocorreram

na federação brasileira a partir do início dos anos 80, e que acarretaram enormes desafios

e impasses às relações federativas pactuadas ao longo das últimas décadas, com atenção

especial para a situação fiscal dos grandes centros urbanos - as 26 capitais - objeto de

estudo dessa pesquisa.

Mergulhados em um ambiente de crises fiscal e política, agravadas a partir dos

efeitos da crise econômica, ganhava as ruas o desejo de redemocratizar o País. O

processo se intensificou a partir da insatisfação popular no final do período militar, por

meio do movimento Diretas Já em 1985.

A luta pelos direitos se confundia com a luta por mais recursos financeiros. As

pressões dos governos subnacionais se propagavam frente às tensões sociais espalhadas

por todas as regiões do País. O rearranjo das forças políticas em curso, desde o início da

década 80, colocava em curso o processo da descentralização de recursos e de

responsabilidades, que serão consolidadas a partir da universalização dos direitos e da

criação do orçamento da Seguridade Social em 1988.

Passamos a construir um pacto de relações que nem sempre esteve acompanhado

de ações harmônicas e cooperativas entre as esferas de governos subnacionais. A

operação desmonte avançou e as atribuições descentralizadas ampliaram-se. Entretanto,

na maioria das vezes, as atribuições descentralizadas vieram desacompanhadas de um

planejamento que pensasse o desenvolvimento regional e local, que estava ameaçado

mediante o processo de desindustrialização da econômica brasileira. E os esforços do

governo, em sua maioria, ficaram submetidos apenas às exigências da nova disciplina

fiscal dos anos 90.

Situação que permitiu que cada governo subnacional saísse em defesa dos seus

próprios interesses e de forma predatória, abriu-se espaço para uma guerra fiscal entre

eles. Fenômeno que trará desafios para muitas regiões metropolitanas, principalmente

para as capitais mais industrializadas do País, a partir de inúmeros leilões fiscais, ofertas

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generosas de isenção de tributos e até espaço físico, em troca de algum investimento.

Esse movimento gerou prejuízos para todas as instâncias federativas.

A busca de interesses isolados se acirrou, por exemplo, alguns estados reduziram

as alíquotas do ICMS26, movimento que comprometeu não apenas o volume de recursos

partilhado com os centros urbanos que mais geravam o valor adicionado, mas prejudicou

o fundo da educação do país, que teve seu orçamento restringido frente às isenções ou

reduções de alíquotas do ICMS.

Ou seja, as 26 capitais perderam importantes empresas que geravam o valor

agregado, consequentemente perderam participação no índice da Cota parte do ICMS27,

responsável pela distribuição dos recursos em cada estado, conforme veremos no

capítulo 4.

Ainda hoje, podemos dizer que não conseguimos construir conduzir um pacto

composto por as ações de cooperação e responsabilidade financeira tripartites entre

União, estados e os municípios metropolitanos, principais polos provedores das políticas

públicas descentralizadas. E mais, passado 30 anos da vigência da Constituição de 1988,

carecemos de uma consciência metropolitana.

A realidade fiscal das capitais que administravam uma economia em processo de

desindustrialização e desemprego, sofria também com a queda da arrecadação própria,

e ao mesmo tempo, como aumento das demandas sociais.

Todas essas questões quando adicionadas às exigências do novo regime fiscal,

culminaram na mais grave crise fiscal e urbana na história do federalismo brasileiro. Ou

seja, as consequências da crise de endividamento que o País atravessava desde o início

dos anos 80, estava entrelaçada com a dificuldade de captar recursos no exterior, cenário

que de alguma forma permitiu que as esferas federal e estadual se ausentassem de muitas

26 A esse respeito, ver Cavalcanti e Prado (1998). 27 Segundo Afonso; Soares; e Castro (2013) desde a época de sua criação, em 1967, até as novas

disposições de 1972, a cota-parte do ICMS era essencialmente devolutiva. Com o Decreto-Lei nº

1.216/72, a transferência foi normatizada a partir do conceito de Valor Agregado (VA), bem próxima a

um esquema devolutivo, o que beneficiava municípios de maior base tributária, principalmente industrial.

Em 1980 (Emenda Constitucional nº 17/80), o uso do VA foi limitado a 75% dos recursos da cota-parte,

passando está a ter caráter híbrido, pois os 25% restantes poderiam ser distribuídos segundo critérios

dispostos na lei estadual. A Constituição de 88 manteve esse modelo de cota-parte, apenas aumentando

de 20% para 25% a parcela do ICMS destinada aos municípios. • Origem dos recursos: 25% da

arrecadação do ICMS pelos estados. Destino dos recursos (regime de partilha): 75% dos recursos

retornam ao município onde foram arrecadados, de acordo com o conceito de VA, e 25%, segundo

critérios definidos em lei estadual. Os critérios mais utilizados nas leis estaduais têm sido o número de

habitantes, a área do município e um coeficiente linear.

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de suas responsabilidades constitucionais, e as relegassem aos cuidados da esfera

municipal, principalmente para as administrações dos grandes centros urbanos.

A partir daquele momento, muitas questões responsabilidades constitucionais

deixaram de ser tratadas no âmbito federativo e passaram a ser ignoradas no contexto

restritivo das medidas do ajuste fiscal dos anos 90. Realidade que nomeio de difícil

encontro entre a autonomia federativa municipal assegurada no texto constitucional de

1988 versus a rigidez orçamentária cravada nos orçamentos das 26 capitais, não apenas

pelo modelo de barganha do pacto federativo, mas pelas exigências de uma nova

disciplina fiscal que invadiu os anos 1990.

O capítulo discutirá os principais elementos que conformaram a situação das

capitais brasileira durante a década dos 80. A crise econômica, desencadeada a partir do

problema da dívida externa, gerou uma crise fiscal sem precedentes e o colapso do

padrão de financiamento definido desde às reformas de 1964.

A situação financeira das capitais, neste contexto de desestruturação do quadro

econômico, beneficiou-se das mudanças no sistema de partilha resultado das alterações

do pacto político, e simultaneamente, sofreu com as medidas do processo de

descentralização de encargos e das restrições no manejo do orçamento municipal, que

passaram a comprometer a capacidade de as cidades responderem satisfatoriamente ao

crescimento das demandas que recaiam sobre elas, reforçando o movimento

contraditório presente na monopolização desigual do capital e na marginalização do

compromisso social que se consolidou nos grandes centros urbanos no País.

2.2 Colapso do projeto desenvolvimentista do Estado autoritário e os

primeiros reflexos da crise fiscal na década de 80

A evolução das finanças públicas das capitais brasileira em um primeiro plano,

precisa se entendida como parte do quadro mais geral da crise da economia brasileira,

que teve origem com a crise de endividamento externo. Ou seja, o problema criado no

balanço de pagamentos após a falência do modelo de endividamento externo provocou

o sobreendividamento do Estado brasileiro e explicitou o paradoxo criado desde o fim

dos anos 60.

A evolução do estoque de endividamento externo brasileiro, justificado pela

ideia de potencializar o crescimento econômico, revelou seu contrário, mostrou seu

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efeito como um elemento fortemente agudizador das dificuldades fiscais, que o Estado

terá que enfrentar nas décadas de seguintes.

Para Belluzzo e Almeida (1992), a economia brasileira, mais especificamente o

setor público, passou a enfrentar a mais grave crise de financiamento desde o pós-guerra.

Na visão dos autores, a relação entre o processo de endividamento externo e a crise

fiscal dos 1980 começou a ser estabelecida ainda durante o período de fluxos líquidos

positivos de financiamento, quando a capacidade da arrecadação das receitas tributárias

e, sobretudo, a capacidade de autofinanciamento das empresas públicas já estavam se

atrofiando na segunda metade dos 1970.

O setor público havia se transformado em um agente devedor líquido da

economia, efetivamente, fez com que ele não conseguisse mais honrar a carga de juros,

que passou a ser continuadamente rolada, e a base de sustentação política do modelo

estava comprometida (OLIVEIRA, 1991). Cenário que, de um modo geral, propagou

dificuldades para as três esferas de governo.

O Estado brasileiro decidiu assumir o passivo externo do setor privado que

oputou por pré-pagar suas dívidas externas, realizando depósitos de seu contravalor em

moeda doméstica no Banco Central, que se valia desses montantes para cobrir parte da

expansão das necessidades de financiamento geradas pelas transferências de recursos ao

exterior para o pagamento dos juros.

Isso ocorreu, após os primeiros sinais da crise internacional e da mudança na

indexação cambial no final dos anos 1970, as grandes empresas e bancos, inclusive as

famílias de mais alta renda, puderam gerar a liquidez interna necessária para reduzir

seus níveis de endividamento, cancelando dívidas passadas, no processo denominado de

estatização da dívida.

Na prática, o Bacen remanejou recursos e financiou parte dos juros pagos pelo

setor público. O pré-pagamento realizado pelo setor privado abriu a possibilidade de

manejar a composição das contas ativas sem alterar o passivo dolarizado. A própria

orientação da política macroeconômica de ajustamento, voltada para a produção de

exportação contribuiu para ampliar o estoque da dívida pública, na medida em que o

governo brasileiro estimulava e dava incentivos para o setor privado liquidar seus

compromissos de dívida externa junto ao Bacen.

O governo voltou-se para o mercado doméstico e a necessidade de financiamento

do setor público passou a ser amparada pela captação de recursos internos, por meio da

emissão de títulos públicos, que se tornou um instrumento especulativo. As grandes

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empresas e bancos direcionavam seus excessos de caixa para compra de títulos públicos,

atraídos pela elevada taxa de juros das aplicações financeiras e, de outro lado, as

empresas deficitárias e os agentes financeiros com problemas de liquidez se abasteciam

desses recursos.

O processo estimulou as grandes empresas nacionais e estrangeiras a recompor

suas estruturas com corte de investimento fixo, redução do nível de atividades,

enxugamento brutal dos estoques de matérias primas e de produtos acabados, elevações

dos preços acima da média da inflação. Enquanto que o Estado, com suas bases

financeiras corroídas, comprometeu gravemente a capacidade de investir e de sustentar

o crescimento ao longo das décadas seguintes. Era o fim da euforia do período de alto

crescimento econômico, e início do processo de crises para a nação brasileira.

Segundo Belluzzo e Almeida (1990), a financeirização dos preços estimulou o

processo de aceleração da inflação, no contexto de restrição externa, o ajustamento

realizado na economia provocaria efeitos deletérios para a arrecadação tributária,

decorrentes da perda de dinamismo da atividade produtiva, e do aumento da participação

das exportações isentas da tributação.

Sem dispor de condições políticas para realizar reformas e reestruturar o

mecanismo de financiamento interno, a política econômica começou a desmontar as

estruturas de incentivos fiscais que haviam sustentado a expansão econômica da década

de 1970 e a compensar o efeito da queda da atividade econômica com a elevação dos

impostos internos, não só pelo aumento de suas alíquotas em geral, como também por

meio da criação de novas imposições tributárias. A consequência das políticas de ajuste

recessivo conduziu o Estado autoritário a perder apoio de suas bases políticas de

sustentação.

A deterioração progressiva da situação financeira do governo e de suas empresas

conduziu o debate sobre as condições das finanças públicas. Inevitavelmente, as

relações fiscais intergovernamentais sofreram prejuízos.

O governo adotou um conjunto de medidas recessivas, entre elas elevou as taxas

de juros internas; expandiu a carga tributária; e reduziu os gastos públicos e os

dispêndios das empresas estatais. Para as áreas sociais, segundo Fagnani (2005), o

estreitamento da intervenção estatal era nítido, pois a recessão debilitou principalmente

os setores cujos mecanismos de financiamento eram baseados nas contribuições sociais,

como a previdência, a atenção médica, a assistência social, a habitação e o saneamento.

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A partir daquele momento, o País empobreceu, o desemprego e a informalidade

aumentaram, e as demandas urbanas foram relegadas a um segundo plano. Incapazes de

cumprir os compromissos sociais, a desigualdade social alcançou níveis sem paralelos,

e enorme parcela da população permaneceu à margem do processo de desenvolvimento

social e econômico.

O movimento por reinvindicações das esferas subnacionais ganhou força, no

sentido de que fosse realizada uma reforma na partilha dos recursos tributários da

federação, dada a situação de penúria em que se encontravam as finanças públicas dos

governos subnacionais.

2.3 Mudança Política e a Descentralização Fiscal

A crise de ingovernabilidade mobilizava o País. Em meados dos anos 80,

liderada pelos governadores, partidos de oposições, sindicatos e associação de classes,

a denominada campanha “Diretas Já” ocupou as ruas, e clamava pelo restabelecimento

do Estado de Direito com eleições diretas para presidente, exigindo a ruptura com a

longa tradição de políticas centralizadas, elitistas e autoritárias.

Um Estado com uma trajetória marcada por escolhas de seus parceiros, quase

sempre de forma cooptada com a acumulação da riqueza, que excluiu o povo das

decisões e o deixou, praticamente, sem vida federativa, sem participação política, sem

partido político, sem legislativo independente, atuante e forte.

O desejo da redemocratizar a política era aclamado por todos os cantos da

federação. As organizações coletivas floresciam e se fortaleciam por toda parte e

demandavam providências imediatas. A estruturação dos partidos políticos mostrava o

desejo de muitos segmentos da sociedade, dos movimentos sociais e dos sindicatos, por

participação política nas decisões nacionais.

Em novembro de 1982, o partido de sustentação do regime militar perdera a

maioria absoluta na Câmara dos Deputados, e dez governadores, prefeitos e vereadores

pertencentes aos quadros da oposição venceram a eleição por meio do voto direto

(Revista do PMDB, 1982). A vitória ilustrava a desintegração do Estado autoritário que

perdia forças e o apoio da classe média e do empresariado que estava descontente com

os rumos da economia.

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Parecia que o caminho não estava mais livre para o governo central tomar

decisões segundo seus próprios interesses e das poucas forças que ainda o apoiavam. O

Congresso começava a recuperar forças no debate político, e o povo reivindicava a

democracia nas ruas. A mobilização do País pela universalidade dos direitos sociais se

se confundia com a necessidade de relações mais cooperativas e harmônicas entre as

esferas federativas.

Conforme Oliveira (1995), o desejo da população era construir uma sociedade

digna e civilizada, e contra o espírito autoritário e centralizador do regime militar. Luta

que se confundia com o anseio de autonomia aspirada pelos governos subnacionais.

Praticamente, direita e esquerda política, governos subnacionais, legislativo, oposição e

sociedade defenderam de forma quase que unânime, o movimento da descentralização

fiscal, independentemente das questões ideológicas e políticas de cada governo na

época.

As pressões por mais recursos, levaram o poder central a iniciar o processo de

descentralização fiscal28 para contornar a demanda dos governos subnacionais em busca

de maior participação na distribuição da receita tributária. A partir da Constituinte de

1988 a esfera municipal passou a ser reconhecida como um membro autônomo da

federação, recebeu direitos e assumiu responsabilidades.

Particularmente os municípios sede de regiões metropolitanas passaram a

assumir de forma bastante peculiar inúmeros deveres decorrentes da necessidade de

ajustar as finanças públicas do País e por herdarem as estruturas dos IAPs.

Para Affonso (2000), o movimento da redemocratização se confundiu com o

processo da descentralização fiscal. Enquanto que para Fiori (1995), a iniciativa de

colocar em curso a descentralização fiscal respondia muito mais a uma manobra do

governo central para vencer os entraves criados pelo autoritarismo, do que propriamente

28 A descentralização de recursos do poder central em prol dos estados e municípios entrou em curso, e

uma das primeiras mudanças ocorreram a partir das manifestações e atuações da oposição político

partidária no Congresso, foi a aprovação das emendas Passos Porto e João Calmon, números 23 e 24,

respectivamente, em dezembro de 1983. A emenda n.23 aumentou a participação dos estados e municípios

na receita disponível por meio da elevação das alíquotas do fundo de participação estadual (FPE) e do

fundo de participação municipal (FPM), e a participação dos governos subnacionais no Imposto Único

sobre Combustível e Lubrificante também foi ampliada, além de incluírem a alíquota do IPI na base de

cálculo do ICM que incidia sobre cigarros. E a emenda n.24 definiu que a União aplicasse o percentual

mínimo de 13%, e estados e municípios, o percentual mínimo de 25% das receitas de impostos com

educação. E, para que esses direitos fossem assegurados por meio do modelo de gestão descentralizada,

a partilha dos recursos era crucial, não só para o financiamento das políticas da proteção social, mas

principalmente para o revigoramento do pacto federativo, que deveria representar o fortalecimento técnico

e político entre as esferas subnacionais, além de uma possível eficiência na gestão dos recursos públicos,

um caminho para a cristalização do equilíbrio federativo.

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um pacto que revigorasse as relações federativas, que acabaram repletas de vazios e

sobreposições de papéis, dificultando o entendimento da função de cada ente de

governo.

Vale lembrar que as forças conservadoras haviam escolhido democraticamente

Fernando Collor de Mello para governar o País. Com medidas restritivas aprofundou o

desmonte do organograma da administração federal, e interrompeu a construção das

políticas urbanas, principalmente, dos setores de transporte, saneamento e habitação.

Na sequência iniciou-se o processo das privatizações das empresas públicas; e

da captura dos recursos da seguridade social; aliado ao aumento da carga tributária não

partilhada com os governos subnacionais. A expectativa da governabilidade social

soprada pelo texto da Constituição Cidadã parecia inviabilizada.

Ou seja, apesar do projeto de Estado aprovado no texto Constitucional de 1988

representar o desejo do povo brasileiro, as indefinições e ausências de ações e

investimentos necessários para o desenvolvimento local e regional, aliada à retórica

liberal do governo Collor, permitia o avanço da operação desmonte, a abertura

econômica sem nenhum planejamento.

As regiões mais industrializadas do país sofreram as consequências da

liberalização econômica e passaram a conviver com desemprego, e a guerra fiscal

declarada entre regiões e municípios do País. Todos endividados e de joelhos com o

pires na mão, os governos subnacionais saíram em defesa dos seus próprios interesses

de forma predatória.

As medidas do novo modelo fiscal criaram muitos desafios aos governos

subnacionais, ficava evidente que os interesses do FMI se encontravam acima das

conquistas que a nova República havia assumido.

2.3.1 O objetivo e o alcance da descentralização fiscal brasileira: mudar o modelo para

nada mudar

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As demandas reprimidas por políticas de inclusão social eram aclamadas e foram

contempladas no orçamento da seguridade social29, estruturadas financeiramente pelas

contribuições sociais.

Por todas as regiões da federação muitos outros temas permearam o debate da

construção do novo pacto federativo, como a política salarial, crescimento do emprego,

condições de trabalho, educação, reforma agrária, reforma tributária, reforma financeira,

política urbana, habitação popular, saneamento básico, política de transporte coletivo,

desenvolvimento tecnológico e regional, meio ambiente, energia, reestruturação das

relações com o exterior, entre outros.

Entretanto, o capítulo II da Seguridade Social, que prometia mudar a história do

Estado brasileiro a partir do acesso universal e igualitário de direitos individuais e

coletivos, parecia complexo e contraditório com a agenda do governo escolhido.

Para Dain (1995) uma primeira dificuldade da reforma de 1988 foi desconsiderar

a dinâmica populacional daquele momento e ignorar os problemas sociais que gritavam

principalmente nas regiões metropolitanas. A descentralização das políticas sociais foi

promovida de forma irracional na fixação dos critérios de partilha. Ou seja, as alterações

estruturais verificadas na configuração das competências tributárias e na definição dos

encargos mais pareciam um movimento meramente reativo ao processo de centralização

tributária do período autoritário.

Os encaminhamentos da descentralização fiscal estavam baseados na

preocupação com a equalização, em favor dos governos subnacionais na participação na

receita tributária, a partir do aumento dos índices de participação nos fundos destinados

aos dos estados (FPE) e municípios (FPM).

29 Capítulo II da Constituição Federal. Seção I, Disposições Gerais, artigo, 194. A seguridade social

compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas

a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base

nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência

dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação

dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de

participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e

descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos

empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 20, de 1998).

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Em simultâneo, com o discurso que as demandas da agenda social recaíram

fortemente sobre o orçamento federal, o governo buscou recompor a sua base tributária

com a criação de mais contribuições sociais que permitiriam a recentralização da

participação federal na receita disponível, ao mesmo tempo em que transferia parte das

atribuições antes concentradas na esfera federal para os estados e municípios, ou

simplesmente a política pública deixava de ser oferecida ao cidadão.

Como já abordado, naquele momento o Brasil vivia um encolhimento de sua

base de arrecadação, mediante a abertura econômica e à política tributária de isenção e

desoneração para alguns setores. Dessa forma, a arrecadação das rubricas de receitas

que compunham os fundos de partilha era prejudicada, porém, fundamentais para

assegurar as políticas descentralizadas.

Com regulamentação do financiamento tripartite pouco definida, as decisões

administrativas e o nível de provisionamento de serviços públicos locais tiveram

resultados bastante diferentes por regiões e localidades.

De um modo geral, a federação construiu relações e políticas descoladas do

princípio de solidariedade, na contramão do fortalecimento das relações federativas,

apenas atrelado ao jogo de interesses privados e do descompromisso social para a

maioria da população. Silva e Costa (1995), observaram que na trajetória do Estado

brasileiro, o viés clientelista corporativista de apropriação privada do espaço público

por segmentos específicos da sociedade sempre prevalecera.

Dessa forma, retomo a problemática central: o arranjo federativo de 1988,

desalinhado com a agenda liberal, não permitiu que as cidades sedes das regiões

metropolitanas que abrigavam e atendiam um terço da população brasileira,

enfrentassem as complexas questões urbanas sociais e de infraestrutura que

contabilizavam. Conforme Oliveira (1995:10):

A verdade é que, embora a reforma de 1988 se tenha colocado uma

importante oportunidade para a remoção de várias mazelas do sistema,

de concreto não se haviam registrado mudanças suficientes na

correlação das forças sociais que assegurassem a sua reconstrução em

bases mais justas e civilizadas, ao contrário do que parecia indicar, a

alternância de poder ocorrida entre o regime militar e civil. O fato é

que as mudanças que se processaram nas relações de forças políticas,

à época, parecem ter restringido seu raio de ação à garantia da troca

de comando do País, mas não à edificação de uma sociedade assentada

em outras bases. Desse processo, emergiu um quadro de transição

pactuada que, por um lado, garantiu importantes espaços para os

atores que ocupavam a cena anterior e, por outro lado, indicou à

sociedade que se caminharia em direção à reprodução da farsa

leopardesca de mudar alguma coisa para nada mudar. Essa, a razão

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que levou à frustação de expectativas criadas em torno de soluções

para as distorções do sistema, verbi gratia a da iniquidade, presentes

e ampliadas durante o período autoritário do País.

Para Francisco de Oliveira (2006), a nova República institucionalizou a

redemocratização sob a forma de uma transição feita por cima, prussianamente, pois o

controle da redemocratização permaneceu nas mãos dos mesmos que se salvaram do

incêndio. A continuidade da manutenção do arranjo federativo gestada nos governos

autoritários, verdadeiros feudos regionais, vinculados a interesses específicos de direção

política estava intacta.

Do ponto de vista tributário, segundo Oliveira (1995), até foi sugerido que se

fizesse uma reforma que convocasse mais setores e atores para participar do ônus

tributário, porém o texto optou pela inércia do sistema tributário anterior, sem alterar a

essência do modelo regressivo na tributação.

A descentralização unilateral de despesas, levou o governo a evadir-se das

funções compartilhadas, mais para se desonerar de algumas delas do que para resolver

os conflitos. Não houve uma solução satisfatória para a distribuição de encargos e

ampliaram-se as críticas acerca da sobreposição de responsabilidades entre governos

municipais, estaduais e federal.

Ao optar por cortes de gastos, a União se omitiu do papel que lhe foi designado

na carta magna, principal provedor do capital social básico. Ou seja, governo federal ao

livrar se de algumas responsabilidades, simplesmente saiu de cena, e determinou que

fossem excluídas da agenda nacional algumas políticas setoriais.

Por outro lado, ao adotar medidas para expandir sua arrecadação, e aprofundar a

regressividade do sistema tributário brasileiro, a partir da evolução da participação das

contribuições sociais cobradas sobre o ombro dos mais fracos, iniciou o processo para

recompor sua participação na receita disponível30. Sem qualquer discussão, o desenho

das relações federativas acabou não estabelecendo um nível de participação da receita

disponível adequado à proporcionalidade necessária para as atribuições

descentralizadas.

E, mesmo diante da ampliação da cobrança de contribuições sociais, o governo

federal promoveu cortes nas despesas com investimentos e custeio na área social,

30 Para esta pesquisa, receita disponível é a receita total, excluídas as operações de crédito e as deduções

da receita corrente.

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justificados em parte pela redução do nível de atividade econômica e pela necessidade

de reduzir o nível do déficit público.

Podemos dizer que a ação do governo era orquestrada com objetivo de manter o

controle político e operacional da descentralização para que seu poder de influência não

fosse reduzido. A lógica e procedimentos de articulação dos interesses não havia sido

alterada, e permitiu que a luta de interesses regionais e negociações varejistas

beneficiassem poucos e potencializassem os conflitos federativos.

Acredito que os ingredientes estavam postos para a consagração da crise

federativa. Ainda que os governos estaduais e municipais tenham sido favorecidos por

meio da participação na receita disponível, porém, insuficente para financiar de forma

satisfatória a universalidade dos direitos que o País aguardava.

2.3.2 Fortalecimento do poder local ou perpetuação das distorções e rigidez orçamentária

municipal?

Um olhar mais cuidadoso para o processo decisório que reformulou a

distribuição dos recursos fiscais, marcado por uma temática regional, pode nos ajudar a

compreender a problemática, de um modo geral, vivida pelos centros urbanos mais

populosos do País. Muitos dos critérios de partilha foram definidos a partir de um viés

redistributivo de renda, o denominado de Fundo de Participação de Municípios31 (FPM).

As regras de repartição do FPM incentivaram o movimento de emancipação

municipal após a Constituição Federal de 1988 (CF/88). Para Gomes e MacDowell

(2000) a metodologia de partilha do FPM reduziu a eficiência da economia como um

todo e, por vezes, privilegiou os pequenos municípios ricos.

Ou seja, acreditava-se que a metodologia de partilha do FPM pudesse criar

condições que fortalecessem a economia de gestões municipais com pouca dinâmica

econômica. Na prática, o fenômeno da emancipação de os antigos distritos, garantiu a

concessão de mais recursos financeiros aos municípios menores. Conforme dados do

IBGE, em 1980, a federação reunia 3.974 municípios; em 1990, esse número já

ultrapassava 4.490; e em 2007, superou 5.560 municípios, ou seja, houve um aumento

de quase 25%, conforme mostra a tabela 1.

31 Os fundos de participações são transferências constitucionais, determinadas no texto constitucional,

artigo 159, inciso I, letra b, que definiu como base para formação dos fundos a arrecadação de impostos

federais (IPI e IR), com princípio de promover a redistribuição desigual da receita às unidades menos

privilegiadas. Os coeficientes de participação dos estados e distrito federal estão definidos em Afonso

(2000).

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É preciso reconhecer que o resultado da metodologia da partilha do FPM,

seguramente ampliou o volume de receitas disponíveis na esfera municipal, ao mesmo

tempo, contribuiu para que os novos municípios absorvessem considerável fatia da

receita do município do qual se desmembrou, de modo que a população que permaneceu

no município de origem sofreu com a redução per capita dos recursos, passando a

receber menor valor para o atendimento das demandas locais.

Tabela 1 - Evolução do número de municípios por regiões do País

E, em muitos casos, os municípios menos populosos, apesar de receberem um

volume maior de recursos por habitante continuaram a demandar os bens e serviços

públicos nos grandes centros urbanos, sem nenhuma compensação e contrapartida

harmoniosa de recursos entre eles. Além disso, os novos e pequenos municípios

aplicaram parte expressiva dos recursos recebidos com as despesas da nova estrutura

administrativa do executivo e legislativo, que proporcionalmente passaram a custar

mais, quando comparada às estruturas administrativas dos municípios maiores.

Lembrando que é o Tribunal de Contas da União é quem efetua o cálculo das

quotas e fixa os coeficientes de participação de cada município na distribuição de

recursos do FPM, fiscaliza a entrega dos recursos e acompanha, junto aos órgãos

competentes da União a classificação das receitas responsáveis pela origem do Fundo.

A fixação dos coeficientes individuais de participação dos municípios no FPM é

efetuada com base nas populações de cada município brasileiro enviadas ao Tribunal

pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até o dia 31 de

outubro de cada exercício e na renda per capita de cada Estado, também informada pelo

IBGE.

A partir dessas informações, o Tribunal de Contas da União calcula o fator

população e o fator renda per capita. Dessa forma, o valor do FPM para cada município

específico varia não apenas com a faixa populacional, os valores transferidos variam de

1980 1990 2007 Variação 2007 / 1990

Brasil   3.974 4.491 5.564 24%

Norte 153 298 449 51%

Nordeste 1.375 1.509 1.793 19%

Sudeste 1.410 1.432 1.668 16%

Sul 719 873 1.188 36%

Centro-Oeste 317 379 466 23%

Fonte: IBGE. Elaboração Própria.

Evolução do número de municípios no Brasil por região

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acordo com a unidade federativa. Com esse valor, extrai-se o fator correspondente a

partir da Tabela FPM, consoante ao CTN, art. 91, § 1º.

No caso da apuração do índice das capitais, o critério de divisão dos recursos do

Fundo determinou que 10% do total deveria ser enviado aos municípios das capitais, e

90% aos demais Municípios. E com relação aos dois critérios, a participação da

população da capital na população total das capitais, e a renda per capita do Estado, faz

com que as capitais de estados mais ricos recebam relativamente menos que as capitais

mais pobres. Ou seja, a distribuição dos 10% entre as capitais faz-se na razão direta da

população do Município e na razão inversa da renda per capita do Estado.

Dos 90% destinados aos demais Municípios, retira-se, inicialmente, uma parcela

de 3,6% para aqueles com mais de 142.633 habitantes; e os demais são enviados para

os chamados de “classe interior”, que auferem 86,4% do total. Ou seja, o regime de

partilha atual direciona 10% dos recursos às capitais de estado; 86,4% aos municípios

do interior; e 3,6% aos municípios mais populosos do interior.

O critério do FPM prejudica justamente os municípios dormitórios e os mais

populosos, ou seja, quando o município atrai mão-de-obra, cresce a taxa de demografia,

por sua vez, recebe menor transferências per capita de FPM.

Nesse sentido, os centros mais populosos e que crescem a taxas crescentes,

recebem menos recursos para custear minimamente os bens e serviços públicos que lhes

são demandados. A tabela 02 mostra a evolução da participação em pontos percentuais

das principais receitas que compõem o orçamento, por intervalo populacional dos

municípios brasileiros. É possível identificar que para os municípios com mais de 1

milhão de habitantes, a participação do FPM tem pouca representatividade na estrutura

da receita corrente, quando comparados com os demais intervalos populacionais.

Tabela 2-Participação média das principais receitas orçamentárias, por

intervalos populacionais, anos: 1998, 2004 e 2010, em %

1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010

acima de 1 MILHÃO 23% 23% 20% 86% 97% 89% 35% 35% 36% 11% 12% 11% 19% 16% 19% 45% 43% 39% 4% 3% 4% 20% 17% 15%

500 MIL - 1 MILHÃO 8% 9% 8% 98% 97% 93% 24% 22% 23% 8% 7% 6% 10% 10% 10% 61% 59% 55% 7% 8% 6% 27% 24% 20%

300 MIL - 500 MIL 8% 9% 8% 92% 98% 92% 25% 24% 22% 10% 9% 6% 9% 10% 10% 59% 56% 56% 7% 7% 7% 24% 22% 19%

100 MIL - 300 MIL 17% 17% 17% 95% 97% 94% 20% 17% 18% 8% 6% 5% 7% 7% 9% 67% 62% 62% 14% 12% 11% 27% 23% 20%

50 MIL - 100 MIL 12% 11% 12% 95% 97% 94% 14% 14% 13% 6% 5% 3% 4% 5% 6% 75% 69% 71% 19% 16% 16% 28% 24% 19%

30 MIL - 50 MIL 8% 8% 9% 93% 96% 94% 11% 11% 11% 5% 4% 3% 3% 3% 5% 80% 76% 75% 27% 22% 20% 24% 19% 18%

795 - 30 MIL 25% 23% 24% 91% 96% 92% 5% 6% 6% 2% 1% 1% 2% 2% 3% 88% 83% 80% 40% 33% 31% 23% 21% 17%

Média 100% 100% 100% 91% 97% 92% 21% 20% 19% 7% 7% 5% 9% 9% 10% 66% 62% 61% 17% 14% 14% 24% 21% 18%

FONTE: STN/FINBRA, anos: 1998, 2004 e 2010.

OBS: *Já descontadas as deduções para formação do Fundef/Fundeb.

MUNICIPIOICMS / RCPopulação *Transf Corrente / RT FPM / RCRC / RT RecTributária Própria/ RT IPTU / RC ISSQN / RC

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As transferências constitucionais criaram uma discrepância de recursos per capitas

na federação. Entretanto, é preciso lembrar que as perdas de recursos pelos municípios

mais populosos, com população acima de 500 mil habitantes, não foram apenas oriundas

do critério de partilha do FPM, mas do processo de desindustrialização32, das

consequências da guerra fiscal e da recessão econômica que podem ser observadas na

participação da Cota parte do ICMS na receita corrente.

Por exemplo, as informações da tabela 3, no ano de 2006, os municípios com

população de até 5 mil habitantes, receberam de FPM per capita, em média, R$ 1.449,12

(um mil quatrocentos e quarenta e nove reais), em valores atualizados de março de 2018.

Enquanto os municípios com população acima de um milhão de habitantes, receberam

de FPM per capita, em média, R$ 79, 21 (setenta e nove reais). É o mesmo que afirmar

que os municípios menos populosos da federação receberam de FPM per capita18 vezes

mais que os municípios que reuniram mais de 1 milhão de habitantes.

Tabela 3- Receita Total, Transferências Correntes e FPM per capita, por intervalo

populacional, em R$

É bem verdade que o processo da descentralização fiscal tinha essa tarefa de lançar

mão de instrumentos redistributivos e alocativos de recursos, voltado para os

desequilíbrios inter e intrarregionais, ou seja, os descompassos na capacidade de

tributar. Porém, Prado (2004:37) observa que:

(...) a partir de 1989, os fundos de participação deixaram de ser um

sistema redistributivo minimamente consistente, tornando-se apenas

um mecanismo rústico de compartilhamento de dois impostos federais

– IPI e IR –, com estados e municípios, a partir de percentuais fixos.

32 A esse respeito, ver Carneiro (2002).

Municípios por intervalo

populacional

População

por

intervalo

Receita TotalTransferências

Correntes (*)FPM (*)

Até 5 Mil Habitantes 3.937.734 R$ 3.143,01 R$ 2.699,31 R$ 1.449,12

5-10 Mil Habitantes 7.835.424 R$ 2.073,55 R$ 1.729,66 R$ 678,34

10-20 Mil Habitantes 16.020.674 R$ 1.765,92 R$ 1.470,44 R$ 538,67

20-50 Mil Habitantes 27.230.905 R$ 1.631,01 R$ 1.284,89 R$ 397,77

50-100 Mil Habitantes 19.598.930 R$ 1.675,56 R$ 1.210,65 R$ 283,06

100-500 Mil Habitantes 44.076.746 R$ 1.812,95 R$ 1.129,08 R$ 202,61

500 - 1000 Mil Habitantes 15.511.967 R$ 1.775,23 R$ 1.077,02 R$ 140,58

Mais 1000 Milhão Habitantes 36.108.737 R$ 2.416,00 R$ 1.029,39 R$ 79,21

Fonte: Finbra 2006. Elaboração Própria.

(*)Valores já descontados as Deduções para formação do FUNDEF.

Valores Corrigidos IPCA IBGE, março de 2018.

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Isso porque, a metodologia para a distribuição respeitou apenas a necessidade de

se aprimorar o instrumento de transferência de recursos para regiões e municípios menos

consolidadas economicamente, medida necessária para um País que buscava o

desenvolvimento sustentável.

Prado (2004) destacou que, em 1965, quando foi construído o sistema de fluxos

redistributivos, com critérios distintos para estados e municípios, de alguma forma, o

critério era flexível e dinâmico. Já em 1989, o sistema foi destruído integralmente no

que tangente à sua parcela que denominou de “boa”, pois perdeu a capacidade de se

adaptar dinamicamente à evolução da renda e ao crescimento populacional, e tal

adaptação era um requisito fundamental de sistemas que pretendiam exercer uma função

redistributiva.

Prado ainda observou que no caso dos estados, as distorções do critério de

distribuição eram menores, pois ocorreu algum impacto redistributivo, porque os

percentuais congelados beneficiaram as regiões mais pobres do País. Contudo, não

permitiram a flexibilidade de adequação às dotações de recursos, à medida que as

diferenças em nível de desenvolvimento e de população se manifestassem.

Dessa forma, o critério do FPM desencadeou distorções, que traduzem a

circunstância criada pelo pacto vigente. Cenário que permitiu que o percentual apurado

com despesas de investimentos com relação ao total das despesas orçamentárias dos

municípios mais populosos seja menor, conforme mostra tabela 4.

Ou seja, embora os municípios menos populosos tenham contribuído com apenas

6% de receita tributária própria na composição do orçamento total, a capacidade para

investir foi superior à capacidade dos municípios com mais autonomia para tributar.

A maior participação dos investimentos na estrutura orçamentária ocorreu em

cidades menos populosas, o que sugere uma ausência na correlação direta entre

arrecadação tributária própria e alocação de recursos, e, por sua vez, autonomia

orçamentária.

Dessa forma, no período analisado, os centros urbanos mais populosos do País,

conviveram com os menores volumes de investimentos em termos percentuais das

despesas totais realizadas. Inclusive registraram valores inferiores ao intervalo dos

menores municípios, ou seja, aqueles que apresentaram maior nível de dependência dos

recursos intergovernamentais.

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Tabela 4 - Participação média das principais categorias da despesa pública no

orçamento total dos municípios brasileiros – Anos: 1998; 2004; e 2010, em %

Realidade que nos mostra que a descentralização brasileira se contradiz com a

premissa da teoria do federalismo fiscal, de que maior a participação dos recursos

próprios na estrutura orçamentária, maior deveria ser a autonomia municipal para

planejar e decidir sobre os investimentos locais.

Em valores per capita, corrigidos pelo IPCA IBGE de março de 2018, a tabela 32

do anexo 7 mostra que os munícipios que reuniram menor número populacional, e que

concentraram pouco mais de 12 milhões de pessoas, investiram em média per capita, no

ano de 2010, R$ 442 (quatrocentos e quarenta e dois reais). Se a aferição for realizada

através do valor máximo investido per capita, foi apurado um montante de R$ 16.330

(dezesseis mil, trezentos e trinta reais) anualmente.

Ao contrário dos municípios com maior esforço fiscal, maior participação da

receita própria na composição do orçamento total, e, mais importante, com maior

adensamento populacional de quase 55 milhões de pessoas, o valor médio de

investimento per capita foi de R$ 289 (duzentos e oitenta e nove reais) ao ano. Quando

analisado pelo maior valor realizado nesse intervalor populacional, os investimentos per

capita realizados não passaram de R$ 1002 (um mil e dois reais) ao ano, praticamente,

dezesseis vezes menor comparado ao intervalo com menor população municipal.

Dessa forma, acredito que a conquista da autonomia orçamentária atribuída aos

municípios a partir do processo da descentralização fiscal não pôde ser igualmente

experimentada por todos os municípios brasileiros. Ainda que os municípios menos

populosos e com menor dinâmica econômica não sejam formuladores e financiadores

das políticas públicas de interesse local, fica a impressão de que têm mais autonomia

para elaborar programas na estrutura orçamentária face às condições fiscais que reúnem.

1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010

acima de 1 MILHÃO 23% 23% 20% 47% 43% 36% 3% 5% 4% 27% 40% 46% 8% 10% 8% 12% 2% 3%

500 MIL - 1 MILHÃO 8% 9% 8% 59% 44% 43% 2% 1% 1% 28% 42% 45% 9% 11% 9% 1% 2% 2%

300 MIL - 500 MIL 8% 9% 8% 59% 45% 41% 3% 1% 1% 27% 42% 43% 9% 10% 13% 2% 2% 2%

100 MIL - 300 MIL 17% 17% 17% 54% 44% 45% 2% 1% 1% 29% 40% 41% 13% 13% 12% 2% 2% 2%

50 MIL - 100 MIL 12% 11% 12% 55% 45% 48% 1% 1% 0% 29% 40% 40% 13% 13% 10% 2% 2% 2%

30 MIL - 50 MIL 8% 8% 9% 52% 44% 47% 1% 0% 0% 31% 41% 39% 13% 13% 11% 2% 2% 2%

795 - 30 MIL 25% 23% 24% 49% 44% 46% 0% 0% 0% 33% 44% 39% 16% 11% 13% 1% 2% 1%

Média 100% 100% 100% 51% 44% 43% 2% 2% 1% 29% 41% 42% 11% 11% 11% 5% 2% 2%

FONTE: STN/FINBRA, anos: 1998, 2004 e 2010.Legenda: Depesas Totais (DT).

Despesas Correntes Despesas de CapitalPopulação

Intervalo

populacional: 5560

Municípios

Amortizações/ DTPessoal / DT Juros / DT Outros Custeios /DT Investimento/DT

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Nesse sentido, acredito que ganha importância e urgência a necessidades de

mecanismos que consigam assegurar parte das demandas dos grandes centros urbanos,

a partir de uma ação cooperada e coordenada por uma instituição metropolitana, vis-à-

vis a condição fiscal em que as capitais se encontram.

E, conforme informado pelo IBGE (2007), nos últimos anos a população

metropolitana tem crescido mais que o restante do País. Segundo o levantamento, a

população das metrópoles brasileiras aumentou em torno de 6,5 milhões de habitantes.

Isso representou um aumento relativo de aproximadamente 10%, enquanto a população

do restante do País teve um acréscimo de 6,5% desde o início da década até hoje.

Sabemos que uma região metropolitana, embora situada dentro da estrutura do

Estado federado, tem funções distintas, de nível municipal, e de nível estadual ou

macrorregional. Porém, o resultado mais frequente tem sido as regiões metropolitanas

administrarem a fusão de complexos problemas de uso do solo, transportes, saneamento

e meio ambiente. Na prática, os municípios de variados portes de uma região

metropolitana têm sido afetados por um mesmo problema metropolitano.

Segundo Alves (2016), as funções públicas de interesse comum, caracterizadas

pelo regime de direito administrativo, que abrangem questões metropolitanas e ou

regionais podem implicar não só os chamados serviços ou funções de interesse local,

como uma possível articulação ou complementação com outros serviços ou funções,

tendo em vista seu tratamento em nível regional, por razões de ordem dimensional,

social, institucional, geográfica, natural, econômica ou técnica.

Ou seja, há funções que podem ser identificadas como regionais, como por

exemplo a captação e tratamento da água na região metropolitana, os transportes

suburbanos ou o tratamento dos esgotos da metrópole.

Dessa forma, temos primeiramente que reconhecer a existência da dificuldade de

conceber e implantar ações de interesse comum, ainda que claramente caracterizadas

como ações regionais, não contemplam uma divisão de funções distribuídas entre as três

esferas federativas.

São funções que compreendem a natureza de interesse local dos municípios

metropolitanos, o que justifica a participação destes nas decisões sobre sua organização,

planejamento e execução orçamentaria e financeira. Por isso essa questão não pode ser

solucionada adequadamente dentro do quadro institucional tradicional. O interesse

metropolitano não é privativo do local, reclamando uma legislação e participação

estadual ou nacional.

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Em segundo lugar, é preciso reconhecer que ainda não existe na federação uma

consciência metropolitana que pudesse conduzir essas ações de forma integrada e

cooperativa, a partir do financiamento tripartite entre União, estados e municípios. O

atual federalismo fiscal brasileiro não responde aos desafios do fenômeno

metropolitano.

A necessidade de investimento e custeio em infraestrutura pública de alto custo

(trens urbanos, metrôs, projetos de despoluição, entre outros) demandada pelos

moradores dos vários municípios que integram uma região metropolitana, na maioria

das vezes, permanecem sem fontes de financiamento definidas, e, portanto, desprovidas

de ações.

De modo geral, as condições fiscais das sedes de regiões metropolitanas são

apresentadas como uma das principais dificuldades para implementar políticas sólidas

e coordenadas no âmbito metropolitano.

Enquanto isso as capitais conservam-se imersas em um conflito federativo e fiscal

que dificilmente se resolverá no curto prazo, pois exige um equilíbrio nos arranjos do

pacto federativo vigente.

E, justamente, as transferências redistributivas que prevaleceram na barganha

federativa não contemplaram os desafios metropolitanos. Assim, a expectativa que

havia em relação ao enfretamento das questões sociais do passado, em função da

ausência de políticas públicas integradas entre as três esferas de governo, permaneceu

relegadas a um segundo plano nas cidades sedes de regiões metropolitanas. Resultado

que aprofunda as lacunas nas relações federativas dos grandes municípios.

Acredito que para enfrentar essa problemática, o diálogo federativo torna-se

fundamental, assim como conhecer identidade e indicadores sociais e econômicos de

cada local, e respeitar a capacidade fiscal e técnica de uma região metropolitana. Se

observadas essas questões, a chance de sucesso de atuação de uma região metropolitana

certamente teria sido maior. Inclusive reduzindo a chance do oportunismo, de ações

predatórias atendidas em detrimento das necessidades de ações coletivas.

Cumpre lembrar que a função pública de interesse comum metropolitano deve ter

solução para determinados problemas comuns, por meio de um relacionamento entre os

municípios interessados e os governos superiores, na solução de determinados

problemas de cunho regional comum. Para Alves (2016), tal relacionamento geralmente

se concretiza através de convênios ou consórcios, tradicionalmente colocados à

disposição das unidades políticas para a realização de propósitos comuns e que não

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exigem tratamento compulsório. Grande parte da matéria relativa a esse tratamento está

definida na competência comum prevista na Constituição Federal, objetivando a

cooperação entre os entes governamentais federados, e os interesses comuns.

Acredito que essas questões são fundamentais para a formatação de um pacto

harmônico e cooperativo, vital para a federação. Há necessidade de substituirmos o

modelo atual, que mais contribuiu para agravar, principalmentes, as disputas fiscais

horizontais entre eles, que aprofundaram o desequilíbrio entre as necessidades de gastos

e a capacidade de financiamento dos grandes centros urbanos, do que propriamente

fortalecer as ações metropolitanas.

A cada processo orçamentário é possível identificar que os critérios de

distribuição de receita permaneceram ineficazes e, que, sozinhas, as 26 capitais, sede de

regiões metropolitanas, permaneceram praticamente desprovidas de programas e ações

que contemplem às questões metropolitanas.

Prova disso é ausência de dialógo entre os municípios vizinhos, e as inúmeras

lacunas e vazios nas ações cooperativas urbanísticas e sociais que permanecem

excluídas da agenda federativa, além do próprio acirramento do conflito por disputas de

receitas.

Alinhado com essas questões, persisto na hipótese de que o movimento de

descentralização das receitas disponíveis, conforme mostra tabela 5, tem sido

insuficiente para acomodar as responsabilidades que as 26 capitais assumiram, ainda

que não fossem competências exclusivas delas.

Rezende (1995) destacou que a melhor posição relativa dos estados e municípios

na repartição das receitas tributárias não foi suficiente para impulsionar um processo

abrangente e organizado da descentralização do gasto público, em parte, justificado

pelas competências concorrentes33 designadas às três esferas federativas, e que ainda

aguardam as regulamentações.

33 O título VIII da Constituição, expresso nos artigos 193 a 225, determinou as competências concorrentes,

e que a competência da União seria restrita às normas gerais sobre os temas repartidos, o que, sem dúvida,

gera dificuldades na identificação exata dos limites em que pode atuar tal ente federado sem invadir a

parcela de competência dos Estados, Distrito Federal e Municípios. De um modo geral, ficou assegurado

que a promoção da seguridade social, deveria ter suas ações e financiamentos integrados entre os três

níveis de governo; e ficou estabelecido que a educação; desporto; proteção do meio ambiente; promoção

de programas de moradia e saneamento básico e integração social também seriam políticas no âmbito das

competências concorrentes.

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Tabela 5 - Evolução Receita Disponível por esfera de governo, em %

A indefinição de papéis no financiamento e prestação dos serviços públicos

inseridos no rol das competências concorrentes, pode ter sido uma estratégia que

favoreceu à política restritiva adotada pelo governo central, posto que não agredia seus

interesses políticos e o deixava em situação confortável para buscar a estabilização

monetária e o ajuste fiscal das contas públicas.

Dessa forma, podemos afirmar que, ao contrário das expectativas, o aumento não

conseguiu atender aos desafios urbanos, principalmente dos centros mais populosos do

pais.

Todavia, reconheço que o texto constitucional aprovado definiu que o

financiamento fosse cooperativo entre os entes, mas na prática, a ausência da

regulamentação permitiu um comportamento mais competitivo do que cooperativo.

Isso porque, não houve preocupação em discriminar a ordem social prevista no

Título III, da Organização do Estado, Capítulo II da União, as competências comuns34,

34 O Artigo 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

- zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio

público;

- cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;

-proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos,

as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

- impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico,

artístico ou cultural;

- proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;

- proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

- preservar as florestas, a fauna e a flora;

- fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

ANO União Estados Municípios

1960 59,4 34,0 6,6

1980 69,2 22,2 8,6

1988 62,3 26,9 10,8

1991 56,3 27,4 16,3

1997 56,3 27,1 16,6

1998 59,2 25,0 15,8

1999 60,0 24,7 15,3

2000 59,7 25,3 15,0

2001 56,4 27,1 16,5

2002 57,1 26,6 16,3

2003 57,4 26,4 16,2

2004 58,2 25,7 16,1

2005 57,9 25,8 16,4

Receita Disponível por Esfera de Governo - em %

Fonte: Estudo da Receita Federal, vários anos.

Elaboração Própria.

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especialmente às atribuições do artigo 23, parágrafo único, foram transferidas para

regulamentação de Lei Complementar.

Diante desse comportamento, os grandes centros urbanos sofreram ataques a sua

autonomia federativa em função da ausência de regulamentação de muitos setores, e das

imposições da nova disciplina fiscal adotado pelo governo brasileiro nos anos 90.

Enquanto que, ficou estabelecido que as responsabilidades de competências

exclusivas35 municipais definidas no artigo 30 da Constituição Federal, deveriam ser

financiadas apenas com recursos próprios e transferências constitucionais.

O resultado dessa estratégia era interessante para o governo central, que

discriminou quais deveriam ser as tarefas dos municípios, ao mesmo, não definiu quais

recursos deveriam financiar as ações descentralizadas, comuns aos três entes federados.

Estratégia que justifica a demora para regulamentar assuntos fundamentais e de

interesse da nação, adiados para a segunda metade dos anos 90. Por exemplo, o antigo

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério (FUNDEF), que se transformou em dezembro de 2006, no atual Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais

- promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de

saneamento básico;

- combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos

setores desfavorecidos;

- registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos

e minerais em seus territórios;

- estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em

âmbito nacional. 35 O Artigo 30 definiu as competências exclusivas municipais:

- legislar sobre assuntos de interesse local;

- suplementar a legislação federal e estadual no que couber;

- instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da

obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;

- criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;

- organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de

interesse local, incluído o transporte coletivo que tem caráter essencial;

- manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar

e de ensino fundamental;

- prestar, com cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da

população;

- promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso

do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

- promover a proteção do patrimônio histórico-cultural, observadas a legislação e a ação fiscalizadora

federal e estadual.

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da Educação (FUNDEB)36, foi regulamentado quase 10 anos da vigência do texto

constitucional de 1988, por meio da Emenda Constitucional 14, publicada em 1996.

Não foi diferente para definir os critérios de repasses e aplicações dos recursos do

Sistema Único de Saúde (SUS), que foram regulamentados apenas no ano de 2000, por

meio da Emenda Constitucional 2937. Após quase 20 anos da publicação do texto

constitucional, em 2006 foi criado o Centro de Referência da Assistência Social

(CRAS), que ainda é uma realidade em poucas cidades do País.

Esses fundos passaram a ser criados para garantir recursos mínimos para essas

áreas. Porém, a nação brasileira ainda aguarda a regulamentação de métodos que

estabeleçam metas mínimas de melhoria a serem alcançadas, no sentido de enfrentarmos

o atraso no padrão dos serviços prestados.

Ou seja, podemos dizer que a falta de comprometimento dos governos superiores

nas responsabilidades descentralizadas permitiu que o hiato orçamentário persistisse

representado entre a necessidade e capacidade dos governos subnacionais assumirem

suas responsabilidades constitucionais.

Não demorou muito, os municípios capitais começaram a registrar sucessivos

aumentos no déficit público. Segundo as palavras de Maciel (1998:03):

“Estados e municípios, vencedores – em princípio – da batalha da

descentralização promovida pela Constituição de 1988, estão

assistindo a uma deterioração do resultado primário ano após ano:

saíram de um superávit de 1,5% do PIB em 1991 para um déficit de

0,74% em 1997”.

Dessa forma, a postura de recentralizar recursos, desmontar programas, e não

regulamentar outros, fazia parte das ações realizadas pelo governo central, que de

alguma forma impediram a efetivação dos novos direitos constitucionais38. A bem da

verdade, as expectativas de enfrentamos a desigualdade social ruíram.

Fomos impedidos de implantar qualquer mecanismo de cooperação e harmonia

entre as três esferas de governo para garantir a oferta de políticas públicas. A seguridade

social se chocou com o discurso neoliberal, que desrespeitou e abocanhou parte do seu

financiamento, e o direcionou para o orçamento fiscal, mais especificamente para a

36 A Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996, modificou os Artigos 34, 208, 211 e 212

da Constituição Federal e deu nova redação ao artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias. 37 A Emenda Constitucional n. 29, de 13 de setembro de 2000, alterou a Constituição Federal, instituindo

a vinculação de recursos da União, dos Estados e dos Municípios para o custeio de ações e serviços

públicos de saúde, no § 2º do artigo 198 da Constituição Federal. 38 A esse respeito, ver Azeredo (1990) e Fagnani (1997).

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funcional encargos especiais, onde são empenhadas e pagas as despesas com juros e

amortização do principal da dívida pública.

Conforme Villaça (2003), passamos a ser governados pelo mundo do pensamento

único, do Consenso de Washington, o mundo perdido, sem rumo, sem paradigma e sem

futuro, com homens incapazes de encontrar a solução para os problemas.

Mudamos o regime, a liderança política, mas nada foi alterado. Desde a sua

criação, a proteção social passou a disputar recursos com o orçamento fiscal, exatamente

como no passado, sufocada pela operação desmonte e por severas restrições fiscais

implementadas pelas medidas liberais dos anos 1990.

É possível afirmar que a esfera municipal ficou sobrecarregada com as

consequências desse modelo, com desaparecimento da oferta de alguns serviços federais

e estaduais. As prefeituras metropolitanas foram forçadas a assumir novas funções e

municipalizar muitos programas, que ampliaram a necessidade dos gastos correntes e

de investimento em infraestrutura.

Vencer os desafios criados a partir dessas mudanças consistiria em superar a

questão que não aparece no debate, permitindo que a transferência de responsabilidades

ocorresse repleta de vazios e lacunas de financiamento39.

Acredito que tenham sido esses os principais fatores que iniciaram a crise

federativa e fiscal dos grandes centros urbanos, que ainda se encontram incapazes de

assumirem problemas que estão cristalizados no âmbito urbano e social, mesmo diante

do aumento da receita disponível ao longo do período estudado, conforme veremos no

capítulo 4.

Assim, pode se dizer que a disponibilidade financeira definida no texto

constitucional não guardou uma relação condizente com a natureza das demandas e com

o desenho demográfico intrarregional do País, e pode ser vista e sentida nas 26 capitais.

Acredito que o desequilíbrio federativo emergiu a partir do agravamento das

assimetrias verificadas não só no volume dos recursos disponíveis, mas também na atual

divisão das responsabilidades, que não nos permite – ou é quase impossível – identificar

uma hierarquia das responsabilidades correspondentes de cada ente federativo.

Passados quase 30 anos da promulgação da Constituinte, permanecemos

desprovidos desse debate, o resultado é uma insatisfação generalizada dos cidadãos,

com crise de funções, uma briga de todos contra todos nas estruturas da federação, e

39 Para a análise do comportamento do gasto social no período posterior à Constituição de 1988, ver

Medici (1995), e Afonso e Raimundo (1995).

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ninguém parece ter razão. Esses acontecimentos sinalizam que existem prioridades a

serem debatidas no processo da descentralização fiscal, que foi incapaz de promover

uma configuração das ações federativas harmônicas e transformadoras que o País tanto

clamou.

Entendo que dividir responsabilidades e ser por elas justamente remuneradas é

direito não só das esferas de governos, mas, acima de tudo, interesse dos cidadãos

brasileiros, já que são os municípios que poderiam garantir maior agilidade e qualidade

de atendimento da prestação dos serviços públicos, pois é a esfera que oferece melhores

condições para um efetivo controle social dos recursos públicos, e conhece

profundamente as demandas locais.

Existe a necessidade de se estabelecer um pacto com a necessidade de cobertura

dos gastos de determinados programas, de modo que as demandas possam ser atendidas

de uma forma mais equilibrada. Aliado a isso, é imprescindível deixar de lado o discurso

de que existiria uma incapacidade financeira e técnica dos governos municipais.

Me parece mais correto para entender essa configuração, como bem disse Affonso

(2000), que a partir da redemocratização do País, continuamos mergulhados em uma

gestão de Estado voltada quase que inteiramenre aos compromissos associados à

valorização do capital, prevalecendo a balcanização do poder.

Ou seja, mais uma vez, a reprodução das condições sociais e os interesses das

classes mais fragilizadas continuaram sem voz política e foram marginalizados na plena

vigência da Constituição Cidadã. A ampliação da desigualdade econômica e social inter

e intrarregional se expressa por todas as regiões do País, principalmente, nos grandes

centros urbanos, que passaram a conviver, lado a lado, com a acumulação do capital e

da pobreza.

Acredito que este capítulo observou questões que caracterizaram as dificuldades

estruturais decorrentes a partir do processo da descentralização fiscal, sob o âmbito de

pouca coordenação financeira e orçamentária, e de poucos avanços nas regulamentações

do papeis de cada esfera de governo, que reforçou o jogo de interesses privados,

enquanto que os interesses coletivos permaneceram desconectados de qualquer

possibilidade de construirmos ações integradas que nos direcionem para uma coesão

social.

Vem à tona a necessidade de uma reflexão que nos permita um debate fiscal,

capaz de enfrentar os conflitos federativos, as indefinições e vazios de competências

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governamentais, o clientelismo e corporativismo presentes nas ações dos órgãos

responsáveis pela implementação das políticas públicas no País.

Fica evidente que a federação precisa de um ajuste forçado nas políticas

descentralizadas, capaz de resolver os conflitos, as indefinições e os vazios de

competências, e de fato selar compromissos com seus cidadãos, estabelecer e assumir

as confusas tarefas constitucionais, com regulamentações cristalinas, inclusive retomar

o debate sobre o papel da Região Metropolitana.

É impossível continuar com precarizações dos serviços sociais, indefinições e

ausências de papéis, em um modelo no qual perguntas, como: “Quem faz o quê? ”,

“Com quais recursos? ”, “E para quem faz? ”, ainda não têm respostas claras e simples,

mesmo diante de um processo de descentralização em curso há quase três décadas.

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Capítulo 3: Os percalços dos 1990: ajuste fiscal combinado com

descompromisso social

3.1 Introdução

Mesmo com a autonomia federativa assegurada aos governos subnacionais e a

universalidade garantida a todos os brasileiros, no capítulo anterior observamos que

muitos foram os desafios decorrentes das relações pactuadas a partir de 1988.

Com um resultado econômico praticamente estagnado, decorrente da interrupção

e redução do volume de investimento público, tecnologia defasada, crise inflacionária,

queda da receita tributária, a expectativa de que a redemocratização e o movimento da

descentralização fiscal devolvesse ao País as oportunidades para o desenvolvimento

econômico e social foram sendo frustradas, à medida que uma nova institucionalidade

fiscal era imposta à federação brasileira.

As transformações que ocorreram nas relações fiscal e financeira, entre

Municípios, Estados e União na primeira metade dos anos 90, materializava-se contrária

ao desejo da construção de cidadania, e cedeu espaço para o fortalecimento da nova

ordem econômica e fiscal que invadiu o País.

Os desejos e interesses da elite do capital por meio do movimento da rápida

abertura comercial e financeira e das ações de austeridade fiscal do Estado brasileiro,

recaíram e impediram a promessa de gerar empregos e combater a desigualdade social

econômica inter e intrarregional.

Circunstância que contribuiu para degradação do mercado de trabalho, o aumento

da informalidade e contenção salarial. Nesse cenário, os investimentos não apenas do

governo federal, mas dos governos subnacionais sofreram cortes substanciais e muitos

despareceram da agenda do governo.

Ao mesmo tempo, os municípios capitais passaram a contabilizar o peso da

necessidade de financiamento para os investimentos sociais e urbanos, mediante os

avanços do processo da descentralização fiscal, bem como da operação desmonte do

Estado e dos próprios efeitos do aumento do desemprego.

Esse capítulo tem o proposito de recuperar as principiais medidas e consequências

do ajuste fiscal dos 90 para os grandes centros, sede de regiões metropolitanas. Isso

porque, os efeitos da política econômica do plano Collor, promoveram a retração do

valor agregado nos centros mais industrializados, que era fundamental na formação do

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índice de participação, principal rubrica de receita constitucional para as 26 capitais, a

denominada cota parte do ICMS, de livre alocação e basilar para financiar o pacto

federativo vigente, sofreu enormes prejuizos com os efeitos gerados a partir da

desindustrização, e na sequencia pela guerra fiscal.

Dessa forma, a redução no volume das transferências constitucionais, como

também no fato gerador das receitas próprias, sobretudo a partir das consequências

decorrentes da falência das empresas locais e do desemprego, foram predatórias para os

centros mais populosos do País.

Outra questão que observaremos, reconhecendo que as 26 capitais são titulares

dos principais polos provedores municipalizados da proteção social, a partir da

recentralização da receita disponível na esfera federal, por meio da desvinculação da

receita da União - FSE/FEF/DRU-, os prejuízos orçamentários para as políticas da

seguridade social foram expressivos.

Novamente serão citadas, em um contexto de omissão federativa dos governos

superiores, a regulamentação das regiões metropolitanas. E mediante o processo das

privatizações dos bancos e empresas estaduais, outras dificuldades surgem para

viabilizar os programas de infraestrutura nas capitais.

E por fim as dificuldades e limites fiscais decorrentes da renegociação da dívida

pública municipal, que estabeleceu limites para o endividamento público, e as restrições

da Lei de Responsabilidade fiscal definiram tetos de gastos com pessoas, e impôs a

necessidade de cumprir-se metas de superávit primário e nominal.

Como bem observou Oliveira (2012), a partir daquele momento o governo operou

para cumprir as metas fiscais e garantir a capacidade financeira para honrar os serviços

da dívida na estrutura do orçamento público, conforme mostra tabela 23, anexo 09. Na

visão do Estado brasileiro, a reforma liberal40 tornava-se indispensáveis para estabilizar

a relação DLSP/PIB.

Com poucas alternativas para realizarem investimentos e com infraestrutura de

equipamentos públicos insuficiente, as 26 capitais saem em busca da terceirização de

infraestrutura e serviços, conforme veremos no capítulo 4.

40 Ver Carvalho (2000).

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3.2. Os impactos da política fiscal dos anos 90 nas finanças públicas das 26

capitais brasileiras

O mundo era globalizado já no final de 89, esperava que os Países latino-

americanos restabelecessem relações com os fluxos de capitais privados internacionais.

Expectativa que segundo Belluzzo (2002), refletia a deflação da riqueza mobiliária e

imobiliária daqueles mercados.

Ocasião que exigia uma atuação ativa dos governos latino americanos para que os

interesses da nova ordem econômica e fiscal do mundo globalizado fossem atendidos,

por meio de mecanismos regulatórios e condicionalidades designadas às finanças

públicas desses países.

3.2.1 As implicações do modelo fiscal restritivo para as metrópoles brasileiras

Na primeira fase do plano Collor, o anuncio do bloqueio da liquidez da riqueza

financeira submeteu a economia nacional em um cenário de polítcas monetárias e fiscais

restrititvas. Parte do uso da liquidez retida41 contribuiu para elevar a arrecadação do setor

público, e os recursos retidos puderam ser usados para saldar dívidas tributárias e

bancárias.

Entretanto, as medidas da liberalização econômica42, somadas às restrições

fiscais, fizeram com que os resultados da atividade econômica piorassem, e por sua vez,

a arrecadação das 26 capitais sofria com queda no volume de transferências

constitucionais, bem como nas receitas próprias, e, ao mesmo tempo, os governos

superioes se omitiam de muitas de suas responsabilidades constitucionais.

O governo federal promoveu um contingenciamento drásticos das dotações

orçamentárias, principalmente com as políticas sociais e de investimentos já em

andamentos. O governo central alegava que tais medidas eram necessárias a partir do

41 As empresas e famílias possuidoras de dívidas a pagar – bancárias e tributárias –, em vez de utilizar a

liquidez da nova moeda para realizar os pagamentos, adquiriam de outras empresas e agentes a

titularidade sobre os Valores a Ordem do Banco Central (VOBCs) retidos e com eles realizavam os

pagamentos. Os haveres não utilizados no processo viraram poupança de longo prazo, os denominados

VOBCs, que rendiam correção monetária, mais 6% ao ano. 42 Importante lembrar, que mediante a abertura às importações induziu um ajuste nas empresas que

sentiram a ameaça de acirramento da competição. O ajuste de preço foi superficial e concentrou-se no

corte dos custos, redução dos níveis hierárquicos, contratação dos serviços terceirizados, redução do

escopo das atividades industriais, e recorreu-se à importação dos bens cuja produção havia sido

interrompida, incrementando as compras externas de insumos, componentes e bens de capital, frente à

urgência de aprimorar a qualidade e a atualização tecnológica. As sucessivas medidas liberais resultaram

em um drástico corte de emprego para a indústria brasileira, processo denominado de Desindustrialização.

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avanço do processo da descentralização fiscal, pois havia perdido participação na receita

disponível, e mediante a instabilidade econômica que afetava o País, a capacidade de

novos investimentos públicos ficava comprometida; e que a partir da redução do déficit

público, o controle da inflação se fortaleceria, permitindo um planejamento da política

financeira necessária para dar lastro às políticas de austeridade fiscal.

Dessa forma, o discurso centrava-se na necessidade de cortes de gastos, inclusive

a partir da venda de patrimônio público, que elevaria a arrecadação do governo.

Lembrando que a receita de alienação de bens públicos não era partilhada com os

governos subnacionais, e muito menos com o orçamento da seguridade social. O valor

deveria ser alocado integralmente para na alocação das despesas financeiras.

Outra forma de compensar a perda na receita disponível43 se deu por meio da

criação de novos tributos, em especial das contribuições sociais e de aumento de

alíquotas de impostos não compartilhados com os governos subnacionais. Ou seja, a

carga tributária aumentou e permitiu um movimento contínuo de recentralização

financeira, porém, sem nenhuma discussão com a sociedade democrática do País.

Estratégia que em nada contribuiu para soldar o pacto federativo, e a qualidade da carga

tributária nacional piorou, e o nível da desigualdade de renda44 aumentou.

Tal investida reduziu a importância dos recursos tributários que compunham as

transferências constitucionais, e que deveriam assegurar a descentralização das

responsabilidades. Começava a ficar evidente que os instrumentos da nova ordem

econômica e fiscal pactuaria apenas com os interesses de poucos. O governo federal,

sistematicamente, implementava medidas que feria o objetivo constitucional selado por

meio contrato social vigente.

A figura 01 nos permite visualizar a evolução da COFINS com relação ao PIB,

que ao longo do período observado foi sofrendo aumentos sucessivos, a alíquota passou

de 0,5%, em 1988, para 2%, em 1990. Enquanto que as receitas dos impostos que

sustentavam as transferências constitucionais perderam fôlego, em função do menor

dinamismo econômico, caso emblemático do IPI, conforme mostra a figura 01.

43 Para esta pesquisa, entende-se por receita disponível todas as receitas advindas de tributos, que ficam

disponíveis a cada esfera de governo, depois de computadas as transferências recebidas e os repasses

feitos às demais esferas de governos. 44 A esse respeito, ver Pochman (2008 e 2014).

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Ou seja, a base das receitas das transferências constitucionais em 1988

representava 48% do total da receita tributária; em 1990 já havia sido reduzida para 39%

(OLIVEIRA, 1995).

O modelo em curso era desfavorável não apenas para o federalismo, mas de um

modo geral, prejudicava a economia e o contribuinte. O aumento dos tributos

contribuiram para que os preços relativos da economia45 aumentassem, prejudicando a

competitividade nacional.

Figura 1 - Evolução da COFINS e IPI

E a cada ano, a omissão nas funções constitucionais, em nome das metas de

superávit operacional e primário, e do acordo da renegociação da dívida no início dos

90, permitiu que obstáculos quase que intransponíveis se efetivassem.

Em um gesto de boa vontade e de forma unilateral, o País retomou os pagamentos

dos juros das dívidas em 1991. A tese era de que o governo buscava condições e espaço

para a inserção do País no mundo da liberalização financeira. Em julho de 1992, a

reestruturação da dívida pública nos moldes do Plano Brady46, celebrou o acordo

preliminar com os credores internacionais.

45 O aumento da carga tributária de tributação, principalmente, indireta, garantiria prejuízos para a

competitividade econômica, uma vez que sua sistemática teria incidência cumulativa na formação do

“custo Brasil”, ampliando também a regressividade da estrutura tributária, transferindo um ônus maior

para as camadas mais pobres da população. Vale lembrar que, naquele momento, a federação já sofria

com os efeitos da estagnação econômica, com as altas taxas de juros e com o desemprego. 46 O plano pretendia renovar a dívida externa de países em desenvolvimento mediante a troca por bônus

novos. Esses bônus contemplavam o abatimento do encargo da dívida, por meio da redução do seu

2,16

2,47

2,08

1,79

1,55

1,6

1,49 1,231,21

1,18

1,23

0,880,99

1,31

1,38

2,14

2,04

3,02

3,38

3,56

4,08

3,98 3,823,97

3,69 3,73

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

1991 1993 1994 1997 1999 2000 2001 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Evolução IPI e COFINS em % do PIBFonte: Estudo da Receita Federal, vários anos

IPI CONFINS

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O Brasil imediatamente ampliou o montante de recursos orçamentários

comprometidos com o pagamento dos juros vincendos de 30% para 50%. A partir dessa

renegociação os objetivos do liberalismo se fortaleceram, e parte expressiva do

orçamento era drenada para o pagamento dos juros da dívidas públicas federal com o

mundo.

O vazamento desses recursos em nada contribuiu com a geração de emprego

nacional, e muito menos com a promessa de coesão social. A redução do papel do

Estado, alinhado com o resultado da queda da atividade econômica, concomitante à

erosão das suas receitas, aumentou a pressão pelas demandas sociais.

Após o processo de impendimento do presidente Fernando Collor, assume o vice

Presidente da República, que imediatamente priorizou e ampliou os compromissos

fiscais, e na sequencia anunciou um plano estabilização econômica, o Plano Real. O

discurso do governo Itamar Franco era apoiado na necessidade de aumentar as

transferências de responsabilidades para os governos subnacionais e alterar o regime

fiscal, principalmente por meio da recuperação da receita e avanços no programa de

privatização do patrimônio público. Ações que se consolidaram no Programa de Ação

Imediata (PAI)47.

O diagnóstico central era de que o processo inflacionário resultava do

desequilíbrio fiscal. Para o governo, o sucesso da estabilização econômica dependeria,

fundamentalmente da criação de instrumentos que permitissem alcançar o equilíbrio

fiscal. O anuncio do plano de estabilização em 1994, seguia a linha de argumentação do

PAI, apoiada pelo instrumento da âncora cambial, taxa de juros altas, e de realização de

um superávit fiscal.

O Plano Real concentrou-se na aprovação das reformas tributária e a

previdenciária; e propôs a desvinculação de receitas do orçamento da seguridade social,

por meio da Emenda Constitucional que instituiu o Fundo Social de Emergência (FSE)

48.

principal ou pelo alívio nos juros. Além de emitir os bônus, os países deveriam promover reformas liberais

em seus mercados. 47 Ver Lopreato (2013) e Bacha (1994). 48 O ministro da Fazenda do governo Itamar Frando, Fernando Henrique Cardoso (FHC), em 7 de

dezembro de 1993, anunciou medidas fiscais para reduzir o déficit público. Criou o Fundo Social de

Emergência (FSE), que depois virou Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) e deu origem à atual DRU –

Desvinculação de Receitas da União. Esses mecanismos permitiram desvincular 20% das receitas

orçamentárias e direcioná-los para o cálculo do superávit primário.

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A metodologia do FSE desvinculava 20% dos valores que seriam investidos na

seguridade social e determinava que fossem alocados na composição das metas fiscais

do governo, usados para assegurar o pagamento de juros da dívida pública. Acredito que

essa medida cristalizou os compromissos do governo brasileiro com a agenda liberal.

O aumentou da carga tributária e da centralização dos recursos na esfera federal

se deu também, em 1994, por meio da criação do imposto provisório sobre

movimentações financeiras (IPMF), em 1997, transformado em contribuição provisória

sobre movimentação financeira (CPMF).

O governo prometia que esses recursos seriam investidos no orçamento do setor

da saúde, mas não ficou estabelecido no texto da lei, a condição de que os recursos do

IPMF/CPMF deveriam ser adicionados ao volume de recursos do orçamento que já

vinham sendo direcionado para o orçamento da saúde.

A aprovação dessa nova rubrica de receita pública abriu espaço para que o Tesouro

Nacional remanejasse as fontes de recursos do orçamento que financiavam a saúde

pública para outras áreas, não necessariamente a seguridade social.

Para se ter uma ideia da intensidade da recentralização dos recursos, a participação

das contribuições sociais na carga tributária saltou de cerca de 11,3% do PIB em 1990,

para 19% em 1994.

Num primeiro momento, se dizia que a combinação das políticas de austeridade

fiscal, somadas à sobrevalorização do câmbio administrado, a concorrência da abertura

comercial, e a manutenção de elevadas taxas de juros, juntas contribuíriam para uma

vitória contra a inflação alta.

E os déficits na conta de transações correntes do País seriam facilmente

financiados, a partir de as condições de liquidez internacional, uma enxurrada de

capitais seriam atraídos pelo diferencial da taxa de juros brasileira.

Para Belluzzo e Almeida (2002), o Plano Real “seguiu o método básico para dar

fim à maioria das ‘grandes inflações’ do século 20: recuperação da confiança na moeda

nacional, por meio da garantia de seu valor externo”. Esta forma de alcançar a

estabilidade de preços conhecida como âncora cambial, somente era possível quando

houvesse um financiamento em moeda estrangeira, e uma quantidade suficiente de

reservas internacionais que desestimulasse a especulação contra a paridade escolhida.

As autoridades monetárias controlavam o comportamento da taxa de câmbio

nominal; impediram qualquer reajuste nos salários; e ainda elevaram os juros e adotaram

medidas de restrição ao crédito. Sob essas condições, ao mesmo tempo em que

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alcançamos a estabilização inflacionária, ocorreu um crescente desajuste fiscal que

caminharam juntos, e eram faces desta mesma moeda, o Real (BELLUZZO, 2002).

Podemos dizer que a formação dos déficits volumosos externos e internos, foram

obras integralmente da engenharia do Plano Real, a partir do crescimento rápido das

dívidas externa (do setor privado) e interna (do setor público).

Com esse espírito, o processo de desmonte dos programas federais avançou, e as

responsabilidades delagadas por meio da descentralização de funções aos governos

subnacionais aumentaram, ao mesmo tempo, parte dos recursos eram desvinculados ou

insuficientes para assegurar o custo, e o impacto das políticas públicas municipalizadas,

principalmente para os municípios polos provedores dos serviços, as 26 capitais.

Rapidamente as finanças públicas dos governos subnacionais passaram a

contabilizar enorme déficit público e sofriam com as quedas expressivas na arrecadação

tributária. Os déficits fiscal e social se agravaram e conduziram a uma forte desigualdade

de condições econômicas e sociais para a grande maioria da população.

Segundo Giambiagi (2008) o período de 1988 até 1994, os municípios eram

superavitários. A partir de 1994, após os sucessivos cortes das despesas no orçamento

geral da União (OGU), a questão do déficit público municipal se agravou. A

recentralização dos recursos na esfera federal foi fundamental para a consolidação

deficitária municipal, principalmente nos centros urbanos que administravam os

maiores prejuízos econômicos e sociais desde o início da década de 90.

Para Abrúcio (1999), a implantação das medidas liberais foram possíveis a partir

da aliança do PSDB e PFL, que juntos atuaram nas lideranças regionais de maior peso,

e os governadores garantiram a aprovação das medidas restritivas e centralizadoras. E,

apesar de muitos estados e municípios do Norte, Nordeste e Centro-oeste, os mais

dependentes de transferências federais sofrerem perdas substanciais de receitas, o

momento de estabilidade na coalização política que sustentava o governo Fernando

Henrique Cardoso, assegurava a aprovação das reformas ocorridas no âmbito do Estado

brasileiro.

Ambiente que permitiu a aprovação da medida que limitou o raio de ação dos

governos subnacionais, a Lei Complementar nº 82, de 27 de março de 1995, que definiu

os limites para as despesas com pessoal ativo e inativo, da administração direta e

indireta.

Ficava evidente que estávamos diante de uma éspecie de ideologia, que assegurou

e legitimou a especulação financeira no País, ao mesmo tempo, contribuiu para o

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desequilíbrio das finanças públicas. O governo, comprometido quase que

exclusivamente com o segmento financeiro, passou a administrar o País guiado pela

apuração de metas em detrimento de qualquer outra política pública de interesse

coletivo.

A regra básica do programa de estabilização se pautava fundamentalmente na

oferta de ativos atraentes que pudessem ser absorvidos pelo movimento da globalização

-a oferta dos títulos públicos – e que prometessem elevados ganhos de capital e prêmios

de risco em suas taxas de retorno, os denominados spreads.

Conforme Carneiro (2002), a política de esterilização deu origem ao chamado

déficit quase fiscal, decorrente do diferencial entre taxa de juros obtida na aplicação das

reservas, e aquela paga aos detentores de títulos públicos que gerava enormes

constrangimento às finanças públicas, face à excessiva apreciação do câmbio e à

necessidade da constituição de um colchão de segurança contra a fuga de capitais. Na

verdade, o diferencial da taxa representava um pedágio pago pelos Países

subdesenvolvidos para se inserirem na globalização.

O nível de endividamento interno iniciou uma trajetória jamais vista na federação.

O resultado foi uma rápida conversão do superávit de 1994 que o País herdou do

governo Itamar Franco, em déficit do setor público em 1995.

A partir daí, as finanças públicas brasileiras se deterioravam face aos custos das

políticas de juros e do câmbio valorizado. De acordo com Belluzzo e Almeida

(2002:364):

(...) na partida do Plano Real, a situação financeira do setor público era

invejável, uma vantagem que nenhum dos planos anteriores pudera almejar.

O ajuste fiscal e de endividamento público do Plano Real foi feito antes. Em

1993, as contas do governo registravam superávit primário e operacional, e

a dívida líquida total e mobiliária nunca havia sido tão baixa.

Para os autores, a política econômica do governo FHC jogou fora esse trunfo e

depois levou ao limite do insustentável a situação das contas públicas, pois não houve

nenhuma preocupação, nem instrumentos de proteção voltados para as finanças

públicas.

As combinações de câmbio valorizado49 e juros altos, com crescimento medíocre

encarregariam de impulsionar o crescimento da dívida pública interna com relação ao

49 Segundo Belluzzo e Almeida (2002), a recuperação da confiança na moeda nacional ocorreu por meio

da garantia do seu valor externo. A âncora foi a estabilização do câmbio nominal, garantida por meio do

financiamento em moeda estrangeira e por um montante de reservas capazes de desestimular a

especulação contra a paridade escolhida.

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PIB, enfraquecendo a capacidade do Estado perante as necessidades de políticas de

desenvolvimento.

Na visão de Milton Santos, a globalização do projeto liberal tal como foi vendida,

deveria ser considerada uma fábula perversa, elaborada pela violência da informação, e

que fez com que não discutamos a solidariedade.

Sabemos que toda a discussão do pensamento dominante se fez apenas em bases

contábeis, desconsiderando qualquer possibilidade de coesão social e desenvolvimento

econômico sustentável. A sensação que fica é que os debates ocorreram no campo da

perversidade, naturalizando e cristalizando a desigualdade social para favorecer os

donos do poder.

A engenharia da estabilização do Plano Real alcançou, em um curtíssimo prazo,

aumentos expressivos nas contas do passivo externo e interno e seguiu adiante, pois

atendia aos interesses da riqueza financeira. Com altas taxas de juros e baixo

crescimento do PIB, a relação dívida pública/PIB evoluiu de 30%, em 1994, para 45%,

em 1999. A piora da relação se explica para um mesmo valor de dívida: quanto menor

o denominador dessa relação, no caso, o PIB, maior a relação dela com o tamanho da

economia.

Diante desse cenário, o custo das despesas financeiras no orçamento geral da

União passou a consumir mais da metade da estrutura do orçamento fiscal, recursos que

eram transferidos para a riqueza dos rentistas, contra os interesses coletivos majoritarios

do País. Ficamos sujeitos a esse projeto.

E, com o agravamento dos efeitos desencadeados pela crise mexicana e asiática

na metade dos 1990, todas as condições para uma crise das contas externas estavam

criadas. Por razões comerciais e bancárias, em razão do descasamento de moedas, uma

crise cambial poderia ser deflagrada.

A reversão dos empréstimos bancários externos criava um problema de solvência

doméstica – a reversão do ciclo de ativos – um problema de liquidez externa em razão

das saídas de divisas. Situação que se tornaria insustentável rapidamente.

Em abril de 1996, a taxa de juros real alcançou um nível que provocou o maior

constrangimento de crédito. Naquele momento, cada banqueiro tentou restringir

rapidamente os créditos que haviam concedido ao setor privado. Ocorreu um

movimento de tentar recuperar todos os recursos que as instituições bancárias haviam

postos para fora.

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Sabemos que, quando esse movimento é realizado por todos, de forma simultânea,

o resultado pode ser uma quebradeira de bancos e empresas, com níveis de

inadimplências muito acima da média. Cenário que submeteria as contas públicas a um

enorme desequilíbrio fiscal. Sem saída para resolver o problema criado pela política

econômica do Plano Real, o governo passou a socorrer bancos com o dinheiro do

orçamento fiscal.

Para o ministro do Planejamento à época, em entrevista ao jornal folha de São

Paulo, 26 de abril de 1996, José Serra defendeu a inclusão das despesas do governo com

o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional),

contrariando a versão do Banco Central, de que não haveria custo para o Tesouro, uma

vez que os recursos são colhidos junto ao sistema financeiro, por meio de depósitos

compulsórios.

Para o ministro, o Proer deveria ser incluído em dois itens do Orçamento Fiscal:

como renúncia fiscal e nas despesas financeiras. A renúncia fiscal ocorreu quando

permitiu que o prejuízo do banco quebrado fosse abatido do lucro líquido da instituição

que assumiria o controle acionário. Lembrando que o lucro é a base de cálculo do

Imposto de Renda da Pessoa Jurídica.

Em segundo, a diferença entre o custo de captação dos recursos e a taxa do

empréstimo, o governo usou dinheiro do depósito compulsório dos bancos para

emprestar aos bancos quebrados, e que mudaram de controle acionário. Ao liberar

recursos, aumentou o dinheiro em circulação. Então, o Banco Central emitiu títulos para

enxugar esse dinheiro e aumentou o estoque e o custo da dívida pública.

Para o ministro Serra, as pessoas não se deram conta. Porém, o custo fiscal estaria

justamente na diferença entre as taxas de juros desses títulos (custo de captação) do BC,

e os juros pagos pelos bancos que tomaram recursos do Proer.

Outro custo fiscal estaria na amortização da linha de crédito. Os empréstimos são

concedidos mediante garantia de "moedas podres" (títulos vendidos com desconto de

até 60%). O Tesouro estaria pagando pelo valor de face, o que deveria ter um valor

menor. Segundo o FMI, o PROER custou 4% do PIB em custos diretos, e 10% se forem

considerados os custos indiretos.

Resumindo, a política econômica do plano real criou um desequilíbrio fiscal nas

contas do Estado brasileiro. Redistribuiu renda e riqueza para a elite do capital, de forma

desfavorável à geração de emprego, ao crescimento econômico, e aos salários, além de

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sacrificar e impedir a participação dos direitos constitucionais na agenda do Estado

brasileiro.

Os objetivos do projeto minimalista de Estado seguiram e conduziram a uma

degradação ainda maior da infraestrutura e da qualidade dos serviços públicos,

agravando as tensões sociais por todas as regiões do País.

No biênio 1997/1998, contabilizamos um dos piores desempenhos do produto

interno bruto do Plano Real, 0,04% e 0,25%, respectivamente, o déficit público foi

agravado. Na avaliação de Oliveira (2010), um dos maiores erros do Plano Real foi

desprezar elementos importantes, como possíveis mudanças nas condições financeiras

internacionais; a sensibilidade dos mercados em relação à situação dos Países devedores

e emergentes; o risco de fuga real diante da desproporção entre a massa de ativos

financeiros domésticos líquidos e as reservas em divisas do País. Sem saída, e como era

de se esperar, o país se rendeu aos braços do FMI.

3.2.2 O ambiente da renegociação da dívida dos governos subnacionais

Pelas razões acima expostas e pelas sucessivas crises do mundo em

desenvolvimento, as avaliações negativas sobre a evolução do regime cambial e

monetário brasileiro deflagraram as vendas em massa e a liquidação de posições na

moeda sobrevalorizada.

Assim uma tendência à desvalorização da taxa de câmbio, envolveria um duplo

risco: o retorno das tensões inflacionárias e a aceleração da fuga de capitais,

magnificando a possibilidade de perdas futuras para os aplicadores em moeda nacional.

O déficit de confiança estava associado pela percepção de que o regime cambial e

monetário havia gerado endogenamente, um desequilíbrio crescente entre o volume de

reservas e a massa de ativos financeiros domésticos, inflados pela elevada taxa interna

de juros.

Conforme Belluzzo (2002), a crescente incerteza dos investidores quanto às

flutuações bruscas nos preços, com risco de enormes prejuízos para os que se

dispuseram a carregar os títulos do governo, forçou os administradores da política

monetária a aceitar progressivamente a substituição de papéis pré-fixados por pós-

fixados.

As autoridades monetárias foram obrigadas a assumir o risco de taxa de juros e o

risco de câmbio. Para a equipe econômica o cenário poderia se traduzir em saques

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recorrentes de investidores estrangeiros na economia brasileira, com remessas de

dólares para o exterior.

E, quando em agosto de 1998, a Rússia desvalorizou o rublo e decretou

moratória da sua dívida, a crise econômica mundial agravou e as reservas sofreriam

redução de forma substancial, expondo o País a uma crise cambial, que forçou o governo a

elevar as taxas de juros reais, ampliando a fragilidade financeira para todas as esferas de

governo. As reservas cambiais do País, no final de setembro de 1998 era de apenas US$

45 bilhões. Para Conforme Giambiagi (2008), naquele segundo semestre, os “pés de

barro” do plano Real ruíram, chegaria o momento de o Brasil tornar-se alvo dos

especuladores globais.

Falido, o País rendeu-se ao receituário clássico para as situações de desequilíbrio

no balanço de pagamentos, que se dava mediante a desvalorização da moeda, elevação

da taxa de juros e um orçamento fiscal superavitário. Dessa vez, a dura e austera

disciplina fiscal seria imposta aos governos subnacionais endividados.

Os governos subnacionais foram submetidos à restrição orçamentária e, mais do

que isso, inseridos em uma nova institucionalidade, para que todas as decisões

governamentais dentro de cada período fiscal, tivessem compatibilidade com as

exigências estabelecidas pela nova ordem econômica e fiscal.

Conforme destacou Vargas (2006), o movimento teórico já recomendava a

construção de restrições intergovernamentais e redesenho institucional para os cenários

de endividamento profundo. A ação determinante se daria a partir da criação de

instrumentos de responsabilização das esferas subnacionais por suas decisões de gasto

e limitação de endividamento.

Lembrando que o ambiente institucional de atuação e coordenação governamental

era considerado como basilar para a questão da eficiência da sustentabilidade financeira

dos compromissos fiscais. A regra de ouro era de que o endividamento passado fosse

honrado com base em recursos fiscais e não com novo endividamento. Isso implicaria

colocar o pagamento das despesas financeiras como prioridade no orçamento fiscal dos

governos subnacionais.

O governo federal como protagonista do processo, atuou através de suas estruturas

burocráticas, com maior destaque no que tange às relações intergovernamentais para a

Secretaria do Tesouro Nacional (STN), que passou a sistematizar e fiscalizar as contas

subnacionais, inclusive com poderes para constranger o endividamento subnacional de

forma a tornar mais explícita a situação fiscal, e garantir e facilitar, a partir do acordo

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de renegociação, o pagamento da parcela das dívidas estaduais e municipais junto ao

tesouro federal.

A regras restritivas submeteram os governos subnacionais a cumprirem metas

fiscais, que passaram a ser fiscalizadas a partir dos relatórios elaborados bimestralmente

(Relatório Resumido da Execução Orçamentária) e quadrimestralmente (Gestão Fiscal),

que contém os dispositivos fiscais apresentados na Lei de Responsabilidade Fiscal

(LRF). Imposições que passaram a ser defendias até como justificativa para despolitizar

a relação entre as esferas subnacionais e o governo central.

Acredito que após a vigência da LRF, a forma de atuação dos governos

subnacionais foi restringida, enquanto provedor da oferta das políticas públicas,

contribuindo para o agravamento da atual crise federativa.

Dessa forma, tenho como uma das hipóteses dessa dissertação que, a partir da

renegociação das dívidas dos municípios capitais, responsáveis no momento da

renegociação, por mais de 70 pontos percentuais do estoque da dívida pública

municipal, a restrição da autonomia federativa foi aprofundada.

3.2.2.1 A renegociação das Dívidas e os limites fiscais da Lei de Responsabilidade Fiscal

impostos para as cidades mais endividadas do País

Primeiramente, é forçoso lembrar que os grandes centros urbanos e

industrializados, foram os mais atingidos pela internacionalização da economia,

ocorrida na federação desde o início da década de 90. E, como administravam uma

estrutura orçamentária mais apoiada nas receitas tributárias próprias, lançaram mão de

novas formas de financiamento dos seus gastos, por meio do endividamento de longo

prazo, das operações de crédito e da antecipação de receita orçamentária (ARO),

instrumentos que contribuiram para ampliar o estoque dos passivos municipais.

Ou seja, acredito que a queda na arrecadação tributária própria, ocasionada pela

retração da atividade econômica versus à omissão das esferas federal e estadual nas

responsabilidades que deveriam ter assumido no contexto do processo da

descentralização fiscal, está intimamento relacionada ao agravamento do nível do

endividamento das 26 capitais.

A inadimplência se espalhou por vários setores. Desde a falta de pagamento dos

tributos federais, como o INSS, PASEP e FGTS, além dos calotes que foram

promovidos perante os estoques das dívidas contratuais e mobiliárias.

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Em algumas circunstâncias, parte do desequilíbrio orçamentário e financeiro era

financiado por meio da ampliação das adesões a determinados programas das empresas

estaduais, mas que impunham contrapartidas de gastos que impactavam nas contas

municipais.

E, como já observado, para obter o pacote emergencial de recursos junto ao FMI

em 1998, a equipe econômica brasileira deveria render-se às exigências, e as cláusulas

do acordo exigiram que os governos subnacionais obtivessem mais receita a partir das

privatizações, e que realizassem uma série de reformas institucionais para reduzir as

despesas públicas e o estoque de endividamento.

Dessa forma, as cláusulas50 que permearam o acordo de renegociação foram iguais

para todos os municípios brasileiros, porém, como as 26 capitais eram responsáveis por

mais de 70% do passivo municipal no momento da renegociação do estoque, foram

esses centros os que mais sofreram com a austeridade fiscal do contrato de renegociação

da dívida pública municipal.

Dentre as diversas cláusulas do contrato de renegociação da dívida pública

municipal brasileira, destaco as principais: toda a renegociação da dívida mobiliária e

contratual entre União e os governos subnacionais se deu em um longuíssimo prazo (30

anos), sob os efeitos das elevadas taxas de juros; comprometeu 13% de sua receita

líquida real (RLR) com prestações mensais e sucessivas, calculadas com base na tabela

price, vencendo a primeira trinta dias após a data da assinatura do contrato, e as

seguintes em igual dia dos meses subsequentes; os juros calculados deveriam ser

debitados mensalmente, à taxa mínima de 6% ao ano, sobre o saldo devedor previamente

atualizado; a atualização monetária deveria ser calculada e debitada mensalmente com

base na variação do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI),

calculado pela Fundação Getúlio Vargas; e, caso os 13% da RLR não fossem suficientes

para honrar o valor total da prestação mensal, primeiro seria amortizado os juros e

encargos, e o valor do principal retornaria para o saldo devedor.

E, ainda ficou estabelecido que o município, após 30 meses do contrato de

renegociação assinado deveria fazer uma amortização extraordinária de 20% do saldo

devedor, caso não ocorresse tal pagamento, o contrato seria recalculado desde a sua

50 A Medida Provisória n. 2.185-35, de 24 de agosto de 2001, estabeleceu critérios para a consolidação, a

assunção e o refinanciamento pela União da dívida pública mobiliária e outras, especificas de

responsabilidade dos municípios.

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assinatura, por uma nova taxa de juros que passaria de 6% para 9% ao ano, ou seja,

aumentaria em 50% a taxa de juros.

Essas penalidades desencadearem inúmeros prejuízos para a população urbana

residente nas capitais, que podem ser traduzidas na entrevista de Luís Carlos Afonso,

ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo, publicada em 3 de junho de 2004,

no Diário de S. Paulo:

(...) em maio de 2000, quando o ex-prefeito Celso Pitta negociou a dívida do

município com o governo FHC, as condições foram extremamente

desvantajosas para o cidadão paulistano. Nessa negociação ficou acordado

que, em novembro de 2002, o município desembolsaria, de uma só vez, uma

parcela de R$ 3,095 bilhões, o que corresponderia a 4 meses de arrecadação

da Prefeitura de São Paulo na época, ou ainda, quase o valor total investido

em saúde e educação naquele ano (R$ 3,352 bilhões).

Esse compromisso firmado entre Celso Pitta e FHC era de conhecimento

geral que seria impossível de ser cumprido, sob pena de falência de todos os

serviços prestados à população. A punição pelo não cumprimento dessa

cláusula contratual inexequível elevou os juros em 50%, de 6% para 9% ao

ano (...).

Nesse sentido, mesmo diante do cumprimentos das condicionalidades e dos

sistemáticos pagamentos mensais, o estoque de dívida das capitais51 registraram um

crescimento, conforme os dados da tabela abaixo. Ou seja, mediante as

condicionalidades contratuais impostas, ainda que nenhum novo centavo fosse

adicionado por conta de um novo financiamento, os estoques das dívidas municipais se

multiplicaram.

Apesar do estoque de endividamento das capitais no ano de 2010, ter reduzido sua

participação no estoque total de endividamento municipal, fundamentalmente

ocasionada pela redução da taxa de juros e aumento da receita corrente própria, é preciso

compreender, conforme mostra tabela abaixo, as distorções que o deflator escolhido

causou para o estoque da dívida de longo prazo das 26 capitais.

51 Ver anexo 3, evolução da dívida pública por cada capital.

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Tabela 6 -Evolução da participação do estoque da dívida de longo prazo das 26

capitais no total do estoque da dívida municipal, período: 2000 a 2010

Em todos os contratos renegociados o indexador aplicado era o Índice Geral de

Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), e mediante as desvalorizações cambiais

ocorridas durante o auge da desvalorização do real diante do dólar, segundo Mora e

Giambiagi (2005), a indexação da dívida pelo IGP-DI reduziu a importância dos ganhos

reais de receita observados quando deflacionada por outros índices, o que arrefeceu a

capacidade de redução gradual da dívida.

E, ainda que a receita tributária tenha apresentado um desempenho melhor no

decorrer da década de 2000 – seja quando cotejada com o PIB, seja deflacionada pelo

IPCA –, se considerarmos o IGP-DI como indexador do estoque da dívida, constatamos

que a performance Dívida/RLR foi medíocre, pois, a evolução da RLR não conseguiu

acompanhar a evolução do estoque, dado o distanciamento entre os índices IGP-DI e o

IPCA.

Um exemplo, no ano de 2002, o IGP-DI teve uma supervalorização, o acumulado

no ano chegou a 26,41%. Enquanto que, o índice usado para corrigir o lançamento e

cobrança da maioria dos tributos do País, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo

(IPCA) calculado pelo IBGE, o acumulado no ano foi de 12,53%. A variação entre eles

refletiu no crescimento do estoque de endividamento, piorando o saldo do estoque da

relação dívida sem precedentes na história da federação.

Ou seja, em 1998, antes de o acordo de renegociação, em valor atualizado pelo

IPCA IBGE, em março de 2018, o estoque do passivo das 26 capitais somava R$

ANO Total Dívida 26 Capitais (A) Total Dívida Municipal (B) (A/B)

2000 73.541.080.523,16 102.324.547.817,96 72%

2001 78.744.707.243,76 111.005.963.223,67 71%

2002 93.408.507.476,96 127.497.815.136,88 73%

2003 96.009.853.997,97 137.094.069.138,17 70%

2004 105.802.251.073,18 144.684.207.696,33 73%

2005 91.759.083.487,87 141.922.290.449,27 65%

2006 93.090.674.561,51 154.352.095.647,46 60%

2007 100.106.662.650,97 175.717.577.646,21 57%

2008 103.142.421.616,53 179.803.576.204,11 57%

2009 99.881.944.718,60 207.657.035.699,03 48%

2010 110.949.820.261,35 227.774.636.939,32 49%

Fonte: FINBRA Vários anos - STN/CCONT

Valores Corrigidos pelo IPCA-IBGE, março de 2018. Em R$ 1,00.

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55.580.652.811 (cinquenta e cinco bilhões, quinhentos e oitenta milhões, seiscentos e

cinquenta e dois mil, e oitocentos e onze reais) conforme anexo 5, tabela 31. Em valores

per capita, poderíamos dizer que cada cidadão residente nas 26 capitais, em 1998, tivesse

uma dívida de R$ 1.486, 15 (um mil, quatrocentos e oitenta e seis reais).

A partir da renegocição do estoque da dívida municipal junto a União, o saldo não

parou de crescer, praticamente dobrou em 2010, passou para R$ 110.949.820.261 (cento

e dez bilhões, novecentos e quarenta e nove milhões, oitocentos e vinte mil, duzentos e

sessenta e um reais). Enquanto que, considerando a população residente nas 26 capitais

de 42.895.885 habitantes, o valor da dívida per capita, no ano de 2010, foi elevado para

R$ 2.586 (dois mil quinhentos e oitenta e seis reais).

Aumento que pode ser atribuído, basicamente, às claúsulas contratuais. Isso

porque, os valores enviados mensalmente, os 13% da receita líquida real (RLR), não

foram suficientes para honrar o valor da parcela, na sua maioria, apenas amortizava os

juros e encargos das parcelas, e o valor do principal retornava para o estoque.

Circunstância que não permitiu que muitas capitais, de fato conseguissem reduzir o

saldo devedor, pois não amortizaram o valor do principal da parecla.

Cumpre observar que, a média dos pagamentos com as despesas de juros e

encargos, no ano de 2010, alcançou a 5 pontos percentuais do orçamento fiscal corrente

nas capitais, uma prioridade absoluta da política fiscal subnacional. Enquanto que, a

participação dos recursos usados para amortizar o valor principal da parcela da dívida

pública também se multiplicaram, em 2002, as despesas com a amortização

representavam 12 pontos percentuais, em 2010, essa participação aumentou para 23

pontos percentuais das despesas de capitais, conforme tabela 07.

Outra forma de entender as restrições de endividamento, cabe observar que a

receita corrente passou a representar mais de 87% das despesas totais do orçamento,

devido à interrupção de novas operações de crédito, reduzindo por sua vez, a

importância das receitas de capital na estrutura orçamentária das capitais.

Melhor dizendo, os investimentos perderam importância na estrutura das despesas

de capitais, de 85 pontos percentuais em 2002, representaram apenas 67 pontos

percentuais em 2010. A bem da verdade, as despesas financeiras ganharam espaço na

estrutura do orçamento fiscal em detrimento de os investimentos. Informação que pode

ajudar na compreensão dos desafios urbanos, e à rigidez orçamentária em que as cidades

metropolitanas foram mergulhadas.

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Tabela 7 - Evolução média da participação das despesas por Categoria

Econômica, 26 capitais: 2002-2010

Questão que está intimamente relacionada com o coeficiente de endividamento

definido para as capitais, quando desenquadradas tornavam-se impedidas de pleitear

novas operações de créditos, e, consequentemente, a receita de capital perdeu

participação na estrutura orçamentária, por sua vez, a realização dos investimentos era

sistematicamente reduzida.

Ou seja, a evolução da participação média, por natureza das despesas públicas

das 26 capitais nos mostra que não bastava pagar em dia as parcelas da dívida

renegociada. Pois o indicador necessário para novas oportunidades de investimento

estava definido na relação estabelecida entre a dívida consolidada líquida (DCL)52 e a

receita corrente líquida (RCL)53, conforme a resolução do Senado Federal n. 40 que

52 Dívida Consolidada Líquida (DCL): de acordo com o Manual de Demonstrativos Fiscais da STN, a

DCL representa o montante da Dívida Consolidada (DC) deduzido o saldo relativo aos haveres

financeiros (disponibilidade de caixa e demais haveres financeiros). Caso o valor dos haveres financeiros

seja inferior aos Restos a Pagar processados (exceto precatórios), não haverá deduções na DC, e logo a

Dívida Consolidada Líquida (DCL) será igual à Dívida Consolidada. Por sua vez, a Dívida Consolidada

(DC) ou fundada, para fins fiscais, corresponde ao montante total das obrigações financeiras, apurado

sem duplicidade (excluídas as obrigações entre órgãos da administração direta e entre estes e as entidades

da administração indireta), assumidas: a) pela realização de operações de crédito com a emissão de títulos

públicos, para amortização em prazo superior a 12 (doze) meses (dívida mobiliária);b) pela realização de

operações de crédito em virtude de leis, contratos (dívida contratual), convênios ou tratados, para

amortização em prazo superior a 12 (doze) meses; c) com os precatórios judiciais emitidos a partir de 5

de maio de 2000 e não pagos durante a execução do orçamento em que houverem sido incluídos; d) pela

realização de operações de crédito de prazo inferior a 12 (doze) meses, que tenham constado como receitas

no orçamento.

53 Receita Corrente Líquida (RCL): de acordo com o MDF da STN, a RCL é o somatório das receitas

tributárias, de contribuições, patrimoniais, agropecuárias, industriais, de serviços, transferências correntes

e outras receitas correntes do ente da Federação, deduzidos alguns itens exaustivamente explicitados pela

própria LRF, não cabendo interpretações que extrapolem os dispositivos legais. Conforme a LRF, em seu

art. 2º, inciso IV: " - receita corrente líquida: somatório das receitas tributárias, de contribuições,

patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também

correntes, deduzidos: a) na União, os valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação

constitucional ou legal, e as contribuições mencionadas na alínea a do inciso I e no inciso II do art. 195,

e no art. 239 da Constituição; b) nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação

constitucional; c) na União, nos Estados e nos Municípios, a contribuição dos servidores para o custeio

Média 26 Capitais 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

3. Despesa Corrente 84% 89% 87,87% 91% 88% 87% 86% 88% 87%

1.Pessoal 50% 51% 50,31% 50% 49% 49% 50% 50% 43%

2. Juros 2% 2% 1,90% 2% 2% 2% 1% 1% 5%

3. Outras Despesas Correntes 48% 47% 47,79% 48% 49% 50% 49% 49% 52%

4. Despesa Capital 16% 11% 12,13% 9% 12% 13% 14% 12% 13%

4. Investimentos 85% 80% 82,88% 77% 81% 82% 82% 80% 67%

5. Inversões 3% 4% 3,30% 3% 3% 3% 3% 3% 10%

6. Amortizações 12% 16% 13,83% 20% 16% 15% 15% 16% 23%

Fonte: STN/FINBRA, vários anos.

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definiu o que o estoque da dívida consolidada líquida municipal ao final do décimo

quinto exercício financeiro, contado a partir do encerramento do ano de publicação da

resolução, não poderia exceder, no caso dos Municípios, a 1,2 (um inteiro e dois

décimos) vez da sua receita corrente líquida.

O cronograma de amortização definido e controlado pelo governo federal, por

meio da Secretaria do Tesouro Nacional adotou muitas medidas para alcançar as metas

definidas, através da elaboração de um relatório quadrimestral da gestão fiscal.

E, por meio das informações do sistema integrado de administração financeira

(SIAFI), em caso de inadimplência dos municípios endividados, o órgão federal poderia

reter as transferências constitucionais.

Porém, poucos foram os intrumentos da política macroeconômica do governo

federal, preocupados com a atividade econômica local, necessária para se ampliar a

arrecadação da receita própria, e, por sua vez, fundamental para a performece do

coeficiente de endividamento.

A figura 2, mostra a trajetória do coeficiente de endividamento da capital mais

populosa e com maior arrecadação própria do país, e, ao mesmo tempo, responsável

pelo maior passivo municipal, a cidade de São Paulo. Sem interromper a parcela de

pagamento do acordo de refinanciamento, praticamente, permaneceu sem nenhuma

capacidade de endividamento após a vigência da LRF, pois não conseguiu enquadrar-se

nos limites exigidos pela lei.

do seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira

citada no § 9º do art. 201 da Constituição.".

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Figura 2- Evolução do Coeficiente de Endividamento do município mais

endividado do país, a cidade de São Paulo, período: 2001-2010

Dessa forma, as cláusulas do acordo de renegociação colocaram as cidades

endividadas, particularmente as 26 capitais, sob o âmbito de uma série de restrições

fiscais que passaram a interferir na autonomia federativa, desconsiderando às

atribuições e necessidades assumidas no pacto federativo vigente.

Acredito que muitas cidades e estados permaneceram desenquadrados do limite

de endividamento estabelecido, não por falta de pagamentos mensais, mas por

consequências das políticas macroeconômicas do governo brasileiro, as altas taxas de

juros, a sobrevalorização do câmbio, e do conjunto de cláusulas que corrigem o estoque

da dívida, perpetuando-as em um quadro de desenquadramento fiscal.

Pode-se afirmar que os municípios que assinaram o acordo de renegociação da

dívida tornaram-se devedores da União pelos 30 anos seguintes, e até lá terão que

administrar um orçamento com pouco capacidade de investimentos.

Para qualquer iniciativa da esfera municipal, desde o pleito de uma operação de

crédito até celebração de um convênio, a União passou a analisar primeiro o coeficiente,

o pagamento em dia das parcelas do acordo, e o cumprimento do cronograma de ajuste,

a partir de metas de resultados primário e nominal estabelecidas a cada ano nos anexos

da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de cada município.

E, ainda definiu regras formais para o gasto de pessoal. Ou seja, quando o art.

19 da LRF estipulou que a despesa total com pessoal, em cada período de apuração não

poderia exceder o percentual da receita corrente líquida dos municípios em 60 pontos

percentuais, de um modo geral, ignorou a necessidade de ampliação das despesas com

192,98

236,2244,78 246,45

221,15

196 189,52203,32 207,98 213,49

0

50

100

150

200

250

300

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Dívida Consolidada Líquida (DCL) x Receita Corrente

Líquida (RCL)

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mão de obra decorrente dos programas municipalizados. A solução deveria se dar por

meio da terceirização dos serviços da política, para que a regra fosse cumprida.

Em outras palavras, a categoria gasto com pessoal não poderia ultrapassar os

limites estabelecidos, e qualquer nova contratação, reajustes de salários, criação de

novos cargos, alteração nos planos de carreira, vale dizer, qualquer movimento do

governo em favor do aumento dos gastos com pessoal passou a ser expressamente

fiscalizado e controlado por meio dos coeficientes54 estabelecidos na LRF.

De um modo geral, acredito que essa questão criou entraves para a questão social

e para o desenvolvimento urbano nas capitais. Houve situações em que os municípios

foram constrangidos e forçados a optar pela contratação de mão de obra terceirizada,

devido a exigência fiscal, pois estavam desenquadrados do teto de gasto com pessoal.

As finanças públicas das capitais endividadas ficaram sujeitas às exigências fiscais

e tiveram sua autonomia federativa limitada, travada pelas condicionalidades do acordo

de renegociação da dívida pública e dos limites estabelecidos pela LRF.

Cenário que adicionou mais ingrediente aos desafios urbanos, a dificuldade da

gestão dos contratos das ações locais, transferidas para o mercado operacionalizar. A

partir daquele momento, sistematicamente o Estado aumentou sua relação com o

privado.

Através de parcerias, concessões, terceirizações, transferiu para o mercado o

direito de explorar setores fundamentais para o bem-estar da sociedade. Porém, vale

observar que até o momento, essa nova forma de atuar não conseguiu impor um modelo

eficiente para a gestão e controle dos contratos terceirizados.

Despesa que é contabilizada na denominada natureza, Outras Despesas

Correntes55. Conta que reúne os gastos com os elementos relacionados à terceirização

dos serviços, como os serviços de consultoria; serviços de terceiros - pessoa física;

locação de mão-de-obra; serviços de terceiros - pessoa jurídica; subvenções

econômicas; transferências a instituições privadas com fins lucrativos; etc.

Alinhado com a ideia de gestão das finanças dos governos subnacionais, acredito

que LRF deveria se propor e exigir um relatório que nos permitisse identificar o preço

54Ver artigos: 19, 20 e 21 da Lei nº 101, de maio de 2000 que definem os limites de gasto com pessoal. 55 Principais elementos de despesas da natureza Outras Despesas Correntes: Transferências para

Instituições Privadas sem Fins Lucrativos; Diárias – Civil; Material de Consumo; Passagens e Despesas

com Locomoção; Outras Despesas de Pessoal Decorrentes de Contratos de Terceirização; Serviços de

Consultoria; Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Física; Locação de Mão de Obra; Outros Serviços de

Terceiros - Pessoa Jurídica; Contribuições; Despesas de Exercícios Anteriores; Subvenções Sociais.

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unitário da ação terceirizada, o número de pessoas atendidas no bimestre e ou

quadrimestre, para identificarmos, ao menos, o custo e a satisfação de cada usário com

a política terceirizada.

Para o modelo, a ideia de eficiencia e eficácia só abrangueu as metas do resultado

primário e nominal, sem nenhuma preocupação com a gestão da terceirização

impulsionada pela regra de ouro que impos o teto de gasto com pessoal.

A cada ano, as regras imputáveis aos municípios endividados, ao mesmo tempo,

mais autônomos para arrecadar recursos próprios, de alguma forma os impedem de

elaborar e assumir suas responsabilidades federativa.

Questão que nos ajuda na construção da problemática dessa pesquisa: de que os

municípios capitais sofreram restrições fiscais, que interferiram na sua autonomia

federativa, uma vez que a rigidez fiscal limitou suas ações. Fica a sensação de que os

municípios endividados foram obrigados a abdicarem de suas responsabilidades

constitucionais comuns e concorrentes, em detrimento das premissas fiscais da nova

ordem econômica e fiscal.

Resumindo, muitas são as dificuldades colocadas para às finanças públicas após a

renegociação da dívida pública municipal e a implantação da LRF. E, o aumento da

arrecadação própria não tem um significado que possa alimentar uma expectativa para

coesão social, ao contrário, assistimos a uma convulsão social e estrutural dos grandes

centros urbanos.

Outras imposições fiscais da nova disciplina fiscal, tem sido a obrigatoriedade do

pagamento das parcelas dos precatórios56; e permissões frequentes de mandados

judiciais que obrigaram os municípios a realizarem determinados serviços e bens

públicos não planejados. Determinações que contribuíram para restringir ainda mais a

autonomia orçamentária municipal.

Aliado a tudo isso, ainda é preciso apontar que o volume dos recursos fiscais

direcionados para às contrapartidas exigidas pelas transferências negociadas com o

governo federal e estadual, conforme veremos no próximo capítulo, cresceram de forma

substancial, e contribuíram para aumentar a rigidez orçamentária e redução da

autonomia federativa municipal.

Assim, podemos concluir que o ônus pela concordância com o reducionismo do

papel do Estado brasileiro não tem sido pequeno para a federação brasileira, orientado

56 Conforme trata o § 3º do art. 100 da Constituição Federal ou pelo art. 87 da Emenda Constitucional n.

37 de junho de 2002.

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pelo prisma da garantia do cumprimento das obrigações financeiras prévias, e as

questões que haviam sido descentralizadas e ou municipalizadas pouco foram

respeitadas no contexto de austeridade fiscal.

Segundo os próprios técnicos do FMI, as ações praticadas no universo liberal,

nossa experiência abrangeu e englobou regras mais restritivas, as quais envolveram

limites para os gastos públicos e para o estoque de endividamento, além do controle do

processo orçamentário, desde a formulação até realização das metas primárias e

nominais. Podemos dizer que, nosso modelo de ajuste fiscal, teve forte influência do

modelo Hard Budget Constraint (HBC), abordado no capítulo 1.

3.2.2.2 O distanciamento das relações entre Estados e seus respectivos Municípios, a partir da

renegociação das dívidas Estaduais e das mudanças institucionais da nova disciplina fiscal

Sempre pelo caminho mais fácil, como já observado, o governo federal promoveu

a operação desmonte e se omitiu de muitas funções constitucionais, além de conduzir

uma trajetória de aumento da carga tributária, baseada em tributos indiretos, os quais

não partilhava com os governos subnacionais. Postura motivada e justificada pela

necessidade de se cumprir metas fiscais57.

Com esse mesmo discurso, com vistas a eliminar instituições estaduais, as

privatizações avançaram e permitiram que muitos programas estaduais, fundamentais

para soldar as relações federativas, de alguma forma, fossem extintos da agenda regional

e local.

Isso porque, a partir da privatização dos bancos estaduais, o repasse que era feito

pelas agências oficiais de crédito aos bancos estaduais desapareceram, e as operações

financeiras foram eliminadas. Nesse sentido, a hierarquização das relações entre os

estados e seus respectivos municípios foram sendo prejudicadas.

57 A Lei n. 9.496 de 11 de setembro de 1997 estabeleceu critérios para consolidar e refinanciar pela União

diversas dívidas financeiras de responsabilidade de Estados e do Distrito Federal. O Programa de

Reestruturação e de Ajuste Fiscal foi pautado, em parte, pela lei n. 9.496, de 11 de setembro de 1997,

segundo a qual os Estados se comprometeram a alcançar metas, com destaque para a relação dívida

financeira versus receita líquida real, resultado primário, limite de despesas com funcionalismo público,

alienação de ativos, privatização, permissão ou concessão de serviços públicos, reforma administrativa e

patrimonial, despesas de investimento em relação à RLR. O programa foi aderido por governadores de

25 estados, incluindo Distrito Federal, e apenas o Amapá e Tocantins não aderiram a ele. A cada ano, tem

sido avaliado o cumprimento das metas e compromissos do exercício anterior. A Medida Provisória n.

2.192-70, de 24 de agosto de 2001, que estabeleceu mecanismos objetivando incentivar a redução da

presença do setor público estadual na atividade financeira bancária, dispõe sobre a privatização de

instituições financeiras, e dá outras providências.

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Mecanismo que desarticulou o que existia entre as esferas subnacionais, e o

volume de recursos financeiros necessários para que o investimento público municipal

fosse realizado, praticamente, desapareceu.

Mecanismo parecido com o que já havia ocorrido no início da implantação do

Plano Real, a desvinculação da receita do orçamento da seguridade social, impediu que

a ações necessárias fossem encaminhadas, desvencilhando os recursos de seus

propósitos e funções, criando um modelo com características pouco cooperativas,

diferente do desenho proposto para às relações federativas comuns as três esferas de

governo.

Dessa forma, a restrição da autonomia dos estados interferiu nas decisões e

escolhas da estruturação dos programas locais, que implicou em dificuldades de acesso

ao crédito. Como bem disse Santos (1996), as respostas às demandas sociais que estados

e municípios tinham sob sua responsabilidade passaram a fazer parte de possibilidades.

Para Lopreato (2013), a partir da renegociação da dívida dos governos

subnacionais, o poder federal se agigantou no controle da política fiscal, e forçou os

entes subnacionais a venderem empresas e bancos. Esse comportamento alterou

características tradicionais do federalismo brasileiro.

Ou seja, a política de impor qual deveria ser o comportamento das finanças

subnacionais, passou a ser condizente com o ajuste macroeconômico do governo

federal. As normas de acesso às operações de crédito e definição das regras de

endividamento permitiram à União ditar o comportamento das finanças dos entes

subnacionais e centralizar o poder da formulação da política fiscal.

“A perda de grau de liberdade forçou governadores e prefeitos a seguirem as

diretrizes fiscais traçadas na esfera federal, alterando relações de poder que

haviam caracterizado o federalismo brasileiro mesmo nos tempos do regime

militar”.

Imposições que conjecturaram na redução dos quadros dos funcionários públicos;

fechamento de muitas instituições, empresas públicas, autarquias e fundações, como a

liquidação dos bancos públicos estaduais que eram os principais responsáveis por

alavancar o volume de recursos financeiros para os investimentos municipais no

passado.

Lembrando que a iniciativa privada não atua no financiamento de longo prazo

para o setor público, restando aos estados e municípios da federação brasileira apenas

um poder residual, que lhes insere numa quase que completa omissão da sua autonomia

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federativa, a adesão aos programas de recursos vinculados, as denominadas

transferências discricionárias.

Essas medidas, permitiram que a Secretaria do Tesouro Nacional passasse a

comandar as decisões dos gastos correntes e dos investimentos. Interferência e controle

como forma de assegurar o superávit primário necessário ao programa de ajuste fiscal,

mas sem muita preocupação com a gestão de políticas que assegurassem o

desenvolvimento social e econômico para o País (LOPREATO, 2013).

Acredito que as políticas fiscal e financeira, fortemente entrelaçadas com os

interesses do mercado, passaram a reproduzir resultados nefastos para o pacto

federativo, e muitos municípios e estados partiram para políticas isoladas, intempestiva

e predatória e, que, em muitas situações, extrapolaram seu papel de condutor do

desenvolvimento local.

Certamente, todos nós perdemos, e assegurar aos mais de 200 milhões brasileiros

os direitos universais - o acesso a moradia, ao lazer, a segurança, a previdência social,

o transporte, o saneamento, a cultura, educação, saúde, esporte, uma proteção mínima à

maternidade e à infância, à assistência social- passou a ser no mínimo, uma realidade

distante das ações imperiosas da nova ordem vigente.

3.3 A construção da nova Ordem Fiscal: equilíbrio ou observa-se o

aprofundamento dos desequilíbrios fiscais?

3.3.1 A crise econômica e o seu impacto nas finanças públicas municipais

Posteriormente à obsessão fiscal, assistimos nas duas últimas décadas um período

de baixo crescimento, alinhado com uma agenda nacional completamente caótica e

comprometida apenas com os interesses da liberalização econômica.

Permanecemos mergulhados em um desequilíbrio fiscal crescente, cristalizado na

fragilidade financeira e fiscal dos governos subnacionais. Desequilíbrios que adoeceram

as relações federativas. Como bem apontou Fiori (1995:30):

(...) o que parece ter maior importância para a discussão federalista são as

novas regras e tendências que vêm manifestando-se no plano de competição

intercapitalista, no plano de gestão das políticas macroeconômicas nacionais,

e, finalmente no plano da polarização social que vem se agigantando-se à

sombra da globalização”.

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A mais profunda crise federativa do País, políticas predominantes do salve-se

quem puder, fez ressurgir conflitos horizontais e verticais. Os compromissos

decorrentes do processo da nova ordem econômica, causou prejuízos para as relações

intergovernamentais, e impossibilitou que os governos subnacionais exercessem de fato

sua autonomia federativa para planejar e atender às demandas que permitissem uma

coesão social, conforme estabelecido no texto constitucional de 1988.

A falta de cooperação entre os entes federativos na oferta dos bens e serviços

públicos resultou em prejuízos enormes para autonomia do planejamento e execução do

orçamento público nas 26 capitais.

A necessidade de financiamento para investimentos per capita permaneceu

superior à capacidade de financiamento, e o direito à cidadania58 permaneceu assegurado

apenas no texto constitucional.

Em 1988 partíamos de um cenário que reunia condições estratégicas para o

enfrentamento das desigualdades socioeconômicas do País, por meio da garantia da

universalização da proteção social. Entretanto, a partir do receituário de austeridade

fiscal, nos tornamos uma nação caracterizada pela recessão econômica e desemprego,

aumento da miséria e da desigualdade social.

Ao mesmo tempo, em pleno processo de descentralização fiscal, esse cenário de

crise econômica e social gerava externalidades negativas nas relações federativas.

Ou seja, praticamente 85% das capitais estudadas, que reuniam mais de 93,52%

da população da amostra, sofreram com o desemprego dos anos 90. Os dados do censo

demográfico do IBGE, anos 1991 e 2000, mostram que as pessoas ocupadas urbanas59

versus população economicamente ativa60 (PEA), em apenas 4 capitais essa relação teve

saldo positivo (tabela 8).

58Para Maria de Lourdes Manzine Covre (1995), ser cidadão significa ter direitos e deveres e ser

soberano. Cidadania significa que homens são iguais, ainda que perante a lei, sem discriminação de

raça, credo ou cor. E ainda: a todos cabem o domínio sobre seu corpo e sua vida, o acesso a um salário

condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à saúde, à habilitação, ao lazer. E mais:

é direito de todos poder expressar-se livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar

movimentos sociais, lutar por seus valores. Enfim, o direito de ter uma vida digna de ser homem. 59 Para o IBGE, pessoa ocupada é quem trabalhou nos últimos 12 meses anteriores à data de referência

do Censo, ou parte deles. A pessoa que não trabalhou nos últimos 12 meses anteriores à data de referência

do Censo, mas que, nos últimos 2 meses, tomou alguma providência para encontrar trabalho, foi

considerada como desocupada. 60 PEA são pessoas que, durante todos os 12 meses anteriores à data do Censo do IBGE, exerceram

trabalho remunerado, em dinheiro e/ou produtos ou mercadorias, inclusive as licenciadas, com

remuneração, por doença, com bolsas de estudo etc. e as sem remuneração que trabalharam habitualmente

15 horas ou mais por semana em uma atividade econômica, ajudando a pessoa com quem residiam ou a

instituição de caridade, beneficente ou de cooperativismo ou, ainda, como aprendizes, estagiárias etc.

Também foram consideradas nessa condição as pessoas de 10 anos ou mais de idade que não trabalharam

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Cabe observar que a queda da população ocupada na maioria das capitais,

contribuiu para piorar os índices de violência, da informalidade, da inadimplência

tributária, enfim, questões que nos ajudam a explicar a piora do desequilíbrio fiscal.

As informações da tabela foram classificadas em ordem decrescente pela variação

em percentual da relação entre população ocupada urbana versus população

economicamente ativa.

Tabela 8 -População Ocupada Urbana versus PEA: 2000/1991

Ou seja, enquanto o desemprego se alastrava, a pressão social crescia nos centros

urbanos mais populosos, e os compromissos da democracia com a cidadania, de certa

forma, permaneciam limitados às políticas fiscais restritivas.

nos 12 meses anteriores à data de referência do Censo, mas que, nos últimos dois meses, tomaram alguma

providência para encontrar trabalho.

26 CapitaisPopulação Ocupada

Urbana X PEA 1991

População Ocupada

Urbana X PEA 2000

Variação

2000/1991

São Luís 32,16% 75,68% 43,52%

Boa Vista 67,52% 83,81% 16,29%

Belém 64,41% 80,54% 16,12%

Palmas 77,63% 81,90% 4,27%

Macapá 79,97% 78,46% -1,50%

Rio Branco 82,22% 77,40% -4,82%

Florianópolis 90,29% 84,94% -5,35%

Goiânia 94,55% 87,51% -7,04%

Porto Velho 77,19% 70,00% -7,19%

Maceió 84,12% 76,46% -7,66%

Teresina 87,68% 79,31% -8,38%

Rio de Janeiro 92,80% 84,13% -8,67%

Curitiba 94,73% 85,92% -8,81%

Cuiabá 92,57% 82,69% -9,88%

Natal 92,22% 81,92% -10,30%

Fortaleza 93,70% 83,08% -10,63%

João Pessoa 93,20% 82,09% -11,12%

Campo Grande 95,30% 84,10% -11,20%

Recife 89,88% 78,60% -11,28%

Vitória 95,19% 83,73% -11,46%

Porto Alegre 94,63% 83,14% -11,49%

Belo Horizonte 94,80% 82,97% -11,82%

Manaus 87,65% 75,72% -11,94%

Aracaju 91,77% 78,94% -12,84%

Salvador 88,78% 75,20% -13,57%

São Paulo 91,57% 77,80% -13,77%

Fonte: IPEADATA, anos 1991 e 2000 - Elaboração própria

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E, mais grave, as imposições fiscais adotadas contribuiram para piorar do perfil

da dívida pública interna, ocasionando uma deterioração das finanças públicas e nas

relações federativas. A dívida interna líquida do governo federal com relação ao PIB em

1993 era da ordem de 7%, uma situação favorável para o governo brasileiro.

A partir do plano Real, com altas taxa de juros e âncora cambial, o aumento da

dívida mobiliária interna passou a ser crescente, com desdobramentos deletérios para a

estrutura produtiva da economia brasileira e para as relações federativas. Ou seja, o

governo federal priorizava cada vez mais, a participação das despesas financeiras no

orçamento fiscal.

A trajetória do estoque de endividamento interno líquido, conforme mostra os

dados da tabela 09, nos permitiu identificar que existe um descontrole de endividamento

interno brasileiro, responsável pela deterioração das finanças públicas do País.

Tabela 9 - Evolução Dívida Interna Líquida do Setor Público em relação ao

PIB:1995 a 2010 – em %

Evolução que, segundo Oliveira (2012), pode ser sentida nas despesas correntes.

No ano de 1994, as despesas correntes representaram 66 pontos percentuais das despesas

Ano

Dívida Liquida do

Setor Público (*)

em R$ (milhões)

(A)

PIB - preços de

mercado ref. 2010

em R$ (milhões) (B)

(A/B)

em %

1995 208.460,27 705.991,5529 30%

1996 269.193,43 854.763,6078 31%

1997 308.426,25 952.089,1961 32%

1998 385.869,63 1.002.351,0192 38%

1999 516.578,67 1.087.710,4561 47%

2000 563.163,14 1.199.092,0709 47%

2001 677.430,83 1.315.755,4678 51%

2002 892.291,84 1.488.787,2552 60%

2003 932.137,53 1.717.950,3964 54%

2004 982.508,81 1.957.751,2130 50%

2005 1.040.046,12 2.170.584,5034 48%

2006 1.120.052,63 2.409.449,9221 46%

2007 1.211.762,25 2.720.262,9378 45%

2008 1.168.238,34 3.109.803,0890 38%

2009 1.362.710,72 3.333.039,3554 41%

2010 1.475.820,18 3.885.847,0000 38%

Fonte: IPEADATA; Banco Central do Brasil; e IBGE.

(*) Dívida líquida do setor público: Compreende governo

federal e Banco Central, governos estaduais, governos

municipais e empresas estatais (federais, estaduais e

municipais).

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totais. Em 2007, ultrapassaram 80 pontos percentuais. O aumento se traduz pelo custo

dos juros da dívida pública, um dos principais pilares de sustentação do Plano Real. No

orçamento federal, as despesas com os juros e encargos, somadas à amortização do

principal da dívida pública fundada, ultrapassam mais 50 pontos percentuais do

orçamento total.

Considerando o aumento do passivo, mediante o estoque de endividamento

interno a partir da emissão extra orçamentária de novos papeis, usados para a rolagem

do principal da dívida interna, os denominados títulos do Tesouro, somos remetidos a

uma das piores condições das taxas de juros e do grau de desigualdade social.

O mecanismo tem favorecido uma minoria privilegiada, os detentores da riqueza,

pois a elite financeira ganhou e permanece auferindo lucros extraordinários a partir

desse modelo de financiamento do setor público, que seguramente tem contribuído para

acentuar a concentração de renda e a riqueza, e ampliar a tensão social. Em um mundo

globalizado, enterromper essa engenharia fiscal não será tarefa fácil.

Dessa forma, esse programa tem comprometido a agenda nacional e o futuro das

próximas gerações, sem criar oportunidades para que as relações federativas possam ser

revigoradas. Enquanto isso, o contigenciamento das despesas decorrentes do processo

da descentralização fiscal e ou municipalização tem sido justificada pela necessidade de

equilibar as finanças públicas, e os direitos dos cidadão aguardam na fila, sem saber

quando – e se – será realizado, algum dia, um profundo e amplo contrato de

renegociação que possa de fato efetivar a cidadania dos brasileiros.

Isso nos permite dizer que o custo do endividamento interno tem sido

compartilhado com todos os cidadãos, pois estamos pactuados com os compromissos

que atendem apenas aos interesses do capital, a partir da oferta das generosas de taxa de

juros. Nos acostumamos a conviver com possibilidades e precarização dos bens e

serviços públicos.

Fomos submetidos a diversas reformas, sem nenhuma discussão com a sociedade.

A bem da verdade, o projeto minimalista liberal não permitiu que as demandas sociais

e urbanas fossem legitimadas, enquanto as despesas financeiras exercem a soberania na

estrutura orçamentária.

De forma recorrente construímos e ofertamos políticas de educação que pouco

conseguem desenvolver e estimular o conhecimento dos nossos professores e crianças;

temos uma assistência social com pouca regulamentação e acesso; as políticas de saúde

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e saneamento, gestão ambiental, transporte e habitação permanecem com recursos

insuficientes perante à agenda nacional61.

A realidade hoje é que temos uma federação com atribuições governamentais

descentralizadas e desacompanhadas de recursos financeiros e orçamentários capazes

de garantir a cidadania; e, ao mesmo tempo, um governo central que legalizou a

apuração das metas fiscais em detrimento da universalização dos direitos62.

3.3.2 O desfecho: Crise Federativa

Por meio de um olhar federativo atento, os acontecimentos dos anos 90 não nos

revelou uma oportunidade para garantir a cidadania, nem tampouco revigorar o pacto

federativo e revertermos as patologias do passado.

Os encaminhamentos de imediato favoreceram a ascendente disputa de recursos

financeiros e orçamentários entre os governos subnacionais, em um ambiente de

verdadeiro leilão de vantagens fiscais oferecidas, e eliminou qualquer perspectiva de

aperfeiçoamento nas relações do pacto federativo, mediante o favorecimento de um jogo

de disputas verticais e horizontais entre as unidades federativas.

Guerreando entre si, muitas unidades federativas passaram a renunciar receitas ou

reduzir as alíquotas dos seus tributos para atrair o capital. Um exemplo que trouxe

prejuízos significativos para toda a federação, e que comprometeu o volume arrecadado

e a partilha dos recursos enviados para os grandes centros urbanos, que perderam

participação no índice, e no volume dos recursos que deveriam compor o orçamento das

políticas universais descentralizadas.

Ainda hoje, os grandes centros urbanos são um dos maiores responsáveis pela

geração do valor adicionado. Entretanto, a guerra fiscal reduziu a geração de valor

adicionado, variável fundamental da metodologia que apura o índice que distribuiu os

recursos da cota parte do ICMS.

Rever a importância da variável do valor adicionado na formula de apuração, e

considerar outras variáveis, como a importância da arrecadação do ICMS no município,

torna se fundamental para os municípios capitais, que sofreram perdas expressivas a

partir da desindustrialização e guerra fiscal.

61A esse respeito, ver Anexo 2. 62 A esse respeito ver Pinto (2017).

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Lembrando que o princípio da partilha dos recursos do ICMS não teve o caráter

distributivo. Sendo assim, essa correção torna-se necessária na atual economia de

serviços, pois permitirá uma distribuição mais equilibrada dos recursos da Cota parte do

ICMS, fundamentais para compensar e assegurar o desenvolvimento da econômica

local, e reduzir as disparidades de valor per capita entre as cidades, permitindo que os

municípios sede de regiões metropolitanas e polos provedores de serviços tenham

condições de exercer suas responsabilidades, e de assegurar a infraestrutura exigida pela

própria dinâmica econômica local.

Atualmente, com menos recursos disponíveis, as capitais estão inseridas em um

ambiente de aberta regressão social. A carência de bens e serviços está espalhada por

todas as áreas urbanas, e qualquer tentativa de resolver os problemas sociais por meio

de programas específicos tornou-se um esforço inválido.

As medidas fiscais andaram na contramão da agenda consagrada pela Constituição

Cidadã, das lutas políticas e sociais travadas desde o final dos anos 1970. E a extensa

agenda de reformas democráticas, comprometidas com o desenvolvimento social, e que

tinham como condições principais a retomada do crescimento econômico e do emprego,

melhoria nas condições de trabalho, avanços na previdência social, políticas de saúde,

de educação, de abastecimento popular, reforma agrária, políticas urbanas para

habitação popular, saneamento básico e transporte coletivo entre outras, foram

suprimidas da agenda nacional, por meio de contingenciamentos de recursos

orçamentários e omissão federativa.

Acredito que esse capítulo nos ajudou, em parte, a sustentar a principal hipótese

desta pesquisa: que os orçamentos fiscais das 26 capitais se deparam com uma estrutura

orçamentária rígida e com pouca autonomia federativa, mediante as imposições do

ajuste fiscal e da ausência dos governos central e estadual na prestação das suas

responsabilidades, a partir do movimento de reenquadramento dos compromissos sob o

âmbito da ordem econômica liberal.

Passados quase 30 anos da promulgação do texto constitucional, a única reposta

que temos é que a agenda fiscal dos anos 1990, com o discurso de que seria temporária,

assumiu caráter permanente, e os efeitos indesejáveis permaneceram encrustados na

economia nacional, com baixo crescimento econômico, aumento da dívida pública, altas

taxas de juros e mínimos resultados sociais. E, o pressuposto de que a universalidade

aumentaria a permeabilidade às demandas sociais e de investimentos em infraestrutura

não alcançou os anseios da Nova República.

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106

Capítulo 4: Autonomia ou rigidez orçamentária municipal?

Análise das 26 capitais no período1995 a 2010

4.1 Introdução

A proposta central do estudo exigiu uma reflexão dos acontecimentos fiscais que

nos permitissem contextualizar a encruzilhada federativa que se encontram os centros

mais populosos do país, de cada estado da federação, as 26 capitais.

Estudo que necessariamente exigiu um olhar para o comportamento das finanças

públicas, leis e instruções normativas publicadas após a promulgação do texto

constitucional, que tinham como prioridade metas e resultados fiscais que interferiram

nas relações intergovernamentais, motivadas pelas regras de ouro do modelo,

justificadas pela necessidade de alcançarmos a estabilidade econômica.

O ajuste fiscal das contas do governo central sobrecarregou as finanças públicas

das capitais, lembrando que o texto constitucional de 1988 reconheceu os municípios

como unidades autônomas, sendo que as capitais deveriam assumir responsabilidades

financeiras e técnicas para a oferta das políticas públicas, algumas de competência

comum às três esferas, outras de competências exclusivas municipais.

E alinhado com o avanço do movimento da descentralização fiscal, e do processo

da municipalização das políticas públicas, as dificuldades orçamentárias e financeiras

das capitais para se cumprir o seu papel constitucional se agravaram.

Submetidas aos compromissos da nova disciplina fiscal e monitoradas a cada

bimestre e quadrimestre pela Secretaria do Tesouro Nacional, as restrições fiscais

impostas aos centros mais endividados, somada a baixa capacidade de investimento, os

forçaram a promover mudanças na forma de prover a oferta da política pública

descentralizada.

Conforme veremos nesse capítulo, o modelo da terceirização avançou de forma

rápida. Acredito que para compreendermos esse resultado, conforme abordamos no

capítulo 3, é preciso reconhecer que as condições que restringiram seu papel, não lhes

permitiram ampliar a infraestrutura urbana, e o número de equipamentos públicos,

necessários para assegurar a oferta de serviços públicos, que sistematicamente tem sido

transferida para o mercado.

Para a minha hipótese, o novo rumo escolhido ainda não assegurou instrumentos

que nos permita fazer a gestão pública dos custos e dos atendimentos terceirizados.

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Nesse sentido, acredito que sem qualquer preocupação com a gestão dos serviços e a

satisfação dos usuários com a política terceirizada, a direção adotada tem favorecido e

atendido muito mais aos interesses privados, que propriamente a cidadania. Isso porque,

os mecanismos ditos de gestão, negligenciaram a estruturação de parâmetros que

pudessem apurar indicadores que avaliassem a eficiência e eficácia da política oferecida

por meio das terceirizações; parcerias público/privada; leilões; concessões; e

consórcios.

Ou seja, a ausência de instrumentos que de fato nos permita fazer um controle

social do dinheiro público, do preço, da qualidade e quantidade de serviços ofertados

por meio da terceirização, ainda precisam ser regulamentados.

O discurso frequente para abordar essa questão, tem sido atribuído basicamente

à hipótese de que os maiores centros urbanos são autônomos, que arrecadam muito bem,

e que parte da crise na gestão pública é oriunda da falta de competência para

desempenhar funções. É justamente nesse ponto que discordo da tese predominante.

Existe sim a necessidade de buscarmos um aperfeiçoamento da gestão pública

local, e o caminho perpassa pela necessidade de construirmos parâmetros e indicadores

que nos permitam entender os custos, principalmente das ações que deveriam ser

financiada pelo modelo tripartite, e que hoje se encontram no terceiro setor, e exigem a

cada dia mais recursos próprios do orçamentos dos municípios polos provedores de

serviços.

Sem essas informações, a conscientização das responsabilidades e partilhas

federativas, que representariam de fato a coesão social, com a transparência prometida,

permitiria o cidadão participar das decisões de planejamento de cada ação financiada

com o dinheiro público.

Mas, conforme veremos, apesar da maior autonomia de arrecadação própria per

capita, as capitais vêm perdendo autonomia para realizarem ações de responsabilidades

exclusivas municipais, necessárias para enfrentarem as complexidades decorrentes do

processo de urbanização caótica e do próprio modelo da municipalização.

As informações estudadas nos ofereceram pistas das dificuldades federativas,

que podem ser vistas em qualquer esquina de uma grande cidade. Ou seja, os maiores

centros urbanos, apesar da importância da sua arrecadação tributária própria, ficam

sujeitos às limitações fiscais, e às escassas políticas públicas locais voltadas para os

interesses coletivos, não conseguem oferecer serviços sociais e urbanos essenciais para

a população residente.

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E há fortes indícios que uma combinação de esforços entre as três esferas, com

políticas redistributivas e com estratégias não excludentes, que representassem as

necessidades locais de cada sede de região metropolitana, permanecem fora da agenda

do governo brasileiro.

Para tanto, esse último capítulo fará uma leitura da série histórica da execução

orçamentária dos centros mais populosos do País, que nos indicará que poucas foram as

ações que contemplaram o fortalecimento institucional do município no quadro

federativo do País.

Sabemos que a disciplina fiscal restringiu o acesso ao financiamento, ao mesmo

tempo, as regulamentações que deveriam priorizar a coordenação das ações federativa

por parte dos governos federal e estadual não foram pautadas. Dessa forma, as esferas

superiores de governo participaram só como formuladoras das imposições fiscais, e não

atuaram como provedores das suas responsabilidades constitucionais.

Circunstância que não permitiu que as capitais acolhessem as necessidades de

uma sede de região metropolitana. Sobrecarregadas pelo ajuste fiscal, permanecem

diante de uma crise de funções federativas, onde todos brigam e ninguém parece ter

razão. Enquanto isso, o modelo mostra-se impotente para edificar uma sociedade em

outras bases, comprometida com princípios do federalismo cooperativo, acompanhados

dos compromissos sociais democráticos.

Diante disso, a maioria das capitais enfrenta o dilema posto pelo aumento da

participação dos recursos próprios na estrutura orçamentária e, em paralelo, a

multiplicidade de restrições fiscais que cercam a municipalização das políticas públicas

causando severa rigidez orçamentária.

O custo social e econômico é nefasto e ocorre na mais completa ausência e

abandono de papeis de cada esfera federativa. E, claro, a fatura do descaso é remetida

para a população mais vulnerável e desassistida pelo Estado.

Estas observações nos indicam a urgência com que é preciso discutir

explicitamente esse processo. Reconheço que é mais frequente identificarmos estudos

que mostram resultados opostos, a tese predominante associa os municípios como

vencedores do processo, devido ao volume das transferências intergovernamentais que

passaram a contabilizar. Porém, acredito que é uma hipótese desconectada com a

conjuntura orçamentária dos grandes centros urbanos.

A constante atuação das políticas definidas apenas nas instâncias superiores de

governos, gerou uma hipertrofia da autonomia do exercício das competências

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municipais, e estimulou a adesão espontânea à municipalização. Por meio da celebração

de convênios, as 26 capitais passaram a executar um volume crescente de orçamento

discricionário, com ações que exigiram um expressivo volume de contrapartidas de

recursos próprios.

Essa hipótese será averiguada a partir do resultado das regulamentações federais

e estaduais, por exemplo, os setores da saúde e educação transferiram um volume

crescente de recursos vinculados, e por meio da exigência das contrapartidas interferem

diretamente no planejamento das ações locais financiadas com recursos próprios.

Faremos essa análise a partir da trajetória das receitas próprias, e das

transferências intergovernamentais no financiamento das políticas públicas ofertadas

pelas 26 capitais, para um período de dezesseis anos, 1995 até 2010. O período definido

e já abordado na introdução da pesquisa, é decorrente das alterações da nova

institucionalidade fiscal que definiu as novas regras para o País.

Não menos importante, o recorte do período do estudo, 16 anos, respeitou as

mudanças contábeis promovidas pela portaria MOG n. 42 de 15 de abril de 1999, que

promoveu alterações nas principais funcionais das despesas públicas.

Essas alterações para a esfera municipal passaram a vigorar em 2002, a partir do

desmembramento de algumas funcionais, como Educação e Cultura, Saúde e

Saneamento, Previdência e Assistencial Social, Habitação e Urbanismo, entre outras.

Todas essas alterações contábeis das despesas públicas coincidiram com o período das

mudanças promovidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Dessa forma, a trajetória do gasto público das 26 capitais abrangerá dois

intervalos: de 1995 a 2001, baseado em uma análise das funcionais do gasto mais

agregado e sem a vigência e restrições fiscais da LRF; e 2002 a 2010, compreenderá a

vigência das alterações decorrentes da portaria 42 e da LRF. Para efeito de comparações

entre períodos da análise da despesa pública municipal que compreenda o período que

antecede o ano de 2002, poderá haver algumas discrepâncias que serão apontadas,

conforme a base de dados disponibilizada pela Secretaria do Tesouro Nacional,

Finanças do Brasil (FINBRA).

A base FINBRA reúne a série mais longa de dados disponíveis e sistematizados

dos governos locais. Por meio da consolidação dos demonstrativos financeiros e

contábeis, as informações de receitas, despesas, ativos e passivos são encaminhadas

anualmente pelos governos municipais à Secretaria do Tesouro Nacional, sendo o poder

executivo de cada ente governamental o responsável pela elaboração de cada documento

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enviado. Contudo, é preciso considerar que pode haver erros de digitação, ou algumas

mudanças na metodologia de consolidação das contas de um ano para outro, além de

reconhecer que em alguns anos, algumas capitais63 não enviaram as informações para a

STN.

Deve-se destacar ainda que, grande parte das informações se refere aos valores

contábeis empenhados64 e podem diferir dos valores efetivamente liquidados na

execução orçamentária.

Reconheço que além dessas questões, outras têm contribuído para diluir a

autonomia federativa municipal, como por exemplo, as constantes determinações e

interferência do judiciário no orçamento local, instrumento conhecido como

judicialização.

A imprevisibilidade daí decorrente tem colocado em risco a continuidade das

políticas públicas, desorganizando e até impedindo a alocação dos escassos recursos

orçamentários e financeiros que administram. Ou seja, a prática tem limitado a execução

do planejamento municipal, a partir dos excessos e da falta de critérios nas decisões

judiciais que vem comprometendo a execução orçamentária, por acarretar uma série de

gastos não previstos na Lei Orçamentaria Anual (LOA).

Para Barroso (2008):

“O sistema, no entanto, começa a apresentar sintomas graves de que pode

morrer da cura, vítima do excesso de ambição, da falta de critérios e de

voluntarismos diversos. Por um lado, proliferam decisões extravagantes ou

emocionais, que condenam a Administração ao custeio irrazoáveis, seja

porque inacessíveis, seja porque destituídos de essencialidade...”.

Todos esses acontecimentos precisam integrar-se ao debate, segundo Pinto (2017)

existe uma dificuldade crescente para se planejar e cumprir as atribuições

constitucionais e municipalizadas que configuram a crise entre os entes federativos.

63 Vale observar que foi identificada ausência de informações de algumas localidades na base FINBRA:

Municípios que apresentaram inconsistência em um ano: 1997: Florianópolis e Palmas

Municípios que apresentaram inconsistência em dois: 1996: Porto Velho; 1998: João Pessoa; e 1999: João

Pessoa e Porto Velho. 64 Segundo a Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964, que normatiza a execução orçamentária no caso

brasileiro, o empenho corresponde à emissão de uma nota por meio da qual o ordenador da despesa se

compromete a realizá-la. Por sua vez, a fase seguinte, conhecida como liquidação, é também definida na

Lei 4.320: é uma etapa em que o governo verifica e reconhece o direito adquirido pelo credor, tendo por

base os comprovantes da entrega do bem ou da prestação do serviço. Ou seja, a partir da liquidação da

despesa, o ordenador reconhece sua obrigação em relação ao pagamento. Pode haver diferenças entre os

valores empenhados e os valores que de fato foram realizados, pois o simples fato de a despesa ter sido

empenhada não implica a sua efetiva execução, uma vez que os empenhos podem ser anulados se não

houver a prestação do serviço contratado pelo governo em tempo hábil e, se os bens comprados não forem

entregues, a nota também não será liquidada, e, portanto, o pagamento não será efetivado.

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Esse cenário confirma a profundidade dos desafios atribuídos aos municípios mais

endividados e populosos, e corrobora com minha hipótese de estudo, que existe uma

rigidez na autonomia orçamentária que implica em dificuldades para planejar ações

estritamente locais, responsabilidade dos governos autônomos.

E considerando que as 26 capitais65 concentraram 25% da população do País, e

acolheram em média, mais de 23% da população residente em seus respectivos estados,

conforme os dados do censo de 2000 e 2010 apresentados na tabela 10, o cenário é no

mínimo conflitante, com prejuízos substanciais para parcela expressiva da população

brasileira.

Tabela 10 - População das 26 capitais versus a População Total de cada Estado,

ano 2010

65 A amostra do estudo escolheu as 26 capitais, e não considerou o Distrito Federal (DF), pois não é um

estado, nem na dimensão, nem nas suas características fiscais, e arrecada tanto impostos estaduais como

municipais, e recebe tratamento diferenciado nas transferências federais que podem prejudicar a análise

das médias que serão apresentadas apenas para os 26 capitais da federação.

Estados

População Total

Estados ANO

2010 (A)

26 Capitais

População

Total Capitais

ANO 2010 (B)

População Total

Capitais ANO

2000 (C)

Variação

Populacional

(B)/(C)

Partic. Pop Capital

no total População

Estado(B)/(A)

TO 1.383.445 Palmas 228.332 137.045 67% 17%

RR 450.479 Boa Vista 284.313 200.383 42% 63%

AP 669.526 Macapá 398.204 282.745 41% 59%

AC 733.559 Rio Branco 336.038 252.885 33% 46%

AM 3.483.985 Manaus 1.802.014 1.403.796 28% 52%

RO 1.562.409 Porto Velho 428.527 334.585 28% 27%

SE 2.068.017 Aracaju 579.149 461.083 26% 28%

SC 6.248.436 Florianópolis 421.240 341.781 23% 7%

PB 3.766.528 João Pessoa 723.515 595.429 22% 19%

GO 6.003.788 Goiânia 1.302.001 1.090.737 19% 22%

MS 2.449.024 Campo Grande 786.797 662.534 19% 32%

AL 3.120.494 Maceió 932.748 796.842 17% 30%

MA 6.574.789 São Luís 1.014.837 868.047 17% 15%

CE 8.452.381 Fortaleza 2.452.185 2.138.234 15% 29%

MT 3.035.122 Cuiabá 551.098 483.044 14% 18%

PI 3.118.360 Teresina 814.230 714.583 14% 26%

RN 3.168.027 Natal 803.739 709.536 13% 25%

ES 3.514.952 Vitória 327.801 291.941 12% 9%

PR 10.444.526 Curitiba 1.751.907 1.586.848 10% 17%

BA 14.016.906 Salvador 2.675.656 2.440.828 10% 19%

PA 7.581.051 Belém 1.393.399 1.279.861 9% 18%

SP 41.262.199 São Paulo 11.253.503 10.405.867 8% 27%

PE 8.796.448 Recife 1.537.704 1.421.993 8% 17%

RJ 15.989.929 Rio de Janeiro 6.320.446 5.851.914 8% 40%

MG 19.597.330 Belo Horizonte 2.375.151 2.232.747 6% 12%

RS 10.693.929 Porto Alegre 1.409.351 1.360.033 4% 13%

TOTAL 188.185.639 42.903.885 38.345.321 12% 23%

Fonte: IBGE, Censo 2000 e 2010.

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007

Acesso realizado em 26 de janeiro de 2015

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Segundo Pinto (2017), as ações descentralizadas e ou municipalizadas nos

municípios mais populosos, somada às restrições fiscais, e a ausência de correlação dos

fluxos tripartite tem impostos inúmeras consequências e desmantelamento de políticas,

e que são agravadas pela judicialização.

Se continuarmos a insistir em soluções míopes e parciais sobre os sintomas de

tamanho desarranjo federativo, e não avançarmos sobre as causas estruturais

dificilmente teremos efetividade e equidade nos direitos sociais. Nesse ambiente o

princípio básico do federalismo fiscal tornou-se quase um desafio, e as políticas

exclusivamente municipais desapareceram da agenda orçamentária local.

Para sustentar a hipótese de autonomia para arrecadar recursos, apresentaremos

no item abaixo, as maiores rubricas de receitas que ilustram a evolução da arrecadação

própria; as principais transferências66 constitucionais e discricionárias; e as receitas de

capital que compuseram o orçamento das capitais.

Na sequência, serão apresentadas as metodologias das transferências de recursos;

as funcionais da despesa pública; as categorias econômicas do gasto por natureza e

elemento da despesa. O estudo apresentará a informação pela média e para cada capital;

e algumas informações serão apresentadas por intervalos populacionais dos municípios

brasileiros.

4.2. O Aumento da participação na Receita Disponível se traduziu em

autonomia orçamentária?

Conforme abordado no capítulo 2, a matéria tributária conferida na Carta

Constitucional de 1988 estabeleceu um arranjo fiscal caracterizado pela distribuição

vertical e horizontal 67 de recursos financeiros entre as esferas federativas.

O arcabouço institucional pretendia dinamizar o sistema de transferências

intergovernamentais redistributivas e compensatórias entre as esferas de governo,

66 De acordo com Arretche (2010), vale lembrar que, desde a Constituição de 1946, foi criado um

mecanismo de transferências intergovernamentais, e os recursos transferidos aos governos subnacionais

passaram a estar crescentemente sujeitos a negociações e barganhas, além de frequentemente vinculados

a prioridades já definidas pelo órgão federal do qual se originaram, e não permitiam a livre alocação local

de receitas transferidas de outras jurisdições, ou seja, a lógica subjacente ao arranjo era limitar as decisões

dos governos locais. 67 Conforme Prado (2013), o equilíbrio vertical refere-se à obtenção de uma distribuição adequada de

recursos entre governo federal e governos subnacionais; enquanto o equilíbrio horizontal refere-se ao à

obtenção de uma distribuição minimamente equitativa dos recursos fiscais entre governos subnacionais

pobres e ricos do mesmo nível.

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considerando a necessidade de reduzir as desigualdades econômicas e sociais, regionais

e locais da federação. Ou seja, transferir recursos aos governos mais pobres era

necessário, uma oportunidade para que um nível mínimo de serviços fosse assegurado

aos cidadãos das regiões menos consolidadas de um território.

Lembrando que, para a teoria do federalismo fiscal as disparidades territoriais,

econômicas e sociais só poderiam ser vencidas a partir de uma harmonia federativa,

construídas a partir de uma relação de cooperação técnica e financeira, vertical e

horizontal entre os entes federativos.

Como bem disse Prado (2013), o sistema arterial de uma federação deve ser

construído por meio de mecanismos que viabilizassem uma distribuição de recursos

fiscais entre governos autônomos, uma oportunidade para reduzir as disparidades de

capacidade fiscal entre eles.

Reconheço que a pactuação federativa de 1988 depositou nas transferências

intergovernamentais de recursos verticais e horizontais, o papel vital para enfrentarmos

as desigualdades sócio econômicas do País.

No entanto, acredito que a finalidade da partilha dos recursos assegurada no texto

constitucional de 1988 acabou suscitando algumas discrepâncias para os centros mais

populosos, pois o uso de regras generalizadas desconsiderou as alterações ocorridas no

âmbito da dinâmica econômica ao longo do processo da internacionalização da

economia.

Conforme as informações da tabela 11, a evolução da arrecadação dos municípios

capitais mostra que houve um aumento da importância da receita própria, de 38 para 43

pontos percentuais da receita total.

Tabela 11 - Evolução da participação média das Categorias Econômicas na

Receita na Receita Orçamentária Total, 26 capitais– em %

1995 1999 2003 2007 2010

54.111.765.327,92 66.776.923.351,91 77.485.809.148,06 108.715.059.008,54 136.147.963.042,66

1. Arrecadação Própria 36% 38% 39% 40% 42%

2. Transferências Correntes (**) 57% 55% 59% 54% 54%

Transf. Constitucionais / (2) n.d 75% 68% 64% 62%

Transf. Voluntárias / (2) n.d 25% 32% 36% 38%

3. Receita Capital 7% 7% 2% 3% 4%

Fonte: FINBRA, STN vários anos.

(*) A preços em março de 2018, IPCA/IBGE.

(**) Já realizado as deduções das receitas correntes.

ANO / Total Receita Corrente

Disponível* 26 capitais

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Enquanto que a participação das transferências constitucionais no total das

transferências correntes sofreu redução de 75 para 62 pontos percentuais, queda que está

intimamente ligada ao uso de regras generalizadas que desconsiderou, principalmente,

os efeitos do processo de desindustrialização da economia brasileira, que fomentou a

guerra fiscal e reduziu o valor agregado dos grandes centros. Cenário que comprometerá

o financiamento do pacto federativo estabelecido em 1988, por meio da descentralizadas

dos programas nacionais.

Ao mesmo tempo, as transferências voluntárias ganharam participação, de 25 para

38 pontos percentuais do total das transferências correntes, movimento que mostra a

adesão das capitais aos programas e decisões políticas dos governos superiores,

fenômeno mais conhecido como municipalização das políticas públicas.

As figuras do anexo 06, extraídas do manual do setor público disponibilizado pela

Secretaria do Tesouro Nacional, apresentam quais rubricas de receita compõem cada

bloco da receita pública – a própria; transferências constitucionais e voluntárias, e a

receitas de capital – no período analisado. A partir da lista das fontes de receitas,

razoavelmente extensa, foi possível consolidar a média de participação de cada bloco

de receita disponível, apresentadas na tabela11, na estrutura do orçamento das 26

capitais.

Observo que a receita própria representa o esforço tributário do governo local, é

lançada e arrecadada no município. Enquanto que as transferências correntes são

decorrentes dos recursos transferidos pela União e Estados, a partir de definições do

texto constitucional, e as receitas voluntárias que financiam algum programa específico

e voluntariamente. A receitas de capital, é composta por recursos oriundos,

principalmente das operações de crédito junto ao BNDES, CEF e BID, e das alienações

de bens públicos.

Vale observar que para receber os recursos voluntariamente, algumas

condicionalidades devem ser rigorosamente cumpridas: i) contas do exercício: enviar

suas contas ao Poder Executivo Federal, nos prazos previstos, para fins de consolidação,

nacional e por esfera de governo, das contas dos entes da Federação do exercício

anterior; ii) publicação do relatório da execução orçamentária até 30 dias após o

encerramento de cada bimestre (Constituição Federal, art. 165, § 3º e Lei Complementar

nº 101/2000, art. 52, § 2º c/c 51 § 2º); iii) publicação do relatório de gestão fiscal até 30

dias após o encerramento de cada quadrimestre.

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Na hipótese de o Estado, Distrito Federal ou Município ultrapassar os limites

definidos para despesa total com pessoal e não alcançar a redução no prazo estabelecido,

o artigo 23 da LRF definiu que, enquanto perdurar o excesso, o ente da Federação não

pode capitalizar de novos recursos.

As restrições fiscais definidas pelas resoluções do Senado Federal números 40 e

41, reforçaram a imposição do artigo 23, e deixou muitas capitais impedidas de

buscarem novos financiamentos de longo prazo. Determinação que se confirma por

meio da queda de participação da receita de operações de crédito na receita total, e ou

aumento da participação das receitas correntes, que representaram 94 pontos percentuais

da receita total para metade dos municípios da amostra.

Ainda considerando as informações da tabela 11, a participação das receitas de

capital antes da vigência da LRF, em 1999, era de 7 pontos percentuais, em 2010, a

participação passou para apenas 4 pontos percentuais na receita total. Queda que se

traduziu em limitações para realizar ampliações e novas ações em investimentos na

infraestrutura urbana.

Questão que é acompanhada pelo seguinte paradoxo: a possibilidade de novos

financiamentos é uma necessidade, mas não uma realidade para os centros urbanos com

maior capacidade e autonomia para lançar e arrecadar recursos próprios, acima da média

municipal, pois estão sujeitos às restrições fiscais que os impedem de pleitear novas

operações de crédito.

Restaram-lhes apenas uma oportunidade, a adesão às transferências

discricionárias, ainda que, parcialmente, tivessem o objetivo de atender o aumento do

crescimento vegetativo e as complexidades urbanas decorrentes do modelo da

descentralização fiscal.

Conforme veremos mais a frente, esse cenário criou uma realidade que tem

produzido enorme assimetria na capacidade de realizar investimento público entre os

municípios brasileiros. Por meio das tabelas 22, 26 e 32, será possível identificar tal

resultado, quando agrupamos as informações das finanças públicas de todos os

municípios brasileiros por intervalos populacionais, os valores destinados para

investimento público, em percentuais e per capita, ficaram comprometidos nos centros

urbanos mais populosos.

Enquanto que os municípios com menor autonomia para arrecadar recursos

próprios, ao mesmo tempo, mais dependentes das transferências de recursos

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116

constitucionais, mas não eram polos provedores de serviços dos programas nacionais,

tiveram mais autonomia para realizarem investimentos.

Essa questão é resultante, em parte, dos acontecimentos econômicos e das

restrições fiscais dos anos 90, que licenciaram as 26 capitais, apenas a administrarem

um volume maior de recursos de convênios. Ao mesmo tempo, comprometeu parte

expressiva dos recursos próprios com as denominadas contrapartidas que exigiram,

enquanto principais polos provedores dos serviços dos programas nacionais.

Cenário que prejudicará qualquer possibilidade de financiamento e investimento

voltados para infraestrutura local, reconhecendo que as necessidades, enquanto

principais atores da municipalização se ampliaram no período estudado.

Dessa forma, acredito que o modelo que licenciou as 26 capitais a administrarem

um volume maior de recursos discricionários, ao mesmo tempo, criou um ingrediente

novo para o debate federativo: a rigidez orçamentária para as finanças públicas das

cidades mais populosas, autônomas para arrecadar recursos próprios, porém,

endividadas e impedidas de realizarem os investimentos necessários para enfrentar os

desafios e complexidades urbanas que gerenciam.

4.2.1 O significado das Receitas próprias68

Cumpre observar mais uma vez, que a capacidade de arrecadar de um ente

federativo está intimamente relacionada à dinâmica da economia local, tornando a

arrecadação própria imprescindível para financiar a estrutura do desenvolvimento local.

A evolução da arrecadação dos tributos locais, conforme tabela 12, retrataram o

potencial econômico tributário nos grandes centros urbanos, e, ao mesmo tempo, esse

aumento pode ser interpretado como parte da perda da importância das receitas

constitucionais.

A média da participação da receita própria no orçamento corrente das capitais, em

1998 era de 38 pontos percentuais, e, no ano de 2010, essa participação aumentou para

46 pontos percentuais.

Se a aferição for apresentada pelo valor máximo e mínimo da amostra, no ano de

2010, o município do Rio de Janeiro alcançou maior autonomia na arrecadação própria,

65 pontos percentuais, enquanto Macapá contabilizou a menor participação, apenas 28

68 Definição de Receitas Próprias se constitui da soma das rubricas das receitas apresentadas quadro 01,

do anexo 05.

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117

pontos percentuais. Resultado que mostra a desigualdade na capacidade econômica de

gerar própria entre os municípios capitais.

Tabela 12 - Participação da Receita Própria no Orçamento Corrente das 26

capitais: 1998; 2002; 2006 e 2010 – em %

O fortalecimento da arrecadação da receita própria das 26 capitais, cumpre

reconhecer que se deu mediante um conjunto de ações fiscais empreendidas por cada

administração local. Não há como negar a importância das transferências

intergovernamentais, porém, o resultado da arrecadação própria das 26 capitais, de um

modo geral, mostrou que ocorreram ações voltadas para a melhoria da máquina

fazendária.

Podemos dizer que as questões econômica e populacional, somadas à utilização

de instrumentos de informatização do fisco municipal tem possibilitado o conhecimento

de um conjunto variado de informações sobre os contribuintes municipais, que,

Receita

PrópriaIPTU ISS

Receita

PrópriaIPTU ISS

Receita

PrópriaIPTU ISS

Receita

PrópriaIPTU ISS

ARACAJU SE 587.701 43% 25% 44% 56,12% 13% 21% 34% 18% 38% 40% 14% 33%

BELEM PA 1.410.430 28% 17% 41% 32,91% 10% 30% 34% 8% 32% 40% 7% 30%

BELO HORIZONTE MG 2.395.785 45% 28% 31% 51,58% 23% 21% 47% 24% 24% 53% 19% 24%

BOA VISTA RR 296.959 22% 16% 50% 11,61% 13% 50% 14% 9% 26% 29% 8% 22%

CAMPO GRANDE MS 805.397 54% 28% 26% 36,54% 21% 25% 41% 17% 24% 44% 23% 21%

CUIABA MT 561.329 28% 14% 47% 29,41% 8% 38% 31% 10% 45% 38% 7% 37%

CURITIBA PR 1.776.761 58% 13% 21% 63,92% 14% 20% 62% 14% 21% 65% 11% 21%

FLORIANOPOLIS SC 433.158 44% 17% 30% 56,86% 21% 29% 62% 23% 25% 64% 22% 24%

FORTALEZA CE 2.500.194 36% 15% 36% 41,62% 11% 22% 37% 12% 27% 41% 11% 26%

GOIANIA GO 1.333.767 48% 28% 33% 33,78% 26% 32% 47% 25% 29% 51% 19% 26%

JOAO PESSOA PB 742.478 n.d n.d n.d 26,46% 15% 46% 25% 12% 36% 37% 7% 26%

MACAPA AP 415.554 16% 13% 54% 12,00% 3% 56% 18% 4% 36% 28% 4% 20%

MACEIO AL 953.393 29% 23% 31% 27,46% 19% 31% 31% 15% 34% 39% 10% 23%

MANAUS AM 1.861.838 39% 7% 40% 33,34% 6% 44% 32% 7% 49% 38% 5% 38%

NATAL RN 817.590 30% 15% 31% 33,23% 12% 34% 34% 10% 37% 42% 8% 31%

PALMAS TO 242.070 15% 8% 38% 21,00% 8% 41% 20% 6% 35% 35% 6% 23%

PORTO ALEGRE RS 1.416.714 45% 15% 27% 52,07% 13% 22% 58% 14% 24% 61% 13% 24%

PORTO VELHO RO 442.701 n.d n.d n.d 30,27% 4% 25% 28% 4% 30% 52% 2% 51%

RECIFE PE 1.555.039 47% 17% 31% 41,64% 20% 38% 44% 17% 34% 49% 15% 32%

RIO BRANCO AC 348.354 16% 14% 28% 22,88% 7% 23% 25% 5% 21% 39% 4% 19%

RIO DE JANEIRO RJ 6.390.290 64% 20% 35% 58,95% 19% 30% 60% 21% 34% 65% 16% 36%

SALVADOR BA 2.710.968 51% 28% 38% 46,20% 17% 36% 43% 15% 39% 49% 13% 35%

SAO LUIS MA 1.039.610 37% 11% 37% 46,95% 7% 26% 29% 9% 48% 40% 6% 41%

SAO PAULO SP 11.376.685 59% 21% 40% 58,44% 30% 36% 60% 26% 40% 64% 23% 40%

TERESINA PI 830.231 15% 19% 55% 48,88% 5% 13% 19% 9% 34% 35% 5% 20%

VITORIA ES 333.162 36% 11% 54% 45,38% 8% 44% 44% 7% 49% 51% 7% 42%

Média 1.676.083 38% 18% 37% 39% 14% 32% 38% 13% 34% 46% 11% 29%

Mediana 891.812 38% 17% 36% 39% 13% 30% 34% 12% 34% 42% 9% 26%

Mínimo 242.070 15% 7% 21% 12% 3% 13% 14% 4% 21% 28% 2% 19%

Máximo 11.376.685 64% 28% 55% 64% 30% 56% 62% 26% 49% 65% 23% 51%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, base Finbra, vários anos. Elaboração Própria.

Obs: Informação não disponível para João Pessoa e Porto Velho, no ano de 1998.

Funções

Estatísticas

2002 20061998 2010

Municípios

CapitaisUF População

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continuadamente, alimentados e atualizados, e têm permitido novas formas para

planejar e programar ações fiscais, contribuindo para reduzir a evasão fiscal e aumentar

a arrecadação tributária própria.

Ações como auditorias, programas de parcelamento e a cobrança do estoque da

dívida ativa tributária, revisões das legislações tributárias municipais e da planta

genérica de valores (PGV), foram determinantes para esse resultado. Segundo Afonso e

Araújo (2001), muitos municípios já cobravam IPTU, taxas e até mesmo o ISS, usando

guias de recolhimento com código de barras e leitura ótica, desde os anos 80.

A modernização das legislações tornou a cobrança mais justa socialmente, a partir

dos avanços por meio de alíquotas progressivas dos tributos.

E, a partir da promulgação do Estatuto das Cidades69 estava autorizado o

lançamento da cobrança de outorgas onerosas; certificados de potencial construtivos; e

operações urbanas. Tais instrumentos se transformaram em novas possibilidade de

receitas, principalmente no sentido de organização do território e no combate aos vazios

urbanos. Contudo, uma série de condicionalidades na regulamentação do Estatuto foram

impostas, e talvez justifique as dificuldades de aplica-las.

Enquanto que o desempenho da arrecadação do Imposto Sobre Serviços de

Qualquer Natureza (ISSQN), alinhado com a aprovação da Lei Complementar

116/2003, que ampliou a base do fato gerador dos serviços tributados, no período

estudado, se destacou como a principal rubrica de receita própria dos municípios

capitais.

Outras fontes de recursos contribuíram para o avanço da arrecadação própria,

entre elas a cobrança do IPTU, ITBI, a receita de dívida ativa, as receitas patrimoniais

e taxas. Observo que as contribuições de melhorias ainda merecem mais atenção por

parte dos gestores municipais, tanto na fase do lançamento, como na arrecadação

efetiva, pois apresentaram participação inexpressiva na carga tributária municipal.

Mesmo diante das conquistas tributárias na arrecadação das receitas próprias, a

rigidez orçamentária se consagrou, uma realidade na execução do orçamentária das 26

capitais. Nesse ponto é que ocorre o difícil encontro entre a autonomia na arrecadação

própria, motivada em parte pela modernização do fisco municipal, versus a rigidez

69Estatuto da Cidade é a denominação oficial da Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, que regulamentou o

capítulo “Política Urbana” da Constituição Federal, detalhando e desenvolvendo os artigos 182 e 183.

Seu objetivo é garantir o direito à cidade como um dos direitos fundamentais da pessoa humana, para que

todos tenham acesso às oportunidades que a vida urbana oferece.

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119

orçamentária justificada pelos acontecimentos dos anos 90, os resultados da

internacionalização da economia, as restrições do ajuste fiscal, e pelo própria atuação

da municipalização em curso.

4.2.2 O significado das Transferências Intergovernamentais

O primordial nesse subitem será buscar uma compreensão das diferenças e

importância das transferências constitucionais e discricionárias para as 26 capitais. O

anexo 06 - figuras 6, 7, 8, e 9 - apresentaram quais rubricas e ou códigos das receitas

que compõem o grupo das transferências correntes para os municípios.

Algumas transferências intergovernamentais foram definidas no texto

constitucional, outras foram regulamentadas após o período pós-constituinte por meio

dos programas nacionais. Não há dúvida quanto a importância das transferências

intergovernamentais para os municípios brasileiros e para as 26 capitais. Entretanto, o

uso do instrumento que soldou o pacto federativo vigente, merece atenção.

Como observado, acredito que os resultados da modernização tributária da

arrecadação própria, não necessariamente tenham se traduzido em autonomia para

decidir e alocar recursos com a infraestrutura urbana.

Uma das hipóteses é que a modelagem dos programas nacionais e convênios,

decorrentes das transferências discricionárias, tenham implicado em aumento do custeio

na estrutura orçamentária, limitando qualquer possibilidade de realização dos

investimentos.

Observamos também, que as mudanças da própria dinâmica econômica

interferiram no volume das principais rubricas de receitas que compõem as

transferências correntes constitucionais. Cenário que vai acarretar dificuldades para o

exercício da autonomia federativa dos governos das capitais, sabendo da importância

dos recursos constitucionais para o financiamento do modelo da descentralização fiscal

em curso.

De um modo geral, podemos dizer que os municípios brasileiros receberam dos

governos superiores, em média, 56 pontos percentuais, por meio das transferências

intergovernamentais, conforme informações da tabela 13.

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120

Tabela 13 - Participação em % das Transferências Correntes no total das Receitas

Orçamentárias – 26 capitais

É possível identificar que a participação das transferências correntes na estrutura

orçamentária das capitais mais populosas, tem menor representação. Situação que se

justifica tanto pela importância da arrecadação própria, como pelo processo de

desindustrialização do país e guerra fiscal. E, em parte, pelo próprio movimento da

recentralização dos recursos no âmbito federal.

Quando apuramos essa informação pelo tamanho populacional, considerando

todos os municípios do País, a média da participação das transferências correntes é bem

mais representativa no orçamento corrente, conforme mostra a tabela 14.

Transferências

CorrentesUF População 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

ARACAJU SE 587.701 41% 58% 62% 63% 62% 66% 63% 62% 60%

BELEM PA 1.410.430 62% 62% 61% 60% 61% 62% 61% 61% 60%

BELO HORIZONTE MG 2.395.785 48% 47% 47% 47% 50% 48% 49% 48% 47%

BOA VISTA RR 296.959 73% 75% 76% 75% 77% 76% 75% 72% 71%

CAMPO GRANDE MS 805.397 55% 54% 56% 54% 56% 57% 58% 57% 56%

CUIABA MT 561.329 69% 67% 66% 62% 64% 63% 63% 65% 62%

CURITIBA PR 1.776.761 34% 33% 35% 35% 36% 35% 37% 36% 35%

FLORIANOPOLIS SC 433.158 38% 37% 34% 35% 35% 36% 38% 40% 36%

FORTALEZA CE 2.500.194 55% 54% 53% 52% 58% 62% 61% 62% 59%

GOIANIA GO 1.333.767 65% 61% 53% 51% 50% 49% 56% 52% 49%

JOAO PESSOA PB 742.478 64% 67% 53% 65% 69% 66% 80% 63% 63%

MACAPA AP 415.554 80% 73% 75% 73% 74% 73% 71% 73% 72%

MACEIO AL 953.393 67% 67% 64% 63% 63% 63% 62% 62% 61%

MANAUS AM 1.861.838 61% 62% 62% 63% 61% 62% 62% 62% 62%

NATAL RN 817.590 63% 59% 62% 62% 61% 60% 61% 60% 58%

PALMAS TO 242.070 70% 69% 71% 74% 72% 71% 69% 67% 65%

PORTO ALEGRE RS 1.416.714 44% 39% 40% 41% 40% 38% 40% 40% 39%

PORTO VELHO RO 442.701 65% 59% 60% 65% 64% 64% 62% 55% 48%

RECIFE PE 1.555.039 58% 56% 50% 52% 51% 51% 51% 51% 51%

RIO BRANCO AC 348.354 71% 68% 69% 67% 67% 65% 65% 85% 61%

RIO DE JANEIRO RJ 6.390.290 37% 36% 40% 38% 37% 36% 38% 36% 35%

SALVADOR BA 2.710.968 46% 43% 45% 49% 53% 51% 54% 51% 51%

SAO LUIS MA 1.039.610 49% 67% 67% 66% 65% 63% 63% 63% 60%

SAO PAULO SP 11.376.685 39% 39% 41% 38% 37% 35% 35% 37% 36%

TERESINA PI 830.231 47% 64% 56% 59% 74% 73% 68% 66% 65%

VITORIA ES 333.162 50% 52% 54% 51% 50% 50% 52% 49% 49%

Média 1.676.083 56% 56% 56% 56% 57% 57% 57% 57% 54%

Mediana 891.812 57% 59% 56% 60% 61% 62% 61% 61% 58%

Mínimo 242.070 34% 33% 34% 35% 35% 35% 35% 36% 35%

Máximo 11.376.685 80% 75% 76% 75% 77% 76% 80% 85% 72%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, base Finbra, vários anos. Elaboração Própria.

Funções

Estatísticas

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121

No final dos anos 90, as transferências constitucionais representaram em média,

66 pontos percentuais do orçamento corrente. No ano de 2010, a participação foi pouco

mais de 60 pontos percentuais das receitas correntes.

E para os municípios com população acima de um milhão de pessoas, a média

de participação no ano de 1998 era de 45 pontos percentuais, em 2010 a participação

era de apenas 39 pontos percentuais, ao passo que nos municípios menos populosos

esses recursos representaram 80 pontos percentuais do orçamento corrente.

Tabela 14 - Participação média das principais transferências constitucionais

correntes dos municípios brasileiros agrupados por intervalos populacionais.

Anos: 1998; 2004 e 2010 - em %

Cenário que sacramentou o pensamento que acreditava que as transferências de

recursos são suficientes para assegurarem as condições técnicas e financeiras para a

realização dos programas universais, e multiplicidade das ações das políticas

descentralizadas.

De acordo com os estudos da Secretaria do Tesouro Nacional e Receita Federal

do Brasil, os municípios arrecadaram em média 5% da Carga Tributária Bruta (CTB), e

apropriam-se de mais 12%, por meio das transferências intergovernamentais, somando

uma receita disponível de 17 pontos percentuais na esfera municipal.

E, como bem observou Afonso (2013) quanto maior a capilaridade dos serviços

públicos, maior será a demanda de autonomia subnacional, ou seja, mais liberdade para

os governos locais na concepção e execução das políticas, já que a proximidade dos

contribuintes aumenta a eficiência e o foco das políticas públicas. A capacidade da

população de monitorar e de cobrar ações do governo local é maior, ampliando a

accountability do sistema federativo.

MUNICIPIO 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010

acima de 1 MILHÃO 23% 23% 20% 45% 43% 39% 4% 3% 4% 20% 17% 15%

500 MIL - 1 MILHÃO 8% 9% 8% 61% 59% 55% 7% 8% 6% 27% 24% 20%

300 MIL - 500 MIL 8% 9% 8% 59% 56% 56% 7% 7% 7% 24% 22% 19%

100 MIL - 300 MIL 17% 17% 17% 67% 62% 62% 14% 12% 11% 27% 23% 20%

50 MIL - 100 MIL 12% 11% 12% 75% 69% 71% 19% 16% 16% 28% 24% 19%

30 MIL - 50 MIL 8% 8% 9% 80% 76% 75% 27% 22% 20% 24% 19% 18%

795 - 30 MIL 25% 23% 24% 88% 83% 80% 40% 33% 31% 23% 21% 17%

Média 100% 100% 100% 66% 62% 61% 17% 14% 14% 24% 21% 18%

FONTE: STN/FINBRA, anos: 1998, 2004 e 2010.

OBS: receitas já contabilizadas as deduções para formação do Fundef/Fundeb

ICMS / Rec CorrentePopulação Transf Corrente / Rec Corrente FPM / Rec Corrente

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122

Porém, observo que nossa experiência em meio ao emaranhado de indefinições

nas relações federativas, não tem nos assegurado a realização da gestão dos recursos

tributários próprios, que deveriam ser alocados com o financiamento das competências

exclusivas do município; e muito menos tem nos permitido a participação na concepção

das políticas municipalizadas, limitando a autonomia federativa municipal.

Realidade que justifica rever os critérios e metodologias aplicadas para partilhar

dos recursos na federação. Acredito que essa questão torna-se primordial para

vencermos os atuais entraves e desequilíbrios federativos reproduzidos pelas medidas

em curso.

Isso porque, uma das principais diferenças entre as duas categorias de

transferências, no caso das Constitucionais ou legais, os critérios de partilha

regulamentados constitucionalmente definiram que os recursos poderiam ser aplicados

em qualquer ação dos programas de um governo, ou seja, asseguram um grau de liberdade

alocativa nos orçamentos que as recebem.

Conforme plano de contas, são consideradas como transferências constitucionais

as seguintes rubricas de receitas: FPM; Cota ITR; Cota IOF Ouro; Cota-parte Royalties

Petróleo; Cota Royalties Excedente; Cota Royalties Part. Especial; Cota Petróleo LC

87/96 ICMS; Cota ICMS; Cota IPVA; Cota IPI Exportação; Cota CIDE; Cota Royalties

Produção; Transferências Multigovernamentais FUNDEB. Recursos que deduzidas as

vinculações constitucionais para o setor da saúde e para educação, podem ser alocados

em qualquer função do gasto público, e não exigiram nenhuma contrapartida.

Porém, mais uma vez, é preciso destacar que ao longo do período estudado, as

transferências constitucionais perderam importância na estrutura do orçamento das 26

capitais. Ao mesmo tempo, as responsabilidades das ações da proteção social

municipalizadas foram ampliadas.

No período estudado, 1995-2010, a tabela 15 mostra a perda da participação das

transferências constitucionais no total das transferências correntes para cada capital.

Cenário que tem limitado a atuação dos governos subnacionais, pois quanto maior

a parcela das transferências constitucionalmente garantida, maior seria autonomia

federativa. Nesse sentido, a medida que a participação das transferências constitucionais

foi reduzida, as dificuldades na gestão das políticas públicas se aprofundaram.

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123

Tabela 15- Participação em % das Transferências Constitucionais no Total das

Transferências Correntes: anos 1997; 2004; e 2010

Em 1997, os recursos do FPM representaram 31 pontos percentuais das

transferências constitucionais; em 2010 permaneceu com a mesma participação,

considerando que nesse intervalo tempo, no ano de 2005 ocorreu um aumento da

alíquota na partilha dos recursos com compõem do FPM.

O comportamento da cota parte do ICMS perdeu representatividade, em 1998 a

participação média era de 45 pontos percutais, e em 2010, foi de apenas 39 pontos

percentuais. Já observarmos que essa questão está relacionada, principalmente, com a

queda do valor adicionado, que reduziu o índice de participação das capitais,

comprometendo as capacidades orçamentária e financeira, necessárias para os

compromissos selados no pacto federativo vigente.

Diante das sucessivas reduções das participações das transferências

constitucionais, novos desafios se cristalizaram nos grandes centros, polos provedores

das políticas municipalizadas e sede de regiões metropolitanas.

Transf.

Constitucional /

Transf. Corrente

FPM / Transf.

Constitucional

ICMS / Transf.

Constitucional

Transf.

Constitucional /

Transf. Corrente

FPM / Transf.

Constitucional

ICMS / Transf.

Constitucional

Transf.

Constitucional /

Transf. Corrente

FPM / Transf.

Constitucional

ICMS / Transf.

Constitucional

ARACAJU 68% 34% 44% 55% 37% 33% 54% 38% 32%

BELEM 50% 36% 39% 53% 43% 38% 51% 45% 39%

BELO HORIZONTE 39% 18% 48% 44% 19% 53% 51% 16% 41%

BOA VISTA 77% 60% 22% 74% 73% 16% 77% 57% 21%

CAMPO GRANDE 55% 22% 61% 56% 16% 43% 55% 17% 42%

CUIABA 65% 29% 51% 61% 22% 45% 56% 22% 44%

CURITIBA 73% 13% 56% 58% 14% 42% 59% 16% 41%

FLORIANOPOLIS 78% 33% 35% 74% 25% 38% 66% 25% 36%

FORTALEZA 75% 34% 44% 64% 36% 41% 58% 37% 38%

GOIANIA 85% 18% 53% 59% 18% 46% 56% 19% 41%

JOAO PESSOA 63% 39% 42% 86% 44% 33% 54% 43% 38%

MACAPA 84% 21% 62% 77% 55% 20% 68% 46% 25%

MACEIO 80% 42% 36% 58% 52% 27% 58% 49% 31%

MANAUS 79% 8% 72% 79% 12% 60% 74% 14% 57%

NATAL 50% 30% 47% 58% 31% 47% 60% 33% 42%

PALMAS 83% 81% 4% 73% 70% 12% 68% 54% 18%

PORTO ALEGRE 37% 12% 55% 56% 11% 54% 54% 15% 54%

PORTO VELHO 83% 57% 22% 78% 43% 33% 72% 38% 32%

RECIFE 82% 25% 53% 78% 22% 54% 65% 27% 52%

RIO BRANCO 79% 68% 13% 80% 61% 23% 74% 56% 26%

RIO DE JANEIRO 76% 4% 65% 60% 3% 50% 64% 5% 42%

SALVADOR 71% 31% 45% 76% 30% 43% 54% 36% 38%

SAO LUIS 76% 42% 38% 58% 37% 45% 55% 40% 41%

SAO PAULO 82% 1% 64% 73% 1% 57% 73% 1% 55%

TERESINA 47% 39% 46% 69% 41% 38% 58% 43% 36%

VITORIA 79% 12% 65% 81% 12% 65% 77% 12% 64%

Média 70% 31% 45% 67% 32% 41% 62% 31% 39%

Mediana 76% 30% 47% 67% 31% 42% 58% 34% 40%

Mínimo 37% 1% 4% 44% 1% 12% 51% 1% 18%

Máximo 85% 81% 72% 86% 73% 65% 77% 57% 64%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, base FINBRA, vários anos. Elaboração Própria.

Transferência Constitucional: já descontados os valores para formação do FUNDEF/FUNDEB.

2004 20101997

MUNICIPIO

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124

A partir daí a queda da participação das transferências constitucionais tem sido

compensada pela categoria de transferências discricionárias. Entretanto, esses recursos

exigiram contrapartidas de recursos próprios e que interferiram diretamente na

autonomia das capitais para planejar e decidir sobre as questões locais, sobretudo,

quando ficaram impedidas de pleitearem novas operações de crédito.

Ou seja, podemos dizer que as transferências Discricionárias70, são recursos

decorrentes de negociações espontâneas entre os governos superiores e o local,

negociadas caso a caso, com o objetivo específico de financiar projetos e atividades

rigorosamente definidos pelas esferas de governos superiores.

A execução do gasto descentralizado exigiu uma contrapartida de recursos de

fonte própria e prestação de contas específicas. Definiu também, que o governo local

precisa, rigorosamente, seguir as instruções normativas específicas de aplicação dos

dispêndios para cada setor e função. Não há dúvidas quanto a importância desses

recursos para os governos subnacionais.

Porém, a cada dia é preciso entender que o alcance do atual modelo de partilha,

como bem disse Prado (2013), precisa responder uma pergunta relevante dos

desdobramentos do atual pacto: “... para o perfil de encargos que estamos criando, qual

é a distribuição de recursos adequada?”. Esse esforço nos ajudaria no enfretamento dos

conflitos e desajustes entre as receitas e os encargos descentralizados.

Sabemos que somos uma federação composta por regiões e municípios

heterogêneos, e o nível de atividade econômica e social se difere de uma região para

outra, e as transferências intergovernamentais tem a responsabilidade de pactuar com as

necessidades de cada região.

Entretanto, é preciso reconhecer que as transferências discricionárias têm

provocado determinada rigidez na atuação do poder municipal mais autônomo. Arrisco

70 A Secretaria do Tesouro Nacional definiu transferências Discricionárias a partir de três categorias: 1)

as voluntárias são aquelas que efetuam a entrega de recursos para Entes Federativos a título de

cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorrem de determinação constitucional ou legal,

nem sejam destinados ao Sistema Único de Saúde. Elas exigem a celebração de um instrumento jurídico

entre as partes envolvidas e, regra geral, requerem contrapartida financeira do beneficiário; 2) por

delegação são aquelas efetuadas entre entes federativos ou a consórcios públicos visando a execução

descentralizada de projetos e ações públicas de responsabilidade exclusiva da concedente e exigem a

celebração de um instrumento jurídico entre as partes envolvidas. São aquelas cujo atendimento de

requisitos fiscais pelo beneficiário é dispensado por lei, e normalmente estão relacionadas a programas

essenciais de governo. 3) específicas são aquelas que exigem a celebração de um instrumento jurídico

entre as partes envolvidas, e a sua execução orçamentária tem caráter discricionário, apesar de algumas

delas serem definidas como transferências obrigatórias ou automáticas por intermédio de leis específicas.

Acesso em 10/11/2016, sitio http://www.tesouro.fazenda.gov.br/-/transferencias-discricionarias.

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a dizer que hoje, as decisões orçamentárias locais estão sendo tomadas por outras esferas

de governos, com interesses que não, necessariamente, respondem às demandas

coletivas locais das 26 capitais.

Dessa forma, as estruturas urbanas mais desenvolvidas e que contabilizaram

maior participação da arrecadação própria no orçamento local, sofreram com o atual

modelo de partilha, que não consideraram o alto custo das políticas municipalizadas, as

externalidades negativas geradas pelo processo da concentração econômica e

populacional, e muito menos o engessamento produzido pelas transferências

discricionárias.

Acredito que parte das dificuldades financeiras dos grandes centros urbanos,

sejam decorrentes desse modelo e dos critérios de partilhas das transferências. Trazer

essas questões para o debate federativo, certamente, contribuiria para a revigoração da

autonomia dos governos subnacionais.

4.2.2.1 Transferência constitucional federal71: FPM72

No meio acadêmico, existe a percepção quanto a necessidade de reformas efetivas do

federalismo brasileiro. Porém, do ponto de vista político, determinadas questões ainda

precisam ser vencidas. Até o momento, desconheço qualquer proposta de mudanças para

corrigir as discrepâncias ocasionadas pelo atual sistema de partilha.

Conforme Coelho (2007), por exemplo, o atual critério de rateio do FPM pouco

cumpriu os ditames constitucionais, de reduzir as desigualdades socioeconômicas entre

municípios. Porque o modelo de distribuição foi baseado apenas na população, um

pressuposto que município pequeno é pobre. Acredito que para corrigir o critério, seria

preciso reconhecer que existe município pequeno e pobre, e município pequeno e rico,

e ambos estão sendo igualmente privilegiados na distribuição atual dos recursos.

Consequentemente, municípios maiores, pobres e ricos, são prejudicados pelo critério

de rateio. O sistema não guardou correspondência com as condições sociais, e não

observou a capacidade de gasto do ente federativo.

Assim, os ganhadores e perdedores não são claramente identificados, o que, em

muito, dificulta o conhecimento do próprio sistema e consequentemente a sua mudança.

71 Definição das Transferências Federais se constitui da soma das rubricas das receitas, conforme mostra

o anexo 06, figura 06. 72 Ver Prado (2013) e Coelho (2007).

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Sabemos apenas, que o sistema privilegia os municípios com menos de cinco mil

habitantes, sendo que muitos não têm escala suficiente para oferecer a maioria dos

serviços públicos.

É razoável lembrar que as transferências intergovernamentais foram introduzidas

no país pela Constituição de 1946. O parágrafo 4º de seu art. 15 estabelecia: § 4º - A

União entregará aos Municípios, excluídos os das Capitais, dez por cento do total que

arrecadar do imposto de que trata o nº IV feita a distribuição em partes iguais e

aplicando-se, pelo menos, metade da importância em benefícios de ordem rural.

E, apenas por meio da Emenda Constitucional n.18 de 1965, a participação dos

municípios das capitais73, entre os beneficiários das transferências do FPM foi assegurada.

Em 1968, o governo central reduziu os 10 pontos percentuais originais das receitas do

fundo para metade. Somente na segunda metade dos anos setenta, a alíquota voltou a

ser ampliada, e ganhou novo impulso nos anos 80. Em 2007, por meio da Emenda

Constitucional n.55, conquistou 23,5 pontos percentuais da arrecadação total do IR e

IPI.

Cumpre lembrar que na trajetória do FPM, durante o período militar, os

municípios eram obrigados a comprometerem 50% dos recursos recebidos com despesas

de capital. Porém, o artigo 160 da CF/88, veda a retenção ou qualquer restrição à entrega

e ao emprego dos recursos, salvo para o pagamento de dívidas para com a União. Dessa

forma, a vinculação dos recursos do FPM, constitucionalmente foi vedada, exceto com as

vinculações da educação e saúde.

Quanto ao critério de rateio dos recursos, nenhuma mudança foi capaz de atender

a necessidade de equalizar um valor mínimo de recursos, que valorizasse os municípios

menos populosos, mas que também considerasse o grau de desenvolvimento e a

capacidade econômica de cada um. Seria oportuno refletir essa questão, necessária para

atenuar as assimetrias per capita geradas a partir do critério aplicado.

Conforme já observamos, a participação das capitais corresponde a 10% do

conjunto dos recursos do FPM. O rateio se realiza entre as capitais conforme a

população e o inverso da renda per capita do respectivo Estado que pertence.

73 "Art. 21. Do produto da arrecadação dos impostos a que se referem o artigo 8º, nº II, e o art.

11, 80% (oitenta por cento) constituem receita da União e o restante distribuir-se-á à razão

de 10% (dez por cento) ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal, e 10% (dez

por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios.

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Porém, segundo Coelho (2007), o valor recebido pelo município não é

proporcional a sua população. Por exemplo, no FPM - Interior, as populações

dos respectivos municípios são enquadradas em faixas, que privilegiam municípios

menores. A cada faixa corresponde um determinado coeficiente de participação que

define a parcela de recursos que o município tem direito.

O coeficiente de participação mínimo é de 0,6, que participam todos municípios

que têm população inferior a 10.088 habitantes. Por outro lado, o coeficiente

máximo é 4, com ele participam todos os municípios que têm população superior

a 156.216 habitantes.

Uma vez estabelecidos os coeficientes de participação de cada município, estes

são somados, e a participação de cada município será determinada pela relação entre o

seu coeficiente individual e a soma dos coeficientes. Quando um município é

emancipado, os coeficientes individuais de todos os outros municípios permanecem

os mesmos, no entanto, como o total dos coeficientes aumentou, a participação

percentual de cada município é reduzida.

A Lei Complementar n.62/1989 estabeleceu que a partir de 1990, as alterações

dos percentuais de participação, em decorrência da criação de novos municípios,

deveriam se limitar àqueles municípios pertencentes ao Estado em que foi criado o

município. Até então, quando era criado um município, todos os outros municípios do

país tinham sua participação percentual reduzida, devido ao aumento da soma dos

coeficientes.

E, para satisfazer o estipulado pela Lei, o Tribunal de Contas da União dividiu os

recursos do FPM entre os Estados brasileiros. Para fixar a parte que caberia aos

municípios de cada Estado, utilizou como parâmetro a soma dos coeficientes dos

municípios de cada Estado vigente no final da década de 80. Ou seja, para satisfazer a

Lei Complementar n.62/89, o TCU congelou o percentual que tinha cada município, de

cada Estado da Federação, no total de recursos do FPM.

Coelho (2007) observou que o congelamento das faixas de população, deveria ser

atualizado a cada censo, a partir das mudanças na demografia, buscando estancar a

perda de recursos de municípios que tiveram seus coeficientes congelados, e os

coeficientes fixados por limites de faixas diferentes para municípios novos ou antigos.

Enfim, se o sistema tinha alguma racionalidade, ela foi perdida pela atual

legislação. A Lei Complementar n.91/97 tentou restabelecer critérios de distribuição

válidos para todos os municípios.

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Ou seja, para 1998 foram mantidos os coeficientes de 1997; e, entre 1999 e 2002,

os coeficientes de 1997 eram comparados àqueles determinados pelo critério padrão,

se superior àquele estabelecido pelo critério padrão, o município permanecia com uma

parcela da diferença, o restante (resíduo) era redistribuído entre os municípios do Estado

que possuíam coeficientes de 1997 inferiores ou iguais ao padrão. Essa parcela foi se

reduzindo de forma que em 2003, todos os municípios teriam sua participação

estabelecida conforme o critério padrão.

A Lei Complementar n.106/2001 manteve a sistemática, mas ampliou o prazo de

adequação até 2007. Ou seja, em 2008 não haveria mais resíduo a ser distribuído. Para

o ano de 2005, o resíduo foi de 70%, ou seja, os municípios que apresentaram

coeficiente de participação inferior ao de 1997 permaneceram com 30% da diferença.

A sistemática foi aplicada na distribuição dos recursos dos três grupos do FPM: Capital,

Reserva e Interior.

Assim, de acordo com as regras, para se distribuir os recursos do FPM entre os

municípios do interior (exceto recursos da reserva), primeiro se repartem os

recursos entre os conjuntos de municípios de cada Estado, de acordo com a Resolução

do TCU n.242/90. E, no âmbito de cada Estado aplicam-se os coeficientes dos

municípios, calculado os resíduos e estes são redistribuídos entre os municípios do

próprio Estado.

Consequentemente, municípios com o mesmo coeficiente de participação, e com

mesma população, poderão ter direito a frações diferentes dos recursos do Fundo,

conforme a participação de seu Estado de origem no FPM - Interior.

Nos Estados em que nos últimos 15 anos foram criados diversos municípios ou

que apresentaram crescimento populacional significativo, o coeficiente de participação se

desvalorizou. Prado, ao analisar o FPM chama atenção aos objetivos de sua criação: "É

muito importante ressaltar o pressuposto básico que orientou o FPM desde a sua origem:

municípios pequenos teriam por princípio, menor capacidade de arrecadação”.

Assim, o fundo tinha um caráter de "renda mínima" fiscal para compensar a

limitação das bases próprias das pequenas localidades. A partir da criação de municípios

após a Constituição, aliada a sucessivas Leis Complementares buscando a conservação

da parcela de recursos do FPM de certos municípios e Estados, a renda mínima para

pequenos municípios variou significativamente entre os municípios de diferentes

Unidades da Federação.

De acordo com a Constituição Federal, os critérios de rateio do FPM tiveram como

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objetivo a promoção do equilíbrio socioeconômico entre Municípios. Entretanto, com

os critérios atuais esse preceito constitucional não vem sendo cumprido. Há

populações com alto nível de desenvolvimento humano que recebem mais recursos

per capita do FPM, do que populações com níveis de desenvolvimento humano bem

inferiores.

Ao analisar os critérios de rateio do FPM, considerando os valores per capita,

por exemplo, o menor município do país, Borá sediado no Estado São Paulo, possui

818 habitantes. Enquanto o município de Tapiraí, também sediado no Estado de São

Paulo, com 10.025 habitantes recebeu de acordo com as regras do FPM - ambos com

participação no coeficiente de 0,6, o mesmo valor de FPM. Ambos, no ano de 2005,

R$ 2.697.271,41 (dois milhões, seiscentos e noventa e sete mil, duzentos e setenta e um

reais). Portanto, o município de Borá apurou uma receita disponível de FPM de R$ 3.298

per capita, enquanto o de Tapiraí, contou apenas com R$ 269 per capita.

Um caso emblemático da distorção provocada pela importância do FPM na

estrutura orçamentária das capitais, conforme mostrou a tabela 15, se refere a cidade

mais populosa da federação, responsável pelas maiores e mais complexas demandas

sociais e de infraestrutura, contou com apenas 1 ponto percentual de FPM nas

transferências constitucionais. Enquanto a representatividade média para as 26 capitais

alcançou 29 pontos percentuais, e a participação máxima do FPM foi de 57 pontos

percentuais no ano de 2010.

Para Palmas, a capital com menor população, a participação do FPM alcançou 52

pontos percentuais do total das transferências constitucionais. Situação singular e que

confirmar a assimetria dos recursos constitucionais partilhados, um antagonismo para a

revigoração das relações federativas, e para própria municipalização.

Ou seja, os municípios beneficiados pelos critérios de partilha do FPM acabaram

usufruindo de mais autonomia na alocação dos recursos para o atendimento das políticas

locais, quando comparados com cidades que desempenharam maior esforço tributário

próprio, e registaram as maiores demandas sociais, por serem principias polos

provedores das políticas descentralizadas dos programas nacionais.

Diante dessas assimetrias, Prado (2013) acredita que o sistema pode ser

considerado precário e ineficiente desde sua concepção, quando não havia bases

estatísticas fiscais que permitissem uma distribuição mais equânime.

Atualmente, padecemos de uma consciência federativa sobre a necessidade de

construirmos um sistema de equalização dinâmico, frente à desfiguração que o sistema

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reproduziu, transformando-se num simples compartilhamento estático, onde a

participação de cada governo é fixa e as modificações no grau relativo de

desenvolvimento econômico não se refletem na distribuição dos recursos.

Permanecer com a aplicação do critério meramente populacional, só faria sentido

caso a receita própria dos municípios fosse aproximadamente proporcional ao seu

tamanho, ou seja, os pequenos, necessariamente, fossem os mais pobres.

Contudo, após o próprio movimento da guerra fiscal e da desindustrialização do

país, a realidade não mais atende a essa hipótese. Por exemplo, as cidades dormitórios

que concentram alta densidade populacional, enorme demanda por serviços e uma

atividade econômica relativamente baixa, são prejudicadas pelo critério de partilha e

recebem menor recursos per capita.

Circunstância que tende a direcionar parte da demanda não atendida nas cidades

dormitórios, para os municípios sedes de regiões metropolitanas, face à precária

estrutura que as cidades dormitórios oferecem.

Enquanto que, as pequenas localidades que receberam uma empresa ou indústria,

além de serem contempladas com a metodologia do FPM, geraram valores adicionados,

e, portanto, tiveram maior participação na distribuição da Cota-parte de ICMS e dos

royalties.

Nesse sentido, acredito que seria razoável no mínimo ponderar na fórmula do

critério de distribuição dos recursos do FPM, e considerar que os municípios

responsáveis pelos mais complexos problemas sociais e de infraestrutura recebessem

algum peso relativo no rateio dos recursos per capita.

Vale lembrar que, para as premissas da descentralização dos gastos, era

considerado a necessidade de o recurso transferido constitucionalmente ter correlação

com o grau da descentralização, dado o custo da política e tamanho populacional.

Dessa forma, enquanto houver imobilidade nos instrumentos de partilha, fica

impossível pensarmos em avançar na equalização de recursos per capita a partir do atual

arranjo federativo.

Acredito que ao menos deveríamos lutar para legitimar esse debate junto à

sociedade sobre a disposição atual dos recursos próprios e constitucionais, fundamentais

para o financiamento da oferta das políticas públicas de responsabilidades comuns e

exclusivas dos centros urbanos.

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4.2.2.2 Transferência constitucional estadual74: cota parte do ICMS

Com relação às transferências constitucionais estaduais, os governos estaduais e

o distrito federal têm competência para instituir e cobrar o ICMS e IPVA, para depois

partilhar com os municípios. Nesse item, abordaremos apenas o Imposto sobre

Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte

Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), dada a importância da

partilha da cota parte do ICMS na estrutura orçamentária das capitais.

O artigo 158 da Constituição Federal definiu que o critério de partilha da

distribuição decorrente da arrecadação do ICMS, deveria alocar 25 pontos percentuais

aos orçamentos municipais de cada estado que o arrecadou, de acordo com os critérios

definidos em cada legislação estadual. E ficou estabelecido que no mínimo 75 pontos

percentuais deveriam corresponder ao valor adicionado75 que cada município agregou

em seus territórios.

Sabemos que a metodologia para transferir os valores tinha o objetivo de

compensar municípios com maior capacidade de geração de riqueza no âmbito

municipal. “[...] a lógica preponderante desta transferência é a de premiar os municípios

economicamente mais bem-sucedidos” (ABRUCIO; COUTO: 1996).

Diferentemente do FPM, a cota parte do ICMS não tem a função de distribuir

renda entre as regiões menos consolidadas, e sim assegurar o financiamento das ações

necessárias para o desenvolvimento econômico e social dos centros que mais dinâmicos.

Nesse caso, municípios com maior atividade produtiva agregam valor à produção e

alcançam maior participação no rateio.

Como já abordado, a partir do processo de desindustrialização nacional e da

guerra fiscal, as indústrias deixaram as regiões metropolitanas para se instalarem em

outras localidades do interior e ou outros estados, movimento que acarretou sucessivas

perdas na apuração do valor adicionado. Realidade que foi agravada a partir dos efeitos

da crise econômica de 2008. Conforme informações disponibilizadas na tabela 16,

durante o período de 1995-2010, houve queda no índice de participação da Cota do

ICMS nos municípios mais populosos do País.

74 Definição das Transferências Estaduais se constitui da soma das rubricas das receitas, conforme

mostra o anexo 06, figura 08. 75 A Lei Complementar federal nº 63, de 1990, conceituou o valor adicionado como o valor de saídas

menos entradas de mercadorias, mais as prestações de serviços do ICMS.

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A análise do índice de participação foi realizada apenas para o primeiro e último

ano do período de estudo da pesquisa, 1995 e 2010. A situação apurada em 14 capitais

da amostra evidenciou que ocorreu uma variação negativa em todos os casos analisados.

Observo que, a informação não estava disponível no site dos demais estados e capitais.

Para mais da metade dos municípios capitais ocorreu queda do índice de

participação, com destaque para as mais populosas e abarrotadas de demandas e

profundas transformações sócio espaciais. Ou seja, esses municípios tiveram sua

capacidade de investimento per capita reduzida.

Tabela 16 - Índice de Participação na Cota parte do ICMS de 14 capitais, anos:

1995 e 2010

Para melhor compreender o impacto da queda do índice de participação do

ICMS, as informações da tabela 15 mostraram que, em 2010, a cota parte do ICMS

correspondia em média a 39 pontos percentuais das transferências constitucionais, já

descontados os valores das deduções realizadas para formação do FUNDEB. Enquanto

que, em 1997, a participação da cota parte do ICMS para metade dos municípios, teve

participação de 45 pontos percentuais nas transferências correntes.

Resultado que ajuda a interpretar a assimetria per capita, por exemplo, entre a

cidade de Salvador, município populoso, com mais de 2,6 milhões de habitantes,

população oito vezes maior que a cidade de Vitória, pouco populosa. Ou seja, a capital

Variação

1995 2010 2010/1995

BELEM 39,27 20,52 -48%

BELO HORIZONTE 10,65266812 9,9141559 -7%

CUIABA 18,144163 14,082586 -22%

CURITIBA 18,23651754 13,5176174 -26%

FLORIANOPOLIS 3,84621 3,8039682 -1%

FORTALEZA 45,053353 39,111144 -13%

GOIANIA 27,2476889 17,4228562 -36%

MACEIO 32,8332 31,3988 -4%

MANAUS 65,00030008 62,09362 -4%

PORTO ALEGRE 13,29931 11,46167 -14%

RIO DE JANEIRO 41,179 28,791 -30%

SALVADOR 19,25811 15,5023098 -20%

SAO PAULO 25,68833293 22,97886019 -11%

VITORIA 22,534 20,573 -9%

Municípios Indice de Participação ICMS

Fontes: Diversas Secretaria da Fazenda Estadual e Diário

Oficial dos Municípios da amostra, anos: 1995 e 2010

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133

baiana desempenhou uma capacidade de investimento onze vezes menor quando

comparada com a capital capixaba. Assimetria reforçada pelo próprio critério do índice

de participação, quando 75 pontos percentuais da formula devem corresponder apenas

ao valor adicionado da econômica local.

Metodologia que desconsidera as transformações sócio econômicas ocorridas a

partir dos anos 90, a dinâmica que agregava valor adicionado nas capitais, foi substituída

por uma dinâmica de serviços que praticamente não é considerada como critério da

formula que distribui os recursos da cota parte do ICMS.

Dessa forma, seria razoável considerar na formula de rateio, não apenas o valor

agregado, e sim a importância da circulação dos serviços realizados na atividade

econômica local. De alguma forma, essa variável sustentaria a necessidade de recursos

para custear o financiamento da municipalização dos principais polos provedores das

políticas públicas do País.

Essa questão precisa de atenção na agenda federativa, não é possível mais

ignorar a metodologia de partilha dos recursos da Cota parte do ICMS. O atual critério

não responde às expectativas, enquanto instrumento principal para selar o pacto

federativo. Lembrando que a transferência constitucional do ICMS é de livre alocação,

descontado os percentuais para aplicação mínima da saúde, educação e dívida pública.

Sabemos que outras questões econômicas têm responsabilidade no atual

desequilíbrio fiscal, porém, não se pode mais ignorar os efeitos acometidos pelo atual

critério de distribuição da cota-parte do ICMS, para as principais regiões metropolitanas

do País.

4.2.2.3 Transferências Discricionárias:

José Roberto Afonso (2004) observou que, ao longo das últimas décadas, as

transferências de recursos de natureza discricionária tiveram papel de quase verdadeiras

minirreformas tributárias. Sem desrespeitar a autonomia formal dos municípios, o

governo superior formulou políticas setoriais para as quais logrou a adesão dos governos

subnacionais, tornando obrigatória a contrapartida financeira para o financiamento das

políticas descentralizadas.

Para Arretche (1999), a adesão dos governos locais para obter os recursos era

decorrente de duas principais oportunidades: assumir a gestão de determinada política

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134

pública no processo de descentralização e, de outro, os benefícios fiscais e políticos

derivados daquela adesão.

Prado (2013), chama a atenção para o modelo, que contemplou muito mais os

requisitos nacionais, do que propriamente às necessidades locais e regionais, e acabou

limitando o raio de ação dos que assumiram as políticas descentralizadas os programas

nacionais descentralizados. Foi construído um arranjo onde a execução dos serviços

coube aos governos subnacionais, enquanto que as normas e natureza das atividades e

serviços eram definidas nas esferas superiores.

Sabemos que o governo central arrecada diretamente a maior parte da carga

tributária nacional e os governos subnacionais se apropriam de uma parcela por meio

das transferências constitucionais, e das transferências discricionárias consideradas

fundamentais no atual pacto federativo.

Dessa forma, a evolução da participação das transferências discricionárias no

modelo de descentralização fiscal brasileira, tem desencadeado determinada rigidez na

estrutura orçamentária, a partir das condicionalidades e contrapartidas exigidas,

decorrentes das transferências discricionárias no orçamento municipal.

E, mediante os frequentes atrasos no cronograma dos desembolsos financeiros

das transferências discricionárias, tem sido acarretado um grau de insegurança fiscal

para a execução das ações planejadas no Lei Orçamentária Anual (LOA).

Como bem destacou Pinto (2017), o cumprimento dos pisos em saúde e

educação, os repasses mensais proporcionais à receita efetivamente arrecadada

deveriam ser assegurados, conforme o mesmo rito dos duodécimos, que ampararam a

autonomia financeira do Judiciário, Legislativo e Ministério Público, já que o preceito

fundamental reside na estabilidade e segurança temporal dos repasses de recursos.

Tal entendimento evitaria que a execução orçamentária, por exemplo, do piso

em saúde fosse adiada mediante a adoção de artifícios contábeis no manejo do art. 24,

II e §1º da LC 141/2000.

Ou seja, os governos superiores, simplesmente contabilizam como ações e

serviços públicos de saúde volumoso saldo de empenhos, gerados em novembro e

dezembro do exercício financeiro, e, formalmente depositam na conta específica do

Fundo de Saúde, em 31 de dezembro de cada ano.

Segundo Pinto (2017), é como se fosse uma conta de passagem do reveillon para

cumprir formalmente o ditame legal, para, após a virada do ano, postergarem o

processamento de tais restos a pagar, e remanejarem os recursos do Fundo de Saúde

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novamente para a Conta Única do Tesouro, e, literalmente frustrarem a efetividade do

piso da saúde.

Esse comportamento, alinhado com algumas instruções normativas que

regulamentaram as transferências discricionárias, em nada contribuíram para a execução

das políticas públicas municipalizadas, de responsabilidade dos principais polos

provedores da política pública.

Ou seja, em muitos momentos os municípios foram obrigados a suprimirem suas

competências exclusivas da execução orçamentária, e financiarem com recursos

próprios o que deveria ser assegurado pelos recursos das transferências discricionárias.

Resultado que no limite compromete os padrões de serviços oferecidos à população.

Outro exemplo, quanto à determinação de que o débito dos recursos

discricionários na conta corrente do poder municipal, deveria ocorrer antes da ordem de

serviço ser gerada. Mediante aos atrasos constantes, e de situações de urgência, essa

exigência acaba sendo descumprida, em algumas situações, impõem-se a necessidade

de devolução dos recursos aos governos superiores.

Vale destacar que outras questões precisam ser cumpridas, conforme a cartilha

do Tribunal de Contas da União (2000), Lei Complementar n. 101/2000, art. 25, e Lei

n. 9.995/2000, art. 35, listadas abaixo, para o recebimento dos recursos discricionários:

1) regularidade na gestão fiscal – que instituiu, regulamentou e arrecadou todos os

tributos previstos nos artigos. 155 e 156 da Constituição, ressalvado o imposto

previsto no art. 156, inciso III – com a redação dada pela Emenda Constitucional

n. 3/1993 – quando comprovada a ausência do fato gerador (Lei Complementar

n. 101/2000, art. 11, parágrafo único, e Lei n. 9.995/2000, art. 35, I);

2) dotação orçamentária – que existe dotação específica (Lei Complementar n.

101/2000, art. 25, I);

3) despesas – que os recursos não serão destinados ao pagamento de despesas com

pessoal ativo, inativo e pensionista, do Estado, Distrito Federal ou Município

(Constituição Federal, art. 167, X, incluído pela Emenda Constitucional n.

19/1998, e Lei Complementar n. 101/2000, art. 25, § 1º, III);

4) quitação – que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e

financiamentos devidos à União (Lei Complementar n. 101/2000, art. 25, § 1º,

IV, a), mediante a apresentação dos seguintes documentos (IN STN n. 01/1997,

art. 3º): - certidão negativa de débitos, fornecida pela Secretaria da Receita

Federal (SRF), pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) do

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136

Ministério da Fazenda e pelos correspondentes órgãos estaduais e municipais; -

comprovante de inexistência de débito junto ao INSS, referente aos três meses

anteriores, ou certidão negativa de débito (CND) atualizada, e, na hipótese de

haver débitos renegociados, também a regularidade quanto ao pagamento das

parcelas mensais; - certificado de regularidade de situação (CRS) junto ao

FGTS, fornecido pela Caixa Econômica Federal; - comprovação de regularidade

do PIS/PASEP.

5) contas: que se acha em dia quanto à prestação de contas de recursos

anteriormente recebidos do ente transferidor (Lei Complementar n. 101/2000,

art. 25, § 1º, IV, a);

6) limites constitucionais – que cumpre os limites constitucionais relativos à

educação e à saúde (Lei Complementar n. 101/2000, art. 25, § 1º, IV, b);

7) limites de dívidas – que observa os limites das dívidas consolidada e mobiliária,

de operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, de inscrição em

restos a pagar e de despesa total com pessoal. O Estado, Distrito Federal ou

Município ficará impedido de receber transferências voluntárias, se a respectiva

dívida consolidada ultrapassar o correspondente limite ao final de um

quadrimestre, e uma vez vencido o prazo para retorno da dívida ao limite – até

o término dos três quadrimestres subsequentes – e enquanto perdurar o excesso

(Lei Complementar n. 101/2000, art. 25, § 1º, IV, e art. 31, § 2º);

8) contrapartida – que existe previsão orçamentária de contrapartida, estabelecida

de modo compatível com a capacidade financeira da respectiva unidade da

Federação beneficiada, tendo como limites mínimo e máximo os percentuais

indicados a seguir (Lei Complementar n. 101/2000, art. 25, § 1º, IV, d, e Lei n.

9.995/2000, art. 35, III): Contrapartida dos Municípios: - 5% e 10%, para

Municípios com até 25.000 habitantes; - 10% e 20%, nos demais Municípios

localizados nas áreas da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste –

SUDENE, da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM e

no Centro-Oeste; - 10% e 40%, para as transferências no âmbito do Sistema

Único de Saúde – SUS, excluídos os Municípios relacionados nos itens

anteriores; - 20% e 40%, para os demais. Contrapartida dos Estados e do Distrito

Federal: - 10% e 20%, se localizados nas áreas da SUDENE e da SUDAM e no

Centro-Oeste; - 20% e 40%, para os demais.

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A sofisticação das exigências discricionárias definidas pelas regulamentações, e

o detalhamento de quais itens poderiam ser financiados, bem como as normas e

contrapartidas a serem adotadas, é justificada pela necessidade de se impor uma gestão

às políticas descentralizadas.

Mesmo reconhecendo a evolução e necessidade de muitas dessas exigências, não

ficou assegurado uma compreensão do padrão mínimo de serviços a serem ofertado à

sociedade por esse modelo, e muito menos ficou definido quais os parâmetros de custos

reais dos serviços descentralizados.

Ou seja, o debate do financiamento das competências concorrentes permaneceu

confuso e complexo, e, de alguma forma, conferiu profunda rigidez orçamentária, e

incertezas quanto à irregularidade dos fluxos financeiros das transferências de recursos

dos governos superiores para os orçamentos municipais. As consequências são

percebidas, mas precisam ser vencidas, pois, certamente fragiliza as relações e

autonomia federativa.

Como bem destacou Prado (2013), é imprescindível uma medida institucional

que colabore para o desenvolvimento da avaliação dos encargos descentralizados, e que

ofereça uma base minimamente técnica para pautar esse debate.

Sabemos que padecemos de estatísticas que poderiam auxiliar na organização de

métodos mais eficazes de partilha, para estabelecer mecanismos periódicos de

avaliação, e que servissem de instrumentos para negociação da partilha dos recursos

vertical e horizontal para realização do custeio e investimento das políticas

descentralizadas.

Há tempos se fala da necessidade de se construir centros de custos para os

orçamentos dos programas nacionais descentralizados, informações que poderiam gerar

parâmetros mais eficazes na partilha dos recursos, pois revelaria claramente a

necessidade de ajustamentos, de acordo com a demografia e o custo das políticas

públicas descentralizadas, apontando a necessidade de cooperação técnica e financeira

entre as três esferas de governos.

Enquanto nada é feito, as tensões e desequilíbrios fiscais são constantes e

refletem a incapacidade federativa de enfrentar os problemas atuais. Voltamos, então,

ao início da discussão: a descentralização das políticas públicas, e a forte atuação das

imposições fiscais neutralizaram os recursos adicionais conquistados pelo esforço

tributário municipal, a partir da autonomia federativa recebida na Constituição de 1988.

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A execução orçamentária das 26 capitais, polos provedores das políticas

municipalizadas, apesar da maior participação da receita própria na LOA, permanece

mergulhada numa profunda rigidez orçamentária. E, poucas ações ocorreram no sentido

de assegurar uma cooperação técnica e financeira à luz da municipalização.

A tabela 17, mostra a importância das receitas discricionárias nas transferências

correntes de cada capital. E reforça a hipótese de que as competências comuns aos três

entes federativos, imprimiram uma penhora na estrutura orçamentária local, e

configuraram a atual rigidez orçamentária que suprimiu da agenda local, as

competências constitucionais exclusivas do município.

Tabela 17 Evolução da Participação das Transferências Discricionárias no total

das Transferências Correntes das 26 capitais, em %

Transferências Correntes

DiscricionáriasPopulação 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

ARACAJU 587.701 31% 43% 45% 41% 43% 40% 42% 48% 46%

BELEM 1.410.430 40% 44% 47% 44% 47% 47% 45% 49% 49%

BELO HORIZONTE 2.395.785 46% 46% 56% 46% 46% 45% 46% 50% 49%

BOA VISTA 296.959 32% 32% 26% 30% 28% 28% 46% 24% 23%

CAMPO GRANDE 805.397 42% 44% 44% 55% 56% 42% 57% 44% 45%

CUIABA 561.329 36% 36% 39% 36% 38% 40% 43% 45% 44%

CURITIBA 1.776.761 31% 38% 42% 39% 41% 40% 40% 43% 41%

FLORIANOPOLIS 433.158 36% 26% 26% 35% 28% 31% 30% 36% 34%

FORTALEZA 2.500.194 42% 33% 36% 31% 48% 40% 40% 44% 42%

GOIANIA 1.333.767 14% 27% 41% 41% 43% 44% 33% 48% 44%

JOAO PESSOA 742.478 28% 37% 14% 40% 39% 38% 24% 26% 46%

MACAPA 415.554 45% 21% 23% 23% 26% 28% 27% 53% 32%

MACEIO 953.393 48% 42% 42% 38% 37% 37% 38% 42% 42%

MANAUS 1.861.838 36% 20% 21% 17% 20% 27% 21% 27% 26%

NATAL 817.590 46% 33% 42% 39% 36% 38% 42% 43% 40%

PALMAS 242.070 32% 22% 27% 25% 26% 24% 24% 36% 32%

PORTO ALEGRE 1.416.714 36% 44% 44% 43% 46% 46% 44% 47% 46%

PORTO VELHO 442.701 20% 19% 22% 36% 23% 24% 24% 27% 28%

RECIFE 1.555.039 19% 19% 22% 23% 32% 33% 30% 35% 35%

RIO BRANCO 348.354 21% 22% 20% 21% 27% 30% 35% 30% 26%

RIO DE JANEIRO 6.390.290 36% 50% 40% 82% 31% 33% 33% 35% 36%

SALVADOR 2.710.968 5% 22% 24% 26% 52% 44% 43% 48% 46%

SAO LUIS 1.039.610 26% 40% 42% 39% 39% 41% 43% 50% 45%

SAO PAULO 11.376.685 18% 19% 27% 24% 26% 26% 26% 28% 27%

TERESINA 830.231 31% 38% 31% 31% 41% 41% 41% 44% 42%

VITORIA 333.162 18% 17% 19% 18% 20% 19% 21% 23% 23%

Média 1.676.083 31% 32% 33% 36% 36% 36% 36% 39% 38%

Mediana 891.812 32% 33% 33% 36% 38% 38% 39% 43% 42%

Mínimo 242.070 5% 17% 14% 17% 20% 19% 21% 23% 23%

Máximo 11.376.685 48% 50% 56% 82% 56% 47% 57% 53% 49%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, base FINBRA, vários anos. Elaboração Própria

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Fica a sensação de que as interferências recorrentes e impositivas, representadas

pelas denominadas contrapartidas, contribuíram para erodir a autonomia concedida

constitucionalmente aos governos subnacionais. E o atual arranjo federativo pactuado,

conseguiu assegurar um financiamento cada vez mais regressivo, sob pena de permitir

a omissão dos entes nas suas atribuições e a precarização dos direitos sociais.

Dessa forma, podemos concluir que, ao mesmo tempo em que as 26 capitais

buscaram instrumentos e avanços importantes na arrecadação própria, com ações de

modernização administrativa e tributária76, não podemos afirmar que a evolução da

arrecadação de recursos próprios pudesse ser traduzida como sinônimo de autonomia

federativa para planejar e decidir sobre as diretrizes das políticas locais.

A prática, nos tem mostrado que as características dos mecanismos para transferir

recursos atuaram no sentido de restringir as possibilidades de mudança do status quo,

operando por meio das relações vertical e horizontal, uma contramarcha à ideia central

do federalismo fiscal e do diálogo federativo.

Nas duas últimas décadas, quase 70 emendas constitucionais, por meio da

regulamentação de programas nacionais foram editadas, com interferências diretas no

planejamento e execução das ações no âmbito municipal. A sensação é de que a cada

execução orçamentária, os orçamentos municipais mais autônomos do País, não têm

condições e nem perspectiva para enfrentarem questões cotidianas.

Dizer que a autonomia assegurada aos governos subnacionais no texto

constitucional de 1988 tem sido diluída ao longo das últimas décadas, não nos parece

um exagero, apesar do discurso predominante afirmar que a federação brasileira é uma

das nações com autonomia subnacional mais profunda do mundo.

76 Implantação de cursos voltados para a atualização dos conhecimentos dos servidores públicos;

atualização das legislações tributária e urbanística; modernizações nos sistemas de lançamento e

arrecadação das receitas; implantação da nota fiscal eletrônica municipal; gestão na execução do

orçamento; atualização dos cadastros de compras e folha de pagamento; gestão de controle da folha de

pagamentos; gestão dos almoxarifados e dos contratos, a arrecadação própria foi ampliada.

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4.2.3.3 Financiamento da Saúde e da Educação

4.2.3.3.1 Saúde

As 26 capitais vêm acumulando papel estratégico no conjunto da oferta de

serviços das políticas descentralizadas de saúde, fundamental para ações mais

humanizada que compõem o Sistema Único de Saúde (SUS).

No entanto, a realização de novos investimentos voltados para a ampliação da

infraestrutura local, enquanto sede de região metropolitana e polos regionais das

principais ações, decorrentes da própria política centralizadora dos antigos Institutos de

Aposentadorias e Pensões (IAPs) do Estado meritocrático brasileiro, tem se tornado um

desafio.

A bem da verdade, raramente, os recursos transferidos para as ações do SUS têm

sido suficientes para financiar as políticas públicas de saúde, pois, o setor encontra-se

com o atendimento sobrecarregado e limitado na maioria das capitais.

As informações da tabela 18 mostraram que ocorreu aumento expressivo dos

recursos descentralizados para a saúde. Em 1998, a participação da receita do SUS no

orçamento corrente, representava 6,6 pontos percentuais. Em 2010, representou 12,62

pontos percentuais do total das transferências correntes.

Aumento que não deve ser traduzido, necessariamente, em recursos per capita

para a prestação dos serviços do setor da saúde. Isso porque, a partir de 2000, a

transferência de recurso SUS ganhou uma fase intermediária, e parte substancial do

aumento das transferências federais para os governos municipais, tem sido apenas

resultado da mudança do ciclo de pagamento aos prestadores privados dos serviços do

SUS.

Ou seja, os recursos do SUS até o ano de 2000, eram transferidos diretamente do

governo federal aos provedores de serviços, incluindo aí os governos subnacionais, mas

basicamente para os prestadores privados. Após esse período, os municípios passaram

a receber os recursos do governo federal para depois transferir para os provedores finais.

Pode se dizer que, mesmo diante do aumento dos recursos do SUS no orçamento

das capitais, praticamente, todas operam com uma estrutura repleta de lacunas, desde a

necessidade de novos investimentos; recursos para a manutenção dos espaços de pronto

atendimento; falta de mão de obra; medicamentos em geral; aparelhos ultrapassados e

outros quebrados; uma realidade que gera um prejuízo para humanização do setor.

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Tabela 18 - Participação dos principais programas nacionais: FUNDEF/FUNDEB

e SUS no orçamento corrente das 26 capitais, anos: 1998; 2002; 2006; 2010-em %

E, como bem observou José Saraiva Felipe (2011:32-33), ex-ministro da Saúde

“(...) os municípios já estão sobrecarregados e muitos gastam mais que os 15% da

receita, como define a EC 29”. Mas ressalta que a maioria dos Estados, em levantamento

feito há cerca de dois anos, não investiu nem 6% do orçamento próprio, em vez dos 12%

definidos pela EC 29, e ainda ocorreu maquiagem na prestação de contas.

Sabemos que a participação municipal no financiamento da saúde é crescente.

Nas palavras de Nardi (2011:33-34), presidente do Conselho Nacional de Secretarias

Municipais de Saúde (CONASEMS):

(...) é no município que a saúde acontece e é ele que mais está investindo. O

Sistema de Informação de Orçamento Público em Saúde (Siops) informa que

mais de 95% dos municípios cumprem as regras da EC29 e, desses, grande

parte aplica até mais, média de 20% a 22% na saúde, quando a EC estabelece

15% das receitas. Por isso, não é difícil afirmar que a saúde ocorre na esfera

1998 2002 2006 2010 1998 2002 2006 2010

FUNDEF

Líquido/Rec

Corrente

FUNDEF

Líquido/Re

c Corrente

FUNDEF

Líquido/Rec

Corrente

FUNDEB

Líquido/Rec

Corrente

SUS/Rec.

Corrente

SUS/Rec.

Corrente

SUS/Rec.

Corrente

SUS/Rec.

Corrente

ARACAJU SE 571.149 -6% 0,00% 2% -0,14% 0,00% 0% 21% 21%

BELEM PA 1.393.399 2% -2,61% -2% -3,52% 19,84% 22% 20% 17%

BELO HORIZONTE MG 2.375.151 2% 2,51% 2% 1,57% 23,09% 18% 18% 18%

BOA VISTA RR 284.313 4% -6,68% -3% 2,33% 0,00% 10% 5% 5%

CAMPO GRANDE MS 786.797 4% 6,03% -1% 7,38% 0,00% 18% 19% 18%

CUIABA MT 551.098 4% 10,15% 3% 3,34% 22,26% 16% 17% 20%

CURITIBA PR 1.751.907 0% 1,27% 2% 1,71% 0,00% 11% 12% 11%

FLORIANOPOLIS SC 421.240 0% 0,69% 1% 1,81% 0,41% 3% 4% 7%

FORTALEZA CE 2.452.185 1% 0,80% -5% 0,68% 4,51% 9% 15% 16%

GOIANIA GO 1.302.001 -6% 6,45% 4% 2,84% 0,00% 0% 16% 16%

JOAO PESSOA PB 723.515 1,91% 2% -0,08% 0% 21% 22%

MACAPA AP 398.204 0% 2,00% 4% 4,38% 0,00% 7% 8% 8%

MACEIO AL 932.748 1% -1,32% -1% -1,07% 16,06% 20% 17% 17%

MANAUS AM 1.802.014 -5% 3,80% 5% 3,63% 0,72% 4% 3% 4%

NATAL RN 803.739 0% -0,26% 1% 0,35% 19,41% 14% 14% 13%

PALMAS TO 228.332 -11% -0,95% 0% 3,70% 7,34% 6% 8% 7%

PORTO ALEGRE RS 1.409.351 1% 0,24% 1% -0,89% 26,44% 20% 14% 13%

PORTO VELHO RO 428.527 -0,01% 4% 3,68% 6% 6% 7%

RECIFE PE 1.537.704 -6% 0,00% 0% -2,06% 9,29% 9% 9% 10%

RIO BRANCO AC 336.038 2% -0,31% -3% -1,37% 2,40% 3% 4% 5%

RIO DE JANEIRO RJ 6.320.446 3% 5,92% 6% 6,38% 0,00% 10% 3% 8%

SALVADOR BA 2.675.656 -5% -0,44% -4% -0,53% 0,00% 0% 15% 15%

SAO LUIS MA 1.014.837 2% -3,14% -2% -2,03% 0,00% 0% 16% 15%

SAO PAULO SP 11.253.503 2% 3,00% 3% 3,56% 0,00% 2% 5% 4%

TERESINA PI 814.230 -3% -0,01% 0% -0,03% 0,00% 0% 23% 18%

VITORIA ES 327.801 -1% 0,31% 1% 0,15% 0,00% 2% 2% 3%

Média 1.702.723 -0,54% 1,16% 0,77% 1,42% 6,60% 8,29% 12,54% 12,62%

Mediana 932.748 0,65% 0,24% 0,84% 1,57% 0,41% 6,93% 14,25% 13,38%

Mínimo 228.332 -11,06% -6,68% -5,25% -3,52% 0,00% 0,00% 2,84% 3,75%

Máximo 11.253.503 4,22% 10,15% 6,31% 7,38% 26,44% 21,72% 23,42% 22,09%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, base Finbra, vários anos. Elaboração Própria.

OBS: FUNDEF/FUNDEB Líquido: Receita Recebida-Receitas enviados para formação do fundo.

João Pessoa e Porto Velho, ano 1998: valores não disponíveis no banco de dados FINBRA.

Funções

Estastísticas

Municípios

CapitaisUF População

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142

municipal. É na porta do prefeito que o paciente bate, na do secretário

municipal de saúde e na porta da unidade básica.

Os administradores municipais normalmente escolhem sacrificar alguma ação

de outro setor para suplementar o orçamento da saúde, uma necessidade para inclusive

conseguir fixar minimamente os médicos na carreira pública.

Para Pinto (2017), a União quando descentralizou e gerou compromissos

federativos aos entes subnacionais, deveria ter definido melhor as relações federativas

necessárias para pactuação do modelo. Ainda hoje, não conseguimos formular com

segurança jurídica e clareza, os critérios de rateio e as responsabilidades de cada ente a

que se refere o art. 198, §3º, II da Constituição de 1988 e o art. 17 da Lei Complementar

nº 141/2012.

As lacunas normativas, e o contexto de regressividade na participação federal no

volume total de recursos públicos investidos no SUS, remonta à diferença de critério

para a União em seu piso de custeio, tal como foi estabelecida pela Emenda

Constitucional 29/2000, e mais recente agravadas pelas Emendas 86/2015 e 95/2016.

Segundo Pinto (2017), o piso da saúde não pode ser sujeito a contingenciamento

(art. 9º, §2º da LRF e art. 28 da LC 141/2012), ainda que sob a falseada sujeição à

programação financeira (art. 8º da LRF).

Porém, a União desde o advento da EC 29/2000, nos seus decretos de

programação financeira, por meio da previsão de limites de pagamento para as despesas

em ações e serviços públicos de saúde, que mesmo considerando os restos a pagar, os

valores transferidos são substancialmente inferiores aos limites de empenho.

Atuação que justifica o subfinanciamento da saúde pelo Governo Federal, que

nunca teve seu regime de gasto mínimo em ações e serviços públicos de saúde fixado

da mesma forma que o dos entes subnacionais.

O mesmo raciocínio se aplica a alguns dos estados que não cumpriram o

pactuado na Comissão Intergestores Bipartite (CIB). Tal cenário, tem acarretado uma

sobrecarga no orçamento próprio do município, retratado na tabela 19. O resultado

reflete também, as frequentes decisões judiciais que efetivam o direito à saúde, de ações

que não, necessariamente, estejam planejadas como uma atividade do SUS.

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Tabela 19 - Fonte de financiamento da Saúde nas 26 capitais, média do período:

2002- 2010, em %

As informações fortalecem a hipótese de que a composição do financiamento da

saúde nas capitais, tem sido sustentada com recursos próprios municipais. Ou seja, uma

competência comum aos três entes de governo, para o período de 2002 a 2010, a

participação média dos recursos próprios municipal no orçamento da saúde representou

55 pontos percentuais. Enquanto que as transferências do governo federal e estadual

SUS e Convênios saúde:

Custeio + Investimentos;

Fundo de Saúde Estado

Receita Própria

ARACAJU 62% 38%

BELEM 61% 39%

BELO HORIZONTE 55% 45%

BOA VISTA 30% 70%

CAMPO GRANDE 56% 44%

CUIABA 65% 35%

CURITIBA 57% 43%

FLORIANOPOLIS 28% 72%

FORTALEZA 46% 54%

GOIANIA 54% 46%

JOAO PESSOA 48% 52%

MACAPA 42% 58%

MACEIO 63% 37%

MANAUS 22% 78%

NATAL 58% 42%

PALMAS 38% 62%

PORTO ALEGRE 55% 45%

PORTO VELHO 33% 67%

RECIFE 42% 58%

RIO BRANCO 29% 71%

RIO DE JANEIRO 40% 60%

SALVADOR 51% 49%

SAO LUIS 49% 51%

SAO PAULO 23% 77%

TERESINA 49% 51%

VITORIA 13% 87%

Média 45% 55%

Mediana 48% 52%

Mínimo 13% 35%

Máximo 65% 87%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, base de dados FINBRA,

vários anos. Elaboração Própria.

Municípios

26 Capitais

Financiamento da Saúde

Média 2002/2010

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144

juntas, financiaram apenas 45 pontos percentuais dos recursos destinados ao setor de

saúde nas 26 capitais.

Segundo Pinto (2017), o desafio consiste em controlar as omissões e ações do

Poder Público que implicaram em uma fragilidade orgânica para o SUS, e o seu

desfinanciamento paulatino promovido pelo federalismo brasileiro. Carecemos de uma

arguição que questione o “Estado de coisas Inconstitucionais” na política pública de

saúde do País.

Infelizmente, esse cenário não nos permite conjecturar que estamos diante de

políticas públicas de saúde eficazes e eficientes nas capitais. Cabe observar que, parte

significativa do orçamento da saúde tem sido direcionada para o elemento de despesa

“serviços de terceiros - pessoa jurídica”, com praticamente nenhuma política de gestão

de contrato e controle de qualidade da política terceirizada. Mais à frente, veremos que

esse foi o elemento da despesa que mais cresceu no período analisado.

Acredito que a falta de gestão e fiscalização dos contratos, além da insuficiente

ou até ausência de cooperação técnica e financeira dos governos superiores, não cumpre

uma oportunidade para um arranjo federativo harmônico, com políticas públicas

humanizadas.

Segundo Pinto (2017), o problema é que o pactuado, do ponto de vista da rede de

serviços já contratados no âmbito do SUS, dos repasses fundo-a-fundo e dos programas

para fins de transferências voluntárias, tem excedido, em valores monetários, o piso

federal estritamente contábil-formal.

E, o Governo Federal tem se negado historicamente a cumprir as regras já

estabelecidas de incentivos, tem deixado de fazer correção monetária dos valores de

referência dos programas, não apenas da tabela SUS, a própria falta dos incentivos e

programas pactuados pela União com os entes subnacionais e com a rede de prestadores

de serviços credenciados ao SUS, decorre em impasses para o custeio.

Dessa forma, o desequilíbrio federativo na política pública de saúde tem se

acirrado, seja por meio da redução proporcional da participação federal no custeio do

SUS, seja por força do adiamento – para formação falseada de resultado primário –

orquestrada pelo Ministério da Saúde. De um modo geral, podemos dizer que os

repasses fundo-a-fundo aos Estados e Municípios chegam atrasados e são insuficientes.

É preciso avançar no controle das omissões, para que o repasse de recursos seja

suficiente e efetivo, necessário para cumprir as atribuições de cada ente no plano

setorial. Ou seja, enquanto os efeitos aplicados pelo art. 160, parágrafo único da

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Constituição permite a retenção de transferências obrigatórias para assegurar quitação

da dívida, nada é assegurado para os atrasos do piso da saúde.

Enquanto que, o descumprimento do piso da saúde continuar a se cumprir com até

12 meses de inadimplência, com risco de descontinuidade do serviço público, sem que

haja qualquer garantia ou mecanismo de responsabilidade que assegure a manutenção

dos serviços pactuados federativamente e contratados na rede SUS, todos continuaremos

sendo punidos pela omissão de responsabilidade do Estado brasileiro.

Tratamento bem diferente foi assegurado para o inciso que deixou claro que, a

prioridade orçamentária operaria no sentido de evitar a inadimplência do pagamento da

parcela da dívida pública, e que poderia até ocorrer retenções de transferências

constitucionais para os devidos fins. Ou seja, imediatamente ao mês posterior a

inadimplência, a União deveria reter os recursos de forma subsidiária à responsabilidade

que assumiu, como garantidora do acordo de renegociação das dívidas subnacionais

junto às instituições internacionais.

Postura bastante diferente para administrar o passivo da saúde, a União tem

permanecido à sombra da omissão, mesmo com as suas responsabilidades designadas

constitucionalmente, se mostra indiferente com as urgências para uma coesão social.

4.2.3.3.2 Educação

Por meio da Emenda Complementar n. 14, de 12 de setembro de 1996, ficou

estabelecido que o financiamento da educação do País seria amparado pelos recursos do

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério (Fundef), contabilizado como uma transferência multigovernamental. Ao

mesmo tempo, foi definido que cada município deveria contribuir com 15 pontos

percentuais de algumas receitas para compor o fundo.

A distribuição dos recursos, definido o piso mínimo por estudante matriculado,

ocorreu de acordo com o tamanho da rede. Cada governo estadual e municipal recebeu

do fundo a quantidade de recursos correspondente ao número de matrículas pelas quais

respondia, multiplicado pelo valor médio apurado para cada estado.

Desse modo, a partir de 1998, a distribuição de recursos por número de

matrícula, implantou uma nova repartição de atribuições aos entes federados que

aderiram à municipalização da escolarização obrigatória.

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O caráter equalizador do fundo ocorreu apenas no âmbito intra-estadual, porque

o nível médio de gasto per capita por aluno permaneceu diferenciado em todo o País.

A legislação assegurou que a União deveria complementar a dotação para

aqueles estados cuja dotação per capita ficasse abaixo da média nacional, porém,

imprecisões na formulação da lei federal, permitiram uma interpretação por parte da

União que acabou transferindo um volume muito reduzido de recursos.

Podemos dizer que, diferentemente dos objetivos proclamados da

universalização da matrícula e da valorização do professor, os gestores públicos que

municipalizaram a política passaram a conviver com a necessidade crescente de recursos

para financiar a infraestrutura das políticas municipalizadas.

O processo não foi acompanhado de garantia das condições necessárias para

efetivação da escolarização obrigatória. As condições fiscais e administrativas impostas

aos que municipalizaram a educação não foram consideradas.

Lembrando que as esferas subnacionais, naquele final da década dos 90,

assinaram o contrato da renegociação da dívida pública e assumiram diversas restrições

fiscais, situação no mínimo contraditória às exigências da municipalização do ensino,

que requer a ampliação da infraestrutura e o aumento de gastos material de consumo e

com pessoas, limitados pelas regras impostas pela LRF. Cenário perfeito para a

massificação e precarização da política pública educacional.

A partir de 2005, a base77 de cálculo do Fundef foi ampliada e transformado em

Fundeb78. Outros impostos foram agregados e a alíquota de retenção das receitas passou

para 20 pontos percentuais, com o objetivo de enfrentar o déficit da educação infantil

que, historicamente, permanecia negada a maioria das crianças brasileiras.

A participação federal no financiamento da educação infantil passou a ser

obrigatória, a partir da vigência do Fundeb. O montante mínimo deveria ser igual a 10

pontos percentuais dos recursos totais mobilizados pelos governos subnacionais, valor

77 Origem dos recursos do FUNDEB: 20% de cada um dos recursos a seguir: recursos que já integravam

o FUNDEF: 1) Fundo de Participação dos Estados (FPE); 2) Fundo de Participação dos Municípios

(FPM); 3) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); 4) Imposto sobre Produtos

Industrializados, proporcional às exportações; e 5) IPI exp Desoneração de Exportações (LC nº 87/96).

Recursos novos: 1) Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD); 2) Imposto sobre

Propriedade Veículos Automotores (IPVA); 3) Quota Parte de 50% do Imposto Territorial Rural devida

aos Municípios (ITR); 4) Parcela de 20% do Imposto que a União vier a instituir em razão de sua

competência residual; e 5) Receitas da dívida ativa tributária relativa aos impostos que o compõem, bem

como juros e multas eventualmente incidentes. 78 Vale observar que a Emenda Complementar 53 de 2005, que regulamentou o Fundeb, permitiu incluir

o ensino infantil, que era a principal carência da educação, dentro da conta de aplicação dos 25% da

receita dos impostos municipais.

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147

que tem sido utilizado para aumentar os recursos disponíveis per capita aos estados mais

pobres, contribuindo para apurarmos um gasto mínimo per capita nacional maior.

A complementação federal passou a ser compreendida como um instrumento

redistributivo de transferência no âmbito nacional, enquanto o restante dos recursos

mobilizados pelo Fundeb não tinha qualquer efeito para reduzir as diferenças de

capacidade de gasto setorial entre estados.

O objetivo do sistema era apenas equalizar a capacidade de gasto entre os

municípios do mesmo estado, pois, como não ocorriam trocas entre estados, o efeito

relevante do fundo era deslocar receitas entre governos de um mesmo estado.

O saldo das transações líquidas realizadas mostra que, para mais da metade das

26 capitais, os recursos do Fundeb tiveram uma importância pouca expressiva,

sinalizando que as capitais contribuíram para financiar a educação do País,

principalmente por meio do aumento da alíquota de 15 para 20 pontos percentuais das

receitas, que serão deduzidas do orçamento municipal para formação do fundo.

Reconheço que os recursos do Fundeb são primordiais para o financiamento da

educação no País. Entretanto, o atual critério de distribuição dos recursos trouxe

resultados que pouco contribuíram para o financiamento da política educacional nos

municípios mais populosos do País.

Muitas capitais contabilizaram na estrutura orçamentária, participação líquida

negativa dos recursos do Fundeb79. Melhor dizendo, o volume de contribuição de

recursos para a formação do fundo foi maior, quando subtraído do valor recebido por

cada aluno matriculado, mesmo considerando as alterações promovidas em 2005.

Em 2010, a participação média desses recursos em mais da metade das capitais

aumentou, porém, ainda é bastante tímida, representou apenas 1,42 pontos percentuais

do orçamento corrente, conforme dados da tabela 18.

Segundo Prado (2013:238) a equalização plena em sistemas altamente

heterogêneos acaba sendo quase utópica. Não existem bases teóricas sólidas e acabadas

para o assunto, dada a peculiaridade de cada federação, mas, para o autor, a situação

mais provável é que os recursos disponíveis permitam algum grau de redução na

desigualdade.

Além disso, o autor chama atenção para a necessidade de se considerar em um

sistema de equalização, não apenas a capacidade e a necessidade fiscal de cada esfera,

79 A esse respeito, ver Cartilha Tribunal de Contas da União (2008).

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mas o custo da política ofertada, que deve variar de acordo com cada realidade. De

alguma forma, os municípios capitais que apuraram resultado líquido negativo do

Fundeb, poderiam ter parte da perda compensada pelo custo da política.

As informações da tabela 20 indicam que a educação nas capitais tem sido

financiada, basicamente, por recursos próprios, apesar de ser uma competência

constitucional das três esferas de governo.

Ou seja, considerando a soma dos recursos líquidos do Fundeb, mais as

transferências discricionárias federal e estadual vinculadas à educação, a participação

média desses recursos no financiamento da educação foi de apenas 9 pontos percentuais,

resultado que reforça a necessidade de aprimorarmos os critérios de partilha das

transferências para esses centros.

Tabela 20 - Fonte de financiamento da Educação nas 26 capitais. Média para o

período: 2002 – 2010, em %

FUNDEB resultado líquido +

FNDE + Salário Educação +

Convênios Custeio +

Convênios Investimentos

RECEITA Própria

ARACAJU 11% 89%

BELEM 12% 88%

BELO HORIZONTE 5% 95%

BOA VISTA 13% 87%

CAMPO GRANDE 7% 93%

CUIABA 11% 89%

CURITIBA 6% 94%

FLORIANOPOLIS 8% 92%

FORTALEZA 7% 93%

GOIANIA 6% 94%

JOAO PESSOA 7% 93%

MACAPA 16% 84%

MACEIO 13% 87%

MANAUS 7% 93%

NATAL 11% 89%

PALMAS 13% 87%

PORTO ALEGRE 4% 96%

PORTO VELHO 16% 84%

RECIFE 6% 94%

RIO BRANCO 16% 84%

RIO DE JANEIRO 9% 91%

SALVADOR 8% 92%

SAO LUIS 9% 91%

SAO PAULO 6% 94%

TERESINA 12% 88%

VITORIA 7% 93%

Média 9% 91%

Mediana 8% 92%

Mínimo 4% 84%

Máximo 16% 96%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, base Finbra, vários anos.

Elaboração Própria.

Financiamento da Educação

Média 2002/2010

Municípios

26 Capitais

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As informações evidenciam que o financiamento da educação na maioria das

capitais, predominantemente, tem sido sustentado por receitas próprias e recursos

constitucionais, de livre alocação do tesouro municipal. Porém, o custo da política

descentralizada, constitucionalmente permanece designado aos três níveis federativos.

Esse cenário, a participação dos recursos legais e discricionários, transferidos

pelas esferas federal e estadual, versus a participação dos recursos próprios no

financiamento da funcional educação, nos permite afirmar que o orçamento da educação

obrigatória e infantil, a cada ciclo orçamentário, tem sido financiado com recursos do

orçamento próprio municipal.

Nesse sentido, novamente os orçamentos próprios das capitais são marcados pela

ausência federativa, que fragiliza a ideia de financiamento tripartite cooperativo das

políticas descentralizadas. Parece-me que tem ocorrido uma (des)federalização e uma

(des)estadualização das responsabilidades constitucionais, principalmente nas áreas da

educação e saúde.

Situação recorrente em outros setores, como por exemplo, a Emenda

Complementar n. 64 de fevereiro de 201080 que incluiu a alimentação entre os direitos

sociais, e deu origem a novas políticas federais com cooperação financeira federativa.

Mesma situação do direito à moradia, assegurado pelo Programa Minha Casa, Minha

Vida, criado em 2009, que está estruturado com base em uma rede federativa vertical e

com cooperação voluntária dos municípios, que assumiram compromissos financeiros

com a infraestrutura urbanística dos projetos de construções de interesse social.

Ainda é preciso considerar o financiamento das políticas de transferência de renda,

a Emenda Constitucional n. 67, de 22 de dezembro de 2010, prorrogou por prazo

indeterminado o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, que significa

orçamentariamente que os municípios continuarão comprometendo parte dos recursos

próprios e transferidos para alocação livre com o financiamento da agenda das políticas

sociais descentralizadas.

Outros setores como o saneamento básico, transporte e segurança, sobrecarregam

o orçamento próprio das capitais, em razão da ausência da participação dos governos

superiores no financiamento das políticas descentralizadas.

80 Emenda Constitucional n. 64, de 4 de fevereiro de 2010: “(...) Art. 6º São direitos sociais a educação,

a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição(...)”.

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150

As ações verticalizadas ocorreram mais no sentido de garantir uniformidade da

política e incentivos para a adesão dos governos subnacionais aos programas nacionais,

sem se preocupar com a participação de cada esfera de governo no financiamento da

política pública descentralizada verticalmente.

A ausência de regulamentação quanto ao financiamento tripartite tem permitido o

poder decisório no governo central reconcentrar parte dos recursos financeiros. Além

disso, segundo Arretche (2002), diferentemente das previsões da literatura, o

federalismo brasileiro tem permitido que o poder de veto dos governos subnacionais não

represente um ponto de veto intransponível à implementação da agenda de reformas do

governo federal.

Não nego a importância da descentralização como estratégia potencialmente

relevante para o exercício da cidadania, da execução e controle da política, mas ela

precisa ser aperfeiçoada e acompanhada dos princípios de solidariedade e cooperação

entre os entes federados.

Em resumo o modelo em curso precisa atender às diversidades e necessidade de

cada local e ou território, e não apenas dividir competências de forma horizontal e

vertical.

Assim, atender aos desafios contemporâneos dos centros urbanos mais populosos

de cada região do País não tem sido tarefa fácil, sobretudo quanto a necessidade de

implementar políticas de infraestrutura.

Lembrando que o modelo fiscal vigente limitou a autonomia decisória dos

governos subnacionais, e estabeleceu patamares de gastos. E, conforme Santos (2011),

os formatos das políticas sociais foram desenhados quase que exclusivamente pelo

poder central, e parte significativa do financiamento das ações ficaram sob

responsabilidade da esfera municipal.

Questões que elucidam a real dificuldade de os municípios polos provedores das

políticas públicas, assumirem suas funções exclusivas e construírem um novo modelo

de gestão eficiente, e, sobretudo, que respondam aos anseios da população.

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4.3 A rigidez na estrutura orçamentária municipal

Diante modelo do pacto federativo e da própria engenharia fiscal, a rigidez

orçamentária dos centros urbanos mais populosos e endividados prosseguiu, e dentro da

mais pura legalidade. O resultado, no sentido exato, tem sido uma diferença entre o

volume de recursos transferidos versus as atribuições descentralizadas ou assumidas.

Parte do hiato orçamentário e financeiro deve-se a falta de clareza da política, e

financiamento tripartite incapaz de sustentar as políticas descentralizadas. Tudo isso tem

ocorrido em meio a um processo de centralização e desvinculação de recursos de

contribuições promovido pela União, e que deveriam financiar a saúde, assistência

social e previdência.

Qualquer tentativa com intuito de revigorar as relações federativas precisa

responder a seguinte pergunta: quem faz o que na federação? Com quais recursos? E

para quem? A pactuação confusa permitiu que todos os níveis de governo

permanecessem responsáveis por quase tudo. E, naturalmente, a conta das demandas

são cobradas nas portas dos governos mais próximos à população.

De um modo geral, pode se dizer que o resultado da confusa relação federativa

e ausência de cooperação financeira, tem aprofundado os problemas de ordem social e

de infraestrutura nas regiões metropolitanas.

São questões que a nova disciplina fiscal, a pesar de prometer a transparência

fiscal, não se preocupou em regulamentar, não definiu metas e muito menos exigiu a

elaboração de relatórios que pudessem apurar indicadores para superarmos essas

questões.

Ou seja, na maioria das cidades da amostra, os desafios federativos são iguais:

esbarram na limitação da capacidade de investimento versus o estoque de

endividamento, e carecem de cooperação financeira tripartite, imperiosa para a

ampliação e manutenção das políticas municipalizadas.

Reconheço que a adesão dos governos subnacionais aos programas do governo

federal e estadual nunca foi obrigatória, porém, o contexto de crise econômica e fiscal

dos anos 1990, provocou não apenas um aumento da inadimplência dos contribuintes

locais, decorrente do nível de desemprego, bem como contribuiu para aumentar as

pressões sociais.

A falta de perspectiva de um plano nacional de desenvolvimento abriu espaço para

que o gestor municipal percebesse a adesão aos convênios como uma oportunidade de

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152

garantir um mínimo de incremento de recursos financeiros, fazendo com que as

transferências discricionárias ganhassem participação na estrutura orçamentária. Ao

mesmo tempo, as contrapartidas com recursos próprios evoluíram e contribuíram para

reduzir a autonomia federativa local.

Apesar da importância das transferências intergovernamentais para federação

brasileira, acredito que o sistema não consegue contemplar os desafios metropolitanos,

em áreas e setores estratégicos para o desenvolvimento social e urbano.

A criação de um mecanismo para realizar uma avaliação periódica das variáveis:

demandas; número populacional; recursos transferidos e disponíveis; e custos das

políticas descentralizadas, frente ao endividamento contabilizado, poderiam auxiliar no

enfrentamento dessas questões.

Nesse sentido, a configuração do atual pacto federativo restringiu e limitou a

autonomia da esfera municipal, além de a impedir de elaborar e desenvolver políticas

públicas enumeradas no artigo 30 da Constituição federal de 1988. Os orçamentos das

capitais, atualmente, têm mais compromissos com as atribuições comuns das três esferas

federativas, as responsabilidades municipalizadas, do que com as competências que lhes

são exclusivas, mesmo mediante um processo de fortalecimento da cobrança e

arrecadação da receita própria.

Em tempos de normas fiscais austeras, o ciclo do planejamento orçamentário

democrático perdeu o seu proposito constitucional81, e, como já abordado no capítulo 3,

priorizou apenas o cumprimento de metas do resultado82 primário e nominal.

Enquanto isso, desprovidas do diálogo e da cooperação técnica e financeira entre

os entes federativos, o arranjo da nova ordem econômica dos anos 1990, favoreceu

apenas a recentralização dos recursos financeiros na esfera federal e permitiu a sua

omissão e/ou participação em diversas políticas públicas.

Conforme constatado nas tabelas 19 e 20, a evolução da participação dos recursos

próprios no financiamento das políticas descentralizadas, saúde e educação, ocorreu em

detrimento das políticas locais de competência exclusiva do poder local.

81 Sabemos que o texto constitucional de 1988 atribuiu ao ciclo orçamentário, à luz das três peças de

planejamento, Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)81 e a Lei Orçamentária

Anual (LOA), a possibilidade para construção de um Estado democrático. Ficou definido que os

interesses da sociedade democrática seriam contemplados e assegurados no ciclo orçamentário

constitucional, sob a perspectiva de que o executivo deveria planejar os programas e ações, ao mesmo

tempo, fortalecer o papel do poder legislativo por meio da aprovação das ações priorizadas por meio da

participação e decisão da sociedade. 82 A esse respeito, ver a metodologia no site da Secretaria do Tesouro Nacional:

http://www.tesouro.fazenda.gov.br/mcasp

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153

Enquanto que os serviços de infraestrutura urbana, como lixo e transporte coletivo

urbano, drenagem, cultura, esporte, entre outros, tiveram queda expressiva na

participação média da estrutura orçamentária das 26 capitais.

Cenário que mostra a necessidade de ampla discussão federativa como objetivo

de assegurar um controle social das responsabilidades de cada governo. Em

praticamente todas as 26 capitais houve retração de recursos no âmbito da política das

responsabilidades exclusivas municipais. A evolução do comportamento das despesas

públicas destacadas nas figuras 3 e 4, sinaliza que as questões urbanas têm sido

desprezadas ao longo do processo da descentralização em curso.

Figura 3- Evolução funcionais do gasto público: 1996-2001, em %

As despesas com a funcional transporte tiveram retração em 3 momentos: em

1996, a participação média alcançou 15 pontos percentuais das despesas totais; em 2001,

logo após a promulgação da LRF, contabilizou apenas 5 pontos percentuais de

participação no orçamento total. E conforme os dados da figura 4, em 2010, essa

participação foi reduzida para apenas 4 pontos percentuais da estrutura do orçamento

total. Vale observar que, nesse caso, não houve desmembramento da funcional da

despesa.

Enquanto que as ações da funcional urbanismo e habitação totalizaram, em 1996,

participação média de 16 pontos percentuais do orçamento total das capitais, em 2001,

15%

19%

16%15%

19%

20%

14%

9%

20%

23%

14%

5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Educação e Cultura Saúde Saneamento Habitação e Urbanismo Transporte

Evolução das principais funcionais da despesa pública para 26 Capitais Período 1996 - 2001 - Fonte: STN, Finbra vários anos

1996 1999 2001

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154

foi reduzida para 14 pontos percentuais. Podemos dizer que, diante desse

comportamento, a aprovação da Lei do Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257/2001, já

nasceu com pouca possibilidade de aplicação. As palavras de Maricato (2011:03)

resumem bem o descaso com as necessidades urbanas ligadas ao território:

(...) São mais de vinte anos sem política pública de habitação,

saneamento e transporte. Isso passa pelo neoliberalismo e pela década

perdida. São políticas ligadas ao território. Não estou falando de

distribuição de renda. Distribuição de renda não basta para resolver o

problema urbano. Aqui tem de distribuir ativo, que é cidade, é terra

urbanizada. A questão da terra é central na política urbana, pois ela é

dominada por esse mercado restrito, elitista e especulativo. O povo

acaba tendo de se virar... o problema é que a base fundiária permanece

a mesma. Lei nós temos, plano nós temos, mas não aplicamos a função

social da propriedade. O que aconteceu na ditadura, na época do

Banco Nacional da Habitação (BNH)? As fontes de financiamento

eram o FGTS e o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e

Empréstimo), que é basicamente poupança privada e poupança dos

trabalhadores. O governo colocou um subsídio para baixa renda, de

recurso orçamentário federal. Mas se ninguém nos três níveis de

governo – federal, estadual e municipal – mexeu na base fundiária. Aí

houve uma maior desorganização no mercado de terras, com um

impacto bárbaro sobre os preços.

A evolução média das mesmas funcionais entre 2002 a 2010, período após a

vigência da LRF, permaneceu com a mesma tendência, educação e saúde ganharam

participação na estrutura orçamentária total, e as demais funções do gasto público

perderam orçamento. O avanço dos gastos com os dois setores se justificou em parte,

pela municipalização das políticas, e em parte pela redução dos recursos direcionados

ao orçamento da saúde ocorrido por meio desvinculação da receita da União promovida

ao longo do período.

A alta prioridade conferida aos setores da saúde e da educação, mostrou um

comprometimento de aplicação dos recursos orçamentários muito superior aos limites

definidos constitucionalmente.

Dessa forma, o poder local vem assumindo parte crescente do custeio financeiro

desses setores municipalizados, em meio a um descontrole da gestão, e da falta de

recursos para investir em infraestrutura local, sendo que parte expressiva dos serviços

acabaram sendo terceirizados, circunstância que gerou mais desafios, como por

exemplo, assegurar parâmetros nos preços e na qualidade de cada serviço contratado.

Ou seja, mais vagas, mais leitos, mais exames laboratoriais, sem a gestão e

controle da política pública, infelizmente, não podem ser considerados sinônimos de

eficiência e qualidade a um bom atendimento ao cidadão. A figura abaixo nos permite

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155

entender a precariedade da infraestrutura urbanística, da política de transporte,

saneamento e habitação que os grandes centros administram.

Figura 4 - Evolução funcionais do gasto público: 2002-2010, em %

A figura mostra que os municípios capitais se comportaram como captadores

passivos e apáticos dos recursos das políticas discricionárias dos programas federal e

estadual, em uma circunstância de quase completa perda de autonomia e iniciativas que

considerem e atendam as urgências locais. E a dificuldade da gestão das políticas

descentralizadas e terceirizadas, tem colocado em risco não só a política pública, mas a

vida da população. A única certeza que temos é quanto à necessidade de enfrentarmos

essas questões, dando transparência ao custo e apresentando indicadores de cada

política.

4.3.1 Novos Rumos?

Deveríamos todos estar voltados para um debate federativo, que considerasse as

sincronias reproduzidas pelo arranjo atual, e criarmos mecanismos que garantissem uma

verdadeira cooperação técnica e financeira das três esferas de governos na construção

da gestão de cada política pública descentralizada, como forma de valorar e entender as

necessidades de cada região e de cada localidade.

21%20%

13%

8%

3%3%

2%

23%

20%

12%

9%

3%2%

1%

23%

20%

12%

9%

4%3%

2%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Saúde Educação Urbanismo EncargosEspeciais

Transporte Saneamento Habitação

Evolução das principais Funcionais da Despesa Pública das 26 Capitais Período 2002 - 2010 - Fonte: STN, Finbra vários anos

2002 2005 2010

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156

De um modo geral, os programas locais permanecem sem orçamento fiscal para

enfrentarem: as enchentes; os congestionamentos que paralisam a rotina das cidades; o

caos no transporte público; o aumento da violência e criminalidade; desmoronamentos;

poluição do ar e da água; acúmulo de lixos entulhados por todos os cantos das cidades;

violência contra o patrimônio público; especulação imobiliária; fazer drenagem;

permanecem desprovidos de um planejamento de ordenamento territorial e

regularização fundiária; carência de cultura; de esporte.

Enfim, o modelo vigente é engessado e permite o sucateamento de políticas que

terminam por prejudicar o bem-estar de todos. Parece que as políticas públicas de

responsabilidade municipal se tornaram sem importância e inalcançáveis, e o retrato é

um só: o da precariedade social e urbana nas capitais.

Quando analisadas as informações da execução orçamentária, não mais pela

média, mas por cada município capital, considerando o último ano do período, a

realidade é ainda mais desequilibrada. Por exemplo, a cota orçamentária média da

amostra para a funcional urbanismo foi de 12 pontos percentuais do orçamento total,

conforme mostrado na figura 04. Essa participação é igual à dos municípios com menor

população e que tendem a ter menor complexidade e custos nas intervenções urbanas.

Porém, conforme as informações da tabela 21, para as cidades economicamente

fortes, como Belo Horizonte, essa despesa auferiu apenas 5 pontos percentuais dos

recursos orçamentários com infraestrutura. Recursos que dificilmente seriam suficientes

para enfrentar os impasses urbanos que o município contabiliza.

No caso da habitação, os valores mínimos destinados pelas cidades mais

populosas e mais dinâmica economicamente do País, como São Paulo, Rio de Janeiro,

Salvador e Fortaleza, os percentuais foram de apenas 3%, 2%, 0%, e 2%,

respectivamente. Não foi diferente com a política de saneamento, as participações foram

de 1%, 3%, 0%, e 0%, respectivamente.

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157

Tabela 21 - Funcionais infraestrutura, e Encargos Especiais (despesas

financeiras) das 26 capitais e por intervalos populacionais – ano 2010, em %

A política de transporte, para o conjunto das 26 capitais, teve uma média apenas

de 4 pontos percentuais. Vale lembrar que todos os dias milhões de pessoas sofrem com

a questão da mobilidade urbana, realidade que atinge todos os cidadãos,

independentemente de renda e região. Cidades mais populosas, como Rio de Janeiro,

Salvador e Belo Horizonte, alocaram na funcional transporte apenas 1, 3 e 2 pontos

percentuais do orçamento total, respectivamente.

Enquanto que a média com o pagamento de juros e amortização do principal da

dívida pública foi de 9 pontos percentuais, as cinco cidades mais populosas destinaram

as maiores participações, 12, 15, 8, 4 e 6 pontos percentuais do orçamento total,

respectivamente. Gastos que justificam a baixa capacidade de investimento dos centros

urbanos mais populosos e endividados do País.

Em condições opostas, os municípios menores, favorecidos pelos critérios das

transferências intergovernamentais e com baixo nível de endividamento, conseguiram

MUNICÍPIO População Urbanismo Habitação Saneamento TransporteEncargos

Especiais

São Paulo 11.253.503 9% 3% 1% 9% 12%

Rio de Janeiro 6.320.446 13% 2% 3% 1% 15%

Salvador 2.675.656 18% 0% 0% 3% 8%

Fortaleza 2.452.185 14% 2% 0% 0% 4%

Belo Horizonte 2.375.151 5% 4% 7% 2% 6%

Manaus 1.802.014 24% 1% 0% 0% 4%

Curitiba 1.751.907 27% 1% 3% 0% 3%

Recife 1.537.704 16% 1% 1% 0% 2%

Porto Alegre 1.409.351 3% 2% 21% 0% 6%

Belém 1.393.399 19% 1% 2% 1% 9%

Goiânia 1.302.001 1% 0% 8% 3% 3%

São Luís 1.014.837 6% 1% 9% 7% 2%

Maceió 932.748 4% 1% 9% 0% 2%

Teresina 814.230 10% 2% 2% 0% 1%

Natal 803.739 20% 1% 0% 0% 4%

Campo Grande 786.797 9% 1% 0% 15% 0%

João Pessoa 723.515 9% 1% 1% 2% 3%

Aracaju 571.149 20% 2% 1% 0% 2%

Cuiabá 551.098 12% 1% 0% 0% 9%

Porto Velho 428.527 26% 3% 0% 1% 6%

Florianópolis 421.240 9% 0% 12% 0% 2%

Macapá 398.204 3% 2% 0% 2% 2%

Rio Branco 336.038 27% 0% 7% 1% 4%

Vitória 327.801 19% 3% 5% 0% 3%

Boa Vista 284.313 17% 1% 10% 4% 3%

Palmas 228.332 13% 1% 3% 1% 5%

Média das 26 Capitais 42.895.885 12% 2% 3% 4% 9%

FONTE: STN/FINBRA, anos: 2010

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158

registrar maior capacidade de investimento, mesmo com baixa arrecadação de recursos

próprios.

Em quanto os municípios populosos, com alta capacidade de arrecadação de

recursos próprios, porém, endividados e impedidos de realizarem operações de crédito,

comprometeram parte expressiva dos seus orçamentos com as despesas financeiras, e,

na maioria das vezes, permaneceram sobrecarregados pelas atribuições da

municipalização dos serviços, por meio da terceirização.

Vale observar que para proteger algumas áreas de maiores intervenções e

restrições federativas, muitas capitais criaram alguns fundos especiais na tentativa de

assegurarem algum recurso do orçamento fiscal para suas responsabilidades exclusivas

municipais, para as quais não haviam sido garantidos os recursos constitucionalmente,

nem por meio de convênios ou de programas nacionais.

Apesar de a medida ter sido usada com frequência, as dificuldades econômicas

restringiram a possibilidade de se reservar recursos próprios para esses fundos. Porém,

muitos não cumpriram seus objetivos estabelecidos na lei orgânica municipal, pois não

conseguiram planejar qualquer oferta de política pública por meio desse instrumento,

frente à impossibilidade de reservar e efetivar o orçamento desses setores.

Dessa forma, o processo orçamentário caminhou no âmbito de transferir parte das

responsabilidades das políticas descentralizadas para as organizações não

governamentais (ONGs), e administração indireta – fundações, autarquias e empresas

públicas.

As informações da tabela 22, apesar de não nos permitirem identificar quais ações

dos programas foram executadas pelos centros urbanos mais autônomos, mostraram a

execução por categoria econômica e natureza das despesas orçamentárias83.

As naturezas das despesas com pessoal e investimentos registraram queda nos dois

intervalos de municípios mais populosos, onde se encontram mais da metade das

capitais. Ao passo que os intervalos que reuniram os municípios com menor população

obtiveram uma participação maior dessas despesas na estrutura orçamentária. Em parte,

83 A categoria da despesa corrente recebeu o código 3 na Lei 4.320/64 e agrega três naturezas de despesas

com os respectivos códigos: 1. Pessoal e Encargos Sociais; 2. Juros e Encargos da Dívida; 3. Outras

Despesas Correntes. Essas despesas são realizadas para garantir o funcionamento da administração

pública e a oferta dos bens e serviços públicos. O código 4 é aplicado para a categoria econômica de

capital e reúne três naturezas de despesas com os respectivos códigos: 4. Investimentos; 5. Inversões

Financeiras; e 6. Amortização da Dívida.

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o resultado da queda da participação dos gastos com pessoal e investimentos, nos

permite compreender a causa do sucateamento da política pública nos grandes centros.

Nos dois primeiros intervalos com maior número populacional, onde se encontram

a maioria das capitais, é possível observar o crescimento da natureza Outras Despesas

Correntes, que agrupa os serviços da terceirização. Em 1998, a participação dessa

despesa no intervalo mais populoso representava 27 pontos percentuais, em 2010 a

participação saltou para 46 pontos percentuais do orçamento total.

Tabela 22 - Participação média por categoria econômica e natureza de despesa,

por intervalo populacional dos 5560 municípios, anos: 1998; 2004 e 2010 - em %

A escassez do quadro de servidores públicos, aliada às dificuldades com relação

ao reajuste salarial e ao sucateamento da estrutura dos equipamentos públicos,

dificultaram a reposição de diversas das carreiras, que tem se dado por meio da

contratação dos serviços de terceiros de pessoa física, e, principalmente, pessoa jurídica,

contabilizados na categoria econômica Outras Despesas Correntes.

Ou seja, acredito que a escolha pela terceirização tem se dado pelos limites fiscais

definidos para as despesas com pessoal do executivo municipal, que poderiam

representar 54 pontos percentuais da sua receita corrente líquida.

Alinhado, seguramente, com a escolha pela terceirização e pela baixa capacidade

de investimento, limitadas pelo coeficiente de endividamento que impediu a realização

de operações de crédito para realização de novos investimentos locais, as 26 capitais

terceirizaram as políticas descentralizadas.

Acredito que as imposição fiscais interferiram na autonomia municipal sob muitos

aspectos, desde a possibilidade de implantação de um plano de carreira pública,

produtividade, realização de concursos públicos, e até mesmo de a promoção de um

reajuste salarial garantido constitucionalmente, favorecendo uma tendência de queda do

1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010 1998 2004 2010

acima de 1 MILHÃO 23% 23% 20% 47% 43% 36% 3% 5% 4% 27% 40% 46% 8% 10% 8% 12% 2% 3%

500 MIL - 1 MILHÃO 8% 9% 8% 59% 44% 43% 2% 1% 1% 28% 42% 45% 9% 11% 9% 1% 2% 2%

300 MIL - 500 MIL 8% 9% 8% 59% 45% 41% 3% 1% 1% 27% 42% 43% 9% 10% 13% 2% 2% 2%

100 MIL - 300 MIL 17% 17% 17% 54% 44% 45% 2% 1% 1% 29% 40% 41% 13% 13% 12% 2% 2% 2%

50 MIL - 100 MIL 12% 11% 12% 55% 45% 48% 1% 1% 0% 29% 40% 40% 13% 13% 10% 2% 2% 2%

30 MIL - 50 MIL 8% 8% 9% 52% 44% 47% 1% 0% 0% 31% 41% 39% 13% 13% 11% 2% 2% 2%

795 - 30 MIL 25% 23% 24% 49% 44% 46% 0% 0% 0% 33% 44% 39% 16% 11% 13% 1% 2% 1%

Média 100% 100% 100% 51% 44% 43% 2% 2% 1% 29% 41% 42% 11% 11% 11% 5% 2% 2%

FONTE: STN/FINBRA, anos: 1998, 2004 e 2010.

Despesas Correntes Despesas de CapitalPopulaçãoIntervalo

populacional dos

5560 Municípios

Amortizações/ Desp TotalPessoal / Desp Total Juros / Desp Total Outros Custeios /Desp Total Investimento/Desp Total

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160

gasto de pessoal na maioria das capitais, ao mesmo tempo, assegurou a redução das

despesas primárias, necessárias para financiar as parcelas da dívida renegociada.

Entretanto, observo que a gestão e controle dos contratos terceirizados, ainda

aguarda métodos para serem fiscalizados com nitidez. Nem o ordenador da despesa

pública, nem o cidadão conseguem de fato fiscalizar e mensurar o custo, quantidade,

qualidade da maioria dos serviços terceirizados.

Com isso, o controle do dinheiro público não tem sido uma tarefa fácil de ser

realizado, permitindo inclusive que os contratos, frente ao emaranhado de interesses que

esse tema capitaliza, acomodassem interesses individuais e políticos, e que não

necessariamente contribuem para a realização das demandas coletivas.

Os dados da tabela 23 mostraram que, em 1995, a natureza Outras Despesas

Correntes, para metade dos municípios da amostra, comprometia em média 30 pontos

percentuais do orçamento corrente; em 2010 atingiu mais de 48 pontos percentuais.

O crescimento da participação dessa natureza de despesa, pode ser considerado

como um resultado do aumento dos gastos com as contratações de serviços de

consultoria, serviços de terceiros pessoas física e jurídica, locação de mão de obra,

transferência às instituições privadas, subvenções sociais84 e contribuições85.

Comportamento que confirma a tendência da terceirização da política pública para a

maioria das capitais.

Forçoso lembrar que a LRF não impôs nenhum limite e/ou restrição à

terceirização, o que sugere que ela tenha sido elaborada mais para atender aos interesses

do mercado do que propriamente para o ajuste das finanças públicas.

E, a gestão e fiscalização dos contratos, em muitos setores tem apresentado

fragilidades, permitindo que o mercado se encarregasse de aferir seus interesses, sem

dificuldade e ou sem restrição fiscal, a partir da solicitação de um realinhamento de

preços durante a execução dos serviços.

Dessa forma, a responsabilidade constitucional do Estado para assegurar os

direitos aos cidadãos tem sido de forma sistemática transferida ao mercado, sem um

controle eficaz, dando a sensação de que a importância do Estado tem sido aniquilada

84 Subvenções Sociais: conforme portaria 163/2001, despesas orçamentárias para cobertura de despesas

de instituições privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa, de acordo com os

artigos 16, parágrafo único, e 17 da Lei n. 4.320/1964, observado o disposto no art. 26 da LRF. 85 Contribuições: conforme portaria 163, de 2001, despesas orçamentárias às quais não correspondam

contraprestação direta em bens e serviços e não sejam reembolsáveis pelo recebedor, inclusive as

destinadas a atender a despesas de manutenção de outras entidades de direito público ou privado,

observado o disposto na legislação vigente.

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161

em detrimento das próprias instruções normativas e das imposições fiscais da LRF, que,

de certa forma respaldou o modelo, definindo limites de gastos com pessoal, por

exemplo, e nenhum teto foi definido para as terceirizações.

Tabela 23 - Participação média da natureza de despesa Outras despesas

Correntes nas despesas correntes, anos: 1995; 2005 e 2010 - em %

As informações da tabela 23, nos confirmaram que a experiência das 26 capitais

ampliou de forma expressiva a participação das Outras Despesas Correntes, sustentadas

por meio da contratação dos serviços terceirizados.

E, os gastos com a terceirização, conforme tabela 24, tiveram representatividade

expressiva em todas as 26 capitais do País. A rubrica serviços de terceiros pessoa

jurídica alcançou, em metade dos municípios da amostra, uma participação de 55 pontos

MUNICIPIO População 1995 2005 2010

ARACAJU 571.149,00 26% 45% 45%

BELEM 1.393.399,00 39% 49% 51%

BELO HORIZONTE 2.375.151,00 11% 49% 55%

BOA VISTA 284.313,00 39% 50% 34%

CAMPO GRANDE 786.797,00 nd 55% 53%

CUIABA 551.098,00 35% 43% 46%

CURITIBA 1.751.907,00 30% 74% 64%

FLORIANOPOLIS 421.240,00 38% 39% 44%

FORTALEZA 2.452.185,00 48% 44% 46%

GOIANIA 1.302.001,00 34% 52% 43%

JOAO PESSOA 723.515,00 18% 47% 46%

MACAPA 398.204,00 22% 35% 40%

MACEIO 932.748,00 40% 50% 54%

MANAUS 1.802.014,00 39% 30% 47%

NATAL 803.739,00 22% 48% 39%

PALMAS 228.332,00 52% 42% 41%

PORTO ALEGRE 1.409.351,00 24% 59% 58%

PORTO VELHO 428.527,00 32% 43% 46%

RECIFE 1.537.704,00 22% 51% 48%

RIO BRANCO 336.038,00 23% 41% 47%

RIO DE JANEIRO 6.320.446,00 18% 31% 34%

SALVADOR 2.675.656,00 16% 57% 59%

SAO LUIS 1.014.837,00 26% 56% 46%

SAO PAULO 11.253.503,00 43% 49% 61%

TERESINA 814.230,00 8% 54% 52%

VITORIA 327.801,00 33% 49% 52%

Média 1.649.842 30% 48% 48%

Mediana 873.489 30% 49% 46%

Mínimo 228.332 8% 30% 34%

Máximo 11.253.503 52% 74% 64%

FONTE: STN/FINBRA, vários anos. Elaboração própria.

Evolução da Partipação das Outras Despesas Correntes/

Despesas Correntes

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162

percentuais dos gastos da natureza de despesa Outras Despesas Correntes. O valor

mínimo, no ano de 2010, representou 36 pontos percentuais da natureza Outras

Despesas Correntes, enquanto a participação máxima de 74 pontos percentuais.

Dessa forma, embora tenha ocorrido um aumento de gastos com serviços de

terceiros, não é possível assegurar que houve ampliação do número de bens e serviços

disponíveis à população, pois o custo do serviço pode ser maior, mediante o lucro

aspirado pelo capital. Questão que nos leva a refletir sobre a representatividade

progressiva desse modelo na estrutura orçamentária.

Tabela 24 - Participação de alguns elementos que compõem a natureza Outras

Despesas Correntes, 26 capitais: Ano 2010 em %

Outro elemento de despesa que tem conquistado participação crescente na

estrutura das despesas são as transferências às instituições privadas sem fins lucrativos,

apesar de não serem muito representativas no total, tem sido uma tendência e,

coincidentemente, as capitais que mais firmaram parcerias foram as cidades mais

MUNICIPIO População

Outras Desp Correntes

(ODC)/Despesas

Correntes

Material de

Consumo/ODC

Outros Serviços

Terceiros PF/ODC

Outros Serviços

Terceiros PJ/ODC

Transf Inst Priv s

Fins Lucr/ODC

ARACAJU 571.149 45% 6% 5% 74% 0%

BELEM 1.393.399 51% 7% 5% 64% 1%

BELO HORIZONTE 2.375.151 55% 3% 1% 47% 14%

BOA VISTA 284.313 34% 22% 2% 53% 2%

CAMPO GRANDE 786.797 53% 11% 2% 63% 6%

CUIABA 551.098 46% 11% 1% 70% 1%

CURITIBA 1.751.907 64% 10% 0% 59% 3%

FLORIANOPOLIS 421.240 44% 10% 1% 43% 8%

FORTALEZA 2.452.185 46% 8% 4% 57% 11%

GOIANIA 1.302.001 43% 10% 2% 73% 2%

JOAO PESSOA 723.515 46% 19% 2% 67% 0%

MACAPA 398.204 40% 10% 9% 42% 9%

MACEIO 932.748 54% 5% 7% 64% 0%

MANAUS 1.802.014 47% 9% 1% 58% 4%

NATAL 803.739 39% 8% 3% 57% 8%

PALMAS 228.332 41% 11% 4% 40% 8%

PORTO ALEGRE 1.409.351 58% 5% 1% 46% 7%

PORTO VELHO 428.527 46% 19% 1% 48% 5%

RECIFE 1.537.704 48% 12% 2% 54% 0%

RIO BRANCO 336.038 47% 19% 6% 59% 1%

RIO DE JANEIRO 6.320.446 34% 12% 1% 60% 10%

SALVADOR 2.675.656 59% 7% 1% 41% 18%

SAO LUIS 1.014.837 46% 11% 1% 54% 1%

SAO PAULO 11.253.503 61% 4% 1% 45% 13%

TERESINA 814.230 52% 10% 2% 54% 10%

VITORIA 327.801 52% 6% 3% 36% 11%

Média 1.649.841,73 48% 10% 3% 55% 6%

Mediana 873.489,00 46% 10% 2% 55% 5%

Mínimo 228.332,00 34% 3% 0% 36% 0%

Máximo 11.253.503,00 64% 22% 9% 74% 18%

FONTE: STN/FINBRA, ano 2010

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163

endividadas e sujeitas às restrições fiscais de gastos com pessoal, por exemplo, mesmo

diante do aumento na arrecadação própria.

Por sua vez, o elemento da despesa com material de consumo vem perdendo

participação, na contramão da municipalização das políticas que deveriam exigir

maiores gastos com material de consumo. Apesar do movimento ser contraditório,

mediante o avanço da descentralização, o cenário confirma que é o setor privado que

veem atuando como provedor dos serviços de diversos setores, o que permite corte nos

gastos com pessoal e material de consumo.

Os impasses que se desdobraram dessa relação são complexos. Os frequentes

pedidos e permitidos realinhamento de preços, instrumento onde geralmente acomoda-

se o custo da corrupção e que é de uso comum dentro do setor público, têm corroído

qualquer possibilidade de cidadania aos brasileiros.

Com serviços mais caros e diante de muitos aditivos realizados, o aumento do

custo do serviço terceirizado contribuiu para aumentar a rigidez orçamentária, com

custos maiores, fazendo com que outras políticas públicas sejam subtraídas dos

programas do governo local.

A promessa feita por meio do texto da LRF, de que a partir da publicação das

informações bimestrais e quadrimestrais seria possível uma gestão eficiente e

transparente, de fato, não conseguiu alcançar seu objetivo. A publicação não consegue

traduzir nem o custo da política, e muito menos consegue fiscalizar os contratos e a

qualidade dos serviços.

Há bem da verdade, nem os Tribunais de Contas tem conseguido traduzir e

fiscalizar os inúmeros contratos. Por exemplo, quais e quantos atendimentos de cada

ação (projetos e atividades) foram realizados no âmbito dos contratos terceirizados são

informações não divulgadas, o que dificulta o controle social do dinheiro público.

As audiências públicas realizadas a cada quadrimestre para fazer um balanço

financeiro e orçamentário das contas do setor público apenas conseguem mensurar se

ocorreu um déficit ou superávit primário e nominal, resultados que interessam a nova

disciplina fiscal, porém, não tem convergência com a ideia de cidadania definida no

contrato social vigente.

Dessa forma, aqueles conceitos de Value for Money e da Accontability que

compõem o pensamento liberal, segundo os quais, por meio da terceirização deveria se

alcançar qualidade, principalmente, pela agilidade na compra e o acesso mais fácil à

tecnologia e profissionais especializados disponíveis no mercado, resultando em menor

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preço e mais pontualidade no processo de execução, no mínimo, me parece que para a

federação brasileira tem sido uma opção tortuosa.

Existem resultados nefastos que nos mostram ausência de gestão quase que

completa desse modelo, que abriu espaço para que a corrupção contaminasse a

administração pública num nível jamais visto.

Entretanto, cabe ressaltar que o descontrole das políticas públicas terceirizadas

não ocorre apenas no âmbito da amostra, as 26 capitais, ele está espalhado por muitos

contratos e convênios em todo o setor público do País. Modelo que, na minha avaliação,

mais imprimiu a possibilidade de contratos com preços superfaturados e serviços

precários e muitos inacabados, do que a prometida eficiência e eficácia assegurada pela

LRF e pelas premissas da visão liberal.

Assim, muitas capitais se encontram em uma encruzilhada: cumprir o papel que

lhe foi atribuído no texto constitucional ou atender as exigências fiscais? Com certeza,

a responsabilidade fiscal é algo a ser considerado no trato das contas públicas, mas

gostaria de chamar a atenção que em nenhuma das instruções normativas dos convênios,

por exemplo, que descentralizaram as ações, exigiu-se que fossem apurados resultados

e parâmetros quanto à satisfação dos usuários da política. Talvez avaliar eficiência e

eficácia dos serviços públicos terceirizados nesse novo rumo seguido na administração

pública não seja uma prioridade.

Nesse sentido, acredito que a partir da exigência fiscal imposta pela LRF, sem

qualquer contrapartida em relação ao controle dos serviços terceirizados, levou a

trajetória da despesa pública a favorecer os interesses privados e a negligenciar a

estruturação de parâmetros que pudesse apurar indicadores de avaliação da eficiência e

eficácia da política descentralizada por meio dessas novas relações – terceirizações;

parcerias público/privada; leilões; concessões; e consórcios.

Parece-me que a partir desse modelo, em que prevalece a execução de ações

terceirizadas, ocorreu, de um modo geral, o descontrole na gestão das políticas públicas.

Isto impôs mais um novo desafio para o Estado e a sociedade brasileira combater: a

seletividade dos parceiros e dos interesses dos aliados do governo que seguem se

cooptando com poucos, de acordo com os interesses do capital.

Estas questões precisam ser debatidas e revistas, caso contrário, permaneceremos

governados por um condomínio de interesses, fabricados pelas premissas liberais e pelo

mercado. O controle das contas públicas fica restrito à necessidade de reduzir as

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165

despesas primárias, o programa central de uma administração pública, com destaque

para os gastos com pessoas e investimentos, sob a ameaça de punições severas.

Dessa forma, as capitais mais populosas e com maior autonomia na arrecadação

dos recursos próprios, porém, endividadas, e carregadas de contrapartidas

orçamentárias, ficaram submetidas a uma rigidez orçamentária e fiscal.

A tabela 25 mostra a participação por natureza de despesa no orçamento total, no

ano de 2010. Para metade dos munícipios da amostra, a participação da natureza Outras

Despesas Correntes obteve, praticamente, a mesma média de participação quando

comparada com as despesas com pessoal.

Tabela 25 - Principais naturezas das despesas, 26 capitais, ano 2010, em %

Enquanto que as despesas financeiras para os municípios mais populosos e mais

endividados da amostra, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, tiveram maior

representatividade na estrutura orçamentária, ao mesmo tempo, essas cidades

contabilizaram maior esforço na arrecadação das receitas próprias.

26 Capitais PopulaçãoPessoal/Orçamento

Total

Outras Despesas

Correntes/Orçamento

Total

Depesas

Financeiras*/Orçamento

Total

Investimentos/

Orçamento

Total

SAO PAULO 11.253.503 26% 53% 9,60% 8,25%

RIO DE JANEIRO 6.320.446 47% 27% 14,72% 10,93%

SALVADOR 2.675.656 35% 54% 5,68% 4,79%

FORTALEZA 2.452.185 47% 41% 2,27% 9,23%

BELO HORIZONTE 2.375.151 38% 47% 3,78% 11,15%

MANAUS 1.802.014 43% 38% 2,36% 15,53%

CURITIBA 1.751.907 34% 61% 1,72% 3,35%

RECIFE 1.537.704 47% 43% 2,30% 7,05%

PORTO ALEGRE 1.409.351 36% 51% 2,93% 8,49%

BELEM 1.393.399 44% 46% 1,38% 8,27%

GOIANIA 1.302.001 52% 40% 2,07% 5,57%

SAO LUIS 1.014.837 47% 40% 1,61% 0,00%

MACEIO 932.748 41% 50% 3,82% 4,82%

TERESINA 814.230 43% 46% 0,92% 9,06%

NATAL 803.739 57% 37% 1,32% 4,67%

CAMPO GRANDE 786.797 38% 43% 1,94% 17,04%

JOAO PESSOA 723.515 46% 40% 2,61% 11,02%

ARACAJU 571.149 50% 42% 1,44% 6,81%

CUIABA 551.098 46% 42% 5,99% 5,34%

PORTO VELHO 428.527 40% 34% 1,56% 23,79%

FLORIANOPOLIS 421.240 48% 38% 2,06% 11,55%

MACAPA 398.204 56% 38% 0,03% 5,46%

RIO BRANCO 336.038 45% 40% 4,14% 11,48%

VITORIA 327.801 39% 42% 1,59% 17,11%

BOA VISTA 284.313 46% 24% 2,89% 27,31%

PALMAS 228.332 52% 37% 1,28% 9,30%

Média 44% 42% 3% 10%

Mediana 45% 41% 2% 9%

Mínimo 26% 24% 0% 0%

Máximo 57% 61% 15% 27%

FONTE: STN/FINBRA, vários anos. Elaboração própria.

* Despesas Financeiras: Juros + Amortizaçao da dívida Pública

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166

A natureza de despesa investimento86 se mostrou mais suscetível às limitações e

reduções de recursos orçamentários, principalmente após a vigência das restrições

fiscais impostas pela LRF. Ou seja, a incapacidade desses centros urbanos frente à

rigidez orçamentária e às restrições fiscais, resultaram em dificuldades concretas para

os centros mais autônomos assuam as atribuições descentralizadas e o papel que lhes

foram atribuídos constitucionalmente.

Permanecer nessa contradição é assegurar que grande massa populacional

continuará excluída do contrato social vigente. Enquanto que os interesses do capital,

por meio de diversos instrumentos e da própria precarização dos serviços, recaem sobre

os brasileiros com menor renda instalados nos grandes centros.

O discurso trivial é de que os maiores centros urbanos são autônomos, que

arrecadam muito bem, o que falta é uma conscientização e competência para

desempenhar funções. É justamente nesse ponto que discordo da tese predominante.

Não parece fácil garantir o mapeamento das responsabilidades e o financiamento da

proteção social assegurada no texto constitucional.

Existe sim a necessidade de buscarmos um aperfeiçoamento da gestão local, por

meio inclusive de parâmetros e custos das políticas públicas de financiamento tripartite,

mas é preciso conscientizar e sensibilizar os entes federativos sobre a necessidade de

uma partilha mais harmônica, a partir da função social assumida por cada polo prestador

dos serviços nas regiões metropolitanas.

Ou seja, a capacidade de investimentos apurada na tabela 26 apresentou uma

assimetria entre os orçamentos das capitais e os intervalos populacionais dos demais

municípios brasileiros.

A tradução do resultado mostra que, os centros maiores e mais populosos, porém,

endividados, perderam capacidade de investimento. Enquanto que cidades menos

populosas e favorecidas pelos critérios de partilha constitucional e guerra fiscal,

registraram participações mais expressivas de investimento no orçamento total.

No ano de 2010, os investimentos realizados pelo município de Vitória tiveram

participação maior no orçamento total de 17 pontos percentuais, quando a média das

capitais foi de apenas 10 pontos percentuais (ver tabelas 25, 26, e anexo 7: tabela 32).

Assimetria que se justifica, principalmente, pelo critério do valor agregado que

compõem o índice de participação da principal transferência constitucional, a cota parte

86 Para o pleito de novos financiamentos necessários para os investimentos locais86, as resoluções 40 e 43

de 2001 do Senado Federal, condenaram essa possibilidade e futuro para muitas capitais.

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167

do ICMS de Vitória representou mais de 68 pontos percentuais, enquanto que para a

média demais capitais a participação foi de apenas 39 pontos percentuais.

Quando a análise é apurada pela participação da média dos investimentos per

capita dos municípios do País, agrupados por intervalos populacionais, os municípios

dos intervalos com menor população realizaram investimentos per capita maiores,

conforme informações da tabela 26.

Dessa forma, mesmo sem analisarmos os programas realizados em cada

município, é possível afirmar que muitas das necessidades de infraestrutura são

decorrentes do modelo de partilha, das consequências da desindustrialização dos

grandes centros urbanos, dos efeitos da guerra fiscal, e, por fim dos limites fiscais e

modelo das relações federativas confusas, e que permitiram a omissão dos governos

superiores nas políticas municipalizadas.

Fica evidente que os maiores desafios encontram-se no crescente estrangulamento

financeiro dos centros mais populosos, com poucos recursos para investimentos e sem

capacidade de buscar novos financiamentos, e permanecem sobrecarregados pelas

exigências das contrapartidas, e submetidas aos determinantes da política fiscal

impostos pelos governos superiores.

Reconheço a importância dos menores municípios legitimada no texto

constitucional de 1988, circunstância que estimulou inclusive a emancipação de mais de

1400 novos municípios pequenos, que tiveram participação crescente nas transferências

constitucionais per capita.

Porém, o modelo de pactuação constitucional contribuiu para que o valor per

capita dos recursos disponíveis aos centros urbanos mais populosos e consolidados

economicamente fossem reduzidos. O resultado contribuiu para tencionar as relações

federativas dos centros urbanos mais populosos, que administram as atribuições de um

polo provedor de serviços e as responsabilidades metropolitanas, com poucas ações

cooperativas e solidárias.

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168

Tabela 26 - Investimento per capita médio das capitais e por agrupamento

populacional, ano 2010, em valores reais

Esse contexto permite de tudo um pouco. A partir da indefinição dos papéis de

cada ente federativo, a descentralização fiscal os induziu a assumirem muitas atribuições

por meio dos programas nacionais municipalizados, que geraram a necessidade de

contrapartidas do custeio. Questão que pode ajudar a justificar as assimetrias de recursos

per capita para investimentos. Prejuízos que são sentidos pelos cidadãos residentes nos

MUNICÍPIO População Investimento *

Investimento

Per Capita

Médio

Vitória 327.801 328.499.242,08 R$ 1.002,13

Boa Vista 284.313 262.997.791,21 R$ 925,03

Porto Velho 428.527 282.702.159,73 R$ 659,71

Campo Grande 786.797 443.543.826,82 R$ 563,73

Belo Horizonte 2.375.151 929.088.781,93 R$ 391,17

Rio de Janeiro 6.320.446 2.416.798.569,37 R$ 382,38

Florianópolis 421.240 159.942.373,33 R$ 379,69

São Paulo 11.253.503 3.674.586.849,59 R$ 326,53

Porto Alegre 1.409.351 444.582.779,29 R$ 315,45

Manaus 1.802.014 555.390.486,54 R$ 308,21

João Pessoa 723.515 194.844.201,25 R$ 269,30

Palmas 228.332 60.237.537,73 R$ 263,82

Teresina 814.230 173.558.520,82 R$ 213,16

Rio Branco 336.038 66.249.856,54 R$ 197,15

Fortaleza 2.452.185 481.295.552,84 R$ 196,27

Recife 1.537.704 263.157.675,76 R$ 171,14

Aracaju 571.149 92.277.749,87 R$ 161,57

Goiânia 1.302.001 197.925.566,70 R$ 152,02

Belém 1.393.399 207.815.131,03 R$ 149,14

Cuiabá 551.098 74.438.674,12 R$ 135,07

Curitiba 1.751.907 217.051.000,78 R$ 123,89

Natal 803.739 83.693.666,97 R$ 104,13

Maceió 932.748 89.341.630,02 R$ 95,78

Salvador 2.675.656 241.311.276,31 R$ 90,19

Macapá 398.204 34.682.072,46 R$ 87,10

São Luís 1.014.837 0,00 R$ -

26 Capitais 42.895.885 11.976.012.973,08 R$ 279,19

500 Mil - Acima de 1 Milhão** 12.829.916 3.575.470.330,09 R$ 278,68

300 Mil - 500 Mil** 13.569.848 4.195.361.504,70 R$ 309,17

100 Mil - 300 Mil** 31.921.042 9.410.856.764,79 R$ 294,82

50 Mil - 100 Mil 21.996.138 4.878.904.716,19 R$ 221,81

20 Mil a 50 Mil 30.487.995 7.820.349.964,08 R$ 256,51

10 Mil a 20 Mil 19.250.170 5.822.748.136,68 R$ 302,48

805 a 10 Mil 12.578.054 5.553.449.816,33 R$ 441,52

FONTE: STN/FINBRA, ano 2010

(*) Valores Corrigidos pelo IPCA-IBGE a preços de março de 2018.

(**) exceto as capitais.

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grandes centros urbanos, e que poucos entendem a origem do descaso, e o porquê da

ausência de política públicas, decorrentes das relações federativas confusas.

Acredito que só por meio de ações metropolitanas conjuntas e coordenadas, bem

como a formação de consórcios intermunicipais, poderíamos melhor definir as

prioridades e a responsabilidade de cada ente federativo. A atuação de cada esfera

federativa depende de uma harmonização nas relações federativas, necessárias para

corrigir parte dos desequilíbrios observados, e que tem sido ignorada no contrato social

vigente.

Segundo Santos (2011), esse comportamento do governo brasileiro se justificou

pelo fato das decisões centralizadas e das transferências verticais serem mais simples, e

ainda, permitiu que se definisse quais ações seriam realizadas dentro de cada programa

nacional e de convênios.

Entretanto, não criou mecanismos que garantissem a solidariedade e a cooperação

financeira e técnica com atuação integrada dos três níveis de governo, e nem sempre

conseguiu identificar, mensurar e atender as urgências locais. A bem da verdade, não

houve até agora preocupação do Estado brasileiro em demarcar as atribuições

constitucionais e metropolitanas de forma cristalina.

A nosso juízo, seria mais eficaz pensarmos as ações urbanas e sociais de forma

articulada e com a participação popular. Ações metropolitanas conjuntas e coordenadas,

formação de consórcios intermunicipais, de fato poderia identificar as prioridades a

partir da responsabilidade comum assumida por cada ente federativo.

Acredito que só por meio de uma harmonização e atuação de cada esfera

federativa, os desequilíbrios federativos serão vencidos.

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5. Conclusão final da Dissertação

Em países regidos pelo Estado democrático de direito, a concretização dos

direitos fundamentais é assegurada no orçamento público daquela nação. Porém, nossa

história nos mostra que os direitos universais foram submetidos a uma sucessão de

arranjos fiscais com objetivos conflitantes com o texto constitucional de 1988, que

contribuíram para tencionar as relações federativas e ampliar o descontrole da gestão

das políticas públicas, com reflexo no desequilíbrio social.

No período estudado, 1995 a 2010, as estratégias empreendidas, mais que tudo,

contribuíram para reduzir a participação das transferências constitucionais no orçamento

corrente dos governos capitais, alterou a distribuição vertical das receitas a favor do

governo central, e permitiu a ausência dos governos superiores nas competências

comuns aos três entes federativos.

O Estado brasileiro a partir de uma nova agenda fiscal em curso desde o ano 90,

suprimiu parte da autonomia da arrecadação das 26 capitais, e comprometeu a

capacidade de planejamento local, em detrimento das inúmeras regras fiscais impostas.

Interferências que ocorreram dentro da mais pura legalidade.

Diante disso, os centros urbanos mais populosos, sede de regiões metropolitanas,

endividados e polos provedores dos principais programas nacionais, sofreram com os

efeitos desse modelo. E planejar ações locais, necessárias para assegurar uma

infraestrutura mínima, que somado aos efeitos da desindustrialização e da guerra fiscal,

e, sobretudo, das imposições fiscais e contrapartidas exigidas do orçamento próprio,

ficaram impedidos de estabelecer um diálogo federativo.

Sob o âmbito das exigências da LRF, por exemplo, os limites estabelecidos para

a realização de despesas com pessoal forçaram muitos governos a alterarem, em boa

medida, a forma de efetivarem suas ações constitucionais e as ações municipalizadas,

que se deram, minimamente, através das disputas por recursos discricionários.

Mecanismo que desencadeou certa fragilidade e incertezas para o ciclo

orçamentário municipal, o que, por um lado, aumentou as responsabilidades municipais

no âmbito das políticas descentralizadas e, por outro, os valores financeiros recebidos

dos governos superiores eram defasados e ou insuficientes para os acordos celebrados.

Circunstância que de alguma forma, criou o cenário perfeito para que se

promovessem relações federativas obscuras, confusas, abrindo espaços para

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subestimarem a capacidade legítima da agenda da constituição cidadã, e os déficits

sociais e urbanos se agravaram.

A prerrogativa da experiência internacional sobre o processo da descentralização

fiscal era de que governos mais autônomos, necessariamente, deveriam honrar as

responsabilidades exclusivas competentes e construir uma relação fiscal sustentada pelo

princípio da solidariedade, cooperação financeira, e técnica entre as esferas de poder, a

partir de mecanismos justos e harmônicos para distribuir recursos.

Porém, nossa experiencia nos mostra que o orçamento municipal foi submetido

aos objetivos e desejos das esferas de governos superiores, exigindo a participação de

contrapartidas financiadas com os recursos próprios municipais. A partir da imposição

de um conjunto de instruções normativas e portarias que regulamentaram as

transferências discricionárias, que interferiram na autonomia municipal e subtraíram

parte substancial do orçamento próprios de livre alocação, fundamental no

financiamento do desenvolvimento urbano.

Nesse sentido, as ações locais foram sendo abatidas da estrutura orçamentária,

enquanto as ações que deveriam ser sustentadas pelo financiamento tripartite ganharam

espaços orçamentários crescentes.

A redução dos recursos livres na estrutura orçamentária municipal ocorreu sem

nenhum diálogo federativo democrático e articulado com a sociedade, e, na maioria das

vezes, desprovidos de mecanismos e instrumentos de controle que prejudicaram a

atuação dos grandes centros, como principais polos provedores das políticas públicas

nacionais.

Sabemos que outros instrumentos fiscais limitaram o financiamento da agenda

local. As imposições do Programa de Reestruturação e de Ajuste Fiscal, promoveram o

reescalonamento das dívidas municipal, que inseriu os orçamentos dos centros urbanos

com mais autonomia para arrecadar, em um modelo de restrição orçamentária, restando

pouco espaço para realizar ações de programas de responsabilidade exclusiva municipal.

Conforme abordado no capítulo 3, e sob o argumento de que os municípios não

se encontravam em condições de resgatar as suas dívidas no prazo determinado, o

governo federal impôs medidas87 aos municípios endividados, nos mesmos moldes das

negociações com os estados, com o objetivo de garantir um fluxo de pagamentos futuros

do estoque de dívidas passadas.

87 Medida Provisória, nº 1.811/1999, a atual 2.185/2001.

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Ou seja, a partir da renegociação da dívida pública no final da década de 90, a

federação brasileira não encontrou um caminho que permitisse pensar na redistribuição

de recursos necessários para desenvolver os espaços urbanos e as competências

constitucionais de cada esfera de governo.

Lembrando que, o pagamento das parcelas do acordo de renegociação deveria

ocorrer não apenas por meio da tributação, mas por meio da limitação dos gastos.

Constrangimentos fiscais que causaram uma eclosão de dificuldades econômicas, com

pressões sociais que culminaram na mais grave crise social e fiscal do País.

Nossa experiência tem nos mostrado que o Estado tem persistido em um único

objetivo, a redução das despesas primárias para se apurar um superávit primário88. Fica

a sensação de que o Estado assumiu o compromisso apenas com o mercado financeiro

especulativo, em detrimento das garantias sociais asseguradas no texto constitucional e

em função da perda do controle da gestão das políticas públicas.

As características da nossa descentralização e do ajuste fiscal, a meu juízo,

comprometeram a autonomia municipal, pois a cada dia as demandas urbanas foram

preteridas na estrutura orçamentária.

Desde então, com pactuação confusa, a federação brasileira passou a conviver

com disputas de recursos; com a falta de regulamentação de setores e omissão de

responsabilidades nas ações metropolitanas; com atrasos nos repasses financeiros

necessários para assegurar as ações de programas nacionais descentralizados, além das

inúmeras restrições fiscais. Os desequilíbrios ocasionados são incalculáveis, e

comprometeram os direitos à cidadania.

Dessa forma, torna-se essencial pensar a gestão local, a partir de uma combinação

de esforços entre as três esferas, com políticas redistributivas e com estratégias não

excludentes, que acolham as necessidades locais. E, acima de tudo, a política nacional

precisa assegurar condições para a implantação e o funcionamento dos programas que

incorporem as necessidades metropolitanas das cidades mais populosas do País. Não há

dúvida de que a federação precisa de um ajuste urgente nas relações federativas.

Acredito que o Estado precisa de fato selar os compromissos constitucionais,

esclarecer e delimitar as confusas tarefas, a partir de regulamentações cristalinas a cada

esfera de governo, que nos permitissem fiscalizar, acompanhar e cobrar a realização de

88 A esse respeito, ver Ministério da Fazenda (2007), Anexo de Metas Fiscais e Relatório Resumido da

Execução Orçamentária aplicada à União, aos Estados, Distrito Federal e Municípios. 7ª edição

atualizada.

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cada direito e dever; e, retomar o debate sobre as competências exclusivas definidas no

texto constitucional e do papel da região metropolitana no enfrentamento das

complexidades urbanísticas dos grandes centros urbanos do País.

Além disso, existe a necessidade de revermos as metodologias da distribuição dos

recursos que tem gerado muitas assimetrias nos valores per capitas entre os municípios

brasileiros, com prejuízos para o contingente populacional residente nas capitais.

Os encaminhamentos dessas questões, certamente, poderiam ajudar a desfazer a

rigidez orçamentária vigente, permitindo um equacionamento federativo integrado e

cooperativo, que nos permitissem enfrentar e garantir o acesso à universalidade dos

direitos aos mais de um quarto da população brasileira que ali residem.

A partir dessas questões estudadas, posso concluir que a atual crise federativa tem

identidade clara, e o hiato estabelecido entre necessidade e capacidade de investimento

são perceptíveis, assim como o próprio formato das políticas públicas, contribuíram para

a degradação e a precarização dos serviços, sem nenhum controle, fiscalização e gestão

quanto à qualidade da política pública.

Parece-me urgente a necessidade de uma repactuação que acolha as questões

urbanas e devolva a capacidade de investimentos às capitais que, atualmente, dispõem

de um volume de investimento por habitantes inferior à média do País, e dos municípios

menos populosos e mais dependentes de transferências intergovernamentais.

As informações estudadas nos ofereceram pistas que asseguram a necessidade de

realizarmos uma repactuação federativa. Apesar da importância da arrecadação

tributária própria, as metrópoles brasileiras permaneceram sujeitas às limitações fiscais

que comprometeram a realização de suas responsabilidades, determinantes na melhoria

da qualidade de vida de milhões de pessoas residentes nessas cidades.

Precisamos legitimar o conceito de autonomia na arrecadação própria e o aumento

da descentralização fiscal, para que os governos locais possam exercer sua autonomia

federativa e, por sua vez, orçamentária. Cumpre lembrar que analisamos os municípios

com as maiores capacidades de gerar receita própria, acima de média nacional e, que,

portanto, deveriam, naturalmente, ter autonomia financeira para assegurar as

necessidades dos investimentos locais, mas, de fato, isso pouco refletiu na performance

dos programas orçamentários e nas melhorias na provisão de bens e serviços oferecidos

à população residente nas capitais.

O desafio consiste em “como tratar dos interesses das partes, preservando os

valores do conjunto” (AFFONSO, 2001). As escassas políticas públicas locais voltadas

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para os interesses coletivos, somadas às políticas monetária e fiscal restritiva, não

conseguiram oferecer de forma adequada os serviços sociais e urbanos essenciais para

grande parte da população que os grandes centros urbanos reúnem.

Precisamos de uma combinação de esforços entre as três esferas, com políticas

redistributivas e de estratégias não excludentes, que representem as necessidades locais

e de cada região, e assegurem um fortalecimento institucional do município no quadro

federativo do País.

Para tanto, é preciso não apenas de recursos financeiros e orçamentários, mas de

uma “coordenação federativa” por parte dos governos federal e estadual, que permitam

a esfera municipal assumir seu papel de provedor das suas responsabilidades

constitucionais.

Podemos dizer que o atual estágio do federalismo fiscal brasileiro manteve o poder

e o controle político e operacional do manejo dos recursos financeiros de forma

centralizada, bem como criou empecilhos para viabilizar qualquer ação que pudesse se

traduzir em redução do poder central. Enquanto isso, a situação atual sobrecarrega as

capitais de atribuições, e nos coloca em uma crise de funções, onde todos na federação

brigam e ninguém parece ter razão.

Embora se reconheça que a descentralização fiscal tem sido um processo

aclamado e defendido, desde o final dos anos 1970, de forma quase unânime pelas três

esferas federativas, legislativos, oposição e sociedade, as mudanças promovidas foram

insuficientes para fortalecer, de fato, a autonomia federativa e orçamentária dos

governos municipais, mesmo diante do amplo processo da descentralização fiscal.

As decisões federativas realizadas de forma centralizada reproduziram inúmeras

incertezas e sobreposições de papéis que não contribuíram em nada para garantir a

autonomia federativa de cada esfera e muito menos assegurou a realização e ou

universalidade dos direitos a todos os brasileiros. Perguntas como “Quem é que faz o

que na federação? ”; “Com quais recursos? ”; “E para quem? ” permanecem sem

respostas, no atual desenho federativo.

Enquanto isso, o modelo mostra-se impotente para edificar uma sociedade em

outras bases, comprometida com princípios do federalismo cooperativo, acompanhados

dos compromissos sociais democráticos.

Os propósitos da agenda do Estado brasileiro, comprometidos com as exigências

da nova disciplina fiscal, nos permitiram uma experiência com poucas oportunidades

para superarmos o atraso econômico e social, intra e enter regiões do País. E, ainda

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permitiu que as economias urbanas mais populosas e economicamente mais

consolidadas do País, permanecessem mergulhadas em sua fragilidade fiscal.

Não há dúvidas que o momento exige uma considerável revisão da pactuação

das políticas descentralizadas, bem como uma reforma fiscal. Acredito que o custo e as

restrições do ajuste fiscal para os centros urbanos mais endividados do País, são

acontecimentos que configuraram a deformação do pacto federativo.

Diante disso, a maioria das capitais permanece inserida em uma encruzilhada:

enfrentar o dilema entre o aumento da participação dos recursos próprios na estrutura

orçamentária e, em paralelo, a multiplicidade de restrições fiscais e as regulamentações

que cercam a municipalização das políticas públicas, causando severa rigidez

orçamentária, mesmo diante do esforço realizado para o aumento da arrecadação dos

recursos próprios.

Os resultados têm um custo social e econômico nefasto para todas as regiões do

País. Um cenário da mais completa ausência e abandono de muitas políticas públicas de

investimento urbano. E, claro, a fatura do descaso é remetida para a população mais

vulnerável e desassistida pelo Estado.

Dessa forma, sem cooperação e integração federativa, todos os dias, milhares de

demandas batem à porta municipal. Entretanto, as ações realizadas têm sido

insuficientes. Torna-se inadiável uma discussão ampla e profunda sobre a necessidade

de promovermos uma reforma fiscal que seja capaz de discutir o papel do Estado

brasileiro nas políticas públicas.

As 26 capitais, com autonomia orçamentária restringida, têm sido forçadas a

colocarem em segundo plano uma parte das suas atribuições constitucionais, sem que

isso traga à baila a urgência do revigoramento do pacto federativo.

Estas observações nos indicam a urgência com que é preciso discutir o processo

da descentralização fiscal do País, que explicitamente padece de padrões mínimos na

prestação de determinados serviços. Na medida em que o nível mínimo de gasto seja

definido, os governos superiores deveriam ser forçados a buscarem alguma forma de

ajustamento, como por exemplo, transferir mais recursos e auxiliá-los tecnicamente no

tratamento dos setores descentralizados.

Acredito que é necessário repensar a pactuação federativa vigente, criar de fato

instrumentos que possam fazer a gestão das políticas públicas, e retomar o debate que

dê conta de discutir a partilha dos recursos, e a divisão de funções mais clara de cada

esfera de governo na prestação dos serviços públicos, sem sobreposição de tarefas, sem

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omissão e, acima de tudo, com ações integradas e cooperativas necessárias, com o

cuidado de legitimar o papel das agências metropolitanas. Só então, será possível

enfrentar, em bases firmes, os principais problemas federativos, que hoje, parecem ter

ficado no discurso e na aprovação formatada no texto constitucional de 1988.

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189

7. Anexos ANEXO 1:

Tabela 27- Evolução da população urbana brasileira, em %, período: 1872 – 2000

ANEXO 2:

Tabela 28 - Despesas da União por Função União: 1995-1999

POPULAÇÃO URBANA População

em % Total

1872 5,9 10.112.061

1890 6,8 14.333.915

1900 9,4 18.200.000

1920 10,7 27.500.000

1940 31,24 41.252.944

1950 36,16 51.944.000

1960 45,08 70.191.370

1970 56 93.139.037

1980 67,59% 119.002.706

1990 75,59% 150.400.000

2000 81,25% 169.799.170

Acesso realizado em 6/01/2009.

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ANO

Fonte: Santos, Milton (1996:20); IBGE Séries

Históricas e Estatísiticas. Elaboração Própria.

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1

190 ANEXO 3:

Tabela 29 - Despesas da União por Função: 2000-2010

DESPESAS GOVERNO FEDERAL - FUNÇÃO 2.000 2.001 2.002 2.003 2.004 2.005 2.006 2.007 2.008 2.009 2.010

Legislativa 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 0,5% 0,39% 0,45%

Judiciária 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2%

Essencial à Justiça 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,40% 0,38% 0,43%

Administração 2% 2% 2% 1% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 2%

Defesa Nacional 3% 3% 3% 2% 2% 3% 2% 2% 2% 2% 3%

Segurança Pública 1% 1% 1% 0% 1% 0% 0% 1% 1% 1% 1%

Relações Exteriores 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Assistência Social 1% 1% 1% 2% 3% 3% 3% 3% 3% 3% 4%

Previdência Social 30% 28% 28% 29% 30% 31% 27% 29% 28% 27% 31%

Saúde 6% 6% 6% 6% 6% 6% 5% 5% 5% 5% 5%

Trabalho 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 3% 3%

Educação 3% 3% 3% 3% 3% 3% 2% 2% 2% 3% 4%

Cultura 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,06% 0,06% 0,08%

Direitos da Cidadania 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,10% 0,10% 0,13%

Urbanismo 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,12% 0,15% 0,18%

Habitação 1% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,02% 0,01% 0,00%

Saneamento 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,05% 0,08% 0,05%

Gestão Ambiental / Desenvolivmento Regional 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,15% 0,14% 0,19%

Ciência e Tecnologia 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 0% 0,43% 0,45% 0,51%

Agricultura 2% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 0,83% 1,02% 0,85%

Organização Agrária 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0,27% 0,23% 0,21%

Indústria 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,23% 0,12% 0,14%

Comércio e Serviços 1% 1% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,15% 0,13% 0,14%

Comunicações 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,04% 0,03% 0,05%

Energia 0% 0% 2% 1% 0% 0% 0% 0% 0,05% 0,06% 0,05%

Transporte 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 0,52% 0,77% 1,13%

Desporto e Lazer 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0,02% 0,01% 0,02%

Encargos Especiais 42% 46% 45% 47% 44% 42% 50% 47% 50% 50% 42%SUBTOTAL Orçamento Fiscal (A) 2.612.217.891.177,95 2.738.694.102.760,68 2.476.993.671.381,75 2.329.651.666.290,59 2.217.694.934.897,41 2.215.999.604.362,27 2.738.251.057.185,78 2.487.136.254.392,20 2.573.561.377.420,19 2.756.115.710.224,84 2.399.317.419.243,43

Encargos Especiais - Refinanciamento (B) 2.492.475.949.934,65 1.571.869.312.514,81 1.330.348.454.529,48 1.808.962.319.496,98 1.486.259.228.914,64 1.825.045.075.025,10 1.293.328.267.617,34 1.178.860.280.991,47 779.008.393.341,00 684.698.299.027,21 858.132.166.521,03

Refinanciamento da Dívida Mobiliária 98% 96% 97% 98% 98% 99% 99% 100% 99% 85% 85%

Correção Monetária e Cambial da Dívida Mobiliária 2% 4% 3% 2% 2% 1% 1% 0% 0% 14% 14%

Refinanciamento da Dívida Contratual 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 1%

Correção Monetária e Cambial da Dívida Contratada 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%TOTAL (A+B) 5.104.693.841.112,60 4.310.563.415.275,48 3.807.342.125.911,23 4.138.613.985.787,56 3.703.954.163.812,05 4.041.044.679.387,37 4.031.579.324.803,12 3.665.996.535.383,67 3.352.569.770.761,19 3.440.814.009.252,05 3.257.449.585.764,45

Fonte: SIAFI - STN/CCONT/GEINC, vários anos. Elaboração Própria.

Valores atualizados com base no IPCA IBGE de março de 2018.

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2

191 ANEXO 04:

Tabela 30 - Estoque do Exigível de longo prazo municipal e das 26 capitais: 2000-2010

MUNICÍPIOS / ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

SAO PAULO 48.799.682.741,32 54.464.282.472,30 64.791.958.612,84 68.672.285.106,48 76.838.509.391,90 65.145.603.074,84 66.145.175.465,04 66.825.713.494,63 70.235.343.783,21 66.624.949.392,38 75.572.849.302,24

RIO DE JANEIRO 13.720.440.681,24 13.807.147.225,41 17.083.298.048,84 15.493.262.838,79 16.018.478.840,86 14.809.434.701,82 14.403.924.224,45 13.866.613.680,20 14.589.398.613,01 13.211.981.297,19 14.712.337.584,74

BELO HORIZONTE 1.862.740.094,92 1.358.169.159,05 1.461.582.615,95 1.257.779.019,17 1.186.163.421,09 1.071.763.985,50 1.024.665.821,94 1.826.841.221,01 2.060.119.344,72 2.191.810.815,14 1.951.574.895,49

BELEM 174.021.995,89 10.110.522,26 2.689.786,00 147.385.036,77 154.690.550,14 228.417.371,34 209.111.483,72 180.800.000,04 2.578.839.101,81 3.379.439.794,83 3.272.527.557,69

SALVADOR 2.370.813.407,62 2.363.416.867,44 3.371.751.431,97 2.915.696.204,58 3.559.935.183,48 2.541.485.761,16 3.312.033.076,68 3.214.940.560,88 3.013.092.946,16 2.739.310.601,14 3.393.913.021,68

TERESINA - - 169.294.081,48 - - 122.822.856,25 360.649.005,47 1.157.918.540,21 2.224.656.178,31 2.250.811.531,19 2.796.293.092,58

MACEIO 1.056.004.534,33 884.852.305,56 - - - 796.495.681,33 729.327.638,85 671.205.158,72 630.059.154,67 427.476.813,05 -

CAMPO GRANDE 251.641.831,88 233.439.614,74 297.244.502,70 346.632.364,06 325.347.496,31 - - - 303.682.776,07 344.381.744,89 352.784.658,35

CURITIBA 1.074.927.459,37 990.207.167,63 1.470.593.568,31 1.272.215.183,36 1.068.283.195,65 813.017.309,35 703.436.334,10 6.317.308.995,69 939.278.450,77 2.053.414.114,77 1.511.670.916,08

PORTO ALEGRE 898.348.426,07 948.767.037,13 1.459.580.760,28 1.304.867.740,01 1.223.303.700,76 1.210.776.923,40 1.164.942.242,47 1.044.350.814,23 1.088.351.034,72 1.141.940.778,69 1.125.539.898,02

PORTO VELHO 39.284.032,39 19.386.650,79 86.243.405,36 720.419.002,91 703.441.237,80 658.340.935,57 493.968.898,91 754.103.164,20 699.952.470,15 891.625.348,62 1.176.406.225,15

RECIFE 745.915.691,54 765.399.817,00 910.622.632,24 877.756.157,83 1.121.045.678,97 1.189.422.115,75 1.249.832.192,41 1.546.070.814,33 1.358.634.365,16 1.326.005.271,51 1.319.805.232,90

VITORIA - 213.583.702,11 209.799.645,24 192.515.371,28 224.490.955,48 196.649.884,11 173.528.350,13 150.387.397,18 137.041.480,18 185.390.766,54 230.707.992,76

GOIANIA - 909.703.071,89 - 832.362.355,11 799.210.357,85 775.874.137,15 786.366.970,09 756.899.125,49 716.581.189,49 692.384.531,44 672.595.353,63

CUIABA 541.721.213,12 560.875.273,93 660.161.324,87 665.403.279,11 755.300.771,94 601.986.694,09 647.651.436,93 - 555.482.078,86 526.110.693,17 494.470.437,68

FLORIANOPOLIS 319.003.958,26 149.860.237,62 170.553.538,19 313.809.776,69 333.723.941,83 327.954.998,87 360.905.354,79 325.621.534,58 382.964.000,12 352.372.432,22 459.208.151,70

MANAUS 354.415.919,46 370.970.626,08 424.508.803,05 322.126.466,64 264.862.882,21 199.438.656,58 198.756.504,04 196.318.859,76 346.838.273,52 394.327.072,40 397.381.152,74

RIO BRANCO 111.942.479,64 147.535.954,91 114.836.409,50 130.691.440,75 121.984.373,12 114.820.233,75 111.950.031,47 140.144.886,22 166.052.470,41 149.061.085,40 140.723.415,45

PALMAS 40.356.672,64 35.664.346,21 30.297.867,14 28.622.741,30 27.980.776,73 33.364.567,09 39.507.984,31 39.278.526,00 34.760.898,60 - 230.200.846,93

NATAL - - 202.920.622,53 - 186.052.257,65 225.873.463,82 249.867.237,14 - - - 323.781.615,18

MACAPA - - - 84.931.487,53 73.986.363,64 62.223.616,32 58.249.820,69 55.764.224,92 53.191.222,24 363.311.416,81 338.217.338,83

ARACAJU 227.518.247,45 122.649.825,85 192.125.150,96 154.947.671,18 135.125.922,82 110.280.732,40 162.373.743,30 140.948.921,50 159.103.695,21 177.147.945,03 213.816.361,35

SAO LUIS 140.260.790,33 159.690.465,54 114.853.304,51 123.902.040,62 109.697.387,18 96.323.818,78 71.593.176,73 84.498.961,58 - - 79.054.439,58

BOA VISTA 33.056.412,98 24.980.277,23 19.921.474,77 - 97.809.480,66 94.929.867,92 90.578.738,52 78.482.595,35 98.826.361,75 - -

FORTALEZA 649.856.446,47 85.142.099,46 55.607.311,54 42.648.094,47 39.635.538,26 31.205.632,46 1.780.266,07 450.778.188,95 522.012.609,32 458.689.263,18 -

JOAO PESSOA 129.125.486,23 118.870.522,62 108.060.576,68 109.592.616,34 433.189.362,86 300.574.463,22 340.496.557,26 281.670.978,31 248.157.110,05 - 183.958.760,60

Total Dívida 26 Capitais (A) 73.541.080.523,16 78.744.707.243,76 93.408.507.476,96 96.009.853.997,97 105.802.251.073,18 91.759.083.487,87 93.090.674.561,51 100.106.662.650,97 103.142.421.616,53 99.881.944.718,60 110.949.820.261,35

Total Dívida Municipal (B) 102.324.547.817,96 111.005.963.223,67 127.497.815.136,88 137.094.069.138,17 144.684.207.696,33 141.922.290.449,27 154.352.095.647,46 175.717.577.646,21 179.803.576.204,11 207.657.035.699,03 227.774.636.939,32

A / B 72% 71% 73% 70% 73% 65% 60% 57% 57% 48% 49%

FONTE: FINBRA, vários anos.

Valores Corrigidos pelo IPCA-IBGE, março de 2018. Em R$ 1,00.

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192 ANEXO 05:

Tabela 31 - Estoque do Exigível de longo prazo das 26 Capitais, ano 1998, anterior à renegociação da dívida

MUNICÍPIOS População Estoque de Dívida

Longo Prazo 1998

ARACAJU 460.898 151.692.449,14

BELEM 1.279.861 148.596.491,06

BELO HORIZONTE 2.229.697 1.781.531.776,67

BOA VISTA 200.383 29.938.373,69

CAMPO GRANDE 662.534 251.510.363,54

CUIABA 482.498 316.535.385,34

CURITIBA 1.586.898 -

FLORIANOPOLIS 331.784 231.482.539,65

FORTALEZA 2.138.234 392.844.186,36

GOIANIA 1.090.581 -

MACAPA 282.745 -

MACEIO 796.842 573.472.129,91

MANAUS 1.403.796 309.506.065,08

NATAL 709.422 -

PALMAS 136.554 46.706.565,13

PORTO ALEGRE 1.359.932 693.251.129,11

RECIFE 1.421.947 608.214.400,65

RIO BRANCO 252.800 50.986.385,97

RIO DE JANEIRO 5.850.544 10.375.489.240,66

SALVADOR 2.440.886 2.248.246.069,67

SAO LUIS 867.690 105.266.606,41

SAO PAULO 10.406.166 37.144.374.261,11

TERESINA 714.318 -

VITORIA 291.889 121.008.392,80

TOTAL 26 capitais 37.398.899 55.580.652.811,94

Fonte: FINBRA 1998. Elaboração Própria.

Valores Corrigidos pelo IPCA-IBGE, março de 2018.

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2

193

ANEXO 06: Plano de Contas das Receitas Municipais

Figura 5 - Receitas Correntes Próprias Municipais

1000.00.00 Receitas Correntes

1100.00.00 Receita Tributária

1110.00.00 Impostos

1112.02.00 Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU

1112.04.00 Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza - IR

1112.08.00 Imposto sobre Transmissão "Inter Vivos" de Bens Imóveis e de Direitos Reais sobre Imóveis ITBI

1113.05.00 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN

1120.00.00 Taxas

1130.00.00 Contribuição de Melhoria

1200.00.00 Receita de Contribuições

1300.00.00 Receita Patrimonial

1400.00.00 Receita Agropecuária

1500.00.00 Receita Industrial

1600.00.00 Receita de Serviços

1900.00.00 Outras Receitas Correntes

1910.00.00 Multas e Juros de Mora

1911.00.00 Multas e Juros de Mora dos Tributos

1912.00.00 Multas e Juros de Mora das Contribuições

1913.00.00 Multa e Juros de Mora da Dívida Ativa dos Tributos

1914.00.00 Multa e Juros de Mora da Dívida Ativa das Contribuições

1915.00.00 Multa e Juros de Mora da Dívida Ativa de Outras Receitas

1918.00.00 Multas e Juros de Mora de Outras Receitas

1919.00.00 Multas de Outras Origens

1920.00.00 Indenizações e Restituições

1921.00.00 Indenizações

1922.00.00 Restituições

1923.01.00 Retorno de Investimentos Mediante Participação em Empresas e Projetos

1930.00.00 Receita da Dívida Ativa

1931.00.00 Receita da Dívida Ativa Tributária

1932.00.00 Receita da Dívida Ativa não tributária

1940.00.00 Receitas Decorrentes de Aportes Periódicos para Amortização de Déficit Atuarial do RPPS

1990.00.00 Receitas Diversas

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3

194

Figura 6 - Transferências da União: Constitucionais e Convênios

Figura 7 - Transferências correntes MULTIGOVERNAMENTAIS: União e Estados

1000.00.00 Receitas Correntes

1700.00.00 Transferências Correntes

1720.00.00 Transferências Intergovernamentais

1721.00.00 Transferências CONSTITUCIONAIS da União

1721.01.02 Cota-Parte do Fundo de Participação dos Municípios - FPM

1721.01.05 Cota-Parte do Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR

1721.01.12 Cota-Parte do Imposto Sobre Produtos Industrializados – Estados Exportadores de

1721.22.00 Transferência da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Naturais

1721.22.11 Cota-parte da Compensação Financeira de Recursos Hídricos

1721.22.20 Cota-parte da Compensação Financeira de Recursos Minerais - CFEM

1721.22.30 Cota-parte Royalties – Compensação Financeira pela Produção de Petróleo – Lei nº7.990/89

1721.22.40 Cota-parte Royalties pelo Excedente da Produção do Petróleo – Lei nº 9.478/97, artigo49, I e II

1721.22.50 Cota-parte Royalties pela Participação Especial – Lei nº 9.478/97, artigo 50

1721.22.70 Cota-Parte do Fundo Especial do Petróleo – FEP

1721.22.90 Outras Transferências decorrentes de Compensação Financeira pela Exploração de

1721.33.00 Transferência de Recursos do Sistema Único de Saúde – SUS

Registra o valor total dos recursos transferidos do Fundo Nacional de Saúde recebidos pelos

Fundos de Saúde dos Municípios, referentes ao Sistema Único de Saúde – SUS, (Piso de

Atenção Básica – Fixo e Variável, Transferências de Alta e Média Complexidade, Outros

Programas Financiados por repasses regulares e automáticos). Os recursos relativos a

pagamentos diretos da União pela remuneração de serviços produzidos deverão ser

classificados no código 1600.05.00 – Serviços de Saúde.

1721.99.00 Outras Transferências da União

1761.00.00 Transferências VOLUNTÁRIAS - Convênios da União

1761.01.00 Transferências de Convênios da União para o Sistema Único de Saúde – SUS

1761.02.00 Transferências de Convênios da União Destinadas a Programas de Educação

1761.03.00 Transferências de Convênios da União Destinadas a Programas de Assistência Social

1761.04.00 Transferências de Convênios da União Destinadas a Programas de Combate à Fome

1761.05.00 Transferências de Convênios da União Destinadas a Programas de Saneamento Básico

1761.99.00 Outras Transferências de Convênios da União

1724.00.00 Transferências CONSTITUCIONAIS Multigovernamentais

1724.01.00 Transferências de Recursos do FUNDEB

1724.02.00 Transferências de Recursos da Complementação da União ao FUNDEB

1724.99.00 Outras Transferências Multigovernamentais

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4

195

Figura 8 - Transferências do Estado: Constitucionais e Convênios

Figura 9 - Transferências Instituições Privadas e Receitas de Capital

1722.00.00 Transferências CONSTITUCIONAIS dos Estados

1722.01.01 Cota-Parte do ICMS

1722.01.02 Cota-Parte do IPVA

1722.01.04 Cota-Parte do IPI sobre Exportação

1722.01.13 Cota-Parte da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico CIDE

1722.01.99 Outras Participações na Receita dos Estados

1722.22.00 Transferência da Cota-parte da Compensação Financeira (25%)

1722.22.11 Cota-parte da Compensação Financeira de Recursos Hídricos

1722.22.20 Cota-parte da Compensação Financeira de Recursos Minerais - CFEM

1722.22.30 Cota-parte Royalties – Compensação Financeira pela Produção do Petróleo – Lei nº7.990/89

1722.22.90 Outras Transferências Decorrentes de Compensações Financeiras

1722.33.00 Transferência de Recursos do Estado para Programas de Saúde – Repasse Fundo a Fundo

Registra o valor de receita da transferência de recursos do Sistema Único de Saúde oriundo

do Fundo Estadual de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde (Ações Básicas de Vigilância

Sanitária, Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, Programa de Assistência Farmacêutica

Básica, Programa de Combate às Carências Nutricionais, Programa de Saúde da Família,

Programa de Agentes Comunitários, Programa Nacional de Vigilância Epidemiológica e

Controle de Doenças e outros).

1762.00.00 Transferências VOLUNTÁRIAS - Convênios dos Estados

1762.01.00 Transferências de Convênio dos Estados para o Sistema Único de Saúde – SUS

1762.02.00 Transferências de Convênio dos Estados Destinadas a Programas de Educação

1762.99.00 Outras Transferências de Convênio dos Estados

1000.00.00 Receitas Correntes

1700.00.00 Transferências Correntes

1763.00.00 Transferências VOLUNTÁRIAS - Convênios dos Municípios

1763.01.00 Transferências de Convênio dos Municípios para o Sistema Único de Saúde – SUS

1763.02.00 Transferências de Convênio dos Municípios destinadas a Programas de Educação

1763.99.00 Outras Transferências de Convênios dos Municípios

1764.00.00 Transferências de Convênios de Instituições Privadas

1765.00.00 Transferência de Convênios do Exterior

1770.00.00 Transferências para o Combate à Fome

1771.00.00 Provenientes do Exterior

1772.00.00 Provenientes de Pessoas Jurídicas

1773.00.00 Provenientes de Pessoas Físicas

1774.00.00 Provenientes de Depósitos não Identificados

2000.00.00 Receitas de Capital

2100.00.00 Operações de Crédito

2110.00.00 Operações de Crédito Internas

2120.00.00 Operações de Crédito Externas

2400.00.00 Transferências de Capital

2470.00.00 Transferências de Convênios

2473.00.00 Transferências de Convênios dos Municípios

2474.00.00 Transferências de Convênios de Instituições Privadas

2475.00.00 Transferências de Convênios do Exterior

2480.00.00 Transferências para o Combate à Fome

2500.00.00 Outras Receitas de CapitalFONTE: MANUAL DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO- Portaria STN nº 437/2012/ 5ª Edição. ANEXO VI – DISCRIMINAÇÃO DAS NATUREZAS

DE RECEITA

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ANEXO 07: Tabela 32 - Investimento per capita por intervalos municipais com maior e menor população federativa

Municípios População Investimentos (*)

Investimento

Per Capita

Médio

26 capitais + municípios acima de 1 Milhão Habitantes 54.710.964 15.551.483.303R$

Média 1.272.348 361.662.402 289

Mediana 723.515 198.477.754R$ 217R$

Mínimo 228.332 34.682.072R$ 75R$

Máximo 11.253.503 3.674.586.850R$ 1.002R$

Municípios com 805 a 10 Mil Habitantes 12.578.054 5.553.449.816R$

Média 5.140 2.269.493R$ 442R$

Mediana 4.871 1.835.525R$ 392R$

Mínimo 805 -R$ -R$

Máximo 9.981 60.307.994R$ 16.330R$

FONTE: STN/FINBRA, ano 2010. Elaboração Própria.

(*) Valores Corrigidos pelo IPCA-IBGE a preços de março de 2018.

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197 ANEXO 08: Tabela 33 - Evolução do Investimento no orçamento total, 26 Capitais, anos: 1995;2001;2005;2009 e 2010, em %

MUNICIPIO 1995 2001 2005 2009 2010

SAO PAULO 26% 5% 4% 8% 8%

RIO DE JANEIRO 17% 7% 7% 4% 11%

SALVADOR 0% 13% 5% 6% 5%

FORTALEZA 12% 11% 3% 8% 9%

BELO HORIZONTE 1% 1% 8% 17% 11%

MANAUS 32% 15% 6% 9% 16%

CURITIBA 16% 4% 4% 5% 3%

RECIFE 2% 3% 5% 7% 7%

PORTO ALEGRE 9% 8% 5% 6% 8%

BELEM 15% 8% 5% 9% 8%

GOIANIA 4% 9% 7% 9% 6%

SAO LUIS 14% 11% 6% 5% 0%

MACEIO 9% 4% 5% 5% 5%

TERESINA 1% 6% 8% 13% 9%

NATAL 2% 8% 7% 12% 5%

CAMPO GRANDE nd 25% 11% 16% 17%

JOAO PESSOA 7% 13% 4% 11% 11%

ARACAJU 8% 8% 10% 9% 7%

CUIABA 8% 9% 4% 6% 5%

PORTO VELHO 10% 14% 6% 17% 24%

FLORIANOPOLIS 8% 14% 9% 10% 12%

MACAPA 6% 8% 7% 8% 5%

RIO BRANCO 7% 19% 12% 20% 11%

VITORIA 19% 13% 8% 17% 17%

BOA VISTA 21% 13% 15% 18% 27%

PALMAS 35% 26% 20% 8% 9%

Média 12% 11% 7% 10% 10%

Mediana 9% 9% 6% 9% 9%

Mínimo 0% 1% 3% 4% 0%

Máximo 35% 26% 20% 20% 27%

FONTE: STN/FINBRA, vários anos. Elaboração própria.

Participação dos Investimentos no Orçamento Total - em %

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198 ANEXO 09:

Tabela 34 - Resultado Primário do Governo Central. Em R$ Milhões - Valores de Março 2018 / IPCA

Discriminação 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

I. RECEITA TOTAL 548.833,1 623.092,1 652.579,3 691.279,8 738.677,7 776.853,5 790.866,2 864.738,5 952.590,7 1.027.680,6 1.120.746,1 1.224.745,7 1.211.048,2 1.422.959,0

II. TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE RECEITA 83.677,1 92.203,8 95.181,3 107.926,6 117.615,7 126.260,6 126.423,2 132.171,3 156.655,9 171.005,7 184.721,1 217.969,4 196.358,5 206.612,9

III. RECEITA LÍQUIDA (I-II) 465.155,9 530.888,4 557.398,0 583.353,2 621.062,0 650.592,9 664.443,0 732.567,1 795.934,9 856.674,9 936.024,9 1.006.776,2 1.014.689,7 1.216.346,1

IV. DESPESA TOTAL 458.940,6 505.162,2 494.552,5 521.645,2 561.689,7 573.947,5 577.657,4 630.733,9 693.077,8 764.381,8 831.535,2 860.134,5 949.986,0 1.095.679,6

V. FUNDO SOBERANO DO BRASIL 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 -24.378,0 0,0 0,0

VI. PRIMÁRIO GOVERNO CENTRAL 6.215,3 25.726,2 62.845,4 61.708,0 59.372,3 76.645,4 86.785,6 101.833,2 102.857,1 92.293,1 104.489,7 122.263,7 64.703,7 120.666,5

VII.1 AJUSTE METODOLÓGICO ITAIPU 1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5.436,8 4.686,0 4.904,6 3.240,2 2.103,7 2.252,8 2.103,6

VII.2 AJUSTE METODOLÓGICO CAIXA-COMPETÊNCIA 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

VIII. DISCREPÂNCIA ESTATÍSTICA -14.414,4 -8.608,8 7.816,0 -1.622,2 662,9 829,9 -746,5 845,0 1.305,4 24,2 1,1 -2.326,9 2.680,5 -814,6

IX. RESULTADO PRIMÁRIO GOVERNO CENTRAL (VI + VII + VIII) -8.199,1 17.117,4 70.661,4 60.085,7 60.035,2 77.475,3 86.039,1 108.115,1 108.848,5 97.221,9 107.731,0 122.040,4 69.637,0 121.955,5

X. JUROS NOMINAIS 3/ -65.342,4 -170.245,3 -152.742,0 -133.658,2 -129.066,0 -101.818,4 -224.062,1 -163.907,7 -251.953,3 -238.222,5 -215.767,0 -164.639,9 -245.788,7 -192.884,9

XI. RESULTADO NOMINAL DO GOVERNO CENTRAL (IX + X) 2/ -73.541,5 -153.127,9 -82.080,6 -73.572,5 -69.030,8 -24.343,1 -138.023,0 -55.792,7 -143.104,8 -141.000,6 0,0 -42.599,5 -176.151,7 -70.929,4

Fonte: http://stn.gov.br/web/stn/demonstrativos-fiscais

1/ Recursos transitórios referentes à amortização de contratos de Itaipu com o Tesouro Nacional.

2/ Pelo critério "abaixo-da-linha" sem desvalorização cambial. Fonte: Banco Central do Brasil.