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poema de futuro
ela disse:
juntos vamos ver o fim do mundo
e em dizendo veio o arrebatamentotomado tudo pela surpresada exactidão desse dito
a boca estreitada à violênciaacariciando o final porvir
poema sentido
isto é um homemtão pouco serpara lá da sua natural pobreza
constrói um mundo no declinar do diae em silênciopor entre a luz empoada atravessando janelas
dono de adestrada mão para um corpo de tintae carne feito pelo raspar da caneta no papel
ao redor das unhas o embuste das dúvidassolidão tacteando planos promessas e o poemadizendo tudo pelo sentido de nada dizer
chegando a noite tudo caminhae ainda o mistério de rostos de tão longe ligados
poema de braços remotos
terceiro poema
nem um poema nem o mundo te salvará
teces a frágil trama de uma vidade futuro furtado
descobres o diasegundo as pequenas coisasmergulhando nelas fascinadosabendo da derrotada línguarangendo das mãos ao céu da boca
entre ti e as coisas e os outrosum outro poema se escreveevadindo-se a cada tentativa
retornas ao seu rosto anoitecidoe nenhuma terceira derrota te assaltatudo é possível de novo
poema de espera com eliot à sombra
foste outrora uma vidamedida e pesada por uma colher de café
o sorriso traía o tempotinhas um horizonte de possibilidades
herdas hoje uma cadeira vagadefronte a alienação
assoberbado rasuras a espuma secaocupas o tempo ou o mundona suspensão de um poema
doa-nos o futuro
insónia iii(da vida)
nunca arriscaste tão alto quanto sonhasteentre dedos prendes uma pequena estrela arrepiada
pela noitea tua terra abalada ao som da torneiraonde a vida gota a gota
insónia iv(da escrita e do desastre)
pensamento e boca mergulhadosem seus comuns lugares de partilhaa língua perdura à sombra do desejo
adiante nenhum indícioa criança perdeu-se pelo caminho
insónia v(da relação)
havendo uma imagemqual me cabe a teus olhos
somos corpos ainda solaresdados ao verde ao tinir das horas ao sono canino
dessa cadeira vês o mundo por dentroé tanto o dito que o dizer um quase nada do silêncio
haverá sempre um medo a rondaruma certa podridão sob o reino
hospeda a amizade em visitamas deixa jorrar a vontade de dizer por absoluto
amemo-nos do silêncio para fora
insónia vi(da partilha e do medo)
i
quando há poesia tu não estássomente nomes corpos outros
da frase de um desconhecidoassumes ainda um programa
e em nenhum mistério mergulhas.na língua descobres a doença das vigílias.
ii
língua e poesiae o sentido triste e estérildo teu mundo
muda a voz tremendo de medodesaparece nisso que tu escreves.
iii
ouro peneirado na errada margem da páginapródiga ganga de tantos anos
iv
o que foram esses poemas escritos?o pensamento apoiado no calo do maior equívoco
insónia vii(do amor)
defendo a tua noitea boca a línguajunto trago o mapa sentimentallevo-to onde dormindo és tolhida pelo estio
súbito no violeta da madrugadao frio e o roubo desta mortalhadeixam o corpo ao orvalhoaté que a mão encontra a mãoa boca a língua
insónia viii(da pele)
primeiro um espanto susto arrepio na pele tomando o espaço interior. mergulha. dobra-se e ainda o fora se sente como sendo só isso: o mundo. não toda a pele. somente aí onde tua mão inicia o repouso para o dia. cuidas para ti ou murmuras: um só corpo é maior que o mundo todo o mundo cabe num olhar devolvido. e no entanto ido passado a mão já não descansa. toca. acaricia. o cansaço recuou já para outro lado. amanhã. a mão pesa sobre o teu corpo. sopesa a pele. pensa-a e rebele a pele e aí onde tocas meu amor tudo dura para lá do dia longo que passou. já passou. e adormeces e eu aqui estou insone. dorme. enquanto a mão se afunda na pele fundando o amor
insónia ix(da escolha)
falas e sempre resta um rasto de não-dito
mensura o recontro:sufocas soterrado por adormecidas palavrasou escolhes do outro a morte
um silêncio sincero
mas baco afogou-te a bocae o diálogo deixou-se in media res
apura o poemaessa vida interrompida
e termina a longa noite
caída na camadesguardo-te o corpoa pele tisnada a carnesossegada
deixo a pulseirano tornozelo
a tatuagem doutros temposfaço o leito no teu ouvido
mais um dia
sentada com o dedo abres ruaspela poeira cumulada ao tempo
vagueias o ócio compões uma lista de adiadosdesejos onde talvez por engano uma vida se misture
estes braços em estrela resgatam as tuaslágrimas à eternidade e mais um dia
48b
o primeiro dia inaugura-se com chuvaas janelas convidam à predição
ao nosso redor a vidaensacada no jogo do acaso
para a assinatura do interiorou a fundação de uma ruína
gravilha granizo
andando a gravilha range e na gargantaum rumor rebate em soluço
os cheiros relembram-te outro tempoquando pequeno e tua mão na materna
hoje seguras uma filha deixando solta outrapara amparar a sua chegada de olhos granizados
um tempo de espera
faz da cama uma pontee da noite um mundo
esquecendo-seno sono
a dura distância distraio coração em soluço
ocaso egoísta
ao fundo a fímbria do céu matiza-seo lápis do teu olho antevêa tempestade a caminho
os corpos escolhem a margemde sossegada riaesparso cemitériovivo verso de camilo pessanha
enredado em teu perfilnão temo a tormentao fim do mundopouco importaa felicidade é egoísta
a mão pela areia
este seria um dom
exuma da areia sentindo a queimadurade cada grão e do fundo acarreiaabraçado o polvo da sua infância
ofereço-torecomeça o amor por aquilendo o marcado sal deste corpo
aguardo a grande ficção
aguardo a grande ficção do mundo
a qual valerá ainda a lutaneste escasso tempono seio desta excessivamorte
meu amoro Homemtamanha tristeza
o terceiro copo
crês-te homem a seus olhosvertido o terceiro copo
cobre-te iludida segurançauma língua domesticadaenquanto a metafísica ajeita o restantepara o recontro nocturno dos corpos
mãos juntasolharesdesencontrados
tudo hoje talvez se perdeuamanhã tentarás de novo
meat in groom
a dança é um espectroassombrando esse açougue de sedução
a chuva quase faz o rioo nosso amor vai pelas ruaschegando a casa é outro naufrágio
noite
as corujas limitam as trevasresgatam o que há a ser dito
o pioindício de ninguéma voz emudecida para os sonhos
eclipse
é imperativo uma noite para a infânciaaí um pirilampo regressada ulissíada da memóriae o dedo fluorescendo
noite e luavelozes se escondemquando surgesonda abrasiva rolada na cama
pérola menstruada.
i
silêncio ondeado do cabo sardão
ribeira frescaodor morno de um canavial
mar solto ao fundo da caminhadaestalar seco e verde de chorões cobrindo a areiaterra quente viva de carochas e cigarras
palavras ditas com a minúcia gramatical dos corposo silêncio ao cabo do sexodentro de tudo que habitamos
lá fora um eco maisescuta
ii
sob o sol o passo equilibra o corpoem fio de prumo de rocha e mar
se escapa o pé na fraga seremos espuma do rebatevidas nuas entre sargaço anónimo
deu-se um ocaso um amor fugiu à vozpelo areal correndo perdido quase para toda a vida
tudo se reencontrana rotunda de almograve
iii
dia coberto corrido a vento
o fogo ausentou-se deste fim do mundosó a terra cheirava a queimada
foi escolhido o fresco da casao ofício nas artes do tempo e do espaço
acabados os trabalhosrestava ainda dia para o paraíso:praia do brejo largotrás os campos da mão do homeme dunas de nenhuma cultura
maré planadentes da terra profunda de antanhoxisto basalto quartzo leitosoo melhor ofertório
o inferno não deixou de estar à soltade regresso a morte vista na estradapássaros um gato de riso macabrosalvo da angústia por pirilampos
farol dobrado pelo vinho a finados
iv
cinco coresbasalto areia quartzo água céu
o meu reino é deste mundo
já percorri o chão de todos os lamentossou agora o palhaço do amormergulhando uma e outra vez na rebentação
caindo quedo na arena
v(sobre uma fotografia de Joëlle Ghazarian)
a rapariga responde a ti que te encontras fora da escrita de luz. repara como o seu olho perfura. a mão suspensa no trinco da porta em convite. procura fundar as suas raízes, futuro de mulher no colar pendido no pescoço, pena de ave ao alto, gestualidade nómada, lenço velando parte do cabelo feminil, talvez em respeito a uma religião passada. a porta cobre-se de renda de bilros de uma qualquer Penélope. a palavra esconde-se aí, algures, nela, para ela. uma aranha da Arménia, anos mais tarde. o olhar já se perdeu noutro.
vi
o nevoeiro cobria a paisagemcrescendo do mar subindopelas falésias de gaivotas
ao fim do dia já tudo se vestiade água estranha do mundosó o farol protegia os passosdo marinheiro e do seu cão
insonePenélope jogava à paciência
vii
lemos a escrita vegetalcaminhando lado a lado
é uma vida fazendo-se
manhã líquidadespedida ao ritmo da ressaca das ondase os meus olhos na tua pele morena
i
terá sido junto ao quarto crescente que visurgir a tristeza o abandono de uma vidaquando os olhos se furtaram ao diálogo
era noite já a cabeça no colo e o fimsustido no peito onde o coração se apressava
já antes a boca se pronunciara e trouxeranuma semana o frio de um esquifea deambulação vagabunda as máscarasas mãos movidas a esquecer o molde do corpo
a terna melancolia foi sei-o bemjunto a essa lua marcada funda no teu rostotão longe agora que a memória se fendeucristalizando este homem iluminadode nada de amor.
42
ii
ignoro o ignoto início da comunidade de paixãoo enlaçar de pequenos acontecimentos pelo amor
hoje fantasmas ao redor do corpodistância que vai de rosto a rosto
quando basta a mão para romper fronteiraseis que tremes com o amontoar das coisas da partida
em torno cerze-se uma outra pelesobre a que de origem nos separa
a tua mão no corpo em quedapara um outro mundo a recomeçar
43
iii
já tinhas do amor partido o laçoquando tua mão reencontrou a minha
reparoestou só
esmoreço e escutoreconduzimos a vida a umprincípio repetindo-nos e o que já não há
ainda ouço:sê bem-vindo ao deserto do real
44
iv
voltemos à solidão e seus imóveissons ensurdecedores do interior do teu corpo
retorna também a cidade e seus menoreslabirintos vistos do lado da memóriaonde agora perduras perdido
teces confidências sorris enganasexpões-te a abraços e dançasmoves-te com a marca que te distinguem
e já de olhos áridos e secos girassóisaguardas o resto do fim do mundolentamente se vertendo ao longo destes dias
45
v
aguardo-vos enquanto anfitriãoe para acabar de vez com o amorsirvo este músculoirrespondido cansado
46
vi
não ninguém vai falar como esta bocafoi tomada pelo luto de teus lábios noutros
não ninguém diga nada merece a memóriaabandonado corpo de fantasmas
47
vii
pode a luz ser tratadanada retira a ausênciade beleza que deve ser uma vida
as cãs dizem a perdacomo o fundo que o suportaum vazio com sombra
48
llorón
a boca encerrada à tabuada dos diase de cara na parede choroso contaquantos dedos dessa mãosão precisos para a justa decisãoa que te faria feliz nesse futuropor ora e sempre levado
olho a ti do fundo do quartogravado na retina do olhoem que sou os teus passosespaço que ninguém te quer habitara tua imagem espelha-te da queda ao altoa pupila é um buraco abismado
49
com o eremita
é sobre o veludodos teus lábiosque a minha língua cai:grave ícaro ao solrubro empédocles à bocade um vulcão feito carneretomo a lição soletrandoo misterioso movimentode cada letracom o eremita.
51
canção à tua noite
a noite finda à tua pálpebralastro de lume névoa negrafímbria de outro mundo ondeserás feliz retirada entrelençóis e volúveis peixes azuis
segue segura pela urdidaleira prenhe de urze e chorõesrodeando faróis e fragas. trazbastas provisões e vidênciasdesse longínquo lugar só teu
domínio de lares e anjosmusas das artes e ofíciosfosses mais espiritual seriamesses os nomes dos restos do realcom quem tens estreitos diálogos
mas regressa pela manhã à luzdos frágeis estores para mim erelata nessa rouquidão de quemtudo calou em tudo dizendoo fim do mundo pelos teus olhos
52
poema ético
pende a testa no vidrono retorno a casa os olhos vãona queda da luzninguém repara nessa habitual tristeza
do corpo: o mais íntimosonegado soterrado pela gravidadede uma alma
outro corpo viessedesarmado despido de metáforase imagens – um abismo viradodo avesso – e de suas dobras um mundo
53
resposta a “choro” de Abdelwahhab Azzawi
tive um rosto
mãos souberam deixar a marcatortuosa da textura do mundosuas linhas agridoceso carinho a dor
um nome
rumava-o pela cidadeo bairro o recreiosentia a água a lama de jogosa linguagem da amizademinha mãeà noiteretornava-o por uma névoa de hortelã
agorasó um corpodespojado
54
s/t
leva a mão à boca da infânciasó o olhar permanecee tanto te cegou um desejo
os caminhos exilaram-see como se lembrar puderasa dança de cada dedopasodobles de cabeloscoladeras de coração
restas tu e o verde onduladona desolação desta planíciee corres como se correndo o crime de querermitigasse o encanecer do rostoe a sombra de tanta luz da pele
55
verão inglês
ao longo da costapela areia finaou entre rochas como gigantes lapasestendem-se ao sol aquecendo o coração friotatuadas baleiasviúvas negras e solitárias bonecasde porcelana com o sangue a tingir a pele
que nenhum actéon se aproximea fome é imensa após o inverno rigoroso das ilhas de artur
à noite cheirando a florescom vestidos de brisamergulhando a beleza de oitocentosem geladas cervejas deliquescentes whiskyscomo dianas treinam o olhar nas setasdançam e cantam a língua ébriade seios cobiçando a lua
sem pudor despejam o desejoem canteiros lacrimados de amores-perfeitos até contestarem o diaempunhando o cigarrogirassol em brasa
56
soneto de Canterbury
em canterbury perenes árvorestornam-se bancos memoriaispara acomodar o pensamentoonde só tu estás com tua língua
e tu depois chegando com tua terna inteligênciaapagando a imagem de fogo e cinzaschegando do país nunca por ti visitadoessa morada a poucas horas de mim
aí retorno marcado pela tua vidavoz a ideia de um corpo conhecedordo mundo e dos mais fundos lugares da razão
talvez um dia nos reencontremosnesse azul ilimitado sem horizontesdo teu medo ou noutro lugar do amor
58
o funâmbulo cansado
o funâmbulo sentou-se vergado pelo peso que o assolae perambula no seu fio de prumo entre abandono e desilusãoacabado o espectáculo luzes apagadas deixa as mãospousarem sobre os músculos secosoutrora fúlgidos de uma animada dançatrocou o sorriso por um ricto depôs a máscarae da lantejada lapela desprendeua rosa a rosa a rosa levada entre os dentesaté onde já nenhuma rede o amparou
59
angelus novus
depois dos trabalhos feitose esforços despendidosabalando o seu pequeno mundodecidiu-se por um último gestoe enquanto se despiadespedindo-se dos seus laços de sangue e coraçãoa mão tacteou um ínfimo volume na espáduaum deserto tinha vindo a expandir-see com dois dedosarrancou uma pena das costas
60
a noite estende-se
a noite estende-se no sofáobserva-te do fundoe sabe-se amor caninoé uma vida pulsantereverberando na tuaou uma escrita no mais profundoda pele arrebatando e silenciando-tedeita-se a teu lado e aguardaa morte entrando pela portado mais de dentro para o mais de fora
61
prece a um combatente urbano
amigoquando te encontraresa subir o mármore da leique de tuas mãos saiam anjosriscando o céu bramindosuas lâminas de fogoas forças diabólicas quea Kafka batiam à portajá te fazem sombra
62
call me Charles Dodgson
nesta tarde de primavera passaste brancapela erva mal tratada do jardim ias atrasada para um compromisso e a correrentraste pelo caminho subterrâneo
o tempo miserável e precário em que me encontroeste rio lavando-me duas vezes na mesma águapermitiu-me seguir-te e cair
e no meio de muita genteo atlas que sustém este coração no vaziodescansou por um breve instante e deixou-sebanhar pelas breves torrentes da imaginação
vi uma vida onde contigo cresciadiminuía bebia entre loucos amigosflores conquistavam os paraísos perdidos de betãoperdendo-nos somente à rainha vermelha
alguém chamou por um nome
não era o meu nem tuo felpudo na lura
63
icaríada
já não furto as asas a meu paifoi demasiado abrasiva a lição da realidade
hoje deambulo e só o coraçãose adianta – pelas sombras dos afectos
viandante – chegado atrasado dois séculospara a morte romântica
contra o ocaso da realidadeaguardo o acaso do real
64
janus no correr da linha
se houvesse puros opostoso funâmbulo e o enforcado seriam
o par de amantes do liameentre transe e trânsito
são corpos da queda
um a dançao outro o balançar de rosa dos ventose dos dois o peso:
pensamento da cordaorgasmo do laço
66
still with me
simapartamo-nos de moto própriopor nossa decisão
sei-te porém em cada parte do meu corpo
67
Der Abschied
a partir de "3Abschied" de Anne Teresa de Keersmaeker e Jérôme Bel e "DerAbschied", parte final da "Lied von der Erde" de Gustav Mahler
és uma criança entre instrumentospouco sabes dos ritmos graves timbresque te (ex)pulsam da segurança dessa cadeiraergues-te tacteias o passo redondo de um arcoe corda tensa amparas-te nos gestose assim passas despercebida ao olho menos incauto
corres saltas cais fazes-te maior na infantilidadeum outro instrumento nas mãos do tempoestendes a tua leva-la à terra o chão desta salafazendo a vez de mundo ou natureza“com suas sombras que arrefecem”e dir-se-ia tudo “coberto de erva macia e intumescida”
lentamente o que te rodeia partetudo te abandona ou morree resta-te a ternura da eternidadeo novo trilho traça-se nesse lugar despidocom seu lago e flora no verso desta fronteira vidraçada
olhas em torno és agora mulher frágil corpoa canção da terra sobe-te aos lábios e a voznum sussurro o sopro da despedida
o amigo com quem o mundo se revelava“ébrio de amor e vida eternos”é a ausência que te acompanhará“eternamente... eternamente”
68
à espera II
a partir de En Atendant de Anne Teresa de Keersmaeker e de Philipus de Caserta
a fonte está secade seus ribeiros e arroios nada mais restasão sulcos onde os pés aprendemo andar a leveza a quedaos corpos estão entregues ao pótão vivos ainda no declinar do dia
virás por esse caminhosubtilmente quase amorosamentee por mais se amparem as mãosdeixarão sempre o outro fugire nunca os lábios serão resgatadosum segredo os aparta
qua[r] verement cest chose bien certaineJe nen puis aprocher not ne matinee*
sós aguardamos-te o caminho e eupassado o último raio de luzrevelando a dança da poeiravem a gravidade da noiteonde me encontro esgotadorespirandonu
* porque, na verdade, é coisa bem certa,Não posso aproximar-me dela nem de noite nem de dia!(verso retirado de En Atendant de Philipus de Caserta (1370-1420))
69
homem e língua
um homem solitário é um solilóquioenredado no seu mundo de silênciodois homens lado a ladoum combate de corações destroçadostrês homens abre-se o espaço da experiênciateatral sendo o terceiro a muda testemunhadaí para a frente chegando o quarto quinto etc.cada um com a sua históriaé um ajuntamento de mistérios em queda na mentira
70
ÍNDICE
poemas de espera 6poema do futuro 7poema sentido 8terceiro poema 9poema de espera com eliot à sombra 10código de insónias 11insónia iii 12insónia iv 13insónia v 14insónia vi 15insónia vii 16inaugura a pele a viii insónia 17insónia ix 18e termina a longa noite 19os dias 20mais um dia 2148b 22passeando o cão 23gravilha granizo 24um tempo de espera 25ocaso egoísta 26a mão pela areia 27aguardo a grande ficção 28o terceiro copo 29meat in groom 30noite 31eclipse 32poemas possíveis do cabo sardão 33i 34ii 35iii 36iv 37v 38vi 39vii 40
72
poemas da despedida, segunda parte 41i 42ii 43iii 44iv 45v 46vi 47vii 48llóron 49poemas soltos 50com o eremita 51canção à tua noite 52poema ético 53resposta a “choro” de Abdelwahhab Azzawi 54s/t 55verão inglês 56o atlas que sustém este coração no vazio 57soneto de Canterbury 58o funâmbulo cansado 59angelus novos 60a noite estende-se 61prece a um combatente urbano 62call me charles dodgson 63icaríada 64adivinha 65janus ao correr da linha 66still with me 67der abschied 68à espera ii 69homem e língua 70
73