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UENP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ CCHE - Centro de Ciências Humanas e da Educação Nome: Giovany Pereira Valle Data: 16/09/2013 Professor: Luís Ernesto Barnabé Disciplina: História da África A História da África nos bancos escolares. Representações e imprecisões na literatura didática. (...) “O que sabemos sobre a África?” [pág. 423] “Talvez as respostas sofram algumas variações” (...). “Acredito, no entanto, que o silêncio ou as lembranças e imagens marcadas por estereótipos preconceituosos vão se tornar ponto comum na fala daqueles que se atreverem a tentar formular alguma resposta. Atrevimento sim!” Quantos de nós estudamos a África nas escolas? Quantos no curso de História tiveram a disciplina de História da África? Quantos leram livros, ou textos, sobre a questão? O que realmente sabemos sobre a África? [pag. 423] O ofício de historiador ou de professor “habilita-nos à compreensão e análise da humanidade em sua trajetória no tempo. (...) Voltar ao passado apenas por erudição ou curiosidade não é a nossa tarefa. O passado comunica o presente, o presente dialoga com o passado”. (...) “Se a História da África, como um campo do pensamento humano, se justifica por si só, no nosso caso, a responsabilidade adquire um duplo peso”. [pág. 423] “Primeiro: temos que reconhecer a relevância de estudar a História da África, independente de qualquer outra motivação.” [pág. 423]

Fichamento a África Nos Bancos Escolares

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O presente fichamento apresenta como a temática sobre a História da África tem sido abordada nas escolas, visto sua obrigatoriedade por lei desde 2003. O texto do autor Anderson Oliva visa mapear como a literatura didática vem tratando do assunto e as representações construídas sobre o continente africano presente nesses livros didáticos, além de apresentar os estereótipos que circundam os meios de comunicação e boa parte da sociedade brasileira a respeito da África.

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UENP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁCCHE - Centro de Ciências Humanas e da Educação

Nome: Giovany Pereira Valle Data: 16/09/2013Professor: Luís Ernesto Barnabé Disciplina: História da África

A História da África nos bancos escolares. Representações e imprecisões na literatura didática.

(...) “O que sabemos sobre a África?” [pág. 423]

“Talvez as respostas sofram algumas variações” (...). “Acredito, no entanto, que o silêncio ou as lembranças e imagens marcadas por estereótipos preconceituosos vão se tornar ponto comum na fala daqueles que se atreverem a tentar formular alguma resposta. Atrevimento sim!” Quantos de nós estudamos a África nas escolas? Quantos no curso de História tiveram a disciplina de História da África? Quantos leram livros, ou textos, sobre a questão? O que realmente sabemos sobre a África? [pag. 423]

O ofício de historiador ou de professor “habilita-nos à compreensão e análise da humanidade em sua trajetória no tempo. (...) Voltar ao passado apenas por erudição ou curiosidade não é a nossa tarefa. O passado comunica o presente, o presente dialoga com o passado”. (...) “Se a História da África, como um campo do pensamento humano, se justifica por si só, no nosso caso, a responsabilidade adquire um duplo peso”. [pág. 423]

“Primeiro: temos que reconhecer a relevância de estudar a História da África, independente de qualquer outra motivação.” [pág. 423]

A História da África e a História do Brasil estão bastante ligadas, estando aí a segunda responsabilidade de estudarmos a África. Se nos dedicamos a tantos outros conteúdos, porque não incluir a África em nossos projetos. (...) “Devemos conhecer a África para, não apenas dar notícias aos alunos, mas para internalizá-la neles” (...). [pág. 424]

A História da África nos bancos escolares

O ensino de História no Brasil passou por transformações nos últimos vinte anos, porém tais transformações não ocorreram significativamente com o estudo da História da África. [pág. 424]

Aqueles que estudaram nas escolas no período anterior ao fim da ditadura militar tinham que se contentar com uma História de influência positivista, com memorizações de datas, nomes de heróis, listas intermináveis de presidentes e

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personagens, uma História de abordagem política e nacionalista, além do caráter eurocêntrico da História Geral. Era uma história sem qualquer abordagem crítica. Com o fim da ditadura militar, professores e técnicos buscaram modificar o ensino da história. [págs. 424 e 425]

Desde os anos 1950, o marxismo pareceu ser a solução tanto para os currículos como para os livros didáticos. Porém, a dose de mudanças foi muitas vezes ortodoxa, limitando a história a modelos vulgares das análises marxistas e a complexas estruturas e sistemas econômicos.(...) É essa perspectiva teórica, com seus avanços e obstáculos que, até o final dos anos 1990, foi, se não hegemônica, majoritária no ensino da disciplina. [pág. 425]

Com a experiência paulista dos anos 1980, é a partir de 1995 que encontramos uma presença mais marcante dos referenciais da História Nova nos livros didáticos e nas salas de aula, chamada aí de História temática. Porém, e apesar dos esforços, existem lacunas e problemas de certa relevância no debate que se montou acerca da adoção do ensino temático no Brasil. [pág. 425]

“Em artigos publicados recentemente, em duas qualificadas coletâneas (ver Abreu, 2003, Karnal, 2003; Bittencourt, 1997b), vários pensadores fizeram incursões reflexivas sobre o atual momento do ensino de História e das inovadoras e, de certa forma, problemáticas propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Entre as discussões levantadas, uma chamou-nos a atenção: o debate acerca do combate à discriminação racial e do ensino da História da África”. [pág. 426]

O autor destaca o artigo de Hebe Maria Mattos, O Ensino de História e a luta contra a discriminação racial no Brasil, onde ela demonstra preocupação sobre o ensino da História da África, alertando a necessidade de se redimensionar aspectos teóricos e de espaço sobre o assunto, além de pensar a África, os africanos, a identidade negra, dentro do contexto do Mundo Atlântico. Ela coloca também o problema existente nas universidades com relação a História da África e os impactos gerados no ensino. Ao realizar uma analise em alguns livros didáticos, ela aponta os avanços e tropeços existentes, como por exemplo o modo com que se trata a escravidão no Brasil, com um olhar eurocêntrico. Hebe Mattos não é uma africanista, porém ela contribui muito por trazer esse tipo de material analisando o modo como a África é apresentada em vários livros didáticos. Segundo Mattos “ensinar história da África aos alunos brasileiros é a única maneira de romper com a estrutura eurocêntrica que até hoje caracterizou a formação escolar brasileira”. [págs. 426, 427 e 428]

Após os processos de independência africana, as pesquisas sobre a história do Continente aumentaram significativamente, tanto por africanistas como por historiadores dos países recém-formados, porém tais pesquisas tiveram dificuldade em serem transportadas para o ensino. Na Europa passa-se a ter pesquisas, mas sem um olhar colonialista. Na América, principalmente no Brasil e nos Estados Unidos, o estudo sobre a África começou a se elevar, porém ainda é pouco comparado com outras temáticas. [pág. 428]

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Quando foi sancionada a lei que tornou obrigatório de ensino da História dos afro-brasileiros e da África nas escolas de Ensino Fundamental e Médio houveram problemas práticos, já que a maioria dos professores nunca tiveram contato com a disciplina específica de História da África, e mesmo os livros didáticos não reservavam espaço para o assunto, o que acarretava na construção de estereótipos sobre a África e que eram transmitidos aos alunos. [págs. 428 e 429]

Para perceber como é ensinado a História da África nas escolas, o autor analisa como os livros didáticos a partir de 1995 abordavam esse conteúdo. Em seguida destaca um estudo de caso de um livro didático que dedica um capítulo específico sobre a África no período pré-colonial, verificando os acertos e desacertos da seguinte abordagem. [pág. 429]

As coleções didáticas de História no Brasil trazem um desconhecimento e uma visão eurocêntrica sobre a História da África. Poucas coleções dedicam um capítulo específico sobre o assunto. Mesmo quando o silêncio é quebrado, a formação inadequada e a escassa bibliografia de fundamentação dificultam uma leitura mais abrangente sobre o tema, acarretando nas distorções e estereótipos que se encontram por aí, sendo reproduzidos por alunos e professores. [págs. 429 e 430]

“Excluindo um seleto grupo de intelectuais e pesquisadores, uma parcela dos afro-descendentes e pessoas iluminadas pelas noções do relativismo cultural, nós, brasileiros, tratamos a África de forma preconceituosa”. [pág. 431]

No geral, nós brasileiros reproduzimos estereótipos lançados pelos meios midiáticos, os impressos em livros didáticos, que imprimem o preconceito e o racismo em suas abordagens. [pág. 431]

As interpretações racistas e preconceituosas sobre a África são fruto de ações e pensamentos do passado e do presente, não sendo uma visão que se construiu recentemente. [pág.431]

Segundo o historiador José da Silva Horta, os textos ou imagens sobre a África são constituídas através das representações, uma (re)construção do real segundo a visão de mundo de alguém. [pág. 432]

Cabe lembrar que as representações se formaram por duas vias, uma de europeus sobre os africanos e outra de africanos sobre os europeus. [págs. 432 e 433]

O olhar sobre o outro cria um certo “estranhamento”, além de criar dificuldade de aceitar as diferenças. Ao mesmo tempo essa relação é importante para a afirmação e reelaboração das identidades, percebendo elementos de proximidade que os unem. [pág. 433]

O psiquiatra negro Frantz Fanon afirma que: “o negro nunca foi tão negro quando a partir do momento em que foi dominado pelos brancos”. O filósofo

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africano Kwame Appiah ainda coloca que o negro dói um produto criado pelo europeu a fim de dominá-los. [pág. 433]

Desde a Antiguidade já se via o continente africano com um estranhamento, tanto pela cor de pele dos africanos como pelas características da região chamada de Etiópia. Heródoto e outros escritores viajantes, historiadores e geógrafos da época já apresentavam uma visão de superioridade à aquele povo da Etiópia. [págs. 433 e 434]

“No medievo, as imagens sobre os africanos foram completamente tangidas pelo imaginário europeu”. Segundo a teoria camita e a fusão da cartografia de Ptolomeu com a cosmologia cristã, a África e os africanos estariam ocupando as piores regiões do planeta. [págs. 434 e 435]

Nos mapas medievais, o paraíso se encontrava ao Norte, na parte mais alta, estando distante dos homens. A Europa se encontrava no centro e no sul se encontrava o “continente negro e monstruoso, a África”. [pág 435]

No período das Grandes Navegações continuasse os mesmos olhares preconceituosos. ‘No século XV, duas encíclicas papais — a Dum Diversas e a Romanus Pontifex—“deram direito aos Reis de Portugal de despojar e escravizar eternamente os Maometanos, pagãos e povos pretos em geral” ’. [pág. 435]

Acreditava-se que a África seria um lugar terrível com monstruosidades, imoralidades, práticas demoníacas, cultos pagãos, enfim, uma imagem negativa sobre o continente. [pág. 436]

Mary Del Priore e Renato Venâncio retratam construções mentais feitas acerca da África. [pág. 436]

No século XIX, as concepções do Darwinismo Social e do Determinismo Racial, colocaram os africanos como a raça mais primitiva, e que os europeus teriam de levar a civilização ao continente como maneiro de justificar o imperialismo. [pág. 436]

“Berço da humanidade, esse Continente foi palco de diversificadas experiências sociais e múltiplos fenômenos culturais. No entanto, o aparecimento da “ciência histórica”, na Europa dos oitocentos, desconsiderou, por meio de seus pressupostos, a história vivenciada naquele Continente”. [págs. 436 e 437]

Segundo Carlos Lopes, existiriam três grupos de investigações realizadas sobre a África, a partir do século XIX: “a Corrente da Inferioridade Africana, a Corrente da Superioridade Africana, e uma Nova Escola de estudos africanos.” [pág. 437]

Na perspectiva dos pensadores do século XIX, os povos africanos estariam em um estado de quase absoluta imobilidade, seriam povos sem história. Eram vistos de tal forma por não possuírem códigos escritos e por serem sociedades

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tradicionais, o que segundo os europeus que pensavam na modernização era um sinal de atraso. [pág. 437]

Para os historiadores do século XIX ou da virada para o XX, a História da África teria início quando os europeus passaram a manter relações com as populações do Continente. “Não só pela ação de registrar e relatar, feita por viajantes, administradores, missionários e comerciantes do século XV ao XIX, mas principalmente pelas mudanças introduzidas pelos europeus na África”. [pág. 438]

Para os europeus, o que se encontrava lá de mais sofisticado era fruto do contato de outras civilizações com África, assim querendo afirmar a não existência de uma história africana. [págs. 438 e 439]

“O Continente que deu vida ao próprio homem foi condenando por muitos deles ao esquecimento ou à inferioridade”. Somente na segunda metade do século XX que a África passa a ser um objeto de estudo mais explorado. Com isso num primeiro momento se tem uma reinvenção da história dos africanos com o intuito de elaborar identidades africanas, buscando heróis fundadores e feitos grandiosos dos países recém formados, e que no pós-independência se formam ideologias voltadas para os movimentos de negritude e o pan-africanismo. [págs. 439 e 440]

Carlos Lopes aponta para outra corrente de analise chamada de “Pirâmide Invertida”, ou Corrente da Superioridade Africana, liderada por Joseph Ki-Zerbo e Cheikh Anta Diop. Nesse tipo de analise os historiadores defendem que as sociedades africanas em nada deviam para as sociedades européias, as colocando no mesmo patamar, porém estes acabavam por enaltecer demais as características histórico-culturais africanas, criando um afrocentrismo. [pág. 440]

No final da década de 70 e início da década de 80 do século XX, surge uma nova corrente de analise, uma “nova escola de historiadores africanos”. Estes se preocupavam em integrar os estudos sobre o a África ás inovações da historiografia mundial. Passa-se a utilizar novos metodologias como o uso da tradição oral, a Antropologia, a Linguística e a Arqueologia. Com isso passou a abordar uma maior diversidade temática: economia, ciência política, o regional, a escravidão, entre outros temas. [págs. 440 e 441]

O livro didático de História entre representações

Os livros didáticos geralmente são feitos por historiadores ou professores de História, onde colocam em seus textos escritos e imagéticos suas representações da História, e que estas serão (re)significadas pelos leitores, professores e alunos. [págs. 441 e 442]

Os livros didáticos são fruto do seu próprio tempo em que foram produzidos, da historiografia do momento, de demandas e influências

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colocadas na elaboração do material, assim como a ideologia. O autor ao escrever ira se basear em sua formação acadêmica, sua ideologia, o seu contexto histórico, irá direcionar para um determinado tipo de público. Enfim, seu trabalho é cheio de olhares direcionados que possuem significados e interpretações. Portanto “o livro didático [...] é um importante veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura. Várias pesquisas demonstraram como textos eilustrações de obras didáticas transmitem estereótipos e valores dos grupos dominantes, generalizando temas, como família, criança, etnia, de acordo com os preceitos da sociedade branca [...] (Bittencourt, 1997:72)”. [pág. 442]

Além dos texto escritos, as imagens tem papel importantes para o processo ensino-aprendizagem em História. “A imagem enquanto representação do real estabelece identidade, distribui papéis e posições sociais, exprime e impõe crenças comuns, instala modelos formadores, delimita territórios, aponta para os que são amigos e os que se deve combater. (Meireles, 1995: 101)” [págs. 442 e 443]

“Se as imagens reproduzidas nos livros didáticos sempre mostrarem o africano e a História da África em uma condição negativa, existe uma tendência da criança branca em desvalorizar os africanos e suas culturas e das crianças africanas em sentirem-se humilhadas ou rejeitarem suas identidades”. [pág. 443]

Um estudo de caso: a África na Nova História Crítica de Mario Schmidt

Anderson Oliva coloca que a coleção intitulada Nova História Crítica é uma das poucas que dedica um espaço dedicado ao continente africano. O autor do manual cometeu algumas imprecisões sobre o assunto, podendo ser devido a sua formação acadêmica, ao mercado editorial, e as circunstâncias que ocorrem ao elaborar um livro didático. [págs. 443 e 444]

O texto de Schmidt é de base “marxista”, porém incorpora algumas idéias referentes às novas concepções historiográficas. [pág. 444]

Oliva coloca que no Manual do Professor, Schmidt justifica o porquê de dedicar um capítulo á História da África, dizendo que esse tema vem sido negligenciado pelo nosso ensino, porém o próprio alerta que sua abordagem será restrita, o que se mostra muito contraditório. [págs. 444 e 445]

O espaço reservado aos temas de caráter eurocêntrico é muito maior do que o espaço reservado para História da América e da África. [pág. 445]

“Com relação à História da África, a bibliografia citada, apesar de conter nomes importantes da historiografia africana, é ainda bastante restrita se comparada à difusão de estudos e pesquisas que a História da África passou nos últimos vinte anos”. [pág. 445]

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No capítulo sobre “A Expansão Marítima”, o continente africano era visto como um obstáculo que tinham de superar para chegar ao Oriente, ou mesmo apenas como uma fonte de riquezas naturais e escravos. [pág. 445]

Schmidt transita entre acertos e desacertos durante seu texto. “Quando trata das relações da África com o mercantilismo europeu e a sua integração ao Mundo Atlântico o autor utiliza corretamente uma imagem feita por um grupo étnico que habitava o Benin, representando os europeus que chegavam ao Continente”. [pág. 446]

“Alertar para as representações feitas de europeus pelos diversos grupos africanos é um exercício fecundo para que os alunos passem a reconhecer a diversidade cultural e a autonomia dos grupos humanos da África”. [pág. 446]

Porém em outros momentos Schmidt comete alguns anacronismos e frases com juízos de valor. Ao tratar de uma imagem de um português chicoteando um negro, tendo permissão de um padre pra realizar tal ato, “o autor desconsiderou as perspectivas teológicas e temporais do Catolicismo”. [págs. 446 e 447]

No capítulo referente ao “escravismo colonial”, Schmidt volta a se incorrer em erros tradicionais, onde se referi a África apenas a partir do tráfico, desconsiderando uma história do Continente anterior á escravidão atlântica. Outro erro que Oliva aponta seria quando é trazida ao texto uma leitura simplista sobre os grupos étnicos africanos, os resumindo-os em bantos e sudaneses. [pág. 447]

“Ao fazer referência do uso da escravidão no Mundo Atlântico e das motivações econômicas que alimentaram o tráfico negreiro” (...). [pág. 447]

Oliva chama atenção ao fato de o autor do livro didático em questão não abordar a escravidão pré-existente nas sociedades africanas. Um outro ponto que Oliva lança sua crítica é ao anacronismo cometido por Schmidt quando este fala que a escravidão era injusta e não justificável, colocando valores ocidentais atuais em sua análise e desconsiderando o contexto histórico. [pág. 448]

Outra crítica feita é o fato de não se incluir a participação de africanos no comércio de escravos, como se somente portugueses, espanhóis e brasileiros fizessem parte desse comércio. [pág. 448]

Ao citar alguns grupos étnicos o autor utilizou a analise da chamada corrente da “Superioridade Africana”, que utilizava os mesmo métodos europeus de análise, porém agora de forma invertida, se tendo uma análise afrocêntrica, com grandes impérios, grandes construções e obras de arte esplendorosas. Esse modelo de escrita exclui os “pequenos” grupos, como se não tivessem relevância, sendo assim uma seleção ao modo europeu. [pág. 449]

Ao utilizar conceitos como nação, civilização e povo como sinônimos, o autor comete imprecisões ao dirigir esses termos para explicar sobre as etnias

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africanas, tratando elas como algo homogêneo. Como quando ao falar dos iorubás, que eram identificados de acordo com suas cidades de origem ou pequenos reinos, o autor coloca que estes pertenciam ao grupo dos nagôs, generalizando e não caracterizando a diversidade. Entre outras imprecisões Schmidt volta a cometer alguns anacronismos, simplificações acerca da cultura material de alguns reinos, colocação de juízos de valor. [págs. 450 e 451]

“Outra limitação evidente é concentrar a análise na costa ocidental do Continente, reservando um pequeno parágrafo à África oriental”, trazendo uma analise pouco aprofundada acerca daquela região. [pág. 451]

“No que se refere às cosmologias africanas, em nenhum momento o autor atenta para uma abordagem explicativa da relação entre as diferentes percepções e definições daquilo que os ocidentais chamam de religião para as elaborações africanas sobre a questão”. Schmidt “empresta ao universo africano algumas práticas que, se ocorriam em certas regiões do continente, possuíam significados singulares e complexos, comuns às tradições afro-brasileiras, sem maiores explicações ou detalhamentos”. Oliva coloca que o fenômeno religioso no continente africano não é igual ao fenômeno religioso Ocidental, e que o termo correto para isso seria cosmologia e não religião. [pág. 452]

“No uso das imagens, Schmidt parece se sair um pouco melhor, apesar das citações de fontes imprecisas ou ausentes”. [pág. 453]

Oliva destaca que “o autor inova traçando uma linha do tempo com os principais momentos da História do Continente”. [pág. 454]

“Schmidt também procura chamar a atenção dos alunos para as representações dos africanos feitas pelos europeus. A mudança da fisionomia dos africanos, de seus gestos, roupas e comportamentos, que recebem feições européias, é destacada pelo autor”. [págs. 454 e 455]

“No final do capítulo, Schmidt demonstra sua preocupação em articular os conteúdos históricos estudados com o contexto presente. Porém, a imagem que ele transmite aos alunos da África contemporânea é simplista e falsa”. [pág. 455]

Reflexões

Oliva coloca que talvez demore mais algum tempo para que professores e alunos possam responder a pergunta, “o que sabemos sobre a África”? Porém um caminho foi percorrido feito essa discussão sobre como o continente africano vem sendo apresentado nas escolas. [pág. 455]

Ele fala que o preconceito existente na sociedade brasileira também reflete no descaso da Academia, no despreparo de professores e das editoras ao tratar do tema História da África. [pág. 455]

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Segundo o autor mesmo tendo aumentado os estudos acerca da temática ainda existem muitos silêncios e lacunas. [págs. 455 e 456]

No final do artigo Oliva diz que “incursionar sobre o ensino de História da África parece se algo tentador, motivador e necessário”. [pág. 456]