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Finanças Públicas (Teoria Básica/Geral) Base: Textos Diversos e Cap 1 do Giambiagi/Além-FinPub ANAC 2016 – 2a Fase Prof. Waldery Rodrigues Jr [email protected] 1 Finanças_Públicas- Prof._Waldery_Rodrigues_Jr-ANAC-2016

Finanças Públicas (Teoria Básica/Geral) · Finanças Públicas (Teoria Básica/Geral) Base: Textos Diversos e Cap 1 do Giambiagi/Além-FinPub ANAC 2016 – 2a Fase Prof. Waldery

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  • Finanas Pblicas (Teoria Bsica/Geral)

    Base: Textos Diversos e Cap 1 do

    Giambiagi/Alm-FinPub

    ANAC 2016 2a Fase Prof. Waldery Rodrigues Jr

    [email protected]

    1 Finanas_Pblicas-

    Prof._Waldery_Rodrigues_Jr-ANAC-2016

    mailto:[email protected]
  • Professor Waldery Rodrigues Jnior

    Consultor Legislativo do Senado Federal (rea Poltica Econmica e Sistema Financeiro), aprovado no concurso de 2012. Por 18 anos foi Economista (TPP) concursado do IPEA (desde 1996).

    Doutor em Economia pela UnB, Mestre em Economia pela University Of Michigan (com cursos avanado nos Doutorado em Economia/Finanas desta universidade) e Engenheiro pelo ITA.

    Suas reas de trabalho/pesquisa so: Anlise Macroeconmica, Finanas, Finanas Pblicas, Mtodos Quantitativos em Economia e Financiamento do Desenvolvimento.

    Professor da UnB (Mestrado Profissionalizante) e do IBMEC (diversos MBAs).

    Email: [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • Bibliografia: 1. Giambiagi, Fbio e Cludia Alm (2012) Finanas

    Pblicas. 4 Edio. Editora Campus 2. Riani, Flvio (2009) Economia do Setor Pblico:

    Uma Abordagem Introdutria. Editora LTC. 3. Rodrigues Jnior, Waldery (2012) Notas de Aula.

    Indicadores Fiscais. Banco Central do Brasil.

    Jan/2012. [a edio jan/2013 ainda no est disponvel] Relatrio da Dvida Pblica 2012. STN Manual de Estatsticas Fiscais, Banco Central do

    Brasil. Finanas Pblicas: STN e Bacen Rezende, Fernando (2001) Finanas Pblicas 2

    Edio, S.Paulo, Editora Atlas. E. R. Nascimento (2009) Finanas Pblicas para

    Concursos. Editora Campus. Editora Ferreira.

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  • 10 Princpios Economia - Mankiw 1) Em economia sempre h tradeoffs 2) Custo de Oportunidade: O custo de algo o que se deixa de

    ganhar ao obt-lo 3) Pessoas razoveis pensam na margem; 4) Pessoas (e suas decises) reagem a incentivos; 5) Comrcio bom para todos os agentes econmicos - permite

    maior especializao e variedade 6) Mercados so, em mdia, bons para a economia (alocando

    eficientemente preos e quantidades) 7) Governos podem, sob certas condies, melhorar as alocaes

    ditadas pelos mercados 8) Padro de vida determinado pela produo de Bens e Servios

    (e pela produtividade) 9) Preos sobem com a emisso de moeda 10) H um tradeoff de curto prazo entre inflao e desemprego

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  • Contas Nacionais

    Sistema Monetrio Balano de Pagamentos

    Modelos

    Oferta e Demanda Agregadas

    Escolha Intertemporal

    Poltica Monetria

    Poltica Fiscal

    Det. da Renda de Equilbrio

    Cmbio

    Inflao

    Crescimento e Ciclos Econmicos

    Taxa de Juros Emprego

    modelo IS-LM

    Multiplicador Bancrio

    Multiplicador Keynesiano Determinantes do Investimento Funes Poupana e Consumo

    Equilbrio no Mercado de Bens Equilbrio no Mercado Monetrio

    Expectativas no Modelo IS-LM

    Curto e Longo Prazos

    Curva de Phillips Rigidez dos Reajustes de Preos e Salrios

    Regimes Cambiais. Crises Cambiais

    Modelo IS/LM numa Economia Aberta

    Restrio Oramentria Intertemporal: Famlias, Governo (Equivalncia Ricardiana), Nao (e Divida Externa)

    Conceitos Macro Bsicos Identidades Macro Fundam Produto e Renda Nacional

    Produto Nominal x Produto Real

    Fluxograma Macroeconomia

    (Organizado pelo Prof. Waldery Rodrigues Jr.)

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  • Ferramentas de Economia: Contas Nacionais

    Sistema de Contas Nacionais

    Balano de Pagamento

    Balana Comercial

    Transaes Correntes

    Dvida Pblica

    Fluxograma

    Noes de Modelos Macroeconmicos

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    Fonte: Apostila ... Microeconoma

  • Flutuaes Cclicas:

    Grfico

    Polticas de Estabilizao

    Comportamento dos agentes econmicos

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  • Polticas Econmicas: Fiscal

    (T G ) = Oramento Agentes: Ministrio da Fazenda, ...

    Monetria M = moeda Liquidez

    Caso recente (sexta): compulsrios (R$ 30 bilhes)

    Agentes: Banco Central

    Cambial Agentes: Bacen, Min Faz, ... Fixo x Flexvel

    Creditcia Agentes: Bacen, BNDES, Min. Faz, ...

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  • Sistema de Contas Nacionais:

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  • Composiao do X e do M de fundamental importncia:

    X: idealmente deve-se se concentrar em produtos de alto valor agregado (com forte contedo tecnolgico).

    Hoje o Brasil infelizmente tem forte concentrao em produtos primrios (commoditizados).

    Alguns so manufaturados ou semi-manufaturados.

    M: pode ser bom se forem importados bens de capital (para produzir outros bens)

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  • Quantificao do Ajuste:

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  • DBGG: Dvida Bruta do Governo Geral

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  • PIB e Investimento Agregado e Investimento em Infraestrutura

    Econmica:

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  • Pacto Federativo (Fraturas Federativas):

    Discusso como um todo (x discusso Fatiada)

    Pouco tempo para resolver

    No apetite do Governo Federal Custo poltico-eleitoral

    Exemplo da PEC 233/2008 Cartilha da Reforma Tributria

    Seu pedido (dez/2011) ao Presidente Sarney para criao de uma comisso de altos estudos para analisar o pacto federativo no Brasil.

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  • Tpicos do Pacto Federativo: 1. Fundo de Participao dos Estados (FPE) 2. Reforma Tributria

    1. ICMS 1. Alquotas

    1. Guerra Fiscal

    2. Lei Kandir (ICMS Exportao) 3. Fundo de Compensao de Receitas (FCR) 4. Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR) 5. Acordo de convalidao dos benefcios/incentivos fiscais - CONFAZ

    3. Divida dos Estados 1. Caso do Estado de Mato Grosso (MT)

    4. Royalties do Petrleo 5. Royalties da Minerao 6. Questo da segurana pblica

    1. Caso de Santa Catarina (SC)

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  • Nossa federao...

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  • Captulo 1 - Giambiagi/Alm Teoria das Finanas Pblicas

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    Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • Muitos de ns, com certa freqncia, j nos irritamos com o governo. No apenas com a administrao do presidente da Repblica A ou B ou do governador C ou D, mas com a instituio denominada" governo" . Seja porque pagamos mais impostos do que o valor que ns consideramos "justo"; seja porque os servios pblicos deixam a desejar etc. Entretanto, os governos so fatos da vida: eles existem, quer gostemos ou no. Eles so necessrios, da mesma forma que as instituies, para regular o funcionamento de uma sociedade.

    Por isso, convm entender as regras que regem o seu comportamento. Neste captulo, estudaremos questes como: Qual a racionalidade para

    a existncia do governo? Quais so os objetivos da poltica fiscal? Por que, historicamente e at pouco tempo, o gasto pblico tendeu a aumentar como proporo do PIB, na maioria dos pases? etc.

    O captulo procura explicar ao leitor quais so os elementos bsicos da literatura das finanas pblicas, expostos nos livros clssicos de Musgrave e Musgrave (1980) e Stiglitz (1986), tentando sintetizar os pontos mais importantes da teoria, para efeitos da leitura do restante do livro

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    25 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • AS FALHAS DE MERCADO freqente ouvirmos a tese de que o setor privado mais

    eficiente do que o governo e de que, portanto, uma economia em que as firmas operamm liIvremente funciona melhor do que uma economia com forte atuaao governamental.

    Nas economias capitalistas, essa tese compartilhada por uma parte expressiva da sociedade, do empresariado e, muitas vezes, do prprio governo.

    Como conciliar essa viso com o fato de que o governo, na pratica, tem uma participao ativa na economia de quase todos os pases?

    Segundo a teoria tradicional do bem-estar social (welfare economics), sob certas condies, os mercados competitivos geram uma alocao de recursos que se caracteriza pelo fato de que impossvel promover uma realocao de recursos de tal forma que um indivduo aumente o seu grau de sahsfaao, sem que, ao mesmo tempo, isso esteja associado a uma piora da situao de algum outro indivduo.

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    26 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • Essa alocao de recursos que tem a proprIedade de que mnguem pode melhorar sua situao, sem causar algum prejuzo a outros agentes, denominada na literatura de "timo de Pareto". Paralelamente a este conceito, a teoria econmica tradicional ensina que para atingir uma alocao "Pareto eficiente" de recursos no necessrio que exista a figura de um " planejador central", j que a livre concorrncia, com as firmas operando em um mercado competitivo e procurando maximizar seus lucros, permItIrIa atmgrr esse ideal de mxima eficincia.

    A ocorrncia desta situao tima, entretanto, depende de alguns pressupostos: a) a no existncia de progresso tcnico e b) o funcionamento do modelo de concorrncia perfeita, o que implica a existncia de um mercado atomizado - onde as decises quanto quantidade produzida de grande nmero de pequenas firmas so incapazes de afetar. o preo de mercado - e de informao perfeita da parte dos agentes econmicos.

    Esta uma viso idealizada do sistema de mercado. Na realidade, existem algumas circunstncias conhecidas como " falhas de mercado", que impedem que ocorra uma situao de timo de Pareto. Tais circunstncias so representadas por: a) a existncia de bens pblicos, b) a falha de. Competiao que se reflete na existncia de monoplios naturais, c) as externalIdades, d) os mercados incompletos, e) as falhas de informao, e f) a ocorrncia de desemprego e inflao.

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    27 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • A existncia de bens pblicos

    Os bens pblicos so aqueles cujo consumo/uso indivisvel ou "no-rival". Em outras palavras, o seu consumo por parte de um indivduo ou de um grupo social no prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade.

    Ou seja, todos se beneficiam da produo de bens pblIcos mesmo que, eventualmente, alguns mais do que outros. So exemplos de bens pblicos:

    bens tangveis como as ruas ou a iluminao pblica;

    e bens intangveis como justia, segurana pblica e defesa nacional.

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    28 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • Outra caracterstica importante o princpio da "no-excluso" no consumo desses bens. De fato,eln geral, difcil ou meSlno impossvel impedir que um determinado indivduo usufrua de um bem pblico. Por exemplo, se o governo resolve aumentar o policiamento de uma rua residencial, todos os moradores dessa rua - sem que se possa distinguir entre os indivduos A ou B sero beneficiados pela deciso. diferente de uma situao na qual o consumo/uso de um bem/servio por uma determinada pessoa significa a excluso da utilizao, consumo deste bem/ servio por outra, como ocorre com os bens privados - como roupas, alimentos, habitaes, automveis e outros.

    Tomemos como exemplo uma loja que vende um certo modelo de vestido a um preo promocional. Tendo em vista que aps um dia de vendas intensas tenha restado apenas UI na pea e cheguem duas pessoas, A e B, loja para comprar o vestido, somente uma delas poder compr-lo. A partir do momento em que A comprar a pea, B estar automaticamente excluda do consumo do vestido - ou vice-versa. Neste caso o consumo "rival": o vestido comprado por A no pode ser comprado por B. Ou seja, em uma situao como essa, onde o bem privado, possvel se individualizar o consumo do bem, diferentemente do que ocorre quando se trata de um bem pblico.

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    29 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • A questo que se coloca para a sociedade , justamente, como ratear os custos da produo dos bens pblicos entre a populao, tendo em vista que impossvel determinar o efetivo benefcio que cada indivduo derivar do seu consumo que, muitas vezes, sequer voluntrio. Sendo assim e levando em conta que os bens pblicos, Ulna vez produzidos, beneficiaro a todos os indivduos, independentemente da participao de cada um no rateio de custos, natural que os indivduos, se fossem chamados a " precificar" sua preferncia atravs de "lances", tendessem a subavaliar os benefcios gerados pelo bem pblico, a fim de reduzir suas contribuies. Alm disso, o fato de no se poder individualizar o consumo permite que algumas pessoas - os "caronas [free riders] - possam agir de m f, alegando que no querem ou no precisam ter acesso ao consumo e desta forma, negando-se a pagar por ele, ainda que acabem usufruindo do benefcio do bem pblico.

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    30 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • justamente o princpio da "no-excluso" no consumo dos bens pblicos que torna a soluo de mercado, em geral, ineficiente para garantir a produo da quantidade adequada de bens pblicos requerida pela sociedade. O sistema de mercado s funciona adequadamente quando o princpio da "excluso no consumo pode ser aplicado, ou seja, quando o consumo por um indivduo A de um bem especfico significa que A tenha pago o preo do tal bem, enquanto B, que no pagou por esse bem, excludo do consumo do mesmo. Em outras palavras, o comrcio no pode ocorrer sem que haja o direito de propriedade que depende da aplicao do princpio de excluso. Sem este, o sistema de mercado no pode funcionar de forma adequada, j que os consumidores no faro lances que revelem sua preferncia medida que podem, como " caronas", usufruir dos mesmos benefcios.

    por esta razo que a responsabilidade pela proviso de bens pblicos recai sobre o governo, que financia a produo desses bens atravs da cobrana compulsria de impostos.

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    31 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • A existncia de monoplios naturais Existem setores cujo processo produtivo caracteriza-se pelos retornos

    crescentes de escala, ou seja, os custos de produo unitrios declinam conforme aumenta a quantidade produzida. Sendo assim, dependendo do tamanho do mercado consumidor dos bens desses setores, pode ser maIS vantajoso haver apenas uma empresa produtora do bem em queso. Uma grande quantidade de empresas operando no mesmo setor lfiphcarla um mvel de produo muito baixo para cada uma e, conseqentemente, custos de produao mais altos.

    Por exemplo, pode ser mais eficiente a existncia de apenas uma empresa de distribuio de energia eltrica servindo um mercado consufildor local.

    N o caso da ocorrncia do monoplio natural, a interveno do governo pode tomar duas formas possveis. Ele pode exercer apenas a regulao dos monoplios naturais, a fim de impedir que o forte poder de mercado detido pelas empresas monopolistas reflita-se na cobrana de preos abusivos Junto aos consumidores, o que representaria uma perda de bem-estar para a sociedade como um todo. Alternativamente, o governo pode responsabilizar-se diretamente pela produo do bem ou servio referente ao setor caracterizado pelo monoplio natura1.2

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    32 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • As externalidades So comuns os casos em que a ao de um indivduo ou de uma empresa

    afeta direta ou indiretamente outros agentes do sistema econmico. As situaes nas quais essas aes implicam benefcios a outros indivduos ou firmas da economia so caracterizadas como " externalidades positivas". Por exemplo, se um indivduo decide fazer uma limpeza geral em sua casa visando eliminao dos focos de concentrao dos mosquitos transmissores da dengue, ele no apenas estar contribuindo para a manuteno de sua sade, como tambm estar ajudando a sade de seus vizinhos. Um outro exemplo e o InvestImento em setores de infra-estrutura que, garantindo um aumento da oferta de insumos importantes como a energia eltrica, traz benefcios para todos os outros setores da economia.

    Por outro lado, existem as chamadas "externalidades negativas". Estas correspondem quelas situaes nas quais a ao de um determinado agente da economia prejudica os demais indivduos ou empresas. Os exemplos mais comuns deste tipo de externalidades so o lixo das indstrias qumicas jogado nos rios e mares e a poluio do ar pelas empresas. Em termos individuais, destaca-se o fumante que obriga todas as outras pessoas sentadas em uma sala de espera do consultrio dentrio, por exemplo, a inspirar a fumaa de seu cigarro.

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    33 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • A existncia de externaliddes justifica a interveno do Estado, que pode se dar atravs:

    a) da produao direta ou da concesso de subsdios, para gerar externalidades , positivas;

    b) de multas ou impostos, para desestimular externahdades negativas e c) da regulamentao. Por exemplo, no caso da introduo da eletrificao rural que implica um

    investimento volumoso, com longo prazo de maturao e pouco rentvel, pode ser que no haja interesse do setor privado para assumir a empreitada, ainda que se reconhea que possa gerar altos benefIclos sociais. Sendo assim, o governo pode assumir diretamente a responsabilidade pelo investimento, como ocorreu, principalmente nos pases em desenvolvimento. Alternativamente, o governo pode conceder subsdios ao setor prIvado a fim de estimul-lo a assumir diretamente a responsabilidade pela eletrificao rural. Uma outra forma de interveno, no sentido oposto, e a emisso de multas s empresas e/ou indivduos que causem danos a socIedade: as multas de trnsito so um bom exemplo. Finalmente, o governo pode introduzir regulamentaes especficas como a estipulao de um mximo de emisso de gases na atmosfera por parte das empresas e a exigncia de areas para no-fumantes em ambientes fechados.

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    34 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • Os mercados incompletos Diz-se que um mercado incompleto quando um bem/ servio no ofertado ou ainda

    que o seu custo de produo esteja abaixo do preo que os potenciais consumildores estarIam dispostos a pagar. A definio feita em contraposio ao conceito de mercado completo que capaz de ofertar qualquer bem/ servio cujo custo de proviso menor do que as pessoas esto dispostas a pagar por ele.

    Esta falha pode acontecer porque mesmo que se tratem de atividades tpica do mercado, nem sempre o setor privado est disposto a assumir riscos.

    Principalmente no que diz respeito a pases em desenvolvimento, por exemplo, a existncia de um sistema financeiro e/ou um mercado de capitais pouco desenvolvIdos no fornece o financiamento a longo prazo necessrio ao esforo de desenvolvimento do sistema econmico. Neste caso, a interveno do governo importante para a concesso do crdito de longo prazo que financie os investImentos no setor produtivo. No Brasil, destacam-se os bancos pblicos de desenvolvimento econmico, como o BNDES.

    Ainda em relao aos pases em desenvolvimento, alm de problemas de financiamento man, h muitos casos em que necessria uma coordenaco dos mercados em alta escala, o que justifica a interveno do Estado mediante processos de planejamento. Por exemplo, o objetivo de industrializao rpida de um pas atrasado pode requerer uma ordenao de setores prioritrios para a instalaao da indstrla. Isto exige uma estreita coordenao entre as empresas, bancos e agentes envolvidos nas atividades produtivas cotidianas.

    Como no mundo capitalista as aes dos agentes privados nem sempre so consistentes entre si, natural que o Estado assuma, eventualmente, uma funo coordenadora.

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    35 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • As falhas de informao Nos casos de falhas de informao, a interveno do Estado

    justifica-se em razo de o mercado por si s no fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decises racionalmente. A forma de ao do Estado pode ser mediante a introduo de uma legislao que induza a uma maior transparncia do mercado. Por exemplo, podemos citar a exigncia de que os balanos contbeis das empresas e bancos com capital aberto sejam publicados periodic amente pela imprensa.

    Entretanto, a importncia da interveno do Estado no se limita simples proteo dos consumidores. Tendo em vista que a informao pode ser considerada um bem pblico - favorecendo todos os agentes do sistema econmico - o grande objetivo do Estado deve ser contribuir para que o fluxo de informaes seja o mais eficiente possvel.

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    36 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • A ocorrncia de desemprego e inflao

    o livre funcionamento do sistema de mercado no soluciona problemas como a existncia de altos nveis de desemprego e inflao. Neste caso, h espao para a ao do Estado no sentido de implementar polticas que visem manuteno do funcionamento do sistema econmico o mais prximo possvel do pleno emprego e da estabilidade de preos.

    Macroeconomia: Curva de Phillips

    Curto prazo: h um trade-off (permuta, troca) de curto prazo entre inflao e desemprego

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    37 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • o relacionamento entre as falhas de mercado Cabe ressaltar que em muitas situaes h uma superposio entre alguns dos aspectos mencionados. Por exemplo, um programa antipoluio que vise melhoria do ar atmosfrico, por um lado, acaba criando uma externalidade positiva porque traz benefcios para a sociedade como um to do . Por outro,

    todos os indivduos da sociedade tm acesso de forma homognea a um ar mais limpo, ou seja, no h rivalidade no consumo, nem se pode aplicar o princpio da excluso, tendo em vista que impossve} impedir que qualquer indivduo usufrua dos benefcios gerados pelo pro grama antip oluio. Sendo assim, o ar mais limpo tambm constitui um bem pblico. A criao de empregos e a estabilizao da inflao, por sua vez, acabam se constituindo elTI externalidades positivas. Por um lado, a reduo do

    desemprego aumenta o mercado consumidor para os bens produzidos pelo sistema econmico, e tambm contribui para a reduo da violncia para toda a sociedade. No caso da estabilizao econmica, a eliminao da inflao acaba tambm trazendo benefcios para todos.

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    38 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • As razes para a existncia do governo

    Como tentamos demonstrar deixando de lado questes polticas e ideolgicas a existncia do governo necessaria para guiar, corrigir e complementar o sistema de mercado que, sozinho, no capaz de desempenhar todas as funoes econmicas. Essa constatao importante medida que demonstra que a discusso sobre o tamanho adequado do Estado tem a ver mais com questoes tcnicas do que ideolgicas.

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    39 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • PARA QUE SERVE O GOVERNO? Muitos leitores j devem se ter feito essa pergunta. Ou,

    colocando as coisas de outra forma, seria possvel no ter governo? Um exerccio intelectual interessante imaginar o que aconteceria se, por exemplo, um transatlntico com 2.000 passageiros naufragasse e todas as pessoas conseguissem se salvar sem que o resto do mundo saiba do seu destino, indo parar em uma ilha deserta. O pequeno anarquista que vive dentro de cada um, no llliClO, provavelmente levaria cada pessoa a tentar sobreviver de forma independente dos outros. Com o passar do tempo, porm, algumas perguntas comeam a surgIr, tais como:

    Como far a comunidade para se proteger da ao dos animais selvagens?

    Se houver um litgio entre duas pessoas, quem arbitrar para decidir quem esta com a razo?

    Quem tomar conta dos eventuais infratores que, por exemplo, forem pegos roubando o sustento dos outros?

    Quem tomar conta dos doentes? Finanas_Pblicas-

    Prof._Waldery_Rodrigues_Jr-ANAC-2016 40

    Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • E tantas outras que podero surgir. O leitor j ter percebido que o exerccio presta-se nada mais do que uma parbola para explicar - e justificar - a existncia dos governos.

    De fato, a primeira questo est associada ao que sena o conceito de defesa;

    a segunda ao de justia, etc. O governo surge ento como um fator natural da evoluo das sociedades humanas, como forma de organizar e disciplinar melhor as relaes entre as pessoas;

    A partir dessa necessidade inicial, porm, claro que h uma srie de vcios e imperfeioes, como a m escolha de prioridades; o desperdcio de recursos etc., que constituem o argumento que alimenta as crticas que, em maIor ou menor medida, so dirigidas aos governos de todos dos pases do mundo.

    Pode-se - e deve-se - tentar minorar essas imperfeies, sem perder de vista que a alternativa existncia de um governo cada um por siI ,o que obviamente incompatvel com qualquer forma de convivncia civilizada entre pessoas ou grupos sociais.

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    41 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • Em primeiro lugar, a operao do sistema de mercado necessita de uma srie de contratos que dependem da proteo e da estrutura legal implementada pelo governo.

    Em segundo lugar, mesmo que os mercados funcionassem sob concorrncia perfeita, o que de fato no acontece, as caractersticas de produo ou de consumo de determinados bens so tais que eles no poderiam ser fornecidos pelo sistema de mercado.3 A existncia de bens pblicos e externalidades, por exemplo, d origem a falhas no sistema de mercado, que levam necessidade de solues atravs do setor pblico.

    Em terceiro lugar, o livre funcionamento do sistema de mercado no garante, necessariamente, o elevado nvel de emprego, a estabilidade dos preos e a taxa de crescimento do PIB desejada pela sociedade. Sendo assim, a ao do governo fundamental para assegurar esses objetivos.

    Alm disso, mesmo que o sistema de mercado funcione segundo o timo de Pareto, ele pode estar promovendo uma distribuio de renda ej ou riqueza indesejada do ponto de vista social, o que abre um importante espao para a ao do setor pblico em favor da distribuio da renda.

    De fato, a crescente complexidade dos sistemas econmicos no mundo como um todo tem levado a um aumento da atuao do governo, que tem se refletido no aumento da participao dos gastos do setor pblico ao longo do tempo. A percentagem dos gastos pblicos sobre o PIB passou de uma mdia internacional no grupo de pases mais desenvolvidos do mundo, de cerca de 11 % no final do sculo XIX, para algo em tomo de 46% em 1996 - ver Tabela 1.1. 4

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    42 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

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  • OS OBJETIVOS DA POLTICA FISCAL E AS FUNES DO GOVERNO

    A ao do governo atravs da poltica fiscal abrange trs funes bsicas.

    A funo alocativa diz respeito ao fornecimento de bens pblicos.

    A funo distributiva, por sua vez, est associada a ajustes na distribuio de renda que permitam que a distribuio prevalecente seja aquela considerada justa pela sociedade.

    A funo estabilizadora tem como objetivo o uso da poltica econmica visando a um alto nvel de emprego, estabilidade dos preos e obteno de uma taxa apropriada de crescimento econmico.

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  • A funo alocativa Como vimos, os bens pblicos no podem ser fornecidos de forma compatvel com as necessidades da sociedade atravs do sistema de mercado. O fato de os benefcios gerados pelos bens pblicos estarem disponveis para todos os consumidores faz com que no haja pagamentos voluntrios aos fornecedores desses bens. Sendo assim, perde-se o vnculo entre produtores e consumidores, o que leva necessidade de interveno do governo para garantir o fornecimento dos bens pblicos. Isto posto, o governo deve: a) determinar o tipo e a quantidade de bens pblicos a serem ofertados e b) calcular o nvel de cotribuio de cda cosumidor. Em relao a este ltimo ponto, um deterrmnado consurmdor nao tem motivos para se "apresentar" ao governo e declarar o valor "justo" que ele atribui aos servios prestados pelo setor pblico, a no ser que tenha certeza de que os demais indivduos beneficiados pelo fornecimnto d bens pblicos faam o mesmo. Neste caso, h um espao claro de aao dos caronas , que preferiro se utilizar dos bens pblicos sem pagar por sso, a esperana de que outros consumidores contribuam para o governo, fmancIdo a produo desses bens. Tendo em vista que grande parte dos consurmdores, de forma racional, provavelmente agiria dessa maneira, o financiamento da produo dos bens pblicos no pode dar-se de forma voluntria. De fato, o fnanciamento da produo dos bens pblicos depende da obteno compulsoria de recursos, atravs da cobrana de impostos.

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  • neste sentido que o processo poltico surge como substituto do mecanismo do sistema de mercado. A deciso por um determinado governante atravs do processo eleitoral funciona como uma espcie de revelao de preferncias por parte da sociedade. De forma indireta, a eleio mostra no apenas quais bens pblicos so considerados prioritrios, como o quanto os indivduos estaro dispostos a contribuir sob a forma de impostos para financiamento da oferta de bens pblicos. Por exemplo, uma sociedade que esteja buscando uma reduao da violncia tender a eleger um candidato que tenha como prioridade o aumento da segurana das ruas, ainda que isto signifique, necessariarlente um aumento dos impostos para arcar com o aumento do contIngente de policiais.

    Neste caso seria revelada, ainda que de forma indireta, uma preferncia pelo bem pblico " segurana" .

    Um ponto relevante para destacar aqui a distino entre os conceitos de "produo" e de "proviso " de bens ou servios pblicos. Fazendo um paralelo com a oferta de tomates, ningum vai reclamar com o governo se esse produto faltar na prateleira do supermercado. O prprio funcionamento do sistema de preos se encarregar de que essa oferta seja normalizada rapidamente.

    Entretanto , se um bairro ficar sem luz ou se os telefones de uma cidade no funcionarem direito, muito provavelmente a irritao da populao vaI se manifestar em crticas ao governo, independentemente de as empresas fornecedoras do servio serem pblicas ou privadas. E isto por um motivo muito simples: o servio pblico - da o nome genrico de "servios pblicos no sentido de que atende a uma parte expressiva da populao. Em outras palavras, h atividades em relao s quais, mesmo que o Estado deixe de ser responsvel pela produo de um bem ou servio, ele intrinsecamente responsvel pela sua proviso, isto , deve zelar - diretamente ou atravs dos rgos reguladores - para que a populao seja adequadamente servida em termos da oferta e da qualidade de certos bens ou servios.

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  • Vale destacar tambm a importncia da proviso por parte do setor pblico dos chamados bens "semipblicos" ou "meritrios", que constituem um caso intermedirio entre os bens privados e os bens pblicos. Apesar de poderem ser submetidos ao princpio da excluso e, desta forma, serem explorados pelo setor privado, o fato de gerarem altos beneficios sociais e externalidades positivas justifica a produo total ou parcial dos bens meritrios pelo setor pblico.

    Os principais exemplos so os servios de educao e sade. Da mesma forma que no caso dos bens pblicos, os recursos necessrios para a produo desses bens so obtidos compulsoriamente, atravs da tributao.

    Por ltimo, em muitos pases tambm foi importante a ao do "Estado empresrio" na promoo do crescimento econmico.5 Neste caso, a interveno direta do setor pblico na produo de bens e servios privados justificou-se, em um determinado momento histrico, pela insuficincia do setor privado em mobilizar recursos para o desenvolvimento de projetos de grande porte, principalmente nos setores de infra-estrutura.6 Alm da necessidade de um montante considervel de recursos para o seu financiamento, os investimentos nestes setores tambm tinham um longo prazo de maturao, o que levava a uma demora na gerao dos lucros e desestimulava, desta forma, o investimento privado. Finalmente, dado o potencial dos setores de infraestrutura de gerao de externalidades positivas para o resto do sistema econmico, os bens e servios gerados por eles eram vendidos a preos subsidiados, o que tambm desincentivava o investimento privado nesses setores.

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    47 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • A funo distributiva A distribuio de renda resultante, em determinado momento, das

    dotaes dos fatores de produo - capital, trabalho e terra - e da venda dos servios desses fatores no mercado pode no ser a desejada pela sociedade. Cabem, portanto, alguns ajustes distributivos feitos pelo governo, no sentido de promover uma distribuio considerada justa pela sociedade.

    Para isso, o governo se utiliza de alguns instrumentos principais: a) as transferncias; b) os impostos e c) os subsdios.

    De fato, esses trs instrumentos esto estreitamente relacionados, havendo vrias formas de promover uma redistribuio da renda.

    Em primeiro lugar, atravs do esquema de transferncias o governo pode promover uma redistribuio direta da renda, tributando em maior medida os indivduos pertencentes s camadas de renda mais alta, e subsidiando os indivduos de baixa renda? Um exemplo desse tipo de poltica o imposto de renda negativo, utilizado em alguns pases desenvolvidos, que implica uma transferncia de renda para as pessoas que ganhem menos do que um determinado nvel mnimo de rendimentos.

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    48 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edices

  • Em segundo lugar, os recursos captados pela tributao dos indivduos de renda mais alta podem ser utilizados para o financiamento de programas voltados para a parcela da populao de baixa renda, como o de construo de moradias populares.

    Finalmente, o governo pode impor alquotas de impostos mais altas aos bens considerados de "luxo" ou "suprfluos", consumidos pelos indivduos de renda mais alta, e cobrar alquotas mais baixas dos bens que compem a cesta bsica, subsidiando, desta forma, a produo dos bens de primeira necessidade, com alta participao no consumo da populao de baixa renda.

    Vale destacar tambm o papel do sistema de seguridade social na redistribuio de renda da sociedade. Os recursos captados pelo sistema e aplicados em hospitais pblicos, por exemplo, promovem uma redistribuio de renda da parcela da populao de renda mais alta para a de renda mais baixa, tendo em vista que este segmento da populao utiliza em maior medida os servios do sistema pblico de sade. Os benefcios assistenciais concedidos a pessoas de baixa renda sem que tenham contribudo para a previdncia social um outro exemplo importante.

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  • A funo estabilizadora A importncia da funo estabilizadora do Estado passou a ser defendida,

    principalmente, a partir da publicao do livro Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda em 1936, de autoria de John Maynard Keynes At ento, acreditava-se que o mercado tinha uma capacidade de se auto-ajustar ao nvel de pleno emprego da economia. A flexibilidade de preos e salrios garantiria este equilbrio: a existncia de desemprego s seria explicada, por exemplo, por um nvel de salrios reais acima daquele que equilibraria a demanda e a oferta de trabalho, o que poderia ocorrer em razo da ao dos sindicatos.

    Keynes, ao contrrio, apontava que o limite ao emprego era dado pelo nvel de demanda: as firmas s estariam dispostas a empregar determinada quantidade de trabalho conforme as expectativas de venda de seus produtos. Desta forma, tudo que pudesse ser feito para aumentar a quantidade de gastos na economia contribuiria para uma reduo da taxa de desemprego da economia.

    Neste sentido, Keynes deu nfase ao papel do Estado mediante as polticas monetrias e, principalmente, fiscal para promover um alto nvel de emprego na economia.

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  • Como j foi comentado, o funcionamento do sistema de mercado no , por si s, capaz de assegurar altos nveis de emprego, estabilidade dos preos e altas taxas de crescimento econmico. Sendo assim, a interveno do governo pode ser importante no sentido de proteger a economia de flutuaes bruscas, caracterizadas por alto nvel de desemprego ej ou alto nvel de inflao.

    Para isso, os principais instrumentos macroeconmicos disposio do governo so as polticas fiscal e monetria.

    Supondo que as flutuaes da economia decorram de uma insuficincia ou de um excesso de demanda agregada, o controle da demanda a forma de interveno do governo mais indicada para garantir a estabilidade do sistema econmico. O governo age sobre a demanda agregada da economia para manter altas taxas de crescimento e de emprego e baixa inflao.

    A poltica fiscal pode se manifestar diretamente, atravs da variao dos gastos pblicos em consumo e investimento, ou indiretamente, pela reduo das alquotas de impostos, que eleva a renda disponvel do setor privado. Por exemplo, em uma situao recessiva, o governo pode promover um crescimento de seus gastos em consumo ej ou investimento e com isso incentivar um aumento da demanda agregada, tendo como resultado um maior nvel de emprego e da renda da economia. Alternativamente, o governo pode reduzir as alquotas de impostos, aumentando, desta forma, o multiplicador de renda da economia.

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  • No caso da existncia de um alto nvel de inflao, por sua vez, decorrente de um excesso de demanda agregada na economia, o governo pode agir de forma inversa ao caso anterior, promovendo uma reduo da demanda agregada, atravs da diminuio dos seus gastos ej ou do aumento das alquotas dos impostos - que reduziria a renda disponvel e, conseqentemente, o nvel de consumo da economia.

    Dependendo da situao, o governo pode preferir agir sobre a demanda agregada da economia atravs da poltica monetria. Em casos de recesso ou desacelerao do crescimento econmico, o governo pode promover uma reduo das taxas de juros, estimulando desta forma o aumento dos investimentos e, conseqentemente, o crescimento da demanda agregada e da renda nacional. Alternativamente, em uma situao de excesso de demanda com impactos inflacionrios, o governo pode aumentar as taxas de juros, reduzindo, desta maneira, a demanda agregada da economia. Para se atingir as prioridades da poltica econmica, o mais comum, na prtica, uma ao combinada das polticas fiscal e monetria por parte do governo.

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  • FINANCIAMENTO ATRAVS DE SENHORIAGEM Os economistas denominam de "senhoriagem" (S) o fluxo

    de criao nominal de base monetria (B) . Defina-se t como um perodo e T como o momento final desse perodo. Assim, em que P o ndice de preos, o smbolo (-1) indica defasagem e a ltima igualdade no tem significado econmico, usando-se o artifcio de subtrair e adicionar a expresso [(BT-I/PT-I ).PT] s para respeitar a igualdade e permitir o desenvolvimento explicado a seguir. Manipulando os termos da equao, tem-se

    St = [BT - BT-I . (1 +n)] + [BT-I . (1 +n) - BT-I] = [BT - BT-I , (1 +n)] + [BT-I . n] em que n a inflao anual, o termo [BT - BT-I . (1 +n)]

    corresponde ao fluxo de aumento ou reduo da base monetria em termos reais e [BT-I . n] o que os economistas chamam de "imposto inflacionrio" .

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  • Isso significa que o governo pode se financiar de graa" - sem assumir o nus associado ao pagamento de juros da sua dvida -, de duas formas.

    A primeira emitindo moeda para acompanhar a maior demanda por esta, em termos reais.

    A segunda atravs da corroso do valor real da base monetria existente, o que lhe perlnite imprilnir moeda, apenas para conservar o valor real da moeda previamente impressa.

    O primeiro termo - fluxo associado variao do valor real da base monetria - funo direta do crescimento da econolnia e inversa da mudana da inflao, o que significa que o termo da variao real da base monetria pode ter um valor negativo, se o PIB estiver crescendo pouco e a inflao aumentar. O imposto inflacionrio, por definio, sempre positivo, para > O.

    De forma estilizada, a base monetria pode ser definida, a qualquer momento do tempo, supondo perfeita previso da inflao, como

    B = k . Y . (1 +n)- a

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  • 55 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

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  • em que Y o PIB, k a relao base monetria/PIB em condies de estabilidade plena dos preos - inflao nula - e a um parmetro de elasticidade da demanda de moeda inflao. Esta equao explica por que a demanda de moeda cai quando a inflao aumenta, j que as pessoas querem conservar menos dinheiro no bolso ou em conta-corrente, pois o seu valor real corrodo pelo aumento dos preos. Conseqentemente, em uma econolnia na qual o PIB seja constante, um aumento da inflao tende a provocar, de um lado, uma diminuio da demanda por base monetria em termos reais; e, de oufro, um aumento do imposto inflacionrio.

    A receita de senhoriagem vai variar para mais ou para menos em funao da importncia relativa de cada um desses dois fenlnenos.

    Se supusermos, simplificadamente, que o PIB de uma economia encontra-se estabilizado e, portanto, que a senhoriagem igual ao imposto inflacionrio, o valor deste em funo da inflao segue ento um padro de tipo curva de Laffer" . Isto , com = O, evidentemente, no h imposto inflacionrio, mas se a inflao tender a infinito, a "receita" de senhoriagem pode tender a zero, j que a eroso da base de incidncia do "nposto" - a base monetria, que tenderia a desaparecer predominaria sobre o efeito de aumento da "alquota" associado maior inflao.

    Em algum ponto intermedirio, portanto, h uma certa taxa de inflao "de equilbrio" que maxilniza a "receita" do imposto inflacionrio.

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  • TEORIA DA TRIBUTAO Para poder arcar com as funes anteriormente descritas, o

    governo precisa gerar recursos. A principal fonte de receita do setor pblico a arrecadao tributria. Com a finalidade de aproximar um sistema tributrio do "ideal", importante que alguns aspectos principais sejam levados em considerao:

    a) o conceito da eqidade, ou seja, a idia de que a distribuio do nus tributrio deve ser eqitativa entre os diversos indivduos de uma sociedade;

    b) o conceito da progressividade, isto , o princpio de que se deve tributar mais quem tem uma renda mais alta;

    c) o conceito da neutralidade, pelo qual os impostos devem ser tais que minimizem os possveis impactos negativos da tributao sobre a eficincia econlnica e

    d) o conceito da simplicidade, segundo o qual o sistema tributrio deve ser de fcil compreenso para o contribuinte e de fcil arrecadao para o governo.

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  • Quais so as caractersticas de um sistema tributrio ldeal"? H alguns pr-requisitos a serem considerados para que

    possamos definir um sistema tributrio como " ideal" . Em primeiro lugar, a distribuio do nus tributrio deve ser

    eqitativa, ou seja, cada um deve pagar uma contribuio considerada justa.

    Em segundo lugar, a cobrana dos impostos deve ser conduzida no sentido de onerar mais aquelas pessoas com maior capacidade de pagamento.

    Em terceiro lugar, o sistema tributrio deve ser estruturado de forma a interferir o minimamente possvel na alocao de recursos da econolnia, para que no cause ineficincia no funcionamento do sistema econlnico.

    Por ltimo, a administrao do sistema tributrio deve ser eficiente a fim de garantir um fcil entendimento da parte de todos os agentes da economia e minimizar os custos de fiscalizao da arrecadao.

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  • Os conceitos de eqidade e progressividade

    Pelo conceito de eqidade, cada contribuinte deve contribuir com uma parcela "justa para cobrir os custos do governo. Mas como definir qual esta parcela justa?

    Neste sentido, existem duas abordagens principais na teoria do setor pblico: a do "princpio do benefcio" e a da "capacidade de pagamento" .

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  • a) O princpio do benefcio" Segundo o "princpio do benefcio", cada indivduo deveria contribuir com

    uma quantia proporcional aos benefcios gerados pelo consumo do bem pblico.

    Esse mtodo de clculo no de fcil implementao, pois a avaliao dos indivduos sobre os benefcios gerados pelo consumo dos bens pblicos no conhecida pelo governo e precisa ser revelada atravs de um processo eleitoral. Alm disso, levando em considerao que as preferncias diferem entre os indivduos, no se pode aplicar qualquer frmula tributria geral sociedade como um todo.

    De qualquer forma, uma aplicao parcial do princpio do benefcio possvel em situaes onde o financiamento do servio pblico ocorre diretamente atravs do pagamento de entradas, tarifas ou taxas de utilizao, como no caso das tarifas de trens urbanos. A utilizao deste princpio particularmente vivel e desejvel para viabilizar o financiamento de bens/ ou servios privados para os quais o consumo seja rival e possa se aplicar o princpio da excluso - fornecidos pelo governo. Isto porque, neste caso, os benefcios podem ser associados a um indivduo em particular que dever pagar por aqueles. Ou seja, quando os benefcios so internalizados, o governo pode atuar similarmente ao setor privado, utilizando os mesmos princpios de determinao de preos.

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  • Um exemplo da adoo de um imposto baseado no princpio do benefcio pode ser a aplicao de um tributo sobre combustveis, cuja arrecadao seja direcionada para o financiamento da manuteno e/ ou,- construo de rodovias.

    A princpio, este tipo de imposto pago exatamente por aqueles que mais se beneficiam dos recursos com isso arrecadados - os motoristas que usam as estradas construdas com os recursos dos impostos. Entretanto, questionvel se o "princpio do benefcio" atingido no que diz respeito a cada motorista em particular. Isto porque cada motorista pode ter um perfil diferente, com alguns tendo hbito de viajar mais do que outros, por exemplo.

    As contribuies para previdncia social so um outro exemplo de tributao pelo "princpio do benefcio" . Neste caso, as penses a serem recebidas poca da aposentadoria - isto , os benefcios - pelos trabalhadores tm uma estreita relao com as contribuies - ou seja, a taxao - sobre o seu salrio pagas ao longo de sua vida profissional.

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  • b) O princpio da capacidade de pagamento Como vimos na seo anterior, ainda que o "princpio do benefcio" possa ser

    utilizado diretamente para o financiamento de alguns bens providos pelo setor pblico, ele no suficiente para a formulao de uma regra geral para estrutura tributria. O total de gastos que podem ser financiados a partir de impostos especficos limitado e grande parte da arrecadao tributria no gerada a partir deste tipo de tributo, que pode ser coerente com o "princpio do benefcio.

    Ademais, este princpio, ainda que em condies ideais, s pode ser associado com o financiamento dos servios pblicos - ou seja, com a funo alocativa - e nunca com a funo distributiva do processo de impostos e transferncias.

    Sendo assim, h a necessidade de uma forma alternativa de clculo dos impostos que leve em considerao a questo da eqidade na tributao.

    Tal forma alternativa de calcular o quanto cada indivduo deve pagar de impostos segue o princpio da capacidade de pagamento, que, ao contrrio do anterior, permite a formulao de uma regra geral de tributao para a sociedade como um todo. Segundo este princpio, o nus tributrio deve ser tal que garanta as eqidades horizontal e vertical. Conforme a primeira, os contribuintes com mesma capacidade de pagamento devem pagar o mesmo nvel de impostos.

    J de acordo com o segundo conceito, as contribuies dos indivduos devem diferenciar-se conforme suas diversas capacidades de pagamento.

    A partir da escolha do princpio da capacidade de pagamento como melhor critrio de clculo dos impostos na economia, surge a questo de qual seria o melhor indicador desta capacidade: um de fluxo - renda ou consumo -ou um de estoque - riqueza.

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  • Em relao aos fluxos, a renda - calculada a partir da soma de todos os rendimentos da economia - representa uma base mais ampla do que o consumo para avaliar a capacidade de pagamento. Sob este ponto de vista, a renda seria um indicador mais adequado.

    Entretanto, para os defensores do consumo como melhor base de clculo, a tributao da renda como um todo acaba levando incidncia de impostos sobre a poupana e o investimento, considerados atos que trazem benefcios ao sistema econmico. Por este raciocnio, s os atos de consumo, considerados " egostas", deveriam ser tributados.

    Entretanto, a renda parece ser um melhor indicador do que o consumo quando se consideram as implicaes distributivas do sistema tributrio.

    Isto porque os impostos sobre a renda podem ser aplicados em uma base pessoal, com isenes e alquotas progressivas definidas a partir das caractersticas individuais de cada contribuinte, enquanto que os tributos sobre o consumo no geram uma taxao progressiva, pelo fato de todos os indivduos pagarem a mesma alquota.

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  • E a riqueza, no poderia ser um indicador melhor do que a renda? Para os defensores da renda como melhor indicador da capacidade de pagamento, a tributao sobre a riqueza no necessria se todas as formas de rendimento j tiverem sido sujeitas a pagamento de um imposto de renda abrangente. Se o imposto sobre a riqueza for considerado simplesmente como um tributo sobre a renda que se gera a partir desta riqueza, a tributao sobre essa renda j representaria per se um nus tributrio para os detentores desse patrimnio.

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  • Ainda que se opte pela renda como melhor indicador de capacidade de pagamento, a verdade que, em muitos casos, difcil a aplicao de um imposto de renda realmente abrangente. A passagem da teoria para a prtica complexa, tendo em vista a necessidade de se adaptar a legislao tributria s realidades do sistema econmico. Sendo assim, ainda que se adote a renda como principal base para o pagamento dos impostos, a experincia internacionat na prtica, tem mostrado a importncia da adoo de impostos complementares sobre o consumo e a riqueza para a garantia da validade do princpio da capacidade de pagamento.8

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  • Aqui deve ser introduzida a definio do conceito de progressividade dos tributos. Um imposto progressivo quando a alquota de tributao se eleva quando aumenta o nvel de renda. A idia que justifica uma tributao progressiva a de que quem recebe mais renda deve pagar uma proporo maior de impostos relativamente s pessoas de baixa renda. Em contraposio, um imposto regressivo aquele que implica uma contribuio maior da parcela da populao de baixa renda relativamente ao segmento de renda mais alta. Por exemplo, um pas A, onde a tributao sobre a renda ocorra atravs da imposio de alquotas crescentes com o aumento do nvel de renda, adota um sistema tributrio mais progressivo do que um pas B, onde existe apenas uma alquota para a cobrana do imposto de renda.

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  • o conceito da neutralidade o objetivo da neutralidade que o sistema tributrio no provoque uma

    distoro da alocao de recursos, prejudicando, desta forma, a eficincia do sistema. Por exemplo, no caso do imposto de renda, a reduo da renda disponvel dos indivduos diminui de forma homognea as suas possibilidades de consumo, no causando nenhum vis em relao ao consumo - e, conseqentemente, produo - de nenhum bem especfico. Neste caso, o imposto at certo ponto neutro, luedida que no afeta a eficincia nas decises de alocao de recursos para a produo e o consumo de mercadorias e servios. Entretanto, no caso dos impostos seletivos sobre o consumo, no h neutralidade do tributo, o que pode levar a uma reduo do consumo - e, conseqentemente, da produo - de um determinado bem em detrimento de outros. Stiglitz (1986) cita o exemplo da imposio de uma taxa sobre janelas na Inglaterra, que teria levado construo de diversas casas sem janelas.

    Vale ressaltar que a imposio de um imposto seletivo sobre o consumo pode, de fato, cumprir um papel positivo no sentido de corrigir uma falha de mercado. Por exemplo, a cobrana de impostos sobre o consumo de bebidas alcolicas pode contribuir para o combate s externalidades negativas geradas por motoristas que dirijam embriagados, colaborando, desta forma, para a reduo da probabilidade de acidentes no trnsito.

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    67 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • o conceito de simplicidade

    Finalmente, o conceito de simplicidade relaciona-se com a facilidade da operacionalizao da cobrana do tributo. Por um lado, importante que o imposto seja de fcil entendimento para quem tiver que pag-lo. Por outro, a cobrana e a arrecadao do imposto, bem como o processo de fiscalizao, no devem representar custos administrativos elevados para o governo.

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    68 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • A CURVA DE LAFFER A relao ambgua existente entre aumentos de alquotas e

    aumentos de receita expressa no que a literatura denomina " curva de Laffer" . Os princpios bsicos dessa construo terica so de que:

    a) com uma alquota tributria nula, a receita obviamente nula e

    b) com uma alquota de 100%, a receita tambm nula, pois ningum iria trabalhar para que o governo se apropriasse de toda a renda.

    Assim, h um nvel de alquota que maximiza a receita. A partir desse ponto, no "lado errado da curva" - isto , o direito -, aumentos de alquotas so contraproducentes, pois pro duzem uma evaso ej ou um desestmulo s atividades formais que superam o aumento da alquota, gerando uma perda de receita.

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    69 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Finanas_Pblicas-Prof._Waldery_Rodrigues_Jr-ANAC-2016

    70 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Quem que de fato paga os impostos? Na anlise da tributao, uma questo que surge se a pessoa sobre a qual o

    imposto incide realmente aquela que arca com o nus tributrio. A existncia de impostos altera os preos relativos da economia e a resposta do mercado a estas mudanas que determina quem de fato paga os tributos. Sendo assim, a estrutura do mercado e as elasticidades-preo da oferta e da demanda so cruciais para a determinao de quem realmente arca com o imposto.

    Tomemos o exemplo hipottico de um determinado imposto que seja cobrado sobre a folha salarial para financiar um programa social, supondo que, pela legislao, o empregador e o trabalhador devam arcar cada um com metade do nus tributrio. O problema que, na prtica, o empregador pode agir de duas formas diferentes a fim de reduzir o seu nus tributrio.

    Por um lado, o empregador pode reduzir sua demanda por trabalhadores. Neste caso, se isso resultar em uma tendncia de reduo salarial, pode-se dizer

    que o nus tributrio est recaindo de forma mais " pesada" sobre os trabalhadores que pela existncia do imposto, acabam recebendo salrios menores. Por outro, os empregadores podem decidir repassar o imposto para os preos finais de seus produtos. Havendo um aumento dos preos como resultado da incidncia do imposto, pode-se considerar que parte do nus tributrio que deveria ser do produtor estar recaindo sobre os consumidores.

    Adotando-se, por simplificao, a existncia de mercados competitivos, o nvel de repasse do nus tributrio db produtor para os preos, e conseqentemente, para os consumidores, depender das elasticidades das curvas de demanda e oferta pelo produto em questo.

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    71 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • A elasticidade-preo da demanda mede a mudana percentual na quantidade demandada do bem em resposta a uma alterao percentual do preo.

    Uma curva de demanda horizontal chamada de perfeitamente ou infinitamente elstica. Nesta situao, a uma pequena reduo do preo corresponde um aumento infinitamente maior da quantidade demandada. Neste caso, a demanda do produto extremamente sensvel a alteraes no preo. Uma curva de demanda vertical, por sua vez, chamada de perfeitamente ou infinitamente inelstica e corresponde a uma situao em que a quantidade demandada de um bem totalmente insensvel varia.dos preos, ou seja, a elasticidade-preo da demanda igual a zero.

    Disto, conclui-se que quanto mais prxima da vertical for a curva de demanda por um determinado bem, menor ser a elasticidade-preo da demanda, isto , menor ser a reao da quantidade demandada em funo de uma variao de preos. E quanto mais inelstica for a demanda por um bem, maior poder ser o repasse do nus tributrio para os consumidores. No limite, uma demanda perfeitamente inelstica corresponde a uma situao em que os consumidores estaro dispostos a consumir sempre a mesma quantidade de um bem especfico, independentemente do nvel de preos que ele atingir. Neste caso, o produtor poderia repassar totalmente o nus tributrio para os preos. Alternativamente, quanto mais prxima da horizontal for a curva de demanda, maior ser a elasticidade, ou seja, maior ser a resposta da quantidade demanda a uma alterao dos preos. Sendo assim, pode-se concluir que quanto mais elstica for a demanda por um bem, menor poder ser o repasse do nus tributrio, tendo em vista que um aumento dos preos levar a uma queda mais que proporcional na quantidade demandada, o que resultar em uma perda da receita total do produtor

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    72 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • A elasticidade-preo da oferta mede a variao percentual da quantidade ofertada de um produto especfico em resposta a uma alterao percentual do seu preo. Uma curva de oferta horizontal reflete uma situao na qual a quantidade ofertada de um bem extremamente sensvel a uma variao dos preos ou perfeitamente elstica. Uma variao mnima dos preos leva a um aumento drstico da quantidade ofertada. Uma curva de oferta vertical, por sua vez, chamada de perfeitamente ou infinitamente inelstica e corresponde a uma situao em que a quantidade ofertada de um bem totalmente insensvel variao dos preos, ou seja, a elasticidade-preo da oferta igual a zero.

    Quanto maior for a inclinao da curva de oferta por um determinado bem, menor ser a elasticidade-preo da oferta, isto , menor ser a reao da quantidade ofertada em funo de uma variao de preos. E quanto mais inelstica for a oferta de um bem, menor ser o repasse do nus tributrio para os consumidores. No limite, uma oferta perfeitamente inelstica corresponde a uma situao em que os produtores assumiro o nus tributrio total, ou seja, no haver aumento do preo final do produto. Alternativamente, quanto menor for a inclinao da curva de oferta, maior ser a elasticidade, ou seja, maior ser a resposta da quantidade ofertada a uma alterao dos preos. Sendo assim, pode-se concluir que quanto mais elstica for a oferta por um bem, maior poder ser o repasse do nus tributrio. Uma curva de oferta perfeitamente elstica implicar o repasse total do nus tributrio aos consumidores via aumento de preos.

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    73 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Conclui-se, ento, que quanto mais elstica a curva de demanda e menos elstica a curva de oferta, maior parcela dos impostos recai sobre os produtores.

    Quanto menos elstica a curva de demanda e mais elstica a curva de oferta, maior ser o nus tributrio para os consumidores.

    Resta saber quais seriam os resultados possveis para mercados oligopohzados, caracterizados pela existncia de poucos produtores cujo comportamento altamente interdependente. Neste caso, se cada produtor altera o seu preo ou produo, de esperar que os outros possam agir da mesma forma. Entretanto, no h como se prever ao certo qual ser O' comportamento de cada um. Sendo assim, no se pode prever com exatido o efeito sobre os preos da existncia de impostos incidentes sobre o produtor. De qualquer forma, uma possibilidade que os produtores no repassem o nus tributrio via aumento dos preos, porque temem que seus concorrentes possam no fazer o mesmo, mantendo seu preos inalterados, e, assim, "roubar" a sua parcela de mercado. Nesta situao, os produtores assumiriam integralmente o nus tributrio. Alternativamente, os produtores podem acreditar que todos no mercado tendero a repassar o imposto de for ma integral via aumento de preos, o que os manteria na mesma posio relativa.

    Sendo assim, haveria um aumento de preos, com repasse do imposto para os consumidores.

    Outra questo que pode influir na avaliao da real incidncia dos impostos diz respeito ao tipo de anlise terica utilizada. Isto porque o resultado final diferente quando analisamos o efeito de um imposto incidente em apenas um mercado especfico - assumindo que os preos e salrios de todos os outros mercados permanecero constantes, o que equivale a uma anlise de equilbrio parcial - do que quando a anlise leva em conta as conseqncias da tributao de um setor, tanto sobre o desempenho deste, quanto sobre o resto da economia - o que corresponde a uma anlise de equilbrio geral.

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    74 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Os diferentes tipos de impostos 9

    A tributao pode ser direta ou indireta. Os impostos diretos incidem sobre o indivduo e, por isso, esto associados capacidade de pagamento de cada contribuinte. Os impostos indiretos, por sua vez, incidem sobre atividades ou objetos, ou seja, sobre consumo, vendas ou posse de propriedades, independentemente das caractersticas do indivduo que executa a transao ou que o proprietrio. As bases de incidncia dos impostos so a renda, o patrimnio e o consumo.

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    75 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • o imposto de renda

    O imposto de renda - que incide sobre todas as remuneraes geradas no sistema econmico, ou seja, salrios, lucros, juros, dividendos e aluguis uma forma de tributao direta e classifica-se em imposto de renda da pessoa fsica (IRPF) e imposto de renda da pessoa jurdica (IRPJ) .

    O IRPF cobrado em base pessoal, com isenes e alquotas progressivas, determinadas pelas caractersticas individuais do contribuinte. As alquotas do imposto so determinadas segundo as diferentes classes de renda, estabelecidas pela legislao tributria. O imposto sobre a renda calculado a partir de uma alquota incidente sobre a renda tributvel, que o resultado da renda total do contribuinte, deduzida do total de abatimentos - por exemplo, com despesas mdicas e com dependentes.

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    76 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Cabe diferenciar aqui as alquotas nominal e efetiva. A primeira mede a articipao do imposto devido sobre a renda total, enquanto a segunda reflete o percentual do imposto devido sobre a renda tributvel. A diferena entre as duas alquotas explica-se, principalmente, pelos abatimentos permitidos pela legislao do imposto. Destes, os referentes a dependentes beneficiam em maior proporo os contribuintes de renda mais baixa que, normalmente, possuem uma famlia maior. De fato, as dedues por dependentes constituem-se a principal forma de abatimentos da parcela da populao com renda mais baixa que paga imposto de renda. 10 As demais formas de abatimento, como com despesas mdicas, assumem importncia crescente conforme aumenta o nvel de renda dos contribuintes.

    O IRPF apresenta as vantagens de se basear em uma medida abrangente da capacidade de pagamento e de permitir uma adaptao s caractersticas pessoais do contribuinte. Ou seja, ele o imposto pessoal por excelncia e, sendo assim, aquele que mais se adapta aos princpios da eqUidade e progressividade, medida que permite, de fa to, uma discriminao entre os contribuin tes no que diz respeito sua capacidade de pagamento

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    77 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Vale destacar a importncia dos impostos retidos na fonte em termos da simplicidade de arrecadao do imposto. Neste caso, o imposto incide sobre os assalariados que, dada a existncia de contratos formais de trabalho, simplesmente no tm como escapar ao pagamento do IRPF. Sendo assim, importante a preocupao do governo com a melhoria do sistema de fiscalizao da cobrana do IRPF, para que no exista um componente de regressividade, com o nus da arrecadao recaindo de forma concentrada nos rendimentos do trabalho assalariado em detrimento de outras formas de rendimento, passveis de um maior nvel de sonegao do imposto.

    O IRPJ incide sobre o lucro das empresas, que pode ser calculado a partir de trs mto dos: a) o do lucro real; b) o do lucro presumido e c) o do lucro arbitra do. No primeiro caso, o lucro calculado pela diferena entre as receitas e os custos da empresa, o que exige que esta mantenha um sistema de contabilidade segundo as exigncias da legislao. O mtodo do lucro presumido, por sua vez, que se baseia na aplicao de uma alquota sobre a receita bruta, o mais indicado para pequenas empresas cujo capital social e a receita bruta anual sejam suficientemente reduzidos para inviabilizar a implantao de um sistema contbil organizado da forma exigida pela legislao tributria. Por ltimo, o mtodo do lucro arbitrado aplica-se a empresas que no apresentam os registros contbeis requeridos para a precisa apurao do lucro suj eito tributao. Neste caso, o governo arbitra a base do imposto, que pode ser calculado como um percentual do ativo total, do capital ou da receita bruta.

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    Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • O principal problema inerente cobrana do IRPJ que ele pode contrariar os princpios da eqidade e da progressividade, tendo em vista que no se pode ter certeza de que o nus do imposto sobre o lucro recaIa mtegralmente sobre o produtor. Em outras palavras, a longo prazo, a empresa pode reagir cobrana do imposto sobre os lucros repassando-o, pelo menos em parte, para os preos finais de seus produtos, onerando, assim, os consumIdores .

    0 grau de repasse depende das condies de concorrncia do mercado da fIrma, bem como da existncia de bens substitutos ao bem produzido pela empresa.

    A possvel transferncia dos impostos para os preos tambm tem importantes implicaes sobre a eficincia do sistema, medida que, encarecendo o produto nacional, torna-o menos competitivo no mercado externo, o que pode obrigar o governo a adotar medIdas compensatrias, como a implementao de incentivos s exportaes e/ou uma maior desvalorizaao da moeda local.

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    79 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • o imposto sobre o patrimnio

    O imposto sobre o patrimnio pode ser cobrado regularmente em funo do simples ato de posse dos ativos durante um determinado perodo, como no caso do imposto predial e territorial urbano (IPTU) ou do Imposto sobre a propriedade de veculos auto motores (IPVA). Alternativamente, a cobrana pode se dar no momento em que os ativos mudam de propriedade - como o imposto sobre a transmisso de propriedade.

    O tributo sobre o patrim.nio mais utilizado no mundo o que incide sobre a propriedade imobiliria. Isto se explica pela maior facilidade de cobrana decorrente da imobilidade da base tributria. Em termos de eqldade eprogressividade, o imposto sobre o patrimnio, em tese, presta-se a respeItar tais princpios, levando os mais "ricos" a pagar um IPTU maIor.

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    80 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • o imposto sobre as vendas Os impostos sobre as vendas de mercadorias e servios so tributos

    indiretos, tambm conhecidos como impostos sobre consumo. Este tipo de Imposto pode ser classificado quanto:

    a) amplitude de sua base de incidncia; b) ao estgio do processo de produo e comercializao sobre o qual incide

    e c) forma de apurao da base para o clculo do imposto.

    Quanto ao primeiro ponto, os impostos sobre as vendas podem ser gerais ou especiais. Os impostos gerais so aqueles que incidem rotineiramente sobre uma srie de transaes, como a compra de produtos industriais ou de bens de consumo. Tendo em vista a estrutura de alquotas, os impostos gerais podem ser uniformes - aqueles que apresentam uma alquota nica - ou seletivos - aqueles com alquotas diferenciadas segundo a natureza do produto. Os tributos especiais, por sua vez, so cobrados sobre transaes de compra e venda de determinadas mercadorias e servios. Os impostos sobre o consumo de combustveis e de bebidas alcolicas so exemplos deste tipo de imposto. Os impostos especiais do ponto de vista das alquotas so sempre seletivos.

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    81 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Em relao ao segundo ponto, os impostos sobre vendas podem ser cobrados ao nvel do produtor; do comrcio atacadista; do comrcio varejista; ou em todas as etapas do ciclo.

    Finalmente, em relao forma de apurao, o imposto sobre vendas pode ser calculado sobre o valor total da transao ou apenas sobre o valor adicionado pelo contribuinte, em cada estgio da produo e da distribuio. 11

    Em termos tericos, a incidncia de um imposto geral e uniforme sobre o valor adicionado na venda de bens de consumo corresponde cobrana de um imposto geral e uniforme sobre as vendas ao consumidor final, levando em considerao a igualdade contbil entre os fluxos de valor adicionado e de venda de produtos finais em uma economia. Neste caso, o imposto neutro em termos de eficincia econmica, no provocando distores na alocao dos recursos da economia.

    Alternativamente, um imposto geral sobre transaes - que se constitui em um imposto em cascata ou cumulativo, no sentido de que incide sobre o valor total da transao em cada estgio da produo e da distribuio - tem implicaes importantes em relao alocao dos recursos, tendo em vista que introduz um vis contra produtos que apresentem um nmero maior de etapas de produo e comercializao.12

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    82 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Em termos de eqidade e progressividade, o imposto sobre consumo no o mais indicado, tendo em vista que, sendo uma forma de tributao indireta, no discrimina as contribuies de acordo com a capacidade de pagamento de cada indivduo. Por exemplo, supondo que haja uma alquota de 10% incidindo sobre o consumo de um quilo de carne, o imposto a ser pago ser o mesmo, independentemente do fato de a capacidade de pagamento de um indivduo de alta renda ser maior do que a de uma pessoa de renda menor.

    Levando em considerao que o consumo representa um percentual decrescente da renda conforme ela aumenta e se a alquota do imposto for uniforme, a participao do imposto sobre a renda tambm ser decrescente, o que resulta em uma distribuio regressiva da carga tributria. Uma forma possvel de diminuir o grau de regressividade da tributao sobre o consumo fazer com que a alquota do imposto varie em sentido inverso ao grau de essencialidade dos produtos, assumindo que o consumo de produtos menos essenciais concentre-se na faixa da populao com renda mais alta. Entretanto, a diferenciao de alquotas pode ser difcil, considerando a restrio oramentria do setor pblico e a concentrao regional da arrecadao. Em relao ao primeiro ponto, a reduo das alquotas de produtos de primeira necessidade pode resultar em uma queda significativa na receita arrecadada pelo governo, tendo em vista a inelasticidade-preo da demanda desses bens e os baixos nveis absolutos de consumo dos produtos considerados suprfluos.

    Quanto ao segundo ponto, alm de reduzido, o consumo dos bens suprfluos concentra-se nas regies mais desenvolvidas do pas, de modo que uma maior taxao dos mesmos poderia levar a uma concentrao da receita arrecadada nas regies mais desenvolvidas, contrariando os objetivos de desenvolvimento regional. Finanas_Pblicas-

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    Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • A crtica aos impostos em cascata Os chamados impostos " em cascata" ou " cumulativos" so

    prejudiciais eficincia econmica, j que distorcem os preos relativos e estimulam, s vezes desnecessariamente, a integrao vertical da produo, aumentando os custos.

    A competitividade dos produtos nacionais diante dos estrangeiros se reduz, pelo aumento dos custos e pelo fato de que esses tributos implicam adoo do princpio de origem no comrcio internacional, j que incidem sobre exportaes e no sobre importaes. Isto problemtico no contexto da chamada " globalizao", que recomenda a harmonizao internacional dos sistemas tributrios nacionais, tendo em vista que os nossos principais parceiros comerciais adotam o princpio de destino.

    Um imposto cumulativo prejudica principalmente os produtos que passam por um maior nmero de etapas de produo e distribuio, o que traz importantes distores ao setor produtivo.

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    84 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • o imposto sobre o valor adicionado e suas vantagens O imposto sobre o valor adicionado (IVA) considerado a forma mais

    eficiente de tributao sobre vendas, principalmente por tratar-se de um tributo neutro. Foi justamente a necessidade de harmonizao fiscal, combinada com a eficincia econmica do imposto sobre o valor adicionado, que justificou, em muitos pases, a substituio do imposto de vendas em cascat pelo IVA.

    Em primeiro lugar, o IVA um imposto neutro em relao estrutura organizacional das empresas, tendo em vista que o total do imposto incidente em um determinado produto no depende do nmero de transaes por ele sofrido ao longo dos vrios estgios da produo e da distribuio, ao contrrio do que ocorre com os impostos em cascata/ cumulativos.

    Em segundo lugar, o IVA no afeta a competitividade de uma indstria, j que o imposto uma proporo constante do valor adicionado eIU cada etapa da atividade econmica. Em outras palavras, o IVA uma proporo constante do valor adicionado total, sendo, por essa razo, facilmente identificado.

    Desta forma, as exportaes podem ser totalmente isentas, e as importaes tributadas da mesm forma que a produo domstica.

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    85 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • Em terceiro lugar, grande parte da receita gerada pelo IVA arrecadada nos estgios pr-varejistas. Sendo assim, devido maior dificuldade de evaso desses estgios, mesmo que haja evaso fiscal na etapa varejista, onde a fiscalizao mais difcil, o governo ter garantido uma boa parte da arrecadao.

    Conseqentemente, a fiscalizao do IVA pode ser simples e eficiente, sendo necessrio apenas um controle sobre as empresas maiores ou as importaes e as vendas atacadistas. Considerando que a margem de agregao na etapa do varejo seja de 30% do preo de venda final, 70% da arrecadao pode ser assegurada a um custo de fiscalizao Iuais reduzido, a partir do controle unicamente das etapas pr-varejistas da atividade econmica.

    Em quarto lugar, o IVA tem um carter autofiscalizador - ver Exemplo 3, no final do captulo, referente ao mtodo de clculo do IVA pelo crdito fiscal.

    Tendo em vista que o imposto pago pela empresa vendedora s se transformar em crdito para a empresa compradora se o montante do tributo arrecadado estiver devidamente lanado nas notas fiscais, no existem os incentivos ao subfaturamento que se verificam em outros casos. Isto porque o risco seria grande para a primeira empresa, que poderia ser descoberta pelo fisco, e desvantajoso para a segunda, que teria que recolher uma cifra maior de imposto nas suas vendas. Outra vantagem do IVA que os bens de produo podem ser fcil e totalmente isentos, evitando dessa forma a bitributaco.13

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  • o CLCULO DO IMPOSTO "POR DENTRO" E "POR FORA"

    O imposto pode ser cobrado "por dentro" ou "por fora". O clculo do imposto " por dentro" inclui o imposto na base de clculo do valor do mesmo, enquanto o clculo " por fora" exclui o imposto da frmula. Isso fica claro mediante os seguintes exemplos, em ambos os casos associados a uma alquota tributria t de 10% (t=0,10) e a uma base de tributao (B) referente ao valor unitrio do produto, na ausncia de impostos, de 100,0.

    No caso do imposto calculado "por dentro", a alquota t incide sobre o preo (P) do produto e o valor do imposto, conforme salientado, computado na base de clculo do valor do tributo. O valor de P P = B + T

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    87 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • sendo T, a receita de imposto por unidade de produto, igual a T = t. P Portanto, P = B + t . P e o valor do preo, dados os valores de B e t, obtido por P = B / (1 - t) o que igual a 111,1 . Portanto, t aplica-se a P, que inclui o prprio valor de T. J

    no caso do imposto calculado U por fora", a alquota t no mais incide sobre P e o valor do imposto no computado na base de clculo do valor do tributo. Mantida a frmula de P, ento, simplesmente,

    T = t . B e, dada a definio do preo como a soma de B e T, tem-se P = B . (l+t) o que significa que t aplica-se apenas a B e no a (B+T). O valor de P agora de

    110,0. Comparando as duas frmulas de P, fcil constatar que, para um dado t, o preo maior quando o tributo computado upor dentro que quando o clculo feito "por fora". Uma observao que cabe fazer que, se o imposto "por dentro", por definio, t < 1, j que no faz sentido ter um preo onde o tributo representa 100 % do mesmo. Em contraposio a isso, nada impede que, se o imposto "por fora", se tenha t > 1, ou seja, uma alquota de mais de 100 % que, aplicada a uma certa base e somada a esta, gera o preo final do produto.

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    88 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

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    Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • A existncia de dilemas (trade-offs) O governo deve escolher impostos que respeitem o mximo possvel os

    conceitos de eqidade/progressividade, neutralidade e simplicidade. O problema que, com freqncia, a procura de um desses objetivos acaba sacrificando os outros.

    A adoo de um imposto nico incidente sobre todas as transaes econmicas, em substituio a todos os outros existentes na economia, por exemplo, teria a vantagem para o governo de simplificar a arrecadao. Entretanto, sendo um imposto em cascata/ cumulativo, um imposto nico poderia ter implicaes negativas sobre a eficincia do sistema econmico. Alm de ineficiente, o imposto nico tambm seria regressivo, tendo em vista que as contribuies dos indivduos no seriam determinadas por sua capacidade de pagamento, j que o imposto a ser pago seria o mesmo, independentemente da classe de renda.

    O IVA por sua vez, se cobrado a uma alquota uniforme para todas as transaes de consumo, respeita o conceito de neutralidade, no interferindo na eficincia econlnica do sistema e na alocao de recursos da economia.

    Entretanto, sendo tambm uma forma de tributao indireta, apresenta um certo grau de regressividade, pois, a exemplo do que foi dito do imposto nico, os impostos a serem pagos por contribuinte no guardam relao direta com sua capacidade de pagamento.

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    90 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • No que diz respeito ao imposto sobre patrimnio, como j foi discutido, ressalta-se sua simplicidade de arrecadao explicada, principalmente, pela imobilidade da base tributria. Entretanto, o imposto pode apresentar uma certa regressividade, se houver a possibilidade de repasse do imposto "para a frente: no caso de imveis residenciais alugados, para os inquilinos; e no caso de imveis comerciais, para os preos finais dos bens produzidos pelas empresas.

    O IRPJ, em que pese a vantagem que pode trazer para o governo se gerar para este uma receita elevada, tambm pode contrariar os princpios da eqidade e progressividade, tendo em vista que no se pode ter certeza de que o nus do imposto sobre o lucro recaia integralmente sobre o produtor. Como j foi visto, a empresa pode reagir cobrana do imposto sobre os lucros repassando-o, pelo menos em parte, para os preos finais de seus produtos, onerando, assim, os consumidores. Alm disso, a possvel transferncia dos impostos para os preos tambm tem importantes implicaes sobre a eficincia do sistema, medida que, encarecendo o produto nacional, torna-o menos competitivo no mercado externo.

    Esses exemplos indicam que, na escolha dos instrumentos da poltica tributria/fiscal, o governo enfrenta alguns dilemas (trade-offs) . De fato, perseguir o objetivo de uma maior progressividade, por exemplo, pode prejudicar o objetivo de uma maior neutralidade, ou pode haver uma contradio entre os objetivos de eqidade e de simplicidade tributria. As escolhas que o governo faz dependem, portanto, da sua definio de prioridades, em funo da sua ideologia, da idiossincrasia do pas e/ ou da base poltica que lhe d apoio.

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    91 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • GASTO PBLICO O tamanho do governo Agora que j temos melhores condies de entender as relaes

    entre as demandas sociais e a oferta de servios pblicos; e entre a receita tributria e o gasto pblico; e de entender o governo como o locus de disputa por recursos entre diferentes setores da sociedade, podemos retomar a discusso acerca das razes para a existncia do governo.

    Poucas frases tm sido mais repetidas no Brasil ao longo das ltimas dcadas do que o velho e surrado jargo de que " preciso reduzir o gasto pblico.

    De fato, como iremos ver em outros captulos, h momentos em que isto necessrio, para compensar o fato de que em anos anteriores a expanso do gasto pblico tenha sido muito grande; pela necessidade de elevar a poupana pblica; ej ou por motivos ligados ao combate inflao. Nunca se deve, porm, perder de vista duas mensagens, que as frases selecionadas no incio do captulo tentam sintetizar.

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    92 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • A primeira que, como diz Stiglitz, o gasto do governo afeta uma gama diversa de atividades, algumas das quais, em algum momento, provavelmente teve, tem ou ter algo a ver com a vida de cada um de ns.

    A segunda que, da mesma forma que nos ensina Maquiavel, "nunca se foge a um inconveniente sem incorrer em outro" . Isto , o administrador pblico, no ato de selecionar as atividades prioritrias, deve fazer escolhas difceis e, provavelmente, deixar algum grupo insatisfeito. Portanto, muitos de ns em algum momento podemos ter reclamado do fato de o gasto pblico ser " excessivo", criticando o governo por isso, mas por outro lado temos que entender que muito mais fcil pregar uma palavra-de-ordem geral ("reduzir o gasto") do que estar na pele do prefeito, do governador ou do presidente da Repblica e decidir se o gasto especfico que vai ser cortado vai ser, por exemplo, a verba para melhorar o controle de fronteiras por onde passa o contrabando; a contrapartida local de um emprstimo externo para viabilizar uma importante rodovia' interestadual; ou uma parte dos recursos utilizados no combate seca.

    Finanas_Pblicas-Prof._Waldery_Rodrigues_Jr-ANAC-2016

    93 Fonte: Giambiagi e Alm (2009) com livres edies

  • A Tabela 1 .2 d uma idia da dimenso que o governo, nas esferas federal, estadual e municipal, assume no Brasil. Em linhas ger