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FISIOPATOLOGIA E AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA INTOLERÂNCIA A DISSACÁRIDOS MÁRIO MIGUEL GROSSO Orientada por Profª. Doutora Maria João Silva Mestrado Intengrado em Ciências Farmacêuticas

Fisiopatologia e avaliação laboratorial da intolerância a dissacáridos

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Page 1: Fisiopatologia e avaliação laboratorial da intolerância a dissacáridos

FISIOPATOLOGIA E AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA INTOLERÂNCIA A DISSACÁRIDOS

MÁRIO MIGUEL GROSSO

Orientada por Profª. Doutora Maria João SilvaMestrado Intengrado em Ciências Farmacêuticas

Page 2: Fisiopatologia e avaliação laboratorial da intolerância a dissacáridos

Dissacáridos

MALTOSE SACAROSE LACTOSE TREALOSE

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Maltose

• Dissacárido redutor;

• 2 móleculas de glucose:o Ligação glicosídica α(14)

• Surge em cereais, massas, batatas e cerveja;

• Hidrolisada pela MALTASE

4-o-α-D-glucopiranosil-D-glucose

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Sacarose

• Dissacárido não redutor;

• 1 molécula de glucose + 1 molécula de frutose :o Ligação glicosídica β,α(12)

• Obtido principalmente da cana de açúcar;

• Hidrolisada pela SACARASE:o Duodeno

β-D-frutofuranosil-α-D-glucopiranosida

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Lactose

• Dissacárido redutor;

• 1 molécula de galactose + 1 molécula de glucose :o Ligação glicosídica β(14)

• Surge no leite e seus derivados;

• Hidrolisada pela LACTASE:o Enterócitos do intestino degado ( + jejuno proximal e – no distal)

• Produção maior durante a amamentação

4-o-β-D-galactopiranosil-D-glucose

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Trealose

• Dissacárido não redutor;

• 2 móleculas de glucose:o Ligação glicosídica α,α(11)

• Surge em fungos (shiitake), insectos, camarões

• Hidrolisada pela TREALASE:o Rim, fígado e intestino delgado

α-D-glucopiranosil-α-D-glucopiranosida

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Intolerância a dissacáridos

Resposta alterada do organismo à ingestão de determinados alimentos, sem que haja uma resposta imunológica;

Ilustração 1 – Esquema representativo de sacáridos passíveis de originar intolerâncias alimentares, ordenados por número de monossacáridos na sua constituição. Adaptado de [6]

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Etiologia e Sintomatologia• Primária:

o Defeitos congénitos na produção enzimática;o Defeitos nos mecanismos de transporte de sacáridos;

• Secundária:o Doenças inflamatórias;o Reações adversas a substâncias tóxicas;o Tratamentos;

SINTOMAS

Flatulência Fezes ácidas Diarreia

Meteorismo Dor abdominal Obstipação

Enxaquecas Náuseas Perda de peso

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Intolerância àsacarose-maltose

• Carência em sacarase-isomaltase (SI):1. Patologias do foro gastrointestinal;2. Deficiência na produção da enzima (CSID)3. Desregulações hormonais;4. Erros nutricionais

Ilustração 2 – Representação do modelo enzimático sacarase-isomaltase

Page 10: Fisiopatologia e avaliação laboratorial da intolerância a dissacáridos

• Sacarase-Isomaltase:o Sacarase ligações glicosídicas α-1,2- e α-1,4- da sacaroseo Isomaltase ligações glicosídicas α-1,6

o Composta por 2 subunidades homólogas associadas por fortes ligações não-covalentes e iónicas;

o Expressa nas microvilosidases intestinais

Intolerância àsacarose-maltose

Ilustração 3 – Representação esquemática de uma reação enzimática

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• Deficiência congénita em sacarase-isomaltase (CSID):o Mutação autossómica recessiva;o 25 mutações génicas:

o Prevalência: 0,05%-2% população europeia

Intolerância àsacarose-maltose

Mutação Domínio

1 G/A 3218

Sacarase2 T/G 1730

3 T/G 5234

4 C/T 3370 Isomaltase

83 %

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• Carência em lactase:o Hipolactasia primária;o Deficiência secundária em lactase;o Alteração génica autossómica recessiva;o Má absorção temporária de lactose;

Intolerância à lactose

Act. Lactase

Tempo/anos

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• Lactase:o Codificada no cromossoma 2 (2q21)o 2 polimorfismos associados à intolerância:

• C/T 13 910 • G/A 22 018

Intolerância à lactose

C t

C CC Ct

t Ct tt

G a

G GG Ga

a Ga aa

CC tt Ct

GG GGCC GGtt GGCt

aa aaCC aatt aaCt

Ga GaCC Gatt GaCt Ilustração 3 – Representação do modelo enzimático da lactase

Page 14: Fisiopatologia e avaliação laboratorial da intolerância a dissacáridos

• Prevalência:

Intolerância à lactose

7-20 %945 000 000

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• Carência em trealase:o Primária: diminuição ou ausência da expressão do gene TREH;o Secundária;

o Condição autossómica recessiva;

o Prevalência:

Intolerância à trealose

8%

Ilustração 4 – Representação do modelo enzimático da trealose

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Avaliação Laboratorial

Indiretos

Diretos

• Avaliação do pH fecal

• Pesquisa de substâncias redutoras

• Teste oral de tolerância a dissacáridos

• Teste de hidrogénio expirado

• Avaliação da atividade das dissacaridases

• Estudo do genótipo

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• Avaliação do pH e pesquisa de substâncias redutoras:o Fundamento:

• má digestão/absorção de dissacáridos diminui o pH das fezes resultante da formação de ácidos gordos voláteis e a libertação de CH4, CO2 e H2.

• Má digestão/absorção de dissicáridos no intestino aumenta a concentração de substâncias redutoras na urina e na fezes.

o Método:• Medição do pH;• Reação colorimétrica com reagente de Benedict.

o Desvantagens:• Baixa sensibilidade e especificidade;• Não diferenciam qual o açúcar responsável;

o Vantagens:• Não invasivos;• Amostras de colheita fácil;• Baixo custo;• Indicativos de uma possível condição de intolerância

Avaliação Laboratorial

Ilustração 5 - Esquema reacional do Teste de Benedict, adaptado de [18].

Page 18: Fisiopatologia e avaliação laboratorial da intolerância a dissacáridos

• Teste de tolerância oral a dissacáridos:o Fundamento:

• Ingestão de uma quantidade padronizada de um dissacárido (glucose ) os níveis de glicémia aumentam, se indivíduo possuir dissacaridases com atividade normal;

o Método:• Ingestão de 50 g do dissacárido diluído em água;

• Colhidas amostas T=-5, T=0, T= 15, 30, 45 e 60 minutos• Determinação do valor basal;• Comparação do valor basal com os valores após ingestão;• Aumento >25 mg/dL (1,4 mmol/L) tolerância ao dissacárido

o Desvantagens:• Moroso• Pode desencadear sintomatologia;• Sensibilidade baixa (resposta eficiente da insulina)

o Vantagens:• Acessível;• Baixo custo• Pouco invasivo• Diferenciador• Especificidade

Avaliação Laboratorial

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• Teste de hidrogénio expirado:o Fundamento:

• Produção de hidrogénio pela fermentação no colón dos dissacáridos não digeridos e expiração desse hidrogénio;

o Método:• Colheita de amostas T=0, • Ingestão de 25g do dissacárido;• Colheita de amostras T=30, 60, 90, 120, 150 e 180 minutos;• Leitura das amostas em cromatografia gasosa;• Aumento >20 ppm em pelos 2 amostras intolerância• Preenchimento de um inquérito descritivo da sintomatologia

Avaliação Laboratorial

o Desvantagens:

• Profissional de saúde durante 3 horas;• Perda de meio dia/dia inteiro de

trabalho;• Sensibilidade 80-93% • Dosagem de dissacárido ser elevada

(500 ml de leite);

o Vantangens:

• Pouco invasivo• Especificade 100%• Disponível• Custo aceitável;

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Avaliação Laboratorial• Teste de hidrogénio expirado:

o Add-ons:

• Teste oral com ingestão de lactulose:o Permite diferenciar entre doentes produtores de hidrogénio

• Medição de metano expirado:o 30% da população é considerada “produtora de metano”o Aumento >25 ppm de H2 e/ou >12 ppm de CH4 intolerância

o Aumento >15 ppm H2+CH4

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• Avaliação da atividade das dissacaridases:o Fundamento:

• Determinação direta da atividade das dissacaridases atráves da recolha de amostras de biópsias;

o Método:• Recolha de 2 amostras de 2mm do 2/3 do duodeno durante a endoscopia;• Colocação das amostras em poços;• Adição de duas gotas de solução do substrato em estudo;• Incubação por 15 minutos;• Adição de uma solução de cromogénio e de uma solução enzimática de sinal;• Incubação de 5 minutos• Avaliação da formação de cor tolerância

Avaliação Laboratorial

o Desvantagens:

• Invasivo;• Dependente de fatores endogenos ao

doente (INR;...)• Demasiado sensível ao tamanho das

amostras• Pouco dísponivel;• Análise In situ

o Vantangens:

• Sensibilidade e VPN 100%• Especificade e VPP 90-95%• Pode tornar-se rotineiro;• Análise In situ

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• Estudo do genótipo:o Fundamento:

• Avaliar a existência de mutações génicas dos genes responsáveis pelas dissacaridases;

o Método:• Recolha da amostra (zaragatoa; sangue capilar)• Sequenciação (PCR, PCR-RLP, etc...)

o Resultados:• Intolerância à sacarose-maltose: T/G 1730; G/A 3218; C/T 3370; T/G 5234• Intolerância à lactoe: C/T 13910 e G/A 22018• Intolerância à trealose: ----------------------------------

o Desvantagens:• Preço• Acessibilidade• Especificidade e sensibilidade

o Vantagens:• Confirmação de diagnóstico

Avaliação Laboratorial

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Bibliografia