FOGO E TERRA
H duas coisas: fogo e terra - que bastam para a operao de todas
as coisas maravilhosas: o primeiro ativo; a segunda, passiva.
O fogo, em todas as coisas, e por meio de todas as coisas, vem e
vai sempre brilhante, brilhante em todas as coisas e ao mesmo tempo
oculto e desconhecido; quando est sozinho (sem outra matria se
aproximando, sobre a qual ele deveria manifestar sua devida ao),
ele ilimitado e invisvel, autossuficiente para toda ao que lhe
prpria, mvel, entregando-se de certa maneira a todas as coisas que
a ele se achegam, renovando, respeitando a natureza, iluminando, no
compreendido por luzes que so veladas, claro, saltitante em
retrocesso, curvando-se para a frente, rpido de movimento, algo
sempre em ascenso, compreendendo os outros, e no sendo
compreendido, no precisando de outro, secretamente crescendo
sozinho e manifestando sua grandeza s coisas que o recebem. Ativo,
poderoso, de presena invisvel em todas as coisas, ele no aceita
afrontas nem oposio e, como por vingana, reduz tudo obedincia a si,
incompreensvel, impalpvel, no diminudo, muito rico em todas as
formas de si. O fogo a parte ilimitada e malvada da natureza das
coisas, podendo destruir ou produzir a maioria delas.
O fogo em si um e penetra todas as coisas (como dizem os
pitagricos).
Tambm se espalha pelo firmamento e brilha: mas no lugar
infernal, estreito, escuro e atormentador, participando assim dos
dois extremos. Portanto, o fogo em si um, mas naquilo que o recebe
mltiplo e, em diferentes sujeitos, distribudo de maneira
diferente.
Aquele fogo que usamos , portanto, oriundo de outras coisas. Ele
est nas pedras e gerado pelo golpe do ao; est na terra e, aps
escavao, gera fumaa; est na gua, e aquece as termas e os poos; est
no fundo do mar e, espalhado pelos ventos, deixa-o quente; est no
ar e o faz queimar (como vemos, s vezes). E todos os animais, todos
os seres vivos e tambm todos os vegetais so preservados pelo calor:
e tudo o que vive, vive graas ao fogo inerente.
