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Formação em serviço pela via do Projeto Político-Pedagógico
Odete do Rocio Buzatto¹
“Toda a formação encerra um projeto de ação. E de transformação. E não há projeto sem opções”. (NÓVOA, 1992, p31)
Expressar os estudos realizados, a pesquisa, o trabalho, as trocas, os esforços empreendidos, os enfrentamentos necessários, as possibilidades e perspectivas encontradas dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, é o objetivo deste artigo, a partir da temática “a formação em serviço, no espaço escolar”. Para isso, situa-se o papel do Projeto Político-Pedagógico – PPP para organizar uma prática pedagógica de qualidade, que compreenda e possa intervir na realidade, considerando a seguinte problemática: Como a discussão sobre o PPP pode ser implementada, e se consistir em ensejo para um processo político pedagógico formativo no sentido de um ensino e formação qualitativos, no contexto atual? Como o (a) pedagogo (a), profissional responsável pela organização do trabalho pedagógico, pode criar espaços que oportunizem ao professor a reflexão teórica sobre a sua prática? Para a consecução destes objetivos relata-se a pesquisa realizada a partir de metodologia qualitativa, que inclui investigação teórica, análise documental, análise de situações reais do cotidiano escolar, de experiências de formação, levantamentos, depoimentos, entrevistas, observações. Tal processo culmina com o desenvolvimento de um processo de pesquisa-ação, com a participação dos professores envolvidos. O estudo, a reflexão e busca de alternativas para as questões levantadas e analisadas fundamentam-se na abordagem de autores que resgatam o papel intelectual dos professores, como GIROUX e GRAMSCI, e em estudiosos que se debruçam sobre o tema da formação docente, em serviço, articulada à construção do projeto político-pedagógico, dentre eles: ALMEIDA (2004), ARROYO (2002), GANDIN (1996), HAGEMEYER (2004;2006), KRAMER (1999,2003,2004); LIBÂNEO (2004;2007), PIMENTA (1996,2002), VASCONCELOS (2005).Palavras-chave: formação em serviço; espaço escolar; papel intelectual do cente, Projeto Político-Pedagógico.
ABSTRACT
To express the carried through studies, the research, the work, the exchanges, the undertaken efforts, the necessary confrontations, the possibilities and joined perspectives inside of the Program of Educational Development - PDE, is the objective of this article, from the thematic “a formation in service, in the pertaining to school space”, pointing out the paper of the Politician-Pedagogical Project - PPP to organize one practical pedagogical one of quality, that
1
understands and can intervine in the reality, from following the problematic one: How the quarrel on the PPP can be implemented, and if to consist of I try for a process formative pedagogical politician in the direction of a qualitative education and formation, in the current context? How the (a) pedagogo (a), responsible professional for the organization of the pedagogical work, can create spaces that oportunizem to the professor the theoretical reflection on practical its? For the achievement of this objective one will search to use a qualitative methodology of research, through theoretical inquiry, documentary analysis, analysis of real situations of the daily pertaining to school, of experiences of formation, surveys, depositions, interviews, comments and the development of an research-action process, that searchs the participation of the involved professors. The study, the reflection and search of alternatives for these questions had been based on the boarding of authors who rescue the intellectual paper of the professors, as GIROUX and GRAMSCI, and on studious that they are leaned over on the subject of the teaching formation, in service, articulated to the construction of the politician-pedagogical project, amongst them: ALMEIDA (2004), ARROYO (2000,2003), GANDIN (1996), HAGEMEYER (2004; 2005), KRAMER (1999); LIBÂNEO (2000; 2004), PIMENTA (2000), VASCONCELLOS (2005).Word-Key: Formation in service. Pertaining to school space. Politician-pedagogical Project.
INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta a síntese reflexiva da proposta de
trabalho realizado para o cumprimento do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, destinado à qualificação e
formação em serviço de professores e pedagogos da rede estadual de
ensino, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação do
Paraná em parceria com as universidades públicas estaduais e
federal.
Objetiva-se expressar nos estudos realizados, os resultados e as
evidências obtidas na pesquisa sobre a formação em serviço no
espaço escolar, suas implicações para a prática profissional, bem
como os esforços empreendidos, os enfrentamentos necessários, as
possibilidades e perspectivas encontradas para a efetivação da
Proposta de Implementação no Colégio Estadual Natália Reginato –
Ensino Fundamental, Médio e Profissional (EFMP).
2
Pretendeu-se compreender e intervir na realidade escolar, a
partir das demandas levantadas na primeira Semana Pedagógica de
2007, na Escola Estadual Natália Reginato -EFMP que objetivou a
avaliação do Projeto Político Pedagógico (PPP), das escolas estaduais.
A análise coletiva realizada constatou a necessidades de
aprofundamento sobre as opções conceituais definidas no Marco
Conceitual do PPP, a partir da organização do processo de formação
continuada, considerando a seguinte questão: Como a discussão
sobre o PPP pode ser implementada, consistindo-se em ensejo para
um processo político pedagógico formativo no sentido de um ensino e
formação qualitativos, no contexto atual?
Tal questão levou à seguinte problematização: Como o (a)
pedagogo (a), profissional responsável pela organização do trabalho
pedagógico, pode criar espaços que oportunizem ao professor a
reflexão teórica sobre a sua prática? Para construir uma metodologia
mais qualificada de trabalho pedagógico, buscou-se utilizar o
processo de pesquisa qualitativa para envolvimento dos professores,
desenvolvendo um processo de pesquisa-ação. A pesquisa-ação, além
da participação, supõe uma forma de ação planejada e participativa,
voltada à resolução de problemas relevantes dentro da situação
social, contudo, atentos às exigências teóricas e metodológicas da
pesquisa científica. (THIOLLENT , 1986).
Propõe-se no presente texto a abordagem de três momentos
distintos: o primeiro traz subsídios teóricos que auxiliam a reflexão
sobre a importância da construção coletiva do PPP como meio de
intervenção na realidade escolar, voltando-se para a valorização e
resgate do papel do professor e do pedagogo.
O segundo momento compreende a ampliação dessa reflexão
voltando-se para a leitura e análise dos caminhos trilhados na
construção do PPP, os limites e as possibilidades no seu processo de
implementação, o reconhecimento das representações existentes
acerca da organização do trabalho pedagógico pelo pedagogo no
espaço escolar. A identificação das necessidades de formação
3
pedagógica frente os desafios da função do professor e da escola na
atualidade, e propõe a organização dos espaços/tempos possíveis
para a efetivação de um projeto de formação em serviço que
oportunizem ao professor e pedagogo a reflexão teórica sobre a sua
prática.
Já no terceiro momento, buscando contribuir para a
reorientação do processo de formação continuada e em serviço do
professor e do pedagogo, são apresentadas as possibilidades e os
limites do processo vivenciado. Ainda julga-se necessário evidenciar
nossas observações sobre os enfrentamentos para realização da
proposta de implementação do PDE, que tinha como objetivo a
intervenção na realidade escolar a partir da identificação de um
problema relevante do seu cotidiano.
A formação em serviço pela via do Projeto Político-Pedagógico
A intenção de formar o professor em serviço pela ”via” do
Projeto Político-Pedagógico - PPP , significa a escolha de um
“caminho” que privilegia e conduz a análise de percursos realizados
pelos professores da Escola Básica em sua trajetória de formação,
considerando–os como sujeitos e agentes da ação educativa ao
desenvolver os objetivos da escola para com os educandos.
A valorização do conhecimento e do saber docente, diz respeito
à constatação de que são frutos de sua prática cotidiana e de seus
percursos formativos. Ao trilhar esse caminho pretende-se
primeiramente, devolver ao “professor o lugar de destaque que lhes
cabe” (ARROYO, 2000, p.9), pois se percebe que as escolas têm
ocupado lugar de maior relevo nas políticas, na teoria, nos cursos de
formação do que seus profissionais. Os professores são vistos,
geralmente, como recursos, preparados ou não, valorizados ou
desvalorizados. Assim, “depois que se decide a construção da escola,
os currículos e seus parâmetros, as políticas de qualidade ou de
democratização da educação...pensam nos recursos humanos que
darão conta da tarefa. (ARROYO, 2000,p.10)
4
Em seguida, retoma-se como ponto de partida o “pedagogo-
docente”, cuja figura e papel antecedem a criação da escola; a idéia
do pedagogo que surge na Grécia antiga, refere-se ao pedagogo, o
escravo/adulto responsável pela condução das crianças
(adolescentes, jovens e adultos) ao saber, à cultura e aos produtos da
humanidade. Esse reencontro, nesse momento, reveste-se de muitos
significados. Inicialmente, prioriza-se o encontro de gerações, os
sujeitos da ação educativa (ARROYO, 2000), por meio da condução
dos educandos ao conhecimento científico, historicamente produzido
por todos. O professor reencontra assim a natureza do trabalho
pedagógico, como ensino e formação humana da maioria da
população que freqüenta a escola pública, a qual resgata sua
identidade profissional ao compreender a função social do seu ofício e
da escola.
Significa ainda, a necessidade da (re) fundação da escola como
possibilidade de superação dos limites estruturais postos pela divisão
social do trabalho que fragmentou e individualizou a organização do
trabalho pedagógico, e “retirou do professor, em grande medida, a
função de pensar/agir sobre o processo pedagógico, função que
coube ao especialista”. (HAGEMEYER, 2004, p. 70). O caminho dessa
superação, passa pelo fortalecimento da ação e discussão coletiva
docente, que tem na organização do trabalho pedagógico uma
necessidade crucial a considerar: Quais os fins da educação escolar
na sociedade atual, na comunidade em que se insere? A construção
coletiva do Projeto Político-Pedagógico (PPP), oferece ao pedagogo e
ao professor os elementos para uma formação mais qualificada ao
discutir os objetivos da escola. Para se constituir em metodologia de
construção de trabalho pedagógico, o PPP “concebido e concebendo-
se de forma crítica poderá apoiar a reflexão coletiva dos professores
e demais profissionais da educação reunidos em processo de
formação permanente, em serviço, aperfeiçoamento ou extensão”.
(KRAMER, 1999)
5
Frente às dificuldades enfrentadas na construção de uma escola
que luta pela democratização do ensino e eliminação do fracasso
escolar, busca-se como objetivo fundamental de seus professores, a
construção do compromisso do grupo participante, para obter clareza
teórico-conceitual a ser adquirida pelo estudo, pelo debate e pela
leitura da literatura já disponível; o investimento nestes estudos
teóricos só terá sentido ao ser transposto para a prática. Para Cruz
(1995), a ação convicta que é gerada pela opção fundada
teoricamente pelo trabalho planejado e participativo, supera os
mecanismos individualizantes presente na escola.
É de fundamental importância que as políticas para a
construção do PPP, assegurem durante seu processo de construção e
implementação, uma efetiva participação. Não mais uma
“participação de vitrine”, sem compreensão científica, sem
fundamentação teórica, na maioria das vezes baseada na seleção de
conteúdos relacionados nos livros didáticos, ou na reprodução dos
discursos das concepções organizadas por especialistas. Sobre essa
questão, Kramer (1999) questiona:
Como os professores favorecerão a construção de conhecimentos se não forem desafiados a construir os seus ? Como podem os professores se tornar construtores de conhecimentos quando reduzidos a executores de propostas e projetos de cuja elaboração não participaram e que são chamados a implantar? Para que possam mais do que implantar currículos ou aplicar propostas à realidade da escola, é preciso participar da sua concepção, construção, consolidação (KRAMER, 1999).
Assim, pensar um projeto para a Escola Básica, requer
possibilitar ao professor as condições necessárias que, para além do
ofício do ensino, o levem a participar criticamente do processo de
mudanças educacionais e pedagógicas. Tais mudanças não somente
impostas, mas aquelas necessárias à sua prática pedagógica. Sem
essas condições, a mudança não sairá do papel ou será implantada
de forma caricata, provocando resistência nos professores
(HAGEMEYER, 2006; ALMEIDA,2004).
6
O Projeto Político-Pedagógico construído coletivamente, num
processo de formação permanente, em serviço, promoverá por meio
da pesquisa e da reflexão sobre as concepções e práticas
pedagógicas, a autonomia e consciência das necessidades para a
concepção e implementação de uma práxis pedagógica mais próxima
dos problemas do ensino e formação humana no contexto atual.
Propõe-se acima de tudo garantir a autonomia e participação, para
que a construção do PPP não se torne apenas uma obrigação legal.
Busca-se assim a possibilidade de assegurar na organização
escolar que os educadores tenham como ponto de partida e chegada
a sua prática cotidiana, definindo qual conhecimento (apropriação de
instrumental teórico e prático) é necessário dominar, para equacionar
as questões da prática social na aprendizagem (PIMENTA, 1999;
SAVIANI,1992). Desta forma compreender e intervir na realidade
escolar, indicando seus limites e possibilidades, tende a construir uma
atuação docente como intelectuais críticos, responsáveis pela
formação e novos intelectuais.(HAGEMEYER, 2004)
Nesta perspectiva, Gandin (1996), afirmar ser fundamental que
o professor se redescubra como intelectual, como sujeito social que
pensa criticamente a sociedade, a educação e a sua prática.
Destacando ainda, que o professor não deveria mais gastar sua
energia como a preocupação do “como” fazer, isto é, de posse das
técnicas, metodologias, seleção de conteúdos, instrumentos de
avaliação, sem ter decido “para que”, ou o “por que”, deve ensinar. A
clareza sobre qual o rumo deseja tomar, quais concepções
sustentarão sua prática pedagógica. O desafio se coloca na
concretização desse propósito considerando, as contribuições dos
estudos teóricos e as práticas pedagógicas reais dos professores.
Pelo exposto defende-se a organização da formação em serviço
nas escolas, como espaço fundamental para a reflexão coletiva e o
aprimoramento constante da prática pedagógica. Neste sentido,
KRAMER aponta para importância da constituição desse processo, que
7
gera a possibilidade de uma qualificação tríplice, ou seja: profissional/
pessoal, institucional e social:
(...) parece-me absolutamente necessário fortalecer a formação dos professores em serviço: isso significa recuperar o espaço pedagógico da escola e, como conseqüência, aprimorar, de forma autônoma e constante, o trabalho desenvolvido em seu interior. Considero que um processo de formação em serviço, sistemático, substancial e construído coletivamente, é capaz de entre outros fatores – gerar a melhoria da qualidade do ensino. (KRAMER, 2004, p.92)
Assim, a formação continuada em serviço, no espaço escolar,
é aqui compreendida como elemento essencial ao processo de
implementação do Projeto Político-Pedagógico como organizador da
prática pedagógica de qualidade. Portanto, coletiva deverá ser a
busca de soluções que possibilitem a efetivação de tal propósito, que
se encontra limitado, por uma estrutura organizacional fortemente
marcada pela falta de condições de trabalho da equipe pedagógica,
por um lado. E por outro, pela não compreensão da comunidade
escolar acerca da real função e atribuições do pedagogo, questão a
ser levada em conta na análise proposta, relatada a seguir.
Os atalhos e caminhos da formação continuada em serviço:
Atalhos....
Nos últimos anos, o discurso predominante sobre a melhoria na
qualidade de ensino destaca a formação continuada dos professores
como elemento essencial na tentativa de delinear o perfil que deve
ser assumido pelos professores no desempenho de suas funções.
Nesse sentido, a temática tornou-se objeto de estudos e pesquisas no
meio acadêmico, motivo de reformas educacionais e políticas
públicas, e inclusive, tema de destaque da mídia em geral (COSTA,
2007).
Contudo, percebe-se que apesar da formação dos professores
ocupar posição de destaque para efetivação de uma escola pública de
8
qualidade, vem se configurando por meio de processos de
fragmentados, aligeirados e de esvaziamento de conteúdo, o que
demonstra um distanciamento muito grande entre as intenções
declaradas pelas políticas de formação continuada e as ações
efetivadas nas escolas. Tais procedimentos, decorrem de políticas
que não consideram as condições materiais de trabalho e o resgate
da identidade e da profissionalização docente (CALDAS, 2005;
HAGEMEYER, 2004, 2006; KRAMER, 2004; LIBÂNEO, 2004; PIMENTA,
1996).
Ao analisar as experiências de formação continuada no âmbito
escolar, pode-se levantar uma série de conjecturas sobre a
prevalência da concepção que vem orientando a realização de
programas desenvolvidos pelos sistemas de ensino. Muitas vezes, são
oferecidos de forma homogênea a uma grande parte de professores,
sem respeitar seus diferentes momentos de desenvolvimento
profissional e necessidades específicas. São os o que pode-se chamar
de “atalhos”, caminhos mais curtos, que aparentemente possibilitam
a chegada mais rápida ao destino pretendido, mas que podem custar
muito caro, e certamente ser um caminho sem volta, às novas
gerações que dependem da qualidade da escola pública para garantia
do exercício da cidadania plena.
Assim a possibilidade de contribuição para a ampliação do
conhecimento ofertado à maioria da população que freqüenta a
escola, fica ameaçada “por estratégias que têm sido oferecidas,
basicamente de duas maneiras: os treinamentos via efeito
multiplicador e os encontros de vivências” (KRAMER, 2004, p.77).
Os pacotes de treinamentos, tem o objetivo de provocar ou
introduzir inovações educacionais rapidamente, por meio de
multiplicadores responsáveis pelo repasse, treino e defesa de uma
nova concepção teórico - metodológica, de uma nova proposta, de
um novo receituário educacional. Fica evidenciado o caráter
fragmentado do processo que separa concepção de
execução/operacionalização. Já os encontros de vivências, centram-se
9
na possibilidade de mudanças de comportamentos atitudinais ou
aspectos sócio-afetivos dos profissionais da educação, e não em
metodologias, conteúdos que promovam mudanças necessárias na
aprendizagem e na relação professor-aluno. Apresentam grandes
limitações e problemas, sobretudo, porque a culpa pela má qualidade
do ensino fica somente sob a responsabilidade do professor.
Configura-se nesses modelos a visão do professor como um
tarefeiro, um técnico, um animador, enfim, um recurso.
Caminhos....
Contrapondo-se as estratégias de formação continuada
aligeiradas, aos “atalhos” usados por algumas redes de ensino nos
esforços empreendidos para implantação de novas propostas
pedagógicas e/ou reformas educacionais, tem-se promovido outros
processos de formação em serviço fundamentados basicamente em
duas correntes no campo da formação continuada, aqui destacados
sob a análise da Professora Vera Maria Candau (1996) que os
identifica como: perspectiva clássica e a nova perspectiva de
formação continuada de professores fundada em três dimensões.
Na perspectiva clássica, a ênfase recai em propostas de
reciclagem, compreendendo reciclar como refazer o ciclo, voltar a
aperfeiçoar-se, em outros níveis, de preferência na universidade
(tradicionalmente considerada como lócus de produção de
conhecimento). Atualmente essa perspectiva de formação continuada
é a mais promovida pelas redes de ensino, em convênio com as
Instituições de Ensino Superior – IES, por meio de diferentes
modalidades (oferta de vagas em cursos de graduação/licenciatura,
promoção de especializações presenciais e/ou à distância aos
professores em exercício nas redes, etc...). Os seminários, simpósios,
congressos, encontros, cursos de extensão são outras formas de
reciclagem compreendidas dentro dessa perspectiva. Já no quadro
das tendências atuais a autora analisa os caminhos de construção de
10
uma nova perspectiva de formação continuada, a partir dos seguintes
eixos:
• A escola como lócus privilegiado de formação:
transferindo o espaço de formação continuada da
universidade para a escola de educação básica,
valorizando e reconhecendo o saber docente, a
experiência cotidiana do professor, num processo de se
pensar a prática, ou seja, uma prática reflexiva que
identifique os problemas reais para resolvê-los, busca
trabalhar com o corpo docente de uma instituição,
favorecendo os processos coletivos de reflexão e
intervenção na prática pedagógica concreta, geralmente
em processos de pesquisa-ação.
• A valorização do saber docente: pauta-se na investigação
dos saberes que os professores possuem, constrói alguns
saberes específicos, que relação existente entre esses
saberes e as ciências da educação. Os saberes/ da
experiência dos professores são valorizados, constituem a
cultura docente em ação.
• O ciclo de vida dos professores: reconhecimentos das
etapas do ciclo profissional do professores como elemento
importante no sentido da docência, do desenvolvimento
profissional (na carreira) e pessoal. Destaca a
necessidade de interação entre as dimensões pessoais e
profissionais, ressaltando análise histórica da trajetória de
formação e de vida dos professores.
As abordagens ancoradas no professor como sujeito,
possibilitaram diferentes olhares e novos caminhos para reflexão e o
desenvolvimento dos processos de formação continuada. Porém, a
leitura cuidadosa das novas tendências chama atenção para
fragilidades que podem contribuir para o avanço dos processos de
formação continuada. (CANDAU, 1996)
11
Assim, de acordo com Candau (1996), importa considerar que
essas tendências, de maneira geral, têm privilegiado os aspectos
psicossociais e a realidade micro, investigando fatores intra-escolares
do desenvolvimento profissional sem relacioná-los ao contexto
político-ideológico da profissão docente. Bem como, privilegiam mais
os aspectos relativos ao saber docente e escolar (cultura escolar),
mas pouca atenção é dada aos elementos da cultura da escola (seus
ritos, símbolos, seu cotidiano). A dimensão cultural também não tem
sido ainda, objeto de preocupação das investigações.
A pesquisa como um caminho...
No movimento nacional e internacional de pesquisa sobre a
própria prática, evidenciado de forma mais densa no Brasil, a partir
dos anos de 1990, “filiam-se diversas tradições intelectuais,
profissionais e acadêmicas” (PONTE,2004). Dentre os quais se
destacam: o movimento do professor -pesquisador, a pesquisa-ação,
o professor-reflexivo e a pesquisa colaborativa.
A proposta do professor como pesquisador torna-se um
princípio a ser implementado, no desenvolvimento profissional do
professor, compreendido para além da sua formação inicial, como
formação permanente, cotidiana e centrada nas escolas e nos
coletivos em que se desenvolvem as práticas pedagógicas.
Para Ponte, (2004) não se trata de transformar o professor em
um pesquisador profissional, e sim buscar o seu aperfeiçoamento
profissional por meio da pesquisa sobre a sua prática. Defende a
pesquisa colaborativa como estratégia importante para o estudo de
objetos complexos, uma vez que recorre aos esforços coletivos de
uma equipe de trabalho. Hoje, constituí-se um elemento fundandante
em muitos projetos que envolvem professores da Educação Básica e
professores universitários (ANDRÉ, 2001, apud PONTE, 2004, p.40)
Outro movimento de igual relevância é o do professor
pesquisador (STENHOUSE, 1975 apud PONTE, 2004) centrado em
12
pesquisas de caráter mais individual, os professores voltam-se para
pesquisas mais amplas que pouco se relacionam com a sua prática.
A pesquisa-ação admite um conceito muito próximo da
pesquisa sobre a prática. Parte da investigação de um problema
revelante da realidade, orientada por valores da “educação”
refletindo-os e questionando-os. Tem uma dimensão participativa de
caráter coletivo. (PONTE, 2004)
Já a tradição do professor reflexivo demonstra preocupações
práticas, apontando estratégias concretas de ação tanto no âmbito
escolar como na formação de professores. Enfatiza a importância do
tipo de reflexão que é desejada, pois nem toda reflexão é útil e
caminha na direção de uma educação emancipadora.
Cumpre destacar que o termo “reflexivo” tem sido motivo de
polêmicas no meio educacional, desta maneira ressalta-se a
importância de se tecer algumas considerações: não é possível
conceber alguém que faça pesquisa sobre sua prática sem ser
reflexivo, mas também não basta ser reflexivo para se fazer pesquisa,
(LÜDKE, 2001 apud PONTE, 2004); também ao considerar que todo
ser humano é reflexivo, conclui-se que todo professor é por natureza
reflexivo, enquanto para outros ser reflexivo implica várias condições.
Em estudo mais aprofundado o professor José Carlos
Libâneo(2002), destaca a importância de tomarmos os devidos
cuidados para não cairmos em reducionismos ou modismos, muito
próprios da fragilidade do pensamento pedagógico brasileiro nas
últimas décadas. Diante do exposto ele realiza um estudo sobre a
temática, no qual três tópicos são abordados: a noção filosófica de
reflexividade; os dois tipos básicos de reflexividade presentes no
debate atual, a saber: a de cunho neoliberal e a de cunho crítico e
considerações sobre reflexividade e o desenvolvimento profissional
dos professores.1
1 Sobre o tema ver o capítulo do livro Professor Reflexivo no Brasil, intitulado: “Reflexividade e Formação de Professores: outra oscilação do pensamento pedagógico brasileiro?
13
Para Marli André, (2001) importa destacar que o movimento do
prático reflexivo marca uma oposição às concepções dominantes de
“racionalidade técnica”, em que as práticas profissionais se produzem
num contexto de divisão social do trabalho entre concepção e
execução, entre teoria e prática.
Ao considerar as ressalvas às teorias sobre o professor
reflexivo, posiciona-se a partir de novos entendimentos de
reflexividade, com as idéias surgidas após o marxismo, entre essas
podemos destacar: a teoria crítica da Escola de Frankfurt, a teoria da
ação comunicativa, o movimento do professor crítico reflexivo, o
intelectual crítico e transformador.
Na perspectiva do professor como intelectual crítico, vários
pesquisadores têm abordado a temática da formação continuada no
espaço escolar . Ampliando o debate sobre a importância de se
considerar a pesquisa sobre a própria prática ao reafirmar que o
saber docente não é formado apenas da prática, mas também das
teorias que as fundamentam.
Ainda no debate atual acerca da formação docente, destaca-se
o reconhecimento da necessidade desse processo se dar de maneira
indissociável do processo de profissionalização, de acordo com
(KRAMER,2004) “as diferentes estratégias de formação devem gerar
processos de formação que levem em conta a profissionalização
docente tanto em termos de avanço na escolaridade quanto no que
diz respeito à progressão na carreira e ao aumento de salários”
quanto à preocupação de analisar os processos desenvolvidos pela
práxis .
Dessa forma, importa buscar possibilidades para efetivação da
formação continuada dos professores/pedagogos no espaço escolar,
ultrapassando os limites dos discursos e intenções declaradas sobre
concepções variadas a respeito da ação docente (professor-
pesquisador, professor-reflexivo, professor-profissional) utilizadas,
muitas vezes, para justificar as mudanças pretendidas, sem
considerar, no entanto, a realidade concreta escolar e os fatores
14
estruturais necessários à implementação das propostas e reformas
educacionais. Tais visões e concepções podem novamente cair num
vazio, sem encontrar ressonância na prática.
A separação histórica do fazer e do pensar, sobretudo, a partir
da divisão das funções profissionais na escola, trouxe uma exclusão
sistemática da função intelectual própria da função docente, de
pensar, propor alternativas para o planejamento conjunto e para o
Projeto Político Pedagógico da Escola. A participação do professor
tende a apontar as necessidades reais do trabalho teórico
metodológico curricular, caracterizando alternativas concretas para a
formação docente, frente aos desafios e dilemas postos pelo contexto
atual.
Novos desafios na caminha profissional - o que significa ser professor hoje...
A escola e seus profissionais ao empreender a prática
pedagógica, são influenciados pelo contexto das transformações da
sociedade e da educação a partir das propostas oficiais e de reformas
legais. As diretrizes apontadas pela política educacional do Estado do
Paraná, destacam a preocupação em resgatar o sentido da escola,
bem como o papel do professor para um ensino de qualidade, na
busca da superação ainda de problemas da aprendizagem, levando
em conta a complexidade do contexto social atual, que estão a
requerer a identificação das necessidades presentes para essa
formação.
As necessidades apontadas pelos professores, refletem as
grandes mudanças evidenciadas na sociedade contemporânea
marcada pelo vertiginoso avanço científico-tecnológico, pelas novas
conformações do trabalho e pela significativa alteração dos valores
humanos (HAGEMEYER, 2004), acima de tudo de desumanização,
aquela que segundo Paulo Freire “proíbe os seres humanos de ser”.
(ARROYO,2000)
Os reflexos dessa desumanização têm adentrado às escolas e
se abrigado nas salas de aula, no espaço destinado ao ensino “dos
15
conteúdos escolares” e a formação que garanta a humanização. Têm
cobrado da escola e do professor muito além do que lhes cabe
enquanto instância socializadora do conhecimento científico. Pois, os
educadores estão diante de crianças, adolescentes, jovens e adultos
que chegam no espaço escolar vitimados pela violência doméstica,
pela fome, pelo tráfico de drogas, fortemente influenciados pela mídia
(internet, televisão, revistas,jornais que expressam outros valores e
significações), agressivos e ao mesmo tempo desamparados.
Dessa maneira um dilema está posto: Como garantir às
camadas populares o domínio do conhecimento
científico/escolarizado para tornarem-se realmente sujeitos desse
direito e de tantos outros que as humanizam, que humanizam as
relações sociais e possibilitam o cuidado de si, do outro e do planeta?
Esse dilema representa mais do que desafios a serem
enfrentados no exercício da função docente. Representa também, a
possibilidade de resgatar a identidade profissional do professor, e
reafirmar a função social da escola ao “desenredá-lo da profusão de
exigências que lhes são feitas, situando as necessidades de sua
atuação, formação e engajamento profissional hoje”. (HAGEMEYER,
2004, p. 70)
Para refletir sobre a complexidade da atuação docente na
contemporaneidade recorre-se a posições assumidas por vários
autores, entre os quais se destacam: ALMEIDA, (2004); ARROYO,
(2000, 2003); COSTA, (2007); CALDAS (2005,2007); HAGEMEYER,
(2004, 2006); LIBÂNEO (2004);; VASCONCELLOS,2005).
Tais posições têm revelado que ser professor hoje requer
considerar : o alijamento dos professores das discussões que são
próprias da sua função; a relação vertical com os órgãos oficiais
educacionais ao propor reformas e prescrições com vistas a
mudanças; o processo de valorização/desvalorização, crítica e perda
de identidade; sua formação técnico-didática e científica com base na
modernidade lhe conferia uma autoridade construída pela certeza de
métodos e técnicas, hoje totalmente ameaçada pela sociedade pós-
16
moderna, na qual o ensino perde a legitimidade; a necessidade do
atendimento a diversidade cultural, para garantir a todos o
patrimônio cultural e intelectual da humanidade, pois temos uma
sociedade pluralista e a educação tem um caráter unificador; as
necessidades do mercado de trabalho, caracterizada pelo
desemprego crescente, pela violência, pela miséria, falta de
perspectiva para novas gerações, onde a educação escolar não
parece mais responder as expectativas de um futuro melhor.
Todas essas considerações tem se materializado na vida
pessoal e profissional dos professores afetando sua saúde física e
emocional, o chamado “mal-estar” docente, que evidencia o
desajuste dos professores diante á mudança social. Ocasionados por
fatores de 1ª ordem, expressos na ação do professor em sala de aula
(imposições administrativas, isolamento) e de 2ª ordem, que se
referem às condições ambientais (falta de tempo, material adequado,
excesso de alunos, condições salariais), gerando desmotivação
crescente que repercutem no seu desempenho profissional (Síndrome
de Burnot , síndrome da desistência).
Proclama-se a fundamental importância do professor para
efetivação, com sucesso das reformas pretendidas, principalmente
investindo-se nos processos de formação inicial e continuada destes.
Contudo, presencia-se um distanciamento muito grande entre “as
intenções declaradas e o provimento das condições efetivas de
realização dessas intenções”.(LIBÂNEO, 2004) Estudos têm revelado
problemas nos processos de formação inicial e continuada. Prevalece
nas novas reformas educacionais uma atitude prescritiva e normativa
que revela a idéia de “tornar o professor um melhor profissional, mais
adequado” para executar as idéias e concepções inovadoras, por
meio de propostas aligeiradas, fragmentadas, nos quais se percebe
um grande esvaziamento de conteúdos. Segundo, VASCONCELLOS,
2005:
Coloca-se um sujeito cheio de boas intenções, o professor, numa situação que envolve a desorientação dos pais, que é um reflexo da desorientação da sociedade. Ou seja,
17
quando precisamos de um professor ainda mais qualificado temos um professor com uma formação aligeirada. (VASCONCELLOS,2005, p. 7)
É preciso, portanto, ressignificar a função docente, resgatando
o professor como intelectual crítico e transformador, consciente do
seu compromisso político. Esta luta é forjada na e pela organização
coletiva de um projeto de escola que ao resgatar a função social da
escola, também resgate a identidade do professor. O que requer
estabelecer a função docente, a partir do que lhe é próprio, da
natureza do trabalho pedagógico.
Destaca-se dessa maneira, que no processo intencional,
sistematizado e organizado para levar os educandos à apropriação
dos conhecimentos científicos, a função do professor requer o
domínio do ato de ensinar e formar. Tal domínio exigirá sólida
formação nos quatro campos que caracterizam o trabalho docente: o
da profissionalização, o do conhecimento científico, o técnico-didático
e o humano-social (HAGEMEYER,2006).
Trajetória da pesquisa: percursos metodológicos
A pesquisa realizada teve como procedimento metodológico
uma abordagem qualitativa, desenvolvida por meio da pesquisa-ação.
Organizou-se um processo de estudos e pesquisas bibliográficos de
autores que resgatam, interpretam e redirecionam o papel do
professor como intelectual que produz conhecimentos e saberes,
como fator relevante para qualidade da educação formal. Esses
processos de ação-reflexão-ação, se constituem em trabalho a partir
da teoria e da prática. A prática passará a ser problematizada e o
professor envolvido tornar-se-á participante ativo na discussão e
levantamento de alternativas para a mesma. Processo organizado a
partir de encontros, reuniões e a presença de profissionais que
possibilitaram o aprofundamento de temas sobre as necessidades
levantadas.
18
Somado a outras técnicas como: entrevistas; a observação
participante, recorrendo ao diário de registros da pedagoga, aos
relatórios das reuniões da equipe diretivo - pedagógica; análise
documental dos Planos de Trabalho Docente, dos Livros de Registro
de Classe, das Fichas de Acompanhamento dos Alunos, relatórios das
Semanas Pedagógicas e Semana Cultural e demais documentos do
Colégio (PPP, Plano de Ação Anual do Colégio e Plano de Ação da
Equipe Pedagógica, Regimento Escolar, Proposta Curricular); e
posterior reflexão sobre os depoimentos das pedagogas participantes
do Grupo de Trabalho em Rede – GTR (modalidade de formação à
distância, ofertada pela SEED, durante o PDE) e das contribuições dos
professores participantes do Grupo de Estudos – disciplinar, (ofertado
pela mantenedora, organizado e coordenado pela
pedagoga/participante do PDE, no próprio espaço escolar).
As análises realizadas, ainda que de maneira simplista,
revelam não só as deficiências dos percursos de formação, incluindo
aqui o próprio PDE, mas apontam também para as fragilidades e
necessidades mais urgentes de aperfeiçoamento e evidenciam as
dificuldades da realização de pesquisas pelos professores da
Educação Básica, mesmo dentro de um programa destinado,
exatamente, a tal propósito.
Reconhecendo o território – caracterização da comunidade
escolar
O Colégio Estadual Natália Reginato – EFMP, não foge as
características das escolas públicas de uma região urbana. Situado no
Cajuru, bairro da zona leste de Curitiba, configurado como um
espaço-território em franco processo de expansão populacional.
Atualmente atende cerca de 1200 adolescentes, jovens e
adultos matriculados no ensino fundamental, médio e profissional,
distribuídos em três turnos, com o total de 35 turmas. O contexto
urbano no qual se insere apresenta carências de ordem econômica e
19
social como: predomínio de trabalhadores assalariados e muitos
desempregados, dinâmicas familiares conflituosas, violência em
grande parte gerada pelo tráfico de drogas e gangues rivais.
Realidade observada através do convívio com os alunos e pais,
e pelo relato dos professores e na leitura do Projeto Político-
Pedagógico, no qual existe um estudo detalhado das condições
sociais, econômicas e culturais da comunidade discente e uma
análise que evidencia os reflexos dessas condições no cotidiano
escolar, justificando a indisciplina, o baixo rendimento, as
reprovações, as desistências, o desinteresse dos alunos pelo estudo,
e de suas famílias em acompanhar a vida escolar dos mesmos. A
indisciplina do aluno é tratada como disciplinamento, a cobrança
recai sobre a direção e a equipe pedagógica, destacando que não se
tomam atitudes punitivas mais sérias como suspensão e expulsão.
Fica implícita uma justificativa que aponta para fora da escola a
determinação do seu fracasso, não observando elementos relativos à
organização do trabalho escolar.
Não se faz nenhuma referência no PPP de como esses alunos se
sentem no espaço escolar, nem se percebe essa preocupação por
parte da comunidade escolar. Evidencia-se que os mesmos não
enxergam a escola como sendo um espaço seu, ela é pública, e em
seu imaginário o que é público é de todos e de ninguém, assim existe
no ambiente escolar muita pichação e depredação, também relatadas
no marco situacional do PPP, apontando para construção de um
projeto que solucione a problemática.
Observa-se assim, uma maneira pontual de resolver os
problemas, olhando-se para os fatores externos, a nível macro, e
contraditoriamente chamando para a escola a responsabilidade de
minimizá-los. Essa tentativa revela: “o não reconhecimento dos
educandos como habitantes legítimos da escola e da compreensão de
que isso implica em criar condições estruturais e pedagógicas para
que eles ocupem e reconheçam a escola como seu território”
(ARROYO, 2003 ).
20
Nesse sentido, reveste-se de importância o entendimento do
que está posto no marco conceitual do PPP quanto às concepções de
sociedade, de homem, de cidadão, de educação e de gestão
pedagógica para realização de uma práxis coerente. Muito se fala de
democracia social, de gestão democrática, mas nenhum processo de
democratização dos alunos é identificado, nem na realidade concreta,
nem no discurso oral e escrito.
A equipe de profissionais é composta por: um diretor geral e
uma diretora auxiliar ambos com 40 horas semanais, no colégio há
mais de dez anos; cinco pedagogas: três com 20 horas e uma com
40 horas semanais (da equipe pedagógica somente duas pedagogas
estão no colégio há mais de cinco anos); 60 professores (dos quais
somente dezenove são do Quadro Próprio do Magistério - QPM,
desses doze no colégio há mais de cinco anos); 07 assistentes
administrativos, todos na escola há menos de cinco anos (mais duas
professoras readaptadas que exercem funções administrativas, com
mais de cinco anos de lotação na escola ) 01 secretária geral,
pertence ao quadro da escola há mais de cinco; 04 bibliotecárias
(sendo três professoras readaptadas e uma assistente administrativo)
e 11 funcionários do quadro de apoio, cinco deles atuam no quadro
funcional há mais de cinco anos (2 afastadas por licença médica).
Analisando a composição do quadro funcional percebe-se que
menos de 30% está no colégio há mais de cinco anos, fator que já
indica a fragilidade na construção e discussão do PPP, pois dificulta os
avanços necessários, além de ser um complicador na organização do
trabalho escolar. Outra situação evidenciada refere-se à composição
da equipe pedagógica, na qual somente duas pedagogas atuam no
colégio há mais de cinco anos, a rotatividade na equipe é anual, fato
que tem impossibilitado a organização, coordenação, planejamento
das atividades voltadas às discussões do PPP bem como um trabalho
de equipe.
Chama atenção ainda, o número de horas destinadas a suprir a
necessidade do colégio para função de pedagogo, ou seja, um total
21
de 120 horas, em relação ao número de horas destinadas ao quadro
administrativo, a saber: 320 horas (sem considerar os profissionais
readaptados neste quadro). O que não quer dizer que a demanda
para os funcionários administrativos não seja necessária, e sim, que
somente 120 horas para equipe pedagógica são insuficientes diante
do número de atribuições no exercício de suas funções. Uma breve
leitura no Regimento da Escola é suficiente para identificar quarenta
e três atribuições (número superior a dos outros segmentos), tendo
como função a coordenação, implantação e implementação no
estabelecimento de ensino das Diretrizes Curriculares definidas no
Projeto Político-Pedagógico e no Regimento Escolar, em consonância
com a política educacional e orientações emanadas da Secretaria de
Estado da Educação.
Diante do exposto, questiona-se, qual a concepção de
educação, e qual a compreensão do papel do pedagogo escolar,
expressa na organização administrativa da mantenedora? Anuncia-se
diretrizes político-pedgógicas fundamentadas em uma perspectiva
progressista de educação, e, contraditoriamente, a estrutura
organizacional é sustentada pela compreensão de uma educação
conservadora, do pedagogo, como supervisor, como orientador, ou
seja, são necessários poucos para fiscalizar e corrigir os desvios do
processo. Mas, quantos pedagogos “unitários” seriam necessários
para efetivamente acompanhar o processo de ensino e
aprendizagem, tendo em vista o enfrentamento ao fracasso escolar ?
O processo de ensino e de aprendizagem é fundamentalmente
marcado por uma ação pedagógica na qual a transmissão e
memorização de conteúdos é o foco dessa prática. O corpo docente é
consciente da importância e da necessidade de mudar o
encaminhamento metodológico que vem sendo realizado, porém são
vários os fatores que dificultam tal intenção. Dentre eles destacam-
se:
• grande número de afastamentos médicos e de faltas
docentes decorrentes de problemas de saúde, o que
22
ocasiona a desestruturação da organização do trabalho
pedagógico no colégio, visto que na falta do professor quem
o substitui é a equipe pedagógica que assim tem sua função
totalmente descaracterizada ;
• fragmentação e desorganização da hora-atividade no que
diz respeito ao dia em que estas acontecem e na articulação
dos professores das mesmas áreas;
• a rotina da escola (cultura da escola), centrada no controle,
manutenção da ordem, da disciplina dos alunos, no
atendimento de demandas que não são da escola e no
cumprimento de determinações burocráticas; e
• a participação dos pais na escola, é bastante frágil, a
relação da escola com as famílias se dá basicamente, no
sentido de cobranças. A presença dos pais na escola é
observada na entrega de boletins (resultados das avaliações)
e quando chamados para tomar ciência dos problemas
comportamentais de seus filhos “na escola”, na condição de
leigos no processo de educação escolar tem muito pouco a
fazer.
A leitura realizada revelou um distanciamento muito
grande entre a concepção de educação posta no discurso
e documentos oficiais (PPP: Proposta Curricular,
Regimento, Planos de Ação, geral e da equipe
pedagógica) e a prática cotidiana no espaço escolar, fato
constatado a partir da análise dos Planos de Trabalho
Docente, nos Livros de Registro de Classe, no diário de
registros da pedagoga, pautas de reunião da direção e
equipe pedagógica, fichas de acompanhamento dos
alunos e pela observação da organização do trabalho
pedagógico.
A implantação e implementação do PPP é quase
impossível, diante da dinâmica estabelecida no interior da
escola, da falta de condições estruturais para o
23
atendimento do direito subjetivo do aluno, o de estar
dentro da escola e ter aula (ensino-aprendizagem). Depara-
se com a urgente necessidade da reestruturação da
organização do trabalho pedagógico, pois evidenciou-se
que a existência de um documento escrito (PPP) que
deveria sustentar e direcionar a prática não garante a
organização de um trabalho pedagógico de qualidade,
revelando, claramente, que na prática cotidiana da escola
existe a falta de um projeto político pedagógico que a
oriente, gerando gasto de tempo e de energia os “
especialistas prendem-se a causuísmos e tarefas
imediatas: dedicam-se muito, mas sem um fio
condutor,semuma diretriz para o trabalho escolar” ”.
(KRAMER, 2004, p.31)
O reconhecimento do território chamado Colégio Estadual
Natália Reginato apontou para uma realidade já bem conhecida pelos
educadores das escolas públicas brasileiras, que se deparam com os
mesmos problemas crônicos: indisciplina, reprovação, evasão, alto
índice de faltas dos professores, (no uso de seus direitos), total
descaracterização e fragmentação do trabalho do pedagogo. A
análise realizada dos depoimentos das pegagogas participantes do
Grupo de Trabalho em Rede reafirmam esta realidade também
vivênciada em seus contextos, ou seja, nas escolas estaduais
paranaenses.
Revisitando o caminho trilhado na construção do PPP...
A sondagem inicial realizada através de questionário semi-
estruturado e entrevistas com 08 (oito) professores, 01 (uma)
pedagoga e o diretor geral do Colégio Estadual Natália Reginato –
EFMP, profissionais que participaram do processo de construção do
PPP, por estarem na escola a mais de cinco anos (a partir 2003, ano
que se inicia de maneira sistematizada a elaboração dos PPP nas
24
escolas da rede estadual de ensino, como política educacional da
atual gestão), revelou que todos os professores entrevistados
possuem especialização, atuam no magistério há mais de quinze
anos, a maioria trabalha 40 horas semanais, possuem pouco tempo
para atualizações, e sua formação foi forjada na prática, nas
discussões e trocas com outros colegas, na aprendizagem com os
alunos, nos cursos realizados ao longo da carreira.
Algumas constatações puderam ser realizadas em relação ao
processo de construção do PPP e sua relação com a prática
pedagógica desenvolvida :
• a maioria afirma que a construção do projeto foi coletiva,
através de reuniões, encontros e leituras. Contudo, percebe-se
que a metodologias e estratégias utilizadas não possibilitaram
a compreensão da totalidade. Uma professora afirmou ter
participado parcialmente, pois os professores foram divididos
para realização de tarefas como: diagnóstico da comunidade
escolar, histórico da instituição; outra professora relatou não ter
participado da construção do PPP desconhecendo a maneira
como se deu o processo de construção, mas que ouvia falar que
ele estava sendo feito, ou ouvia referências fragmentadas
acerca dele em reuniões na escola; já a pedagoga reafirma que
a construção se deu de forma fragmentada devido à grande
dificuldade de articulação dos segmentos.
• a totalidade dos professores declara reconhecer as
concepções expressas no PPP e recorrer as propostas
curriculares oficiais, considerando-as um auxílio ao seu
trabalho; e
• todos afirmam que suas metodologias de trabalho estão
relacionadas às concepções apresentadas no PPP da escola.
Os elementos levantados e analisados sobre os processos de
construção e implantação do PPP no Colégio Estadual Natália
Reginato – EFMP, apresentam contradições evidenciadas na
comparação dos depoimentos dos professores com a prática
25
pedagógica observada no cotidiano escolar. Esta contradição é
facilmente explicada na análise realizada sobre o quadro funcional do
colégio, este evidencia a grande rotatividade de professores e da
equipe pedagógica, percebe-se um movimento/modificação anual de
70% do em seu quadro funcional. Fato que impossibilita o avanço das
discussões e da implementação do PPP coletivamente, o coletivo
está muito esparso, sem sustentação.
A construção coletiva do PPP representa a opção por um
caminho que evidencie um posicionamento firme a favor da escola
pública, calcado em sua função social: ”a socialização e
democratização do conhecimento historicamente produzido, às
camadas populares” (SAVIANI, 1992), numa perspectiva progressista.
Mas para tanto, há que se ter conhecimentos teóricos e
metodológicos do que isso significa. Considerar que (re) organizar a
escola, coletivamente, além de devolver ao professor papel de
sujeito, pois sua ação pedagógica produz conhecimentos científicos,
significará mexer com práticas enraizadas, com uma cultura escolar e
profissional. Portanto, tratar a questão da formação dos profissionais
da educação de forma complexa é o caminho.
Em relação formação continuada em serviço e seus espaços e
tempos pode-se constatar que:
• a formação continuada em serviço é entendida como
aperfeiçoamento profissional que se dá por meio de palestras,
encontros, grupo de estudos, cursos, troca de experiências com
colegas, leituras, debates;
• de maneira geral a escola vem realizando a formação de seus
professores nas semanas pedagógicas programadas pela
mantenedora;
• as atividades que tem participado tem contribuído para o seu
trabalho na escola, ao colocar-se no lugar de aluno, percebendo
as dificuldades e limitações;
26
• a hora-atividade é utilizada para elaboração de atividades e
correção de avaliações, não sobra tempo para leituras, estudos
e reflexões;
• a direção e a equipe pedagógica demonstram preocupação com
a formação dos professores; e
• as dificuldades da escola na organização de um projeto de
formação de seus docentes são: falta de tempo e espaço,
resistência dos professores, financiamento, proporcionar a
participação coletiva.
Assim, quanto à formação continuada em serviço observou-se a
compreensão e legitimação de sua importância, porém a organização
da mesma não tem se dado a contento, devido à falta de tempo e
espaço, em especial voltados a participação coletiva, suas realizações
têm sido limitadas aos roteiros de estudos das Semanas Pedagógicas
e dos Grupos de Estudos elaborados pela mantenedora. Em avaliação
realizada sobre as modalidades de formação continuada ofertadas
pela SEED/PR os professores destacam que: as Semanas Pedagógicas
são organizadas considerando os professores com 40 horas, os
professores com 20 horas ficam prejudicados, não contemplam a
totalidade das discussões, estudos e encaminhamentos dados, a
fragmentação compromete a compreensão e a participação destes;
de maneira geral as modalidades ofertadas necessitam de um
acompanhamento mais efetivo, para que exista devolutiva das
atividades realizadas à distância e sem coordenação; questionam a
importância da Jornada Pedagógica, fato que evidencia o não
entendimento da função do pedagogo, bem como o fato de não terem
sentido nenhuma mudança na prática pedagógica dos mesmos após
a participação nas capacitações; falta de incentivo, de informação e
orientação para realização das produções acadêmicas (Folhas,
Objetos de Aprendizagem Colaborativa- OAC’s, artigos....); e ainda
questionaram os critérios de participação no PDE, sugerindo que a
produção de Folhas, de OAC’s, e outros materiais didáticos possam
ser considerados com critério de participação e que o ingresso do
27
professor no programa estivesse atrelado ainda a aprovação de seu
projeto pelo Conselho Escolar do estabelecimento, nesse sentido o
projeto seria da escola, do coletivo.
Organizar e programar um projeto coletivo de escola que
supere a tradicional fragmentação do trabalho pedagógico representa
a possibilidade de enfrentamento à condição do sistema educacional
como elemento que tem contribuído com o processo de
desqualificação e deformação profissional, (ARROYO, 2003) devido ao
limites impostos, a precariedade das condições materiais de trabalho,
baixos salários, fragilidade como categoria profissional, instabilidade,
pressão gerada pela demanda das novas reformas educacionais,
excesso de horas de trabalho e, principalmente, pela saúde dos
professores afetada pela somatória desses fatores, o que vêm a
comprovar a complexidade da atuação docente no contexto atual
(HAGEMEYER, 2004).
Enfrentar essas condições tão adversas requer reestruturação
urgente na organização do trabalho pedagógico, mudanças que
mexem com a cultura escolar, com a cultura da escola e com a
cultural profissional. Nesse contexto de mudanças é de fundamental
importância repensar o papel do pedagogo escolar frente as suas
necessidades de formação, bem como a dos professores para que
juntos possam desempenhar suas funções como intelectuais críticos.
Há um trabalho pedagógico a ser realizado com os professores
na escola, trabalho que solicita a orientação do pedagogo devido à
especificidade de sua formação que lhe garante a visão de totalidade
do trabalho pedagógico, atuando no sentido de favorecer a reflexão e
a construção coletiva da equipe. (KRAMER, 2004).
Sobre a investigação do contexto escolar verificou-se que:
• o desinteresse dos alunos pelos estudos, seguido da falta de
compromisso de alguns professores, falta de articulação da
equipe pedagógica, grande rotatividade do corpo docente,
excesso de faltas, pouco tempo para hora-atividade, a perda da
28
verdadeira função social da escola hoje são os maiores
problemas do colégio;
• para maioria dos professores a função do pedagogo escolar
reside na mediação da relação professor-aluno, no
atendimento e acompanhamento dos alunos e pais. Dois (02)
professores apenas, compreendem esta função na esfera da
organização do processo de ensino-aprendizagem e da gestão
da escola;
• os alunos apresentam muita dificuldade na leitura, na escrita e
interpretação, provenientes das deficiências no processo de
alfabetização, a desestrutura familiar, dos problemas sociais,
econômicos e éticos;
• todos afirmam relacionar os conteúdos de suas disciplinas ao
contexto econômico, político,social e cultural da sociedade;
• em relação as suas necessidades de formação todos
apontaram como tema de destaque os Desafios Sociais
Contemporâneos (Sexualidade, Drogadição, Enfrentamento à
Violência, Meio Ambiente, História e Cultura Afro-brasileira e
Africana...), em seguida destacam Aprendizagem,
Metodologias, Avaliação, PPP, Conselho Escolar e APMF,
Regimento Escolar, Informática e mídias e sobre a função social
da escola hoje.
Os dados revelados na entrevista confirmam as observações da
prática pedagógica cotidiana e da análise dos documentos, as quais
evidenciam que as necessidades de formação dos professores e
pedagogos fundamenta-se no resgate da função social da escola.
Destaca-se dessa maneira, que no processo intencional,
sistematizado e organizado para levar os alunos à apropriação dos
conhecimentos científicos, a função do professor requer o domínio do
ato de ensinar e formar. Tal domínio exigirá sólida formação nos
quatro campos que caracterizam o trabalho docente: o da
profissionalização, o do conhecimento científico, o técnico-didático e
o humano-social (HAGEMEYER,2006).
29
O que foi possível nessa caminhada – a proposta de
implementação
A proposta de implementação, voltada para valorização e
resgate do papel do professor, do pedagogo, contribuindo para a
reorientação do processo de formação continuada e em serviço de
ambos. Para tal propósito foram traçados os seguintes objetivos:
• organizar tempo/ espaço e instrumentos de
sensibilização/mobilização para o desenvolvimento das
atividades do projeto: Formação em serviço pela via do PPP;
• contextualizar a função e formação dos professores, a partir de
estudos de autores que investigam os temas em pauta:
formação continuada, em serviço, e PPP da escola;
• caracterizar o espaço escolar e dos professores da escola,
através de pesquisa documental, entrevistas para sondagem a
partir de levantamentos e utilização de questionário semi-
estruturado, a partir de questões como:
- Por que não há organização de formação em serviço no
espaço escolar, possibilidades de que esse processo aconteça,
levantamento de necessidades apontadas pelos professores
para essa formação, como o professor vê, participa e executa o
PPP da escola, e se conhece e aplica suas concepções,
metodologias;
• planejar atividades para promover um processo de formação
continuada a partir do PPP, a partir de reuniões, encontros e
oficinas, considerando os temas: a função da escola no
contexto atual; o papel do pedagogo e do professor na
construção e desenvolvimento do PPP; a profissionalização do
professor; o papel e construção do PPP e a participação do
professor; as necessidades do professor na consecução da
proposta pedagógica inclusive no que se refere ao trabalho com
concepções, currículo e formação do aluno de hoje;
• produzir material durante e ao final do processo como: Power
30
Point sobre assuntos a ser tratados; resumos em
transparências; relatórios de reuniões entre outros.
• divulgar as produções do processo a partir de temas
trabalhados: o trabalho do professor: na própria formação, no
currículo disciplinar e na formação do aluno (artigos, folhas e
OAC’s); caderno pedagógico com os temas de estudo e trabalho
propostos (temas a serem definidos); e
• acompanhar e avaliar o processo desenvolvido a partir de: auto-
avaliação; avaliação coletiva; depoimentos escritos.
Dos objetivos propostos quase todos foram alcançados, apesar
da falta de condições estruturais da escola (quadro de professores
incompleto), do não afastamento da escola nos terceiros e quartos
períodos do programa, pois para pedagogos e diretores não havia
substituição prevista na legislação do PDE, entre outros problemas já
mencionados. Contudo, grandes esforços foram empreendidos e foi
possível a realização no ano de 2008 das seguintes atividades:
organização da Semana Pedagógica de julho com a participação de
professores das IES, oportunizando o aprofundamento e ampliação da
reflexão, questionamento e o debate acerca dos Desafios Sociais
Contemporâneos; coordenação do Grupo de Estudos disciplinar na
escola (no qual foram produzidos atividades avaliativas e inseridas
em banco de dados do portal dia-a-dia da educação ; participação em
eventos na UFPR; organização das reuniões pedagógicas, destacando
estudos, análises e reflexões sobre os problemas da escola; reuniões
técnicas e de estudo com a equipe pedagógica e direção; organização
e participação de curso de extensão sobre a História e Cultura Afro-
brasileira e Africana, em parceria com colega da rede e profissionais
da UFPR; organização da Semana Cultural do colégio voltada à
discussão da função social da escola e o significado da profissão
docente no mundo atual.
No meio do caminho existe uma pedra: para concluir
31
Pode-se perceber várias pedras no caminho, pedras que podem
ser retiradas, puladas e quebradas, seja pelo enfrentamento das
condições adversas, ou pela crítica propositiva, e ainda pela denúncia
solicitando providências. E desse modo apontam-se algumas
possibilidades, perspectivas, esperanças, territórios férteis:
• fortalecimento das equipes pedagógicas das escolas, com a
ampliação de seus quadros, para que possam realmente
implantar e implementar do PPP das escolas num processo de
formação em serviço permanente;
• contratação de professores-auxiliares/substitutos, não há
organização possível diante do excessivo número de faltas dos
professores (faltas legítimas, mas são faltas que geram o não
atendimento dos alunos);
• organização dos estágios supervisionados, tendo a pesquisa
princípio formativo, numa abordagem colaborativa (professores
da Educação Básica e professores do Ensino Superior); e
• usufruir dos avanços ofertados pela mantenedora nos
processos de formação continuada, pois possibilitam a criação
de outros espaços e tempos, tendo na figura do pedagogo um
organizador, coordenador e incentivador desses meios.
Cumpre destacar que, em relação à política de formação
continuada da mantenedora tivemos avanços significativos, ousados
e de uma complexidade ímpar, a considerar o programa aqui
referenciado, PDE, no entanto uma questão continua como
pressuposto fundamental, a instauração dessa política no espaço
escolar como parte de um projeto de formação continuada, em
serviço da própria escola. Que possibilite atender as diretrizes da
mantenedora, superar os limites, usufruir dos seus avanços, num
processo de estudo, troca e interlocução, que propicie aos
profissionais da educação uma nova disposição, a de deixar de serem
meros executores de programas centrais.
32
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