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3. A Ciência do Design e Richard Buckminster Fuller 3.1. Introdução Richard Buckminster Fuller: pensador, inventor, arquiteto, professor, filósofo, poeta, cientista, futurista, para citar apenas alguns dos seus muitos atributos, foi, no entender de muitos autores, o Leonardo da Vinci do Século Vinte. Sua extensa obra, geralmente redigida em “Fullerês”, tem sido decifrada e cada vez mais estudada em todo o Planeta, definido por ele como: Astronave Terra. Bucky, como Fuller gostava de ser chamado, nasceu em 12 de julho de 1895 em Milton, Massachusetts, perto de Boston. Seu pai, Richard Buckminster Fuller Sr., era descendente direto do famoso coronel inglês, Joseph Buckminster que lutou ao lado de Jorge Washington pela independência da América do jugo da Inglaterra, e sua mãe, Caroline Wolcott (Andrews) Fuller era descendente direta do tenente da Marinha Inglêsa, Thomas Fuller que, em 1630, durante uma licença, visitou inúmeras colônias americanas. O tenente Fuller ficou tão encantado com os locais e as idéias revolucionárias em favor da liberdade, que já vicejavam naquela época, que se desligou da Marinha de sua Majestade e se estabeleceu em solo americano dando início a toda uma linhagem de Fullers famosos, muitos deles, ministros da igreja protestante e todos alunos de Harvard. Bucky, mantendo a tradição da família também freqüentou a mesma Universidade mas, foi desligado duas vezes. Uma vez pela própria administração, por faltar às aulas porque estava na farra e a segunda vez espontaneamente por achar que o curso de engenharia de Harvard não tinha mais nada a contribuir para a sua formação. Richard Buckminster Fuller, muitas vezes começava suas palestras surpreendendo a platéia com a seguinte frase: "Eu gostaria de me apresentar como o fracasso mais bem sucedido do mundo" (Baldwin, 1996 p.2)

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  • 3.A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller

    3.1.Introduo

    Richard Buckminster Fuller: pensador, inventor, arquiteto, professor,

    filsofo, poeta, cientista, futurista, para citar apenas alguns dos seus muitos

    atributos, foi, no entender de muitos autores, o Leonardo da Vinci do Sculo

    Vinte. Sua extensa obra, geralmente redigida em Fullers, tem sido decifrada e

    cada vez mais estudada em todo o Planeta, definido por ele como: Astronave Terra.

    Bucky, como Fuller gostava de ser chamado, nasceu em 12 de julho de

    1895 em Milton, Massachusetts, perto de Boston. Seu pai, Richard Buckminster

    Fuller Sr., era descendente direto do famoso coronel ingls, Joseph Buckminster

    que lutou ao lado de Jorge Washington pela independncia da Amrica do jugo

    da Inglaterra, e sua me, Caroline Wolcott (Andrews) Fuller era descendente

    direta do tenente da Marinha Inglsa, Thomas Fuller que, em 1630, durante uma

    licena, visitou inmeras colnias americanas. O tenente Fuller ficou to

    encantado com os locais e as idias revolucionrias em favor da liberdade, que

    j vicejavam naquela poca, que se desligou da Marinha de sua Majestade e se

    estabeleceu em solo americano dando incio a toda uma linhagem de Fullers

    famosos, muitos deles, ministros da igreja protestante e todos alunos de

    Harvard. Bucky, mantendo a tradio da famlia tambm freqentou a mesma

    Universidade mas, foi desligado duas vezes. Uma vez pela prpria

    administrao, por faltar s aulas porque estava na farra e a segunda vez

    espontaneamente por achar que o curso de engenharia de Harvard no tinha

    mais nada a contribuir para a sua formao.

    Richard Buckminster Fuller, muitas vezes comeava suas palestras

    surpreendendo a platia com a seguinte frase:

    "Eu gostaria de me apresentar como o fracasso mais bem sucedido do mundo" (Baldwin, 1996 p.2)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 82

    3.2.A Revoluo de Buckminster Fuller na Cincia do Design

    Depois de um longo perodo de hibernao e auto-avaliao, em 1927,

    Bucky descobriu que um dos elementos mais crticos das suas, filosofia e

    estratgia operacional seria a compreenso dos aspectos metafsicos da

    existncia humana. Estes aspectos passariam a ser o foco de toda a sua

    ateno e energia deste perodo em diante.

    O trabalho de fundamentao desta compreenso foi realizado durante

    anos anteriores a 1927, quando ele aprendeu a apreciar e respeitar as

    maravilhas da Natureza.

    Algumas das primeiras questes que ele examinou surgiram logo aps as

    experincias, sem paralelo, com a morte prematura da sua filha Alexandra.

    Ao longo das muitas horas de vigilia o casal Fuller discutia temas sem dvida nenhuma muito complexos para o entendimento de uma criana. No entanto, passado algum tempo Alexandra comeava balbuciar palavras que tinham h pouco entrado nos pensamentos de Bucky. Este fenmeno foi crescendo em escala at que a prpria filha de Bucky estava dando solues para indagaes que ele havia formulado poucos minutos antes na sua mente. Fuller teorizou que por causa do seu estado de sade precrio Alexandra comeou a se desenvolver de uma forma diferente da maioria das crianas. Ele observou que os seus primeiros modos de expresso e aprendizado eram mais metafsicos do que fsicos. Ele intuiu que um dos indicadores mais fortes do seu crecimento nesta rea foi o seu rpido desenvolvimento em comunicaes telepticas.(Sieden 2000: 72)

    Durante o esforo de tentar purgar as memrias dolorosas do ocorrido,

    Bucky percebeu, num contexto mais acadmico e menos pessoal, que quando

    dois indivduos se comunicam com sucesso entre si ocorre um fenmeno,

    geralmente referido como entendimento, entre estas duas pessoas. Mas, este

    entendimento no pode ser encontrado dentro do corpo fsico destas pessoas.

    Entendimento exemplifica os numerosos fenmenos sinergticos que

    transpiram entre humanos mas que no podem ser materialmente isolados.

    Bucky intua que, tais fenmenos, como tudo que transpira entre seres

    humanos, eram metafsicos, tendo, no entanto, o potencial (poder) de influenciar

    nosso ambiente fsico.

    Assim, por estar convencido que todo o Universo controlado por um

    conjunto de princpios generalizados que governam os fenmenos fsicos e

    metafsicos, Fuller decidiu examinar a fsica luz da metafsica . Ele escolheu a

    fsica porque os fsicos desenvolveram definies precisas de tudo o que

    fsico. A partir da ele utilizou estas definies para entender o metafsico.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 83

    Bucky aprendeu com a fsica que; tudo o que fsico composto de energia.

    Quando a energia associativa, isto , conectada fortemente a outra

    energia ela designada como matria, mas quando ela disassociativa, isto , quando ela menos fortemente conectada a outra energia ela chamada de

    radiao.Toda a energia assume perpetuamente uma destas duas formas e elas

    podem freqentemente ser mensuradas por aparelhos concebidos pelo homem.

    Ele descobriu tambm que, para operar com mais eficincia ele precisava

    uma definio compreensiva de vida que estivesse focada em fenmenos

    metafsicos e ainda assim, satisfizesse esse seu modo experimental de operar.

    Ao desenvolver a sua definio de vida, Fuller primeiro considerou a

    caracterstica de conscincia e, em particular, a conscincia que um indivduo

    tinha do outro.

    "Ele ento elaborou a seguinte hiptese: quando um ser humano est consciente da existncia de outro ser humano, a comunicao ocorre. Este contato pode ser considerado como um experimento que, se bem sucedido experimentalmente, demonstra a existncia da vida". (Sieden,2000 p.98)

    Na hiptese de Fuller, as entidades fsicas - fossem elas humanos, gatos,

    ou quaisquer seres viventes - so apenas veculos para mensagens da mesma

    forma que um telefone veculo para transmisso de mensagens. Os seres

    (formas de vida), que iniciam contatos so fenmenos metafsicos que Fuller

    chamou de integraes de padres. Ele especulou ainda que, estas integraes de padres, apesar de no serem possveis ser detectadas por

    nosso equipamento sensrio no seu nvel normal de desenvolvimento, elas so

    a essncia da vida.Bucky achava muito importante traduzir este fenmeno metafsico por

    meio da representao fsica mais clara possvel para que se possa entender a

    impresso que ele fazia da essncia da vida.

    Ao longo dos anos, Fuller dedicou boa parte do seu tempo criando tal

    representao. Ele consumiu longas horas procurando encontrar meios de

    representar a realidade metafsica por meio de fenmenos fsicos facilmente

    reconhecveis e demonstrveis, vindo a apreciar o significado do fenmeno que

    ele chamou de integraes de padres que incluem, mas no se limitam

    apenas aos seres humanos- mesmo nas tarefas mais mundanas.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 84

    Enquanto formulava a sua teoria sobre as integraes de padres, Fuller

    percebeu que os fenmenos metafsicos so sempre conceituais, um fato que as

    estabeleceu como independentes de limitaes fsicas como tamanho e tempo. Ele especulou que, pelo fato de as integraes de padres serem destitudas de

    componentes tangveis, que a maioria dos seres humanos vm como realidade,

    elas so extremamente difceis de serem compreendidas, muito menos aceitas.

    Os seres humanos esto acostumados a lidar com o que eles acreditam

    ser a solidez da realidade material. Fuller tentou descobrir durante a sua vida toda como o metafsico poderia

    ser representado e descrito por meio de eventos tangiveis e objetos que podem

    ser detectados pelo sistema sensrio dos seres humanos. Usando tais

    representaes ele foi capaz de entender com maior facilidade a importncia

    dos conceitos metafsicos que influenciam continuamente todos os aspectos da

    existncia humana.

    Ele intuia que todas as integraes de padro existem independentemente

    dos fenmenos locais ou eventos (a saber: corpos humanos, planetas, flores

    desabrochando) e que os humanos podem descobrir suas existncias somente

    experimentando os fenmenos ou eventos locais que resultem delas. Por

    exemplo: os corpos humanos fsicos so os fenmenos locais criados pelas

    integraes de padres que so a essncia das vidas humanas individuais.

    Fuller usava sempre o mesmo exemplo para explicar melhor o conceito de

    integridade de padro. Ele pedia audincia de imaginar trs pedaos de corda

    de comprimentos e dimetros iguais mas compostos de materiais diferentes, a

    saber: nylon, sisal e algodo, ligados entre si criando uma corda continua

    composta dos trs materiais. D-se ento um n de correr na parte de nylon da

    corda. Esta configurao de n alm de ser uma interferncia na corda um

    padro de interferncia em si. Quando as extremidades da corda so puxadas o

    n se aperta modelando a maneira que a energia interfere consigo mesma e cria

    o ambiente fsico que os humanos entendem (percebem) como realidade. (Sieden, 2000 p.99)

    Para melhor entender a auto-interferncia que cria a massa fsica, Fuller

    estudou o fenmeno dos corpos celestes. Na sua pesquisa ele descobriu que

    existe uma atrao perptua (permanente) entre as ilhas esfricas de massa que ns chamamos de planetas ou estrelas. Quando duas destas massas

    exercem uma trao entre si, da mesma forma que a nossa corda foi puxada,

    surge uma interferncia de energia (modelada pelo n da corda) entre as

    massas em questo. medida que a fora de trao aumenta, a interferncia de

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 85

    energia apertada at que a energia se torna to comprimida que passa a ser

    percebida com o que chamamos de massa. desta maneira que os planetas, as estrelas e toda a matria tem sido, e continua a ser criada. Da mesma forma,

    quando o n de interferncia de energia desapertado, a massa se converte

    numa forma mais disassociativa, conhecida por ns como energia radiante.Fuller lembrava, com freqncia, nas suas palestras, que ele chamava de

    pensando em voz alta, que este fenmeno ostensivamente simples era a base

    da teoria de Einstein. Einstein descobriu e modelou matematicamente a

    situao, mais tarde representada por Fuller com a sua corda de trs materiais.

    Einstein desenvolveu frmulas que explicavam que energia e massa so essecialmente a mesma coisa. Ele teorizou ainda que estes dois componentes

    fundamentais migram de uma estado para outro assim como gua se transforma

    em gelo ou vapor.

    Quando a energia muda de aparncia para se tornar massa, ela interfere consigo mesma reduzindo a sua velocidade e se compactando em ns que os humanos designaram como slidos. Como j vimos a energia comprimida em massa tambm pode se descomprimir e se tornar energia radiante como a luz solar ou o calor. Quando desapertamos o n de correr ele pode migrar da parte de nylon para a de sisal e da para a de algodo at sair por esta extremidade e desaparecer. (Sieden, 2000 p.100 -101).

    Aps dividir esta ilustrao com a sua audincia centenas de vezes, Fuller dizia que a maioria das pessoas, quando discutiam o n de correr, consideravam a corda como se fosse o n. No entanto a corda no o n. A corda explicava ele, era um fenmeno local limitado que servia apenas de veculo para que o padro invisvel (n) se tornasse visvel aos seres humanos. Fuller usava a corda, nesta demonstrao, para explorar as complexidades do padro conhecido como n. Ele tambm explicava que a apario inicial do n de correr no estava na corda , mas sim como um pensamento metafsico na sua mente. Sua mente que transmitia a idia de n de correr para o seu crebro que comandava as sua mos a faz-lo. (Sieden, 2000 p.101)

    Ao longo desta experincia aparentemente simples mas, na realidade muito

    complexa, Fuller se responsabilizava pela manifestao de um padro n

    formado na corda. No entanto, quando ele falava da demonstrao, ele

    enfatizava que o passo inicial no processo de manifestar o n ( e qualquer outra

    criao) est no ato metafsico pelo qual a mente humana descobre um padro e

    imaginava a sua contraparte fsica. Esta explorao simples tambm

    demonstrava que o n no era nylon, nem sisal, nem algodo apesar dele ter

    sido feito nestas seces da corda. Na verdade, nenhum destes materiais era o

    n.

    Na teoria de Fuller o n era, e permanecia, uma integrao de padro.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 86

    As pessoas so capazes de detectar fisicamente e observar esta

    integrao de padro porque ela interfere e se mostra sobre um item, (a corda),

    que os humanos podem perceber por meio do seu limitado equipamento

    sensrio.

    Fuller acreditava que apenas uma pequena percentagem das integraes

    de padro operando no Universo se fazem perceber pelos seres humanos por

    meio de um nmero limitado de objetos e fenmenos.

    Quando Bucky descobriu que a poltica jamais traria a "boa vida para

    todos", ele anunciou "a revoluo da Cincia do Design". A poltica, dizia ele,

    decide quem vai sobreviver. Somente por meio da "Cincia do Design Antecipatrio Abrangente" poderiam ser distribudos, com lisura os recursos do mundo para todos, fazendo com que o emprego das guerras se tornasse

    obsoleto.

    No tempo de Bucky, quase nenhum designer pensava assim e poucos o

    fazem hoje em dia. O movimento pelo bem estar do ambiente focou sua ateno

    no design ecologicamente correto, mas os designers ecolgicos, com base na

    biologia, desconfiam muito da tecnologia.

    Bucky no se dizia um cientista mas ele afirmava que uma tecnologia bem

    desenhada, baseada na cincia (Binica), seria a nossa nica chance de

    sobrevivncia. Com isso, dizia Bucky, ns podemos "reformar o meio ambiente

    (ele queria dizer o meio ambiente construdo) em vez das pessoas". Cabe aqui

    lembrar a frase de outro grande homem, Winston Churchill, que dizia:" ns

    damos forma aos nossos prdios e estes passaro a dar forma s nossas vidas

    dai por diante".

    O que levou Bucky a pensar desta forma foi o fato de analisar os padres

    maiores do comrcio mundial e a rpida evoluo da tecnologia. Ele chegou

    concluso de que existiam bastante recursos para todos, se ns no

    esbanjssemos estes recursos na fabricao de armas e designs ineficientes

    nem desperdissemos em trivialidades (como as "fabricadas e vendidas" pela

    sua multinacional imaginria, OBNOXICO CORP).

    Com um inventrio de recursos possveis mo, o prximo passo do

    designer us-los com competncia. A "Cincia do Design Antecipatrio

    Abrangente" exige o mximo de eficincia com o menor custo social e ecolgico.

    Ser "abrangente" significa uma direo (Bucky chamava isto de "prospeco

    abrangente"). Isto implica numa extensa pesquisa multidisciplinar, uma tarefa

    que hoje em dia facilitada pela Internet. O objetivo otimizar em vez de

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 87

    comprometer. "O sacrifcio no sentido herico jamais deveria ser necessrio. Um produto bem desenhado representa milhares de anos de experincia humana refinada". (Baldwin, 1996 p.63)

    3.2.1.Cincia do Design Antecipatrio Abrangente

    A Cincia do Design Antecipatrio Abrangente ou simplesmente Cincia do

    Design foi desenvolvida por Richard Buckminster Fuller no primeiro quadrante do

    sculo XX. Trata-se de um vasto campo de estudos focalizado no processo de

    como se comportar em relao soluo de problemas. Este processo levou

    muito tempo para ser compreendido e aceito pela comunidade dos designers,

    arquitetos e engenheiros.

    Esta Cincia :

    a) Abrangente porque procura por um problema ou assunto subjacente a algo e tenta resolver o caso geral em vez de se restringir a questo especfica

    deste problema.

    Por exemplo: um designer ou arquiteto tem a preocupao de entender e

    achar uma soluo para os desabrigados numa escala global e no se

    preocupar apenas com o caso de um indivduo na sua rua ou cidade. Entender

    porque existem mais de 400 milhes de desabrigados no mundo todo.

    b) Ela Antecipatria porque o cientista de design procura compreender, no apenas os problemas que esto mo, mas como estes problemas podero

    se manifestar com o tempo. Alm disso ele deve tentar prever quais os

    problemas que uma soluo proposta possa trazer, e planejar de acordo.

    Neste momento o Cientista do Design tem que se preocupar com estudos

    sobre populaes e respectivas demografias, economias, dados estatsticos e

    assuntos correntes para tentar prever tendncias e descobrir para onde a

    coletividade est indo, com a finalidade de minimizar surpresas quando ela, a

    humanidade, chegar l.

    c) Design em si mesmo, porque o aspecto criativo na soluo de problemas. o processo de analisar o seu "caso"; estudar outras reas que

    podero fornecer tecnologias de recursos e ferramentas apropriadas para

    chegar ao sistema, desenho, parte, idia ou qualquer coisa necessria com a

    finalidade de se posicionar em relao questo do momento, para implementar

    uma soluo.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 88

    Muitas vezes este processo tem que ser repetido, refinado e corrigido

    durante o desenvolvimento do processo de busca da soluo.

    d) Finalmente o aspecto da Cincia tambm crucial. A Cincia do Design no se refere aqui ao design de moda, grfico ou de interiores. Ela se refere ao design industrial, ao design de computao ou ao design mecnico,

    embora ela incorpore tambm elementos de outros campos do design tais como

    elementos cientficos, de engenharia ou artsticos. Pelo emprego de um mtodo

    cientfico, aplicando medies, experimentando sistematicamente, observando e

    registrando eventos para refinar solues, consegue-se chegar a resultados que,

    no s resolvem em uma s ocasio, mas numa variedade de situaes.

    Em Patrick G. Salsbury encontramos um bom exemplo para ilustrar a

    Cincia do Design Antecipatrio Abrangente.

    Ele cita o caso de se obter um suprimento, limpo e confivel de gua

    potvel. Todo mundo precisa, e as pessoas de pases desenvolvidos nem se

    preocupam com o problema porque, para elas, obvio que o sistema de gua

    das suas cidades funcione perfeitamente. O mesmo no podemos dizer da maior

    parte dos pases do Terceiro Mundo. Nestes lugares, em geral, no existem

    torneiras e quando elas existem a gua vem de fontes extremamente duvidosas

    com relao limpeza e tratamento adequados. Em muitos pases, incluindo o

    nosso, as pessoas tm que caminhar, todo dia, por quilmetros e quilmetros

    para chegar fonte e, l esperar por horas at terem a chance de se abastecer

    de gua. As estatsticas atuais informam que, aproximadamente, um bilho de

    pessoas, no Mundo, no tem acesso a recursos de gua limpa e tratada. Este

    nmero o que mais concorre para o resultado estatstico de que 80% das

    doenas no mundo (dados divulgados pelo programa de desenvolvimento das

    Naes Unidas em 2000) tm origem na impureza das guas.

    Assim sendo, resume Patrick G. Salsbury, "se pudssemos tomar conta do

    problema global da gua, ns conseguiramos erradicar 4/5 dos casos de

    doenas no Planeta".

    A Cincia do Design tambm lana um olhar sobre fatores polticos,

    econmicos e de engenharia entre muitos outros, tentando tirar proveito da fora

    de cada um enquanto procura minimizar os pontos fracos dos mesmos.

    Por exemplo: um grande sistema centralizado de abastecimento de gua

    caro de construir e difcil de manter. Qualquer rompimento numa adutora

    principal pode causar um desastre e deixar milhares de lares sem gua.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 89

    Utilizando o processo da Cincia do Design Antecipatrio Abrangente,

    podemos verificar que um modelo descentralizado pode ser muito robusto, mais

    fcil de ser mantido por muitos indivduos e capaz de resistir fria da Natureza,

    bem como ao vandalismo (sabotagem), com muito mais eficincia e menos risco

    de grandes desastres. Se ns nos abstrairmos dos modelos municipais

    cristalizados, com seus reservatrios e redes de tubulaes gigantescas,

    poderemos pensar em explorar alternativas e encontrar solues

    surpreendentes!

    A captao de gua da chuva um mtodo muito simples e muito aplicado

    nos pases tropicais e sub-tropicais onde a umidade alta e chove com

    regularidade. O mesmo acontece com o derretimento da neve nos pases frios.

    Existe uma grande variedade de filtros caseiros e sistemas de purificao de

    gua disponveis para que as pessoas que vivem longe dos sistemas municipais

    de abastecimento, possam utilizar a gua dos rios e poos locais. Outra

    possibilidade a coleta das gotculas de orvalho, noite, fazendo passar a

    cerrao por tecidos de malha fina colocados sobre os tanques de captao.

    Existem muitas maneiras de se atacar um problema, algumas delas

    serviro para muitos casos, outras, para casos mais restritos e especializados.

    atribuio do Designer Cientfico achar a soluo mais eficiente e elegante,

    considerando as caractersticas da regio, dos recursos disponveis, oramento,

    etc.

    O Design, fazendo uma abordagem aberta (abrangente) pode chegar a

    uma dzia de solues viveis, nenhuma das quais tendo algo em comum com

    os modelos tradicionalmente aceitos. Estas solues sero provavelmente mais

    baratas, mais rpidas de implementar, mais estveis e eficientes do que as

    idias convencionais.

    O Designer Cientista deve, permanentemente, buscar informaes no

    maior nmero de reas do conhecimento possvel e se tornar verstil em todas

    elas. Assim fazendo ele pode prospectar nestes vrios recursos para integrar,

    sintetizar e chegar a "novas solues para problemas muito antigos e outras

    para problemas, at agora desconhecidos ou no percebidos".

    Patrick G. Salsbury, no seu paper sobre Cincia do Design Antecipatrio

    Abrangente, lembra uma citao de um personagem de Robert A. Heinlein, para

    definir a filosofia geral do Designer Cientista Generalista:

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 90

    "Um ser humano deve ser capaz de saber trocar uma fralda, planejar uma invaso, abater um porco, pilotar um navio, projetar um prdio, escrever um soneto, fazer balano de contas, construir uma parede, engessar um osso quebrado, confortar um moribundo, receber ordens, dar ordens, cooperar, agir sozinho, resolver equaes, analisar um problema novo, colher estrume, programar um computador, cozinhar uma refeio saborosa, lutar eficientemente, morrer galantemente.

    Especializao coisa para insetos!"

    A natureza no algo a ser conquistado ou hostilizado, ela deve ser vista

    como um modelo de princpios aplicados; A natureza sempre faz as coisas da

    maneira mais econmica e eficiente. Ns termos que aprender a tomada de

    deciso. Os princpios que governam o universo no tm excees, apesar da

    humanidade ignorante agir como se tivessem. Uma das coisas mais espantosas

    at agora descobertas sobre estes princpios que eles no so conflitantes

    entre si. O Universo trabalha como um sistema harmonioso se regenerando

    incessantemente como se fosse uma mquina operando em moto perptuo.

    "Para se estar afinado com o Universo, nossos designs tm que ser

    regenerativos". A palavra "sustentvel", que j est desgastada na atualidade,

    chega perto disto.

    A maioria dos designs de hoje muito ineficiente para ser regenerativa. As

    investigaes de Bucky mostraram que a totalidade das mquinas rotativas em

    operao tinham uma eficincia geral de 5%, um resultado vergonhoso que no

    melhorara desde a sua primeira observao em 1927. A frota de automveis

    atual, por exemplo, tem uma eficincia geral de 6%. De cada US$100,00 gastos

    em combustvel, mais ou menos US$95,00 so desperdiadas de vrias

    maneiras. Algum deste desperdcio inerente aos processos fsicos entrpicos,

    mas, existe muito espao para aperfeioamento.

    Esta eficincia pattica de 6% no o resultado de uma conspirao ambiciosa entre as companhias de petrleo e os fabricantes de automveis, mas sim o resultado da ignorncia em larga escala. Poucas pessoas pensam nos radiadores dos seus carros, que so componentes projetados para jogar fora o calor que o seu dinheiro acabou de comprar. E mais, gerar este calor tambm produz poluio. O desperdcio sempre um sinal de design pobre, ineficiente; a poluio uma mostra de ineficincia. O tributo pago pelo contribuinte por degradar o ambiente enorme. Aproximadamente 1% da humanidade composta por cientistas ou engenheiros e a maioria deles especializada demais para perceber o efeito global do seu trabalho. O resto da humanidade tcnica e ecologicamente analfabeta! (Baldwin,1996 p.64)

    Bucky achava que "em se pensando progressivamente e dispensando o medo e a avareza, a eficincia de toda a maquinaria iria impulsionar a economia mundial ao ponto de assegurar comida, abrigo e cuidados com a sade para todos".(Baldwin, 1969 p.64)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 91

    Bucky sabia, por experincia prpria, que todos os avanos tecnolgicos

    vm das demandas militares ou outras condies, em que a alta performance

    necessria para a sobrevivncia. Ele notou que a cada fase de desenvolvimento

    da tecnologia militar, diminui a quantidade de materiais requeridos e aumenta a

    eficincia da energia empregada. Ele dizia que "a cincia pura no evolui

    durante a guerra: as armas usam a ltima palavra do que j existe". No h

    tempo para experimentao e atitudes laboratoriais. O laboratrio o prprio

    cenrio da guerra.

    Mas, dizia Bucky, "sempre existe suficiente dinheiro para o

    desenvolvimento da tecnologia militar. Se tem para os militares, teria tambm

    para os civis, com a vantagem de se poder vender os bens ao passo que os

    bens militares so dados para os inimigos na forma de bombas, foguetes, avies

    derrubados, veculos confiscados, etc."

    E, o que dizer dos computadores e as suas, extremamente elaboradas

    capacidades digitais? Segundo Bucky a importncia do homem para a prxima

    dcada tecnolgica muito maior do que foi no passado. O Computador no

    pode formular uma pergunta original, ele no tem capacidade para problematizar

    uma situao. "O computador pode apenas perguntar de novo as questes

    levantadas pelo crebro humano". Nenhum computador pode compreender a

    pluralidade de padres de pensamento, potencialmente significativos, que

    emergem com a evoluo. Fuller afirma que "os homens continuaro florescer

    como os grandes questionadores e inventores exploratrios. Como ele dizia "O

    desenvolvimento programvel, mas a descoberta no. Uma vez que os

    computadores no podem ser educados a procurar comportamentos eles

    tambm no podem ser induzidos a procur-los". Concordo plenamente com

    Bucky quando considerava o termo "descobrir" mais preciso do que "criar".

    O "antecipatrio" da expresso: "Cincia do design antecipatrio abrangente" significava ver adiante, prever, levar em considerao os perodos

    de gestao de vrias tecnologias e o tempo necessrio para elas serem aceitas

    ou absorvidas pelo pblico em geral.

    "Um designer deve planejar adiante da mesma maneira que um autor

    teatral se prepara para a noite da abertura". (Bucky) Ele esperava que os

    designers e as pessoas agindo como designers se tornassem mais

    compreensivas e cientficas medida que o conhecimento (humano) se

    acumulasse.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 92

    Na verdade isto j est acontecendo embora, muitas vezes

    inadvertidamente. As cidades esto reordenando as viagens areas no Globo.

    As viagens passaram dos trilhos e vias terrestres para o ar medida que as

    pessoas viajam cada vez mais em avies.

    Os satlites e muitos outros aparelhos fizeram a comunicao passar do

    fio para o sem fio.

    Turbinas elicas ou fotovolticas, acopladas a tneis de vento esto

    comeando a substituir as gigantescas e dispendiosas usinas de gerao de

    energia eltrica domstica. A energia solar est reduzindo aos poucos a

    necessidade de combustvel fssil. A eletrnica e a descoberta, quase diria, de

    novas super ligas metlicas est levando a tecnologia do visvel para o invisvel.

    "O msculo est dando lugar para o know-how e automao. Mas ser que

    as mudanas sero grandes o suficiente e chegaro tempo?". (Bucky)

    Bucky no gostava de ser chamado de profeta. Se no foi um profeta ele

    certamente foi um missionrio muito frente do seu tempo. O escritor cientfico

    Arthur C. Clark dizia que Richard Buckminster Fuller ser, um dia, possivelmente

    canonizado como o nosso primeiro "Santo Engenheiro." Quando perguntado

    sobre o futuro ele apenas dizia que a humanidade tinha os conhecimento e os

    recursos para gerar um bom futuro. Se vamos ou no conseguir isto depende

    apenas de ns!

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 93

    3.2.2.Principais Realizaes de Bucky

    Bucky, ficou mais conhecido pelo seu trabalho com estruturas geodsicas mas, inmeros outros projetos de vanguarda, menos conhecidos do grande pblico, pontuam a trajetria fantstica deste incansvel criador. Estes

    so os casos da Casa Dymaxion incluindo o Banheiro Dymaxion de uso residencial, a Cabana Dymaxion de uso militar, do Mapa Dymaxion e do Veculo Dymaxion1.

    No entanto, em 1927, Fuller considerando-se um fracasso total pensou em

    se jogar no Lago Michigan. Para sorte da Humanidade antes de perpetrar este

    gesto extremo Bucky pensou:

    Seria possvel eu me usar como o meu prprio ratinho de laboratrio e ver o que, um cidado completamente desconhecido, sem um tosto nos bolso, com mulher e filha para criar, poderia fazer efetivamente pela humanidade? Fazer o mundo trabalhar para 100% da humanidade no menor tempo possvel, por meio de cooperao expontnea e sem ofensa ecologia ou prejuzo de quem quer que seja? (Sieden, 2000 p.xii)

    Este foi o comeo do Projeto: Guinea Pig B( Porquinho da ndia B), que ocuparia o resto dos dias de Fuller e produziria uma enorme quantidade de

    idias e projetos que efetivamente colaboraram no passado, colaboram no

    presente e colaboraro no futuro para a melhoria da qualidade de vida no

    Planeta.

    Na verdade alguns projetos so to revolucionrios e avanados que ainda

    esto aguardando o aprimoramento da tecnologia, seja de materiais, seja de

    estruturas, para serem confirmados, e garanto que sero!

    Apesar ou, possivelmente, por causa da sua sada de Harvard, Bucky se

    tornou um autodidata. Ele aprendeu a pensar e agir por sua prpria iniciativa. Ele

    acreditava, fortemente, na capacidade de realizao do ser humano, como

    indivduo, sozinho no universo, independente das benesses das corporaes.

    Com relao a isto ele dizia que os humanos diferem dos outros animais

    em apenas um aspecto importante:

    1 A palavra Dymaxion foi criada pelo pessoal de relaes pblicas da loja de departamentos Marshall Field onde Fuller exps um modelo, do que ele ento chamava de Casa 4D. A palavra uma combinao de slabas das palavras: dynamic, maximum e ion. Ela foi registrada por Marshall Field em nome de Bucky e se tornou sua marca registrada ao longo dos anos. (Sieden, 2000 p.131-132)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 94

    Ns temos mentes. Ns podemos pensar. Ns fomos desenhados e construdos para pensar e depois agir de acordo com os raciocnios desenvolvidos. Ns somos os nicos animais (seres viventes) que podemos controlar (at certo ponto) nossa prpria evoluo - em direo ao sucesso ou falncia. Ns fomos desenhados para fazer isto. Outros animais so muito mais automatizados do que os humanos. Se ns nos comportarmos como animais desmiolados, talvez ainda sobrevivamos um pouco mais, mas a nossa falncia vir logo! Se ns usarmos nossas mentes no sentido de fazer da Humanidade um sucesso na Terra, o Universo tomar conta de ns. (Baldwin, 1997 p.5)

    Depois de um curto perodo na marinha, durante a Primeira Grande

    Guerra, onde ele inventou um sistema seguro para os Porta-Avies

    recuperarem e salvarem os pilotos de aeronaves, que porventura tivessem

    perdido a pista ao aterrissar e caiam no mar, sistema este que usado at hoje

    pela Marinha Americana, Fuller foi trabalhar com o seu sogro, o arquiteto James

    Monroe Hewlett, na Stockade Building Company, que produzia prdios

    construdos com blocos de um material fibroso composto de lascas de madeira

    aglutinadas com cimento de magnsio oxi-clordrico, inventados por ele. Entre

    1922 e 1927 foram construdos 240 prdios.

    Este contato com a indstria da construo artesanal com a sua

    ineficincia em termos do uso de materiais e anlises no cientficas dos

    parmetros fsicos que afetam a estabilidade da construo, deixaram uma

    impresso indelvel em Fuller que passou a criticar, repetidamente, o design

    arquitetnico e a sua prtica fragmentada e no cientfica.

    Convencido da futilidade de tentar resolver problemas de construir e prover

    abrigo pelos mtodos convencionais, Fuller embarcou, em 1927, naquilo que

    seria seu envolvimento, pelo resto da vida, com estruturas em escalas Humanas,

    micro e macro.

    Seus primeiros estudos na procura de gerao de espaos baseados na

    anlise das foras naturais agindo sobre uma estrutura, levaram-no a

    desenvolver um programa rigoroso de requisitos. Esta lista que ele intitulou:

    "Requisitos universais para o beneficiamento da moradia - Programa Teleolgico

    - Um lista de checagem dos requisitos de design universais de uma habitao

    desenvolvida cientificamente, expunha, sucintamente, em forma de tabulao, o

    que ele considerava essencial para o desenho de um abrigo. Segundo o

    professor Jos Luis Mendes Ripper da PUC-Rio:

    "Com Bucky percebemos como estamos presos a formas que no correspondem aos conhecimentos cientficos disponveis no mundo contemporneo. Do ponto de vista de resistincia estrutural e tambm de economia estamos reproduzindo ainda pricpios e conceitos empregados pelas culturas primitivas."

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 95

    Assim sendo foi baseado nos seus prprios princpios que Bucky

    desenhou a Casa Dymaxion em 1929.

    A Casa Dymaxion era um projeto radical. Uma casca de alumnio

    pendurada em um pilar central, tambm de alumnio, apresentando inovaes

    revolucionrias. No topo do mastro existiam lentes destinadas a dirigir o calor e a

    luz solar para onde desejado; o banheiro era todo montado na fbrica, o que

    inclua as tubulaes, e simplesmente pendurado no seu local dentro da casa. O

    piso era composto por duas camadas de cabos tensionados tendo, entre eles,

    um colcho pneumtico e, sobre eles, placas slidas que compunham o

    assoalho.

    A Casa Dymaxion foi pensada para ser aero-transportada para qualquer

    lugar do Planeta. Fuller sempre dizia que o ar a nossa ultima fronteira

    ocenica e que o Homem mobilizando recursos, reciclando e regenerando

    tecnologias pelo design, vai chegar perfeio da teia de aranha. (2000 p.30)

    Figura 12: Casa Dymaxion (Buckminster Fuller Archives)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 96

    Nas suas observaes da Natureza, Fuller apreciava a perfeita

    aerodinmica e hidrodinmica dos pssaros e peixes, bem como o design de

    qualquer outra criatura cuja forma resultasse em um mximo de eficincia e um

    mnimo de resistncia. Na sua imaginao frtil Bucky queria desenvolver um

    veculo para terra, mar e ar. O Dymaxion Vehicle deveria ser a resposta a estas

    indagaes. A idia era fornecer o carro juntamente com a Casa Dymaxion para

    dar total autonomia ao seu usurio. O carro seria um complemento

    indispensvel, principalmente em regies remotas.

    Figura 13: Banheiro Dymaxion (arquivo: Warren Schepp)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 97

    Fuller queria que o seu veculo fosse capaz de voar como um pssaro,

    nadar como um peixe e andar sobre terreno acidentado como um cavalo.

    O modelo mais aperfeioado era um triciclo com rodas de borracha para

    viagens terrestres, dois motores a jato para viagens areas e a configurao

    geral de uma mistura de cabea de ganso com corpo de golfinho para diminuir a

    fora de arrasto, tanto no ar quanto na gua.

    Tanto a Casa Dymaxion quanto o Veculo Dymaxion deveriam ser

    totalmente autnomos. Uma vez fornecidos e instalados no necessitariam mais

    de estradas, aeroportos, eletricidade, esgotos, nem outros servios que esto

    nas mos e no controle do governo ou das grandes corporaes!

    Figura 14: Carro Dymaxion (arquivo: Bridgeport Public Library)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 98

    Foram construdos alguns prottipos, tanto da Casa quanto do Veculo,

    mas a coisa toda no vingou, no s por causa dos empecilhos tecnolgicos,

    relativos a materiais e processos de produo na poca, mas tambm polticos.

    Bucky eventualmente chegou concluso que, se tais inovaes relativas a

    autonomia estivessem disponveis, as pessoas livre-pensantes concluiriam

    rapidamente que a burocracia dominante seria dispensvel e que, pela ordem

    natural das coisas, o Sistema vigente entraria em colapso. Dentro deste quadro

    a resistncia do Establishment foi inevitvel e um grande fator de entrave

    principalmente de financiamentos necessrios a sua implementao ( Sieden,

    2000 p.144).

    Paralelamente a estes desenvolvimentos Fuller aperfeioava a sua viso

    utpica de integrar as atividades socioeconmicas do homem numa Cincia de

    Design Antecipatria Abrangente, que se ocupasse em, efetivamente, distribuir,

    com eficincia e justia, os recursos do Planeta.

    Ele passou a se interessar por cartografia pois estava insatisfeito com as

    projees do mapa-mundi existentes, principalmente a to divulgada projeo de

    Mercator, que distorcia o tamanho e a dimenso dos continentes, alm de

    achatar as massas de terra firme nos plos.

    Em 1934 Fuller estava profundamente envolvido como os problemas de

    cartografia, como se pode verificar no mapa divulgado por ele no seu livro Nove

    Correntes para a Lua, publicado em 1938. Neste livro ele apresenta o seu

    Mapa Dymaxion. Ele argumentava que qualquer um que fizesse um

    levantamento dos recursos da Terra necessitaria uma projeo precisa do

    mundo que mostrasse, com um mnimo de distoro, as formas e dimenses

    relativas das massas dos territrios.

    Suas investigaes levaram-no a dar entrada em 1944, sob o n 2.393.676,

    e realizar em 1946 (ano da concesso), a primeira patente em cartografia dos

    ltimos 150 anos. No texto ele descreve o mtodo de projetar os dados, numa

    superfcie plana a partir de uma superfcie esfrica (a Terra). O poliedro que ele

    escolheu para realizar esta projeo foi o Dymaxion, um cubooctaedro construdo com seis faces quadradas e oito faces triangulares equilteras. Os

    quadrados esfricos eram divididos por uma malha de Grandes Crculos, em

    dois sentidos, que, quando planificada, resultava no nosso conhecido quadrado

    contendo uma malha ortogonal a 90 com o horizonte. Os tringulos esfricos

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 99

    eram subdivididos por uma malha de Grandes Crculos, em trs sentidos, que,

    quando planificada resultava em uma malha triangular equiltera inclinada a 60

    em relao ao horizonte2.

    O fator extraordinrio em relao ao Dymaxion Map que ele no

    apresenta deformaes perceptveis. o primeiro e nico mapa que nos d uma

    viso completa da geografia da Terra sem distores aparentes das formas e

    dimenses das massas continentais. Segundo Fuller: "Uma nica Ilha num

    nico Oceano". (Sieden 2000 p.224)

    2 Uma linha geodsica a menor distncia entre dois pontos numa superfcie. Se a linha geodsica estiver sobre uma superfcie curva, ela tambm ser uma curva. E, se essa curva for uma esfera, ele constituir um equador e fechar um plano que contm o centro da esfera. Essa linhas sobre a esfera so chamados de Crculos Mximos ou Grandes Crculos. (Sieden, 2000 p.219)

    Figura 15: Mapa Dymaxion (arquivo: Honeywell Inc.)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 100

    3.3Do Domo Geodsico ao Tensegrity, a contribuio de Richard Buckminster Fuller

    3.2.3.A Gnese do Domo Geodsico

    Desde criana Fuller observava e se maravilhava com a natureza, seus

    elementos e seus sistemas, e, depois de adulto, foi nela mesmo que ele

    encontrou campo para as suas investigaes3. Ele ficava intrigado com as

    formas esfricas encontrveis na natureza, desde as milhares de bolhas num

    pouco de espuma at os planetas no espao sideral. Como era possvel uma

    esfera to perfeita, como uma bolha, ser construda e destruda to

    rapidamente. O homem nunca foi capaz disso sem usar um modelo, e mesmo

    assim precariamente, pois, matematicamente, impossvel dizer o tamanho de

    uma circunferncia; ele ser sempre, aproximadamente, 2 x pi x r. Tomando por base, modelos e sistemas reais, passveis de pesquisa e

    experimentao ele passou a utilizar a matemtica para tentar compreender e

    registrar, tecnicamente, como se chegava a estas formas.

    Foi a partir de 1945 que Fuller comeou a se ocupar e aprofundar

    realmente com a trigonometria esfrica. A radiolria, um plncton marinho microscpico, mas possuidor de uma estrutura ssea muito solicitada por

    esforos externos, despertou a curiosidade e a criatividade de Fuller. Com um

    modelo da radiolria em mos ele estudou a configurao do esqueleto, e

    determinando como base de desenvolvimento da geometria espacial, um

    icosaedro (o mais esfrico dos slidos regulares), ele realizou sofisticados clculos matemticos, utilizando a trigonometria esfrica para dividir a superfcie

    esfrica em tringulos.

    3 Na verdade o que Fuller estava fazendo era lanar mo da Binica, ou Biomimtica, cincia que s nos anos 70 viria e ser divulgada pelos trabalhos de Werner Nachtigall e pelos cientistas da NASA.A Tcnica Binica a investigao sistemtica dos princpios orgnicos e estruturais encontrados na natureza, visando colher dados aplicveis soluo de problemas tcnicos relativos ao projeto de : Estruturas, Formas e/ou Sistemas. (Nota do Autor)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 101

    Os vrtices destes tringulos formam o sistema de Fuller, isto , os

    pontos que determinam as intercesses dos Grandes Crculos na superfcie de uma esfera. Na geometria moderna qualquer arco de um Grande Crculo

    chamado de Uma Curva Geodsica. Quando Fuller comeou a construir domos que eram essencialmente malhas de tringulos esfricos formadas pelo cruzamento de Grandes Crculos ele batizou estas estruturas de Geodsicas.

    A gnese do domo geodsico pode ser atribuda vontade de Fuller de

    colocar ordem no Universo. Ele estava convencido de que a viso cartesiana

    ortogonal do mundo era fundamentalmente imprecisa. Sua procura por um

    sistema de coordenadas prprias da natureza o levou a uma jornada

    exploratria, sobre estruturas e processos, que o conduziu ao desenvolvimento

    de uma malha espacial triangular esfrica formada pelo cruzamento de grandes

    crculos, que ele batizou de Domo Geodsico.O Domo Geodsico, um cone da arquitetura moderna da dcada 50/60

    recebeu o nmero de patente: US n 2.682.235 em junho de 1954.

    Na verdade, Bucky no foi propriamente o inventor da Geodsica. O que

    ele fez foi dar sentido mesma descobrindo suas leis formadoras, construindo e

    divulgando suas propriedades. A estrutura geodsica e os Crculos Mximos,

    podem ser encontrados na natureza, por exemplo, na estrutura dos olhos das

    moscas e vespas ou nas carapaas dos cgados; ou, feitos pelo homem, na

    malha de cestos, chapus e implementos de pesca dos povos asiticos e dos

    nossos ndios para transportar frutas. O mesmo princpio aparece em uma figura

    de leo, no Palcio de Vero em Pequim, que tem sua pata apoiada em uma

    esfera geodsica de cinco freqncias.

    Figura 16: Superfcie esfrica dividida em tringulos equilteros, gerada a partir do icosaedro

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 102

    Mas, alm destas manifestaes, no conscientes da estrutura,

    matemtica e fisicamente geodsica, o primeiro domo, na forma que

    conhecemos hoje, foi construdo em Jena, Alemanha, em 1922. Seu autor foi

    Walter Bauersfeld, um cientista alemo, chefe de design da indstria tica Zeiss,

    que idealizou o Domo visando a sua utilizao como edifcio. Tanto que a

    armao depois de pronta, foi recoberta com cimento transformando-se numa

    esfera oca, uma casca, de ferro-cimento. O que Bauersfeld queria era construir

    um espao para otimizar o funcionamento dos projetores estelares

    desenvolvidos por ele para a Zeiss. Estava assim inventado o Planetrio.

    Em carta endereada revista Shelter, em 19 de junho de 1973, um

    diretor da Carl Zeiss, descreve quais foram as primeiras preocupaes que

    nortearam Bauersfeld na procura de um espao apropriado para as projees

    dos elementos csmicos:

    A projeo do cu estrelado requer um certo nmero de projetores, arranjados no centro do domo. Cada projetor deve iluminar (cobrir) uma rea igual a da superfcie interna do mesmo. Se os vrtices de um icosaedro so cortados (truncados) de forma que a nova superfcie passe a possuir: 12 pentgonos e 20 hexgonos, as reas dessas truncagens sero, aproximadamente, as mesmas. Os projetores so montados no centro dessas figuras e produzem 32 campos estelares diferentes no domo (na realidade, apenas 31, pois uma delas utilizada para suporte dos projetores). (Lotufo e Lopes, 1975 p.4)

    A malha triangular, em trs sentidos, que Bucky chamou de Malha

    Regular, foi sua primeira Malha Geodsica. Ela gerada por meio da aplicao

    de perpendiculares s subdivises feitas em cada um dos lados do tringulo.

    Considerando algumas caractersticas necessrias do slido geomtrico que

    serviria de base ao seu estudo, Fuller como j vimos escolheu o icosaedro. Acho oportuno, neste ponto, rever alguns aspectos bsicos necessrios ao bom

    entendimento da discusso da geometria geodsica, que vem a seguir.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 103

    3.2.3.1.Os Slidos Platnicos

    Euclides na sua conhecida obra Elementos4, deu ao mundo o

    conhecimento dos slidos platnicos, a saber: o tetraedro, o cubo, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro. Cada um destes slidos formado por figuras regulares, isto , todas as arestas e ngulos das faces so iguais.

    importante lembrar, que todos os slidos platnicos esto inscritos numa

    circunsfera. A Geometria Geodsica a malha triangular que cobre a superfcie de

    uma esfera utilizando a forma esfrica destes slidos como ponto de partida,

    uma vez que, todas as arestas e vrtices tm como lugar comum a superfcie da

    esfera.

    4 A grande obra de Euclides, os Elementos, subdividida em 13 livros, constitui, sem dvida, um dos mais notveis compndios de matemtica de todos os tempos. J na poca de Arquimedes ele era freqentemente adotado como livro bsico. Entre os gregos e os romanos, durante toda a Idade Mdia e at o Renascimento, os Elementos foram considerados o livro por excelncia para o estudo da geometria." (Enciclopdia Mirador, vol 9, p.4416)

    Figura 17: Os slidos platnicos, frmulas de desenvolvimento e planificaes.

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 104

    A malha triangular foi escolhida por sua estabilidade inerente em funo da

    sua triangulao, igual em todas as direes. Um tringulo um elemento

    estvel independente do seu tamanho. Quadrados, pentgonos, hexgonos, etc. no so configuraes estveis. A maioria destes slidos esfricos

    utilizada em aplicaes especiais, mas a malha icosaedrica, com 20 faces

    triangulares idnticas, apresenta grande estabilidade e regularidade e a que

    tem sido, preferencialmente, empregada no desenho de domos geodsicos.

    3.2.3.2.As linhas Geodsicas e os Crculos Mximos

    Nas suas primeiras investigaes, Fuller gerou uma malha esfrica

    composta de 31 crculos Grandes Crculos (Crculos Mximos), que se cortam

    em ngulos regulares. Isto ele conseguiu a partir do giro, sucessivo do icosaedro

    esfrico, apoiado nos seus eixos, passando nos vrtices, no meio das faces e no

    meio das arestas. Resultaram os seguintes valores:

    6 grandes crculos obtidos a partir do giro sobre 12 vrtices;

    10 grandes obtidos a partir do giro sobre o meio das 20 faces;

    15 grandes crculos a partir do giro sobre o meio das 30 arestas;

    31 grandes crculos resultantes do somatrio das aes descritas acima.

    Figura 18: Esfera com todos os grandes crculos

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 105

    Esta geometria de 31 Grandes Crculos foi empregada por Fuller para

    construir uma das suas primeiras estruturas geodsicas. Mas, ele no utilizou os

    Crculos Mximos pura e simplesmente. Primeiro ele escolheu alguns destes

    crculos para depois, lanando mo da trigonometria esfrica, chegar

    sistematizao do clculo geodsico.

    Um domo de 48 ps de dimetro foi montado por ele no famoso Black

    Mountain College, instituio de vanguarda que atraa grandes artistas,

    intelectuais e cientistas5. O domo era fabricado com lminas de venezianas, com

    duas polegadas de largura. Um segundo domo, utilizando material mais

    resistente na forma de tubos de alumnio, foi erguido nos jardins do Pentgono

    em Fevereiro de 1949.

    O grande inconveniente em utilizar a geometria dos 31 Grandes Crculos

    era a diferena de comprimento entre o maior e o menor elemento estrutural

    (razo de 2:1) do conjunto que levava a grandes ineficincias no seu desenho.

    Havia a necessidade de uma malha mais eficiente para tornar a estrutura

    geodsica realmente competitiva em relao s estruturas convencionais.

    Foram ento desenvolvidas vrias estruturas usando o sistema de Malha

    Regular descrito anteriormente. Elas foram publicadas no nmero de agosto de

    1951 da Architectural Forum. As estruturas divulgadas foram: um domo de

    alumnio construdo por Jeffrey Lindsay e uma estrutura geodsica, construda

    em madeira, por Zane Yost.

    Outra variao era a Malha Alternativa, onde o tringulo icosa-bsico, e

    cada tringulo formado sucessivamente, era dividido no meio da aresta e ligado

    a pontos congruentes das arestas adjacentes. Esta geometria produziu uma

    rotina matemtica mais simples para calcular a malha gerando,

    concomitantemente, menos tipos de partes que na Malha Regular.

    5 Fundado em 1933 por John Andrew Rice nas remotas montanhas da Carolina do Norte, em Asheville, o Black Mountain College representou, no seu tempo, uma experincia nica e inovadora no panorama da educao nos Estados Unidos. Instrutores e alunos, todos idealistas, desenvolveram trabalhos e projetos de altssimo nvel nos campos das cincias e das artes num clima de pura democracia que suplantou todos os ranos da educao formal vigente na Amrica. Grandes nomes internacionais eram convidados, com freqncia para fazer palestras e seminrios. O Black Mountain College no titubeava em convidar intelectuais audaciosos que no tinham medo de divulgar e experimentar novas idias, por mais absurdas que fossem, e Bucky se encaixava perfeitamente neste quadro. Ele foi convidado, pela primeira vez em 1947 e fez tanto sucesso e se tornou to popular que aceitou, com alegria, ministrar um curso de vero no ano seguinte, 1948. (Sieden, 2000 p.309)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 106

    Mas o verdadeiro avano das malhas geodsicas aconteceu com a

    descoberta da Malha Triacnica (Triacon Grid) desenvolvida por Duncan Stuart,

    na primavera de 1951. Duncan era professor na Universidade Estadual da

    Carolina do Norte em Raleigh, Carolina do Norte onde Fuller mantinha um dos

    seus dois escritrios da Geodesics Inc. (o outro escritrio era em Cambridge,

    Massachusetts). Stuart era o matemtico da casa na Geodesic Inc. e era um

    colaborador inestimvel em vrios projetos que estavam sendo desenvolvidos l.

    Sua descoberta da Malha Triacnica, como muitas descobertas, foi uma

    ocorrncia acidental. Acontece que existia um grave problema na Malha Regular:

    ela apresentava janelas (aberturas). Isto quer dizer que em alguns vrtices os

    trs Grandes Crculos no se cortavam em um mesmo ponto. Foram feitos

    clculos em cima de clculos mas as aberturas persistiam em aparecer at o

    ponto em que Fuller, como era tpico da sua personalidade, pensou ser este fato

    uma mensagem de Deus avisando que as tabelas trigonomtricas tinham um

    erro imbricado nelas. Chegou-se a consultar uma cpia da Tabela de Senos e

    Cosenos at a dcima quinta casa decimal a um centsimo de grau, publicada

    pelo National Bureau of Standards do Departamento de Comrcio dos Estados

    Unidos, sem sucesso.

    Figura 19: Um tringulo esfrico todo modulado

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 107

    Aps acaloradas discusses com Fuller sobre este problema, Stuart, que

    era exmio matemtico, chegou a uma soluo simples e elegante, que reduzia o

    nmero de partes componentes da estrutura ao mnimo, e com um mnimo de

    diferena entre os elementos mais longos e mais curtos. O que ele fez foi utilizar

    o diamante esfrico, gerado pela malha de 31 grandes crculos, como elemento bsico a ser subdividido, em lugar do icosaedro esfrico.

    Ao subdividir a icosa-aresta, que o eixo mais longo do diamante, ele

    conseguiu gerar uma malha sem "janelas". A malha resultante foi usada em

    quase todos os domos geodsicos subseqentes projetados pela Geodesic Inc,

    de Raleigh.

    O escritrio da Geodesics, Inc. em Cambridge, Massachusetts, descobriu

    outra malha para resolver casos especiais de domos. A firma recebeu a

    encomenda de domos em fibra de vidro para abrigar os radares polares da Linha

    DEW (Distant Early Warning line) instalada no rtico. Estes domos teriam que ter

    de 30 a 55 ps (10 a 18 metros) de dimetro para cobrir a antena giratria do

    radar, com uma poro esfrica maior do que um hemisfrio, isto , uma esfera

    seccionada em um ponto abaixo do seu equador. Mas se algum usasse as

    malhas descritas anteriormente, a seo, abaixo do equador geraria vrtices que

    no coincidiriam com a malha. Para no aumentar o nmero de partes em

    funo de comprimentos especiais, onerando a estrutura, Bill Wainwright, do

    escritrio de Cambridge, descobriu que utilizando malhas alternativas de

    Figura 20: Esfera com senos e co-senos

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 108

    freqncias: trs, quatro e cinco de modo a acomodar o truncamento da base da

    esfera dentro da nova geometria ele resolvia o problema6. Esta geometria foi

    chamada de malha Truncatable ou Paralela.

    3.2.4.Principais projetos de Domos

    Em 1953 Fuller recebeu e realizou a sua primeira encomenda de grande

    porte. Foi o domo da Ford Rotunda, uma estrutura de 93 ps de dimetro ( 32.40

    m.) feita em alumnio e pesando oito toneladas e meia. Era uma demonstrao

    impressionante da filosofia sobre estruturas leves e de alta tecnologia, que Fuller

    vinha lapidando h 25 anos. Mas, tanto a estrutura do Ford Dome quanto

    algumas geodsicas subseqentes tinham problemas em conseguir coberturas

    em material moldvel e impermevel para realizar uma perfeita vedao. Foi

    preciso esperar mais alguns anos at que fossem desenvolvidas peles selantes

    e moldveis que atendessem, adequadamente, s exigncias destas estruturas.

    Bucky chamava o seu primeiro grande cliente, Henry Ford, de Sr. Indstria em

    pessoa.

    6 A Freqncia o nmero de partes ou segmentos no qual as arestas do poliedro principal so subdivididas. O smbolo para freqncia v. (Lotufo e Lopes, 1975 p.21)

    Figura 21: Malha "Truncatable"

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 109

    Em 1955 Fller recebeu a encomenda de Radomes (domos especializados

    para abrigar radares de climas agressivos, j mencionados anteriormente), para

    o Crculo rtico.

    O desafio era enorme porque os domos tinham que ser instalados ao

    longo de uma linha de mais de 3.000 milhas (5 km.) de comprimento, a DEW

    Line., tambm j mencionada neste trabalho.

    Em virtude do tempo violento e incerto que se encontra com muita

    freqncia, ao longo do Crculo rtico, a Fora Area Americana, precisava de

    uma estrutura que pudesse ser aero-transportada, desmontada e lanada no seu

    local de pouso, onde deveria ser montada em, no mximo, 20 horas que era a

    margem de tempo bom disponvel na regio, alm de ser fabricado com

    materiais invisveis aos feixes de micro-ondas do radar, sabendo-se que o radar

    refletido por qualquer metal.

    Fuller respondeu, projetando um domo de 55 ps (18,50 m) de dimetro,

    feito em fibra de vidro e com 40 ps (13,20 m) de altura, resultando na maior

    estrutura de plstico que se tinha notcia at ento.

    Os domos foram construdos em 14 horas apenas e resistiam a 220 milhas

    por hora de presso do vento, quando submetidos a testes de carga esttica.

    Nesta mesma poca a Marinha dos Estados Unidos instalou mais de 300

    domos na Antrtida e alguns ao longo da Linha do Equador.

    Figura 22: Ford Dome visto de baixo (arquivo: Ford Motor Company)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 110

    Outra inovao de Fuller em relao a domos foram os domos de Papel,

    mais precisamente de carto corrugado. Dois destes domos foram produzidos

    pela Container Corporation of America e levados para a Itlia onde foram

    expostos na 10 Trienal de Milo em 1954.

    Figura 23: Domo Polar (Buckminster Fuller Archives)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 111

    Estes domos acabaram ganhando o Gran Prmio da Trienal, o que foi

    irnico uma vez que os Estados Unidos no tinham representao oficial nesta

    Trienal. A exibio se deu graas exuberante confiana que Fuller tinha no seu

    trabalho acabando por atrair patrocnio para levar os mesmos para Europa e

    mostr-los na Itlia.

    De acordo com o prprio Fuller esta exibio foi "antecipatria", pois, da mesma

    forma que a Casa Dymaxion precisou aguardar a descoberta de novas ligas de

    alumnio para se tornar realidade, o carto corrugado, na poca, ainda estava

    longe de ser desenvolvido para ser usado praticamente como material estrutural

    e de cobertura para o Domo. O carto corrugado, quando molhado, encolhia

    muito e se torcia todo. Para evitar este colapso os domos da trienal de Milo

    foram recobertos por camadas de vinil e folha de alumnio. Mas os cartes que

    eram impermeveis e resistentes alta compresso e impermeveis ainda

    estavam em fase laboratorial. Fuller resolveu, ento, aguardar estes cartes

    entrarem em produo normal para registrar e desenvolver a produo em

    massa de domos de papel no futuro. Ele calculava que uma grande fbrica

    poderia produzir 3.000 domos por dia, cada domo com 330 metros quadrados de

    rea til, podendo ser vendido a 500 dlares o que significa 1,5 dlares por

    metro quadrado. Para o embasamento bastava um piso de concreto ao custo de

    200 dlares. As instalaes sanitrias e de calefao custariam,

    aproximadamente, 2.000 dlares ou poderiam ser alugadas (leasing) ou mesmo

    Figura 24: Domo de Papelo (arquivo: U.S. Marine Corps)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 112

    obtidas pelo processo de rastreie-e-monte-voc-mesmo (ele devia estar se

    referindo equipamento de 2 mo), por alguns dlares por dia (Sneiden, 2000

    p.277).

    A concluso de Fuller era que, com este tipo de estrutura, as pessoas

    poderiam ter um alto padro de qualidade de vida com condies financeiras

    limitadas receita de um ano de salrio.

    Um recorde em termos de projeto, produo e construo, foi conseguido

    com o Pavilho do Departamento de Comrcio Americano para a Feira

    Internacional de Comrcio em Kabul, Afeganisto em 1956. Todo o projeto,

    clculos e desenhos foram realizados em, apenas, sete dias aps a assinatura

    do contrato.

    Os componentes do domo eram suficientemente leves e compactos para

    caberem num avio DC-4, acompanhados por apenas um engenheiro, poderem

    ser montados por operrios no especializados e que desconhecessem a lngua

    inglesa, em qualquer parte do mundo. Conectando peas azuis com terminais

    azuis e peas vermelhas com terminais vermelhos os operrios afegos

    ergueram o domo em 48 horas. No dizer de Shoji Sadao, arquiteto colaborador

    Figura 25: Detalhe do Domo do Afeganisto (Buckminster Fuller Archives)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 113

    de Fuller: "Qualquer estranho que perambulasse distraidamente por Kabul

    chegaria concluso razovel que os operrios afegos eram tcnicos

    altamente especializados." (Sieden, 2000 p.306)

    O domo de Kabul estabeleceu novo recorde na histria da arquitetura, em

    em 1956. Era a maior estrutura geodsica jamais construda com 100 ps (33

    metros), de dimetro, 10 metros de altura e um vo livre de 2.640 metros

    quadrados de rea til.

    A estrutura era composta de 480 tubos de alumnio com 3,5 polegadas de

    dimetro cada. Ela pesava 2.026 kg e era recoberta por uma pele de nylon

    pesando 286 kg.

    Em Kabul o domo atraiu muito mais ateno do que os pavilhes da China

    Comunista e da Rssia, que levaram meses para serem construdos. O valor de

    comunicao do domo se provou to eficiente que os Estados Unidos

    aproveitaram este sucesso montando domos geodsicos em vrias outras feiras

    internacionais.

    A Geodsica dramatizava a engenhosidade, viso e o dinamismo

    tecnolgico, americanos. O Depto. de Comrcio comeou a capitalizar em cima

    da glria da malha geodsica de Fuller, concluindo que ele era uma matria de

    propaganda muito mais eficiente do que as transmisses de rdio, duvidosas,

    para regies onde os rdios eram raros.

    Domos to grandes e at maiores do que o de Kabul passaram a ser aero-

    transportados de pas em pas em volta do Globo, atraindo recordes de

    visitao. Em curto espao de tempo os domos de Bucky podiam ser vistos em:

    Poznan, Casablanca, Tunis, Salonika, Istanbul, Madras, Dehli, Bombaim,

    Rangoon, Bangkok, Tokyo e Osaca.

    Em 1958 a Union Tank Car Company encomendou para a sua fbrica em

    Baton Rouge, o maior domo, consequentemente a maior cobertura em vo livre

    da poca, com 384 ps (128 metros), de dimetro. O problema da vedao foi

    resolvido soldando-se placas de ao por dentro do exo-esqueleto formado pela

    gigantesca estrutura geodsica. ( Sieden, 2000 p.339-340)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 114

    Mas a estrutura geodsica mais famosa de Bucky foi, sem dvida, a do

    pavilho do Estados Unidos, na Expo 67 de Montreal, Canad. Tinha 250 ps

    (82 metros) de dimetro e era uma esfera prateada e difana que conquistava a

    imaginao de todos os que a visitavam, tornado-se um cone presente em

    todas as feiras mundiais que se seguiram Expo 67, e em todos os projetos

    visionrios relativos aos planejamentos urbanos do futuro.

    Durante os anos 60 Fuller foi popular entre os jovens e se tornou um heri

    entre os hippies. Era o tempo dos Beatles, as Canes de Protesto, Bob Dylan,

    Joan Baez, Hair e a Contra-cultura. E foi justamente este pessoal que partiu para

    a utilizao dos Domos Geodsicos como elementos habitacionais. Um grupo de

    estudantes de arquitetura, intelectuais e artistas, fundaram a primeira

    Comunidade Geodsica.

    Drop City, como foi chamada, foi instalada nos arredores de Trinidad, no

    Colorado, e teve como base de suas habitaes, estruturas geodsicas

    construdas com material reciclado de sobras industriais e partes de automveis

    velhos. Hoje em dia a Drop City est abandonada mas permanece como museu

    a cu aberto conhecida como A Cidade dos Domos Fantasmas.

    Figura 26: Foto area da fbrica da Union Tank (Buckminster Fuller Archives)

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  • A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller 115

    Por volta dos anos 80 os domos se multiplicavam aos milhares pelo

    mundo todo. Bucky acreditava na juventude e ele exortava os jovens a

    reformular o ambiente em vez de reformular o homem. Ele argumentava que a

    humanidade tinha a capacidade de saber construir seus abrigos e viver em

    eterno lazer desde que soubesse planejar o uso racional dos recursos naturais".

    (Sneiden, 2000 p.341)

    Os domos geodsicos so apenas um dos muitos aspectos do elemento

    randmico multifacetado como o prprio Fuller se intitulava. Sua contribuio

    para as estruturas moleculares foi reconhecida quando os descobridores da

    molcula estvel, C 60, derivada da configurao hexa-penta, de frequncia 3,

    do icosaedro: Kroto, Curl e Smalley, ganhadores do prmio Nobel, batizaram a

    sua descoberta de BuckminsterFllerene dando credibilidade cientfica a 50

    anos de pesquisas estruturais realizadas por Bucky.

    Os domos geodsicos esto aqui para ficar. Suas patentes j h muito

    expiradas, fizeram com que eles cassem no domnio pblico. Era isso que Fuller

    queria. Ele muitas vezes se referia ao seu papel de providenciar os instrumentos

    para que outros pudessem tocar belas msicas. Depende agora da humanidade

    fazer o melhor possvel com estes instrumentos requintados.

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    3.A Cincia do Design e Richard Buckminster Fuller3.1.Introduo3.2.A Revoluo de Buckminster Fuller na Cincia do Design3.2.1.Cincia do Design Antecipatrio Abrangente 3.2.2.Principais Realizaes de Bucky

    3.3Do Domo Geodsico ao Tensegrity, a contribuio de Richard Buckminster Fuller3.2.3.A Gnese do Domo Geodsico3.2.3.1.Os Slidos Platnicos3.2.3.2.As linhas Geodsicas e os Crculos Mximos

    3.2.4.Principais projetos de Domos