Upload
lamhanh
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE
DILCILERIA DA ROSA DE OLIVEIRA
DETERMINANTES DA DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DO BALANÇO
SOCIAL NO BRASIL
VITÓRIA 2012
2
DILCILERIA DA ROSA DE OLIVEIRA
DETERMINANTES DA DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DO BALANÇO
SOCIAL NO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis – Nível Profissionalizante
Orientador: Prof. Dr. Fábio Augusto Reis Gomes
VITÓRIA 2012
3
DILCILERIA DA ROSA DE OLIVEIRA
DETERMINANTES DA DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DO BALANÇO SOCIAL NO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis na área de concentração Contabilidade Tributária.
Aprovada em 26 de novembro de 2012.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Fábio Augusto Reis Gomes Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças
-FUCAPE
Prof. Drª. Luciana de Andrade Costa Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças
-FUCAPE
Prof. Drª. Graziela Xavier Fortunato Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças
-FUCAPE
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me sustentado até aqui, e que em momentos difíceis
não me deixou desanimar. Ao meu filho Douglas, ao amado Claudio e minha mãe
por fazerem parte da minha torcida positiva e incomparável.
Ao Claudio pelo apoio, incentivo, compreensão ao longo deste período e que
sempre me ajudou a ganhar ânimo para essa conquista.
Ao meu orientador Professor Dr. Fábio Augusto Reis Gomes, por estar
sempre disposto a ajudar, e pela contribuição nos períodos de maiores dificuldades.
Ao Professor Dr. Aridelmo Teixeira, pelas suas aulas, que foram muito
importantes nesse trabalho. Aos demais professores, funcionários da Fucape e aos
colegas de turma 2010-2 e 2010-1 pela convivência ao longo do curso, e em
especial ao meu amigo Alves e sua esposa Magaly pelo apoio incondicional e a
todos os amigos que fizeram parte da minha torcida.
5
RESUMO
O objetivo deste estudo é identificar os fatores determinantes para divulgação
voluntária do balanço social no Brasil. Foram verificadas as variáveis: preocupação
com a imagem, tamanho, setor, porte da empresa de auditoria, lucratividade e
Internacionalização. Para esse estudo realizou-se um referencial teórico baseado na
teoria do julgamento (Verrecchia 2001), assim, a divulgação do balanço social é tida
como endógeno e os incentivos que os gerentes e ou a empresa têm para divulgar a
informação. A metodologia consiste em uma pesquisa quantitativa que foi realizada
por meio da coleta de dados de empresas listadas na BM&FBOVESPA pertencentes
a setores de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos
ambientais no período de 2008 a 2010, representadas por 145 empresas em cada
ano. A metodologia econométrica baseou-se na estimação de um modelo probit
aplicado aos dados em painel. Conclui-se assim que, estatisticamente, a
preocupação com a imagem e empresas auditadas por Big Four tem relação
positiva com a divulgação do balanço social.
Palavras-chave: Disclosure. Balanço Social. Teoria da Divulgação.
6
ABSTRACT
The objective of this study is to identify the determinants of the social voluntary
disclosure in Brazil. Variables were verified: preoccupation with image, size, sector,
size of audit firm, profitability and internationalization. For this study we carried out a
theoretical framework based on the theory of judgment (Verrecchia 2001), thereby
publishing the social is regarded as endogenous and incentives that managers and
or the company have to disclose the information. methodology consists of a
quantitative research that was conducted by collecting data from companies listed on
the BM&FBOVESPA belonging to sectors of activities potentially polluters and users
environmental resources between 2008 and 2010, represented by 145 companies in
each year. The econometric methodology was based on the stimulation of a probit
model applied to the data painel. It is concluded that, statistically, the concern with
image and audited by Big Four firms has positive relationship with the disclosure of
the social.
Keywords: Disclosure. Social. Theory of Disclosure.
7
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Características da divulgação das categorias de pesquisa................ 18
Quadro 2 – Categorias de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras
de recursos ambientais.....................................................................................
27
Quadro 3 – Empresas por classificação setorial que realizaram disclosure e que
não realizaram disclosure, ano 2008 ....................................................................
28
Quadro 4 – Empresas por classificação setorial que realizaram disclosure e que
não realizaram disclosure, ano 2009...............................................................
29
Quadro 5 – Empresas por classificação setorial que realizaram disclosure e
que não realizaram disclosure, ano 2010.............................................................
29
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico1 - Evolução da divulgação do balanço social ...................................... 38
Gráfico.2 - Nacionalidade das divulgações do balanço social........................... 38
Gráfico 3 - Divulgação do balanço social por setor............................................ 39
Gráfico 4 - Ativo Total por setor em R$ 000........................................................ 39
Gráfico 5 - Lucratividade por setor em R$ % ..................................................... 40
9
LISTA DE ABREVIATURAS
ANNEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
AT– Ativo Total
BF– Big Four
BR– Empresa Nacional
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNDES – Banco Interamericano de Desenvolvimento
BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo
BS – Balanço social
CPC– Comitê de Pronunciamentos Contábeis
CVM – Comissão de Valores Mobiliários
DFPs – Demonstrações Financeiras Padronizadas
DVA – Demonstrativo do Valor Adicionado
GRI – Global Reporting Initiative
GU – Grau de Utilização
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBASE – Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas
IFC – International Finance Corporation
ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial
LUC – Lucratividade
PP – Potencial de Poluição
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................11
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA.......................................................................14
1.2 OBJETIVO GERAL.....................................................................................15
1.3 JUSTIFICATIVA..........................................................................................15
2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................17
2.1 TEORIA DA DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA................................................17
2.2 ESTUDOS SOBRE A DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA.................................20
2.3 DIVULGAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL NO BRASIL.................................21
3 METODOLOGIA...............................................................................................26
3.1 SELECÃO DA AMOSTRA..........................................................................26
3.2 COLETA DE DADOS..................................................................................30
3.3 MODELOS PROBIT....................................................................................31
3.4 PROXIES E VARIÁVEIS UTILIZADAS.......................................................35
4 RESULTADOS..................................................................................................37
4.1 RESULTADOS APLICANDO O MODELO PROBRIT EM PAINEL............37
4.1.2 Análise Gráfica.......................................................................................37
4.1.3 Resultados da Estimação......................................................................41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................45
REFERÊNCIAS....................................................................................................47
11
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo identificou os fatores determinantes para a divulgação
voluntária do balanço social no Brasil. Atualmente não há obrigatoriedade legal para
que as empresas divulguem relatórios de natureza social e ambiental em suas
demonstrações contábeis. Contudo, percebe-se uma continuidade em algumas
companhias em permanecer com a divulgação do referido balanço.
Nesse contexto, a presente pesquisa irá versar sobre quais variáveis podem
estar influenciando tal prática por parte das empresas listadas na Bolsa de Valores,
Mercadorias e Futuros BM&FBOVESPA1 pertencentes a setores de atividades
potencialmente poluidoras e que utilizam de recursos ambientais conforme o anexo
VIII da Lei 10.165/2000.
O balanço social é definido como um relatório que disponibiliza informações
sociais e ambientais sobre as empresas. Ribeiro e Lisboa (1999, p.1) explicam que:
O balanço social é um instrumento de informação da empresa para a sociedade, por meio do qual a justificativa para sua existência deve ser explicitada. Em síntese, esta justificativa deve provar que o seu custo-benefício é positivo, porque agrega valor à economia e à sociedade, porque respeita os direitos humanos de seus colaboradores e, ainda, porque desenvolve todo o seu processo operacional sem agredir o meio ambiente.
Segundo Dye (2001), espera-se que os benefícios gerados pela divulgação
de informação não obrigatória sejam superiores aos seus custos, visto que na teoria
da divulgação voluntária, a entidade tende a divulgar voluntariamente apenas
informações positivas. Nossa (2002, p. 86), em sua pesquisa, destaca que,
geralmente, no disclosure2 voluntário é exposto apenas o que a companhia
1 BM&FBOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo 2 Palavra de origem inglesa que significa: divulgação, evidenciação.
12
apresenta de positivo. Há pesquisas, entretanto, que avaliam de outra forma tais
causas.
Segundo Salotti e Yamamoto (2005), quando o processo de divulgação passa
a ser tratado como endógeno questiona-se a veracidade da informação contida nos
demonstrativos.
Cunha e Ribeiro (2008) demonstraram em seus estudos que a evidenciação
de informações voluntárias pode ser explicada por características da própria
empresa, tais como porte, desempenho, práticas de governança corporativa dentre
outros. A pesquisa dos referidos autores analisou os motivos da divulgação
voluntária do balanço social nas empresas brasileiras no período de 2003 a 2006,
listadas na BMF&BOVESPA. Os resultados apontaram que a divulgação voluntária
do balanço social está associada positivamente ao nível de governança corporativa,
ao desempenho, e à divulgação em período anterior.
Murcia et al (2009) pesquisaram os fatores determinantes do nível de
disclosure voluntário das companhias abertas no Brasil no findo de 2007 e
constataram que a regulação setorial influencia positivamente o nível da divulgação.
O autor relata, no entanto, que os resultados da pesquisa não devem ser
generalizados para outras empresas e outros períodos de tempo e assim, mais
pesquisas devem ser realizadas.
Suliani Rover, Murcia et al (2012) em sua pesquisa identificou os fatores que
determinam a divulgação voluntária ambiental pelas empresas brasileiras
potencialmente poluidoras no período de 2003 a 2007 e concluiu que o tamanho da
empresa, empresa de auditoria são significantes para explicar o disclosure voluntário
de informações ambientais.
13
Liu e Anbumozhi (2009) investigaram os fatores determinantes da divulgação
voluntária dos relatórios sociais e identificaram que as variáveis determinantes foram
o tamanho da empresa e a sensibilidade da indústria ao meio ambiente, dentre
outras variáveis como a alavancagem financeira, localização da empresa,
concentração dos acionistas dentre outras que não foram significantes.
Em um estudo realizado em Nova Zelândia, Hackston (1996) verificou as
variáveis determinantes do nível de divulgação social e ambiental em algumas
empresas, e o resultado indicou que tanto o tamanho quanto a natureza da atividade
estão associados com o nível de divulgação social e ambiental, enquanto o
desempenho não apresenta significativa relevância.
Segundo Michelon (2007), o tamanho das empresas é uma variável
encontrada em muitas pesquisas, e apresenta uma correlação positiva com as
divulgações socioambientais. Nesse sentido, infere-se, portanto, uma relação tênue
entre o grau de divulgação e o tamanho apresentado pela companhia.
O disclosure de algumas empresas excede o requerido por lei, e a tendência
é que empresas maiores apresentem maior grau de divulgação, levando em
consideração que o custo de preparação e transmissão da informação é menor
relativamente a seu tamanho do que empresa de menor porte (LANG, LUNDHOLM,
1993).
Uma série de estudos tem indicado que as grandes empresas estão mais
sujeitas ao social e a pressão política do que as empresas de pequeno porte.
Trotman e Bradley (1981) e Cowen et al (1987) acham que o tamanho da empresa
tem sido uma variável explicativa e significativa em seus estudos de divulgação de
responsabilidade social. O último autor, por sua vez, também diz que "as grandes
empresas tendem a receber mais atenção do público em geral e, portanto, a estar
14
sob maior pressão pública para expor a responsabilidade social”. Além disso, em
uma meta-análise de 29 estudos de divulgação, Ahmed e Courtis (1999) dizem que
o tamanho é um dos indicadores mais importantes de divulgação em nível
corporativo do relatório anual. Como as grandes empresas são preparadas para
enfrentar pressões maiores do que as empresas menores, consequentemente,
aumentarão suas divulgações para estabelecer um bem social de forma mais
incisiva, vis-a-vis empresas de menor porte. O objetivo por trás de tal prática se
resume em considerar a imagem como parte de sua estratégia de negócios.
De acordo com Verrecchia (2001), os custos de divulgação são relativamente
menores para as empresas de grande porte, pois essas têm capacidade de assumir
os custos decorrentes da divulgação.
Percebe-se que a discussão acerca do tema é extensa, com as mais diversas
opiniões, tanto sobre as variáveis que determinam a divulgação voluntária quanto
sobre a concepção dos balanços sociais. Nesse sentindo, o referido estudo
contribuirá para aprofundar um assunto propondo uma metodologia econométrica, a
partir dos dados disponíveis, com o objetivo de refinar a atual discussão e verificar o
que de fato estimula uma empresa a submeter tal demonstrativo para o mercado.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
Como destacado, existem divulgações voluntárias dos relatórios sociais em
vários países. Embora muitas divulgações sejam obrigatórias, é importante entender
os determinantes para fornecer a informação na ausência de regulamentação, e
assim explicar os motivos de disclosure das companhias.
15
Independentemente do modelo de balanço social divulgado pelas empresas,
levando-se em consideração os custos e benefícios da divulgação do balanço social,
este trabalho responderá a seguinte questão de pesquisa: Quais são os
determinantes da divulgação voluntária do balanço social no Brasil por empresas
listadas na BM&FBOVESPA?
1.2 OBJETIVO GERAL
O objetivo desta pesquisa é identificar os determinantes da divulgação
voluntária do balanço social no Brasil por empresas listadas na BM&FBOVESPA,
pertencentes a setores de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de
recursos ambientais conforme o anexo VIII da Lei 10.165/2000.
1.3 JUSTIFICATIVA
No Brasil as empresas não têm obrigação legal de divulgar o balanço social.
No entanto, embora não haja essa obrigação, existem focos de divulgação
voluntária, conforme verificado pelas pesquisas de Salotti e Yamamoto (2005);
Cunha e Ribeiro (2008) e Murcia (2009).
Ao considerar o fato da existência de evidências empíricas da divulgação do
balanço social pelas empresas brasileiras, questionam-se os incentivos que as
empresas no país recebem para divulgarem voluntariamente informações sociais e
ambientais. A nível nacional, percebe-se poucas pesquisas fundamentadas na
Teoria da Divulgação Voluntária, o que nos instiga verificar quais são os
16
determinantes influenciadores para divulgação voluntária do balanço social no
Brasil.
Conforme um estudo realizado pela KPMG (2005) foi realizado um
levantamento com empresas de diversos países e observou-se que os setores de
alto impacto ambiental lideram a divulgação de informações sociais e ambientais.
Contribuindo com a pesquisa de Cunha e Ribeiro (2008) que analisaram a
divulgação do balanço social e disseram que outras relações devem ser
pesquisadas, como porte da empresa de auditoria, preocupação com a imagem,
lucratividade e setor, a proposta desta pesquisa baseia-se em encontrar os fatores
determinantes da divulgação voluntária do balanço social no Brasil considerando
empresas listadas na BM&FBOVESPA pertencentes a setores de atividades
potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais.
Como já salientado, o tema escolhido é pouco explorado em âmbito nacional,
portanto, entender os motivos para divulgação voluntária do balanço social é um
assunto de interesse para a evolução da pesquisa contábil no Brasil.
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Tinoco (2001, p. 14) explica que o balanço social é um instrumento de gestão
que contem informações para mostrar, de forma mais transparente, as informações
econômicas e, principalmente, sociais, relativas ao desempenho das entidades.
2.1 TEORIA DA DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA
As empresas européias têm a preocupação em prestar esclarecimentos à
sociedade e ao Estado com o mesmo nível de exigência que servem aos seus
acionistas. Hendriksen e Breda (1999, p. 515) apresentam algumas considerações a
respeito da divulgação a grupos de interesses sobres os países do referido
continente:
Outras partes do mundo, particularmente a Europa, tendem a dar uma resposta mais ampla à pergunta “Para quem”? em particular, tendem a colocar os interesses dos funcionários e do estado no mesmo nível dos acionistas. A importância da participação dos acionistas na propriedade da empresa é diminuída em favor da noção mais ampla de preocupações de vários grupos de interesse. O efeito dessa posição é a alteração da natureza do processo de divulgação. As empresas francesas, por exemplo, são obrigadas a apresentar um balanço social a um conselho de funcionários da empresa a cada ano. Esses conselhos são compostos por trabalhadores e executivos.
O trabalho de Verrecchia (2001) destaca-se quando nos referimos a respeito
da Teoria da Divulgação Voluntária, apresentando uma percepção analítica
observando os modelos matemáticos desenvolvidos pela teoria para explicar e
prever fenômenos relacionados ao disclosure.
Verrecchia (2001) classifica os trabalhos anteriores sobre o assunto em três
classes: pesquisa sobre divulgação baseada em associação, tendo como objetivo
18
principal estabelecer uma relação entre a divulgação e as alterações na conduta dos
investidores, principalmente através da performance dos preços dos ativos em
equilíbrio e do volume de negociação.
A pesquisa sobre divulgação baseada em julgamento, que abrange estudos
que apresentaram os motivos da divulgação, ou seja, procuram examinar com
detalhes os gestores e/ou empresas que decidem divulgar determinadas
informações.
A pesquisa sobre divulgação baseada em eficiência, que compreende que as
pesquisas a respeito das configurações de divulgação são as preferidas, na
ausência de conhecimento passado sobre a informação, ou seja, como a divulgação
não foi realizada pode ser caracterizada, portanto como sendo ex ante, essa
categoria discute quais os tipos de divulgação mais eficientes.
Características da Divulgação Categorias de
Pesquisa Momento de Ocorrência da divulgação (ex
ante ou ex post) Processo de Divulgação (endógeno
ou exógeno) Associação ex post Exógeno Julgamento ex post Endógeno Eficiência ex ante não aplicável
Quadro 1: Características da Divulgação das Categorias de Pesquisa Fonte: Salotti e Yamamoto (2005, p.56).
A pesquisa sobre a divulgação voluntária do balanço social enquadra na
classe proposta por Verrecchia (2001), divulgação baseada em julgamento. Assim, a
divulgação do balanço social é tida como endógena e quais, incentivos que os
gerentes e ou a empresa têm para divulgar a informação.
O autor ainda afirma que as pesquisas sobre divulgação baseada em
julgamento demonstram que as empresas podem escolher publicar ou não uma
19
informação e, tal prática, pode ser explicada por algumas características da própria
empresa, tais como: capacidade, desempenho, dentre outros atributos.
Dye (2001, p. 184) discorda parcialmente de Verrecchia (2001) ao ressaltar
que a teoria das divulgações voluntárias é um caso especial da teoria dos jogos com
a premissa central de que qualquer entidade contemplando fazer uma divulgação,
irá divulgar informação favorável à empresa e não as informações desfavoráveis.
Esta teoria é mais interessante na luz que ela lança sobre como interpretar o silêncio
ou, mais geralmente, menos do que a divulgação completa.
Dye (2001) demonstra um exemplo de aplicação dessa teoria ao considerar
um vendedor de carros que exalta a confiabilidade de um carro, mas não menciona
o seu desempenho. A teoria permite-nos concluir que o desempenho do carro não é
muito bom.
Segundo Salotti e Yamamoto ( 2005, p.59), um entendimento importante para
fornecer embasamento teórico para esse tipo de pesquisa é o conceito da seleção
adversa:
A lógica desse conceito pode ser percebida quando um comprador racional interpreta informação não divulgada como uma informação não favorável sobre o valor ou qualidade do ativo. Desse modo, a estimativa do valor do ativo passa a ser adversa, ou seja, na falta de informação, os investidores descontam o valor dos seus ativos até o momento em que se torna interessante para a firma revelar a informação mesmo desfavorável. A noção de que determinada informação não divulgada pode ser revelada em função do comportamento dos investidores é um resultado seminal que fornece base a quase todas as pesquisas sobre esse tópico.
De acordo com Salotti e Yamamoto ( 2005, p. 67-68), os jogos apresentam
algo característico de um conjunto de regras que definem quais são os jogadores, as
suas ações possíveis e o conjunto de resultados disponíveis para cada jogador. O
processo de divulgação poderia ser entendido como um jogo de dois jogadores (o
jogador 1 são a firma e/ou gestores versus jogador 2 que são os investidores). Os
20
estudos baseados em julgamento tratam como endógeno o processo de divulgação
e procuram examinar de que maneira os gestores e/ou empresas decidem divulgar
determinados resultados. Segundo os autores, neste caso, o jogo é estudado do
ponto de vista do jogador 1, isto é, a empresa e/ou gestores avaliam a sua decisão
com base na ações dos investidores.
Segundo a Teoria da Divulgação Voluntária (VERRECCHIA, 2001; DYE,
2001), as empresas divulgam poucas informações negativas a seu respeito de forma
voluntária.
2.2 ESTUDOS SOBRE A DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA
Estudos foram realizados em outros países sobre o tema. Um deles é o de
Campbell (2004) referente ao Reino Unido, que analisou os relatórios anuais de 10
companhias no período de 1974 a 2000 e registrou o volume da divulgação
voluntária. Os resultados obtidos indicaram um aumento no volume geral da
divulgação social e ambiental neste período. Além disso, indicaram uma associação
positiva entre divulgação social e ambiental e o nível de vulnerabilidade de alguns
setores à ocorrência de passivos ou críticas ambientais.
De acordo com Neimark (1992), o tema social e ambiental permite à
contabilidade uma oportunidade de reflexão acerca de sua importância como
instrumento de mensuração e divulgação das informações.
Em Hong Kong, Gao, Heravi e Xiao (2005) pesquisaram os determinantes do
disclosure ambiental e social corporativo nos relatórios anuais de algumas
companhias listadas em bolsas, e identificaram que existe uma correlação positiva
entre o tamanho da empresa e o nível de disclosure.
21
Rafournier (1995) em sua pesquisa verificou a extensão da divulgação
voluntária, e o resultado encontrado foi que o tamanho e o grau de
internacionalização foram variáveis relevantes para a divulgação voluntária. O autor
examinou também o endividamento, lucratividade e porte de auditoria das empresas.
2.3 DIVULGAÇÃO DO BALANÇO SOCIAL NO BRASIL
Cunha e Ribeiro (2008) pesquisaram os motivos que levariam as companhias
negociadas no mercado de capitais brasileiro a divulgar informações de natureza
social. A amostra verificada pelos autores foi composta de 183 companhias,
excluídas as empresas do setor energético e de participações, abrangendo vários
outros setores. Os autores analisaram períodos de divulgação voluntária do balanço
social nas empresas brasileiras até 2006 e destacam que outras relações devem ser
estudadas como: índice Bovespa de responsabilidade social, obtenção de recursos
em órgãos internacionais de fomento/desenvolvimento, porte da empresa de
auditoria, preocupações com a imagem, lucratividade e setor.
No Brasil, conforme as normas contábeis, a divulgação do balanço social não
é obrigatória. No entanto, existem orientações para a publicação dos relatórios
ambientais, tais como: a Orientação nº 15/87 da CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) já que um dos itens citados é a divulgação de informação sobre a
proteção do meio ambiente por parte da empresa; a Norma e Procedimento de
Auditoria nº 11 do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil e a Resolução nº
1003/04 do Conselho Federal de Contabilidade, que aprovou a Norma Brasileira de
Contabilidade Técnica nº 15 da Comissão de Valores Mobiliários.
22
A CVM apóia e incentiva a divulgação voluntária do balanço social, como
também considera que o balanço social apresentado em conjunto com as
Demonstrações Financeiras se torna um instrumento completo de divulgação e
avaliação das atividades empresariais.
O setor elétrico no Brasil segue a regulamentação de um agente, a Agência
Nacional de Energia Elétrica e, conforme a resolução 444/01, obriga esse setor a
divulgar o balanço social de acordo com o Manual de Elaboração do Relatório Anual
de Responsabilidade Socioambiental das Empresas de Energia Elétrica.
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), através do Pronunciamento
Técnico (CPC 09), estabelece critérios para a elaboração e apresentação da
Demonstração do Valor Adicionado (DVA) que faz parte do balanço social. A DVA
contempla a riqueza gerada pela empresa e como esta é distribuída.
A Internacionalização dos padrões de qualidade ambiental descrito na
ISO140003, a Lei 10.165/20004 que trata sobre a Política Nacional de Meio
Ambiente, a globalização e a conscientização dos consumidores permitem antecipar
a exigência futura da divulgação do balanço social. Na contabilidade, os meios
usuais de divulgar as informações são os demonstrativos contábeis, a contabilidade
tem passado por grandes avanços no que se refere à responsabilidade social e ao
meio ambiente, um exemplo de mudanças foi a Lei 11638/075 que alterou a Lei
6.404/76 e, a partir dela, tornou obrigatória a elaboração e divulgação da DVA
(Demonstração do Valor Adicionado) somente para companhias abertas, sendo a
DVA um demonstrativo que é um componente do balanço social.
3 ISO 14000 é uma série de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization (ISO) e que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de empresas. 4 Lei 10165/2000 no anexo VIII classifica as empresas poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais. 5 A Lei 11638 de 28/12/2007 altera e revoga dispositivos da lei 6404 de 15/12/1976 Lei das S/A.
23
Segundo o IBASE6, o balanço social é um demonstrativo divulgado de forma
voluntária anualmente por algumas empresas do Brasil. Nele a empresa divulga os
gastos e investimentos feitos em benefício dos funcionários e em benefício da
sociedade, demonstrando que a empresa busca melhorar a qualidade de vida para
todos e ainda proporciona informações sobre o meio ambiente e a formação e
distribuição da riqueza gerada pelas empresas, que é o Valor Adicionado.
De acordo com Calixto, Barbosa e Lima (2007, p. 86),
As empresas, de um modo geral, divulgam informações contábeis e financeiras aos interessados pelo seu desempenho econômico. Esses usuários podem ser, por exemplo, acionistas, investidores ou analistas de mercado, que avaliam o valor das ações das empresas. A cada dia a dinâmica do mercado financeiro tem exigido maior velocidade das informações e a Internet tem sido considerada um canal de divulgação que potencializa as oportunidades na melhoria da qualidade das informações fornecidas.
No Brasil existem três modelos mais utilizados de balanço social (GRI,
Instituto Ethos e IBASE), entretanto, apesar dos modelos existentes, algumas
empresas criam formatos próprios para elaboração do balanço social.
Segundo o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2011), o
Global Reporting Initiative (GRI) é um modelo de balanço social que demonstra os
indicadores de desempenho econômico, e as fontes de referência, sendo ainda
considerado bastante divulgado internacionalmente, e considerado o mais completo
e abrangente.
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2011) expõe um
modelo de balanço social que demonstra as ações da organização e o contexto das
tomadas de decisão. 6 Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas (Ibase), criado em 1981. Trata-se de uma instituição sem fins lucrativos, sem vinculação religiosa ou partidária cuja missão é “aprofundar a democracia, seguindo os princípios de igualdade, liberdade, participação cidadã, diversidade e solidariedade”. Cf. http://www.ibase.br/
24
De acordo com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, o
modelo IBASE evidencia os números associados à responsabilidade social da
organização, informações sobre a folha de pagamentos, gastos com funcionários e
participação nos lucros, informa as despesas com controle ambiental e os
investimentos em várias áreas.
Segundo o IBASE (2011), no Brasil, a elaboração anual de demonstrativos
com informações sociais se destacou no momento que o sociólogo Hebert de Souza,
o “Betinho” começou uma campanha pela divulgação voluntária do balanço social.
O IBASE criou o “selo balanço social Ibase/Betinho” para as empresas que
publicam o balanço social todo ano no padrão da organização. Sendo assim, as
empresas utilizam deste selo em propagandas por meio de suas embalagens,
anúncios, dentre outros. Não existe consenso quanto ao padrão para divulgação do
balanço social, se é livre ou padronizado, ou sobre o que ele deve conter. Várias
empresas brasileiras já vêm divulgando seus balanços sociais e o fazem no modelo
IBASE ou similar.
Kroetz (2000, p.71) afirma que o balanço social deve demonstrar quais as
políticas praticadas.
O balanço social deve demonstrar claramente quais as políticas praticadas, seus reflexos no patrimônio, objetivando evidenciar a participação delas no processo de evolução social. Sem essa prática, jamais uma empresa poderá apresentar pleno êxito em programas de qualidade, pois tal intenção exige quebra de preconceitos, transparência administrativa e uma constante e ininterrupta ligação da organização com seus funcionários, acionistas, fornecedores, sociedade em geral, entre outros interessados.
O IBASE, em parceria com vários setores da sociedade, desenvolveu um
modelo para divulgação das informações com a intenção de estimular o maior
número de empresas a publicar seu balanço social, seja qual for o ramo de atividade
ou tamanho da empresa.
25
O IBASE também é a favor da elaboração do balanço social no modelo
simplificado dos dados, pois assim seria possível avaliar melhor a função social da
empresa durante vários anos.
Ferreira (2003, p. 108) destaca que o impacto que as empresas causam ao
meio ambiente deve ser evidenciado através da contabilidade.
A contabilidade Ambiental não é outra contabilidade; assim, todos os eventos econômicos ou fatos contábeis relativos a ações realizadas pela Entidade que, por conseqüência, causem impacto ao meio ambiente, devem ser reconhecidos e registrados pelo sistema contábil. Portanto, o Balanço Patrimonial, a Demonstração de Resultado do Exercício e demais informes, as Notas Explicativas e, quando houver, o Balanço Social e a Demonstração do Valor Adicionado são as peças contábeis adequadas para evidenciar como essa questão está sendo tratada pela organização.
Segundo o IBASE os analistas de mercado e os órgãos de financiamento
como o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e a International Finance Corporation (IFC) já adicionaram o
balanço social na lista dos documentos necessários para se avaliar e conhecer as
projeções e riscos de uma empresa.
26
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa pode ser caracterizada como uma pesquisa quantitativa
e de caráter explicativo. Nesta pesquisa serão analisados os potenciais
determinantes da divulgação voluntária do balanço social no Brasil por empresas
listadas na BM&FBOVESPA e pertencentes a setores de atividades potencialmente
poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, as quais divulgam voluntariamente
o balanço social. A metodologia econométrica baseou-se na estimação de um
modelo probit aplicado aos dados em painel, o período analisado foi de 2008 a 2010.
3.1 SELEÇÃO DA AMOSTRA
Para a definição da amostra da presente pesquisa utilizou-se como referência
a Lei nº 10.165/2000, que classifica as atividades econômicas e trata sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente.
Foram excluídas da amostra as empresas do setor de energia elétrica, de
acordo com a Resolução nº 444 de 26 de dezembro de 2001 da Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANNEL) existe a obrigatoriedade da divulgação do Balanço
Social para esse setor.
Nesse sentido a amostra utilizada contém 145 empresas para os anos de
2008, 2009 e 2010 perfazendo um total de 435 observações pertencentes à
categoria de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos
ambientais listadas na BM&FBOVESPA.
27
O quadro 2 apresenta as categorias de tais atividades conforme o anexo VIII
da Lei 10.165/2000, onde as categorias das atividades econômicas estão
classificadas conforme seu Potencial de Poluição (PP), risco que uma atividade
econômica oferece de poluir o meio ambiente, sendo Alto e Médio e seu Grau de
Utilização (GU) de recursos naturais, nível de exploração dos recursos ambientais
por parte das empresas de determinada atividade econômica, sendo Alto, Médio e
Pequeno.
Código Categoria PP GU
1 Extração e Tratamento de Minerais Alto Alto 2 Indústria de Produtos Minerais Não Metálicos Médio Médio 3 Indústria Metalúrgica Alto Alto 4 Indústria Mecânica Médio Médio 5 Indústria de material Elétrico, Eletrônico e Comunicações Médio Médio 6 Indústria de Material de Transporte Médio Médio 7 Indústria de Madeira Médio 8 Indústria de Papel e Celulose Alto 9 Indústria de Borracha Pequeno
10 Indústria de Couros e Peles Alto 11 Indústria Têxtil, de Vestuário, Calçados e Artefatos de Tecidos Médio
12 Indústria de Produtos de Matéria Plástica. Pequeno 13 Indústria do Fumo Médio 14 Indústrias Diversas Pequeno 15 Indústria Química Alto 16 Indústria de Produtos Alimentares e Bebidas Médio 17 Serviços de Utilidade Médio 18 Transporte, Terminais, Depósitos e Comércio Alto 19 Turismo Pequeno 20 Uso de Recursos Naturais Médio
Quadro 2: Categorias de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais. Fonte: Lei 10.165/2000
A maioria das pesquisas é realizada com empresas de capital aberto com
ações negociadas na Bovespa, pois as empresas de capital fechado não têm
obrigação de publicar suas demonstrações contábeis e financeiras. Portanto, as
informações por empresas de capital aberto estão disponíveis para pesquisa.
28
Os quadros 3, 4 e 5 apresentam a quantidade de empresas dos setores
estudados que publicaram ou não o balanço social. Os dados foram coletados por
meio dos sítios das próprias empresas listadas na BM&FBOVESPA.
Classificação Setorial – 2008 Nº empresas % de Realizou
disclosure
Não realizou
disclosure Artefatos de Ferro e Aço 7 4,40% 1 6 Fertilizantes e Defensivos 2 1,26% 0 2 Indústria de material elétrico, eletrônico 13 8,18% 3 10 Indústria de produtos alimentares e Bebidas 21 13,21% 1 20 Indústria Diversas 19 11,95% 5 14 Indústria do Fumo 2 1,26% 1 1 Indústria embalagens 3 1,89% 0 3 Indústria Tecidos, Vestuário e Calçados 34 21,38% 2 32 Madeira 3 1,89% 1 2 Mineração 9 5,66% 2 7 Papel e Celulose 6 3,77% 3 3 Petróleo e Gás 7 4,40% 5 2 Petroquímicos 3 1,89% 1 2 Químicos Diversos 2 1,26% 0 2 Siderurgia 6 3,77% 1 5 Transporte , Terminais, Depósitos e Comércio 16 10,06% 3 13 Uso de recursos naturais 6 3,77% 2 4 Total 159 100 31 128 Quadro 3: : Empresas por classificação setorial que realizaram disclosure e que não realizaram disclosure, ano 2008. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa.
29
Classificação Setorial – 2009 Nº empresas % de Realizou
disclosure
Não realizou
disclosure Artefatos de Ferro e Aço 6 3,64% 0 6 Fertilizantes e Defensivos 2 1,21% 0 2 Indústria de material elétrico, eletrônico 14 8,48% 3 11 Indústria de produtos alimentares e Bebidas 24 14,55% 1 23 Indústria Diversas 20 12,12% 4 16 Indústria do Fumo 2 1,21% 1 1 Indústria embalagens 3 1,82% 0 3 Indústria Tecidos, Vestuário e Calçados 34 20,61% 4 30 Madeira 2 1,21% 1 1 Mineração 11 6,67% 2 9 Papel e Celulose 6 3,64% 4 2 Petróleo e Gás 9 5,45% 6 3 Petroquímicos 3 1,82% 2 1 Químicos Diversos 2 1,21% 0 2 Siderurgia 6 3,64% 2 4 Transporte , Terminais, Depósitos e Comércio 17 10,30% 3 14 Uso de recursos naturais 4 2,42% 2 2 Total 165 100 35 130 Quadro 4: Empresas por classificação setorial que realizaram disclosure e que não realizaram disclosure, ano 2009. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa.
Classificação Setorial – 2010 Nº empresas % de Realizou
disclosure
Não realizou
disclosure Artefatos de Ferro e Aço 6 3,64% 0 6 Fertilizantes e Defensivos 2 1,21% 0 2 Indústria de material elétrico, eletrônico 15 9,09% 4 11 Indústria de produtos alimentares e Bebidas 25 15,15% 3 22 Indústria Diversas 19 11,52% 5 14 Indústria do Fumo 2 1,21% 1 1 Indústria embalagens 3 1,82% 0 3 Indústria Tecidos, Vestuário e Calçados 34 20,61% 7 27 Madeira 2 1,21% 1 1 Mineração 10 6,06% 2 8 Papel e Celulose 6 3,64% 4 2 Petróleo e Gás 9 5,45% 8 1 Petroquímicos 3 1,82% 2 1 Químicos Diversos 2 1,21% 0 2 Siderurgia 6 3,64% 3 3 Transporte , Terminais, Depósitos e Comércio 17 10,30% 4 13 Uso de recursos naturais 4 2,42% 3 1 Total 165 100,00% 47 118 Quadro 5: Empresas por classificação setorial que realizaram disclosure e que não realizaram disclosure, ano 2010. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa
30
Conforme será apresentado na seção 3.3, o método para a estimação da
amostra será um probit sobre dados em painel. A técnica de utilização com dados
em tal formato são subdivididas em duas categorias: painel balanceado e painel
desbalanceado.
Para o estudo em questão, elegeu-se utilizar o painel balanceado, onde todas
as empresas da amostra divulgaram o balanço social nos três anos em estudo. Caso
fossem utilizadas todas as empresas pertencentes aos três quadros supracitados,
haveria necessidade de utilizar técnicas para dados em painel desbalanceado, pois
não há uniformidade no período de divulgação em todas as empresas, ou seja, há
empresas que divulgaram apenas em um único ano, mas não nos demais e assim
por diante.
Com tal configuração, trataríamos a amostra como painel desbalanceado,
mas implicaria em utilização de técnicas econométricas não convencionais e,
principalmente, os resultados obtidos não seriam assintoticamente confiantes, pois a
amostra utilizada, em face do problema de pesquisa, não é grande o suficiente para
a aplicação de tais técnicas (WOOLDRIDGE, 1999).
3.2 COLETA DE DADOS
A coleta de dados ocorreu pela base de dados Economática, e a partir da
amostra de cada ano, foram verificadas no sítio da BM&FBOVESPA as empresas
elegíveis ao ISE7 e por meio das demonstrações financeiras as empresas de
7 O ISE é uma ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na BM&FBOVESPA sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa (BM&FBOVESPA,2012).
31
Auditoria, a verificação da divulgação do balanço social foram por meio do sítio
IBASE e os sítios das próprias empresas.
3.3 MODELOS PROBIT
Os modelos de escolha qualitativa são aqueles relativos a uma variável
dependente que assume somente escolhas de uma ou mais alternativas qualitativas.
Segundo Pindyck (2004), quando uma variável dependente é binária a aplicação do
modelo de regressão linear é mais complexa que aquela relativa à presença de
variáveis binárias como sendo variáveis explicativas (variáveis dummy). De acordo
com o autor, nos modelos de escolha binária supõe-se que os indivíduos se
defrontam com uma escolha entre duas alternativas e que esta escolha depende de
características passíveis de identificação.
O formato mais simples de modelos com variáveis dependentes qualitativas é
aquele representado pelos modelos de probabilidade linear, cuja forma de regressão
é dada por:
(1.1)
Neste contexto, a variável dependente pode ser definida da seguinte forma:
= {1 = SIM e 0 = NÃO }
O termo erro é uma variável aleatória distribuída de forma independente e
com média igual a zero.
32
A equação acima (1.1) pode ser interpretada da seguinte forma:
(1.2)
No presente caso, assume-se que somente pode admitir dois valores, 1 e 0.
Segundo Pindyck (2004), a probabilidade de distribuição de Y pode ser descrita por
e .
Assim:
(1.3)
Desta forma, o modelo de probabilidade linear é descrito, geralmente, da
seguinte maneira:
Assim, permite-se que a variável dependente seja interpretada como uma
probabilidade cuja distribuição de probabilidade do termo de erro do modelo seja
determinada pela substituição dos valores de (1 e 0) na equação (1.1). Supondo
um termo de erro igual à zero, a relação entre e pode ser descrita como:
Resolvendo para é possível verificar que:
(1.4)
(1.5)
Para tanto, temos que o termo de erro é dado por:
33
Desta forma, mostra-se que o termo de erro é heterocedástico, resultando em
perda de eficiência, mas, a estimação por mínimos quadrados permanece
consistente e não tendenciosa.
Contudo, como pode ser visto em Pindyck (2004), diversos problemas estão
relacionados aos modelos de probabilidade linear, cuja principal debilidade do
modelo se refere à possibilidade de valores previstos fora do intervalo (0,1),
conduzindo a valores de probabilidade de ocorrência para Y maiores que 1 ou
menores que 0. Assim, é natural transformar o modelo original de tal forma que suas
previsões estejam dentro do intervalo (0,1) para todos os X. Pindyck (2004) sugerem
o uso de uma função de probabilidade acumulada, “F”, dessa forma:
(1.6)
Quando se considera uma função de probabilidade normal acumulada, tem-se
o modelo Probit8. Cabe observar que não se tem observações sobre , mas tem-se
apenas dados para distinguir se observações individuais estão em uma categoria
(valores elevados para ) ou em uma segunda categoria (valores baixos de ).
Desta forma, a análise Probit soluciona o problema de como obter estimativas dos
parâmetros e ao mesmo tempo em que se obtêm informações com respeito ao
índice subjacente. De modo mais específico, suponhamos como um parâmetro
divisório das duas categorias. Assim:
Assim, o modelo Probit considera uma variável aleatória com distribuição
normal, que, quando padronizada se escreve:
8 Quando se considera uma função de probabilidade logística acumulada tem-se o modelo Logit.
34
(1.7)
Assim, “s” é uma variável aleatória com distribuição normal, média zero e
variância igual a um. Assim, de modo a obter uma estimativa do índice , aplicamos
o inverso da função normal acumulada à equação (1.7):
(1.8)
Por fim, é possível verificar que o modelo Probit é mais atraente que o modelo
de probabilidade linear, e que este envolve a estimação por máxima verossimilhança
não linear.
Assim, de acordo com Wooldridge (2005), nos modelos de resposta binária, o
objetivo principal é explicar os efeitos de na probabilidade de resposta . A
formulação com a variável latente tende a dar a impressão de que estamos
interessados prioritariamente nos efeitos de cada uma das variáveis explicativas em
. Contudo, tanto para o modelo Probit quanto para o modelo Logit, a direção dos
efeitos das variáveis explicativas em e em
são sempre as mesmas. Mas, a variável latente
raramente tem uma unidade de medida bem definida. Assim, a magnitude dos
coeficientes relativos a cada uma das variáveis explicativas, não são, por eles
mesmos, especialmente úteis. Assim, quando olhamos para os coeficientes
individuais, o que importa é sua magnitude relativa, e não seu tamanho absoluto.
Nesse sentido o presente estudo utilizará a seguinte equação para realizar as
estimações:
, onde
Dit é a variável dependente (Y), ou seja: Dit é 1 se a empresa divulga e 0 se
não divulga o balanço social.
35
ISEit é se a empresa participa do índice ou não;
BFit se a empresa é auditada pelas “Big Four” ou não;
ATit é o Ativo total da companhia valores em reais;
LUCit é o valor obtido pela divisão do lucro líquido sobre a receita líquida
(lucratividade);
D1i Dummy utilizada para captar os efeitos de dois setores outliers da variável
LUCit apresentadas na seção resultados;
BRi se a empresa é nacional ou não;
O termo erro é uma variável aleatória distribuída de forma independente e
com média igual a zero.
3.4 PROXIES E VARIÁVEIS UTILIZADAS
Nesta pesquisa foram definidas as seguintes variáveis: preocupação com a
imagem, tamanho, setor, porte da empresa de auditoria, lucratividade e
internacionalização.
A divulgação do balanço social será medida por uma variável dicotômica, que
assume valor zero caso a empresa não divulgue o balanço social, ou valor um, se a
divulgação voluntária do balanço social ocorrer.
Empresas que fazem parte do índice de sustentabilidade empresarial (ISE)
Bovespa será uma proxy para a variável preocupação com a imagem. Nota-se que
algumas empresas têm procurado associar sua imagem empresarial a idéia de
sustentabilidade. Empresas integrantes do ISE são aquelas comprometidas com a
sustentabilidade, diferenciando-os em termos de qualidade, nível de compromisso
com o desenvolvimento sustentável, transparência e prestação de contas, natureza
36
do produto, além do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira,
social e ambiental (BM&FBOVESPA,2012). Seria como ter uma qualidade
reconhecida pelos stakeholders, o ISE é considerado referência de boas práticas de
sustentabilidade e responsabilidade social corporativa no Brasil.
O Ativo total será uma proxy utilizada para definir o tamanho da empresa.
Barako (2006) investigou em sua pesquisa que quanto maior a empresa, o mais
provável é que elas vão fazer divulgações voluntárias. Com base no estudo
realizado em todo o mundo, por exemplo, Ho e Wong (2001) sugeriram as razões
pelas quais as empresas maiores divulgam mais informações. As razões propostas
são de que os gestores de grandes empresas são mais propensos a realizar os
possíveis benefícios de uma melhor divulgação e pequenas empresas são mais
propensas a sentir que a divulgação completa de informações poderia pôr em risco a
sua posição competitiva. Neste estudo, o Ativo Total será utilizados como medida do
tamanho da empresa.
A atividade econômica será uma proxy utilizada para a variável setor.
Empresas de auditoria pertencentes ao grupo das Big Four, nomenclatura utilizada
para se referir às quatro maiores empresas especializadas em auditoria (KPMG,
Pricewaterhousecoopers, Deloitte Touche e Erns & Young) será uma proxy utilizada
para a variável auditoria. O lucro líquido dividido pelo valor total de vendas é uma
proxy utilizada para a variável lucratividade.
37
4 RESULTADOS
4.1 RESULTADOS APLICANDO O MODELO PROBIT EM PAINEL
Os dados em painel permitem acompanhar a mesma unidade de referência,
no nosso caso a divulgação do balanço social, ao longo do tempo. A vantagem da
utilização dessa metodologia é a possibilidade de explorar a dimensão temporal e
espacial dos dados, o nosso estudo é a divulgação voluntária (divulgar ou não). Os
dados em painel podem dar-se por efeitos fixos ou aleatórios.
Quando utilizamos como variáveis dependentes qualitativas binárias, resposta
sendo 1 (um) para sim e 0 (zero) para não, como é o caso se divulgar ou não o
balanço social, é recomendável a utilização de modelo Probit. Com esse método é
possível obter a probabilidade de que um determinado evento ocorra.
O modelo Probit no painel estimará os efeitos das variáveis na probabilidade
de divulgar o balanço social.
4.1.2 Análise Gráfica
De forma preliminar, os dados mostram a evolução da divulgação do balanço
social nos três anos apurados, conforme Gráfico 1.
38
30 34 44
2008 2009 2010
Gráfico 1 – Evolução da divulgação do balanço social Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.
Percebe-se uma dominância maior das empresas nacionais com a
preocupação em divulgar o balanço social. Tal fato pode ser explicado pela cultura
administrativa exportada para tais empresas que ainda não enxergam a importância
em se publicar o balanço social, conforme Gráfico 2.
4
26
4
30
4
40
Estrangeira Nacional
2008 2009 2010
Gráfico 2 – Nacionalidade das divulgações do balanço social. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.
Dentre os totais divulgados, é possível analisar qual setor da amostra para o
presente estudo é mais intensivo em divulgações conforme Gráfico 3.
39
1 0 1 0
2
0
3
5
1
2
3
5
1 0 1
3
2
1 0 1 0
4
0
3
4
1
2
4
5
2
0
2
3
22
0 1 0
7
0
4
5
1
2
4
6
2
0
3
4
3
2008 2009 2010
Gráfico 3 – Divulgação do balanço Social por setor. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.
De modo a analisar tal relação com as variáveis explicativas do modelo temos
o seguinte comportamento para o Ativo Total e para a Lucratividade conforme
gráficos 4 e 5 respectivamente.
-
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
2008 2009 2010
Gráfico 4 – Ativo total por setor em R$ 000 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.
40
-800%
-700%
-600%
-500%
-400%
-300%
-200%
-100%
0%
100%
200%
300%
2008 2009 2010
Gráfico 5 - Lucratividade por setor em %. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.
Os gráficos acima apresentam o comportamento das variáveis quantitativas
para a estimação do modelo. Previamente, faz-se necessário tal análise, para que
sejam apuradas o comportamento de ambas para que não ocorra problemas na
inferência dos resultados em virtude do comportamento característicos das variáveis.
A variável lucratividade é a razão entre o lucro líquido e a receita líquida.
Quando analisamos graficamente o comportamento dessa variável no gráfico 5
percebemos um comportamento característico dessa variável entre os setores, onde,
especificamente, o setor de Tecidos e o Diversos (outliers) apresentam um
comportamento que pode prejudicar a estimação do modelo.
Para capturar esse efeito de modo a não prejudicar a inferência do modelo
proposto, utilizou-se uma dummy (D1) para que tal variação abrupta dos mesmos
não gere uma tendência nas estimações9 (WOOLDRIDGE, 1999).
9 A tendência mencionada é chamada de viés na literatura econométrica. Maiores detalhes ver em Gujarati (2005).
41
No tocante a variável AT, não se fez necessário a utilização de tal recurso
(dummy), isso por que o setor de Petróleo e Gás apresentou o mesmo
comportamento em todos os anos. Não houve um único comportamento
característico em que pudesse gerar problemas dessa variável quando da estimação
da função estrutural. Diferentemente do ocorreu com a variável lucratividade onde
dois setores não apresentaram o mesmo comportamento característico nos três
anos de análise.
4.1.3 Resultados da Estimação
Conforme salientado no início da seção metodologia, realizou-se a análise
com os dados em painel para verificarmos se a interpretação deve ser feita
considerando efeitos fixos ou efeitos aleatórios.
Para o presente estudo, considerou-se como estimador a ser testado o
modelo de efeitos aleatórios e o estimador alternativo como sendo os efeitos fixos.
Nesse sentido, ao apurarmos o referido teste, contatamos que o estimador por
efeitos fixos é mais consistente do que para efeitos aleatórios.
Mas para interpretarmos a magnitude de cada variável sobre a probabilidade
de divulgar ou não, é necessário realizar o cálculo dos efeitos marginais, conforme
salientado na seção de metodologia.
Aplicado o modelo probit para a amostra selecionada temos os seguintes
resultados conforme Tabela 1.
42
TABELA 1: CÁLCULOS DOS EFEITOS MARGINAIS
dy/dx Erro padrão Significância
ISE 1.868904 0.64126 0.004
BF 1.235667 0.6610 0.062
AT 6.27e-08 0.00000 0.087
LUC 0.5668966 0.69034 0.412
BR 2.030754 2.53413 0.423
D1 0.0278989 0.74809 0.970 Fonte: Resultados da pesquisa
Com a Tabela 1 acima podemos analisar a relevância das variáveis para
responder se sua variação aumenta ou diminui a probabilidade de uma determinada
empresa da amostra divulgar o balanço social. Percebemos que as variáveis
relevantes são a participação no índice ISE, ser auditada por uma das quatro
grandes empresas do ramo (variável BF) e o tamanho da companhia (variável AT).
Podemos então inferir que a empresa que participa do ISE apresenta 1,86
pontos percentuais de probabilidade em divulgar o balanço Social. Por sua vez,
empresas auditadas pelas quatro maiores empresas de auditoria apresentam 1,23
pontos percentuais, sendo ambas as variáveis de maiores pesos para determinar a
probabilidade em realizar a divulgação.
O Resultado significativo da variável Big Four corrobora com a pesquisa de
Ahmad, Hassan e Mohammad (2003) a respeito da divulgação das informações
ambientais, onde o autor identificou que companhias auditadas por empresas de
auditoria pertencentes ao grupo Big Four tem um maior nível de disclosure.
A variável AT, embora significativa para o modelo, não apresentou grande
relevância, sendo o seu valor apurado pelos efeitos marginais muito baixo, o que
43
não corrobora com a teoria sobre o tamanho da empresa influenciar de forma
determinante sobre a decisão de divulgar o balanço social.
As demais variáveis: lucratividade, dummy e internacionalização das
companhias, apresentaram uma relação não significativa no modelo. Tal fato permite
inferir que não há uma preocupação do ponto de vista financeiro em aderir ou não a
divulgação voluntária. Ademais, o setor diversas e tecidos não apresentam uma
relação determinante quando comparados aos demais setores coletados, por sua
vez, a internacionalização das empresas também não influencia na decisão em
aderir a divulgação do Balanço Social por apresentar um valor estatístico não
significativo no modelo proposto.
A despeito dos resultados, o trabalho procurou seguir a linha de pesquisa de
Cunha e Ribeiro (2008), onde o autor desenvolveu uma abordagem quantitativa no
tocante a Teoria da Divulgação Voluntária, descrevendo modelos matemáticos para
explicar e prever fenômenos relacionados ao disclosure.
Nesse sentido, tal pesquisa segue o mesmo preceito em realizar inferências
sobre as variáveis utilizadas para o estudo de modo a interpretar o comportamento
das companhias frente a essa nova modalidade de divulgação.
Ressalta-se, acerca dos resultados encontrados, tratar-se de uma
aproximação estatística que não devem ser analisadas como relação de causalidade
absoluta e particular de cada empresa. Embora os resultados apresentados sejam
robustos e estatisticamente significativos, conforme descrito acima, não se
preocupou em investigar com mais profundidade a peculiaridade de cada empresa e
cada setor.
44
Possivelmente, uma nova proposta de modelo com outras variáveis e um
período maior de apuração possa levar a resultados discrepantes ou concomitantes
com o presente estudo.
45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo propôs uma metodologia econométrica que possa explicar
o comportamento das empresas para a divulgação do balanço social. No tocante
aos resultados da pesquisa, conclui-se que o tamanho da empresa não é uma
variável determinante para as empresas aderirem ao balanço social, mas sim sua
preocupação com a imagem (conforme a significância e o resultado da variável ISE)
e as empresas auditadas por Big Four conforme resultados (BF).
Com o achado, no presente estudo, ressalta-se a importância da investigação
econométrica acerca de variáveis quantitativas (e qualitativas) sobre a apuração do
comportamento das companhias sobre a divulgação voluntária e seus interesses
frente à referida prática.
Percebe-se ainda que muitos preceitos teóricos que se fazem senso-comum
na cultura de governança, na grande maioria das corporações, são desmistificados
ao testarmos estatisticamente a relação de causalidade frente á um cenário real.
Nesse sentido, como os resultados encontrados não foram consonantes com
o que a teoria preconiza como de certo, fazem-se necessárias novas contribuições
para que, especificamente no mercado brasileiro, possamos subsidiar com novas
técnicas e novas variáveis de análise o estudo sobre a divulgação voluntária bem
como a importância da divulgação de qualquer informação relevante para o mercado
de capitais nacional.
Para futuras pesquisas, deixa-se a sugestão para que outros métodos sejam
testados e outras teorias sejam testadas, como por exemplo, o modelo probit
multinominal, e um universo maior de amostra possa ser utilizado para verificar a
46
empiricidade da Teoria da Divulgação Voluntária e inferir como tal prática pode ser
melhor difundida.
A metodologia proposta por Dye (2001), também é passível de ser testada,
muito embora para realizar a aplicação de teoria dos jogos para inferir sobre a
tomada de decisão em fazer ou não a divulgação, pode ser demasiadamente
complexa, e, por ventura, necessitar de novas variáveis que ainda não estão
disponíveis publicamente, como por exemplo, informações detalhadas dos custos
das companhias.
47
REFERÊNCIAS
AHMAD, Z.; HASSAN, S.; MOHAMMAD, J. Determinants of environmental reporting in Malaysia. Internacional Journal of Business Studies, perth, V. 11, n. 1 p. 69-90, June 2003.
AHMED, K.; COURTIS, J.K. Associations between corporate characteristics and disclosure levels in annual reports: a meta-analysis, British Accounting Review, V. 31, p. 35-61, 1999.
Balanço Social. Disponível em: <http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm>. Acesso em 21 jul. 2011
BARAKO, D. G. Factors influencing voluntary corporate disclosure by Kenyan companies. Corporate Governance: An International Review. 14 (2), 107-125, 2006.
BNDES. Disponível em : <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes...pt/.../Perfil/porte.html>. Acesso em 10 jun. 2012
BOVESPA. Dados de companhias abertas. Disponível em : <http://www.bmfbovespa.com.br/Ciaslistadas/empresas-listadas/Buscaempresalistada.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em 18 mar. 2012
CALIXTO, L.; BARBOSA, R.R.; LIMA, M. B. Disseminação de informações ambientais voluntárias: relatórios contábeis versus internet. Revista Contabilidade & Finanças. [online]. 2007, vol.18, n.spe, p. 84-95. ISSN 1519-7077. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-70772007000300008>. Acesso em 21 jul. 2011.
CAMPBELL, D. A Longitudinal and cross-sectional analysis of environmental disclosure in companies – a research note. The Britsh Accounting Review. v. 36, p. 107-117, 2004.
Comissão de Valores Mobiliários. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/indexpo.asp>. Acesso em 19 jul. 2010
Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/index.php>. Acesso em 10 out. 2011
COWEN, S.S; FERRERI, L.B.; PARKER, L.D. The impact of corporate characteristics on social responsibility disclosure: a typology and frequency based analysis. Accounting, Organisations and Society, V.12, N.2, p. 111-122, 1987.
CUNHA, J. V. A. da; RIBEIRO, M. de S. Divulgação voluntária de informações de natureza social: um estudo nas empresas brasileiras. Revista de Administração –
48
Eletrônica. São Paulo, v.1, n.1, art.6, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://www.rausp.usp.br/Revista_eletronica/v1n1/artigos/v1n1a6.pdf>. Acesso em 30 jun. 2011.
Decreto Lei nº 10.165/2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10165.htm>. Acesso em 17 nov. 2011.
DYE, R. Na evaluation of “ essas on disclosure and the disclosure literature in accounting. Journal accounting. and Economics, V, 32, p. 181-235, 2001.
ETHOS. Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Disponível em: <http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/Default.aspx>. Acesso em 12 de novembro 2011.
FERREIRA, A. C. de S. Contabilidade Ambiental: uma informação para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Atlas, 2003. 138 p.
GAO, S.S.; HERAVI, S; XIAO, J.Z. Determinants of corporate social and environmental reporting in Hong Kong: a research note. Accounting Forum. V. 29, p. 233-242, 2005.
GUJARATI, D. N. Econometria Básica. São Paulo: Pearson Makron Books. Ed.3. 2005.
GRI – Global Reporting Initiative. Disponível em: <http://www.globalreporting.org/Home>. Acesso em 12 de novembro de 2011.
HACKSTON, D.; MILNE, M. J. Some determinants of social and environmental disclosures in New Zealand companies. Accounting, Auditing & Accountability Journal. V.9, n. 1, p.77-108,1996
HENDRIKSEN, E. S.; BREDA, M. F.V. Teoria da Contabilidade. Tradução de Antonio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Atlas, 1999. 515p.
Ho, S.S.M., & Wong, K.S. A study of corporate disclosure practices and effectiveness in Hong Kong. Journal of International Financial Management and Accounting, 12(1), 75-101, 2001.
IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Disponível em: <http://www.ibase.br/index.php>. Acesso em: 21 jul. 2011.
KPMG. KPMG - International Survey of Corporate Responsibility Reporting 2005. Disponível em: <http://www.kp´mg.com.au/Portals/O/KPMG%20sURVEY%202005_3.PDF>. Acesso em: 10 mar. 2012.
KROETZ, C.E.S. Balanço Social: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2000.
49
LANG, M; LUNDHOLM, R. Cross-sectional determinants of analyst ratings of corporate disclosure. Journal of Accounting Research, USA, v.31, n.2, p.246-271, Autumn 1993.
LIU, X.; ANBUMOZHI, V. Determinant factores of corporate environmental information disclosure; an empirical study of chinese listed companies. Journal of Cleaner Production, v. 17 (6), p.593-600, 2009
MICHELON, G. Sustainability Disclosure and Reputacion, a comparative study. Universita Deglo Studidi padova. Whorking Paper n. 44, set. 2007.
MURCIA, F. D. Fatores determinantes do nível de disclosure voluntário de companhias abertas no Brasil. 182p. 2009. Tese (Doutorado em Controladoria e Contabilidade). Faculdade de Economia e Administração. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde-16122009-121627/>. Acesso em: 17 Nov 2011.
NEIMARK, M. The Hidden Dimensions of Annual Reports. London, 1992.
NOSSA, V. Disclosure ambiental: uma análise do conteúdo dos relatórios ambientais de empresas do setor de papel e celulose em nível internacional. 2002. 86p Tese (Doutorado em Controladoria e Contabilidade) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2002.
PINDYCK, R.S; RUBINFELD, D.L. Econometria: Modelos & Previsões. (Tradução da quarta edição). Rio de Janeiro, Editora Campus, 726p. 2004.
RAFOURNIER, B. The determinants of voluntary financial disclosure by Swiss listed companies. Europan Accounting Review, Spain, v.4, n.2, p.261-280 Jun. 1995.
SALOTTI, B. M.; YAMAMOTO, M. M. Ensaio sobre a Teoria da Divulgação. Brazilian Business Review. V.2, n.1, p.53-70, Jan/Jun. 2005.
RIBEIRO, M. de S., LISBOA, L. P. Balanço Social: instrumento de divulgação da interação da empresa com a sociedade. In: encontro ANPAD, 23º, 1999, Rio de Janeiro. Anais, 1999.
SULIANI, R.; TOMAZZIA, E. ; MURCIA, F. D. R. ; BORBA, José Alonso . Explicações para a divulgação voluntária ambiental no Brasil utilizando a análise de regressão em painel. RAUSP-e (São Paulo), v. 47, p. 16-30, 2012.
TINOCO, J. E. P. Balanço Social: uma abordagem da transparência e da responsabilidade pública das organizações. São Paulo: Atlas 2001.
TROTMAN, K.; Bradley, G. W. Associations between social responsibility disclosure and characteristics of companies. Accouting, Organizations and Society, v.6, n.4, p. 355, 1981.
50
VERRECCHIA, Essays on disclosure. Journal of Accouting and Economics, USA, v32, n.1-3, p.97-180, Nov.2001.
WOOLDRIDGE, J. M. Asymptotic Properties of Weighted M-Estimators for Variable Probability Samples. EconometricaSimple solutions to the Initial Conditions Problem in Dynamic Nonlinear Panel Data Models with Unobserved Heterogeneity. Journal of Applied Econometrics, v.2670, p. 13985-140654, 1999.
WOOLDRIDGE, J. M. Simple solutions to the Initial Conditions Problem in Dynamic Nonlinear Panel Data Models with Unobserved Heterogeneity. Journal of Applied Econometrics, v.20, p. 39-54, 2005.