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I Fundação Oswaldo Cruz Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS LESÕES TUMEFATIVAS DESMIELINIZANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA Stella de Aparecida Ederli Pinto dos Santos Rio de Janeiro Agosto de 2013

Fundação Oswaldo Cruz Instituto Nacional de Saúde da ... Aparecida... · Gd: gadolíneo HSV1: vírus herpes simples tipo 1 IgIV: imunoglobulina humana venosa ... radiológicas

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  • I

    Fundao Oswaldo Cruz Instituto Nacional de Sade da Mulher,

    da Criana e do Adolescente Fernandes Figueira

    DIAGNSTICO DIFERENCIAL DAS LESES TUMEFATIVAS

    DESMIELINIZANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NA INFNCIA E

    ADOLESCNCIA: REVISO SISTEMTICA DA LITERATURA

    Stella de Aparecida Ederli Pinto dos Santos

    Rio de Janeiro

    Agosto de 2013

  • II

    Fundao Oswaldo Cruz Instituto Nacional de Sade da Mulher,

    da Criana e do Adolescente Fernandes Figueira

    DIAGNSTICO DIFERENCIAL DAS LESES TUMEFATIVAS

    DESMIELINIZANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NA INFNCIA E

    ADOLESCNCIA: REVISO SISTEMTICA DA LITERATURA

    Stella de Aparecida Ederli Pinto dos Santos

    Dissertao apresentada Ps Graduao em Pesquisa aplicada Sade da Criana e da Mulher, como pr-requisito para o ttulo de Mestre em Cincias.

    Orientador: Prof. Dr. Leonardo C. de Azevedo

    Coorientadora: Prof. Dr. Tania Regina Dias Saad Salles

    Rio de Janeiro

    Agosto de 2013

  • III

  • IV

  • V

    Agradecimentos:

    Ao meu orientador, Dr Leonardo de Azevedo, e minha coorientadora, Dra Tnia

    Saad agradeo pelo apoio, orientao e sabedoria. Vocs me ensinaram

    muito alm da neurologia infantil e sempre sero exemplos pra mim;

    Dra Alessandra Penna e Costa pela idia do projeto e estmulo acadmico;

    Ao Dr Adailton Pontes e Dra Maria Alice Genofre, meus eternos mestres;

    s amigas da neurologia infantil que acompanharam meu trajeto e me

    apoiaram sempre: Livia Lobo e Carla Quero;

    A todo o corpo docente do Programa de Ps Graduao do IFF/FIOCRUZ;

    Rose Silva e Ana Rafalsky, secretrias da ps-graduao e laboratrio de

    neurofisiologia pelo auxlio;

    s Dras Maria Lucia Vellutini Pimentel e Maria Virginia Marques Peixoto que

    fizeram parte da banca de qualificao e da banca examinadora da defesa:

    pelas crticas construtivas e auxlio no aperfeioamento do projeto;

    Dra Flavia Miranda Corra pelos ensinamentos e auxlio com revises

    sistemticas;

    CAPES pelo apoio pesquisa;

    s Dras Helosa Pereira e Raquel Boy por me proporcionarem a oportunidade

    de estar no Hospital Universitrio Pedro Ernesto / UERJ e de fazer parte desta

    equipe;

    Aos amigos pela compreenso;

    Aos colegas de mestrado, pelo auxlio e momentos de descontrao: Anna

    Paula, Anna Beatriz, Antonio Bellas, Carla Castro, Daniel Silva, Lilian Arago,

    Nina Kuperman, Rovena Barcellos;

    Aos meus pais que sempre acreditaram em mim, por todo apoio e por todo o

    amor. Mais um sonho realizado, que no seria possvel sem vocs;

  • VI

    Lista de Siglas e Abreviaturas:

    Anti-AQP4: anticorpo anti-aquaporina 4

    Anti-MOG: anticorpo anti glicoprotena de mielina do oligodendrcito

    BERA: potencial evocado de tronco cerebral

    BOC: bandas oligoclonais

    D: direita

    DDs: doenas desmielinizantes

    E: esquerda

    EM: esclerose mltipla

    Gd: gadolneo

    HSV1: vrus herpes simples tipo 1

    IgIV: imunoglobulina humana venosa

    LCR: lquido cefalorraquideano; lquor

    LT: leso tumefativa

    LTD: leso tumefativa desmielinizante

    NC: nervos cranianos

    NMO: neuromielite ptica

    NR: no realizado / no relatado

    PBM: protena bsica de mielina

    PESS: potencial evocado somatossensitivo

    PEV: potencial evocado visual

    PL: puno lombar

    PMN: polimorfonucleares

    RM: ressonncia magntica

    RSL: reviso sistemtica da literatura

    SCI: sndrome clnica isolada

    SNC: sistema nervoso central

    TC: tomografia computadorizada

  • VII

    Pinto dos Santos SAE. Diagnstico Diferencial das Leses Tumefativas Desmielinizantes do Sistema Nervoso Central na Infncia e Adolescncia: Reviso Sistemtica da Literatura. Rio de Janeiro, 2013. Dissertao [Mestrado em Pesquisa Clnica] - Instituto Nacional Fernandes Figueira IFF / FIOCRUZ.

    RESUMO:

    Introduo: As leses tumefativas desmielinizantes (LTD) do SNC apresentam extrema dificuldade diagnstica em virtude da similaridade clnica e radiolgica com outras entidades nosolgicas, incluindo doenas neoplsicas, inflamatrias e infecciosas. Frequentemente, o carter indefinido das leses aponta para a necessidade de bipsia cerebral com alto risco de morbidade. Portanto, o reconhecimento das caractersticas neurorradiolgicas da LTD fundamental para evitar a utilizao de procedimentos invasivos. Na prtica clnica, os exemplos das formas tumefativas no tumorais so os seguintes: esclerose mltipla (EM), neuromielite ptica (NMO), doena de Schilder e encefalomielite agudadisseminada (ADEM). Objetivo e Mtodos: Analisar, atravs de reviso sistemtica da literatura, quais ferramentas diagnsticas clnicas, radiolgicas e laboratoriais so utilizadas pelos autores na investigao da etiologia das LTDs do SNC na infncia. Resultados: As doenas desmielinizantes encontradas foram as seguintes: EM em 36% dos casos; LTD, sem classificao especfica, em 27%; ADEM 17%;doena de Schilder 13 % e NMO 7%. De todos os casos estudados, em 45% houve recorrncia de eventos desmielinizantes. No h protocolo definido em relao aos tipos de exame solicitados nem a sequncia apropriada ou oportunidade de indic-los. Os exames mais realizados pelos autores foram os seguintes: RM de crnio, exame histopatolgico, pesquisa de bandas oligoclonais e ndice de IgG no lquor, RM de coluna e pesquisa de anticorpo antiaquaporina 4. Concluso: A anlise da literatura mostra que os dados mais relevantes para se definir o diagnstico das LTDs so obtidos atravs da histria e evoluo clnica dos pacientes, e exames de neuroimagem; fundamental que pacientes portadores de LTD sejam acompanhados a mdio/longo prazo na tentativa de aumentar as possibilidades diagnsticas; no existe protocolo universal de abordagem das LTDs; h necessidade incondicional de implementao de fluxo de procedimentos capazes de orientar o diagnstico das LTDs na infncia e adolescncia. Palavras-chave: 1. Reviso Sistemtica de Literatura; 2. Leso Tumefativa Desmielinizante; 3. Crianas; 4. Adolescentes; 5. Doenas desmielinizantes; 6. Ressonncia Magntica; 7. Esclerose Mltipla; 8. Encefalomielite Difusa Aguda Disseminada; 9. Neuromielite ptica;

  • VIII

    Pinto dos Santos SAE. Differential Diagnosis of Tumefactive demyelinating lesion in children and adolescents: Systematic Review of Literature. Rio de Janeiro, 2013. Master [Science dissertation in clinical research] - Instituto Fernandes Figueira IFF / FIOCRUZ

    ABSTRACT:

    Introduction: The tumefactive demyelinating lesions (TDL) of the CNS have extremely difficult diagnosis due to the clinical and radiological similarity with other nosological entities, including neoplastic, inflammatory and infectious diseases. Commonly, the undefined character of the lesions points to the need of brain biopsy with high risk of morbidity. Thus, the recognition of neuroradiological characteristics of the TDL is critical to avoid the use of invasive procedures. In the clinical practice, the examples of the non tumorous forms of tumefactive lesions are the following: multiple sclerosis (MS), optic neuromyelitis (ONM), Schilder`s disease and acute disseminated encephalomyelitis (ADEM). Objective and Methods: Analysis, through the systematic review of the literature, which clinic, radiological and laboratorial diagnostic tools are used by the authors in the investigation of the etiology of the TDL`s of the CNS in the childhood. Results: The following demyelinating diseases have been found: MS in 36% of the cases; TDL without a specific classification in 27%; ADEM 17%;Schilder`s disease 13 % and ONM 7%. Considering all the cases studied, in 45% had recurrence of demyelinating events. There is no defined protocol with respect to the types with medical exams requested neither the appropriate sequence or the opportunity of indicate them. The medical exams more conducted by the authors were the following: MRI of skull,histopathological exam, research of oligoclonal bands and IgGindex in the liquor, MRI of spine and research of anti-aquaporin-4 antibody. Conclusion: The analysis of the literature shows that the most relevant data to define the diagnosis of the TDLs are obtained through the history and clinical evolution of the patients and neuroimaging tests.It is critical that the patients with TDL be accompanied over the medium/long term in an attempt of increase the diagnostic possibilities; there is not an universal protocol of approach of the TDL; there is unconditional necessity of implementation of flow of procedures able to guide the diagnosis of the TDLs in the childhood and adolescence. Key-words: 1. Systematic Review of Literature; 2. Tumefactive Demyelinating Lesion; 3. Children; 4. Teenager; 5. Demyelinating Disease; 6. Magnetic Resonance Imaging; 7. Multiple sclerosis; 8. Diffuse acute disseminated encephalomyelitis; 9. Optic neuromyelitis;

  • IX

    Sumrio Introduo ...................................................................................................................... 14

    Leso Tumefativa Desmielinizante do SNC ..................................................................... 15

    Doenas Desmielinizantes na Infncia ......................................................................... 18

    Justificativa .................................................................................................................... 38

    Objetivos ........................................................................................................................ 40

    Hiptese .......................................................................................................................... 41

    Metodologia .................................................................................................................... 42

    Questo Norteadora da Reviso Sistemtica da Literatura ......................................... 43

    Identificao dos Estudos .................................................................................................. 43

    Seleo dos Estudos .......................................................................................................... 44

    Extrao dos Dados ........................................................................................................... 46

    Anlise dos Dados e Sntese da Informao ................................................................. 52

    Aspectos ticos ............................................................................................................. 53

    Resultados ..................................................................................................................... 54

    Discusso ....................................................................................................................... 67

    Concluso ...................................................................................................................... 73

    Consideraes Finais ................................................................................................... 74

    Referncias Bibliogrficas ........................................................................................... 76

    Apndices ....................................................................................................................... 82

  • X

    Lista de Quadros:

    Quadro 1: Critrios para definio de EM na infncia segundo consenso do grupo

    internacional de estudos de esclerose mltipla na Infncia (KRUPP et al, 2013),

    traduzidos pela autora. .................................................................................................... 28 Quadro 2: ADEM Definio e consenso do grupointernacional de estudos l em EM

    Peditrica (YOUNG, 2008), traduzido pela autora. ....................................................... 31 Quadro 3: Critrios diagnsticos para NMO, traduzidos pela autora (WINGERCHUCK

    et al, 2006) ...................................................................................................................... 33 Quadro 4: Critrios de SCI na Infncia (KRUPP et al, 2013) traduzidos pela autora.... 36 Quadro 5: Comparao dos critrios do grupo internacional de esclerose mltipla na

    infncia de 2007 (KRUPP, 2007) e 2012 (KRUPP, 2013) ............................................. 37

    Quadro 6: Etapas de Reviso Sistemtica. ..................................................................... 42 Quadro 7: Ficha de avaliao dos Estudos ..................................................................... 82 Quadro 8: Descrio do nmero de artigos encontrados, duplicados, excludos e

    selecionados para a Reviso Sistemtica da Literatura nas bases de dados e demais

    fontes de busca. .............................................................................................................. 83

  • XI

    Lista de Tabelas:

    Tabela 1: Extrao de dados demogrficos e anlise individual dos casos .................... 47

    Tabela 2: Extrao de dados dos sinais e sintomas ........................................................ 48 Tabela 3: Extrao de dados dos exames laboratoriais realizados ................................. 49 Tabela 4: Extrao de caractersticas da imagem na RM ............................................... 50 Tabela 5: Extrao de dados dos exames decisivos ao diagnstico etiolgico. ............. 50 Tabela 6: Etiologias das LTDs encontradas no estudo-piloto da RSL ........................... 51

    Tabela 7: Extrao de dados demogrficos e anlise individual dos casos; ................... 95 Tabela 8: Extrao de dados dos sinais e sintomas ........................................................ 97 Tabela 9: Extrao de dados dos exames laboratoriais realizados; ................................ 98 Tabela 10: Extrao de caractersticas da imagem na RM ........................................... 100

    Tabela 11: Extrao de dados dos exames decisivos ao diagnstico etiolgico. ....... 102 Tabela 12: Etiologias das LTDs encontradas na RSL .................................................. 102

  • XII

    Lista de Figuras:

    Figura 1: Possveis etiologias de uma Leso Tumefativa Desmielinizante do SNC.

    Construdo pela autora. ................................................................................................... 17 Figura 2: Histria natural da forma surto-remisso da esclerose mltipla. Traduzido e

    adaptado de KAWKINS e WOLINSKY. Principles of Treatments in Multiple Sclerosis

    - Oxford: Butterworth-Heinemann, 2000. ...................................................................... 21 Figura 3: Formas clnicas de esclerose mltipla. Traduzido e adaptado ( LUBLIN e

    REINGOLD,1996 ) ........................................................................................................ 22 Figura 4: Fluxograma PRISMA dos estudos durante as diferentes fases da RSL .......... 55 Figura 5: Sinais e sintomas dos casos analisados na RSL So descritas sintomatologias

    de 58 dos 60 casos . Os casos so mostrados naordenada e os sintomas e/ou sndromes

    na abscissa. ..................................................................................................................... 57 Figura 6: LocalizaodasLTDs de acordo com a anatomia do SNC .............................. 60 Figura 7: Localizao das LTDs adicionais no SNC ...................................................... 60

  • XIII

    Lista de Grficos:

    Grfico 1: Sintomas e/ou sndromes neurolgicas observadas nas crianas e

    adolescentes com LTD ................................................................................................... 58 Grfico 2: Resultados dos exames laboratoriais realizados no lquor e sangue ............. 59 Grfico 3: Exames diagnsticos realizados ou no (ou no relatados) em 60 pacientes 62 Grfico 4: Percentual de alteraes em exames realizados. ........................................... 63 Grfico 5: Etiologia da doena de base definida a partir do exame histopatolgico. ..... 64

    Grfico 6: Tratamento da fase aguda recebido por todos os pacientes .......................... 65 Grfico 7: Etiologia das LTDs do SNC .......................................................................... 66

  • 14

    1 - Introduo

    As desordens desmielinizantes do Sistema Nervoso Central (SNC) como

    a Esclerose Mltipla, Neuromielite ptica e Encefalomielite Aguda Disseminada

    so diagnosticadas nos exame de imagem, por leses caractersticas da

    substncia branca, e podem se apresentar como leses tumefativas definidas

    por aspectos radiolgicos especficos. Na tomografia computadorizada (TC) ou

    ressonncia magntica (RM) do crnio, as leses so dos seguintes tipos

    (RIETH et al, 1981; KEPES, 1993; DAGHER e SMIRNIOTOPOULOS, 1996):

    Leso solitria;

    Dimetro maior que 2,0 cm;

    Associao com efeito de massa, edema, e/ou captao de

    contraste perilesional;

    As Leses Tumefativas do SNC denominaes variadas, incluindo

    Esclerose Mltipla Pseudotumoral e Esclerose Mltipla Tumefativa.

    O nmero de casos descritos limitado mesmo entre adultos onde as

    desmielinizaes do SNC so mais comuns. Alm disso, a no confirmao

    etiolgica e o seguimento clnico-radiolgico tornam difcil o diagnstico

    definitivo, o que acarreta falta de consenso na literatura

    Frequentemente a dvida quanto a indefinio da leso aponta para a

    necessidade de bipsia cerebral e, portanto, alto risco de morbidade. Deste

    modo, reconhecer as caractersticas neurorradiolgicas da leso

    desmielinizante tumefativa fundamental para se evitar procedimentos

    invasivos, e at mesmo resseces errneas de tecido cerebral vivel

    (FALLAH et al, 2010). Em resumo, as LTDs do SNC so raras nos adultos e

  • 15

    nas crianas, mas sua abordagem adequada importante na diferenciao das

    doenas desmielinizantes em geral, mas, sobretudo para orientar o tratamento

    da patologia de base.

    1.1 - Leso Tumefativa Desmielinizante do SNC

    O diagnstico das leses tumefativas desmielinizantes do SNC

    desafiador em virtude da similaridade clnica e radiolgica com outras

    entidades neoplsicas, inflamatrias e infecciosas, tais como abscesso

    cerebral, tuberculose, toxoplasmose, neurocisticercose e HIV. A apresentao

    clnica da doena depende da localizao e tamanho da leso, e os sintomas

    costumam progredir rapidamente e so representados por dficits motores,

    convulses, ataxia, cefalia, apraxia, afasia e alterao cognitiva ou do estado

    mental (HEYMAN et al, 2001, GUTRECHT et al, 2002).

    Um estudo retrospectivo a partir de resultados de bipsia de LTDs

    analisou as apresentaes clnica e radiolgica da doena em 168 pacientes

    adultos. Desses, 70% desenvolveram Esclerose Mltipla clinicamente definida

    no seguimento e 14% apresentaram sndrome clnica isolada. A RM de crnio

    j apresentava antes da bipsia, leses mltiplas e os pacientes mostravam

    clnica neurolgica multifocal. O objetivo do trabalho foi enfocado no

    diagnstico precoce, mostrando a utilizao de intervenes cirrgicas

    desnecessrias, e ainda propondo manejo e seguimento adequados

    (LUCCHINETTI et al, 2008)

    Na populao peditrica este tipo de leso ainda mais raro, sendo sua

    prevalncia anual estimada em 8,6/100 000 e incidncia de 0,4/100 000 (VAN

  • 16

    LANDINGHAM et al, 2010). Em comparao aos adultos, sugere-se que a

    doena tem curso mais benigno e de carter monofsico (YAPICI e ERAKSOY,

    2002; KUMAR et al, 1998, KEPES, 1993). Contudo,sries de publicao mais

    recentes mostram que durante o seguimento clnico dos pacientes a evoluo

    pode no ser to benigna e ter at carter recorrente (MC ADAM et al, 2002;

    DASTGIR e DiMARIO, 2009).

    O aparecimento das LTDs pode ocorrer de forma monofsica

    caracterizando Sndrome Clnica Isolada (SCI) ou com caractersticas mais

    comumente encontradas nas doenas desmielinizantes inflamatrias, de

    carter no tumoral, seja como primeira manifestao ou mesmo durante o

    curso clnico. Os exemplos das formas no tumorais so: esclerose mltipla,

    neuromielite ptica, doena de Schilder (esclerose mielinoclstica difusa) e

    encefalomielite aguda disseminada. Nesta ltima, em menor nmero de casos,

    as leses so nicas e extensas (YOUNG et al, 2008; SINGH et al, 2003). A

    figura de um iceberg mostrada abaixo pode exemplificar esquematicamente

    que, na realidade, o aspecto da leso inicial no define por si s determinada

    doena, mas ao contrrio, o padro neurorradiolgico pode ser encontrado em

    diversas patologias desmielinizantes.

  • 17

    Figura 1: Possveis etiologias de uma Leso Tumefativa Desmielinizante do SNC. Construdo pela autora.

    Ainda, no diagnstico diferencial, importante ressaltar a possvel

    concomitncia de determinada patologia infecciosa ou tumoral com as doenas

    desmielinizantes. Na literatura j descrita a associao entre esclerose

    mltipla e tumores do SNC de diversos tipos histopatolgicos, tais como,

    oligodendroglioma, astrocitoma e glioblastoma multiforme (KHAN et al, 1997;

    HO e WOLFE, 1981; WERNECK et al, 2002). Alm disso, o aspecto das leses

    na neuroimagem imita o comportamento invasivo de metstases de tumores

    primrios de pulmo e estmago (SPAAR e WIKSTROM, 1978). Por exemplo,

    no caso de associao com gliomas, os autores especulam sobre a

    possibilidade de haver apenas coincidncia ou relao causal. As opinies dos

    autores so divididas sobre haver relao causal ou apenas coincidncia na

    rara concorrncia entre esclerose mltipla e glioma (ANDERSON et al, 1980;

    MALGREN et al, 1984; GREEN et al, 2008).

  • 18

    1.2 Doenas Desmielinizantes na Infncia

    As doenas desmielinizantes tm sido estudadas e melhor conhecidas

    ao longo do tempo resultando na elaborao de critrios diagnsticos com a

    finalidade de facilitar sua identificao clnica. Esses critrios sofreram

    atualizaes em virtude da descoberta de exames laboratoriais acessrios,

    marcadores imunolgicos e uso de imagem por RM. Um dos objetivos das

    revises de critrios estabelecer o diagnstico precoce dessas entidades

    objetivando iniciar terapia imunomediada e reduziros surtos, bem como evitar

    ou reduzir as incapacidades residuais.

    A seguir, sero brevemente mostrados alguns marcos histricos

    relacionados s publicaes das doenas desmielinizantes tendo como foco as

    patologias peditricas:

    1954 Primeiros critrios clnicos reconhecidos para EM, por Allison e

    Millard (ALLISON, 1954);

    1983 Critrios de Poser (POSER, 1983);

    1997 - Critrios de Barkhof de RM para EM (BARKHOF, 1997);

    1999 - Critrios diagnsticos de Wingerchuck para NMO

    (WINGERCHUCK, 1999);

    2001 - Critrios diagnsticos de McDonald para EM (McDONALD, 2001);

    2004 - Descoberta do anticorpo anti-AQP4 e sua relao com NMO

    (LENNON, 2004);

    2006 Reviso dos critrios de Wingerchuck para NMO

    (WINGERCHUCK, 2006);

    2007 Primeiro consenso sobre EM na infncia (KRUPP, 2007);

  • 19

    2010 Reviso dos critrios de McDonald para EM (POLMAN, 2011).

    Referncia EM de incio na infncia;

    2012 Avaliao dos critrios de McDonald para EM em crianas

    com sndrome clnica isolada (KORNEK et al, 2012);

    2013 Reviso dos critrios de 2007 de doenas desmielinizantes

    imunomediadas do SNC na infncia publicao dos critrios de

    2012 (KRUPP et al, 2013).

    As revises seriadas acima apontadas indicam que as desordens

    desmielinizantes inflamatrias do SNC na infncia tm sido cada vez mais

    estudadas e reconhecidas. Assim, diversas formas clnicas foram descritas, tais

    como (POHL 2008):

    Monofocais e monofsicas, como neurite ptica e mielite transversa;

    Multifocais e monofsicas, como ADEM em sua forma clssica;

    Multifocais e crnicas ou polifsicas, como a EM, Neuromielite ptica e

    as formas recorrente de ADEM.

    Clinicamente, como ser visto adiante com maior detalhe, a

    apresentao inicial das DDs pode ser muito semelhante (ver tambm figura 1).

    Portanto, no diagnstico diferencial importante ressaltar a importncia dos

    exames de imagem, avaliaes laboratoriais e acompanhamento prolongado

    do curso da doena. O auxlio do laboratrio fundamental, via exame do LCR

    mostrando pleocitose linfomonocitria e hiperproteinorraquia discretas (at 30

    clulas/mm3 e proteinorraquia de at 100 mg/dL). O dado liqurico mais

    importante e til no diagnstico a presena de bandas BOCs e aumento do

    ndice de IgG que ocorrem em mais de 90% dos casos de EM em adultos. Nas

  • 20

    crianas, a positividade inconsistente variando de 10 a 90% nas casusticas

    estudadas sendo a presena destas bandas menos frequentes nos casos de

    incio pr-puberal da doena (RUGGIERI, 1999, POHL, 2004). Apenas para

    comparao, na ADEM cujo diagnstico mais frequentemente confundido

    com EM, a proporo de bandas varia de 4 a 29%, mas sua dosagem

    geralmente negativa fora do surto. A dosagem da protena bsica de mielina no

    LCR no tem valor diagnstico em virtude de mostrar nveis variveis e por ser

    altamente inespecfica (MIKAELOFF et al 2007, DALE et al, 2000).

    1.2.1 Esclerose Mltipla

    A esclerose mltipla doena autoimune, desmielinizante e crnica do

    SNC ocorrendo mais comumente em adultos jovens. condio complexa e

    heterognea que envolve diversas fases fisiopatolgicas, s vezes

    sobrepostas. O processo inflamatrio inicia-se atravs de infiltrado linfocitrio

    resultando em desmielinizao. Nas fases iniciais, este mecanismo transitrio

    ocorrendo depois fase de reparo acompanhada de remielinizao. Por conta

    desses mecanismos a doena caracterizada por disfunes neurolgicas

    multifocais decorrentes de leso em qualquer local do neuroeixo, mas que em

    geral se resolvem. Ao longo da evoluo da doena, em virtude da

    perpetuao dos mecanismos inflamatrios com liberao de citocinas, inicia-

    se neurodegenerao havendo leso axonal definida clinicamente pela no-

    recuperao completa de dficits neurolgicos (Figura 2), resultando em

    diversas incapacidades funcionais (COMPSTON, 2008; LYNCH, 2012).

  • 21

    Figura 2: Histria natural da forma surto-remisso da esclerose mltipla. Traduzido e adaptado de

    KAWKINS e WOLINSKY. Principles of Treatments in Multiple Sclerosis - Oxford: Butterworth-Heinemann,

    2000.

    No adulto, a doena se manifesta por quatro formas clnicas (Figura 3)

    importantes na definio do prognstico e conduta teraputica, a saber:

    Forma remitente-recorrente ou surto-remisso: corresponde a 85% dos

    casos. Caracteriza-se por exacerbaes seguidas por grau varivel de

    melhora neurolgica podendo haver recuperao completa ou evoluo

    para disfunes residuais. No h progresso dos dficits entre os

    surtos. Nesse grupo, 50 a 85% dos pacientes devem evoluir, em 10

    anos, para fase secundariamente progressiva (MILLER, 2007).

    Forma primariamente progressiva: Ocorre em 10 a 15% dos casos,

    principalmente em faixas etrias mais avanadas. O diagnstico difcil,

  • 22

    uma vez que neste grupo no h critrios clssicos de disseminao

    temporal, havendo, no entanto necessidade de progresso por 12

    meses. A progresso ocorre desde o incio da doena, com velocidade

    varivel e perodos de estabilizao e discreta melhora, mas sem haver

    surto bem definido (DAUMER, 2009).

    Forma secundariamente progressiva: Corresponde a 15 a 20% dos

    casos. Inicialmente o curso se apresenta como surto-remisso, com

    posterior progresso contnua dos dficits, independentemente da

    presena de surtos. A progresso confirmada se mantida durante 6

    meses (MILLER, 2007).

    Forma progressiva com surtos ou progressiva recorrente: a mais rara

    das formas clnicas acometendo menos de 5% dos pacientes. O incio

    progressivo havendo posteriormente surtos bem definidos e evidente

    progresso entre eles (DAUMER, 2009).

    Figura 3: Formas clnicas de esclerose mltipla. Traduzido e adaptado ( LUBLIN e REINGOLD,1996 )

  • 23

    Os critrios de McDonald (Quadro 1) utilizados para estabelecer o

    diagnstico de EM foram revistos e recentemente publicados (POLMAN, 2011).

    Usam-se informaes da anamnese e exame neurolgico para caracterizar a

    presena de surtos, bem como imagens de RM confirmando a disseminao

    das leses no tempo e espao (Quadro 2). Nesta reviso, os critrios

    diagnsticos passaram a incluir exames de neuroimagem e auxlio laboratorial

    representado por pesquisa de BOCs e aumento dos nveis de IgG no lquor em

    relao ao sangue, com a finalidade de demonstrar sntese intratecal de

    imunoglobulina.

    Na reviso diagnstica, alm dos critrios clnicos, o estudo das imagens

    do encfalo e medula espinhal por RM permite evidenciar processo inflamatrio

    e leses em estruturas do SNC sem traduo clnica, facilitando as exigncias

    para preenchimento dos critrios diagnsticos. A RM capaz de mostrar

    disseminao no tempo e espao (Quadro 2) e excluir diagnsticos

    alternativos, podendo at mesmo prescindir da exigncia de novo surto clnico,

    como sugerido pela reviso dos Critrios de McDonald (POLMAN, 2011) em

    2010. A utilizao da RM visa o diagnstico precoce com alta sensibilidade e

    especificidade, com a finalidade de se iniciar precocemente o tratamento.

  • 24

    Critrios de McDonald de 2010 para Esclerose Mltipla

    Apresentao clnica Dados adicionais necessrios ao

    diagnstico

    Mais de 2 surtosa; evidncia clnica de

    mais de 2 leses ou evidncia clnica de 1

    leso com surto prvio na histriab.

    Nenhumc

    Mais de 2 surtosa; evidncia clnica de 1

    leso

    Disseminao no espao demonstrvel por

    alteraes tpicas na RM ou aguardar por

    novo surto em diferente localizao do

    SNC

    Surto nicoa com evidncia clnica de 2 ou

    mais leses

    Disseminao no tempo demonstrvel por

    RM ou aguardar por novo surto clnico

    Surto nicoa com evidncia clnica de 1

    leso (Sndrome Clnica Isolada)

    Disseminao no tempo e espao

    demonstrvel por RM ou aguardar por

    novo surto clnico

    Progresso neurolgica insidiosa,

    sugestiva de EM

    1 ano de progresso da doena

    (prospectivo ou retrospectivo) associado a

    2 ou mais dos critriosd:

    1. Evidncia de Disseminao no espao no encfalo

    2. Evidncia de Disseminao no espao na coluna vertebral com 2

    ou mais leses em T2

    3. Lquor caracterstico (presena de BOC ou elevado ndice de IgG)

    Nota explicativa: Se os critrios forem preenchidos e no houver outra explicao para a apresentao

    clnica, o diagnstico de EM, mas se os critrios no forem completamente peenchidos o diagnstico

    de EM possvel. Se outro diagnstico surgir durante a avaliao e for capaz de melhor explicar a

    apresentao clnica, ento o diagnstico final no EM. aSurto (exacerbao) definido como sintoma relatado pelo paciente ou evento observvel de

    desmielinizao inflamatria aguda do SNC, atual ou na histria, com durao de pelo menos 24 horas,

    na ausncia de febre ou infeco. O relato de sintomas paroxsticos (atuais ou documentados) so

    sintomas que duram menos de 24h, no sendo considerados surtos, mas que falam a favor de EM.

    Para o diagnstico de EM, 1 surto deve ter ocorrido e ser corroborado por achados no exame neurolgico,

    potencial evocado visual ou RM,alm de desmielinizao em reascorrespondentes aos sintomas atuais ou

    anteriormente reportados. bO diagnstico mais seguro se for baseado em achados clnicos objetivos presentes em 2 ou mais surtos.

    Evidncia de surto anterior na histria na ausncia de achados neurolgicos objetivos podeocorrer na

    evoluo da doena, mas pelo menos 1 surto deve ser corroborado por achados objetivos. cExames adicionais no so necessrios. No entanto, conveniente que o diagnstico de EM seja feito

    com suporte dos exames de imagem. Se o exame de imagem ou outros (por exemplo, LCR) forem

    negativos necessria extrema cautela antes de se definir o diagnstico de EM, e a possibilidade de

    diagnstico alternativo deve ser considerada. importante ressaltar que mesmo no se tendo explicao

    clara para os sintomas do paciente as evidncias clnicas objetivas devem existir para configurar o

    diagnstico de EM. dLeses com captao de gadolnio no so necessrias; leses sintomticas no so levadas em

    considerao se presentes em sndromes de tronco cerebral ou na medula espinhal.

    Quadro 1: Reviso dos Critrios de McDonald (POLMAN et al, 2011), traduzido pela autora.

  • 25

    Critrios de McDonald (2010) na RM para Disseminao no Tempo e Espao

    Disseminao no espao evidenciada por mais de uma leso em T2* em, pelo menos 2

    das 4 seguintes reas do SNC:

    Periventricular

    Justacortical

    Infratentorial

    Medula espinhal**

    *Captao de gadolneo no necessria para disseminao no espao

    **Leses sintomticas em tronco cerebral e medula so excludas e no contam para

    disseminao no espao.

    Disseminao no tempo demonstrada pela presena de:

    1- Nova leso em T2 e/ou captante de gadolneo nas ressonncias de seguimento, relacionada a imagem inicial (baseline), independentemente da poca da

    primeira imagem

    2- Presena simultnea de leses assintomticas captantes de gadolneo e leses sem realce por contraste, em qualquer momento.

    Quadro2: Critrios de Mc Donald 2010 (POLMAN et al, 2011) para disseminao no tempo e espao da esclerose mltipla traduzido pela autora.

  • 26

    - Esclerose Mltipla na Infncia versus no adulto

    A EM na infncia foi primeiramente descrita por Pierre Marie em 1983,

    15 anos aps descrio da doena em adultos por seu mentor, Jean Martin

    Charcot. Apenas em 2007, foi publicado o primeiro consenso (KRUPP, 2007)

    sobre a doena com critrios aplicados a faixa etria peditrica, na tentativa de

    facilitar o diagnstico.

    Em 2010, os critrios de McDonald utilizados para diagnstico de EM em

    adultos foram revisados com a finalidade de simplific-los e possibilitar o

    diagnstico precoce da doena (POLMAN, 2011). Neste consenso, h

    referncia faixa etria peditrica e suas diferenas em relao a EM do

    adulto, em termos de diagnstico diferencial e apresentao clnico-radiolgica.

    Esses trabalhos citam inclusive o fato de que, em crianas menores de 11

    anos, as leses detectadas na RM costumam ser diferentes daquelas dos

    adolescentes e adultos. Em geral, so em menor nmero, porm maiores e

    menos bem definidas, assumindo at mesmo a forma tumefativa (CHABAS,

    2008). A explicao para o fentipo diverso da EM pr-puberal parece estar

    ligada ao processo biolgico subjacente, incluindo imaturidade do sistema

    imunolgico, mielinizao ainda incompleta de vrias reas do SNC e diferente

    capacidade de remielinizao e reparo.

    A incidncia de EM na populao peditrica ainda incerta. Estudo

    alemo estimou 0,3 / 100 000 crianas por ano (POHL, 2007). Em outro

    trabalho, quando se perguntou a pacientes adultos com EM sobre o incio dos

    sintomas, verificou-se que em 10% dos casos a doena comeou antes de 18

    anos, sendo que destes, 3 a 5 % antes de 16 e 1% antes de 11 anos (DALE,

    2009). Nas duas ltimas dcadas, com a maior disponibilidade de Ressonncia

  • 27

    Magntica, vem sendo cada vez mais diagnosticada, mas no existem dados

    publicados at o momento sobre as leses radiolgicas da Esclerose Mltipla

    em pacientes muito jovens (menores de 11 anos). Um recente estudo

    demonstrou que a maioria desses pacientes costuma ser erroneamente

    diagnosticada como ADEM, apesar de no apresentarem encefalopatia, mas

    apenas por conta do tamanho de suas leses (CHABAS et al, 2008).

    A taxa de surtos nesta populao parece ser maior que na esclerose

    mltipla de incio no adulto, com somatrio de leses inflamatrias cerebrais

    nos primeiros anos que se seguem ao primeiro surto. Associa-se o fato de

    estarem expostas a um tempo mais longo de doena, o que justifica que a

    incapacidade fsica se d mais precocemente (RENOUX et al, 2007).

    Sabe-se que dentro de 5 anos de doena, mais de 30% das crianas

    acometidas tero declnio cognitivo, no s por defasagem do crescimento

    cerebral esperado para a idade, mas tambm por perda de volume cerebral

    (BANWELL et al, 2011).

    Os critrios de McDonald revisados foram aplicados a crianas

    (SADAKA et al, 2012; SEDANI et al, 2012) e encontrado Valor preditivo positivo

    de 76% e valor preditivo negativo de 100%. Os menores valores preditivos so

    encontrados em crianas mais novas (pr-pberes), as quais apresentam

    leses maiores e clnicas por vezes sugestivas de ADEM. Critrios de RM mais

    especficos e sensveis para essa faixa etria necessitam ser desenvolvidos

    (KRUPP et al, 2013).

    Segundo consenso do Grupo de estudos internacional de Esclerose

    Mltipla Peditrica (KRUPP et al, 2013), a doena definida na infncia se

    satisfizer qualquer dos seguintes critrios (Quadro 3):

  • 28

    Critrios para definio de EM na Infncia (KRUPP et al, 2013): necessrio preencher pelo menos 1 deles

    Dois ou mais eventos clnicos do SNC de causa presumidamente inflamatria, separados por mais de 30 dias e envolvendo mais de uma rea do SNC;

    Um episdio tpico de EM, sem clnica de encefalite, associado a achados de RM consistentes com 1 dos critrios de McDonald (2010) de disseminao no espao e, na RM de seguimento, presena de pelo menos uma nova leso captante ou no-captante de contraste, consistente com critrios de disseminao no tempo;

    Um surto de ADEM seguido por evento clnico, sem encefalite, aps trs meses ou mais de aparecimento dos sintomas inicias, e associado a novas leses na RM que preencham os critrios de McDonald (2010) de disseminao no espao

    Um primeiro e nico evento agudo que no preencha critrios para ADEM e cujos achados na RM sejam consistentes com os critrios de McDonald (2010) de disseminao no tempo eespao (aplicvel apenas para crianas acima de 12 anos);

    Quadro 1: Critrios para definio de EM na infncia segundo consenso do grupo internacional de estudos de

    esclerose mltipla na Infncia (KRUPP et al, 2013), traduzidos pela autora.

    1.2.2 Doena de Schilder:

    A doena de Schilder ou esclerose mielinoclstica difusa variante da

    esclerose mltipla, de incioentre 5 e 15 anos de idade,cuja apresentao

    subaguda e progressiva. O quadro clnico caracterizado por cefalia,

    confuso mental, alteraes comportamentais, convulses, hemi ou

    tetraparesias, neurite ptica, sndromes de tronco cerebral, afasia, alteraes

    esfincterianas e distrbios do movimento. De modo geral, a evoluo da

    doena rpida e fatal. Embora, sua evoluo grave seja questionada com

    base em estudo retrospectivo de pacientes cuja remisso foi completa, e sem

    novos sintomas neurolgicos posteriormente (MERRIT, 2007).

    Anatomopatologicamente, as leses so concntricas alternando em seu

    interior bandas mielinizadas e desmielinizadasem formato de bulbo de cebola

    ou alvo. Na RM, evidenciam-se leses grandes e confluentes envolvendo a

    substncia branca profunda onde so tambm observados diferentes graus de

    desmielinizao. O diagnstico realizado basicamente excluindo-se

  • 29

    desordens infecciosas e metablicas, como por exemplo, adrenoleucodistrofia

    ligada ao X e, alm disso, de acordo com os critrios de Poser (POSER, 1992)

    descritos abaixo:

    Sinais e sintomas atpicos para EM, ou seja, envolvimento

    bilateral de nervos pticos, cefalia e vmitos decorrentes do

    aumento dapresso intracraniana, manifestaes psiquitricas e

    crises convulsivas;

    LCR sem alteraes ou com alteraes no condizentes com EM;

    reas extensas de desmielinizao na substncia branca,

    usualmente bilateral;

    Ausncia de febre, infeces virais ou vacinaes anteriores ao

    surto;

    Concentrao srica normal de cidos graxos de cadeia muito

    longa.

    1.2.3 Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM)

    ADEM afeco inflamatria imunomediada caracterizada por

    desmielinizao difusa da substncia branca cerebral e medular. Esta condio

    geralmente precipitada por infeco viral ou vacinao,possivelmente via

    mimetismo molecular,afetando predominantemente a faixa etria infantil. A

    incidncia varia deacordo com a localizao geogrfica. Em estudo realizado

    em San Diego (USA), a incidncia mdia entre menores de 20 anos foi de 0,4 /

    100 000habitantes por ano (LEAKE, 2004). Na infncia,a incidncia global de

    ADEM cerca de trs vezes maior que a EM..

    Clinicamente, os sintomas e dficits neurolgicos costumam ter

  • 30

    apresentao multifocal associados encefalopatia, que condio

    indispensvel para o diagnstico. Atualmente, a mortalidade relativamente

    baixa, de 5 a 7%, sendo consequncia de edema cerebral e hipertenso

    intracraniana. De modo geral, h recuperao completa do paciente aps

    pulsoterapia com corticosteride (metilprednisolona). No entanto, existe risco

    de morbidade residual com manifestaes sequelares motoras variando desde

    ataxia leve at hemiparesia, alm de dficits na esfera neuropsicolgica. Em

    diversos estudos, estes achados variam de 11 a 46% (LEAKE, 2004; DALE,

    2000; TENEMBAUM, 2002). A ADEM, apesar de usualmente ter curso

    monofsico, pode apresentar-se de modo recorrente com leses e

    manifestaes clnicas semelhantes ao primeiro surto, ou envolvendo leses

    em novas reas do SNC, configurando quadro neurolgico diferentes daquele

    do surto inicial (Quadro 4). Estima-se que 15 a 25% das crianas com

    diagnstico inicial de ADEM, aps novos surtos no-ADEM, tero diagnstico

    final de EM (MIKAELOFF 2007; TENEMBAUM 2002).No laboratrio, o exame

    de LCR mostra que a positividade para BOCs varia de 4 a 29% na fase aguda,

    mas sua negatividade geralmente encontrada fora de surto (MIKAELOFF et

    AL 2007, DALE et al, 2000). Outro critrio liqurico, que o anticorpo

    antiaquaporina-4 deve ser negativo, enquantoos anticorpos sricos anti-MOG

    podem estar transitoriamente presentes.

  • 31

    Encefalomielite aguda disseminada (ADEM):

    ADEM monofsico: Primeiro evento clnico de causa inflamatria ou desmielinizante presumida, de incio agudo ou subagudo, afetando reas multifocais do SNC. A clnica deve ser polissintomtica e incluir encefalopatia, definida na presenade um ou mais dos seguintes parmetros: - Alterao comportamental: confuso mental, irritabilidade excessiva; - Alterao do nvel de conscincia: letargia, coma;

    Evento deve ser seguido por melhora clnica e/ou na RM, mas podem permanecer seqelas;

    Ausncia de evento desmielinizante prvio;

    Evento no pode ser explicado por qualquer outra etiologia;

    Sinais ou sintomas novos ou flutuantes, ou achados na RM ocorrendo dentro de 3 meses do episdio inicial devem ser considerados parte do evento agudo;

    Neuroimagem mostrando leses focais ou multifocais envolvendo predominantemente substncia branca, sem evidncias prvias de alteraes destrutivas de substncia branca;

    RM com alteraes extensas em T2 ou FLAIR (>1cm), multifocais, hiperintensas e localizadas na substncia branca supra ou infratentorial, havendo tambm possibilidade de envolvimento da substncia cinzenta,incluindo tlamo e ncleos da base do crerbro;

    Em raros casos, a RM mostra leso nica e extensa (>1 ou 2 cm) envolvendo predominantemente a substncia branca;

    RM de coluna apontando leses intramedulares confluentes com captao varivel de contraste, alm de achados previamente descritos na RM.

    ADEM recorrente: Novo evento de ADEM com sinais e sintomas semelhantes aos do evento inicial, ocorrendo aps 3 meses, sem haver na histria, clnica ou neuroimagem acometimento de novas reas anatmicas;

    Evento no pode ocorrer durante uso de corticosterides ou aps 1 ms da retirada total;

    A RM no deve mostrar novas leses, porm, as leses inicias podem estar maiores;

    Nenhuma explicao melhor deve existir para o quadro clnico.

    ADEM multifsico: ADEM seguido por novo evento clnico que tambm preenche critrios para ADEM, mas envolvendo novas reas anatmicas do SNC, confirmado na histria, clnica e neuroimagem;

    Novo evento deve ocorrer: - Pelo menos 3 meses aps o evento inicial; - Aps 1 ms do trmino da corticoterapia;

    Evento subsequente deve ter apresentao polissintomtica, incluindo encefalopatia, com sinais e sintomas neurolgicos diferentes dos apresentados no evento inicial, embora as alteraes do estado mental possam ser praticamente iguais. Quadro 2: ADEM Definio e consenso do grupointernacional de estudos l em EM Peditrica (YOUNG,

    2008), traduzido pela autora.

    De acordo com a publicao de novos critrios de ADEM (KRUPP,

    2013), algumas modificaes foram introduzidas na classificao acima

    descrita, a saber:

    No ADEM monofsico, ressalta-se que a encefalopatia no deve ser

    explicada apenas por febre; as leses tpicas na RM devem ser difusas,

    pouco delimitadas, grandes, de 12 cm, envolvendo

    predominantemente substncia branca, e ainda, as leses hipointensas

    em T1 devem ser raras, podendo haver leses de substncia cinzenta

  • 32

    envolvendo tlamo ou ncleos da base; aps 3 meses do evento inicial,

    novos sinais, sintomas ou leses na RM devem estar ausentes.

    A categoria ADEM recorrente eliminada por sua baixa frequncia,

    sendo esses casos agrupados na classificao de ADEM multifsico.

    O ADEM multifsico definido por novo evento clnico ocorrendo a partir

    de 3 meses aps os sintomas iniciais, e associado a alteraes novas

    ou reemergentes na RM. O tempo em relao ao uso de corticoterapia

    no mais pertinente.

    1.2.4 Neuromielite ptica (NMO) ou Doena de Dvic

    A NMO doena desmielinizante inflamatria envolvendo

    preferentemente os nervos pticos e medula espinhal, locais onde existe maior

    nmero de canais de gua (aquaporina 4), alvos de auto-antgenos NMO-IgG

    recentemente apontados como biomarcadores da doena. Embora estes

    anticorpos possam estar presentes em aproximadamente10-20% (LENNON,

    2004) dos caso de EM, sua positividade dado a favor do diagnstico de NMO.

    Anteriormente considerada doena monofsica, hoje sabe-se que a

    recorrncia pode ocorrer em 70% dos casos (WINGERCHUCK, 1999).

    Em 2006, os critrios diagnsticos de NMO foram revisados

    (WINGERCHUCK, 2006) e so mostrados a seguir (Quadro 5):

  • 33

    Quadro 3: Critrios diagnsticos para NMO, traduzidos pela autora (WINGERCHUCK et al, 2006)

    Atualmente, admite-se tambm o novo conceito de espectro NMO

    incluindo portadores de mielite longitudinalmente extensa e neurite ptica

    bilateral e recorrente, mas que no preenchem completamente os critrios de

    NMO. Esta condio clnica ocorre seja por no haverem surtos medulares e

    pticos ou quando o marcador biolgico est ausente. A NMO tem menor

    prevalncia que a EM, porm mais frequente em populaes asiticas e

    afrodescendentes. O prognstico, em virtude de maior nmero e gravidade dos

    surtos e pior resposta ao tratamento na fase aguda resulta em sequelas

    neurolgicas incapacitantes (WINGERCHUCK, 1999). Em sries brasileiras, a

    mortalidadevaria entre 9 e 50%, principalmente em decorrncia de insuficincia

    respiratria associada mielite transversa longitudinalmente extensa (PAPAIS-

    ALVARENGA, 2002).

    No tratamento, os imunomoduladores utilizados como modificadores do

    curso da doena na EM, como observado com o interferon beta, no

    conseguiram alterar as taxas de recada na NMO e, em alguns casos, houve

    at piora do nmero de surtos (AXTELL, 2011). No diagnstico laboratorial, a

    deteco do anticorpo anti-AQP4 realizada por diversos mtodos,

    prevalecendo nas sries brasileiras a imunofluorescncia indireta com

    Critrios diagnsticos de NMO

    Critrios necessrios:

    Neurite ptica;

    Mielite transversa;

    Critrios de suporte: pelo menos 2 dos seguintes:

    1- Leso medular extensa na RM, acometendo mais de 3 segmentos vertebrais;

    2- Leses na RM de crnio que no preenchem critrios para EM;

    3- NMO-IgG positivo

  • 34

    sensibilidade de cerca de 64% e especificidade de 41% (ADONI, 2008). Em

    sries internacionais, com diferentes metodologias, a sensibilidade varia entre

    60 e 86% eespecificidade entre 79 e 100% (FAZIO, 2009), particularmente nos

    casos recorrentes.

    - NMO na infncia versus no adulto

    Em crianas, as leses inflamatrias cerebrais detectadas por RM so

    mais frequentes e podem ocorrer em at 50% dos casos (MC KEON, 2008).

    Anatomicamente, as leses esto presentes em regies cerebrais de maior

    predomnio de canais de AQP4, incluindo zonas periventriculares, tlamo e

    tronco cerebral. Algumas vezes, as leses so grandes e difusas dificultando o

    diagnstico diferencial entre EM e ADEM.

    Sabe-se ainda que 90% das crianas com NMO manifestam a doena

    sob forma recorrente, com surtos de neurite ptica e mielite transversa

    longitudinalmente extensa (WINGERCHUCK, 1999; MC KEON, 2008). Na faixa

    etria peditrica, h maior nmero de surtos na histria da doena, maior

    gravidade do quadro clnico e maior probabilidade de incapacidade neurolgica

    residual grave. Particularmente, a diminuio da acuidade visual nas crianas

    se d em menor intervalo de tempo do que nos pacientes adultos (MC KEON,

    2008; COLLONGUES, 2010).

    Na populao peditrica, o maior estudo realizado referente aos

    biomarcadores em doenas desmielinizantes mostrou que 47% das crianas

    com NMO clinicamente definida apresentaram NMO-IgG positivo. As crianas

    que manifestaram forma recorrenteda doena tinham maior positividade do

    anticorpo (78%) em relao quelas cuja apresentao foi monofsica (12,5%)

  • 35

    (BANWELL, 2008). Nas crianas, o NMO-IgG especfico e raramente positivo

    no primeiro episdio de desmielinizao. Assim sendo, a presena do anticorpo

    preditor da forma recorrente da doena (BANWELL, 2011) e sua presena no

    primeiro surto pode orientar o tratamento precoce. Da mesma forma, o

    marcador pode servir de guia para monitorar a doena e a resposta teraputica

    (DALE, 2012).

    Na ltima reunio do grupo internacional de estudos em EM peditrica

    (KRUPP, 2013) os critrios do consenso de 2007 (KRUPP, 2007) foram

    revistos. Agora, considera-se que as crianas podem apresentar doena do

    espectro-NMO, definida como neurite ptica recorrente OU mielite transversa

    recorrente com positividade do anticorpo anti Aquaporina4. Alm disso, o

    consenso aponta que as leses esto localizadas preferencialmente no tronco

    cerebral, na vizinhana do IV ventrculo e regies hipotalmicas.

    Admite-se ainda que surtos de NMO possam apresentar caractersticas

    clnicas de ADEM, e que na RM as leses sejam supratentorias no evento

    inicial ou subsequentemente. Devemos pensar em NMO em casos com clnica

    de ADEM e RM sem captao de contraste. Esses casos so mais freqentes

    nos pacientes com positividade do anticorpo anti-aquaporina 4 pois a no

    captao de contraste sugere que a barreira hematoenceflica esteja intacta,

    havendo apenas o mecanismo de edema pela disfuno dos canais de gua

    (com receptor de aquaporina) (EICHEL, 2008)

    1.2.5 Sndrome Clnica Isolada (SCI)

    Caracteriza-se pelo primeiro episdio de alterao neurolgica sugestivo

  • 36

    de um evento desmielinizante do SNC, com evoluo aguda ou subaguda.

    Pode ser multifocal ou monofocal, estes, manifestando-se sob a forma de

    neurite ptica, mielite transversa, sndromes de tronco enceflico, hemisfrica

    ou cerebelar. Diferente do ADEM, geralmente no se apresenta clinicamente

    por encefalopatia, a no ser que haja comprometimento de tronco cerebral.Nos

    adultos, cerca de 30 a 70% dos casos evoluem para Esclerose Mltipla

    (disseminao no tempo e espao por exame de RM ou, segundo surto clnico)

    (SCALFARI, 2010).Nas crianas, estudos mostram haver maior probabilidade

    de evoluo para Esclerose Mltipla aps Sndrome Clnica Isolada do que

    aps ADEM (MIKAELOFF, 2004).

    - Sndrome Clnica Isolada na Infncia:

    A SCI na Infncia definida conforme citado no Quadro 6:

    Critrios para definio de SCI na infncia (KRUPP et al, 2013) So necessrios todos os critrios mostrados a seguir:

    Evento mono ou multifocal do SNC de causa presumida inflamatria desmielinizante;

    Ausncia de histria clnica prvia de doena desmielinizante (ex: neurite ptica, mielite transversa ou sndromes hemisfricas ou de tronco cerebral);

    Ausncia de encefalopatia (sem alterao de estado mental ou comportamental) que no seja explicada por febre;

    Critrios de RM para EM no preenchidos. Quadro 4: Critrios de SCI na Infncia (KRUPP et al, 2013) traduzidos pela autora

    Os critrios de doenas desmielinizantes na infncia de 2007 (KRUPP,

    2007) e 2012 (KRUPP, 2013) foram comparados no quadro abaixo:

  • 37

    Comparao dos critrios de 2007 e 2012 das DDs na Infncia:

    Doena: 2007 2012

    Sndrome clnica isolada Primeiro evento mono ou multifocal desmielinizante do SNC; Encefalopatia ausente.

    Primeiro evento mono ou multifocal desmielinizante do SNC; Encefalopatia ausente a no ser por conta de febre

    ADEM monofsico Primeiro evento clnico polissintomtico de causa presumidamente inflamatria afetandoreas multifocais do SNC; Encefalopatia presente; RM tpica: leses grandes, 12 cm na substncia branca, frequente envolvimento da substncia cinzenta (tlamo ou ncleos da base); Sintomas novos ou flutuantes e leses na RM no perodo de 3 meses dos primeiros sintomas fazem parte do evento agudo de ADEM.

    Primeiro evento clnico polissintomtico de causa presumidamente inflamatria; Encefalopatia que no seja explicada por febre deve estar presente; RM tpica: leses difusas, pouco delimitadas, grandes, 12 cm, envolvendo predominantemente substncia branca. Leses hipointensas em T1 so raras. Leses de substncia cinzenta (tlamo ou ncleos da base) podem estar presentes; Ausncia de novos sinais, sintomas ou leses na RM aps 3 meses do evento inicial.

    ADEM recorrente Novo evento de ADEM com recorrncia dos sintomas iniciais, trs meses ou mais, aps o evento inicial de ADEM.

    Agrupado na classificao de ADEM multifsico. *A categoria foi eliminada por sua baixa freqncia.

    ADEM multifsico Novo evento de ADEM que envolva novas reas anatmicas do SNC e que ocorra aps 3 meses do eventoinicial de ADEM e, ao menos um ms aps terminada a corticoterapia.

    Novo evento de ADEM que ocorra a partir de 3 meses dos sintomas iniciais e que seja associado a sintomas clnicos e achados novos ou reemergentesna RM. O tempo em relao corticoterapia no mais pertinente.

    Esclerose Mltipla Qualquer dos seguintes: Mltiplos eventosclnicos desmielinizantes do SNC, separados no tempo e espao; Evento clinico nico associado aos critrios de disseminao no espao e subsequentes alteraes na RM,consistentes com disseminao no tempo de acordo com os critrios de McDonald de 2010; Um episdio com caractersticas clnicas de ADEM no pode ser considerado como o primeiro evento de EM.

    Qualquer dos seguintes: Dois ou mais eventos clnicos do SNC no-encefaliticos, separados por mais de 30 dias, envolvendo mais de uma rea do SNC; Evento clinico nico e caractersticas na RM que preencham os critrios de McDonald de 2010 para disseminao no espao etempo (critrio relativo disseminao no tempo apenas aplicvel a crianas 12 anos, e somente a casos sem evento inicial de ADEM). ADEM seguida aps 3 meses de evento clinico que no seja encefalite, com novas leses na RM compatveis com EM.

    NMO Necessita todos os critrios: Neurite ptica Mielite aguda Ao menos um dos 2 critrios de suporte: Leso contgua em medula 3 segmentos Positividade do anticorpo Anti-Aquaporina 4

    Necessita todos os critrios: Neurite ptica Mielite aguda Ao menos um dos 2 critrios de suporte: Leso contgua em medula de 3 segmentos Positividade do anticorpo Anti-Aquaporina 4 RM cerebral com leses que no preencham critrios para EM.

    Quadro 5: Comparao dos critrios do grupo internacional de esclerose mltipla na infncia de 2007

    (KRUPP, 2007) e 2012 (KRUPP, 2013)

  • 38

    2- Justificativa:

    O interesse pelo estudo surgiu no ambulatrio de Neurologia Infantil do

    IFF/Fiocruz, em 2010, ocasio em que foi solicitada consulta de avaliao de

    paciente, de 11 anos de idade, portadora de mielite transversa totalmente

    resolvida aps pulsoterapia com metilprednisolona.

    Aps um ano assintomtica, apresentou dficit focal acompanhado de

    leso supratentorial extensa com efeito de massa e captao de contraste

    evidenciada por RM. A anlise do quadro clnico e achados de RM no foram

    capazes de definir com preciso se tratava-se de leso neoplsica,

    demandando abordagem cirrgica, ou de leso desmielinizante. No segundo

    caso, a indicao era de tratamento com altas doses de corticoterapia na

    tentativa de reverter rapidamente os dficits neurolgicos.

    Aps consenso com colegas de especialidades afins concluiu-se tratar-

    se de DD. O protocolo de abordagem da fase aguda inicial das DDs foi seguido

    e o tratamento institudo. Considerando a dificuldade diagnstica universal no

    contexto das DDs, particularmente na esfera peditrica, alguns

    questionamentos tiveram que ser enfrentados. Por exemplo: para qual DD a

    paciente preencheria critrios? Tratava-se de evento isolado ou de possvel

    recorrncia? Haveria algo a ser feito para evitar novos surtos e,

    consequentemente, novos dficits que poderiam resultar em incapacitao

    funcional? Nesse momento, estas perguntas ficaram sem resposta, e a

    alternativa buscada foi encontrar resposta na literatura.

    A partir deste ponto, ficou claro que a abordagem das LTs na infncia

    precisava ser melhor definida. Como nos adultos, o diagnstico diferencial das

    leses tumefativas desmielinizantes na infncia ainda difcil em decorrncia

  • 39

    da similaridade clnica e radiolgica com outras entidades. Na literatura mundial

    h poucas referncias sobre o assunto, no havendo consenso sobre esta

    forma de apresentao, mas apenas opinies baseadas em relatos de caso

    isolados. H, no entanto, suspeita que o nmero de casos seja maior

    orientando o foco da questo para a possibilidade de erros diagnsticos e

    agravamento do curso da doena. Algumas possiblidades de erro diagnstico

    so mostradas abaixo:

    O no diagnstico de leso tumoral acarretando atraso teraputico,

    crescimento da massa e suas complicaes e, at mesmo, implantes

    secundrios;

    Bipsia ou cirurgia excisional com resseco de tecido vivel, no caso

    de leses desmielinizantes;

    Demora em lidar com o evento desmielinizante, podendo prolongar a

    sintomatologia ou at gerar dficits neurolgicos incapacitantes;

    Incio de imunomodulao inadequada no seguimento da doena,

    podendo at aumentar o nmero de surtos, como no caso da NMO, se

    tratada com Interferon (WARABI, 2007).

    Finalmente, conclui-se que fundamental utilizar ferramentas de

    investigao laboratorial e neuroimagem para definir a etiologia das LTs e

    indicar tratamento adequado na tentativa de impedir sequelas neurolgicas

    permanentes, e incapacidades graves podendo resultar na morte do paciente.

    A abordagem das LTs na infncia deve ser feita de preferncia atravs de

    protocolo especfico.

  • 40

    3- Objetivos:

    3.1- Objetivo Geral:

    Analisar, atravs de reviso sistemtica da literatura, se as ferramentas

    diagnsticas clnicas, radiolgicas e laboratoriais so utilizadas pelos autores

    na investigao da etiologia das LT desmielinizantes do SNC na infncia.

    3.2- Objetivos Especficos:

    Avaliar como os autores concluem que a leso tumefativa de carter

    desmielinizante;

    Analisar como os autores investigam a doena de base aps definido o

    diagnstico de leso desmielinizante:

    o Quais so os critrios clnicos utilizados para definira etiologia da

    leso tumefativa desmielinizante?

    o Quais so os critrios radiolgicos?

    o Quais so os critrios laboratoriais?

  • 41

    4 Hiptese:

    No existe consenso na literatura sobre o diagnstico diferencial das

    LTD do SNC na infncia.

  • 42

    5- Metodologia:

    Trata-se de trabalho que tem como objetivo reunir a literatura existente

    sobre as leses tumefativas desmielinizantes do SNC na infncia e, alm disso,

    analisar como foi realizada pelos autores a investigao etiolgica de cada

    caso encontrado. Realizou-se busca por meio de Reviso Sistemtica da

    Literatura (RSL), de acordo com a metodologia de Cochrane (HIGGINS 2011).

    A RSL um mtodo fundamental para a medicina baseada em

    evidncias, a fim de responder uma determinada pergunta. capaz de

    condensar o conhecimento, fracionado na literatura, em um nico estudo

    permitindo ao pesquisador conhecimento mais amplo da temtica estudada.

    Esse mtodo ainda possibilita refinar os resultados de vrios estudos

    identificando aqueles de maior confiabilidade e rigor acadmico.

    A Reviso Sistemtica da Literatura compreende as seguintes etapas:

    Identificao de estudos

    Seleo de estudos: critrios de incluso

    Formulao da pergunta

    Extrao de dados de estudos selecionados

    Anlise e sntese da informao

    Quadro 6: Etapas de Reviso Sistemtica.

  • 43

    5.1 Questo norteadora da Reviso Sistemtica da Literatura

    Em uma reviso no sistematizada da literatura no foi encontrado

    protocolo definido para investigao etiolgica das LTD da Infncia. Assim

    sendo, formulou-se a seguinte questo: Como os pesquisadores chegam

    concluso de que se trata de leso tumefativa desmielinizante?. Para

    respond-la, foi realizada pesquisa bibliogrfica via Reviso Sistemtica da

    Literatura utilizando conjunto de palavras chaveslistadas em ingls:

    (tumefactive OR pseudotumoral) AND ("demyelinating diseases" OR

    "demyelinating" AND"diseases" OR "demyelination") AND ("child" OR

    "children").

    Nas bases latino-americanas de dados foi realizada busca em portugus

    e espanhol utilizando-se os mesmos termos empregados nas lnguas

    estrangeiras abaixo mencionadas.

    A definio das palavras-chave foi feita aps busca no MEDLINE e

    avaliao dos termos contidos na indexao dos artigos.

    Optou-se por selecionar os estudos publicados nos ltimos 20 anos

    (1992 2012), considerando a recente utilizao de ferramentas diagnsticas

    incluindo biomarcadores celulares e/ou moleculares e ampla utilizao de RM

    do SNC. Portanto, a busca foi restrita s publicaes em lngua inglesa,

    portuguesa, espanhola, francesa e italiana.

    5.2 Identificao dos estudos

    Os estudos apontados so observacionais, incluindo relatos ou srie de

    casos. Esses estudos ainda so importantes na medicina moderna baseada

  • 44

    em evidncias, em virtude de descreverem doenas raras. As bases de dados

    pesquisadas foram as seguintes: MEDLINE, EMBASE, Cochrane Library,

    SciELO, SIGLE (Grey Literature), SCOPUS, LILACS. Ainda, diversas outras

    fontes foram consultadas, a saber: Banco de Teses da plataforma CAPES,

    onde esto disponveis teses de ps-graduao de todo o pas; seleo de

    artigos citados na lista original de referncias, e tambm busca manual na

    internet e relatos de caso apresentados em eventos cientficos e/ou anais de

    congressos. Finalmente, foi tentado contato com 2 autores que descreveram

    preliminarmente pacientes com LTs desmielinizantes, na tentativa de

    compartilhar a dificuldade diagnstica, mas no houve resposta.

    5.3 Seleo dos Estudos

    A seleo dos estudos foi realizada por 2 pessoas e, em caso de

    divergncia, um 3 investigador foi consultado.

    5.3.1: Critrios de Incluso:

    Os critrios de seleo aplicados aos artigos para inclu-los no trabalho

    foram os seguintes:

    Artigos completos publicados;

    Estudos observacionais descritivos, incluindo relatos ou srie de casos;

    Amostra de crianas e adolescentes entre 0 e 18 anos;

    Leso tumefativa nica do SNC definida por imagem de RM, com as

    seguintes caractersticas: leso solitria, maior de 2 cm, com efeito de

    massa, edema e/ou captao de contraste perilesional;

  • 45

    Confirmao da natureza desmielinizante da leso, por exemplo, por

    imagem, exames laboratoriais ou resposta clnica e reduo do tamanho

    da leso na RM;

    Publicao no perodo de tempo estipulado: ltimos 20 anos;

    Estudos publicados nos idiomas: ingls, portugus, espanhol, francs,

    italiano.

    O carregamento dos dados obtidos pelos pesquisadores ser feito

    atravs de ficha de avaliao dos artigos (APNDICE 1). Inicialmente, a

    inteno foi realizar Reviso Sistemtica da Literatura incluindo apenas

    artigos cuja etiologia da desmielinizao foi previamente definida (ADEM,

    NMO, EM, Schilder). No entanto, isso no foi possvel na maioria dos

    trabalhos consultados, possivelmente em decorrncia de mltiplos fatores,

    entre outros, o curto tempo de seguimento do paciente at o momento da

    publicao. A identificao das referncias incorporadas ou excludas do

    estudo podem ser melhor apreciadas separadamente (APNDICE 5).

    5.3.2 Avaliao de qualidade dos estudos:

    A avaliao critica para verificar se determinado estudo se qualifica para

    ser includo em uma Reviso Sistemtica da Literatura deve ser rigorosa, em

    virtude da probabilidade de utilizao de dados viciados. Na literatura, no h

    ferramenta disponvel usada como instrumento de avaliao de qualidade dos

    estudos observacionais descritivos, entretanto, sabe-se que esses estudos tm

    menor probabilidade de apresentarem vis. Por outro lado, sabe-se ainda que

    tais estudos no so frequentemente publicados em revistas mais

  • 46

    conceituadas e, por isso, utilizar o fator de impacto da revista no seria

    adequado.

    5.4 Extrao dos Dados

    De cada trabalho publicado foram extradas informaes especficas

    organizadas em tabela prpria (APNDICE 3) e mostradas a seguir:

    Autor e ano da publicao;

    Caractersticas demogrficas dos pacientes, incluindo idade e sexo;

    Sinais e sintomas apresentados pelo paciente;

    Surtos neurolgicos anteriores ou posteriores;

    Padres radiolgicos na RM ou TC de crnio;

    Diagnstico inicial do paciente;

    Exames histopatolgicos e demais exames laboratoriais;

    Tratamento e evoluo do paciente;

    Diagnstico final do autor;

    Para analisar a operacionalidade da tabela de extrao de dados, testagem

    prvia (piloto), incluindo 4 artigos de diferentes bases de dados, foi conduzida

    por diferentes pesquisadores. Os avaliadores no tiveram conhecimento prvio

    dos autores ou revistas onde os artigos foram publicados.

    A tabela (TABELA 1) mostra o resultado da avaliao-piloto acima proposta:

  • 47

    Auto

    r,

    ano

    N

    de

    cas

    os

    Ida

    de,

    sexo

    Sinais/

    sintomas

    Surtos

    anteriores

    ?

    Imagem (RM,

    TC)

    Diagn

    stico

    inicial

    Histopat

    ologia

    Outros

    exames

    Tratame

    nto/

    evoluo

    Diagnst

    ico final

    TES

    TE

    1,

    2005

    1 F,

    13a

    Cefalia, convulses,

    hemiparesia

    e hemianopsi

    a E

    1, 2 meses antes: leso

    tumefativa

    desmielinizante

    frontopariet

    al E

    TC leso subst. branca

    subcortical

    parietoccipital D

    RM edema

    perilesional com efeito de

    massa, realce

    Gd incompleta Espectroscopia

    aumento

    colina, reduo

    NAA, inverso

    pico de lactato

    1 surto: tumor

    SNC;

    2: leso

    desmiel

    ini-zante

    *1 surto: atrcitos

    reativos,

    infiltrado perivascul

    ar

    linfocitrio, focos

    de

    desmielinizao.

    Axnios

    preservad

    os. Sem

    tumor.

    LCR normal,

    BOC -,

    RM coluna

    normal,

    BERA normal,

    PEV

    normal

    Pulsoterapia

    seguido

    de prednison

    a oral 14

    dias persistind

    o com

    hemianopsia

    Esclerose Mltipla

    TES

    TE

    2,

    2003

    1

    M,

    6a

    Alteraes

    comportam

    ento, sonolncia,

    hemiplegia

    fascio-braquio-

    crural E,

    febre, sialorria

    No Leses

    mltiplas com

    efeito de massa, realce

    Gd anular:

    maior parietotempora

    l D.

    Parietal E coroa radiada

    Espectroscopia

    Aumento colina/creatina,

    reduo NAA

    Tumor Astroglio

    se com

    infiltrado linfoctti

    o T CD8,

    desmielinizao.

    Axnios

    preservados. Sem

    clulas

    neoplsicas

    cidos

    graxos de

    cadeia muito

    longa

    normal, LCR

    normal,

    BOC -, Sorologia

    s

    negativas.

    Pulsotera

    pia

    seguida de

    prednison

    a oral 5 meses

    com

    melhora total

    Schilder

    TES

    TE

    3,

    2011

    1 M,

    6a

    Cefalia,

    irritabilidad

    e, paresia fascio-

    braquio-

    crural E

    No TC leso

    hipodensa

    frontoparietal D com edema,

    RM leso

    grande frontal D, com edema

    e captao Gd,

    pequena leso occipital D;

    Tumor

    X leso

    desmielini-

    zante

    Infiltrado

    inflamat

    rio, preserva

    o axonal,

    linfcitoreativos,

    desmielin

    izao, ausncia

    de clulas

    neoplsicas

    LCR

    normal

    Pesquisa para

    bactrias,

    fungos e vrus

    negativa,

    RM coluna

    normal

    Pulsotera

    pia com

    melhora

    Leso

    Tumefati

    va desmielin

    izante

    TES

    TE

    4,

    2011

    3

    F,

    5a

    Ataxia de

    marcha,

    nistagmo

    No RM leso no

    hemisfrio

    cerebelar E

    com efeito de

    massa

    Leso

    desmiel

    ini-

    zante

    - LCR com

    pleocitose

    e BOC +,

    PCR p/

    HSV1 -

    Melhora

    clnica

    total

    Schilder

    F,

    9a

    Cefalia, vmitos,

    ataxia,

    bradicardia e papildema

    (hipertenso

    intracraniana)

    No RM leso no hemisfrio

    cerebelar

    esquerdo com efeito de

    massa e

    compresso sobre IV

    ventrculo

    Leso desmiel

    ini-

    zante

    - LCR com pleocitose

    e

    sorologias negativas

    Pulsoterapia

    seguida

    de prednison

    a oral 14

    dias. Melhora

    total

    Schilder

    M,

    8a

    Cefalia, vmitos,

    hemiplegia

    e hemianestes

    ia D

    No RM leso parietal

    esquerda,

    poupando crtex, com

    edema efeito

    de massa. Captao

    anelar Gd.

    Leso desmiel

    ini-

    zante

    - LCR com pleocitose

    ,

    BOC -, sorologias

    negativas

    Pulsoterapia

    Mantm

    hemiparesia,

    hemianest

    esia e apraxia

    D

    Schilder

    Tabela 1: Extrao de dados demogrficos e anlise individual dos casos

  • 48

    Conclui-se que a tabela mostrada acima foi capaz de descrever

    claramente os casos sob o ponto de vista clnico-evolutivo, apontar os exames

    laboratoriais e neurorradiolgicos realizados, sugerir tratamento especfico e

    definir o diagnstico final.

    Seguindo a mesma estratgia dos casos apontados na avaliao-piloto,

    agora a separao dos pacientes ser feita por categorias de sintomas ou

    sndromes neurolgicas. Estes dados sero expostos a seguir, e tambm

    mostrados em tabela adicional ( APNDICE 4):

    Sndrome Menngea, incluindo febre e meningismo;

    Convulso;

    Hipertenso Intracraniana caracterizada por vmitos, cefalia,

    papiledema, bradicardia, alterao do ritmo respiratrio;

    Encefalopatia representada por alteraes do estado de

    conscincia, incluindo irritabilidade, sonolncia, torpor e coma;

    Sndrome Piramidal;

    Sndrome Medular, incluindo alteraes esfincterianas;

    Sndrome Cerebelar;

    Sndrome de nervos cranianos;

    Alteraes visuais decorrentes de neurite ptica, incluindo baixa

    visual (ambliopia) e/ou amaurose.

    Caso

    s

    Sin

    tom

    as

    Sndrome

    Menngea

    Convulso

    Hipertenso

    Intracraniana

    Encefalopatia

    Sndrome

    Piramidal

    Sndrome

    medular

    Sndrome

    cerebelar

    Neurite ptica

    Sndrome de nervos crania

    nos

    TESTE 1

    X X X

    TESTE 2

    X X X

    TESTE 3

    X X X

    TESTE 4

    X

    X X

    X X

    Tabela 2: Extrao de dados dos sinais e sintomas

  • 49

    De novo, com o mesmo propsito de testar a extrao de dados

    pertinentes em pequeno nmero de pacientes, os casos-piloto foram

    explorados agrupando agora os achados liquricos e de sangue perifrico

    (TABELA 3). Na TABELA 4, exibida logo a seguir, o agrupamento ser realizado

    incluindo os achados de neuroimagem. No tpico resultados estes dados

    sero novamente mostrados sob forma de grfico.

    Autor, ano

    Diagnstico final do autor

    LCR: celularidade

    LCR: Proteinorraquia

    Bandas oligoclonais em LCR?

    Dosagem de anticorpo anti aquaporina 4 (IgG anti- NMO)

    TESTE 1

    EM Normal Normal Ausentes NR

    TESTE 2

    Schilder Normal Normal Ausentes NR

    TESTE 3

    LTD Normal Normal NR NR

    TESTE 4

    Schilder Aumentada Aumentada Presentes NR

    Schilder Normal Normal NR NR

    Schilder Normal Normal Ausentes NR Tabela 3: Extrao de dados dos exames laboratoriais realizados

  • 50

    Caractersticas por Imagem RM convencional:

    casos

    Localizao da leso

    Outras

    leses

    Efeito de mass

    a

    Edema

    Captao de contraste Espectroscopia

    Homognea

    Anel aberto

    Anel fechado

    Heterognea

    NR

    Aumento

    colina, reduo NAA

    Pico glutam

    ato

    pico lacta

    to

    NR

    1. Parieto-occipital

    X X X X

    2. Parieto-temporal

    X X X X

    3. Fronto-parietal

    X X X X

    4. Cerebelo

    X X X

    5. Cerebelo

    X X X

    Tabela 4: Extrao de caractersticas da imagem na RM

    Finalmente, utilizando os mesmos 4 casos-piloto,os critrios

    diagnsticos decisivos para caracterizao da doena de base foram

    agrupados na tentativa de responder a pergunta fundamental da Reviso

    Sistemtica da Literatura, ou seja, quais foram os elementos mais importantes

    para definir o diagnstico etiolgico? (TABELA 5). Mais adiante, no tpico

    resultados, estes dados sero mostrados em grfico de barras.

    Autor, ano

    Diagnstico etiolgico

    RM de crnio:

    RM coluna:

    LCR/BOC / ndice IgG:

    Anti-AQP 4

    Perfil linfocitrio / citocinas:

    Histopatologia:

    Melhora clnica com o tratamento:

    Recorrncia:

    TESTE 1

    EM Sim No No NR NR No Sim Sim

    TESTE 2

    Schilder Sim NR No NR NR Sim Sim No

    TESTE 3

    LTD Sim No No NR NR No Sim No

    TESTE 4

    Schilder Sim No Sim NR NR NR No No

    Schilder Sim No No NR NR NR No No

    Schilder Sim No No NR NR NR Sim No

    Tabela 5: Extrao de dados dos exames decisivos ao diagnstico etiolgico.

  • 51

    Em concluso, os diagnsticos obtidos atravs de estudo-piloto

    constando da avaliao de 4 publicaes da literatura relacionadas s DDs

    foram separados nas seguintes categorias:

    ADEM;

    Esclerose mltipla;

    NMO / Espectro-NMO;

    Doena de Schilder;

    Leso Tumefativa Desmielinizante, sem diagnstico nosolgico

    definido.

    Estes dados diagnsticos so tambm indicados na TABELA 6. As

    tabelas completas referentes aos 60 casos pesquisados na literatura sero

    exibidas no APNDICE 2.

    Nmero de casos encontrados na RSL

    % de casos encontrados

    na RSL

    ADEM 0 0

    EM 1 16,66

    NMO 0 0

    Doena de Schilder 4 66,66

    Leso Tumefativa

    Desmielinizante sem

    caracterizao

    1 16,66

    TOTAL: 6 100% Tabela 6: Etiologias das LTDs encontradas no estudo-piloto da RSL

  • 52

    5.5 - Anlise dos Dados e Sntese da Informao

    Como se trata de RSL, qualitativa, a anlise da informao foi conduzida de forma descritiva atravs do resumo das caractersticas e achados dos estudos primrios. Para isso, seguimos uma proposta de relato de metanlises de estudos observacionais - MOOSE (DONNA, 2000).

  • 53

    6 Aspectos ticos

    Questes ticas no se aplicam Reviso Sistemtica de Literatura.

    A autorizao para o seguimento da coorte de pacientes com DDs na

    Infncia, bem como para relato de casos em reunies cientficas est

    registrada sob nmero CAAE 02636812.0.0000.5269, tendo j sido o caso

    clnico exposto sob forma de pster em Congresso Internacional de Esclerose

    Mltipla.

  • 54

    7 Resultados

    A partir dos artigos includos na pesquisa foi construdo fluxograma

    PRISMA (MOHER 2009) dos resultados de busca, seleo e anlise da

    qualidade dos estudos (FIGURA 4). Para facilitar a construo do fluxograma,

    elaborou-se tabela analisando o nmero de artigos identificado em cada base

    de dados, aqueles porventura duplicados e includos e/ou excludos da anlise

    (APNDICE 2). Foram encontrados 71 estudos nas principais bases de dados.

    Adicionalmente, selecionou-se 23 estudos via busca manual na internet, anais

    de congresso e lista de referncia dos artigos originais.Deste total, 37 estavam

    duplicados e foram retirados da amostra, contabilizando 57 artigos para

    avaliao. Em seguida, 22 artigos foram excludos por no se adequarem aos

    critrios de incluso.

    Finalmente, para anlise da Reviso Sistemtica da Literatura restaram 35

    artigos incluindo relatos e sries de caso, perfazendo um total de 67 casos de

    LTDs na infncia. Desses, 7 casos foram excludos em decorrncia de

    descries conflitantes das leses supostamente desmielinizantes, talvez mais

    compatveis com metstases ou ADEM.Os casos excludos esto listados no

    APNDICE, aps tabela da base de dados.

  • 55

    Figura 4: Fluxograma PRISMA dos estudos durante as diferentes fases da RSL

    Inicialmente, estabeleceu-se resumo de cada caso relatado nos artigos

    (TABELA 7 APNDICE 3). Isso facilitou a organizao dos dados e as

    demais anlises propostas. Dos 60 casos estudados, a idade dos pacientes

    variou entre 3 e 18 anos,com mdia de 11,5. Em relao ao gnero, 35 eram

    do sexo feminino e 23, masculino, numa proporo de 1,5 mulheres: 1 homem.

    Em 2 casos o sexo dos pacientes no foi informado. O aparecimento de LT

    como nico evento desmielinizante sob forma de SCI ocorreu em 33 casos.

  • 56

    Conclui-se, portanto, que 27 pacientes (45%) apresentaram recorrncia de

    surtos desmielinizantes prvios ou posteriores LT.

    Na Tabela 8 (APNDICE 4), a sintomatologia apresentada pelos

    pacientes foi agrupada nas seguintes categorias:

    Sndrome Menngea, incluindo febre, meningismo;

    Convulso;

    Hipertenso Intracraniana caracterizada por vmitos, cefalia,

    papiledema, bradicardia, alterao do ritmo respiratrio;

    Encefalopatia representada por alteraes do estado de

    conscincia, irritabilidade, sonolncia, torpor e coma;

    Sndrome Piramidal;

    Sndrome Medular, incluindo alteraes esfincterianas;

    Sndrome Cerebelar;

    Alteraes visuais decorrentes de neurite ptica, incluindo baixa

    visual (ambliopia )e/ou amaurose.

    Sndrome de nervos cranianos;

    A seguir, ser mostrada figura exibindo os sinais e sintomas de 58 dos

    60 casos analisados na RSL (Figura 5). Em 2 casos (KEPPES 1993) no h

    sintomatologia relatada.

    Na abscissa, esto listados os sintomas ou sndromes e, na ordenada, o

    nmero total de casos. Na evoluo da doena e/ou durante mais de 1 surto,

    alguns pacientes apresentaram um nico tipo de sintoma ou sndrome

    neurolgica (ex: pacientes 1,4,24); outros, desenvolveram diversos sintomas ou

    quadros neurolgicos superpostos (ex: pacientes 7, 55, 58).

  • 57

    Figura 5: Sinais e sintomas dos casos analisados na RSL So descritas sintomatologias de 58 dos 60 casos . Os

    casos so mostrados naordenada e os sintomas e/ou sndromes na abscissa.

    No prximo grfico exibido abaixo, a ocorrncia dos sintomas e/ou

    sndromes expressa em percentual (Figura 6).

  • 58

    Grfico 1: Sintomas e/ou sndromes neurolgicas observadas nas crianas e adolescentes com LTD

    A partir da Tabela 9 (APNDICE 4) foi analisado o resultado dos

    seguintes exames laboratoriais: no lquor, celularidade, protenas e BOCs; no

    sangue, pesquisa de anticorpo anti Aquaporina 4. O resultado foi expresso da

    seguinte forma: NORMAL, ALTERADO ou NR (no realizado / no relatado).

    Os valores de referncia considerados normais para crianas e adolescentes

    so os seguintes:

    Celularidade: 0-7 clulas/mm3;

    Proteinorraquia: 540 mg/dl;

    Ausncia de BOCs;

    Ausncia de Anticorpo AntiAquaporina 4;

  • 59

    Grfico 2: Resultados dos exames laboratoriais realizados no lquor e sangue

    As anlises mais realizadas foram a celularidade 45% e dosagem de

    protenas no LCR 43%, mas mesmo assim, em 55% dos casos estes exames

    no foram feitos ou relatados. A dosagem de BOCs foi realizada em 43% dos

    casos e a de anticorpo anti-AQP4 em apenas 5%.

    Na anlise da Tabela 10 (APNDICE 4) relacionada s caractersticas

    mostradas na RM, no foi feito qualquer julgamento crtico, mas apenas

    considerou-se a descrio das leses apontadas pelos autores. Nos casos da

    tabela s foram considerados exames de RM, mas dos 60 casos relatados, em

    2 deles, apenas a TC de crnio foi feita, e em alguns a TC foi seguida por RM.

    A localizao das leses nas diversas reas do SNC mostrada abaixo na

    Figura 7, sendo que em 3 casos no houve relado da rea da LTD. Algumas

    delas ocupam mais de um stio ou ocorrem em reas de transio entre os

    hemisfrios cerebrais, a saber: 15 fronto-parietais, 2 parieto-temporais, 5

    fronto-parieto-temporais e 5 tmporo-parieto-occipitais.

    Celularidade no LCR

    Protenas no LCR Bandas

    Oligoclonais Anti-AQP 4

    NR 33 34 34 57

    Normal 19 20 22 2

    Alterado 8 6 4 1

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    NR

    Normal

    Alterado

  • 60

    Figura 6: LocalizaodasLTDs de acordo com a anatomia do SNC

    Fonte: Modificada de: http://nantescestabasica.blogspot.com.br/2012/09/conhecendo-o-corpo-humano-o-

    cerebro.html

    Em seco paramedial do SNC so localizadas leses

    adicionaisexibidas na Figura 8: 2 na ponte, 5 periventriculares, 3 na coroa

    radiada, 2 no tlamo e 1 no bulbo.

    Figura 7: Localizao das LTDs adicionais no SNC

    Fonte: Modificada de: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-

    nervoso/hemisferios-cerebrais.php

    Do total de casos, 12 deles apresentaram mais de uma leso na RM,

    associada a outras pequenas leses ou leso antiga, no captante de

    http://nantescestabasica.blogspot.com.br/2012/09/conhecendo-o-corpo-humano-o-cerebro.htmlhttp://nantescestabasica.blogspot.com.br/2012/09/conhecendo-o-corpo-humano-o-cerebro.htmlhttp://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/hemisferios-cerebrais.phphttp://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/hemisferios-cerebrais.php

  • 61

    contraste. O edema perilesional ocorreu em 33 casos e efeito de massa em 30.

    Em 17 casos as leses foram mistas e/ou apresentaram as duas

    caractersticas. Na RM, a captao do Gd obedeceu s seguintes formas:

    homognea, quando h realce slido e uniforme na totalidade da leso;

    heterognea, mostrando padro varivel e complexo de distribuio da

    captao; em anel aberto (do ingls, open ring),se a captao se restringe s

    bordas da leso formando arco ou crculo, sem fechamento completo; ou em

    anel fechado (closed ring),quando as bordas se completam em crculo

    fechado.

    Entre as leses reforadas por Gd, 45 foram captantes; em 11 casos, os

    autores no realizaram ou no relataram se foi ou no usado contraste.

    Portanto, dos 49 casos contrastados houve 92% de captao. Nos pacientes, o

    tipo de captao de contraste foi assim distribudo: 3, captaram de forma

    homognea (6,6%); 11, heterognea(24,4%); 21, em anel aberto (46,6%); 10,

    em anel fechado (22,2%). A espectroscopia foi descrita em apenas 10 casos:

    em 2 deles,houve documentao de pico de glutamato; em 7, aumento de

    colina e reduo de NAA (N-acetil aspartato), sendo que 3 destes associados a

    pico de lactato; 1, apresentou apenas pico de lactato.

    A partir da TABELA 11 (APNDICE 4), exibe-se a seguir o nmero de

    casos e respectivas percentagens relacionados aos critrios diagnsticos para

    caracterizao da doena de base (Grfico 3). Por exemplo, a RM foi realizada

    em quase 100% dos casos, mas a pesquisa de BOCs e IgG no LCR em

    aproximadamente metade (40-50%). A ideia inicial foi tambm avaliar aspectos

    celulares e moleculares dos casos estudados, como por exemplo, dosagem de

    PBM, citocinas inflamatrias e perfil linfocitrio, mas muito pouco a respeito foi

  • 62

    encontrado na pesquisa realizada. Ou seja, em 3 casos foi dosada a PBM no

    LCR, e o perfil linfocitrio e dosagem de citocinas em apenas 1.

    Grfico 3: Exames diagnsticos realizados ou no (ou no relatados) em 60 pacientes

    Os exames realizados que contriburam para definir o diagnstico final

    de DD so mostrados a seguir em termos percentuais (Grfico 4). A RM de

    crnio e coluna em conjunto com o exame histopatolgico foram os dados mais

    relevantes.

    5,0

    26,7

    26,0

    46,7

    96,7

    95,0

    73,3

    56,7

    53,3

    3,3

    0% 20% 40% 60% 80% 100%

    Anti AQP4

    Ressonncia de coluna

    BOC e ndice de IgG em LCR

    Histop