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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA GIRLANY VALÉRIA LIMA DA SILVA HIDRELÉTRICA DE SANTO ANTÔNIO NO RIO MADEIRA/RONDÔNIA E A (DES)TERRITORIALIZAÇÃO DA COMUNIDADE DE TEOTÔNIO: É POSSÍVEL UMA (RE)TERRITORIALIZAÇÃO? PORTO VELHO-RO 2016

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA

GIRLANY VALÉRIA LIMA DA SILVA

HIDRELÉTRICA DE SANTO ANTÔNIO NO RIO MADEIRA/RONDÔNIA E A (DES)TERRITORIALIZAÇÃO DA COMUNIDADE DE TEOTÔNIO: É

POSSÍVEL UMA (RE)TERRITORIALIZAÇÃO?

PORTO VELHO-RO 2016

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GIRLANY VALÉRIA LIMA DA SILVA

HIDRELÉTRICA DE SANTO ANTÔNIO NO RIO MADEIRA/RONDÔNIA E A (DES)TERRITORIALIZAÇÃO DA COMUNIDADE DE TEOTÔNIO: É

POSSÍVEL UMA (RE)TERRITORIALIZAÇÃO?

Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rondônia, como requisito para a obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Maria Madalena de Aguiar Cavalcante. Linha de Pesquisa: Paisagem, Natureza e Sustentabilidade - PNS.

PORTO VELHO-RO

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES

Bibliotecária Responsável: Carolina Cavalcante CRB11/1579

S586h Silva, Girlany Valéria Lima de. Hidrelétrica de Santo Antônio no rio Madeira-Rondônia e a (des)territorialização da comunidade de Teotônio: é possível uma (re)territorização? / Girlany Valéria Lima de Silva. - Porto Velho, Rondônia, 2016. 106f. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Madalena de Aguiar Cavalcante Dissertação (Mestrado em Geografia) - Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR 1.Geografia. 2.Hidrelétricas – Rondônia. 3.Rio Madeira – Rondônia 4.Desterritorialização – Vila Nova de Teotônio. I. Cavalcante, Maria Madalena de Aguiar. II. Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR.III. Título. CDU:911.37

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DEDICATÓRIA

Aos moradores da Vila do Teotônio.

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APRESENTAÇÃO, TRAJETÓRIA DE PESQUISA E AGRADECIMENTOS

Ingressei no curso de Geografia da Universidade Federal de Rondônia

no ano de 2009, nesse período minha ligação com a ciência geográfica era

muito distante assim como de todo aluno iniciante, pude ver alguns colegas e

um dos professores do curso falando a respeito da importância da participação

em laboratórios e grupos de pesquisa, no entanto na época eu não entendia a

importância deles para a formação acadêmica.

Em 2010, o Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental –

LABOGEOPA, da qual atualmente faço parte, abriu um edital para a seleção de

novos alunos, acabei me interessando e me inscrevi para a seleção, que se

dava través de uma entrevista e análise do histórico acadêmico, ao fim do

processo fui selecionada como voluntária da linha de pesquisa gestão do

território, por seis meses fui colaboradora e fiz leituras relacionadas a temáticas

estudada, depois submetemos uma proposta de plano de trabalho ao

Programa de Iniciação Científica – PIBIC, que foi aprovado e passei a ter o

vínculo de bolsista.

O meu ingresso no PIBIC foi desafiador, pois no mesmo período minha

orientadora havia acabado de ser aprovada em um concurso e foi morar na

cidade de Guajará Mirim (localizada à 364 Km distante da capital Porto Velho),

fiquei sobre a co-orientação do professor coordenador do laboratório e os

encontros com minha orientadora passaram a ser realizados por email, telefone

e também nas datas em que minha orientadora estava em Porto Velho ou eu ia

até Guajará Mirim, essa experiência de orientação à distância me possibilitou

desde o início uma busca pela autonomia na pesquisa, minha orientadora fazia

a leitura dos meus relatórios, dando sugestões e mostrando novas

possibilidades, participei por três anos do PIBIC, sendo este de fundamental

importância para minha formação acadêmica, pois, obtive experiência para a

elaboração da monografia, assim como para a entrada na Pós Graduação.

Durante o mestrado tivemos boas experiências durante as disciplinas

cursadas, também durante o meu estágio docência na disciplina de Gestão

Ambiental, onde na oportunidade os alunos da turma participaram junto comigo

de um dos meus trabalhos de campo para o levantamento dos dados que

constituem essa pesquisa, assim eles aprenderam a utilizar uma das

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ferramentas para a coleta de dados que é o formulário e conheceram a área de

estudo para a compreensão dos impactos decorrentes a implantação da

hidrelétrica.

Durante esse período muitas pessoas estiveram presentes, me ajudando

e apoiando, sou grata a cada uma delas, primeiramente agradeço ao mestre da

minha Vida, Jesus Cristo, pois, é Nele que eu encontro forças para caminhar,

sem Ele eu não sou nada;

Agradeço à Universidade Federal de Rondônia e ao Programa de Pós-

Graduação Mestrado em Geografia pela oportunidade à Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela bolsa fornecida,

que tornou possível a realização dessa pesquisa;

A todos os professores do Mestrado em Geografia, pelo profissionalismo

e experiência na ciência geográfica, também por disponibilizar seus livros e

principalmente aos professores que cursei suas disciplinas, cada uma delas foi

de fundamental importância para a construção desse trabalho e também para a

minha formação acadêmica;

À professora Madalena Cavalcante pela orientação desde a iniciação

científica, bacharelado e agora no mestrado, pelo conhecimento transmitido

neste período e pela experiência na pesquisa, agradeço também por sua

amizade e preocupação;

A banca de qualificação composta pelos professores Dorisvalder Dias

Nunes e Josélia Fontenele Batista Cabral que contribuíram através das suas

sugestões para a melhor construção do trabalho;

Aos membros do Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental -

LABOGEOPA, ao Luiz Cleyton, pelo apoio e logística nos trabalhos de campo,

por toda experiência de campo passada, assim como as discussões à respeito

do tema, ao meu amigo Gean pelos debates conceituais e confecção de

mapas, e a Bruna pelo apoio em campo, assim como os demais colegas de

laboratório pelo apoio durante o mestrado, Valônia, Carla Dominique, Tamires,

Aldemir, Carla Silveira, Laura, Gizele, Tirla, Michel e Janielson, admiro cada um

de vocês;

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À turma de Geografia 2015/1 da disciplina de Gestão Ambiental, pela

troca de experiências em sala de aula durante meu estágio docência e pelo

auxílio em campo;

Agradeço à minha família, que torce muito pela minha formação,

principalmente a minha mãe Elisabethe por ser meu exemplo de profissional e

por me incentivar a estudar, e ao Lourione meu pai de coração, meu exemplo

de vida e superação, por todo o apoio e palavras de ânimo;

Agradeço in memoria, ao meu tio José, por todo incentivo nos meus

estudos, que foi meu companheiro no início do mestrado, mas, que

infelizmente o perdi, tornando a caminhada tão difícil, minha eterna lembrança

da sua alegria e amor pelos estudos;

À minha avó Elza, pela companhia constante e por me passar tanta

coragem, as minhas tias, Elizeth e Elcy por todo cuidado durante toda a minha

formação e aos meus tios Laércio, Edvando e Edcarlo, pelos investimentos

feitos na minha vida, durante o meu mestrado;

Às minhas irmãs de coração Celita, Bianca e Karla por ter sido uma

parte da minha família enquanto permaneço longe de casa e ao meu melhor

amigo e namorado Eder pelo incentivo e carinho;

Às minhas amigas, Andréia, Kelyany e Tainá pelo apoio durante nossa

graduação, iniciação científica e também mestrado, agradeço também pela

ajuda nos trabalhos de campo e discussões a respeito da pesquisa e tantas

outras coisas que não tenho como retribuir e as colegas de mestrado pela

aprendizagem em conjunto, diálogos e bons momentos juntas, especialmente a

Liliana Borges, Hélen Rose, Ana Paula, Jânia e Patrícia;

Agradeço especialmente aos moradores da Vila do Teotônio, pois, sem

a contribuição deles não seria possível o desenvolvimento da pesquisa,

agradeço por cada entrevista e atenção dada durante os trabalhos de campo e

por compartilhar um pouco de suas vidas.

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RESUMO

A instalação de usinas hidrelétricas na Amazônia tem sido realizada mediante a justificava de a região apresentar um grande potencial hídrico para a geração de energia elétrica. Em Rondônia, no município de Porto Velho, no ano de 2008, foram instaladas as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, cuja apropriação do Rio Madeira está para suprir uma demanda energética nacional. O objetivo do presente trabalho foi analisar o processo de (des)territorialização da Vila do Teotônio por ocasião da implantação da hidrelétrica de Santo Antônio e verificar se há uma (re)territorialização da comunidade no reassentamento denominado Vila Nova de Teotônio. O método adotado foi o dialético e a ferramenta utilizada para a coleta de dados em campo foi o formulário, constituído de questões abertas e fechadas sobre: o perfil da família, comparação entre as principais atividades econômicas da família, o uso do rio/reservatório e a organização social e política da população. Os resultados apontam que diante da (des)territorialização da Vila do Teotônio ocorreu a restrição e a substituição das atividades econômicas anteriormente utilizadas pela comunidade como fonte de renda e subsistência, sendo a pesca, agricultura de várzea e turismo. Os entrevistados afirmaram que o desenvolvimento dessas atividades piorou, estando relacionado à falta de pescado, a submersão da várzea e a baixa movimentação turística. Atualmente a principal fonte de renda no reassentamento está relacionada ao auxílio financeiro pago pela empresa construtora da hidrelétrica, onde constatou-se uma ineficiência das medidas de compensação realizadas, há o início do esvaziamento do reassentamento, cujo principal motivo é a dificuldade no restabelecimento das atividades econômicas. Neste sentido, não há a (re)territorialização no reassentamento, pois todos os elementos que garantiram a territorialização na Antiga Vila do Teotônio, agora são todos propriedade do capital nacional. Palavras-chave: Hidrelétricas. Rio Madeira. Vila Nova de Teotônio. (Des)territorialização.

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ABSTRACT

The installation of hydroelectric plants in the Amazônia has been carried out on the grounds that the region presents a great hydroelectric potential for the generation of electric energy. In Rondônia, in the municipality of Porto Velho, in 2008, the Santo Antônio and Jirau hydroelectric plants were installed, the appropriation of the Madeira River being to supply a national energy demand. The objective of this work was to analyze the process of (de) territorialization of Vila do Teotônio at the time of the implementation of the Santo Antônio hydroelectric plant and to verify if there is a (re)territorialization of the community in the resettlement called Vila Nova de Teotônio. The method adopted was the dialectic and the tool used for data collection in the field was the form, consisting of open and closed questions about: family profile, comparison between the main economic activities of the family, river / reservoir use and the social and political organization of population. The results point out that before the territorialization of Vila do Teotônio, there was a restriction and replacement of the economic activities previously used by the community as a source of income and subsistence, such as fishing, floodplain agriculture and tourism. The interviewees stated that the development of these activities worsened, being related to the lack of fish, the submersion of the floodplain and the low tourist movement currently the main source of income in the resettlement is related to the financial assistance paid by the hydroelectric construction company, where there was an inefficiency of the compensatory measures carried out, there is the beginning of the emptying of resettlement, whose main reason is the difficulty in the reestablishment of the activities And economic development. In this sense, there is no (re)territorialization in the resettlement, because all the elements that guaranteed the territorialization in the old Vila do Teotônio, are now all owned by the national capital. Key words: Hydroelectric. Rio Madeira. Vila Nova de Teotônio. (Dis) territorialization.

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SUMÁRIO Introdução 17

Capítulo 1 - Apresentação do objeto de estudo e método utilizado 20 1.1 - Nova organização territorial das comunidades afetadas pelas

hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau 21

1.2 - Apresentação do objeto de estudo 24

1.3 - Breve histórico da Vila do Teotônio 28

1.4 - Método utilizado 30

1.5 - Procedimentos metodológicos 30

a) Pesquisa bibliográfica e documental 31

b) Trabalho de Campo 31

I - Elaboração e teste do formulário 31

II - Aplicação do formulário 33

c) Sistematização dos dados obtidos 33

Capítulo 2 - O território e suas múltiplas dimensões e a territorialização de usinas hidrelétricas na Amazônia 34 2.1 - Pensando o território 35

2.2 - Os processos geográficos TDR - territorialização, (des)territorialização e (re)territorialização 38

2.3 - O território ribeirinho 40

2.4 - A territorialização de hidrelétricas na Amazônia: os planos de expansão 42 2.5 - Os investimentos para a construção de hidrelétricas na Amazônia 47 2.6 - Hidrelétricas e o seu poder (des)territorializador 49

Capítulo 3 - Territorialização da hidrelétrica de Santo Antônio e a (des)territorialização da Vila do Teotônio: é possível uma(re)territorialização? 52

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3.1.2 Atividades econômicas: pesca, agricultura na várzea e turismo 55 3.2 A territorialização da hidrelétrica de Santo Antônio 62 3.3 A (des) territorialização da Vila do Teotônio 71 3.4 O reassentamento Vila Nova de Teotônio e a impossibilidade de (re)territorialização da comunidade 72 3.5 Início do esvaziamento do reassentamento Vila Nova de Teotônio 82

CONSIDERAÇÕES 85

REFERÊNCIAS 88 APÊNDICES

Apêndice 01 - Questionário aplicado em campo 99 Apêndice 02 - Estrutura do reassentamento Vila Nova de Teotônio 101 ANEXOS Anexo 1 103 Anexo 2 104 Anexo 3 106

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Nova forma de organização territorial ribeirinha 23

Figura 02 - Vila do Teotônio as margens da Cachoeira do Teotônio 25

Figura 03 - Mapa de localização da antiga Vila do Teotônio e reassentamento Vila Nova de Teotônio 26

Figura 04 - Foto aérea do reassentamento Vila Nova de Teotônio 27

Figura 05 - Geração de energia elétrica por fonte no Brasil 43

Figura 06 - Participação regional na capacidade instalada do Sistema Integrado Nacional 2024 46

Figura 07 - Tempo de residência na antiga Vila do Teotônio 53

Figura 08 - Principal fonte de renda na Antiga Vila do Teotônio 54

Figura 09 - Renda familiar total na Antiga Vila do Teotônio 55

Figura 10 - Importância do pescado para as famílias 56

Figura 11 - Movimentação em um restaurante local 56

Figura 12 - Venda do pescado na antiga Vila do Teotônio 57

Figura 13 - Espinhel e estrutura do covi 57

Figuras 14 - Pesca de fisga nas burras 58

Figura 15 - Limites dos locais de pesca utilizados pelos pescadores 59

Figura 16 - Agricultura de Várzea 60

Figura 17 - Campeonato de pesca na Cachoeira do Teotônio 61

Figura 18 - Mobilização: Sou a favor das hidrelétricas. Usinas, Já 64

Figura 19 - Movimento contra a construção das hidrelétricas no Madeira 65

Figura 20 - Consórcio da hidrelétrica de Jirau 66

Figura 21 - Consórcio da hidrelétrica de Santo Antônio 66

Figura 22 - Expectativa quanto a instalação da hidrelétrica de Santo Antônio 67

Figura 23 - Placa de construção do reassentamento Riacho Azul 68

Figura 24 - Apropriação da área pela hidrelétrica 69

Figura 25 - Placa de construção das casas do reassentamento 70

Figura 26 - Mudança de uma das famílias para o reassentamento 71

Figura 27 - Moradores sobre influência do reservatório 72

Figura 28 - Principal fonte de renda no reassentamento 73

Figura 29 - Renda familiar total na Nova Vila do Teotônio 74

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Figura 30 - Comparação entre as atividades antes e após o remanejamento 75

Figura 31 - Classificação da pesca no reassentamento 76

Figura 32 - Estagnação da atividade pesqueira 76

Figura 33 - Construção de tanques de piscicultura no reassentamento 78

Figura 34 - Classificação da agricultura no reassentamento 79

Figura 35 - Agricultura em terra firme (A) macaxeira (B) abacaxi 80

Figura 36 - Classificação do turismo no reassentamento 81

Figura 37 - Elementos turísticos no reassentamento 81

Figura 38 - Sistematização dos domicílios no reassentamento 82

Figura 39 - Venda de domicílios no reassentamento 83

Figura 40 - Estruturas abandonadas no reassentamento 83

Figura 41 - Campanha de divulgação do início da geração de energia 84

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Comunidades afetadas e reassentamentos 22

Quadro 02 - Blocos de pergunta do formulário 32

Quadro 03 - Domicílios visitados no período da coleta de dados 33

Quadro 04 - Hidrelétricas em operação na Amazônia brasileira 44

Quadro 05 - Expansão hidrelétrica para a Amazônia entre 2016 e 2024 45

Quadro 06 - Opinião dos reassentados a respeito da restrição da pesca 77

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LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS AID - Área de Influência Direta

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica

BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAF - Corporação Andina de Fomento

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

EIA - Estudos de Impactos Ambientais

EMATER - Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural do

Estado de Rondônia

FECOMÉRCIO - Federação do Comércio de Rondônia

FIERO - Federação das Indústrias do Estado de Rondônia

FONPLATA - Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IIRSA - Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana

LABOGEOPA - Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental

LI - Licença de Instalação

LP - Licença Prévia

MAB - Movimento de Atingidos por Barragens

PBA - Projeto Básico Ambiental

PCH´s - Pequenas Centrais Hidrelétricas

PDE - Planos Decenais de Expansão de Energia

RIMA - Relatório de Impacto Ambiental

SAE - Santo Antônio Energia

SIN - Sistema Interligado Nacional

TDR - Territorialização, (Des)territorialização, (Re)territorialização

UHE´s - Usinas hidrelétricas

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Introdução

A instalação de usinas hidrelétricas na Amazônia tem sido realizada

mediante a justificava de que a região apresenta um grande potencial hídrico

para a geração de energia elétrica. Em Rondônia, no município de Porto Velho,

no ano de 2008, foi realizado um dos maiores investimentos público-privado

para implantação do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, constituído pelas

usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, estas obras se encontram em

fase de conclusão e somadas possuem uma potência de 6.600 MW, com uma

área de inundação de 529 Km2, pautam-se no uso do Rio Madeira para a

geração de energia elétrica e visam suprir uma demanda energética nacional.

Diante dos diversos impactos decorrentes da implantação de uma usina

hidrelétrica, a (des)territorialização da população afetada é um dos principais,

sendo este processo geográfico um dos pré-requisitos para a instalação das

obras, que é caracterizado pelo deslocamento populacional forçado, somado a

isso, é a partir da (des)territorialização que se inicia a restrição no uso dos

recursos naturais e resulta na alteração das atividades econômicas realizadas

pelos moradores.

Há neste sentido uma sobreposição de interesses mediante a

justificativa do suprimento da demanda energética nacional em detrimento da

demanda local, que estava relacionada a renda e a subsistência da população

moradora da Vila do Teotônio, essa relação de poder desigual encontrada na

área é demonstrada pela (des)territorialização da Vila do Teotônio, assim como

de outras comunidades do entorno, em função da territorialização da

hidrelétrica de Santo Antônio.

Para a (des)territorialização da população afetada pela hidrelétrica de

Santo Antônio, foram construídos sete reassentamentos, não sendo possível

no momento a análise de todos, optou-se pela comunidade mais antiga do Alto

Rio Madeira, que é a Vila do Teotônio.

A problemática do trabalho parte do seguinte questionamento: dada a

territorialização da hidrelétrica de Santo Antônio que ocasionou a

(des)territorialização da Vila do Teotônio, há uma (re)territorialização da

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comunidade no reassentamento? O tema torna-se relevante sobretudo na

Amazônia que tem sido palco para a instalação de grandes obras como as

usinas hidrelétricas, é partindo do questionamento proposto que se justifica a

importância de se analisar o processo de (des)territorialização e (re)

territorialização da Vila do Teotônio decorrente da territorialização da usina de

Santo Antônio.

O objetivo geral do trabalho foi analisar o processo de

(des)territorialização da Vila do Teotônio por ocasião da implantação da

hidrelétrica de Santo Antônio no Rio Madeira e verificar se há uma

(re)territorialização da comunidade no reassentamento Vila Nova de Teotônio.

Seguido pelos objetivos específicos: (I) identificar as atividades econômicas

vinculadas ao uso dos recursos naturais exercido pela comunidade de

Teotônio, antes e após ser remanejada; (II) analisar as propostas da empresa

construtora da hidrelétrica para o restabelecimento das atividades relacionadas

ao uso do rio/reservatório; (III) verificar os principais fatores que podem incidir

na fixação ou esvaziamento do reassentamento.

Para analisar o processo de (des)territorialização da comunidade,

adotamos o conceito de território, sendo este delimitado e definido por e a partir

de relações de poder, onde na área estudada, as relações de poder são

manifestas em duas escalas geográficas distintas, uma por parte da população

da antiga Vila do Teotônio e a outra pela hidrelétrica, que constitui-se enquanto

agente modificador do território, quando (des)territorializa uma comunidade.

O trabalho está constituído por quatro capítulos, que foram estruturados

da seguinte forma: no primeiro capítulo está a apresentação e localização do

objeto de estudo, um breve histórico da área, o método adotado e os

procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa.

No segundo capítulo são apresentados os aspectos conceituais da

pesquisa, que dizem respeito ao território e os processos geográficos TDR -

territorialização, (des)territorialização e (re)territorialização, o conceito de

população ribeirinha e uma revisão bibliográfica a respeito das usinas

hidrelétricas na Amazônia, tratando dos planos de expansão e a atual visão do

potencial hídrico a ser explorado na região amazônica, os investimentos para a

construção dessas obras, e o poder (des)territorializador dessas obras.

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No terceiro capítulo está organizado como ocorreu o processo de

territorialização da Vila do Teotônio, a territorialização da usina hidrelétrica de

Santo Antônio e a (des)territorialização da comunidade de Teotônio, assim

como a impossibilidade de (re)territorialização da comunidade no

reassentamento denominado Vila Nova de Teotônio. E por fim, são

apresentadas as considerações do trabalho.

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CAPÍTULO 1 - APRESENTAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO E MÉTODO

UTILIZADO

“Peixe? Peixe?

Onde é o teu esconderijo? Já comprei a farinha d’água pros

meninos. Tem cheiro verde, cebola, pimenta malagueta e olho de peixe, tomate,

limão e chicória. Mas, onde é teu esconderijo?

Você está com medo daquele monstro de concreto ali na curva do rio?

Já está anoitecendo e preciso levar alguns peixes pros meninos.

Cadê o pacu, jatuarana, curimatá, tambaqui, tucunaré, piau, mandi,

aruanã, jaú, pintado, barba chata, tamuatá?

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1.1 Nova organização territorial das comunidades afetadas pelas

hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau

Para realizar a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e

Jirau no Rio Madeira, ocorreu a (des)territorialização da população moradora

que estava sobre a área de influência dos reservatórios e canteiros de obras,

cuja população afetada pela usina de Santo Antônio foi de 1.762 pessoas e

pela usina de Jirau foram 1.087 pessoas, totalizando 2.840 afetados (no

decorrer do processo o número foi bem maior, mas, não divulgado), a

população afetada era advinda de 15 comunidades diferentes (FURNAS,

ODEBRECHT E LEME ENGENHARIA, 2005b; SAE, 2010 e 2011).

A empresa construtora da hidrelétrica de Santo Antônio utilizou de duas

medidas para a (des)territorialização da população afetada sendo a

indenização e o reassentamento, no Estudo de Impacto Ambiental – EIA,

estava previsto o Programa de Remanejamento da População Atingida, que foi

proposto através do Projeto Básico Ambiental-PBA.

A indenização consistiu no pagamento em dinheiro do valor referente

aos bens e atividades afetados pela hidrelétrica, para quem não fosse para os

reassentamentos e os reassentamentos eram novas áreas de moradia

construída pela hidrelétrica para a população afetada, neste sentido foram

construídos sete (7) reassentamentos: Vila Nova de Teotônio, Riacho Azul,

Novo Engenho Velho, São Domingos, Morrinhos, Santa Rita, Parque dos

Buritis e Nova Mutum Paraná (Jirau).

Das comunidades afetadas pelas hidrelétricas, hoje algumas

constituem somente um reassentamento, a exemplo de Vila Nova de Teotônio,

mas, outras comunidades foram integradas para formar um reassentamento,

este é o caso do reassentamento Riacho Azul, composto por famílias das

antigas localidades de Porto Seguro, Jatuarana, São Domingos e Trata Sério.

No quadro 01 é possível verificar a sistematização das comunidades

que foram afetadas e quais os reassentamentos que a população constitui

atualmente.

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Quadro 01- Comunidades afetadas e reassentamentos.

Localidades afetadas

Reassentamentos

Vila do Teotônio Vila Nova de Teotônio

Engenho Velho Novo Engenho Velho

Ramal Jatuarana/São Domingos/Porto Seguro/Trata Sério Riacho Azul

São Domingos/Morrinhos/Zeca Gordo/Jaci Paraná (rural/parcial) São Domingos

Jaci Paraná (urbana/parcial) Parque dos Buritis

Morrinhos Morrinhos

Joana D´Arc I, II e III (parcial) Santa Rita

Mutum Paraná Nova Mutum Paraná

Fonte: Boletim Informativo SAE, 2010 e 2011; MORET, FERREIRA, 2008.

Os reassentamentos construídos são um exemplo da nova forma de

organização do território partindo da ótica do capital, pois, estes possuem

casas padronizadas de alvenaria e cercas dividindo os terrenos, distante da

forma de organização territorial das comunidades ribeirinhas.

Esta nova forma de organização, expressa que a organização territorial

ribeirinha, passa a ser substituída pelo olhar da empresa construtora, que

prioriza a construção de infraestruturas, onde nem sempre a infraestrutura

urbana criada nos reassentamentos constitui a necessidade principal dos

reassentados, pois a real necessidade dessas comunidades é a garantia da

continuidade no acesso aos recursos naturais.

Na figura 01 a seguir, é possível visualizar no limite do Rio Madeira, a

projeção dos reservatórios formados pelas usinas de Jirau e Santo Antônio, em

vermelho está pontuada a antiga localização das comunidades afetadas pelo

alagamento da área, assim com a nova localização dessas comunidades nos

reassentamentos construídos pela hidrelétrica de Santo Antônio e um

construído pela hidrelétrica de Jirau.

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Figura 01 - Nova forma de organização territorial ribeirinha.

Elaborado a partir de: http://goo.gl/nl08Lb. Acesso em 12/07/2011. Imagens: Disponível em http://goo.gl/mzKUwc. Acesso: 01/06/2015.

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A instalação das usinas hidrelétricas de Jirau e de Santo Antônio

proporcionou uma nova forma de organização do Alto Rio Madeira,

principalmente no que se refere as comunidades instaladas na área, onde a

partir da formação dos reservatórios e canteiro de obras das hidrelétricas

ocorre uma ruptura na forma de organização territorial dessas comunidades

que agora são decididas pelas empresas construtora das usinas hidrelétricas

(CAVALCANTE, 2012).

1.2 Apresentação do objeto de estudo

Não sendo possível no momento a análise de todos os reassentamentos

construídos, optou-se pela comunidade mais antiga do Alto Rio Madeira, que é

a Vila do Teotônio. Instalada à margem da Cachoeira do Teotônio, a população

moradora foi remanejada e constitui atualmente o reassentamento Vila Nova de

Teotônio. Estava localizada a aproximadamente 27Km de Porto Velho/RO, pela

BR-364, sentido Rio Branco/AC, a Cachoeira do Teotônio estava situada entre

duas outras cachoeiras de menor porte, a Cachoeira Morrinhos à montante e a

Cachoeira de Santo Antônio à jusante. Às margens da Cachoeira do Teotônio

foram formadas as Vilas do Teotônio, à margem direita e a Vila Amazonas, à

margem esquerda, assim como, as comunidades de Porto Seguro, Trata Sério

e Cachoeira do Macaco à jusante, que também dependiam da área de pesca

na Cachoeira do Teotônio (DORIA, LIMA, 2015).

A população da Vila do Teotônio era constituída basicamente por

pescadores profissionais que formavam uma Colônia de Pescadores, possuía

características típicas de uma comunidade tradicional ribeirinha da Amazônia,

onde as atividades econômicas e de subsistência estavam ligadas diretamente

com o ciclo de cheia e vazante do rio Madeira, onde os recursos naturais

advindos do rio Madeira, eram o elemento essencial na organização territorial

da comunidade (SILVA, 2000; CAVALCANTE, 2012).

Até o ano de 2011 quando a população foi (des)territorializada, por

ocasião da hidrelétrica de Santo Antônio, residiam na comunidade 66 famílias,

com aproximadamente 269 pessoas, a maioria das famílias habitava em

domicílios de madeira às margens da Cachoeira do Teotônio, mais conhecidas

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como palafitas1, instaladas às margens desse trecho do Rio Madeira conforme

figura 02 (DORIA, LIMA, 2015 op.cit).

Figura 02 - Vila do Teotônio às margens da Cachoeira do Teotônio.

Fonte: Disponível em: https://goo.gl/V8tbRC. Acesso: 11/05/2012.

Na figura 03 é possível visualizar no limite do município de Porto Velho,

a área de abrangência do reservatório e a localização da hidrelétrica de Santo

Antônio, assim como a Antiga Vila do Teotônio e a área para onde a população

foi remanejada que é o reassentamento Vila Nova de Teotônio (ver apêndice

02 em que podem ser visualizadas as edificações que constituem a nova área).

1 São construções sobre estacas de madeira muito utilizadas nas margens dos rios da Amazônia, sua função é evitar que as casas sejam arrastadas pela correnteza dos rios e também evitam que sejam alagadas onde há um alto índice pluviométrico.

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Figura 03 - Mapa de localização da Antiga e Nova Vila do Teotônio.

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Na imagem aérea do reassentamento, que pode ser visualizada na

figura 04, verifica-se a nova forma de organização territorial da comunidade,

que foi reassentada à margem do reservatório da hidrelétrica. No

reassentamento foi construída uma praia artificial, um píer, (72) setenta e dois

domicílios de 2 mil m2, uma escola, um posto de saúde, um campo de futebol,

uma praça, uma padaria, um mercado, assim como as demais edificações que

podem ser visualizadas na figura 04 a seguir:

Figura 04 - Foto aérea do reassentamento Vila Nova de Teotônio.

Disponível em: http://goo.gl/YzLw4J. Acesso: 22/05/2012.

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1.3 Breve histórico da Vila do Teotônio

A área onde estava instalada a comunidade de Teotônio já foi

denominada por distintos nomes, em 1723, o sargento-mor Francisco de Melo

Palheta registra a mudança do nome Iaguerite, como era denominada pelos

índios da região para São João, por ser dia 23 de junho, no dia da sua

passagem pelo local, posteriormente José Gonçalves registrou o nome de

Cachoeira de Gamon, em 1749, há fatos que também a denominavam por

Natal. Teotônio da Silva Gusmão a denominou Nossa Senhora da Boa Viagem

do Salto Grande e em 21 de fevereiro de 1781, o engenheiro Francisco José de

Lacerda e Almeida, a denominou de Santo do Teotônio, sendo depois

conhecida como Teotônio ou Vila do Teotônio (SILVA, 1991).

No período Colonial a Coroa Portuguesa fundou em 1748 a capitania de

Mato Grosso, que naquele período abrangia as áreas que atualmente fazem

parte do Estado de Rondônia, após a descoberta do ouro no Vale do Guaporé,

o comércio era realizado sempre pelas rotas que ligavam a região Guaporeana

à Cuiabá e esta à São Paulo e ao Rio de Janeiro. Mas ainda existia uma

precariedade no abastecimento da região, assim o então governador Antônio

Rolim de Moura Tavares pleiteou a abertura de uma rota fluvial Guaporé-

Mamoré-Madeira e Amazonas, que iria ligar a Vila Bela da Santíssima Trindade

a Belém do Pará (SILVA, 1991; TEIXEIRA, 1998).

A ligação comercial com o Pará através da rota fluvial do Guaporé-

Mamoré-Madeira e Amazonas, pretendia não só aliviar o auto custo de

manutenção do abastecimento praticado até então através de Cuiabá, mas,

facilitar o escoamento do ouro através de uma rota mais segura, o que

reduziria as possibilidades de contrabando pelas rotas terrestres para São

Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Com a preocupação do então Governo

Português com o ouro, através da Provisão de 14 de novembro de 1752, as

viagens passaram a ser feitas somente através do rio, sendo permitida e aberta

a navegação pelos vales do Guaporé, Madeira e Amazonas, assim

estabeleceu-se uma ligação comercial entre Vila Bela da Santíssima Trindade e

Belém do Pará, e proibiu-se a comunicação entre as duas capitanias por

qualquer outro caminho fluvial que não fosse a rota do Madeira (TEIXEIRA,

op.cit).

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Neste sentido foi escolhido um local para que um procurador anotasse

tudo o que subisse ou descesse do rio, e realizasse o pagamento do imposto

ou quinto do ouro extraído da calha do rio e seus afluentes, quem não

prestasse conta ou burlasse o fisco, seria deportado para Angola, na África, por

10 anos e perderia tudo seu, inclusive seus escravos (SILVA, op.cit).

Para tanto, a abertura da rota fluvial do Rio Madeira foi concretizada com

a fundação de arraiais em alguns pontos estratégicos, para assim garantir o

apoio aos comboieiros, e a fiscalização de suas cargas, onde as medidas de

prevenção ao contrabando e proteção das fronteiras e rotas fluviais seriam

completadas com a criação de destacamentos militares e fortificações

(MEDEIROS, 2001).

A partir dessa necessidade, surgiram os arraiais de Balsemão,

localizado na cachoeira do Jirau, Santo Antônio das cachoeiras do Rio

Madeira, e o povoado de Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto Grande,

onde sua fundação foi ordenada pelo governador Rolim de Moura e fundada

pelo Juiz de Fora Teotônio Gusmão, na cachoeira de Salto Grande, que

posteriormente ficou conhecida como Teotônio, dado o nome de seu fundador,

a qual foi elevada à categoria de Vila (1759) pelo capitão-general Francisco

Xavier de Mendonça Furtado, então governador da Capitania do Grão-Pará

(REZENDE, 2006).

Posteriormente a Vila tornou-se muito violenta dadas as desavenças

entre seus habitantes e a permanente hostilidade dos índios Mouras. Teotônio

Gusmão, convencendo-se da impossibilidade de ali permanecer com a família,

abandonou o povoado (1760) indo residir na Vila de Santarém, no Grão-Pará.

Mediante o papel fundamental de Teotônio Gusmão para o estabelecimento

daquela Vila, passou a ser designada de Salto do Teotônio e mais tarde,

Cachoeira do Teotônio (BADOCHA et al.,2001).

Em 1819 houve nova tentativa de povoar Teotônio, através do tenente

coronel José Pereira da Silva, que iria fundar um Núcleo colonial, mas, não

obteve êxito e que terminou assassinado por escravos, e posteriormente o

tenente Diogo de Ramos Cardoso, que resistiu ás intempéries até 1825,

quando viajou para o Pará (SILVA, 1991).

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Desde a sua formação, esta localidade tem sido orientada por planos de

desenvolvimento externo, onde as macro estratégias agenciadas pelo Governo

Federal, intervêm na forma de organização territorial, social, econômica e

cultural, e definem a nova forma de organização da localidade, principalmente

no que se refere ao uso dos recursos naturais.

1.4. Método utilizado

O método é um instrumento intelectual e racional que possibilita a

análise da realidade pesquisada, quando o pesquisador pretende fazer uma

leitura dessa realidade e estabelecer verdades científicas para a sua

interpretação, sendo assim possível alcançar os objetivos propostos

inicialmente no trabalho (SPÓSITO, 2004).

Para esta análise utilizamos o método dialético, sendo este capaz de

acompanhar o movimento das coisas, este procede da refutação das opiniões

do senso comum, levando-as à contradição, para chegar então à verdade, fruto

da razão (JAPIASSU&MARCONDES, 1990; MARCONI E LAKATOS, 2003).

No método dialético o sujeito se constrói e se transforma vis-à-vis o objeto e vice e versa. Nesse caso, teremos a antítese e as teses em constante contradição e movimento. Geralmente os trabalhos que se utilizam desse método se caracterizam por ser mais críticos da realidade por sua concretude e pelo fato de mostrarem contradições existentes no objeto pesquisado SPÓSITO, 2004, p. 47).

O uso do método dialético, possibilitou realizar uma análise do processo

de (des)territorialização da comunidade e verificar se há uma

(re)territorialização no reassentamento para a qual foram destinados para dar

lugar a hidrelétrica de Santo Antônio.

1.5 - Procedimentos metodológicos

Os procedimentos metodológicos utilizados para a análise foram

organizados em três fases operacionais que abrangem desde a aquisição à

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sistematização dos dados na seguinte forma: (a) Pesquisa bibliográfica e

documental; (b) Trabalho de campo: elaboração, teste e aplicação dos

formulários junto à comunidade; (c) Sistematização dos dados obtidos, que

serão detalhados a seguir:

a) Pesquisa bibliográfica e documental

A pesquisa bibliográfica diz respeito aos conceitos adotados na

pesquisa sendo eles: território, territorialização, (des)territorialização,

(re)territorialização e comunidades ribeirinhas, disponíveis em livros, artigos

científicos, dissertações e teses. A pesquisa documental foi realizada para a

análise de dados secundários, que são aqueles encontrados em documentos

públicos oficiais como: boletins, relatórios, entre outros, estes são:

Estudo de Impacto Ambiental – EIA;

Relatório de Impacto Ambiental – RIMA;

Projeto Básico Ambiental – PBA;

Programa de remanejamento da população atingida.

b) Trabalho de Campo

Para a obtenção de dados primários foram realizadas entrevistas

estruturadas, que de acordo com Gil (2008, p.113) consiste em uma relação

fixa de perguntas onde a ordem e redação das perguntas não é variável para

todos os entrevistados. Essa lista de perguntas é chamada de questionário ou

formulário, que só se diferem pela forma de aplicação, pois, o questionário é

auto administrado pelo entrevistado, já o formulário é preenchido pelo

pesquisador, com as respostas dadas pelos entrevistados.

I. Elaboração e teste do formulário

Nesta pesquisa optamos pelo formulário, pois, este, pode ser aplicado a

todos os segmentos da população, que queiram colaborar com a pesquisa,

sejam: alfabetizados, analfabetos, populações heterogêneas, e de acordo com

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cada situação, o entrevistador pode facilitar a compreensão do formulário para

cada informante (GERHARDT, SILVEIRA, 2009).

O formulário é uma ferramenta de pesquisa para a coleta de dados

primários, que são aqueles obtidos em documentos originais, que não foram

utilizados em nenhum estudo ou pesquisa, ou seja, foram coletados pela

primeira vez pelo pesquisador para a investigação do problema, podendo ser

coletados mediante observações, entrevistas, formulários e questionários.

O formulário foi elaborado com base em dados coletados em campo no

ano de (2010) pelo Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental, neste

campo foi realizada uma visita a antiga Vila do Teotônio, e foram coletadas

informações sobre as atividades econômicas da comunidade e realizado o

registro fotográfico da área.

As perguntas do formulário eram fechadas e abertas, nas questões

fechadas, o informante escolhia uma resposta entre as constantes de uma lista

predeterminada, nas abertas, o informante respondia livremente e o

entrevistador anotava tudo o que era declarado, o informante podia utilizar

linguagem própria e emitir opiniões verbalmente a respeito do que lhe foi

questionado (BONI & QUARESMA, 2005; GERHARDT & SILVEIRA, 2009).

O formulário foi organizado em blocos de perguntas padronizadas, para

que as informações obtidas fossem pudessem ser comparadas entre si (GIL,

2008), a estrutura do formulário pode ser visualizada no quadro 02 a seguir:

Quadro 02 - Blocos de perguntas do formulário.

Elaborado pela autora.

A sistematização em blocos, além de facilitar a entrevista, pois é

estabelecida uma sequência ordenada da realização das perguntas, também

Bloco de perguntas do formulário

1º Perfil da família

2º Comparação entre principais atividades econômicas da família

3º Uso do Rio/reservatório

4º Organização social e política da população

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possibilita uma melhor tabulação dos dados e posterior análise das

informações.

II - Aplicação do formulário

A aplicação do formulário ocorreu em maio de 2015, com uma equipe de

(10 pessoas) que auxiliou na aplicação do questionário, sendo um formulário

por unidade familiar, aplicado preferencialmente com os chefes de família, na

ausência deste, o responsável pela casa no momento (acima de 18 anos de

idade), 100% dos domicílios (72) do reassentamento foram visitados, incluindo

os domicílios ocupado, fechado e vago, conforme descrição no quadro 03 a

seguir:

Quadro 03 - Domicílios visitados no período da coleta de dados.

Domicílio

Situação no período da coleta

Ocupado

Onde foi aplicado questionário com o morador responsável pelo domicílio na data de referência;

Fechado

Ocupado cujos moradores estavam temporariamente ausentes durante todo o período da coleta;

Vago

Que não tinha morador na data de referência, mesmo que, posteriormente, durante o período da coleta, tivesse sido ocupado.

Fonte: IBGE, 2010.

c) Sistematização dos dados obtidos

Nesta fase foi realizada a sistematização e a análise dos dados obtidos

através das fases anteriores com a (pesquisa bibliográfica e documental e o

trabalho de campo). Com os dados obtidos através do formulário, foi realizada

uma tabulação eletrônica em planilhas, que consiste no processo de

agrupamento e contagem dos dados que estavam nos blocos de perguntas.

Foram realizadas as análises das comparações realizadas pelos

entrevistados, a exemplo das questões: 2.06, 2.07 e 2.08, no bloco 02 (ver

apêndice 01), os entrevistados classificaram as atividades na antiga Vila do

Teotônio, comparando com a mesma atividade no reassentamento e assim

qualificando-a como: melhor, igual ou pior.

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CAPÍTULO 2 - O TERRITÓRIO E SUAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES E A

TERRITORIALIZAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA

Peixe?

O que vamos jantar? Cadê a piracema?

Lá em casa o fogareiro já deve estar aceso.

Ah! Santo Antônio não te protegeu? Mas, para o progresso não existe

santo, pedra da cachoeira, nem curva de rio.

Meu avô me ensinou a pescar. Ensinei meu filho a pescar.

Tu se escondendo desse jeito, vou precisar ensinar minha neta a comprar

aqueles peixes com os olhos sem brilhos do supermercado.

Peixe?

Cadê tu peixe? Cavei no pé do jirau pra achar

minhoca. Tem milho e pirão de farinha.

Queria te pescar no rio Madeira. Ali nas cachoeiras.

Existia até campeonato de pesca. É peixe, acho que hoje a meninada vai

comer é cabeça de galo com farinha. Basinho, tu se lembra da cabeça de

galo com pimenta do reino? Mas, pode ser caldo de caridade.

Basta ter farinha.

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2.1. Pensando o território

Geralmente quando se fala de território, remete-se a ideia de uma

grande extensão de terra, ou em primeiro momento, tem-se a ideia do território

delimitado fisicamente, a exemplo do território nacional, cujo Estado é a figura

principal (SOUZA, 2013). No entanto, o território não pode ser reduzido

somente a essa escala de análise, pois, existem territórios em suas mais

diversas escalas.

O conceito de território está relacionado ao conceito de poder, mas, não

somente o tradicional poder político, que diz respeito ao sentido mais concreto,

relacionado à dominação, ele também significa o poder em seu sentido mais

simbólico, sendo o de apropriação, realizada por uma organização, instituição,

empresa, ou mesmo um grupo social que impõem o seu poder, seus princípios,

culturas e interesses para a apropriação da natureza, de uma área, ou mesmo

dos recursos naturais disponíveis (FERNANDES, 2005; HAESBAERT, 2005).

O território é então um espaço definido e delimitado por e a partir de

relações de poder, ou seja, as relações de poder são elementos capazes de

gerar um novo território, sendo caracterizado por relações sociais, projetadas

no espaço e não espaços concretos, assim as relações de poder, são

espacialmente delimitadas que operam sobre o espaço (SOUZA, 1995).

Na compreensão do território, geralmente remete-se as relações de

poder, onde os indivíduos e/ou grupos sociais no momento em que se

relacionam uns com os outros, se apropriam e exercem dominação ou

apropriação, em determinado recorte espacial, na qual gera-se um território,

estabelecido não só pelo Estado-Nação, mas, também na

multidimensionalidade das relações sociais.

Essas relações sociais de poder, definem o território de um grupo, ou

mesmo, a sua área de atuação, elas são encontradas nas famílias, nas

escolas, nas universidades, nas fábricas, nas igrejas, assim como no Estado,

enfim, nas diversas relações sociais da vida cotidiana, e visam o controle e à

dominação sobre os homens e as coisas, elas são um componente

indispensável na efetivação de um território (SAQUET, 2010).

É no território que são manifestas as relações de poder, que são

capazes de gerar ou delimitar um território, delimitar é isolar ou subtrair

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momentaneamente ou, ainda, manifestar poder em uma área precisa. Raffestin

(1993, p. 143), afirma que o espaço é anterior ao território, ou seja, o território é

um espaço onde se projetou um trabalho, e neste estão embutidas as relações

de poder, que são uma habilidade humana em representar e impor seus

interesses entre as demais pessoas, e no seu exercício formam o território,

vejamos:

O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator (ao se apropriar de um espaço o ator "territorializa" o espaço). O território pode ser considerado como um espaço onde se projetou um trabalho, onde revela relações marcadas pelo poder. Ele se apoia no espaço, mas não é o espaço, é uma produção, a partir do espaço. Ora a produção por causa de todas as relações que envolvem, se inscreve num campo de poder (RAFFESTIN, 1993 p.143).

Para a formação de um território é necessário o exercício do poder, ou

seja, que se projete um trabalho, para formar o território a partir do espaço,

desta forma, o espaço é transformado em território na medida em que ocorre a

apropriação (material e/ou simbólica) do espaço pelos atores que territorializam

o espaço, onde o espaço territorializado é um instrumento de exercício do

poder.

O território para Haesbaert (2005, p. 6774), tem dois significados, o

primeiro relacionado à questão própria do poder político, pois etimologicamente

aparece tão próximo de terra-territorium e a outra que está ligada ao sentido de

dominação (jurídico-política), ligada ao terreo-territor (terror, aterrorizar), com a

inspiração do terror, do medo, para aqueles que têm sua atuação ou influência

sobre o território restringida, sendo o contrário para aqueles que o apropriaram.

Dentro deste contexto, a inserção das hidrelétricas de Jirau e Santo

Antônio no Rio Madeira expressam a apropriação do rio Madeira, que antes era

o território das comunidades ribeirinhas, que faziam uso dos recursos naturais

nele disponíveis, a partir da inserção das hidrelétricas, o rio passa a ser

território do capital nacional, que ao apropriar-se da área, a empresa delimita

sua influência através do canteiro de obras e reservatório, resultando no

isolamento e o cerceamento da atuação de outros atores neste mesmo

território, neste caso os ribeirinhos.

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Para tanto o território será considerado como um espaço controlado por

diferentes atores sociais que produzem territorialidades específicas das quais o

poder se origina, este processo é observado por através de múltiplas escalas,

sejam elas mundiais, regionais ou locais, onde a espacialidade e a

temporalidade se expressam de maneira contínua ou descontínua (ROCHA,

2008).

Os territórios são construídos e desconstruídos, e também são

disputados cotidianamente nos mais diferentes níveis de interesse, e em

diversas escalas, seja ela, desde uma rua, um bairro, uma cidade, uma

comunidade, que delimitam sua área de influência, através das relações sociais

de poder estabelecidas no espaço, a inserção de novos atores no território,

geralmente ocasiona zonas conflitos, decorrente dos distintos interesses no

território (SOUZA, 2006).

O território pode ser compreendido em duas dimensões, a funcional,

sendo o território enquanto fonte de recursos e a simbólica, onde o território

funciona como proteção ou abrigo, exercermos domínio sobre o espaço tanto

para realizar funções, quanto para produzir significados. No primeiro caso, o

território é visto como um domínio político e economicamente estruturado

(dimensão mais concreta), enquanto que no segundo caso o território

compreenderia uma apropriação mais simbólico-identitária, determinados por

ações de certos grupos sociais sobre o espaço onde se reproduzem

socialmente (HAESBAERT, 2007). Este mesmo autor, afirma que:

(...) todo território é, ao mesmo tempo e obrigatoriamente, funcional e simbólico, pois as relações de poder têm no espaço um componente indissociável tanto na realização de “funções” quanto na produção de “significados”. O território é “funcional” a começar pelo papel enquanto recurso, desde sua relação com os chamados “recursos naturais” (HAESBAERT, 2007a, p. 23).

Dentro desta abordagem o território também é compreendido em seu

caráter funcional e simbólico, principalmente relacionado as relações sociais de

poder inseridas no contexto do estudo, onde de um lado o rio Madeira estava

para suprir uma demanda local, ligada à identidade das populações ribeirinhas

relacionada ao uso dos recursos naturais, e de outro está para suprir uma

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demanda energética nacional, que para se territorializar, (des)territorializa

outros atores, cujos processos geográficos serão aqui abordados.

2.2. Os processos geográficos TDR - territorialização, des)territorialização e (re)territorialização

O território é aqui tratado dentro da sua multidimensionalidade, da

territorialização, à (des)territorialização seguida de seu complemento, a

(re)territorialização. Esses processos são simultâneos e pode ocorrer no

mesmo lugar ou em lugares diferentes, no mesmo momento ou em distintos

momentos e períodos históricos, de acordo com cada situação, cada relação

espaço-tempo (SAQUET, 2005).

Então, como se dá a territorialização, porque razões se deseja

territorializar um espaço e manter o controle sobre ele? Existe uma gama de

razões pelas quais se justifica uma territorialização, de alguma forma ela estará

ligada ao substrato espacial material (recursos) e também pode estar

associada aos próprios significados culturais ou de identidade (SOUZA, 2013).

A territorialização surge como uma estratégia para tomar posse de um

espaço geográfico, ou seja, através da dominação ou apropriação do espaço,

que de acordo com Haesbaert (2004), possui fins ou objetivos:

Podemos, simplificadamente, falar em quatro grandes “fins” ou objetivos da territorialização, acumulados e distintamente valorizados ao longo do tempo: abrigo físico, fonte de recursos materiais ou meio de produção; identificação ou simbolização de grupos através de referentes espaciais (a começar pela própria fronteira). disciplinarização ou controle através do espaço (fortalecimento da ideia de indivíduo através de espaços também individualizados); construção e controle de conexões e redes (fluxos, principalmente fluxos de pessoas, mercadorias e informações) (HAESBAERT, 2004, p.5).

Na área estudada, a existem duas territorializações, uma da população

moradora da antiga Vila do Teotônio, que tinha sua fixação no local

estabelecida há décadas, e a outra da hidrelétrica de Santo Antônio, essas

duas territorializações são manifestas em duas escalas de poder distintas.

Dada as relações desiguais de poder há a (des)territorialização da Vila do

Teotônio.

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Deste modo, a territorialização da hidrelétrica de Santo Antônio, é o

marco para o início da geração de impactos na comunidade analisada, cuja

principal justificativa para sua instalação na Amazônia, está pautada no

desenvolvimento nacional, no entanto a apropriação da área, incide

diretamente na forma de organização territorial das comunidades ribeirinhas,

há então um conflito de interesses decorrente da escala de atuação e

objetivação social.

Enquanto que o território aparece como ligação ao chão, enraizamento,

anexação, fixação, a (des)territorialização é mudança, transformação,

separação ou desligamento, significa a quebra, o rompimento do nível

simbólico e material principalmente no uso dos recursos naturais sendo assim

o abandono espontâneo ou forçado da territorialização (HAESBAERT, 2004).

Na Amazônia esse processo é conflituoso devido as relações de poder

desiguais existentes relacionadas ao uso dos recursos naturais, pois é na

(des)territorialização que ocorre à retirada das populações das áreas de

influência do canteiro de obras e do reservatório, nestas áreas residiam

pescadores e agricultores de subsistência, cuja (des)territorialização representa

o rompimento na forma de organização social, costumes e acordos

estabelecidos ao longo de anos.

Essa perda do território tanto pode ser simbólica com a destruição de

símbolos, marcos históricos e identidades territoriais, quanto concreto, material,

político e/ou econômico, pela destruição de antigos laços/fronteiras econômico-

político de integração, ou seja, é a desapropriação individual ou de um grupo

de pessoas de seu território (HAESBAERT, 2000).

Geralmente a (des)territorialização está vinculada à modernização e à

globalização, vinculada ao período técnico científico do pós-1960, onde desta

forma a (des)territorialização é caracterizada pela destruição de antigos

territórios, já a (re)territorialização, está mais vinculada a um elemento político-

cultural, revelando-se mais nítida à escala local, em termos de território

(HAESBAERT, 1997; SAQUET, 2010).

A (re)territorialização na dinâmica territorial tem como indicativo analítico

a construção de novos localismos, através da (re)apropriação política ou

simbólica do espaço, e funciona como uma nova territorialização em locais

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distintos, tanto na área em que foi (des)territorializada pelas comunidades e

que passa a ser territorializada pela empresa construtora e nos locais em que

as famílias irão ocupar e assim a (re)territorializar (HAESBAERT, 2004).

2.3. A população ribeirinha

A expressão populações tradicionais designa o conjunto de pescadores

artesanais, pequenos agricultores de subsistência, caiçaras, camponeses,

extrativistas, pantaneiros e ribeirinhos, dentre outros, fazem uso direto dos

recursos da natureza, através das atividades extrativistas e/ou de agricultura

com tecnologia de baixo impacto ao meio que dependem diretamente dos

recursos naturais (VIANNA, 2008).

De acordo com Diegues (2007), a população ribeirinha possui algumas

características particulares no seu ritmo de vida, que está intimamente ligada

ao fluxo do rio, sobretudo no período da vazante do rio, onde as comunidades

exercem o plantio nas áreas de várzea2.

Para a melhor compreensão da organização territorial de uma

comunidade ribeirinha, vejamos:

Quando utilizamos o termo `ribeirinho`, não estamos somente nos referindo a quem mora às margens de um rio ou igarapé, mas, aquele que essencialmente mantém uma organização social diferenciada da urbana com sua sobrevivência econômica baseada principalmente na pesca, pequena produção agrícola (caracteristicamente mandioca para produção de farinha, frutos como melancia, plantada nas várzeas dos rios e plantação perenes como o cupuaçu, a pupunha e o açaí) e que pratica a coleta de produtos da mata como castanha-do-brasil, o açaí, abacaba e o patoá nativos. Assim fica claro que não é somente o fato de morar as margens de um rio ou igarapé que caracteriza o ribeirinho, isso seria uma classificação simplória diante da diversidade da forma de viver da população amazônica (SILVA, 2000, pg. 27).

2 Áreas com grande quantidade de ricos sedimentos depositados pelos rios em suas margens. A população ribeirinha utiliza as várzeas para a agricultura de culturas de curta duração, pois a colheita é realizada antes da cheia.

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O rio neste sentido faz parte não só da alimentação e renda e dessas

populações, mas, ele é o regulador da dinâmica de vida, sendo também base

da sua identidade territorial, regida pela sazonalidade das águas.

Dentre os atores sociais existentes no Alto Rio Madeira encontram-se os

madeireiros, sojicultores, pecuaristas, garimpeiros, e atualmente a empresa

construtora da hidrelétrica de Santo Antônio, onde o interesse no território está

ligado ao uso dos recursos naturais em grande escala, na medida em que

também existem também populações que tinham na extração vegetal e

produção agrícola na vazante do rio, fonte de renda e subsistência

(CAVALCANTE, 2012; SILVA; 2002).

Originariamente, na raiz histórica do que se configura o ser ribeirinho,

encontra-se uma forte descendência nordestina e indígena que ao longo dos

processos sociais de produção regional foram identificados como seringueiros

ou de caboclo amazônico, onde após a finalização do ciclo de extração da

borracha, na região, ocorreu a fixação dos ribeirinhos as margens dos rios,

dadas as relações desiguais de poder, esses grupos amazônicos tornaram-se

alvo de políticas públicas, sejam governamentais ou de empresas e outros

organismos nacionais e/ou internacionais, que os deixaram vulneráveis aos

interesses externos à região e a população (SILVA, 2000).

A implantação de uma usina hidrelétrica no contexto amazônico passa a

ter uma discussão polêmica por conta do perfil das comunidades que moram

ao longo dos rios onde estas obras são instaladas, como é o caso da

comunidade analisada, pois anterior a instalação de uma hidrelétrica o uso do

rio está relacionado às atividades subsistência e renda das populações locais,

e pós inserção da obra o rio passa demanda nacional.

É neste contexto em que chocam-se os interesses manifestos no

território, já que há uma incompatibilidade no uso de um mesmo recurso. Gera-

se deste modo, os conflitos no uso do território, dadas as diferentes relações

de poder que se expressam em escalas diferentes, ou seja, entre a população

moradora da antiga Vila do Teotônio, e a empresa construtora da usina

hidrelétrica.

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2.4. A territorialização de hidrelétricas na Amazônia: os planos de

expansão energética

Com o início do processo de industrialização e urbanização no Brasil

acresceu no país a construção de usinas hidrelétricas com o objetivo de suprir

a demanda energética nacional, onde atualmente a matriz energética em sua

maior parte é suprida pelas usinas hidrelétricas.

A inserção de hidrelétricas na matriz energética nacional ganhou impulso

a partir dos anos de 1970, nesse período o país passava por um processo de

forte desenvolvimento econômico, denominado de “milagre brasileiro”, que

começou em 1968 e perdurou até 1973 (CAVALCANTE, 2012).

Através do Plano Nacional de Desenvolvimento – PND I, cujo objetivo

era realizar investimentos na siderurgia, petroquímica, de transporte, e geração

de energia elétrica. Para a Amazônia e Nordeste, o objetivo era a distribuição

de terra, para estimular a agroindústria, e construir sistemas para a interligação

das regiões com as demais, através de corredores de transporte e de

exportação. Posteriormente no PND II, após a pela primeira crise do petróleo,

ocorreu de forma mais explícita a preocupação do Governo em relação à

produção de energia, siderurgia, hidrelétricas, química básica e minérios

(MENDONÇA, 1986; MORAES, 2013).

Foi dentro deste contexto que surgem dois dos grandes projetos de

investimentos hidrelétricos: Itaipu no Paraná/1971 e Tucuruí no

Amazonas/1974. A partir desses planos governamentais ocorreu a

intensificação no uso de recursos naturais em áreas economicamente

marginais e a expansão da fronteira econômica do mercado sobre territórios

historicamente ocupados por agricultores familiares e minorias éticas (ZHOURI,

2007; CONTE, 2013).

A partir de 2007, o modelo energético brasileiro foi reforçado pelo

Governo Federal, através do Programa de Aceleração do Crescimento PAC I e

posteriormente o II, com o objetivo de estimular o crescimento econômico,

aumentar a oferta de empregos e melhorar a qualidade de vida da população

brasileira, para tanto verificou-se nas áreas de instalação de usinas

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hidrelétricas a exportação de riquezas inatura ou semi-industrializadas

(SIEBEN, 2012).

Ainda que o país disponha da possibilidade de exploração para quase

todas as fontes de energia, tanto as renováveis (eólica, biogás, solar,

biomassa) ou não renováveis (derivados de petróleo, carvão mineral, etc). O

sistema elétrico brasileiro em sua maior parte é constituído pela fonte de

energia hidráulica 62% (Fig. 05).

Figura 05 - Geração de energia elétrica por fonte no Brasil.

Fonte: BRASIL, 2015.

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (2015),

no Brasil estão em operação 1225 (duzentos e vinte e cinco) usinas

hidrelétricas, incluindo tanto as usinas hidrelétricas - UHE´s quanto as

pequenas centrais hidrelétricas - PCH´s, essa diferenciação foi estabelecida

pela resolução normativa nº 673, de 4 de agosto de 2015 que diz:

Art. 2º Serão considerados empreendimentos com características de PCH aqueles empreendimentos destinados a autoprodução ou produção independente de energia elétrica, cuja potência seja superior a 3.000 kW e igual ou inferior a 30.000 kW e com área de reservatório de até 13 km², excluindo a calha do leito regular do rio.

Na Amazônia brasileira atualmente estão em operação 16 (dezesseis)

usinas hidrelétricas, conforme o quadro 04 a seguir. Das usinas hidrelétricas

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instaladas hoje na Amazônia a maior em potência é a de Belo Monte com

11.233 MW, seguida da hidrelétrica de Tucuruí com 8.370 MW, Jirau 3.750 MW

e Santo Antônio com 3.568 MW. As maiores em área alagada são a de Balbina

com 4.447 Km2 e a de Tucuruí com 3.014 Km2, quanto maior a área alagada

pelas usinas hidrelétricas maior é o número da (des)territorialização da

população sobre a área de influência das obras.

Quadro 04 - Hidrelétricas em operação na Amazônia brasileira.

Fonte: Elaborado a partir de: FEARSIDE, 2013; DAMS, 2016 (http://www.dams-info.org/).

Na primeira etapa do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC

ocorreu a instalação das UHE Santo Antônio (3.568 MW), Jirau (3.750 MW),

Teles Pires (1.820 MW) e Belo Monte (11.233 MW). E estão em construção

quatro (4) usinas hidrelétricas no Estado do Mato Grosso decorrentes do

Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, três (3) no Rio Teles Pires:

Colíder (342 MW), Sinop (400 MW) e São Manoel (746 MW), somadas

possuem uma potência de 1.088 MW (FEARSIDE, 2013).

Para a Amazônia já estão planejadas a construção de hidrelétricas até o

ano de 2024, no quadro 05 é possível verificar a lista das usinas hidrelétricas

que constam nesse cenário de expansão, na fase de planejamento ou

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construção mencionada nos planos recentes, onde destacam-se as usinas a

serem instadas no Estado do Pará, principalmente no Rio Tapajós, pois são as

que possuem maior potência em MW, com destaque para a UHE São Luiz do

Tapajós com 8.040 MW e uma área alagada de 729 Km2 (BRASIL, 2015).

Quadro 05 - Expansão hidrelétrica para a Amazônia entre 2016 e 2024.

Fonte: BRASIL, 2015; FEARSIDE, 2015 e DAMS http://www.dams-info.org/.

Também existem outras usinas hidrelétricas que estão inventariadas,

mas, elas ainda não aparecem nos Planos Decenais de Expansão de Energia -

PDE, este é o caso da hidrelétrica de Paredão A, a ser instalada no Rio

Mucajaí/RR, que terá potência de 199 MW e a de Cachoeira Porteira a ser

instalada no Rio Trombetas/PA, com potência de 2.350 MW. No Estado do

Amazonas pretende-se construir hidrelétricas nos rios Aripuanã e Roosevelt,

nos locais Sumauma, Prainha, Inferninho e Cachoeira Galinha. Para o Estado

de Rondônia além da hidrelétrica de Tabajara, está planejada a construção,

porém, sem data de início a usina hidrelétrica de Ji-Paraná, com potência de

512 MW e área alagada de 957 Km2 ambas na Bacia Ji-Paraná (FEARSIDE,

2015).

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Uma das justificativas para o aumento da construção de usinas

hidrelétricas é o fato de o país possuir uma grande quantidade de rios, com

significativa abrangência na região amazônica, que é onde está sendo

instalada a maior quantidade de hidrelétricas no território nacional (CUNHA,

2015).

No entanto o planejamento para expansão energética, cujas obras estão

instaladas principalmente na Amazônia, demonstra que a região ainda é vista

como um grande potencial a ser explorado, o suficiente para permanecer como

a fonte predominante no atendimento à crescente demanda de eletricidade do

país, especialmente nas bacias da região Norte.

De acordo com a expansão hidrelétrica planejada até o ano de 2024,

para a região Norte está previsto o aumento na capacidade instalada do

Sistema Integrado Nacional - SIN de 18.242 MW (Fig. 06) desde o início de

2015, para 45.353 MW em 2024, totalizando 27.111 MW de expansão.

Figura 06 - Participação regional na capacidade instalada do SIN 2024.

Elaborado a partir de: BRASIL, 2015.

A expansão da instalação de hidrelétricas, é importante para matriz

energética do país, no entanto, o grande volume de investimento financeiro e

de infraestrutura torna-se preocupante, dadas às características ambientais e

sociais da região, principalmente quando se refere a (des)territorialização da

população da área de influência direta, pois, ao delimitar a sua área de

influência para a geração de energia elétrica as empresas construtoras

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restringem o acesso a outros tipos de usos realizados pelas populações do

entorno, havendo neste sentido uma sobreposição de interesses em relação ao

uso dos recursos hídricos naturais (CAVALCANTE, 2012).

Uma das questões que tem se justificado essa opção por hidrelétricas é

que dentre as fontes energéticas disponíveis no país, a geração de usinas

hidrelétrica é a que possui o preço mais baixo, o que se verifica é que não há

um incentivo ao uso racional de energia, no entanto o há um maior

investimento na construção de grandes usinas hidrelétricas que promoveram e

continuarão a promover a (des)territorialização de populações.

2.5. Os investimentos para a construção de hidrelétricas na Amazônia

No Brasil a construção de usinas hidrelétricas foi intensificada em função

das obras ligadas ao setor mineral, onde a indústria é a grande consumidora

dessa energia, com destaque para as eletro intensivas3 e o consumo

residencial ocupa um papel secundário dentro deste cenário (BERMANN,

SEVÁ FILHO, 1991).

Entre as principais indústrias eletro intensivas com capital internacional

que investem na construção de usinas hidrelétricas destaca-se a Alcoa

Alumínio (EUA), CVRD (EUA), BHP Billiton (Reino Unido), e Alcan Alumínio

(Canadá). As empresas que possuem capital nacional são: Votorantin Cimento,

Camargo Corrêa Metais, Camargo Corrêa Cimentos, Companhia Brasileira de

Alumínio, que aliadas aos bancos e a outras empresas que não

necessariamente estejam ligadas ao setor industrial eletro intensivo, a exemplo

o Banco Bradesco (Brasil), CITICORP (EUA), Grupo Suez/Tractbel

(França/Bélgica), Camargo Corrêa e Odebrecht (Brasil), se unem em

consórcios e realizam a construção ou o financiamento das usinas hidrelétricas

(FOSCHIERA, 2009).

3 Dentro do setor industrial, há um grupo específico de indústrias consideradas eletro intensivas por consumirem grande quantidade de energia por unidade produzida e/ou pelo grande consumo referente ao volume de sua produção. Sendo incluídas as indústrias ligadas à mineração, refinarias, destilação, siderurgias (aço bruto), metais não ferrosos (alumínio, cromo, zinco metálico etc.), ferroligas (ferro cromo, ferro manganês etc), não-metálicos (cimento, vidro), papel e celulose, borracha, têxtil e química.

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Os grandes projetos de infraestrutura financiados pelo Programa de

Aceleração do Crescimento se encontram concentrados na ampliação e

articulação de projetos de infraestrutura em escala continental e estão em

conformidade à expansão das atividades do agronegócio, da atividade de

exploração madeireira e de mineração justamente para servirem como

mecanismo de facilitação de escoamento destes produtos de alto interesse

internacional (GARZON, 2009).

O Governo Federal entra como parceiro das empresas a fim de garantir

o controle da gestão das obras e os grupos geram suas próprias demandas e

atuam nas áreas de habitação, saneamento, transporte e energia, estimulando

assim a produção dos setores relacionados. Neste sentido além da exploração

da energia elétrica, essas empresas buscam capturar ganhos de capital

procedentes da construção das hidrelétricas (CAVALCANTE, 2014).

A inserção de obras hidrelétricas na Amazônia se tornou um grande

negócio, Sieben (2012, p.65) afirma que se tornou vantajoso investir na

Amazônia, pois existem políticas de governo para garantir isso, com a

construção de rodovias, produção elétrica a fim de extrair as riquezas naturais

da região e atender aos mercados europeus e americanos próximos, no

entanto as populações tradicionais localizadas sobre a área de influência das

hidrelétricas e que serão (des)territorializadas como condição para a instalação

dessas obras, muitas vezes não são consideradas dentro da política

desenvolvimentista planejada para a Amazônia. Existindo assim duas lógicas

de interesses distintos:

... de um lado, as populações ribeirinhas que resguardam a terra como patrimônio da família e da comunidade, defendido pela memória coletiva e por regras de uso e compartilhamento dos recursos; de outro lado, o Setor Elétrico, incluindo-se o Estado e empreendedores públicos e privados que, a partir de uma ótica de mercado, entendem o território como propriedade, e, como tal, uma mercadoria passível de valoração monetária (ZHOURI,2007, p. 120).

A inserção de uma hidrelétrica na Amazônia gera impactos de diversas

ordens, ambiental, social, econômico e etc. Além desses impactos serem os

mais diversos, estes possuem escalas geográficas, ou seja, quanto mais

próximo da área de instalação do projeto tende a serem mais expressivos os

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impactos negativos e conflituosos, principalmente por envolver populações

locais sobre as áreas de influência direta da obra. No entanto, quando os

impactos são analisados em outra escala (âmbito regional ou nacional), as

vantagens são evidenciadas, adquirindo um caráter muito mais econômico do

que ambiental e social (CAVALCANTE, 2012).

Dentre outras discussões que entram em pauta quando se fala na

construção de usinas hidrelétricas na Amazônia uma das questões é a visão da

possibilidade de desenvolvimento econômico e a potencialidade da região ser

explorada e integrada à outras partes do país. Por muitos anos perpetuou e

ainda perpetua uma visão externa com relação a Amazônia, de que há um

vazio demográfico e econômico, havendo assim a necessidade da instalação

dessas grandes obras de infraestrutura e foi dentro deste contexto que se

justificou a instalação de várias usinas hidrelétricas na região (GONÇALVES,

2001; GARCIA, 2006).

Para alguns a implantação de uma hidrelétrica é sinônimo de progresso

e desenvolvimento, dada instalação de infraestrutura no entorno do projeto,

geração de empregos e circulação do capital, traduzidos como melhoria de vida

para as populações locais, e essa tem sido uma das estratégias para que haja

uma aceitação por parte da população local. No entanto a instalação de uma

hidrelétrica representa uma alteração no uso dos recursos naturais das

populações (des)territorializadas que não recebem os benefícios dessas

hidrelétricas.

2.6. Hidrelétricas e o seu poder (des)territorializador

A implantação de usinas hidrelétricas afeta diversos tipos de atores, seja

direta ou indiretamente, dentre eles, podemos citar: a população urbana e rural,

comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas, proprietários, trabalhadores

rurais, associações e movimentos sociais, dentre outros (FONSECA,

OLIVEIRA, 2014).

Estas obras ocasionam diversos tipos de impactos, a exemplo da

alteração do ambiente aquático, a perda de áreas férteis, restrição nas

atividades da caça e pesca, a partir da diminuição da quantidade e da

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variedade de espécies de peixes, assim como a desestruturação da forma de

organização territorial a partir do processo de (des)territorialização, que é um

dos pré-requisitos para a instalação da hidrelétrica, pois estas populações

estão sobre a área de influência direta ou indireta do canteiro de obras e

reservatório (VIANA, 2003).

Ao longo das últimas três décadas, foram construídas várias usinas

hidrelétricas em todas as regiões do país, onde a instalação dessas obras

resultou na formação de grandes reservatórios que submergiu áreas férteis e

(des)territorializou populações, a exemplo de: Sobradinho que teve uma área

alagada de (3.970 Km2), Serra da Mesa/GO (1.784 Km2) e Itaipu/PR (1.350

Km2) Tucuruí/PA (3.014 Km2), Balbina/AM (4.447 Km2) (SOUZA E JACOBI,

2010).

Na Amazônia, as hidrelétricas de Tucuruí e Balbina, foram questionadas

em função dos impactos sociais, ambientais e além do potencial instalado não

ter suprido a demanda local. A construção da hidrelétrica de Tucuruí, alagou

3.014 km² e (des)territorializou cerca de 32.871 pessoas, incluindo populações

tradicionais como ribeirinhos e indígenas, onde trinta anos depois do

remanejamento muitos ainda não receberam compensação (PAZ, 2006).

Os reassentamentos construídos para a população afetada por Tucuruí,

não tinham as mesmas condições de seus locais de origem, principalmente as

populações ribeirinhas, que foram reassentadas longe das margens do rio, o

que configurou uma ruptura no seu modo de vida (ACSELRAD, 1991).

A hidrelétrica de Balbina, foi uma das primeiras construída na Amazônia,

alagou 4.447 Km² para produzir 250 MW, mas, dos 250 MW de capacidade

instalada de Balbina, somente 112 MW são, em média, gerados. E com as

perdas da transmissão, apenas 109 MW chegam à cidade de Manaus. A

capital amazonense usa hoje uma média de 1.000 MW, com picos de mais de

1.400 MW, a instalação da obra (des)territorializou um terço do povo indígena

Waimiri-Atroari (FEARSIDE, 2015).

No Estado de Rondônia, a construção da hidrelétrica de Samuel, alagou

50 Km da Rodovia BR-364, isolou uma área de assentamento, cuja população

afetada foi de 1.800 pessoas, sendo reassentadas apenas 238 famílias. Na

época a Eletronorte, apenas forneceu um serviço de balsa, cujo serviço era

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incerto e gerou conflitos entre a empresa e a população do local (FEARNSIDE,

2004).

A hidrelétrica de Belo Monte é uma das mais recentes em construção na

Amazônia, alagou cerca de 668 Km2, e afetou20.000 pessoas, um dos maiores

impactos decorrentes da instalação da obra, incide sobre as áreas indígenas,

além desta facilitar a instalação de outras hidrelétricas que também estão sobre

a área de influência dos indígenas (DAMS, 2016).

Ao longo dos anos, tem-se verificado que a construção de hidrelétricas

na Amazônia não tem compatibilizado o desenvolvimento nacional e local, pois,

quase sempre os impactos ocasionados as populações afetadas por essas

obras é ofuscado pelas vantagens, que resultam em grande medida para

localidades distantes (CAVALCANTE, 2012; MORET & FERREIRA, 2009b).

Praticamente toda a população tradicional da Amazônia, dentre eles os

ribeirinhos que vivem à margem dos rios, têm na pesca e nos recursos hídricos

em geral, elementos característicos da forma de organização territorial da

maioria das comunidades. O contínuo planejamento para a expansão

energética nacional inserido na região Amazônica, vincula-se a uma lógica de

globalização excludente, que (des)territorializa populações que viveram por

gerações em um determinado território e cujas habilidades e técnicas

desenvolvidas para as atividades econômicas, tais como a pesca, e de

subsistência não são adequadas para outros contextos a qual serão

submetidos após sua (des)territorialização.

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CAPÍTULO 3 - A TERRITORIALIZAÇÃO DA HIDRELÉTRICA DE SANTO

ANTÔNIO E A (DES)TERRITORIALIZAÇÃO DA VILA DO TEOTÔNIO: é

possível uma (re)territorialização?

Peixe? Peixe? Peixe?

Eu sei por que você se escondeu. Agora posso começar dizendo: Eram

uma vez as cachoeiras, onde pegavam peixes com as mãos!

Beradeiro que é beradeiro sabe diferenciar peixe de rio do peixe de

viveiro. Não é que o peixe de viveiro não seja

saboroso. Mas, quem bateu linha nas cachoeiras

e nas margens do rio Madeira vai entender o que estou querendo dizer”.

(Beto Ramos)

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3.1 A territorialização da Vila do Teotônio à margem da Cachoeira do

Teotônio

A territorialização da comunidade de Teotônio às margens da Cachoeira

foi realizada a partir de dois elementos principais, um deles foi o tempo de

residência no local e o outro foi a fonte de recursos naturais disponíveis no Rio

Madeira, assim a territorialização da Comunidade foi anterior à territorialização

da hidrelétrica de Santo Antônio na área.

3.1.1 Elementos territorializadores na Vila do Teotônio: tempo de

residência e atividades econômicas

De acordo com os entrevistados, cerca de 61% da população da Vila do

Teotônio residia à margem da antiga Cachoeira do Teotônio entorno de 10 à 25

anos, onde 28% residia cerca de 0 à 10 anos no local, 6% dos entrevistados

afirmaram que residiam no local de 40 à 55 anos e 5% da população morava

de 25 à 40 anos na Vila, conforme pode ser visualizado na figura 07 a seguir.

Figura 07 - Tempo de residência na antiga Vila do Teotônio.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

Nesse sentido a territorialização da população moradora da Vila do

Teotônio ocorreu através desse grande período de fixação à margem da

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Cachoeira do Teotônio, onde isso possibilitou a apropriação do espaço

geográfico e permitiu que população adquirisse uma forte ligação econômica,

social e cultural com os recursos naturais disponíveis na área apropriada, para

eles o Rio Madeira funcionava como a principal fonte de renda da população,

assim como uma das principais fontes de subsistência.

Segundo os entrevistados, a principal fonte de renda da comunidade

estava relacionada à pesca (52%), ao comércio do pescado (29%), a

agricultura de várzea (14%) praticada durante a vazante do rio Madeira e

também ao turismo (5%), de acordo com a figura 08, sendo a Cachoeira do

Teotônio o atrativo turístico da localidade, no entanto, o apoio governamental

era quase nulo.

Figura 08 - Principal fonte de renda na Antiga Vila do Teotônio.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

Para os moradores a renda adquirida na Cachoeira do Teotônio através

da pesca profissional, do plantio na várzea, turismo e comércio local era

suficiente para suprir as necessidades econômicas das famílias locais, pode

ser verificado na (figura 09) que cerca de 67% da renda familiar total da

população, era maior que três salários mínimos (de acordo com o Decreto

8.381/2014, em 2015 o salário mínimo nacional equivalia a R$ 788,00), 17%

possuía de 2 à 3 salários e 16% tinha uma renda de 1 à 2 salários, de acordo

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com os entrevistados não havia quem recebesse menos que um salário mínimo

na Vila do Teotônio.

Figura 09 - Renda familiar total na Antiga Vila do Teotônio.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

3.1.2 Atividades econômicas: pesca, agricultura na várzea e turismo

(I) Pesca

A pesca era a principal atividade econômica desenvolvida pelos

moradores da Vila do Teotônio, onde no ano de 2009 a produção pesqueira na

Cachoeira do Teotônio foi de 73 toneladas e em 2010, chegou a 61 toneladas,

a média da Captura Por Unidade de Esforço (CPUE), traduzida em número de

pescadores por dia foi de 40,33 em 2009 e 66,5 kg/ pescador*dia em 2010,

assim a média de cada pescador, quando se dedicava à pesca, capturava

entre 40 e 60 kg por dia (SANT’ANNA, SIMÃO, SILVA et al., 2015).

Da produção relativa pesca cerca de 64% estava destinada à venda e

36% era destinada à subsistência familiar, que pode ser visualizado na figura

10 a seguir.

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Figura 10 - Importância do pescado para as famílias.

Fonte: Elaborado a partir de DORIA, LIMA, NETO, 2015.

A venda do pescado, em sua maior parte, era feita aos atravessadores

locais que compravam o pescado logo após o desembarque, ou aos donos de

restaurantes da localidade, que comercializavam refeições com base no

pescado local, na figura 11, verifica-se uma grande movimentação de carros e

motos no estacionamento de um dos restaurantes da comunidade (DORIA,

LIMA, NETO).

Figura 11 - Movimentação em um restaurante local.

Imagem: Madalena Cavalcante, 2010.

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Outros pescadores locais possuíam compradores fixos, estes

financiavam as despesas das saídas para as pescarias (despesas com gelo,

combustível e os aparelhos de pesca necessários) e assim a venda do

pescado em seu próprio domicílio (Fig.12) ocorria em uma menor parcela, no

entanto a venda do pescado in natura era importante para a base econômica

das famílias da comunidade de Teotônio.

Figura 12 - Venda do pescado na antiga Vila do Teotônio.

Imagem: Madalena Cavalcante, 2010.

A pesca que era realizada na Cachoeira do Teotônio apresentava um

perfil específico da comunidade, que se destacava pela especificidade dos

aparelhos e das espécies. Para a captura dos grandes bagres como a dourada,

piramutaba e barba-chata, eram utilizados o espinhel, o covi e a fisga, (DORIA,

LIMA, NETO, 2015), visualizados na figura 13 a seguir.

Figura 13 - Espinhel e estrutura do covi.

Fonte: (SANT’ANNA, SIMÃO, SILVA et al., 2015).

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No período da cheia do Rio Madeira eram utilizadas as “burras”, de

acordo com a figura 14, que consistia em uma estrutura comunitária de apoio à

pescaria, realizada com as fisgas, construída com madeira, que funcionava

como um porto suspenso sobre as corredeiras (DORIA, LIMA, NETO, 2015).

Figura 14 - Pesca de fisga nas burras.

Fonte: (DORIA, LIMA, NETO, 2015, p.44).

À medida que as Vilas ao longo da Cachoeira foram sendo

estabelecidas, um maior número de pessoas foi se fixando ao local, devido a

grande quantidade de peixes de alto valor comercial (dourada e filhote/

piraíba). Neste sentido, foi estabelecido entre os pescadores um acordo

informal, para que se evitassem conflitos através de um sistema de rodízio, nos

pesqueiros que eram quedas d’água entre várias rochas onde os pescadores

identificavam concentração de peixes, identificados de acordo com os nomes

de alguns pescadores do local (Pedras do Ceará e do Zé Rodrigues), que

possuíam uma ligação comercial com cada pedral (SANT’ANNA, SIMÃO,

SILVA et al., 2015).

Nessas áreas de pesca, haviam sido estabelecidas pelos pescadores

relações de poder que geraram uma forma de organização territorial

característica da área, para o uso e a exploração dos recursos naturais

disponíveis na Cachoeira do Teotônio, a área passou a ser organizada a partir

da localização das pedras na Cachoeira, das burras, dos covi e do garajau, que

podem ser visualizadas na figura 15 a seguir.

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Figura 15 - Limites dos locais de pesca utilizados pelos pescadores.

Fonte: SANT’ANNA, SIMÃO, SILVA et al., 2015.

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Não havia entre os pescadores conflitos no que se referia a exploração

dos recursos naturais, no entanto, com a apropriação da área pela hidrelétrica

de Santo Antônio para a geração de energia elétrica, foi evidenciado as

relações de poder desiguais que passaram a existir neste território, pois a partir

da sobreposição de interesses, gerou-se o isolamento e o cerceamento da

atuação de outros atores neste mesmo território, os impossibilitando de realizar

a exploração dos antigos locais de pesca, além de gerar sua

(des)territorialização.

(II) Agricultura de várzea

Somada a pesca, a agricultura de várzea possuía uma importância

econômica para os moradores da Comunidade do Teotônio, esta atividade era

realizada durante o período de vazante do Rio Madeira, cujo cultivo dos

produtos agrícolas era tanto para comercialização (55%), quanto para a

subsistência (15%) de acordo com a (Fig. 16) e 30% tinha uma prática mista da

atividade, tanto para a comercialização quanto para a subsistência da família,

com destaque para os seguintes produtos cultivados: feijão-verde, melancia,

milho, abóbora, banana, maxixe e hortaliças (PBA, 2008).

Figura 16 - Agricultura de várzea.

Fonte: Banco de dados LABOGEOPA, 2012.

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(III) Turismo

O turismo na Vila do Teotônio, estava relacionado à Cachoeira do

Teotônio que funcionava como um ponto turismo para a população

portovelhense, principalmente por ser o lócus privilegiado da prática da pesca

esportiva.

Desde o início da década de 1970 até o ano de 1991, o Lions Clube4,

juntamente com a Prefeitura Porto Velho, promoviam, todos os anos um

campeonato de pesca na Cachoeira do Teotônio (Fig. 17), que já constava no

calendário turístico de Rondônia (SILVA, 1999; JÚNIOR, 2009).

O campeonato de pesca era realizado durante a segunda semana de

setembro, cuja renda era destinada à comunidade local. A partir do ano de

1993, o campeonato passou a ser organizado pela Casa do Pescador,

juntamente com apoio do Clube da Pesca de Porto Velho (SANT’ANNA,

SIMÃO, SILVA et al., 2015).

Figura 17 - Campeonato de pesca na Cachoeira de Teotônio.

Imagens: (A) Madalena Cavalcante, 2010. (B) Tadeu Fernandes, 1982.

4 É uma organização internacional de clubes de serviço, voltada para serviços humanitários.

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3.2 A territorialização da hidrelétrica de Santo Antônio

Os estudos para a viabilidade da geração de energia elétrica no Rio

Madeira, ocorreram ainda na década de 60 do século XX, e tinham como

objetivo, criar mecanismos para suprir a falta de fornecimento energético na

Amazônia, os estudos iniciais concentraram-se na cachoeira de Samuel, no Rio

Jamari e nas cachoeiras de Santo Antônio, Teotônio e Jirau (NUNES, 2004).

Em 1971, o Ministério de Minas e Energia identificou a possibilidade de

construção das usinas hidrelétricas nas cachoeiras de Santo Antônio e

Teotônio. E no ano de 1997, foi apresentado o Termo de Referência para os

Estudos de Impacto Ambiental - EIA e Relatório de Impacto Ambiental - RIMA,

do Complexo Hidrovia/Hidrelétricas no Alto Rio Madeira. Posteriormente, foi

apresentado um estudo que previa a construção de três hidrelétricas à

montante do município de Porto Velho, denominado “Projeto Usinas

Hidrelétricas/Eclusas do Alto Madeira, sendo elas nas cachoeiras de Santo

Antônio, Jirau e Esperanza (Bolívia), o objetivo do projeto era principalmente

criar condições de navegação para o trecho encachoeirado do rio e a geração

de energia elétrica (MORET, 2007; STOLERMAN, 2014).

Mas, foi nos anos de 2001 e 2002 que os primeiros estudos foram

realizados na área, pela Eletronorte - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A.,

e tinham como objetivo, realizar um inventário das melhores localizações para

se construir hidrelétricas no leito principal do Rio Madeira, finalizado em 2002,

o inventário resultou na formação do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira

(FURNAS, ODEBRECHT E LEME ENGENHARIA, 2005b).

Sob a justificativa de desenvolvimento do país e da maior integração da

região amazônica e continental, nasceu o Complexo Hidrelétrico do Rio

Madeira, este é um plano entre grandes empresas em conjunto com os

governos, que previa a construção de várias obras de interesse das

multinacionais e dos grandes bancos financiadores, através da construção de

quatro usinas hidrelétricas, uma grande hidrovia, várias eclusas e uma linha de

transmissão de energia até São Paulo (MAB, 2007; MONTEIRO, 2011).

As usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio no Rio Madeira fazem

parte de um conjunto de obras de infraestrutura condicionadas pela Iniciativa

para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana - IIRSA. A IIRSA é

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um fórum de diálogo que está formada por representantes dos 12 governos da

América do Sul5, cujo objetivo é promover o desenvolvimento de infraestrutura

de transporte, de energia e de comunicação, através da utilização do sistema

de transporte hidroviário. A IIRSA foi formada em 2000, e está vinculada a três

instituições financeiras multilaterais: Banco Interamericano de Desenvolvimento

- BID, Corporação Andina de Fomento - CAF, e Fundo Financeiro para o

Desenvolvimento da Bacia do Prata - FONPLATA (FOSCHIERA, 2009;

STOLERMAN, 2014).

A instalação do Complexo Madeira é uma alternativa do Governo

Brasileiro para facilitar a integração às outras obras de infraestrutura que

compõem o eixo Norte-Sul (Orinoco-Amazonas-Prata) da Integração das

Infraestruturas Regionais Sul-Americanas (IIRSA), sendo este o projeto mais

caro, que possuiu um orçamento superior a U$ 20 bilhões. Além de gerar

energia elétrica, o projeto tem como objetivo, construir eclusas para ampliar a

navegação para o livre escoamento de suprimentos a exemplo da soja,

madeira e minerais para fora da região amazônica, a partir dos portos do

Atlântico e do Pacífico (CAVALCANTE, 2012; VERDUM, 2007).

Há ainda a perspectiva para a construção de uma terceira hidrelétrica

binacional na fronteira Brasil/Bolívia e outra na Bolívia, o que possibilitará a

interligação de um trecho com cerca de 4.400 Km entre a fronteira Brasil-

Bolívia até o Peru. Por serem obras que causam grandes polêmicas no que se

refere aos impactos ambientais e sociais, a instalação dessas obras é realizada

em parcela, onde os projetos são fragmentados em pequeno porte, para maior

aceitação da sociedade (NUNES, 2004).

No entanto a energia produzida não é para suprir o Estado de Rondônia,

há na região uma subestação coletora que liga a energia gerada pelas

hidrelétricas em Porto Velho (RO), até Araraquara (SP), este linhão integra a

energia produzida pelas duas hidrelétricas ao Sistema Interligado Nacional -

SIN (ASSUNÇÃO, 2011).

Neste sentido, no ano de 2006, foi enviada pelas organizações sociais

uma solicitação ao Governo Federal, que reconsiderasse a instalação das

UHE´s, a alegação estava no fato de que as usinas hidrelétricas no Madeira

5Brasil, Argentina, Chile, Equador, Peru, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

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ocasionariam impactos na diversidade da região, e afetaria principalmente a

pesca, uma das principais atividades econômicas da região. Em 2007, foram

realizadas novas tentativas de impedir o leilão da hidrelétrica, a organização

Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, deu início a uma Ação Civil Pública na

Justiça Federal, e solicitou a suspensão do leilão da hidrelétrica de Santo

Antônio, neste mesmo período, militantes de movimentos sociais ocuparam a

sede da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (STOLERMAN, 2014).

No entanto, em julho de 2007, foi emitida a LP, n°251/2007, a qual

aprovava o Estudo de Impacto Ambiental, para dois aproveitamentos

hidrelétricos de Santo Antônio e Jirau. No mesmo ano, foi criado um Comitê

Pró-Usinas (ver anexo 01) pela Federação das Indústrias do Estado de

Rondônia - FIERO, em parceria com a Federação do Comércio de Rondônia -

FECOMÉRCIO, o sucesso da campanha promovida pelos empresários pôde

ser observado nas ruas, em muitos carros viam-se adesivos distribuídos pelo

comitê: “Sou a favor das hidrelétricas. Usinas Já” (Fig.18) (FOSCHIERA, 2009;

MORET, 2010).

Figura 18 - Mobilização: Sou a favor das hidrelétricas. Usinas, Já.

Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso: 07/12/2011.

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Dada a experiência e o conhecimento dos impactos causados pela

construção de outras hidrelétricas tanto na Amazônia quanto no país, o

Movimento de Atingidos por Barragens - MAB, realizou uma campanha

(Fig.19), contra a construção das hidrelétricas, através da articulação de fóruns,

debates, além da presença na audiência pública sobre as hidrelétricas do

Madeira (STOLLERMAN, 2012).

Figura 19 - Movimento contra a construção das hidrelétricas no Madeira.

Fonte: Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso: 07/09/2011.

No entanto, a maior parte da população portovelhense ficou omissa a

respeito dos impactos que seriam causados pela construção das hidrelétricas

de Santo Antônio e Jirau e deu-se a continuidade na construção das duas

hidrelétricas, para o financiamento e a construção das usinas hidrelétricas as

empresas construtoras estabeleceram uma parceria entre o Governo Federal e

as empresas privadas para assim formarem consórcios (CAVALCANTE, 2012;

FOSCHIERA, 2009).

A hidrelétrica de Jirau foi leiloada em 19 de maio de 2008 para o

Consórcio Energia Sustentável do Brasil - ESBR (Fig. 20). Com Licença de

instalação prévia, nº 563/2008, para o canteiro de obras e para as

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ensecadeiras emitidas pelo IBAMA, no dia 19 de novembro de 2008. Com

obtenção da licença de instalação - LI em 2009, a hidrelétrica está implantada

no local denominado Ilha do Padre (ASSUNÇÃO, 2011).

Figura 20 - Consórcio da hidrelétrica de Jirau.

Fonte: Energia Sustentável do Brasil.

A hidrelétrica de Santo Antônio foi leiloada em 10 de dezembro de

2007, para o Consórcio Madeira Energia (Fig. 21). Obteve a Licença de

Instalação - LI nº 540 emitida pelo IBAMA em 18 de agosto de 2008

(ASSUNÇÃO, 2011; CAVALCANTE, 2012).

Figura 21 - Consórcio da hidrelétrica de Santo Antônio.

Fonte: Santo Antônio Energia.

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Com as especulações de que as hidrelétricas trariam desenvolvimento à

região e geraria ofertas empregos, ocorreram migrações para a cidade de

Porto Velho, que incidiu na especulação imobiliária. Dado o aumento

populacional, e maior fluxo de pessoas no comércio local, resultado dos

empregos temporários, gerou-se na cidade uma falsa sensação de

desenvolvimento local (RIBEIRO, 2013; CAVALCANTE, 2012).

Este momento também envolveu a expectativa da comunidade de Vila

do Teotônio, onde 15% dos entrevistados acreditou que a instalação da

hidrelétrica seria algo positivo para a região, principalmente no que se referia

as indenizações, estimada por alguns moradores como um benefício. Porém

80% dos demais entrevistados consideravam a construção da hidrelétrica como

algo negativo, devido à incerteza a respeito da desapropriação de suas terras.

Por fim, 5% apresentava imparcialidade a este processo, somado o fato de não

acreditarem que uma hidrelétrica seria instalada na área (Fig. 22).

Figura 22 - Expectativa quanto a instalação da hidrelétrica de Santo Antônio.

Fonte: Banco de dados LABOGEOPA, 2012.

Geralmente antes da instalação de usinas hidrelétricas, as empresas

construtoras, realizam propagandas como um efeito de “bombardeio” da

opinião pública, elas utilizam propagandas a respeito da obra a ser instalada na

região, através das rádios, nas emissoras de televisão, imprensa, com boletins

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informativos a favor da construção da hidrelétrica, cujo objetivo é garantir o

apoio da sociedade local e evidenciar somente os benefícios da instalação da

obra, utilizam slogans como: “Compromisso com a sustentabilidade”, “energia

limpa e renovável”, dentre outros (RIBEIRO, 2013).

Desta mesma forma, a empresa construtora da usina de Santo Antônio

trabalhou com a questão das propagandas para enfatizar o progresso e futuro

que a instalação da hidrelétrica traria para a região, esse processo foi

evidenciado durante o período de construção dos reassentamentos,

exemplificado pela frase "Aqui estamos construindo um futuro novo" que pode

ser visualizado na figura 23 a seguir.

Figura 23 - Placa de construção do reassentamento Riacho Azul.

Imagem: Madalena Cavalcante, 2010.

A placa da propaganda da nova área faz menção a um estilo de vida

melhor no reassentamento Riacho Azul, mas, até que ponto este futuro novo

traz melhorias para as populações que foram (des)territorializadas?

A inserção desses elementos na área, a exemplo das placas das

empresas que compõem o consórcio construtor da hidrelétrica, de acordo com

a figura 24, a inserção de tecnologias para a construção do canteiro de obras e

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a posterior formação do reservatório, foi uma das primeiras etapas da

apropriação do território para a territorialização da usina de Santo Antônio.

Figura 24 - Apropriação da área pela hidrelétrica.

Imagem: Madalena Cavalcante, 2010.

A construção dos reassentamentos também evidenciou a

territorialização da hidrelétrica e simultânea (des)territorialização das

comunidades afetadas e início do processo de reassentamento, que foi

realizado através do Programa de Remanejamento da População Atingida de

acordo com a figura 25, onde o primeiro reassentamento ocupado foi Novo

Engenho Velho (2009), pois a antiga comunidade (Engenho Velho) estava

sobre a área de influência do canteiro de obras e o segundo foi o de Vila Nova

de Teotônio, que estava sobre a área de influência direta do reservatório.

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Figura 25 - Placa de construção das casas do reassentamento.

Imagem: Madalena Cavalcante, 2010.

Durante o processo de territorialização da usina de Santo Antônio, os

impactos ocasionados pela obra foram minimizados, pois só as benesses da

construção da usina hidrelétrica eram veiculadas na grande imprensa,

desconsiderando-se neste caso o problema das comunidades que estavam

localizadas sobre a área de influência direta e que seriam as mais afetadas, já

que com a inserção da hidrelétrica as comunidades seriam

(des)territorializadas, dando início aos impactos em suas atividades

econômicas.

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3.3 A (Des) territorialização da Vila do Teotônio

A (des)territorialização da Vila do Teotônio ocorreu através do

remanejamento das famílias que estavam sobre a área de influência do

reservatório da usina de Santo Antônio, na figura 26 é possível visualizar uma

família da Comunidade no momento da mudança para o reassentamento Vila

Nova de Teotônio.

Figura 26 - Mudança de uma das famílias para o reassentamento.

Fonte: Disponível em http://banzeiros.blogspot.com.br/20101201archive.html. Acesso: 07 dezembro de 2011.

A (des)territorialização da população moradora caracterizou o início do

rompimento dos costumes da comunidade, da organização social, das perdas

culturais e históricas, assim como a restrição nas atividades econômicas por

eles desenvolvidas, resultado da formação do reservatório da hidrelétrica.

De todas as comunidades que foram afetadas pela usina de Santo

Antônio as famílias da Vila do Teotônio foram desapropriadas em sua

totalidade, o que não ocorreu com algumas comunidades que foi o caso dos

Assentamentos Joana D´Arc, onde só parte das famílias foram remanejada.

Do total de pessoas remanejados da área de influência do reservatório da

usina hidrelétrica de Santo Antônio, incluindo a população que estava tanto da

margem direita do Rio Madeira quanto da margem esquerda, a comunidade de

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Vila do Teotônio representava 19% da população total sobre a área do

reservatório da hidrelétrica, que pode ser visualizado na figura 27 a seguir.

Figura 27 - Moradores sobre influência do reservatório. Fonte: Banco de dados LABOGEOPA, 2012.

Do total de comunidades que estavam sobre a área de influência da

usina hidrelétrica de Santo Antônio e foram afetadas por essa obra, a Vila do

Teotônio apresentava um número representativo tanto de moradores, quanto

de influência econômica local, dada a movimentação comercial advinda da

atividade da pesca.

Diante do processo de (des)territorialização da comunidade de Vila do

Teotônio, verificou-se mudanças no modo de vida da comunidade decorrentes

do remanejamento para o novo local, o que ocasionou restrições nas atividades

econômicas da população, no reassentamento Vila Nova de Teotônio é

possível verificar um novo padrão de organização territorial existente que difere

da Antiga Vila do Teotônio, no que se refere a moradia das famílias, onde

anteriormente a população residia em casas de palafitas, que eram típicas para

o período de cheia do Rio Madeira, assim como alteração nas atividades

econômicas que estavam ligadas diretamente ao uso dos recursos naturais,

que são restritos no local onde foram reassentados, tornando impossível o

processo de (re)territorialização da comunidade do Teotônio.

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3.4. O reassentamento Vila Nova do Teotônio e a impossibilidade de (re)territorialização da Comunidade

O reassentamento Vila Nova de Teotônio, é composto por uma média de

quarenta e sete (47) pessoas, cuja principal fonte de renda da população

reassentada hoje está vinculada a um auxílio financeiro que cerca de 80% dos

entrevistados tem recebido da Santo Antônio Energia, pois, mesmo após (5)

anos de reassentamento da população, verifica-se que as atividades

econômicas no local não foram reestabelecidas, havendo assim a necessidade

da renovação do auxílio (realizado a cada 6 meses), no entanto, por ser algo

temporário gera um quadro de instabilidade e insegurança financeira às

famílias.

O trabalho autônomo (Fig. 28) é a segunda fonte de renda hoje no

reassentamento, cerca de 20% dos entrevistados realizam esta prática fora do

reassentamento, a exemplo de diárias, “bico” e reciclagem. O comércio hoje

não está mais relacionado à pesca e sim a mercearia, padaria e bares, o

trabalho assalariado também constitui atualmente umas das principais fontes

de renda no reassentamento, no entanto essas atividades não possuíam muita

representatividade na Antiga Vila.

Figura 28 - Principal fonte de renda no reassentamento.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

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A pesca que na Antiga Vila constituía a principal atividade econômica

dos moradores, representando grande representatividade econômica, sendo

ela atividade comercial e de subsistência, hoje é desenvolvida somente como

atividade de subsistência no reassentamento, verifica-se que a restrição da

atividade pesqueira incidiu diretamente na renda dos moradores

Na Antiga Vila do Teotônio cerca de 60% dos entrevistados afirmaram

que possuíam uma renda maior que 3 salários mínimos, atualmente a renda

caiu para 2 à 3 salários, houve um aumento no número de moradores com

renda menor que um salário, sendo de 0% na Antiga Vila, para 39% na Nova

Vila.

Figura 29 - Renda familiar total na Nova Vila do Teotônio.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

A restrição nas atividades econômicas desenvolvidas pela população da

comunidade do Teotônio, ligadas a pesca, agricultura em várzea e turismo foi o

fator fundamental para a diminuição da renda dos entrevistados, aos poucos

devido a (des)territorialização da comunidade da antiga Vila tem ocorrido uma

substituição forçada dessas antigas atividades por eles desenvolvida.

Ao comparar as principais atividades de maior representatividade

econômica e de subsistência da Antiga Vila (pesca, agricultura em várzea e

turismo), entre o período anterior e o atual, verificou-se um cenário

insatisfatório, para todas as atividades os entrevistados afirmaram ter piorado

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(Fig. 30) o desenvolvimento destas após a mudança das famílias para o

reassentamento.

Figura 30 - Comparação entre as atividades antes e após o remanejamento.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

Para cada atividade econômica desenvolvida pelos moradores sendo a

pesca, o comércio, a agricultura e o turismo serão descritos a seguir, de acordo

com a opinião dos reassentados, os principais motivos para a classificação de

piora no desenvolvimento das mesmas no reassentamento.

(A) Desenvolvimento da prática pesqueira no reassentamento

Para a atividade da pesca, os entrevistados afirmaram que ela é pior

(Fig. 31) no reassentamento pois há a ausência do pescado, segundo os

mesmos, as espécies que ainda são capturadas possuem baixo valor

comercial, não gera renda, além de não suprir as necessidades de subsistência

das famílias, este cenário resulta na estagnação da profissão de pescador no

reassentamento.

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Figura 31 - Classificação da pesca no reassentamento.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

Um dos antigos apetrechos de captura do pescado, a malhadeira, hoje

se encontra sem utilização no reassentamento, sendo verificada a estagnação

da atividade pesqueira, esta situação é confirmada pelos entrevistados, os

mesmos afirmam que “as redes continuam vazias” (Fig. 32).

Figura 32 - Estagnação da atividade pesqueira.

Imagem: Girlany Valéria Lima da Silva, 2013.

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Com relação a restrição da pesca no reassentamento, os moradores

fazem uma comparação com as condições na Antiga Vila. A atividade que

antes era lucrativa, hoje não representa um retorno financeiro para os

pescadores, pois é necessário que os mesmos se desloquem para realizar a

atividade que antes era praticada na Cachoeira, em frente a própria Vila.

Segundo os entrevistados a baixa movimentação turística no local, incidiu na

diminuição da renda local, relacionada ao comércio do pescado nos

restaurantes, conforme descrito no quadro 06 a seguir:

Quadro 06 - Opinião dos reassentados a respeito da restrição da pesca.

Pescador

"Quando eu saía de barco para pescar enchia os congeladores de peixe. Hoje chego a gastar 80 litros de combustível dando volta nesse lago e não trago 20 kg". Já minha mulher servia comida para turistas que vinham pescar na Cachoeira. Agora não vendo nem três marmitex por dia".

Vice-presidente da associação de moradores

"Os pescadores conseguiam até 500 Kg de peixe por dia no período mais produtivo e cada família do vilarejo hoje inundado tinha renda mensal entre R$ 2.000 e R$ 5.000 durante o ano. Hoje a renda aqui no reassentamento é zero. Somos bancados por eles [concessionária] com o pagamento de um auxílio mensal de R$ 1.200".

Elaborado pela autora a partir de reportagem Folha de São Paulo. (anexo 02). Disponível em: http://goo.gl/zaX4UM Acesso: 07/011/2015.

Estudos realizados por Cavalcante (2012, p.123), já apontavam esse

cenário de restrição nas atividades econômicas dos pescadores, onde as

atividades dificilmente seriam reestabelecidas, a partir da formação do

reservatório, não há mais a formação da várzea, as mudanças no regime

hídrico e impedimento do fluxo natural dos peixes e desova, impossibilitam a

captura de bagres (dourada e piramutaba), dificultando a pesca que era a

principal fonte de renda e subsistência da Vila do Teotônio.

Experiências de outras hidrelétricas instaladas na Amazônia, a exemplo

de Balbina/AM e Samuel/RO, demonstram que mesmo após 20 anos de

operação dessas obras, ainda não ocorreu a recomposição de uma das

atividades econômicas que representa grande importância nas comunidades

ribeirinhas que é a pesca, onde as capturas do pescado ainda continuam a ser

menores do que antes da instalação dessas hidrelétricas (MORET, FERREIRA,

2009).

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Como medida de compensação dos impactos ocasionados à pesca, há

uma proposta de implantação de tanques de piscicultura no reassentamento.

No entanto há um lento processo de execução do projeto, sendo que a

necessidade econômica dos pescadores é imediata, pois desde 20126 deu-se

início a propaganda de retorno financeiro aos pescadores locais através da

piscicultura, em campo (2015) foi verificado a construção dos tanques (Fig. 33)

que ainda está em andamento.

Figura 33 - Construção de tanques de piscicultura no reassentamento.

Imagem: Girlany Valéria Lima da Silva, 2015.

Verifica-se que além da substituição da atividade da pesca no

reassentamento, há uma restrição da atividade, pois, o projeto de piscicultura é

restrito apenas para as famílias que optaram por esse programa, não sendo

estendida a todos os moradores do reassentamento que realizavam a pesca

como subsistência.

6 Banco de dados LABOGEOPA, 2012.

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(B) Área de várzea

Os entrevistados classificaram o desenvolvimento da agricultura de

várzea no reassentamento como pior, já que a partir da formação do

reservatório da hidrelétrica de Santo Antônio houve a submersão da várzea,

impossibilitando assim o cultivo nesta área, cerca de 47% dos entrevistados

afirmou que o terreno na qual foram reassentados é infértil, o que impossibilita

o cultivo no local, 18% dos entrevistados consideram que o espaço destinado

ao plantio é insuficiente, impossibilitando a prática, conforme pode ser

visualizado na figura 34 a seguir.

Figura 34 - Classificação da agricultura no reassentamento.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

Para a atividade da agricultura de várzea também foi verificado no

reassentamento uma substituição desta prática pela agricultura em terra firme

(Fig.35), que atualmente é somente para a subsistência, contando somente

com alguns produtos cultivados, como a macaxeira e o abacaxi, esta realidade

é diferente da antiga Vila, onde a prática era tanto comercial, quanto de

subsistência.

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Figura 35 - Agricultura em terra firme (A) macaxeira (B) abacaxi.

Imagens: Girlany Valéria Lima, 2013.

Além disso, a agricultura na terra firme não era uma técnica praticada

pelos agricultores, havendo assim a necessidade da capacitação dos

moradores que queiram exercer essa atividade no reassentamento como fonte

de renda, pois, os agricultores afirmam que a “terra é infértil” (ver anexo 02), e

para realizar a correção do solo têm-se um alto custo.

(C) Prática turística

A atividade do turismo foi classificada como pior no reassentamento,

pois ela é ineficiente enquanto renda dos reassentados, onde 62% (Fig. 36)

dos entrevistados, afirmou que há um baixo movimento turístico na localidade,

sendo que 23% deles consideram que este cenário está relacionado

principalmente ao aumento na distância da estrada, além das condições

precárias em que ela se encontra, dificultando o acesso ao reassentamento e

15% afirmou que a atividade do turismo é pior por não haver a Cachoeira do

Teotônio, que era o principal atrativo turístico da antiga localidade.

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Figura 36 - Classificação do turismo no reassentamento.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

No reassentamento não há a disponibilidade ao acesso dos recursos

naturais nas mesmas condições exercidas anteriormente pela comunidade.

Como compensação dos impactos as antigas atrações turísticas de Vila do

Teotônio, a empresa construtora instalou no reassentamento alguns elementos

turísticos, de acordo com a figura 37 sendo eles respectivamente: uma trilha

ecológica (A) um píer turístico (B), uma praia artificial (C) e três quiosques (D).

Figura 37 - Elementos turísticos no reassentamento.

Imagens: Girlany Valéria Lima da Silva, 2013.

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Diferente da antiga ligação econômica, social e cultural que a população

da Vila do Teotônio possuía com o Rio Madeira, através dos atrativos turísticos,

relacionado a Cachoeira do Teotônio e campeonato de pesca, no

reassentamento cerca de 56% dos entrevistados afirmaram que o uso feito dos

elementos turísticos construídos (praia artificial e píer turístico) é apenas para

passeio, e 46% dos entrevistados pouco visitam esses locais, de acordo com

os mesmos não há o que admirar.

3.5. Início do esvaziamento do reassentamento Vila Nova de Teotônio

A expropriação de bens materiais e simbólicos das populações

ribeirinhas decorrente da construção de usinas hidrelétricas, gera uma nova

forma de organização territorial dessas comunidades, no momento em que são

reassentadas, pois muitas vezes esses novos locais não atendem as

necessidades dos reassentados, incidindo em um esvaziamento dos locais

construídos pela empresa.

Diante da restrição e substituição das atividades econômicas, deu-se

início o processo de esvaziamento no reassentamento, onde 49% dos

domicílios estão ocupados (35 domicílios) e 51% vagos (37 domicílios) (Fig.38).

Dentre os que estão vagos, 32% (23 domicílios) já foram ocupados, mas, foram

abandonados, 15% estão vagos, mas, são propriedade da Santo Antônio

Energia e nunca foram ocupados, e 4% estão vagos, mas não temos

informações se um dia já foram ocupados.

Figura 38 - Sistematização dos domicílios no reassentamento.

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

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Há o início da venda de domicílios (Fig. 39) na área, os entrevistados

afirmam que não possuem perspectivas futuras quando esgotar o período de

auxílio da UHE, onde este cenário de esvaziamento tende a ser intensificado,

se não houver condição financeira para permanecer no local.

Figura 39 -Venda de domicílios no reassentamento.

Imagens: Girlany Valéria Lima da Silva, 2015.

Foi verificado em campo, que não há uma manutenção das

infraestruturas instaladas no reassentamento (Fig. 40), onde muitas dessas não

estão sendo utilizadas e são deterioradas com o tempo, isso também ocorre

com os domicílios que foram abandonados pelos reassentados, neste sentido o

fator principal da fixação no reassentamento não está relacionado às

infraestruturas, pois estas não se constituem fatores de fixação no local.

Figura 40 - Estruturas abandonadas no reassentamento.

Imagens: Girlany Valéria Lima da Silva, 2015.

Os resultados apontam que há uma ineficiência das medidas de

compensação realizada pela empresa construtora se comparada aos

problemas verificados no reassentamento, pois as famílias ainda não se

adaptaram ao novo local, existe uma dificuldade no reestabelecimento das

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atividades econômicas desenvolvidas pela comunidade, cuja principal

reivindicação dos entrevistados é a ausência financeira, fazendo com que as

famílias tenham uma dependência financeira com a empresa construtora,

exemplificada pela necessidade do auxílio financeiro, sendo este um dos

principais indicativos para o esvaziamento do reassentamento Vila Nova de

Teotônio.

Desconsiderando os problemas econômicos das famílias reassentadas,

a empresa construtora da hidrelétrica de Santo Antônio, através das

propagandas veiculadas na grande mídia local, se coloca como protagonista do

desenvolvimento socioeconômico de Rondônia, evidenciada pelo slogan:

“Nasce uma nova geração na Amazônia” (Fig. 41), a propaganda foi realizada

quando completou um ano de geração de energia elétrica no Rio Madeira, que

iniciou as atividades em março de 2012 (RIBEIRO, 2013; SILVA, 2015).

Figura 41 - Campanha de divulgação do início da geração de energia.

Fonte: Disponível em: http://www2.membrosbrasilcma.org.br/docs/Anuncio.pdf. Acesso em: 04/02/2016.

Para a Vila do Teotônio a instalação da hidrelétrica de Santo Antônio

ocasionou uma quebra no vínculo com o uso dos recursos naturais, que

mantinham as atividades econômicas da comunidade, hoje todos os elementos

que garantiram a territorialização na Antiga Vila do Teotônio, pesca e turismo

na Cachoeira do Teotônio, e várzea na vazante do Rio Madeira agora são

todos propriedades do capital nacional.

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CONSIDERAÇÕES

Uma das maiores preocupações que se deveria ter a partir da

instalação de uma usina hidrelétrica na Amazônia é referente aos impactos

ocasionados às comunidades que se encontram sobre a área de influência

direta da usina a ser construída, já que a implantação da obra, incide na

(des)territorialização e (re)territorialização das mesmas.

No entanto, não se verifica ao longo do tempo da instalação de usinas

hidrelétricas na Amazônia nenhuma preocupação com relação as comunidades

inseridas dentro deste contexo de deslocamentos, mas, a ideia que ainda tem-

se da região, está relacionada a necessidade de gerar desenvolvimento ao

cenário amazônico que, para muitos ainda se encontra dentro de um atraso

econômico.

No Estado de Rondônia, a territorialização da hidrelétrica de Santo

Antônio, ocorreu a partir da apropriação de uma parte do Rio Madeira para a

geração de energia elétrica e caracterizou o isolamento e o cerceamento da

atuação dos ribeirinhos no mesmo território, demonstrada pela

(des)territorialização da Vila do Teotônio.

A antiga Vila do Teotônio, era constituída por uma população cuja forma

de organização territorial os caracterizava como uma comunidade ribeirinha,

onde as famílias possuíam uma ligação social, cultural e econômica com o Rio

Madeira, relacionadas diretamente ao seu ciclo de vazante e cheia, a

comunidade dependia do uso dos recursos que este proporcionava para

aquisição de renda e subsistência, através das atividades da pesca, do cultivo

na área de várzea e turismo local.

Diante do processo de (des)territorialização da comunidade, verificou-se

que a comunidade apresenta grandes dificuldades no restabelecimento das

antigas atividades no reassentamento, os moradores afirmaram que há uma

baixa movimentação turística no local, que está relacionada a dificuldade do

acesso ao reassentamento e também a submersão do principal atrativo

turístico, a Cachoeira do Teotônio, ao comparar as atividades econômicas

desenvolvidas antes e pós usinas, os entrevistados foram unânimes ao

classificá-las como piores.

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As medidas de compensação turísticas que foram construídas no

reassentamento Vila Nova de Teotônio, relacionam-se a elementos artificiais,

sendo o píer, a praia artificial, os quiosques e os tanques para piscicultura,

onde verificou-se um lento processo de instalação, a relação estabelecida pela

comunidade com esses novos elementos inseridos na área é mínima, estes

não se consolidaram enquanto elementos atrativos para que a atividade

turística no local obtivesse êxito e gerasse renda no reassentamento.

A pesca que era realizada pela comunidade, tornou-se uma atividade

com grandes restrições, e desta forma, há o comprometimento na geração de

renda, emprego e qualidade de vida dos reassentados, cuja renda atual no

reassentamento está relacionada principalmente ao auxílio financeiro pago pela

empresa construtora da hidrelétrica, cuja população afirmou não possuir

perspectivas futuras quando o auxílio da hidrelétrica terminar.

Os resultados apontaram que há o início do esvaziamento da área

destinada ao reassentamento da comunidade, cujo principal fator que incide no

esvaziamento do reassentamento, está relacionado a dificuldade no

reestabelecimento das atividades econômicas, neste sentido não podemos

afirmar que há um processo de (re)territorialização da comunidade, já que esta

consiste na formação de novos territórios, com uma nova apropriação.

Devido as relações de poder desiguais estabelecidas na área, ocorreu a

apropriação do Rio Madeira, para a territorialização das hidrelétricas de Santo

Antônio e Jirau, onde o rio agora é propriedade do capital, e está para suprir

uma demanda energética nacional, ao delimitar a sua área de influência

através do reservatório, há uma sobreposição da territorialização hidrelétrica,

sobre a histórica territorialização da Vila do Teotônio, que estava relacionada à

pesca tradicional, que possuíam características peculiares, a exemplo da pesca

nas “burras”, cuja comercialização do pescado in natura ou nos restaurantes, a

agricultura na várzea, praticada durante a vazante do rio, eram os elementos

dinamizadores desta comunidade.

Dentro deste novo contexto há uma comunidade ribeirinha reassentada

à margem do reservatório de uma usina hidrelétrica, onde o reassentamento e

as casas foram planejadas a partir da ótica da empresa, e cuja fonte de renda

também está relacionada a usina hidrelétrica, através do auxílio recebido pelos

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reassentados. Neste sentido não há a (re)territorialização da comunidade no

reassentamento Vila Nova de Teotônio, pois todos os elementos que

garantiram a territorialização da comunidade no antigo local, sendo o tempo de

residência e as atividades econômicas da pesca, turismo e agricultura de

várzea agora são todos propriedade do capital nacional.

Pouca coisa tem sido feita para se alterar este cenário no

reassentamento, são necessários mecanismos de fiscalização para se

averiguar até que ponto a usina hidrelétrica cumpriu com suas obrigações para

com a população do reassentamento. O lento processo de efetivação das

medidas propostas como restabelecimento da antigas atividades, é um alerta

ao poder público observar a necessidade de planejamento para a área, haja

vista que a implantação da obra não tem significado o suprimento de

demandas mais imediatas dos reassentados, e o que esperar quando se fala

do desenvolvimento local, uma vez que o verificado nos trabalhos de campo

indicou forte cenário de desorganização desta comunidade.

Desta forma, o contínuo planejamento para expansão energética, onde a

maior parte das obras estão para ser instaladas na Amazônia, é uma evidência

de que a região ainda é vista como um grande potencial hidrelétrico a ser

explorado, no entanto, o que tem-se verificado é que os impactos decorrentes

da instalação dessas obras possuem um caráter socioambiental, e são nas

áreas de instalação das hidrelétricas que eles ficam inseridos, cuja

(des)territorialização das comunidades ribeirinhas é um dos impactos mais

conflituosos, dada a forma de organização territorial dessas populações, onde

no processo de (des)territorialização e (re)territorialização, há a perda das

características dessas comunidades, enquanto que as vantagens são externas

aos locais de instalação.

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APÊNDICES

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Apêndice 01 - Formulário aplicado em campo, 2015.

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Elaborado pela autora

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Apêndice 02 - Estruturas no reassentamento.

Imagens: Girlany Valéria Lima da Silva, 2012. A: Placa do programa de reassentamento, B: Placa de recepção do reassentamento, C: Estrutura de casa, D: Igreja, E: Unidade de saúde, F: Restaurante, G: Estabelecimento comercial, H: Escola municipal, I: Área de jogos.

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ANEXOS

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Anexo 1

Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/pagina22/article/viewFile/33657/32451. Acesso: 04/11/2015.

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Anexo 2

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Disponível em: http://goo.gl/zaX4UM Acesso: 07/011/2015.

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Anexo 3

Anexo 02 - Famílias do Rio Madeira deixam assentamento com terra infértil. Disponível em: http://amazonia.org.br/2013/05/fam%C3%ADlias-do-rio-madeira-deixam-assentamentos-com-terra-inf%C3%A9rtil/. Acesso: 04/08/2013.