8
, ¦xxxi ¦ ",f I A SEMANA GAZETA LITTERARIA Fundada por Valentim Mvgalhães A10 111 RIO DB JANBIHO, DE DEZEMBRO DE 188? nrnnifitnnnn.i nt»_iniwr._ninrAr. i n Anuem íii nu um a n nnn immi/t jiinunmn VOL, 111-51 155 REDACÇÃO E TYPOGRAPHIA -RUA DO OUVIDOR N. 45, SOBRADO SUMMARIO Expediente Escriptores do Norte do Brazil A arte como funcçao Primavera, soneto Etymologia da palavra capoeira Junto ao berço, soneto... Estudos de Litteratura Brazileira Amor e rosas, soneto Lcxicnlogia didactica.... Dura veritas.sed veritas, soneto Quadros negros Tuas mãos, soneto Ornar Serenata, poesia Theatros e diversões Phantasia, soneto Diversas publicações Fri-n-ili-i Tarara. Araripe Júnior. I. Martim Jonior. A. J. Macedo Soares J. Duque Estrada. Sylvio Roméro. João Ribeiro. G. Bellegardt. U. de Carvalho. J. Norberto S. S. A, de Carvalho. Lima e Silva. Arthur Barbosa. Julio Salusse. EXPEDIENTE ASSIGNATURAS CORTR E NICTHEROY Semestre 4fl°°° Anno..- 8JS000 PROVÍNCIAS Semestre 5f|0<X) Anno ÍOSOOO As assinaturas tomadas e pagas desde vigorarão: As de semestre até 30 de Junho e as de anno até 31 de Dezembro de 1888. A Empreza roga encarecidamente aos Srs. assignantes em atrazo a flneza de satisfazerem os seus débitos atè o fim d'este mez para evitar interrupção de remessa da folha. O pagamento de assignaturas pode ser feito por intermédio das agencias do correio. São agentes litterarios da Semana os Srs.: J. Veríssimo de Mattos, nas cidades de Manaus e Belém._ Dr. José Izidoro Martins Júnior, na cidade do Recife; Max Fleiuss, na oidade de S. Paulo. Virgílio Várzea, na cidade do Des- terro. BRI1DES A's pessoas que vierem ou mandarem ao nosso escriptorio reformar as suas assignaturas e ás que agora tomarem assignatura por um anno, offerecemos um dos seguintes livros como brinde : ²St/mphonias, versos de Raymundo Oorréa, com uma introducção por Ma- chado de Assis.,_»¦*,. ²Poemas e Iiyhos, versos de Rodrigo Octavio. ²Jfargaritaí, poesias de D. Adelina A. Lopes Viera. ²Visôei ie hoje, versos de I. Martins Júnior, edição.... . A's pessoas que tomarem ou reforma- rem assignaturas por seis mezes, offere- cemos um dos seguintes livros como brinde: —Auroras, versos de Alfredo de Souza. —Pampanoi, versos, de Rodrigo Octa- vio. Escriptores do Norte do Brazil O MAJOR THOMAZ ANTÔNIO RAMOS ZANY Em 1862 attrahiu singularmente mi- nha attenção um romance original bra- zileiro que se publicava emjfolhetins do Diário de Pmiamtaco.JIntitula-se—A ca- rapuça de meu tio, recordações de um no- mem velho. Naquella época a instrucção litteraria entre nós tinha ainda muito {de auto- chtone. O indianismo chegara ao seu apogeu. Na Faculdade de Direito ha- via gosto especi-il por esse gênero de litteratura brazileira, cujos princi- pães representantes fora da Faculdade eram i—na poesia Gonçalves Dias, pre- cedido de muito tempo antes por Ba- silio da Gama, e na prosa José de Alen- car com o seu Guarani/. Quem escreve estas linhas tinha pu- blicado Os índios do Jaguaribe, onde, de accordo com a versão histórica de que era capaz naquelle tempo em que ainda cursava a Faculdade, se encontra uma idealização do indio que seria agora o primeiro a condemnar á,vista de ulteriores estudos. Na Carapuça de meu tio, pelo contra- rio, nada se encontra sobre o indio. Esta novidade por um lado e por outro certos matizes de costumes da sociedade pernambucana, revelando no escriptor um espirito de inspiração franceza que uão prejudicava o colorido local, impressionaram-me agradável- mente. Não perdi de vista a Carapuça e, como é natural, senti minha sympathia in- clinada para o seu autor. Mas como conhecel-o, si elle se occul- tava nas sombras adoptando o pseu- donymo de roíimaleí De repente, no melhor do gosto,como vulgarmente se diz, foi interrompida a publicação. Começaram os commentarios e não foram poucos; mas o que naquella occasião prevaleceu foi que a publica- ção tinha sido interrompida, menos por culpa do autor do que por conveni- encia da redacção do Diário, visto que na novella entravam pessoas vivas cujos defeitos e peccados veniaes não deviam ser expostos aos risos e ao des- prezo do publico. Aceitei essa explicação não sem pe- zar, porque estava com animo devo- rar a Carapuça todas as manhã, capi- tulo por capitulo, antes do café e do banho frio, Mas faltando a continuação, resignei-me a reler a parte publicada (XXVIII capitulos). Que scenas tão naturaes I Que typos tão brazileiros! O commendador Feli- cissimo, senhor do engenho Tury-aisi; o compadre Mane lico, o Pedro Moraes, capitão da guarda nacional com espada virgem; pZumi>a,oincomparavel Zumba e tantos outros personagens ridículos, ignorantes, frivolos, e sobretudo os episódios grotescos até fazer rebentar de riso, que adorável colheita para o paladar de um estudante com pre- tenções a litterato como era eu então! Ultimamente em carta do autor en- contrei a verdadeira razão pela qual deixara de continuar o seu trabalho : « Feliz ou infelizmente, estando mui adiantada essa publicação, adoeci gravemente e passei mais de um anno em tratamento. tinha concluído o meu trabalho; mas continuar a sua publicação no Diário de Pernambuco me pareceu de todo ponto inadmissível: tinha-se passado tanto tempo desde a publicação do ultimo folhetim! Além disso eu me achava como ainda me acho, tão desanimado e aborrecido que pareceu-me não valia a pena de prose- guir, e por isso não fiz caso algum desse e de outros escriptos que tinha entre mãos. » A Carapuça não passa de uma coisa assim como as memórias de um velho. São quadros de costumes em que entra o Recife com seus arrabaldes pittores- cos. Os personagens são d'alli mesmo, quer pela sua linguagem, quer pelo seu aspecto, paixões, fraquezas ou vi- cios. A única phantasia da obra é a cara- puça, presente milagroso de uma bruxa trazido de uma viagem á Irlanda. Eis como a descreve o romancista: « Imagine-se um amplo e encurvado bon net de fio da Escócia, de dois lados, mas sem nenhuma costura, similhante a esses gorros de dormir, de algodão, que se usam na França, Allemanha e outros paizes frios, e que a caricatura nos apresenta de uma maneira tão ex- quisita como grotesca, tanto que ao vél-o é impossível guardar seriedade, ainda que se seja o mais fleugmatico possivel. « Ter-se-ha então uma idéa aproxi- mada da heranç^ deixada pela velha Megg. « O que, porém, se tornava mais into- 1 eravel, e concorria para aguçar-se a nossa curiosidade, era um finíssimo e delicado annel de aço que envolvia em malhas flexíveis toda sua abertura, e que terminava em uma pequena bola do mesmo metal pendente do tope e se balouçava com graça ao menor movi- mento do seu possuidor.» Não me é dado deixar entrever até onde chegaria a influencia desse ta- lismã terrível, com uma ponta ds força magnética que, uma vez encasquetado na cabeça de alguém fazia-o, não re- velar a vida própria, mas também adivinhar a vida alheia. Exceptuando esta parte maravilhosa que o gosto da moda justificava ainda, e que talvez não seja absolutamente original, tudo o mais é pernambucano e revela em Youmale um talento parti- ciilar para a satyra, com o qual currente calamo não poucas vezes provoca ai francas risotas do leitor. O escriptor que se ..encobria no in- cognito não era outro sinão o Sr. Tho- maz Antônio Ramos Zany, filho legi- timo do desembargador Domingos Nu-I nes Ramos Zany, então falleefdo.f Tinha nesso tempo 36 annos de idade, pois nasceu em 16 de julho de 1896. Era empregado da repartição de obras) publicas, onde serviu sob vários «he- fes, o ultimo dos quaes foi o conhecido' engenheiro inglez William Martinean e d'onde sahiu posteriormente como inspector da alfândega do Rio Grande do Norte, logar que exerceu até 1876; quando foi nomeado conferente da ai- fandega do Ceará. Actualmente é con- ferente da alfândega de Santos, provin- cia de S. Paulo. Os seus méritos são conhecidos do Governo Imperial, que os aproveitou em diversas commissõès, entre as quaes mencionarei a da organização da carta chorographica do Rio Grande do Norte. Não obstante, a única recompensa que lhe deu foi nomeal-o cavalheiro da I Ordem da Rosa." Merecem ainda mencionar-se dois trabalhos do Sr. Zany: Maroquinhas, ;| infelizmente incompleto como a Cara-1 puça, e Por causa de duas angélicas. . . | Este ultimo é um trabalho passa-,l geiro, um escripto litterario como tftri- l tos outros que se escrevem para oajj diários.- 31 Maroquinhas é um conto só, mas fa ;il, S de muita graça e elegância. Tem ap»- nas seis capítulos. A acção passa-se no|| Rio Grande do Norte.* Lendo esses capitulos inéditos, em tiras de papel amarellecido pelo tempo, deploro que o trabalho tenha ficado! em metade. O assumpto não promette muito, mas a côr local e a suavidade do conto attrahem o espirito do leitor ij ao sertão quasi virgem, ao seio. da na- tureza bravia que o escriptor escolhe»! para emmoldurar a tela do seu quadro* Deploro também que espirito tf observador, dotado de qualidades què, devidamente educadas e cultivadas ha- veriam de chegar a grande altura; tenha interrompido a sua jornada tSo bem encetada para as lettras pátrias. FRANKLIN TAVORÁ, A arte como funeção Apezar da grande'idifférença quel existe entre sciencia e arte, muitas pèsg soas ha que irreflectidamente perma- a necem na sopposicã», de que os pro- , gressos do século XIX autorizam a, j confusão: Para taes pessoas Sully.^, Prudhomme constitue a ultima pressão da poesia genial, e LucreclOv A

Fundada por Valentim Mvgalhãesmemoria.bn.br/pdf/383422/per383422_1887_00155.pdfAmor e rosas, soneto João Lcxicnlogia didactica.... Dura veritas.sed veritas, soneto de Quadros negros

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • , ¦xxxi ¦ ",f

    I

    A SEMANAGAZETA LITTERARIA

    Fundada por Valentim Mvgalhães

    A10 111 RIO DB JANBIHO, 1» DE DEZEMBRO DE 188?nrnnifitnnnn.i nt»_iniwr._ninrAr. i n Anuem íii nu um a n nnn immi/t jiinunmn VOL, 111-51 155

    REDACÇÃO E TYPOGRAPHIA -RUA DO OUVIDOR N. 45, SOBRADO

    SUMMARIOExpedienteEscriptores do Norte doBrazil

    A arte como funcçaoPrimavera, sonetoEtymologia da palavracapoeira

    Junto ao berço, soneto...Estudos de LitteraturaBrazileira

    Amor e rosas, sonetoLcxicnlogia didactica....Dura veritas.sed veritas,soneto

    Quadros negrosTuas mãos, sonetoOrnarSerenata, poesiaTheatros e diversõesPhantasia, sonetoDiversas publicações

    Fri-n-ili-i Tarara.Araripe Júnior.I. Martim Jonior.

    A. J. Macedo Soares

    J. Duque Estrada.

    Sylvio Roméro.João Ribeiro.G. Bellegardt.

    U. de Carvalho.J. Norberto S. S.

    A, de Carvalho.Lima e Silva.Arthur Barbosa.

    Julio Salusse.

    EXPEDIENTEASSIGNATURAS

    CORTR E NICTHEROY

    Semestre 4fl°°°Anno..- 8JS000

    PROVÍNCIAS

    Semestre 5f|0

  • 186 A SEMANA

    «¦'

    ']['.

    I

    !precisamente

    naquelles pontos do'jioema em que seu estro menos com-Jnünicou com as musas, assume a at-ffitude de uni verdadeiro precursor.m Certas theorias desenvolvidas porjfSmilio Zola nos seus livros de critica1. em concorrido, mais do que se pensa,lóara que semelhante erro, parecendoffustificadofeontinue a propagar-se comoli. tendência effectiva da arte no mesmoSéculo dns grandes syntheses de A.fjomte e H. Spencer. Não quero com1 sto dizer que o autor do Assomoir des-Minta a sua Índole de artistaeininente ;

    {nas é forçoso reconhecer que nem sem-bre o que elle diz está de accordo coin1 que elle faz. Saturado de experimen-Batismo claudeliernardieno, receioso tal-fW de que as suas audacias de natura-lista fossem postas em duvida, o grandeRomancista, ein mais de um artigo de

    propaganda, esqueceu-se de si mesmoifiara dillundir-se em uma rhetorica in-fijonsequente: e, apezar de haver aflir-

    nado mais de uma vez que a arte nao é.àenãoum canto da natureza surprehenilido

    pírareí de nm temperamento, não se tem

    poupado, no furor do ataque, na pai-ião da controvérsia, a esfusiar para-loxos de que as suas obras são a mais•abai refutação. Taes affirmações, comsffeito, teriam sido a morte da arte e ãolegredo da expressão, si o talento, sii vehemencia da imaginação, si o nisiis

    if'soncepcional do artista, não rompessemISoni tão acanhado ponto de vista, parafiimpôr, arrogantes,cáusticas e ás vezes

    itrozmente inexoráveis, as valentias de

    fiifma imaginação mais que muito espe-;ializada. (1) Felizmente, porém, a sua

    In. bra é a prova mais eloqüente do sub-f ectivismo dos produetos da arte.

    I O artista não é, nem pode ser um in-1 differente ; nem tão pouco se confunde

    ,'í'Uoni o homem da sciencia. Em summa,'.reduzidas as intenções orgânicas do

    chefe do naturalismo em França a pro-porções scheciaticas, o quo se encontrano fundo de sua critica é muito claro :

    ] d indifferentismo, a que elle se refere,Ipão passa.eni ultima analyse, do eçiiiii-

    lírio que as naturezas superiores po-dein guardar diante do espectaculo davida universal. Artistas integraes' como Shakspeare e Goethe realizaramperfeitamente esse maravilhoso deside-ratniii, o o próprio Zola hoje o teria

    ilfeito na sua esphera, si não o minasseilúhia preoecupação, que vae-lhe limi-líftando a funeção artística. Alludo aoÉíiexclusivismo do factor hereditário,?][fque pesa de um modo extraordinário,'lísobre a estruetnra de todos os perso-sí-finagens de seus romances. Cahindo nosíátfimesaios exageros de que foi vietimaíjtJGalton no seu livro Deredilarij Genius,

    1 sustentando que os talentos superiores

    ji .pelo unico nisus hereditário podem es-J 1 capar ás influencias do meio, expio-rfedindo, do mesmo modo que a loucura,ii quer o meio resista, quer não, Zola dei-M.xou-se arrastar pelas seduecõesde uma¦j theoria parcial, e quando menos sup-

    i.'l poz, as suas legitimas observações de ar-Ifi tista estavam sendo invadidas pelo pari»|S;|pris de uma escola ou de um ponto deiHBTista, que só tem a vantagem de forta-Mrlecel-o para a aggressão, mas que in-IJKdubitavelinente o desorienta no meioagida complexidade da sciencia contem-HBporanea e desintegra-lhe a funeção ar-

    ÍJ >'!,-....,T (l).Jáem seu tempo Baudelaire de-¦J||| ínia á arte çoino «uma magia sugges-

    m^w*' con*endo ao mesmo tempo o' lS-(?Yoe ° "eleito, o mundo exterior ao«WS .ki Próprio aritsta.» (Cari roman-riíflMC, 1Ü7).

    tistica. Para corrigir esse vicio de cri-tica nào veja outro recurso senãoaproximarmo-nos de Darwin. O autordo Assomoir imniobilizou-se nas idéas deLamarck: esqueceu portanto, o.que hade mais fecundo na theoria seleceio-nista. Os grupos que elle descreve nãotem elasticidade, e quasi perdem o in-teresse por excluírem os múltiplos ele-inentos.que convergem para o centro desua ecliptica. A selecção mórbida, quese figura na familia Rougon-Macquarl,é puramente abstracta, legica ; os pro-gressos actuaes da suiencia não minis-tram meios para acompanhal-a. Bastaattender-se ao facto de que a trans-missão nào é uniforme, e que ummilhão de elementos vem attenuarqualquer accumulação realizada emuni indivíduo, para reconhecer-se oque ha de arbitrário naquolle processolitterario. (2)

    Pois que a arte, como tudo, marchade um estado de diffusão para um estadode cohesão; si, como o demonstram ahistoria e a etimologia, a arte diffe-renciou-se logo no alvorecer das civi-lizaçues, aonde appareciam costumes,religião, direito, industria quasi for-mando um bloco, uma massa informe ;si a encontramos mais tarde, na Gréciapor exemplo, já completamente sopa-rada das outras manifestações do espi-rito, e, no gênero, desaggregada, rami-ficando-se ua poesia, na pintura, namusica, na estatuaria, na architectura ;si, ainda depois, a surprehendemos emprocesso de mais profunda desaggre-gação, produzindo na poesia o gênerolyrico, o épico, o dramático, o satyrico;si tudo isto é uma verdade, como ,admittir que, depois de tantas revolu- ,çòes, de tantas acquisiçoes, de tantasadaptações, o homem volte ao ho-tnogeneo dostempos primitivos, exacta-mente no século tm que tudo se espe-cializa, no século em que essa mesmaespecialização chegou a gerar um pe-sadelo reconstruetivo no maior cérebroda raça latina'?! Fóra disto, ver-me-hiaobrigado a proclamar bem alto que atheoria evolucionista é um sonho es-teril, senão uma mentira imaginosa.E' preciso, pois, que todos aquelles queaceitam-na como a expressão maisadiantada do esforço humano, sejamcoherentes, e, do um ponto de vistasynthetico, tratem de possuir-se dogênio particular da arte, mas da arteuniversal, tal qual ella no momento seapresenta,como subsírafum da variedadehumana. Diga-se, portanto, de umavez: — nunca a arte esteve tão diffe-rendada da sciencia como no se-culo XIX.

    Em uma sociedade culta os appa-relhos apresentam-se mais fortementedefinidos do que em uma tribu selva-gem; do mesmo modo que em um grandevertebrado os órgãos são mais aprecia-veis em suas funcções do que em umannelide, em que estes mal se denun-ciam. Não ha meio de confundir nos ani-mães, que tem attingido certo estado dedesenvolvimento, os movimentos cere-braes com as pulsações do coração, asmodificações do tubo digestivo, com asdo intrincado apparelho cutâneo. En-tretanto é nesse estado que os diversosórgãos mais intensamente reagem unssobre os outro3 (3). Nunca, pois, afuneção scientifiea reagiu tão enérgica-

    (2) cf. Darwin, Origem das espécies113. Saury, Folie hérêditaire. 12.í(3) H. Spencer, Psychologia, I « 1»,Sociologia, II.

    mente sobre a arte como na actuali-dade (4). O bom senso bastaria, si nãofossem 03 prejuízos de escola, paratornar patente qlie a poesia ou a artedo mn bushman, de uni fetiehisla doscentros da África, em cujo cérebroobtuso as sensações quasi se sepultamem medonha escuridão, nunca conse-guiria elevar-se no reinigio da inspi-ração de um V. Hugo, de um Swin-burne,deum Browniug, de um Lecontedel'Isle,intellectos aonde vicejam todasas polarizações da experiência humana.Uma intelligencia esclarecida é con-clição indispensável para que o coraçãopalpite nobremente e a imaginaçãofulgure nn representação dos doismundos, o subjectivo e o objectivo.

    O homem, como actividade, é um;nem é possivel despedaçar essa irre-duetibilidade, diante da qual todas asphilosophias tem estacado absortas.Isto, porém, não exclue o facto da diffe-renciação dasfuneções por via das quaesessa actividade se tem sempre mani-festado. Os estudos modernos de an-thropologia e de psychogenia apresen-tam-o , no actual estagio do pro-gresso, como utn produeto variado e defeições múltiplas. «O progresso hu-mano, diz Letourneau, consiste noenriquecimento sempre crescente davidade consciência,no alargamento desua esphera, e na libertação, tantoquanto possivel, do jogo da vida nu-tritiva » (õ). Segundo essa concepçãobiológica tudo se reduz, em ultimaanalyse, ao augmento da capacidade deregistro; e, no que respeita própria-mente á arte, que é uma das manifes-tacões indeclináveis da vida sensitiva,funda-se ella num facto rudimentarcommum a toda a animalidade, isto é,na irradiação de qualquer impressãopor todo o systema nervoso. «Si a im-pressão, reílecte ainda aquelle phi-losopho, dá-se em um homem muitointelligente, no qual se verifica a exis-teneia de um extenso campo de vidaconsciente, o abalo nervoso se trans-forma immediatamente em sentimentos,em idéas, e depois, se não ha esgota-mento, em acção reflexa motriz. Noanimal, na criança, no homem primi-tivo, na mulher, a impressão violentapela maior parte se traduzirá directa-mente em movimentos variados, con-forme forem feridos estes ou aquellesórgãos. De ordinário, no ente intel-lectualinente pouco desenvolvido, ochoque nervoso se tranforma sobretudo em contracções musculares, emmovimento de membros, em gestos egritos. Mas a serie dos phenomenospoderá ser invertida: Si uma impressãodada provoca de ordinário tal gesto,tal grito, bastará muitas vezes exe-cutar ou ver executar o gesto, pro-duzir ou ouvir o grito para experi-mentar-se mais ou menos a impressãoa que elles correspondem, O homempoderá, pois, reproduzir, excitar a suavontade, em suas cellulas conscientesou nas de outrem certo numero de im-pressões ou de sentimentos. Nisso con-siste todo o fundo da esthetica.»

    Letourneau teria feito melhor, si sereferisse ao ponto de partida Ou ao

    (4) Este facto é perfeitamente cara-cterizado por Luys no tópico seguinte :

  • '¦¦-A .

    X-\.>..X;.}.¦;;.::!¦-,f ,';

  • . '

    Ir'I

    «388 A SEMANA

    m

    l • 'Sas a razío, que salvada baixeza1 ! ) coraçío depois de idolatrar-te,_| le anima n abandonar-te, a náo querer-te,

    í'j|'kas a esquecer-te, náo, sempre hei de•-.'*¦ amar-te...

    f",. Porém aipar-te desse amor latente,• \ Raio de luz celeste e sempre puro,; Hjj-Jue tem no seu passado o seu presente,•' mS tem no seu presente o seu futuro.

    H frào livre, tâo despido de interesse,Que para nunca abandonar seu posto,

    , Para nunca esquecer-te, nem precisa1 Beber, te vendo, vida no teu rosto...

    1 '. )»e, desprezando altivo quantas graças

    i !*o teu semblante, no teu porte via,^ Adora respeitoso aquella imagem

    i |:Que delles copiou na phamasia. » (1)

    l Vê-se que o poeta era desses espiri-i|os reflexivos que se voltam sobre si.mesmos, que lutam, que se analysamiho meio de suas lutas.I Era tambem altivo; mas e homem sin-_ero; fugia, sumia-se e não esquecia,

    fiem deixava de amar, como elle mesmodisse.

    t Olaro é que Laurindo não tocavainstrumento , não era virluose; suaooesia não era rhetorica e cheia dephrases.era a expressão natural de seusaffectos.

    i Note o leitor que vamos n'uma ver-ladeira gradação; já vislumbramos

    f aa alma do poeta as ternuras diante¦íle uma flor dada por sua amante; já

    fiantre os seus segredos sorprendemos ailuta funda que tratou para vencer uma'paixão ingratamente retribuída...I Um passo mais e vél-o-emos pran-ftear loucamente diante das saudadesfique lhe arrancara a lembrança de suafirma.i Não insistirei nesse ponto, porque já

    Ítoquei nelle quando fallei de Araujo

    Vianna, marquez de Sapucahy.I Estamos em plena elegia. Um passofinais e,em Jfeu Segredo, na Linguagem dos(Tristes e vinte outras poesias, veremo3lo soffredor fluminense, o pobre mes-.

    'tico, o proletário diante de seu viver,

    ((diante de seu destino. A elegia entãofgeme, e dóe ouvil-a.I. Não ha artificio ; a simplicidade da¦ 'linguagem deixa vazarem-se atravez

    de seus poros as exhalações de umaSal ma dilacerada. Elle teve bem razãode assim dizer om —O qae são meusversos :

    (;(. Si é vate quem accesa a phantasia(Tem de divina luz na chamma eterna,Si é vate quem do mundo o movimento

    |ÍG'o movimento das canções governa ;

    Si é vate quem tem n'alma sempre abertas¦',?'(. Doces, límpidas fontes de ternura,.fí-f Veladas por amor, onde se mirami, As faces de querida formosura; •

    ;.

    ¦¦

    j. Si é vate quem dos povos, quando falia,'l ( Aspaixões viviilea, excita o pasmo,1,1 E da gloria recebe sobre a arenaifi 'As palmas que IheloíTrece o enthusiasmo ;

    i.i ' Eu triste, cujo fraco pensamentoi1'1 L '.Do desgosto gelou fatal quebranto;SlllQue, de tanto gemer desfallecido,

    ,'j1 I Nem siquer movo os échos com meu canto;

    § (l) Tenho muito medo de molestar os lei-'toresfluminenses que em matéria de letrasgOStam muito de coisas leves « ligeiras... por

    I uso neste e nVmtros artigos, que pretendoBilipubllcar nesta folha, eitrahidos da Mu.riateimada. Litteratura Brazileira, tenho O Cuidado deSSos reduzir s menores proporções, cortando';¦ (trechos e podando as citações. Quem quizerfc|T-riflc»r as ailegações por mim feitas, re-*!'SSS5s4t» eme ** 0bra3 d03 «atores

    Eu triste, que só tenho abertas n'almaEnvenadas fontes de agonia,Malditas por amor, aquém nem sombraDe amiga formosura o céu confia;

    Eu triste, que, dos homens desprezado,Só entregue a meu mal,quasi em delírio,Actor no palco estreito da desgraça,Só espero a coroa do martyrio ;

    Vate não sou, mortaes; bem o conheço ;Meus versos, pela dòr só inspirados,—Nem são versos,— menti, — sfio ais sentidos,A's vezes,sem querer,d'alma exhalados;

    São fei que o coração verte em golfadasPor continuas angustias comprimido ;Sfio pedaços das nuvens, que m'encobren_Do horizonte da vida o sol querido ;

    São anneis de cadêa que arrojou-meAos pulsos a desgraça, impia, sanhuda ;São gotas do veneno corrosivo,Que em pranto pelos olhos me transud a

    Séeca de fé, minhalma os lança ao inundo,Do caminho que levam descuidada,Qual, ludibrio do vento, as seccasfolhasSolta a esmo no ar planta myrrhada. »

    Este podia assim fallar; podia chorarsem rebuço, sem mostrar-se ridículo ;tinha para tanto o privilegio dos soffri-mentos de uma vida flagellada. Erauma alma de tempera. Podia tambemrir; porque só o havia de fazer quandoa effusão fosse bastante forte paramandar a gargalhada brotar atravezdas maguas.

    Laurindo não era uma natureza uni-taria, de uma só faceta, uma dessas or-ganizações simples, que tomam a di-recção que lhes imprime o curso dosfactos.

    Uni entesinho desses, si as coisas lhecorrem bem e elle possue certa habili-dade litteraria, atira-se aos versinhosfáceis, e tambem ao pagode, á crápula,á súcia, e vae engrossar a cohorte dosperaltas e bohemioslettrados.

    Temos então a frivolidade galantedos cafés e botequins. Os versos quefazem, os folhetins que escrevem, pa-recem-se com as gravatinhas de côr, asbengalinhas leves que conduzem...|f Si, porém, as coisas não foram bem,asdifficuldades sérias surgiram de faucesabertas, então o entesinho desequi-libra-se de todo, estiola-se, murcha,inutiliza-se. Vae para o túmulo oupara o hospicio.

    Laurindo não era dessa qualidade degente.

    Foi do numero daquelles homens ou-sados que naufragam, mas nadamsempre para as costas e vão surgiradiante com as mãos dilaceradas, nus,famintos, e sempre enérgicos, semprecheios de esperança.

    Foi do numero desses que respondiamao infortúnio com a ironia, ao des-espero com a gargalhada.

    Era batido, porém não se deixavaprender; era vencido mas não se en-tregava.

    Forte casta de homens que lutamcomo leões, choram como águias eriem como gigantes. Esses saírem fórada medida commum.

    Foi por isso que Laurindo por ondepassou interessou a todos com as scin-tillações de seu espirito, de suas sa-tyras, de suas pilhérias.

    A Bahia e Porto Alegre ainda hojemm

    lembram-se de seus chistosos ditos e desuas singularidades ; o Bio de Janeiroriu-se durante vinte annos pelo dia-pasão de seu riso.

    Era a gargalhada irônica e profundado paria, do mestiço e cigano, do pro-letario n'uma pátria ingrata expio-rado pela cubiça de uma burguezia deestranhos e pela ganância de políticosrelapsos.

    Grande porção da obra do poeta,por esta face particularissima de seutalento, perdeu-se porque foi oral.Outra porção d'ella existe impressa eesparsa por ahi algures.

    Na Marmota, no Sino dos Barbadinhos,nn Voz da juventude e n'outras publica-ções da época póde-se joeirar muitacoisa no alludido sentido.

    Não tenho agora tempo de o fazer e in-dico o trilho a investigadores futurosque desejem estudar a fundo o es-criptor.

    Existem tambem por ahi inéditas,em cópias que algumas pessoas pos-suem, muitas composições de pura por-nographia,muito superiores pelo chisteás producções do gênero attribuidas] aBocage.

    Antes de dizer algumas palavras fl-naes sobre o talento do repentista e doautor faceto, demos um passo mais nasenda da elegia.

    O poeta estava na Bahia, fazendo ocurso medico ; alli já tinha escripto aSaudade Branca, quando mais tardecahiu gravemente enfermo. Esteve ásportas da morte. Convencido absolu-tamente que ia de morrer, escreveu—oAdeus ao mundo.

    Todos os encantos da natureza, dasociedade lhe apparecem para recebero adeus da ultima despedida.

    Quem já uma vez perdeu entes que-ridos, porções d'alma que se foram,léa; é pungente :

    « Já do batei da vidaSinto tomar-me o leme a mão da morte,

    E perto avisto o poi toImmenso, nebuloso, e sempre noite,

    Chamado — Eternidade ¦'Como é t3o bello o sol •' Quantas grinaldas

    Não tem demais a aurora lComo requinta o brilho a luz dos astros ¦'Como são recedentes os aromasQue se exhalam das flores' Que harmoniaNâo se desfrueta no cantar das ares,No embater do mar, e das cascatas,Ne susurrar dos límpidos ribeiros,Na natureza inteira, quando os olhosDo moribundo, quasi extinetos bebem

    Seus últimos encantos.' (%

    Então? Eu bem dizia: é uma paginasingular esta. E' uma das elogias maisdoloridas que já uma vez foram escri-ptas em qualquer lingua.Em portugneznenhuma outra a excede.

    Laurindo era um homem do povo esempre viveu em estado próximo da in-digencia. Não privava com o impe-rador, não era sócio do Instituto His-torico e tão pouco era um protegidodos regios magnatas da litteratura doseu tempo.

    Não era apaniguado de Magalhães,Porto-Alegre, Octaviano, Macedo eoutros influentes da época. Pelo con-trario, noto no jornalismo do tempoquasi inteiro silencio sobre o poeta flu-minense.

    Repare-se que Fernando Wolfnemuma só vez faz menção do nome de

    rim(íi Veja-se o volume de versos de Lau

    ido.

    Laurindo. E' que aquelles que for-neceram os apontamentos para a obrado escriptor austríaco guardaramsegredo sobre o nosso trovista.

    E, todavia, a injustiça aqui é cia-morosa; porque fluminense é um dosmais valentes talentos poéticos de nossalingua. Si não teve fama entre osgrandes, gosou da mais completa noto-riedade que o nosso povo tem outor-gado aos seus dilectos.

    Elle e Gregorio de Mattos foram ospoetas da plebe, do grande numero noBrazil.

    Homem do povo, fallava-lhe a sualinguagem.

    Entre nós a litteratura, ou mais pro-priamente a poesia, ha tido duas ex-pressões—capitães e divergentes.

    De um lado, nota-se o grande grupodos poetas por plano e reflexão, os es-piritos estudiosos e illustrados quetém procurado acompanhar as idéas dotempo em que vivem e acclimal-as nopaiz.

    Têm merecimento e prestaram bonsserviços; mas não forain as boceasenthusiasticas e propheticas por ondefallava a nação.

    De outro lado estende-se em linha ogrupo dos que nada, ou quasi nada sa-biam do estrangeiro, ou que nada ouquasi nada se impressionavam com oque por lá corria, mas, em paga, es-tavam identificados com o nosso povoe eram delle uma voz, um soluço, umlamento, um cântico, alguma coisa quelhe sahia da alma. São as duas cor-rentes geraes do nossa litteratura. Atéhoje tém andado divergentes.

    E' por isso que ainda não tivemos umpoeta daquella primeira linha em quefulgem os vultos de Shakespeare,Milton, Gcetlie e de outros astros dessetamanho»

    Só quando as duas correntes se en-contrarem na cabeça e no coração deum homem, a um tempo a synthese dasua raça e o espelho de seu século, sóentão possuiremos quem nos vá repre-sentar na região dos grandes gênios.

    Laurindo não passou de um talento,notável talento em verdade.

    Sinto não poder aqui estudal-o comosatyrlco e humorista. A necessidade deresumir-me, e, em parte, a falta de ma-teriaes agora á mão, obrigam-me apassar adiante, dizendo apenas duaspalavras sobre o repentista.

    Por esta face só Moniz Barreto podiacom elle, e muitas vezes degladiaram-se na Bahia.

    No improviso oratório, como já disse,Laurindo não tinha rival então; noimproviso poético acompanhava o re-pentista bahiano. Eis aqui um sonetodirigido a cantora Marietta Landa:

    « Tão doce como o som da doce avenaModulada na clave da saudade ;Como a brisa a voar na soledade,Branda, singela, límpida e serena;

    Ora em notas de goso, ora de pena,Já cheia de solemne magestade,Já languida exprimindo piedade,Sempre essa voz é bella, sempre amena.

    Mulher, do canto teu no dom supernoA dádiva descubro mais subidaQue de um Deus pôde dar o amor paterno.

    E minli'alma, n'um extasi embebida,Aos teus lábios deseja um canto eterno,E, só para gozal-o, eterna vida...»

  • A SEMANA389

    Moniz Barreto enthusia3mado, ati-

    rou-lhe este mote -Tens nas mios teu

    porvir, teubm, teu fado-, que o poeta

    fluminense glosou assim, dirigindo-se á

    mesma cantora:

    «Disseste a nota amena da alegria,

    E' arrebatado então nesse momento

    De um doce, divinal contentamento,Eu senti que minh'alma aos céus subia...

    Disseste a nota da melancolia,Ne»ra nuvem toldou-me o pensamento ;

    Senti que agudo espinho virulentoDo coração as libras me rompia.

    E's anjo ou nume, tu que desta sorte

    Trazes o peito humano arrebatadoEm successivo e rápido transporte ?

    Anjo ou nume não és; mas, si te é dado

    No canto dar a vida ou dar a morte,Tem nas mios uu poreir, teu bem, teu fado...»

    Basta; é suficiente para dar umaamostra da limpidez e clareza e sim-

    plicidade dos improvisos do bardo ilu-minense. Para concluir 1

    Laurindo é um poeta de caracter au-tonomico em meio dos seus pares.

    Mais moço que Magalhães e Porto-Alegre, appareceu depois d'elles, semlhes seguir as pisadas.

    Mais moço apenas tres annos queGonçalves Dias, appareceu mais oumenos pelo mesmo tempo e não lhedeveu absolutamente nada.

    Igual independência manteve em facede Azevedo.Lessa, Bernardo e Andrada

    pouco mais moços do que elle.A qualidade predominante da sua

    poesia é a nota elegíaca, e esta não é achamada poesia sentimental e lamu-rienta.

    O poeta não se lastima; também nãose insurge, nem se rende; não é umrevoltado, que blasphome, nem um sub-mettido que se prostre vencido. Não;elle é naturalmente elegíaco. O prantolhe 3ae espontâneo e não o espanta;¦não se converte em motivo de queixanem de ódio.

    Aquillo não é fingido, não arma aoeffeito ,• é assim por indole.

    SYLVIO ROMÈRO/

    Lexicologia Didactica

    Na bíblia saorada, Testamento Telho— Livro de Daniel — Capitulo V —cujosummario é este:

    «Banquete do rei Balthazar. Appariçãode mão escrevendo na parede. Os sábios deBabylonia nâo podem explicar esta escri-ptura. Daniel a lê e a implica. Morte deBalthazar. Succede-o Dario Medo.»se descreve o nefando festim que Bai-thazar deu a mais de mil magnates deBabylonia e durante o qual « appare-ceram uns dedos como de mão de homemque escrevia defronte do candieiro nasuperfície da parede da sala do rei.»

    Foi o propheta Daniel quem pòdeexplicar o sentido dessas palavras. Eisa re producção textual do que se lê nolivro e capitulo acima indicados :

    « 25.— Esta é pois a escriptura quealli está disposta : mane. thíicel, pha-EÈS. (1)

    Esta é a intrepretação das palavras :26.—mane: Deus contou os dias do

    teu reinado e lhe poz termo.27.— thecel : tu foste pesado na ba-

    lança, e achou-se que tinhas menos dopeso.

    28. —phares; o teu reinado se divi-diu, e foi dado aos Medos e aos Persas.

    (Extrahido de pag. 191 e 192 do tomoII d' A bíblia saorada — traduzida emportuguez segundo a Vulgata latina —illustrada com prefações — por AntônioPereira de Figueiredo — seguida de noíaspelo Rvm. conego Delaunay e approvadopor mandamento deS. Ex. reverendis-sima o arcebispo da Bahia (D. ManoelJoaquim da Silveira) — Rio de Janeiro— B. L. Garnier —Editor —1864).

    Larousse, na Fiore laítne pag. 210 ar-tigo : Mane, Thecel, Phares e nas FleursHistoriques pag. 282 no equipollenteartigo

    Festim de Balthazar

    comprovados.um e outro por múltiplascitações de modernos esoriptores fran-cezes, adduz o seguinte no segundo dospreindicados artigos:

    « Punha sitio a Babylonia, na van-guarda de poderoso exercito, Cyro, reidos Persas. Persuadido da resistência

    (1) «MANE, THECEL, PHARÉS.Mane quer dizer numero; thecel, peso;Píiordi, divisão. Pereira.»N. doT.

    AMOR £ ROSAS

    Um anno agora faz que em minha casa estavas,Em meu pobre jardim rosas brancas havia.Por desejal-as, tu nos pés te alevantavasPara a rosa colher que mais alto floria.

    Embalde I pois que a tanta altura não chegavas 1Para ajudar-te fui, e quando o braço erguiaE erguia a mão buscando a flor que desejavas,Do teu olhar gelou-me a constante ironia.

    Nesse momento, eu tremo, e o galho me escapandoDispersa pelo espaço as desfolhadas flores,Que te vieram cobrir a fronte compungida.

    — Não é muito, senhora (eu te disse) attentandoQue quem amor nos da partido em muitas ddresUma rosa receba em petelas partida.

    JOiO RIBEIRO.

    dos muros que guarneciam a cidade,Balthazar zombava dos esforços frus-traneos do inimigo e se deslembrava nofestim dos tédios de protrahido assedio.

    Uma noite, ao celebrar orgia com osmagnates e todas as regias coriesãs,mandou buscar, por jactanciosa impie-dade, os vasos sagrados que Nabucho-donozor oufrora arrebatara ao templode Jerusalém.

    Perpetrada a profanação, viu, compavor, o impio monarcha mão que tra-cava sobre a parede, caracteres igneos,que nem Baltbazar nem nenhum dosconvivas poude decifrir.

    Foi avocado o propheta Daniel, queassim falou 1

    Essa mão foi enviada por Deus, e eiso que escreveu :

    Mane, Thecel, Phares

    Mane: — Deus contou os dias de teureinado e lhes poz termo.

    Thecel 1 — Foste pesado na balançae se verificou que tinhas menos do

    peso.Phares : —Repartiu-se teu reinado e

    foi dado aos Medas e aos Persas ».De feito, na própria noite, Cyro, des-

    viado o curso do Euphrates, penetrouem Babylonia pelo leito do rio estan-que; Balthazar foi trucidado e Baby-lonia encorporada ao império daPérsia.

    Por allusão a essa memorável festa,denomina-se festim ie Balthazar qual-quer orgia ruidosa, ou, por hyperbolefamiliar, qualquer brodio copioso eprolongado, »

    Completaremos estas indicações.tras-ladando para aqui feliz applicação dapalavra biblica 1 Theeèl.

    Fel-a o estimado autor das JVoías Le-xicologicas, Manoel de Mello.de mui sau-dosa e indelével memória, no Anal daimportante no(a bibliographica referenteá Vie ie Jesus por Ernesto Renan, 11aedição—Pariz, 1864, em notável CatalogoSupplementar io Gabinete Portuguez noRio de Janeiro —1870, pag. 382. Eis aspróprias palavras do illustre Je pran-teado Manoel de Mello 1

    « A critica escreveu na primeira pa-gina do livro 1 THECEL. Palavramysteriosa, que dedos como de mão dehomem traçaram ante os olhos de Bai-thazar, e que Danielintrepretou : «Tufoste pesado na balança, e achou-se quetinhas menos do peso ».

    G. BELLEGARDE.

    QUADROS NEGROSSOENAS DA ESCRAVIDÃO ." •'

    EVULINA

    * TERRA DA SERVIDÃO

    Felizes os que nunca da papa de umnavio viram as terras da pátria, afãs- {tando-se mais e mais de seus olhos,fluctuando sobre as ondas, e abysman-dose no fundo do Oceano.

    Elles não estenderão a mão da men-dicidade ao pão de estranhas mezas;nem implorarão com a voz da com-paixão um canto e uma enxerga com otecto da hospitalidade estrangeira.

    Só, sobre a teria da escravidSo,cresceu Evelina e desenvolveu-se nocirculo das crianças de alva tez e delouros cabellos, como a paina douradados capulhos abertos aos raios do sol,

    A fazenda de seu senhor não tinhafelizmente a estranha physionomia dascidades e povoados que.longe de encan.tal-a, a entristeciam.

    Nos seus bosques mais verdes e pom-posos; nos seus montes mais bellos erisonhos, nos seus rios mais susu-rantes e pictorescos do que os bosques,do que os montes, do que os rios de suapátria, via ao menos a imagem de suaÁfrica adorada.

    La está a choupana de sapo, como acabana de seccas palmas de sua mãe.

    Os passarinhos, como as aves afri-canas, esvoaçam em torno delia, derra-mando seus trinados de alegria.

    Lá dançam os crioulinhos ao som dourucungo o da poita e do tomboril e daflauta tangidos pelos velhos tios.

    Miragens da saudade! Docas recor-dações á alma da proscripta 1

    Aos quinze annos deixou Evelina oscompanheiros da infância com os brin-quedos da meninice.

    Bateu a hora do trabalho na ampu-lheta da vida e começaram as afanosaslidas nas terras da servidão.

    Cada qual tomou o seu destino.Os companheiros da infância, livres

    como nasceram, seguiram o caminhoda liberdade, juncado de flores, qneconduz aos altos pincaros da sociedade.

    Evelina, a orphã abandonada porsua mãe sobre os mares a mãos estra-nhas, reduzida á escravidão que avilta

    Dura veritas, sed veritas

    Ha muita vez na vida uma hora tão damnada,tão cheia de amargor, tão cheia de tristeza,

    que vé-se toda só noss'alma desoladana intermina amplidão da inunda Natureza.

    Então, dizem que a Vida é uma illusão provada,que além da campa uma outra existe com certeza...

    Quão crédulos que sois 1 Que monte adventada!Além desta, ó Matéria, és toda realeza!

    Além desta é o reinar da bruta Inconsciencia;o eterno evoluir do Cosmos no infinito,

    onde 6 motus é a lei, fatal, sem consciência,

    eo Fatalismo um deus que esmaga o velho mytho!E' lá que a força tem a eterna omnipotencia,e o corpo a estupidez pesada do granito»

    Paulo.HORACIO DE CARVALHO.

    m

  • 3o A SEMANA

    L

    a humanidade, seguiu o trilho esca-broso do captiveiro, semeado de urzeso arripiado de precipícios e abysmos.

    Ella viu em sonhos, alta noite, uniasombra, um espectro que „Ilie traziaalgemas em uma das mãos, e na outrao azorrague, e que mais e mais se apro-ximava de seu tosco leito— uma pobroesteira.

    O seu séquito era numeroso.Todos os vicios, toda-; as calamidades

    o seguiam.Estremeceu...Oli! o pesadelo tinha o quer que

    fosse de realidade.Mão de ferro pesou sobro seus lábios,

    impondo-lhes silencio.Quiz defender-se eluctou nas sombras

    da noite.Arcou braço contra braço , peito

    contra peito e corpo contra corpo.E cahiu, exhausta de forças...E o que poderia ella fazer ?Ceder á força bruta que a opprimia,

    que a suifocava, que a esmagava.Sim, era elle ! Era seu senhor.

    No outro dia pertencia a desgraçadaEvelina ao rebanho de negras odaliscas,que a receberam com rinchavelhadas ea apertaram ein seus braços impuros easquerosos, qual si fosse nova irmãmuito bem vinda.

    Profunda tristeza embaciou o brilhodos olhos de Kvelina; cavou o sulcodos desgostos em suas faces e deixoupor de mas patente o sello da repro-vação que lhe imprimiram na testa.

    E sentiu mezes depois palpitar dentrode suas entranhas um novo coração.

    Seu filho, pobre ereatura!...Ainda mal se desenvolvia o feto e já

    a placenta lhe servia de cárcere daescravidão.

    Seu ventre era o seu destino, suacondição o seu crime.

    Ella não viu o terno sorrir de seufilho deslisando-se sobre a sua faceinfantil.

    Seus seios não o alimentaram com oseu sangue; nem aquelles lábios tãopuros de innocencia se desabrocharamcom o doce nome que sòa como umaharmonia aos ouvidos maternos.

    Oh I nem slquer lhe deixaram beijaraquella bocea tão tenra, tão pura comoa de um anjo.

    Arrancaram-no do leito e o leva-ram para bem longe... .

    A degradação da pobre e infeliznegra desceu na escala da humanidadeá condição da miserável cadella a quefurtam sem magua os cachorrinkos.

    Para ganhar mensalmente algum di-nheiro, veiu Evelina para a cidade doRio de Janeiro; viveu num palacete,teve criados brancos que a servissem,teve carros e cavallos que a levassem apasseio e a transportassem a reuniõesfestivas.

    Não era uma fidalga, era uma escravae a cevavam como se ceva uma vaccade leite de estrebaria.

    Negava a inSe os seios suceulentosaos lábios de seu filho e Evelina vinhasubstituil-a na mais sagrada missãoque Deus confiara á mulher.

    Ao principio aboTecia-se da criançae o seu vagido infantil só lhe lembravao filho de suas entranhas.

    Depois... e pouco a pouco... Oh!«que coração ha ahi que resista ao

    . sorriso de um anjo descido ha poucodo céu?"', Que outro laço a prendia ,á huma-oidade?

    Assim a ave, á qual substituíram osovos no ninho, afaga os pintainhos damãe estranha, como si fossem seus pro-prios filhos.Os gritos innocentes, as balbuciantespalavras da criancinha achavam echomaternal em sua alma. Os seus afago-sinlios repercutiam no coração de suamãe negra.

    Ella ornava o seu berço de flores elhe repetia as doces canções das terrasafricanas.

    li ella dormia se sorrindo aos sorrisosdaquellas faces negras.

    E as orações da pobre ama subiam aocéu pela lelicidade do niauino-anjo.

    E quando o grito de dór annunciavao seu despertar, o peito da negra sealvoraçava; e quando as lagrimas lheinnundavain as faces assetinadas, osolhos da ama se humedeciam tocadosde ternura.

    Eila era mais do que sua mãe... maselle não era seu lilho.

    Bem depressa passaram-se mezes,um anno, quasi dois; e uni dia ama-nheceu para que eíle não anoitecessemais em seus braços.

    Oh! nunca mais o viu, nunca maissinão nas visões da saudade.

    Mimosos da fortuna, os paesembar-caram-se para Europa e sua gratidãotraduziu-se na liberdade outorgada aEvelina.

    Deram-lhe duas azas immensas, maslevarain-lUe metade uo coração.

    Livrei... livrei...Oh! para sempre livre !Tão pobre e tão rica '. E' nada o ouro

    para quem sae maguada dos ferros docaptiveiro, mas a liberdade étudo.

    Nem ha ahi na terra riquezas quea compensem.

    A falta de seu lilho de criação, aposse de sua liberdade despertarain-lbeua alma uma lembrança gratíssima.

    Era livre e podia viver coinseu lilho,seu verdadeiro lilho.

    E bradou em seu coração chamandopor elle, e escutou...

    E uão ouviu si nào o ruido surdo deuma cidade immensa...

    — O' meu lilho, exclamou, meu pobrefilho!...

    E onde estarás? Viverás ainda?Serás livre ou escravo ?

    E seu coração perdeu-se num mar deincertezas, como a nau sem leme, quevaga batida pelo vento e balouça ásoudas do immenso Oceano 1

    J. NORBERTODES.S.

    O MAR

    i

    Silencioso, encostado ao paredão docães, Henrique contemplava o mar. Océu estava encoberto e só através dasnuvens amontoadas se desprendia aluz phosphorecente da lua. O marmurmurava soturno o tenebroso qualmonstro à espreita, lançando um ba-fejo calido. E as ondas se estendiampor uma vasta região ; só ao longe,muito no fundo, corria uma facha bri-llianto em que so refleotia a claridadeforte da lua, que escapava entre duasnuvens. O cães seguia recto para umdos lados, depois contornava as sinuo-sidades do golfo, afinal afundava-se naareia da praia. Do outro lado faziauma enseada cavada na rocha, conti-nuando depois, inuito além, até perder-se no borborinho das ondas. Henriquejá estava alli desde muito, observandoo tempo. Ameaçaria chuva ?...

    A a ragem forte batia-lhe no rosto,impregnada de oxhalações marinhas,clieia de unia caricia branda. Elleolhou para o céu. Sombras negras seaccumulavam para o sul, acompa-uhando umas ás outras, imitando umareunião do conspiradores mudos. Nomeio e em volta da lua oceulta corriaum véu claro, sem soluções ; apenasemum ponto fazia-se um rasgão profundopor onde apparecia parle da via lácteacomo um punhado luminoso de areia.

    Para a parte opposta, perdiam-se pordetraz das ultimas montanhas, vultosalvacentos de nevoeiro. Era possivelque chovesse.

    E Henrique poz-se a caminhar aolongo da costa do mar, om direcção aogolfo. Abi a rocha escancarava as gue-Ias, onde tremiam as falúas e botes decarga como uma multidão tragada quese debatesse com ligeiros estremeci-mentos de victimas. Ouvia-se o rumorconfuso das vozes dos pescadores quepartia do fundo, como um bocejo iin-menso sahido das fauces do golfo. Dahio vento trazia com o cheiro mais activode maresia as emanações dos detritosde peixes e fruetas em decomposição,euipestando os arredores. E Henriqueteve que apressar o passo para fugiraquella região viciada, em busca de umar mais puro. Passado o golfo, conti-nuou elle a ladear a costa, que agora

    S. Paulo

    TUAS MÃOS

    Vê que desejo é o meu... De que receias?Eu quero, apenas, (a ventura é breve...)Sentir nas minhas máos o peso leveDessas niãosinhas, de teu sangue cheias...

    Neste contacto só, tu me rodeiasDe delicias que esfalma nunca teve...Meu ser exulta e phantaziar se atreve...Nasce-me um philtro calido nas veias !

    Oh, eu quero beijal-as, commovido...Mas seja um beijo tumido, incendido,Como este amor que me domina, ardente...

    E que pareça, ó meiga ereatura.Sugar por ellas, como em fonte pura,Todo o teu sangue palpitante e quente!

    AFFONSO DE CARVALHO.

    seguia em linha recta. De repente pa-rou defronte de uma solução da mura-lha que dava para o mar. Em baixorente ao ultimo degrau de uma escadade pedra fluetuava um bote.Que manda patrão ? gritou umhomem lá dentro, invisível na sombra.Escute, fez Henrique, descendo aescadinba, que diz do tempo ? chove

    amanhã?O homem do bote revolveu-so natreva. depois respondeu surdamente:Hoje isto está duvidoso; a modo

    que á tardo queriam pingar uns clio-viscosinhos, mas amanhã é lua clieia ecreio quo o tempo devo concertarOlhe! veja, patrão!-o a mão do ca-traeiro destacou-se vagamente no ar—lá puni aquellas bondas tomos umaboa enrga de vento, mas isso desaba evae-se... para a manhã isto amaina,patrão, creio que amaina ea mãotornou u desapparecer. Nisso a venta-nia oncavou-se pela fenda do paredão,slbilando com estridor. Henrique teveque calcar o chapéu que quasi voava.E o eatraeiro continuou no vento.Quer fazer alguma viagem ?Não: é um passeio quo tenciona-mos dar amanhã á ilha. —E indicouum ponto negro em fronte que se perdiana amplidão escura do mar. Depois,tomando uma resolução :

    Então crê que amanhã não cho-ve?...

    Teremos, teremos ató luar; eu asse-guro a V. S.; e depois si é para ama-nhã á noite, o patrão pôde apparecerquando quizer que eu cá estou àsordens.

    Bom : então esteja aqui ás G 1/2, esi eu não apparecer até ás sete, é quenão conte commigo. — E subio dois de-graus. Depois voltando-se do novo:

    Ah! como já me ia esquecendo!Por quanto leva daqui á ilha a trespessoas; ida e volta 1

    Barato, barato, patrão, póde-sefazer por 8#500.Por tres mil réis está decidido.Não se pôde... não se pôde... fez

    o homem.Não dou mais que isso;si quizeré estar aqui ás 6 1/2- e galgou os tres

    últimos degraus. No alto ouviu a vozsurda do eatraeiro resmungar — Poisvá lá... á-i 6 1/2— em resoar morto quese misturou ao murmúrio longiquo domar.

    Henrique vivia alli nos arredores, apequena distancia do oceano, em com-panhia da velha mãe e da prima Alice,com quem estava para casar. Tambémmorava com elles a tia Henriqueta,idosne doente.a quem o irmão confiaraao morrer aos cuidados da familia.Henrique desde pequeno nutrira pelaAlice uma affeição forte, quo a pu-berdade. desenvolvendo, transformarano mais puro amor. Hoje, a consenti-mento da mamãe, tinham tratado casa-mento, e esperavam com calma, nodoce aconchego do lar, sem precipitaçãoo dia em que mais intimamente seunisse :¦ num amplexo doce e eterno.Elle desde criança se acostumara ávida do commercio a que agora seentregava em um emprego pacifico erendoso dos capitães que o pa élhe dei-xára; quasi sem sentir o borborinho dacidade, sem preocupações fortes, nadoce calma da vida burguesa. E quandoelle via peln» ruas a multidão doshomens a correr esfaiinados em umaluctaferoz,destruindo-se uns aos outrosem busca de dinheiro e posição, ellemuito admirado, nada comprehendiadaquillo tudo, pasmo de que aquelles

  • A SEMANA m

    homens todos não achassem um meio

    tranquillo onde vivessem sem pensar,

    som soffrer, ao suave ombalar do tempo.

    O Deus de Henrique era o mar: sem

    outras crenças mais vivas que lhe

    occupassem o espirito, fazia daquol a

    «rande massa sem limites um deus todo

    Poderoso, senhor do todas as coisas,

    capaz de tudo destruir em um ao m.i-

    mento, com um simples espadanar de

    ondas E todas as peifeiçoes que em

    pequeno tinham-lhe ensinado pertencera Deus, elle as achava no mar :

    e era

    por isso que o adorava. O mar era

    Lem guiava as pequenas embarcações

    sob a protecção do luar, fornecendo-lhesdo seu seio misericordioso todo o ali-

    mento necessário. E o mar era a Pro-

    videncia. Elle ligava os continentes,

    relacionando as nações mais afastadas

    num grande abraço. E o mar era o

    Grande Amigo dos homens.Emfim, elle era o Justo quando tra-

    o-ava em suas espumas os ladrões e

    assassinos; elle era o Eterno, porquenão se lhe conhecia o principio nem o

    fim; Grande e Magestoso, porque os

    seus domínios eram immensose envol-

    viam todo o mundo. E Henrique, fraco

    e timi Io, quando ás vezes se sentava a

    borda do paredão, perdia-se todo na

    contemplação daquelles grandes ca-

    chões que rolavam ao longe, como quesentindo partir lá do fundo, do meio

    das duas etxremidades do golfo, nm

    sopro forte e nutriente quo o enchia

    de forças.Outras vezes.si o vento sopra-

    va, o céu estava escuro, as ondas revol-

    tase o trovão rugia terrivel.elle achava

    que era bom fugir de Deus em cólera.

    Então refugiava-se em casa, buscandoentre a velha mãe e a noiva o manto de

    protecção que lhe faltava, como quefazendo uma oração muda e ardente ao

    Senhor Todo Poderoso, Creador de

    todas as coisas.Naquella noite Henrique tinha forma-

    do o projecto de fazer uma surpreza á

    faniilia,levando-a no dia seguinte á ilha

    em passeio. Agora tinha muita espe-rança, confiando no que dissera o

    catraeiro. Além de que ao olhar para o

    céu viu a lua que, passando por entreduas nuvens que se distanciavam.appa-recia redonda sobre as ondas. A chuvalá se ia, o céu se limpava e o mar, em-

    balando-setranquillamente.pareciaumgrande monstro, do ventre para o ar,

    ostentando as escamas prateadas ao

    luar. Sim, Deus era bom; Elle tinha

    attendido á supplica do Henrique.

    II

    No dia seguinte, ás 6 horas da tarde,Henrique em companhia da velhamamãe e da noiva sahia de uma ruaestreita e atravessava a praça. Tinhamelles inuito cuidado em correr poraquelle melo em movimento, evitandoas carroças e animaes quo alli pul-lulavam. Tomaram a direcçao do

    golfo. A tarde declinava. O sol no

    poente, muito rubro, atirava uma cór

    viva sobre o mar que ardia, fazendo

    reflectir uns raios ao longe sobre algu-

    mas montanhas elevadas, como umecho estridente. Na beira do mar sofazUVa importação da tarde. Alli che-

    gados, os tres puzeram-se a contemplaraquelle borborinho do gente a tra-balhar. O golfo estava cheio do faluas,botes e barcaças de carga que, atra-cadas umas ás outras, despejavam osflancos cheios de fruetas com um rumorsurdo. E todas aquellas embarcaçõessem velas, faziam uma grande esteiraondulante, onde o movimente dos pe-quenos mastros nús punham ainda

    maior confusão.E os homens corriam deum para outro lado com cestos cheios deabacaxise laranjas, onde a còr averme-lhada mais augmentava na luz do solpoente. Mais adiante aiuda se sentia omesmo estremecer vertiginoso. Erammelancias e abóboras que os homenscarregavam, quasi que vergando de-baixo do peso, suando muito com ocalor. E o tom alli era menos vivo,mais escuro, deixando predominar ascores sombrias de alguns fundos defaluas, a nú, onde se accumulavainsaccos de carvão.

    Como ó bonita a tarde, Henrique?— suspirou Alice com un, arripio de

    prazer. — Aqui sim, ó que se respirauu, ar puro...

    Aqui.é outra coisa —disse a D.Emilia.a mauiãi,—mas não lá no golfo,onde o cheiro ó iusupportavel. Desteslados sente-se menos a maresia...

    Mamãe não gosta da maresia 1volveu Henrique — pois acho-a esplen-dida!

    Eu tambem; acompanhou Alice,cobrindo-se com o chalé que trazia.

    E todos os tres seguiram odesenvol-vimeiito do muro, e chegaram logo áabertura estreita que dava para o mar.O homem do bote lá estava recostado,tendo nas mãos os pesados íemos.

    Viemos muito cedo? — disse Hen-rique, — não contava ainda comnosco

    't

    Pois não, patrão, eu já cá estavaá espera; depois não écedo.porque pre-cisamos quanto antes fugir do vento

    que acolá vem...E apontou vagamente para o céu.

    Este se conservava desde meio dia puroe sem macula.- Actualmente o azul sedesvanecia na cór rubra do sol. So parao lado opposto conservava ainda uniacoloração esverdeada em que os doistons, vermelho e azul, luctavam em umcombate cie extermínio. Bem no meio,onde a luz vermelha começava a seaccentuar, a lua, esvaecida, quasi in-color, destacava-se tiuiidanioutc. Paraleste manchava o Armamento uma nu-vem escura com ligeiros toques alaran-

    jados. E era esta a nuvem que o ca-traeiro apontara.

    Henrique, que fóra o unico a ouvir aobservação do homem, pouco se impor-tava .ora a questão do vento ; o marestava manso, elle bem o conhecia, edepois, desse no que desse, elle sabianadar e junto com o catraeiro estavamalli dois homens para duas mulheres:

    Embarquemos... fez elle.O homem era musculoso e alto. Tinha

    uma camisa de meia branca e a barbaloura e comprida. Oom um golpoderemos dirigiu o bote e ageitou-o aoultimo degrau da escada. Henriquedesceu, dando a mão a D. Emilia.Alice, ao entrar, sentou-se do mesmolado. carregando inuito no bote, quetodo se inclinou para a direita.

    Não,, lilha, sente-se á esquerda,interveiu o Henrique, é preciso resta-belecer o equilíbrio; —e elle própriosentou-se á popa.

    Nesse momento o catraeiro coiitrahiatoda a musculatura, inclinou-se e fez

    correr a embarcação. O tempo escure-cia cada vez mais, a lua tornava-semais branca o luminosa e as monta-nhas menos distinetas perdiam a cór

    pouco a pouco.O mar estava ligeiramente irriçado e

    as pequeninas vagas agitavam-se con-fusamente, fazendo ao longe um ren-dilhado caprichoso. A' medida que obote se afastava, o rumor do golfo ia seabysmando em um estrepito discreto.

    Os remos em rythmo compassado, iamtendendo as águas com regularidademecânica. E o vento que ia augmen-tando aos poucos, trazia uma arageinfresca e agradável, cheia de caricias.

    Henrique, atirado â popa, via atra-vés das barbas do catraeiro, que voa-vam.a linha de separação entre o céu e

    oceano. Dos dois lados limitavam-naas duas extremidades da enseada. Bemno meio o ponto escuro da ilha se desta-cava. Para os lados as terras verdesse suecediam gravemente em destilarmoderado. Depois vinham as línguasbrancas das praias que iam se conti-nuaudo até perderem-se nos escolhosdos extremos. Em pouco tempo os via-jantes transpuseram os limites da ba-hla. Então a linha do horizonte mos-trou-se muito auginentada, estendendomuito além os seus limites. No céu, alua com o morrer completo do dia já seapossara da amplidão, brilhando muitofortemente, con, a actividade e esplen-dor de plenilúnio. Todo o Armamentose illuminàra, deixando mais se desta-car a nuvem escura que,muito crescida,corria por sohre o mar no deslisar dovento. E o oceano immenso e impertur-bavei dormia, acalentado pela natu-reza toda.

    E diante deste espectaculo Henriquesentiu-se em um paraizo sublime, cheiode forças para gozar. Deus Todo Pode-roso se dignara recebel-o em seu céu desupremos gozos, onde a viração embal-sauiada que augmentava o envolvia deuma ternura suave. E elle que em pequeuo lera a Biblia, sentia-se agora odiscipulo amado do Senhor que tiveraa dita de se reclinar em seu collo divino.

    — Como está soberbo o tempo, fezellecomniovido.

    I — Oh! balbuciou Alice, sem achar o

    que dizer, olhando para o ar.Precisamos apressar, interrompei

    o homem do bote, o vento já não tarda.Ora o vento!... tornou Henrique

    com desprezo. E não se achava ellejunto do seu deus que tudo podia ? Orao vento que viesse !

    Já em frente, a ilha apparecia alve-jando ao luar. No céu a nuvem negrae ameaçadora já quasi attingia a lua,correndo sobre elles com grande velo-cidade. O vento crescia muito ern gran-des rajadas e o mar atirava as primei-ras vagas na attitude de um monstro

    que acorda.Ah! gritou a D. Emilia.

    Um golpe mais forte da ventania naágua tinha levantado o bote a umacerta altura, fazendo-o depois afundarcom grande choque. O céu tornou-setenebroso e o mar de repente escureceu,como um bandido que apaga a luz paraassassinar. E no meio daquella con-fusão vagueava o bote sobre as cristasdas ondas já revoltas.

    Jesus! —gritou a menina—Deusnos acuda!

    O catraeiro tornou-se livido no clarãode um relâmpago.

    E o trovão rugia para os lados dacidade. O bote dava saltos iinuien30s.Os tres viajantes protegiam-se uns aosoutros, agarrando-se.

    Que ha de se fazer ? — gritou Hen-rique.

    Temos aqui um abrigo, patrão,temos um escolho para amarrar. E osrelâmpagos se suecediam num rumorcontinuo e medonho.

    Então o remador, pondo-se de pé,com um golpe forte de remos aproxi-mou-se da pedra. E atirando-se sobre

    uma ferida, agarrou-a com uma dás -mãos, ao passo que com a outra ap er-

    tava o remo contra o escolho. Então,tirando do fundo um cabo, amarrou-oá argolada proa. Depois, tendo acordaem uma das mãos, pulou em terra.Nisto uma onda immensa cahiu emcheio e a embarcação, escapando, pre-cipitou-se sobre o oceano. Depois tresvagalhões a tomaram e rctiolinm.o-onas possantes garras, jogaram-na va-zia, de costas. Henrique mergulhou o,quando chegava á tona d'agua, sentiuperto de si dois corpos que sede ba-tiam.

    Henrique ! dó-me a mão por amor ;;de Deus .... ' ..»,

    Meu filho ! salva a tna mãe !... |Elle estendeu ambas as mãos e sentiu

    que os dois corpos agarravam-lhe nosbraços e nos hombros. Nisto uma ondacolossal passou-lhe pelo braço esquer-do, levando um corpo. Elle ainda olhoue viu aquillo que se afundava engu-lido pelo vagalhão, sem um gemido.Era a mamão. Elle então, possuído deum poderoso instincto de conservação,poz-so a nadar com coragem, tendo nohombro esquerdo suspenso o corpo li-geiro de Alice. E nadou durante meiahora com um vigor heróico o inaba-lavei. Chegados os dois a uma praia dogolfo, encontraram uns pescadores que 'os recolheram e abrigaram.

    E Henrique, ao caminhar na arêa,ainda voltou-se e viu o mar, que, denovo illuniinado com o reappareci-

    '

    mento da lua, sereno e tranquillo, pa-recia um monstro cruel que se descan-cava de ventre para o ar, farto desangue e de carne, digerindo o corpoda velha mamai.

    niMezes depois, á tardinha, Henrique

    dirigiu-se á bordado cáesemcompã-nhia de Alice. Vinha cheio de uma co-lera surda, meditando qualquer vin-gança cruel. Elle se assentara sobre oparedão,ao lado da noiva,que lhe diziaentre caricias:

    Meu amor, porque choras?... Foimuito forte a tua dòr; foi: eu bemcomprehendo... Ainda sinto uns arre-pios.quando me lembro daquella noite;quehorror!... Passeávamos tão tran-quillos, tão socegados, e o céu estavacomo hoje, tão puro, tão alegre.quandotudo se mandou de~repente!... Sim:bem vejo; é horrivel a tua dôr, masque quer?... é preciso que te resignes.Ella não soffreu quasi; aquillo foi ra-pido, num mergulho e agora já está nocéu rezando por ti. Sim: consola-te! .Foi Deus quem quiz...

    E'... murmurou elle, foi Deusquem quiz...

    E recostado sobre o braço direito,olhava em frente. O céu estava semnuvens como da outra vez. A lua emminguante, não deitava luz tão forte,

    "

    mas, ainda assim, atirava uma phos-phorecencio triste sobre as roupas dosnoivos em lucto.

    O mar é que calmo e pacifico osten-tava a sua indifferença de monstrofarto. Sim: Henrique bem percebia',-'agora toda a sua perversidade. Ellè.aUi ;iviera não para rezar.não para implorar Iprotecção nem forças, mas para atirará face da brisa o mais solemne de-safio, a mais cruel investira, dos lábios'.)cheios de blasphemia.—Sim: Deus nSpv;era justo, porque não só destruía osladrões, mas tambem os santos e inuo-centes. Deus não era Bom. Era am.,mesquinho assassino que seduzia as

    —-^==±=**tàmk\

  • 39* A SEMANA

    victimas para afogal-as em seu seio.Deus abusava da força sem ser forte,porque exterminava os fracos. Emfim:nSo era o Pastor sonhado, envolvido emMagestade e Carecia, mas um monstrohorrível e cruel que dormia para o ar,com o ventre repleto de victimas.— EHenrique, assim blasphemando, sentiuao lado, bem junto ao collo, o suspiro

    quente de Alice. E elle agora, longedos homens, longe de Deus, inimigo detodos, tendo experimentado a perversi-dade de todos, apenas ouvia a voz doce

    de Alice, que, passando-lhe a mão pelosanneis dos cabellos, lhe dizia:

    — E' preciso que vivas agora paramim; sim, meu amor?

    LIMA E SILVA.

    (p. coppèe)

    Tuprometteste-me um beijoPara esta tarde, morena!Embriagou-me o desejoUm raio de luz serena.Fujamos ao seu clarão

    Que brilha na tua imagem :

    Tem ella a brisa—o verão

    Que vé por sob a folhagem.

    Tomemos a negra estrada,Subamos aos verdes montes,Para ouvirmos a toadaDo rumorejo das fontes.Ao atravessarmos nos guia,Por baixo da esphera escura,—Mimosa e casta poesia—Que cobre-te a coma pura!

    » PauloARTHUR BARBOSA.

    THEATROS E DIVERSÕES

    TENENTES DO DIABO

    Explendido o ultimo baile [destamagnífica sociedade carnavalesca, reali-sado no sabbado ultimo. Animação,vida, delírio...

    FRACOS VILLA-IZABEL E DERBY-CLUB

    Deram-se nos dias 8 e 11 do correntemez duas magníficas corridas nestasdois clubs.

    Em ambos a eoncurrencia foi, alémde grande, escolhidissima, e a chuva dodia 11 em nada perturbou a do^Derby.

    FESTA ESCOLAR

    Realizou-se na quinta-feira da se-mana passada a festa de encerramentodas aulas do importante instituto deensino, Collegio Menezes Vieira.

    Foi uma festa magnifica, extrema-mente concorrida, e que revelou aindaUma vez o aproveitamento e adisci-pllna daquella excellente casa de edu-cação.

    Um collegio, cujo director em treseannos de magistério tem conquistadoUo justo renome, não carece de nossoselogios. Pedimos-lhe somente perdãopor havermos retardado esta noticia.

    Si a vida é como um lago de serenasOndulações, adormecido, quandoPassa por elle alegremente o bandoDisciplinado das gentis phalenas;

    Lago em que a aurora molha as alvas pennasQuando surge nos céos, òra fitandoAs planícies do mar, óra banhandoNa fresca matinal as açucenas;

    Vem, toma o remo; e vamos brandamenteVogar, vogar, na límpida corrente,— Oysnes do amor nas agoas perfumadas...

    Ouvindo ao longe o suspirar do vento,E contemplando o azul do ArmamentoNas mysterias noites estrelladas!

    S. Paulo, 87.

    Diversas Publicações

    A Comedia dos Deuses, poema porTheophilo Dias, procedido de uma in-troducção por M. Pinheiro Chagas.—S. Paulo.—Teixeira & Irmãos —edi-tores.

    Tarde recebemos o notável livro deTheophilo Dias, razão porque somenteagora damos noticia do seu appareci-mento, depois de toda a imprensa daCorte haver já prestado as devidas ho-menagens ao eminente poeta que acabade dotar a litteratura com um monu-mento que ha de perdurar emquantoperdurarem os fastos da poesia bra-zileira.

    O que é a Comedia dos Deuses sabe-ojá; o leitor é a primeira parte doAhasvéro ie Ed. Quinet transformadaem versos admiravelmente archicteta-dos como sempre são todos os que procedem da penna de Theophilo Dias.que,assim, concorreu para que avultadaparcella da obra do gênio francez che-gue aos nossos ouvidos com todos osencantos e seducções da verdadeira lin-guagem poética-

    Volveremos a tratar da Comedia dosDeuses.

    Jornal dos EOONOMisTAS,revista quin"zenal de propriedade e redacção deSilva Figneiró.—Anno II—N. 23.

    Os trabalho deste numero estão indi-cados no seguinte summario:

    O Senador João Alfredo.—Os impor-tadores fraudulentos. — Seguros mu-tuos.—As falsificações de café na Eu-ro.— Aos nossos collegas.—Noticiário:O manifesto do Sr. conselheiro Paulino

    e Souza; Regresso; Banco Agrícolasdo Brazil,—Administração da marinha— Bibliographia. — indicador. — An-

    Poemas norte-americanos de HenryW. Longfellow, trasladados para versoportuguez por Américo Lobo, — Im.prensa nacional.

    Estão reunidos neste voluuiejos tresprimorosos trabalhos do illustre poeta

    JULIO SALUSSE.

    americano— Poemas da escravidão, Evan-gelina e O canto de Hiawatha.

    Tanto quanto nos pôde permittir arápida leitura a que percedemos de tãointeressante publicação, temos verda-deira satisfação em declarar que o can-tor da America do Norte encontrou fiele digno interprete no cantor da Ame-rica do Sul :.o poeta Longfelow foi en-tendido pelo poeta Américo Lobo.

    Além do valor litterario propriamen-te dito, recommenda-se também o livro

    pe lo valor artistico, que não é coisade somenos importância em commetti-mentos desta natureza. Honram a Ini-prensa Nacional o gosto, a nitidez eaté o luxo com que executou a impres-não desta obra destinada a celebrar osfeitos da poesia nas duas grandes na-ções americanas —O Brazil e os Esta-dos-ünidos.

    Il brasile, rivista mensile agricola.commerciale, iniustriale e fmanziariaAnno I.— N. 12.

    Continua esta importante revistadaofferecer aos seus leitores interessantestrabalhos consoantes com os intuitosindicados no respectivo titulo.

    O fasciculo distribuído recommen-da-se, entre outros escriptos, pelo es-tudo chorographico das provincias bra-zileiras do Rio Grande do Norte, Para-byba e Pernambuco ; pela noticia com-mercial, industrial e financeira; e pelachronica e varias noticias.

    O brazil-medico, revista semanal demedicina e cirurgia, sob a redacção ogerencia do Dr. Azevedo Sodré. —Anno I.— N. 46.

    Eis o summario deste numero:O segredo medico.rrabai/ios originae»: — Ankylostoma

    duodenal e ankylostomiase, pelo Dr.Adolpho Lutz.

    Sociedade de medicina e cirurgia: Sobreum caso de hemato-ehyluria, pelo Dr.Pedro S. de Magalhães- — Considera-ções do Dr. Hilário de Gouvèa.—Sobre

    Um caso de dystocia dependente de umtumor flbroso do utero, pelo Dr. Oris-siuma.

    Revista medica estrangeira i—usos the-rapeuticos do iodol, por O. Seifert(Munch. Mêiie. Wocheni. 1887—n. 4).—Nevroses reflexas de origem nazal, peloDr. Moore {Journal de Médecine ie Bor-deaux^-lSSJ.)

    Noticiário*

    Occidente, revista illustrada de Por-tugal e do Estrangeiro Volume X —N. 321.

    Contém os seguintes artigos i—Chro-nica occidental de R.—As nossas gravuras.(O maestro Manuel Innocencio Libe-rato dos Santos; Fabrica de faiançasdas Caldas da Bainha; Caminhos deferro portuguezes — a linha urbana deLisboa; por L. de Mendonça e Costa— 0 Infante D. Henrique, por ManuelBarradas. Um conto, por José Pessanha.—Resenlia noticiosa.

    Notas A m aroem, chronica quinzenalpor Valentim Magalhães. — Anno I.— N. 1. Typ. Moreira Maximino St, C—

    ANNUNCIOSO advogado Dr. Valentim Maga'

    lhães é encontrado no seu escriptoriotodos os dias, das 10 horas da manhã á-3 da tarde—Rua do Oarmo 34,

    Dr. Cjto de Azevedo.-.Advo-gado. Das 10 ás 4 horas.—Becco dasCancellas u. 2.

    COLLEGIO INTERNACIONAL

    dirigido ior

    E. GAMBÁRO

    121 RUA DE S. CHRIST07Í0121Pôde ser visitado a qual-

    quer hora. Estatutos nasprincipaes livrarias.

    Almanack de Casa BrancaSairá a lume em Dezembro esta obrapublicada por Wenceslau d'Almeida eLafayelte de Toledo. Preço 3|J000.

    Alvores matlnaos, poesias deCarlos S. de Avellar Brotero, com umaintroducção do Exm. Sr. Dr. AffonsoCelso Júnior. A sair do prelo. Preço devolume: 2)}000.

    Relojoelro—Alfredo César da Sil-veira—Rua de S. José n. 51—Em frenteá rua da Quitanda.

    Pnarmaola Americana deVicente Severino de Vasconcellos. Es-tação do Patrocinio. E. de F Leopol-dina. Minas.

    Typ. d'J Smm», r. do Ouvidor, 46, sobrado

    AW?