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Transporte Conservação de obras de arte Correção de pontes, passarelas, pontilhões e viadutos custa cinco vezes mais que serviços de manutenção preventiva. Conheça os procedimentos para não gastar demais na preservação da infraestrutura viária de sua cidade Por Gilvan Oliveira Edição 7 - Outubro/2011 Tweet Descaso com a preservação da Ponte dos Remédios, em São Paulo, causou prejuízo estimado em R$ 200 milhões ao Governo do Estado Prevenir é melhor que remediar. Essa é uma das poucas regras que não admite exceção. Apesar de conhecida, a máxima é raramente levada à risca quando o assunto é conservação de viadutos, pontes, pontilhões e passarelas. Em todas as esferas públicas, observa-se ausência de políticas voltadas ao estabelecimento de procedimentos sistemáticos de manutenção de obras de arte especiais − não há nem mesmo dados oficiais de quantas inspeções preventivas são realizadas e com que frequência. Porém, ainda que

Gerenciamento e Inspeção Técnica

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TransporteConservao de obras de arteCorreo de pontes, passarelas, pontilhes e viadutos custa cinco vezes mais que servios de manuteno preventiva. Conhea os procedimentos para no gastar demais na preservao da infraestrutura viria de sua cidadePor Gilvan OliveiraEdio 7-Outubro/2011Tweet

Descaso com a preservao da Ponte dos Remdios, em So Paulo, causou prejuzo estimado em R$ 200 milhes ao Governo do Estado

Prevenir melhor que remediar.Essa uma das poucas regras que no admite exceo. Apesar de conhecida, a mxima raramente levada risca quando o assunto conservao de viadutos, pontes, pontilhes e passarelas. Em todas as esferas pblicas, observa-se ausncia de polticas voltadas ao estabelecimento de procedimentos sistemticos de manuteno de obras de arte especiais no h nem mesmo dados oficiais de quantas inspees preventivas so realizadas e com que frequncia. Porm, ainda que timidamente, alguns Estados e municpios comeam a impor regras obrigando seus gestores a vistoriar periodicamente suas estruturas virias."O problema cultural: ns valorizamos muito a execuo de obras novas, mas no temos a cultura da conservao de obras. Para mudar isso preciso mudar a cabea das pessoas, o que leva tempo", avalia o engenheiro Jos Afonso Pereira Vitrio, um dos scios da empresa Vitrio e Melo Projetos Estruturais e Consultorias, especializado em projetos de construo e manuteno de pontes, pontilhes, viadutos e passarelas.Segundo ele, que j atuou como engenheiro do Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco (DER-PE), dados da ltima dcada informam que apenas 11% desses tipos de obras de arte em Pernambuco passavam por vistorias preventivas em prazos recomendados. "Acredito que esse percentual baixo se repita no Pas inteiro", refora. Dados recentes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) contam que das cerca de 5 mil pontes das rodovias federais, 46% necessitam de algum tipo de reparo.Mas qual seria o prazo recomendvel para se realizar vistorias preventivas em pontes, viadutos, pontilhes e passarelas? E quais procedimentos e elementos devem ser observados nestas inspees? Construtoras e engenheiros brasileiros se baseiam na NBR 9452/86, da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), que recomenda inspees a cada dois anos, no mximo. Essa mesma regra elenca um roteiro de como deve ser efetuada uma vistoria.

Corroso das barras de sustentao e estrutura da Ponte Herclio Luz, em Florianpolis, pe em risco a ltima ponte desse tipo no mundo

Inspeo da obraO primeiro ponto trata-se da inspeo da obra por engenheiro civil qualificado para anlise da infraestrutura (fundaes), a mesoestrutura (pilares, encontros, aparelhos de apoio), a superestrutura (vigamento, lajes, cortinas etc.), os acabamentos (guarda-corpo, pavimentao, sinalizao) e os acessos. Veja orientaes para inspeo de cada sistema, parte.Vitrio explica que essa etapa feita pela observao a olho nu do engenheiro, s recorrendo ao auxlio de algum meio tecnolgico ou laboratorial caso necessrio. Devem ser feitas tambm fotografias e todas as anotaes para no escapar qualquer detalhe "que possa ser til para a interpretao do comportamento da estrutura", bem como do diagnstico a ser emitido no relatrio final da vistoria.Projeto em anliseO passo seguinte a anlise do projeto, quando se obtm um diagnstico preciso sobre o comportamento da obra. A anlise serve de subsdio s decises a serem tomadas com base nas concluses do relatrio de vistoria. Por fim, produzido um relatrio final.A NBR 9452/86 recomenda o relatrio siga o seguinte formato de descrio: ndice; introduo; relatrios preliminares, fichas cadastrais e rotineiras; registros das observaes de campo; relatrio tcnico complementar (anlise, estudos estruturais, hidrolgicos ou geotcnicos, instrumentaes, provas de carga etc.) parecer final; recomendaes e bibliografia.

Na inspeo, recomenda-se verificar a existncia de anomalias decorrentes de protenso inadequada

Principais problemasO engenheiro civil Romilde Almeida de Oliveira, professor de cursos de ps-graduao nas Universidades Federal de Pernambuco (UFPE) e Catlica de Pernambuco (Unicap), diz que comum encontrar em pontes, pontilhes, viadutos e passarelas, que no recebem ateno preventiva, problemas como oxidao das armaduras, carbonatao e fadiga. A oxidao, prossegue ele, uma "patologia da estrutura" tpica em locais de alta concentrao de cloretos no ar popularmente conhecida como maresia caso das cidades litorneas. Neste quesito, Fortaleza, Natal e Recife apresentam uma alta concentrao de cloretos entre as capitais brasileiras, o que exige um grau de cuidado maior ao vistoriar obras de arte nessas duas cidades.A carbonatao j um fenmeno em locais com alto ndice de poluio na atmosfera, caso de So Paulo. Mas seja na carbonatao, seja na oxidao, os dois tm o mesmo efeito sobre uma estrutura: causam a expanso das armaduras metlicas fincadas no interior do concreto, levando s fissuras das pontes ou viadutos. "Com uma vistoria preventiva, o incio de uma ocorrncia deste tipo facilmente detectada e pode ser resolvida com a aplicao de produtos qumicos ou a adoo de argamassas especiais na armadura, para tratar a oxidao ou a carbonatao", explica Romilde Almeida.Outro ponto muito encontrado em estruturas sem manuteno adequada justamente a fadiga do material. Mesmo com essas evidncias, Romilde Almeida afirma que no h como apontar um procedimento tcnico padro para intervenes preventivas ou reparadoras em uma ponte ou viaduto. "Cada caso tem sua peculiaridade, no existe uma regra geral", assegura.

CustosH uma regra que dimensiona bem o quanto Unio, Estados e municpios ou at mesmo empresas desperdiam recursos ao deixarem de realizar inspees em pontes, pontilhes, viadutos e passarelas. a chamada Lei de Sitter, que divide as etapas construtivas e de uso de uma obra de arte em quatro perodos projeto, execuo, manuteno preventiva (efetuada antes dos primeiros trs anos) e manuteno corretiva (efetuada aps surgimento dos problemas). A cada etapa corresponde um custo que segue uma progresso geomtrica de razo cinco. Assim, os custos com uma manuteno corretiva so cinco vezes maior que uma manuteno preventiva, conforme indicado no grfico em destaque.Polticas pblicasPor si s, o argumento "custo" j justificaria inspees e manutenes preventivas. Mas h outros aspectos que esto levando os gestores pblicos a ficarem mais atentos s aes preventivas. O cerco vem se fechando. Leis estaduais e municipais esto sendo aprovadas obrigando o Poder Pblico a promover vistorias em suas obras. Alm disso, representantes do Ministrio Pblico (MP) nos Estados vm cobrando dos gestores aes preventivas, caso do Estado de So Paulo.O MP firmou com a Prefeitura de So Paulo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), exigindo o cumprimento do calendrio de obras e intervenes previstas no programa de manuteno elaborado pela Secretaria Municipal de Infra-Estrutura Urbana (Siurb). A cidade tem 270 viadutos e pontes, a grande maioria inaugurada entre 1930 e 1970 e que no passou por inspees ou manutenes preventivas.Outro rgo que tambm tem ficado atento s questes de preveno a danos estruturais e bens pblicos o Tribunal de Contas nos Estados. Os rgos vm desenvolvendo planos sistemticos de inspees. Segundo o auditor do Tribunal de Contas de Pernambuco, o engenheiro Carnot Leal, a depender do caso, pode um gestor vir a ser responsabilizado caso fique configurado que ele no agiu para evitar problemas estruturais em uma ponte ou viaduto que poderia ser evitado com inspees preventivas. "So situaes extremas, mas podem acontecer", alerta.Leal trabalha em um ncleo que vem realizando inspees em obras pblicas j edificadas para verificar se h necessidade ou no de manuteno preventiva. Quando h, explica ele, emitido um alerta ao gestor responsvel para que ele tome providncias. "Esse trabalho para evitar que se lance mo da dispensa de licitao para recuperar um bem pblico, sob a alegao de urgncia, quando ele est com sua estrutura comprometida. Avisamos quando o problema pode ser evitado", afirma.O auditor explica que as vistorias rotineiras, realizadas anualmente, poderiam ser feitas por engenheiros dentro dos quadros da administrao pblica. Ele, porm, ressalva que o quadro de engenheiros no servio pblico vem diminuindo todos os anos, restando esse tipo de servio iniciativa privada.Mas quando o caso exige obras de manuteno preventiva ou corretiva, a contratao de uma empreiteira seria o caminho natural por meio de licitao na modalidade tcnica e preo. E nesse caso, podem ser abertos dois processos licitatrios, uma concorrncia para contratar o projeto executivo e outra para contratar o executor da obra.O que observar na inspeoJos Afonso Pereira, especialista em manuteno de pontes, pontilhes, viadutos e passarelas, diz o que checar na inspeo in loco de obras de artes especiais

InfraestruturaNas fundaes em estacas, verificar o estado de conservao dos blocos, vigas de amarrao e das prprias estacas. Recomenda-se descrever se esto expostas, partidas ou com corroso, no caso de perfis metlicos;Tipo de fundao adotada. Quando possvel, citar material, dimenses, condies de prumo, fissuras, trincas, indcios de puno ou de esmagamento e descalamento de sapatas;Caractersticas do terreno de fundao, ocorrncia de eroso, empuxos de terra ou de gua, condies dos taludes das cabeceiras, tipo e condies da proteo adotada;Avaliao do processo construtivo adotado, indicando a qualidade de execuo.

MesoestruturaTipo estrutural e materiais adotados;Geometria (normais ou esconsos);Condies atuais (prumo, alinhamento, fissuras, trincas, infiltrao d'gua, umidade, falhas de concretagem, cobrimento e exposio das armaduras);sistema de drenagem (funcionamento dos drenos e barbacans, gua acumulada no encontro);Conteno das terras (atuao dos empuxos de terras sobre as diversas paredes, fugas de aterro, solapamento/descalamento das fundaes, ao de enchentes sobre aterros);No caso das pontes com extremidades em balano, observar as condies das cortinas, alas laterais e placas de transio. Verificar a ocorrncia de deslizamento de terras dos aterros de acesso sob as cortinas;No caso de encontros de grande altura, implantados em encosta ou meia-encosta, verificar a possibilidade de ruptura do macio, bem como de deslizamento ou tombamento.

PilaresTipo de pilar (pilar isolado, pilar parede, seo transversal, macio ou vazado, de seo constante ou varivel, comprimento, prumo, inclinao);Hiptese estrutural adotada (prtico, pilar esbelto, extremidade livre, montante, pndulo);Estado atual (cobrimento, deteriorao do concreto, fissuras, trincas, armaduras expostas, anomalias provocadas por flambagem, esmagamento, contraventamento, condies de ligao com as fundaes);Desgaste devido s condies ambientais (eroso hidrulica, meio ambienteagressivo, vibraes, impacto de veculos ou embarcaes, proximidade de linha frrea);Impedimento livre rotao (para o caso de pilares pndulos).

Aparelhos de apoioTipos do aparelho: fixos, mveis, elastomricos (Neoprene), chumbo, teflon;Textura, dimenses, posicionamento em relao aos apoios e infra-dorso da estrutura; compatibilidade com as deformaes externas e internas da estrutura, deformaes residuais, excentricidades em relao ao posicionamento projetado;Estado de conservao;Influncia da protenso.

SuperestruturaSistema estrutural;Material empregado;Nmero de vos e dimenses de cada um;Definio das dimenses das peas examinadas;Exame detalhado das vigas principais, transversinas, cortinas, lajes centrais, lajes em balano, lajes inferiores (tabuleiros celulares) e dentes;Verificao da ocorrncia de fissuras ou trincas, caracterizando-as de acordo com a configurao, a abertura, a intensidade e o posicionamento nas peas examinadas;Verificao, nas estruturas de concreto protendido, da ocorrncia de fissuras ou anomalias;Anlise de flecha, grau de vibrao e deformaes acentuadas;Deficincias de concretagem (juntas, salincias, ninchos, brocas, trincas etc.);Fissuras na juno de duas ou mais peas;Infiltrao de gua no tabuleiro;Fissuras ou linhas de ruptura nos painis de lajes (caractersticas de majorao das cargas mveis);Esmagamentos, trincas, desagregao de concreto e exposio de armaduras em dentes Gerber;Verificao de anomalias.

AcabamentosAnlise do estado dos guarda-corpos, registrando a necessidade de substituio ou reparos;Verificao da ocorrncia de danos na pavimentao asfltica ou de concreto sobre a ponte;Anlise da vedao, fixao e desgaste das juntas de dilataodo tabuleiro;Anlise do sistema de drenagem (insuficincia e/ou obstruo de drenos, declividade insuficiente, empoamento e infiltrao de gua no tabuleiro);Verificao de desgaste nos guarda-rodas e nos passeios de pedestres;Observao de falhas e/ou ausncia do sistema de sinalizao.

AcessosOcorrncia de desnveis entre a ponte e o aterro de acesso (indicativo de ausncia de placa de transio);Abatimentos e trincas no pavimento sobre os aterros;Situao dos taludes dos aterros;Ocorrncia de eroso no macio, comprometendo a faixa de rolamento;Existncia ou no de acostamento;Existncia ou no de sinalizao;Condies do sistema de sinalizao dos acessos.