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VASOS COMUNICANTES, FLUXOSPENITENCIRIOS: ENTRE DENTRO EFORA DAS PRISES DE SO PAULO1
COMMUNICATING VESSELS,
PENITENTIARY FLOWS: BETWEENINSIDE AND OUTSIDE OF THE PRISONSIN SO PAULO
Rafael [email protected]
Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade de So Paulo (USP).
RESUMO
Neste trabalho, busco discutir as relaes entre o dentro e o fora das prises. Primeira-
mente, atravs de breves relatos de algumas experincias de trs mulheres que tiveram
um familiar preso, procuro colocar em evidncia importantes dinmicas societrias
que, ancoradas nos territrios urbanos, estruturam-se numa relao estreita com as ins-
tituies prisionais. Em seguida, esboando as linhas gerais da trama de vasos comuni-
cantes que ligam o dentro e o fora das prises, pretendo ressaltar a importncia, para a
prpria existncia e manuteno do sistema penitencirio em So Paulo, dos fluxos depessoas, coisas e informaes, que por eles transitam.
Palavras-chave:Priso. So Paulo. Fluxos.
ABSTRACT
In this work, I explore the relationships between prisons and other social territories.Firstly, I try to highlight some social dynamics, anchored in urban areas, which are
structured in a close relationship with the prisons. Then, I describe the empirical lines
of communicating vessels that connect prisons and the outside world, emphasizing the
importance of the flows of people, things and information for the existence and mainte-
nance of the penitentiary system in So Paulo itself.
Keywords: Prison. So Paulo. Flows.
INTRODUONas duas ltimas dcadas, o sistema penitencirio de So Paulo foi o
epicentro de profundas crises e transformaes. De um lado, a faco prisional
Primeiro Comando da Capital (PCC) consolidou sua hegemonia, primeiramente,
dentro das unidades prisionais e, em seguida, fora delas (BIONDI, 2010; DIAS,
2011). Tal transbordamento se mostrou especialmente problemtico para
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autoridades e pesquisadores aps a deflagrao da segunda megarrebelioprotagonizada pela faco, em maio de 2006, quando, alm dos milhares depresos simultaneamente amotinados, centenas de atentados foram praticadosnas ruas (ADORNO, SALLA, 2007). De outro lado, a populao carcerriaestadual cresceu abrupta e vertiginosamente, acompanhando de perto a tendn-
cia de massificao do encarceramento que vem se manifestando em diversos
pases (SALLA, 2007).
Os seguidos esforos da administrao pblica em expandir vagas atravs da construo de dezenas de novas e distantes unidades prisionais
mostraram-se sempre insuficientes para reduzir o quadro de superlotao e pre-
cariedade que, historicamente, conforma o sistema penitencirio de So Paulo.
Em outros contextos, onde tambm se desenvolveram processos de expanso da
populao carcerria e do parque penitencirio, diversos autores vm chamandoa ateno para as suas implicaes do lado de fora das muralhas. (GARLAND,
2001, 2005; CHANTRAINE, 2004; TRAVIS, WAUL, 2000; CUNHA, 2003;COMFORT, 2007). Quais novas dinmicas societrias se desenvolvem emlocalidades com altos ndices de encarceramento? Como a experincia da pri-
so se afigura, atualmente, para um nmero cada vez maior de pessoas sejam
presos, egressos, seus familiares, amigos ou vizinhos? Quais deslocamentosnas perspectivas de anlise dos sistemas prisionais, as transformaes correntes
exigiriam? Eis algumas questes levantadas neste debate e com as quais, aqui,
pretendo dialogar (cf. GODOI, 2011a).
A hiptese geral que subjaz nesta exposio a seguinte: a consoli-
dao de organizaes como o PCC dentro das prises, sua ampla capilaridade
do lado de fora e acontecimentos como os de maio de 2006 so fenmenos que
s podero ser mais bem compreendidos atravs de uma atenta observao das
mltiplas formas de ligao dos vasos comunicantes2 que se estabelecem
entre o dentro e o fora de uma cada vez mais expansiva priso e que o fazem
no para subvert-la ou derrub-la, mas, ao contrrio, para viabiliz-la e faz-la
funcionar. Esboar as linhas gerais da trama de vasos comunicantes que ligam
o dentro e o fora das prises em So Paulo e estimar as dimenses dos vrios
fluxos que por eles transitam constituindo e inscrevendo a priso no tecidosocial so os dois objetivos que encerram este trabalho.
Como ponto de partida para a discusso, apresento breves relatossobre algumas experincias de trs mulheres que tiveram um familiar preso.Os relatos apontam para importantes dinmicas societrias que, ancoradas nos
territrios urbanos, estruturam-se numa relao estreita com as instituiesprisionais. Neles, possvel perceber como, entre o dentro e o fora da priso,
desenvolve-se todo um campo de prticas e relaes sociais que articulamagentes estatais, presos, seus familiares e amigos, e no qual os limites do legal
-ilegal, do justo-injusto, do formal-informal so continuamente redefinidos eatravessados (TELLES, 2011).
Percursos como os de Marlene, Mercedes e Marluce3do pistas no
apenas sobre como a existncia do PCC reconfigura todo este campo de pr-ticas, mas como a prpria emergncia da faco se apoia nessas dinmicas,e, principalmente, sobre como a prpria existncia e manuteno da priso delas dependente.
AS VISITAS DE MARLENE
O marido de Marlene era gerente de uma rede de bingos clandestinos.
Levavam uma boa vida, numa boa casa muito bem localizada em regio nobre
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de So Paulo, at quando ele foi preso, acusado de estelionato e receptao.Marlene, ento, foi luta pelo marido: investiu praticamente todos os bens da
famlia no esforo de tir-lo da priso, vendeu carro, casa, mudou de bairro, tirou
a filha da escola particular, arranjou emprego numa lanchonete, pagou fortunas a
diversos advogados sem sucesso. Sempre o visitou na priso, apesar do penoso
trajeto e das humilhaes que experimentava toda vez que ia.
Do novo e distante bairro em que morava, tinha que, na sexta-feirapela noite, depois do trabalho, tomar um nibus, o metr, o trem e outro nibus
para chegar s portas da priso, j de madrugada. Fazia todo o percurso carre-
gando o pesadojumbo a sacola com alimentos, produtos de higiene pessoal e
cigarros que sempre levava para o marido. Diante da unidade, depois de retirar
uma senha que marcava sua posio na fila organizada por uma conhecida
visitante de um preso importante alugava uma das barracas de acampamentoque estavam dispostas na calada e dormia algumas horas. De manh bem cedo,
colocava sua roupa de visita cala sem bolsos, suti sem aro, camisa semdecote, segundo as normas da unidade maquiava-se e buscava o lugar quelhe correspondia entre outras mulheres que j se enfileiravam diante da guarita
de entrada onde, dependendo do fim de semana, podia esperar mais algumas
horas antes de entrar.
No entanto, para ela, todo o sofrimento do trajeto no se com parava
ao que experimentava no processo de atravessar os vrios portes da unidade.Eram por demais humilhantes o trato rspido dos funcionrios, as seguidasconferncias de documentao, a revista do jumbo quando os alimentoseram revirados e os produtos retirados de suas embalagens e, especialmente,
a revista corporal. Num cubculo retirado, diante de duas agentes de segurana
penitenciria, Marlene era obrigada a se despir completamente. Suas roupaseram minuciosamente revistadas por uma das mulheres. Enquanto Marleneagachava vrias vezes, nua, sobre um espelho, a outra agente verificava, pelo
reflexo, se existiam indcios de que a visitante houvesse introduzido, na vagina
ou no nus, drogas e telefones celulares.
Uma vez do lado de dentro, no superlotado ptio de um dos pavilhes,
passava horas conversando com o marido, sentada num desconfortvel ban-quinho. S deixava esse canto a certa altura da visita, quando outros presos os
avisavam que j podiam entrar na cela a mesma em que ele vivia com dezenas
de pessoas para que consumassem, numa cama de concreto e num lapso de
trinta minutos, o amor que os unia. Muitas vezes, j nas despedidas, o marido
pedia alguns favores a Marlene, geralmente para ajudar companheiros que no
recebiam visitas: enviar cartas pelo correio, verificar na internet o nmero ou o
andamento de um processo, telefonar e passar recados a familiares, etc.
OSJUMBOSDE MERCEDES
O filho de Mercedes era estudante de Ensino Mdio, no trabalhava,
acabava de fazer 18 anos. Foi preso com outro rapaz na frente de sua casa, numa
antiga favela da cidade, ambos acusados de trfico de drogas. Para Mercedes,
seu filho jamais usou drogas e muito menos as vendeu. Sua inocncia lhe ainda
mais certa porque sabe que o filho no teria sido preso se ela tivesse os trsmil reais que os policiais exigiram para no efetuar a priso. Viva, manicure e
com mais trs filhos, Mercedes enfrentou enormes dificuldades para sustentar
a famlia, pagar aluguel e ainda se fazer presente para o menino na priso. Sua
sorte que no estava sozinha. Trabalhava dia e noite, qualquer dia da semana,
menos no dia de visita. Tinha muitas clientes, algumas das mais antigas e reme-
diadas sempre doaram alimentos e roupas para a famlia. Seus outros filhos,
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uma sobrinha e uma vizinha ajudavam-na indo ao mercado, limpando a casa,
preparando a comida e ojumbodo menino.
Para Mercedes, coordenar cotidianamente todo esse arranjo de esfor-
os era ainda mais complicado porque, na penitenciria em que seu filho cum-priu a maior parte da pena,jumbose visitas no podiam entrar no mesmo dia
segundo a administrao da unidade, por falta de pessoal para realizao das
revistas. Sem poder deixar de trabalhar por dois dias na semana, Mercedescontornava a situao entrando em acordo com uma colega que sempre encon-
trava no dia de visita, esposa de um preso que estava no mesmo pavilho que
o menino, que quase sempre levavajumbosde carro e que morava no muito
longe da sua casa. No dia prescrito, esta sua colega depositava doisjumbos
o dela e o que a filha de Mercedes lhe entregava na vspera como se fosse
um e, l dentro, seu marido repassava o contedo devido para o menino. Emretribuio, Mercedes contribua com o que podia para a gasolina e orientava
o pessoal na sua casa a preparar bastante comida, suficiente para montar boas
pores para o marido da colega. A colega e seu marido sabiam das imensasdificuldades que a famlia de Mercedes enfrentava, mas aceitavam condescen-
dentes suas ofertas para no contrari-la.
Num perodo em que Mercedes adoeceu, tendo que parar de trabalhar
e de visitar o menino, esta colega no s continuou levando umjumbopara ele
dentro dojumbodo marido, como tambm doou cestas bsicas para a famliae at alguns medicamentos para o seu tratamento. Embora relutante, enquanto
esteve doente, Mercedes aceitou a ajuda, sem querer saber exatamente de onde
ela provinha. No entanto, como intua que a ajuda partia mais da organizao
dos presos que propriamente de sua colega, assim que voltou a trabalhar, reto-
mou imediatamente o sistema anterior de produo e entrega dosjumbos com
os pratos excedentes e a contribuio da gasolina porque no queria que seu
filho ficasse em dvida no interior da penitenciria.
AS VIAGENS DE MARLUCE
O filho de Marluce era professor de computao; levava uma vidatranquila e modesta, trabalhando para ajudar no sustento da famlia. Tudomudou um dia em que ele chegou desesperado em casa, contando a Marluceque seus amigos do bairro haviam sido presos por conta de um sequestro, no
qual ele tambm estava, de alguma maneira, envolvido. Ele emprestara o nome
e alguns documentos para que um dos amigos alugasse a casa que acabou sendo
utilizada como cativeiro. Tranquilizando-o, Marluce o convenceu a compare-cer na delegacia de polcia mais prxima e prestar os devidos esclarecimentos
para desfazer, de antemo, qualquer suspeita de maiores comprometimentos.Acompanhou-o e presenciou o momento em que ele foi preso pelo delegado,
logo depois de se identificar, acusado de sequestro e formao de quadrilha.
Marluce divorciada, merendeira de escola pblica e bastante reli-giosa visitou o filho semanalmente na carceragem da delegacia durante osseis meses em que ele aguardou julgamento. Depois da condenao a uma pena
de mais de 10 anos e de sua transferncia para uma penitenciria no interior
do estado a quase 700 km de distncia da capital Marluce quase perdeucontato com o filho. Num primeiro momento, era impossvel visit-lo: numanica viagem ela gastaria praticamente toda sua renda mensal. Por isso, asocasies em que me e filho conseguiam vencer a distncia eram to escassas
quanto fundamentais. Escrevia longas cartas para ele no se sentir to sozinho;
enviava pequenosjumbospelo Sedex; e, de vez em quando, num misto de ale-
gria e reprovao, recebia uma ligao, feita atravs de um celular emprestado
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e ilegalmente introduzido dentro da unidade. Foi numa dessas chamadas queele indicou me como ela deveria proceder para poder visit-lo ao menosuma vez a cada dois meses, gratuitamente, num nibus fretado pelo partido4.
Marluce fez os contatos e entrou na lista das mulheres carentes assisti-das pelo coletivo de presos. Num primeiro momento, teve medo de envolver-se
com pessoas perigosas, no entanto, as saudades do filho foram mais fortes e,com o tempo, ela percebeu que, naqueles nibus, as mulheres eram, em geral,
to simples e sofridas quanto ela. Apesar das dificuldades, sempre que viajava,
Marluce fazia questo de depositar uma modesta quantia de dinheiro na conta
de peclio do filho, caso ele precisasse comprar um chinelo ou um remdio.
As viagens duravam de 8 a 10 horas, dependendo da quantidade e da
intensidade das frequentes abordagens policiais na rodovia. Algumas mulheres com quem Marluce passava quase todo ofim de semana de visita, no nibus e
numa pequena pousada ensinaram-lhe vrios caminhos alguns legais, outros
ilegais para que ela tentasse a transferncia do filho para uma unidade mais
prxima da capital. Marluce procurou sempre as alternativas legais: entidades
assistenciais e de direitos humanos, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
o defensor pblico, o promotor de justia e o juiz da Vara de Execues Penais.
Falou tambm com diversos coordenadores e funcionrios da Secretaria deAdministrao Penitenciria (SAP), com diretores da unidade em que o filho
estava e com outros de outras unidades, onde, se ele fosse admitido, ela poderiavisitar com maior assiduidade. Nesse priplo pela transferncia, entendendoque o cumprimento de pena numa unidade prxima da famlia era um direito
do filho, Marluce nunca admitiu insinuaes de valores para uma transaoinescrupulosa, feitas por uma ou outra autoridade.
O DENTRO, O FORA E AS PRISES
BRASILEIRASExperincias como as de Marlene, Mercedes e Marluce condensammuitos dos elementos constitutivos daquilo que designo como vasos comuni-
cantes. Mas, antes da considerao dos vasos comunicantes que conformam o
sistema penitencirio paulista, de suma importncia destacar um trao fun-damental e estruturante das prises brasileiras: sua precariedade institucionalconstitutiva. No Brasil, a porosidade das muralhas no se reduz ao resultadomais ou menos direto do processo de massificao do encarceramento, nem a
algo que foi recentemente urdido pela faco prisional; antes uma condio de
existncia e preservao das prprias instituies penitencirias (cf. ADORNO,1991, 2006).
Num Estado que nunca se constituiu como de Bem-Estar Social, em
que os direitos sociais mais bsicos foram desde sempre negados a grandesparcelas da populao; a priso se consolidou como forma de punio porexcelncia sem jamais prover inteiramente as necessidades mais bsicas da
populao que encarcera. O funcionamento dos sistemas de justia e peniten-
cirio, no Brasil, sempre dependeu da concorrncia de muitos outros agentessituados fora do aparelho estatal sem eles, a maquinaria para.
O processo criminal e a execuo penal no se desenrolam adequada-
mente sem contnuas provocaes dos prprios presos5, de seus familiares, ou
ainda de bons advogados, particulares ou voluntrios6. As necessidades bsicas
de alimentao, vesturio e higiene tampouco so garantidas inteiramente pelas
agncias estatais, exigindo que familiares e amigos de presos, principalmente
atravs dos jumbos, introduzam um volume importante de bens escassos no
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ambiente prisional. Assim, as agncias estatais da administrao prisionaloperam, em grande medida, gerindo estes mltiplos e indispensveis fluxos de
pessoas, coisas e informaes que entram e saem da priso, precisamente, para
faz-la funcionar. Se se considera a multiplicidade desses trnsitos cotidianos,
percebe-se que as articulaes entre o dentro e o fora da priso que so funcio-
nalizadas pelas faces prisionais constituem apenas uma parcela reduzida de
toda esta trama urbano-prisional.
VASOS COMUNICANTES
Pode ser considerado um vaso comunicante toda forma, meio ou oca-
sio de contato entre o dentro e o fora da priso. Trata-se de uma articulao par-ticular que, ao mesmo tempo, une duas dimenses da existncia social e define
uma separao fundamental entre elas. Os vasos colocam em comunicaodois mundos, no entanto, no so desprovidos de bloqueios: neles, mltiplas
negociaes, determinaes, poderes e disputas operam a diferenciao do que
entra e sai, dificultando ou facilitando acessos, registrando (ou no) as passa-
gens e estabelecendo destinaes. a prpria existncia da priso enquantoalteridade socioterritorial como heterotopia nos dizeres de Foucault (2009)
que est em questo no cotidiano jogo de abrir e fechar portes, observando
o que por eles passa ou no. Em So Paulo, atualmente, mais que a condutados reclusos no interior da priso, as passagens so os focos privilegiados davigilncia penitenciria.
A maior parte dos vasos comunicantes so vias institucionalizadas,previstas e reguladas pela legislao penal, como a visita semanal dos familia-
res, a visita ntima, o atendimento de um advogado. Nestes casos, o encontro
presencial que estabelece a conexo. Mas a mulher que num pavilho de peni-
tenciria visita o marido (ou a me que visita seu filho) precisa atravessar um
longo percurso que, j s portas da priso, passa pela retirada de senha, pelaespera na fila, pelas verificaes de documentos, pela revista minuciosa de seus
pertences, roupas e, principalmente, corpos7. O encontro com o advogado, na
maioria das penitencirias paulistas, tem lugar num espao prprio chamadoparlatrio, onde preso e defensor se encontram separados por uma grade. De
todo modo, ainda que no passe pelos mesmos constrangimentos o do des-
nudar-se, por exemplo o advogado tambm submetido a procedimentos de
revista.
A correspondncia postal, igualmente legalizada, outro importante
vaso comunicante que possibilita a criao e fortalecimento de vnculos entredentro e fora da priso. Trata-se de um vaso materializado num artefato, queserve tanto ao estabelecimento de laos afetivos, como provocao do sistema
de justia e da administrao penitenciria para o devido encaminhamento da
execuo penal. Pode bem funcionar desde que o preso disponha dos recursos
necessrios, que no so disponibilizados pela administrao da unidade, eque, como muitos outros, dependem do provimento de familiares e amigos: o
papel, a caneta, o envelope, o selo postal. No incomum que o contedo das
mensagens tambm passe pelo crivo da vigilncia, de modo que cartas podero
ou no ser devidamente encaminhadas, segundo o contedo mais ou menossuspeito que expressem.
O j referido e estratgico abastecimento material da priso, realizado
com recursos mobilizados pelos familiares e amigos de presos, no dotado da
mesma existncia e regulamentao legal. Sua formalizao se d num nveladministrativo, em que cada unidade estabelece autonomamente as dinmicas
de encaminhamento e o conjunto de bens que sero autorizados a atravessar os
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portes. Ojumbo sua forma por excelncia: uma pesada sacola com alimentos,
roupas, artigos de higiene pessoal, cigarros, medicamentos, que pode ser enca-
minhada no prprio dia de visita ou em outros dias previstos especificamente
para tanto.
As embalagens, formas de acondicionamento, a qualidade dos pro-dutos so todas reguladas, previstas, observadas e revistas, segundo critriosaltamente variveis de uma unidade para outra, ou numa mesma, com o passar
do tempo. Jumbosem verses menores que no contm alimentos frescostambm transitam pelas vias postais, atravs dos servios de Sedex. Os paco-
tes passam pelo detector de metais e so abertos e revistados, antes de serem
entregues nos pavilhes.
Outra forma de conexo institucionalizada entre a populao carcer-ria e a sociedade mais ampla e seu mercado o servio de peclio, legalmente
estabelecido nas penitencirias. Funciona como um sistema bancrio no interior
do sistema prisional, em que cada preso dotado de uma conta em que se depo-
sitaro ou os salrios daqueles que trabalham ou os recursos disponibilizados
por familiares. Uma parcela dos ingressos conforma uma poupana obrigatria
que s poder ser sacada quando da libertao, outra parcela poder ser mobili-
zada em compras peridicas mediadas pela administrao penitenciria. O setor
administrativo do peclio faz circular uma lista de mercadorias permitidas entre
os presos, que assinalam suas demandas; aps a realizao de um prego, osprodutos so comprados e distribudos nos pavilhes.
Atravs desse mecanismo, dois outros importantes vasos comuni-cantes so introduzidos no ambiente prisional: a televiso e o rdio, vasoseletrnicos que colocam a populao prisional em contato imediato com asgrandes (e pequenas) questes culturais, econmicas e polticas da sociedade
mais ampla. So estritamente regulamentados em seus modelos e caractersticas
autorizadas; podem ser tambm materialmente revistados e at subtrados deuma cela como forma de sano.
Diferencialmente institucionalizadas, as vias da assistncia religiosa,
social ou judiciria introduzem no ambiente prisional diversos agentes dachamada sociedade civil organizada (religiosos, advogados voluntrios,defensores dos direitos humanos, etc.), que podem conectar, intensificar, recu-
perar conexes entre presos e seus familiares ou com as movimentaes de seu
processo no sistema de justia, ou com a vida religiosa e comunitria, ou com o
mundo do trabalho, etc. O controle exercido sobre quais destes agentes e em que
condies eles podero prestar estes servios tambm objeto de inquietao e
continuadas disputas, uma vez que tais vias costumam ser das poucas por ondecirculam denncias de maus tratos e violao de direitos que chegam a causar
algum tipo de impacto poltico, dentro e fora do ambiente prisional.
Vasos comunicantes tambm so urdidos quando os presos saem dapriso, temporria ou definitivamente. A sada temporria e o regime semiaberto
so igualmente institucionalizados, previstos no regime de progresso de pena
adotado na legislao penal brasileira8. A progresso de pena para regime aberto,
a concesso de liberdade condicional, ou a expedio de alvar de soltura pelo
cumprimento integral da pena so as vias institucionalizadas da libertao,
momento a partir de qual o recm-egresso j no ter que voltar para o ladode dentro se cumprir todas as obrigaes legalmente estabelecidas do lado de
fora. A presena de um nmero cada vez maior de egressos da priso no seio
da sociedade um dos elementos que prolonga os efeitos da expanso destaparticular instituio, que a inscreve na realidade cotidiana do tecido social,e que, atualmente, coloca questes importantes para o escrutnio sociolgico.
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Afigura do funcionrio da priso to fundamental e elementar quanto
a do egresso na constituio do dispositivo prisional como mecanismo regula-
dor de um jogo de relaes entre um dentro e um fora. Um vaso comunicante
se conforma em cada encontro cotidiano, em cada episdio de colaborao ou
conflito que se desdobra entre um funcionrio e um preso. No interior da priso,
o funcionrio que mais cotidianamente expressa a presena da sociedade.
Do lado de fora, por mais que se ressinta, ele no pode deixar de pensar, sentir-
se e conduzir-se como se estivesse dentro. Ainda, ele o principal operador da
maioria das passagens acima mencionadas, sendo fundamental na realizaode praticamente a totalidade dos fluxos que constituem a priso: ele revistaos bens e os corpos, registra as movimentaes de pessoas e coisas, interpeobstculos e critrios para cada uma, em suma, abre ou fecha as passagens(GODOI, 2011b).
A este diversificado conjunto de vasos comunicantes institucionaliza-
dos, soma-se um nmero reduzido de vias informais e ilegais. Os bilhetes cha-
madospipas que transitam de mo em mo, entre presos, visitantes, advogados
e funcionrios podem ser considerados vias informais de comunicao que fun-
cionam como cartas, mas exigindo menos recursos. Abertamente ilegal o uso
do telefone celular dentro da priso. Embora tenha sido reputado responsvel
pela articulao do PCC e de suas megarrebelies, os modernssimos telefones
celulares, ilegalmente, proliferam no interior do sistema penitencirio paulista,
permitindo que presos estabeleam vnculos instantneos e continuados compessoas de fora, que conheciam ou no antes do aprisionamento, seja parafins de
administrar um negcio criminoso, participar da educao dos filhos, conseguir
uma namorada, etc. Mesmo estes vasos comunicantes informais e ilegais so
frequentemente mobilizados para fins ordinrios, que mais visam contornar as
dificuldades impostas pela precariedade institucional da priso, que para pro-
priamente ferir a ordem urbana ou prisional. A condio de informalidade ou
ilegalidade destes expedientes deve-se, precisamente, subverso que operam
no controle estatal sobre as formas de comunicao entre o dentro e o fora da
priso, e no exatamente ao contedo das informaes que transitam por essasvias. Em contrapartida, os vasos comunicantes legalizados podem ser mobili-
zados informal ou ilegalmente pelos diversos agentes que neles concorrem, de
modo que as passagens podem ser bloqueadas ou facilitadas, a despeito das leis
e normas estabelecidas. Interessa reter que neste complexo entramado de vasos
comunicantes que aqui apenas se esboou opera-se um jogo de aberturase usos (legais e ilegais, formais e informais), no qual no s a faco, mas a
prpria priso paulista parece se viabilizar.
FLUXOS PENITENCIRIOS
Resta indicar os contornos e dimenses aproximadas de alguns dosmais importantes fluxos que se constituem atravs desses mltiplos vasoscomunicantes: o fluxo da populao carcerria, o fluxo dos agentes estatais, o
fluxo dos familiares e amigos de presos, o fluxo das coisas e o das informaes.
No Brasil, atualmente, nem a pena de morte, nem a priso perptuaesto previstas na legislao. De tal modo, toda pessoa que venha a ser presa
por algum delito deve, um dia, deixar a priso. Em linhas gerais, do processo
de incriminao ao cumprimento da pena j se configura todo um fluxo: uma
pessoa acusada de cometer um delito, presa e encaminhada a uma Delegacia
de Polcia (DP), d-se incio a um inqurito; decreta-se sua priso preventiva e,
ento, ela levada para um Centro de Deteno Provisria (CDP) onde aguarda
julgamento. A condenao inaugura o processo de execuo penal; o preso,ento, deve ser transferido para uma penitenciria, onde aguardar a progresso
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da sua pena para o regime semiaberto e, em seguida, sua libertao. Cada uma
dessas passagens estabelece os marcos fundamentais do fluxo da populao car-
cerria. Cada posio no interior dessa sequncia implica num regime especfico
de conectividade com o que vai ficando do lado de fora. O que entra e sai, como
se do as passagens, quais contatos so permitidos, tolerados ou vedados num
DP no so iguais num CDP; a experincia de segregao e precariedade num
CDP no a mesma que numa penitenciria; as possibilidades de comunicao
com o exterior em unidades de regime semiaberto no so como as do fechado,
etc. Ademais, este amplo fluxo duplo: de um lado, os territrios e vias por onde
transitam os presos o sistema penitencirio; de outro, as instituies, arqui-
vos, mesas e malotes por onde transitam seus processos o sistema de justia.
Os trajetos de um e outro so interdependentes; suas (des)conexes definem a
experincia da priso, a durao e o ritmo da passagem por ela.
Em So Paulo, este fluxo populacional vem assumindo dimensesastronmicas. Em 1986, a populao carcerria era de 24.091 presos, e a taxa de
encarceramento era de 85,1/100 mil (SALLA, 2007, p. 74); j no final de 2011, a
populao carcerria paulista era de 180.059 presos e a taxa de encarceramento
de 436,48/100 mil habitantes (DEPEN, 2012). Deste contingente, 5.999 presos
provisrios encontravam-se em carceragens de DPs; 57.798 estavam em CDPs
portanto, por volta de 35% dos presos no sabiam a natureza e durao dapena que lhe seria imposta; 93.228 cumpriam pena em regime fechado (51%);
e 21.661 em regime semiaberto (12%).
A esse grande fluxo estruturante agrega-se uma mirade de outros,dando-lhe sustentao e capilaridade. O corpo de agentes estatais dos siste-
mas penitencirios e de justia conforma todo um fluxo particular: circulam
cotidianamente entre o dentro e o fora da priso; revezam-se em turnos, plan-
tes, funes; articulam-se para vigiar, abrir e fechar portes, deferir pedidos
e encaminhar processos so, portanto, fluxo e operadores de fluxos. S naadministrao penitenciria, no final de 2011, trabalhavam 33.408 servidores,
sendo 23.192 agentes de segurana penitenciria (DEPEN, 2012).
O nmero de servidores do sistema judicirio que incidem nos proces-
sos criminais e de execuo penal mais difcil de precisar. Alm dos juzes,
promotores e defensores pblicos, seria preciso agregar, pelo menos, os fun-cionrios administrativos das diversas instituies do sistema de justia, queoperacionalizam os despachos, arquivos, cartrios, varas, etc.; os advogadosda Fundao Dr. Manoel Pedro Pimentel (FUNAP), que so servidores de uma
autarquia ligada ao poder executivo estadual, mas que atuam na execuo penal
da maior parte dos presos condenados; e os advogados dativos, cujos servios
de defesa em processos criminais so pagos pelo Estado por intermdio deconvnio da Defensoria Pblica com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Familiares e amigos de presos conformam outro volumoso fluxo, que
se manifesta aos finais de semana em funo da visita, mas continuamenteativado: nas idas e vindas dos fruns em busca de informaes e encaminha-
mentos processuais, na cotidiana preparao e envio dojumboou do Sedex, na
elaborao e leitura de cartas, na realizao de chamadas telefnicas, tambm
na recepo de um egresso ou de um preso em sada temporria. Neste fluxo
concorrem tanto as pessoas que visitam continuamente uma unidade prisional,
estabelecendo um contato direto com a priso; quanto aquelas que, pela relao
com estas, envolvem-se indiretamente no encaminhamento de um processo, na
manuteno de um preso ou na recepo de um egresso.
No primeiro semestre de 2014, fui convidado por um defensor pblicoque atua na regio metropolitana de So Paulo a apreciar alguns dados que ele havia
conseguido extrair da SAP, mediante recurso Lei de Acesso Informao (Lei
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12.527/2011). Segundo os dados fornecidos pela SAP Defensoria Pblica9,em primeiro de setembro de 2013, havia 402.697 visitantes cadastrados emtodo o estado, sendo 72.307 homens, 260.202 mulheres, 16.904 adolescentes e
53.284 crianas menores de doze anos, de ambos os sexos. Quanto ao nmero
de visitaes, a SAP informou que, em todo o estado, foram 3.407.926 visitas
realizadas em 2012 e 2.233.369 s no primeiro semestre de 2013. Considerando
que familiares e amigos que no realizam visitas podem estabelecer relaescontinuadas com um preso atravs de outros vasos comunicantes; que o nmero
de pessoas mobilizadas para viabilizar uma visita, umjumboou alguma assis-
tncia jurdica necessariamente excede o nmero de visitantes cadastrados, ovolume de pessoas envolvidas neste particular fluxo penitencirio maior emais significativo que o registrado pela SAP como indicam as experincias
das trs mulheres apresentadas no incio do texto.
O fluxo das coisas dos alimentos, roupas, artigos de higiene, cigarros
e medicamentos, tambm das peties, pronturios e processos to mlti-
plo e denso, quanto fundamental para a existncia e manuteno do espaoprisional. Suas dimenses so difceis de precisar; compe-se do insuficiente,
mas volumoso fluxo de bens e recursos aportados pelas agncias estatais; dainfindvel papelada que circula entre prises e fruns; do conjunto de bens com-
prados pelos presos por intermdio dos servios de peclio; do imprescindvel
volume de coisas enviadas priso pelos familiares e amigos de presos atravs
dosjumbose servios de Sedex. Imiscuindo-se em todos os anteriores, o fluxodas informaes sintoniza os tempos de dentro e fora da priso, ou conectando,
pela televiso e rdio, todo o ambiente prisional conjuntura das questes do
mundo pblico; ou atualizando, atravs de recados, telefonemas e bilhetes, um
preso acerca de uma particular situao de um parente, de seu processo ou de
seus negcios.
Esforos recentes de restringir a visitao, de vigiar as conversas com
advogados, de bloquear os sinais da telefonia celular so indcios de que este
fluxo informacional se intensificou e acelerou tanto nos ltimos anos que vem
impondo uma srie de reajustes e reconfiguraes no aparato penitencirio,acabando por redefinir os prprios contornos da priso.
CONSIDERAES FINAIS
Atravs dos relatos das experincias de trs mulheres que tiveramum familiar preso, procurei evidenciar algumas dinmicas societrias que
pautadas pelo prprio funcionamento atual da priso vo se inscrevendo e sedifundindo, de um modo cada vez mais determinante, nos territrios urbanos.
Em contrapartida, atravs da prospeco dos vasos comunicantes e de seusfluxos penitencirios, busquei mais situar o lugar de experincias como estas,
no funcionamento geral do dispositivo carcerrio em So Paulo. As visitas, os
jumbose suas viagens aparecem, ento, como vasos comunicantes fundamen-
tais, ou porque, do lado de dentro, se seus fluxos so interrompidos, a priso j
no se sustenta; ou porque, do lado de fora, esses vasos mobilizam uma vasta
teia social, cujas prticas cotidianas retransmitem, em escala, os sinais deprivao, de violncia, de poder que emanam da priso.
Ademais, procurei lembrar como a histrica precariedade institucional
das prises no Brasil, desde sempre, foi compensada por uma ampla porosidade
das muralhas que se agora inquieta porque viabiliza a faco, h muito e ainda
hoje inadvertidamente viabiliza a prpria priso. Finalmente, atravs da anlise
dos vasos comunicantes e dos fluxos penitencirios tentei descrever a prisopaulista contempornea desde outra perspectiva: como um lugar de circulao
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ampliada, mais que de segregao e confinamento; como um territrio recor-
tado, mas amplamente articulado com outras territorialidades.
Frente a tal deslocamento de perspectiva, importante concluir com
uma ponderao: no se trata de afirmar que a priso j no segrega, incapacitae anula uma parcela importante da populao, mas de frisar que, na atual con-
juntura, neste novo horizonte de problemas que se apresenta, no Brasil e fora
dele, so as passagens e circuitos que mais interessam investigao. Vasoscomunicantes e fluxos penitencirios sempre existiram, mas nunca foram toimportantes como agora para a compreenso do fenmeno prisional. Seja pela
emergncia das faces prisionais, seja pela massificao do encarceramento,
parece ser cada vez mais urgente deslocar a objetiva dos estudos prisionais da
opacidade das muralhas para a operacionalidade de seus portes.
NOTAS1 Esse trabalho um resultado preliminar de pesquisa de doutorado em andamento
no Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade de So Paulo (PPGS
-USP), sob orientao da Profa. Dra. Vera da Silva Telles, e que conta com financia-
mento da FAPESP.
2O significado da expresso vasos comunicantes ser mais bem apresentado e desen-
volvido no decorrer do texto.3Nomes fictcios.
4Referncia ao PCC comum no universo carcerrio.
5Atravs, por exemplo, de recursos e peties enviados por correspondncia postal ou
por intermdio de um familiar para diferentes agncias do sistema de justia e poder
executivo.
6No desprezvel o nmero de advogados que atuam voluntariamente em processos
criminais e de execuo penal atravs de entidades da sociedade civil organizada, como
a Pastoral Carcerria.
7Com o objetivo de coibir a entrada de drogas e telefones celulares na unidade, as visi-tantes so obrigadas a agacharem nuas diversas vezes diante de agentes penitencirias,
como consta no relato sobre a experincia de visitao de Marlene.
8Na sada temporria o preso autorizado a permanecer em liberdade por alguns dias,
em datas comemorativas como o Natal e o dia das mes. No regime semiaberto, o preso
estaria autorizado a trabalhar do lado de fora das muralhas, no entanto muitos perma-
necem cumprindo pena sob regime fechado, por falta de vagas em estabelecimentos
apropriados.
9Dados do ofcio SAP-GS 93/2014, de 22 de janeiro de 2014, apresentados e debatidos
na audincia pblica de 29 de maro de 2014 Revistas ntimas de visitantes em uni-
dades prisionais do Estado de So Paulo, organizada pela Ouvidoria Geral e Ncleo
Especializado de Situao Carcerria da Defensoria Pblica do Estado de So Paulo.
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