59
GOLIATH GETH E BETHELEHEM COlMBRA IXI'RENSA DA UNIVERSIDADB 1866

Goliath - fd.unl.pt

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Goliath - fd.unl.pt

GOLIATH

GETH E BETHELEHEM

COlMBRA IXI'RENSA DA UNIVERSIDADB

1866

Page 2: Goliath - fd.unl.pt

A SIiil MADRINHA

D, MARIA Dl\ CUICEI$O CARDOSO DE MANClLEA

E A SUdS EBCELLENTISSIMAS MANAS

Page 3: Goliath - fd.unl.pt

Ercc~ll~nt issitna Srrjl~ora

O/prrco cjste peqtrcuo livro (1 V. poryrre quasi lhe porto?rc.c>. Flti cd~trarlo o ) ~ ycqrrolo ?In co),y)a)~kin tle wlirllza qrirrirla Ilfutlrinhn, I! 11(1,.s Excclle~ztissi~zas Mnnas de V. Ex."; e as idgas religiosar, qlie me glori- fico de ~nostrarpttblicerrertte, recebi-as da edtlcngdo, qlre nLe dell essa farnilin, conlo da uirtltde das pessoas, que a11 tcnho ceizeratlo ronz nmor de filho peln anzizatlc es- trenza corn glw 1 1 1 ~ t&(?t)b tructudo.

Estc 1;vro nlio t; t n ~ i s qrle o reszlltudu du t l irecm, gut: I I I ~ derntn.

Tern ctllor, porqtle d sancto o $to, qtre nzira.

Sozt con$ toda a co~zsider~u~iio De V. Ex." afilhado, am.", rn." ob: e 0b . l

Manuel Curdoso de Giriio.

Coimbra, 5 rtzaio de 1866.

Page 4: Goliath - fd.unl.pt

E t egrcssns cst oir spurius de castris l'hilistinoruln, notnine Goliath, de Geth :~lt,itndinis scx cubitoi~tm et pallni.

Liber 1, Itegzrm, calh Xl7II, v. 4.0

I s it bigotry to be l ic~e sublime truths of thc Golpcl with full assurance of faith? I glory in such bigotry.

UCATTIE.

Page 5: Goliath - fd.unl.pt

Escrevo este pequeno opusculo, reimprimindo tambem com pequenas altera~6es o primeiro folheto, qrre escrevi so- bre o casamento civil, por me ser pedido por differentes li- vreiros e estar de todo esgotada a primeira edit80 ; jun- ctando-llie considera~8es geraes, que f a ~ o a proposito d'esta questso e do espirito, que a suscilou. Mas I? urgente, porem, que eu escrevn uma especic de

prologo. Sou, certamente, novo de mais para que possam minhas palavras ter alguma acceitaqao do publico; e, sem ter prestigio como escriptor, nem mesmo conhecimentos profundos, pelos meus poucos annos, tenho vacillado se de- verei er~trar de novo na questao, altamente importante, do cnsamento civil.

Tenho vivido numa sociedade superficial em seus juizos, pouco firme em crenqas, e arrastada em massa para o en- thusiasm~, bom ou mho, segundo o acenar dos que se con- stituem directores academicos.

Page 6: Goliath - fd.unl.pt

Ten110 at6 hoje pertericido a este corpo, que se diz cheio de fogo, de enthusinsmo por tudo o que 6 grande, de cren- gas sincerns e puras, dos sublimes sentires (la mocidade; mas seja dicto com verdade, quc pode geralmente dividir-se a acatfcmia em dois grupos: um g r a d e , que nhrange quasi n totalidade, que ajuisam de tudo sem rcflex80, erigolfados 110 estudo profiirido das quarenta paginas dos azes e quinas: outro quer-se dar um ar de sarrtidnde e profecia, diz-se profuundamente snbio, citarido Zoroastro e Ramayana, a epo- pea dc Kamn, caminha para o Oriente, cost&a os altivos pin- caros dn India, fita d'alli a profunda Asia, e cxclama agarrado a Michelcl: ((Encontrei u Biblia da hondnde! ... Recebe-me, grande poemn; quero mergulhar ahiv ...... 6 o mar de leite!))

Estes parece que, embebidos nas conternpla~ijes de Zo- roastro, sAo em parte inintelligiieis nos seus dogmas e crenqas religioms.

Quaado fi~llilln cm Ileus 6 ulna tal cor~fuslo, que niio~se

sabe ;lo cerlo, se Orsrnl~s c Arimhan, os deuses (lo bcm e do mal, siio netos do tempo, se a palavra 6 a m'ie d'elles, B marieira do propheta Persa.

l)epoiscxclama~i~: Cliristo i: menos divino que Rama, quc

Zoroaslro,-sem sc lembrarcm que Vnlmiky cantou as en- carnaq6es deVichnou, talvez bellas rias concepcbes do poeta, mas ridiculns perante a intclligcncia do pensador illustrndo; k cerlo que tudo isto 4 ds ft~hula indiana, tendo-se Ramii pelo Baccho dos gregos.

Escrever por conscque~ieia dcarite dc u ~ i s c dc outros i:

arraslar sobrc mirn il maldicGo c a cummiscrayiio c c r t n m e n ~ ~ ~ ;

Page 7: Goliath - fd.unl.pt

dos primeiros, de qucm cscreveu Chateaubriand, homens apparentemente frivolos, qrle destroem zombando, e dos se- gundos, a qucm muito aproveitaria a eloquencia do orador de Hermopolis, a quem se regosijaria de orar o sabio Frays- sinous por ver tiio brilhantc e intclligente mocidade, capa- zes de abrir o co ra~20 iis ~ e r d a d e s do Christianismo, mas desviados da crerlqa christii pela Biblia da I-Iumanidade, pelos estudos sobre o cnsamcnto civil do sr. I-Ierculnno, etc. etc.

Tenho vacillndo, pois, se deverei strjeitar-me de novo ao odio dos que acham sordida e ignobil a irlstltrli~lo da Igreja, e julgam crime de lesa-libcrdade o defender as leis dos con- cilios, as mais socines, venerandns, e sublimes, e quc a custo desculpam que se vcnere Jesu Christo, o homem martyr pela sun doutrina humanitaria.

Escrevi uma peqr~ena cartn ao sr. Ilerculano; porem de- pois quasi me conheci amaldi~oado de Dcos, e poderia di- zer corno Job:-(10s nlcus propinquos mc desamparam; e os que me conheciam esqueceram-se de mim)).

E r a uma gritaria terrivcl contra mim por defender o Catholicismo.

Debalde respo~~dia eu que ;I rcsponsabilidade de meus actos pcsava sobre miin s6mente; cra o mcsmo. Lembra- vam-me as aves nocturnas com sua grasnada lugubre, es- voa~ando espavoridas h luz do relampago, que viesse rom- per as trevas.

Pensei sempre que do seio do corpo doccnte da Uni- vcrsidadc se oukisse uma voz cheia de saber e profrlnda- mente cloqucnte, que respondesse com a plccidcz (la scien-

Page 8: Goliath - fd.unl.pt

cia hs doutrinas do sr. A. Ilerculano, quc, se erom dicta- das por uma consciet~cia firme, virlham tambem forjadas no fogo d'um orgulho desmedido e desespero indesculpavel.

Se r~do competia isto tanto aos juristas, que deixam aos theologos as cousas do cbo, o infir~ito das concep~aes mais altivas da alma, ao mcnos os theologos deviam dispensar um pouco dc tempo da ja automatica phrase latina de Suncto Agostinho, c elucidar uma questno altamente importaute, clue se tem agitado entre Israel e os Philisteus.

Quando ha urn gigante, vestido de ferro e de cobrc, com capacete, couraGa c escudo de rijo bronze, quando esse Goliath, brandindo a lanca, para a qual, na phrase de Mil- ton, seria pequerla vara o mais alto pinheiro da Norwega, a5e 5 frente da batalha e brada corno o filho de Geth- Escolhci d'cntre v6s um homcm, que venha bater-se com- migo so por s6,-ficarb tudo attonito e medroso como Saul e o seu povo :'

1)urante os quarenta dias do desefio nao appareccrh urn David, que irrroste a forqa corlcentrada do arraial inimigo?

Te~lho orgulho de ser cu o unico cntre este grande corpo academico-profcssorcs e cstudaotes, que me colloquei de- baixo do golpe do collosso, e que me deixei esmagar de- baixo de eeu carro de triumpho, niio por amor ao idolo, como os filnaticos de Djag,-err~at dcbaixo das rodas da es- tatua da trindadc indialla.

Entrc os estudiiotcs os que escrevem martyrisam a inla- gina@o em orgariisar phrases altas c todas de desprezo ao rcconhec,ido mcrecimer~to do sr. Castilho; fecham os olhos,

Page 9: Goliath - fd.unl.pt

c nrmados dc cortantc cspada, bi~tem para a direita e para a esqi~crda a ver se dcgolam a victima de seu odio.

Esta lucta comparei-a,-bem estupidamente, 6 certo, mas n lo sei porqrie a comparei assim - comparei-a a corrida do gilllo dos rapazes da cschola com os olhos vendados, e ca- minhando para a pobre victima, com a espada em punho, accusando-a em verso de crimes inauditos, at6 vir o mes- t r e com a palmatoria, castigando os rapazes, que recitaram algumas quadras polrco conv~nientes.

Felizmente o sr. Camillo Castello-Branco fez callar esta afrronta, e susteve esta lucta de gente armada, prestes a de- gollar o sr. Castilho. Levaram alguns o l e n ~ o Bs lagrimas de desconsolo e de arrufo, mas k certo qrre terminou a lu-

cta de exterminio littefario. Para essa guerril, mil vezes inconveniente e mil vezes

imperdoavel, havia soldados aguerridos e valentes campe8es; e para uma quest"a de grande interesse social, uma questao de dircito modificado, ou harmonisado corn a grandiosa na- ,

tureza da familia, e com as mais subll~nes institui~8es d o ( Christianismo; ha o silencio e a indifferen~a; silencio d'uns, talkez n~otivado pela certeza da victoria d e seu gigante ;

i d'outros, pelo temor do ferro de sua l a n ~ a .

Livre-me Deos de pensar que pouco vale o sr. Hercu- lano. I? certamente uma de nossas glorias litterarias, e tal- vez a malor.

Mas porque Rousseau foi um genio, que glorifica um se- culo; porque Voltaire, poeta e pliilosopho, ha de fazer cur-

Page 10: Goliath - fd.unl.pt

vnr ao seu gerlio a adrniraqiio da posteridadc; devcremos, acaso, scr obedientes proselytes de suas doutrinas?

Adniira-se o genio, levanta-se-lhe urn pedestal de glo- ria por seu auailio ao progrcsso e civilisay2o.

Mas ficar-lhe-ha erguido urn de ignorninin, quando pre- tenderem apagirr a luz viva, que tern rornpido as trevas em toda a partc ondc reina o Chris~inoisrno.

Procurcm-se as rnelllorcs instituifbcs sociaes, os dogmas mais vcrrerandos do credo liberal, e vejarn se os enco~rtram nas rcgi6es do Elirnalnya, na Persia, nos dorninios do Koran; ou na F r a n ~ a , em Portugal e nos dcrnais estados catho- licos.

Recue-se ao passado centenarcs d'annos, Ieiam-se as leis de Koma, d'essa Horna, cjne Suma fcz religiosa para n tor- nar e t e r ~ ~ a , leiarn-se as leis de Solon, as leis de Yythagoras, dos Druidas, as do arbtigo Egypto ou a4 leis d e Minos, t.

ver-se-ha que o que i~hi ha cle grarldc e majestoso B per- feilamente harmorlisado corn a religiiio christa, e que em nberta contradicy50 corn as grnodcs maxima9 estBo alli mis- turados outros preceitos, despresivcis e offerGitos h digni- dade dos primeiros.

Pense-se por~cos rnirlutos no cill)itulo V de S. &Ialheus; imagine-se um l~omern de quern escrevcu ilo senado de Rotnil o goverriador da Judeia, cle vlrtude singr~lar, de aspccto \c- neravel, grande e bello, censurando corn rnngcstade e ex- hortnndo com suavidade; horncrn, quc, pela sua grnnde for- mosura e por suas pcrfeiC6es divil~as, escede os filllos dos

Page 11: Goliath - fd.unl.pt

homens; sigdmos seus passos, subintlo no monte, e orlqamos corn a t t c n ~ a o profunda as suas palavrns no cimo da serra, c depois dighmos-se ha cotrsa rndls sancta quc a orac&o do monte; se lla religiao algumn, qne crrsiur t%o sublimes vir- tudes a nosso corac'io, como humildade, mansidgo, amor, jus- tipa, paz e caridade!

Oh! repilo corn Beattie:--Ser6 supersti~80 crer nas ver- dades sublimes do Evangelho, com irlteira firmeza d e f6 ? Glorifico-me de tal sul)ersti~8o: ((1s it bigotry to believe the sublime truths of the Gospel with full assurance of faith? I glory in such bigotry.))

C ~ ~ r v o - n ~ e com urn orgulho sublime a esta religiao eterno, ' a esta rellgiiio, clue me promette a immortalidade, que mi- rllla alma ha de ser eterna, infi~iita, e rasgar o vko, que nos occulta os muysterios da c ~ e a ~ a o , dos coos, e do proprio 1)eus !. . .

Que sera mais digno dos sentimentos altivos da moci- dade, qile pensar nas qualidades mais sublimes da almu, e vonr corn as azas d'um anjo atraves das espheras d e lue, e esqwecer-me em Deus da argilla, que me prende?

Se isto e fanatismo, regosijo-me d'elle. Se desro da al- tivez d'esta crenca a essa doutrina, t'lo decantada pelo jor- nalismo, vejo um imperio trtmulo, sem o astro da luz, que Ihe dL' tida.

I? ulna pequena illla no mar do norte, fria, deserta, e em eternas e profundas trevas!

Liberdade, egualdade, e fraternidade ser8o tres espheras,

Page 12: Goliath - fd.unl.pt

rolando ao destitro, sern sol, que lhes d& o lei, a ordem e a luz!

Conlo mnncebo, cheio d'este fogo sancto da mocidadc, nmo a religino christn, amo as leis sociaes, que v&m refle- ctidas do cvangelho, e tenho o nobre orgulho de defender uma das leis da Igreja christ8 mais venerarrdas e de maior interesse social.

Nile receio a critica da imprensa, pouco affecta a minhas idkas; pois o jornalismo, qne, pel0 interesse sordido d'uma paixao partidaria ou despeito pessoal, desacredita sem mo- tivo os governos, legalmente constituidos, e que pretende enegrecer o prestigio, que deve brilhar na auctoridade, com prejuizo da Telicidade publica; esse jornalismo, que, corn excepl6es gloriosas, so falla em nome de considera~8es pro- furldarnerlte vergonhosas e n30 com a imparcialidade da jus- tila; esse jornalismo, que deixa entrar nos dorni~rios da luz garotos armados de pedras para macerarem a face dos mi- nistros, que tantas vezes s6 t&em o crime de dirlgirem os destiuos da nay80, certamente que 1120 pode deixar de ex- clarnar com de5preso:-Mais urn apostolo das trevas! mais urn demente entre os esclarecidos filhos do seculo! ...

Page 13: Goliath - fd.unl.pt

A historia da huma~~idade. desde as trevas, desde o em- bruterimento geral do passado at6 o seculo esclarecido, em que tivemo~, tem sido sempre a peregrina~ao awendente do ser lirre e sagrado, chamado homem, para nm foco rndiante de luz pnra.

Olhemos para o quadro. 56 desde a perdi~ilo do Eden, de data em data, corneram a erguer a fronte os privile- gindos do genio, mirar outro Eden no futuro, e apontar corn o dcdo, Ih bcm longe do seu seculo, a luz, as delicias e os amores antes da qu6da dos dois progenitores da huma- nidade, ou da qukda universal da humanidade d'entao!

As tradi~ijes, as legendas, a historia, depois a philoso- phia, a religiao, e a fahula, em cyclos diversos, attestam- nos as fei~iies characteristicas do homem na sua passagem para a Jerusalem promettida.

A nntiguidade jA n8o 6 nossa. 0 tempo 6 chave de bronze, 2

Page 14: Goliath - fd.unl.pt

t111i' St't'IIil i1 pol.ltr Ir:ln~l)ilrt'r~tC-e~Cllr;l (10 I)~IS:"ICIO, olldc ,I

c~ls to podemos sonclilr, erltrc o oadil clos turn~rlo?, o mur- morio, o soffi-impl~to, o pri17er, as conceprfies do homern nos differeutes cycles de sun existpnciu!

Restam-no4 as tradiy3es, os rnonnmentos e n historin. .E o monument0 mais alto qrie as pyramides de CllCops, qrle o a l t i ~ o I)t~awaladgeirtl, P cssc liiro escripto no occidentta da Asia, sohre as nreias da Arabia, on nils eolidijc~ tln Pn- lestina !

Jl'ahi podemos t c r a bumonidado, quc pilzsou; es5e povn, que kia fi~lgir no d o n cstrella dn crcncn, reflrctiodo-st. sobre stra alma; esse polo. que tiillla Ir\nntado n l i . o ~ ~ t e parn um Ser Suprerno, a rluern n sun liopua licbmici~ dnv;~ urn oornc, que resumin em si ;I i d h rnais n l t n da perfeiqao celeste.

Emquarlto qrlc os poc5tns gregos cantavnm sees hymr~os dc arnorcs e doqrlra ii solnhra \olupt~osil dn t rgr laqlo d i ~ Grecia. o porn do Oricirtc erguin ao Derrs de t r~do urn can- tico eterno, proSundo, dirino, entaildo nos sorls melodiosos da h a r p de David.

A religillo do pnganismo era a clilindade do boeque, do mar, do monte, ou da cavidnde dos penedos, e para cadi) cbstrella do cCo creava-se urn deus B bontade do mythologo, nm dells limitarlo, menos deus que o hornem.

E o povo de Ismel, nessa infancia da humanidade, via, rellectindo-sc nesse espelho imrnenso da c ren~go universal, o Ser, quc, ao sopro uuico de seu poder, fez surgir do ca-

I r c ~ a ordcm c a Ici, dns trevas rainr a luz, rolarem na im-

Page 15: Goliath - fd.unl.pt

mensitlatlc essas espl~eras de libgo, qur narrnm il sun gln- ria, c do nada crear urn espir~to imn~ortill. q t ~ e vac con1

lnao arrojada rasgar o \Eo do firmamento e rer illem ( 9

sctu Crendor, o Jehovah dc todos os seres! Nillguem, rnnlii n melodiosa hnrpil, deisarii de e~rtcritlrr

a voz rlrliversal das cstrcllas c dos c h s ! ninguenr dciunr:~ tlr ler s r ~ r nornc cscripto no firmnmcrllo con1 o rnio da [thin- ~)estade c com a I I IZ do esparo!

0 dia corn sua luz do cko, s~~cccderldo-se no oulro dill, i: um,l rrota rnpida, mas vihrnnte, d'esse canticn, que rhos tliz umil d u r a ~ a o illimltada, a qrre dnmos o nome quasi in- c~ornprchensi\el da cternidadc!

A mcsnli1 noite tenipestuosa ; a niesma noite, em qur t ~ l d o 6 tretns, tumultuar dos elenientos, corlfusi~o e desor- tl(.m; ttssn lroitc, em que parecc qrlc o genio da tempestadr. sr~rgido do seio dos mirres, lucti~ corn as arvorcs, qoe teen1 ~ e n c i d o scculos, e as derr~rba 1)ol' tcrrn, mostrn-nos o qrir heria o cahos antes da lr~z rompcr o nlarlto ilegto d;ls trr- ,;IS, q ~ ~ c enchiam o esparo!

0 espirito superiol., ns almas sublimcs Icvarrlaln urn v lo no infinite, v&em das nlturas este globo, em qtre liabitilmos, lnais urna pequeria espl~ern suspcmsn na amplidlo dos chos, levanlam a voz ao alto, e exclamam ao son1 melodioso e di- tino do psaiterio da Biblia : ccsenhor, soberlrrlo Deos, ad- miravel e o teu nome on terra, nos cCos, obra de terls dedos, I);! lua e rri~s estrellas, qrle creastr. 'I'rrdo srqeitaste 80 t g r r

ciominio, ns sertbs dit terra, as nyes (lo c t o e os peixeq, que

Page 16: Goliath - fd.unl.pt

1)rincam debaixo da face enraivecida do oceano! coroaste de gloria o arijo da terra.

Oh! qua0 admirmel B o teu nome desde a tua gloria ao

fundo dos abysmos !u Embora esses, quc o espirilo irreflectido da mocidade,

ou ma1 inclinnda, ou demasiadamerite superficial, chama os profundos pensadores do seculo, levantam corn escarneo aos olhos do muudo toda a Biblia, o grarrdc livro da humani- (lade toda, n ib fazem calar aquella voz, que, erguida no passado, ha de soar eternamentc sobre todas as geraqGes, como a serl ten~a dc ignominia e de m a l d i ~ i o sobre o co- r.a~Ro do insensiito!

c .4~ srras palavras s l o o vencno das aspides debaiso de seus labios.

Sun boca estii cheia de maldi~Bo e de amargura; amic- yAo e cal~midade na peregrirlaq50 da \ids d'elles, n3o co- ~llrecem o caminho d s pnz.

Despresivel e impotente C Delis diante de seus 01hos.a I': esta a voz, que vem echoarido de seculo em seculo,

proferitla por David naquellas melodias hebraicas, silblimcs e sempre divinas em todas as epochas!

l? a espada erguida sempre contra a malvadez do athco, prejudici;~l em suas palavras e profuridamente despresivel em sells baixos sentimentos.

Abramos todas as paginas da Biblia antiga, sigamos os f)si~lrnos, os livros de Job, de Isaias, Ezequiel e todos os pl.ophetils, e havemos de curvat- a fronte com j ~ ~ s l i ~ a tlinnte

Page 17: Goliath - fd.unl.pt

d'aquella magcslosa gri~ndeza, d'aquella espar~sao sublime do espirito para Deus, cheia de fogo e d'uma poesia, quc nern egualaram os poetas nntigos, nem os modcrnos.

0 s grcgos e todos os povos d'essa remota antiguidade olharam para sua consciencia psycologica, sujeitaram os fa- ctos do mundo externo aos principios eternos da raciono- lidade, scrltiarn uma asp i ra~ao illimilada, que nada saptis- fazia no mundo, e de prolnpto se curvaram a urn Ser Po- dcroso, ur~ico centro attractiko dos espiritos, como o sol, esse fogo ropresentatiro da Providellcia, C a forqa, que ar- rasta para si o mundo, que domina.

Obse r~a ram os ol~jectos diflcrentes, c distinguiam-nos pela compara~8o. Mas a compararso demanda um juiz sn- perior, q t ~ e decida. D'aqui o principio, reconllecido em to- das as epochas, da espiriti~alidade da alma ; e do principio absolulo da causnlidade, que nos arrasta irresistivelmenle para Dens, formaram uma ideia, mais ou menos pcrfeita, do absoluto e do infinite.

Nasceu depois o Jupiter do Olynlpo, o Orsmus do Iran, o Cnef e Osiris do antigo Egypto; e do dogma da espiritua- lidade e immortalidade da alma, estcndcram-sc tlas e~i t ra- nhas d i ~ terra os jardins vcrdrjantes (10s Elysios, c as pri- sacs eternas de Plutao.

Mas procure-se or~t ra rcligiao quc e;;ualc n religiRo d e Job, de Mojses, de David, dc Salomao e de Ezequiel, e sere um procurar louco.

Aqui vemos o genio altivo c profundo do pl~ilosopho, c

Page 18: Goliath - fd.unl.pt

(lo 11oela ~hbllrne. 1)eus o;io C u conccpq;io I~rgubre das t1-ct- 1;1s illcognilas do3 Egjpcios, o Cnef, a obacuridadc impe- rrelravel ; I: o Je1ioval1,- o q l ~ c Foi, o quc I?, c Ila de ser - sol de gloria, grnndlosa Providenci~, qve dorninn o UII;- Icrso, e que estende a suo 1ri30 sohre :IS t r c \ i~s pitril l o ~ o rainr a l u l , povoarem o vasio incomprchensivel milllijes d~ csplleras de fogo, que Fallam a linguagem rini~crsal do po- tier ile Dells !

E como o co~iccl~cu A1o:ses. I)a\id e esse povo de Is- rael, que via no ri~iilr (10 aurora a imagem dc Ileus no Fal

lux : nn colrlmrln de fog0 a urr~nn ~ i l c r o ~ i l ~ c t a do cCu e c l i ~

t e r r , ~ ; nas estrellas do c6o o ningcstoso l i ~ r o de Fogo uni- bersal. irradiarldo para as extremidades dos mrrndos; e no sol a imiigem reprcsenlali\a dc set1 throno, de sua gloriii c tle SIJiI magestailc !

E 1)cus sempro o sol, Icr;tr~lnrttlo-se ri~dinntc sobre o Iiorisonlc !

Quell1 desco~~hecc iJ grandeza dos srlbl~mes caritos do Escriptura Judaica; quem I&, uma lcz, as altijczas dos Psol- mos, a magnificcncia de Isaias, Jcremias e Esequiel, e n8o orrvc alguma coisa do cko el11 todas aqllellas sublimidades hehmicas; qucri~ ridicolrsa, prohnnndo, o monumento mais

Page 19: Goliath - fd.unl.pt

i~dmirn\cl da nlltignitladc, ou i: ma1 iilclii~:ldo por o.rturoz:~, ou Ihe faltarn as aza- piiril sobir at6 ondc nos lev;tm ;I<

coocepc;6es ~nspiradi~s dos l'rophetils do Oricotc.! .-\qucllc quc 0 1 1 1 ~ 11i:ra i1 i~bobild? celeste, qucb uem rc-

1'"'" nil magcstadc c na li:lrmnr~ia de t ;~otas eslb11er.a~ n i -

cews 110 firmamento, o i ~ ~ i r i , R ~ R S O , I~SSR linguagem uni- versal, cllle sc ou\e 1120 sd na terra, scn'io no sol e em todos os muodos, quc tilo rolnndo na infinictade dos espacos?

Y;io ! 1180 que clc trhs das cdrcllas fulgurani estrel- las ; quo alCm do rsl)aqo--essc trmplo immcnso de I)CUS - estii o infinito e crn tudo a Providerlcia!

il rloitc con1 suas e ~ l r e l l i l ~ , fulgurando na abobada cc:- Icste, bellil, ~)rolilndit, infioita, tern para as alrnas positi\;ls o mesnio cncarlto que a noite escurn pelas nuvens!

0 c lo da Biblia nenl para todos E limpid0 e brilhcintc; cslh vedatlo a muitos corn urn vko escoro. S6 as alrnas contcml~lotivas podem alnr-se at6 3s divinas altivezas do genio hebraico.

Michelet acha bcllo csse maravilhoso monumento, que Ila tle sernpre engrilndecer esscs scculos do passado, mas ; ~ r i d i \ ~ e s0c:cas as praias do mar Morto, pequeno c mephy- tico o ar de Jerusalem, e scquiosa a 1ium;lnidade no meio do dcscrto, juncto hs aguas amaldiqoadas do lago Asphaltite.

Mostrir-nos, depois, um cbo mais fundo, liorisontes mais largos ; c a Ramayana (5 urn mrindo ern troca de Jerusalem ; as pdmciras da Irrdici mnis erguidas que os cedros do Li- hano.

Page 20: Goliath - fd.unl.pt

A Biblia tem para elle a belleza e o perigo da noite. Se hlichelet nbo aclusse ter~ebrosa a Escriptcra Judaica,

se olhasse, corno devia, para a epopeia de Hama, deveria dizer (la Riblia nntiga : dvierges, enfants, Ienez, e t prenez hartlimer~t Ics Bibles de lumiGre. Tout y est salubre e tres- pur. n

Mas elle adiou a Bit~lia tenebrosa e perigosa corno a a noite. I)eslunihrnram-no as magestosas transfigurapfies de Vichnou em peire, em tnrtaruga, em porco, e espera ainda pelo exterminador Kalki, cavallo gigante, que ha de corn uma patada reduzir o mundo a pd e a nada. Ao Ser Crea- dor do Genesis oppbe uma divindade superior aa serpente Adisecha ou Ananta de figura disforme, dormindo e flu- ctuando no Narayana, ou mar primordial, durante as peque- rlas destrui~6c.s do mundo! !

Eis a religilo cantada por Valmiky, C O ~ V O de hXoyses, e

di~ioisada por Micllelet por milhares de francos. Serb de grande valor a Ramayna, corno epop&a, mas

a religiao 6 pueril, ridicula e digna de todo o despreso. Tenho feito estas digressfies por ter visto alguern collo-

car muilo acima da religilo da cruz a phantastica rcligiao dos Indos, e por ver que o espirilo, que inspira o despreso das sanctas e sublimes instituiphs do Christianismo, tem- se deirado ir nas azas das feiliceiras o mundos e mares extraordir~arios.

Sim, aqui em Coirnbra assentou-se esse telho incompre- liensivel a render luz em estglo escuro e mergulhar-nos

Page 21: Goliath - fd.unl.pt

rlas aguas do Ganges para nos alliviar do cbo arido, queete e sufforador de Jerusalbm.

Esth-nos erlsinnr~do a rir das crendices de Chateaubriaad, como diz o sr. Camillo Castello-Branco.

A seus nmadores, sin], e aos que nem sabem que ellc existe, C: quc ter~ho ouvido cantar as ultimas series do sr. Hercularlo; sem, ncm ao menos, aa generalidade, Ic- rem lido uma sci linha d'estes escriptos ultimos.

Depois da religiho de Israel apparece Christo, refurma a religilro antiga, e ao que era s6 compalivel com as circunlstnncies especiaes do povo hebreu, substituiu prin- cipios illalteraveis em todas as epochas, ensinando uma doutrina magestosa e divina, e que tem feito curvar d e admiratgo plofunda os maiores l~omens de todas as epo- chas, como Newton, Pascal. Leibnitz, e tantos outros, que mostram que o homem 6 na c r e a ~ g o a inlagem bri- lhante e gloriosa de um Deus universal! homens, que se ngo envergonliam de curvarem-se dinnte da cr~rz, symbolo da mysteriosa redemp~ilo pelo m a r t ~ r i o !

E serh Jesus Christo, esse bello mancebo de cabellos on- deados, esse admiravel e birtuoso homem, que se esconde ria solidao para chorar os males e soffrimentos do huma-

uidadc, a mjsteriosa incarnay80 dc Jehovah, ou apenas

Page 22: Goliath - fd.unl.pt

tlm sublime ph;losopl~o, iictima de serr arnor pcla Iuz, j d i l

v;rtudc, c pela glol ;osa ci \ ; l isa~Jo da humarridadc totlo ? Ob! se Jesus Christo niio d Ilcrls, etr CII~VO-me di,lr~tt)

do homem admirnvcl, s~tl)limc e cxtraordictario, qoc off'e- recc a fronte nos ferros do rnarllrio sem urn gcmido, 11cm maldi~ho; que cstcode 0s bragos sobre a cruz, e entre 4ntlglle c Iagrimns diz corn rn:lr~sidiio e paciencia incompre- I~cnsiveis : - Eis a viclima para umn religiio de luz, clc :~nlor e dc liherdadc !

Gloria a esle homem, qoe assoml)r~ou o proprio Etcrr~o Ira 11ar.monia dc srtas csplicras de fog0 !

Se o hornem (. o anjo coroado de hor~ra c de gl~r i i l , a imagem de Deus pels intclligencia e pclo cspirito, scr;i vergorllla atloriir esso Ilomcm, rlascido na pobrcza, ccquc 1130 tinhii onde recli~lar ;I frorite, quando as raposas tCern corn, e t~inhos as nics do cko?,)

Sera demencia adorar esse PEQUBNINO, nascido para n6s, clue subiu ao throno do imperio da civilisa~ao e da luz. previsto e adorado seculos i~ntes por um homem estraor- (linerio, com os nomes de Admirarcl, Forte, Pae (10 st'- ,.ulo futuro e Principc da paz?

Quero tcr n louc~lra de prestar l~omcnagem ao l'ae (lo seculo futuro de lsaias, ao Ileus do Christiar~ismo, e ilo

Princlpe da paz e da civilisa~io modcrea. E que magr~ifica e arrebatadora 6 :I srra doutrioa, yue

uos cnsiria a caridade no sileocio, 1180 para o s t c r ~ t a ~ a o pG- blica, mas para a l l i~ io dn desgrily,~ c c.ot~solayso d i ~ con-

sciencia !

Page 23: Goliath - fd.unl.pt

Scrii sul~er'sllqiio irdorar estc llolncm evlr aord~nario; 111a3 conli:sso q i ~ c me curvo dinnle das paginas (lo E ~ a ~ l g e l h o , porqoe nadn tenho lido t5o profundo, (20 mn,ncstoso e t8o divi~lo.

Sc Jesus 1120 i' l ler~s, cu adoro-o como ao Scr Supre- mo; odoro cssc liomeni, intinitnmente mais uiil ao orgn- lrismo social qlle o proprio Deus na sua indilf'erc.~lyn para com o lidar do homcm rieste globo, entregue no sell pro- prio destino, scm o amparo do cko !

Esse homem, oascido enlre os rochedos de Bethlehem, sobe ao cimo do monte. Por um mysterioso iml)ulso se- guem-n'o nlguns hornens, que elle rcune em bollii dc si ; cnsina-lhes aquella rnagestosa doutrir~n do Evangellio diiinte de grande multid2o de gente, e diz-]he: -rcsplii~rdeyo a vossa luz dinnte dos liomens! ensinoe no mundo nesta dou- trina a glorificar vosso Pae, que e s t j nos cbos!

Onde exi-te um poema, que cante um heroe tiio admi- ravel, quc, depois de proferir no cimo do monte os mais sublimes sentimerrtos tle um corayao \~r tuoso, entra nti1~li~ ~ ) c q i ~ ~ ~ ~ ~ a ~ ~ c i i corn os Apostolos da luz, calie prostrado

de cansi1r.o e de fadiga, dormindo sohre as olrdns tempes- tuosas do mar dc Tebcriadc?

0 vcrrlo encrespavn as nguas; ii barca submergia-se; a

tempestade tinlia cabido sobre Teherinde; os homens d o mar empalideciam diiltitc da bravura das ondas e da furla do vento; e elle entretnnto dormia! .... dormia com a pla- cidcz t l i ~ \ ~ r ( u d c !

Page 24: Goliath - fd.unl.pt

Levanla-se ii \ox dos que recorriiim no scu poder, cs-

terlde n mao sobre as aguas, e seguiu-sc um c60 limpido, um mar d e hona~lya, h furiosn 111cla d i ~ tempesti~de !

Gloria ao homem extraordinario, clue da dcsordem, da lucta e dns trevas, tirou a harmonia, a paz e a luz !

Mas o genio profundo de Isaias tinha ante\isto na sua vis'io sobre Judii e Jerusalem, qrre se havia de juslificar o impio, ao j~rsto negar o seu dircito, e que I~aviam de blas- phemar do Sancto de Israel.

A \isso cumpriu-se. Esse Principe dos seculos futuros, esse Sancto de Israel, ou esse homern dos almas positivas, expira mart!r de srra dor~trina entre maldicaio, ignominio, dor e angustin, para ra i i~r do alto do Golgotha a c ~ t r e l l ~ l da cruz, o sol da redempya0 universal pela resigno(.Zio, par, amor fraternal, e pariencia no soffrimcnto !

Expira no rnnrtjrio, c na liora do sell possamento a luz da creaqao apagou-se, ficando tudo envolvido em trevas e lucto! a natrrrcia tremcu em todos os pontos do espaco, o sol no seu fulgor eterno, e Dells viu vacillar o sua crea- qso na extrema dor de um martyr da lux!

Quem era, pois. esse homem admiravel, incomprehen- sivel, que fez tremer por urn momenlo a solidez da terra e a profunda harmonia do cko?

Quem era csse homem, levantado do tumulo, e subindo em glorioso triumph0 a0 seio da Providencia?

Seria uma mysteriosn ericarnaqfio de Deus no rei da creap80, no anjo coroado de hotlra e de gloria?

Page 25: Goliath - fd.unl.pt

Era n Providcncia idcntificadu ria sua imagcm intelli- genre sohre a face da terra !

A moral do Evnngelho 6 n lei universal da humanidade. Altea-se um gerrio num seculo, mira no alto uma luz vi- vificadora, e pretende rasgar o b60, qrre envolvia, como nas trevas e no gel0 da Siberia, n hemanidadc, qae aspila ao sol dn redempya0 e no color do progresso!

Surge dos mares o gcnio altivo de Bonaparte; com a espada sobrc o mundo, como o genio da tempestade, der- ruhn os instituiq6es velhas dos povos, iyando-se nas prayas c nos cnstellos a bandcira dn civiliso~ao, ensopada em sangue de umn guerra fratricida ! bnrideirn vermelha, sal- vada, errtrc Ingrimas e hjmnos, por milhares de tiros do rnnhiio, e pelo clioro lrorrivcl do inferno das na~Ges!

Nnpolefio era a re;lcqao do seculo \IS, activo, grande, I~vre, cor~tra a indolencin, sornno e cscuridAo, dos sec~llos arrteriores.

Mas era o anjo de glorin c dc cxlcrminio, que desde o Occidente d i ~ Asia ntb no extremo da Europa, a cclesle Cintra, e~tencliil w a s azns de fogo. Quiz viver pela guerra ; quiz refornia~. a humnnidade pelo fcrro c pelo sangue ; mas o ferro desafia o purrhal e a espadn ; o roubo incita a ra- pinil e n desordcm, e ;I lei da Providencia executa-se - tudo o q r ~ c t rm pcln :llcrra, pcln grltJrra he de voltar.

Page 26: Goliath - fd.unl.pt

S a sua arr~hiqao itlfinita esqueceu-se de ulna lei irnmu- lave1 escripta 1800 annos antes da sua existencia. 0 s pria- cipios fraternaes do Evar~gelho deviarn ser a norms d'esle grande getrio. Segrliu um caminho opposto na direcy80, clue deu ao moudo moderno. Poi a fi~talidade de urnn epo- cha !

Fatalidade de gloria no domirlio do muntlo, e f;ltnlitlndt: (lo sofiimento num rochedo do Oceano !

A agrlia, qut! lita o brilhantismo do sol; que yuer me- d i r cot11 suns 37il5 o C ~ O e a terra; que, pelo iostincto dil realeza, sitbc :IS ;tl!uras piIra domirlar a crony'io ; se cahir cleslomhrndn 1t('Ii1 luz tlos aetros, q r ~ e r13o se prenda tarn clscuro csl)ilyo it ~clolrza (10s ares!

Coillcml~le i l o mcrtos o irlfinilo ecpaCo (lo cCo, sun [);I- trtn!

A Protidenriit no nr~jo c.itI~ido de seu throlto de gloriit dell uln cyilio 110 meio do Occarlo, nos ~.oclledos de San- cta Helena, onde a illma de Bonaparte podia cstcnder-sc sobre ii face immcllsn das aguas, c mcrgulhar-sc no infi- nit0 cspaco dos ckos, quc tlnha sobre a fronte !

Admirn-se estc honlem altivo, que regando a terra dt' sangue fez gernlinar o mulldo modcrrlo, e com a espadi~ nn miio aporltou a civilisa~'io e outro destirlo a este seculo.

As instituiqaes ~ e l h a s , abaladas j i pela revolup'io ante- rior da F ra r l~a , clerrubaram-se, e for am-lhes su1)stituid;ls outras reclamadas pels sciencia e peln irtllr~encia superior dos tempos.

l f n s n que ficou dc 116, o clue ~xi4i i1 , e I I ~ I dfl srgnir iI

Page 27: Goliath - fd.unl.pt

esistcr~cia (lo mundo, foi n Ici moi.al d n anlurezit, o amor t l i ~ hun~nnitladc.

A Aguin clil Franqa fixou com orgultio este sol crguido ao Zenith, e cal~iu deslunlbrada no meio das ondas.

A moral do E\i~n,nellio 6 a lei universal da humanidade, inalteratel t ~ o meio de todns as rcformas das instituifties sociaes dos povos; catla gera~f io escrc\e no grande codigo r l n ~ leis um artigo, reclamado pelas ~~ccessidades d'essa epocha, que amplia a' Ici nntcrior, ou a revoga. B sempre uma lux nova, que se accctltlc I IO cCo dc urn paiz; rnas a

lei ,de Jesu Christo permanece sempre, como urn verso do C ~ O .

As instilui~6cs soclaes nlterarn-se nas leis com sua forga fktnl; c rins ideins predomi~ial~tes dos grandcs homens d'cssa cpoch;~, que 11;io dc amaldiqoi~r e fazer caliir o codafalso, cmhora dcfcndido por lnilhnres de l ) ;~~ooe tas !

Mas o npostolado do Christianismo, as doutrinas do ;rande Poulo, hno dc assombrnr a glorin dos I~omens, cx- ceder as instit~iiqOes civis, que se limitam ao mundo, para

nos abrircm o cko de oma eterr~idade gloriosa ! Appliqiiemos agora estas verdades, trafadas rnuito por

alto ern ronsideraq6es geraes. .-is tloutrinas do 1)eus mnrt j r 1120 foram so para os fi-

lhos de Jcrosalem; o martyrio de Jesus Christo foi a re- . tlemp~Bo da Iiurnnnidade toda ; era urgente, pois, que se

espalhassc pelo mur~do todo quem falasse na lingongem da cnl-idade, h irnitacao de Christo, as instrucq8es e doubrinas, leis e virtrides do Principe da luz de Isaios:

Page 28: Goliath - fd.unl.pt

i)'aqui a origcm do apostolado, a neccssidadc (10 culto cutcrno, e ii r:~zJo fundi~mcr~tal do Catholicisrno.

Que serin das s~rblimeq vertlades do Evangelho, se hou- Icsse apcnas a lei christa, sem o ministrc?, que pela cari- dadc, pelo amor. pelil instrucc'io e pelo esemplo a levasse a toda a humanidade. para quem foi feita?

Urn c o d i ~ o civil, por esemplo, embora fosse cscripto pcla rnao de I)eos, se nilo tivesse uma applicn~ilo prhctica na vidn sociirl, scria, sim, de uma v e n e r a ~ ~ o profunda, corno lei dikioa, mils sem rltilidade e scm interesse para ninguem.

Essc po\o, quc despresasse essa Ici divina, 1180 se ele- varia, de ccrto, acima do quc ~ i v e na ignorancia e debaixo (lo pCso dc uma legisla~iio bhrbara.

Umn lei berrcfica dcmnnda a auctoridade, rille a faca respeitar para A fclicidade pCblica. Seria de contrario um ~ontri3-sc11so.

I'or coosequencia dcsconhcccr t~ nccessidade dil Egreja, negar sun instituicq'io divina, C niio s6 ignorar os principios nrars rudimcntares da logica, se n80 tambcm pensar ~ I I C

1)eus viria dar-nos a moral sancta do Evangelo B custa do martyrio, para o curto espaqo dc sua vida.

I? iguorar os profundos escriptos de S. Paulo aos povos 00 mundo, a catechhse de todo o apostolado.

0 s Actos dos Apostolos no capitulo segundo levam ti evi- dencia qrre os discipulos de Christo deviarn levar ao mundo todas as ~e rdades , que tinham aprendido do Martyr do Calvario.

A soperioritlade de Pedro 6 a basc lundamental, a m-

Page 29: Goliath - fd.unl.pt

250 de ser do rcpresenlnnte dc Dcus nn onivcrsnlirlndc (In egrejn.

S6, por Innto, o Ilomem crnbr~~lecitlo, ou i~~fli~nimndo par lirn odio incomprehensivel, pcide exaltar o protestiintisrno, corno hi~rrnonisatlo corn a liberdade e corn a ri1~30, mnis que

o catholicisrno. N l o se cornprohendc, pois, que, sc~ltlo e1idcnt.c qnc os

corpos Icgislativos tecrn tic allcrar n Iegisla~3o nritipa, sc- gundo as necessidades das epochas, queira algucm a r p - mentar dns leis anteriorcs e dn sua rcforrnn, para ;r ~ ) o u c i ~ firmeza do legislador, e espirito de dcvassid?to, qoc o do- mina.

Essas leis dos concilios, esses dogmas da Egrejn Itn- matla, t4t:rn sido de rnaior utilidiitle social, que as theorins dos pnbl~cistns, ou que os disc{~rsos os mais profu~rdos dos

mesrnos oradores silgrildos. Ora, como irnnginnrh o sr. Ilcrculnrro, que poss;i lraver

uma assernbleia legisli~ti\a, ondc ha for~osarner~te opinibes encorrtradas, sern discuss?to r e ~ ~ h i d a , e de mnis a mnis em decisaes momentosas, e dc grandes responsabilidaclcs pela rapidex da rcfor~nn?

Imapinitrin ellc, qrle os legisladorcs de Trento, apenas reun~dos na assemblein do discuss%o, ti\csscm todos urn pensnr ur~ico. e se casnscern todas as itleias, todas as voo-

tades, e totlils as intelligcncins ? Para que escnrncccr da clecis50, sti portluc t l~rrnr~te a

disc~lssao houve calor demnsindo c lucti~s rcr~liitlirs? Esta argurnentirr;iio C. fillla tla ifnorancia ou d i ~ mh fb?

3

Page 30: Goliath - fd.unl.pt

Todo o quc grofrssa o catl~olicisl~lo tem obr ign~ao de qe curvar B Ici r~l t im;~ (10s concilios, sern que a encrgin da discuss30 deva dimirruir n crcnya e o respeito.

Porque uma lei portugucza tivcsse s~t lo muito questio- rrndo, c tivesse dado lognr a nm debate energico no par- Iilmento, podcria nlgoem pdr em dlivida a sua legnlidade?

Pilra q i~e , pois, o sr. IIcrcul;~no, pela lucta entre os le- gisladores cle Trcrito, d ~ ~ v i d a do interven~Do divina na de- cisao final dos corlcilios?

Certamcnte que se niio viu aioda nrgumentaqao assitn. Vcja-se a primeira parle (la seguod;~ scric sobre o ca-

s i imc~~to civil do sr. A . IIercrrlano. Ilistoria i~lli ns corl- tendas, qile Irouve d u r a ~ ~ t e os primeiros annos do con- cilio de Trento, sobre n a n ~ ~ u l a ~ h o do casnmcnto cln~idcs- tirlo; c (la luctn cle tarltas opini6es e~rcontradas sobre tnl tlouctrina, narradil por Palavici~ro, du~i t la (la iospiraqao di- \ i ~ ~ i l ni1 dccisDo do dccrcto canor~ico; sen] Fer que errtre tnr~tos era foryoso liavcr opillifies diversas e oppostas, em- born rosse vcr<dadeira a decis'io final.

Durante as sess6es da commissao recisora 1150 lraveria cliscoss6es acaloradas sobre este ou aqr~elle nrtigo do Co- digo cilil? E lembron-se algucm de perlsirr que a incoli- itmiencia do casamcnto c i \ ~ l veio dos debates eritre os mvmbros dl] coinmiss20 ?

Ccrtarncntc i. rrrnn argurncntayao original n do sr. Her- c ~l ln~ lo .

Aquella nllusSo ao c\tremo cuidndo de Horna sobrc o

c;~stc~llo tlc S. Angclo, t a mnis evidcnte pro\.a do odio e

Page 31: Goliath - fd.unl.pt

rancor ao catholicismo; odio jotado nns tre\as. que nao tem a franquesa de manifestar em \ox altn.

Scriil, acaso, conveniente que se pntcntcnsscm ao pu- blico todos os dcbatcs e os mnis numcrosos trabalhos do concilio de Treoto? Que intcrcssavn o catholicismo com isso 7

Scria, por vet~turil, converricnte que os trnballros, as discussaes, as cspeciirlitlntles at6 da co~nmi&io revisora vies- sem annexas ao resultado final de tnrlta ql~estiio? Tem-se vislo o projccto do Cotligo da commiss80 rcvisorn, c crcio que 11n0 se viu nirrda 16 sen50 a ultima tlccisiio d'ello, or- ganisada em artigos.

S c se gritassc - Sola das sessijcs, s,~la das sessc?es,- o que dirias tu se fdll,rsses !... rrao seria urn gritar desvairado?

A obrigay80 de todo o ~ I I C ~)rofessa ;I rcligi50 rhrista 4 I prcstar obdierrcia aos Concilios (la Egrcjn em ot~jccto do-, gmatico c doutrina sacrnmerrtal; e rliio Ihc i: dado ir, corn1 a paisno na frente, par em di~vida a interven~3o celeste, porque liouvessc umn discuss;io acillornda dnrantc o Con-

cilio. I

A lei mais justa, a mais reclnmntln pelns r~eccssidades da epocha, porque foi debiltitln nrcw psrlanicrrtu, ncln por isso cleixa de ser ulna lei necc~saria e ulil.

Umn das leis portogl~t*zns, a mais jnstn, mai5 ncccssilri:~, e perfcitamcnlc a tracl~ic~?to (In plrilosol~l~in do tlireito, 6 ;I

lei da des\inculn~ac. Ileu logirr a grandes qurstGes no corpo 1c;;islativo; e l o ~ ~ c o seria cllrt7m tl'i~hi cl~iizcssc tlcdu- zir a slla injrrstira e illegnlidadr.

. .

Page 32: Goliath - fd.unl.pt

Admira, pois, q ~ r c uma alma grande, corno a do sr. A . I l c r c ~ ~ l i ~ r ~ u , r13o comprehendesse a grandeza dii idcia pclu farto de scr combatidn e defenditla com criergin.

A prirneira pnrte da segundn seric dos estudns sol)rc o cnsamento civil do sr. IIerculano vcm escandecidd por urn fog0 tco npaixorlado, que aquelle caractcr scrio c impar- cia1 de historindor dcveria ar re~~er~dcr-sc d c cscrever o quc tlesaereditava mksnio o nlerlos iriiciado nas linrrn~6es his- toricas e na apreciaq8o pacitica e intelligcnte dos fxtos. A philosophia da historia cstir mais no alto !....

Cornpreheode-se quc se diga da justic;~, da vnlin, d n

r~tilidade ~lrhctici~ de unla lei, 011 qrrc sc I I ~ ~ ~e j a rn est;ls t~udidades e q i ~ c se rejeite como prejutlicial. 0 Irgislador tern tliante dos olhos os prinripios unitersncs e etcrnos do direito, tcm demais o qnndro dii citil~saciio da cpoch;~, ilq

circumstnr~cias do povo para quem sc legisla ; tern a histo- ria, o espelllo das gerar'ies passiltlas, e tcm a instituiqao prophcticn do futuro; tem, pois, urn livro imrnenso, onde p6dc estudar a lei mais justa, mn;s util, raciortal, provi- der~cial e reflcctida.

llarmonisc! com essas riorrnas a disposiclo, que tern de ser urnn lei ; mas recuar ao passndo para profannr as in- stituiebes mais saoctas, mais utcis a o progress0 e a todii tl soci~diide, n5o sc romprehende: e charnar-se-lla a islo ignorancia, para se 1180 cllam;rr pervcrsidade.

Esnggcrar a tloutrini~ do E~angellio, pora, sinlplcs e so- ciirl ; levnr muito alem os dogmas e preccitos do catholi- cisrno para nos collocarmos ern a~ltagonislno com o yro-

Page 33: Goliath - fd.unl.pt

grcsso c civilisarao vcrdadeira, 6 fanntismo despresi\cl e nbomiei~vrl. 0 s horrorcs d i ~ iric~uisi~lo nbominam-se, e no \asto ccvnitcrio do passado levantou-se-lhe um tumrllo d c rnnldiq30! A llisloria escrc\eu em pnginns de lucto a bar- hnri~lildc e ignornricin d'essas epochas, e a pllilosophia co- I~ r i~ i - i~s rle urnn mnldic3o ctcrna.

E quem tentasse levantar a pedra tumular, ~ I I C cohre o cadaver mnldito do Sancto Officio, para reviver o espe- ctro de amarellos deiites, rnngendo de ira, seria reacrio- nario, urn monstro das trevas, um demonio, iiiimigo dos rnios da lrjz do d o !

Mas serL far~ntismo, serd reac(.lo, erguer urn brndo con- tra a profanaylo do que Iin mais sarrcto no homem-a crenqn, n religiao, a vida d'alern e Deus?

Fulmine-sc o que 6 digno da sentenfa de destruiylo. E r p s e o cadaver do st~p~)liciado, c suspenda-se ao escar- neo e nhorninny;io geral 110 pelouririho d'uma ~ n q a puhlica.

&Ins 1150 se fafa o innocelite Abel martyr da perversi- dade de Cnim.

l? a maltadex, 6 o rancor do tigre, que domino. 0 ho- mem, qoe, sem tliscrif30, chama reacciooario ao mais sen- snto, e muitns vezcs mnis liberal em suns creoyas, deixae-o passar, que lcva comsigo o varldalismo do tiorte!

0 seu ~nlnrd80, o hymno da victoria, n5o se cnnta em verso ou prosa apaixonada.

Se 1130 fdr o fiituro, pelo menos as almns superiores per-

guntnr'io :--((qua1 o ideal supremo d'este defensor dns li- bertlades irltimns ?))

Page 34: Goliath - fd.unl.pt

IS c r ~ c u ~ ~ t ~ a r j o a rcsposta: - ct6 a vaidadc, o orgull~o c o iilcal dc Golitltl~.))

0 sr. IIcreulano devia firgir de pertencer ao apostolado despresivcl de grande numero da imprensa periodic3 de Por- t u ~ n l .

Fallar em libcrd:lde, e nso cornpreherldcl-a; fallar ern progresso, e estar scpoltado rbn esc~tridfio; Fallar en1 digrri- clirde e lionra, e desconhecer nn vida publica esta gloria (la nlma; sorihar sernpre com a fclicidade da patria, c crilvar- Ihe no corayso punhal;ldas de assassinn : cis n scie~icia, r politica de grantlc partc do jorrialismo portugucz!

Niio 6 liberdadc, porque 6 prejr~dicial B marcha regu- lar da sociedade. cssa linguagem de \ergoolla profunda. s6 por um dcspeito partidario, cor~trn os podcres superiores, atacnndo-os oa dignidade mais intima. Se isso 6 Ilherdade, 6 umn liberdade como dc tufiio, que w r r e tudo por onde pmsi~. a a 1il)crdadc do anjo das trevas!

0 progresso 6 um degr6u nvanqado da hurnanidade para n luz, pouparldo afflic~so ao dcslerro e 6 desgraca: e nmar n felicidade publica n jo I , , de certo, interpor-sc en- t re o miriistro e a acy'io governnmental, para proclamal-o ladrao c irifame, intorpecendo assim os passos todos do motimento social.

Page 35: Goliath - fd.unl.pt

K l o (': libcrdadc i~pontar corn o dedo para as pessoas milis rcsy)oitaleis do riosso paiz, e gritar como possesses: - Lii ontram dois rcaccionarios para os conselhos da ~01.63 !

Fugi (10 contncto d'esses inquisitoriacs! Estamos na cpo- cha-dn devassidiio moral !

Esta liberdade I? vergonhosa, aviltante, prejudicial 6 fe- licidade pr~blica e profutlilarne~~lc despresivel.

& esta a liberdade dc grande nrlmero da imprensa pc- riodica, B a liberdade tlo I'orttcguez tin aprecin~ao (10s srs. Cosal Hibeiro e Illarteris Ferrao na soa eotracln para os cull- sclhos da corda.

Qtre crime toem commcttido estes homcr~s respcitnveis? scra o de defender em riornc da libcrdade o pile t l o liiir- monisado est6 com ella?

0 ideal dos espiritos superiores n'io 6 o despeito e umn vinganqa! se os garolos das praCiis 1130 vCem outro ho- riso~lte e espaco qrle o campo do pogilato, o sr. A . Hercu- Iiino n'io d c ~ e pertericer il ~ s t e exercito chasqueador e mor- tifero.

l?, acaso, libcrdade c progresso o cobrir de ignominia os l~omens mais eminentes, habilitados para dirigir os oego- cios poblicos, so por urn despeito fnccioso?

Isto e que 6 devassidno; 6 a reac~iio da impiedade! 0 sr. Herculano espnnta-se ao mais pequerio movimento;

o mais pequeno tremor de terra ~)arecc-ltie o annuncio das dbres dc parto do glo1)o d'algr~m monstro dn inqttisic'io ; o

roncar do trovso aflignra-se-]he o hratlo do sel\.i~ger~l; oy I)iriliciros da collitia urn cbro de coorlcmt~utlos ilo inl'errio !

Page 36: Goliath - fd.unl.pt

15 dcp~)is, rLI rcacyfio crn tudo; e chama reacciol~erio a

Lodos i~iili~tinctamenle.

Sabido, um momento, que a religigo 6 necesssaria; que tie todas n religiiio christn 6 a mais social, liberal e divi- na ; qrrc o calhulicismo 6 forci~damcnte rrecessario : como clilssificar-se o escriptor, que vni profanar o que ha milis justo e vcrlcrnndo nas inslitui~Bes do catholicis~iw 'l

0 logislador n5o d e w corltcmporisar corn um cap~icho au dcsvairamento particular ; as uormas da lei s t o mais su- 1)limcs: como, pois entendcr-se que se queira compor uma lei li vontade d'algum marrrjo ioglcz?

O amor, diz Bcrrrardin dc S;lirrt-I'ierre, s6 chega a ser I irtude pclo mntrirno~~io.

E a lnissao do Icgislndor (I! harmonisar n lei corn a vir- tude, corn a mori~l, com a jnstica, com a liberdade social, e llrirlca modelal-a pela voritade individual ou pelo desvai- ramento dc qucm yueira scparar-sc do grernio do egreja.

A sciencia philosophicn do dircito nJo corihece outra luz quc o fulgir do priucipio etcrno do justo e do bello; c esta lnesma sciencia, harmonisada com n moral, corn a historia, corn as circumstancias cspcciaes d'uma cpocha, reage e lu- cta com encrgia contra os refurniodores irreflectidos e riuncs

Page 37: Goliath - fd.unl.pt

libcraes, que rnuitas vezes ahi nos apparecern corn miras de prophetas.

A verdade nasce entre os pokes livres; Deus foi adorado pelo povo da Greria, esclarecido c libertado; pelo povo de Israel, solto dos tyl-annos do Nilo; nunca pelos escravos d e Nero, pelas cidndes de Rlemplis, Roma e Bab~lonia-ci- dades escravas da idolatria e do opprobrio.

Ha tambcm ao lado da r e a c ~ j o da scienria a r ea r~ i io da 1iI)erdndc !

Esta quesl'io social do cosnrnento secular foi o sol que illurninon o campo da bntalha, c quc discriminou os dois escrcitos cstcrididos no ~ n l l e dc Terebiotho.

0 s I'hilistl~cus cspernrnm n vicloria no gigante de Ceth; nrns a f o r ~ a collossal do gigi~nte da bcira-mar tahiu urn dia debniao da rniio Sragil do piistor de Bethclehem.

Foi i1 r c a c ~ a o dc Dcus contra a forqa e orgulho altivo do gigante Goliath ....

Espcramos que 110 parlamento se apresente o David, que derribe o collosso dc Cell1 11a frente dos Philistheus, eslenditlos neste allc de Tcrebintho !

Page 38: Goliath - fd.unl.pt

E~rtrcmos ricsta scguutli~ p a r k na analye directa da qncs- 150, qrle >e tcm debatitlo corn tallto vigor, c digam03 duas ~)illa\.ras sobrc o casi~merito civil. 0 sr. Elcrculano, viudo a i n ~ ~ w u ~ s w l e f e n d e r o cor~trarto conjugal, confessou que mo- tivos bcm rstranhos a intcrcsses puran~crite sc i~s o obriga- vam a cscrc\er sohre rste objecto; e ouma defesa do con- t r a c t ~ , nlagislralmcrrte el;~borada, pasmou da opposi~iio, quc encontrava o projecto nos pracas. 110s cafks. rta r e l ig ib do clero, na rcligino do povo, cmfim na consciencia da na~i ia , que 4 o sarlctui~rio do opinijo publica.

Arlrniroo-se de que o povo se nso ajunctasse em massa em volta da Comrnissno Revisora do Codigo para agradecer- the, de joelhos no chno, os esforcos d'ella para o progress0 c ci,ilisnq8o dil patria.

Osdesprcso dos trilbnlllos da Comrnissno era s6 digno d'um paiz de sclvageos, disse s. ex,"

Che@rnos, pois, h razio, que me le\ou A escripta. Estil, porqire do furldo de me11 coraqao fui senipre con-

tra to1 projecto, e outra razno tl'orgulho foi estimulo para isuo.

I'cdiram-n~c quc assit;llas~e contra o projecto; assenti ao

Page 39: Goliath - fd.unl.pt

ped~uo, mas n2o querla que lessem o mcu nomc romo tentlo sido escripto a~~tornnticamer~te ; aqui vai, pois, um protest0 solcmr~c de minhn consciencia.

Sou c i d a d ~ o portugucz ; e se so11 rapaz ainda, se 1120

posso regencrar o mcu paiz corn idtlas de tilnto alcance corno s. ex.", 1120 prbzo por isso nlenos o seu engrandecimenlo.

Tinha, dcsde a appar iyh do projccto, bem no Tundo dn

alma, um brado cor~tra a l)rofanay30 d'uma crcllqa do ~)ovo, toda de poesia, q ~ l e n'io estorvn a marcha do sect~lo.

Mas desde o momento em que li que o sr. Nerculano chamava selvngens aos que n;io acceitavam de bom rosto o projecto, quiz repellir o epithet0 collective, que s. ex." as- sentavil sobre mim.

NBo desco~~heco os immensos servicos do sr. A. 1Iercu- lano e de seus collegas na revisto do Codigo; mas permit- ta-me s. ex." que lhe diga, com a franqueza da mocidade e sem faltnr 6 dcccl~cia, que foi demasiadametlte injusto para corn seus adversarios na q o c s t ~ o do casamento.

0 apanagio dos tempos modernos 6 a liberdade de cons- ciertcia, 6 a liberdade da crenca, 6 a liberdade d e pensar, que 6, corno a. ex." diz, o artigo mais sar~cto do credo li- beral.

Muito hem! se o sr. A. IIerculnr~o assim pensa, porque nBo perddn 6 d i r ec~ao da i~~telligencin dos outros, e para qrlc ha de amnrrar uns no obscurantismo do passatlo, e col- locar sobre a srla frol~te o diademn dos apostolos illumina- dos do fulnro?

Elle me pertlcic de tcr-lhe esigido uma rcsl~osta; diri-

Page 40: Goliath - fd.unl.pt

+me a s. ex." porque o venerei como um dos pensadores mitis proli~ndos do meu paiz, e um dos poctas mais ill- siiirados; 6 iatclligcncia do philosopho, ao coraqao do poeta sc dirigirilm estas poucas linhas.

Mas escreber na actualidode, em que a palavra l~hcrdade 4 pari1 todos um nome, que encanta ; I c ~ a n t a r a koz contra o delirio irrellectido, f6rn do dever e do seaso, hem sei que 6 Inucul.a, qlle reclnma desprezo, e lido serh tudo com escarlteo e comn~iscrn~iio talfez.

Mns que importa ? Console-sc-nos a alrna de expaudir-se tal conlo pensa,

e ser livre em malrifestar-se colno rnciociua. Para uma alms eoergica, para urn espirito nltivo, a mal-

dirBo dc todos C mellos que a voz dn co~rsc ic~~cia ! A erenqa, a religiao, a pocsia do dogma, a philosopllia dn sanctifica- y ~ o do amor, 4 o ser~tirnento, quc ocho no fundo da cons- ciencta, onde tem vintlo echoar a \oz de grandes escripto- res, que teem proft~ndado o poder do cstado e o poder de Rorna.

Quc nos acompanhe pelo nlenos a nobreza de sentimerl- tos.

Antes dc eotrar, porhm, ria ana ly~c cl'esta questso, de- batidn na irnprensa em face (la n i ~ ~ i i o toda, a ~ o z da coos- cie~tcia i~npde-me o dcver de prestar ltomel~agem b liber- d ide ur~i\crsal, aos doces viuculos, que tern prilso ao seu cult0 o mulldo cibilisado.

Digamos isto bem alto, para quc ~ ~ i u g u c n ~ ouse olhar-

Page 41: Goliath - fd.unl.pt

nos inimigo das idbas do scculo. q l ~ c scjnm n virtudc dn ci-

vilisa~5o moderna.

0 s concilios da egr~j i i , os Apostolos d i ~ religito tlc Clrristo,

os enthusinstas dn razno ptlrn, nsscmclhnm-sc-110s Irm pnrl:l-

mcnto solloro e prrbl~co, orltle teem disrutitlo, uns com os

01110s filos 110 cko, outroq corn i) m2o sobre n corrsciencin

nerbosa (lo scculo, cstc import;rlrtc ncto (la vicln Ilnmnntl,

que se cl~nmn r~~ l i ao c o ~ r j ~ ~ g i ~ l .

ApGs a loctn, t l c ~ c ;I Ici rcgrllarisnr ;I riclnl.in.

Eis o que se cSp(!riI com i ~ ~ ~ ~ i e d i ~ d ~ , sem se sill)er n i ~ l c l n

sc o golpe cne sohrc a clireilir ou csc~ucrdn da bali111~i1.

Tenho ~)cnsiltlo, se n r~r~i$o B mull~er de\c scr ;I t r o d ~ ~ c -

130 immedinta do insliarlo, dir nltrac~Zo reciprocn (10s tlorls

seres, ou se se tlcvc legilr~nnr cstn te~~tloncia, essc ~ ~ r i ~ n c i r o

elemento tlns nilyces, com f 'orm~l i~s mais sublirncs c vcric-

rarrdns.

0 senlirnc~rto res1)ontle: o 11osso coraq50, quc tcrn omit

tendcnciu pijrir tudo q u i l ~ ~ t o i: inlinilo e grantle, para tudo

o que tcm o cunl~o tle m!stcrioso c tlivino, exl~llir ria silll-

ctificaciio d'essir tcndcrrriii dos this seres, tcrldo Ileus llor

ultimatum de sun irspiri1y5o ! Custo n c r r r qlrc s. ex.", quc tem lido na filcc bclln t l i ~

naturcza, nn milgcstatlc dos mirrcs, I l i l harrno~rii~ dns estrcl-

las, na mutlcz do cco, rrn profirutlc7n (lo infilrito, alg~rmn

cousa srrjwrior ao ton)l)o, ;is leis plr!.lc.,~s ( I ir nossn natu-

reza mnlc~ i i~ l , rlr~c 110s cblc~ir i'~ riosun immortalitlncle, ;I ton-

clencia piirir o Sor So~)rr lno, dcsccssc I r o j ~ ~ i~ pl.ilstnr Iro111c9-

Page 42: Goliath - fd.unl.pt

nagem a rrma 1)tiilosoplrin a ~ ~ s t r r a , Bridn, seln nenhuma \an- tagcm social, e demais em dcshnrmoniii corn uma crerlya innocentr: do polo.

Niio sc receic a profinny30 do catlialicismo porque al- guem possn t ontraliir o mat rim on;^ s6 corno uma formula im1)ost.n ~)clo lei, sem 1'6, Irem creriya no sacramento.

Serh, ])or ventura, o cspirito religioso, o grnnde csrnero ~ U C Iia no sr. Ilerculano peln dignidade dn rcligito, que o tcnha em sohresillto pela possibilidnde de haver urn sacri- Icgio ?

Se assim 4, vcja s. ex." se evnngelisa a humaoidade, se a vincula todii no marljrio do Golgotlin, e ent to ter6 em nadir a di'niculdi~dc, que receia.

Pois h5o clc fechar-se os templos h devoylo dos cren- tes, s6 porqlrc 11nj;i o farto sacrilego de se njaclhnr pc- ~ . ; ~ n t c :i hostia s:i;;rada o que dcsprczc n intcnciio de pic- dnde, c srjn religioso sci aos olhos do publico?

Absurdo. Ha tle partir-se a haste da cruz, le\.aotnda no crmo,

porqi~e o vinjciro, qrie passa, ri e escnrnecc d'este s!m-

bolo tristc (In redempqno u~ii\;crsal iD .4bsurclo c profanay'io. Sc 6 ccrto qae sc p6de obrignr a couirallir o sacra-

mento (lo mntrimonio a algum portog~rcz, qrre ncio pro- fesw o catholicismo : se (I: certo quc para a lei Ihe reco- nlieccr o cnsamcrilo C. prcciso que clle force n conscicn- cia, sujeitnndo-se ao rigor das f o ~ molns, ncm por isso se cs- torva n civilisny~o, 011 sc coarct;~ n lil)c~~tlatl(~ hcm c>nlcrldida.

Page 43: Goliath - fd.unl.pt

Todos sabem mrlito bem que qoalqner memhro d'nma corpora~Bo politicn, para scr ciclntlilo pacifico, tem de re- nnriclar a pnrtc d ; ~ stla liberdadc, e sacrifical-n ordem e exigencias sociars. E senno, para que se niio brada con- t ra a obriga~Ao, ~mpostn pela loi, de todo o mancebo ser- vir a patria por um czrto tempo? n'io scrh isto uma obri- gag50 tyrannica ?

Pois bem. Se B foryar a corrscierrcia do qrle qtler con- traliir o casamcnto o irnpor-lhe a obrigaC80 (lo sacramento do matrirnonio, erltao risquern-se tlc toda a lcgisla~no todas as obrignybes, quc prcndam a maxlma expansilo da libcr- dade indi\idual. Sejamos ao menos col~erentes.

Mas perguntar-sc-11n : que irlteressa a religiilo, que dotis individuos kao, so por Formalidade, nos pC.s do sacerdotc, scm crenCn alguma no m:sterio do acto?

Nilo B Foryal-os a nm sacrilegio? pergunta s. ex." Ainda hem quc cl~cgbmos a um ponto, em que esta-

mos de ardrdo. 0 sr. Merc~rlnr~o temc qne se obrig~lcrn esses individuos

a urn crime nos 01110s de Ueus; e para livral-os d'essa in- felicidade vni abrir-llrcs n porta para otrtro crime. Mani- Festa uma dcdica~no pclo ccltholicismo, n jo qucrendo q ~ l c se commetta o crime do sncrilegio! li: como calholico, es- qoecc-sc de quc as leis dil cgrrja reconl~eccm, como urn peccado mortal, o qtlc vivcr corn mullicr sem a irrterverlyao religiosa ?

n e duas tlma -011 llavcmos de scr cntholicos sinceros, oo 60.

Page 44: Goliath - fd.unl.pt

Na primeira hypolhcse, 1120 sc e n ~ e r g o l ~ h e cllc de cur- var-se, e dizer que o pl~o~ccto cra absurtlo e irrcligioso.

Na segu~ldi~. para que h i l \ emo~ dc tcmcr pcla dignidade dn rel~giao, ot'fe~ididil no avto sircrilcgo? neste caso ests solcmrliclnde na igrcja 1130 tern nadil qrlc ver com o mys- terioso; nao B mais quc uma lormalidade, peli~ qua1 a lei leghima a ur1i2o dos esposos. Por tantn, n3o varigmos de lei, mudilmos as formulas; mils o acto nn essellcia 6 o mcsmo.

Ora, pergunto eu: a vista d'isto, que cmpenho tem s. OY." em quc scja recollllecido pcla lei o cor~tracto civil?

Niio se comprehende. Mas, pergunta s. ex." que intercssn ii religiW, que

contrhiil o ~acramento do matrimonio, aquelle que no in- t i ~ n o dn corlsciencin despreza a religiao que o sanctifica? n lei, quc ligilima esta rrniao s e r ~ blaspl~ema?

E facil respollder i pergunta; in tu i t iv~ i: tamhem a fal- sitlade da concl11s2o, que o sr. Herculano tira d'a lei ser gcral para todos sem distincqao de crenya.

A religiao de certo que nada interessa, senso no culto esterno; mas o que interessa C que a lei, querendo diar uma profaoayTio d'um dogma, n t o seja t l o absurda,! que aggrnve ninda o crime religioso.

Que elle n30 chame intolerancia religiosa a uma creoca intima, quc me glorio de rnanifestar publicamente.

0 pensar assim niio quer dizer que eu considere o pa- dre e o ;rlgoz como os dous elementos essenciaes da socie-

dade. 0 quc, penso, 6 q i ~ c a religiao 6 t l o necessaris a n 4

Page 45: Goliath - fd.unl.pt

progresso social, q ~ l c era urgente impOl-n como lei, se n3o Shri~ umn crerlra do povt~.

7420 se ententla tloc cu sou t~postolo cln tyrania de cons- ciencin, dictadir pclo zelo tlcsvnirado (la inquisiy80, ou peln ambirBo pcrigosn (lo alto clero, quilntlo elln exista.

Espcro ilo mcnos tlos adversarios se~lwtos c ed~lcatlos, que nssim o c:rltend,~m; fici~rvi de todo sntisfeito se con- st~ltnrem a slln cnr\sciencin, sem resentimento d e ninguem, ~)orrdo de partc o ilmor pl-olrr-io, c \er'io que 1120 andir ma1 nvisado, o que n3o deseji~ que ao povo sc facilite umil 1 io la~3o d'um s;lcrarnento d i ~ Igreja.

Se estas minhns ideas fitzem rir o sr. Ilerculaun, e s - pccialnlcnte de atrever-me a escrever-lhe uma carta, fay;- mos en180 urn dueto ; porquc 6 para rir o ver um scxage- rlario dar gargalhadas pclas miserias d;t humanidade !

Espcro, porCm, bcnevolerrcii~, porque de rnim r18o partiu rlr!m :~fronta rlern nmeilCir.

Permiltil-sc-me que cu digs, quc 1180 i. a f o r ~ a jmpe- ratiia d'umi~ educayao rcligiosa, cscrupulosa em demasia, qumne lc\a pilrn este lado ; glorifico-me, sim, de rcce- bcr dc rniaha f;lmilia as ideias religiosas, que t lo bem q u d r i ~ r n 6 p i~zda aldeia. c que me inclinnram dc cri i ln~a !I rcligino do christianisrno: mas sioto-me sern preconceitos religiosos, a trcio ser a crcnca sinccra, para i~juizar d'esta que- sl?io o mais rnzouvel c mnis conforme no bum juizo c senso.

Sou rdpnz, e silllo no coraq3o cstc sarlcto e~~thusiasmo pela expai~s;~o espolrti~nea de rlossa n l ~ l l i l cm todo o qac tem tlc mais terrro, risorlho e arrebatador.

Page 46: Goliath - fd.unl.pt

Nestn cdadc scXntc-sc rrmn aspiray30 itlfir~itn, tlmn tell-

dc11cii1 illdizivcl pnra tudo o I ~ U C fi grilrldc; scr~timos em

116s rrmn ele\n1:5o piIra o iufioito, c~~laqando-nos com ;I

existet~ciii tlc rim Ser, r;~lc st i 1)6rlc satisfnzcr a esta aspi-

r n r k tle rlossil altnn com sun ninge~losa grondeza!

1)c todos os scntimcntos o que milis rlos prende ao m y -

tcrioso i. o nmor! Sellt~tnos urn ciilor, qrlc ckrca todo o

rrosso se r ; o cornciio parece clucrcr dcsprendcr-sc do peito,

occupar o irlfin~to ; o ncm o ilmor da mrrlber, qlle nrna,

p(~(le rncdir cstc scntir incomrnensura\eI dc si mesmo ! 6 quc nspir;lmos il uma felicidade eterlhil, clue se 11a0 li~nila

a fclicidade (lo munclo ! Estc st:ntlrneuto sublime ahrednos o infinite, c a csplrcrcr

da bids este~ltle-se, nlarga-~e indefi~~ttlilmente pnra Ilori-

somtes dc luz, c paril llorestas de voluptr~osi~ii~de c de de-

lirio ! 0 hello, este principio etcrno que reside ell1 Deos, (':

o imar~ dos coracijes : sonhi~mos as clelicias do cPo ; e o

magnctismo celeste nrrastn-nos n nlma, totlo I) uosso ser,

para or~t ro mnodo, urn sonho (la fcli~itl~rdc ctcrua ! Subimos; pnssdmos alCm dds cstrelli~s, mnis depressa,

que um raio do sol; divinisamo-nos en1 contempla~Bcs di-

vinas ; e todas ns ,graCns dil irrnocencin, todos os serrtimen-

tos de virlude e a nlcsrna immortnlidatle do espirito mos-

tra-nos que C o amor o &lo sul)limc que une o cCo d na-

t t ~ r e l a ! 0 amor 15 n lei dc toda a crenq5o!

I? a ordern c n lci do univcrsol . .

Page 47: Goliath - fd.unl.pt

Rrltrc o sol e a terra, crltre o rnundo c a lun, etrtre

tilntos rnillldcs cle esphcras, que rolam pelos ceos, I& existe o nmor como n altracy3o ur~iversol, - a lei do crea~i io ttrdn.

Nas tlores, rlas plt~ntw, nos nrbustos do nlontc, ou nas arvores secr~lares dns florestns, nnirna-se o arnor nas func-

rAcs de fcrurrday80 vegctal. 0 pnssnrinho, cantarltlo no romper da nlva nas manhBs

tlii prirnn\.era : os anirnacs, procurando c chamando corn sua voz pelos carnpos, 1)elos montes, 011 pclos desertos, sua companhcira querida, tal n prirneira phase do arnor, onde no ir~sti~rcto da propapyiio da especie comeCa a unir-se a tledica~80, uma uniAo rnais o t ~ merlos longa, a saudade da ilusencia e tantas vezes n tristezo eterna da viuvez!

Yor toda n pnrte i. o amor a ordcrn c vida do universo e a lei de I)eos, qrle regulii tudo.

Mas o arnor, chegarldo no hornern, ao anjo de g lo r~a no dornir~io do mundo, altea-se, torna urn caracter mais su- b l ~ m c , e urns felicidi~de ir~firlita b n v i s h do arnor.

Nzo 6 stj a conscrva~30 da especie estn lei universal da I ~ ~ ~ m i ~ a i d a d e ; niio 6 o sentimento d'um momento, d'um dia ou qr~ando muito d'urna primavera; o extasis n'ao fioda, a bclleza b eterna !

0 amor do homern separa-o bem d e todos os brutos. 0 lrorncm nBo procura na rnulher so o prazer e a vo-

I ~ r ~ ~ ~ ~ ~ o ~ i d i ~ d e : procurw~rnn mica companhcira, confidente c i~miga, scu sllivio no ithorrecimct~to, conren t ra~ lo d c ~rcb~~san~cntos, de crenyns e de csperonycls, perfeicdes ideaes,

Page 48: Goliath - fd.unl.pt

mundo d . ~ cncnntos, ~ I I L ' 110s ilpl)i1rcccm como a rlrlica ha- bitaczo dos nnjos !

EntSo o nmor C sublime c siml~les; Irma ~~ccluer~ina ciis;i no meio d'um hosque ao lodo d'urn,~ Forrtc, rrrni l bnrc~u i~~ l i ;~ , bnlouynndo-se sobrc as agnas serclliis d'um Ingo, ou mcsmo a cliou1)ana rude numn serra asllcrn, cis a morada felis, que a imngina~ao ericantada nos dcscnlin para a vida inno- cerite do amor.

Ama-se a mulhcr, quc 110s distralle dos t~~ lnu l tos da ci- dnde para as delicias do amor, para o soccgo dn vida cam- pcstre.

0 nmor (. legitimo, 6 sngrndo, 6 semprc sublime desdc e nlomerlto (la nttracgao, r~riica c cxclusiva, dos dois amarrtes.

I? ccrto que a si~r~~tificnciio do nmor vcm dn uniiio de duas almas por umn dedicarao csl~orrtanea e reciproca dos dous scres.

Sci I)em quc 6 esta n pliilosopliin c natureza do amor. No romtlnce, no poema e na conscicncin do poeta, o amor B so isto: e n u~ri?io, n idcritificaq$o dos dous seres 6 legi- tima dcsde ent5o.

Mas nhs, quc vivcmos nn sociednde, hn~crnos de modifi- car nossn crenqn, 11osso pensnr. 6s conkeniencids d'ella; dc contrario esta sr~blimc mnnifesta~iio de nossn alma cahi- ria no desprezo, na immoralidnde e aa prostitoigiio.

Era, pois, urgente que a Ici legitimnsse a u n i h dos cs- posos.

Rlns que cilmcter d e w ter estn lei? Eis nqui a questao. 0 primciro progrcdir do homem 6 o conliecimcnto da mo-

Page 49: Goliath - fd.unl.pt

rnl~d;lctc, c n praclica cle todos os devercs, que mais Ihe as- sc1;trr;lin il sun clig~~idadc mcional.

Scrn il religi%o o I~omorn silcodc dc si, cluebra csta cn- dcin ditiua dc dckeres, quc Ihe impce a sun ~~i l tureza in- telligente c socii~l; e pilril esse a idCa de Oeos (I! urn pre- juizo rearcior~nrio, que apaga toclo o progress0 c toda a

crenqa 110 firluro. 0 Ilomcrn, qirc cumprc o* dcvcrcs sociaes, s6 porqnc

szo i~npostoc pcln Ici, nno pilssa de um escravo timido. cc A lei nnda b qrrantlo B apcnas a express30 dn ootltado

111rmnoa. I? prcciso, pilra a tornar sancta, que seja clla n express50 tla vorltnde divinu. 0 qtre a constitue d e ~ e r C. o scntirncnto, qrrc Taz elcvar n obed~encin a Deos. D

Estns po~lcils paginas d'om dos pensadores do seculo, Mr. de Ltrmartirle, rnostram bem qrle nrn Estildo niio ptidc mo- ralisar-se scm tcr umn rcligiso, protegida pela lei, onde asscr~tc a moral e a birtudc.

Sti a idciil dc I k o s podc dar urn sentido a estas duas pa- lavras, no pen3ilr do graride poet" do grande historiador e do g r a d e philosopllo.

Aqui tern s. ex." unla auctoridade inswpeita, nada in- ferior a todos os que trabalhnrnm nn rc\isao do Codigo, c qrrc tcm 1.6 no progrcsso inlcllcc.tun1 dil l~ornilnidade: b uni 110s ;~postolos das iclcias no\n.i.

Ora, 1130 6 dificil conccber qlre om Estatlo sen1 religiao 1150 tem c\istencia; 1120 1)ilssa tl'uma abstrnclao (lo espi- rito, bcm deset~hacla IIO campo ideal, mas absurda c rich- cr~la no mundo exterior.

Page 50: Goliath - fd.unl.pt

Fclizmc~lte gloriamo-nos de vcr sar~cciorrada a religiiio catholica, no artigo 6." da nossa Carta conslilucional, como a religi5o do Estado.

S. ex.", conlo cliristiio, c 116s todos, cotlfesshmos a su- perioridatle d'esta rcligizo sobre todas as outras, que se veneram em todos os cantos do globo.

Agora sejilmos cohercntes em tudo. 0 cnsamer~to E o mais importante acto da vidn do ho-

mem. Vile e5tc ericetar umil cilrrcira nova, unido a sua cs- posa, que dcfendc at6 6 morte, tomnndo cada um sobre si n mnior das resporlsnbilidades soclaes.

0 horncm, como cliefe unico da familia, tcm a tornar- sc digno da su i~ tnissiio augusta,-amar sua esposa, educar os filhos, dar-lhes umn direcqiio para a virtude, ensinar- llrcs n comprchcnder ii ideia de Deus, e a obedierlcia e res- peito, qrrc esta ideia inspira.

A mullier, pelo seu lado, prende-sc a14 6 morte ao seu destino e ao destirlo cte seu esposo. Tem de crear em sell scio uma almn immortal, a que tern de instruir, com a ter- riura e afago de m'ie, nos deveres sociacs, na practica do bem e cm tudo o clue constitue a rcligiao do coraqiio! 0 ~ ~ a e tern do erlsinar no filho, clue existe Lleus c todos

os attributes da llivindadc: a m'ie, a resignayao, a orac'io e a csperanea.

Esta educaqiio religiosa tcm a insinuar-se na alma da c r i an~o logo que comeca a pronunciar as primciras pala- vras.

Trailscrcvcremos duns palavras admiraveis de Aim6 Mar-

Page 51: Goliath - fd.unl.pt

tin, quc sco a garanlia do q r ~ c dizcmos: n Quando a cdu- cirfZo se apodcrn dils crianfas, acha-as nurna situaqao abso- Iulamente sirnilllante h do sabio Ilescartes: a sua intelli- gencia csth pura; a alma dorme; a memoria, nfio esta cnriqrrecida; nenhuma coisa humana ahi esth escripta ..... 0 local esta va~ io , acham-se alli todas as ideas celestes; trilta-sc apcnas de as fazer apparecer; mas, boas rnfies, niio percues dc vista quc, o que lhc gravardes, ficarii.

Se llie gravnrdes o erro, a c r i a n ~ a viverh no er ro; isto 6 , serh desgmqilda, mesmo quando a fortuna a errclla de sells dons; sc Ihe gravardes a verdade, a c r i a n ~ a vivera r ~ a vcrdade; isto 6 , serd Lliz, mesmo quando a fortuna a

opprirna dc dcsgriiyus; porque, como obscrva Platiio, sb o conl~ecimcnto da kerdade basta para a felicidadc do t~omcm. )>

E sc n8o d m da familia as primeiras impress6es reli- giosas, tarde ou rlunca sera cm nossa atma o nome de Deos; e a obedierrcia ir Divindade jamais sera acceita ern nosso coraflo.

Mas, colno poderao os filhos receber as impressaes re- ligiosas da famiha, se a unibo dos paes 1130 tcm a dignidadc ncramental, sc nao tem o 610 sublime, que 0s prendil a Dcus 'l 0 casamcnto n'io I? um act0 vulgar da vida humana. 0 s

e4posos, ao ouvirem as palnvras sacramentaes, a benqao so- It:mnc d o christianismo pilril o llarrnorria e fcticiclatle pcr- petua, como que o ~ ~ r c m utnil v o ~ superior a diclar-lhes a misscio p r i ~ n d i t ~ c ~ , clue lhes irnpGe a religiao de Ch~isto.

Page 52: Goliath - fd.unl.pt

Se o pi~ganfimo rriio solemnisava o hymeneu como urn acto tilo gri\\e, tiio magestosa, como o cspirito do chris- tiarlismo, se o festejava com fotias e folguedos profanos, r~do dcsconhecia a Roma antiga que o espirito religiose devia firmar a urlizo perlretua dos ronjages.

Sabe s. ex." rolno o dircito romano definia o casamento? L!I sc cllrorltra na L. 1 ." Dig. de rilu rrupt. -- cortjmctio ?naris el fooninne, co~esorlium omnis vilae, divini et ha- onani juris c~oamrt niccct io.

I)iz s . ex." quc o casamento 6 a base das sociedades, e que aos poderes cibis pertencc leqislar sobre clle.

Muito I~ern. Sc a nossa lcgisla~ilo, civil 6 muda sobre o cnsamento, r13o nos cnvergonl~emos de seguir o exernplo do codigo (ti1 Sortleuha IIO ariigo 108 , que incorpora no di- reito c i ~ i l a disposiq~o do direito canoriico na sanctificaqilo do scto rnais irnllortantc da vida humana.

Assiln tcmos alci~nsiido o que queremos - a i~derren- r'io da lei civil na uni;io conjugal.

Parecerh exagerad;~ esta accusa~ila contra o project0 do Codigo nesta parte ; pois que a lei rrto desconheceri a unito como sdcramento, apesar de a reconhecer como sim- ples contracto, firmado leplmente.

Mas se 15 facto assentado, que tal contracto 6 sacrilego e amaldi~oado peli~s leis da Igreja, se niio tem mesmo con- scquencias t ~ o saIutares, como o matrimonio, para que ha de a lei civil legdlisar urn acto, que offende a propria re- ligiso garat~tida pelas leis patrias?

N'io 6 cviclcrlta quca Ici 6 contradictorin c m s i g o rnesma?

Page 53: Goliath - fd.unl.pt

De duas uma: 011 ha de vigorar o artigo 6." da Carta cons- titucional ; e nesse caso risque-se essa lei irrefleclida do pro,jecto da Comrnissao revisora; ou, para vigorar esta dis- ~ )os i~ i io , k rirgentc apagar o arligo 6." da Carla, e erntoar In~mnos 6 libcrdadc de cultos.

S. ex.", para provar a granande utilidade dn tliiiposiqao do project0 em questao, leva-nos para a abstrnccao da phi- losophia, levanta-nos o vCu, que nos encobrin o ederi pro- mettido, e rnostra-nos urn cku novo, puro, sem nuvens, na liberdade de corisciencia !

Niio venham argurner~tar com o srtigo 148 da Carta cons- titucional. Sejam a0 menos sinceros e froricos nas decla- rncdes, qire fizerern de seus serilirnentos. Querem o pro- testnnlismo ? Levantern eritao bern alto urn hqrnno h inde- pendericia de Korna nas coisas espirituaes, e bradem fran- camente-que o protestmnlismo k a religiiio que rnais se casa corn a libcrdadc, cgualdade, e fraternidade, a trin- dade adorada da civilisaqiio modcrna.

Digam, corn a mesrna f o r ~ a corn que eu digo que me glorifico de prestar homenagem ao calholicismo, que sao despresiccis os dogmas rlos Concilios, e que k uma \ergo- nhosn crcrn,;;l a i~ l t c rvcoc~o do c ~ u nos concil~os ecome- nicos, cm lugnr dd irrellectida conjcctura dc que o Espi- rito Santo andilva urn pouco alongado de Trento.

I? por isso que mr. Lebrun, o CElador, apesar de ser profundarnenlc indeceole, 6 mais digno dc venera~ lo , por

s e mostrar tal como pensa, do que os modcrnos Illenip- pes! ...

Page 54: Goliath - fd.unl.pt

Quar~tlo a lcrdadc ill~~mirra o cspirilo inspirado, qrrc se rr3n npague esse pharol, qrlc pode guinr ns oautas, perdidos rlilrn occnno de rnorte e dc trev;r.i, hs praias d'uma terra nova, ondc possamos tcr os cncarrtos da ilha do.; Losiadas, dc Fano de Cal!pso, ou da pllar~tastica ilha da Haidee de B! ron.

Lc l~ run ~ i u iltllicta a liunianidadc debaiso do pezo da rcligiao I~ebri~ica (: clrrist3 ; riu-se d i~s suhlimcs e grandio- sns imagcns dos li\ros Isri~clitas; e rrem a 8lAe dos inno- c c ~ ~ t e s , hJilrin, a \'irger~i da Palestinn, p6de cscapnr ti sua voz attrevidn e impia, chamnndo-a prostituta, porque era trigueiriollii c belld.

Depois do livro de I,eI~rnn sllrgiu do cahos uma luz novil, e quer-me pnrecer quc depois dns ultimas series sobre esla questno, do sr. Hesculano, Ila de raiar uma luz t3o resplantlcceatc, que se tlisl)cnsn~.?io as auroras borenes aos

filhos dil nova Zenibla, da Groelll~ndia ou dc Spitzberg. Ilizin cu qlre nao devcriarnos dar importancia aos ar-

gun~entos, que tom appnrecido fundados no artigo 145 $ 4." da Cilrta constitutional.

Tcm-sc qucrido itlguem basear nesse $ 4." para fazer surglr tl'olli for~ndamerrte a libcrdtrde de cultos etc., por- q11ct1 l t a i dispfie q ~ ~ e : a ninguern pode ser perseguido por lnoti\os tle reIigi5o)) ; c csqr~eceram-se de ler o firral d'esse S, qoc tliz: (( urna vez cjoc rcspcite a do Estado, etc.n

Logo a proprill Citrti~, rro $, a quc rccorrcm, manda pu- nir os q ~ l c 1150 rcs1)eitarem a reli6iio do Estado, dictado no artigo 6." da mcsma Cartil.

Page 55: Goliath - fd.unl.pt

E respeitar!! a religiiio catholica o que for reccbcr a

csposa 9 adrninistrn~iio do concclho, ou talvez a cnsa do ollicii~l de diligencins?

(:ertnmente quc o silencio aug~lsto do templo 6 ridi- cnlo pirrn um t~cto tGo solcm~le como o casamento; certa- nicr~te que C mil vezes hnivo que pernrrte Deus se v6 fir- mar o Info coyjugnl, e prestar o jurnmento reciproco dc

fidelidade e dc amor. Levnntam-se pcnsadores, que mostrnm ares propheticos,

e q ~ l e nno pensam sen30 em reformar a humaoidade; to- dos os seus csfor~os miram a isso; signmos esscs apostolos d o futuro.

Rlas. pcnsadores como estcs, que, para firmarem as suns convic~6cs, attacam o qrle ha de mnis sancto no christia- nismo, mostram-se muito ignornntes do c o r a ~ n o do ho- mem, e ncm no mcrios vbem que as conveniencias sociaes pedem como ncccssnria uma religiiio para estabilidade das institniq6cs politicas.

Sera uma phantasmagoria a rcligi'io de Christo? scr6

ridiculn c r i e n ~ a o milagrc da Kedemp~Go? serii repu- gnante a Deus tomar a forma do ser mais perfeito da creaqao ?!

Que responda Housseau na sua - troisiPinc lettrc de la ilfonlagne: (( Pode Deus fazcr milagres? Quero dizer, pode derognr as leis, que estabeleceu ? Esta questho, seriamente tractada, seria impia, se n'io fosse absurda; castipar aquelle que a resolvesse negatitamente, seria fazer-lhe muitn hon- r a ; deve-lo-hiam fcchar e cercnr corn um vallado.))

Page 56: Goliath - fd.unl.pt

Essc npostolo da liherdade scm limites, no Contracto So- cial, guer que se fizesse rima formula de fk, pela qua1 pres- tasse todo o c idndh o j u r n m c ~ t o de prol'essar o dogma da esistericia de Deus, cia Proviclencia e da immortalidade da nlrna; c 120 grande era a sua crenca 'r~estes dogmas, que queria a pur1if8o aqpcra dc se banir como insociavel o que se recusasse a isto, e condemnado ii morte o que fosse irlfiel ao juramento prestado.

E r a inquisitorial c a l t a m c ~ ~ t e duro, mas era isto uma e x p a n s a ~ d ' u n ~ a crcrlqa sublime 1

Ora, cluem rediculisa a religiBo d'uma naq2o em face do povo, a religiao que 6 tida pela que melhor se ilne a Ii- berdadc bcm coricebida e a todos os senl ime~~tos mais ve- nerandos do coraq'ao e concep~6es da alma, certamente que n l o pertence ao apostolado dc Solon, Pithagoras, Ly- curgo, Zaleuco e Numa da Roma antiga.

Admittindo o casamento civil, evidentcmente fica pre- judicado o artigo 145 $ 4." dn Carta, visto que a lei nova pcrmitle quc se tenlia em rlenllurna atter1~2o a nulli- dadc dos casamer~los sem as formal~dades religiosns, csta- belccida pela Igreja.

Portanto, a lei rid0 garante o cult0 exter~io il religi2o do Estndo ; e mesmo ha de riscirr-se o titulo 1 .' capitulo 1 .O

do livro 2." do Codigo pcoal. Logo, 6 uma consequencia f o r ~ a d a a liherdade de cul-

tos ; e desde entao, qunlqucr das religibes nao pode ser p ran t ida pclo Estndo; c por conscquencia o culto da re- ligiao christa ser6 ephemera, por isso quc: n'io ha in-

Page 57: Goliath - fd.unl.pt

t c r v e n ~ t o do Estndo nn colli~@o dos pnrochos, bispos c rnais auctoridndes ecclcsinsticns, que sci ficam dependenlcs do piedade pnrtic~ilar.

Mas, pergunto: s. ex." piira queni falls ? pcnsarh clle que Iin cm PortugilI ~ w r r o d(l qrrntro milh8es dcl)hilosopl~os?

0 s qucsa l~e rn a scicrtcia, conhecerAo n neolrumi~ utili- dade prncticn d'esrn hclln ideiilidadp.

0 s que n nao snhem, pnsmnm dinnte d'essa abstrncq50 da sciencin, arreg;~lnm os ollios para melhor rcrcm o qrie significa cssa felicidildc promcttitln, rnns por fin1 riern-se d'essns disserta~6es philosol~hicns, qne r i h romprehetrticm.

Ilemais, nds rito tornos n libertlntle de consciencia Iioje? ha lei alguma, que 110s force ii creriCir inlimn ?

Ternos, sirn, obrigilgao dc rcspeitar e~ter iormcnte n re- ligiao do Estado, para a boa rnoralidade e I~om exernplo de todos: esta 6 a obrigi~riio que 110s inil)ijc n lei. E qrje malls resrrltados nos vCrn d rsto ?

Demais, n t o i: preciso penlar nlrrito para ver os incon\e- tes practicos da lei em projecto. IIn, ccrtamente, ministros da religiao, que s8o escrupulosos ern objecto de dogma, mas quc s30 sinceros rra crcnCn.

A rcligi'io irnp6e aos pnstores (la Igreja n obrigagiio de negar a sagrnda hostin no que viver em escanrtalo e pec- cadn publico. Ora, em que circornstancias collocarao elles o+

cnsndos civrlmcnte, sem o Ii~qo rcligioso, quc os una ? D,: ccrto corno a Igreja 0s cor~siclelir, iirnnncebi~clos na verda- deir,r bigr~ificn~ao tl'cstn pi~la\rn.

Isto n3o 6 fnnntismo, 6 n rcidnde, c digarnol-a.

Page 58: Goliath - fd.unl.pt

Snbclm todos hem qoc Pio VII, qunndo foi n F r n r ~ ~ a coronr o grande Napolcao I, n'ao o intimidou o podcrio do primeiro liomem do seculo; c em Iiome (lit sun rnissao su- gusta llie n~ostrou quc o cousorcio com Joscpl~lna era urn verd;idciro cor~cuhiriato ; e que em rnatcrln cle f6 cra ir~fle- xivel.

Ora , A vista d'isto, o pnrocho, quc crlco~ltrar a meza da communlj~o urn casndo cii>ilmcnte, esth ccrlamcnte ontre Scylla e Carybdcs. Sc Ihe concede a sagrnda Eocharistia, trar~sgridc os seus devercs de mir~istro da 1grc. j~ ; sc Ihe negi1 este sacramcnto do cntholicismo, evidentcrner~te n' rcco- nliece, dcpreza mesmo, umn le: nossa, legalmente co~lsti- tuida. F, que hn a fazer-se a urn c i d a d k portuguez, que nao prestar obcdiencia n uma l e ~ portugueza? 0 rernedio 6 evidente: 6 processdl-o.

Eis dqni o qut? r e s ~ ~ l t a da lei : - a per-segui~rio do clcro, muitas vczes o mnis sincero, o mais conricto e o mais jir- tuosb.

Aqui estao expostas mr~ito por alto rnuitns das razaes, que me inclit~am a manifestar o qrlanto acho absurda e incon- veaieote uma lei, que nem nos civilisa, nern nos traz csw prornettida felicidade, no pensar dos racionalistas s6rnentc; e terrnino csta segunda pnrte, transcrevendo de Joao Ja- ques Rousseau algumas palnjrns bcrn sellsatas :

(( 0 csl)irito raciocinador e philosophico preride a vida, effemina, emilece as almas, cor~centra todas as paix8es na nhjecyrio do egoismo, na baiaezn do eu humnno, c demolc assim sr~rtlamente os vcrdadciros inlercsses d i ~ ~ocictlatltl ;

Page 59: Goliath - fd.unl.pt

por quanto o que os itlteresses particulures t&m de cornmum e t3o pouco, que sera impossi~el equilibrar o qne elles tern de prej~~dicial. n

Creio que tern isto bartaote applicaqfio.