Grundrisse_ Manuscritos Economi - Karl Marx

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    bre Grundrisseancisco de Oliveira

    A Boitempo Editorial presenteia os leitores de lngua portuguesa com uma primoduo dos quase lendrios Grundrisse, a obra de Marx que somente veio lumeira metade do sculo XX, em virtude dos conflitos centrados no controle qrtido Comunista da ex-URSS exerceu sobre os escritos no divulgados do filsofo

    er, como parte da luta ideolgico-poltica pela exclusividade do verdadeiro Marx.O s Grundrisse foram considerados inicialmente apenas esboos das ideias qnsador alemo estava elaborando para os textos de O capital, sua obra-prima, espc

    mostra ou work in progressdo que viria a ser a obra central de Marx; um borrador tazes retocado que poucos se atreveriam a citar. Alis, mesmo O capital experimentas reformulaes que Engels, aps a morte de Marx, encontrou enormes dificuldra ser fiel ao pensamento do seu companheiro e editar os volumes que ele no puminar em vida. Sabe-se que o fundador de uma das mais importantes corrente

    nsamento moderno era to rigoroso consigo quanto com seus adversrios.Descobriu-se com o tempo que os Grundrisse so muito mais que esboosiantamentos da obra maior de Marx; talvez por no sentir concludas as ideiasaborava na ocasio, excluiu das obras que publicou, e tambm daquelas s quadicaram Engels e Kautsky, preciosos textos que, mesmo no estando literariamabados, constituem patrimnio do marxismo e das cincias humanas de inestimor. O vigoroso terico pode ser justamente tido como um escritor de primeira planaha, sem muita modstia, inteira conscincia de seu valor literrio e, talvez por exag

    que temperamento! , tenha deixado na obscuridade muitos textos que estoundrisse. Textos como Formas que precederam a produo capitalista ensideraes sobre trabalho produtivo e improdutivo permaneceram, pois, inacessejudicando toda uma discusso terica e o prprio desenvolvimento do marxismo.

    Eles esto agora com os leitores do Brasil e de outras paragens onde reina a ltimaLcio (Olavo Bilac), para nossa delcia terica e nossas elaboraes na trad

    arxista. Eia, pois, tarefa!

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    arx em seu fazerrge Grespan

    Mais do que nunca, impossvel no comear esta apresentao com o j clnalmente o pblico brasileiro tem acesso a uma obra de importncia crucial...: tra

    publicao dos Grundrisse, indita em portugus, aguardada h tanto tempolhares de leitores. Em uma edio completa e esmerada, o trabalho de anos de trad

    orosa est agora mo.Os Grundrisse constituem a verso inicial da crtica da economia poltica, planer Marx desde a juventude e escrita entre outubro de 1857 e maio de 1858. Ela pois muitas vezes reelaborada, at dar origem aos trs tomos de O capital. Masngum se engane o fato de ser uma primeira verso no faz destes escritos algo sim

    de mero interessehistrico. Alm de entender o ponto de partida da grande obra de maturidade de M

    es permitem v-la de uma perspectiva especial s possvel com manuscritos desse

    is, como no pretendia ainda public-los, o autor os considerava uma etapa deprio esclarecimento, concedendo-se liberdades formais abolidas nas verses posterir exemplo, o trato com os termos da lgica de Hegel excede muito aqui o mero flpois confessado.Abre-se assim a polmica sobre o carter dessa relao privilegiada, se sim

    omento mais tarde corrigido ou se algo constitutivo que devia ser ocultado. O empquente dos termos da lgica do posto e pressuposto e as ousadas formulaeichismo do dinheiro e da particular subjetividade do capital na oposio dialtic

    balho assalariado apresentam aqui uma fora sugestiva e explicativa prpria. s vm detalhe depois desaparecido, s vezes nas amplas pinceladas que visam realsencial, Marx revela intenes surpreendentes na sua crtica.

    Escrevendo para si, pde explicitar e dar livre curso a ideias mais tarde reduzidgresso acessria, pde tentar mltiplos caminhos e errar, em todos os sentidolavra. Marx aproveitou a circunstncia e deu assim aos estudiosos de sua obortunidade de entend-la mais profundamente. Resta ento apenas saudar a iniciativitempo Editorial e a pacincia dos tradutores, desejando tambm aos leitores sucess

    mpreitada de seu estudo.

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    SUMRIO

    a da edio

    esentao Mario DuayerSTIAT E CAREY

    RODUO[I. PRODUO, CONSUMO, DISTRIBUIO, TROCA (CIRCULAO)]

    MENTOS FUNDAMENTAIS PARA A CRTICA DA ECONOMIA POLTICA (GRUNDRISSE)I. CAPTULO DO DINHEIRO[III. CAPTULO DO CAPITAL]

    PRIMEIRA SEO: O PROCESSO DE PRODUO DO CAPITALSEGUNDA SEO: O PROCESSO DE CIRCULAO DO CAPITAL

    TERCEIRA SEO. O CAPITAL QUE GERA FRUTOS. JURO. LUCRO. (CUSTOS DE PRODUO ETC.)ce onomstico

    nologia resumida de Marx e Engels

    ditos

    ooks da Boitempo Editorial

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    NOTA DA EDIO

    s Manuscritos econmicos de 1857-1858, ora publicados integralmente e pela prim

    z em portugus, consistem em trs textos bastante distintos entre si em naturemenso. O primeiro, que s mais tarde Karl Marx intitularia Bastiat e Carey, foi esm um caderno datado de julho de 1857. O segundo, contendo o que seria uma proje

    roduo sua obra de crtica economia poltica, de um caderno de cerca de tginas, marcado com a letra M e redigido, ao que tudo indica, nos ltimos dez diaosto de 1857[1]. O terceiro manuscrito, de longe o mais extenso, compreende a stuma de Marx que ficou conhecida como Esboos da crtica da economia poltica

    mplesmente Grundrisse, conforme o ttulo da edio alem. Tal texto consiste em

    ptulos (Captulo do dinheiro e Captulo do capital) distribudos em sete cademerados de I a VII, com incio em outubro de 1857 e trmino em maio de 1858ulo baseia-se em duas indicaes de Marx: a primeira aparece na capa do derno, iniciado em fevereiro de 1858, onde se l Economia poltica, crtica dgunda um comentrio feito por Marx em carta a Friedrich Engels, datada de dezem1857, em que afirma: trabalho como um louco durante as noites na sntese dos mudos econmicos de modo que eu tenha claro pelo menos os esboos antevio[3]. Dessas indicaes resultou o ttulo conferido aos manuscritos em sua prim

    blicao pelo Instituto Marx-Engels-Lenin do Comit Central do Partido Comunistnio Sovitica, em 1939: Grundrisse der Kritik der politischen konomie [Esbootica da economia poltica].Esta publicao se d no marco de um ambicioso projeto da Boitempo: o de tradu

    gado de Marx e Engels, contando com o auxlio de especialistas renomados e sem base nas obras originais. No intuito de respeitar o texto tal como foi escrientando para o fato de tratar-se de um manuscrito, reproduzimos com o mximelidade possvel a sintaxe do alemo, a despeito das diferenas substantivas dos omas nesse particular. Assim, as repeties de palavras, o uso de expresses poquentes em textos formais e s vezes at frases incompletas, acompanhando o fluxnsamento de Marx, foram respeitados. Se alterssemos essas particularidades cojetivo de deixar a leitura mais palatvel, estaramos descaracterizando o original e

    vando em conta que se trata de um manuscrito no preparado para publicao, era o uso pessoal do autor. As palavras em destaque (itlico, sublinhado, letras em ca) constam tal como no original; pontuao, sempre que possvel, tambmentuado uso de ponto e vrgula por Marx, mantido na maioria das vezes e alteradossimos casos, apenas quando a compreenso em portugus era prejudicada.

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    Os critrios editoriais seguem, no geral, os da coleo dos dois filsofos alemndo sido adotadas algumas convenes adicionais, como: palavras ou expresses aves, { }, so de Marx; entre colchetes, [ ], complemento das editoras brasileem ou do tradutor; os nmeros entre barras, |34|, denotam incio de pginanuscrito, de acordo com a paginao de Marx; nmeros romanos entre barras, |Iarcam o incio de um caderno de Marx; os nmeros entre colchetes situados na maste volume, [78], indicam incio de pgina da edio alem (MEGA-2)[5]; palavra

    presses entre < > haviam sido riscadas no manuscrito original; uma interruusca no texto aparece aqui assinalada com >; as letras sobrescritas (i, f , it), precedapstrofe, indicam que a frase toda foi escrita na lngua indicada pela letra sobres

    gls, francs ou italiano), quando apenas uma palavra seguida de letra sobrescnifica que apenas ela estava em idioma diferente; as notas com numerao contnuaedio alem; as notas com asteriscos so do tradutor quando aparecem junto com e da edio brasileira quando com (N. E.).A publicao dos Grundrisse vem precedida de uma apresentao do professo

    niversidade Federal Fluminense Mario Duayer supervisor editorial e responsvel xto final da traduo aqui apresentada , que faz uma gnese, contextualiza a obraa importncia na produo madura de Marx. Esta edio traz ainda um nomstico das personagens citadas pelo autor, alm da cronobiografia resumida de MEngels que contm aspectos fundamentais da vida pessoal, da militncia poltica ra terica de ambos , com informaes teis ao leitor, iniciado ou no na

    arxiana. A ilustrao de capa de Cssio Loredano e tem a gentileza de oferecer a Mm conforto de que no dispunha na poca: luz eltrica.

    A Boitempo Editorial, a Editora UFRJ e o supervisor editorial agradecem aos tradulio Schneider, Alice Helga Werner ( in memoriam) e Rudiger Hoffman; aos profesancisco de Oliveira e Jorge Grespan, que aceitaram com entusiasmo o convite crever os textos de capa; preparadora de texto, Mariana Tavares; a Nelson e Selnik, do Acqua Estdio, e diagramadora Andressa Fiorio; ao capista Antonio Keh

    visoras Alexandra Resende e Betina Leme; Fundao de Amparo Pesquisa do EsRio de Janeiro (Faperj), que custeou parte da rigorosa traduo que o leitor tem

    nte; e, muito especialmente, editores e supervisor manisfestam sua gratido eqitorial da Boitempo, responsvel pela edio: Bibiana Leme, Ana Lotufo e Livia Camdos foram, em diferentes momentos, indispensveis publicao desta obra amos certos, estar inscritaper omnia saecula saeculorum na histria da nossa (eenas da nossa) cultura.

    Junho de

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    Marx-Engels-Gesamtausgabe-2, Seo II/Apparat, (MEGA-2 II/Apparat) (Berlim, Dietz, 1981) , p. 764.

    Ibidem, p. 775.

    Idem.

    Ver relao completa das obras de Marx e Engels publicadas p. 789.

    MEGA a sigla de Marx-Engels-Gesamtausgabe, projeto que se dedica a editar a obra completa de Karl Marx e Friedricels, com uma abordagem histrica e crtica. Em sua segunda fase, a MEGA planeja a publicao de 114 volumes dos dosadores alemes, tendo sido lanados 52 at a presente data.

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    APRESENTAO

    Mario Du

    Grundrisseconstituem o primeiro de uma srie de manuscritos redigidos por Karl

    desenvolvimento de sua crtica da economia poltica, que culmina na publicaro I de O capital, em 1867. Na verdade, como se sabe, essa crtica tem uma primrso publicada em 1859 (portanto, logo em seguida redao dos Grundrisse), sulo Para a crtica da economia poltica[a] o volume inicial do primeiro livro de umacialmente projetada para seis livros. As investigaes preparatrias dos deminaram por suscitar a modificao do projeto original e resultaram nos chamanuscritos de 1861-1863 e de 1863-1865. Na dcada e meia que transcorre desdmeiros estudos de economia poltica at a redao do primeiro caderno dos Grund

    arx deixa registrado em inmeros cadernos de extratos e notas o imenso materiatemunha o longo processo de elaborao de sua crtica da economia polticaundrisse marcam exatamente o princpio da consolidao desse processo que ass

    ma forma definitiva, ainda que parcial, somente dez anos mais tarde, no livro I dpital.Os estudos de economia poltica de Marx remontam dcada de 1840. O Prefci

    ra a crtica da economia poltica inclui uma breve descrio do itinerrio de squisas sobre o tema, situando a deciso de investigar as questes econmicas nos 42-1843. A necessidade desses estudos ficou patente quando, naqueles anos, cdator da Rheinische Zeitung [Gazeta Renana], Marx se viu na embaraosa situao dominar o assunto e, portanto, no poder intervir nos debates relativos aos chamteresses materiais, suscitados pelas deliberaes da Assembleia Legislativa re

    bre roubo de lenha e parcelamento da propriedade fundiria ou pelas controvrspeito de livre-cambismo e protecionismo. Divergncias com os diretores acercnduo da revista, segundo Marx, ofereceram-lhe o ensejo para deixar a publica

    irar-se da cena pblica e retomar os estudos

    [1]

    .A reviso crtica da filosofia do direito de Hegel, cuja introduo [b] apareceeutsch-Franzsische Jahrbcher [Anais Franco-Alemes] publicados em Paris, em 1

    o primeiro trabalho de Marx para esclarecer tais dvidas. Essa investigao permitncluir que

    nem as relaes jurdicas nem as formas de Estado podem ser compreendidas a partir de si mesmas ou do assim chdesenvolvimento geral do esprito humano, tendo antes a sua origem nas condies materiais de vida, cujo conjunto

    [...] resume sob o nome sociedade civil, e que a anatomia da sociedade civil deve ser buscada na economia poltica.

    sa a justificativa terica para os estudos da economia burguesa no perodo qu

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    ende de 1843 a 1849. Em 1844, por exemplo, Marx sublinha no prefcioanuscritos econmico-filosficos que o leitor familiarizado com a Economia Naciorceberia com facilidade que os resultados ali obtidos foram produto de uma aneiramente emprica, fundada num meticuloso estudo crtico da Economia NacionalAo longo desses anos, Marx combina a atividade cientfica com uma intensa atu

    ltica. Na verdade, no se pode afirmar que realiza plenamente a inteno de retornbinete de estudos, tanto em razo de seu envolvimento poltico quanto das frequ

    udanas de cidade e pas, quase todas resultado de perseguio poltica. Em 184pulso de Paris, para onde havia se mudado dois anos antes, aps deixar a redazeta Renana. Dali transfere-se para Bruxelas, onde vive at 1848, quando depoBlgica. Retorna a Paris e, imaginando que a revoluo de 1848 se alastrar

    emanha, regressa a Colnia. Com a vitria da contrarrevoluo em toda a Europnido da cidade alem em 1849 e, finalmente, se refugia em Londres, onde vive to da vida.Nesse perodo, mesmo em condies longe de favorveis atividade cientfica, M

    epara, entre outros, os seguintes trabalhos (alguns dos quais em parceria com Engels43, Sobre a questo judaica e Crtica da filosofia do direito de Hegel; em 1844, Gticas ao artigo O rei da Prssia e a reforma social. De um prussiano, Crtic

    osofia do direito de Hegel Introduo e Manuscritos econmico-filosficos ; em 1sagrada famlia e as Teses sobre Feuerbach; em 1846, A ideologia alem; em 1sria da filosofiae Trabalho assalariado e capital; e, em 1848, Manifesto Comunista[c]

    O imenso volume de materiais, como livros, revistas, jornais, relatrios oficiaatsticas, consultado por Marx na elaborao dessas e outras obras pode ser conhe

    m detalhamento graas ao carter sistemtico de seu mtodo de trabalho. Jvembro de 1837, aos dezenove anos, ele comenta em uma carta ao seu pai que hotado o hbito de fazer extratos de todos os livros que leio [...] e, incidentalmbiscar minhas prprias reflexes [4]. O que significa dizer que os extratos redigidose no curso de sua extensa atividade intelectual documentam minuciosamente os temtores que foram objeto de sua investigao, permitindo no s acompanhar a evolseus estudos, as reas especficas de interesse que deles se desdobram, mas, sobret

    mpreender o seu mtodo de trabalho. Por esse motivo, costuma-se dizer que examGrundrisse (e, nesse sentido, os demais materiais inditos) como ter acess

    boratrio de estudos de Marx.Da se compreende a absoluta relevncia da IV Seo da MEGA, exclusivam

    dicada publicao dos excertos, anotaes e glosas de Marx e Engels. Para ter nvolume gigantesco de material pesquisado por Marx, basta dizer que para a IV S

    previsto um total de 32 volumes, que, a julgar pela dimenso dos dez j publicao entre 700 e 1.700 pginas cada. Escritos em idiomas diversos alemo, grego an

    im, francs, ingls, italiano, espanhol e russo , os cadernos de extratos compreenma diversidade impressionante de disciplinas, com trechos recolhidos em livro

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    osofia, arte, religio, poltica, direito, literatura, histria, economia poltica, relaernacionais, tecnologia, matemtica, psicologia, geologia, mineralogia, agrono

    nologia, qumica e fsica[5].Recorrendo a esses cadernos, redigidos no perodo que se estende de 1843 (qu

    arx chega a Paris) a 1849 (data de seu exlio em Londres), possvel constatar qumeam seus primeiros estudos de economia poltica. Ao todo, so 27 cadernotratos compostos ao longo desses anos e nas condies sublinhadas acima , a

    criminados: Cadernos de Paris (1843-1845, nove volumes); Cadernos de Brux845, seis volumes); Cadernos de Manchester (1845, nove volumes); e trs cadernostratam a obra de Gustav von Gllich, Historical Account of Commerce[6]. Almriedade de matrias englobadas pelos estudos de Marx, tais como histria modtria antiga, poltica, filosofia, teoria social, no que diz respeito economia polticadernos de Paris j trazem extratos das obras de Adam Smith, David Ricardo, Jptiste Say, James Mill e John McCulloch. Nos Cadernos de Bruxelas aparecem extJean Sismondi, Nassau Senior, Franois Ferrier e Heinrich Storch, para menci

    enas os nomes mais conhecidos. O mesmo se pode dizer dos Cadernos de Manchencentrados em autores como William Petty, Edward Misselden, Charles Davenomas Tooke, James Gilbart, William Thompson etc[7].Parece possvel afirmar que, nesse perodo, em conformidade com seu mtodo

    vestigao, Marx comea a se apropriar do discurso da economia poltica de seu tesimultaneamente, a delinear sua crtica, de algum modo j exercitada em Misri

    osofia e Trabalho assalariado e capital, ambos de 1847, bem como no Manmunista, no ano seguinte. Entretanto, a apropriao da economia poltica burguesa

    ava completa, tampouco a sua crtica, como demonstra o fato de que Marx, a part50, j na Inglaterra, retoma seus estudos de temas econmicos. No Prefcio de Ptica da economia poltica, Marx lista alguns motivos que o fizeram decidir comdo do incio e proceder a uma assimilao crtica do novo material: o imenso vo

    informao disponvel no Museu Britnico sobre a histria da economia polndres como posto de observao privilegiado da sociedade burguesa; e o novo surtsenvolvimento experimentado pela economia burguesa com a descoberta do straliano e californiano[8]. Alm disso, a seu ver, aps a derrota das revolues de 1estudo da estrutura e dinmica da economia capitalista constitua igualmenteperativo para a luta poltica e a transformao social. Em 1850, na Neue Rheinitung [Nova Gazeta Renana], revista publicada em parceria com Engels, em Lonarx sublinhava que uma nova revoluo s possvel em consequncia de uma se [...][9].O resultado dessa etapa de estudos outra imensa coleo de extratos, reunida

    amados Cadernos de Londres, formados por 26 volumes escritos de setembro de

    agosto de 1853. Os cadernos I a VI (1850-851) totalizam cerca de 600 pginas impressas e contm extratos, entre outros,

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    guintes autores: John Stuart Mill, John Fullarton, Tooke, Robert Torrens, Gilbart, Jaylor, Senior, Germain Garnier, William Jacob, Ricardo, Henry Carey, John Glliam Cobbett e John Locke. Os estudos concentram-se em questes relativas a dinh

    dito, sistema bancrio e crises[10].O volume 8 da IV Seo da MEGA, de cerca de 750 pginas, compreende os cade a X, de maro a junho de 1851, que resenham textos dos seguintes pensadoreonomia poltica: Ricardo, Smith, James Stuart, Thomas Malthus, John Tuckett, Tho

    almers, McCulloch, George Ramsay, Thomas de Quincey, entre outros. Alm diclui dois cadernos de notas intitulados Bullion: o sistema monetrio completo,ais Marx sintetiza o resultado de sua investigao sobre o assunto. Neles, anota oiam as passagens mais importantes dos textos dos 91 autores examinados e tece almentrios. Por isso, Marcello Musto sugere que Bullion pode ser considerarimeira formulao autnoma da teoria do dinheiro e da circulao [de Marx][11].Os cadernos XI a XIV, de julho a setembro de 1851, fazem parte do volume 9 da Sda MEGA, com cerca de 540 pginas de texto. Os autores de economia po

    udados nesses cadernos so, entre outros, Senior, Thomas Hopkins, Ricardo, Jownsend, David Hume, Malthus e Adolphe Dureau de La Malle. Em conexo com teeconomia poltica, Marx resenha tambm obras sobre demografia, colonizao, trescravos e outros temas.Os volumes 10 e 11 da Seo IV da MEGA infelizmente ainda no foram publica

    o obstante, podemos recorrer s informaes fornecidas por Musto para ter uma ideu contedo. Os cadernos XV e XVI, de setembro a novembro de 1851, pertencentelume 10, dedicam-se histria da tecnologia e a questes variadas de econ

    ltica, respectivamente[12]. Os ltimos Cadernos de Londres (XVII a XXIV) so esctre abril e agosto de 1852, quando Marx retoma o trabalho de investigteriormente interrompido, entre outras razes, para redigir O 18 de brumrio denaparte[d]. O tema central desses cadernos so os vrios estgios do desenvolvimenciedade humana [...] grande parte da pesquisa volta-se para os debates histricos soade Mdia e a histria da literatura, da cultura e dos costumes[13]. Por fim, encionar os ltimos cadernos de extratos redigidos antes do incio do trabalho

    undrisse(de setembro de 1853 a janeiro de 1855), a saber, nove extensos volumes shistria da diplomacia e da Espanha, investigao em grande medida vinculada aobalho como correspondente do New York Tribune, a partir de 1851[14].Esses milhares de pginas de extratos documentam, portanto, o processo

    vestigao de Marx, ou, em suas palavras, a pesquisa destinada a captar detalhadammatria, analisar suas vrias formas de evoluo e rastrear a sua conexo ntimapois de concludo esse trabalho que se pode expor adequadamente o movimental [...][15]. Tal o processo de assimilao e crtica das formas de pensamento cient

    bre a economia burguesa do qual os Grundrisse constituem, na verdade, a tent

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    cial de consolidao e sistematizao. Na j mencionada carta a Engels de dezemb57, Marx refere-se justamente aos Grundrisseao informar que trabalho como um l

    ] na sntese dos meus estudos econmicos para ao menos ter claros os esboos adilvio. Os seus estudos de economia poltica desde o incio tiveram o propsit

    vestigar a estrutura, a dinmica e as contradies da economia capitalista, pois as c decorrentes constituem, em sua opinio, aberturas para as prticas revolucionrnsformadoras. Compreende-se, portanto, que o prognstico de uma crise econ

    inente o dilvio forneceu a Marx estmulo para pr no papel as descobertangos anos de estudos de economia poltica e dar uma primeira forma sua crtica.Perplexo com o impressionante trabalho de investigao registrado nos caderno

    tratos, Maximilien Rubel se pergunta sobre essa paixo, essa mania de copiar de Mbretudo quando se leva em conta, alm de suas inmeras atividades como atltico, jornalista e escritor, as condies de vida miserveis que teve de enfretamente no perodo que coincide com os anos de preparao de sua crtica da econltica[16]. Vivendo em extrema pobreza, permanentemente sitiado por credores, cl

    bitual de lojas de penhor, castigado por vrios problemas de sade e devastado orte prematura de quatro de seus sete filhos decerto em virtude das condies mate

    m que vivia a famlia , o que de fato surpreende como ele foi capaz de prodssas circunstncias, no s um trabalho magnfico, uma das teorias cientficas portantes e influentes de todas as pocas, mas, acima de tudo, uma obra motivada

    ma paixo genuna pelo ser humano. Obra que, nas palavras de Marx em cardinand Lassalle, em novembro de 1858, era o produto de quinze anos de pesquisa,melhores anos de minha vida[17].

    Tendo em vista que Marx s pde completar uma parte relativamente pequena deocesso de pesquisa de extraordinria amplitude, a divulgao dos escritos no publicm enorme significado, pois d acesso a dimenses de seu pensamento que de oma permaneceriam inacessveis. Os Grundrisse, alm dessa qualidade mpartilham com os demais textos inditos, tm a particularidade de ser o primboo da obra-prima O capital. Ademais, a despeito de seu carter inacabadorpretes que sugerem que os Grundrisse so o nico trabalho em que a teori

    pitalismo, da gnese ao colapso, foi delineada por Marx em sua totalidade. Pode-se e constituem a nica obra completa de economia poltica escrita por ele, no imporscura e desordenada[18].Outros autores tm interpretao semelhante. Admitindo que nos Grundrisse a t

    tica marxiana no estava inteiramente desenvolvida, Moishe Postone sublinha qanuscrito exibe de maneira muito clara a orientao geral de sua crtica madurodernidade capitalista e a natureza e significncia das categorias fundamentais daqtica[19]. Na mesma linha, Musto argumenta que o texto, apesar de sua complexida

    mbm muito gratificante, pois fornece o roteiro nico de toda a extenso do tratad

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    e O capital somente uma frao[20].Esta apresentao no tem o propsito de oferecer uma descrio minucios

    anuscrito marxiano, muito menos busca prefaci-lo com uma anlise que sancioma interpretao substantiva. Tendo enfatizado as circunstncias que marcaram seu loocesso de maturao e destacado o formidvel material bibliogrfico de que se varx para reunir condies para prepar-lo, cabe agora comentar as principais descobe fizeram dos Grundrissea formulao inicial da crtica em que, para seu autor,

    portante viso das relaes sociais exposta cientificamente pela primeira vez[21]

    .As categorias descobertas por Marx no aparecem nos dois textos que abrem

    undrisse, Bastiat e Carey e Introduo. O primeiro, a despeito do seu interesse ctica ao que Marx denomina concepes harmonicistas do capitalismo, no tejetivo de expor a nova teoria crtica. A Introduo, por seu lado, talvez seja umcritos mais discutidos da obra marxiana, apesar de ter sido deixado de lado pelo prtor, que o menciona apenas uma vez [22], e aparentemente ignorado por Engeleresse que o texto atrai pode ser explicado pelo fato de que, embora inacabad

    troduo representa um dos raros momentos em que as questes metodolgicastadas por Marx de maneira autnoma. Entre tantos outros projetos irrealizados, elecontrou tempo, como pretendia, para redigir um pequeno ensaio que tornaria acesra o leitor comum o ncleo racional do mtodo dialtico que Hegel descobriu,mbm mistificou[23].

    Ao fim do ltimo caderno do manuscrito h uma pequena seo intitulada Valor,z praticamente a mesma frase que abre O capital: A primeira categoria em quresenta a riqueza burguesa a da mercadoria[24]. O que significa dizer que, ao finaGrundrisse, Marx j se decidira pela forma de apresentao: a mercadoria como ppartida para a exposio do objeto a economia capitalista. Sem a estruturao foobra definitiva, no Captulo do dinheiro o manuscrito de 1857-1858 propriam

    o inicia, ao contrrio, com uma crtica ao livro De la rforme des banques, do oudhoniano Alfred Darimon, publicado em 1856. O exame de Darimon oferece a Mortunidade de se antecipar a eventuais propostas de inspirao proudhoniana a seueudossocialistas para a crise, ou seja, o dilvio que justamente motivara a red

    s Grundrisse. A crtica proposta de reforma do sistema bancrio de Darimonesma forma que s ideias de Proudhon em Misria da filosofia , procura mostrar queaparncia de uma proposta socialista, o que existe de fato uma teoria positivaaes sociais postas pelo capital. Em lugar de transformao radical da realidaderas de inspirao proudhoniana o que se tem so propostas para reformar as estrustentes. Por essa razo, a crtica a Darimon se desdobra na primeira formula

    oria do dinheiro de Marx, onde aparecem os desenvolvimentos ento inditoementos essenciais de sua anlise da forma mercadoria da riqueza na socie

    pitalista, de sua teoria do valor, alm da exposio da gnese do dinheiro cultado necessrio do desenvolvimento da mercadoria.

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    No entanto, a despeito da importncia desse primeiro esboo da teoria do dinhvez seja possvel afirmar que o aspecto mais original e fundamental do captulonto de vista da crtica da economia poltica, a anlise da forma de dominprapessoal implicada pela mercadoria, pelo valor, enfim, pelo carter mercanticiedade capitalista. Logo aps concluir sua crtica a Darimon, Marx sublinha que

    A dissoluo de todos os produtos e atividades em valores de troca pressupe a dissoluo de todas as relae(histricas) de dependncia pessoal na produo, bem como a dependncia multilateral dos produtores entre si. [...]

    A dependncia recproca e multilateral dos indivduos mutuamente indiferentes forma sua conexo social. Essa cosocial expressa no valor de troca[...]; o indivduo tem de produzir um produto universal o valor de troca, ou estepor si isolado, individualizado, dinheiro. [...] o poder que cada indivduo exerce sobre a atividade dos outros ou soriquezas sociais existe nele como o proprietrio de valores de troca, de dinheiro. Seu poder social, assim como se

    com a sociedade, [o indivduo] traz consigo no bolso.[25]

    A articulao entre os produtores, portanto, deixa de ser operada por relaeminao e subordinao pessoais e passa a ser realizada pela troca. O que coneceitos agora produtores de mercadorias a sua necessidade de produzir valor, riq

    iversal, dinheiro. Em uma palavra, os sujeitos so articulados como produtores, ismo meros trabalhadores, e nessa condio tm de produzir valor, riqueza abstrata eo, crescente. Como resultado dessa forma particular de sociabilidade determinada ao mercantil, os sujeitos reduzidos a trabalhadores esto subordinados din

    controlada do produto de sua prpria atividade, de seu trabalho. Nessas circunstnmo o valor a categoria determinante do produto do trabalho, segue-se que o sentidoduo a quantidade, e, portanto, o seu crescimento ilimitado. Trata-se, desse muma forma de dominao abstrata em que o sentido do produto, o sentido da prod

    riqueza, est perdido para os sujeitos.No cabe aqui, evidentemente, explorar em detalhe essa elaborao terica

    undrisse, quase perdida em meio anlise das determinaes do dinheiro, suas funmo medida de valor, meio de circulao etc., sem mencionar uma descrio minucs metais preciosos como portadores da relao monetria. No entanto, preciso dadevido destaque, pois essa concepo de vida social estranhada e de dominao abscentral para a dimenso crtica do pensamento marxiano. So essas relaes sociaoduo que, em razo da dominao abstrata que pressupem e de sua tendn

    produo contnua e ampliada, desqualificam as propostas de reforma, conferem seteoria que informa as aes por sua transformao radical e inspiram as lutas

    mancipao dessas estruturas sociais de dominao autoproduzidas. Dispensvel e esse tema aparece em diversos momentos de O capital, como na seo sobre o caichista da mercadoria e nas consideraes sobre a maquinaria, que, na qualidad

    emento do capital, em lugar de objetivao da produtividade do trabalho sociresenta como poder externo que submete o trabalhador e suga trabalho vivo.O Captulo do capital, o mais extenso do manuscrito, traz pela primeira vez, em

    nda de maneira lacunar e pouco sistemtica, as categorias fundamentais da crtic

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    onomia poltica marxiana, tais como mais-valor ( diferena de suas formas derivaa de trabalho (ou capacidade de trabalho) como mercadoria [...], trabalho necess

    ais-trabalho, mais-valor absoluto e relativo, capital constante e varivel [...][26].Produo capitalista, sendo produo de valor, tem necessariamente de ser produ

    ais-valor. Mais-valor, por sua vez, subentende um processo por meio do qual umvolvidos no processo de produo no caso, o trabalhador produz mais valor docebe sob a forma de salrio. Por conseguinte, a determinao da produo capita

    mo produo de valor pressupe a explorao do trabalhador, descoberta por Mama srie de outras categorias fundamentais da economia capitalista: duplo cartebalho, processo de trabalho e processo de valorizao etc. O mais-valor, contudo,

    desvendar o mecanismo de acumulao de capital, isto , a expropriaobalhador, expressa um processo ainda mais fundamental: mais do que significplorao do trabalho, como de fato o faz, o mais-valor representa a objetivaranhada dos sujeitos, do potencial que possui o trabalho (social) de reproduzir de fo

    mpliada as suas condies antecedentes.

    Pode-se compreender melhor o mais-valor como expresso do estranhamentoodutividade do trabalho social quando se leva em conta que o trabalho, como catepecificamente humana, diferencia o metabolismo da espcie humana com a natuos outros animais esse metabolismo sempre uma adaptao passiva, geneticamterminada, s mudanas das condies do ambiente, ao passo que no ser humaetabolismo caracteriza-se por uma adaptao ativa, metabolismo por meio do qual,balho, o ser humano cria as condies materiais de sua prpria reproduo. Em virssa constituio interna do trabalho, a situao tpica no ser humano a reprod

    mpliada[27]. O mais-valor, nesse sentido, expresso historicamente especfica dpacidade, dessa potncia humana, autonomizada em relao aos seres humduzidos a meros trabalhadores, potncia que deveio riqueza que opera como um sutomtico sob a forma de capital. Riqueza sempre crescente e crescentemranhada.O capital, riqueza autonomizada dos sujeitos, o que Marx denomina contradi

    ocesso em uma das passagens mais brilhantes e, ao mesmo tempo, esclarecedoraa crtica da relao social do capital. Por essa razo, citamos nesta apresentagmento dos Grundrisse, que sintetiza to bem o esprito da obra marxiana:

    A troca de trabalho vivo por trabalho objetivado, i.e., o pr do trabalho social na forma de oposio entre capital e trassalariado, o ltimo desenvolvimento da relao de valor e da produo baseada no valor. O seu pressuposcontinua sendo a massa do tempo de trabalho imediato, o quantum de trabalho empregado como o fator decisproduo da riqueza. No entanto, medida que a grande indstria se desenvolve, a criao da riqueza efetiva pdepender menos do tempo de trabalho e do quantum de trabalho empregado que do poder dos agentes posmovimento durante o tempo de trabalho, poder que sua |poderosa efetividadei, por sua vez, no tem nenhuma com o tempo de trabalho imediato que custa sua produo, mas que depende, ao contrrio, do nvel geral da cincprogresso da tecnologia [...]. A riqueza efetiva se manifesta antes [...] na tremenda desproporo entre o tempo de trempregado e seu produto, bem como na desproporo qualitativa entre o trabalho reduzido pura abstrao e o po

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    processo de produo que ele supervisiona. O trabalho no aparece mais to envolvido no processo de produo quser humano se relaciona ao processo de produo muito mais como supervisor e regulador. [...] No mais o trabaque interpe um objeto natural modificado como elo mediador entre o objeto e si mesmo [...]. Ele se coloca ao lprocesso de produo, em lugar de ser o seu agente principal. Nessa transformao, o que aparece como a grande cosustentao da produo e da riqueza no nem o trabalho imediato que o prprio ser humano executa nem o temele trabalha, mas a apropriao de sua prpria fora produtiva geral, sua compreenso e seu domnio da natureza pexistncia como corpo social em suma, o desenvolvimento do indivduo social. O roubo de tempo de trabalho sobre o qual a riqueza atual se baseia, aparece como fundamento miservel em comparao com esse novo fundadesenvolvido, criado por meio da prpria grande indstria. To logo o trabalho na sua forma imediata deixa de ser a g

    fonte da riqueza, o tempo de trabalho deixa, e tem de deixar, de ser a sua medida e, em consequncia, o valor de trocade ser [a medida] do valor de uso. O trabalho excedente da massadeixa de ser condio para o desenvolvimento da rgeral, assim como o no trabalho dos poucos deixa de ser condio do desenvolvimento das foras gerais do chumano. Com isso, desmorona a produo baseada no valor de troca, e o prprio processo de produo material imedespido da forma da precariedade e contradio. [D-se] o livre desenvolvimento das individualidades e, em consequa reduo do tempo de trabalho necessrio no para pr trabalho excedente, mas para a reduo do trabalho necesssociedade como um todo a um mnimo, que corresponde ento formao artstica, cientfica etc. dos indivduos podo tempo liberado e dos meios criados para todos eles. O prprio capital a contradio em processo, [pelo fato] procura reduzir o tempo de trabalho a um mnimo, ao mesmo tempo que, por outro lado, pe o tempo de trabalhonica medida e fonte da riqueza. Por essa razo, ele diminui o tempo de trabalho na forma do trabalho necessr

    aument-lo na forma do suprfluo; por isso, pe em medida crescente o trabalho suprfluo como condio |quevida e mortef do necessrio. Por um lado, portanto, ele traz vida todas as foras da cincia e da natureza, bem cocombinao social e do intercmbio social, para tornar a criao da riqueza (relativamente) independente do temtrabalho nela empregado. Por outro lado, ele quer medir essas gigantescas foras sociais assim criadas pelo temtrabalho e encerr-las nos limites requeridos para conservar o valor j criado como valor. As foras produtivas e as resociais ambas aspectos diferentes do desenvolvimento do indivduo social aparecem somente como meios para o ce para ele so exclusivamente meios para poder produzir a partir de seu fundamento acanhado. |De fatoi, porm

    constituem as condies materiais para faz-lo voar pelos ares.[28]

    Para finalizar, algumas consideraes sobre a traduo. Como os Grundrisse soboo, um texto de trabalho, sem o polimento estilstico do prprio autor, a orientral seguida foi interferir o mnimo possvel no original, evitando toda parfrase. o, acreditamos que os leitores desta traduo certamente podero perceber o caacabado do texto e, tanto quanto isso possvel em uma traduo, tero acessginal livre de interpretaes. Pelo mesmo motivo, ao contrrio de outras tradutamos por no atenuar certas expresses utilizadas por Marx, talvez em momentoande irritao com as tolices que submetia crtica, as quais poderiam ser consider

    osseiras ou obscenas. Afinal, trata-se de um texto que o autor no destinava publicque, por isso, expressa seu estado de esprito.Em determinados momentos, o emprego de neologismos mostrou-se inevitvel. N

    sos, procuramos observar os usos correntes na literatura marxista em portugus. A mportante exceo refere-se categoria Mehrwert, que tradicionalmente vem sduzida como mais-valia. Em nossa opinio, impossvel justificar tal traduo,

    m termos literais ou tericos. Literalmente, Mehrwert significa mais-valor. Pombm ser traduzida como valor adicionado ou valor excedente. Uma vez que n

    duo literal de Mehrwert, o uso de mais-valia teria de ser justificado teoricam

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    sa tarefa impossvel, pois, como valia nada significa nesse contexto, no h ctificar mais-valia do ponto de vista terico pela simples anteposio do advemais, alm de ser uma traduo ilcita, a expresso mais-valia converte tegoria de simples compreenso em algo enigmtico, quase uma coisa. Prodpitalista, como se viu, produo de valor, e produo de valor tem de ser prodescente. Portanto, produo capitalista , por definio, produo de mais-valortese, nesta edio dos Grundrisseadotou-se mais-valor porque, alm de ser a trad

    eral de Mehrwert, contribui para esclarecer o contedo da categoria.A reviso tcnica e a uniformizao do trabalho dos tradutores exigiu uma consca de informaes, comparaes e correes. A verso em portugus dos Grund

    presenta a consolidao de um processo de trabalho que envolveu inmeras pessde os tradutores at os responsveis pela edio da Boitempo, incluindo os colegasoiaram de diversas maneiras o projeto, e aos quais gostaria de deixar aqui registradeus sinceros agradecimentos: em primeiro lugar aos outros tradutores, particularmenlio Schneider, sempre disponvel para dirimir dvidas; aos colegas e amigo

    niversidade Federal Fluminense (UFF) Joo Leonardo Medeiros e Virgnia Fontes, oio e pelas discusses sobre aspectos tericos da traduo; ao colega e amigo, tamUFF, Victor Hugo Klagsbrunn, pela consultas sobre expresses em alemo; a Rod

    oerbeck, pelas sugestes de organizao do texto; a Marcello Musto, pclarecimentos relativos edio da MEGA. Agradeo, igualmente, o apoio da Boitem

    sua editora Ivana Jinkings, da editora-adjunta Bibiana Leme e da responsvel balho de preparao de texto Mariana Tavares.

    Belo Horizonte, Autntica, 2010. (N. E.)

    Karl Marx, Prefcio, Para a crtica da economia poltica, cit., 3.

    Karl Marx, Crtica da filosofia do direito de Hegel Introduo, em Crtica da filosofia do direito de Hegel(So Paulotempo, 2005). (N. E.)

    Karl Marx, Prefcio, Para a crtica da economia poltica, cit., 4.

    Karl Marx, [Prefcio (do Caderno III)], Manuscritos econmico-filosficos(So Paulo, Boitempo, 2004), p. 19.Karl Marx, Sobre a questo judaica(So Paulo, Boitempo, 2010); Karl Marx, Crtica da filosofia do direito de Hegel oduo, em Crtica da filosofia do direito de Hegel, cit.; Karl Marx, Glosas crticas ao artigo O rei da Prssia e a refal. De um prussiano, em Lutas de classes na Alemanha(So Paulo, Boitempo, 2010); Karl Marx, Manuscritos econm

    sficos, cit.; Karl Marx e Friedrich Engels,A sagrada famlia(So Paulo, Boitempo, 2003); Karl Marx, AdFeuerbach, erx e Friedrich Engels,A ideologia alem(So Paulo, Boitempo, 2007); Karl Marx, Misria da filosofia(So Paulo, Expresular, 2009); Karl Marx, Trabalho assalariado e capital & Salrio, preo e lucro(So Paulo, Expresso Popular, 2006); Krx, Manifesto Comunista(So Paulo, Boitempo, 1998). (N. E.)

    Karl Marx, Marx-Engels Collected Works (MECW), v. 1, 1835-1843 (Nova York, International Publishers, 1975), p. 11.

    Marcello Musto, The formation of Marxs critique of political economy: from the studies of 1843 to the Grundrisse,

    ialism and Democracy, v. 24, n. 2, jul. 2010, p. 70, nota. 11.

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    Ibidem, p. 99.

    MEGA-2, IV/2 a 7.

    Karl Marx, Prefcio, Para a crtica da economia poltica, cit., 7.

    MECW, v. 10, 1849-1851 (Nova York, International Publishers, 1978), p. 135.

    MEGA-2 IV/7.

    Marcello Musto, The formation of Marxs critique of political economy, cit., p. 82.

    Ibidem, p. 85.

    So Paulo, Boitempo, 2011. (N. E.)

    Marcello Musto, The formation of Marxs critique of political economy, cit., p. 87.MEGA IV/12.

    Karl Marx, Prefcio segunda edio alem, em O capital(So Paulo, Nova Cultural, 1996).

    Maximilien Rubel, Les cahiers dtude de Marx, International Review of Social History, v. 2, n. 3, 1957, p. 392-420

    MECW, v. 40, 1856-1859 (Nova York, International Publishers, 1983), p. 353-5.

    Martin Nicolaus, The unknown Marx, New Left Review, n. 48, v. I, mar.-abr. 1968, p. 43.

    Moishe Postone, Rethinking Capitalin light of the Grundrisse, em Marcello Musto (org.), Karl MarxsGrundrisse:ndations of the critique of political economy 150 years later(Londres/Nova York, Routledge, 2008), p. 120-37.

    Idem, Foreword, em ibidem, p. xxiii.

    Nessa carta a Lassalle, acima citada, Marx declara que j detm o material para preparar o manuscrito, sendo o atrasoido sua preocupao com a forma. Pode-se assumir, portanto, que a essa altura ele considerava o processo de investigstancialmente completo. Com relao forma de exposio, essa carta mostra que o seu otimismo no importa se poes muito diversas era infundado. MECW, v. 40, cit., p. 354.

    Karl Marx, Prefcio, Para a crtica da economia poltica, cit., 3.

    Carta de Marx para Engels, janeiro de 1858. MECW, v. 40, cit., p. 248.

    Grundrisse, p. 758 desta edio.

    Grundrisse, p. 102-3 desta edio.

    MEGA-2 II/Apparat, p. 776.

    G. Lukcs, Zur Ontologie des gesellschaftlichen Seins(Darmstadt, Luchterhand, 1986), p. 10 [ed. bras.: Para uma ontser social, So Paulo, Boitempo, no prelo].

    Grundrisse, p. 589-91 desta edio.

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    MANUSCRITOS ECONMICOSDE 1857-1858

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    Bastiat e Carey

    Bastiat. Harmonies conomiques.2. ed. Paris, 1851.

    Prlogof

    histria da economia poltica moderna termina, com Ricardo e Sismondi titticos em que um fala ingls e o outro, francs , exatamente como comea no sculo XVII, com Pey e Boisguillebert.A literatura poltico-econmica poster

    rde seja em compndios eclticos, sincrticos, como a obra de J. St. Mill, seaborao aprofundada de reas particulares, comoA history of prices[Uma histriaeos], de Tooke[1], e, em geral, os escritos ingleses mais recentes sobre a circulaica rea em que foram feitas descobertas efetivamente novas, pois a literatura sob

    lonizao, a propriedade fundiria (em suas diferentes formas), a populao etc. stingue da mais a ntiga pela maior riqueza de material , seja na reproduo de anntrovrsias econmicas para um pblico mais amplo e na resoluo prticoblemas cotidianos, como os escritos sobre o |livre comrcioi e protecionismoi, r fim, em elucubraes tendenciosas sobre as orientaes clssicas, uma relaoe esto, por exemplo, de Chalmers a Malthus e de Glich a Sismondi, e, em pecto, de McCulloch e Senior, em suas primeiras obras, a Ricardo. Trata-se deeratura totalmente de epgonos, de reproduo, de maior refinamento da formaropriao mais extensa do material, de nfase, de popularizao, de sntese

    aborao dos detalhes, sem fases de desenvolvimento decisivas e distintivas; pordo, registro inventrio, por outro, crescimento do detalhe.

    As nicas excees, aparentemente, so os escritos de Carey, o ianque, e de Bastancs, mas o ltimo admite que se baseia no primeiro[2]. Ambos compreendem qosio economia poltica socialismo e comunismo tem seu pressuposto tes obras da prpria Economia clssica, especialmente em Ricardo, que tem dnsiderado sua expresso ltima e mais perfeita. Por essa razo, ambos considcessrio atacar, como equvoco, a expresso terica que a sociedade burguesa gan

    storicamente na Economia moderna, e provar a harmonia das relaes de produde os economistas clssicos ingenuamente retratavam seu antagonismo. O ambcional a partir do qual ambos escrevem, apesar de totalmente diferente, incluntraditrio, impele-os aos mesmos esforos. Carey o nico economista orintre os norte-americanos. Pertence a um pas em que a sociedade burguesa nsenvolveu sobre a base do feudalismo, mas comeou a partir de si mesma; em qciedade burguesa no aparece como o resultado remanescente de um movimcular, mas como o ponto de partida de um novo movimento; em que o Estadontraste com todas as formaes nacionais anteriores, desde o incio esteve subordiociedade burguesa e sua produo e jamais pde ter a pretenso de ser um fim e

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    esmo; enfim, em um pas em que a prpria sociedade burguesa, combinando as foodutivas de um velho mundo com o imenso terreno natural de um novo, desenvolem dimenses e liberdade de movimento at ento desconhecidas e suplantou

    uito todo trabalho anterior no domnio das foras naturais; e onde, enfimtagonismos da prpria sociedade burguesa aparecem unicamente como momeanescentes. O que poderia ser mais natural do que as relaes de produo nas qse imenso novo mundo se desenvolveu de maneira to rpida, to surpreendenortunada serem consideradas, por Carey, como as relaes normais e eternaoduo e do intercmbio sociais, relaes que, na Europa, em especial na Inglae para ele na verdade a Europa, eram simplesmente inibidas e prejudicadas prreiras herdadas do perodo feudal, o que poderia ser mais natural que tais relae parecessem vistas, reproduzidas ou generalizadas de maneira distorcidasificada pelos economistas ingleses porque eles confundiam as distorntingentes daquelas relaes com seu carter imanente? Relaes americanas coaes inglesas: a isso se reduz sua crtica da teoria inglesa da propriedade fundisalrio, da populao, dos antagonismos de classes etc. Na Inglaterra, a socie

    rguesa no existe de forma pura, correspondente ao seu conceito, adequadaesma. Como os conceitos dos economistas ingleses da sociedade burguesa poder a expresso verdadeira e cristalina de uma realidade que eles no conheciam? rey, o efeito perturbador de influncias tradicionais sobre as relaes naturaiciedade burguesa, influncias que no emergiam de seu prprio seio, reduz-setima instncia influncia do Estado sobre a sociedade burguesa, a suas intervengerncias. O salrio, por exemplo, cresce naturalmente com a produtividadebalho. Se achamos que a realidade no corresponde a essa lei, temos unicamenstrair a influncia do governo, impostos, monoplios etc., seja no Hindusto, seglaterra. As relaes burguesas consideradas em si mesmas, i.e., aps a deduofluncias do Estado, sempre confirmaro de fato as leis harmnicas da econrguesa. Naturalmente, Carey no investiga em que medida essas prprias influtatais, |dvida pblica, impostosi etc., tm origem nas relaes burguesas e,nseguinte, na Inglaterra, por exemplo, de modo algum aparecem como resultadoudalismo, mas de sua dissoluo e superao, e na prpria Amrica do Norte creder do governo central com a centralizao do capital. Desse modo, enquanto Cnfronta os economistas ingleses com a maior potncia da sociedade burgues

    mrica do Norte, Bastiat confronta os socialistas franceses com a menor potncciedade burguesa na Frana. Vocs creem que se revoltam contra as leis da socierguesa em um pas em que jamais se permitiu que essas leis se realizassem! Vocnhecem unicamente na atrofiada forma francesa, e consideram sua forma imanene somente sua deformao nacional francesa. Vejam a Inglaterra. Aqui em nosso

    preciso libertar a sociedade burguesa dos grilhes que lhe ps o Estado. Vocs desultiplicar esses grilhes. Primeiro desenvolvam as relaes burguesas em sua fora e depois podemos conversar novamente. (Nesse caso Bastiat tem razo, umae na Frana, em virtude de sua configurao social peculiar, muito do que passacialismo , na Inglaterra, economia poltica.)

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    Carey, cujo ponto de partida a emancipao da sociedade burguesa do Estadmrica do Norte, termina, entretanto, com o postulado da interveno do Estadoe o desenvolvimento puro das relaes burguesas, como de fato ocorreu na AmNorte, no seja perturbado por influncias exteriores. Ele protecionista, ao p

    e Bastiat livre-cambista. A harmonia das leis econmicas aparece em todo o mumo desarmonia, e os primeiros indcios dessa desarmonia surpreendem Cclusive nos Estados Unidos. De onde vem esse estranho fenmeno? Carey o exprtir da influncia destrutiva da Inglaterra sobre o mercado mundial com sua amb

    monoplio industrial. Originalmente, as relaes inglesas foram distorcidaerior do pas pelas falsas teorias de seus economistas. Atualmente, como pminante do mercado mundial, a Inglaterra distorce a harmonia das relaonmicas em todos os pases do mundo. Essa uma desarmonia real, de manhuma baseada meramente na concepo subjetiva dos economistas. O que a Rsliticamente para Urquhart, a I nglaterra economicamente para Carey. A harmonaes econmicas, para Carey, baseia-se na cooperao harmnica de cidade e caindstria e agricultura. Essa harmonia fundamental, que a Inglaterra dissolveu em

    erior, ela destri por meio de sua concorrncia no mercado mundial e, assimemento destrutivo da harmonia universal. S as protees aduaneiras o bloqcional fora podem constituir uma defesa contra a fora destrutiva da grdstria inglesa. Consequentemente, o ltimo refgio das |harmonias econmicasftado, que antes fora estigmatizado como o nico perturbador dessas harmonia

    m lado, Carey expressa aqui outra vez o desenvolvimento nacional particulartados Unidos, sua oposio e concorrncia com a I nglaterra. E o faz de forma ingcomendando aos Estados Unidos destruir o industrialismo propagado pela Inglasenvolvendo-se mais rpido por meio de protees aduaneiras. Abstraindo dgenuidade, com Carey a harmonia das relaes de produo burguesas termina cais completa desarmonia dessas relaes ali onde se apresentam no terreno andioso, o mercado mundial, no desenvolvimento mais grandioso de relaes ees produtoras. Todas as relaes que lhe parecem harmnicas no interioterminadas fronteiras nacionais ou, inclusive, na forma abstrata de relaes univesociedade burguesa concentrao do capital, diviso do trabalho, assalariado e

    recem-lhe desarmnicas ali onde se apresentam em sua forma mais desenvolvida a forma de mercado mundial , como as formas internas que produzem o domni

    glaterra sobre o mercado mundial e que, como efeitos destrutivos, so a consequsse domnio. harmnico quando, no interior de um pas, a produo patriarcagar produo industrial, e o processo de dissoluo que acompanha senvolvimento apreendido exclusivamente por seu aspecto positivo. Mas se tsarmnico quando a grande indstria inglesa dissolve a produo nacional estrantriarcal, pequeno-burguesa ou outras formas que se encontrem em estgios inferira ele, a concentrao do capital no interior de um pas e o efeito dissolvente dncentrao s tm aspectos positivos. Mas desarmnico o monoplio do cancentrado ingls com seus efeitos dissolventes sobre os pequenos capitais nacionatros povos. O que Carey no compreendeu que essas desarmonias do mer

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    undial so unicamente as expresses adequadas ltimas das desarmonias que adas nas categorias econmicas como relaes fixas ou que tm uma existncia

    m menor escala. No surpreende que, por outro lado, ele esquea o contedo possses processos de dissoluo o nico aspecto que examina das categorias econm

    m sua forma abstrata ou das relaes reais no interior de determinados pases,ais as categorias so abstradas em sua manifestao plena no mercado mundiao, onde as relaes econmicas se apresentam a ele em sua verdade, i.e., em

    alidade universal, Carey passa de seu otimismo por princpio para um pessimasperado e denunciante. Essa contradio constitui a originalidade de seus escries confere seu significado. Ele [norte-]americano tanto em sua afirmao da harm

    interior da sociedade burguesa quanto na afirmao da desarmonia das meaes em sua configurao de mercado mundial. Em Bastiat, no h nada dissrmonia dessas relaes um alm que comea justamente ali onde terminam

    onteiras francesas, um alm que existe na Inglaterra e na Amrica [do Nortmplesmente a forma ideal, imaginria, das relaes anglo-americanas no franceso a forma real que o confronta em seu prprio territrio. Portanto, como em Bas

    rmonia no resulta de modo algum da riqueza da experincia vivida, mas anoduto afetado de uma reflexo frgil, ligeira e contraditria, o nico momentalidade nele a exigncia de que o Estado francs renuncie a suas frontonmicas. Carey v as contradies das relaes econmicas to logo elas aparemo relaes inglesas no mercado mundial. Bastiat, que simplesmente imagirmonia, s comea a ver a sua realizao ali onde termina a Frana e onde concotre si, liberadas da superviso do Estado, todas as partes constitutivas da socierguesa nacionalmente separadas. No entanto, inclusive essa sua ltima harmoniaessuposto de todas as suas harmonias imaginrias anteriores um simstulado, que deve ser realizado pela legislao de livre comrcio.Por essa razo, se Carey, independentemente do valor cientfico de

    vestigaes, ao menos possui o mrito de expressar em forma abstrata as graaes americanas e, inclusive, em oposio ao velho mundo, o nico pano de fu

    al em Bastiat seria a pequenez das relaes francesas, que, por todo lado, metriz em suas harmonias. Todavia, o mrito suprfluo, pois as relaes de um patigo so suficientemente conhecidas e o que menos precisam de tal desvio negara serem conhecidas. Em consequncia, Carey rico em pesquisas, por assim d

    na fide[a]na cincia econmica, como as pesquisas sobre crdito, renda etc. Bastiupa unicamente com parfrases gratificantes de pesquisas inconclusivas: |a hipoccontentamentof. A universalidade de Carey a universalidade ianque. Para ele, F

    China esto igualmente prximas. Ele sempre o homem que vive tanto no litoreano Pacfico como no do Atlntico. A universalidade de Bastiat fazer vista gra todos os pases. Como genuno ianque, Carey absorve de todos os ladundante material que o velho mundo lhe oferece, no para identificar a alma imansse material e, desse modo, reconhecer-lhe o direito da vida particular, mas

    abor-lo como evidncias mortas, como material indiferente para seus propsitos,as proposies abstradas desde seu ponto de vista ianque. Da seu perambular

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    dos os pases, sua estatstica massiva e acrtica, sua erudio de catlogo. Baerece, ao contrrio, uma histria fantstica, com abstraes ora na forma de racioca na forma de presumidos acontecimentos que, todavia, no ocorreram nunca em lnhum, da mesma forma que o telogo trata o pecado ora como lei da essncia huma como a histria do pecado original. Por conseguinte, ambos so igualmistricos e anti-histricos. No entanto, o momento anistrico de Carey o prinstrico atual da Amrica do Norte, ao passo que o elemento anistrico em Basera reminiscncia da moda francesa de generalizao do sculo XVI I I . Carey, pornforme e difuso, Bastiat, afetado e lgico do ponto de vista formal. O mximonsegue Bastiat so lugares-comuns expressos de maneira paradoxal, polidocetasf. Em Carey, algumas teses gerais so antecipadas em forma axiomtica. Elasguidas de um material informe, a compilao como prova a matria de suas tesesde modo nenhum elaborada. Em Bastiat, o nico material abstraindo de alemplos locais ou de fenmenos ingleses normais dispostos de maneira fantstnsiste s das teses gerais dos economistas. A principal anttese de Carey Ricardo

    ntese, os modernos economistas ingleses; a de Bastiat, os socialistas franceses [3].

    XIV) |Dos salriosf

    s principais teses de Bastiat so as seguintes[4]: todos os homens aspiram a uma fixrendimento, a uma |renda fixa f. {Autntico exemplo francs: 1) Todo homem que

    ncionrio pblico ou fazer de seu filho um funcionrio pblico. (Ver p. 371[b]

    rio uma forma fixa de remunerao (p. 376) e, portanto, uma forma m

    erfeioada de associao, em cuja forma originria predomina o aleatrirquanto |todos os associadosf esto sujeitos |a todos os riscos mpreendimentof[6]. {Se o capital assume o risco por conta prpria, a remunera

    balho se fixa sob o nome de salriof. Se o trabalho deseja assumir para si as boas ensequncias, a remunerao do capital se destaca e se fixa sob o nome de juro2).} (Sobre essa associao, ver ainda p. 382-3.) Todavia, se originalmente predomeatrio na |condio do trabalhadorf, a estabilidade no assalariado ainda no ficientemente assegurada. um |degrau intermedirio que separa o aleatritabilidadef[7]. Esse ltimo nvel alcanado mediante |a poupana, nos diabalho, do que satisfaz s necessidades dos dias de velhice e de doenaf (p. 38imo nvel desenvolve-se por meio das |sociedades mtuas de segurof (idem) e

    tima instncia, pelo |fundo de pensodos trabalhadoresf[8](p. 393). (Da mesma fe o ser humano partiu da necessidade de se converter em funcionrio pblicomina com a satisfao de receber uma penso.)Ad. 1. Suponha que tudo o que Bastiat diz sobre a fixidez do salrio seja correo de que o salrio seja subsumido s |rendas fixas i no nos permite conhec

    rdadeiro carter do salrio, sua determinao caracterstica. Seria destacada uma

    aes do salrio relao que ele tem em comum com outras fontes de renda. N

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    ais. Certamente, isso j seria algo para o advogado que pretende defender as vantasalariado. Entretanto, no seria nada para o economista que deseja compreend

    culiaridade dessa relao em toda a sua extenso. Fixar uma determinao unilauma relao, de uma forma econmica, e panegiriz-la em comparao co

    terminao inversa: essa prtica ordinria de advogado e apologista caractericiocinantefBastiat. Portanto, em lugar de salrio, suponha: fixidez do rendimentoboa a fixidez do rendimento? Todo mundo no adora poder contar com o segpecialmente todo francs pequeno-burgus e mesquinho? |O homem semcessitadof? A servido foi defendida do mesmo modo, e talvez com mais razosto poderia ser tambm afirmado, e tem sido afirmado. Suponha o salrio igual idez, i.e., avano para alm de certo ponto. Q uem no prefere avanar em lugar derado? Pode-se dizer que m, portanto, uma relao que torna possvel umprogrinfinitumburgus? Naturalmente, o prprio Bastiat em outro lugar considera o samo no fixidez. De que outra maneira, seno pela no fixidez, pela flutuao, podr possvel ao trabalhador deixar de trabalhar, tornar-se capitalista, como dstiat[9]? Por conseguinte, o salariado bom porque fixidez; ele bom porque

    idez; bom porque no nem uma coisa nem outra, mas tanto uma quanto a oue relao no boa quando reduzida a uma determinao unilateral, e esta ltinsiderada como posio, no como negao? Todo palavrrio raciocinante, ologtica, toda sofistaria pequeno-burguesa repousa sobre tal abstrao.Depois desse comentrio preliminar geral, chegamos verdadeira constru

    stiat. Seja dito ainda, de passagem, que seu arrendatriof de Landes[10], o tipone em sua pessoa a infelicidade do trabalhador assalariado com o azar do pequpitalista, de fato poderia se sentir feliz se recebesse salrio fixo. A |histria descr

    filosfica fde Proudhon[11]dificilmente chega ao nvel da de seu adversrio Bastirma originria de associao, em que todos os associadosf compartem os riscoaso, segue-se a forma em que a remunerao do trabalhador fixada, associavel superior e voluntariamente integrada por ambas as partes. No desejamos chateno aqui para a genialidade que primeiro pressupe, de um lado, um capitalis

    outro, um trabalhador, para em seguida fazer surgir do acordo entre ambos a reltre capital e trabalho assalariado.A forma de associao em que o trabalhador est exposto a todos os riscos do neg

    em que todos os produtores esto igualmente expostos a tais riscos e ediatamente precede o salrio, em que a remunerao do trabalho ganha fixidrna-se estvel, da mesma forma que a tese precede a anttese o estado, cvimos de Bastiat[12], em que a pesca, a caa e o pastoreio constituem as formas sociodutivas dominantes. Primeiro, o pescador, o caador e o pastor nmades eguida, o trabalhador assalariado. Onde e quando se deu essa transio histricado semisselvagem para o moderno? No mximo, no charivari. Na histria efetibalho assalariado resulta da dissoluo da escravido e da servido ou do declnopriedade comunal, como se deu entre povos orientais e eslavos e, em sua foequada que faz poca, forma que abarca toda a existncia social do trabalho, pro

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    destruio da economia das corporaes, do sistema estamental, do trabalho naturenda em espcie, da indstria operando como atividade rural acessria, da peq

    onomia rural ainda de carter feudal etc. Em todas essas transies histricas efetibalho assalariado aparece como dissoluo, como destruio de relaes em qbalho era fixado em todos os aspectos, em seu rendimento, seu contedo,

    calizao, sua extenso etc. Portanto, como negao da fixidez do trabalho e demunerao. A transio direta do fetiche do africano ao |ser supremofde Voltaire, ouipamento de caa de um selvagem norte-americano ao capital do Banco da I nglao to grosseiramente avessa histria quanto a transio do pescador de Bastibalhador assalariado. (Alm disso, em todos esses desenvolvimentos no h nenhidncia de modificaes intencionais resultantes de acordo recproco.) Inteiramgna dessa construo histrica em que Bastiat ilude a si mesmo com sua abstrperficial sob a forma de um evento a sntese em que as |sociedades mglesas e as caixas de poupana aparecem como a ltima palavra do salariadoperao de todas as antinomias sociais.Historicamente, portanto, o carter de no fixidez do salariado o opost

    nstruo de Bastiat. No entanto, como ele chegou, afinal, construo da fixidez cdeterminao do salariado que tudo compensa? E como chegou a pretender apresestoricamente o salariado nessa determinabilidade como forma superiormunerao, da remunerao do trabalho em outras formas de sociedade ousociao?

    Todos os economistas, to logo discutem a relao existente entre capital e trabsalariado, entre lucro e salrio, e demonstram ao trabalhador que ele no tem nenreito a participar das oportunidades do lucro, enfim, desejam tranquiliz-lo sobrepel subordinado perante o capitalista, sublinham que ele, em contraste copitalista, possui certa fixidez da renda mais ou menos independente das |graenturasido capital. Exatamente como Dom Quixote consola Sancho Pana [com a

    que, embora certamente leve todas as surras, ao menos no precisa ser valrtanto, uma determinao que os economistas atribuem ao salariado em contrapolucro, Bastiat converte em uma determinao do salariado em contraposio s fotigas do trabalho e em um progresso na remunerao do trabalho em comparaorelaes mais antigas. Um lugar-comum que se apresenta na dada relao, e

    nsola um polo contra o outro, retirado dessa relao pelo sr. Bastiat e convertid

    ndamento histrico de sua gnese. Na relao entre salrio e lucro, entre trabsalariado e capital, dizem os economistas, a vantagem da fixidez correspondrio. O sr. Bastiat afirma que a fixidez, i.e., um dos polos na relao entre sal

    cro, constitui o fundamento histrico da gnese do salariado (ou a vantagemrresponde ao salrio no em oposio ao lucro, mas s formas anterioremunerao do trabalho) e, portanto, tambm do lucro, logo, de toda a relao. Emos, por conseguinte, um lugar-comum sobre um aspecto da relao entre salcro converte-se no fundamento histrico da inteira relao. I sso se d porque elentinuamente atormentado pela reflexo sobre o socialismo, que, ento, sonhadoda parte como a primeira forma da associao. O que constitui um exempl

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    portncia que assumem, nas mos de Bastiat, os lugares-comuns apologrrentes que acompanham as anlises econmicas.Para retornar aos economistas. Em que consiste essa fixidez do salrio? O sal

    alteravelmente fixo? Isso contradiria inteiramente a lei da demanda e oferndamento da determinao do salrio. Nenhum economista nega as oscilaevao e a queda do salrio. Ou o salrio independente das crises? Ou das mque tornam suprfluo o trabalho assalariado? Ou das divises do trabalho, qslocam? Afirmar tudo isso seria heterodoxo, e no se afirma. O que se quer dizer

    m mdia, o salrio realiza um nvel mdio aproximado, i.e., o mnimo do salrio da a classe to detestado por Bastiat, e que tem lugar uma certa continuidade mdbalho; por exemplo, o salrio pode manter-se mesmo em casos em que o lucro dimmomentaneamente desaparece por completo. Ora, o que significa isso seno

    essuposto o trabalho assalariado como a forma dominante do trabalho e o fundamproduo, a classe trabalhadora vive do salrio, e que o trabalhador individua

    dia possui a fixidez de trabalhar por salrio? Em outras palavras, tautologia. Opital e trabalho assalariado a relao de produo dominante, h a continui

    dia do trabalho assalariado, logo, fixidez do salrio para o trabalhador. Onde exibalho assalariado, existe a fixidez. E isso considerado por Bastiat o seu atributodo compensa. Em adio, o fato de que no estado social em que o capitalsenvolvido a produo social, no geral, mais regular, mais contnua, mais varia

    go, tambm a renda para os que nela se ocupam mais fixa do que ali onpital, ou seja, a produo, no se desenvolveu a esse nvel outra tautologia contidprio conceito de capital e de uma produo nele baseada. Em outras palavras: qga que a existncia universal do trabalho assalariado pressupe um desenvolvimais elevado das foras produtivas em relao aos estgios anteriores ao trabsalariado? E como ocorreria aos socialistas formular exigncias superiores seessupusessem esse desenvolvimento superior das foras produtivas sociais promolo trabalho assalariado? Na verdade, tal desenvolvimento o pressuposto de igncias.

    Nota: a primeira forma em que o salrio se apresenta de modo generalizado o slitar, que aparece com o declnio dos exrcitos nacionais e das milcias de cidadocio, o soldo era pago aos prprios cidados. Logo em seguida, foram substitudo

    ercenrios, que no precisavam ser cidados.

    2) ( impossvel prosseguir com esse nonsense.|

    Portanto, ns deixamos de lado o sr. Bast

    Thomas Tooke,A history of prices, and of the state of the circulation(Londres, Longman, Orme, Brown, Green andngmans, 1838-57, 6 v.). Em junho de 1857, pouco antes da redao do esboo sobre Bastiat e Carey, Marx estudoratou o tomo 6 da obra de Thomas Tooke e William Newmarch, A history of prices, and of the state of the circulati

    ing the nine years 1848-1856(Londres, Longman, Orme, Brown, Green and Longmans, 1857, v. 6).Frdric Bastiat, Harmonies conomiques(2. ed., Paris, Guillaumin, 1851), p. 364, nota do editor: [Bastiat] props

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    mo declarou, a se basear principalmente nos trabalhos de M. Carey, da Filadlfia, para combater a teoria de Rica

    Autnticas, de boa-f. (N. T.)

    A parte inferior da quarta pgina do manuscrito est em branco. Provavelmente Marx pretendia, aps o |Prloocupa as primeiras trs pginas e a parte superior da quarta pgina do manuscrito e contm uma descrio gera

    as de Frdric Bastiat e de Henry Charles Carey , caracterizar com mais detalhe o livro de Bastiat, Harmoniesnomiques, cit.

    Trata-se do captulo 14 da segunda edio do livro de Frdric Bastiat, Harmonies conomiques, cit. No total, a sego contm 25 captulos.

    Os nmeros de pginas indicados no pargrafo so referncias de Marx ao livro de Bastiat. (N. T.)Em Frdric Bastiat, Harmonies conomiques,cit., p. 379.

    Ibidem, p. 380.

    Ibidem, p. 384.

    Segundo Bastiat, os |fundos de penso dos trabalhadoresf devem ser formados a partir dos recursos dos prpribalhadores; somente assim eles podem assegurar o grau adequado da estabilidade (Frdric Bastiat, Harmoniesnomiques, cit., p. 395).

    Ibidem, p. 402: |A elevao dos salrios [...] facilita a poupana e a transformao do assalariado em capitalistaf

    Ibidem, p. 378-9 e 388.

    Pierre-Joseph Proudhon, Systme des contradictions conomiques ou Philosophie de la misre(Paris, Guillaumin, 184 bras.: Sistema das contradies econmicas ou Filosofia da misria, So Paulo, cone, 2003].

    Frdric Bastiat, Harmonies conomiques, cit., p. 379-82.

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    Sumrio[1]

    Introduo[I. Produo, consumo, distribuio, troca (circulao)]

    1. A produo em geral2. A relao geral entre produo, distribuio, troca e consumo

    3. O mtodo da economia poltica4. Meios (foras) de produo e relaes de produo, relaes produo e relaes de intercmbio etc.

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    A. Introduo

    [I. Produo, consumo, distribuio, troca (circulao)]

    1) A produo em geral

    O objeto nesse caso , primeiramente, aproduo material.I ndivduos produzindo em sociedade por isso, o ponto de partida , naturalmenoduo dos indivduos socialmente determinada. O caador e o pescador, singula

    olados, pelos quais comeam Smith e Ricardo[2], pertencem s iluses desprovidantasia das robinsonadas do sculo XVIII, iluses que de forma alguma expremo imaginam os historiadores da cultura, simplesmente uma reao ao excessfinamento e um retorno a uma vida natural mal-entendida. Da mesma maneira qntrato socialfde Rousseau, que pelo contrato pe em relao e conexo sujeitostureza independentes, no est fundado em tal naturalismo. Essa a aparncia, apaparncia esttica das pequenas e grandes robinsonadas. Trata-se, ao contrriotecipao da sociedade burguesa[3], que se preparou desde o sculo XVI e quculo XVIII, deu largos passos para sua maturidade. Nessa sociedade dancorrncia, o indivduo aparece desprendido dos laos naturais etc. que, em pstricas anteriores, o faziam um acessrio de um conglomerado humano determinimitado. Aos profetas do sculo XVIII, sobre cujos ombros Smith e Ricardo ainoiam inteiramente, tal indivduo do sculo XVI I I produto, por um ladssoluo das formas feudais de sociedade e, por outro, das novas foras produ

    senvolvidas desde o sculo XVI aparece como um ideal cuja existncia estarssado. No como um resultado histrico, mas como ponto de partida da histria. e o indivduo natural, conforme sua representao da natureza humana, no se orhistria, mas posto pela natureza. At o momento essa tem sido uma iluso com

    oda nova poca. Steuart, que em muitos aspectos contrasta com o sculo XVI I I e,stocrata, mantm-se mais no terreno histrico, evitou essa ingenuidade.Quanto mais fundo voltamos na histria, mais o indivduo, e por isso tamb

    divduo que produz, aparece como dependente, como membro de um todo maio

    cio, e de maneira totalmente natural, na famlia e na famlia ampliada em tamm]; mais tarde, nas diversas formas de comunidade resultantes do conflito so das tribos. Somente no sculo XVIII, com a sociedade burguesa, as divrmas de conexo social confrontam o indivduo como simples meio para seus ivados, como necessidade exterior. Mas a poca que produz esse ponto de visnto de vista do indivduo isolado, justamente a poca das relaes sociais (univesde esse ponto de vista) mais desenvolvidas at o presente. O ser humano ntido mais literal, um zVon politikn[4], no apenas um animal social, mas tam

    m animal que somente pode isolar-se em sociedade. A produo do singular isora da sociedade um caso excepcional que decerto pode muito bem ocorrer a

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    vilizado, j potencialmente dotado das capacidades da sociedade, por acaso perdidva to absurda quanto o desenvolvimento da linguagem sem indivduos vive

    ntos e falando uns com os outros. No necessrio estender-se sobre isso. No eciso mencionar essa questo, que tinha sentido e razo de ser entre as pessoaculo XVI I I , no fosse o disparate seriamente reintroduzido no centro da mais moonomia por Bastiat, Carey[5], Proudhon etc. Para Proudhon, entre outroturalmente cmodo produzir uma explicao histrico-filosfica da origem de

    ao econmica, cuja gnese histrica ignora, com a mitologia de que Adometeu esbarrou na ideia pronta e acabada, que foi ento introduzida etc.[6] Nda mais tediosamente rido do que as fantasias do locus communis[a].Por isso, quando se fala de produo, sempre se est falando de produo em

    terminado estgio de desenvolvimento social da produo de indivduos sosse modo, poderia parecer que, para poder falar em produo em geral, deveraa seguir o processo histrico de desenvolvimento em suas distintas fases, seja decr antecipao que consideramos uma determinada poca histrica, por exemp

    oderna produo burguesa, que de fato o nosso verdadeiro tema. No entanto, tpocas da produo tm certas caractersticas em comum, determinaes em comproduo em geral uma abstrao, mas uma abstrao razovel, na medida em

    etivamente destaca e fixa o elemento comum, poupando-nos assim da repettretanto, esse Universal, ou o comum isolado por comparao, ele prprio

    ultiplamente articulado, cindido em diferentes determinaes. Algumas determinartencem a todas as pocas; outras so comuns apenas a algumas. [Ceterminaes sero comuns poca mais moderna e mais antiga. Nenhuma prodria concebvel sem elas; todavia, se as lnguas mais desenvolvidas tm le

    terminaes em comum com as menos desenvolvidas, a diferena desse univermum precisamente o que constitui seu desenvolvimento. As determinaeslem para a produo em geral tm de ser corretamente isoladas de maneira que, unidade decorrente do fato de que o sujeito, a humanidade, e o objeto, a natu

    o os mesmos , no seja esquecida a diferena essencial. Em tal esquecimento repor exemplo, toda a sabedoria dos economistas modernos que demonstram a eterni

    a harmonia das relaes sociais existentes. Por exemplo: nenhuma produo posm um instrumento de produo, mesmo sendo este instrumento apenas a

    enhuma produo possvel sem trabalho passado, acumulado, mesmo sendobalho apenas a destreza acumulada e concentrada na mo do selvagem pelo exerpetido. O capital, entre outras coisas, tambm instrumento de produo, tambalho passado, objetivado [objektivierte]. Logo, o capital uma relao nativersal e eterna; quer dizer, quando deixo de fora justamente o especfico, o que fa

    nstrumento de produo, do trabalho acumulado, capital. Por essa razo, tostria das relaes de produo aparece em Carey, por exemplo, como uma malisificao provocada pelos governos.Se no h produo em geral, tambm no h igualmente produo univers

    oduo sempre um ramoparticularda produo por exemplo, agricultura, pecu

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    anufatura etc. ou uma totalidade. Mas a economia poltica no tecnolesenvolver em outro lugar (mais tarde) a relao das determinaes universaioduo, em um estgio social dado, com as formas particulares de produnalmente, a produo tambm no somente produo particular. Ao contrrmpre um certo corpo social, um sujeito social em atividade em uma totalidade m

    menor de ramos de produo. Do mesmo modo, a relao que a apresenntfica tem com o movimento real [reellen] ainda no vem ao caso nesse pooduo em geral. Ramos particulares de produo. Totalidade da produo. moda fazer preceder a Economia de uma parte geral e justamente a que figur

    ttulo Produo (ver, por exemplo, J . St. Mill[7]) , na qual so tratadas as condraisde toda produo. Essa parte geral consiste ou deve supostamente consistir: 1ndies sem as quais a produo no possvel. Isso significa, de fato, nada mae indicar os momentos essenciais de toda produo. Mas se reduz de fato, cremos, a algumas determinaes muito simples convertidas em banais tautologias condies que, em maior ou menor grau, fomentam a produo, como, por exemestado progressivo ou estagnante da sociedade de Adam Smith[8]. Para con

    gnificado cientfico a isso, que em Smith tinha seu valor como sntese f, secessrias investigaes sobre os perodos dosgraus de produtividadesenvolvimento dos povos singulares uma investigao que ultrapassa os limprios do tema, mas que, na medida em que faz parte dele, deve ser inseridsenvolvimento da concorrncia, acumulao etc. Na verso geral, a resposta resum

    proposio geral de que um povo industrial alcana o auge de sua produo justammomento mesmo em que est em seu auge histrico. |De fatoi. Um povo est em

    ge industrial na medida em que, para ele, o essencial no somente o ganho, m

    nhar. Nesse caso, os ianquesi [so] superiores aos ingleses. Ou ento: na medide, por exemplo, certas predisposies raciais, certos climas, certas condies natumo proximidade do litoral, fecundidade do solo etc., so mais favorveis produe outras. O que acaba na tautologia de que a riqueza criada com maior facilida

    edida que seus elementos objetivos e subjetivos esto disponveis em maior grau.Para os economistas, entretanto, no s isso que efetivamente importa nessa p

    ral. Mais do que isso, a produo deve ser representada veja, por exemplo, Milferena da distribuio etc., como enquadrada em leis naturais eternas, independe

    histria, oportunidade em que as relaes burguesas so furtivamntrabandeadas como irrevogveis leis naturais da sociedade in abstracto[b]. Essejetivo mais ou menos consciente de todo o procedimento. Na distribuio, em tromanidade deve ter se permitidof de fato toda espcie de arbtrio[9]. Abstrampletamente dessa grosseira disjuno entre produo e distribuio e da sua reletiva, deve ser desde logo evidente que, por mais que possa ser diversa a distribu

    m diferentes graus de sociedade, deve ser possvel tambm nesse caso, assim comora a produo, destacar as determinaes em comum e, da mesma forma, confundtinguir todas as diferenas histricas em leis humanas gerais. Por exemplo, o escrarvo e o trabalhador assalariado, todos recebem uma certa quantidade de alimentos

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    permitem existir como escravos, servos e trabalhadores assalariados. O conquiste vive do tributo, ou o funcionrio, que vive do imposto, ou o proprietrio fundie vive da renda, ou o monge, que vive da esmola, ou o levita, que vive do dzimo, t

    cebem uma cota da produo social determinada por leis diferentes das terminam a cota dos escravos etc. Os dois pontos fundamentais que os economlocam sob essa rubrica so: 1) propriedade; 2) sua proteo pela justia, polcia etce se deve responder muito brevemente:Ad. 1. Toda produo apropriao da natureza pelo indivduo no interior

    ediada por uma determinada forma de sociedade. Nesse sentido, uma tautormar que propriedade (apropriao) uma condio da produo. risvel, entretr um salto da para uma forma determinada de propriedade, por exemplo, paopriedade privada. (O que, alm disso, presumiria da mesma maneira uma fotittica, a nopropriedade, como condio.) A histria mostra, pelo contrropriedade comunal (por exemplo, entre os hindus, os eslavos, os antigos celtasmo a forma original, uma forma que cumpre por um longo perodo um p

    gnificativo sob a figura de propriedade comunal. Est totalmente fora de questo

    dagar se a riqueza se desenvolveria melhor sob essa ou aquela forma de propriedas dizer que a produo e, por conseguinte, a sociedade so impossveis ondeiste qualquer forma [de] propriedade uma tautologia. Uma apropriao que nropria de nada uma contradictio in subjecto[c].Ad. 2. Salvaguardar o adquirido etc. Quando tais trivialidades so reduzidas ao

    etivo contedo, expressam mais do que sabem seus pregadores. A saber, que rma de produo forja suas prprias relaes jurdicas, forma de governo etsipincia e o desentendimento consistem precisamente em relacionar casualmen

    e organicamente conectado, em reduzi-lo a uma mera conexo da reflexoonomistas burgueses tm em mente apenas que se produz melhor com a pooderna do que, por exemplo, com o direito do mais forte. S esquecem que o direiais forte tambm um direito, e que o direito do mais forte subsiste sob outra fo

    m seu estado de direito.Quando as condies sociais correspondentes a determinados estgios da prod

    meam a se formar, ou quando desaparecem, ocorrem naturalmente perturbaeoduo, muito embora com grau e efeito distintos.Para resumir: para todos os estgios da produo h determinaes comuns qu

    adas pelo pensamento como determinaes universais; mas as assim chamndies universaisde toda produo nada mais so do que esses momentos abstrm os quais nenhum estgio histrico efetivo da produo pode ser compreendido.

    2) A relao geral entre produo, distribuio, troca econsumo

    ntes de entrar em uma anlise ulterior da produo, necessrio considerar as dist

    bricas que os economistas colocam ao seu lado.

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    A representao superficial claramente perceptvel: na produo, os membrociedade apropriam (elaboram, configuram) os produtos da natureza s necessidmanas; a distribuio determina a proporo em que o indivduo singular partsses produtos; a troca o prov dos produtos particulares nos quais deseja converta que lhe coube pela distribuio; no consumo, finalmente, os produtos dejetos do desfrute, da apropriao individual. A produo cria os obrrespondentes s necessidades; a distribuio os reparte segundo leis sociais; a tparte outra vez o j repartido, segundo a necessidade singular; finalmentensumo, o produto sai desse movimento social, devm diretamente objeto e servicessidade singular e a satisfaz no desfrute. A produo aparece assim como o ponrtida; o consumo, como o ponto final; a distribuio e a troca, como o meio-termal, por sua vez, ele prprio dplice, uma vez que a distribuio o momterminado pela sociedade e a troca, o momento determinado pelos indivduosoduo, a pessoa se objetiva, na pessoa [10], a coisa se subjetiva; na distribuiciedade assume a mediao entre produo e consumo sob a forma de determinaminantes; na troca, produo e consumo so mediados pela determinabilid

    ntingente do indivduo.A distribuio determina a proporo (o quantum) dos produtos que cabe

    divduos; a troca determina os produtos nos quais o indivduo reclama para si ae lhe atribui a distribuio.Produo, distribuio, troca e consumo constituem assim um autntico silogism

    oduo a universalidade, a distribuio e a troca, a particularidade, e o consumngularidade na qual o todo se unifica. Esta certamente uma conexo, mas nexo superficial. A produo determinada por leis naturais universai

    stribuio, pela casualidade social, e pode, por isso, ter um efeito mais ou mtimulante sobre a produo; a troca interpe-se entre ambos como movimento srmal; e o ato conclusivo do consumo, concebido no apenas como fim, mas tammo finalidade propriamente dita, situa-se propriamente fora da economia, exando retroage sobre o ponto de partida e enceta de novo todo o processo.Os adversrios dos economistas polticos seja do interior, seja do exterior de

    mbito , que os censuram pela brbara ciso daquilo que relacionado, esto no mereno deles ou mesmo em nvel inferior ao deles. Nada mais corriqueiro do q

    nsura aos economistas polticos por conceberem a produo exclusivamente como

    m si. A distribuio seria igualmente importante. Tal crtica est baseada precisamideia econmica de que a distribuio reside ao lado da produo como e

    tnoma e independente. Ou no fato de que os momentos no seriam concebidoa unidade. Como se a dissociao no fosse passada da realidade aos livros-texto,versamente dos livros-texto realidade, e como se aqui se tratasse de um nivelamaltico de conceitos e no da concepo de relaes reais!

    A produo tambm imediatamente consumo. Duplo consumo, subjeti

  • 8/21/2019 Grundrisse_ Manuscritos Economi - Karl Marx

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    jetivo: o indivduo que desenvolve suas capacidades ao produzir tambm as despensome-as no ato da produo, exatamente como a procriao natural um consumras vitais. Em segundo lugar: consumo dos meios de produo que so usadsgastados e, em parte (como, por exemplo, na combusto), transformados novams elementos gerais. Assim como o consumo da matria-prima, que no permanecea forma [Gestalt] e constituio naturais, sendo, ao contrrio, consumida. Por isprio ato de produo , em todos os seus momentos, tambm um ato de consuas isso concedem os economistas. Chamam deconsumo produtivoa produo enquediatamente idntica ao consumo, e o consumo enquanto imediatamente coincidm a produo. Essa identidade de produo e consumo vem a ser a mesma coisa qoposio de Spinoza: determinatio est negatio[11].Mas essa determinao do consumo produtivo formulada justamente

    stinguir o consumo idntico produo do consumo propriamente dito, quncebido antes como anttese destruidora da produo. Consideremos, portannsumo propriamente dito.O consumo tambm imediatamente produo, do mesmo modo que na nature

    nsumo dos elementos e das substncias qumicas produo da planta. Por exemnutrio, que uma forma de consumo, claro que o ser humano produz seu pr

    rpo. Mas isso vale para todo tipo de consumo que, de um modo ou de outro, prodr humano sob qualquer aspecto. Produo consumptiva. Porm, diz a Economiaoduo idntica ao consumo uma segunda produo, derivada da destruioimeiro produto. Na primeira, coisificou-se o produtor; na segunda, personificaisa por ele criada. Portanto, essa produo consumptiva muito embora seja idade imediata de produo e consumo essencialmente distinta da prod

    opriamente dita. A unidade imediata em que a produo coincide com o consumnsumo com a produo mantm a sua dualidade imediata.Logo, a produo imediatamente consumo e o consumo imediatamente prod

    da um imediatamente seu contrrio. Mas tem lugar simultaneamenteovimento