215
EM DEFESA DE UM MUNDO SUSTENTÁVEL SEM TRANSGÊNICOS Grupo de Ciência Independente

Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

EM DEFESA DE UM

MUNDO SUSTENTÁVEL

SEM TRANSGÊNICOS

Grupo de Ciência Independente

Page 2: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 3: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

EDITORAEXPRESSÃO POPULAR

EM DEFESA DE UM

MUNDO SUSTENTÁVEL

SEM TRANSGÊNICOS

Grupo de Ciência Independente

Page 4: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Copyright © 2004, by Editora Expressão Popular

Título original em inglês: The Case For A GM-Free Sustainable World

Tradução: Maria Almeida e Camila MorenoRevisão Técnica: EdnaRevisão: Geraldo Martins de Azevedo FilhoProjeto gráfico, capa e diagramação: ZAP DesignIlustração da capa:Impressão e acabamento: Cromosete

Todos os direitos reservados.Nenhuma parte deste livro pode ser utilizadaou reproduzida sem a autorização da editora.

1ª edição: maio de 2004

EDITORA EXPRESSÃO POPULARRua Bernardo da Veiga, 14CEP 01252-020 - São Paulo-SPFone/Fax: (11) 3112-0941Correio eletrônico: [email protected]

Page 5: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

SUMÁRIO

NEM VASSALOS, NEM IRRESPONSÁVEIS ........................................................ 7

APRESENTAÇÃO............................................................................................... 9

PREFÁCIO ......................................................................................................... 13

RESUMO EXECUTIVO ...................................................................................... 15

PARTE 1 - NÃO HÁ FUTURO PARA OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS

1. POR QUE NÃO AOS TRANSGÊNICOS? ........................................................ 31

2. INTENSIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS NO CAMPO ....................................... 37

PARTE 2 - OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO SÃO SEGUROS

3. CIÊNCIA E PRECAUÇÃO ............................................................................... 49

4. TESTES DE SEGURANÇA DOS ...................................................................... 57

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS ....................................................................... 57

5. OS PERIGOS DO TRANSGENE ...................................................................... 63

6. OS CULTIVOS TERMINATOR PROPAGAM A ............................................... 67

ESTERILIDADE MASCULINA ........................................................................ 67

7. OS PERIGOS DOS AGROTÓXICOS ............................................................... 71

8. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES ............................................. 77

9. O PROMOTOR CAMV 35S ........................................................................... 81

10. MAIOR PROBABILIDADE DE PROPAGAÇÃO ............................................ 87

DE DNA TRANSGÊNICO .............................................................................. 87

11. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL ............................................................. 91

DE DNA TRANSGÊNICO .............................................................................. 91

12. OS PERIGOS DA TRANSFERÊNCIA ............................................................. 101

HORIZONTAL DE GENES ............................................................................. 101

13. CONCLUSÃO DAS PARTES 1 E 2 ................................................................ 105

PARTE 3 - OS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

14. POR QUE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL? ................................................ 111

15. PRODUTIVIDADE E RENDIMENTOS .......................................................... 115

MAIORES OU COMPARÁVEIS ................................................................... 115

16. MELHORES SOLOS ..................................................................................... 125

17. UM AMBIENTE MAIS LIMPO ..................................................................... 131

Page 6: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

18. REDUÇÃO DE AGROTÓXICOS ................................................................... 135

SEM AUMENTO DE PRAGAS ...................................................................... 135

19. APOIANDO A BIODIVERSIDADE E ............................................................ 139

UTILIZANDO A DIVERSIDADE .................................................................... 139

20. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ............................................................. 147

E ECONÔMICA ........................................................................................... 147

21. DIMINUINDO IMPACTOS INDUTORES ...................................................... 151

DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS.................................................................... 151

22. PRODUÇÃO EFICIENTE E RENTÁVEL ........................................................ 155

23. MAIOR SEGURANÇA ALIMENTAR E ......................................................... 159

BENEFÍCIOS PARA AS COMUNIDADES LOCAIS ........................................ 159

24. ORGÂNICOS PELA SAÚDE ......................................................................... 167

25. CONCLUSÃO DA PARTE 3 ......................................................................... 173

APÊNDICE ......................................................................................................... 189

DECLARAÇÃO DO GRUPO DE CIÊNCIA INDEPENDENTE ............................... 189

PRONUNCIADA EM 10 DE MAIO DE 2003, EM LONDRES. ............................ 189

O GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP ............................................................ 191

GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP – LISTA DE MEMBROS ........................... 193

Page 7: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

NEM VASSALOS, NEM IRRESPONSÁVEIS

O Governo do Paraná, a Editora Expressão Popular e a AcciónEcológica divulgam, para o conhecimento dos brasileiros, estacoletânea de textos de cientistas de todo o mundo contra ostransgênicos. É mais uma contribuição para o debate do tema.Especialistas das mais diversas áreas fazem aqui alertas dramáti-cos e propõem uma agricultura e um mundo ambientalmentesustentáveis.

A minha posição sobre os transgênicos é de todos conhecida.De um lado, a resistência a que nos transformemos em vassalosdas multinacionais que detêm as patentes das sementes genetica-mente modificadas. Além do que, firma-se como estultice (ouentão o mais desbragado entreguismo) aceitar a contaminaçãode nossa agricultura com sementes transgênicas, quando cresce acada dia a demanda mundial pelos produtos puros.

De outro, a prudência. Permitir o plantio e o consumo emlarga escala de organismos geneticamente modificados, sem umaséria e profunda avaliação dos riscos, para a saúde e para o meioambiente, é irresponsabilidade. O princípio da precaução deve

Page 8: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

nortear as ações de todo governo. O Protocolo de Cartagena nãopode ser, como tantos outros protocolos e tratados, mera retórica.

Isso não quer dizer oposição às pesquisas. Pelo contrário. Nosetor agropecuário, por exemplo, o Paraná é hoje um dos Esta-dos que mais avanços científicos acumulou, trazendo para nos-sos agricultores e nossa economia importantes conquistas.

A todos, uma boa leitura. Que os textos aqui agrupados pos-sam contribuir para o debate e trazer os esclarecimentos e as in-formações que todos buscamos.

Roberto RequiãoGovernador do Paraná

Page 9: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

APRESENTAÇÃO

No ano de 2003, o país assistiu a uma das maiores ofensivasdas multinacionais do setor de sementes e agrotóxicos contra alegislação brasileira, para conseguir, a qualquer custo, a liberaçãodos cultivos transgênicos. Amparadas por parcelas da comuni-dade científica que atuam na área de biotecnologia, as corporaçõesque dominam o setor bombardearam a opinião pública commatérias publicadas nos mais variados meios de comunicação,passando a mensagem de que ser contra os produtos transgênicosé uma atitude atrasada e anticientífica. Na esfera governamental,o presidente da República, ministros e vários parlamentares pas-saram a repetir publicamente que a decisão seria “técnica” e nãoideológica, fazendo eco à mensagem publicitária das empresasde biotecnologia. Infelizmente, as vozes dissonantes no meio cien-tífico nacional tiveram pouco espaço na imprensa ou pouca co-ragem para se expor publicamente.

Este livro, tradução do original em inglês publicado em ju-nho de 2003 por um grupo de renomados cientistas de váriasnacionalidades, vem preencher uma lacuna da literatura sobre o

Page 10: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

10 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

tema disponível em língua portuguesa. Trata-se de uma compi-lação de informações geradas por várias disciplinas científicas, agrande maioria delas publicadas em periódicos internacionais,permitindo aos leitores tomar conhecimento que há controvér-sias no meio científico em relação à segurança dos organismosgeneticamente modificados. Como os leitores poderão ver, asinformações aqui apresentadas vêm confirmar a importância es-tratégica do princípio de precaução adotado pela Convenção deDiversidade Biológica através do Protocolo de Cartagena, des-mascarando a falsa ambigüidade entre ciência e princípio de pre-caução que as grandes corporações e seus súditos de plantão vêmtentando disseminar no país.

O livro está organizado em duas seções. A primeira delas traz12 capítulos, cada um deles discutindo os diversos aspectos rela-cionados aos perigos potenciais que a engenharia genética trazpara o meio ambiente e para a saúde de consumidores, tantohumanos quanto animais. Os autores alertam sobre a precarie-dade de testes sobre a segurança de alimentos transgênicos, oaumento do uso de agrotóxicos nos países que têm adotado essatecnologia e sobre a instabilidade genética observada em orga-nismos transgênicos. A segunda seção descreve uma série de ini-ciativas exitosas desenvolvidas em várias partes do mundo volta-das à promoção de uma agricultura sustentável, demonstrandoque há formas mais criativas, mais baratas, socialmente apropria-das e ambientalmente seguras de produzir alimentos. As análisesapresentadas no conjunto do livro apoiam-se em farta bibliogra-fia, totalizando 224 citações listadas na parte final.

Ainda que a maioria das citações refira-se a experiências desen-volvidas em outros países, é sabido que o Brasil destaca-se mundial-mente como um dos centros de referência em agroecologia. Sãomilhares de famílias anônimas de pequenos produtores espalha-

Page 11: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 11

dos nos diversos ecossistemas brasileiros que, praticamente semapoio de políticas públicas, vem convertendo os seus sistemas deprodução para bases agroecológicas. Estes se somam aos milhõesde outras famílias que não abandonaram seus sistemas de produ-ção tradicional, originalmente agroecológicos. São estes guardiãesda agrobiodiversidade os mais ameaçados com a leviandade dogoverno em ceder às pressões das corporações transnacionais dosetor de sementes e agrotóxicos e adotar uma atitude imprudenteem relação à liberação de cultivos transgênicos no país.

É importante lembrar que o governo ignorou a Constituição ea legislação ambiental ao liberar a colheita da safra de sojatransgênica plantada ilegalmente na safra de 2002/2003, refor-çando a cultura de impunidade que vigora no país. Fez-se surdo àsreivindicações dos movimentos populares e de outros segmentosda sociedade civil organizada quando mais uma vez desrespeitou alegislação vigente e liberou o plantio de soja transgênica na safra2003/2004. O mesmo rumo seguiu a maioria dos parlamentaresda Câmara dos Deputados ao aprovar um projeto de lei debiossegurança que relaxa todos os procedimentos necessários paragarantir a aplicação do princípio de precaução. Diante de tantacapitulação, é necessário retomar o debate e exigir que o Governoreveja sua posição sobre os transgênicos e não trate da mesma for-ma cultivos em que o país guarda importante diversidade biológicae conhecimento tradicional associado, como é o caso do milho edo algodão, alvos certos das empresas de biotecnologia.

Em um país no qual o poder econômico controla a maiorparte das informações veiculadas e que a produção científica estácada vez mais subordinada aos interesses das grandes corporações,a iniciativa da Editora Expressão Popular de publicar este livro éde extrema importância. Contribuiu para desmascarar a falsida-de ideológica daqueles que usam em vão o nome da ciência para

Page 12: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

impor modelos tecnológicos de dominação. A compilação dedados apresentada neste livro oxigena o debate e agrega elemen-tos que permitem uma reflexão crítica por parte de todos os inte-ressados nos rumos da agricultura brasileira, na conservação dabiodiversidade que o país abriga e na garantia de alimentos lim-pos e seguros com justiça social.

Maio de 2004

Angela CordeiroEnga. Agrônoma

M.Sc. Conservation of Plant Genetic Resources,University of Birmingham, UK

Page 13: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Os membros do Grupo de Ciência Independente (IndependentScience Panel, ISP) sobre organismos transgênicos tiveram a opor-tunidade de analisar numerosas evidências científicas e outrasevidências registradas nas últimas décadas sobre a engenhariagenética. Muitos dos membros do ISP estão entre os mais de600 cientistas de 72 países que assinaram a “Carta aberta doscientistas do mundo a todos os governos” [1], uma campanhainiciada em 1999 que pedia moratória à liberação, no meio am-biente, de organismos geneticamente modificados (OGMs), aproibição de patentes sobre processos vivos, organismos, semen-tes, linhagens de células e genes, e a realização de uma extensapesquisa pública sobre o futuro da agricultura e da segurançaalimentar.

Os fatos ocorridos desde 1999 na ciência e em outros âmbi-tos confirmaram nossas preocupações sobre a segurança da en-genharia genética, os cultivos transgênicos e a segurança alimen-tar. Ao mesmo tempo, o sucesso e os benefícios das diferentes

PREFÁCIO

Page 14: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

14 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

formas de agricultura sustentável são inegáveis. As evidências aquisistematizadas representam fortes justificativas para a proibiçãomundial à liberação, no meio ambiente, de cultivos transgênicos,como caminho para uma ampla mudança dirigida à agroecologia,agricultura sustentável e produção orgânica.

As evidências sobre as razões pelas quais os cultivostransgênicos não são uma opção viável para um futuro sustentá-vel são apresentadas nas partes 1 e 2; enquanto que na parte 3são apresentadas evidências dos bons resultados e dos benefíciosdas práticas agrícolas sustentáveis.

NOTA

Este relatório é o resumo de uma vasta bibliografia. Incluí-mos a maior quantidade possível de fontes primárias; porém,muitos dos documentos citados na lista de referência bibliográfi-ca são, por sua vez, extensas resenhas de bibliografia científica eoutros materiais, submetidos a diversos organismos nacionais einternacionais.

Na elaboração do Relatório do ISP, os membros são respon-sáveis pelos campos nos quais têm competência específica e aoaval geral do relatório em seu conjunto. Cada membro individualdo ISP reconhece a perícia e a autoridade de outros membrosnas áreas em que não tenha competência específica.

Page 15: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 15

POR QUE LIVRE DE TRANSGÊNICOS?

1. Os cultivos transgênicos não produziram os benefíciosprometidos

Evidências consistentes, oriundas de pesquisas independen-tes e de estudos de campo realizados desde 1999, mostram queos cultivos transgênicos não trouxeram os benefícios prometidosde aumentar significativamente as produtividades ou de reduzira utilização de herbicidas e outros agrotóxicos. Estima-se que oscultivos transgênicos tenham custado aos Estados Unidos cercade 12 bilhões de dólares em subsídios agrícolas, perdas nas ven-das e recolhimento de produtos devido à contaminaçãotransgênica. Na Índia, nos cultivos de algodão Bt resistentes ainsetos, foram registradas perdas “massivas” que chegaram a100%.

Desde 2000, as empresas de biotecnologia sofreram rápidodeclínio e os consultores de investimento prevêem que elas nãoterão futuro no setor agrícola. Enquanto isso, a resistência mun-dial aos transgênicos alcançou seu clímax em 2002, quando a

RESUMO EXECUTIVO

Page 16: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

16 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Zâmbia, apesar da ameaça de fome no país, recusou o milhotransgênico enviado como ajuda alimentar.

2. Os cultivos transgênicos intensificamos problemas no campo

A instabilidade das linhagens transgênicas é, desde o início,um problema para a indústria e pode ser responsável por umacadeia de grandes fracassos nas colheitas. Em 1994, um estudoafirmava que: “Embora existam alguns exemplos de plantas quedemonstram expressão estável de um transgene, essas podemprovar que são as exceções à regra. Em uma pesquisa informalcom mais de 30 empresas envolvidas na comercialização de cul-tivos trangênicos (...) quase todos os entrevistados indicaram quehaviam observado um certo grau de inação do transgene. Mui-tos entrevistados indicaram que a maioria dos casos de inatividadedo transgene nunca chegou à literatura especializada”.

No Canadá já podem ser encontradas, amplamente distribuí-das, plantas de canola espontâneas, com tripla tolerância aherbicidas, provenientes da combinação entre plantas transgênicase não transgênicas dessa espécie. Nos Estados Unidos surgiramplantas espontâneas e invasoras com similar tolerância múltiplaa herbicidas. Nos Estados Unidos ervas daninhas com tolerânciaao glifosato infestam os campos de algodão e de soja transgênicose a atrazina, um dos herbicidas mais tóxicos, teve de ser utilizadapara o milho transgênico tolerante ao glufosinato.

Características do biopesticida Bt ameaçam criar, simultanea-mente, superervas daninhas e pragas resistentes ao Bt.

3. A inevitável contaminação transgênica extensivaUma vasta contaminação transgênica ocorreu em cultivos de

espécies crioulas de milho, cultivadas em regiões remotas do

Page 17: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 17

México, apesar da moratória oficial em vigor naquele país desde1998. Altos índices de contaminação também têm sido encon-trados no Canadá; em um teste com 33 amostras de sementes decanola certificada, 32 estavam contaminadas.

Novas pesquisas revelam que o pólen transgênico, caído di-retamente no solo ou espalhado pelo vento e depositado em outroslugares, é uma fonte importante de contaminação transgênica.Em geral, a contaminação é reconhecida como inevitável, por-tanto, “não pode haver coexistência de cultivos transgênicos enão transgênicos”.

4. Os cultivos transgênicos não são segurosAo contrário das afirmativas de seus proponentes, os cultivos

transgênicos não têm provado serem seguros. As bases para suaregulamentação foram totalmente falhas, desde as origens, poisse baseou em um enfoque de antiprecaução escolhido para obtera aprovação rápida dos produtos em detrimento das considera-ções sobre segurança.

O princípio de “equivalência substancial”, sobre o qual sebaseia a avaliação do risco, é intencionalmente vago e mal defi-nido, garantindo desta forma às empresas completa permissãopara declarar os produtos transgênicos como “substancialmenteequivalentes” aos não transgênicos e, portanto, “seguros”.

5. Os alimentos transgênicos levantam preocupações sériassobre segurança

Existem poucos estudos confiáveis sobre a segurança dos ali-mentos transgênicos. Contudo, os resultados disponíveis já dãomotivos para preocupação. Na única pesquisa sistemática sobrealimentos transgênicos, realizada no mundo até o presente, fo-ram encontrados, no estômago e no intestino delgado de ratos

Page 18: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

18 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

jovens, efeitos “semelhantes aos de fatores de crescimento”, quenão foram inteiramente devidos ao produto transgênico, e, por-tanto, foram atribuídos ao processo da transgênese ou à constru-ção transgênica e, como tal, “poderiam ser efeitos gerais e co-muns a todos os alimentos transgênicos”.

Há pelo menos dois outros estudos, mais limitados, que tam-bém levantaram sérias preocupações quanto à segurança dostransgênicos.

6. Produtos genéticos perigosos são incorporados aoscultivos

As proteínas Bt, incorporadas a 25% dos cultivostransgênicos do mundo, foram consideradas nocivas para umagrande quantidade de insetos benéficos, e algumas dessas pro-teínas são, também, imunógenos e alérgenos potentes. Umaequipe de cientistas advertiu sobre a liberação de cultivos Btpara uso humano.

Os cultivos alimentares são cada vez mais utilizados paraproduzirem fármacos e medicamentos, incluindo as citocinas,conhecidas por reprimir o sistema imunológico, causar doen-ças e toxidez ao sistema nervoso central; o alfa interferon, co-nhecido como causador de demência, neurotoxicidade e efei-tos colaterais cognitivos e de comportamento; e as vacinas eseqüências virais como o gene da proteína spike do coronavírusdo porco, pertencente à mesma família do vírus SARS associa-do com a atual epidemia mundial. O gene gp120, daglicoproteína do vírus HIV-1 da AIDS, incorporado ao milhotransgênico como uma “vacina oral, comestível e barata”, é outrabomba-relógio biológica, já que pode interferir no sistemaimunológico e se recombinar com vírus e bactérias para gerarpatógenos novos e imprevisíveis.

Page 19: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 19

7. Os cultivos terminator propagam a esterilidademasculina

Os cultivos manipulados com genes “suicidas”, para obter aesterilidade masculina nas plantas, têm sido promovidos comouma forma de “conter”, ou seja, de impedir a propagação detransgenes. Na realidade, os cultivos híbridos vendidos aos agri-cultores propagam, através do pólen, tanto os genes suicidas daesterilidade masculina quanto os genes da tolerância a herbicida.

8. Herbicidas de amplo espectro são altamente tóxicospara seres humanos e outras espécies

O glufosinato de amônio e o glifosato são utilizados em cul-tivos transgênicos tolerantes a herbicidas, que, atualmente, re-presentam 75% de todos os cultivos transgênicos espalhados nomundo. Ambos os produtos são venenos metabólicos sistêmicoscom uma ampla gama de efeitos nocivos previstos, que têm sidoconfirmados.

O glufosinato de amônio está associado às toxicidades neu-rológica, respiratória, gastrointestinal e hematológica, bem comoa defeitos congênitos em seres humanos e mamíferos. É tóxicopara borboletas e numerosos insetos benéficos, larvas de mexi-lhões e de ostras, crustáceo Daphnia, conhecido como pulgad’água, e certos peixes de água doce, em especial para a trutaarco-íris, além de inibir o desenvolvimento de bactérias e fungosbenéficos do solo, especialmente os organismos que fixam nitro-gênio.

O glifosato é a causa mais freqüente de reclamações e casosde envenenamentos na Inglaterra. Foram registrados numero-sos transtornos fisiológicos após exposições a níveis normais deuso. A exposição ao glifosato praticamente duplicou o risco deabortos espontâneos, e os filhos nascidos de pessoas que utili-

Page 20: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

20 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

zam o glifosato com freqüência apresentaram um elevado índicede transtornos de neurocomportamento. O glifosato provocouatraso no desenvolvimento do esqueleto fetal em ratos de labo-ratório.

O glifosato inibe a síntese de esteróides e é um agentegenotóxico em mamíferos, peixes e sapos. A exposição de mi-nhocas às doses habitualmente aplicadas no campo provocoumortalidade de, pelo menos, 50% e lesões intestinais importan-tes entre as sobreviventes. O Roundup provocou alterações noprocesso de divisão celular, as quais podem estar associadas comalguns tipos de câncer em seres humanos.

Os efeitos conhecidos tanto do glufosinato quanto do glifosatosão suficientemente graves para que seja suspensa a utilizaçãodesses herbicidas.

9. A engenharia genética cria supervírusDe longe, os perigos mais graves da engenharia genética são

inerentes ao próprio processo, o qual aumenta enormemente oalcance e a probabilidade de transferência horizontal de genes e arecombinação, que é a via principal para a criação de vírus ebactérias que provocam enfermidades epidêmicas. Isso ficou cons-tatado em 2001, com a criação “acidental” de um vírus letal parao rato, no curso de uma experiência de engenharia genética apa-rentemente inocente.

As mais novas técnicas, como as que envolvem transferênciasde seqüências de DNA de um local para outro (“DNA shuffling”),estão permitindo, aos geneticistas, criar no laboratório, em ques-tão de minutos, milhões de vírus recombinantes que nunca exis-tiram ao longo de milhares de milhões de anos de evolução.

Os vírus e bactérias causadores de doenças e seus materiaisgenéticos são materiais e ferramentas predominantes para a en-

Page 21: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 21

genharia genética, tanto quanto o são para a fabricação intencio-nal de armas biológicas.

10. O DNA transgênico em alimentos absorvidos porbactérias no intestino humano

Já existem evidências experimentais de que o DNAtransgênico de plantas tenha sido absorvido por bactérias no soloe no intestino de voluntários humanos. Os genes marcadores deresistência a antibiótico podem se espalhar dos alimentostransgênicos para bactérias patogênicas, tornando as infecçõesmuito difíceis de tratar.

11. O DNA transgênico e o câncerÉ sabido que o DNA transgênico sobrevive à digestão no

intestino e que é capaz de saltar para o genoma de células demamíferos, aumentando a possibilidade para o desencadeamentode câncer. Não se pode excluir a possibilidade que alimentar ani-mais com produtos transgênicos, como o milho, acarrete riscos,não apenas para os animais, mas também para os seres humanosque consomem os produtos animais.

12. O promotor CaMV 35S aumenta a transferênciahorizontal de genes

Evidências indicam que as construções transgênicas que con-têm o promotor CaMV 35S podem ser particularmente instá-veis e propensas à transferência horizontal e à recombinação degenes, com todos os riscos decorrentes: mutações genéticas devi-das à inserção aleatória, câncer, reativação de vírus latentes e ge-ração de novos vírus. Esse promotor está contido, atualmente,na maior parte dos cultivos transgênicos plantados com fins co-merciais.

Page 22: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

22 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

13. Uma história de distorção e supressão de evidênciascientíficas

Há uma longa história de distorção dos fatos e omissão deevidências científicas, especialmente no que se refere à transfe-rência horizontal de genes. Experimentos fundamentais não fo-ram realizados, ou foram realizados de forma incorreta e tiveramseus resultados distorcidos. Muitos experimentos não tiveramacompanhamento posterior, como é o caso do promotor CaMV35S, sobre o qual não se investigou se ele era responsável pelosefeitos semelhantes ao de fatores de crescimento observados emratos jovens alimentados com batatas transgênicas.

Concluindo, os cultivos transgênicos não trouxeram os be-nefícios prometidos e colocam problemas cada vez maiores paraos agricultores. A contaminação transgênica é hoje amplamentereconhecida como inevitável e, portanto, não pode haver coexis-tência de cultivos transgênicos e não transgênicos. O mais im-portante é que não se provou que os cultivos transgênicos sejamseguros; ao contrário, surgiram evidências suficientes para susci-tar graves preocupações sobre sua segurança, que, se forem igno-radas, poderão significar danos irreversíveis à saúde e ao meioambiente. Os cultivos transgênicos devem ser energicamente re-jeitados hoje.

POR QUE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL?

1. Maior produtividade e rendimento, especialmente noTerceiro Mundo

Cerca de 8,98 milhões de agricultores em 28,92 milhões dehectares da Ásia, América Latina e África adotaram práticas agrí-colas sustentáveis. Dados confiáveis de 89 projetos mostram maiorprodutividade e rendimentos: aumento de 50 a 100% nas co-

Page 23: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 23

lheitas de cultivos pluviais e de 5% a 10% nos cultivos irriga-dos. Entre as experiências melhor sucedidas estão: Burkina Faso,que passou de um deficit na produção de cereais de 644 kg porano para um superavit anual de 153 kg; Etiópia, em que 12.500domicílios se beneficiaram de um aumento de 60% nas colhei-tas; e Honduras e Guatemala, onde 45 mil famílias aumenta-ram o rendimento de suas colheitas de 400-600 kg /ha a 2.000-2.500 kg /ha.

Estudos de longo prazo em países industrializados mostramrendimentos de colheitas de lavouras orgânicas equivalentes aosde lavouras da agricultura convencional e, algumas vezes, supe-riores.

2. Melhores solosAs práticas agrícolas sustentáveis tendem a reduzir a erosão

do solo, como também a melhorar a estrutura física do solo e suacapacidade de retenção de água, dois elementos cruciais para evitara perda de colheitas nos períodos de seca.

Várias práticas agrícolas sustentáveis mantêm ou aumentama fertilidade do solo. Os estudos revelam que os níveis de matériaorgânica e de nitrogênio existentes no solo são mais elevados naslavouras orgânicas do que nas convencionais.

Constatou-se que a atividade biológica é maior nos solosmanejados organicamente. Neles há mais minhocas, artrópodes,micorrizas e outros fungos e microorganismos, todos eles be-néficos para a reciclagem dos nutrientes e para a supressão dedoenças.

3. Meio ambiente mais limpoA agricultura sustentável utiliza pouco ou nenhum insumo

químico poluente. Além disso, as pesquisas revelam que, nos solos

Page 24: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

24 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

orgânicos, ocorre menos lixiviação de nitrato e fósforo para aságuas subterrâneas.

Os sistemas orgânicos têm melhores taxas de infiltração deágua, sendo, portanto, menos propensos à erosão e capazes decontribuir menos para a contaminação da água de escoamentosuperficial.

4. Menos agrotóxicos sem aumento de pragasA agricultura orgânica proíbe a aplicação rotineira de

agrotóxicos. O manejo integrado de pragas reduziu o número depulverizações de agrotóxicos, no Vietnã, de 3,4 para 1 por safra;no Sri Lanka, de 2,9 para 0,5 por safra; e na Indonésia, de 2,9para 1,1 por safra.

Um estudo sobre a produção de tomate na Califórnia mos-trou que não houve aumento de perdas por pragas, apesar daretirada dos agrotóxicos.

É possível controlar as pragas sem utilizar agrotóxico,revertendo as perdas de cultivos, pela utilização, por exemplo, de“cultivos-armadilha” para atrair as pragas. Outros benefícios daexclusão de agrotóxicos surgem da utilização das complexas inter-relações entre as espécies de um ecossistema.

5. Apoiando a biodiversidade e utilizando a diversidadeA agricultura sustentável promove a biodiversidade agrícola,

que é vital para a segurança alimentar e para a vida no meiorural. A agricultura orgânica também pode promover uma di-versidade biológica muito maior, favorecendo espécies que te-nham diminuído de maneira significativa.

Os sistemas biodiversos são mais produtivos do que os demonocultivo. Em Cuba, os sistemas agrícolas integrados são de1,45 a 2,82 vezes mais produtivos que os monocultivos. Milhares

Page 25: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 25

de rizicultores chineses duplicaram o rendimento de suas colheitase praticamente eliminaram a enfermidade mais devastadora, sim-plesmente combinando a plantações de duas variedades.

A diversidade biológica do solo aumenta com as práticas or-gânicas, proporcionando efeitos benéficos, tais como a recupera-ção e reabilitação de solos degradados, melhorias na estrutura dosolo e na infiltração da água.

6. Ambiental e economicamente sustentávelUma pesquisa sobre a sustentabilidade ambiental e econômi-

ca em sistemas de produção de maçã classificou, em primeirolugar, o sistema orgânico; em segundo lugar, o sistema integra-do; e, em último, o sistema convencional. As maçãs orgânicasforam mais rentáveis devido ao melhor preço ligado à qualidadede produto orgânico, ao retorno mais rápido do investimento e àrecuperação rápida dos custos.

Um estudo realizado em toda a Europa demonstrou que aagricultura orgânica apresenta melhores resultados do que a agri-cultura convencional, na maioria dos indicadores ambientais.Uma análise realizada pela Organização das Nações Unidas paraa Alimentação e a Agricultura (FAO) concluiu que a agriculturaorgânica bem administrada conduz a mais condições favoráveisem todos os aspectos ambientais.

7. Diminuindo os impactos na mudança climática porredução direta e indireta do uso de energia

A agricultura orgânica utiliza a energia de maneira muito maiseficiente e reduz grande parte das emissões de dióxido de carbo-no (CO2) em comparação com a agricultura convencional, tan-to no consumo direto de energia em combustível e petróleo,quanto no consumo indireto de fertilizantes e agrotóxicos.

Page 26: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

26 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A agricultura sustentável restaura o conteúdo de matéria orgâ-nica do solo, aumentando a retenção de carbono no plano subter-râneo e recuperando, assim, um importante dreno de carbono. Ossistemas orgânicos demonstraram ser capazes de absorver e retercarbono, aumentando a possibilidade de práticas agrícolas susten-táveis auxiliarem na redução do impacto do aquecimento global.

A agricultura orgânica tem a probabilidade de emitir menosóxido nitroso (N

2O), outro importante gás de efeito estufa e, tam-

bém, uma das causas da diminuição do ozônio na estratosfera.

8. Produção eficiente e rentávelQualquer diminuição do rendimento na agricultura orgâni-

ca é mais do que compensada pelos ganhos ecológicos e em efi-ciência. As pesquisas têm demonstrado que a proposta orgânicapode ser comercialmente viável, em longo prazo, produzindomaior quantidade de alimentos por unidade de energia ou derecursos.

Os dados mostram que os pequenos agricultores produzemmuito mais por unidade de superfície do que as grandes planta-ções características da agricultura convencional. Embora o ren-dimento por unidade de superfície de um cultivo possa ser me-nor em uma pequena propriedade do que em um grandemonocultivo, a produção total por unidade de superfície – emgeral, composta por mais de uma dezena de cultivos e por diver-sos produtos animais – pode ser muito maior.

Os custos de produção da agricultura orgânica sãofreqüentemente menores do que os da agricultura convencional,resultando em lucros líquidos equivalentes ou maiores, mesmosem considerar o melhor preço dos produtos orgânicos. Se fo-rem computados os “preços-prêmio”, os sistemas orgânicos sãoquase sempre mais rentáveis.

Page 27: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 27

9. Melhor segurança alimentar e benefícios para ascomunidades locais

Uma análise de projetos de agricultura sustentável em paísesem desenvolvimento demonstrou que a produção média de ali-mentos por núcleo familiar aumentou 1,71 toneladas por ano(um aumento de 73%) para 4,42 milhões de agricultores em3,58 milhões de hectares, garantindo segurança alimentar e be-nefícios para a saúde.

Foi demonstrado que aumentar a produtividade agrícola tam-bém amplia a disponibilidade de alimentos e aumenta a renda,diminuindo assim a pobreza, ampliando o acesso aos alimentos,reduzindo a desnutrição e melhorando a saúde e as condições devida e de sustento.

As estratégias de agricultura sustentável baseiam-se ampla-mente no conhecimento local e tradicional e dão ênfase à expe-riência e à capacidade de inovação dos agricultores. Assim, ca-racterizam-se por utilizar recursos locais apropriados, de baixocusto e facilmente acessíveis, bem como por melhorar a posiçãosocial e a autonomia dos agricultores, fortalecendo as relaçõessociais e culturais dentro das comunidades locais.

Os meios locais de venda e distribuição podem gerar maisdinheiro para a economia local. Por £1 que se gasta em um siste-ma de cesta básica de produtos orgânicos de Cusgarne Organics(Inglaterra) são geradas £2,59 para a economia local; porém, por£1 que se gasta em um supermercado são geradas apenas £1,40para a economia local.

10. Alimentos de melhor qualidade para a saúdeOs alimentos orgânicos são mais seguros porque a agricultu-

ra orgânica proíbe a aplicação rotineira de agrotóxicos e resíduosquímicos perigosos são raramente encontrados.

Page 28: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

28 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A produção orgânica também proíbe a utilização de aditivosartificiais, como gorduras hidrogenadas, ácido fosfórico,aspartame e glutamato monossódico, que têm sido associadoscom diversos problemas de saúde, tais como patologias cardía-cas, osteoporose, enxaquecas e hiperatividade.

Alguns estudos demonstraram que, em média, os alimentosorgânicos têm maior conteúdo de vitamina C, maiores níveis deminerais e maior conteúdo de substâncias fenólicas – compostosvegetais que podem combater câncer e doença cardíaca, assimcomo combater alterações neurológicas relacionadas com a idade– e concentrações significativamente menores de nitrato, umcomposto tóxico.

As práticas agrícolas sustentáveis provaram-se benéficas emtodos os aspectos relevantes à saúde e ao meio ambiente. Alémdisso, trazem segurança alimentar e bem-estar social e cultural acomunidades locais de todas as partes do mundo. Há uma ne-cessidade urgente de uma ampla mudança, em nível mundial,direcionada para todas as formas de agricultura sustentável.

Page 29: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 29

NÃO HÁ FUTURO PARA OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS

PARTE 1

Page 30: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 31: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO SÃO NECESSÁRIOS

NEM DESEJADOS

Quase não existem mais dúvidas de que os cultivostransgênicos não são necessários para alimentar o mundo e deque a fome é provocada pela pobreza e pela desigualdade, e nãopor uma produção insuficiente de alimentos. Segundo estimati-vas da FAO, há produção suficiente para alimentar todo o plane-ta “utilizando somente cultivos convencionais”, e essa situação semanterá nos próximos 25 anos e provavelmente mais além nofuturo [2].

Além disso, segundo argumentaram Altieri e Rosset, mes-mo que a fome seja devida à defasagem entre a produção dealimentos e o crescimento da população, os cultivos transgênicosatuais não são concebidos para aumentar as colheitas ou para obenefício dos agricultores pequenos e pobres [3]. Como a ver-dadeira causa estrutural da fome é a desigualdade, qualquermétodo para aumentar a produção de alimentos que aprofundea desigualdade está destinado a fracassar no combate à fome

1. POR QUE NÃO AOS TRANSGÊNICOS?

Page 32: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

32 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

[4]. Em um relatório recente, a Action Aid conclui que: “Aadoção generalizada de cultivos transgênicos parece mais pro-pensa a exacerbar as causas subjacentes da insegurança alimen-tar, levando a aumentar, em vez de diminuir, o número de pes-soas com fome” [5].

Mais importante ainda, os cultivos transgênicos não são de-sejados por boas razões. Os cultivos transgênicos não têm pro-duzido os benefícios prometidos, estão causando a intensifica-ção de problemas no campo e, apesar da destacada falta de pes-quisas sobre segurança, acumulam-se evidências sobre os gravesperigos que eles representam. Ao mesmo tempo, têm surgidoamplas evidências sobre o sucesso da agricultura sustentável, oque deixa claro qual deve ser a opção racional para cada nação.

O mercado mundial de cultivos transgênicos tem diminuídosimultaneamente ao aumento drástico da superfície cultivadadesde 1994, quando se plantou nos Estados Unidos o primeirocultivo transgênico do tomate Flavr Savr, um fracasso comercial,rapidamente retirado do mercado. Entre 1996 e 2002, a superfí-cie mundial de cultivos transgênicos aumentou de 1,7 milhõespara 58,7 milhões de hectares, mas em 2002 apenas quatro paí-ses eram responsáveis por 99% da superfície mundial de cultivostransgênicos: os Estados Unidos plantaram 39 milhões de hecta-res (66% do total mundial); a Argentina, 13,5 milhões de hecta-res; o Canadá, 3,5 milhões de hectares, e a China, 2,1 milhões dehectares [6].

A resistência mundial aos transgênicos alcançou seu pontomais alto no ano passado, quando a Zâmbia, apesar da ameaçade fome, recusou o milho transgênico que seria enviado comoajuda alimentar. Desde então, a Zâmbia tem reafirmado sua de-cisão, mesmo depois que uma delegação importante foi convi-dada a visitar vários países, entre os quais Estados Unidos e In-

Page 33: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 33

glaterra, para dirimir dúvidas. Enquanto esse relatório estava sen-do redigido, iniciava-se uma greve de fome nas Filipinas, em pro-testo pela aprovação comercial do milho Bt da Monsanto.

Processos de inclusão social e de democracia participativa,como os tribunais populares, foram organizados na Índia, noZimbábue e no Brasil, para permitir que os pequenos agricultorese as comunidades rurais marginalizadas pudessem avaliar os ris-cos e a conveniência dos cultivos transgênicos em relação aosseus próprios critérios e noções de bem-estar.

Os resultados mostram que, nos casos em que esses eventosforam promovidos de maneira idônea, confiável e não tendencio-sa, os pequenos agricultores e as populações locais recusaram oscultivos transgênicos sob o argumento de que não necessitamdeles, que a tecnologia de manipulação genética não está valida-da e não atende às suas necessidades [7,8].

O setor agrícola liderou a drástica queda da indústria debiotecnologia, antes do auge alcançado em 2000, em função doprojeto do genoma humano. O Instituto da Ciência na Socieda-de (ISIS, por Institute of Science in Society) resumiu as evidên-cias em um documento apresentado à Unidade de Estratégia sobreTransgênicos do primeiro-ministro da Inglaterra, em resposta àconsulta pública sobre o potencial econômico dos cultivostransgênicos [9]. Desde então, a situação piorou para a indústriacomo um todo [10].

Um informe publicado em abril de 2003, pela consultoriaInnovest Strategic Value Advisors [11], situou a empresaMonsanto na mais baixa posição possível, dando a entender quea biotecnologia agrícola é uma indústria de alto risco, na qual osinvestimentos não são recomendáveis, a menos que o foco sejamodificado fora da engenharia genética, sinônimo detransgênicos. O informe declara:

Page 34: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

34 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

“O dinheiro transferido das empresas de engenharia genéticaaos políticos, bem como a freqüência com que os funcionáriosdessas empresas passam a trabalhar nas agências reguladoras dosEstados Unidos (e vice-versa), cria um grande potencial de com-prometimento e reduz a capacidade dos investidores em confiarnas afirmações do governo americano sobre a segurança dostransgênicos. Isso também esclarece porque o governo dos Esta-dos Unidos não adotou uma postura de precaução em relação àengenharia genética e continua impedindo a rotulagem, mesmocom a pressão majoritária da opinião pública para que isso ocor-ra. Com desastres como o da Enron, a comunidade financeiraaparentemente comprou a versão das empresas, sem olhar muitosob a superfície...”. O informe conclui dizendo: “A Monsantopode ser outro desastre iminente para os investidores”.

OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO TROUXERAM OS

BENEFÍCIOS PROMETIDOS

Os cultivos transgênicos não trouxeram os benefícios pro-metidos. Esse é o resultado de várias pesquisas independentes eestudos de campo nos Estados Unidos desde 1999 [12, 13], or-ganizadas pelo agrônomo Charles Benbrook e corroborada poroutros estudos [14].

Milhares de ensaios controlados de soja transgênica registra-ram uma redução importante da produção, de 5% a 10%, che-gando em algumas localidades a uma redução entre 12% e 20%comparada à soja não transgênica. Existem relatos de quedas se-melhantes no rendimento, ocorridas na Grã-Bretanha, com acanola de inverno e a beterraba açucareira transgênicas, em cam-pos experimentais.

Os cultivos transgênicos não resultaram em reduções signifi-cativas do uso de agrotóxicos. A soja Roundup Ready (RR) re-

Page 35: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 35

quereu de 2 a 5 vezes mais herbicidas que outros sistemas decontrole de ervas daninhas. De maneira similar, os dados doDepartamento de Agricultura dos Estados Unidos indicam que,em 2000, o milho RR foi tratado com 30% mais herbicida doque o milho não transgênico.

A análise dos dados oficiais do Departamento de Agriculturados Estados Unidos sobre a utilização de agrotóxicos em umperíodo de quatro anos mostra um panorama bem claro [13].Enquanto o algodão Bt reduziu o uso de agrotóxicos em váriosEstados, o milho Bt teve muito pouco impacto, se tanto, naredução do uso de agrotóxicos. Os dados oficiais demonstramque a aplicação de agrotóxicos específicos para uma praga domilho (European corn borer) aumentou, de 4% de área tratadaem 1995, para cerca de 5% em 2000.

O custo maior das sementes transgênicas, o aumento da uti-lização de agrotóxicos, a queda da produtividade, os royalties so-bre as sementes e a perda de mercados se somam e representamperda de renda para os agricultores. A primeira análise econômi-ca das lavouras de milho Bt nos Estados Unidos revelou que,entre 1996 e 2001, a perda líquida para os agricultores foi de 92milhões de dólares, aproximadamente 3,23 dólares por hectare.

O informe de setembro de 2002 da Associação de Solos daInglaterra (UK Soil Association) [15] estimou que os cultivostransgênicos custaram aos Estados Unidos 12 bilhões de dólaresem subsídios agrícolas, perda de vendas e recolhimento de pro-dutos devido à contaminação transgênica:

“As evidências que apresentamos sugerem que (...) pratica-mente não se cumpriram nenhum dos benefícios anunciadospelos cultivos transgênicos. Ao contrário, os agricultores relatammenores rendimentos, contínua dependência de agrotóxicos,perda de acesso a mercados e, o mais grave, rentabilidade reduzi-

Page 36: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

36 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

da, tornando a produção de alimentos mais vulnerável aos inte-resses das empresas de biotecnologia e mais dependente de sub-sídios”.

Esses estudos não levaram em conta os fracassos nos cultivostransgênicos em outras partes do mundo, como ocorreu na Ín-dia em 2002 [16], onde perdas generalizadas de até 100% noscultivos de algodão transgênico foram relatadas em vários Esta-dos indianos, em função de sementes que não germinaram, raízesque apodreceram e de ataques da lagarta americana Helicoverpaarmigera, para a qual o algodão Bt deveria ser resistente.

Page 37: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 37

A INSTABILIDADE TRANSGÊNICA

Os fracassos generalizados do algodão transgênico na Índia,assim como de outros cultivos transgênicos em diversos lugares,se devem muito provavelmente ao fato de que os cultivostransgênicos são extremamente instáveis, questão destacada pri-meiramente no estudo de Finnegan e McElroy [17] em 1994:

“Embora existam alguns exemplos de plantas que mostramexpressão estável de um transgene, isso poderia provar que são asexceções à regra. Em uma pesquisa informal que abarcou maisde 30 empresas envolvidas na comercialização de cultivostransgênicos (...) quase todos os entrevistados indicaram quehaviam observado certo grau de inação do transgene. Muitosindicaram que a maioria dos casos de inatividade do transgenenunca chegou a ser registrado na literatura especializada”.

No entanto, existe uma importante bibliografia científicasobre a instabilidade transgênica [18, 19]. Sempre que foramaplicadas as ferramentas moleculares apropriadas para investigaro problema, invariavelmente constatou-se a instabilidade, e isso

2. INTENSIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS NO CAMPO

Page 38: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

38 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

ocorreu mesmo nos casos em que se afirmava a “estabilidade”transgênica. Uma publicação [20] em cujo resumo está descritoque “a expressão transgênica foi estável nas linhagens de todos osgenótipos do arroz”, os dados apresentados mostram que, “nomáximo 7 de 40 (18%) linhagens poderiam ser estáveis à gera-ção de R3” [21]. Esse artigo, como muitos outros, cometeu oerro comum de afirmar existir herança mendeliana ou estabili-dade genética em casos em que não houve diferença significativados dados em relação a proporções mendelianas preestabelecidas.Isso consiste num erro tão elementar de estatística e genética aponto de reprovar estudantes em exames.

Há duas grandes causas da instabilidade transgênica. A pri-meira tem a ver com os mecanismos de defesa que protegem aintegridade do organismo, que “silenciam” ou desativam os genesestranhos integrados ao genoma para que esses não se expressemmais. O silenciamento dos genes foi inicialmente descoberto emconexão com transgenes integrados, no início dos anos de 1990,e hoje se sabe que fazem parte da defesa do organismo contra asinfecções virais.

A segunda grande causa de instabilidade tem a ver com ainstabilidade “estrutural” das próprias construções transgênicas,sua tendência a fragmentar-se, romper-se no curso nas uniõesartificiais fracas e a recombinar-se incorretamente, em geral comoutro DNA que esteja próximo. Isso talvez seja o mais grave naperspectiva da segurança, já que aumenta a transferência hori-zontal de genes e a recombinação (ver mais adiante).

Recentemente descobriu-se outra fonte de instabilidade [18].Parece existirem certos locais preferenciais para a integraçãotransgênica no DNA genômico, tanto de vegetais quanto dehumanos. Esses locais receptivos preferenciais podem ser tam-bém “sítios de recombinação preferenciais”, com tendência à

Page 39: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 39

quebra e à ligação, o que, também, aumentaria a probabilidadede que os transgenes inseridos tornassem a se soltar, a recombinarou a invadir outros genomas.

As pesquisas também demonstram que a instabilidadetransgênica pode surgir em gerações posteriores e que não neces-sariamente se expressa nas primeiras gerações. Isso pode resultarem rendimentos baixos e inconsistentes dos cultivos transgênicosno campo, um problema que tende a não ser devidamente regis-trado por agricultores que aceitem o pagamento de uma com-pensação em troca da cláusula da “mordaça”.

STOP PRESS

Um relatório recentemente publicado [204] revela que o pro-blema associado à integração incontrolável e imprevisível dostransgenes é mais grave do que parece, e que os organismostransgênicos de maneira alguma podem ser equiparados aos ob-tidos por melhoramento convencional ou por mutagênese.

Os autores destacam que a maioria das linhagens transgênicas,produzidas por bombardeio de microprojéteis (técnica debiobalística), possui “loci complexos de transgênico, compostosde múltiplas cópias do DNA inserido, inteiro, truncado ereordenado, freqüentemente organizado como repetições diretasou invertidas, entremeadas com fragmentos variáveis de DNAgenômico”. Destacam, ainda, que o DNA inserido se integra aosgenomas vegetais, principalmente através de “recombinação ile-gítima associada ao reparo da ruptura da dupla cadeia [dupla-hélice (DSB em inglês)], um processo também envolvido naintegração do DNA-T em genomas de levedura e de vegetais”.

“Alguns dos traços característicos da recombinação ilegítimanos loci do transgene, produzidos pela introdução direta de DNA,incluem a mistura das seqüências do transgene através da

Page 40: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

40 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

recombinação de fragmentos não contíguos do DNA inserido,tanto grandes quanto pequenos, a incorporação freqüente deseqüências de DNA genômico no locus do transgene e o rearranjono DNA genômico adjacente ao locus do transgene”.

Freqüentemente, os sítios-alvo de inserção não podem sertotalmente identificados em função das translocações e deleçõesno DNA genômico adjacente. Isso significa que não é sequerpossível identificar, no genoma, o lugar no qual o transgene seintegrou, mesmo quando se conhece a seqüência inteira dogenoma receptor.

Os pesquisadores determinaram a seqüência completa de al-guns loci do transgene na aveia transgênica que pareciam ser “sim-ples” e, portanto, poderiam estar mais próximos de terem a or-dem dos genes e as seqüências adjacentes normais.

Lamentavelmente, os três loci “simples” possuem regiões depequenos fragmentos com seqüências misturadas do DNA inse-rido e do genômico. Todos os loci também exibiram, ou DNA depreenchimento misturado (de origem desconhecida) adjacenteao DNA do transgene, ou evidências de deleção do DNA dosítio-alvo da inserção.

Uma das linhagens transgênicas estudadas foi caracterizadapreviamente e demonstrou ter um único locus principal com umaextensão estimada de aproximadamente 15 kb. No entanto, aprogênie T1 analisada pela técnica de southern blot executada comtempos de exposição mais longos e com maiores concentraçõesde DNA genômico, apresentou dois novos loci menores dotransgene.

As análises southern blot demonstraram que o DNA genômico,adjacente a ambos os lados de um dos loci, era altamenterepetitivo. O alinhamento do DNA do locus do transgene, obti-do pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR), com o

Page 41: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 41

DNA do tipo silvestre, mostrou que haviam desaparecido 845pares de bases de DNA genômico durante a integração dotransgene ao genoma silvestre, e que pedaços de DNA genômicode origem desconhecida integraram-se ao locus, como DNA depreenchimento, em ambos os lados do DNA do transgene.

Os sítios-alvo dos outros dois loci não puderam ser identifi-cados porque o DNA genômico continha seqüências muito mis-turadas. Os autores também mencionaram que “hoje aceita-seque as estimativas do número de loci do transgene baseadas emproporções de segregação fenotípica são imprecisas devido a per-turbações da expressão do transgene, através do silenciamentodo transgene ou pelos rearranjos dos loci nos transgênicos”. De-pendendo da sonda utilizada, os loci pequenos, não funcionais,simplesmente não são detectados.

Os sítios de integração são mais que aleatórios. Há provas deque o DNA transgênico costuma se introduzir em regiões ricasem genes e em regiões propensas a quebras da dupla cadeia. Oprimeiro aumenta o potencial de ativação/inativação dos genes;e o último aumenta a instabilidade estrutural dos transgenes edas linhagens transgênicas.

PLANTAS ESPONTÂNEAS E ERVAS DANINHAS

A presença de plantas espontâneas de canola com tolerânciatripla a herbicidas foi detectada, pela primeira vez, em 1998, emAlberta, no Canadá, apenas dois anos após o plantio de cultivostransgênicos com tolerância única a herbicidas [22]; um anodepois, essas plantas espontâneas com tolerância tripla foramencontradas em outros 11 campos [23]. Os Estados Unidos so-mente começaram o cultivo de canola transgênica tolerante aherbicidas em 2001. Uma pesquisa realizada na Universidade deIdaho constatou que ocorreram situações similares de inserções

Page 42: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

42 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

múltiplas de genes em campos experimentais em um período dedois anos e que, durante esse período, foram encontradas ervasdaninhas com dois traços de tolerância a herbicidas; desde en-tão, outros problemas foram identificados com as ervas dani-nhas (resumidas na ref. 24).

Em 2002, no Oeste do Tennessee, nos Estados Unidos,mais de 200 mil hectares de algodão, o que representa 36% detoda a superfície plantada com esse cultivo no Estado, foraminfestados com a planta invasora Conyza canadensis resistentea glifosato; outros 800 mil hectares de soja também foramafetados. O problema com as plantas espontâneas e ervas da-ninhas tolerantes a herbicidas é tal que as empresas têm reco-mendado a aplicação adicional de herbicidas. Os agrônomosestadunidenses revelam que entre 75% e 90% dos produtoresde milho transgênico estão utilizando um produto denomi-nado Liberty ATZ – uma mistura do herbicida da Aventis,glufosinato de amônio, com a atrazina, um herbicida tradicio-nalmente utilizado nos cultivos de milho e que tem sido umagrotóxico problemático há décadas [25]. A atrazina está na“lista vermelha” da Europa e na “lista prioritária” por provo-car alterações hormonais nos animais; o glufosinato, por suavez, também está longe de ser benigno (ver mais adiante).

Os cultivos Bt também estão tendo problemas com a altaprobabilidade de gerar resistência nas pragas combatidas (verabaixo). Uma nova proposta de patente da Monsanto baseia-seno uso de dois agrotóxicos com seus cultivos Bt, argumentandoque os cultivos Bt poderiam produzir novas linhagens resistentesde pragas de insetos e “numerosos problemas permanecem... nasatuais condições de campo”.

Pesquisas recentes revelam que o cruzamento de transgenesdo girassol Bt com parentes silvestres tornou esses últimos mais

Page 43: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 43

resistentes e prolíficos, com a possibilidade de se tornaremsuperinvasoras ou superervas daninhas [26].

RESISTÊNCIA AO Bt

Os cultivos Bt são manipulados geneticamente para produ-zirem proteínas agrotóxicas derivadas de genes da bactéria Bacillusthuringiensis (Bt). A probabilidade de as pragas combatidas doscultivos Bt desenvolverem rapidamente resistência às toxinas Bté tão grande que, nos Estados Unidos, são adotadas estratégiaspara gerenciar a resistência, as quais envolvem a plantação de“refúgios” de cultivos não Bt e o desenvolvimento de cultivos Btcom altos níveis de expressão, ou múltiplas toxinas no mesmocultivo.

Infelizmente, as pragas têm adquirido resistência a múltiplastoxinas ou resistência cruzada a diferentes toxinas [27]. Pesqui-sas recentes revelam que variantes resistentes são capazes de ob-ter valor nutricional adicional a partir da toxina, o que possivel-mente as transforma em pragas mais sérias do que antes.

CONTAMINAÇÃO TRANSGÊNICA EXTENSIVA

Os fitogeneticistas Ignacio Chapela e David Quist, da Uni-versidade da Califórnia-Berkeley, publicaram, em novembro de2001, um relatório na revista Nature [28] apresentando evidên-cias de que espécies crioulas de milho, cultivado em regiões re-motas do México, haviam sido contaminadas com transgênicos,embora estivesse em vigor no país uma moratória oficial ao cul-tivo de milho transgênico.

Isso desencadeou um ataque articulado entre cientistas pró-biotecnologia, o qual, alega-se, teria sido orquestrado pelaMonsanto [29]. Em fevereiro de 2002, a revista Nature retirouseu apoio ao relatório, ato sem precedentes na história da publi-

Page 44: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

44 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

cação científica, para um documento que não era incorreto enem havia sido contestado em sua conclusão principal. Investi-gações subseqüentes, realizadas por cientistas mexicanos, confir-maram os resultados, demonstrando que a contaminação eramuito mais extensa do que o que se havia inicialmente suspeita-do [30]. Estavam contaminados 95% dos locais de onde foramrecolhidas as amostras, com graus de contaminação variando de1% a 35%, com média de 10% a 15%. As empresas envolvidasnegaram-se a fornecer informação molecular ou sondas para apesquisa, o que permitiria identificar as partes responsáveis pelosdanos causados. A revista Nature negou-se a publicar esses resul-tados confirmatórios.

Um fator importante que condenaria a Monsanto, citado noinforme da Innovest (abaixo), são as perdas significativas para oinvestidor, resultantes da contaminação transgênica não intencio-nal. “A contaminação é inevitável, diz o informe, e poderia cau-sar a falência da Monsanto e de outras empresas de biotecnologia,deixando que o restante da sociedade resolvesse o problema.”

De acordo com Ignacio Chapela, que ainda se encontra en-volvido numa controversa polêmica relacionada à sua efetivaçãono cargo da Universidade, a contaminação no México ainda estácrescendo.

A extensão da contaminação das sementes não transgênicas éalarmante. Um porta-voz da Dow Agroscience teria declaradoque “todo o sistema de sementes está contaminado”, no Canadá[31]. O Dr. Lyle Friesen, da Universidade de Manitoba, pesquisou33 amostras representando 27 variedades de sementes de canola,constatando que 32 estavam contaminadas [32].

Os testes no fluxo do pólen revelaram que o pólen do trigopermanece no ar por no mínimo uma hora, o que significa quepode espalhar-se por grandes distâncias, dependendo da veloci-

Page 45: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 45

dade do vento. O pólen da canola é ainda mais leve e pode per-manecer no ar por de 3 a 6 horas. Ventos de 50 km por hora nãosão raros, o que “torna uma piada que a distância de separaçãoentre cultivos seja de dezenas ou centenas de metros”, comentouPercy Schmeiser, famoso agricultor canadense, condenado pelacorte canadense a indenizar a Monsanto por “danos”, apesar dehaver argumentado que o cultivo transgênico do seu vizinho haviacontaminado seus campos. Schmeiser perdeu a apelação no Tri-bunal Federal, mas obteve recentemente o direito a ser ouvidono Supremo Tribunal do Canadá.

Os agricultores orgânicos de Saskatchewan também inicia-ram uma ação judicial contra a Monsanto e a Aventis por conta-minação de seus cultivos e pela perda de seu status de produtoresorgânicos.

A Comissão Européia, em maio de 2000, encomendou aoInstituto de Estudos de Prospecção Tecnológica (IPTS em inglês),do Centro Comum de Pesquisas (JRC) da União Européia, oestudo sobre a coexistência de cultivos transgênicos e nãotransgênicos. O estudo foi realizado e entregue à ComissãoEuropéia em janeiro de 2002, com a recomendação de que nãose tornasse público. O conteúdo do estudo vazou e chegou aoGreenpeace [33], confirmando o que já se sabe: “a coexistênciada agricultura transgênica e não transgênica ou orgânica éimpossível em muitos casos”. Mesmo nos casos em que acoexistência é tecnicamente possível, seriam necessárias medidascom altos custos para evitar a contaminação, o que aumentariaos custos da produção para todos os agricultores, especialmenteos pequenos.

A contaminação transgênica não se limita à polinização cru-zada. Novas pesquisas demonstram que o pólen transgênico, es-palhado pelo vento e depositado em diferentes lugares ou direta-

Page 46: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

46 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

mente no solo, é uma fonte importante de contaminaçãotransgênica [34]. Esse tipo de DNA transgênico foi encontradoaté em campos onde nunca haviam sido plantados cultivostransgênicos e demonstrou-se que amostras de solo contamina-das com pólen transferem DNA transgênico às bactérias do solo(ver mais adiante).

Por que a contaminação é um assunto tão importante? A res-posta imediata é a de que os consumidores não a estão aceitan-do, porém a razão mais importante refere-se a preocupações ex-tremas quanto à segurança.

Page 47: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 47

OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO SÃO SEGUROS

PARTE 2

Page 48: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 49: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

PRECAUÇÃO, BOM SENSO E CIÊNCIA

Somos informados de que não há evidências científicas deque a manipulação transgênica seja prejudicial. Deveríamos per-guntar se ela é segura. Onde algo pode provocar um dano gravee irreversível, é correto e apropriado que os cientistas exijamevidências que demonstrem que a manipulação genética é se-gura, “mais além da dúvida razoável”. A isso se costuma cha-mar de “princípio da cautela” ou “princípio da precaução”, oque, para os cientistas e para a opinião pública, é somente bomsenso [35-37].

As evidências científicas não diferem das evidências comuns,e deveriam ser entendidas e julgadas da mesma forma. Deve-sepesar e combinar evidências de diferentes fontes e de diferentestipos, para orientar as decisões e ações políticas. Isso é boa ciên-cia, assim como bom senso.

A engenharia genética envolve recombinação, isto é, uniãode DNA de diferentes fontes em novas combinações e a inserçãodessas novas combinações nos genomas de organismos que pas-

3. CIÊNCIA E PRECAUÇÃO

Page 50: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

50 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sam a ser “organismos geneticamente modificados”, OGMs, ou“transgênicos” [38].

Os transgênicos não são naturais, não apenas porque têmsido produzidos no laboratório, mas porque muitos deles “só”podem ser feitos no laboratório, muito diferente do que a natu-reza tem produzido no curso de bilhões de anos de evolução.

Assim, é possível introduzir novos genes e produtos genéti-cos – muitos deles de bactérias, vírus e outras espécies, ou mes-mo genes produzidos inteiramente no laboratório – em cultivos,inclusive em cultivos alimentares. Nós nunca havíamos antesingerido esses novos genes e produtos de genes, nem eles jamaisfizeram parte de nossa cadeia alimentar.

As construções artificiais são introduzidas nas células pormétodos invasivos que resultam na integração aleatória aogenoma, ocasionando efeitos imprevisíveis, aleatórios, inclusivede anormalidades importantes, tanto em animais quanto em plan-tas, bem como ocasionando o aparecimento de toxinas e alérgenosinesperados nos cultivos alimentares. Em outras palavras, não hápossibilidade de realizar um controle de qualidade. Esse proble-ma se agrava com a grande instabilidade das linhagenstransgênicas, o que torna praticamente impossível realizar a ava-liação de risco.

UMA AVALIAÇÃO DO RISCO ANTIPRECAUÇÃO

Se os regulamentadores da avaliação de risco a tivessem leva-do a sério, muitos dos problemas teriam sido identificados. Po-rém, como destacaram Ho e Steinbrecher [39], o procedimentode avaliação da segurança alimentar continha falhas fatais desdeo princípio, tal como foi formulado no Relatório FAO/OMS(Organização Mundial da Saúde) sobre Biotecnologia e Segu-rança Alimentar, resultante de uma consultoria a especialistas,

Page 51: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 51

ocorrida em Roma entre 30 de setembro e 4 de outubro de 1996,e que tem servido como referência desde então.

Esse relatório foi criticado por:· Fazer afirmações questionáveis sobre os benefícios da

tecnologia.· Não assumir responsabilidades pela segurança alimentar

ou abordar aspectos importantes sobre a mesma, tais comoa utilização de cultivos alimentares para a produção defármacos e produtos químicos industriais, bem como ques-tões de rotulagem e controle.

· Restringir o alcance das considerações sobre segurança paraexcluir perigos já conhecidos, tais como a toxidade dosherbicidas de amplo espectro.

· Afirmar erroneamente que a engenharia genética não dife-re do melhoramento convencional.

· Utilizar um “princípio da equivalência substancial” arbi-trário e não científico para a avaliação do risco.

· Não considerar os impactos em longo prazo na saúde e nasegurança alimentar.

· Ignorar os resultados científicos existentes sobre os perigosidentificáveis, em especial os que resultam da transferênciahorizontal e da recombinação de DNA transgênico.

Tudo isso configura uma “avaliação da segurança” oposta àprecaução, destinada à rápida aprovação de produtos às custas deconsiderações sobre segurança.

O PRINCÍPIO DA “EQUIVALÊNCIA SUBSTANCIAL” É

VERGONHOSO EM TERMOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO.

As maiores falhas encontram-se no princípio da “equivalên-cia substancial”, que se supõe servir como espinha dorsal da ava-liação de risco. O relatório afirma que:

Page 52: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

52 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

“A equivalência substancial incorpora a idéia de que, se novosalimentos ou componentes alimentícios são reconhecidos comosubstancialmente equivalentes a um alimento ou componente ali-mentício já existente, esse novo alimento pode ser tratado da mes-ma forma, com respeito à segurança, isto é, pode-se concluir que oalimento ou o componente alimentício é tão seguro quanto o ali-mento ou o componente alimentício convencional”.

O princípio é vago e está mal definido; os termos abaixo es-clarecem que o propósito é que este seja o mais flexível, maleávele aberto à interpretações possível:

“O estabelecimento de uma equivalência substancial não éuma avaliação da segurança propriamente dita, mas sim um exer-cício analítico, dinâmico, na avaliação da segurança de um ali-mento novo com relação a um alimento existente. A compara-ção pode ser uma tarefa simples ou muito longa, dependendo doacervo de conhecimento disponível e da natureza do alimentoou do componente alimentício em consideração. Os traços dereferência para as comparações de equivalência substancial de-vem ser flexíveis e mudarão com o tempo de acordo com as ne-cessidades de mudança dos fabricantes e dos consumidores e coma experiência”.

Em outras palavras, não haveria testes exigidos ou específicospara estabelecer a equivalência substancial (ES). As empresas es-tariam livres para comparar o que for mais rápido para obter aES e realizar os testes menos reveladores de alguma diferençasubstancial.

Na prática, o princípio da ES tem permitido às empresas:· Fazer testes menos precisos, tais como composições brutas

de proteínas, carboidratos e lipídios, aminoácidos e deter-minados metabolitos.

· Evitar a caracterização molecular detalhada do transgênico

Page 53: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 53

inserido para estabelecer a estabilidade genética, os perfisde expressão genética, os perfis metabólicos etc., que reve-lariam a presença de efeitos não desejados.

· Argumentar que a linhagem transgênica é substancialmenteequivalente à linhagem não transgênica, exceto pelo pro-duto do transgene, e realizar a avaliação de risco exclusiva-mente sobre o produto do transgene, ignorando, de novo,toda e qualquer alteração não intencional.

· Evitar a comparação da linhagem transgênica com seu as-cendente não transgênico cultivado sob as mesmas condi-ções ambientais.

· Comparar a linhagem transgênica com qualquer varieda-de dentro da espécie ou mesmo com uma entidade abstra-ta criada através da composição de característicasselecionadas do total de variedades dentro da espécie, demodo que a linhagem transgênica poderia ter os piores tra-ços de todas as variedades e continuaria sendo consideradaequivalente substancial.

· Comparar diferentes componentes de uma linhagemtransgênica com espécies diferentes, como no caso da canolatransgênica manipulada geneticamente para produzir áci-do láurico. Porém, “outros componentes de ácidos graxossão reconhecidos geralmente como seguros quando sãoavaliados individualmente, porque estão presentes em ní-veis similares em outros azeites de consumo corrente”.

Sem surpresa, o relatório continua dizendo que:“Até o momento, e provavelmente também no futuro, houve

poucos exemplos, se acaso houve algum, de alimentos ou compo-nentes de alimentos produzidos mediante modificação genética quepudessem ser considerados como não sendo substancialmente equi-valentes aos alimentos ou componentes de alimentos existentes”.

Page 54: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

54 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A instabilidade transgênica torna ainda mais ridícula a regula-mentação baseada neste princípio de equivalência substancial. Umdocumento apresentado há um ano em uma oficina da OMS [40]afirmava: “A principal dificuldade associada à avaliação dabiossegurança dos cultivos transgênicos é a natureza imprevisívelda transformação. A imprevisibilidade motiva preocupação de queas plantas transgênicas se comportarão de maneira inconsistentequando forem cultivadas comercialmente”. Neste entendimento,batatas transgênicas que em áreas experimentais “mostrarammarcadas deformações na morfologia do broto com um baixo ren-dimento, apresentando um pequeno número de tubérculos malformados”, “não apresentaram praticamente nenhuma alteraçãona qualidade do tubérculo” segundo os testes aplicados, sendo,assim, aprovadas como “substancialmente equivalentes”.

Portanto, em contrário ao que se argumenta, os alimentostransgênicos nunca passaram por qualquer dos testes que pode-riam ter estabelecido que eram seguros para o consumo. A Admi-nistração de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos(FDA, em inglês) decidiu, ainda em 1992, que a engenharia ge-nética era simplesmente uma extensão do melhoramento con-vencional e, portanto, não era necessário realizar avaliações emmatéria de segurança. Embora o primeiro cultivo transgênico, otomate Flavr Savr, tenha sido submetido a uma avaliação de ris-co (no qual não foi aprovado, ver adiante), todos os cultivos sub-seqüentes submeteram-se a procedimentos voluntários de con-sulta.

Belinda Martineau, a cientista que conduziu os estudos desegurança do tomate Flavr Savr, na empresa Calgene, publicouum livro [41] no qual ela declara que “o tomate da Calgene nãodeveria servir como um padrão de segurança para essa novaindústria, assim como nenhum outro produto individual

Page 55: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 55

manipulado geneticamente não deveria servir”. Martineaucensura severamente a falta de dados sobre os impactos doscultivos transgênicos na saúde e no meio ambiente. “Declararsimplesmente que ‘esses alimentos são seguros e não há evidênciascientíficas do contrário’, não é o mesmo que dizer que foramrealizados numerosos testes e aqui estão os resultados”.

A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidoslançou um relatório, em fevereiro de 2002, no qual criticava oDepartamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, eminglês) por não proteger adequadamente o meio ambiente dosriscos das plantas transgênicas [42], apontando que os processosde avaliação do USDA carecem de justificação científica e nãosão aplicados de maneira uniforme; a avaliação dos riscosambientais, particularmente das plantas manipuladas genetica-mente para serem resistentes a insetos, foi considerada “geralmentesuperficial” e que o processo “dificulta a avaliação externa e atransparência” ao manter as avaliações ambientais em caráterconfidencial, como segredos comerciais. O relatório pede que oUSDA torne seu processo de avaliação “substancialmente maisrigoroso e transparente”, que possibilite que cientistas especialistasexternos avaliem seus resultados e que solicite maiores contri-buições da opinião pública.

Existem, na verdade, poucos estudos independentes dedica-dos à segurança dos cultivos transgênicos com respeito à saúde eao meio ambiente. Contudo, existe suficiente acúmulo de evi-dências indicando que os cultivos transgênicos não são seguros.

Já estamos muito avançados no período inicial de cuidadono qual o bom senso ou a aplicação do princípio de precauçãoainda pode evitar e minimizar os desastres que provavelmentevirão em longo prazo [43].

Page 56: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 57: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

ESCASSEZ DE DADOS PUBLICADOS

É notória a escassez dos dados publicados com relação à se-gurança dos alimentos transgênicos. E a qualidade científica doque é publicado, na maioria dos casos, não chega aos níveis ge-ralmente esperados do que se entende por boa ciência.

Em resposta à recente pesquisa do Parlamento escocês acercados impactos dos cultivos transgênicos na saúde [44], StanleyEwen, histopatologista do Hospital Universitário de Grampiane chefe do Programa Piloto de Pesquisa do Câncer de Cólon emGrampian, resume a situação da seguinte forma:

“É lamentável que poucos experimentos em animais utili-zando alimentos transgênicos para consumo humano estejamdisponíveis, tanto para o público quanto na bibliografia científi-ca. Segue-se que os alimentos transgênicos não demonstraram aausência de risco e os resultados científicos experimentais de quese dispõem são motivo de preocupação”.

Dois informes anteriores a 1999 revelaram efeitos nocivosem animais alimentados com transgênicos. O primeiro foi um

4. TESTES DE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

Page 58: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

58 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

informe apresentado à FDA estadunidense sobre ratos alimenta-dos com tomates transgênicos Flavr Savr. Vários ratos apresenta-ram princípios de úlcera no revestimento do estômago, similaresàs identificadas no estômago de humanos adultos causadas pelaaspirina ou medicação similar. Nos seres humanos, esse princípiode úlcera pode causar hemorragias com risco de vida.

O segundo documento, publicado em uma revista, submeti-da à análise por um corpo editorial, era sobre a alimentação deratos machos de um mês de idade com batatas transgênicas cruas.Os resultados revelaram um processo de proliferação celular nointestino delgado inferior [45].

O ESTUDO DE PUSZTAI E SEUS COLABORADORES

Nenhum estudo importante sobre os impactos dostransgênicos na saúde havia sido realizado até que o EscritórioEscocês do Departamento de Agricultura, Meio Ambiente e Pesca(SOAEFD, em inglês) financiou um projeto dirigido por ArpadPusztai no Instituto Rowett, para realizar uma ampla pesquisasobre os possíveis riscos para o meio ambiente e para a saúde,causados pelas batatas transgênicas que haviam sido transforma-das, por cientistas britânicos, utilizando-se um gene retirado debulbos da planta Galanthus nivalis [46].

Os estudos revelaram que as duas linhagens transgênicas debatatas modificadas geneticamente – originadas do mesmo ex-perimento e ambas resistentes ao ataque de pulgões – “não” eramsubstancialmente equivalentes em sua composição a batatas damesma linhagem ascendente (parental) nem entre si. O conceitorudimentar mal definido e anticientífico de “equivalência subs-tancial”, no qual se baseiam os que definem regras para análisede risco, tem sido criticado pela forma em que foi concebido(ver mais adiante).

Page 59: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 59

Mais importante foi que os resultados demonstraram quedietas contendo batatas transgênicas haviam interferido, em al-guns casos, no crescimento de ratos jovens e no desenvolvimen-to de alguns dos seus órgãos vitais, induzindo mudanças na es-trutura e função dos intestinos e reduzindo a resposta imunológicaa antígenos nocivos. Ao contrário, animais alimentados com umadieta que continha as batatas parentais não transgênicas ou bata-tas complementadas com o produto genético, não tiveram osmesmos efeitos. Desde então alguns resultados foram publica-dos [47-51], sendo o último documento [51] um amplo estudosobre testes de segurança com os alimentos transgênicos, queinclui experimentos não publicados com tomates transgênicos,apresentados à FDA estadunidense, descritos anteriormente.

Os resultados encontrados por Pusztai e sua equipe foramatacados por vários integrantes da comunidade científica, porémnunca foram rebatidos mediante uma repetição da pesquisa epublicação dos resultados em revistas com corpo editorial de re-visores. As pesquisas demonstraram que é possível realizar estu-dos toxicológicos e que a segurança dos alimentos transgênicosdeve ser estabelecida para curto e longo prazo de alimentação, deestudos metabólicos e de resposta imunológica em animais jo-vens, que são mais vulneráveis e mais propensos a responder e amanifestar qualquer tensão nutricional e metabólica que afete oseu desenvolvimento. Esse entendimento é compartilhado poroutros cientistas.

A análise estatística multivariada dos resultados, realizadade maneira independente pelo Serviço Escocês de EstatísticasAgrícolas, indicou que os principais efeitos potencialmentenocivos das batatas transgênicas foram apenas parcialmentecausados pela presença do transgene da lectina da plantaGalanthus nivalis, e que o método de manipulação genética e/

Page 60: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

60 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

ou as alterações do genoma da batata também contribuíramnas mudanças verificadas.

O artigo de Ewen e Pusztai, publicado na revista The Lancet[48] provocou enorme controvérsia e, ainda hoje, membros daSociedade Real continuam tentando desqualificar Pusztai.

Ewen e Pusztai mediram o revestimento do intestino del-gado que produz células novas e descobriram que o compri-mento do compartimento das células novas havia aumentadosignificativamente nos ratos alimentados com transgênicos, oque não ocorreu em ratos do grupo de controle alimentadoscom batatas não transgênicas. O aumento da produção decélulas devia ser o resultado do efeito de um fator de cresci-mento induzido pela modificação genética dentro das batatas(fatores de crescimento são proteínas que promovem o cresci-mento e a multiplicação celular, que, se descontrolados, pro-vocam câncer). Efeitos similares foram observados no revesti-mento do estômago [51].

Análises estatísticas posteriores revelaram que o efeito do fa-tor de crescimento não foi devido à expressão da proteínatransgênica de lectina da Galanthus nivalis, e, sim, à construçãogenética inserida no DNA do genoma da batata. De outra for-ma, as batatas não transgênicas misturadas com a lectina sim-plesmente não tiveram o mesmo efeito.

A construção genética inclui o gene novo, mas, também, genesmarcadores e um poderoso promotor do vírus do mosaico dacouve-flor (CaMV), que está no centro de um grande debatecom relação à sua segurança (ver mais adiante).

Ewen [44] destacou que, embora o vírus inteiro e intactopareça inócuo, já que há milhares de anos comemos vegetais dotipo da couve-flor, “a utilização em separado da parte infecciosado vírus não foi testada em animais”.

Page 61: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 61

Outros possíveis efeitos indesejados poderiam envolver a res-posta do fígado humano ao vírus da hepatite, já que o vírus domosaico da couve-flor e o vírus da hepatite B pertencem à mes-ma família de pararetrovírus, com genomas muito semelhantes eum ciclo de vida característico.

Esses e outros perigos potenciais do promotor do vírus CaMVserão tratados em detalhe adiante.

Page 62: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 63: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

AS TOXINAS Bt

A questão mais óbvia quanto à segurança é a introdução dotransgene e seu produto nos cultivos transgênicos, já que sãonovos para o ecossistema e para a cadeia alimentar de animais eseres humanos.

As toxinas Bt do Bacillus thuringiensis, incorporadas aos cul-tivos alimentares e não alimentares, representam cerca de 25%do total de cultivos transgênicos plantados atualmente em todoo mundo. Descobriu-se que essas toxinas são nocivas para a ca-deia alimentar dos ratos, das borboletas e dos crisopídeos (inse-tos benéficos da ordem dos neurópteros) [27], assim como paraos insetos da ordem dos coleópteros (besouros, gorgulhos), queconta com cerca de 28.600 espécies. As plantas Bt secretam atoxina no solo através das raízes, o que tem um impacto potenci-almente grande na ecologia e na fertilidade dos solos.

As toxinas Bt podem ser alérgenos reais e potenciais para osseres humanos. Alguns trabalhadores rurais expostos à aplicaçãode Bt experimentaram irritação cutânea alérgica e produziram

5. OS PERIGOS DO TRANSGENE

Page 64: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

64 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

anticorpos IgE e IgG. Um grupo de cientistas alertou contra aliberação de cultivos Bt para a utilização humana. Demonstra-ram que a protoxina recombinante Cry1Ac do Bt é um potenteimunógeno sistêmico e das mucosas, tão potente quanto a toxinado cólera [52].

Uma cepa do Bt, que causou graves necroses (morte de teci-dos) em humanos, provocou a morte de ratos em 8 horas porsíndrome de comoção tóxica [53]. Tanto a proteína Bt quanto abatata Bt foram nocivas para os ratos submetidos a experimen-tos de alimentação, causando lesões no íleo (parte do intestinodelgado) [45]. Os ratos apresentaram mitocôndrias anormais,com sinais de degeneração e deterioração das microvilosidades(projeções microscópicas que emergem da membrana de umacélula) na superfície de revestimento do intestino.

Como o Bacillus thuringiensis – Bt – e o Bacillus anthracis(antraz utilizado em armas biológicas) estão estreitamente relacio-nados entre si e com o Bacillus cereus, eles podem intercambiarrapidamente plasmídeos (moléculas de DNA circular que con-têm origens de replicação que permitem a replicação indepen-dente do cromossoma) transportando genes de toxinas [54]. Seo B. anthracis captasse genes Bt dos cultivos Bt, através da trans-ferência horizontal de genes (ver mais adiante), novas cepas deB. anthracis com propriedades imprevisíveis poderiam surgir.

CULTIVOS “FARMACÊUTICOS”

Outros genes, bactérias e seqüências virais perigosas são in-corporados aos cultivos alimentares e não alimentares em formade vacinas e produtos farmacêuticos nos cultivos transgênicos“de nova geração” [55-62]. Esses cultivos incluem os que expres-sam citoquinas, conhecidas por suprimir o sistema imunológico,induzir enfermidades e a intoxicação do sistema nervoso central,

Page 65: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 65

assim como o interferon alfa, apontado como causador de de-mência, neurotoxicidade e efeitos colaterais de transtornos decomportamento e alterações cognitivas. Alguns desses cultivoscontêm seqüências virais tais como o gene da proteína spike docoronavírus de porco, da mesma família que o vírus SARS vin-culado com a atual epidemia mundial [63,64].

O gene da glicoproteína gp120 do vírus HIV-1 da AIDS,incorporado ao milho transgênico como uma “vacina oral, co-mestível e barata”, é outra bomba-relógio biológica. Há muitasevidências de que esse gene pode interferir no sistemaimunológico, pois tem homologia com as regiões variáveis deligação dos antígenos das imunoglobulinas, e tem sítios derecombinação do antígeno similares aos das imunoglobulinas.Além disso, esses sítios de recombinação também são semelhan-tes àqueles encontrados em vários vírus e bactérias, com os quaiso gene gp120 pode se recombinar para gerar patógenos letais[65-68].

DNA BACTERIANO E VIRAL

Uma fonte de risco até agora subestimada nos cultivostransgênicos, porém não na terapia genética, onde é tida comoalgo a ser evitado, é o DNA das bactérias e seus vírus, os quaistêm alta freqüência de dinucleotídeos CpG [24]. Esses temasCpG são imunogênicos e podem provocar inflamação e artriteséptica, criar o linfoma da célula B e doença auto-imune [69-73]. Ainda, muitos genes introduzidos em organismostransgênicos provêm de bactérias e seus vírus, e esses, também,podem apresentar riscos (ver mais adiante).

Page 66: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 67: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

GENES “SUICIDAS” PARA CRIAR A ESTERILIDADE

Por cultivos terminator designamos qualquer cultivotransgênico manipulado com um gene “suicida” para provocaresterilidade masculina, feminina ou da semente, para impedirque os agricultores guardem e replantem as sementes, ou paraproteger características patenteadas.

A primeira vez que a opinião pública tomou conhecimentoda tecnologia terminator foi com as patentes conjuntas do USDAe da empresa Delta and Pine Land Company. Após grandes pro-testos em todo o mundo, a Monsanto, que havia adquirido osdireitos de patente do Delta and Pine Land, abandonou o desen-volvimento dos cultivos terminator “descritos nessa patente emparticular”. No entanto, como Ho e Cummins vieram a saber,há muitas formas de construir a esterilidade e cada uma delas éobjeto de uma patente específica.

Soube-se que cultivos terminator experimentais ocorreram naEuropa, Canadá e Estados Unidos, desde o começo da década de1990, e muitos já haviam sido colocados à venda na América do

6. OS CULTIVOS TERMINATOR PROPAGAM A ESTERILIDADE MASCULINA

Page 68: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

68 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Norte [74]. A canola transgênica, nas variedades de primavera ede inverno, que constitui a maior parte das avaliações agrícolasem escala de campo, na Inglaterra, é construída para ter esterili-dade masculina.

A CANOLA TRANSGÊNICA É UM CULTIVO TERMINATOR

O sistema de esterilidade masculina dessa canola transgênicaé composto por três linhagens.

A “linhagem de esterilidade masculina” é mantida em umestado hemizigoto, ou seja, com uma só cópia do gene “suicida”,denominado barnase, unido a um gene de tolerância aoglufosinato. O gene barnase é conduzido por um promotor (in-terruptor genético) que é ativado unicamente na antera ou partemasculina da flor. A expressão do gene barnase na antera dá lu-gar à proteína barnasa, uma ribonuclease (RNAse – enzima quequebra o RNA) que é um potente veneno para a célula. A célulamorre e detém o desenvolvimento da antera, de modo que nãose produz o pólen. Essa linha de androesterilidade ou esterilida-de masculina se obtém no estado hemizigoto mediante cruza-mento com uma variedade não transgênica e utilizandoglufosinato de amônio para matar a metade das plantas da gera-ção seguinte que não tenham uma cópia do transgene H-barnaseligado a ele.

A “linhagem restauradora masculina” é homozigota (com duascópias) para o gene “restaurador da esterilidade”, barstar, tam-bém unido ao gene de tolerância ao glufosinato. O gene barstaré colocado sob o controle do promotor especial que se ativa naantera. Sua expressão resulta na proteína barstar, que é um inibidorespecífico do barnase, que assim tem sua atividade neutralizada.

Cruzando a linha de esterilidade masculina com a linha res-tauradora masculina obtém-se um híbrido F1, no qual o barnase

Page 69: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 69

é neutralizado pelo barstar, restaurando assim o desenvolvimentoda antera para produzir pólen.

Pode ser demonstrado que o híbrido F1 propaga em seu pólentanto o gene de tolerância a herbicida quanto o gene suicida paraa esterilidade masculina, com efeitos potencialmente devastadorespara a agricultura e a biodiversidade. A promoção que os governosda Inglaterra e dos Estados Unidos fazem dessas plantas como sen-do uma forma de “conter” ou “impedir” a propagação de transgenesé uma farsa, pois o verdadeiro propósito desse tipo de engenhariaterminator é proteger as patentes das empresas.

Page 70: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 71: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

QUEM GANHA COM OS HERBICIDAS

Mais de 75% dos cultivos transgênicos plantados atualmenteem todo o mundo são manipulados geneticamente para serem tole-rantes à herbicidas de amplo espectro, fabricados pelas mesmas em-presas que obtêm a maioria do seu lucro da venda de herbicidas.Esses herbicidas de amplo espectro não apenas matam plantasindiscriminadamente, mas também são perigosos para praticamentetodas as espécies de animais silvestres e para os seres humanos.

GLUFOSINATO DE AMÔNIO

O glufosinato de amônio, ou fosfinotricina, está associado acasos de toxicidade neurológica, respiratória, gastro-intestinal ehematológica, bem como a defeitos congênitos em seres huma-nos e mamíferos [75]. É tóxico para as borboletas e vários insetosbenéficos, para as larvas de mexilhões e ostras, para a pulda d’águaDaphnia e para alguns peixes de água doce, especialmente a trutaarco-íris. No solo, também inibe fungos benéficos e bactériasque fixam o nitrogênio.

7. OS PERIGOS DOS AGROTÓXICOS

Page 72: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

72 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A perda de insetos e plantas teria efeitos devastadores para avida de pássaros e pequenos animais.

Além disso, foi constatado que alguns fitopatógenos são alta-mente resistentes ao glufosinato, enquanto os organismos anta-gonistas a esses patógenos foram afetados de modo grave e ad-verso, o que poderia ter efeitos catastróficos na agricultura.

As plantas tolerantes ao glifosinato contêm o gene pat (acetilfosfinotricina transferase), que desativa a fosfinotricina agregan-do-lhe um grupo acetil, para fabricar acetil fosfinotricina. Esseúltimo se acumula na planta transgênica e é um metabolito com-pletamente novo para o cultivo, bem como para a totalidade dacadeia alimentar que chega até os seres humanos, cujos riscosnão têm sido considerados.

Dados fornecidos por AgrEvo (que em seguida se transfor-mou em Aventis e agora em Bayer CropScience) mostram que osmicroorganismos do intestino dos animais de sangue quentepodem eliminar o grupo acetil e regenerar o herbicida tóxico. Afosfinotricina inibe a enzima glutamina sintetasa, que transfor-ma o aminoácido essencial, ácido glutâmico, em glutamina. Oresultado final da ação do glufosinato é que o amoníaco e oglutamato se acumulam às expensas da glutamina. É o acúmulode amoníaco que promove a ação letal nas plantas.

Nos mamíferos, as conseqüências da inibição da glutaminasintetase estão mais associadas com o aumento dos níveis deglutamato e à diminuição dos níveis de glutamina. O amoníacocirculante é eliminado no fígado pelo ciclo da uréia. No entanto,o cérebro é extremamente sensível aos efeitos tóxicos do amoní-aco e a eliminação do excesso de amoníaco depende de sua in-corporação em glutamina. O glutamato é um importanteneurotransmissor e é muito provável que uma alteração tão grandede seu metabolismo tenha repercussões na saúde.

Page 73: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 73

Esses efeitos conhecidos já são suficientes para suspender,imediatamente, os cultivos experimentais de transgênicos, atéque sejam completamente respondidas as questões cruciais sobreo metabolismo, armazenamento e reconversão da N-acetilfosfinotricina, para todos os produtos que contêm genes pat.

O GLIFOSATO

O glifosato é o outro herbicida muito utilizado em conjuntocom os cultivos transgênicos [76].

O glifosato mata as plantas inibindo a enzima 5-enolpiruvil-shiquimato-3-fosfato sintetase (EPSPS), fundamental para abiossíntese de aminoácidos aromáticos tais como a fenilalanina, atirosina e o triptofano, vitaminas e numerosos metabolitos secun-dários, como folatos, ubiquinona e naftoquinona [77]. A via doshiquimato ocorre nos cloroplastos dos vegetais verdes. A ação le-tal do herbicida requer que a planta esteja em período de cresci-mento e exposta à luz.

Os cultivos transgênicos modificados para serem tolerantes àformulação de glifosato da Monsanto, denominada RoundupReady, são modificados com dois genes principais. Um gene fa-vorece a diminuição de sensibilidade ao glifosato e o outro per-mite que a planta degrade o glifosato. A expressão de ambos osgenes é dirigida aos cloroplastos, o local de ação do herbicida,pela agregação de seqüências codificadoras de um “peptídeo detransporte” derivado da planta.

O primeiro gene codifica uma versão derivada de bactéria daenzima da planta envolvida na via bioquímica do shiquimato.Diferentemente da enzima da planta, que é sensível ao glifosatoe provoca o fim do crescimento da planta ou sua morte, a enzimabacteriana é insensível ao glifosato. O segundo gene, tambémbacteriano, codifica para uma enzima que degrada o glifosato e

Page 74: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

74 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sua seqüência codificadora foi alterada para aumentar a atividadede degradação do glifosato.

A via shiquimato-corismato não é encontrada em seres huma-nos e mamíferos e, como tal, representa “um novo alvo” , emboraesteja presente em uma variedade de microorganismos. Contudo,o glifosato atua impedindo a união do metabolito fosoenol piruvato(PEP) ao sítio da enzima [78]. O PEP é um metabolito central, pre-sente em todos os organismos, incluindo os seres humanos. Oglifosato, então, tem o potencial de alterar muitos sistemasenzimáticos importantes que utilizam PEP, inclusive o metabolismoenergético e a síntese de lipídeos da membrana, necessários às célulasnervosas.

O glifosato é a causa mais freqüente de reclamações e envenena-mento na Inglaterra [79]. Casos de suicídio têm ocorrido com apenas100 mililitros de uma solução com concentração de 10% a 20%. Háinformações de transtornos generalizados de vários sistemas do orga-nismo depois das exposições a níveis de uso normais; esses transtor-nos incluem alterações no equilíbrio, vertigens, diminuição da capa-cidade cognitiva, convulsões, lesões na visão, olfato, audição e paladar,dores de cabeça, pressão sangüínea baixa, crispação e tiques em todoo corpo, paralisia muscular, neuropatia periférica, perda da coordena-ção motora, sudorese excessiva e fadiga severa [80].

Um estudo epidemiológico de populações rurais de Ontáriodemonstrou que a exposição ao glifosato praticamente duplicouo risco de aborto espontâneo tardio [81]. Constatou-se que osfilhos de pessoas usuárias de glifosato apresentavam um grau ele-vado de alterações de neurocomportamento [82]. O glifosatoprovocou o desenvolvimento retardado do esqueleto fetal em ratosde laboratório [83].

Outros experimentos e estudos com animais indicam que oglifosato inibe a síntese de esteróides [84] e é genotóxico em

Page 75: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 75

mamíferos [85, 86], peixes [87, 88] e sapos [89, 90]. A exposi-ção de minhocas a doses de campo provocou mortalidade de50%, no mínimo, e lesões intestinais importantes nas sobrevi-ventes [91]. Um artigo recente informou que o Roundup provo-cou alterações na divisão celular que podem estar associadas acertos tipos de câncer em humanos [92].

Como foi analisado na referência 76, a bactéria simbiônticafixadora de nitrogênio na soja transgênica e não transgênica é sen-sível ao glifosato, e a aplicação precoce de glifosato conduz a umadiminuição da biomassa do cultivo e do nitrogênio. A aplicaçãode glifosato em temperaturas elevadas, aproximadamente 35ºC, àsoja Roundup Ready provocou dano ao meristema, que está rela-cionado ao aumento de transporte do herbicida ao meristema.

A aplicação de glifosato no controle convencional de ervasdaninhas provoca a destruição e extinção local de espécies vege-tais ameaçadas de extinção. Nos ecossistemas florestais, reduz,significativamente, briófitas e líquens.

O tratamento de plântulas de feijão com glifosato resultouem aumento de patógenos do solo que causam tombamento, emcurto prazo.

A aplicação de glifosato para controlar espécies invasoras emzonas ribeirinhas sujeitas a enchentes ocasionou efeitos secundáriosimprevistos. Após a aplicação, o herbicida de sedimento se redu-ziu a 88%, enquanto que em pastagem perene aumentou 59%,ficando depositado nos rizomas. O glifosato persiste no solo e naágua subterrânea, sendo encontrado em poços de água localizadosnas proximidades de áreas que sofreram aplicação do herbicida.

Existem muitos estudos científicos já publicados mostrandoque o aumento “massivo” do uso de glifosato em conjunto comos cultivos transgênicos representa uma ameaça importante paraa saúde humana e animal, bem como para o meio ambiente.

Page 76: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 77: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES E AS EPIDEMIAS

A transferência horizontal de genes, isto é, a transferência dire-ta de material genético aos genomas dos organismos, sejam damesma espécie ou de espécies não relacionadas, é, de longe, a ques-tão de segurança mais grave, exclusiva da engenharia genética [93].

Desde 11 de setembro de 2001, o mundo foi tomado poruma histeria acerca de ataques terroristas e “armas de destruiçãoem massa”. Os governos querem proibir a publicação de resulta-dos de pesquisa científica estratégica e um grupo de editores eautores de publicações sobre as ciências da vida estão de acordo.Alguns cientistas até sugerem a criação de um organismo inter-nacional de vigilância das pesquisas e publicações [65].

Poucos, porém, reconheceram que a engenharia genética pro-priamente dita seja intrinsecamente perigosa, como foi inicial-mente assinalado pelos pioneiros da engenharia genética, naDeclaração de Asilomar, em meados dos anos de 1970, e como,recentemente, alguns de nós vêm lembrando ao público e às au-toridades [94, 95].

8. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES

Page 78: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

78 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

O que chamou a atenção da grande imprensa foi o relato, emjaneiro de 2001, da forma como alguns pesquisadores australia-nos, no curso da manipulação de um vírus inócuo, criaram “aci-dentalmente” um vírus letal de rato que matou todas as suasvítimas. O título do artigo publicado na New Scientist anunciavaque no processo havia ocorrido um desastre e que um vírus derato manipulado geneticamente nos deixava a um passo da maisnova arma biológica. O editorial foi menos moderado: “A bruxaestá solta; a biotecnologia teve uma surpresa desagradável. A pró-xima vez poderá ser catastrófica”.

Esse fato, mais a atual epidemia SARS, nos lembra que atransferência horizontal de genes e a recombinação criam novosvírus e bactérias que causam doenças e, se a engenharia genéticafaz algo, o faz aumentando, em muito, o alcance e a tendência àtransferência e à recombinação horizontal de genes.

A ENGENHARIA GENÉTICA AUMENTA O ALCANCE E A

PROPENSÃO À TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES.

Em primeiro lugar, a engenharia genética leva à recombinaçãoprofusa de material genético procedente de fontes muito diver-sas que, do contrário, teriam tido muito pouca oportunidade dese misturar e recombinar na natureza. Algumas das técnicas maisnovas, que envolvem o embaralhamento de seqüências de DNA(DNA shuffling) [96, 97], poderão criar, em questão de minutos,milhões de novos recombinantes em laboratório, que nunca ha-viam existido antes nos bilhões de anos de evolução. Não hálimite para as fontes de DNA que podem ser misturadas dessaforma.

Em segundo lugar, os vírus e as bactérias causadores de doen-ças e seu material genético são materiais e ferramentas predomi-nantes na engenharia genética, assim como na fabricação inten-

Page 79: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 79

cional de armas biológicas. Essas incluem os genes de resistênciaa antibióticos, que tornam mais difícil o tratamento das infec-ções.

E, por último, as construções artificiais criadas pela enge-nharia genética são concebidas para atravessar as barreiras entreas espécies e saltar para dentro dos genomas, isto é, para aumen-tar e acelerar ainda mais, não só a transferência horizontal degenes, mas também a recombinação. Hoje, ambos os mecanis-mos são reconhecidos como o principal caminho para criar no-vos agentes de enfermidades, possivelmente muito mais impor-tantes que as mutações pontuais que modificam bases isoladasno DNA.

Isso, somado à instabilidade inerente ao DNA transgênico,acima mencionada, que o torna mais provável a romper e arecombinar, nos faz entender porque não precisamos debioterroristas se temos engenheiros genéticos.

Page 80: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 81: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

“SÍTIOS PREFERENCIAIS PARA RECOMBINAÇÃO”

Algumas construções transgênicas são menos estáveis do queoutras, como é o caso das que contêm o promotor do vírus domosaico da couve-flor (CaMV) 35S.

O CaMV infecta as plantas da família das Crucíferas (cou-ve, repolho). Um dos seus promotores, o 35S, tem sido ampla-mente utilizado em cultivos transgênicos, desde o começo daengenharia genética de vegetais, antes que algumas de suas ca-racterísticas preocupantes tivessem sido descobertas. A maisgrave é a existência de um “sítio preferencial para recombinação”,onde ele tende a recombinar com outro DNA, embora as evi-dências definitivas sobre isso não tenham surgido senão muitomais tarde.

Desde o início da década de 1990, surgiram grandes dúvidassobre a segurança dos genes de vírus incorporados aos cultivostransgênicos para torná-los resistentes a ataques virais. Muitosdesses genes virais tendiam a recombinar com outros vírus, ge-rando novos vírus e, por vezes, vírus superinfecciosos.

9. O PROMOTOR CaMV 35S

Page 82: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

82 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em 1999, surgiram evidências definitivas sobre a existênciade sítios preferenciais para recombinação no promotor CaMV35S, publicadas independentemente por dois grupos de pesqui-sa. Isso foi muito importante face às descobertas de Ewen ePusztai, já citadas, indicando que as lesões nos ratos jovens ali-mentados com batata transgênica poderiam ser devidas ao pro-cesso de transformação propriamente dito ou à construçãotransgênica.

Ho et alii pesquisaram as implicações sobre a segurança dopromotor CaMV 35S, destacando que seu sítio preferencial pararecombinação está ladeado por múltiplas seqüências envolvidasem recombinação e que são similares a outros sítios preferenciaispara recombinação, inclusive aos das bordas do vetor construídocom DNA-T de Agrobacterium, mais freqüentemente utilizadona fabricação de plantas transgênicas. O suspeito mecanismo darecombinação, em que há ruptura do DNA de dupla hélice se-guido de sua reparação, requer pouca ou nenhuma homologiade seqüências de DNA e tem sido amplamente demonstradopela ocorrência de recombinação entre transgenes virais e vírusinfecciosos. Além disso, o promotor CaMV 35S funciona eficien-temente em todas as plantas, bem como em algas verdes, levedurae E. coli. Tem uma estrutura modular com partes comuns eintercambiáveis com as de promotores de muitos outros vírus deplantas e animais.

Essas conclusões indicaram que as construções transgênicascom o promotor CaMV 35S poderiam ser especialmente instá-veis e propensas à transferência horizontal e à recombinação degenes, com todos os riscos decorrentes: mutações genéticas devi-do à inserção aleatória, câncer, reativação de vírus latentes e ge-ração de novos vírus, alguns dos quais poderiam explicar as ob-servações descritas por Ewen e Pusztai [44, 46, 48, 51].

Page 83: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 83

Quando os resultados da pesquisa de Ho et alii [98] foramaceitos para publicação, a revista Microbial Ecology in Health andDisease publicou um comunicado na imprensa em sua página daInternet, qualificando-o de “tema quente”. Um dia depois, alguém,com o nome de Klaus Amman, organizou pelo menos nove críti-cas que circularam na Internet e que oscilavam do ofensivo e con-descendente ao relativamente moderado. Soube-se depois que KlausAmman é uma figura fundamental no que concerne ao estabeleci-mento (ou, a nosso ver, à solapa) de normas de biossegurança nocenário internacional, ocupando vários cargos em organizações fi-nanciadas pela indústria de biotecnologia.

Ho et alii, responderam a todas as críticas em um documen-to que circulou na Internet e foi posteriormente publicado namesma revista científica. Até hoje os críticos não replicaram.

Lamentavelmente, os comentários mais ofensivos foram in-corporados em um artigo de “análise” de um editor de NatureBiotechnology dentro da seção “Business and regulatory news”(Notícias comerciais e de regulamentação) [99]. Essa “análise”,elaborada a partir de rumores e opiniões, continha declaraçõestão difamatórias e caluniosas que a revista teve de dar a Ho et aliio direito de resposta. A resposta foi finalmente publicada, váriosmeses depois [100], junto com as “desculpas” do editor por nãohaver citado a réplica dos autores, mas que foi, na realidade, umoutro ataque. Dessa vez, a Nature Biotechnology negou, a eles, odireito de resposta.

Todas as críticas científicas de importância apareceram final-mente em um trabalho publicado na revista onde havia apareci-do o documento original, com a co-autoria de Roger Hull e PhilDale, membro do Comitê Consultor sobre Alimentos e Proces-sos Novos (ACNFP, em inglês) – da Inglaterra [101]. Suas prin-cipais críticas se resumiam ao seguinte:

Page 84: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

84 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em primeiro lugar, as pessoas vêm comendo o vírus em re-polhos e couves-flores infectados há muitos anos sem terem so-frido nenhum dano; portanto, por que deveriam se preocuparcom o promotor CaMV 35S? Em segundo lugar, as plantas jácontêm seqüências de pararetrovírus, não diferentes do CaMV;portanto, por que deveria aí representar algum risco?

As críticas foram inteiramente refutadas em um artigo maisextenso que o original, publicado pouco depois na mesma revis-ta [102], que não recebeu nenhuma resposta. De fato, os críticosnunca mencionaram essa réplica.

Apontou-se, dentre outras coisas, que as pessoas “não” têmingerido o promotor CaMV 35S fora do seu contexto genético eevolutivo geral, nem incorporado ao DNA transgênico.

O fato de que as plantas estejam “carregadas” de seqüênciaspararetrovirais similares ao CaMV e a outros elementos potencial-mente móveis apenas torna a situação pior. Os pararetrovírussão vírus que utilizam a transcriptase reversa, mas não depen-dem da integração ao genoma hospedeiro para replicação. Ospararetrovírus pertencem a uma família que contém o vírus dahepatite B. O promotor CaMV 35S poderia ativar vírus latentescomo o da hepatite B, que também é conhecido por se haverintegrado a alguns genomas humanos e pareceu estar associadocom a enfermidade.

Todos, ou quase todos, os elementos integrados ao genomateriam sido “domesticados” no curso da evolução e, por isso, jánão seriam móveis. Porém, a integração das construçõestransgênicas contendo o promotor 35S poderia mobilizar os ele-mentos. Esses poderiam, por sua vez, prover funções de “auxílio”para desestabilizar o DNA transgênico e, também, servir comosubstratos na recombinação para gerar mais elementos invasivosexóticos.

Page 85: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 85

Desde então, têm surgido evidências de que a integração degenes estranhos ao genoma, associada à modificação genética,pode realmente ativar transposons e seqüências provirais, provo-cando a desestabilização do genoma [103]. Assim, Ho et alii nãoestavam tão longe do correto.

No transcurso do debate com os críticos, Ho e seus colabora-dores descobriram evidências ainda mais irrefutáveis [104]. Mes-mo que o vírus CaMV infecte apenas as plantas da família dasCrucíferas, seu promotor 35S é promiscuamente ativo em outrasespécies do mundo vivo, não apenas em bactérias, algas, fungose plantas, mas também em células animais e humanas, como foirevelado num artigo científico de 1990. Os fitogeneticistas queincorporaram o promotor CaMV 35S a praticamente todos oscultivos transgênicos comerciais de hoje, aparentemente, nãosabiam disso e continuam, ainda, sem admiti-lo publicamente.

O Comitê Consultivo de Licenças Ambientais da Inglaterra(ACRE, em inglês) não têm desculpa para omitir essa informaçãoem seu último relatório [105], no qual reitera que “não há provas dedano”, como Ho chamou a atenção para ela, em várias apresentaçõesescritas e nos relatos de evidências em diversas audiências públicas.No entanto, por trás dos bastidores, silenciosamente, o promotorCaMV 35S foi retirado e já não aparece na maioria dos cultivostransgênicos que estão sendo desenvolvidos.

A controvérsia em torno da contaminação transgênica dasvariedades mexicanas não é tanto sobre a ocorrência da contami-nação em si, mas sobre a possibilidade de que as construçõestransgênicas poderiam, devido à sua instabilidade, segundo umcrítico [106], “fragmentar-se e espalhar-se promiscuamente portodos os genomas”. Todas as construções de milho transgênico,que podem ter sido responsáveis pela contaminação, continhamo promotor CaMV 35S, razão pela qual pode-se utilizá-lo para

Page 86: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

86 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

testar a contaminação transgênica. Sabe-se que a fragmentação eo espalhamento de DNA instável por todo o genoma ativa osprovírus adormecidos e transposons (ver acima), causandoreordenamento de DNA, eliminações, translocações e outras al-terações que poderiam desestabilizar os genomas das variedadescrioulas, levando-as à extinção.

Page 87: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 87

DNA TRANSGÊNICO VERSUS DNA NATURAL

O DNA transgênico é diferente do DNA natural em muitosaspectos, os quais contribuem para sua maior propensão à trans-ferência horizontal aos genomas de organismos não relaciona-dos, onde também podem recombinar-se com novos genes (Qua-dro 1) [93].

QUADRO 1

O DNA transgênico tem mais probabilidade depropagar-se horizontalmente

· O DNA transgênico costuma conter novas combinaçõesde material genético que nunca existiram antes.

· O DNA transgênico tem sido construído para “saltar” paradentro de genomas.

· As construções artificiais de genes tendem a ser estrutural-mente instáveis e, portanto, propensas a romperem-se, uni-rem-se ou recombinarem com outros genes.

· Os mecanismos que permitem que as construções de genes

10. MAIOR PROBABILIDADE DE PROPAGAÇÃO DE DNA TRANSGÊNICO

Page 88: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

88 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

estranhos saltem para dentro do genoma também lhes permi-tem saltar para fora de novo e reinstalarem-se em outro localou em outro genoma. Por exemplo, a enzima integrase, quecatalisa a inserção de DNA viral no genoma hospedeiro, tam-bém funciona como uma des-integrase, catalizando a reaçãoreversa. Essas integrases pertencem a uma superfamília deenzimas similares que estão presentes em todos os genomas,de vírus e bactérias até as plantas superiores e animais. Asrecombinases de transposons são similares.

· As bordas do vetor mais comumente utilizado para as plan-tas transgênicas – o DNA-T de Agrobacterium – são sítiospreferenciais para recombinação (sítios que tendem a rom-per e unir). Além disso, um sítio preferencial pararecombinação também está associado ao promotor do ví-rus do mosaico da couve-flor (CaMV) e a vários terminators(sinais genéticos para finalizar a transcrição), o que signifi-ca que o conjunto ou as partes do DNA integrado terãouma maior propensão para transferência horizontal secun-dária de genes e recombinação.

· Evidências recentes indicam que as construções de genesestranhos tendem a se integrar aos sítios preferenciais pararecombinação do genoma, o que, de novo, tenderia a au-mentar as chances de desintegração e transferência hori-zontal do DNA transgênico.

· Freqüentemente, o DNA transgênico tem outros sinaisgenéticos, como as origens de replicação deixadas peloplasmídeo vetor. Esses também são sítios preferenciais derecombinação e, além disso, com facilidade, podem per-mitir que o DNA transgênico se replique independente-mente como um plasmídeo, que é prontamente transferidohorizontalmente entre as bactérias.

Page 89: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 89

· O estresse metabólico do organismo hospedeiro provocadopela contínua superexpressão dos genes estranhos, vinculadaa promotores agressivos como o CaMV 35S, tambémaumentará a instabilidade do DNA transgênico, facilitando,com isso, a transferência horizontal de genes.

· O DNA transgênico é, tipicamente, um mosaico de se-qüências de DNA provenientes de diferentes espécies e seusparasitas genéticos; essas homologias implicam que ele terápropensão a se recombinar e, com sucesso, se transferir aosgenomas de numerosas espécies, bem como a seus parasi-tas genéticos. A recombinação homóloga normalmenteocorre de mil a um milhão de vezes mais freqüentementedo que a recombinação não homóloga.

EVIDÊNCIAS DE QUE O DNA TRANSGÊNICO É DIFERENTE

Somente um estudo completo foi realizado, até hoje, paratestar a hipótese de que os transgenes são iguais (ou não) aosmutantes induzidos por meios convencionais (mutagênese), talcomo a exposição a raios X e mutágenos químicos, que causamalterações na seqüência de bases do DNA.

Bergelson e seus colegas [107] obtiveram um mutante paratolerância a herbicida mediante mutagênese convencional emuma cepa de laboratório de Arabidopsis e criaram linhagenstransgênicas, introduzindo, nas células da planta hospedeira, ogene mutante inserido num vetor.

Em seguida, compararam a proporção com a qual as plantasmutantes transgênicas e não transgênicas propagavam a caracte-rística de tolerância a herbicida às plantas normais de tipo silves-tre que cresciam nos arredores. Assim descobriram que ostransgenes das plantas transgênicas tinham até 30 vezes maispossibilidades de escaparem e de se espalharem do que os mes-

Page 90: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

90 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

mos genes obtidos por mutagênese.Os resultados são difíceis de serem explicados em termos de

simples polinização cruzada. Teria isso ocorrido porque a intro-dução do transgene, mediante um vetor, leva a vários tipos deefeitos inesperados? As plantas transgênicas produziram maispólen, ou pólen mais viável? O pólen das plantas transgênicasfoi mais atrativo para as abelhas?

Outra possibilidade para a maior propagação de transgenes éa transferência horizontal de genes, através dos insetos que visi-tam as plantas em busca de pólen e néctar, ou, simplesmente, daalimentação de seiva ou outras partes, de sucessivas plantastransgênicas e silvestres. Bergelson afirmou que eles não tiveramevidências de transferência horizontal de genes, mas não pude-ram descartá-la. Eles, contudo, não continuaram a investigar talpossibilidade.

Independentemente da maneira como os transgenes se pro-pagaram, o experimento demonstrou que o DNA transgênconão se comporta da mesma maneira que o DNA não transgênico.

Page 91: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 91

EXPERIMENTOS QUE DEMONSTRAM A TRANSFERÊNCIA

HORIZONTAL DE DNA TRANSGÊNICO

A transferência horizontal de transgenes e genes marcadoresde resistência a antibióticos, de cultivos manipulados genetica-mente para bactérias e fungos do solo, foi demonstrada, em la-boratório, em meados da década de 1990. A transferência detransgenes para fungos foi conseguida, simplesmente, cultivan-do os fungos com a planta transgênica; e a transferência às bacté-rias foi conseguida pela aplicação de DNA total da plantatransgênica a culturas de bactérias.

No final da década de 1990, foram obtidas transferênciasbem sucedidas de um gene marcador de resistência à canamicinapara a bactéria do solo Acinetobacter, com DNA total extraído defolhas homogeneizadas em várias plantas transgênicas [108]:Solanum tuberosum (batata), Nicotiana tabacum (tabaco), Betavulgaris (beterraba açucareira), Brassica napus (canola) eLycopersicon esculentum (tomate). Estimou-se que para transfor-mar, com sucesso, uma bactéria bastavam aproximadamente

11. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE DNA TRANSGÊNICO

Page 92: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

92 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

2.500 cópias de genes de resistência à canamicina (do mesmonúmero de células vegetais), mesmo na presença de um excessode 6 x 106 vezes de DNA vegetal. Os resultados de transferênciahorizontal de genes foram positivos, nesse sistema, até mesmocom apenas 100 microlitros de uma solução da folha maceradada planta adicionada à bactéria.

OBSCURECIMENTO E DISTORÇÃO DOS FATOS

Porém, desde o princípio, prevaleceu o obscurecimento e adistorção dos fatos. Apesar do enganoso título de um documentode Schluter, Futterer e Potrykus, o qual afirma que a transferênciahorizontal de genes em seu experimento “ocorre, se chega a ocor-rer, com uma freqüência extremamente baixa” [109], os dadosdemonstraram uma elevada freqüência de transferência genética,de 5,8 x 10-2 por bactéria receptora, sob condições ótimas.

No entanto, os autores em seguida passaram a calcular umafreqüência teórica de transferência de genes de 2,0 x 10-17, oupróxima a zero, sob “condições naturais” extrapoladas. Fizeram-no assumindo que diferentes fatores atuavam independentementee inventando as “condições naturais”, que são, em grande medi-da, desconhecidas e imprevisíveis. Conforme admitiram os pró-prios autores, não podem ser ignorados os efeitos sinérgicos dascombinações de fatores.

Esse documento foi posteriormente amplamente citado parademonstrar que não ocorre transferência horizontal de genes.

EXPERIMENTOS DE CAMPO OFERECEM

PROVAS PRIMA FACIE

Em 1999, pesquisadores na Alemanha [110] já haviam in-formado sobre o primeiro, e ainda único, experimento de cam-po monitorado que proporcionou evidências prima facie de que

Page 93: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 93

o DNA transgênico havia sido transferido dos restos de plantasde beterraba açucareira às bactérias do solo. Ho divulgou umaanálise detalhada dessa evidência e apresentou-a devidamente aosconselheiros científicos do governo da Inglaterra, que, além dedescartarem a evidência, citaram-na como evidência de que atransferência horizontal de genes não ocorreu.

O DNA não apenas persiste no ambiente externo, tanto no soloquanto na água, como também não se degrada suficientemente rá-pido no sistema digestivo para evitar que o DNA transgênico sejatransferido a microorganismos residentes nos intestinos dos animais.

TRANSFERÊNCIA DE DNA TRANSGÊNICO NA BOCA

A transferência poderia começar na boca. Mercer et alii in-formaram, em 1999 [111], que um plasmídeo manipulado ge-neticamente tinha de 6% a 25% de possibilidades de sobreviverintacto após 60 minutos de exposição à saliva humana. Alémdisso, o plasmídeo de DNA parcialmente degradado foi capazde transformar o Streptococcus gordonii, uma das bactérias quenormalmente estão presentes na boca e na faringe humanas. Afreqüência de transformação baixou exponencialmente com otempo, porém continuou sendo ainda significativa, após 10 mi-nutos. A saliva humana, na verdade, contém fatores que promo-vem transformação nas bactérias residentes na boca.

Essa pesquisa foi feita em tubo de ensaio e os autores afirma-ram claramente que “é necessário realizar mais pesquisas paraestabelecer se a transformação da bactéria oral pode ocorrer invivo com freqüências significativas”. Contudo, desde então, nãose efetuou nenhum estudo desse tipo, o que é difícil de entender“na medida em que a pesquisa original foi encomendada pelogoverno da Inglaterra, como parte do Programa de AlimentosNovos”.

Page 94: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

94 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Outro grupo da Universidade de Leeds, no entanto, obteverecursos da então recém-criada Agência de Normas Alimenta-res (Food Standards Agency – FSA) para investigar a possibili-dade de transferência horizontal de genes no estômago dos ru-minantes [112], onde o alimento permanece durante longosperíodos. Os pesquisadores descobriram que o DNA transgênicose degradava rapidamente nos fluidos do rúmen e da silagem,mas que, no entanto, a transferência horizontal poderia ocor-rer antes que o DNA transgênico fosse completamente degra-dado.

Eles também descobriram que o DNA transgênico demo-rava muito em degradar-se na saliva e, portanto, a boca pode-ria ser um local importante para a transferência horizontal degenes. Isso confirmou os resultados obtidos por Mercer et alii[111]. Porém, uma vez mais, nenhum trabalho de acompa-nhamento foi realizado em animais vivos. Foi esse um casono qual se evitou fazer os experimentos óbvios por medo deserem obtidos resultados positivos que seriam mais difíceis dedescartar?

TRANSFERÊNCIA DE DNA TRANSGÊNICO ATRAVÉS DA

PAREDE DO INTESTINO E DA PLACENTA

Há mais informações sobre o alcance da transferência hori-zontal de genes, como revela a bibliografia científica existente.Desde o início dos anos de 1990, o grupo de Döerfler's, naAlemanha, tem realizado uma série de experimentos acerca dodestino do DNA estranho nos alimentos.

Alimentando ratos com DNA, tanto isolado da bactériado vírus M13, quanto do gene clonado para a proteína verdefluorescente inserida em um plasmídeo, eles descobriram queuma porcentagem pequena, porém significativa, de DNA viral

Page 95: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 95

e de plasmídeo não apenas escapou da degradação completano intestino, mas também conseguiu atravessar sua parede eingressar na corrente sanguínea, até introduzir-se em algunsglóbulos brancos e em células do baço e do fígado, tornando-se incorporado ao genoma celular do rato [113]. O DNA es-tranho, ao ser fornecido como alimento a ratas prenhes, foiencontrado em algumas células dos fetos e dos animais re-cém-nascidos, demonstrando que havia atravessado a placen-ta [114].

Esse trabalho põe de manifesto os perigos de todos os tiposde DNA “desprotegido” criados pela indústria da engenhariagenética, em especial os genomas virais, sobre os quais o virologistanorueguês Terje Traavik [115] científico do governo da Norue-ga, e outros [94, 95], chamaram a atenção.

Em um documento publicado em 1998, Döerfler eSchubbert disseram [114] que: “Ainda não foram investigadasas conseqüências da absorção de DNA estranho para amutagênese [que gera mutações] e para a oncogênese [que pro-voca câncer]”. A importância dessa constatação é relevante faceaos casos de câncer identificados dentre aqueles que receberamterapia genética, em fins de 2002 [116], pois fundamenta quea exposição ao DNA transgênico representa os mesmos riscos,seja através da terapia genética, seja dos alimentos transgênicos.A terapia genética implica na modificação genética de seres hu-manos e utiliza construções muito similares àquelas da modifi-cação genética de plantas e animais.

A OMISSÃO DE EXPERIMENTOS DEFINITIVOS

Um relatório publicado em 2001 [117] apresentou a compa-ração do destino do DNA obtido das folhas da soja comum como de DNA plasmídeo transgênico, confirmando resultados ante-

Page 96: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

96 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

riores: o DNA transgênico invadiu as células de numerosos teci-dos.

Porém, como a maioria dos projetos de pesquisa resenha-dos, esse também parece ter ficado aquém da obtenção de re-sultados mais claros e definitivos, que poderiam ter sido conse-guidos simplesmente alimentando-se os ratos com sojatransgênica e monitorando o destino do DNA transgênico edo DNA próprio da planta. Isso significaria um avanço pararesolver o assunto que Ho e Cummins têm colocado,reiteradamente: o DNA transgênico pode ser mais invasivo dascélulas e dos genomas do que o DNA natural.

Na verdade, como destaca Ewen [44], não se pode excluir apossibilidade de que alimentar os animais com produtostransgênicos, como o milho, também traz riscos. O leite devaca pode conter derivados transgênicos e inclusive um bife decarne bovina pode conter material transgênico ativo, já que oDNA é extraordinariamente estável e, em geral, não é destruídopelo calor. Recentemente recuperou-se DNA de sedimentos desolo com idade entre 300 mil e 400 mil anos [118]. Há infor-mações que o renomado pesquisador Alan Cooper, da Univer-sidade de Oxford, em visita à Nova Zelândia, teria declaradoque [119] “A capacidade do DNA de persistir no solo durantetanto tempo foi completamente subestimada... e ilustra o quãopouco sabemos” e “que é necessário pesquisar muito mais antesque possamos prever o efeito da liberação das plantastransgênicas no meio ambiente”.

DNA TRANSGÊNICO EM ALIMENTOS TRANSFERIDO PARA

BACTÉRIAS DO INTESTINO HUMANO

O governo da Inglaterra acabou encomendando pesquisassobre a transferência horizontal de genes para as bactérias do

Page 97: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 97

intestino de seres humanos voluntários “e encontrou resultadospositivos”.

A pesquisa em questão é a parte final do projeto da Agência deNormas Alimentares (FSA), da Inglaterra, para a avaliação dosriscos dos organismos transgênicos nos alimentos humanos [120].

Não é, de maneira alguma, inesperado que o DNAtransgênico se transfira às bactérias do intestino humano. Atra-vés de pesquisas anteriores referidas aqui, já se sabia que o DNApersiste no intestino e que as bactérias podem absorver rapida-mente DNA estranho. Por que então os agentes responsáveis pelaregulamentação esperaram tanto tempo para pedir essa pesqui-sa? E quando o fizeram, de a impressão de que os cientistas haviamplanejado o experimento de modo a coletar probabilidades for-temente contra um resultado positivo [121].

Por exemplo, o método para detectar DNA transgênico de-pendia da amplificação de uma pequena parte, 180 bp, do totaldo inserto de DNA transgênico, que era pelo menos dez ou vin-te vezes mais longo. Dessa maneira não seria possível detectar apresença de outros fragmentos do DNA inserido, ou outros frag-mentos que não coincidissem com o total dos 180 bp amplifica-dos, ou fragmentos que houvessem se reordenado. A possibilida-de de se obter um resultado positivo é muitíssimo menor, com5% no melhor dos casos. “Assim, um resultado negativo obtidocom esse método de detecção muito provavelmente não indica-ria ausência de DNA transgênico”.

Apesar disso, chegou-se a um resultado positivo, imediata-mente mascarado e descartado pela FSA, que teria afirmado que“os resultados haviam sido avaliados por vários especialistas dogoverno, que asseguraram que não havia risco para os seres hu-manos”. Em uma declaração em sua página na Internet, a FSAdisse que o estudo havia concluído que “é muito improvável”

Page 98: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

98 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

que os genes transgênicos possam ir parar no intestino das pes-soas que os tenham ingerido.

O VETOR AGROBACTERIUM, UM VEÍCULO PARA O ESCAPE DE

GENES

Evidências recentes indicam, com grande segurança, que ométodo mais comumente usado para criar plantas transgênicaspode também servir como uma via rápida para transferênciahorizontal de genes [122, 123].

A Agrobacterium tumefaciens – a bactéria do solo que causatumores em várias plantas na junção do caule com a raiz e porisso chamada de “galha da coroa” – foi desenvolvida como umvetor principal de transferência genética na produção de plantastransgênicas. Os genes estranhos geralmente são inseridos na parteDNA-T de um plasmídeo de A. tumefaciens, denominado Ti(indutor de tumor), que se integra no genoma da célula da plan-ta que, logo depois, desenvolve um tumor. Isso era conhecido,pelo menos, desde 1980.

Porém, pesquisas ulteriores revelaram que o processo peloqual a Agrobacterium injeta DNA-T nas células vegetais se pare-ce muito à “conjugação”, ou “reprodução sexuada” entre célulasbacterianas.

A conjugação, conseguida com a mediação de certosplasmídeos bacterianos, requer que o DNA a ser transferido con-tenha uma seqüência chamada origem de transferência (oriT).As demais funções podem ser supridas a partir de outras fontes,às quais se faz referência como “funções de ação-trans” (ou tra).Portanto, os plasmídeos “desarmados”, que não têm funções deação-trans, podem ser transferidos mediante plasmídeos “auxilia-res” que transportam genes codificadores para as funções de ação-trans. E essa é a base de um complicado sistema de vetores, que

Page 99: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 99

foi concebido utilizando-se o DNA-T de Agrobacterium e com oqual tem se produzido numerosas plantas transgênicas.

Porém, rapidamente, veio à tona que as bordas esquerda edireita do DNA-T são semelhantes a oriT e podem ser substituí-das pela mesma. Além disso, o DNA-T desarmado, carente dasfunções de trans-ação (genes de virulência que contribuem paraenfermidade), pode ser ajudado por genes similares que perten-cem a muitas outras bactérias patogênicas. Parece que a transfe-rência de genes “entre reinos”, pela Agrobacterium, bem como ossistemas de conjugação de bactérias, estão relacionados ao trans-porte de macromoléculas, não somente de DNA, mas tambémde proteínas.

Isso significa que as plantas transgênicas criadas pelo sistemade vetor DNA-T têm uma via rápida para o escape horizontal degenes, através da Agrobacterium, ajudada pelos mecanismos deconjugação comuns de outras bactérias causadoras de enfermi-dades, que estão presentes no meio ambiente.

De fato, a possibilidade de que a Agrobacterium possa servircomo um veículo para o escape horizontal de genes foi levantadapela primeira vez, em 1997, em um estudo patrocinado pelogoverno da Inglaterra [124], que mostrou ser muito difícileliminar a Agrobacterium utilizada no sistema de vetor depois datransformação. O tratamento com uma bateria de antibióticos ereiterados subcultivos, por mais de 13 meses, não conseguiueliminar a bactéria. Além disso, 12,5% da Agrobacterium restantecontinuava contendo o vetor binário (DNA-T e plasmídeo“auxiliar”) e, portanto, “continuavam sendo plenamente capazesde transformar outras plantas”. Essa pesquisa foi posteriormentepublicada em uma revista científica [125].

Várias outras observações apontam o escape de genes, atra-vés da Agrobacterium, como ainda mais provável. Além de trans-

Page 100: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

100 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

ferir genes às células das plantas, existe a possibilidade de ocor-rer uma “retrotransferência” de DNA da célula vegetal para aAgrobacterium [126].

A existência de índices elevados de transferência genética estáassociada com o sistema radicular da planta e a semente em ger-minação, onde a conjugação é mais provável [127]. Nesses lo-cais, a Agrobacterium poderia multiplicar-se e transferir DNAtransgênico a outras bactérias, bem como ao próximo cultivo aser plantado. Essas possibilidades ainda têm de ser pesquisadas.

Por último, a Agrobacterium se adere a várias linhagens decélulas humanas e as transforma geneticamente [128]. Em célu-las HeLa (uma linhagem de células epiteliais humanas, derivadaoriginalmente de um paciente com câncer), transformadas esta-velmente, a integração de DNA-T ocorreu na borda direita, exa-tamente da mesma forma que se transferido ao genoma de umacélula vegetal. Isso sugere que a Agrobacterium transforma as cé-lulas humanas através de um mecanismo similar ao que utilizapara transformar células vegetais.

Page 101: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 101

UM RESUMO

Como fica claro nos capítulos anteriores, os perigos que pode-riam surgir da transferência horizontal de DNA transgênico sãoexclusivos da engenharia genética e estão resumidos no Quadro 2.

QUADRO 2

Perigos em potencial da transferência horizontal de genesprovocada pela engenharia genética

· Geração de novas espécies cruzadas de vírus que causamenfermidades.

· Geração de novas bactérias que causam enfermidades.· Propagação de genes com resistência a antibióticos e a

medicamentos entre os patógenos virais e bacterianos,inviabilizando o tratamento de infecções.

· Inserção aleatória nos genomas de células, provocando efei-tos nocivos como o câncer.

· Reativação e recombinação com vírus em estado de latência(presentes em todos os genomas) para gerar vírus infecciosos.

12. OS PERIGOS DA TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES

Page 102: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

102 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

· Propagação de genes novos e construções de genes perigo-sos que nunca existiram anteriormente.

· Desestabilização de genomas aos quais forem transferidosos transgenes.

· Multiplicação dos impactos ecológicos em função do acimareferido.

EXPERIMENTOS APARENTEMENTE EVITADOS ATÉ AGORA

Em um documento apresentado em uma reunião aberta, or-ganizada pelo Comitê Consultor sobre Alimentos e ProcessosNovos (ACNFP), foram apresentadas, ao Comitê Consultivo deLicenças Ambientais (ACRE), as críticas abaixo, junto a umasérie de experimentos óbvios que a FSA deveria encomendar[129]. O quadro 3 as apresenta de forma ligeiramente revisada.

QUADRO 3

Experimentos ausentes sobre segurança dos alimentos ecultivos transgênicos

A seguir, estão alguns experimentos definitivos que propor-cionariam informações sobre a segurança dos alimentos e culti-vos transgênicos. Provavelmente, até agora, tenham sido inten-cionalmente evitados.

1. Experimentos de alimentação, com animais, similares aosque foram realizados pela equipe de Pusztai, com ração desoja e/ou milho transgênicos bem caracterizados, seguidode monitoramento adequado e imparcial do DNA nas fe-zes, sangue e células sanguíneas, além de exames histológicospost-mortem que incluam o rastreamento da transferênciade DNA transgênico ao genoma das células. Como umcontrole extra, deveria também ser monitorado o DNAnão transgênico do mesmo exemplar alimentado com ali-

Page 103: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 103

mentos transgênicos. Além disso, deveria ser investigado opapel do promotor CaMV 35S na produção de efeitos “tipofator de crescimento”, em ratos jovens.

2. A realização de testes de alimentação em voluntários hu-manos, utilizando soja e/ou milho transgênicos bem ca-racterizados, com um monitoramento adequado e imparcialdo DNA transgênico e de transferência horizontal de genesna boca e nas fezes, sangue e células sanguíneas, tendo,como um controle adicional, o monitoramento de DNAnão transgênico da mesma mostra de voluntários alimen-tados com transgênicos.

3. A pesquisa da estabilidade das plantas transgênicas em su-cessivas gerações de cultivo, especialmente as que contêmo promotor CaMV 35S, utilizando técnicas molecularesquantitativas apropriadas.

4. A caracterização molecular completa de todas as linhagenstransgênicas, para estabelecer uniformidade e estabilidadegenética das inserções de DNA transgênico, e sua compa-ração com os dados originais apresentados pela empresabiotecnológica para conseguir a aprovação dos experimen-tos de campo ou para a venda.

5. A realização de testes sobre a persistência da bactéria e dosvetores em todas as plantas transgênicas criadas pelo siste-ma do vetor Agrobacterium DNA-T. O solo, no qual cres-ceram as plantas transgênicas, deveria ser monitorado parapesquisar se houve algum escape de genes para as bactériasdo solo. Também deveria ser monitorado, cuidadosamen-te, o potencial de transferência horizontal de genes ao cul-tivo subseqüente, através da germinação da semente e dosistema radicular.

Page 104: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 105: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

O amplo exame das evidências convenceu-nos de que os cul-tivos transgênicos não são necessários nem desejados, que nãocumpriram as promessas feitas e, ao contrário, estão trazendoproblemas crescentes ao campo. Não há possibilidade realista dacoexistência da agricultura transgênica com a não transgênica,como resulta evidente do grau e extensão da contaminaçãotransgênica que já ocorreu, mesmo em um país como o México,que aplica uma moratória oficial desde 1998.

Ainda mais importante: os cultivos transgênicos são inaceitáveisporque não são seguros. Têm sido introduzidos sem as necessáriassalvaguardas e avaliações de segurança, através de um sistema de regu-lamentação profundamente defeituoso, baseado no princípio de“equivalência substancial”, cujo propósito é dar rápida aprovação aosprodutos, em vez de realizar uma avaliação séria de sua segurança.

Apesar da falta de dados sobre testes de segurança dos ali-mentos transgênicos, os resultados disponíveis já dão motivospara preocupações acerca da segurança do próprio processotransgênico, que não têm sido levadas em consideração.

13. CONCLUSÃO DAS PARTES 1 E 2

Page 106: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

106 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Ao mesmo tempo, descobriu-se que os produtos genéticosintroduzidos nos alimentos e em outros cultivos, comobiopesticidas, que representam 25% de todos os cultivostransgênicos do mundo, são fortes imunógenos e alérgenos e queprodutos farmacêuticos perigosos e vacinas estão sendo introdu-zidos em cultivos alimentares, em campos experimentais.

Sob a desculpa de uso para a contenção do transgene, culti-vos estão sendo manipulados geneticamente com “genes suici-das” que provocam a esterilidade masculina da planta. Na reali-dade, esses cultivos propagam, através do pólen, tanto os genesde tolerância ao herbicida, quanto os genes suicidas da esterili-dade masculina, com conseqüências potencialmente devastado-ras para a biodiversidade agrícola e natural.

Aproximadamente 75% dos cultivos transgênicos plantadosno mundo são tolerantes a um ou a outro dos dois herbicidas deamplo espectro: o glufosinato de amônio e o glifosato. Ambossão venenos metabólicos sistêmicos que podem produzir umaampla gama de efeitos nocivos nos seres humanos e em outrosorganismos vivos, efeitos que hoje estão confirmados.

O glufosinato de amônio está associado com toxicidade neu-rológica, respiratória, gastrointestinal e hematológica, e com de-feitos congênitos em seres humanos e outros mamíferos.

O glifosato é a causa mais freqüente de reclamações e enve-nenamentos na Inglaterra e casos de transtornos de diversas fun-ções do organismo têm sido registrados após ocorrer exposição aníveis normais de uso. A exposição ao glifosato praticamenteduplicou o risco de aborto espontâneo tardio e os filhos de pes-soas que haviam utilizado glifosato apresentaram um grau eleva-do de alterações de neurocomportamento. O glifosato provocouo desenvolvimento retardado do esqueleto fetal em ratos de la-boratório. Ele inibe a síntese de esteróides e é genotóxico em

Page 107: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 107

mamíferos, peixes e rãs. A exposição de minhocas a doses decampo provocou, no mínimo, a mortalidade de 50% e causoulesões intestinais importantes nas sobreviventes. O Roundupprovoca alterações na divisão celular que poderiam estar associa-das com certos tipos de câncer em seres humanos.

Esses efeitos conhecidos são suficientes para reivindicar quese suspenda qualquer tipo de uso desses herbicidas.

De longe, os perigos mais graves da engenharia genética sãoos inerentes ao próprio processo, que aumenta enormemente oalcance e a probabilidade da transferência horizontal de genes e arecombinação, que é a via principal para a criação de vírus ebactérias que provocam enfermidades epidêmicas. Técnicas no-vas, como as que envolvem misturas de seqüências de DNA,permitem que geneticistas criem, no laboratório, milhões de ví-rus recombinantes que nunca existiram antes, em questão deminutos. Os vírus e bactérias causadores de enfermidades, e seumaterial genético, são os principais materiais e ferramentas daengenharia genética, bem como da criação intencional de armasbiológicas.

Existem evidências experimentais de que o DNA transgênicovegetal tem sido absorvido por bactérias do solo e do intestinode voluntários humanos. Os genes marcadores com resistência aantibiótico podem propagar-se de alimentos transgênicos parabactérias patogênicas, dificultando enormemente o tratamentode infecções.

Sabe-se que o DNA transgênico sobrevive à digestão no in-testino e salta para o genoma das células dos mamíferos, aumen-tando a possibilidade de aparecimento de câncer.

As evidências indicam que as construções transgênicas queincluem o promotor CaMV 35S, presente na maioria dos cul-tivos transgênicos, devem ser especialmente instáveis e propensas

Page 108: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

108 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

à transferência horizontal de genes e à recombinação, com to-dos os riscos implicados: mutações genéticas devido à inserçãoaleatória, câncer, reativação de vírus latentes e geração de no-vos vírus.

Há uma longa história de distorção dos fatos e supressão deprovas científicas, especialmente sobre a transferência horizontalde genes. Experimentos-chave não foram realizados ou foramfeitos de forma incorreta e depois se deturparam os resultados.Muitos experimentos não tiveram prosseguimento, como aque-les para investigar se o promotor CaMV 35S é responsável pelosefeitos similares a fatores de crescimento, observados em ratosjovens alimentados com batatas transgênicas.

Por todas essas razões, os cultivos transgênicos deveriam serenergicamente rejeitados como opção viável para o futuro daagricultura.

Page 109: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 109

OS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

PARTE 3

Page 110: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 111: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A NECESSIDADE DE UMA AGRICULTURA

ALTERNATIVA

A agricultura “moderna” se caracteriza pela monocultura emgrande escala e depende de altas quantidades de insumos quími-cos e mecanização intensiva.

Embora seja produtiva, se tomada em termos uni-dimensionais de “rendimento” de um único cultivo, sua de-pendência extrema de agrotóxicos químicos traz uma série deimpactos negativos na saúde e no meio ambiente: riscos para asaúde dos trabalhadores do campo, resíduos químicos nocivosnos alimentos, redução da biodiversidade, deterioração da qua-lidade do solo e da água e maior risco de enfermidades noscultivos. O monocultivo “moderno” também marginaliza ospequenos agricultores, particularmente os dos países em de-senvolvimento, que são a maioria dos agricultores do mundo.Os cultivos transgênicos, agora incluídos no pacote, estão ame-açando ainda mais a saúde e o meio ambiente (ver Parte 2).

14. POR QUE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL?

Page 112: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

112 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

DIVERSAS PRÁTICAS DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

Em contraste, os enfoques da agricultura sustentável enfatizama diversidade dos recursos naturais e a autonomia local dos agri-cultores para decidir o que cultivar e como melhorar sua produ-ção e subsistência.

A agricultura é sustentável quando é ecologicamente respon-sável, economicamente viável, socialmente justa, culturalmenteapropriada, humanista e baseada em um enfoque holístico. OQuadro 4 apresenta um resumo dos critérios fundamentais, ela-borados por Pretty e Hine [130].

O enfoque da agricultura sustentável pode apresentar-se sobvários nomes – agroecologia, agricultura sustentável, agriculturaorgânica, agricultura ecológica, agricultura biológica – mas pos-sui esses critérios em comum.

A agricultura orgânica, por exemplo, exclui amplamente ouso de agrotóxicos. Em vez disso, adota um enfoque ecossistêmicoque coordena os processos ecológicos e biológicos, tais como asrelações da cadeia alimentar, o ciclo dos nutrientes, a manuten-ção da fertilidade do solo, o controle natural das pragas e a diver-sificação de cultivos e criação de animais. Baseia-se em recursosrenováveis derivados do local ou da lavoura, mantendo-se viávelambiental e ecologicamente.

Embora nos países desenvolvidos muitos possam ter familia-ridade com a produção orgânica certificada, isso representa ape-nas a ponta do iceberg em termos da terra organicamente mane-jada, porém não certificada como tal.

A agricultura orgânica de fato, ou não certificada, costumapredominar em regiões com escassez de recursos ou zonas margi-nais em termos agrícolas, onde as populações locais têm poucainserção na economia monetária [131]. Os agricultores depen-dem nesses casos de recursos naturais locais para manter a ferti-

Page 113: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 113

lidade do solo, combater as pragas e doenças. Possuem sistemassofisticados baseados no conhecimento tradicional para a rota-ção de cultivos, o manejo do solo e o controle de pragas.

Da mesma forma, a agroecologia baseia-se em tecnologiasbaratas, acessíveis, não arriscadas e produtivas em condições deestresse ambiental; que melhoram a saúde ecológica e humana eque são cultural e socialmente aceitáveis [132]. A agroecologiacoloca ênfase na biodiversidade, na reciclagem dos nutrientes,na sinergia entre os cultivos, a criação de animais, os solos e ou-tros componentes biológicos, bem como na regeneração e naconservação dos recursos. A agroecologia baseia-se no conheci-mento local da agricultura, incorpora tecnologias modernas debaixos insumos para diversificar a produção, combina princípiosecológicos e recursos locais para o manejo dos sistemas agrícolas,oferecendo assim uma forma ambientalmente responsável e eco-nomicamente acessível para que os pequenos agricultores inten-sifiquem a produção em regiões menos favoráveis.

As alternativas agroecológicas podem solucionar, de formasocialmente mais justa e ambientalmente mais harmoniosa, osproblemas da agricultura que os cultivos transgênicos preten-dem resolver [3]. Existem vários estudos e pesquisas científicasque documentam os sucessos e os benefícios da agricultura sus-tentável, incluindo a agricultura orgânica, que foram avaliadosrecentemente pela FAO [133] e pelo ISIS [134].

Resumimos as evidências de algumas das vantagens daagroecologia, da agricultura sustentável e da agricultura orgâ-nica para o meio ambiente e para a saúde, bem como para asegurança alimentar e o bem-estar social dos agricultores e dascomunidades locais. Essas evidências justificam uma amplamudança para a agricultura sustentável no lugar dos cultivostransgênicos.

Page 114: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

114 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

QUADRO 4

A agricultura sustentável· Faz melhor uso dos bens e serviços da natureza integrando

processos naturais e regenerativos como o ciclo dos nutrien-tes, a fixação do nitrogênio, a regeneração do solo e os ini-migos naturais das pragas.

· Minimiza o uso de insumos não renováveis (agrotóxicos efertilizantes) que prejudicam o meio ambiente ou são no-civos para a saúde humana.

· Baseia-se no conhecimento e nas capacidades dos agricul-tores, melhorando sua auto-estima e confiança.

· Promove e protege o capital social – a capacidade das pes-soas para trabalharem juntas na solução dos problemas.

· Depende de práticas adaptadas localmente para inovarfrente a incertezas.

· É multifuncional e contribui com os bens comuns como aágua limpa, a vida silvestre, a retenção de carbono nos so-los, a proteção contra as inundações e a qualidade da pai-sagem.

Page 115: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 115

OLHANDO MAIS DE PERTO OS “RENDIMENTOS”

Uma das críticas mais comuns à agricultura orgânica é afirmarque ela tem rendimentos mais baixos comparada à monoculturaconvencional. Embora esse possa ser o caso nos países industriali-zados, essa comparação é equivocada porque não considera os cus-tos da monocultura convencional com relação à degradação daterra, da água, da biodiversidade e de outros serviços ambientaisdos quais depende a produção sustentável de alimentos [133].

Na avaliação simplificada dos rendimentos de apenas umúnico cultivo, como fazem os críticos em geral, são omitidosoutros indicadores de sustentabilidade e de maior produtividadepor unidade de área, especialmente em sistemas agroecológicosque têm maior diversidade de cultivos, árvores e animais juntosna área [135] (ver “Produção eficiente e rentável”). Em geral, épossível obter o máximo rendimento de um cultivo plantando-oem monocultura, que, embora possa permitir o alto rendimentode um único cultivo, não produz nada mais para o consumo doagricultor [136].

15. PRODUTIVIDADE E RENDIMENTOS MAIORES OU COMPARÁVEIS

Page 116: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

116 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em todo o caso, devido aos danos causados pela agriculturaconvencional, torna-se necessário um período de transição pararecuperar a terra e obter os benefícios plenos da agricultura sus-tentável. Após a restauração do sistema, obtêm-se rendimentoscomparáveis ou maiores. Com a agricultura tradicional, de bai-xos insumos, a conversão ao modelo sustentável é normalmenteacompanhada de um aumento imediato dos rendimentos.

De fato, a mera redução do tamanho médio das propriedadesna maioria dos países já estimularia o aumento da produção muitoalém das projeções mais otimistas da indústria biotecnológica paraos cultivos transgênicos. As pequenas propriedades são mais pro-dutivas, mais eficientes e contribuem mais para o desenvolvimen-to econômico do que as grandes propriedades características damonocultura convencional [136]. Os pequenos agricultores tam-bém administram melhor os recursos naturais.

Pesquisas em diversos lugares do mundo demonstram que aspequenas propriedades são de duas a dez vezes mais produtivas porhectare do que as grandes propriedades rurais, que tendem a servastos monocultivos ineficientes. Os aumentos de produtividadesão obtidos com o uso de tecnologias baseadas nos princípiosagroecológicos, que enfatizam a diversidade, a sinergia, a reciclageme a integração; e em processos sociais, que enfatizam a participação eo aumento de poder da comunidade. Como as dimensões médiasdas propriedades rurais têm, em sua grande maioria, produtividadeineficiente, uma reforma agrária genuína propicia a oportunidadede aumentar a produção e, ao mesmo tempo, reduzir a pobreza.

ÊXITOS DESTACADOS EM PAÍSES

EM DESENVOLVIMENTO

O êxito da agricultura sustentável foi demonstrado concreta-mente em um exame de 208 projetos e iniciativas em 52 países

Page 117: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 117

[130]. Aproximadamente 8,98 milhões de agricultores adota-ram práticas de agricultura sustentável em 28,92 milhões de hec-tares na África, Ásia e América Latina.

Dados seguros sobre mudanças no rendimento em 89 proje-tos mostram que os agricultores alcançaram aumentos impor-tantes na produção de alimentos por hectare, entre 50% e 100%para os cultivos pluviais e entre 5% e 10% para os cultivos irriga-dos (apesar de geralmente partir de uma base absoluta mais altade rendimento). Esses projetos incluíram sistemas orgânicos cer-tificados, não certificados, integrados e quase orgânicos. Em to-dos os casos, para os quais havia dados seguros disponíveis, veri-ficou-se que houve aumento da produtividade por hectare noscultivos alimentares e se mantiveram os rendimentos existentesnos cultivos de fibra [133].

Alguns exemplos específicos do aumento dos rendimentos:· Sistemas de conservação de solo e água nas terras secas de

Burkina Faso transformaram terras anteriormente degra-dadas. A família média deixou de ter um deficit de cereaisde 644 kg por ano (equivalentes a 6,5 meses de escassez dealimentos), para produzir um excedente anual de 153 kg.

· Através do Projeto Cheha de Desenvolvimento Rural In-tegrado (Cheha Integrated Rural Devlopment Project) naEtiópia, cerca de 12.500 domicílios adotaram a agricultu-ra sustentável, resultando em um aumento de 60% no ren-dimento dos cultivos.

· Em Madagascar, um sistema de intensificação do arrozmelhorou os rendimentos de aproximadamente 2 t/ha a 5,10 ou 15 t/ha, sem recorrer à compra de agrotóxicos oufertilizantes.

· Em Sri Lanka, cerca de 55 mil domicílios, em aproxima-damente 33 mil hectares, adotaram a agricultura sustentá-

Page 118: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

118 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

vel, com reduções significativas no uso de agrotóxicos. Osrendimentos aumentaram entre 12% e 44% para o arroz eentre 7% e 44% para os vegetais.

· Em Honduras e na Guatemala, 45 mil famílias aumenta-ram os rendimentos de seus cultivos de 400-600 kg/hapara 2.000-2.500 kg/ha utilizando a adubação verde, cul-tivos de cobertura, faixas de pasto em curvas de nível,cultivo mínimo em faixas, muros de pedra e esterco deanimais.

· No Brasil, os Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Gran-de do Sul têm garantido a conservação do solo e da águautilizando cordão vegetal em curvas de nível, aração emnível e adubação verde. Os rendimentos do milho aumen-taram cerca de 67%, de 3 a 5 t/ha; e a soja, cerca de 68%,de 2,8 a 4,7 t/ha.

· As regiões altas das montanhas da Bolívia estão entre asáreas mais difíceis do mundo para o cultivo e, apesar disso,os agricultores triplicaram o rendimento da batata, princi-palmente pelo uso da adubação verde para enriquecer osolo.

Outros estudos de caso sobre as práticas orgânicas eagroecológicas demonstram aumentos drásticos nos rendimen-tos, bem como benefícios para a qualidade do solo, redução depragas e enfermidades e melhoria geral do sabor e do conteúdonutritivo [13]. Por exemplo:

· No Brasil, o uso de adubação verde e de cultivos de cober-tura aumentou os rendimentos de milho entre 20% e250%.

· Em Tigray, Etiópia, os rendimentos dos cultivos de parce-las com compostagem foram de 3 a 5 vezes mais elevadosque os tratados unicamente com produtos químicos.

Page 119: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 119

· As lavouras do Nepal que adotaram práticas agroecológicastiveram um aumento de 175% na produção.

· No Peru, a recuperação dos terraços incas tradicionais pro-duziu aumentos de 150% para uma série de cultivos demontanha. Os agricultores podem produzir abundantescultivos apesar das inundações, das secas e das geadas seve-ras, comuns em altitudes de quase 4 mil metros [135].

· No Senegal, projetos envolvendo quase 2 mil agricultorespromoveram a criação de gado em estábulo, sistemas defabricação de compostagem, adubação verde, sistemas derecolhimento de água e fosfato de rocha. Os rendimentosde milheto e amendoim aumentaram drasticamente, entre75% e 195% e entre 75% e 165%, respectivamente. Devi-do à maior capacidade que os solos têm de reterem água,as flutuações dos rendimentos são menores entre os anosde chuvas abundantes e escassas.

· No Brasil, em Santa Catarina, foram empregadas técnicasde conservação do solo e da água, utilizando cordão vege-tal em curvas de nível, aração em nível e adubação verde.Cerca de 60 espécies diferentes de leguminosas e nãoleguminosas foram intercaladas ou plantadas, durante osperíodos de descanso. Tais cultivos tiveram forte impactonos rendimentos, na qualidade do solo, nos níveis de ativi-dade biológica e na capacidade de retenção da água. Osrendimentos do milho e da soja aumentaram 66%.

· Em Honduras, as práticas de conservação e fertilizaçãoorgânica do solo determinaram rendimentos triplicados ouquadruplicados.

A plantação do feijão mucuna, como adubo verde, melhorouo rendimento dos cultivos em ladeiras íngremes e facilmente su-jeitas à erosão das encostas, com solos esgotados [137]. Os agri-

Page 120: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

120 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

cultores plantam primeiro o mucuna, que tem um crescimentovigoroso sufocando as ervas daninhas. Quando os feijões são cor-tados, o milho é plantado sobre a cobertura morta resultante.Posteriormente, os feijões e o milho são cultivados juntos. Mui-to rapidamente, à medida que o solo melhora, os rendimentossão duplicados e até triplicados (ver “Melhores solos”). Isso ocor-re porque o feijão mucuna produz grande quantidade de matériaorgânica, criando solos ricos e friáveis. Ele produz, também, seupróprio fertilizante, fixando nitrogênio atmosférico e armaze-nando-o no solo para outras plantas.

Essa tecnologia simples também foi adotada na Nicarágua,onde mais de mil camponeses recuperaram terra degradada, nabacia de San Juan, em apenas um ano. Esses agricultores reduzi-ram o uso de fertilizantes químicos de 1.900 para 400 kg porhectare, tendo, por sua vez, aumentado os rendimentos de 700para 2.000 kg por hectare. Seus custos de produção são, aproxi-madamente, 22% mais baixos que os dos agricultores que utili-zam fertilizantes químicos e monoculturas [135].

O fósforo (P) é o nutriente mais importante (depois donitrogênio) do qual freqüentemente carecem os solos da Áfricatropical. Diferentemente do nitrogênio, o fósforo não pode serincorporado ao solo por fixação biológica. Portanto, adisponibilidade de fósforo a partir de fontes orgânicas einorgânicas é fundamental para maximizar e manter um altopotencial produtivo dos cultivos.

Estudos na região ocidental do Quênia compararam os efei-tos dos fertilizantes orgânicos e inorgânicos [138]. Os cientistasconcluíram que rendimentos razoáveis do milho poderiam serobtidos em sistemas de pequenas propriedades, utilizando quan-tidades adequadas de matéria orgânica de alta qualidade comofonte de fósforo.

Page 121: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 121

COMPARAÇÕES EM PAÍSES INDUSTRIALIZADOS

A agricultura orgânica também se compara favoravelmentecom a monocultura convencional nos países industrializados.Uma análise dos resultados de pesquisas, realizadas em sete uni-versidades nos Estados Unidos e dos dados obtidos em dois cen-tros de pesquisa, ao longo de dez anos, demonstra que os rendi-mentos por cultivo dos sistemas orgânicos e a monocultura con-vencional são comparáveis [130].

· Milho: em um total de 69 colheitas, os rendimentos doscultivos orgânicos foram 94% do milho produzido de for-ma convencional.

· Soja: dados de cinco Estados diferentes de 55 colheitasmostraram que os rendimentos dos cultivos orgânicos eram94% dos convencionais.

· Trigo: duas instituições com dados de 16 anos de colheitasdemonstraram que o trigo orgânico atingiu 97% do rendi-mento obtido com cultivos convencionais.

· Tomates: 14 anos de pesquisa comparativa com tomatesmostraram não haver diferenças em matéria de rendimento.

Estudos recentes, comparando a produtividade das práticasorgânicas com as da agricultura convencional, foram analisadospor Vasilikiotis [140] que, avaliando os Sistemas de AgriculturaSustentável (SAFS, em inglês) e o estudo Rodale, discutidos maisadiante, concluiu que “as práticas de agricultura orgânica po-dem produzir maiores rendimentos que os métodos convencio-nais”. Além disso, “uma conversão mundial à produção orgânicatem o potencial de aumentar os níveis de produção de alimentos– sem mencionar a reversão do processo de degradação dos solosagrícolas – e aumentar a fertilidade e sanidade do solo”.

Os resultados dos primeiros 15 anos de um experimento, delongo prazo e em larga escala, realizado pelo Instituto Rodale,

Page 122: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

122 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

demonstrou que, depois de um período de transição de quatroanos, os cultivos nos sistemas orgânicos (baseados em animais eleguminosas) tiveram um rendimento similar e, por vezes, me-lhor, do que os cultivos convencionais [141]. Além disso, os sis-temas orgânicos superaram, em rendimento, o sistema conven-cional, quando as condições estiveram abaixo das ótimas, porexemplo, nas épocas de estiagem (ver “Melhores solos”).

Os rendimentos iniciais mais baixos foram atribuídos em parteà disponibilidade insuficiente de nitrogênio, ao tempo que levaa atividade microbriana do solo para se estabilizar (os solos geral-mente continham um total de nitrogênio suficiente, mas nãoainda em uma forma utilizável) e ao maior crescimento de ervasdaninhas. Tudo isso pode ser resolvido através de um manejoapropriado e pelo tempo dado ao sistema para se ajustar à mu-dança para a agricultura orgânica.

Um estudo de quatro anos, parte de um projeto maior e delongo prazo do SAFS na Universidade da Califórnia-Davis, com-parou os sistemas de agricultura convencional e alternativa paraos tomates [142]. Os resultados indicaram que a produção orgâ-nica e de baixos insumos externos resultou em rendimentos com-paráveis aos dos sistemas convencionais. A disponibilidade denitrogênio foi o fator de limitação do rendimento mais impor-tante nos sistemas orgânicos, mas pôde ser resolvido com ummanejo adequado. A adição de nitrogênio associado com eleva-dos insumos de carbono criou matéria orgânica no solo, aumen-tando a fertilidade em longo prazo. Finalmente, os níveis dematéria orgânica do solo se estabilizaram e requisitaram menosinsumo de nitrogênio.

Os resultados dos primeiros oito anos do projeto SAFS de-monstraram que os sistemas orgânicos e com baixos insumostiveram rendimentos comparáveis aos dos sistemas convencio-

Page 123: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 123

nais em todos os cultivos testados – tomate, falso-açafrão(Carthamus tinctorius), milho e feijão – e, em alguns casos, osrendimentos foram maiores que os dos sistemas convencionais[143]. O rendimento do tomate no sistema orgânico foi menornos primeiros três anos, mas em seguida se igualou ao do sistemaconvencional, superando-o no último ano do experimento (80t/ha comparado com 68 t/ha em 1996). Tanto o sistema orgâni-co quanto o de baixos insumos externos aumentaram o conteú-do de carbono orgânico do solo e armazenaram nutrientes, am-bos elementos fundamentais para a fertilidade do solo em longoprazo. Quando os níveis de matéria orgânica do solo se estabili-zaram nos dois últimos anos do experimento, resultando emmaior disponibilidade de nitrogênio, foram registrados maioresrendimentos nos cultivos orgânicos. Comprovou-se que os siste-mas orgânicos eram mais rentáveis no caso do milho e do toma-te, principalmente devido ao preço-prêmio pago por produtosde alta qualidade.

Outro experimento comparou batatas e milho doce orgâni-cos e convencionais durante três anos [144]. Não houve diferen-ças quanto ao rendimento e ao conteúdo de vitamina C nas ba-tatas. Enquanto uma variedade de milho convencional teve maiorprodução do que a variedade orgânica, não houve diferenças emoutra variedade quanto ao rendimento ou aos conteúdos em vi-taminas C ou E nos grãos de milho. Os resultados sugeriram quea aplicação em longo prazo de compostagem produz um aumen-to da fertilidade do solo e um crescimento equiparável da planta.

Page 124: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 125: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

CONSERVAÇÃO DO SOLO

A maioria das práticas agrícolas sustentáveis reduz a erosãodo solo e melhora sua estrutura física, o conteúdo da matériaorgânica, a capacidade de retenção de água e o balanço de nutrien-tes. A fertilidade do solo é mantida nas áreas onde existe e érestaurada nas áreas degradadas.

Um bom exemplo é o dos agricultores nas fronteiras do Saara,na Nigéria, Níger, Senegal, Burkina Faso e Quênia, que realizamuma agricultura produtiva sem provocarem a destruição dos so-los, mesmo em zonas secas. A agricultura integrada, os cultivosmistos e os métodos tradicionais de conservação do solo e daágua estão aumentando muito a produção de alimentos per capta[145, 146].

Os sistemas de agricultura sustentável ajudam a conservar emelhorar o recurso mais precioso dos agricultores: a superfíciedo solo. Para fazer frente aos problemas de compactação, perdade nutrientes e erosão, os agricultores orgânicos do Sul estão uti-lizando árvores, arbustos e leguminosas para estabilizar e alimentar

16. MELHORES SOLOS

Page 126: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

126 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

o solo; adubo animal e compostagem para agregar nutrientes,bem como construindo terraços ou diques de contenção paraimpedir a erosão e conservar a água subterrânea [131].

RESTABELECENDO A FERTILIDADE DO SOLO

O plantio de feijão mucuna na América Latina tem restauradoa fertilidade de solos esgotados [137]. O feijão mucuna produz100 toneladas de matéria orgânica por hectare, criando solos ricose friáveis, em uns poucos anos. O feijão produz, também, o seupróprio fertilizante, fixando nitrogênio atmosférico e estocando-ono solo para ser utilizado por outras plantas. Na medida em que osolo melhora, os rendimentos dobram e até triplicam.

Um dos experimentos agrícolas mais antigos, em curso pormais de 150 anos, do qual se tem registro é o experimento deBroadbalk, na Estação Experimental de Rothamsted. Os ensaioscomparam um sistema agrícola fertilizado por esterco animal comum sistema fertilizado por produtos químicos sintéticos. Os ren-dimentos de trigo são, em média, levemente maiores nas parce-las fertilizadas organicamente do que nas parcelas que recebemfertilizantes químicos e, mais importante ainda, é que a fertilida-de do solo, medida em níveis de nitrogênio e matéria orgânicano solo, aumentou 120% ao longo de 150 anos nas parcelasorgânicas, comparado a um aumento de somente 20% nas par-celas fertilizadas quimicamente [147].

Outro estudo comparou as características ecológicas e a pro-dutividade de 20 propriedades rurais comerciais na Califórnia[148]. Os rendimentos do tomate foram bastante similares naslavouras orgânicas e convencionais. Os danos por pragas de inse-tos também foram similares. Foram encontradas diferenças sig-nificativas em indicadores de saúde do solo, como o potencial demineralização do nitrogênio e a abundância e diversidade

Page 127: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 127

microbiana, que foram maiores nas lavouras orgânicas. O po-tencial de mineralização do nitrogênio foi três vezes maior naslavouras orgânicas do que nas convencionais, sendo que as áreasorgânicas também apresentaram 28% a mais de carbono orgâni-co. O aumento da saúde do solo teve, como resultado, uma di-minuição considerável da incidência de doenças. O grau de se-veridade da enfermidade mais freqüente durante o estudo, a po-dridão da raiz, foi significativamente mais baixa nas lavourasorgânicas.

MELHORANDO AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS NO SOLO

O experimento mais antigo no mundo e em curso, compa-rando a agricultura orgânica com a convencional, declarou osucesso do modelo orgânico [149, 150]. Esse estudo suíço, quejá se estende por 21 anos, constatou que os solos tratados comadubo orgânico eram mais férteis e mais produtivos para umadada quantidade de insumo de nitrogênio ou outro fertilizante.

O maior benefício foi a melhoria da qualidade do solo culti-vado organicamente. Os solos orgânicos tinham até 3,2 vezesmais biomassa e abundância de minhocas, o dobro de artrópodes(predadores importantes e indicadores da fertilidade do solo) e40% mais fungos de micorrizas colonizando as raízes vegetais.Os fungos micorrízicos ajudam as raízes a obterem mais nutrien-tes e água do solo [151]. A crescente diversidade das comunida-des microbianas em solos orgânicos transformou o carbono dosdejetos orgânicos em biomassa com menores custos energéticos,criando uma biomassa microbiana maior, a qual, sendo maisdiversificada, utiliza mais eficientemente os recursos. O aumen-to da fertilidade do solo e a maior biodiversidade dos solos orgâ-nicos reduzem a dependência de insumos externos e propiciambenefícios ambientais de longo prazo.

Page 128: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

128 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Os experimentos de campo realizados em lavouras de verdu-ras orgânicas, sendo três orgânicas e três convencionais, em 1996-1997, examinaram os efeitos de correções de solo por fertilizan-tes sintéticos e alternativos, incluindo a compostagem [152]. Asdensidades de propágulos das espécies Trichoderma (fungos be-néficos do solo que são agentes de controle biológico de fungospatogênicos para as plantas) e microorganismos termofílicos (den-tre eles, em maior quantidade, Actinomycetes, que controlamPhytophthora) foram maiores em solos orgânicos. Por outro lado,as densidades de Phytophthora e Pythium (ambos organismospatogênicos) foram menores nos solos orgânicos.

Embora o estudo tenha registrado maior quantidade de bac-térias entéricas nos solos orgânicos, os cientistas enfatizaram queisso não era problema, já que os índices de sobrevivência, nosolo, são mínimos. Os críticos da agricultura orgânica afirmam,falsamente, os possíveis efeitos sobre a saúde quando da utiliza-ção do esterco como adubo. Porém, o esterco sem tratamentonão é permitido na agricultura orgânica certificada, e o estercotratado (conhecido amplamente como compostagem) é seguro eutilizado na agricultura orgânica. Diferentemente do regime con-vencional (onde se pode utilizar esterco sem tratamento), os or-ganismos de certificação orgânica inspecionam as propriedadesrurais para assegurar o cumprimento das normas [153].

Poucas diferenças significativas foram observadas entre osrendimentos alcançados nos solos com reparação alternativa enos solos com fertilizantes sintéticos, independentemente do sis-tema de produção. Em 1997, quando todos os produtores plan-taram tomates, os rendimentos foram maiores nas lavouras comhistórico de produção orgânica, independentemente do tipo dereparação do solo, devido aos benefícios em longo prazo das prá-ticas de reparação orgânica. As concentrações minerais foram

Page 129: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 129

maiores nos solos orgânicos e a qualidade do solo nas lavourasconvencionais melhorou substancialmente devido ao fertilizan-te orgânico. Os pesquisadores concluíram que “os dados quecoletamos não sustentam o argumento [dos críticos] de que aagricultura orgânica equivale a uma agricultura de baixo rendi-mento” (pág. 158).

MELHORIA DA QUALIDADE GERAL DO SOLO, EVITANDO A

PERDA DE COLHEITAS EM ÉPOCA DE ESTIAGEM

O estudo realizado pelo Instituto Rodale durante 15 anoscomparou três agroecossistemas de milho/soja [141, 154, 155]:o primeiro era um sistema convencional, no qual foram utiliza-dos fertilizantes com nitrogênio mineral e agrotóxicos; os outrosdois sistemas foram manejados de maneira orgânica. Um dossistemas orgânicos foi tratado à base de adubo animal, no qualgramíneas e leguminosas, cultivadas como parte da rotação decultivo, foram destinadas a alimentar o gado. O adubo animalproporcionou nitrogênio para a produção de milho. O outrosistema não tinha gado, porém foram incorporados ao solo cul-tivos de leguminosas de cobertura, como fonte de nitrogênio.

Constatou-se que as técnicas orgânicas melhoraram significa-tivamente a qualidade do solo, avaliada pela estrutura, matériaorgânica total do solo (uma medida da fertilidade do solo) e ativi-dade biológica [141]. A melhor estrutura do solo criou, também,um melhor ambiente na zona da raiz para as plantas cultivadas epermitiu ao solo absorver e reter melhor a umidade, o que, alémdos benefícios nos períodos de escassez de chuvas, reduziu o po-tencial de erosão, durante a ocorrência de chuvas fortes.

Os solos orgânicos demonstraram níveis maiores de ativida-de microbiana e uma diversidade maior de microorganismos.Essas mudanças, de longo prazo, nas populações do solo, podem

Page 130: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

130 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

contribuir para a saúde das plantas e afetar, positivamente, a for-ma pela qual nutrientes, tais como carbono e nitrogênio, sãodisponibilizados para as plantas e são ciclados no solo.

Surpreendentemente, os rendimentos médios do milho, emdez anos, apresentaram menos de 1% de diferença entre os trêssistemas, que foram quase igualmente rentáveis [154, 155]. Osdois sistemas orgânicos demonstraram cada vez maior presençade nitrogênio disponível, enquanto que, no sistema convencio-nal, esses níveis se reduziram. Isso indica que os sistemas orgâni-cos são mais sustentáveis, em termos de produtividade, em longoprazo [141].

Os sistemas de produção de soja foram, também, altamenteprodutivos, alcançando 2.900 kg/ha. Em 1999, durante umadas piores estiagens da história, o rendimento da soja orgânicafoi de 2.175 kg/ha, comparado com apenas 1.160 kg/ha da sojacultivada de maneira convencional. As práticas orgânicas nãosomente levaram o solo a manter a umidade de maneira maiseficiente do que o solo manejado convencionalmente, como tam-bém o maior conteúdo de matéria orgânica tornou o solo orgâ-nico menos compacto, permitindo que as raízes pudessem pene-trar, mais profundamente, até encontrar umidade.

Os resultados destacaram os benefícios da agricultura orgâ-nica para a qualidade do solo e seu potencial para evitar a perdade colheitas. “Nossos experimentos demonstram que melhorar aqualidade do solo através de práticas orgânicas pode ser a dife-rença entre fazer uma colheita ou passar por privações em épocasde estiagem”, disse Jeff Moyer, administrador agrícola do Insti-tuto Rodale [156].

Page 131: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 131

MENOS INSUMOS QUÍMICOS, MENOS LIXIVIAÇÃO E

ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Os sistemas agrícolas sustentáveis que utilizam pouco ou ne-nhum agrotóxico representam um nítido benefício para o ambiente(ver a próxima seção). Os sistemas agrícolas convencionais sãofreqüentemente associados com problemas tais como a lixiviaçãode nitrato e a contaminação da água subterrânea. A aplicação defertilizantes fosfatados acima das necessidades da planta provoca oacúmulo de fósforo disponível na superfície do solo e crescentesperdas para água de superfície. A eutrofização da água é um dosresultados mais nefastos da sua contaminação por nitrogênio efósforo. As altas concentrações de nutrientes estimulam o apareci-mento de algas que bloqueiam a luz do Sol, provocando a morteda vegetação aquática, destruindo habitat, alimentos e refúgiosvaliosos para a vida aquática. Quando as algas morrem e se de-compõem, o oxigênio se esgota em prejuízo da vida aquática.

Na Califórnia, no Vale do Sacramento, de 1994 a 1998 foramavaliados quatro sistemas agrícolas para tomate e milho: orgânico,

17. UM AMBIENTE MAIS LIMPO

Page 132: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

132 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

de baixos insumos, convencional com quatro anos de rotação econvencional com dois anos de rotação [157]. Os sistemas orgâni-co e o de baixos insumos demonstraram ter, respectivamente, 112%e 36% mais reservas de nitrogênio potencialmente mineralizáveldo que os sistemas convencionais. Contudo, como utilizavam cul-tivos de cobertura, houve uma liberação mais lenta e contínua denitrogênio mineral ao longo da época de crescimento.

Ao contrário, os sistemas convencionais proporcionaram ni-trogênio mineral em intervalos, a partir de fertilizantes sintéti-cos, com índices de mineralização do nitrogênio 100% maioresdo que os do sistema orgânico e 28% maiores do que no sistemade baixos insumos externos. Isso desmonstrou que havia maiorprobabilidade de lixiviação do nitrogênio e de problemas associa-dos de contaminação nos sistemas convencionais.

Os rendimentos médios do tomate e do milho, durante umperíodo de cinco anos, não foram significativamente diferentesentre os distintos sistemas agrícolas. Os pesquisadores concluí-ram que o menor risco potencial de lixiviação do nitrogênio de-vido a taxas menores de mineralização do nitrogênio, nos siste-mas orgânico e de baixos insumos, parece melhorar asustentabilidade agrícola e a qualidade ambiental, além de, aomesmo tempo, manter rendimentos similares aos dos sistemasconvencionais.

O já referido estudo suíço, conduzido por 21 anos [149, 150],também avaliou até que ponto as práticas agrícolas orgânicas afe-tariam a acumulação do fósforo total e o disponível no solo, emcomparação com as práticas convencionais [158]. Foram anali-sadas amostras de solo tomadas de um controle não fertilizado,de dois cultivos convencionais e de dois cultivos orgânicos.

Os gastos médios anuais de fósforo dos dois sistemas agríco-las orgânicos foram negativos para cada um dos períodos de ro-

Page 133: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 133

tação e para os 21 anos de experimentação no campo. Isso indi-cou que a quantidade de fósforo removida através das colheitasexcedeu a de fósforo adicionada como fertilizante. O solo culti-vado convencionalmente, que recebeu fertilizantes minerais eadubo da própria lavoura, apresentou um gasto positivo nas trêsrotações. Além disso, a disponibilidade de fósforo inorgânico nasuperfície do solo diminuiu notadamente em todos os cultivosdurante o ensaio de campo, exceto no tratamento convencional.Assim, o potencial de contaminação de fósforo dos sistemas or-gânicos se reduziu.

Os experimentos realizados pelo Instituto Rodale, ao longode 15 anos, demonstraram que o sistema convencional teve maio-res impactos ambientais, apresentando, em um período de cincoanos, 60% mais de nitrato lixiviado na água subterrânea do queos sistemas orgânicos [154-155]. Os solos do sistema convencio-nal também apresentaram níveis relativamente elevados de car-bono solúvel em água e, portanto, vulneráveis à lixiviação. Osmelhores índices de infiltração de água dos sistemas orgânicos ostornaram menos vulneráveis à erosão e com menos chances decontribuírem para a contaminação da água pelo escoamento desuperfície.

Page 134: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 135: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

MENOS AGROTÓXICOS

A agricultura orgânica proíbe a aplicação rotineira deagrotóxicos. Segundo a Associação de Solos, na Inglaterra, cercade 430 ingredientes ativos de agrotóxicos sintéticos sãopermitidos na agricultura convencional, comparados a apenas7 na agricultura orgânica. Os agrotóxicos utilizados naagricultura orgânica podem ser utilizados somente como últimorecurso para o controle das pragas, quando todos os outrosmétodos falharam. Eles são produtos naturais ou produtossimples que se degradam rapidamente, sendo que três delesrequerem autorização para o uso.

Muitos projetos de agricultura sustentável relatam granderedução no uso de agrotóxicos após adotarem o manejo integra-do de pragas. No Vietnã, os agricultores reduziram o número deaspersões de 3,4 para 1,0 por estação; no Sri Lanka, de 2,9 para0,5 por estação; e na Indonésia, de 2,9 para 1,1 por estação. Emtermos gerais, no Sudoeste asiático, 100 mil pequenos produto-res de arroz, que adotaram um manejo integrado de pragas, au-

18. REDUÇÃO DE AGROTÓXICOS SEM AUMENTO DE PRAGAS

Page 136: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

136 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

mentaram substancialmente os rendimentos, ao mesmo tempoem que eliminaram o uso de agrotóxicos [130].

CONTROLE DE PRAGAS SEM AGROTÓXICOS E SEM PERDA

DE CULTIVOS

Como o procedimento orgânico exclui a utilização deagrotóxicos, os críticos afirmaram que as perdas causadas porpragas aumentariam. No entanto, pesquisas sobre a produção detomate californiano contradisseram essa afirmativa. [159]. Nãohouve diferença significativa nos níveis de danos ocasionadospor pragas em 18 estabelecimentos rurais comerciais, dos quais ametade eram sistemas orgânicos certificados e a outra metade,convencionais. A média da biodiversidade de artrópodes foi umterço maior nas lavouras orgânicas do que nas lavouras conven-cionais. Não houve diferenças significativas entre os dois siste-mas no que se refere à abundância de herbívoros (pragas).

No entanto, os inimigos naturais das pragas foram mais abun-dantes nas lavouras orgânicas, com maior riqueza de espécies detodos os grupos funcionais (herbívoros, predadores, parasitóides).Assim, qualquer espécie de praga, nas lavouras orgânicas, estariaassociada a uma maior variedade de herbívoros (ou seja, se dilui-ria) e sujeita a controle por uma variedade mais ampla e maisabundante de parasitóides e predadores potenciais.

Ao mesmo tempo, a pesquisa revela que é possível alcançar ocontrole de pragas sem uso de agrotóxicos, revertendo, de fato,as perdas de cultivos. Na região Leste da África (onde está locali-zado o Quênia), o milho e o sorgo enfrentam duas grandes pra-gas: a lagarta do talo e a Striga, uma planta parasita. Nas margensda lavoura são plantados “cultivos armadilhas”, como a gramíneaNapier e a gramínea do Sudão, que atraem a lagarta do talo. Agramínea Napier é uma planta local que produz uma substância

Page 137: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 137

pegajosa e que mata a lagarta [160]. Intercalados com os culti-vos, são plantados o desmodio prateado (Desmodium uncinatum)e duas plantas leguminosas. As leguminosas fixam o nitrogênio,enriquecendo o solo. O Desmodium também repele as lagartasdo talo e a Striga.

Em 1995, começou um projeto, em Bangladesh, para pro-mover meios não químicos de controle de pragas do arroz, quese baseia nos inimigos naturais e na capacidade da planta doarroz para compensar os danos provocados por inseto. Não temhavido impacto negativo em termos de rendimento [161], mas,ao contrário, os agricultores que não utilizam agrotóxicos têmhabitualmente maiores rendimentos do que os que os utilizam.Como os participantes do projeto também modificaram outraspráticas além de abandonar os agrotóxicos, não se pode dizerque o aumento do rendimento se deva inteiramente à ausênciadestes. Isso demonstra, porém, que os agrotóxicos não são neces-sários para obter aumentos no rendimento. Os participantes doprojeto obtêm lucros líquidos maiores do que os que utilizamagrotóxicos: em 1998, a média de lucros líquidos, para os parti-cipantes do projeto, foi de 5.373 takas (R$321,00) por agricul-tor por estação, comparada com 3.443 takas (R$207,00) para osque utilizavam agrotóxicos.

OUTRAS VANTAGENS COM O

NÃO USO DE AGROTÓXICOS

Além do benefício óbvio de não utilizar agrotóxicos perigosos,pesquisadores coreanos relataram que a não utilização deagrotóxicos nos arrozais favorece o desenvolvimento da carpa orien-tal (Misgurnus mizolepis), que efetivamente controla os mosquitosresponsáveis pela disseminação da malária e da encefalite japonesa[162]. Os campos nos quais não se utilizaram agrotóxicos apre-

Page 138: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

138 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sentavam uma maior variedade de insetos. Contudo, os peixes sãopredadores vorazes de larvas do mosquito.

No Japão, um agricultor orgânico inovador iniciou um siste-ma de cultivo do arroz que converte as ervas daninhas e as pragasem recursos para criação de patos [163]. Os patos comem inse-tos-praga e o caracol dourado (Pomacea canaliculata), que atacaas plantas do arroz, e também comem sementes e plântulas daservas daninhas. Utilizando suas patas para desenterrar plântulasde ervas daninhas, os patos ventilam a água e propiciam ummecanismo de estimulação mecânica para que o caule do arrozse torne forte e fértil. Essa prática tem sido adotada por cerca de10 mil agricultores no Japão e por agricultores da Coréia do Sul,Vietnã, Filipinas, Laos, Camboja, Tailândia e Malásia. Muitosagricultores aumentaram seu rendimento entre 20% e 50% oumais, durante o primeiro ano.

Sistemas como esses, que são característicos de propostas agrí-colas sustentáveis, fazem uso das complexas interações entre di-ferentes espécies e demonstram quão importante é a relação en-tre a biodiversidade e a agricultura (ver capítulo seguinte).

Os benefícios para a saúde com o não uso de agrotóxicos sãodiscutidos brevemente em “Orgânicos pela saúde”.

Page 139: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 139

A BIODIVERSIDADE AGRÍCOLA É CRUCIAL PARA A

SEGURANÇA ALIMENTAR

Manter a biodiversidade agrícola é vital para a segurança ali-mentar em longo prazo. Pimbert estudou as múltiplas funçõesda biodiversidade agrícola e sua importância para a subsistênciano meio rural [164]. A biodiversidade agrícola contribui para asegurança alimentar e para o sustento, para a produção eficiente,para a sustentabilidade ambiental e para o desenvolvimento ru-ral; regenera os sistemas alimentares locais e as economias rurais.As populações rurais têm meios de subsistência dinâmicos e com-plexos que, geralmente, dependem da diversidade de espéciesvegetais e animais, tanto silvestres quanto domesticadas. A di-versidade “dentro” das espécies (as variedades crioulas) tambémé importante entre as espécies domesticadas de cultivos e produ-ção de animais e resulta da inovação das populações rurais. Essadiversidade agrícola é uma segurança fundamental contra osurgimento de enfermidades na lavoura e nas criações de ani-mais e melhora a capacidade da subsistência no meio rural, de

19. APOIANDO A BIODIVERSIDADE E UTILIZANDO A DIVERSIDADE

Page 140: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

140 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

longo prazo, frente às adversidades e perturbações. Abiodiversidade agrícola está cada vez mais ameaçada pela adoçãode cultivares e variedades uniformes e de alto rendimento damonocultura “moderna”.

Os informes de uma reunião da FAO, realizada em 2002 –“A biodiversidade e o enfoque ecossistêmico na agricultura, nomanejo florestal e na pesca” (Biodiversity and the EcossystemApproach in Agriculture, Forestry and Ficheries) – destacaram ainter-relação existente entre biodiversidade e agricultura [165].Os informes apresentaram exemplos específicos de como as ino-vações dos agricultores aumentam a biodiversidade, bem comosobre a importância da biodiversidade para a agricultura. Umdocumento avaliou 16 estudos de casos de 10 países da Ásia,América Latina, Europa e África, mostrando como a agriculturaorgânica aumenta a diversidade de recursos genéticos para a ali-mentação e para a agricultura [166]. Em todos os casos, existeuma estreita relação entre os sistemas orgânicos e a manutençãoda biodiversidade e a melhora das condições socioeconômicasdos agricultores.

Os estudos de um sistema agrícola orgânico comunitário emBangladesh, o cultivo ladang de espécies orgânicas na Indonésiae a produção de café orgânico no México, demonstram como omanejo tradicional e realizado pela comunidade pode reabilitarecossistemas agrários abandonados e degradados. Esses sistemasde policultivos se caracterizam por ecossistemas e biodiversidadeagrícola altamente diversificados, que oferecem não somente ali-mentos, mas também outros serviços para a comunidade. Osestudos de caso do cacau orgânico, no México, e do algodãoorgânico naturalmente pigmentado, no Peru, são exemplos deagricultura orgânica bem sucedida que têm contribuído paraconservação in situ e utilização sustentável em centros de diversi-

Page 141: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 141

dade, proporcionando, ao mesmo tempo, benefícios econômi-cos para as comunidades locais.

A agricultura orgânica salvou da extinção espécies e variedadestradicionais e subutilizadas do Peru (quinoa sem glúten), Itália(grão Sarraceno, feijão Zolfino, trigo farro – Triticum aestivumsubsp. spelta) e Indonésia (variedades locais de arroz). Quatro es-tudos de caso, da Alemanha, Itália, África do Sul e Brasil, ilustramcomo a agricultura orgânica tem recuperado numerosas varieda-des e linhagens tradicionais, que são melhor adaptadas às condi-ções ecológicas locais e são resistentes a doenças. Como os autoresconcluem, a agricultura orgânica contribui para a conservação,restauração e manutenção local da biodiversidade agrícola.

CONSERVANDO E SUSTENTANDO A BIODIVERSIDADE

A agricultura sustentável desempenha outra função impor-tante na conservação da biodiversidade natural. Geralmente, aslavouras orgânicas, em comparação com as convencionais, exi-bem maior biodiversidade natural, com mais árvores, uma maiordiversidade de cultivos e distintos predadores naturais, que con-trolam as pragas e ajudam a prevenir doenças [131].

Pesquisas, realizadas na Colômbia e no México, encontra-ram 90% menos espécies de pássaros nas plantações de café cul-tivadas ao sol do que naquelas de café orgânico cultivado à som-bra, imitando o habitat natural da floresta [167]. O cultivo àsombra é recomendado pelas normas orgânicas, já que aumentaa fertilidade do solo, controla as pragas e enfermidades e ampliaas opções de produção de cultivo. Um estudo da Fundação Bri-tânica de Ornitologia (BTO, em inglês) revelou maiores densi-dades de reprodução da cotovia-do-céu (Alauda arvensis), umaespécie de ave ameaçada de extinção, nas lavouras orgânicas doque nas convencionais. A diversidade floral, que também tem

Page 142: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

142 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sido ameaçada pelo crescente uso de herbicidas na produção agrí-cola, tende a se beneficiar dos sistemas orgânicos, que não per-mitem o uso de agrotóxicos. Estudos, na Grécia e na Inglaterra,demonstram que a diversidade e abundância de flores é efetiva-mente maior nos sistemas orgânicos do que nos convencionais.Outros estudos mostram aumento na diversidade e abundânciade invertebrados nos sistemas orgânicos.

Um relatório da Associação de Solos [168] da Inglaterra re-sumiu os resultados de nove estudos (sete da Inglaterra, dois daDinamarca) e reuniu os resultados fundamentais de outros ca-torze estudos sobre a biodiversidade apoiada pela agricultura or-gânica. O relatório concluiu que a agricultura orgânica, em ter-ras baixas, contém um nível maior de biodiversidade (tanto emabundância quanto em diversidade das espécies) do que os siste-mas agrícolas convencionais, inclusive de espécies que têm dimi-nuído de maneira significativa, como é o caso de plantas silves-tres em campos aráveis; de pássaros e a reprodução de cotovias-do-céu; de invertebrados, incluindo artrópodes que constituemo alimento das aves; de borboletas benéficas e aranhas. As pro-priedades rurais orgânicas também demonstraram uma reduçãoimportante do ataque pelos áfideos e nenhuma mudança na po-pulação de lepidópteros maléficos (borboletas). A qualidade dohabitat foi mais favorável nas propriedades rurais orgânicas, tan-to em termos de habitat das fronteiras do campo quanto noscultivos.

Foram identificadas numerosas práticas benéficas da agricul-tura orgânica, tais como rotações dos cultivos com pradarias tem-porais, semeadura mista de primavera e outono, aumento depastos permanentes, não aplicação de agrotóxicos e utilização deadubo verde. Essas práticas podem reverter a tendência de declínioda biodiversidade associada à agricultura convencional. Em ge-

Page 143: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 143

ral, as melhorias na biodiversidade foram encontradas tanto naszonas cultivadas quanto nas margens do campo. O informe tam-bém indicou que provavelmente os benefícios mais importantesocorram nas terras altas.

O uso reduzido ou inexistente de agroquímicos na agricultu-ra orgânica e sustentável, também permitirá o crescimento deplantas silvestres, entre as quais há um número crescente de er-vas que são utilizadas em medicamentos tradicionais. A Organi-zação Mundial de Saúde estima que entre 75% e 80% da popu-lação mundial faz uso de plantas medicinais, seja de partes ou daplanta inteira, para cuidados com a saúde. Algumas dessas espé-cies estão em vias de extinção e é necessário concentrar esforçospara sua conservação local e, ao mesmo tempo, assegurar quesua coleta no meio silvestre seja sustentável e continue contribu-indo para o sustento das populações locais [169]. As plantas eanimais silvestres também fazem parte de um importante reper-tório de alimentos e medicamentos para numerosas comunida-des agrícolas [164].

A DIVERSIDADE AUMENTA A RODUTIVIDADE

AGRÍCOLA

A biodiversidade é parte importante e integral das propostasde agricultura sustentável. Cada espécie de um agroecossistemafaz parte de uma rede de relações ecológicas conectada por fluxosde materiais e de energia. Neste sentido, os diversos componen-tes da agrobiodiversidade são multifuncionais e contribuem paraa resiliência dos sistemas de produção, enquanto oferecem servi-ços ambientais, embora algumas espécies possam desempenharpapel-chave, como promotoras desse processo [164]. Os servi-ços ambientais proporcionados pela biodiversidade agrícola in-cluem decomposição da matéria orgânica do solo, ciclagem dos

Page 144: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

144 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

nutrientes, eficiência na produção e no rendimento da biomassa,conservação do solo e da água, controle de pragas, polinização edispersão, conservação da biodiversidade, funções climáticas, cicloda água e influência na estrutura da paisagem.

As evidências empíricas de um estudo, iniciado em 1994,demonstram que os ecossistemas biodiversificados são de duas atrês vezes mais produtivos do que os monocultivos [170, 171].Nas parcelas experimentais, tanto a biomassa total quanto a dasuperfície do solo aumentaram significativamente com o núme-ro de espécies. As parcelas com alta diversidade foram bastanteresistentes à invasão e ao crescimento das ervas daninhas, porémisso não ocorreu da mesma forma com os monocultivos e com asparcelas de baixa diversidade. Por conseguinte, os sistemasbiodiversificados são mais produtivos e menos propensos à inva-são de ervas daninhas.

Milhares de produtores chineses de arroz demonstraram, comresultados surpreendentes, que o plantio de cultivos diversifica-dos é vantajoso (comparado com os monocultivos), pois elesduplicaram os rendimentos e praticamente eliminaram a enfer-midade mais devastadora do arroz, sem utilizar produtos quími-cos ou aumentar os gastos [172, 173]. Um grupo de cientistastrabalhou em conjunto com agricultores de Yunnan, queimplementaram uma prática simples, que restringiu radicalmenteo fungo da brusone do arroz (causado por Pyricularea grisea),que destrói milhões de toneladas de arroz e custa aos agricultoresperdas anuais da ordem de vários bilhões de dólares.

Em vez de plantar grandes extensões com um único tipo dearroz, como é o habitual, os agricultores plantaram uma misturade duas variedades: um arroz híbrido Standard, que geralmentenão sucumbe ao fungo da brusone, e um arroz muito mais valio-so pelo seu conteúdo de material glutinoso, ou mais “pegajoso”,

Page 145: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 145

conhecido por ser muito suscetível à praga. As variedades de ar-roz de grande diversidade genética foram cultivadas em todas aslavouras de cinco municípios (812 ha), em 1998, e de dez muni-cípios (3.342 ha), em 1999.

As variedades suscetíveis à doença, ao serem plantadas comvariedades resistentes, tiveram um aumento de 89% em seu ren-dimento, e o ataque do fungo da brusone foi 94% menos severodo que nas lavouras de monocultura. Ambas as variedades dearroz, glutinoso e híbrido, apresentaram menor grau de infec-ção. A hipótese, para o arroz glutinoso, é bastante clara. Se umavariedade é suscetível a uma doença, quanto mais concentradosestejam esses tipos suscetíveis, mais facilmente se propaga a doen-ça, o que é menos provável quando as plantas suscetíveis crescementre plantas resistentes à doença (ou seja, ocorre o efeito dediluição). As plantas de arroz glutinoso, que crescem acima doarroz híbrido mais curto, também se beneficiaram de condiçõesmais ensolaradas, mais quentes e mais secas, que refrearam o cres-cimento dos fungos. A redução da doença na variedade híbridapode ser devido ao fato de o arroz glutinoso ser mais alto, blo-queando os esporos do fungo transportados pelo ar, e a umamaior resistência induzida (devido a diversos campos manteremdiversos patógenos sem uma única cepa dominante). O valorbruto por hectare das misturas foi 14% maior do que dosmonocultivos híbridos e 40% maior que o dos monocultivosglutinosos.

Em Cuba, os sistemas agrícolas integrados ou policultivos, taiscomo mandioca-feijão-milho, mandioca-tomate-milho e batata-doce-milho, têm produtividades de 1,45 a 2,82 vezes maiores doque os monocultivos [135]. Além disso, as leguminosas melho-ram as características físicas e químicas do solo e rompem efetiva-mente o ciclo de infestações de pragas de insetos.

Page 146: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

146 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em Bangladesh, o cultivo de hortaliças, integradas aos siste-mas de cultivos de arroz, plantadas sobre diques, não afetou orendimento do arroz, apesar da superfície destinada às escava-ções, que não foram utilizadas para cultivos [161]. Ao contrário,as hortaliças propiciaram mais nutrientes às famílias. O exce-dente foi compartilhado com vizinhos, amigos e parentes ou foivendido, gerando um valor adicional de 14%.

A integração de peixes, ao sistema de arroz inundado, tambémnão causou redução significativa nos rendimentos do arroz, ten-do, em alguns casos, aumentado. Os lucros líquidos da venda depeixes alcançaram uma média de 7.354 takas (R$440,00) por agri-cultor, por estação, mais que o lucro obtido com o arroz. Da mes-ma forma que ocorreu com as hortaliças, os agricultores que culti-varam arroz combinado com cultivo de peixes comeram peixe commaior freqüência e doaram grande parte às suas redes sociais.

A biodiversidade do solo também tem papel crucial na pro-moção de uma agricultura sustentável e produtiva, e as práticasorgânicas ajudam a aumentá-la [174]. A cobertura morta aplica-da com moderação em superfícies de solo degradadas e endure-cidas, na região árida de Burkina Faso, desencadeou a atividadede cupins, que facilitou a recuperação e reabilitação de solos de-gradados. Os cupins, que transportaram ou se alimentaram coma cobertura morta aplicada à superfície, melhoraram a estruturado solo e a infiltração de água, aumentando com isso a liberaçãode nutrientes no solo. O crescimento e o rendimento do feijão-caupi (Vigna unguiculata) foi muito maior nas parcelas com cu-pins do que nas sem cupins. Na Índia, os fertilizantes orgânicose as minhocas, criadas para esse fim e aplicadas em trechos entreas fileiras de chá, aumentaram os rendimentos entre 76% e 239%,comparados com a fertilização inorgânica convencional. Os lu-cros aumentaram na mesma proporção.

Page 147: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 147

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Pesquisas publicadas na revista Nature estudaram asustentabilidade dos sistemas orgânico, convencional e integra-do (que combina ambos os métodos) na produção de maçãs, emWashington, de 1994 a 1999 [175, 176]. O sistema orgânicoocupou o primeiro lugar em termos de sustentabilidade ambientale econômica; o sistema integrado, o segundo; e o sistema con-vencional, o último. Os indicadores utilizados foram a qualida-de do solo, o desempenho da horticultura, a rentabilidade dospomares, a qualidade ambiental e a eficiência energética.

As avaliações da qualidade do solo, em 1998 e 1999, para ossistemas orgânico e integrado foram significativamente maioresdo que para o sistema convencional, devido à adição decompostagem e cobertura morta com biomassa. Os três sistemasderam rendimentos similares, sem diferenças observáveis emmatéria de alterações fisiológicas ou prejuízos provocados porpragas e enfermidades. Nos três casos houve níveis satisfatóriosde nutrientes. Uma pesquisa entre os consumidores indicou que

20. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E ECONÔMICA

Page 148: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

148 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

as maçãs orgânicas eram menos ácidas, no momento da colheita,e mais doces do que as maçãs convencionais, depois de armaze-nadas durante seis meses.

As maçãs orgânicas foram mais lucrativas por terem preços-prêmio de venda e um retorno mais rápido do investimento.Embora a receita inicial, nos três primeiros anos, tenha sidomenor, em função do tempo que levou para a conversão ao siste-ma orgânico certificado, nos três anos subseqüentes, o preço-prêmio foi, em média, 50% acima dos preços convencionais.Em longo prazo, o sistema orgânico recuperou seus custos maisrapidamente. O estudo projetou que o sistema orgânico pagariao investimento após 9 anos, o sistema convencional, somenteapós 15 anos; e o sistema integrado, depois de 17 anos.

O impacto ambiental foi avaliado por um índice para deter-minar os possíveis impactos adversos dos agrotóxicos e caldas deraleio químico: quanto mais alto o índice, maior o impacto ne-gativo. A qualificação do sistema convencional foi 6,2 vezes maiorque a do sistema orgânico. Embora necessite de mais mão-de-obra, o sistema orgânico gastou menos energia em fertilizantes,controle de ervas daninhas e controle biológico de pragas, carac-terizando-se como o de maior eficiência energética.

Outro estudo avaliou os aspectos financeiros e ambientais dasustentabilidade dos sistemas orgânico, integrado e convencio-nal, aplicando um indicador integrado econômico e ambiental atrês propriedades rurais de Toscana, Itália [177]. Em termos dosresultados financeiros, as margens brutas dos sistemas estáveis deprodução orgânica foram maiores do que as margens brutas cor-respondentes dos sistemas agrícolas convencionais. Os sistemasorgânicos tiveram melhores resultados do que os sistemas inte-grados e convencionais, no que se refere a perdas de nitrogênio,riscos por agrotóxicos, biodiversidade de plantas herbáceas e a

Page 149: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 149

maioria dos outros indicadores ambientais. Os resultados pro-porcionaram evidências de que a agricultura orgânica melhorapotencialmente a eficiência de numerosos indicadores ambientais,além de ser remunerável. Embora não seja plenamente conclusi-vo que a agricultura orgânica seja mais sustentável, o resultadodos sistemas agrícolas orgânicos foi melhor que o dos sistemasagrícolas convencionais.

AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL

Um estudo realizado em todo o continente europeu avaliouos impactos no meio ambiente e a utilização de recursos pelaagricultura orgânica, em comparação com a agricultura conven-cional [178]. O estudo mostrou que os resultados da agriculturaorgânica foram melhores do que os da agricultura convencional,em relação à maioria dos indicadores ambientais utilizados. Emnenhuma das categorias a agricultura orgânica apresentou resul-tados inferiores à agricultura convencional.

Por exemplo, a agricultura orgânica teve melhores resultadosque a agricultura convencional em termos da diversidade da flo-ra e da fauna, conservação da vida silvestre e diversidade de habitat.A agricultura orgânica também promoveu uma melhor conser-vação da fertilidade do solo e da estabilidade do sistema, em com-paração com os sistemas convencionais. Além disso, o estudomostrou que a agricultura orgânica resulta em índices de lixiviaçãode nitratos melhores ou similares aos da agricultura integrada ouconvencional e que não apresenta qualquer risco de contamina-ção da água subterrânea ou de superfície, decorrente deagrotóxicos.

O estudo da FAO [133] concluiu: “Como avaliação final, pode-se estabelecer que a agricultura orgânica bem manejada cria condi-ções mais favoráveis em “todos” os aspectos ambientais” (pág. 62).

Page 150: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

150 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A avaliação demonstrou que o conteúdo de matéria orgânicaem geral é maior nos solos orgânicos, indicando maior fertilida-de, estabilidade e capacidade de retenção da umidade, o que re-duz o risco de erosão e desertificação. Os solos orgânicos têmatividade biológica e massa de microorganismos significativamen-te maiores, acelerando a reciclagem de nutrientes e melhorandoa estrutura do solo.

O estudo revelou que a agricultura orgânica não apresentariscos de contaminação da água por agrotóxicos e que os índicesde lixiviação de nitrato, por hectare, são significativamente maisbaixos, quando comparados aos dos sistemas convencionais. Emtermos de utilização da energia, a agricultura orgânica tem me-lhores resultados do que a convencional (ver a próxima seção).

A análise constatou que os recursos genéticos, incluindo in-setos e microorganismos, aumentam quando a terra é cultivadade maneira orgânica, ao mesmo tempo em que a flora e a fauna,no interior e nos arredores das propriedades rurais orgânicas, sãomais diversificadas e abundantes. Ao oferecer recursos alimenta-res e refúgio para os artrópodes e pássaros benéficos, a agricultu-ra orgânica contribui para o controle natural das pragas. Tam-bém contribui para a conservação e sobrevivência dospolinizadores.

Page 151: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 151

ENERGIA EFICIENTE, REDUÇÃO DO USO DIRETO E

INDIRETO DE ENERGIA

A agricultura “moderna” tem muito a responder sobre suacontribuição para mudança climática, que é, de longe, o proble-ma mais perigoso que a humanidade já enfrentou. Esse sistemade produção tem aumentado as emissões de óxido nitroso e demetano, que são potentes gases de efeito estufa; requer a utiliza-ção intensiva de energia de combustível fóssil e contribui para aperda de carbono do solo para a atmosfera [179].

As práticas de uma agricultura sustentável podem oferecerbenefícios sinérgicos para diminuir o impacto da mudança cli-mática. A FAO considera que a agricultura orgânica melhora osecossistemas, permitindo que se adaptem melhor aos efeitos damudança climática, e tem maior potencial para reduzir as emis-sões de gases de efeito estufa [133]. O relatório conclui que “Aagricultura orgânica tem melhores resultados que a agriculturaconvencional considerada em escala por hectare, tanto no que serefere ao consumo direto de energia (combustível e petróleo),

21. DIMINUINDO IMPACTOS INDUTORES DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Page 152: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

152 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

quanto ao indireto (fertilizantes sintéticos e agrotóxicos)”, comalta eficiência no uso de energia (pág. 61).

Os experimentos do Instituto Rodale revelaram que a utili-zação de energia no sistema convencional foi 200% maior doque em cada um dos sistemas orgânicos [141]. Pesquisas realiza-das na Finlândia mostraram que, embora a agricultura orgânicatenha utilizado mais horas de trabalho com máquinas do que aagricultura convencional, o consumo total de energia foi, aindaassim, menor nos sistemas orgânicos [180]. Nos sistemas con-vencionais, mais da metade da energia consumida na produçãode centeio foi gasta na fabricação de agrotóxicos.

Na produção de maçãs, a agricultura orgânica foi mais efici-ente em matéria de energia do que a agricultura convencional[175, 176]. Estudos realizados na Dinamarca compararam a agri-cultura orgânica e convencional na produção de leite e de grãosde cevada [181]. A energia total utilizada, por quilograma deleite produzido, foi menor na fazenda orgânica de leite do quena convencional, enquanto que a energia total utilizada paracultivar um hectare de cevada orgânica de primavera foi 35%menor do que a utilizada na convencional, na mesma unidadede área. No entanto, o rendimento da cevada orgânica foi me-nor; portanto, a energia utilizada para produzir um quilogramade cevada foi apenas marginalmente menor na orgânica do quena convencional.

Na Europa, calculou-se que as emissões de dióxido de carbo-no (CO

2) foram de 48% a 66% menores, por hectare, em siste-

mas de agricultura orgânica [133, 178], e isso foi atribuído àscaracterísticas da agricultura orgânica, isto é, nenhum uso defertilizantes com nitrogênio mineral de alto consumo de ener-gia, menor utilização de rações, menor uso de fertilizantes mine-rais (P e K) e eliminação de agrotóxicos.

Page 153: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 153

Além disso, como a agricultura sustentável está baseada naprodução, consumo e distribuição local, desperdiça-se menosenergia no transporte dos produtos, particularmente no aéreo.Segundo um estudo realizado em 2001, as emissões de gases deefeito estufa, associadas ao transporte de alimentos de uma pro-priedade rural local para um mercado local de agricultores, fo-ram 650 vezes menores do que as emissões associadas com a ven-da média de alimentos em supermercados [citado em 179].

MAIOR RETENÇÃO DE CARBONO

Os solos são um importante sorvedouro de CO2 atmosférico,

porém as práticas convencionais de utilização das terras agrícolasos têm depauperado cada vez mais. A agricultura sustentável, noentanto, ajuda a contrabalançar a mudança climática, restauran-do o conteúdo da matéria orgânica do solo (ver “Melhores so-los”), já que aumenta a fixação de carbono sob o solo. A matériaorgânica se recupera pela adição de adubos animais, compos-tagem, cobertura morta e cultivos de cobertura.

Pretty e Hine indicam que os 208 projetos avaliados por elesacumularam cerca de 55,1 milhões de toneladas de carbono (C)[130]. O projeto SAFS revelou que o conteúdo de carbono orgâ-nico do solo aumentou em ambos os sistemas: orgânico e debaixo insumos externos [143], enquanto que, na Califórnia, oestudo de 20 propriedades rurais comerciais revelou que os cam-pos orgânicos tinham 25% mais carbono orgânico [148].

O mesmo foi comprovado no estudo de 15 anos do InstitutoRodale, segundo o qual os níveis de carbono no solo aumenta-ram nos dois sistemas orgânicos, mas não no sistema convencio-nal [141]. Os pesquisadores concluíram que os sistemas orgâni-cos demonstraram uma capacidade importante de absorver e re-ter carbono, aumentando a possibilidade de que práticas agrícolas

Page 154: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

154 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sustentáveis possam auxiliar na redução do impacto de aqueci-mento global.

MENOS EMISSÕES DE ÓXIDO NITROSO

A FAO também considerou que a agricultura orgânica au-menta a possibilidade de emitir menos óxido nitroso (N

2O) [133],

um outro gás importante que contribui para aumentar o efeitoestufa e, também, uma causa da diminuição do ozônioestratosférico. Isso se deve a menores insumos com nitrogênio,menores teores de nitrogênio proveniente do adubo orgânicodevido à baixa densidade de animais, maior razão entre quanti-dades de carbono e nitrogênio (C/N) de adubo orgânico aplica-do e menos nitrogênio mineral disponível, no solo, como umafonte de desnitrificação, e captação eficiente do nitrogênio mó-vel nos solos, devido a cultivos de cobertura.

Page 155: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 155

AUMENTO DA PRODUTIVIDADE

Qualquer diminuição da produção na agricultura orgânica émais do que compensada pelos ganhos em eficiência e os benefí-cios ecológicos que proporciona, e pelos menores custos que atornam um empreendimento rentável. O estudo suíço revelouque o insumo de fertilizantes e energia foi reduzido entre 34% e53%, e o insumo de agrotóxicos em 97%, enquanto o rendi-mento médio do cultivo diminuiu apenas 20% nos 21 anos, oque indica uma eficiente produção e uso dos recursos [149, 150].O enfoque orgânico foi comercialmente viável em longo prazo,produzindo mais alimentos por unidade de energia ou recursos.

Os dados demonstram que as propriedades rurais menoresproduzem muito mais por unidade de superfície do que as pro-priedades rurais maiores (em geral, monoculturas, típicas da agri-cultura convencional) [136]. Embora o rendimento por unidadede superfície de um cultivo possa ser menor em uma pequenapropriedade do que em uma grande monocultura, a produçãototal por unidade de superfície, em geral composta de mais de

22. PRODUÇÃO EFICIENTE E RENTÁVEL

Page 156: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

156 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

uma dezena de cultivos e diversos produtos animais, pode sermuito mais elevada. As pequenas propriedades são, também, maiseficientes do que as grandes em termos de uso da terra e do “fa-tor total da produtividade”, uma média da eficiência do uso detodos os diversos fatores que integram a produção, incluindoterra, mão-de-obra, insumos, capital etc.

Os estudos realizados na Bolívia demonstram que, embo-ra a produtividade seja maior nas lavouras de batata fertiliza-das com produtos químicos e trabalhadas com maquinário,os custos de energia são maiores e os benefícios econômicoslíquidos são menores do que quando se utilizam leguminosasnativas, como cultivos de rotação [135]. As pesquisas indi-cam que os agricultores preferem este último recurso alterna-tivo porque ele otimiza a utilização de recursos escassos, demão-de-obra e de capital disponível, e é acessível, inclusive,aos produtores pobres.

CUSTOS MENORES, LUCROS MAIORES

Dois experimentos, realizados em Minnesota, avaliaram umarotação de milho-soja de dois anos e uma rotação de milho-soja-aveia/alfafa-alfafa de quatro anos, sob quatro estratégias de ma-nejo: insumo zero, baixa quantidade de insumos, alta quantidadede insumos e insumos orgânicos [182]. Ao longo de sete anos(de 1993 a 1999), as produtividades de milho e soja (média dedois ensaios), na estratégia orgânica de quatro anos, correspondeua 91% e 93%, e a 81% e 84%, respectivamente, da estratégia dedois anos com alta quantidade de insumos. No entanto, as pro-dutividades da aveia foram similares para as estratégias de quatroanos, tanto orgânica quanto com alta quantidade de insumos.As produtividades da alfafa, na estratégia orgânica de quatro anos,corresponderam a 92% das obtidas na estratégia de alta quanti-

Page 157: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 157

dade de insumos de quatro anos, num ensaio, sendo que numsegundo ensaio as produtividades foram as mesmas.

Apesar da leve redução dos rendimentos do milho e da soja,a estratégia orgânica teve menores custos de produção do que aestratégia da alta quantidade de insumos. Por conseguinte, o lu-cro líquido, sem considerar o preço-prêmio do orgânico, por suacondição de produto de qualidade, foi equivalente nas duas es-tratégias. Os cientistas indicaram que os sistemas de produçãoorgânica podem ser competitivos com os convencionais.

Um amplo levantamento de vários estudos comparativos daprodução de cereais e soja, realizado desde 1978, conduzido porseis universidades do Meio-Oeste dos Estados Unidos, revelouque, em geral, a produção orgânica era equivalente e, em algunscasos, melhor do que a convencional [183]. Os sistemas orgâni-cos tiveram rendimentos maiores do que os sistemas convencio-nais, que, tipicamente, têm produção contínua de cultivos (ouseja, sem rotação), e rendimentos iguais ou menores do que ossistemas convencionais, que incluíram rotações de cultivos. Nosclimas mais secos, os sistemas orgânicos tiveram rendimentosmaiores, já que foram mais resistentes à estiagem do que os siste-mas convencionais.

Os sistemas de cultivo orgânico foram, sempre, mais rentá-veis do que os sistemas convencionais mais comuns, se forcontabilizado o melhor preço pela condição de orgânico. Quan-do o preço extra não foi contabilizado, os sistemas orgânicos fo-ram igualmente mais produtivos e rentáveis na metade dos estu-dos. Isso foi atribuído aos menores custos de produção e à capa-cidade dos sistemas orgânicos de superarem os convencionaisem zonas mais secas, ou durante os períodos de estiagem. O autorconcluiu que “os sistemas de produção orgânica são competiti-vos com respeito aos sistemas de produção convencionais mais

Page 158: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

158 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

comuns” e afirma que, “se os agricultores obtêm maiores preçosno mercado por cereais e soja orgânicos de alta qualidade, suaprodução orgânica geralmente lhes proporciona maiores lucrosdo que a produção não orgânica de cereais e soja” (pág. 2).

Os resultados de 15 anos de estudos do Instituto Rodale de-monstraram que, depois de um período de transição com rendi-mentos mais baixos, os sistemas orgânicos foram financeiramen-te competitivos com relação ao sistema convencional [141].Embora haja maiores probabilidades de que os custos da transi-ção afetem o aspecto financeiro geral da propriedade rural poralguns anos, os lucros projetados variaram de um pouco abaixoaté substancialmente acima daqueles do sistema convencional,mesmo quando as análises econômicas não levaram em conta omaior preço pago aos produtos orgânicos. Os lucros mais eleva-dos das propriedades rurais orgânicas vieram, em grande medi-da, dos maiores rendimentos do milho, que quase duplicaram,depois do período de transição. Quando os preços ou os rendi-mentos foram baixos, os agricultores orgânicos sofreram menosdo que os convencionais e tiveram menores flutuações em suasrendas, já que tinham diversos cultivos, além do milho, para ven-der. Os gastos das propriedades orgânicas foram significativa-mente menores do que os da convencional. Essa última gastou95% a mais em fertilizantes e agrotóxicos. Os custos gerais deprodução, nas propriedades orgânicas, foram 26% menores.

Page 159: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 159

MAIOR PRODUÇÃO LOCAL DE ALIMENTOS

Embora a produção mundial de alimentos seja adequada,muitos passam fome porque uma maior quantidade de alimen-tos não significa, automaticamente, maior segurança alimentar.O que importa é quem produz os alimentos, quem tem acesso àtecnologia e ao conhecimento para produzi-los e quem tem opoder aquisitivo para comprá-los [130]. Os agricultores pobresnão podem pagar pelas tecnologias “modernas” de altos custosque, teoricamente, aumentam a produtividade.

Muitos agricultores apresentam “atrasos na produtividade”, nãoporque careçam das sementes “milagrosas” que contêm seu pró-prio agrotóxico ou toleram enormes doses de herbicida, mas, sim,porque foram empurrados para terras marginais, irrigadas unica-mente pela chuva e porque enfrentam políticas macroeconômicase estruturas construídas sobre desigualdades históricas e que seopõem, cada vez mais, à produção de alimentos por pequenos agri-cultores [184].

Como tal, sua agricultura é melhor caracterizada como “com-

23. MAIOR SEGURANÇA ALIMENTAR E BENEFÍCIOS PARA AS COMUNIDADES LOCAIS

Page 160: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

160 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

plexa, diversa e propensa ao risco” [185], pelo fato de os agricul-tores terem adaptado tecnologias agrícolas às suas circunstânciasvariáveis, porém únicas, em termos de clima local, topografia,solos, biodiversidade, sistemas de cultivo, recursos etc. São essesagricultores, já propensos ao risco, os que serão mais prejudica-dos pelos riscos dos cultivos transgênicos [184].

As propostas da agricultura sustentável devem, pois, permitiraos agricultores melhorarem a produção local de alimentos comtecnologias e insumos de baixo custo, que sejam facilmente aces-síveis, sem causarem danos ao ambiente. Esse foi o caso, comoindicado nos estudos de Pretty e Hine [130]. A maioria dos pro-jetos e das iniciativas de agricultura sustentável resultou em au-mentos importantes na produção doméstica de alimentos; paraalguns, na melhoria do rendimento; para outros, como aumentoda intensidade do cultivo ou da diversificação dos produtos.

As evidências mostraram que:· A produção média de alimentos por família aumentou 1,71

tonelada por ano (até 73%), para 4,42 milhões de agricul-tores, em 3,58 milhões de hectares.

· O aumento da produção de alimentos foi de 17 toneladaspor ano (um aumento de 150%), para 146 mil agriculto-res, em 542 mil hectares de cultivo de tubérculos (batata,batata-doce e mandioca).

· A produção total aumentou 150 toneladas por família (umaumento de 46%), nas propriedades rurais maiores naAmérica Latina (com 90 ha, em média).

O estudo revelou que, na medida em que a provisão de ali-mentos aumentou, também aumentou o consumo doméstico,com benefícios diretos à saúde, em especial para mulheres e crian-ças. Além disso, 88% dos 208 projetos fizeram uma melhor uti-lização dos recursos naturais disponíveis no lugar, e 92% deles

Page 161: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 161

melhoraram o capital humano, através de programas de forma-ção. Em mais da metade dos projetos, as pessoas trabalharamcoletivamente.

APRENDENDO COM OS AGRICULTORES

As propostas da agricultura sustentável reconhecem o valordo conhecimento local e tradicional, bem como a experiência e ainovação dos agricultores. A importância e o valor de se apren-der com os agricultores e das pesquisas agrícolas participativasconduzidas por agricultores estão bem estabelecidos em concei-tos tais como “primeiro o agricultor” [185, 186].

Os estudos de caso e as experiências de inovações agroecológicasbem sucedidas na África, América Latina e Ásia [187] oferecemevidências de que a agricultura de baixos insumos externos, utili-zando práticas agroecológicas, poderia dar uma contribuição im-portante para alimentar o mundo, ao longo dos próximos 30 a 50anos. Por depender principalmente dos recursos e dos conheci-mentos locais, os agricultores podem aumentar substancialmentea produtividade, às vezes duplicando ou triplicando a produção.

Para citar um exemplo, na África, na zona árida de Mali, aspráticas de conservação do solo e da água e de agrofloresta têmaumentado o rendimento dos cereais, em alguns casos, de 300kg para 1.700 kg por hectare, quase o dobro do nível necessáriopara satisfazer as necessidades alimentícias básicas. Também sedeu prioridade à conservação das variedades tradicionais de se-mentes e da biodiversidade, através da avaliação realizada peloagricultor e pelos bancos genéticos comunitários ou locais.

As pesquisas da FAO destacam a importância das contribui-ções realizadas pelos agricultores pobres em todo o mundo [133].A agricultura orgânica não certificada, praticada por milhões depovos indígenas, camponeses e pequenos agricultores familiares,

Page 162: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

162 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

tem dado uma contribuição fundamental à segurança alimentarregional: na América Latina, ela representa mais de 50% da pro-dução de milho, feijão, mandioca e batata; na África, a maioriados cereais, raízes e tubérculos; na Ásia, a maior parte da produçãode arroz.

Estudos de caso na Índia, Brasil, Irã, Tailândia e Uganda de-monstram como o conhecimento tradicional, a inovação e aspropostas agroecológicas têm trazido numerosos benefícios: maiorprodutividade, melhor saúde ambiental e fertilidade do solo,maior biodiversidade, benefícios econômicos, segurança alimen-tar, melhores relações sociais dentro das comunidades e recupe-ração das práticas tradicionais e sustentáveis de agricultura [133].

Agricultores da Etiópia estão adotando medidas para garan-tir sua segurança alimentar, baseando-se em seus próprios co-nhecimentos [188]. Em Ejere, os agricultores voltaram a plantarsuas próprias variedades de trigo local, teff (um cereal nativo dada Etiópia – Eragrotis abyssinica) e cevada, depois que as chama-das “variedades modernas de alto rendimento”, de fato, resulta-ram em menores rendimentos e mais problemas. Na zona deButajira, os agricultores estão demonstrando que é possível cul-tivar de maneira intensiva e sustentável, para obterem uma quan-tidade de alimentos suficiente que satisfaça as necessidades dapopulação. Eles têm conseguido isso, utilizando cultivos locaisselecionados para resistir às enfermidades, suportar as estiagens emuitas outras características desejáveis, intercalando cultivos eintegrando o manejo de gado. Em Worabe, os agricultores man-têm um sistema agrícola complexo, sustentável e indígena, quegarante sua segurança alimentar. O sistema baseia-se no enset(Ensete ventricosum, planta da mesma família da banana e do-mesticada por agricultores da Etiópia), uma planta local de múl-tiplas utilidades e muito resistente às secas.

Page 163: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 163

MELHORES RENDAS, MAIOR SEGURANÇA ALIMENTAR

As evidências apresentadas por centenas de projetos dedesenvolvimento local demonstram que o aumento daprodutividade agrícola, pelas práticas agroecológicas, não apenasaumenta a quantidade de alimentos, mas também aumenta arenda, reduzindo assim a pobreza, melhorando o acesso aosalimentos, reduzindo a desnutrição e melhorando a vida daspopulações pobres [189]. Os sistemas agroecológicos promovemníveis de produção total mais estáveis, por unidade de superfície,do que os sistemas que requerem grande quantidade de insumos;para os pequenos agricultores e suas famílias, os sistemas orgânicosrepresentam taxas de retorno mais favoráveis, melhorremuneração do trabalho e obtenção de outras vantagens quelhes permitem uma vida digna, assim como, também, assegurama proteção e conservação do solo e melhoram a biodiversidadeagrícola [190].

Os sistemas de produção integrada e as propriedades ruraisdiversificadas têm ajudado os agricultores da região Centro-Suldo Chile a conseguirem auto-suficiência alimentar durante todoo ano, enquanto recuperam a capacidade produtiva da terra [135].Foram instalados pequenos sistemas de granjas-modelo, que con-sistem em policultivos e seqüências de rotação de forragem ecultivos alimentícios, bosques e árvores frutíferas, e a incorpora-ção da criação de animais.

A fertilidade do solo melhorou e não apareceram problemasde pragas ou enfermidades. As árvores frutíferas e os cultivos decobertura obtiveram rendimentos maiores do que a média, e aprodução de leite e ovos excedeu amplamente a das propriedadesrurais convencionais de altos insumos. Para uma família médiatípica, esses sistemas produziram, a mais: 250% de proteínas,entre 80% e 550% de vitaminas A e C, respectivamente, e 330%

Page 164: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

164 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

de cálcio. Vendendo toda a produção agrícola, aos preços de ata-cado, uma família poderia gerar um ingresso mensal líquido 1,5vez maior do que o salário mínimo mensal do Chile, dedicandoà lavoura apenas poucas horas por semana. O tempo livre pode-ria ser utilizado em outras atividades geradoras de renda.

A agricultura orgânica pôde melhorar a renda, a lucratividadee o retorno do trabalho: eliminando ou reduzindo a necessidadede aquisição de insumos; com a diversificação (em geral, incor-porando um novo elemento produtivo) e otimização da produ-tividade; mantendo ou melhorando a biodiversidade na proprie-dade e fora dela, permitindo aos agricultores comercializaremcultivos não plantados, insetos e animais; e pelas vendas em ummercado que pague melhor, pela condição de orgânico [191].Um estudo de caso, no Senegal, demonstrou que a produtivida-de pôde ser aumentada várias vezes e houve menores variaçõesentre um ano e outro, com conseqüentes melhoras na segurançaalimentar familiar. Da mesma forma, uma cooperativa mexicanade café, que participa no comércio justo e que adotou práticasorgânicas, permitiu que os pequenos produtores de café superas-sem as desvantagens da degradação do solo e o baixo rendimen-to, obtendo acesso a um mercado de produtos especiais.

GERANDO DINHEIRO PARA A ECONOMIA LOCAL

A circulação de dinheiro de um projeto de cestas de produtosorgânicos de Cusgarne Organics (Inglaterra) demonstrou as van-tagens obtidas pela compra local para a comunidade como umtodo [192]. A análise econômica acompanhou o percurso dosingressos do projeto, monitorando exatamente onde foi gasto odinheiro, quanto desse dinheiro foi destinado a gastos “locais” e,em seguida, o rastreou até a etapa seguinte de gastos.

Calculou-se que para cada libra gasta em Cusgarne Organics

Page 165: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 165

foram geradas 2,59 libras para a economia local. Ao contrário,um estudo, no qual estavam envolvidos os grandes supermerca-dos Asda e Tesco, revelou que, para cada libra gasta em um su-permercado, gerava-se somente 1,40 libra para a economia local.O estudo conclui: “Os dados demonstram que o efeito líquido,para a economia local, dos gastos realizados em CusgarneOrganics quase duplica o efeito da mesma quantia gasta emempresas não locais e nacionais” (pág. 16).

Page 166: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 167: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

MENOS RESÍDUOS QUÍMICOS

Um extenso levantamento de pesquisas científicas, realizadaspela Associação de Solos da Inglaterra, demonstrou que, em mé-dia, os alimentos orgânicos são melhores que os não orgânicos[193]. Em primeiro lugar, são mais seguros, já que a agriculturaorgânica proíbe a aplicação rotineira de agrotóxicos, de modo quemuito raramente são encontrados resíduos químicos. Ao contrá-rio, os alimentos não orgânicos têm probabilidades de estaremcontaminados com resíduos, que costumam ocorrer em combina-ções potencialmente perigosas. A Sociedade de Alergia e MedicinaAmbiental e Nutricional da Grã-Bretanha (British Society forAllergy, Environmental and Nutritional Medicine), comentandosobre o relatório, afirma: “Faz muito tempo que pensamos que asdeficiências de micronutrientes, que comumente observamos emnossos pacientes, têm sua origem no esgotamento mineral dos so-los, como conseqüência da agricultura intensiva, e suspeitamosque as exposições aos agrotóxicos estão contribuindo para o au-mento alarmante de alergias e outras enfermidades”.

24. ORGÂNICOS PELA SAÚDE

Page 168: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

168 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Neurotoxicidade, alteração do sistema endócrino, carcinoge-nicidade e supressão do sistema imunológico (ver também “Peri-gos dos herbicidas”) são alguns dos efeitos negativos dosagrotóxicos sobre a saúde. É menos fácil estabelecer quais são osimpactos da exposição a resíduos de agrotóxicos, através de ali-mentos, nos níveis que ocorrem dentro e sobre eles, mas é neces-sário adotar um critério de cautela. Embora haja níveis de segu-rança recomendados para os agrotóxicos, os estudos do própriogoverno da Inglaterra têm demonstrado que os níveis médios deresíduos nos alimentos podem estar subestimados.

Uma pesquisa também revelou que a exposição aos agrotóxicosafeta a função reprodutiva masculina, provocando a diminuiçãoda capacidade de fertilização do esperma e uma queda nos índi-ces de fertilização [194]. Da mesma forma, os membros de umaassociação de agricultores orgânicos dinamarqueses, cujo consu-mo de produtos lácteos orgânicos era, pelo menos, 50% do con-sumo total de produtos lácteos, tinham maior densidade de es-perma [195]. Em outro estudo, a concentração de esperma foi43,1% mais elevada entre homens que consumiam alimentosproduzidos orgânicamente [196].

As crianças, em especial, poderiam se beneficiar dos alimen-tos orgânicos. Alguns cientistas monitoraram crianças de pré-escola em Seattle, Washington, para avaliar a exposição aagrotóxicos organofosforados (OP), através dos alimentos em suadieta [197]. A concentração total de metabolito de dimetil foi,aproximadamente, seis vezes maior nas crianças com dietas con-vencionais do que naquelas que tinham uma dieta orgânica. Asestimativas das doses calculadas sugerem que o consumo de fru-tas, hortaliças e sucos orgânicos pode reduzir os níveis de exposi-ção das crianças, até situá-los abaixo dos recomendados pelasdiretrizes da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos

Page 169: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 169

(EPA), mudando, assim, a exposição de um patamar de riscoincerto para um patamar de risco mínimo. O estudo concluiuque o consumo de produtos orgânicos poderia ser uma formarelativamente simples para os pais reduzirem a exposição das crian-ças aos agrotóxicos organofosforados.

MAIS SAUDÁVEIS E MAIS NUTRITIVOS

Adicionalmente, a produção de alimentos orgânicos proíbea utilização de aditivos artificiais, tais como gordurashidrogenadas, ácido fosfórico, aspartame e glutamatomonossódico, que têm sido associados a problemas de saúdetão diversos, como enfermidades cardíacas, osteoporose, enxa-quecas e hiperatividade [193].

Além disso, enquanto os vegetais absorvem uma ampla gamade minerais do solo, os fertilizantes artificiais substituem apenasalguns dos principais minerais. Há um nítido decréscimo, emlongo prazo, no conteúdo de traços de minerais de frutas e vege-tais, a exigir pesquisas mais profundas sobre a influência das prá-ticas agrícolas neste sentido. O estudo da Associação de Solos[193] revelou que, em geral, os alimentos orgânicos, em compa-ração com os convencionais, têm maior quantidade de vitaminaC, maiores níveis de minerais e maior quantidade defitonutrientes, componentes dos vegetais que podem combatero câncer (ver mais adiante).

Os produtos convencionais também tendem a ter maior quan-tidade de água do que os produtos orgânicos, que contêm maismatéria seca (em média, 20% a mais) no peso total [193]. Dessemodo, o custo mais elevado de produtos orgânicos frescos emparte está compensado pela diferença na quantidade de nutrien-tes, já que, quem compra produtos convencionais está pagandoum peso extra de água e obtém somente 83% da quantidade de

Page 170: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

170 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

nutrientes que geralmente se encontra nos produtos orgânicos.O maior conteúdo de água também tende a diluir o conteúdoem nutrientes.

Os ensaios com humanos e animais alimentados comprodutos orgânicos demonstram que há uma diferença real paraa saúde e que os tratamentos alternativos para o câncer têmconseguido bons resultados, recomendando o consumo exclusivode alimentos orgânicos. O estudo [193] faz referências a evidênciasclínicas recentes, obtidas por médicos e nutricionistas que, apósadministrarem tratamentos alternativos para o câncer, observaramser essencial uma dieta completamente orgânica para a obtençãode bons resultados. As terapias nutricionais para o câncer evitamas substâncias poluentes e as toxinas, tanto quanto possível,promovendo consumo exclusivo de alimentos cultivadosorganicamente e aumentos no consumo de nutrientes. Testes coma alimentação em animais também têm demonstrado uma maiorsaúde reprodutiva, melhor crescimento e melhor recuperação dasenfermidades.

Um levantamento bibliográfico de 41 estudos e 1.240 com-parações [198] encontrou diferenças estatisticamente significati-vas, entre os cultivos orgânicos e convencionais quanto ao con-teúdo em nutrientes. Isso foi atribuído, em primeiro lugar, àsdiferenças no manejo da fertilidade do solo e seus efeitos na eco-logia do solo e no metabolismo das plantas. Os cultivos orgâni-cos continham uma quantidade significativamente maior dosnutrientes vitamina C, ferro, magnésio e fósforo; e significativa-mente menor de nitratos (um componente tóxico), quando com-parados aos cultivos tradicionais. Houve tendência não signifi-cativa mostrando menor quantidade de proteínas nos cultivosorgânicos. No entanto, esses cultivos eram de melhor qualidadee tinham maior conteúdo em minerais importantes, do ponto

Page 171: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 171

de vista nutricional, com menor quantidade de alguns metaispesados, comparados com os convencionais.

AJUDANDO A COMBATER O CÂNCER

Os produtos fenólicos vegetais (flavonóides) são metabolitossecundários, que protegem as plantas contra a predação por in-setos, a infecção por bactérias e fungos e a fotooxidação. Desco-briu-se que esses produtos químicos vegetais são eficazes na pre-venção do câncer e das enfermidades cardíacas, bem como nocombate a disfunções neurológicas, relacionadas com o envelhe-cimento. Um artigo científico recente [199, 200] comparou oconteúdo fenólico total (TP) de amoras pretas (marionberries),morangos e milho cultivados organicamente e por outros méto-dos sustentáveis, com as mesmas espécies cultivadas com práti-cas agrícolas convencionais. A análise estatística dos resultadosindicou níveis significativamente mais elevados de TP nos ali-mentos cultivados organicamente do que nos produzidos pelaagricultura convencional.

Um estudo anterior comparando os componentes antioxidantesde pêssegos e pêras, orgânicos e convencionais, constatou uma me-lhora no sistema de defesa antioxidante das plantas, ocorrida comoconseqüência das práticas de cultivo orgânico [201]. Isso, provavel-mente, confere proteção contra possíveis danos ao fruto, quando aplanta é cultivada sem agrotóxico. Portanto, a agricultura orgânica,ao eliminar a utilização rotineira de agrotóxicos e fertilizantes quí-micos, poderia criar condições favoráveis para a produção de fenólicosvegetais, que contribuem para melhorar a saúde.

Esses e muitos outros benefícios à saúde, oferecidos pelos ali-mentos orgânicos, têm sido usados para chamar a atenção do go-verno da Inglaterra [201, 203]. Entre os temas colocados estão oscustos ocultos da agricultura convencional, que não são

Page 172: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

172 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

contabilizados no preço. Se os custos ocultos fossem considerados,os alimentos produzidos de maneira convencional demonstrariamser mais caros que os alimentos orgânicos. Por exemplo, o impedi-mento da epidemia de encefalopatia espongiforme bovina (“doençada vaca louca”), pela agricultura orgânica, teria poupado 4,5 bi-lhões de libras (ou aproximadamente 23,5 bilhões de reais). Ne-nhum animal, nascido e criado em uma gleba orgânica, contraiuencefalopatia espongiforme bovina, na Inglaterra.

Page 173: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 173

Os modelos e métodos de agricultura sustentável podem tra-zer, com baixo custo, um aumento substancial na produção dealimentos, além de serem econômica, ambiental e socialmenteviáveis e contribuírem, positivamente, para o sustento local, paraa melhoria da saúde e do meio ambiente.

Na medida em que a desigualdade entre países e povos é averdadeira causa estrutural da fome, qualquer método que im-plique em aumentar a produção de alimentos, aprofundandoesta desigualdade, está destinado ao fracasso em reduzir a fome.Ao contrário, somente as tecnologias que tenham efeitos positi-vos na distribuição de riqueza, ingressos e recursos podem redu-zir verdadeiramente a fome [4]. Felizmente, essas tecnologias jáexistem em propostas sustentáveis para a agricultura.

A agroecologia, a agricultura sustentável e a produção orgâ-nica funcionam não apenas para os agricultores do mundo de-senvolvido, mas especialmente para os agricultores dos países emdesenvolvimento. Como demonstra o estudo da FAO [133],existe uma boa base para construir e intensificar esforços tanto

25. CONCLUSÃO DA PARTE 3

Page 174: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

174 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

para a agricultura orgânica certificada, quanto para a não certifi-cada. As tecnologias e os processos sociais para as melhorias lo-cais estão cada vez mais testados e consolidados, já mostrandobenefícios, em termos de maior produtividade. Os exemplosapresentados aqui são, apenas, uma mostra de inumeráveis expe-riências bem sucedidas de práticas agrícolas sustentáveis em es-cala local. Representam incontáveis demonstrações de talento,criatividade e capacidade científica de diversas comunidades ru-rais [132].

Existe, então, a necessidade urgente de concentrar os esfor-ços, a pesquisa, os recursos e o apoio de políticas públicas para aagroecologia, para a agricultura sustentável e para a agriculturaorgânica, particularmente fortalecendo a produção pelos própriosagricultores, para atendimento às necessidades locais. O desafioé ampliar e multiplicar os casos de sucesso, bem como torná-losacessíveis de forma ampla e eqüitativa. É necessário questionar omodelo da agricultura “moderna” e os cultivos transgênicos, tãofreqüentemente nas mãos de poucas corporações gigantes. É ne-cessário que se eliminem os subsídios e as políticas de incentivopara os sistemas convencionais, que fazem uso de produtos quí-micos e de transgênicos, e que sejam aplicados freios na drena-gem de recursos, para longe das alternativas [4]. Também é ne-cessário estar prevenido diante da possibilidade de que os inte-resses poderosos se apropriem da agricultura orgânica, devendo-se,portanto, apoiar todo tipo de agricultura sustentável, especial-mente a dos pequenos agricultores.

Page 175: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 175

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. “Carta aberta dos cientistas do mundo a todos os governos” pedindo uma moratóriapara a liberação de organismos transgênicos e o apoio à agricultura sustentável orgâ-nica, assinada até o momento por mais de 600 cientistas de 72 países, com abundan-te referência à bibliografia científica, www.i-sis.org.uk

2. Agriculture: Towards 2015/30. FAO Global Perspectives Studies Unit, July 2000.3. Altieri MA and Rosset P. Ten reasons why biotechnology will not ensure food security,

protect the environment and reduce poverty in the developing world. AgBioForum,Volume 2, Number 3 & 4, Summer/Fall 1999, 155-162.

4. Altieri MA and Rosset P. Strengthening the case for why biotechnology will not helpthe developing world: A response to McGloughlin. AgBioForum, Volume 2, Number3 & 4, Summer/Fall 1999, 226-236.

5. ActionAid. GM Crops - Going Against the Grain. 2003. http://www.actionaid.org/resources/pdfs/gatg.pdf

6. http://www.isaaa.org/7. Pimbert M, Wakeford T and Satheesh PV. Citizens’ juries on GMOs and farming

futures in India. LEISA Magazine, December 2001, 27-30. http://www.ileia.org/2/17-4/27-30.PDF

8. Pimbert MP and Wakeford T. Prajateerpu: A Citizens Jury/Scenario Workshop on Foodand Farming Futures for Andhra Pradesh, India. IIED & IDS, 2002, http://www.iied.org/pdf/Prajateerpu.pdf

9. Ho MW and Lim LC. Biotech debacle in four parts. Special briefing for the PrimeMinister’s Strategy Unit on GM. ISIS Report, August 2002, www.i-sis.org.uk

10. Ho MW. The state of the art. The continuing debacle of an industry both financiallyand scientifically bankrupt. GeneWatch (in press), 2003.

11. “Monsanto investors face catastrophic risk,” Greenpeace, Berlin, Press Release, 16April, 2003.

12. Benbrook CM. Evidence of the magnitude and consequences of the Roundup Readysoybean yield drag from university-based varietal trials in 1998. AgBioTech InfoNetTechnical Paper Number 1, 1999; Troubled times amid commercial success: Glyphosateefficacy in slipping and unstable transgenic expression erodes plant defences andyields. AgBioTech InfoNet Technical Paper Number 4, 1999, www.biotech-info-net/RR_yield_less.html

13. Benbrook C. Do GM crops mean less pesticide use? Pesticide Outlook, October 2001.14. Lim LC and Matthews J. GM crops failed on every count. Science in Society 2002,

13/14, 31-33; fully referenced version on ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk15. Seeds of doubt, North American farmers’ experiences of GM crops. Soil Association,

2002, ISBN 0 905200 89 6.16. Shiva V and Jafri AH. Failure of the GMOs in India. Research Foundation for Science,

Technology and Ecology Report, 2003; see also Ho MW. Living with the Fluid Genome.ISIS & TWN, London and Penang, 2003. Chapter 1, Box 1.

Page 176: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

17. Finnegan H and McElroy D. Transgene inactivation: plants fight back! Bio/Technology1994, 12, 883-8.

18. Ho MW. Living with the Fluid Genome. ISIS & TWN, London and Penang, 2003.Chapter 11, Section, “Transgenic instability, the best kept open secret”.

19. Ho MW, Cummins J. and Ryan A. ISIS Reprints on Transgenic Instability 1999-2002,ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk

20. Gahakwa D, Maqbool SB, Fu X, Sudhakar D, Christou P and Kohli A. Transgenicrice as a system to study the stability of transgene expression: multiple heterologoustransgenes show similar behaviour in diverse genetic backgrounds. Theor. Appl. Genet.2000, 101, 388-99.

21. Ho MW. Questionable stability at JIC. ISIS News 9/10, July 2001. ISSN: 1474-1547 (print), ISSN: 1474-1814 (online), www.i-sis.org.uk, reviewing ref. 20.

22. Hall L, Topinka K, Huffman J, Davis L, and Good A. Pollen flow between herbicide-resistant Brassica napus is the cause of multipleresistant B. napus volunteers. WeedScience 2000, 48, 688-94.

23. Orson J. Gene stacking in herbicide tolerant oilseed rape: lessons from the NorthAmerican experience. English Nature Research Reports No. 443. English Nature, Jan.2002, ISSN 0967-876X.

24. Ho MW and Cummins J. What’s wrong with GMOs? Science in Society 2002, 16,11-27; fully referenced version on ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk

25. Cummins J and Ho MW. Atrazine poisoning worse than suspected. Science in Society2003, 17, 22-23; fully referenced version on ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk

26. “Engineered Genes Help Wild Weeds Thrive”, by Cat Lazaroff, Environmental NewsService, Washington, USA, 9 August 2002.

27. Lim LC. Environmental and Health Impacts of Bt crops. ISIS Report, April, 2003;containing 63 references.

28. Quist D and Chapela IH. Transgenic DNA introgressed into traditional maizelandraces in Oaxaca, Mexico. Nature 2001, 414, 541-543.

29. Ho MW and Cummins J. Who’s afraid of horizontal gene transfer? ISIS Report, 4March 2002, www.i-sis.org.uk; also The GM maize war in three episodes. Science inSociety 2002, 15, 12-14.

30. Ho MW. Worst ever contamination of Mexican landraces. ISIS Report, 29 April2002, www.i-sis.org.uk; also The GM maize war in three episodes. Science in Society2002, 15, 12-14.

31. Ho MW. Canadian farmers against corporate serfdom. Science in Society 2002, 16,5-6.

32. Kietke L. Research shows: herbicide tolerance everywhere. Manitoba Co-operator,August 1, 2002; Friesen LF, Nelson AF and Van Acker RC. Evidence of contaminationof pedigreed canola (Brassica napus) seedlots in Western Canada with geneticallyengineered herbicide resistance traits. Agronomy Journal (in press).

33. GM Crops: What you should know, A guide to both the science and implications ofcommercialistion of genetically modified crops, GM Free Cymru, June 2002, www.gm-news.co.uk

Page 177: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

34. Meier P and Wackernagel W. Monitoring the spread of recombinant DNA fromfield plots with transgenic sugar beet plants by PCR and natural transformation ofPseudomonas stutzeri. Transgenic Research 2003, 12, 293-304.

35. Saunders PT. Use and abuse of the precautionary principle. ISIS News 6, September2000, ISSN: 1474-1547 (print), ISSN: 1474-1814 (online), www.i-sis.org.uk

36. Saunders PT and Ho MW. The precautionary principle and scientific evidence. ISISNews 7/8, February 2001, ISSN: 1474-1547 (print), ISSN: 1474-1814 (online),www.i-sis.org.uk; also TWN Biosafety Briefing Paper, December 2002.

37. Saunders PT and Ho MW. The precautionary principle is sciencebased. ISIS Report,April 2003, www.i-sis.org.uk

38. Ho MW. FAQs on genetic engineering. ISIS Tutorials, www.isis. org.uk; also TWNBiosafety Briefing Paper, December 2002.

39. Ho MW and Steinbrecher R. Fatal flaws in food safety assessment: Critique of thejoint FAO/WHO Biotechnology and Food Safety Report. Journal of Nutritional andEnvironmental Interactions 1998, 2, 51-84.

40. Conner AJ. Case study: food safety evaluation of transgenic potato. In Application ofthe Principle of Substantial Equivalence to the Safety Evaluation of Foods or FoodComponents from Plants Derived by Modern Biotechnology, pp. 23-35, WHO/FNU/FOS/95.1. World Health Organization, Geneva, Switzerland.

41. Martineau B. First Fruit. McGraw-Hill, New York, 2001.42. Greenpeace Business, Issue 66, April/May 2002.43. Late lessons from early warnings: The precautionary principle 1896-2000. Edited by:

Poul Harremoës, David Gee, Malcolm MacGarvin, Andy Stirling, Jane Keys, BrianWynne, Sofia Guedes Vaz. Environmental issue report No 22, 2002, OPOCE (Officefor Official Publications of the European Communities).

44. Response by Stanley William Barclay Ewen M.B.Ch.B., Ph.D., F.R.C.Path to HealthCommittee of Scottish Parliament’s Investigation into Health Impact of GM crops,14 November 2002, http://www.gmnews.co.uk/gmnews33.html

45. Fares NH and El-Sayed AK. Fine structural changes in the ileum of mice fed ondendotoxin-treated potatotes and transgenic potatoes. Natural Toxins 1998, 6, 219-33; also “Bt is toxic” by Joe Cummins and Mae-Wan Ho, ISIS News 7/8, February2001, ISSN: 1474-1547 (print), ISSN: 1474-1814 (online), www.i-sis.org.uk

46. Pusztai A. Health impacts of GM crops. Submission of evidence to the Clerk to theHealth and Community Care Committee of The Scottish Parliament, 15 Nov 2002,http://www.gm-news.co.uk/gmnews33.html

47. Pusztai A, et al. Expression of the insecticidal bean alpha-amylase inhibitor transgenehas minimal detrimental effect on the nutritional value of peas fed to rats at 30% ofthe diet. The Journal of Nutrition 1999, 129, 1597-1603.

48. Ewen S and Pusztai A. Effect of diets containing genetically modified potatoesexpressing Galanthus nivalis lectin on rat small intestine. The Lancet 1999, 354, 1353-4; for Pusztai’s full rebuttal to his critics, see also http://plab.ku.dk/tcbh/PusztaiPusztai.htm

49. Pusztai A. Can science give us the tools for recognizing possible health risks of GMfood? Nutrition and Health 2002, 16, 73-84.

Page 178: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

50. Pusztai A. GM food safety: Scientific and institutional issues. Science as Culture 2002,11, 70-92.

51. Pusztai A, Bardocz S and Ewen SWB. Genetically modified foods: Potential humanhealth effects. In Food Safety: Contaminants and Toxins, (J P F D’Mello ed.), ScottishAgricultural College, Edinburgh, CAB International, 2003.

52. Vázquez-Padrón RI, Moreno-Fierros L, Neri-Bazán L, de la Riva G. and López-Revilla R. Intragastric and intraperitoneal administration of Cry1Ac protoxin fromBacillus thuringiensis induce systemic and mucosal antibody responses in mice. LifeSciences 1999, 64, 1897-1912.

53. Hernandez E, Ramisse F, Cruel T, le Vagueresse R and Cavallo JD. Bacillus thuringiensisserotype H34 isolated from human and insecticidal strains serotypes 3a3b and H14can lead to death of immunocompetent mice after pulmonary infection. FEMSImmunology and Medical Microbiology 1999, 24, 43-7.

54. Cummins J. Biopesticide and bioweapons. ISIS Report, 23 October 2001, www.i-sis.org.uk

55. “Poison pharm crops near you”, by Joe Cummins, Science in Society 2002, 15; fullyreferenced version on ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk

56. Menassa P, Nguywn C, Jevnikar A and Brindle J. A self-contained system for thefield production of plant recombinant interleukin-10. Molecular Breeding 2001, 8,177-85.

57. Cummins J. Pharming cytokines in transgenic crops. Science in Society 2003, 18,fully referenced version on ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk

58. Dantzera R. Cytokine-induced sickness behaviour: Mechanisms and implications.Annals of the NY Acad. of Sci. 2001, 933, 222-34.

59. Bocci V. Central nervous system toxicity of interferons and other cytokines. J. Biol.Regul. Homeost. Agents 1998, 2, 107-18.

60. Moulinier A. Recombinant interferon alpha induced chorea and subcortical dementia.Neurology (Correspondence) 2002, 59, 18-21.

61. Caracenti A, Gangeri L, Martini C, Belli F, Brunelli C, Baldini M, Mascheroni L,Lenisa L and Cascinetti N. Neurotoxicity of interferon alpha in melanoma therapy.Cancer 1998, 83, 482-9.

62. Valentine A, Meyers C, Kling MA, Richelson E and Hauser P. Mood and cognitiveside effects of interferon alpha. Semin. Oncol. 1998, 25 (suppl 1) 39-47.

63. Ho MW and Cummins J. SARS and genetic engineering? ISIS Report, April 2003;Science in Society 2003, 18, 10-11; fully referenced version on ISIS members’ website,www.i-sis.org.uk

64. Tubolya T, Yub W, Baileyb A, Degrandisc S, Dub S, Erickson L and Nagya EÂ.Immunogenicity of porcine transmissible gastroenteritis virus spike protein expressedin plants. Vaccine 2000, 18, 2023-8.

65. Ho MW. Bioterrorism and SARS. ISIS Report, April 2003; Science in Society 2003,18; fully referenced version on ISIS members’ website www.i-sis.org.uk

66. Prljic J, Veljkovic N, Doliana T, Colombatti A, Johnson E, Metlas R and Veljkovic V.Identificaion of an active Chi recombinational hot spot within the HIV-1 envelopegene: Consequences for development of AIDS vaccine. Vaccine 1999: 17: 1462-7.

Page 179: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

67. Veljkovic V and Ho MW. AIDS vaccines or dangerous biological agent? AIDScience,http://aidscience.org/Debates/aidscience019d.asp

68. Ho MW. AIDS vaccines trials dangerous. ISIS News 11/12, October 2001, ISSN:1474-1547 (print), ISSN: 1474-1814 (online), www.i-sis.org.uk

69. Manders P and Thomas R. Immunology of DNA vaccines: CpG motifs and antigenpresentation. Inflamm. Res. 2000, 49, 199-205.

70. Gurunathan S, Klinman D and Seder R. DNA Vaccines. Annu. Rev. Immunol. 2000,18, 927-74.

71. Deng G, Nilsson A, Verdrengh M, Collins L and Tarkowski A. Intraarticularly locatedbacteria containging CpG motifs induces arthritis. Nature Medicine 1999, 5, 702-6.

72. Hsu S, Chung S, Robertson D, Ralph L, Chelvarajan R and Bondada S. CpGoligodeoxynucleotides rescue BKS-2 immature B cell lymphoma from anti-Ig-M-mediated growth inhibition by up-regulating of egr-1. International Immunology 1999,6, 871-9.

73. Rui L, Vinuesa CG, Blasioli J and Goodnow CC. Resistance to CpG DNA-inducedautoimmunity through tolerogenic B cell antigen receptor ERK signalling. NatureImmunology 2003, 4, 594-600.

74. Ho MW and Cummins J. Chronicle of an ecological disaster foretold. ISIS Report,March 2003, www.i-sis.org.uk; fully referenced version on ISIS members’ website.

75. Hooper M. Evidence with special emphasis on the use of glufosinate ammonium(phosphinothricin). Chardon LL T25 maize hearing, May 2002; also submitted tothe World Health Organization (containing more than 40 references) and posted onISIS members’ website, www.i-sis.org.uk

76. Cummins J. Glyphosate and glyphosate-tolerant crops. Impacts on health and theenvironment. ISIS Report, June 2002; also submitted to the World HealthOrganization and posted on ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk; updated April2003.

77. Canadian Food Inspection Agency Canada Plant Health and Production Division,Plant Biosafety Office 2001, Decision Document DD95-02: Determination ofEnvironmental Safety of Monsanto Canada Inc.’s Roundup® Herbicide-Tolerant Brassicanapus Canola Line GT73.

78. Schonbrunn E, Eschenburg S, Shuttleworth WA, Schloss JV, Amrhein N, EvansJNS and Kabsch W. Interaction of the herbicide glyphosate with its target enzyme 5-enolpyruvylshikimate 3-phosphate synthase in atomic detail. PNAS 2001, 98, 1376-80.

79. http://www.pan-uk.orgpestnews/actives/glyphosa.htm, containing many otherreferences.

80. “Weed Killer”, The Progressive, July 1987, http://www.naturescountrystore. com/roundup/page3.html

81. Arbuckle T, Lin Z and Mery L An exploratory analysis of the effect of pesticideexposure on the risk of spontaneous abortion in an Ontario farm population. Envir.Health Perspectives 2001, 109, 851-60.

Page 180: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

82. Garry V, Harkins M, Erickson L, Long S, Holland S and Burroughs B. Birth defects,seasons of conception and sex of children born to pesticide applicators living in the redriver valley of Minnesota, USA. Envir. Health Perspectives (Suppl. 3) 2002, 110, 441-9.

83. Dallegrave E, DiGiorgio F, Coelho R, Pereira J, Dalsenter P and Langeloh A. Theteratogenic potential of the herbicide glyphosate-Roundup in Wistar rats. ToxicologyLetters 2003, 142, 45-52.

84. Walsh L, McCormick C, Martin C and Stocco D. Roundup inhibits steroidogenesisby disrupting steroidogenic acute regulatory protein expression. Envir. HealthPerspectives 2000, 108, 769-76.

85. Peluso M, Munnia A, Bolognisi C and Parodi S. P32-Postlabeling detection of DNAadducts in mice treated with the herbicide roundup. Environmental and Mol.Mutagenesis 1998, 31, 55-9.

86. Lioi M, Scarfi M, Santoro A, Barbeiri R, Zeni O, Barardino D and Ursini M.Genotoxicity and oxidative stress induced by pesticide exposure in bovine lymphocytecultures in vitro. Mut. Res. 1998, 403, 13-20.

87. Szarek J, Siwicki A, Andrzewska A, Terech-Majeska E and Banaszkiewicz T. Effect ofthe herbicide roundup on the ultrastructural pattern of hepatocytes in carp. MarineEnvir. Res. 2000, 50, 263-66.

88. Grisolia C. A comparison between mouse and fish micronucleus test usingcyclophosphamide, mitomycin C and various pesticides. Mut. Res. 2002, 400, 474,1-6.

89. Mann R and Bidwell J. The toxicity of glyphosate and several glyphosate formulationsto four species of southwestern Australian frogs. Archives of Environ. Contam. Toxicol.1999, 36, 193-99.

90. Clements C, Rapph S and Petras M. Genotoxicity of select herbicides in Ranacatesbeiana tadpoles using the alkaline single-cell gel DNA electrophoresis (comet)assay. Env. Mol. Mutagenesis 29, 277-88.

91. Morowati M. Histochemiccal and histopathological study of the intestine of theearthworm exposed to a field dose of the herbicide glyphosate. The Environmentalist2000, 20, 105-11.

92. Mark EJ, Lorrilon O, Boulben S, Hureau D, Durrand G and Belle R. Pesticideroundup provokes cell cycle dysfunction at the level of CDK1/Cyclin B activation.Chem. Res. Toxicol. 2002, 15, 326-31.

93. Ho MW. Living with the Fluid Genome. ISIS & TWN, London and Penang, 2003,Chapters 8-10.

94. Ho MW, Traavik T, Olsvik R, Tappeser B, Howard V, von Weizsacker C and McGavinG. Gene Technology and Gene Ecology of Infectious Diseases. Microbial Ecology inHealth and Disease 1998, 10, 33-59.

95. Ho MW, Ryan A, Cummins J and Traavik T. Slipping through the regulatory net.‘Naked’ and ‘free’ nucleic acids. TWN Biotechnology & Biosafety Series 5, Third WorldNetwork, Penang 2001.

96. Stemmer WPC. Molecular breeding of gene, pathways and genomes by DNAshuffling. Journal of Molecular Catalysis B: Enzymatic 2002, 19-20, 2-12.

Page 181: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

97. Ho MW. Death by DNA shuffling. ISIS Report, April 2003; also Science in Society2003, 18, 9, www.i-sis.org.uk

98. Ho MW, Ryan A and Cummins J. Cauliflower mosaic viral promoter - A recipe forDisaster? Microbial Ecology in Health and Disease 1999, 11, 194-7.

99. Hodgson J. Scientists avert new GMO crisis. Nature Biotechnology 2000, 18, 13.100. Cummins J, Ho MW and Ryan A. Hazardous CaMV promoter? Nature

Biotechnology 2000, 18, 363.101. Hull R, Covey SN and Dale P. Genetically modified plants and the 35S promoter:

Assessing the risks and enhancing the debate. Microbial Ecology in Health and Disease2000, 12, 1-5.

102. Ho MW, Ryan A and Cummins J. Hazards of transgenic plants with the cauliflowermosaic viral promoter. Microbial Ecology in Health and Disease 2000, 12, 6-11.

103. Courtail B, Fenebach F, Ebehard S, Rhomer L, Chiapello H, Carilleri C and LucasH. Tnt 1 transposition events are induced by in vitro transformation of Arabidopsisthaliana, and transposed copies integrated into genes. Mol. Gen. Genomics 2001,265, 32-42.

104. Ho MW, Ryan A and Cummins J. CaMV35S promoter fragmentation hotspotconfirmed and it is active in animals. .Microbial Ecology in Health and Disease 2000,12, 189.

105. The Advisory Committee on Releases to the Environment’s (ACRE’s) response toconcerns raised in written representation and submissions associated with theCHARDON LL public hearing and to statements made at ACRE’s open hearingrelating to the safety assessment of T25 GM maize conducted under Directive 90/220/EEC, www.defra.gov.uk/environment/acre

106. Metz M and Futterer J. Suspect evidence of transgenic contamination. Nature,Advance Online Publication, 4 April 2002, www.nature.com; see also Ho MW.Astonishing denial of transgenic pollution. Science in Society 2002, 15, 13-14; fullyreferenced version on ISIS members’ website, www.i-sis.org.uk

107. Bergelson J, Purrington CB and Wichmann G. Promiscuity in transgenic plants.Nature 1998, 395, 25.

108. De Vries J, and Wackernagel W. Detection of nptII (kanamycin resistance) genes ingenomes of transgenic plants by marker-rescue transformation. Mol. Gen. Genet.1998, 257, 606-13.

109. Schluter K, Futterer J and Potrykus I. Horizontal gene-transfer from a transgenicpotato line to a bacterial pathogen (Erwinia chrysanthem) occurs, if at all, at anextremely low-frequency. BioTechnology 1995, 13, 1094-8.

110. Gebhard F and Smalla K. Monitoring field releases of genetically modified sugarbeets for persistence of transgenic plant DNA and horizontal gene transfer. FEMSMicrobiol. Ecol. 1999, 28, 261-72.

111. Mercer DK, Scott KP, Bruce-Johnson WA, Glover LA. and Flint HJ. Fate of freeDNA and transformation of the oral bacterium Streptococcus gordonii DL1 by plasmidDNA in human saliva. Applied and Environmental Microbiology 1999, 65, 6-10.

112. Duggan PS, Chambers PA, Heritage J and Forbes JM. Survival of free DNA encoding

Page 182: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

antibiotic resistance from transgenic maize and the transformation activity of DNAin ovine saliva, ovine rumen fluid and silage effluent. FEMS Microbiology Letters2000, 191, 71-7.

113. Schubbert R, Rentz D, Schmitz B and Döerfler W. Foreign (M13) DNA ingested bymice reaches peripheral leukocytes, spleen and liver via the intestinal wall mucosa andcan be covalently linked to mouse DNA. Proc. Nat. Acad. Sci. USA 1997, 94, 961-6.

114. Döerfler W, and Schubbert R. Uptake of foreign DNA from the environment: thegastrointestinal tract and the placenta as portals of entry. Wien Klin. Wochenschr.1998, 110, 40-4.

115. Traavik T. Too Early May Be Too Late: Ecological Risks Associated with the Use ofNaked DNA as a Biological Tool for Research, Production and Therapy. Report for theDirectorate for Nature Research, Trondheim, 1998.

116. “Predicted hazards of gene therapy a reality” by Mae-Wan Ho. ISIS Report, October2002, www.i-sis.org.uk commenting on Science, News of the Week, 4 October 2002;also Ho MW. Gene therapy’s first victim. Science in Society 2003, 17, 26-7.

117. Hohlweg U and Döerfler W. On the fate of plant or other foreign genes upon theuptake in food or after intramuscular injection in mice. Mol. Genet. Genomics 2001,265, 225-33.

118. Willerslev E, Hansen AJ, Binladen J, Brand TB, Gilbert MTP, Shapiro B, BunceM, Winf C, Gilichinsky DA and Cooper A. Diverse plant and animal genetic recordsfrom Holocene and Pleistocene Sediments. Sciencexpress Report, 17 April 2003.

119. “Fears raised over DNA survival in soil”. The Dominion Post (Wellington), April25, 2003, via GM Watch, http://www.ngin.org.uk

120. Netherwood T, Martin-Orue SM, O’Donnell AG, Gockling S, Gilbert HJ andMathers JC. Transgenes in genetically modified Soya survive passage through the smallbowel but are completely degraded in the colon. Technical report on the Food StandardsAgency project G010008 “Evaluating the risks associated with using GMOs inhuman foods”, University of Newcastle.

121. Ho MW. Stacking the odds against finding it. Science in Society 2002, 16, 28; fullyreferenced paper on ISIS members’ website, www.isis. org.uk

122. Ferguson G and Heinemann J. Recent history of trans-kingdom conjugation. InHorizontal Gene Transfer 2nd ed., Syvanen M and Kado CI. (eds.), Academic Press,San Diego, 2002.

123. Ho MW. Averting sense for nonsense in horizontal gene transfer. Science in Society2002, 16, 29-30.

124. Mc Nicol MJ, Lyon GD, Chen MY, Barrett C and Cobb E. Scottish Crop ResearchInstitute. Contract No RG 0202. The Possibility of Agrobacterium as a Vehicle forGene Escape. MAFF. R&D and Surveillance Report: 395.

125. Cobb E, MacNicol R and Lyon G. A risk assessment study of plant genetictransformation using Agrobacterium and implication for analysis of transgenic plants.Plant Cell Tissue and Organ Culture 1997, 19, 135-144.

126. Kado C. In Horizontal Gene Transfer 2nd ed., Syvanen M and Kado CI. (eds.),Academic Press, San Diego, 2002.

Page 183: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

127. Sengelov G, Kristensen KJ, Sorensen AH, Kroer N and Sorensen SJ. Effect ofgenomic location on horizontal transfer of a recombinant gene cassette betweenPseudomonas strains in the rhizosphere and spermosphere of barley seedlings. CurrentMicrobiology 2001, 42, 160-7.

128. Kunik T, Tzfira T, Kapulnik Y, Gafni Y, Dingwall C and Citovsky V. Genetictransformation of HeLa cells by Agrobacterium. PNAS USA, 2001, 98, 1871-87;also “Common plant vector injects genes into human cells”, ISIS News 2002, 11/12, 10, www.i-sis.org.uk

129. Ho MW. Recent evidence confirms risks of horizontal gene transfer. ISIS’ writtencontribution to ACNFP/Food Standards Agency open meeting 13 November 2002,Cambridge, www.i-sis.org.uk

130. Pretty J and Hine R. Reducing food poverty with sustainable agriculture: A summary of newevidence. Centre for Environment and Society, Essex University, 2001, www2.essex.ac.uk/ces/Research Programmes/CESOccasionalPapers/SAFErepSUBHEADS.htm

131. Parrott N and Marsden T. The real Green Revolution: Organic and agroecologicalfarming in the South. Greenpeace Environment Trust, London, 2002, http://www.greenpeace.org.uk/MultimediaFiles/Live/FullReport/4526.pdf

132. Altieri MA. The case against agricultural biotechnology: Why are transgenic cropsincompatible with sustainable agriculture in the Third World? 2003.

133. Organic agriculture, environment and food security. Scialabba NE-H and Hattam C(eds), FAO, Rome, 2002.

134. Lim LC. Organic agriculture fights back. Science in Society 2002, 16, 30-32.135. Altieri MA, Rosset P and Thrupp LA. The potential of agroecology to combat

hunger in the developing world, 1998, http://www.agroeco. org/fatalharvest/articles/potential_of_agroeco_ch19.pdf

136. Rosset PM. The multiple functions and benefits of small farm agriculture in thecontext of global trade negotiations. Policy Brief No. 4, Institute for Food andDevelopment Policy, 1999, http://www.foodfirst. org/pubs/policybs/pb4.html

137. ‘Magic bean’ transforms life for poor Jacks of Central America, by Julian Pettifer,Independent on Sunday, 10 June 2001.

138. Kwabiah AB, Stoskopf NC, Palm CA, Voroney RP, Rao MR and Gacheru E.Phosphorus availability and maize response to organic and inorganic fertilizer inputsin a short term study in western Kenya. Agriculture, Ecosystems and Environment2003, 95, 49-59.

139. “Get the facts straight: organic agriculture yields are good”, by Bill Liebhardt, OrganicFarming Research Foundation Information Bulletin 10, Summer 2001, http://www.ofrf.org/publications/news/IB10.pdf

140. Vasilikiotis C. Can Organic Farming “Feed the World”? 2000, http://www.agroeco.org/fatalharvest/articles/organic_feed_world.pdf

141. Petersen C, Drinkwater LE and Wagoner P. The Rodale Institute Farming SystemsTrial: The First 15 Years, The Rodale Institute, 1999

Page 184: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

142. Clark MS, Horwath WR, Shennan C, Scow KM, Lantni WT and Ferris H. Nitrogen,weeds and water as yield-limiting factors in conventional, low-input, and organictomato systems. Agriculture, Ecosystems and Environment 1999, 73, 257-270.

143. Clark MS, et al. Crop-yield and economic comparisons of organic, low-input, andconventional farming systems in California’s Sacramento Valley. American Journalof Alternative Agriculture 1999, 14 (3), 109-121; and Clark MS et al. Changes insoil chemical properties resulting from organic and low-input farming practices.Agronomy Journal 1998, 90, 662-671. Cited in 140.

144. Warman PR and Havard KA. Yield, vitamin and mineral contents of organicallyand conventionally grown potatoes and sweet corn. Agriculture, Ecosystems andEnvironment 1998, 68, 207-216.

145. Pearce F. Desert harvest. New Scientist, 27 October 2001, 44-47.146. Lim LC. Sustainable agriculture pushing back desert. Science in Society 2002, 15, 29.147. Jenkinson DS et al. In Long-term experiments in Agricultural and Ecological Sciences

(eds Leigh RA & Johnston AE), p.117-138, CAB International, Wallingford, UK,1994. Cited in 140.

148. Drinkwater LE et al. Fundamental differences between conventional and organictomato agroecosystems in California. Ecological Applications 1995, 5 (4), 1098-1112. Cited in 140.

149. Mäder P, Fliebbach A, Dubois D, Gunst L, Fried P and Niggli U. Soil fertility andbiodiversity in organic farming. Science 2002, 296, 1694-97.

150. Pearce F. 20-year study backs organic farming. New Scientist, 30 May 2002, http://www.newscientist.com/news/news.jsp?id=ns99992351

151. “Soil fungi critical to organic success”, USDA Agricultural Research Service, 4 May2001.

152. Bulluck III LR, Brosius M, Evanylo GK and Ristaino JB. Organic and syntheticfertility amendments influence soil microbial, physical and chemical properties onorganic and conventional farms. Applied Soil Ecology 2002, 19, 147-160.

153. Ryan A. Organics enter the science wars. ISIS News 11/12, October 2001.154. Drinkwater LE, Wagoner P and Sarrantonio M. Legume-based cropping systems

have reduced carbon and nitrogen losses. Nature 1998, 396, 262-265.155. Tilman D. The greening of the green revolution. Nature 1998, 296, 211-212.156. “100-year drought is no match for organic soybeans”, Rodale Institute, 1999, http:/

/www.rodaleinstitute.org/global/arch_home.html157. Poudel DD, Horwath WR, Lanini WT, Temple SR and van Bruggen AHC.

Comparison of soil N availability and leaching potential, crop yields and weeds inorganic, low-input and conventional farming systems in northern California.Agriculture, Ecosystems and Environment 2002, 90, 125-137.

158. Oehl F, Oberson A, Tagmann HU, Besson JM, Dubois D, Mäder P, Roth H-R andFrossard E. Phosphorus budget and phosphorus availability in soils under organicand conventional farming. Nutrient Cycling in Agroecosystems 2002, 62, 25-35.

159. Letourneau DK and Goldstein B. Pest damage and arthropod community structurein organic vs. conventional tomato production in California. J. Applied Ecology 2001,38(3), 557-570.

Page 185: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

160. Pearce F. An ordinary miracle. New Scientist 2001, Vol. 169, Issue 2276, p. 16.161. Barzman M and Das L. Ecologising rice-based systems in Bangladesh. ILEIA

Newsletter 2000, 16(4), 16-17, http://www.agroeco. org/fatalharvest/articles/ecologising_rice.pdf

162. “Organic rice is twice as nice”, by John Bonner, Report from the InternationalCongress of Ecology, 15 August 2002.

163. Ho MW. One bird - ten thousand treasures. The Ecologist 1999, 29(6), 339-340,and Third World Resurgence 1999, 110/111, 2-4.

164. Pimbert M. Sustaining the multiple functions of agricultural biodiversity. FAObackground paper series for the Conference on the Multifunctional Character ofAgriculture and Land, The Netherlands, September 1999.

165. Biodiversity and the ecosystem approach in agriculture, forestry and fisheries. Proceedingsof a satellite event on the occasion of the Ninth Regular Session of the Commissionon Genetic Resources for Food and Agriculture, Rome 12-13 October 2002, FAO,Rome.

166. Scialabba NE-H, Grandi C and Henatsch C. Organic agriculture and geneticresources for food and agriculture. In Biodiversity and the ecosystem approach inagriculture, forestry and fisheries, p. 72-99, 2002, FAO, Rome.

167. Organic agriculture and biodiversity: Making the links. IFOAM, IUCN and BfN,Germany, 2002; see also Stolton S. Organic Agriculture and Biodiversity, IFOAMDossier 2, 2002.

168. Azeez G. The biodiversity benefits of organic farming, Soil Association, Bristol, 2000.169. Burcher S. Herbalert to the rescue. Science in Society 2003, 18, 17.170. Tilman D, Reich PB, Knops J, Wedin D, Mielke T and Lehman C. Diversity and

productivity in a long-term grassland experiment. Science 2001, 294, 843-5.171. Ho MW. Biodiverse systems two to three times more productive than monocultures.

Science in Society 2002, 13/14, 36.172. Zhu Y, Chen H, Fan J, Wang Y, Li Y, Chen J, Fan JX, Yang S, Hu S, Leung H, Mew

TW, Teng PS, Wang Z and Mundt C. Genetic diversity and disease control in rice.Nature 2000, 406, 718-722.

173. “Simple Method Found to Vastly Increase Crop Yields”, by Carol Kaesuk Yoon,New York Times, 22 August 2000.

174. Bennack D, Brown G, Bunning S and de Cunha MH. Soil biodiversity managementfor sustainable and productive agriculture: Lessons from case studies. In Biodiversityand the ecosystem approach in agriculture, forestry and fisheries, p.196-223, 2002,FAO.

175. Reganold JP, Glover JD, Andrews PK and Hinman JR. Sustainability of three appleproduction systems. Nature 2001, 410, 926-930.

176. “Organic apples win productivity and taste trials”, 10 August 2001, Pesticide ActionNetwork Updates Service, http://www.panna.org

177. Pacini C, Wossink A, Giesen G, Vazzana C and Huirne R. Evaluation of sustainabilityof organic, integrated and conventional farming systems: a farm and field-scaleanalysis. Agriculture, Ecosystems and Environment 2003, 95, 273-288.

Page 186: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

178. Stolze M, Piorr A, Häring A and Dabbert S. Environmental and resource use impactsof organic farming in Europe, Commission of the European Communities, Agricultureand Fisheries (FAIR) specific RTD programme, Fair3-CT96-1794, “Effects of theCAP-reform and possible further development on organic farming in the EU”,1999.

179. Goldsmith E. How to feed people under a regime of climate change (unpublishedpaper), 2003.

180. Lötjönen T. Machine work and energy consumption in organic farming. Ecologyand Farming 2003, 32, 7-8, IFOAM.

181. Dalgaard T. On-farm fossil energy use. Ecology and Farming 2003, 32, 9, IFOAM.182. Porter PM, Huggins DR, Perillo CA, Quiring SR and Crookston RK. Organic and

other management strategies with two- and four-year crop rotations in Minnesota.Agronomy Journal 2003, 95(2), 233-244.

183. Welsh R. The Economics of Organic Grain and Soybean Production in the MidwesternUnited States. Henry A. Wallace Institute for Alternative Agriculture, 1999, http://www.agroeco.org/fatalharvest/articles/economics_organic_prod.pdf

184. Rosset P. Taking seriously the claim that genetic engineering could end hunger: Acritical analysis. Pp 81-93 in Britt Bailey and Marc Lappé (eds), Engineering theFarm: Ethical and Social Aspects of Agricultural Biotechnology. Island Press, Washing-ton DC, 2002.

185. Chambers R, Pacey A and Thrupp LA. Farmer First: Farmer Innovation andAgriculture Research, Intermediate Technology Publications, London, 1989.

186. Scoones I and Thompson J. Beyond Farmer First: Rural People’s Knowledge, AgriculturalResearch and Extension Practice, Intermediate Technology Publications, London,1994.

187. Agroecological Innovations: Increasing Food Production with Participatory Development.Edited by Norman Uphoff, Earthscan Publications, 2002.

188. Lim LC. Ethiopia’s own agriculture. Science in Society 2003, 17, 7-8.189. Uphoff N and Altieri MA. Alternatives to conventional modern agriculture for meeting

world food needs in the next century. (Report of a Conference “Sustainable Agriculture:Evaluation of New Paradigms and Old Practices”, Bellagio, Italy). CornellInternational Institute for Food, Agriculture, and Development, Ithaca, NY, 1999.Cited in ref. 4.

190. Pretty J. Regenerating agriculture. Earthscan, London, 1995. Cited in ref. 4.191. Rundgren G. Organic Agriculture and Food Security, IFOAM Dossier 1, 2002.192. Boyde T. Cusgarne Organics local money flows. New Economics Foundation and

The Countryside Agency, London, 2001.193. Heaton S. Organic farming, food quality and human health: A review of the evidence.

Soil Association, Bristol, 2001.194. Tielemans E, van Kooij E, te Velde ER, Burdorf A and Heederik D. Pesticide exposure

and decreased fertilisation rates in vitro. The Lancet 1999, 354, 484-485.195. Abell A, Ersnt E and Bonde JP. High sperm density among members of organic

farmers’ association. The Lancet 1994, 343, 1498.

Page 187: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

196. Jensen TK, Giwercman A, Carlsen E, Scheike T and Skakkebaek NE. Semen qualityamong members of organic food associations in Zealand, Denmark. The Lancet1996, 347, 1844.

197. Curl CL, Fenske RA and Elgethun K. Organophosphorus pesticide exposure ofurban and suburban preschool children with organic and conventional diets.Environmental Health Perspectives 2003, 111(3), 377-382.

198. Worthington V. Nutritional quality of organic versus conventional fruits, vegetables,and grains. The Journal of Alternative and Complementary Medicine 2001, 7(2), 161-173.

199. Asami DK, Hong YJ, Barrett DM and Mitchell AE. Comparison of the total phenolicand ascorbic acid content of freeze-dried and airdried marionberry, strawberry, andcorn grown using conventional, organic, and sustainable agricultural practices. J.Agric. Food Chem. 2003, 51(5), 1237-1241, 10.1021/jf020635c S0021-8561.

200. Cummins J. Organic agriculture helps fight cancer. ISIS Report, 27 March 2003,www.isis.org.uk

201. Carbonaro M, Mattera M, Nicoli S, Bergamo P and Cappelloni M. Modulation ofantioxidant compounds in organic vs conventional fruit (Peach, Prunus persica L.,and Pear, Pyrus communis L.). J. Agric. Food Chem. 2002, 50, 5458-5462.

202. Novotny E. Report IV - The Wheel of Health (in the Chardon LL T25 maizehearing listings) 2002, http://www.sgr.org.uk/GMOs.html

203. Novotny E. Letter to MSPs on the Organic Farming Targets Bill, 2003, http://www.sgr.org.uk/GMOs.html

204. Makarevith I, Svitashev SD y Somers DA. Complete sequence analysis of transgeneloci from plants transformed via microprojectile bombardment. Plant MolecularBiology, 2003, 52, 421-32.

Page 188: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos
Page 189: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

O Grupo de Ciência Independente (ISP) está constituído porum grupo de cientistas de diversas disciplinas, comprometidos com:

1. Promover a ciência para o bem público, mantendo-se in-dependente de interesses comerciais ou outros interesses especiais,ou de controle governamental.

Cremos firmemente que a ciência deve prestar contas à socie-dade civil; que todos e todas – independentemente de seu sexo,idade, grupo étnico, religião ou social – e todos os setores dasociedade civil deveriam participar na adoção de decisões acercade todos os temas relacionados com a ciência, desde a pesquisacientífica até políticas relativas à ciência e às tecnologias.

Cremos que a opinião pública deve poder ter acesso, em tempoe em forma, a uma informação científica precisa, sem ser media-da pela tergiversação nem pela cesura.

2. Conservar a máxima integridade e imparcialidade na ciência.Subscrevemos os princípios da honestidade, abertura e plura-

lismo na prática da ciência. Deveria haver uma revisão inter pares

APÊNDICE

DECLARAÇÃO DO GRUPO DE CIÊNCIAINDEPENDENTE

PRONUNCIADA EM 10 DE MAIO DE 2003, EM LONDRES.

Page 190: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

aberta dos trabalhos publicados, e respeito e proteção para aque-les cujas pesquisas questionem o paradigma convencional ou daopinião majoritária. É necessário que as discrepâncias científicassejam discutidas de maneira aberta e democrática.

Comprometemo-nos a apoiar as normas mais exigentes dapesquisa científica e a assegurar que os fundos para pesquisa nãosejam desviados ou distorcidos por imperativos comerciais oupolíticos.

3. Avançar naquelas ciências que tendam a um mundo sus-tentável, eqüitativo e pacífico, e que melhore a vida de todos osseus habitantes.

Respeitamos o sentido sagrado da vida humana, buscamosreduzir ao mínimo os danos à qualquer criatura viva e protege-mos o ambiente. Afirmamos que a ciência deve contribuir para obem-estar físico, social e espiritual de todos e todas, em todas associedades.

Comprometemo-nos a ter uma perspectiva ecológica que levedevidamente em conta a complexidade, a diversidade e ainterdependência de toda a natureza.

Subscrevemos o princípio de precaução: quando há uma sus-peita razoável de prejuízo grave ou irreversível, não se deve utilizarda falta de consenso científico para postergar ações preventivas.

Rejeitamos os produtos científicos que servem a fins milita-res agressivos, promovam o imperialismo comercial ou lesem ajustiça social.

Page 191: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

O Grupo de Transgênicos do ISP está integrado por cientis-tas que trabalham em genética, ciências biológicas, toxicologia emedicina, e por representantes da sociedade civil preocupadoscom as conseqüências nocivas das modificações genéticas de plan-tas e animais e com as tecnologias vinculadas, e sua rápidacomercialização na agricultura e na medicina sem o devido pro-cesso de uma adequada avaliação científica e de consulta e con-sentimentos públicos.

Consideramos que os seguintes aspectos são especialmentelamentáveis e inaceitáveis:

· Falta de informação pública crítica sobre a ciência e atecnologia da modificação genética.

· Falta de responsabilidade ante o público por parte da co-munidade científica dedicada à engenharia genética.

· Falta de investigação científica independente e desinteres-sada dos riscos e da avaliação dos transgênicos.

· Atitudes parciais de organismos regulamentadores e vin-culados com a informação pública, que parecem mais in-

O GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP

Page 192: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

teressados em difundir propaganda das empresas do queoferecer informação vital.

· Conflitos de interesses comerciais e políticos que permeiamtanto a investigação quanto a regulamentação dostransgênicos.

· A exclusão e a difamação dos cientistas que tentam trans-mitir ao público informação resultante de pesquisas, quesão consideradas lesivas para a indústria.

· A negação e a omissão permanente de abundantes provascientíficas sobre os riscos dos transgênicos para a saúde e omeio ambiente por parte de quem propõe a modificaçãogenética e de organismos assessores e de regulamentação,supostamente desinteressados.

· As constantes afirmações das empresas de biotecnologiaacerca dos benefícios oferecidos pelos transgênicos, e a rei-teração dessas afirmações por parte do establishment cien-tífico, frente à abundância de provas de que os transgênicostêm fracassado, tanto no campo quanto no laboratório.

· A renúncia em reconhecer que as empresas já têm diminuí-do o financiamento de pesquisas econômicas no campodos transgênicos, e que as multinacionais da biotecnologia(e seus acionistas), bem como os consultores em matériade investimento, questionam a conveniência do “negóciodos transgênicos”.

· Ataques e descarte sumário das profusas provas existentesque destacam os benefícios de diversas abordagens agríco-las sustentáveis para a saúde e para o meio ambiente, bemcomo para a segurança alimentar e o bem-estar social dosagricultores e de suas comunidades locais.

Page 193: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Professor Miguel Altieri – Professor de Agroecologia da Univer-sidade de Califórnia, Berkeley, EUA.

Dr. Michael Antoniou – Professor titular da Cátedra de Genéti-ca Molecular, Escola de Medicina GKT, King’s College, Lon-dres.

Dra. Susan Bardocz – Bioquímica, ex-integrante do Instituto dePesquisa Rowett, Escócia.

Professor David Bellamy OBE – Botânico de renome internacio-nal, ambientalista, comunicador, autor e ativista; recebeu nume-rosos prêmios; presidente e vice-presidente de várias organiza-ções ecologistas e ambientalistas.

Dra. Elizabeth Bravo V. – Bióloga, pesquisadora e ativista em te-mas de biodiversidade e transgênicos; co-fundadora da Ação Eco-lógica; professora da Universidade Politécnica Salesiana, Equador.

Professor Joe Cummins – Professor emérito de Genética, Uni-versidade de Western Ontário, Canadá.

GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP – LISTA DEMEMBROS

Page 194: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

194 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Dr. Stanley Ewen – Histopatologista consultor no GrampianUniversity Hospitals Trust; ex-professor agregado de Patologia, Uni-versidade de Aberdeen; Histopatologista-chefe da seção Grampiando Colorectal Cancer Screening Pilot Project da Escócia.

Edward Goldsmith – Recebeu, entre outras distinções, o prê-mio “Right Livelihood”; ambientalista, acadêmico, autor e edi-tor fundador de The Ecologist.

Dr. Brian Goodwin – Acadêmico residente, Schumacher College,Inglaterra.

Dra. Mae-Wan Ho – Co-fundadora e diretora do Instituto Ciên-cia em Sociedade, editora da revista Science in Society; assessoracientífica da Rede do Terceiro Mundo e integrante da Lista deEspecialistas do Protocolo de Cartagena sobre Segurança daBiotecnologia.

Professor Malcolm Hooper – Professor emérito da Universida-de de Sunderland; ex-professor de Química Médica, Faculdadede Ciências Farmacêuticas, Politécnico de Sunderland; Assessorcientífico principal dos Veteranos da Guerra do Golfo.

Dr. Vyvyan Howard – Histopatologista com qualificação médi-ca, Grupo de Toxicopatologia para o Desenvolvimento, Depar-tamento de Anatomia Humana e Biologia celular, Universidadede Liverpool, membro do comitê assessor sobre pesticidas dogoverno do Reino Unido.

Dr. Brian John – Geomorfologista e cientista ambientalista; fun-dador e presidente durante vários anos do Eco Centre de GalesOcidental; um dos grupos coordenadores do GM Free Cymru.

Professor Marijan Jost – Professor de Fitogenética e Produçãode Sementes, Faculdade de Agronomia de Krizevci, Croácia.

Page 195: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 195

Lim Li Ching – Pesquisadora, Instituto Ciência em Sociedade eRede do Terceiro Mundo; editora adjunta da revista Science inSociety.

Dra. Eva Novotny – Astrônoma e ativista em temas sobretransgênicos para Cientistas pela Responsabilidade Mundial(SGR, em inglês).

Professor Bob Orskov OBE – Ex-integrante do Instituto de Pes-quisa Rowett, Aberdeen, Escócia; Diretor da Unidade Internacio-nal de Recursos Alimentícios; membro da Sociedade Real deEdimburgo (FRSE, em inglês); membro da Academia Polaca deCiências.

Dr. Michel Pimbert – Ecologista agrário e sócio principal doInstituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvi-mento.

Dr. Arpad Pusztai – Assessor particular; ex-membro pesquisa-dor principal do Instituto de Pesquisa Rowett, Bucksburn,Aberdeen, Escócia.

David Quist – Ecologista microbiano; divisão de CiênciasEcossistêmicas, Ciências Ambientais, políticas e gestão, Univer-sidade da Califórnia, Berkeley, EUA.

Dr. Peter Rosset – Ecologista agrário e especialista em desenvol-vimento rural; co-diretor do Instituto de Políticas de Alimenta-ção e Desenvolvimento (Food First), Oakland, Califórnia, EUA.

Professor Peter Saunders – Professor de Matemáticas Aplicadasdo King’s College, Londres.

Dr. Veljko Veljkovic – Virólogo de AIDS, Centro de Engenhariae Pesquisas Multidisciplinares, Instituto de Ciências Nucleares,VINCA, Belgrado, Iugoslávia.

Page 196: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Professor Oscar B. Zamora – Professor de Agronomia, Departa-mento de Agronomia, Universidade das Filipinas, Faculdade deAgronomia Los Baños (UPLB-CA), Faculdade, Laguna, Filipinas.

Page 197: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

GLOSSÁRIO

ÁCIDOS GRAXOS

São compostos orgânicos, pertencentes ao grupo dos lipídeos,com funções, por exemplo, na estruturação das membranas ce-lulares, na constituição de derivados com ação hormonal, ou,ainda, como substrato para liberação de energia para o trabalhocelular. O ácido láurico é um exemplo de ácido graxo saturado,com aplicações nas indústrias alimentícias e não alimentícias. Éencontrado, em grandes quantidades, no óleo do côco e da amên-doa do dendê. O gene que ativa a biossíntese desse ácido graxofoi utilizado na construção da canola transgênica com alto teorde ácido láurico. As sementes do loureiro da Califórnia(Umbellularia californica) chega a ter 58% de ácido láurico.

Agrobacterium tumefasciensBactéria, em forma de bacilo, Gram-negativa, encontrada no

solo, com linhagens contendo, além do DNA cromossômico,um plasmídeo portador de genes que promovem condições paraestabelecimento de colônias em plantas. Esses genes constituem

Page 198: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

198 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

o denominado DNA-T, que possui seqüências capazes de pro-moverem sua incorporação ao genoma da célula vegetal e provo-car, na planta, profundas alterações metabólicas, inclusive a sín-tese de aminoácidos específicos ao metabolismo da bactéria e aformação de um tumor (galha) com aspecto de coroa (galha dacoroa). Uma das técnicas da engenharia genética de plantastransgênicas consiste na utilização desse mecanismo de transfor-mação, que os cientistas “aprenderam” com a agrobactéria.

ALELOS

Seqüências de DNA alternativas para o mesmo gene, queocupam um mesmo lócus (locus) no mapa genético. Um orga-nismo homozigoto para um determinado gene tem o mesmoalelo no locus correspondente e um organismo heterozigoto temalelos diferentes para esse gene. Nos organismos diplóides (2n),isto é, que possuem duas coleções de genes, provenientes, cadauma, de um dos progenitores, podem existir muitos alelos dogene distribuídos entre os diferentes membros da população (vercromossomos).

ANTICORPO

Proteína (imunoglobulina) sintetizada, por células animais(linfócitos B), em resposta a uma substância estranha ao organis-mo (antígeno). Cada anticorpo tem afinidade específica peloantígeno que estimulou sua síntese: proteínas, poliosídeos(glicídeos), ácidos nucléicos e outros. As imunoglobulinas G (IgG)são os anticorpos mais abundantes no soro. As imunoglobulinasE (IgE) conferem proteção a parasitas e são causadoras das rea-ções alérgicas, pois desencadeiam uma série de eventos que libe-ram a histamina, responsável pela contração de músculos e estí-mulo à secreção de muco.

Page 199: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 199

ATRAZINA

É um dos muitos herbicidas existentes, que atuam comoinibidores do fotossistema II, bloqueando a formação doplastoquinol, nos cloroplastos. Inibe também o centro de reaçãofotossintético de bactérias púrpuras. É utilizado, intensivamen-te, no Brasil, nas plantações de cana e milho. Sua meia vida, nosolo, é de 20 a 385 dias e, na água, de 2 a 300 dias, sendo umcontaminante potencial devido a sua hidrólise lenta e solubilida-de em água.

Bacillus cereusBactéria, em forma de bastonete, Gram-positiva, aeróbica

facultativa, vive no solo e provoca intoxicação alimentar pelaprodução de dois tipos de toxinas.

Bacillus thuringiensis (Bt)Bactéria, em forma de bastonete, Gram-positiva, que causa

infecções e morte em insetos, através da síntese, nos esporos, deglicoproteínas sólidas, denominadas cristais de toxina ou toxinaBt, e que alteram a permeabilidade das paredes intestinais doinseto. O gene dessa toxina foi inserido no genoma de algodão(Algodão Bt), milho (Milho Bt), girassol (Girassol Bt) e outrasplantas cultivadas, como estratégia para obtenção de resistênciaao ataque de insetos, como os da classe dos lepidópteros (borbo-letas).

BIOBALÍSTICA – BOMBARDEIO DE MICROPROJÉTEIS

Técnica que utiliza, desde a década de 1980, um aparelhoacelerador de micropartículas de ouro ou tugstênio a velocidadessuperiores a 1.500 km/h, às quais são aderidas moléculas de DNAcontendo o transgene desejado, fazendo-as incidirem sobre as

Page 200: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

200 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

células/tecidos a serem transformadas. As micropartículas pene-tram na parede e membrana celular sem matar a célula e locali-zam-se aleatoriamente nas organelas. Tanto a quantidade de DNAinserido quanto os locais de inserção, portanto, são imprevisíveis,porém essa técnica permite a introdução e a expressão de genesem qualquer tipo de célula. A freqüência de transformação éaumentada quando o alvo é um tecido meristemático apical, aoqual se adiciona um hormônio indutor de multibrotação.

Bp (base pairs)Abreviação de pares de bases.

CITOQUINAS

Substâncias de natureza protéica, produzidas pelos linfócitosT, que estimulam a proliferação de células do sistemaimunológico.

CROMOSSOMO

Estrutura celular portadora de muitos genes, constituída deuma longa cadeia de ácido nucleico (na maioria dos organismosácido desoxirribonucléico – DNA), associada a proteínas básicas.

o Os genes são trechos desse DNA responsáveis pelas carac-terísticas hereditárias dos organismos. Os diferentes genessão distribuídos, linearmente, ao longo dos cromossomos,ocupando, cada um deles, um local definido no mapacromossômico, denominado lócus genético (locus).

o Comparando as diferentes espécies de organismos, quantoao número de genes e de cromossomos, observa-se umagrande variedade de situações. No entanto, para cada es-pécie, o número de cromossomos é constante.

o O conjunto de todos os genes, responsáveis pelas caracte-

Page 201: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 201

rísticas hereditárias de uma espécie, ocupa lócus genéticos(loci plural de locus) específicos nos cromosssomos, que,dentro de cada espécie, se mantêm em número constante.

o Os cromossomos homólogos têm os mesmos lócus genéti-cos e numa célula diplóide existem 2 cópias de cadacromossoma homólogo, cada uma proveniente de um pro-genitor.

o Um gene (cistron), de célula eucarionte, representa todo ocontínuo trecho de DNA, envolvido na produção de umpolipeptídeo, isto é, que inclui a região codificadora pro-priamente dita, as demais que precedem (líder) e seguem(trailler) essa região, bem como as que se intercalam e sãoretiradas (introns) durante o processamento da mensagemtranscrita em RNA.

DNA – ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLÉICO; ADN,

MESMO QUE DNA.

Macromolécula responsável pelo conteúdo e perpetuação dainformação genética da maioria dos seres vivos, em evolução noplaneta há, pelo menos, 4,5 bilhões de anos.

o Tem estrutura física em forma de “escada” torcida em héli-ce, cujos “degraus” se formam pela atração, aos pares, de 4tipos de bases nitrogenadas: adenina (A) com timina (T) ecitosina (C) com guanina (G).

o Tem tamanho variado e pode ser medido pelo número depares de bases. Os diferentes seres vivos têm moléculas deDNA com número de pares de bases e seqüências diferen-tes dessas bases: o DNA de bactérias tem 2 x 106 pares debases; o das plantas superiores, 2,3 x 109 pares de bases; e odos mamíferos, 5,5 x 109 pares de bases.

Page 202: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

202 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

DNA – T

Trecho do DNA de um plasmídeo da Agrobacteriumtumefasciens, que, na natureza, é responsável pela sua integraçãoa genomas vegetais, muito utilizado na construção de vetores degenes para transformar plantas. (ver Agrobacerium).

DNAASE – DESOXIRRIBONUCLEASE

Enzima que promove a clivagem hidrolítica das ligações en-tre os desoxirribonucleotídeos do DNA. A reação de hidróliseparcial gera múltiplos fragmentos de diversos tamanhos.

“DNA SHUFFLING” (EMBARALHAMENTO DO DNA)

Método que utiliza uma desoxirribonuclease (DNAase),uma enzima que hidrolisa a molécula de DNA, em sítios aoacaso, gerando inúmeros fragmentos de diferentes tamanhos,a partir do DNA alvo de sua ação. Esses fragmentos são sub-metidos à técnica do PCR (ver adiante), pela qual são unidosuns aos outros, como iniciadores (primers), terminando porgerar recombinantes aleatórios, a serem avaliados quanto àqualidade dos produtos gerados no interior de células. As duastécnicas assim associadas vêm permitindo a criação de genesnovos produzidos em laboratório, que nunca existiram nanatureza.

FENÓTIPO

Características de um organismo que resultam da interaçãoda sua constituição genética com o ambiente.

Galanthus nivalisPlanta ornamental bastante comum na Europa, pertencente

à família das Liliáceas, que se reproduz por meio de bulbos.

Page 203: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 203

GENE BARNASE

Gene codificador de uma enzima, a barnasa, que hidrolisaRNA e é inibida pelo produto do gene barstar, a proteína barstar.

GENE MARCADOR

Genes que são necessários para a detecção do gene de interes-se, nas etapas de construção de organismos transgênicos, por te-rem expressão fenotípica de fácil detecção. Os genes marcadores,mais comumente usados, são os codificadores de resistência aantibióticos.

GENE TERMINATOR

Gene introduzido, durante a construção das plantastransgênicas, que impede a propagação das sementes por elasproduzidas. Ao final de cada safra, o agricultor precisará renovartodo o seu estoque de sementes. O gene terminator é tambémconhecido como exterminator ou exterminador.

GENÓTIPO

Constituição genética de um organismo.

GLICOPROTEÍNA

É um tipo de proteína conjugada que tem, como grupoprostético, um glicídio.

GLIFOSATO (N-[FOSFONOMETIL] GLICINA)

Herbicida de amplo espectro de ação, que é um inibidor com-petitivo de uma enzima chave para a biossíntese de aminoácidosaromáticos e de outros produtos do metabolismo secundário dasplantas, a 5-Enolpiruvilshiquimato-3-fosfato (EPSP) sintetase.A ligação do glifosato à enzima bloqueia a sua atividade e impe-

Page 204: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

204 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

de o transporte da EPSP sintetase-shiquimato 3-fosfato para ocloroplasto.

GLUFOSINATO DE AMÔNIO = FOSFINOTRICINA

Herbicida de amplo espectro de ação, que inibe uma impor-tante enzima do metabolismo nitrogenado, a glutamina sintetase.A ligação de um grupo acetil, pela enzima fosfinotricinatransferase, inativa o produto.

INICIADOR (PRIMER)

Seqüência curta de nucleotídeos, que necessita ser pareadaà extremidade 5’de uma cadeia simples de DNA, para que seinicie a polimerização da cadeia complementar, pela DNApolimerase.

KB ( QUILOBASE)

Abreviação que designa uma seqüência de 1.000 pares de basesde DNA ou 1.000 bases de RNA.

LECTINAS

Grupo de proteínas que se ligam a receptores específicos exis-tentes na superfície das células e estimulam os processos de divi-são e diferenciação celular. Nesse grupo estão incluídas: aconcanavalina de feijões, a fitohemaglutinina (promoveaglutinação de glóbulos vermelhos) do trigo, por exemplo.

LINHAGENS DE CULTIVOS

Variedades cultivadas que apresentam grande número de ca-racterísticas semelhantes, como conseqüência de trabalhos demelhoramento genético.

Page 205: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 205

LINHAGENS TRANSGÊNICAS

Plantas transformadas em laboratório e suas gerações descen-dentes.

LINHAGENS DE BACTÉRIAS

População constituída de bactérias geneticamente idênticas,que apresentam algumas diferenças em relação a outra popula-ção, dentro da mesma espécie.

LÓCUS (LOCUS / LOCI)

Posição de um gene no cromossoma que só pode ser ocupadapelas formas alternativas desse gene (alelo) (ver cromossomos).

METABOLISMO

Conjunto de reações bioquímicas, em sua quase totalidadecatalizadas por enzimas, caracterizado por uma ação integrada,nos aspectos materiais e energéticos, entre vias de síntese e de-gradação de compostos orgânicos, sob o controle de complexosmecanismos da expressão gênica, em constante modificação eevolução, face às modificações ambientais.

METABOLITO

Qualquer composto orgânico integrante do processo de trans-formações químicas ocorridas nos organismos vivos.

MUTAÇÃO

Qualquer alteração na seqüência de bases nitrogenadas doDNA.

• Mutações espontâneas – Podem ocorrer, em freqüênciasmuito baixas, devido a erro nas reações enzimáticas da cé-lula, que replicam ou reparam o DNA. A DNA polimerase

Page 206: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

206 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

conta com um mecanismo revisor, a cada passo dapolimerização, que diminui em muito a probabilidade deocorrerem erros.

• Mutações induzidas – Resultam da exposição do DNA aagentes mutagênicos. Podem ocorrer, por exemplo, devi-do à exposição a fatores físicos, como as reações provocadaspela exposição excessiva aos raios ultravioletas; ou quími-cos, como a exposição a substâncias químicas, como vene-nos, toxinas, agrotóxicos etc.

• Mutações silenciosas – São alterações na seqüência do DNAque não modificam o produto do gene.

PCR – REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE

Técnica que permite ampliar, em mais de 106 vezes, o núme-ro de moléculas de DNA, existente em diminutas quantidades(da ordem de 10-9 g) numa amostra. Através de sucessivos ciclosde variações de temperatura, promove, em cada ciclo: a)desnaturação do DNA; b) hibridização do DNA com 2 inicia-dores (primers) da reação da polimerase, que delimitam o trechoda cadeia de DNA a ser amplificada; e c) extensão dos iniciado-res, seguindo o molde do DNA, por uma DNA polimerasetermoestável.

PCR PROPENSA A ERROS

Metodologia empregada para indução de mutações quandodo emprego da técnica de PCR. Consiste numa variação da rea-ção em cadeia da polimerase, em cujo meio de reação são adici-onados íons de manganês, com o objetivo de gerar erros, duran-te a amplificação do DNA. Além das cópias iguais à original, apresença do manganês provoca a formação de cópias alteradasou mutantes do gene. Essa técnica tem sido utilizada para gera-

Page 207: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 207

ção de variabilidade para os estudos no campo da evoluçãodirigida. As cópias alteradas são ligadas a um vetor e inseridas emcélulas receptoras para análise do tipo de produto formado pelogene que sofreu mutação. Através da seleção daqueles que geramprodutos desejáveis, dentre os muitos que são ou inativos ou compropriedades não desejadas, pode-se proceder, ainda, a uma ou-tra técnica (ver “DNA shuffling”), que envolve processos derecombinação in vitro visando a seleção de formas que acumu-lem mutações favoráveis.

PLANTAS “REFÚGIO”

Plantas não transgênicas, cultivadas em proximidade a culti-vos transgênicos, como estratégia para redução dos riscos daemergência de resistência, nos insetos.

PLASMÍDEO

DNA circular extracromossômico, presente em bactérias ealguns organismos eucariontes, em tamanho e número variáveis,que se replica independentemente.

PROMOTOR

Região do DNA, reconhecida pela RNA polimerase, parainício do processo de transcrição do gene.

RECOMBINAÇÃO GENÉTICA

Sítios preferenciais de recombinaçãoImportante processo criador de biodiversidade que envolve a

quebra e a reunião de duas moléculas de DNA, através do qualmutações favoráveis e desfavoráveis são testadas em novas com-binações.

o Recombinação homóloga ou generalizada

Page 208: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

208 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Recombinação (troca de trechos de DNA) precisa que ocor-re entre seqüências correspondentes (homólogas) de DNA.Ocorre na formação de gametas masculino e feminino doseucariontes (crossing over).

o Recombinação heterólogaRecombinação entre seqüências não relacionadas, comoocorre com grande freqüência nas transformações de célu-las vegetais e animais.

o Recombinação sítio específicaRecombinação comum entre curtos trechos de seqüênciasvirais e de bactérias homólogas, que envolvem enzimas es-pecíficas para um sítio específico de entrada e saída do ví-rus no genoma bacteriano.

RETROTRANSFERÊNCIA

Processo que envolve a ação da enzima transcriptase reversa,presente nos retrotransposons, por exemplo, que converte rever-sivelmente DNA em RNA.

SÍTIO PREFENCIAL “SÍTIO QUENTE” (HOT SPOTS)

Sítio de elevada ocorrência de eventos: mutações ourecombinações.

SOJA RR = SOJA ROUNDUP READY

Soja transgênica resistente ao herbicida Roundup.

SILENCIAMENTO GÊNICO

Mecanismo que desativa ou diminui os níveis de transcriçãode um gene. Vários fatores podem determinar o silenciamentode um gene, nas várias etapas de sua expressão. O silenciamentopode ser devido à ligação de uma proteína repressora a ele ou a

Page 209: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 209

seqüências adjacentes, ou pela interrupção de etapas anterioresao completo processamento do RNA mensageiro (silenciamentotranscricional), ou em etapas posteriores (silenciamento pós-transcricional).

SONDAS MOLECULARES

Moléculas de DNA, RNA ou de proteína, às quais são liga-dos compostos que facilmente podem ser detectados, em labora-tório, utilizando-se diversas técnicas, como exposição à luzultravioleta ou exposição a um filme fotográfico (autoradiografia)etc. Cada uma desses tipos de sondas é capaz de indicar, ao pes-quisador, dentre vários fragmentos de DNA ou RNA ou váriasproteínas, quais são os que têm relação com o material da sondaconhecida.

SOUTHERN BLOTTING

Técnica comumente empregada em laboratório de BiologiaMolecular, que utiliza um fluxo constante de uma solução paratransferir fragmentos de DNA desnaturado, separados poreletroforese em gel de agarose, para um filtro de celulose. A mem-brana é incubada, sob condições específicas de tempo, tempera-tura, e outras variáveis da técnica, com uma solução que contémuma sonda de ácido nucléico conhecido, previamente, marcadoquimicamente ou com um isótopo radioativo. Nesse último caso,uma autoradiografia da membrama permite identificar, dentreos vários fragmentos do gel, aquele que apresenta homologia coma sonda radioativa.

TRANSCRIÇÃO

Processo pelo qual a informação genética é transmitida doDNA para o RNA mensageiro.

Page 210: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

210 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

TRANSGENE

Construção molecular que contém um gene, geralmente pro-veniente de organismos de outras espécies, modificado pelatecnologia de DNA recombinante. À seqüência que codifica parao produto gênico são ligadas outras seqüências de DNA estra-nhos ao genoma vegetal, mas necessárias aos procedimentos deconstrução do transgene em laboratório. São elas, por exemplo:a) a seqüência de nucleotídeos do promotor 35S, proveniente dovírus do mosaico da couve-flor, o CaMV, destinada a promoverum aumento da expressão do gene; e b) a seqüência dos genes deresistência a antibióticos, provenientes de plasmídeos bacterianos,que funciona como um marcador da efetiva inserção do transgenena planta.

TRANSGÊNICO = ORGANISMO GENETICAMENTE

MODIFICADO (OGM)

Organismo portador de genoma alterado pela inserção de cons-truções genéticas de laboratório, contendo seqüências de genomasde vÍrus e de diversos outros organismos vivos, cujas influênciassobre os mecanismos de controle da expressão do genoma recep-tor e sobre os demais organismos da Biosfera, ainda não foramadequadamente estudadas e avaliadas, pela ciência.

TRANSPOSONS

São seqüências de DNA que se movem de um sítiocromossômico para outro, sem qualquer relação de seqüênciacom o lócus de inserção. Eles carregam informações genéticas,apresentando padrões bastante conservados de organização emodos de executar a transposição, indicando um possível papelimportante na organização dos genomas. Eles são bastante abun-dantes em gramíneas e outros genomas, inclusive o humano.

Page 211: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Grupo de Ciência Independente 211

RETROTRANSPOSONS

Transposons que se movem na forma de RNA produzido portranscrição, posteriormente transcrito reversamente a DNA. Atransposase é a enzima que participa da inserção do transposonao novo sítio.

Page 212: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

VIDA E OBRA:

1 Lenin e a Revolução Russa (Oziel Gomes) ............................................ Esgotado

2 Rosa Luxemburgo – Vida e obra (Isabel Maria Loureiro) ..................... R$ 6,00

3 O pensamento de Che Guevara (Michael Lowy) .................................. R$ 8,00

4 Josué de Castro – Vida e obra (Bernardo Mançano e Carlos Walter) ... Esgotado

5 Paulo Freire – Vida e obra (Grupo de Estudos / UFPR) ....................... R$ 13,00

6 Antonio Gramsci – Vida e obra de um comunista

revolucionário (Mário Maestri e Luigi Candreva) ................................. R$ 10,00

7 Clara Zetkin – Vida e obra (Gilbert Badia) ............................................ R$ 10,00

8 Anton Makarenko – Vida e obra – a pedagogia

na revolução (Cecília S Luedemann) ...................................................... R$ 15,00

9 Lenin – coração e mente (Tarso Genro e Adelmo Genro Filho) ........... R$ 8,00

ECONOMIA, POLÍTICA, PEDAGOGIA, FILOSOFIA

10 Sobre a prática e sobre a contradição (Mao Tsé-tung) ........................... R$ 6,00

11 Reforma ou revolução? (Rosa Luxemburgo) ......................................... R$ 6,00

12 Fundamentos da escola do trabalho (M M Pistrak) ............................... R$ 10,00

13 Fidel A estratégia política da vitória (Marta Harnecker) ........................ Esgotado

14 O papel do indivíduo na História (G V Plekhanov) .............................. R$ 8,00

15 Clássicos sobre a revolução brasileira

(Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes) ................................................... R$ 8,00

16 A nova mulher e a moral sexual (Alexandra Kolontay) ......................... R$ 8,00

17 Che Guevara: contribuição ao pensamento

revolucionário (Manolo Monereo Pérez) .............................................. Esgotado

18 A hora obscura – testemunhos da repressão política

(Julius Ficik – Henri Alleg – Victor Serge .............................................. R$ 13,00

19 Marx e o socialismo (César Benjamin – org ) ........................................ R$ 8,00

REALIDADE BRASILEIRA

20 Sociologia política da guerra camponesa de Canudos (Clóvis Moura) Esgotado

21 Brasil: crise e destino – entrevistas com pensadores contemporâneos

(org César Benjamin e Luiz Antonio Elias) ........................................... Esgotado

22 A história da luta pela terra e o MST (Mitsue Morissawa) ................... R$ 15,00

PUBLICAÇÕES DA EXPRESSÃO POPULAR

Page 213: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

23 História e natureza das Ligas Camponesas (João Pedro Stedile – org.) R$ 10,00

24 A linguagem escravizada (Florence Carboni e Mário Maestri) ............. R$ 6,00

25 A ação política e o MST (Bruno Konder Comparato) .......................... R$ 8,00

26 Soberania sim, ALCA não! – análises e documentos

(Campanha Nacional contra a ALCA – org.) ......................................... R$ 5,00

27 História das idéias socialistas no Brasil (Leandro Konder) .................... R$ 12,00

28 ALCA: integração soberana ou subordinada? (Emir Sader – org.) ....... Esgotado.

LITERATURA

29 A Mãe (Máximo Gorki) ........................................................................... R$ 15,00

30 Contos (Jack London) ............................................................................. R$ 8,00

31 Assim foi temperado o aço (Nicolai Ostrovski) ..................................... R$ 15,00

32 Os mortos permanecem jovens (Anna Seghers) .................................... R$ 18,00

33 Week-end na Guatemala (Miguel Angel Astúrias) ................................. R$ 13,00

34 Aqui as areias são mais limpas (Luis A Betancourt) ............................... R$ 13,00

AMÉRICA LATINA

35 Dissidentes ou mercenários? – Objetivo: liquidar a revolução

cubana (Hernando C Ospina e K Declerq) ............................................ R$ 8,00

PERSPECTIVAS

36 O Século 21 – Erosão, Transformação Tecnológica e Concentração

do Poder Empresarial (Pat Roy Mooney) ............................................... R$ 10,00

37 Desafios da luta pelo socialismo (Plinio Arruda Sampaio – org ) ......... R$ 5,00

38 Sementes – Patrimônio do povo a serviço da humanidade

(Horacio Martins de Carvalho – org.) .................................................... R$ 13,00

39 Tecnologia atômica – A nova frente das multinacionais (ETC Group) R$ 8,00

TRABALHO E EMANCIPAÇÃO

40 A dialética do trabalho (Ricardo Antunes – org ) ................................... R$ 10,00

41 O ano vermelho – A Revolução Russa e seus reflexos no Brasil

(Luiz Alberto Moniz Bandeira) ............................................................... R$ 15,00

42 O avesso do trabalho (Ricardo Antunes e

Maria Aparecida Moraes Silva – orgs ) ................................................... R$ 13,00

Page 214: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE

43 Guerra e globalização – Antes e depois de 11 de setembro de 2001

(Michel Chossudovsky) ........................................................................... R$ 8,00

CADERNOS DE EXPRESSÃO POPULAR

44 Desafios da esquerda latino-americana (Marta Harnecker) .................. Esgotado

45 As tarefas revolucionárias da juventude (Lenin, Fidel e Frei Betto) ..... R$ 4,00

46 As três fontes (Lenin) ............................................................................... R$ 4,00

47 A História me absolverá (Fidel Castro) .................................................. R$ 4,00

OUTROS TÍTULOS:

48 Marx – Vida e Obra (Leandro Konder) .................................................. R$ 5,00

49 O massacre da fazenda Santa Elmira (Frei Sérgio A Görgen) ............... R$ 5,00

50 A Revolução de Outubro sob o olhar da História

(Osvaldo Coggiola – org ) ....................................................................... R$ 5,00

51 Crise e trabalho no Brasil – Modernidade ou volta ao passado?

(Carlos A B de Oliveira e Jorge E L Mattoso – orgs ) ............................ R$ 10,00

52 De JK a FHC – A reinvenção dos carros

(Glauco Arbix e Mauro Zilbovicius – orgs ) .......................................... R$ 5,00

53 Tiradentes, um presídio da ditadura

(Alípio Freire, Izaias Almada e J A de Granville Ponce – orgs.) ............ R$ 10,00

Os preços podem ser alterados sem aviso prévio.

Recomendamos consultar nossa página na www.expressaopopular.com.br

(ou pelo telefone (11) 3105-9500) antes de seu pedido.

Page 215: Grupo de Ciência Independente - Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos