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7/26/2019 Guapindaia (1993)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
FFOONNTTEESSHHIISSTTRRIICCAASSEEAARRQQUUEEOOLLGGIICCAASSSSOOBBRREEOOSSTTAAPPAAJJDDEESSAANNTTAARRMM::
A COLEO FREDERICO BARATA DO
MUSEU PARAENSE EMLIO GOELDIVOLUME II
VERA LCIA CALANDRINI GUAPINDAIA
MESTRADOEMHISTRIA
RECIFE,1993
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FFOONNTTEESSHHIISSTTRRIICCAASSEEAARRQQUUEEOOLLGGIICCAASSSSOOBBRREEOOSSTTAAPPAAJJDDEESSAANNTTAARRMM::
A COLEO FREDERICO BARATA DOMUSEU PARAENSE EMLIO GOELDI
Vera Lcia Calandrini Guapindaia
Dissertao apresentada ao curso deMestrado em Histria daUniversidade Federal dePernambuco para a obteno dottulo de Mestre.
Professor-Orientador:Dra.M. Gabriela Martin vi la
RREECCIIFFEE
11999933
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SUMRIO
VOLUME I
DEDICATRIA
AGRADECIMENTO
RESUMO
1. INTRODUO............................................................................................................... 7
2. AS INFORMAES HISTRICAS............................................................................... 92.1. Viajantes contemporneos aosTapaj....................................................................... 9 2.2. Viajantes aps a extino dos Tapaj.................................................................... 143. CARACTERIZAO CULTURAL DOS TAPAJ.......................................................... 16 3.1. Ocupao do espao.............................................................................................. 16
3.2. Organizao social................................................................................................. 17 3.3. Tecnologia.............................................................................................................. 21 3.4. Alimentao............................................................................................................ 22 3.5. Rituais.................................................................................................................... 23 3.6. Lngua.................................................................................................................... 24 3.7. Agressividade......................................................................................................... 244. AS INFORMAES ARQUEOLGICAS...................................................................... 26 4.1. As Pesquisas Arqueolgicas.................................................................................. 26 4.2. A Anlise da Cermica........................................................................................... 30 4.3. Pesquisa em Curso................................................................................................ 40
5. A COLEO "FREDERICO BARATA".......................................................................... 44 5.1. A Coleo............................................................................................................... 44 5.2. O Colecionador....................................................................................................... 456. METODO LOG IA.......................................................................................................... 47 6.1. A Sistematizao das Informaes Histricas e Arqueolgicas............................. 47 6.2. Critrios de Anlise dos Objetos............................................................................ 47 6.3. Acabamentos de Superfcie................................................................................... 50 6.3.1. Alisamento................................................................................................. 50 6.4. Tcnicas decorativas plsticas............................................................................... 51 6.4.1. Aplicado...................................................................................................... 51 6.4.2. Modelado........................................................................................................ 51
6.4.3. Inciso............................................................................................................ 51 6.4.4. Ponteado.................................................................................................... 51 6.4.5. Perfurao.................................................................................................. 51 6.4.6. Exciso....................................................................................................... 52 6.4.7. Impresso................................................................................................... 52 6.5. Tcnicas decorativas pintadas............................................................................... 52 6.5.1. Vermelho ................................................................................................ .. 52 6.5.2. Vermelho sobre branco.............................................................................. 52 6.5.3. Vermelho e preto sobre branco.................................................................. 52 6.5.4. Branco........................................................................................................ 527. ANLISE...................................................................................... ................................ 54 7.1. Aspectos Gerais..................................................................................................... 54
7.2. Aspectos Especficos.............................................................................................. 55 7.2.1. Cachimbos.................................................................................................... 55 7.2.2. "Vasos de Caritides"................................................................................... 58 7.2.3. "Vasos de Gargalo"....................................................................................... 64
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7.2.4. Vasilhas com Gargalo................................................................................... 69 7.2.5. Rodelas de fuso............................................................................................ 71 7.2.6. Estatuetas..................................................................................................... 72 7.2.7. Apitos............................................................................................................ 83 7.2.8. Recipiente 1 - bojo cilndrico e base plana................................................... 85 7.2.9. Recipiente 2 - bojo arredondado e base plana............................................. 86 7.2.10. Recipiente 3 - bojo e base arredondados................................................... 88
7.2.11.Recipiente 4 - bojo carenado e base anelar.............................................. 89 7.2.12. Recipiente 5 - bojo arredondado e base anelar.......................................... 90 7.2.13. Recipiente 6 - bojo carenado e base arredondada..................................... 91 7.2.14. Recipiente 7 - bojo carenado e base trpode.............................................. 92 7.2.15. Recipiente 8 - bojo quadrangular base arredondada.................................. 93 7.2.16. Recipiente 9 - bojo assimtrico e base arredondada.................................. 94 7.2.17. Recipiente 1 Q prato................................................................................ 94 7.2.18. Recipiente 11 - prato com base trpode...................................................... 95 7.2.19. Recipiente 12 - bojo circular e base em pedestal....................................... 96 7.3. Resultados.............................................................................................................. 97 7.3.1. Grupo A........................................................................................................ 98 7.3.1.1. Cachimbos.................................................................................... 98 7.3.1.2. Recipientes de bojo arredondado e base em pedestal................. 99
7.3.1.3. Recipiente de bojo assimtrico e base arredondada.................... 99 7.3.2. Grupo B........................................................................................................ 99 7.3.3. Grupo B1...................................................................................................... 101 7.3.3.1. "Vasos de Caritides".................................................................. 103 7.3.3.2. "Vasos de gargalo"...................................................................... 103 7.3.3.3. Vasilhas com gargalo.................................................................. 103 7.3.3.4. Estatuetas................................................................................... 104 7.3.3.5. Apitos.......................................................................................... 105 7.3.3.6. Rodelas de fuso.......................................................................... 105 7.3.3.7. Recipiente de bojo carenado e base anelar................................ 106 7.3.3.8. Recipiente de bojo carenado: e base arredondada.................... 106 7.3.3.9. Recipiente com bojo carenado e base trpode............................ 106 7.3.3.10. Recipiente com bojo quadrangular e base arredondada.......... 106 7.3.3.11. Prato com base trpode............................................................. 107
7.3.4. Grupo B2...................................................................................................... 107 7.3.4.1. Recipientes de bojo cilndrico e base plana........................................ 108 7.3.4.2. Recipientes de bojo arredondado e base plana.................................. 108 7.3.4.3. Recipientes de bojo e base arredondados.......................................... 109 7.3.4.4. Recipiente de bojo arredondado e base anelar................................... 109 7.3.4.5. Pratos.................................................................................................. 1098. CONSIDERAES FINAIS........................................................................................... 111
9. BIBLIOGRAFIA E REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................. 115
VOLUME II
ANEXO I - Fichas Bibliogrficas....................................................................................... 1ANEXO II - Fichas de Anlise Tcnica...................................................................... 23
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DEDICATRIA
Agostinha,
Margarida, Aloysio,
Mayra e David.
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AGRADECIMENTO
A Dra. Gabriela Martin vila, minha orientadora pelo incentivo, dedicao, apoio e
significativa contribuio minha formao profissional.
A Dra. Anne Marie Pessis, pelo estmulo e pelas sugestes durante o curso de
Mestrado.
A Dra. Nide Guidon, pela possibilidade de ampliar meus conhecimentos atravs dos
cursos ministrados.
A Dra. Adlia Rodrigues, Chefe do Departamento de Cincias Humanas do Museu
Paraense Emlio Goeldi, pelo apoio e incentivo.
Ao CNPq/MPEG, pela infra-estrutura que possibilitou a realizao deste trabalho.
A Ana Lcia Machado, amiga e colega, pela colaborao incansvel em todas as
etapas deste trabalho.
A Edithe Pereira, amiga e colega com a qual desejo continuar sempre trabalhando,
pelo incentivo, amizade e colaborao.
A Conceio G. Corra, pelo apoio e colaborao constantes.
A Daniel Lopes, Ana Lcia Maroja e Maura Imzio da Silveira pela colaborao
sempre que solicitada.
A Jorge Mardock, tcnico responsvel pelos desenhos e reprodues que ilustram
esta dissertao.
A Regina F. Ferreira e Raimundo "Figueiredo" Cardoso da Silva pela ajuda na
digitao dos textos.
A Altenir Pereira Sarmento, responsvel pela anlise e programao na rea de
processamento de dados, pela editorao e formatao final do trabalho.
Em especial, a Aloysio Guapindaia, meu marido, pelo apoio, amizade, incentivo,
compreenso e contribuio fundamentais na realizao deste trabalho.
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RESUMO
O presente trabalho consiste em uma caracterizao cultural dos Tapaj, grupo
indgena que habitou a foz do rio Tapajs at a instalao dos europeus no sculo XVII. As
fontes utilizadas para a realizao da pesquisa foram s histricas, as arqueolgicas e o
material cermico.O material cermico estudado foi a coleo arqueolgica "Frederico Barata" que
pertence ao Museu Paraense Emlio Goeldi. Os objetos desta coleo foram encontrados no
bairro de Aldeia, na cidade de Santarm situada na foz do rio Tapajs, principal ncleo de
descobertas desta cermica.
Com o resultado da anlise da coleo e das fontes escritas reunimos elementos que
permitiram a construo de um perfil tecnolgico da 'coleo e possibilitaram o levantamento
de questes relativas organizao social do grupo indgena.
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1. INTRODUO
A arqueologia da regio Amaznica conhecida em todo o mundo pela beleza
esttica dos objetos cermicos, principalmente, aqueles provenientes das regies de Maraj
e de Santarm.
A ilha de Maraj foi a primeira rea onde se realizaram pesquisas arqueolgicas
sistemticas na Amaznia. Os resultados destes estudos permitiram a elaborao da
primeira seqncia cultural pr-histrica da Amaznia. Ao contrrio desta situao a regio
de Santarm, cujos objetos cermicos so conhecidos desde o sculo XIX, no mereceu
ateno de pesquisadores e, todo conhecimento existente para esta rea at meados dos
anos 80, resulta de alguns poucos estudos estilsticos (Barata,1950-54; Palmatary,
1939,1960) e tcnicos (Corra, 1965) baseados em objetos de colees. Pesquisassistemticas na regio de Santarm s comearam a ser desenvolvidas em 1987 com os
estudos da pesquisadora Anna Roosevelt.
O estudo das colees arqueolgicas - resultado de uma prtica comum no final do
sculo passado e incio do sculo XX - contribui com elementos bsicos para o incio de
uma pesquisa sistemtica em reas onde pouco ou quase nada se conhece, como o caso
da regio do rio Tapajs. Sob esta perspectiva que optamos pelo estudo de uma coleo
com objetivo de contribuir com novas informaes para o conhecimento arqueolgico dareferida rea.
A cermica arqueolgica proveniente da regio do rio Tapaj compe numerosas
colees distribudas em Museus de vrias partes do mundo. O Museu Paraense Emlio
Goeldi, de Belm, possui quatro colees provenientes da referida regio. Dentre estas, a
coleo "Frederico Barata" se destaca pelo nmero de objetos e pela preciso no registro
de sua procedncia.
O estudo desta coleo teve como objetivo caracterizar.t' tecnologicamente,. a
cermica atribuda ao grupo indgena Tapaj, que habitou a foz do rio Tapajs at o sculo
XVII. Com base nesta anlise foi possvel identificar e caracterizar a existncia de trs perfis
cermicos.
A permanncia dos Tapaj na regio at o perodo de contato com os europeus
permitiu que vrios viajantes que percorreram a rea registrassem aspectos relativos aos
costumes deste grupo. A bibliografia sobre esse tema abrange desde aqueles que tiveram
contato com os Tapaj (Carvajal, 1941; Cruz,1900; Acuria, 1941; Rojas, 1941; Bettendorf,
1941; Heriarte, 1874; Daniel,1940; So Jos, 1874; Serra, 1779) at viajantes que estiveram
na rea aps a extino do grupo (Spix & Martius,1981; Bates,1944 e Ferreira Penna,1973).
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A anlise sistemtica dos relatos histricos resultou em uma caracterizao cultural
dos Tapaj permitindo abordar aspectos relativos a disperso espacial do grupo,
organizao social, tecnologia, recursos alimentares, rituais, lngua e agressividade. Este
assunto compem o primeiro e o segundo captulo deste trabalho.
No terceiro captulo apresentamos um resumo das informaes arqueolgicas
provenientes da rea ocupada pelos Tapaj. Estas informaes abrangem desde pesquisas
no sistemticas (Hartt, 1885) Nimuendaju, (1949), pesquisas que procederam apenas da
anlise das colees existentes (Palmatary, 1939,1960; Barata, 1950, 1951, 1952, 1953,
1954; Corra, 1965) e as primeiras pesquisas sistemticas propostas (Bezerra, 1971) e em
realizao (Roosevelt, 1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992). No captulo seguinte
apresentamos as informaes relacionadas a Coleo e ao seu coletor - Frederico Barata.
O quinto captulo refere-se a metodologia utilizada para anlise das informaeshistricas e arqueolgicas; apresenta os critrios utilizados para a anlise dos objetos da
Coleo e os resultados alcanados. Nos dois ltimos captulos apresentamos a anlise dos
objetos, os resultados obtidos e as consideraes finais.
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2. AS INFORMAES HISTRICAS
2.1. Viajantes contemporneos aos Tapaj1
A primeira informao sobre o grupo indgena que habitava a foz do rio Tapajs data
de 1542, foi dada por Frei Gaspar de Carvajal integrante da expedio de Orellana, quefazia parte integrante da expedio comandada por Pizzaro. O objetivo desta expedio,
sada de Quito (Peru) em fevereiro de 1541 e terminada Belm (Brasil) aps navegar pelo
Amazonas em agosto de 1542, era a procura de riquezas a Leste de Quito. Alm dos Andes,
acreditava-se que estavam localizados o pas de La Canela e o El Dorado (Oliveira,
1983:162).
Na procura do ouro e das especiarias, os viajantes espanhis entraram em contato
com diversos grupos tribais. Na descrio da viagem, Carvajal relata que chegaram "na boca
de um rio que entrava pela mo direita no de nossa navegao e tinha uma lgua de
largura" (Carvajal, 1941:70). Nesse rio foram atacados pelos ndios que ali habitavam,
conseguiram escapar, mas um soldado foi morto, vtima de uma flecha envenenada.
Segundo o autor, "no entrou a flecha meio dedo, mais como trazia peonha, no durou 24
horas" (Ibid.:72). O uso dessas flechas tornou os Tapaj muito temidos tanto pelos brancos
como pelos outros ndios.
Em seu registro, o autor no diz como se chamavam os ndios da regio e nem o
nome do rio. Porm, pelas distncias e o tempo de viagem dos lugares anteriores, vrios
pesquisadores concluram que este era o rio Tapajs. Palmatary (1960), por exemplo, cita
inmeras razes para esta afirmativa: o fato do rio Tapajs entrar no Amazonas pelo lado
direito; o fato do fluxo de gua no cruzamento dos rios levar em direo ao Tapajs; os
vestgios da rea sugerem que a regio era densamente povoada como de fato os
portugueses a encontraram anos mais tarde; e o fato dos grupos indgenas do rio Tapajs e
os do lado oposto do rio Amazonas usarem flechas envenenadas.
Por volta de 1630, o frei Laureano de La Cruz, um franciscano que tambm viajou
pelo Amazonas, informa sobre a aventura de dois frades e seis soldados que desceram o
Amazonas em busca do El Dorado. Chegaram na provncia dos chamados "Rapajosos", que
os desnudaram e roubaram seus vveres (Cruz, 1900). Esta mesma histria contada pelo
frei Rojas de maneira diferente, segundo ele os religiosos e soldados foram agasalhados
"em uma casa muito grande, com madeiras lavradas, forradas de mantas de algodo,
1
Os autores consultados escrevem o nome do grupo indgena de vrias maneiras: Rapajosos, Trapajosos (Frei Laureano de La Cruz),Tapajoses (Acua), Estrapajosos (Rojas), Tapajs (Heriarte, Daniel e Ferreira Penna), Tapajocos (Spix e Martius), Tapayus (Hartt eBarbosa Rodrigues) e Tapaj (Frederico Barata, Nimuendaj e Palmatary). Adotaremos a maneira de Nimuendaj, que em seu mapaetno-histrico refere-se a todos os grupos indgenas no singular. (Respeitaremos a grafia original no caso de citao).
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entretecidas de fios de diversas cores, onde puseram uma rede para cada qual dos seus
hspedes, feita de folhas de palmeira e bordada de diversas cores, e lhes deram para comer
caa, aves e peixes" (Rojas, 194l:113).
Em l639, chega ao rio Tapajs, a primeira expedio portuguesa, tendo como capito
Pedro Teixeira. O frei Cristobal de Acua, que participou da viagem, informa que encontrouas margens deste rio habitadas pelos "Tapajoses". Estes ndios, segundo o autor impunham-
se aos outros grupos vizinhos por causa de suas flechas envenenadas. Acamparam perto de
uma grande aldeia, com mais de 500 famlias que "no cessaram durante o dia inteiro, de vir
trocar patos, galinhas, redes, peixes, farinhas, frutas e outras coisas" (Acua, 1941:271). O
autor registrou o forte temor destes ndios diante da possibilidade de serem deslocados,
pelos portugueses, de suas terras a fim de agrup-los a ndios j aculturados. E prometiam
que se estes os deixassem ficar, poderiam vir povoar suas terras, que eles os receberiam eos serviriam para sempre. Apesar de seus oferecimentos foram tratados com extrema
crueldade pelos portugueses, como teve oportunidade de presenciar o frei com o ataque de
Bento Maciel.
Segundo Acua, a expedio de Bento Maciel buscava fazer escravos entre os ndios
porque suspeitava que os Tapaj "tivessem muitos a seu servio" (Ibid:272). Obrigaram-os a
entregar suas flechas envenenadas, saquearam a aldeia, violentaram as mulheres e
prenderam os homens a fim de que oferecessem escravos em troca de sua liberdade. Os
ndios ofereceram mil escravos, porm s conseguiram duzentos que foram aceitos pelos
portugueses. Comenta o jesuta que os escravos foram despachados para o Maranho e
Par e que os portugueses "satisfeitos da presa, dispem logo outra expedio, mais para
dentro do Rio das Amazonas, onde sero sem dvida ainda maiores as crueldades..."
(Ibid:274).
O fato dos Tapaj terem conseguido duzentos escravos, indica a existncia desta
prtica entre eles. De fato, Acua em consideraes gerais sobre os ndios que habitavam o
rio Amazonas e seus afluentes disse que estes praticavam "perpetuamente contnuas
guerras, em que cada dia matam e se cativam inmeras almas" (Ibid.:199). Apesar do
belicismo entre eles, segundo observou Acua, nunca atacaram os espanhis e sempre os
receberam com abundantes vveres.
O Padre Rojas que tambm participou da expedio de Pedro Teixeira informa-nos
que os "Estrapajosos" viviam em contnuas guerras e utilizavam "flechas e veneno to fino e
eficaz que no h contraveneno" (Rojas, 1941:114). Segundo ele, apesar da existncia de
terrveis armas entre os ndios do rio Amazonas e seus afluentes, "os ndios nunca atacavam
os espanhis no rio nem fora dele" (Ibid:114).
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Em 1650 o frei Laureano de La Cruz subiu o rio Tapajs com uma expedio
portuguesa e novamente informou sobre uma aldeia localizada na foz do rio e outra mais em
cima em uma praia. Supe-se que a primeira seria Santarm e a segunda Alter do Cho.
Segundo o autor o objetivo da visita dos portugueses era o de resgatar cativos. Eram estes,
os ndios de outras tribos que os Tapaj aprisionavam em suas guerras. Frei Laureanoexplicou que "las razones com que los portugueses queren paliar su iniquidad, son decir que
aquellos indios que ellos ibam rescatar los tienen ya sus anos senteciados muerte para
comrselos, y que les hacen buena obra en libralos de la muerte y sacarlos tierra de
cristianos donde lo sean, aunque esclavos" (Cruz,1900:121). Os portugueses pagavam por
cada escravo trs ferramentas, uma camisa e dois faces.
Em 1661, o padre superior da Companhia de Jesus, Antonio Vieira, enviou o padre
Felippe Bettendorf para fundar uma misso entre os Tapaj. Contou este padre que havia,nessa poca, uma aldeia muito populosa no Tapajs "onde aquelle rio desemboca em o das
Amazonas com outras muito pela terra dentro" (Bettendorf, 1910:35).
Da crnica de Bettendorf possvel extrair algumas informaes de como viveram
estes ndios. Sobre seus ritos, contou-nos que costumavam beber e danar para invocar o
que ele supunha ser o diabo, inclusive referindo-se ao local onde praticavam suas danas
como "Terreiro do Diabo". No combate a estas prticas mandou que se "quebrasse os potes
ou igaabas dos ndios e derramasse o vinho no cho" (Ibid.:170). Esta a primeira
referncia sobre o uso de igaabas entre esses ndios.
Bettendorf descreveu, tambm o fato de que "tinham uma multido de mulheres" e
que o adultrio feminino era punido com morte. Com o tempo conseguiu este jesuta acabar,
tambm com estes costumes. Relatou a existncia de uma "princeza", chamada Maria
Moaara, a qual s poderia casar-se com um homem "que lhe fosse igual em nobreza"
(Ibid.:172). De fato ela era casada com o chefe dos Tapaj, o "Principal Roque". O papel
poltico dessa nobreza feminina parece bastante evidente quando Bettendorf diz que
"costumam os ndios alm de seus Principaes escolher uma mulher de maior nobreza, a
qual consultam em tudo como um orculo, seguindo-a em seu parecer" (Idib.:172). Serafim
Leite (1943:359) informou que entre "os ndios do rio Tapajs, merece figurar o nome de
Maria Moaara, principalesa, repetidamente mencionada nos comeos da civilizao deste
rio. Era esta ndia quem governava o Tapajs".
Por ocasio da morte de Maria Moaara, Bettendorf contou que o ex-jesuta
Sebastio Texeira, casou "com uma ndia do sangue dos principaes, com a expectao de
preceder em o principalado" (Bettendorf,1910:341), j que sua mulher era parente prxima
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da princesa. Porm os ndios no lhe levaram a srio "e o mandaram para outra alda mais
para riba" (Ibib.:342).
Bettendorf tambm registrou a prtica de escravido entre os Tapaj, quando conta
que ao visitar as casas da aldeia descobriu "em um cantinho um meninozinho reduzido aos
ossos, botado em o cho, com um pedacinho de bij na mo" (Ibid.:168). Fazendo perguntasaos ndios, descobriu que ele no estava batizado porque era escravo.
Do ano de 1662, temos a descrio de Mauricio Heriarte, ouvidor-mor do governo
feita a pedido do governador do Maranho e Gro-Par. Quanto a crnica deste autor
existem dvidas se o que descreve, so acontecimentos que viveu como participante da
expedio de Pedro Texeira de 1639 ou se o relato baseado nas descries de algum dos
companheiros de Texeira. Isto porque durante a maior parte do texto o autor mantm uma
linguagem impessoal, porm em determinados pontos da narrativa d a entender que estavano local. Na ordem cronolgica deste histrico, foi mantido pela data em que escreveu o
documento, porm consideraremos as suas informaes como anteriores a chegada dos
jesutas.
Heriarte, localizou a primeira aldeia "na boca de um rio caudeloso e grande, que
comumente se chama dos Tapajs" (Heriarte, 1874:35). Afirmou que esta era a maior aldeia
e que possua cerca de 60 mil guerreiros quando est em guerra e que so estes ndios
temidos pelas outras naes que habitam aquela regio. Alm dos Tapaj, localiza neste rio
os ndios Marautus, Caguanas e Orucuzos.
Segundo ele, os Tapaj "Sam em estremo barbaros e mal inclinados. Teem idolos
pintados em que adoram, e a quem pagam disimo das sementeiras, que sam de gram
milharadas e he o seu sustento, que nam usam tanto de mandioca para farinha, como as
demais naes" (Ibid.:36).
Heriarte informou sobre a cermica dos Tapaj, quando disse que estes e os ndios
Konduri que habitavam o rio Trombetas tinham "finissimo barro, de que fazem muito e ba
loua de toda sorte, que entre os Portugueses he de estima, e a levam a outras provncias
por contrato" (Ibid.:39). dele a primeira notcia sobre os muiraquits.
Sobre a organizao social registrou que "governavam-se estes ndios por Principaes,
em cada rancho um, com vinte ou trinta casaes, e a todos os governa um Principal grande
sobre todos, de quem eh mui obedecido" (Ibid:38). Nimuendaj (1949) replicou que o termo
"rancho" muito vago pois tanto poderia referir-se a simples casas coletivas ou a bandos
locais.
Em 1757, o Padre Joo Daniel viajou pelo rio Amazonas e registrou a "misso
Tapajs, hoje vila de Santarm" (Daniel, 1840:237). Desses ndios relatou apenas a sua
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idolatria, dizendo que eles "adoravam alguns corpos, e creaturas, e que os tinham muito
ocultos em v casa no meio dos matos, de que s sabiam os mais velhos e adultos.
Admoestou-os o padre que lhe trouxesse todos como vere trouxeram sete corpos mirrados
dos seus avuengos; e umas cinco pedras, que tambm adoravam ... As pedras tinham sua
dedicao e denominao com alguma figura, que denotava o para que serviam"(Daniel,1840:238). Um missionrio, o qual o autor no cita o nome, "em praa pblica
mandou queimar estes seus idolos, ou sete corpos mirrados, cujas cinzas juntamente com
as pedras mandou deitar no meio do rio, desejando afundir com elas por uma vez a sua
cegueira, e idolatria ..." (Ibid.:238). Heriarte (1874), tambm se referiu a adorao de corpos
ao que parece mumificados.
No ano de 1762, o bispo frei Joo de So Jos quando se referiu ao rio Tapajs
afirma que este fora habitado por ndios do mesmo nome e que "tem muito gentilismo" esterio (So Jos,1874:78).
A ltima meno dos Tapaj na lista das tribos indgenas do rio foi de 1779, feita pelo
tenente coronel Ricardo Franco de Almeida Serra. Viajando por este rio de sua foz at o
encontro do rio Arinos com o Juruena, onde se forma, disse "que desde esta confluncia at
o Amazonas tem o rio Tapajs o seu nome prprio, corre em geral de sul a norte, e
povoado por muitas naes de ndios; sendo as mais conhecidas Tapajs, Manducs,
Xavante, Urubs, Passabs, Mia-u-ahim, Ereruuas, Mayes, Ituarupa, Tucumaus, Uruc,
Tapuyas e outros" (Serra, 1779:5).
Sobre a extino dos Tapaj, Barbosa Rodrigues (1875) considerava que esta tinha
comeado com a expanso portuguesa naquela regio. Este fato levou-os a retirar-se para o
interior e tornou-os inimigos dos portugueses. Estes ndios formaram diversas malocas com
nomes diferentes, e assim em 1661 quando os jesutas chegaram seu nmero era reduzido.
a partir desta data que surgem outras tribos convivendo na mesma aldeia com os Tapaj.
Serafim Leite (1943) afirmou que por volta de 1678, a aldeia dos Tapaj, tinha o nome
de Todos os Santos, onde alm desses estavam reunidas trs naes das lnguas
Areteoses, Arapiunses e Tapiruenses ou Serranos. Em 1719, segundo informaes
fornecidas pelo padre Manuel Rebelo (citado por Serafim Leite,1943:361) "a esta Aldeia
pertencem no s os Tapajs, mas outras naes em particular os Arapiunses e
Corarienses, os quais todos so j para cima de trinta e cinco mil cristo".
A prtica dos jesutas de juntar os diversos grupos indgenas em um s aldeamento,
provocou uma miscigenao muito grande entre eles e a confuso de elementos culturais.
Alm disso, o prprio contato e a imposio de valores dos europeus, alterou profundamente
sua organizao social.
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Portanto, a partir de 1661 nos relatos sobre os Tapaj deve ser considerada a
profunda confuso de elementos culturais que se instalou. Este fato torna as informaes do
perodo anterior a instalao dos jesutas mais confiveis para a tentativa de reconstruir o
contexto tnico deste grupo. Estas informaes, embora confiveis, trazem poucas
referncias a respeito de nosso objeto de estudo, a cermica.
2.2. Viajantes aps a extino dos Tapaj
Em sua viagem pelo Tapajs realizados entre 1817 e 1820, Spix e Martius (1981)
informaram historicamente que os "Tapajocs" eram os antigos habitantes da foz desse rio.
Porm na poca desta viagem, eles no aparecem mais entre os grupos indgenas que
habitavam o rio Tapajs e seus afluentes; e o uso de flechas envenenadas no existia mais
na regio.
Spix e Martius relataram ainda, a questo da miscigenao intensa em que viviam os
grupos indgenas que habitavam naquele momento a rea de Santarm. Disseram que os
ndios possuam "em tudo o cunho da absoluta falta de unidade intrnseca e essencial e por
essa razo, a sua atitude, os seus intentos, costumes e a linguagem so de contnua
inconstncia" (Spix e Martius,1981:100). Esta situao encontrada pelos viajantes,
demonstrou muito bem a confuso cultural que se instalou com a chegada do elemento
colonizador.
Em 1851 o naturalista Henry Bates, estando em Santarm, relatou que o bairro dacidade hoje conhecido como Aldeia, era ainda habitado por ndios. Em 1872, Barbosa
Rodrigues encontrou em Santarm uma velha Tapaj com a qual conversou. Segundo ele,
esta ndia possua um grosso muiraquit no pescoo e teria lhe informado que estas pedras
eram adquiridas por seus companheiros em viagem pelo rio Amazonas. Em 1868, Ferreira
Penna confirmou estas informaes quando disse que Aldeia "que h l5 anos era ainda
habitada exclusivamente por descendentes de ndios comea a ser invadida pela cidade e a
j aparecem algumas casas bem construdas que contrastam com as cabanas de palha dosvelhos indgenas" (Ferreira Penna, 1973:185). Estes ndios no eram mais os Tapaj, que j
haviam sido exterminados tanto pelos portugueses, como pela invaso dos Mundurucu em
1773.
A data de extino dos Tapaj motivo de contradio entre os autores. Ferreira
Penna (1973) considerou-os extintos em 1773, porm Serra (1799) citou-os entre os grupos
indgenas do rio Tapajs no ano de 1779. Consideraremos aqui como mais correta a
informao de Ferreira Penna, pois a invaso Mundurucu no Tapajs foi um fato citado porvrios autores (Barbosa Rodrigues,1875;Hartt,1885; Coudreau,1977;Spix e Martius,1981).
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Segundo Barbosa Rodrigues, no ano de 1773, os portugueses fizeram uma expedio ao rio
das Tropas a aproximadamente 300 km de Itaituba no Alto Tapajs, onde estavam
localizados os Mundurucu. Os integrantes da expedio fizeram propostas de compra de
escravos a estes ndios, que no foram aceitas. Os portugueses revidaram a recusa com
hostilidades "com o fim de fazerem prisioneiros; que depois seriam captivos. Os Mundurucuspegaram ento em armas e pela numerosa populao fizeram tal resistncia, que obrigou a
tropa portuguesa a debandar pelo rio abaixo, tendo-lhes faltado munio. Os ndios ento
sem perda de tempo, puzeram-se no encalo dos portuguezes e vieram devastando tudo
quanto encontraram, levando a fogo e flecha tudo, at o forte de Santarm onde se refugiou
a tropa, que ficou sitiada por elles" (Barbosa Rodrigues,1785:120). Em sua fria os
Mundurucu vieram conquistando e devastando as tribos em seu caminho e tornaram-se
muito temidos no rio Tapajs.At a primeira metade do sculo XVII, os Tapaj existiram no rio Tapajs como grupo
soberano. A partir desta poca foram sofrendo um rpido processo de descaracterizao
como resultado da presena do elemento branco na regio. No sculo XVIII, ainda era
possvel encontrar alguns elementos isolados que ainda lembravam das suas tradies e
costumes. Por fim, restou apenas vestgios da cultura material deixada pelo grupo.
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3. CARACTERIZAO CULTURALDOS TAPAJ
Fundamentados na pesquisa bibliogrfica elaboramos a caracterizao cultural dos
Tapaj e discutimos algumas questes que julgamos interessantes.
3.1. Ocupao do espao
Quanto a sua localizao geogrfica concordam a maioria dos autores
(Carvajal,1941; Cruz,1900; Heriarte,1874; Spix e Martius,1981; Daniel,1976; Bettendorf,
1909; Roosevelt,1987; Palmatary,1939; Nimuendaj,1949) que os Tapaj tiveram sua
principal aldeia fixada na foz do rio Tapajs no local onde hoje se localiza o bairro de Aldeia
na cidade de Santarm (Mapa 2). Segundo Barata (1950) a maioria das peas que compe
as colees existentes hoje, so provenientes de Aldeia.Alguns autores citam, alm da aldeia principal, outras existentes rio acima ou para
o interior (Barbosa Rodrigues,1879; Hartt,1885; Roosevelt,1987). Somente Ferreira Penna
(1973), baseado em sua interpretao da descrio dada por Berredo (1905), sustenta que a
localizao da aldeia mais importante dos Tapaj era em Alter do Cho, onde inclusive
achava que Pedro Teixeira em 1626 os encontrou pela primeira vez. Existe um stio
arqueolgico de dimenses menores em Alter do Cho, porm o material semelhante ao
encontrado em Aldeia (Imazio, informaes pessoais).At o sculo XVIII, quando ainda no haviam sido extintos, a presena dos
Tapaj estava fixada na embocadura do rio at Alter do Cho. Uma das razes provveis
desta delimitao que a partir deste ponto o rio Tapajs ainda no havia sido navegado
pelo homem branco. No sculo XIX, com a navegao do alto Tapajs j estabelecida e com
os primeiros estudos de interesse arqueolgico realizados por Hartt e Barbosa Rodrigues,
estes limites foram estendidos at a cachoeira de Borur, a 40 km acima de Itaituba. J no
sculo XX as pesquisas de Nimuendaj estenderam estes limites da rea tapajnica paraleste, oeste, norte e sul.
Considerando e levantamento etno-histrico feito por Menndez (1981) para rea
Tapajs-Madeira e os registros arqueolgicos encontrados nos sculos XIX e XX, possvel
afirmar que os Tapaj dominavam o rio homnimo nos sculos XVI e XVII.
O mesmo autor considera que a rea sob seu enfoque, era caracterizada por uma
ampla mobilidade de grupos indgenas, j antes da chegada do homem branco. Esta
mobilidade, provavelmente, estaria ligada a fatores como guerra, ciclo anual de atividades,
economia, etc.(Ibid). Diante do quadro criado por Menndez consideramos possvel a
movimentao dos Tapaj, como tribo dominante da rea. Admite-se que tendo como ponto
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de partida a foz do rio Tapajs, onde com certeza habitavam, provavelmente chegaram na
direo norte at Alter do Cho; ao sul at Itaituba, no prprio Tapajs; e a leste at o rio
Jarac, afluente do baixo Xingu para oeste at a serra de Parintins, no atual estado do
Amazonas. Portanto sua expanso territorial at meados do sculo XVII, poca da
instalao do elemento branco, seria aproximadamente de 180 km2.Quanto a esta localizao devemos considerar que os registros nos quais foram
baseados no eram pesquisas arqueolgicas sistemticas, mas somente coletas de
superfcies e escavaes sem preocupaes estratigrficas. Portanto, na medida em que
estas forem sendo realizadas, certamente a distribuio geogrfica dos Tapaj tomar nova
forma. Diante destes dados, ser considerado como a rea de localizao precisa dos
Tapaj, a regio compreendida entre a cidade de Santarm at Alter do Cho, que
garantida tanto pelos registros histricos como pelos vestgios arqueolgicos.Quanto a rea mais ampla sugerida pelos achados arqueolgicos,
consideraremos apenas como rea de provvel influncia dos Tapaj. Pois devido os limites
das pesquisas realizadas no possvel saber se os vestgios encontrados representam
aldeias Tapaj ou material obtido atravs de comrcio intertribal.
3.2. Organizao social
inegvel que os Tapaj formavam um grupo muito numeroso e poderoso.
Acua (1941) mencionou um assentamento de 500 famlias e o temor que estes provocavam
nos grupos vizinhos por serem to numerosos; Carvajal (1941) referiu-se a uma grande
quantidade de canoas e pirogas no rio Tapajs; Rojas (1941) falava da grande quantidade
de canoas pequenas que abordaram sua expedio; Heriarte (1874) registrou que a maior
aldeia podia dispor de 60.000 guerreiros em poca de guerra e que eram senhores daquela
regio. Com este nmero elevado de pessoas e o fato de possurem o domnio da regio,
era necessrio que possussem uma estrutura social organizada.
As referncias sobre a organizao social dos Tapaj no so detalhadas, pormfoi possvel registrar a existncia de grupos de 20 a 30 famlias vivendo juntas, possuindo
um chefe para cada grupo e a existncia de um chefe geral, ao qual os outros se submetiam
(Heriate,1941). Tambm se registrou a existncia de casas coletivas (Cruz,1900).
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provvel que existisse uma estratificao social bem marcada, uma vez que
Bettendorf (1909) registrou a existncia de um grupo de pessoas de status diferenciado que
s podiam casar entre si e detinham o poder de chefia. Roosevelt (cit. Roosevelt,1990:160)
em um estudo iconogrfico da representao da imagem feminina sugere a existncia de
"more proeminent religious and political roles for women in prehistoric times"2. O casamentoera poligmico e as mulheres adlteras eram punidas com morte (Bettendorf, 1909). A
existncia da prtica de escravido entre os Tapaj mencionada por Cruz (1900),
Bettendorf(1909) e por Acua(1941). Provavelmente estes escravos eram prisioneiros de
guerra, como se referiu Acua. Com a expanso colonial surge um outro tipo de escravido:
a do indgena pelo portugus. Esta tinha objetivos puramente comerciais de abastecimento
da colnia, que assentava sua economia em um regime escravista.
Em nome deste comrcio, os portugueses cometeram atrocidades com osindgenas e alteraram profundamente o sentido da escravido entre eles. Pois, se o grupo
indgena no possussem escravos, os portugueses obrigavam-os a busc-los sob pena de
serem eles prprios escravizados.
Os Tapaj sendo a tribo mais numerosa e poderosa daquela regio,
provavelmente subjugavam outras , procedimento comum entre as tribos mais poderosas do
rio Amazonas(Acua,1941 e Heriarte,1874).
Estas so as poucas referncias deixadas por aqueles que tiveram algum contatocom os Tapaj e que no possibilitam fazer uma idia clara de como funcionava sua
organizao social. Pois, ao contrrio dos cronistas que viajaram pela costa do Brasil nos
sculos XVI e XVII, no existe relatos extensos para esta regio.
Porm, Roosevelt(1987,1989) ao elaborar uma pesquisa arqueolgica para a
rea levantou a hiptese que os Tapaj no pice de sua cultura estavam organizados a nvel
de chefia. Acredita que esta chefia tinha um sistema de estratificao social, no qual as
pessoas eram diferenciadas pelo prestgio, geralmente avaliado pela nobreza de sua
genealogia e/ou nmero de pessoas submetidas a ela e pela sua riqueza. A existncia de
classes "nobres" e escravas compatvel com uma organizao a nvel de chefia. claro,
que para provar esta hiptese ser necessrio desenvolver estratgias de pesquisa mais
apropriadas que as que se tem utilizado at hoje para estudar a pr-histria da Amaznia.
Estas estratgias devem deixar as preocupaes com difuso e rotas de migrao, que
sempre caracterizaram o estudo da Pr-histria amaznica, e trabalhar aprofundadamente
em regies especficas.
2Traduo - "regras polticas mais proeminentes para as mulheres nos grupos pr-histricos".
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A possibilidade de ter existido um sistema de chefia entre os Tapaj coloca sob
questionamento o quadro terico criado para a pr-histria da Amaznia nas dcadas de 50
e 60. Este considerava que o solo da Amaznia no poderia suportar organizaes que
ultrapassassem o nvel de pequenos bandos, independentes e igualitrios vivendo em
assentamentos temporrios subsistindo do cultivo de razes, caa e pesca. Rooseveltafirmou que o problema com esta explicao o fato de considerar a Amaznia como um
meio-ambiente homogneo. As possveis chefias surgidas na Amaznia, como Maraj e
Santarm, segundo ela, esto localizadas nas margens de rios que carregam sedimentos
erodidos dos Andes e das costas caribenhas e so depositadas nas vrzeas. Devido a
riqueza em nutrientes destes sedimentos, os recursos agrcolas e faunsticos abundam
nestas regies, que se tornaram ambientes propcios para o desenvolvimento de culturas
numerosas e mais complexas. Porm, a autora ressalta que o fato de existir um ambientepropcio, no assegura o surgimento de tais chefias. A origem destas precisa ainda ser
investigada, uma vez que os registros etno-histricos so vagos e o registro arqueolgico
pouco conhecido (Roosevelt, 1989).
3.3. Tecnologia
Os Tapaj, como todos os grupos humanos pr-histricos criaram uma srie de
tcnicas com o objetivo de facilitar a vida do grupo. Apenas algumas delas foram registradas
pelos cronistas e outras descobertas pelos pesquisadores atravs dos vestgios deixados.Entre estas foram registradas atravs de vestgios, a utilizao de poos para o
abastecimento de gua dos assentamentos longe dos rios, alguns dos quais ainda no
comeo do sculo XX estavam em funcionamento (Nimuendaj, 1949).
Ao que parece os Tapaj construam caminhos especficos para o deslocamento
entre as aldeias, pois estes foram encontrados entre as terras pretas. Eram feitos quase em
linha reta e tinham aproximadamente um metro e meio de largura e trinta centmetro de
profundidade (Barbosa Rodrigues, 1875 e Nimuendaj, 1949).Os registros sobre as casas afirmam que eram muito grandes e feitas com
madeiras trabalhadas (Rojas,1941),provavelmente cobertas de palhas, que eram
abundantes na regio.No ano de 1872 em Santarm, ainda existia uma parte da cidade , o
que hoje constitui o bairro de Aldeia, onde habitavam somente ndios. Alguns descendentes
dos antigos Tapaj, misturados a outras tribos. As casas onde moravam eram cabanas
feitas de folhas de palmeira (Barbosa Rodrigues, 1875).
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Alm da produo de cermica e esculturas em pedras, h registros de esteiras,
redes de palha, mantas de algodo e trabalho em madeira (Heriarte,1874; Berredo,1849;
Bettendorf,1909; Fritz,1917). Apesar de ter sido registrado o uso de mantas de algodo, a
julgar pelas representaes cermicas das estatuetas antropomorfas, no usavamvestimentas. Algumas estatuetas mostram o cabelo amarrado com uma faixa e pulseiras nos
tornozelos, que poderiam ser de algodo. As mantas ao que parece, serviam apenas para
forrar as casas, como descreveu Heriarte(1874).
Quanto a produo de armas tornaram-se famosas as suas flechas envenenadas
(Carvajal,1941; Acua,1941; Heriarte,1874). O veneno usado no era o curare, comum entre
as tribos atuais da Amaznia, pois os sintomas de morte registrados eram diferentes dos
provocado por este veneno(Nimuendaj,1949).Tambm se registrou o uso de veneno emcomidas para matar pessoas indesejveis (Bettendorf,1910).
3.4. Alimentao
A narrativa de Carvajal(1941) registrou a presena de milho como uma fonte de
recurso alimentar mais constante do que a mandioca entre os ndios do rio Amazonas.
Enquanto refere-se sete vezes a presena de milho, o faz apenas uma vez para a mandioca.
Os padres Rojas e Acua (1941), em suas viagens um sculo depois , registraram o uso do
milho e da mandioca sempre juntos. Heriarte (1874) tambm citou o uso de mandioca e omilho juntos. Porm, informou que os Tapaj consumiam mais milho do que mandioca, ao
contrrio da maioria das informaes etnogrficas para os atuais grupos amaznicos.
A prtica do cultivo de milho entre os Tapaj pode explicar a existncia de um
sistema sociocultural mais complexo. Isto porque o cultivo de milho nas vrzeas, que so as
terras extremamente frteis, pode ter levado a prtica da agricultura intensiva. Esta prtica
poderia possibilitar o sustento de populaes muito densas. Os gros de milho contm
grande quantidade de protenas, que se comidas com legumes podem fornecer fontesadequadas de protenas para as dietas humanas (Roosevelt, 1980). Este um dado
importante porque a aquisio de protena sempre foi problema para grupos amaznicos.
Outro aspecto, o fato das sementes de milho serem estocveis por longos
perodos (Rojas, 1941 e Acua,1941). E j que a protena o suprimento raro a estocagem
de sementes d origem ao surgimento de excedente econmico. A estocagem e distribuio
deste excedente poderia requerer controles especializados, o que resultaria no surgimento
de grupos polticos dirigentes. Assim, sob vrios aspectos o cultivo do milho poderia resultar
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no desenvolvimento de grupos humanos organizados em instituies sociopolticas
avanadas.
Alm do cultivo do milho e mandioca h o registro do consumo de caa, pesca e
coleta frutas e no sambaqui, coleta de mariscos.
3.5. Rituais
Os Tapaj possuam locais especiais para a prtica de suas cerimnias e para
guardar objetos sagrados.Existiam vrios tipos de cerimnias, em uma delas os integrantes
bebiam e danavam. As mulheres transportavam as bebidas para o local porm por no
possurem permisso para ver o que se passava, cobriam os olhos com as mos. Talvez
exista alguma relao desta proibio feminina com as representaes das caritides
(Barata,1953). O local de realizao destas cerimnias, era denominado pelos jesutas de
"Terreiro do Diabo" (Bettendorf,1909).
Um outro ritual era praticado tambm, em um local especfico na prpria aldeia,
onde consumiam continuamente bebidas e executavam de danas. O ritual era chamado de
"Mafoma" pelos brancos, este termo era usado na poca para designar pessoas no
catlicas(Ibid).
Existia tambm um outro ritual que consistia na adorao de objetos pintados,
no descritos, para o quais ofertavam milho. Com este cereal faziam uma bebida para ser
consumida durante o ritual, no qual tocavam instrumentos para invocar seus deuses(Heriarte, 1874). A existncia de um ritual onde o milho ofertado aos deuses, demonstra a
importncia deste cereal na vida do grupo. Este aspecto mantm uma relao muito prxima
com o que foi abordado no item anterior. Havia tambm a adorao de corpos mumificados
de seus ancestrais.
Quanto ao tratamento dos mortos foram registradas duas prticas diferentes. Na
primeira o morto era colocado em rede com todos os objetos que usava em vida a seus ps.
Em sua cabea colocavam a figura de algum deus e depositavam-o em uma casa feita paraeste fim. Ali ficava a decompor-se at que restassem apenas ossos. Estes eram modos e
colocados em bebidas, que eram tomadas por seus parentes e outras pessoas
(Heriate,1874). Na segunda os ossos eram colocados em urnas funerrias e enterrados
(Barbosa Rodrigues,1875).
A primeira prtica foi registrada historicamente e a segunda um registro
arqueolgico. Pelas limitaes dos registros arqueolgicos da poca e pela possibilidade
dos enterramentos pertencerem a uma das muitas tribos que viviam naquela regio juntocom os Tapaj, o primeiro registro torna-se mais confivel.
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Diante destes dois registros, podemos ainda, considerar outro aspecto que no
invalida o que foi colocado anteriormente. Essas duas prticas registradas poderiam
significar que existia um tratamento diferenciado para os mortos, talvez segundo seu grau de
nobreza e importncia poltica e social.
Um dado que refora esta suposio, o fato de Acua (1941) ter registradoentre os ndios do rio Amazonas e seus afluentes, a existncia de diferenas no
enterramento dos mortos. Alguns eram conservados dentro de suas prprias redes e outros
eram queimados em grandes fogueiras com todos os objetos que em vida lhes pertenceram.
E ainda, os ossos dos feiticeiros eram conservados pendurados em suas redes, no alto de
uma maloca e adorados com deuses ancestrais.
3.6. Lngua
Sobre a lngua que falavam os Tapaj existem poucas informaes. quase
certo que estes no tinham o Tupi como sua lngua oficial, j que houve necessidade da
traduo do catecismo escrito nesta lngua para as outras (Bettendorf,1909).
Porm bastante provvel que estes utilizem o Tupi para comunicar-se com os
povos falantes desta lngua que habitavam as proximidades e com quem comerciavam. Pois
das poucas palavras do seu vocabulrio,que chegaram at os dias atuais, cinco so de
origem Tupi (Barata,1949).
3.7. Agressividade
A questo dos Tapaj serem ou no uma tribo agressiva foi motivo de contradio
entre os autores. Carvajal (1941) e Heriarte (1874) descreveram amostras de sua
agressividade. Por outro lado Rojas (1941), Acua (1941) e Bettendorf (1909) relataram a
maneira bastante receptiva como foram tratados. E h ainda as referncias de Frei Laureano
de la Cruz (1900), que em sua primeira meno aos Tapaj cita-os como uma tribo bastante
agressiva, porm na segunda vez refere-se a eles como amigos.
Existem dois aspectos que devem ser considerados. O primeiro a existncia de
guerras intertribais, as referncias sobre o temor que outras tribos tinham dos Tapaj e a
prtica de escravido, provavelmente como resultado destas guerras. Estes dados
demonstram que os Tapaj eram guerreiros temidos entre os outros ndios.
O segundo aspecto, so as afirmaes que os Tapaj no atacavam os homens
brancos e o registro da maneira receptiva como receberam alguns viajantes. Ao que parece
eles temiam aquela gente diferente que possua armas de fogo e aos quais alguns ndios do
rio Amazonas chamavam de filhos do sol (Rojas,1941).
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Sobre o registro de Carvajal que mencionou a agressividade dos Tapaj, Mello
Leito considera que o dominicano teria exagerado em seu relato "para dar realce proeza
de seu capito, pois era tal a segurana na subida, que Pedro Texeira poude mandar
adiante um simples batelo, no feliz estratagema de que nos conta Acua" (1941:115(21)).
Quanto a Heriarte, apesar de consider-los como brbaros e mau intencionados,no registra nenhum incidente em sua viagem que demonstre esta agressividade.
Sem dvida, como j foi abordado, os Tapaj, eram um grupo de muitos
guerreiros, armados com poderosas flechas envenenadas, porm se realmente fossem
agressivos, a implantao dos jesutas no teria sido to tranqila e o seu extermnio no
teria sido to rpido e fcil.
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4. AS INFORMAES ARQUEOLGICAS
4.1. As pesquisas arqueolg icas
O primeiro trabalho com preocupao arqueolgica na rea do rio Tapajs foi do
gelogo Frederick Hartt , nos anos de 1870 e 1871. Escavou o sambaqui de Taperinha que
fica em um engenho a cerca de 40 km a leste de Santarm e situado em um furo chamado
Ayaya na margem meridional do Amazonas . A escavao chegou a 6 metros de
profundidade e alm de conchas (gnero Hyria, Castalia, Unio e Adonon) encontrou
fragmentos de cermica, de ossos humanos e de peixes.
A cermica encontrada por Hartt em Taperinha, segundo sua descrio era "fabricada
de argila, contendo proporo considervel de areia muito grossa, sem cariap3 e tendo a
superfcie relativamente lisa. Os fragmentos indicam que as vasilhas tiveram pela maior
parte a frma de taa com fundo bem arredondado. A margem muito simples, chanfrada
do lado interno e um pouco virada para fra. No so lustrados nem pintados, e pela maior
parte mostram-se inteiramente despidos de ornamentaes. Alguns pedaos porm,
apresentam riscos toscos do lado exterior, logo abaixo da margem e indicando
aparentemente tentativas de decorao"(Hartt,1885:4). Conclui o autor que pela enorme
quantidade de conchas e os poucos fragmentos de ossos encontrados, a alimentao bsica
dos moradores de Taperinha era feita de moluscos, pelo menos parte do ano.
Hartt levantou a questo de que a localizao de Taperinha hoje, no seriasemelhante a da poca em que era habitada pelos fabricantes desta cermica. Ele achava
que essas conchas, na poca em que foram consumidas eram abundantes e de fcil
aquisio, o que no ocorria no ano de sua viagem. Segundo ele, "parece, portanto
provvel que, depois de formado o sambaqui tenha havido uma importante mudana physis
na bacia do Amazonas. A prpria posio do depsito torna mais provvel esta hypothese.
Em vez de esta situado em terrenos de alluvio nas margens do Paranmirim, este depsito
acha-se colocado a uma distancia considervel do rio, atraz de uma zona pantanosa detravessia difcil e n'uma altura considervel acima do maior nvel das enchentes"(Ibid:5).
Alm de Taperinha informou a presena de vestgios em Itaituba, localizada cerca de
371 Km ao sul de Santarm; em Diamantina, que fica aproximadamente 15 Km ao oeste de
Santarm; e em P-Pixuna, localizada aproximadamente 42 Km ao oeste de Santarm.
Descreveu o solo destes locais como uma terra bastante frtil e apropriada para a plantao
de cana-de-acar. Hartt acreditava que a fertilidade atraiu os grupos humanos para estes
3Cariap, Carape ou Carip - rvore da famlia das rosceas que possui vrias espcies como Licania microcarpa Hk.f., Licania
turiuva Cham., Licania turiuva Schech, Licania sclerophylla M., Licania utilis Fritsch. Sua casca, que adstringente, usada pelosindgenas ou caboclos como antiplstico na argila com a qual fabricam a cermica (Corra, 1984).
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locais, uma vez que encontrou grande coincidncia das manchas de terra preta com os
vestgios de ocupao humana. Porm atualmente sabe-se que as terras pretas, em sua
quase totalidade, so resultado da ao antrpica e que estas, provavelmente, formaram-se
como conseqncia da ocupao destes grupos. Nestes locais, afirmou ter encontrado
fragmentos de cermica em at 2 metros de profundidade. Em P-Pixuna, obtevefragmentos de cermica, fragmentos de estatuetas e instrumentos de pedra. Foi informado
da existncia de terra preta com cermica perto de Itaituba, porm no visitou o local.
Hartt traa uma comparao do material cermico encontrado em Maraj , dizendo
que so bastante diferentes. O uso da impresso a dedo nas bordas das vasilhas, muito
comum no material do rio Tapajs, desconhecido no Maraj. Quanto pintura "
freqentemente lustrada com barro branco e pintada, mas no vi ornatos em linhas pintadas
ou gravadas como as de Maraj"(Ibid:13).Hartt considerou que os vestgios encontrados, provavelmente, pertenceriam aos
Tapaj, uma vez que esta "tribu foi encontrada pelos brancos na posse desta regio, na
ephoca da primeira descoberta, e que deu nome ao rio"(Ibid:14).
Hartt no fez referncias sobre os vestgios cermicos encontrados na cidade de
Santarm. O que muito estranho, pois a coleo Rhome, que hoje pertence ao Museu
Nacional j existia nesta poca e possui material encontrado na referida cidade
(Nimuendaj,1949).
Hartt fornece elementos importantes para o desenvolvimento de pesquisas
arqueolgicas na rea. Um deles o fato de demonstrar atravs do material arqueolgico
que a rea ocupada pelos Tapaj se entendia alm da foz do Tapajs, ocupando at o alto
curso do rio. O outro que atravs de suas escavaes revela a profundidade das camadas
arqueolgicas; sugere tambm, que tenha ocorrido modificaes climticas na rea e a
existncia de cermica sem decorao.
Em 1872, o botnico Barbosa Rodrigues viajou pelo rio Tapajs com o objetivo de
conhecer a vegetao e tambm aprofundar suas indagaes sobre os usos e costumes dos
extintos ndios Tapaj. Deve-se a ele a elaborao do histrico mais completo dessa poca
sobre os referidos indgenas baseado em informaes de cronistas e em suas prprias
pesquisas.
Barbosa Rodrigues considerou Santarm como a principal aldeia dos Tapaj .
Segundo ele, estes ndios no habitavam somente as margens do rio, mas tambm as
serras que a contornam. Em suas coletas de superfcie e escavaes encontrou fragmentos
de cermica, machados, fragmentos de estatuetas, sambaquis e caminhos cavados nas
descidas das serras.
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Quanto a distribuio territorial dos Tapaj, acreditava que estes em um primeiro
momento dominavam o baixo rio Tapajs e que depois se estenderam, principalmente pela
margem direita para o alto do rio at a cachoeira do Borur, localizada a 40Km acima de
Itaituba, ou seja numa extenso de aproximadamente 300 km. Para fixar este limite fez um
estudo do material arqueolgico que encontrou entre as regies. Observou que, a forma dosmachados a partir de Borur mudam completamente; e o material cermico encontrado em
Borur tem as mesmas formas e decorao daquele encontrado em locais onde sem
nenhuma dvida habitavam os Tapaj (Barbosa Rodrigues,1885).
Barbosa Rodrigues descreveu alguns costumes dos Tapaj baseado no material
arqueolgico que ele encontrou. Sobre os enterramentos afirma que colocavam os ossos
dentro de um vaso pequeno, que era colocado dentro de um grande decorado com
desenhos "de linhas com frmas mais ou menos geomtricas, feitas com tinta vermelha, quejulgo ser caragiru4, com leo de copahyba5 ou de castanha ... eram enterrados umas junto
as outras, com a bocca para cima. Pelos fragmentos encontrados, as maiores podero ter
quando muito trs palmos de dimetro"(Ibid:126).
Para a guerra, acreditava o autor, que alm das flechas envenenadas usavam
machados de diorito com a forma de dois cones unidos pela base. Dos autores consultados,
Barbosa Rodrigues o nico a afirmar que a loua de uso domstico dos Tapaj possua
tratamento de superfcie plstico. Segundo ele, a loua possua modelados em forma de
pssaro ou de rpteis. O lado externo das panelas era decorado com marcas de esteiras
feitas de palmeira e que esta decorao era to variada quanto pode ser variado o tecido.
Esta afirmao torna-se contraditria, quando o autor admite ter encontrado dentro dos
limites estabelecidos por ele para os Tapaj, no stio de Cafezal, localizado
aproximadamente 9,5km de Itaituba, vasilhames de cermica sem tratamento de superfcie
plstica ou pintada que sups serem panelas.
A pesquisa de Barbosa Rodrigues confirma o que Hartt j dissera quanto a vasta
extenso ocupada pelos Tapaj: do alto ao baixo rio Tapajs.
Em 1949, Curt Nimuendaj publicou um artigo intitulado "Os Tapaj". Nesse
trabalho ele reuniu todas as informaes disponveis sobre esse grupo dada pelos viajantes
e acrescentou as informaes adquiridas com sua pesquisa. Ele fez a pesquisa mais
completa da poca sobre a rea, de lamentar que a maioria de seus dados no foram
4Caragiru ou Carajuru - rvore da famlia das bignoniceas (Arrabidaea chicaVerlot) com que os ndios preparavam um corantevermelho usado para pintar a pele, os adornos, vestirios e utenslios. O corante, produzido pela fermentao das folhas, insolvel emgua e solvel em leos (Corra, 1984).5Copahyba ou Copaba - rvore da famlia das Leguminosas (Copaifera officinalisL.), de largo emprego medicinal (Corra, 1984).
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publicados. Alguns foram publicados nos trabalhos de Palmatary, que os obteve atravs de
correspondncia com o pesquisador.
Embora inseridos em uma regio considerada antropologicamente como rea cultural
Tupi, os Tapaj, segundo o autor no falavam essa lngua. Afirmou isto baseado no fato de
Bettendorf ter utilizado um intrprete em seu primeiro encontro com eles, uma vez que, erasabido que o jesuta falava e escrevia aquela lngua. Outro fato, foi necessidade de
traduzir o catecismo do Tupi para os idiomas falados naquela misso. Ainda sobre esse
assunto h a afirmativa de Heriarte (1874), de que os Orucuses e os Condurizes falavam
idiomas distintos diferente dos Tupinambaranas. Estes dois ltimos grupos localizavam-se
na rea de influncia dos Tapaj e mantinham contatos com eles.
Nimuendaj utilizou as formas humanas representadas na cermica para fazer
inferncias sobre a maneira desses ndios de vestir-se, a forma como penteavam os cabelose o tipo de adornos corporais que usavam.
A contribuio mais importante de Nimuendaj, no entanto foi resultado de suas
prprias descobertas. Do ano de 1923 a 1926 ele encontrou 65 stios localizados na cidade
de Santarm, na regio de Alter do Cho e em Arapixuna (margem meridional do Lago
Grande de Vila Franca), todos da cultura Tapaj. Segundo ele, os stios estavam todos na
terra firme, longe do alcance das guas mesmo no perodo das cheias. E em sua maioria
estavam no lado das colinas ou do planalto. Afirmou que no existiam terras pretas "na faixa
de largura de 1 lgua que se estende entre a margem do Amazonas e do p do planalto, ao
sul de Santarm" (Nimuendaj,1949:104), ficando assim longe das fontes de gua. O
problema era resolvido pela construo de poos, que estavam ainda em funcionamento
quando ele visitou a rea.
O autor afirma que s conhece dois stios que estavam perto do rio, que eram a
cidade de Alter do Cho, que fica a 30 Km de Santarm e o bairro de Aldeia em Santarm.
Reafirmou que Aldeia o stio mais importante, pois foi dele que se retirou a maioria do
material arqueolgico disponvel hoje sobre os Tapaj. No planalto considera Lavras,
localizado a 2,5 Km ao sul de Santarm o stio mais importante, onde existe tal abundncia
de fragmentos de cermica que dificulta a lavoura. A maior parte eram fragmentos sem
decorao. Os stios da regio do Lago Grande, a leste de Santarm no possuam muita
profundidade e o material estava bastante fragmentado. Comenta que acha estranho o fato
de ter encontrado pouco material em Alter do Cho, que era considerado um antigo centro
Tapaj.
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Nimuendaj organizou sistematicamente as informaes existentes sobre os Tapajs
demonstrando suas especificidades culturais. Ao lado disso mapeou a rea de suas
pesquisas demonstrando os limites de ocorrncia da cermica com elementos da cultura
Tapaj (Mapa 1). Juntando as reas atribudas aos Tapaj por Hartt e Barbosa Rodrigues e
Nimuendaj, teremos a delimitao geogrfica de sua influncia tanto no rio Tapajs comono Amazonas.
Em 1971, Ulpiano Bezerra de Menezes elaborou o primeiro projeto de pesquisa para
a rea. Este projeto surgiu em conseqncia da aquisio de duas colees particulares de
peas da cultura Tapaj e arredores pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade
de So Paulo. Consciente das limitadas informaes que este material permitiria, Bezerra de
Menezes elaborou um projeto de investigao cientfica, que visava mapear a rea de
extenso da cultura, estudar seus padres de assentamento, seriar e levantar dadosetnogrficos e dos processos de migrao e difuso (Menezes,1971).
Para a realizao deste trabalho, foram mapeados os stios de terra preta da regio
em torno de Taperinha e realizadas prospeces em alguns deles. A partir destas
prospeces preliminares, pretendia formular hipteses, propor problemas e definir
conceitos e metodologias (Menezes,1971).
At a dcada de 70, este foi o nico projeto formulado em bases cientficas para
estudar a regio. Tinha como proposta um novo tipo de abordagem, que questionava a
teoria do determinismo ambiental, princpio no qual, at ento, sempre se basearam as
pesquisas arqueolgicas na Amaznia. Porm, este projeto no teve prosseguimento, no
indo alm das prospeces realizadas e mesmo os dados destas, nunca foram analisados
nem publicados.
Nas dcadas de 80 e 90, Ana Roosevelt desenvolveu pesquisas sistemticas na
regio. Este assunto ser abordado no item Pesquisa em curso.
4.2. Anlise da cermica
Helen Palmatary publicou dois estudos estilsticos sobre a cermica dos Tapaj. O
primeiro, denominado "Tapaj Pottery" foi publicado em 1939 e contm a anlise do
material das colees do Ethnographical Museum em Gteborg, da University of
Pennsylvania Museum na Philadelphia, do Museum of American Indian da Haye Foundation
em New York e da Catholic University of America em Washington. Em 1960, quando
publicou "The Archaeology of the Lower Tapaj Valley,Brazil", incluiu as colees brasileiras
pertencentes ao Museu Paraense Emlio Goeldi e ao Museu do Estado do Recife. Analisou
tambm as colees particulares pertencentes ao Sr. Frederico Barata* em Belm, ao Sr.
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Carlos Liebold em Santarm, ao Sr. Towsend6 em Belterra e ao Sr. Carlos Estevo de
Oliveira no Recife. Em essncia os dois trabalhos no diferem. Apenas, no segundo
encontra-se mais aprofundado o tema, pois inclui alm da prpria anlise do material, um
levantamento histrico exaustivo sobre os viajantes e pesquisadores na regio. Uma vez
que, estes trabalhos no possuem diferenas marcantes em sua anlise estilstica econcluses, sero abordados aqui conjuntamente.
A pesquisa de Palmatary tinha como objetivo fazer uma anlise estilstica destas
colees e tentar estabelecer uma correlao com a arqueologia do continente americano
desde regio sudeste dos EUA at a Argentina. A autora definiu anlise estilstica com uma
tentativa para classificar e descrever as formas e caractersticas dos desenhos produzidos
pelos Tapaj.
Atravs das informaes de viajantes e pesquisadores que estiveram na rea,Palmatary elaborou um histrico sobre os ndios Tapaj, onde considera aspectos como
linguagem, religio, organizao social, tratamento dos mortos, alimentao, manufaturas e
armamento.
Palmatary descreveu dois tipos de stios arqueolgicos para a regio: os de terra
preta e os sambaquis. Ao tratar do primeiro, apresentou dois mapas das escavaes de
Nimuendaj, fornecidos pelo prprio autor (Cf. Palmatary,1960). Segundo Palmatary,
Nimuendaj atravs do material arqueolgico, percebeu que outras tribos alm dos Tapaj
produziram a cermica encontrada naquela regio. Por sua vez, afirmou que nas colees
pesquisadas ela, encontrou sempre material definido como no-Tapaj e ainda um outro tipo
que parecia ser estilisticamente a combinao do estilo Tapaj com outra tradio
decorativa, quase sempre Konduri7. Considerou que este fato sugeria uma associao tribal
prxima ou com um certo grau de interao. O aparecimento de cacos tipicamente Konduri
tambm comum nas colees de cermica Tapaj.
Essa interao entre os Konduri e os Tapaj foi reforada pela prpria localizao
geogrfica destes no rio Trombetas, a oeste da rea considerada como de influncia Tapaj.
Ao observar o mapa 2 possvel perceber que as reas das duas culturas eram fronteirias.
Heriarte(1874) j havia observado que eles possuam os mesmos costumes sociais dos
Tapaj e o prprio Nimuendaj acreditava que o tratamento dos mortos era o mesmo
(conservao dos ossos para dissoluo em bebidas), uma vez que, tambm nunca
encontrou enterramento na rea Konduri. Peter Hilbert (1955) estabeleceu semelhanas e
diferenas para as cermicas Tapaj e Konduri.Quantoas semelhanas elas possuem em
6 Estas duas colees atualmente pertencem ao acervo do Museu Paraense Emlio Goeldi.7 Konduri - Estilo cermico definido por Peter Hilbert (1955) que se caracteriza pela nfase na modelagem e inciso. Est localizadogeograficamente na regio Nhamund-Trombetas.
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comum: o predomnio de adornos antropomorfos e zoomorfos servindo como ala ou
simples decorao; o uso de cauixi8 como aditivo; a confeco de vasilhames com borda
dupla; a utilizao de bases anulares e trpodes; os motivos cabea dupla; os tipos de olhos;
a presena de dolos de barro; a ausncia de urnas funerrias, provavelmente como
resultado da dissoluo dos ossos em bebidas; e a presena de marcas de esteiras nacermica.Quanto as diferenas, Hilbert estabeleceu as seguintes:
SANTARM KONDURI
Utilizao moderada do cauixi como aditivo. Utilizao abundante do cauixi como aditivo.
Dureza da cermica estabelecida por volta de 3 e 4. Dureza da cermica estabelecida por volta de 2 e 3.
Utilizao moderada de incises e adornos nas
alas.
Presena de alas quase sempre decoradas com
pontilhados, entalhes e incises.
Fixao de adornos e alas atravs de encaixes. Fixao de adornos e alas de simples contato.
Utilizao abundante de caritides. Ausncia de caritides.
Presena rara de fragmentos de vasos trpodes. Presena abundante de fragmentos de vasos
trpodes.
Presena de bordas ocas. Ausncia de bordas ocas.
Presena de cachimbos angulares com
ornamentao neo-brasileira.
Presena rara de cachimbos.
Utilizao de incises curvas e retas na decoraodos vasos.
Utilizao apenas de incises retas na decoraodos vasos.
Pinturas em diversas cores, com tintas de difcil
remoo.
Raros vestgios de pintura vermelha de fcil
remoo.
Sobre os sambaquis, Palmatary apenas transcreveu o que Hartt j havia escrito
sobre Taperinha.
Para fazer a anlise estilstica, Palmatary dividiu o material estudado em vinte e cinco
tipos com subdivises. Embora considerados aqui juntos os dois trabalhos da autora,
ressaltamos que no segundo h um detalhamento maior nas categorias estilsticas que
compe o tipo. Apesar do aparente aprofundamento do estudo estilstico de um trabalho ao
outro, suas concluses so basicamente as mesmas. Outro problema que em nenhum
momento a autora discutiu os critrios de criao dos tipos, apenas apresentou-os ao leitor.
8 Cauixi ou Cauxi - Designao comum aos animais espongirios monaxnidos da famlia dos espongideos de gua doce. Crescem nasvrzeas alagadias ou igaps e se acumulam nas razes das rvores. Da so retirados pelos indgenas ou caboclos e transformados emcinza que, misturada a argila, serve para a fabricao de cermica.
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Observando sua classificao, percebe-se que a diviso bsica do material entre
peas inteiras e fragmentadas. Desta forma tipo I ao XI esto includos os vasos inteiros,
que so divididos quanto ao tipo de bojo, base e suporte. No tipo XII, esto o que ela
denominou "Miscellaneous Incomplete Pieces" e so subdividas em: corpo, suporte e borda.
No tipo XIII esto as estatuetas. No tipo XIV, os amuletos de barro; ela no explica porqueconsidera tais peas como amuleto. No XV, esto os apitos. No XVI, os adornos
fragmentados dos vasos que se apresentam em formas zoomorfas e antropomorfas. No tipo
XVII esto as caritides; dividiu-as em formas colunares, naturalsticas e estilizadas;
Palmatary acreditava que estas formas sugeriam uma evoluo nos tipos de caritides ou
talvez seriam produto da inexperincia do arteso. Ressalta que todas as caritides das
colees examinadas, com exceo de uma so do sexo feminino ou no tem
representao de sexo. No tipo XVIII esto os gargalos. No XIX esto as alas, quegeralmente so ornamentadas. No XX, os fragmentos do corpo dos vasos. No XXI,
fragmentos de borda. No XII, os "Hollow Shoulder-Cylinder", considera esta forma muito
comum na cermica Tapaj compondo uma de suas principais caractersticas, embora no
tenhamos encontrado nenhuma na coleo estudada. No tipo XXIII, os cacos misturados;
possui apenas uma subdiviso: caudas. Afirmou que estes fragmentos aparecem
freqentemente nas colees e que em um primeiro momento sups serem suportes, porm
na verdade so caudas de animais como onas e macaco. No tipo XXIV, esto as cermica
no-Tapaj; neste tipo Palmatary classificou a cermica que embora, tenha sido encontrada
dentro da rea geogrfica atribuda aos Tapaj, era diferente estilisticamente. E finalmente,
no tipo XXV esto os cachimbos. Estabelecida esta classificao cada pea foi descrita e
apresentada atravs de fotografias ou desenhos.
A anlise estilstica do material no se restringe a cermica, a autora fez o mesmo
para o material ltico encontrado nas colees. Classificou e descreveu sete tipos:
implementos, muiraquits, contas, estatuetas, dolos, volumes de formas geomtricas e
espcies no identificadas.
Palmatary, aps a descrio do material, analisou suas caractersticas estilsticas e
traou suas correlaes. Segundo ela, comparando a arte do Maraj com a dos Tapaj,
percebe-se que os primeiros eram excelentes nas decoraes de superfcie, em pinturas e
incises tendo formas geomtricas complicadas e suas representaes antropomorfas eram
altamente estilizadas; os segundos eram peritos em artefatos modelados, usando
abundantes reprodues naturalistas antropomorfas e zoomorfas. Considerou que
provavelmente existiu uma diferena cronolgica entre elas, uma vez que em 1616, os
ceramistas do Maraj j estavam extintos e a cultura Tapaj estava aparentemente no seu
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pice. Afirma que "although different stylistically and seemingly also ideologically these two
outstanding Amazonian cultures both display in highly developed form, an unusual and
difficult technique - that of hollow rims"(Palmatary,1960:89)9 . Acreditava que este fato
poderia sugerir a possibilidade de ter existido uma cultura de data intermediria a qual atuou
como transmissora deste tipo de forma.Palmatary afirmava que "because Tapaj art is so native and because of certain
peculiarities of stylization, the pottery is unusually ease to identify. However, Tapaj design
also presents features in common, not only with Maraj, but with cultures whose remain have
been found far from the Amazon Valley"(Ibid.:89)10.
Para fazer esta filiao com outras reas, a autora dividiu as caractersticas
estilsticas em dois itens: os fatores no-correlacionados, ligados as representaes
faunsticas que o elemento nativo no desenho Tapaj; e os fatores correlacionados, que sereferiam a traos estruturais e decorativos que a cermica Tapaj apresenta em comum com
as outras reas arqueolgicas americanas.
Os fatores no-correlacionados so as representaes de jacars, onas, macacos,
pssaros e cotias. Palmatary argumenta que os adornos, estatuetas e vasos com estes
motivos faunsticos so "puramente Tapaj", portanto, importantes para a identificao
cultural e para traar sua rota.
Os fatores correlacionados so: as formas batrquias, as caritides, as formas
compostas, os" enclosed eye area", as formas dos olhos, as estatuetas, as flanges, as alas,
o motivo mo-no-rosto, os "hollow shoulder-cylinders", os vasos antropomorfos
representando corcundas, os gargalos, as bordas incisas e ocas, as volutas, as bases
anulares em forma de sino, as trpodes, os pratos concntricos, os "fish effigy vessels", as
"superimposed forms" e os apitos. Aps a descrio destes elementos apresenta uma tabela
de correlao que segundo ela "an attempt based upon a study of archaeological reports
covering the most important areas between the southeastern United States an Argentina to
estimate the incidence in the archaeology of others areas of certain ceramic traits which
characterize Tapaj pottery"(Ibid:108)11 . Como justificativa da troca de informaes e
influncias, Palmatary apontou o fato das migraes, que sempre caracterizaram a raa
humana seja por causa de guerras, comrcio ou pelo prprio extinto humano de conhecer
9 Traduo - "embora diferentes estilstica e ideologicamente, estas duas importantes culturas amaznicas exibem em formas altamentedesenvolvidas, uma tcnica difcil e rara - as bordas ocas".10
Traduo - "sendo a arte Tapaj to genuna por causa de certas particularidades da estilizao, a cermica facilmente identificvel.Porm, o desenho Tapaj tambm apresenta caractersticas em comum, no apenas com Maraj, mas com culturas cujos restos tem sidoencontrados longe do vale do Amazonas".11Traduo - " uma tentativa de estimar a incidncia na arqueologia das reas mais importantes desde o sudeste dos EUA at aArgentina, de certos traos que caracterizam a cermica Tapaj".
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outros lugares. Outro aspecto eram as possveis conexes atravs do imenso sistema fluvial
da bacia amaznica que propiciaria estas migraes.
Palmatary conclui que atravs de sua pesquisa, ainda no era possvel saber quem
foram os Tapaj e quanto tempo eles estiveram no baixo Amazonas. Embora no podendo
responder estas questes, que alis no estavam em seus objetivos, forneceu uma grandecontribuio na medida que estabeleceu quais as caractersticas fundamentais da cermica
Tapaj que a autora denominou de fatores no-correlacionados; que tornou pblico os
dados e mapas de Nimuendaj; que mostrou as relaes estilsticas dos Tapaj com outras
reas especialmente com a regio do Caribe; e que mostrou elementos que permitem supor
que os Tapaj eram formados por mais de um grupo tnico.
Quando Palmatary publicou "The Archaeology of the Lower Tapajs Valley, Brazil",
Betty Meggers criticou-o severamente. Segundo ela, j que o trabalho no diz nada sobre otamanho, a localizao, a distribuio geogrfica e abundncia de stios; nada sobre a
profundidade ou estratigrafia dos depsitos; e nada relevante sobre a descrio tcnica da
cermica deveria ter sido denominado "The Pottery of the Tapaj Valley". Meggers tambm,
considera que o ponto de apoio do trabalho esta na arte em vez da cincia (Meggers,1960).
Embora Meggers tenha criticado to severamente o trabalho de Palmatary, seus
posicionamentos tericos no se mostram contraditrios. Ambos possuem uma preocupao
difusionista, pois as autoras esto preocupadas em saber as origens e rotas de migrao
dos estilos cermicos na Amaznia e arredores. O resultado final do trabalho de Palmatary,
o grfico de correlao, demonstra muito bem este aspecto. Neste grfico , a autora
demonstra os traos estilsticos que a cermica Tapaj tem em comum com as outras
regies, buscando estabelecer focos de influncias de onde provavelmente estes tenham
migrado.
Na dcada de 50, Frederico Barata publicou uma srie de trabalhos sobre a cermica
Tapaj. Estes trazem uma anlise bastante geral da cermica, baseada apenas nas
observaes estilsticas de vasos.
Em sua anlise, Barata considerou a caracterstica mais marcante da cermica
Tapaj, os vasos de caritides e de gargalo. Ressaltou que ao lado das formas
extremamente decoradas, existia cermica sem decorao e que na verdade compunha a
maior parte do material. Na maioria das colees existentes hoje, inclusive na do prprio
autor, no existem amostras de cermica sem decorao, pois no era valorizada por no
possuir beleza plstica.
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O procedimento de coletar somente peas mais bonitas est ligado a interesses de
colecionadores e antiqurios e representa o primeiro estgio de desenvolvimento do
interesse pela pr-histria. Este procedimento tem como base terica o difusionismo. Esta
teoria explicativa considera que as inovaes culturais e suas manifestaes materiais no
podem surgir em vrios locais ao mesmo tempo. Acredita que as inovaes surgem emcentros que possuem condies privilegiadas de onde migram para as periferias. Na medida
em que ocorrem estas migraes e estas vo se distanciando do centro, suas caractersticas
vo tornando-se mais diludas. Portanto, dentro deste quadro terico que se justifica a
preocupao em achar as peas mais bonitas, mais trabalhadas, isto significaria achar o
centro de inovao cultural.
Segundo a definio do autor, os vasos de caritides so constitudos de trs partes
bastantes distintas, modeladas separadamente e depois unidas. Estas partes so: a inferior,que quase sempre representada em forma de carretel; a superior, que tm a forma de uma
cuia ou bacia sendo bem maior que a primeira; e a terceira so as caritides antropomorfas
que fazem a ligao entre as duas primeiras.
A parte inferior, que Barata denominou de suporte, sempre decorada com desenhos
geomtricos. A parte superior tambm, possui desenhos geomtricos iguais ao da parte
inferior. Embora estes desenhos sejam quase sempre diferentes de um vaso para o outro,
no mesmo vaso so sempre iguais.
Quanto as caritides, observou o autor, que so sempre trs figuras antropomorfas
femininas ou sem sexo definido. Segundo ele, nunca se encontrou uma caritide masculina,
embora Palmatary(1960) afirme que existe um caso. Nestas figuras a representao
corprea quase no existe, em compensao a cabea desproporcionalmente grande. Isto
naturalmente esta ligado a sua funo de suporte do vaso. Os olhos, nariz, boca e orelhas
so modelados com perfeio. Os membros inferiores quase no existem. Os membros
superiores podem ser representados nas seguintes atitudes: com as mos cobrindo os
olhos, com as mos tapando a boca, com as mos estendidas para baixo e repousando
sobre as pernas, com uma s mo cobrindo um olho e a outra sobre o joelho e uma s mo
tapando a boca. Sem exceo, no mesmo vaso as trs caritides so sempre iguais,
possuindo a mesma atitude, porm de um vaso para o outro so sempre diferentes.
Barata descrevendo a parte superior, que designou como bacia, observou que pelo
lado externo desta existem figuras antropo-zoomorfas. Estas figuras geralmente
apresentam-se em nmero de quatro porm, existem vasos com cinco.
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Para concluir sua descrio, o autor chamou a ateno para o aparecimento, em
alguns vasos, de quatro furos localizados logo abaixo das figuras antropo-zoomorfas.
Segundo ele, j que o suporte em forma de carretel, permite uma estabilidade perfeita aos
vasos, estes furos no seriam para a introduo de fios cuja finalidade fosse manter a pea
em suspenso. Barata acha mais aceitvel que estes furos servissem para colocar penascoloridas nos dias festivos.
O autor considera os vasos de gargalo "os mais belos e mais ricos de sugestes entre
quantos produziu a arte oleira dos Tapaj"(Barata,1950:30). Dividiu-os em dois tipos, o
primeiro, tem a forma de uma lmpada votiva. Esta forma sugerida pelas duas "asas"
alongadas para o lado em forma de cabea de jacar ou de aves, talvez mutum ou urubu-rei.
O corpo do vaso no possui decorao, mas tem a forma de gomos e possui apndices
ornamentais em forma de rs. Estas se localizam entre as duas "asas" laterais. O espaoentre as rs e as cabeas de jacars ou aves so preenchidas com pequenas cabeas
antropomorfas ou zoomorfas ou ainda por cobras estilizadas. Sobre as cabeas de jacar
h, quase sempre, um quadrpede, talvez um candeo. Nas cabeas das aves h
geralmente outra ave de asas abertas. O gargalo, que o elemento caracterizador deste tipo
de vaso, aparece colocado, segundo o autor "como se fra um chapo, sobre uma cabea
antropomorfa que, mais dilatada, serve de ligao entre ele e o corpo central ...Nem sempre,
porm, essa dilatao intermediria tem uma figura antropomorfa. As vezes, ornamentada
com estilizaes de rs cobras, em relevo, ou ainda com simples incises"(Ibid:33). Segundo
ele os suportes destes vasos, tem a forma de um prato invertido possuindo decorao com
incises ou em baixo relevo. E ainda em alguns vasos em outros o suporte em forma de
animal, como por exemplo uma tartaruga que carrega a pea