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GUIA DE ESTUDOS ACNUDH 2018 O USO DE MICROCHIP IDENTIFICADOR-LOCALIZADOR DE PESSOAS CARLOS ANDERSON O. SILVA MARCOS V. MONTANARI MARCOS AURÉLIO DE CARVALHO PAULO GUSTAVO MARTINS THIAGO BICALHO

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GUIA DE ESTUDOS

ACNUDH

2018

O USO DE MICROCHIP IDENTIFICADOR-LOCALIZADOR DE PESSOAS CARLOS ANDERSON O. SILVA

MARCOS V. MONTANARI

MARCOS AURÉLIO DE CARVALHO

PAULO GUSTAVO MARTINS

THIAGO BICALHO

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Sumário

Introdução ............................................................................................................................................ 1

1. Contextualização histórica e científica dos microchips ................................................................... 2

2. O uso de microchips em animais não humanos ............................................................................... 4

3. O uso de microchips em seres humanos .......................................................................................... 6

4. Uma visão religiosa sobre o uso de microchips ............................................................................... 8

5. Questões relevantes nas discussões ................................................................................................ 10

Reportagens sobre o tema .................................................................................................................. 10

Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 11

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Introdução

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) é um

órgão que objetiva promover e proteger os Direitos Humanos ao redor do mundo, conforme normas

e tratados internacionais. Em 2018 completa-se o 70º aniversário da Declaração Universal dos

Direitos Humanos (1948), documento que pretendeu estabelecer os princípios gerais entre os povos,

tais como a paz, a liberdade, a igualdade, a dignidade e o progresso. O artigo 12º dessa carta institui

que

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu

domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra

essas intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.

Isso significa que a privacidade é um direito fundamental do ser humano. Na era digital

em que vivemos, mediada pelo acesso à internet, as informações pessoais são armazenadas em bancos

de dados aos quais, muitas vezes, o usuário não possui acesso direto. O uso de novas tecnologias e o

avanço do conhecimento sobre dispositivos de processamento e de comunicação ilustram o que o

sociólogo Manuel Castels (1999, p. 69) denomina de quarta revolução tecnológica, em que a própria

sociedade se insere num ambiente de rede. Embora a criação de grandes bancos de dados facilite o

acesso do usuário à rede e, por conseguinte, permita as suas ações sociais, a lógica deste novo sistema

tecnológico pode ser utilizada para o controle das massas. Com o avanço das tecnologias e ampliação

dos meios de comunicação, o fluxo de informações tem aumentado exponencialmente. Cada vez

mais, as pessoas compartilham aspectos da sua vida na internet, em especial, nas redes sociais.

Depositam informações pessoais, alimentando bancos de dados economicamente valiosos que, não

raro, representam violações ao direito à privacidade (MATOS; MENEZES; COLAÇO, 2017).

Nesse contexto, a implantação de chips em seres humanos para efeito de guardar ou

transmitir dados pessoais desperta, cada vez mais preocupações, sobretudo diante da disseminação

desses artefatos eletrônicos. Esses pequenos aparelhos do tamanho de um grão de arroz (cerca de 12

milímetros) são implantados sob a pele por uma injeção ou pistolas semelhantes às usadas para

vacinação que, ao serem lidos por um dispositivo de scanner, fornecem com rapidez informações

sobre seu portador como, por exemplo, a identificação e a localização (FILHO, 2006).

Este comitê pretende simular as reuniões da ACNUDH para regulamentar, em âmbito

mundial, o uso de microchips de identificação e localização de pessoas. Pretende-se debater questões

como a privacidade e segurança dessas novas tecnologias, bem como os limites éticos sobre o uso

desses dispositivos em seres humanos.

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1. Contextualização histórica e científica dos microchips

As transformações tecnológicas marcam a sociedade capitalista desde a Revolução

Industrial. As competências e habilidades do ser humano somadas as ferramentas e instrumentos

tecnológicos perpetuam novas descobertas e inovações. De acordo Houaiss, tecnologia é:

1. Tratado das artes em geral. 2. Conjunto dos processos especiais relativos a uma

determinada arte ou indústria. 3. Linguagem peculiar a um ramo determinado do

conhecimento, teórico ou prático. 4. Aplicação dos conhecimentos científicos à

produção em geral: Nossa era é a da grande tecnologia. T. de montagem de

superfície, Inform.: método de fabricação de placas de circuito, no qual os

componentes eletrônicos são soldados diretamente sobre a superfície da placa, e não

inseridos em orifícios e soldados no local. T. social, Sociol.: conjunto de artes e

técnicas sociais aplicadas para fundamentar o trabalho social, a planificação e a

engenharia, como formas de controle. De alta tecnologia, Eletrôn. e Inform.:

tecnologicamente avançado: Vendemos computadores e vídeos de alta tecnologia.

Sin.: high-tech.

Da pedra lascada até os atuais smartphones, o mundo passou por diversas transformações

que quebraram muitos paradigmas e derrubaram outros tantos dogmas da sociedade. Embora ainda

existam muitos preconceitos e radicalismos, fazemos parte de uma sociedade transformada por

tecnologias que estão a nossa disposição. Enquanto atores principais de nossa existência podemos

utilizá-las como nos convém, para o bem ou para o mal.

Os países aliados, durante a Segunda Guerra Mundial, produziram um dispositivo

tecnológico que tinha o propósito de evitar “o fogo amigo”1: a Identificação por Rádio Frequência

(IDRF). A IDRF consiste na utilização de uma etiqueta (TAG) onde podem ser gravadas diversas

informações a respeito do objeto a ser etiquetado. Um aparelho é capaz de recuperar a informação

gravada quando aproximado da TAG a certa distância. Terminada a Guerra, o artefato foi absorvido

pelo mercado de monitoramento e vigilância eletrônica. Nos Estados Unidos O primeiro dispositivo

de monitoramento eletrônico foi desenvolvido nos anos 1960 pelos irmãos Ralph e Robert

Schwitzgebel, por entender que sua invenção poderia fornecer uma alternativa barata e humana à

custódia para pessoas envolvidas criminalmente com a justiça. A máquina consistia em um bloco de

bateria e um transmissor capaz de emitir sinal a um receptor (DE MELO, 2014).

1 Trata-se da possibilidade da artilharia aliada alvejar seus próprios aviões durante combates. IDENTIFICAÇÃO POR

RADIOFREQUÊNCIA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Identifica%C3%A7%C3%A3o_por_radiofrequ%C3%AAncia&oldid=5076

9363>. Acesso em: 16 dez. 2017. Termo em inglês: Radio-Frequency Identification” - RFID.

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Com o incremento da tecnologia utilizada nos chips, durante a década de 1980,

modificou-se a solução para sistemas de rastreamento e controle de acesso, baseada em

radiofrequência. Essa nova tecnologia serviu como modelo de referência ao desenvolvimento de

novas aplicações de rastreamento e localização de produtos. Nesse passo, nasceu o Código Eletrônico

de Produtos – EPC, um antecessor da atual tecnologia de identificação por radiofrequência (VIERA,

2007).

Essa nova tecnologia proporciona ganhos na qualidade de vida das pessoas e, ao mesmo

tempo, desperta grandes desconfianças. Várias organizações já fazem uso dessa tecnologia para

pagamento de pedágio, acesso a ambientes restritos, dentre outros. Ela também pode ser utilizada em

seres vivos — em animais humanos e não humanos — para identificação e localização. Nos últimos

anos, a IDRF passou por inovações, entre as quais destaca-se a produção de biochips, isto é, etiquetas

inteligentes capazes de interagir com o objeto que identificam para atuar neles de forma a monitorá-

los ou mesmo modificá-los. Isso quer dizer que a nova TAG criada identifica o objeto e pode interagir

com ele através de sensores de diversos tipos. O objetivo desta nova tecnologia é monitorar o estado

atual do etiquetado e transmitir, em tempo real, as informações relevantes para um dispositivo central

de controle.

Um dos princípios de funcionamento da tecnologia IDRF é a radiação eletromagnética.

Define-se a radiação eletromagnética como sendo ondas de energia elétrica e magnética que são

irradiadas juntas através do espaço e, entende-se por radiação, a propagação de energia através do

espaço na forma de ondas ou de partículas. (YOUNG e FREEDMAN, 2004). No que tange sua

extensão, verifica-se a existência de dois tipos de chips subcutâneos: o RF Tag Passivo e o RF Tag

Ativo. O primeiro opera sem bateria, portanto, com custos mais baixos, uma vez que a sua

alimentação é fornecida pelo próprio leitor por meio de ondas eletromagnéticas, com vida útil

ilimitada. Geralmente, este dispositivo é usado a curta distância, sendo capaz apenas de realizar a

leitura de dados (MELO, 2014). O Tag Passivo pode ser utilizado para armazenar dados médicos, que

permitem identificar pacientes cardíacos ou com Alzheimer através de informações contidas no chip.

Contudo, é necessário que o hospital disponha de estrutura tecnológica, por exemplo, um scanner que

faça a leitura de dados. Essa técnica já é utilizada por diversos hospitais ao redor do mundo. O

segundo tipo de etiquetagem é o chip conhecido como RF Tag Ativo, que se alimenta de uma bateria

interna, e possui custo mais alto. Esta Tag possui a capacidade de escrita, de leitura e, em alguns

casos, pode-lhe ser atribuída a capacidade de reescrita. Esse tipo é usado para monitorar o movimento

das pessoas, pois se trata de uma etiqueta eletrônica avançada, que utiliza a tecnologia de localização

por satélite GPS (Global Positioning System) com o objetivo de realizar o rastreamento do usuário

(FILHO, 2006).

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Nos Estados Unidos, a disseminação do implante de chips para uso médico ocorreu a

partir de outubro de 2004, quando a agência que regula a agência que regula o uso de alimentos e

medicamentos (Food and Drug Administration), autorizou a prática do implante de transponders em

seres humanos. A empresa Applied Digital Solutions logo se tornou líder nesse mercado, com a

comercialização do VeriChip, utilizado em pacientes com alguma doença. De acordo com Demócrito

Filho (2016, p. 1),

Após ser implantado, em geral sob a pele do braço, o VeriChip pode ser lido por uma

espécie de scanner, que identifica o código do portador e permite acesso através da

Internet a um grande banco de dados mantido pela empresa, que armazena toda a

ficha médica das pessoas cadastradas, contendo, por exemplo, tipo sanguíneo, tipos

de doenças anteriores já apresentadas e tratamentos ministrados, entre outras

informações.

Espera-se que essa tecnologia permita a um paciente ser assessorado remotamente por

seu médico, que pode configurar a sua TAG para administrar qualquer medicamento

automaticamente. Pacientes idosos podem ser acompanhados, no dia a dia, por seus familiares, que

podem ser informados de possíveis alterações na saúde e na rotina diária do indivíduo, inclusive

indicando se ele está caído, dormindo ou realizando outra atividade. Diabéticos e hipertensos podem

ser medicados automaticamente por suas TAG’s caso seja detectada alguma anomalia no organismo.

Além disso, existe a conveniência de evitar que um ser humano necessite portar documentos e

dinheiro, podendo utilizar a sua TAG para realizar transações bancárias e comerciais, ser identificados

em “blitz” policiais, etc.

2. O uso de microchips em animais não humanos

A utilização de microchip e chip em animais não humanos já é uma realidade tanto para

animais de estimação quanto para animas de produção. O implante de microchip é hoje uma das

ferramentas mais eficazes para o controle zootécnico. Em relação aos animais de estimação, nos casos

de perda, abandono, roubo ou se alguém os levar a algum abrigo ou ao veterinário, eles poderão ser

identificados de imediato.

O microchip usado para a identificação eletrônica de animais geralmente é formado por

duas partes: uma é o microchip em si e a outra é a cápsula que o envolve. A cápsula é feita de um

vidro biocompatível (não provoca alergias) e é tão pequena quanto um grão de arroz. Em animais de

maior porte, como caprinos e bovinos, o chip é inserido no chamado “bolus” (usado para administrar

medicamentos), que é mantido no rúmen destes animais. A utilização de microchips em animais de

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produção promove a automação do processo de identificação e facilita o armazenamento dos dados

do animal, favorecendo a rastreabilidade das informações.

Diferente dos métodos tradicionais de identificação (brincos, colares, tatuagem,

marcações a fogo ou a frio), o uso de microchips permite maior controle, menores perdas, além de

uma gestão mais flexível e eficiente do sistema produtivo. A preocupação com a segurança alimentar

tem crescido mundialmente. A identificação eletrônica é uma tecnologia que facilita e assegura a

rastreabilidade de alimentos de origem animal. A adesão ao uso da identificação eletrônica e à

automação do sistema de produção animal ainda está longe de ser realidade na maioria dos países.

Porém, cada vez mais, as vantagens do uso dessa tecnologia superam as desvantagens, que se

relacionam aos custos de implantação e de capacitação de profissionais. (MACHADO; NANTES,

2000).

Com o desenvolvimento da microeletrônica e da automação dos sistemas de produção,

encontra-se no mercado uma ampla gama de microchips e leitores que podem ser utilizados na

pecuária e associados a diferentes métodos. De maneira geral, esses podem ser divididos em métodos

invasivos e não invasivos.

Os métodos invasivos são aqueles que necessitam atingir fisicamente o animal, por meio

de um instrumento, para inserir o microchip ou o brinco com transponder. É um método prático e

eficaz quanto à realização da leitura digital, mas a sua implantação requer habilidade e tempo, além

de causar estresse temporário ao animal. Por outro lado, os métodos não invasivos são aqueles que

não necessitam de qualquer tipo de penetração física de instrumentos no corpo do animal, como é o

caso da biometria e do uso de colares. Na comparação, o método não invasivo promove o melhor

bem-estar animal.

Em situações práticas de campo, por exemplo, em bovinos, o uso de microchips

identificadores permite maior eficiência na operacionalidade das atividades. Em um curral de manejo,

os animais passam por um corredor onde se encontra um leitor do chip. As informações são enviadas

a um computador que carrega dados como o número do animal, a idade, a raça, a categoria animal,

vacinações, ocorrências, etc. Evita-se, assim, ter que conter o animal para identificá-lo de outra forma.

No caso dos animais de estimação, o microchip para cães e gatos é uma forma popular e

moderna de identificá-los de modo eficaz e seguro. O microchip para animais contém um código

exclusivo e inalterável que transmite informações específicas. Em animais de estimação

(principalmente cães e gatos), o objetivo é ter o maior controle quanto a sua identificação. Muitos

microchips podem servir como localizadores. Assim, se o animal se perde, o proprietário pode

localizá-lo pelo sistema de GPS. A vantagem desse sistema é a diminuição do abandono de animais,

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já que a lei de alguns países prevê sanções para quem abandone ou maltrate um animal. Dessa forma,

é possível identificar o proprietário e responsável legal por um animal abandonado ou maltratado. O

uso de microchips, tanto em animais de produção quanto de estimação, tem se tornado cada vez mais

popular, já que o custo de implantação e manutenção vem caindo. Vale ressaltar que as implicações

éticas com a utilização desta tecnologia em animais de produção não são tão evidentes quanto a sua

utilização em seres humanos.

3. O uso de microchips em seres humanos

A utilização de microchips em seres humanos ainda é proporcionalmente pequeno, mas

tem aumentado no decorrer dos anos. Essa tecnologia tem sido aplicada em áreas como a do controle

da frequência de alunos em escolas, do monitoramento em detentos, da prevenção contra sequestros

e na área de procedimentos hospitalares. Gastou-se mais de 1,5 milhão de dólares em estudos para se

verificar o melhor local para aplicação do chip no corpo humano. Os pesquisadores estipularam dois

lugares eficientes: a testa, debaixo do couro cabeludo, e a mão, especificamente à direita, porque o

carregamento automático da pilha precisa de mudanças rápidas de temperatura. Além disso, existem

efeitos colaterais sob a pele que dificultam a implantação em outras partes do corpo (MELO, 2014).

A implantação de chips em seres humanos para efeito de arquivamento e transmissão de

informações de caráter pessoal desperta preocupações. Esses pequenos aparelhos, tecnicamente

conhecidos como transponders, são microchips implantados sob a pele que, ao serem lidos por um

dispositivo de scanner, fornecem com rapidez informações sobre seu portador. O chip é introduzido

no corpo por uma injeção ou pistolas semelhantes às usadas na vacinação.2

No início, os fabricantes desses microchips subcutâneos divulgavam — durante a sua

comercialização — se tratar de um sistema de identificação em rebanhos e animais de estimação, para

poderem ser utilizados acoplados a unidades GPS, permitindo, por exemplo, a localização de um

animal perdido. Depois, os chips passaram a ter outro tipo de aplicação, voltada para a localização de

pessoas sequestradas. Tem-se notícia de sua utilização também para o controle da entrada e saída de

pessoas em certos lugares. Mas a medicina é o principal campo comercial para a utilização de chips

em seres humanos. O profissional precisa apenas passar um leitor sobre o chip e terá acesso ao

histórico médico do paciente. Os defensores da tecnologia propagam a funcionalidade desta

2 Para se ter uma ideia do tamanho do chip e desse aparelho inoculador, clique no seguinte link: http://www.endi.com/

XStatic/endi/template/nota.aspx?n=26843

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tecnologia que permite a hospitais e médicos obter informações precisas sobre cada paciente e sua

condição de saúde. O dispositivo também tem sido utilizado para propósitos de segurança, em áreas

onde estão instaladas bases nucleares dos EUA, com a implantação dos chips em empregados, para

permitir o acesso a áreas restritas. Há previsão de que a utilização dos chips para controlar o acesso

de empregados de cassinos e hotéis e para evitar que crianças se percam em centros comerciais.

Como se observa, a arquitetura da tecnologia dos chips permite tanto o monitoramento

do indivíduo como o acesso a informações pessoais. O monitoramento de pessoas pode causar

preocupação. Quando uma pessoa portadora de um chip passa por um local qualquer, equipado com

sensores, a sua identificação é checada automaticamente, e a sua localização confirmada. Sensores

nos mais diferentes lugares podem permitir o rastreamento completo das atividades da pessoa que

esteja portando o dispositivo. Essa tecnologia possibilita desenvolver um verdadeiro e completo

sistema de vigilância, a ser utilizado pelas mais diversas instituições (policiais, militares, médicas,

comerciais, industriais etc.), criando uma atmosfera de vigilância e monitoramento, que é a base da

sociedade de controle preconizada pelo filósofo Gilles Deleuze. Na visão de Deleuze,

coleiras eletrônicas capazes de detectar a posição de cada indivíduo, lícita ou

ilicitamente, operando uma modulação universal, seriam os novos instrumentos de

controle a serem implantados no lugar dos meios de confinamento disciplinares

estudados por Foucault. É a sociedade de controle substituindo a sociedade

disciplinar” (DELEUZE, 1992).

As sociedades de controle substituíram as sociedades disciplinares dos séculos anteriores,

que se organizavam por meio de instituições de confinamento: a escola, o hospital, a caserna, a

fábrica. Na sociedade do século XXI, porém, os espaços sociais fechados são substituídos por

circuitos abertos e sem fronteiras, como é o caso da internet. Os mecanismos de controle, segundo o

filósofo citado, tendem a ser adaptados a esse novo contexto. Pelo simples cruzamento de dados de

localização, é possível extrair conclusões a respeito do comportamento de uma pessoa, por exemplo,

os locais que frequenta, o horário, o tempo que permanece em determinados locais.

Se a simples possibilidade de monitoramento dos deslocamentos de uma pessoa já causa

preocupação, o que se dizer dessa funcionalidade atrelada à possibilidade de acesso automático a

dados sensíveis da pessoa monitorada? Outro questionamento importante é saber a quem pertencem

os dados coletados: da pessoa com o chip ou da empresa que comercializa o produto? Esta última

pode exercer o monitoramento da vida de uma pessoa, através dos dados sobre a identidade e dos

deslocamentos individuais, controlando muitas outras informações que ficam disponíveis na sua base

de dados. E não é apenas o acesso ao número de informações contidas no próprio chip que preocupa.

Esses dados podem ser processados em conexão com um sistema de banco de dados mantido pelas

empresas que o desenvolvem, produzindo informações relevantes de alto valor comercial. Empresas

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como Google e Facebook possuem enorme estoque de informações pessoais que podem ser utilizadas

comercialmente e para fins políticos, o que pode, inclusive, ser uma ameaça à democracia.

Defensores dos Direitos Humanos exigem que essa tecnologia deve ser imediatamente

regulamentada, estabelecendo-se limites no acesso das informações e definição de responsabilidades

e obrigações de segurança dos dados para os mantenedores do sistema. Entre as obrigações, devem

também ser incluídas cláusulas de segurança dos dados para a empresa que opera a tecnologia,

contendo detalhes de segurança contra acessos não autorizados (ataques hackers). Diversos países

seguem o preceito internacional de que “a vida privada da pessoa é inviolável”. Tecnologias de IDRF

também inoculam objetos no corpo da pessoa. Esse detalhe configura mais uma violação ao preceito

de que que toda pessoa tem direitos sobre o próprio corpo, e somente ela pode permitir a implantação

de um dispositivo sob sua pele. Apesar de tudo, deve-se considerar que esse tipo de tecnologia pode

trazer resultados benéficos para a sociedade. Daí a necessidade de um debate que estabeleça regras

internacionais para o uso de microchips em seres humanos.

4. Uma visão religiosa sobre o uso de microchips

O Presbítero da Igreja Evangélica Congregacional em Almenara (Minas Gerais, Brasil)

enviou-nos a seguinte carta sobre o tema, conforme a sua visão religiosa.

Estamos presenciando um grande salto tecnológico em nossa sociedade atual, houve

uma mudança exacerbada em muitos aspectos que envolvem nosso dia a dia. O que

dizer da evolução das mídias, dos aparelhos, dos recursos e também dos sistemas.

Aquilo que outrora servia mais para entretenimento, hoje faz parte de nossa vida

pessoal e profissional, e faz parte fundamentada em uma crescente dependência

condicional. Aquele que de certa forma não acompanha as atuais atualizações

tecnológicas, correm um risco de ficar de fora de muitos direitos e benefícios hoje

em dia.

É interessante compreender que como bons Cristãos, e tendo a Bíblia como a Palavra

de Deus e também como regra de fé, nada, ou nenhum destes tais avanços deixou de

ser anunciado profeticamente num passado. Como que para nós, Deus detém todo

controle do desdobramento da existência humana, e não está alheio a nenhum deles,

encontramos em sua Palavra referencias claras de nossos dias, e de nossos avanços

tecnológicos. E além dos avanços, a bíblia também apresenta alguns aspectos

consequentes destes nossos dias.

O profeta Daniel deixou uma clara referência (Dn 12.4), que a ciência teria um

grande avanço, e de fato o conhecimento ou acesso a informação é o “carro chefe”

dos dias em que vivemos. Com isso alcançamos uma grande expansão comercial,

política e religiosa. De fato, isso é um poder muito grande, a informação. Mas, quem

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controla toda essa informação? É aqui que começaremos a falar no plano de controle

mais aguardado da história da existência do homem. Pois o que governos políticos e

religiões não conseguiram, um sistema com um banco de dados bem preparado irá

conseguir. Controle!

No texto do Apostolo João do livro de Apocalipse da Bíblia Sagrada, exatamente no

capitulo treze a partir versículos onze (Ap. 13:11-18), temos a mais clara referência

do intuito deste sistema que virá “contribuir” de forma mui significativa para vida

dos homens. E se há uma coisa que precisamos considerar para não haver

dificuldades de entendimento, é que, João teve uma visão de um futuro tecnológico,

e quando registrou essas experiências em seu livro usou palavras, e coisas do seu

contexto de vida.

Neste registro é surpreendente a forma como o Apostolo João deixa claro que o

controle estará nas mãos de um sistema, no caso a Bíblia chama de o Anticristo. Tudo

caminha para a integração destas informações, as placas de nossos veículos terão um

chip, nossos dispositivos móveis, nossos animais e nosso poder aquisitivo também

está em um chip. De maneira que só falta agora um chip em nós mesmos.

“Também obrigou todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, a

receberem certa marca na mão direita ou na testa, para que ninguém pudesse

comprar nem vender, a não ser quem tivesse a marca, que é o nome da besta ou o

número do seu nome.” (Apocalipse 13:16,17)

É bem certo que a implantação deste sistema trará mais praticidade, agilidade e

segurança para a vida dos homens, em meio ao caos social que vivemos, nada melhor

do que saber onde estão as suas coisas com um simples toque no botão de busca.

Mas a que preço? Pois com o chip dentro de nós o item a ser monitorado seremos

nós.

Em uma sociedade tão engajada a “tolerância” como a nossa, como ficarão aqueles

divergentes que fazem parte da construção sadia de nossa humanidade? Controle! É

o que esse chip representa na sua finalidade majoritária.

Se nossa vida fosse como um I.O.S. aceitando esse chip estaremos abrindo as portas

para este vírus, é como se estivéssemos desligando nosso firewall e nosso antivírus,

e deixando-nos vulneráveis para esta infecção.

Alguns já falam que esta era é a nova fase da evolução humana, e de fato pode até

ser, porém gostaria de encerrar meu texto com uma pergunta formulada por um

simples carpinteiro a mais de dois milênios atrás: “Eu lhes digo: ele lhes fará justiça,

e depressa. Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra? (Lucas

18:8). Deus nos abençoe!

Júnior S. Arruda

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5. Questões relevantes para as discussões

A utilização dessa tecnologia pode trazer benefícios sociais, mas é importante alertar para

os riscos da utilização indevida. O uso em larga escala, sem regras rígidas, pode aumentar o risco de

as informações presentes nesses chips serem utilizadas para finalidades prejudiciais à sociedade e aos

indivíduos. Por essa razão, ao lado do desenvolvimento de tecnologias menos invasivas, o Alto

Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pretende discutir e estabelecer as normas

e práticas protetivas da privacidade humana em relação ao IDRF. A tecnologia de identificação por

radiofrequência necessita ser minuciosamente regulamentada, com a finalidade de estabelecer

restrições quanto ao acesso das informações, armazenamento e utilização das informações coletadas,

bem como na definição de punições, responsabilidades e deveres de segurança dos dados para os

gestores do sistema.

Algumas questões que a ser levantadas durante os debates podem auxiliar os delegados

em sua pesquisa: Seria viável proibir a utilização desse tipo de tecnologia, diante do seu potencial

invasivo, em favorecimento da privacidade individual? O uso que se pretende desse tipo de tecnologia

traz resultados benéficos à pessoa titular dos dados armazenados? E se a vida do indivíduo depender

da implantação desse tipo de mecanismo? O paciente, ao aceitar a implantação do chip, abre mão do

direito à privacidade? Como garantir que os dados pessoais não sejam utilizados para outra finalidade

que não o tratamento de sua saúde? O consentimento das pessoas, quando aceitam participar de uma

rede social ou obter um endereço virtual, é suficiente para garantir às empresas o uso das

informações? Quais são os limites éticos da implantação de microchips em seres humanos? Existem

implicações religiosas relevantes que deveriam ser levadas em conta?

Reportagens sobre o tema

1. Sobre o uso do microchip para evitar sequestro, ver artigo publicado sob o título “Famílias

gaúchas na fila para receber os chips”: http://brazil.indymedia.org/pt/

blue/2005/02/308592.shtml

2. No México, a Secretaria de Justiça adotou a utilização dos chips para controlar o acesso de

seus funcionários a salas de segurança máxima que guardam documentos sigilosos referentes

ao narcotráfico naquele país. Em Barcelona, na Espanha, a casa noturna Baja Beach Club

adotou em março de 2004 o uso do chip para utilização por seus frequentadores mais assíduos,

que são identificados por sensores e as despesas efetuados vão sendo registradas

eletronicamente. Ver artigo publicado no site Terra: http://tecnologia.terra.com.br/

interna/0,,OI886717-EI4799,00.html

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3. Segundo informações contidas em artigo de Victor Muiños Barroso Lima, a fabricante do

VeriChip vende o produto por 200 dólares. O usuário ainda paga mais 40 dólares mensais a

título de manutenção do serviço. A operação de implante dura cerca de 20 minutos, tempo

necessário para aplicar uma anestesia local, injetar o dispositivo por meio de uma seringa

descartável e fazer o curativo. Além do uso médico aprovado pelo governo americano, o

artefato tem sido usado para outros fins em outros países. Sobre o tema, conferir: Vida de

Gado: o uso de implantes eletrônicos de identificação e o direito à privacidade”, artigo

publicado no site do IBDI: http://www.ibdi.org.br/index.php?secao=&id_

noticia=433&acao=lendo

4. Para outra versão sobre a visão religiosa sobre o assunto, que enxerga na tecnologia dos chips

para implante em seres humanos um empreendimento satânico e de controle da humanidade,

conferir o artigo denominado “O Projeto da Besta”, publicado em

http://www.portalanjo.com/plenitude/marcadabesta666.htm

5. Em notícia recente publicada em site espanhol (em 12.07.06), é dado conhecimento de que

em Porto Rico os VeriChips estão sendo implantados em portadores do mal de Alzheimer. A

principal preocupação dos familiares de pessoas portadoras de Alzheimer é a segurança deles.

Como se sabe, os portadores de Alzheimer pouco a pouco vão perdendo a memória, e a

utilização da tecnologia do VeriChip permite prover tratamento adequado quando se perdem

ou no caso de qualquer outra emergência, o que costuma acontecer com frequência nos

estágios avançados da doença. Assim, o VeriChip pode ser uma ferramenta eficaz quando se

busca oferecer segurança física aos doentes de Alzheimer e alívio emocional para seus

familiares. Ver http://www.endi.com/XStatic/endi/template/nota.aspx?n=26847

6. Sobre a ameaça de dispositivos tecnológicos como a Cambridge Analytica, ver

https://www.publico.pt/2018/03/20/tecnologia/noticia/ca-a-empresa-que-manipula-a-

democracia-a-escala-global-1807409.

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