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INTRODUÇÃO Criada durante a Primeira Guerra Mun- dial como mecanismo de identificação de for- ças armadas inimigas 6 , a termografia vem se tornando bastante difundida em medicina esportiva equina nos dias atuais. Trata-se de uma ferramenta altamente aplicável na iden- tificação das afecções musculoesqueléticas por se apresentar como um auxílio diagnós- tico de simples execução e resultados imedi- atos 5,7,8,9,10 . Porém, como qualquer outro mé- todo auxiliar de diagnóstico, a obtenção de dados deve ser realizada com rigor e caute- la, bem como a leitura das imagens resultan- tes. A deficiência nos critérios de execução do exame termográfico resultam em artefa- tos os quais podem induzir interpretações Guia Prático de Exames (Practical guide of equine thermographic examinations) Roberta Carvalho Basile Acadêmica em Medicina Veterinária - Univ. Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP. Mestre em Engenharia Aeronáutica - Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) [email protected] Marcelo Toledo Basile Engenheiro Aeronáutico (ITA). Colaborador do LAFEQ (Lab. Farmacologia e Fisiologia do Exercício Equino) Raquel Mincarelli Albernaz Doutora em Clínica Cirúrgica de Grandes Animais Univ. Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP Marsel de Carvalho Pereira Doutorando em Medicina Veterinária - Univ. Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP Renatha Araújo Mestranda em Medicina Veterinária - Univ. Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP Guilherme de Camargo Ferraz Prof. Dr. de Farmacologia Veterinária e Fisiologia do Exercício Equino (LAFEQ). Univ. Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP Antonio de Queiroz-Neto Prof. Dr. de Farmacologia e Fisiologia do Exercício Equino, Prof. Responsável pelo LAFEQ. Univ. Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP [email protected] RESUMO A termografia é uma tecnologia impor- tada da aviação militar que possui grande aplicabilidade como auxílio diagnóstico das afecções musculoesqueléticas de equinos. Para tanto, os procedimentos de aquisição de informações devem seguir uma meto- dologia rigorosa, evitando artefatos e a in- dução de erros em sua interpretação. A pro- posição deste trabalho foi apresentar a for- ma correta de como se executar um exa- me termográfico e os possíveis erros que podem ser cometidos por descuido com os procedimentos ideais. Unitermos: Termografia, metodologia, di- agnóstico, cavalos, musculoesquelético. ABSTRACT The thermography is a tecnology impor- ted from military aviation that has a great applicability as an aid in the diagnosis of horses musculoskeletal affections. However, the data acquisition procedures must follow a rigorous methodology, in a way to avoid artifacts and to induce interpretation mistakes. This work presents the correct way to perform a thermographic examination and the possible mistakes that can result from incautiousness with proper procedures. Keywords: Thermography, methodology, diagnosis, horses, musculoskeletal. em Equinos equivocadas. O termógrafo é um equipamento que rea- liza a leitura de ondas eletromagnéticas de frequências infravermelhas emitidas pela su- perfície de um corpo 5 . O calor é uma forma de energia a qual se transporta por este tipo de onda, portanto pode ser avaliado por câ- meras termográficas. Já a temperatura é uma grandeza física que representa o calor. Numa imagem obtida por termógrafo, pode-se ob- servar a distribuição da temperatura superfi- cial de um determinado corpo, a qual é repre- sentada por uma escala de cores que variam geralmente do preto (mais frio) até o branco (mais quente). A Figura 1 ilustra a termo- grafia de um equino se exercitando em estei- ra rolante. Figura 1: Equino saudável em esteira rolante ARQUIVO PESSOAL

Guia Prático de Exames Termográficos em Equinos

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Brazilian Journal of Equine Medicine 31: 24-28, 2010.ROBERTA CARVALHO BASILE

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Page 1: Guia Prático de Exames Termográficos em Equinos

INTRODUÇÃOCriada durante a Primeira Guerra Mun-

dial como mecanismo de identificação de for-ças armadas inimigas6, a termografia vem setornando bastante difundida em medicinaesportiva equina nos dias atuais. Trata-se deuma ferramenta altamente aplicável na iden-tificação das afecções musculoesqueléticaspor se apresentar como um auxílio diagnós-tico de simples execução e resultados imedi-atos5,7,8,9,10. Porém, como qualquer outro mé-todo auxiliar de diagnóstico, a obtenção dedados deve ser realizada com rigor e caute-la, bem como a leitura das imagens resultan-tes. A deficiência nos critérios de execuçãodo exame termográfico resultam em artefa-tos os quais podem induzir interpretações

Guia Prático de Exames

(Practical guide ofequine thermographicexaminations)

Roberta Carvalho BasileAcadêmica em Medicina Veterinária - Univ.Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP.Mestre em Engenharia Aeronáutica - InstitutoTecnológico de Aeronáutica (ITA)[email protected]

Marcelo Toledo BasileEngenheiro Aeronáutico (ITA). Colaborador doLAFEQ (Lab. Farmacologia e Fisiologia doExercício Equino)

Raquel Mincarelli AlbernazDoutora em Clínica Cirúrgica de Grandes AnimaisUniv. Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP

Marsel de Carvalho PereiraDoutorando em Medicina Veterinária - Univ.Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP

Renatha AraújoMestranda em Medicina Veterinária - Univ.Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, SP

Guilherme de Camargo FerrazProf. Dr. de Farmacologia Veterinária e Fisiologiado Exercício Equino (LAFEQ). Univ. EstadualPaulista (UNESP) - Jaboticabal, SP

Antonio de Queiroz-NetoProf. Dr. de Farmacologia e Fisiologia do ExercícioEquino, Prof. Responsável pelo LAFEQ. Univ.Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal, [email protected]

RESUMO

A termografia é uma tecnologia impor-tada da aviação militar que possui grandeaplicabilidade como auxílio diagnóstico dasafecções musculoesqueléticas de equinos.Para tanto, os procedimentos de aquisiçãode informações devem seguir uma meto-dologia rigorosa, evitando artefatos e a in-dução de erros em sua interpretação. A pro-posição deste trabalho foi apresentar a for-ma correta de como se executar um exa-me termográfico e os possíveis erros quepodem ser cometidos por descuido comos procedimentos ideais.Unitermos: Termografia, metodologia, di-agnóstico, cavalos, musculoesquelético.

ABSTRACT

The thermography is a tecnology impor-ted from military aviation that has a great applicability as an aid in the diagnosis of horsesmusculoskeletal affections. However, the data acquisition procedures must follow a rigorousmethodology, in a way to avoid artifacts and to induce interpretation mistakes. This workpresents the correct way to perform a thermographic examination and the possible mistakesthat can result from incautiousness with proper procedures.Keywords: Thermography, methodology, diagnosis, horses, musculoskeletal.

em Equinos

equivocadas.O termógrafo é um equipamento que rea-

liza a leitura de ondas eletromagnéticas defrequências infravermelhas emitidas pela su-perfície de um corpo5. O calor é uma formade energia a qual se transporta por este tipode onda, portanto pode ser avaliado por câ-meras termográficas. Já a temperatura é umagrandeza física que representa o calor. Numaimagem obtida por termógrafo, pode-se ob-servar a distribuição da temperatura superfi-cial de um determinado corpo, a qual é repre-sentada por uma escala de cores que variamgeralmente do preto (mais frio) até o branco(mais quente). A Figura 1 ilustra a termo-grafia de um equino se exercitando em estei-ra rolante.

Figura 1: Equinosaudável emesteira rolante

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Sabe-se que um dos pontos cardeais doprocesso inflamatório é o incremento detemperatura no local da lesão. Devido a estefato, as termografias são bastante valiosasna identificação de inflamações musculo-esqueléticas. Cabe ressaltar que o equipa-mento somente demonstrará as alteraçõesque forem capazes de transmitir o incre-mento calorífico para a superfície do cor-po. Desta forma, processos inflamatóriosarticulares ou ósseos cobertos por uma ca-mada espessa de musculatura podem nãorefletir externamente suas alterações.

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃOAo se realizar um exame termográfico,

o profissional deve ser cuidadoso com osprocedimentos de coleta de dados. Os prin-cipais aspectos a serem respeitados são:

Cuidados com o Paciente• A superfície do local de interesse deve estarlimpa e seca.• O animal não deve ter recebido nenhumamedicação tópica que altere o padrão cir-culatório local ou anti-inflamatória sistê-mica nas últimas 24 horas.• O animal deve estar em baia (ou local fe-chado e fresco) ao menos 1 hora antes doexame.• Não deve haver nenhum tipo de incidên-cia de luz solar no animal ao menos 1 horaantes.• Evitar a realização de tricotomia no lo-cal, mas caso seja necessária, realizar a ter-mografia 24 horas após a retirada dos pe-los.• Não tocar nem escovar a superfície queserá examinada, por ao menos 30 minutosantes da avaliação.

Cuidados com o Ambiente• A termografia deve ser realizada em localfechado e sem correntes de ar.• Sugere-se fortemente que seja feita a cor-reção para temperatura ambiente (descritaa seguir), pois desta forma não há limita-ções de temperatura atmosférica para a rea-lização das termografias. Esta correção per-mite também ao profissional acompanhar aevolução do quadro ao longo do tempo.

Cuidados com o Procedimento• Ao se focalizar uma lesão, deve-se buscarcentralizá-la na imagem, enquadrando tam-bém os limites em que o tecido se encontrasaudável.• Caso se opte por realizar um acompanha-mento da evolução da lesão ao longo dotempo, é interessante que as imagens se-jam capturadas sempre à mesma distância,

de forma a eliminar os efeitos de resoluçãode tela.• Assim como qualquer método diagnósti-co por imagem, é recomendável realizar aomenos duas projeções do local da lesão.Caso a afecção esteja localizada nos mem-bros, aconselha-se a realização das quatroprojeções (palmar/plantar, lateral, mediale dorsal).• Ao se capturar uma imagem, é importan-te atentar para que não haja nenhum tipode interferência no enquadramento (ex.pessoas, objetos, fezes, umidade no chão),pois estas podem confundir o profissionalno momento da leitura das termografias.• Nos acompanhamentos de uma afecçãoao longo do tempo, manter uma regulari-dade de horário para a captura das ima-gens (sempre pela manhã ou à tarde, porexemplo), de forma que não haja interfe-rências de leitura em função da variaçãode temperatura corpórea pelo ritmo circa-diano.

Cuidados com o Equipamento• O termógrafo deve estar configurado paraemissividade ε = 0.98 (couro) e modo “Ma-nual” de aquisição. O ajuste temperatura/paleta de cores deve ser selecionado parauma faixa de leitura de 10oC. Geralmenteconfigura-se as faixas de 24 à 34oC (paradias mais frios, abaixo de 20oC), 25 à 35oC(para os dias em torno de 20 à 25oC), 26 à36oC (para dias em torno de 25 à 30oC) e27 à 37oC (para os dias acima de 30oC). Dequalquer forma, o ajuste de cores/tempera-tura deve sempre ser verificado em funçãoda banda coronária dos cascos em buscado contraste ideal. Espera-se que a bandaesteja representada em cor vermelha e oscascos em amarelo ou verde (Figura 2).• A lente de captura deve estar posicionadaparalela à superfície a ser examinada.

Cuidados com a Leiturae Interpretação• A termografia fornece informações sobrea camada superficial da pele. Sendo assim,somente poderão ser avaliados os eventosdiretamente ligados à esta ou ainda às afec-ções que sejam capazes de transmitir caloraté a superfície do corpo. Não é possívelavaliar processos inflamatórios de órgãos.Incrementos de temperatura superficiais nocaso de inflamações/infecções de órgãosdevem ser pesquisados com relação à pre-sença de estado febril.• Ao se comparar imagens, deve-se ajustá-las para que tenham sempre a mesma esca-la cor/temperatura. Isto é possível por meioda configuração do equipamento em modomanual no instante da execução ou aindapelo ajuste da imagem diretamente no pro-grama de resgate de imagens (Flir Qui-ckReport®, por ex.).• O acompanhamento de processos infla-matórios é bem descrito pelo monitoramen-to da temperatura máxima no local da le-são. Esta temperatura pode ser obtida pormeio do programa de resgate de imagens,realizando-se o janelamento da área da le-são.• O monitoramento do paciente por váriosdias ou instantes de coleta deve ser efetua-do mediante a correção para temperaturaambiente.• Focos quentes (“hot spots”) estão geral-mente associados a processos inflamatóri-os. Focos frios (“cold spots”) em geral re-presentam redução na circulação local, co-mumente encontrada em neuropatias, is-quemias, fibroses e cicatrizes antigas.• Antes da interpretação de qualquer ter-mografia, deve-se conhecer o padrão nor-mal de distribuição de temperatura, de for-ma a se conhecer os locais que são fisiolo-gicamente mais quentes ou mais frios.

Figura 2:Ajuste ideal da paleta de

cores/temperaturailustrando o contraste da

banda coronáriarepresentada em vermelho

(vista dorsal da quartelae casco)

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ARTEFATOS DE EXECUÇÃOQuando um ou mais requisitos não são

respeitados, surgem artefatos nas imagensque podem confundir o clínico no momen-to da interpretação dos resultados.

Efeito de escalaUm dos artefatos mais frequentes é a

comparação de imagens termográficas emescalas de temperatura diferentes. Ao seanalisar as termografias, devemos lembrarque se trata de uma representação das tem-peraturas por meio das cores. Escalas dife-rentes (Figura 3) levam a representaçõesdiferentes e erros de interpretação, impli-cando em diagnósticos equivocados.

Efeito da presença de águaA umidade superficial interfere direta-

mente na temperatura do corpo, aumentan-do a perda de calor do membro por condu-ção e convecção, resultando em uma leitu-ra incorreta, como ilustrado na Figura 4.

Presença de sujidadePartículas de poeira, areia, serragem e

demais sujidades interferem na imagemtermográfica, atuando como barreira físicaà emissão de ondas infravermelhas pelocorpo (Figura 5). Portanto, é muito impor-tante realizar a limpeza do local da lesãocom um pano seco em torno de 20 minutosantes de efetuar o exame.

TricotomiaIdealmente não se deve realizar a tri-

cotomia da região de interesse para fazer aavaliação termográfica, pois o contato dalâmina com a pele e o corte dos pelos in-duzem uma reação inflamatória local (Fi-gura 6). Além disso, os pelos também atu-am como uma barreira física na emissãode ondas infravermelhas. Ao serem retira-dos, uma quantidade maior de calor atin-ge o equipamento, induzindo o artefato.Caso haja de fato a necessidade da tricoto-mia, realizar uma termografia antes do pro-cedimento e outra depois, para que sejamusadas como parâmetro no acompanha-mento da lesão conforme os pelos volta-rem a crescer.

Aplicação de fármacos tópicosA aplicação tópica de alguns fármacos

interfere diretamente na temperatura local,como por exemplo os géis à base de cânfo-ra (Figura 7). Evitar a aplicação de qual-quer fármaco no local ao menos 24 horasantes da execução da termografia.

Figura 4: Efeito da umidade da superfície na termografia. À esquerda, membro limpo eseco, à direita a ilustração do mesmo membro molhado. Note que houve uma diminuiçãoglobal de cerca de 5oC na temperatura representada

Figura 3: Termografia da face plantar de jarrete de equino com variação somente naescala da paleta de cores. Escala da figura à esquerda, de 25.0 à 35.7oC. Escala da figuraà direita, de 20.0 à 33.2oC

Figura 5: Efeito da presença de partículas de sujeira na termografia. À esquerda, membrolimpo e à direita a ilustração do mesmo membro após ter sido impregnado por partículasde serragem. Note que aparentemente é difícil visualizar a presença de sujidade

Figura 6: Efeito da tricotomia (à direita) na emissão de ondas infravermelhas. Note umincremento aparente de cerca de 5oC na temperatura superficial

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Nota: o produto foi aplicado em todo odiâmetro do membro, na região do terceirometacarpo e os membros encontravam sesecos em ambas imagens. Observou-se tem-po de ação do produto em torno de 20 mi-nutos.

Efeitos de manuseio e escovaçãoAo tocar ou escovar a superfície a ser

examinada, o profissional produz um in-cremento de temperatura local por condu-ção de calor ou atrito (Figura 8). Ao reali-zar a termografia, evitar manipular o localao menos 20 minutos antes do exame.

Variações na distânciade aquisição

Existe uma distância ótima para reali-zação do procedimento. Esta deve ser talque contenha toda a superfície a ser exa-minada, incluindo uma porção marginal daregião não lesionada. Ao se posicionar oequipamento muito longe, pode-se perdera resolução da imagem, já que as tempera-turas são fornecidas para cada pixel daimagem (Figura 9). Além disso, as varia-ções na distância de aquisição podem com-prometer as avaliações subseqüentes, queservirão como comparação para acompa-nhamento da evolução do paciente. Reco-menda-se verificar qual a distância ótimana primeira avaliação e repetir sempre amesma distância nos exames seguintes.

Variações na temperaturaambiente

Mesmo que o animal a ser examinadonão tenha sido exposto ao sol, as variaçõesde temperatura ambiente interferem de for-ma considerável nas leituras termográficas4

(Figura 10). Em caso de exames únicos, oprofissional deve buscar comparar as su-perfícies supostamente lesionadas com amesma região contralateral. Já no caso deavaliações continuadas, deve-se realizar apadronização das temperaturas obtidas nosdias subsequentes à primeira avaliação, deforma a poder compará-las e acompanhara evolução do paciente de forma correta econsistente.

MÉTODO PARA PADRONIZAÇÃODA TEMPERATURA AMBIENTE

No caso de se realizar o acompanha-mento termográfico de uma lesão por vári-os dias, torna-se importante registrar o va-lor da temperatura local máxima local (nocaso de processos inflamatórios) ou míni-ma (isquemias, neuropatias) para acompa-nhar sua evolução.

Figura 7: Membro torácico direito antes (à esquerda) e após (à direita) a aplicação de gelà base de cânfora. Observe a afinidade do princípio ativo pelos tendões, demonstradapela queda acentuada de temperatura

Figura 8: Incremento local de temperatura provocado pelo manuseio do membrotorácico esquerdo

Figura 9: Termografia da articulação metacarpofalangeana em posicionamento muitodistante (A) e ideal (B), com diferença de cerca de 1.00 m entre eles. Note que a imagemA revela temperaturas mínima e máxima locais (26.8oC; 34.2oC) bastante diferentes dasreais, apresentadas na imagem B (26.0oC; 35.8oC).

Figura 10: Termografia do mesmo equino em ambientes com temperaturas diferentes. Àesquerda, em baia a 21.4oC e à direita, a 26.8oC. Note que a escala de cores/temperaturaé a mesma em ambas as imagens. Um incremento de 5.4oC na temperatura ambienteproduziu o mesmo incremento de temperatura no membro saudável

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De forma a permitir a comparação en-tre estas temperaturas ao longo do tempo,deve-se realizar o procedimento de padro-nização destes dados em função da tempe-ratura ambiente2,3 no dia da primeira ava-liação. Este procedimento é bastante sim-ples e permite a correta comparação entreos resultados obtidos em cada um dos dias.É baseado na metodologia internacional depadronização de temperatura atmosférica(International Standard Atmosphere ISA)1.Basicamente, são realizadas apenas duasoperações matemáticas. Inicialmente secalcula o valor de θi (theta), que consisteno quociente entre a temperatura ambientede cada um dos dias subsequentes (i) e atemperatura ambiente no primeiro dia daavaliação (0).

θ i =Tambi

Tamb0

Onde,Tamb0

- Temperatura ambiente no primei-ro dia de avaliação, em Kelvin,Tambi

- Temperatura ambiente em cadaum dos dias subsequentes, em Kelvin

Em seguida, realiza-se a padronizaçãoda temperatura da lesão dos dias subseqüen-tes, dividindo-se a temperatura lida da le-são pelo valor calculado de θi.

Tlesãoi _ corr=

Tlesãoi

θ i

Onde,Tlesãoi

- Temperatura da lesão lida direta-mente da termografia, em Kelvin,Tlesãoi _ corr

- Temperatura corrigida resultan-te, em Kelvin.(OBS.: A temperatura em Kelvin é dadapela soma da temperatura em graus Cel-sius mais 273)

A Figura 11 demonstra a temperaturamáxima da articulação metacarpofalange-ana (AMF) de seis equinos hígidos, sub-metidos ao exame termográfico por 6 ava-liações consecutivas durante um período de40 dias. A temperatura ambiente indicadarepresenta a temperatura da baia de cadaum dos animais.

Observe que a temperatura da AMF domembro sem correção (curva vermelha)variou de maneira análoga à temperaturaambiente, o que pode induzir a um erro deinterpretação dos resultados. Ao se aplicaro método para padronização da temperatu-ra ambiente, os efeitos da variação ambi-ental são praticamente eliminados, permi-tindo a descrição correta da temperatura dolocal de interesse. Neste caso, a temperatu-ra da AMF foi corrigida em função das tem-peraturas das baias de cada um dos equi-nos, para todos os dias de aquisição, emrelação à temperatura da baia no dia do pri-meiro de exame.

Este método de padronização é válidopara os intervalos de temperatura ambien-te os quais não estimulem os mecanismos

fisiológicos de controle de calor. Ou seja, ométodo não se aplica a temperaturas ambi-entes frias o suficiente para iniciar os me-canismos de produção e retenção de calor(tremores musculares, eriçamento dos pe-los) nem quentes o suficiente para ativaros mecanismos de perda de calor, como asudorese.

CONSIDERAÇÕES FINAISA termografia é um exame simples e

prático de ser executado, permitindo aomédico veterinário a imediata avaliação deseus resultados, colaborando para a elabo-ração do diagnóstico e no acompanhamen-to da evolução do protocolo terapêutico ins-tituído. Porém necessita de rigor para suaexecução e interpretação, de modo a se evi-tar os artefatos que podem confundir o clí-nico e induzir a decisões incorretas.

AGRADECIMENTOS: Ao Manege Steel Hor-se Jaboticabal por ter cedido gentilmente seuscavalos para a produção deste trabalho.

Referências

1 - Anon. ICAO Standard Atmosphere and Extreme At-mospheres DOC 7041 - NACA Contractor Report1235, 1955.

2 - BASILE, R.C.; BASILE, M.T.; FERRAZ, G.C.; PE-REIRA, M.C.; QUEIROZ-NETO, A. Metodologia deavaliação quantitativa de termografia no acompanha-mento de processos inflamatórios em equinos. Anais daXI Conferência Anual ABRAVEQ, n.29, p.230-231,2010.

3 - BASILE, R.C.; BASILE, M.T.; FERRAZ, G.C.; PE-REIRA, M.C.; QUEIROZ-NETO, A. Equine inflamma-tory process evaluation using quantitative thermogra-phy metodology. Ars Veterinaria 26, n.2, 2010.

4 - CASTRO, V.; BARREIRA, A.P.B.; GRAÇA, F.A.S.;KNACKFUSS, F.B. Padrão termográfico de equinoshígidos em diferentes temperaturas ambientais. Brazili-an Journal of Equine Medicine, n.29, p.4-7, 2010.

5 - EDDY, A.L.; VAN HOOGMOED, L.M.; SNYDER,J.R. The role of thermography in the management ofequine lameness. The Veterinary Journal, n.162, p.172-181, 2001.

6 - FLYR Systems. Manual do Utilizador. Publicaçãon.T559075, 2008.

7 - HEAD, M.J.; DYSON, S. Talking the temperatureof equine thermography. The Veterinary Journal, n.162,p.166-167, 2001.

8 - TURNER, T.A. Thermography as an aid in the loca-lization of upper hindlimb lameness. Pferdeheilkunde,n.12, p.632-634, 1996.

9 - TURNER, T.A. Use of thermography in lamenessevaluation. AAEP Proceedings, n.44, p.224-226, 1998.

10 - SNYDER, J.R.; EDDY, A.L.; VAN HOOGMO-ED, L.M. The role of thermography in the managementof equine lameness. The Veterinary Journal, n.162,p.172-181, 2001.

Figura 11: Temperaturas máximas da articulação metacarpofalangeana (AMF) de seisequinos hígidos em seis dias diferentes de medição

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