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HÁBITOS DE CONSUMO E PROPENSÃO
AO ENDIVIDAMENTO NA FRONTEIRA
DA PAZ
MARCOS VINICIUS DALAGOSTINI BIDARTE (UNIPAMPA)
Silvia Amelia Mendonca Flores (UNIPAMPA)
Camila dos Santos Pinto (UNIPAMPA)
Valentina Ortiz Ubal (UFRGS)
O atual cenário de expansão do crédito e consumo tem acarretado o
aumento do nível de endividamento das famílias. Assim, a presente
pesquisa teve o objetivo geral de analisar os hábitos de consumo e a
propensão ao endividamento nas cidades fronteiriças de Santana do
Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai). Os resultados demonstram
que a amostra possuía uma característica homogênea em relação às
questões investigadas, tendo em vista que, possivelmente, o perfil
encontrado esteja atrelado às questões culturais das cidades.
Constatou-se que a amostra possui um perfil conservador, pois afirma
nunca depender do crédito como forma de quitar as suas dívidas, além
de que gasta menos ou igual ao que ganha, o que representa um
controle de suas despesas. Contudo, há indivíduos que dependem
raramente ou às vezes do crédito para quitar as suas dívidas,
caracterizando assim um perfil mais agressivo. Quanto à percepção de
risco, os indivíduos detêm uma maior percepção frente ao risco e estão
menos propensos ao endividamento. Em relação à idade, descobriu-se
que quanto maior a idade maior poderá ser a propensão ao
endividamento do indivíduo, sendo esta variável a que mais contribuiu
para explicar a propensão ao endividamento.
Palavras-chave: Finanças Pessoais, Fatores Comportamentais,
Variáveis Demográficas
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
O dinheiro participa na totalidade dos acontecimentos da vida econômica habitual das
pessoas, constituindo, assim, um elemento expressivo da vida social (MOREIRA, 2002).
Com isso, sustenta-se que o dinheiro orienta as ações dos indivíduos na sociedade capitalista,
sendo as decisões financeiras influenciadas pelos distintos significados atribuídos ao dinheiro
(VIEIRA et al., 2014).
Além disso, nota-se a transformação do mercado financeiro ao longo dos anos em conjunto
com a mudança de hábitos do consumidor. Neste cenário de expansão do crédito e consumo
evidencia-se o aumento do nível de endividamento das famílias brasileiras (MEDEIROS et
al., 2014), o qual “recebe atenção pública devido ao elevado número de devedores incapazes
de pagar suas dívidas” (FIGUEIRA; PEREIRA, 2014, p. 125). Por conseguinte, múltiplos
estudos têm enfocado a temática do endividamento (VIEIRA et al., 2014).
Estudos têm demonstrado que diversos fatores podem influenciar a propensão ao
endividamento. Entre os fatores sociodemográficos, podem-se enfatizar a idade, o gênero, a
escolaridade, a classe social e a renda (LIVINGSTONE; LUNT, 1992; PONCHIO, 2006). Por
sua vez, igualmente fatores comportamentais podem estar relacionados ao endividamento,
como o materialismo e a percepção e o comportamento de risco (FLORES et al., 2013;
FLORES; VIEIRA; CORONEL, 2012; 2013; MOURA, 2005; RIBEIRO et al., 2009;
TRINDADE et al., 2010; VIEIRA et al., 2014). Assim, a presente pesquisa enfoca as finanças
comportamentais, sendo seu objetivo geral analisar os hábitos de consumo e a propensão ao
endividamento nas cidades fronteiriças de Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai).
2. Referencial teórico
De acordo com Silva (2014), o crédito pessoal corresponde a um meio de encorajar o
consumo e ativar a economia de uma nação, facilitando a obtenção de artigos que até esse
momento somente poderiam ser adquiridos por classes sociais específicas. Com isso, destaca-
se que o crédito transformou-se em um serviço relacionado à venda e à compra, sendo que
organizações comerciais tradicionais passaram a acrescentar, à venda de produtos, contratos
de financiamento, os quais possibilitaram a ampliação expressiva do prazo de pagamento do
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débito, pois “se por um lado o acesso ao crédito viabiliza o consumo, por outro compromete a
renda de quem o toma, podendo conduzi-lo a uma situação de endividamento” (SLOMP,
2008, p. 109).
Compreende-se o endividamento como “o saldo devedor de uma pessoa, sendo ocasionado
por uma dívida ou mais do que uma simultaneamente” (SILVA, 2014, p. 9). Conforme
Medeiros et al. (2014), uma pessoa pode ser declarada como endividada quando não logra
cumprir com suas obrigações financeiras, assim como quando há um atraso na liquidação das
mesmas.
No Brasil, a parcela de famílias que se encontra endividada atingiu 57,5% em janeiro de 2015,
o que demonstra que houve um recuou do índice, obtendo o menor patamar desde o mês de
junho de 2012 (PEIC, 2015). Evidencia-se o cartão de crédito como uma das principais
tipologias de dívida, assinalado por 71,4% das famílias endividadas, sendo os carnês o
segundo mais apontado com 18,4%, e o terceiro, com 14,3%, o financiamento de carro (PEIC,
2015).
Quanto ao Uruguai, menciona-se que “o endividamento dos lares em relação aos seus
ingressos tem aumentado nos últimos anos”, contudo, tais níveis conservam-se relativamente
baixos quando comparados com aqueles dos outros países da região: uma a cada três famílias
encontra-se endividada (EL PAÍS, 2014, tradução nossa). Desse modo, “todos os estudos
especializados mostram que os uruguaios em geral são prudentes com o seu nível de
endividamento” (EL PAÍS, 2015, tradução nossa).
É importante salientar que relacionado ao endividamento encontra-se a educação financeira.
Disney e Gathergood (2011) descobriram que famílias com menor alfabetização possuem
maior propensão a manter maiores níveis de dívida em comparação à sua riqueza subjacente,
do mesmo modo que utilizam linhas de crédito de custo mais elevado de forma
desproporcional, apresentam dificuldades maiores no que tange o reembolso da dívida e
atrasos superiores.
2.1. Materialismo e risco
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Acredita-se que o materialismo compreende, fundamentalmente, o exorbitante apego a bens e
posses, tal como a supervalorização do consumo (FERRAZ et al., 2014). Belk (1984) sustenta
que o materialismo
[...] reflete a importância que um consumidor atribui às posses mundanas. Nos níveis
mais altos de materialismo, tais posses assumem um lugar central na vida de uma
pessoa e são consideradas fornecedoras das maiores fontes de satisfação e
insatisfação na vida seja diretamente (como fins) ou indiretamente (como meios para
os fins) (BELK, 1984).
Com isso, Santos e Fernandes (2011) afirmam que, conforme o senso comum, o materialismo
diz respeito ao consumo intenso, sendo a satisfação resultante não da utilidade da compra,
mas da reação da audiência. Por esse motivo, acredita-se que o materialismo é vinculado à
procura exacerbada de status, à inveja, à autocentralidade, à ausência de princípios e valores
morais, à possessividade e à insegurança, os quais seriam atingidos através de posses
(SANTOS; FERNANDES, 2011).
Ainda, Santos e Fernandes (2011) apontam que o materialismo é considerado maléfico
quando o motivo do consumo compreende a posse em si e o intuito de provocar inveja e
adquirir status. Por outro lado, quando a razão é baseada em convicções orientadas mais pela
coletividade, percebe-se que o materialismo não suscita danos e não é julgado como negativo.
Ademais, ressalta-se que múltiplos estudos comprovam que as correlações entre o
materialismo e a propensão ao endividamento são positivas. Com isso, é possível alegar que
os indivíduos mais materialistas possuem maior propensão ao endividamento, havendo maior
incidência com as pessoas que relacionam altos níveis de consumo com felicidade (FLORES
et al., 2013; MOURA, 2005; RIBEIRO et al., 2009; TRINDADE et al., 2010; VIEIRA et al.,
2014).
Outro fator que pode ser relacionado ao endividamento corresponde ao risco. Levando em
consideração os objetivos da pesquisa, é importante avaliar as atitudes perante o risco a fim de
identificar se os indivíduos são mais tendentes, avessos ou indiferentes ao risco quando estão
diante de decisões de compra, que podem gerar futuramente um quadro de endividamento.
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Comumente o risco percebido é relacionado a resultados negativos. Contudo, evidencia-se
que o seu construto pode abranger tanto resultados negativos quanto positivos (BARBOSA et
al., 2008). Os autores comentam que isso sucede porque o resultado em si não é o que
constitui o risco, porém o quanto este pode ser frustrante. Finucane et al. (2000) apontam que
tradicionalmente, para explicar as diferenças de percepção de risco, considera-se a
racionalidade e educação do indivíduo, aspectos que devem ser investigados pelas pesquisas
nessa área.
3. Método
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, a qual possui intenções de
descrever as principais características de fenômenos analisados (GIL, 2010; HAIR et al.,
2005). Utilizou-se uma survey, no que tange a abordagem quantitativa, através de um
questionário estruturado visando à coleta de informações específicas dos participantes
(MALHOTRA, 2011).
Considerou-se como cenário a Fronteira da Paz, ou seja, as cidades de Santana do Livramento
(BR) e Rivera (UY). Em 2014, de acordo com os dados do IBGE (2014), a população
estimada para Santana do Livramento é de 83.324 habitantes. Por outro lado, de acordo com o
Censo (2011 apud INTENDENCIA DEPARTAMENTAL DE RIVERA, 2014), Rivera possui
uma população estimada em 103.493 habitantes.
A coleta de dados ocorreu através de um questionário estruturado, dividido em dois blocos. O
primeiro bloco abordava as variáveis demográficas e culturais dos respondentes, bem como
questões sobre o uso do crédito e aspectos da dívida através de cinco questões, elaboradas por
Disney e Gathergood (2011). O segundo bloco buscou analisar a propensão ao endividamento
por intermédio de nove questões, propostas pela escala de Moura (2005). Destaca-se que a
escala proposta por Moura (2005) é do tipo Likert, isto é, o respondente deverá assinalar um
dos cinco pontos apresentados (1 = discordo muito; 2 = discordo; 3 = indiferente; 4 =
concordo; 5 = concordo muito).
O processo de amostragem foi intencional, porém de forma aleatória nos bairros de Santana
do Livramento (BR) e nos distritos de Rivera (UY). Em relação ao processo de coleta de
dados na cidade de Rivera (UY), o instrumento utilizado foi traduzido para a língua espanhola
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e aplicado entre o período de outubro e dezembro do ano de 2014, sendo este o mesmo
período de aplicação na cidade de Santana do Livramento (BR).
Por fim, optou-se pela estatística descritiva e técnicas de análise multivariada, sendo esta
última através do software SPSS 20.0®, como forma de analisar os dados coletados. A análise
de regressão múltipla foi realizada por intermédio dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO)
e buscou verificar, dentre os fatores comportamentais, quais destes podem exercer influência
na propensão ao endividamento.
Deve-se mencionar que algumas questões culturais e demográficas foram consideradas como
variáveis independentes, como por exemplo, a escolaridade, a renda, a idade e o gênero. A
variável gênero, por exemplo, foi considerada binária e seguiu o critério de 0 masculino e 1
feminino. O mesmo foi aplicado para a variável escolaridade (dummy escolaridade: 0 não
possui superior e 1 possui superior). Por fim, foi utilizada a Equação 1 como forma de
verificar se as variáveis dependentes apresentam uma relação com as variáveis independentes.
𝑌𝑖=𝛼0+𝛽1Materialismo𝑖+𝛽2Risco𝑖+𝛽3Idade𝑖+𝛽4Renda𝑖+𝛽5Gênero𝑖+𝛽6E𝑠𝑐𝑜𝑙𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖+𝛽6E𝑠tadocivil𝑖 +
𝛽6CartãoCrédito+𝜀𝑖 [1]
Na próxima seção são apresentados os resultados e discussões da presente pesquisa.
4. Resultados e discussões
Para a análise dos resultados foram considerados 208 respondentes que residem em Santana
do Livramento (BR) ou Rivera (UY). A análise dos resultados está dividida em três
subseções, sendo a primeira referente ao conhecimento do perfil demográfico dos
respondentes, a segunda de analisar o uso do crédito e o aspecto da dívida, e a terceira sobre a
relação entre o endividamento e as variáveis comportamentais e demográficas.
4.1. Perfil dos respondentes
Ao analisar a idade dos respondentes, percebe-se que estes possuem, em média, 32 anos. A
grande maioria dos respondentes pertence ao gênero feminino (62%) e 52% são solteiros. A
maioria dos respondentes, (56,8%), não possui(em) dependente(s) que esteja(m) sujeito(s) à
renda deste indivíduo.
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O nível de escolaridade foi avaliado como forma de constatar se está relacionado com a
educação financeira do indivíduo. Constatou-se que 16,7% dos respondentes possuem ensino
fundamental e 47,5% possuem o ensino médio completo. Os indivíduos que possuem ensino
superior contemplam 25,8%. Destaca-se que estes resultados demonstram que os
respondentes detêm um nível de escolaridade intermediário, tendo em vista que o instrumento
de coleta de dados aplicado permitia alternativas até o nível de pós-graduação.
No que tange à ascendência dos respondentes, 70,5% caracterizam-se como brasileiros, e
24,6% como uruguaios. Quanto à ocupação nota-se que grande parte são empregados
assalariados (38,6%), autônomos (12,1%) e funcionários públicos (8,2%). Deve-se destacar
ainda que 22,2% dos respondentes não exercem nenhum tipo de atividade(s) remunerada(s).
Em relação às questões financeiras, os indivíduos que possuem uma renda média mensal
própria de até um salário mínimo por mês constituem 41,8% dos respondentes. Uma parcela
significativa, 30,2%, ganham entre um e dois salários mínimos mensais. Estes resultados
apresentam um nível de renda mais baixo que pode ocasionar restrições orçamentárias, bem
como alterar o processo de compra dos indivíduos. Porém, ao analisar a faixa de renda média
mensal familiar constatou-se que esta também se encontra em níveis mais baixos, pois 25,8%
dos respondentes possuem renda entre um e dois salários mínimos. Os que ganham até um
salário mínimo constituem 12,9%. Após a caracterização da amostra, a pesquisa visou analisar
o uso do crédito e o aspecto da dívida.
4.2. O uso do crédito e o aspecto da dívida
No que tange a utilização do cartão de crédito, um percentual representativo (60,3%) dos
respondentes utiliza. Quanto ao número de cartões utilizados, a maioria utiliza um cartão de
crédito (52,6%) ou dois cartões de crédito (30,2%). Destaca-se que uma pequena parcela dos
respondentes (4,3%) diz utilizar mais de cinco cartões de créditos. Neste ponto, Dynan e
Kohn (2007) e Kunkel et al. (2013) dizem que a utilização de um número elevado de cartões
de crédito poderão ocasionar um aumento das dívidas familiares devido ao(s) compromisso(s)
estabelecido(s), além de que os cartões de crédito podem exercer influência sobre o estilo de
vida dos consumidores e suas aquisições.
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Tabela 1 – Caracterização dos gastos segundo as variáveis: cartão de crédito e a sua quantidade, dependência do
crédito e gastos.
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados da pesquisa
Prosseguindo a análise, foi questionado aos respondentes qual a frequência que estes
dependem da utilização do crédito. Constatou-se que 38,4% dos respondentes nunca
dependem do crédito para quitar os seus gastos, o que indica um comportamento conservador.
Os que dependem do crédito o tempo todo para quitar as suas dívidas constituem uma
pequena parcela, apenas 5,6%.
Por fim, avaliou-se os gastos dos respondentes. Verificou-se que 49,5% dizem gastar menos
do que ganham, o que indica, novamente, um comportamento conservador. Este tipo de
comportamento mostra que os indivíduos estão controlando os seus gastos e que o nível de
propensão ao endividamento sobre estes poderá ser menor. De modo contrário, o nível de
propensão ao endividamento será maior sobre os indivíduos que gastam igual ao que ganham
(34,3%) e os que gastam mais do que ganham (16,2%). Estes resultados indicam que os
gastos destes respondentes estão fora de controle ou não estão sendo controlados. A seguir é
apresentada a última etapa da presente pesquisa.
4.3. Fatores determinantes da propensão ao endividamento
Para esta etapa da pesquisa levou-se em consideração o fator endividamento como a variável
dependente e as variáveis demográficas e comportamentais como independentes. Percebeu-se,
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após a estimativa do modelo de regressão múltipla, um nível de significância de 5%, sendo o
endividamento influenciado pela „percepção de risco‟ e pela „idade‟. A Tabela 2 aborda as
variáveis utilizadas e os resultados encontrados.
Tabela 2 – Resultados da regressão múltipla considerando os coeficientes padronizados e os testes de
significância.
Fonte: Dados da pesquisa
*Nível de significância de 5%
A propensão ao endividamento, esta representada pela variável dependente, foi 5,4%
explicada através das variáveis independentes, pois apresentou um R² ajustado de 0,054. Já o
Test t, tem-se 2,33 com uma significância de 0,021, o que representa que o modelo, em sua
totalidade, é significativo. Na autocorrelação serial, de acordo com o teste de Durbin Watson
(DW), evidencia-se um coeficiente de 1,863, o qual se encontra dentro do intervalo adequado
(1,7557 < d < 2,243). Os índices VIF mostram que as variáveis ficaram próximas de 1,
confirmando ausência de multicolinearidade.
Por fim, o teste de Kolmogorov-Smirnov (KS) e o teste de Pesaran e Pesaran (PP) indicaram a
normalidade e a homocedasticidade dos resíduos (KS: sig 0,258; PP: sig 0,384). Após a
realização dos testes supracitados, pode-se, por fim, afirmar que o modelo encontra-se
adequado.
Observa-se o fator „percepção de risco‟ e a variável demográfica „idade‟ como as variáveis
independentes que apresentam coeficientes significativos, considerando a validade do modelo.
Devido à relação negativa de -0,143 na „percepção de risco‟, os respondentes que detém uma
maior percepção frente ao risco podem estar menos propensos ao endividamento. Neste ponto
Caetano, Palacios e Patrinos (2011) corroboram dizendo que os indivíduos mais avessos ao
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risco possuem uma melhor percepção das incertezas no ambiente financeiro e irão ser menos
propensos a tomar empréstimos, ou seja, terão menores níveis de propensão ao
endividamento.
E, a variável demográfica „idade‟ apresentou um coeficiente positivo de 0,191, o que implica
dizer que quanto maior a idade maior poderá ser a propensão ao endividamento pelo
indivíduo. Keese (2010) diz que jovens com menos de 30 anos tendem a perceber o peso da
dívida de forma mais baixa, por outro lado, os chefes de família, estes com idade superior aos
45 anos, são mais propensos ao endividamento. Deve-se destacar que a variável demográfica
„idade‟ foi a que mais contribuiu para explicar a propensão ao endividamento. A seguir são
apresentadas as considerações finais da presente pesquisa.
6. Considerações finais
A presente pesquisa teve como objetivo analisar algumas questões de consumo e crédito,
fatores comportamentais e a propensão ao endividamento nas cidades de Santana do
Livramento (BR) e Rivera (UY). Os resultados encontrados expuseram que a amostra possuiu
uma característica homogênea em relação às questões investigadas pela presente pesquisa,
tendo em vista que, possivelmente, o perfil encontrado esteja atrelado às questões culturais
das cidades de Santana do Livramento (BR) e Rivera (UY).
Em relação às questões de crédito, a maioria dos respondentes afirma que utiliza de 1 a 2
cartões de crédito para pagar as suas obrigações financeiras. Neste sentido, constatou-se que a
amostra possui um perfil conservador, pois afirma nunca depender do crédito como forma de
quitar as suas dívidas, além de que gasta menos ou igual ao que ganha, o que representa um
controle de suas despesas. Cabe ainda referenciar que há indivíduos que dependem raramente
ou às vezes do crédito para quitar as suas dívidas, caracterizando assim um perfil mais
agressivo.
Como forma de identificar se há relação entre o endividamento e as variáveis
comportamentais e demográficas, realizou-se a regressão múltipla. A propensão ao
endividamento foi explicada através das variáveis independentes „percepção de risco‟ e
„idade‟, as quais apresentaram coeficientes significativos. Em relação ao fator „percepção de
risco‟, os indivíduos detêm uma maior percepção frente ao risco e estão menos propensos ao
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endividamento. Já a variável demográfica „idade‟ apresentou o resultado de que quanto maior
a idade maior poderá ser a propensão ao endividamento pelo indivíduo, além de que esta
variável foi a que mais contribuiu para explicar a propensão ao endividamento.
A amostra intencional utilizada não permitiu a generalização dos resultados encontrados,
mesmo a coleta sendo em locais diversificados a fim de escolher de forma aleatória os
indivíduos pertencentes aos bairros de Santana do Livramento (BR) e aos distritos de Rivera
(UY). Pode-se dizer que o supracitado compõe as limitações da presente pesquisa. Por fim,
sugere-se, para pesquisas futuras, a ampliação e também estratificação da amostra (bairros e
distritos), como também novos estudos que identifiquem os principais aspectos que levam os
indivíduos ao endividamento.
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