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E M E N T A Órgão : 3ª TURMA CRIMINAL Classe : HABEAS CORPUS N. Processo : 20140020157953HBC (0015912-80.2014.8.07.0000) Impetrante(s) : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL Autoridade Coatora(s) : JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL E TRIBUNAL DO JÚRI DE SÃO SEBASTIÃO Relator : Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA Acórdão N. : 808908 HABEAS CORPUS . ROUBO TENTADO. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA. AUSÊNCIA DE FATOS CONCRETOS QUE DEMONSTREM A NECESSIDADE DA CUSTÓDIA CAUTELAR. CONDIÇÕES FAVORÁVEIS DO PACIENTE. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ORDEM CONCEDIDA. 1.Revoga-se a prisão preventiva quando ausentes os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal, sobretudo quando as circunstâncias do crime, bem como a comprovação de que o paciente possui condições favoráveis, endereço fixo e trabalho lícito, afastam a suposição de que sua liberdade possa colocar em risco a ordem pública. 2. Ordem concedida. Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Código de Verificação :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA TEIXEIRA 1

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  1. 1. E M E N T A rgo : 3 TURMA CRIMINAL Classe : HABEAS CORPUS N. Processo : 20140020157953HBC (0015912-80.2014.8.07.0000) Impetrante(s) : DEFENSORIA PBLICA DO DISTRITO FEDERAL Autoridade Coatora(s) : JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL E TRIBUNAL DO JRI DE SO SEBASTIO Relator : Desembargador JOO BATISTA TEIXEIRA Acrdo N. : 808908 HABEAS CORPUS. ROUBO TENTADO. PRISO PREVENTIVA DECRETADA. AUSNCIA DE FATOS CONCRETOS QUE DEMONSTREM A NECESSIDADE DA CUSTDIA CAUTELAR. CONDIES FAVORVEIS DO PACIENTE. AUSNCIA DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ART. 312 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL. ORDEM CONCEDIDA. 1.Revoga-se a priso preventiva quando ausentes os requisitos previstos no art. 312 do Cdigo de Processo Penal, sobretudo quando as circunstncias do crime, bem como a comprovao de que o paciente possui condies favorveis, endereo fixo e trabalho lcito, afastam a suposio de que sua liberdade possa colocar em risco a ordem pblica. 2. Ordem concedida. Poder Judicirio da Unio Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 1
  2. 2. A C R D O Acordam os Senhores Desembargadores da 3 TURMA CRIMINAL do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios, JOO BATISTA TEIXEIRA - Relator, JESUINO RISSATO - 1 Vogal, JOS GUILHERME - 2 Vogal, sob a presidncia do Senhor Desembargador JOO BATISTA TEIXEIRA, em proferir a seguinte deciso: CONHECIDO. CONCEDEU-SE A ORDEM. EXPEA-SE ALVAR DE SOLTURA. UNNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigrficas. Brasilia(DF), 31 de Julho de 2014. Documento Assinado Eletronicamente JOO BATISTA TEIXEIRA Relator Habeas Corpus 20140020157953HBC Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 2
  3. 3. Alega a impetrante a existncia de manifesto constrangimento ilegal, pois no se mostram presentes os requisitos para a decretao da custdia cautelar do paciente, sobretudo porque ele primrio, possui residncia fixa e trabalho lcito. Sustenta que no h como a priso preventiva ser baseada em um perigo abstrato, a mera possibilidade de reiterao criminosa por parte do paciente, bem como no h periculosidade do agente no caso concreto, uma vez que no estava portando arma de fogo. Com tais argumentos pleiteia, liminarmente, a revogao da priso preventiva com a soltura do paciente, e, no mrito, a confirmao da liminar para que ele possa responder ao processo em liberdade. A liminar foi indeferida s fls. 43-45. A autoridade coatora prestou as informaes de fls. 47, nas quais juntou os documentos de fls. 48-72. A Procuradoria de Justia, no parecer de fls. 74-83, opinou pelo conhecimento e denegao da ordem. o relatrio. R E L A T R I O A DEFENSORIA PBLICA DO DISTRITO FEDERAL impetrou ordem de HABEAS CORPUS, com pedido liminar, em favor deGUILHERME DA SILVA SOUSA, em face da deciso de fls. 31-33, proferida pelo Juzo da Vara Criminal e Tribunal do Jri da Circunscrio Judiciria de So Sebastio, que converteu a priso em flagrante do paciente em preventiva, pela suposta prtica do crime previsto no art. 157, caput, c/c o art. 14, inciso II, ambos do Cdigo Penal, com fundamento na garantia da ordem pblica. Habeas Corpus 20140020157953HBC Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 3
  4. 4. FUMUS COMISSI DELICTI O fumus comissi delicti est suficientemente demonstrado nos autos. Na hiptese, o paciente foi preso em flagrante em 24.06.2014, pela prtica do crime previsto no art. 157, caput, c/c o art. 14, inciso II, ambos do Cdigo Penal. Segundo consta da denncia (fls. 13-15), no dia 24.06.2014, por volta das 17h25min, o paciente, agindo de forma livre e consciente, mediante grave ameaa, consistente na simulao do porte de arma de fogo, adentrou o estabelecimento comercial TC Material de Construo e tentou subtrair do lesado Tiago Milton da Costa, proprietrio da empresa, em proveito prprio, os bens do referido local, no conseguindo xito por circunstncias alheias sua vontade, uma vez que o lesado reagiu e conseguiu imobiliz-lo. A priso em flagrante foi convertida em preventiva em 25.06.2014 (fls. 31-33). A denncia de fls. 13-15 foi recebida em 07.07.2014 (fls. 36), o que comprova haver justa causa para a ao penal. Assim, h prova da materialidade do crime e indcios suficientes de sua autoria. PERICULUM LIBERTATIS No que se refere ao periculum libertatis, h dvidas acerca da necessidade de ser o paciente mantido no crcere. O Cdigo de Processo Penal, com as alteraes introduzidas pela Lei n 12.403/2011, prev o cabimento da priso preventiva nos seguintes casos: Art. 312. A priso preventiva poder ser decretada como garantia da ordem pblica, da ordem econmica, por convenincia da instruo criminal, ou para assegurar a aplicao da lei penal, quando houver prova da existncia do crime e indcio suficiente de autoria. Pargrafo nico. A priso preventiva tambm poder ser V O T O S O Senhor Desembargador JOO BATISTA TEIXEIRA - Relator Presentes os requisitos de admissibilidade, conheo da impetrao. Habeas Corpus 20140020157953HBC Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 4
  5. 5. decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigaes impostas por fora de outras medidas cautelares Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Cdigo, ser admitida a decretao da priso preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade mxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentena transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Cdigo Penal; III - se o crime envolver violncia domstica e familiar contra a mulher, criana, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficincia, para garantir a execuo das medidas protetivas de urgncia; IV - (revogado). Pargrafo nico. Tambm ser admitida a priso preventiva quando houver dvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta no fornecer elementos suficientes para esclarec-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade aps a identificao, salvo se outra hiptese recomendar a manuteno da medida. (grifos nossos) Verifica-se que na deciso que decretou a priso preventiva (fls. 31- 33), apesar de existirem indcios de participao do paciente no crime investigado, no se encontram presentes os pressupostos necessrios para mant-lo no crcere. A autoridade coatora fundamentou a priso do paciente na garantia da ordem pblica, sob o argumento de que a medida necessria para o resguardo da ordem pblica, uma vez que a gravidade concreta do fato aliada aos indicativos de periculosidade do paciente autorizam o reconhecimento de que sua liberdade representa riscos ordem pblica (fls. 32). Com efeito, a priso cautelar medida excepcional, somente autorizada quando presentes os requisitos legais, previstos no art. 312 do Cdigo de Processo Penal, conforme a jurisprudncia desta Corte: Habeas Corpus 20140020157953HBC Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 5
  6. 6. PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. RECEPTAO. PORTE DE ARMA DE FOGO. LIBERDADE PROVISRIA. AUSNCIA DE PERICULOSIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. A segregao cautelar medida excepcional, somente autorizada nas hipteses legalmente previstas e desde que fundada em elementos concretos extrados dos autos. 2. Em se tratando de ru primrio, de bons antecedentes, com domiclio certo e trabalho lcito, e no demonstrado que sua liberdade possa constituir ameaa ordem pblica, no se justifica a manuteno da priso processual. 3 . O r d e m c o n c e d i d a . ( A c r d o n . 8 0 0 4 9 0 , 20140020132979HBC, Relator: JESUINO RISSATO, 3 Turma Criminal, Data de Julgamento: 27/06/2014, Publicado no DJE: 07/07/2014. Pg.: 225). HABEAS CORPUS. SENTENA CONDENATRIA. DECRETAO DA PRISO PREVENTIVA. AUSNCIA DE FATOS CONCRETOS QUE DEMONSTREM A NECESSIDADE DA CUSTDIA CAUTELAR. ORDEM CONCEDIDA. 1. No demonstrada na r. sentena motivos concretos que configurem a necessidade da decretao da custdia cautelar do paciente, conforme requisitos previstos no art. 312 do Cdigo de Processo Penal, a sua soltura medida que se impe, concedendo-se ao ru o direito de recorrer da sentena em liberdade. 2. Ordem de habeas corpus concedida, confirmando-se a liminar. (Acrdo n.788376, 20140020051407HBC, Relator: JOO TIMTEO DE OLIVEIRA, 2 Turma Criminal, Data de Julgamento: 08/05/2014, Publicado no DJE: 14/05/2014. Pg.: 214). Habeas Corpus 20140020157953HBC Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 6
  7. 7. Importa salientar queas condies pessoais do paciente so favorveis, sendo que primrio (fls. 28-29), possui residncia fixa (fls. 39) e trabalho lcito, estando preenchidos os requisitos subjetivos para que responda ao processo em liberdade, no havendo indcios de que, solto, se furtar ao cumprimento de eventual pena. Por outro lado, extrai-se dos autos que o paciente entrou no estabelecimento comercial utilizando um bon sob a camisa, simulando portar arma de fogo. O lesado afirma que logo percebeu que o paciente no estava armado, momento em que o segurou pelo brao, o deteve e chamou a polcia. Alega que ele ainda tentou fugir, tendo sido impedido pelo lesado e seu sobrinho (fls. 19). O paciente, em seu interrogatrio perante autoridade policial, de fls. 20, confessou o crime alegando que nunca foi preso ou processado, que estava desempregado e havia ingerido bebidas alcolicas, razo pela qual resolveu cometer o crime. Afirmou que colocou um bon na cintura, simulando estar armado e entrou no estabelecimento comercial, ocasio em que um vendedor o segurou e o prendeu at que os policiais chegaram e lhe deram ordem de priso (fls. 20). Ressalte-se que a gravidade abstrata do crime imputado ao paciente no suficiente para manter sua priso cautelar, uma vez que no h provas de sua periculosidade, sobretudo porque no demonstrou, com o seu comportamento, consistente em abordar o lesado, com a mo sob a blusa que trajava, ser pessoa socialmente perigosa, que deva permanecer encarcerado para a garantia da ordem pblica. Assim, no enxergo nenhuma razo para manter a priso do paciente, no estando comprovada a extrema necessidade para sua priso preventiva. Logo, no h nos autos qualquer elemento concreto que evidencie que, se em liberdade, o paciente colocar em risco a ordem pblica. Ausentes os elementos que justifiquem a manuteno da sua custdia cautelar, a liberdade do paciente medida que se impe, sem prejuzo da aplicao, pelo juzo processante, de outras medidas cautelares previstas no artigo 319 do Cdigo de Processo Penal. Ademais, entendo que nada impede a decretao da priso preventiva do paciente, caso haja novos fatos. Por fim, na hiptese em apreo, entendo ausente qualquer motivo que justifique a segregao do paciente. Habeas Corpus 20140020157953HBC Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 7
  8. 8. Posto isso, voto no sentido de se CONHECER E CONCEDER A ORDEM, para REVOGAR A PRISO PREVENTIVA do paciente GUILHERME DA SILVA SOUSA, a fim de que seja posto em liberdade. Faculta-se ao Juzo a quo a imposio de outras medidas cautelares, caso considere necessrias. Expea-se Alvar de Soltura para que o paciente seja colocado incontinenti em liberdade, se por outro motivo no se encontrar preso, mediante a assinatura de termo de compromisso de comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogao. Comunique-se. como voto. O Senhor Desembargador JESUINO RISSATO - Vogal Com o relator O Senhor Desembargador JOS GUILHERME - Vogal Com o relator D E C I S O CONHECIDO. CONCEDEU-SE A ORDEM. EXPEA-SE ALVAR DE SOLTURA. UNNIME. Habeas Corpus 20140020157953HBC Cdigo de Verificao :2014ACOEVSGIDZCB5MDTNYKA9II GABINETE DO DESEMBARGADOR JOO BATISTA TEIXEIRA 8