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História do Metodismo Pelo PROFESSOR PAUL EUGENE BUYERS (Lente da Faculdade ele Teologia da Igreja Metodista do Brasil) 1945 IMPRENSA METODISTA Dedico este livro à memória da minha querida esposa, Virginia Matthews Buyers, que me ajudou lealmente durante seis anos de minha vida. Paul Engene Buyers OBS: A presente edição foi feita especialmente para publicação no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, a saber, www.metodistavilaisabel.org.br

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História do Metodismo

Pelo

P R O F E S S O R

PAUL EUGENE BUYERS

(Lente da Faculdade ele Teologia da Igreja Metodista do Brasil)

1945

IMPRENSA METODISTA

Dedico este livro à memória da minha querida esposa, Virginia Matthews Buyers, que me ajudou lealmente durante seis anos de minha vida.

Paul Engene Buyers

OBS: A presente edição foi feita especialmente para publicação no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, a saber, www.metodistavilaisabel.org.br

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INTRODUÇÃO

Falecer-nos-ia sentimento cristão, por faltar à verdade, se atribuíssemos ao Metodismo superioridade às outras Igrejas, quando cada uma delas, como ele, goza de lugar egrégio nos fastos religiosos da humanidade e pode gloriar-se de ter sido, e ser ainda, inestimável instrumento na providência de Deus para com o mundo. São, no conjunto, como partes de um todo, cada qual, entretanto, com função especial para integrar o

funcionamento,da portentosa maquinária da economia espiritual na face da terra.

Falecer-nos-ia igualmente sentimento cristão, por faltar a

justiça, se não reconhecêssemos no Metodismo, por outro lado, particularidades que o tornam conspícuo no cenário multissecular e amplíssimo das arregimentações cristãs. O sector em que se escalonou e que vem mantendo sem esmorecimento, o faz, de certo, por isso mesmo, digno do estudo e da admiração de todos que se interessam em religião.

Na verdade, não só no círculo das Igrejas, mas também no

âmbito da História Geral, o Metodismo faria grande época, se não fosse revolução de caráter pacífico feita para a alma, com empenhos supremos de santificação. Se, pois, mais não diz a História Geral a seu respeito, se mais não faz ela avultar seus heróis, se mais ela não comenta suas realizações ou pondera sua influência, é porque ele sempre se satisfez com operar no terreno no desinteresse material e imediato, sempre se contentou com os domínios do espírito e sempre procurou prêmios nos céus e na eternidade.

Por ser demasiadamente terrena, também é assim que

procede no tocante a todas as outras formas de Cristianismo. Não faltaria até quem, obumbrado pela glórias do século, quisesse, nalguma de suas páginas, inquiná-lo de superstição ou fanatismo, em referências que perfunctoriamente viesse a fazer a ele. Contudo, ele firma sua grandeza em experiências pessoais de uma vida que, pela fé em Jesus Cristo, se redime do pecado e obedientemente se afeiçoa a Deus, pelo que passa a produzir multiformes frutos de santificação em qualquer província em que labute. Seus efeitos são, em conseqüência disso, melhores, maiores e mais seguros do que os de qualquer guerra, qualquer transformação política, qualquer sistema de educação, qualquer alcance cultural, avaliados através do prisma moral. Assim, sua ação histórica como que se oculta

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aos olhos dos que analisam exteriormente os fatos, e seu significado histórico, por mais forte e mais repercuciente que seja, só indiretamente pode ser de fato apreciado.

Homens e mulheres que, sem visar temporalidades, com

pensamento concentrado em propósitos que crêem divinos, primeiro se organizam e em seguida se expendem, tentando conquistar o mundo, e que, nesse afã, sem escrever, sem matar, sem erigir monumentos de mármore ou bronze, realizam verdadeiras epopéias; homens e mulheres, de tal idealismo, de tamanha persistência, em cada século mais fortes, em cada geração mais numerosos, devem ser conhecidos, em si mesmos, em suas doutrinas, em seus trabalhos, e devem ser proclamados, urbi et orbi, como os maiores benfeitores da humanidade, para inspiração de outros e para confirmação do transcendente poder do Filho de Deus.

Bem andou, portanto, o Rev. Dr. Paul E. Buyers, no seu

intento de dotar a literatura religiosa, em português, de um grande ensaio — História do Metodismo. Era coisa de essencial necessidade até nos próprios meios metodistas do Brasil e Portugal. Se não nos enganamos, é a primeira lavra dessa natureza que entre eles se empreende.

Sempre afeito a estudos históricos-religiosos, por muitos anos

lente de cadeira de História Eclesiástica na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista do Brasil, talvez ninguém mais do que ele se encontrasse em condições de descrever homens e fatos do Metodismo.

Naturalmente, um grande ensaio, História do Metodismo é de

caráter geral, feita para por perante o povo que lê e estuda antes um bem lapidado escorço do que uma investigação ou análise de feições filosóficas ou científicas. Sua linguagem se vasa na simplicidade e moderação.

Quem quer que seja que a leia, não poderá, contudo, fugir logo às primeiras páginas, à dedução do que tem sido o Metodismo uniformemente aqui, ali, além, onde tem penetrado, do tipo de homens e mulheres que ele produz, do padrão de vida que ele erige, da qualidade de cristãos que ele modela. E não pode deixar também de verificar que o Metodismo tem sido inegável ação de Deus na terra, para o bem e felicidade de quantos querem, em boa mente, servir ao Senhor de todos os séculos.

São Paulo, 2 de dezembro de 1944.

CESAR DACORSO FILHO.

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INDICE

PARTE I

A HISTÓRIA DO METODISMO NA INGLATERRA DESDE 17O3 ATÉ 1791

CAPÍTULO I

Introdução: O LUGAR DO METODISMO NA HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

1. A Filosofia e a Experiência na relação com o Metodismo. 2. História da doutrina da segurança no Metodismo. 3. O Metodismo e alguns movimentos anteriores na Igreja Cristã. 4. O Metodismo e o Misticismo. 5. O Metodismo e o Puritanismo. 6. O Metodismo é a sua organização. CAPÍTULO II

AS CONDIÇÕES SOCIAIS, MORAIS E RELIGIOSAS NA INGLATERRA NO COMEçO DO SÉCULO DEZOITO

7. As condições sociais. 8. As condições morais. 9. As condições religiosas.

CAPÍTULO III A FAMÍLIA WESLEY

10. Os pais de João e Carlos Wesley. 11. João Wesley. 12. Carlos Wesley. 13. Outros membros da Família Wesley:

- Samuel Wesley Jr. - Susana Wesley. - Emília Wesley. - Annesley e Judediah Wesley. - Susana Wesley. - Mary Wesley. - Mehetebel Wesley. - Anne Wesley. - Marta Wesley. - Kezziah Wesley

CAPÍTULO IV GEORGE WHITEFIELD

14. O nascimento e educação. 15. Seu trabalho na Inglaterra e na América

CAPITULO V

O DESENVOLVIMENTO, AS INSTITUIÇÕES, OS AJUDANTES E AS OPOSIÇÕES.

16. O desenvolvimento e instituições.

- Pregação ao ar livre - Comunhão, ou Fraternidade Cristã:

. Sociedades

. Classes

. Culto de Vigília

. Ágapes de amor

. Culto de Aliança, ou de Consagração. - Os oficiais ecônomos - Pregadores leigos - O sistema da itinerância - As Conferências - Educação

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- Extensão do trabalho e missões: . Na Escócia . Na Irlanda . Na América

- As doutrinas. Algumas Doutrinas mais importantes do Metodismo:

. A redenção universal

. Arrependimento

. Justificação pela fé

. Regeneração

. O Testemunho do Espírito Santo

. Santificação

. A possibilidade de Apostasia Final

. Os Sacramentos - Publicações - O Título de Declaração - Filantropia - Crise e Dissensão

17. Os Ajudantes leigos e clérigos: - Alguns ajudantes leigos:

a) João Nelson (1707-1774) b) João Haime (1710-1784) c) Cristofer Hopper (1722-1802) d) Roberto Carr Breckenbury (1758-1818) e) Tomaz Walch f) Tomaz Olivers (1725-1799) g) Guilherme Carvosso (1750-1835) h) Maria Bosanquet (1739-1814) i) Ann Cutler j) Hester Ann Rodgers k) Elizabeth Walbridge - "A Filha do Leiteiro"

- Alguns ajudantes clér igos:

a) Guilherme Grimshaw (1708-1763) b) João Fletcher (Jean Guilherme de La

Fletcher) (17291785) c) Tomas Coke (1747-1814)

18. As Oposições:

- A oposição do clero - A oposição dos Dissidentes - Oposição dos motins - Oposição doutrinários - Oposição da imprensa

PARTE II

A HISTÓRIA DO METODISMO NA AMÉRICA DO NORTE DESDE 1760 ATÉ 1940

CAPÍTULO VI O COMEÇO DO METODISMO NA AMÉRICA

DO NORTE

19. Os primeiros metodistas na América 20. Os missionários de Wesley e seus colaboradores

CAPÍTULO VII ORGANIZAÇÃO DO METODISMO. E SEU

DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA

21. Organização do Metodismo em 1784 22. O Metodismo levado para a Nova Inglaterra 23. O Metodismo ao oeste dos Montes Aleghanis 24. Os itinerantes acompanhando a marcha dos imigrantes para o oeste 25. Conferências e cismas

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CAPÍTULO VIII O TRABALHO MISSIONÁRIO DE METODISMO

26. O trabalho missionário entre os negros 27. O trabalho missionário entre os índios 28. O trabalho missionário nos países estrangeiros

CAPITULO IX O TRABALHO EDUCATIVO DO METODISMO

NA AMÉRICA

29. As primeiras escolas fundadas 30. O desenvolvimento do trabalho educativo

CAPITULO X A CONTROVÉRSIA SOBRE A ESCRAVIDÃO E

A DIVISÃO DA IGREJA

31. A escravidão na América e a atitude dos Metodistas para com ela, no princípio.

32. A controvérsia e a divisão da Igreja

CAPÍTULO XI O METODISMO DIVIDIDO E A GUERRA CIVIL

33. A organização da Igreja Metodista Episcopal do Sul 34. A ação do Metodismo durante a Guerra Civil.

CAPÍTULO XII OS ANOS DE GRANDES PROVAS E RECONSTRUÇÃO,

LOGO APÓS A GUERRA CIVIL (1865-1880)

35. Motivos de atritos entre os dois ramos de Metodismo 36. Legislação acerca de representação leiga e das relações dos

negros com os brancos. 37. Época de Reconciliação

CAPITULO XIII PERÍODO DE PAZ E PROSPERIDADE (1880-1900)

38. Algumas mudanças na administração da Igreja 39. Organizações novas na Igreja e o interesse na solução dos

problemas sociais

CAPÍTULO XIV A GUERRA MUNDIAL E A SUA INFLUÊNCIA

SOBRE A IGREJA METODISTA 40. A atitude da Igreja para com a guerra 41. Liberalismo e unificação do Metodismo.na América

PARTE III

A HISTÓRIA DO METODISMO NA GRÃ-

BRETANHA DESDE 1791 ATÉ 1934

CAPITULO XV O METODISMO WESLEYANO DESDE 1791 ATÉ 1849

42. A condição das Sociedades Unidas na ocasião da morte de

Wesley 43. Uma Crise nos arraiais metodistas:

- A morte de João Wesley - A revolução francesa - A perturbação política na Inglaterra

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44. Alguns problemas que a crise provocou: - O espírito divisionista e partidário - Os Sacramentos ou a separação da Igreja Anglicana

45. A crise vencida:

- Espírito de moderação manifestado pelos guias - O trabalho de evangelização que se desenvolveu na época

46. Alguns vultos mais notáveis da época 47. Conflitos e cismas

CAPITULO XVI METODISMO WESLEYANO E BRITANICO

DESDE 1849 ATÉ 1908

48. A extensão do trabalho e o fortalecimento da organização da Igreja

49. O trabalho missionário, social e evangelístico. 5O. O trabalho educacional 51. O Metodismo Wesleyano no fim do século dezenove

C APÍTULO XVII OS TRÊS RAMOS BRITÂNICOS DO METODISMO QUE

FORMARAM A IGREJA METODISTA UNIDA

52. I - A Nova Igreja Metodista (The Methodist New Connexion Founded) 1791-1814.

53. II - Origem dos Metodistas Cristãos da Bíblia (The Bible Christian Methodist) 1815-1826

54. III - As Igrejas Metodistas Livres e Unidas 55. O desenvolvimento do trabalho desde 1857 até 1908 56. A Igreja Metodista Unida (desde 1907)

CAPITULO XVIII AS IGREJAS METODISTAS INDEPENDENTES

E A IGREJA METODISTA PRIMITIVA

57. As Igrejas Metodistas Independentes 58. A Igreja Metodista Primitiva:

- 1.° Período de Formação (1800-1811) - 2.° Período de Missões Nacionais (1811- 1843) - 3.° Período de Transição (1843-1853) - 4.° Período do Distrito e Consolidação (1853-1885) - 5.° Período em que uma Federação se tornou numa Igreja

(1885-1908)

CAPÍTULO XIX O METODISMO NA IRLANDA E NA EUROPA

59. O Metodismo na Irlanda 60. O Metodismo na Europa:

- O Metodismo na França - O Metodismo na Itália - O Metodismo na Alemanha

CAPITULO XX O METODISMO NA AMÉRICA BRITÂNICA,

NA AUSTRÁLIA E NA ÁFRICA DO SUL

61. No Canadá 62. Na Austrália 63. Na África do Sul

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PARTE IV

HISTÓRIA DO METODISMO NO BRASIL

CAPÍTULO XXI A MISSÃO METODISTA EM 1835

64. O trabalho de Pitts 65. O trabalho de Spaulding e Kidder

CAPÍTULO XXII A FUNDAÇÃO DO METODISMO NO BRASIL

66. O trabalho de Newman (1867-1890) 67. A Missão Ransom (1876-1886) 68. O progresso e a organização do Metodismo em Conferências

Anuais: - Organização da Conferência Anual Brasileira - A transferência da Missão do Rio Grande do Sul da Igreja

Metodista Episcopal para a Igreja Metodista Episcopal do Sul

- Organização da Conferência Sul Brasileira (1910) - Organização da Conferência Anual Central Brasileira (1918)

CAPÍTULO XXIII A IGREJA METODISTA AUTÔNOMA

69. Os primeiros passos na organização autônoma 70. A organização, eleição de bispos e outros dados

PARTE V

HISTÓRIA DO METODISMO NOS CAMPOS MISSIONÁRIOS

CAPITULO XXIV

O TRABALHO MISSIONÁRIO DAS SOCIEDADES BRITÂNICAS

71. O trabalho missionário das sociedades do Metodismo Wesleyano:

- Missão na África - Ceilão e Índia - China - Oceania

72. As missões da Igreja Metodista Unida 73. As missões da Igreja Metodista Primitiva

CAPITULO XXV O TRABALHO MISSIONÁRIO DAS SOCIEDADES

MISSIONÁRIAS AMÉRICANAS

74. Missões da Igreja Metodista Episcopal: - Na África - Na América do Sul - Na China - Na Índia.

75. Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul 76. Missões da Igreja Metodista Protestante 77 - A obra missionária da Igreja Metodista 78. CONCLUSÃO:

- Autoridade e liberdade - Unidade e experiência - A unidade histérica - O amor de Deus

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João Wesley, Pregando ao ar livre na Inglaterra

PARTE I

A HISTÓRIA DO METODISMO NA INGLATERRA

DESDE 1703 A 1991

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO: O LUGAR DO METODISMO

NA HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

1. A filosofia e a experiência em relação com o Metodismo.

A filosofia da história pode ser mais uma teoria do que um

fato provado, contudo as forças que estão atrás das atividades dos homens não são cegas, antes indicam um alvo que não podemos ver — uma verdade patente para o cristão. Para o cristão há um Arquiteto e Edificador atrás do universo, lançando os profundos alicerces sobre os quais se ergue um edifício indestrutível — que é o reino de Deus.

Acreditamos que o Oleiro divino, por meio do Espírito

Santo, está trabalhando no mundo. E, por isso, acreditamos que o Metodismo tem um lugar na Igreja universal do Senhor Jesus Cristo e que faz parte da economia de Deus no mundo. O movimento metodista tem, pois, certa semelhança com outros movimentos que se deram na história da Igreja; tais como o Profetismo, o Montanismo, o Misticismo e o Puritanismo.

O Metodismo não é uma doutrina, mas uma experiência.

Que levou os metodistas a darem tanta ênfase à experiência? Quais foram as causas históricas e teológicas disso? Para responder a estas perguntas temos de apelar para

fatos ocorridos. A Reforma foi um protesto contra o absolutismo excessivo,

que caracterizava a política na Idade Média. O indivíduo, como indivíduo, quase não existia na Igreja Romana. Sua salvação consistia no fato que pertencia a uma corporação que zelava por ele, e por cujos sacramentos recebia alimento espiritual, por cujo chefe tinha proteção e do mérito de cujos santos participava. Só na Igreja tinha relação com o Salvador; fora dela estava perdido. Em outras palavras, não tinha a responsabilidade pessoal, que era assumida exclusivamente pela corporação.

Essa idéia de solidariedade se ajustava perfeitamente às

concepções políticas e filosóficas daqueles tempos. "Tanto na Igreja como no Estado, na ação e no pensamento, por mais de mil anos a solidariedade foi a raiz fundamental da vida européia" (Townsend et al Vol. I, p. 8).

Contra essa solidariedade e essa corporação, a

Reforma levantou protestos de todos os lados. O espírito nacionalista manifestou-se dentro do Santo Império Romano e cada estado se julgava competente para dirigir a sua própria vida. O individualismo manifestou-se na relig ião. Em vez do indiv íduo confiar na corporação para a salvação, começou a confiar em Jesus Cristo como seu único Salvador, sem padre, sem sacramentos e sem a intervenção dos santos. Martinho Lutero ensinou que a salvação é pela fé e deu importância à vida íntima do indivíduo. Assim, o individualismo nasceu e sobre este princípio se desenvolveram os credos da Reforma.

Do critério individualista surgiu um problema sério — o

problema da sede da autoridade. Se o indivíduo, mediante a fé em Deus, consegue a salvação, que função tem a Igreja e os seus sacramentos? Onde está agora a sede da autoridade? Os

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protestantes, em via de regra, transferiram a sede da autoridade da Igreja para a Bíblia, ou para os símbolos, como na Igreja Holandesa, ou para os decretos imutáveis, como se deu nas igrejas calvinistas. Praticamente, pois, não havia diferença alguma entre os protestantes e os católicos romanos. Tudo voltou a subordinar-se à autoridade externa — não mais na autoridade da Igreja, mas na da Bíblia. O indivíduo ficou impossibilitado de obrar a sua salvação mediante a sua fé num Salvador pessoal.

Estava aberto o caminho para o Deismo — o credo mais popular do século dezoito. Segundo os decretos imutáveis, a oração de nada adiantava, o milagre era praticamente impossível e a expiação de Cristo foi desnecessária. O indivíduo achava-se impossibilitado de estabelecer relações pessoais com o seu Criador e Redentor. Por isso, tinha de depender de si mesmo. Ai estava a brecha escancarada para o Deismo, cujo erro maior foi julgar que a razão, por si, podia satisfazer a todas as necessidades humanas. Alguns filósofos, como Butler e Berkley, escreveram tratados de apologética para combater o Deismo; mas não foi por meio da pena (da escrita) que o Deismo recebeu golpes mortais; foi por meio das obras de Wesley.

Wesley, no combate ao deismo, deixou os recursos da

lógica e apelou para os do coração. Deu-nos uma experiência, um coração aquecido pela graça, e pelo amor de Deus. Os deistas afirmavam que Deus está distante do homem, porém Wesley afirmava que o homem é uma nova criatura "em Cristo Jesus". A oração, segundo os deistas, é ilógica e absurda; mas Wesley ensinou os homens a orar e conformar sua vida à vontade divina. Segundo o deismo, no Cristianismo não há nada misterioso, mas Wesley levava os homens a encarar face a face o mistério da cruz. Os milagres são impossíveis para o deismo, porém Wesley apelou para a experiência e produziu o milagre dos milagres — a conversão de pecadores em

santos. Não há nenhum sistema ético que possa produzir tal

transformação moral na vida humana. Wesley sempre insistia na autoridade externa, tanto como na autoridade interna da iluminação. As duas tinham de andar unidas. Segundo Wesley, o fenômeno espiritual tem uma realidade própria que nem os cientistas, nem os psicólogos podem deixar de reconhecer.

2 . His tória da doutr ina da segurança no Metodismo.

A doutrina da segurança, ou da certeza da salvação, é

uma das contribuições fundamentais que o Metodismo fez a vida e ao pensamento da Igreja. Por muitos séculos, isto é, desde o tempo do apóstolo Paulo, a doutrina da segurança da salvação não foi ensinada com tanta clareza como foi por João Wesley. Wesley ensinou que o crente pode ter a certeza do seu perdão, da sua adoção e da sua filiação divina. Mas havia uma restrição feita por Wesley a qual pesava na balança das controvérsias religiosas do seu tempo: que a certeza da salvação não é uma segurança que garante a perseverança até ao fim; limita-se ao presente.

Que tal doutrina suscitasse, oposição não é de admirar-se.

Os deistas, e até o clero da Igreja Anglicana, levantaram a sua voz contra ela, chamando-a de fanatismo. Não somente isso: os deistas e o clero atacaram a Wesley e seus adeptos, os políticos os desprezaram. Isto se evidenciou por uma Carta escrita pela Duquesa de Buckingham, filha ilegítima do rei James II, à Condessa de Huntingdon:

“Agradeço-lhe a informação acerca da pregação dos metodistas; eles pregam doutrinas chocantes e altamente carregadas de impertinência e de desrespeito aos seus superiores, pois procuram sempre nivelar todas as camadas e destruir todas as distinções, visto que é

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monstruoso ser alguém cada indivíduo acusado de ter um coração tão pecaminoso como os miseráveis que se arrastam sobre a terra. Isto é altamente ofensivo e insultuoso” (Towsend et al Vol. I, p. 20).

Sem dúvida, a doutrina da segurança foi uma novidade

para os ingleses que não gostavam de idéias novas. Nunca, depois dos dias do apóstolo Paulo, essa doutrina foi tão clara e positivamente pregada. O perigo que ela correu foi terminar em puro individualismo, mas tal perigo foi evitado pelo apelo que Wesley sempre fazia à experiência da coletividade. Há nela mais um perigo: é o de cultivar o egoísmo. Mas por isso ela não deve ser rejeitada; antes, o egoísmo deve ser combatido por uma concepção mais ampla da vida cristã.

3. O Metodismo e alguns movimentos anteriores na Igreja Cristã.

Há uma unidade e continuidade de vida que se manifestou

na Igreja através dos séculos. Em certo sentido Wesley usou os mesmos métodos e princípios que usaram os seus predecessores. Nas coisas espirituais tem havido pouca mudança, pois a alma humana sofre dos mesmos pecados e tristezas de século em século.

Na Igreja Primitiva, nos tempos apostólicos, havia uma

classe de obreiros chamados profetas. Era dever destes homens pregar a mensagem divina e exortar os crentes a serem diligentes no cumprimento dos seus deveres e estarem prontos para receber o Senhor, quando ele viesse do céu para receber os seus. Não recebiam ordenado fixo, mas só o que era necessário para atenderem às suas necessidades. Não podiam ficar no mesmo lugar por muitos dias em seguida. Eram homens inspirados pelo Espírito Santo e seus

conhecimentos eram de origem mais intuitiva que racional. Não podiam administrar os sacramentos, nem ensinar como doutores, pois o seu ofício era produzir; não comentar.

Entre os profetas da Igreja Primitiva e Wesley e seus

discípulos há muita semelhança. Aqueles e estes defenderam o direito de pregar a palavra com liberdade. Os deveres de ambos eram os mesmos; tinham de fazer viagens, indo de lugar em lugar, pregando dia após dia, sem ordenado fixo. O Espírito Santo se manifestava na vida e no trabalho desses homens. Deus os honrava com a sua presença. Nem o poder do sacerdotalismo, nem as reclamações do clero podiam fazer calar os homens que "pela estultícia da pregação" conseguiram salvar os que cr iam. É fato notável na História do Metodismo que, quando a “liberdade de profetizar" tem sido negada aos mais zelosos, tem havido separações. Ilustração disto se acha na história dos "cristãos da Bíblia" e do "Exército da Salvação" na Inglaterra.

Há na história da Igreja mais dois movimentos em que se

nota um paralelismo com o Metodismo, a saber, o dos montanistas e o dos quaqueres, ou "amigos".

O Montanismo foi um protesto, no segundo século e no

terceiro, contra a supressão do ofício profético e contra o mundanismo na Igreja. O Montanismo dá testemunho da grande verdade que o Espírito Santo pode manifestar-se por meio de outros agentes além dos sacerdotes. Em certo sentido, o Metodismo foi o “Montanismo” da Igreja do século dezoito. Foi um protesto contra uma época que tinha banido a doutrina do Espírito Santo pelo racionalismo frio e pelo mundanismo mortífero. Nesse protesto Wesley podia ter andado de mãos dadas com George Fox, ainda que seu amor à boa ordem o teria feito hesitar em acalentar muita simpatia ao fundador do Quaquerismo.

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4. O Metodismo e o Misticismo.

O Metodismo deve alguma coisa ao Misticismo. De

Tomaz Kempis, de Jeremias Taylor e de Law, Wesley recebeu influências no princípio de sua vida cristã. As leituras dos livros "Imitação de Cristo" de Tomaz Kempis, de "Holly Liv ing and Dying" de Jeremias Taylor e de "The Sérious Call" e "The Perfection" de Law exerceram influência poderosa sobre o espírito de João Wesley. Houve outros místicos que influenciaram Wesley, tais como Spener, Francke e o Conde Zinzendorf. Mas, apesar de tudo que Wesley recebeu dos místicos, considerou o Misticismo um inimigo do Cristianismo puro. Não podia tolerar o "entusiasmo" dos morávios e o seu "quietismo", porque tendiam para o "Antinomianismo".

Wesley cria que o Misticismo ensina uma doutrina de união

com Deus que priva o homem da sua personalidade. Contudo, Wesley e o Metodismo receberam contribuições dos místicos. A base do Misticismo e a do Metodismo é uma experiência espiritual e pessoal. E a doutrina da segurança não está muito longe da "luz interior" dos místicos. Ambos dão importância à certeza espiritual. Igualmente o Metodismo insiste em que a conversão é baseada sobre uma faculdade superior à da razão. No Misticismo e no Metodismo essa faculdade intuitiva reina como soberana:

"Where reason fails with all- her powers, There faith prevails, and love adores". Ou: "Onde a razão falha com todos os seus poderes, Ai a fé prevalece e o amor adora”

(Townsend et al p. 56, Vol. I).

Além disso o Metodismo e o Misticismo estão de acordo no ponto que expressam as palavras de Santo Agostinho:

"Tu nos tens criado para Ti, ó Deus, e o nosso coração

não pode descansar senão em Ti" (Townsend et al, Vol. I, p. 58). As verdades místicas não envelhecem, ao contrário, são

perduráveis e poderosas ainda hoje para combater o materialismo, fatal ao pensamento e à vida dos homens.

5. O Metodismo e o Puritanismo.

O Metodismo tem sido acusado de ser uma religião ascética.

Há um elemento de verdade nessa afirmação. Sem dúvida, Wesley e seus adeptos foram influenciados pelo seu século. Há uma diferença entre o ascetismo dos monges orientais e o do Puritanismo da Inglaterra. Para os monges a flagelação do corpo tinha virtude em si mesma, mas para os puritanos era meio de alcançar um fim. Mas Wesley, bem cedo na sua vida, rejeitou o ascetismo. Escrevendo à sua mãe, disse: "Não posso pensar que, quando Deus nos trouxe ao mundo, irrevogavelmente decretou que deveríamos ser nele sempre miseráveis.”

Wesley deixou o ascetismo e abraçou o conselho de sua

mãe puritana que disse: "Quer você saber se um prazer é ou não lícito? Tome esta regra: Qualquer coisa que enfraqueça sua razão, debilite sua sensibil idade de consciência, obscureça a sua percepção de Deus, ou lhe enfraqueça o desejo das coisas espirituais, enfim, qualquer coisa que aumente a força e autoridade do seu corpo sobre a sua mente, isso para você é pecado, ainda que seja inocente em si". (Townsend et al, Vol. I, p. 63).

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Este conselho que Susana Wesley deu a seu filho tem sido o princípio pelo qual o Metodismo se tem orientado. Fazendo isso, tem corrido o perigo de converter ascetismo e puritanismo num dualismo de vida. O problema de saber o que convém e o que não convém praticar na vida religiosa tem de ser encarado diante de cada caso especial. Corre-se o risco de excluir certos interesses na vida humana que devem ser conservados e de dar ênfase a outros que, deviam ser excluídos. Há sempre necessidade de sabedoria e de bom senso. A tendência moderna é permitir coisas perniciosas para a vida piedosa e moral.

6. O Metodismo e sua organização.

As sociedades que Wesley organizou tinham alguns

princípios presbiterianos. O sistema de ecônomos, as Conferências anuais e trimensais, que incluem leigos, são muito semelhantes ao sistema presbiteriano com os seus sínodos e ordenações. Os oficiais, na Igreja Metodista, têm, em grande parte, a mesma função dos "diáconos", "profetas", "doutores", etc., na Igreja Apostólica. Sem dúvida, Wesley era anglicano e apreciava a forma de governo episcopal, mas, acreditava na "sucessão apostólica" e considerava, na Igreja Apostólica, que o ofício de "bispo" e de "presbítero” eram a mesma coisa.

A forma de governo que Wesley criou para as suas

sociedades foi episcopal, não porque ele julgava fosse essa forma escriturística e apostólica, mas porque a achava prática e viável.

Em 1756 escreveu a esse respeito:

"Quanto ao meu próprio juízo, creio que a forma de governo episcopal da Igreja é escriturística e apostólica. Isto é, essa forma está de acordo com a prática e os

escritos dos apóstolos. Mas que é ordenada pelas Escrituras, não o creio. Essa opinião antigamente eu advogava e defendia com zelo até que li o “ Irenicon” do Bispo Stillingfleet; então me envergonhei de tal posição" (Townsend at al Vol. I, p. 69).

Há mais um fato que deve ser incluído aqui é acerca do lugar das mulheres na Igreja. O Metodismo não deixou de dar um lugar vital às mulheres na Igreja. Não gozaram elas o direito de serem representantes nas Conferências, logo no princípio, porém esse direito elas gozam hoje, como o de serem pregadoras licenciadas e ordenadas e de exercer o ofício de evangelistas e pastoras.

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C A P Í T U L O I I

AS CONDIÇÕES SOCIAIS, MORAIS E RELIGIOSAS NA INGLATERRA

NO COMEÇO DO SÉCULO XVIII.

7. As condições sociais.

O avivamento religioso da Inglaterra no século dezoito foi acontecimento nacional. Wesley mudou o espírito da sua época. É impossível calcular a magnitude das mudanças que se deram na Inglaterra no século dezoito, sem mencionar ligeiramente as condições sociais que reinavam naquela época.

Essas condições eram tais que a população se conservou

estacionaria durante três séculos, desde o século quatorze até ao século dezessete. A população da Inglaterra no reinado da rainha Elizabeth não excedia de três milhões de pessoas. Mas no século dezessete, devido ao desenvolvimento da lavoura e, no século dezoito, devido ao desenvolvimento da lavoura e da indústria, a população chegou a mais de sete milhões.

Quando João Wesley organizou a sua primeira classe na

cidade de Londres, não havia ali mais de seiscentos mil habitantes. Assim se pode dizer a respeito de muitas outras cidades da Inglaterra naquele tempo.

Não havia facilidade de contato entre os habitantes das

várias cidades, vilas e arraiais. As estradas eram ruins. Até o ano de 1753 não havia diligência que corresse entre Londres e Liverpool. Só em 1774 é que se criou tal meio de transporte. O escritor Rogers diz acerca dessa época: "Não há, creio eu, no

ocidente qualquer lugar onde tem havido tão pouca mudança na vida econômica e nos hábitos do povo que se encontra nas zonas rurais da Inglaterra desde o reinado pacifico de Henrique III". (Simon, p. 51). Assim por um período de cinco séculos pouca mudança se deu na vida rural do povo inglês. Não é, pois, de admirar que Wesley nas suas viagens entre o povo, notasse com admiração a curiosidade com que os habitantes das vilas o recebiam, como se fosse homem do outro mundo. Não era fácil para Wesley e seus ajudantes visitar o povo. As viagens eram penosas, especialmente no tempo frio. Wesley menciona no seu diário os perigos que correu em percorrer o país a cavalo.

A classe dos operários, tanto na lavoura como na

indústria, ganhava muito pouco. Um homem do campo ganhava de quinze a trinta cruzeiros por semana e os operários na indústria recebiam, por semana, entre quarenta a cento e trinta cruzeiros. A tendência nessa época era que o povo do campo procurasse serviço nas vilas e cidades.

Os negociantes lutavam com mil dificuldades. As estradas

eram ruins e custava muito transportar as mercadorias de um lugar para outro. As carroças e os burros de carga mal podiam passar pelas estradas cheias de buracos e atoleiros. Havia, nas lojas, pequena variedade de mercadorias que não eram bem conservadas nem bem guardadas. O povo em geral não tinha com que comprar, mesmo que os negociantes tivessem grande variedade de mercadorias para vender. E, além disso, os impostos eram pesados; os negociantes assim não tinham muito lucro.

Havia a classe dos abastados e ricos que não se importavam

com os operários e negociantes. Não se importavam com os pobres e ignorantes, não porque se julgassem melhores, mas porque eram indiferentes ao bem estar dos seus semelhantes. Portanto, havia gente perecendo diante dos seus olhos e eles não se importavam com isso. Não sentiam qualquer responsabilidade

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em promover a alegria dos seus semelhantes menos favorecidos. Estavam no caso do rico da parábola do Rico e do Lázaro.

Vejamos agora os pobres. O número de pobres na

Inglaterra naquela época era enorme. Os mendicantes se encontravam em Londres, nas vilas e nas zonas rurais. O pequeno salário dos operários é uma explicação disso, mas havia outras razões também: falta de serviço, crises e indolência.

Em face de tanta pobreza, havia um espírito benévolo

entre os abastados e da parte do governo. O governo não deixava de atender às necessidades dos pobres, porém havia muita fraude na administração da caridade. E, fato notável, quanto maior verba se destinava ao socorro da pobreza, tanto mais pobres se apresentavam.

O código civil e penal era severo demais. Como a classe

superior governava as classes inferiores, sem conhecer as suas condições e sem se simpatizar com a sua sorte, não é de admirar que o código penal fosse coisa terrível. Havia no código penal enumeração de cento e sessenta crimes sujeitos a pena de morte. O dr. Sydney, falando sobre isso, disse: "Furtar um cavalo ou uma ovelha, arrancar qualquer objeto de valor das mãos de um homem e fugir, furtar o valor de cento e cinqüenta cruzeiros numa casa particular ou vinte e cinco cruzeiros numa loja, tirar da bolsa de alguém cinco cruzeiros, todas essas ofensas eram punidas com a pena de morte". (Simon, p. 63).

Na primeira parte do século dezoito, setenta e sete

criminosos sofreram a pena de morte e só dezoito deles eram homicidas. Não era coisa estranha ou extraordinária testemunhar a execução da sentença de morte de dez ou doze pessoas numa só ocasião. A forca era um dos instrumentos de morte, mas se usavam outros meios mais cruéis ainda: pesos de ferros ou de pedras no peito do réu deitado de costas. Algumas pessoas, incluindo mulheres, foram queimadas.

Não é agradável narrar esses fatos, mas é necessário

para se compreender o povo inglês desse período. O povo não somente fazia isso para castigar criminosos, mas por que tinha prazer em ver uma pessoa sofrer. Por ocasião de um enforcamento, o povo juntava-se em grande número para apreciá-lo. Era um divertimento. Só no século dezenove se ouve urna voz de protesto contra tais leis de brutalidade.

Se os réus eram tratados com tanta brutalidade, que se

podia esperar do tratamento dos presos? É impossível exagerar a maneira cruel por que os presos eram tratados nas prisões. As prisões eram focos de imundícies e covis de vícios. Os presos tinham de conseguir camas, senão dormiriam no chão. O frio e a fome eram companheiros de muitos presos. Havia homens corretos, mas que por terem faltado com o pagamento de suas dividas, eram lançados na prisão até que pagassem o "último ceitil".

O único raio de luz que se vê no meio dessas trevas é o

interesse que o General Oglethorpe manifestou para com os presos. Ele conseguiu permissão do governo para levar para a América, para começarem de novo a vida na colônia da Geórgia, os presos cuja culpa era não terem podido pagar as suas dívidas. Havia pessoas, como João Howard, que se interessaram no melhoramento das prisões da Inglaterra, porém foram precisos muitos anos para corrigir esse grande mal na vida social do povo inglês.

Além do General Oglethorpe e João Howard, houve outras

pessoas como João Wesley e Carlos Wesley, George Whitefield e Elizabeth Fry, que visitaram os presos, procurando aliviar os seus grandes sofrimentos, e interessar o governo na solução desse grande problema social. Foi o senso de irmandade e simpatia cristã que abriu os olhos dos ingleses para a necessidade de se auxiliarem mutuamente uns aos outros e que salvou a Inglaterra

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de uma grande catástrofe. 8. As condições morais. Se as condições sociais eram ruins, que se poderia esperar

quanto às condições morais? No meio de um povo corrompido, havia muita gente boa. Como encontramos no meio do povo israelita, no tempo dos Juízes, famílias como a de Rute, assim, no meio do povo inglês, no século dezoito, encontramos famílias como a de João Wesley.

No meio de tantas trevas uma pequena luz evangélica

cintilava. O caráter dum povo pode ser julgado pelos seus

divertimentos. Tomando esse critério, queremos examinar a vida esportiva dos ingleses.

O teatro constituiu o ponto central dos divertimentos do povo.

Os autores estudavam o gosto do povo inglês e escolhiam as peças de acordo com ele. Geralmente as peças representavam o lado fraco da humanidade. Houve, contudo, alguns homens, como Davi Derick, que se esforçaram por elevar o teatro e salvá-lo do lamaçal. Mas há bastantes motivos para críticas severas do teatro.

Um homem, como Lecky, que apreciava o teatro, não deixou

de queixar-se dele, dizendo: "Como as coisas estão atualmente, multidões são

impedidas de assistir a esse divertimento nobre por causa dos abusos e corrupções que nele se encontram. Um pai tem receio de que sua filha se perca pelos divertimentos que são inventados para elevar e refinar a natureza humana. O cavalheiro esmerado que se apresenta no palco inglês é a pessoa que se familiariza com as mulheres dos outros

homens e não se importa com a sua, e as senhoras de alta estirpe são um misto de esperteza e fals idade" (Simon, p. 76).

Tanto a classe dos freqüentadores de teatros como as

peças representadas revelam o estado moral do povo. Pessoas que tinham perdido toda a compostura moral freqüentavam os teatros e davam o tom a moda do dia. Ficaram tão misturadas que era impossível distinguir as senhoras sérias das mulheres de vida livre.

João Wesley deu parecer acerca do teatro do seu tempo como

sendo "poço de toda a profanação e corrupção". A classe que se considerava instruída, não somente achava

diversão nos teatros, mas também na leitura de romances que saiam da Imprensa Minerva. A maioria dos escritores desses romances eram mulheres. Sydney, descrevendo esses livros de intrigas amorosas, disse:

"Podridão é a única classificação, com poucas exceções, que melhor descreve todos esses livros" (Simon, p. 80).

Enquanto as mulheres entretinham as suas mentes com a

leitura de romances perniciosos, os homens se entregavam aos jogos de azar. Nunca, talvez, na história da Inglaterra, o jogo de azar se tornou tão comum e popular. As duas casas do Parlamento estavam cheias de jogadores.. Homens como Carlos Fox e Pitt e Wilberforce se entregavam ao jogo. Se homens dessa estirpe o faziam, que poderíamos esperar dos demais? Não havia uma reunião social, sem que as cartas de baralho não aparecessem.

Alem do jogo, havia, entre o povo, outro costume que revela

o seu estado moral: o costume de judiar dos animais. A rinha de galos e o Bear-baiting forneciam um meio de divertimento.

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Homens de diferentes cidades promoviam esse esporte cruel, disputas que duravam três e. quatro dias em seguida, nas quais grande número de galos eram empregados. Grande número de pessoas se juntava em tais ocasiões para observar as brigas e fazer apostas. Às vezes, as apostas chegavam até Cr$ 35.000,00 e muitos galos morriam nas brigas. Tudo isso para divertir um povo moralmente decaído. "Bear-baiting" era divertimento muito apreciado pelo vulgacho. Mas com o correr do tempo esse esporte foi substituído pelas touradas.

Havia tanta crueldade praticada para com os animais

entre os ingleses que os países europeus os chamavam de "a nação selvagem da Europa". Não é de admirar: se o povo gostava tanto de esporte cruel para com os animais, não gostaria também de judiar dos homens? Os sentimentos do povo estavam tão embrutecidos que não foi difícil desenvolver-se nele o espírito motineiro. Não havia recanto da Inglaterra em que não se notasse a manifestação de motins. Era uma espécie de divertimento em que o vulgacho tomava parte com gosto. Não havia outra coisa tão engraçada como atacar uma pessoa não apreciada e incomodá-la de toda a maneira, jogando nela ovos podres, legumes, gatos mortos, terra, pedras, etc. Muitas vezes tais pessoas eram espancadas, atiradas no chão e lançadas no rio. O espírito motineiro se desenvolveu do costume do povo que praticava crueldade com os animais. Os sentimentos assim se embruteciam.

Já mostramos o caráter moral do povo inglês, como se

revelava pela sua vida esportiva. Vamos concluir este estudo, citando a observação de João Wesley, que viajou entre o povo e observou os seus costumes de perto. Ao mencionar, as coisas que caracterizavam o povo inglês, ele disse:

"Os hábitos mais comuns são: tomar o nome de Deus em vão, profanar o dia do Senhor e embriagar-se". Em toda parte onde andou notou estas três coisas, que

revelavam o estado moral do povo inglês. A embriaguez era um dos males que revelavam a condição

moral do povo. Foi vício que afetou todas as camadas da sociedade do país. Podiam encontrar-se bebidas alcoólicas em toda parte, nos cafés, nos botequins, nos hotéis, nas estalagens e nas vendas. A cerveja tornou-se a bebida do povo. O governo quis dominar a fabr icação das bebidas alcoól icas e procurou excluir o vinho e outras bebidas da França e de outros países europeus. Mas o contrabando apareceu e grande quantidade de álcool entrava anualmente no país.

Em 1750 mais de 11.000.000 galões de álcool foram

consumidos pelo povo. Tanto foi o álcool consumido pelo povo que os médicos ficaram alarmados com o grande número de doentes que apareceram em Londres. Houve, naquela cidade, mais de quatorze mil casos de doença atribuídos ao álcool. Os botequineiros (proprietários de botequim) ofereciam aos seus fregueses as seguintes vantagens:

"Por um penny pode-se embriagar; por dois pences, pode-se ficar "borracho"; e há palha na adega onde se pode dormir de graça".

Tão comum se tornou a embriaguez entre o povo que

alguns homens de bom senso recearam que o povo inglês se exterminasse pelo vício. Na carta que o dr. Martin Benson, Bispo de Gloucester, escreveu ao Bispo Berkley, em 1752, encontramos as seguintes palavras que revelam o alarme que sentiu:

"O nosso povo" diz ele, "tem-se tornado cruel e desumano, como nunca antes foi. Os malditos licores, que para vergonha do nosso governo, são tão fáceis de adquirir e em tão grandes quantidades são consumidos, tem mudado a natureza do nosso povo. E se continuarem a ser consumidos, destruirão mesmo a raça inglesa” (Simon, p. 93)

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A condição moral do povo na Inglaterra era deplorável. É

difícil descrever o estado de degradação do povo no século dezoito. Mark Pattison, no seu tratado sabre as "Tendências do Pensamento Religioso na Inglaterra, 1688-1750”, disse o seguinte:

"O historiador do progresso moral e religioso esta sob necessidade de pintar o período como de decadência religiosa, de licenciosidade moral, de corrupção pública e de linguagem profana — um período de censura e blasfêmia. Foi uma época cuja poesia foi sem romance, cuja filosofia foi sem visão e cujos homens públicos foram sem caráter; uma época de luz sem amor, cujos méritos foram da terra" (Simon, p. 95).

9. As condições religiosas.

Se as condições morais da Inglaterra no século dezoito

não eram boas, a mesma coisa pode se dizer a respeito das condições religiosas. A Igreja, nessa época, perdeu a sua visão celestial e ficou paralisada na sua vida íntima. Não há dúvida que o Deismo concorreu para prejudicar a Igreja, porém a Igreja mesma não tinha em si força espiritual para repelir as forcas do mal. A falta de visão e a paralisia espiritual são coisas que caracterizavam a condição religiosa do povo inglês o século dezoito.

A batalha intelectual contra o Deismo foi ganha, mas a Igreja

perdeu a sua experiência evangélica. A vitória intelectual não foi suficiente: era necessário conservar os ideais do Novo Testamento e gozar saúde espiritual. A causa principal da fraqueza da Igreja no século dezoito era o clero. Os clérigos se metiam na política e gozavam de prestígio no governo.

A doutrina que o rei é o cabeça na Igreja servia muito

bem naquela época para combater a política de Roma, mas não correspondia ao ideal cristão que afirma que Jesus Cristo é o cabeça da Igreja e que só pelos olhos da fé é que os crentes enxergam tais coisas. É difícil calcular o prejuízo que essa política causou à Igreja de Cristo.

Enquanto um rei protestante estava no poder, não havia

muita dificuldade em administrar os interesses da Igreja, mas, quando reinava um rei católico, como se deu nos reinados de Carlos II e James II, então apareciam grandes dificuldades e multidões de intrigas. Onde tal espírito predomina, não se pode conservar o espírito de Cristo, porque os pastores ficam envolvidos em questões seculares e se tornam egoístas, em vez de pregarem o Evangelho, procurando a salvação das almas dos homens.

Tal política reduziu o clero a um degradante servilismo. É fato

histórico que, na hora da morte do rei Carlos II, o bispo e outros receberam a benção do rei e, logo em seguida, o rei chamou o padre romano para absolvê-lo. Igualmente nos tempos de outros reis, os clérigos sentiam-se dependentes do rei para sua colocação e isto se refletia poderosamente na sua atitude para com o governo e no cumprimento dos seus deveres como ministros de Cristo. Tal política levou os clérigos a procurarem a proteção e o favor do rei. E o resultado foi que muitos deles ocuparam mais do que uma paróquia ao mesmo tempo, recebendo muito dinheiro e honras, sem servir ao povo no espírito de Cristo.

Isso atingia não somente aos Bispos, mas também ao clero em

geral. Havia homens no ministério que não acreditavam nas doutrinas da Igreja. Muitos eram unitários na sua crença, porém, para conservarem-se nas suas paróquias, calavam-se. Havia mundanismo entre os clérigos. Gostavam de caçar, banquetear-se, beber e jogar. Eram homens mundanos. Tendo a proteção do governo, não podiam ser removidos

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das suas paróquias. Muitos, senão todos, entraram no ministério, como se fosse qualquer carreira secular. O ministério era considerado uma profissão e não uma vocação.

Havia duas correntes na Igreja para reformá-la: a dos

dissidentes e a dos separatistas. O papel desses dois grupos era reformar a Igreja e conservar as verdades evangélicas. Havia alguns homens que se filiavam a grupos. Mas com o correr do tempo, esses grupos tornaram-se tão frios na sua vida religiosa como o clero da Igreja Anglicana. Para conseguir os seus fins, entravam na política e, assim, perderam em grande parte a visão que tinham em vista, quando se separaram da Igreja Anglicana. E, além disso, houve outra coisa que concorreu para prejudicar a espiritualidade desses grupos: foi a controvérsia doutrinária. Levantaram-se questões antigas do Arianismo e do Unitarianismo. As discussões ocupavam mais a mente e o tempo dos pastores do que a pregação simples do Evangelho. O resultado foi uma Igreja formal e sem vida espiritual. Assim as igrejas dissidentes e separatistas caíram da sua ortodoxia em Unitarianismo e perderam a nota evangélica.

Considerando o estado em que todas as igrejas da

Inglaterra tinham caído, não é,.de admirar que o povo tivesse ficado indiferente ao poder do Evangelho. Não havia, de fato, pregadores inflamados do amor divino para proclamar as verdades eternas do Evangelho. Como disse alguém daquela época, "nada que exigia grande esforço e sacrifício foi encetado". Tais ministros eram impotentes para combater a ignorância e a corrupção que os cercavam. Não tinham poder de acordar a nação que jazia no vale da sombra da morte. Precisava-se de um avivamento.

CAPÍTULO III

A FAMÍLIA WESLEY 10 . Os pa is de João e Car los Wes ley . A família Wesley é notável pela sua piedade e

sentimento religioso. Desde os avós de João e Carlos Wesley esses sentimentos caracterizavam esta família. O bisavô de João Wesley, Bartolomeu Wesley, fo i pregador le igo da Igreja dissidente e sofreu as conseqüências de tal posição. O avô dos irmãos Wesley, João Wesley, foi ministro e estudou na Universidade de Oxford, tirando o grau de Mestre em Artes. Teve ministério frutífero, mas sofreu perseguição porque não quis sujeitar-se ao Ato de Conformidade que o governo exigia de todos os ministros do Evangelho. Foi pregador leigo e evangelista itinerante.

Seu filho, Samuel Wesley, pai de João e Carlos, na sua

mocidade conservou-se nas convicções do seu pai. Mas depois de estudar a questão por si mesmo, mudou de opinião e passou da Igreja dos dissidentes para a Igreja Anglicana. Para não desgostar a sua mãe, levantou-se cedo, de manhã, e partiu para Oxford, sem contar coisa alguma à sua família. Entrou na Universidade de Oxford sem dinheiro para custear os estudos. Mas, pelo serviço que prestou, pagou as suas despesas. Completou o curso e foi ordenado na Igreja Anglicana em 1689. Recebeu sua nomeação e, depois de casar com Susana Annesley, fixou residência na cidade de Epworth, onde iria ficar por trinta e nove anos, até o dia da sua morte.

Samuel Wesley,escreveu algumas obras e entre elas

uma Vida de Cristo em versos. Não tinha jeito para administrar as finanças do seu lar; quem se preocupava com isso

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era sua esposa. Teve interesse em educar os seus filhos e em dar-lhes, para estudarem, a melhor oportunidade que o país oferecia.

A mãe dos irmãos Wesley chamava-se Susana Annesley.

Os pais dela eram da Igreja Dissidente e sofreram, como os demais dissidentes, por causa das suas convicções religiosas. Susana herdou os característicos de seu pai, que foi homem inteligente, piedoso e de convicções firmes. Bem cedo, na vida, revelou espírito de independência, quando passou para a Igreja Anglicana. Havia estudado a questão e convencera-se de que a Igreja Anglicana tinha mais razão do que as Igrejas dissidentes.

Casou-se com Samuel Wesley e veio a ser mãe de dezenove

filhos, dos quais nove faleceram na infância. Sabia dirigir o seu lar e mostrou grande interesse na instrução e educação de seus filhos e até das crianças da paróquia de Epworth. Depois do incêndio da casa pastoral, quando o seu filho João quase perdeu sua vida, resolveu dar mais atenção a ele, pois julgava que Deus o tinha destinado para uma grande obra no mundo. Naquele mesmo dia do incêndio ela escreveu no seu diário o seguinte:

"Meu filho João. Que farei eu ao Senhor por todos os seus benefícios? Quero oferecer-me a mim mesma e tudo o que me tens dado; e faço votos (Oh! dá-me grata para cumpri-los!) que todos os dias da minha vida serão devotados ao teu serviço. Desejo especialmente para com a alma desse filho que tão bondosamente me tens dado, ser mais cuidadosa do que tenho sido; que eu possa incutir na sua mente os princípios da verdadeira religião e da virtude. Ó, Senhor, dá-me graça para fazê-lo sincera e prudentemente" (Lipsky p. 18-19). Era costume dela conversar particularmente e orar com cada

um dos seus filhos uma vez por semana. Sem dúvida, não negligenciou essas oportunidades de incutir as verdades

evangélicas na mente e no espírito deste filho. Susana Wesley foi a conselheira de João durante toda a sua

vida. Ele sempre apreciou os seus conselhos e os levava em conta. Quantas vezes ela o aconselhou nas suas cartas, tanto no tempo de estudante como na vida prática!

O dr. Addo Clarke escreve a respeito desta mulher, que

em certo sentido foi a fundadora do Metodismo, o seguinte: "Não tenho ouvido nem lido a respeito de outra

mulher, nem conheço mulher alguma que se possa comparar com esta em todos os sentidos. Tal mulher é a que Salomão descreve no último capitulo dos Provérbios; e a ela posso aplicar os mesmos dons e virtudes. Muitas filhas têm procedido virtuosamente, mas Susana Wesley a todas sobrepuja" (MacTyeire, p. 65). 11. João W es ley .

João Wesley nasceu em Epworth aos 17 de junho de 1703 e

faleceu em Londres em 2 de marco de 1791. Viveu quase um século, abrangendo a maior parte do século

XVIII. Com o seu nascimento uma nova época começou na Inglaterra. Se Martinho Lutero "abalou o mundo", João Wesley abalou ao menos a sua terra e esse abalo se reflete ainda hoje em todo o mundo. Por mais de cinqüenta anos Wesley fez a obra dum evangelista itinerante, penetrando em todos os recantos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda. Legou as suas sociedades uma doutrina católica, uma organização eficiente, uma experiência religiosa e um zelo perseverante.

Poucos meninos têm, ao nascer, a grande felicidade de

serem recebidos por bravos maternos tão carinhosos e eficientes como os da mãe de Wesley. O lar de Wesley, em

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certo sentido, foi um mundo em miniatura. Ali viveu com os pais e irmãos, com os empregados e os filhos dos seus vizinhos, brincando, estudando e trabalhando com método e ordem. Sem dúvida, ficou impressionado com a vida da paróquia de seu pai; sabia das dificuldades financeiras pelas quais seu lar passou, sentia a incerteza das coisas deste mundo pelo incêndio da casa e pelo grande perigo que correu naquela ocasião. Recebeu ali impressões que nunca deixaram de influir sobre a sua vida inteira. A influência da sua boa mãe o seguiu constantemente por toda a sua longa vida. As impressões que recebeu no lar acerca do "barulho" que lá se ouviu por espaço de dois meses nunca deixou de influir sobre a sua mente.

Com treze anos de idade João Wesley partiu do lar

para entrar na Escola de Charter-House em Londres . T inha a lc ançado os a l icerc es de um caráter cristão. Podia enfrentar as tentações da vida escolar com a esperança de vencê-las. O método e o sistema que aprendera, da sua mãe tornaram-se agora o seu melhor patrimônio Foi bom aluno e adiantou-se nos seus estudos a contento dos mestres. Não deixou de cuidar da sua saúde, obedecendo ao conselho de seu pai, correndo diariamente, para fazer exercício, de manhã cedo, ao redor da escola.

Terminando seus estudos em Charter-House, foi premiado

com uma bolsa na Universidade de Oxford. Tinha dezesseis anos, quando entrou na Universidade. Aproveitou seus estudos e tornou-se mais religioso. Foi durante esses quatro anos ali passados que se dedicou a vida cristã. Queria alcançar a salvação da sua alma e ser canto na vida. Dedicou-se ao estudo do Novo Testamento e dos livros de Tomaz Kempis, Jeremias Taylor e Guilherme Law. Wesley estudou e experimentou todos os tipos de religião, sem alcançar satisfação plena. Por volta dos dezessete anos procurou uma experiência que o satisfizesse, mas em vão. Essa busca teve início em Oxford e terminou em 24 de maio de 1738, quando sentiu o coração

aquecer-se com o amor de Deus. Passou cinco anos na Universidade de Oxford; aos vinte e

dois anos de idade, por sugestão de seu pai, foi ordenado presbítero na Igreja Anglicana. Ajudou seu pai por algum tempo na paróquia de Epworth. Mais tarde foi nomeado para a paróquia de Roote, mas não gostou do trabalho pastoral e voltou para a Universidade de Oxford, que o convidara para trabalhar ali, como professor. Por mais ou menos seis anos ensinou e estudou, tornando-se verdadeiro "homem de universidade".

Durante essa es tada na Univers idade interessou-se

no trabalho do "Clube Santo” e na visitação aos pobres e presos de Oxford. Foi nesse período que se tornou mais austero na sua vida cristã. Leu as obras "A Imitação de Cristo" de Kempis, "The Christian Perfection" e "The Sérious Call" de Law, e "The Rules for Holy Living and Dying" de Taylor.

Sobre essa fase da sua vida Fitchett diz o seguinte "Em

novembro de 1729 Wesley foi novamente chamado para Oxford. Faziam esforço para restaurar a disciplina na Universidade. Para conseguir isto decidiram que os lentes mais novos que fossem escolhidos como moderadores, desempenhassem pessoalmente as funções de seus cargos. Em Oxford de então os debates públicos figuravam entre as mais importantes funções da Universidade. No Colégio Lincoln esses debates se realizavam diariamente e era dever do moderador presidir a eles. Wesley foi chamado outra vez para esse fim e dedicou-se, ali, com a costumada energia, ao seu trabalho. Havia nisto uma disciplina intelectual de não pouco valor para ele mesmo: aumentava-lhe a facilidade de falar, a sua prontidão no debate e a presteza em descobrir os sofismas num argumento qualquer. Isso o ajudou a adquirir as qualidades formidáveis de polemista, que lhe serviram tanto nos anos tempestuosos do futuro.

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Wesley permaneceu em Oxford desde 22 de novembro

de 1729 até a sua partida para Geórgia, aos 6 de outubro de 1735. Aqueles seis anos foram, para Wesley, anos de lutas, sem atingir o alvo; anos de grandes aspirações e de grandes derrotas espirituais. Ele estava vivendo, como disse alguém, no capítulo sete da Epístola de São Paulo aos Romanos, não tendo ainda alcançado o capítulo oito! E nesses seis anos trabalhosos — anos em que Wesley praticava a austeridade de um asceta e ardia com o zelo de um fanático, e tudo sobre as bases de uma piedade ritualista e dos seus esforços para achar a salvação mediante as boas obras e de viver segundo a moral cristã, sem possuir a energia cristã necessária para produzir os frutos da vida cristã, enquanto a raiz ainda não existia" (Fitchett, Vol. I, p. 81-82).

O rigor com que os membros do "Clube Santo" se

comportaram atraiu a atenção dos alunos da Universidade. Naquela época havia muita incredulidade e ateísmo entre os estudantes. Não tomavam a sério a vida religiosa e qualquer pessoa que o fizesse e mostrasse entusiasmo pela causa de Cristo era desprezada e criticada. Assim fizeram com os membros do "Clube Santo". Como este grupo de moços levou a sério a vida cristã, assistindo aos cultos, tomando a Santa Ceia com regularidade, estudando a Palavra de Deus diariamente e com regularidade e visitando os presos, foram alcunhados "Traças da Bíblia", "Clube Santo", e "Metodistas". O termo “Metodista" v ingou e desde aquele tempo para cá os discípulos de Wesley têm sido chamados "metodistas".

Foi Carlos Wesley que fundou o "Clube Santo", estando

João Wesley ausente da Universidade, no tempo que passou como pároco. Mas, quando Wesley voltou para Oxford, em pouco tempo tornou-se o chefe do clube. Os seus primeiros membros foram Carlos Wesley, George Whitefield, Benjamin Ingham, James Harvey, João Clayton, Richard Hutchins, João

Wesley e Carlos Delamotte. O "Clube Santo" conservou-se ativo, enquanto os irmãos

Wesley permaneceram na Universidade. Quando Carlos Wesley terminou seus estudos na

Universidade, chegou o tempo para uma mudança radical na vida dos irmãos. Mais ou menos na mesma época o pai deles faleceu. Antes de falecer foi visitado pelos dois filhos e João, falando a respeito de seu pai antes de morrer, disse que ele teve uma experiência profunda durante os oitos meses de enfermidade e que morreu no amor de Deus: "O testemunho interno, o testemunho interno", disse-me ele, "eis a prova, a prova mais forte do cristianismo". E, também, "A fé cristã certamente será reavivada neste reino; você há de vê-lo, ainda que eu não o veja" (Mc Tyeire, p. 64-65).

Logo depois do falecimento de seu pai, João Wesley e

seu irmão Carlos embarcaram para a América. Em 14 de outubro de 1735 embarcaram em Gravesend para a colônia da Savanah, Geórgia. Do fim que tinham em vista fala João no seu Diário:

"O motivo que tivemos em vista não foi escapar à necessidade, nem ganhar riqueza ou honra, mas simplesmente isto: salvar as nossas almas; viver inteiramente para a glória de Deus" (Wesley Journal, Vol. I, p. 15).

Embarcando no navio Semmonds, começou logo a estudar a

língua alemã com os morávios que viajavam em demanda das plagas Americanas. A viagem não foi sem novidades, pois levantou-se grande tempestade que pôs o navio com todos os seus passageiros em perigo. Wesley ficou assustado porque não se achava preparado para morrer, porém os morávios não mostraram medo, antes ficaram calmos e cantavam hinos no meio da tempestade. Isto impressionou sobremaneira João Wesley. Querendo saber o motivo porque não ficaram assustados, disseram que não tinham medo de morrer. Logo

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depois de chegar à América, Wesley conversou com Spangenberg, chefe deles, e ficou impressionado com a sabedoria espiritual com que ele falou. Esse contato com os morávios foi o começo da sua experiência em Aldersgate Street em Londres mais tarde.

O trabalho de Wesley na colônia de Geórgia não

foi bem sucedido. Conseguiu pouca coisa, se é que o conseguiu, pelo seu trabalho pastoral entre os índios. O rigor com que fazia seu trabalho pastoral entre os colonos ingleses o incompatibilizou com seus patrícios. Teve uma experiência muito desagradável durante seu pastorado na colônia. Como sempre, não foi feliz nos seus namoros. Ficou gostando de uma moça inteligente, bonita, bem relacionada e mais ou menos bem educada, que se chamava Sofia Hopkey.

Wesley gostava dela, mas hesitava em pedi-la em

casamento, porque não queria prejudicar seu projetado trabalho entre os índios. Sofia gostava dele, mas como ele hesitava em pedi-la em casamento, ficou, por sua vez, embaraçada em relação aos outros pretendentes. Finalmente ela, de repente, consentiu em casar-se com um certo Williamson. Este passo complicou ainda mais a relação entre os dois.

Wesley, que era pastor dela, recusou administrar-lhe o

sacramento da Ceia. Esse ato causou escândalo na colônia e o marido dela o denunciou perante o tribunal. Houve dez acusações contra Wesley, mas ele se recusou a responder a nove dessas acusações porque não competia a um tribunal secular julgar casos eclesiásticos. Prontificou-se a responder a uma das acusações que era da alçada do tribunal secular.

Compareceu diversas vezes perante o tribunal, mas este

não quis ouvi-lo. Sabendo que seus adversários só queriam desmoralizá-lo na colônia, depo is de dar u m av is o de ix ou

a c o lôn ia e voltou para a Inglaterra.

A volta para a Inglaterra marcou nova fase na vida de Wesley. O velho João Wesley estava quebrantado e o novo Wesley ainda não se tinha surgido.

Voltando para a Inglaterra, a bordo do navio escreveu as

seguintes palavras: "Faz agora dois anos e quatro meses que deixei

minha terra com o fim de ensinar aos índios de Geórgia a natureza do cristianismo; mas que tenho eu aprendido durante este tempo? Aprendi o que eu menos esperava: que eu, que fui à América para converter os outros, eu mesmo não era convertido a Deus". "Isso então tenho aprendido dos confins da terra: que eu tenho estado destituído da glória de Deus; que meu coração está completamente corrompido e, conseqüentemente, minha vida toda; que alienado como estou da vida de Deus, sou filho da ira, herdeiro do inferno" (Wesley Journal, Vol. I, p. 75-76).

Estas palavras são fortes e revelam o estado espiritual em

que Wesley se achava depois do seu fracasso no Novo Mundo. Não tinha ainda alcançado a s a lv ação da sua a lma ; fa l tav a- lhe um c oração aquec ido pelo amor de Deus.

Chegando à Inglaterra, logo procurou os Depositários da

Colônia de Geórgia, desobrigando-se destarte da sua missão. Pregava e dirigia culto onde podia encontrar oportunidade. Visitou Oxford em companhia de Pedro Bohler e conversou muito com aquele servo de Deus, mas não podia compreender a natureza de uma fé v iva e salvadora que Bohler lhe pregou.

Custou para Wesley convencer-se da sua incredulidade,

de que a sua fé não era fé salvadora, porque confiava na sua

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própria justiça e nas boas obras que fazia e não confiava inteiramente no sangue de Cristo derramado pelos seus pecados. Mas, uma vez convencido do seu erro, resolveu buscar a Cristo como seu Salvador, aceitando a Cristo para a sua justificação, santif icação e redenção. Assim orientado, começou a buscar a salvação em Cristo pela fé, desconfiando das suas boas obras e da sua própria justiça. Não levou muito tempo para adquirir uma experiência que mudou completamente a sua atitude para consigo mesmo e para com seus semelhantes. Depois de se converter, deixou de pensar na sua própria salvação e começou a buscar a salvação dos outros; deixou de olhar para si e para suas obras e começou a olhar para Cristo como a única fonte de Salvação.

Essa mudança se deu em 24 de maio de 1718, no salão

de cultos na rua Aldersgate Street, em Londres. Assim descreve ele a sua experiência:

"De tarde fui, com pouca vontade, para assistir a uma reunião na rua Aldersgate Street, onde alguém estava lendo o prefacio de Lutero sobre a Epístola aos Romanos. Cerca das oito e quarenta e cinco da noite, enquanto ele descrevia a mudança que Deus opera no coração mediante a fé em Cristo, senti meu coração maravilhosamente aquecer-se. Eu senti que eu realmente confiava em Cristo, somente em Cristo, para salvação; e foi-me dada uma segurança de que Cristo tinha perdoado os meus pecados, sim os meus, e que eu estava salvo da lei do pecado e da morte. (Wesley Journal, Vol. I, p. 102). Logo começou a orar pelos seus inimigos e deu seu

testemunho a todos os que estavam na sala de quanto Deus tinha feito por ele. Passou alguns dias assaltado pela tentação de que a sua fé não era verdadeira, porque não tinha muita alegria no coração. Mas pouco a pouco ia ganhando vitória sobre vitória, gozando paz no coração e mais tarde teve gozo no

coração. Foi perseguido e maltratado e o clero começou a fechar as

portas das igrejas para ele. Logo depois da sua conversão, resolveu visitar os

morávios na Alemanha para conhecer melhor as suas idéias e firmar-se melhor na sua própria experiência. Visitou a colônia Moravia em Hernhut e passou algumas semanas com eles na Alemanha. Gastou nesta viagem mais ou menos três meses. Quando voltou da Alemanha, tinha trinta e cinco anos de idade e estava preparado para a sua missão no mundo.

As atividades de Wesley de agora em diante serão

narradas sob outros pontos no desenvolvimento do movimento metodista na Inglaterra.

A esta altura pode dizer-se mais alguma coisa a respeito dos

namoros de Wesley. Nisso nunca foi feliz. Gostava do sexo feminino e teve diversos namoros. O mais notável foi o que teve com Grace Murray, mas pela intervenção do seu irmão Carlos, em conjunto com João Bennett que era um dos seus pregadores, conseguiu que ela casasse com este, e não com Wesley. Foi um abalo forte para Wesley. Isto foi em 1748. Três anos mais tarde, em 1751, sem consultar ninguém, casou-se com uma Mrs. Vaseile. Como disse Fitchett,

"João Wesley foi menos feliz nas excursões aos domínios dos sentimentos. Todos os seus namoros foram desastrosos, e ele escolheu afinal aquela que era, talvez, a mulher absolutamente imprópria para ser sua esposa dentre as que havia nos três reinos".

12. Carlos Wesley.

Carlos Wesley nasceu em Epworth aos 18 de dezembro de

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1708, e faleceu em Londres aos 29 de marco de 1788. Foi o terceiro filho e chegou a ter a maioridade e o décimo oitavo dos dezenove filhos que nasceram do casal Samuel e Susana Wesley.

Como os demais filhos deste casal, passou os seus primeiros

anos num lar cristão e cheio de boas influências, que deixaram na sua mente, acerca da existência de Deus e de sua bondade, impressões que nunca seriam arrancadas. É notável que todos os filhos do casal Wesley tenham conservado o temor de Deus nas suas vidas, até o fim da sua jornada na terra. Havia alguma coisa neste lar que imprimia reverência, amor e temor de Deus no coração de cada filho.

Carlos Wesley era criança, quando a casa pastoral se

incendiou. Dizem que isto trouxe por algum tempo muita falta de conforto para a família Wesley. Por isto Carlos ficou privado de certo conforto e de certa facilidade que os filhos mais velhos gozaram. Sem dúvida, o cuidado de uma mãe extremosa supria essas faltas. No dia em que fez cinco anos aprendeu o ABC, pois isso era regra do lar. Ensinava-se o alfabeto a cada filho nesse dia e todos conseguiam aprendê-lo, alguns com mais dificuldade do que outros.

Com oito anos de idade deixou o lar materno para assistir as

aulas a "Westminster School" em Londres. Nessa escola a disciplina era muito rigorosa. Havia horário meticuloso para todo o dia e era executado. Dava a escola muita importância ao estudo do latim, que ali se aprendia a falar. Os alunos tinham de conversar em Latim. O resultado foi que Carlos tornou-se perito na literatura clássica. Gostava dos poetas latinos, como Virgílio; de cujo poema, a Eneida sabia muitos trechos de cor. Depois de homem feito ele e seu irmão conversavam em Latim.

Carlos era v ivo e belicoso. Tinha imaginação forte. Era

poeta por natureza. A sua índole foi pugnar pelas coisas que julgava justas. Na escola teve as suas brigas; mas, as vezes, eram provocadas pelos rapazes maiores que judiavam de um rapaz escocês, chamado James Murray. Carlos não gostava de tal procedimento e tornou-se o defensor do escocês. Mais tarde, na vida, Murray tornou-se jurista e foi chamado Lord Mansfield. Conservou lembrança de Carlos e o honrou com as suas visitas.

Em 1725, Carlos foi escolhido capitão da escola, e quando

terminou o curso, ofereceram-lhe uma bolsa na Christ Church, na Universidade de Oxford. Nessa mesma ocasião foi procurado por um homem rico, chamado Garrett Wesley, irlandês, que não tinha filhos herdeiros e queria adotá-lo e educá-lo como seu próprio filho. Carlos consultou o seu pai sobre o assunto, mas o pai queria que ele mesmo decidisse a questão. Carlos resolveu rejeitar a oferta e continuar seus estudos em Oxford. Quem sabe se o amor que tinha para a sua mãe não foi o que o levou a não aceitar tão grande oferta. Qual teria sido a sua carreira na vida, se tivesse aceito a oferta de Garrett Wesley? Teria escrito tantos hinos cristãos? Provavelmente não.

Em 1726 Carlos entrou na Univers idade de Oxford

onde estudou por quatro anos, formando-se em 1730. A vida escolar de Carlos não foi séria. Entrando na Universidade, onde havia tanta liberdade, não soube aproveitar bem seu tempo no primeiro ano. João Wesley chamou a sua atenção para esta falta, mas Carlos não gostou da repreensão e respondeu: "Quer que eu me torne santo de uma vez ?".

Mas logo depois caiu em si e corrigiu essa falta. Então

procurava os conselhos de seu irmão mais velho, ao invés de desprezá-los. Realmente Carlos respeitava e amava seu irmão nessa época, e tornaram-se dois grandes colegas durante toda a sua vida.

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Em 1730 Carlos arranjou colocação como tutor na Universidade. Agora podia manter-se, ensinar e estudar.

Depois de corrigir-se e mudar o rumo de sua vida, tornou-

se zeloso pela obra religiosa na Universidade. Comungava uma vez por semana e, como era, sociável e jeitoso para lidar com amigos; convidou alguns para estudarem a Bíblia com ele e para orarem e comungarem juntos. Desse passo originou-se o "Clube Santo" que tomou o nome de "Metodista" mais tarde.

Carlos gostava de visitar os presos e os pobres e também

de cuidar de certos amigos que corriam o perigo de perder-se nas orgias da vida universitária. Assim escreveu a seu irmão acerca das suas atividades religiosas:

"Um rapaz modesto, humilde, bem disposto caiu nas mãos dos vilões. Eu ajudei a libertá-lo e farei o possível para não deixá-lo cair nas mãos deles outra vez. Ele não quer comungar senão nas ocasiões regulares para não ser criticado. Mas eu o convenci de que é nosso dever comungar mais freqüentemente, e nós dois agora comungamos uma vez por semana. Persuadi dois ou três alunos a me acompanharem na observação do método de estudo prescrito pela Universidade. Isso resultou em ganhar eu o nome inocente de i'metodista" (Jones, D.M., p. 30, 34).

Quando João Wesley voltou para a Universidade, ficou

interessado na obra do "Clube Santo". Mas, antes de trabalhar nele, escreveu a seu pai pedindo seu parecer sobre a questão. O pai respondeu:

"Tenho grande motivo para louvar a Deus, por que Ele me deu dois filhos que se acham em Oxford, aos quais tem dado grata e coragem para guerrearem contra o mundo e o diabo. Não terei vergonha, quando eles falarem com seus inimigos na porta".

A obra ia avante. Os pobres e os presos eram visitados

e aliviados de acordo com os seus parcos recursos. Os irmãos a pe foram a Epworth certa ocasião, em vez de irem na diligência, para pouparem os seus recursos e assim ajudarem mais um pouco os pobres.

O General Oglethorpe, amigo de Samuel Wesley, interessou-

se em combinar com seus filhos, João e Carlos, para irem a Geórgia: João Wesley na qualidade de missionário e Carlos como secretário de Oglethorpe.

Como já falamos do trabalho de João, agora falaremos um

pouco acerca da experiência de Carlos em sua missão na Geórgia. •

Carlos foi menos feliz do que seu irmão nesse trabalho. Pessoas mal intencionadas levantaram contra o caráter de Carlos, pelo que o General o tratou muito mal. Portanto, Carlos foi abandonado pelos seus amigos e privado de todo o conforto que se podia encontrar na colônia. Teve de dormir no chão, sem cama, sem comida, sem alguém para lavar a sua roupa e, além de tudo isto, foi abandonado pelo General Oglethorpe.

O trabalho da secretaria em Frederica era exaustivo, o

clima era quente e o abandono pelos colonos era demais para o cavalheiro da Universidade. Ficou doente e quase morreu. João Wesley, sabendo da situação do seu irmão, foi visitá-lo. Conseguiu uma reconciliação com Oglethorpe. Ambos, o General e Carlos, estavam mal informados a respeito um do outro. Descobriram que tudo tinha acontecido entre eles provocado pelas mentiras duma mulher de má reputação. Depois disto, o General mudou a sua atitude para com Carlos e fez tudo para atender às suas necessidades. Decidiu-se que Carlos voltaria para a Inglaterra, porque a sua saúde estava abalada e porque ele não gostava do trabalho da secretaria. Escrever cartas dia após dia não tinha graça para um homem que tinha jeito e dons para escrever poesias.

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Voltou, pois, para a Inglaterra. A viagem foi longa e penosa, porque os navios em que viajou não eram bons; o tempo era tempestuoso e o capitão era um ébrio.

Os primeiros meses depois de chegar à Inglaterra foram

gastos em visitas a amigos e em relatórios às autoridades acerca da sua missão na Geórgia e na entrega de documentos importantes remetidos pelo General Oglethorpe. Foi nessa época que teve a honra de fazer um discurso na presença do rei e de jantar com a família real. Havia possibilidade de subir e ocupar lugares importantes na Igreja, se os tivesse procurado.

Seu estado de saúde não era bom, não se sentia contente

consigo mesmo. Sentia inquietação espiritual. Tornou-se quase recluso, tendo pouco contato com os seus amigos de outrora. Ficou doente duas vezes. O mal de que sofreu na América voltou e o médico o aconselhou a abandonar qualquer idéia de voltar para a América para onde queria ir como missionário.

Encontrando-se com o Conde Zinzendorf, lembrou-se do

contato que teve com os morávios em Geórgia e ficou interessado na doutrina que eles pregavam, a doutrina que ensina que a fé verdadeira significa domínio sobre o pecado e uma paz consciente que tal fé é um dom gratuito de Deus, e que é dada instantânea e conscientemente.

Foi nessa época que Pedro Bohler escreveu para o Conde

Zinzendorf as seguintes palavras: "O mais velho, João, é homem de bom humor. Ele

sabe que não tem verdadeira fé no Senhor e Salvador e quer ser instruído. Seu irmão está agora muito perturbado na sua mente, mas não sabe como pode chegar a conhecer o Salvador".

Quando Carlos estava doente na casa de seu amigo

Hutton, foi visitado por Pedro Bohler que orou por ele. Ficou impressionado com certas expressões da oração e tornou-se mais interessado na aquisição duma experiência mais satisfatória. Pediu que fosse levado para a casa dum pobre operário, Bray, que conhecia o Senhor. Ali foi v isitado por pessoas humildes e ignorantes, mas que conheciam o Senhor. Foi nesse ambiente que Carlos experimentou a fé viva salvadora. Sentiu-se cheio de paz e alegria. O Espírito Santo veio sobre ele e logo escreveu um hino comemorando a sua conversão. Por mais de oito anos tinha procurado servir seu Mestre, porém sem alegria e paz no coração. Agora servia o seu Mestre com gozo e satisfação, tendo a vitória na sua alma. Estava preparado para a sua missão.

Tornou-se um evangelista itinerante e por mais ou menos

dez anos viajou por toda a parte, pregando o Evangelho e enfrentando os motins e oposições que tal trabalho naquele tempo causava.

Depois que se casou, deixou de viajar e fixou, por muitos

anos, residência em Bristol. No último quartel da vida, mudou-se para Londres, onde trabalhou como pároco na Igreja Anglicana e ajudante de seu irmão João. Não deixou de interessar-se pelos presos. Escreveu hinos apropriados para eles. Muitos dos presos converteram-se e, na hora da morte, deram testemunho da certeza da sua salvação em Cristo.

Escreveu mais de cinco mil hinos. Em todos os hinários que

circulam entre o povo que fala inglês encontram-se hinos de Carlos Wesley.

13. Outros membros da família Wesley.

Depois de alguns fatos a respeito de João e Carlos Wesley,

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seria justo incluir algumas palavras acerca de outros membros da família. Como já foi observado, nove dos dezenove filhos faleceram na infância. Queremos mencionar agora os nomes e dar alguma informação sobre a vida de cada um.

Daremos em seguida uma lista dos nomes, lugar e data

de nascimento de cada filho: Nome: Lugar de nascimento Data Samuel Wesley Londres 1690 Suzana Wesley S. Ounsby 1691 Emilia (depoiso Sra. Harper) Idem 1692 Annesley e Jedediah (gêmeos) Idem 1694 Susana (depois Sra.Ellison) Idem 1695 Mary (depois Sra. Whitelamb) Epworth (provavelmente) 1696 Mehetabel ou Hettie(depois Sra. Wrigth) Epworth 1697 Anne (depois Sra. Lambda) Idem 1702 João Wesley Idem 1703 Marta (depois Sra Hall) Idem 1707 Carlos Wesley Idem 1708 Kezziah Wesley Idem 1710

Essa lista inclui todos, mas só os que pudemos apurar.

Houve nascimentos de gêmeos cujos nomes não são mencionados, porque, morreram na hora de nascer ou logo depois.

Diremos alguma coisa de alguns dos nomes constantes na

lista acima.

Samuel Wesley J. Nasceu aos 10 de fevereiro de 1690, em Londres, e faleceu

na mesma cidade em 6 de novembro de 1739. Estudou na Escola de Westminster em Londres e na Universidade de Oxford. Foi homem de conhecimentos e escreveu diversas poesias.

Foi ordenado ministro, mas dedicou quase todo seu tempo ao ensino. Foi homem piedoso, sério e leal à Igreja Anglicana. Não concordou com seus irmãos João e Carlos depois de convertidos, julgando que se tinham tornado fanáticos. Por isso os censurou e os aconselhou a abandonarem tal fanatismo de conversões instantâneas, certeza de salvação e testemunho do Espírito Santo. Isto foi logo no princípio da conversão deles; mas antes de morrer começou a mudar de opinião sobre eles e, se tivesse vivido mais alguns anos, teria com eles concordado.

Susana Wesley Nasceu em 1691 e faleceu em 17 de abril de 1693. Portanto,

não há mais nada a acrescentar a seu respeito. Emilia Wesley Nasceu em 1692. Emília foi a filha predileta da mãe.

Adquiriu boa educação clássica e teve gosto para a poesia. Casou-se com um farmacêutico, mas ele morreu muito cedo. Ela ensinou numa escola por algum tempo para manter-se. Nos últimos anos, ficou sob o cuidado do seu irmão João Wesley. Morreu em 1770 ou 1772.

Annesley e Judediah Wesley Nasceram em 1694, provavelmente eram gêmeas e

faleceram pouco tempo depois de nascerem.

Susana Wesley Nasceu em 1695 e foi a segunda filha que recebeu o nome

de Susana. Foi uma boa moça, inteligente e ativa. Casou-se com o sr. Ellison, homem duma família respeitável; mas o marido não a tratou bem; era homem de maus costumes. Teve diversos filhos. Os pais tiveram a infelicidade de perder a sua casa

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num incêndio que levou tudo o que possuíam. Os filhos foram confiados a amigos e ela abandonou seu marido, que não lhe era leal, e foi para Londres, onde se refugiou entre seus filhos; recebendo auxílio do seu irmão João Wesley.

O marido queria que ela voltasse para sua casa, mas não

houve nada que pudesse conseguir isso. Então Ellison publicou a notícia da sua morte num jornal. Ela foi para assistir ao enterro e encontrou seu marido vivo, mas nem por isso conseguiu ele convencê-la a voltar e viver com ele.

Mary Wesley Nasceu em 1696 e foi a quarta filha que alcançou maioridade.

Por causa duma queda, talvez, ficou aleijada e nunca teve desenvolvimento normal no corpo. Tinha um rosto muito belo e era bondosa. Casou-se com o senhor Whitelamb, homem que João Wesley tinha ajudado na Universidade de Oxford. Mary faleceu logo depois do seu casamento.

Mehetebel Wesley, também chamada Hetty. Nasceu em 1697. Tinha grande capacidade intelectual. Os

pais tomaram interesse em fazê-la estudar e, quando Hetty tinha oito anos de idade, já podia ler o Novo Testamento em Grego. Gostava de poesia e era jovial e graciosa. Teve muitos namorados, mas foram rapazes levianos sem as qualidades que combinariam com as dela. Ela queria casar-se com um advogado, porém o pai achou que não era homem de vida correta não quis consentir no casamento. Mais tarde apareceu um mecânico, chamado Wright, que queria casar-se com Hetty. Era homem trabalhador, mas sem cultura. Hetty não queria realmente casar-se com ele, porém a vontade do pai prevaleceu com grande infelicidade para sua filha.

Hetty sofreu muito na sua vida de casada. Só achou

conforto alguns oito anos antes de falecer, por ter aceitado Cristo

como seu Salvador. Anne Wesley Nasceu em 1702. Pouco se sabe dela. Casou-se com um

homem que se chamava Lambert. Ele era homem educado e tomou interesse em conservar uma edição dos escritos do seu sogro, o rev. Samuel Wesley.

Marta Wesley, também chamada Patty. Nasceu em 1707. Era muito parecida com seu irmão João

Wesley e mostrou grande afeição por ele. Amava fervorosamente a sua mãe e gostava de ficar na sua companhia para ouvi-la falar. Casou-se com um homem chamado Hall, bem educado, porém sem firmeza de propósito. Na última fase da sua vida tornou-se incrédulo e depravado e desleal a ela. Patty viveu muitos anos e foi o último membro da família Wesley a morrer.

Kezziah Wesley Nasceu em 1710 e foi a caçula da família Wesley. Não

gozava de saúde e, por isso, não conseguiu educar-se devidamente. Alem do seu estado físico, os pais não tinham recursos para educá-la e he dar as vantagens necessárias para adquirir cultura. Não chegou a casar-se, porque a morte lhe roubou esta ventura na vida, levando-a poucos dias antes do dia marcado para seu casamento. Seu irmão Carlos esteve com ela na hora da morte e assim a descreve:

"Ontem de manhã, aos 9 de março de 1941, minha irmã Kezziah morreu no Senhor Jesus. Ela completou a sua obra e, na sua misericórdia, Deus abreviou seus dias. Cheia de reconhecimento, de resignação e de amor — sem dor ou cuidado — entregou o seu espírito nas mãos de Jesus e dormiu" (Clarke, Adão, p. 608).

Não há nada superior a uma família cristã para desenvolver

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a civilização e o reino de Deus no mundo. A família Wesley trouxe a maior contribuição que a Inglaterra teve no século dezoito.

Que pena, para não dizer tragédia, ver uma família com

tantas moças boas, inteligentes e religiosas limitadas nas suas atividades e no seu preparo por falta de recursos financeiros e de um ambiente favorável. Foram flores que perderam seu perfume no deserto da vida.

CAPÍTULO IV

GEORGE WHITEFIELD 14. O nascimento e a educação.

George Whitef ield foi o maior orador do seu tempo. Whitefield iniciou o movimento metodista. Em certo sentido, foi o João Batista que preparou o caminho para os Wesley. É admirável notar a rapidez com que subiu no conceito do povo do seu tempo. No prazo de cinco ou seis anos deixou de ser simples copeiro numa estalagem para ser o maior orador da Inglaterra, que atraia as multidões para ouvi-lo. O segredo disto é difícil de descobrir. Dizem que, no seu diário e nos seus sermões, não se pode ver nada de extraordinário; contudo eletrificava com a sua eloqüência as multidões.

Havia alguma coisa na sua personalidade que cativava e

atraia os homens. A melhor explicação, talvez, do segredo do seu poder são os seus dons naturais de orador suplementados pela graça de Deus no seu coração Em outras palavras, Deus estava na sua vida. Foi um Moody antes do tempo de Moody. Foi homem de dois nascimentos.

George Whitefield nasceu em 16 de dezembro de 1714,

no "Bell Hotel", na cidade de Gloucester, na Inglaterra. Não teve no seu lar as vantagens que João e Carlos Wesley tiveram no seu. Foi criado num meio desfavorável à vida sossegada e religiosa. Testemunhou brigas e embriaguez no seu lar.

É admirável como conseguiu uma educação e como saiu

desse estado humilde para ocupar posição entre os grandes

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homens da história do mundo. Naquela época era difícil para um rapaz pobre conseguir

instrução. As escolas eram poucas e as que existiam não estavam abertas para os pobres. Contudo, havia alguns lugares cedidos aos rapazes que queriam pagar as suas despesas com serviços nos colégios.

Na cidade de Gloucester havia uma escola que tinha

patrimônio, legado feito a "Igreja de Santa Maria de Crypt". Pequeno número de meninos pobres podiam ser admitidos às aulas Foi nesta escola que George Whitefield começou os seus estudos com doze anos de idade.

Começou os seus estudos lidando com latim. Logo revelou

facilidade de aprender e capacidade de oratória. Gostava de tomar parte nas representações do colégio. Tornou-se conhecido pelos seus professores e colegas da escola pelos seus dotes oratórios. Era um bom aluno, gostava das aulas, queria preparar-se para matricular-se na Universidade, porém a pobreza não lhe permitiu continuar na escola. Foi obrigado a deixar as aulas e os livros, voltar para a estalagem e trabalhar como copeiro. Grande foi o seu desapontamento. Quase se convenceu de que um curso na Universidade estava fora do seu alcance. Tornou-se copeiro e servia os fregueses na mesa e no bar. Ele mesmo diz:

"Eu vestia um avental azul e com os apagadores de velas na mão limpava os quartos, lavava as pias e, enfim, tornei-me um copeiro profissional" (Ninde, E. S., p. 21). Talvez fosse neste período de sua vida que incorreu em

algumas faltas graves. Mais tarde, na vida, falando sobre isto, foi muito severo consigo mesmo. Ele tirava dinheiro da bolsa de sua mãe e furtava livros. Experimentou a velha batalha que todos têm de combater entre o espírito e a carne. Mas é interessante que o dinheiro que furtava dava-o aos pobres e que

os livros que levava eram livros devocionais. Passou um ano e meio nesse serviço de copeiro. Não estava

satisfeito consigo mesmo, queria coisa melhor. Estava inquieto. Às vezes, se sentia exaltado e alegre, às vezes, ao contrário, se sentia triste, abatido e melancólico. Num desses dias de aborrecimentos, abriu seu coração à sua irmã e lhe disse:

"Deus tem destinado alguma coisa para mim, que nós não sabemos o que é. Todos os caminhos parecem-me fechados" (Townsend et al, Vol. I, p. 258). Chegou o dia em que a porta da oportunidade se

abriu para ele. Recebeu a visita de um rapaz, amigo e pobre, que era aluno da Universidade de Oxford e que estava em casa no tempo de férias. Contou a George e à sua mãe como tinha vencido um semestre e, depois de pagar todas as suas despesas, ainda ficou com um penny na bolsa. A mãe, ouvindo isto, exclamou: "Isso serve para meu filho". Então, virando-se para George, perguntou: "Quer ir para Oxford, George?" E ele respondeu: "De todo o coração!". Logo voltou para a escola em Gloucester e, no correr de um ano, estava preparado para matricular-se na Universidade de Oxford.

A experiência de copeiro o ajudou, quando entrou no

"Pembroke College" Oxford, pois pagou as suas despesas na Universidade, trabalhando de copeiro. Matriculou-se em outubro de 1732, pouco antes de completar 18 anos.

O "Clube Santo" já existia havia três anos, quando

Whitefield entrou na Universidade. Mas, como tinha de trabalhar e não era da mesma classe social dos Wesley, não chegou a participar das suas reuniões no primeiro ano que esteve na Universidade. Soube que tal Clube existia, porque os alunos sempre criticavam os seus membros.

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Como Carlos Wesley sempre fosse um rapaz social, tendo dons excepcionais para relações amistosas, por meio dele Whitefield chegou a ser membro do "Clube Santo". George Whitefield considerava-se crente, mas não convertido. Tinha grande respeito para com os rapazes sérios e nunca tomou parte nas críticas que os outros estudantes faziam do "Clube Santo". O clube era o único oásis espiritual em toda a Universidade e ele queria conhecer melhor este grupo de moços. Va mos de ix á - lo c on tar c o mo c ons egu iu ta l privilégio.

"Os moços, diz ele, eram muito conhecidos em

Oxford; eu tinha forte inclinação para seguir o seu exemplo, quando os vi passar no meio da multidão de estudantes que os ridicularizavam, ao irem eles tomar comunhão na Igreja de Santa Maria. Aconteceu que uma pobre mulher, detida na casa de correção, tentou cortar a garganta, o que felizmente se evitou. Quando eu soube disso, e sabendo que ambos os Wesley estavam prontos para toda boa obra, mandei uma pobre velha, vendedora de maçãs, do nosso colégio, informar do caso a Carlos Wesley e aconselhei-a a não dizer quem a env iou a e le. Ela fo i , mas contou-lhe meu nome. Por meio dela Carlos me mandou um convite para almoçar com ele no dia seguinte. Com gratidão aproveitei a oportunidade e foi uma das visitas mais proveitosas que já fiz na minha vida. Mal tinha eu comungado publicamente num dia da semana, quando os estudantes fidalgos me tomaram como o alvo de suas troças. Carlos Wesley, que eu menciono sempre com reverência, desde a Igreja até o Colégio veio ao meu lado para me encorajar. Confesso com vergonha que o teria escusado com satisfação e no dia seguinte fiquei acabrunhado, quando um aluno me viu bater na porta do seu quarto. Mas, graças a Deus, o temor dos homens gradualmente ia desaparecendo" (Jones, D. M., p. 32-33). Whitefield teve mais lutas internas do que os irmãos

Wesley. Tornou-se austero consigo mesmo ao ponto de por em perigo a sua saúde Por algum tempo desejou comer frutos. Sempre escolhia a pior qualidade de comida. Vestia uma batina remendada e sapatos sujos; jejuava duas vezes por semana, mais de trinta e seis horas em seguida; na semana santa jejuava tanto que quase morria de fome; deitava-se no chão e orava horas a fio; enfim, sua saúde ficou tão abalada com essas coisas que o médico recomendou que deixasse seus estudos e voltasse para casa para tratar-se. Seus amigos julgaram que tinha perdido o juízo. Não perdera juízo, mas procurava livramento dos seus pecados e salvação para sua alma.

Foi nesse período de extremo esforço que achou alívio para

sua alma. Um livro, escrito por Henrique Schingal, "The Life of God in lhe Human Soul", veio às suas mãos por intermédio de Carlos Wesley. Pela leitura deste livro descobriu seu grande erro.

"Deus mostrou-me, diz ele, que a verdadeira religião é a união da minha alma com Deus e Cristo vivendo em mim. Então um raio de luz divino brilhou instantaneamente na minha alma, mas foi apenas desde então que eu fiquei sabendo que eu era uma nova criatura" (Ninde, E. S., p. 24).

Sua conversão se deu quase dois meses depois da

semana santa, de 1735. Falando sobre a sua conversão pouco antes de morrer, disse:

"Conheço o lugar onde me converti. Quando vou a Oxford, não posso deixar de ir ao lugar onde Jesus Cristo se revelou a mim pela primeira vez e me deu o novo nascimento" (Ninde, E. S., p. 24).

Depois de nove meses de descanso e tratamento da saúde em

casa, voltou para a Universidade e terminou seus estudos. Recebeu logo ordenação das mãos do bispo Benso, em 20 de junho de 1736. O dia da sua ordenação foi o mais solene da sua

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vida. Estava então preparado para a sua carreira no mundo. Tinha conhecimento da vida prática, uma educação esplêndida e uma experiência espiritual profunda e gloriosa. Conhecia os homens, conhecia muitas matérias e conhecia a Deus.

15. Seu trabalho na Inglaterra e na América.

Como Whitefield, trabalhou por algum tempo na Inglaterra e depois, na América, mas em várias fases, fazendo treze viagens através do Atlântico durante a sua vida, não dividiremos seu trabalho em duas partes, mas o seguiremos em ordem cronológica.

Logo depois de ordenado, pregou o primeiro sermão na

Igreja de Santa Maria de Crypt, na cidade de Gloucester — a igreja da sua mocidade, o lugar onde começou a estudar. Muita gente e vários amigos estavam presentes para ouvir o "pregador menino", como era chamado. Escrevendo depois a um amigo sobre a sua primeira experiência no púlpito, disse:

"A curiosidade, como você bem pode imaginar, atraiu grande multidão. No princípio fiquei com medo, mas senti comigo a presença de Deus e logo fiquei impressionado com a grande vantagem que tinha por ter me acostumado, quando era menino de escola a ensinar e falar aos pobres na Universidade. Desta maneira me conservei calmo. Enquanto falava, senti que o fogo se acendia, até que enfim, ainda que moço e no meio do povo que me conhecia desde a minha meninice, creio que preguei com alguma autoridade evangélica. Alguns zombaram de mim, mas a maioria dos presentes parecia tocada por minha palavra. Depois do culto ouvi dizer que se fizera ao Bispo uma queixa de que quinze pessoas ficaram loucas. O bom do prelado, como estou informado, desejou que a sua loucura não se desvanecesse antes do próximo domingo" (Ninde, E. S., p. 29-30).

Assim, este Crisóstomo moderno começou o seu ministério que durou quarenta e quatro anos. Durante esse tempo pregou mais de dezoito mil vezes na Inglaterra e na América.

Whitefield voltou para Oxford e procurou reavivar o

trabalho entre os pobres e presos. Pouca coisa podia fazer ali, porém tinha seu campo de ação.

Em meados de 1736 foi convidado para ocupar, por

algumas semanas, o púlpito na Igreja de Bishopsgate-street, em Londres. Foi ali bem recebido e, depois de dois meses, voltou para Oxford onde pretendia trabalhar. Mas em dezembro do mesmo ano foi ajudar a um amigo, numa paróquia rural. Foi então que recebeu uma comunicação de Carlos Wesley, que acabava de chegar da colônia de Geórgia, procurando nov os recrutas para o trabalho na América.

Whitefield sentiu-se chamado para tal trabalho e se

prontificou a ir logo. Mas o navio em que pretendia ir, não pode zarpar na

data marcada, porque o General Oglethorpe ainda tinha certos negócios a tratar antes de ir. Durante o tempo em que esperava a partida do navio, que foi quase um ano, dedicou-se a visitação e pregação em diversas cidades. Pregou em Gloucester, Bristol, Bath e Londres e em todos esses lugares multidões ouviam as suas pregações. Tornou-se muito popular.

Whitefield sentiu que corria o perigo de perder a

humildade e chamou a essa experiência de "uma prova de fogo". Mas pela oração venceu e pregou a todos, ricos e pobres, bons e ruins, a verdade em Cristo, como ele a conhecia.

Finalmente chegou a hora de partir, mas tinha de ir

sozinho. Carlos Wesley não podia voltar e João Wesley estava

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chegando de volta para Inglaterra, quando Whitefield embarcou para a América. O vento que trouxe João Wesley levou Whitefield.

Quando Whitefield deixou a Inglaterra era o pregador

mais popular de todo o país. Contudo, havia pessoas que o hostilizavam e procuravam atrapalhá-lo no seu trabalho. E, quando voltou da América, no prazo de um ano e tanto, essas pessoas tornaram a levantar grande oposição contra ele.

Whitefield embarcou no navio chamado Whitaker, em 28

de dezembro de 1737, mas por causa do mau tempo reinante e de outros motivos, não deixou as costas inglesas até o dia 2 de fevereiro de 1738. O navio estava cheio de passageiros, das quais a maior parte eram soldados. Whitefield ia na qualidade de capelão da Colônia da Geórgia. Fez o que podia para converter e ensinar todas as pessoas a bordo do navio. No princípio recebeu mau trato, porém, antes de terminar a viagem, mudaram de atitude para com ele e passaram a considerá-lo como o seu maior amigo.

Chegando à América, a 7 de maio de 1738, começou logo

seu trabalho entre os colonos. A colônia fora fundada em 1733. O General Oglethorpe era um filantropo. Em combinação com o governo inglês, fundou a Colônia de Geórgia com o fim de arranjar lugar onde os homens que, por causa de dívidas, eram presos, pudessem recomeçar a vida sob condições mais favoráveis. Portanto, muitos de tais homens com as suas famílias foram levados para a América. Chegando à colônia, muitos velhos morreram e deixaram filhos órfãos desamparados. Como Whitefield gostava de crianças, o seu coração condoeu-se ao ver tantas crianças sem abrigo e proteção, abandonadas na colônia.

Whitefield era tanto profeta como pregador e não podia

ficar preso num lugar tão pequeno como a Colônia de Geórgia.

Tinha de procurar as multidões. Resolveu voltar para a Inglaterra, fazer um apelo ao povo e arranjar fundos para fundar um orfanato em Savanah, na Geórgia.

Mas, quando chegou à Inglaterra, de volta, não achou o

povo bem disposto para com ele, especialmente o clero. As portas das igrejas começaram a fechar-se uma após outra contra ele, até que não teve mais onde pregar, senão ao ar livre e aos presos. E levantaram-se obstáculos ao seu trabalho entre os presos. Mas nem todas as igrejas ficaram fechadas contra ele. Havia muita gente que queria ouvi-lo. Onde ele pregava, não deixava de apelar para o povo em favor dos pobres nas suas prisões. Levantou muito dinheiro para seu orfanato, mesmo entre pobres que davam dos seus vinténs e assim reuniu grande quantia.

Foi na cidade de Bristol que teve as maiores lutas e, ao

mesmo tempo, as maiores vitórias. Foi nessa cidade que, sobretudo as portas das igrejas se fecharam contra ele. Vendo que não podia pregar nas igrejas, resolveu pregar aos mineiros, em Kingswood. Em fevereiro de 1739 iniciou suas pregações ao ar l ivre. Havia ali milhares de mineiros ignorantes, sujos e semi-pagãos, abandonados pelas igrejas de Bristol. Foi no meio deles que Whitefield iniciou seu trabalho ao ar livre.

O maior serviço que prestou à evangelização da Inglaterra,

começou no dia em que pregou ao ar livre, pela primeira vez, aos mineiros, despertando, logo em seguida, a João Wesley para o mesmo trabalho. Whitefield descreve assim o início deste trabalho:

"Subi em a um monte e falei a todos quantos se aproximaram de mim. Eram cerca de duzentos. Bendito seja Deus, pois então quebrei o gelo! Nunca me senti mais aceitável ao meu Mestre do que quando pregava em frente daqueles ouvintes ali, no campo" (Ninde, E. S.,

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p. 103). Mas o número de ouv intes aumentava dia a

dia, e por fim, já se reuniam mais de mil pessoas para ouvi-lo. Foi, sem dúvida, este acontecimento uma grande inovação que fez sensação entre o clero. Fecharam-se as portas das igrejas a este mensageiro de Deus, mas ninguém conseguiu fazê-lo calar. A voz do grande profeta fez-se ouvir no deserto e as multidões afluíram para ouvi-lo. João Wesley estava em Londres nessa ocasião. Como

Whitefield se estivesse preparando para voltar para a América, queria entregar esse trabalho para Wesley. Convidou-o a ir ver o que se fazia em Kingswood. Wesley hesitou em aceitar o convite por algum tempo, porque tinha escrúpulos de participar de inovações que iam contra seus preconceitos, adquiridos pelo seu temperamento pessoal e pela educação que adquiriu na Igreja Anglicana.

Dada a insistência de Whitefield, foi a Bristol e o

acompanhou para ver o que ele fazia. Wesley disse: "Custou-me reconciliar com este método estranho de

pregar ao ar livre, a mim, que fora durante a minha vida (ao menos até a pouco) observante cuidadoso de todos os pontos de decência e ordem: até julgava que seria pecado converter-se alguém fora do templo".

Mas Wesley era homem prático e se deixou convencer

pelos fatos que se desenrolavam perante seus olhos. Em 2 de abril de 1739, consentiu em pregar, pela primeira vez, ao ar livre. Assim descreve o que sentiu nessa ocasião: "Eu me fiz ainda mais vil e, postado numa pequena elevação coberta de relva, preguei a uma grande multidão sobre as palavras:

”O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para anunciar boas novas aos pobres" (Fifchett, Vol. I., p. 187).

Whitefield tinha de partir para Geórgia e deixou a João

Wesley a maior oportunidade e o melhor método que ele podia adotar naquela época. Wesley continuou a pregar ao ar livre até ao fim da vida, sendo a última vez no dia 7 de setembro de 1790, sobre o texto: "O reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no Evangelho". Assim, por mais de cinqüenta e um anos, não deixou de ao ar livre proclamar o Evangelho as multidões.

Whitefield chegou à América, pela segunda vez, em 2 de

novembro de 1739, desembarcando na cidade de Filadélfia. Logo depois iniciou a sua jornada para o sul do país, v isitando as cidades e vilas do caminho, até chegar a Savanah, na Geórgia. Não eram suaves as viagens que fazia na América, porque não havia conforto nas estalagens (quando as podia encontrar!). Muitas vezes teve de passar a noite sob céu estrelado, dormindo no chão, com um fogo aceso ao lado para espantar as feras da mata.

É notável, tanto na América como na Inglaterra, o número

dos que vinham ouvi-lo. Como a Filadélfia era a maior cidade na América naquela época, é natural que lá a assistência fosse maior.

Eis como Benjamin Franklin, que morava naquela cidade e

que era grande admirador e amigo de Whitefield, descreve uma reunião que lá se realizou em 1740:

"As multidões, de todas as seitas e denominações, que ouviram as suas pregações, eram enormes e eu achava admirável a influência extraordinária de seus sermões sobre os ouvintes e como o respeitavam e admiravam, não obstante o seu modo de censurá-los, taxando-os quase de feras e demônios. É notável ver a mudança que por isso, se deu em pouco tempo no comportamento dos habitantes de Filadélfia. Deixaram de ser irrefletidos,

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indiferentes quanto a religião e tornaram-se religiosos a tal ponto que até não se podiam atravessar as ruas de Filadélfia sem se ouvirem salmos cantados nas casas de um e outro lado. Whitefield tinha voz alta e clara e articulava cada palavra tão perfeitamente que se podia ouvir e compreender a grande distância. Os ouvintes ficavam excepcionalmente silenciosos. Eu fiz o calculo que ele podia ser ouvido por mais de trinta mil pessoas ao mesmo tempo" (Ninde, E. S. p.151).

Whitefield fez diversas viagens do sul ao norte das

colônias americanas, de Geórgia a Massachusetts. Fazendo essas viagens, sempre tinha duas coisas em vista: a primeira, pregar o Evangelho, dando a maior ênfase a necessidade do novo nascimento e, a segunda, levantar fundos para o orfanato de Savanah Geórgia. Gastou muito tempo e energia nessas viagens penosas, mas cheias de bênçãos para o povo e para ele.

O trabalho na Inglaterra se desenvolveu rapidamente.

Londres tornou-se o centro do seu trabalho, mas ele não deixou de vis itar a Escócia, Irlanda e País de Gales.

Foi muito melhor recebido na Escócia do que João

Wesley. A razão disso está no fato que ele era calvinista na teologia e João Wesley era arminiano. Esteve na Escócia quatorze vezes e sempre foi apreciado pelo povo. Aquele país deve muito a Whitefield pelo espírito evangelístico que desenvolveu nas igrejas. Esteve na Irlanda e no País de Gales poucas vezes; contudo, seu trabalho produziu muito fruto nestes países.

As cenas mais dramáticas de todas as suas pregações

foram ao ar livre, em Londres, nos Moorfieldes, em Kennington Common e Marylebone Fields. Estes três lugares eram praças abertas nos arredores de Londres, onde se

ajuntava toda espécie de gente: pobres, desordeiros, valentões e criminosos. Nos domingos se enchiam de gente que não se importava com a Igreja, nem com religião. Tentar fazer alguma coisa ali seria correr grande perigo, mas Whitefield tentou pregar para aquela gente perdida. Descrevendo uma reunião em Moorfield disse:

"Preguei este domingo de manhã em Moorfield a mais

de vinte mil pessoas; e às seis preguei em Kennington. Tal coisa nunca vi antes. Creio que não havia menos de cinqüenta mil pessoas, oitenta carros, além de grande número de cavalos. Deus me deu grande liberdade.”

“Pregue i por ma is de hora e me ia . Pregue i em

Kennington Common. Deus nos mandou uma pequena chuva, que só dispersou ouvintes curiosos. Quase trinta mil ficaram. Preguei num lugar chamado Mayfair, perto de Hyde Park Corner. A congregação consistia, creio, de quase oitenta mil pessoas; foi a maior que já t ive. No momento em que eu orava, houve um pouco de barulho, porém ficaram quietos durante meu discurso. Deus me ajudou a falar tão alto que a maioria podia ouvir e com tal poder que a maioria, creio, podia sentir a força da verdade" (Ninde, E. S., p. 107-108). O resultado desse trabalho em Londres e seus

arredores foi a organização de um tabernáculo. No princípio o tabernáculo consistia de um prédio simples, feito de madeira, que servia nos dias de chuva e frio para acomodar o povo.

Por muito tempo Whitefield desejava um tabernáculo

mais no centro da cidade, ao qual pudesse atrair a aristocracia. Esse desejo se realizou em 1756, quando seus adeptos e amigos construíram uma capela em Tottenham Court Road. O prédio ficou bonito e majestoso e nele se reservou um

trai

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espaço em baixo do altar para o túmulo de Whitefield e também para os de seus dois amigos e colegas, João e Carlos Wesley. O tabernáculo era pequeno demais para acomodar o povo. Conseguiu atrair o escol da sociedade.

W h i te f i e ld e ra a mi g o da Co nd es s a Hu n t i ng don ,

senhora nobre e rica, piedosa e liberal. Ela construiu muitas capelas particulares no país e Whitefield foi seu capelão particular. Por meio dela muitas pessoas da nobreza chegaram a ouvir o Evangelho dos lábios de Whitefield. É notável que ele tenha pregado à nobreza os mesmos sermões e verdades que pregava aos pobres.

Whitefield não se interessou em organizar e desenvolver

sociedades, como fez João Wesley. E, por isso, seu trabalho não aparece hoje em dia sendo indiretamente, nas igrejas e movimentos que dele receberam influência. O orfanato ainda existe na cidade de Savanah, na Geórgia, ainda que tenha sofrido muitas alterações. No mesmo lugar onde foi construído o primeiro prédio, existe hoje um orfanato maior.

Whitefield escorçou-se tanto que a sua saúde ficou

abalada bem cedo. Desde os dias de estudante, em Oxford, prejudicou a sua saúde com a austeridade em que vivia. Jamais conseguiu, recuperar completamente a saúde.

João Wesley, encontrando-se com Whitefield, em Londres,

em 1764, quando Whitefield tinha cinqüenta anos de idade, escreveu no seu Diário:

"Almocei com Whitefield, que parecia velho, muito velho, achando-se completamente gasto no serviço do Mestre, embora conte apenas cinqüenta anos. Entretanto, é do agrado de Deus que eu, agora aos sessenta e três anos, me ache sem qualquer doença, nem fraqueza, nem caduquice; estou como aos vinte e cinco anos, tendo apenas menos dentes e mais cabelos brancos" (Fitchett, Vol.

II, p. 231). Em 1769 Whitefield embarcou para a América pela

última vez. Passou os meses do inverno em Geórgia. Na primavera iniciou a sua viagem pelas colônias, indo para o norte, visitando diversos lugares pelo caminho, lugares que tinha visitado nos anos anteriores. A sua viagem, desde Geórgia até Massachusetts, foi uma continua ovação. Passou o mês de julho no estado de Nova York o resto do tempo, entre Nova York e Boston, pregando várias vezes pelo caminho. Em 29 de setembro deixou Portsmouth, New Hampsire, em demanda de Newburyport, em Massachusetts. Quando saía de Portsmouth, um amigo lhe disse: "O senhor está mais em condições de ir para a cama do que para pregar". "É verdade!" disse Whitefield, "Ó Senhor Jesus, estou cansado do caminho; não, porém, do teu trabalho. Se ainda não estiver no fim a minha carreira, deixa-me ir e falar de ti nos campos, selar a tua verdade, voltar para casa e morrer" (Ninde, E. S., p. 206).

Esta oração foi ouvida. Naquele dia pregou o seu último

sermão. Pregou-o ao ar livre, porque não havia casa em que pudesse acomodar todo o povo.

Logo depois do sermão, que durou duas horas, foi

passar a noite na casa pastoral da igreja presbiteriana em Newburyport, sendo hospedado ali pelo seu amigo, o rev. Jônatas Parsons.

Quando o povo soube que ele estava hospedado naquela

casa, grande número de amigos correu, para Iá, pedindo que ainda dissesse algumas palavras de exortação para eles. Whitefield parou na escada, com a vela a e dir igiu algumas palavras de exortação para eles, as últimas desta vida.

Acomodou-se, mas não passou bem a noite. Teve um ataque

de asma. Faltando-lhe ar, foi à janela para respirar. Voltou

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para a cama e disse: "Estou morrendo". Dentro de poucos minutos falecia.

Foi enterrado em baixo do púlpito da igreja presbiteriana de

Newburyport.

CAPÍTULO V

O DESENVOLVIMENTO:

AS INSTITUIÇÕES, OS AJUDANTES E AS OPOSIÇÕES.

16. O desenvolvimento e as instituições

João Wesley voltou da sua visita aos moravianos de Hernhut, na Alemanha, com a fé fortalecida. Ele sabia que havia milhares de pessoas no mundo que haviam tido experiências semelhantes as dele. Desde os tempos antigos tem havido homens, que conheceram a Deus por meio da sua experiência. Portanto, Wesley sentiu-se fortalecido depois da sua visita aos irmãos morávios.

Fez essa jornada longa e penosa para alcançar a certeza da

salvação. Não é mais, para ele, o batismo que faz um cristão, mas uma fé viva e viv ida em Cristo. Agora a religião para ele não consiste mais em provas: já é uma realidade. Não se acha mais na região das incertezas, sobrecarregada de nuvens, porém na da certeza e da promissão, sob a luz do sol. Estavam coordenadas e unificadas as suas energias espirituais e ele pronto para entrar no campo da atividade.

Whitefield podia pregar melhor do que Wesley, mas não tinha

o dom de organizador que Wesley possuía. Wesley sabia coordenar e organizar os frutos que se manifestaram no avivamento promov ido por ele e seus ajudantes. Um princípio fundamental usou no seu trabalho: não iniciar mais trabalho do que podia conservar. Portanto, cada grupo de crentes que organizou, teve cuidado direto ou indiretamente.

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Esse é um dos segredos de bom êxito de sua obra. Ele sabia organizar, coordenar e dirigir. Se ele não soubesse, o Metodismo não seria o que hoje é no mundo. Ele fez com as suas sociedades na Igreja Anglicana o que o grande Spener conseguiu fazer com os grupos de místicos na Igreja Luterana. Wesley evitou o erro em que os monges caíram; praticando a vida monástica; lembrava-se delta grande verdade que "ninguém vive para si e ninguém morre para si". Em outras palavras, lembrava-se de que ninguém pode servir a Deus sozinho, e de que a Bíblia nada ensina acerca duma religião solitária. Por isso, começou logo a organizar as pessoas despertadas em sociedades e classes para cultivar entre elas o espírito de fraternidade.

Wesley está agora no limiar do seu grande trabalho.

Começou a pregar nas igrejas, nas prisões, onde achava oportunidade; mas a sua sinceridade provocou oposições. As portas das igrejas iam-se fechando contra ele. Antes da sua conversão, tinha lugar onde pregar, mas não tinha realmente uma mensagem; agora tem uma mensagem, mas não tem onde proclamá-la.

1. Pregação ao ar livre. Como já, se mencionou em outro lugar, Wesley começou no

trabalho de pregar ao ar livre por incitação de Whitefield. Sabemos que usou este método até ao fim da vida. Não somente ele, mas também Carlos Wesley e todos os seus auxiliares. Era o meio mais prático para evangelizar o povo. Talvez a maioria do povo inglês não tivesse o costume de assistir aos cultos nas igrejas, mas ai tinha um método eficiente para levar a mensagem da verdade ao povo, nas ruas, nos campos e nas prisões. Por esse meio os mensageiros tinham contacto direto com o povo e lhe podiam verificar melhor as faltas, vícios, misérias e necessidades. Dava resultado, mas exigiu sacrifício e

abnegação. Wesley afirmou: "Ao ar livre preguei a um número de pessoas duas

vezes maior do que se tivesse pregado em casa. Que maravilha há que o diabo não ame a pregação no campo? Nem eu. Gosto mais de um salão cômodo, almofadas macias e púlpito bonito. Mas onde estará, meu zelo, se eu não puser todas estas coisas sob os meus pés, de modo que possa salvar almas?" (Townsend et al Vol. I, p. 283). Tal procedimento provocou oposição, não porque não

pregassem a verdade, mas porque a pregavam nas ruas. João Wesley e seus auxiliares poderiam dizer, como os apóstolos, logo depois do dia de Pentecostes, quando foram ameaçados para que não falassem mais no nome de Jesus: "Se é justo diante de Deus ouvir-vos a vós antes do que a Deus, julgai-o vós, pois nos não podemos deixar de falar das cousas que vimos e ouvimos".

A oposição a princípio foi grande, mas muitos que vinham

para zombar e perturbar, ficavam para orar. Sobre motins falaremos em outra parte.

2. Comunhão ou Fraternidade Cristã. Como resultado das pregações de Wesley e outros, houve

grande número de pessoas convertidas e interessadas que precisavam e queriam dar instruções. Lógico era formar uma sociedade religiosa, pois havia sociedades religiosas naquela época. As sociedades religiosas eram tão comuns como os clubes são em nossos dias.

Wesley fazia parte duma dessas sociedades em Londres,

composta de membros da Igreja Anglicana e de alguns morávios. Wesley continuou como membro dessa sociedade até que ficou contrariado com o "quietismo" praticado por ela.

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Alguns membros deixaram os meios de graça tais como a oração, a leitura das Escr i turas e a prática de boas abras . Ele procurou eliminar esse elemento mau, mas, não o conseguindo, se retirou, levando consigo alguns membros que eram da sua opinião. Era homem prático demais para tolerar tais idéias. A sociedade de Fetter Lane ficou sob o cuidado dos morávios.

Dai a um ano se fundou nova sociedade em Foundry, em

Moorfield, Londres. Esta foi a sociedade metodista matriz e se compunha de pessoas distintas, como a Condessa Huntingdon, um Senhor Edward e outros. Dispunha de vinte e cinco homens e cinqüenta mulheres, ao fundar-se. Wesley descreve a origem e os fins desta sociedade em Foundry nos seguintes termos:

(1) Sociedade.

"Pelos fins do ano de 1739, vieram ter comigo, em Londres, oito ou dez pessoas que pareciam estar profundamente convencidas de pecado e desejosas de salvação. Desejavam (como fizeram duas ou três pessoas no dia seguinte) que eu desse algum tempo para orar com elas e lhes ensinasse como fugir da ira vindoura que viam continuamente ameaçadora sobre as suas cabeças. Para que tivéssemos mais tempo para esta grande obra, marquei um dia em que todas podiam reunir-se, a saber, quintas-feiras, à noite. A estas e às demais que desejavam unir-se conosco (pois seu número crescia diariamente) eu dava os conselhos que julgava mais necessários para elas e sempre terminávamos as reuniões com oração, de acordo com as necessidades de cada uma. Foi isso a origem da Sociedade Unida, primeiro em Londres e, depois, em outros lugares" (Discipline 1940, p. 49, § 101-102). Aqui, pois, estava a sociedade metodista, mas ainda

não havia reuniões de classe. A classe apareceu três anos mais

tarde, em 1742. Foi o pagamento da primeira dívida da Igreja Metodista que deu origem as reuniões de classe.

"Havia uma dívida muito elevada da casa de culto de

Bristol e os membros da sociedade consultaram entre si sobre a maneira de pagá-la. Certo capitão Foy, cujo nome merece sobreviver, levantou-se e disse: "Cada membro da sociedade dê um penny por semana até que se pague a dívida". Alguém respondeu: "Muitos são pobres e não podem dar tanto". "Então", disse o capitão, "podeis dar-me os nomes de onze dos mais pobres; se puderem dar alguma coisa, bem; visita-los-ei cada semana; e se nada puderem dar, darei por eles e por mim também. E cada um de vós visite onze dos vossos vizinhos, semanalmente, recebendo o que eles derem e suprindo o que faltar". Assim se fez e logo se descobriu que o plano dava muito

mais do que dinheiro. Wesley diz: "Mais tarde, alguns destes me informaram que

haviam achado que fulano ou sicrano não vivia como devia. Logo pensei: esta é a coisa que por tanto tempo nos faltava". Aqui havia a sugestão de uma supervisão mui extensa e

ao mesmo tempo minuciosa, o pastorado mais eficiente, pastorado que já inventou o gênio humano ou a graça de Deus já empregou.

O amor que tinha Wesley pela exatidão, o seu hábito de

seguir a indicação mais simples e transformá-la em instituição vieram logo à cena. As reuniões de classes se sistematizaram e tornaram parte integrante do avivamento. A sua inteligência educada e disciplinada percorria a história em busca de precedentes e detalhes e os achava em abundância. Uma testemunha tão desapaixonada, como Paley, achou no modo de

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viver — isto é, nas formas e nos hábitos de vida — da Igreja Primitiva Cristã "uma semelhança muito notável entre as Unitas Fratum e com os Metodistas modernos". Os Tesserae, símbolos de membros na Igreja Apostólica, foram reproduzidos no bilhete, símbolo de membro da Igreja Metodista.

(2) Classes. O valor das sociedades, especialmente na sua forma

amadurecida de reuniões de classe, foi simplesmente imensurável. Elas deram coerência ao avivamento e nutriram a sua vitalidade. Cada novo convertido trazido às reuniões de classe achava-se membro de um grupo, ligado a ele por grandes emoções possuídas em comum tristeza pelo pecado, gozo de perdão, a consciência de uma nova vida, solicitude pela salvação de outros, aspiração pelas altas posses de experiências cristãs. Ele recebia da sociedade instrução e nela achava as salvaguardas da camaradagem O abrigo que estas sociedades lhe davam era de valor indizível. A simples frieza do mundo secular teria matado a vida espiritual recém-nascida nas multidões. O encanto de camaradagens anteriores ter-se-ia manifestado. Mas nas novas camaradagens as quais os convertidos eram trazidos achava-se uma energia que contrabalançava a das velhas.

"São quase inconcebíveis", disse Wesley', "as

grandes vantagens que se tem colhido deste pequeno regulamento; muitos felizmente experimentam agora a comunhão cristã de que antes não tinham idéia alguma, começam a levar as cargas uns dos outros e naturalmente zelam uns dos outros. Descobrem-se faltas de muitos, que são repreendidos. Suportamo-los por algum tempo: quando abandonam os seus pecados, nós os recebemos alegremente; quando obstinadamente persistem neles, declaramos abertamente que não são um de nós.” Cada classe tinha seu guia e a reunião dos guias tornou-se

um tribunal disciplinar da Igreja. O bilhete que era o símbolo de membro renovava-se de três em três meses, durante a visitação pessoal de cada classe, por Wesley mesmo ou por um dos seus auxiliares. A simples negação do bilhete quebrava a relação do membro e excluía os indignos; Wesley que, com um instinto sábio, tinha em maior conta a experiência do que o número, expurgava as classes deste modo, de ano, com uma dedicação completa" (Fitchett, Vol. I, p. 254-256).

Na Discipline of lhe the Methodist Church, 1940, § 103,

ainda se encontram os deveres do guia de classes: "1.—Visitar cada pessoa de sua classe, ao menos,

uma vez por semana, com o fim de: (a) Indagar como vai passando a sua alma; (b) Aconselhar, repreender, confortar ou exortar, de acordo com as necessidades dela; (c) Receber a quantia que quer dar para o pastor para a Igreja e para os pobres”.

“2.— Reunir-se com os ministros e ecônomos da sociedade uma vez por semana, a fim de: (a) Informar aos ministros se alguém está doente, ou se alguém anda desordenadamente e não quer corrigir-se; (b) Entregar aos ecônomos a quantia que recebeu da classe na semana anterior" (Discipline 1940, p. 49). (3) Culto de Vigília. Mais um meio para cultivar a vida espiritual e a fraternidade

cristã era o culto de vigília. O culto de v igília realizado nas sociedades metodis tas teve origem entre os próprios metodistas. Principiou entre os mineiros de Kingswood, em Bristol. Antes de se converterem tinham o costume de passar noites inteiras bebendo, jogando e brigando. Nos disseram alguns deles:

“Em nossa incredulidade, passávamos noites inteiras em bebedeiras, servindo ao diabo, por que não podemos agora passar noites em oração e vigília, prestando culto a Deus?”

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Assim, os mineiros convertidos, para compensarem os

maus costumes do tempo de sua incredulidade começaram a observar o culto de vigília. Quando Wesley soube disso, ficou satisfeito e prometeu assistir a próxima reunião. Wesley descreve a reunião desta forma:

"Muita gente esteve presente. Comecei a pregar entre oito e nove horas e continuamos até depois da meia-noite, cantando, orando e louvando a Deus" (Townsend et al, Vol. I, p. 289). Dai em diante, Wesley escolhia para a sociedade em

Kingswood e em outros lugares uma noite, no mês, em época de lua cheia, para que o povo pudesse assistir ao culto de vigília. Ele justificava este costume, citando a prática da Igreja Primitiva. Mais tarde essas reuniões mensais se reduziram a uma reunião só por ano, na última noite de dezembro.

(4) Ágapes de amor. Os ágapes de amor eram reuniões gerais, compostas de

todos os membros de uma sociedade. Esse costume vem dos cristãos primitivos. Por uns quatro séculos a Igreja Primitiva realizou essas festas de amor. Mas os metodistas herdaram-nas dos morávios. Serviam-se pão e água. Cada crente comia um pedacinho de pão e bebia um pouco de Água em sinal de íntima fraternidade. Depois se trocavam experiências — as lutas, derrotas, vitórias na vida cristã. Cantavam-se hinos de louvor. A esses ágapes só eram admitidos os membros que estavam em plena comunhão com as sociedades.

(5) Culto de aliança, ou de consagração. Havia ainda mais uma reunião para cultivar a vida

piedosa. Chamava-se culto de aliança, ou de consagração. Sobre isso escreveu Wesley, em 1755:

"Falei com a congregação (em Londres) acerca de mais um meio para a auxiliar no cultivo da vida piedosa,

que foi praticado com grandes bênçãos pelos nossos antepassados, isto é, fazer votos de servir a Deus de todo o coração" (Townsend et al, Vol. p. 290). Tornou-se um culto praticado em todas as sociedades. O

primeiro domingo de janeiro foi reservado para esse culto. 3. Os oficiais ecônomos. Os oficiais foram aparecendo de acordo com o

desenvolvimento e a necessidade do trabalho. Já falamos nos guias de classe. Há mais um ofício que se deve mencionar aqui: o de ecônomo. Este ofício apareceu em contexto com a aquisição de propriedades. Os primeiros prédios construídos para o uso dos metodistas tinham depositários, mas esse arranjo não deu certo. No começo do movimento as propriedades eram adquiridas em nome de João Wesley até que fosse estabelecido um plano mais satisfatório pelo “Título de Declaração” redigido por Tomaz Coke. A questão de levantar fundos para construções e conservação dos prédios criou a necessidade de alguém ficar autorizado para receber e aplicar os mesmos. Quem seria essa pessoa?

Quando os irmãos da sociedade de Foundry queriam levantar

fundos para pagar o aluguel e os concertos do prédio, levantou-se a questão de quem seria incumbido de receber e aplicar os mesmos. Wesley fez a pergunta: "Quem receberá e aplicará esse dinheiro?" Alguém respondeu: "Eu o farei e escriturarei as contas para o senhor". "Assim", disse Wesley, "surgiu o primeiro ecônomo e, mais tarde, quis que mais um ou dois me ajudassem como ecônomos com o correr de tempo o número aumentou" (Townsend et al, Vol. I, p. 291).

4. Pregadores leigos. O bom êxito do trabalho de Wesley criou um grande

embaraço para ele. O serviço aumentava dia a dia e ele não

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podia dar conta de tudo. Por toda parte onde andava, apareciam pessoas interessadas e convertidas. As sociedades se multiplicaram, mas não se multiplicaram os obreiros. Havia novos lugares onde se exigia a presença de Wesley, ou do seu irmão Carlos, ou de alguém do clero, para pastorear o rebanho que crescia tão rapidamente. Um ou dois não podiam atender às necessidades do trabalho.

As classes tinham os guias que ajudavam Wesley nas

sociedades locais. Entre esses guias de classe, havia alguns homens que tinham dons para falar em público. Segundo as instruções de Wesley, podiam ler, comentar e explicar as Escrituras, porém não deviam pregar. Wesley, mesmo depois da sua conversão, conservava preconceitos eclesiásticos e, entre eles, o de não permitir a um leigo subir ao púlpito e pregar. Só os pastores, ordenados e com a sucessão apostólica, podiam subir àquele lugar sagrado e anunciar palavras de vida. Portanto, hesitou em empregar leigos para este mister. Foi só pela forca das circunstâncias e pelos frutos que se convenceu de que os leigos também podiam pregar.

Quando Wesley estava em Bristol, trabalhando, vieram notícias de que um dos seus leigos da sociedade de Foundey, chamado Tomaz Maxfield, estava pregando em Londres. Wesley ficou perturbado. Deixou Bristol e foi com toda pressa a Londres para fazer calar ao leigo. Quando chegou à casa, a mãe entrou em cena e lhe disse:

"João, você sabe qual tem sido minha opinião. Você não pode suspeitar de que eu levianamente concordaria com uma coisa dessas. Mas tenha cuidado com o que vai fazer com esse jovem, porque ele é tão verdadeiramente chamado para pregar como você. Examine bem os frutos das suas pregações e vá ouvi-lo também" (Townsend et al, Vol. I, p. 293).

Foi, ouviu-o, convenceu-se de que ele devia continuar a

pregar e disse: "É do Senhor, faça-se a vontade de Deus". Assim, Wesley admitiu que os leigos entrassem na seara ao lado dele. E nunca na história da Igreja foram empregados tantos leigos.

Havia objeções fortes da parte do clero contra isso. Mas

Wesley e seu irmão Carlos justificaram a sua posição, baseando-se no fato que Cristo mesmo foi leigo, a quem adversários chamaram de "Filho do carpinteiro", e que os próprios clérigos não cumpriam os seus deveres; por isso as pedras clamaram. Quando um prelado objetou que eram homens indoutos, Wesley respondeu: "Alguns são e é assim que a jumenta repreendeu o profeta".

5. O sistema da itinerância. Apareceu outra classe de pregadores leigos, chamados

exortadores. Tornou-se costume autorizar primeiro um leigo para exortar e depois, se ele mostrasse possuir dons, licenciá-lo como pregador leigo. Esse costume tem dado bons resultados para se descobrirem os dons de certos homens; de outra maneira nunca teriam entrado no ministério. De outro lado, tem peneirado os leigos que, não tendo dons para o ministério, tem prestado, no entanto, como simples exortadores, valiosos serviços ás igrejas locais.

O sistema da itinerância, como as demais coisas peculiares à

organização da Igreja Metodista, desenvolveu-se gradualmente, de acordo com as circunstâncias. Nada foi antecipadamente planejado; tudo evoluiu normal e gradualmente. Wesley começou a viajar para atender a certas necessidades que nasciam do trabalho que ele iniciou em Londres e Bristol. Eram três os pontos centrais das ativ idades de Wesley: Londres, Bristol e Newcastle-on-Tyne. Wesley conhecia as estradas entre estes lugares tão bem como um carteiro conhece a zona da cidade em que trabalha.

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A primeira viagem longa que Wesley fez, foi em 1742.

Recebeu convite para visitar uma senhora que estava à morte e que morava em Douington Park. Quando chegou à casa de miss Cowper, ele a encontrou muito mal. Ela ficou muito animada pela visita e regozijou-se no Senhor. Ficou ali três dias; depois seguiu viagem e passou pela cidade de Newcastle-onTyne. Pregou ali duas vezes. As seguintes palavras dão idéia da impressão que Wesley teve dessa cidade que se tornou um dos centros de propaganda do Evangelho:

"Chegamos a Newcastle às seis horas e, depois de tomar uma refeição, passeamos pela cidade. Fiquei surpreendido: havia tanta embriaguez, tantas blasfêmias (até na boca das crianças) que não me lembro de ter ouvido antes tanta coisa assim em tão pouco tempo. Realmente este lugar esta maduro para "Aquele que veio não para chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento" (Wesley Jornal, Vol. I, p. 374). Realmente Wesley já era itinerante antes dessa visita, mas

dali em diante ele o foi deliberadamente. Viajava uma média de 7.200 quilômetros por ano e durante a sua vida viajou mais de 400.000 quilômetros. Pregou mais de 42.400 vezes, umas quinze vezes, em média, por semana. A assistência às suas pregações variava de duas a trinta e duas mil pessoas.

Possuía um físico extraordinário resistente. Pesava mais ou

menos 54 quilos e podia viajar todo o dia a cavalo sem cansar. Lia muito enquanto viajava em seu cavalo. Era asseado e cuidadoso. No seu quarto e no seu escritório, durante os meses de resistência em Londres, no inverno, não havia um livro fora do lugar, nenhum pedaço de papel despercebido. Ele sabia apreciar o conforto da vida. Entretanto, havia-se nas coisas mais insignificantes como se não esperasse continuar no mesmo lugar por uma hora. Em qualquer lugar parecia estar em casa, acomodado, satisfeito e feliz; e por outro lado, estava pronto,

a qualquer hora, para empreender uma viagem de duzentos e cinqüenta léguas (Fitchett, Vol. I, p. 220).

Deve-se lembrar que na Inglaterra as estradas não

eram boas e que o clima é chuvoso e frio no tempo de inverno. Faremos aqui uma ou duas citações a respeito das suas viagens. "Havia tanta neve ao redor de Boroughbridge que só poderíamos prosseguir mui vagarosamente e nos sobreveio a noite quando ainda nos achávamos a dez quilômetros do lugar onde tencionávamos pernoitar. Mas continuamos, como ao acaso, através dos charcos, e lá pelas oito horas chegamos em segurança a Sanhutton. Achamos a estrada muito pior do que no dia anterior, não somente por estar mais espessa a neve que a tornou intransitável em certos lugares, mas também porque as fortes geadas oriundas dos degelos haviam feito o chão como vidro. Vimo-nos na necessidade de andar a pé, pois nos era impossível andar a cavalo, e os nossos cavalos diversas vezes caíram, enquanto os puxávamos a cabresto, mas nenhuma vez, quando nos achávamos montados, durante toda a viagem. Passava já de oito horas quando chegamos a Gateshead Fell, que parecia um vasto deserto branco. A neve havia caído e coberto todas as estradas e estávamos em dúvida sobre como havíamos de prosseguir, até que um homem honesto de Newcasttle nos alcançou e nos guiou para a cidade.”

“Muitas viagens difíceis fiz anteriormente, mas nenhuma como esta fizera eu antes debaixo de tanto vento e chuva, gelo e neve, saraiva terrível e vento penetrante. Mas isso já passou; aqueles dias nunca mais voltarão e são, portanto, como se nunca tivessem existido" (Fitchett, Vol, I, p. 221-222). Wesley teve de enfrentar não somente tempos inclementes,

mas também oposição e vitupérios públicos. A Inglaterra do

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século dezoito era cruel, e seus "próprios esportes se assinalavam com quase incrível selvageria". As multidões gostavam de divertir-se, promovendo motins. E quantas vezes Wesley não teve de enfrentá-las com risco de vida! Podia dizer como o apóstolo Paulo: "O Espírito Santo me testifica de cidade em cidade que me esperam cadeias e tribulações, porém não tenho a minha vida como coisa preciosa a mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do Evangelho da graça de Deus". No seu Diário se encontram muitas narrações de ataques feitos contra ele, nos motins.

A sua vida itinerante é uma mostra da vida itinerante dos

seus auxiliadores. Às vezes os pregadores leigos eram mais cruelmente tratados do que o próprio Wesley, porque ele era mais conhecido e usava batina de pároco da Igreja Anglicana, quando pregava. Isso metia mais respeito do que um homem vestido à maneira comum. Mas no princípio do movimento metodista todos os itinerantes sofreram com os motins. Só depois de algum tempo é que deixaram de maltratar os pregadores. Nos últimos anos de sua vida, Wesley era o homem mais conhecido e mais respeitado em toda a Inglaterra.

O sistema de itinerância produziu bons frutos desde o

princípio. Tem, em certo sentido, espírito militar. Exige prontidão, coragem e abnegação. Uma vez, um homem recém chegado da América procurou a Wesley e lhe ofereceu seus serviços como ajudante no trabalho, mas ele não quis aceitá-lo de pronto, porque receava que não estivesse pronto para corresponder às exigências do serviço.

Havia três classes de obreiros: (a)o itinerante que dedicava

todo o seu tempo ao trabalho; (b) o meio-itinerante, que, embora possuísse negócios sob o cuidado de outros, podia dedicar um ano ou uma parte de ano ao serviço; (c) e os principais pregadores locais, que cuidavam dos seus negócios e ao

mesmo tempo prestavam serviço nas congregações locais. O caráter e as qualificações desses itinerantes eram

julgados e definidos pela Conferência. Acerca dos que desejavam esse ofício se indagava:

1. Conhecem 'Aquele em quem têm crido? Têm o amor de Deus no coração? Não desejam nem buscam nada, senão a Deus?

2. Têm dons (tanto como graça) para o trabalho? 3. Têm tido bom êxito? Conseguem apenas

convencer, ou impressionar o coração, ou já recebeu alguém à remissão de pecados pela pregação deles? Têm idéia clara e permanente do amor de Deus?

“Quando essas três qualidades se manifestam em

alguém, incontestavelmente julgamos que é chamado para pregar. Recebemos essas três evidências como provas de que alguém é movido pelo Espírito Santo a pregar.” O parecer de Wesley e dos seus pregadores, a

afirmação escrita pelo pleiteante, o testemunho dos beneficiados e a aprovação da sociedade em que trabalhava faziam parte do questionário. Sendo aprovado, o candidato entrava em experiência por um ano. Mais tarde o período de experiência foi aumentado para quatro anos.

Para orientar e estimular os seus auxiliares, Wesley

entregava ao candidato em experiência um exemplar das "Grandes Atas" (Great Minutes) e uma cópia das "Doze Regras de um Itinerante" (The Twelve Rules of a Helper).

As doze regras são as seguintes: 1. Sê diligente. Nunca fiques nem por um minuto,

desocupado. Não desperdices o tempo, nem passes num lugar

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mais tempo do que o absolutamente necessário. 2. Sê sério. Seja teu lema — "Santidade ao Senhor". Evita

leviandade, gracejo, conversas tolas. 3. Conversa pouco e cautelosamente com as mulheres —

especialmente com as moças. 4. Não te cases sem primeiro consultar os irmãos. 5. Não acredites em coisas más de ninguém, senão

depois de provas cabais, e abstém-te de criticá-las. Dá a tudo a melhor interpretação. Sabe que o juiz está sempre ao lado do réu.

6. Não fales mal de ninguém, senão a tua palavra lavraria

como gangrena". Guarda os teus pensamentos no teu coração até chegar a pessoa envolvida.

7. Conta a cada pessoa o que julgas das suas faltas, e com

clareza, o mais depressa possível; senão arruinarás teu próprio coração. Apressa-te em afastar o fogo do teu peito.

8. Não faças o papel dum cavalheiro. Desse caráter

nada mais tens a ganhar do que se fosses um mestre de dança. 9. De nada tenhas vergonha senão do pecado. Não

tenhas vergonha de carregar lenha (se o tempo permitir) ou baldes de água, nem de limpar os teus sapatos ou os dos outros.

10. Se pontual. Faze tudo na hora. E, como via de regra, não

cuides de modificar as nossas regras, mas de obedecer a elas, não por constrangimento, mas por causa da consciência.

11. Não tenhas outra coisa a fazer, senão salvar almas.

Portanto, gasta-te e consome-te nesse trabalho. Vai sempre, não semente aos que te querem, mas também aos que mais precisam de ti.

Observações: não é teu dever pregar tantas vezes ou

tomar conta desta ou daquela sociedade, mas ganhar tantas almas quantas puderes; levar tantos pecadores ao arrependimento quantos puderes e, com todo o teu poder, edificá-las na santidade, sem a qual ninguém verá a Deus. E lembra-te de ti mesmo. O pregador metodista deve obedecer a cada ponto, pequeno ou grande, dos Cânones. Portanto, precisará de todo o bom senso que tiver e de toda a sabedoria que possuir.

12. Procede em todas as coisas, não segundo a tua própria

vontade, mas como filho no Evangelho. Como tal, compete a ti empregar teu tempo na maneira que julgamos melhor. Em parte, pregando e visitando de casa em casa; em parte, lendo, meditando e orando. Acima de tudo, é necessário que faças a parte do trabalho que nós aconselhamos, naqueles tempos e lugares que julgarmos sejam para maior glória de Deus" (Townsend et Al, Vol. I, p. 295-296).

Como os pregadores leigos eram homens de pouca

instrução, competia a eles estudar o máximo possível. Wesley não achava qualquer incompatibilidade entre conhecimento e zelo. Por isto exigiu deles que se orientassem pelos seguintes conselhos: "Lêde os livros de maior utilidade, com regularidade e constantemente. Passai todas as manhãs neste mister ou ao menos cinco horas em cada dia". "Mas, alegrar-se-á, leio somente a Bíblia". Então, imitando a Jorge Bell, deveis ensinar os outros a ler somente a Bíblia e, para ser coerente, ouvir somente a Bíblia. Se for assim, não precisais pregar mais. E qual é o resultado? O mesmo a que chegou Bell: depois ele não lia mais nem a Bíblia nem qualquer outra coisa. Isto é entusiasmo fanático. Se não precisardes de nenhum livro senão da Bíblia, já estais mais adiantados do que

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São Paulo. Ele queria outros livros também. "Traze livros", disse ele, "pr incipalmente os pergaminhos – aqueles escritos em pergaminho. "Mas não tenho gosto pela leitura". Criai com o habito de ler o gosto pela leitura ou voltai então para vosso ofício. "Não tenho livros". Eu darei a cada um de vós, na medida da vossa leitura, livros até ao valor de cinco libras".

Não levou muitos anos para que Wesley se regozijasse

pelo fato que seus pregadores leigos conheciam a teologia prática tão bem como os párocos. Era seu costume mudar os pregadores de seis em seis meses, ou de ano em ano. Ninguém podia ficar na mesma região por mais de três anos em seguida. A razão disto era que os pregadores, sendo homens de instrução limitada, não tinham muitos recursos para pregar. E, também, mudando os pregadores freqüentemente, não deixava um homem impressionar o povo com suas idéias pessoais. Assim conservava a lealdade do povo à autoridade central do movimento. Além disso, a mudança de pastores de uma região para outra tendia a unificar o povo metodista, desenvolvendo a fraternidade cristã. Alguns não quiseram submeter-se a regime tão rigoroso, e deixaram a sociedade. Wesley queria manter o sistema de itinerância a qualquer preço.

Cada pregador tinha a sua zona de trabalho. Em 1750

havia sete zonas em toda a Inglaterra. Os pregadores tinham de percorrer suas zonas regularmente, viajando de vinte a quarenta milhas por dia e pregando duas ou três vezes por dia. Bennett, escrevendo sobre isso, disse:

"Para percorrer minha zona, viajo cento e cinqüenta e duas milhas em duas semanas, pregando publicamente trinta e quatro vezes, além das reuniões das sociedades" (Towsend et al, Vol. I, p. 298).

Na sua zona Bennett adotou o sistema de Conferências (que

no Brasil vai ficar conhecido como Concílios) trimensais. De três em três meses juntavam-se os pregadores e oficiais para

estudarem os planos e notar o progresso do trabalho. Outras zonas ou distritos adotaram este sistema em 1749. A primeira Conferência trimensal foi realizada em 18 de outubro de 1748. Wesley, vendo a utilidade dessas Conferências, mandou Bennett visitar outros distritos e realizar Conferências trimensais.

Quanto ao vestuário dos pregadores, era variado. Não havia

uniforme entre eles. Para vencerem as viagens longas a cavalo precisavam de boa saúde. Não levavam muito dinheiro na bolsa, por isso os ladrões deixaram de molestá-los e também para não serem obrigados a ouvir uma oração em seu favor e a receber um tratado religioso. Os pregadores visitavam o povo e, como não havia muitas comunicações, com a visita levavam notícias uns a outros lugares e eram recebidos com prazer pelo povo. Davam muita atenção às crianças. Se alguém negligenciava esta parte do seu programa era severamente repreendido por Wesley.

Os pregadores eram muito mal remunerados. Não gastavam

muito com pensão, pois eram hospedados pelo povo; mas as suas famílias sofriam e, quando ficavam velhos, não havia fundos suficientes para atender às suas necessidades.

6. As Conferências: As Conferências originaram-se em conseqüência do

desenvolvimento do trabalho. Havia por toda a parte grupos de crentes e entre eles pregadores sempre viajando. A Inglaterra estava sendo agitada por uma onda de vida espiritual e religiosa. Wesley queria coordenar e estudar os problemas do trabalho. Resolveu, pois, chamar alguns ministros e pregadores para uma Conferência em Foundry, em Londres. Reuniu-se a primeira Conferência a 25 de julho de 1744. Havia dez pessoas presentes: Wesley, seu irmão Carlos e mais quatro colegas — Hodge, Peirs, Taylor e

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João Merriton Mais tarde quatro pregadores leigos foram admitidos.

Parece que esta reunião foi ineficiente, mas realmente

marcou uma nova época na história da Igreja. A Conferência na Igreja Metodista é a célula vital de toda política e administração. Há mais de 30.000.000 de pessoas no mundo, hoje, envolvidas nas funções destas Conferências. Não havia, representantes leigos com direitos especificados nessa reunião, contudo tomavam parte nas discussões. Eram chamados "irmãos leigos".

As seguintes perguntas se faziam logo no princípio da

Conferência pelo presidente: "Quaisquer dos irmãos leigos devem ser admitidos a esta Conferência?" Resposta: "Concordamos em convidá-los de tempo em tempo, quando julgarmos melhor".

Pergunta o presidente: "Quais deles devemos convidar

hoje?" Resposta: "Tomaz Maxfield, João Downs, Tomaz Richards e João Bennett".

Essa Conferência era uma expressão da nova vida

religiosa que agitava o país naquela época. Um espírito sério caracterizava as suas deliberações. A primeira resolução registrada indica isto:

"Que todos os assuntos sejam tratados como se estivéssemos na presença do próprio Deus. Que nos reunamos com simplicidade de propósito e como crianças que ainda têm de aprender tudo. Que todas as questões propostas sejam examinadas até às bases" (Fitchett, Vol. II, p. 59). Tratam-se diversos pontos práticos e doutrinários.

Citaremos apenas um deles: Pergunta: "Que significa ser justificado?"

Resposta: "Ser perdoado e recebido no favor de Deus, estado em que, se continuarmos,, seremos salvos no fim.”

Pergunta: "É a fé condição da salvação?" Resposta: "Sim, porque todo o que crê é justificado". Pergunta: "Que é fé?" Resposta: "Fé em geral é uma elenchos (demonstração)

sobrenatural e divina de coisas que não se veem, isto é, de coisas passadas, futuras ou espirituais; é uma visão espiritual de Deus e das coisas de Deus.

Portanto, o arrependimento é uma espécie de fé, isto é, uma

preparação sobrenatural de Deus ofendido. Então o pecador está convencido pelo Espírito Santo da verdade expressa por Paulo: "Cristo me amou e deu-se a si mesmo por mim". É esta a fé pela qual ele é justificado, ou, perdoado, no momento em que a recebe. Imediatamente o mes mo Espír ito testi fica:

"Tu estás perdoado, tens redenção mediante o seu sangue". E esta é a fé salvadora mediante a qual o amor de Deus lhe é derramado no coração" (Fitchett, Vol. II, p. 60-61). Nas discussões havia plena liberdade de expressar

opiniões pessoais, ainda que fossem erradas. Havia liberdade de consciência. Em coisas especulativas a opinião da maioria devia permanecer, mas o indivíduo não era obrigado a submeter-se "a qualquer homem ou grupo de homens, sobre a terra", nem "o Papa, Concílio, Bispo, ou Convenção", se a sua consciência se opusesse.

Estamos vendo que no prazo de cinco anos, de 1739 a

1744, a Conferência tornou-se o coração do sistema metodista. O ano de 1739 foi o ano do início. Nesse ano apareceram a pregação ao ar livre, as sociedades, construção de prédios e aquisição de propriedades, pregação pelos leigos e as Conferências.

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7. Educação. A obra educativa obedeceu ao mesmo princípio pelo qual

Wesley se orientava em todo o seu trabalho: "Não queremos apressar-nos, desejamos somente seguir a Providência divina como gradualmente ela vai abrindo o caminho".

Assim a obra educativa teve o seu início na ocasião em

que Whitefield e Wesley começaram a realizar pregações ao ar l ivre em Kingswood perto de Bristol. Quando Whitefield entregou a Wesley o trabalho entre os mineiros em Kingswood e estava para retirar-se para outra parte, os mineiros o surpreenderam com uma oferta grande para estabelecer uma escola de caridade em Kingswood. Whitefield aceitou a oferta e lançou a pedra fundamental do primeiro edifício antes de deixá-los.

Portanto, logo no começo do movimento metodista, no seu

programa, se deu lugar a obra educativa. A escola de Kingswood desenvolveu-se gradualmente e o peso da sua manutenção e direção caiu sobre os ombros de Wesley.

Uma senhora anônima deu a Wesley oitocentas libras para a

escola. Foi aumentada e por mais de sessenta anos serviu para educar os filhos dos mineiros. Mas em 1748 foi aberta mais uma escola, anexa à primeira, para outra classe de crianças, a qual realmente se tornou a escola de Kingswood. Esta escola destinava-se especialmente aos filhos dos pregadores. Tornou-se um dos lugares prediletos de Wesley; ele gostava de demorar ali nas suas viagens para fora de Londres.

Mas essa escola trouxe grandes aborrecimentos a Wesley.

As suas idéias, quanto a execução do programa esboçado por ele, não foram respeitadas por algum tempo. Isso causou um grande pesar para ele. Procurou corrigir o defeito. Em março de 1766, numa das suas viagens para o norte, chegou a Bristol, e escreveu: "Fui a Kingswood; depois de dizer tudo que tinha em

mente dizer aos mestres e,empregados, falei às crianças de maneira ainda mais forte do que nunca. Matarei ou curarei. Terei uma ou outra coisa; uma escola cristã ou nenhuma".

Em outra ocasião fez quase a mesma coisa. Sem dúvida

a obra educativa não lhe foi suave, porém, antes de morrer, teve a satisfação de ver a escola bem dirigida e próspera e pode dizer:

"Achei a escola em excelente ordem. É agora um dos lugares agradáveis da Inglaterra. Achei tudo como eu desejava; as regras são observadas e o comportamento das crianças revelam uma disciplina inspirada pela sabedoria que vem lá de cima."

Na ocasião da sua última visita à escola ele escreve: "Fui a Kingswood: que lugar delicioso! Agora tudo ali está como eu desejo." (McTyeire, p. 333).

Com o correr do tempo, a Escola de Kingswood se transformou num reformatório de rapazes viciados. Mas escolas do Metodismo se fundaram também em outros lugares ou centros, como em Bath, Birmingham e Londres.

8. Extensão do trabalho e missões. O movimento espiritual não podia conservar-se em zonas

geográficas limitadas; tinha de expandir-se. Já vimos como Wesley e seus ajudantes penetraram em muitos lugares da Inglaterra. E não demorou que alguém levasse a mensagem metodista para a Escócia, Irlanda e América.

(1) Na Escócia. Em julho de 1741, Whitefield fez a sua primeira visita a

Escócia. Durante sua vida visitou a Escócia quatorze vezes. Sempre foi acatado pelo povo escocês. Era calvinista em

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teologia e tinha poder para apelar para emoções escocesas. O povo escocês não é emocional, mas racionalista. Whitefield foi convidado pela seita dos Ershines para trabalhar entre eles, mas não quis limitar-se somente ao seu grupinho por motivos políticos e eclesiásticos. Por isso, os Ershines tornaram-se adversários. Mas nem por isso ficou o trabalho de Whitefield infrutífero. Grandes multidões afluíam para ouvir as suas pregações. Mas é interessante notar que hoje em dia não existe nenhum vestígio do trabalho dele na Escócia. Contudo, o ministério de Whitefield na Escócia avivou as igrejas escocesas. O espírito de evangelização foi estimulado e, até hoje esse espírito é ativo entre esse povo.

João Wesley não visitou a Escócia antes de 1751, dez anos

depois da primeira visita de Whitefield. Na véspera dessa visita, Whitefield lhe escreveu, aconselhando-o a não ir porque não conseguiria coisa alguma entre aquele povo que gostava de discutir doutrinas, etc. Wesley, arminiano em teologia, teria grande dificuldade de atraí-lo. Mas ele disse que havia de evitar discussões e foi. Na primeira visita ficou só dois dias. Em 1753 tornou a visitar a Escócia. Daí em diante ia regularmente lá de dois em dois, ou de três em três anos, até ao fim da sua vida. Fez-lhe vinte e duas visitas ao todo.

Wesley conseguiu mais na Escócia do que seu colega

Whitefield. Implantou o Metodismo naquele país; ainda que não seja muito forte, o Metodismo ali existe. Os Dissidentes Ershines fizeram grande oposição aos metodistas. Mais do que os "papistas". Mas representavam uma parcela pequena do povo. Havia mais tolerância entre o povo em geral.

Wesley apreciava a paciência dos escoceses. Podia falar

fortemente e não ficavam ofendidos. Teve dificuldade em implantar o sistema de itinerância entre eles. Pediram que modificasse o itinerário dos seus auxiliares. Escreveu-lhes, em resposta, a seguinte carta:

“Enquanto eu viver, os pregadores itinerantes hão de ser itinerantes, isto é, os que quiserem ficar comigo. A sociedade em Greenak pode escolher segundo sua vontade: pode ter um ou nenhum pregador para lá e para Glascow. Mas mais do que um para os dois lugares não pode ter. Tenho amor demais tanto aos corpos como as almas dos nossos pregadores, para deixá-los limitar-se a um só lugar. Tenho pensado no assunto e hei de servir aos escoceses como sirvo aos ingleses, ou deixá-los" (Fitchett, Vol. I, p. 284). (2) Na I r landa. Irlanda foi para Wesley um campo novo. Entre o povo

irlandês conseguiu grandes vitórias O povo irlandês é inocente e age mais pelo sentimento do que pela razão, enquanto os escoceses agem pela razão e são pouco emotivos.

As condições religiosas, morais e políticas aqui eram das

piores. Eis o que diz Fitchett sobre este ponto: "Lord Hutchinson, recordamos, condenou a Irlanda de

então numa sentença terrível. Uma aristocracia corrupta, uma plebe feroz, um governo anarquizado e um povo dividido" A sociedade constituía uma teia de ódios terríveis. Os protestantes detestavam e oprimiam os católicos; os anglicanos detestavam e oprimiam os dissidentes; os romanistas odiavam a ambos e, quando se lhes oferecia oportunidade, os matavam”. Green diz:

"Depois da capitulação de Limerck, todo católico irlandês — e havia cinco vezes mais católicos do que protestantes da Irlanda — era tratado como estrangeiro e forasteiro na sua própria pátria" (Short History, p. 811). O governo estava nas mãos da duodécima parte da

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população que explorava tudo em benefício próprio, a fim de encher as bolsas às expensas das outras onze partes. O ódio de classe era nutrido pela lei. O católico irlandês estava praticamente fora da lei em seu solo natal, o presbiteriano vivia sob a ameaça do "Ato de Prova"; e o próprio anglicano irlandês tinha de ficar com o chapéu na mão na presença do anglicano que possuía o mérito de ser inglês (Fitchett, Vol. I, p. 287-288)

. Foi neste ambiente que Wesley e seus auxiliares

implantaram o Metodismo. Havia diferença para o católico irlandês entre o protestante metodista e o protestante anglicano. O protestante metodista trazia uma, mensagem de amor, sem exigir dízimos do povo. Aqui está o segredo do bom êxito do Metodismo entre esse povo. O amor e a boa vontade são mais poderosos do que a espada e o canhão. O poder do Metodismo na Irlanda não se mede pelo número de capelas que foram construídas, nem pelo número de adeptos, mas pela força de boa vontade e simpatia que tem concorrido para curar as chagas e transformar o espírito.

A missão de Wesley na Irlanda foi espiritual, tanto nos

seus métodos como nos seus fins. O Metodismo já existia em Dublin, quando ele chegou, em 9 de agosto de 1747. Um dos seus auxiliares, Tomaz Williams, tinha organizado lá uma sociedade. Wesley passou uns quinze dias em Dublin, pregando algumas vezes na igreja de Santa Maria e diversas vezes na capela luterana que foi alugada para esse fim.

Ele gostou desse povo amável, mas descobriu que não era

estável no seu espírito. Assim dá a sua impressão do povo: "Quanto mais converso com este povo, tanto mais

fico admirado. Que Deus tem feito uma grande obra entre ele, é manifesto; entretanto, a maioria, tanto crentes como incrédulos, não é capaz de fazer uma narração racional dos princípios mais simples de religião. É manifesto que Deus começa o seu trabalho

no coração; depois a inspiração do Todo Poderoso dá entendimento" (Fitchett, Vol. II, p. 293). Quinze dias depois da partida de Wesley, seu irmão

Carlos chegou acompanhado por Carlos Perronet. Mas nesse pequeno prazo se operou uma mudança no sentimento volúvel desse povo. Os padres ficaram alarmados com essa nova espécie de protestantismo. O povo, instigado pelos padres, assaltou a capela de Dublin, levou os bancos e o púlpito para a rua e os queimou. Essa violência teve o apoio das autoridades que eram protestantes. Carlos Wesley foi apedrejado e um dos auxiliares de Wesley, João Beard, foi tão maltratado que morreu em conseqüência das feridas que recebeu.

Na segunda visita a Irlanda, em 1748, Wesley ali passou três

meses. O povo, em alguns lugares, ficou encantado com ele. Na cidade de Athlone foi realmente festejado. Depois de pregar ali a um grande auditório, seguiu viagem, mas foi cercado pela multidão que cantava hino após hino, sem deixá-lo prosseguir em seu caminho. Homens, mulheres e crianças erguiam as vozes em louvor a Deus. Wesley ficou tão impressionado que fez esta observação:

"Entretanto, daqui a pouco havemos de cantar para nunca mais nos separarmos e a tristeza e choro fugirão de nós para sempre" (Fitchett, Vol. I, p. 295). O povo de Cork foi o mais violento que Wesley encontrou na

Irlanda. Os metodistas naquela cidade sofriam com os motins. Citaremos um trecho de Fitchett sobre isso: "O mais violento motim do povo foi o de Cork. Ali a plebe praticamente tomou conta da cidade sob a direção de um cantor ambulante de modinhas, meio tolo e meio velhaco, por nome Butler, o qual costumava aparecer na rua mascarado de clérigo, com uma Bíblia numa mão e um pacote de modinhas na outra. Os magistrados se simpatizavam com a multidão e os metodistas eram procurados com hostilidade nas ruas, como se fossem feras. Um apelo ao

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intendente teve como resultado único a resposta que os padres católicos eram protegidos, mas os metodistas, não. Muitos metodistas, tanto homens como mulheres, foram atacados a pau ou feridos à espada. As suas casas foram saqueadas e grandemente estragadas. Deram contra Carlos Wesley a denúncia de que ele era "pessoa de má fama, vagabundo, perturbador ordinário da paz real", pedindo que fosse desterrado. Uma queixa semelhante foi feita contra todos os auxiliares metodistas que nesse tempo se achavam na Ir landa.

"Quando o processo veio perante o tribunal, o juiz

indagou onde estavam os acusados. Ele olhou para Carlos Wesley e seus pregadores, quando eles vinham para a frente e ficou por algum tempo visivelmente agitado e impossibilitado de agir. Ali estava um grupo de curiosos! A primeira testemunha dos acusados foi Butler, que, sendo argüido a respeito do seu ofício, respondeu que era cantor de modinhas. Então o juiz levantou a mão em admiração e exclamou: "Eis ai seis cavalheiros acusados de vagabundagem; e o principal acusador é vagabundo de profissão" (Fitchett, Vol. I, p. 295).

João Wesley ficou contente com o progresso que o

Metodismo teve na Irlanda, mas tomou a precaução de usar uma disciplina mais rigorosa com os crentes para corrigir alguns dos seus defeitos. Não hesitava em expulsar da sociedade qualquer membro que não desse bom testemunho.

Muitos católicos se converteram e entraram nas sociedades.

Entre estes havia um homem, Tomaz Walsh, de qualidades excepcionais. Mais adiante falaremos dele.

João Wesley visitou a Irlanda quarenta e duas vezes. O

desenvolvimento do trabalho foi até tão rápido que em 1752 realizou a primeira Conferência. Deu-se muito tempo às questões doutrinárias. Os irlandeses usaram muita franqueza em externar seus pensamentos, diante da pergunta:

Pergunta – “Até que ponto qualquer um de nós crê na doutrina da Predestinação?"

Resposta: “Ninguém entre nós crê nela em sentido algum" (Fitchett, Vol. II, p. 146).

Tomaram-se medidas para cultivar a reverência nos

cultos, evitando conversas dentro da igreja, na entrada e na saída.

(3) Na Amér ica. Diante do túmulo de seu pai, Wesley afirmou que tomava o

mundo como a sua paróquia. Mas notamos que não apressou as suas operações artificialmente, isto é, não tentou mais do que podia conservar. Foi esta a lei que governou a sua vida: Conservar o que alcançava. Vimos como estendeu o trabalho à Escócia e à Irlanda. Agora vamos notar como se iniciou o trabalho na América.

Em 1752 Wesley visitou uma colônia de alemães, do

Palatinado sobre o Reno, estabelecida na Irlanda. Provavelmente foi nessa ocasião que Felipe Embry se converteu. Constam num l iv r inho estas palavras escritas por ele mesmo:

"No dia de Natal, segunda-feira, 25 de dezembro de 1752, o Senhor fez brilhar na minha alma o seu amor redentor, porque eu sinceramente buscava a redenção em Cristo Jesus, ao qual seja g lór ia para sempre. Amém. Felipe Embry.” Logo depois foi nomeado guia de classe. Foi fiel e eficiente

nesse cargo. Mais tarde foi licenciado pregador local. Tinha o ofício de carpinteiro. Provavelmente foi ele quem construiu a primeira capela dos colonos alemães.

Em 1758 Wesley realizou a segunda Conferência em

Limerick. Nessa ocasião Felipe Embry, com mais dois

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homens, foi colocado nas fileiras dos itinerantes. Mas, por causa da construção da capela, o nome dele consta na "lista de sorteados para o serviço militar".

Enquanto construía a capela, encontrou-se com Maria

Switer e com ela se casou. Depois de casado se tornou difícil seu trabalho como itinerante, na Irlanda. Mudou de planos e emigrou com a família para a América. Chegando à Nova York, começou a trabalhar em prol da causa do Mestre. Mas, homem tímido, não tendo lugar onde pregar e não encontrando outros interessados no trabalho, ficou parado. No ano seguinte um grupo desses alemães irlandeses emigrou para a América e entre eles havia uma crente metodista, Barbara Heck, parenta de Embry, que fixou residência no mesmo local em que ele morava.

9. As doutrinas. O Metodismo tem as suas doutrinas, mas dá mais ênfase à

vida moral e espiritual. O avivamento espiritual, promovido por João Wesley e seus cooperadores, visava à santidade de vida, à harmonização da vontade do homem com a vontade de Deus.

João Wesley procurou exemplificar na sua própria vida

as virtudes que ensinou e não julgou que tivesse descoberto qualquer verdade nova. Ele disse: "As minhas doutrinas são simplesmente os princípios fundamentais do Cristianismo"; ou, noutras palavras: "São manifestas na velha religião da Igreja Anglicana". E isto é a pura verdade.

"Wesley não acrescentou à teologia qualquer província

nova; nem inventou qualquer doutrina nova; e tão pouco matou qualquer heresia antiga. Qualquer que seja o seu título à fama, não é líder de homens na exploração teológica. Às vezes se diz que ele deu às doutrinas uma nova visão. Mudou a ênfase teológica dos Trinta e Nove Artigos da

Igreja Anglicana de uma maneira perdurável e esta mudança, numa palavra, consta da afirmação das doutrinas que dizem respeito à salvação — a redenção divina, a consciência do perdão, a salvação consciente e atual do pecado. Quanto a isto, Wesley certamente fez reviver na consciência dos homens muitas verdades esquecidas, se bem que "se manifestam na velha religião da Igreja Anglicana".

"Existe sempre uma real filosofia — se bem que nem

sempre reconhecida — que forma a base dos ensinos doutrinários de Wesley e que constituem uma interpretação do Cristianismo, que se pode julgar como um todo. Para descrever plenamente este ensino seria necessário escrever um sistema completo de teologia e isso não se pode fazer aqui. Mas vale a pena fazer um simples esboço daquilo que se pode chamar o Credo ativo de Wesley. Ele fez um resumo numa só declaração familiar: "As nossas doutrinas principais, que encerram todas as demais, são o arrependimento, a fé e a santificação. A primeira é o vestíbulo da religião; a segunda, a porta; a terceira, a própria religião” (Fitchett, p. 146-147). O padrão de doutrinas metodistas consiste nos Vinte e

Cinco Artigos de Religião, escolhidos por João Wesley dos trinta e Nove Artigos de Religião da Igreja Anglicana, nas Notas sobre o Novo Testamento de Wesley, e nos Cinqüenta e Dois Sermões de Wesley. Nesses documentos se encontram os elementos principais do Credo Ecumênico do Metodismo. Desde 1808 não tem havido grande divergência doutrinária entre os metodistas de todo o mundo.

"Esta concepção de religião espiritual abrange as grandes

verdades da Escritura de todas as épocas e escolas de pensamento cristão".

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As "Notas sobre o Novo Testamento", feitas por Wesley, têm também, o seu valor especial. Elas servem de base à pregação, tendo a sua fonte no Novo Testamento, de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Fornecem, portanto, ligação com os Evangelhos e padrão apostólico, dando, assim, base de autorização divina para as nossas formas de pregação.

Os 25 Artigos de Religião do Metodismo também trazem a

sua contribuição, toda especial, ligando-nos com movimentos históricos através dos séculos, especialmente com os princípios divulgados pela Reforma Protestante.

Algumas doutrinas mais importantes do Metodismo

Entre as doutrinas do Metodismo se salientam as

seguintes: 1) A Redenção Universal. O metodismo ensina que a expiação de Cristo é universal

na sua extensão, isto é, que Jesus experimentou a morte por todos os homens, que todos os filhos de Adão estão abrangidos no seu sacrifício expiatório; que o valor da expiação de Cristo consiste na sua divindade; que Deus "entregou Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, para padecer a morte da cruz, para nossa redenção, o qual, pela oblação de si mesmo, feita uma só vez, realizou um sacrifício, uma oblação e uma satisfação plena, perfeita e suficiente pelos pecados de todo o mundo"; e que era intuito de Deus assim remir a humanidade.

2) Arrependimento. O arrependimento pessoal para com Deus e fé no

Senhor Jesus Cristo são os dois elementos básicos do arrependimento. "O arrependimento é o meio e a fé a condição

da salvação". O coração quebrantado, a tristeza da alma e o aborrecimento pelo pecado levam a alma a aceitar a Cristo como o único Salvador. Então vem a confissão dos pecados e a reforma da vida. O arrependimento é dever de todos os homens "porque todos pecaram e necessitam da glória de Deus."

3) Justif icação pela Fé.

"Justif icação pela fé é ato judicial e divino que aplica ao pecador crente em Cristo o benefício da expiação, libertando-o da condenação de seus pecados, colocando-o no estado de favor e tratando-o como justo". "Ser jus tif icado é ser perdoado e recebido no favor de Deus; porque em tal estado seremos finalmente salvos" ("Methodist Minutes"). Justificação e perdão significam a mesma cousa. A

causa originária é o amor de Deus; a causa meritória é a expiação de Cristo; e a causa instrumental é a fé pessoal do crente.

4) Regeneração.

"Regeneração é o novo nascimento; é a obra do Espírito Santo pela qual experimentamos uma mudança de coração. Os termos pelos quais este estado se exprime nas Escrituras são: nascido de novo, ressuscitado com Cristo participante da natureza divina" (Watson). 5) O Testemunho do Espír ito Santo.

"Pelo testemunho do Espírito eu quero falar de uma impressão de íntima na alma, pela qual o Espírito de Deus imediata e diretamente testifica com o meu espírito que sou filho de Deus; que Jesus me amou e se deu a si mesmo por mim; que todos os meus pecados estão lavados

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e eu, sim eu, estou reconciliado com Deus" (João Wesley). 6) Santificação.

"A santificação é a Obra da graça de Deus pela qual somos renovados à imagem de Deus, separados para o seu serviço, capacitados a morrer para o pecado e a v iver para a justiça. A santificação abrange todas as graças de sabedoria, fé, arrependimento, amor, humildade, zelo, paciência e a prática disto tudo para com Deus e o homem" (R. Watson). A natureza da santificação é a conformidade do coração e

da vida com a lei de Deus. Pode ser adquirida nesta vida mesmo. Os católicos romanos dizem que só pelo fogo do purgatório a alma se pode santificar e purificar. Os calvinistas dizem que só na hora da morte é que a alma se pode santificar e os metodistas dizem que a santificação pode ser alcançada aqui, mesmo antes da morte.

7) A possibilidade de apostasia final. É possível para uma pessoa que tenha sido genuinamente

regenerada cair de novo em pecado e perder-se para sempre. Confirmam essa doutrina as seguintes passagens das Escrituras: Ezequiel 33:12-20; Hebreus 6:4-8; Evangelho de João 15:1-6; Romanos 11:20-21; Hebreus 3:12-14; Hebreus 4:1; I Timóteo 1:19- 20.

8) Os Sacramentos. O Metodismo reconhece só dois sacramentos: A ceia do

Senhor e o batismo. Os metodistas convidam todos os crentes em plena comunhão com a sua Igreja, seja, qual for a denominação evangélica a comungar com eles e dão aos seus membros a liberdade de comungar com outras Igrejas evangélicas.

“Quanto ao batismo, batizam crianças e adultos e

não fazem questão do modo pelo qual batizam; mas exigem uma experiência da graça de Deus no coração — ter o batismo do Espír ito Santo" (Kennedy, p. 414-415). A Bíblia é a fonte de toda a verdade evangélica e a

Igreja Metodista considera as Escrituras Sagradas como a "única e suficiente regra de nossa fé e prática".

Quanto à inspiração das Escrituras, "o Metodismo não é

partidário de qualquer teoria especial; entretanto, aceita a Bíblia como sendo a fonte de conhecimento divino e a prova suprema de toda a teologia”.

João Wesley em uma passagem célebre dá explicação

por que ele é homo unius libri (homem de um só livro) e essa dá expressão a toda a atitude da sua Igreja para com a Bíblia:

"Sou criatura de um dia, atravessando a vida qual seta passando pelo ar. Sou espírito, venho de Deus e para Ele voltarei. Estou simplesmente pairando acima do grande abismo até que, daqui a uns poucos momentos, eu desapareça, afundando-me na imutável eternidade! Uma coisa quero saber — o caminho para o céu, como posso chegar em segurança àquelas praias. O próprio Deus tem-se dignado ensinar-me esse caminho; para este fim Ele veio do céu. Ele mo escreveu num livro. Dai-me, pois, esse livro! Custe o que custar, dai-me esse livro! Eu o tenho. Aqui existe sabedoria bastante para mim. Que eu seja homo unius libr i. Aqui, pois, me acho, longe dos caminhos freqüentados pelos homens em geral. Acho-me sentado a sós com Deus. Na sua presença abro o livro, a fim de achar o caminho para o céu. Tenho dúvida acerca do significado daquilo que leio? Há aqui cousa escura e difícil? Então levanto o meu coração ao Pai das luzes: "Senhor, não é esta a tua Palavra? Não disseste to ‘que

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se falta a alguém a sabedoria, peça-a a Deus?’Tu dás liberalmente e não improperas. Tu disseste: ‘Se alguém quiser fazer a minha vontade, esse a saberá’. Eu quero fazê-la; faze-me conhecê-la. Então procuro e medito em passagens paralelas das Escrituras, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Nisto eu medito com toda a atenção e sinceridade de que sou capaz. Se ainda houver qualquer dúvida, consulto os experimentados nas coisas de Deus e depois os escritos, pelos quais os que me procederam na fé e já morreram ainda falam. E o que aprendo dessa maneira, isso ensino aos outros" (Fitchett, Vol. II, p. 158-159). 10. Publicações. Bem cedo no movimento metodista Wesley se interessou

pela publicação de livros e tratados (artigos). Como se interessou na educação das crianças, especialmente dos filhos dos pregadores, assim se interessou na instrução dos crentes, membros das sociedades. Para instruir os pregadores e o povo em geral, lançou-se logo mão da imprensa. A imprensa até hoje é um meio importante na propagação do Evangelho e na instrução do povo, pela literatura cristã que produz.

Logo depois de iniciar o trabalho de Foundry, em Londres,

reservou ali uma sala para guardar livros, que tomou o nome de Sala dos Livros. Ali ficavam livros em depósito para serem vendidos. Havia um distribuidor de livros em cada zona. Em certo sentido cada pregador era distribuidor de livros entre o povo. No princípio os livros eram vendidos, mais tarde eram dados, mas com muito critério às pessoas que não podiam comprá-los. O dinheiro usado para publicação de livros era levantado por meio de coletas. Assim as pessoas mais abastadas pagavam os livros que outras pessoas menos favorecidas não poderiam adquirir.

João Wesley publicou uma série de cinqüenta livros,

chamada "Biblioteca Cristã". Estes livros tornaram-se populares entre os metodistas. Além dessa série, Wesley publicou alguns sermões e tratados. Os tratados foram escritos para combater os males da época, como demonstra os títulos de alguns: "Uma Palavra para o Contrabandista", "Uma. Palavra para o Blasfemador", "Uma Palavra para a Polícia", "Uma Palavra para o Bêbedo", "Uma Palavra para o Malfeitor", "Uma Palavra para o Profanador do Sábado", etc...

Além da Bíblia, do Hinário e da Disciplina, os pregadores

levavam muitos tratados e livros nos alforjes. Esses livros e tratados eram escritos numa linguagem

simples e clara, fácil para o povo compreender. Wesley aprendeu no tempo de estudante em Oxford, nas suas conversações com os pobres e presos que visitava que era necessário usar de linguagem simples e clara para ser compreendido.

Como trabalhava com o povo da rua, precisava falar e

escrever num estilo que todos compreendessem. Será difícil exagerar o beneficio que as publicações de Wesley trouxeram para o povo da sua época.

Alguns dos seus adversários o criticaram, alegando que

Wesley publicava livros para enriquecer-se. É verdade que os tratados e livros que vendia por um penny lhe trouxeram muito lucro, mas com o dinheiro que assim ganhava continuou a publicar mais livros e tratados e também a ajudar em outros ramos do trabalho. Em um sermão que pregou em 1780, se defendeu dessa crítica, dizendo:

"Há quarenta e dois anos, tendo desejo de fornecer aos pobres livros mais baratos, mais resumidos e numa linguagem mais simples e clara do que os que eu já vi, escrevi tratados pequenos, vendidos por um penny; e depois outros maiores. Alguns destes tratados tiveram

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aceitação com que eu não sonhara, e, com isso, sem o perceber, me tornei rico. Mas eu não desejava e nem procurava riquezas. Entretanto, desde que isto me aconteceu, não junto tesouros na terra; não guardo absolutamente nada. Não poso, fugir de deixar aqui os meus livros, quando Deus me chamar para a eternidade; mas em tudo o mais as minhas próprias mãos serão meus executores" (Mc Tyiere, p. 224). Alguns julgam que Wesley deu mais de três milhões de

cruzeiros (Cr$ 3.000.000,00) para a causa de Cristo no mundo. No livrinho "Um Apelo aos Homens de Razão" ele

disse: "Ouvi isto, todos vós que descobrireis os tesouros

que deixo no mundo; se eu deixar dez libras (acima das minhas dívidas e dos meus livros, ou aquilo que fica a pagar por causa deles), vós e toda a humanidade podeis dar testemunho contra mim de que morri como um ladrão e salteador" (Mc Tyiere, p. 224). Realmente não tinha nada, quando faleceu. Fitchett, tecendo

comentários sobre este ponto, diz: "As publicações de Wesley são em número de 371,

inclusive 30 obras preparadas em companhia do seu irmão Carlos, e como começou somente em 1733, isto representa um termo médio de mais de sete volumes para cada ano da sua vida atarefada. Um historiador alemão, num trabalho cuidadoso e ponderado, agrupa as obras de Wesley em cinco divisões: poéticas, filológicas, filosóficas, históricas e teológicas. E é certo que cobrem uma extensão enorme de assuntos, desde livros de escola, para Kingswood, livros de hinos, para as sociedades, resumos de inúmeros autores, para seu povo em geral, e padrões teológicos, para os seus auxiliares, até uma série inteira de panfletos e folhetos" (Fitchett, Vol. II, p. 205).

O historiador Abel Stevens, falando sobre a história da

"Sociedade de Tratados Religiosos", que foi fundada em Londres em 1799, disse que Wesley já tinha fundado uma sociedade de tratados dezessete anos antes. Nesse caso, Wesley, pode dizer-se, foi o primeiro nesta qualidade de literatura que tem caracterizado a propaganda do Evangelho neste último século e meio da era cristã.

11. O Título de Declaração. A obra que Wesley e Whitefield iniciaram em Bristol

prosperou além do interesse que os mineiros tiveram em fundar uma escola de caridade para os pobres, houve também muito interesse da parte dos membros da sociedade de Bristol em construir uma capela que acomodasse o povo. Compraram um lote de terreno e começaram a levantar fundos para nele construir o prédio. Wesley nomeou onze pessoas como depositários da propriedade, sobre cujos ombros caiu toda a responsabilidade da construção e administração não demorou muito a haver falta de fundos para levar avante a obra de construção. Fizeram-se apelos aos membros, mas a tarefa era grande demais para eles. Mal se pode levantar uma quarta parte do dinheiro necessário.

Por falta de dinheiro os operários tiveram de parar a

construção. Não podiam prosseguir na obra, se Wesley, não assumisse a responsabilidade. Logo, caiu sobre ele uma dívida de cinqüenta libras (Cr$ 15.000,00). Fez-se um apelo aos amigos de Londres para ajudarem na obra. Whitefield recusou-se a contribuir com coisa alguma se Wesley não despedisse os onze depositários e assumisse tudo em seu nome. Nesse ponto Whitefield foi mais sábio do que Wesley, pois sabia que, se tudo fosse em nome da junta de depositários, não levaria muito tempo para que se recusasse ceder a casa

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aos pregadores que Wesley havia de nomear para ela. Wesley logo percebeu a sabedoria disso e, tendo

anulado o que tinha feito, assumiu toda a responsabilidade. Mas, fazendo isso, criou para si mesmo grande embaraço e um problema difícil de resolver. Daí em diante as propriedades que as sociedades foram adquirindo na Inglaterra eram em nome de Wesley. Depois de alguns anos Wesley ficou perplexo, pensando como poderia livrar-se de tão grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, assegurar as propriedades para as sociedades depois da sua morte. Se morresse, as propriedades ou reverteriam para os seus herdeiros ou para o estado. Estudou o problema por muitos anos, sem achar uma solução satisfatória.

Havia, em 1784, trezentos e cinqüenta e nove capelas

metodistas e a maioria delas estava registrada de acordo com um plano que Wesley formulara. Esse plano consistia de uma escritura feita em nome da "Conferência do Povo Chamado Metodista". Mas o plano tinha o grande defeito de não ser legal, porque as sociedades não eram reconhecidas pelo governo inglês como "pessoa jurídica". O problema que enfrentava Wesley e seus auxiliares era confeccionar um documento que satisfizesse a exigência do caso e apresentá-lo ao parlamento inglês para ser reconhecido e aprovado e, assim, constituir as sociedades em "pessoa jurídica".

Houve, naquela época, alguns atritos entre a Conferência, ou

Wesley, e algumas juntas de depositários de capelas. O dr. Coke, que se tinha identificado com os metodistas, foi incumbido de resolver esses casos de atrito. O dr. Tomaz Coke era universitário, advogado e vigário da Igreja Anglicana, estava, portanto, à altura de prestar serviços incalculáveis à causa metodista. Wesley o reconhecia como homem hábil, leal, douto, talentoso e cristão e não deixou de empregá-lo para resolver certos problemas difíceis que existiam em certas sociedades. Comissionou-o para substituí-lo na presidência da

Conferência da Irlanda. Wesley achara o homem pelo qual tinha esperado muitos anos.

Realmente, o dr. Coke possuía certos dons que Wesley não

tinha. Wesley não tinha a visão que o dr. Coke tinha. Wesley era prático e não tinha a imaginação do dr. Coke. Por isso não enxergava os campos missionários como o dr. Coke os enxergava. Wesley limitou-se aos três reinos, enquanto o dr. Coke incluiu a América, a França, a África, a Índia e a Oceania no seu programa. É verdade que Wesley disse "Considero o mundo como a minha paróquia", mas foi o dr. Coke que inspirou os metodistas a estender seu trabalho aos países estrangeiros.

Por muitos anos foi a alma missionária do movimento

metodista na Inglaterra. Além de visitar as Antilhas e a América nove vezes, no fim da sua vida tentou abrir trabalho missionário na Índia. Mas, antes de chegar a Índia, faleceu e foi sepultado no mar Índico.

Quem sabe se o dr.. Coke não foi o homem "elevado ao

lugar para tal tempo como aquele?". Wesley o encontrou e não hesitou em lançar sobre ele grandes responsabilidades. Para solucionar a questão das propriedades, uma questão que tinha sido por muitos anos um pesadelo para Wesley, o dr.. Coke ofereceu seus serviços.

Visitou as sociedades da Inglaterra para conseguir

todas as capelas registradas de acordo com o plano da Conferência. Isso exigiu tempo, paciência e energia. Quando tudo estava pronto, Wesley preparou um documento legal (sem dúvida o dr. Coke o ajudou nisso) para ser apresentado e aprovado pelo governo inglês. "Portanto, aos 28 de fevereiro de 1784 Wesley fez um documento legal sobre o qual o Metodismo permanece — "A Escritura Modelo" ou "O Título de Declaração".

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Por ele Cem pregadores devidamente nomeados, foram designados para constituírem a Conferência Legal. Nesta corporação se depositou o poder de nomear os ministros para os campos de trabalho; poder esse que o próprio Wesley havia exercido até então. "O Cento Legal", nome que se deu à corporação, tinha de preencher as vagas nas suas fileiras de ano em ano. Constitui uma entidade perpétua e assegura a continuidade da existência legal da Igreja Metodista.

Todas as capelas se conservam em depósito para uso

desta corporação e sujeitas a sua autoridade. Em outros lugares, fora da Grã-Bretanha, as várias Conferências metodistas se constituíram por ato do parlamento. Mas na Grã-Bretanha, "O Centro Legal" de Wesley constitui ainda o instrumento pelo qual a Conferência se conserva em existência efetiva (Fitchett, Vol. II, p. 115-116).

"O Título de Declaração" resolveu diversos problemas,

mas criou outros. Houve grande descontentamento entre os pregadores cujos nomes não constavam na lista dos Cem. Consideraram-se sem direitos legais e acusaram Wesley de parcialidade. Dois abandonaram as fileiras metodistas.

O que Wesley queria evitar por meio desse documento (a

desunião) as divisões estavam fomentando. O número dos que ficaram fora da lista era quase igual ao dos que foram incluídos nela. Por algum tempo reinaram esses descontentamentos e queixas. É interessante notar como homens piedosos se comportam, quando se julgam tratados com parcialidade.

Não só Wesley foi acusado de parcialidade, mas também o

dr. Coke ficou suspeito de ter aconselhado Wesley a incluir na lista certos nomes e a rejeitar outros. Isto acabrunhou sobremaneira o espírito do dr. Coke, pelo que ele publicou uma declaração às Sociedades Metodistas da Grã-Bretanha e da Irlanda", na qual

narrava os fatos como se deram, negando ter aconselhado Wesley a deixar certos nomes fora da lista e incluir outros; antes queria que todos os membros da Conferência fossem incluídos.

Mais tarde Wesley publicou uma declaração, confirmando

tudo o que o dr. Coke tinha declarado. E explicou como foi feita a lista e o espírito em que foi feita. Citaremos uma parte dessa declaração:

"Em declinar os nomes dos pregadores, como não tinha qualquer conselheiro, não fui levado por respeitos humanos; mas simplesmente assentei os que de acordo com meu melhor juízo eram mais idôneos. Mas não sou infalível. Bem pode ser que eu errasse em considerar alguns mais idôneos do que são Contudo, fiz o melhor que podia; e, se fiz mal, o erro não foi da minha vontade, porém do meu julgamento. Podeis ver, então, em todo o cuidado que tenho tornado neste documento absolutamente necessário, que tenho trabalhado não para mim (porque não tenho interesse nele), mas para todo o corpo metodista, a fim de segurá-lo sobre alicerces que perdurarão enquanto o sol e a lua existirem, isto é, se os metodistas continuarem a andar na fé e mostrar a sua fé pelas obras. De outra maneira rogo a Deus que a memória deles desapareça da terra" (Candler, p. 40). 12. Filantropia. João Wesley foi um filantropo. O que afetava a

humanidade no corpo, no espírito e na alma afetava a Wesley. Ele se interessou em acabar com o trafico de escravos da África. A última carta que escreveu foi para o sr. Wilberforce, exortando-o a perseverar no combate a este grande mal da sociedade dos povos civilizados.

Wesley simpatizava com todas as raças. Mostrou vivo

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interesse na evangelização dos negros das Antilhas. Conhecia um homem rico que possuía muitos escravos na Ilha Antígua (Antilhas) que se chamava Natanael Gilbert. Esse homem visitou a Inglaterra e queria conhecer João Wesley. Wesley o visitou e batizou alguns dos seus escravos. Ele escreve a respeito: "Fui a Wordsworth e batizei dois negros que pertencem ao sr. Gilbert, cavalheiro que veio recentemente de Antígua. Um desses negros está profundamente convencido do pecado, o outro se regozija no seu Deus e Salvador, e é o primeiro africano cristão que conheço. Mas não será verdade que Nosso Senhor, um dia, "possuirá estes pagãos como a sua herança?" (McTyeire, p. 326).

Wesley dedicou-se à pregação da palavra, mas ao mesmo

tempo não deixou de cuidar dos corpos dos homens. Teve um vivo interesse nos pobres e nos presos. Procurou aliviá-los da sua miséria. Os primeiros movimentos financeiros do Metodismo não fora para enriquecer o culto, nem para manter o ministério, mas sim para providenciar casas de culto e socorrer os pobres. Um dos aspectos mais tocantes na vida de Wesley no século dezoito foi o interesse que tomou para aliviar os sofrimentos dos pobres. Por cinco dias Wesley andou na neve pelas ruas de Londres, pedindo auxílio para socorrer os pobres daquela cidade. Arrecadou duzentas libras (uns Cr$ 18.000,00) durante esses cinco dias. O seu exemplo serviu para despertar a consciência do seu país mais tarde no mesmo sentido.

Esses esforços não foram esporádicos, porém organizados e

sistematizados. Examinando a lista de contribuições de uma classe para os pobres, ele fez a seguinte observação:

"Na lista da classe (que dá as quantias contribuídas para os pobres), observei que um deu oito pennies, às vezes, dez pence; uma outra classe deu, às vezes de um, às vezes dois shillings. Perguntei a Micaia Elmoor, o guia (verdadeiro israelita que agora descansa do seu trabalho): — "Como é isto? Sois vós a Sociedade mais

rica na Inglaterra?". Ele me respondeu: "Julgo que não. Mas todos nós que somos solteiros ou solteiras, temos feito uma combinação de dar-nos a nós mesmos e tudo que temos a Deus. E o fazemos alegremente, por conseguinte podemos, de quando em quando, hospedar todos os forasteiros que vêm a Tetney e que, às vezes, não têm comida, nem amigos que lhes dêem pousada". (Townsend et al, Vol. I, p. 310). Quase todas as Sociedades tinham a sua caixa de

beneficência não somente socorreram, os membros da Sociedade, mas também as pessoas estranhas. Ha, ainda na Inglaterra, Sociedades que cuidam de pessoas estranhas, que tiveram sua origem dos metodistas. Não há dúvida nenhuma de que o avivamento metodista despertou o espírito filantrópico na Inglaterra. Os metodistas foram inspirados com um entusiasmo moral que os levou a crer que há esperança para os homens e mulheres mais desgraçados Entraram nas prisões para ministrar aos criminosos e trazer-lhes o conforto e salvação.

Há um homem, chamado Silas Told X1711-1778) que

dedicou quase todo o seu tempo aos presos. Silas Told foi um marinheiro reformado e redimido, que Wesley nomeou para dirigir a Escola de Caridade de Foundry. Esse homem administrava aos presos. Conseguiu a libertação de alguns que podiam provar a sua inocência, e a salvação de muitos. Houve verdadeiros milagres na transformação dos presos. Alguns se regozijaram na hora da morte pela salvação que tinham em Cristo. Silas Told orava por eles na prisão e na hora de execução da sentença de morte. Centenas de mortes. Centenas e centenas de presos penitentes confessaram os seus pecados a este homem de Deus. Prestou esse serviço, sem receber um vintém.

E houve muitos outros homens e mulheres que trabalharam

na prisão para aliviar o grande sofrimento dos presos naquela época. Os metodistas despertaram a consciência como João

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Howard e Sara Peters que conseguiram grandes reformas nas prisões da Inglaterra.

Em conexão com o seu trabalho em Foundry, em Londres,

Wesley estabeleceu uma despensa, um lar para as pobres viúvas e uma caixa de beneficência para auxiliar os pobres.

Do trabalho filantrópico de Wesley saíram idéias que têm

estimulado os povos nos tempos modernos para a solução dos problemas sociais.

13. Crise e Dissensão. O ano de 1764 é considerado o ano da crise nas fileiras

metodistas. João Wesley já tinha trabalhado vinte e cinco anos. E o avivamento continuava em pleno vigor. Realmente começou a manifestação de uma onda espiritual que ia passando por todas as sociedades.

Havia uma questão que sempre pesava na mente de

Wesley e seu irmão Carlos, acerca da relação das sociedades para com a Igreja Anglicana. Em ocasiões diversas, tomaram a deliberação de não se separarem da Igreja Anglicana. Carlos Wesley foi mais forte neste propósito do que seu irmão João. Mas quanto mais os Wesley manifestaram o seu desejo de ficar na Igreja Anglicana e conservar nela as sociedades, tanto mais oposição os párocos daquela igreja fizeram para repelir os membros das sociedades da comunhão da Igreja. Por isso, Wesley tinha grande dificuldade em administrar a santa ceia ao seu povo.

Como as sociedades estavam espalhadas por toda parte,

Wesley não podia administrar a santa ceia ao seu povo sozinho. Whitefield já estava quase acabado e ocupado com o seu orfanato e não podia ajudá-lo. Carlos Wesley tinha família e não estava bem disposto para o trabalho metodista. Wesley

resolveu então escrever uma carta-circular ao clero evangélico pedindo paciência, tolerância e auxílio. Mas qual não foi a sua surpresa ao receber apenas três respostas às suas sessenta cartas. Se o clero que ele considerava simpático para com o movimento não respondeu sua carta, que se podia esperar do resto da Igreja?

Na ocasião da Conferência em 1764, houve doze clérigos

presentes. Vieram, não para cooperar com Wesley na continuação da obra das sociedades, mas para persuadi-lo a entregá-las aos párocos de cada paróquia onde estavam localizadas, e Carlos Wesley apoiava a proposta. Mas tal arranjo não era uma solução para Wesley. Que faria com seus pregadores? Wesley achava que seus pregadores eram tão chamados por Deus para pregar como ele, e que os membros das sociedades não seriam pastoreados pelos párocos, porque os párocos não cuidavam dos seus próprios rebanhos. Por isso diz ele:

"Hão (as sociedades) de prosperar tanto, quando forem deixadas como ovelhas sem pastor? Tem-se feito esta experiência repetidas vezes, e sempre com os mesmos resultados" (Fitchett, Vol. II, p. 72). Assim Wesley ficou quase sozinho, arcando com toda a

responsabilidade do seu trabalho. E além de tudo isso, houve grande perturbação em diversas sociedades, especialmente nas de Londres.

Desde o princípio de 1760, começou um despertamento

espiritual mais acentuado do que de antes. Nos fins do ano 1762, Wesley escreveu:

"Já há muitos anos meu irmão dizia que o nosso dia de pentecostes ainda não tinha chegado em sua plenitude. Mas não duvidou de que haveria de chegar esse dia. Então ouv iremos tão f reqüentemente de pessoas sant ificadas como agora ouvimos de

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justificadas".

E qualquer pessoa, sem preconceito, que tem lido as narrações no meu Diário, pode observar que já havia chegado em sua plenitude (Fitchett, Vol. II, p. 73).

Desde o princípio do movimento, tinha havido casos de

santificação nas sociedades, mas nessa época tornou-se mais comum.

À doutrina ainda faltava uma definição clara. Wesley

mesmo nunca chegou a professar a experiência própria de santificação. Mas ele nos deu uma defin ição dessa doutr ina. Ei-la na parte negativa: "Nunca advoguei a perfeição absoluta e impecável; mas também não afirmo a perfeição impecável, visto que não é bíblico. Não reconheço uma perfeição que nos habilite a cumprir toda a lei, de modo que não tenhamos necessidade dos méritos de Cristo. Agora e sempre protesto contra tal coisa". A parte positiva:

"Por perfeição cristã entendo (como tenho dito repetidas vezes) que seja amor a Deus e ao próximo, de modo que possamos regozijar-nos sempre, orar sem cessar e em tudo dar graças. Quem tiver esta experiência é perfeito no sentido bíblico da palavra" (Fitchett, Vol. II, p. 74). Para mostrar como Wesley promovia seus cultos

nessa época, citaremos algumas passagens do seu Diário. Em 29 de julho de 1761:

"Domingo, 29. Tivemos uma festa de amor muito confortadora, em que, diversas pessoas contaram as grandes bênçãos que obtiveram há poucos dias. Não temos preocupação acerca do nome pelo qual se chamam essas bênçãos, uma vez que são inegáveis. Muitos têm tido, e muitos experimentaram diariamente mudanças inexplicáveis.

Depois de profundamente convencidas de pecado original (inbred sin), especialmente de orgulho, de raiva, de obstinação e incredulidade, num instante se sentem cheios de fé e de amor; sem orgulho, sem obstinação ou raiva; e dai em diante têm comunhão contínua com Deus, sempre se regozijando, orando, louvando a Deus.”

“Pode haver quem diga que isso é obra do Diabo. Eu digo que é obra do Espírito de Deus; e digo aquele que tem tal experiência, que continue a rogar que Deus não cesse de abençoá-lo. Se continuar a andar com Deus será abençoado, se não perderá a sua experiência" (Wesley's Journal; Vol. III, p. 76). Sem dúvida, esta onda de avivamento espiritual que

passou pelas sociedades, trazendo vida nova aos crentes, consigo trazia um certo perigo. Todas as coisas boas podem ser pervertidas. As flores são mais perfumadas do que as folhas, mas, quando se estragam, produzem um cheiro mais desagradável. Assim essa onda pentecostal trouxe perturbação as sociedades Metodistas, especialmente em Londres. Certas pessoas tiveram experiências tão maravilhosas que foram levadas ao fanatismo. Mas julgavam que podiam dispensar a leitura da Bíblia, a oração, a instrução da parte das pessoas que não gozavam de tal experiência; enfim já estavam livres do pecado e da tentação.

Entre essas pessoas figuravam duas que foram os

auxiliares mais destacados entre os leigos. Tinham gozado da amizade, da confiança e da proteção de João Wesley. Esses dois homens, George Bell e Tomaz Maxfield, ocuparam lugares de destaque nas fileiras metodistas. George Bell era oficial de polícia antes da sua conversão e tornou-se depois pregador local. Julgou que podia fazer milagres, curando os enfermos. Afirmou que atingira a perfeição e até da tentação estava livre também da necessidade de aprender

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dos outros que não gozavam de uma experiência igual a dele e da necessidade de observar as Regras das Sociedades Unidas. Wesley o admoestou e procurou conservar livres da sua influência as sociedades. Mas Bell não quis ser admoestado por Wesley, julgando que estava acima de Wesley em conhecimento, que tinha o dom da profecia e profetizou o fim do mudo para um certo dia. Isso causou bastante perturbação entre os metodistas. Alguns ficaram em claro toda a noite em que esperavam o fim do mundo. Wesley finalmente denunciou e expulsou a George Bell das sociedades Metodistas. Mas Bell levou grande número de membros consigo.

Tomaz Maxfield converteu-se em Bristol, ouvindo um

sermão que Wesley pregou logo no princípio da sua carreira. Além disso, Wesley o levou para Londres, onde gozou uma sociedade muito mais elevada e onde encontrou a moça com que se casou mais tarde. Wesley ajudou-o nos seus estudos e conseguiu a sua ordenação na Igreja Anglicana. Enfim, Maxfield devia a Wesley a sua conversão, a sua elevação na sociedade e na Igreja e sua esposa. Foi por ele altamente auxiliado e protegido. Mas foi levado pela onda de entusiasmo de Bell e afastou-se de Wesley. Chegou a tal ponto que Wesley teve de cortar relações com ele. Mais tarde arranjou uma paróquia na Igreja Anglicana e tornou-se pároco daquela igreja.

Ainda que Wesley denunciasse tais homens e os seus

costumes nas suas sociedades, contudo foi severamente criticado.

Ficou então sozinho à testa do movimento metodista. Os

colegas da sua mocidade não podem auxiliá-lo. O clero não somente recusa ajudá-lo, mas o crit ica e levanta obstáculos contra ele. Podemos apreciar o estado de ânimo em que se achou nessa época, citando uma carta que escreveu para Lady Huntingdon:

"Pela misericórdia de Deus ainda me acho com vida e prosseguindo no trabalho para o qual Ele me chamou, embora, mesmo no tempo mais tormentoso, sem auxílio algum daqueles de quem eu podia esperar socorro. O conselho deles, parece-me, é este: ‘Abaixo, abaixo com ele, abaixo com ele até ao chão’. Refiro-me (pois não uso de rodeios) a Madan Haweis, Benidge e (sinto dizê-lo) Whitefield. Somente Lomaine tem mostrado um espírito verdadeiramente simpático e feito o papel de um irmão. Quanto às profecias desses pobres loucos, George Bell e mais meia dúzia, não sou eu em nada mais responsável por eles do que Whitefield, pois nunca lhes dei absolutamente asas, antes lhes tenho feito oposição desde o momento em que os ouvi, nem têm essas extravagâncias base alguma em qualquer doutrina que ensino". Mas Wesley suportou a crise, que passou. Daqui em diante

ele é realmente o único guia à testa do movimento metodista. Vai seguindo seu caminho calma e seguramente. Continuou a ensinar a mesma doutrina a respeito da perfeição cristã. Na Irlanda e em outras partes da Inglaterra, onde o fanatismo não entrou no meio dos crentes, o trabalho prosperou e houve muitas pessoas que professaram o amor perfeito.

Fitchett, falando sobre a atitude da Igreja Anglicana para

com este movimento espiritual, disse: "Se alguém quer uma demonstração da índole geral da Igreja Anglicana, depois destes quase trinta anos de oposição para com este grande movimento espiritual, que já estava transformando a vida moral da Inglaterra, que tome o incidente, seguinte: aos 9 de marco de 1768 foram expulsos seis estudantes de Oxford por terem costumes metodistas e por tomarem sobre si o trabalho de orar e de ler as Escrituras em casas particulares. O diretor do departamento em que esses estudantes estavam, defendeu a sua doutrina, baseando-se nos Trinta e Nove Artigos e falou com elevação louvando a piedade e o caráter nobre dos acusados,

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mas em vão. O presidente do colégio, depois de ter lavrado a sentença, disse que, por serem demasiado religiosos, seria muito próprio indagar-se da conduta de alguns que eram por demais irreligiosos. Onde se encontram fatos mais significativos do que a expulsão da Universidade de Oxford em 1768 de seis estudantes de caráter elevado, por terem costumes metodistas?!"

Os itinerantes metodistas, na Inglaterra, e, mais tarde, em

toda parte do mundo, pregaram a doutrina da perfeição cristã que se encontra nos escritos de Law, Fletcher e Wesley. Wesley anotou no seu Diário observações acerca dessa doutrina pregada entre as soc iedades da Inglaterra e da Irlanda e onde foi pregada houve despertamento religioso e muitas conversões. Pode-se verificar isso lendo o Diário de Wesley. Ele considerava os metodistas como os depositár ios dessa doutrina. Ouçamo-lo:

"É grande depósito que Deus deu ao povo metodista e parece que Deus o suscitou ao povo para propagar esta doutrina. Não foi sua missão formar um partido religioso, mas espelhar a santidade sobre a face da terra" (Stevens, Vol. I, p. 406).

17. Os ajudantes leigos e clérigos. O espírito metodista naturalmente criou obreiros. João

Nelson, um dos primeiros ajudantes leigos, disse: "Não posso comer o meu bocado sozinho". Uma pessoa convertida instintivamente quer contar a sua experiência a outras. Assim iam aparecendo os obreiros de acordo com o desenvolvimento do trabalho. Sabemos dos preceitos de Wesley no princípio acerca do uso de leigos na pregação do Evangelho. Mas, homem prático e de bom senso que era, se convenceu de que podia empregar os leigos na seara do Senhor. Desse modo começou a utilizar-se dos leigos na obra do Senhor numa escala maior do que em qualquer outra época na história da Igreja.

1) Alguns ajudantes leigos. a) João Nelson (1707-1774). Um dos primeiros leigos que entrou nas fileiras metodistas

foi João Nelson. Era pedreiro de profissão. Foi considerado um dos melhores pedreiros do seu tempo. Depois da sua conversão se recusou trabalhar nos domingos, mas, em vez de perder serviço, parece que isso concorreu para aumentá-lo. Queriam que trabalhasse, no domingo, num grande edifício do governo, em Londres — o prédio de Exchequer. Mas recusou e sua franqueza e sua perícia no trabalho atraíram homens de todas as camadas da sociedade para vê-lo. Não foi despedido do serviço, antes o respeitaram e o serviço dele foi procurado ainda mais. O presidente do parlamento, olhando para ele no seu trabalho, ficou encantado com a sua habilidade e lamentou o fato de que tudo neste mundo passa.

João Nelson nunca fora homem imoral, mas não gozava paz

em sua alma e sentia o horror das trevas espirituais. Wesley foi mensageiro de luz e paz para ele:

"Eu fui como um passarinho fora do seu ninho até que Wesley veio pregar pela pr imeira vez em Moorfield. Oh, aquela foi uma manhã bendita para a minha alma! Quando ele subiu ao estrado, passou a mão pelo cabelo e virou o rosto para o lugar onde eu estava, pareceu-me que fitou seus olhos em mim. O seu rosto me causou medo e, mesmo antes de falar, fez o meu coração bater como um pêndulo de relógio; quando falou, julguei que todo o seu discurso foi dirigido a mim. Quando terminou, eu disse: Este homem pode dizer-me os segredos do meu coração; mas não parou ai; mostrou-me o remédio, isto é, o sangue de Jesus" (Townsend et al, Vol. I, p. 313). João Nelson tornou-se uma das jóias entre os pregadores

metodistas. Trabalhou em Bristol entre os seus irmãos e o

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trabalho ali prosperou. Exortava o povo com muito proveito, mas, quando refletia sobre o papel do pregador, dizia:

"Antes eu desejaria ser enforcado numa árvore do que pregar". Mas o povo que o ouvia não pensava assim, pois as suas exortações sempre eram proveitosas. Ficou surpreendido consigo mesmo e escreveu para Wesley, pedindo que o aconselhasse. Dizia ele: "Como prosseguirei no trabalho que Deus começara por meio de um instrumento tão rude como eu me julgo?" Wesley desceu logo a Bristol. Nelson diz a respeito: "Ele sentou-se à lareira na mesma atitude que.eu sonhara quatro meses antes e falou as mesmas palavras que eu sonhara que proferiria". Wesley achou tanto o pregador como a congregação de Bristol levantados sem qualquer ato ou conhecimento dele e, enquanto o contemplava e ouvia, sentiu que a questão da pregação de le igos fora reso lv ida para todo o s empre" (Fitchett, Vol. I, p. 237). Depois de João Nelson trabalhar nas congregações em

Bristol, Leeds, Manchester, Sheffeild e York, Wesley o convidou para entrar na itinerância. Aceitou. Viajou com Wesley e participou com ele das fadigas e dos perigos da vida itinerante. Fizeram uma viagem a Cornwall, e Nelson, descrevendo a experiência, disse:

"Wesley e eu nos deitamos no chão: ele teve minha capa para travesseiro e eu tive o livro "Burkett's Notes on lhe New Testament". Depois de ficar lá umas três semanas, uma manhã, cerca de três horas da madrugada, Wesley se virou e, descobrindo que eu estava acordado, me bateu no lado e disse: ‘Irmão Nelson, tenhamos bom ânimo, eu tenho ainda um lado inteiro, porque a pele esta esfolada só dum lado’. Geralmente pregamos nos campos, indo de um para outro lado, e era raro que alguém se lembrasse de convidar-nos para comer ou beber. Quando voltamos, Wesley parou, apeou do

cavalo e começou a apanhar amoras silvestres, dizendo: ‘Irmão Nelson, devemos ser gratos a Deus por haver muitas amoras silvestres, porque este é um dos melhores lugares para ficar com fome, mas o pior que já vi para achar comida. Pensa o povo que nos podemos viver da pregação?" (Townsend et al, Vol. I, p. 313-314). João Nelson pregava com poder e convicção. Não poupava

os vícios e pecados de ninguém: ricos e pobres eram igualmente denunciados. Sendo leigo, sofreu mais do que Wesley com os motins. Pregava, sustentando-se pelo seu trabalho de pedreiro. Passou necessidades algumas vezes e sofreu grandes perseguições. Bem cedo na sua carreira foi ilegalmente convocado para o serviço militar. No exercito não deixou de pregar, quando achava oportunidade. Nas suas pregações não poupava ninguém. Por causa disto um oficial profano o lançou na prisão e o ameaçou de castigo. Nelson, homem forte e robusto, sentiu tentação de reagir, como ele disse:

"Isso provocou uma grande tentação em mim, ao pensar que um homem mau e ignorante me tratasse desta maneira, quando eu bem podia facilmente atar as mãos e os pés dele. Descobri em mim os ossos do "homem velho", mas o Senhor levantou seu estandarte dentro de mim, senão eu teria quebrado seu pescoço e teria pisado seu corpo".

Depois de algum tempo no exército, por influência de

Lady Huntingdon conseguiu baixa do serviço militar (1744). Voltou para seu ofício de pedreiro e pregador leigo.

Havia poucos pregadores leigos perseguidos tanto como

Nelson. Alguns pensavam que se pudessem acabar com ele e João Wesley, o movimento metodista acabaria. Mas Nelson tinha jeito para enfrentar os motins. Conta-se que ele, um dia estava pregando em Manchester Cross, quando alguém jogou uma pedra que lhe cortou o rosto. Mas ele não deixou de pregar e cantar, embora com sangue a correr pelas faces. Em

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outra ocasião, em Nottingham, um sargento que chefiava um grupo amotinado, perseguindo-o, ficou tão impressionado com ele que não pode deixar de escutá-lo e acreditar que ele era um mensageiro de Deus. Com lágrimas nos olhos, lhe pediu perdão.

Uma vez foi lançado em prisão suja e nojenta. Diz a

respeito: "Minha alma ficou tão cheia do amor de Deus que a

prisão se tornou um paraíso para mim. Desejei que os meus inimigos fossem tão felizes como eu na prisão" (Townsend et al. Vol. I, p. 315). João Nelson trabalhou trinta e três anos, mostrando-se, no

seu comportamento, um cavalheiro inglês, no seu trato, magnanimidade e, no seu exemplo, heroísmo, bom senso, piedade e sacrifício.

Voltando da casa de um amigo, ficou doente e, em

poucas horas, morreu. Como disse Whitefield, não foi necessário que ele, que tinha falado pela causa de Cristo em vida, dissesse qualquer coisa na hora da morte.

b) João Haime. (1710-1784). É notável que alguns dos auxiliares de Wesley tivessem

sido soldados. Wesley apreciava os soldados metodistas, porque eram homens disciplinados, sabiam dar ordens, mas também sabiam obedecer às ordens recebidas.

Os pregadores leigos que foram soldados sabiam organizar e

dirigir o trabalho das sociedades. Também conheciam os incômodos, fadigas e privações da vida. Na itinerância podiam facilmente ajustar-se ao trabalho e sentir prazer nele.

Wesley elaborou quarenta e uma biografias de auxiliares e

mais de uma quarta parte deles haviam sido soldados. Isso mostra que apreciava esta classe de homens como seus ajudantes.

João Haime foi soldado intrépido. Serviu por algum

tempo na França, em 1743. Esteve numa batalha mais de sete horas sem perturbação. É notável que o grupo de soldados metodistas mostrou mais coragem e valentia do que qualquer outro em todo o exército. Haime não semente pregava aos soldados, mas também organizava sociedades entre eles. E, para ter mais tempo para pregar, ajustava alguém para substituí-lo enquanto pregava. Os capelães ficaram contrariados com ele, mas não deixou de evangelizar seus colegas. O comandante o apoiava no seu trabalho, pois sabia que os metodistas eram os seus melhores soldados.

Haime chegou a afirmar que teve três inimigos a

combater: o exército francês, o exército inglês e o exército do diabo. Havia mais seis soldados que o ajudavam e ainda um grupo de trezentos metodistas.

Na batalha de Fontenoy estes seis pregadores e trezentos

metodistas se salientaram na batalha pela sua coragem e bravura. Um dos pregadores, chamado Clementino, foi ferido no braço e recusou-se a deixar o campo, porque tinha mais um braço com que podia segurar a espada. Logo depois o segundo bravo foi quebrado por uma bala e ele exclamou: "Estou tão contente, como se estivesse à porta do paraíso". Um outro colega perdeu as duas pernas e morreu louvando a Deus. Mas Haime teve, antes de entrar na batalha, o pressentimento de que não morreria no conflito.

c) Cristofer Hopper (1722-1802). Cristofer Hopper foi o leigo que mais fez para

introduzir o Metodismo na Escócia. Na mocidade gostava

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de dançar, pescar, caçar, jogar baralho, assistir a rinha de galos e coisas semelhantes. Mas com tudo isso não era feliz. Sentia falta de alguma coisa que podia dar-lhe a paz.

João Wesley passou pela sua comunidade e as suas

pregações deixaram o povo dali perturbado. Hopper ficou muito perturbado e começou a orar, ler a Bíblia, assistir aos cultos na igreja e reformar a vida. Mas não alcançou a paz por que a sua alma suspirava. Logo depois da visita de Wesley passou por aquele lugar um pregador leigo, Reeves, e por meio deste homem Hopper descobriu a luz divina. Converteu-se e tudo então se mudou. Achou paz, harmonia e prazer na vida.

Wesley nomeou-o guia de classe. Além de dirigir a classe,

começou a exortar o povo. Seu irmão converteu-se e outros ficaram despertados. Começou a dirigir cultos de oração em diversos lugares e, antes de saber, já, era pregador. Tão contente ficou que disse:

"Eu dei ao meu adorável Salvador a minha alma, meu corpo e meus bens e lamentei não ter mais para lhe dar". Era bem instruído e trabalhava como diretor de uma escola.

Ia de vila em vila, de casa em casa, "cantando, orando e pregando", seguido por uma multidão de gente despertada e interessada na salvação. Pregava em qualquer lugar, na rua, nos teatros, nos lugares onde realizavam rinhas de galos.

Foi perseguido. Jogaram terra, ovos podres e pedras nele;

tocaram buzinas, repicaram sinos e fizeram barulho para atrapalhar as suas pregações.

Trabalhou muitos anos. Implantou o Metodismo no norte da

Inglaterra, na Irlanda e na Escócia. Nos lugares onde trabalhou, até hoje o nome dele é lembrado. Na ausência de Wesley, presidiu a Conferência de 1780. Homem culto, sabia adaptar

suas atitudes aos vários tipos psicológicos: para os valentões era um Boanerges; para os aflitos, um Barnabé. Não temia homem algum.

Centenas de pessoas foram convertidas por seu

ministério; pregou cinqüenta e sete anos, quarenta deles como itinerante. Nunca foi acusado de mau, comportamento. Caracterizavam-no a prudência, o zelo, a eficiência e a integridade. Morreu com oitenta anos de idade e Wesley o reconheceu como "um irmão fiel e um bom soldado de Jesus Cristo".

d) Roberto Carr Breckenburg (1758-1818). Roberto Carr Breckenbury nasceu em 1758, na herdade de

Panton House, em Lincolnshire. Desde a mocidade revelou sentimentos religiosos. Educou-se na Universidade de Cambridge e pretendia ser vigário na Igreja Anglicana. Foi homem rico e magistrado. Sua casa chamou-se Raithby Hall e freqüentemente Wesley e outros pregadores se hospedavam nela.

A primeira vez que Wesley menciona o nome de Breckenbury

é em 1776. "Fui com Breckenbury" diz ele, "a Horncastle e a

Spikby. Quando este senhor esteve em Cambridge, f icou convencido de pecado, ainda que sem qualquer instrumento exterior, e logo depois foi justificado. Estudou em Hull e educou-se com um dos nossos pregadores. Após uma conversa longa com o pregador ficou claramente convencido de que era seu dever identificar-se com o povo chamado metodista. No princípio vacilou a respeito da pregação de leigos, mas depois de pensar melhor as coisas, se decidiu a pregar e recebeu grande bênção, tendo tido a satisfação de ver os frutos do seu trabalho" (Stevens, Vol. III, 251).

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Dai em diante Wesley e ele ficaram bons amigos e o foram assim até o fim da vida. Breckenbury viajou com Wesley algumas vezes. Foi pregador leigo e, quando Wesley morreu, estava presente. Mas nunca entrou na itinerância: servil como suplente. Falava francês e visitou a França algumas vezes em prol do trabalho de evangelização daquele país. Construiu diversas capelas e escolas. Ajudou na construção de prédios e na obra missionária.

Por mais de quarenta anos trabalhou entre o povo

chamado metodista, hospedando os pregadores e as Conferências. A sua esposa, depois da morte dele, continuou a fazer a mesma coisa, pois era uma senhora muito educada e boa crente. Breckenbury morreu em 11 de agosto de 1818, em paz com Deus e com os homens.

e) Tomaz Watc h. Tomaz Walch se criou no catolicismo. Os seus pais lhe

ensinaram o "Pai Nosso" e a "Ave Maria" na sua língua natal e o salmo 100 em latim. Seu irmão, que se destinou ao sacerdócio, lhe ensinou a gramática latina.

Walch, rapaz sério, f icou com grande apreensão, quanto

à morte e à vida além-túmulo. Orava muito aos santos e aos anjos, mas pouco a Deus. Assistia à missa e confessava-se ao padre. Sentia o peso dos seus pecados e o padre o aconselhava a orar muito. Walch jejuava, orava e agonizava, procurando alívios dos seus pecados.

Quando tinha dezoito anos de idade, ouviu uma conversa

entre seu irmão e um amigo protestante. Nessa palestra consultaram a Bíblia e "Nelson's Feasts and Fact" da Igreja Anglicana. O rapaz ficou muito impressionado com a discussão. Chegando em casa, lá para uma hora da madrugada, pôs-se de joelhos e orou a Deus somente. Nunca mais prestou

culto aos santos e aos anjos, pois chegou a esta conclusão: "Porque só há um Deus e só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1Tm 2: 5). Resolveu, daí em diante, nunca mais deixar se levar a adorar anjos ou santos. Os pais ficaram inconsoláveis, porque não podiam dissuadi-lo da nova fé.

Sendo moço muito inteligente, sabia defender-se. Abjurou o

catolicismo e passou para a Igreja Anglicana. Mas não desprezou os católicos, antes tinha compaixão deles. Ficou livre de muitas idéias supersticiosas, mas não achou paz para sua alma; sentia ainda o peso dos seus pecados. Tinha dó dos seus patrícios católicos:

"Eu lhes dou testemunho de que tem zelo de Deus, porém não segundo o conhecimento. Muitos, dentre eles, amam a justiça, a misericórdia e a verdade; e, não obstante os seus erros no sentimento e, portanto, na prática, visto que, qual seja a majestade de Deus, tal será também a sua misericórdia, eles podem ser assim tratados. Mas eu confesso abertamente que agora, desde que Deus me iluminou a inteligência e me ensinou a verdade, tal como está em Jesus Cristo, se eu ainda permanecesse na Igreja de Roma, não poderia ter-me salvado”.

“A respeito de outros, nada digo; sei que todo

homem levará o seu próprio fardo e dará conta de si mesmo a Deus. Perante o mesmo Mestre tanto eles como eu permaneceremos de pé ou cairemos para sempre. Mas o amor e a compaixão me constrangem a fazer minhas preces perante Deus a favor deles. Todas as almas são tuas, ó Senhor Deus; e to queres que todos venham ao conhecimento da verdade e se salvem. Rogo-te, ó Deus eterno, mostra a tua misericórdia a essas pobres almas que por tanto tempo foram enganadas pelo deus deste mundo, o Papa e seu clero. Jesus, que amas as almas e que es o amigo dos pecadores, envia-lhes a tua luz e a

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tua verdade para guiá-los” (Fichett, Vol. I, p.298-299).

Nesta época os itinerantes evangélicos chegaram à sua cidade Newmarket. Ficou contente em recebê-los e tornou-se membro de sua Sociedade Metodista. Aqui recebeu mais luz, porque não somente descobriu os seus pecados, mas também o remédio em Cristo. Os pregadores metodistas não discutiam questões doutrinárias, antes proclamavam as doutrinas acerca da salvação pessoal. Foi neste meio que achou descanso para sua alma no perdão dos seus pecados.

Eis o seu testemunho:

"Tive a segurança divina de que Deus pelo amor de Cristo perdoou todos os meus pecados; de que o Espírito de Deus testemunhava com meu espírito de que eu era filho de Deus. Não pude deixar de chorar e derramar lágrimas de alegria e de amor" (Stevens, Vol. I, p. 290). Tornou-se um dos homens mais santos das Sociedades

Metodistas. Homem excepcionalmente inteligente, aprendeu a sua própria l íngua ir landesa, o latim, o grego e o hebraico. Tinha o costume de levantar-se às quatro horas da manhã para estudar o hebraico, a língua em que Deus conversou com os homens. Tornou-se mestre em hebraico e grego. Tinha memória excepcional. Podia dizer onde e quantas vezes certas palavras hebraicas se encontram no Velho Testamento. Sua memória servia-lhe de concordância da Bíblia. Estudou as Escrituras no original, com toda a dedicação da sua alma.

As seguintes palavras revelam o fervor do seu espírito:

"De bom grado descansarei em Ti! Tenho sede da vida divina. Peço o Espírito de iluminação. Lança minha alma sobre Jesus Cristo, o Deus da glória e Redentor do mundo. Desejo ser semelhante a Ele, como seu amigo, servo e discípulo!" (Stevens, Vol. I, p. 292).

Walch chegou a uma experiência que satisfazia a sua alma e podia dizer:

"Agora senti na verdade que a fé é a substância das coisas esperadas, a prova das coisas não vistas. Deus e as coisas do mundo invisível, dos quais eu apenas ouvia falar, agora me apareceram no seu verdadeiro aspecto como realidades substanciais. A fé me deu visão de Deus reconciliado e o Salvador todo sufic iente. O reino de Deus entrou em mim. Eu tirava água das fontes da salvação, andando e falando com o Deus Todo-Poderoso todo o dia, tudo o que eu cria ser a vontade dEle, isso fazia de todo o coração Eu sabia amar sem fingimento aos que me odiavam e orar pelos que me maltratavam e perseguiam. Os mandamentos de Deus eram o meu prazer" (Fitchett, Vol. I, p. 297).

Entrou na itinerância e tornou-se um dos pregadores mais zelosos e abnegados. O seu ministério pode ser comparado ao de São Francisco de Assis. Entrou no ministério com hesitação e com humildade. Orou então:

"Senhor Jesus, ponho a minha alma aos teus pés: quero ser enviado e dirigido por Ti. Tira o véu do mistério e mostra-me a verdade como está em Ti mesmo. Se Tu meu sol e a minha estrela, tanto de dia como de noite" (Stevens, vol. I, p. 292).

Dedicou-se ao ministério por nove anos. Andou a pé seis

léguas para pregar o seu primeiro sermão num celeiro. Pregou muitos dias em Limerick e os interessados não quiseram deixar o culto enquanto não recebessem uma benção. Passou pelas cidades de Lainster e Connaught como uma chama de fogo. Muitas pessoas converteram-se. Entre os interessados havia um católico romano que tinha ajuntado algum dinheiro para o padre dizer missa pela sua alma depois de morto. Trouxe o dinheiro para Walch e pediu-lhe que o aceitasse e ficasse responsável

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para tirar a sua alma do purgatório. Mas Walch respondeu-lhe: "Nenhum homem pode perdoar os seus pecados; o

dom de Deus não pode ser adquirido por dinheiro; somente o sangue de Cristo é que pode purif icar do pecado".

O católico ficou admirado, tocado e pediu que orasse por

ele. Ambos ajoelharam e Walch orou por ele na língua irlandesa. O que Patrício foi para conquistar o povo irlandês para o Cristianismo, foi Walch para disseminar o Metodismo entre esse povo.

Seu trabalho foi tão bem aceito pelo povo que os padres

ficaram alarmados e começaram a persegui-lo. Foi preso diversas vezes e seus adversários prometiam deixá-lo ir em paz, se prometesse nunca mais voltar para pregar. Mas não queria fazer tal promessa e assim fechava a porta a si mesmo. Por isso se tornou vítima dos motins em muitos lugares.

Na cidade de Cork foi maltratado. Mas deixou ali uma

influência que perdura até hoje. Os católicos chegaram a conhecê-lo bem. E apesar da oposição que os padres levantaram contra ele, muitas pessoas entre os católicos se converteram e tornaram-se metodistas.

Como era costume de Wesley transferir, uma vez ou

outra, seus auxiliares para Londres, Walch foi transferido para aquela cidade, onde trabalhou com bom êxito.

Pregou aos irlandeses de Moorfield na língua

irlandesa, com muito bom resultado. Era seu costume pregar duas vezes por dia em Londres. Pregou com ardor e animação e muitas almas se converteram.

Eis o testemunho de Wesley quanto a sua pregação: "onde aquele homem santo prega o Evangelho, quer em

inglês, quer em irlandês, sua palavra é mais aguda do que uma

espada de dois gumes. Não me lembro de ter conhecido algum outro homem que tenha ficado na terra tão poucos anos e ganho tantas almas, como ele".

f) Tomaz Olivers (1725-1799). Tomaz Olivers é um dos caracteres mais interessantes do

Metodismo. De grande pecador que era, tornou-se um grande santo. Podia discutir teologia e confundir os melhores teólogos do seu tempo. Escreveu alguns hinos que perdurarão enquanto a língua inglesa existir. Seu hino "Ao Deus de Abraão Louvai", é cantado também nas catedrais dos gentios e nas sinagogas dos judeus.

Tomaz Olivers nasceu na cidade de Treganon, em

Galles, em 1725. Ficou órfão de pai e mãe antes de alcançar 5 anos de idade. Seus parentes cuidaram dele até alcançar 18 anos, sem descuidar da sua educação. Aprendeu o catecismo, alguns hinos e salmos e fazia oração de manhã e de noite. Assistia aos cultos duas vezes nos domingos. Mas declara que, apesar de tudo isto, a "sua mente carnal" logo se manifestou na sua vida. Aprendeu a blasfemar e tornou-se perito em inventar novos termos e epítetos, de blasfêmia. Sem pensar ou querer, tomava o nome de Deus em vão. Antes de alcançar 15 anos, era conhecido e considerado “o menino mais perdido da comunidade".

Com 18 anos se tornou aprendiz de sapateiro, mas não

se aperfeiçoou nesse ofício por causa de seu desinteresse. Gostava de danças e passava noites inteiras na folia. Tornou-se tão pervertido e ruim que teve de fugir da sua cidade junto com alguns colegas da mesma qualidade. Apareceu na cidade de Shrewsburg, onde se divertiu com seus colegas, blasfemando e empregando termos torpes para perturbar o c ul to . Mas , mes mo ness a époc a , con fess ou que não tinha satisfação na vida e queria deixar

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os seus vícios. Amava, entretanto, mais os seus vícios do que a virtude. Estava na situação São Paulo: “quando queria fazer o bem, o mal estava presente".

Como tinha assistido aos cultos sem resultado, resolveu

experimentar os "sacramentos". Tomou emprestado o livro "A Week's Preparation". Leu-o de joelhos, assistiu ao culto, comungou e viveu retamente por alguns 15 dias. Devolveu o livro e entregou-se de novo à vida dissoluta. Ficou doente e quase morreu. Resolveu reformar a sua vida, porque reconheceu que se tivesse morrido, teria ido para o inferno. Mas todas as suas boas resoluções falhavam. Foi arrastado mais uma vez para o turbilhão do pecado. A sua situação na cidade tornou-se precária, porque devia a diversas pessoas. Em companhia de um rapaz do mesmo estofo, visitou diversas cidades, deixando dívidas em cada uma delas. Finalmente Olivers chegou à cidade de Bristol, onde passou por algumas experiências duras.

Arranjou pensão em casa dum metodista apóstata. Morava

na mesma casa um morávio, alto e forte, que gostava de discutir sobre a eleição e a predestinação. Olivers teve uma polêmica com ele sobre o assunto. Ambos ficaram zangados e queriam brigar, mas, como o morávio era mais forte, Olivers vingou-se lançando-lhe ao rosto todos os termos blasfemos e feios que sabia e isto foi o bastante. Todos da casa ficaram horrorizados com o seu vocabulário. O metodista ficou tão horrorizado com o rapaz que ameaçou expulsá-lo de casa.

O rapaz estava vencido pelo mal. Não tinha força

para libertar-se dos vícios. Estava possesso de demônios. Que havia de fazer? Uma noite encontrou uma multidão de gente na rua e perguntou o que era. Disseram-lhe que a multidão ia ouvir a pregação de Whitefield. Resolveu ir também, mas chegou tarde demais. Na noite seguinte chegou três horas antes do culto. Whitefield pregou sobre o

texto: "Ficaste sendo como um tição que se arrebata de incêndio" (Amós 4:11). Durante o sermão muitos ficaram abalados. Choraram. Olivers ficou confundido. O resultado foi que, quando Whitefield começou o sermão, Olivers era inimigo de Deus e o rapaz mais pervertido do mundo; mas, quando Whitefield o terminou, a sua vida já estava mudada para sempre. As palavras de Whitefield quebraram o coração duro do gaulês. As lágrimas corriam-lhe pelas faces e tinha vergonha de si mesmo. Seu coração odiava o mal que praticara. Chegou o dia em que odiava o mal e amava o bem de todo o coração. Que mudança! Foi um milagre a sua transformação. Não foi coisa gradual, mas instantânea; podia dizer com bastante razão: "Não é este um tição arrebatado do fogo?".

A família apóstata com que morava, ficou admirada com

a mudança que se deu na vida do moço. Ele mudou completamente seus costumes. Orava e chorava grande parte do tempo. Passava horas inteiras ajoelhado em oração. Orou tanto que ficou aleijado das duas pernas por algum tempo.

No primeiro domingo depois da sua conversão, assistiu ao

culto na catedral. Sobre isso ele escreveu: "No primeiro domingo depois do meu despertamento, fui à catedral às seis horas da manhã. Quando liam o "Te Deum", pareceu-me que não estava na terra, mas louvando a Deus perante o seu trono! Não há palavras que possam exprimir o gozo e o enlevo, o respeito e a reverência que eu sentia.”

O livro "Week's Preparation" e a Bíblia tornaram-se para

ele mais preciosos do que rubis. Lia-os com lágrimas, especialmente aquelas partes deles que falam do amor e dos sofrimentos de Cristo. Quanto a oração secreta, por algum tempo passou quase continuamente de joelhos (Stevens, Vol. III, p. 148).

A luta foi tremenda. O moço estava saindo do abismo

do pecado, procurando terra firme. Podia dizer como o

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salmista: "Esperei com paciência pelo Senhor; Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor por socorro. Também me tirou de uma cova de perdição, de um tremendal de lama e colocou os meus pés sobre uma rocha e firmou os meus passos. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor a nosso Deus". (Salmo 40 : 1-3).

Estava salvo e queria viver retamente, mas havia muita coisa

para corrigir, antes de sentir-se satisfeito consigo mesmo. Procurou salvar os seus colegas de vício. Queria filiar-se às Sociedades Metodistas, mas não queriam admiti- lo de pronto. Mudou para Bradford e passou dois anos nessa cidade e não deixou de assistir a todos os cultos metodistas, mesmo os cultos de pregações às cinco horas da manhã. Os membros da sociedade se convenceram da sua sinceridade e o admitiram como membro.

Agora a sua consciência se tornou muito sensível a

qualquer falta. Antes não tinha escrúpulos de praticar o mal, mas agora tinha horror de pensar num ato indigno de um cristão.

Começou a exortar nas sociedades e tornou-se ativo na

pregação do Evangelho. Mas sua consciência começou a incomodá-lo a respeito das suas dívidas, pois devia a todo o mundo. "Eu senti uma confusão, diz ele, uma tristeza, como se tivesse furtado todo o dinheiro que devia aos outros". Herdou algum dinheiro. Foi recebê-lo. Comprou um cavalo, pagou todos as dívidas que tinha na sua cidade natal. Todos ficaram admirados com a mudança que se realizara. Alguns julgaram que ele estava louco. Montou no seu cavalo e procurou de cidade em cidade todos aqueles a quem devia e pagou todas as suas dívidas.

Teve de vender até mesmo o cavalo, para satisfazer a

seus credores. Tinha agora uma consciência tranqüila e uma reputação que correspondia com a sua profissão. Conquistou a

confiança de todos e agora podia seguir a sua carreira desembaraçadamente.

Um homem desse tipo não podia escapar aos olhos de

Wesley. Este o nomeou logo para uma viagem aos mineiros de Cornwall. Como não tinha cavalo, foi a pé, levando um alforje com alguns livros e roupa no ombro. Quando chegou ao povo de Cornwall, um dos mineiros prontificou-se a comprar para ele um cavalo, se ele o desejasse. Aceitou a oferta e comprou um potro. Ficou com esse cavalo mais de vinte e cinco anos e viajou nele mais de 160.000 quilômetros.

Como os demais itinerantes daquela época, teve de

enfrentar os motins. Mas se mostrou corajoso e jeitoso para enfrentá-los. Ficou nas fileiras dos metodistas quarenta e cinco anos. Viajou pela Inglaterra, pela Irlanda e pela Escócia. Tomou parte nas discussões doutrinárias a respeito da predestinação e escreveu alguns livros que se tornaram célebres. Trabalhou na imprensa com Wesley. Faleceu a 7 de março de 1799 e foi enterrado no mesmo túmulo de Wesley, na City Road Capel de Londres.

g) Guilherme Carvosso (1750-1835). Um dos homens mais úteis entre os metodistas do seu tempo

foi Guilherme Carvosso. Por sessenta anos serviu como guia de classe numa Sociedade Metodista. Foi grande evangelista, mas não como pregador. Seu trabalho era pessoal. Tinha jeito -todo especial para lidar com os indivíduos. Estudou a Bíblia diligentemente e a sua própria experiência lhe serviu como o melhor comentário. Compreendeu perfeitamente a natureza da fé salvadora. Exemplificou, por sua vida, a doutrina da santificação. Foi, como disse são Paulo, "uma carta escrita e lida por todos os homens". Foi um dos guias de classe mais notáveis na história do Metodismo. Não quis ser outra coisa, porque julgou que não tinha dons de pregador. Enalteceu seu ofício como

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guia de classe. Na pequena vila de Mansehole, no condado de Cornwall, em

1750, nasceu de pais pobres Guilherme Carvosso. Trabalhou como lavrador e pescador na sua mocidade.

Participou das coisas mais praticadas naquela época: da

rinha de galo, lutas, jogo de baralho e profanação do dia do Senhor. Não tinha muita noção do Cristianismo. Converteu-se a Cristo por meio dos metodistas. Um dia sua irmã, que tinha ouvido a pregação dos metodistas numa vila distante, veio para contar em casa o que Cristo tinha feito por ela. Nessa visita ela orou com seus irmãos e os exortou a aceitarem a Cristo como seu Salvador. Ela persuadiu Guilherme a ir ouvir uma pregação dos metodistas numa casa particular. Ele foi. Ficou logo convencido do pecado. Passou algum tempo lutando com os seus vícios. Foi tentado a crer que o dia da graça para ele •já tinha passado, mas finalmente julgou que isso era tentação do diabo e resolveu lançar-se misericórdia de Deus. Assirm descreve ele a sua experiência:

"Estou resolvido, fique salvo ou perdido e enquanto puder respirar, a jamais cessar de pedir misericórdia. No momento em que tomei por fim esta resolução, Cristo se manifestou a mim e Deus perdoou os meus pecados e libertou a minha alma. O Espírito mesmo deu testemunho ao meu espírito de que era um filho de Deus" (Stevens, Vol. III, p. 219). A sua conversão se deu em 7 de maio de 1771 e ele

sempre se lembrava de comemorar esse dia da sua libertação. Filiou-se aos metodistas e tornou-se membro duma pequena classe, na sua vila. Entre os seus companheiros de classe estava Ricardo Wright, que se tornou pregador e missionário, quando Wesley o enviou para a América. O ambiente era muito favorável para seu desenvolvimento no conhecimento e na graça do Senhor Jesus. Logo começou a buscar "o amor perfeito que

lança fora o medo". Ele queria um coração santificado de acordo com os ensinos das Escrituras. Por muito tempo buscou essa experiência. Mas um dia descobriu que, como fora justificado pela fé, teria de ser santificado, da mesma maneira, pela fé somente. Ele descreve essa experiência assim:

"Então recebi o testemunho pleno do Espírito que o sangue de Jesus Cristo me purificou de todo o pecado".

A sua vida e a sua morte confirmaram a realidade desta

experiência. Poucos anos depois da sua conversão foi nomeado -guia de

classe. Continuou nessa qualidade por mais de sessenta anos. Mudou-se para seu sitio em Gluvior, onde passou o resto da sua vida. Era homem diligente em seus negócios. Alguns julgavam que morreria de fome no sitio, onde fixou a sua residência, porque a terra não era muito boa. Mas, pelo trabalho e pela boa administração, ganhou a vida e criou A família; no último quartel de vida deixou de trabalhar para dedicar-se exclusivamente ao serviço do Senhor. A sua propriedade dava suficiente para mantê-lo, enquanto trabalhava na seara do Senhor.

Os seus filhos tornaram-se crentes e o filho mais moço,

Benjamim, entrou no ministério, na Austrália. Construiu uma capela com o auxilio dos seus irmãos na fé. O trabalho prosperou e a sociedade cresceu tanto que foi necessário demolir a capela e construir outra maior.

Em 1814 houve grande avivamento no condado de

Cornwall. A pequena classe em Ponsanooth cresceu tanto que foi necessário construir uma igreja para acomodar mais de duzentos membros.

Guilherme Carvosso nessa época resolveu dedicar todo o

seu tempo ao serviço do Senhor. Passava semanas e, às vezes,

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meses fora de casa, visitando o povo de casa em casa. Vivia entre o povo. Visitava os doentes e os confortava nas últimas horas. Milhares de peregrinos por este mundo foram estimulados por ele e encorajados a buscar a perfeição crista. Pelas suas conversações conseguia mais numa hora do que conseguiriam as pregações numa vida inteira. Famílias inteiras foram conquistadas por ele. Tinha dons e jeito para conversar sobre religião; era isso, para ele, a coisa mais natural, ele vivia no capitulo oito da carta aos romanos. Em 1818, quando tinha quase sessenta anos, escreveu o seguinte:

"Estou há dez semanas em viagens entre as igrejas. Passei as primeiras semanas em Camborne. Estive ali com todas as classes. Visitei Wall e fui grandemente abençoado entre os amigos dali. Depois de passar alguns dias com bons amigos em Breage, fui a Manehole, onde me alegrei, vendo a grande obra de Deus manifestada na convicção e conversão de pecadores. Era meu intento passar só uma semana nesse lugar, porém a obra do Senhor se manifestou entre eles e meus amigos não me deixaram partir. Como é meu costume, eu ia pregando de casa em casa, e creio que Deus nunca me abençoou tanto em meus esforços como nessa ocasião Em uma casa encontrei uma pobre penitente, a cujo coração quebrantado o Senhor revelou a sua misericórdia caímos de joelhos para dar gloria. a Deus pelo que Ele fez. E um irmão dessa moça, que estava presente, caiu de joelhos e começou a orar, pedindo a misericórdia de Deus. Antes de eu sair da casa, o Senhor libertou também a sua alma. Falando disso em outra casa, uma senhora abalada na fé sentiu-se tocada. No dia seguinte, quando eu a vi, estava pronto a voltar e entregar-se de novo a Deus. 'Houve também uma obra' gloriosa entre as crianças na Escola Dominical. Só aqueles que têm testemunhado tal avivamento podem apreciá-lo" (Steven. Vol. III, p. 281-282).

Alguém o comparou a São João, porque, na sua velhice, Carvosso ia de casa em casa, levando nos lábios conselhos de humildade e amor. Todo o condado de Cornwall sentiu a sua influência. Foi guia de classe, ecônomo, depositário dirigente de cultos de oração, mas não quis ser pregador Foi homem santo, simples, inteligente e amoroso e, por onde andava, deixava saudades. O trabalho prosperou na zona onde ele morava. Quando fez sua Profissão de fé, havia só duas zonas e sete pregadores em quase todo Cornwall, mas, quando faleceu, havia treze zonas, vinte e cinco pregadores itinerantes, trezentos pregadores locais e dezenove mil membros nas Sociedades. Guilherme Carvosso morreu triunfante na fé aos oitenta e cinco anos de idade, dos quais sessenta e quatro andara com Deus. Foi leigo que viveu uma vida apostólica, exemplificando virtudes cristas. Homens, leigos como ele, são as garantias de triunfo do cristianismo no mundo.

Já mencionamos alguns leigos para mostrar que contribuíram

generosamente para o progresso do Metodismo no mundo. Ao lado dos leigos devemos mencionar os nomes de algumas mulheres que adornaram as Sociedades Metodistas. As mulheres não tinham permissão de pregar nas sociedades, naquela época, mas serviam na qualidade de guias de classe, dirigentes de cultos de oração, visitadoras aos doentes e professoras. Wesley julgava que havia mulheres que possuíam o dom de pregar. As páginas da história do Metodismo estão perfumadas pela piedade, devoção, sacrifício e amor das mulheres santas cujos nomes estão indelevelmente registradas nelas.

Já falamos em Susana Wesley, que pode ser chamada a mãe

do Metodismo. Foi a influência dela sobre seus filhos que traçou o rumo que tomaram. João Wesley, vendo que Deus se utilizava de mulheres na conversão de pecadores, perguntou a si mesmo: "Quem sou eu para resistir a Deus?" Desde os dias de Cristo e dos apóstolos tem havido as Marias, as Madalenas, as Joanas e as Susanas que têm assistido à Igreja com os seus bens, e

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com sua dedicação E a mesma coisa se deu nessa época, na história do Metodismo.

h) Maria Bosanquet (1739-1814). Maria Bosanquet nasceu de pais ricos, em 1739. Desde a

meninice mostrou sentimentos religiosos. Ela perguntava a si mesma: "Que posso eu ser? Sei eu que sou pecadora e que tenho fé em Cristo?" Assim a sua mente logo se preocupou com a religião e pode responder a sua pergunta com alegria:

"Eu sei, eu confio em Jesus, Deus me considera justa pelo que tem feito por mim e perdoou os meus pecados".

Desde a mocidade teve uma idéia clara do Cristianismo. A sua família gostava da alta sociedade e tinha de

participar das etiquetas da sociedade de Bath e Londres. Ela, porém, não tinha prazer nessas coisas. Um dia ouviu uma conversa entre sua irmã e uma empregada metodista, o que a confirmou na fé. O que ela ouviu nessa conversa determinou a sua carreira na vida.

Tinha um namorado rico e de alta posição na sociedade. Os pais

queriam que ela o aceitasse, mas o caráter dele era o de um marido que para ela nem lhe proporcionaria vida cristã ideal. Nessa época chegou a conhecer algumas senhoras metodistas inteligentes de Londres. O contacto que teve com essas mulheres a levou a abandonar a vida social e frívola para dedicar-se inteiramente a Cristo. Depois de tomar essa resolução, experimentou a presença doce de Jesus e queria ser santa e dedicada ao seu adorável Salvador. Por causa da sua fé e da sua concepção da vida cristã os pais ficaram contrariados com ela. O pai pediu-lhe que nunca falasse com seus irmãos sobre religião, ela porém, não quis prometer-lhe. Tendo atingido já a maioridade, o pai lhe deu a parte que lhe tocaria por herança a ela, e com pesar dos seus pais, retirou-se do lar.

Mudou-se para uma casa pouco distante. Ajustou uma

empregada e resolveu cuidar de algumas viúvas pobres e desamparadas. Identificou-se com os metodistas e dedicou-se ao serviço dos órfãos e dos pobres, confirmando a doutrina da santificação e a doutrina da justificação pela fé que ela professava.

Tendo uma propriedade desocupada em Laytonstone,

mudou-se para lá e abriu uma escola para os órfãos desamparados. Tornou-se aquele lugar um ponto de pregação dos itinerantes metodistas. Logo foi organizada uma sociedade de vinte e cinco membros e os pregadores sempre achavam ali um lugar de repouso. Wesley freqüentemente visitava Laytonstone. Em 1767, quando fazia ali uma visita, disse:

"Oh! que casa de Deus se encontra aqui! Não somente pela decência e ordem, mas também pela vida e pelo poder da re lig ião. Temo que haja poucas casas ta is no re ino da Inglaterra".

Mais tarde ela comprou uma grande propriedade em

Cross Hall, em Yorkshire, e transferiu a sua instituição para lá. O trabalho aumentou e havia tantas pessoas que não havia lugar para acomodá-las. Wesley visitava Cross Hall como visitava Laytonstone e disse que seria modelo para o país.

Maria Bonsanquet entrou então na fase mais ativa e

frutífera da sua vida. Era eloqüente, tornou-se guia de classe e diretora de uma grande instituição. As suas auxiliares foram miss Grosby e miss Tripp. Ela e suas auxiliares seguiam os conselhos de Wesley. Ele não lhe condenou o costume de pregar, considerando que tinha ela uma vocação toda especial. Ela sempre mostrou bom senso em todo o seu trabalho.

João Fletcher chegou a conhecê-la muitos anos antes de

casar-se com ela. Mas não manifestou sua afeição por ela,

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porque não queria prejudicar o seu trabalho. Houve alterações nos planos dela; era chegado o dia para Fletcher externar-lhe os seus sentimentos. Foi correspondido. Casaram em novembro de 1781.

Foram muito felizes na sua vida conjugal. Durante os

quatro anos de casados abriram novos pontos de pregação na paróquia de Madeley. Empregaram todas as suas economias no socorro dos pobres. A influência do casal estendeu-se por toda a paróquia e por outros lugares que visitaram.

Depois da morte do seu marido, ela continuou o trabalho em

Madeley por mais vinte e nove anos. Sua casa foi um centro de grande atividade espiritual. Não somente hospedava os pregadores, mas ela mesma dirigia cultos. As suas palestras eram edificantes e bem freqüentadas. Todos os anos celebrava o aniversário do seu casamento. Em 12 de novembro de 1809, cinco anos antes da sua morte, ela disse:

"Hoje faz vinte e oito anos que nesta mesma hora, dei minha mão e meu coração a João Guilherme de La Fletcher. Um período de proveito e de felicidade! Neste momento sinto uma afeição mais terna por ele do que naquela ocasião e pela fé coloco agora a minha mão sobre a mão dele" (Stevens, Vol. III, p. 226). Faleceu a 9 de dezembro de 1814, deixando uma influência

ainda hoje sensível nos arraiais metodistas. i) Ann Cutler. Ann Cutler foi notável pelo seu poder na oração. Trabalhou

no distrito de Beadford, sob a aprovação de Wesley. Era uma moça prudente, dócil, diligente e religiosa. Dedicou a sua vida inteiramente a Deus. Se fosse da Igreja Romana, teria sido canonizada pela sua piedade. Deixou de pensar em casamento já no princípio da vida, para dedicar-se ao trabalho da Igreja.

É o seguinte o pacto que ela fez com Deus:

“Sou tua, bendito Jesus, inteiramente tua! Não quero mais ninguém, quero só a ti. Dá-me força para evitar toda a aparência do mal. Conserva puro o meu olhar; as minhas palavras puras; uma virgem sempre casta para ti. Eu to prometo, com os joelhos em terra; se quiseres ser meu, eu quero ser tua e não reconhecer mais ninguém além de ti. Amém" (Stevens, Vol. III, p. 116). Raras vezes falou em público; dedicou-se à oração em

público e em particular. Levantava-se às quatro horas para orar por si mesma, pelas sociedades, pelos pastores e pela Igreja.

Bramwell, que publicou uma obra a seu respeito, disse:

"Ela veio visitar-nos pm Drewsbury, onde a vida religiosa tinha sido e ainda era muito fraca. Dessa zona diversas pessoas se prejudicaram por causa de divisões. Ann Cutler reuniu-se conosco em oração contínua a Deus, pedindo um avivamento da sua obra. Diversas pessoas, que tinham preconceitos, ficaram comovidas e em agonia, clamaram por livramento. O trabalho continuou e mais de sessenta pessoas da cidade de Drewsbury foram santificadas e andaram naquela liberdade. Nossos ágapes de amor ficavam repletos e pessoas de todas as regiões próximas nos visitavam. Grande número encontrou o perdão e alcançou o amor perfeito. O trabalho estendeu-se até Gleetland.”

“Ann Cutler foi a Bristol e foi ali igualmente abençoada. Visitou a zona de Leeds e lá também houve despertamento. O Senhor abençoou o trabalho dela, e começou um grande avivamento, que se estendeu por toda a redondeza. Freqüentemente dez, vinte ou mais pessoas eram salvas em uma reunião. “

“Ela e mais algumas pessoas foram igualmente

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abençoadas nas regiões de Bradford e Otley. Aonde ela ia, o poder maravilhoso de Deus se manifestava como resultado das suas orações. Isso foi prova para nós de como Deus usa meios simples e instrumentos pequenos para realizar a sua obra gloriosa" (Stevens, Vol. III, p. 115). j) Hester Ann Rodgers As "Memórias" de Ann Rodgers têm exercido grande

influência na Igreja Metodista, especialmente entre as pessoas do sexo feminino. Era esposa de um dos pregadores itinerantes. Viajou e trabalhou na Inglaterra e na Irlanda. A obra de evangelização de Hester Ann Rodgers foi tão abundante e frutífera como a do seu marido. A sua experiência religiosa caracteriza a dos metodistas mais espirituais. Professou a experiência da santificação ou do amor perfeito. Mantinha correspondência com João Wesley e João Fletcher, o santo do Metodismo. Uma vez, estando em sua companhia, ouvindo-a expressar-se sobre esta doutrina e tomando-a pela mão, este lhe disse: "Glória a Deus, minha irmã, porque dá, ainda um nobre testemunho do Senhor. Está arrependida de ter professado a salvação?" Ela respondeu: "Bendito seja Deus, não me arrependo". Ao retirar-se, da sua companhia, tomando-a pela mão e erguendo os olhos para o céu, disse: "O Todo Poderoso a abençoe". "Pareceu-me", ela escreve, "que Deus naquele mesmo instante respondeu e deixou cair na minha alma um raio de glória! Fiquei cheia de humildade e amor; sim, minha, alma toda transbordou duma doçura inexplicável”. (Stevens, Vol. III, p. 102). Tinha, por natureza, um gênio bom e sob a influência do Espírito de Deus, tornou-se toda bondade.

Era guia de três classes e, por isso, tinha de realizar três

reuniões por semana. Às vezes pregava nessas ocasiões com grande proveito. Os resultados eram imediatos, Deus derramava seu Espírito sobre o povo.

Nos últimos anos de vida de João Wesley ela morava com

sua família em City Road Chapel e generosamente cuidava de Wesley e sua casa.

Morreu em 1794, ainda jovem, com trinta e nove anos de

idade. Sua morte foi comovente: depois de dar à luz seu quinto filho, faleceu. Seus últimos momentos e sua despedida de amigos e do esposo foram tocantes Morreu triunfante na fé. Uma das melhores apologias que Wesley apresentou de sua obra foi "os metodistas morrem bem'".

k) Elizabeth Walbridge —“A Filha do Leiteiro". Mencionamos Elizabeth Walbridge, não porque tenha

ocupado um lugar de destaque no mundo intelectual ou social, mas porque foi uma das pequeninas e obscuras filhas de Deus que souberam honrar seu lugar como empregada, /como filha obediente, como cristã que conhecia a Deus e como ganhadora de almas para Cristo.

Um capelão, impedido de embarcar, pregou um domingo

numa capela. A moça, para mostrar seu vestido novo e para satisfazer a sua curiosidade, pediu licença a patroa para assistir ao culto. Foi-se cheia de si com o seu vestido novo. Um vestido luxuoso e enfeitado demais para sua posição.

O pregador tornou para seu texto I Pedro 5:5 "Cingi-vos

todos de humildade'”. Ela ficou envergonhada consigo mesma, ouvindo o pregador comparar o vestuário do corpo com o da alma.

"Eu tremia enquanto ele falava, disse ela, e ao mesmo tempo sentia profunda atração às palavras que ele dizia. Ele me abriu a riqueza da graça divina, mostrando-me o processo pelo qual Deus salva o pecador. Fiquei impressionada com aquilo que eu tinha feito durante todos

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os dias de minha vida. Ele lembrou o exemplo humilde de Cristo meigo e manso; então senti quão pretensiosa era a minha vaidade e meu orgulho. Ele representou Cristo como sabedoria e eu sentia a minha ignorância; ele levantou Cristo Como justiça e eu estava convicta da minha culpa; ele demonstrou ser Cristo a satisfação e eu via a minha corrupção; ele o proclamava como redenção e eu me sentia escrava do pecado, presa de satanás. Daí concluiu ele com um ardente apelo aos pecadores, exortando-os a fugirem da ira vindoura, abandonando o amor aos adornos exteriores, revestindo-se de Jesus Cristo e adornando-se com a verdadeira humildade”.

“Daquela hora em diante não mais deixei de sentir o calor de minha alma e o perigo de um coração pecaminoso. Dentro de mim louvava a Deus pelo discurso, embora tivesse a minha mente num estado de grande confusão" (Richmond, p. 99-100). A experiência desta moça revela o espírito do

Metodismo que penetrava todas as camadas da sociedade e ganhava almas para Cristo. Essa moça ocupava uma posição humilde na sociedade, mas possuía um coração cheio de vaidade feminina. Ouvindo um sermão de um pregador metodista, caiu em si, arrependeu-se das suas vaidades e tornou-se crente fervorosa e exemplar. Cuidou de levar e de fato levou seus pais e seus irmãos a Cristo. Morreu triunfante na fé. Um de seus irmãos tornou-se pregador local e serviu nesse trabalho por quarenta anos, na ilha de Wight. Ao lado da casa em que ela morou fica uma capela metodista.

O folheto "A Filha do Leiteiro" — escrito pelo rev. Leigh

Richmond, narrando a sua experiência, e alguns fatos na sua vida tem contribuído para converter e confortar milhares de pessoas. Já foi traduzido para mais de trinta línguas.

2) Alguns ajudantes clérigos. Além dos ajudantes leigos, havia alguns ajudantes

vindos do clero da Igreja Anglicana. Mas seu número era pequeno.

Na ocasião da primeira Conferência Metodista que se

realizou em 25 de junho de 1744, em Foundry, Londres, havia quatro clérigos, não incluindo João e Carlos Wesley. Estes quatro eram João Hoges, Henrique Piers, Samuel Taylor e João Meriton, todos ministros da Igreja Anglicana e ordenados.

Além deles havia mais alguns que eram simpáticos ao

movimento metodista e cooperavam com Wesley nas suas paróquias. Entre esses pode mencionar-se Benjamin Colley, Vinent Perronet, João Richardson, Beard Dickinson, James Creighton, Tomaz Vassey, Guilherme Grimshaw, João Fletcher e Tomaz Coke. Os três últimos prestaram serviços especiais a Wesley e ao movimento metodista.

a) Guilherme Grimshaw (1708-1763). Guilherme Grimshaw foi nomeado vigário anglicano em

Haworth, em Yorkshire (1742). Abriu sua igreja aos metodistas. Grimshaw foi nomeado superintendente da região de Haworth, tendo Nelson e Schofield como colegas. Alguns do clero procuraram persuadir ao bispo a não permitir que Grimshaw trabalhasse com os metodistas, mas sem resultado. Fora bom pregador e seus sermões produziam bom resultado. Era rigoroso na disciplina em sua paróquia e queria obrigar seus paroquianos a assistir aos cultos. Mas era homem caridoso e sempre se interessava pelos pobres. Esforçado, frugal e devotado, não deixou de ser bom cristão e bom pastor. Pregava nas suas viagens como itinerante, às vezes mais de trinta sermões por semana. Assistia às Conferências de três em três anos, quando eram realizadas em Leeds. Mostrava prazer especial

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em hospedar os pregadores metodistas. Sendo-lhe vedado convidar os pregadores metodistas para ocuparem o seu púlpito, construiu, perto da sua igreja, uma capela onde podiam pregar.

b) João Fletcher (Jean Guilherme de la Fletcher, 1729-1785). João Fletcher nasceu em Nyon, na Suíça, em 1729. Era

de uma família nobre de Savóia. Teve boa instrução. Estudou para o ministério, mas, por causa da teologia calvinista, não quis entrar no ministério da Suíça. Resolveu seguir a carreira de militar. Foi à Portugal, onde recebeu comissão de capitão para o Brasil, mas, por causa dum acidente, perdeu o navio e não pode seguir viagem.

Desapontado, resolveu ir à Holanda, onde queria entrar

no serviço militar, porém a guerra cessou e não conseguiu serviço militar. Foi para a Inglaterra, onde conseguiu uma colocação como preceptor numa família inglesa. Ali teve boas relações com a família Hill e aprendeu a língua inglesa.

Homem religioso, ouviu falar nos metodistas e quis

saber quem eram eles. Disseram-lhe que os metodistas eram pessoas que oravam dia e noite. "Então", disse, "hei de achá-los, se estiverem sobre a face da terra". Encontrou os metodistas e ficou gostando deles. Ordenou-se na Igreja Anglicana e logo se ofereceu para ajudar a Wesley no seu trabalho. Aceitou a sua nomeação para a paróquia anglicana de Madeley, onde passou o resto da sua vida. Encontrou o povo rude e quase sem religião e deixou a paróquia cheia de gente cristã.

Ajudou a João Wesley na administração dos

sacramentos, na evangelização e na defesa das doutrinas, especialmente na obra que escreveu chamada "Flethcher's Checks". Como polemista, mostrou tolerância e espírito cristão, mas era um valoroso defensor da verdade.

Casou-se já velho e, depois de quatro anos de felicidade no seu lar, morreu de tuberculose. O nome de Fletcher é conhecido entre todos os metodistas. Por algum tempo serviu como reitor honorário do Seminário de Treveca, que estava sob a administração de Lady Huntingdon.

c) Tomaz Coke (1747-1814). Tomaz Coke nasceu em Breco, País de Gaules, em

1747, de pais piedosos, bem colocados na sociedade. Tomaz era o único filho e recebeu boa educação na Universidade de Oxford. Estudou direito, mas depois resolveu entrar no ministério. Aceitou ordenação e nomeando para a paróquia de South Petherton, Somersetshire. Ficou ali por algum tempo, mas por causa do seu entusiasmo e de suas pregações evangélicas, foi privado de paróquia. Como já conhecia os metodistas por intermédio de um leigo, procurou Wesley para receber orientação. Wesley o recebeu como ajudante ou auxiliar.

O homem de que Wesley precisava aparecia agora em

cena, enviado por Deus. Sobre este ponto escreveu Wesley: "Aqui achei um clérigo, o dr. Coke, recente

cavalheiro, deputado do Colégio de Jesus, de Oxford, que viajou vinte milhas para conversar comigo. Conversei muito com ele e começou então entre nós uma comunhão que espero jamais acabará" (Townsend et al. Vol. I, p. 320). Como já falamos de Tomaz Coke e ainda teremos ocasião

de falar mais, nada mais diremos agora sobre sua pessoa. 18. As oposições. O adversário do bem é o mal. Não se pode implantar o

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bem no mundo, sem se sofrer a oposição do mal. Quando Jesus enviou seus discípulos para evangelizar o povo, disse: "Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos". Desde os tempos apostólicos até agora o Evangelho vem sofrendo oposição. O movimento metodista não foi exceção a essa regra. O clero, os políticos e o povo em geral alegavam outros motivos por levantarem oposição a Wesley e a seus auxiliares, porém no fundo havia só um motivo verdadeiro — coração mau, cheio de incredulidade e de impiedade.

As verdades que João Wesley e seus ajudantes

pregavam, sendo aceitas e postas em prática, forçosamente provocariam alterações e mudanças radicais nos costumes do povo. Eis ai a causa das oposições!

A revolução moral, na Inglaterra, sofreu oposição durante

muitos anos. Homens, como João Goodwin, João Milton e Locke, lutaram pela liberdade moral e religiosa, mas não conseguiram quebrar a grande oposição que sofriam. George Whitefield, os irmãos Wesley e seus ajudantes conseguiram quebrar a força dos motins e obrigar aos magistrados a cumprir o seu dever, defendendo os direitos da imprensa e do pensamento. Houve mais tolerância e liberdade entre o povo inglês depois do movimento metodista.

1. A oposição do clero. O clero, logo no princípio do movimento metodista,

levantou oposição a João Wesley, alegando que ele não tinha direito de entrar nas paróquias (ou seja, numa área determinada como um bairro ou uma vila ou até mesmo em uma cidade que eram parte do território, da área geográfica que pertencia à paróquia) dos outros e pregar. O bispo de Bristol, José Butler, autor da analogia, disse a Wesley:

"O senhor não tem o direito de entrar aqui; eu o aconselho a retirar-se".

Além de não poder pregar no púlpito da Igreja, não podia pregar em parte alguma do território que pertencia a paróquia. Mas Wesley se defendeu, dizendo que por ser pastor anglicano tinha comissão (autoridade e autorização) para pregar em qualquer parte onde existia a Igreja Anglicana.

Qualquer coisa de que se podiam lançar mão era

aproveitada para silenciá-lo. Foi acusado de ser jesuíta e de estar l igado ao catolicismo romano. Essas acusações fizeram surgir muita literatura anti-metodista na Inglaterra.

Carlos Wesley foi acusado de deslealdade, porque usava

nas suas orações a frase: "Faze voltar ao lar os exilados". Carlos Wesley pedia que Deus trouxesse os pecadores para casa celestial, mas seus adversários queriam acusá-lo de sedição, afirmando que ele pedia que o rei deposto e exilado voltasse para o trono da Inglaterra.

Veja-se como uma mente pervertida, perverte tudo! E acusou-

se João Wesley de ter recebido dinheiro de um político para fins subversivos. Tudo que se podia inventar foi levantado contra ele e seus auxiliares. Quando nos lembramos da mentalidade do povo daquela época e de como estava presa a esportes cruéis, não nos admira que se sentisse prazer em incomodar os pregadores, acusando-os de traição.

Wesley tinha vantagem sobre os seus pregadores leigos. Foi

bem educado numa das universidades do pais, era ordenado e comissionado da Igre ja Anglicana para pregar; mas os seus pregadores não eram portadores de títulos, nem eram licenciados pelo governo, pelo que corriam muito mais perigo de serem perseguidos pelo c lero do que ele. O clero podia dizer ao pregador leigo:

"Você não tem licença para fazer pregações, tem de entrar no serviço militar".

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E diversos pregadores leigos foram arrastados para o serviço militar. João Nelson foi um dos que sofreram esta grande injustiça. Tornou-se crime estar ligado aos metodistas.

Já tratamos do caso de seis estudantes metodistas que

foram expulsos da Universidade de Oxford simplesmente porque tinham "idéias metodistas e se arrogaram o direito de orar, ler e explicar as Escrituras". E houve um caso, o de Eduardo Greenfield, separado da esposa e da família porque abandonara os vícios de jogar, beber e blasfemar contra o nome de Deus e se tornar metodista. João Wesley, que contou este caso, disse: "Eu perguntei a um cavalheiro, em S. Just, qual era a objeção que fazia contra Eduardo Greenfield. Ele disse: "Ora, o homem é bom em outras coisas, mas a sua imprudência os cavalheiros não a podem suportar, Ora, senhor, ele disse que sabe que seus pecados foram perdoados" (Townsend et Al, Vol. I, p. 325).

Não somente o clero instigava motins para perseguir os

metodistas; alguns vigários chefiaram motins e deram dinheiro à certas pessoas para incomodar aos metodistas. Por causa disso até Wesley e alguns outros vigários amigos como Guilherme Grimshaw, foram cruelmente tratados.

O clero queria fazer calar a Wesley e seus auxiliares.

Os vigários fecharam as portas das igrejas contra eles e os bispos descarregaram o seu ódio sobre os metodistas. "O clero", como diz Fichett, "muitas vezes inspirou e às vezes publicamente dirigiu motins contra eles. Era-lhes proibido pregar nas igrejas e então foram tratados como criminosos por pregarem ao ar livre. Wesley disse: "Eles nos empurraram para o lamaçal e depois queriam perseguir-nos porque ficamos sujos”.

2. A oposição dos dissidentes. Pode-se compreender porque motivo o clero da Igreja

Anglicana perseguia os metodistas, mas é difícil compreender por que causa o clero das igrejas dissidentes (separadas da Igreja Anglicana) os perseguiam. É que as igrejas congregacional e a presbiteriana estavam, naquela época, seriamente contaminadas de unitarismo e tinham vida espiritual enfraquecida. Chegaram ao ponto de excluir da comunhão os membros que assistissem às pregações dos metodistas. Não praticaram v iolência contra os metodistas, porém cortaram a comunhão com eles.

3. Oposições dos motins. O vulgo estava pronto para tudo e o clero, desejando,

podia instigá-lo contra os metodistas com facilidade. Isto realmente seria um divertimento para o povo. Wesley e seus ajudantes tiveram de enfrentá-lo.

Nos primeiros anos do movimento metodista Wesley

sofreu muito com os motins. Em toda parte estava sujeito as perturbações populares. O fato de pregar ao ar livre era uma novidade que atraía a atenção do povo. Em muitos lugares as autoridades não se importavam com os amotinadores: o pregador não tinha a quem pedir proteção.

Wesley diversas vezes correu o perigo de perder a vida.

Alguns metodistas realmente perderam a vida nos motins, senão na hora, mais tarde, em conseqüência de ferimentos recebidos.

Lendo o Diário de Wesley, encontramos muitas referências

aos motins e à maneira como os enfrentou. Poderíamos citar páginas e páginas, a respeito, mas daremos só um trecho.

"Em 12 de fevereiro de 1748. Depois de pregar ao

meio dia, em Oakhill, fui a Shepton e ali encontrei o povo sob uma consternação esquisita. Um amotinador, disseram-me, fora contratado, preparado e meio embriagado, para

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que fizesse toda sorte de mal. Comecei a pregar entre quatro e cinco horas da tarde; ninguém perturbou o culto; tivemos uma boa oportunidade e o coração de muitos ficou confortado. Estava eu pensando no que fim que teria levado o amotinador, quando fomos informados de que, por engano, tinha ido para outra parte da cidade, onde julgava que eu havia de apear (como geralmente faço), na casa de Guilherme Stone, e que para lá havia convocado todos por meio de um tambor, para se encontrarem comigo, quando eu viesse. Mas Swindells, ignorando isso, levou-me para o outro lado da cidade e o amotinador não descobriu seu engano senão depois de eu haver terminado meu sermão; portanto, foi frustrado no seu desígnio e ele ficou desapontado”.

“Contudo, o amotinador acompanhou-nos do lugar do

culto até a casa de Guilherme Stone, atirando-nos terra, pedras e torrões em abundância, mas não nos feriu: somente Swindells apanhou um pouco de lama no paletó e eu um pouco no chapéu.”

“Depois de entrarmos na casa de Stone, os homens

começaram a jogar pedras grandes, a fim de quebrar a porta; mas, vendo que era difícil quebrá-la, deixaram de jogar pedras. Quebraram todas as telhas sobre a porta e depois jogaram uma grande quantidade de pedras pelas janelas. Um dos chefes, no seu zelo, entrou conosco na casa e ficou ali retido. Não gostou disso. Queria sair, mas não podia; por isso ficou perto de mim, julgando-se, desse modo, mais protegido. Eu subi dois degraus da escada, onde se ficava mais protegido e o homem ficou atrás de mim. Uma pedra bateu na testa dele e o sangue começou a jorrar. Ele gritou: "Oh, senhor, havemos de morrer hoje à noite? Que farei? Que farei? Que farei?" Eu disse: "Ore a Deus. Eie pode livrá-lo do perigo". Aceitou meu conselho e começou a orar como

nunca o fizera na vida.” “Eu e Swindels também começamos a orar.

Depois eu lhe disse: "Nós não devemos ficar aqui; devemos descer imediatamente". Ele disse: "Senhor, não podemos descer, não está vendo as pedras voando por toda parte?". Passei pela sala e desci a escada e nenhuma pedra foi lançada até chegarmos em baixo. Os amotinadores já tinham aberto a porta. Quando entramos na sala em baixo eles arrombavam uma porta e nos saímos por outra. Ninguém nos viu, ainda que estivéssemos não mais de cinco metros afastados deles.”

Encheram a casa de uma vez e falavam em incendiá-la,

mas, lembrando um deles que sua casa ficava contígua, desistiram disso. Ouvindo alguém gritar "já foram para outra parte da cidade", julguei que seria bom ir mesmo; portanto, fomos para o outro lado da cidade, onde Abrão Jenkins nos esperava e se ofereceu para nos guiar até Oakhill”.

“Enquanto íamos passando por Shepton-Lane,

sendo já escuro, Abrão Jenkins gritou: "Desce, desce do barranco". Fiz o que ele disse, mas, sendo o barranco alto, desci de repente: eu e meu cavalo viemos rolando um sobre o outro, mas não ficamos machucados. Em menos duma hora chegamos à Oakhill e no dia seguinte, de manhã, a Bristol" (Wesley's Journal, Vol. II, p. 45-47). Wesley registrou no seu Diário muitas cenas de violência

praticadas pelos amotinadores, como já notamos uma em que ele fala de si mesmo. Queremos registrar aqui também uma cena de violência em que fala de seu amigo e ajudante, João Nelson (1747).

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"Aqui João Nelson me encontrou. Quinta, sexta e sábado ele pregou em Acomb e seus arredores. Na sexta-feira da Paixão pregou em Heworth-Moor a um auditório grande e atencioso. No dia da Páscoa, às 8 horas, lá pregou outra vez a uma congregação reverente. Já quase no fim do seu discurso, um amotinador chegou de York, contratado por alguns sujeitos. Ficaram quietos até que um católico eminente gritou: "Por que não quebra a cabeça desse cachorro?". Logo começaram a jogar nele tudo de que podiam lançar mão. Por isso a congregação se dispersou. João Nelson falou mais algumas palavras e saiu na direção de York. Os homens o seguiram, jogando contra ele tijolos e pedras. Um dos quais bateu-lhe no ombro e nas costas e, antes de chegar à cidade, um pedaço de tijolo lhe bateu na nuca e ele caiu ao chão. Quando voltou a si, dois homens de Acomb o levantaram e levaram. O sujeito prosseguiu, jogando pedras até chegar à porta da cidade, perto da qual morava um negociante honesto que pegou no braço de João Nelson e o levou para dentro de sua casa. Alguns dos amotinadores juraram que quebrariam as janelas da casa se o dono não no soltasse. Mas ele lhes respondeu resolutamente: "Não o farei e, se alguém tocar na minha casa, será ferido. Ele há de lembrar-se disso até ao fim da vida". Ouvindo isso, julgaram que era mais prudente retirar-se. Depois de João Nelson ter recebido tratamento médico, continuou viagem até Acomb. Ás cinco horas da tarde saiu para pregar e começou a cantar um hino. Antes de cantar o hino, o mesmo sujeito chegou de York num carro com muitos outros. Jogaram pedras e torrões com tanta violência que a congregação se espalhou em poucos minutos. João Nelson passou adiante até chegar a uma praça, em frente da casa de Tomaz Sleton. Dois homens o seguiam apressados. Um jurou que havia de tirar-lhe a vida. E parecia que ia mesmo matá-lo. Bateu-lhe diversas vezes, com força na cabeça e no peito e

finalmente o jogou no chão e subiu sobre seu corpo, pisando e deixando como se estivesse morto. Mas, pela misericórdia de Deus, levado para casa, voltou logo a si e, depois de uma noite de descanso, pode andar a cavalo no dia seguinte, até Osmotherey " (Wesley's Journal, vol. II, p. 15-16). Estes dois casos ilustram os milhares que se davam na

Inglaterra no tempo de Wesley. O método adotado por Wesley diante dos motins era

entrar no meio do povo, fitando os olhos dos chefes, e perguntar: "Que fiz eu contra o senhor? Contra o senhor? Contra o senhor?". Não mostrava medo. Muitas vezes conseguia dominar os amotinados desse modo, transformando sua reunião numa reunião devocional, com algumas conversações.

4. Oposições doutrinárias. Havia, no movimento metodista, desde o princípio,

elementos divergentes que haviam de manifestar-se no correr do tempo. Quanto à vida moral e espiritual do movimento metodista havia unidade; porém, quanto à doutrina, havia divisão, ou melhor, dois ramos de metodistas, a saber: o ramo calvinista e o ramo arminiano.

George Whitefield era o chefe do ramo calvinista e João

Wesley do arminiano. A divergência doutrinária entre esses dois grandes amigos trouxe separação às suas ativ idades. George Whitefield tomou um rumo e João Wesley, outro; mas a influência de um sobre o outro contribuiu para estender o Metodismo em duas áreas maiores.

A questão da predestinação — problema de teologia

dogmática, com dificuldades insolúveis — tem contribuído, por

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longos séculos, para dividir os melhores homens em dois campos divergentes. Há os que pensam que esta questão doutrinária deve ser transferida da teologia dogmática para a esfera de metafísica, e deve, assim, ser tirada das mãos dos teólogos e entregue aos filósofos.

Compete ao historiador narrar os fatos que se deram

entre esses dois colegas, ainda que seria mais agradável deixá-los em silêncio.

As idéias teológicas de Wesley se formaram antes dele

deixar Oxford. A correspondência que manteve com a sua mãe, revela como isso se deu. Sem dúvida, as idéias de sua mãe influenciaram muito nas do seu filho.

João Wesley discute com a sua mãe a intrincada questão da

predestinação. Ela lhe diz : “Essa doutrina, como é mantida pelos calvinistas

rigorosos, causa horror e deve ser repudiada porque acusa diretamente o Deus Altíssimo como o autor do pecado". Ela assevera que "Deus fez uma eleição, mas baseada na sua presciência e de modo algum derroga a sua graça, nem prejudica a liberdade do homem". Anos depois Wesley publicou as cartas de sua mãe no

Arminian Magazine e, sem dúvida, elas ajudaram a formar s ua teologia e a da Ig re ja Metodis ta" (Fitchett, Vol. I, p. 74).

Wesley procurou definições claras e diretas das verdades

evangélicas essenciais à salvação pessoal, em vez de generalizações filosóficas, porque visava uma reforma espiritual e não a uma reforma dogmática ou ec les iás t ica. Interessou-se em doutr inas fundamentais e concretas (exper imentáv eis ) , tais como a fé, a justificação, a regeneração, a santificação e o testemunho de Espírito. E, além

disso, o seu gênio organizador e orientador dirigido por bom senso e por fins práticos, conseguiu uma organização que lhe valeu o elogio de ter, para governar, "um gênio não inferior ao de Richelieu".

Wesley, que enxergava as coisas por prismas reais, não

havia de interessar-se em assuntos metafísicos para conseguir fins práticos.

A doutrina da predestinação, como ensinada por Calvino,

não podia ser aceita por ele. Nem quis aceitar o Arminianismo exatamente como foi apresentado pelos "Remonstrantes", no sínodo de Dort. Mas, com poucas alterações, aceitou os pontos seguintes:

1.— Que Deus decretou e conferiu salvação àqueles que, segundo previu, conservariam a sua fé em Cristo inalterada até a morte; e, por outro lado, destinou ao castigo eterno os incrédulos que resistem ao seu convite até o fim da vida.

2.— Que Jesus Cristo, pela sua morte, fez expiação universal pelos pecados de cada ser humano, individualmente; contudo, ninguém, senão os crentes, podem participar dos benefícios divinos.

3.— Que ninguém, por si mesmo, ou por força do livre arbítrio, pode produzir ou despertar a fé na morte de Cristo; mas que, sendo o homem mau por natureza, mau e incapaz tanto de desejar como de fazer o bem, é necessário que nasça de novo e seja renovado por Deus, pelo amor de Cristo, por intermédio do Espírito Santo.

4.— Que a graça divina, ou energia, que sara a alma do homem, aperfeiçoa tudo o que nele pode ser chamado bom; contudo, a graça não obriga a ninguém contra a sua vontade, mas pode ser repelida pela vontade do homem.

5.— Que aqueles que são unidos a Cristo pela fé, recebem força suficiente para vencer o pecado; mas que é possível perder o homem a sua fé e cair do estado de graça". (Stevens, Vol. I, p. 148149).

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Whitefield não possuía mente dialética como a de

Wesley. Não tentou seriamente definir a sua teologia. Foi dirigido mais pelo sentimento do coração do que pela lógica da mente. Whitefield magnificava a graça de Deus por ter salvo um homem como ele. A sua salvação pessoal era tão maravilhosa que ele queria exaltar a graça de Deus por ter salvo um homem tão vil como ele era.

Wesley teria concordado com tudo isso e teria

amplificado ainda mais a graça de Deus, entendendo-a a todos os homens. O sentimento do seu coração diante das grandes multidões em Moorfield levou a pregar salvação para todos igualmente, o que o induziu a fazer o mesmo apelo às multidões que escutavam.

A natureza da experiência religiosa de Whitefield,

reforçada pelo contacto que teve com a escola de Jônatas Edwards, na Nova Inglaterra, o encaminhou para o Calvinismo.

Aqui temos dois grandes homens no limiar da sua carreira

ministerial, com os mesmos fins em vista, com a mesma paixão pela salvação de almas, mas com pontos de vista teológicos diferentes. As divergências entre eles eram tão grandes que não podiam trabalhar juntos, em harmonia, mas, com amor cristão suficiente nos seus corações, puderam manter amizade até ao fim da sua jornada no mundo.

O movimento metodista, diante do exposto, dividiu-se em

duas partes, ou ramos, a saber: o ramo calvinista, chefiado por George Whitefield e Lady Huntingdon, e o ramo arminiano, chefiado por João Wesley e seus auxiliares.

Houve, portanto, um choque entre eles, em matéria de

doutrina: Whitefield via os homens tão depravados como ele,

sem regeneração Isso o levou a crer que Deus o tinha favorecido altamente, estendendo-lhe a livre graça e não a muitos outros. Essa idéia da certeza da sua salvação o levou a pensar na perseverança final dos santos; Deus havia de conservá-lo firme na fé até a morte. E, como ele julgava que Deus lhe tinha dado "o testemunho do Espírito" sobre esse ponto e Wesley não tinha tal experiência, não dava a Wesley autoridade para julgar a questão.

Na correspondência que tiveram sobre o assunto,

Wesley ficou tocado pelo bom espírito com que Whitefield se expressava. Numa das suas cartas Wesley assim se exprime:

"A situação é muito clara: Existem fanáticos tanto a favor da predestinação como contra ela. Deus está enviando uma mensagem aos dois partidos, mas nem um nem outro a receberão, se não vier ela da boca de alguém que seja da sua opinião. Portanto, durante algum tempo é permitido que vós seja is de uma opinião e eu de outra. Mas, quando chegar a sua hora, Deus fará, aquilo que os homens não podem, a saber: fará que ambos tenhamos o mesmo parecer" (Fitchett, vol. II, p. 32). A divergência doutrinária entre Wesley e Whitefield

causou uma reação entre as duas escolas. A posição de Wesley foi contestada por homens como Tomaz A. Toplady e Roland Hill. Wesley não entrou em controvérsia como o fez o apologista das doutrinas arminianas, João Fletcher, que escreveu a obra chamada "Fletcher's Checks". É uma obra clássica sobre o assunto. Muitos dos polemistas foram violentos na sua linguagem, mas tanto neste ponto como na argumentação Fletcher sobressai como homem que mantém espírito cristão em todos os seus escritos.

Essa controvérsia durou seis anos e muitos livros e

panfletos se publicaram sobre o assunto. É difícil dizer qual foi o

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partido que saiu triunfante do conflito. Mas o assunto foi tão bem ventilado que não tem havido necessidade de renová-lo. O grande teólogo Richard Watson, escrevendo sobre o resultado desta controvérsia, disse:

"A habilidade e o gênio admirável de Fletcher o talharam tão bem para conduzir a controvérsia que se levantou que Wesley deixou quase exclusivamente a ele a discussão, enquanto continuava calmamente seu trabalho. E toda a série da publicação das discussões, da pena do vigário de Madlley, não pode ser excessivamente apreciada ou valorizada. Enquanto a linguagem perdurar, continuarão eles (os Checks) a restringir o antinomianismo em todas as formas sutis que pode tomar; apresentarão também o sistema puro e belo da verdade evangélica e, bem assim, protegerão, por outro lado, contra a suficiência própria do Pelagianismo. O rev. João Benidge foi seu antagonista principal; mas seu saber, sua subtileza, seu talento brilhante na ilustração de um argumento, acima de tudo o seu espírito santificado, com o qual orientou a controvérsia, lhe deram uma grande superioridade sobre seus adversários; e, embora haja diferença de opinião, segundo os sistemas teológicos em que se colocarem os leitores, quanto a quem coube a vitória, não pode haver dúvida sobre quem mostrou mais talento”.

“Essa controvérsia, dolorosa como foi, em muitos aspectos se tornou causa de frases profanas nos lábios libertinos daquela época, que ficaram muito satisfeitos com a sua religião, por causa daquelas lutas, que diziam promovidas por "gladiadores espirituais", mas produziu bons resultados em nosso país. Demonstrou aos calvinistas piedosos e moderados como as opiniões mais ricas da verdade evangélica podiam muito bem unir-se ao Arminianismo; e produziu, pelo argumento intrépido e audaz, as conseqüências lógicas das doutrinas dos decretos, muito mais moderação naqueles que ainda as aceitam, dando

origem a uma expressão calvinista mais branda nos dias subseqüentes — um resultado que perdura até hoje. As discussões sobre este assunto, desde aquele tempo, tem sido menos freqüentes e mais moderadas; nem tampouco os bons homens têm procurado afastar-se para as posições opostas tanto como têm procurado aproximar-se uns aos outros. Essa tem sido a verdade entre os metodistas e os dissidentes. Do Calvinismo, desde o período dessa controvérsia, os pregadores metodistas e sociedades não têm tido perigo; tão poderosos e completos foram seus resultados sobre eles. Desde a Conferência de 1770 não tem sido necessário perguntar: "Em que nos temos inclinado demais para o Calvinismo?" (Mc Tyiere, p. 335-336). 5. Oposição da imprensa. Logo no princípio do movimento metodista a imprensa

levantou oposição contra Wesley e seus ajudantes. Começou em 1738 e abrandou um pouco em 1770: os quarenta anos que levou para se implantar o Metodismo na Inglaterra. Toda espécie e forma literárias se empregaram para r id icular izar e despres t ig iar os metodistas. O historiador Richard Green, numa obra sobre o assunto, inventariou seiscentos e seis (606) publicações feitas contra os metodistas. Os prelados e literatos competiam com os rabiscadores, na falsificação e na ignorância dos fatos, com o fito de menosprezar o povo chamado metodista.

Wesley era quase sempre o objeto principal dos ataques

e assaltos. Mas todos os metodistas, tanto os pregadores como os simples membros das sociedades, eram alvo de abusos e falsidades. Wesley respondia a essas críticas e calúnias com maneira e com estilo diferentes daqueles com que era atacado. Sempre procurava explicações e a razão de tudo que fazia. Muitas vezes não tomava conhecimento de certas críticas, considerando-as indignas de resposta. Às vezes demorava demais a responder, com prejuízo da causa. Só uma vez

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respondeu com aspereza. Foi então que após argumento ao sr. Toplady acerca da predestinação, resumido na forma seguinte:

"Eis a conclusão de tudo: suponhamos que um em vinte da raça humana é eleito; dezenove em vinte são reprovados. O eleito será salvo faça o que quiser. Os reprovados serão condenados: façam o que puderem. Que o leitor creia isso ou será condenado. Por ser a verdade, firmo-o com o próprio punho." A-T". (Buyers. p. 45). A melhor defesa que João Wesley tenha feito talvez foi

"Um Apelo Sincero aos Homens de Razão e Religião". Dizem que Wesley respondia às criticas feitas a ele com

argumentos claros e precisos que desarmavam os adversários. Já, falamos de como João Fletcher procurou defender Wesley e as doutrinas que ele ensinou. Havia também outros que procuraram responder aos críticos. Entre estes se acha Tomaz Olivers.

Toplady queria desprestigiá-lo, mas, quando teve ocasião de

conversar com ele, mudou de opinião e, escrevendo a um amigo, disse: "Para falar a verdade, estou satisfeito de ter-me encontrado com Olivers, porque parece pessoa mais inteligente e bem comportada do que eu imaginava".

Mas a melhor resposta dada a todas as críticas e

calúnias era a vida transformada dos metodistas. Com o correr do tempo, o fruto do movimento metodista começou a aparecer e por fim se tornou patente a todos os que tinham olhos para ver. A árvore se conhece pelo seu fruto. O Metodismo tinha trazido saúde moral e espiritual ao povo inglês. Tinha estimulado estadistas a combater a escravidão, a má administração das prisões, a intemperança e a ignorância do povo. Os metodistas não tinham medo da morte. Nas últimas horas os crentes metodistas ficavam misteriosamente iluminados, deixando impressões profundas acerca do mistério da vida.

O segredo do triunfo do Metodismo não está em qualidades naturais, mas em influências espirituais. Não se explica pelo uso e dons naturais dos seus guias, pois Wesley tinha, antes de iniciar a sua carreira de evangelista, os mesmos dons que teve depois. Os treze anos de lutas e de fracassos entre a sua ordenação em 1725 e a sua conversão em 1738, revelam a impotência da força de vontade do homem para salvá-lo.

O verdadeiro segredo do bom êxito do movimento metodista

explica-se pelo copioso derramamento do Espírito Santo sobre corações arrependidos e crentes. Esse grupo de pessoas crentes tornou-se instrumento idôneo pelo qual o Espírito Santo produziu a grande obra. Essas pessoas convertidas tornaram-se canais pelos quais as "verdades sobre o pecado proclamavam a sua culpa imensurável, a sua condenação eminente e inevitável; mas também revelavam um livramento imediato e pessoal — livramento que vem como ato da graça divina e sob os termos simples da aceitação mediante arrependimento.

Não é livramento leve e fácil que nada custou ao

libertador. É supremo milagre do universo que se fez possível unicamente em virtude da redenção por Cristo. É posto ao nosso alcance pelo ministério do Espírito Santo. Coloca a alma perdoada em relação pessoal com o Pai reconhecido e amado.

"Uma redenção divina; um perdão concedido; relações

estabelecidas com Deus mediante a fé; a entrada de forças sobrenaturais na vida humana pela graça do Espírito Divino; o alcance de um presente e perfe ito ideal de Deus no caráter. Tudo isso se torna inteligível e crível, mediante a obra e os ofícios redentores de Jesus Cristo e pelas energias salvadoras do Espírito Santo na alma humana. Eis a versão evangélica do Cristianismo" (Fitchett, Vol. II, p. 321).

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Monumento em homenagem a Francisco Asbury,

fe ito pelo governo americano.

PARTE II

A HISTÓRIA DO METODISMO NA AMÉRICA DO NORTE

DESDE 1760 até 1940.

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CAPÍTULO VI

O COMEÇO DO METODISMO NA AMÉRICA DO NORTE.

19. Os primeiros metodistas na América. Nem a visita que João e Carlos Wesley fizeram em

1735 a colônia de Geórgia, nem as sete visitas de Whitftfield às plagas americanas, entre os anos de 1737 e 1770, marcam o começo do Metodismo na América. Não foi Wesley que introduziu o Metodismo no, América, mas os seus fi lhos espirituais.

Em 1688 Luiz XIV promoveu forte perseguição aos

huguenotes, na França e no Palatinato. Incendiou suas cidades e vilas. Expulsou-os. Muitos dos huguenotes franceses emigraram para a América e não mais de cem famílias de alemães emigraram para a Irlanda, onde fixaram residência na cidade de Limerick. Estas passaram alguns anos all, trabalhando para ganhar o pão de cada dia, mas se descuidaram de sua vida moral e espiritual. Deixaram de cultivar sua própria língua e tornaram-se tão atrasadas e corrompidas como os seus vizinhos.

Em 1752 João Wesley visitou a Irlanda, passou pela

cidade de Limerick e ali pregou. Os emigrantes alemães assistiram às suas pregações. Wesley repetia visitas a essa cidade, quando ia à Irlanda. Dizem que visitou a Irlanda quarenta e duas vezes, numa média de uma vez por ano, desde 1747 até 1789.

Filipe Embury e Roberto Strawbridge O tempo total que Wesley gastou nessas visitas se

calcula em seis anos. Entre os convertidos de Limerick

havia um moço chamado Filipe Embury, que se tornou pregador local e ajudante de Wesley na Irlanda. Havia também outros irlandeses que também entraram nas Sociedades Metodistas e depois emigraram para a América. Alguns destes fixaram residência no estado de Maryland e outros no estado de Nova York.

É desconhecida a data exata da emigração desses dois

grupos. Alguns julgam que chegaram à América em 1760; outros, que em 1766. Por falta de documentos autênticos não se pode dizer também com segurança qual foi o primeiro grupo a chegar à América. Seja como for, logo depois de 1760 aparecem os dois grupos de metodistas na América: o grupo do estado de Maryland, que fixou residência em Sam's Creek, no Condado de Fredrick, chefiado por Roberto Strawbridge; e o grupo do estado de Nova York, que fixou residência na cidade de Nova York, chefiado por Filipe Embury.

Roberto Strawbridge nasceu no condado de Leitrim, estado

de Ulster, na Irlanda. Esta zona foi notável no avivamento metodista. Roberto Strawbridge converteu-se e tornou-se pregador local. Foi muito perseguido na sua cidade. Andou de lugar em lugar, pregando com bom êxito. Strawbridge era irlandês típico, ardoroso, liberal e enérgico, mas pouco intransigente com as autoridades. Sem dúvida ouviu notícias de emigrantes que iam à América e também resolveu ir para lá com a sua família a fim de ganhar sua vida mais facilmente. Estabeleceu residência em Sam's Creek, alguns cinqüenta quilômetros à noroeste da cidade de Baltimore. Foi, talvez, em 1760 que construiu a sua casa na floresta, à beira do córrego "Sam's Creek". Logo começou a realizar cultos na sua casa e, pouco mais tarde, construiu, ali perto, uma capela.

O trabalho prosperou, muitos dos seus vizinhos converteram-

se e acabou organizando uma Sociedade Metodista. Strawbridge tornou-se um itinerante independente. Pregava

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não somente em Maryland, mas também nos estados de Delaware, Pensilvânia e Virgínia. Organizou seus adeptos em classes metodistas e nomeou moços sérios como guias de classes. Dessa maneira Strawbridge conseguiu diversos rapazes americanos para o ministério. Alguns desses moços se tornaram pregadores itinerantes mais tarde e ajudaram a conquistar o povo americano para Cristo. Entre eles estão Guilherme Waters, Filipe Gatch e Freeborn Garrettson.

Roberto Stawbridge, como pregador itinerante, só

viajou dois anos (1773-1775). Quando os missionáriosTomaz Rankin e Francisco Asbury

chegaram, tornou-se mais rígida a disciplina. Os pregadores itinerantes tinham de trabalhar nos campos determinados pelo superintendente. Strawbridge, homem ardoroso e enérgico, provavelmente não quis submeter-se às ordens de outros e, por isso, se localizou. Mas continuou a trabalhar. Organizou as primeiras sociedades nos condados de Baltimore e de Harford.

Richard Owen, o primeiro pregador metodista americano, era

seu filho espiritual. Strawbridge faleceu depois de alguns anos no serviço, porém deixou muitas pessoas que se lembravam dele com saudades, pois eram seus filhos espirituais.

O pequeno grupo de metodistas de Nova York f i l iou-

se à Igreja Luterana. Não sabemos quanto tempo Filipe Embury e seus companheiros ficaram em Nova York antes de começar seu trabalho espiritual sob a bandeira metodista. Em 1761 encontramos Embury ensinando numa escola luterana. Parece que não tinha coragem para iniciar trabalho religioso no Novo Mundo, embora fosse pregador local e licenciado por João Wes ley. Provavelmente Embury, logo depois de chegar à América, tentou fazer trabalho espiritual, mas, por falta de meios e de cooperação, terminou desistindo Enterrou seu talento e o deixou enterrado até que uma compatriota irlandesa

o despertou. Contas-se que era costume dos companheiros de Filipe

Embury juntarem-se depois do trabalho do dia, em casa de alguém, para jogar cartas de baralho. Uma noite, no outono de 1766, quando grande número deles, reunidos, estavam jogando cartas de baralho, Bárbara Heck entrou, pegou nas cartas lançou-as ao fogo e repreendeu a todos.

Foi imediatamente à casa de Filipe Embury, que era seu

primo, e contou-lhe o que tinha visto e feito. Então, com grande ênfase, disse:

"Filipe, você tem de pregar para nós, senão todos iremos para o inferno e Deus exigirá de você o nosso sangue". Filipe procurou desculpas, dizendo: "Como posso pregar? Não tenho nem casa, nem congregação". "Pregue na sua própria casa e para nosso próprio grupo" (Mc Tyiere, p. 263). Ele prometeu fazê-lo e começou logo a realizar cultos

na sua própria casa. Tinha cinco ouvintes no começo, mas o número depois aumentou. Os interessados foram organizados em classe. Logo formaram duas classes. O número dos participantes cresceu ainda mais. Alugaram uma sala para cultos, chamada "Rigging Loft".

Capitão Webb Os cultos se realizavam com regularidade duas vezes por

semana, nos domingos e nas quintas-feiras. Num domingo à tarde apareceu no culto uma pessoa estranha. Usava o uniforme de soldado inglês e tinha só um olho; um pano verde cobria o olho que faltava. Todos ficaram cismados e curiosos, mas logo se dissiparam as suas desconfianças e ficaram alegres ao saberem que era um bom metodista, convertido em Bristol sob a pregação de Wesley e, além disso, pregador local e

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que estava pronto a ajudar Filipe Embury. Era o capitão Webb, que tomara parte na batalha de Quebec, quando os ingleses conquistaram aos franceses aquela cidade do Canadá. Foi nessa batalha que perdeu um dos olhos. Agora estava destacado, como mestre de quartel, em Albany. O Capitão Webb se fez vulto memorável na história do Metodismo americano. A sua identificação e a sua presença entre os metodistas da América deram prestígio a este grupo de gente desprezada. E, além disso, era bom orador e bom cristão. Tinha o costume de pregar com a espada colocada na mesa, em frente. Dispensava a espada de aço enquanto empregava a "espada do Espírito".

Pelas pregações do Capitão Webb e de Filipe Embury

aumentou ainda mais o número de crentes e o "Rigging Loft" já não comportava mais o povo.

Resolveram comprar um lote de terreno em John Street, em

1768. Conseguiram a cooperação de todo o povo, desde o prefeito até aos mais pobres. Na lista dos contribuintes consta o nome de duzentas e cinqüenta pessoas. O primeiro nome na lista é o do Capitão Webb, com uma oferta equivalente a três mil cruzeiros (Cr$ 3.000,00). Compraram o terreno e nele construíram uma Casa de Oração com quatorze metros de largura por vinte de comprimento. Tomou o nome de Wesley Chapel. Existe hoje no mesmo terreno a terceira casa de oração. Todos os dias úteis da semana, ao meio dia, nela se realiza culto de oração por trinta minutos em benefício dos negociantes.

Embury continuou a ajudar no trabalho até chegarem

missionários da Inglaterra. Então mudou para o interior do estado, onde faleceu em 1775.

O Capitão Webb, pela sua valentia na guerra, foi reformado

com vencimentos de capitão. Passou o resto da vida a pregar

e ajudar no trabalho de igrejas, na organização de classes e na construção de capelas. Ajudou na abertura do trabalho em Nova Jersey e na Filadélfia. Escreveu cartas para Wesley dando-lhe informações acerca do trabalho na América e também pedindo que mandasse mais missionários. E, quando esteve na Inglaterra, compareceu perante a Conferência de Leeds, em 1772, e novamente pediu mais missionários para a América. O resultado foi que dois homens, Rankin e Shadford, foram enviados. Este velho soldado contribuiu muito para a implantação do Metodismo na América. O estadista João Adams o ouviu pregar uma vez em Filadélfia e disse:

"O velho soldado é um dos homens mais eloqüentes que já ouvi. Ele inflama a imaginação e estimula as paixões muito bem e externa os seus pensamentos com convicção".

Terminou a sua útil e longa vida em Bristol, Inglaterra, onde

se convertera. Passou seus últimos dias ali, ajudando na construção de Portland Chapel e auxiliando no trabalho da sociedade. Quando morreu, seus amigos o puseram num túmulo construído debaixo da mesa de comunhão da capela.

Roberto Willians O primeiro pregador itinerante que veio para a América

foi Roberto Williams. O nome dele consta na lista das nomeações feita na Conferência realizada na Irlanda, em 1766. Provavelmente conheceu Roberto Strawbridge antes dele emigrar para a América. Williams não tinha muito respeito para com o clero anglicanoe, às vezes, pregava contra os vigários.

Wesley não gostava disso e talvez fosse esse o motivo

por que nomeou Williams como missionário para a América, já que ele queria vir. Wesley consentiu em que viesse, mas que na América ficasse sob a direção dos missionários que estavam para vir.

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Em 1769 chegam à Inglaterra noticias do bom êxito de Embury em Nova York e foi quando Williams, com a aprovação de Wesley, embarcou para a América. Williams era pobre. Vendeu seu cavalo, pagou as dívidas, embarcou para Dublim, levando o alforje nos ombros e nas mãos, um pão e uma garrafa de leite. Chegando a Dublin encontrou seu amigo, Ashton, que o esperava. Ashton pagou a passagem para os dois e ambos embarcaram no mesmo navio para a América. Chegaram à Nova York em agosto de 1769, dois meses antes dos dois primeiros missionários, Boardman e Pilmoor.

Roberto Williams tomou o lugar de Embury em Wesley

Chapel e trabalhou com os missionários em Nova York e nas cercanias da cidade até 1771.

De Nova York Williams foi para Maryland para estar

com Strawbridge. Al i se encontrou também com João King, outro obreiro irregular (sem nomeação oficial), recentemente chegado da Inglaterra. Trabalhou no estado de Maryland e fundou trabalho na cidade de Baltimore e cercanias. Em 1772 passou para o estado de Virgínia. Chegou a Norfolk no princípio do ano e logo começou seu trabalho. Pregou o seu primeiro sermão ao ar l ivre, em frente da prefeitura. Cantou um hino, juntou-se o povo, ajoelhou-se, orou e, levantando-se, pregou aos presentes. Mas o povo julgava que era um louco, porque parecia que pregava e blasfemava ao mesmo tempo. Outra razão para que o povo assim pensasse, era que usava os termos "inferno" e "diabo" no seu discurso. Mas no dia seguinte, quando de novo pregou, o povo descobriu que não era um louco, mas um homem sincero e de bom senso. Algumas pessoas ficaram interessadas e assim o trabalho começou naquele estado. No fim do ano tinha cem membros na congregação.

Roberto Williams organizou o primeiro circuito em

Virginia. O seu trabalho foi frutífero. Conseguiu a conversão

de Jesse Lee, seus pais e seus irmãos. Jesse Lee tornou-se um dos grandes pioneiros do Metodismo na América. Abriu o trabalho metodista na Nova Inglaterra e escreveu a história do Metodismo na América. Jesse Lee assim descreve o método de Roberto Williams:

"Seu modo de pregar despertava os pecadores descuidados e encorajava os penitentes. Não poupava esforços para fazer o bem. Freqüentemente assistia ao culto na Igreja Anglicana e, saindo da igreja, subia num toco ou num banco e começava a cantar e a orar e depois pregava o Evangelho a centenas de pessoas. Era costume dele, logo após a pregação fazer perguntas a respeito das suas almas" (McTyeire, p. 267).

Foi o primeiro pregador na América a seguir o exemplo

de Wesley em disseminar bons livros e folhetos. Publicou diversos livros, tratados e sermões de Wesley que eram distribuídos entre o povo com grande proveito Fixou residência entre as cidades de Suffolk e Portmouth. Faleceu em Norfolk, em 1775, e Asbury falando na ocasião do enterro, disse: “Talvez não haja outro homem na América que tenha servido de instrumento para despertar tantas almas como ele". O túmulo dele era lembrado com saudades pelos seus filhos espirituais, mas no correr do tempo ficou desconhecido. Dizem que Roberto Willians imprimiu o primeiro livro metodista na América e dentre os metodistas na América foi o primeiro a casar, o primeiro a localizar-se, o primeiro a morrer e o primeiro dos heróis a entrar na cidade celestial.

João King João King é um outro nome que deve ser mencionado

entre o pequeno grupo de obreiros irregulares que começou o trabalho na América, antes de chegarem missionários os especialmente enviados.

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Nasceu na Inglaterra em 1746, o mais moço de três filhos. Estudou na Universidade de Oxford e na Escola de Medicina de Londres. Ouviu João Wesley pregar e converteu-se. Os seus pais o deserdaram, porque não quis abjurar sua fé.

Falou com Wesley e resolveu pregar o Evangelho.

Emigrou para a América e, sentindo o chamado para pregar, apresentou-se à sociedade metodista da Filadélfia e pediu licença para isso. Depois de dar provas da sua sinceridade e vocação foi licenciado pregador.

Logo apareceu em Maryland, em companhia de

Strawbridge. Trabalharam juntos por algum tempo. Foi João King que implantou o Metodismo na cidade de Baltimore. Em menos de cinco anos se realizou naquela cidade uma Conferência anual. Baltimore tem sido baluarte do Metodismo no correr dos anos.

O nome de João King consta entre os dez nomes que

figuram na primeira ata metodista publicada na América. Serviu em diversas regiões, entre as quais, em Nova Jersey, Norfolk e Brunswich, na Virgínia.

Todas as igrejas que King pastoreou prosperaram. Casou-

se e logo depois deixou a itinerância. Nessa época isso quase sempre se dava com os pregadores itinerantes. Como conhecia a medicina, clinicou para sustentar a sua família. Teve seis filhos e todos eram crentes. Dois deles entraram no ministério. Prestou bom serviço a c ausa c omo p re gado r . Mor reu e m 1 794 e f o i sepultado perto da sua casa, no condado de Wake.

Dizem que João King era homem teimoso e cabeçudo.

João Wesley notou isso como um dos seus defeitos e escreveu-lhe a seguinte carta, dando conselhos:

"Meu caro irmão, receba sempre como um favor o

conselho ou a repreensão: são sinais de mais amor. Eu o aconselhei uma vez e o irmão ficou ofendido; contudo, fa-lo-ei mais uma vez. Não grite mais, pelo amor da sua alma. Deus por meu intermédio agora o admoesta, porque me colocou como seu superior. Fale com toda sinceridade, mas não grite. Fale com todo coração, porém com voz moderada. A respeito de nosso Senhor foi dito: "Ele não chorará”. O significado do verbo é, ele não gritará. Neste ponto, seja meu seguidor, como sou de Cristo. Falo em geral alto; às vezes, com veemência; mas jamais grito. Não me esforço demais; não ouso fazê-lo; sei que seria um pecado contra Deus e contra a minha alma. Talvez seja uma das razões por que aquele bom homem, Tomaz Walch, e também João Manners ficaram em trevas dolorosas antes de morrer, que eles mesmos encurtaram a sua própria vida. Ó João, ore pedindo espírito prudente e dócil. Está longe disso, por natureza; é teimoso e cabeçudo. A sua última carta foi ditada por um espírito injusto" (McTyeire, p. 269).

O movimento metodista na América não foi planejado por

ninguém; porém se manifestou espontaneamente no coração dos crentes metodistas que aportaram às plagas americanas. Era o Espírito de Deus que se manifestava no coração de pessoas convertidas. Começou em pequena escala, mas no correr de alguns anos se alastrou por toda parte do país. Notamos que na zona onde trabalhavam os obreiros irregulares, como nos estados de Maryland e Virgínia, houve mais progresso do que nas zonas onde trabalhavam os missionários enviados da Inglaterra, como por exemplo, os estados de Nova York e Pensilvânia. Em outras palavras, a zona do Sul desenvolveu-se mais rapidamente do que a zona do Norte. Talvez a explicação disto esteja no fato que na zona do sul a Igreja Anglicana predominava e as outras Igrejas evangélicas não estavam ainda bem desenvolvidas, ao passo que na zona do Norte as outras Igrejas evangélicas estavam mais fortes e a

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Igreja Anglicana, muito fraca. O povo da zona do sul recebeu mais facilmente os metodistas do que o povo da zona do Norte.

20. Os missionários de Wesley e seus colaboradores.

Quatro anos depois de Strawbridge e Embury começarem o trabalho metodista, a Conferência anual na Inglaterra tomou conhecimento oficial da obra metodista na América. A vigésima sétima Conferência anual que se realizou em Londres, em 1770, registrou em ata, a respeito, o seguinte: "Nº 50. América. Portanto, toda a obra na América foi considerada como uma zona — a zona da América".

Nessa zona havia dois pregadores, Richard Boardman e

José Pilmoor. Como já, tinham chegado à América, mandaram seu relatório. Levaram nove semanas na viagem para a América. Desembarcaram em Filadélfia e começaram logo seu trabalho.

José Pilmoor José Pilmoor estudara na Escola de Kingswood e tivera

quatro anos de experiência na itinerância, antes de embarcar para a América. As viagens de George Whitefield e as suas pregações ao ar livre prepararam o terreno para estes novos obreiros. Numa carta que escreveu para Wesley, Pilmoor disse:

"Ficamos muito surpreendidos por encontrarmos o Capitão Webb na cidade e uma sociedade de cerca de cem membros que desejam comunhão com o senhor. Isto é obra do Senhor e é maravilhosa aos nossos olhos. Já preguei diversas vezes ao povo metodista. Domingo à noite fui à praça pública Serviu-me de púlpito o estrado usado para o juiz das corridas de cavalos e julgo que havia quase cinco mil pessoas presentes, que prestaram boa atenção. Graças a Deus pela pregação ao ar livre" (McTyeire, p. 279).

Boardman, deixando Pilmoor na cidade de Filadélfia, foi

para Nova York. Logo depois mandou seu relatório para

Wesley. Pelo caminho, de Filadélfia a Nova York, pregou algumas vezes e ficou bem impressionado com o interesse que o povo manifestava, em ouvi-lo. Estes dois homens, Boardman e Pilmoor, trabalharam nessas duas cidades. De vez em quando trocavam os campos de trabalho.

Outros obreiros foram enviados da Inglaterra. Em 1771

chegaram Francis Asbury e Richard Wright. Em junho de 1773 vieram Tomaz Rankin e George Shadford, acompanhados do Capitão Webb e de sua esposa. Quase no fim do ano de 1774 chegaram mais dois obreiros, Martin Rodda e James Dempster. Além desses, que foram oficialmente enviados, havia mais obreiros que vieram para a América como voluntários, com o consentimento de Wesley. Além de Roberto Williams e João King, que já foram mencionados, havia José Yearbry e Guilherme Glendenning.

Todos os missionários que Wesley mandou para a

América, na ordem em que vieram, são os seguintes: Richard Boardman e José Pilmoor em 1769; Francis Asbury e Richard Wright, em 1771; Tomaz Rankin e George Shadford, em 1772; James Dempster e Martin Rodda, em 1774. A situação política das colônias dificultou logo as atividades

desses obreiros e impediu a vinda de mais trabalhadores. A Revolução Americana pela independência arrebentou em 1776. Mas, antes disso, já havia na colônia, desordens e ameaças de guerra. O conflito durou sete anos. Logo no princípio da guerra os pregadores ingleses, menos Francis Asbury, voltaram para a Inglaterra. Alguns não se deram bem na América e voltaram; outros fizeram bom trabalho e poderiam ter trazido uma contribuição valiosa à causa, na América, se não fosse a guerra que dificultou as suas atividades.

Martin Rodda

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Martin Rodda ficou pouco tempo na América. Foi nomeado para trabalhar na zona do estado de Delaware. Sendo tory (partidário do rei inglês), começou a distribuir a proclamação do rei na sua zona. Isto criou oposição forte contra ele. Com o auxilio de alguns escravos escapou e, tendo embarcado num navio de guerra, voltou para a Inglaterra. Seu procedimento, na América, trouxe grandes embaraços, não somente aos seus colegas ingleses, mas também aos pregadores e crentes metodistas americanos. Assim Martin Rodda falhou.

Richard Wrigh Richard Wright trabalhou dois ou três anos nas províncias

do sul, principalmente em Norfolk. No princípio do ano de 1774 voltou para a Inglaterra a conselho dos seus colegas. Trabalhou poucos anos com Wesley e desistiu de viajar.

Richard Boardman Richard Boardman trabalhou nas cidades de Filadélfia e

Nova York e fez uma viagem para o norte até a cidade de Boston. Teve bom êxito no seu trabalho em Nova York. Mas, por causa da guerra, voltou para a Inglaterra, em 1774. Trabalhou alguns anos e faleceu de repente na cidade de Cork, na Irlanda, em 1782.

José Pilmoor também trabalhou nas cidades de Filadélfia e

Nova York e fez uma viagem para o sul. Foi até Savanah, na Geórgia, onde visitou o orfanato de Whitefield. Voltou para a Inglaterra e trabalhou por alguns anos. Não tendo sido incluído o seu nome na lista dos cem, no “Título da Declaração", ficou desgostos e deixou os metodistas. Voltou para a América e tornou-se pároco da Igreja Episcopal Protestante, na cidade de Nova York. Mas sempre amou os metodistas.

Tomaz Rankin Tomaz Rankin era natural de Dunbar. Por algum tempo foi

companheiro de João Wesley nas suas viagens. Esse contacto

com Wesley preparou-o para o trabalho que havia de fazer mais tarde na América. Conhecia bem a doutrina e a disciplina da Igreja Metodista e, quando chegou à América, tomou o lugar que Asbury ocupava, de superintendente.

Rankin veio conhecer o Metodismo por meio de soldados

metodistas. Alguns soldados foram destacados para Dunbar e entre eles havia dez ou doze homens piedosos. Alugaram uma sala e nela dirigiam cultos. Fundaram uma sociedade metodista no lugar. Rankin veio a conhecer a natureza do trabalho deles, mas tinha preconceitos acerca do costume que eles tinham, ouvir confissões, julgando que a confissão praticada nas classes, fosse confissão auricular, e por isso não lhes freqüentava os cultos. Mas seu espírito estava preparado para ouvir um embaixador de Deus na pessoa de Whitefield Assim narra ele a sua experiência:

"Foi mais ou menos nessa época que ouvi o notável servo de Deus, George Whitefield. Estava ele pregando um sermão de despedida, no orfanato de Edinburgo. Eu tinha pensado ir ouvi-lo, mas tantas coisas eu tinha ouvido a seu respeito, que não queria enganar-me. Escutei-o com admiração e espanto e recebi do plano de salvação uma explicação que nunca recebi antes. Eu me lembro mais daquele sermão do que de todos os outros que até aqui tenho ouvido: descobri as riquezas inescrutáveis da graça de Deus em Cristo Jesus, quando ele explicou como um pecador perdido pode voltar para Deus e alcançar misericórdia por intermédio do Redentor".

"Recebi a impressão: "Provavelmente você não é

um dos eleitos e pode buscar em vão". Eu comia quase nada, não podia dormir e definhei, até que afinal me mergulhei no desespero. Certa manhã entrei no jardim e me sentei num canteirinho para chorar minha triste condição. Comecei a lutar com Deus em oração angustiada. Gritei: “Senhor, tenho lutado muito e ainda não consegui nada. Oh! que eu agora

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consiga alguma coisa!" A passagem de Jacó em luta com o anjo me veio à mente e eu falei em voz alta: "Não to deixarei ir, se não me abençoares". Num instante as nuvens que pousavam em minha alma se dissiparam e lágrimas de amor me rolaram pela face, ao aplicar, repetidas vezes, a estas palavras: "E ali o abençoou". Elas vieram com o Espírito Santo e com muita segurança. Minha alma se inundou da presença de Deus. Todas as minhas dúvidas se dissiparam e todos os meus receios se desvaneceram como as sombras da noite ao nascer do sol. Tive o testemunho claro de que todos os meus pecados estavam perdoados pelo sangue de Cristo e de que eu era filho de Deus e herdeiro da glória eterna" (Mc Tyiere, p. 283).

Rankin, depois da sua conversão, falou com Wesley e foi

nomeado para uma zona. Sentiu-se logo chamado com tanta clareza para pregar como fora iluminado a respeito da sua conversão. Rankin veio para a América para por tudo em ordem. Foi ele que acabou com o costume de nomear os pregadores para seus campos na ocasião das Conferências trimestrais. Introduziu as Conferências anuais na política do Metodismo americano. As nomeações feitas na primeira Conferência anual, realizada na Filadélfia em 14 de julho de 1773, são as seguintes:

- Nova York: Tomaz Rankin (para ser substituído dentro de quatro meses);

- Filadélfia: George Shadford (para ser substituído dentro de quatro meses);

- Nova Jersey: João King e Guillerme Waters; - Baltimore: Francis Asbury, Roberto Strawbridge,

Abraham Whitworth e Jose Yearbry; - Norfolk; Richard Wright; - Petersburg - Roberto Will iams" (McTyeire, p. 283).

Assim se introduziu a Conferência anual, que se tornou a célula vital e unificadora da política do Metodismo americano.

Rankin não tinha, para administrar o trabalho e guiar os

homens, a visão que seu antecessor, Asbury, possuía. Era homem piedoso, mas pessimista. Não podia apreciar a grandeza do trabalho na América. Para ele tudo era pequeno: o número de crentes era pequeno, o número de pregadores era pequeno, a Conferência era pequena. Tudo, enfim, na América, era pequeno, exceto os rios: estes, sim, eram grandes, muito maiores do que o Tamisa que passa pelo meio da cidade de Londres. Não gostava de tantas mudanças. Portanto, quando viu a crise política, julgou que sua missão na América estava terminada. Escreveu nesse sentido uma carta a Asbury e nos fins de 1777 e voltou para a Inglaterra. Passou muitos anos no serviço da Igreja em sua terra. Na hora da morte de Wesley ele estava presente.

Asbury tinha mentalidade diferente. Quando teve de

enfrentar a mesma questão, assim se expressou: "Mas de modo nenhum posso deixar um campo, onde

se podem arrebanhar almas para Cristo, como aqui na América. Seria desonra eterna para os metodistas, se todos deixássemos as três mil almas que desejam entregar-se ao nosso cuidado. Também não seria papel de um bom pastor deixar seu rebanho em tempo de perigo. Portanto, estou resolvido, pela graça de Deus, a não deixá-lo, sejam quais forem as conseqüências. Nossos amigos daqui parecem que estão excessivamente angustiados com o pensar que serão abandonados pelos pastores. Assim escrevi e expressei meus sentimentos aos irmãos Tomaz Rankin e George Shadford” (McTyeire, p. 285). Por isso, Asbury respondeu: "Fico".

Há, na correspondência de Wesley, evidências de que Rankin

tinha escrito coisas desfavoráveis acerca de Asbury. Sabemos

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que Wesley deu a este ordem para que voltasse para a Inglaterra, mas essas ordens nunca chegaram às mãos de Asbury e não foram assim, obedecidas. Wesley nunca perdeu a confiança em Asbury, apesar da grande dificuldade de saber ou receber sobre ele informações exatas. Asbury sempre ocupou o primeiro lugar na confiança de Wesley, que lhe chamava "o honesto Francis Asbury".

George Shadford George Shadford nasceu em Lincolnshire, na Inglaterra, em

1739. Seus pais eram piedosos e procuraram guiar os filhos no temor de Deus. O ministro ensinou-lhe o catecismo e, quando tinha quatorze anos, foi confirmado na Igreja. Comungou pela primeira vez, quando tinha dezesseis,anos. Foi-lhe uma experiência impressionante; julgou que era cristão. Mas, por falta de guias espirituais, essas boas impressões foram diminuindo, até que ele perdeu o interesse na vida religiosa.

Entrou para o exército. Ali as tentações foram fortes.

Houve luta intensa entre a impiedade da vida da caserna e a sua consciência Ficou triste. Sentiu-se tentado ao suicídio. Perto do quartel os metodistas realizavam cultos ao ar livre. Junto com outros colegas foi assistir ao "culto esquisito". Ficou impressionado com a simplicidade do culto e com a mensagem que ouviu. Resolveu assistir ao culto outra vez.

Terminando o prazo do seu serviço no exército, voltou

para casa. Durante a sua ausência, os metodistas tinham organizado uma sociedade perto da sua casa. Com o contacto dos metodistas, não levou muito tempo para converter-se. Assim ele descreve a sua conversão:

"A casa ficou repleta e muitos ficaram comovidos, quando o pregador falava acerca do Mestre crucificado. Lá para o fim do seu sermão eu tremia. Chorei.

"Não posso agüentar isso", pensei eu, cairei aqui no meio desta gente. Oh! como eu gostaria de estar sozinho onde pudesse chorar, porque tinha vergonha de chorar ali! Sentia-me culpado e condenado, como o publicano no templo. Gritei (os outros puderam ouvir, o meu coração estava transpassado pela espada do Espírito): "Ó Deus, sê propício a mim pecador"! Mal tinha pronunciado estas palavras, vi com os olhos da fé (não com os olhos naturais), Cristo, meu advogado, à destra de Deus, fazendo intercessão por mim. Cri que ele me amou e que se deu a si, mesmo por mim. Num instante o Senhor encheu minha alma do seu amor divino. Assim, o Senhor que eu buscava, depressa veio ao templo. Imediatamente meus olhos transbordaram de lágrimas e meu coração de amor. Lágrimas de tristezas e de alegria rolaram pelas faces minhas. Oh! quão doce foi essa tristeza! Parecia que poderia derramar a minha vida em lágrimas de amor" (McTyeire, p. 287).

Logo depois de sua conversão entrou na classe. Em

pouco tempo começou a tomar parte nos cultos fazendo oração, exortando e esforçando-se por levar almas a Cristo. Mas ficou muito preocupado com a salvação dos seus pais e irmãos. Não deixava de orar por eles, mas achou que seria melhor orar com eles e, pois, pediu licença aos pais para fazer o culto doméstico. Consentiram nisso e em menos de um ano, quatro da família já estavam convertidos.

Um dia, quando Shadford estava pregando em Yorkshire,

lhe veio a notícia que seu pai estava moribundo. Apressou-se por chegar até ao lar paterno. Disse-lhe seu pai:

"Meu filho, estimo vê-lo, mas me vou embora. Vou estar com Deus. Vou para o céu". "Papai", respondeu Shadford, "tem certeza disso?" "Sim", disse ele, "tenho toda certeza. Sei que meu Redentor vive. Já faz quatro anos que o Senhor me perdoou todos os pecados e já

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faz meio ano que Ele me deu aquele amor perfeito que lança fora todo o pecado. Agora mesmo sinto o céu dentro do meu coração. Certamente este céu de cá de baixo deve levar-me para o céu de lá de cima".

Tendo-lhe Deus concedido frutos do trabalho de exortador e

pregador local, não demorou •para que Wesley o convidasse para entrar na itinerância. Em 1768 foi nomeado para uma zona em Cornwall. Teve um ano cheio de bênçãos. Trabalhou cinco anos na Inglaterra, antes de ser enviado para a América. Poucos dias antes de embarcar para a América, Wesley lhe escreveu, em abril de 1773, a seguinte carta:

"Caro Jorge: Já chegou a hora de você embarcar para a América. Desça a Bristol, onde se encontrara com Tomaz Rankin, com o Capitão Webb e sua esposa. Eu o deixo livre, Jorge, no grande continente da América. Faça sair sua mensagem à luz do sol e faça todo bem possível. Sou, caro Jorge, afetuosamente seu, João Wesley “.

Seu trabalho na América foi muito abençoado. Ele e Asbury

trabalharam juntos por algum tempo e seus esforços foram coroados de bom êxito na salvação de muitas almas. Ficou muito abatido com a última nomeação que recebeu, e que era para o estado de Virgínia. Quando chegou ao seu novo campo, ficou acabrunhado. É ele quem o diz:

"Antes da manifestação maravilhosa do poder e da presença de Deus na minha vida, eu me sentia muito abatido. Na obra da pregação e da oração, o Senhor despia e esvaziava o seu servo, em vez de enchê-lo. Eu me via tão vil e sem valor que não posso descrevê-lo e duvidava que Deus pudesse empregar-me no seu trabalho. Fiquei admirado, quando comecei a pregar em Virgínia. São raras às vezes em que prego sem que alguém se convencia e convertia. Freqüentemente três ou quatro pessoas se convertem. Quase não posso acreditar,

quando eles falam disso" (McTyeire, p. 288). Viajando um dia, chegou a um rio que estava cheio demais

para ser atravessado. Voltou para trás dois quilômetros, onde achou estalagem para aquela noite. A família com quem se hospedou não era crente. Pediu licença para dirigir um culto na casa. Alguns vizinhos foram convidados para assisti-lo. Todos ficaram bem impressionados. O hospedeiro, no dia seguinte, acompanhou-o como guia. Chegando ao lugar de culto, para onde se dirigia o homem assistiu a pregação, ficou interessado e insistiu para que ele pregasse de novo na sua casa. O resultado disso foi um avivamento naquela comunidade e, antes de findar o ano se organizou ali, uma sociedade metodista com setenta membros.

Jesse Lee nos dá uma idéia do avivamento que se deu na

zona de Shadford: "Nos fins do ano de 1775 houve grande avivamento religioso

no sul de Virgínia, o maior que já se deu ali em tão pouco tempo. Mas aumentou no mês de janeiro de 1776. George Shadford pregava em Virgínia, nessa época e, enquanto os ouvidos do povo, por causa da novidade, estavam abertos para a Palavra de Deus, o coração do povo era atingido. Muitos pecadores ficaram convencidos de pecado e suplicaram a misericórdia divina. Notícias de convicção de pecado e de conversão se ouviam de todos os lados. O povo de Deus ficou inspirado com nova vida e vigor para dar testemunho da felicidade de outros. Mas, decorrido pouco tempo, os próprios crentes começaram a sentir que eles mesmos precisavam em seus corações de uma obra mais profunda da graça de Deus do que aquela que até então hav iam experimentado. Começaram a implorar a Deus, com lágrimas, que os salvasse do pecado original e que lhes desse "um coração circuncidado", que pudessem "amá-lo de todo o coração" e servi-lo com todas as suas forças.

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Em todas as reuniões se davam manifestações especiais do poder divino, especialmente nas reuniões das classes. Um sopro de vida reanimava os ossos secos, cada semana. Grande número de pessoas idosas, jovens e crianças sentiu o efeito desse trabalho. Houve casos de conversão de crianças de oito e nove anos. Algumas crianças ficaram cheias do amor de Deus e davam testemunho de como Deus fizera a sua obra nos seus corações, falando da convicção do pecado, do tempo, do lugar e da maneira como foram libertadas, com tanta certeza que mesmo um ateu poderia certificar que isso era uma grande obra de Deus.

Muitos que desprezavam os meios da graça, vieram para

ouvir, não somente os pregadores, mas também os exortadores e os guias de classes. Mas, ouvissem ou não, o poder de Deus se manifestava entre o povo. Notou-se que os cultos de oração contribuíam singularmente na promoção da obra de Deus.

Esse derramamento do Espírito se estendeu mais ou menos

a todas as zonas, abrangendo uma circunferência entre setecentos e novecentos quilômetros de diâmetro. O av ivamento continuou até ao mês de maio, quando se realizou uma Conferência trimensal em Boisean Chapel, cerca de vinte quilômetros de Petersburg. Nessa ocasião as janelas do céu se abriram e caíram sobre o povo chuvas de bênçãos por mais de quarenta dias.

No segundo dia da Conferência trimensal houve uma

festa de amor. Logo no princípio o poder divino desceu sobre o povo e parecia que toda a casa estava cheia da presença de Deus. Uma chama se acendeu e passou de coração a coração. Muitos ficaram profundamente convencidos de perdão; muitos dos penitentes foram consolados; e muitos dos crentes ficaram tão abismados no amor de Deus que julgavam que era possível amar a Deus de todo o coração.

Quando terminou o ágape, abriram-se as portas da igreja e muitos dos que estavam do lado de fora, entraram. Notando a angústia de uns e o regozijo de outros, diversos deles prostraram-se no chão, perante Deus, e suplicaram a sua misericórdia.

A multidão que assistia a essas reuniões, voltando para sua

casa, levaram a chama divina para seus vizinhos e o fogo divino assim passava de casa para casa, de modo que, no correr de quatro semanas, centenas de pessoas acharam paz em Deus. A conversa do povo limitava-se quase exclusivamente às coisas de Deus. Não se podia encontrar uma pessoa que não falasse da sua salvação e quase todos pareciam contentes, gozando a paz e o amor de Deus no coração" (Jesse Lee, p., 54-56).

No correr de alguns meses Shadford e seus colegas

tiveram o grato prazer de ver crescido o número de crentes naquela zona. Mais de mil e oitocentas pessoas entraram nas sociedades metodistas.

Mas a guerra tornou-se mais generalizada e os súditos

britânicos não podiam ficar sem correr o perigo de ser presos. George Shadford teve de enfrentar o problema. Chegou à conclusão que devia voltar para a Inglaterra. Discutiu a questão com Francis Asbury, que resolveu ficar. Para Asbury era a vontade de Deus que ele ficasse, mas para Shadford era a vontade de Deus que ele voltasse. Assim os dois homens de Deus interpretavam a providência divina. Entre os oito ministros ingleses que Wesley mandou para a América, Asbury e Shadford deram-se melhor no novo ambiente.

Chegando à Inglaterra, Shadford continuou seu trabalho sob a

direção de Wesley por muitos anos. Homem completamente consagrado a Deus, a sua experiência tornou-se cada vez mais feliz. Na velhice ficou cego, porém, por meio de uma operação,

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o médico lhe restituiu a vista. O médico disse-lhe: "Agora pode usar talheres, quando comer". "Senhor médico, disse ele, "tenho ainda maior prazer em ler a minha Bíblia". E a primeira coisa que fez, depois de recuperar a vista, foi ler a Bíblia.

Morreu com setenta e oito anos de idade. Quando o médico o

desenganou, ele exclamou: "Glória a Deus!" Suas últimas palavras foram: "Vitória, vitória, mediante o sangue do Cordeiro!" E dormiu no Senhor Jesus Cristo.

Os oito missionários que Wesley mandou para a América

voltaram para a Inglaterra, exceto Francis Asbury. Este lançou a sua sorte com a causa dos americanos e tornou-se o pai do Metodismo americano. Deus, às vezes, utiliza-se de instrumentos humildes para realizar os seus desígnios. Havia, na América, homens ainda não mencionados, como Devereux Jarrett, Richard Owen, Filipe Gatch, Edward Dromgoole, Ruben El lis, João Dic kins, Fil ipe Bruce, Freeborn Garrettson e muitos outros, que entraram nas fileiras metodistas e ajudaram a Asbury, quando este procurava dirigir as suas atividades na nação que acabava de nascer no Novo Mundo.

Francis Asbury nasceu em 20 ou 21 de agosto de 1745, perto de

Birmingham, de pais piedosos, mas humildes e pobres. Era desejo do pai educar seu filho, porém o mestre da escola, onde Francisco estudava, era tão cruel na sua disciplina que o menino criou desgosto com as aulas e deixou de freqüentá-las aos treze anos de idade. Arranjou emprego numa casa de família rica. Felizmente ficou ali pouco tempo, pois corria o perigo de corromper-se. Arranjou então serviço em casa de um homem piedoso e trabalhou com ele seis anos, aprendendo o ofício de ferreiro. Durante esse tempo converteu-se, tornando-se membro de uma Sociedade Metodista e pregador local. Começou a dirigir cultos de oração aos dezesseis anos de idade. Trabalhou durante o dia e dirigia cultos à noite. Às vezes

dirigia culto seis vezes por semana. Para dirigi-los andava a pé distancias longas.

Wesley o convidou para entrar na itinerância. Trabalhava já,

há quatro anos como itinerante quando se ofereceu para o trabalho na América, na ocasião da Conferência realizada em Bristol, em 1771. Logo depois se despediu dos seus pais pela última vez e embarcou para a América em 4 de setembro de 1771. Tinha só dois cobertores para sua cama e dormia sobre tábuas. Podemos apreciar o estado do seu espírito por estas palavras suas:

"Necessito de fé, coragem, paciência, mansidão e amor. Quando outros sofrem tanto por causa dos seus interesses temporais, poderei certamente sofrer um pouco pela glória de Deus e pelo bem das almas. Sinto meu espírito agarrado ao Novo Mundo e meu coração ligado ao povo americano, ainda que desconhecido. Tenho motivo para crer que, indo agora, não me estou precipitando. Quanto mais dificuldades tenho, tanto mais convencido fico de que estou fazendo a vontade de Deus. O povo que Deus honra na Europa, são os metodistas. As doutrinas e a disciplina que fazem cumprir são, creio eu, mais puras que as de qualquer outro povo do mundo. O Senhor tem abençoado essas doutrinas e essa disciplina nos três reinos; portanto, devem ser agradáveis a ele. Se Deus não me reconhecer na América, voltarei para a Inglaterra. Sei que meus motivos são justos. Permita Deus que o sejam sempre" (McTveire, p. 295).

Antes de desembarcar na América escreveu no seu

Diário o seguinte: "Para onde vou? Para o Novo Mundo. Para que fim? Ganhar honras? Não!! se é que conheço meu coração. Ganhar dinheiro? Não! vou viver para Deus. Esforçar-me-ei por levar outros a fazer o mesmo" (Hurst., vol. IV, p. 741).

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Chegou à Filadélfia em 27 de outubro de 1771. Foi recebido pelos crentes "como um anjo de Deus." Sendo líder por natureza, não deixou de observar tudo e de tomar nota das coisas que julgava de valor. Notou logo uma coisa que seus antecessores faziam e, que ele achava errado. Limitavam-se quase exclusivamente às cidades e descuidavam-se das regiões rurais. O que lhe abriu os olhos para esse fato foi o que se deu num culto de vigília. Diz seu Diário:

"Novembro, 4. Realizamos culto de vigília. Quase no fim, um homem simples da roça falou e suas palavras tocaram o coração de todos, de modo que pudemos perguntar: "Quem desprezou os dias das pequenas coisas?" Nem Nosso Senhor, nem Deus. Então por que faz isso o homem?" (McTyeire, p. 296).

A fala desse homem da roça, rude e simples, mas

sincero, abriu os olhos de Asbury para o grande valor e a importância dos camponeses.

Depois de pregar algumas vezes em Filadélfia, foi à

Nova York, onde pregou sobre o texto: "Pois resolvi não saber coisa alguma entre vós,

senão a Jesus Cristo e este crucificado". Gostou do povo, porém não apreciou a tática de Boardman e Pilmoor, que gostavam de ficar nas cidades, sem viajar e abrir pontos de pregação nas zonas rurais. Ele disse: "Atualmente estou descontente e julgo que vamos ficar presos nas cidades ainda este inverno. Meus colegas parecem não ter vontade de deixar as cidades; creio que vou mostrar-lhes o caminho". "Vim para a América com intenções justas e, pela graça de Deus, procurarei revelá-las; estou resolvido a não deixar ninguém me influenciar com palavras suaves e conversas persuasivas". "Agrade ou desagrade a quem quer que seja, serei fiel a Deus, ao povo e à minha alma". (McTyeire, p. 296).

Asbury tomou a resolução de evangelizar o povo tanto nas zonas rurais como nas cidades. Guardou esse propósito até ao fim da vida: nunca deixou de viajar. Tornou-se o maior itinerante de todos os tempos.

Logo que chegou à América, montou a cavalo e viajou, pode

dizer-se, o resto da sua vida. Tornou-se o cavaleiro da estrada longa". Diversos cavalos envelheceram a seu serviço. Gostava do cavalo que participava das suas privações. Na velhice recordava os nomes dos seus cavalos, que gastaram os seus dias, viajando da Nova Inglaterra à Geórgia e da Virgínia às fronteiras de Kentucky e Tennessee. Os nomes de Jane, Spark e Fox tornaram-se sagrados na sua memória. Quando vendeu o velho Fox, ele f icou em sua memória. Quando vendeu o velho Spark, ele observou,

"o animal rinchou e queria ir comigo. Entrou no meu coração Pobre escravo! Quanta fadiga pacientemente havia sofrido por mim". Quantas viagens longas através de florestas, debaixo de

sol, chuva, neve e gelo, atravessando rios a nado Francis Asbury enfrentou. Que coisa não fez ele nos quarenta e cinco anos que trabalhou na América?! Homenagearam-no merecidamente até um monumento! A nação americana não deixou de prestar justa homenagem ao herói missionário que contribuiu mais para desenvolver a civilização norte-americana do que qualquer outro homem do seu tempo, erigindo-lhe um monumento numa praça da cidade de Washington, Distrito de Colúmbia. A estátua representa um homem montado num cavalo, e tem a seguinte inscrição: "Se buscardes os resultados do seu trabalho, encontra-lo-eis em nossa civilização cristã".

Pela estrada longa que Asbury trilhava, havia casas

hospitaleiras ocupadas, muitas vezes, pelos seus filhos espirituais. Nelas encontrava abrigo e bom acolhimento. Casas como a de Perry Hall, em Maryland; a de White, em Delaware; a de

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Dromgoole, em Virgínia; a de Edmundo Taylor e a de Green Hills, em Carolina do Sul, são provas do cumprimento da promessa de Jesus aos seus discípulos que "ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou mãe ou pai, ou filhos ou campos, por amor de mim e por amor do Evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, mães, filhos e campos, com perseguições, e, no mundo vindouro, a vida eterna".

Por amor do Evangelho, Asbury não se casou. A natureza

do seu trabalho vedava-lhe a vida doméstica. Ele achava injusto sujeitar uma esposa à vida itinerante como era a que ele tinha de levar naquela época. Era sempre uma tristeza para ele, quando um dos seus pregadores se casava, pois isso significava a fixação e abandono da itinerância e com isso cessava a evangelização do povo em algum lugar.

Ora, Asbury começou logo a por em execução seu propósito.

Fez diversas viagens durante o inverno, nas cercanias da cidade de Nova York. Visitou Nova Rochele, Rye, Staton Island e outros pontos. Implantou o Metodismo em Staton Island. Conquistou algumas famílias distintas naquela ilha. A família de Pedro Van Pelt, que ele levou a Cristo, tornou-se-lhe um lar amigo. Anos depois, quando abriu trabalho no estado de Kentucky, encontrou o irmão• de Pedro, Benjamin Van Pelt, que ficou seu amigo e se tornou pregador local, tendo fundado diversas sociedades metodistas a leste do estado de Tennesse. Parece que o exemplo de Asbury estimulou Boardman e Pilmoor a viajarem mais, pois nesse tempo encontramos Boardman fazendo viagem longa na direção do leste, até a cidade de Boston, e Pilmoor, antes de voltar para a Inglaterra, fez uma longa viagem para o sul até ao estado da Geórgia, onde visitou o orfanato de Whitefield, em Savanah.

Em outubro de 1772 Wesley nomeou Asbury como seu

ajudante ou assistente na América. Obedecendo ao seu

princípio, Asbury organizou uma zona nas cercanias da cidade da Filadélfia, como já fizera nas da cidade de Nova York. Assim o sistema da itinerância se iniciou, de fato, na América e tem continuado até ao dia de hoje.

Asbury fixou seu quartel general na cidade de Baltimore.

Organizou as sociedades metodistas em classes e assim unificou os crentes, pondo-os sob o cuidado de guias espirituais. O trabalho desenvolveu-se e resolveram os crentes construir duas casas de oração.

Asbury fez viagens que abrangiam seis condados no estado

de Maryland. Encontrou-se com Strawbridge, Owen e João King que o ajudaram na obra da evangelização. O vigor com que Asbury executava o trabalho não agradava a seus colegas Wright e Pilmoor, pois viam que ele tinha espírito militar demais no seu plano. Houve, pois, queixas e Wesley enviou Tomaz Rankin para assumir a clireção do trabalho.

Na ocasião da Conferência anual, que se realizou em

Filadélfia, em 1773, houve discussões amargas de que nos dá uma idéia a seguinte citação de Asbury: "Houve alguns debates na Conferência entre os pregadores, a respeito do procedimento de alguns que queriam ficar nas cidades e viver como cavalheiros. Três anos em quatro passavam nas cidades. Observou-se que se tinha gasto dinheiro sem resultado, que se nomearam guias incompetentes e que nossas 'regras foram violadas" (McTyeire, p. 300).

A influência de Asbury sobre as sociedades em Baltimore e

no estado de Maryland foi tão salutar que o Metodismo ficou permanentemente implantado nessa zona. Algumas das famílias mais importantes da cidade de Baltimore foram levadas a Cristo e, entre elas, pode mencionar-se a família de Henry Dorsey Gough. Gough era rico e casou-se com a filha do governador Ridgeley. Possuía uma casa, a cerca de trinta quilômetros da

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cidade, chamada, Pery Hall, uma das casas maiores e mais belas da América. Mas Gough não era feliz e gostava de jogar e beber. A sua esposa gostava da religião e da pregação dos metodistas, mas ele a proibiu de lhe assistir aos cultos. Uma noite, jogando e bebendo com seus colegas, sugeriram-lhes que todos fossem assistir à pregação dos metodistas. Foram, Asbury pregou. Saindo do culto, disse um deles,: "Que tolice ouvimos esta noite"! Respondeu Gough: "Não, senhor, o que ouvimos é a verdade, a verdade como está em Cristo"... Quando chegou em casa, disse à sua esposa: "Eu nunca mais hei de proibir você de assistir aos cultos dos metodistas". Converteu-se e ambos entraram na sociedade metodista. A casa grande tornou-se lar dos pregadores metodistas. Gough construiu uma capela ao lado da sua casa e, quando não havia pregador para dirigir culto, sua esposa lia a Bíblia, junto com os negros (escravos), cantava alguns hinos e orava.

Por alguns anos Gough andou direito, mas caiu e se

afastou da sociedade. Em 1800 foi levantado pelo seu grande amigo Asbury. Depois da sua restauração exclamou: "Oh, se minha esposa tivesse voltado para o mundo, eu estaria do mesmo jeito perdido; mas, não tendo voltado, ai sempre alimentava a esperança de voltar para Deus, inspirado pelo seu bom exemplo e pela sua conduta". Morreu na fé, em 1808, e Asbury, que o tinha levado duas vezes À cruz, esteve presente para confortá-lo nas últimas horas.

Devereux Jarrett Houve, ao menos, um clérigo da Igreja Anglicana na

América que se identificou com o trabalho metodista. Foi Devereux Jarrett. Era americano. Nasceu no estado de Virgínia. Estudou nas escolas que ali havia, ajudando seu pai na fazenda na época das férias. Ensinou numa escola por algum tempo. Uma senhora piedosa o influenciou e, sentindo seus pecados, resolveu entrar no ministério. Preparou-se para

sua ordenação. Foi à Inglaterra a fim de ser ordenado. Voltando para a América, foi nomeado para a paróquia de Bath. Falando de seu modo de pregar, disse:

"Em vez de uma palestra moral aconselhando meus ouvintes a andar de uma maneira tranqüila e calma na senda filosófica de sublime e elevada virtude e não a trilhar a pista suja de vícios vergonhosos (predileção daquele tempo), eu me esforcei por lhes pintar com as cores mais alarmantes a culpa do pecado, a depravação total da natureza humana, o perigo alarmante em que os homens se acham, por natureza e pela prática, a maldição tremenda a qual estão expostos e sua incapacidade absoluta de executar a sentença da lei e o veredicto da justiça divina pelo seu próprio poder, ou por mérito de suas boas obras. A ignorância acerca das coisas de Deus, a profanação e a irreligião prevaleciam então em todas as camadas. Eu duvido que até alguma forma de piedade se descobrisse em qualquer família na minha numerosa paróquia. Eu era pessoa estranha ao povo. Minhas doutrinas eram inteiramente novas para ele e não eram pregadas nem cridas por qualquer outro clérigo até onde eu pude verificar, em toda a paróquia" (McTyeire, p. 302).

Jarrett conseguiu bons resultados. Os seus serviços foram

procurados e solicitados em diversos lugares. Trabalhou entre os metodistas, administrando-lhes os sacramentos e fez o que pode por conservá-los contentes com a sua situação. Ficou desapontado porque os metodistas finalmente optaram por uma organização independente da Igreja Anglicana ou Episcopal. Não somente sofreu desapontamento com o rumo que as sociedades metodistas tomaram, sendo que sofreu desprezo (às mãos) do clero da sua própria Igreja, porque ajudava os metodistas. Mas nem por isto deixou de auxiliá-los.

Mandou um relatório do trabalho que fez na sua

paróquia para Wesley. Lendo seu relatório, tem-se a impressão

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que foi escrito por um pregador metodista. Fala nas sociedades que organizou, nas reuniões de avivamento que promoveu no número de conversões e de santificações, etc. O avivamento que começou na sua paróquia se estendeu por quatorze condados no estado de Virgínia e por alguns condados no estado de Carolina do Norte. Em 1776 houve avivamento em. diversas partes do estado de Virgínia. Antes de Shardford partir para assistir à Conferência, recebeu uma Carta de Jarrett, em que dizia:

"Dou graças a Deus pela sua bondade, por ter derramado abundantemente o seu Espírito sobre homens, mulheres e crianças. Creio que mais de setenta pessoas, na minha paróquia, pela graça de Deus, têm crido desde a última Conferência trimensal. Tal trabalho nunca vi antes com meus olhos. As vezes doze e quinze aparecem na reunião da classe. Acabo de voltar da reunião de duas classes. O poder de Deus se manifestou abundantemente em ambas. Minha esposa está agora alegre no Senhor. Bato palmas, exultando e louvando a Deus. Louvado seja o Senhor, que mandou o irmão e seu colega para este cantinho da sua vinha" (McTyeire, p. 305).

Novos obreiros apareceram e continuaram o trabalho,

estendendo-o para novos Campos. Quanto mais se estendia o trabalho, tanto mais trabalhadores apareciam. Homens com pouco preparo, depois da sua conversão, entraram nas fileiras, mas, pela leitura da Bíblia, do hinário, da Disciplina e de outros livros, adquiriram conhecimentos práticos e experimentais que os habilitavam a fazer uma obra grandiosa na conversão de almas e na santificação de vidas.

Guilherme Waters Guilherme Waters nasceu no condado de Baltimore em 1751

e converteu-se com vinte anos de idade. Pouco tempo depois da sua conversão começou a pregar e em menos de um ano

entrou na itinerância. O ponto forte no seu trabalho era seu costume de alistar seus conversos no trabalho. O método dele era o seguinte: nos domingos dividia os crentes em grupos de dois ou três que visitavam as casas, cantavam hinos, liam a Bíblia, faziam oração e falavam. Assim, os novos crentes começavam logo trabalhar e diversos descobriram que tinham dons para pregar. O seu primeiro ano de itinerância foi ricamente abençoado. Muitas almas foram convertidas. O seu segredo de bom êxito ele o explicou mais tarde:

"O trabalho mais glorioso que já vi entre os crentes foi nesta zona. Centenas e centenas de pessoas professaram a santificação e dedicação ao Senhor. Eu não podia contentar-me, sem exortar os crentes acerca do seu privilégio, e notei que os que pregavam, ainda que com eloqüência, sem falar neste assunto, não satisfaziam os ouvintes, ao passo que os que falavam neste assunto, ainda que sem eloqüência, mas com convicção da alma, exortando os crentes a buscarem a perfeição, eram abençoados nas suas palavras" (McTyeire, P. 307).

Richard Owen Richard Owen fez notável trabalho como pregador local.

Antes de entrarem os itinerantes na zona onde ele morava, já tinha aberto trabalho em diversos lugares. A chama divina que crepitava na sua alma o levou a pregar aos outros a mensagem divina. Muitas vezes deixou a sua família para fazer viagens longas, sem receber qualquer remuneração material. Quando a família já estava criada e podia cuidar de si, dedicou-se ao trabalho como suplente. Finalmente tombou no seu posto, como bom obreiro do Senhor, longe de casa, mas no meio de irmãos carinhosos.

Filipe Gatch Filipe Gatch, colega de Guilherme Waters, nasceu perto de

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Georgetown, no estado de Maryland, em 1751. Gatch foi instrumento para estender o Metodismo para leste e oeste do país. Desde a sua mocidade tinha impressões religiosas, porém não havia ninguém que pudesse explicar-lhe o caminho da salvação pela fé. Um dia um metodista leigo, Natã Perigna, passou pela sua comunidade e pregou. O sermão o despertou. Mais tarde, assistindo a um culto, ficou tão impressionado com a verdade que saiu dali julgando-se indigno de estar na casa de oração. Um bom homem saiu a procurá-lo e explicar-lhe a necessidade de buscar a Deus e o seu perdão. Entrando de novo na casa de oração, Gatch orou: "Ó Senhor, se me deres poder para invocar o teu nome, quão grato te serei!". Imediatamente sentiu o poder de Deus na sua alma. Ouviu a voz suave de Deus na sua alma, dizendo: "Meu poder está presente para te curar, se crês". Creu e sua alma foi libertada. Então entrou num novo mundo.

Logo depois seu irmão se converteu e os dois irmãos

iniciaram a prática do culto doméstico. Em pouco tempo toda a família estava convertida e fazia parte da sociedade metodista. Começou a exortar e também a pregar. Rankin queria que ele aceitasse trabalho em Nova Jersey, porque o escândalo causado pelo mau comportamento de dois pregadores da zona estava matando o trabalho metodista naquele estado. O lugar era difícil e o rapaz era novo no ministério, mas acertou o trabalho. Gatch disse:

"Pareceu-me que se rompiam os lagos da vida; era uma espécie de morte para eu separar-me da minha família e dos meus amigos. Mas ousei não olhar para trás. Aquele que quer ser discípulo de Cristo tem de deixar tudo para segui-lo".

Gatch entrou no seu novo campo de trabalho, fortalecido pela

sua fé em Deus. Encontrou muita oposição, mas, por sua coragem e pelo seu bom senso, saiu vencedor. Certa ocasião um homem quis quebrar-lhe a cabeça com uma cadeira, porém um amigo

pegou na cadeira em tempo de evitar a pancada Esse ato de violência ganhou-lhe mais amigos entre o povo. Havia nessa zona um clérigo, Kain, que, não querendo que pregasse nos limites da sua paróquia, saiu para dar-lhe combate intelectual. Foi o caso de gigante Golias dando combate contra Davi. O pároco alegou que ele não tinha autoridade da Escritura para pregar. O rapaz subiu ao estrado, debaixo duma árvore, e escolheu seu texto do livro "Oração Comum". A sua explicação foi tão clara e acertada que a leitura do discurso que o pároco preparara não tinha mais cabimento.

Então o pároco falou contra a doutrina do "novo

nascimento" e contra a oração de improviso. Gatch replicou que sabia que tinha nascido de novo e, quanto à oração extemporânea, podia dizer que, quando Pedro estava afundando na água, não correu à terra para procurar um livro de oração, mas gritou: "Salva-me, Senhor!". O pároco deu-se por vencido e retirou-se.

Gatch, na madureza da vida, mudou-se para o oeste e fixou

residência perto do lugar onde esta hoje a cidade de Cincinati. Deixou de viajar como itinerante, porém continuou a ajudar o trabalho naquela nova zona. Morreu firme na fé, em 28 de dezembro de 1833. O juiz McLen era seu amigo e escreveu a biografia dele, terminando-a com estas palavras:

"Quanto ao fundo e a forma, Gatch pertenceu à classe dos pregadores que lançaram os alicerces do Metodismo na América. Não era sábio, nem a seus próprios olhos nem aos olhos do mundo. Educou-se na escola de Cristo, mas, além disso, as suas qualificações não excederam as dos pescadores e publicanos que pregaram o Evangelho no princípio, que se revestiram da armadura de Deus e profundamente se possuíram de espírito cristão. Foi desprezado e condenado pela sua ignorância e ousadia. Talvez não pudesse formular um silogismo nem argumentar nos limites prescritos pelas regras da lógica. Mas venceu,

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não por sua própria força, porém pela força d'Aquele que muitas vezes escolhe as coisas fracas do mundo para confundir as coisas dos poderosos. Ele e os seus colegas saíram e sua voz foi ouvida por todo o país. Pregavam ao ar livre, nos celeiros e em qualquer lugar onde o povo quisesse ouvi-los. Estavam cientes das suas deficiências e não tinham confiança nas suas forças naturais. Não procuravam pregar grandes sermões, mas sermões que penetrassem o coração e reformassem a vida dos homens. As bênçãos de Deus repousaram sobre seu trabalho e a Igreja vem cultivando a "sua memória" (Hurst, Vol. IV, p. 118).

Eduardo Drongoole Eduardo Drongoole nasceu na Irlanda e criou-se no

romanismo. Renunciou o romanismo antes de emigrar para a América, em 1770. Trabalhou como alfaiate por algum tempo. Ouv iu seu patríc io , Strawbridge, pregar e converteu-se. Começou logo a pregar. Trabalhou nos estados de Virgínia, Carolina do Norte e Maryland. Passou doze anos na itinerância; casou-se e logo deixou a itinerância. Prosperou nos seus negócios e tornou-se homem abastado e de grande influência na sociedade. Foi pai de dez filhos, dos quais dois entraram no ministério e o mais moço foi eleito deputado ao congresso dos Estados Unidos.

Não deixou, depois disso, de trabalhar e ajudar a causa

metodista. Hospedou na sua casa uma Conferência geral. O bispo Asbury pregou muitas vezes na sua casa. Na última visita, em 1815, pregou na casa dele e o ordenou presbítero. Foi feliz no seu casamento; a sua vida conjugal durou quarenta anos. Morreu com oitenta e quatro anos de idade.

João Dickins

João Dickins era patrício de Francis Asbury. Trabalhou na Carolina do Norte e ajudou Asbury a formar planos para fundar um colégio. Ajudou na fundação da Casa Publicadora que tem trazido tanto benefício à causa de Cristo na América. Foi ele que sugeriu o nome ofic ial da nova igreja na América — Igreja Metodista Episcopal.

Filipe Bruce Filipe Bruce nasceu na Carolina do Norte. Era descendente de

pais huguenotes. Estudou com um escocês. Era homem alto, escuro e de olhos penetrantes. Pregava bem e exortava com eficiência. Professou, pregou e exemplificou na sua vida a santificação.

Freeborn Garrettson Freeborn Garrettson nasceu no estado de Maryland, em

1752. Converteu-se, ouvindo um exortador, em 1775. Logo se tornou pregador enérgico. Sofreu violências e perseguições de seus patrícios no tempo da guerra da Independência. Pregou por algum tempo na Nova Escócia. Passou a maior parte do seu ministério no estado de Nova York. Morreu com setenta e seis anos de idade.

Conclusão Novos recrutas entravam no ministério de ano em ano. Se todos

os nomes fossem mencionados numa só lista, fariam um pequeno volume. Mas todos esses servos de Deus trouxeram a sua contribuição para a fundação do Metodismo na América.

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CAPITULO VII

ORGANIZAÇÃO DO METODISMO E SEU DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA 21. Organização do Metodismo em 1784.

No decurso de quarenta anos Wesley tinha desenvolvido o sistema da itinerância na Inglaterra. Durante esse tempo tinha introduzido os elementos fundamentais do sistema metodista. O "Título de Declaração" garantia as doutrinas e o plano de itinerância e, ao mesmo tempo, facilitava um programa educativo. Possuía virtudes com que Wesley no princípio não sonhava. A organização das Sociedades Unidas na Inglaterra foi tão solidamente feita que na hora da morte do fundador, em vez de se desintegrar, ficou mais firme do que nunca. Mas na América a situação era diferente. Não havia na América uma organização das sociedades que garantisse ali a permanência do movimento metodista. A guerra da Independência alterou completamente a situação dos metodistas.

A separação completa entre Igreja e o Estado colocou o

clero da Igreja Anglicana numa posição nova e independente. O governo inglês não tinha mais autoridade sobre as paróquias episcopais anglicanas na América. Os metodistas tinham perante a lei liberdade igual à dos episcopais anglicanos. Entretanto os metodistas não tinham um ministério ordenado que pudesse administrar os sacramentos do batismo e da santa ceia. Por alguns anos diversos dos pregadores reclamavam já a administração dos sacramentos nas sociedades. Alguns chegaram ao ponto de administrá-los, mas depois, pela habilidade de Asbury, desistiram disto, até que Wesley pudesse ser consultado sobre o assunto. Asbury escreveu uma carta a Wesley em que expôs a situação e apelava para que fizesse alguma coisa no sentido de resolver o problema.

À vista desses fatos e, tendo um homem que já dera provas de habilidade e capacidade, o dr. Tomaz Coke, Wesley resolveu agir e dar uma solução ao problema que a providência divina tinha criado.

Wesley chamou o dr. Coke para uma Conferência em

fevereiro de 1784. Depois de explicar o motivo da Conferência, apresentou o assunto que pesava sobre a sua mente, mais ou menos nos seguintes termos:

"Como a revolução da América tinha separado os

Estados Unidos da mãe-pátria para sempre e a Igreja Anglicana estava completamente abolido, tinha ele sido informado, o estado das sociedades era precária um apelo tinha sido feito por Asbury, no qual solicitava se tomassem providências para criar uma forma de governo adequado às suas exigências; e, tendo por muito tempo pensado seriamente no assunto, queria adotar o plano que ia revelar. Como se tinha invariavelmente esforçado, em cada passo, por ater-se às Escrituras, assim, nessa ocasião, esperava que não se estivesse desviando delas. Olhando para a conduta das igrejas primitivas, na época do cristianismo puro, admirava o modo por que os bispos eram ordenados na igreja de Alexandria. Para conservar a sua pureza, a igreja não permitia que qualquer bispo interferisse nas ordenações ou delas participasse, mas que os presbíteros da velha Igreja Apostólica, na ocasião da morte de um bispo, exercessem o direito de ordenar outro bispo dentre seu grupo, pela imposição das mãos e esse costume continuasse entre eles por duzentos anos, até aos dias de Dionísio. E, finalmente, sendo ele mesmo um presbítero, desejava que o dr.. Coke aceitasse ordenação de bispo das suas mãos e, nessa qualidade, fosse superintender as sociedades da América” (McTyeire, p. 341).

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O dr. Coke ficou espantado com o plano e pediu tempo para refletir sobre ele. Dentro de dois meses escreveu a Wesley, prometendo cooperar com ele na execução do plano. Na ocasião da Conferência, que se realizou em Leeds, em 1784, Wesley explicou aos pregadores o plano. Mais dois homens, Richard Whatcoat e Tomaz Vasey, ofereceram seu serviço para realização do plano. Whatcoat e Vasey iriam na qualidade de missionários e presbíteros.

Terminando a Conferência, Wesley retirou-se para

Bristol e Coke para Londres para por em ordem seus negócios antes de embarcar para a América. Dentro de pouco tempo Wesley escreveu a Coke, pedindo que fosse a Bristol e que levasse o rev. Creighton consigo. O rev. James Creighton era ordenado pela Igreja Anglicana e nessa época ajudava na Capela de Wesley, em Londres. Foram a Bristol e, no dia 1º de setembro, Wesley e Creighton ordenaram Whatcoat e Vasey diáconos, no dia seguinte, os ordenaram presbíteros. Na mesma ocasião Wesley e Creighton ordenaram Tomaz Coke bispo ou superintendente geral das sociedades da América. No dia 18 de setembro embarcaram os três para a América, levando os seguintes documentos de Wesley:

"A quem interessar: João Wesley, membro do

Lincoln College, em Oxford, presbítero da Igreja Anglicana, saúde.

“Visto que muita gente das províncias do sul da

América do Norte que deseja continuar sob meu cuidado e que ainda adere às doutrinas e disciplina da Igreja Anglicana, anda apreensiva por falta de ministros para administrarem os sacramentos do batismo e da santa ceia do Senhor, segundo o uso da referida Igreja, e visto que não há qualquer outra solução para conseguir ministros para ela;”

“Saibam todos que eu, João Wesley, acho que sou providencialmente chamado, neste momento, para destacar algumas pessoas para esse ministério na América. Portanto, sob a proteção do Todo Poderoso e visando a gloria de Deus, ordenei hoje, como superintendente; pela imposição das minhas mãos (ajudado por um ministro ordenado), Tomaz Coke, doutor em direito e presbítero da Igreja Anglicana, homem que julgo bem qualificado para esta grande obra. E por meio deste ofício o recomendo a todos os que se interessam, como pessoa idônea para presidir sobre o rebanho de Cris to. Em testemunho disso afirmo e assino neste dia 2 de setembro do ano mil e setecentos e oitenta e quatro. João Wesley" (McTyeire, p. 342).

Além desse documento Wesley entregou ao rev. dr. Coke uma carta para ser publicada e distribuída entre as sociedades na América. Por ser um documento de valor histórico, será incluído aqui :

"Bristol, 10 de setembro de 1784.

Ao dr. Coke, a Asbury e a nossos irmãos na América do Norte.

Pela crise de excepcionais acontecimentos providenciais, muitas das províncias da América do Norte estão completamente desligadas da mãe-pátria e constituídas em estados-independentes. O governo inglês não tem autoridade sobre elas, quer civil, quer eclesiástica, mais do que a Holanda. A autoridade civil exercida sobre elas e em parte pelo congresso e em parte pelas assembléias provinciais. Mas ninguém exerce ou pretende exercer qualquer autoridade sobre elas. Nessa situação peculiar alguns milhares de habitantes desses estados desejam meu conselho e, para satisfazer ao seu desejo, confeccionei um pequeno esboço”.

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“Já há muitos anos, a leitura da obra do Lord King acerca da Igreja Primitiva me convenceu de que a ordem de bispo e a de presbítero é a mesma e, conseqüentemente, tem o mesmo direito de ordenar. Por muitos anos sou importunado, de quando em quando, para exercer o direito de ordenar uma parte dos pregadores itinerantes. Mas sempre recusei, não somente para conservar a paz, mas porque estava resolvido a evitar, tanto quanto possível, violar a ordem estabelecida pela Igreja Nacional, a qual pertenço."

“Mas o caso na Inglaterra é diferente. Aqui na Inglaterra

estão os que têm jurisdição legal. Na América não há nem párocos nas paróquias, de maneira que se podem viajar léguas sem encontrar alguém que possa administrar o batismo e a ceia do Senhor. Aqui, portanto, acabam nossos escrúpulos. E eu me julgo com toda autoridade, pois não violo ordem de ninguém nem invado direitos de ninguém, ao nomear e mandar trabalhadores para a América.”

“Conseguintemente nomeei o dr. Coke e Francisco

Asbury co-superintendentes sobre os nossos irmãos da América do Norte e também, como presbíteros, Richard Whatcoat e Tomaz Vasey para exercerem o cargo de presbítero entre eles, administrando o batismo e a ceia do Senhor. Preparei uma liturgia, fazendo pouca diferença à da Igreja Anglicana (que julgo a melhor Igreja constituída no mundo), à qual aconselho a todos os pregadores itinerantes a usarem no dia do Senhor em todas as congregações, lendo a litania somente nas quartas e sextas-feiras e orando de improviso nos demais dias. Igualmente aconselho aos presbíteros a administrarem a santa ceia nos dias do Senhor.”

“Se alguém me mostrar um meio mais racional e bíblico

para alimentar e guiar essas pobres ovelhas no deserto, terei grande prazer em adotá-lo. Atualmente não vejo outro método melhor do que o que adotei.”

“Diversas vezes já foi sugerido que os bispos anglicanos ordenassem parte dos nossos pregadores destinados para a América. Mas a tal proposta faço as seguintes objeções: 1º) Desejei que os bispos de Londres ordenassem alguns pregadores, mas não consegui. 2º) Se consentissem, saberíamos da demora que causariam ao andamento das coisas; mas o caso não permite demora. 3º) Se agora consentissem em ordená-los, quereriam governá-los. E como isto nos embaraçaria. 4º) Como os nossos irmãos americanos estão desembaraçados tanto do Estado como da hierarquia inglesa, não ousamos embaraçá-los de novo, nem com um, nem com outro. Estão agora com plena liberdade para seguir as Escrituras e a Igreja Primitiva. E julgamos que será melhor continuarem firmemente na liberdade com que Deus os libertou" (McTyeire, p. 343-344).

Providos destes documentos, o dr. Coke e seus dois companheiros, Whatcoat e Vasey, embarcaram para a América em 18 de setembro de 1784 e chegaram a Nov a York em 3 de nov embro. Lá es tav a João Dickins para os receber. Foi Dickins que escrevera a carta, pedindo recrutas para o trabalho na América. Agora, sendo o pregador da sociedade em Nova York, ficou tão contente por poder receber os irmãos que Wesley mandou, que desejava avisar da sua chegada aos outros pregadores, especialmente Asbury. Mas julgava mais prudente não tomar qualquer decisão sem primeiro consultar Asbury. Encetaram viagem para o sul, pregando em diversos lugares ao longo do caminho, passando pelas cidades de Filadélfia, Willington e Dover.

Coke e Whatcoat chegaram à Capela de Barratt, perto de

Dover, a primeira capela construída no estado de Delaware, onde Asbury esperava realizar uma Conferência trimensal, no domingo, 14 de novembro. Assim descreve Coke a cena:

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"Nesta capela, no meio da floresta, se reuniu magnífica congregação, a qual tentei pregar acerca do Redentor como nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção. Depois do sermão um homem simples e robusto se chegou a mim, no púlpito, e me beijou. Julguei que não poderia ser outro sendo Asbury e não me enganei. Administrei a ceia do Senhor, depois de pregar a auditório de quinhentas a seiscentas pessoas, e me dirigi em seguida à festa de amor. Foi o melhor culto a que assisti, depois do de Charlemont, na Irlanda. Depois do jantar eu e Asbury tivemos palestra em particular sobre os planos dos nossos trabalhos na América. Ele me informou que esperava minha chegada e que tinha conversado com um grupo de pregadores acerca da possibilidade de ser convocada uma Conferência, se fosse necessária. O grupo foi chamado e, depois de discutir a questão, unanimemente concordaram em convocá-la. Portanto, mandamos Freeborn Garrattson, como flecha, para o Norte e para Sul, instruindo-o para que mandasse mensageiros para a direita e para a esquerda, a fim de reunir todos os pregadores em Balt imore, na véspera do Natal. Asbury já esboçara uma viagem de alguns mil e quinhentos quilômetros para ser feita por mim, nesse intervalo. Cedeu-me seu empregado, Black Harry, e tomou emprestado excelente cavalo para mim. Asbury mereceu logo o meu profundo respeito: tem tanta sabedoria e precaução, tanta mansidão e amor e, sobre tudo isto, tanto prestígio e autoridade Nos concordamos em cooperar na fundação de um colégio ou escola. Batizei aqui trinta ou quarenta crianças e sete adultos. Tivemos grande prazer em batizar os adultos" (McTyeire, p. 335-336). A viagem que Asbury esboçou para Coke visava a

região do litoral de leste. O negro Black Harry servia de empregado e pregava de vez em quando. Coke. observou em 29 de novembro:

"Já tive o prazer de ouvir Black Harry pregar diversas vezes. Aqui e ali, eu dava aviso, depois de pregar, que a seguir Black Harry pregaria para os negros. Os brancos sempre ficavam para ouvi-lo. É romântico ver tantos cavalos amarrados às árvores. Estando eu ocupado, nestes exercícios religiosos, três ou quatro horas por dia, não posso distinguir os dias da semana do dia do Senhor, pois todos me parecem iguais. Provavelmente, nesta viagem, tenho batizado mais crianças e adultos do que teria batizado em toda a minha vida numa paróquia inglesa" (McTyeire, p. 346-347). Para apreciarmos devidamente estes dois vultos, Coke e

Asbury, é bom incluir aqui uma descrição deles, feita por Tomaz Ware, jovem pregador que recentemente havia sido admitido na itinerância Assim descreve ele o bispo Coke:

"Passando o dr. Coke pela nossa zona, nas costas

orientais de Maryland, encontrei-o pela primeira vez. Primeiramente não gostei da sua aparência. Sua estatura, cor e voz pareciam mais as de uma mulher que as de um homem e suas maneiras eram elegantes demais para mim. Era tão diferente do aspeto grave e apostólico de Asbury que a sua aparência não me agradou. Havia na zona diversos lugares que ele queria visitar, para os quais eu servi como guia, e, antes de nos separarmos, vi tantas coisas boas nele que fiquei gostando dele e não mais estranhei por que Wesley o escolhera para servir na qualidade de Superintendente. Pelo público era apreciado e em particular era comunicativo e edificante. Certa vez, numa roda de amigos, se expressou assim: "Estou admirado com o espírito dos meus irmãos americanos. Seu amor para com Wesley não é menor do que o amor dos irmãos da Europa. Porque baseado na excelência — a divindade — da religião, tem sido o instrumento para avivar sua influência benéfica

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tem sido derramada sobre esta terra de liberdade. Vejo uma porta aberta para a promulgação do Metodismo na América, cujas instituições eu admiro e cuja prosperidade almejo tanto como a da terra do meu nascimento”. Na presença de Asbury me sinto criança, ele é, na minha opinião, o homem mais apostólico que já vi, não se falando em Wesley" (McTyeire, p. 347). Tomaz Ware, dando sua impressão de Asbury, disse:

"Foi a primeira Conferência a que assisti. Havia bom número de pregadores presentes. Ainda que houvesse poucos sobre cujas cabeças tinha caído neve, contudo alguns pareciam cansados e branqueados, envelhecidos antes do tempo. Entre esses pioneiros, Asbury, pelo consenso geral, era o principal e o chefe. Havia alguma coisa na sua pessoa, nos seus olhos, no seu semblante e no tom da sua voz que atraia a todos que o viam e ouviam. Possuía muita finura de espírito e era capaz sátira da mais severa; porém, graça e bom senso nele predominavam tanto que nunca se abaixou ao ponto de fazer qualquer coisa que não correspondesse ao ministro cristão. Em oração excedia os demais. Dele disse Garrettson, que orava melhor e orava mais do que qualquer homem que ele conhecia" (McTyeire, p. 347). Da Capela de Barratt, Asbury, Whatcoat e Vasey tomaram

outro rumo pelas costas ocidentais de Maryland. Asbury ficou muito preocupado com a situação e com aquilo que podia acontecer na Conferência que em breve se reuniria. Por isso dedicou o dia 26 de novembro, sexta-feira, ao jejum e à oração, para que pudesse saber qual seria a vontade de Deus nesse assunto, de que em breve se trataria perante a Conferência. Os pregadores e o povo pareciam contentes com o plano projetado. Ele mesmo pensava que era do Senhor. Não estava alegre pela honra da ocasião. Via muito perigo

naquilo. Sua alma esperava em Deus. Que ele os guiasse no caminho em que deveriam andar.

Lá pelos meados de dezembro Coke e Asbury se

encontraram em Perry Hall, onde eram geralmente hospedados por Gough. Coke e Asbury tiveram palestras íntimas, nas quais discutiram e combinaram as coisas que deveriam ser ventiladas na Conferência. Freeborn Garrettson conseguiu ajuntar mais de setenta dos oitenta pregadores da região. Na sexta-feira, 24 de dezembro de 1784, todos deixaram Perry Hall e foram à cidade de Baltimore, onde chegaram, às dez horas, para iniciarem os negócios da Conferência na Capela de Lovely Lane.

“Coke assumiu a presidência da Conferência.

Leu-se a carta circular de Wesley. De acordo com esse documento, diz Asbury: "Concordamos em constituir-nos numa Igreja Episcopal e ter superintendentes, presbíteros e diáconos". Asbury recusou a ordenação à superintendência, apesar da nomeação de Wesley, se não fosse eleito formalmente pelos seus irmãos para aquele cargo. Foi unanimemente eleito e, no segundo dia da sessão (25), foi ordenado diácono por Coke, ajudado pelos presbíteros, Vasey e Whatcoat; no domingo, o terceiro dia, foi ordenado presbítero; na segunda-feira seguinte foi consagrado superintendente, ou bispo. A pedido especial de Asbury, Atterbein, da Igreja Alemã, ajudou a Coke e aos presbíteros na consagração. Terça, quarta e quinta-feira, foram ocupadas no estabelecimento das regras de disciplina e na eleição de pregadores para a ordem de diácono e para a de presbítero. Na sexta-feira foram ordenados diversos diáconos. No sabado, 1º de janeiro de 1785, o projeto do Cokebury College, em Abingdon, foi estudado. No domingo, 2 de janeiro, foram ordenados dez presbíteros (previamente ordenados diáconos) e um diácono. Então a Conferência Geral, conhecida como a

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Conferência do Natal, encerrou-se. Os presbíteros eram João Tunnell, Guilherme Gill, Le Roy Cole, Nelson Reed, João Hargferty, Ruben Ellis, Richard Ivey, Henrique Will is, James Okelley e Beverly Allen. Tunnell e Willis estavam "nas partes extremas do campo" e provavelmente estavam ausentes por causa disso. Estes dois e Allen foram ordenados mais tarde. João Dikins, Inácio Pigman e Caleb Boyer foram eleitos diáconos. Boyer e Pigman foram ordenados em junho, na ocasião da Conferência de Baltimore. De acordo com um pedido da Nova Escócia, Guilherme e James O'Cromwell foram ordenados presbíteros para aquela província. Jeremias Lambert foi ordenado presbítero para o trabalho na Ant igua, nas Antilhas" (McTyeire, p. 348-349). Os Artigos de Religião redigidos por Wesley, o Padrão

de Doutrinas aceito pelos metodistas na Inglaterra e as Regras Gerais foram aprovados e aceitos pela Conferência. Ninguém podia ser consagrado supperintendente, ordenado presbítero ou diácono, sem primeiro ser eleito pela maioria dos membros da Conferência. Tomaram-se medidas para socorrer os pregadores jubilados e as viúvas e órfãos dos pregadores. Também houve pronunciamento contra a escravidão e instruções a respeito da emancipação de escravos. Outras medidas foram tomadas que visavam a conservação e extensão do trabalho.

No dia seguinte ao do encerramento da Conferência,

Asbury montou a cavalo e viajou sessenta quilômetros. Jeremias Lambert partiu para seu Campo de trabalho, na Antigua. Os irmãos Freeborn Garrettson e James O'Cromwell embarcaram para a Nova Escócia. Chegaram a Halifax e iniciaram logo seu trabalho. Foram bem sucedidos e estenderam o trabalho até a Terra Nova e Nova Brunswick. Garrettson trabalhou neste lugar dois anos e Wesley mandou alguns missionários para essa zona. Quando Garrettson voltou para os

Estados Unidos, havia ali mais de setecentos membros. Os britânicos têm conservado esse trabalho até hoje; há ainda muitos metodistas nessa zona.

Asbury resolveu levar o Metodismo para a zona aonde

W es ley e Whi te f ie ld tentaram: aos es tados de Carolina do Sul e Geórgia. Em companhia de Woolman Hickson, no dia 4 de janeiro de 1785, Asbury deixou Baltimore em demanda das regiões do sul.

No dia 8 de janeiro chegou à cidade de Culpepper, no

estado de Virgínia, onde se encontrou com Henrique Willis, que chegara a este ponto, na sua viagem para alcançar a Conferência. No dia seguinte Asbury ordenou Willis diácono e, dez dias depois, na igreja de Carter, o ordenou presbítero. Willis tinha atravessado as montanhas da regido no ano anterior e a distancia era tão grande que não deu tempo para ele alcançar a sede da Conferência Tornou-se, ali, companheiro de Asbury na sua viagem para o sul. Pararam na zona de Yadkin para descansar e preparar-se para a viagem.

Jesse Lee, que veio de Salisbury para encontrar-se com o

bispo, foi convidado a acompanhá-lo também. Henrique Will is ia, em geral , adiante para preparar o povo para a visita dos seus colegas. Jesse Lee pregou mais do que o bispo.

O primeiro lugar que visitaram no estado de Carolina do Sul

foi Cheraw. Ali encontraram um negociante metodista do estado do Virginia. Tinha ele um empregado do lado de Massachusetts, na Nova Inglaterra, que contou a Jesse Lee muitas coisas a respeito da sua terra. Lee ficou bem impressionado com a situação do povo naquela parte do país e mais tarde resolveu levar a mensagem para as plagas da Nova Inglaterra.

Visitaram Georgetown onde encontraram hospedagem em

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casa de Wayne, primo do general Antônio Wayne. Mais tarde sua esposa se converteu e assim o Evangelho.foi implantado naquele lugar com a conversão de algumas almas indiferentes.

Chegaram à cidade de Charleston, apesar de encontrar lá um

povo mundano, conseguiram entre ele a conversão de um senhor, Wells, entre outras.

O bispo nomeou Henrique Willis para o trabalho na cidade

de Charleston. O trabalho prosperou e o Metodismo existe ainda nessa cidade.

O bispo Asbury voltou para a Carolina do Norte, onde

realizou a primeira Conferência anual da Igreja Metodista Episcopal na América. O bispo Coke também lá estava presente. A Conferência se realizou em Green Hill, em 20 de abril de 1785. Essa Conferência abrangia o estado de Virgínia e os da Carolina do Norte e do Sul. Houve um aumento de novecentos membros nessa área durante o ano.

Hickson ficou em Georgetown e Willis em Charleston.

Beverly Allen foi ordenado presbítero e nomeado para trabalhar no estado de Geórgia. Entrou em correspondência com Wesley. Pregou em diversos lugares, mas não era homem sério.

"Casou-se com mulher rica, caiu no pecado, foi

expulso do ministério, entrou em negócios e faliu, matou o policial que o guardava e fugiu para Kentucky, tornou-se universalista e, finalmente, desapareceu. Tudo isso no prazo de doze anos” (McTyeire, p. 357).

Foi o primeiro pregador metodista ordenado que desonrou a

causa de Cristo. Outros. homens foram nomeados para o trabalho no estado de Geórgia. Em 1786 João Major e Tomaz Humphries foram nomeados para o estado de Geórgia, com James Foster como presbítero.

Esses heróis da cruz entraram em Geórgia para conquistá-

la para Cristo. O povo estava espalhado, não possuía casas boas, não havia quase pregadores de, qualquer seita. Viajaram, exploraram o campo, pregando em casas particulares e onde encontravam gente. De ano em ano novos pregadores eram enviados e o trabalho ali prosperou abundantemente. Conta-se, a propósito, a história de Henrique Parks que mudou de Virgínia para Geórgia e que foi ali administrador de uma fazenda. Sendo homem forte, enérgico e inteligente, teve bom êxito no seu trabalho. A sua esposa era metodista e foi batizada por Jarrett. Um dia lhes veio a noticia que dois pregadores metodistas iam pregar na yizinhança. A esposa o persuadiu a assistir a pregação. João Major pregou sobre a expiação universal. Parks ficou interessado. Se havia salvação para ele, queria aceitá-la. Converteu-se e a sua casa tornou-se centro de pregação e lugar onde os pregadores encontravam repouso. Prosperou e criou numerosa família. Guilherme J. Parks, o filho mais moço, tornou-se pregador notável nos anais do Metodismo do estado de Geórgia. Os descendentes desta família exerceram grande influência sobre a vida religiosa de muitas pessoas deste estado, entre as quais se conta o escritor destas linhas, pois, sob a influência de James D. Parks, entrou na vida cristã, em 1897. Guilherme J. Parks faleceu em 1845, deixando numerosa família, cujos descendentes exercem ainda uma influência salutar na sociedade.

O trabalho na Geórgia prosperou com os esforços de

homens como Major, Moises Parks, Richardo Ivey e Tomaz Humphries. Constituia-se dum distrito só, separado das outras zonas. Em 1787, contava mais de mil e cem membros. Em um ano o número de membros triplicou. A parte do norte do estado já estava invadida pelos metodistas e não passaram muitos anos até que o estado inteiro sentiu a influência dos metodistas.

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Logo depois da Conferência do Natal, os pregadores

espalharam-se em diversas direções, resolvidos a levar a mensagem da salvação a todos os recantos do país.

22. O Metodismo levado para a Nova Inglaterra. A zona mais adiantada entre as treze colônias originais

foi a mais difícil de evangelizar que os pioneiros metodistas encontraram — a Nova Inglaterra. O Metodismo já tinha penetrado os estados do sul e os do centro, porém os estados da Nova Inglaterra não haviam sido conquistados. Missionários já tinham sido enviados para a Nova Escócia, Canadá e Antigua, mas a Nova Inglaterra ainda estava fora do programa dos metodistas. Finalmente chegou o tempo de iniciar a evangelização dos calvinistas e congregacionalistas da Nova Inglaterra.

Apareceu um homem que se sentia chamado para levar a

mensagem de Deus àquele povo. Por muito tempo tinha pensado nessa missão. Ficou satisfeito, quando o bispo Asbury o nomeou para aquele campo, na ocasião da Conferência realizada em Nova York, em maio de 1789. Jesse Lee foi nomeado para Stanford. Era a única nomeação para toda a nova Inglaterra.

Jesse Lee era forte, robusto, inteligente e jeitoso para o

trabalho. Bem sabia ele que o campo era duro e difícil, mas tinha a convicção de que tinha sido chamado para aquele trabalho.

Três grandes empecilhos tinha de enfrentar na

conquista daquela terra: 1) era homem do sul e como os nortistas consideravam-se mais adiantados do que os sulistas,

não queriam aceitar instrução do povo do sul; 2) era arminiano na teologia e não havia outra doutrina mais odiada pelos calvinistas, descendentes dos puritanos do Mayflower, do que essa; e, 3) finalmente, Lee não era homem de grande cultura e, portanto, não podia ensinar aquele povo coisa alguma.

Além dessas três dificuldades, havia uma complicação

na vida do povo da Nova Inglaterra. A terra tinha sido dividida em paróquias e os habitantes tinham de pagar imposto para sustentar os párocos. O clero dominava a política tanto na vida civil, como na religiosa. Qualquer inovação entre o povo que afetasse esses interesses seria combatida por ele.

Jesse Lee tinha, pois, uma tarefa gigantesca diante de si.

Levou consigo a sua biblioteca que consistia da Bíblia, da Disciplina e do hinário. Conhecia bem Fletcher's Checks e podia discutir com habilidade os "Cinco Pontos" do Calv inismo. A situação de Lee era semelhante a de Davi, quando enfrentou o gigante Golias.

Podia defender a sua doutrina e pregar com facilidade,

porém a coisa mais difícil que encontrava era a falta de hospitalidade por parte do povo. Raras vezes recebia convites para hospedar-se em casas particulares e, quando recebia, era tratado com frieza. Por exemplo, uma vez foi convidado para passar a noite num lar. Quando entrou na casa, ninguém lhe ofereceu uma cadeira; quando chegou a hora de assistir ao culto, ninguém queria ir; quando voltou do culto, quase ninguém conversou com ele; o chefe da casa realizou o culto doméstico, mas ele não recebeu convite para participar dele; e no dia seguinte a família dormiu até tarde, tendo ele de partir cedo, sem comer coisa alguma.

Não podia achar lugar para pregar em muitas cidades e

vilas, senão debaixo de árvores. Uma vez ou outra arranjava

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uma escola, celeiro ou palácio do governo, onde podia pregar. Chegando a Norwalk, pediu licença para pregar numa casa particular, mas foi-lhe recusada; pediu permissão para pregar numa casa desocupada, mas também não foi atendido. Tomando posição debaixo de uma árvore, uma macieira, à beira da estrada, pregou a vinte pessoas.

"Depois de cantar um hino e fazer oração", diz ele,

"preguei sobre o texto: "É-vos necessário nascer de novo". Senti-me feliz por ter achado um lugar tão bom e apropriado. Depois de pregar, falei ao povo que pretendia estar com ele mais uma vez no prazo de duas semanas e, se alguém abrisse a sua casa, teria prazer em pregar nela; mas se não quisesse fazer isto, pregaria naquele mesmo lugar". Por três meses recebeu mau acolhimento, mas não

desanimou. Sentia no coração que Deus estava com ele e que a causa dele havia de triunfar.

Pregou em Stratfield e, depois do sermão, convidou as

pessoas interessadas para ficarem no lugar por alguns minutos. Vinte pessoas ficaram. Realizou uma espécie de reunião de classe. Descobriu três senhoras em condições para formar uma classe. Foi a primeira classe organizada na Nova Inglaterra, pois havia ali pelo menos três pessoas que estavam "prontas a tomar a sua Cruz e ter os seus nomes injuriados pelo amor de Jesus Cristo".

Em Hatford teve permissão para pregar no palácio do

governo e o povo ficou comovido pela pregação Quando voltou a esse lugar, encontrou muitas pessoas interessadas. Cobrou ânimo e entoou louvores a Deus. Visitou uma vila no estado de Connecticut, onde residia um ferreiro inteligente, mas que, para proteger a sua família de heresia metodista, proibira que sua família assistisse às pregações de Lee. Tinha um filho com doze anos de idade, a quem não permitia que assistisse aos

cultos metodistas. Mas o menino ficou tão impressionado com as coisas que ouvia acerca do povo metodista que nunca mais se esqueceu delas. E, no correr do tempo, se tornou metodista, sucessor de Lee e, finalmente, o historiador do Metodismo. É o dr. Natã Bangs.

Em Farington teve de defender a doutrina da perseverança

final. Sendo hospedado em casa de um senhor W., enquanto a esposa preparava o jantar, os dois discutiam o assunto. A discussão continuou até terminar a refeição. O hospedeiro ficou muito contrariado com a posição de Lee e não quis dar-lhe indicação de um caminho que ele desejava saber. Chegou a afirmar:

- "Se Davi tivesse morrido no ato de adultério e Pedro enquanto jurava, teriam sido salvos".

- "Então", disse Lee, "depois da conversão um homem é obrigado a ser salvo: não pode perder-se".

- "Sim", disse ele, "é obrigado a ser salvo, quer queira, quer não, porque é impossível perder ele a salvação". "Ele afirmou que preferiria ouvir-me blasfemar de Deus em casa, antes que falar em Deus, e que uma vez dado seu amor a alguém pode depois retirá-lo.

Eu lhe disse que Deus nunca retira seu amor, mas que nós poderíamos rejeitá-lo". (McTyeire, p. 424).

Depois de pregar em Fairfield, numa noite fria, em 24 de

dezembro, ele exclamou: "Hoje, à noite, graças a Deus, fui convidado por uma viúva para passar a noite na casa dela. É o primeiro convite que recebi desde que cheguei a este lugar, há sete semanas. Ó Deus, envia mais obreiros para esta parte da tua vinha! Gosto de quebrar terra nova e de buscar as almas perdidas da Nova Inglaterra, ainda que seja trabalho duro, mas, estando Cristo comigo, as coisas difíceis se tornam fáceis, e os caminhos escabrosos são convertidos em estradas reais" (McTyeire, p. 424).

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Conseguiu organizar a segunda classe em 28 de dezembro de 1789, como ele escreve:

"Preguei em Reading e o Senhor me ajudou a falar. Senti que Deus estava no meio do povo. Um ou dois ajoelharam-se comigo, quando orávamos. O leão começa a rugir bem alto nesse lugar: é o sinal verdadeiro de que vai perder alguns dos seus súditos. Organizei uma sociedade de dois para começar. Um homem, que há pouco recebeu o testemunho de que está no favor de Deus, deu este passo e uma mulher, que se converteu há pouco, o acompanhou" (McTyeire, p. 424).

Em 28 de janeiro de 1790 se organizou a terceira classe

em Limestone. Depois de sete meses de trabalho duro, conseguiu fundar três classes com oito membros.

Relatou tudo que tinha feito ao bispo Asbury e pediu mais

trabalhadores. Teve o grato prazer de saber que o bispo ia mandar mais três pregadores para a Nova Inglaterra. Quando recebeu esta noticia, estava realizando uma Conferência trimensal numa capela que ainda não estava terminada, que foi a segunda capela começada nessa região.

Deixando as zonas que acabava de organizar, fez uma

v iagem longa, v isitando os estados de Nova Hampshire, Vermont, Massachusetts e Connecticutt. Visitou as cidades de Lynn, Newburyport e Portsmouth, no estado de Massachusetts, mas o fim principal que trazia em vista era implantar o Metodismo na cidade de Boston.

Mas Boston não se interessou por receber coisa alguma do

Metodismo e seu Arminianismo. A tarefa mais difícil e dura que Lee enfrentava na Nova Inglaterra, era conseguir apoio para firmar pé. Boston foi o lugar mais duro que se encontrou para introduzir o Metodismo na Nova Inglaterra. A primeira visita durou uma semana. Procurou em toda a parte da cidade

conseguir um lugar para pregar, porém todas as portas estavam fechadas para ele. Finalmente, tomando uma mesa emprestada, lev a n do -a pa r a a p raç a c o l oc an d o- a d e ba ix o de um olmeiro e subindo nela, começou a cantar um hino. Juntaram-se algumas quarenta pessoas e, antes de terminar o culto, havia mais de três mil. No domingo seguinte, fez a mesma coisa, mas não conseguiu quebrar o gelo. Era um povo duro e satisfeito consigo mesmo.

Mais tarde voltou a Boston, porém não conseguiu nada.

Voltou pela terceira vez, passou quatro semanas procurando um lugar onde pudesse abrir o trabalho, com o mesmo resultado. Todas as casas estavam fechadas para ele. O inverno estava se aproximando e a praça publica começara a ficar deserta; o povo procurava a lareira das suas casas, mas deixava o pregador itinerante lá fora, com o frio e a neve. Foi nessa hora triste e perplexa que recebeu de um cavalheiro de Lynn um convite para assistir a um culto na sua casa. Foi um raio de luz nas trevas. Apresentou-se na casa do amigo e foi cordialmente recebido. Pregou o primeiro sermão de metodista nessa cidade e, antes de terminar o inverno, conseguiu organizar ali, em 20 de fevereiro de 1791, a primeira sociedade com oito membros.

Lynn passou a servir como centro da sua propaganda. Não

se esqueceu contudo, de Boston. Levou quase dois anos para conseguir abrir trabalho naquela cidade.

Jesse Lee escreveu no seu Diário:

"Aos 13 de julho de 1792, organizamos uma sociedade com algumas pessoas e ela logo começou a aumentar em número. Encontramos dificuldades extraordinárias aqui, no começo, por falta de uma casa apropriada para cultos. Começamos depois, em casas particulares, mas, mesmo assim, não podíamos manter-

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nos nelas por muito tempo. A sociedade metodista queria por fim, adquirir uma casa de oração, porém, sendo os membros pobres e em pequeno número, não podiam fazer nesse sentido, muita coisa. Três meses mais tarde, todavia, foi lançada a pedra fundamental da primeira capela de Lynn" (McTyeire, p. 428).

Jesse Lee e seus colegas se espalharam em diversas

direções. O trabalho prosperou, apesar de grandes oposições. Onde os pregadores encontravam mais oposição era como via de regra nos lugares onde tinha maior número de ouvintes. Lee tentou abrir trabalho em New Haven, a sede da Universidade de Yale. Os professores e alunos ouviram-no com reverência, mas trataram-no com muita frieza.

A primeira Conferência anual realizou-se na cidade de

Lynn, em agosto de 1792. Havia oito pregadores, além do Asbury, que lhe presidiu. Foi ocasião de grande regozijo da parte de Jesse Lee. A Nova Inglaterra estava cedendo à evangelização. Criaram-se novas zonas com a ocupação de novas regiões. A província de Maine foi invadida e, em 1798, realizou-se ali uma Conferência na zona de Readfield. O estado de Maine é o que fica mais ao norte do país e naquela época não era estado, mas província do estado de Massachusetts. Entre os homens mais notáveis levados a Cristo na Nova Inglaterra não se pode deixar de mencionar o homem que se tornou um dos bispos mais conspícuos do Metodismo, Josué Soule.

Josué Soule nasceu em Bristol, estado de Maine, em 1º de

agosto de 1781. Seu pai descendia dos Pilgrim Fathers que vieram para a América no famoso navio chamado Mayflower. Seu pai era capitão de navio e abandonou a vida marítima na ocasião da guerra da Independência norte-americana, quando perdeu seu navio. Mudou-se para o interior do estado de Maine, onde fixou a residência num sitio que comprou. O lugar onde morava se chamava Sandy River. Josué Soule, o pai do bispo Soule, e sua

esposa eram calvinistas extremados. Gozavam de uma cultura excepcional para aquela época. Seu fi lho, Josué, foi temente a Deus desde o berço. Aprendeu a ler quando era menino e não se lembrava do tempo em que não sabia ler. Menino inteligente, aproveitou da leitura da Bíblia e da de outros livros que se encontravam na biblioteca de sua casa. O Capitão Soule morava a uns dois quilômetros da casa de um vizinho que era metodista, em cuja casa se realizavam cultos de pregação, quando os pregadores metodistas passavam por ali. Foi aqui que o jovem Josué veio a conhecer os metodistas e a sua doutrina. Havia alguma coisa no ensino dos pregadores de que ele gostava. Não podia aceitar o Calvinismo com os seus decretos e a predestinação, mas no Metodismo encontrava alguma coisa que se harmonizava com a sua razão e com a sua experiência religiosa. O primeiro pregador metodista que ouviu, foi Jesse Lee, em 1798. Depois ouviu seus sucessores, Tomaz Cope, Filipe Wagger e outros.

Uma manhã se levantou cedo e se retirou para um lugar

deserto, para orar. Foi nessa ocasião que recebeu o testemunho do Espírito e ficou cheio de paz e alegria. O sol nascia naquela hora e enchia de luz o ambiente. O moço sentiu-se num mundo novo. Podia dizer como Jacó dos tempos antigos:

"Tenho visto a Deus face a face e a minha vida foi

preservada". Nasceu-lhe o sol. Começou realmente a viver. Queria fazer a sua profissão de fé e entrar na Sociedade Metodista. Mas não quis dar este passo antes de consultar sobre ele seus pais. O pai ficou acabrunhado e procurou dissuadi-lo de professar sua fé. A mãe chorou e lamentou o fato de ter ele ouvido os metodistas. Não querendo ele contrariar demais a seus pais, pôs-se a refletir muito antes de tomar qualquer decisão a respeito. Mas chegou à conclusão que devia filiar-se aos metodistas e explicou assim aos seus pais o seu propósito: "Antes de dar o passo final, falei com meus pais em

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particular e expliquei-lhes a questão toda com muito respeito e com muitas lágrimas lhes contei minhas convicções. Além disso, pedi-lhes que mencionassem qualquer ocasião em que eu lhes havia desobedecido. Mas então sentia que era meu dever solene unir-me à Igreja Metodista e receber a sua aprovação e consentimento para isso traria para mim mais felicidade que qualquer outra coisa no mundo" (McTyeire, p. 430).

“Os pais f izeram todo o possível para persuadi-lo a

não dar tal passo. "Custou-me alguma coisa, diz ele, tornar-me metodista. Eu me tornei metodista com a certeza de que seria expulso da casa paterna. Duas vezes em minha vida tive de enfrentar oposição. Duas vezes minha fé e minha decisão foram postas à prova, mas eu resolvi ambos os casos no temor de Deus e com referência a minha responsabilidade perante o tribunal de Deus" (McTyeire, p. 430).

Fez a sua profissão de fé e não foi expulso do lar. Os

pais o toleraram e não falaram mais no assunto. Assistia aos cultos e cumpria seu dever no lar como filho leal e obediente. Um dia convidou seu pai para assistir à pregação de um notável pregador. O pai não quis aceitar o convite, alegando que já tinha ouvido um ou dois pregadores metodistas e que todos eram iguais: os entusiastas, para ele não sabiam pregar. O filho respondeu: "Julga a sua lei alguém, sem primeiro ouvi-lo. Calou esta expressão na mente do pai e ele mais tarde resolveu acompanhar o filho e assistir à pregação. O resultado foi que o pai ficou gostando do pregador Stebbins e o convidou a passar a noite em sua casa. Passaram muitas horas, até alta noite, discutindo os "Cinco pontos", quando o Capitão Soule reconheceu a sua derrota. No dia seguinte, quando Stebbins partiu, o Capitão Soule o convidou para, na volta, não semente passar a noite com ele, mas tam bem

pregar em sua casa. Dentro de poucos meses o pai, a mãe, dois irmãos e duas irmãs de Soule se uniram à Igreja Metodista. Não levou muito tempo para que o jovem Josué Soule se sentisse chamado para pregar. Não sofreu conflito espiritual na sua chamada.

Falou acerca da sua chamada assim: "O Senhor me chamou

para pregar e eu fui". Em junho de 1799 foi admitido como pregador itinerante e nomeado para a zona de Portland, no Maine. Quatro anos mais tarde foi nomeado superintendente distrital e nessa qualidade serviu quatro anos.

Em oito ou nove anos adquiriu, na itinerância, uma

experiência que o habilitou a ocupar qualquer cargo na Igreja Metodista. Foi delegado à Conferência geral que se realizou na cidade de Baltimore, em maio de 1808. Soule amava a Igreja Metodista pela sua teologia simples, pela sua salmódia e seu ritual singelos e, acima de tudo, pelo seu elevado padrão de piedade experimental e prática. Era homem de grande capacidade intelectual, líder seguro, pregador eloqüente e cristão heróico. Morreu em Nashville, Tennesee, em 6 de março de 1867, com mais de oitenta e quatro anos de idade e está sepultado no terreno de Vanderbilt University, em Nashville, no Tennessee.

O trabalho de Jesse Lee na Nova Inglaterra foi difícil,

mas produziu bons frutos. Homens como Josué Soule, Hedding, Mudge, Merritt, Sabin, Bangs, Broadhead, Hunt e Fisk e muitos outros, que dedicaram seu tempo e seus talentos ao serviço do Mestre na Nova Inglaterra e em outras partes, justificam o sacrifício que Jesse Lee e seus colegas fizeram para conquistar aquela terra.

Wilbur Fisk, do estado de Vermont, era homem culto e

bem educado. Pelos seus esforços a Igreja Metodista foi estimulada interessar-se mais na obra educativa. Era eloqüente no

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púlpito e sábio em seus conselhos. Morreu com quarenta e seis anos de idade, no apogeu da sua carreira. É admirável ver quanto conseguiu em tão pouco tempo. Não gozava de boa saúde, contudo trabalhou muito, recebendo pequena remuneração monetária.

Elias Hedding combateu um bom combate e sofreu como

bom soldado de Jesus, Cristo. Nos primeiros dez anos do seu ministério viajou muito pelo Canadá, Nova York, Vermont, New Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticutt e Long Isltnd Sound. Fez o seu trabalho sem remuneração. Passou anos viajando, sem lar, hospedando-se nas casas em que achava acolhida. Angustiava-se porque o que os pobres lhe davam, privava seus filhos do necessário. Seu ordenado era uma bagatela: recebia menos de mil e quinhentos cruzeiros por ano. Mas, apesar de todas as dificuldades e privações, o seu trabalho prosperou.

Ainda que o Metodismo não tenha silo apreciado no

princípio na Nova Inglaterra, era a coisa de que mais ela precisava, porque a fé evangélica se achava em declínio naquela região. O Unitarismo e Racionalismo estavam se alastrando entre o povo e o Metodismo serviu para neutralizar a sua influência. O formalismo nos cultos recebeu a infusão de uma nova vida. A idéia de que o preparo intelectual era o suficiente para se seguir o ministério, ficou um pouco alterada. O Metodismo levou nova vida para o povo. O trabalho de Jesse Lee foi frutífero na Nova Inglaterra. Jesse Lee, nos anos de 1797, 1798, 1799 viajou com o bispo Asbury. Em 1797, estando ausente por motivos de enfermidade o bispo Asbury, Jessé Lee presidiu a Conferência em Wilbrahaw. Na sua visita à Nova Inglaterra, em 1808, Jesse Lee encontrou seis distritos com 8.861 membros. Passou quarenta e três dias no estado de Maine, pregando muitas vezes e visitando diversos lugares.

Um dos segredos do bom êxito de Lee era a habilidade que tinha para lidar com os outros. Possuía grande senso de humor. Conta-se a história do seu contacto com dois advogados jovens. Como os pregadores metodistas eram considerados ignorantes e fanáticos, queriam divertir-se com ele. Lee estava em viagem entre a cidade de Boston e Lynn, quando foi alcançado pelos dois advogados. Seguiam os três a cavalo, Lee no meio. O cavaleiro do lado direito perguntou-lhe:

— "Creio que o senhor é pregador, não e?" — "Sim, eu geralmente sou considerado pregador." — "O senhor prega freqüentemente, suponho eu". — "Prego todos os dias; freqüentemente, duas ou mais

vezes por dia". — "Como é que o senhor acha tempo para estudar, quando

prega tantas vezes?" perguntou o jovem advogado do lado esquerdo.

— "Estudo, quando ando, e leio quando estou descansando". — "Mas escreve o senhor os seus sermões?" — "Raras vezes". — "Pregando de improviso, não erra nas suas pregações?!" — "Sim, às vezes". — "Como é que procede? Não procura corrigir os erros ?" — "Depende da natureza do engano", - replicou Lee. "Estava pregando outro dia, quando citei o texto: "E

todos os mentirosos (liars), sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre", mas, por engano, eu disse: "Todos os advogados (lawyers), sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre".

O advogado do lado esquerdo perguntou: — "Que fez então? Não corrigiu?" — "Não", disse Lee calmamente. "Estava tão perto a

verdade que julguei desnecessário corrigir". — "Ufa!" retorquiu o jovem do lado direito. "Não sei se

há muita diferença em ser o senhor um bobo ou um tolo".

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— "Nem um, nem outro", respondeu calmamente o pregador, olhando de um lado para outro. “Creio que estou exatamente entre os dois" (Luccock, ps. 227-228).

Em 1809 Lee foi escolhido pelo governo para servir como

Capelão do Congresso dos Estados. Ficou no lugar até 1815, quando pediu demissão do cargo. Morreu em setembro de 1816, com cinqüenta e oito anos de idade e foi sepultado no cemitério do Mount Olivet, em Baltimore.

23. O Metodismo ao oeste dos montes Aleghanis. O Metodismo, antes de findar o século dezoito, espalhou-se

entre as treze colônias primitivas dos Estados Unidos. Logo depois, ou mesmo antes, da guerra da Independência, imigrantes das colônias passaram para as planícies ao oeste dos montes Aleghanis. Pioneiros, como Daniel Boon, já tinham penetrado nas florestas e planícies existentes entre o rio Mississipi e os montes Aleghanis e para o norte do Rio Ohio. Chegara já o tempo dos itinerantes seguirem as pegadas dos imigrantes. Antes de 1800, Asbury tinha feito algumas viagens além dos montes Aleghanis, até Kentucky. Já existia uma escola à beira do rio Kentucky, no lugar chamado Betel. Havia alguns pregadores e crentes metodistas espalhados por aquela vasta, e promissora zona. O número de imigrantes aumentava dia a dia; homens de toda espécie, bons e maus, penetravam naquela zona. Estava o tempo propício para evangelizá-la. Mas precisava-se de homens fortes, corajosos e inteligentes para conquistar aquele povo para Cristo.

Asbury, vendo a situação e, com ela, grandes possibilidades e

oportunidades, queria passar além e conquistar a região para seu Mestre. Não somente via ali grandes oportunidades, mas também conhecia o homem talhado para elas, Guilherme

McKendree. Guilherme McKendree nasceu em 6 de julho de 1757, no

estado de Virgínia. Seus pais eram do mesmo estado. Seu pai era fazendeiro. Guilherme cresceu na roça. Estudou nas escolas que por lá existiam naquela época. Depois de ter adquirido instrução regular, ensinou por algum tempo em escolas particulares. Prestou serviço militar na guerra da Independência. Esteve no exército de George Washington e tomou parte na batalha de Yorktown, achando-se presente quando o general britânico Cornwallis se rendeu às forças americanas, pondo fim a guerra, que durara 7 anos.

Bem cedo se manifestaram seus sentimentos religiosos. Se

não tivesse tido um professor ateu, ter-se-ia convertido na primeira mocidade. Seu professor o ridicularizava pelos seus sentimentos religiosos e o rapaz se escandalizou e deixou de lado a religião. Por Alguns anos viveu na incredulidade. Só depois de uma grave enfermidade é que a sua consciência despertou de novo, mas não suficientemente para firmá-lo na vida cristã. Depois de ouvir as pregações dos metodistas, caiu em, si e rendeu-se a Deus. Foi no pastorado de João Easter que se converteu e se identificou com o povo metodista. As lutas por que passou, foram tremendas, porém finalmente achou a paz de espírito e todas as dúvidas se lhe dissiparam. Ao ouvir um sermão pregado pelo seu pastor, sobre a santificação, se interessou nesta doutrina e logo começou a examiná-la. O resultado disso, como ele mesmo narrou, foi o seguinte:

"Minha alma crescia na graça e na fé que vence o mundo. Uma manhã, quando eu andava e meditava no campo, um poder irresistível do Ser divino apoderou-se de mim de maneira nunca antes por mim experimentada. Não podendo ficar em pé, cai ao chão e fiquei extasiado. Meu cálice transbordava: gritei de alegria! Se não tivesse tido certas experiências dolorosas que me sobrevieram

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depois, poderia ter-me regozijado eternamente. Meu coração ficou engrandecido e vi, sob luz mais clara do que nunca, o perigo dos que se acham no estado de incredulidade Por tais pessoas orei com ansiedade. Às vezes, quando era convidado para orar em público, minha alma agonizava por elas, e o Senhor com grande compaixão sobre elas derramava seu Espírito. Foram convencidas e convertidas muitas almas e Sião se regozijou naqueles dias. Sem qualquer idéia de pregar, comecei a contar minha experiência acerca daquilo que o Senhor fizera por mim e o que poderia fazer pelo povo. Isso produziu efeito, causou impressões duradouras. Assim, sem eu perceber, fui guiado por Deus e os pregadores e o povo começaram a insistir para que eu continuasse a falar em público” (McTyeire, p. 483-484). Guilherme McKendree hesitou, não querendo entrar no

ministério. Seu pai, vendo a sua perplexidade, falou com ele sobre o assunto, aconselhando-o a não resistir ao Espírito Santo.

Poucos meses depois, a pedido do seu pastor, assistiu

à Conferência, onde foi nomeado, como pregador, para a zona de Mecklingbilrg. Ficou abismado, duvidando se deveria aceitar ou não a nomeação. Mas seu pastor e também o superintendente distrital, rev. Easter, vendo o embaraço dele, procuraram-no e abraçaram-no, dizendo: "Quando você estava perante a Conferência, creio que Deus nos manifestou que tem trabalho para você fazer". Oh. como estas palavras calaram no espírito do jovem pregador! Cobrou ânimo, aceitou a nomeação e mais tarde foi eleito o primeiro bispo nascido em solo americano.

McKendree trabalhou dois ou três anos no estado de Virgínia

e nos das Carolinas do Sul e do Norte antes de ser levado pelo bispo Asbury para as fronteiras das possessões dos Estados Unidos.

No outono de 1800 o bispo Asbury e Whatcoat, passando pelo campo de McKendree, o levaram para as fronteiras, além dos montes Aleghanis. Iam realizar a Conferência do Oeste, em Betel, no estado de Kentucky. McKendree prontificou-se a acompanhá-los Dizem que era homem de perfeita ordem, que podia arrumar mais coisas no seu alforje como o melhor jeito do que qualquer itinerante do seu tempo. Foi nomeado superintendente de toda a zona da Conferência do Oeste. Nele se achava um homem talhado e preparado para implantar o cristianismo na civilização de uma nação nova, aproveitando a maior oportunidade que se concederia a alguém em vida a história ao povo americano. Durante oito anos McKendree trabalhou nessa zona, cresceu e se desenvolveu no ministério, tornando-se um dos pregadores mais destacados da sua época na história da Igreja Metodista.

Terminada a Conferência, Asbury, Whatcoat e McKendree

partiram de Betel, atravessando Kentucky e Tennessee, e chegaram à cidade de Nashville. Ainda a caminho, McKendree escolheu um lugar para construir uma capela e convidou um pregador local para ajudá-lo numa série de Conferências ali. Antes de findar o ano o prédio estava acabado e um grupo de crentes adorava a Deus naquele lugar. Foi isso presságio do que havia de dar-se em muitos lugares naquela vasta região, no decorrer de muitos anos. Quantas capelas ou casas de oração foram construídas durante a vida de McKendree! Uma das igrejas mais antigas e históricas da cidade de Nashville foi organizada naquela época e ainda hoje temo nome de " M c K e n d r e e C h u r c h "

Asbury e seus companheiros de viagem passaram alguns

dias nesse lugar onde foram procurados por quatro pregadores locais, McGee, Sugg, Jones e Speer. O rev. Guilherme Lambuth, bisavô do rev. J. W. Lambuth, era o pastor da zona de Cumberland, naquele tempo. O rev. J. W. Lambuth foi missionário na China e era o pai do saudoso bispo W. R.

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Lambuth. O Bispo Asbury, escrevendo no seu Diário acerca da sua

visita a Nashville, nessa ocasião, disse:

"19 de outubro de 1800. Cheguei a Nashville. Tinha apenas ouvido falar desta cidade. Alguns julgavam que a congregação seria pequena; porém, eu acreditava que seria grande. Nada menos de mil pessoas entraram e saíram do prédio feito de pedra. Se fosse forrado e pintado, seria magnífico. Tivemos um culto que durou três horas. McKendree pregou sobre "O salário do pecado é a morte" e leu Rm 10:14 e 15. O irmão Whatcoat pregou sobre "Quando Cristo, que é nossa vida, for manifestado, então vós sereis também manifestados com ele na glória". Voltamos na mesma tarde e realizamos culto em casa do sr. Dickson (McTyeire, p. 487). O bispo Asbury encontrou em Nashville um irmão, Green

Hill, que ele conhecera anos atrás, na Carolina do Norte, e que se mudara para essa nova zona. Teve o prazer de abraçá-lo, mas não teve tempo para parar na sua casa, como antigamente fazia. Em 21 de outubro o bispo teve uma nova experiência, ao assistir, pela primeira vez, a um "culto de acampamento (camp meeting)". Vamos citar o Diário do bispo que dará uma idéia do que era um culto de acampamento. A origem deste culto se deu da seguinte forma: um homem que morava distante do local dos cultos regulares, para não faltar a qualquer reunião de uma série de pregações, resolveu levar tudo aquilo de que precisava para si e para sua família num carroção e ficar ali por alguns dias, até terminar a série. Foi um expediente tão prático que seus vizinhos começaram a seguir-lhe o exemplo. Em pouco tempo a moda pegou e assim apareceram os "camp meetings".

Eis o que diz o Diário do bispo Asbury, em 21 (terça-feira)

de outubro de 1800:

"Ontem, especialmente durante a noite, testemunhei cenas de profundo interesse. No intervalo dos cultos de pregação o povo tomava refeições e dava alimentos aos cavalos. O púlpito ficava ao ar livre, no meio de árvores altas e frondosas. Os ministros de Deus — metodistas e presbiterianos — uniram-se no trabalho e misturavam-se com a simplicidade de crianças, em condições primitivas. As tochas, colocadas aqui e acolá, iluminavam o ambiente, enquanto os gritos de alegria dos redimidos e os soluços dos arrependidos quebravam o silêncio da meia-noite. O tempo era ideal — como se o céu sorrisse — enquanto a misericórdia de Deus descia em torrentes abundantes de salvação sobre pecadores perdidos. Julgamos que, ao menos trinta almas se converteram nessa ocasião. Eu me regozijo em ver que Deus está visitando os filhos dos puritanos que têm franqueza bastante para reconhecer a sua obrigação para com os metodistas" (McTyeire, p. 487). Foi no ano de 1800 que apareceram os cultos de

acampamento. As zonas eram grandes, levando-se de duas a cinco semanas para percorrê-las. Os cultos de acampamento se realizavam em toda a regido de Tennessee e Kentucky, logo no princípio. Mais tarde os crentes em outras partes os adotaram, até que o costume se generalizou em todos os lugares do país. Ainda hoje se realizam cultos de acampamento, mas com muito mais conforto e luxo.

Os presbiterianos uniram-se aos metodistas nestas

reuniões. Muitas almas nelas se convertiam. O avivamento que começou no ano de 1800, produziu os cultos de acampamento e é natural que eles servissem para propagar e estender o próprio avivamento. Foi neste período de oito ou dez anos que o povo daquela região foi realmente evangelizado.

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O avivamento generalizou-se por toda a parte do país.

Houve, tanto na Inglaterra como na América, agitações e perturbações físicas que acompanhavam as manifestações espirituais. Tanto os incrédulos como os crentes ficavam sujeitos a essas perturbações físicas. As desordens físicas se manifestavam, às vezes, sob a forma de agitações do corpo todo, ou só da cabeça e do pescoço. Às vezes a pessoa corria e falava. Às vezes caia como se estivesse morta. Esses mesmos fenômenos se davam nos cultos de João Wesley, ainda que ele não concordasse com eles. Igualmente na América, os pregadores não desejavam que tais cenas se verificassem. Verificavam-se, porém, freqüentemente. É notável. que tais agitações não deixassem defeitos físicos nas pessoas atacadas por elas.

Certa pessoa que testemunhou essas cenas, descreve-as

assim:

"Quando afetava só a cabeça, era agitada para a frente e para trás ou de um lado para outro com tanta rapidez que o semblante não podia ser reconhecido. Quando afetava o corpo todo, vi que a pessoa ficava num lugar, enquanto o corpo se dobrava para a frente e para trás, até a cabeça tocar no chão. De todas as classes, santos e pecadores, fortes e fracos, foram atacados. Havia ataques de rir, mas só entre os crentes. Ouviam-se gargalhadas fortes, mas não excitavam outros a rir. A pessoa ficava solenemente arrebatada e o seu riso excitava solenidade nos crentes e nos incrédulos. Realmente não se pode descrever o que acontecia! Havia casos em que a pessoa afetada queria correr, para fugir de tal excitação, mas geralmente não podia correr muito, pois caia logo ao chão muito agitada. Conhec i um jovem médico, de boa família, que veio de grande distancia para testemunhar essas coisas

estranhas. Ele e uma moça já tinham entre si combinações de cuidar um do outro, se por acaso qualquer dos dois caísse. Finalmente o médico sentiu uma coisa estranha e saiu da congregação para correr para a floresta. Mas não correu muito: caiu ao chão e ali ficou até submeter-se ao Senhor. Depois se tornou membro zeloso da Igreja. Tais casos aconteciam freqüentemente" (McTyeire, p. 493). Quem sabe se Deus não permitiu esses fenômenos físicos

para impressionar um povo de dura cerviz, pois havia muita incredulidade, perversidade e dureza de coração entre o povo daquela época.

McKendree era o homem para essa época e para essa

região. Não somente sabia promover cultos de avivamento, mas também guiar e disciplinar os novos crentes. Organizaram-se comissões com autoridade para nomear os pregadores para cultos de acampamento e para formular regulamentos que conservassem boa ordem entre o povo, nessas ocasiões.

McKendree pregava as doutrinas, metodistas e administrava

a disciplina com firmeza, mantendo as classes, os ágapes e a itinerância e seus colegas pregaram as doutrinas da redenção universal, da salvação de graça, presente e completa, da justificação pela fé, da regeneração pelo Espírito Santo, do gozo da salvação, que é o fruto do Espírito, e da importância de aceitar a salvação imediatamente. Os pregadores e os superintendentes distritais seguiam com rigor o sistema da itinerância. Os presbiterianos que tomavam parte nos cultos do acampamento, não seguiam com tanto rigor o seu sistema e houve divisão entre eles. Uma nova Igreja Presbiteriana organizou-se com o nome de Cumberland Persbiterian Church, com tendência, na sua doutrina, para o arminianismo.

O trabalho prosperou e Asbury procurou visitar essa

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zona anualmente para realizar as Conferências anuais. Em 1802 o que era um distrito se dividiu em três, a saber: o distrito de Holston, com João Watson como superintendente; o distrito de Cumberland, com João Page como superintendente; e o distrito de Kentucky, com Guilherme McKendree como superintendente.

A visita do bispo Asbury, nessa época, fez-se com grande

sacrifício e sofrimentos para ele, que estava doente. Escrevendo no seu Diário acerca da bondade de McKendree no cuidado que teve com ele e com o trabalho dele, disse:

"O irmão McKendree me fez uma tenda com o seu

cobertor e com o de João Watson e assim evitou que eu ficasse indefluxado, enquanto eu dormia duas horas sob o meu próprio cobertor. O irmão McKendree colocou sua capa sobre o galho de uma árvore e, abrigando-se debaixo dela, ele e seu colega dormiram também. Creio que não devo tentar outra viagem pelas florestas, sem levar uma tenda comigo". Pouco adiante acrescenta: "Tenho estado doente há vinte e três dias. Oh! que história triste eu poderia narrar! Meu caro McKendree teve de ajudar-me a montar a cavalo e a desmontar, como eu fosse uma criança. Minha doença foi causada, creia, pelo fato que tive de dormir ao relento, sem cobertor" (McTyeire, p. 495). No ano seguinte, em 1803, a Conferência achou por bem

criar mais um distrito ao nordeste do rio Ohio, tendo Guilherme Burke como superintendente. De ano a ano havia progresso e se ocupava novo território. Também novos obreiros apareciam e, entre os que se destacaram mais, pode mencionar-se: Samuel Parker, que trabalhou no estado de Mississippi; Pedro Cartwright, que trabalhou nos estados de Kentucky e Illinois; Tomaz Lasley, que trabalhou com Axley no estado de Loisiana. Para se apreciar mais como o trabalho era feito, citaremos um trecho deJames Gwin:

"O irmão McKendree, logo depois de

nomeado para o trabalho do Oeste, formulou plano de levar o Evangelho a todos os recantos. Empregou todos os pregadores locais e exortadores que podia achar, para visitarem os lugares não ocupados. E foram e, com eles, o Senhor. As boas novas de salvação dentro em pouco se ouviam em todas as povoações. Como eu comecei, nessa época, a falar em público, ele me mandou para uma ,povoação nova. Ali preguei até a reunião da Conferência. Então fui recebido em experiência. A ordem que recebemos, eu e Jesse Walker, que foi admitido à experiência na mesma ocasião, foi: "Estender o trabalho". Jesse Walker começou a formar zonas de percursos para Oeste e para o Norte, até chegar ao rio Ohio, e o irmão McKendree elaborou plano para levar o Evangelho ao Oeste dos rios Ohio e Mississippi. E, como Luisiana fosse adquirida pelo nosso governo, enviou ele os irmãos Walker e Luiz Garrett, para abrirem trabalho naquela região e foram bem sucedidos em levantar ali o estandarte da cruz" (McTyeire, p. 497). O trabalho ia de vento em popa. Nunca houve na

história do Metodismo da América do Norte tanto progresso em qualquer região em tão pouco tempo como houve nesta, onde McKendree trabalhou por oito anos. Na ocasião da Conferência do Oeste, que se realizou em 20 de setembro de 1806, o bispo Asbury relatou: "Houve um aumento de 1.400 nesta Conferência e a nomeação de cinqüenta e cinco pregadores. Todos ficaram contentes. Os irmãos estavam em necessidade, portanto vendi o relógio, a capa e a camisa". O bispo Asbury cuidava dos seus pregadores. A última coisa que preocupou seu espírito, antes de partir para a eternidade, foi levantar fundos para suprir grandes necessidades de heróicos pregadores.

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McKendree env iava os pregadores para novos campos

e logo se achava no meio deles, ajudando-os na realização dos cultos de acampamento. Deixemos James Gwin narrar os fatos que se deram numa das viagens de McKendree:

"Em 1807 eu e os irmãos McKendree e Goddard

visitamos a povoação de Illinois. Atravessamos o rio Ohio, entramos na floresta e viajamos até a noite. Não conseguindo chegar a qualquer habitação, acampamos. O irmão McKendree fez-nos um pouco de chá, deitamo-nos sob a copa duma árvore amiga e passamos agradavelmente a noite. Partimos cedo, no dia seguinte, apressamos a marcha e chegamos ao meio da planície, onde passamos a noite seguinte. Na terceira noite, chegamos à povoação. Ficamos ali um dia e, depois, atravessando o rio Kaskaskia, passamos a quarta noite com o velho irmão Scott. Em sua casa nos encontramos com Jesse Walker, que tinha fundado uma zona de trabalho e marcado e planejado três cultos de acampamento para nós. Depois de descansar alguns dias fomos para o lugar marcado para o primeiro culto de acampamento. Viajando vinte quilômetros, chegamos ao rio Mississippi. Não achando meio para atravessá-lo com os nossos cavalos, mandamo-los para trás e, com a bagagem aos ombros, fomos a pé até ao lugar do culto de acampamento. Encontramos o irmão Travis no caminho. Quarenta pessoas converteram-se nessa reunião.

“Desse culto de acampamento voltamos e, atravessando o rio, chegamos a casa do juiz .... que nos hospedou e mandou nossa bagagem, numa carroça para a casa do irmão Garrettson, no lugar chamado Three Springs, onde havíamos de realizar o segundo culto de acampamento. Aqui chegamos sexta-feira. O lugar era bonito, no meio da floresta, mas cercado de pequenas

planícies. Uma multidão de gente tinha chegado, porque se haviam espalhado por toda parte notícias do nosso primeiro culto de acampamento naquele lugar, o que provocou muito entusiasmo entre o povo. Alguns apoiavam estes cultos e outros não nos apoiavam. Certo major juntou um grupo de pessoas desordeiras para nos atacar e expulsar. No sábado, enquanto eu pregava, o major e seus companheiros apareceram a cavalo e estacaram no meio da congregação, o que produziu confusão e alarme. Parei de pregar e os convidei a se retirarem. Afastaram-se um pouco e beberam cachaça. O major disse que tinha ouvido falar que os metodistas; perturbavam o sossego do povo por toda parte onde andavam, que pregavam contra corridas de cavalos, jogos de baralho e outros esportes. Às três horas da tarde, quando eu e o irmão Goddard cantávamos um hino, o poder do Espírito Santo desceu sobre a congregação. Um homem, com expressões de horror no rosto, veio a mim e perguntou: "É o senhor que toma conta do rol?" "Perguntei-lhe a que rol se referia. "Aquele rol", respondeu ele, "no qual a gente que vai para o céu, escreve o nome". Julguei que se referisse a lista dos membros de classe e encaminhei-o para o irmão Walker. Virando-se para o irmão Walker, disse: "Escreve aí meu nome, faça o favor". Depois caiu ao chão. Alguns tentaram fugir mas caíram ao chão e alguns fugiram e escaparam. Conseguimos juntar todos os que caíram ao chão, num lugar, ao por do sol, e então o homem que pedira que seu nome fosse escrito no rol, se levantou e fugiu como se fosse uma fera. Olhando ao redor de mim, tive a impressão de um campo de batalha, depois duma peleja. Toda a noite a luta continuou. A vitória estava do lado do Senhor. Muitos foram convertidos e, ao nascer do sol, do dia seguinte, houve gritos de júbilo no acampamento. Foi o dia do Senhor mais lindo que já vi. Pouco depois, o homem que fugira, voltou, molhado pelo orvalho da noite, mostrando sinais de loucura. Às onze horas o irmão

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McKendree administrou a santa ceia e, enquanto explicava a sua origem, natureza e objetivo, alguns do grupo do major ficaram tocados e produziram cena comovente. Depois da comunhão o irmão McKendree pregou. Todos os homens principais daquela região estavam presentes e todos os que, morando distantes, puderam vir, lá estavam. Eis o texto do sermao: "Vinde, pois, arrazoemos". Talvez ninguém tratasse do assunto melhor ou com melhor resultado. Seus argumentos sobre a expiação, o grande plano de salvação e o amor de Deus eram claros e fortes, pronunciados com tanta compaixão, que a congregação ficou em pé e de todos os lados avançava na direção do pregador. Enquanto pregava, referiu-se ingenuamente à conduta do major e observou: "Nós somos americanos, alguns de nós lutamos pela nossa liberdade e chegamos até aqui para mostrar ao povo o caminho, para o céu". Isto comoveu o major que se tornou amigo nosso e o é até agora.

“Este foi um dia notável. A obra geralizou-se, o lugar

tornou-se terrível e muitos se converteram. Entre os convertidos estava o louco. A sua história é singular. Morava ele no lugar chamado American Bottom, possuía grande propriedade e era ateu Contou-nos que poucas noites antes da nossa chegada sonhara que o dia do juízo estava próximo, que três homens vieram do oriente para avisar o povo e prepará-lo para esse dia, e assim, quando nos viu, ficou alarmado, acreditando que éramos os três homens e, querendo saber quem éramos, veio ao culto do acampamento. Tornou-se homem reformado e bom". (McTyeire, ps. 498-499). No terceiro culto de acampamento mais de cem pessoas

fizeram profissão de fé. Para dar uma idéia mais clara a respeito do trabalho feito

por McKendree e seus colegas, citaremos um trecho dele

mesmo: "Com exceção de quatro domingos, tenho

ass is t ido a reuniões públicas , todas as semanas, desde fevereiro. Neste prazo viajei seis mil setecentos e cinqüenta quilômetros, através de florestas, até ao estado de Illinois e, na volta, passei a maior parte do tempo numa região infestada de malária, contudo, graças a Deus, a saúde e as forças me foram conservadas" (McTyeire, p. 499). Essa viagem durou dois meses e foi o começo da

evangelização ao oeste do rio Mississippi. Os colegas.de McKendree cooperaram com ele nos seus planos e na administração, porque sabia dirigir e fazer o trabalho. Tal homem com tais colegas não podiam fracassar.

Tobias Gibson foi nomeado para abrir o trabalho no

estado de Mississippi. Iniciou sua obra em Natchez, à beira do rio Mississippi, e logo conquistou diversas almas para Cristo naquela localidade. Uma delas era Randall Gibson, seu parente, homem de recursos. Foi nomeado guia de classe e mais tarde se tornou pregador local. Em pouco tempo ali se formou uma sociedade de oito pessoas.

Tobias estendeu o trabalho em todas as direções, mas,

enquanto seu trabalho aumentava e se desenvolvia, sua saúde se enfraquecia. Houve necessidade de mais obreiros naquela região, para que seu pedido tivesse, resposta favorável, resolveu assistir à Conferência que se realizou em setembro de 1802 no lugar chamado Shorter. A viagem para lá foi longa e penosa.

Quando chegou à Conferência, fraco no corpo, o bispo

Asbury o abraçou e deu-lhe a sua benção, e nomeou mais um homem, Moises Floyd, para ajudá-lo no trabalho. Voltaram juntos contentes; mas no ano seguinte, Tobias Gibson voltou à

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Conferência para pedir novos trabalhadores. Estava tuberculoso e não estava longe o fim da sua jornada, porém não queria morrer, sem conseguir mais obreiros para continuar o trabalho que ia tão bem. Desta vez o bispo o abraçou e o sustentou em seus bravos, porque estava muito fraco. O coração dele ficou alegre, quando o bispo nomeou mais dois obreiros para aquela zona. Em poucos meses percorria aquela zona e chegava à Florida a triste notícia de que Tobias Gibson tinha completado a sua carreira. Tinha só vinte e oito anos, quando faleceu.

Realmente a maioria dos pregadores itinerantes naquela

época morria, pode dizer-se, na mocidade. Corria entre o povo, quando tempo, no inverno, ficava frio e chuvoso este dito "Não há ninguém fora de casa hoje, senão os corvos e os pregadores metodistas".

Homens como Natã Barnes, Leones Balcknian, Bowman e

outros entraram e possuíram a terra da Florida, de Alabama, do Mississippi e da Lousiania. Em 1808, a Conferência escolheu onze delegados para representar a zona do Oeste na Conferência geral, e McKendree chefiou a delegação. McKendree, voltando para o Leste, depois de oito anos no Oeste, podia relatar que, quando entrou naquela zona, havia só um distrito e agora deixava cinco; havia só 2.307 membros brancos e 177 membros de cor. Tornou-se o pregador das fronteiras. Deixava-a com 15.202 membros brancos e 795 membros de cor. Esses oito anos foram os mais frutíferos da sua vida. Durante esse tempo estava se preparando para ocupar o lugar mais alto na Igreja Metodista. Na ocasião da Conferência Geral de 1808 foi eleito bispo, o primeiro bispo nascido em solo americano.

A Conferência Geral realizou-se na cidade de Baltimore. O

bispo Whatcoat tinha falecido e a saúde do Bispo Asbury não estava boa. Havia necessidade de eleger, ao menos, mais um bispo.

No primeiro domingo da Conferência, McKendree foi

nomeado para pregar, na Light Street Church. A igreja estava repleta de delegados à Conferência geral. McKendree tinha passado oito anos no Oeste, nas fronteiras e não era bem conhecido pelas igrejas do Leste. Tinha adquirido o jeito e os costumes do povo rústico das florestas. Sua roupa era grosseira e simples e seu porte desajeitado, influenciado pelos costumes da roça. Não tinha boa aparência no púlpito. No princípio do sermão, pareceu embaraçado; mas, no meio, esqueceu-se de tudo menos do assunto e tornou-se eloqüente e a sua voz clara e agradável ecoava em toda a parte do grande auditório; sua eloqüência arrebatou a congregação. Quando parou, o povo sentiu a doçura e a suavidade da verdade evangélica, e houve um silêncio calmo, doce, tão agradável como a luz da tarde num dia calmo de verão. Os delegados à Conferência geral começaram a dizer: "Este é o homem para o bispado". Poucos dias depois McKendree era eleito bispo. Tinha cinqüenta e um anos de idade e estava bem preparado para levar avante a obra que Asbury tinha promovido por tantos anos. Era homem disciplinado nas florestas, educado na escola da experiência e conhecia bem e de perto os problemas dos pregadores da Igreja.

24. Os it inerantes acompanhando a marcha dos

imigrantes para o oeste. Já falamos do trabalho iniciado no Canadá, porém

devemos dizer mais um pouco aqui a respeito a Igreja Metodista que ali se formou, que se estendeu da árvore originária.

Em 1780 um pregador local, Tuffey, comissário de um

regimento britânico, chegou à cidade de Quebec. O trabalho

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dele foi frutífero e prosperou. O major Neal, americano, natural da Pensilvânia,

pertencia a um regimento da cavalaria do exército britânico no tempo da guerra da Independência foi o primeiro pregador metodista que trabalhou no Canadá Superior. Quando a família de Filipe Embury imigrou para o Canadá, em 1774, aumentaram os laços metodistas entre os dois países. Paulo e Bárbara Heck fizeram parte desse grupo primitivo de metodistas nesta parte do Canadá. Em 1790, o bispo Asbury mandou Guilherme Lesee para o Canadá, e, no ano seguinte, Saeyer e Coleman e outros missionários foram enviados para lá.

Em 1805 Guilherme Case, "o pai da missão aos índios do

Canadá", e Henrique Ryan foram nomeados para a zona de Bay of Quinte. Outros como Natã Bangs, trabalharam no Canadá.

Mas, por causa da política civil, levantaram-se complicações que provocaram desarmonia e conflitos entre os metodistas dos Estados Unidos e os do Canadá e da Inglaterra. Wesley tinha enviado missionários para o Canadá como fez para os Estados Unidos . Os metodis tas do Canadá es tavam sujeitos a duas ou três autoridades eclesiásticas com a complicação ainda da autoridade civil do governo britânico. O tempo não servia para remover as dificuldades, antes contribuía para complicá-las ainda mais. O governo britânico não olhava com bons olhos os missionários americanos com a sua responsabilidade e autoridade eclesiástica fora do país.

Portanto, com o correr do tempo, quando havia missionários

wesleyanos suficientes para conservar o trabalho, a jurisdição da Conferência geral americana foi retirada e os canadenses ficaram livres de complicações civis e eclesiásticas estranhas às do seu país.

Por algum tempo houve uma questão entre a Conferência do Canadá e a Igreja Metodista Episcopal, acerca da Casa Publicadora. Mas, depois de muita demora, as duas igrejas chegaram a um acordo sobre este ponto na ocasião da Conferência geral em 1836. Desde essa data não tem havido mais atritos entre as duas igrejas irmãs. (Bangs, Vol. IV — ps. 236-239).

O Metodismo do Canadá tornou-se ramo forte e florescente.

Tem exercido grande influência na formação da civilização do povo canadense. A Igreja Metodista do Canadá uniu-se com as Igrejas Presbiteriana e Congregacional em junho de 1925. Portanto, não existe mais Igreja Metodista no Canadá, mas a Igreja Unida do Canadá. Aqui temos uma prova de que a corrente para a unificação das Igrejas evangélicas está mais forte e patente aos olhos do mundo hoje em dia. Sem dúvida Wesley, o fundador do Metodismo, teria ficado satisfeito com tal acontecimento.

Quando os Estados Unidos realizaram com a França a

compra da zona da Louisiana, a chamada "Luisiana Purchase", em 20 de dezembro de 1803, uma vasta zona, quase igual a uma terça parte da atual área dos Estados Unidos, veio para as mãos do povo americano. Muitos imigrantes entraram nessa zona. Logo em seguida as autoridades da Igreja Metodista se interessaram em mandar pregadores para lá. Fazendo isso, somente seguiam os rastos de alguns metodistas que foram para aquela zona nova, mas também evangelizavam os que já residiam ali.

Portanto, em 1805, Elias Bowman foi enviado para Nova

Orleans. Viajou a cavalo de Kentucky a Nova Orleans. Os habitantes daquela cidade eram descendentes de católicos romanos franceses. Nunca houve na América um lugar mais difícil de evangelizar do que essa cidade. Bowman ficou lá algum tempo, mas não conseguiu nada. O povo não queria ouvir

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os protestantes. Ele queixou-se da condição do povo, que morava na imundície física e moral. Não pode achar lugar para pregar. Uma vez o governo prometeu lugar, porem, quando chegou o dia para ocupá-lo, lhe foi negado. Os poucos americanos que moravam na cidade eram da baixa ralé e não conheciam a respeito da natureza da salvação mais do que os selvagens. Depois de assistir a uma pregação, alguns perguntaram o que significava "queda do homem", querendo saber "quando ele caiu". Bowman deixou Nova Orleans e foi para Opelousa, em 1805.

Por alguns anos Nova Orleans ficou sem pregador

metodista. Em 1811 Miles Harper foi nomeado para lá e não conseguiu mais do que Bowman. Luiz Hobbs ali foi em 1812, mas por causa da sua saúde, não pode fazer nada. Outros foram para lá enviados de vez em quando, mas pouco progresso se notou antes de 1846. A partir dessa data o trabalho desenvolveu-se lentamente por alguns anos.

A vasta zona oeste do rio Mississippi desenvolveu-se

rapidamente. Entre os primeiros que desbravaram as planícies, não ficavam atrás os itinerantes. Em 1818 Jesse Walker introduziu o Metodismo na cidade de Saint Louis. O que ele fez nessa cidade outros pregadores itinerantes fizeram em outros pontos. Quando ali chegou disse: "Venho em nome de Cristo conquistar Saint Louis e pela graça de Deus o farei". Foi nesse espírito que todos os itinerantes pioneiros trabalharam. Doze anos mais tarde, em 1830, encontramos o mesmo Walker introduzindo o Metodismo nas costas do Lago Michingan.

Desde 1830 as fronteiras dos Estados Unidos ficaram ao

lado oeste do rio Mississippi. O estado de Kansas foi invadido por homens de envergadura heróica que abriram o caminho. Homens como João Clark, que viajou mais de mil e quinhentos quilômetros numa carroça e entrou no grande estado de Texas, em 1841; Jesse Hubbard penetrou no estado

de Minnesota e, pouco mais tarde, outros estados foram ocupados na zona entre o rio Mississippi e o Ocêano Pacífico.

O espírito em que foi feito o trabalho, nessa época,

pelos itinerantes, pode ser ilustrado pela história do pregador Nolley. Dizem que Nolley estava viajando num lugar retirado, no estado de Mississippi, e viu os vestígios da trilha duma carroça. Seguindo-a alcançou o dono da carroça. O dono a estava descarregando no lugar da sua nova residência, junto com a sua família. Depois de descobrir quem era Nolley, exclamou:

"Mais um pregador metodista! Deixei o estado de

Virgínia e fui para Geórgia para ficar livre deles. Em Geórgia converteu-se minha esposa e uma das minhas filhas, e vim para este lugar, e eis que aqui se encontra um antes eu poder descarregar a minha carroça".

"Meu amigo", disse Nolley, "se o senhor for para os

céus, encontrará pregadores metodistas; se for para o inferno, tenho receio de que encontraria alguns lá; e está vendo como é aqui na terra: portanto, deve aceitar-nos e ficar em paz". (Luccock, p. 293).

A missão de Oregon fornece um dos capítulos mais

interessantes na história do cristianismo na América. Em 1831 três índios da tribo dos Nez Percés e um da tribo Flathead apareceram em Saint Louis, pedindo dos homens brancos informação acerca do Deus dos brancos e uma Bíblia. O general Guilherme Clark, que participou da expedição de Clark e Lewis em 1804 a 1806, era encarregado do território reservado aos índios. Clark deu-lhes alguma instrução a respeito de Deus, mas não lhes deu a Bíblia. Os índios voltaram meio desapontados, mas aconteceu que havia naquela cidade um índio mestiço da tribo Wanydott que se comunicou por meio de cartas com o povo do leste do país. A carta despertou o interesse dos

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metodistas nos índios de Oregon, e não somente dos metodistas, mas também dos congregacionais e presbiterianos e outros.

O sr. Wilbur Fisk, presidente da Wesleyan University,

interessou-se em criar uma missão para evangelizar os índios na parte extrema do país. O primeiro missionário que se apresentou foi o jovem professor Jasson Lee. Lee iniciou longa jornada através de montanhas e vales em abril de 1834. Partiu de Saint Louis em companhia de sessenta pessoas das quais a maior parte eram caçadores e negociantes. Levavam mais de cinqüenta cavalos e algumas vacas para os missionários. Chegaram a Oregon em setembro e Lee pregou o seu primeiro sermão nas costas do Pacífico em setembro de 1834.

Logo começou seu trabalho entre os índios. Eis a

resposta ao pedido dos quatro índios que vieram buscar luz entre os homens brancos! A missão fixou sua sede no vale de Willamette. Construíam-se cabanas e começou a colonização daquela zona que abrange hoje os estados de Oregon, Washington e Idaho. Se não fosse a missão metodista e a influencia das missões de outras igrejas, toda aquela zona provavelmente teria caído nas mãos dos ingleses.

A fundação da missão de Oregon contribuiu para a

extensão do trabalho no estado de Califórnia. Quando terminou a guerra entre os Estados Unidos e o México, em 1848, toda a zona que abrange os estados da Califórnia, Nevada, Utah e parte dos estados de Colorado, Arizona e Novo México ficou sob o domínio dos Estados Unidos. Em 1842 dois missionários em caminho para Oregon passaram pela cidade de São Francisco. Ficaram ali por algum tempo, trabalhando entre o povo. Pregaram e conseguiram organizar uma sociedade e uma escola. Foi a primeira organização protestante na Califórnia.

Em 1849, foi descoberto ouro no rego dum moinho chamado Sutter's Mill". Logo a noticia disto se espalhou. Nunca houve em tOda a história da América um movimento tão rápido entre os habitantes para emigrarem para um lugar, como se deu neste ímpeto louco para chegar a Califórnia. Havia três caminhos da parte leste do pais para chegar a Califórnia: O primeiro era por terra, atravessando as planícies e as montanhas Rochosas. Os que tomaram este caminho lutaram com mil dificuldades. O caminho ficou marcado pelos pedaços de mobília e de outras coisas que os viajantes jogaram fora para aliviar seus fardos. Também se encontravam muitas coisas abandonadas pelas pessoas que morreram pelo caminho. O segundo foi o caminho por mar pelo istmo do Panamá. A maior dificuldade nesse caminho era a travessia do istmo de Panamá. Muitos perderam a vida nesse trecho. O terceiro foi pelo mar, através do Cabo de Horn. Era o mais longe e demorado. Para ir de Nova York a São Francisco da Califórnia levava-se mais de cento e cinqüenta dias. Em menos de um ano chegaram à Califórnia mais de cem mil garimpeiros. Não eram somente os americanos que vinham mas também gente da Europa e de outras partes do mundo e de todas as raças, nacionalidades e classes sociais. Todos procuravam o precioso metal.

Junto com esta massa humana, ávida de ouro, apareceram

também os itinerantes para evangelizá-los, dizendo que o céu é o lugar mais seguro para ajuntar tesouros. Entre esses pioneiros da cruz devem mencionar-se os nomes de Guilherme Taylor e Tomaz Owen. Taylor, natural do estado de Maryland, estava trabalhando na zona de North Baltimore, quando o bispo Waugh o convidou para trabalhar em Califórnia em setembro de 1848. Aceitou o convite, embarcou com sua família e chegou à Califórnia depois duma viagem de cento e cinqüenta e cinco dias, passando pelo Cabo de Horn. Era o homem talhado para tal trabalho entre homens,de todos os tipos que se encontravam na Califórnia. Quando o apóstolo

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Pedro, pregou no dia de Pentecostes, havia gente no seu auditório de dezessete nacionalidades; mas, quando Taylor chegou a São Francisco, havia mais nacionalidades representadas nos seus auditórios do que no dia de Pentecostes.

"Bom dia, senhores; estimo vê-los neste lindo dia do

Senhor", dizia ele depois de cantar um ou dois hinos que usava nos cultos ao ar livre. "Quais são as notícias? Graças a Deus tenho boas notícias para vós esta manhã. "Pois eu vos trago uma boa nova de grande gozo que o será para todo o povo". Então nos conta como fez aplicação daquele texto a todas as nacionalidades que se achavam representadas naquela hora. "Meu irmão francês", gritava ele, "olhe para cá!" O francês olhou com sinceridade e escutou com atenção enquanto eu narrei o que Jesus tinha feito para ele e seu povo. "Meu irmão espanhol, tenho boas notícias para o senhor". E contou-lhe as notícias. "Meu irmão do Havaí, quer o senhor ouvir as boas novas esta manhã? Tenho boas novas de grande gozo para o senhor". E contou-lhe as boas novas e como a sua ilha devia esperar a lei de Jesus. "João Chinês, você, João, ai encostado nesse poste, olhe para cá, meu bom amigo; tenho alguma coisa para lhe contar". E assim ia mencionando cada nacionalidade até ao fim do sermão. Mas, quando terminou, alguém da multidão, gritou: "Seja respeitada vossa reverendíssima, mas não tem nada para um pobre irlandês?" Eram exigências dessa natureza que desenvolveram a capacidade do pregador ao ar livre. Como relâmpago ele respondeu: "Peso-lhe perdão, meu irmão irlandês, não era meu intento ignorar o senhor. Tenho boas novas para o senhor: Jesus Cristo, pela graça de Deus, experimentou a morte para salvar todos os irlandeses da ilha Emerald e, deixe-me dizer-lhe, meu irmão, que se esta manhã você renunciar a todos os seus pecados e se submeter a vontade de Deus, Ele lhe dará livre perdão, e purifica-lo-á de todos os seus

pecados e expulsará os demônios de seu coração de modo tão prefeito como são Patrício limpou a Irlanda dos sapos e cobras" (Luccock, ps. 382-383). 25. Conferências e cismas.

Há dois fatores que constituem o princípio fundamental na

organização da Igreja Metodista, a saber: (1) Autoridade para superintender e nomear; (2) Corpo consultivo e legislativo, chamado Conferência. Qualquer alteração destes dois fatores modificaria a política ou o sistema metodista. O primeiro fator representa o poder executivo e o segundo, o poder legislativo. Aqui se encontra material para a história constitucional do Metodismo.

No princípio ambos estes princípios ou fatores residiam

na pessoa de João Wesley. Ele era o legislador e o executor nas sociedades que organizou. Era seu desejo repartir sua autoridade com sociedades por meio da Conferência. A primeira manifestação deste desejo se deu quando convocou a primeira Conferência que se realizou em Londres, aos 25 de junho de 1744. Daí em diante a Conferência se realizou anualmente, por quarenta e sete anos, até a morte de Wesley. Mas realmente Wesley continuou a exercer as duas funções na administração das sociedades. Só depois da sua morte é que a parte legislativa ficou com a Conferência e a parte executiva com o presidente da Conferência ou com os bispos. Há atualmente cinco Conferências na Igreja Metodista: a Conferência da igreja local, a Conferência trimensal, a Conferência distrital, a Conferência Anual e a Conferência Geral. É a última que é considerada o corpo legislativo da Igreja Metodista e se realiza de quatro em quatro anos.

A Conferência Anual é a célula da política metodista. Em

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redor desta Conferência gira toda a atividade de toda a autoridade final da Igreja Metodista. É o ponto vital e, por isso, sempre tem ocupado o ponto principal e central desde a sua organização em 1744.

Quando Wesley nomeou Tomaz Rankin para o trabalho

na América, visou a parte disciplinar das sociedades da América. Quando Rankin chegou à América, tratou logo de realizar a Conferência Anual. Mas a autoridade de Wesley foi respeitada como indica o título da ata, que é "Ata de Algumas Conversações entre os pregadores em Conexão com o rev. João Wesley". Este título foi conservado por doze anos, até 1784, quando foi organizada a Igreja Metodista Episcopal.

A Conferência do Natal que se realizou em 24 de dezembro

de 1784 marcou uma nova época na história do Metodismo na América. Foi nesta ocasião que o poder legislativo passou completamente das mãos de Wesley para a Conferência. O espírito democrático manifestou-se nesta Conferência mais do que em qualquer outra que se realizou anteriormente. Ainda que Asbury fosse nomeado superintendente geral junto com o dr. Coke, Asbury não quis aceitar ordenação, antes de ser eleito pelos seus colegas no ministério. A Conferência do Natal era de um tipo particular, pois não foi realmente uma Conferência Anual, nem uma Conferência Geral, ainda que desta exercesse as funções. Quando se encerrou, encerrou-se sine die. Infelizmente não se lembrou de perpetuar o corpo legislativo.

Por falta dessa Conferência Geral, houve confusão e atritos

que poderiam ter lido evitados, se tivesse havido uma organização adequada. Asbury não teria andado parafusando em sua mente e atribulando em seu espírito, tentando organizar seu Conselho. De 1784 a 1792 não houve nenhuma Conferência Geral, nem reunião legislativa. Legislar por meio das Conferências Anuais era um processo demorado e complicado.

As Conferências Anuais eram realizadas de ano em ano em diversas zonas. Em 1785, três Conferências anuais foram realizadas; e em 1790 onze foram realizadas.

Asbury, como bispo, para suprir a falta de um corpo

legislativo, queria criar um por meio de um conselho composto do bispo e pelos pregadores presbíteros presidentes. Este conselho, assim constituído, cuidaria de todos os interesses da Igreja, porém nada ficaria obrigatório, enquanto não fosse aprovado pela maioria da Conferência Anual daquele distrito. O conselho reuniu-se duas vezes: a primeira vez, em 1789; e a segunda vez, em 1790. Uma terceira reunião foi marcada para 1792, mas por causa de tanta oposição, especialmente da parte de Jesse Lee, nunca se realizou. Em vez de uma reunião do conselho, foi convocada uma Conferência Geral em 1792. O bispo Coke, Jesse Lee e James Okelly influíram mais de que quaisquer outros na convocação desta Conferência Geral, que se tornou permanente, realizando-se a cada quadriênio.

A primeira Conferência Geral realizou-se em Baltimore, em

1792. Os bispos Coke e Asbury estavam presentes. Foi nesta ocasião que o cargo de presbítero presidente foi reconhecido oficialmente na Igreja Metodista Episcopal. Os bispos tinham nomeado os presbíteros presidentes e eles tinham servido nesta qualidade desde a Conferência do Natal (1784), porém havia dúvida a respeito da legalidade de tal cargo. Esta reunião motivou o primeiro cisma na Igreja Metodista Episcopal.

James Okelly, homem de grande capacidade e de grandes

dons, chefiou o movimento. Foi ordenado em 1784 e servia na qualidade de presbítero presidente desde aquela data até essa ocasião. Serviu como presbítero presidente por oito anos e receava o poder episcopal que o bispo Asbury exercia. A esse receio se juntava talvez a inveja. Ele tinha feito bastante oposição ao bispo Asbury em referência ao seu conselho, e então apresentou a seguinte proposta: "Depois da

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nomeação dos pregadores pelo bispo para seus campos, na ocasião da Conferência Anual, se alguém se achar prejudicado pela sua nomeação, terá a liberdade de apelar para a Conferência e alegar as suas objeções e, se a Conferência aprovar as suas objeções, o bispo nomea-lo-á para outra zona".

Esta proposta provocou uma discussão que durou três dias e,

quando votaram, a maioria votou contra a proposta. Foi um grande desapontamento para Okelly. Retirou-se da Conferência, avisando-a por escrito que não se considerava mais um deles. Grande tristeza apoderou-se da Conferência.

Nomeou-se uma comissão para entender-se com o irmão

Okelly, porém nada se conseguiu para reconciliá-lo. Deixou a Conferência e diversos outros membros o acompanharam, entre eles o jovem Guilherme McKendree.

Terminando a Conferência, o bispo Asbury procurou Okelly e

tentou persuadi-lo a não romper com a Igreja. Conseguiu acalmar seu espírito, mas finalmente Okelly retirou-se da Igreja Metodista Episcopal e fundou a Igreja Metodista Republicana.

Com o cisma de Okelly, alguns pregadores e mais de cinco

mil membros se retiraram da Igreja. O cisma de Okelly perturbou bastante o trabalho metodista, especialmente nos estados de Virgínia e Maryland.

Por alguns anos o número de membros da Igreja

Metodista Episcopal diminuiu. A causa principal disso foi o grande número de pessoas que deixaram a Igreja Metodista para fi liar-se à Igreja Metodista Republicana, mas a perturbação e as discussões e contendas que houve por causa desde movimento refletiram-se no espírito do povo.

James Okelly sabia atacar e agredir, mas não sabia guiar bem e dirigir outros, por isso o movimento dele nunca alcançou grandes proporções.

"Enquanto Asbury não poupava esforços para expor

e fazer oposição aos erros de Okelly e estorvar os seus planos e neutralizar as suas influências malévolas, conservou o seu coração direito perante ele. Na cidade de Winchester, ouvindo que seu antigo amigo estava doente, o bispo Asbury mandou dois irmãos para saber se aceitaria a sua visita. Encontraram-se em paz; indagou acerca da sua saúde, conv ersaram amigavelmente a respeito de pessoas e coisas, e oraram e despediram-se em paz. Nada disseram a respeito das lutas de outros dias. Este foi o primeiro encontro depois do seu rompimento e o último. Okelly alcançou noventa e dois anos, falecendo em 1826. Okelly viu o homem que ele procurou destruir (Asbury) descer à cova em paz e cheio de honras, lamentado por milhares como o pai do Metodismo americano. Viu seu lugar preenchido e seus princípios defendidos por aquele que procurou como guia na sua própria igreja. Viu membros que ficaram espalhados e divididos em facções. Tudo isto viu e testemunhou, mas em face de tudo isso, o velho conservou-se firme na sua causa com um heroísmo digno de uma causa melhor, e, com voz vacilante e esforços esgotados, proclamou a sua confiança num bom êxito final" (McTyeire, p. 413).

Onze dias depois do encerramento da Conferência Geral

de 1792, o bispo Asbury realizou a Conferência Anual em Manchester. McKendree, que também deixara a Conferência, mandou por escrito seu pedido de demissão, recusando aceitar nomeação para qualquer trabalho. Mas não demorou muito e McKendree aceitou o convite para viajar com o bispo Asbury. O jovem pregador só tinha ouvido um lado da questão. Okelly tinha sido seu presbítero presidente e dele tinha ouvido muitas

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queixas contra o bispo como sendo um homem ambicioso, tirano, “papa”, etc.... McKendree e Okelly, inclusive, foram colegas de quarto na ocasião da Conferência Geral de 1792 e no seu quarto se realizaram algumas reuniões clandestinas. Okelly tinha se gabado na fundação da formidável Igreja Metodista Republicana, livre de senhores de escravos e de tirania. Enfim, o jovem McKendree estava cheio de preconceitos contra o bispo Asbury e contra os males, pelos quais ele o responsabilizava.

Mas, quando viajou com o bispo Asbury por algum tempo e

ouviu o outro lado da questão e notou o bom espírito do bispo, ficou mais bem orientado e descobriu seu erro. Logo depois aceitou a sua nomeação e continuou na Igreja Metodista Episcopal. Pobre do jovem pregador que cai nas mãos de um pregador de experiência, mas politiqueiro!

Nessa Conferência decidiu-se realizar uma Conferência

Geral por quadriênio, e assim a Conferência Geral tornou-se o Órgão permanente do governo do Metodismo americano.

Na ocasião da Conferência Geral de 1796 os distritos

desapareceram pela primeira vez e resolveu-se definir os limites das Conferências Anuais. Seis Conferências anuais foram criadas nos distritos que existiam anteriormente, a saber: a Nova Inglaterra, Filadélf ia, Baltimore, Virgínia, Carolina do Sul e a região do Oeste.

A Conferência Geral em 1800 elegeu para bispo Richard

Whatcoat. Jesse Lee quase foi eleito. O dr. Coke estava presente e apresentou o pedido da Conferência wesleyana que ele, Coke, fosse cedido para o trabalho na Inglaterra. Atendeu-se ao pedido, concedendo a ele uma licença até a próxima Conferência Geral.

Conferência Geral de 1804 realizou-se na cidade de

Baltimore. Os bispos Coke, Asbury e Whatcoat estiveram juntos pela últ ima vez, pois a últ ima visita do bispo Coke à América e Whatcoat faleceu durante o quadriênio; só o bispo Asbury compareceu Conferência geral de 1808.

Na Conferência Geral de 1808, Guilherme McKendree foi

eleito bispo e foi resolvido que daí em diante as Conferências seriam compostas de delegados eleitos pelas Conferências Anuais. Assim desapareceu o costume de considerar todos os pregadores itinerantes como membros da Conferência Geral. E seis restrições, redigidas por Josué Soule, foram adotadas por essa Conferência. A adoção dessas seis restrições, que podem ser consideradas como a Constituição da Igreja, marcou a nova época na Igreja Metodista Episcopal, pois elas visavam a estabilidade da Igreja. Dali em diante o Metodismo se foi tornando como um exército disciplinado para a batalha.

A primeira Conferência Geral composta apenas pelos

delegados eleitos pelas Conferências Anuais reuniu-se na igreja de John Street, na cidade de Nova York, em 1º de maio de 1812. O bispo McKendree apresentou a Conferência sua mensagem formal por escrito. Era a primeira vez que um bispo fazia tal coisa. Quando terminou a leitura do seu discurso, o bispo Asbury, surpreendido, pediu a palavra e, virando-se para o jovem bispo, disse:

"Tenho alguma coisa a dizer-vos perante a

Conferência”. O jovem bispo levantou-se e ficou face a face com o bispo Asbury. O bispo Asbury continuou: "Esta é uma coisa nova. Eu nunca tratei meus negócios assim e por que foi introduzida esta novidade?" O jovem bispo respondeu prontamente: "O senhor é o nosso pai e nós somos seus filhos; o senhor nunca precisou disto. Eu sou um irmão somente e tenho necessidade disto". O bispo Asbury não disse mais nada e sentou-se com um sorriso no rosto. (Tigert, p. 329).

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A guerra entre os Estados Unidos e a Inglaterra prejudicou o

trabalho da Igreja entre os anos de 1812 e 1816. Também o bispo Asbury faleceu na véspera da segunda Conferência Geral de 1816 que tinha apenas os delegados eleitos.

Em 1816 dois novos bispos foram eleitos: Enoch Jorge e

Roberto Richford Roberts. A eleição dos presbíteros presidentes pela Conferência

Anual foi discutida, mas não foi aprovada. A terceira Conferência Geral se reuniu em Baltimore em

1º de maio de 1820. A Sociedade Missionária foi oficialmente organizada e aprovada e dois novos bispos foram eleitos, sendo um deles Josué Soule. E como poucos dias depois a sua eleição foi aprovada pela Conferência a eleição dos presbíteros presidentes pela Conferência anual. Josué Soule, julgando que tal medida violava a constituição da Igreja quanto ao poder episcopal, recusou aceitar ordenação. A medida foi suspensa por mais quatro anos.

Na quarta Conferência geral, em 1824, tratou-se de novo

da mesma questão. Rejeitou-se a eleição dos presbíteros presidentes pela Conferência Anual. Josué Soule, sendo reeleito bispo, aceitou a ordenação.

O quadriênio de 1824 a 1828 caracterizou-se pelo seu

radicalismo. A questão da eleição de presbíteros presidentes pelas Conferências Anuais fez que os pregadores vissem seus direitos, no governo da Igreja; tudo isso refletiu sobre os leigos, quanto aos seus direitos na Igreja. Portanto o ar estava cheio de discussões e agitações. Foi nessa época que surgiu a questão de representação leiga nas Conferências da Igreja. Até essa data só os pregadores tomavam parte na administração da Igreja Metodista, e assim continuou até a Conferência

Geral de 1866, quando foi tomada a seguinte resolução:

"É o parecer desta Conferência Geral que a representação leiga seja introduzida nas Conferências Anuais e Geral".

E em 1918, a Igreja Metodista Episcopal do Sul, na ocasião

da Conferência Geral, realizada na cidade de Atlanta, Geórgia, aprovou a admissão de senhoras como representantes leigas nas Conferências.

Esta questão de representação leiga nas Conferências

provocou muita discussão e, finalmente, uma divisão na Igreja. O elemento que pugnava pelos direitos dos leigos na administração da Igreja retirou-se da Igreja Metodista Episcopal e fundou a Igreja Metodista Protestante. Isto se deu em 2 de novembro de 1830.

A Conferência Geral de 1832 reuniu-se na cidade de Filadélfia em maio. James O. Andrews e João Embry foram eleitos bispos. Discutiu-se a questão a respeito da escravidão na Conferência Geral de 1836. A Igreja se agitava mais e mais sobre esta questão. E, por ocasião da Conferência geral de 1840 a situação agravou-se. Como se tratará da escravidão noutro lugar, não falaremos mais desse assunto aqui, nem aqui falaremos das Conferências gerais que se realizaram depois de 1844.

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CAPÍTULO VIII

O TRABALHO MISSIONÁRIO DO

METODISMO

26. O trabalho missionário entre os negros.

O espírito missionário não se manifestou muito cedo entre os protestantes. Ficaram ocupados demais com a formação dos seus credos e padrões doutrinários. Só nos fins do século dezoito e no começo do século dezenove é que o espírito missionário se manifestou com vigor entre os protestantes. Na América do Norte houve dois motivos para isto. Primeiro, o avivamento espiritual que se deu no século dezoito, chefiado principalmente pelos metodistas, despertou interesse no bem estar espiritual dos índios e dos negros ou escravos. Segundo, o movimento da população para as fronteiras, que causou o isolamento das comunidades . bem organizadas e estabelecidas onde existiam igrejas e escolas. Houve pois necessidade de auxiliar, as comunidades novas para providenciar o culto religioso e escolas para formar a nova geração.

A instituição da escravidão africana começou cedo na vida

colonial dos Estados Unidos. O cultivo do fumo na colônia da Virgínia exigia grande número de trabalhadores. Como os fazendeiros não tinham pessoal suficiente para desenvolver a sua lavoura, procuraram escravos africanos.

Apareceram os primeiros negros nos Estados Unidos em

1619, quando um navio de guerra holandês vendeu vinte negros na colônia de Virgínia.

Com a instituição da escravatura introduziram-se muitos

males na vida americana. No correr de um século o número de escravos aumentou espantosamente, especialmente na zona do sul onde o clima era mais quente e favorecia o cultivo do fumo, do algodão e do arroz. Todos os fazendeiros dessa zona procuravam escravos, alguns mais que outros.

A presença de tantos escravos trazidos sem instrução das

florestas africanas criou sérios problemas sociais. O espírito missionário despertado na Igreja Metodista não deixou de inquietar-se em face de tão grande necessidade e responsabilidade. Muitos dos pastores se interessaram na evangelização dos negros. Mas, para conseguir isso, tinham de entender-se com os senhores dos escravos. Nem sempre acharam os senhores prontos a permitir este trabalho entre seus escravos, porque tinham receio que estes ficassem prejudicados e não cumprissem com os seus deveres.

Dois métodos a Igreja adotou para evangelizar os

escravos. Primeiro, cada pregador que tinha contacto com senhores de escravos insistia que permitissem aos seus escravos assistirem aos cultos com os brancos e também pregar aos negros em grupos separados quando pudesse; segundo, mandar missionários para trabalhar exclusivamente entre os negros, pregando, visitando e organizando classes de catecismo para as crianças.

Estes dois métodos deram bons resultados. Não levou

muito tempo para convencer muitos dos senhores que um escravo crente era mais obediente e fiel. Houve donos de escravos que convidaram a Igreja para mandar missionários para trabalhar entre seus escravos e diversos ajudaram com as despesas.

O dr. Guilherme Capers, de Carolina do Sul, antes de ser

eleito bispo, se interessou muito na evangelização dos escravos. Não somente pregava aos escravos, mas também estimulava a Igreja para evangelizá-los. Quando era presbítero

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presidente, a sua casa tornou-se o centro de instrução dos pregadores negros. Os nomes dos crentes negros eram arrolados no mesmo livro dos brancos. Milhares e milhares dos escravos converteram-se a Cristo. Uma vantagem tiveram os escravos africanos na América do Norte; foi ter a oportunidade de ouvir o Evangelho. Com a evangelização e civilização dos escravos, os próprios brancos foram beneficiados. "Dai, e dar-se-vos-á". Como disse Booker T. Washington, a única maneira de conservar alguém na sarjeta é ficar junto com ele. Em 1866, havia 207.766 membros negros na Igreja Metodista Episcopal do Sul.

27. O trabalho missionário entre os índios. O trabalho missionário entre os índios começou oficialmente

em 1819, ano em que a Sociedade Missionária se organizou em Nova York. Em 182O a Conferência geral aprovou a fundação da Sociedade Missionária, e daquela data para cá o trabalho missionário tem sido promovido por meio de Juntas de Missões, sejam das Conferências Anuais, ou sejam Juntas Gerais.

Em 1815 Marcus Lindsey trabalhou em Merietta, Ohio. Um dia

João Stewart, um negro ébrio, passando pela casa de oração, na hora do culto, indo ao rio para afogar-se e assim terminar a sua vida miserável, ouviu Lindsey pregando. Parou e entrou para ouvir o sermão. O pregador descrevia o estado miserável em que os homens, perdidos no pecado, caem, e como Jesus morrera para salvá-los, e que os maiores pecadores podiam salvar-se. Ouvindo isto, cobrou ânimo. O Espírito de Deus lutou com o ébrio. Passou dias a fio lendo a Bíblia e orando. Jejuou e passou noites de vigílias. Finalmente teve uma visão, se estava dormindo ou acordado, não podia dizer; mas ouviu uma voz dizendo: "Tens de ir na direção do Nordeste até chegar a nação dos índios e contar às tribos selvagens a história de Cristo, teu Salvador". Obedeceu à voz e encontrou a

tribo de Wyandotts. Entre esta tribo achou um negro que falava a língua dos índios. O preto chamava-se Jônatas Pointer. Jônatas quando era rapaz, foi levado prisioneiro pelos índios. Agora serv iu como intérprete para Stewart. A primeira congregação consistiu de um índio velho, chamado "Arvore Grande" e de uma velha, cujo nome era Maria Stewart e que cantava bem. Jônatas, o intérprete, prestou bom serviço. Stewart não bebia "Água de fogo" (cachaça) e orava muito. Conseguiu converter a sua primeira congregação e logo em seguida outros converteram-se. Em 1819 a Conferência de Ohio mandou James Montgomery para ajudá-lo. Daí em diante novos missionários foram env iados e o trabalho prosperou.

A Igreja se interessou não somente nos Wyandottes,

mas também em muitas outras tribos, tais como os Ojibways, Creeks, Chactaus, Chichasaws, Cherokees, Flat Heads, Sênecas, Modocs, Kichkapoos, Shawnees, etc. Estas tribos estavam espalhadas por diversas partes do país. Muitos homens e algumas mulheres trabalharam entre os índios. Mas a instabilidade da sua residência dificultava o desenvolvimento do trabalho missionário entre eles.

A invasão dos brancos no território dos índios criou

grandes alterações na vida destes. O governo reservou zonas especiais para os índios e diversas tribos foram recolhidas para essas zonas que estavam divididas de tal forma que cada tribo pudesse ter seu quinhão individual. Há trabalho missionário promovido ainda entre os índios nas zonas que o governo cedeu a eles. Em 1882, entre algumas das tribos que estavam sob o cuidado da Igreja Metodista Episcopal do Sul, havia 5.026 membros indígenas na Igreja e diversas escolas profissionais. O governo tem ajudado na manutenção de missões aos índios; mas o trabalho é difícil, porque os índios não gostam de adotar a vida civilizada e preferem a vida ao ar livre, a pesca e a caça.

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28. O trabalho missionário nos paises estrangeiros. O espírito missionário caracterizou os fundadores do

Metodismo. Os irmãos Wesley, João e Carlos, manifestaram esse espírito logo que deixaram a Universidade de Oxford, aceitando comissões no Novo Mundo para pregar o Evangelho aos índios da América do Norte.

Esse mesmo espírito habitava no peito de Susana

Wesley. Quando seus filhos externaram seu desejo de embarcar para a América na sua missão, ela disse:

"Se eu tivesse vinte filhos, teria prazer em ver todos assim empregados, ainda que nunca mais os visse". (McTyeire, p. 74).

Antes de, Guilherme Carrey ir para a Índia, o bispo

Coke já planejava uma missão naquele país. Só lá para o fim da sua vida é que conseguiu executar seu plano. Em companhia de diversos missionários o bispo Coke embarcou para a Índia em 1814. Mas, pouco antes de chegar ali, faleceu e foi sepultado no mar. Seu corpo jaz no mar cujas ondas banham todas as praias do mundo, e o espírito missionário de Coke ficou na sua Igreja e continua a estimular os corações para levar a mensagem de vida a todos os recantos do mundo.

Em certo sentido o movimento metodista foi um movimento

missionário. Seu espírito evangelístico é uma prova disso. Mas a obra organizada de missões no Metodismo, começou com a criação da Sociedade de Missões em 1819. O espírito missionário não se apoderou da Igreja tOda de repente; levou quase meio século para despertá-la. Uma Sociedade missionária era considerada como inovação nas fileiras metodistas.

Realmente foi difícil no princípio encontrar homens e

mulheres preparados para a obra missionária. Em 1825 a Sociedade Missionária pediu aos bispos nomear missionários

para a África e América do Sul, mas gastaram-se sete anos para achar um homem para a África e dez para encontrar um para a América do Sul.

A Libéria foi o campo escolhido na África. Voltaram-se

às vistas para essa região em primeiro lugar, por causa do trabalho que se fazia entre os negros e escravos.

O primeiro missionário escolhido para a África foi

Melville Cox. Cox estava bem preparado para o trabalho, mas não tinha saúde. Tinha paixão pela obra missionária, e não fazia questão de ir para a África, onde o clima é terrível para os brancos. Mas a sua saúde era precária. Duas ou três vezes teve de deixar seu trabalho ministerial em Virgínia e Carolina do Norte. Sua vida foi, em certo sentido, uma tragédia. Em dezembro de 1829 faleceu a sua esposa e em junho de 1830 morreu sua filhinha. Ele disse que aquele ano foi uma "noite sem lua". Não somente perdeu sua esposa e sua fi lha, mas também três cunhados. E, além de tudo isto, era tuberculoso.

Logo depois do encerramento da Conferência Geral,

recebeu a seguinte carta:

"Nova York, 22 de junho de 1832. Prezado irmão, Como o irmão foi nomeado superintendente da

Missão da Libéria, será seu dever iniciar quanto antes sua obra, cuidar do povo nos limites da missão, fazer todo o possível para promover a causa de Deus por meio de pregação de casa em casa, organização de escolas, instrução das crianças cumprindo todos os deveres peculiares ao trabalho de um pregador metodista, de acordo com a Disciplina. Será, sua obrigação dar, de três

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em três meses, relatório do seu trabalho à Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal. Desejando bênçãos de Deus sobre seu trabalho,

Somos afetuosamente, R. R. Roberts e Elijah Hedding". (Duren, p. 160).

Embarcou para a África em 6 de novembro de 1832 e ali chegou em 8 de março de 1833. Trabalhou por algumas semanas, mas em 12 de abril caiu doente com febre e faleceu em 21 de julho do mesmo ano. Pouca coisa conseguiu fazer. A sua major contribuição para a causa missionária não foi o trabalho que conseguiu realizar, porém o espírito missionário que legou à Igreja. Contemplando de longe as costas africanas, escreveu:

"Se eu morrer sozinho, o Deus de Moisés tomará conta do meu corpo até a ressurreição e tomará consigo minha alma". Poucos dias antes de morrer escreveu a sua mãe:

"É-me difícil convencer-me, minha querida mãe, de que estou cinco ou seis mil milhas distante da senhora. Mas encontrar-nos-emos daqui a pouco. Nenhum de nós pode ficar aqui por muito tempo. Oxalá seja no céu o nosso encontro! Estou certo de que estou no caminho para lá. Realmente nunca senti em minha vida o auxílio da graça de Deus como agora, desde que a deixei em casa. Meu cálice transborda e nunca ficou vazio. Não fique preocupada comigo; apenas continue a orar por mim, pelo bom êxito da missão e pela perfeição da minha natureza no espírito e na prática do Evangelho" (Duren, p. 162).

Falando com um estudante, no colégio em Middleton,

Connecticutt, disse: — "Se eu morrer na África, você precisa ir lá para

escrever meu epitáfio. — "Eu o farei", disse o aluno, "mas que escreverei?" — "Escreva:", disse Cox, "Deixai mil de vós caírem antes

de abandonardes a África". E a África não foi abandonada, nem será abandonada

nenhuma outra parte do mundo onde existir tal espírito.

O segundo campo missionário que a Igreja contemplou foi a América do Sul. Em 1835 foi enviado um homem para estudar a situação no Rio de Janeiro, no Brasil, e em Buenos Aires, na Argentina. No ano seguinte se iniciou o trabalho no Rio de Janeiro.

Os portos da China foram abertos em 1842. Logo começaram

a chegar missionários aquele país. Diversas Igrejas mandaram missionários para lá. A Igreja Metodista Episcopal abriu trabalho missionário no Porto de Foochow em 1847 e a Igreja Metodista Episcopal do Sul fundou uma missão na China em 1848. Outros campos foram ocupados com o correr dos anos. Desse ponto se tratará mais amplamente em outra parte.

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CAPÍTULO IX

O TRABALHO EDUCATIVO DO METODISMO

NA AMÉRICA DO NORTE

29. As primeiras escolas fundadas. Desde o princípio João Wesley se interessou na instrução do

seu povo. Junto com a construção de capelas, fundaram-se escolas ao lado das capelas. A escola de Kingswood é prova disso. As escolas dominicais eram mais um meio para instruir o povo. Também a publicação de livros, folhetos e revistas, tudo demonstra o vivo interesse que o fundador do Metodismo teve em combater a ignorância entre a povo. O mesmo interesse na educação se manifestou em Tomas Coke e Francisco Asbury. Logo depois de se encontrarem, conversaram sobre a fundação de uma escola em solo americano.

Havia no princípio dois obstáculos graves a vencer na

fundação de escolas: primeiro, a falta de interesse da parte da maioria da população na educação dos seus filhos e, ligados com isto, os preconceitos contra o ministério educado; segundo,.a grande falta de recursos entre o povo.

A Igreja Metodista atrasou-se muito na educação dos seus

ministros. Havia entre o povo a noção de que um pregador educado não podia pregar bem, mas que o homem que falasse mais alto e fizesse mais barulho na sua pregação era o melhor pregador. Por muitos anos não houve nenhum pregador metodista que tivesse colado grau em qualquer instituição educativa. O dr. Coke era o único homem saído de Universidade entre os pregadores metodistas durante o tempo em que trabalhou na América. Tomas A. Goodwin foi o

primeiro homem que terminou curso em escola superior e ele pertencia à Conferência Anual de Indianna. Mas, por ter essa distinção, foi vítima de inveja e tratado com pouco caso pelos seus presbíteros presidentes nas suas nomeações. Porque não podiam mostrar consideração a ele por causa da inveja dos seus colegas daquela Conferência. Por causa disso Goodwin retirou-se do ministério.

O dr. Capers, da Conferência da Carolina do Sul, declarou

que, no princípio, sofreu a mesma coisa. Mas apesar de tudo isso, o povo tinha bastante interesse na fundação de escolas e colleges ou escolas superiores.

A questão do preparo ministerial não foi realmente discutida

até que se começou exigir ministros tão bem preparados como o povo. Muitas vezes pessoas que se convertiam nos cultos metodistas faziam a sua profissão de fé em outras igrejas, cujos pastores possuíam cultura; não queriam ficar sob a direção de um ministério menos instruído do que elas mesmas.

Coke e Asbury fundaram, em Maryland, em 1787, uma escola

com o nome formado dos seus próprios nomes — Cokesbury. O local era bom, mas a escola não se desenvolveu satisfatoriamente. Asbury andou de lugar em lugar pedindo dinheiro para mantê-la. E, no ano seguinte, a escola pegou fogo e reduziu-se à cinzas. Em certo sentido Asbury ficou aliv iado de tão grande peso. Além das dificuldades financeiras, havia o problema de bons professores. Como não havia homens bem preparados entre os metodistas, tornou-se difícil consegui-los.

Tentaram pela segunda vez fundar a escola de Cokesbury, na

cidade de Baltimore. O prédio foi construído de tijolos e ficava unido à igreja da Light Street. No mês de dezembro de 1796 incendiaram-se escola e templo. Foi grande o prejuízo.

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Um grupo de metodistas tentou em 1816, pela terceira vez, fundar uma escola em Baltimore.

O dr. Samuel K. Jennings, pregador local e médico, foi

nomeado seu diretor por alguns anos. A escola, chamada Asbury College, prosperou por algum tempo, mas por falta de recursos veio a desaparecer.

Parece que Deus não queria que Asbury fundasse escolas

de alto tipo, porque todas as que fundou fracassaram. Então resolveu fundar colégios e academias. Diversas escolas deste tipo se fundaram em diversas partes do país. No condado de Jessamine, estado de Kentucky, fundou-se a academia de Betel; no estado da Carolina do Norte fundou-se a Escola de Cokesbury; no estado da Geórgia, a academia de Wes ley e Whitef ie ld ; e o Seminário Unido, em Uniontown, estado de Pensilvânia. Mas nenhuma dessas escolas se firmou.

A academia de Betel, fundada em 1792, funcionou até

1818, quando se fechou por falta de homens e recursos. Erraram na localização da escola. Ficava perto do rio Kentucky, afastada dos centros populosos. Ainda hoje existem vestígios do prédio de três andares, feito de tijolos. A Conferência de Kentucky, há poucos anos, mandou erguer no local um pilar de pedra em que estão escritos os fatos históricos da instituição. É interessante notar que cem anos, exatamente, em 1892, foi estabelecido o seu sucessor — o Asbury College, localizado na vila de Wilmore, distante três milhas do velho local da Academia de Betel.

30. O desenvolvimento do trabalho educativo. Havia grande necessidade de escolas pequenas, espalhadas

por toda a parte, porque o povo não tinha recursos para mandar seus filhos para assistir as aulas nas escolas maiores e mais

antigas na parte leste do país. Por isso, tornou-se prático construir academias e colégios em cada região eclesiástica. Os anos que vão de entre 1820 a 1844 marcam a época em que a Igreja Metodista Episcopal tomou mais interesse em toda a sua história na fundação desse tipo de escolas. Cada Conferência anual se interessava em fundar uma ou mais escolas.

Esse costume continuou por muitos anos, mesmo depois da

divisão da Igreja Metodista americana, em 1844. Mas nestes últimos anos a Igreja Metodista tem mudado a sua política neste ponto. A tendência atual é suprimir algumas das escolas pequenas e fracas e concentrar todos os seus. recursos nas escolas mais fortes. A complicação tem-se tornado tão grande neste sentido que é necessário seguir uma política dessa natureza para manter algumas das escolas. Veja-se como acontecem as coisas neste mundo que está sempre em fluxo!

Uma coisa que ajudou a Igreja a achar homens preparados

para dirigir as escolas, foi a legislação da Conferência Geral permitindo aos bispos nomear pregadores para instituições de ensino.

Muitas escolas foram fundadas até 1840. Havia, ao menos,

vinte e oito academias, seminários e escolas profissionais sob a direção da Igreja.. Entre os anos de 1830 e 1840, fundaram-se as seguintes instituições: Wesleyan University, Connectcutt; Randolph Macon College, no estado de Virgínia; Dickinson and Allegheny College, no estado de Pensilvânia; Indiana e Asbury University, no estado de Indiana; Mckendree College, no estado de Illinois.; Emory and Henry College, agora Emory University, no estado de Geórgia.

Há diversas universidades metodistas. Mencionaremos

somente algumas, tais como: Ohio Wesleyan University, fundada em 1844; North Western University, fundada em 1854; Iwoa Wesleyan, fundada em 1845; Baker University, fundada em

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1858. Algumas que foram fundadas no Sul durante este período são

Trin it iy College, agora Duke Univers ity, (1851), Warford College, em Spartanburg, na Carolina do Sul, em 1854; e Central College, em Fayette, Missouri, em 1855.

O dr. João Dempster pode ser chamado o pai, da educação

teológica na Igreja Metodista Episcopal. Ele se interessou neste ramo de instrução e teve de enfrentar muita crítica e oposição da parte de homens de destaque na Igreja. Essa atitude era o reflexo dos preconceitos contra um ministério instruído que existia na Igreja desde o princípio.

Foi na Nova Inglaterra que se manifestou maior

interesse num ministério instruído. A Conferência da Nova Inglaterra, em 1840, resolveu abrir uma instituição teológica na cidade de Newbury, estado de Vermont. Mais tarde, em 1867, foi fundado em Boston um instituto bíblico, que tomou o nome de Boston Theological Seminary.

O dr. Dempster tomou a iniciativa de abrir um instituto

bíblico em Concord. Em 1854, ele, com o auxílio de Elisa Garrett, fundaram Garrett Bible Institute, em Evanville, Illinois.

CAPÍTULO X

A CONTROVÉRSIA SOBRE A

ESCRAVIDÃO E A DIVISÃO DA IGREJA.

31. A escravidão na América do Norte e a atitude dos metodistas para com ela, no princípio.

Lendo a Bíblia, notamos que a escravidão existia entre os

povos antigos e que os próprios israelitas possuíram escravos, ainda que eles mesmos tivessem sido escravos por longos anos no Egito. O Novo Testamento fala da escravidão, mas não a aprova. O apóstolo Paulo assim aconselhou os escravos:

"Servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo só à vista como para agradar a homens, mas, como servos de Deus, servindo-os com boa vontade, como ao Senhor e não como a homens, sabendo que,cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá outra vez do Senhor, ou seja escravo, ou livre" (Ef 6:5-8).

Na sua Epístola a Filemon encontra-se o espírito de

fraternidade cristã: a relação entre Filemon, o patrão, e Onésimo, o escravo, é como diz o apóstolo, “não mais como servo, mas em vez de servo, como irmão amado". Eis o princípio da emancipação de toda a forma de escravidão!

O problema da escravidão na história do Metodismo tornou-

se complexo e difícil. A atitude dos líderes do movimento metodista sempre foi contra a escravidão, ainda que houvesse ocasiões em que não somente toleraram, mas até advogaram a escravidão e possuíram escravos. Entre estes figuram Whitefield e Devereaux Jarrett.

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Whitefield escreveu até uma carta a Wesley, defendendo a escravidão do ponto de vista bíblico e econômico. Advogou a introdução de escravos na Colônia da Geórgia. No seu testamento legou cinqüenta escravos à Condessa Huntingdon.

Devereaux Jarrett possuía escravos e, na sua conversa com

o bispo Coke, defendeu a posição dos americanos escravistas, ainda que não se considerasse grande amigo do sistema.

Não há duvida quanto a atitude de Wesley para com a

questão. Em 1763, taxou a escravidão como "execrável cúmulo de todas as vilanias". E seis dias antes de morrer escreveu a Guilherme Wilberforce a seguinte carta:

"Londres, 24 de fevereiro de 1791.

Meu querido Senhor, Se o poder divino não o levantou para ser como um

Atanásio, Contra Mundum, não posso ver como poderá levar ao fim seu empreendimento glorioso, opondo-se à execrável vilania, que é o escândalo da religião e da natureza humana. Se Deus não o levantou, para esta causa, será gasto pela oposição de homens e diabos; mas, se Deus é pelo senhor, quem será contra o senhor? São todos eles juntos mais fortes do que Deus? Oh! não desanime de fazer o bem. Vá, em nome de Deus e na força do seu poder e até a escravidão americana, a mais vil que já viu o sol, desvanecerá perante Ele.

“Lendo esta manhã um folheto, escrito por um

pobre africano, estou especialmente impressionado com o fato de que seja o homem que tem pele negra injustamente tratado pelo homem branco, sem qualquer direito de defesa. É lei, em nossas colônias, que o juramento de homem negro contra homem branco não

vale nada. Que vilania é esta?! “Que Aquele que o guiou desde a sua mocidade,

continue a fortalecê-lo nisto e em todas as coisas, prezado senhor. É a oração de seu servo afeiçoado,

João Wesley." (Duren, ps. 194-195).

Os bispos Coke e Asbury eram contra a escravidão. O bispo Asbury foi mais prudente em suas atitudes do que o bispo Coke. O bispo Coke na América foi ameaçado de violência por causa da sua opinião acerca da escravidão. Mas é interessante notar que, nas suas visitas às ilhas de Barbados e da Antigua, onde trabalhou entre os escravos, tendo até enviado para lá missionários ingleses, nunca denunciou escravidão. Se tivesse feito isto, o governo inglês teria fechado a porta às suas atividades entre os escravos.

Também podemos notar que o governo inglês foi mais sábio

ao tratar da emancipação dos escravos nessas ilhas do que o povo americano ao tratar do mesmo problema. O governo inglês gastou ali mais de Cr$ 2.000.000.000,00 no resgate de escravos. Nisso mostrou mais sabedoria do que o governo americano. Mas havia entre os dois casos esta diferença: o governo inglês libertava os escravos, mas os escravos ficavam nas ilhas como estavam e o povo inglês continuava morando na Inglaterra, longe dos escravos emancipados. Se tivesse levado os escravos para a Inglaterra e os distribuísse entre o povo, teria dado um perfeito exemplo ao povo americano na solução deste complicado problema social, religioso e econômico.

O povo brasileiro aproveitou a experiência de outros

povos na solução do problema e chegou a emancipar os seus escravos sem grandes choques e perturbações e sem o derramamento de sangue.

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Antes da organização da Igreja Metodista Episcopal, as Conferências Anuais se preocupavam com o problema da escravidão. Em 1780 a Conferência definiu sua atitude para com a escravidão, exigindo dos pregadores itinerantes que possuíam escravos, que os emancipassem, declarando que a escravidão é contra a lei de Deus e dos homens, prejudicial à sociedade e contraria aos ditames da consciência e da pura religião. E na véspera da Conferência de Natal se decidiu que os pregadores locais que possuíam escravos, teriam de emancipá-los no prazo de um ano ou seriam suspensos e que os membros da Igreja que eram senhores de escravos fossem expulsos, se não os libertassem, depois de serem admoestados pela segunda vez.

Na ocasião da Conferência de Natal tomou-se a

seguinte deliberação:

"Estamos profundamente cônscios da impropriedade de estabelecer limites comunhão em uma sociedade religiosa que já está organizada, senão em ocasiões extraordinariamente excepcionais. Assim é que julgamos o costume de conservar os nossos semelhantes na escravidão. Achamos que é contrário à lei áurea de Deus, sobre a qual estão baseados a lei e os profetas, e aos direitos inalienáveis da humanidade, tanto como a todos os princípios da revolução, conservar na mais profunda degradação e numa escravidão tão vil que não se encontra igual noutra parte do mundo, excetuando-se a América, tantas almas que podem refletir a imagem de Deus”.

“Portanto, julgamos que é nosso dever impreterível

lançar mão de todos os recursos ao nosso alcance para extirpar do nosso meio esta abominação". Segue então o plano com todos os seus detalhes e no fim

há este "N. B.": “Estas regras afetam os membros da nossa

sociedade até ao ponto em que não entram em conflito com as leis dos estados em que residem.

“E a respeito dos nossos irmãos no estado de Virgínia, depois de considerarmos a sua situação peculiar, permitimos-lhes dois anos desde o primeiro aviso para que considerem a conveniência ou não de se conformarem com estas regras". (Duren, p. 198).

A resolução era altamente cristã no seu espírito e na sua

atitude, mas era inexeqüível. Com o correr do tempo modificou-se e chegou-se ao ponto de lamentá-la, mas tolerá-la.

O que complicou a questão foram as leis dos diversos

estados. Todos os estados do sul tinham leis que proibiam a emancipação de escravos nos seus limites. Um escravo libertado no meio dos outros escravos era um elemento perturbador público. Houve muitos casos de pregadores que adquiriram escravos e que não podiam emancipá-los, mesmo que quisessem, porque a lei não lho permitia.

A Igreja, portanto, modificava a sua atitude para com a

escravidão de época em época, para conformar-se com as leis dos estados. Foi tal esta tendência que alguém fez a observação que, em vez da Igreja influenciar o estado sobre o assunto, o estado influenciava a Igreja. E parece que tinha razão. Não foi só a Igre ja Metodista que lutou com este problema, mas também as outras Igrejas seguiram, mais ou menos, a mesma polít ica, exceto os quaqueres ou "amigos". Es te grupo de crentes não permitia que seus membros possuíssem escravos.

Além das complicações causadas pelo governo civil,

havia mais uma coisa que complicava e dificultava o problema: a divisão dentro da própria Igreja. Com o correr do tempo se descobriu que os estados do norte do país, devido ao clima

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frio, não podiam aproveitar tanto o serviço dos escravos como os estados do sul. Por isso, o sul tornou-se a zona dos escravos. Os estados do norte, por causa do clima, desenvolveram a vida industrial, enquanto os estados do sul, a vida agrícola. A zona do sul, sendo mais quente, favoreceu o cultivo de fumo, algodão, arroz e milho. Os negros eram mais hábeis trabalhadores no campo do que nas oficinas e estavam mais acostumados ao clima quente do que ao clima frio. Portanto, por estes motivos, quase todos os escravos finalmente ficaram no sul do país. Se os escravos pudessem ter sido utilizados tanto no norte como no sul, provavelmente não teria havido duas correntes tão fortes, na Igreja e no Estado; uma favorável outra contrária à escravidão.

Todas as treze colônias primitivas reconheceram a

legalidade da escravidão. Por muitos anos os capitalistas do norte, especialmente dos estados da Nova Inglaterra, traficaram com escravos. Navios cheios de escravos chegavam aos portos de Newport e Providência, onde eram os escravos vendidos como se fossem animais irracionais. Isto continuou até que por lei se proibiu a importação de mais escravos para o país. Os homens do norte vendiam escravos aos homens do sul, e os homens do sul compravam escravos dos homens do norte, porque precisavam do trabalho deles para cultivar as suas plantações de fumo, algodão, arroz e milho. Tal negócio dava lucro aos homens do norte. Importar escravos e vendê-los aos homens do sul era, afinal, bom negócio para todos os brancos.

Mas chegou o dia em que não era mais permitido importar

escravos e o mercado acabou, senão entre indivíduos do país que queriam vendê-los ou comprá-los.

Havia indivíduos; tanto no sul como no norte, que

consideravam a escravidão um grande mal. Havia outros que possuíam escravos, mas achavam a instituição da escravidão um mal que deveria ser eliminado da sociedade. Em outras

palavras, havia sentimento favorável e contrário a escravidão no meio do povo. O joio estava semeado no meio do trigo e o problema de arrancar o joio, sem prejudicar o trigo, tornava cada vez mais difícil entre o povo americano.

Este sentimento se manifestou primeiro na Igreja e mais

tarde no Estado; mas, se na política do Estado surgiu tão cedo como na Igreja, ali seu desenvolvimento foi, contudo, mais lento. Surgiu na Igreja Metodista Episcopal em 1844, ao passo que no Estado surgiu em 1860.

A lei da Igreja proibia aos pregadores itinerantes

possuírem escravos nos estados onde a lei do estado permitia a emancipação. A Conferência Geral, em 1808, depois de discutir o assunto, chegou à conclusão que a escravidão não tinha remédio, porque as autoridades civis e muitos membros da Igreja estavam "contentes com leis tão contrárias à liberdade". Tomou, pois, a seguinte deliberação:

"Portanto, nenhum senhor de escravos pode ser oficial da Igreja, daqui em diante, onde as leis do estado em que mora permite a emancipação e permite ao escravo alforriado gozar a liberdade" (Duren, p. 201).

Esta foi a atitude oficia l da Igreja, por mais de vinte

anos. Em 1828, na ocasião da Conferência Geral foi eleito um representante fraternal à Conferência britânica. Dois homens receberam votos: Wilbur Fisk, que não era senhor de escravos, e Guilherme Capers, que era senhor de escravos. Os dois homens eram doutores e de grande capacidade. O dr. Fisk era do norte e representava o sentimento do povo daquela secção; o dr. Capers era do sul e representava o sentimento daquela secção. O dr. Capers recebeu 82 votos e o dr. Fisk 72 votos. Este ato da Conferência Geral revelava o sentimento da Igreja sobre a escravidão naquela época; estava escolhido um não escravista e também um escravista.

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As duas correntes continuaram fortes por mais dezesseis anos. A questão de escravidão discutiu-se pouco durante essa época nas Conferências Gerais da Igreja, mas era a questão mais viva da Igreja. Às vezes as coisas mais melindrosas são as de que se fala menos. Assim se fez nas Conferências Gerais da Igreja até 1844, quando se deu a explosão que dividiu a Igreja Metodista em duas. Em outro lugar se tratará deste ponto mais amplamente.

Havia muita discussão deste assunto fora das Conferências.

Criou-se no norte um partido de anti-escravistas que agitava a questão por meio de jornais, revistas, tratados, livros e Conferências. Essa propaganda irritou o povo do sul. O povo do sul procurava justificar a escravidão. Não somente os membros da Igreja ficavam contrariados com isso, mas também o povo em geral. Tudo isto se refletia na vida religiosa e civil do povo.

Se o povo do norte tivesse sido colocado na posição do

povo do sul, teria feito o que o povo do sul fez e vice-versa. A natureza humana age da mesma maneira sob as mesmas circunstâncias e condições.

32. A controvérsia e a divisão da Igreja. Como já notamos a questão da escravidão não melhorou com o

correr dos anos; antes, piorou. A posição dos pregadores e crentes do norte afastava-se cada vez mais da posição dos pregadores e crentes do sul. O abismo entre as duas secções da Igreja alargava-se mais e mais e todas as tentativas para eliminá-lo fracassaram.

Quando os delegados chegaram à Nova York para assistir à

Conferência Geral que se realizou na igreja metodista episcopal de Green Street, a 1ºde maio de 1844, se sentiu que a

atmosfera da Conferência estava sobrecarregada de apreensões e receios. Todos sentiam o peso de grande responsabilidade. No coração de todos havia o desejo de descobrir solução satisfatória para toda a Igreja.

Os primeiros dias foram dedicados à rotina da Conferência. Os

delegados de Newhampshire apresentaram um memorial, acusando o dr. Capers, que era senhor de escravos e também um dos três secretários gerais das Sociedades Missionárias. Em 7 de maio foi apresentado à Conferência um apelo da Conferência Anual de Baltimore. Um presbítero daquela Conferência casara-se com uma senhora que era senhora de escravos. Por ocasião da reunião daquela Conferência, em março, o presbítero fora suspenso até que desse os passos necessários para emancipar os escravos. Segundo a lei do estado de Maryland, não se podia emancipar um escravo e o escravo emancipado gozar da liberdade naquele estado. O caso foi discutido, mas na votação a sentença da Conferência de Baltimore foi sustentada por 117 votos contra 56. O resultado dessa votação revelou o fato que o elemento anti-escravista estava mais forte do que o elemento conservador. Realmente, esse foi o primeiro passo para chegar a outro caso mais sério ainda, o caso do bispo Andrews. O bispo Andrews chegara a possuir escravos por herança e por casamento.

Antes de vir o caso do bispo Andrews ao plenário, a

Conferência nomeou os bispos em comissão para trazer perante a Conferência um plano que solucionasse o problema da escravidão. Marcaram um dia de jejum e de oração em que os bispos haviam de estudar seu plano. Quatro dias depois os bispos relataram que não conseguiram formular um plano satisfatório para toda a Igreja.

O sr. Collins fez uma proposta, que a comissão episcopal

estudasse o caso do bispo Andrews e relatasse os fatos

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apurados. Em 22 de maio o dr. Paine, presidente da comissão,

apresentou o seguinte: "A comissão episcopal, à qual foi referida uma

resolução, entregue ontem, para indagar se qualquer dos superintendentes está relacionado com a escravidão, pede licença para apresentar seu relatório sobre o assunto.”

"A comissão tinha averiguado, antes da resolução

acima, que o bispo Andrews está relacionado com a escravidão e tinha conversado com ele sobre o assunto. Tenho-lhe pedido que a informasse dos fatos em foco, apresentou uma comunicação por escrito, a respeito. Pedimos permissão para apresentá-la como a sua declaração e explicação: “

"À comissão episcopal. Prezados irmãos: Em

resposta à vossa pergunta, apresento-vos a seguinte declaração sobre que me dizem respeito, os fatos concernentes à escravidão. Primeiro. Há alguns anos, uma velha senhora, de Augusta, estado da Geórgia, legou-me uma menina negra, em confiança, para que eu cuidasse dela até que atingisse dezenove anos de idade, quando eu, com o consentimento dela, a deveria mandar para a Libéria. No caso da sua recusa, que eu ficasse com ela e lhe desse tanta liberdade quanta a lei do estado de Geórgia permitisse. Quando ela atingiu os dezenove anos, recusou ir para a Libéria e por sua própria escolha tornou-se minha escrava legal, ainda que eu dela não receba qualquer serviço. Ela continua a morar na sua casa, no meu lote de terreno. Tem tido e ainda tem completa liberdade para ir para qualquer estado que lhe dê liberdade. As leis do estado (Geórgia) não permitem sua emancipação, nem permitem registrar qualquer documento de emancipação. Ela se recusa a deixar o estado. Portanto,

no caso dela, fui legalmente constituído senhor de uma escrava, mas não com meu consentimento.”

"Segundo. Já há cinco anos, a mãe da minha primeira

esposa deixou para sua filha, não para mim, um menino negro. Como a minha esposa morreu há dois anos, sem deixar testamento e segundo as leis do estado da Geórgia, ele ficou legalmente como minha propriedade. Neste caso, como no caso da menina, a emancipação é impraticável no estado; mas o menino terá liberdade de deixar o estado, quando eu tiver a certeza de que ele pode cuidar de si, ou eu tiver garantia de que será protegido e amparado no lugar para onde for.”

"Terceiro. No mês de janeiro do ano passado me

casei com a minha atual esposa, que já era naquela ocasião, senhora de escravos, herdados de seu falecido marido. Logo depois do meu casamento, não querendo eu ser senhor de escravos e considerando que pertenciam exclusivamente a ela e a lei não permitia a sua emancipação, leguei-os a ela por meio de uma escritura de fiador”.

"Fica patente a vós, pelos fatos mencionados, que

não tenho comprado nem vendido escravos e que nos dois casos em que sou legalmente senhor de escravos, a emancipação é impraticável. Quanto aos escravos que pertencem à minha esposa, não tenho qualquer responsabilidade legal, nem pode minha esposa emancipá-los mesmo que o queira. Assim tenho narrado todos os fatos em questão e submeto esta declaração à consideração da Conferência Geral. Respeitosamente vosso, James O. Andrews" (McTyeire, p. 623).

O caso do bispo Andrews ficou para ser considerado no dia

seguinte, quando Alfredo Giffith e João Davis, da Conferência de

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Baltimore, propuseram o seguinte: "Que o rev. James O. Andrews seja, pelo

presente, oficiosamente solic itado a pedir sua resignação do ofício de Bispo da Igreja Metodista Episcopal" (McTyeire, p. 628).

O caso do bispo Andrews provocou uma discussão que durou

sete dias, dias que provaram a paciência de todos Não tentaremos reproduzir os argumentos favoráveis e contrários, mas os que tomaram parte na discussão usaram de toda precaução para não ofenderem a ninguém. Era desejo de todos achar uma solução satisfatória.

O bispo Andrews era homem bom e humilde e estava pronto

a pedir a sua demissão do ofício episcopal. Mas, quando os homens do sul protestaram contra tal ato, mostrando que não havia acusação pessoal contra ele, que ele não tinha violado qualquer lei da Igreja nem do Estado, que seria tal ato uma violação dos direitos do episcopado e que os irmãos do sul não concordariam com isso, então ele deixou de dar este passo.

Realmente, se tivesse dado tal passo, não teria

solucionado o problema em discussão. A questão era mais grave do que o caso do bispo Andrews: seu caso era somente sintoma de um mal-estar geral. Para continuar no ofício episcopal, ficaria incapacitado de presidir a qualquer Conferência nos estados do norte e os irmão da Nova Inglaterra retirar-se-iam da Igreja Metodista Episcopal e fundariam uma nova Igreja; e, se fosse demitido, os irmãos do sul ficariam escandalizados. Depois de sete dias de discussão, foi resolvido pedir aos bispos que apresentassem um plano que julgassem solucionar o problema. No dia seguinte apresentaram seu plano. Recomendavam que se deixasse de tomar qualquer deliberação até a próxima Conferência Geral, que se poderia fazer um arranjo para se aproveitarem os serviços do bispo Andrews e que, assim fazendo, ter-se-ia mais tempo para

sondar o sentimento de toda a Igreja. Quando o plano foi apresentado ao plenário da Conferência, o bispo Hedding pediu que seu nome fosse retirado do documento, porque, depois de assiná-lo lhe tinham chegado informações que o levaram a modificar seu parecer. só vinte anos depois é que o motivo que levou o bispo Hedding a mudar sua opinião, foi publicado. Era que os delegados da Nova Inglaterra tinham tomado a deliberação de retirar-se da Igreja Metodista Episcopal se o bispo Andrews continuasse no seu ofício. Então é que se perdeu a última esperança da unidade de Igreja Metodista nos EUA. Quase unanimemente os delegados do sul teriam votado pelo plano. Votou-se uma moção para deixá-lo sobre a mesa e o resultado foi: 95 a favor e 84 contra. Então se votou a proposta que estava perante a casa, de suspender o b ispo Andrews do ofício episcopal, e o resultado foi: 111 a favor da moção e 69 contra. A minoria declarou que apresentaria mais tarde seu protesto, o que foi feito poucos dias depois.

"Aos 5 de junho o dr. Longstreet apresentou o que ficou conhecido como "A Declaração dos Delegados do Sul", assinado por todos os delegados (51) das Conferências onde existia a escravidão, com exceção de um, do Texas. O documento é o seguinte:

"Os delegados das Conferências nos estados onde

existem escravos, tomam a liberdade de declarar à Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal que a continua agitação sobre a questão dos escravos e abolição da escravatura numa parte da Igreja e as freqüentes deliberações sobre esse assunto na Conferência Geral e, especialmente as medidas extrajudiciais tomadas contra o bispo Andrews, no sábado passado praticamente e forçosamente produzirão um estado de coisas no sul que dificultará a continuação da jurisdição desta Conferência Geral sobre aquelas Conferências, pois que ela é inconsistente com o bom êxito do ministério nos estados

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onde existem escravos". A comunicação foi referida a uma comissão composta de

nove membros: Roberto Paine, Glezen Filmore, Pedro Akers, Natã Bangs, Tomaz Crowder, Tomaz B. Sargent, Guilherme Winans, Leônidas L. Hamilton e James Poter.

O sr. J. B. McFerrin (de Tennessee), apoiado por um

membro da Conferência de Troy, propôs o seguinte: "Que a comissão nomeada para tomar em

consideração o protesto da comissão dos delegados das Conferências do sul seja incumbida de projetar, se possível, um plano constitucional para a divisão amigável da Igreja, no caso de não se achar, no seu entender, um plano mais pacífico para ajustar as dificuldades que existem atualmente na Igreja sobre a questão da escravatura " (McTyeire, ps. 636-637). Citaremos as duas primeiras e a última das doze resoluções

do "Plano de Separação" aprovado pelos delegados das Conferências anuais reunidos na Conferência Geral:

"1—Que, no caso das Conferências Anuais dos

estados onde existem escravos julgarem que seja necessário unirem-se numa associação eclesiástica distinta, a seguinte regra será observada quanto à linha divisória do lado do norte: todas as sociedades, estações e Conferências, ficarão sob o tranqüilo cuidado pastoral da Igreja do Sul; e os ministros da Igreja Metodista Episcopal de modo nenhum tentarão organizar igrejas ou sociedades nos limites da Igreja do Sul, nem tentarão exercer autoridade pastoral sobre elas; sendo entendido que os ministros do sul observarão reciprocamente a mesma regra em relação às estações, sociedades e Conferências que aderirem pela maioria de votos à Igreja Metodista Episcopal; sendo entendido, a

mais, que esta regra será aplicada somente às estações, sociedades e Conferências que estiverem na linha divisória e não nas paróquias do interior, as quais serão deixadas em todos os casos àquela Igreja, em cujo território estiverem situadas.”

“2.—Que quaisquer ministros, locais e itinerantes,

de qualquer categoria e ofício na Igreja Metodista Episcopal, que desejarem podem ficar na Igreja, ou, sem censura, aliar-se com a Igreja do Sul.”

“12.—Que os bispos sejam respeitosamente instruídos

para apresentar a parte deste relatório, que requer a aprovação das Conferências Anuais, perante elas, o mais cedo possível, começando com a Conferênc ia de Nova York". (Duren, ps. 228-231).

A resolução foi aprovada com 135 votos em favor e 17 contra. Também ficou resolvido:

"Que toda a propriedade da Igreja Metodista Episcopal em casas de oração, casas pastorais, colégios, escolas, fundos Conferenciais, cemitérios e de toda espécie dentro dos limites da organização do sul, seja para sempre livre de qualquer reiv indicação da parte da Igreja Metodista Episcopal, tanto quanto esta resolução possa ter força de promessa". (McTyeire, p. 638).

Chegou o tempo da separação. Os dois ramos do Metodismo

tinham de tomar o rumo mais natural para eles e trabalhar separadamente um do outro, até chegar o dia em que a causa que os separou não existisse mais. A divisão do Metodismo americano pode ser comparada ao rio que segue seu percurso sossegadamente até encontrar uma grande ilha que obriga as águas a tomarem dois rumos diferentes para se reunirem mais adiante, quando a ilha tiver ficado para trás.

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CAPÍTULO XI

O METODISMO DIVIDIDO

E A GUERRA CIVIL 33. A organização da Igreja Metodis ta Episcopal

do Sul. A Conferência Geral de 1844 terminou à meia-noite do

dia 18 de junho. No dia seguinte os delegados do sul se reuniram e tomaram as deliberações que julgaram necessárias para enfrentarem os problemas que a nova situação lhes criara. Hav ia muita perturbação nas suas deliberações. Os delegados fizeram um relatório de tudo o que se fez na Conferência Geral a respeito da escravidão e do plano de Separação, apelando ao povo para que não ficasse excitado e não tomasse deliberações precipitadamente, mas que esperasse até que houvesse uma reunião geral em que se podiam tomar decisões precisas. Recomendaram que cada Conferência Anual elegesse delegados para uma convenção que se reuniria em 1º de maio de 1845 na cidade de Louisville, no Kentucky.

Por ocasião das Conferências Anuais foi apresentado o

"Plano de Separação" e todas as Conferências do sul o aprovaram.

Em 1º de maio de 1845 a convenção de delegados das

Conferências Anuais dos estados onde existiam escravos, reuniu-se em Louisville, no Kentucky. Durou essa reunião vinte dias.

Uma comissão de organização foi nomeada para examinar as

atas das Conferências Anuais, para considerar a conveniência e a necessidade de uma organização no sul, de acordo com o "Plano de Separação" e também inquirir se tinha acontecido

durante o ano qualquer coisa que pudesse conservar a unidade do Metodismo sob uma Conferência Geral, sem prejudicar o Metodismo do sul.

Em 15 de maio a comissão relatou o seguinte:

"Que a Conferência Geral de 1844 deu plena e completa liberdade às Conferências Anuais dos estados onde existem escravos para decidirem sobre a necessidade de organizar uma corporação eclesiástica e separada no sul, que dezesseis das tais Conferências estão aqui representadas, que é evidente que o ministério e os membros no sul, quase quinhentos mil, na razão de noventa e cinco por cento deram seu parecer que uma divisão é indispensável, que se isto não for realizado, cerca de um milhão de escravos, que ouvem agora dos ministros o Evangelho se retirarão do nosso cuidado e que, tomando esta posição, as Conferências do sul estão, de boa vontade, prontas a tratar com a divisão do norte da Igreja em qualquer tempo, com o fim de ajustar as dificuldades desta controvérsia nas condições e princípios que sejam satisfatórios a ambos.”

“E então esses delegados solenemente declararam

dissolvida a jurisdição, até então exercitada pela Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal sobre as Conferências Anuais representadas na convenção e que as ditas Conferências Anuais ficavam constituídas em uma corporação eclesiástica, separada, baseada sobre a Disciplina da Igreja Metodista Episcopal, abrangendo as doutrinas e todas as regras e regulamentos morais, eclesiásticos e ecumênicos da dita Disciplina, exceto as alterações verbais que sejam necessárias para ser conhecido pelo estilo e título da Igreja Metodista Episcopal do Sul" (McTyeire, p. 642). A primeira Conferência Geral da Igreja Metodista

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Episcopal do Sul se realizou em 1º de maio de 1846, na cidade de Petersburg, estado de Virgínia, de acordo com o "Plano de Separação". O rev. João Early presidiu a Conferência até que o bispo Andrews chegasse.

No segundo dia da Conferência o bispo Josué Soule, o

bispo mais velho da Igreja, filiou-se à Igreja Metodista Episcopal do Sul. É interessante notar que o bispo Soule, que era do norte, se tenha filiado à Igreja do sul. Chegou a hora, como declarou, para ele manifestar-se, pois a Igreja já, estava organizada de acordo com o "Plano de Separação". Foi unanimemente recebido pelos oitenta e sete delegados.

A Conferência tratou de diversas coisas de interesse

geral da Igreja. Resolveu fundar uma Casa Publicadora, com três pontos para depósito de livros — Richmond, Charleston e Louisville. Mas houve uma modificação desde plano logo depois, sendo Nashville escolhido como centro da Imprensa Metodista. Foram eleitos redatores de jornais e revistas; constituiram-se comissões, de acordo com o "Plano de Separação"; e dois bispos foram eleitos, Guilherme Capers e Roberto Paine. Houve poucas alterações na Disciplina, ficando como estava a lei sobre a escravatura.

No dia 23, último da Conferência, se tomou a seguinte

resolução: "Que todos fiquem de pé e seja, por este ato,

nomeado o dr. Lovick Pierce delegado à Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal, que se realizará em Pittsburg, em 1º de maio de 1848, para apresentar os cumprimentos cristãos e as saudações fraternais da Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul". O "Plano de Separação" foi aceito quase que

unanimemente pelas Conferências Anuais do sul; mas as Conferências Anuais do norte levantaram muitas objeções.

O "Plano de Separação" recebeu ali a maioria de votos,

mas, por falta de dois terços de votos, não foi aprovado. Isto criou a maior confusão entre os irmãos do norte. Surgiram críticas de todos os lados, não somente entre si mesmos, mas também aos irmãos do sul. Quando chegou a hora de eleger os delegados à Conferência Geral de 1848 poucos dos que foram delegados à Conferência Geral de 1844 foram reeleitos.

A Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal de 1848

era composta, em conseqüência, de homens radicais e revoltados no seu espírito. Não gostavam do "Plano de Separação" e julgavam os irmãos do sul cismáticos e precipitados em dividir a Igreja. O estado de espírito dos delegados não favorecia uma legislação moderada e ponderada. Podiam esperar-se desde logo medidas radicais e exageradas.

Quando a Comissão de Finanças, nomeada pela

Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, apareceu à Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal para entender-se com uma comissão igual, não pode realizar nada de acordo com o "Plano de Separação" porque as Conferências Anuais não tinham aprovado o "Plano de Separação" da Conferência Geral. A comissão da Igreja Metodista Episcopal não tinha autoridade para agir e foi então que o ambiente enegreceu. Não podendo ser atendida, a comissão da Igreja Metodista Episcopal do Sul não tinha outro recurso senão “apelar para César”. Apelou para o tribunal civil. Levou alguns anos e ganhou a questão. A Igreja Metodista Episcopal pagou a quota da imprensa (Book Concern) que tocava a Igreja do Sul.

Se as Conferências Anuais do norte tivessem aprovado o

"Plano de Separação", como as Conferências Anuais do sul fizeram, não teria havido tantas discussões exacerbadas. De

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ambos os lados eram as faltas que se cometeram, de modo que nenhum tinha direito de censurar o outro: os dois tinham culpa.

Quando o dr. Lovick Pierce se apresentou à Conferência

Geral, em 1848, não foi recebido como delegado fraterno da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Conv idaram-no, como indivíduo, a tomar assento na Conferência; mas ele recusou o convite, alegando que era na qualidade de representante da sua Igreja que veio e não como indivíduo.

O dr. Pierce, logo que chegou à Conferência, comunicou

por escrito o motivo da sua visita. Dois dias depois, recebeu a seguinte comunicação: "Visto que há questões e dificuldades sérias entre as duas corporações, fica resolvido que, embora receba o dr. Pierce pessoalmente com toda a distinção, ele é convidado a assistir as reuniões desta Conferência Geral, não julga, entretanto, conveniente entrar agora em relações fraternais com a Igreja Metodista Episcopal do Sul". (McTyeire, p. 647).

O dr. Pierce respondeu, por escrito, agradecendo o convite pessoal para tomar assento na Conferência e acrescentando:

"Dentro dos limites da Conferência somente posso ser

reconhecido na qualidade do meu ofício. Vós, portanto, podeis considerar esta comunicação final, da parte da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Ela não pode jamais renovar a oferta de relações fraternais entre as duas corporações do Metodismo Wesleyano nos Estados Unidos. Mas o convite pode ser renovado em qualquer tempo, agora, ou mais tarde, pela Igreja Metodista Episcopal. Se for feito na base do "Plano de Separação", como foi aprovado pela Conferência Geral de 1844, a Igreja do sul cordialmente o receberá"

(McTyeire, p. 647). 34. A ação do Metodismo durante a Guerra Civil. A escravidão não somente provocou atritos entre o

povo chamado metodista, mas também entre o povo americano em geral. Se a escravidão se tivesse generalizado por toda a parte do país, provavelmente não teria havido tantas contendas. Como a questão da escravidão contribuiu para dividir a Igreja Metodista Episcopal, serviu também para dividir a nação e provocar uma guerra civil que durou quatro anos.

Durante o período da Guerra Civil (1865-1880) o Metodismo

sofreu revezes, tanto no norte como no sul. Entre os anos de 1860 e 1864 a Igreja do Norte perdeu mais de sessenta e oito mil membros e a do Sul, mais de cem mil membros. Além disso, a Igreja do Sul perdeu muitas das suas propriedades, igrejas, colégios, escolas e outros estabelecimentos.

O trabalho missionário no estrangeiro ficou paralisado.

Os missionários da China, drs. Young J. Allen e J. W. Lambuth, ficaram sem auxílio da Igreja. Tiveram de arranjar !trabalho entre o povo chinês para manter-se. O dr. Allen conseguiu um bom serviço como tradutor do governo chinês. Desta forma veio a estreitar relações com a alta camada da sociedade chinesa. Tornou-se grande propagandista por meio de livros e j ornais.

A Igreja Metodista Episcopal do Sul não pode realizar a sua

Conferência Geral, em 1862, por causa da guerra, mas em 1866 realizou-se a Conferência na cidade de Nova Orleans.

A Igreja Metodista Episcopal acompanhou as

conquistas das armas do norte e ocupou o território conquistado, tomando, às vezes, conta de igrejas e outras propriedades. As propriedades adquiridas desta maneira criaram grande empecilho na reconciliação posterior das duas igrejas.

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CAPÍTULO XII

ANOS DE GRANDES PROVAS E DE

RECONTRUÇÂO, LOGO APÓS A GUERRA CIVIL

(1865-1880).

35. Motivos de atritos entre os dois ramos de Metodismo.

A guerra sempre traz desordem, perturbação e relaxamento

moral. Homens violentos e de baixo padrão moral chegam a ocupar lugares de responsabilidade. O resultado é que abusa do público e este é, muitas vezes, roubado. Praticam-se fraudes de toda espécie. Tudo isso se deu logo após a Guerra Civil.

Os jornais das duas Igrejas discutiram os problemas da

reconstrução do Metodismo do Sul. Às vezes os artigos publicados irritavam ao invés de edificar os sentimentos do povo. Mas tinha de ser assim mesmo: não se podia esperar brandura, respeito e muita consideração, depois de quatro anos de guerra praticada com tanto derramamento de sangue e com tanta destruição de propriedades.

O que irritava os metodistas do sul mais do que qualquer

outra coisa era o espírito agressivo dos metodistas do norte. O fato de haver igrejas do sul que eram confiscadas pelos metodistas do norte durante a Guerra Civil e que não foram depois devolvidas era motivo de atritos. Houve casos em que os interessados tiveram de apelar para o governo para obrigar os metodistas do norte a entregá-las. Era também causa de atritos o fato de ter a Igreja Metodista Episcopal, logo após a guerra, invadido o sul, mandando homens e dinheiro para conquistar novo terreno. Dez Conferências Anuais foram organizadas no

território já ocupado pelos metodistas do sul. Havia ainda mais um motivo de atritos: era a atitude dos metodistas do norte para com os negros, os ex-escravos. Mandavam missionários para cuidar deles e dinheiro para educá-los. Advogavam o direito de cidadania para os ex-escravos. Tudo isso provocava reações fortes nos negros e criava descontentamento entre os metodistas do sul. Muitos imigraram para o norte; grande número de membros da Igreja Metodista Episcopal do Sul passou para as Igrejas dos negros: a Igreja Metodista Episcopal Africana de Sião e a Igreja Metodista Episcopal Africana.

A Igreja Metodista Episcopal do Sul também assumiu

atitudes desfavoráveis à harmonia entre as duas secções do país. Invadiu o território do norte, mas não no mesmo grau de importância. Criou uma Conferência Anual no estado de Illinois para cuidar de um grupo de metodistas que se retirou da Igreja Metodista Episcopal durante a guerra, e também organizou uma Conferênc ia Anual no estado de Maryland com um grupo de metodistas descontentes com a política da Igreja Metodista Episcopal.

Não adianta nada agora repetir coisas que foram publicadas

nos jornais daquela época, coisas que sem dúvida entristeceram o espírito de Jesus.

36. Legislação acerca de representação leiga e das

relações dos negros para com os brancos. A questão da representação leiga na Igreja levou tempo para

se resolver. Essa questão surgiu nos dias de O'Kelly, em 1792. Tornou-se tão aguda ern 1830 que foi um dos motivos principais que provocaram o primeiro cisma na Igreja Metodista dos EUA. A Igreja Metodista Protestante organizou-se de elementos descontentes com a política da

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Igreja Metodista Episcopal. Mas o fato é que se custou convencer os pregadores

que deveriam admitir os leigos na administração da Igreja. Em 1852 a questão foi ventilada de novo na Igreja Metodista Episcopal. Uma senhora, Madam Jenkins, discutiu a questão de representação leiga na Igreja, levantando a questão se as mulheres não deviam ser incluídas entre os leigos.

Parece um pouco esquisito que Wesley tenha empregado

leigos para evangelizar a Inglaterra e para evangelizar a América e que ao mesmo tempo os leigos não tivessem parte no governo da Igreja.

Em 1866 dr. Holand McTyeire, mais tarde eleito bispo,

apresentou uma proposta permitindo os leigos serem representantes nas Conferências da Igreja. Foi aprovada pela Conferência Geral e ratificado pelas Conferências Anuais no decorrer do quadriênio.

Na Conferência geral de 1870 tornou-se lei na Igreja

Metodista Episcopal do Sul. Os delegados dessa Conferência eram clérigos e leigos.

A Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal tomou

a mesma deliberação em 1868 e em 1872 a sua Conferência Geral se constituiu de clérigos e de leigos, ainda que houvesse só dois leigos para cada Conferência Anual.

Demorou muito para admitir mulher na categoria de

representante leiga. Mas em 1904, admitiram-se delegadas femininas à Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal e em 1918 a Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul aprovou a lei permitindo representantes femininos nas Conferências da Igreja. Logo as Conferências Anuais confirmam a lei e portanto, em 1922, foram eleitas mulheres como

delegadas à Conferência geral. É notável que a Igreja Metodista tenha reconhecido o direito de voto à mulher quinze anos antes do Estado.

Até a Conferência Geral de 1866 os negros eram

membros da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Mas depois da emancipação deles as circunstâncias mudaram radicalmente. Havia muito interesse em habilitar os ex-escravos a tomarem seu lugar na vida coletiva da nação. Sem dúvida, muitos negros foram explorados pelos brancos mal intencionados. Mas havia homens sinceros e cristãos que se interessavam no bem estar dos ex-escravos.

Já, falamos das Igrejas Metodistas formadas por negros

e como os negros queriam filiar-se a elas, logo depois da Guerra Civil. A Igreja Metodista Episcopal do Sul em 1866 atendeu ao pedido dos negros, membros da Igre ja, para se organizarem numa igreja independente. Em 1860 havia 207.766 membros negros na Igreja Metodista Episcopal do Sul, e em 1866, havia só 78.742. Em 1870 se atendeu ao pedido e uma Igreja composta só de negros, com o seu bispo foi organizada, a qual tomou o nome de "The Colored Methodist Episcopal Church in América".

37. Época de reconciliação. O amor fraterno é o melhor sinal que pode existir num

cristão, como disse Jesus: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns aos outros".

João Wesley, o fundador da Igreja Metodista, queria que o povo

chamado metodista fosse um. A última carta que mandou para a América foi dir igida para Ezequiel Cooper e nela dizia: "Não perca a oportunidade para que se proclame a toda gente que os metodistas são um povo e que seu propósito é continuar

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a sê-lo". É fato que os metodistas, quanto às doutrinas, são unidos.

Só na política, ou forma de organização do governo eclesiástico, é que tem havido divergência e divisões entre eles.

O período situado entre os anos de 1844 e 1869 foi o mais

triste em toda a história do Metodismo americano. Foi nessa época que se quebraram seus laços de fraternidade. Foi o tempo de mais crítica e censura. Mas depois chegaram dias melhores, dias de aproximação, de perdão e de paz.

Em 1869 os bispos da Igreja Metodista Episcopal

aproximaram-se dos Bispos da Igreja Metodista Episcopal do Sul com propostas de paz, fraternidade e união. Os bispos da Igreja do sul ficaram satisfeitos com esse gesto, mas lembraram aos bispos da Igreja do norte o "Plano de Separação" e que a Igreja do sul não era uma Igreja mais cismática que a Igreja do norte:

"Nós não nos separamos de vós em qualquer sentido diferente daquele em que vós vos separastes de nós. A separação que fizemos foi por meio de um pacto. Qualquer aproximação tem de ser um pacto mútuo. Qualquer aproximação tem de ser feita nesta base, se se quer que dê bom resultado" (McTyeire, p. 681).

Esta conversa entre os bispos iniciou o restabelecimento de

relações fraternais entre as duas Igrejas. Na ocasião da Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, em 1874, apareceram três delegados da Igreja Metodista Episcopal. Foram recebidos cordial e fraternalmente. A visita desses três irmãos fez muito bem ao espírito abatido dos metodistas nas duas Igrejas. Abriu-se caminho para um entendimento melhor na solução de questões que ainda existiam entre as duas igrejas. A Conferência Geral tomou a esse respeito as seguintes resoluções:

"Que esta Conferência receba com grande prazer as saudações fraternais da Igreja Metodista Episcopal, trazidas pelos seus delegados, e que o colégio dos bispos da nossa Igreja fique autorizado a nomear uma delegação, composta de dois ministros e um leigo, para levar, as nossas saudações cristãs à próxima Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal. Que, para remover todos os obstáculos à fraternidade entre as duas Igrejas, o colégio de bispos fique autorizado a nomear uma comissão, composta de três ministros e de dois leigos, para encontrar-se com uma comissão semelhante, autorizada pela Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal. (McTyeire, p. 683).

As Comissões de Ajuste das duas Igrejas reuniram-se para

entender-se sobre as liquidações de contas acerca de propriedades, ocupação de território e outros interesses das duas Igrejas. Na primeira reunião dessas comissões, sem qualquer protesto, foi estabelecida a seguinte base para as relações entre as duas Igrejas:

"O estado legal da Igreja Metodista Episcopal e da

Igreja Metodista Episcopal do Sul e as suas relações coordenadas como ramos legítimos do Metodismo Episcopal”.

“Cada uma das ditas Igrejas é ramo legitimo de

Metodismo Episcopal nos Estados Unidos, tem a mesma origem na Igreja Metodista Episcopal, organizada em 1784, e desde a organização da Igreja Metodista Episcopal do Sul, consumada em 1846, pelo livre exercício de direitos das Conferências Anuais do sul, ministros e membros, de aderirem àquela comunhão, tem ela sido uma Igreja evangélica, erguida sobre bases bíblicas, e seus ministros e membros, como as da Igreja Metodista Episcopal, têm continuado a ser

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uma família metodista, ainda que com conexões eclesiásticas distintas". (McTyeire, p. 684).

A sugestão de que o povo metodista é um só cresceu e

tomou vulto, a ponto de provocar a idéia de uma Conferência ecumênica do Metodismo.

A primeira Conferência Ecumênica do Metodismo se

realizou em 1881. O lugar indicado e mais lógico para a sua realização era a capela de Wesley, em City Road, em Londres, Inglaterra. Em 7 de setembro de 1881 delegados de vinte e oito denominações, ramos do Metodismo, representando mais de cinco milhões de membros, reuniram-se na capela de Wesley.

Havia ali delegados da Inglaterra, Irlanda, Escócia, França,

Alemanha, Itália, Noruega, Suécia, Suíça, África, Índia, China, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Polinésia, de todas as partes dos Estados Unidos, Canadá, Nova Escócia, Nova Brunswick, América do Sul e das Antilhas.

Passaram quatorze dias juntos. Foram dias de comunhão

fraternal e de grande inspiração. Foram discutidos muitos assuntos, mas o assunto central foi: "Espalhar a santidade da Escritura sobre todas as terras".

C A P Í T U L O X I I I

PERÍODO DE PAZ E PROSPERIDADE

(1880-1900).

38. Algumas mudanças na administração da Igreja. Os vinte anos que ficam entre 1880 e 1900 podem ser

chamados a idade áurea e de transformações. Durante esse período houve paz e grande prosperidade no país (EUA) e no Metodismo. As Igrejas Metodistas se encontravam em toda parte do país. Não havia cidade, vila, arraial ou sítio em que não se encontrassem metodistas e casas de oração metodistas. Nas zonas mais antigas, como a parte do leste do país, a tarefa de conquistar novos territórios já havia passado. Na zona do oeste ainda se encontravam os típicos pregadores itinerantes indo para cá e para lá para atender às exigências do seu trabalho.

Mas a época das fronteiras do oeste estava se acabando. Os

templos e as casas de oração eram melhores e mais bem feitos. A simplicidade do culto estava cedendo lugar à liturgia mais desenvolvida.

Em lugar das classes metodistas, havia reuniões de

comissões de negócios e cultos de oração. A vida pastoral tornou-se mais exigente, porque nas

sedes o pastor tinha de pregar duas ou três vezes por semana e zelar pelos diversos departamentos da igreja. Realmente, não havia mais necessidade ou lugar para as reuniões para as classes metodistas. Muitos dos velhos membros ficaram desgostosos por causa dessas mudanças e procuravam manter as reuniões de classe logo após os cultos, porém isso não deu certo.

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Nas cidades as igrejas ricas organizaram coros e, como

alguém observou, "o povo louvava a Deus por procuração, tendo quartetos, coros e instrumentos de música para fazê-lo, ao invés de fazê-lo por si mesmo". Era em tais igrejas que as reuniões das classes metodistas estavam morrendo.

Também os lugares destinados aos cultos de acampamento

perderam a sua simplicidade e em parte a sua finalidade. As tendas ou casinhas usadas para acomodar o povo eram mais luxuosas. Em vez de pregação, havia institutos e preleções sobre assuntos do dia. "Houve menos gritos de louvor", disse alguém, "e ao mesmo tempo menos desordem". O povo tornou-se mais culto e instruído e os lugares de culto de acampamento converteram-se em lugares de veranistas com pequeno vestígio de religião.

Os negócios da Igreja caiam mais e mais nas mãos dos

leigos, especialmente os educativos. No princípio as escolas e colégios eram dirigidos quase exclusivamente por pregadores, mas nessa época os leigos foram incumbidos disto. Seus conselhos superiores eram compostos de grande número de leigos; às vezes, de leigos não crentes, mas ricos e de grande influência. Sendo homens de negócios, introduziram métodos seculares na administração dos estabelecimentos de ensino.

Houve mudança também na administração da Igreja. Os

"presbíteros presidentes" tomaram o nome de superintendentes distritais, nome que indica a natureza do seu ofício — mais administradores mais do que inspiradores espirituais.

Igualmente o oficio do bispado foi alterado pelas diversas

juntas da Igreja. A administração da Igreja tornou-se tão complicada que uma pessoa não podia fazer tudo o que o progresso da Igreja exigia. As diversas "juntas" fazem muita coisa em que os bispos não são consultados. A função do bispo

se tornou o administrador mais do que a de orientador e conselheiro espiritual.

A tendência para a secularização do ensino nas

universidades metodistas é patente a todos. Há homens abastados que têm interesse em educar o povo, porém não querem dar dinheiro para instituições que se acham sob direção eclesiástica.

O caso da Universidade de Vanderbilt, em Nashville,

Tennessee, é prova disto. A Universidade de Vanderbilt foi fundada pela Igreja Metodista Episcopal do Sul, em 1873, e ficou sob a direção da Conferência Geral desde 1898, tornando-se deste modo uma instituição da Igreja. A direção da Igreja foi reconhecida pelo conselho superior até 1905, quando houve tentativa da parte do chanceler e da maioria do conselho superior para acabar com ela, de modo que pudessem fazer aliança entre a Universidade e os fundos do patrimônio dirigido pela "Peabody Foundation". Os bispos que eram membros ex-ofício do conselho superior, promoveram ação perante o tribunal civil para conter a maioria do conselho superior. Os bispos ganharam a causa. Mas a maioria do conselho superior apelou para a Corte de Apelação do Estado de Tennessee.

Durante a pendência do caso, o chanceler recebeu do sr.

Andre Carnegie uma oferta de um milhão de dólares para a escola de medicina da Universidade. A oferta, contudo, dependia do resultado do processo, porque o sr. Carnegie não queria dar dinheiro para qualquer Igreja, alegando que não convém "que Igreja alguma controlasse instituições educacionais, tais como universidades, quer sejam Conferências Metodistas, ou assembléias presbiterianas ou ordens Católicas".

No ano seguinte, em 1914, a Corte de Apelação do Estado

de Tennessee deu decisão em favor da maioria do conselho superior.

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A Universidade de Vanderbilt ganhou um milhão de

dólares e a Igreja Metodista do Sul perdeu a direção da sua universidade. A instituição perdeu-se para a Igreja.

A Igreja desenvolveu-se espantosamente durante

esse período. O número de membros e de Conferências aumentou. Em 1900 hav ia em todos os ramos do Metodismo, brancos e negros, quase quatro milhões de membros.

Grandes quantias de dinheiro foram empregadas

na construção de igrejas, escolas e universidades. Mas, no meio de tanto progresso material, o lado espiritual declinou. Afrouxou-se a disciplina e a distinção entre a vida cristã e a do mundo tornou-se menos clara. Houve progresso, porém não na direção da vida simples e apostólica que caracterizava a Igreja primitiva. Houve muita mudança na vida social, intelectual e econômica do povo americano e tudo isso se refletiu sobre sua vida religiosa.

Muitos metodistas tornaram-se abastados e ricos. Quem

dá importância ao valor do indivíduo e da sua salvação pessoal e pratica a temperança e a,sobriedade, há de prosperar e mudar a sua condição econômica.

João Wesley notou esse resultado na vida dos metodistas do

seu tempo e os preveniu contra as tentações que acompanham a riqueza. Pregou diversas vezes sobre o uso do dinheiro e disse:

"A religião forçosamente produz a indústria e a frugalidade e elas naturalmente produzem a riqueza. Mas, à medida que a riqueza aumenta, também aumentam a vaidade, a ira e o amor ao mundo e a todos os seus cúmplices... Não devemos proibir a diligência e a frugalidade do povo; devemos exortar os cristãos a ganharem tudo que puderem e a economizarem tudo que

puderem, isto é, a ficarem ricos. Que caminho, então, podemos tomar, para que nosso dinheiro não venha a nos afundar além do inferno? Há um caminho e não há outro abaixo do céu. Se aqueles que economizarem tudo o que puderem, da mesma maneira derem tudo o que puderem, então quanto mais ganharem, tanto mais crescerão na graça e tanto mais tesouros ajuntarão nos céus" (Sweet, p. 336).

Este é e será o maior perigo da Igreja Metodista e de qualquer outra Igreja neste mundo. O uso da nossa riqueza determinará o nosso destino eterno.

39. Organizações novas na Igreja e interesse na solução de problemas sociais.

Durante o período de prosperidade e progresso manifestou-

se a revivificação da doutrina da santificação na Igreja. Foi um protesto contra o mundanismo na Igreja. Essa doutrina pouco se pregava desde 1830. As discussões a respeito da escravidão, do ofíc io do presbítero presidente e da representação leiga na Igreja absorveram a atenção dos ministros e do povo de modo que negligenciaram a doutrina da perfeição cristã.

O período que fica entre os anos de 1880 e 1900 foi uma

época notável na história do Metodismo na América do Norte. Foi nesse tempo que a doutrina da santificação veio de novo à baila, especialmente no sul e do centro para o oeste do país. Foi um protesto contra os cultos formais e frios das igrejas e os métodos empregados no trabalho da Igreja e o domínio dos homens ricos na Igreja. Os descontentes lamentavam que a "Religião do coração" estivesse desaparecendo.

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Logo depois da Guerra Civil houve um avivamento na Igreja do sul, que repercutiu na Igreja do norte. Em 1867 se organizou o primeiro culto de acampamento para promover a santidade, na cidade de Vineland, no estado de Nova Jersey. O resultado desse culto foi a organização da "Associação Nacional do Culto de Acampamento para a Promoção de Santidade" (The National Camp-Meetings Association for lhe Promotion of Holiness). Esta associação se compunha quase exclusivamente de elementos metodistas. Publicaram-se e divulgaram-se jornais, revistas e folhetos sobre o assunto.

O movimento se fez dentro da Igreja até 1894, quando

houve uma crise. Daí em diante, começaram a formar-se grupos ou seitas fora de Igreja.

Havia dois motivos para isto: primeiro criaram-se, sobre a

questão, na Igreja, duas correntes opostas que se afastavam cada vez mais uma da outra; segundo, tendências modernistas entre os líderes da Igreja. As pessoas interessadas no assunto julgavam que a única maneira de conservar a "verdadeira religião" era afastar-se das organizações velhas e formar novas.

No discurso dos bispos da Igreja Metodista Episcopal do

Sul, apresentado a Conferência Geral em 1894, nota-se o seguinte sobre a questão:

"Tem-se levantado entre nós um partido que tem por lema a santidade e que está ligado às associações de santidade; realiza cultos de santidade, tem pregadores e evangelistas de santidade, possui propriedades de santidade. A experiência crista é representada como tendo só dois passos: o primeiro passo é a saída da condenação para a paz, e o segundo passo leva à perfeição cristã.”

“Não duvidamos da sinceridade e do zelo dos irmãos;

que o compõem. Desejamos que a Igreja aproveite da sua pregação fervorosa e do seu exemplo piedoso, mas

lamentamos seu ensino e seus métodos, porque reclamam o monopólio da experiência, da prática e da advocacia de santidade e separam-se do grêmio dos ministros e discípulos" (Sweet, p. 343).

O movimento tomou aspecto tão sério que diversas

igrejas ficaram divididas em grupos, em conflito uns com os outros. Os bispos e os presbíteros presidentes procuraram acalmar o povo, alegando que a Igreja sempre ensinou a doutrina Wesleyana sobre a santificação ou a perfeição cristã. Isso deu bons resultados em algumas igrejas e congregações. A classe que mostrava mais interesse neste movimento era a classe menos favorecida; os operários nas cidades e camponeses no interior.

Há mais de vinte e cinco grupos atualmente desse povo. O

grupo dos nazarenos é o mais forte de todos. Mais de oito grupos espalhados em diversas partes dos Estados Unidos uniram-se com os nazarenos. Tomaram o nome de nazarenos em 1919 e a estatística dessa Igreja, em 1925, indicava um total de 63.558 membros. As suas doutrinas e a sua política eclesiástica são muito parecidas com as da Igreja Metodista.

Esses irmãos dão mais ênfase à doutrina da santificação e

praticam mais espírito democrático na sua administração. Mas, nota-se que, com o seu rápido crescimento, não dão hoje tanta ênfase à doutrina da santificação como davam antigamente. A Igreja tem diversas escolas e universidades. Tornou-se a Igreja do movimento da santidade.

Por causa do desenvolvimento da Igreja e dos novos

problemas sociais, diversas organizações novas foram nela criadas. Quando as estradas de ferro penetraram na zona do oeste, até ao Oceano Pacifico, muita gente emigrou para aquela zona. Havia, portanto, necessidade de construir casas de oração e capelas. Mas o povo não tinha os recursos

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necessários para construí-las. Faziam-se apelos às igrejas mais fortes de leste do país. Para atender a esses apelos e a outros, a Igreja organizou a Sociedade de Extensão da Igreja, em 1872. Esta Sociedade agora é chamada a Extensão da Igreja e tem cinco departamentos para atender a uma grande variedade de interesses eclesiásticos.

A Sociedade Missionária Nacional de Senhoras da Igreja

Metodista Episcopal foi organizada em Cincinati, em 1880. A Igreja Metodista Episcopal do Sul, em 1878, deu

permissão para a organização de Sociedades Missionárias de Senhoras.

Estas sociedades têm feito bom trabalho tanto no

estrangeiro como no próprio país. Organizaram-se nas duas Igrejas, do norte e do sul,

sociedades para os jovens que tomaram o nome de Ligas Epworth. A primeira Liga Epworth da Igreja do norte foi organizada na igreja Central da cidade de Cleveland, em 1889; e foi oficialmente reconhecida pela Conferência Geral, em 1892.

A Igreja do sul aprovou a organização das Ligas Epworth em

1890, com fim "de promover a piedade e a lealdade à Igreja entre os jovens, e educá-los na Bíblia, na literatura cristã e orientá-los na obra missionária da Igreja".

Diversas Juntas foram organizadas nessa época para

atender às necessidades do trabalho da Igreja. Em 1932, na Igreja Metodista Episcopal, existiam as seguintes juntas principais: "Junta de Missões Estrangeiras", "Junta de Missões Nacionais e de Extensão da Igreja", "Junta de Educação", "Junta de Pensões e Auxílio", "Junta de Hospitais, Lares e Trabalho de Diaconisas", "Junta de

Temperança, Proibição e Higiene Pública". A vida social e industrial tornou-se cada vez mais complexa

lá para os fins do século dezenove. O espírito pagão de violência e de injustiça tem caracterizado a vida industrial moderna. A situação tornou-se tão séria que se notou que havia grande divergência entre a massa do povo e a Igreja. Os operários fizeram as suas organizações para melhorar a sua situação moral, social e educacional, julgando que a Igreja não se interessava mais nas lutas dos operários e dos pobres e preferia gozar a amizade dos capitalistas.

Em 1890 quase todos os operários estavam sob a direção

da Federação Americana do Trabalho. A massa dos operários acreditava que a Igreja não lhes era leal às idéias e estava ligada à interesses capitalistas.

Isto se fez claro na declaração de Gompers, o presidente da

Federação Americana do Trabalho, que disse: "Meus associados acreditam que a Igreja e o

ministério são apologistas e defensores do mal praticado contra os interesses do povo, simplesmente porque os perpetradores desse mal são possuidores de riquezas cujo deus verdadeiro é o poderoso dólar. Eles contribuem com um pouquinho dos seus ídolos para subornarem o intelecto e a eloqüência dos teólogos, chegando ass im até a seus corações generosos para com as necessidades e sofrimentos dos operários, de modo que usam a sua alta posição para desacoroçoar ou desconhecer os esforços que os trabalhadores fazem para se erguerem do lamaçal do desânimo e do desespero" (Sweet, p. 255).

A atitude do operariado estimulou a Igreja em geral a

interessar-se mais na solução dos problemas sociais e

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econômicos da classe laboriosa. Homens, como Washington Gladen, Josias Strong, Carlos R. Henderson e Walter Rauschenbusch, começaram a pugnar pelo interesse dos trabalhadores, baseando-se nos ensinos dos profetas e de Jesus. A idéia do Reino de Deus e os ensinos de Cristo sobre ele ocuparam a atenção não somente dos homens cujos nomes foram citados, mas também de muitos outros.

As faculdades de teologia e as universidades realizaram

cursos especiais sobre sociologia, de modo que o assunto fosse bem estudado. E um dos resultados práticos disso foi o Credo Soc ia l, adotado pr imeiramente pela Igreja Metodista e, mais tarde, com algumas alterações, pelo Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América.

A Igreja Metodista Episcopal, na sua Conferência Geral,

em 1928, foi além desse Credo Social e declarou: "Cremos que é dever de cada igreja local investigar as

condições morais e econômicas de seu lugar, assim como reconhecer as necessidades”.

“Cremos que somente seguindo o exemplo e espírito de

Jesus, no sentido mais amplo, e transportando esses ideais sociais para a vida diária da igreja e da comunidade é que podemos esperar o desenvolvimento do Reino de Deus na terra" (Sweet, p. 361).

As condições rurais têm chamado a atenção da Igreja para melhorá-las. Já chegou o tempo em que a Igreja sente a necessidade e a obrigação de tentar uma solução para os problemas sociais e religiosos das zonas rurais.

As Igrejas têm se interessado nos órfãos. Desde os dias

de Whitefield os metodistas têm mostrado interesse nos órfãos, mas foi só em 1865 que se organizou o seu primeiro orfanato, na cidade de São Luiz, no estado de Missouri.

Mais tarde se organizaram mais dois no estado da Geórgia, um em Decatur, em 1869, e outro em Macon, em 1872. A Igreja Metodista Episcopal do Sul não fundou somente os orfanatos acima mencionados, mas outros, um em cada estado do sul, exceto no estado de Flórida. De 1934 a 1936, segundo um relatório, havia 2.663 crianças em seus orfanatos. As propriedades dos orfanatos são avaliadas em Cr$ 121.253,980,00 e as suas despesas anuais andam em Cr$ 12.178.520,00.

O problema da temperança tem sido sempre uma questão

viva entre os metodistas. Desde os dias de João Wesley o uso de bebidas alcoólicas tem sido condenado por eles. Logo no princípio Wesley incluiu nas Regras Gerais das sociedades metodistas, sobre esse ponto, uma cláusula que reza assim:

"Não praticar o mal, evitando principalmente embriagar-se ou mesmo tomar bebidas alcoólicas, fabricá-las ou vendê-las". Onde e quando esta regra tem sido observada, as igrejas

metodistas foram convertidas realmente em sociedades de temperança. Talvez não tenha havido qualquer outro fato entre o povo evangélico que tenha contribuído mais para criar uma consciência social contra o uso de bebidas alcoólicas do que estas Regras Gerais da Igreja Metodista.

Mas nem sempre isso tem sido observado pelos metodistas.

Havia pouco escrúpulo no povo americano nos tempos coloniais e ainda por muitos anos depois da sua independência; quando ao uso de bebidas alcoólicas. Pregadores, crentes e incrédulos bebiam bebidas alcoólicas. Mas havia sempre grupos de pessoas que combatiam a intemperança. Por ocasião da Conferência de 1780 à uma consulta, se se devia desaprovar o costume de fabricar álcool de cereais, se se deviam repudiar os amigos que tem essa indústria, os pregadores deram resposta afirmativa.

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Em 1783 a Conferência Geral tomou uma medida mais forte ainda. À pergunta: "Deve-se permitir nossos amigos fabricarem, venderem e beberem bebidas alcoólicas?" respondeu-se: "De modo nenhum. Julgamos que elas são prejudiciais na sua natureza e nas suas conseqüências. Desejamos que todos os nossos pregadores assim ensinem ao povo por preceito e por exemplo" (Luccock, ps. 466-467).

Em 1786 se modificaram um pouco essas resoluções,

enfraquecendo a posição da Igreja Metodista nesta questão e, por mais de cinqüenta anos, a voz metodista não foi muito positiva contra esse grande mal social. Mas em 1848 a igreja Metodista Episcopal vestiu de novo sua armadura e entrou na luta contra o alcoolismo. O dr. Wilbur Fisk, que era homem forte, levantou sua voz em protesto contra esse vício. As Regras Gerais de Wesley sobre o uso do álcool foi incluída, sem alterações, na Disciplina. O movimento de temperança começou de fato nessa época. O estado de Maine, em 1850, votou à lei-seca para todo seu território .Apareceram sociedades de temperança em diversos lugares. Publicou-se literatura sobre o assunto, começou, enfim, uma campanha nacional.

Frances E. Willar,d, senhora metodista, tornou-se a chefe do

movimento de temperança. Foi presidente da Woman's Christian Temperance Union" e desde 1873 até a hora da sua morte, em 1899, não cessou de combater esse mal social com todas as suas forças e com toda a sua inteligência. Outras organizações aparec eram, como a "Ant i -Saloon League", que agitou essa questão a ponto de incluir um artigo na constituição dos Estados Unidos, proibindo a fabricação e a venda de bebidas alcoólicas. Foi uma grande vitória social e a Igreja Metodista foi um dos elementos que trabalharam para conquistá-la.

A posição da Igreja Metodista quanto a questão da

temperança é resumida no discurso episcopal apresentado na Conferência geral em 1932:

"Como igreja não podemos seguir outro rumo senão o que conseguir diminuir o consumo das bebidas alcoólicas ao mínimo. Estamos convencidos de que a proibição nacional é esse método" (Sweet, p. 389).

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CAPÍTULO XIV

A I GUERRA MUNDIAL E A SUA INFLUÊNCIA

SOBRE A IGREJA METODISTA

40. A atitude da Igreja para com a guerra. Não falamos aqui de guerras nacionais ou continentais, mas

em guerras mundiais. Em 1910, por ocasião da Conferência Mundial de Missões, que se realizou em Edinburgo, na Escócia, o mundo parecia estar calmo, sossegado e em paz. As Igrejas protestantes européias e americanas tinham semeado nas terras estrangeiras e distantes a Palavra de Deus e agora voltavam "com júbilo, trazendo os seus feixes". Milhares de almas foram arrebanhadas ao aprisco do Senhor. Aquele foi um dos concílios notáveis na história do Cristianismo. A opinião da Conferência era de que nos dez anos seguintes sem dúvida haveria um ponto decisivo na história da humanidade.

Mas em menos de quatro anos o mundo explodiu numa

guerra mundial, que veio a envolver vinte e três nações, em quatro continentes. A metade da riqueza do mundo foi consumida. Algumas nações ficaram tão endividadas que faliram, outras ficaram submersas em dívidas que levarão mais de sessenta anos para serem pagas, se é que serão pagas.

No meio de um mundo arruinado pela guerra, qual será o

papel da Igreja? O dr. Luccock, falando sobre isto, disse: "O mundo não se pode recuperar desta guerra. A

Igreja, como uma instituição no mundo, daqui em diante tem de aplicar a maior parte das suas energias para descobrir um ministério que possa atender às

necessidades das nações rasgadas, quebradas e cheias de ódio, que agora estão tateando e tropeçando à procura de alguma luz. "Quando se apaga", diz Bossuet, "é porque se vai recomeçar a escrever". A Igreja deve estar alerta para reconhecer a nova escrita e a Igreja Metodista junto com as demais Igrejas" (Luccock, p. 483). Quando arrebentou a Guerra Mundial a Igreja Metodista

estava próspera, mas não preparada para ela. A nação americana também não estava preparada. Por muitos anos se fazia propaganda de paz em todo o mundo e as igrejas participaram dessa propaganda. Mas, quando o governo entrou na guerra, a Igreja Metodista cooperou com o governo na sua política. O presidente Wilson, nos seus discursos eloqüentes, declarava que os Estados Unidos entravam "na guerra para acabar com a guerra" e "para tornar o mundo seguro para a democracia". Em tudo isso havia idealismo que cativava o coração do povo americano. A Igreja Metodista ficou influenciada por tal política e, depois que Wilson anunciou os seus "Quatorze Pontos", não houve mais hesitação por parte dela. A Igreja acreditou que o país e os países aliados estavam participando de uma cruzada para libertar a humanidade da tirania e liberdade espiritual.

O plano da Igreja para celebrar o primeiro centenário da

sua obra missionária, em 1919, estava preparado antes de entrarem os Estados Unidos na guerra. Quando a guerra terminou, as Igrejas Metodistas, do norte e do sul, lançaram apelo ao seu povo para levantar cento e trinta e cinco milhões de dólares (Cr$ 2.700.000.000,00). O povo estava inspirado e entusiasmado com o idealismo que se tinha produzido durante a guerra. Assumiu compromisso de pagá-los no prazo de cinco anos. Mas, antes de terminar o prazo de cinco anos, veio a reação provocada pela guerra e ele não pode resgatar os seus compromissos. Mais da metade resgatou. A idéia que inspirou

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muitas almas para tomarem parte nessa grande e gloriosa campanha, era a convicção de que os problemas do mundo não podem ser resolvidos pela força das armas, mas somente por Jesus Cristo. Realmente, a Igreja de Cristo, é a única instituição no mundo que visa a unificação da humanidade em uma fraternidade universal. E as armas, que a Igreja de Cristo pretende usar são armas espirituais. Não será pela espada, nem ela força que o mundo será conquistado, mas pelo Espírito de Cristo.

41. Liberalismo e a unificação do Metodismo na América.

A Igreja Metodista não se destaca como causadora de heresias. A atitude da Igreja, quanto à crença dos seus membros, manifesta-se nas expressões de Wesley, no preâmbulo das Regras Gerais, onde diz:

"Há só uma condição previamente exigida daqueles que buscam admissão nestas sociedades – "o desejo de fugirem da ira vindoura e de serem salvos dos seus pecados" (Discipline 1940, § 104).

E também em sua declaração, feita quando era velho, que é

a seguinte: "Eles (os metodistas) não impõem, para serem

admitidos, quaisquer opiniões. Podem ter as opiniões da redenção particular ou geral, dos decretos absolutos ou condicionais, podem ser anglicanos ou dissidentes, presbiterianos independentes ou congregacionais, não importa. Podem escolher qualquer modo de batismo; não será empecilho à sua admissão. Os presbiterianos podem ser ainda presbiterianos; os independentes (congregacionais e os batistas) podem continuar seu modo de culto. Igualmente os quaqueres. Ninguém contenderá com eles sobre isso. Os metodistas pensam e deixam pensar". (Sweet, p. 389).

Há, portanto, muita liberdade de pensamento e de opinião

no metodismo. Nunca houve numa Igreja Metodista exigência rigorosa sobre doutrinas. Temos suas doutrinas e seu padrão de doutrinas, mas há muita liberdade pessoal quanto às opiniões pessoais. Uma pessoa pode ter opiniões diferentes de outra e não será perturbada, se não começar a perturbar outras com a ventilação das suas.

A unificação do Metodismo na América. De cinqüenta anos para cá tem havido perturbações sobre

idéias liberais que alguns ministros têm pregado. Não há dúvida que há duas correntes de pensamento no mundo teológico atual; a corrente fundamentalista e a corrente liberal — o Fundamentalismo e o Liberalismo.

A primeira controvérsia deu-se em 1895, quando o dr. H. G.

Mitchell, professor do Antigo Testamento na Universidade de Boston, foi acusado de adotar as conclusões da crítica histórica e, depois de examinado pelas autoridades, foi exonerado. Alguns anos depois foi atacado outra vez, mas nunca chegou a ser condenado.

O dr. B. P. Bowne, professor da Universidade de

Boston, defendeu a posição do dr. Mitchell e por isso tornou-se suspeito e sofreu também acusações de heresia.

Os fundamentalistas publicaram uma série de

livrinhos chamados — "Fundamentais: Um Testemunho à Verdade". As despesas da publicação desses livros foram pagas por ofertas de leigos abastados. Um exemplar era remetido a cada pastor, evangelista missionário e leigos das diversas Igrejas. Provocava discussões sobre as doutrinas chamadas fundamentais. Esta campanha refletiu-se na Igreja Metodista. O Curso de Estudos foi reorganizado como resultado dessa controvérsia, porém com poucas alterações.

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Em 1925 uma liga, chamada "Liga Metodista pela Fé e Vida"

foi organizada para "reafirmar as verdades vitais da religião cristã, tais como a inspiração das Escrituras, div indade de Jesus, seu nascimento da Virgem, etc". Publicou-se um jornal por algum tempo, porém finalmente cessou. Há sem sombra de dúvida uma corrente liberal na Igreja Metodista.

O movimento de unificação do Metodismo americano tem

sido muito lento. Começou depois da Guerra Civil, mas encontrou obstáculos. A Igreja Metodista Episcopal, a Igreja Metodista Episcopal do Sul e a Igreja Metodista Protestante consumaram sua unificação em 10 de maio de 1939, na cidade de Kansas, estado de Missouri.

Não trataremos das demoradas negociações que se deram no decorrer de setenta anos ou mais. Custou chegarem as três Igrejas a um acordo, mas, pela graça de Deus e pela boa vontade da parte de todos, a união foi consumada com grande regozijo em toda a parte da Igreja. Houve muito pouco descontentamento entre os metodistas por causa desse grande acontecimento.

Queremos incluir aqui o documento histórico deste

importante acontecimento.

"A DE CLARACAO DE UNIÃO" (*) Considerando que a Igreja Metodista Episcopal, a

Igreja Metodista Episcopal do Sul e a Igreja Metodista Protestante, pelas suas respectivas Conferências Gerais nomearam Comissões de Relações Interdenominacionais e União da Igreja;

Considerando que essas Comissões, agindo juntas,

produziram, propuseram e apresentaram às três Igrejas

um plano de união; Considerando que três Igrejas, cada uma agindo

separadamente, por si mesma e para si mesma, aprovaram e adotaram esse plano de união por uma maioria superior à constitucional, de acordo com as suas respectivas constituições e disciplinas, e efetuaram a consumação, completa da união de acordo com o plano de união;

Considerando que estas três Igrejas ao adotarem

esse plano de união conferiram a esta Conferência Unificadora certos poderes e obrigações como consta no referido plano;

e Considerando que a Conferência Unificadora

plenamente autorizada e legalmente constituída de acordo com o plano de união está agora em sessão na cidade de Kansas, no Missouri:

Nós, membros da Conferência Unificadora,

representantes legais e autorizados da Igreja Metodista Episcopal, da Igreja Metodista Episcopal do Sul e da Igreja Metodista Protestante, ora reunidos em sessão, neste dia 10 de maio de 1839, solenemente declaramos na presença de Deus e perante toda a gente que fazemos e publicamos a seguinte declaração de fato e de princípio:

I. A Igreja Metodista Episcopal, a Igreja Metodista

Episcopal do Sul e a Igreja Metodista Protestante são e serão unidas em uma Igreja.

II. O plano de união, como foi adotado, é e será a

constituição desta Igreja unida e dos seus três corpos constituintes.

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III. A Igreja Metodista Episcopal, a Igreja Metodista Episcopal do Sul e a Igreja Metodista Protestante tiveram a sua origem comum na organização da Igreja Metodista Episcopal, na América, em 1784, A.D., e sempre têm afirmado e conservado uma crença, um espírito e um propósito em comum, como se expressam nos Artigos de Religião.

IV. A Igreja Metodista Episcopal, a Igreja Metodista

Episcopal do Sul e a Igreja Metodista Protestante ao adotarem o nome "IGREJA METODISTA" para a Igreja unida, não cedem nem cederão qualquer direito ou interesse ou título que pertencem aos respectivos nomes, que, pelo longo e honrado uso e associação, se tem tornado sagrados ao ministério e aos membros das três igrejas que se unem e que se conservam guardados na sua história e nos seus fichários.

V. A Igreja Metodista é a sucessora legal

eclesiástica das três Igrejas que se unem e por ela as três Igrejas como uma Igreja unida continuarão a viver e a ter existência. Ela continuará com as suas instituições e possuirá suas propriedades, usará dos seus títulos, de acordo com o plano de união e com a Disciplina da Igreja Unida. Tais títulos e pessoas jurídicas, como existem nas Igrejas constituintes, continuarão, enquanto for legalmente necessário.

VI. À Igreja Metodista, como agora fica

estabelecida, nós solenemente declaramos a nossa lealdade e sobre toda a sua vida e serviço reverentemente invocamos as bênçãos do Deus Onipotente. Amém". (*) Unanimemente adotado pela Conferência Unificadora,

na cidade de Kansas, Missouri, a 10 de maio de 1939." (Disciplina 1940, ps. 11-14).

Como diz o dr. W. W. Sweet, no fim do seu livro "Methodism

in American History": "Assim os dois grandes cismas do Metodismo

americano foram sarados e, como resultado, criou-se o maior corpo Protestante da América, com aproximadamente oito milhões de membros. O que significa este fato para o reino de Deus ninguém pode saber, mas do seu potencial para o bem, neste mundo necessitado, ninguém pode duvidar" (Sweet, 2a Edição, p. 398).

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PARTE III

A HISTÓRIA DO METODISMO NA GRÃ-BRETANHA

DESDE 1791 ATÉ 1934

CAPÍTULO XV

O METODISMO WESLEYANO BRITÂNICO DESDE 1791 ATÉ 1849

42. A condição das Sociedades Unidas na ocasião da morte de Wesley.

Antes de morrer, tomou Wesley todas as precauções

possíveis para que o povo chamado metodista não ficasse dividido e espalhado. Havia grande número de pregadores, homens, mulheres e crianças que olhavam para Wesley como seu guia e conselheiro espiritual. Para protegê-los Wesley tomou os passos que julgava necessários.

Quanto às propriedades, ao governo e a direção das

sociedades, deixou o "Título de Declaração". Quanto à vida espiritual religiosa, deixou grande número de tratados e livros. E quanto ao espírito em que seus pregadores deveriam trabalhar, deixou a carta de Chester, em que exorta os membros da Conferência dos Cem a não se mostrarem superiores aos demais irmãos, para que todas as coisas feitas entre os irmãos fossem feitas como ele as fazia quando estava com eles, e que fizessem as alterações que as circunstâncias exigissem.

Em outras palavras, Wesley queria que a Conferência

Anual do metodismo inglês o substituísse e que o trabalho dela fosse feito no mesmo espírito com que ele tinha dirigido o movimento. Havia três coisas sobre que Wesley sempre insistia e que ele desejava que continuassem em vigor nas sociedades:

a) que a Conferência se reunisse regularmente; b) que as doutrinas não fossem alteradas; c) que a Conferência dos Cem tornasse a autoridade

suprema das sociedades.

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Mas havia lacunas que Wesley não preencheu. Não disse nada acerca da relação dos leigos com a administração da Igreja. Como considerava os seus pregadores simples leigos, com poucas exceções, provavelmente não se lembrou de mencioná-los. Deixou poucos dos seus pregadores ordenados e, depois da sua morte, a situação deles ficou grandemente alterada. Qual seria a sua relação com a Igreja Anglicana? Aqui estava uma lacuna: providenciar o que era necessário para terem uma vida eclesiástica completa. E também não disse nada a respeito dos sacramentos. Onde tomariam a santa ceia os membros das sociedades metodistas? Havia divergência de opiniões sobre esse ponto. Tornou-se um dos problemas mais sérios na Igreja.

43. Uma crise nos arraiais metodistas.

A história da humanidade está cheia de crises. Não se

pode fugir a elas. Tanto na vida individual como na vida coletiva há crises. Nosso Mestre e Salvador, Jesus Cristo, não as evitou. No fim do segundo ano do s eu minis tér io quando recusou ser rei, "muitos dos seus discípulos se retiraram e não andavam mais com ele". O profeta Isaías conta-nos a visão que teve de Deus e do estado moral e espiritual de seu povo, no ano em que o rei Uzias morreu. Muitas vezes, quando o chefe de um povo morre, vem uma crise política ou social sobre a nação. Isso se deu na ocasião da morte de Alexandre Magno e de César. Há muitos casos tais que se poderiam mencionar, tirados das páginas da história.

Estudando a histór ia do Metodismo na Grã-Bretanha,

entre os anos de 1791 e 1797, encontramos uma época de grande crise. Há diversos fatores que concorreram para provocar tal estado de coisas. Mencionaremos alguns deles:

1. A morte de João Wesley. Por um período de cinqüenta e dois anos João Wesley

tinha feito "a obra de um evangelista" no Reino Unido da Grã-Bretanha e tinha organizado 108 paróquias e alistado 326 pregadores sob suas ordens. Havia na Inglaterra 78.993 membros nas sociedades metodistas, contando-se os metodistas da América e dos campos missionários, chegavam eles a um total de 158.345.

Quando o chefe tombou na luta contra o mal, todos

ficaram abalados. Então surge o problema da direção. Os que eram guiados tornaram-se guias, mas a questão prática era: "Quem será o chefe de todos"? Aqui aparece um dos fatores da crise daquela época

No dia 9 de março, quando o corpo de Wesley foi

levado ao cemitério, de madrugada, para evitar o aperto das multidões, havia, em Londres e em outros lugares, muitos profetas, antevendo o fim do metodismo na Inglaterra. E havia grande perigo disso e os mais sensatos exortavam os outros a se entregarem à oração.

Um dos pregadores mais sensatos daquela época, quando

recebeu a notícia da morte de Wesley, disse: "Minha alma estremece pela Arca de Deus. Há em

nosso meio homens de opiniões tão diversas e que julgam ter tanta autoridade como os demais, especialmente como os pregadores mais idosos, que tenho receio de que surjam divisões entre nós. Ó Senhor, derrama sobre nós o espírito de unidade, paz e paciência, de maneira que os malvados não venham a triunfar". Os pastores assistiram à Conferência seguinte sob uma

pressão de espírito que não podia ter sido mais deprimente do que se tivessem feito o sepultamento do próprio Metodismo

2. A Revolução Francesa. A morte de Wesley não podia ter acontecido em uma época

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menos auspiciosa do que aquela em que deixou as fileiras metodistas, pois foi justamente nesse tempo que rebentou a Revolução Francesa, uma época em que tudo o que existia na vida política, econômica, social e religiosa foi posto à prova. Tinha raiado um novo dia para o mundo, segundo as idéias dos franceses, que tinham testemunhado o bom êxito da Revolução Americana, pela independência. Isto estimulou a França a tentar coisa semelhante, sendo pouco melhor. Toda a Europa, desde a Escandinávia até a Calábria, sentiu o terremoto social que então abalou até aos alicerces o mundo civilizado. O trono da França tinha caído e o rei Luiz XVI fora guilhotinado. Não havia coisa alguma considerada sagrada demais para não ser posta à prova. As igrejas foram confiscadas, o calendário mudado, a Razão constituída em um novo deus e os direitos dos homens defendidos. A França se banhou em sangue.

3. Perturbação política na Inglaterra. Se a Revolução Francesa tivesse vindo cinqüenta anos mais

cedo, a Inglaterra teria seguido o mesmo caminho que a França tomou. Mas felizmente o movimento metodista tinha conseguido influenciar o sentimento do povo inglês e criar uma nova visão da vida espiritual a tal ponto que o movimento revolucionário da França não encontrou ali uma aceitação França e expansiva. Mas nem por isso deixou a Inglaterra de ser grandemente perturbada.

Tomas Paine, um americano, deista e inimigo de todas as

religiões (menos a religião da Razão), contribuiu mais do que qualquer outro para semear as idéias da Revolução Francesa na Inglaterra. Publicou um panfleto intitulado "Os Direitos do Homem", que foi espalhado a mãos cheias na Inglaterra e provocou uma perturbação tal que o governo teve de expulsá-lo. Mas é admirável notar que alguns dos homens mais destacados na política, na vida literária e no ministério abraçaram essas idéias e pugnaram por elas.

As fileiras metodistas não deixaram de sentir o reflexo

desse movimento subversivo. O historiador Abel Stevens afirma que os escritos de Tomas Paine concorreram mais para corromper os sentimentos morais e políticos do povo da Inglaterra e da América do que quaisquer outros na última parte do século dezoito.

Adão Clarke afirma que alguns pregadores metodistas

ficaram contaminados com as idéias da época, mas a maioria deles ficaram com as suas idéias firmes nos princípios evangélicos.

Assim se achavam a Inglaterra e a Europa na ocasião

da morte de João Wesley. A crise que sobreveio ao movimento metodista foi muito forte, porém ele saiu dela mais forte e mais unido do que nunca.

44. Alguns problemas que a crise provocou. A crise provocou alguns problemas e entre eles podemos

mencionar os seguintes: 1. O espírito divisionista e partidário. A época em que João Wesley faleceu, estava

contaminada de discussões e contendas, não somente na vida pública, mas também nos arraiais metodistas. Era um período de panfletos. Era esse o meio mais popular e eficiente de propagar, idéias novas. O ar estava cheio de idéias novas. Havia, portanto, discussões entre os metodistas, nas suas reuniões públicas, nas Conferências trimensais e Anuais. Publicaram-se panfletos sobre diversos problemas das sociedades metodistas. Os homens mais sérios e leais ficavam perplexos e atribulados, receosos quanto aos resultados desse estado de

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coisas. A primeira reunião da Conferência Anual que se realizou

depois da morte de Wesley foi cheia de apreensões e receios.

Enviou-se uma carta circular a cada um dos pregadores. Essa

carta tratava dos problemas mais importantes na Igreja. Fez-se um apelo para que os princípios que Wesley estabelecera no "Titulo de Declaração" ("Deed of Declaration'”), fossem respeitados.

Esta carta provocou reações nas sociedades metodistas em todo o Reino Unido. E, quando se reuniu a Conferência Anual, a situação estava já esclarecida de maneira positiva. Estava se manifestando três correntes entre os pregadores e membros. Havia um grupo, conservador, que queria que as sociedades fossem, a todo custo, conservadas no Estabelecimento (ou seja, na Igreja Anglicana); havia outro grupo, extremista, que queria fazer muitas alterações radicais e separar-se completamente da Igreja Anglicana; e havia, ainda, um grupo maior que ocupava o termo médio, que não queria ser nem conservador, nem radical demais.

Durante os quatro meses que se seguiram à morte de João

Wesley e que precederam à reunião da Conferência Anual, houve muitas discussões entre esses três grupos, nas sociedades metodistas.

Logo no princípio dessas discussões apareceu um homem de

grande energia, destinado a ser o fundador de um novo Metodismo na Inglaterra. Era Alexandre Kilham. Nasceu na cidade de Epworth, em 10 de julho de 1762, de família metodista. Era homem de gênio forte e na mocidade se entregou ao pecado, mas, finalmente, depois de muitos lapsos, converteu-se e tornou-se pregador. Em companhia de um leigo rico e fervoroso abriu trabalho metodista nas Ilhas de Canais. Foi muitas

vezes atacado em motins, mas não tinha medo, pois era consagrado a Deus. Foi nessas circunstâncias que afirmou:

"Eu podia sinceramente dizer: O Senhor é meu o prazer, o Senhor é meu escudo, meu Deus em quem confio. Eu sou teu, Senhor. Faze com teu servo o que quiseres, faze que eu seja inteiramente teu para o tempo e para a eternidade. Purifica a minha alma e guarda-me do pecado para que ele não venha entristecer-me e para que eu seja teu para sempre". Kilham era o chefe dos extremistas. Queria uma separação

imediata e completa da Igreja Anglicana. Disse: "Dê-se-nos a liberdade de homens ingleses e dê-se a ceia do Senhor às sociedades". Ele estava saturado do espírito revolucionário do tempo e queria, a todo custo, implantar as suas idéias no meio metodista.

2. Os sacramentos ou a separação da Igreja Anglicana. A ministração do batismo e a celebração da santa ceia nas

sociedades metodistas foram motivos de divergência entre os metodistas muito antes da morte de Wesley.

Por longos anos Wesley hesitou em ordenar alguém

para administrar os sacramentos nas sociedades. O trabalho na América chegou a tal ponto que ou ele tinha de tomar providências nesse sentido ou os próprios pregadores, que estavam na América, o fariam.

Os metodistas da América estavam sem ministério

ordenado e, depois da guerra da Independência-norte americana, os párocos da Igreja Anglicana tinham as suas dificuldades. Além disso, não queriam atender às necessidades dos metodistas. Foi nessa época que Wesley se convenceu de que devia agir de maneira prática e eficiente. Resolveu, pois, o problema, ordenando Tomaz Coke como superintendente e Richard Whatcoat e Tornaz Vasey como presbíteros para

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atender às necessidades do trabalho na América. Esse ato não agradou a seus pregadores na Inglaterra.

Seu irmão Carlos ficou muito desgostoso por causa disso. O próprio João Wesley sentiu os mesmos receios do seu irmão, mas pesava sobre ele uma responsabilidade que não pesava sobre seu irmão.

Havia, nas sociedades metodistas da Inglaterra uma

corrente forte que preconizava a separação, mesmo antes da morte de Wesley, mas ele, enquanto vivo, conseguiu conservar as sociedades na Igreja Anglicana. Como Carlos faleceu antes de João, é natural que o elemento descontente com tal estado de coisas, que existia no tempo de Wesley, se rebelasse logo que ele morresse.

A força centralizadora já desaparecera e tudo restava sem

segurança. A crise chegou a seu auge e a obra de meio século corria o perigo de se desfazer.

45. A crise vencida.

No meio da confusão e da incerteza, o elemento conservador e o receio da parte de outros concorreram para estabilizar as coisas até que certas medidas pudessem ser tomadas, para assegurar o trabalho.

1. Espírito de moderação manifestado pelos guias.

Em todos os três grupos em que se dividiam os metodistas, havia apreensão. E por isso entre todos havia precaução e moderação na maneira em que se expressavam e agiam. Todos se entregavam à oração. Diz o historiador Abel Stevens, na sua História do Metodismo:

"O espírito devoto da Conferência de 1791 assinalou

todas as suas deliberações. Os membros sentiam demais o

peso da sua responsabilidade para permitir que suas paixões profanas afetassem os seus atos, ou dominassem as suas línguas com palavras de exasperação".

A quadragésima oitava Conferência realizou-se na cidade de

Manchester, em 26 de julho de 1791. Alguns dos membros chegaram poucos dias antes e se entregaram à oração, à pregação, aos negócios para a abertura da Conferência. Um dos pregadores mais distintos, o rev. Benson, pregou um poderoso sermão na capela de Olham Street, no dia 24 de julho, sobre o texto: "Lembrai-vos dos que vos governam, os quais vos falaram a Palavra de Deus, e contemplando o fim do seu procedimento, imitai a sua fé" (Hb 13:7). O sermão causou boa impressão sobre a grande assembléia que enchia a capela.

Mais de trezentos pregadores assistiram à Conferência

Geral, número que, havia já alguns anos, não se alcançava. Foi o espírito religioso que se manifestou entre eles que salvou a Conferência de um grande desastre. A sessão se prolongou até o dia 8 de agosto e, durante todo esse tempo, um espírito de prudência e de respeito caracterizou todas as deliberações. O sr. Attmore, assim descreve esta sessão:

"Tinha sido profetizado por algum tempo pelos nossos adversários e temido pelos nossos amigos que haveria divisão entre nós. Ainda que nós nos achássemos em circunstâncias especiais, tendo de adotar uma nova forma de governo, e os pregadores e o povo muito divididos quanto aos seus sentimentos em relação à Igreja Anglicana, tal foi o grande amor de Deus que "a unidade do espírito" se conservou entre nós e a esperança dos nossos adversários e os terríveis pressentimentos dos nossos amigos foram vãos". Adão Clarke corroborou esta afirmação, dizendo:

“Tenho assistido às diversas Conferências, mas nunca assisti a uma em que a unidade do espírito, do amor e do

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bom senso prevaleceram tão uniformemente. Eu gostaria que esta informação fosse proclamada desde Dã até Berseba e que o mundo soubesse que as últimas palavras do nosso reverendo pai se tem cumprido: "O melhor de tudo é que Deus esta conosco". Guilherme Thompson foi eleito presidente e o dr. Adão

Clarke secretário. Foi apresentada à Conferência uma carta de João Wesley,

por seu companheiro de viagem, rev. Jose Bradford. Essa carta foi considerada o último testamento de Wesley aos seus pregadores. Era dirigida à Conferência dos Cem (Legal Hundredd) e rezava o seguinte:

"Rogo-vos, pela mercê de Deus, que nunca aproveiteis

do "Título de Declaração" para assumir qualquer superioridade sobre vossos irmãos. Deixai todas as cousas continuarem entre os itinerantes que quiserem continuar juntos, exatamente como quando eu estava convosco, tanto quanto as circunstâncias permitirem. Em particular eu vos rogo, se me tendes amado e amais a Deus e os vossos irmãos, que não façais acepção de pessoas na nomeação dos pregadores, na escolha de crianças para a escola de Kingswood, na distribuição das contribuições anuais do fundo dos pregadores e de qualquer outro dinheiro. Fazei todas as coisas visando à glória de Deus, como eu tenho feito desde o princípio. Assim prossegui, fazendo tudo sem preconceitos e parcialidade e Deus estará convosco até o f im". E a Conferência procedeu, cedendo a cada pregador

todos os direitos e privilégios que os membros da Conferência tinham, de acordo com o "Título de Declaração". Assim terminou a primeira Conferência Geral que se realizou depois da morte de Wesley, sem haver separação entre o povo

chamado metodista. Mas as divergências entre os pregadores e leigos não foram removidas. O perigo de um cisma foi evitado, porém não foi encontrada uma solução final para ele. Os mesmos problemas ainda estavam de pé e por muito tempo haviam de surgir de vez em quando, ameaçando a paz e a prosperidade do povo de Deus.

Logo depois de se encerrar a Conferência, começou de

novo a perturbar o espírito do povo a celebração dos sacramentos nas sociedades. Alguns interpretavam as deliberações da Conferência de uma maneira e outros, de outra. O partido conservador insistia em seguir o conselho de Wesley, que era para ficar na Igreja Anglicana e, portanto, em negar o direito de administrar os sacramentos nas sociedades.

O partido extremista dizia: "Seguir a Wesley é obedecer a

direção da providência divina e alterar ou corrigir o plano de acordo com as exigências da época". Assim se levantou de novo a questão. Começaram a circular entre o povo cartas circulares e panfletos. Alguns pregadores, que foram ordenados por Wesley para administrarem os sacramentos, julgaram que deviam fazê-lo onde as sociedades quisessem. Mas, fazendo isto, nalgumas sociedades grande número de membros que se retiraria das sociedades, se achava ofendido.

O rev. Kilham, que era dos extremistas, entrou no conflito e

de novo escreveu alguns panfletos que ofenderam diversas pessoas, tanto leigos como clérigos.

Quando a Conferência Anual se reuniu em Londres, em

31 de julho de 1792, a atmosfera estava saturada de maus pressentimentos.

O rev. Kilham foi censurado pela Conferência por ter

usado expressões ofensivas nas suas publicações. Ele deu explicação perante a Conferência e prometeu ser mais

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moderado no futuro. Então, depois de tratar de outros negócios, se levantou a

questão dos sacramentos, que foi discutida por muito tempo, mas os presentes estavam divididos sobre o problema e, como não se podia decidir a questão se deveriam proibir a celebração dos sacramentos para o ano seguinte ou se deveriam celebrá-los, resolveram decidi-la por sorte.

O modo escolhido de decidir a questão pode ser um

pouco esquisito, mas o ato de lançar a sorte foi solene. Enquanto todos estavam ajoelhados, quatro membros oravam e, ao terminarem as orações, o dr. Clake tirou a sorte e anunciou: "Vós não administrareis os sacramentos este ano". Todos ficaram satisfeitos com o resultado e o amor e a harmonia voltaram de novo ao grêmio.

A Conferência publicou um artigo sobre as resoluções

tomadas para serem divulgadas entre o povo. Na hora de se encerrar a sessão, o que aconteceu à meia noite, todos se ajoelharam e se consagraram de novo ao serviço do Mestre. A questão dos sacramentos foi resolvida por mais um ano, mas não definitivamente.

No correr do ano muitos descobriram que não era possível

conformar-se para sempre com a decisão que foi tomada sobre os sacramentos Em alguns lugares as sociedades dividiram-se e logo a questão estava sendo discutida entre alguns pastores e párocos da Igreja Anglicana.

Por ocasião da Conferência anual que se realizou na

cidade de Leeds, em 29 de julho de 1793, a questão foi discutida francamente entre os membros. Chegaram afinal à conclusão que a melhor solução era administrar os sacramentos às sociedades que o quisessem e deixar de administrá-los às que não o quisessem. O resultado da votação foi 86 em favor e

48 contra. O dr. Adão Clarke, dando sua impressão dessa Conferência, disse:

"Desde nossa existência como povo, nunca tivemos Conferência como esta. O céu e a terra uniram-se, prevaleceram harmonia e unidade. Nossos negócios foram resolvidos da maneira mais satisfatória, creio eu, para ambos os partidos". Resolveu-se na Conferência que nenhum dos pregadores

usasse batina na celebração dos sacramentos, nem usasse o titulo de “reverendo".

A Conferência publicou a seguinte comunicação às

sociedades: "Algumas das nossas sociedades têm nos importunado repetidamente para que lhes concedamos a liberdade de receber a ceia do Senhor dos seus pastores. Mas, desejosos de aderir o mais estritamente possível ao plano que Wesley nos deixou, temos muitas vezes recusado atender-lhes. O assunto chegou agora ao seu clímax. Compreendemos que não temos outra alternativa, sendo atender ao seu pedido ou correr o perigo de perdê-las. Oh! irmãos, não queremos excluir ninguém, especialmente aqueles que são membros do corpo místico de Cristo e nossos irmãos amados, cujo único erro, se é erro, é da cabeça e não do coração. Não podemos permitir que estes abandonem os seus fiéis pastores e corram talvez o perigo de ser devorados por lobos vorazes, visto que o ponto da divergência não é considerado essencial à salvação".

Evitou-se assim, outra vez, uma divisão. O rev. Pawson,

presidente da Conferência, assim narra o resultado dessa sessão: "Corremos grande perigo de nos dividir. Muitos

esperavam e trabalharam neste sentido, porém mais uma vez foram felizmente desapontados".

Os pregadores voltaram para seus campos confortados e

animados. Entretanto o rev. Kilham, que não assistiu à

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Conferência, quando ouviu o que fora resolvido, levantou sua voz em protesto contra aquilo que foi decidido acerca dos sacramentos.

Mas a decisão que a Conferência tomou em 1793 serviu de

base para solução final do problema. Durante os anos que vão 1793 a 1797 a questão dos

sacramentos continuou a perturbar o espírito das sociedades, mas a experiência e a paciência dos servos de Deus concorreram para ajudar aos membros da Conferência Anual a assentar os princípios fundamentais da Igreja Wesleyana.

O rev. Kilham, homem impulsivo e arrojado, não tinha

paciência para se conformar com a moderação com que a Igreja procurava resolver os seus problemas. Publicou muitos panfletos em que atacava alguns dos pregadores e até Wesley. Chegou a tal ponto que foi necessário promover um processo contra ele e, por unanimidade de votos, foi excluído da sociedade.

Mas era teimoso. Começou a fomentar discórdia entre os

membros das sociedades e conseguiu levar após si cinco mil membros, com os quais organizou uma nova Igreja Metodista.

Considerando tudo, o perigo de divisão foi realmente

evitado. O elemento que acompanhou o rev. Kilham era desidioso e, uma vez fora do seio das sociedades, o espírito de contenda desapareceu delas.

2. O trabalho de evangelização que se desenvolveu na época.

Uma das coisas que contribuíram mais do que qualquer outra para evitar divisão entre as sociedades foi o trabalho de evangelização. Páginas interessantes poderiam ser escritas sobre este aspecto do trabalho, naquele período.

Com exceção de poucos casos, os pregadores

abstinham-se da política e questões políticas e entregavam-se à pregação do Evangelho. Lutaram gigantescamente contra as idéias e doutrinas de Tomas Paine, o deista. E assim o metodismo espalhou-se por novos campos.

Grande número de leigos contribuíram muito para implantar o

Metodismo na Inglaterra e em outros países do mundo. Os nomes do capitão Webb, de Hester Ann Rodgers, de Ann Cutler, de Seth e Dinah Evans e de Samuel Hick sdo dignos de ser inscritos indelevelmente nas páginas da história do Metodismo. Caracteres como estes, com grande número de pregadores que não se destacam tanto pelo saber como pela piedade, deram estabilidade ao movimento metodista durante estes anos de crise.

Depois desta terrível crise na história do Metodismo da

Grã-Bretanha e mesmo durante ela ninguém influenciou as sociedades tanto como Adäo Clarke, Richard Watson, Jabez Bunting e Roberto Newton. Vamos deixar o historiador Abel Stevens dar-nos sua apreciação sobre estes quatro homens:

"Com o advento providencial de homens como Watson, Bunting, Newton e Clarke nas sociedades no período da sua maior prova, o Metodismo não podia deixar de assumir novas atitudes de poder e esperanças. De então em diante o Metodismo havia de progredir e vencer. Não somente os grandes talentos dos seus guias, mas também a sua profunda piedade, deram nova confiança à corporação Metodista. Nestes quatro homens e em muitos outros, com os mesmos característicos, que os cercavam, podia ver-se que o espírito primitivo do movimento havia de ressurgir, com novas habilidades e novas adaptações, pelas quais havia de atingir classes da sociedade que não tinham sido atingidas antes, e assim o

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Metodismo tomaria seu lugar no destino do Protestantismo, no país, e projetaria seu poder até aos confins da terra.

"Adão Clarke, Richard Watson, Jabez Bunting e

Roberto Newton haviam de ser os expoentes do Metodismo britânico durante a primeira parte do século dezenove. Seus talentos e sua piedade podiam ter sido grande perigo para a nova Igreja. A sua organização peculiar, a eleição anual do seu presidente, as mudanças dos pastores, dando isso tudo oportunidade para os talentos populares se manifestarem, e as suas questões e empreendimentos novos ofereciam oportunidades perigosas para a ambição e para a rivalidade".

“Quais teriam sido as conseqüências, pergunta o

biógrafo de um destes grandes homens, se esses homens tivessem sido competidores partidários? Mas eles eram modelos para todos os guias eclesiásticos. Com exceção de uma discussão passageira entre Clarke e Watson sobre uma questão teológica, a “fil iação eterna”, que não era uma discórdia pessoal, mas uma divergência de opinião, não houve qualquer outro exemplo de desinteligência entre eles, perante o público. Amavam o Metodismo como amavam as suas próprias almas, porque ele era a expressão mais pura do próprio Evangelho; viam a necessidade do amor fraternal entre si para mantê-lo entre os irmãos e o povo; viam que seria terrível pecado brigarem entre si, quando neles estavam postos os olhos de milhões.”

"Não havia outros homens nas sociedades que

viajassem, pregassem ou trabalhassem mais do que eles, em prol da causa comum. Eles, mais de que quaisquer outros, traçaram o rumo da grande missão daquela causa. Eles fundaram uma organização missionária moderna

e deixaram a maior instituição desse gênero no mundo protestante. Fundaram quase todas as suas instituições metodistas educativas. Levantavam a maior parte dos fundos para a manutenção aos pregadores, para a construção de capelas e para socorro dos pobres. Trabalhavam juntos nestes empreendimentos, como se fossem um só homem. A biografia de cada um deles tem sido escrita e cada uma é quase a dos outros três. Estes quatro homens caminharam de mãos dadas em cada grande prova e em cada grande vitória do Metodismo durante longos anos de vida. Muitas vezes foram vistos no mesmo palco, trabalhando em prol das missões, desde Londres a Edinburgo. O seu bom senso os levou a optarem pelas mesmas medidas, nas comissões ou na Conferência, especialmente quando viam probabilidade de discórdia entre os irmãos, se eles mesmos ficassem divididos.

"Na sua superioridade dominante eram homens

modestos, porque a modéstia e o mérito não somente formam uma boa aliteração, mas também expressam qualidades inseparavelmente relacionadas. O mais popular dos quatro, Roberto Newton, recusou as honras mais altas que a Conferência podia dar-lhe e, quando foi eleito presidente, os seus colegas tiveram de arrastá-lo para a cadeira da frente. Depois da morte de Clarke e Watson, ficaram Newton e Bunting e foram os homens principais, mas não chefes de rivalidade do Metodismo britânico. Se tivessem mostrado ciúme um do outro, ambições à presidências, à chefias de partidos, teriam sido derrotados na sua influência sobre o.ministério e sobre o povo. Mas o contrario é o que se deu. Jabez Bunting e Roberto Newton foram como Davi e Jônatas; não há dois homens em todo o Metodismo Wesleyano que fossem mais amigos e não havia outras duas famílias mais íntimas nas suas relações sociais do que as deles.

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Estes homens eminentes, modelos de fraternidade, trabalhadores enérgicos em prol da causa, tinham dons diferentes que são dignos de serem imitados pelos seus sucessores: Bunting interessou-se especialmente em aconselhar e seus irmãos reconheceram o seu bom êxito neste sentido; Newton considerou-se homem de ação e tornou-se o maior evangelista desde Wesley e Watson. Bunting e Newton, infatigáveis em outros labores, devotaram-se a produzir literatura cristã, um na exegese bíblica, outro em teologia; enquanto que ambos se entregavam continuamente aos serviços públicos pelo bem comum.

"Não há outra coisa mais característica destes

homens do que sua piedade pessoal. Bunting era grande e poderoso na oração. As suas orações públicas são lembradas na Inglaterra, ainda hoje, mais do que os seus sermões. Newton era irresistível no seu poder espiritual. Watson era até severo na sua piedade pessoal, "crucificado" para o mundo. Clarke era uma criança na sua simplicidade; .sua alegria religiosa envolvia-o como um halo de luz; nunca houve homem que amasse tanto o Metodismo como ele; ter-se-ia entregado satisfeito ao martírio pela sua Igreja. Que impressão seu talento e seu exemplo tem causado ao Metodismo e até ao mundo britânico! Que seria essa impressão, se eles tivessem brigado entre si, se tivessem buscado os seus próprios interesses, se tivessem sido conspiradores ou contra conspiradores? Teriam desmoralizado a sua causa, deixado um escândalo eclesiástico na sua terra!" Assim o Metodismo na Grã-Bretanha passou por uma das

suas maiores crises sob a proteção de Deus manifestada no bom senso, na dedicação e na consagração dos seus ministros.

46. Alguns dos vultos mais notáveis da época. Quando Wesley morreu, deixou um grande número de

discípulos, homens e mulheres. A piedade e a fidelidade dessas pessoas garantiram a estabilidade do movimento metodista na Inglaterra. Alguns nomes dos contemporâneos de Wesley já foram mencionados. Grande número podia ser mencionado, mas nos limitaremos porém, a poucos nomes.

Os nomes de Tomaz Coke, Adäo Clarke, Richard Watson,

Jabez Buhting e Roberto Newton já foram mencionados e o espaço não permite mencionar os nomes de milhares de homens e mulheres que deram o seu testemunho e realizaram sua obra no seu tempo, deixando a sua contribuição à causa de Cristo. Contudo, mencionaremos mais alguns nomes.

Guilherme Thompson foi o primeiro eleito presidente

da Conferência, depois da morte de Wesley. Tinha o dom da palavra e era também homem prudente, resoluto e "de grande Tragou para o governo as linhas que influíram no seu tempo e influem até hoje na política da Igreja. Faleceu em 1799.

Alexander Marther foi o segundo eleito presidente da

Conferência e trabalhou muito na mocidade. Gozava de boa saúde e tinha grande capacidade para o trabalho. Tinha o dom de evangelista. Wesley respeitava seus dons e muitas vezes o comissionou para tratar de trabalhos difíceis. há sinais de que Wesley pensava nele para seu sucessor. Morreu em 1800.

João Pawson também foi eleito duas vezes presidente

da Conferência. Recebeu melhor instrução do que muitos dos pregadores wesleyanos. Não tinha mais inteligência do que os outros, mas era homem prático, útil e prestimoso à causa. A sua influência pesou muito na balança para plasmar o trabalho em moldes wesleyanos, depois da morte do fundador. Era

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hábil escritor. James Wood faleceu em 1840. Era calmo, piedoso e seu

ministério foi frutífero. Dizem que perdia a calma, quando defendia seus irmãos de acusações maliciosas.

Jose Taylor prestou bom serviço à causa, mas pouco se

sabe das suas atividades. Foi homem piedoso, santo, alegre, brando e trabalhador. Mesmo na velhice não deixou de trabalhar e desempenhar tarefas pesadas e duras.

Henrique Moore era literato e escreveu uma biografia de

Wesley. Trabalhou tanto na Irlanda como na Inglaterra e sofreu fadigas e privações por causa do Evangelho. Foi um dos pregadores que Wesley ordenou para administrar os sacramentos. Teve muita influência na questão dos sacramentos, que abalou tanto as sociedades depois da morte de Wesley. Chefiava o partido que queria a administração dos sacramentos nas sociedades.

Há muitos outros, cujos nomes poderiam ser mencionados;

que deixaram a sua contribuição para à causa de Cristo na Inglaterra.

Além da longa lista de pregadores, há ainda uma lista maior

de leigos, tanto mulheres como homens. Dos leigos foi grande a contribuição na extensão do trabalho

na Inglaterra. Já falamos de Roberto Carr Brackenbury e Guilherme Carvosso, homens cujo maior prazer era trabalhar na vinha do Senhor.

Samuel Drew era literato e filósofo. Como disse alguém, foi

entre os leigos o que Adão Clarke foi entre os pregadores. Escreveu obras de metafísica classificadas entre as melhores do seu tempo. No meio de todos os seus trabalhos e lutas,

viveu vida humilde e cristã. Tomaz Thompson e Jose Butterworth foram dois leigos

que ocuparam posições altas na sociedade e na política do país. Ambos eram membros do parlamento inglês. Butterworth era banqueiro, o que lhe dava mais prestígio na sociedade. Era membro fiel da Igreja Metodista e contribuía com bons artigos para as revistas metodistas. Serviu como guia de classe por muitos anos e tinha o máximo prazer nesse serviço.

Os dois homens deram bom testemunho da sua fé e

gozavam da estima e da confiança do público. Já mencionamos os nomes de Mary Fletcher e

Elizabeth Evans. Mary Fletcher muitas vezes menciona, em seus escritos, o nome de Bessy Ritchie de Otley, como sendo mulher exemplar entre os metodistas. Casou-se com o sr. Mortimer e por muitos anos foi guia de classe na capela de City Road. Escreveu sobre a sua experiência cristã um livro que revela como mantinha comunhão íntima e constante com Deus.

Hester Ann Rodgers escreveu um livro, narrando a sua

experiência, e diversas cartas espirituais que eram consideradas um Manual de Santificação Completa (Entre Santification). Grande número de pessoas lia suas cartas com grande proveito. O misticismo de Ann Rodgers era superior ao de Madame Guyon, porque tem uma nota mais positiva e mais real.

Lady Maxwell exemplificou na vida como alguém pode

andar ocupado com as coisas sociais e ao mesmo tempo conservar o espírito em comunhão com Deus. "As suas mãos estavam aqui na terra, seu coração estava com Deus".

Havia milhares de outras pessoas que faziam parte da

Igreja Metodista e que muito contribuíram para o

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desenvolvimento da obra de Cristo na terra.

"O essencial era a sua experiência de Deus, sua espiritualidade profunda e dominante, tão real e ardente nos estadistas; como Thompson, nos administradores, como Marther, nos literatos como Clarke, Hamby, Baker e Story" (Townsend et al, vol. I, p. 393).

47. Conflitos e cismas. Qualquer coletividade corre o perigo de sofrer conflitos e

divisões. No começo do século dezenove houve diversos conflitos e alguns cismas no metodismo inglês.

O conflito que se deu entre as autoridades da Igreja e

Jose Rayner Stephens ilustra a atitude do Metodismo para com os partidos na Igreja e para com outras igrejas. Stephens era correspondente do jornal “Christian Advocate", publicado pelo seu irmão.

O jornal gastava a maior parte da sua energia atacando

a Igreja Anglicana e o Metodismo. Bunting era o alvo predileto de Stephens. Segundo ele, Bunting não era nada mais do que um ambicioso, procurando colocações na Igreja e exercendo autoridade tiranicamente. Acontece que Stephens foi nomeado secretário correspondente da Sociedade Separatista da Igreja. Introduziu sua política de atacar outros no seu púlpito e nos seus cultos. Foi chamado à ordem pela Conferência. Não quis atender às ordens da Conferência. Foi cassado seu mandato de secretário da Sociedade Separatista da Igreja. Pediu, então, a sua retirada da itinerância, o que lhe foi concedido. Tornou-se mais tarde o chefe dos "carlistas".

A Igreja Metodis ta Primitiva organizou-se em virtude de um cisma que se deu em 1811. No condado de Cornwall houve

um despertamento entre o povo. Hugh Bourne chefiava o movimento. Jovem e cheio de zelo, julgava que tinha direito de pregar onde podia achar ouvintes. Sob a influência de Lorenzo Dow, Bourne iniciou os cultos de acampamento na Inglaterra. Isto provocou reações e oposições da parte dos metodistas wesleyanos, que resultaram, finalmente, na organização da Igreja Metodista Primitiva. Em outro lugar daremos mais informações sobre este ramo do Metodismo.

Em 1815 mais uma seita se formou entre os metodistas.

Guilherme O'Bryan tinha grande interesse no estado espiritual do povo que morava na comunidade de Devon. Trabalhou entre esse povo com bom êxito. Mas seu procedimento não agradava às autoridades da igreja e foi censurado por ter entrado em território destinado às suas ativ idades. Não gostou de certas regras novas que foram adotadas nas sociedades. Seu nome foi eliminado do plano da sociedade e ele julgou que não era mais membro da sociedade. Passou para outra zona, onde foi licenciado pregador local. Mas a sua tendência de trabalhar onde queria lhe trouxe novas complicações, que resultaram na fundação de uma nova seita — Os Cristãos da Bíblia.

Em 1827, a Igreja Metodista Livre foi fundada como

resultado de uma contenda entre uma igreja local e a Conferência distrital. A junta de depositários da capela de Brunswick queria instalar um órgão na capela. Ouviram-se protestos de todos os lados, por que havia preconceitos contra tal inovação. Mas a verdadeira razão era outra. Os líderes da igreja, pregadores locais e alguns oficiais julgaram que seus direitos estavam sendo invadidos pela junta de depositários. Portanto alegaram que seria necessário ter a aprovação da Conferência distrital para instalar o órgão. A Conferência distrital não concordou com a tal instalação. A junta de depositários apelou para a Conferência Anual. A Conferência Anual anulou o que a Conferência distrital tinha feito, alegando

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que ela não tinha jurisdição sobre a igreja local, a não ser o dever de fiscalizar os seus atos e ver se estavam em ordem. A decisão da Conferência Anual provocou na igreja local uma forte contenda que resultou na retirada de grande número de membros que, finalmente, fizeram parte da nova Igreja — A Igreja Metodista Livre.

O ponto principal em tudo isso não foi a instalação do

órgão na capela, mas o espírito congregacionalista em conflito com o sistema itinerante (ou conexionalismo).

Houve outro conflito em 1834, provocado por um membro da

Conferência, Samuel Warren. O incidente que provocou o conflito foi coisa sem importância. A Conferência fundou um "instituto teológico". Warren, a princípio, aprovou o plano, mas não gostou do título da instituição; queria que se mudasse o título "instituto" para "colégio" (college). Julgou que, se mudasse o nome da instituição, mudar-se-ia a sua natureza. Sua idéia não foi aceita, por isso, ficou desgostoso. Jabez Bunting foi nomeado presidente honorário do instituto, sem emolumentos, e contra a sua vontade. Na ocasião da Conferência de 1834 Warren apresentou uma proposta que praticamente anulava o plano de se fundar tal instituição. E, como era advogado e homem eloqüente, fez longo discurso em que atacou muito o presidente honorário, acusando-o de ambição pessoal. Logo depois da Conferência publicou seu discurso em forma de panfleto. As autoridades da Igreja conversaram com ele sobre o assunto. Publicou segunda edição, ampliada, propondo alterações nos estatutos. Declarou que o presidente da Conferência não tinha autoridade sobre sua paróquia. Numa sessão especial da Conferência distrital Warren foi suspenso das suas funções pastorais. Mas não ligou importância a tal ato. A junta de depositários da capela de Manchester não o deixou ocupar o púlpito e as outras igrejas da sua paróquia fizeram o mesmo. Isto provocou uma denúncia perante o tribunal civil. O resultado do processo foi uma decisão em favor da Igreja. Tornou-se

uma grande benção para a Igreja Metodista Wesleyana, porque revelou que o "Título de Declaração" era bom e estava seguramente feito. O "Título de Declaração" nunca foi contestado até hoje.

Warren, derrotado perante o tribunal civil, provocou uma

revolta entre os membros da Igreja e conseguiu levar um grupo consigo. Aliando-se aos reformadores wesleyanos, fundou a Igreja Metodista Unida e Livre.

O prejuízo causado à Igreja Metodista Wesleyana foi pouco,

mas serviu para definir melhor as atribuições da Conferência distrital e o direito que a Conferência distrital e o membro individualmente têm de recorrer à Conferência Anual.

Houve ainda, outros conflitos menores, provocados pela

imprensa e por publicações de livros e panfletos. Celebrou-se o primeiro centenário do metodismo em 1839. A

Igreja Metodista Wesleyana realizou reuniões especiais em todas as suas igrejas e capelas. Levantaram-se nessa ocasião coletas especiais que renderam mais ou menos vinte e dois mil cruzeiros. Esse dinheiro foi aplicado na construção de prédios e na fundação de seminários teológicos e escolas. Os preconceitos contra o ministério educado (com formação acadêmica) estavam desaparecendo.

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CAPÍTULO XVI

METODISMO WESLEYANO E BRITÂNICO DESDE 1849 ATÉ 1908.

48. A extensão do trabalho e o fortalecimento da organização da Igreja.

A Igre ja Metodis ta Wesleyana sofreu muita agitação

nos meados do século XIX. As convulsões foram provocadas por causa da escolha errada de métodos para atender às reclamações dos leigos e alterar o sistema de relações entre ministros e leigos. Essa questão provocou discussões fortes e ásperas, cuja linguagem revela malícia e ressentimentos.

A dificuldade residia em dois pontos de vistas que podiam ter

sido harmonizados, se tivesse havido mais paciência de parte a parte. Não conseguindo fazê-los calar, a Conferência excluiu da comunhão três dos seus membros. Isso causou grande barulho e comoção na Igreja. Muitos membros retiraram-se da Igreja e filiaram-se a outros ramos do Metodismo. Alguns passaram para outras Igrejas evangélicas.

A causa principal de tudo isso eram as falhas que havia no

sistema de itinerância, as quais precisavam ser corrigidas. Mas conseguir tais alterações, quando existia desarmonia e ma vontade entre os interessados, era impossível. Só depois da tempestade é que veio a bonança. Então se fizeram as alterações possíveis. Mais de cem mil membros se retiraram e fundaram a Igreja Wesleyana Reformada.

A Igreja queria manter seu sistema de itinerância; mas

havia entre o povo tendência para o sistema congregacional. A

congregação local e a Conferência trimensal se ressentiam da falta de autoridade na administração da Igreja. Os pastores não podiam ficar mais do que três anos sucessivos numa paróquia, segundo o artigo 11 do "Título de Declaração". Havia, tanto da parte dos ministros como dos leigos, desejo de alterar esse artigo. Mas, para conseguir isto, tinha-se de apelar para o parlamento (Conferência Geral) e, além disso, qual seria a alteração a fazer? Podia fazer mais mal do que bem.

O embaraço de nomear um, ministro por mais de três

anos sucessivos para a mesma paróquia foi removido pela nomeação formal de outro ministro, mas deixando a paróquia a cargo do antigo ministro. Essa solução não era considerada muito satisfatória, mas tinham-se mudado tanto as condições desde os dias de Wesley que alguma coisa devia ser feita para atender às necessidades do trabalho.

O problema que enfrentou a Igreja nessa época era

conservar a sua unidade: se deixasse toda a autoridade com a Conferência Anual e não cedesse nada à igreja local e à Conferência distrital e se entregasse a administração da Igreja somente aos ministros e não desse nada aos leigos, ia criar descontentamento entre o povo.

Por outro lado, se entregasse tudo aos leigos e à igreja

local, o sistema de itinerância estava acabado. A solução do dilema residia na harmonização dos dois interesses. E isso foi o que se procurou fazer.

Para consegui-lo, foi necessário que cada partido

sacrificasse certos interesses pessoais ou locais. Cada parte teve de considerar o bem estar geral e ceder certas coisas do seu lado para ganhar vantagens do outro lado, e vice-versa.

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O sistema de itinerância é baseado no interesse mútuo. É como o lar que exige abnegação e cooperação para se conseguir a harmonia.

Havia duas coisas que precisavam de solução: ceder

mais autoridade à Conferência trimensal e admitir a representação leiga na administração da Igreja. Logo que se acalmou o ânimo do povo, se começou a estudar os meios pelos quais se pudessem resolver esses problemas.

Foram nomeadas comissões para estudar o grande

número de memoriais em que se encontravam sugestões de modificações que deveriam ser feitas com urgência. Antes de terminar esse prolongado processo, leigos já faziam parte dessas comissões. Por ocasião da Conferência, em 1852, foi apresentado um relatório de uma comissão a respeito da autoridade da Conferência Anual. Segundo esse relatório a Conferência trimensal teria o direito de representar as opiniões dos oficiais e dos leigos ativos da paróquia, reservando-se o direito de nomear um júri de apelação, nos casos disciplinares, e o direito de se comunicar diretamente com a Conferência Anual. A comissão respeitou três princípios da autoridade externa: "A integridade do ofício pastoral, a inviolabilidade do princípio a esse ligado e a autoridade das comissões distritais".

O Metodismo de Wesley já havia reconhecido o valor e

a necessidade de conservar na sua política o princípio unificador, a esse princípio tem sido seguido no correr dos anos para se consolidarem todas as suas partes a fim de conseguir cada vez maior eficiência.

A representação leiga também foi introduzida

gradualmente, começando em 1861 e ultimando em 1870. É interessante notar que o mesmo problema foi discutido entre os metodistas americanos mais ou menos na mesma época.

Também mais ou menos na mesma época os metodistas americanos adotavam a representação leiga.

Jabez Bunting, muitos anos antes da sua morte, em 1854,

trabalhou para melhorar a organização e a eficiência da Igreja. Depois da sua morte, a mesma política continuou e os direitos dos leigos foram considerados com simpatia e interesse. O primeiro passo para se admitir o elemento leigo na administração da Igreja foi dado em 1861, quando se permitiu aos leigos fazer parte de comissões em todos os departamentos da Igreja. Em 1870 se cederam maiores privilégios permitindo a eleição de leigos como representantes nas Conferências da Igreja. Em 1877 se deu mais um passo, que colocou os leigos em igualdade com os ministros na administração dos negócios da Igreja. Os leigos passam a fazer parte das Conferências e das diversas comissões. Só não fazem parte da Conferência dos Cem (Legal Hundred) porque a lei civil não permite.

Todas essas alterações foram feitas sem grandes aborrecimentos e sem perda de qualquer membro da Igreja ou do ministério.

"Alteração de tão grande importância e de

conseqüências de tão grande alcance provavelmente nunca se deram numa Igreja livre com menos atrito ou amargura. Os leigos foram admitidos com quase o mesmo grau de igualdade que os ministros por um processo que excluía um número igual de ministros; contudo, o sentimento predominante e quase universal foi de alívio e de boa vontade. Levantou-se imediatamente uma coleta para constituir um "Fundo de Gratidão", a qual rendeu cerca de CR$ 26.776.620,00. Com parte desse dinheiro foram pagas muitas dívidas. Empregou-se o resto na extensão do trabalho.”

"Com o correr dos anos a ordem primitiva das

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sessões, com uma reunião antecipada dos pastores, não dava bom resultados na transação rápida dos negócios. Alterações necessárias foram feitas na última sessão da Conferência Anual, antes de findar o século XIX. Experimentou-se, em New Castle-on-Tyne, em 1901, o costume, que ainda se segue, pelo qual os negócios da administração geral são atendidos antes da reunião dos pastores, para conselho mútuo. O resultado foi ótimo. "A união dos pastores e leigos, nas sessões representativas, tem sido a maior bênção da Igreja. Esse grêmio representativo tem dado provas de sabia moderação e assegurado progresso. De ano em ano sua influência e importância aumenta. Sua moderação e imparcialidade têm conquistado confiança em todos os setores da Igreja e há convicção crescente de que o futuro do Metodismo está seguro no seu cuidado, sejam quais forem os poderes confiados a ele". (Townsend et al V. I, p. 443).

49. O trabalho missionário, social e evangelístico.

O espírito missionário é característico do Metodismo. Nasceu para atender às necessidades da humanidade. Como Cristo teve compaixão das multidões que estavam como "ovelhas sem pastor”, assim Wesley sentiu compaixão do povo inglês que estava na ignorância e no pecado. Por isso o espírito missionário se manifestou cedo entre o povo metodista. Já, falamos em Tomaz Coke e na sua obra missionária. Os seus sucessores não deixaram de atender a esse aspecto do trabalho.

A política que a Igreja Metodista Wesleyana seguiu foi

iniciar trabalho nos campos onde o governo inglês dominava e ajudar os indígenas até que pudessem cuidar de si mesmos. Esse plano deu bons resultados no Canadá, no sul da África, na

Austrália e nas Antilhas. Mas, nas Antilhas, por causa de tempestades, terremotos e crises comerciais, a Igreja, para salvar a situação, teve de socorrer às igrejas nascentes. Do seu trabalho nos países europeus e asiáticos e noutras partes do mundo tratar-se-á, mais adiante.

Os metodistas têm sido liberais em contribuir para

missões. Mas a necessidade é sempre maior do que os recursos disponíveis.

A Igreja Metodista Wesleyana promoveu missões no

estrangeiro, mas não deixou de cuidar dos seus concidadãos na Inglaterra. O bispo Coke se interessou nessa obra e a Igreja continuou o trabalho.

Houve três fases no trabalho missionário da Inglaterra. A primeira foi o plano de levantar um fundo chamado

Fundo de Contingência — que servia para suplementar os honorários dos pastores cujas paróquias não pudessem sustentá-los. Mais tarde, porém, em 1856, se adotou um plano melhor: aumentaram-se os fundos para esse trabalho, levantando coletas em todas as paróquias, e mudou-se o título dos fundos para Missões Nacionais e Fundos de Contingência . Nomearam-se se missionários para abrir trabalho nos lugares esquecidos e reabrir trabalho onde fora abandonado. Todas as pessoas aptas, clérigos e leigos, homens e mulheres, foram empregadas nesse trabalho com bons resultados. Muitas igrejas fracas reanimaram-se e iniciou-se o trabalho em lugares onde nada existia antes. Lá para o fim do século XIX, se modificou o plano; novamente o termo "Contingência" desapareceu completamente. O trabalho se unificou mais sob uma administração mais centralizada, de modo que todas as partes do trabalho teriam a mesma fiscalização e a mesma garantia de sustento.

Em tempos mais modernos, com as mudanças que sempre

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se dão na sociedade, a Igreja tem procurado suprir as necessidades das cidades praieiras, onde os veranistas vão no fim da semana para descanso e repouso. As capelas que existem nesses lugares, construídas nos tempos passados, não servem para o povo de agora. O problema era arranjar-se dinheiro para construir capelas nas cidades praianas. O dr. Pushon, homem talentoso, ofereceu-se para levantar fundos para esse fim. Em pouco tempo arranjou fundo suficiente para construir capelas modernas. Mas, depois de construir treze capelas modernas, apareceu o problema de como interessar o povo, mesmo os metodistas, nos cultos, pois o povo não somente vem para descansar, mas também para ficar livre dos cultos. Permanece, portanto, o problema de se fazer o culto mais atraente e proveitoso.

A Igreja Metodista não deixou de interessar-se no bem

estar dos soldados. O Metodismo sempre tem mostrado interesse pelos militares. Wesley se interessou na sua evangelização e muitos soldados metodistas têm honrado o nome de cristão pelo seu bom testemunho no exército. A Igreja fez, com o governo, uma combinação para atender as necessidades espirituais dos soldados, a qual tem tido bom êxito.

Também a Igreja tem feito trabalho missionário entre os

marinheiros. A Igreja tem conseguido mais de quarenta missões ou lares para marinheiros e mais de cem mil marinheiros e soldados, por ano, são nelas acomodados. São lugares onde os marinheiros podem dormir, descansar e repousar, quando não estão de serviço. Os resultados têm sido satisfatórios na melhoria da moral dos marinheiros. A Igreja reconhece que

"um dos fins em vista é eliminar a guerra, mas, enquanto o meio extremo de solução para as disputas internacionais é a guerra, quanto mais se cristianizar o exército e a marinha tanto mais cedo virá o reino da paz" (Townsend et al, Vol. I, p. 453).

A Igreja não tem esquecido os órfãos. Wesley interessou-se

num orfanato na sua segunda visita a New Castle. Levantou fundos para construir um prédio que depois de pronto nunca serviu para orfanato, mas para uma escola de preparar obreiros. Contudo, o desejo de proteger as crianças órfãs e as crianças abandonadas ficou na Igreja. Em 1871 o rev. T. B. Stephenson interessou-se nas crianças abandonadas da sua paróquia e em pouco tempo começaram muitos a ajudá-lo. A Conferência Anual o designou em 1871 para o trabalho de um orfanato, com tempo integral. Com o correr dos anos, conseguiu ajuntar fundos e construir prédios para acomodar as crianças desamparadas. Até aos fins do século dezenove já havia mais de duas mil crianças sob o cuidado dos diversos departamentos do orfanato.

Esse trabalho social não somente trouxe benefícios aos

soldados, marinheiros e órfãos, mas também deu a muitas pessoas leigas oportunidade de prestar serviço voluntário aos necessitados. Desta maneira muitas pessoas, tendo descoberto em si dons para semelhante trabalho, têm entrado no ministério ativo.

As diaconisas ocupam lugar importante no trabalho da

Igreja Wesleyana, na Inglaterra e no estrangeiro. No começo do século dezoito havia preconceitos contra pregação de uma mulher, mas os tais preconceitos estão cedendo e as mulheres, não em grande número, estão prestando bons serviços nos púlpitos, mas especialmente na categoria de diaconisas. Há lugares em Halifax e Leicester onde elas se preparam para o seu trabalho. O dr. Stephenson fundou o Instituto Wesleyano de Diaconisas na cidade de Ilkley, onde as diaconisas são preparadas para seu trabalho na Inglaterra, em Ceilão, na China, na África e na Nova Zelândia. Visitando os pobres, os doentes, os abandonados e as moças desamparadas, as diaconisas fazem um trabalho que não seria feito por ninguém,

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senão por elas. O espírito de evangelismo, no último quartel do século

dezenove, manifestou-se numa forma diferente daquele que tinha caracterizado o movimento evangelístico da Igreja Wesleyana. As condições sociais e econômicas tinham mudado. As cidades tornaram-se centros industriais e o povo das vilas e zonas rurais afluiu para os grandes centros, deixando as vilas e zonas rurais meio abandonadas. Tanta gente, concentrando-se nas cidades, criou novos problemas sociais e religiosos. As capelas que serviam ao povo antigamente já não serviam. O povo filiado a elas já tinha mudado para outros lugares e elas em grande parte estavam cercadas de casas comerciais ou de fábricas. O resultado foi a existência de capelas abandonadas, em silêncio, e de povo sem culto.

Alguns homens que tinham zelo pela evangelização,

começaram a pensar numa solução para esse problema. Nasceu a idéia de igrejas institucionais. Começaram o trabalho de evangelização por meio de "halls". Às vezes, capelas bem situadas, nas cidades, eram adaptadas para esta qualidade de serviço. Havia salas para reuniões religiosas, sociais e recreativas; para reuniões de estudo e leitura e aulas, para clínica médica e dentária. Por esse meio as multidões podiam ser alcançadas; pois já as capelas eram desprezadas: as multidões passavam por elas sem entrar.

Carlos Garrett, em 1875 foi nomeado para abrir e dirigir a

primeira missão desse tipo, na cidade de Liverpool. Seu plano era levar a mensagem do Evangelho a recantos onde ela não tinha chegado pelos métodos antigos. Era homem jeitoso para tal trabalho e o povo gostava das suas pregações. Interessou os leigos e o trabalho progrediu rapidamente. Em poucos anos o grande Hall Central foi edificado na cidade de Manchester. O trabalho entendeu-se depois para outras cidades. Vinte ou trinta anos mais tarde, mais de quarenta instituições semelhantes

estavam funcionando. O mesmo espírito evangelístico que impeliu João Wesley a pregar ao ar livre às multidões, impelia os homens que faziam este trabalho. Homens, como Carlos Garrett e Hugh Price Hughs conseguiram introduzir este método de evangelismo na Igreja Metodista Wesleyana.

Hughs era homem de grandes talentos. Tinha o dom da

palavra e podia conquistar o coração do povo e tinha uma mensagem de vida, uma mensagem de salvação em que ele cria e em que desejava que os outros cressem também. Pregou as mesmas verdades antigas, mas as revestiu com a linguagem do povo do seu tempo.

O afluxo das vilas e das zonas rurais para a cidade criou

outro problema. As igrejas rurais ficaram fracas e desanimadas. Era difícil manter seus pastores. As autoridades da Igreja lançaram mão de dois recursos para solucionar o problema: os meios de comunicação, que naquele tempo foram melhorados e as bicicletas. Havia estradas melhores e as bicicletas podiam ser usadas, com grande facilidade e eficiência. Um pastor podia servir uma paróquia de maior área. Agruparam-se as igrejas em paróquias maiores, de modo que um homem podia atender a uma paróquia com mais igrejas e com mais facilidade.

O fato que havia grande número de pregadores locais,

facilitou o trabalho pastoral também. Abriu-se uma escola para preparar pregadores locais, onde podiam eles aprender a fazer melhor seu trabalho. Arranjaram-se carros ou caminhões para transporte de grupos que faziam o trabalho de evangelização. Dessa maneira o povo ouvia a palavra e se distribuíam, entre o povo, folhetos e porções das Escrituras Sagradas. Para proteger os pregadores contra a doença e a velhice constituíram-se fundos — uma espécie de caixa de beneficência. Tem provado ser medida acertada manter a eficiência deste trabalho.

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A questão da temperança foi estudada em 1873. Iniciou-se uma campanha contra a intemperança. Diversas sociedades de temperança foram organizadas. Alcançou-se algum progresso, mas em 1892 a Igreja aumentou a sua campanha contra o uso de bebidas alcoólicas, organizando sociedades de abstinência. O número destas sociedades dobrou até ao fim do século dezenove.

Há ainda outras atividades para solucionar ou remediar

males sociais. A Igreja fundou em 1887 um Lar de Moças, para cuidar das donzelas infelizes. Desde essa data outras instituições têm aparecido.

50. O trabalho educacional.

A educação entre os metodistas provocou duas correntes

acerca dos princípios para ela ser adotados. Estudou-se a questão da relação do Estado com o programa educativo da Igreja. Devia haver separação ou deviam fazer em conjunto? Por alguns anos houve divergência de opinião sobre isto. Mas ambas as correntes estavam de acordo num ponto: que o programa educativo não dev ia deixar fora a relig ião. A religião certamente devia ser incluída no programa. Mas havia uma dificuldade a respeito da relação do Estado com o programa educativo da Igreja. Se as escolas da Igreja recebessem subvenções do governo, o governo quereria controlá-las. Esta questão provocou muita discussão, chegando-se finalmente à conclusão seguinte:

"As condições essenciais são três: A primeira é que

uma escola cristã e não sectária deve estar s ituada a uma distância razoável de cada família e sua direção deve ser entregue a uma comissão que exerça autoridade sobre a zona da escola. A segunda que nenhuma apropriação financeira do governo sem o dire ito de fiscalizá-la. A terceira é que nenhum sistema nacional de

educação exclua das escolas diárias a Bíblia e uma instrução religiosa dada pelos professores, adequada à capacidade das crianças, atendera a necessidade do país". (Townsend et al, Vol. I, p. 471).

A Igreja Metodista aceitou esses termos e está

promovendo o seu programa educativo nessas condições.

Além da educação secundária, a Igreja tem escolas superiores. Depois da revogação em 1871 da lei que excluía das aulas das Universidades de Oxford e Cambridge alunos das igrejas dissidentes (dissidentes da Igreja Anglicana!), muitos moços metodistas têm estudado nessas universidades. A Igreja organizou a Escola de Leys, em Cambridge, para facilitar os estudos da mocidade metodista na Universidade de Cambridge.

A escola dominical sempre foi uma parte vital do Metodismo

britânico. Em 1874 foi organizada a União das Escolas Dominicais para cuidar do seu programa educativo. Por alguns anos o número de alunos das escolas dominicais aumentou, mas no fim do século dezenove não havia tanto interesse nelas.

O programa da educação ministerial não tem sido

negligenciado. O primeiro instituto teológico foi fundado em 1842, na cidade de Disdbury e no ano de 1843 se fundou outro na cidade de Richmond. Desde aquela época ambos os institutos têm sido ampliados para acomodar mais de cento e trinta alunos. O instituto de Richmond foi transformado em escola de preparo de missionários para o trabalho no estrangeiro. Mais tarde, em 1866 e 1881, fundaram-se dois novos institutos. Agora há, instalações para acomodarem mais de duzentos e cinqüenta moços. A Igreja Metodista está ciente da grande necessidade de preparar os seus ministros, pois, de outro modo, não pode manter a obra de evangelização no país e enviar homens e mulheres para os países estrangeiros, para proclamarem lá a

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mensagem de vida. Depois do curso propedêutico, os alunos estudam três anos

no instituto teológico. Pretende-se aumentar o curso para quatro anos. A vitalidade se manifesta no número e na qualidade dos homens que estudam para o ministério. Por esse padrão o Metodismo avança.

51. O Metodismo Wesleyano no fim do século dezenove. Ao findar do século dezenove o Metodismo Wesleyano tinha

atingido a posição de Igreja nacional. Era uma Igreja preparada para exercer seu papel como força moral e religiosa em todas as camadas da sociedade. A sua política era ficar livre das complicações políticas da nação. O Metodismo na Inglaterra não estava unido: havia diversos ramos, independentes uns dos outros.

Em 1881 foi realizado na capela de Wesley, em Londres, a

primeira Conferência Ecumênica. As igrejas metodistas da América e das colônias da Grã-Bretanha se fizeram representar. De dez em dez anos se realizam estas Conferências. A segunda realizou-se em Washington, em 1891, e a terceira, em Londres, em 1901.

No princípio do século XX se promoveu uma campanha para

levantar fundos destinados a aumentar o trabalho e fortalecer a obra já iniciada. O sr. R. W. Perks interessou-se nessa campanha, que terminou em 1908. Levantaram-se Cr$ 96.641.380,00. Esse dinheiro foi empregado na consolidação do trabalho em todos os seus departamentos.

O púlpito da Igreja Wesleyana, no fim do século dezenove, fo i ma is forte do em qua lquer época da história da Igreja.

Ocupavam-no homens mais preparados do que antes. A sua teologia consistia nas doutrinas fundamentais pregadas por Wesley, com tolerância para certas opiniões diferentes.

O teólogo mais notável desta época foi o dr. W. B. Pope.

Era homem leal a Cristo, "místico e racionalista", contrabalançando as duas tendências opostas, aberto para novas idéias, mas oposto às correntes modernistas.

Nota-se na Igreja a tendência de abandonar a prática das

reuniões nas classes metodistas por falta de guias idôneos e por falta de interesse da parte do povo. Nota-se também a tendência de conformar mais e mais com os costumes das outras igrejas evangélicas e tomar lugar ao lado delas como uma instituição cristã.

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CAPÍTULO XVII

O S T R Ê S R A M O S BRITÂNICOS DO METODISMO

QUE FORMARAM A IGREJA METODISTA UNIDA

52. A Nova Igre ja Metodis ta (The Methodist New Connexion Founded) - 1791-1814.

João Wesley por educação e herança deu grande

importância à autoridade exterior e à boa ordem no seu trabalho e respeitou as rubricas da Igreja, mas, pela sua experiência religiosa, alcançada em 24 de maio de 1738, quando sentiu seu coração aquecer-se maravilhosamente, se tornou homem livre. E "onde há o Espírito do Senhor, ai há liberdade", como disse São Paulo. Portanto, Wesley sempre foi influenciado pelas duas forças, sempre obedeceu à autoridade exterior e à autoridade interior do Espírito. A sua aristocracia, o seu cerimonialismo e o seu conservantismo cediam ao espírito democrático, quando estava em jogo a salvação das a lmas : "Igreja ou não, temos de dedicar-nos à salvação das almas".

Esse mesmo espírito se manifestou nos discípulos de

Wesley. "A história constitucional do Metodismo é a descrição do jogo entre a autoridade e a liberdade". O motivo que levou Wesley a fazer certas coisas, como pregar ao ar livre, ordenar seus pregadores, etc., levou alguns dos seus seguidores a romper com o ramo principal do Metodismo e a formar grupos ou Igrejas novas.

Três ramos do Metodismo Britânico romperam com a Igreja Metodista Wesleyana: A Nova Igreja Metodista (The Methodist New Conexion), a Igreja Metodista Cristã da Bíblia (Bible Christian Methodist) e as Igrejas Metodistas Livres e Unidas (United Methodists Free Churches).

Essas três Igrejas finalmente se uniram, em 1907, e

formaram a Igreja Metodista Unida. Sem dúvida, o espírito da época em que, essas divisões se deram, influiu sobre o espírito daqueles que as provocaram.

A primeira divisão deu-se no tempo da Revolução

Francesa, época em que o espírito de liberdade, igualdade e fraternidade se manifestou entre os homens da Europa. Mas havia outros motivos na ação dos chefes desses movimentos.

"A base fundamental de cada um desses três

períodos de controvérsia na história metodista era a reclamação de direito, da comunidade local da igreja,. de participar no governo da Igreja junto com os clérigos" (Townsend et al, Vol. I, p. 487).

Antes da morte de Wesley já havia sinais de desarmonia

entre os metodistas, mas não assumiram proporções ameaçadoras enquanto ele foi vivo. Como disse alguém, "era o centro de união tanto para o povo como para os pregadores". Logo que ele faleceu, os homens mais chegados a Wesley reconheceram o perigo de divisões entre o povo. Como já foi mencionado em outra parte, havia três partidos (grupos) entre os metodistas, a saber: o partido que queria seguir exatamente a política do fundador; o partido composto dos membros mais abastados que queriam que o movimento metodista permanecesse dentro da Igreja Anglicana; e o partido que queria completar a obra de separação da Igreja Anglicana. Este era o partido radical — partido que desejava separar-se completamente da Igreja Anglicana, ordenar ministros metodistas

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e receber das suas mãos deles o batismo e a santa ceia. Além disso desejava a liberdade de realizar cultos nas horas mais favoráveis, sem respeitar as horas de culto da Igreja Anglicana, e a cooperação dos leigos com os clérigos na administração da Igreja. Em outras palavras, queria a emancipação do metodismo, liberdade completa com o espírito democrático dominante na política da Igreja.

A situação, portanto, nos tempos que se seguiram à morte de

Wesley não era muito agradável e os homens mais leais a Wesley receavam grandes perturbações nos arraiais metodistas, Havia um homem do partido radical, chamado Kilham, que tinha seis anos de itinerância e que sentia grande responsabilidade nessa hora.

Alexandre Kilham nasceu em 10 de julho de 1762, na cidade

de Epworth. Seu pai era tecelão e educou seu filho em casa. Todos os da sua família eram metodistas. Seu filho Alexandre era o mais velho e gostava de ler um notável livro devocional daquele tempo: "O Descanso Eterno do Santo" (The Saint's Everlasting Rest). Durante a sua mocidade teve um companheiro bom que exercia influência salutar sobre ele. Quando chegou aos vinte anos de idade, experimentou mudança radical na sua vida. Sobre isso ele diz:

"Depois de eu lamentar e chorar por três ou quatro horas, veio uma mudança repentina a minha mente Eu não podia mais chorar, ainda que ganhasse o mundo todo. Senti grande amor por todos que me rodeavam — meu coração encheu-se de gozo inexprimível" (Towsend et al, Vol. I, p. 489).

Logo começou a contar de casa em casa, aos outros, o

que o Senhor tinha feito por ele. Descobriu que tinha o dom da palavra. Em pouco tempo os pregadores insistiram com ele para que entrasse no ministério. Empregou-se com Brackenbury. Tornou-se companheiro de viagem de Brackenbury e o ajudou

no mesmo sentido em que Bradford ajudava Wesley nas suas, viagens. Como era costume de Brackenbury fazer viagens de evangelização, visitou as ilhas do Canal com seu companheiro. Sofreram perigos e perseguições, mas implantaram o Metodismo naquelas ilhas. A associação com Brackenbury tornou-se muito proveitosa para o jovem Kilham. Aprendeu bastante daquele grande servo de Deus — homem culto, cristão e rico. Kilham ficou tomando conta da casa "Raithly Hall" em Lincolnshire, por um ano, enquanto o dono fazia uma viagem à Europa, em busca de saúde (1784). Kilham substituía, uma vez ou outra, pastores que ficavam doentes. Deste modo adquiriu experiência no ministério. Finalmente Wesley o nomeou pastor da zona de Grimsby e daí em diante recebeu nomeação de ano em ano até a morte de Wesley. Sofreu perseguições e privações como os demais pregadores daquela época. Dizem que seus, adversários colocaram, certa vez, meio quilo de pólvora em baixo do lugar onde Kilham tinha de ficar, numa pregação, e ligaram com a pólvora um rastilho comprido. Mas, quando chegou a hora de pregar, mudou de lugar, antes da explosão, e, assim, por um triz escapou a morte.

Kilham foi homem de idéias independentes. Sentia a

influência do espírito de liberdade da época. Recusou batizar seu terceiro filho na Igreja Anglicana. Convenceu-se de que as sociedades metodistas deviam separar-se completamente da Igreja Anglicana. Havia muitos outros que sentiam a mesma coisa. Portanto, dois meses depois da morte de Wesley escreveu um folheto "O Sinal de Alarme de Hull", em que procurava justificar seu velho superintendente por ter administrado a santa ceia. Foi censurado pelos colegas perante a Conferência Anual por ter escr i to o fo lheto. Mas não f ic ou ca lado . Escrev eu nov o folheto, assinado por "Áquila e Priscila". Neste folheto pugnava pelo direito de administrar a santa ceia. Empregou os argumentos mais fortes que tinham aparecido sobre o assunto. Pouco depois escreveu outro folheto sobre "O homem verdadeiro e livre"

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(True man and Free man) em que insistia "na união dos leigos com os pregadores na administração da zona e em que o delegado da zona devia representá-la na Conferência Anual". Alguns pregadores o censuravam por ter escrito tais coisas, mas outros o apoiavam.

Houve tentativas para harmonizar as divergências entre

os pregadores. O próprio Kilham por algum tempo se mostrou disposto a harmonizar as idéias divergentes que havia entre ele e seus colegas. Mas finalmente se convenceu de que jamais conseguiria por meios suasórios aquilo por que pugnava. Escreveu então um livrinho em que expôs as suas idéias em termos claros. O título do livrinho era "O Progresso da Liberdade entre o Povo chamado Metodista". A isso acrescentava um "Esboço de uma Constituição", humildemente recomendado à consideração séria dos pregadores e do povo que estavam ligados a Wesley.

Esta obra provocou reação contra Kilham. Foi processado

pela Conferência distrital e finalmente foi expulso da Igreja pela Conferência Anual.

As idéias ventiladas no livrinho serviram de base à

constituição da Nova Igreja Metodista (The Methodist New Connexion Founded).

O historiador, dr. Jorge Eayrs, falando sobre isso, disse:

"Os princípios gerais foram incluídos mais tarde na constituição da Nova Igreja Metodista. Nessa obra ele se confessou autor de outros tratados e insistia em, apesar das concessões, alguma coisa ainda precisa ser feita não só para evitar que qualquer pregador proceda contrariamente aos interesses das sociedades, mas também para obrigar os pregadores a cooperar uns com os outros. Ele insistia:

1)no pronunciamento da igreja, antes da admissão ou expulsão de membros, e também quanto à nomeação dos

guias de classe; 2) em que os pregadores leigos deviam ser

examinados e aprovados pelo conselho dos guias e pelas Conferências distritais;

3) em qualquer pregador, como candidato a itinerância, fosse aprovado pela Conferência trimensal;

4) em que fossem nomeados delegados leigos da Conferência trimensal à Conferência distrital e da Conferência distrital à Conferência Anual dos pregadores;

5) em que os leigos trabalhassem juntos com os pregadores em todos os negócios, tanto temporais como espirituais" (Townsend et al, Vol. p. 492). Kilham foi processado e expulso em 28 de julho de 1796.

Foi um processo penoso para todos. Ele ficou consolado, quando alguns perguntaram se era Kilham ou a Conferência que estava sendo processada, e triste, quando seus amigos pronunciaram a sentença contra ele. Não havia nada contra seu caráter, só contra suas idéias.

A expulsão de Kilham causou grande perturbação em

diversas sociedades. Um plano de pacificação em que eram incluídas diversas das idéias de Kilham foi apresentado à Conferência Anual. A Conferência fez algumas concessões, mas não foram suficientes para satisfazer às pessoas interessadas. O rompimento era inevitável e mais de cinco mil membros se retiraram da Igreja Metodista Wesleyana. Com esses elementos se organizou a Nova Igreja Metodista.

A separação foi triste e custosa, mas as coisas chegaram a

tal ponto que era a única medida a tomar. O movimento, que resultou dessa separação, começou com a propaganda de Kilham, em 1791, ano em que Wes ley morreu.

Três pregadores acompanharam Kilham no ato da

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separação: Guilherme Thorn, Stephen Eversfield e Alexander Cusumin. Esses quatro pregadores reuniram-se com os delegados leigos que os acompanharam na separação da Capela de Ebenezer, na cidade de Leeds, para organizar a Nova Igreja Metodista, em 9 de agosto de 1797.

Nesta primeira Conferência Guilherme Thom foi eleito

presidente e Kilham ficou sendo o secretário. Os lugares atingidos pela separação foram Nottingham, Meclesfield, Aluwick, Olham e mais algumas cidades. Na cidade de Huddersfield, onde os representantes se reuniram, foram eles taxados de jacobinos e soldados cercaram a casa onde estavam reunidos. Sofreram perseguições. Os pregadores eram poucos e seis as zonas. Os pregadores tinham de viajar muito e pregar diversas vezes por semana. Kilham viajava e pregava constantemente. Mas os pregadores ajudavam no trabalho e prestavam valiosos serviços. Christophers Heaps, da cidade de Leeds, foi um dos pregadores que prestou mais serviço, não somente ajudando com suas pregações, mas também hospedando os pregadores na sua casa. O desejo de Kilham era harmonizar as doutrinas arminianas com o sistema presbiteriano e com a itinerância.

Porque Kilham e outros celebravam a santa ceia numa sala

especial, foram taxadas de "sacramentários" e davam-lhes vaia nas ruas.

A segunda Conferência Anual da Nova Igreja Metodista

realizou-se na cidade de Scheffield, em 1798. Estavam presentes quatorze pregadores e dezessete leigos, representantes de dez zonas. A constituição foi adotada pela Conferência. Mas, antes de ser aprovada pela Conferência Anual, já fora aprovada pelas zonas.

Os pregadores trabalharam abundantemente e seus

esforços não foram em vão. Kilham, que trabalhou em Scheffield,

foi bem sucedido. O povo afluía às suas pregações, havendo mais de mil e quinhentas pessoas assistindo às reuniões em dias da semana. Sendo o chefe do movimento, a presença de Kilham era desejada em todos os lugares onde havia trabalho. Mas as viagens, perseguições e fadigas concorreram para lhe minar a saúde. Numa viagem que fez a cavalo, ao País de Gales, em novembro de 1798, ficou doente. Mas em dezembro estava trabalhando outra vez. Tinha mais zelo que saúde. Sofrendo de uma hemorragia pulmonar, causada por um resfriado violento, não pode continuar seu trabalho. Dentro de poucos dias faleceu, em um 12 de dezembro de 1798, com trinta e três anos de idade. Morreu jovem, porém conseguiu na Igreja certas reformas necessárias, ainda que fossem violentas e, talvez, prematuras. Foi, entretanto, mais evangelista do que reformador. Tinha paixão pelas almas. Na hora da morte disse: "Precisamos contar a todo mundo que Jesus é precioso."

Foi homem sincero e honesto. Ninguém duvidava da sua

sinceridade. Aproveitava seu tempo, trabalhando dezoito horas por dia e pregando seis ou oito vezes por semana. Escrevia bem, es ti lo c laro e vigoroso. Casou-se duas vezes. Sua primeira esposa viveu pouco tempo depois do casamento. A segunda sobreviveu ao marido e fundou escolas para crianças pobres na Inglaterra e. na Irlanda e foi uma das primeiras missionárias na África.

Guilherme Thom era o Melanchton do movimento,

enquanto Kilham era o Martinho Lutero, com sua eloqüência e seu espírito evangelístico. Thorn tivera boa instrução e fora colega de João Wesley. Wesley o honrou nomeando-o membro da Conferência dos Cem, e publicou seu retrato no Arminian Magazine. Pregava bem e com poder, apelando mais para a cabeça do que para o coração. A sua carta de despedida da Igreja Metodista wesleyana revela coragem, sinceridade e tolerância:

"Estou resolvido a não fazer do púlpito nem da imprensa veículos de abuso, mas, se for necessário falar

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sobre o assunto, eu o farei para sustentar, com meus argumentos, as Escrituras e os costumes primitivos da Igreja Cristã". (Townsend et al, Vol. I, p. 498). Quando se retirou da Igreja Metodista wes leyana era

superintendente do distrito de Halifax, colocação boa na Igreja. Na Nova Igreja serviu na qualidade de presidente, seis vezes e foi, para todos, exemplo de ordem, cultura e piedade. A sua influência ficou indelevelmente gravada na Nova Igreja Metodista. Morreu em 1811.

Entre os leigos se destacam dois: Roberto Hall (1754-1827)

e Samuel Heinbottom (1757-1829). Roberto Hall era amigo pessoal de Wesley e ficou na Igreja Metodista cinqüenta anos. Hall, que era químico, descobriu um processo para alvejar renda, que lhe deu prestigio entre os cientistas do seu tempo. Ajudou Kilham no seu trabalho. Contribuía liberalmente para a causa e custeou a publicação da biografia de Kilham. Serviu como secretário da Conferência Foi o primeiro leigo a ocupar este lugar. Deu prestígio à Nova Igreja Metodista: assim as perseguições na cidade onde morava, foram mais brandas.

Samuel Heinbottom era o economista da Nova Igreja

Metodista. Pela sua influencia se estabeleceu um fundo de beneficência para socorrer os ministros velhos, suas viúvas e seus órfãos. Também conseguiu estabelecer um fundo, chamado Fundo Paternal, para ajudar na educação dos filhos dos pastores. Foi homem leal, corajoso e generoso para com a causa de Cristo.

A nova política de permitir aos leigos participar da

administração da Nova Igreja Metodista deu bons resultados. Havia cordialidade entre os pregadores e os leigos. Os pregadores depois de quatro anos de experiência, eram admitidos em plena conexão com a Conferência Anual e recebiam o título de reverendos. A representação dos leigos nas Conferências satisfez.

As zonas ou paróquias eram grandes, exigindo viagens

longas e penosas. Os recursos eram poucos e os subsídios eram pequenos. Os primeiros pregadores recebiam por trimestre três libras e mais a comida, o que montava a mais ou menos cinqüenta cruzeiros por mês. Os pregadores casados recebiam a mesma quantia, sem qualquer adicional para as esposas e filhos. Como disse um historiador: "Poucos poderiam dizer: Dai-me uma colocação no ministério para que eu coma um pedaço de pão". Mais tarde o subsidio dos pregadores foi aumentado.

Por falta de subsidio, muitos dos pregadores deixavam de

viajar. Num período de dezessete anos oitenta e quatro pregadores foram admitidos, mas, por falta de subsídio, grande número deles passou à situação de pregadores locais.

A média de serviço, na itinerância, durante os

dezessete anos, ficou reduzida a seis anos. Entre os que deixaram de viajar, estava Richard Watson, o grande teólogo metodista, que voltou para a Igreja Metodista wesleyana. Prestou bom serviço nela, servindo como secretário de Missões, escritor, pregador e conselheiro.

A Nova Igreja Metodista conservou todos os característicos

da família metodista original. A classe metodista era a célula vital da Igreja. À pergunta "Quais são os membros?" a Conferência respondia: "Somente aqueles que assistiam às classes". Cantavam só três hinos nas reuniões de pregação e o pregador pregava de uma para duas horas. Alguns dos sermões de Wesley foram publicados pela Nova Igreja Metodista e vendidos por um penny. Publicou-se um jornal, o Methodist Magazine.

Havia muita falta de casas de oração. O número de

pessoas crentes era duas vezes maior do que o que e casas de oração podiam acomodar. A Nova Igreja Metodista sofreu não

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somente por falta de casas de oração, mas também por causa das dificuldades legais que existia na aquisição de propriedades.

A Nova Igreja Metodista prosperou, mas lentamente, pois

tinha muitos obstáculos a vencer, muitas críticas e censuras a agüentar e oposições a enfrentar. A sua maior contribuição ao metodismo foi abrir caminho para as inovações necessárias a fim de democratizar a comunidade metodista. Com o correr dos anos serviu para unificar outros ramos do Metodismo numa só Igreja. Em 1814 tinha 8.292 membros, 207 igrejas, 44 pregadores itinerantes, 229 pregadores locais e 101 capelas.

53. A origem dos Metodistas Cristãos da Bíblia (The Bible

Christian Methodist) (1815-1826). Os metodistas Cristãos da Bíblia são o resultado do trabalho

que Guilherme O'Bryan iniciou na região negligenciada de Devon. Aconteceu que o condado de Devon era pouco visitado pelos metodistas nos dias de Wesley, e, como os meios de comunicação na Inglaterra eram deficientes, uma secção do país podia ficar quase inteiramente isolada de outra. Por isso um avivamento religioso podia dar-se numa zona sem afetar outra zona.

O povo que morava no condado de Devon era ignorante,

atrasado e supersticioso, dedicado a esportes e divertimentos. Os párocos da Igreja Anglicana jogavam, bebiam pescavam e faziam tudo, menos cuidar zelosamente das suas paróquias. Sydney Smith os chamou de "varetas de espingarda e varas de pescadores" em vez de bispos, ministros e párocos. Realmente, eram homens do mundo e muitos deles não tinham sequer idoneidade moral.

Foi neste estado de coisas que Guilherme O'Bryan achou o

Senhor e se tornou mensageiro da Sua Palavra. Devon é duas vezes maior do que o condado de Cornwall,

mas Cornwall tinha, em 1812, cento e vinte e duas capelas, enquanto Deven só tinha trinta e duas.

O'Bryan reconhecia esses fatos quando se converteu.

Chegou a conhecer a verdade por meio de Daniel Evans, coadjutor da paróquia de Shebber Church, no norte de Dartmor, condado de Devon, e de um it inerante da Lady Hunt ingdon. Evans converteu-se, quando o avivamento passava por Cornwall e a oeste da Inglaterra.

O'Bryan era nasceu em de fevereiro de 1778, em Luxulyan,

em Cornwall. Seu avô era irlandês e servira com Cromwell, na Irlanda, tendo fixado residência em Cornwall, depois da guerra. Seus pais eram metodistas piedosos, especialmente a sua mãe que, colocando suas mãos sobre a cabeça dele, deu-lhe a sua bênção: "Que você seja uma benção para centenas e milhares".

Realmente O'Bryan foi uma benção para muitos. Na

mocidade escapou de grandes perigos, que o impressionaram. Em 1796 se converteu e, sobre isso, disse: "O Senhor me deu a paz, revelando-se como meu profeta, advogado e rei". Sendo seu pai homem de recursos, pode Guilherme educar-se melhor do que muitos rapazes do seu tempo, que não tinham tantos recursos. Quando tinha vinte e um anos de idade foi nomeado mordomo da Igreja a para zelar pelos pobres.

Logo que se converteu, começou a exortar os seus vizinhos

para que também buscassem tantas bênçãos quantas ele gozava. Às vezes sentia tanto desejo de falar ao povo que falaria a todo mundo se pudesse ajuntar as nações num só lugar.

Falou em público pela em pela primeira vez, em 1801. Orava

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muito: suas orações ecoavam nas proximidades do lugar onde trabalhava. Alguns julgavam que ia perder seu juízo. Quando deixava de exortar os outros, ficava perplexo e desanimado. Em 1805 ouviu o dr. Coke num sermão que lhe fez muito bem. Suas agonias desapareceram e só voltaram, quando deixou de pregar. Ficou doente e, depois de sarar, resolveu dedicar-se ao trabalho de evangelização, em 1808.

Filiou-se aos metodistas e trabalhou no norte de Cornwall,

onde abriu trabalho em oito das paróquias daquela região. Ele gostava de trabalhar nos lugares esquec idos ou abandonados. Seu método era pregar três vezes num lugar e, depois organizar uma classe.

Queria entrar na itinerância, mas a Conferência distrital

da Igreja Metodista wesleyana, em Cornwall, não quis aceitá-lo. Continuou a trabalhar onde encontrava lugares negligenciados. Mas esse trabalho irregular foi motivo para ser ele expulso da Igreja Metodista, naquele ano. A expulsão foi irregular, porque ele não foi ouvido. Mas, por influência de seu amigo James Adgers, superintendente da zona de Bodwin, se filiou de novo a Igreja, em 1814.

Deixou outros empregos para dedicar-se à

evangelização na região do norte de Devon, onde encontrou vinte paróquias sem pregadores metodistas.

Apelou para as pessoas de recursos para que o ajudassem

no custeio das suas despesas. Fixou residência em são Blazey. Foi excluído da sociedade por ter deixado de assistir a classe três vezes em seguida. Havia muito rigor de disciplina nas sociedades metodistas daquela época e, por isso, O'Bryan foi excluído.

Foi homem evangelizador. Providenciando o que era

necessário para sua família, saía nas suas viagens de

evangelização, não sabendo quanto tempo passaria fora de casa, nem onde ia ficar. Sentiu o peso e a necessidade de evangelizar o povo que vivia sem Deus. De como se despedia da família, disse:

"Naquela hora não havia tempo para hesitar, nem eu tentava olhar para trás, enquanto não tinha a certeza de que estava fora do alcance da vista dos meus filhinhos e da minha esposa" (Townsend et al, vol. I, p. 506).

Não podendo combinar com o superintendente sobre seu

trabalho missionário na Missão wesleyana de Stratton, separou-se completamente dos metodistas, ainda que os amasse de todo o coração.

Foi pena que um homem como ele, com seis anos de

experiência, não fosse mantido nas fileiras metodistas. Se houvesse mais flexibilidade na administração, esse homem não teria sido perdido para o trabalho, para o qual se sentiu chamado.

Não queria dividir os metodistas e as sociedades, por isso,

procurava os lugares negligenciados pelos metodistas e ajudava as pessoas com as quais convivia a buscarem a salvação. Queria que seus filhos espirituais assistissem ao culto na Igreja Anglicana.

Esboçou um plano de trabalho para o condado de Devon,

que abrangia dezoito pontos de pregação para serem visitados de quatorze em quatorze dias. Também não deixou de visitar os presos. Há semelhança entre o trabalho dele e o de Wesley ao começar sua carreira de evangelização. Seu lema era pregar somente onde o Evangelho não havia sido proclamado.

Foi convidado por João Thorn, que morava em Lake

Farm, Shebbeard. Aceitou o convite. Em 9 de outubro de

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1815, a pedido insistente, resolveu organizar a primeira classe de vinte e dois membros. Todos os membros da classe eram membros da Igreja Anglicana e freqüentavam os cultos. As reuniões da classe sempre se realizavam fora das horas do culto da Igreja, mas as pregações dos párocos da Igreja Anglicana não eram edificantes e os membros da classe, por isso, queriam construir uma capela onde pudessem ter seu próprio culto. Foi construída a capela e, assim, esse grupo de crentes se tornou o primeiro núcleo dos Metodistas Cristãos da Bíblia.

James Thorne, filho de João Thorne, pregou na ocasião do

lançamento da pedra fundamental da nova capela (1817), declarando que O'Bryan era o fundador de uma nova comunidade cristã. James Thorne filiou-se ao novo movimento, dedicando-lhe seu tempo, talentos e dinheiro. Era bem educado, professor na Igreja Anglicana e dedicou-se ao trabalho sem pensar em remuneração. O'Bryan o convidou, com o consentimento dos outros pregadores locais e membros da sociedade, para agudá-lo na evangelização do povo. Por algum tempo não teve facilidade de pregar, mas alcançou grande benção da santificação e sentiu depois, não somente facilidade em pregar, mas também grande gozo pela conversão de almas. Houve ocasiões em que pregava cinco vezes por dia, andando, para isso, sessenta quilômetros a pé. Sofreu oposições e perseguições. Abriu uma missão em Kent e conseguiu quatrocentos membros num ano.

A Conferência trimensal dos Cristãos Metodistas da Bíblia

realizou-se em 1º de janeiro de 1816, na casa de O'Bryan, que tinha se mudado para Holsworthy. Nessa ocasião havia 237 membros na sociedade e, com o correr de mais quinze meses, havia já 1.112. O trabalho progrediu e tornou-se mais fácil conseguir conversões do que arrecadar dinheiro. As crianças afluíam aos cultos ao ar livre. O povo despertado passava horas e horas em oração. Perante tanto fervor toda oposição

cedeu. O sr. Ratenbury, que queria proibir que O'Bryan visitasse a cidade de Milton Danesel, converteu-se e tornou-se fervoroso propagandista do Evangelho. Grande entusiasmo apoderou-se dos crentes, como se deu com São Francisco de Assis, e o trabalho espalhou-se por outros lugares.

Em poucos anos os obreiros Metodistas Cristãos da Bíblia

passaram os limites do condado de Devon e começaram seu trabalho no oeste da Inglaterra, da I lha de Wight, em Kent e em Northumberland. Outros obreiros surgiram e trabalharam em outros lugares do país. Guilherme Mason trabalhou em Bristol. Em 1823 Catarina Reed e Ann Cory atraíram grandes multidões em Londres. Maria, fi lha de O'Bryan, trabalhou com bom êxito como evangelista.

É interessante notar que a maior parte da obra pioneira foi

feita pelas mulheres. Desde o princípio desse movimento as mulheres ocuparam lugar, em pé de igualdade, ao lado dos homens.

O'Bryan pregou sobre o assunto um sermão em que justificou

este costume. Baseava-se ele nas Escrituras, na história, na razão e na experiência. Sua esposa foi pioneira nesses trabalhos e disseram que pregava melhor do que o marido.

No princípio elas não praticavam a itinerância, porém mais

tarde viajavam e muitas almas foram convertidas por meio do ministério feminino. Quando um clérigo fez objeções à pregação de mulheres, Throne lembrou-lhe que uma mulher (a rainha da Inglaterra! ) era a chefe da sua Igreja. Em 1819 havia trinta pregadores itinerantes, dezesseis homens e quatorze mulheres. Em 1823 havia cem mulheres pregadoras. Mencionaremos três dessas mulheres:

Joana Brook Neale foi expulsa da Igreja Anglicana onde

assistia os cultos por ter contado a sua experiência de

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pregadora metodista. Reuniu, então, grande número de pessoas do lado de fora da igreja da qual ela fora expulsa, e pregou com grande poder. Tomou parte nas campanhas evangelísticas de O'Bryan, em 1823, e centenas de centenas de pessoas foram convertidas por ela e arroladas na igreja. Oito homens, nessa ocasião entraram no ministério. Às vezes o povo ficava tão interessado nos cultos que exigia o trabalho dela dia e noite.

Maria Toms possuía grande poder de oração. O povo afluía

aos seus cultos em grande número e centenas de centenas de pessoas se convertiam. Foi ela que tomou sobre si a tarefa de evangelizar a ilha de Wight, mas só em 1823 conseguiu chegar lá. O t rabalho dela, ali, foi produtivo.

Maria Ann Werrey interessou-se na evangelização das ilhas

de Cicely (1821) e de Guerney (123). Conseguiu organizar uma classe metodista de cento e quarenta e uma pessoas e construir uma capela. Auxiliou-a Maria O'Bryan, que sabia pregar em francês. O povo apelidou Maria Ann Werrey de "pequena donzela”. Dali ela passou para Northumberland onde iniciou trabalho de evangelização. Mas uma coisa um tanto misteriosa se deu então com ela. Depois de pregar em Northumberland por algum tempo, começou a pregar de cidade em cidade, sofrendo, por vezes, fome e necessidades, sem casa, doente, até que um dia desapareceu. A sua última mensagem foi: "O Senhor é meu e eu sou do Senhor”.

Os Metodistas Cristãos da Bíblia pregaram as doutrinas

metodistas e a experiência da santificação. O elemento emocional manifestou-se entre esse povo. Deram-se, às vezes, entre as pessoas não crentes, agitações físicas. Cessavam, quando as pessoas atacadas aceitaram a Cristo, tornando-se crentes. Davam importância aos sonhos, vozes misteriosas e visões.

Já quase não havia perseguições aos metodistas, mas o zelo

também tinha cessado. Quando se manifestou o zelo deste grupo de metodistas, as perseguições começaram de novo. Em alguns lugares Os magistrados não se importavam com as perseguições promovidas pelos motins. Thorne foi impelido a queixar-se: “Oh! Inglaterra, é esta a tua l iberdade de consciência?" Para ridicularizar os Metodistas Cristãos da Bíblia, os seus perseguidores os apelidaram de “bryanistas", "luzes brilhantes" e "cristãos da Bíblia", e acrescentaram mais uma palavra ao apelido que ficou: “Metodistas Cristãos da Bíblia". Os “quaqueres" ou "amigos" filiaram-se a esse grupo de metodistas em alguns lugares.

O espírito missionário se manifestou cedo entre os

crentes. O impulso de estender o trabalho na Inglaterra foi prova disso. Em 1821 organizou-se a primeira sociedade missionária que arrecadou noventa e duas libras (Cr$ 8.280,00). As quantias aumentavam de ano em ano até que, em 1865, as ofertas importaram em Cr$ 72.000.000,00. Isto representava muito sacrifício e abnegação. Os salários dos missionários eram muito pequenos.

A primeira Conferência Anual dos Metodistas Cristãos da

Bíblia realizou-se em 17 de agosto de 1819, na cidade de Badark. Doze pregadores itinerantes estavam presentes. Guilherme O'Bryan foi eleito presidente e James Thorne foi eleito secretário. Nessa ocasião havia oito capelas com 389 membros. Resolveram aproveitar o serviço das mulheres como itinerantes. A organização que estabeleceram era quase igual a da Nova Igreja Metodista.

Mas O'Bryan queria ser reconhecido como autoridade

suprema na Igreja e não aprovou a votação dos leigos na Conferência. Tomou posição arbitrária na administração da Igreja. Assim, no caso da Conferência não concordar com ele em qualquer coisa, seu voto valeria mais que todos os outros para decidir uma questão. Só dois pregadores entre oitenta e oito

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concordaram com isso. Essa atitude de O'Bryan causou a sua separação da Conferência, em 1829. Seis anos mais tarde reconciliou-se com a Conferência (ou seja, com os Metodistas Cristãos da Bíblia) e fez uma viagem aos Estados Unidos e Canadá, onde trabalhou por alguns anos, visitando a Inglaterra de vez em quando. Faleceu em 1868 com noventa anos de idade.

Em 1831 os Metodistas Cristãos da Bíblia adotaram uma

constituição muito semelhante à da Nova Igreja Metodista. Dedicaram-se à tarefa de ganhar almas para Cristo e aperfeiçoar-se na santidade de vida e no termo de Deus.

5 4 . A s I g r e j a s Me t o d i s t as L i v r e s e Un idas . Por quase trinta anos houve controvérsias nos arraiais

metodistas sobre a política da Igreja. A contenda que Kilham levantou em 1791 sobre a parte que os leigos deveriam ter no governo da Igreja continuou a perturbá-los.

Eram dois os princípios em choque: o princípio advogado

pelos clérigos e o princípio defendido pelos leigos. Os clérigos insistiam em que toda autoridade na Igreja ficasse em suas mãos; os leigos queriam que ela fosse repartida entre leigos e clérigos. Havia um pequeno grupo que queria que o governo da Igreja ficasse somente nas mãos dos leigos e que os pastores fossem admitidos e despedidos pela igreja local (ou seja, defendiam o sistema congregacional). Este era o elemento extremado.

Podemos dizer em outras palavras que os clérigos queriam

proteger o sistema itinerante enquanto os leigos queriam participar na administração da Igreja.

Estando toda a autoridade concentrada nas mãos dos pregadores, havia necessidade de uma reforma qualquer na Igreja. Para conseguir essa reforma houve lutas, contendas e separações.

As Igrejas Metodistas Livres e Unidas são o resultado de

diversos grupos de metodistas que saíram da Igreja Metodista wesleyana por um motivo ou outro, mas principalmente devido a política da Igreja.

Os elementos componentes das Igrejas Metodistas Livres e

Unidas são os seguintes: Os metodistas Protestantes (1827) e a Associação dos Metodistas wesleyanos (1835).

A origem dos Metodistas Protestantes se deve a uma

contenda que se deu entre os depositários da Brunswick Wesleyan Chapel, em Leeds, e a maioria dos líderes, membros e pregadores locais da zona, a respeito da instalação de um órgão na capela. O órgão foi instalado com a aprovação da Conferência Anual, mas contra a vontade de diversos membros, leigos e clérigos. Houve muita discussão e contenda sobre a inovação e a maneira em que foi permitida a instalação do órgão. O resultado final foi que muitas pessoas se retiraram da Igreja. "O órgão de Leeds", disse alguém, custou mil libras e mil membros". Esse grupo de pessoas formou o núcleo dos Metodistas Protestantes.

A questão do órgão provocou agitações em outras partes

da Igreja. Provocou discussões em toda Igreja Metodista wesleyana. E o resultado final foi que muitos membros foram expulsos da Igreja e que outros saíram e formaram um grupo que tomou o nome da Associação dos Metodistas wesleyanos. Este grupo aceitava as doutrinas, ritos e instituições metodistas, mas dava liberdade às zonas e igrejas locais e permitia representantes leigos nas Conferências.

A Associação dos Metodistas Wesleyanos desenvolveu-se

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rapidamente, mais pela filiação de outros grupos de metodistas descontentes do que em resultado de conversões. Em 1836 o grupo dos metodistas protestantes e os metodistas independentes de Scorbrough filiaram-se à Associação dos Metodistas Wesleyanos e, no ano seguinte, o grupo dos Metodistas Arminianos. Assim, mais de oito mil membros da Igreja Metodista wesleyana saíram para formar o grupo da Associação dos Metodistas Wesleyanos. Em 1839 esse grupo de metodistas constava de 28.000 membros com 600 capelas. Essa Associação continuou a progredir e desenvolver-se até 1857, quando se uniu às Igrejas Metodistas Livres e Unidas.

Como se efetuou a união e quais foram os seus resultados,

diremos, citando o historiador Jorge Eayrs: "Pela reunião anual de delegados e pela

assembléia anual da Associação (1855) foram adotadas as bases da união e os representantes de ambas foram autorizados a completá-la. Isso se deu em Exeter Hall, em Londres, a 14 de maio de 1857. A comunidade unida realizou sua primeira assembléia na capela de Baillie Street, na cidade de Rockdale, em 29 de julho de 1857. O nome adotado foi Igrejas Metodistas Livres e Unidas. Everett foi eleito presidente e Eckett, secretário. O número completo de membros era 39.968, com 110 pregadores e 769 capelas. Dos reformadores eram 19.113 membros, 500 capelas e diversos pregadores. O processo de amalgamação e o aumento continuaram por alguns anos com um evangelismo agressivo, assinaladamente reconhecido por Deus, continuou a aumentar o número de membros. Em 1862 havia 60.880 membros, 8.229 candidatos à profissão de fé, 3.715 guias de classes, 2.871 pregadores locais, 211 pregadores itinerantes, 965 capelas, 394 casas de oração e 122.320 alunos na escola dominical. O "Título de Fundação da Associação" foi aprovado como o da Igreja Unida. Mateus Baxter foi presidente da Associação no ano anterior à união e prestou bons serviços por sua

versatilidade, tática e força como editor durante aqueles anos críticos (1854-1860). Junto com Everett, Baxter reparou para as igrejas um hinário, que serviu até ao ano de 1889. Depois, como as dificuldades legais não permitissem o uso do hinário Wesleyano, foi publicado um novo hinário, preparado por uma comissão. A venda de 70.000 exemplares do novo hinário em seis meses, demonstrou a necessidade do livro e também sua excelência”.

"Paciência, tática e recursos em alto grau foram exigidos

para consolidar as velhas organizações e as partes novas, espalhadas, numa construção consistente. Se em pouco tempo já não era possível distingui-los, foi porque aqueles que tinham movido a divisão se dedicaram à obra da construção. A colher do pedreiro tomou o lugar da espada. Entre tais devem ser mencionados Jose Massingham, Jose Chicpchas, Jorge Guilherme Harrison, Guilherme Gandy e Hildrett Kay. João Benson, de New Castle-on-Thyne, também ajudou muito”.

“Como Kay fosse prematuramente à etern idade

chamado, sua v iúva , uma mãe em Is rael, continuou o serviço dele e a sua filantropia generosa, por mais uma geração. Às vezes parecia que o tempo gasto em manter o equilíbrio, o conexionalismo (connexionalism) e a independência da zona absorvia tempo e força preciosos para tarefas mais importantes. De vez em quando, nos primeiros; dias, o ministro era mencionado como agente pago e as bênçãos de Deus pedidas sobre "nosso servo, teu ministro". Foram precisos cinqüenta anos para extirpar o medo da "autocracia" da Conferência e do clero. Muitas vezes o respeito e o amor pelo ministro, como indivíduo e como homem de Deus, resultavam em reconhecimento do seu ofício, colocando-o como Primus inter pares, e era altamente apreciado em amor pelo seu trabalho. A ligação tornou-se afetiva, a Conferência

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Anual tinha direção real. A consolidação foi favorecida pelo fato de que a alguns ministros se permitiu ficar mais de que três anos no mesmo lugar. Nisto a Associação e o corpo unido anteciparam as modificações da itinerância que a Igreja mãe (Igreja Metodista wesleyana) efetuou mais tarde em alguns anos.”

"O estabelecimento de uma comunidade liberal de

metodistas não foi o único resultado dessa agitação. O dr. Rigg acreditava que ela "ensinou à Igreja Metodista wesleyana e particularmente à Conferência, uma lição do mais alto alcance". Além disso como as guerras e brigas dos dias de Cromwell e os sofrimentos de Bunyan e Baxter finalmente conseguiram uma revolução pacífica e as liberdades firmes de 1688, assim também essas contendas estimularam interesse mais profundo na temperança, nas notícias publicadas` dos atos da Conferência e na liberdade gozada pela imprensa. Não devemos deixar de acrescentar uma palavra a este esboço a respeito das soluções e amizades produzidas no correr dos anos. Bunting sentiu que esses acontecimentos tristes nos deram sabedoria e que tais acontecimentos não serão repetidos. Na oc as ião da s u a C o n fe r ênc ia Ec u mê n ic a , e m Londres, em 1881, Griffith recebeu agradecimentos de alguns pelos esforços que tinha feito para introduzir reformas havia já mais de trinta anos. Ali, também, ele e Osborn encontraram-se, apertaram as mãos e derramaram lágrimas, lembrando-se de dias passados e tristes. Dunn entregou a Hugh Price Hughs, então com vinte e seis anos de idade, a tarefa de sanar o rompimento de relações. Numa crise de sua própria vida pensou em passar para uma das novas Igrejas Metodistas, com o fim de uni-las e, depois, pedir unificação com a Igreja mãe, de modo que todas fossem uma. Seu jornal semanal pugnou pela liberdade cristã e o sentimento de fraternidade entre os

metodistas e a sua reunificação tornou-se o propósito da sua vida" (Townsend et al, vol. I, ps. 537-539).

55. O desenvolvimento do trabalho metodista desde 1857 até 1908.

A Nova Igreja Metodista durante cinqüenta anos, entre 1857 e

1908, se desenvolveu normalmente. Deu muita ênfase à educação ministerial. Acumularam-se fundos para esse fim. O trabalho de evangelização foi conservado. Homens, como Guilherme Booth, Lockwood e Williams, levaram avante essa parte do trabalho. Fizeram-se algumas alterações na constituição para acomodá-la às condições da atualidade. Celebrou-se o primeiro centenário da Igreja de 1897. Levantaram-se então cem mil libras (Cr$ 90.000.000,00) para fins locais e dez mil duzentos e cinqüenta libras (Cr$ 10.250.000,00) para o trabalho geral.

Os Metodistas Cristãos da Bíblia cresceram rapidamente.

Sofreram oposições e perseguições, contudo continuaram a desenvolver-se. "Billy" Bray era homem típico dentre os vários obreiros, cujas palavras adornaram o Evangelho e enriqueceram a literatura metodista. Era, a princípio um mineiro, lascivo e ébrio. Lendo as "Visões" de Bunyan, f icou profundamente impressionado e tão mudado pela conversão que dizia: "Dizem que eu sou louco, mas querem dizer que sou alegre". Por quarenta anos seu corpo ágil se movimentou em Cornwall, cantando, orando, gritando, pregando o Evangelho e a proibição de bebidas alcoólicas não se incomodava com a pobreza ou dificuldade e declarou que, quando levantava um pé, parecia dizer "glória" e, quando levantava o outro, em seguida, parecia dizer "amém". Fazia como os frades: raramente tomava, nas pregações, um texto, mas as começava com o verso de um hino ou uma história. Meio milhão de exemplares da sua "Vida" foram vendidos e várias as línguas para as quais foi ela traduzida" (Townsend et al,

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vol. I, p. 543). As Igrejas Metodistas Livres e Unidas têm manifestado

espírito de evangelismo e dedicação à temperança e aos melhoramentos sociais. Têm dado importância à preparação de diaconisas e pregadores. Os líderes de maior destaque são Richard Chew, Marmaduke Miller, H. T. Mawson e A. J. Duckworth. O crescimento tem sido firme e progressivo.

56. A igreja Metodista Unida (1907). A Igreja Metodista Unida é o resultado da fusão das três

Igrejas mencionadas neste capitulo: a Nova Igreja Metodista, a Igreja dos Metodistas Cristãos da Bíblia e as Igrejas Metodistas Livres e Unidas. Como já foi narrado, todas estas três Igrejas saíram da Igreja Metodista Wesleyana, separadamente, em épocas diferentes, movidas pelos mesmos motivos. Portanto, não foi difícil concordarem elas num plano de unificação. Por quatro anos se preparou o terreno para a consumação desse ato. Todas as três Igrejas iam bem no seu trabalho; não havia outros motivos entre elas, senão desejo de unificar as suas forças e trabalhar juntas na seara do Senhor. Todos os passos civis e eclesiásticos foram tornados antes da reunião unificadora, que se deu na cidade de Londres, na capela de Wesley. A Igreja mãe convidou as três Igrejas para efetuar a reunião na igreja onde Wesley pregou por tantos anos e que era o Centro do Metodismo britânico.

A constituição que adotaram é a seguinte: Pela constituição a

Conferência trimensal se compõe dos ministros, pregadores locais, oficiais da paróquia, ecônomos das igrejas e representantes das igrejas, das escolas e das associações de empresas. Em todas as ações jurídicas locais o pregador superintendente, ou seu representante, ocupará a presidência, fazendo-se provisão contra o absolutismo ministerial. A

Conferência distrital consistirá dos ministros, representantes gerais residentes nos distritos, um ecônomo de cada paróquia e representantes leigos igual em número a todos os outros oficiais. A Conferência distrital elegerá delegados, clérigos e leigos, à Conferência Anual, em igual número. Esta Conferência suprema nomeará também vinte e quatro curadores, ou representantes legais, com mandatos de seis anos. Serão nomeados ministros e leigos, como curadores em número igual, tanto pela Conferência distrital como pela Conferência Anual, para formarem a comissão de nomeação de ministros. O prazo de quatro anos será o limite do pastorado, que deve ser renovado anualmente, podendo se estender esse prazo até sete anos, com a votação de dois terços da Conferência trimensal e, ainda por mais tempo, com a votação da Conferência Anual. A constituição poderá ser revista de dez em dez anos, se as alterações propostas forem aprovadas pelas Conferências trimensais e pela Conferência Anual, por dois anos consecutivos.

Para ser membro nesta Igreja, era exigida uma experiência

baseada em "Arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo evidenciados pela vida, e pela participação da santa ceia, juntos à pratica da comunhão cristã, como está providenciada nas reuniões das classes ou meios de graça e ordenanças cristãs, que podem ser reconhecidos de tempos em tempos na Igre ja Metodista Unida" (Townsend et al, vol. I, ps. 550-551).

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CAPÍTULO XVIII

AS IGREJAS METODISTAS INDEPENDENTES E

A IGREJA METODISTA PRIMITIVA.

57. As. Igrejas Metodistas Independentes. Alem dos três partidos que se manifestaram na Igreja

Metodista Wesleyana logo após a morte de Wesley, havia mais um elemento entre os metodistas que era comum a todos os partidos e conhecido como "revivalism" ou espírito de avivamento. Esse é o termo conhecido e usado entre os metodistas, não para designar um partido, mas para definir o temperamento e a tendência encontrados no sentimento emocional e agressivo do Metodismo no princípio do século dezenove.

Em certos pontos da Inglaterra esse espírito de avivamento

se manifestou mais do que em outros. Isto se deu nas cidades de Sheffield, Halifax, Leeds e Manchester.

Em Manchester) em 1806, havia um grupo de crentes

chamado "Band-Room Methodist", metodistas que realizavam cultos em casas particulares. Esse grupo não quis submeter-se à autoridade dos pregadores metodistas e fazer parte do movimento geral. Por isso as autoridades tomaram a seguinte resolução:

"Por alguns anos alguns dos nossos membros e diversas sociedades têm revelado a disposição de assumir o nome de "revivalistas ou "revif icadores", mas o desejo de conservar a união dos metodistas nos leva a impedir, com cuidado, todas as distinções que tendam a

desenvolver entre nós o espírito partidário" (Townsend et al, Vol. I, p. 556). Sem dúvida os "revificadores" eram zelosos, mas revelavam

espírito independente, crÍtico e censura. Aqui se manifestam duas forcas, ambas trabalhando

para o bem-estar da Igreja: a autoridade, procurando dirigir a boa ordem e a unidade da Igreja e a força dinâmica e vital da Igreja, lutando pela liberdade de ação. Para os "revificadores" a salvação de almas vale mais do que a boa ordem da Igreja. As duas coisas são necessárias; um movimento sem ordem e disciplina não pode ter bom êxito final.

Mas esse espírito de avivamento encerrava germe da vida.

Os "revificadores". conservaram o espírito de evangelismo entre o povo: apareceram diversos grupos dos quais alguns permaneceram. Ao menos duas Igrejas metodistas devem a sua origem aos "revificadores", os Metodistas Independentes e os Metodistas Primitivos.

Em 1796 existia na cidade de Warrington uma sociedade

metodista. Esta sociedade ficou separada das outras por sua situação geográfica. Os pastores não pod i a m v is i tá - la r egu l a rmen te , po r i s s o os me mbros assumiram a direção do trabalho e não se queixavam do seu isolamento. Os cultos eram realizados em casas particulares e o foram por muito tempo. Em 1796 as autoridades da Igreja Metodista Wesleyana lhe ofereceram auxílio, prometendo enviar-lhe um pregador. Mas não quiseram aceitá-lo. Passaram-se mais quinze anos sem que se mandasse um pregador para lá. Proibiu-se que os cultos continuassem em casas particulares. Um grupo recusou obedecer à ordem e foi excluído da sociedade. Mas continuou com seus cultos, cuidando de si mesmo.

Nessa época apareceu entre esse grupo um homem

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chamado Pedro Phillips (1778-1853), que se tornou seu chefe. Pedro Phillips era homem piedoso e exercia a profissão

de marceneiro, em Warrington. Desde os dezessete anos de idade se dedicava ao estudo da Bíblia. Estudou o Novo Testamento e chegou à conclusão que os pregadores não deviam receber ordenados, mas trabalhar como os demais membros. Esta idéia ainda prevalece na Igreja Metodista Independente. Phillips pregou o seu primeiro sermão em 1801 e por mais de cinqüenta anos continuou a pregar o Evangelho, tendo viajado mais de quarenta mil quilômetros nas suas viagens pastorais.

Os quaqueres fi liaram-se aos metodistas

independentes nessa região. E o povo os taxou de "metodistas quaqueres" e "quaqueres cantores". Mas o nome "metodistas quaqueres" foi o que vingou.

Como havia mais grupos.de metodistas independentes

e isolados, sentiam a necessidade de se filiarem uns aos outros. Consultaram entre si e chegaram à conclusão que seria bom tentar uma federação. Convocou-se uma Conferência em 1806. Diversos grupos, incluindo o de Warrington, tomaram parte na Conferência. O nome de metodistas independentes foi adotado para sua federação. Esse nome continuou até 1833, quando tentaram mudá-lo para "Igrejas de Cristo Unidas", e até 1841, quando de novo tentaram mudá-lo para "Igrejas Evangélicas Livres e Unidas". O nome Igrejas Metodistas Independentes permaneceu. Em 1898, tinham 9.614 membros e foi reconhecida como um dos ramos do metodismo ecumênico. Possuem uma casa publicadora, editam seus jornais e têm missões na Índia.

58. A Igreja Metodista Primitiva. A Igreja Metodista Primitiva é um dos ramos

florescentes do Metodismo britânico. Fundou-se em 1811 pela fusão dos metodistas do culto de acampamento com os metodistas clowesitas. Ambos os grupos eram fruto dos ' ‘revificadores" que persistiram dirigindo cultos em casas particulares e na promoção de cultos de acampamento. Mas no fundo tanto os cultos em casas particulares como os cultos de acampamento eram, por sua vez, fruto do desejo de liberdade em adorar a Deus e usar métodos e modos variáveis.

A história da Igreja Metodista Primitiva divide-se em

cinco períodos: 1° período de formação (1800-1811); 2° período de missões nacionais (1811-1843); 3° período de transição (1843-1853); 4° período de distrito e consolidação (1853-1885); 5° período em que uma federação se tornou numa Igreja

(1885-1908).

1° Período de formação (1800-1811). Em 1800, um carpinteiro, Hugh Bourne, fixou residência em

Mow Chop, lugar sem religião e sem moralidade, para trabalhar em sua profissão. Nasceu em 1772 e se convertera, lendo bons livros. Tímido por natureza, mas persistente adotou o método dos "revificadores" e falava pessoalmente com outros acerca da sua salvação. Lembrou-se do seu primo, o mineiro Daniel Shubotham, e falou com ele sobre relig ião us ando o tex to do Ev angelho de São João 14:21 c omo base da s ua pa lestra. Terminando sua conversa, deixou com ele por escrito a história da sua conversão. Em pouco tempo seu primo também se converteu, e em seguida se converteu outro mineiro. Estes três tornaram-se evangelistas "revificadores" e muitas almas, por eles, se converteram ao Senhor. E deu-se um despertamento em Mow Chop.

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A pregação por meio de conversações e cultos religiosos realizados em casas particulares foi o método mais usado. Os cultos não podiam durar mais de hora e meia. Às vezes o povo queria que o tempo dos cultos fosse prolongado, mas o guia Shubotham sempre se recusava a isso, dizendo que havia de realizar-se um culto de um dia inteiro, no morro de Mow Chop, quando então todos poderiam orar até tanto quanto quisessem.

Shubotham ofereceu um lote de terreno no canto do seu

jardim para a construção de uma capela. Bourne começou logo a construir a capela. Custou muito sacrifício completá-la. Organizaram-se classes. Bourne tornou-se pregador e o trabalho se desenvolveu. Entrou mais um obreiro, Guilherme Clowes. Clowes era oleiro e antes da sua conversão entregara-se aos prazeres do mundo. Mas, quando se converteu, tornou-se cristão fervoroso. Pagou as suas dívidas, corrigiu seus defeitos e tornou-se um grande evangelista.

O trabalho estendeu-se até Harriseahead. Um dia

apareceu na Inglaterra um metodista americano, Lorenzo Dow. Pedro Phillips, em 1805, ouviu Lorenzo Dow pregar em Liverpool. Gostou da pregação e o convidou para vis itá-lo em Warrington. Ele aceitou o convite, foi e contou muita coisa a respeito do avivamento na América, promovido por meio dos cultos de acampamento. Tais cultos, na Inglaterra, eram novidade.

Lorenzo Dow era homem esquisito. Pálido, cabelo comprido,

de fala estranha e de costumes diferentes do dos ingleses. Era um dos itinerantes que iam aonde queriam e quando queriam. Viajou muito nos Estados Unidos, no Canadá, na Inglaterra e na Irlanda. Foi por meio dele que os cultos de acampamento se introduziram na Inglaterra. Por onde passava, falava a respeito dos cultos de acampamento que se originaram e se praticavam nos Estados Unidos, em 1799. Deixou com os

metodistas de Harriseahead um folheto — "Defesa dos Cultos de Acampamento". Esse fato se deu em abril de 1807 e em maio os ingleses realizaram seu primeiro culto de acampamento. Em 1818, quando Lorenzo Dow visitou outra vez a Inglaterra, escreveu no seu Diário o seguinte: "

“Quando eu estive da outra vez neste país, falava-se da

realização de um culto no morro de Mow Chop e eu me senti inspirado a falar acerca da origem, do progresso e dos resultados dos cultos de acampamento na América. Isto calou na mente do povo que queria um avivamento e, de acordo com as combinações já feitas, resolveu-se passar um domingo inteiro em oração, pedindo o derramamento do Espírito Santo, o que antes se tinha procurado fazer, mas não fora possível". (Townsend et al, Vol. I, p. 565). O primeiro culto de acampamento foi realizado em 31 de

maio de 1807, no morro de Mow Chop. Assim o povo teve a satisfação de passar um dia em oração. Foi tão satisfatório que resolveu promover outro em Harriseahead. Mas houve muita oposição da parte dos oficiais civis, que alegaram que era contra a lei. Porém essa dificuldade foi finalmente removida e mais cultos de acampamento se realizaram com bons resultados. O trabalho cresceu, o número de membros aumentou e sentiu-se a necessidade de casas de cultos.

2° Período de Missões Nacionais (1811-1843).

Foi nesse período que o movimento tomou o nome de Metodistas Primitivos. O trabalho se desenvolvia gradualmente. Havia entre os guias de classe duas opiniões quanto ao plano de desenvolvimento. Alguns achavam que deveriam ir devagar e consolidar bem o trabalho no território já conquistado, enquanto que outros achavam que deveriam avançar e conquistar mais territórios e consolidar o trabalho depois. A segunda opinião

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prevaleceu e a campanha para estender o território foi chefiada por Hugh Bourne. Os obstáculos e as dificuldades de dentro e de fora dos seus arraiais foram vencidos e o trabalho prosperou. Novos centros foram organizados; novas zonas, ocupadas; novos membros arrolados; e novas casas de oração, construídas.

Os missionários sofreram perseguições, porém a causa

avançou e o trabalho progrediu. Fundou-se uma casa publicadora. Publicaram-se livros e revistas. O trabalho chegou em seu desenvolvimento a tal ponto que se organizou uma Conferência. Realizou-se a primeira Conferência em 1820. Compunha-se de delegados eleitos pela Conferência distrital, sendo dois delegados leigos para cada pregador. Tomaram-se as medidas necessárias para legalizar suas propriedades e a sua constituição.

Outras zonas, como a de Hull, foram depois organizadas. O

progresso alcançado correspondeu ao esforço despendido pelos trabalhadores, orientados pela sabedoria do seu trabalho árduo.

Os anos de 1825 a 1828 são conhecidos como anos de crise.

O trabalho tinha se desenvolvido bem até essa data. Então começou a parar. Poucos membros novos foram conquistados durante esse período. Uma das causas principais de tudo isso fo i a falta de coordenação de esforços. A independência e a liberdade das igrejas locais prejudicavam a administração geral. Algumas zonas ficaram endividadas e não havia cooperação nas coisas vitais e de interesse geral. Custou a corrigir esses defeitos. Mas, depois de centralizar mais a autoridade nas mãos dos que zelavam dos interesses gerais, começou o trabalho a progredir de novo e a crise passou.

As mulheres trabalhavam como evangelistas e pregadoras.

Elas conseguiram abrir trabalho onde os homens não poderiam ter feito, por causa das perseguições. As mulheres pregadoras eram mais respeitadas pelos motins do que os homens. Maria Porteous e Elizabeth Smith podem ser comparadas com qualquer homem do tempo pela eficiência, pela habilidade e pelos resultados do seu trabalho.

3° Período de' transição (1843-1853). Em 1842 Bourne e Clowes, os dois dos guias principais,

foram aposentados e outros tomaram seus lugares. O trabalho tinha se desenvolvido a tal ponto em que exigia alterações. João Flesher, que sucedeu a Bourne, como editor, resolveu mudar a casa publicadora de Potteries para Londres. Também organizou a Comissão Geral de Missões. Tudo que recomendou a respeito dessas alterações, foi aprovado pela Conferência de 1843. Tomaram-se outras medidas para centralizar a administração geral da Igreja. Gradualmente os interesses locais foram harmonizados com a fiscalização da Conferência distrital. Por experiência a Igreja descobriu a política mais acertada para a sua administração.

Foi nessa época que a obra missionária se estendeu para

países estrangeiros. Foram enviados missionários para a Austrália e para a Nova Zelândia. Essa obra foi iniciada para atender aos pedidos de metodistas ingleses que tinham emigrado para estes lugares. O espírito missionário é tão largo como o mundo e o universo.

4° Período do distrito e consolidação (1853-1885). A morte de Clowes e de Hugh Bourne deixaram buracos

nas f i le iras minis ter ia is da Igre ja. João Flesher, depois de consolidar as atas e publicar o novo hinário, aposentou-se.

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Apareceram no cenário novos guias para continuarem o trabalho. Havia necessidade de modificar a política da Igreja quanto aos distritos. Em 1824 havia quatro distritos, a saber, de Tunstall, Nottingham, Hull e Sunderland. Em 1842 havia mais três distritos, de Norwick, Manchester e Brinkworth. Foram depois criados mais três, o distrito de Leeds (1845), o de Bristol (1848) e o de Londres (1853). Havia, portanto, no começo deste período, dez distritos.

No princípio deste período os distritos eram os centros

vitais da administração da Igreja. Cada distrito zelava dos interesses que estavam dentro dos seus limites, nomeava os pastores dentro do seu território e leigos e clérigos podiam tomar parte nos seus trabalhos. Havia mais interesse no que se fazia na Conferência distrital do que na Conferência Anual. Mas essa política prejudicava os interesses gerais da Igreja.

Às vezes um distrito grande, forte e de recursos passava

muito bem, enquanto outro distrito pequeno e fraco, lutava com grandes dificuldades.

Havia necessidade de consolidar os interesses da Igreja

na Conferência Anual. Neste período os distritos cederam certas funções e interesses à Conferência Anual. A Conferência Anual podia zelar dos interesses de toda a Igreja e, por ela, o forte podia ajudar o fraco e os pastores eram distribuídos com mais sabedoria pelos lugares onde podiam trazer a maior contribuição ou prestar melhor serviço. A unidade foi melhorada pelas mudanças que se deram nas funções dos distritos. Em 1879 passou uma lei de divisão dos distritos e alteração do número de representantes, de modo que nenhum distrito pudesse ter preponderância na Conferência Anual.

5° Período em que a federação se tornou uma Igreja

(1885-1908).

Durante esse período a federação ou a conexão tomou

feição de Igreja. A terminologia foi igualmente mudada. Onde se podia mudar um termo para pô-lo de acordo com a linguagem eclesiástica, isso se fazia. Realmente, a tendência das coisas neste período era para a simplificação e unidade. A Igreja Metodista Primitiva cessou de ser uma federação de grupos independentes e tornou-se uma Igreja solidificada.

O trabalho missionário aumentou, a obra de ação social

cresceu e a educação ministerial intensificou-se. No fim desta época se promoveu uma campanha financeira destinada a ajudar o trabalho geral da Igreja.

Convém mencionar aqui um fato que se deu no Metodismo

britânico, em 1932. Por alguns anos tinha havido tendência para a unificação de todas as Igrejas metodistas da Inglaterra. O primeiro resultado prático dessa tendência se deu em 1907, quando três Igrejas, a Igreja Nova Metodista, a Igreja Metodista Cristã e as Igrejas Metodistas Livres e Unidas se fundiram na Igreja Metodista Unida.

Depois da unificação dessas três igrejas ficavam ainda três

para se fundirem numa, a saber, a Igreja Metodista Wesleyana, a Igreja Metodista Primitiva e a própria Igreja Metodista Unida. O homem que trabalhou mais do que qualquer outro para este fim, foi um leigo, o sr. Henrique Lunn. A primeira guerra mundial estorvou o movimento de unificação por alguns anos, mas em 1926, 1927 e 1929 medidas unificadoras foram tornadas pelas três Igrejas, as quais foram reconhecidas pelo governo inglês. Em 1932, no Albert Hall, em Londres, foi proclamada, a unificação de todas as Igrejas metodistas britânicas numa só Igreja, que tomou o nome de A IGREJ A METODISTA UNIDA. Assim o povo que se chama metodista ficou unido mais uma vez, como o fundador desejava que sempre fosse.

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CAPÍTULO XIX

O METODISMO NA IRLANDA E NA EUROPA

59. O Metodismo na Irlanda. As verdades evangélicas foram ignoradas quase

completamente pelo povo irlandês até a invasão da Irlanda pelos metodistas em 1747. Desde os dias de são Patrício os irlandeses têm sido dominados pelo Catolicismo. Os ingleses, por motivos políticos, procuraram introduzir o Protestantismo na Irlanda. Mas os irlandeses plebeus resistiram às tentativas dos ingleses para evangelizá-los por meio da Igreja Anglicana, representada por párocos seculares, incompetentes e, na sua maioria mundanos.

Na primeira vez que Wesley visitou a Irlanda, convenceu-se

do erro que os ingleses estavam cometendo para conquistá-la para Cristo. Notou que noventa e nove em cem dos irlandeses continuavam na religião dos seus pais e que os protestantes residentes em Dublin e em outras partes vieram, quase todos, da Inglaterra ou da Escócia. E conclui:

"Não é de admirar que quase todos os que nascem papistas, vivem e morram como tais, enquanto os protestantes não acharem um meio melhor para convertê-los do que leis penais e atos de parlamento" (Townsend et al, Vol. II, p. 4). O Romanismo conservou o povo na ignorância e na

superstição. As condições morais e sociais na época em que lá os metodistas iniciaram seu trabalho eram péssimas. Imoralidade, brutalidade e indolência caracterizavam a vida do

povo. Além disso, a situação política era triste, os irlandeses estavam divididos, e a autoridade inglesa prevalecia na ilha. O deismo e o ateísmo eram propagados com a intenção de acabar com a fé cristã e a Bíblia. Por conseguinte, o meio em que os metodistas foram trabalhar era difícil, embora a necessidade do povo fosse grande. O povo estava em trevas espirituais, explorado religiosa e politicamente. O campo, como Samaria no tempo de Cristo, estava "branco para a ceifa".

Como já falamos do trabalho metodista na Irlanda em outro

lugar, não queremos repetir as mesmas coisas aqui, contudo acrescentaremos algo que nos parece importante.

Guilherme Morgan, irlandês, colega de Wesley na

Universidade de Oxford, foi o primeiro metodista a pregar na Irlanda. Visitou-a pela primeira vez, para pregar o Evangelho, em 1747. Por algumas semanas trabalhou com êxito, em Dublin. Relatou a Wesley o que fizera. Wesley resolveu visitar a ilha e, em agosto, chegou a Dublin, onde ficou por algumas semanas, pregando e assistindo às classes metodistas. Ficou bem impressionado com o trabalho. Logo depois, Carlos Wesley e Carlos Perronet visitaram a Irlanda, onde também pregaram e fizeram bom trabalho. O povo, de princípio, apreciou o trabalho metodista e muitos se converteram e entraram nas sociedades. Mas em pouco tempo os párocos anglicanos e os padres católicos levantaram perseguição contra os metodistas. Tumultos e motins explodiram em Dublin e noutras cidades, especialmente em Cork. Os metodistas sofreram perseguições e injustiças por algum tempo, mas finalmente conseguiram implantar o Evangelho na Irlanda.

Apesar de sofrer perseguições e oposições, brutalidade e

injustiças, o trabalho progrediu. Os itinerantes o estenderam em todas as direções, para o sul, para o oeste e para o norte. Ao termo de quarenta anos havia 65 pregadores, 82 casas de oração e 1.400 membros. Em quase todas as cidades, vilas e

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arraiais se encontravam grupos metodistas. Muita gente dentre os católicos se converteu a Cristo. Alguns dos obreiros mais notáveis nos anais da história metodista foram irlandeses, tais como Tomaz Welch, Guilherme Lull, Tomaz Jones, Samuel Simpson, Adão Clarke, Guilherme Thompson, Henrique Moore e James McDonald. João Wesley testificou que “não conhecia benfeitores iguais aos metodistas irlandeses".

Durante a v ida de João Wesley houve major contato

entre os metodistas ingleses e os irlandeses. Mas depois da sua morte, estas comunicações diminuíram e, quando o dr. Coke faleceu, elas cessaram quase por completo. Era desejo de alguns que houvesse intercâmbio de pregadores entre ingleses e irlandeses, mas, por falta de recursos para custear despesas de mudanças, isso não foi realizado. Sem dúvida, teria sido boa política, se fosse feito.

Houve uma divisão entre os metodistas da Irlanda acerca

dos sacramentos e da representação dos leigos nas Conferências distritais e mais de trinta membros foram excluídos. A Nova Igreja Metodista em 1799 reconheceu e assumiu este grupo, que subira a mais de duzentos membros. Em 1825 se estabeleceu uma missão na Irlanda. Mas em 1903 a Igreja Metodista da Irlanda fez uma combinação com a Nova Igreja Metodista para se unirem. A Nova Igreja Metodista recebeu quatro mil libras pelas propriedades que possuía na Irlanda. Desde essa data existe uma só Igreja Metodista na ilha, exceto poucas sociedades da Igreja Metodista Primitiva.

No princípio o método do trabalho era missionário, logo

mais era missionário e pastoral e agora é pastoral e missionário. Tem agora sustento próprio e os pastores fazem seu trabalho e ainda levantam fundos para o trabalho missionário. Havia, na Irlanda, lugares atrasados e abandonados, quando os metodistas entraram. Wesley soube de um lugar abandonado no condado de Douegal.e mandou cinco

libras para Mateus Stewart iniciar o trabalho naquele local. Stewart começou logo a obra, mas teve de enfrentar lutas formidáveis. Dependia da hospitalidade do povo, quanto à sua hospedagem. Ficava contente, quando achava, no fim do dia, onde podia repousar a cabeça

Assim descreve ele sua experiência:

"Ao chegar, encontrei no fundo da casa a toca da bigorna e o fole. Faltava parte do teto. Não havia espaço nem cama. Só achei dois ou três tamboretes. A mulher da casa, que se apresentava suja, enxugou um prato com as fraldas do vestido, foi a um caixote preto, tomou um bocado de fubá, botou-o no prato, despejou leite de um jarro rachado sobre ele e mo deu. A congregação, quando se reuniu, não sabia se devia ajoelhar ou ficar em pé. Enquanto eu orava, alguns conversavam na língua irlandesa e a maior parte tagarelava. Parecia-me que não entenderam coisa alguma do que eu dissera. Quando anunciei meu texto — "Eis o Cordeiro de Deus, etc." — os ouvintes julgaram que eu mesmo fosse o "Cordeiro de Deus" e combinaram matar-me antes de eu deixar a sua terra" (Townsed et al, Vol. II, p. 13).

Mas, apesar de tais condições e dificuldades muitas almas

foram salvas e a causa de Cristo triunfou entre os irlandeses. O número de membros aumentava gradualmente, mas grande número de irlandeses também emigrou para a América e entre eles não poucos metodistas.

Em 1816 a Conferência Anual resolveu permitir aos

pregadores administrar os sacramentos nas sociedades metodistas. Esta ação causou divisão entre os metodistas irlandeses e mais de 7.000 membros se retiraram da Igreja. Levantou-se logo a questão das propriedades, pois os dois grupos reclamavam direito a elas. Entraram em litígio e o tribunal

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decidiu a favor da Conferência Anual. Esta div isão continuou por cerca de sessenta anos, quando, em 1878, os dois partidos entraram em acordo e o Metodismo irlandês ficou unido sob o mesmo pendão.

O Metodismo na Irlanda chegou ao apogeu em 1844.

Nesse ano havia 50.000 membros nos dois ramos do Metodismo, o maior número que já se alcançou. Nessa época apareceu nas batatas uma praga que foi um desastre para o país. Milhares de irlandeses emigraram para outros países. A população da ilha, que era de 8.250.000 habitantes em 1841 estava reduzida a 4.500.000 em 1901. A metade do povo deixou o país e, entre os emigrantes, estava grande número de metodistas. Em vez de 50.000 membros, em 1860 havia mais ou menos a metade. Em 1908 a estatística acusava: 18.883 membros, 246 ministros, 697 pregadores locais, 1.107 oficiais e propriedades no valor de Cr$ 59.447.340,00.

O desenvolvimento da constituição da Igreja Metodista

Irlandesa foi gradual, como se deu em outras partes. A primeira Conferência Anual realizou-se em 1752, na cidade de Limerick. Wesley presidiu-a, como fez, depois, por muitos anos, até que comissionou o dr. Coke para presidi-la. Nos dias de Wesley as nomeações dos pregadores eram feitas por ele e, depois dele, eram feitas pela Conferência Anual, por meio de uma comissão. Cada distrito nomeava um membro como seu representante para fazer parte da comissão de nomeações. Dois dias antes da reunião da Conferência Anual essa comissão de nomeações se reunia e fazia um plano de nomeações dos pregadores para o novo ano, para ser aprovado ou emendado pela Conferência Anual.

Os leigos não tiveram parte na administração da Igreja até

1812, quando este privilégio lhes foi concedido. As finanças receberam atenção da Conferência desde o

princípio. Os pregadores eram pagos, de acordo com uma tabela estabelecida e alterada de tempos em tempos. Como os irlandeses não podiam sustentar todos os seus pregadores, os ingleses os ajudaram por alguns anos, até que pudessem assumir essa responsabilidade. Fez-se provisão para os filhos e para as viúvas dos pregadores. Também se estabeleceu um fundo para auxiliar os pregadores jubilados e aposentados.

Campanhas financeiras especiais têm sido feitas no correr

dos anos para ajudar a manter e estender o trabalho. No princípio do século XX se levantaram coletas especiais que renderam mais de Cr$ 4.734.000,00. Foi a oferta mais liberal que os metodistas irlandeses já fizeram, considerando seu número e suas posses.

A Igreja Metodista Irlandesa não deixou de empregar

outros meios, além da pregação para desenvolver e estender seu trabalho dentro e fora do país.

A escola dominical tem tomado importância vital na obra

do Metodismo da Irlanda. Samuel Bates organizou a primeira escola dominical em 1776. Em 1794 as escolas dominicais foram organizadas em toda parte onde foi possível. A Sociedade de Escolas Dominicais da Irlanda vem funcionando há mais de cem anos. É considerada o departamento mais importante no trabalho da Igreja. Em 1908 havia 352 escolas dominicais, com 2.587 professores e 25.864 alunos.

As sociedades de jovens foram organizadas em

1896.Todo o trabalho feito entre crianças e jovens da Igreja esta sob a direção de uma comissão chamada "Comissão Unida".

O movimento de temperança foi e tem sido francamente

promovido pela Igreja desde a sua organização, em 1829. A

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Conferência Anual de 1830 aprovou uma resolução proibindo "a compra e venda de bebidas alcoólicas, senão em caso de extrema necessidade".

Em 1876 foi nomeada uma "Comissão de Temperança",

composta de clérigos e leigos, "para ajudar na supressão do alcoolismo, e desmoralizador da intemperança". Recomendou-se que os pregadores pregassem sermões sobre o assunto. Os metodistas têm combatido fortemente a intemperança nestes últimos anos. Homens como Tomaz Walsh e Jorge Ousely, levantaram a sua voz contra os vícios do povo.

Os missionários, quando visitavam os lugares mais

abandonados para levar a mensagem de vida àqueles que jaziam nas trevas, enfrentavam toda a espécie de privações. Tiveram experiências, e sentiram a obrigação de repartir o pão da vida com seus patrícios famintos. Eis um dos segredos do bom êxito do seu trabalho.

A Igreja Metodista Ir landesa tem feito o que pode para

socorrer os pobres, especialmente as vítimas indigentes. Também organizou uma sociedade chamada Sociedade Amiga dos Estranhos. Milhares de pessoas têm sido ajudadas por esta Sociedade. Tem escolas para os órfãos e orfanatos para as crianças desamparadas. Já há muitos anos tem se interessado neste trabalho.

Quanto à educação, tem feito alguma coisa. Mantém três

tipos de escolas: escolas primárias, escolas secundárias e seminários teológicos. As suas escolas se comparam favoravelmente com quaisquer outras escolas dos mesmos tipos em todo o Reino Unido.

A influência do Metodismo irlandês está fora de proporção

com a sua força numérica. Quando nos lembramos do grande número de seus membros que têm emigrado para outras

terras e dos homens importantes que trabalharam na Inglaterra nos primeiros tempos do Metodismo e verificamos que a influência indireta e direta que ele tem exercido sobre o povo irlandês, ficamos admirados com a sua missão no mundo.

Logo nos primeiros dias do Metodismo na Irlanda pessoas

come Filipe Embury, Bárbara Heck e Roberto Strawbridge, deixaram o país em busca de terras mais favoráveis, onde pudessem ganhar o pão de cada dia. Sabemos da influência destas três pessoas e de outras na implantação do Metodismo na América do Norte. Também homens, como Lawrence Coughlan, João Stretton, João McGreary, Samuel McDowell, João Remmington e Guilherme Ellis, que introduziram o Metodismo na Terra Nova. Foram irlandeses que introduziram o Metodismo no Canadá.

A influência do Metodismo sobre as outras Igrejas

evangélicas da Irlanda tem sido salutar. Os presbiterianos receberam dele um novo impulso espiritual, logo que João Wesley e seus ajudantes iniciaram seu trabalho no país. As igrejas presbiterianas abriram suas portas a João Wesley, Carlos Wesley, Jorge Whitefield e outros. Muitas pessoas que se converteram ficaram na Igreja Presbiteriana e muitos que já eram membros tiveram novas experiências. Os metodistas foram, pois, uma bênção para a Igreja Presbiteriana da Irlanda. O terreno lá, estava suficientemente preparado, quando os evangelistas, Moody e Sankey realizaram suas campanhas evangelísticas em 1869.

O trabalho missionário não foi desprezado. Bem cedo na

sua vida a Igreja Metodista Irlandesa se lançou na obra missionária. Em 1783 alguns emigrantes irlandeses chegaram à ilha da Antígua e, sob a direcao de dr. Baxter, trabalharam ali entre os negros.

Quando o dr. Coke visitou essa ilha, em 1786, achou mais

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de dois mil membros nas sociedades metodistas. Temos irlandeses enviados missionários para a África, Ceilão e Austrália.

60. O Metodismo na Europa. 1. O metodismo na França. O Metodismo entrou na França por meio das ilhas do Canal,

Jersey e Guemesey. João Wesley se interessou na evangelização dos franceses e mandou Roberto Carr Breckenbury e Adäo Clarke trabalhar nessas ilhas, em 1783. Não podia ter encontrado dois homens mais capazes para tal trabalho naquela época.

Um negociante, João Angel, encontrou um grupo de

protestantes nas vizinhanças de Caen, em 1790, e contou-lhes a sua experiência da graça divina. Uma mulher que o ouvia, disse:

"Por quarenta anos venho sendo perseguida por causa da minha religião, mas eu não sabia, até hoje, qual era a natureza da verdadeira religião" (Townsend et al, Vol. II, p. 41). A afirmação dessa mulher revelou a falta de compreensão

da religião experimental. O Protestantismo oficial da França também precisava de avivamento espiritual.

Vários esforços, de vez em quando, se faziam para

implantar o Metodismo na França, dirigidos por homens bons, tanto ingleses como franceses.

Em 1784 a Conferência nomeou Guilherme Mahy, pregador

local da ilha de Guernesey para administrar aos protestantes da Normandia. Logo depois o dr. Coke e Jean de Quettevalle

tentaram abrir trabalho em Paris, mas quase nada conseguiram. Acharam "que os franceses estavam enamorados demais com a revolução e iluminados demais pela nova filosofia para se incomodarem com as verdades do Cristianismo ou com a salvação das suas almas" (Townsend et al, Vol. II, ps. 41-42).

Guilherme Mahy tinha mais de oitocentos protestantes

sob seus cuidados e o dr. Coke o ordenou para a obra do ministério, antes de voltar para a Inglaterra. Mahy trabalhou desde 1791 até 1808, como missionário na França. Não pode voltar à sua terra durante esse tempo por causa da guerra. Sofreu muito às mãos dos protestantes mundanos e dos oficiais públicos, porque suspeitaram que ele fosse um espião.

Muitas pessoas fugiram da França, no tempo da Revolução

Francesa, e entre elas um súdito britânico, da nobreza, M. du Pontavice, que viajou com o dr. Coke. Converteu-se e voltou em 1802 para ajudar Guilherme Mahy. Trabalhou na Normandia até 1810, quando faleceu apenas com quarenta anos de idade. Nesse tempo os metodistas trabalhavam entre os prisioneiros franceses de Medway e Portsmouth, na Inglaterra. Dois pregadores locais e um católico romano que se converteu, trabalhavam entre eles e, quando terminou a guerra, com a derrota de Napoleão em Waterloo, passaram para a França e lá continuaram seu trabalho entre o povo francês.

Outros obreiros foram enviados, de tempos em tempos,

para continuarem o trabalho na França. Entre eles mencionaremos os seguintes: Carlos Cook, João Lelive, J. Boston e Guilherme Gibson.

Carlos Cook foi enviado pela Conferência Anual, em

1818. Por meio dele mais do que por meio de qualquer outro Deus conseguiu difundir as boas novas na França daquela época. Ele sabia guiar os homens. Assim os ingleses como os franceses

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o reconheciam como o seu chefe em tudo. Era cristão, culto, jeitoso em administrar e aconselhar. Hoje em dia os netos e bisnetos dos seus cooperadores são ministros e diretores do trabalho metodista na França. O grande histor iador Merle d'Aubigne disse:

"A obra que João Wesley fez na Grã-bretanha foi como a obra de Carlos Cook no continente, mas em escala menor. (Twnsend et al, Vol. II, p. 42).

João Leliève se criou no romanismo, no condado da

Normandia. Serviu no exército de Napoleão. Terminada a guerra, voltou para a sua terra, onde se converteu. Entrou no ministério e nele trabalhou por trinta anos. Muitas almas foram convertidas sob o seu ministério e um dos seus filhos espirituais escreveu em francês a Vida de Wesley; que serviu para popularizar o Metodismo na França.

J. Rostan por mais de vinte e cinco anos pregou entre a

população que habitava a zona dos Alpes. Viajou e sofreu muito para poder pregar nas choupanas dos camponeses e nas igrejas dos protestantes. Realizou grande número 'e pregações religiosas.

Guilherme Gibson, ministro do governo inglês em Paris,

ajudou muito o trabalho metodista na França. Deu sua fortuna para se abrirem salas de cultos em diversas cidades da França. Essas salas se abriram nos subúrbios das grandes cidades para atender às necessidades dos operários e dos pobres.

A Conferência da França abriu trabalho no norte da África,

entre os "Kabilers", a raça descendente de Tertuliano e de Agostinho.

Foi difícil enfrentar as despesas do trabalho, pois o povo

francês não tinha muito dinheiro e não sentia necessidade de dar, porque por muitos anos o governo sustentava os ministros com o

produto de impostos. A Igreja Metodista Episcopal da América do Norte abriu

trabalho em 1906, nas cidades de Lyons, Marseilles e outras do sul da França. Os resultados têm sido salutares na vida religiosa do povo.

Os metodistas levaram nova vida para a velha e histórica

Igreja dos huguenotes. Os huguenotes estavam dominados pelo racionalismo, mas o espírito evangelístico tem modificado muito a atmosfera espiritual deles, nestes últimos tempos. Este grupo de protestantes deixou de ser passivo e se tornou muito ativo na vida cristã, social, educativa e política. Por meio das pequenas missões dos metodistas foram introduzidas as escolas dominicais, a Associação Cristã de Moços iniciou seu trabalho, sociedades de temperança e sociedades de jovens se criaram na França. Os metodistas são considerados como elemento agressivo (muito ativo) do Protestantismo na França e a Igreja Evangélica os considera como irmãos. Todas as Igrejas Evangélicas estão trabalhando juntas para livrar o país da ignorância e da superstição.

2. O Metodismo na Itália. A Itália ficou fora do programa do Metodismo até ao

triunfo de Garibaldi, em 1870. Antes do triunfo de Garibaldi, da unificação da Itália e da extinção do poder temporal do papa, os metodistas não podiam abrir trabalho na Itália. Logo depois de 1870 o trabalho metodista começou. Alguns dos ex-soldados de Garibaldi tornaram-se os primeiros ministros metodistas.

Depois da derrota da França, causada pelos alemães, em

1870, a cidade de Roma se abriu para o Metodismo. Ocupou-se

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um hall no princípio, mas em 1877 construiu-se uma igreja bonita, em estilo gótico, com anexos para ministros, loja de Bíblias e cômodos para os soldados italianos. Os prédios metodistas ocupam um quarteirão com lojas e apartamentos que são rendimento para a conservação do trabalho. Também em Nápoles há casa de culto metodista e pregação. Há trabalho em Florença e Palermo. Em cada uma destas cidades existem capelas boas, o povo assiste aos cultos.

Em Spezzia há uma escola freqüentada por mais de trezentos alunos. É muito apreciada pelo governo à vista do alto padrão de excelência que mantém. Também há um orfanato em Pádua. Faz-se trabalho nas vilas e cidades pequenas. Nas Apúlias há uma zona que tem vinte e quatro pontos de pregação.

Existe uma igreja dos militares em Roma, fundada por um

ministro metodista, mas é interdenominacional. Soldados jovens que se convertem ali são mais tarde enviados para vilas e zonas rurais, onde começam o trabalho de evangelização. Desta maneira o trabalho se faz em diversos pontos da Itália.

Os metodistas têm sido perseguidos. Os padres levantam

oposição forte contra eles. Mas a lei civil da Itália tem sido muito justa na proteção dos obreiros metodistas, quando eles apelam para os tribunais italianos. Além da oposição, a falta de casas de oração em muitos lugares tem dificultado a propaganda do Evangelho Também, nem sempre os obreiros e o pessoal empregado tem sido dos melhores. Tem havido crítica a esse respeito, e com proveito, pois a crítica construtiva traz benefícios.

Com o auxílio de Deus o Evangelho tem sido pregado

na terra dos antigos Césares e do papa, desde os Alpes até ao Mediterrâneo.

A influência do Metodismo sobre a Itália tem sido maior, porque não é sustentado pelo Estado. Os valdenses conservaram a fé evangélica na Itá lia , mas se concentraram mais na zona do Piemonte Superior. Depois que os metodistas, tanto da América do Norte como da Inglaterra, iniciaram e estenderam seu trabalho por toda a Itália, os valdenses seguiram a mesma política. Portanto, foram estimulados a maior atividade do que, teriam sido se os metodistas não entrassem no país.

As Igrejas protestantes têm trazido boa contribuição ao

espírito liberal do povo. O povo italiano tem mais interesse em resolver os seus problemas sociais agora do que antes. Concorrerão para libertar povo da superstição e da tirania eclesiástica do papado.

3. O Metodismo na Alemanha. Pareceria desnecessário mandar missionários para a

Alemanha. Mas, quando se lembra que a Igreja Luterana é mantida pelo governo ou Estado, que seu clero exerce autoridade civil e oficial mais rigorosa que o clero da Igreja Anglicana e que a tendência é, por isso, para a intolerância para o racionalismo, se vê a necessidade de uma influência que contrabalance tudo isso. A Igreja Metodista tem servido para estimular a vida espiritual do povo. E, por isso mesmo, o clero luterano, na sua maioria, tem levantado oposição aos metodistas.

A origem dos metodistas da Alemanha deu-se entre os

emigrantes alemães, na Irlanda e na América do Norte. Asbury interessou-se na evangelização dos emigrantes alemães, na América do Norte, em 1789. Em 1808 havia mais de seiscentos pregadores e sessenta mil membros, na América. Uma vez ou outra, alguns destes metodistas voltavam para a Alemanha e assim contribuíram para aumentar o número de

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metodistas nesse país. O primeiro missionário enviado para a Alemanha foi o

alemão Jacoby. A Igreja Metodista Wesleyana o mandou em 1831 para abrir trabalho na cidade de Wurtemberg. Ele foi sucedido por J. C. Barratt, em 1865. O trabalho na Alemanha estendeu-se para Baviera e Viena.

Os metodistas americanos iniciaram trabalho na Alemanha

em 1849 e trabalharam até 1897, quando se uniram com os metodistas wesleyanos. Em 1906, incluindo todos os metodistas dos diversos grupos, havia 5.800 membros, 408 ministros e 313 capelas.

Há uma coisa que distingue o trabalho metodista na

Alemanha. É o trabalho das diaconisas. Há mais de setecentas. Elas prestam serviço incalculável nos hospitais, e nas casas particulares. A sua contribuição para a vida religiosa é grande e valiosa. Serviço dessa natureza ao lado do trabalho ministerial, mas livre de todo o contacto com o governo, faz impressão salutar na mentalidade do povo, por que vê que é serviço voluntário e desinteressado.

Há mais uma justificação para manter trabalho

missionário nos paises europeus: é estimular o espírito missionário, para que os povos não-cristãos não fiquem esquecidos pelas nações fortes que têm a responsabilidade de evangelizar o mundo. E há ainda outra justificação: é influenciar a mocidade desses paises, para que o materialismo e o racionalismo não venham a dominar a mente e o espírito do povo. Por isso os povos latinos necessitam da influência do Protestantismo, se querem quebrar a tirania religiosa e política de que sofrem. E, finalmente, esta missão nos países europeus é para cumprir a grande comissão do Mestre, que disse: "Ide e pregai o Evangelho a toda a criatura" no mundo.

CAPITULO XX

METODISMO NO CANADÁ,

NA AUSTRÁLIA E

NA AFRICA DO SUL.

61. No Canadá.

Já falamos da introdução do Metodismo no Canadá. Falamos de Filipe Embury e Bárbara Heck, que mudaram para lá depois de iniciarem o trabalho metodista em Nova York. Também falamos da nomeação de Freeborn Garrettson e James O. Cromwell, em 1784, para o trabalho na Nova Escócia. A população do Canadá, em 1791, regulava 125.000 habitantes, sendo a maior parte composta de ingleses e o resto de franceses e índios. Os habitantes representavam todas as classes e profissões e estavam espalhados sobre grande área de território.

É interessante notar que o Metodismo no Canadá foi

introduzido por leigos, como se deu nos Estados Unidos . Os le igos que in ic iaram a obra foram Congham, na Terra Nova, Black na Nova Escócia, Tuffey, Neal, Lyons e McCarty, no Canadá. Estes homens davam seu testemunho entre os vizinhos e às vezes provocavam a ira dos malvados contra s i. McCarty foi preso e lançado numa prisão, mas foi

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solto pouco depois, tendo apresentado fiador. Nunca foi processado legalmente. Quatro desalmados por fim o pegaram e levaram num barco pelo rio são Lourenço abaixo e nunca mais se soube noticia dele. Não demorou a receberem eles a justa retribuição do seu crime. Um morreu poucos dias depois; outro, poucas semanas mais tarde; o terceiro confessou, por escrito, que maltratara um inocente e enlouqueceu.

As condições morais e religiosas do povo eram deploráveis

Havia ali só três ou quatro pregadores presbiterianos e mais ou menos o mesmo número de ministros anglicanos. A vida moral deles não nos recomendava.

Guilherme Lossee foi o primeiro pregador dos Estados

Unidos que entrou no Canadá. O povo gostava dele e mandou um pedido ao bispo Asbury para que o nomeasse para aquela região. O bispo atendeu ao pedido e Lossee foi nomeado para lá abrir uma zona de itinerância. Em 1796 Lossee relatou à Conferência Anual que tinha recebido 165 membros e pediu que fosse nomeado um pregador ordenado para aquele trabalho. Foi atendido e Dário Dunham foi nomeado. Em 15 de setembro de 1792 a primeira Conferência trimensal se realizou no Canadá. Os crentes canadenses receberam a santa ceia pela primeira vez. Todos estavam contentes com os pastores e o progresso do trabalho. Mais tarde, em 1796, dois jovens foram nomeados para esse trabalho. Chamavam-se Ezequias C. Wooster e Daniel Coote. Com a chegada deles, que eram dois homens consagrados, o trabalho tomou novo impulso.

No Canadá Superior, em 1801, havia dez itinerantes e

1.159 membros. Os pregadores eram homens heróicos e entre eles se encontrava Natã Bangs.

Bangs nasceu na Nova Inglaterra, mas, quando tinha treze

anos de idade, ele com sua família, mudou para o estado de

Nova York. Eram aqui v isitados pesos itinerantes e durante uma série de Conferências de avivamento quase todos se converteram, mas ele não quis aceitar o Evangelho. Quando tinha quase vinte anos de idade, acompanhou sua irmã e o marido dela para a região do Niágara, no Canadá, e lá fixaram residência. Bangs escorçou-se por arranjar emprego de agrimensor, mas não conseguiu tal emprego. Então passou a ensinar numa escola. Deus tinha outro serviço para ele. Ele sentiu o peso dos seus pecados, buscou a Deus, converteu-se, sentindo aquecer-se-lhe o coração. Começou a falar de casa em casa, exortando a todos que se arrependessem e fossem salvos. Logo depois teve uma experiência ainda mais profunda da graça de Deus e testificou que Deus o santificara no corpo, na alma e no espírito. Nunca voltou atrás. Dedicou-se inteiramente ao trabalho de Deus. Jose Swayer, superintendente da zona, notando os dons de Bangs, o convidou a entrar na itinerância. Nomeou Bangs para a zona de Niágara, que abrangia uma região de cinqüenta quilômetros por cento e vinte e cinco quilômetros. Ele trabalhou em outras zonas também e sofreu grandes privações. Ficou doente, com febre tifóide, e quase morreu. Prestou serviços importantes à Igreja. Escreveu em quatro volumes a História da Igreja Metodista Episcopal.

Natã Bangs foi obreiro típico do seu tempo. Homens

como Wooster, Dário Dunham, Lorenzo Dow e muitos outros trabalharam com dedicação e abnegação.

O trabalho na Nova Escócia desenvolveu-se regularmente.

Novos obreiros, de tempos em tempos, entravam nas fileiras e o trabalho ia adiante. Em 1786 se realizou a primeira Conferência. Nessa ocasião havia seis pregadores. Em 1788 Wesley nomeou James Wray, pregador inglês, para superintender o trabalho. Alguns dos pregadores estiveram presentes à Conferência em Filadélfia, para serem ordenados pelo bispo Asbury. O trabalho na Nova Escócia, Terra Nova e New Brunswick, continuou a desenvolver-se e em 1874 os

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metodistas de leste uniram-se com os do oeste para formar a Igreja Metodista do Canadá.

A história do Metodismo canadense se caracteriza pelas unificações que houve no seu desenvolvimento. Em 1808 havia dois distritos no Canadá, o Distrito do Canadá Superior e o Distrito do Canadá Inferior. Por causa da política civil o metodismo canadense sofreu alterações que mudaram o rumo de seu desenvolvimento. Em 1812, quando rebentou a guerra entre a Inglaterra e os Estados Unidos, todo o trabalho metodista do Canadá estava sob a direção da Conferência Anual de Guernesee, no estado de Nova York. A guerra interrompeu o trabalho de administração, no Canadá. Ao mesmo tempo a Igreja Metodista Wesleyana mandou obreiros para o Canadá. Estes queriam manter a sua relação com a Igreja-mãe e influir na administração do Metodismo canadense. Em 1814 dois missionários metodistas ingleses foram nomeados para trabalhar em Quebec e Montreal.

Quando terminou a guerra, em 1815, os pregadores

metodistas americanos reencetaram seu trabalho no Canadá, mas acharam outros homens no campo ocupando as casas de oração. Isto causou confusão e atritos. Se os wesleyanos tivessem combinado a respeito, antes de enviarem homens para ocupar o território, teriam evitado lutas desnecessárias. Tudo isso levou o bispo Asbury a comunicar-se com os irmãos ingleses para chegarem a um acordo no trabalho.

A Conferência Geral de 1820 que se reuniu na cidade

de Baltimore, estudou bem a questão do Metodismo no Canadá. Chegou à conclusão que não devia deixar o trabalho canadense. Ao mesmo tempo tomou medidas necessárias para repartir o trabalho com os ingleses, se eles quisessem. Os delegados americanos entenderam-se com os ingleses e resolveram deixá-los ficar em paz, com o distrito do Canadá Superior, ficando aos americanos com o distrito do Canadá

Inferior. E assim foi decidida a questão. Mas no correr de poucos anos os metodistas canadenses ficaram descontentes, porque eram taxados de desleais ao seu país. Logo se levantou a questão da separação da Igreja Metodista Episcopal. Em 1824, Ryan, grande propagandista da separação, não podendo influir sobre a Conferência Anual do Canadá para acompanhá-lo, se retirou da Conferência. Conseguiu persuadir cem membros a acompanhá-lo e com esse número organizou a Igreja Canadense Wesleyana.

A Conferência Anual de 1828, realizada na cidade de

Pittsburg, atendeu ao pedido de separação dos metodistas canadenses. De acordo com a combinação em outubro de 1828 o bispo Hedding presidiu a Conferência especial para organizar. a nova Igreja canadense, que tomou o nome de Igreja Metodista Episcopal do Canadá. Natã Bangs e Wilbur Fisk recusaram-se a aceitar a eleição para o bispado da nova Igreja.

Surgiram depois complicações entre a nova Igreja e a

Conferência Anual da Inglaterra. Atritos e choques pareciam inevitáveis. Mas entre os mais piedosos e refletidos se levantou a idéia da unificação. Provocou interesse e discussões e finalmente a nova Igreja se uniu com os britânicos, em 1833.

Houve uma legislação acerca dos pregadores locais que

os desagradou. Também a politicagem de alguns provocava descontentamentos. Tudo isso resultou num rompimento entre os metodistas canadenses e os metodistas britânicos, em 1840. A div isão, contudo, foi sanada ao fim de sete anos. Dois ou três anos depois da divisão, alguns começaram a discutir particularmente a possibilidade de estreitar os laços de fraternidade, entre as duas partes. Mas só em 1847 é que as duas igrejas conseguiram reatar os laços quebrados em 1840. Assim, o rompimento de relações entre os metodistas canadenses e britânicos desapareceu e a unidade metodista canadense, voltou a imperar.

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Havia, na Inglaterra, três ramos do Metodismo: a Nova

Igreja Metodista, os metodistas Cristãos da Bíblia e a Igreja Metodista Primitiva, além da Igreja Metodista Wesleyana, que tinham trabalho e interesses no desenvolvimento do Metodismo do Canadá.

A Nova Igreja Metodista, fundada na Inglaterra em 1797

abriu trabalho no Canadá em 1837 e encarregou João Adslyman de começar o trabalho. Adslyman, visitando o oeste do Canadá, encontrou-se com Henrique Ryan. Ryan, já havia oito anos, tinha-se afastado da Igreja Metodista Episcopal e fundado a Igreja Metodista Canadense Wesleyana. Como as doutrinas e a política das duas Igrejas eram quase iguais, Addyman lhe fez proposta de união e a união se efetuou em 1841. Em 1846, por ocasião da Conferência Anual, se adotou o nome da Igreja assim unida como sendo a Nova Igreja Metodista do Canadá.

A Igreja progrediu sob a liderança de homens como

Addyman, Guilherme McClure e João H. Robinson. Em 1872 constam, no relatório apresentado, 117 pregadores itinerantes, 8.312 membros e propriedades no valor de Cr$.5.766.800,00.

Os Metodistas Cristãos da Bíblia, que apareceram na

Inglaterra em 1815, enviaram, em 1832, dois missionários para abrirem trabalho no Canadá. Francisco Metheral abriu trabalho na ilha de Príncipe Eduardo e João H. Eynon iniciou trabalho em Cobourg, em 1833. Outros missionários vieram depois e o trabalho cresceu. A primeira Conferência realizou-se em 1855. João H. Eynon e sua esposa, que era excelente evangelista, foram realmente os fundadores deste ramo do Metodismo no Canadá. Em 1883 constavam, no relatório 181 igrejas, 55 casas pastorais no valor de Cr$ 8.000.000,00, 80 ministros e 7.400 membros.

A Igreja Metodis ta Primitiva foi fundada no condado de Straffordshire, na Inglaterra, de 1800 a 1811. Em 1822 Guilherme Lawsen, por ter assistido a um culto ao ar livre dos metodistas primitivos foi expulso da Igreja Metodista Wesleyana. Nesta Igreja tinha sido pregador local e guia de classe. Recusou-se posteriormente a voltar para a Igreja Metodista Wesleyana. Poucos anos depois (1829) emigrou para o Canadá, onde se encontrou com Roberto Walker e Tomas Thompson, que eram membros da Igreja Metodista Primitiva. Os três organizaram uma classe. Mais tarde foram enviados missionários como missionários da Igreja Metodista Primitiva da Inglaterra e o trabalho prosperou. Em 1854 se organizou a primeira Conferência Anual dessa Igreja no Canadá. Em 1883 constam, no relatório, 98 pregadores itinerantes, 8.000 membros e propriedades no valor de Cr$ 8.066.930,00.

Em 1872 surgiu a idéia da unificação da Nova Igreja

Metodista do Canadá com a Conferência Anual da Igreja Metodista Wesleyana. Tendo-se tornado todas as medidas necessárias, em setembro de 1874 se reuniu a Conferência Geral na igreja metropolitana, em Toronto, para tratar da unificação. Nessa Conferência se consumou a unificação da Igreja Metodista Wesleyana, Nova Igreja Metodista do Canadá e Conferências do leste da América Britânica. A nova organização tomou o nome de Igreja Metodista do Canadá.

O primeiro quadriênio, depois dessa união, foi próspero. O

aumento liqüido foi, em ministros, 134; em membros, 20.659; em escolas dominicais, 221; e em alunos, 19.754.

Nove anos depois, em 1883, se realizou a unificação de

todos os ramos de Metodismo existentes no Canadá. Desde esse dia tem havido só uma Igreja Metodista no Canadá.

O espírito missionário manifestou-se no Metodismo dali, como

se fez na Inglaterra. Os primeiros pontos onde ele foi implantado

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tornaram-se centros de irradiação e propaganda. O Evangelho, que significava tanto para os brancos espalhados através das florestas, foi poderoso também para melhorar a vida dos índios. Há escolas profissionais em Ontário, Manitoba, Keewatin, Alberta, e Colômbia Britânica, onde grande número de índios estudam. Há mais de cinco mil índios no rol de comungantes.

A Igreja Metodista do Canadá não faz distinção entre

missões nacionais e estrangeiras. Tem procurado atender às necessidades no próprio país e nos outros países. Em 1858 foi iniciado o trabalho na Colômbia Britânica. Os primeiros missionários enviados para lá foram o dr. Wood, superintendente da missão, Efraim Evans, Eduardo White, Ebnezer Robsin e Artur Browing. A população era esparsa, pelo que o progresso do trabalho foi lento. Mas em 1908 o relatório estatístico acusava 86 ministros, 22 aspirantes ao ministério, 8 distritos, 133 zonas e sedes, 8.320 membros e 10.575 alunos na escola dominical.

Foram ocupados outros lugares, onde tem havido progresso. Mas o povo mais difícil de evangelizar tem sido o francês, na província de Quebec. Os metodistas têm feito alguma coisa entre eles, porém o número de comungantes é pequeno. Há alguns membros que mantém a sua fé, apesar de todas as oposições e dificuldades da parte dos católicos romanos. O povo católico ali é agressivo contra o que considera heresia. Em Montreal há um importante instituto. O cristianismo evangélico está ganhando terreno e o futuro promete mais progresso ainda.

A missão no Japão foi iniciada em 1873, quando foram

enviados para lá Jorge Cockrane e Davidson Macdanal (médico). Naturalmente a obra foi difícil, mas dentro de quinze anos se organizou a primeira Conferência. No princípio do século XX os metodistas japoneses manifestaram o desejo de ser autônomos. As três igrejas metodistas que mantinham trabalho no Japão resolveram unir-se numa só Igreja Metodista do Japão.

Este grande ideal realizou-se em maio de 1907, na cidade de Tóquio. Os seguintes representantes das igrejas metodistas estavam presentes na ocasião da Conferência Geral japonesa, quando se deu a unificação: os bispos Cranston e Leonard, da Igreja Metodista Episcopal; bispo Wilson e o Lambuth, da Igreja Metodista Episcopal do Sul; os bispos Sutherland e Carman, da Igreja Metodista do Canadá. A nova igreja é chamada Igreja Metodista do Japão.

A obra missionária na China começou em 1892, quando a

Junta de Missões resolveu abrir trabalho no interior da China, na província de SZ'Ghuan, perto do Tibet. Jorge E. Hartwell, O. L. Kilborn (médico) e D. W. Stevenson . (médico), chefiados por V. C. Herat, que tinha trabalhado por conta da Igreja Metodista Episcopal na China Central, trabalharam três anos para fundar a missão. Duas vezes a missão foi interrompida, mas, quando as coisas se acalmavam, os missionários voltavam a continuar seu trabalho. A obra foi afinal estabelecida e então as portas começaram a abrir-se por todos os lados. Em 1908 a missão tinha mais de cem missionários, homens e mulheres, trabalhando nas prov íncias de SZ'Chuan e Kweichan.

As mulheres e os jovens da Igreja têm mostrado grande

interesse na obra missionária e isto explica o entusiasmo pelas missões que se nota na Igreja Metodista do Canadá. O tema das suas organizações é: "Orar, estudar, contribuir". Também os leigos têm tomado a sério a sua parte na obra missionária da Igreja e organizaram o Movimento Missionário dos Leigos. O alvo que a Igreja tem para missões é de um milhão de dólares por ano, ou seja, Cr$ 20.000.000,00.

A Igreja Metodista do Canadá, numericamente, é a maior

Igreja Protestante do país. Durante muitos anos tem enfrentado oposições da parte dos formalistas, dos clérigos da Igreja mantida pelo Estado e de obstáculos legais, mas a providência divina a tem protegido e guiado até agora e o seu

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desenvolvimento, com vista ao futuro, é promissor. Tem escolas, faculdades de teologia e universidades. Tem

ainda, escolas industriais ou profissionais. Como já notamos, a Igreja Metodista do Canadá tinha

entusiasmo pela unificação de todas as forças metodistas do país. Nestes últimos anos tem-se falado da união dela com Igrejas não metodistas. Por alguns tempos o assunto foi discutido e estudado.

O espírito de unificação que se tinha manifestado entre os

metodistas no último quartel do século XIX manifestou-se mais no primeiro quartel do século XX, pois em 10 de junho de 1925 a Igreja Metodista do Canadá se uniu com a Igreja Presbiteriana e a Igreja Congregacional.

A nova união tomou o nome de Igreja Unida. Não existe

agora nem Igreja Metodista nem Igreja Congregacional no Canadá. Há ainda uma pequena Igreja Presbiteriana, porque um pequeno grupo de presbiterianos não quis fazer parte da Igreja Unida. Sem dúvida, se o fundador do Metodismo fosse vivo, ficaria contente com a unificação que se processa das Igrejas evangélicas.

62. Na Austrália. A Austrália entrou para o domínio da Inglaterra em 21 de

agosto de 1770, quando o capitão James Cook alçou a bandeira britânica nas costas orientais da Nova Gales do Sul. Doze anos mais tarde a Inglaterra perdeu as colônias americanas. Naturalmente a sua atenção se voltou para aquela ilha continental e logo a Austrália se tornou uma possessão importante na política da Grã-Bretanha. Até 1782 o sul das colônias americanas era lugar para onde eram levados os

criminosos condenados a trabalhos forçados, mas, com a independência das colônias, não podia os ingleses continuar a desterrar os seus criminosos para o solo americano. O.governo inglês lembrou-se da Austrália e passou a levar para lá os seus criminosos. Levava mais de quinhentos criminosos por ano para a Austrália. Em 1783 o parlamento decretou uma lei, autorizando a deportação de criminosos para a Nova Gales do Sul, na Austrália. A primeira leva de criminosos foi para lá em 1787, constando de 550 homens e 200 mulheres. No mesmo navio que os transportava, se encontravam também 208 marinheiros, 40 mulheres, além da tripulação. Um total, pois de 1.100 pessoas. A frota de que fazia parte esse navio, sob o comando do capitão Filipe, partiu em 13 de maio de 1787 e chegou a Sydney Cove em 26 de janeiro de 1788. Foi assim fundada a cidade de Sydney.

Junto com esse grupo foi enviado um capelão, o rev. Richard Johnson, a pedido de Wilberforce. O rev. Johnson dirigiu o primeiro culto na Austrália, em 27 de janeiro de 1788, debaixo de uma árvore. Esta árvore serviu como lugar de culto por sete anos, até 1795, quando se construiu a primeira igreja. Voltando o rev. Johnson para a Inglaterra em 1800, o rev. Samuel Marsden tomou o seu lugar. Marsden pertencia a uma família metodista de Horsforth, perto de Leeds. Estudou na Universidade de Cambridge e foi ordenado na Igreja Anglicana.

Em viagem para a Austrália, o navio parou em Brading,

na ilha de Wight, e ele pregou na capela de, que era pastor o rev. Leigh Richmond. Nessa ocasião, não somente uma moça, Elizabeth Wallbridge, foi despertada, mas também o pároco Richmond, autor do livro "A Filha do Leiteiro", achou paz com Deus.

O rev. Marsden já estava na Austrália seis anos antes da

retirada do capelão Johnson. Quando Marsden chegou ao porto de Jackson, as condições morais e sociais que ali reinavam não

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podiam ser piores. Embriaguez, imoralidade, brigas e violências estavam na ordem do dia. Marsden era homem enérgico e pregou com severidade contra os vícios do povo. Queria bem ao povo, mas seu método não agradava a todos.

Apareceu um metodista, o professor Tomaz Bowden, diretor

do "Great Queen Street Charity School" em Londres. Bowden era guia de classe metodista e zeloso no trabalho da igreja. Chegou em janeiro de 1812 e em julho conseguiu organizar duas classes, uma sob sua direção e a outra sob a direção do seu maior amigo João Hosking. Havia mais uma classe, em Sydney, sob a direção de Edward Eagar. Eagar era um advogado irlandês. Converteu-se na cidade de Cork, ouvindo pregação dos metodistas.

Tomaz Bowden ficou incomodado com a condição moral do

povo. Organizou em 6 de março de 1812 uma classe na sua casa. Ficou abismado com a situação do povo. Combinou com seu colega Kosking apelarem eles para a Sociedade Metodista de Missões da Inglaterra para mandar-lhes um missionário, munido de livros e roupa, sendo responsável pelo seu sustento o povo da Austrália. O apelo foi acolhido com simpatia e a Conferência Anual, reunida em Bristol, em 1814, aprovou o plano de mandar dois obreiros, em vez de um.

Samuel Leigh era um dos dois. Embarcou em 28 de

fevereiro de 1815 para a Austrália e lá chegou em 10 de agosto. Os oficiais da Igreja, na Inglaterra, não souberam disso até janeiro de 1817. Essa época não era de telégrafos nem de aeroplanos. Leigh nasceu em 1785, foi admitido na Conferência em 1812, serviu com eficiência por dois ou três anos, antes de ser nomeado para trabalho missionário. Tinha trinta anos de idade, quando começou seu trabalho na Austrália. Foi numa época em que muita gente emigrava para a Austrália. A população tinha aumentado. Era de mais de 20.000 habitantes (sem contar os nativos), 1.000 soldados,

2.000 criminosos. Havia duas vezes mais homens do que mulheres. Foram descobertas jazidas de carvão de pedra, a criação de ovelhas tornou-se lucrativa e a administração do governo era boa. Tudo prometia prosperidade. Somente o estado moral e religioso do povo era ruim. Havia só quatro chapelões para cuidar desse povo imoral e pervertido.

Essa era a condição sob a qual Samuel Leigh iniciou seu

trabalho. Foi bem recebido pelo governador e pelos capelães. Começou logo a organizar as classes que foram reduzidas a seis. Organizou classes em Sydney, Panamata, Windsor e Castlereagh, com um total de quarenta e quatro membros. Também organizou quatro escolas dominicais, arranjou quinze lugares de pregação e comprou um cavalo chamado "Velho Viajador". Percorria a zona de quatorze em quatorze dias.

Em 7 de setembro de 1817 inaugurou na Austrália, em

Castlereagh, a pr imeira capela metodista. A capela era feita de madeira e media cinco metros por nove. João Lees, soldado reformado, deu o dinheiro para construí-la.

Iniciou-se o trabalho em outros lugares. Em 1º de maio de

1818 chegou mais um obreiro, Walter Lawry. O trabalho progrediu rapidamente. Novas capelas, maiores e mais sólidas, foram construídas.

Mas a saúde de Leigh se abalou e ele resolveu fazer,

por isso, uma viagem à Nova Zelândia, junto com o rev. Marsden, que sempre foi bom amigo dos metodistas. Melhorou um pouco. Porém o serviço que prestou a alguns metodistas que estavam sob a direção de um soldado, em New Castle, lugar distante cem quilômetros de Sydney, o prostrou. Voltou para a Inglater ra em 1820, para t ratar da saúde. Apresentou seu relatório à Sociedade Missionária e rogou que ela mandasse novos obreiros para a Austrália e para as colônias de Hobart e Dalrymple, na ilha da Tasmânia. Também pediu que

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mandasse missionários para a Nova Zelândia e um para trabalhar entre os indígenas. O resultado desse pedido consta nas atas da Conferência Anual de 1820. É o seguinte:

"29. Sydney, Panamata e Windsor: Jorge Erskine, Ralph Masfield. Dois para serem enviados, um dos quais dará todo o seu tempo ao trabalho entre os negros nativos. 30. Van Deneris Land: Benjamin Corvosso. 31. Nova Zelândia: Samuel Leigh. um para ser enviado. 32. Friendly Is lands: Walter Lawry. um para ser enviado. 33. Mais dois para serem enviados para os mares do sul, cuja nomeação não foi determinada" (Townsend et Al, Vol. II, p. 242). Em 1803 os ingleses tomaram posse da ilha da Tasmânia e

uma colônia foi fundada em Derwant e outra, em Hobart. Os colonos consistiam de criminosos e livres. A população aumentou rapidamente, pois em 1820 havia mais de 8.000 habitantes.

Os metodistas não demoraram a aparecer entre esta

gente que precisava tanto do pão espiritual como do pão material. O fundador do Metodismo nesta ilha foi o cabo Jorge Waddy, descendente de uma, família notável. Principiou seu trabalho com uma classe de seis pessoas em 29 de outubro de 1820. Logo em seguida iniciou cultos e pregação na casa do sr. Donn, descendente do grande mártir e notável bispo Cramner. Apesar dos motins e das oposições, a congregação chegou a mais de trezentas pessoas. Outros obreiros trabalhavam em outros pontos da ilha.

O trabalho progrediu. Jorge Waddy, promovido a

sargento, foi removido para Macquire Habour, escolhido em 1821 para guardar os criminosos incorrigíveis. Waddy conseguiu organizar uma classe metodista entre esses criminosos naquele lugar, chamado "inferno na terra".

Em 1827 Guilherme Schofield foi nomeado para o lugar, a pedido do governador Artur. Os resultados do seu trabalho, escreveu mais tarde o professor Jenks, justificaram a expectativa do governador e Macquire Harbour deixou de ser um lugar de desespero. O trabalho nessa ilha desenvolveu-se gradualmente e, com o correr do tempo, ela se tornou mais ordeira e próspera.

Os metodistas iniciaram seu trabalho em Nova Zelândia à

pedido de Leigh, que passou alguns meses na ilha tratando da sua saúde e ficou impressionado com a possibilidade de pregar o Evangelho aos indígenas maaris. A Sociedade Missionária nomeou Leigh para abrir trabalho entre o povo dessa ilha e ele chegou ali em 1º de janeiro de 1822. Logo depois iniciou o trabalho, passando alguns meses na missão da Igreja Anglicana em Kille-kille, quando foi mais para o interior e tentou abrir trabalho entre os indígenas. Foi acompanhado por sua esposa e por James Slack. Mais tarde chegaram Guilherme White e Natanael Turner e esposa e, ainda, um voluntário, por nome Hobbs. Começaram o trabalho enfrentando mil dificuldades. Em pouco tempo a saúde de Leigh se abalou de novo e ele teve de voltar para Sidney. White e Turner ficaram à testa do trabalho. Trabalharam e construíram duas capelas, porém o povo não aceitava o Evangelho. As tribos daquela região estavam em guerra e não se importavam com os missionários. White voltou para a Inglaterra em 1825. Os nativos destruíram as capelas e Turner e seus colegas voltaram para Sydney, em 1827. Mas renovaram os seus esforços e, com o auxílio de novos missionários, abriram em outros pontos um trabalho que vingou e gradualmente progrediu.

Leigh, cujo coração era mais forte do que o corpo queria

evangelizar os nativos da Austrália e escreveu para a Sociedade de Missões, pedindo um homem especialmente qualificado para tal trabalho. Precisava de um homem "zeloso, santo, paciente e perseverante" para trabalhar entre os indígenas. Foi atendido

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e Guilherme Walker foi enviado em 1821. Logo que este chegou, começou a estudar a situação dos indígenas e chegou à conclusão de que o único meio de evangelizar aquele povo seria por meio da educação das crianças Alugou uma casa e começou a ensinar a seis crianças. No ano seguinte, porém, Walker pediu demissão do seu cargo e foi sucedido por João Harper, mas, depois de algum tempo, não tendo o apoio do governo nos seus planos, desanimou e abandonou o trabalho.

Nessa fase do trabalho houve muita confusão e atritos no

trabalho. O progresso foi muito lento. Alguns dos obreiros deixaram o campo, outros ficaram doentes e a causa pereceu. Richard Watson disse que o trabalho foi uma desgraça. A primeira Conferência distrital realizou-se em janeiro de 1826 e a primeira pessoa admitida foi João Hutchinson. Entre 1820 e 1830 o aumento de membros foi só de trinta pessoas.

Nova época começou com a chegada de Jose Orton,

em dezembro de 1831. Era ele homem de peso, de bom senso e habilidade como administrador. Começou logo a reorganizar e ordenar a obra. Trabalhou quatro anos na Austrália depois passou para a ilha da Tasmânia, onde organizou um novo distrito, deixando, como seu sucessor, João McKenney, homem hábil e eficiente no trabalho. Em dez anos foram organizadas novas zonas em Bathurst, Hunter River e Lower Hawsbury, na Nova Gales do Sul, e em Ross Launceston e Porto Artur, na Tasmânia. O Metodismo foi implantado em Melbourne, Adelaide e na Austrália Ocidental. Em dez anos o número de membros aumentou de 159 para 1019 e o número de missionários, de cinco para dezenove. Deu-se especial atenção ao trabalho da escola dominical. Celebrou-se o primeiro centenário do Metodismo em 1839, levantando-se uma coleta especial. A coleta só em Sydney montou a mil cento e cinqüenta libras, ou seja, Cr$ 103.500,00.

O trabalho de Robinson, cujo apelo foi "conciliador",

merece especial menção. Os indígenas da ilha da Tasmânia davam muito incômodo aos brancos. O governo resolveu prender todos e soltá-los noutra ilha e assim ficar livre de incômodos com eles de vez. Mandou uma escolta de soldados passar pela ilha e apanhá-los todos. Fez a tentativa e o resultado foi que só dois nativos caíram na rede. Custou isso ao governo trinta mil libras ou sejam Cr$ 1.800.000,00.

Robinson, que era bom metodista e que tinha trabalho entre

eles, prontificou-se a ajuntar todos os habitantes indígenas sem dar uma pancada neles. Foi aceita a sua proposta. Em 1835 conseguiu, sem auxílio de qualquer soldado, persuadi-los a serem transportados para outra ilha. Foram levados para a ilha de Flinders, onde tudo de que precisavam se lhes forneceu. O último membro dessa raça morreu em 1877.

Sob a administração de Turner e outros o trabalho

prosperou em toda a parte. O trabalho estendeu-se para o sul e para o oeste da Austrália.

Em 1845 W. B. Boyce foi nomeado superintendente geral,

com o fim de visitar e organizar a Conferência Anual da Austrália. Orton deixou Melbourne e foi sucedido por Samuel Wilhinson. Na viagem para a sua terra, morreu a bordo do navio, quando dobrava o Cabo Hewn, em 30 de abril de 1842. Alguns outros obreiros antigos morreram nessa época e novos tomaram seus lugares para continuarem a obra.

A única nota desagradável nesta fase do trabalho foi o

fracasso da missão entre os indígenas. Tuc kf ie ld t rabalhou com dedicação e ze lo em Bunntingdale até 1848, quando a propriedade da missão foi vendida e a missão se fechou.

Repetiu-se na Austrália o que se deu no Canadá: os

metodistas da Igreja, Primitiva e os Metodistas Livres e

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Unidos abriram trabalho ali. Todos esses ramos do Metodismo progrediram e trabalharam separadamente até que se deu a sua unificação.

O descobrimento de ouro e cobre na Austrália atraiu

grande número de emigrantes para o país. Isso provocou em alguns lugares perturbação que causou o enfraquecimento do trabalho. Mas, quando veio a crise na mineração de cobre, a situação ficou mais séria ainda para muita gente. Contudo, o trabalho progrediu e se desenvolveu em todos os lugares aonde tinha chegado o povo.

Em 1853 a Conferência Anual da Inglaterra resolveu

mandar Roberto Young e João Kirk para visitarem os metodistas da Austrália e estudarem a possibilidade de organizar uma Conferência Geral ali, como se fizera na Irlanda, no Canadá e na França.

Depois de um naufrágio, João Kirk perdeu coragem e

não prosseguiu na v iagem da v is itação de todos os pontos de atividades na Austrália, mas Roberto Young prosseguiu e visitou o trabalho em Adelaide, Melbourne, Sydney, Nova Zelândia e as missões nas ilhas, sobretudo na ilha da Tasmânia. Quando voltou para a Inglaterra relatou à Igreja o que v iu, dando sua opin ião do t raba lho.

A Conferência Anual resolveu dar autonomia aos

metodistas da Austrália como já havia dado aos canadenses. A autonomia foi cedida com a condição que os metodistas australianos conservassem as doutrinas wesleyana e o sistema wesleyano, de acordo com a disciplina como se encontra nas atas da Conferência (Minutes of lhe Conference). Também deviam sustentar os pregadores e fazer o que pudessem para manter a obra missionária nas ilhas da Nova Zelândia, Friendly e Fiji.

A primeira Conferência Anual realizou-se em 18 de

janeiro de 1855. W. B. Boyce foi eleito presidente e João A. Morton secretário. Quarenta pregadores estiveram presentes. Os australianos aceitaram o plano da Conferência britânica, pedindo o privilégio de eleger o presidente da sua Conferência, o que lhes foi concedido.

Depois da emancipação da nova Igreja, a população da

Austrália aumentou rapidamente e o número de membros da Igreja aumentou também. O trabalho prosperou em todos os sentidos. Foi nesse período que Guilherme Taylor, o grande evangelista e missionário, visitou a Austrália. Pregou em diversos lugares e houve grande avivamento, com a conversão de muitas almas. Jose Ware continuou o trabalho de avivamento, depois da partida de Taylor.

O primeiro jubileu foi celebrado em 1864. Levantaram-se

dezoito mil libras ou seja Cr$ 1.620.000,00. Com esse dinheiro fundou-se um seminário teológico, abriram-se novas missões e atendeu-se a outros interesses.

Em 1873 se resolveu dividir a administração da Igreja

em quatro Conferências Anuais: Nova Gales do Sul, Vitória, Austrália Meridional e Nova Zelândia, sob o jurisdição de uma Conferência Geral, que se reuniria de três em três anos. A primeira Conferência Geral realizou-se em 1875. Nessa ocasião havia 1.888 igrejas e lugares de culto, 287 ministros itinerantes e 1.476 pregadores locais, 26.267 membros, 75.296 alunos na escola dominical e 190.005 pessoas que freqüentavam as igrejas.

Nas grandes cidades da Austrália aconteceu a mesma

coisa que se deu na Inglaterra. As capelas e os templos do centro das cidades ficaram quase abandonados, porque a população mudou para os subúrbios.

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Muita gente morava ao redor dessas capelas, mas não tinha qualquer ligação com a Igreja Puseram-se as capelas a baixo e construíram-se halls, onde diversos programas pudessem ser realizados de acordo com a necessidade da classe de gente que morava na vizinhança. Acertou-se melhor com a solução do problema de evangelização dos centros das grandes cidades. Também a Conferênc ia de 1890 mudou o l imite do pastorado: o pastor podia ficar cinco anos na mesma paróquia, sendo observadas todas as restrições existentes a respeito.

Os metodistas australianos realizaram também, no

princípio do século XX, uma grande campanha financeira. Foi para constituir o chamado Fundo Século XX. Arrecadou-se nessa ocasião muito dinheiro que foi aplicado em fortalecer a obra educativa, missionária e de unificação.

O que se dera em outros países, repetiu-se na Austrália,

quanto à unificação do Metodismo. O movimento de unificação começou em 1888. Antônio Foster trabalhou mais do que qualquer outra pessoa para conseguir a união do Metodismo na Austrália.

A Conferência Geral de 1894 aprovou as bases de unificação

que foi apresentada e aprovada pelas Conferências Anuais de Vitória e Tasmânia, excetuando-se o acréscimo de uma comissão de nomeação. Essa comissão tinha de ter em todas as suas reuniões um número igual de leigos e clérigos, sendo os leigos eleitos na primeira sessão da Conferência posterior à união. Concedeu-se autoridade a cada Conferência Anual para efetuar, nessa base, união com qualquer das Igrejas metodistas ou com todas elas e obter direitos legais O nome das Igrejas reunidas havia de ser, no princípio, Igreja Metodista Wesleyana da Austrália, mas, depois da união, tomou o nome de "Igreja Metodista da Austrália" (Townsend et al, V. II, p. 264).

A primeira Conferência Geral da Igreja Metodista da

Austrália realizou-se em 1904, na capela Wesley, em Melbourne, e o dr. Fitchett foi eleito presidente. A estatística apresentada na ocasião revela em algarismos redondos: 1.000 ministros e missionários, 100.000 membros (incluindo os jovens), 555.000 aderentes e 200.000 alunos na escola dominical. As propriedades constituíam de 11 colégios (colleges), 2.567 igrejas e mais de 600 casas pastorais. A população metodista da Austrália é de doze por cento.

O sistema itinerante tem facilitado o trabalho metodista

na Austrália, devido facilidade de ajustar-se às condições e necessidades de cada lugar. E, acima de tudo, está a deliberação de pregar a verdade evangélica com autoridade e com liberdade, proclamando a salvação pela fé e o batismo do Espírito Santo para a santificação da vida.

63. Na África do Sul. A União da África do Sul tem uma área de 472,317 milhas

quadradas, e em 1921 apresentava uma população de 6.928.580. O Metodismo foi ali introduzido em 1806 por meio de um soldado inglês chamado Jorge Middlemiss. Tomou parte na conquista de Capetown, quando foi capturada e ocupada pelos ingleses chefiados pelo general Baird.

Middlemiss pregou aos seus camaradas de armas e

conseguiu reunir quarenta deles numa classe. Quando foi transferido para outra parte, deixou o trabalho

sob os cuidados do sargento Kendrick. Kendrick continuou o trabalho de evangelização e conseguiu a conversão de cento e vinte dos soldados. Por muitos anos se realizaram as reuniões debaixo de árvores, mas em 1812 o sargento Kendrick mandou

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um pedido urgente à comissão de missões, em Londres, para que mandasse um ministro para dirigir o trabalho.

Foi para isso nomeado o rev. J. McKenney, mas, quando

chegou a Capetown, o governador Lord Charles Sumerset, não o deixou pregar ao povo, alegando que ofenderia os holandeses. Não podendo trabalhar na África do Sul, seguiu viagem para Ceilão.

Fez-se uma segunda tentativa em 14 de abril de 1816,

quando Barnabé Shaw chegou a Table Bay. Encontrou a mesma dificuldade, mas não respeitou o desejo do governador e pregou ao povo e aos soldados. Sendo limitado nas suas atividades, resolveu acompanhar o rev. H. Schmelen, missionário da Sociedade de Londres, que trabalhava entre os nativos em "Great Namaqualand".

Schmelen visitou Capetown e, encontrando-se com Shaw,

informou-o do seu trabalho em Namaqua. Shaw resolveu ir com ele e trabalhar entre os nativos. Quando Schmelen voltou para o interior, Shaw, e sua esposa o acompanharam. A viagem de duzentas milhas foi feita em carro de bois. Shaw abriu trabalho entre os indígenas em Namaqua e fundou uma missão em Lilyfontein.

Devido às secas, tão comuns naquela região, os namaquas

se tornaram nômades. Tinham de procurar água e alimento onde pudessem achá-los. Seus hábitos nômades dificultaram a sua evangelização, mas mesmo assim, diversos dentre eles aceitaram o Evangelho e tornaram-se cristãos. Por meio dessa tribo os missionários chegaram a pregar o Evangelho aos pigmeus bosquímanos Bushmen. Alguns missionários, tentando abrir trabalho entre outras tribos, foram mais para o norte e acabaram assassinados pelos indígenas ferozes que lá habitavam em lugares desertos.

Em 1820 o rev. E. Edwards, um dos colegas de Shaw, deixou Lilyfontein e foi para Capetown, a fim de trabalhar entre os soldados. Pregou por algum tempo no sótão dos estábulos. Conseguiu a edificação de uma capela que serviu até 1831, quando construiu uma igreja bonita, na rua Burg. Esta igreja serviu por mais de cinqüenta anos: A missão pregou aos escravos dos holandeses e teve pontos de pregação em Stellenbosch, Robertson, Wynberg e Somerset West. As pregações faziam-se na língua holandesa. Os africanos foram beneficiados pela mensagem do Evangelho, porém os efeitos da escravidão os prejudicou mais. Aqui se encontra uma ironia da vida: favorecidos de um lado e prejudicados de outro. A civilização sempre prejudica os povos selvagens, porque eles aceitam mais os vícios do que as suas virtudes que ela encerra.

A cidade de Capetown desenvolveu-se. Em 1879 tinha

mais de oitenta mil habitantes. A igreja da rua Burg foi substituída pela Igreja Metropolitana, em Green Market Square, uma das igrejas mais importantes da cidade. Foi instalada nessa igreja o órgão mais importante de toda a África do Sul e grande número de pessoas afluíam para apreciar os concertos musicais nela realizados. Muitas outras igrejas construíram-se na cidade e nas suas cercanias. Em 1890 construiu-se para os soldados e marinheiros uma casa que tem servido como verdadeiro lar para a classe militar.

Também nessa cidade existe um orfanato. Em 1901

Guilherme Marsh, negociante de Capetown, deixou duzentas mil libras ou sejam Cr$ 18.000.000,00 para fundar um orfanato que deveria ter como administrador seu filho rev. T. E. Marsh enquanto fosse vivo e, depois, a Conferência da Igreja Metodista. Diversas casas foram construídas para acomodar órfãos. Adotou-se sistema familiar no orfanato e cada casa esta sob a direção de uma senhora.

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Em 1820 o governo britânico enviou 4.000 emigrantes, gente escolhida, para fundar um estabelecimento a leste da colônia do Cabo, no condado de Albany e Bathurst. Guilherme Shaw ficou como capelão do estabelecimento. Era homem bom, enérgico e interessado no povo. Shaw visitou os diversos acampamentos de colonos. Não havia estradas, nem outros confortos da vida civilizada. Muitas vezes teve de passar a noite na floresta, acomodando-se no alto de uma arvore para proteger-se das feras. Mas seu trabalho progrediu e produziu bons frutos. O Metodismo foi implantado naquela região mais firmemente do que em qualquer outro ponto da África do Sul. Grashamstown, centro comercial da colônia, foi chamada "a cidade dos santos", porque o povo dali era, temente a Deus. O povo construiu uma igreja comemorativa, em louvor a Deus pelas bênçãos derramadas sobre a colônia desde a sua fundação. A pedra fundamental foi colocada pela senhora Shaw em 1845, mas devido a guerra entre os indígenas, não foi concluída senão em 24 de novembro de 1850.

Grahamstown serviu como centro de irradiação na

propaganda do Evangelho em toda aquela redondeza. Abriu-se trabalho em Fort-Beaufort, King-Williamstown, East London, Queenstown, Molteno, Barkley East, Somerset East, Cradock Middleburg, Aber-Deen, Graaff Reinet, Outshoorn, Jansenville, Uittenhage e Port Elizabeth. O povo foi evangelizado e interessado no desenvolvimento de todos os interesses de uma cidade civilizada. Quando se descobriu ouro em Kimberley, os metodistas estavam lá para trabalhar na evangelização da gente que afluía para trabalhar nas minas. Porque Cecil Rhodes encampou as minas e reuniu grande número de africanos, os metodistas aproveitaram a oportunidade para pregar-lhes o Evangelho. Muitos deles ficaram conhecendo a verdade e, quando voltavam para suas casas, levavam o Evangelho aos seus amigos. Desde modo conseguiram espalhar o conhecimento do Cristo em toda a parte.

Em 1883 o rev. J. Walton organizou um ginásio para

moças, chamado "Ginásio Wesleyano para Moças", na cidade de Grahamstown.

Em 1894 se cr iou o Colégio Kingswood para moços.

Ambas as escolas estão bem colocadas, com muito terreno para recreio e esporte.

O espírito missionário se manifestou na nova Igreja e

organizou-se uma Sociedade Missionária em 1885. As igrejas metodistas arrecadavam mais de dez mil libras por anos para a obra missionária. Fez-se trabalho missionário entre os habitantes dos distritos de Cape, Grahamstown, Wueenstown, Clarkebury, Bloomfontein e Natal. O Metodismo Afr icano sustenta trabalho missionário nesses lugares. A Igreja-mãe promove obra missionária nos condados de Transvaal e Rodésia. Desde que a Conferência Anual da África assumiu a responsabilidade do trabalho, a Igreja foi estimulada a maior esforço.

Em 1823 W. Shaw deixou de trabalhar em Grahamstown

para trabalhar entre as tribos Bantus, que ficam da banda leste das florestas. Fundou seis estâncias, ou pontos de evangelização, fazendo uma corrente de estações missionárias desde a colônia até aos limites do Transvaal. Diversos missionários o ajudaram neste serviço: alguns perderam a vida as mãos dos africanos e outros, por doenças. O trabalho prosperou e em 1908 havia 66.000 membros comungantes, 29.000 candidatos a profissão de fé e 23.000 jovens nas classes. O Novo Testamento foi traduzido em 1846 para a língua das tribos alcançadas. O governo tem cooperado com a Igreja na manutenção de escolas profissionais entre os africanos.

O trabalho nos estados do Norte foi iniciado em 1833. O primeiro estado ocupado foi a colônia do rio Orange. O rev. Barlong começou o trabalho em Thabanchu. O trabalho não progrediu muito, por alguns anos, devido aos imigrantes

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holandeses que tinham trabalho missionário na mesma região. Em 1851, se abriu em Blommfontein um trabalho que foi estendido mais tarde para Fauresmith e Kroonstand. Até 1890 os seguintes lugares tinham sido ocupados: Bethlehem, Lindley, Winburg, Frankport, Jagersfontein e Lady-brand.

Em 1842 os metodistas abriram trabalho no estado de

Natal. O rev. J. Archbell e família iniciaram trabalho em Port Natal. Depois foram outros missionários e o trabalho desenvolveu-se, tendo sido ocupados outros lugares. As igrejas e congregações adotaram o sistema de levantar coleta para missões em todas as reuniões, tanto da noite como do dia. A vida social e econômica ficou muito alterada com a ida de operários da Índia. Mais de 50.000 hindus foram levados para a África. Tentou-se trabalho missionário entre esses imigrantes, porém deu pouco resultado.

O trabalho no estado do Transvaal foi iniciado por um

nativo que lutou sozinho por alguns anos. Chamava-se Davi Magatta. Mais tarde missionários se juntaram a ele e levaram avante a obra. Só depois da guerra de 1881 é que ela tomou impulso. O rev. O. Watkins foi nomeado superintendente e, por dez anos, viajou por toda a parte, em carro de bois, visitando diversos lugares e lançando alicerces sólidos para o desenvolvimento do trabalho, no futuro.

Depois da guerra com os boers, de 1899 a 1902, os

ingleses têm dominado essa região e os missionários ingleses têm gozado mais liberdade para desenvolver seu trabalho. Muitos missionários novos foram enviados e mais obreiros entre os nativos apareceram. Por isso o trabalho progrediu mais depressa. Havia, em 1908, 20.000 membros e as ofertas subiram nesse ano a quarenta mil libras, ou seja, a Cr$ 1.800.000,00.

Ha alguma coisa nos cultos e nos hinos metodistas, que

apela para o coração africano. O estado de Rodésia foi ocupado por missionários em 1891.

Cecil Rhodes ofereceu-se para ajudar as missões sob condições por ele estabelecidas, as quais facilitaram o desenvolvimento da obra. Foram enviados missionários, o Novo Testamento e hinos foram traduzidos para a língua do povo e o progresso tem sido satisfatór io. É a obra mais nova na África do Sul, mas promete muito para o futuro.

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PARTE IV

HISTÓRIA DO METODISMO NO BRASIL

D r . J o h n W . T a r b o u x , primeiro bispo da Igreja Metodista do Brasil.

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CAPÍTULO XXI

A MISSÃO METODISTA EM 1835.

64. O trabalho de Fountain E. Pitts. Não é nossa intenção historiar detalhadamente todos os

fatos acerca do Metodismo no Brasil. Devemos semente dar-lhe esboço, visto que este capítulo apenas faz parte da história geral do Metodismo.

Já notamos o espírito missionário que se manifestou no

Metodismo americano, quando da organização da Sociedade Missionária em 1819 e do interesse na evangelização dos escravos e índios.

Em 1832 a Conferência Geral da Igreja Metodista dos EUA

considerou a possibilidade de abrir trabalho missionário na América do Sul. Os metodistas americanos sabiam que os países latino-americanos, desde a sua fundação, eram dominados pela rel ig ião apostó l ica romana e que a into lerânc ia dela para com os protestantes não era menos cruel do que o seu tratamento em privar os indígenas da sua liberdade e independência. Depois de conquistarem independência de Portugal e Espanha, havia um espírito mais liberal e tolerante. Por isso mesmo o tempo era propício para neles se propagar uma forma mais pura do Cristianismo. Sentiram, pois, a obrigação de introduzir as suas instituições nestes países.

A Conferência Geral autorizou os bispos a estudarem junto

com a Sociedade de Missões a situação mais apuradamente, mandando alguém para investigar in loco a possibilidade de abrir algum trabalho.

Logo depois do encerramento da Conferência Geral foi

recebida uma carta de Buenos Aires. O autor tinha passado alguns anos em Buenos Aires e era membro da Igreja Metodista Episcopal. Como já organizara uma classe e achava que o tempo era oportuno para abrir trabalho naquele país, pedia que a Igreja cuidasse do assunto. Esta carta foi estudada pela Sociedade de Missões, que pediu aos bispos que nomeassem alguém para fazer a viagem de investigação na América do Sul, visitando o Rio de Janeiro e Buenos Aires.

Em conseqüência disso o bispo James O. Andrews nomeou o

rev. Fountain E. Pitts, da Conferência Anual de Tennessee, para essa importante missão. Logo em seguida o rev. Pitts pôs mãos à obra. Visitou diversos pontos dos Estados Unidos, realizando reuniões missionárias e levantando coletas para custear as despesas de viagem.

"No dia 28 de junho de 1835 partiu da cidade de

Baltimore para o Brasil e no dia 19 de agosto desembarcou no Rio de Janeiro. Encetou logo seus trabalhos ministeriais naquela cidade, pregando em casas particulares. Assim foi iniciada a pregação do Evangelho pelo primeiro ministro metodista que implantou o Reino de Deus nesta região do Novo Mundo. Ali organizou uma sociedade metodista. Depois embarcou para Montevidéu, onde pregou por algumas semanas, organizando também ali uma igreja. Então, a bordo de um navio, atravessou o estuário do rio da Prata, viajando 150 milhas até a cidade de Buenos Aires — objetivo ,especial do seu trabalho. Nessa cidade começou o seu trabalho regular sob perspectivas animadoras, sendo muito abençoado por um gracioso derramamento do Espírito Santo, que resultou na conversão de várias pessoas. Organizou uma respeitável igreja que se compunha dos melhores elementos da cidade e tomou medidas preliminares para se levantar uma Casa de

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oração, o que depois se tornou em realidade.”

O rev. Pitts voltou para os Estados Unidos, ali chegando na primavera de 1836.

"Segundo o bispo Wilson, no livro intitulado

"Missions of lhe M. E. Church, South (1882), o rev. Pitts visitou o Rio de Janeiro, Buenos Aires e outros lugares, recomendando que se estabelecessem missões nas duas cidades supramencionadas. Mesmo naquele tempo tão remoto disse que aquela gente estava sendo influenciada pela convivência com estrangeiros e tinha o coração aberto para o Evangelho. Em conseqüência do seu relatório deixou profundamente enraizada nas mentes e nos corações dos "líderes" da nossa Igreja a convicção de que do Brasil tinha vindo um real grito macedônico — "Passa ao Brasil e ajuda-nos" e a Igreja-mãe atendeu imediatamente a essa voz, com o propósito firme de entrar nesse campo para colher frutos para os celeiros do Senhor" (Kennedy, p. 13-14).

65. O trabalho de Justin Spaulding e Daniel Kidder.

Sendo o relatório do rev. Pitts favorável ao estabelecimento de

trabalho missionário no Brasil, o rev. Justin Spaulding, da Conferência Anual da Nova Inglaterra, foi nomeado para trabalhar aqui, e embarcou em Nova York aos 22 de março de 1836.

Spaulding, no Rio, iniciou seu trabalho entre ingleses e

americanos e em pouco tempo organizou uma congregação de quarenta pessoas e uma escola dominical. Distribuiu entre o povo muitos exemplares das Escrituras Sagradas na língua portuguesa, fornecidos generosamente pela Sociedade Bíblica Americana. Além disso, distribuiu outros livros e folhetos

religiosos. Encontrou o povo bem disposto para seu trabalho, apesar dos preconceitos herdados desde o berço.

O trabalho ia bem e o rev. Spaulding pediu que outros

obreiros fossem enviados para o ajudar. Em resposta ao seu pedido a Sociedade de Missões mandou mais três pessoas: Daniel P. Kidder e R. M. Murdy e esposa. Embarcaram em Boston, aos 12 de novembro de 1837, e chegaram bem ao Rio de Janeiro. Kidder, membro da Conferência Anual de Tennessee, dedicou-se ao estudo do português, e à distribuição das Escrituras. Sua esposa, d. Cynthia Harris Kidder, faleceu em 1840 e foi sepultada no "Cemitério dos Ingleses", no bair ro da Saúde. Deixando ela uma criancinha, o pai teve de voltar para a sua terra, levando seu filhinho nos braços. Kidder no período que esteve no Brasil viajou extensamente por todo o país e escreveu um livro sobre as suas viagens e observações. Hoje é livro clássico sobre a vida, costumes e condições daquela época Foi traduzido para o português há pouco tempo. É considerado jóia nas páginas da história do Brasil.

R. M. Murdy e esposa dedicaram-se ao ensino. Abriram uma

escola que prosperou por algum tempo, mas, não satisfazendo à sua finalidade foi fechada.

Justin Spaulding organizou algumas classes e uma

escola dominical. Pregou aos estrangeiros e aos marinheiros a bordo dos navios americanos e ingleses que entravam no porto. Mas encontrou muita oposição da parte dos padres. O povo apreciava as verdades evangélicas que ele pregava, porém os preconceitos religiosos contra os protestantes e a oposição do clero romano dificultaram grandemente suas atividades.

J. L. Kennedy, no seu livro "Cinqüenta anos do Metodismo

no Brasil" (p. 15), sobre este ponto diz: "De 1837 a 1839 o padre (depois monge) Luiz

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Gonçalves dos Santos, autor das "Memórias para a História do Reino do Brasil", publicou vários volumes contra esta propaganda, que verberou em termos vigorosos e grosseiros. Numa delas dizia que o Protestantismo era o reino do diabo. Admirava-se e explicava: "Como é possível que na Corte do Império da Terra de Santa Cruz, à face de seu Imperador, e de todas as autoridades eclesiásticas e seculares, se apresentem homens leigos, casados, com filhos, denominados missionários do Rio de Janeiro, enviados de Nova York por outros tais como eles, protestantes calvinistas, para pregar Jesus Cristo aos Fluminenses?!”

“Coisa incrível! Mas desgraçadamente

certíssima. Estes intitulados missionários estão há perto de dois anos entre nós procurando com atividades dos demônios perverter os católicos, abalando a fé, com pregações públicas na sua casa, com escolas semanárias e dominicais, espalhando Bíblias truncadas e sem notas, em fim convidando a uns e a outros para o Protestantismo e muito especialmente para abraçar a seita dos metodistas, de todos os protestantes, os mais turbulentos, os mais relaxados, fanáticos, hipócritas e ignorantes.” Justin Spaulding ficou no Brasil até o ano de 1841,

quando voltou para sua terra. Não sabemos com segurança quais foram os motivos da sua retirada e da dos demais obreiros, mas sem dúvida o estado perturbado em que se achava a Igreja-mãe, sobre a questão da escravidão, que a dividiu em 1844, foi a principal razão.

Com a retirada dele cessou a obra metodista por cerca de

vinte e cinco anos, mas boa semente ficou lançada no solo fértil do Brasil para ser despertada e cultivada mais tarde.

A tentativa não foi uma derrota completa: a interrupção era tréguas, para se renovar o trabalho no futuro com mais vigor e força

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CAPÍTULO XXII

A FUNDAÇÃO DO METODISMO NO BRASIL

66. O trabalho de Junius E. Newman (1867-1810).

Depois da Guerra Civil nos Estados Unidos, provocada pela

questão da escravidão dos negros, um número considerável de norte-americanos sulistas, emigraram para o Brasil. Diversas famílias fixaram residência no estado de são Paulo, na região de Santa Bárbara e Vila Americana. Entre este grupo de americanos havia alguns metodistas, inclusive um pregador, acreditado como obreiro da Igreja Metodista Episcopal do Sul o metodismo nos EUA já havia se div idido antes da guerra civil), chamado Junius E. Newman. Este foi autorizado pelo bispo W. M. Wightman a trabalhar entre seus patrícios no Brasil.

Newman chegou ao Rio de Janeiro em meados do ano de

1867. Passou quase dois anos perto do Rio, mudando-se depois para Saltinho, perto de Limeira, no estado de São Paulo. Começou a pregar aos colonos americanos e, no mês de agosto de 1871, organizou a primeira igreja metodista no Brasil, com cinqüenta membros. Organizou uma zona e visitava o povo regularmente. Mas não ficou satisfeito com o trabalho entre seus patrícios somente, não deixando, por isso, de interessar-se no bem estar do povo brasileiro.

Escreveu diversas cartas aos bispos da Igreja-Mãe,

pedindo que mandassem missionários para trabalhar entre os brasileiros. Os bispos Haygood e McTyeire, junto com o dr. D. C. Kelley, secretário da Junta de Missões, interessaram-se nos seus apelos e, quando a Conferencia Geral se reuniu, em 1874, resolveu mandar abrir trabalho missionário no Império do

Brasil. O primeiro missionário enviado foi o rev. J. Ransom. O rev. Newman ficou na superintendência da missão

até ao fim de 1879. A sua esposa faleceu em 1877 e ele resolveu mudar-se de Saltinho, em maio de 1879, fixando residência na cidade de Piracicaba. No mês seguinte suas duas filhas, Mary e Annie, abriram uma escola, com internato e externato, que funcionou mais ou menos um ano. Mary se casou com o novo missionário, o rev. J. J. Ransom. Durante a residência de Newman em Piracicaba chegou a relacionar-se com os distintos e ilustres brasileiros, drs. Prudente de Morais e Manoel de Barros. Pela amizade desses brasileiros notáveis ficou mais assentada a organização do seu trabalho no país.

Ali Newman contraiu segundas núpcias, casando-se com

mrs. Lydia E. Barr, em 1880.

"Em 1890, após 24 anos de trabalho de grande util idade no Brasil, já alquebrado e de idade bem avançada, o distinto irmão voltou para os Estados Unidos, indo residir em Point Pleasant, estado de Virgínia Ocidental, de onde, em 1896, partiu para a morada celestial". (Kennedy, p. 19). 67. A Missão James Ransom (1876-1886). O rev. J. J. Ransom, nomeado missionário para o Brasil,

chegou ao Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 1876. Foi logo à casa do rev. Newman, a fim de entender-se com ele a respeito do seu trabalho no país.

Passou o primeiro ano estudando português e ensinando

inglês e grego no Colégio Internacional de Campinas. Passou grande parte do segundo ano viajando por diversas

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partes do país para estudar a situação e ver onde melhor poderia iniciar seu trabalho. Visitou o Rio Grande do Sul e lá se encontrou com obreiros da missão da Igreja Metodista Episcopal que tinha trabalho no Uruguai e no Estado do Rio Grande do Sul. Chegou a conhecer o dr. João C. Correia que trabalhou no Brasil e, para conhecer o dr. Tomaz B. Wood, superintendente da missão, foi até Montevidéu. Ficou por pouco tempo no Rio Grande do Sul.

Voltando da sua viagem ao Sul, fixou residência no Rio

de Janeiro. Alugou a casa nº 175 da rua do Catete, e começou a pregar em inglês aos estrangeiros e, logo depois, em português aos brasileiros. A assistência era pequena, mas os cultos atraíram a atenção dos padres, que o taxaram de incrédulo e ateu. Organizou uma escola dominical em que matriculou cinqüenta alunos. Em 9 de março de 1879 recebeu comunhão da Igreja, por profissão de fé, os primeiros brasileiros, entre os quais figuravam o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque e a senhorinha Francisca de Albuquerque.

O dia de Natal de 1878 foi uma data memorável na vida

de Ransom. Neste dia se casou com miss Annie, filha do rev. Newman. Poucos foram os dias felizes do casal, pois sua esposa faleceu em menos de um ano, em 1888. Foi sepultada no cemitério da Ponta do Caju, no Rio de Janeiro. Logo depois do falecimento da sua esposa, voltou aos Estados Unidos.

A sua visita aos Estados Unidos foi providencial, porque lhe

deu a oportunidade de visitar, sob a direção da Junta de Missões, diversas Conferências Anuais e falar nelas sobre o trabalho no Brasil. Os seus discursos despertaram grande interesse no trabalho missionário no Império do Brasil. Essa visita teve resultados práticos: deu-lhe oportunidade de descansar e recuperar energias e também de atrair novos obreiros para a nova Missão Brasileira.

O rev. Ransom, voltando para o Brasil, via Europa, em 1881 trouxe consigo os seguintes missionários: o rev. J. W. Koger, esposa e um filhinho, miss Marta Watts e o rev. J. L. Kennedy. Chegaram ao Rio de Janeiro em 16 de maio de 1881, ao cair da noite. Seguiram logo para Piracicaba.

Em 20 de maio os revs. Ransom, Koger e Kennedy foram

a Bom Retiro para visitar o rev. Newman. No dia seguinte, na igreja do Campo, foi realizada a primeira Conferência trimensal metodista no Brasil. Voltando a Piracicaba, os missionários fixaram residência naquela cidade, enquanto o rev. Ransom voltava para o Rio de Janeiro, para continuar seu trabalho na Corte.

Koger começou seu trabalho, pregando em inglês aos

estrangeiros e estudando o português. Em 2 de setembro organizou a igreja de Piracicaba e miss Watts abriu uma escola, com uma única aluna, aos 13 do mesmo mês. Foi este o princípio do Colégio Piracicabano. No fim do ano Kennedy foi para o Rio de Janeiro para ajudar Ransom. Trabalharam juntos por alguns meses. Depois Ransom embarcou para os Estados Unidos, deixando o jovem Kennedy com toda a responsabilidade do trabalho . Mas em poucos meses Ransom estava de volta para continuar seu trabalho e suas atividades.

Depois de alguns meses de esforços foi inaugurada a

igreja Metodista do Catete, a primeira capela metodista construída no Brasil.

Ransom serviu como superintendente da Missão Brasileira

até a Conferência trimensal que foi realizada em 22 de dezembro de 1882, quando o trabalho foi dividido em dois distritos: o distrito do Rio de Janeiro, tendo Ransom como superintendente, e o distrito de São Paulo, cujo superintendente era Koger.

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O trabalho no Rio de Janeiro ficou animado depois da inauguração da capela do Catete. Os dois missionários se esforçaram para desenvolver a obra. Mas de repente Kennedy caiu doente, com a febre amarela. Quase morreu. O médico lhe recomendou um passeio a bordo de um navio. Como Kennedy tinha noiva na sua terra, resolveu i r aos Estados U n i d os . Cas ou -s e l á e v o l t o u e m j u l h o c o m a esposa e mais dois obreiros, o rev. J. W. Tarboux e esposa, que tinham um filhinho.

Os revs. Kennedy e Tarboux trabalharam juntos no Rio de

Janeiro e o rev. J. J. Ransom tornou-se um evangelista geral, visitando e pregando em diversos lugares. Passou algum tempo no estado de São Paulo, em Piracicaba, ajudando Koger, na cidade de São Paulo e em outros lugares.

A esposa de Koger adoeceu e foi-lhe necessário voltar

aos Estados Unidos. Embarcou com seus filhinhos, em 27 de outubro de 1883, deixando o marido aqui. Foi necessário fazer nova combinação sobre o trabalho. Ransom e Tarboux ficaram no Rio de Janeiro, Kennedy e sua esposa foram para Piracicaba e Koger ficou trabalhando em São Paulo até que a esposa voltasse. Koger voltou para Piracicaba, Kennedy foi para o Rio de Janeiro e Tarboux para a cidade de São Paulo.

O rev. J. J. Ransom em 2 de setembro de 1880 contraiu

segundas núpcias nos Estados Unidos. Continuou seu trabalho no Brasil, pregando e fazendo o serviço de superintendente distrital, evangelizando e fazendo a redação da literatura da escola dominical.

Planejou uma v isita de evangelização à cidade de Juiz

de Fora, estado de Minas Gerais, mas adoeceu na ocasião marcada para a série de pregações. Encarregou, no entanto, seu colega Kennedy de substituí-lo. Kennedy foi e fez pregação, mas sofreu muita perseguição da parte de pessoas

instigadas pelos padres. A polícia interveio e garantiu a liberdade de culto. Diversas pessoas foram despertadas e converteram-se, entre as quais Filipe R. de Carvalho, as primícias do trabalho metodista em Juiz de Fora.

O ano de 1885 marcou novo passo no desenvolvimento da

obra missionária, pois foi convocada pelo superintendente, rev. J. W. Koger, uma reunião de todos os obreiros, homens e mulheres, na cidade de Piracicaba, de 14 a 20 de janeiro. Os que compareceram foram: J. W. Newman, J. W. Koger,- J. L. Kennedy, J. W. Tarboux e as missionárias e professoras miss M. H. Watts e May W. Bruce. Foi essa a origem do que chamou, a partir de então, "Conferência Anual Missionária no Brasil". O rev. J. J. Ransom não compareceu. Morava naquela ocasião na cidade de Juiz de Fora e era pastor da igreja daquela cidade e superintendente do distrito do Rio de Janeiro.

Como disse J. L. Kennedy no seu livro "Cinqüenta Anos

de Metodismo no Brasil", à pág. 39: "No dia 20 de janeiro de 1885, pela primeira vez na

história da nossa Igreja brasileira; foram lidas as nomeações dos nossos pregadores e dai em diante não passou nenhum ano do calendário sem isso se fazer. O superintendente da missão leu as seguintes nomeações:

Superintendente da Missão — J. W. Koger. Distrito do Rio de Janeiro — J. J. Ransom. Catete (congregação Inglesa) — Para ser suprido. Catete (congregação Brasileira) — J. L. Kennedy, p. c. Catete (congregação Brasileira) — Samuel Elliot, ajud. Circuito do Vale do Paraíba — J. J. RanSom, p. c. Distrito de são Paulo — J. W. Koger. Circuito e estação de São Paulo — J. W. Tarboux. Idem de Santa Bárbara — J. E. Newman.

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Idem de Campinas — Para ser suprido. Idem de Piracicaba — J. W. Koger p. c. e um para ser suprido."

O ano de 1885 correu bem. Todos os obreiros dedicaram-se

ao trabalho e houve progresso tanto no estado de São Paulo como no Rio de Janeiro e em Juiz de Fora. Nesse ano foi organizada a primeira sociedade missionária de senhoras, na igreja do Catete, em 5 de julho. A congregação estrangeira, de ingleses, prontificou-se a sustentar um pastor, se a Igreja-mãe pudesse mandá-lo dos Estados Unidos e custear-lhe as despesas de viagem.

No primeiro dia de janeiro de 1886; fundou-se o jornal

intitulado "Metodista Católico". Foi o primeiro jornal metodista publicado no país. A 20 de julho de 1887 se lhe mudou o nome para "Expositor Cristão".

A missão foi entristecida pelo passamento do rev. J. W.

Koger. Tinha marcado a data da reunião da segunda Conferência Anual da missão para 6 dia 20 de janeiro de 1886, na cidade de São Paulo. Na véspera da Conferência foi ao Rio de Janeiro e lá, apanhou febre amarela. Chegando a São Paulo, faleceu em 28 de janeiro e foi sepultado no Cemitério Protestante de São Paulo, na Consolação.

A reunião da Conferência Anual da missão foi adiada

até ao mês de julho, sendo então presidida pelo rev. bispo J. C. Granbery. Por ocasião dessa Conferência, o rev. J. J. Ransom foi transferido para a Conferência Anual de Tennessee, nos Estados Unidos.

"Aos 4 de agosto de 1886, com a sua digna esposa e filhinho, a bordo do vapor "American France", partiu para o seu torrão natal" (Kennedy, p. 47).

Assim terminou a "Missão Ransom" no Brasil.

68. O progresso e a organização do Metodismo em Conferências Anuais.

Depois da "Missão Ransom" o trabalho metodista foi

organizado e dirigido por meio de Conferências Anuais. Bispos da Igreja Metodista Episcopal do Sul eram os superintendentes gerais e representavam na administração a Junta de Missões da dita Igreja. Esse foi o plano de administração do trabalho por quase cinqüenta anos, até a data da autonomia e formação da Igreja Metodista do Brasil, em 2 de setembro de 1930.

O trabalho progrediu e conquistou-se mais território,

entrando nas fileiras novos obreiros, tanto nacionais como estrangeiros. A missão estava precisando de uma administração mais bem coordenada entre os obreiros, tanto no campo missionário como entre o trabalho feito no campo missionário e Junta de Missões da Igreja-mãe.

1. Organização da Conferência Anual brasileira. O dia da primeira visita episcopal foi 4 de julho de 1886,

quando o rev. bispo J. C. Granbery desembarcou no Rio de Janeiro, acompanhado de sua filha e do rev . H. C. Tucker. O bispo Granbery visitou quase todos os pontos de propaganda durante os três meses que passou no Brasil. Realizou em Piracicaba, aos 17 de julho, a segunda Conferência Anual missionária, com todos os missionários presentes.

Foi em 16 de setembro que se organizou a primeira

Conferência Anual brasileira, na capela do Catete, composta de três presbíteros, J. L. Kennedy, J. W. Tarboux e H. C. Tucker. Assim, com a obra bem organizada, com visitas episcopais anuais e com novos obreiros entrando para as fileiras, o progresso foi firme e rápido.

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2. A transferência da missão do Rio Grande do Sul da Igreja Metodista Episcopal para a Igreja Metodista Episcopal do Sul.

Em 1900 o trabalho missionário iniciado no Rio Grande do

Sul pela Igreja Metodista Episcopal foi transferido para a Igreja Metodista Episcopal do Sul. O motivo principal dessa transferência foi simplificar o trabalho de duas Igrejas, na promoção do esforço missionário na América do Sul. Como na América do Sul a língua portuguesa só é falada no Brasil e o espanhol nos outros paises, as Juntas de Missões das duas Igrejas combinaram a divisão de território do continente, ficando para a Igreja Metodista Episcopal do Sul a evangelização do povo que falava o português e para a Igreja Metodista Episcopal o povo que falava o espanhol. Havia, envolvidos na transação, certos interesses financeiros, que foram ajustados entre as duas igrejas.

Os representantes das duas Igrejas nomeados para

efetuarem a transferência do trabalho do Rio Grande do Sul foram o rev. A. W. Greenman, representante da Igreja Metodista Episcopal, e o rev. H. C. Tucker, representante da Igreja Metodista Episcopal do Sul.

Grenman e Tucker reuniram-se em Porto Alegre em

1889 com o fim de ultimarem a transferência dessa obra. Tudo correu harmoniosamente. Aos obreiros que trabalhavam sob a direção da Junta de Missões da Igreja Metodista Episcopal reservou-se o direito de continuarem com a mesma Junta e retirarem-se para outro campo ou passarem para a Igreja Metodista Episcopal do Sul e trabalharem sob a direção da Junta de Missões desta Igreja. O rev. J. W. Price resolveu ficar no trabalho riograndense; foi, por isso, contado entre os obreiros do Brasil.

Consta no Anuário da Conferência de 1900 o seguinte a

respeito dessa transação: "O presidente participou à Conferência que o dr.

Lambuth, secretário da Junta de Missões, comunicou, por intermédio de H. C. Tucker, que o trabalho da Igreja Metodista Episcopal, no Rio Grande do Sul, fica a cargo desta Conferência" (Kennedy, p. 185). O trabalho no Rio Grande do Sul passou então a ser um

distrito da Conferência Anual brasileira. E por ocasião da Conferência Anual brasileira foram feitas as seguintes nomeações no distrito do Rio Grande do Sul:

Presbítero presidente (P. P.) — J. W. Wolling. Circuito de Porto Alegre — J. W. Price. Bento Gonçalves — Matheus Donatti. Forqueta do Caby — Carlos Lazzare. Cruz Alta e Santa Mar ia — Para ser supr ido.

(Kennedy, p. 185).

3. Organização da Conferência Anual Sul Brasileira (1910). O distrito do Rio Grande do Sul ficou fazendo parte da

Conferência Anual brasileira até 1910. Aos 26 de agosto de 1910 se realizou a primeira sessão da Conferência Anual Sul Brasileira, na cidade de Santa Maria, sob a presidência do rev. bispo W. R. Lambuth. O bispo organizou a Conferência Anual Sul Brasileira de acordo com a autorização da Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul:

"Cópia autêntica da decisão da décima sexta sessão da

Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, realizada em Ashville, Carolina do Norte, de 5 a 22 de maio de 1910, referente à transformação da missão do Rio Grande do Sul em Conferência Anual (Relatório nº 2, Comissão de Limites):”

"Vossa comissão de limites tomou na devida

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consideração um memorial que lhe foi remetido pela Conferência da missão brasileira com referência à mudança do nome da dita Conferência e a organização da missão sul brasileira numa Conferência Anual. Relatamos que estamos de acordo em parte e recomendamos:

1. No apêndice, capítulo I, § 4, onde se lê:

"Conferência Brasileira": incluir todo nosso trabalho que fica ao norte do estado do Paraná, na Republica Brasileira".

2. Um novo parágrafo, na ordem alfabética,

deverá ser inserido no mesmo capítulo, do teor seguinte: "A Conferência Sul Brasileira incluirá os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, na Republica Brasileira.”

Também recomendamos que o bispo encarregado do

trabalho no Brasil seja autorizado a organizar a nova Conferência em sua próxima visita anual.

"Certifico que o precedente é uma cópia fiel dos

registros originais da ação da Conferência Geral".

A. F. Watkins, Secretário, Hattiesburg, Miss. 31 de maio de 1910". A Conferência Anual do Sul Brasileira foi organizada em

agosto desse mesmo ano, em 1910. E no encerramento dessa Conferência histórica o bispo presidente, dr. Lambuth, leu as seguintes nomeações:

DISTRITO DE PORTO ALEGRE — João Wollmer, p. p. - Bento Gonçalves, circuito — Para ser suprido por M. Donatti. - Cachoeira, circuito — Antônio P. Fraga. - Forqueta, circuito — Para ser suprido por João Sauner.

- Porto Alegre, Central — C. L. Smith. - Porto Alegre, Institucional — J. J. Ruiz. - Redator do Testemunho e do Manual e secretário da A.C.M. - João Wollmer. - Secretário Geral da Liga Epworth — J. J. Ruiz. - Ausente com licença — E. E. Joiner. DISTRITO DE URUGUAIANA — J. M. Terrell, p. p. - Alegrete — Jose Kokot. - Cruz Alta, circuito — João Wagner FP. - Sant'Ana — E. M. B. Jaime. - Santa Maria — Frederico Martins e um para ser suprido. - Santa Maria, circuito — para ser suprido. - São Tome, circuito — Frederico Peyrot, sup. - Valos, circuito — Frederico Peyrot, sup. - Uruguaiana — J. M. Terrell. - Colégio União — João W. Price. Missionárias: - Igreja Institucional — Miss Della Wright, Diretora e

secretaria da Sociedade M. de Senhoras. - Colégio Americano — Miss E. Lamb, Diretora. Após as nomeações, o bispo anunciou a benção apostólica. Presidente, Walter R. Lambuth Secretário, João J. Ruiz. Santa Maria, 28 de agosto de 1910".

( cf. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil, p. 222).

4. Organização da Conferência Anual Central Brasileira, (1918).

A Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul,

realizada na cidade de Atlanta, estado de Geórgia, no mês de maio de 1918, atendeu ao memorial da Conferência Anual brasileira, pedindo a sua divisão.

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"Antes de encerrar-se a 33ª sessão da Conferência

Anual brasileira, reunida na cidade de Juiz de Fora, aos 15 de agosto de 1918, o reverendo bispo M. Moore, obedecendo à resolução da Conferência Geral, organizou a Conferência Central brasileira, a terceira Conferência Anual constituída no Brasil. Ficou ela composta dos seguintes distritos: São Paulo, Piracicaba e Ribeirão Preto, incluindo alguns campos mais antigos do trabalho metodista brasileiro. Nesses três distritos existiam 38 igrejas organizadas, com 3.504 membros; 50 escolas dominicais, com 2.366 alunos e oficiais; 31 Ligas Epworth (incluindo juvenis) com 947 sócios e 45 Sociedades Auxiliares de Senhoras, com 1371 sócias. O valor de todas as propriedades, na data da organização da Conferência Anual Central Brasileira importava em Cr$ 720.991.00.”

Para organizar a nova Conferência Central Brasileira foram transferidos da Conferência Brasileira os seguintes obreiros:

NOMEAÇÕES PARA 1918-1919

CONFERÊNCIA CENTRAL BRASILEIRA DISTRITO DE SÂO PAULO — M. Dickie, p. p. - São Paulo — M. Dickie e Guaraci Silveira - São Paulo, circuito — M. Dickie e Guaraci Silveira - São Paulo, italiana — Onofre Di Giacomo - São Roque — Onofre Di Giacomo - Campinas — J. R. Carvalho . - Amparo — J. R. Carvalho ...... - Itapecerica — Juvenal Pereira - Palmeiras — Juvenal Pereira - Santos — Juvenal Pereira .... - Taubaté e Norte — João da Costa

- Cunha — Manoel A. Monteiro, suplente - Tesoureiro da Conferência — M. Dickie DISTRITO DE PIRACICABA — J. L. Kennedy, p. p. - Piracicaba — J. L. Kennedy . - Circuito de Piracicaba — M. M. de Morais - Capivari — M. M. de Morais - Laranjal — para ser suprido. - Ourinhos — J. França, suplente - Birigui e Noroeste — C. B. Dawsey - Penápolis — C. B. Dawsey e um para ser suprido DISTRITO DE RIBEIRÃO PRETO: W. G. Borchers, p. p. - Ribeirão Preto — A. M. Duarte - Sertãozinho e Pontal — A. M. Duarte - Cravinhos — J.C. Reis - São Simão — J. C. Reis - Serra Azul — J. C. Reis - Franca e Batatais — A. J. Mello - Poços de Caldas e Lagoas — S. A. Belcher - Pirassununga e Palmeiras — W. G. Borchers - Santa Rita e Passa Quatro — Oswaldo L. Silva - Boa Esperança e Dourado — José B. Nunes, suplente. - Uberaba e Araxá — J. Leonel Lopes - Igarapava e Jardinópolis — J. Leonel Lopes - Secretário das Missões — W. G. Borchers As missionárias: - Petrópolis — Séc. Miss Eliza Prkinson - Piracicaba — Miss L. A. Stradley,

Mrs F. K. Brown D. Sofia Schalch Miss Mary Sue Brown Miss Sarah Stout.

- Ribeirão Preto — Miss Jinnie Stradley

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Miss Ethel Brown Miss Virgínia Howell.

- Petrópolis — Miss Lídia Ferguson Miss Helen Johnsen Miss Leila Epps

- Belo Horizonte — Miss Emma Christine Miss Mary Jane Baxter Miss Maud Mathis Miss Leila Putnam Miss Nancy Holt

- São Paulo — Miss Amélia Elderding - Instituto Central do Povo (Rio de Janeiro) — Miss Blache

Howell - Aguardando nomeação — Miss Raquel Jarret, Miss Alice

Lamar e Miss Pearl Hicks. - Salisbury, Mo, EUA — Miss Louise Hyde” (Kennedy, pág. 265) CONFERÊNCIA BRASILEIRA DISTRITO DO RIO DE JANEIRO – J.M. Lander, p.p. - Catete – J. W. Tarboux - Instituto Central do Povo — Carlock Hawk, superintendente - Vila Isabel — H. O. Campos - Jardim Botânico — J. E. Tavares e E. Moura, suplente - Realengo — A. Cardoso - Meriti — E. Moura, supl. - Cascadura — A. Cardoso - Barra Mansa — J. H. 1VIata, suplente - Campo Belo — J. H. Mata, suplente - Teresópolis e Magé — J. H. Mata, suplente - Inconfidência — J. H. Mata, suplente - Petrópolis — J. E. Tavares, e um para ser suprido - Entre Rios — A. J. Araújo Filho

- Cabo Frio — Messias C. dos Santos, suplente - Anta — César Dacorso Filho - Santa Tereza, Chacarinha e Bicas — César Dacorso Filho - Porto Novo — A. Bevilacqua - Dr. Astolfo — A. Bevilacqua - Editor de Livros e Redator da Revista e Juvenil — J. M.

Lander. - Agente da Sociedade Biblica Americana — H. C. Tucker. - Tesoureiro da Conferência e da Missão — J. W. Tarboux. - Secretário das missões — J. E. Tavares. DISTRITO DE BELO HORIZONTE — W. B. Lee, p. p. - Belo Horizonte — José Ferraz - Quartel — Osório C. Caire - Ouro Preto e Lafaiete — Pedro Santana, suplente - Circuito de Belo Horizonte — Osório C. Caire - Barbacena — Paul E. Buyers - Palmira — Paul E. Buyers e um para ser suprido - Juiz de Fora — J. L. Becker - Circuito de Juiz de Fora — Para ser suprido - O Granbery — presidente C. A. Long - O Granbery — professor Paul E. Buyers - O Granbery — professor Anderson Weawer - O Granbery — Escola Bíblica — J. L. Becker - Seminário Unido — Paul E. Buyers - Casa Publicadora — J. W. Clay, gerente - Expositor Cristão — Jose Ferraz, redator DISTRITO DE CARANGOLA — W. B. Lee, p. p. - Cataguazes — J. A. Guerra - S. Paulo do Muriaé: João do Couto, suplente - Faria Lemos -- Frank Wiederheker - Caparaó — Frank Wiederheker - Sao João — Frank Wiederheker

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- Ubá — V. Gonçalves - Pomba — V. Gonçalves - Laranjeiras — A. J. Rodrigues - Miracema — A. J. Rodrigues - Transferido para a Conferência Sul Brasileira — Derli de A. Chaves." (Anuário da Conferência Anual Brasileira de 1918, ps. 26, 27

e 10). Desde a organização da Conferência Anual Central Brasileira

até 1930, o trabalho nas regiões das três Conferências Anuais progrediu rapidamente. Logo no princípio desse período se deu a celebração do centenário da obra missionária da Igreja-mãe. Muito dinheiro foi levantado no prazo de cinco anos, começando em 1919 e terminando em 1924. Os campos missionários receberam auxílio em dinheiro e em novos obreiros. A obra no Brasil recebeu fundos para a construção de igrejas, capelas, para consolidar as escolas velhas e fundar novas e aumentar o ensino nos seminários Foi esse um período de impulso e progresso em todos os setores do trabalho do Brasil. Houve grande progresso na obra educativa. As escolas localizadas na região de cada Conferência anual são as seguintes:

Conferência Anual Brasileira: - Instituto Granbery e a Faculdade de Teologia d'O

Granbery, de Juiz de Fora; - Colégio Bennett e Instituto Central do Povo, do Rio de

Janeiro, - Colégio Isabela Hendrix , de Belo Hor izonte. Conferênc ia Anual Centra l: - Colégio Piracicabano, de Piracicaba; - Colégio Metodista, de Ribeirão Preto;

- Colégio Noroeste, de Birigui, - Ginásio Americano, de Lins. Conferência Anual Sul Brasileira: - Colégio Americano, de Por to A legre ; - Co lég io Un ião , de Urugua iana; - Instituto Ginasial, de Passo Fundo; - Colégio Centenário, de Santa Maria, - Instituto Porto Alegre, de Por to Alegre - Faculdade de Teologia, de Por to Alegre. Também durante essa época as escolas dominicais, as

sociedades de senhoras, de jovens e de crianças tomaram nova vida e progresso. O movimento leigo desenvolveu-se e contribuiu fortemente para o movimento de sustento próprio.

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CAPÍTULO XXI I I

A IGREJA METODISTA AUTÔNOMA

69. Os primeiros passos na organização autônoma. O espírito nacionalista manifestou-se muito entre os anos

de 1920 e 1930. O primeiro jubileu do trabalho metodista brasileiro foi celebrado em 1927. O rev. J. L. Kennedy foi encarregado de escrever a história do Metodismo no Brasil. A obra "Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil" foi publicada em 1928. Não foi possível sair do prelo mais cedo por diversas razões, mas em todas as igrejas, nas três regiões, realizaram-se programas apropriados para a celebração dessa data.

Também a Junta de Missões, em conjunto com as três

Conferências Anuais, tomou os passos necessários para organizar uma Igreja autônoma no Brasil. Organizaram-se comissões, tanto da Junta Geral de Missões como das Conferências Anuais, para apurar os dados e fatos informativos a respeito da conveniência de conceder autonomia ao trabalho no Brasil. Depois de colher todas as informações possíveis sobre a questão, resolveu-se conceder autonomia ao Metodismo brasileiro.

O memorial que as Conferências Anuais brasileiras

enviaram para a Conferência geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, em 1929, pedindo que as três Conferências Anuais do Brasil fossem organizadas em Igreja Autônoma, foi aceito e uma comissão especial foi nomeada para efetuar a organização da nova Igreja.

70. A organização, eleição de bispos e outros dados.

Tendo sido dados todos os passos necessários, tanto

pela Igreja-mãe como pelas três Conferências Anuais, convocou-se uma reunião dos membros da comissão da Igreja Metodista Episcopal do Sul e dos representantes das três Conferências anuais brasileiras, para os dias 28, 29 e 30 de agosto de 1930 e, logo em seguida, aos 2 de setembro, na igreja Central de São Paulo, a comissão e os delegados brasileiros reunidos para organizar a Igreja Metodista do Brasil fizeram a seguinte proclamação:

"Proclamação da Autonomia da Igreja Metodista do Brasil:

Considerando que a Comissão Conjunta deu todos os

passos necessários para a convocação do Concílio Geral da Igreja Metodista do Brasil e convocou o mesmo para a cidade de São Paulo em 2 de setembro do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1930.

Os membros da Comissão Conjunta, rendendo

graças a Deus por sua direção e pelo espírito de cooperação que reinou em nossas deliberações, declaramos aberto o primeiro Concílio Geral da Igreja Metodista do Brasil, e declaramos que os membros e ministros da Igreja Metodista Episcopal do Sul, no Brasil, passam por este ato a ser membros e ministros da Igreja Metodista do Brasil; que a Igreja Metodista Episcopal do Sul deixa de existir no Brasil, e que a Igreja Autônoma por esta proclamação fica constituída.

Cidade de são Paulo, 2 de setembro de 1930. ( a s s i n a m)

E d w i n D . Mo u zo n , B i s p o Ester Case

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W. Erskine Williams J. L. Clark F. S. Love W. H. Moore César Dacorso Filho Epaminondas Moura Otilia Chaves Oswaldo Lindenberg W. B. Lee Guaraci Silveira Oswaldo Luiz da Silva Elias Escobar Junior Francisca Ferreira de Carvalho G. D. Parker A . M. Ungare t t i J. I. Cerilhanes Eunice F. Andrew Ephraim Wagner".

"Considerando que a Conferência Central da

Igreja Metodista do Sul na República do Brasil, reunida na cidade de São Paulo, no mês de agosto do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1929, aprovou e enviou à Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul um memorial, pedindo que as três Conferências Anuais do Brasil fossem organizadas em Igreja Autônoma para que, tendo plena liberdade de se desenvolver como instituição, continuasse, contudo, em união íntima com a Igreja Metodista Episcopal do Sul;

“Considerando que a Conferência Geral da Igreja

Metodista Episcopal do Sul, reunida na cidade de Dallas, Texas, Estados Unidos da América do Norte, no mês de maio do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1930, estudou cuidadosamente e com oração o memorial apresentado pelos delegados do Brasil e decretou as disposições seguintes:

1°) Que a Conferência Geral providencie a

nomeação de uma comissão composta de cinco membros, que será chamada Comissão sobre a Igreja Metodista do Brasil, e que esta comissão seja autorizada a ir ao Brasil para conferir com uma comissão idêntica composta de quinze membros, sendo cinco de cada uma das três Conferências Anuais do Brasil.

2°) Que esta Comissão unida de vinte tenha

poderes para estabelecer a Igreja Metodista do Brasil com o grau de relação orgânica com a Igreja Metodista Episcopal do Sul que a comissão determinar, porém que esta comissão não tenha poderes para estabelecer uma Conferência Central da Igreja Metodista Episcopal do Sul com autoridade para eleger os seus bispos, mas tenha poderes para organizar uma Igreja Autônoma.

3º) Que esta comissão seja instruída para preparar

a base da organização da Igreja Metodista do Brasil, prover relação contínua entre a Igreja Metodista do Brasil e a Igreja Metodista Episcopal do Sul.

4°) Caso seja estabelecida uma Igreja

Autônoma, esta comissão convocará uma reunião do corpo governante (Conferência Geral) e, logo que esta esteja legalmente funcionando, elegerá um bispo e os demais oficiais conforme o plano preparado pela comissão.

5°) Que dos fundos da Conferência Geral se

paguem as despesas que houver com a organização da Igreja Metodista do Brasil.

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6°) A título de precaução no estabelecimento

da Igreja Metodista do Brasil, recomendamos que a comissão organizadora tenha cuidado de não violar as limitações constitucionais da Igreja Metodista Episcopal do Sul; recomendamos, outrossim, que a mesma comissão tenha também o cuidado de seguir os termos destas recomendações, procurando executar especialmente o seu espírito, e recomendamos ainda que a mesma comissão use de toda a discrição necessária, dentro das limitações constitucionais, no estabelecer a Igreja Autônoma do Brasil.

“Considerando que, a Conferência Geral da Igreja

Metodista Episcopal do Sul, de acordo com o memorial que recebeu da Conferência Central do Brasil, decretou mais as seguintes disposições, estabelecendo os meios de continuar a união com a Igreja Metodista do Brasil, a saber:

"Em campos missionários, onde existe uma igreja

Autônoma ou independente que é filiada organicamente ou de outra forma à Igreja Metodista Episcopal do Sul e à Junta de Missões, organizar-se-á um Conselho Central composto de membros nacionais da Igreja Metodista Autônoma ou independente e missionários que trabalham nesse campo, o qual Conselho substituirá as Missões.

“Uma comissão unida da Igreja Metodista Nacional

e da Missão elaborará uma constituição para dirigir o funcionamento do Conselho Central, a qual será submetida à aprovação da Junta Geral de Missões.

“Nos campos missionários, onde existe um

Conselho Central em vez de uma missão, tem ele dois representantes clérigos, um missionário e um nacional

na Conferência Geral, os quais terão os direitos e privilégios de delegados, menos o direito de voto".

“Considerando que a Conferência Geral da Igreja

Metodista Episcopal do Sul elegeu uma comissão para estabelecer Igreja Autônoma no Brasil, cujo certificado de eleição assim reza:

"Dallas, Estado de Texas, 27 de maio de 1930. A quem interessar: Certifico que no sábado, 17 de maio de 1930, a Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, em sessão quadrienal, devidamente reunida na cidade de Dallas, Texas, por uma proposta formal, apoiada, elegeu as seguintes pessoas para constituírem a comissão para estabelecer a Igreja Autônoma no Brasil:

- Bispo Edwin D. Mouzon, - Charlotte, N. C., - d. Esther Case, Nashville, Tenn., - Juiz W. Erskine Williams, Fort Worth, Texas, - rev. J. L. Clark, Danville, Kentucky, - rev. F. S. Love, Raleigh, N. C., O documento é assinado por L. H. Este,

secretário da Conferência Geral". “Considerando que, em obediência às instruções acima

mencionadas, a referida comissão veio ao Brasil e apresentou o plano da autonomia às três Conferências Anuais Brasileiras que foram convocadas em sessões regulares pelo bispo James Cannon Junior, bispo encarregado do trabalho no Brasil;

“Considerando que as três Conferências Anuais do

Brasil, a saber: a Conferência Anual Brasileira, reunida na cidade de Petrópolis, de 7 a 9 de agosto, a Conferência

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Anual Central Brasileira, reunida na cidade de São Paulo, de 13 a 15 de agosto, e a Conferência Anual Sul Brasileira, reunida na cidade de Passo Fundo, de 21 a 22 de agosto, todas no ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1930, unanimemente aprovaram o plano de autonomia adotado pela Conferência Geral na cidade de Dallas, Texas, e que cada uma delas elegeu cinco delegados, a saber:

A Conferência Anual Brasileira: - W. H. Moore, - César Dacorso Filho, - Epaminondas Moura, - d. Otília Chaves e - Oswaldo Lindenberg. A Conferência Anual Central Brasileira: - Guaraci Silveira, - Oswaldo L. da Silva, - W. B. Lee, - Elias Escobar Junior e - d. Francisca de Carvalho. A Conferênc ia Anual Sul Brasi le ira: - G. D. Parker, - A. M. Ungaretti, - João I. Cerilhanes, - Miss Eunice Andrew e - Epraim Wagner. “Considerando que a Comissão Conjunta, composta

das pessoas supra mencionadas, se reuniu na cidade de São Paulo, na Igreja Metodista Central, nos dias 28, 29 e 30 de agosto e 2 de setembro de 1930, elaborou a seguinte constituição, devidamente assinada pelo presidente e secretários da dita comissão".

Logo em seguida à proclamação da Autonomia, reuniu-se, no

mesmo local, o primeiro Concílio Geral da Igreja Metodista do Brasil.

O Concilio Geral adotou os mesmos Artigos de Religião, as

mesmas Regras Gerais e o Ritual da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Estabeleceu sua Constituição, seus Cânones e elegeu os secretários e membros das Juntas Gerais. Constituiu só três Juntas Gerais, a saber:

- Junta Geral de Missões, - Junta Geral de Educação Cristã; - Junta Geral de Ação Social. Também elegeu o redator do Expositor Cristão e o

tesoureiro geral. O dr. John Will iam Tarboux foi ele ito bispo. Estava

nos Estados Unidos, quando foi eleito. Depois de consultado, aceitou a incumbência e foi consagrado na igreja do Catete, no Rio de Janeiro, aos 12 de outubro de 1930.

Serviu no primeiro quadriênio com muito sacrifício, pois a

sua família ficou nos Estados Unidos e ele tinha de viajar muito e passar a maior parte do seu tempo fora do lar. Além de tudo isso estava avançado em idade. Findo o primeiro mandato de quatro anos, foi reeleito pelo Concílio Geral que se realizou na cidade de Porto Alegre de 4 a 19 de janeiro de 1934, mas seu estado de saúde não permitia que prestasse serviço ativo. Voltou para os Estados Unidos e morreu em Miami, na Flórida, aos 2 de maio de 1940, com 82 anos de idade, cheio de fé no seu Salvador Jesus Cristo.

O rev. César Dacorso Filho, pastor e superintendente

distrital de Carangola, região do Norte, foi eleito bispo na mesma ocasião (1934). Sobre ele caiu toda a responsabilidade

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da Igreja, pois o bispo Tarboux, como já foi dito, não estava em condições de prestar qualquer serviço ativo na administração da Igreja. Foi tão boa a administração do Bispo César que foi reeleito em 1938. Há pouco tempo, na última reunião do Concílio Geral, que se realizou na cidade de Piracicaba, SP, em fevereiro de 1942, foi eleito pela terceira vez. Na mesma ocasião foram eleitas as seguintes pessoas para os lugares de maior responsabilidade no trabalho da Igreja:

- José de Azevedo Guerra, redator-chefe do "Expositor Cristão", órgão oficial da Igreja Metodista do Brasil;

- Augusto Schwab, secretário da Junta Geral de Missões; - James E. Ellis, secretário da Junta Geral de Educação

Cristã; - H. C. Tucker, secretário da Junta Geral de Ação

Social; - Walter W. Moore, reitor da Faculdade de Teologia da

Igreja Metodista do Brasil; - Adolfo Schlottfeldt, tesoureiro geral; - dr. Nelson de Araújo, missionário médico, representante

da Igreja Metodista do Brasil na missão Caioá, em Mato Grosso. Apesar das dificuldades, a Igreja Metodista do Brasil

tem prosperado desde o dia da sua Autonomia e seu futuro é promissor. Tanto na evangelização como no campo da educação tem progredido. A Igreja deu passo acertado quando resolveu unificar o programa do preparo ministerial, decidindo que houvesse uma só Faculdade de Teologia. A Faculdade de Teologia do Granbery e a Faculdade de Teologia do Rio Grande do Sul, fundidas numa só, foram transferidas para a cidade de São Paulo, por determinação do Concílio Geral, na sua sessão regular realizada em Juiz de Fora, MG, em fevereiro de 1938. A nova Faculdade tomou o nome de "Faculdade de Teologia da Igreja Metodista do Brasil" e está instalada em prédios próprios, com quatro residências para professores, num lote de terreno de quase três alqueires, à beira da "Via Anchieta" estrada que vai de São Paulo a

Santos. O terreno custou Cr$ 107.708,00 e os prédios mencionados custaram mais de Cr$ 620.000,00.

No fim do exercício eclesiástico de 1941 a estatística

demonstrou o seguinte: Ministros em atividade 94 Ministros em disponibilidade 15 Leigos provisionados 79 Ministros aposentados 5 Ministros jubilados 12 Missionários leigos 30 Membros da Igreja 30.066 Alunos na Escola Dominical 27.532 Sócias da Sociedade M. de Senhoras 5.912 Sócios da Sociedade M. de Homens 1.217 Sócios da Sociedade M. de Jovens 3.683 Sócios da Sociedade M. de Crianças 4.354 Número de escolas para moços 5 Número de escolas para moças 3 Número de institutos de Ação Social 3 Faculdade de Teologia 1 Número de Igrejas ou templos 225 Número de residências pastorais 56 Sustento Ministerial Cr$ 536.866,00 Orçamentos Cr$ 364.921,00 Total por todos os outros fins Cr$ 3.587.956,00 Valor das propriedades Cr$ 16.558.401,00

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PARTE V

HISTÓRIA DO METODISMO NOS

CAMPOS MISSIONÁRIOS

CAPÍTULO XXIV

O TRABALHO MISSIONÁRIO DAS SOCIEDADES BRITANICAS

71. O trabalho missionário das sociedades do Metodismo Wesleyano.

A obra missionária é baseada na certeza da fé que livra

a alma de um perigo universal e que satisfaz aos anelos da alma humana. João Wesley começou a sentir grande fé no culto na rua Aldersgate, em 24 de maio de 1738, quando sentiu aquecer-se-lhe o coração maravilhosamente. Percebeu que tinha uma mensagem para todos os homens e sentiu a necessidade ou, antes, o dever de anunciá-la a todo o mundo. A declaração que fez diante do túmulo do seu pai, em Epworth — "Tomo o mundo como a minha paróquia" foi uma manifestação espontânea da certeza da sua fé.

De experiências como essa nasceu a obra missionária: sem

certeza da fé não pode haver entusiasmo missionário. Homens e mulheres de corações inflamados pelo amor

de Deus têm ido aos confins da terra, desafiando o frio das regiões árticas e o calor das zonas tórridas. A história das missões metodistas tem muitas páginas áureas nas quais estão escritas as façanhas dos heróis da fé.

Já falamos da obra missionária na Irlanda, na Europa,

na Austrália, na África do Sul, nas Antilhas e no Ceilão. Agora tentaremos narrar mais alguns fatos a respeito da obra missionária na África, no Ceilão, na Índia, na China e na

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Oceania. A Igreja Metodista Wesleyana iniciou sua obra missionária

antes de organizar qualquer sociedade missionária em qualquer congregação ou paróquia.

O bispo Coke foi o pioneiro da obra missionária do

Metodismo britânico. Seu espírito missionário chegou até ultrapassar o de Wesley, pois em 1790, Coke insistiu que as sociedades levantassem coletas nas diversas zonas para missões, mas Wesley não gostou disso, achando que seria pesado demais para as sociedades. Mas o espírito de Coke e a sua habilidade desarmaram o espírito dos que não tinham tanto entusiasmo pelas missões.

É conhecido o dito de um capitão de navio, de quem

Coke tinha solicitado uma oferta para as missões. Disse ele que Coke era "diabinho mais celestial" que já tinha visto. Foi realmente o entusiasmo de Coke que despertou o espírito missionário tão cedo entre os metodistas.

1. Missões na África. O entusiasmo de Coke pelas missões levou a Igreja a

assumir a responsabilidade de evangelizar os povos não cristãos.

A missão africana teve a sua origem numa necessidade

que se desenvolveu no exército inglês, de cuidar dos soldados africanos que serviam no exército inglês, na guerra da Independência, feita pelos colonos americanos. Alguns dos ex-soldados africanos ficaram na Inglaterra e muitos dentre eles se converteram na Nova Escócia.

O dr. Coke teve a idéia de fundar uma colônia com eles

na África, na zona da Serra Leoa. Havia mais de duzentos

crentes entre eles e pediram que Coke os ajudasse. O bispo Coke combinou com Wilberforce para fundar uma colônia cristã que podia sustentar-se a si mesma. Era composta de leigos mecânicos que haviam de desenvolver a colônia pelo seu trabalho. Mas foi um fracasso, por causa da instabilidade do caráter dos homens que foram mandados.

Em 1798 a Conferênc ia anual se achou em grandes

dificuldades financeiras para cuidar da obra iniciada. Fizeram-se apelos especiais, mas não era tal medida satisfatória, porque não era permanente. Portanto, os metodistas ingleses foram inspirados a organizar em todas as paróquias sociedades missionárias pelas quais o espírito missionário fosse cultivado e as necessidades das missões atendidas.

A primeira sociedade missionária foi organizada em Leeds,

em 1813, e em 1814 a Conferência Anual autorizou a organização de sociedades missionárias em todas as zonas. As sociedades missionárias estavam ligadas à Conferência Anual e tinham poder central para dirigi-las. Foi uma política sábia e eficiente. Realmente foi uma revolução na organização eclesiástica na Europa. Tal arranjo garantia uma direção central, sábia e eficiente na obra missionária tanto no país como no estrangeiro.

Por alguns anos os cristãos africanos de Serra Leoa

tiveram de esperar os missionários ingleses. Em 1811 Jorge Warren chegou entre eles e foi recebido com grande alegria. Mas pouco depois faleceu. Outros lhes foram enviados: alguns viveram pouco tempo, porém outros viveram por muitos anos. O trabalho cresceu e se desenvolveu lentamente. Estendeu-se mais para o interior e estendeu-se até a Costa do Ouro. O Novo Testamento foi traduzido para a língua mandinga.

A mortandade entre os missionários nas costas ocidentais

da África foi horrível em 1838. Mais de oito missionários faleceram naquele ano. E no ano de 1850 foi maior ainda, pois

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mais de cinqüenta sucumbiram. Os missionários destinados àquele campo sempre eram voluntários. Ninguém foi para Iá enviado contra a vontade. Mas nunca houve falta de homens e mulheres que se oferecessem para aquele campo. O fato que o trabalho se desenvolveu e prosperou sob tais dificuldades é prova de que o trabalho era sincero e real.

Muitos dos escravos crentes, libertados, se utilizavam da

madeira dos navios em que chagavam da América para construir capelas.

Os africanos livres, cristãos, visitando a região do

interior, ficaram horrorizados com as coisas que testemunhavam: homens e mulheres oferecidos em sacrifícios. Às vezes até quarenta pessoas eram sacrificadas numa vila. Alguns desses crentes africanos, voltando à Inglaterra, contaram estes horrores e assim estimularam o povo a se interessar na evangelização dos pagãos africanos. Um desses africanos livres fez um apelo na Inglaterra e levantou uma oferta no valor de Cr$ 450.000,00. Os chefes de tribos foram, conquistados. Tornou-se assim mais fácil abrir o trabalho de evangelização naqueles lugares. A cidade de Abbeoktuta, na zona da Costa de Ouro, ficou agradavelmente impressionada com o comportamento dos africanos livres e cristãos.

Uma coisa que dificultou o trabalho entre as tribos que

estavam mais para o interior era o interesse que os chefes tinham em vender escravos aos brancos. Mas o fato que a Inglaterra acabara com o tráfico de escravos e proibira que alguém se interessasse em tal negócio, nos territórios em que dominava, concorreu muito para a evangelização dos africanos nessas zonas.

Às vezes um chefe de tribo, aceitando o Cristianismo ou

tornando-se amigo dos cristãos, facilitava a fundação de escolas e a evangelização do seu povo. Em 1863, no ano de

jubileu dessa missão, havia dez mil membros comungantes na Igreja.

O trabalho nas costas ocidentais da África tem, desde

1863, tido novos contactos com o paganismo. O avanço do trabalho naquelas partes, pôs os missionários em contacto com as tribos mais selvagens. As oposições e os perigos eram maiores e mais fortes. Num lugar chamado Dahomey, em 1863, muitos cristãos foram maltratados, alguns assassinados e um professor cristão foi crucificado. O progresso tem sido lento, porque a força desses elementos anula as atividades dos crentes. E, além do paganismo, outra coisa, ainda mais difícil de combater, é o maometanismo. Os missionários maometanos têm-se encontrado com os missionários cristãos.

Onde há cristãos, muitos deles têm sido arrastados para a

religião de Maomé, porque o seu padrão de moral é mais fácil de seguir e a poligamia praticada pelos maometanos está de acordo com os costumes africanos. Ainda há outro empecilho ao trabalho, que é a política civil — o governo e a parte que os africanos devem ter nele por meio dos seus chefes. Não é fácil desenvolver um governo autônomo entre selvagens. Esse aspecto da vida dos africanos tem sido influenciado pela mudança da autoridade estrangeira, de ingleses para franceses e alemães. A obra missionária em certas zonas tem sofrido com estas mudanças Mas as missões que os ingleses fundaram foram entregues aos metodistas ingleses e aos missionários alemães, respectivamente, e com bom êxito. O mesmo trabalho é continuado, ainda que seja em francês ou alemão.

Alguns centros se desenvolveram com rapidez, como a

missão em Sherboro, que dista cento e vinte milhas para o sul da Serra Leoa. Em 1892 as Conferências trimensais foram organizadas e os leigos estavam suficientemente preparados para nelas servirem como oficiais. O centenário foi celebrado e

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os indígenas levantaram nesse lugar mais de quatro mil libras ou Cr$ 260.000,00. Em Serra Leoa as igrejas têm sustento próprio, levantando anualmente mais de seis mil e quatrocentas e quinze libras ou Cr$ 477.850,00. Fundou-se um seminário teológico, onde os obreiros têm sido preparados: tem dado bons resultados. Os obreiros ali educados não somente sabem pregar melhor aos seus semelhantes, mas aprendem o árabe e assim podem combater melhor as invasões muçulmanas.

2. Ceilão e Índia. Já vimos como o bispo Coke arranjou um grupo de

missionários para iniciar a evangelização da Índia e como ele faleceu antes de chegar a Índia e foi sepultado no mar. Os missionários que o acompanhavam iniciaram seu trabalho na ilha do Ceilão, esperando mais tarde levar o Evangelho para a Índia continental . O governo inglês apoiava obra missionária no Ceilão, porém, a companhia chamada "The East India Company" proibiu trabalho missionário nas zonas onde ela dominava.

Os missionários chegaram ao Ceilão e ali iniciaram logo seu

trabalho em quatro lugares: Colombo, Gale do Sul, Jaffua e Batticoloa do Norte. Havia grande número de cristãos nominais, descendentes de portugueses e holandeses. Os missionários aproveitaram essa vantagem e ocuparam algumas das igrejas que ficaram abandonadas depois da queda do poder português. Também os oficiais civis mostravam simpatia para com os missionários. Diversos indígenas converteram-se do romanismo, bem coma alguns cristãos nominais. Alguns sacerdotes budistas se converteram ao cristianismo. Um dos reis entre os kandianos se converteu e isto favoreceu a evangelização do seu povo no interior de Ceilão.

Os missionários, com o correr do tempo, publicaram o Novo

Testamento em português e na língua cingalesa. Abriram escolas para. educar crianças. O trabalho prosperou na primeira fase da obra missionária no Ceilão. Em 1823 havia crentes pregando o Evangelho em todas as línguas faladas na ilha.

Com o auxílio de Davi, discípulo do missionário alemão

Schwartz, os metodistas tentaram abrir trabalho na Índia. Lynch foi mandado para Madrasta. Em 1822 tentaram abrir trabalho em Bangalore, Negapatam.

Não será possível aqui entrar em detalhes e narrar os fatos

do desenvolvimento da obra missionária metodista na Índia. Muitos missionários, homens e mulheres, têm trabalhado no Ceilão e na Índia. Escolas de diversos tipos, seminários teológicos, orfanatos e hospitais têm sido fundados. A Bíblia em alguns dialetos foi publicada. Tem-se publicado jornais e livros. Mas tudo isso exigiu tempo, talento e dinheiro. Manifestou-se oposição da parte dos hindus a respeito do sistema de castas. Mas o Cristianismo pregado pelos evangelistas, ensinado nas escolas e exemplificado nos orfanatos e hospitais tem criado raízes na vida da Índia, de tal modo que será difícil dali erradicá-lo.

O desenvolvimento do espírito nacionalista e o sistema de

castas e a diversidade de raças e línguas têm dificultado o programa da Igreja. Se o elemento nacional fosse suficientemente forte para conservar tudo o que é de valor na vida indiana, seria uma grande benção para o país e para a causa de Cristo entre aquele povo.

3. China. Por muitos anos a Comissão, ou a Sociedade Missionária,

desejava iniciar seu trabalho na China, seguindo o exemplo de Morrison, que começou seu trabalho na China em 1801. Porém o tempo não era propício para tal empreendimento. Foi

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só em 1851 que um metodista, Jorge Piercy, tentou abrir trabalho missionário no grande Império da China. Fê-lo pessoalmente, sem o auxílio da Sociedade Missionária.

Trabalhou entre os soldados ingleses de Hong-kong e

finalmente a Sociedade Missionária o aceitou como seu representante. A Sociedade destinou mil l ibras ou Cr$ 90.000,00 para abrir a missão.

Em 1853 Josias Cox se ofereceu para o trabalho na

China, foi aceito e enviado como auxiliar de Piercy. Trabalharam e em 1856 batizaram o primeiro crente. Nessa época havia muita oposição aos estrangeiros. Os missionários refugiaram-se em Macau e, quando Cantão caiu nas mãos dos ingleses, os missionários foram para aquela cidade.

Rebentou a rebelião de Taiping, provocada por um

fanático que leu os livros de Josué e Juizes e queria exterminar a idolatria. Queria expulsar os manchús e estabelecer nova dinastia em Nanking. Destruindo os ídolos, afirmava que fazia a vontade de Deus. Um parente do chefe da rebelião tinha sido cristão e aliou-se com o fanático. Mas a rebelião deixou de ser religiosa e tornou-se movimento de exploração. Por isso se enfraqueceu e foi derrotada.

A rebelião de Taiping trouxe grandes prejuízos para a

China: foi derrotada pelos ingleses, chefiados pelo general Gordon; perdeu-se grandes propriedades e dez milhões de vidas.

Sendo a rebelião, em parte, identificada com o

Cristianismo, criou maiores dificuldades ainda para os missionários. Mas pouco a pouco os missionários entraram mais e mais para o interior. Fixaram sua missão ao longo do rio Yang tse, nas cidades de Hankow, Wuchang e Hanyang.

Em 1864 o dr. Porter Smith fundou um hospital em Hankow. Milhares de pessoas eram ali tratadas anualmente. Em 1867 mais de 18.000 pacientes lá receberam serviços médicos. Os hospitais têm prestado bom serviço na China.

A obra de evangelização continuou ao lado da obra dos

hospitais. Milhões de pessoas nas grandes cidades ouviram o Evangelho e grande número de Bíblias e folhetos foram distribuídos entre o povo.

Em 1870 houve uma revolta em Tientsin, em que grande

número de católicos romanos perdeu a vida. A influência do Cristianismo se fez sentir na vida chinesa

e o confucionismo estava ameaçado Por isso houve esta revolta contra a influência dos estrangeiros. Mas as perseguições serviram para experimentar os crentes e peneirar aqueles que não eram sinceros.

Em 1878 houve uma grande fome e milhões de vidas

foram poupadas pela boa administração de socorro público. Davi Hill salientou-se desse serviço, bem como Timóteo Richard. Dessa maneira o espírito cr istão manifestou-se em forma concreta e os chineses puderam apreciar melhor o que é o Cristianismo prático.

A obra missionária na China sofreu perseguições e todas as

missões trazem cicatrizes, como resultado das violências sofridas. Em diversas épocas as propriedades dos missionários sofreram depredações. Em 1891 e 1894 as missões de Shiukwan e Wusueh foram incendiadas, mas poucas pessoas perderam a vida.

A missão empregou leigos na propaganda, o que deu bom

resultado. Hospitais, escolas, orfanatos e campanhas de evangelização foram mantidos com o auxílio dos leigos.

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A obra educativa tem prestado bom serviço na evangelização dos chineses. A educação das moças, tanto como dos rapazes, tem contribuído grandemente para a emancipação das mulheres chinesas.

De época em época tem havido mudanças na vida política e

social da China, devido a influências externas. O Japão tem provocado reações terríveis na vida sossegada dos chineses. A influência do cristianismo e da civilização ocidental tem levado a sua contribuição também à alteração dos costumes antigos dos chineses não é de estranhar, pois, que tem havido revoltas, motins e reações violentas.

Uma nova China esta aparecendo. Os chineses estão

volvendo os olhos mais para o futuro do que para o passado, como estavam acostumados a fazer. E o metodismo tem, junto com outras Igrejas, feito a sua contribuição para efetuar essas mudanças.

4. Oceania. Em 1815, quando foram fundadas as colônias da Austrália

e da Nova Zelândia, manifestou-se o interesse nas missões . Já falamos na obra missionária naqueles lugares. Mas os metodistas não ficaram satisfeitos com o trabalho feito na Austrália, na Nova Zelândia e na Tasmânia, e se interessaram, ainda mais, na evangelização das ilhas da Oceania. Muitas ilhas se encontram no sul do oceano Pacífico. Portanto, tratou-se de abrir trabalho em diversas ilhas da Polinésia. Os triunfos do cristianismo sobre o paganismo nestas ilhas é um capítulo brilhante na história da Igreja.

Os metodistas abriram trabalho nas ilhas Friendly e nas

ilhas Fiji. As primeiras tentativas para abrir trabalho nas ilhas Friendly não tiveram bom êxito. Diversos missionários foram assassinados.

Mas em 1822 Walter Lawry tentou abrir trabalho lá e foi

bem recebido. Logo depois chegaram outros obreiros e passaram a obra em Tonga. Os chefes locais ajudaram a construir uma capela em Tonga. Os habitantes, no prazo de dezoito meses, abandonaram os ídolos e começaram a assistir aos cultos e mandar seus filhos para a escola. Uma nova vida veio suplantar a vida de medo e de superstição.

A missão na ilha de Fiji começou em 1823. Os habitantes

dessa ilha pediram que os missionários fossem pregar-lhes o Evangelho. Os missionários foram, trabalharam e conquistaram o povo para Cristo. Manifestou-se nessa ilha um avivamento que se espalhou para outras e muitos chefes de tribos aceitaram o Evangelho.

72. As missões da Igreja Metodista Unida. A Igreja Metodista Unida representa três pequenos

ramos do Metodismo britânico: a Nova Igreja Metodista, a Igreja dos Metodistas Cristãos da Bíblia e as Igrejas Metodistas Livres e Unidas. Todos esses ramos do Metodismo tinham trabalho missionário no estrangeiro antes da sua unificação em 1907. Todos eles tinham trabalho nos mesmos países e, portanto, havia paralelos nelas. Queremos narrar alguns fatos a respeito dos três ramos para dar uma idéia do trabalho feito em diversos países.

O trabalho missionário da Nova Igreja Metodista fora das

colônias inglesas ou possessões britânicas, era na China. Demorou muito para esta igreja iniciar trabalho missionário entre povo não cristão, fora das possessões britânicas. Só em 1858 é que resolveu. abrir trabalho na China. Em 1859 João Innocut e W. N. Hall foram enviados para à China. Aportaram em Shangai na época da revolta de Taiping. Resolveram abrir, em 1861, trabalho na cidade de Tientsin, que era um centro

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importante. Enquanto estudavam a língua, trabalhavam entre os

soldados, marinheiros e residentes ingleses. Foram felizes em arrecadar dinheiro suficiente para

construir uma capela em maio de 1862. Muitas pessoas ouviram o Evangelho nesse local, por onde passavam pessoas de todos os pontos do país. Em 1868 já tinham conseguido arrolar trinta e quatro membros e construir mais uma capela.

Em outros lugares, como em Fuchow, a Igreja

Metodista Episcopal trabalhou nove anos antes de conseguir um membro. O trabalho prosperou e o Espírito Santo se manifestou.

Conta-se uma história muito interessante. Um velho,

que morava na província de Shantung, a cerca de cento e cinqüenta milhas de Tientsin, teve duas vezes o mesmo sonho a respeito dos estrangeiros que poderiam ensinar-lhe como ficar purificado para esta vida e para a vida de além. Filiou-se aos católicos romanos, mas ficou escandalizado com o modo como alguns viviam. Resolveu procurar o chefe da Igreja Católica Romana em Tientsin para saber mais do caminho de purificação. Chegando à cidade e indagando onde podia encontrar-se com os católicos romanos, alguém o dirigiu, por ignorância, à igreja metodista. Passou algum tempo estudando, e, quando voltou para casa, levava alguns livros religiosos. Depois de estudá-los por algum tempo, voltou à missão, pedindo um professor, oferecendo-lhe a sua casa e prometendo arranjar uma casa de oração. Um homem metodista de confiança foi com ele e verificou que o velho homem era sério. Seus vizinhos foram influenciados por ele. Foram assim para lá enviados colportores para distribuir livros e a Bíblia entre o povo. Finalmente o missionário W. N. Hall foi visitá-lo. Chegou num domingo e achou um grupo de sessenta homens

num lugar, perto de um grupo de quarenta mulheres, todos adorando a Deus. Foi realmente grande a transformação realizada entre aquele povo, pois quebraram todos os seus ídolos.

Os missionários organizaram logo uma igreja, batizando

quarenta e cinco pessoas. O trabalho cresceu e, quando o missionário Hall faleceu, em 1878, havia quinze pregadores chineses, 636 membros, com centenas de candidatos à profissão de fé.

O trabalho da missão se estendeu para outros lugares e

novos missionários foram enviados de tempos em tempos. A revolta de Tientsin, em 1870, e a grande fome, em 1876, foram períodos de provas, mas a obra continuou a crescer.

Em 1887 começou o trabalho médico na missão de

Shantung, mas na revolta dos boxers, em 1900, quase tudo desta missão foi destruído: os missionários escaparam e muitos cristãos chineses perderam a vida.

Há alguma coisa vital no cristianismo: o que parece derrota

completa é, realmente, novo começo de vida. Assim, depois dessas violências, vieram dias de prosperidade e progresso. Alguns dos missionários mais antigos morreram no fim do século dezenove, mas apareceram novos e a obra continuou. "Deus enterra os obreiros", disse alguém, "mas a obra continua".

Os Metodistas Cristãos da Bíblia iniciaram a sua obra

missionária bem cedo entre os colonos britânicos, mas foi só em 1884 que começaram seu trabalho missionário na China. Hudson Taylor conseguiu interessar essa Igreja metodista a abrir trabalho no interior da China, na província de Yunnan, a mais afastada de todas. Dois homens, T. G. Vastone e S. T. Thorne, foram enviados para a China em 1886, e chegaram à província de Yunnan em novembro de 1886. Como os demais missionários na

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China, tiveram os seus anos de provas e poucos sinais de progresso, na primeira fase do seu trabalho.

Com o correr do tempo, e com o recrutamento de novos

obreiros a obra cresceu e se desenvolveu. Tiveram suas provações como os demais, durante as revoltas que se deram na China. Essa missão conseguiu abrir trabalho numa tribo indígena que não fala a língua dos chineses. Foi bem sucedido esse trabalho. Grandes transformações se deram na vida moral e religiosa dessa gente.

Os Metodistas Livres e Unidos seguiram mais ou menos o

mesmo rumo de desenvolvimento dos outros. Abriram trabalho primeiro entre os colonos ingleses e depois entre os povos não cristãos. Foram por Hudson Taylor levados a abrir trabalhos na China. Em 1864 dois homens foram enviados para abrir uma missão em Ningpo. Mais tarde outros missionários chegaram. Frederico Galpin e Roberto Swalbow trabalharam trinta anos com grandes resultados. Em 1907 havia 4.400 membros com 6.800 candidatos à profissão de fé. O Novo Testamento foi traduzido no dialeto de Wenchow e outros livros foram traduzidos e escritos naquela língua.

Quando esses três ramos do Metodismo se uniram, o

trabalho missionário também foi melhor coordenado e unificado sob a administração da nova entidade, a Igreja Metodista Unida.

73. As missões da Igreja Metodista Primitiva. Desde o princípio os metodistas primitivos manifestaram

grande interesse na obra missionária. Mas quase todo o seu trabalho foi feito onde o governo britânico dominava, especialmente na África.

Abriram trabalho na ilha de Fernando Pó, na baía da

Guiné, no central e no Sul da Nigéria. As escolas profissionais têm dado o melhor resultado entre os africanos. O contato dos africanos com os negociantes brancos sempre tem sido prejudicial aos negros. Os vícios dos brancos e o uso do álcool servem para destruir o que é de bom na vida dos africanos.

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CAPÍTULO XXV

O TRABALHO MISSIONÁRIO DAS SOCIEDADES

MISSIONÁRIAS AMÉRICANAS

74. Missões da Igreja Metodista Episcopal. 1. Na África.

A obra missionária da Igreja Metodista Episcopal começou, como já notamos, entre os índios e escravos africanos nos Estados Unidos. O trabalho missionário no estrangeiro principiou na Republica da Libéria, em 1832, quando Melville Cox foi nomeado para abrir trabalho naquele país.

Antes de embarcar para a África, disse a um amigo:

"Sei que não posso viver muito tempo na África, porém espero viver até chegar lá. E, se agradar a Deus, que os meus ossos fiquem sepultados lá numa cova, e terei assim estabelecido entre a África e a Igreja de minha terra um elo que não será quebrado até que a África seja redimida" (Townsend et. Al., Vol. II, p. 378).

A missão na Libéria custou muitas vidas e sofrimentos e

deu lugar a atritos entre os missionários americanos e as autoridades locais, inglesas e francesas, porém a obra não morreu. Os nativos a têm conservado.

Em 1887, o bispo Taylor, com o seu sistema de sustento

próprio na obra missionária, subiu o grande rio, desde o cabo Palms até uma distância de cem milhas Nessa zona conseguiu a cooperação de dezoito régulos, ou chefes africanos. Deram terreno e madeira para abrir trabalho em treze lugares. Em 1892 Taylor relatou que tinha arranjado vinte e seis lugares na região sudeste de Libéria. Mas, por causa de guerras e outros contratempos, deixaram esses lugares de existir, salvo aqueles que foram ligados mais tarde ao trabalho regular da Sociedade Missionária.

Taylor queria plantar missões ao longo dos rios Coanza e

Congo. Em 1885 levou quarenta pessoas, homens e mulheres, e abriu estações ou missões, em diversos lugares, por uma distância de 390 milhas ao longo desses rios. Conseguiu propriedades em Luanda, Dondo, Quiongoa, Pungo, Adongo, Quessun, Malange e outros lugares.

O trabalho iniciado em alguns desses lugares prosperou

e lá existem boas escolas. Por essa região é que passaram os traficantes de escravos. Agora os discípulos do Homem da Galiléia, passando por ali, deixavam grandes bênçãos e paz para aquele povo que em outros tempos foi explorado e escravizado. Oh! se os missionários tivessem chegado antes e todos os que representavam os países civilizados tivessem cooperado com eles. Que não seria o mundo hoje em dia? Chamar um inglês, português, f r a n c ê s , e s p a n h o l d e p a g ã o s e r i a i n s u l t á - l o , m a s o procedimento deles naqueles tempos era pior do que o procedimento dos pagãos.

O trabalho na zona portuguesa, no oriente da África,

tem prosperado admiravelmente. No distrito de Inhambane o progresso foi rápido e satisfatório. Em 1907 havia 285 membros com 1.097 candidatos à profissão de fé.

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Erwin H. Richards prestou bom serviço naquela missão. Reduziu a lingua dos africanos à escrita, traduziu hinos, publicou cartilhas e traduziu parte das Escrituras. A imprensa tem publicado revistas, livros e jornais em grande número. Traduziu todo o Novo Testamento na língua Sheerswa.

Também o trabalho foi iniciado no Velho Untali e em Untali e

Rodésia. O Metodismo já, faz parte da nova civilização que se desenvolve em diversos lugares da África.

2. Na América do Sul. Já se mencionou o trabalho missionário encetado por

Fountain Pitts, Spaulding e Kidder no Brasil. Devemos mencionar o fato de que o sr. Justus H. Nelson abriu trabalho em Belém, no estado do Pará, no Brasil, em 1880. Trabalhou mais de trinta anos no Brasil, mas independente de qualquer Junta de Missões. O trabalho dele era independente.

Conseguiu organizar em Belém uma igreja mais de cem

membros. Alguns dos membros dessa igreja mudaram-se para o Rio de Janeiro e São Paulo. O rev. J. R. Carvalho, que por muitos anos trabalhou como pregador itinerante na Igreja Metodista Episcopal do Sul, era fruto dessa congregação de Belém. Mas, quando o dr. Nelson envelheceu, não havendo ninguém para continuar o seu trabalho, os crentes metodistas, convertidos por ele, começaram a se espalhar: alguns passaram para a Igreja Presbiteriana e a maioria passou para a Igreja Pentecostal. E desse modo, o trabalho do dr. Nelson desapareceu.

Falemos agora do trabalho missionário metodista feito em

outros países da América do Sul. Em 1836, João Dempster iniciou trabalho em Buenos

Aires, Argentina. Fundou a primeira escola teológica

protestante na América do Sul. Mas seu trabalho se limitou quase exclusivamente aos estrangeiros que falavam o idioma inglês.

Guilherme H. Norris trabalhou na mesma época em

Montevidéu, seguindo quase o mesmo método de Dempster. Em 1841, por causa das dificuldades entre esses países e os Estados Unidos, esses dois homens tiveram de voltar para sua terra.

Mas em 1842, Norris foi enviado para Buenos Aires a

fim de continuar ali o trabalho. O trabalho na Argentina não tem progredido como se

esperava. A oposição dos padres tem sido forte. Em 1905 um bispo católico romano juntou todas as Bíblias que pode e as queimou. Mas, apesar dessa oposição e do indiferentismo do povo, a causa tem progredido.

Vida a obra metodista na Argentina e no Uruguai esta sob a

administração do Bispo Gatinoni. TOda essa parte da América do Sul faz parte da Conferência anual. Os pastores dos dois paises recebem nomeação pelo mesmo bispo que dirige todo o trabalho nos dois paises.

A Igreja Católica Romana é mantida pelo governo

Argentino. A razão alegada para isso é o fato que a maioria dos habitantes são católicos romanos. Os bispos são indicados pelo congresso e confirmados pelo papa. Há liberdade religiosa na Argentina.

Os metodistas têm trabalho em Buenos Aires, Mendonza, Baía

Blanca, Rosário e outros lugares. Em Buenos Aires temos Ward College, bem localizado nos subúrbios da cidade, com mais de seis alqueires de terreno. Foi fundado em 1913. Jorge B. Ward, negociante de Nova York, foi quem deu para isso o

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dinheiro. A Igreja Metodista e a dos Discípulos são responsáveis pela sua manutenção. Em 1941 em todos seus departamentos, havia 630 alunos, dos quais 230 moças.

Há um Seminário Teológico Unido mantido pelos

metodistas, discípulos e valdenses. Nele estudam todos os aspirantes ao ministério da Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Paraguai e Peru. Em 1941 havia matriculados doze moços e dez moças. Nesse seminário as moças se preparam para o trabalho de diaconisas e para outros serviços na Igreja.

Além da igreja Central, que é a primeira igreja, há mais

seis paróquias na cidade de Buenos Aires, com 1.710 membros. Em Mercedes há um orfanato e uma igreja; em Rosário há

uma igreja, escola para moças, orfanato e instituto para os cegos.

Em Montevidéu, capital do Uruguai, com uma população de

700.000 habitantes, há sete igrejas, o Good Will Institute e o Ins tituto Crandon.

O Instituto Crandon tem prestado bom serviço à cidade à

nação. Em 1887 Guilherme Taylor espontaneamente visitou as

costas ocidentais da América do Sul, com o fim de estabelecer missões com sustento próprio. Visitou diversas cidades e combinou com os estrangeiros, escoceses, ingleses e americanos, para sustentar os pastores e professores que fossem escolhidos e enviados por ele. No prazo de onze anos, entre 1878 e 1889, cento e duas pessoas foram enviadas. Mas, no fim desde prazo, só vinte e sete estavam no campo e só dois homens dessas vinte e sete pessoas estavam no pastorado. Estes pregavam ao povo que fala inglês e o trabalho entre os nativos parou. O plano não deu certo, ainda que preparasse

caminho para a evangelização do povo, mais tarde. As missões iniciadas por Taylor foram transferidas para a

Junta de Missões lá para o fim do século dezenove. O resultado do trabalho de Taylor foi o interesse que

despertou na evangelização dos índios, dos católicos nominais e dos estrangeiros que moravam nos grandes centros. Também influiu sobre o espírito liberal das autoridades, conquistando mais liberdade religiosa para o povo.

Há boas escolas em diversas cidades. Em Caláo, no

Peru, há uma escola chamada "Escola Americana". Foi fundada em 1891 e tinha, em 1940, 802 alunos, 461 rapazes e 341 moças. Em Lima há mais um ginásio fundado em 1896. Tem mais de 600 alunos e quase a metade deles falam o inglês. Também em Lima há uma escola mista chamada "Escola Americana da Vitória". Tem 526 alunos, sendo 257 rapazes e 269 moças Na cidade de Huancayo há uma escola chamada Andean School. É boa escola para os índios. Tem o rol 147 meninos e 76 meninas.

Há no Peru uma liga de Mulheres com 200 sócias sob a

direção da Igreja Metodista. Está contribuindo muito para desenvolver as mulheres em participação mais ativa na vida social e política da nação.

Em todo o Peru há dezenove congregações e lugares de

pregação, com 502 membros e 434 candidatos à profissão de fé. A maior igreja acha-se em Lima e tem 130 membros. As escolas dominicais têm prestado bom serviço ao trabalho das igrejas. Só há quatro casais de missionários no país e só um está no campo desde 1929. Os outros são novos.

A Bolívia não tem acesso ao mar. Está cercada por

outros países. La Paz e uma cidade de 200.000 habitantes, tem

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a altitude maior do que a de outra qualquer capital do mundo, estando a 3.600 metros acima do nível do mar. O trabalho da Igreja Metodista consiste em quatro instituições: o Instituto Americano, de Cochchabamba; o Hospital de Obrajes e, subindo de La Paz, entramos na zona onde o trabalho é feito entre os índios Aymara, nas regiões da capital e das lagoas.

O Instituto Americano de La Paz foi fundado em 1907. Em

1941 tinha 295 alunos, sendo 160 meninos e 135 meninas. Diversas nacionalidades são representadas entre os alunos: japoneses, iugoslavos, sírios, siberianos, austríacos e bolivianos.

O Hospital Americano tem bom prédio e uma escola de

enfermeiros. É o melhor hospital particular do país. O trabalho entre os índios é dirigido por um casal de

missionários. Tem oito escolas dominicais com 800 alunos. Todo o trabalho é dirigido na língua dos índios. A língua espanhola é falada em alguns cultos.

Em 1878 Taylor mandou obreiros para Tacna, Coquimbo,

Valparaizo e Concepcion, no Chile. Otrabalho esteve sob a administração do rev. Guilherme Taylor até 1894, quando foi transferido para a Junta de Missões. Demorou alguns anos para se completar a transferência de todas as partes do trabalho. Só em 1903 é que tudo ficou sob a administração da Junta de Missões. Agora (1941) o bispo Henrique Balock dirige o trabalho, que abrange a zona desde Costa Rica, até ao Chile. Para administrar o trabalho em tão longa zona exigem-se muitas viagens e muito incômodo.

Há trabalho educativo e evangelístico nos seguintes

lugares: Valparaizo, Santiago, Concepcion e el Vergel. O Santiago College está bem localizado na cidade de Santiago que tem uma população de 850.000 habitantes. Foi fundado em 1880 e tem atualmente 600 alunos. O ensino é feito em inglês.

Exerce grande influencia sobre a nação.

El Vergel (o Jardim do Paraíso) começou em 1919, quando uma fazenda de 640 alqueires foi comprada por Cr$ 5.00.000,00. A instituição visa o bem estar do povo rural, que por falta de oportunidade para educar-se fica na miséria. Está realmente ajudando a resolver o problema econômico e social do povo daquela região.

O trabalho metodista tem-se desenvolvido mais rapidamente

no Chile do que na América Central, no Peru e na Bolívia. Tem uma Conferência Anual com seis distritos e trinta e duas paróquias. Essas paróquias estão espalhadas do norte ao sul. Em Santiago há sete igrejas. Em todo o Chile há 41 igrejas e sete congregações sem templos.

O trabalho de Costa Rica começou em 1918. O rev. C. M.

Ports e sua esposa foram os primeiros missionários enviados para lá. Em 1941 havia só um casal de missionários trabalhando no país. Há alguns obreiros nacionais trabalhando. Em San Ramon há uma congregação e em San José há uma escola chamada "Colégio John Wesley". Também em Alajuela há uma igreja e residência pastoral. Compete aos metodistas evangelizar o povo, pois só os metodistas é que têm iniciado trabalho numa escala tão grande.

O trabalho no Panamá começou em 1905. Nessa época

estava ligado ao trabalho de Costa Rica. Ha trabalho em Davi e na cidade do Panamá. A cidade do

Panamá tem o Pan American Institute, que foi fundado em 1906. Tem 380 alunos, sendo 331 meninos e 49 meninas. Os alunos representam todas as camadas das sociedades e todas as raças. Há doze pontos de pregação, incluindo os lugares onde há igrejas organizadas.

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O trabalho no México começou em 1872. O Metodismo mexicano é o desenvolvimento de duas Igrejas Metodistas, a Igreja Metodista Episcopal e a Igreja Metodista Episcopal do Sul. A obra missionária dessas duas igrejas no México uniu-se na Igreja Metodista do México, em 1930. A Igreja Metodista do México é uma igreja autônoma, mas ainda tem relação com a Igreja-mãe por meio do Conselho Central ou Conselho de Cooperação. Tem seu próprio bispo, sua Conferência Geral e suas Conferências Anuais. A unificação do metodismo mexicano se deu em bom tempo, antes das medidas drásticas tomadas pelo governo do país, desde 1930, quanto à liberdade religiosa no país.

O número de missionários está diminuindo devido ao fato

que não se permite a entrada de novos missionários no país. Há escolas para meninos e meninas, institutos, seminários teológicos, clínicas e igrejas espalhadas em várias cidades do país. Na cidade do México há dez igrejas e o "Centro Evangélico Unido", onde moços se preparam para o ministério. Em 1942 as leis do país já eram tão rigorosas contra o trabalho da Igreja como anos atrás. Esta surgindo uma nova época em que o crescimento do trabalho pode ser mais firme e seguro.

Em 1939 se contavam, na estatística, 14.969 membros

e em 1941-1942, 17.171. As contribuições, em 1939, atingiram a $110.028,00 pesos; em 1941-42, a $181.430,00 pesos. Há sinais de vida e progresso.

A Igreja Metodista fez pouca coisa em Cuba, antes de

1898. Só depois da libertação de Cuba, do domínio da Espanha, em 1898, é que os metodistas abriram trabalho entre os cubanos.

O primeiro missionário oficialmente nomeado para Cuba

foi o rev. Jorge McDonell, em 1899. Fixou residência na cidade de Havana. Outros missionários, homens e mulheres, foram

enviados para lá. O trabalho se organizou numa missão, em 1907 e em 1919, se organizou numa Conferência Anual. O trabalho em Cuba faz parte da Igreja-mãe. A Conferência Anual de Cuba faz parte do distrito episcopal de um bispo Americano. Atualmente faz parte do distrito episcopal do bispo Paul B. Kern. Há igrejas, escolas e seminários teológicos. O progresso tem sido regular.

Para dar um resumo estatístico da obra missionária nos

paises latino-americanos, citaremos quadro do "The Latin American Circuit", de Elizabeth M. Lee e Alfred W Wasson, pág. 182, que é o seguinte:

3. Na China A Igreja. Metodista Episcopal queria abrir trabalho na

China, em 1835, ao mesmo tempo em que iniciou trabalho no Brasil, porém as portas da China lhe estavam fechadas. Por muitos anos ela orou para que Deus lhe abrisse as portas da China. Em 3 de julho de 1844 os Estados Unidos

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conseguiram o direito de entrar nos portos da China para fins comerciais. E em 1845 a França fez um tratado com a China em virtude do qual foi permitida a entrada do Cristianismo em território chinês. Logo a Igreja Metodista Episcopal tratou de mandar missionários para lá. O dr. Dempster, um dos fundadores da missão da América do Sul, ofereceu-se para it e estudar a situação. Em 15 de abril de 1847 J. D. Collins e C. White embarcaram em Boston para a China, via Cabo da Boa Esperança, e chegaram em Macau em 5 de agOsto de 1847. Fixaram residência em Foochow.

Poderiam ser escritos volumes, se narrássemos tudo o que se deu no desenvolvimento dessa missão entre os anos de 1847 e 1907. Quanta cousa que se pode narrar a respeito dos primeiros anos, cheios de dificuldades, das vicissitudes, das derrotas e das vitórias, das doenças, das mortes, das perseguições e dos martírios.

Não podemos, porém entrar aqui em minúcias acerca do

trabalho e mencionar os nomes de todos os obreiros e p. que cada um deles fez, das instituições fundadas, das igrejas organizadas, dos templos, capelas, hospitais e clínicas construídos. Mas o espírito em que o trabalho se tem feito pode ser ilustrado pela carta que o primeiro missionário, J. D. Collins, escreveu ao bispo Janes, quando não havia ainda fundos sufic ientes para iniciar a obra. Eis o que escreveu:

"Bispo, arranje-me um lugar diante do mastro e meus bravos fortes remarão até a China e me sustentado depois que eu chegar lá". Coitado! Chegou à China em 1847, mas teve de voltar

para a América em 1851, por motivos de saúde. Dedicou os poucos meses que lhe restaram, trabalhando entre os chineses, na Califórnia. Morreu em 1852, com trinta anos de idade.

Os métodos de trabalho na China tem sido os adotados em outros Campos missionários: (1) pregação na língua do povo; (2) escolas; (3) imprensa; (4) hospitais; (5) trabalho especial, feito pelas mulheres. Porções das Escrituras foram traduzidas e publicadas, jornais e livros foram editados. A influência do Cristianismo tem concorrido para modificar os costumes sociais dos chineses.

Os chineses convertidos a Cristo tem revelado lealdade a sua causa. O caso Sia Sek Ong serve para ilustrar o devotamento dos verdadeiros cristãos chineses. Em 1870 recusou aceitar auxílio da missão para fazer calar a crítica de "arroz estrangeiro". Dai a um ano perguntaram-lhe se não estava arrependido por ter dado tal passo e ele respondeu: "Mil vezes não". "Que fardo se a sua família vier a sofrer?" "Não virá a sofrer, mas, se viesse a sofrer e eu não pudesse socorrê-la, então eu olharia para meu Salvador e lhe diria: "Senhor, aonde queres que eu vá?".

Em tempos de perseguição os chineses têm conservado a fé.

3. Na Índia.

É interessante notar que o pioneiro da Igreja Metodista Episcopal na obra missionária da Índia, Guilherme Butler, viajou para lá com os pioneiros do trabalho metodista britânico. Butler trabalhou trinta anos na Índia como colega de James Lynch. Depois voltou para a Irlanda e trabalhou algum tempo como itinerante na sua terra. Emigrou para a América e trabalhou na Conferência da Nova Inglaterra. Quando a Junta de Missões pediu que alguém se apresentasse para abrir trabalho na Índia, Butler se apresentou e foi aceito. Em 25 de setembro de 1856 Butler desembarcou em Calcutá, na Índia, e encontrou-se com o seu antigo colega, James Lynch.

Conhecendo as condições da Índia, escolheu uma região

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desocupada para nela principiar seu trabalho. A Igreja Presbiteriana forneceu à missão metodista um obreiro, Joel Janvier, para servir de intérprete. Janvier era um órfão que se educou entre os presbiterianos. Foi o primeiro pregador nacional da missão metodista: foi fiel e prestou bom serviço até ao dia da sua morte em 1900.

A missão sofreu muito na época da revolta de Sepoy, em

1857. Os missionários mal escaparam com vida. Os alicerces haviam sido lançados com segurança. Novos missionários chegavam de tempos em tempos e o trabalho progrediu. Igrejas, escolas, hospitais, seminários e orfanatos foram fundados. Há muitas páginas 'bonitas e interessantes na história da obra missionária na Índia, mas o fim que temos em vista agora não permite estendermo-nos mais. Queremos chamar a atenção para o fato que o Metodismo se encontra em quase todos os recantos do mundo. A Igreja Metodista Episcopal tinha trabalho missionário em outros países, como a Bulgária, Alemanha, ilhas Filipinas, etc., mas o que temos mencionado dá uma idéia geral do movimento missionário dessa Igreja.

75. Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Já falamos das missões no Brasil, México e Cuba. A Igreja

Metodista Episcopal do Sul mantinha trabalho missionário nestes três países antes da unificação do Metodismo nos Estados Unidos, em 1939. Portanto, não falaremos mais sobre a obra feita nesses países, senão mencionar estatísticas.

O trabalho no Japão foi fundado em 1886 pelo dr. J.

W. Lambuth e seu filho, o dr. W. R. Lambuth. Desenvolveu-se com segurança. Em 1907 as três Igrejas metodistas que trabalhavam no Japão se uniram e fundaram a Igreja Metodista Japonesa. As Igrejas que participaram da união foram a Igreja Metodista Episcopal, a Igreja Metodista

Episcopal do Sul e a Igreja Metodista Episcopal do Canadá. Mas a Igreja Metodista Episcopal do Sul continuou seu trabalho no Japão, não porém, em ligação com a nova Igreja organizada.

Também mantinha na Coréia um trabalho que começou em

1896. Os coreanos são bons cristãos, fiéis e ativos na propaganda do Evangelho.

Quando se deu a unificação do Metodismo americano,

em 1939, a Igreja Metodista Episcopal do Sul tinha trabalho nos seguintes países: África do Sul, Congo, Bélgica, Brasil, China, Cuba, Tchecoslováquia, Japão, Coréia, México e Polônia.

76. Missões da Igreja Metodista Protestante.

A Junta de Missões da Igreja Metodista Protestante foi

organizada em 1834 e em 1835 mandou o primeiro missionário para o oeste da África. O missionário era um homem negro. Chamado Davi James. Ele levou consigo algumas pessoas para abrir com ,elas trabalho em Cabo Palms. Mas não deu certo e fracassou. A mesma coisa também se deu com uma tentativa para fundar uma missão na China, em 1851. Deixou, depois, por alguns anos, de fundar missões no estrangeiro.

Em 1880 iniciou de novo sua obra missionária no estrangeiro.

Desta vez, no Japão. Miss Lizzie Gurthrie, que estava, no Japão, trabalhando sob os auspícios de outra Igreja, sugeriu à Junta de Missões tentar trabalho naquele país. Miss Harriet G. Britain foi a primeira missionária mandada para o Japão. Ela abriu uma escola na cidade de Yokohama. Logo depois, em 1883, chegou lá Frederico G. Klein. Conseguiram os dois organizar a primeira igreja, em 11 de julho de 1886. Chegaram outros missionários e a obra prosseguiu.

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Abriram trabalho em Nagóia, onde Klein conseguiu organizar o Anglo Japanese College, em 1891. O trabalho continuou crescendo e desenvolvendo-se. O programa educativo tem dado bons resultados no preparo de moços para o ministério e para outros serviços religiosos. Devido ao sistema episcopal a Igreja Metodista Protestante, no Japão, não quis entrar na Igreja Metodista do Japão, quando esta se organizou, em 1907.

77. A obra missionária da Igreja Metodista. Tentaremos dar resumidamente os fatos principais a

respeito da obra missionária feita pelas três Igrejas que se uniram, em 10 de maio de 1939, na cidade de Kansas, estado de Missouri, nos Estados Unidos. Depois daquela data toda a obra missionária que as três Igrejas faziam, passou a ser dirigida pela Igreja Metodista. A sede da Junta de Missões e Extensão da Igreja es tá em Nov a York, na Quinta Avenida, prédio n° 150.

A Junta de Missões e Extensão da Igreja representa mais

de 8.000.000 de membros comungantes e tem trabalho organizado em quarenta e seis (46) países. Entretanto não tem trabalho na Austrália e na Nova Zelândia, porque o Metodismo britânico ocupa aquele campo.

"O povo chamado metodista" se encontra em todos os

países do mundo. Pode dizer-se que o sol nunca se põe sobre as capelas metodistas.

A Junta de Missões e Extensão da Igreja tem diante de

si uma grande tarefa. Há muitos ajustamentos a serem feitos, tanto nos Estados Unidos como nos campos missionários onde as três Igrejas antigas operavam. O trabalho tem de ser unificado sob a mesma administração. Mas felizmente os ajustamentos estão se fazendo com harmonia e satisfação.

Podemos dizer como o salmista:

"Grandes coisas tem feito o Senhor por nós; estamos cheios de júbilo. Faze, Senhor, voltar os nossos cativos como as torrentes do Negueb. Aqueles que semeiam em lágrimas, com júbilo ceifarão. Embora alguém saia em pranto, levando a semente para semear, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes" (Salmo 126: 3-6).

78. CONCLUSÃO. 1. Autoridade e liberdade. Entre "o povo chamado metodista" a maior divergência

que tem havido tem sido invariavelmente a respeito da sua política ou forma de governo e não acerca da sua doutrina. A questão da autoridade e liberdade têm provocado divergências, atritos e divisões.

Quando João Wesley providenciou a organização da

Igreja Metodista Episcopal na América, introduziu uma política nova e diferente de qualquer outra existente no mundo eclesiástico de então. A forma episcopal de governo que se introduziu naquela ocasião, não definia claramente a relação da autoridade com a liberdade. Foi só depois de muitas experiências que se puderam descobrir as suas virtudes e os seus defeitos. Com o correr do tempo se levantou a questão do direito ou da liberdade dos leigos e do limite da autoridade do clero e particularmente dos bispos. Só depois de longos anos, de atritos e divisões, é que se corrigiram os seus defeitos e se harmonizou a relação da autoridade para com a liberdade.

Evidencia-se, desse jeito, que a política da Igreja

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Metodista é prática, pois nasceu da necessidade e se desenvolveu de acordo com a experiência. Não se considera bíblica, contudo não viola nenhum princípio bíblico. Sem dúvida, não e perfeita. Se fosse, todo o povo metodista do mundo poderia hoje se unir num só corpo eclesiástico, orgânico.

O fato que três dos ramos principais do Metodismo

americano se uniram, há pouco tempo, é prova de que a política atual da Igreja Metodista é mais satisfatória aos seus 8.000.000 de comungantes do que no passado. Um dos empecilhos à unificação do Metodismo já foi parcialmente removido.

2. Unidade e experiência. Removido o empecilho da política, não existem mais

motivos para dividir o povo metodista, pois há unidade quanto à sua teologia quanto à sua experiência.

Todos os metodistas acreditam na necessidade da

fraternidade cristã e tem as suas sociedades ou igrejas onde ela pode ser cultivada. Todos insistem na necessidade de evangelizar e acreditam que é a vontade de Deus que todos os homens se salvem.

Todos dão ênfase à religião experimental, da conversão,

do testemunho do Espírito, da certeza da salvação e da santificação que realiza pelo império do perfeito amor no coração.

A vitalidade desta experiência religiosa se mantém num

mundo de mudanças e complexidades. Sejam quais forem as circunstâncias e condições da vida, este tipo de religião experimental é o ideal do Metodismo.

O Metodismo não vem de uma revolta contra um sistema eclesiástico, nem contra qualquer sistema teológico, senão de uma revolta contra o pecado na vida humana.

João Wesley sempre se considerou membro da Igreja

Anglicana e sempre achou que as doutrinas que ensinava eram as doutrinas daquela Igreja. Não tinha, pois, motivos para revoltar-se contra qualquer organização eclesiástica, nem para defender um sistema de doutrinas que se tivesse organizado durante qualquer época de controvérsias doutrinárias.

Por isto os metodistas são tolerantes: pensam e também

deixam os outros pensar.

3. A unidade histórica. A revelação, o governo e a redenção são as três relações que

existem entre Deus e os homens, segundo os ensinamentos do cristianismo. Toda explicação ou interpretação do Cristianismo se resolve nestas três coisas. Um tipo qualquer de Cristianismo será determinado pela ênfase que se dê a um ou outro destes três pontos.

Com o correr dos séculos descobrimos, na história da Igreja,

três tipos de cristianismo que se desenvolveram cada um no seio de um povo.

Por exemplo, os gregos, na sua teologia, deram ênfase à

revelação de Deus. Os teólogos gregos ensinaram que o Cristianismo era a revelação da verdade e da vida. Segundo eles, a salvação é o conhecimento da verdade. Portanto, tinham muito que dizer acerca do “logos” ou da encarnação do Filho de Deus e de Cristo revelado ao homem por meio do Espírito Santo.

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Por outro lado, o povo latino deu ênfase ao reinado de Deus ou à autoridade de Deus. A Igreja representa a soberania de Deus. Enquanto a influência de Santo Agostinho dominava os teólogos latinos, a imanência e a transcendência de Deus se equilibravam bem. Mas a idéia da soberania do império romano influiu sobre o pensamento deles e, para substituir a Jerusalém celestial, Roma foi promovida a "cidade eterna". A soberania de Deus se mede pela hierarquia que exerce a autoridade de Cristo na terra. Assim, a soberania de Deus se tornou uma coisa externa e política. A Igreja, que tomou na terra o lugar de Cristo e dos apóstolos, exerce autoridade sobre os homens. Sendo o pecado transgressão da lei, tem de ser corrigido pela autoridade da Igreja que é o representante da soberania divina na terra. Para conseguir salvação, o indivíduo tem de reconhecer a autoridade da Igreja e obedecer às suas ordens.

Tal regime escravizou o espírito dos homens E a tirania,

dele decorrente, ficou tão cruel que houve revolta contra a Igreja. A liberdade pessoal firmou o seu protesto contra a usurpação da soberania de Deus pela hierarquia. Veio assim a Reforma Protestante.

O lema da Reforma era redenção e não revelação e

governo. A redenção é graça de Deus, não por meio de sacramentos mágicos, mas pelos méritos de Cristo crucificado pelo pecado e ressuscitado para a justificação. A salvação é oferecida a todos e o homem é salvo mediante a fé. Não fé na ortodoxia, nem fé como submissão à autoridade da Igreja, mas fé que se expressa em confiança na misericórdia de Deus oferecida na pessoa de Cristo.

As Igrejas reformadas dão, por isso, importância à

justificação pela fé e à experiência pessoal. O elemento pessoal é absolutamente essencial à salvação, porque Deus nos trata como indivíduos e pessoalmente — "Todo aquele que crê será salvo".

4. O amor de Deus. A idéia da soberania de Deus, como Santo Agostinho

ensinou, não foi eliminada dos ensinos dos reformadores. Tanto Lutero como Calvino deram importância à soberania de Deus.

A teologia dos reformadores, porém, ensinava que era

possível ao indivíduo ter segurança da salvação na mesma proporção em que davam importância à soberania de Deus, deixaram de dar ênfase a segurança pessoal da salvação. A soberania de Deus representava a sua vontade.

Segundo João Calvino, a vontade de Deus é suprema na

vida do homem e se cumpre na salvação dos eleitos e na condenação dos perdidos. A soberania de Deus se manifesta igualmente tanto na salvação como na perdição dos homens. A vontade de Deus se cumpre, tanto na perdição dos que foram predestinados para a perdição, como na salvação dos que foram eleitos e predestinados para a salvação desde antes da fundação do mundo.

Quando Wesley teve a sua experiência maravilhosa em 24

de maio de 1738, ficou face a face com essa doutrina, na Igreja Anglicana.

Wesley combateu o formalismo da Igreja Anglicana,

ensinando o Cristianismo como religião experimental e também discordou de Calvino, ensinando o amor universal de Deus.

No ensino de Wesley o amor de Deus é que ocupa o

primeiro lugar e não sua vontade ou soberania. A Soberania e a revelação de Deus foram completadas no dom inefável de Cristo. Wesley não foi teólogo, mas lógico no seu ensino, pois tornou o Novo Testamento como a certeza do seu ensino sobre o poder da graça de Deus na vida do homem e confirmando seu

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ensino com sua própria experiência e com a experiência dos outros. A força do seu ensino se manifestava no amor universal de Deus, revelado, na morte de Cristo na cruz — "Aquele que experimentou a morte por todos os homens".

João Wesley deu ênfase, no seu ensino, ao amor de

Deus, colocando-o no ponto central da sua interpretação da natureza divina. O amor era a nota universal do Evangelho.

Dando ênfase ao amor de Deus, que influi na transformação

da natureza humana, Wesley também ensinou que era pecaminosa a natureza do homem. O homem era responsável diante de Deus pelos seus atos e tinha de dar conta de si mesmo a Deus. O pecado do homem, em contraste com o amor de Deus, fazia o pecado ficar em situação ainda mais grave.

O fato que Deus ama o homem afirma que este tem valor

perante Deus e pode ser salvo. O homem pode aceitar o Evangelho e as Escrituras ensinam que ele é responsável pela sua salvação ou pela sua perdição. A prova disso está no fato que muitos homens caídos no pecado se têm transformado pela operação do poder de Deus na sua vida, mediante a fé viva em Cristo.

O amor de Deus pode ser derramado no coração do homem,

por meio desse amor, a sua vida é transformada. A teologia metodista se baseia sobre esta verdade.

E todas as pessoas que experimentam transformação na vida,

pelo amor de Deus, têm afinidade espiritual umas com as outras. Dessa experiência de umas nasce o desejo de evangelizar outras.

Por isso o evangelismo é característico do povo metodista.

Tendo estas verdades em comum, há, portanto, entre o "povo chamado metodista" uma herança espiritual e experimental que concorre para unificá-lo mais e mais.

Com esses característicos em comum dos metodistas, há atualmente, uma tendência para criar uma fraternidade universal entre todos os povos do mundo. Se há, na verdade, uma corrente que tende a unificar os povos do mundo numa fraternidade universal, o Metodismo pode trazer grande contribuição para ela e, assim, ajudar a realizar o ideal do Novo Testamento: unir todos os povos no "REINO DE DEUS"

F I M.

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30. WWISE, DANIEL — Sketches and anedoctes of the

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Page 265: história do metodismo d - metodistavilaisabel.org.brF3ria-metodismo-Buyers.pdf · (Lente da Faculdade ele Teologia da Igreja Metodista do Brasil) 1945 ... CAPITULO X A CONTROVÉRSIA

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PAUL EUGENE BUYERS

- História do Metodismo - João Wesley — Avivador do Cristianismo na

Inglaterra - Nos tempos de Jesus - A Vida de Dwight L. Moody - Os Fundadores do Metodismo. - A V id a d e F ra nc e s E . W il l a rd - Manual Para os Membros da Igreja Metodista. - A Vida da Filha do Leiteiro (Tradução) - Perfeição Cristã (Tradução)