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História, Memória e inventário do MAEA-UFJF Luciane Monteiro Oliveira 1 Ana Paula de Paula Loures de Oliveira 2 Cézar Henrique Barra Rocha 3 José Carlos Loures de Oliveira 4 Preâmbulo Se entretanto, não podemos esperar a constituição do outro a partir do objetivismo científico, não será do ponto de vista de uma filosofia da consciência que o veremos nascer. (Merleau-Ponty, 1971:137) Iniciamos o texto com uma citação de Merleau-Ponty (1971) com vistas a uma reflexão pautada nas relações de alteridade, tendo como corpo/sujeito o Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da Universidade Federal de Juiz de Fora (MAEA-UFJF). A intenção é apresentar a sua constituição e as relações de alteridade travadas nesse processo de modo a demonstrar como suas perspectivas foram sendo elaboradas nas experiências e vivências intersubjetivas. Considerando-se a possibilidade de múltiplos pontos de vista, que se interpõem nas experiências e percepções do estar junto no mundo, ou seja, de coexistência de múltiplas perspectivas na qual a relação de alteridade se tece, denotamos a necessidade de nos desvelarmos, enquanto parte constituinte do MAEA-UFJF. 1 Pesquisadora do MAEA-UFJF. Profª Credenciada do Departament de Museologia da UFOP. 2 Departamento de Museologia da UFOP. Bolsista PQ do CNPq. 3 Departamento de Transportes da Faculdade de Engenharia da UFJF. Coordenador do MAEA-UFJF. 4 Líder do Grupo de Pesquisas cadastrado no CNPq Museu de Arqueologia e Etnologia Americana-UFJF.

História, Memória e Inventário do MAEA-UFJF (Monteiro Oliveira et al)

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História, Memória e inventário do MAEA-UFJF

Luciane Monteiro Oliveira1 Ana Paula de Paula Loures de Oliveira2

Cézar Henrique Barra Rocha3 José Carlos Loures de Oliveira4

Preâmbulo

Se entretanto, não podemos esperar a constituição do outro a partir do objetivismo científico, não será do ponto

de vista de uma filosofia da consciência que o veremos nascer. (Merleau-Ponty, 1971:137)

Iniciamos o texto com uma citação de Merleau-Ponty (1971) com vistas a uma reflexão pautada nas relações de alteridade, tendo como corpo/sujeito o Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da Universidade Federal de Juiz de Fora (MAEA-UFJF). A intenção é apresentar a sua constituição e as relações de alteridade travadas nesse processo de modo a demonstrar como suas perspectivas foram sendo elaboradas nas experiências e vivências intersubjetivas.

Considerando-se a possibilidade de múltiplos pontos de vista, que se interpõem nas experiências e percepções do estar junto no mundo, ou seja, de coexistência de múltiplas perspectivas na qual a relação de alteridade se tece, denotamos a necessidade de nos desvelarmos, enquanto parte constituinte do MAEA-UFJF.

1 Pesquisadora do MAEA-UFJF. Profª Credenciada do Departament de Museologia da UFOP. 2 Departamento de Museologia da UFOP. Bolsista PQ do CNPq. 3 Departamento de Transportes da Faculdade de Engenharia da UFJF. Coordenador do MAEA-UFJF. 4 Líder do Grupo de Pesquisas cadastrado no CNPq Museu de Arqueologia e Etnologia Americana-UFJF.

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Consoante a essa proposição inicial está a experiência dos impactos das políticas públicas do Ministério da Cultura (MinC) nas aplicação de diretrizes e, em boa medida, em investimentos para a organização dos museus, com a finalidade de democratização da cultura e consolidação de uma sociedade mais equânime.

Essa proposição está manifesta no documento da Política Nacional de Museus (2003), que intenta a promoção, preservação, apreciação e usufruto do patrimônio cultural nacional, por meio do “... fomento à criação de novos processos de produção e institucionalização de memórias constitutivas da diversidade social, étnica e cultural do país”.

Uma das metas pretendidas com a Política Nacional dos Museus é a publicização e o conhecimento das instituições existentes no contexto nacional5, culminando com a criação do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Ao longo desse processo, as instituições cadastradas forneceram informações a respeito da localização, tipos de acervos, formas de acesso ao público e demais serviços prestados a sociedade, cujos resultados foram publicados no Guia Brasileiro de Museus, lançado em 2011, que consiste em um mapeamento das instituições considerando-se as particularidades e especificidades do panorama museal brasileiro.

Em consonância com esse propósito, o MAEA-UFJF buscou atender as demandas postuladas, com vistas ao ajustamento ideal no âmbito nacional e internacional. Não é demais salientar que sua postura e identidade se baseiam no Estatuto do Conselho Internacional de Museus (ICOM), que define Museu como:

...uma instituição permanente, sem finalidade lucrativa, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que realiza investigações que dizem respeito aos testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, adquire os mesmos, conserva-os, transmite-os e expõe-nos

5 Entre as iniciativas foi instituído o Cadastro Nacional de Museus para o

estabelecimento do Sistema Nacional de Museus

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especialmente com intenções de estudo, de educação e de deleite (Cadernos de Sociomuseologia, 1999:33).

Essa definição é alargada pelo Departamento de

Museus e Centro Culturais do Ministério de Cultura (MinC), no contexto de ampliação das politicas públicas culturais, guardadas as devidas condições sócio-históricas do país:

O museu, para os efeitos de lei, é uma instituição com personalidade jurídica, com ou sem fins lucrativos, ou vinculada a outra instituição6 com personalidade jurídica própria, aberta ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento...

(Brasil/MinC,2005)7.

Mais tarde, com a instituição do Estatuto dos Museus, alguns princípios fundamentais são considerados como bens culturais passíveis de musealização:

...os bens móveis e imóveis de interesse público, de natureza material ou imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência ao ambiente natural, à identidade, à cultura e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. (Brasil, 2009)

Nesse mister, o MAEA-UFJF se enquadra nas

características evidenciadas tanto pelo ICOM quanto pelo Estatuto dos Museus, na medida em que exerce atividades com o patrimônio cultural e tem como missão prestar serviços para a sociedade no processo de construção do conhecimento, bem como na preservação e conservação dos bens patrimoniais, por meio da valorização contínua da identidade, memórias e atuação no tecido social.

Feitas essas considerações, cabe-nos, pois, apresentar o processo de constituição do MAEA-UFJF no que tange aos aspectos de concepção e realização na esfera administrativa, bem como no tratamento conferido à cultura

6 Grifo nosso. 7 A ampliação da discussão está presente na Lei Nº 12.343, de 2 de dezembro de 2010 que institui o Plano Nacional de Cultura (PNC) e cria o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC).

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material, especificamente no processo de admissão, registro, documentação e pesquisas desenvolvidas a partir dos acervos arqueológico e etnográfico.

Tal explanação está em conformidade com os imperativos da política do IBRAM em atenção ao Plano Nacional de Cultura (PNS) de publicização das instituições museais, além de oferecer elementos para o contexto local, regional e quiçá nacional, cuja representação é de atuação sistemática colaborativa para a conformação do patrimônio cultural e seus desdobramentos no âmbito da pesquisa, formação de pessoal, comunicação social e educação patrimonial.

Desse modo, para entender os meandros do registro e documentação de seus acervos faz-se necessário uma incursão em sua memória de modo a traçar um breve histórico de sua trajetória e os procedimentos de documentação e inventário. História, Memória e Inventário

A composição da História do MAEA-UFJF se dá por meio de documentação oficial/institucional e pelas lembranças e reminiscências do grupo de pessoas que participaram e participam direta e indiretamente do processo de constituição e consolidação de seu corpo, inscrevendo suas experiências e saberes.

Em meados da década de 80 do século XX, membros da administração da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apresentam uma proposta de organizar as coleções e acervos existentes na instituição com a implantação do Projeto Museu Escola8. Na confluência desse Projeto, o Prof. Dr. Franz Joseph Hochleitner realiza a doação de sua coleção de artefatos arqueológicos9 à UFJF, que foi recebida com

8 Projeto coordenado pela Profª Marisa Timponi, na ocasião em que estava na administração da Gerência de Cultura da Pró-reitoria de Ensino e Pesquisa (PROEP) da UFJF, registrado no ano de 1986. 9 A coleção que compõe o acervo arqueológico consiste de artefatos doados pelo pesquisador Carlos Ponce Sanginés, então Ministro de Estado da Bolívia e fundador do “Instituto de Investigações Arqueológicas de Tiwanaku”, Altiplano Central Andino, entre os anos de 1959 e 60. Durante os anos em que o Prof. Hochleitner lecionou no Departamento de História da UFJF, essa coleção foi enriquecida por doações de artefatos diversos, os quais estão

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perspectivas de ampliação das atividades culturais, bem como de pesquisa e extensão. Nesse processo, a Pró-reitoria de Ensino e Pesquisa (PROEP), cria o Setor de Arqueoastronomia como parte na composição do Projeto Museu Escola10.

Para a oficialização de tal ato foi aberto um Processo nº 824/86-PROEP, no qual se encontra expresso o compromisso da UFJF em dispor de espaço físico de modo a garantir a salvaguarda do patrimônio, bem como a realização de pesquisas sobre temas correlatos ao acervo. Como medida provisória, foi cedida uma sala no prédio da Biblioteca Central, situado no Campus da UFJF, até que fosse disposto e estruturado local adequado que atendesse a demanda das coleções e acervos sob sua tutela. Nesse interim foi discutida internamente a vinculação do Setor de Arqueoastronomia na estrutura administrativa da UFJF, até que em 1991, foram publicadas as Portarias nº 05/91 – PROEP e nº 20/91 – PROEP da UFJF estabelecendo seu vínculo administrativo à Gerência de Cultura da PROEP.

Assim, sob a coordenação11 do Prof. Dr. Hochleitner, foram iniciadas investigações e estudos no campo da arqueoastronomia, que consiste em uma vertente da arqueologia que trabalha na interpretação e decodificação de hieróglifos, calendários e outros símbolos das culturas antigas12, que possuem sentido astronômico.

sub-divididos em duas coleções: a primeira caracterizada por peças arqueológicas encontradas no Estado de Minas Gerais e a segunda, composta por achados arqueológicos provenientes de distintas regiões do Brasil. Conf. LOURES DE OLIVEIRA, 2005. 10

Na ocasião o Pró-reitor de Educação e Pesquisa era o Prof. Dr. José

Eustáquio Romão, um dos parceiros de Paulo Freire acompanhado seus trabalhos e reflexões e, posteriormente, um dos fundadores do Instituto Paulo Freire. No cargo administrativo que ocupava tinha como meta o alargamento das discussões sobre a educação e efetivamente sobre a aplicação de políticas educativas concretas. 11 Os acervos de modo geral ficavam sob a responsabilidade dos profissionais da área, figurando como coordenadores, até que o Projeto Museu Escola fosse aprovado e a partir daí criado o cargo de Diretor que seria nomeado conforme o andamento da Proposta. 12 Projetos de Pesquisas realizados: “Decifração Cronológica Astronômica do Codex Zouche Nuttall” CNPq 820081/884, 1989–1990; “Vindobonensis e Nuttall, Cronologia e Astronomia Mixteca” FAPEMIG SHA 001/90, 1990–1991; e “Leitura Histórico-ideológica do Calendário Asteca representado na Pedra

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Concomitante aos estudos figuravam as ações extensionistas voltadas para a promoção de mostras e exposições periódicas sobre as sociedades pré-colombianas, para a comunidade e alunos das escolas do município de Juiz de Fora e região13. O trabalho de pesquisa, focado na decifração de códices com sentido astronômico e cálculos físico-matemáticos, chamava a atenção para a cosmologia e mitologia das sociedades pré-colombianas. Esse fator foi vital no estabelecimento das associações entre o Setor de Arqueoastronomia e as investigações efetuadas pelo grupo que o constituía.

A partir das discussões travadas para a concretização do Projeto Museu Escola, associado ao desenvolvimento das ações e expansão das pesquisas, em 1992, ano em que se celebravam os 500 anos da chegada de Colombo ao continente americano, foi anexado ao Setor de Arqueoastronomia a coleção etnográfica, composta por artefatos da comunidade Maxakali14, passando à denominação Setor de Arqueoastronomia e Etnologia Americana (SAEA).

Assim como ocorre com outros museus universitários15 no cenário nacional, quanto à ausência de definição institucional na administração universitária, inadequação estrutural e parcos recursos para a sua manutenção16, o SAEA buscou alternativas, por meio de

do Sol” – CNPQ 800545/91.5 e 82.0081/88.4,1992–1993, desenvolvidos, na época, pela bolsista do SAEA Ana Paula de Paula. 13

Exposição “Manuscritos e Códices Pré-Colombianos”. Centro Cultural

Bernardo Mascarenhas (CCBM). Juiz de Fora/MG, 1986. 14 Coleção adquirida pela antropóloga Neli Ferreira do Nascimento durante os trabalhos de campo desenvolvidos na área Indígena Maxakali entre os anos de 1977-87. Seus estudos abordavam os problemas econômicos, culturais e sociais deste grupo, na relação travada com a sociedade envolvente, constituindo em importante referência sobre os Maxakali. 15 Entende-se por museu universitário aquele que está parcial ou totalmente sob a responsabilidade de uma universidade, seja no âmbito da gestão, salvaguarda do acervo, disponibilidade de recursos humanos e espaço físico. (Almeida, 2001). 16 Tendo em vista a grande diversidade de formas, conteúdos e estruturas organizacionais e administrativas, não há um delineamento do perfil dos museus universitários no Brasil. De modo geral, a formação do museu universitário ocorre por meio de doações ou compra de objetos e coleções particulares, transferência de responsabilidades de uma instituição para a

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elaboração e desenvolvimento de projetos de modo a assegurar a conservação de seu acervo17, realizando o registro e documentação da cultura material aos seus cuidados.

O apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) foi fundamental na execução de ações de documentação e inventariamento de todo o seu acervo, que resultou na publicação de um catálogo, juntamente com a proposição de um Programa educativo, intitulado “Programa de Inovação Pedagógica: A pré-história brasileira no ensino fundamental”18, cuja finalidade era abordar uma temática ainda incipiente no currículo do Ensino Fundamental, conciliando as possibilidades que os acervos ofereciam.

O processo de documentação foi realizado a partir de consultas aos profissionais da área da Ciência da Informação, a saber, museólogas do Museu Mariano Procópio (MAPRO)19, que gentilmente nos orientaram a respeito das formas de tombamento e classificação do acervo e da bibliotecária da UFJF20.

As técnicas e elementos de informação que compuseram as fichas de cada objeto tinham como finalidade não apenas informar os aspectos físicos e formas de aquisição, mas fundamentalmente a sua história forjada nas experiências do processo de produção e significação para

Universidade, coleta e pesquisa de campo, ou a amalgamação desses procedimentos. Esse fato tem se constituído em um entrave, pois a despeito de estarem em uma Universidade os objetivos nem sempre são partilhados. (Almeida, 2001). 17 Projeto de manutenção da rotina de atividades do Setor de Arqueoastronomia e Etnologia Americana da UFJF – FAPEMIG, Processo: SHA – 283/90, 1993-1994. 18

Projeto financiado pelo Ministério da Educação e Desporto por meio do

Fundo Nacional de Desenvolvimento para a Educação (MEC/FNDE), Processo nº 337/93 Código: 1800001301, 1993-1994, elaborado e desenvolvido pela colaboradora do MAEA-UFJF, Ana Paula de Paula, na época mestranda em Arqueologia pelo MAE-USP. 19

Maria das Graças de Almeida e Maria Ângela Camargo Cavalcanti, que

prontamente nos atenderam e orientaram com indicações bibliográficas e dicas para a realização da documentação dos acervos. 20 Vânia Pinheiro de Souza, sempre solícita em nos atender na parte de organização e documentação do acervo bibliográfico.

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a vida humana, considerando-se o dinamismo cultural e as possibilidades de transmutação ao longo dos tempos. Portanto, a ideia estática que o objeto encerra é substituída pela possibilidade de múltiplas significações na relação mediada com os sujeitos quando expostas ao público. Desse modo, as informações geradas na documentação tinham como preocupação a comunicação do conhecimento e as formas de apreensão do público, de natureza múltipla e diversa.

O tombamento dos acervos, registrado no objeto e no caderno de tombo perpassava pela inscrição temporal, isto é, ano em que foi registrado, pela sua tipologia física, como tipo de material - ossos, madeira, metal, cerâmica, entre outros; e o número sequencial do tombamento. (Vide Tabelas 01 e 02).

Tabela 01. Classificação por composição ou matéria prima Museu de Arqueologia e Etnologia Americana - UFJF

Composição ou Matéria prima Nº de classificação

Lítico 01

Ossos 02

Madeira 03

Cerâmica (argila) 04

Metal 05

Fósseis 06

Fios e fibras vegetais (tecelagem/trançado) 07

Diversos 10

Tabela 02. Tombamento do acervo Museu de Arqueologia e Etnologia Americana - UFJF

Artefato Coleção/acervo Ano de entrada

Matéria prima

Nº Sequencial de entrada

Nº tombo

Ponta de flecha

Arqueológica 1993 = 93

Lítico = 01

0001... 93.01.0001

Arco e flecha

Etnográfica 2002 = 02

Madeira = 03

0808 02.03.0808

Já a ficha de cada artefato, assinalava a classificação

tipológica; se arqueológica ou etnográfica; o número de tombo; a procedência e formas de aquisição; tipo de matéria prima; dimensões físicas como altura, largura, comprimento e diâmetro; estado de conservação; tipo de técnica

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empregada na produção; forma e função; e, quando possível, inserção de dados relativos ao seu significado e representação social no contexto dos indivíduos que o produziram e utilizaram (Vide Tabela 03).

Tabela 03. Ficha do objeto Museu de Arqueologia e Etnologia Americana - UFJF

Classificação Arqueológico (Coleção Hochleitner)

Tipologia do artefato Crânio

Nº de tombo 93.02.0021

Procedência Lago Titicaca/Bolívia

Forma de aquisição Doação (Carlos Ponce Sanginés)

Matéria Prima Restos humanos (esqueleto)

Dimensões Físicas

Descrição geral Distância anteroposterior: 190 mm Distância biparietal: 130 mm Distância bitemporal: 120 mm Distância parieto-esfenoidal: 140 mm Distância biauricular: 80 mm Descrição da Face Distância bizigomático: 130 mm Distância bimalar: 110 mm Distância biorbitária (interna): 30 mm Distância biorbitária (externa): 110 mm Distância do násio a espinha nasal: 25 mm Descrição do maxilar inferior (mandíbula) Ângulo do ramo ascendente: 105º Distância bicondilar: 85 mm Altura entre o 1º e 2º pré-molares: 30 mm Espessura máxima do maxilar: 20 mm Altura ao nível da sínfise: 35 mm

Estado de conservação Bom

Forma/Uso/Função A deformação artificial craniana se dava por meio de utilização de pequenas tábuas de madeira ou ligaduras compressivas na cabeça do recém-nascido com o objetivo de alterar o eixo de crescimento da cavidade craniana. A prática tinha significado de cunho estético, mágico-religioso e de identificação étnica ou status social. O resultado dessa prática era a modificação natural de fechamento das suturas cranianas.

Observações O crânio é hiperdolicocéfalo com índice cefálico de 68,4 mm (dolicocéfalo < = 75 mm). Apresenta ausência de parietal esquerdo e a mandíbula conserva 11 cavidades dentárias e a ausência de alvéolos pode indicar o não nascimento dos 4 molares e do pré-molar direito. Acentuado prognatismo é indicado

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pelo mento-occipitalis medindo 320 mm. A presença de osso inca (interparietal) ou epactal é consequência da deformação artificial craniana, e se encontra no centro da sutura lambda.

De certo modo, a realização da organização e

documentação dos acervos proporcionou não só o registro das informações a respeito do objeto, como também uma pesquisa sobre o contexto de produção, visando dar maior visibilidade a diversidade de modos de vida e os significados que os artefatos representam na sociedade. A interlocução com os responsáveis pela coleção era intensa e consecutiva em todas as etapas, favorecendo a proximidade e as histórias correlatas que fazem parte da memória do MAEA-UFJF.

A organização do catálogo do MAEA-UFJF21 representou um marco nessa trajetória, considerando-se as possibilidades de concretização do Projeto Museu Escola. Conforme as palavras do então Ministro de Estado da Educação e Desporto, Murílio Avelar Hingel, expressas na apresentação da obra:

A publicação deste catálogo reveste-se de singular importância e de duplo significado. Em primeiro lugar, cumpre seu papel de divulgar o acervo criteriosamente montado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele vai além, no entanto: por intermédio do Programa Museu Escola22, explicita uma proposta moderna de museologia pela qual um acervo organizado se transforma em privilegiado espaço educativo. (...) O trabalho do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana engrandece a Universidade Federal de Juiz de Fora, contribuindo para que a instituição atenda ao seu compromisso fundamental: produzir e disseminar o conhecimento. (HINGEL, 1993:11)

21 A sonoridade do nome remete, de certo modo, a cultura Maia, foco das pesquisas realizadas pelo Prof. Hochleitner, como forma de homenagear as pesquisas e o pesquisador que principiou o núcleo. A nomenclatura também estava de acordo com os propósitos evidenciados no Projeto Museu Escola. 22 Grifo nosso.

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Entretanto, dada às vicissitudes do poder político na administração da instituição universitária, o Projeto Museu Escola, assim como outros devotados às políticas culturais, foi soçobrado frente a demandas consideradas como prioritárias para as gestões que se seguiram. Esse fato não esmoreceu as atividades do MAEA-UFJF, ao contrário, foi um motivador para que o grupo trabalhasse em prol do reconhecimento de sua situação na atuação das pesquisas, extensão e preservação e conservação de acervos, configurando-o como um agente museal.

Essa posição estava clara para o corpo do MAEA-UFJF, constituído a partir de acervos, conjunto de objetos, documentos e pesquisadores e alunos que ofereciam a vitalidade para a sua manutenção, que desde sua criação tem como proposição a pesquisa, a preservação e a comunicação manifesta nas ações educativas e extensionistas.

O projeto de Museu não fora efetivamente concretizado, mas nesse percurso, a UFJF não se eximiu de suas responsabilidades sobre a salvaguarda do patrimônio cultural e esse fato se tornou uma das metas do grupo, que passou a se identificar internamente como MAEA-UFJF com a determinação de manter a ideia inicialmente projetada na ocasião de sua fundação.

Vale ressaltar que dada as circunstâncias das politicas culturais da época, com laivos da concepção tradicional de Museus, enquanto reprodução de discursos e práticas regidas pela autoridade e pelos interesses socioeconômicos, os esforços do grupo se centrou na pesquisa acadêmico-científica com lastro no material que compunha os acervos de modo a romper com esse ideário.

Para tanto, a continuidade das ações educativas propostas no Programa “A Pré-história brasileira no Ensino Fundamental” e a montagem da exposição “Pré-história Viva”23 eram capitais. O objetivo no desenvolvimento desses projetos era dar prosseguimento a sua intenção de promover a valorização do legado cultural dos nativos americanos, num

23 Levantamento sobre os estudos da pré-história em Minas Gerais. Projeto desenvolvido no âmbito dos Programas PIBIC/CNPq, 1993-1994, sob a coordenação da Assistente de Pesquisa do MAEA-UFJF, Ana Paula de Paula Loures de Oliveira.

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período em que se falar de diversidade cultural era bastante inovador, quando não tratado como excêntrico/exótico. De fato, o desempenho do MAEA-UFJF no campo museal era amplamente reconhecido pela comunidade acadêmica e pela sociedade local24.

Esse foco nas ações sócio-educativas efetivadas pelo grupo do MAEA-UFJF encontra ressonância nas políticas públicas do final do século XX, que, como assevera Bruno (1996), estimulavam uma constante avaliação crítica a respeito do passado, o que instava a releituras sobre a representatividade das coleções e dos objetos, de modo a evitar a reprodução lato sensu de suas características materiais, buscando dessa forma, a “democratização” das informações propiciadas tanto pela pesquisa, como pela relação estabelecida entre o sujeito e o material em questão.

Salientamos também que as ações buscaram ultrapassar os limites físicos, realizando várias atividades em espaços com grande fluxo de público, como o saguão da Biblioteca Central da UFJF e os corredores do Shopping Santa Cruz, situado na região central do município de Juiz de Fora, ocorrendo um número de visitação superior às expectativas estimadas pelo próprio estabelecimento comercial.

Do mesmo modo, as temáticas desenvolvidas nas pesquisas do MAEA-UFJF foram alargadas com os projetos realizados no âmbito da graduação e pós-graduação, promovendo o estimulo a formação de futuros pesquisadores nas áreas do conhecimento, foco dos trabalhos, a saber: História Pré-colombiana, Arqueologia e Antropologia25.

24 Durante esse período de tempo foram organizados vários eventos como a II Mostra do “Programa Museu-Escola”. Juiz de Fora: Santa Cruz Shopping, 1993; III Mostra: Raízes da Humanidade - Programa Museu-Escola. JF: Saguão da Reitoria da UFJF,1995; IV Mostra: BayXeká, os Índios Maxakali. Juiz de Fora: Santa Cruz Shopping, 1998; V Mostra: A Pré-História Americana. Saguão da Biblioteca Central-UFJF, 1999; e Mostra “Maxakali: sobrevivência e aculturação”. IX Semana de Filosofia. Saguão do Anfiteatro do Centro de Línguas da UFJF, 1999. 25 De Paula 1990; De Paula, 1994; Loures-Oliveira, 1999; Monteiro-Oliveira, 1999.

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Em 1999, a coordenação do MAEA-UFJF é alterada26, acarretando em uma nova dinâmica nas ações de pesquisa e extensão. Nesse processo intentamos angariar reforços na luta pela definição de seu lugar no contexto da administração universitária. Como estratégia, o nome do grupo foi cadastrado no CNPq, tendo como principal característica o desenvolvimento de projetos multidisciplinares em Arqueologia, Antropologia e áreas afins27.

O projeto que possibilitou essa nova composição do MAEA-UFJF no contexto das pesquisas e ações educativas, “Mapeamento Arqueológico e Cultural da Zona da Mata mineira” que tem por finalidade a identificação, registro e mapeamento dos sítios arqueológicos da região, oferecendo elementos acerca do modo de vida das populações pré-coloniais28. O modus operandi das ações se fundam na celebração de parcerias com as comunidades locais, numa perspectiva co-participativa, com vistas a estabelecer

26 Em decorrência de agravamento na saúde, o Prof. Dr. Hochleitner é substituído por sua discípula, Profª Drª. Ana Paula de Paula Loures de Oliveira, que imprimiu novo ritmo às pesquisas, voltadas para questões relacionadas à Antropologia e Arqueologia brasileira. 27 O carro chefe dos projetos iniciado em 2000 foi “Mapeamento Arqueológico e Cultural da Zona da Mata Mineira”. PROEX-UFJF; “Resistência Religiosa Maxakali: defesa cultural ou falha na estratégia de conversão” FAPEMIG SHA 00050/99, 2000-2001; “Estudo do legado indígena presente na memória da população rural de São João Nepomuceno” PIBIC/CNPQ, 2002-2003; “Arqueologia e Patrimônio em São João Nepomuceno, MG” FAPEMIG SHA 943/2002, 2003-2005; “Estudo tecnotipológico do Sítio Arqueológico Primavera, São João Nepomuceno, MG” PROBIC-FAPEMIG/UFJF, 2003-2004; “Estudo da tecnotipologia e morfologia cerâmica do Sítio Emílio Barão, Juiz de Fora, MG” PROBIC-FAPEMIG/UFJF, 2006-2007; “Proposta interpretativa dos sítios arqueológicos de Juiz de Fora, Mar de Espanha e Chiador” PROBIC-FAPEMIG e BIC-UFJF, 2006-2008; “Novas hipóteses sobre o povoamento da Zona da Mata Mineira: o Sítio Córrego do Maranhão, Carangola, MG” CNPQ 475853/2006-7, 2006-2008 e FAPEMIG APQ 5939-5.06/07, 2007-2009; “Tradições arqueológicas e etnicidade enquanto categoria taxonômica: uma proposta interpretativa dos sítios arqueológicos de Juiz de Fora, Mar de Espanha e Chiador” FAPEMIG SHA 1600/05, 2006– 2008; “Padrões de assentamento Tupinambá: uma proposta interpretativa dos sítios arqueológicos da Zona da Mata Mineira” PROBIC-FAPEMIG, 2008– 2010; “Análise espacial do Sítio Córrego do Maranhão, Carangola, MG” FAPEMIG APQ 00581-08, 2009–2011; “Seleção, hereditariedade, variação” CNPQ 004193-09, 2009–2011. 28 Loures Oliveira e Monteiro Oliveira, 2001.

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vínculos para a recuperação, reelaboração ou construção de referências para uma memória coletiva que fundamenta o reconhecimento de compartilhamento de identidades culturais.

Antes de iniciarmos a pesquisa propriamente, realizamos contato com os 142 municípios da região, dos quais 7 manifestaram interesse em firmar parcerias. Na sequencia executamos a exposição itinerante “Além dos 500 anos” em todas as comunidades e encerramos as atividades com a Semana Cultural “Saber Local” no campus da UFJF29. Essa iniciativa teve total respaldo da administração universitária, conforme manifesto da Reitora, na ocasião:

... o evento parte da hipótese de que é possível num cenário mundializado cultuar a especificidade e praticar a diversidade. A UFJF não pode se furtar ao apoio a iniciativas desse gênero, que reforçam o seu compromisso com a sociodiversidade como um direito humano fundamental. (Salomão, 2001:03)30

Esse evento foi o primeiro de uma série que

proporcionou a proximidade com a comunidade regional no firme propósito de expor os resultados alcançados com os estudos efetuados na Zona da Mata mineira. De certo modo, essa dedicação com a pesquisa e extensão, incentivou jovens interessados a se debruçar na temática, incluindo a região no cenário da arqueologia nacional, com conjecturas arrojadas e proposições metodológicas variadas, impulsionando as discussões entre os pares e realizando intercâmbio de experiências e saberes, por meio dos Simpósios Regionais com a temática “Arqueologia e Patrimônio”31.

Ao longo de 10 anos os Simpósios foram ganhando maiores vultos e incorporando desejos e empenhos coletivos de natureza específica, como a criação do Núcleo Regional Sudeste da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SABSUDESTE)

29 Semana Cultural “Saber Local”. Campus UFJF: Juiz de Fora, 2011 (Mostra de filmes, exposição de arte local, palestras e oficinas). 30 Apresentação da Reitora da UFJF, Profª Drª Maria Margarida Martins Salomão no Catálogo da Semana Cultural “O Saber Local”. 31 Do ano de 2004 a 2010 foram realizados 4 Simpósios nos municípios de São João Nepomuceno, Juiz de Fora, Carangola e Ouro Preto, respectivamente, com previsão do 5º Simpósio em 2013, realizado em Tiradentes, MG.

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e agenciando reuniões de profissionais do campo da arqueologia e áreas correlatas, além dos afluxos de jovens estudantes iniciantes nos assuntos abordados.

Por outro lado, não podemos nos furtar de mencionar um dos aspectos silentes provocados pela pesquisa arqueológica, que é a formação de novos acervos e que provocam controvérsias nas formas de tratamento, documentação e pesquisas futuras. Embora a discussão sobre a geração de acervos arqueológicos vem sendo realizada ao longo dos tempos nas diversas Reuniões Científicas da SAB, somente com a intensificação dos trabalhos voltados para atender as demandas dos empreendimentos no processo de obtenção de licenciamento ambiental é que ela ganhou notabilidade.

Todavia, o MAEA-UFJF em atenção a sua missão e compromisso de conservação e preservação, desde sua gênese observa rigorosamente os cuidados à documentação material. As atividades de pesquisa, educação e preservação e conservação são consideradas de modo unívoco, de maneira que ocorrem simultaneamente, pois o que está em pauta é o conhecimento gerado com os bens patrimoniais.

Assim, o tratamento do material extraído dos trabalhos de campo, acompanhados de etiquetas com os dados das informações estabelecidas na adoção das metodologias diversas, passa pelo processo de higienização e tombamento e análise, sendo novamente guardados em sacos plásticos, limpos e colocados em caixas apropriadas para a disposição do material. Para facilitar o acesso às informações geradas nesse processo, as caixas recebem etiquetas com os seguintes dados: sigla da região, sigla do município, sigla do nome e sequência do sítio, ano de tombo, tipo de material e número da caixa (Vide Loures de Oliveira, 2006).

Para ilustrar, utilizamos a seguinte referência: ZM-JF-01(04:01:031), sendo ZM = Zona da Mata (mineira); JF = Juiz de Fora; 01 = Sítio Teixeira Lopes, pois foi o 1º a ser registrado e estudado no município; 04 = relativo ao ano de 2004 quando foi estudado e tombado; 01 = relativo ao material lítico; e 031 = ao nº da caixa em que está localizado parte do material. A ficha de inventário obedece aos mesmos critérios, agregando informações sobre o local em que foi encontrado no contexto do sítio, bem como o quantitativo de

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fragmentos/artefatos passíveis de estudos técnicos e tipológicos e os residuais, isto é, fragmentos com pouca inteligibilidade analítica (Tabelas 04 e 05).

Tabela 04 – Ficha de inventário - Material oriundo de pesquisa acadêmica

MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA AMERICANA

Inventário acervo arqueológico

Projeto: Mapeamento Arqueológico e Cultural da Zona da Mata mineira

Responsável: Cézar Henrique Barra Rocha

Endereço: Av. Barão do Rio Branco, 3460 Juiz de Fora/MG

Tel.: (32) 2102-3765

Pesquisador responsável: Ana Paula de Paula Loures Oliveira

Sítio: Mata dos Bentes

Município: Rio Novo

Região: Zona da Mata mineira

Estado: Minas Gerais

Tombo do fragmento/material

Sigla do

Sítio

Sigla da

região

Sigla do

municipio

Sequência

de sítio

Ano de

tombo

Cole-

ção

Frag-

mentos

Resi-

duais

Nº das

Caixas

MB ZM RN 02 2002 04 5606 6068

015-

029

MB ZM RN 02 2002 01 466

030-031

Sítio: Teixeira Lopes

Município: Juiz de Fora

Estado: Minas Gerais

Tombo do fragmento/material Sigla do

Sítio

Sigla da

região

Sigla do

municipio

Sequência

de sítio

Ano de

tombo

Cole-

ção

Frag-

mentos

Resi-

duais

Nº das

Caixas

TL ZM JF 01 2005 04 499 285 032- 034

TL ZM JF 01 2005 01 89

035

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Tabela 05 – Ficha de inventário – Material oriundo do Endosso institucional MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA AMERICANA

Inventário acervo arqueológico

Projeto: Gasbel II

Responsável: José Carlos Loures de Oliveira

Endereço: Av. Barão do Rio Branco, 3460 Juiz de Fora/MG

Tel.: (32) 2102-3765

Pesquisador responsável: Ana Paula de Paula Loures de Oliveira

Sítio: Campo Belo II

Município: Queluzito

Região: Região Central

Estado: Minas Gerais Tombo do

fragmento/

Material

Cód.caixas

de armaze-

namento SIGLA

DO

SÍTIO

TRIN

CHEI

RA

QUA

DRI-

CULA

DECA-

PAGEM SETOR

SEQUEN-

CIAL SIGLA DA REGIÃO

SIGLA DO

MUNICI-

PIO

SEQUÊN-

CIA DE

SÍTIO

ANO

DE

TOMBO

CO-

LE-

ÇÃO

Nº DA

CAI-

XA

CBII T1 1 2 1 01-01 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 1 3 1 01-05 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 1 4 1 01-04 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 1 5 1 01-02 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 4 2 1 01-28 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 4 3 1 01-19 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 4 4 1 01-03 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 4 5 1 01-02 CT QL 02 10 04 042

CBII T1 5 1 1 01-01 CT QL 02 10 04 043

CBII T1 5 3 1 01-27 CT QL 02 10 04 043

Cabe ressaltar que as informações relativas ao

material dos sítios investigados foram amplamente divulgadas, em apresentações de trabalhos e publicações

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científico-acadêmicas, decorrentes dos inúmeros projetos de pesquisas.

Com a expansão dos trabalhos e, consequentemente, do acervo arqueológico, foi criado em 2005, o Laboratório de Arqueologia no Departamento de Transportes e Geotecnia da Faculdade de Engenharia. Em boa medida, o Laboratório foi oportuno, pois dadas as demandas internas da UFJF sobre os espaços físicos, fomos instados a nos deslocarmos. Na ocasião ocorreu a divisão de parte dos acervos e da organização do MAEA, sendo o acervo oriundo das pesquisas arqueológicas realizadas após o ano de 2000, abrigado no Laboratório de Arqueologia no campus da UFJF, e parte do acervo arqueológico e etnográfico transferido para uma sala nas dependências do Museu de Arte Moderna Murilo Mendes - MAMM, situado no prédio da antiga Reitoria, localizado no centro da cidade.

De certo modo, a despeito da separação, esse arranjo atendia as necessidades, pois o material disposto no Laboratório de Arqueologia estava em estudo e o acervo trasladado para o centro proporcionou a ampliação da visitação do público e intensificação de ações educativas32.

Esse alargamento das ações e pesquisas promoveu um movimento intenso nas discussões e reflexões acerca das questões que perpassam as investigações de cunho Arqueológico e Antropológico, centradas tanto nos aspectos teóricos e metodológicos dos estudos empreendidos, quanto dos resultados alcançados nessa investida.

Sob essa perspectiva, buscamos estabelecer as relações de alteridade promovidas nesse trajeto com vistas a compreender o constructo do imaginário social calcado não só nas experiências de cunho histórico social, mas fundamentalmente nas formas de difusão e discussão do conhecimento produzido no contexto acadêmico-científico. Para tanto, lançamos mão do projeto de extensão “Compartilhando experiências: a educação patrimonial e a

32 Participação do I, II, III e IV Circuito Caminhos da Cultura. FUNALFA/PJF. Exposição do Acervo Arqueológico e Etnográfico do MAEA. Juiz de Fora, 2006-2007-2008 e 2009.

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socialização do saber”, como mediador na relação com a comunidade regional33.

Constatamos que ao longo desse trabalho de colaboração com a comunidade, que algumas questões que eram pontos pacíficos para a Ciência foram apreendidas e reelaboradas a partir das contribuições angariadas nessa relação. Podemos afirmar que o MAEA-UFJF foi se consolidando também na relação com a comunidade, isso é, com o outro, numa construção contínua e subjetiva, a partir de um movimento intenso de discussões e vontade de ultrapassar as dificuldades inerentes dessa intersubjetividade34.

Essa compreensão perpassou pela consciência de si, vivendo e agindo no mundo e para o mundo. É nessa perspectiva que o corpo do MAEA-UFJF se volta para a sua História e Memória com a finalidade de conhecer a si mesmo, ao outro e, por conseguinte, as coisas do mundo. Logo, a alteridade é apreendida, na diversidade de experiências da receptividade.

Nesse esforço de compreensão de alteridade, se fizermos uma reflexão sobre a representatividade dos bens patrimoniais de natureza arqueológica e etnográfica, remetemo-nos imediatamente para nossos ancestrais indígenas e, em boa medida, africanos. Esse nosso duplo, que insistimos em apagar ou esconder a partir da lógica branca, ocidental, colonizadora e masculina. No entanto, por mais esforços que empregamos para nos espelharmos nesse perfil,

33 O corpo do MAEA-UFJF recebeu vários títulos e prêmios pela sua atuação no campo acadêmico-científico e social: Mérito Cultural, concedido pela Fundação Cultural de São João Nepomuceno, 2003; Prêmio Loureiro Fernandes, concedido pela Sociedade de Arqueologia Brasileira, 2007; Menção Honrosa do Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica, concedido pelo CNPQ, 2007; Melhor Pôster do 3º Simpósio de Arqueologia e Patrimônio da Zona da Mata Mineira, 2º Simpósio de Arqueologia e Patrimônio de Minas Gerais e 1ª Reunião da SABSUDESTE, 2008; Menção Honrosa de Iniciação Científica, concedido pelo CNPQ/UFJF, 2009; e Melhor Pôster do 4º Simpósio de Arqueologia e Patrimônio de Minas Gerais e 3ª Reunião da SABSUDESTE, 2010. 34

Nesse momento, buscamos apoio da comunidade acadêmica para

sensibilizar a administração da UFJF no intuito de regularizar a situação do MAEA-UFJF enquanto agente museal tendo em vista a sua atuação e contribuição para o conhecimento e a sociedade. Ver LOURES DE OLIVEIRA E MONTEIRO OLIVEIRA, 2007.

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há sempre sombras que se projetam nas miríades das luzes, seja por meio da objetividade científica, da consciência subjetiva ou até mesmo pelo afrontamento do outro.

Considerações Finais

Por fim, para afirmarmos nossa palavra, algumas considerações a respeito da noção de Museu se fazem necessárias, em virtude da liquidez do mundo (pós) moderno. A acepção do “Templo das Musas” é fluida e não necessariamente precisa possuir uma sede, com espaços físicos, delimitados, podendo ser inclusive virtual ou imaginário. Sua identidade e seu corpo podem variar conforme as necessidades e demandas na relação com a sociedade que apreende a instituição a partir de múltiplos olhares e que, em suma, lhe concede, transpõe e restitui a sua vitalidade. É nesse movimento que a alteridade se realiza e onde o mundo é possível, sem necessariamente projetar sombras, pois a facticidade do mundo foi transcendida.

Referências Bibliográficas

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