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História de Pernambuco

Ciclo do Açucar

Professor Thiago Scott

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História de Pernambuco

CICLO DO AÇÚCAR

A cana-de-açúcar é originária da Índia. Açúcar foi produzido no subcontinente indiano desde a antiguidade. Porém não era de fácil acesso: o mel era usado com maior frequência para se adoçar os alimentos na maior parte do mundo. Uma das primeiras menções à cana-de-açúcar aparece em manuscritos antigos de chineses datados do oitavo século antes de Cristo. Ao redor de 500 a.C, habitantes do subcontinente indiano faziam grandes cristais de açúcar para facilitar o transporte e armazenamento. Esses cristais, chamados khanda, são semelhantes aos pães de açúcar que eram a principal forma de açúcar até o desenvolvimento de açúcar granulado e em cubos no final do século XIX.

A cana-de-açúcar foi uma cultura de acesso limitado e açúcar uma mercadoria rara durante muito tempo. Os cruzados levaram açúcar para casa na sua volta à Europa após suas campanhas na Terra Santa, onde eles encontraram caravanas carregando "sal doce". No começo do século XII, Veneza adquiriu algumas vilas perto de Tiro e organizou propriedades rurais para produzir açúcar para exportar para Europa, onde ele suplementou o mel como a única outra forma de adoçante. O cronista cruzado Guilherme de Tiro, escrevendo no final do século XII, descreveu o açúcar como "muito necessário para o uso e saúde da humanidade".

Celso Furtado afirma haver indicações de que os italianos participaram da expansão agrícola das ilhas portuguesas do Atlântico por volta do século XV. A técnica de produção açucareira já era difundida no Mediterrâneo e o produto refinado em Chipre era considerado de primeira classe, envolvendo segredos industriais. Tanto que, em 1612, o Conselho de Veneza ainda agia nesse sentido, proibindo a exportação de equipamentos, técnicos e capitais oriundos da indústria. Comerciantes de açúcar se tornaram ricos; Veneza, no auge de seu poder financeiro, foi o principal centro de distribuição e comércio de açúcar para a Europa.

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No início do século XV, deu-se uma viragem importante na história do açúcar. O infante D. Henrique resolveu introduzir na Madeira a cultura agrícola da cana-de-açúcar. O projeto correu bem e, em breve, Portugal estaria a vender açúcar ao resto da Europa. Por outro lado, com a passagem do cabo da Boa Esperança, os Portugueses passaram a viajar para a Índia com bastante regularidade. Nesta época, os Portugueses tornaram-se, assim, os maiores negociantes de açúcar, e Lisboa a capital da refinação e comércio deste produto. Normalmente associa-se o açúcar a uma origem sul-americana. No entanto, terá sido apenas na altura dos Descobrimentos que a cana fez a sua viagem até este o continente americano. Foi Cristóvão Colombo o intermediário desta viagem, tendo levado alguns exemplares de cana-de-açúcar provenientes das Canárias para plantar em São Domingos, a atual República Dominicana.

A cultura de cana encontrou, no continente americano, excelentes condições para se desenvolver, e não foram precisos muitos anos para que, em praticamente todos os países americanos colonizados pelos europeus, os campos se cobrissem de cana-de-açúcar. Os navegadores portugueses apostaram nos solos férteis das terras brasileiras para instalar plantações gigantescas de cana cultivadas com mão de obra escrava, e a aposta foi bem-sucedida do ponto de vista financeiro. Os solos eram férteis e o clima, o mais adequado. Nesta época, na Europa, o açúcar era um produto de tal maneira cobiçado que foi apelidado de "ouro branco", tal era a riqueza que gerava.

A colonização das Américas não foi impulsionada apenas por “ouro, glória e evangelho”. A nobreza européia estava ávida de açúcar. Por volta da metade do século 15, os rendimentos dessa cara iguaria produzida nas ilhas do Atlântico estavam enchendo os cofres portugueses. Por isso, em 1516 o Rei Manuel I, de Portugal, decidiu estabelecer a produção de açúcar em seus territórios no Novo Mundo.

O ciclo da cana-de-açúcar foi um período da história do Brasil Colônia compreendido entre meados do século XVI e meados do século XVIII. O açúcar representou a primeira grande riqueza agrícola e industrial do Brasil e, durante muito tempo, foi a base da economia colonial.

O ciclo teve início quando a cana-de-açúcar foi simultaneamente introduzida em três capitanias: Pernambuco, Bahia e São Vicente. Em 1549, Pernambuco já possuía trinta engenhos-banguê; a Bahia, dezoito; e São Vicente, dois. A lavoura da cana-de-açúcar era próspera e, meio século depois, a distribuição dos engenhos perfazia um total de 256.

As plantações ocorriam no sistema de plantation, ou seja, eram grandes fazendas produtoras de um único produto. Sua produção era voltada para o comércio exterior, e utilizava mão de obra escrava composta por indígenas e africanos — cujo tráfico também gerava lucros. O açúcar brasileiro tinha como principal destino o mercado europeu, e os núcleos mais produtivos se utilizavam de mão de obra africana, enquanto os núcleos menores continuavam com a mão de obra indígena original. O senhor de engenho era um fazendeiro proprietário da unidade de produção de açúcar. Além do açúcar, destacou-se, na época, no Brasil, também a produção de tabaco e algodão.

Nas palavras de Gilberto Freyre:

“O Massapê (...) tem profundidade. É terra doce sem deixar de ser terra firme: o bastante para que nela se construa com solidez engenho, casa e capela. Nessas manchas de terra pegajenta foi possível fundar-se a civilização moderna mais cheia de qualidades, de permanência e ao mesmo tempo de plasticidade que já se fundou nos trópicos. A riqueza do solo era

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profunda: as gerações de senhores de engenho podiam suceder-se no mesmo engenho; fortalecer-se; criar raízes em casas de pedra-e-cal; não era preciso o nomadismo agrário que se praticou noutras terras, onde o solo era menos fértil, esgotado logo pela monocultura, fez do agricultor quase sempre um cigano à procura de terra virgem. Um dom-juan de terras. (...) A qualidade do solo, completada pela da atmosfera, condicionou, como talvez nenhum outro elemento, essa especialização regional da colonização da América pelos portugueses que foi a colonização baseada na cana-de-açúcar (...) A verdade é que foi no extremo Nordeste – por extremo Nordeste deve entender-se o trecho da região agrária do Norte que vai de Sergipe ao Ceará – e no Recôncavo Baiano – nas suas melhores terras de barro e húmus – que primeiro se fixaram e tomaram fisionomia brasileira os traços, os valores, as tradições portuguesas que junto com as africanas e as indígenas constituiriam aquele Brasil profundo, que hoje se sente ser o mais brasileiro. O mais brasileiro pelo seu tipo de aristocrata, hoje em decadência, e principalmente pelo seu tipo de homem do povo, já próximo, talvez, de relativa estabilidade. Um homem do povo [...] feito de três sangues, em outras terras tão inimigas – o do branco, o do índio e o do negro. Um negro adaptado como nenhum à lavoura do açúcar e ao clima tropical. Um português também disposto à sedentariedade da agricultura. Um índio que ficou aqui mais no ventre e nos peitos da cabocla gorda e amorosa do que nas mãos e nos pés do homem arisco e inquieto".

Pernambuco, a mais rica das capitanias durante o ciclo da cana-de-açúcar, impressionara o padre Fernão Cardim, que surpreendeu-se com "as fazendas maiores e mais ricas que as da Bahia, os banquetes de extraordinárias iguarias, os leitos de damasco carmesim, franjados de ouro e as ricas colchas da Índia", e resumiu suas impressões numa frase antológica: "Enfim, em Pernambuco acha-se mais vaidade que em Lisboa". A opulência pernambucana parecia decorrer, como sugere Gabriel Soares de Sousa em 1587, do fato de, então, ser a capitania "tão poderosa (...) que há nela mais de cem homens que têm de mil até cinco mil cruzados de renda, e alguns de oito, dez mil cruzados. Desta terra saíram muitos homens ricos para estes reinos que foram a ela muito pobres". Por volta do início do século XVII, Pernambuco era a maior e mais rica área de produção de açúcar do mundo.

Um engenho de cana-de-açúcar em Pernambuco colonial, pelo pintor holandês Frans Post (século XVII).

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Os problemas da colonização Portuguesa

A montagem de um sistema produtor de bens numa área tão afastada de Portugal implicaria a necessidade de enormes recursos financeiros para a implantação, aqui, de tecnologia, populações e implementos necessários para criar um fluxo permanente de bens destinados ao consumo do Velho Continente. Portugal, na época, ou não detinha tais recursos, ou não conhecia meios efetivos de canalizar a poupança interna para uma tão ousada iniciativa. Isso pressupunha, portanto, a vinda de investimentos internacionais, que deveriam ser atraídos para uma área – o Brasil – amplamente desconhecida e de alto risco para o investidor. Em suma:

O primeiro problema para a colonização do Brasil:

Investimento inicial – destituído de poupança interna, Portugal precisava atrair a poupança externa.

Para interessar os investidores estrangeiros, o Reino português teria de escolher um produto que satisfizesse às seguintes condições: a existência de mercado para ele na Europa; capacidade de ampliar mercados; relativa experiência de Portugal em sua produção e comercialização e, por fim, que fosse um gênero adequado às condições ambientais do Brasil.

O segundo problema para a colonização do Brasil:

A escolha do produto – o gênero a ser escolhido deveria:

• ter mercados na Europa; • ampliar mercados; • ser produzido e comercializado por Portugal; • ser adaptado à ecologia americana.

Outro obstáculo à colonização do Brasil era a questão do transporte. De fato, a marinha lusitana, em função do grande número de perdas de embarcações na “rota oriental”, encontrava-se bastante abalada. Além disso, era crescente o número de navegadores e construtores navais portugueses que, famosos por seus conhecimentos técnicos, eram atraídos para outros países europeus em função dos elevados salários que a eles eram oferecidos. Impunha-se, por conseguinte, o apoio de uma frota estrangeira.

O terceiro problema para a colonização do Brasil:

A questão do transporte – o relativo enfraquecimento da marinha portuguesa demandava o suporte de navios estrangeiros.

Por fim, outro problema a ser resolvido era o da mão de obra, já que a colonização não poderia se apoiar no trabalho assalariado, pelo alto custo que acarretaria à produção e por total incompatibilidade do regime de trabalho livre com as normas mercantilistas de exploração colonial. Com efeito, a existência de um regime de trabalho assalariado no Brasil implicaria a criação de um mercado consumidor local, gerador de produção interna, o que provocaria o enriquecimento da própria colônia, desviando capitais que deveriam ser acumulados na Metrópole.

O quarto problema para a colonização do Brasil:

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A mão de obra – as necessidades de exploração econômica da área colonial por parte da metrópole impossibilitavam o trabalho assalariado, pelo seu alto custo e pelo fato de provocar a prosperidade da própria colônia.

Todos os problemas que obstavam a colonização tiveram uma solução açucareira.

Uma solução açucareira

No início do século XVI, nenhum gênero agrícola extra europeu conhecia ampla comercialização no interior do Velho Mundo. O principal produto da terra – o trigo – era abundante no próprio continente, o que tornava sua importação desnecessária. Além disso, os fretes marítimos eram bastante elevados, em virtude dos riscos que envolviam o transporte à longa distância: somente bens manufaturados e as caras e exóticas especiarias orientais podiam comportá-los. Inúmeros eram, pois, os obstáculos e custos do empreendimento agrícola em território americano, fato que não era ignorado por nenhum empresário europeu.

A colonização do Brasil, em seus momentos iniciais, consistiu basicamente, na montagem de um sistema produtor de açúcar. Os portugueses, nessa época, já eram os maiores produtores mundiais dessa apreciada especiaria. Assim, aproveitando sua experiência açucareira nas ilhas atlânticas, Portugal implantou em nosso país uma solução semelhante, o que, além de propiciar a solução de inúmeros problemas técnicos relacionados com a produção de açúcar, fomentou o desenvolvimento em Portugal de uma indústria de equipamentos para os engenhos.

Contudo, a maior vantagem do empreendimento açucareiro português ocorreu no campo comercial. Numa primeira fase, o açúcar lusitano entrou nos tradicionais canais de troca, controlados pelos mercadores das cidades italianas. Nas últimas décadas do século XV, porém, o produto sofreu uma sensível baixa de preço, indicando que as redes comerciais dominadas pela burguesia da orla mediterrânea não se ampliaram na medida requerida pela expansão da produção açucareira. Por outro lado, houve também nesse período uma crise de superprodução, pois dentro dos estreitos limites mercantis estabelecidos pelos negociantes da Península Itálica, o açúcar não podia ser absorvido senão em escala relativamente limitada.

Mas, sem dúvida, a principal consequência da entrada da produção portuguesa no mercado foi a ruptura do monopólio de acesso às fontes de produção, mantido até então pelos venezianos. Assim, desde cedo, o açúcar lusitano passou também a ser encaminhado para Flandres, e, em 1496, quando a coroa portuguesa, em função da baixa do preço, decidiu restringir a produção, quase metade desta já era enviada para os portos flamengos.

O capital mercantil e financeiro holandês

O capital mercantil e financeiro holandês foi fator fundamental para o êxito da colonização do Brasil. De fato, os flamengos, acostumados ao comércio intra-europeu, possuíam recursos e uma sofisticada organização comercial, o que possibilitou criar um mercado de grandes dimensões para o açúcar brasileiro. Até o século XVI, época em que o açúcar de nosso país começou a surgir nos mercados mundiais, este gênero ainda apresentava características de

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especiaria. Pequeno volume, peso reduzido, alto valor unitário e consumo diminuto. Enquanto o açúcar estivera nas mãos de produtores árabes e comerciantes italianos, ele foi um “presente de reis”. Com efeito, tal era seu preço que príncipes, quando se casavam, recebiam açúcar como parte do dote matrimonial. Pessoas de alto poder aquisitivo utilizavam-no como remédio, quando acometidas por doenças graves, já que o açúcar é um poderoso energético. Como já observamos, foi a produção lusitana nas ilhas atlânticas que permitiu, simultaneamente, uma relativa ampliação do mercado e uma queda no preço açucareiro. No final do século XV, a Europa Ocidental já estava bem abastecida do produto, o que começava a provocar crises de superprodução e uma política de desestímulo aos novos plantios. Por conseguinte, a implantação da cana-de-açúcar no Brasil só seria possível se novos mercados fossem criados. Essa foi a grande tarefa do capital comercial holandês, que, além de ampliar o consumo no oeste da Europa, levou o gênero para a Europa Central e Oriental. Pode-se dizer, portanto, que o açúcar perdeu sua condição de especiaria e se tornou um gênero de consumo corrente graças aos esforços flamengos.

A contribuição holandesa para a colonização brasileira não se limitou apenas ao aspecto mercantil: os capitalistas holandeses financiaram, em grande parte, a implantação do sistema produtor em nosso país, além de tomar parte no tráfico negreiro. Realmente, a experiência técnica dos portugueses na produção de açúcar não era suficiente para levar adiante a colonização do Brasil: a capacidade comercial e o poder financeiro dos holandeses tornaram viável o empreendimento. Em suma, o papel holandês para criar a realidade agrícola brasileira consistiu em:

1. financiamento dos sistemas produtores implantados em nosso território;

2. montagem de uma grande rede de distribuição comercial açucareira em todo continente europeu;

3. suporte naval – ajudando a trazer escravos e, pouco a pouco, assumindo o monopólio do transporte açucareiro para a Europa, os navios holandeses, graças aos lucros dos fretes, ajudaram ainda mais a acumulação de capital gerado pelo açúcar brasileiro nos Países Baixos, descapitalizando Portugal.

À luz de tudo que dissemos, pode-se afirmar que o negócio açucareiro do Brasil, no século XVI e início do XVII, não foi brasileiro e nem português; foi fundamentalmente holandês.

Porém, essa aliança econômica de Portugal com a Holanda promoveu o povoamento do Brasil e permitiu que Portugal garantisse seu controle sobre todo o território brasileiro. Além disso, todos os navios que partiam para o Brasil eram obrigados a partir de portos portugueses e todos os navios que vinham do Brasil tinham que fazer uma escala em Portugal. O governo português cobrava imposto sobre qualquer transação comercial feita com o Brasil. Os portugueses não lucraram tanto quanto os holandeses, que comercializavam o açúcar, mas essa aliança econômica ajudou a aliviar os problemas econômicos de Portugal.

A produção açucareira no Brasil Colonial

O sistema produtor açucareiro implantado no Brasil foi juridicamente baseado no regime de concessão de sesmarias. Interessado em excluir camadas médias e populares da colonização

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brasileira, já que o interesse era a grande produção destinada ao mercado europeu, Portugal só concedia terras às pessoas detentoras de grandes capitais, quer próprios, quer obtidos em bancos holandeses. De fato, pela “Lei das Sesmarias”, só podia obter propriedade fundiária quem tivesse posses para cultivá-las. O caráter aristocrático da posse agrária no Brasil data do início da colonização. É por esse motivo que, até hoje, conhecemos problemas agrários em nosso país. Na realidade, o “movimento dos sem-terra” não é recente, data dos primórdios da colonização. Efetivamente, nos momentos iniciais do processo colonizatório, a pequena propriedade – o minifúndio, apoiado no trabalho individual ou familiar de pequenos agricultores – não teve condições para se desenvolver. Inúmeros obstáculos impediram a formação, em nosso país, de uma comunidade de pequenos e médios proprietários.

As razões da inexistência da pequena propriedade no período colonial

1. O trabalho livre de pequenos agricultores autônomos, cultivando suas próprias terras, não possibilitava o desbravamento de um território virgem e de penetração extremamente difícil.

2. A existência de minifúndios entrava em contradição com o caráter mercantilista da empresa colonizatória (o propósito real do esforço de colonização era a montagem de zonas produtoras de gêneros primários para os mercados externos. A pequena propriedade, em função de seus recursos limitados, acarretaria, inevitavelmente, uma produção orientada para a subsistência dos próprios lavradores. Isto significaria a negação radical da finalidade do antigo sistema colonial: a acumulação de capital das economias centrais e metropolitanas).

3. Os pequenos proprietários não dispunham de recursos suficientes (a instalação de um engenho de açúcar – equipamento técnico indispensável ao sucesso da colonização – exigia um volume de capital inacessível ao pequeno lavrador).

4. Não havia mercados para o pequeno produtor (o simples lavrador não atingia o mercado externo, ao qual se destinava a produção açucareira; o mercado interno no Brasil Colônia quase não existia, principalmente porque o latifúndio, a grande unidade econômica dos tempos coloniais, produzia o necessário para seu consumo interno, pouco dependendo de fornecimentos exteriores).

5. As tribos indígenas eram hostis (o latifúndio dispunha de recursos para formar um forte contingente de homens armados que o defendessem contra os ataques dos selvagens; a pequena propriedade, ao contrário, era presa fácil para os índios).

A lógica da colonização mercantilista abafou o pequeno lavrador; na realidade, a pequena propriedade foi esmagada pelo latifúndio. Fundamentalmente, os minifundiários foram vítimas de uma pressão real por parte do latifúndio, além de discriminados por uma legislação opressora. Inúmeros obstáculos jurídicos impediram os lavradores independentes de se dedicarem para produtos ao alcance de seus pequenos recursos. Um bom exemplo disso: a fabricação de aguardente exigiria, somente, engenhos de baixo custo. Como tal produção desfalcava os grandes engenhos da cana de que necessitavam, Portugal, pelo Alvará de 1570, proibiu a fabricação de “pinga”. Como bem observa o historiador Caio Prado Júnior, o “aristocrático açúcar matou a democrática aguardente”. Dessa maneira, o latifúndio, ao eliminar a pequena

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propriedade, tornou-se a base da colonização do Brasil. No primeiro século da ocupação e valorização do Brasil, praticamente inexistiu qualquer tipo de produção urbana. A indústria e o comércio, atividades características das economias citadinas, dependiam da exploração do solo. Modestos mascates ambulantes, que percorriam os latifúndios e as poucas vilas em busca de escassos fregueses, efetuavam as diminutas transações comerciais. Olarias, carpintarias e serrarias estavam concentradas, em escalas muito reduzidas, às áreas das grandes fazendas. No século XVI e XVII, as vilas brasileiras não podiam ser chamadas de realidades urbanas.

Ao instalar uma área produtora açucareira no Brasil, o mercantilismo – que inicialmente pretendera a mera circulação mercantil – desdobrou-se numa nova fase de seu desenvolvimento. Nesse contexto, o capital mercantil assumiu uma dupla função: a de produtor, mantendo, contudo, seu caráter de controlador da circulação de mercadorias e capitais. Em resumo, a colonização do Brasil teve um sentido mercantilista. E essa lógica impôs a “plantation” como modo de produção típico das áreas periféricas submetidas aos ditames do antigo sistema colonial.

As características da plantation

Objetivo explorador – a produção colonial, voltada para os mercados europeus, buscava complementar as economias metropolitanas e acelerar a acumulação primitiva de capital em mãos da burguesia mercantil europeia.

Carência do mercado interno – a lógica mercantilista e os entraves jurídicos à pequena propriedade impediram o desenvolvimento da produção e do comércio internos.

Produção latifundiária – como a meta básica da produção colonial era suprir a demanda externa, só interessava ao capital comercial a exploração agrícola em grande escala.

Monocultura – as zonas produtoras coloniais dedicavam-se à elaboração de um só produto. Como o capital comercial se interessava, no Brasil, apenas pela venda de açúcar em grandes quantidades, os investimentos realizados na colônia não podiam fomentar, de maneira dispersiva, várias atividades agrícolas. Dessa forma, o mercantilismo, no início dos Tempos Modernos, criou uma verdadeira divisão mundial do trabalho, reservando a cada área periférica a exclusividade na produção de um determinado gênero.

Produção em dois eixos – um eixo dinâmico gerador de renda – o exportador (no caso do Brasil, o açucareiro) – e um outro voltado à produção básica de subsistência (em nosso país, fundamentalmente a pecuária).

Mão de obra escrava – a adoção do trabalho escravo impedia a formação de um mercado interno e, consequentemente, o surgimento de um setor da população colonial voltado para a produção de artigos de consumo estritamente local. Assim, o escravismo vedava a possibilidade de as rendas geradas pelo aparelho produtor periférico permanecerem na própria colônia. Impedindo o processo de acumulação de capital no interior das regiões coloniais, as burguesias metropolitanas asseguraram-se a exclusividade dos lucros. Além disso, também se optou pela implantação do escravismo negro na América, devido à existência do tráfico de africanos, empreendimento comercial de alta rentabilidade. Os setores da camada mercantil europeia, ligados ao comércio escravista, pressionavam para que se impusessem formas compulsórias

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de trabalho em todas as áreas coloniais: assim, eles continuariam desfrutando dos lucros exorbitantes proporcionados pelo tráfico negreiro. Os altos preços que o produtor colonial pagava pela “mercadoria” africana sangravam ainda mais os parcos capitais retidos na colônia, desviando-os para a Europa. O tráfico negreiro estava, assim, inserido na própria lógica do mercantilismo, que preconizava o fortalecimento das economias metropolitanas.

Transferência de capital gerado pela produção para a esfera da circulação – durante o capitalismo mercantil, todo e qualquer sistema produtor, quer europeu, quer colonial, tinha função precípua de se inserir na órbita da circulação de mercadorias. Nessa fase inicial do capitalismo, a circulação comandava a produção.

Funções tripartites – no Brasil colônia, o capital comercial holandês investiu na produção e cuidou da circulação; o latifúndio se especializou na produção açucareira e a Metrópole Lusitana se ocupou da administração, da tributação e, em termos econômicos, do tráfico negreiro, com relativo apoio flamengo.

Sociedade colonial – basicamente bipolarizada: senhores de engenho e latifundiários, de um lado, e escravos, na base da sociedade. A lógica mercantilista de colonização praticamente excluiu camadas médias, que dependeriam da eventual existência de um mercado interno colonial.

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