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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Robson Stigar

HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

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Page 1: HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Programa de Pós-Graduação EAD

UNIASSELVI-PÓS

Autoria: Robson Stigar

Page 2: HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCIRodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SCFone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck

Revisão de Conteúdo: Neivor SchuckRevisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2017Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

231.044 S854h Stigar, Robson

História e teologia da igreja cristã / Robson Stigar. Indaial: UNIASSELVI, 2017.

142 p. : il. ISBN 978-85-69910-84-8

1.Teologia. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

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Robson Stigar

É doutorando em Ciência da Religião na PUCSP. Possui mestrado em Ciência da Religião pela PUCSP; MBA em Gestão Educacional; Especialização em Filosofia da Arte; Especialização em Catequética; Especialização em Educação, Tecnologia e Sociedade; Especialização em Ensino Religioso; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em

História do Brasil; Aperfeiçoamento em Ensino de Filosofia; Aperfeiçoamento em Sociologia Politica pela UFPR.

É bacharel em Teologia; licenciado em Filosofia pela PUCPR; Licenciado em Pedagogia pela UNINTER.

Atua como professor na Educação Básica e no Ensino Superior. Autor do Livro “O Ensino

Religioso e sua Historicidade”, possui vários artigos científicos publicados em periódicos e

artigos livres em jornais de circulação.

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Sumário

APRESENTAÇÃO ..........................................................................01

CAPÍTULO 1A Igreja Cristã na Antiguidade................................................... 09

CAPÍTULO 2A Igreja Medieval ......................................................................... 45

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

A Igreja Renascentista e Moderna ........................................... 79

A Igreja Contemporânea .......................................................... 107

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APRESENTAÇÃONesta obra “História e Teologia da Igreja Cristã”, procuramos apresentar de

forma rápida e objetiva a Igreja na Antiguidade, na Idade Média, no Renascimento, na Idade Moderna e na Contemporaneidade.

No primeiro capítulo “A Igreja Cristã na Antiguidade” procuramos realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã na Antiguidade, período que vai de 30 depois de Cristo até o ano 476. Procuramos entender a expansão da Igreja Cristã neste contexto histórico e geográfico bem como compreender o crescimento do império Romano.

No segundo capítulo “A Igreja Medieval”, apresentamos a formação dos monastérios da Igreja Medieval, a história desta Igreja no Sacro Império Romano-Germânico, objetivando entender os grandes cismas que ocorreram na Igreja. Vamos estudar sobre as Cruzadas, episódios tão marcantes naquele período que deixaram marcas até os dias de hoje, e por fim, conhecer a Guerra dos Cem anos e as causas da Queda de Constantinopla.

No terceiro capítulo “A Igreja Renascentista e Moderna”, apresentamos um estudo analítico sobre a Reforma Religiosa iniciada no século XVI, procurando assim, compreender sua origem e sentido, bem como as causas da Contrarreforma e o Concílio de Trento, ambos realizados pela Igreja Católica em resposta à Reforma Religiosa realizada por Martinho Lutero e outros reformadores.

No quarto capítulo “A Igreja Contemporânea”, apresentamos a história dos Concílios Ecumênicos do Vaticano I e II, procurando compreender seu contexto e importância tanto para a história da civilização como para a história da Igreja. Vamos realizar um estudo reflexivo sobre a importância da renovação da Igreja Protestante/Evangélica para a Igreja Cristã e para a sociedade de forma geral, apresentando como suas rupturas e transições foram positivas para o seu desenvolvimento.

Nosso objetivo é realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã no Ocidente, tarefa difícil e complexa, dado o amplo período histórico que temos, pois são vários séculos de história, fatos e acontecimentos para serem apresentadas em poucas páginas.

O autor.

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CAPÍTULO 1

A Igreja Cristã na Antiguidade

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a igreja na Antiguidade (de 30 a 476 d. C.).

� Conhecer sobre a expansão do Império Romano.

� Estudar o crescimento da Igreja Cristã.

� Conhecer os Concílios de Niceia, Constantinopla e Calcedônia.

� Entender as causas da queda de Constantinopla.

� Promover uma análise crítica da Igreja Cristã na Antiguidade Clássica.

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

ContextualizaçãoO objetivo deste capítulo é realizar um pequeno estudo sobre a história da

Igreja Cristã na Antiguidade, período que compreende de 30 depois de Cristo até 476. Precisamos entender a expansão da Igreja Cristã neste contexto histórico e geográfico, bem como compreender o crescimento do Império Romano.

Também vamos analisar os três grandes concílios que ocorreram naquela época, que foram relevantes para a história da civilização e da igreja, são eles: Niceia, Constantinopla e Calcedônia. Por fim, vamos procurar entender as causas da queda de Constantinopla.

Temos também como tarefa conhecer um pouco do “período sombrio” que afetou a Igreja Cristã, ou seja, como se deram as perseguições neste período e como estas prejudicaram a igreja, bem como vieram a contribuir. Também vamos conhecer o que se denomina por Cristianismo Primitivo.

Esta obra tem caráter de introdução, já que temos quase cinco séculos de história sendo apontados em poucas páginas. Destacamos, entretanto, que cabe ao aluno o desafio de seguir adiante, motivado com o espírito crítico e acadêmico, buscando por novas informações e conhecimentos, pois esta é a dinâmica do meio acadêmico e teológico.

A Expansão do Império RomanoSegundo Le Roux (2013), o Império Romano nasceu oficialmente em

27 a.C. e terminou – dependendo do ponto de vista – com a conquista de Roma pelos godos, chefiados por Alarico, em 410 d.C., ou em 476 d.C., data da queda do último imperador do Ocidente, em consequência dos repetidos assaltos dos povos germânicos.

Para Le Roux (2013), o Império Romano designa um período histórico marcado pela ampla dominação da potência romana, sob a direção de seus césares. Considerado isoladamente, o Império Romano representava uma forma institucional e territorial do exercício de um poder monárquico, mas ao qual eram associados os valores aristocráticos tradicionais, o direito público como fonte de legitimidade e uma dimensão religiosa que correspondia ao ponto de vista ideológico e à forma como raciocinavam as elites romanas e as de suas províncias.

O Império Romano nasceu oficialmente em

27 a.C. e terminou – dependendo do ponto de vista – com a conquista de Roma pelos

godos, chefiados por Alarico, em 410

d.C., ou em 476 d.C.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Devido a sua geografia, o Império Romano agrupava um conglomerado de cidades e de comunidades locais que, até certo ponto, estavam integradas a uma rede de relacionamentos sociais que copiavam as estruturas da sociedade romana. Contudo, cada uma delas era constituída por suas próprias sociedades individuais, hierarquizadas e culturalmente mescladas, obedecendo em parte a tradições locais que revelavam os aspectos mais variados (LE ROUX, 2013, p. 8).

Le Roux (2013) destaca que o conceito corresponde, para os não especialistas, a uma forma ou outra de expansão da cidadania romana e de florescimento de uma civilização portadora dos valores nobres proclamados pelos literatos e filósofos latinos, mas caracterizada também pelos combates de gladiadores e outros espetáculos desumanos dos circos e anfiteatros, e pela perpetuação da escravatura, sem esquecer a grosseria de uma soldadesca indisciplinada e de mentalidade estreita, que se manifestava sem reservas no momento em que deixava os campos de batalha.

Roma se solidificou como o maior império que já existiu, sendo híbrida em sua formação, ou seja, composta de várias culturas, devido às conquistas territoriais ao longo dos tempos realizadas em suas guerras. Os romanos conquistaram grande parte do Oriente e todo o Ocidente durante os dois últimos séculos antes da Era Cristã e também na guerra civil interna, onde venceu Júlio César, em 100 a.C. – 44 a.C.

A partir desse momento, com a paz sedimentada, Otávio Augusto (63 a.C. – 14 d.C.), o primeiro imperador romano, reorganizou o estado, delimitou as fronteiras, abriu estradas (85 mil quilômetros), promoveu construções por toda a extensão do império, de quase cinco milhões de quilômetros quadrados (divididos hoje entre 30 nações). Com isso, assegurou um período inédito de estabilidade em toda a região ao redor do mar Mediterrâneo (PIOPPI, 2012).

A pax romana facilitou, durante décadas, até mesmo nas regiões mais expostas do Império, o desenvolvimento de formas políticas, sociais e culturais que se contavam entre as mais “modernas”, segundo consideravam os antigos. À medida que seu poderio se expandia, os cidadãos romanos foram se envolvendo com a exploração e o controle dos territórios submetidos (LE ROUX, 2013).

Na metade ocidental, o idioma utilizado era o latim, e na região do Mediterrâneo oriental e no Oriente Próximo era o grego. O Império Romano tornou-se um governo pacífico e próspero, suas cidades estavam em progresso e viajar não era mais difícil, pois muitas estradas foram construídas.

A pax romana facilitou, o

desenvolvimento de formas políticas, sociais e culturais que se contavam

entre as mais “modernas”.

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

Segundo Le Roux (2013), foi Otávio Augusto quem estabeleceu inicialmente a imagem de um universo centrado em Roma. A cidade conquistadora e senhora do mundo era a única capital, a sede do império. Dotada de uma aparência monumental, sem equivalente no mundo inteiro, obtida através de uma série contínua de programas de desenvolvimento arquitetônico determinados pelos imperadores, Roma foi escolhida unanimemente como o modelo do urbanismo, mesmo antes de se tornar legalmente a pátria comum. Cosmopolita, ela vivia em simbiose com o restante do império, não esquecendo nunca, contudo, que além de capital, também era uma cidade.

Figura 1 – Grande imperador romano Otávio Augusto (63 a.C. – 14 d.C.)

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?biw=1088&bih=510&tbm=isch&sa=1&q=otávio+augusto+imperador+romano>.

Acesso em: 24 nov. 2017.

Após sua morte, Otávio Augusto foi sucedido pelos imperadores Tibério (42 a.C. – 37 d.C.), Caio (12-41), Cláudio (10 a.C. – 54 d.C.) e Nero (37-68). Com o suicídio de Nero, seguiu-se novo período de guerra civil, conhecido como o ano dos quatro imperadores (69). Ao final desse ano, o comandante das forças militares romanas em combate na primeira guerra judaico-romana, Vespasiano (9-79), foi aclamado o novo imperador.

Posteriormente a ele seguiram seus filhos, Tito (39-81) e Domiciano (51-96), cujo assassinato inaugurou o período de outros imperadores: Nerva (30-98), Trajano (53-117), Adriano (76-138), Antonino Pio (86-161) e Marco Aurélio (121-180). Nessa época, o Império Romano atingiu sua expansão máxima, estabelecendo-se, assim, a paz romana, também conhecida como pax romana. Todavia, ao fim desse período, Cômodo (161-192) se tornou imperador, iniciando um longo período de instabilidades políticas (PIOPPI, 2012).

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

O Crescimento da Igreja CristãNa perseguição iniciada com a morte de Estevão, a igreja em Jerusalém

dispersou-se por toda a Terra. Alguns chegaram até Damasco e outros até Antioquia. Por qual motivo sobrevieram então as perseguições? Marcos 16:15: E disse-lhes: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. A partir desta perseguição, os cristãos fugiam, porém, pregavam o evangelho e testemunhavam das maravilhas que Jesus operava.

Segundo o renomado pesquisador da história da igreja, Carlo Pioppi (2012), a partir do século I, o cristianismo iniciou a sua expansão “territorial”, sob a orientação de São Pedro e dos apóstolos, tendo um rápido crescimento no Império Romano, nos primeiros séculos, difundindo assim uma nova religião e, consequentemente, uma nova perspectiva de vida religiosa.

A Palestina, onde o cristianismo deu seus primeiros passos, tinha uma posição geográfica privilegiada, pois ocupava uma área onde era a encruzilhada das grandes rotas comerciais que uniam o Egito à Mesopotâmia, e a Arábia com a Ásia Menor. Por isso vemos, na história descrita no Velho Testamento, esta área tão cobiçada sendo invadida por vários impérios.

Jesus nasceu dentro deste contexto que biblicamente se conhece como "plenitude dos tempos" (Gl: 4:4-5). A igreja, respondendo às ansiedades da época com a revelação de Deus em Jesus, conseguiu rapidamente conquistar o império.

Pioppi (2012) destaca que o poder político romano viu no cristianismo um perigo, pelo fato de reclamar um âmbito de liberdade na consciência das pessoas a respeito da autoridade estatal, assim, os seguidores de Jesus Cristo tiveram que suportar numerosas perseguições, que conduziram muitos ao martírio.

Segundo Pioppi (2012), no ano 313 o imperador Constantino I foi favorável à nova religião, concedeu aos cristãos a liberdade de professarem a fé, e iniciou uma política favorável para com eles. Com o imperador Teodósio I (379-395), o cristianismo converteu-se na religião

oficial do Império Romano, e no final do século IV, os cristãos já eram a maioria da população do império.

Pioppi (2012) destaca que no século IV a igreja teve que enfrentar uma forte crise interna: trata-se da questão ariana. Ário, presbítero de Alexandria, no Egito, defendia teorias heterodoxas, pelas quais negava a divindade do Filho, que seria, assim, a primeira das criaturas, embora superior às outras. A divindade do Espírito Santo era também negada pelos arianos.

Difundindo assim uma nova religião e, consequentemente,

uma nova perspectiva de vida

religiosa.

O imperador Constantino I foi favorável à nova

religião

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

O arianismo foi condenado pelo Concílio de Niceia, mas a disputa teológica sobre a divindade de Cristo não terminou e continuou sendo objeto, no Oriente e no Ocidente, de diferentes orientações doutrinárias. Com o apoio do imperador Constantino, interessado numa solução política para a unificação da igreja oriental e ocidental, a decisão de Niceia foi aplicada e o arianismo foi banido como heresia, e seus adeptos, desacreditados.

Fonte: Disponível em: <palavracriativa.org.br/site/wp-content/uploads/2015/06/ARIANISMO1.pdf>. >. Acesso em: 24 nov. 2017.

A crise doutrinal, com que se encruzilharam frequentemente intervenções políticas dos imperadores, perturbou a igreja durante mais de 60 anos; foi resolvida graças aos dois primeiros concílios ecumênicos, o primeiro de Niceia em 325 e o segundo de Constantinopla em 381, concílio em que se condenou o arianismo, se proclamou solenemente a divindade do Filho (consubstantialis Patri, em grego homoousios) e do Espírito Santo, e se compôs o símbolo niceno-constantinopolitano (o Credo).

O arianismo sobreviveu até o século VII, porque os missionários arianos conseguiram converter a sua crença muitos povos germânicos, que só pouco a pouco passaram ao catolicismo. Destaca-se ainda que no princípio a igreja também é vista ou considerada como uma seita do judaísmo, como consta no Ato dos Apóstolos (At: 24:5; 28:22).

Entretanto, o pesquisador Pioppi (2012) nos lembra que no século V houve duas heresias cristológicas, que tiveram o efeito positivo de obrigar a igreja a aprofundar no dogma, para formulá-lo de modo mais preciso.

A primeira heresia é o nestorianismo, doutrina que, na prática, afirma a existência em Cristo de duas pessoas, além de duas naturezas. Foi condenada pelo Concílio de Éfeso em 431, que reafirmou a unicidade da pessoa de Cristo. Dos nestorianos derivam as igrejas siro-orientais e malabares, ainda separadas de Roma.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

O nestorianismo afirmava a existência da natureza humana completa em Jesus, os teólogos puderam estudar mais detidamente o modo como humanidade e divindade se relacionaram em Cristo. Antes, porém, de entrar em particulares, devemos mencionar as duas principais escolas teológicas da Antiguidade: a Alexandrina e a Antioquena, que muito influíram na elaboração da Cristologia.

A Escola Alexandrina era herdeira de forte tendência mística; procurava exaltar o divino e o transcendental nos artigos da fé. Interpretava a Sagrada Escritura em sentido alegórico, tentando desvendar os mistérios divinos contidos nas sagradas letras. Em assuntos cristológicos, portanto, era inclinada a realçar o divino, com detrimento do humano. Ao contrário, a Escola Antioquena era mais dada à filosofia e à razão: voltava-se mais para o humano, sem negar o divino. Interpretava a Sagrada Escritura em sentido literal e tendia a salientar em Jesus os predicados humanos mais do que os atributos divinos. Era mais racional, ao passo que a de Alexandria era mais mística.

Dito isto, voltemos à história do dogma cristológico. A primeira tentativa de solução foi encabeçada por Nestório, elevado à cátedra episcopal de Constantinopla em 428. Afirmava que o Lógos habitava na humanidade de Jesus como um homem se acha num templo ou numa veste; haveria duas pessoas, em Jesus – uma divina e outra humana – unidas entre si por um vínculo afetivo ou moral. Por conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (Theotókos), como diziam os antigos, mas apenas Mãe de Cristo (Christokós); ela teria gerado o homem Jesus, ao qual se uniu a segunda pessoa da SS. Trindade com a sua divindade.

Nestório propunha suas ideias em pregações ao povo, nas quais substituía o título “Mãe de Deus” por “Mãe de Cristo”. As suas concepções suscitaram reação não só em Constantinopla, mas em outras regiões também, especialmente em Alexandria, onde S. Cirilo era bispo ardoroso. Este escreveu em 429 aos bispos e aos monges do Egito, condenando a doutrina de Nestório. As duas correntes se dirigiram ao Papa Celestino I, que rejeitou a doutrina de Nestório num sínodo de 430. Deu ordem a S. Cirilo para que intimasse Nestório a retirar suas teorias no prazo de dez dias, sob pena de exílio; Cirilo enviou ao patriarca de Constantinopla uma lista de 12 anatematismos que condenavam o nestorianismo. Nestório não se quis dobrar, de

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

mais a mais que podia contar com o apoio do imperador; além do mais, tinha muitos seguidores na Escola Antioquena, entre os quais o próprio bispo João de Antioquia.

Em 431, o Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para Éfeso o terceiro Concílio Ecumênico a fim de solucionar a questão discutida. S. Cirilo, como representante do Papa Celestino I, abriu a assembleia diante de 153 bispos. Logo na primeira sessão foram apresentados os argumentos da literatura antiga favoráveis ao título Theotókos, que acabou sendo solenemente proclamado; daí se seguia que em Jesus havia uma só pessoa (a Divina); Maria se tornara Mãe de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a natureza humana no seu seio. Quatro dias após esta sessão, isto é, a 26/06/431, chegou a Éfeso o patriarca Jogo de Antioquia, com 43 bispos seus seguidores, todos favoráveis a Nestório; não quiseram unir-se ao concílio presidido por S. Cirilo, representante do papa; por isto formaram um conciliábulo, o qual depôs Cirilo.

O imperador acompanhava tudo de perto e sentia-se indeciso. S. Cirilo então mobilizou todos os seus recursos para mover Teodósio II em favor da reta doutrina; nisto foi ajudado por Pulquéria, piedosa e influente irmã mais velha do imperador. Este finalmente apoiou a sentença de Cirilo e exilou Nestório. Todavia os antioquenos não se renderam de imediato; acusavam Cirilo de arianismo a apolinarismo. Após dois anos de litígio, em 433 puseram-se de acordo sobre uma fórmula de fé que professava um só Cristo e Maria como Theotókos. O nestorianismo, porém, não se extinguiu. Os seus adeptos, expulsos do Império Bizantino, foram procurar refúgio na Pérsia, onde fundaram a Igreja Nestoriana.

Esta teve notável expansão até a China e a Índia Meridional; mas do século XIV em diante foi definhando por causa das incursões dos mongóis; em grande parte, os nestorianos voltaram à comunhão da Igreja Universal (são hoje os cristãos caldeus e os cristãos de São Tomé). Em nossos dias, muitos estudiosos têm procurado reabilitar a pessoa e a obra de Nestório, que parece ser autor de uma apologia intitulada “Tratado de Heraclides de Damasco”: pode-se crer que tenha tido reta intenção, mas certamente sustentou posições errôneas por se ter apegado demasiadamente à Escola Antioquena.

Fonte: Disponível em: <http://www.clerus.org/clerus/dati/2009-01/02-13/As_Heresias_Cristologicas_e_Trinitarias.html>. Acesso em: 28 ago. 2017.

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A outra heresia foi o monofisismo, que defendia, na prática, a existência em Cristo de uma só natureza, a divina; o Concílio de Calcedônia em 451 condenou o monofisismo e afirmou que em Cristo há duas naturezas, a divina e a humana, unidas na pessoa do Verbo. Dos monofisitas derivam as igrejas coptas, siro-ocidentais, armênias e da Etiópia, separadas da Igreja Católica (FRÖLICH, 1987).

O monofisismo seria a luta contra o nestorianismo, que admitia em Jesus duas naturezas e duas pessoas, deu ocasião ao surto do extremo oposto, que é o monofisismo ou monofisitismo (“em Jesus há uma só natureza e uma só pessoa: a divina”). O primeiro arauto desta tese foi Eutiques, arquimandrita de Constantinopla: reconhecia que Jesus constava originariamente da natureza divina e da humana, mas afirmava que a natureza divina absorveu a humana, divinizando-a; após a Encarnação, só se poderia falar de uma natureza em Jesus: a divina.

Esta doutrina tornou-se a heresia mais popular e mais poderosa da antiguidade, pois, para os orientais, a divinização da humanidade em Cristo era o modelo do que deve acontecer com cada cristão. Eutiques foi condenado como herege no Sínodo de Constantinopla em 448, sob o patriarca Flaviano. Todavia não cedeu e reclamou contra uma pretensa injustiça, pois tencionava combater o nestorianismo. Conseguiu assim ganhar os favores da corte. Solicitado pelo patriarca Dióscoro de Alexandria, o imperador Teodósio II convocou em 449 novo Concílio Ecumênico para Éfeso, confiando a presidência do mesmo a Dióscoro, que era partidário de Eutiques. Dióscoro, tendo aberto o concílio, negou a presidência aos legados papais; não permitiu que fosse lida a Carta do Papa S. Leão Magno, que propunha a reta doutrina: as duas naturezas em Cristo não se misturam nem confundem, mas cada qual exerce a sua atividade própria em comunhão com a outra; assim, Cristo teve realmente fome, sede e cansaço, como homem, e pôde ressuscitar mortos como Deus. Esse Concílio de Éfeso proclamou a ortodoxia de Eutiques; depôs Flaviano, patriarca de Constantinopla, e outros bispos contrários à tese monofisita. Todavia os seus decretos foram de curta duração. Os bispos de diversas regiões o repudiaram como ilegítimo ou, segundo a expressão do Papa São Leão Magno, como “latrocínio de Éfeso”; pediam novo concílio, que de fato foi convocado após a morte de Teodósio II pela imperatriz Pulquéria (irmã de Teodósio) e pelo general Marcião, que em 450 foi feito imperador e se casou com Pulquéria.

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

O novo concílio, desta vez legítimo, reuniu-se em Caledônia, diante de Constantinopla, em 451; foi o mais concorrido da Antiguidade, pois dele participaram mais de 600 membros, entre os quais três legados papais. A assembleia rejeitou o “latrocínio de Éfeso”; depôs Dióscoro e aclamou solenemente a Epístola Dogmática do Papa São Leão a Flaviano; esta serviu de base a uma confissão de fé, que rejeitava os extremos do nestorianismo e do monofisismo, propondo em Cristo uma só pessoa e duas naturezas: “Ensinamos e professamos um Único e idêntico Cristo... em duas naturezas, não confusas e não transformadas, não divididas, não separadas, pois a união das naturezas não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou as suas propriedades e se uniu com a outra numa Única pessoa e numa Única hipóstase”.

Assim terminou a fase principal das disputas cristológicas: em Cristo não há duas naturezas e duas pessoas, pois isto destruiria a realidade da Encarnação e da obra redentora de Cristo; mas também não há uma só natureza e uma só pessoa, pois Cristo agiu como verdadeiro homem, sujeito à dor e à morte para transfigurar estas nossas realidades. Havia, pois, uma só pessoa (um só eu) divina, que, além de dispor da natureza divina desde toda a eternidade, assumiu a natureza humana no seio de Maria Virgem e viveu na Terra agindo ora como Deus, ora como homem, mas sempre e somente com o seu eu divino.

O encerramento do Concílio de Calcedônia não significou a extinção do monofisismo. Além da atração que esta doutrina exercia sobre os fiéis (especialmente os monges), propondo-lhes a humanidade divinizada de Cristo como modelo, motivos políticos explicam essa persistência da heresia; com efeito, na Síria e no Egito certos cristãos viam no monofisismo a expressão de suas tendências nacionalistas, opostas ao helenismo e à dominação bizantina. Por isto os monofisitas continuaram a lutar contra o imperador, que havia exilado Dióscoro e Eutiques e ameaçado de punição os adeptos destes: ocuparam sedes episcopais; inclusive a de Jerusalém (ao menos temporariamente).

No século VII a situação se agravou, pois os muçulmanos ocuparam a Palestina, a Síria e o Egito, impedindo a ação de Bizâncio em prol da ortodoxia nesses países. Em consequência, os monofisitas foram constituindo igrejas nacionais: a armena, a síria, a mesopotâmica, a egípcia e a etíope, que subsistem até hoje com

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

cerca de 10 milhões de fiéis. No Egito, os monofisitas tomaram o nome de coptas, nome que guarda as três consoantes da palavra grega Aigyptos (g ou k, p, t ); são os antigos egípcios. Os ortodoxos se chamam melquitas (de Melek, imperador), pois guardam a doutrina ortodoxa patrocinada pelo imperador em Calcedônia. Há coptas que se uniram a Roma em 1742, enquanto os outros permanecem monofisitas, mas professam quase o mesmo credo que os católicos.

Na Abissínia os monofisitas também são chamados coptas, pois receberam forte influência do Egito. “Dentre os melquitas, grande parte aderiu ao cisma bizantino, separando-se de Roma em 1054; certos grupos, porém, estão hoje unidos à Igreja Universal. Na Síria e nos países vizinhos, os monofisitas foram chamados jacobitas, nome derivado de um dos seus primeiros chefes: Jacó Baradai (= o homem da coberta de cavalo, alusão as suas vestes maltrapilhas). Jacó, bispo de Edessa (541-578), trabalhou com zelo e êxito para consolidar as comunidades monofisitas, às quais deu por cabeça o patriarca Sérgio de Antioquia.

Fonte: Disponível em: <http://www.clerus.org/clerus/dati/2009-01/02-13/As_Heresias_Cristologicas_e_Trinitarias.html>. Acesso em: 28 ago. 2017.

Pioppi (2012) nos apresenta que nos primeiros séculos da história do cristianismo assiste-se a um grande florescimento da literatura cristã, homilética, teológica e espiritual: são as obras dos padres da igreja, de grande importância na reconstrução da tradição; os mais relevantes foram Santo Ireneu de Leão, Santo Hilário de Poitiers, Santo Ambrósio de Milão, São Jerônimo e Santo Agostinho, no Ocidente; Santo Atanásio, São Basílio, São Gregório Nacianceno, São Gregório de Nissa, São João Crisóstomo, São Cirilo de Alexandria e São Cirilo de Jerusalém, no Oriente.

Paulo não foi o único missionário trabalhando fora da Palestina. A história nos apresenta que os primeiros agentes da expansão missionária provavelmente foram os convertidos do dia de Pentecostes (At: 2:9-11), que levaram o evangelho consigo quando voltaram para casa.

Os outros missionários foram aqueles que foram espalhados por toda parte na perseguição que se seguiu ao martírio de Estevão (At: 8:4). Estes foram pregando na Fenícia, no Chipre e na Antioquia, mas sempre aos helenistas. Um dos convertidos de Chipre e de Cirene (Líbia) pregou aos helenos (gregos) em Antioquia.

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NO IMPÉRIO ROMANO

Expansão no Império Romano Leste: na Fenícia a fé logo cedo parece ter sido mais forte do que na própria Palestina. Entretanto é provável que aqui, como em quase todo o império, o cristianismo era um fenômeno urbano, desenvolvendo-se especialmente nas cidades costeiras. Tiro possuía uma igreja muito forte.

Na Síria se desenvolveram duas comunidades cristãs: a de fala grega, que teve seu início em Antioquia e que se expandiu nas cidades comerciais de língua grega na Síria. Embora a igreja de Antioquia possa ter sido bilíngue desde cedo, a comunidade de fala siríaca teve seu núcleo principal ao Leste na cidade de Edessa. A força da igreja na Síria pode ser constatada pela presença de 20 bispos seus no Concílio de Niceia em 325.

Na Ásia Menor, área de trabalho de pelo menos dois apóstolos, Paulo e João, o cristianismo tinha sido adotado mais largamente do que qualquer outra região grande do império até o fim do III século. Seu crescimento maior parece ter sido nas cidades onde a cultura local estava desintegrando-se diante do impacto da cultura que chegava, a greco-romana.

Nas cidades helênicas era menor, e nas cidades onde a educação helenista era desconhecida, era quase inexistente. A carta de Plínio ao imperador Trajano na segunda década do II século atesta a larga expansão do cristianismo nas cidades e até no quadro rural de Bitínia.

Expansão no Império Romano Africano: quanto ao Egito, a tradição faz de Marcos o missionário que lá plantou o evangelho. Sabemos que Apolo era de Alexandria, mas não sabemos se converteu-se lá ou se voltou para lá após sua conversão. Até o fim do segundo século a igreja já estava forte. Já incluía várias linhas teológicas, das quais uma das mais fortes foi o gnosticismo.

Em Alexandria se desenvolveu muito cedo a famosa Escola Catequética em que teve entre seus professores Clemente e Orígenes. Já neste período, traduções de porções das Escrituras foram feitas em línguas indígenas, dando condições para o desenvolvimento da Igreja Copta.

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Na costa do Norte da África o cristianismo se alastrou cedo, especialmente nas regiões da Líbia, Tunísia e Algéria. O progresso do cristianismo nesta região parece ter sido muito rápido, especialmente no século III. É de aqui que surgiu Tertuliano, Cipriano e, mais tarde, Agostinho. A igreja parece ter sido mais forte nas cidades e entre a população que falava latim.

Expansão no Império Romano Europeu: na Itália, o evangelho chegou a Roma antes de Paulo, mas talvez não muito antes da agitação que resultou na expulsão dos judeus sob Cláudio (41-54) por causa dum certo Chrestus. Cf. At: 18:1-3. Até 250 a igreja em Roma cresceu sobremaneira. Uns calculam 30.000 membros; outros acham que foram muitos mais. Até meados do século III na Itália havia cerca de 100 bispos.

Com a expansão rápida do cristianismo que ocorreu nas últimas décadas daquele século, calcula-se que quase toda a cidade no Centro-Sul e na Sicília tinham um núcleo de cristãos. A penetração do Norte da Itália foi bem mais lenta e veio da Dalmácia e regiões ao Leste.

A Espanha, embora romanizada antes da África, foi muito mais lenta em receber o Evangelho. Cedo, no III século, o cristianismo parece firmemente estabelecido no Sul, nas cidades costeiras.

O avanço do cristianismo ao Leste além dos limites do Império Romano: a tradição indica que Tomé foi aos Partos e à Índia; Mateus à Etiópia; Bartolomeu à Índia e André aos Citos.

Edessa estava localizada nas grandes rotas comerciais que corriam entre as montanhas da Armênia, ao Norte, e os desertos da Síria, ao Sul. Até o fim do II século estava fora do Império Romano e dentro da esfera da influência dos Partos. A sucessão de bispos remonta a fins do II século. Embora centro de cultura grega, o cristianismo de Edessa era siríaco.

No início do III século, poucas cidades continham mais crentes que Edessa. Até o fim do século parece que ela estava predominantemente cristã. Edessa parece ter sido o ponto donde o evangelho penetrou mais na Mesopotâmia e até aos limites da Pérsia.

As antigas religiões da Babilônia e da Assíria estavam em desintegração e não ofereceram muita oposição ao cristianismo. A oposição surgiu principalmente do zoroastrismo, que mais tarde se

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tornou a religião do estado persa (meados do III século). Os primeiros convertidos aparecem cerca de 100 a.D. Até o fim do primeiro quartel do III século havia mais de 20 dioceses na Mesopotâmia.

No Leste, o cristianismo não só não teve os mesmos êxitos que conseguiu no império, como também eventualmente quase desapareceu. Isto possivelmente se deva a três razões: a política religiosa dos Sassanidas (dinastia persa) que favoreceu o zoroastrismo; a forte hierarquia deste com o apoio da monarquia levantou uma forte resistência ao cristianismo. Também o próprio êxito do cristianismo no império, após sua adoção por Constantino, o tornou a religião do inimigo principal dos persas; e por último, a forma herética com que o cristianismo foi pregado.

Fonte: FRÖLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1987.

O Cristianismo PrimitivoA denominação ‘cristianismo primitivo’ compreende o período que

se estende da morte de Jesus em 33 a.D. até a chamada “conversão de Constantino” (306-337), ocorrida ao que parece no ano de 337 d.C. Este período pode ser dividido em três fases: a) a primeira fase está situada entre a época da vida de Jesus até o ano 100, data em que a maioria dos contemporâneos de Jesus já havia falecido; b) a segunda fase vai do ano 100 ao ano de 250, no momento em que o cristianismo se propagava fora da Palestina, principalmente nas províncias romanas mais antigas (Síria, Ásia Menor, Egito e, é claro, pela Itália, especialmente em Roma), sem, no entanto, constituir uma religião universal; e c) o terceiro momento abrange a época em que o cristianismo foi mais intensamente perseguido pelo estado romano (entre 250 e 311) até sua aceitação como religião do estado imperial romano a partir de 391 (FRÖLICH, 1987).

A primeira fase é marcada por uma série de disputas doutrinais, a começar pelos apóstolos companheiros de Jesus (em especial, Paulo e Pedro); disputas essas menos em razão da condução das comunidades do que em razão da linha de interpretação da ‘palavra’ adotada; tratava-se, pois, de responder às questões fundamentais, tais como as contribuições do judaísmo ao advento do cristianismo

A denominação ‘cristianismo

primitivo’ compreende o período que se

estende da morte de Jesus em 33

a.D. até a chamada “conversão de

Constantino” (306-337), ocorrida ao

que parece no ano de 337 d.C.

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e a subsequente transmissão da ‘boa nova’ para fora das fronteiras do mundo judeu. Ainda nessa época, a comunidade primitiva cristã entra em conflito direto com a autoridade judaica hierosolimita, e grande parte dos judeus passou a se distanciar do cristianismo, recusando-o e acusando-o de ser uma seita.

Na segunda fase, as diferentes comunidades passam a estabelecer normas gerais, buscando um entendimento comum sobre as normas e os direitos das mesmas; aparece com mais firmeza o credo em uma ‘Lei’ universal que deve ser observada em todo o cosmos, e em um Deus que representa o princípio da justiça e do amor para todos os homens; além disso, as comunidades então estabelecidas passaram a praticar o ideal do “amor ao próximo”.

Não obstante, as disputas do primeiro período causaram as primeiras crises internas, produzindo movimentos intelectuais considerados divergentes da doutrina oficial (Gnosticismo, Marcionismo e Montanismo) e compelindo os seguidores cristãos ao reconhecimento e acolhimento em nível institucional de uma única nova fé (regula fidei). No bojo dessas transformações, a igreja constituiu sua hierarquia, baseada em especial na sucessão episcopal (PIOPPI, 2012).

Na terceira fase, principalmente a partir do século IV, o cânon dos escritos cristãos é mais firmemente estabelecido, isto é, desde então dá-se especial relevo às questões sobre quais escritos deveriam fazer ou não parte do corpus bíblico, quais seriam ou não considerados heréticos, como se constituiria o culto e quais seriam seus verdadeiros crentes.

Além dessas divisões no tempo e no modo de agir, o cristianismo primitivo deve ser também distintamente considerado do ponto de vista geopolítico, isto é, devemos levar em conta a formação de duas comunidades diferentes em relação ao poder central romano: a primeira com seu berço na Palestina e posteriormente na Síria e no Egito, e a segunda em sua igreja em Roma.

Ao que consta, a comunidade primitiva cristã em Roma parece ter nascido sob o signo da perseguição e da oposição ao império, enquanto na Palestina tratava-se de uma luta fundamentalmente entre cristãos e judeus. Essa divisão marcou profundamente toda a trajetória da igreja nos primeiros tempos, norteando sua composição política, social e cultural, dividida entre o mundo greco-romano e a herança vétero-testamentária judaica (PIOPPI, 2012).

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Um Período Sombrio: as PerseguiçõesO último período do primeiro século, que vai do ano 60 ao 100 d.C.,

denominamos de “Período Sombrio", em razão das perseguições que ocorriam sobre a Igreja Cristã.

O cristianismo considerava todos os homens iguais. Não havia distinção entre seus membros, nem em suas reuniões, por isso foram considerados como "niveladores da sociedade", portanto anarquistas, perturbadores da ordem social. O paganismo, em suas práticas, aceitava as novas formas e objetos de adoração que iam surgindo, enquanto o cristianismo rejeitava qualquer forma ou objeto de adoração.

As reuniões secretas dos cristãos despertaram suspeitas de praticarem atos imorais e criminosos, durante a celebração da Santa Ceia, eram vetada a entrada dos estranhos, a adoração aos ídolos estava entrelaçada com todos os aspectos da vida.

Nero chegou ao poder em 54, todos os que se opunham a sua vontade, ou morriam ou recebiam ordens de se suicidar. Assim estavam as coisas quando em 64 a.D. aconteceu o incêndio em Roma.

Diz-se que foi Nero quem ateou fogo à cidade, contudo essa acusação ainda é discutível. Entretanto, a opinião pública responsabilizou Nero por esse crime. A fim de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou os cristãos como culpados do incêndio de Roma, e moveu contra eles tremenda perseguição.

O fogo durou seis dias e sete noites e depois voltou a se acender em diversos lugares por mais três dias. Milhares de cristãos foram torturados e mortos, muitos serviram de iluminação para a cidade, amarrados em postes e sendo-lhes ateado fogo, muitos foram vestidos com peles de animais e jogados para os cães.

Nesta época morreram: Pedro, que foi crucificado em 67; Paulo, que foi decapitado em 68, e Tiago, que foi apedrejado depois de ser jogado do alto do templo. Além de serem torturados e mortos, serviram de diversão para o povo, promovendo a velha política da Antiguidade, “pão e circo”.

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No ano 81, Domiciano sucedeu ao imperador Tito, que invadira e destruíra Jerusalém no ano 70. Com a destruição de Jerusalém, Domiciano ordenou que todos os judeus deviam enviar a Roma as ofertas anuais, que eram enviadas a Jerusalém; estes, por sua vez, não obedeceram, o que desencadeou a segunda perseguição, não somente aos judeus, mas também aos cristãos.

Durante esses dias, milhares de cristãos foram mortos, especialmente em Roma e em toda a Itália. Nesta época, o apóstolo João, que vivia em Éfeso, foi preso e exilado na ilha de Patmos, foi quando recebeu a revelação do Apocalipse.

No início do segundo século, os cristãos já estavam radicados em quase todas as nações, e alguns creem que a comunidade cristã se estendia até a Espanha e Inglaterra. O número de membros da comunidade cristã subia a muitos milhões. A famosa Carta de Plínio (governador da Bitínia – hoje Turquia) ao imperador Trajano declara que os templos dos deuses estavam quase abandonados, enquanto os cristãos em toda parte formavam uma multidão, e pertenciam a todas as classes, desde a dos nobres até a dos escravos (PIOPPI, 2012).

Figura 2 – Perseguições aos cristãos: crucificações, apedrejamentos, enforcamentos

Fonte: Disponível em: <https://pastormarcelosantos.wordpress.com/2011/08/09/as-perseguicoes-ao-cristianismo-primitivo/>. Acesso em: 24 nov. 2017.

O fato de maior destaque na História da Igreja neste período foram, sem dúvida, as perseguições realizadas pelos imperadores romanos. Estas perseguições duraram até o ano 313 d. C., quando Constantino, o primeiro imperador romano "cristão", fez cessar todos os propósitos de destruir a igreja (PIOPPI, 2012). Os principais mártires desse Período Sombrio são:

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• Inácio: provável discípulo de João, bispo em Antioquia, foi condenado no ano 107 d.C. por não adorar a outros deuses. Foi morto como mártir, lançado para as feras no anfiteatro romano, no ano 108 ou 110, enquanto o povo festejava. Ele estava disposto a ser martirizado, pois durante a viagem para Roma escreveu cartas às igrejas manifestando o desejo de não perder a honra de morrer por seu Senhor.

• Policarpo: bispo em Esmirna, na Ásia Menor, morreu no ano 155. Ao ser levado perante o governador, e instado para abandonar a fé e negar o nome de Jesus, assim respondeu: "Oitenta e seis anos o servi, e somente bens recebi durante todo o tempo, como poderia eu agora negar ao meu Salvador?” Policarpo foi queimado vivo.

• Justino Mártir: era um dos homens mais competentes de seu tempo, e um dos principais defensores da fé. Seus livros, que ainda existem, oferecem valiosas informações acerca da vida da igreja nos meados do segundo século. Seu martírio deu-se em Roma, no ano 166.

Entretanto, esse período de perseguições, denominado de sombrio, trouxe outros efeitos para a Igreja Cristã, que foram por sinal extremamente positivos e relevantes para a sua estrutura interna:

• As perseguições produziram uma igreja pura, pois conservava afastados todos aqueles que não eram sinceros em sua confissão de fé.

• A igreja multiplicava-se. Apesar das perseguições ou talvez por causa delas, a igreja crescia com rapidez assombrosa.

• Os escritos do Novo Testamento foram terminados, embora a formação do Novo Testamento com os livros que o compõem, como cânon, não foi imediata. Algumas igrejas aceitavam somente alguns livros como inspirados, e outras igrejas, livros diferentes.

• O crescimento e a expansão da igreja foram consequência da organização e da disciplina. A perseguição aproximou as igrejas e exerceu influência para que elas se unissem e se organizassem.

• O desenvolvimento da doutrina. Na era apostólica a fé era do coração, uma entrega pessoal à vontade de Cristo. Entretanto, no período que agora focalizamos, a fé gradativamente passara a ser mental, era uma fé do intelecto, fé que acreditava em um sistema rigoroso e inflexível de doutrinas.

Nesta época surgiram três escolas teológicas. Uma em Alexandria, outra na Ásia Menor e outra na África. Os maiores vultos da história do cristianismo passaram por essas escolas: Orígenes, Tertulianao e Cipriano (PIOPPI, 2012).

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Os ConcíliosAntes de adentrarmos nos concílios da Igreja Cristã da Antiguidade

propriamente, entendemos que se faz necessária uma rápida conceituação do que vem a ser um concílio em primeiro momento, bem com apresentar quantos concílios tivemos ao longo da história da Igreja Cristã.

Um Concílio Geral consiste numa reunião formal de representantes da igreja, junto ao papa, para tomar decisões dogmáticas e pastorais que possam ajudar no crescimento da igreja, na eliminação dos erros e na difusão das verdades da fé.

Ao longo de dois mil anos de existência, a Igreja Cristã reconhece 21 Concílios Gerais e ainda acrescenta o chamado “Concílio de Jerusalém”, reunião narrada nos Atos dos Apóstolos (At 15,1-40), como parte da tradição da igreja e dos seus ensinamentos.

Pedagogicamente, podemos dividir esses 21 Concílios Gerais da igreja em quatro períodos. Os concílios ficaram conhecidos pelos nomes das cidades onde o papa, bispos e outros representantes da igreja se reuniam para discutir os assuntos de fé e doutrina (ALBERIGO, 1997).

Um Concílio Geral consiste numa

reunião formal de representantes da igreja, junto ao papa, para

tomar decisões dogmáticas e

pastorais.

OS PRINCIPAIS CONCÍLIOS

Concílios do Primeiro Milênio: • Niceia I (325)• Constantinopla I (381)• Éfeso (431)• Calcedônia (451)• Constantinopla II (553)• Constantinopla III (680-681)• Niceia II (787)• Constantinopla IV (869-870

Concílios Medievais: • Latrão I (1123)• Latrão II (1139)• Latrão III (1179)• Latrão IV (1215)

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• Lyon I (1245)• Lyon II (1274)• Vienne (1311-1312)

Concílios da Reforma: • Constança (1414-1418)• Basileia-Ferrara-Florença-Roma (1431-1445)• Latrão V (1512-1517)• Trento (1545-1548/1551-1552/1562-1563)

Concílios da Idade Moderna:• Vaticano I (1869-1870)• Vaticano II (1962-1965)

Fonte: Disponível em: <http://www.a12.com/redacaoa12/igreja/historia-dos-concilios-gerais-da-igreja>. Acesso em: 24 nov. 2017.

Na sequência, vamos apresentar os três maiores concílios que ocorreram na Igreja Cristã durante a Antiguidade.

O Concílio de Niceia IConsiderado como o primeiro dos três concílios fundadores da Igreja

Católica, o Concílio de Niceia I foi a primeira conferência de bispos ecumênica da Igreja cristã, foi realizado de 20 de maio de 325 a 19 de junho de 325, em Niceia (hoje İznik), cidade da Anatólia (hoje parte da Turquia).

Foi convocado pelo imperador Constantino e abordou questões levantadas sobre a natureza ariana de Jesus Cristo: se uma pessoa com duas naturezas (humana e divina), como zelava até então a ortodoxia, ou uma pessoa com apenas a natureza humana (ALBERIGO, 1997).

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Figura 3 – Ícone retratando o Concílio de Niceia I

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=Ícone+retratando+o+Primeiro+Concílio+de+Nicéia>.

Acesso em: 24 nov. 2017.

O Concílio de Niceia I reuniu 318 bispos por um período de dois meses para resolver as diferenças entre Alexandre e Ário. Bispos de todas as províncias foram chamados ao primeiro concílio ecumênico em Niceia: um lugar facilmente acessível à maioria dos bispos, especialmente aos da Ásia, Síria, Palestina, Egito, Grécia, Trácia e Egrisi.

A religião cristã nesses tempos era majoritária unicamente no Oriente. No Ocidente era ainda minoritária. Portanto, os bispos orientais estavam em maioria; na primeira linha de influência hierárquica estavam três arcebispos: Alexandre de Alexandria, Eustáquio de Antioquia, e Macário de Jerusalém, bem como Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia. Entre os bispos encontravam-se Stratofilus, bispo de Pitiunt (Bichvinta, reino de Egrisi). O Ocidente enviou não mais de cinco representantes na proporção relativa das províncias: Marcus de Calábria de Itália, Cecilian de Cartago de África, Osio de Córdoba (Espanha), Nicasius de Dijon, na França, e Domnus de Stridon da província do Danúbio.

O papa em exercício na época, Silvestre I, não compareceu ao concílio. A causa de seu não comparecimento é motivo de discussões: uns falam que recusou o convite do imperador esperando que sua ausência representasse um protesto contra a convocação do sínodo pelo imperador; outros dizem que Silvestre já era ancião e estava impossibilitado, portanto, de comparecer. Silvestre já fora informado da condenação de Ário ocorrida no Sínodo de Alexandria (320 a 321) e para o Concílio de Niceia enviou dois representantes, Vito e Vicente (presbíteros romanos) (ALBERIGO, 1997). Os pontos discutidos no sínodo eram:

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• A celebração da Páscoa; • A questão ariana;• O cisma de Milécio;• O batismo de heréticos; • O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio;• Estabelecimento da ordem de dignidade dos Patriarcados: Roma,

Alexandria, Antioquia, Jerusalém.

Foi no Concílio de Niceia I que se decidiu então resolver a questão, estabelecendo que a Páscoa dos cristãos seria sempre celebrada no domingo seguinte ao plenilúnio após o equinócio da primavera. Apesar de todo esse esforço, as diferenças de calendário entre Ocidente e Oriente fizeram com que esta vontade de festejar a Páscoa em toda a parte no mesmo dia continuasse até os dias de hoje.

Segundo Ário, presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno não gerado. O Logos, o Cristo preexistente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existiria. O Cristo existiria num tempo anterior a nossa existência temporal, mas não era eterno.

Por outro lado, estavam Alexandre e o jovem Atanásio, que afirmava que o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em Jesus. Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai estaria com o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho.

A cristologia de Ário foi rejeitada pelo Concílio de Niceia, afirmando que a igreja acreditava em: "um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do Pai, unigênito da essência do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não criado consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra; o qual, por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e encarnou e foi feito homem", "todos os que dizem que houve um tempo em que ele não existiu, ou que não existiu antes de ser feito, e que foi feito do nada ou de alguma outra substância ou coisa, ou que o Filho de Deus é criado ou mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja Católica".

A páscoa dos cristãos seria

sempre celebrada no domingo seguinte

ao plenilúnio após o equinócio da

primavera.

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OS CÂNONES DO CONCÍLIO DE NICEIA

O Concílio de Niceia I estabeleceu 20 cânones, os quais darão sequência ao Credo:

• Cânon I - Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão aceitos aqueles que se castram.

• Cânon II - Referente a não promoção imediata ao presbiterato daqueles que provieram do paganismo.

• Cânon III - Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua causa, exceto sua mãe, irmã e pessoas totalmente acima de suspeita.

• Cânon IV - Relativo à escolha dos bispos.• Cânon V - Relativo à excomunhão.• Cânon VI – Relativo aos patriarcas e sua jurisdição.• Cânon VII - O bispo de Jerusalém seja honorificado,

preservando-se intactos os direitos da Metrópole.• Cânon VIII - Refere-se aos novacianos.• Cânon IX - Quem quer que for ordenado sem exame deverá

ser deposto, se depois vier a ser descoberto que foi culpado de crime.

• Cânon X - Alguém que apostatou deve ser deposto, tivessem ou não consciência de sua culpa os que o ordenaram.

• Cânon XI – Penitência que deve ser imposta aos apóstatas na perseguição de Licínio.

• Cânon XII - Penitência que deve ser feita àqueles que apoiaram Licínio na sua guerra contra os cristãos.

• Cânon XIII - Indulgência que deve ser dada aos moribundos.• Cânon XIV – Penitência que deve ser imposta aos

catecúmenos que caíram em apostasia.• Cânon XV - Bispos, presbíteros e diáconos não se transferirão

de cidade para cidade, mas deverão ser reconduzidos, se tentarem fazê-lo, para a igreja para a qual foram ordenados.

• Cânon XVI - Os presbíteros ou diáconos que desertarem de sua própria igreja não devem ser admitidos em outra, mas devem ser devolvidos a sua própria diocese. A ordenação deve ser cancelada se algum bispo ordenar alguém que pertence à outra igreja, sem consentimento do bispo dessa igreja.

• Cânon XVII - Se alguém do clero praticar usura deve ser excluído e deposto.

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

• Cânon XVIII - Os diáconos devem permanecer dentro de suas atribuições. Não devem administrar a Eucaristia a presbíteros, nem tomá-la antes deles, nem sentar-se entre os presbíteros, pois que tudo isso é contrário ao cânon e à correta ordem.

• Cânon XIX – As regras a se seguir a respeito dos partidários de Paulo de Samósata que desejam retornar à igreja.

• Cânon XX - Nos dias do Senhor [refere-se aos domingos] e de Pentecostes, todos devem rezar de pé e não ajoelhados.

Fonte: Disponível em: <http://www.ibconcordia.org/documentos/220413-Primeiro%20Conc%C3%ADlio%20de%20Nic%C3%A9ia.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017.

O Concílio de Constantinopla IO Concílio de Constantinopla I ocorreu de maio a junho de 381 depois de

Cristo, durante o pontificado do Papa Dâmaso I (366-384), naquela época era imperador Teodósio Magno.

O Segundo Concílio Ecumênico condenou o falso ensino dos denominados pneumatômacos (“adversários do espírito”), cujo principal representante foi Macedônio, arcebispo de Constantinopla. Este considerava o Espírito Santo como um servo de Deus e cumpridor de Sua vontade, em algo próximo de como se considera os anjos. Daí que esta heresia não reconhecia o Espírito Santo como uma hipóstase (pessoa) da Santíssima Trindade. A Santa Igreja exerceu posição firme para proteger a pureza da doutrina e fé ortodoxa, estabelecendo as verdades básicas da doutrina cristã preservadas no Credo, que é um guia constante para todos os cristãos ortodoxos em sua vida espiritual.

A doutrina da divindade do Espírito Santo e a condenação de Macedônio, patriarca que era contra essa doutrina: “Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, que é adorado e glorificado com o Pai e o Filho e que falou pelos profetas”. “Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a mesma glória”.

A sede de Constantinopla, ou Bizâncio “segunda Roma”, recebeu uma preeminência sobre as sedes de Jerusalém, Alexandria e Antioquia. Desses dois concílios anteriores surge o símbolo (Creio – Profissão de Fé) niceno-

Este considerava o Espírito Santo como um servo de Deus e cumpridor de sua vontade, em algo

próximo de como se considera os anjos.

Daí que esta heresia não reconhecia,

hipóstase.

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constantinopolitano. O símbolo denominado niceno-constantinopolitano tem sua grande autoridade no fato de ter resultado dos dois primeiros concílios ecumênicos (325 e 381). Ainda hoje ele é comum a todas as grandes igrejas do Oriente e do Ocidente (CIC§ 195) (ALBERIGO, 1997).

O Credo Niceno-Constantinopolitano ou Símbolo Niceno-Constantinopolitano é uma declaração de fé cristã que é aceita pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. O nome está relacionado com o Primeiro Concílio de Niceia (325), no qual foi adotado, e com o Primeiro Concílio de Constantinopla (381), onde foi aceita uma versão revista. Por esse motivo, ele pode ser referido especificamente como o Credo Niceno-Constantinopolitano para o distinguir tanto da versão de 325 como de versões posteriores que incluem a cláusula filioque.

Houve vários outros credos elaborados em reação a doutrinas que apareceram posteriormente como heresias, mas este, na sua revisão de 381, foi o último em que as comunhões católica e ortodoxa conseguiram concordar em todos os pontos. O Credo está dividido em 12 partes, das quais sete foram formuladas no Primeiro Concílio Ecumênico, e as outras cinco no Segundo.

O Credo Niceno-Constantinopolitano ou Símbolo Niceno-Constantinopolitano é uma declaração de fé cristã que é aceita pela Igreja Católica e pela

Igreja Ortodoxa.

CREDO

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,Criador do céu e da terra,

de todas as coisas visíveis e invisíveis.Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,

Filho Unigênito de Deus,nascido do Pai antes de todos os séculos:

Deus de Deus, luz da luz,Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,

gerado não criado,consubstancial ao Pai.

Por Ele todas as coisas foram feitas.E, por nós, homens, e para a nossa salvação,

desceu dos céus:e encarnou pelo Espírito Santo,

no seio da Virgem Maria,e se fez homem.

Também por nós foi crucificadosob Pôncio Pilatos;

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

padeceu e foi sepultado.Ressuscitou ao terceiro dia,

conforme as escrituras;E subiu aos céus,

onde está sentado à direita do Pai.E de novo há de vir, em sua glória,para julgar os vivos e os mortos;

e o seu reino não terá fim.Creio no Espírito Santo,Senhor que dá a vida,

e procede do Pai;e com o Pai e o Filho

é adorado e glorificado:Ele que falou pelos profetas.Creio na Igreja una, santa,

católica e apostólica.Professo um só batismo

para remissão dos pecados.Espero a ressurreição dos mortos;E a vida do mundo que há de vir.

Amém.

Fonte: Disponível em: <http://www.catolicoorante.com.br/oracao.php?id=16>. Acesso em: 24 nov. 2017.

O Concílio de CalcedôniaO Concílio de Calcedônia inicia em 8 de outubro de 451 e termina em 1º de

novembro de 451, durante o pontificado do Papa Leão I, no império de Marciano.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Figura 4 – El Concilio de Calcedonia

Fonte: Disponível em: <https://es.slideshare.net/RebecaReynaud/22-conc-calcedonia-monofisismo-san-len>. Acesso em: 24 nov. 2017.

O presente Concílio reafirma a cristologia do concílio anterior: Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é de modo algum suprimida pela sua união, mas antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa (uma só hipóstase).

Definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo era: "perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de alma racional e corpo, da mesma substância com o Pai segundo a divindade; e da mesma substância conosco segundo a humanidade, semelhante a nós em todos os aspectos, sem pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos segundo a divindade".

Em suma, reafirma a cristologia do concílio anterior: “na linha dos santos padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai, segundo a divindade, consubstancial a

nós segundo a humanidade, ‘semelhante a nós em tudo com exceção do pecado’ (Hb 4,15); gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a humanidade”.

Definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo

era: “perfeito em divindade e perfeito

em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de alma racional e corpo, da mesma substância com o Pai segundo a divindade; e da

mesma substância conosco segundo

a humanidade, semelhante a

nós em todos os aspectos, sem

pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos segundo

a divindade”.

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Entretanto, a questão do relacionamento entre o Filho e o Pai resolvida em Niceia gerou novos questionamentos, agora em torno do relacionamento entre as naturezas humana e divina de Cristo. Em geral, os teólogos ligados a Alexandria salientaram a divindade de Cristo, enquanto que os relacionados a Antioquia, a sua humanidade, às expensas de sua deidade (ALBERIGO, 1997).

A controvérsia se iniciou no ensino de Paulo de Samósata, bispo de Antioquia. Este ensinava o que se chama de adocionismo ou monarquismo dinâmico. Jesus era um homem "energizado" pelo Espírito no batismo e assim exaltado à dignidade divina. Apolinário de Laodiceia foi o primeiro a negar formalmente que Jesus teve uma alma racional. No seu lugar estava o divino Logos.

O presente concílio também propôs a condenação da simonia, dos casamentos mistos e das ordenações absolutas (realizadas sem que o novo clérigo tivesse determinada função pastoral) (ALBERIGO, 1997).

Também propôs a condenação

da simonia, dos casamentos mistos e das ordenações

absolutas.

Os Demais Concílios da Igreja Cristã na Antiguidade

Segue um quadro com informações mais resumidas sobre os demais concílios realizados no primeiro milênio:

Quadro 1 – Resumo sobre os demais concílios realizados no primeiro milênio

CONCÍLIO DECISÕES PRINCIPAIS

CONCÍLIO DE ÉFESO

Data: 22/06 a 17/07 de 431

Papa: Celestino I (422-432)

Imperador: Teodósio, O Jovem

- Cristo é uma só Pessoa e duas naturezas;

- Definição do dogma da maternidade divina de Maria, contra Nestório, patriarca de Constantinopla, que foi deposto.

- Maria é THEOTOKOS, “Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que Ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne”.

- Condenou o pelagianismo, que negava os efeitos do pecado origi-nal.

CONCÍLIO DE CONSTAN-TINOPLA II

Data: 05/05 a 02/07 de 553

Papa: Virgílio (537-555)

Imperador: Justiniano

- Condenação dos nestorianos (Teodoro de Mopsuéstia, Teodoro de Ciro e Ibas de Edessa). “Não há senão uma única hipóstase [ou pessoa], que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Um na Trindade... Aquele que foi crucificado na carne, Nosso Senhor Jesus Cristo é verdadeiro Deus, Senhor da glória e Um na Santíssima Trindade”. “Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Pois da mesma forma que a Trindade não tem senão uma única e mesma natureza, assim também não tem senão uma única e mesma operação”. “Um Deus e Pai do qual são todas as coisas, um Senhor Jesus Cristo para quem são todas as coisas, um Espírito Santo em quem são todas as coisas”.

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CONCÍLIO DE CONSTAN-TINOPLA III

Data: 07/11 de 680 a 16/09 de 681

Papa: Ágato (678-681) e Leão II (662-663)

Imperador: Constantino Pogonato

- Condenação do monotelitismo, heresia defendida pelo patriarca Sérgio de Constantinopla, que ensinava haver só a vontade divina em Cristo.

- Este concílio ensinou que Cristo possui duas vontades e duas op-erações naturais, divina e humana, não opostas, mas cooperantes, de sorte que o verbo feito carne quis humanamente, na obediência a seu Pai, tudo o que decidiu divinamente com o Pai e o Espírito San-to, para a nossa salvação.

- A vontade humana de Cristo “segue a vontade divina, sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela, mas antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa”.

CONCÍLIO DE NICEIA II

Data: 24/09 a 23/10 de 787

Papa: Adriano I (772-795)

Imperador: Constantino VI (Regente: imperatriz Irene)

- Contra os iconoclastas (destruidores de imagens): há sentido e li-ceidade na veneração de imagens. “Para proferir sucintamente nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da igreja, escritas ou não escritas, que nos têm sido transmitidas sem alteração. Uma delas é a representação pictórica das imagens (ícones), que concor-da com a pregação da história evangélica, crendo que, de verdade, e não na aparência, o Verbo de Deus se fez homem, o que é também útil e proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um significado recíproco”.

- Contra os iconoclastas (destruidores de imagens): há sentido e liceidade na veneração de imagens. “Nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim, as venerandas e sagradas imagens pintadas, quer em mosaico, quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos parâmentos sagrados, nas paredes e mesas, nas casas e nas ruas; sejam elas as imagens do Senhor Deus, dos santos anjos, de todos os santos e justos”. Latria (adoração) Dulia (veneração).

CONCÍLIO DE CONSTAN-TINOPLA IV

Data: 05/10 de 869 a 28/02 de 870

Papa: Adriano II (867-872)

Imperador: Basílio de Macedônia

- Excomunhão do patriarca de Constantinopla (Fócio), que foi conde-nado.

- O culto das imagens foi confirmado.

Fonte: Disponível em: <http://www.iscal.com.br/iscal/upload/curso_capelania/parte-1.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017.

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

A Queda do Império RomanoA partir do século III d.C., uma profunda crise se abateu sobre o Império

Romano, levando-o ao enfraquecimento. O comércio enfraqueceu, a falta de moedas em circulação fez com que o comércio se tornasse difícil devido às diferenças econômicas entre as províncias orientais e ocidentais.

As dificuldades em proteger e administrar o vastíssimo império, as crescentes revoltas populares, a falta de escravos nesse período e o fim das conquistas impossibilitavam o acúmulo de riquezas, levando Roma a uma situação insustentável. Diante desse quadro, houve uma reforma política e Roma passou a ter quatro imperadores por um tempo, formando uma tetrarquia.

O imperador Constantino suspendeu a tetrarquia e reformou o governo, assinou o Édito de Milão (permissão para os cristãos professarem sua fé) e transferiu a capital do império de Roma para Bizâncio (antiga colônia grega), a qual passou a se chamar Constantinopla.

Alguns anos mais tarde, o Imperador Teodósio aboliu o culto aos antigos deuses romanos e tornou o cristianismo a religião oficial de Roma, através do Édito de Tessalônica em 380, o que significou o nascimento da Igreja Católica Apostólica Romana ou Igreja Romana.

A respeito da fundação de Constantinopla, o imperador Constantino compreendeu que a cidade de Roma estava intimamente ligada à adoração pagã, cheia de templos e estátuas pagãs. Ele desejava uma capital sob os auspícios da nova religião. Na nova capital, a igreja era honrada e considerada, não havia templos pagãos. Logo depois da fundação da nova capital, deu-se a divisão do império. As fronteiras eram tão grandes que um imperador sozinho não podia defender seu vastíssimo território. Início da Reforma religiosa.

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No ano 395 o império foi definitivamente dividido em dois: Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, e Império Romano do Oriente com sede em Constantinopla (atual Istambul, Turquia), também conhecido como Império Bizantino. Roma teria dois imperadores.

Devido à falta de mão de obra escrava e à fragilidade das fronteiras, os germânicos, que viviam nas fronteiras do império, ingressaram em terras romanas para trabalharem de forma pacífica. Com o passar do tempo e percebendo a fragilidade do Império, um grupo de tribos germânicas iniciou um processo de conquista do império.

Figura 5 – A divisão do Império Romano em 395

Observa-se que o Império Romano do Oriente permanece, enquanto o do Ocidente se transformou em diversos reinos germânicos.

Fonte: Disponível em: <http://historiapublica.blogspot.com.br/2009/05/divisao-do-imperio-romano.html>. Acesso em: 16 out. 2017.

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Sobre o desenvolvimento do poder na Igreja Romana, Roma reclamava para si autoridade apostólica. A igreja de Roma era a única que declarava poder mencionar o nome de dois apóstolos como fundadores, isto é, Pedro e Paulo. A organização da igreja de Roma e bem assim seus dirigentes defendiam fortemente estas afirmações. Neste ponto há um contraste notável entre Roma e Constantinopla. Roma havia feito os imperadores, ao passo que os imperadores fizeram Constantinopla. Além disso, Roma apresentava um cristianismo prático. Nenhuma outra igreja a sobrepujava no cuidado para com os pobres, não somente com os seus membros, mas também entre os pagãos. Foi assim que em todo o Ocidente o bispo de Roma começou a ser considerado como autoridade principal de toda a igreja (LE ROUX, 2013).

Atividade de Estudos:

1) Neste capítulo estudamos sobre a história da Igreja Cristã na Antiguidade, procurando conhecer um pouco da sua especificidade e historicidade a fim de conhecer a sua doutrina, origens e outros conhecimentos que temos presentes no interior da Igreja Cristã.

Agora vamos procurar colocar um pouco deste conhecimento em prática, ou, quem sabe, produzir uma práxis, ou seja, empregar a teoria na prática.

Assim sendo, leia o artigo disponível no link a seguir, e após a leitura elabore um pequeno texto apresentando o que vem a ser a doutrina de Pelágio. Posteriormente, faça uma resenha comparando a controvérsia entre Pelágio com Santo Agostinho. Disponível em: <http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20060607103635.pdf>.

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Algumas ConsideraçõesComo já havia sido apresentado na introdução deste capítulo, nosso objetivo

é realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã na Antiguidade, tarefa difícil e complexa, dado o amplo período histórico que temos, pois são quase cinco séculos de história, fatos e acontecimentos para serem apresentados em poucas páginas.

Mesmo assim, procuramos da melhor forma possível apresentar ao nobre leitor os fatos mais relevantes da história da Igreja Cristã na Antiguidade, procurando desde os fatos históricos e geográficos, bem como a expansão desta igreja junto ao Império Romano. Apresentamos também a Igreja Cristã diante das perseguições, período sombrio, mas que também serviu de fortalecimento interno.

Entendemos que seria oportuno promover um estudo acerca dos três grandes concílios que ocorreram naquela época, que foram extremamente relevantes para a história da civilização e da igreja, são eles: Niceia, Constantinopla e Calcedônia. Por fim, procuramos um rápido estudo sobre as causas da queda de Constantinopla, a fim de entendê-la.

Não temos aqui a intenção de esgotar o assunto, até porque, como já foi dito, a presente obra é de caráter de introdução. Aproveitamos e desejamos ao nobre leitor uma boa leitura, assim como sucesso em seus estudos e reflexões sobre a história da Igreja Cristã, bem como da Teologia de forma geral.

ReferênciasALBERIGO, G. História dos Concílios Ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1997.

BETTENCOURT, D. Estevão. As Heresias Cristológicas e Trinitárias. [s.d.]. Disponível em: <http://www.clerus.org/clerus/dati/2009-01/02-13/As_Heresias_Cristologicas_e_Trinitarias.html>. Acesso em: 28 ago. 2017.

BIHLMEYER, Karl; TUECHLE, Hermann. História da Igreja. V. 2: a Idade Média. São Paulo: Paulinas, 1964.

COMBY, J. Para ler a história da Igreja I - Das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 1996.

DREHER, Martin N. A Igreja no Império Romano (Coleção História da Igreja). São Leopoldo: Sinodal, 1993.

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A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1

FRÖLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1987.

HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida, 1979.

LENZENWEGER, J.; STOCKMEIER, P.; AMON, K. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006.

LE ROUX, Patrick. Império Romano. Tradução de William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2013.

MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à história da Igreja. V. 1. Belo Horizonte: O Lutador, 1997.

MONDIN, Battista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. V. 1 e 2. São Paulo: Paulinas, 1980.

ORLANDIS, J. História Breve do Cristianismo. Rei dos Livros, 1993.

PIERINI, Franco. A Idade Média: curso de história da Igreja. V. 2. São Paulo: Paulus, 1997.

PIOPPI, Carlo. História da Igreja. Tema 14. MTA-PPKE: Vaticano, 2012.

POTESTÀ, G. L; VIAN, G. História do Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2013.

ROGIER, L. J; AUBERT, R; KNOWLES, M. D. Nova história da Igreja. V. 1 e 2. Petrópolis: Vozes, 1976.

ROMAG, Dagoberto. Compêndio de história da Igreja. V. 2: a Idade Média. Petrópolis: Vozes, 1950.

STOCKMANN, Luis Henrique. A Sã Doutrina Bíblica. Tabernáculo Evangélico A Voz De Deus. Arianismo. [s.d.]. Disponível em: <palavracriativa.org.br/site/wp-content/uploads/2015/06/ARIANISMO1.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017.

TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: ASTE, 1988.

WILLIANS, Terri. Cronologia da História Eclesiástica. São Paulo: Vida Nova, 1993.

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CAPÍTULO 2

A Igreja Medieval

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

�Estudar e conhecer a formação dos monastérios.

�Estudar e conhecer o sacro império romano-germânico.

�Estudar e conhecer os grandes cismas da Igreja.

�Estudar e compreender as Cruzadas.

�Estudar e compreender a Guerra dos Cem Anos.

�Estudar e compreender as causas da queda de Constantinopla.

�Promover uma análise crítica da Igreja Cristã no período Medieval.

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A Igreja Medieval Capítulo 2

ContextualizaçãoEste capítulo pretende apresentar um estudo analítico sobre a formação de

monastérios da Igreja Medieval; conhecer sua história no Sacro Império Romano-Germânico para que possamos entender como ocorreram os grandes cismas. Pretendemos, ainda, estudar as Cruzadas, episódios tão marcantes e que nos deixaram um legado; conhecer a Guerra dos Cem anos e as causas da queda de Constantinopla.

De forma clara e objetiva, pretendemos promover um panorama sobre a Igreja Cristã no período Medieval (476 a 1453) não deixando de observar sua contextualização histórica. Com isso, haverá um amadurecimento de opinião tanto sobre a história da civilização quanto da Igreja diante dos acontecimentos.

A Era Medieval foi um período muito rico na formação teológica da Igreja, tanto que, nos primeiros séculos da história do Cristianismo, assistiu-se a um grande florescimento da literatura cristã, homilética, teológica e espiritual. Trata-se de obras dos padres da Igreja que tiveram grande importância na formação do Cristianismo e dos monastérios.

Os santos mais relevantes foram: Santo Ireneu de Leão, Santo Hilário de Poitiers, Santo Ambrósio de Milão, São Jerônimo e Santo Agostinho, no Ocidente. Santo Atanásio, São Basílio, São Gregório Nacianceno, São Gregório de Nissa, São João Crisóstomo, São Cirilo de Alexandria e São Cirilo de Jerusalém, no Oriente.

A Formação dos MonastériosA Idade Média compreendeu o período em que ocorreu a queda do Império

Romano, séculos V ao XV, ou seja, são dez séculos ou 1.000 anos de história em que se consolidou o feudalismo com a nobreza no poder; período marcado pela força espiritual e política da Igreja Católica. O conhecimento estava restrito aos mosteiros e a grande questão discutida era a relação entre a fé e a razão, entre filosofia e teologia.

O Império Romano do Ocidente foi invadido pelos povos germânicos (arianos, pagãos eslavos, escandinavos e magiares) no ano de 476, e desde então, o trabalho da Igreja passou a ser o de evangelizar e contribuir para civilizar estes povos (PIOPPI, 2012).

Segundo o pesquisador, no século VI nasceu o monarquismo beneditino, que garantiu o aparecimento da prosperidade e o retorno dos mosteiros. No século VII

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foi de grande importância a ação missionária em todo o continente dos monges irlandeses e escoceses; no século VIII, a dos beneditinos ingleses, quando também terminou a etapa da Patrística, com os últimos dois padres da Igreja, São João Damasceno, no Oriente e São Beda, o venerável, no Ocidente.

Com o passar do tempo, houve o desenvolvimento da vida monástica, que foi crescendo durante a Idade Média, com as congregações femininas ou masculinas, trazendo resultados positivos e negativos para a Igreja e para a sociedade. Com o crescimento dessas comunidades, tornava-se necessária alguma forma de organização, de modo que nesse período surgiram quatro grandes ordens.

Para Pioppi (2012) nos séculos XIII e XIV houve a Alta Escolástica com grandes realizações teológicas e filosóficas: Santo Alberto Magno, São Tomás de Aquino, São Boaventura, o Beato Duns Scoto. No que se refere à vida religiosa, é de grande relevância a aparição, no início do século XIII, das ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos).

De acordo com importantes estudiosos, tanto de historiadores como de teólogos, a aliança entre os conhecimentos da fé e da razão foi uma característica do pensamento que permeou toda a Idade Média. Muito além de uma questão puramente religiosa, a Igreja propôs à sociedade um ideal de formação humana.

A Igreja Católica, por meio dos monastérios, propôs superar as diferenças, a instabilidade e o caos instaurado no convívio social após a falência do Império Romano do Ocidente, que significava a continuidade da vida; uma busca pelo fim do medo, da insegurança, da pobreza, das pestes e da destruição das instituições e do pensamento reflexivo (PIERINI, 1997).

Os mosteiros, por meio da mística de São Bento, passaram a ser retomados e revigorados a partir do ano 529. Os chamados ermitões passam a se organizar em pequenos grupos. São Bento elaborou uma regra, dando nova forma à vida monástica, a qual passou a ser um exemplo para outros mosteiros (SANTOS, 2012).

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Eremita é um indivíduo que, usualmente por penitência, religiosidade e amor à natureza, vive em lugar deserto, isolado. Esse local é denominado de eremitério. Os eremitas se espelham no surgimento da espiritualidade dos Padres do Deserto, que buscavam através de um estilo de vida austero e contemplativo à união com Deus no deserto do Egito. Eles atraíam muitos seguidores para seus retiros, prestavam direção espiritual e conselhos; e são concentrados na raiz do monarquismo oriental.

Fonte: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Eremita>. Acesso em: 4 dez. 2017.

Santos (2012) expõe que a atividade diária de um monge é dividida entre oração e trabalho (ora et labora), que possui sete momentos de oração em que se dedica exclusivamente à vida espiritual; e no restante do tempo, ao trabalho que é entendido como via, como meio de conversão. A seguir, algumas ordens religiosas com seus respectivos fundadores e carismas:

a) Ordem dos Beneditinos

Fundada por São Bento em 529, em Monte Cassino. Essa ordem se tornou a maior de todas as ordens monásticas da Europa. Suas regras exigiam obediência ao superior do mosteiro; a renúncia a todos os bens materiais; e a castidade pessoal. Cortava bosques, secava e saneava pântanos, lavrava os campos e ensinava ao povo muitos ofícios úteis.

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Figura 6 – Ordem dos Beneditinos

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=são+bento>. Acesso em: 29 nov. 2017.

b) Ordem dos Cistercienses

Surgiram em 1098, com objetivo de fortalecer a disciplina dos beneditinos, que se dispersava. Seu nome deve-se à cidade francesa de Citeaux, fundada por São Roberto, Alberico e Estevão. Esta ordem, que teve também como representante São Bernardo, deu ênfase às artes, à arquitetura e especialmente à literatura, copiando e escrevendo livros.

Figura 7 – Ordem dos Cistercienses

Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_R1ZXVbCrtf8/S17q4cGS2jI/AAAAAAAAAFE/TE9iQIc4J-8/s320/Funda.gif>. Acesso em: 29 nov. 2017.

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c) Ordem dos Franciscanos

Fundada em 1209, por São Francisco de Assis, tornou-se a mais numerosa de todas as ordens. Por causa da cor que usavam, tornaram-se conhecido como os "frades cinzentos".

Figura 8 – Ordem dos Franciscanos

Fonte: Disponível em: <http://blog.cancaonova.com/fragmentos/files/2013/12/sao-francisco-de-assis-historia.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2017.

d) Ordem dos Dominicanos

Ordem espanhola fundada por São Domingos, em 1215. Os dominicanos e os franciscanos diferenciavam-se das outras ordens, pois eram pregadores, buscavam por toda parte o fortalecimento da fé dos crentes.

Figura 9 – Ordem dos Dominicanos

Fonte: Disponível em: <http://www.pliniocorreadeoliveira.info/SaoDomingos_de_Gusmao_Guzman_meditando.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2017.

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No início, cada Ordem Monástica era um benefício para a sociedade. A seguir, alguns resultados positivos:

• Os mosteiros hospedavam os viajantes, os enfermos e os pobres. Serviam de abrigo e proteção aos indefesos, principalmente, às mulheres e às crianças.

• Guardavam em suas bibliotecas muitas obras da literatura clássica e cristã. Sem as obras escritas nos mosteiros, a Idade Média não teria registro.

• Os monges serviram como missionários na expansão do evangelho, até mesmo entre os bárbaros (PIERINI, 1997).

Como podemos observar, ao longo da Idade Média, os mosteiros tiveram grande papel e relevância junto à teologia, além de preservam as escrituras sagradas, tornam-se refúgio, guardaram as obras de arte e cultura, deram forma ao monasticismo medieval.

Os Padres da Igreja Os padres da Igreja, entre eles Santo Agostinho, Justino (século II), Clemente

de Alexandria (séculos II e III) e Orígenes (século III), inauguraram uma maneira de pensar o Cristianismo e buscaram instrumentos para justificar a fé e defender a doutrina cristã. Para isso, utilizaram-se da filosofia grega e do pensamento helênico, formulando, então, a Filosofia Patrística.

A expressão Padres da Igreja é utilizada para designar um conjunto de autores sacros que desenvolveram seu pensamento teológico no período patrístico. A doutrina, por ele desenvolvida, estava em consonância com o ensinamento dos apóstolos e era seguida por uma comunidade de fiéis.

Fonte: Lacoste (2004, p. 1307).

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A Patrística designa o período do pensamento teológico próprio dos primeiros séculos do cristianismo. “Ela apresenta a síntese da filosofia grega clássica com a religião cristã”, que buscava defender o cristianismo dos ataques das heresias pagãs.

Fonte: Jupiassú e Marcondes (2006, p. 213).

Santos (2012) possui uma visão panorâmica e linear sobre os Padres da Igreja, apresentando não só a sua relevância, como também a ousadia desses ao propor uma teologia e mística para aquela época em que o pensamento era predominantemente filosófico. O teólogo destaca que os tempos de ouro da Patrística foram os séculos IV e V, embora alguns historiadores entendam que o término foi no século VII com a chamada "Idade dos Padres".

Por Patrística, entende-se o período do pensamento cristão que seguiu na época do novo testamento e chega até ao começo da Escolástica, isto é, contempla os séculos II ao VIII. Este período da cultura cristã representa o pensamento dos Padres da Igreja, que são os construtores da teologia católica, guias e mestres da doutrina crista.

A Patrística é contemporânea do último período do pensamento grego, o período religioso; é também contemporâneo do Império Romano, com o qual polemiza, e que terminará por se cristianizar depois de Constantino. Santo Agostinho é o principal pensador desse período, promovendo uma síntese genial e inédita entre a doutrina cristã e o pensamento de Platão. Santo Agostinho contribuiu de forma decisiva para a aproximação entre a fé cristã e a filosofia grega.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Figura 10 – Santo Agostinho de Hipona

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/DPYwhh>. Acesso em: 29 nov. 2017.

A Patrística tem três períodos: antes de Agostinho, no tempo de Agostinho e depois de Agostinho:

• No período antes de Agostinho, os padres defendiam o cristianismo contra o paganismo, os padres começam a defender a fé e a deixar de lado a razão grega como demonstrava a filosofia helênica. Antes de Agostinho, havia três correntes filosóficas: platonismo judaico, platonismo cristão ou patrística e o platonismo pagão ou neoplatonismo. O platonismo cristão defendia a fé como ponto essencial e fundamental para a vivência da pessoa. Enquanto o platonismo judaico defendia a fé na realidade dos antepassados e a razão na realidade em que viviam e o platonismo pagão, defendia somente a razão. Neste período existiram muitos filósofos, eis alguns: Fílon, platonismo judaico; Clemente de Alexandria, platonismo cristão; Orígenes, platonismo cristão; Plotino, platonismo pagão.

• No período de Agostinho houve um crescimento, que será visto adiante com o estudo de Agostinho. O crescimento do pensamento aconteceu pela causa de que é possível fazer filosofia com fé.

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No período pós-Agostinho existiu Anselmo de Aosta e seus contemporâneos, e começou uma batalha muito forte na defesa da fé e da razão. Dizia-se: precisamos crer para entender? E a primeira necessidade da fé para o conhecimento é a verdade religiosa e moral, daqui a importância do credo. Em segundo lugar, a necessidade de usar a razão para que a adesão à fé não seja cega e meramente passiva: eis a importância da inteligência. Eles diziam que as verdades religiosas não podem ser compreendidas a não ser pela fé. O que existe na realidade é maior ou mais perfeito do que o que existe só no intelecto. Afirmar que não existe na esfera da realidade algo maior do que não se pode pensar, nada implica uma contradição, porque significa admitir e ao mesmo tempo não admitir que se possa pensar em outro maior do que ele, isto é, existente na realidade (PIERINI, 1997).

Os principais pais do Oriente foram: Eusébio de Cesareia, Santo Atanásio, Basílio de Cesareia, Gregório de Nisa, Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo e São Cirilo de Alexandria. Os principais padres do Ocidente foram: Santo Agostinho, autor das "Confissões", obra-prima da literatura universal e Santo Ambrósio; Eusébio Jerônimo Dalmata, conhecido como São Jerônimo que traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim. Esta versão é a celebre Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo Concílio de Trento. Outros pais que se destacaram foram São Leão Magno e Gregório Magno, um romano com vistas para a Idade Média, as suas obras "Os morais e os diálogos" serão lidas pelos intelectuais da Idade Média, e o canto "gregoriano" permanece até os dias atuais. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em 636, foi considerado o último dos grandes padres ocidentais.

Etimologicamente, a palavra apologética (do grego apologéticos, apologia) significa justificação, defesa. Apologética é, pois, a justificação e defesa da fé. Aborda temas como: da existência de Deus, a existência da alma humana, da natureza de Deus e do homem, a relação do homem com Deus.

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Atividade de Estudos:

1) Na Idade Média iniciou-se a Cristandade, que foi um período histórico que teve início no século IV d.C., e que se constituiu em um sistema de relações entre Igreja, sociedade civil e Estado. Estas relações possibilitaram à Igreja forjar todo o sistema cultural do Ocidente (TARNAS, 2000, p. 109).

No texto a seguir, uma narrativa de como este período foi constituído e a explicitação de como as três principais influências formataram a “visão de mundo” que constituiu não apenas a Igreja, mas todo o período Medieval.

Após a leitura do texto, identifique quais são estas três influências e o porquê.

A EMERGÊNCIA DA CRISTANDADE

Considera-se identidade singular a civilização clássico-greco-romana que surgiu e decaiu no espaço de mil anos. Aproximadamente, no meio desse milênio, nos remotos distritos da Galileia e da Judeia – na periferia do império romano – o jovem líder religioso judeu Jesus de Nazaré viveu, ensinou e morreu.

Sua radical mensagem religiosa foi adotada por um pequeno grupo de discípulos judeus inspirados pelo fervor e pela crença de que após sua crucificação, Jesus se levantaria novamente revelaria ser o Cristo (o ungido), Senhor e Salvador do mundo.

Uma nova etapa na religião foi atingida com o advento de Paulo de Tarso, judeu de nascimento romano por cidadania e grego pela cultura. A caminho de Damasco, para desvelar uma disseminação maior do que via como seita herética, perigosa para a ortodoxia judaica, Paulo foi tomado por uma visão do Cristo ressuscitado. A partir desse momento, adotou ardorosamente a mesma religião da qual fora o mais enérgico oponente tornando-se seu mais proeminente missionário e primeiro teólogo. Sob a liderança de Paulo, o pequeno movimento religioso rapidamente se espalhou a outras partes do império – Ásia Menor, Egito, Grécia e a própria Roma – e começou a se constituir como igreja mundial.

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Durante a efervescente era helenista surgiu uma espécie de crise espiritual, da qual as pessoas impelidas pelos novos conhecimentos, procuravam interpretação pessoal do cosmo e, por extensão, o sentido da vida. Todas as religiões de mistérios, cultos públicos, sistemas esotéricos e escolas filosóficas falavam a essas necessidades – mas o Cristianismo, depois de períodos intermitentes de perseguição implacável por parte do Estado romano, foi gradualmente emergindo como vitorioso. O ponto decisivo desse processo ocorreu no início do século IV, com a histórica conversão de Constantino, imperador romano, que, nesse momento em diante, empenhou-se com todo seu poder à propagação do cristianismo.

O mundo clássico transformou-se drasticamente em seus últimos séculos

[...] a Igreja forjou uma cultura que nos outros mil anos, daria origem ao Ocidente moderno. Essa denominada Idade Média, período entre a Era Clássica e o Renascimento foi de extrema ebulição, com grandes consequências. A Igreja foi a instituição que uniu o Ocidente mantendo elo com a civilização clássica. De sua parte, os povos pagãos realizaram duas coisas notáveis: converteram-se ao Cristianismo e simultaneamente começaram a imensa tarefa de aprender e integrar o riquíssimo legado intelectual da cultura clássica que acabavam de conquistar. Esse grandioso trabalho escolástico, lentamente implementado nesses mil anos, inicialmente nos monastérios e mais tarde nas universidades, abrangeu a filosofia e letras gregas, o pensamento político romano e ainda o impressionante volume de textos teológicos dos antigos sacerdotes cristãos, cujo ápice estava na obra de Agostinho – que escrevera no início do século V, no momento em que o Império Romano desmoronava a seu redor, sob o impacto das invasões dos povos bárbaros. Dessa complexa fusão de elementos raciais, políticos, religiosos, e filosóficos, emergiu gradualmente uma visão de mundo de amplo alcance intelectual, comum a toda a cristandade ocidental. Sucedendo à visão dos gregos clássicos predominante na cultura, a concepção cristã passaria a informar e inspirar a vida e o pensamento de milhões de pessoas até a Modernidade (TARNAS. 2000, p. 108-109).

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O Sacro Império Romano-GermânicoSegundo Pioppi (2012), desde a alta Idade Média até ao ano 1000

aproximadamente, foi, sem dúvida, um período difícil para a Europa, especialmente pela conjuntura, seja pela violência política, econômica e social, seja, pelo empobrecimento cultural e intelectual; e também devido às contínuas invasões.

Segundo Santos (2012), em meio da desorganização administrativa, econômica e social, produzida pelas ocupações germânicas e ao esfacelamento do Império Romano, praticamente apenas a Grande Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu manter-se como instituição. Consolidando sua estrutura religiosa, a Igreja foi difundindo o cristianismo entre os povos, enquanto preservava muitos elementos da cultura greco-romana.

O termo “católico” (adjetivo grego que significa universal) usado a partir do Concílio de Trento (1545-1563) para designar a Igreja Romana em oposição às Igrejas da Reforma. Antes, o termo utilizado era Cristandade.

Pioppi (2012) revela que nos séculos VII e VIII, logo após a morte de Maomé, nasceu o Islamismo na Arábia. Os árabes se lançaram numa série de guerras de conquista que os conduziram à constituição de um vastíssimo império, dentre outros; subjugaram os povos cristãos da África do Norte e da Península Ibérica e separaram o mundo bizantino do latino-germânico. O mesmo pesquisador apresenta que, nos finais do século VIII, institucionalizou-se o poder temporal do Papado (Estados Pontifícios), que já existia de fato desde o final do século VI; tinha surgido com o propósito de suprir o vazio de poder criado na Itália central pelo desinteresse do poder imperial bizantino, nominalmente soberano na região, mas incapaz de prover a administração e defesa da população. Com o tempo, os papas verificaram que um limitado poder temporal era uma eficaz garantia de independência em relação aos diversos poderes políticos (imperadores, reis, senhores feudais).

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O termo “papa”, significa “papai”, sendo, um termo de carinho e respeito. Este termo era usado para qualquer bispo, sem se importar se ele era de Roma. Como Roma era, pelo menos de nome, a capital do Império, a igreja e o bispo desta cidade logo se viram em posição de destaque. A autoridade monárquica do papa, é fruto de um longo processo. De um bispo igual aos outros, o de Roma passa a ser o primeiro entre os demais e finalmente cabeça incontestável da Igreja

Pioppi (2012) apresenta em sua pesquisa que na noite de Natal do ano 800 restaurou-se o império no Ocidente (Sacro-Império Romano): o Papa coroou Carlos Magno na basílica de São Pedro; nasceu, assim, um Estado Católico com aspirações universais, caracterizado por uma forte sacralização do poder político, e um complexo entrecruzar de política com religião, que durou até 1806. Segundo o autor, no século X, o papado sofreu uma grave crise por causa das interferências das famílias nobres da Itália central na eleição do Papa e mais em geral, devido aos reis e senhores feudais terem se assenhoreado da nomeação de muitos cargos eclesiásticos.

A reação papal diante de tão pouca edificante situação, ocorreu no século XI, através da reforma gregoriana e a chamada “questão das investiduras”, em que a hierarquia eclesiástica conseguiu recuperar amplos espaços de liberdade em relação ao poder político.

Para Pioppi (2012) nos séculos XIII e XIV, houve o apogeu da civilização

medieval, com grandes realizações teológicas e filosóficas (a Alta Escolástica: Santo Alberto Magno, São Tomás de Aquino, São Boaventura, o Beato Duns Scoto), literárias e artísticas.

Segundo Pioppi (2012), o afrontamento entre o papado e o império, já iniciado com a “questão das investiduras”, continuou com diversos episódios nos séculos XII e XIII, terminando com o enfraquecimento das duas instituições. O império reduziu-se, na prática, a um estado alemão, e o papado sofreu uma notável crise; de 1305 até 1377, o local de residência do Papa transferiu-se de Roma para Avinhão, no sul de França, e pouco depois do regresso a Roma.

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Em 1378, iniciou-se o Grande Cisma do Ocidente; uma situação muito difícil, em que se verificou, no início o aparecimento de dois papas e, depois, três (as obediências a Roma, a Avinhão e a Pisa), enquanto o mundo católico da época permanecia perplexo sem saber quem era o pontífice legítimo. Seguem os concílios da Igreja Cristã no Período Medieval:

Quadro 2 – Concílios do Oriente

CONCÍLIO DECISÕES PRINCIPAISCONCÍLIO DE CON-STANTINOPLA II

Data: 05/05 a 02/07 de 553

Papa: Virgílio (537-555)

Imperador: Justiniano

- Condenação dos nestorianos (Teodoro de Mopsuéstia, Te-odoro de Ciro e Ibas de Edessa). “Não há senão uma única hipóstase [ou pessoa], que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Um na Trindade... Aquele que foi crucificado na carne, Nosso Senhor Jesus Cristo, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e Um na Santíssima Trindade”.

- “Toda economia divina é obra comum das três pessoas div-inas. Pois da mesma forma que a Trindade não tem senão uma única e mesma natureza, assim também, não tem senão uma única e mesma operação”.

- “Um Deus e Pai do qual são todas as coisas, um Senhor Jesus Cristo para quem são todas as coisas, um Espírito Santo em quem são todas as coisas”.

CONCÍLIO DE NICEIA II

• Data: 24/09 a 23/10 de 787

• Papa: Adriano I (772-795)

• Imperador: Constanti-no VI

- Contra os iconoclastas (destruidores de imagens): há sen-tido e liceidade na veneração de imagens. “Para proferir sucintamente nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da igreja, escritas ou não escritas, que nos têm sido transmitidas sem alteração. Uma delas é a represen-tação pictórica das imagens (ícones), que concorda com a pregação da história evangélica, crendo que, de verdade, e não na aparência.

- Verbo de Deus se fez homem, o que é também útil e prove-itoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um significado recíproco”.

- Contra os iconoclastas (destruidores de imagens): há senti-do e liceidade na veneração de imagens. “Nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim as venerandas e sagra-das imagens pintadas, quer em mosaico, quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igre-jas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos sagrados, nas paredes e mesas, nas casas e nas ruas; sejam elas as imagens do Senhor Deus, dos santos anjos, de todos os san-tos e justos”. Latria (adoração), Dulia (veneração).

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CONCÍLIO DE CON-STANTINOPLA IV

Data: 05/10 de 869 a 28/02 de 870

Papa: Adriano II (867-872)

Imperador: Basílio de Macedônia

- Excomunhão do patriarca de Constantinopla, (Fócio), que foi condenado.

- O culto das imagens foi confirmado.

Fonte: Disponível em: <http://www.iscal.com.br/iscal/upload/curso_capelania/parte-1.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2017.

Quadro 3 – Concílios Do Ocidente

CONCÍLIO DECISÕESCONCÍLIO DE LATRÃO III

Data: 5 a 19 de março de 1179

Papa: Alexandre III (1159-1181)

- Necessidade de dois terços dos votos na eleição do papa, ficando excluído qualquer recurso às autoridades leigas para dirimir dúvidas do processo eleitoral.

- Rejeição do acúmulo de benefícios ou funções dentro da Igreja por parte da mesma pessoa.

- Recomendação da disciplina, da regra aos monges e cava-leiros regulares, que interferiam indevidamente no governo da Igreja.

- Condenou heresias da época, de fundo dualista (catarismo) ou de pobreza mal-entendida (pattária, movimento dos po-bres de Lião/Valdenses). Autoriza usar armas contra eles.

- Declarou nulas as ordenações dos antipapas Otaviano Gui-do e João de Estruma.

CONCÍLIO DE LATRÃO IV

Data: 11 a 30/12/1215

Papa: Inocêncio III (1198-1216)

- A condenação dos albigenses e valdenses.

- Condenação dos erros de Joaquim de Fiore, que pregava o fim do mundo para breve, apoiando-se em falsa exegese bíblica.

- Declaração da existência dos demônios como sendo anjos bons que abusaram do seu livre arbítrio pecando: “com efeito, o diabo e outros demônios foram por Deus criados bons em sua natureza, mas se tornaram maus por sua própria iniciativa”.

- A realização de mais uma cruzada para libertar o Santo Sep-ulcro, em Jerusalém, que se achava nas mãos dos muçul-manos; a profissão de fé na eucaristia, tendo sido então usa-da a palavra “transubstanciação”.

- A obrigação da confissão e da comunhão anuais.

- Fixou normas sobre a disciplina e a liturgia.

- Fez legislação sobre os impedimentos matrimoniais.

- Começa a aparecer a tentativa de fixação do número sete para os sacramentos.

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CONCÍLIO DE LYON I

Data: 28/06 a 17/07 de 1245

Papa: Inocêncio IV (1243-1254)

- Excomunhão e deposição do imperador Frederico II da Ale-manha, por ser usurpador de bens eclesiásticos.

CONCÍLIO DE LYON II

Data: 07/05 a 17/07 de 1274

Papa: Gregório X (1271-1276)

- Procedimentos referentes ao Conclave, eleição do papa em recinto fechado.

- Volta à unidade da Igreja latina com a Igreja grega (Con-stantinopla) – Reafirmou o Conclave para a eleição papal.

CONCÍLIO DE VIENA – FRANÇA

Data: 16/10 /1311 a 06/05/1312

Papa: Clemente V (1305-1314)

- Supressão da Ordem dos Templários (Cavaleiros Solda-dos).

- Contra o modo de viver a pobreza dos franciscanos, chamados “Espirituais” que adotavam ideias heréticas sobre a pobreza.

CONCÍLIO DE CON-STANÇA

Data: 05/11/1414 a 22/04/1418

Papas: vários antipa-pas

- Resignação do Papa, Gregório XII (1405-1415).

- Deposição do antipapa João XXIII (1410-29/05/1415).

- Deposição do antipapa avinhense, Benedito XIII (1394 -1415), em 26/07/1417.

- Eleição de Martinho V em 11/11/1417.

- Extinção do Grande Cisma do Ocidente (1305-1378).

- Condenação da doutrina de João Hus, João Wiclef e Jerôn-imo de Praga, precursores de Lutero.

- Decreto relativo à periodicidade dos concílios;

- Rejeição do conciliarismo.

- Prevalência do poder do papa.

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CONCÍLIO DE BASILÉIA-FERR-ARA-FLORENÇA-ROMA

Datas e locais: em Ba-sileia de 23/07/1431 a 07/05/1437; em Fer-rara, de 18/09/1437 a 1/01/1438; em Flo-rença, de 16/07/1439; em Roma, a partir de 25/04/1442.

Papa: Eugênio IV (1431-1447).

- Questões doutrinárias sobre a SS. Trindade: “O Espírito Santo tem sua essência e seu ser subsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de ambos como de um só princípio e por uma única expiração. E uma vez que tudo o que é do Pai, o Pai mesmo o deu ao seu Filho Único ao gerá-lo, excetuando o seu ser de pai, esta própria processão do Espírito Santo a partir do Filho, ele a tem eternamente de Seu Pai que o gerou eternamente” (DS 1300-1301).

- “Tudo é uno [neles] lá onde não se encontra oposição de relação” (DS 1330). “Por causa dessa unidade o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho”. “O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios das criaturas, mas um só princípio”. Em uma só criatura, em uma só pessoa.

Fonte: Disponível em: <http://www.iscal.com.br/iscal/upload/curso_capelania/parte-1.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2017.

O Poder PapalFoi com o Papa Gregório I, o Grande, que houve um período de crescimento

do poder papal e que teve o apogeu no tempo de Gregório VII, mais conhecido por Hildebrando.

Hildebrando reformou o clero, que se havia corrompido, elevou as normas de moralidade desse clero, exigiu celibato dos sacerdotes, libertou a igreja da influência do estado, pondo fim à nomeação de papas pelos reis e imperadores. Hildebrando impôs a supremacia da igreja sobre o Estado.

O período de 882 a 903 se caracterizou pela torpe degradação do poder papal, o qual enfraqueceu notadamente.

Estevão VI, foi aprisionado e morto. Posteriormente, foi eleito o Papa Marino, cujo pontificado durou apenas alguns meses. João X, feito papa, procurou ab-rogar os atos de Estevão, e de fato ab-rogou muitos deles. Leão V, depois de um breve pontificado, foi morto por seu próprio capelão seu sucessor (PIOPPI, 2012).

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No período de 903 a 963, com Sergio III começa a influência perniciosa de uma aventureira de alta linhagem sobre o governo papal. De 936 a 956 o papado esteve sob influência de Alberico, que nomeou quatro papas. Um filho dele, sob o nome de João XIII, assumiu o ofício papal sendo o seu pontificado havido como um dos mais imorais e licenciosos. Este papa morreu assassinado.

Otão, o Grande, fez sentir a sua interferência no papado em 983, com a convocação de um sínodo para depor o imoral João XIII e substituí-lo por Leão VIII. Durante este período, até 1073, foram nomeados vários papas e os imperadores ficaram no direito de nomear e controlá-los para evitar a dissolução completa do clero (PIOPPI, 2012).

Quadro 4 – Papas

Siricius

(354-398)

Conseguiu que um concílio realizado em Roma decretasse que nenhum bispo deve ser consagrado sem o conhecimento e con-sentimento do bispo de Roma. Mesmo que seja um decreto falso, é muito antigo e exerceu grande influência.

Inocêncio I

(402-417)

Demonstrou grande ousadia em explorar as reivindicações de Roma, exigindo submissão universal a sua autoridade. Insistia que era a obrigação de todas as igrejas ocidentais se conformarem aos cos-tumes de Roma.

Celestino

(422-432)

Durante o exercício do seu papado, foi resolvido a mui agitada questão do direito de apelar a Roma decisões nas províncias. Celestino ma-nipulou as questões de uma maneira que sempre saía ganhando o prestígio de Roma, até o ponto de dispensar os cânones de um con-cílio geral.

Leão I

(440)-461)

Homem humilde, insistia que era sucessor de Pedro e que não se pode infringir a autoridade deste. Conseguiu do jovem e fraco imperador Val-entino III um edito em que reconhece a primazia da sé de Pedro e insiste que ninguém pode agir sem a permissão desta sé.

Gregório I

(589-604)

Possivelmente o maior papa deste período, filho de um senador, adotou o costume monástico. Pretendia ser missionário aos ingleses quando foi consagrado papa aos 49 anos de idade. Reclamou que Máximo foi eleito patriarca de Constantinopla no lugar de seu candidato e suspen-deu todos os bispos que o consagraram sob pena de anátema de Deus e do apóstolo Pedro. Repreendeu o patriarca de Constantinopla por ter assumido o título de bispo ecumênico.

Leão III

(795-816)O período começa com Leão III assentado na cadeira pontifical. Foi ele quem colocou Carlos Magno como imperador no ano 800.

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Estevão IV

(816-817)Este papa coroou o Rei Luiz, o Piedoso, em Roma, ato que elevou ainda mais a posição do papa.

Gregório IV

(827-844)Foi com esse papa que apareceram falsos documentos a favor da pre-rrogativa papal. Gregório defendeu Roma contra os sarracenos.

Nicolau I

(858-867)

Ascendeu a cadeira papal num momento de agitação e desordens, aproveitando-se dos documentos falsos a favor da absoluta soberania e irresponsabilidade do papado, procurou firmar os direitos de suprem-acia do papa e de sua jurisdição suprema.

Adrião II

(867-872)Trabalhou principalmente à sombra a influência atingida pelo seu an-tecessor.

João VIII

(872-882)

O maior problema durante o papado de João VIII foi a ameaça sarra-cena, forçando-o a pedir ao novo imperador Carlos a sua proteção, mas Carlos e o papa aceitou o tratado humilhante com os sarracenos.

Famoso

891O papa Formoso subiu ao poder em 891 e, dois anos depois de san-guinolento pontificado, morreu, provavelmente envenenado.

Hildebrando (1073).

Foi inquestionavelmente o maior estadista eclesiástico do Período Me-dieval. Seu objetivo foi tornar um fato o domínio universal e absoluto do papado, e sua política subordinou-se completamente a este propósito. Este papa tomou o nome de Gregório VII.

Inocêncio III (1198-1216)

Aproveitou as prerrogativas papais firmando umas e alargando outras. Foi durante seu papado que o poder papal evoluiu gradativamente at-ravés dos séculos, chegando ao auge. Ele foi o maior papa do século.

Bonifácio VII (1294-l303)

Subiu à cadeira pontífica no meio destas condições tão favoráveis ao papado, mas sem se adaptar a elas conservou aquele espírito de ar-rogância e mandonismo, muito característico de seus antecessores.

Clemente V

(1305)

Este não foi a Roma, mas estabeleceu sua corte Papal em Avignon e tornou se subserviente de Felipe rei da França. Aqui, ele e seus suces-sores todos franceses serviram durante setenta anos. Tão notório se tornaram as condições que os historiadores católicos estigmatizaram o período de cativeiro babilônico do papado.

Nicolau V

(l448-1455)

O pontificado foi notável, tendo sido construído nesse tempo o Vati-cano e a Basílica de São Pedro, considerados como duas magníficas obras de arte. Talvez, nesta época, se tenha resolvido o problema dos três papas.

Inocêncio VIII (l484-l492)

Para melhorar a fortuna de seus filhos ilegítimos, pelejou contra Nápoles e recebia tributo anual de Sultão, por manter seu irmão e rival na prisão em vez de enviá-lo como cabeça de um exército contra os inimigos da cristandade.

Fonte: Dreher (1993).

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Os Grandes CismasNeste momento haverá o estudo dos grandes cismas da Igreja que

influenciaram a igreja Cristã tanto positiva como negativamente. A seguir, os fatos históricos como cismas: a separação da Igreja Católica do Oriente e a do Ocidente; as Cruzadas, a Guerra dos Cem Anos; e a Reforma Protestante, embora esta última já faça parte da Idade Moderna.

a) A separação da Igreja Católica do Oriente e a do Ocidente

No século XI houve o chamado Cisma do Oriente. O patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, foi o responsável pela separação definitiva dos gregos da Igreja Católica. Este foi o último episódio de uma história de disputas de separação iniciada já no século V neste período da história.

O Cisma do Oriente foi o rompimento, que ocorreu em 1054 d.C., entre as Igreja Católica do Oriente e a do Ocidente. Tratava-se da mesma Igreja, mas possuía duas sedes, uma no Oriente e outra no Ocidente. Com as invasões bárbaras, o Império do Ocidente caiu em 476 e o Império do Oriente permaneceu até 1453, também conhecido como Império Bizantino.

Popularmente utilizado, o Cisma do Oriente é o nome dado à divisão da Igreja Católica, ocorrida em 1054, entre a Igreja chefiada pelo papa, em Roma, e a igreja chefiada pelo patriarca, em Constantinopla (antigo Bizâncio e atual Istambul). Devido às invasões bárbaras, o Império Romano do Ocidente caiu em 476; restou o império Romano Oriental, conhecido como Império Bizantino (DREHER, 1993).

As práticas religiosas consideradas impróprias pelo Ocidente e contrária à Fé Romana, também chamadas de “heresias” serão apresentadas a seguir:

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A Igreja Medieval Capítulo 2

Quadro 5 – Heresias

HERESIAS CARACTERÍSTICAS

Monofisistas

Acreditavam que Jesus Cristo tinha a existência unicamente divina, visão teológica que se opunha à prerrogativa ocidental da natureza humana e divina de Cristo. Contrariavam ainda o dogma católico da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) como representação de Deus. O movimento dos monofisitas iniciou-se no século V e alca-nçou sua maior força com o reinado de Justiniano.

IconoclastasCaracterizava-se pela oposição à adoração de imagens, levando-os a destruírem os ícones religiosos. Afirmavam, dessa forma, uma per-cepção religiosa de caráter mais espiritual.

Fonte: Dreher (1993).

Outras situações culturais, políticas e sociais fizeram com que as duas Igrejas desenvolvessem esse cisma:

• A Igreja Católica do Ocidente teve as invasões bárbaras e foram influenciados pelos povos germanos.

• A Igreja Católica no Oriente teve influências das tradições do mundo clássico presentes na sociedade e na Igreja cultivando a cristandade helenística. Carregou a tradição e o rito grego e integrou especialmente o Império Bizantino.

Essas posições de fé e de ideologias da Igreja Ocidental e Oriental causaram muita instabilidade social, promovendo o Cisma da Igreja em 1054, após o patriarca Miguel Cerulário ser excomungado pelo Papa de Roma, surgindo a Igreja Ortodoxa ou Igreja Católica do Oriente, com sede em Constantinopla, e a Igreja Católica Apostólica Romana, sede em Roma (DREHER, 1993).

As CruzadasPodem-se definir as Cruzadas como expedições “militares” e religiosas

organizadas na Europa Ocidental com o objetivo de libertar a Terra Santa dos muçulmanos, objetivo este que tinha o Papa Urbano II. Com as Cruzadas, o papa esperava conquistar não só Jerusalém e o Santo Sepulcro, onde Jesus teria sido sepultado, mas também a liderança da cristandade, tanto do Ocidente, quanto do Oriente, sobre o imperador e a Igreja bizantina que estava afastada da Igreja de Roma desde o Cisma do Oriente de 1054 (PIOPPI, 2012).

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Com outras palavras, as Cruzadas nada mais eram que um grande movimento da Idade Média, sob a inspiração e mandado da Igreja, que se iniciaram no fim do século XI. Conforme Pioppi (2012), ocorreram oito cruzadas:

• A Primeira Cruzada foi anunciada pelo Papa Urbano II, que era composta de 275.000 dos melhores guerreiros, para combater os sarracenos que tinham invadido Jerusalém. Após grande batalha, Jerusalém foi reconquistada.

• A Segunda Cruzada foi convocada em virtude das invasões dos sarracenos às províncias adjacentes ao reino de Jerusalém. Sob a influência de Luiz VII, da França e Conrado III, da Alemanha, um grande exército foi conduzido para socorrer os lugares reconhecidos como santos. Enfrentara grandes dificuldades, mas obtiveram vitória.

• A Terceira Cruzada foi dirigida por Ricardo I, " Coração de Leão", da Inglaterra e outros como Frederico Barbarroxa, Filipe Augusto. Barbarroxa morreu afogado e Filipe desentendeu-se com Ricardo I e voltou para França. A coragem de Ricardo I, sozinho, não foi suficiente para conduzir seu exército para Jerusalém. Contudo fez um acordo para que os cristãos tivessem direito a visitar o santo sepulcro.

• A Quarta Cruzada foi um completo fracasso porque causou grande prejuízo à Igreja Cristã. Os cruzados afastaram-se do propósito de conquistar a Terra Santa e fizeram guerra à Constantinopla, conquistaram-na e saquearam-na. Constantinopla ficou, posteriormente, à mercê dos inimigos.

• Na Quinta Cruzada, Frederico II conduziu um exército até a Palestina e conseguiu um tratado no qual as cidades de Jerusalém, Haifa, Belém e Nazaré, eram cedidas aos cristãos, porém 16 anos depois, a cidade de Jerusalém foi tomada pelos maometanos.

• A Sexta Cruzada foi empreendida por São Luiz. Invadiu a Palestina através do Egito, mas não obteve êxito, foi derrotado pelos maometanos e libertado por uma grande soma.

• A Sétima Cruzada teve também a direção de São Luiz, juntamente com Eduardo I. A rota escolhida foi novamente a África, porém, São Luiz morreu e Eduardo I voltou para ocupar o trono na Inglaterra e a cruzada teve um fracasso total.

• A Oitava Cruzada aconteceu no ano de 1270, liderada pelo reinado francês, o qual chegou até a região do Egito, dominado pelos maometanos. Entretanto, antes da luta entre estes e os cruzados iniciar, uma peste assolou o exército cristão, dizimando-o, forçando assim, um acordo de paz.

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A Igreja Medieval Capítulo 2

Figura 11 – Movimentos Cruzadistas

Fonte: Disponível em: <https://blogdoenem.com.br/idade-media-cruzadas/>. Acesso em: 29 nov. 2017.

Cinco grandes movimentos de reformas surgiram na Igreja; contudo, o mundo não estava preparado para recebê-los, de modo que foram reprimidos com sangrentas perseguições.

Os albigenses "puritanos" surgiram em 1170, no sul da França, e rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o Novo Testamento e se opunham às doutrinas romanas do purgatório, à adoração de imagens e às pretensões sacerdotais. O Papa Inocêncio III promoveu uma grande perseguição contra eles, e a seita foi dissolvida com o assassinato de quase toda a população da região.

Os valdenses apareceram, ao mesmo tempo, em 1170 com Pedro Valdo que lia, explicava e distribuía as Escrituras, as quais contrariavam os costumes e as doutrinas dos católicos romanos. Foram cruelmente perseguidos e expulsos da França, e apesar das perseguições, permaneceram firmes, e atualmente constituem uma parte do pequeno grupo de protestantes na Itália (PIOPPI, 2012).

João Wyclif, nascido em 1324, recusava-se a reconhecer a autoridade do papa. Era contra a doutrina da transubstanciação, considerando o pão e o vinho meros símbolos. Traduziu o Novo Testamento para a língua inglesa e seus seguidores foram exterminados por Henrique V.

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João Huss, nascido em 1369, foi um dos leitores de Wyclif. Pregou as mesmas doutrinas e, especialmente, proclamou a necessidade de se libertarem da autoridade papal. Foi excomungado pelo papa, e se retirou para algum esconderijo desconhecido. Ao fim de dois anos, voltou a convite da Igreja para participar de um concílio católico-romano de Constança, sob a proteção de um salvo-conduto. Entretanto, o acordo foi violado sob o pretexto de que "Não se deve ser fiel a hereges". Assim João Huss foi condenado e queimado.

Jerônimo Savonarola, nascido em 1452, foi monge dominicano, em Florença. A grande catedral enchia-se de multidões ansiosas, não só para ouvi-lo, mas também para obedecer aos seus ensinamentos. Pregava contra os males sociais, eclesiásticos e políticos de seu tempo. Foi preso, condenado, enforcado e teve o corpo queimado na praça de Florença em 1498.

Pioppi (2012) destaca que, no início do século XI, as repúblicas marítimas tinham arrebatado o controle do Mediterrâneo aos muçulmanos, pondo limite às agressões islâmicas. Ao final do século, o crescimento do poder militar dos países cristãos teve como expressão o fenómeno das Cruzadas à Terra Santa (1096-1291), expedições bélicas de caráter religioso cujo objetivo era a conquista de Jerusalém.

Segundo o historiador Jacques Le Goff, um dos mais destacados estudiosos da Idade Média, o saldo das Cruzadas para o Ocidente não foi tão animador quanto esperavam seus participantes. As Cruzadas contribuíram significativamente para aumentar e dinamizar o comércio do que para propriamente “abrir” o Mediterrâneo.

As Cruzadas promoveram a expansão das sociedades europeias e fizeram entrar em circulação na Europa produtos orientais, sobretudo especiarias, importadas por mercadores da península Itálica. Segundo Le Goff, os saques realizados pelos cruzados nas cidades muçulmanas transferiram para a Europa grande quantidade de moedas, aumentando sua circulação no continente. Isso colaborou para que surgissem companhias mercantis, formadas pela associação de comerciantes, que investiam capital na compra de barcos e de mercadorias.

Muitos servos se tornaram livres e passaram a arrendar terras de senhores com base em contratos. Outros migraram para as cidades, desligando-se das relações servis de produção. Assim, com o desenvolvimento comercial, todo o sistema feudal entrava em crise.

A seguir, uma breve cronologia das Cruzadas, apresentadas de forma linear e contínua:

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A Igreja Medieval Capítulo 2

• 1071 – Os turcos venceram o exército bizantino em Manzikert, tomaram Jerusalém e proibiram as peregrinações cristãs.

• 1095 – Concílio de Clemont. O papa Urbano II pregou a Primeira Cruzada.

• 1096 – Reuniu-se a “Cruzada dos Pobres”, massacrada pelos mulçumanos, partida da primeira Cruzada, a “Cruzada dos Nobres”.

• 1118 – Fundação da Ordem dos Templários. • 1146 – Bernard Clairvaux pregou a segunda Cruzada. • 1187 – Saladino, liderando seus exércitos, invadiu a Terra

Santa e conquistou Jerusalém. • 1192 – Ricardo e Saladino assinaram um tratado de paz,

Ricardo deixou o Oriente. • 1198 – O papa Inocêncio III pregou a Quarta Cruzada. • 1212 – Cruzada das crianças. • 1217 – Os cruzados reuniram-se em São João D’Arce. • 1221 – Os cruzados foram emboscados no Rio Nilo e forçados

a bater em retirada, fim da Quinta Cruzada. • 1228 – Frederico II chegou ao Oriente liderando a Sexta Cruzada. • 1229 – Frederico assinou o tratado de paz reconquistando

Jerusalém e os lugares sagrados. • 1244 – Os mulçumanos tomaram Jerusalém. • 1248 – Luís IX, da França, conduziu a Sétima Cruzada. • 1250 – Luís e seus exércitos foram derrotados e aprisionados. • 1291 – Queda de São João D’Arce. Fim do domínio na Terra Santa.

Fonte: Pioppi (2012).

A Guerra dos cem anosAntes de iniciarmos o estudo histórico religioso, envolvendo a questão

da Guerra dos Cem anos, precisamos de uma breve definição do que foi este fato histórico. Por mais de cem anos, a exato 116 anos, França e Inglaterra se envolveram em um conflito que marcou a passagem do mundo medieval para o moderno. Na chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), as tropas francesas e inglesas se colocaram em combate devido a disputas de ordem econômica e política (FRÖLICH, 1987).

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

A Igreja Cristã também esteve envolvida neste fato, em alguns momentos de forma indireta e outras vezes de forma direta, posicionando-se politicamente. Vejamos os seguintes fatos:

Em 1305, foi eleito o Papa Clemente V, sua ação foi, desde logo, marcada pela decisão de instalar o papado em Avinhão (1309 a 1378), aliado e submisso aos interesses da monarquia da França, fato que prenunciava em relação à Igreja Ocidental graves dificuldades e discórdias. Importante salientar que todos os papas desse período foram bispos franceses.

Em 1378, morreu Gregório XI, um concílio de cardeais italianos que aproveitou o momento de fraqueza dos franceses elegeu o arcebispo de Bari como papa, sob o nome de Urbano VI. Quando os cardeais franceses chegaram a essa assembleia, ignoraram-na, consideraram Urbano VI herético e elegeram Roberto de Genebra, um francês que se tornou papa com o nome de Clemente VII.

Passou-se, então, a ter dois papas. Iniciou-se, assim, o Cisma do Ocidente, que separava internamente a cristandade romana em duas obediências e arruinava o prestígio pontifical.

Os partidos políticos e de guerra transformaram-se nos partidos de apoio para cada pontífice. Durante cerca de meio século foram propostas diversas soluções para a resolução deste problema e somente a convocação de um concílio poderia trazer alguma solução.

O concílio de Constança, que reuniu os cardeais e bispos da cristandade entre 1414 e 1418, finalmente, elegeu Martinho V, cujo pontificado, sem contestação, prolongou-se de 1417 a 1431 (ALBERIGO, 1997).

A Queda de Constantinopla A estabilidade do Império Bizantino foi ameaçada pelas dificuldades

financeiras. No auge do governo Justiniano, no século VI, quando se seguiu um longo período de decadência. Com a morte de Justiniano em 565, as dificuldades cresceram. Árabes e búlgaros intensificaram as tentativas de entrar no Império.

Durante a Baixa Idade Média (séculos X a XV), além das pressões dos povos e impérios nas suas fronteiras orientais e perdas de territórios, o Império Bizantino foi alvo da retomada expansionista ocidental, a exemplo das Cruzadas. Com a expansão dos turcos-otomanos no século XIV, tomando os Bálcãs e a Ásia Menor, o império acabou reduzido à cidade de Constantinopla.

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A Igreja Medieval Capítulo 2

O predomínio econômico das cidades italianas ampliou o enfraquecimento Bizantino, que chegou ao fim em 1453, quando o sultão Maomé II destruiu as muralhas de Constantinopla com poderosos canhões. Os turcos transformaram-na em sua capital, passando a chamá-la de Istambul, como é conhecida hoje.

Em suma, podemos dizer que a queda de Constantinopla, ocorrida em 1453, foi o divisor de águas entre os tempos medievais e os tempos modernos.

Província após província do grande império foi tomada, até ficar somente a cidade de Constantinopla, que em 1453, foi tomada pelos turcos sob as ordens de Maomé II. O templo foi transformado em uma mesquita. Constantinopla, atual Istambul, tornou-se a capital do Império Turco e o fim do período da Igreja Medieval (PIERINI, 1997).

Reforma ProtestanteA Reforma Protestante significa o fim da unidade católica, uma ruptura dessa

unidade e o surgimento de novas religiões cristãs dentro da Europa Ocidental. A Igreja Católica, única unidade religiosa que vinha com grande poder até o início da idade moderna, fragmentou-se em seu núcleo e em seu seio.

Em 1517, houve a Reforma Protestante, quando na mesma data Martinho Lutero publicou as 95 teses, criticando o comportamento da Igreja Católica frente à indulgências, bem como apresentou a tese da livre interpretação da Bíblia. Esses fatos permitiram o surgimento de novas igrejas, a serem vistos a seguir. Foi o movimento que rompeu a unidade do Cristianismo centrado pela Igreja de Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e XVI, ou seja, já na Idade Moderna (PIERINI, 1997).

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Figura 12 – Martinho Lutero

Fonte: Disponível em: <http://alunosonline.uol.com.br/upload/conteudo_legenda/8143d9d3e312ef61cac99aa438d91a46.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2017.

O protestantismo tem como fonte de sua fé a bíblia. Martinho Lutero condenou imagens dos santos, celibato, latim nas celebrações, entretanto, manteve o batismo e a eucaristia. Com essas reformas, deu origem ao chamado Protestantismo Histórico, o qual, além dos luteranos, há também as seguintes igrejas: Calvinista, Anglicana, Presbiteriana, Batista e a Metodista.

OS CINCO PILARES DA REFORMA PROTESTANTE

• Sola Fide (somente a fé): é pela fé se alcança a salvação. Para os reformistas, as boas obras são apenas a expressão da crença e não uma condição para a justificação, que é considerada ato de Deus e fruto da graça.

• Sola Scriptura (somente a Escritura): a Sagrada Escritura era a única fonte de revelação. Neste sentido, ela é o fundamento doutrinal, quando interpretada a partir de si mesma.

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• Solus Christus (somente Cristo): existe apenas um único mediador, Jesus Cristo. Os reformistas rejeitam qualquer doutrina que estabelecesse a intermediação entre Deus e a humanidade, seja ela relacionada à Virgem Maria, aos santos ou a alguns dos sacramentos.

• Sola Gratia (somente a Graça): a salvação é um dom proveniente da graça de Deus que foi concedida por meio de Cristo, e não fruto do mérito ou das obras humanas.

• Soli Deo Gloria (glória somente a Deus): toda glória e louvor deveriam ser dadas somente a Deus, fonte de toda graça e salvação. Nenhum gesto correspondente a estas atitudes deveria ser relacionado a seres humanos, mesmo que tivessem tido uma vida de devoção.

Fonte: Natel (2016, p. 100-131).

A cisão iniciou-se pelos maus hábitos da Igreja Católica, como a venda de cargos eclesiásticos. Ao invés de preparar seu clero, a igreja vendeu os cargos para obtenção de recursos financeiros, permanecendo o clero despreparado para lidar com a população extremamente carente e teocêntrica (PIERINI, 1997).

Algumas ConsideraçõesO referido material de estudo procurou de forma simples, porém objetiva e

clara apresentar um estudo reflexivo e analítico sobre a história da Igreja Cristã no Período Medieval. Procuramos promover uma transposição didática, ou seja, trocar o conhecimento acadêmico para o pedagógico sem perder a essência deste saber.

Procuramos abordar historicamente os mais diversos temas relevantes e presentes nesse longo período da história da civilização, quando a Igreja se fez protagonista com diversas reflexões teológicas, e em especial com a temática da fé e da razão.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Nesta unidade estudamos como a formação dos monastérios influenciou e contribuiu com a Igreja Cristã; conhecemos algumas ordens religiosas e seus carismas; quem eram os Padres da Igreja; estudamos o Sacro Império Romano-Germânico, os Concílios da Igreja Cristã no Período Medieval e o poder papal; também estudamos os Grandes Cismas cuja ênfase foi dada em torno da separação da Igreja Católica do Oriente e a do Ocidente e em seguida a da Reforma Protestante; compreendemos também o papel das Cruzadas nesse período histórico; procuramos também conhecer a relevância da Guerra dos Cem Anos e, por fim, analisamos a queda de Constantinopla.

Esse material não tem o objetivo de encerrar a temática. Neste sentido convidamos o leitor a dar sequência nos estudos com leituras complementares a iniciar pelas referências bibliográficas citadas na respectiva obra.

ReferênciasALBERIGO, G. História dos concílios ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1997.

BIHLMEYER, K.; TUECHLE, H. História da igreja. v. 2: a Idade Média. São Paulo: Paulinas, 1964.

CAIRNS, E. O cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 1984.

COMBY, J. Para ler a história da igreja I: das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 1996.

DREHER, M. N. A igreja no império romano (Coleção História da Igreja). São Leopoldo: Sinodal, 1993.

JUPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janei-ro: Zahar, 2006

LENZENWEGER, J.; STOCKMEIER, P.; AMON, K. História da igreja católi-ca. São Paulo: Loyola, 2006.

FRÖLICH, R. Curso básico de história da igreja. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1987.

HURLBUT, J. L. História da igreja cristã. São Paulo: Vida, 1979.

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A Igreja Medieval Capítulo 2

LACOSTE. J. Y. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Loyola, 2004.

LE ROUX, P. Império romano. Tradução de William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2013.

MATOS, H. C. J. Introdução à história da igreja. vol. 1. Belo Horizonte: O Lutador, 1997.

MONDIN. B. Os grandes teólogos do século vinte. vol. 1 e 2. São Paulo: Pau-linas, 1980.

NATEL. A. Teologia da reforma. Curitiba: InterSaberes, 2016.

ORLANDIS, J. História breve do cristianismo. Lisboa: Rei dos Livros, 1993.

PIERINI, F. A Idade média: curso de história da igreja. v. 2. São Paulo: Paulus, 1997.

PIOPPI, C. História da igreja. Tema 14. MTA-PPKE: Vaticano, 2012.

POTESTÀ, G. L.; VIAN, G. História do cristianismo. São Paulo: Loyola, 2013.

ROGIER, L. J.; AUBERT, R.; KNOWLES, M. D. Nova história da igreja. v. 1 e 2; Petrópolis: Vozes, 1976.

ROMAG, D. Compêndio de história da igreja. v. 2: a Idade Média. Petrópolis: Vozes, 1950.

SANTOS, J. A igreja na idade média. Disponível em: <https://doutrinacatolica.wordpress.com/2012/02/03/a-igreja-na-idade-media-ii-entendendo-o-surgimento-da-cristandade/>. Acesso em: 22 set. 2017.

TARNAS, R. A epopeia do pensamento ocidental: para compreender as ideias que moldaram nossa visão de mundo. Tradução de Beatriz Sidou. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

TILLICH, P. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 1988.

WILLIANS, T. Cronologia da história eclesiástica. São Paulo: Vida Nova, 1993.

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CAPÍTULO 3

A Igreja Renascentista e Moderna

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

�Estudar sobre a Reforma Religiosa.

�Estudar sobre as causas e ações da Contrarreforma.

�Conhecer o desenvolvimento do luteranismo, calvinismo, anglicanismo.

�Conhecer o Concílio de Trento.

�Compreender as missões católicas e protestantes.

�Compreender a implantação do protestantismo no Brasil.

�Promover uma análise crítica da Igreja Cristã Renascentista e Moderna.

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A Igreja Renascentista e Moderna Capítulo 3

ContextualizaçãoNo presente capítulo pretendemos apresentar um estudo analítico sobre a

Reforma Religiosa iniciada no século XVI, procurando compreender sua origem e sentido, bem como as causas da Contrarreforma e o Concílio de Trento, ambos realizados pela Igreja Católica em resposta à Reforma Religiosa realizada por Martinho Lutero e outros reformadores.

Vamos também procurar conhecer um pouco da história do desenvolvimento do luteranismo, do calvinismo e do anglicanismo. Objetivamos ainda estudar as missões católicas e protestantes, bem como compreender a implantação do protestantismo no Brasil. Sem nos alongarmos, pretendemos promover uma rápida análise crítica da Igreja Cristã Renascentista e Moderna.

Após a Idade Média, há um período de transição entre os séculos XV e XVI, que significou uma ruptura com a tradição cristã, quando tudo era fundamentado em Deus, e passou-se a valorizar o ser humano. É o período chamado de Humanismo Renascentista, em quee se rompe com a visão sagrada e teológica na arte, no pensamento, na política, na literatura, enfim, com o pensamento teocêntrico. Os pensadores desse período passam a valorizar o saber dos gregos antigos.

A Idade Moderna traz a proposta de uma nova ordem e visão de mundo, rejeitando a autoridade imposta pelos costumes e pela hierarquia da nobreza e igreja, em favor da recuperação do que há de virtuoso, intuitivo e espontâneo na natureza humana. Surge um novo estilo, com nova temática. Valoriza-se o corpo humano, as artes, o pensamento, a política, a ciência.

Resumidamente, podemos afirmar que este é o cenário social, político, econômico e cultural da sociedade europeia da época, em que a Igreja Cristã também está inserida e protagonizando em muitas ações, dentre elas a Reforma Religiosa e a Contrarreforma, como política de enfrentamento.

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A Reforma Religiosa ProtestanteAntes de adentrarmos na Reforma Religiosa Protestante propriamente, se

faz necessário destacar que tivemos outras tentativas de reformas anteriores a esta, que, segundo Ferraz (2010), são movimentos que surgiram no interior da própria Igreja, entretanto, nem a Igreja e nem o mundo estavam preparados para recebê-los, de modo que foram reprimidos com sangrentas perseguições.

Um exemplo se dá em 1054, onde temos Miguel Keroularios, que rompeu com o papa, e o início da Igreja Ortodoxa. A seguir, apresentamos outros reformistas anteriores à Reforma Religiosa Protestante, com suas respectivas reivindicações, presentes tanto na Idade Média como no período Renascentista.

É importante destacar que as reformas luteranas, calvinistas e anglicanas foram um rompimento político com Roma e não apenas religioso.

É importante destacar que as

reformas luteranas, calvinistas e

anglicanas foram um rompimento político com Roma e não apenas religioso.

Quadro 6 – Reformistas anteriores à Reforma Religiosa Protestante

Os Albigenses

"Puritanos" surgiram em 1170 no Sul da França. Eles rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o Novo Testamento e opun-ham-se às doutrinas romanas do purgatório, à adoração de ima-gens e às pretensões sacerdotais. O Papa Inocêncio III promoveu uma grande perseguição contra eles, e a seita foi dissolvida com o assassinato de quase toda a população da região.

Os Valdenses

Apareceram ao mesmo tempo, em 1170, com Pedro Valdo, que lia, ex-plicava e distribuía as Escrituras, as quais contrariavam os costumes e as doutrinas dos católicos romanos. Foram cruelmente perseguidos e expulsos da França; apesar das perseguições, eles permaneceram firmes, e atualmente constituem uma parte do pequeno grupo de prot-estantes na Itália.

João Wyclif

Nascido em 1324, recusava-se a reconhecer a autoridade do papa e opunha-se a ela. Era contra a doutrina da transubstanciação, consid-erando o pão e o vinho meros símbolos. Traduziu o Novo Testamento para o inglês e seus seguidores foram exterminados por Henrique V.

João Huss

Nascido em 1369, foi um dos leitores de Wyclif, pregou as mesmas doutrinas, e especialmente proclamou a necessidade de se libertarem da autoridade papal. Foi excomungado pelo papa, e então retirou-se para algum esconderijo desconhecido. Ao fim de dois anos, voltou a convite da Igreja para participar de um concílio católico-romana de Constança, sob a proteção de um salvo-conduto. Entretanto, o acordo foi violado sob o pretexto de que "não se deve ser fiel a hereges". As-sim, João Huss foi condenado e queimado.

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A Igreja Renascentista e Moderna Capítulo 3

Jerônimo Sa-vonarola

Nascido em 1452, foi monge dominicano, em Florença. A grande cate-dral enchia-se de multidões ansiosas, não só de ouvi-lo, mas também para obedecer aos seus ensinos. Pregava contra os males sociais, eclesiásticos e políticos de seu tempo. Foi preso, condenado, enforca-do e seu corpo queimado na praça de Florença em 1498.

Fonte: Adaptado de Pioppi (2012).

Segundo Santos (2012), a Reforma Religiosa Protestante foi o movimento que rompeu a unidade do cristianismo centralizado pela Igreja Católica Apostólica de Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e XVI, que enfraqueceram a Igreja, permitindo o surgimento de novas doutrinas religiosas, embora cada qual tenha sua identidade e interesses.

No início do século XVI, a Igreja Católica revelava diversos problemas e vícios, pois estava envolvida em uma grave crise interna e mundana, a burguesia vinha crescendo, o nacionalismo desenvolvia-se nos estados modernos e o Renascimento Cultural despertava a liberdade de crítica na sociedade.

No entender de Lima (2012), durante a Idade Média, a Igreja Católica foi objeto de diversos movimentos que se propunham a reformar suas estruturas, procurando corrigir esses problemas e vícios e voltando a viver de acordo com os ideais do cristianismo dos primeiros séculos, mas isso não foi possível e a crise institucional só se agravou cada vez mais.

A invenção da imprensa veio a ser um aliado da Reforma Religiosa Protestante, que possibilitou a socialização das Escrituras por vários idiomas na Europa. O Novo Testamento tinha sido traduzido por Martinho Lutero durante o período em que permaneceu preso. As pessoas que liam a Bíblia se convenciam de que a Igreja papal estava muito distanciada do ideal do Novo Testamento.

Para Ferraz (2010), uma das forças que conduziram à Reforma foi a Renascença, levando a Europa para novos interesses: literatura, artes, filosofia, racionalismo, ciência, dentre outros. Em outras palavras, tivemos uma mudança de paradigmas e métodos conceituais significativos que mudaram os rumos do pensamento europeu, do teocentrismo para o antropocentrismo.

Segundo Ferraz (2010), existiam ainda outras causas e fatos que originaram a Reforma Religiosa, os primeiros questionamentos são referentes a:

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

• As Indulgências (documentos assinados pelo papa, que absolviam o comprador de alguns pecados cometidos, diminuindo o tempo de sua pena no purgatório, era um comércio em vista da salvação).

• A Simonia, comercialização de coisas sagradas (cargos eclesiásticos, cobrança por sacramentos, objetos).

• O celibato, culto às imagens, excesso de sacramentos, atitude mundana do alto clero, dentre outras.

• A Igreja era excessivamente rica e estava demasiado ligada ao poder político.

• Existia corrupção e imoralidade entre alguns membros da igreja. • O ideal de pobreza evangélico não era cumprido por muitos religiosos,

que viviam no luxo e na ostentação.• Os papas e bispos eram escolhidos entre as famílias mais ricas e não

entre os religiosos mais honestos e competentes.• Existia o alto clero (papas, cardeais, arcebispos, bispos e abades),

cujos representantes vinham quase que só da nobreza, e o baixo clero (padres paroquiais), integrado por indivíduos das camadas inferiores da sociedade.

• Muitos padres não respeitavam o celibato sacerdotal, viviam como casados.

• Muitos religiosos tinham uma reduzida formação cultural e intelectual, assumiam o sacerdócio sem nenhuma preparação prévia.

• O espírito crítico do Renascimento levantou dúvidas sobre certas ideias da igreja.

• Alguns membros da Igreja ocupavam vários cargos eclesiásticos simultaneamente.

Figura 13 – Lutero protestando - afixando as suas 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg

Fonte: Disponível em: </www.google.com.br/search?biw=1088&bih=510&tbm=isch&sa=1&q=reforma+religiosa>.

Acesso em: 29 nov. 2017.

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A Igreja Renascentista e Moderna Capítulo 3

Segundo Ferraz (2010), a data exata apontada pelos historiadores como início da Reforma Religiosa foi registrada como 31 de outubro de 1517. Na manhã desse dia, Martinho Lutero teria afixado na porta da Catedral de Wittenberg um pergaminho que continha as “noventa e cinco teses”, em que apresentava seu protesto contra vários pontos da doutrina católica, propondo uma Reforma na Igreja Católica. Evidentemente que teve um preço:

Lutero foi excomungado por uma bula do Papa Leão X, no mês de junho de 1520. Pediram então ao eleitor Frederico da Saxônia que entregasse preso Lutero, a fim de ser julgado e castigado. Entretanto, em vez de entregar Lutero, Frederico deu-lhe ampla proteção, pois simpatizava com suas ideias. Martinho Lutero recebeu a excomunhão como um desafio, classificando-a de "bula execrável do anticristo". No dia 10 de dezembro, Lutero queimou a bula, em reunião pública, à porta de Wittenberg, diante de uma assembleia de professores, estudantes e do povo. Juntamente com a bula, Lutero queimou também cópias dos cânones ou leis estabelecidas por autoridades romanas. Esse ato constituiu a renúncia definitiva de Lutero à Igreja Católica Romana (FERRAZ, 2010, p. 27).

A maior divulgação da Bíblia e de outras obras religiosas contribuiu para a formação de uma vontade mais pessoal da população em conhecer Deus e atender a Sua vontade, sem a intermediação dos padres e da Igreja, o que levou, por sua vez, a uma interpretação pessoal da Bíblia. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como as Cinco Solas:

Quadro 7 – As Cinco Solas

Sola = Somente Característica

Sola Fide(somente a fé)

Os reformistas afirmavam que é somente através da fé que alcançamos a salvação, as obras são apenas a expressão da crença.

Sola Scriptura(somente a Escritura)

Para os reformistas, a Sagrada Escritura era única fonte de revelação, sendo ela o fundamento da doutrina cristã.

Solus Christus(somente Cristo)

Para os reformistas existe apenas um mediador, que é Jesus Cristo, não havendo outra mediação entre Deus e a humanidade (santos, Virgem Maria, sacramentos).

Sola Gratia(somente a Graça)

Os reformistas compreendiam a salvação como um dom da graça de Deus, e não fruto do mérito humano.

Soli Deo Gloria(glória somente a Deus)

No entender dos reformistas, toda glória e louvor deveriam ser dados somente a Deus, que é fonte de toda graça e salvação, e não às pessoas humanas.

Fonte: Natel (2016, p. 131).

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Atividade de Estudos:

1) Inserida no contexto histórico do Renascimento, a Reforma Protestante pode ser compreendida, segundo Monteiro (2007), a partir de três matrizes analíticas diferenciadas. Neste sentido, leia o trecho do artigo: “As Reformas Religiosas na Europa Moderna”, que se encontra a seguir, e posteriormente elabore um mapa conceitual no qual você possa ressaltar as três compreensões históricas que o texto apresenta sobre a Reforma Protestante.

“Com efeito, o tema das Reformas Religiosas pertinente ao início da Época Moderna possui implicações que ultrapassam as mudanças institucionais eclesiásticas no século XVI, relacionando-se também a aspectos culturais, econômicos e de poder vividos na Europa. A historiografia nem sempre foi atenta a esses desdobramentos e relações, e pode-se afirmar que uma transformação significativa na análise das questões religiosas referentes ao século XVI começou a ocorrer a partir da década de trinta do século XX, com os trabalhos de Delio Cantimori, Lucien Febvre e Hubert Jedin, até os anos cinquenta [...].

Delio Cantimori [...] conclui que o protestantismo, em seu advento, representou o próprio fracasso do ideal humanista, da autoconfiança exacerbada no potencial do homem, otimismo excessivo em sua transformação através do livre-arbítrio. Dessa forma, o servo-arbítrio de Lutero seria não apenas o antídoto contra o livre-arbítrio – princípio essencial à teologia católica –, mas a confirmação da onipotência divina em oposição ao programa educacional encetado pelos homens do Renascimento [...].

Lucien Febvre não se particularizava por realizar uma história confessional, [...] propunha uma história da espiritualidade mais abrangente que as questões institucionais e teológicas vividas no século XVI, na Europa ocidental. No célebre estudo sobre os “problemas de conjunto”, este historiador interroga-se sobre as origens da Reforma na França. Febvre refere-se ao problema dos historiadores franceses que, absorvidos pelas questões da “especificidade”, da “prioridade” e da “nacionalidade”, buscavam uma origem para a Reforma francesa. [...] indica que o suposto primeiro reformador francês não criticava os abusos da Igreja, e que o problema do surgimento da reforma deveria levar em conta a intensa religiosidade vivida na Europa – inclusive na França – ao

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final do século XV e no início do século XVI: fidelidade às velhas crenças, devoção tradicional, a fé concretizada nos “testemunhos de pedra” do gótico tardio e no sucesso de obras surgidas no século XV, como a Imitação de Cristo. Se a realidade devocional era forte, entre ela e o clero existia um abismo marcado pela insensibilidade. Deste modo, o historiador francês justifica o sucesso da reforma – na França e alhures – mediante dois fatores: pelo surgimento da Bíblia em língua vulgar, e pela questão da justificativa da salvação pela fé. Em conclusivo, defende que a reforma deve ser relacionada a uma crise moral e religiosa de muita gravidade que assolou a Europa naquele tempo.

[Por fim] Coube a Hubert Jedin, jesuíta alemão que conseguiu o acesso aos documentos do Concílio de Trento, a criação do conceito de Reforma Católica, diferente de Contrarreforma. Em sua história sobre o Concílio de Trento, Jedin renova os estudos da estrutura organizacional da Igreja no século XVI, contemplando também o período da pré-reforma, o que possibilita pensar as mudanças vividas no papado durante os Quinhentos. O autor alemão enfatiza as linhas de força do concílio, caracterizadas pelo reforço das escrituras e da tradição, seguindo passo a passo a marcha do evento” (MONTEIRO, 2007, p. 132-137).

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A Reforma LuteranaSegundo Lima (2012), a Reforma Religiosa Luterana foi proposta por Martinho

Lutero (1483-1546), que nasceu em Eisleben, na Saxônia, no dia 10 de novembro de 1483. Lutero era filho de um empreiteiro de minas que atingiu certa prosperidade econômica. Influenciado pelo pai, ingressou em 1501 na Universidade de Erfurt, para estudar Direito, mas seu perfil era para a vida religiosa.

Em 1505, após quase ter morrido em uma violenta tempestade, ingressou na Ordem dos Monges Agostinianos. Estudioso, metódico e aplicado, Lutero conquistou prestígio intelectual, tornou-se professor da Universidade de Wittenberg em 1508. Esteve em Roma, onde conviveu com o alto clero e lá se decepcionou. Aprofundou seus estudos teológicos a ponto de fundamentar uma nova doutrina religiosa.

Sua inquietação com a corrupção da Igreja da época persistiu, até que conseguiu formular para o seu drama interior uma teoria da salvação da alma com base nas epístolas de São Paulo, nas quais encontrou o que procurava em afirmações como esta: "Nós sustentamos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei".

Figura 14 – Martinho Lutero – A Justificação pela fé

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?biw=1088&bih=470&tbm=isch&sa=1&q=Lutero>. Acesso em: 30 nov. 2017.

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Concluiu Lutero que o homem, corrompido em razão do pecado original, só poderia salvar-se pela fé incondicional em Deus, "o justo se salvará pela fé". Somente a fé seria capaz de justificar os pecados e de conduzir à salvação, graças à misericórdia divina.

Dando-se a salvação pela fé e não sendo possível alguém ter fé em lugar de outrem, a salvação convertia-se numa questão particular, que dizia respeito apenas a cada um. Assim, não havia necessidade de padres ou santos, dispensando todos os intermediários entre Deus e os fiéis e, por isso, foi tida como uma heresia pela Igreja Católica, como um pecado contra os dogmas da Igreja (LIMA, 2012).

Concluiu Lutero que o homem, corrompido em

razão do pecado original, só poderia salvar-se pela fé incondicional em

Deus

Quadro 8 – A doutrina luterana

A DOUTRINA LUTERANA

Igreja

Proclamava a criação de igrejas nacionais autônomas. O trabalho reli-gioso poderia ser feito por pessoas não obrigadas ao celibato sacerdo-tal. Lutero aceitava a dependência da Igreja ao Estado. O idioma das cerimônias religiosas deveria ser aquele de cada nação e não o latim, que era o idioma oficial das cerimônias católicas.

Rito religioso A cerimônia religiosa deveria obedecer a ritos mais simples, reduzindo a pompa existente nos cultos católicos. Santos e imagens foram abolidos.

Livro Sagrado

A Bíblia era o livro sagrado do luteranismo, representando a única fon-te da fé. Sua leitura e interpretação deveriam ser feitas por todos os cristãos. Lutero, em 1534, traduziu para o alemão um original grego da Bíblia.

Salvação hu-mana O homem salva-se pela fé em Deus e não pelas obras que pratica.

Sacramentos Preservaram-se como sacramentos básicos o batismo e a eucaristia.

Fonte: Disponível em: <http://boanova.tripod.com/reforma.htm>. Acesso em: 2 out. 2017.

As ideias de Lutero estariam de acordo com os preceitos do cristianismo primitivo, o que agradou a muitos nobres do Sacro-Império que, devido às disputas com o imperador, passaram a confiscar terras da Igreja. Lutero defendia que o homem estaria sempre condenado em virtude da gravidade que representou o pecado original, porém, apesar de saber que estava condenado, o fiel poderia manter a sua fé e com isso salvar a própria alma.

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A Reforma CalvinistaInfluenciado pelas ideias de Lutero, o francês João Calvino passou

a divulgar uma nova doutrina religiosa em Genebra, na Suíça. Segundo ele, todos os homens estavam sujeitos à vontade de Deus, sendo apenas alguns os predestinados à salvação (teoria da predestinação de Santo Agostinho).

O sinal da graça divina estaria em uma vida cheia de virtudes, dentre as quais, o trabalho diligente, a sobriedade e a parcimônia em relação aos bens materiais. A Bíblia era a base da doutrina, não sendo necessário um clero regular para interpretá-la. Na opinião de Calvino, quanto mais sucesso a pessoa possuía nos negócios, mais próximo da graça de Deus.

• Na França, os calvinistas eram chamados de Huguenotes (calvinistas confederados).

• Na Inglaterra, eram denominados de Puritanos (protestantes calvinistas radicais que buscavam a essência das escrituras, defensores da pureza do indivíduo, da Igreja e dos valores da burguesia).

• Na Escócia, eram os Presbiterianos, termo que advém da palavra grega presbyteros, que significa ancião, utilizada na entrada das igrejas protestantes calvinistas da Escócia após a difusão das novas ideias religiosas por John Knox, antigo aluno de Calvino.

O sinal da graça divina estaria em uma vida cheia de virtudes. Uma ética religiosa bem recebida pela burguesia da época, bastante aproximada da ética do capitalismo emergente, buscando inclusive desenvolver esta ética cristã, primando pela honestidade nos negócios.

Influenciado pelas ideias de Lutero, o francês João

Calvino passou a divulgar uma nova

doutrina religiosa em Genebra, na Suíça. Segundo ele, todos os homens estavam sujeitos à vontade de Deus, sendo

apenas alguns os predestinados à

salvação (teoria da predestinação de Santo Agostinho).

A Reforma AnglicanaO advento do anglicanismo relaciona-se aos interesses políticos e

econômicos do Rei Henrique VIII, governante inglês do século XVI. Em 1534, o rei fundou uma nova Igreja Cristã, submetida a sua própria autoridade, rompendo os laços com o papado romano.

Ao ser excomungado, o rei confiscou os bens da Igreja Católica do reino, enriquecendo os cofres do Estado absolutista inglês, obtendo assim grande vantagem financeira, demonstrando que o interesse não era só a separação e um novo casamento, mas enriquecer às custas da Igreja Católica.

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As justificativas para o rompimento com a Igreja Católica estão vinculadas ao desejo de anulação, por parte do rei, do casamento com Catarina de Aragão e a realização de uma nova união com sua amante, Ana Bolena, prática essa proibida pelo catolicismo, bem como aos interesses financeiros ao se expropriar os bens da Igreja Católica no reino.

Há outros motivos também, a Igreja Católica exercia grande influência política dentro da Inglaterra, pois era dona de grande parte das terras e monopolizava o comércio de objetos sagrados. Havia o interesse de fortalecer o poder da monarquia inglesa, assim o rei Henrique VIII teria que reduzir a influência do papa dentro da Inglaterra. A nobreza capitalista inglesa tinha grande interesse econômico em apossar-se das terras da Igreja. Para que isso acontecesse era preciso unir-se em torno do rei, a fim de que os poderes da Igreja Católica se enfraquecessem.

O anglicanismo se assemelha ao catolicismo, porque mantém imagens em seus cultos, bem como um clero regular e secular submetido à autoridade do rei inglês, maior autoridade da nova religião. Aproxima-se, porém, da doutrina calvinista da predestinação, servindo aos interesses do rei absolutista, mas também às expectativas da ascendente burguesia inglesa (SANTOS, 2012).

As justificativas para o rompimento com a Igreja Católica

estão vinculadas ao desejo de anulação,

por parte do rei, do casamento com Catarina de Aragão e a realização de uma nova união com sua amante,

Ana Bolena, prática essa proibida pelo catolicismo, bem

como aos interesses financeiros ao se

expropriar os bens da Igreja Católica no

reino.

O avanço do Protestantismo levou a Igreja Romana a se

reorganizar política e pastoralmente

para reagir à expansão da

doutrina protestante pela Europa.

A ContrarreformaSegundo Ferraz (2010), após haver-se iniciado o movimento da

Reforma Religiosa, um poderoso esforço também foi iniciado pela Igreja Católica Apostólica Romana para recuperar o terreno perdido. O avanço do Protestantismo levou a Igreja Romana a se reorganizar política e pastoralmente para reagir à expansão da doutrina protestante pela Europa.

Para Santos (2012), a Igreja Católica precisava se autorreformar ou não sobreviveria, pois precisava, ainda, evitar que outras regiões da Europa virassem protestantes. Esse movimento de reforma interna já existia em outras épocas, inclusive desde a Idade Média, mas é nesse momento na Idade Moderna que ele é aprofundado e concretizado.

Resumidamente, podemos afirmar que a Contrarreforma é um movimento de reação da Igreja Católica contra a Reforma Protestante, recorrendo, por vezes, a ações de força e violência. Esse movimento foi denominado de Reforma Católica, mas também é conhecido popularmente como Contrarreforma. Os principais instrumentos de ação da Contrarreforma foram (SANTOS, 2012):

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

• Concílio de Trento – tentativa de reformar a Igreja internamente.• O Index (Índice) – encarregado da censura de obras impressas, lista de

livros cuja leitura era proibida aos fiéis, pois que iam contra a fé e a moral.• Inquisição (Tribunal do Santo Ofício da Igreja) – encarregado de

combater a reforma e julgar as heresias.• Companhia de Jesus – As Missões Jesuíticas.• As perseguições – pressão sobre as pessoas.

A Guerra dos Trinta AnosFerraz (2010) apresenta que como resultado dos interesses e propósitos

contrários dos Estados da Reforma e dos católicos na Alemanha, iniciou-se então a chamada “Guerra dos Trinta Anos”, no ano de 1618, quase um século depois da Reforma Religiosa.

Esse conflito envolveu quase todas as nações da Europa, onde várias rivalidades políticas e religiosas estavam presentes, dentre elas, os Estados que professavam a mesma fé, apoiavam partidos políticos contrários, um desentendimento generalizado (FERRAZ, 2010).

Para Moita (2012), a Guerra dos 30 Anos, que devastou a Europa central entre 1618 e 1648, foi um conflito de grande envergadura e de natureza compósita. Foi simultaneamente uma guerra religiosa, um confronto entre as potências da época, um choque entre interesses dinásticos e uma rebelião dos príncipes alemães contra o imperador do Sacro Império Romano-Germânico.

Figura 15 – Conflito generalizado – Tentativa de ambas as religiões de expandir suas doutrinas religiosas sob outros Estados

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?biw=1088&bih=470&tbm=isch&sa=1&q=a+guerra+dos+trinta+anos>.

Acesso em: 30 nov. 2017.

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Contexto Histórico da Guerra dos Trinta anos

• Em 1517, Lutero afixa na Catedral de Wittenberg as suas 95 teses, ato simbólico que assinala a origem da Reforma Protestante.

• Calvino proclama uma doutrina próxima à de Lutero, com variantes próprias, e o calvinismo espalha-se a partir de Genebra pelo norte da França.

• O caso da Dieta de Worms de 1521, que assinala a condenação de Lutero.

• O caso do Édito de Nantes, de Henrique IV de França, que punha fim ao massacre dos Huguenotes, em 1598.

• Intervenção francesa, aliada à Suécia para afrontar a hegemonia do Império Romano-Germânico e da Espanha, a fim de conquistar a posição de primeira potência europeia.

Em síntese, a Guerra dos 30 Anos significou um afrontamento entre as principais potências europeias do século XVII, no quadro de numerosas convulsões e afrontamentos que entre elas tiveram lugar nesse período da transição do século XVI para o XVII. A Guerra dos 30 Anos não foi apenas uma guerra de religião, foi também um confronto entre as potências da época, que tinham interesses políticos, econômicos e territoriais.

A guerra só terminou em 1648 com a assinatura do tratado de paz de Westfália, que fixou os limites dos estados católicos e protestantes, que permanecem até os dias atuais, e mesmo assim, em algumas regiões da Europa, nos dias de hoje alguns conflitos ainda são presentes, como na Irlanda do Norte, por exemplo (MOITA, 2012).

O Concílio de TrentoO Concílio de Trento ocorreu na cidade de Trento, situada no Norte da

Itália. Durou 18 anos (1545 a 1563), pois foi realizado em três momentos, dado o falecimento de dois dos três papas que o presidiram. Esses dois papas tiveram que ser substituídos por meio de um Conclave, que é considerado um dos concílios mais importantes da história da Igreja.

Segundo Ferraz (2010), tentou-se inicialmente fazer a Contrarreforma dentro da própria Igreja por via do Concílio de Trento, convocado no ano de 1545 pelo Papa Paulo III, principalmente com o objetivo de investigar os motivos e

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pôr fim aos abusos que deram causa à reforma. Esperavam que a separação entre católicos e protestantes teria um fim, e que a Igreja ficaria outra vez unida, entretanto isso não ocorreu.

Em linhas gerais, Conclave é a eleição do papa. Do latim cum clavis (fechado à chave). Os cardeais eleitores e elegíveis ficam reunidos, a portas fechadas, isolados durante todo o período de eleição, sem contato com o exterior, para evitar influências exteriores a sua decisão para escolher o próximo papa.

A nova missa estandardizada tornou-se conhecida como a "Missa Tridentina", com base no nome da cidade de Trento, onde o concílio teve lugar. Regula também as obrigações dos bispos e confirma a presença de Cristo na Eucaristia. São criados seminários como centros de formação sacerdotal e reconhece-se a superioridade do papa sobre a assembleia conciliar.

Quadro 9 - Algumas informações sobre o Concílio de Trento – O Concílio da Reforma

Data: 13/12/1545 a 04/12/1563

Realizado em três períodos:

Papa Paulo III (1534-1549)

Papa Júlio III (1550-1555)

Papa Pio IV (1559-1565)

- Contra a Reforma de Lutero.

- Doutrina sobre a escritura e a tradição: reafir-mação do Cânon das Sagradas Escrituras e de-clarou a Vulgata isenta de erros teológicos.

- Doutrina do pecado original, justificação, os sac-ramentos e a missa, a veneração e invocação dos santos, eucaristia, purgatório, indulgências etc.

Fonte: O autor.

Este concílio instituiu reformulações, mudanças e reafirmações, emitindo vários decretos disciplinares, especificou claramente as doutrinas católicas quanto à salvação, os sacramentos e o cânone bíblico, em oposição aos protestantes, e estandardizou a missa através da Igreja Católica, abolindo largamente as variações locais.

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Fonte: O autor.

Quadro 10 – O Concílio de Trento em dois grupos

Decisões doutrinárias

• Reafirmou-se a autoridade do papa.

• Manteve os sete sacramentos.

• Reforçou o culto dos santos e da Virgem.

• Conservou o papel das boas obras na salvação.

• Opôs-se à comunhão em duas espécies (pão e vinho) e afirmou a presença real de Cristo na Eucaristia.

Decisões disci-plinares

• Obrigação de os padres e de os bispos residirem nas suas paróquias e dioceses, respectivamente.

• Proibição de acumular benefícios.

• Proibição de ordenação sacerdotal antes dos 25 anos.

• Obrigatoriedade do celibato eclesiástico.

• Criação de seminários em todas as dioceses.

É instituído o índice de livros proibidos Index Librorum Prohibitorum e reorganizada a Inquisição e o Tribunal do Santo Ofício, cujas penas poderiam ser de penitência, de confisco de bens, de excomunhão ou mesmo de morte. No processo judicial podia recorrer-se à tortura (CAIRNS, 1984).

Quadro 11 – Decretos de reforma estabelecidos no Concílio de Trento

Decreto de refor-ma I

“As imagens de Cristo e da Virgem Maria, Mãe de Deus, e dos santos, devem ser guardadas nas igrejas, onde se lhes devem prestar a devida honra e veneração; não por crer que haja nelas “divindades” ou “virtude alguma”, a quem queremos adorar ou pedir favores imitando os antigos gentios, que punham toda a sua confiança em seus ídolos, mas porque as honras que lhes prestamos as referimos aos protótipos que elas representam, de sorte que, quando beijamos uma imagem, ou nos descobrimos ou prostramo-nos diante dela, adoramos Jesus Cristo e venera-mos os santos por elas representadas”.

Decreto de refor-ma II

“Quando Deus toca o coração do homem pela iluminação do Espírito Santo, o homem não é insensível a tal inspiração, que pode também rejeitar; e, no entanto, ele não pode tampouco, sem a graça divina, chegar, pela vontade livre, à justiça diante dele”. “Tendo recebido de Cristo o poder de conferir indulgências, já nos tempos antiquíssimos usou a Igreja deste poder, que divinamente lhe fora doado…”.

Decreto de refor-ma III

“Se alguém disser que a todo pecador penitente, que recebeu a graça da justificação, é de tal modo perdoada a ofensa e desfeita e abolida a obrigação à pena eterna, que não lhe fica obrigação alguma de pena temporal a pagar, seja neste mundo ou no outro, purgatório, antes que lhe possam ser abertas as portas para o reino dos céus - seja excomungado”.

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Decreto de refor-ma IV

“A Igreja ensina e ordena que o uso das indulgências, particular-mente salutar ao povo cristão e aprovado pela autoridade dos santos concílios, seja conservado na Igreja, e fere com o anátema aos que afirmam serem inúteis as indulgências e negam à Igreja o poder de as conceder” (decreto sobre as indulgências).

Decreto de refor-ma V

“Fiéis à doutrina das Sagradas Escrituras, às tradições apostólicas, e ao sentimento unânime dos padres, professamos que os sacra-mentos da nova lei foram todos instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Decreto de refor-ma VI

“No santíssimo sacramento da Eucaristia estão contidos verdadeira-mente, realmente e substancialmente, o corpo e o sangue juntam-ente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo”.

Fonte: Adaptado de Alberigo (1997).

Figura 16 – O Concílio de Trento: uma das ações da Contrarreforma

Fonte: Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/images/concilio-trento-sesion-21.jpg>. Acesso em: 30 nov. 2017.

O avanço do protestantismo e o cenário social, político, econômico e cultural da sociedade europeia do século XVI levaram a Igreja Católica Apostólica Romana a se reorganizar politicamente e pastoralmente, e uma das ações foi a convocação do Concílio de Trento, que ficou conhecido como o Concílio da Reforma.

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A Igreja Renascentista e Moderna Capítulo 3

IGREJA ORTODOXA DA RÚSSIA

Entre os muitos acontecimentos que se desenrolaram sob o pontificado de Gregório XVI, merece particular menção o que se refere à chamada Igreja Russa Ortodoxa. Ortodoxo é aquele que pensa com retidão. Pois bem, a Igreja Católica que conserva e pratica o santo Evangelho, tal como o ensinava Jesus Cristo, é a única que pensa e sente retamente; logo, ela só se deve chamar ortodoxa. Heterodoxo quer dizer, ao contrário, o que pensa ou sente diversamente; por isso a Igreja russa, cismática e herética, deve chamar-se heterodoxa, porque pensa e crê diversamente do reto e verdadeiro.

Para fazermos uma ideia precisa sobre a origem da Igreja russa, devemos recordar que pouco depois da celebração do Concílio Ecumênico de Florença, no ano 1439, e precisamente em princípio do século décimo sexto, começou o cisma russo, sob o imperador Basílio III. Este, procedendo com completa independência da Santa Sé, elegeu um patriarca na cidade de Moscou, e decretou que unicamente a este patriarca deviam obedecer todas as outras igrejas de seu império. Mais de uma vez trabalharam os papas para restituir este reino vastíssimo ao rebanho de Jesus Cristo, porém sempre durou pouco a conciliação. Finalmente, o imperador Pedro, o Grande, vendo que as desordens políticas diariamente cresciam pela falta de um chefe supremo nos assuntos religiosos, depois de ter trabalhado inutilmente para induzir ao patriarca e aos bispos a que se submetessem ao pontífice romano, deliberou acrescentar à Coroa Imperial o poder de soberania suprema, fazendo-se, desta maneira, ele mesmo, papa e juiz em todos os assuntos religiosos. Por isso, no ano 1720, transladou a capital do império para São Petersburgo, e a erigiu como centro da autoridade civil e religiosa, e estabeleceu uma liturgia sob o nome de Estatuto Eclesiástico, onde se acham contidos os mesmos erros de Fócio.

Estabelece como base de seu estatuto uma inteira liberdade de

consciência. São admitidas neste império todas as seitas cristãs, o maometismo e até a própria idolatria. E com o fim de retrair cada vez mais seus súditos da obediência ao Pontífice romano, ordenou que não se desse cargo político ou religioso a pessoa alguma que não pronunciasse este juramento: “Confesso e confirmo sob juramento,

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que o juiz supremo da autoridade religiosa é nosso monarca, senhor absoluto de todas as Rússias”. Os soberanos da Rússia, chamados autocratas ou senhores absolutos, deixaram por algum tempo aos católicos a liberdade de praticar sua religião, porém, paulatinamente pretenderam mandar sobre as consciências, de tal sorte que no pontificado de Gregório XVI, chegaram a uma perseguição aberta.

Fonte: BOSCO, João. Compêndio de História Eclesiástica. Turim: Congregação de São Francisco de Sales, 1872.

A Companhia de Jesus e as Missões na América Latina

A Ordem dos Jesuítas, fundada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola, era uma ordem monástica caracterizada pela severa disciplina, intensa lealdade à Igreja e à Ordem, profunda devoção religiosa e dedicada em arrebanhar fiéis. Seu principal objetivo era combater o movimento protestante, tanto com métodos conhecidos como outros sigilosos.

Segundo Ferraz (2010), a Ordem dos Jesuítas tornou-se tão poderosa que teve oposição até mesmo nos países católicos; foi suprimida em quase todos os países da Europa, e por decreto do Papa Clemente XIV, no ano de 1773, a Ordem dos Jesuítas foi proibida de funcionar dentro da Igreja.

Apesar desse fato, a Ordem Jesuítica continuou a funcionar, secretamente, durante algum tempo, mais tarde abertamente, e foi reconhecida pelo papa em 1814. Hoje é uma das forças mais ativas para divulgar e fortalecer a Igreja Católica Romana em todo o mundo.

Segundo Custodio (2009), os jesuítas tiveram importante papel na relação com os povos nativos e na consolidação dos novos territórios, nos contextos coloniais os jesuítas promoveram a construção de inúmeros colégios, igrejas e povoados, por meio de missões e nas reduções que foram utilizadas na chamada Conquista Espiritual.

Os jesuítas desenvolveram sua ação missionária na América, com diferentes grupos nativos e em diferentes regiões, desde o Norte do México até o Sul do Chile, a partir do Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494, onde foram estabelecidos

A Ordem dos Jesuítas, fundada

em 1534 pelo espanhol Inácio de

Loyola, era uma ordem monástica caracterizada pela severa disciplina, intensa lealdade

à Igreja e à Ordem, profunda devoção religiosa

e dedicada em arrebanhar fiéis. Seu

principal objetivo era combater o movimento

protestante, tanto com métodos

conhecidos como outros sigilosos.

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os limites e parâmetros de navegação e de possessões das nações ibéricas. A Província Jesuítica do Brasil foi fundada em 1553, e em 1604 foi constituída a Província Jesuítica do Paraguai, independente das províncias do Brasil.

Custodio (2009) destaca que durante mais de 150 anos os missionários jesuítas conviveram com os guaranis, em diferentes regiões. O espaço missioneiro se constituiu assimilando a experiência dos padres jesuítas, com diferentes formações culturais e nacionalidades, seja com o conhecimento da natureza, com os costumes e/ou com o modo de ser do guarani, num processo que moldou as características próprias.

Figura 17 – As missões jesuíticas no Brasil: a catequização dos índios e dos escravos

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?biw=1088&bih=470&tbm=isch&sa=1&q=jesuitas>. Acesso em: 30 nov. 2017.

As PerseguiçõesPara Ferraz (2010), as perseguições foram outra arma poderosa usada para

impedir a reforma que vinha crescendo rapidamente. Na verdade, desde o século XIV já havia perseguições específicas para aqueles que defendiam uma reforma religiosa. John Wycliffer foi um exemplo na Inglaterra, que defendia ideias próprias contra as normas da Igreja Católica, ele não aceitava vários dogmas estabelecidos pela Igreja Católica e buscava uma vida de acordo com o cristianismo original dos primeiros séculos.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Seus ideais foram se espalhando e inúmeros católicos começaram a aderir ao movimento protestante, a criticar as regras da Igreja, dentre eles estão o monge Girolamo Savarola, que foi torturado e enforcado por ordem do Papa Júlio II; o jurista Thomas Morus, Erasmo de Roterdã, dentre outros que clamavam por uma reforma na religião da época. Inúmeras pessoas, em especial as mulheres, foram queimadas em praças públicas, tidas como bruxas pelo Tribunal da Santa Inquisição.

Inúmeras pessoas, em especial as mulheres, foram queimadas em

praças públicas, tidas como bruxas pelo Tribunal da

Santa Inquisição.

Também tivemos a chamada Inquisição

Protestante, que promoveu atitudes e ações semelhantes

às da Igreja Católica, às vezes em menor, igual ou

maior nível, inclusive com os mesmos

objetivos.

Figura 18 – Santa Joana d’Arc vítima de um tribunal civil borguinhão

Fonte: Disponível em: <http://www.amen-etm.org/Inquisicao.htm>. Acesso em: 30 nov. 2017.

Na Espanha estabeleceu-se a inquisição, por meio da qual inumerável multidão sofreu torturas e muitas pessoas foram queimadas vivas, especialmente as mulheres, que eram tidas como bruxas. Nos Países-Baixos, o governo espanhol determinou matar todos aqueles que fossem suspeitos de heresias.

Também tivemos a chamada Inquisição Protestante, que promoveu atitudes e ações semelhantes às da Igreja Católica, às vezes em menor, igual ou maior nível, inclusive com os mesmos objetivos.

Na França, o espírito de perseguição alcançou o clímax, na matança da chamada Noite de São Bartolomeu, 24 de agosto de 1572, e que se prolongou por várias semanas. Com essas ações, a Igreja Católica buscou intimidar a população da época a não aderir ao protestantismo, tendo essas pessoas sido sacrificadas como referências daquilo que era ruim e negativo.

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A Igreja Renascentista e Moderna Capítulo 3

As Missões CatólicasFerraz (2010) nos apresenta que os esforços missionários da Igreja

Católica Romana devem ser reconhecidos, também, como uma das forças da Contrarreforma. Esses esforços eram dirigidos em sua maioria pelos jesuítas, e tiveram como resultado a conversão das raças nativas da América do Sul, do México e de grande parte do Canadá.

Na Índia e países circunvizinhos estabeleceram-se missões por intermédio de Francisco Xavier, um dos fundadores da sociedade dos jesuítas. Já nos países pagãos, as missões iniciaram-se um século antes das missões protestantes e conquistaram grande número de membros para a Igreja Católica.

As missões de São Francisco de Sales conseguiram o regresso ao catolicismo de grande parte da suíça francesa. São Vicente de Paulo também promoveu missões de alcance popular, às quais se dedicaram os lazaristas, oriundos do Seminário de São Lázaro.

Já São João Batista de La Salle funda uma ordem religiosa voltada para o ensino, e a ordem dos Cistercienses foi reformada pelo Abade Rancé, dando origem à Ordem Trapista, ambas também têm grande relevância neste processo missionário e evangelizador, como ações da Contrarreforma.

As Missões Protestantes e a Implantação do Protestantismo no Brasil

O protestantismo tem como fonte de sua fé a Bíblia e defende a livre interpretação da mesma, pois para Lutero só há revelação pelas escrituras. Assim sendo, acabou com imagens dos santos, com celibato, com o latim das celebrações, desconsidera o magistério, só aceita os sacramentos que aparecem na Bíblia, que são o Batismo e a Eucaristia.

A partir dessas teses, surge o chamado Protestantismo Histórico, e além dos luteranos, temos outras igrejas fazendo parte: Calvinista, Anglicana, Presbiteriana, Batista e a Metodista. Todas essas buscaram promover suas missões e evangelizações de acordo com seus ideais, carismas e princípios.

O protestantismo tem como fonte

de sua fé a Bíblia e defende a livre

interpretação da mesma, pois

para Lutero só há revelação pelas

escrituras.

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LuteranismoA Igreja Luterana foi fundada pelo alemão Martinho Lutero, que viveu de 1483

a 1546 e foi o responsável pela Reforma Protestante. Segundo Cairns (1984):

• Os luteranos acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus e que ele é igual ao Pai em todos os sentidos; que ele ressuscitou corporalmente dentre os mortos; que ele é o único caminho que nos conduz aos céus; que ele virá pela segunda vez no fim do mundo para julgar os vivos e os mortos.

• Os luteranos ensinam que a fé é a aceitação de Jesus Cristo, por parte do pecador arrependido, como seu real e único Salvador, e a completa confiança na obra de Cristo para o perdão dos pecados e a Salvação; que aquele que permanece nesta fé até o fim será eternamente salvo; que sem a fé, a Salvação é impossível.

• Para os luteranos, o arrependimento, no sentido bíblico do termo, é o reconhecimento do pecado; que a todo pecador verdadeiramente arrependido é assegurado o perdão gratuito e completo de Deus.

AnglicanismoVertente do cristianismo, o anglicanismo surgiu em 1534 na

Inglaterra, durante o reinado de Henrique VIII, onde o Estado tinha o controle sobre os cargos religiosos, nomeando padres, bispos e cardeais. Nesse período, as relações entre Henrique VIII e a Igreja chegavam ao seu fim – quando o Papa Clemente VII se negou a anular seu casamento com Catarina de Aragão.

No que se refere as suas doutrinas, crenças e dogmas, o anglicanismo também incorporou alguns princípios e semelhanças ao catolicismo, como a fé na Bíblia, os sacramentos do Batismo e da Eucaristia. Entretanto, as imagens e a autoridade papal não são aceitas (CAIRNS, 1984).

No que se refere as suas doutrinas, crenças e dogmas,

o anglicanismo também incorporou alguns princípios

e semelhanças ao catolicismo, como

a fé na Bíblia, os sacramentos

do Batismo e da Eucaristia. Entretanto, as imagens e a

autoridade papal não são aceitas.

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A Igreja Renascentista e Moderna Capítulo 3

CalvinismoA religião calvinista foi fundada por João Calvino (1509–1564), seus adeptos

acreditam que só Deus pode salvar a alma do homem e que os eleitos a serem salvos já teriam sido determinados no céu. A doutrina segue os princípios do protestantismo, que afirma o dogma da predestinação, pela qual o homem está destinado à salvação ou condenação por escolha divina.

O termo calvinismo também se refere às doutrinas e práticas das igrejas reformadas ou presbiterianas. O calvinismo é resultado de uma evolução independente das ideias protestantes que nasceram sob a influência de João Calvino.

O calvinismo defende ideias e princípios morais rígidos, o trabalho e a poupança como duas virtudes a serem valorizadas pelo verdadeiro cristão, valoriza o trabalho e a contenção dos lucros, que atraíram vários representantes da burguesia europeia.

O calvinismo serviu de ponto de partida e inspiração para que o sistema capitalista se desenvolvesse, com ideias como a do trabalho árduo e acúmulo de capitais, que impulsionaram o desenvolvimento dos negócios e empreendimentos, criando novas nações ricas. O sistema calvinista pode se resumir nos chamados Cinco Pontos do Calvinismo, elaborados durante o Sínodo de Dort realizado na Holanda, entre 1618 e 1619, conhecidos pelo acróstico TULIP. Segundo Cairns (1984):

• T de Total Depravity (Depravação Total).• U de Unconditional Election (Eleição Incondicional).• L de Limited Atonement (Expiação Limitada).• I de Irresistible Grace (Graça Irresistível).• P de Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos).

O calvinismo defende ideias e princípios morais rígidos, o trabalho

e a poupança como duas

virtudes a serem valorizadas pelo

verdadeiro cristão, valoriza o trabalho

e a contenção dos lucros, que atraíram vários

representantes da burguesia europeia.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Algumas ConsideraçõesNesta unidade estudamos sobre as origens da Reforma Religiosa e as

consequências, como a Contrarreforma e o Concílio de Trento que ocorreram consequentemente, e para não deixarmos o estudante alheio ao contexto histórico das religiões reformadas, também realizamos um estudo sobre o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo.

Procuramos ainda conhecer e compreender um pouco sobre as missões católicas, promovidas pela Companhia de Jesus na América Latina, sobre as missões protestantes e sobre a implantação do protestantismo no Brasil que ocorreram oficialmente a partir do século XIX.

Em suma, a presente obra procurou promover uma análise crítica da Igreja Cristã Renascentista e Moderna de forma simples, porém objetiva e clara, apresentando um estudo reflexivo e analítico sobre a trajetória da Igreja Cristã neste período histórico.

Este material é de caráter introdutório, não tem o objetivo de esgotar a presente temática, cabendo ao estudante seguir adiante com seus estudos, explorando as referências bibliográficas citadas, bem como buscar outras e também por novos desafios e leituras que levem ao crescimento intelectual.

ReferênciasALBERIGO, G. História dos Concílios Ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1997.

BIHLMEYER, Karl; TUECHLE, Hermann. História da Igreja. V. 2: a Idade Média. São Paulo: Paulinas, 1964.

BOSCO, João. Compêndio de História Eclesiástica. Turim: Congregação de São Francisco de Sales, 1872.

CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova, 1984.

COMBY, J. Para ler a história da Igreja I. Das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 1996.

CUSTODIO, Luiz Antônio Bolcato. Missões Jesuíticas: Arquitetura e Urbanismo. In: Caderno de História. Nº 21, 2009.

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A Igreja Renascentista e Moderna Capítulo 3

FERRAZ, José. História da Igreja: Os grandes períodos da história da Igreja. São Paulo: Adoração, 2010.

FRÖLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1987.

HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida, 1979.

JUPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

LACOSTE, Jean Yves. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Loyola, 2004.

LENZENWEGER, J.; STOCKMEIER, P.; AMON, K. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006.

LIMA, Dawson Campos de. A reforma protestante e a reação católica. Disponível em: <http://www.pibjo.org.br/pibjo/wp-estudos/A%20Reforma%20Protestante%20e%20a%20Rea%C3%A7%C3%A3o%20Cat%C3%B3lica.pdf>. Acesso em: 2 out. 2017.

MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à história da Igreja. Vol. 1. Belo Horizonte: O Lutador, 1997.

MOITA, Luís. Uma releitura crítica do consenso em torno do sistema westfaliano. Janus.net e-journal of International Relations, v. 3, nº 2, 2012.

MONDIN, Battista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. V. 1 e 2. São Paulo: Paulinas, 1980.

MONTEIRO, Rodrigo Bentes. As Reformas Religiosas na Europa Moderna: notas para um debate historiográfico. Revista Varia História. v. 23, nº 37, 2007.

NATEL, A. Teologia da Reforma. Curitiba: InterSaberes, 2016.

ORLANDIS, J. História Breve do Cristianismo. Rei dos Livros, 1993.

PIOPPI, Carlo. História da Igreja. Tema 14. MTA-PPKE: Vaticano, 2012.

POTESTÀ, G. L; VIAN, G. História do Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2013.

ROGIER, L. J; AUBERT, R; KNOWLES, M. D. Nova história da Igreja. V. 1 e 2; Petrópolis: Vozes, 1976.

Page 106: HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

ROMAG, Dagoberto. Compêndio de história da Igreja. V. 2: a Idade Média. Petrópolis: Vozes, 1950.

SANTOS, Juberto. Doutrina Católica. A Igreja na Idade Moderna. 2012. Disponível em: <https://doutrinacatolica.wordpress.com/2012/02/03/a-igreja-na-idade-media-ii-entendendo-o-surgimento-da-cristandade/>. Acesso em: 30 set. 2017.

TARNAS, Richard. A Epopeia do Pensamento Ocidental: para compreender as ideias que moldaram nossa visão de mundo. Tradução de Beatriz Sidou. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: ASTE, 1988.

WILLIANS, Terri. Cronologia da História Eclesiástica. São Paulo: Vida Nova, 1993.

Page 107: HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

CAPÍTULO 4

A Igreja Contemporânea

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

�Estudar os concílios ecumênicos do Vaticano I e II.

�Estudar a renovação das igrejas protestantes e evangélicas.

�Compreender o pluralismo do cristianismo a partir do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.

�Compreender o posicionamento das igrejas cristãs diante dos avanços técnicos científicos.

�Compreender o posicionamento das igrejas cristãs diante do consumismo e do capitalismo.

�Promover uma análise crítica da igreja cristã contemporânea.

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

ContextualizaçãoNeste capítulo pretendemos apresentar um estudo analítico sobre os

concílios ecumênicos do Vaticano I e II, procurando compreender seu contexto e importância, tanto para a história da civilização como para a história da igreja. Pretendemos realizar um estudo reflexivo sobre a importância da renovação da igreja protestante/evangélica para a igreja cristã e para a sociedade de forma geral, apresentando como as rupturas e transições foram positivos para o seu desenvolvimento.

Vamos procurar compreender o cristianismo e a igreja cristã a partir do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, bem como a relevância desses para a sociedade pluralista atual. Também analisaremos criticamente os avanços técnicos científicos presentes na sociedade, procurando verificar sua pertinência para o ambiente ético e cristão que desejamos. Outro desafio, é compreender o posicionamento das igrejas cristãs diante do consumismo e do capitalismo exacerbado, presente em nossa sociedade contemporânea, servindo de ideologia.

Resumidamente, pretendemos de forma rápida, clara e objetiva, promover uma análise crítica da igreja cristã na sociedade contemporânea, apresentando a sua relação interna e externa ao mundo, bem como os problemas e temáticas que interagem com a mesma.

O Concílio Ecumênico Vaticano IO XX Concílio Ecumênico da Igreja Católica foi convocado pelo papa Pio IX,

por meio da bula papal “Aeterni Patris” em 1868, quando foi realizado na Basílica de São Pedro em Roma, de 8 de dezem bro de 1869 a 18 de julho de 1870.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

A bula papal é um documento pontifício que versa sobre temas relativos à fé ou interesses em geral, que é expedido pela Chancelaria Apostólica do Vaticano. Recebe este nome, tendo em vista seu aspecto externo, principalmente devido ao lacre que era utilizado para fechá-lo, o qual tinha o símbolo do sumo pontífice.

Figura 19 – Modelo de bula papal

Fonte: Disponível em: <http://www.a12.com/source/files/originals/bula_papal.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.

Foram convidados a participar do con cílio os não católicos, mas não compareceram. Entretanto, participaram cerca de 730 padres católicos de todo o mundo: dois ter ços eram europeus e, destes, a metade eram italianos e não houve bispo negro. No entanto, foram os bispos fran ceses e alemães que tiveram intervenções mais notáveis e decisivas.

O auge desse concílio foram as discussões para se chegar a definição que o papa tem “infalibilidade na sua autoridade doutrinária”, ou seja, a pessoa do papa não é infalível, mas somente as suas declarações feitas da cátedra de Pedro em questões de fé e de moralidade (PIOPPI, 2012).

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

Infalibilidade papal: de acordo com a doutrina da igreja católica, o papa não é um ser humano perfeito, mas é infalível quando se pronuncia a respeito de temas concernentes à fé, ou seja, quando o bispo de Roma fala ou decide oficialmente como pastor de todos os cristãos, em nome da igreja, supostamente não erra. Nessa condição, possui a infalibilidade para decisões definitivas no campo da fé e da ética, diz a doutrina católica, estabelecendo assim a primazia do papa sobre toda a igreja.

Assim, este concílio teve como principal objetivo, num mundo marcado pela mudança e democratização das instituições, definir a infalibilidade papal. Recaía pressão por dois grupos sobre a igreja, um mais reacionário e outro mais aberto ao novo. Os trabalhos deste concílio estiveram centrados em torno das constituições Dei Filius e Pastor Aeternus, apresentadas anteriormente (PIOPPI, 2012).

Assim, este concílio teve como principal

objetivo, num mundo marcado pela mudança e

democratização das instituições, definir a infalibilidade papal.

Quadro 12 – Resumo dos principais temas tratados e das principais decisões do concílio Vaticano I

Dados TemáticasData:

08/12/1869

a

18/07/1870

Papa:

Pio IX

(1846-1878)

• A constituição Dei Filius foi votada em 24 de abril de 1870 e foi a con-clusão das discussões sobre as relações entre a razão e a fé. Diante dos erros do racionalismo, do panteísmo, do fideísmo etc., o concílio definiu a existência de um deus pessoal que a razão pode alcançar, embora afir-mando a necessidade da revelação. Não pode haver conflito entre a razão e a fé. Eis o texto: “Se alguém disser que é uma só e a mesma a substân-cia ou essência de Deus e a de todas as coisas, seja anátema”. E ainda: “Se alguém disser que Deus vivo e verda deiro, criador e Senhor nosso, não pode ser co nhecido com certeza pela luz natural da razão humana através das coisas que foram feitas, seja anátema”.

• A constituição pastor Aeternus foi votada em 18 de julho de 1870, em meio a aclamações e a uma tremenda tempestade. O documento contém essencialmente a afirmação do primado e da in falibilidade do papa. O debate foi prolixo e apai xonado. O fato do primado e de sua perpetuidade não apresentava dificuldade, mas os qualificati vos de “plena, ordinária, imediata, episcopal”, aplicados à jurisdição pontifícia, ocasionaram ásperas discussões. Muito mais o texto em que se afirmava a infalibil-idade do papa quando fala “ex cathedra” e a irreformabilidade de suas decisões sem necessidade do “consensus Ecclesiae”. O tex to foi aprova-do por 533 padres; 55 se ausentaram de Roma para não votar contra na sessão definiti va; dois votos foram negativos.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

Ensinamos e declaramos que a igreja Ro-mana, por disposição do Senhor, possui o primado de potestade ordinária sobre todas as outras, e que essa potestade de jurisdição do Romano Pontífice, que é verdadeiramente episcopal, é imediata... Ensinamos e definimos ser dogma di vinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ‘ex cathedra’... goza daquela infa libilidade de que o Redentor divino quis que estivesse provida sua igreja na definição da dou trina sobre a fé e os costumes; e portanto, que as definições do Romano Pontífice são irrefor máveis por si mesmas e não pelo consentimento da igreja (CONCÍLIO VATICANO I, 1).

Fonte: O autor.

O Concílio Ecumênico Vaticano IIEste concílio é considerado como o XXI Concílio Ecumênico da Igreja

Católica, e foi convocado pelo papa João XXIII, por meio da bula papal “Humanae Salutis” em 25 de dezembro de 1961. Iniciou em 11 de outubro de 1962, foi realizado em quatro sessões e encerrou em 8 de dezembro de 1965 com o papa Paulo VI.

O concílio teve como linhas mestras a atualização (Aggiornamento), o diálogo (comunhão – corresponsabilidade, participação) e a renovação (diaconia, serviço) como um novo modo de ser presença no mundo.

A questão do aggionarmento é central para o concílio Vaticano II, pois indica a sua finalidade. O termo significa atualização e pode ter três sentidos básicos: colocar em dia; modernizar no sentido de adequar-se às novas exigências; e adiantar-se (PASSOS; SANCHEZ, 2015, p. 8).

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

Ele buscou promover o diálogo e a unidade de todos os cristãos; e a paz no mundo; além da valorização dos leigos. O seu ponto referencial foi Jesus Cristo, profeta, sacerdote e pastor, que serviu como modelo de ação pastoral e evangelizadora da igreja no mundo.

Por desejo expresso do beato papa João XXIII foram convidadas as igrejas separadas de Roma: anglicana, igrejas alemãs, escocesas e orientais, das quais muitas responderam positivamente. Além disso, contou com a presença de alguns cristãos leigos como observadores e, sem sombra de dúvidas, foi o primeiro concílio a receber tão numerosa participação de igrejas e seus representantes, além dos leigos.

O concílio tinha como objetivo refletir sobre a igreja nos tempos atuais. As suas decisões estão expressas nas quatro constituições, nove decretos e três declarações elaboradas e aprovadas pelo respectivo concílio.

Quadro 13 – Resumo dos principais temas tratados e das principais decisões do concílio Vaticano II

Dados Temas

Data: 11/10/1962

a

08/12/1965

Papas:

João XXIII (1958-1963)

e

Paulo VI (1963-1978)

• Entre as várias decisões conciliares, destacam-se as renovações na constituição e na pastoral da igreja, que passou a ser mais alicerçada na igualdade e na dignidade de todos os fiéis.

• Reformou-se também a liturgia, em que a missa de rito romano foi simplificada e passou a ser celebrada em língua nativa de cada sociedade.

• Foi clarificada a relação entre a revelação divina e a tradição, também foi impulsionada a liberdade religiosa, uma nova abordagem ao mundo moderno.

• Abertura ao ecumenismo, uma relação de tolerância com os não cristãos e o apostolado dos leigos.

• O concílio Vaticano II não proclamou dogma, mas as suas orientações doutrinais, pastorais e práticas são de extrema importância para a igreja atual.

Fonte: O autor.

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a) Das constituições

Lumen gentium: esta constituição salientou que a igreja de Cristo, como sociedade constituída e organizada no mundo, destacou que a igreja é sacramento de Cristo e instrumento de união do homem com Deus, e da unidade de todo o gênero humano. A partir de então, a igreja passou a ser vista não apenas como uma instituição hierarquizada, mas também como uma comunidade de cristãos espalhados por todo o mundo e constituintes do corpo místico de Cristo.

Gaudium et spes: esta constituição salientou os aspectos pastorais da igreja e nos diversos problemas do mundo atual, a explosão demográfica, as desigualdades, as injustiças sociais, entre outros problemas sociais e econômicos, as preocupações com o desenvolvimento técnico científico, entre outros.

Dei verbum: esta constituição aborda o tema da revelação divina sob dois pontos de vista: a revelação em si mesma e a sua transmissão. A relação entre estes dois pontos de vista, que geram alguma confusão entre os católicos.

Sacrosanctum concilium: esta constituição centra-se em torno da liturgia. É analisada pelos padres conciliares sob uma tríplice dimensão teológica, eclesial e pastoral: a liturgia é obra da redenção em ato, celebração hierárquica e ao mesmo tempo comunitária, expressão de culto universal, que envolve toda a criação. Os padres conciliares descrevem ainda a liturgia como a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito genuinamente cristão.

b) Dos decretos

Christus dominus: este documento aborda o ministério pastoral dos bispos.Presbyterorum ordinis: este documento aborda o ministério e vida

sacerdotal dos presbíteros.

Optatum totius: este documento insiste na necessidade de maior amadurecimento humano, psicológico e afetivo dos candidatos ao sacerdócio e da estruturação da formação nos seminários vinculando a missão da igreja às exigências do mundo moderno. Aborda um tipo específico de educação cristã: a formação sacerdotal.

Apostolicam actuositatem: reconhece o papel essencial que cabe aos leigos na vida da igreja, a sua responsabilidade e autonomia em função de sua vocação específica.

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

Perfectae charitatis: dirige atenção para a renovação e modernização da "vida consagrada" a Deus no exercício de castidade, pobreza, obediência, estabelecida por meio dos votos "em ordens", "congregações religiosas".

Orientalium ecclesiarum: aborda a questão das igrejas orientais católicas. Estas igrejas particulares sui iuris possuem características únicas e diferentes em relação à igreja latina. Este documento afirma que, "na única igreja de Cristo" (que subsiste na igreja Católica), as igrejas latinas e orientais "... desfrutam de igual dignidade... nenhuma prevalece sobre a outra”.

Unitatis redintegratio: este documento é sobre o ecumenismo e "fundamenta-se em duas ideias: todo aquele que acredita em Cristo, mesmo que não pertença à igreja católica, encontra-se em algum tipo de comunhão" com a verdadeira igreja de Cristo; e "não existe ecumenismo verdadeiro sem uma conversão interior que se aplica a todos, inclusive à igreja católica”.

Ad gentes: o documento reflete sobre a atividade missionária da igreja, atitude inerente à sua natureza. A atividade missionária deve começar com o testemunho, continuar com a pregação e formar as comunidades valorizando as riquezas de cada cultura.

Inter mirifica: este documento se pronuncia sobre os meios de comunicação de massa, sem julga-los com moralismo, mas solicitando a serviço do reino de Deus.

c) Das declarações

Dignitatis humanae: o documento considera a liberdade religiosa como um direito da pessoa e das comunidades à liberdade social e civil em matéria religiosa, reconhece, ainda, que todos estes direitos humanos, incluindo o da liberdade, são inerentes à dignidade, inalienável da pessoa humana.

Nostra aetate: o documento analisa a atitude da igreja católica para com as religiões não cristãs, buscando uma aproximação respeitosa com as outras religiões não cristãs.

Gravissimum educationis: o documento tratou dos vários temas sobre a educação, mais em particular, sobre a educação cristã, defendeu também o direito de todos os homens a receber uma educação que seja fundamentada na dignidade da pessoa.

Entre as grandes decisões vistas no concílio Vaticano II, pode-se citar:

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

• Culto em língua nacional (a missa em latim deixa de ser executada obrigatoriamente).

• Utilização dos meios de comunicação social (cinema, televisão, rádio, jornais).• Liberdade de consciência.• Criação das pastorais.• Reformas litúrgicas.• Ampliação dos leigos na vida da igreja.• Nova codificação do direito canônico.• Definição de uma igreja democrática, ética e ecumênica.

O concílio resgatou a centralidade cristológica da fé, especialmente na liturgia, para que o sentido pascal se tornasse mais evidente; e incentivou que as celebrações fossem mais voltadas para a realidade do povo, mais participativa e comunitária.

O concílio Vaticano II foi, sem dúvida, para a igreja católica, o maior acontecimento do século XX, originando um processo de abertura, renovação e participação que foi determinante para as dioceses, criando um magistério próprio, manifestado nas quatro últimas conferências do Episcopado Latino-Americano (CELAM), sendo elas: Conferência de Medellín (1968), Conferência de Puebla (1978), Conferência de Santo Domingo (1992) e Conferência de Aparecida (2007).

Como consequência do Vaticano II, a igreja da América Latina ganhou uma fisionomia própria a partir da Conferência de Medellín, que buscou interpretar o concílio para a igreja da América Latina, dando um salto qualitativo pela explícita opção pelos pobres e lançando sementes de uma igreja mais popular, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

As CEBs revelam uma igreja católica mais comunitária, embasada na bíblia, através dos círculos bíblicos que multiplicam a experiência de pequenas células no interior da igreja. Muitos destes grupos passam a se dedicar às pastorais sociais, aos movimentos de luta e às reivindicações populares.

A interpretação libertadora do concílio Vaticano II fez história na América Latina em termos de teologia, de estruturas de igreja e de práticas pastorais. Surgiu, neste momento, uma teologia latino-americana que recebeu o nome Teologia da Libertação porque desejou dialogar com outras instituições e pensadores do campo social e político que, igualmente, desejavam contribuir para a libertação de todas as injustiças, e propunha que o pobre assumisse o ser sujeito da história para mudar a sociedade (ALBERIGO, 1997).

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

A Renovação das Igrejas Protestantes e Evangélicas

Segundo Suda (2014), de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a porcentagem de pessoas que se declaram protestantes, vêm crescendo a cada ano no Brasil. No início dos anos 2000, o Brasil passou por um fenômeno que os especialistas chamam de trânsito religioso, ou seja, a passagem de fiéis de uma religião para outra

O país perdeu católicos na mesma proporção que ganhou evangélicos. As pesquisas apontaram que, em 2000, o número de católicos era de 74% da população e em 2007 já era de 64% apenas. A mesma instituição revela que, no início da década, o número de evangélicos crescia 1% ao ano, e também que, o número de evangélicos no Brasil aumentou 61,45% em 10 anos, segundo dados do censo demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012.

Em 1970, constatou-se uma população evangélica de 4,8 milhões; em 1980 de 7,9 milhões; em 1991 de 13,7 milhões; e em 2000, cerca de 26,2 milhões se declararam evangélicos, ou 15,4% da população. Em 2010, eles passaram a ser 42,3 milhões, ou 22,2% dos brasileiros.

A EXPANSÃO NUMÉRICA – FATORES DETERMINANTES

Os evangélicos têm ganhado constantemente espaço nos veículos de comunicação devido às características que sustentam, porém não se pode afirmar que todos os evangélicos têm se destacado, uma vez que, dos 15% da população que se confessam evangélicos, mais da metade pertence a denominações pentecostais e neopentecostais. Tal superação numérica dos pentecostais e neopentecostais com relação às igrejas tradicionais foram observadas desde o início da década de 80 (pouco mais de dez anos desde o surgimento das igrejas neopentecostais) como mostra o trecho da reportagem de Lopes (1981):

[...] em 1930, os pentecostais representavam apenas 9,5% dos protestantes brasileiros. Um recente levantamento do sociólogo Francisco Cartaxo Rolim, da Universidade Federal Fluminense, constatou que eles

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

somam agora 70% desse total”. O que esses dados nos mostram é que em cinqüenta [sic] anos os pentecostais se multiplicaram, ou seja, os evangélicos conhecidos hoje, são em sua grande maioria pertencentes a igrejas pentecostais e neopentecostais. [...].

A expansão do número de igrejas é atribuída ao grande investimento de capital na compra de emissoras de rádio e televisão e ao uso contínuo de diversos recursos modernos que visam, sobretudo, o aumento do número dos evangélicos. É interessante como a superexposição pública que era condenada pela igreja católica e protestantes tradicionais deu certo, pois “[...] na última década, a população evangélica cresceu 94%, passando de 13,5 milhões para 26,2 milhões de fiéis” (CABRAL, 2004, p. 43). Esses 26,2 milhões de pessoas fazem movimentar um mercado evangélico de “[...] 3 bilhões de reais por ano e gera pelo menos 2 milhões de empregos” (EDWARD, 2002, p. 94). Para além dos investimentos realizados pelas igrejas para atrair mais filiados, coexistem motivações de ordem privada que contribuem para o crescimento do número de evangélicos. Muitos pesquisadores atribuem a esse crescimento o fato das igrejas pentecostais e neopentecostais se fixarem em locais pobres.

Segundo diversos estudos, o retorno ao místico representado pelo crescimento do número de adeptos é atribuído à busca, por parte das pessoas carentes, de itens básicos como: justiça, saúde, acolhimento, segurança, paz, alegria, lazer, dentre outros; os quais estas pessoas não conseguem vivenciar como uma realidade, pois as políticas sociais no Brasil têm sido falhas no atendimento as classes baixas: Acredito que o homem que hoje busca a religião está também e principalmente procurando regras para o seu comportamento que também possa levar em conta a presença do outro: basta de estar só. É o mesmo que dizer que ele ou ela procura responder a uma pergunta crucial: ‘Quem sou? Onde está quem me diga quem sou eu?’ O que não é muito diferente da questão proposta pela psicanálise e disciplinas similares, técnicas da sociedade moderna às quais os pobres não têm menor possibilidade de acesso (PIERUCCI; PRANDI, 1996, p. 27).

As classes populares buscam no sagrado a cura divina para sua enfermidade, que vem se arrastando há anos, sem que consigam uma vaga em um hospital público; clamam por libertação de vícios como drogas, etilismo, prostituição, como sendo o grande motivador de violência. Lá também buscam a comunhão com os filiados

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

como uma fuga de uma realidade excludente, pois podem se sentir acolhidos ao serem chamados de “irmãos”. Após frequentarem os templos evangélicos, muitos mudam seus hábitos considerados inadequados, para buscar uma vida mais pacífica, seguindo o modelo do próprio Cristo. Os bairros mais pobres começam a perceber a redução da criminalidade e do alcoolismo nestes locais, além de notarem que o envolvimento com o sagrado também pacificou o ambiente penitenciário onde vivem seus maridos e filhos que em momentos de fraqueza cometeram delitos, mas hoje encontram-se arrependidos (LIMA, 1998).

No entanto, percebe-se que as inúmeras pesquisas que relacionam o crescimento pentecostal à pobreza não perceberam que os pentecostais têm crescido também nas camadas mais altas, como mostra a Revista Veja (jul., 2002), que traz depoimentos de cantores, atores, milionários, políticos e empresários a respeito de sua conversão. Na política, por exemplo, a bancada de parlamentares evangélicos em Brasília aumentou 287,5% o que leva a pensar o quanto o esforço evangelizador das igrejas pentecostais tem sido grande e diferente dos protestantes tradicionais que repudiavam a política. O que tem conduzido estas pessoas ao sagrado? Acreditamos que essa resposta possa ser encontrada no âmbito privado, em depoimentos de artistas e empresários relatados na Revista Veja de julho de 2002. Na maioria das vezes eles expressam sensação de vazio, de ausência de valores, solidão, angústia, dentre outros fatores que acreditam terem sido suplantados pela comunhão com Deus

Fonte: SILVA, Sandra Rosa Campi Guimarães. Protestantismo: surgimento, subdivisões, crescimento no brasil e sua relação com a política, economia

e educação. Revista da Católica. Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 9-11, 2009.

Como se pode observar nos dados apresentados, há uma renovação da igreja protestante e evangélica no Brasil, com um rápido crescimento, tanto pastoral como demográfico, bem como um declínio do número de pessoas católicas.

Esse crescimento das igrejas protestantes e evangélicas se dá pelas várias obras e ações desenvolvidas, que não ficaram apenas no âmbito pastoral ou missionário. Essas instituições religiosas aproveitaram de seus espaços físicos e da filantropia que obtiveram junto ao Estado (quando obtiveram) e realizaram outras obras e com isso cresceram fisicamente. São obras de:

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

• Assistência social: projetos com dependentes químicos, moradores de rua.• Assistência jurídica: providenciando documentos, acompanhando

processos.• Assistência médica: médicos, dentistas, remédios.• Assistência educacional: projetos de alfabetização, escolas, creches.• Assistência religiosa: capelania hospitalar, aconselhamento.

A seguir, um quadro do desenvolvimento das igrejas protestantes e evangélicas no Brasil, procurando mostrar o seu rápido crescimento demográfico, pastoral e missionário, promovendo assim novos paradigmas para a atual sociedade.

Quadro 14 – Cronologia das igrejas protestantes e evangélicas no Brasil

1816 Igreja Angli-cana 1º capelão

Chegaram ao Brasil na cidade do Rio de Ja-neiro, RJ, o primeiro capelão anglicano, Robert

C. Crane.

1824 Igreja Luterana Início da imi-gração alemã

Chegaram ao Brasil os primeiros lutera-nos vindos da Alemanha para a Região Sul, mais precisamente a São Leopoldo, RS e Blu-menau, SC. Inauguração da Igreja Luterana

em Nova Friburgo, RJ.

1835Igreja Meto-

dista Primeiro mis-sionário meto-

dista

Reverendo americano Fountain Elliot Pitts chegou ao Brasil na cidade do Rio de Janei-ro, RJ. Pioneiro da obra metodista no Bra-sil, veio para avaliar a possibilidade de uma missão metodista em terras brasileiras, onde ficou por algum tempo, reunindo-se com um grupo de crentes majoritariamente norte-amer-icanos. Pitts abriu uma missão metodista no Uruguai. Em seguida, chegaram ao Brasil os missionários metodistas norte-americanos Rev. Justin Spaulding e Rev. Daniel Parish Kid-der, com suas respectivas famílias, para dar prosseguimento à missão, porém, a missão metodista no Brasil é suspensa em 1841 por causa da Guerra Civil da Secessão que divide os EUA e também a igreja metodista dos EUA no povo do norte e do sul. Foi retomada em 1867 com a chegada do Rev. Junius Estaham

Newman.

1855 Igreja Con-gregacional

Primeiros mis-sionários

Chegou ao Brasil, na cidade do Rio de Janei-ro, RJ o primeiro casal de missionários da ig-reja Congregacional, Robert Reid Kalley (es-

cocês) e Sarah Poulton Kalley (inglesa).

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

1858 Igreja Con-gregacional

Fundação da 1ª igreja con-gregacional

Primeira igreja evangélica de estilo congrega-cional e de língua portuguesa no Brasil: a Igre-ja Evangélica Fluminense, fundada pelo mis-sionário escocês Robert R. Kalley. Em 1913, junta-se à união das igrejas evangélicas con-

gregacionais do Brasil.

1862Igreja Presbite-riana do Brasil

Fundação da 1ª denomi-

nação

Fundador: Ashbel Green Simonton, mis-sionário americano. Fundada na cidade do Rio de Janeiro, RJ. Origem: igreja presbiteriana

dos Estados Unidos (PCUSA).

1871 Igreja BatistaOrganização da primeira

igreja batista

Em 1871, um pequeno grupo de batistas res-identes em Santa Bárbara d'Oeste, SP, or-ganizaram a primeira Igreja Batista em solo brasileiro. Os fundadores foram os Pr. Richard Ratcliff e o Pr. Robert Porter Thomas. Os cul-tos eram realizados em inglês, para servir aos

imigrantes estadunidenses.

1871Igreja Meto-

dista

Fundação da 1ª denomi-

nação meto-dista

Reverendo Newman organiza, com nove membros, a primeira igreja metodista no Bra-sil em Saltinho, SP. Origem: Igreja Metodista Episcopal do Sul – EUA embora não apoiada

oficialmente por essa organização.

1890Igreja Episco-pal Anglicana

do Brasil

Fundação de denominação

anglicana

Fundadores: missionários Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris.

Fundada na cidade de Porto Alegre, RS.

1893Igreja Adven-

tista do Sétimo Dia

1º missionário adventista

Albert B. Stauffer, primeiro missionário enviado ao Brasil pela liderança mundial da Igreja Ad-

ventista, chega a São Paulo, SP.

1885Igreja Meto-

dista 1º pastor meto-dista

Bernardo de Miranda foi o primeiro brasileiro nomeado como pastor metodista.

1903Igreja Presbite-riana Indepen-dente do Brasil

Fundação de denominação

Fundador: reverendo Eduardo Carlos Pereira. Fundada na cidade de São Paulo, SP. Sede: São Paulo, SP. Dissidência: Igreja Pres-

biteriana do Brasil.

1904Igreja Evan-

gélica Luterana do Brasil

Fundação de denominação

Fundador: diversos pastores luteranos. Fundada na cidade de São Pedro do Sul, RS. Sede: Porto Alegre, RS. Origem: Igreja Lutera-

na – Sínodo de Missouri.

1907Convenção Batista Bra-

sileira Fundação de denominação

Fundada por 32 delegados batistas que rep-resentavam 39 igrejas, reunidos na cidade

de Salvador, BA.

1913

União das Igrejas Evan-gélicas Con-gregacionais

do Brasil

Fundação de denominação

Treze igrejas locais originarias do trabalho do casal Kalley se reuniram e formaram a União das igrejas Evangélicas Congregacionais do

Brasil.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

1923 Igreja Batista Início de missão

A primeira igreja batista de Murray, Kentucky, ligada à Convenção Batista do Sul, enviou o missionário americano Joseph F. Brandon para a Amazônia. Foi aberta a primeira igreja batista na cidade de Cruzeiro do Sul, Acre. O primeiro discípulo de Brandon, Francisco Santiago, via-jou de canoa até Manaus, Amazonas, inician-

do outras cinco igrejas durante a viagem.

1934Igreja Metodis-

ta Ortodoxa Fundação de denominação

Fundador: Pastor José Henriques da Matta Fundada na cidade de Belo Horizonte, MG.

Dissidência: igreja metodista do Brasil.

1935Igreja de Cristo Pentecostal no

Brasil

Início de missão

Chega ao Rio de Janeiro, RJ, oriundo dos EUA, o primeiro missionário da "Igreja de Cris-to Pentecostal", o reverendo Horace S. Ward.

1939Missão Evan-gélica Pente-

costal do Brasil Fundação de denominação

Fundadores: missionários Harland e Hazel Graham (americanos). Fundada na cidade de Manaus, AM. Sede: Natal, RN. Origem: ig-

reja da Beira da Estrada – Seattle, EUA.

1948 Igreja de Cristo no Brasil

Início de missão

Chegou à cidade do Rio de Janeiro, RJ, o pri-meiro casal de missionários americanos Lloyd David Sanders e Ruth Sanders com a missão de estabelecer a "Igreja de Cristo" no Brasil.

1951Igreja do

Evangelho Quadrangular

Fundação de denominação

Fundador: Missionário Harold Edwin Willians (americano) e Pr. Emílio Vasquez. Funda-da na cidade de São João da Boa Vista, SP. Sede: São Paulo, SP na Avenida General Olímpio da Silveira. Origem: igreja do evangel-

ho quadrangular, EUA.

1955Igreja Evan-gélica Pente-costal o Brasil

Para Cristo

Fundação de denominação

Fundador: missionário Manoel de Mello e Silva. Fundada na cidade de São Paulo, SP. Sede: São Paulo, SP. Dissidência: igreja do

evangelho quadrangular.

1962Igreja Pente-costal Deus é

Amor Fundação de denominação

Fundador: Missionário David M. Miranda. Fundada na cidade de São Paulo, SP. Sede: "Templo da Glória de Deus" em São Paulo, SP. Dissidência: Igreja Evangélica Pentecostal o

Brasil para Cristo.

1967Igreja Metodis-ta Wesleyana Fundação de

denominação

Fundador: diversos pastores da Igreja Meto-dista do Brasil que aderiram ao movimento de renovação. Fundada na cidade de Nova Friburgo, RJ. Sede: Nova Friburgo, RJ. Dissi-

dência: Igreja Metodista do Brasil.

1980Igreja Inter-nacional da

Graça de Deus Fundação de denominação

Fundador: Romildo Ribeiro Soares mais conhecido como missionário R.R. Soares. Fundada na cidade de Duque de Caxias, RJ. Sede: São Paulo, SP. Dissidência: Igreja Uni-

versal do Reino de Deus.

1992

Comunidade evangélica Sara Nossa

Terra

Fundação de denominação

Fundadores: bispos Robson Rodoval-ho e Maria Rodovalho. Fundada na cidade de Brasília, DF. Sede: Brasília, DF. Dissidên-

cia: comunidade evangélica de Goiânia.

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

1998Igreja Mundial do Poder de

Deus Fundação de denominação

Fundador: apóstolo Valdemiro Santiago. Fun-dada na cidade de Sorocaba, SP. Sede: Tem-plo dos milagres na cidade de São Paulo, SP. Dissidência: Igreja Universal do Reino de

Deus.

2000Bola de Neve

Church Fundação de denominação

Fundador: Apóstolo Rinaldo Luis de Seixas Pereira (Apóstolo Rina). Fundada na cidade de São Paulo, SP. Sede: São Paulo, SP. Dissi-dência: Igreja Apostólica Renascer em Cristo.

Fonte: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_das_igrejas_prot-estantes_e_outras_no_Brasil>. Acesso em: 7 dez. 2017.

Como se pode observar, com as informações apresentadas no quadro, tem-se um rápido e constante crescimento das religiões protestantes e evangélicas no Brasil. Tal movimento, denominado de trânsito religioso é extremamente relevante e positivo para a sociedade, uma vez que não só permite desenvolvimento social, mas também cultural e espiritual para a sociedade, que como sabemos também necessita de transcendência para o seu crescimento e amadurecimento.

Segundo Silva (2009), atualmente, os protestantes são conhecidos pelo nome de “evangélicos”, adquirido pela defesa da livre interpretação dos evangelhos bíblicos. Entretanto, há vários pesquisadores que se esforçam para classificar cada igreja em uma determinada categoria, mas as constantes subdivisões acabam confundindo qualquer tentativa de classificação inflexível, já que uma mesma igreja pode conter características de todas as categorias de classificação ou uma categoria pode subdividir-se ainda outras vezes mais.

Para Silva (2009), sem o objetivo de firmar uma classificação rígida e esgotar o assunto, pode-se estabelecer um tipo de caracterização que reduza ao máximo as subdivisões. Observando que, em virtude de a religião ser demasiadamente dinâmica a ponto de tornar-se sua classificação cada vez mais problemática, o que pode ser demonstrado pelos diversos termos utilizados para melhor elucidação dividir aquilo que hoje é chamado de evangélico em três categorias: os tradicionais, os pentecostais e os neopentecostais, são eles:

• As tradicionais são aquelas que tiveram origem a partir do rompimento de Lutero. Produtos de variadas interpretações, as denominações tradicionais rejeitam a adoração de imagens, não creem na glossolalia (dom de falar em línguas estranhas) e também não acreditam no exorcismo, concentrando-se no aprendizado das escrituras e aplicação desses ensinamentos em sua vida, ou seja, "a Bíblia constitui-se em um recipiente de memória escrita ao qual é preciso voltar continuamente".

Como se pode observar, com as informações

apresentadas no quadro, tem-se um rápido e constante

crescimento das religiões

protestantes e evangélicas no

Brasil.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

• As pentecostais tiveram origem em 1901, nos Estados Unidos, quando um grupo de pessoas se reuniu para fazer orações em uma vigília. Em certo momento, à repetição do dia de Pentecostes relatado na bíblia, aqueles que estavam presentes acreditam ter recebido a visita do espírito santo. Este teria manifestado sua presença através da distribuição do dom de falar em línguas estranhas, semelhantemente ao fato ocorrido no livro bíblico de Atos dos Apóstolos. Sua crença diferencia-se da dos tradicionais, pois além de crerem na palavra escrita, admitem as manifestações do Espírito Santo na cura de enfermidades, nas profecias, além da glossolalia, dentre outros. Os pentecostais conservam costumes rígidos, como a proibição de mulheres de usarem calças, cortar o cabelo, depilarem os pelos do corpo, casar-se com homens não filiados à mesma religião (MACHADO, 1996). Pode-se citar como membros desse grupo a congregação cristã do Brasil, a Assembleia de Deus, a Igreja do Evangelho Quadrangular, Deus é Amor, entre outras.

• O terceiro grupo é o mais recente, sendo conhecido entre os pesquisadores como neopentecostais. Surgiu por volta da década de 1970, admite todos os preceitos dos pentecostais, porém, diferenciam-se destes pelos costumes menos rígidos. Tal liberalização dos usos e costumes tem um objetivo: evangelizar o máximo possível (MARIANO, 1999). A maioria das denominações neopentecostais é originária da iniciativa de certos membros de outra denominação que manifestam o desejo de criarem uma nova igreja. Assim, pode-se dizer que a maioria delas são "autóctones", ou seja, não provêm de missões evangelizadoras, mas nasceram e se expandiram no Brasil. Do grupo dos neopentecostais fazem parte a Universal do Reino de Deus, a Renascer em Cristo, e outras.

Segundo Silva (2009), a expansão do número de igrejas é atribuída ao grande investimento de capital na compra de emissoras de rádio e televisão e ao uso contínuo de diversos recursos modernos que visam, sobretudo, o aumento do número dos evangélicos. Porém, existem outros fatores que justificam esse o crescimento dessas instituições para atrair mais filiados. Muitos pesquisadores atribuem a esse crescimento o fato das igrejas pentecostais e neopentecostais se fixarem em locais pobres.

Segundo diversos estudos, o retorno ao místico representado pelo crescimento do número de adeptos é atribuído à busca, por parte das pessoas carentes, de itens básicos como: justiça, saúde, acolhimento, segurança, paz, alegria, lazer, dentre outros. Estas pessoas não conseguem vivenciar como uma realidade, pois as políticas sociais no Brasil têm sido falhas no atendimento as classes baixas.

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

Como se sabe, as pessoas buscam no sagrado a cura divina para sua enfermidade; clamam por libertação de vícios como drogas, prostituição, depressão, entre outros. Em suma, na sociedade moderna as pessoas expressam uma sensação de vazio, de ausência de valores, solidão, angústia, que precisam ser exteriorizados em algum espaço e neste o espaço religioso um dos locais apropriados (PIOPPI, 2012).

Nas décadas de 60 e 70 do século XX, espalhou-se pelas igrejas dos Estados Unidos, especialmente aquelas de tendência pentecostal, um movimento cuja afirmação principal é garantir saúde integral, sucesso total nos empreendimentos, enfim, prosperidade a todas as pessoas que cumprem a vontade de Deus, através de suas vidas.

A teologia da prosperidade foi disseminada no Brasil a partir do final da década de 1970 do século XX, com o surgimento das igrejas neopentecostais. Desde então, tem ganhado cada vez mais adeptos em todas as camadas sociais. Sua forma de abordagem da bíblia e de vivência da religião rompe com a ética protestante presente no protestantismo histórico e até mesmo com temas comuns às religiões cristãs, como a caridade, a salvação e a rejeição dos prazeres do mundo.

O crescimento do número de evangélicos é um elemento significante para a compreensão das várias transformações ocorridas no campo religioso e político brasileiro. A secularização e redemocratização do Estado no Brasil nos séculos XIX e XX e o consequente enfraquecimento do poder da igreja católica, bem como a conquista da liberdade religiosa, permitiram a diversas igrejas buscarem espaço e legitimidade dentro da sociedade brasileira.

Destacando o acentuado crescimento das igrejas pentecostais, e, sobretudo, das neopentecostais, que souberam aproveitar dessas diversas modificações e do contexto econômico e social do país, nasce a chamada teologia da prosperidade.

A chamada teologia da prosperidade parte do princípio de que todos são filhos de Deus e que recebem os benefícios desta filiação em forma de riqueza. Afirmam também, que só não prospera aquele que não tem fé, não respeita os ensinamentos da bíblia e está em relação, mesmo que indireta, com o diabo, ou seja, a responsabilidade é sempre do fiel e nunca da igreja.

Tais movimentos religiosos, que utilizam da teologia da prosperidade, procuram entrar na vida social das pessoas e nas dificuldades e conflitos de maneira que as aflições humanas são amenizadas. A ausência de sentido do

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

cotidiano motiva as pessoas a buscarem seu preenchimento no espaço sagrado, homens e mulheres apagados na sociedade ganham espaço como obreiros, missionários, pastores, a elas é permitido uma reconstrução de sua identidade a partir da religião.

A racionalidade empregada na política para a conscientização e direcionamento dos votos de seus fiéis, é também empregado no espaço simbólico sustentado por crenças e valores. O voto passa a ser guiado pelo compromisso cristão de salvar o país do mau, estabelecendo uma nova moral e ética na política.

A teologia da prosperidade realiza uma inversão de valores, reinterpretando e ajustando os ensinamentos bíblicos para a adequação à sociedade de consumo imediato. Se antes o sofrimento glorificava o homem e a sua recompensa era além-mundo, agora a valorização se dá na boa vida terrena.

Reunindo promessas de prosperidade financeira, saúde, alívio dos sofrimentos e a derrota sobre o diabo, a teologia da prosperidade nos Estados Unidos na década de 40 do século XX. Constituindo-se, de fato, como movimento doutrinário na década de 70, momento em que encontra apoio nos evangélicos carismáticos.

O Pluralismo do Cristianismo: Ecumenismo e Diálogo Interreligioso

O ecumenismo e o diálogo inter-religioso constituem neste início do século XXI um dos desafios mais imprescindíveis para a humanidade. Tem-se falado inúmeras vezes que a paz entre as religiões constitui condição fundamental para a paz no mundo, entretanto, este horizonte de fraternidade e diálogo encontra-se ainda bem distanciado.

Destaca se que o ecumenismo não é aceitar simplesmente a religião do outro e suprimir a sua como propõe a ditadura relativista. Ecumenismo se refere ao respeito das religiões de mesma raiz. Refere-se ao respeito e à tolerância religiosa.

Sem dúvida, o ecumenismo como o diálogo inter-religioso são temas que vêm ao encontro da realidade humana que e são

essencialmente pluralistas. Começando pela constituição da natureza humana que já vem caracterizada pelo gênero masculino e feminino. Somando a outras condições que estão ligadas a fatores externos como costumes, língua, cor, aparência física e outros. Pode-se concluir que existem mais diferenças do que

Destaca se que o ecumenismo não é aceitar

simplesmente a religião do outro e suprimir a sua como propõe a

ditadura relativista. Ecumenismo se

refere ao respeito das religiões de

mesma raiz. Refere-se ao respeito e à

tolerância religiosa.

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A Igreja Contemporânea Capítulo 4

semelhanças. O que torna interessante é a integração dessas diferenças, que acontece também em forma de diálogo. O outro tem algo a dar que não tenho e vice-versa, isto é, acontece a riqueza do intercâmbio.

O momento é delicado, pois revela o desafio de conviver num mundo plural, em que a multiculturalidade está cada vez mais presente devido ao processo da globalização, embora não sendo um fato novo na história, desperta algo novo, que é a tomada de consciência da importância deste fenômeno. Obrigando desta forma, ao questionamento sobre o desenvolvimento de uma dinâmica social marcada por relações interculturais.

Conforme afirmou Hans Küng (2004), nenhuma religião poderá abdicar por completo de empregar seus próprios e bem específicos critérios de verdade em favor das outras religiões. Esses critérios podem ser os cristãos, os mulçumanos, os hinduístas, os budistas ou os critérios do confucionismo. O diálogo não significa autonegação.

Um dos grandes embaraços que dificultam o exercício e a reflexão sobre o diálogo inter-religioso relaciona-se à questão da verdade. Neste sentido, o diálogo é a questão que se coloca para garantir os direitos individuais entre as culturas e suas determinadas manifestações, entre elas a manifestação religiosa presente em cada uma.

O fato é que as religiões históricas no ocidente, mais precisamente o cristianismo, com suas igrejas, estão tendo certa dificuldade em responder aos reais anseios de religiosidade que emergem de multidões, que procuram respostas seguras. O mundo parece ficar cada vez menor diante da crescente consciência das diferenças entre as civilizações que são cada vez maiores.

Existe um clamor surdo pela transcendência e que é abafado pelos racionalismos cientificistas de costas viradas para o mistério, para a mística e do qual até as igrejas são vítimas. As doutrinas dogmáticas, principalmente no mundo monoteísta ocidental, não estão sendo capazes de situar o ser humano dentro do cosmos, da transcendência.

A violência religiosa termina por atrapalhar o dinamismo que anima a relação do ser humano com o absoluto. Ao ocorrer certa violência em nome da religião, seria questionável afirmar com certeza de que está acontecendo algo equivocado na interpretação do mistério divino. A religião tem seu lado ambíguo, que é a canalização dos conflitos sociais. Não tem como as religiões não virem

Conforme afirmou Hans Küng (2004), nenhuma religião poderá abdicar por completo de empregar seus próprios e bem

específicos critérios de verdade em favor das outras religiões. Esses critérios podem ser os cristãos, os mulçumanos, os hinduístas, os budistas ou os critérios do

confucionismo. O diálogo não significa

autonegação.

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HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ

ou sentirem a capacidade destrutiva do ser humano, pois ela está impregnada nas instituições e relações de cada comunidade, aplica-se também a imagem de Deus e a compreensão que se tem dos seres humanos. Sendo próprias das sociedades, tal capacidade nunca pode se extinguir.

Portanto, sempre haverá relação entre violência e religião, justamente por ser a religião, parte da sociedade e de suas fontes conflitivas. Para responder qual o motivo da relação com o divino em poder produzir morte e sua lógica; segundo Küng (2004), a lógica consiste na afirmação de que se Deus está do nosso lado, da nossa religião, nosso partido, nossa nação, então é lícito fazer qualquer coisa contra o partido adversário, que deve ser o diabo. Logo, é normal, justo querer destruir esse mal, mesmo em nome de Deus.

Diante dessas justificativas perante à violência nas religiões, pode-se constatar o contrário, a religião muito tem feito pela paz e continuará fazendo. Hans Küng (2004) afirma que as religiões têm muito a contribuir para que haja paz através da propagação de que a pessoa humana seja mais valorizada em sua dignidade própria. Para construir o ser humano em sua total integridade, é necessário resguardar as diferenças culturais e religiosas, mesmo custando-lhe a renúncia ao poder para se levar em consideração a questão do absoluto na vida da pessoa que é vivenciado através da sua religiosidade.

Segundo Wolff (2005), as igrejas avaliam os “riscos” como a perda da identidade confessional, o relativismo da fé eclesial, a perda do “controle” das iniciativas ecumênicas de seus fiéis. Constata-se, assim, uma tensão entre orientações oficiais e iniciativas ecumênicas no meio popular. De modo geral, as dificuldades das igrejas em relação ao ecumenismo são:

• A fragilidade das convicções ecumênicas no âmbito institucional. • A setorização do ecumenismo nas igrejas, pela sua concentração na

ação de pessoas ou grupos. • Motivações, concepções e práticas ecumênicas diferentes e em

contradição no interior de uma mesma tradição eclesial, o que dilacera o ideal ecumênico.

• A carência da formação ecumênica dos fiéis. • A não recepção estrutural dos resultados dos esforços ecumênicos. • As motivações diplomáticas nas relações entre as igrejas suplantam as

motivações teológicas. • A notória contradição entre os pronunciamentos oficiais a favor do

ecumenismo e as práticas ante ecumênicas. • A dificuldade da contextualização social da busca da unidade.

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129

A Igreja Contemporânea Capítulo 4

Mudanças importantes aconteceram a partir do Concílio Vaticano II, com a afirmação progressiva, mas cautelosa de um espírito mais ecumênico. Küng (2004), por exemplo, defende que a verdade não constitui monopólio de nenhuma religião, o que não significa que as religiões não tenham critérios específicos de verdade. Estes critérios, válidos e fundamentais, encontram sua relevância e obrigatoriedade no âmbito interno de cada confissão religiosa, não podendo, porém, estender-se objetivamente às outras confissões.

Segundo Teixeira (2002), a abertura teológica que acompanhou o concílio Vaticano II (1962-1965) já significou um primeiro passo de sensibilização para as outras tradições religiosas. Permanece, porém, como um desafio imprescindível um “salto qualitativo da teologia cristã”, em todos os seus tratados, no sentido de uma maior valorização e fundamentação teológica da experiência religiosa dos outros. Trata-se de condição essencial para a manutenção da credibilidade da mensagem cristã no mundo multicultural e multirreligioso da atualidade.

Para o cientista da religião, uma teologia hermenêutica busca correlacionar de forma criativa a experiência contextual presente e o testemunho da experiência fundante confiada à memória da tradição eclesial. O pensamento teológico é convidado a inserir-se numa dinâmica ou movimento criativo que articula de forma viva o passado e o presente, expondo-se, assim, ao risco de uma interpretação nova do cristianismo para o tempo presente.

Atividade de Estudos:

1) Tendo em vista o cenário religioso atual, o diálogo inter-religioso e o ecumenismo se tornaram demasiadamente importantes. Neste sentido, leia o fragmento do artigo: “Diálogo Inter-religioso” de Rosangela Strümer e explique qual é a condição necessária para a efetivação do diálogo inter-religioso.

Toda uma diversidade religiosa presente não só no nosso país, mas também em todos os continentes, implica um desafio cada vez maior ao ecumenismo. Isso porque nem sempre a diversidade é vista como riqueza, mas como competição, proselitismo e ameaça para as igrejas tradicionais. O grande desafio está em favorecer um espírito de abertura para compreender esta realidade diversificada, rompendo com qualquer resquício de intolerância, o que não significa abdicar de nossa identidade religiosa singular, condição fundamental para qualquer processo dialogal, nem renunciar à consciência crítica

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para avaliar os limites presentes nas experimentações em curso, até na nossa. É contra essa tendência, veiculada nos diversos fundamentalismos, que se impõe, hoje, o imperativo de pensar no diálogo inter-religioso como condição de possibilidade para um mundo mais pacífico e mais solidário [...].

Reconhecer o valor do pluralismo religioso não significa, necessariamente, abrir para o indiferentismo religioso ou o relativismo. Este só ocorre quando, em nome da indiferenciação, renuncia-se às convicções assumidas e ao valor da identidade religiosa.

O reconhecimento do pluralismo de direito é condição essencial para o verdadeiro diálogo inter-religioso. No entanto o diálogo não acontece sem a convicção religiosa, pois implica a interlocução de sujeitos que se comunicam com a integralidade da própria fé. O relativismo é bem outra coisa, pois pulveriza as identidades. Na realidade, na base do temor do relativismo está a insegurança e o medo daqueles que vivem a dificuldade de perceber a presença livre e operante da graça do Deus que era, que é e que vem. [...]

Diálogo inter-religioso enquanto experiência que motiva não apenas o mútuo conhecimento entre tradições religiosas distintas, mas igualmente o seu recíproco enriquecimento. Isso não ocorre quando as tradições em questão permanecem fixadas em sua identidade, deixando de admitir e perceber a presença de verdade, valor e graça na experiência alheia. Para que o diálogo aconteça, em primeiro lugar é necessária a consciência da vulnerabilidade e dos próprios limites. Reconhecer que a verdade não é uma posse garantida, mas fruto de uma experiência de caminhada comum, de partilha e de busca permanente.

Não é possível realizar o diálogo, a não ser quando se reconhece o valor da convicção do outro. Não é correto e justo para com as outras tradições religiosas restringir a presença e o falar de Deus para a religião cristã, como se as mesmas fossem simplesmente religiões naturais. As religiões não são apenas genuinamente diferentes, mas também autenticamente preciosas. Há de honrar esta alteridade em sua especificidade peculiar e respeitar a alteridade é ser capaz de reconhecer algo de irredutível e irrevogável nas outras tradições religiosas, ou melhor, reconhecer o valor e a plausibilidade do pluralismo religioso de direito ou de princípio. Portanto, o diálogo é instrumento para a concretização da fraternidade e se apresenta

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como uma necessidade permanente. Na medida em que se torna prática, requer dos dialogantes abertura e espaço. O diálogo só se realiza quando se dá espaço para a singularidade do outro. Assim, o diálogo possibilita uma comunicação e um compartilhar de vida, de experiência e de fé”.

Fonte: STRÜMER, R. Diálogo inter-religioso. Revista Ciberteologia. v. 2. n. 15. 2009, p. 54, 55 e 57).

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As Igrejas Cristãs Diante dos Avanços Técnicos Científicos

O diálogo entre religião e ciência é necessário, principalmente, porque o cientista e o religioso podem ser a mesma pessoa, portanto, trata-se de conciliar os conhecimentos.

O avanço das biotecnociências abriu novas áreas de pesquisas, criando novas possibilidades de intervenções humanas sobre a natureza. Elaborou uma nova maneira de compreender a evolução, permitindo a reflexão na vida, tal como a sua realidade e sua complexidade. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia o ser humano programa a sua vida, sua sociedade, provocando um novo hábito, uma nova cultura.

Essa programação não inclui todos, continua-se a ver no mundo inúmeros sofrimentos desnecessários, exclusões, atitudes anti-humanas, nesse sentido, faz-se necessário ter um cuidado maior com esta inclusão. Todos devem estar no planejamento, ou seja, todos devem fazer parte desse desenvolvimento

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científico. Nesse sentido, a ética deve estar sempre alerta, a fim de refletir se essa manipulação, esse desenvolvimento vem respeitando a essência humana, a dignidade humana.

A vida do homem contemporâneo e as questões ligadas às relações sociais dos diversos grupos humanos fez nascer na área de saúde, a bioética. Entre seus pilares, está a busca de maior humanização e ética nas relações sociais e pessoais entre paciente, médico e sociedade, como preferem alguns estudiosos “é a ciência com consciência e ética”.

A bioética surgiu a partir de cientistas preocupados com o rumo de suas pesquisas e suas relações com os pacientes nos EUA no final dos 1970 e não demorou a migrar para outros continentes e países; e chegou à América Latina nos anos 1990 do século XX (TEIXEIRA, 2002).

a) A relevância da bioética

A relevância da bioética vem sendo desenvolvida a partir do desenvolvimento genético e de suas relações com o ser humano. São inúmeros os casos de eugenia que a própria mídia e os comitês de bioética vem apresentando, são situações diversas, mas de grande importância à vida humana. A ponto crucial é a manipulação do genoma, que tem como objetivo o aprimoramento genético, mas que não reconhece o ser humano e simplesmente o seu genótipo, ou seja, cria-se um reducionismo biológico, ameaça a biodiversidade e ainda a imposição dos padrões genéticos sendo impostos a partir daqueles que datem o poder na

sociedade.

Assim, a bioética tem a responsabilidade de alertar a sociedade da realidade existente no mundo da biotecnociência, deve a bioética ser crítica, ser analítica e reflexiva diante das ações políticas e ideológicas. Infelizmente os cientistas não estão preocupados com o bem-estar social e sim com o lucro que podem ter com a manipulação genética e outros, ou seja o fator econômico está à frente do científico e a bioética tem essa responsabilidade de evitar que a genética seja um fator ideológico determinista (BERNARD, 1998).

b) A bioética como meio

Os cientistas afirmam que é a bioética que responderá satisfatoriamente à sociedade, para a pessoa humana, dando-lhes a oportunidade de escolha nas suas ações. O que acontece no laboratório deve ser exposto à sociedade e a sociedade deve dizer o que fazer, ou seja, a ética da sociedade deve estar presente na ética do laboratório.

Os cientistas afirmam que é a bioética que

responderá satisfatoriamente

à sociedade, para a pessoa

humana, dando-lhes a oportunidade

de escolha nas suas ações. O

que acontece no laboratório deve ser exposto à sociedade e a sociedade deve dizer o que fazer, ou seja, a ética da

sociedade deve estar presente na

ética do laboratório.

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Assim, a bioética não nasceu com a ideia de proibir o desenvolvimento genético, mas com o princípio de ter uma ética, ou seja, uma conduta, no agir e no desenvolvimento da manipulação genética.

Existem conflitos no termo bioética, conflitos não só na nomenclatura, mas também de posição ideológica e filosófica. Ela pode ser entendida como “ética da vida”, “vida é ética”, “vida e ética”, mas de qualquer forma seu maior objetivo é a defesa da vida. Assim, a bioética se apresenta de maneira aberta e se articula com diversos temas ligados à vida. A bioética é uma parte da ética que estuda as relações da ética com a vida. A bioética também pode ser vista como uma nova ciência, que se desenvolva e se torne uma ciência autônoma.

Para a bioética ser entendida como ciência, é preciso lembrar de seus objetivos, que é o estudo de normas e temas que regem a ação humana e sua intervenção técnica sobre a vida humana. Em outras palavras, a bioética é a ciência do comportamento moral dos seres humanos diante de intervenção das biotecnociências sobre a vida humana em todo o seu contexto. Pode-se entender a bioética como ciência da vida ou ciência da saúde, ambas se referem a ação humana, atitudes humanas (BERNARD, 1998).

Em suma, a bioética deve ser um meio de diálogo e de reflexão ética e humana, junto à comunidade científica e não como um princípio fundamentalista e pragmática ou como um fim determinista e totalitário.

A interdisciplinaridade é uma das características da bioética, pois necessita passar, dialogar, refletir e se comunicar com as mais diversas áreas do conhecimento. Entretanto, as ciências são cartesianas, específicas, fragmentadas, não tendo abertura ao diálogo com as outras ciências, filosofia, teologia e outras; causando um grande vazio no aspecto ético.

Esse, sem dúvida, é um grande desafio da bioética, romper com a fragmentação, com o pragmatismo, com o individualismo e avançar com isso no diálogo e reflexão junto com as demais ciências, ou seja, trabalhar o todo, a integralidade, o holístico.

Assim, a bioética precisa ser cada vez mais plural em suas relações, mais intercultural, a fim de não ser mais um instrumento de dominação cultural. A essência e o princípio da bioética, a priori, é sem dúvida a sua relação da ética com a vida.

A sociedade carrega inúmeras influências do pensamento cartesiano e newtoniano. Talvez a questão problemática não seja propriamente o pensamento de Descartes e de Newton, mas o que fizeram desses pensamentos.

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O que existe é uma ciência, uma sociedade, uma educação fragmentada, dividida, específica e individualizada, que não dialoga, que não visualiza o todo, não visualiza o mundo e as coisas de forma holística, ecológica, sistêmica, além de ser inúmeras vezes fundamentalistas e deterministas (BERNARD, 1998).

c) A transcendência

A bioética não pode ignorar a questão da transcendência que, para a religiosidade, é considerada preponderante à vida humana, de sua dignidade e de sua existência. Se negada a existência, nega-se automaticamente a transcendência. Assim, a bioética deve estar atenta às questões religiosas, tal como suas crenças, dogmas, costumes, tradições, modo de ser, enfim atento às questões culturais, pois estas questões se remetem à questão da vida humana, de sua existência e consequentemente de sua dignidade.

Pode-se questionar o motivo pelo qual se deve atentar para a transcendência. A bioética busca o bem comum dentre todos os seres vivos e não poderá se opor às questões comunitárias científicas sem o respaldo do bem comum e do diálogo e, para isso, faz-se necessário estar atento e inserido em diversos contextos a fim de não cair no fundamentalismo e determinismo religioso. Faz-se necessário, também, um diálogo e contato entre as religiões com as ciências; a bioética pode ser uma ciência que mede este diálogo. O individualismo não faz sentido.

Nunca se ouviu tanto sobre ética, valores, não restando dúvidas de que a crise ética é uma consequência das crises existenciais, crises de sentido à vida, assim, para voltar à harmonia, é necessário reconstruir a pessoa humana, ou seja, afirmar o sentido a existência.

Tal crise ética está relacionada à questão da antropologia e parece que a mesma não tem conseguido resolver as questões ligadas à existência, pelo único fato da própria existência estar ligada diretamente à transcendência, ou seja não ignorar o mistério também é uma tarefa da bioética, talvez a mais difícil de todas, conscientizar da sua importância e relevância à vida (BERNARD, 1998).

As Igrejas Cristãs Diante do Consumismo e do Capitalismo

Os primeiros humanos produziam e consumiam apenas o necessário para a sua sobrevivência. Quando necessitava de algo que não produzia, usava-se o método de escambo, ou seja, procurava por alguém interessado pelo seu produto

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para negociar. Com o passar dos tempos, surgiu a “moeda de troca”, ou seja, o dinheiro, o que acabou gerando o acúmulo de riqueza, fato este que não o objetivo (SANTOS, 2017).

Os judeus e os protestantes não viam problemas com este ato, o que ajudou a fortalecer o capitalismo. O problema foi o desejo ganancioso e desenfreado de acumular bens em excesso de forma ilícita, bem como a exploração sobre a outra pessoa afligindo a dignidade humana alheia. Nesta perspectiva moral, a igreja protestante sempre postulou críticas ao sistema econômico capitalista e ao consumismo pagão.

A igreja católica, por sua vez, sempre vem alertando e criticando este sistema desigual e alienante, pois além de gerar exclusão social, não permite igualdade, fraternidade e justiça social. São inúmeras as desigualdades sociais provocadas pelo capitalismo, pela industrial cultural, pela mídia, pelo consumismo desenfreado, pelas ideologias de massa a serviço dos meios de comunicação.

O capitalismo torna-se condenável, segundo Pio XI, somente quando viola normas de justiça, ou seja, quando os trabalhadores têm seus direitos violados, desprezando-se a dignidade humana e a função social da economia. O papa São João Paulo II defende que se precisa distinguir o capitalismo liberal e o capitalismo de mercado. Afirma que capitalismo de mercado pode ser aceito, mas aconselha mudar o nome para economia de mercado, economia de empresa ou economia livre.

Palavras como competição, individualismo, acúmulo de riquezas como objetivo de vida, materialismo, exploração, consumismo etc., não estão de acordo como os princípios do evangelho. O pensamento de Cristo, em muito, contrasta com o pensamento capitalista.

A sociedade atual é fortemente marcada pela globalização, que influencia diversos aspectos da vida humana e possui como características fundamentais: o desenvolvimento tecnológico; a divisão do planeta em blocos econômicos; a intensificação da comunicação; o caráter mundial da economia; a disponibilização de informações em tempo real e a integração de povos; os países estão interligados, o que torna a distância mais curta para relações econômicas e culturais.

O aparecimento de novas tecnologias permitiu a produção em larga escala a custo baixo, aumentando a oferta de produtos, colaborando para uma maior competição e para o surgimento de mão de obra especializada que aumentou o desemprego, ampliando a desigualdade entre ricos e pobres. O mercado tornou-se mais agressivo e o consumo foi fortalecido, visando incessantemente ao lucro, com o predomínio de busca pela satisfação pessoal.

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Nessas condições, pode-se perceber que as mudanças no cenário mundial não implicaram, necessariamente, na melhoria da qualidade de vida. Os efeitos da globalização fizeram com que ocorresse uma inversão de valores, quando o ser humano vive em função da concretização de desejos materiais que aumentam o contraste social, pois quem não se enquadra é excluído. O individualismo, o desamor, a falta de fé e de princípios só fazem aumentar a insegurança e violência

A atual sociedade tecnicista não remete ao ser humano seu devido valor,

esquecendo-se que a pessoa humana é um ser complexo e profundo que não pode simplesmente ser reduzido a uma máquina, animal ou objeto, pois cada qual é único e irrepetível. O homem deve ser considerado como indivíduo, uma unidade e totalidade, valorizado em sua globalidade de aspectos que se encontram em harmonia.

Um dos documentos da igreja católica que debate questão do capitalismo e do consumismo é a encíclica do papa João Paulo II, Centesimus Annus, onde é realizada uma profunda reflexão sobre o trabalho humano e o mercado neoliberal. Veja alguns pontos de destaque:

Trabalho: refletindo sobre a encíclica de Leão XIII, ele diz que a chave de leitura do texto leonino é a dignidade do trabalhador enquanto tal e, por isso mesmo, a dignidade do trabalho. Depois, refere-se à dimensão pessoal e social do trabalho, acentuadas por Leão XIII. Retoma ainda alguns outros pontos da Rerum Novarum, tais como salários dignos e horários humanos.

Capital: João Paulo II retoma alguns tópicos da Rerum Novarum para demonstrar que Leão XIII já havia afrontado em seu tempo o conflito capital-trabalho, que ele chamava de “questão operária”. A esse propósito, apresentou algumas indicações, tais como aquelas da dignidade do trabalho e do trabalhador, que permanecem válidas até hoje (CA, n. 5). Falando de luta e empenho pela justiça, a encíclica enfatiza que é justo falar de “luta contra um sistema econômico”, entendido como prevalência absoluta do capital, da posse dos meios de produção e da terra, relativamente é livre subjetividade do trabalho do homem. Nessa luta, não se via como alternativa o socialismo (CA, n. 35).

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Propriedade: a encíclica recorda a doutrina tradicional da igreja, desde a Rerum Novarum, sobre o direito natural à propriedade privada, e ao mesmo tempo sobre as responsabilidades que pesam sobre esse direito. Depois, fala da origem de todos os bens, que é o ato criador de Deus. Ele criou tudo para todos, sem privilegiar ninguém. Está aqui a fonte do princípio patrístico da destinação universal dos bens. É através do seu trabalho e inteligência que o homem consegue transformar a terra e estabelecer nela sua morada. Assim, o trabalho está na origem da propriedade individual. Acena-se ainda sobre a necessidade de não se impedir que outros tenham acesso a esse direito; pelo contrário, deve se fomentar esse direito para todos. Fala-se de um novo tipo de propriedade atualmente, que é da “técnica” e do “saber”. A riqueza das nações industrializadas fundamenta-se no monopólio deste know how, que não é repartido com outras nações (CA, n. 30 ss).

Mercado: embora a ideologia neoliberal acentue o contrário, a encíclica ensina que o mercado não é total, mas tem limites:

a) O mercado só é viável para quem tem a oferecer, deixando de fora os que não podem entrar no sistema de empresa (n. 33).

Salário: retorna-se ao ensinamento da Rerum Novarum, sobre a dupla dimensão do trabalho, pessoal e necessário, reafirma-se o ensinamento de que, enquanto necessário para a subsistência, o salário deve ser tal a garantir um nível de vida digno, de sustentar o trabalhador e sua família.

A encíclica salienta que, apesar de tantas convenções trabalhistas nacionais e internacionais, ainda há atualmente situações como aquelas do “capitalismo selvagem” do tempo da Rerum Novarum, onde o trabalhador é obrigado a aceitar um salário que não atende às suas reais necessidades (CA, n. 8). Uma das funções do Estado, na esteira do ensinamento da Novarum, é exatamente assegurar níveis salariais adequados ao sustento do trabalhador e de sua família, função também importante dos sindicatos.

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b) O mercado vale somente para as realidades solvíveis, passíveis de serem vendidas e compradas. Existem, porém, necessidades humanas fundamentais que não entram nessa categoria e que devem ser respondidas fora do sistema de mercado (n. 34).

c) Existem necessidades coletivas e qualitativas às quais o mercado não pode responder (n. 40).

O mercado é, pois, um mecanismo idôneo, mas com limitações que é preciso suprir. A igreja reconhece a positividade do mercado e da empresa, mas esses devem estar orientados para o bem comum. Existem, portanto, outros critérios que vão além dos técnico-econômicos, para regular o mercado.

Estado e economia: a atividade econômica não pode desenvolver-se num vazio institucional. Eis então a primeira função do Estado: garantir a segurança de quem trabalha e produz. Outra tarefa do Estado é vigiar e orientar o exercício dos direitos humanos no setor econômico; nesse campo, entretanto, a primeira responsabilidade não é do Estado, mas dos indivíduos e diversos grupos que se articulam na sociedade. Pode ainda o Estado intervir quando situações particulares de monopólio criem atrasos ou obstáculos ao desenvolvimento. Pode ainda exercer uma função de suplência quando setores sociais ou sistemas de empresas se mostram inadequados à sua missão.

Conteúdo concreto do papel do Estado:

- 1º Determinar o marco jurídico dentro do qual se desenvolvem as relações econômicas e salvaguardar as condições fundamentais para uma economia livre (n. 15; 25).

- 2º Garantir a igualdade de condições dos distintos agentes econômicos (n. 15; 48). Uma igualdade de condições perante a lei e, principalmente, na hora da negociação dos contratos, mas não igualitarismo na distribuição das rendas ou de um critério de redistribuição das mesmas.

- 3º Tutelar os direitos de nível superior: proteger a liberdade de todos (n. 44), zelar pelo exercício de direitos humanos no campo econômico (n. 48).

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- 4º Prover os ‘bens públicos’: sistema monetário estável, serviços públicos eficientes, segurança jurídica (n. 48), defesa e tutela dos bens coletivos, tais como o ambiente humano e natural (n. 40).

- 5º Uma presença de suporte e suplência da iniciativa privada, segundo o princípio de subsidiariedade (n. 48).

No conjunto, as tarefas do Estado resultam mais amplas do que lhe atribuem alguns economistas liberais, mas também notavelmente mais restritiva que as que sustentam os intervencionistas.

Fonte: Disponível em: <https://noticias.cancaonova.com/especiais/canonizacao-joao-paulo-ii-e-joaoxxiii/magisterio-social-de-jpii-

enciclica-centesimus-annus/>. Acesso em: 7 dez. 2017.

Algumas ConsideraçõesNesta unidade estudamos os concílios ecumênicos do Vaticano I e II; a

renovação da igreja protestante/evangélica; o pluralismo do cristianismo a partir do ecumenismo e do diálogo inter-religioso; o posicionamento das igrejas cristãs diante dos avanços técnicos científicos; o posicionamento das igrejas cristãs diante do consumismo e do capitalismo; objetivando com isso promover uma breve análise crítica da igreja cristã contemporânea.

A igreja cristã, ao longo dos últimos séculos e principalmente após o Iluminismo, tem sofrido com as mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas. Podemos dizer que vivemos em uma nova sociedade, onde temos novos paradigmas, uma nova moral, uma nova ética, um relativismo exacerbado da qual se instaurou um círculo, o qual não é possível sair dele.

Entretanto, entendemos que a igreja cristã, seja qual for a denominação religiosa, tem um papel relevante na construção do reino de Deus, da qual não podemos nos omitir. Socialmente falando, trata-se da chamada responsabilidade social do líder religioso. Ao pensar no reino de Deus, estamos pensando numa sociedade justa e vice-versa. Ao idealizar justiça social estamos idealizando o amor de Deus na Terra.

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Em suma, a igreja cristã contemporânea tem um papel ímpar na construção do reino de Deus, que é o seu protagonismo atual e que leva junto a sua responsabilidade moral e social. Por fim, destacamos que o material é de nível introdutório, portanto, não tem o objetivo de esgotar academicamente a temática, cabendo ao leitor por meio de leituras e estudos fundamentar sua pesquisa. Lembramos que as referências bibliográficas citadas na respectiva obra colaboram com essa fundamentação intelectual.

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