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CHARLES BAUDELAIRE
Paris, 09 de abril de 1821
Considerado um dos precursores do simbolismo.
“Amigo” do álcool e dos entorpecentes.
Foi expulso de sua escola e foi obrigado pelo padrasto a viajar à Índia, local onde ele não chega.
Em 1857 é lançado sua obra-prima: Les Fleurs du Mal.
† Paris, 31 de agosto de 1867
“Baudelaire por Félix Nadar”
LES FLEURS DU MAL
Publicado em 25 de junho de
1857.
Contém 100 poemas.
O livro é acusado pelo poder
público de ultrajar a moral da
sociedade.
Os exemplares foram
confiscados e o escritor é
multado em 300 francos e a
editora em 100.
A censura se deu em razão de
6 poemas considerados
“obscenos” pela crítica.
Capa original de Les Fleurs du Mal com
anotações do autor
O POETA DA MODERNIDADE
O crítico alemão Hugo Friedrich dedicou em seu livro Estrutura da
Lírica Moderna (1956), um capítulo para o poeta Baudelaire, conhecido
também como o poeta da modernidade.
A metade do século XVIII e início do século XIX são marcados pela
transformação industrial, pelo impacto da tecnologia modernizando a
produção fabril, o crescimento das cidades e da vida urbana, da mão-de-
obra assalariada, pela desagregação dos valores sociais (família, religião).
O POETA DA MODERNIDADE
Essas transformações trazem consigo alterações na literatura e na
pintura. Surge a fotografia. O ideal romântico é substituído pela beleza
escondida na realidade dura e fria das grandes cidades. Daí o
surgimento do termo “Modernidade”, usado primeiramente por
Baudelaire, ao reconhecer que o poeta pode transformar em poesia a
realidade cinzenta das cidades.
Com Baudelaire a lírica francesa passou a ser de domínio europeu,
exercendo influência sobre a Alemanha, a Inglaterra, a Itália e a Espanha.
O POETA DA MODERNIDADE
Na França, foi seguido por Rimbauld, Verlaine e Mallarmé.
O inglês Thomas Stearns Elliot denominou Baudelaire como o “maior
exemplo da poesia moderna em qualquer língua”.
Tendo como base o livro “As Flores do Mal”, escrito por Baudelaire e
publicado em 1857, são analisadas as transformações na lírica moderna,
o surgimento do modernismo e o legado do poeta até os dias atuais.
DESPERSONALIZAÇÃO
Começa com Baudelaire a despersonalização da lírica moderna, a
separação do coração e mente. Quem dá vida e voz aos sentimentos
não é o homem dotado de razão e coração, e sim o homem dotado de
razão e fantasia.
“A palavra lírica já não nasce da unidade da poesia empírica, como haviam
pretendido os românticos”.
DESPERSONALIZAÇÃO
O poeta é desumanizado, existe somente o sujeito lírico e sua poesia:
“[...] Lágrimas? Sim, mas aquelas „que não vêm do coração‟.” – Friedrich p.
37)
Quase todas as poesias do livro “As Flores do Mal” falam a partir do
„eu‟. Mas este homem voltado para si mesmo quando compõe poesias,
mal olha para seu „eu‟ empírico.
CONCENTRAÇÃO E CONSCIÊNCIA DA
FORMA: LÍRICA E MATEMÁTICA
Baudelaire preferia trabalhar no aperfeiçoamento de um primeiro
esboço a escrever um novo poema.
Os poucos temas de Baudelaire podem se entender como portadores,
variantes, metamorfoses de uma tensão fundamental que, em poucas
palavras, podemos designar como tensão entre o satanismo e a
idealidade.
CONCENTRAÇÃO E CONSCIÊNCIA DA
FORMA: LÍRICA E MATEMÁTICA
Temática concentrada pode comparecer na poesia, mas não se trata de
poesia propriamente dita, e sim de mero material poético.
Baudelaire chamou a atenção que “As Flores do Mal” não querem ser
um simples álbum, mas um todo, com começo, desenvolvimento
articulado e fim.
CONCENTRAÇÃO E CONSCIÊNCIA DA
FORMA: LÍRICA E MATEMÁTICA
Ao lado de Conzionere de Petrarca, Der Westöstlichen, do Divan de Goethe
e do Cántico de Guillém, Les Fleurs du Mal, é o livro arquitetonicamente
mais rigoroso da lírica europeia.
Baudelaire abandonou nas sucessivas adições, a distribuição numérica,
mas reforçou a ordem interna.
CONCENTRAÇÃO E CONSCIÊNCIA DA
FORMA: LÍRICA E MATEMÁTICA
A salvação da poesia consiste na linguagem, enquanto o conteúdo permanece em sua insolubilidade.
Baudelaire diz: “É de todo evidente que as leis métricas não são tirânicas inventadas arbitrariamente. São regras exigidas pelo próprio organismo espiritual. Jamais impediram a oralidade de realizar-se. O contrário é infinitamente mais certo: sempre ajudaram a originalidade a atingir a maturidade.
A inspiração tem para ele o valor de algo meramente natural, de subjetividade impura.
TEMPO FINAL E MODERNIDADE
No aspecto temático, pode-se perceber porque Baudelaire se afasta do
romantismo, em que confronto com ele, os românticos parecem
amadores.
Baudelaire sabe que só se pode conseguir uma poesia adequada ao
destino de sua época captando o noturno e o anormal.
TEMPO FINAL E MODERNIDADE
O conceito de modernidade de Baudelaire tem ainda outro aspecto. É
dissonante, faz o negativo, ao mesmo tempo algo fascinante. O mísero, o
decadente, o mau, o noturno, o artificial, oferecem matérias estimulantes
que querem ser apreendidas poeticamente.
Ele aprova toda situação que exclua a natureza para afundar o reino
absoluto do artificial.
ESTÉTICA DO FEIO
Utilização de paradoxos: “puro e bizarro”
A feiúra e o disforme estimulam e surpreendem, passam a ser razões do
poetar moderno, pois demonstram irritação contra o banal e o
tradicional.
Schlegel, Victor Hugo e Poe: grotesco nada tem a ver com o jocoso.
Metafísica do cômico absoluto; lei do absurdo.
“O PRAZER ARISTOCRÁTICO” DE
DESAGRADAR
Baudelaire fala do prazer de desagradar, dá à poesia uma dramaticidade
agressiva, que a partir de então deveria caracterizar a poesia e a arte
moderna, mesmo que não venha dos princípios do poeta, do artista, mas
provenha o suficiente da própria obra.
Baudelaire saúda o fato de que a poesia provoque um “choque
nervoso”, vangloria-se de irritar o leitor e de que este não o
compreendia. A poesia outrora fonte de alegria, tornou-se arsenal
inesgotável de tortura.
CRISTIANISMO EM RUÍNA
“Para se penetrar a alma de um poeta, tem-se de procurar aquelas
palavras que aparecem mais amiúde em sua obra. A palavra delata qual é
sua obsessão”.
De um lado então: obscuridade, abismo, ansgústia, desolação, deserto,
prisão, frio, negro, pútrido... Do outro lado: ímpeto, azul, céu, ideal, luz,
pureza... Esta antítese exacerbada passa através de quase toda poesia.
CRISTIANISMO EM RUÍNA
Esta aproximação de que normalmente é incompatível chama-se: oxymoron. É uma antiga figura do discurso poético, apropriado para exprimir estados complexos da alma.
Não se pode conceber Baudelaire sem o cristianismo.
Diríamos que o satanismo de Baudelaire à sobrepujança do mal, simplesmente animal pelo mal engendrando pela inteligência, graças ao grau supremo de mal.
Atrás da consciência de estar condenado, faz-se sentir o gosto “de gozar voluptuosamente” a condenação.
A IDEALIDADE VAZIA
“ardente espiritualidade”, “ideal”, “ascensão” – ascensio ou elevatio
“fogo resplandecente” – céu superior, de fogo, empíreo do cristianismo.
“purifica-te” – ato místico de purificatio
A IDEALIDADE VAZIA
“poção divina”, “profunda imensidade”, “espaços límpidos” – idealidade
sem conteúdo.
A idealidade é uma força de atração que, despertando uma tensão
excessiva para cima, repele o homem que está em tensão para baixo.
Poetas criam até mistérios para si mesmos.
MAGIA DA LINGUAGEM
O livro “As Flores do Mal” não é lírica obscura.
Poesia românica: alcançava o ponto em que o som atuava mais
profundamente que o conteúdo.
A partir do Romantismo: surgimento de novas condições – poder
sugestivo do material sonoro da língua.
MAGIA DA LINGUAGEM
Parentesco entre magia e a poesia é muito antigo, mas foram
“escondidos” durante o Humanismo e o Classicismo. Reconquista dos
valores através de E. A. Poe.
Baudelaire seguia as mesmas vertentes de pensamento de Poe. A
inovação do último era caracterizada em inverter as ordens do ato
poético: a forma passa a ser a origem do poema e o significado o
resultado.
MAGIA DA LINGUAGEM
Poe: “nota” poética: inspiração, entonação, caminho (ainda sem forma).
Ilação (dedução ilógica): sugestão do indeterminado – dominância do
som não ocorre sobre o significado – abandono das „forças mágicas‟.
“A poesia é um quadro concluído em si próprio” [pag. 51] – para sua
criação deve-se proceder com precisão matemática.
MAGIA DA LINGUAGEM
Baudelaire nos traz doutrinas de iluministas franceses (raízes do
simbolismo): palavra não é criação casual.
Friedrich cita frase de Mallarmé: “Há na palavra algo de sagrado que nos
impede de fazer dela um jogo de azar. Manejar com engenho uma língua
significa exercer uma espécie de magia evocadora”.
O termo “magia evocadora” é encontrado em diversas outras áreas,
inclusives nas artes plásticas.
MAGIA DA LINGUAGEM
“As Flores do Mal” possui apenas alguns trechos em que se pode
verificar o que é chamado de “magia linguística”: apenas algumas rimas,
assonâncias sonoras e sequências vogais que governam o sentido.
Baudelaire prenunciava uma lírica que renuncia a ordem objetiva, lógica
e afetiva e gramatical.
FANTASIA CRIATIVA
Quando o livro “As Flores do Mal” foi condenado judicialmente o que
mais desagradou Baudelaire foi a acusação de realismo. O Realismo
naquela época era uma literatura que representava baixezas da
realidade, chocantes, tanto moral quanto esteticamente.
Da capacidade de transformação e desrealização do real, há dois nomes
que se repetem com insistência: sonho e imaginação
FANTASIA CRIATIVA
O sonho é uma capacidade produtiva, não perceptiva, não aparece de
forma confusa e arbitrária, mas sim de forma exata e sistemática.
Sua poesia é a materialização da sua espiritualidade inflamada, que se
esforça para escapar do real.
DECOMPOSIÇÃO E DEFORMAÇÃO
Mais importante contribuição de Baudelaire: discussões sobre fantasia.
A modernidade prevista por Baudelaire consiste em colocar a
decomposição no início do ato artístico.
Deformação: produto possui uma condição elevada
Conceitos são apenas esboços teóricos, encontra-se pouca referência
nas suas poesias.
DECOMPOSIÇÃO E DEFORMAÇÃO
Sempre temos que nos manter longe da realidade. Contrário à
fotografia visto que o mundo moderno empregou seu poder técnico em
um procedimento de simples cópia.
Condenou as ciências naturais pois as descrições ocasionavam a perda
do mistério.
DECOMPOSIÇÃO E DEFORMAÇÃO
Em uma conversa Baudelaire disse que “desejaria prados pintados de
vermelho, árvores pintadas de azul”.
Do surnaturalisme de Apollinaire derivará em 1917 o surrealismo, a
continuação do que queria Baudelaire.
ABSTRAÇÃO E ARABESCO
“O poeta é a inteligência mais elevada, e a fantasia é a mais científica de
todas as faculdades”
Abstrato – intelectual, não-natural
Arabescos – linhas e movimentos livres do objeto – se enlaça com o
conceito de “frase poética”
ABSTRAÇÃO E ARABESCO
Sistema Estético Baudelairianiano: grotesco, arabesco e fantasia
Beleza dissonante, afastamento do coração do objeto da poesia, estados
de consciência anormais, idealidade vazia, desconcretização, sentido de
mistério, aproximação às abstrações matemáticas e às curvas melódicas
da poesia.
L‟ALBATROS
Souvent, pour s‟amuser, les hommes d‟équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage.
Le navire glissant sur les gouffres amers.
A peins les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l‟azur, maladroits et henteoux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côte d‟eux
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu‟il est comique et laid!
L‟um agace son bec avec um brûle-gueule,
L‟autre mime, em boitant, l‟infirmee qui voilat!
Le Poëte est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l‟archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l‟empechnent de marcher.
O ALBATROZ
Ás vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio singrar por glaucos patamares.
Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.
Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachumbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!
O Poeta se compara ao príncipe da altura
Que habita os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.