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1
I INTRODUO
I.1 Urbanizao
As primeiras cidades surgiram na Mesopotmia (atual Iraque), depois vieram as
cidades do Vale do Nilo, do Indo, da regio mediterrnea e Europa e, finalmente, as
cidades da China e do Novo Mundo .
Embora as primeiras cidades tenham aparecido h mais de 3.500 anos a.C., o
processo de urbanizao moderno teve incio no sculo XVIII, em conseqncia da
Revoluo Industrial, desencadeada inicialmente na Europa. No Terceiro Mundo, a
urbanizao um fato bem recente. Hoje quase metade da populao mundial vive
em cidades havendo uma tendncia de aumento conforme se acelera o
desenvolvimento .
No sculo XX, aps a II Guerra Mundial, devido necessria reconstruo fsica
a que se viram obrigadas algumas cidades, muitos pases importantes tomaram
medidas para formalizar leis baseadas em princpios urbansticos .
Na Era Moderna, a Inglaterra foi o primeiro pas do mundo a se urbanizar, tendo
j em 1850 mais de 50% da populao urbana, no entanto a urbanizao acelerada da
maior parte dos pases desenvolvidos industrializados s ocorreu a partir da segunda
metade do sculo XIX. Alm disso, esses pases demoraram mais tempo para se
tornar urbanizados que a maioria dos atuais pases em desenvolvimento. Portanto, em
geral, quanto mais tarde um pas se torna industrializado tanto mais rpida sua
urbanizao .
2
O Brasil conhece o fenmeno da urbanizao propriamente dita somente em
meados do sculo XX. At ento, a vida urbana resumia-se, na maior parte do pas, a
funes administrativas voltadas a garantir a ordem e coordenar a produo agrcola .
Em fins do sculo XIX, o Brasil assiste ao crescimento do fenmeno de
urbanizao do territrio. So Paulo, lder na produo cafeeira, inicia a formao de
uma rede de cidades, envolvendo os estados do Rio Janeiro e de Minas Gerais. Mas,
ser apenas em meados do sculo XX, quando ocorre a unificao dos meios de
transporte e comunicao, que as condies se tornam propcias para uma verdadeira
integrao do territrio. Modificam-se substancialmente os fluxos econmicos e
demogrficos, conferindo um novo valor aos lugares 4.
A evoluo da taxa de urbanizao no Brasil indica a importncia e a velocidade
das transformaes. Em 1950 este ndice alcanava 36% sobre o total da populao
do Pas. Em 1970 representava 57%, ou seja, mais da metade da populao, e em
1990, chegava a 77%. A populao urbana no Brasil em 1991, 116 milhes de
habitantes, se aproximava da populao total do Pas da dcada anterior 119
milhes de habitantes em 1980 . Nessa dcada, o pas j contava com 142 cidades
com mais de 100 mil habitantes e, em 1991, eram 187 4.
Nos anos 90 constata-se uma elevao nas taxas de urbanizao das diversas
regies do Pas. O Sudeste, pioneiro do moderno sistema urbano brasileiro,
apresentava, em 1996, um ndice em torno de 88%, seguido pelo Centro-oeste, com
81%, o Sul, com 74%, o Nordeste, com 61%, e, por fim, o Norte, com 58%. De
modo geral, o fenmeno significativo e os diferentes ndices refletem diferenas
qualitativas ligadas forma e ao contedo da urbanizao .
3
Nos ltimos duzentos anos, a populao humana residente nas cidades
aumentou de 5% para 50%. As estimativas para 2030 so de mais de dois teros da
populao mundial morando em centros urbanos. Tal mudana trouxe consigo vrias
alteraes no estilo de vida, pois reflete o desenvolvimento industrial e tecnolgico
exponencial que parece ser a maior razo individual para o aumento dos grandes
centros urbanos 5.
Todo esse fantstico crescimento foi possvel graas ao desenvolvimento
cientfico e tecnolgico, especialmente por que propiciou a reduo da alta
mortalidade por vrias doenas e permitiu o aumento da produo de alimentos, esse
mediante a criao de novas variedades de plantas e o uso macio de agroqumicos
na chamada revoluo verde dos anos 1960-70, que teve, porm, profundas
implicaes ambientais negativas 6.
A revoluo moderna da sade pblica comeou nas cidades Europias do
Sculo XIX sob as presses da industrializao, pobreza crescente e superpopulao
proporcionando uma vida urbana que se deteriorava a cada ano 5. At a metade do
sculo XX, a principal causa de morte nas regies industrializadas era por doenas
infecto-contagiosas. Entretanto, essa causa comeou a diminuir na segunda metade
do sculo XIX, devido melhoria de fatores ambientais, principalmente saneamento
bsico, assim como o aumento dos suprimentos alimentares. Outros fatores foram a
melhoria das condies de moradia, da gua oferecida; a prtica da higiene
domstica e a diminuio do analfabetismo. Alguns autores reforam a importncia
das intervenes de sade pblica, incluindo engenharia sanitria e vacinao 5.
Ao mesmo tempo em que a industrializao se intensificava, o ambiente era
invadido por diferentes tipos de poluentes, sendo a poluio do ar a primeira a ser
4
relacionada com danos sade humana. Episdios de intensa poluio area
ocorreram na Europa e Amrica do Norte na metade do sculo XX, tendo como
exemplo mais marcante, o grande fog de Londres em 1952. Com isso, houve o
advento de legislaes que obrigavam a diminuio da propagao de partculas
pesadas e dixido sulfrico. No entanto, aumentou a concentrao de gs carbnico e
outras partculas menores. Alm disso, outras formas de poluio surgiram com a
falta de saneamento bsico e coleta de esgoto, poluindo guas fluviais e mananciais;
o depsito irregular de resduos slidos, trazendo a poluio do solo e dos aqferos
subterrneos 5.
As cidades possuem uma funo ativa na modificao dos sistemas de
reciclagem naturais que mantm o ecossistema em equilbrio por meio dos ciclos
biolgicos, limpeza das guas e ar e reciclagem de nutrientes. Enquanto antigamente
tais funes no eram valorizadas devido ao pequeno nmero de habitantes
terrestres, hoje, as mudanas ocorrem de tal ordem que a populao mundial corre o
risco de vrios problemas de sade. A mudana mais radical at o momento tem sido
no clima, com o aumento da temperatura do planeta. O mundo urbanizado (um
quinto da populao mundial) contribui com trs quartos das emisses de gases
poluentes na atmosfera. Como conseqncia da mudana climtica haver
diminuio de alimentos, de gua potvel e do controle de infeces 5.
5
I.2 Poluio
Entende-se por poluio a introduo de substncia ou energia no meio ambiente,
alterando suas condies naturais e gerando prejuzos sade e ao bem-estar humano.
Emisso de resduos slidos, lquidos e gasosos, em quantidade superior capacidade
de absoro do meio ambiente ou maior do que a quantidade existente no meio.
Tambm causada pelo lanamento de substncias que no existem na natureza,
como os inseticidas. A poluio interfere no equilbrio ambiental e na vida dos
animais e vegetais 7.
Desde quando o homem comeou a conviver em grandes comunidades, ele
alterou a natureza de forma a assegurar a prpria sobrevivncia e lhe proporcionar
conforto. A agricultura, a pecuria e a construo de cidades modificam diretamente
a natureza transformando caractersticas geogrficas como vegetao,
permeabilidade do solo, absortividade e refletividade da superfcie terrestre, alm de
alterar as caractersticas do ar atmosfrico e das guas 8.
Todos os tipos de poluio so freqentes nas grandes cidades, como a poluio
do ar produzida pelas combustes das fontes industriais e, mais recentemente, dos
veculos automotores, a poluio das guas, por resduos qumicos, esgoto industrial
e domstico, a poluio do solo causada por depsito irregular dos resduos,
domsticos e industriais, a poluio sonora, a visual, a luminosa e a mais moderna, a
poluio eletromagntica provocada pelo aumento vertiginoso de novas tecnologias.
Assim observa-se que a degradao ambiental urbana altera no apenas as
condies locais, mas tambm agride o meio ambiente como um todo, poluindo-o de
diversas formas e, ao ser humano que nele habita, resta conviver num ambiente
inspito e muitas vezes responsvel pelos diversos males fsicos, mentais e sociais.
6
I.2.1 Poluio atmosfrica
Desde os mais remotos registros da presena humana na superfcie da Terra, h
aproximadamente um milho de anos, com o aparecimento dos primeiros homindeos
na poro mais ao sul do continente africano, o homem tem atuado de forma
transformadora e, muitas vezes, predatria sobre a natureza. A partir da descoberta
do fogo, aproximadamente 800 mil anos antes de Cristo, o homem passou a
contribuir de forma atuante, porm no consciente, para a deteriorao da qualidade
do ar e a sofrer as conseqncias desse ato 9, 10.
Originam-se em eras pr-crists as primeiras preocupaes com a qualidade do
ar. Devido ao uso do carvo como combustvel, as cidades dessa poca j ostentavam
ares com qualidade aqum do desejvel. Essa situao veio se agravando durante os
primeiros sculos da histria ps-crist, at que os primeiros atos de controle de
emisso de fumaa foram baixados na Inglaterra do final do sculo XIII 11.
Vastas quantidades de poluentes resultantes de atividades humanas so lanadas
na atmosfera. As refinarias de petrleo, indstrias qumicas e siderrgicas, fbricas
de papel e cimento emitem xidos sulfricos e nitrogenados, hidrocarbonetos,
enxofre, diversos resduos slidos e metais pesados (como chumbo, zinco e nquel).
Aerossis e outros produtos liberam clorofluorcarbonos (CFCs), produtos qumicos
sintticos. Os veculos automotores emitem gases como o monxido e o dixido de
carbono, o xido de nitrognio, o dixido de enxofre e os hidrocarbonetos. As fontes
de emisso de poluentes primrios e dos componentes secundrios podem ser as mais
variadas 7.
Nas plantas, os poluentes qumicos prejudicam o metabolismo, causando danos
na membrana celular, interferindo no mecanismo de abertura e fechamento de
7
estmatos e corroso da cutcula das folhas e acculas. Quando as plantas esto
sujeitas as altas concentraes de poluentes, sofrem danos agudos, com sintomas
exteriormente visveis: despigmentao da clorofila, descolorao das folhas, necrose
de reas de tecido e rgos ou a morte. Com baixas concentraes de poluentes, no
h, de incio, nenhum envenenamento exteriormente visvel. Mas mudanas
qumicas, bioqumicas, estruturais e funcionais podem ocorrer (entupimento dos
estmatos, alteraes na fisiologia da planta), alm da susceptibilidade a pragas e
doenas 12.
Sabe-se que episdios agudos de poluio esto relacionados com mortes por
problemas respiratrios, portanto quanto mais poludo est o ar maior a chance de
pessoas morrerem por problemas respiratrios 13.
Se a poluio est relacionada com o aumento da mortalidade, est tambm
relacionada com a maior morbidade que pode ser observada por meio do nmero de
admisses hospitalares ou em pronto socorros, visitas ao mdico, declnio da funo
pulmonar e aumento de sintomas respiratrios. Diversos estudos mostram que as duas
faixas etrias mais afetadas pelos danos da poluio so os idosos e as crianas 14.
Toda essa concentrao de poluentes est intimamente associada com o
desenvolvimento e a crescente necessidade de produo de energia para a
sobrevivncia e conforto da grande massa populacional aglomerada nos centros
urbanos.
8
I.3 Energia
"A energia trmica e luminosa liberada pelo fogo foi a primeira a ser controlada
pelos ancestrais do homem, h 500 mil anos; a madeira era o principal combustvel
utilizado na poca.
As carroas movidas por animais surgem em 3.500 a.C. na Sumria, na mesma
poca em que so inventados no Egito os botes com velas. A roda d'gua surge em
3000 a.C, na Babilnia.
A China adota o carvo como fonte de energia por volta de 1.000 a.C. medida
que o carvo da superfcie escasseava, ele comeou a ser escavado, mas no
conseguiu substituir a madeira.
Em 1640, o petrleo extrado de um poo em Mdena, na Itlia, comea a ser
utilizado na iluminao de rua. O uso do petrleo se estende como combustvel para
a Romnia, em 1650.
Em 1764, James Watt aperfeioa a mquina a vapor, que passa a ser usada em
locomotivas a partir de 1804, motivando a criao das estradas de ferro, e em navios
em 1807.
A primeira usina de energia eltrica surgiu em Londres, em janeiro de 1881, e a
segunda em Nova York, em setembro do mesmo ano. Forneciam energia para
iluminao e usavam a corrente contnua.
Em 1901, Pierre Curie descobriu que cada grama de rdio liberava 140 calorias
por hora. A descoberta indicou a existncia da energia radioativa, que mais tarde
seria chamada de energia atmica 15.
9
I.3.1 Energia eltrica
A eletricidade um fenmeno associativo de partculas da matria com cargas
positivas e negativas. As propriedades inerentes s cargas eltricas, que determinam
a movimentao das partculas, contribuem para a ocorrncia do fluxo eltrico ou
corrente eltrica. A concepo moderna da eletricidade est relacionada com o
campo eltrico, ou seja, o espao que circunda a partcula carregada eletricamente.
A eletricidade no uma fonte primria de energia, mas a forma mais refinada de
utilizao energtica 16.
O magnetismo que um fenmeno submetido a campos magnticos exerce
efeitos sobre os materiais e se manifesta tambm na presena de cargas eltricas em
movimento. Por essa razo ele sempre foi considerado parte integrante dos estudos
sobre eletricidade 16.
Na radiao eletromagntica, a energia se propaga atravs de um meio material
ou espacial sob a forma de ondas (eletromagnticas). Essas decorrem da
movimentao, oscilante e acelerada da energia eltrica, provocando uma alterao
caracterstica que define a existncia de um campo magntico e de outro eltrico em
propagao. Esta alterao em si que determina a onda eletromagntica (Figura 1).
A faixa de variao, em que as ondas eletromagnticas se propagam, situa-se a partir
de zero (0), at 1023 Hz (Hertz) 16.
10
Figura 1. Esquema representativo da propagao das ondas eletromagnticas.
Fonte: http://webphysics.ph.msstate.edu/javamirror/ntnujava/emWave/emWave.htm
Onde E representa o campo eltrico e B seu correspondente fluxo magntico
Conforme a figura 2, diversos exemplos podem mostrar essa abrangente faixa
do espectro eletromagntico.
11
Figura 2. O espectro eletromagntico e suas correspondentes faixas de
freqncia e utilizaes.
Fonte: educar.sc.usp.br/ otica/espectro.gif
A utilizao da energia eltrica na forma convencional tem a sua mais
importante parcela relacionada com o emprego da corrente alternada (CA). No
Brasil, o sistema distribuidor da energia eltrica sob CA submete-se a uma
freqncia de 60 Hz que a freqncia industrial, padro brasileiro 17.
O lugar onde a energia gerada no , na maioria das vezes, aquele em que ela
ser utilizada. Por esse motivo necessrio, em geral, efetuar a transmisso dessa
energia adequadamente entre a fonte produtora e o consumidor. Por razes tcnicas,
essa transmisso de energia efetuada por uma linha de transmisso (LT) ou linha
eltrica e feita em alta tenso. A partir de certo ponto denominado, subestao
abaixadora, a energia distribuda por meio de linhas de distribuio 17 (Figura 3).
12
Figura 3. Distribuio da energia eltrica sob responsabilidade da AES
Eletropaulo na cidade de So Paulo.
5.000.000 de LIGAES1.027.000 Postes15.000 Km area600 Km subterrnea
CIRCUITOS SECUNDRIOSDE DISTRIBUIO 127/220 V
185.000 TRANSFORMADORES
DE DISTRIBUIO
RESIDENCIAL
USINAS
COMERCIAL / INDUSTRIAL
CIRCUITOS PRIMRIOSDE DISTRIBUIO 13.800 V.
1.738 circuitos primrios17.732 Km de rede area970 Km de rede subterrnea
LINHAS DE SUBTRANSMISS0 138.000 V. ou 88.000 V 1.500 Km areo170 Km subterrneo
SUBESTAES140 ETDs
INDSTRIA EM AT
Linha de Transmisso maior que 230.000 V
14 ETTs102 pontos de entrega
CTEEP
ETTs
Consumidores de Mdia Tenso
104 ETCs
Fonte: Projeto Eletropaulo/Abricem
Os campos eltricos so produzidos por cargas eltricas e sua intensidade se
mede em Volts por metro (V/m) ou em Kilovolts por metro (KV/m). A intensidade
das foras de atrao e repulso se denomina tenso eltrica ou voltagem e se mede
em Volts (V). Os campos eltricos so mais intensos quanto mais prximos esto da
sua fonte e diminuem com a distncia e com a presena de outros materiais como a
madeira ou metal 18.
Os campos magnticos so produzidos, em particular, quando as cargas eltricas
esto em movimento, ou seja, quando h correntes eltricas. Sua intensidade se
13
mede em Ampres por metro (A/m), que pode ser expressa em funo da induo
magntica que produz, medida em Teslas (T), militeslas (mT) ou microteslas (T).
Em alguns pases, se utiliza o Gauss (G) (10.000G=1T; 1G=100T; 1mT=10G;
1T=10mG). Todo circuito conectado a uma rede eltrica gerar em seu redor, se
estiver ligado e com corrente circulante, um campo magntico proporcional
quantidade de corrente que a fonte possui. A intensidade desses campos tanto
maior quanto mais prximo se estiver do circuito eltrico, e diminui com a distncia,
porm no so aparados por outros materiais 18.
I.3.2 Campos eletromagnticos (CEM)
Campos eltricos tm sua origem em diferentes voltagens: quanto mais elevada
a voltagem, mais forte ser o campo resultante. Campos magnticos tm sua
origem nas correntes eltricas: uma corrente mais forte resulta em um campo mais
forte. Um campo eltrico no existe sem que haja corrente. Quando h corrente, a
magnitude do campo magntico mudar com o consumo, porm a fora do campo
eltrico decair igualmente 19.
No meio em que vivemos, h campos eletromagnticos por toda parte, porm
so invisveis para o homem. Campos eltricos so produzidos pela acumulao de
cargas eltricas em determinadas zonas da atmosfera por efeito das tormentas. O
campo magntico terrestre provoca a orientao das agulhas das bssolas em
direo Norte-Sul e os pssaros e peixes o utilizam para orientar-se 18.
14
Alm das fontes naturais, no espectro eletromagntico h tambm fontes
geradas pelo homem. A eletricidade que surge de qualquer tomada de corrente
eltrica est associada a campos eletromagnticos de freqncia baixa. Alm disso,
diversos tipos de ondas de rdio de freqncia mais alta so utilizadas para
transmitir informao, seja por meio de antenas de televiso, estaes de rdio ou
estaes rdio base de telefonia mvel 18.
Uma das principais magnitudes que caracterizam um campo eletromagntico
(CEM) sua freqncia e seu correspondente comprimento de onda. O efeito sobre
o organismo dos diferentes campos eletromagnticos funo desta freqncia. A
freqncia simplesmente descreve o nmero de oscilaes ou ciclos por segundo,
enquanto que a expresso comprimento de onda se refere distncia entre uma
onda e a seguinte. Por conseguinte, o comprimento de onda e a freqncia esto
associados: quanto maior a freqncia, menor o comprimento de onda.
O comprimento de onda e a freqncia determinam outra caracterstica
importante dos campos eletromagnticos. As ondas eletromagnticas so
transportadas por partculas chamadas quantum de luz. Os quantum de luz de ondas
com freqncias mais altas (menor comprimento de onda) transportam mais energia
do que o das ondas de menor freqncia (maior comprimento de onda). Algumas
ondas eletromagnticas transportam tanta energia por quantum de luz que so
capazes de romper as ligaes entre as molculas. Das radiaes que compem o
espectro eletromagntico, os raios gama que emitem os materiais radioativos, os
raios csmicos e os raios X tm essa mesma capacidade e so conhecidos como
radiaes ionizantes. As radiaes compostas por quantum de luz sem energia
15
suficiente para romper as ligaes moleculares so conhecidas como radiaes no
ionizantes.
As fontes de campos eletromagnticos geradas pelo homem, constituem uma
parte fundamental das sociedades industriais (a eletricidade, as microondas e os
campos de radiofreqncia), esto no extremo do espectro eletromagntico
correspondente a comprimentos de onda relativamente longos. Freqncias baixas e
seus quantum de luz no so capazes de romper ligaes qumicas 18 (Figura 4).
Figura 4. O espectro eletromagntico, suas aplicaes e relao com a sade.
Fonte:
Os campos eltricos so mais intensos quanto menor a distncia da carga ao
condutor carregado que os gera e sua intensidade diminui rapidamente ao aumentar
16
a distncia. Os materiais condutores, como os metais, proporcionam uma proteo
eficaz contra os campos eltricos. Outros materiais, como os de construo e as
rvores, apresentam tambm certa capacidade protetora. Por conseguinte, as
paredes, os edifcios e as rvores reduzem a intensidade dos campos eltricos das
linhas de conduo eltrica situadas no exterior das casas. Quando as linhas de
conduo eltrica esto enterradas no solo, os campos eltricos que geram quase no
so detectados na superfcie. Igualmente aos campos eltricos, os campos
magnticos so mais intensos nos pontos prximos sua origem e sua intensidade
diminui rapidamente conforme aumenta a distncia desde a fonte. Os materiais
comuns, como as paredes dos edifcios, no bloqueiam os campos magnticos 18.
Os campos eletromagnticos, variveis no tempo que os circuitos eltricos
produzem, so um exemplo de campos de freqncia extremamente baixa (Extremaly
Low Frequency-ELF), com freqncias geralmente at 300 Hz. Outras tecnologias
produzem campos de freqncia intermediria (FI), com freqncias de 300 Hz a 10
MHz, e campos de radiofreqncia (RF), com freqncias de 10 MHz a 300 GHz. Os
efeitos dos campos eletromagnticos sobre o organismo no s dependem de sua
intensidade, mas tambm de sua freqncia e energia. As principais fontes de campos
de ELF so a rede de abastecimento eltrico e todos os circuitos eltricos; as telas de
computadores e os sistemas de segurana so as principais fontes de campos de FI e
as principais fontes de campos de RF so o rdio, a televiso, as antenas de radares e
telefones celulares e os fornos de microondas. Esses campos induzem correntes no
organismo que, dependendo de sua amplitude e freqncia, podem produzir diversos
efeitos como aumento da temperatura e choques eltricos. Os telefones mveis, a
televiso e os transmissores de rdio e radares produzem campos de RF. Esses
17
campos so utilizados para transmitir informao a distncias longas e so a base das
telecomunicaes, assim como a difuso de rdio e televiso em todo o mundo. As
microondas so campos de RF de freqncias altas, da ordem de GHz 18.
A transmisso de eletricidade a longa distncia se realiza mediante linhas
eltricas de alta tenso. Essas altas tenses se reduzem mediante transformadores
para a distribuio local a residncias e empresas. As instalaes de transmisso e
distribuio de eletricidade, o cabeamento e os circuitos eltricos domsticos geram
um nvel de fundo de campos eltricos e magnticos de freqncia de rede nas
residncias. Naquelas que no esto situadas prximo de linhas de conduo eltrica
a intensidade desse campo de fundo pode ser aproximadamente de 0,2 T. Os
campos dos lugares situados diretamente abaixo das linhas de conduo eltrica so
muito mais intensos. Dessa forma, a intensidade dos campos eltricos e magnticos
se reduz ao aumentar a distncia das linhas eltricas. Entre 50 m e 100 m de
distncia a intensidade dos campos normalmente equivalente a de zonas afastadas
das linhas eltricas de alta tenso. Os campos eltricos de freqncia de rede mais
intensos presentes normalmente no entorno so os dos lugares situados abaixo das
linhas de transmisso de alta tenso. Ao contrrio, os campos magnticos de
freqncia de rede mais intensos se encontram normalmente em pontos muito
prximos a motores e outros circuitos eltricos, assim como em equipamentos
especializados como aparelhos de ressonncia magntica, utilizados para gerar
imagens no diagnstico mdico 18.
Conforme mostra a tabela 1 os CEM esto presentes em todos os ambientes da
vida moderna, tendendo a aumentar conforme o avano tecnolgico causando
interferncias at mesmo nos sistemas biolgicos.
18
As autoridades cientficas e governamentais passaram a estudar e legislar sobre
o tema para o melhor controle da disseminao deste moderno tipo de poluio, a
fim de que no se torne mais um dos problemas de sade pblica devido a poluentes
ambientais produzidos pela ao descontrolada do homem sobre seu ambiente.
Tabela 1. Intensidades de campo eltrico tpicas, medidas em eletrodomsticos
a uma distncia de 30 cm.
Fonte: Oficina federal alem de segurana radiolgica (Bundesamt fr Strahlenschutz, BfS), 1999.
Eletrodomstico Intensidade de campo eltrico (V/m)
Receptor estereofnico 180
Ferro 120
Frigorfico 120
Batedeira 100
Torradeira 80
Secador de cabelo 80
Televisor colorido 60
Cafeteira eltrica 60
Aspirador 50
Forno eltrico 8
Lmpada 5
Valor limite recomendado 5000
19
I.4 Legislao
Levando em considerao o princpio da precauo que prioriza as aes no
apenas pela ocorrncia de doenas e desastres acidentais, mas antecipando esses
eventos pelo reconhecimento prvio dos riscos e dos contextos nocivos sade, em
1974, a Associao Internacional de Proteo a Radiaes (IRPA) organizou um
grupo de trabalho sobre radiao no ionizante (RNI) que se tornou a Comisso
Internacional de Radiao No Ionizante - International Non-Ionizing Radiation
Committee (INIRC) no Congresso da IRPA em Paris em 1977. Durante o Oitavo
Congresso Internacional da IRPA (Montreal, 1992), foi criada uma nova
organizao cientfica internacional independente - a Comisso Internacional de
Proteo contra as Radiaes No-Ionizantes - International Commission on Non-
Ionizing Radiation Protection (ICNIRP), com funo de investigar os perigos que
podem ser associados s diferentes formas de RNI, desenvolver diretrizes
internacionais sobre limites de exposio e tambm tratar de todos os aspectos da
proteo a RNI. A base cientfica para essas diretrizes foram os estudos dos efeitos
biolgicos relatados como resultantes da exposio a campos eltricos e magnticos
estticos e de freqncia extremamente baixa (ELF) 20.
O principal objetivo dessa publicao foi o de estabelecer as diretrizes para
limitar a exposio aos Campos Eletromagnticos (CEM), de forma a proteger
contra efeitos reconhecidamente adversos sade. Desse modo, as diretrizes
apresentadas referem-se s exposies de carter ocupacional e pblico 20.
Diretrizes referentes alta freqncia e aos CEM de 50/60Hz, foram emitidas
pela IRPA/INIRC em 1988 e 1990, respectivamente, mas foram substitudas pelas
20
atuais, que abrangem a totalidade da faixa de CEM variveis no tempo (at 300
GHz) 20.
A conformidade com essa diretriz, porm, no garante que sejam evitadas
interferncias ou efeitos em dispositivos mdicos, como prteses metlicas,
marcapassos cardacos, desfibriladores e implantes cocleares. A exposio aos CEM
variveis no tempo resulta em correntes internas no corpo e absoro de energia nos
tecidos, que dependem dos mecanismos de acoplamento e da freqncia envolvida.
Essas diretrizes so baseadas em efeitos na sade de carter imediato, em curto
prazo, tais como estimulao dos nervos perifricos e msculos, choques e
queimaduras causadas por tocar em objetos condutores e elevao de temperatura
nos tecidos, resultante da absoro de energia durante exposio aos CEM. No caso
dos efeitos potenciais da exposio em longo prazo, tais como aumento de risco de
cncer, a ICNIRP concluiu que os dados disponveis so insuficientes para prover
uma base para fixar restries exposio, embora uma pesquisa epidemiolgica
tenha produzido evidncias significativas, mas no convincentes, de uma associao
entre possveis efeitos carcinognicos e a exposio densidade de fluxo magntico
de 50/60Hz em nveis substancialmente inferiores aos recomendados. Porm, essas
diretrizes so periodicamente revisadas e atualizadas, assim que sejam feitos
avanos na identificao de efeitos prejudiciais sade, devidos a campos eltricos,
magnticos e eletromagnticos variveis no tempo 20.
As tabelas 2 e 3 mostram os limites preconizados pela ICNIRP, aceitos at a
presente data, para exposies ocupacionais e de pblico, de curto prazo e para
efeitos trmicos. Deve-se observar que no h limites estabelecidos para exposies
de longo prazo e seus efeitos atrmicos. Nessas tabelas destaca-se em negrito os
21
limites para campos eletromagnticos na freqncia (f) 60 Hz, respectivamente para
exposio ocupacional e de pblico.
Tabela 2. Nveis de referncia para exposio ocupacional a campos eltricos e
magnticos.
Faixas de Intensidade Intensidade Campo B Densidade de
freqncia de campo E de campo H (T) potncia de
(V.m-1) (A.m-1) onda plana
equivalente
Seq (W.m-2)
At 1 Hz - 1,63 x 105 2 x 105 -
1 8 Hz 20.000 1,63 x 105/f2 2 x 105/f2 -
8 25 Hz 20.000 2 x 104/f 2,5 x 104/f -
0,025 0,82 Hz 500/f 20/f 25/f -
0,82 65 kHz 610 24,4 30,7 -
0,065 1 MHz 610 1,6/f 2,0/f -
1 10 MHz 610/f 1,6/f 2,0/f -
10 400 MHz 61 0,16 0,2 10
400 2000 MHz 3/f 0,008f 0,01f f/40
2 300 GHz 137 0,36 0,45 50
Referente Tabela 6 da ICNIRP
Campo E = Intensidade de Campo Eltrico
Campo H = Intensidade de Campo Magntico
Campo B = Induo Magntica.
22
Tabela 3. Nveis de referncia para exposio do pblico em geral a campos
eltricos e magnticos.
Faixas de Intensidade Intensidade Campo B Densidade de
freqncia de campo E de campo H (T) potncia de
(V.m-1) (A.m-1) onda plana
equivalente
Seq (W.m-2)
At 1 Hz - 3,2 x 104 4 x 104 -
1 8 Hz 10.000 3,2 x 104/f2 4 x 104/f2 -
8 25 Hz 10.000 4000/f 5000/f -
0,025 0,8 kHz 250/f 4/f 5/f -
0,8 3 kHz 250/f 5 6,25 -
3 150 kHz 87 5 6,25 -
0,15 1 MHz 87 0,73/f 0,92/f -
1 10 MHz 87/f 0,73/f 0,92/f -
10 400 MHz 28 0,073 0,092 2
400 2000 MHz 1,375 f 0,0037 f 0,0046 f f/200
2 300 GHz 61 0,16 0,20 10
Referente tabela 7 da ICNIRP
Na tabela 4 esto sumarizados os limites de campo eltrico e magntico
considerando a exposio humana, empregados nos pases mais importantes de cada
continente e os normalizados pelas principais organizaes internacionais.
23
Tabela 4. Limites de campo eltrico e densidade de fluxo magntico para
exposio pblica e ocupacional nos principais pases e os
normalizados pelas principais organizaes internacionais.
Limites deCampo Eltrico (kV/m)
Limites de Densidade deFluxo Magntico (T)
Pas / Organizao Ocupacional Pblico Ocupacional Pblico
Alemanha (1) - 5 (4) - 100 (4)
Frana (1) - 5 (4) - 100 (4)
Reino Unido (2) 10 10 1333 1333
Itlia (1) - 5 e 10 (3) - 100 e 1.000 (3)
Sucia - - - -
Sua (1) - 5 (4) - 1 e 100 (4)
Canad (2) 8,33 (4) 4,17 (4) 417 (4) 83 (4)
Flrida EUA (2) - 2 - 8 e 10 - 15, 20 e 25
Minesota-EUA (2) - 8 - -
Montana-EUA (2) - 7 e 1 - -
Nova Jrsei-EUA (2) - 3 - -
Nova Iorque-EUA (2) - 11,8-11-7-1,6 - 20
Oregon EUA (2) - 9 - -
Japo 3 3 - -
Continua
24
Continuao
Limites deCampo Eltrico (kV/m)
Limites de Densidade deFluxo Magntico (T)
Pas / Organizao Ocupacional Pblico Ocupacional Pblico
Rssia 25 - 1.000 -
Coria do Sul (2) 8,33 (4) 4,17 (4) 417 (4) 83 (4)
frica do Sul (2) 8,33 (4) 4,17 (4) 417 (4) 83 (4)
Austrlia (2) 10 (3) 5 (3) 500 (3) 100 (3)
Brasil (2) 25 5 (3) 1.000 -
CENELEC (2) 25 8,33 1333 533
IEC - - - -
IEEE - - - -
ACGIH (2) 25 - 1000 -
ICNIRP (2) 8,33 4,17 417 83,33(1) Campos de 50 Hz (2) Campos de 60 Hz (3) Regulamentao em reviso(4) Adota recomendaes da ICNIRP - International Commission on Non-Ionizing Radiation
Protection
CENELEC - Comit Europen de Normalisation Electrotechnique
IEC - International Electrotechnical Commission
IEEE - Institute of Electrical and Electronics Engineers, Inc
ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH)
Pode-se observar que os limites de campo eltrico para exposio ocupacional
esto na faixa entre 3 e 25 kV/m e para o pblico em geral entre 1 e 11,8 kV/m. Para
a densidade de fluxo magntico os limites variam entre 417 e 1333 T (ou 4170mG
25
e 13330mG) para exposio ocupacional, e entre 1 e 1000 T (ou 10mG e
10000mG) para a populao.
A grande divergncia entre os valores deve-se s diferenas entre os fatores de
segurana utilizados, aos locais de exposio em que esto sendo considerados os
limites (faixas de segurana de linhas de transmisso, locais sensveis, creches,
edifcios de escritrio) e, principalmente, aos fatores polticos, sociais, econmicos e
geogrficos que so levados em considerao quando se aplicam medidas de
precauo.
Pode-se observar tambm que a maioria dos pases desenvolvidos segue as
recomendaes da ICNIRP: 4 dos 6 pases europeus, 1 dos 2 pases norte-
americanos, e 1 dos 3 pases asiticos. A ICNIRP a organizao que apresenta os
valores mais conservativos e com os maiores fatores de segurana, dentre as
organizaes normatizadoras que emitiram diretrizes baseadas em evidncias
cientficas.
No Brasil, no existe limite estabelecido para exposio do pblico em geral a
campos magnticos de baixas freqncias. Para campo eltrico de 60 Hz, a ABNT,
por meio da NBR 5422 - Projeto de Linhas Areas de Transmisso de Energia
Eltrica -, estabeleceu 5 kV/m como limite para exposio da populao no limite
das faixas de segurana de linhas de transmisso. Para exposio ocupacional, as
Normas Regulamentadoras NR 9 e NR 15 do Ministrio do Trabalho e Emprego,
estabelecem como limite os valores da ACGIH: 25 kV/m para campos eltricos e
1.000 T para densidade de fluxo magntico.
26
I.5 Campos eletromagnticos e seres vivos
Hoje em dia, todas as populaes do mundo esto expostas CEM, em maior
ou menor grau e, conforme avana a tecnologia, o grau de exposio continuar
crescendo. Por isso, at mesmo um pequeno efeito sobre a sade causado pela
exposio CEM poderia produzir um grande impacto na sade pblica 18.
Alguns estudos sugerem a possibilidade de que a exposio a campos
magnticos de freqncias da rede eltrica (50/60 Hz), ou seja, de freqncia
extremamente baixa, poderia produzir um incremento da incidncia de cncer em
crianas e outros efeitos prejudiciais para a sade; os indcios procedem
principalmente de estudos epidemiolgicos em zonas residenciais. Esses estudos
sugerem que existe uma associao entre a exposio de crianas a campos
magnticos de baixa freqncia e o aumento do risco de leucemia 18.
Os campos de radiofreqncia (RF) so utilizados em numerosos mbitos da
vida cotidiana, como a transmisso de rdio e televiso, as telecomunicaes (por
exemplo, os telefones mveis), no diagnstico e tratamento de doenas e nas
indstrias. Com a rpida introduo de dispositivos de telecomunicao mvel, entre
a populao em geral, tem-se prestado especial ateno aos problemas associados
com a exposio da cabea aos campos prximos de RF emitidos pela antena dos
telefones mveis 18.
Como parte de seu preceito de proteger a sade pblica e em resposta
preocupao da populao sobre os efeitos da exposio aos CEM, a Organizao
Mundial da Sade (OMS) criou em 1996 o Projeto Internacional CEM para avaliar
as provas cientficas dos possveis efeitos sobre a sade dos CEM no intervalo de
27
freqncia de 0 a 300 GHz. O Projeto fomenta as investigaes dirigidas a
preencher importantes lacunas do conhecimento e a facilitar o desenvolvimento de
normas aceitveis internacionalmente que limitem a exposio aos CEM.
Os objetivos do projeto so:
1. Dar uma resposta internacional e coordenada s inquietudes que suscitam os
possveis efeitos sanitrios da exposio aos CEM;
2. Avaliar as publicaes cientficas e elaborar informes atuais sobre os efeitos
sanitrios;
3. Descobrir aspectos insuficientemente conhecidos por meio de uma
investigao mais profunda, que permita avaliar melhor os riscos;
4. Incentivar a criao de programas de investigao especializados e de alta
qualidade;
5. Incorporar resultados de investigaes em monografias da srie Critrios de
Sade Ambiental da OMS, nas quais se avaliaro metodicamente os riscos
sanitrios da exposio aos CEM;
6. Facilitar o desenvolvimento de normas internacionalmente aceitveis sobre a
exposio aos CEM;
7. Fornecer, s autoridades, informao sobre a gesto dos programas de
proteo contra os CEM, e em particular monografias sobre a percepo,
comunicao e gesto dos riscos derivados dos CEM;
8. Assessorar as autoridades sobre os efeitos sanitrios e ambientais dos CEM,
e sobre as eventuais medidas ou atuaes de proteo necessrias.
28
Esse projeto tem previso de completar em 2007 as avaliaes dos riscos para a
sade devido exposio aos CEM, j que se prev que as investigaes em curso
proporcionaro, neste intervalo, resultados suficientes para avaliar os riscos para a
sade de forma mais categrica 18.
As suspeitas referentes a uma associao entre CEM e cncer surgiram quando
Wertheimer e Leeper referiram (1979) 21 uma associao entre mortalidade por
leucemia infantil e a proximidade de casas s linhas de distribuio de energia, o
que os pesquisadores classificam como wire codes ou cdigo de configurao
eltrica (wire code conceito que inclui dimenses, nmero, tipo e distncia da
residncia e de condutores externos mesma). A hiptese bsica que emergiu do
estudo original foi a de que a intensidade dos campos magnticos de 50/60 Hz, no
ambiente residencial devido a fontes externas tais como linhas de transmisso,
poderia estar relacionada ao risco de leucemia infantil.
A partir desse, dezenas de outros estudos foram realizados sobre cncer na
infncia e a exposio a campos magnticos de 50/60 Hz, devido a linhas de
transmisso nas proximidades de residncias. Esses estudos estimaram a exposio
ao campo magntico a partir de medidas de curto prazo ou com base na distncia
entre a residncia e a linha de transmisso e, na maioria dos casos, a partir da
configurao da linha; e outros estudos levaram em conta a carga da linha. Os
resultados relacionados leucemia so os mais consistentes; de treze estudos
publicados 21 - 33, oito apontaram estimativas de riscos relativos entre 1,5 e 3,0.
Tanto as medies diretas dos campos magnticos, quanto as estimativas
baseadas na proximidade de linhas de transmisso, so procedimentos imprecisos e
insuficientes para avaliar a exposio que ocorreu em vrias situaes antes que
29
fossem diagnosticados os casos de leucemia. Tambm no claro qual dos dois
mtodos de avaliao oferece a estimativa mais vlida de exposio. Embora os
resultados sugiram que realmente o campo magntico possa estar associado ao risco
de leucemia, h uma incerteza em funo do pequeno nmero de observaes e
tambm dependncia entre o campo magntico e a proximidade s linhas de
transmisso 34.
Estudos que examinaram o uso de aparelhos eletrodomsticos, principalmente
cobertores eltricos, em relao a cncer e outros problemas de sade, geralmente
apontaram resultados negativos 35 - 39. Somente dois estudos caso-controle avaliaram
o uso de eletrodomsticos em relao ao risco de leucemia na infncia. Um foi
realizado em Denver 40 e sugeriu uma ligao com o uso pr-natal de cobertores
eltricos, o outro, feito em Los Angeles 27, encontrou uma associao entre leucemia
e crianas que usaram secadores de cabelo e assistiam televiso em receptores
monocromticos.
O fato dos resultados de estudos relacionando leucemia e proximidade entre
residncias e linhas de transmisso mostrar relativa consistncia, levou o Comit da
Academia Nacional de Cincias dos Estados Unidos (NAS) a concluir que crianas
morando perto de linhas de transmisso parecem apresentar um maior risco de
leucemia, porm devido s pequenas amostras, os intervalos de confiana dos
estudos isolados so, em geral, amplos, aumentando o grau de incerteza. Quando
considerados em conjunto, os resultados so consistentes, apontando um risco
relativo de 1,5 41, o que evidencia um excesso de risco de 50% entre os expostos a
campos eletromagnticos de baixa freqncia em relao aos no expostos. Em
contraste, as medies de curto prazo do campo magntico, em alguns dos estudos,
30
no forneceram nenhuma evidncia de associao entre exposio a campos de
50/60 Hz e risco de leucemia ou de outro tipo de cncer em crianas. O Comit
ficou convicto de que os aumentos de risco reportados pudessem ser explicados pela
exposio a campos magnticos, pois no houve nenhuma associao aparente
quando a exposio foi estimada pela leitura de medidores de campos magnticos,
tanto nas residncias de casos de leucemia, como nas residncias de controles. Foi
sugerido que a explicao poderia estar na juno de algum outro fator de risco de
leucemia na infncia, vinculado residncia e sua vizinhana s linhas de
transmisso.
Aps o Comit da NAS ter completado sua reviso, foram publicados os
resultados de um estudo na Noruega 33 com mais de 500 casos de todos tipos de
cncer infantil. A exposio de cada indivduo foi estimada pelo clculo do nvel do
campo magntico produzido na residncia por linhas de transmisso na vizinhana,
estimativa essa feita pela mdia do ano inteiro. No foi observada nenhuma
associao entre leucemia e campos magnticos para residentes na poca do
diagnstico. Distncia da linha de transmisso, exposio durante o primeiro ano de
vida, exposio das mes durante a gravidez e exposio maior que a mediana do
grupo de controle, no revelaram nenhuma associao com leucemia, cncer do
crebro ou linfoma. Contudo, o nmero de casos expostos era reduzido.
Foi tambm publicado um estudo feito na Alemanha, depois de concluda a
reviso da NAS 31. Refere-se a um estudo caso-controle sobre leucemia na infncia,
baseado em 129 casos e um grupo de controle de 328 indivduos. A avaliao da
exposio compreendeu medies de campo magntico por mais de 24 horas no
quarto de dormir da criana, na residncia em que ela havia morado por mais tempo
31
antes da data do diagnstico. Foi notado um elevado risco relativo (3,2) para campos
mais intensos que 2 mG.
Linet (1997) 32 publicou um longo estudo caso-controle realizado nos Estados
Unidos (638 casos de leucemia e 620 indivduos como controles) para testar se a
leucemia linfide aguda na infncia estaria associada exposio a campos
magnticos de 60 Hz. As exposies a campos magnticos foram determinadas
usando a mdia de medies, ponderadas pelo tempo, efetuadas durante 24 horas no
quarto de dormir e medies de 30 segundos em vrios outros quartos. Tambm
foram feitas medies nas residncias em que a criana havia morado por 70% dos 5
anos anteriores ao ano do diagnstico ou o perodo correspondente para crianas do
grupo controle. Para pares de casos e controles com residncia estvel, nos quais
ambos no haviam mudado de residncia durante os anos anteriores ao diagnstico,
foi avaliada a configurao dos condutores das linhas de distribuio (wire
code), como forma indireta de avaliao da exposio. Essas determinaes
puderam ser feitas para 416 pares. No houve nenhuma indicao de uma
associao entre a configurao de condutores da linha e leucemia. Quanto s
medies de campos magnticos, os resultados so mais intrigantes. Para o limite de
2 mG, a anlise de risco comparando casos e controles, resultou em riscos de 1,2
(anlise de regresso logstica no pareada) e 1,5 (anlise de regresso logstica
pareada); ambos valores no significantes estatisticamente. Para o conjunto de
exposies de 3 mG ou mais, o risco relativo estimado foi de 1,7 e estatisticamente
significante; essa anlise foi baseada em 45 casos e 28 controles. Assim, os
resultados de medies sugerem uma associao positiva entre os campos
magnticos e o risco de leucemia. Esse estudo constitui uma contribuio importante
32
devido ao seu tamanho, nmero de indivduos em categorias de exposio elevada,
perodo das medies dos campos eletromagnticos aps o diagnstico de leucemia
linfoblstica aguda (geralmente dentro de 24 meses aps o diagnstico), outras
medidas usadas para obter dados de exposio e qualidade da anlise, permitindo
avaliar a presena de mltiplos fatores de confuso.
Os resultados relacionando cncer em adultos e exposio residencial a campos
magnticos so escassos 41. Nenhuma concluso pode ser extrada dos poucos
estudos publicados at agora, j que todos foram compostos por um nmero muito
pequeno de casos 26, 42 - 47.
A International Commission for Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP),
reconhecida pela Organizao Mundial da Sade (OMS), entende que na ausncia
de apoio em pesquisas experimentais, os resultados de pesquisas epidemiolgicas
sobre exposio a campos magnticos e cncer, inclusive leucemia infantil, no so
suficientemente seguros para servirem como base cientfica s diretrizes que
estabelecem limites de exposio a campos eltricos e magnticos. Esta avaliao
est de acordo com publicaes de outras instituies internacionais 48, 49.
Em relao exposio ocupacional, um grande nmero de estudos
epidemiolgicos tm sido realizado para avaliar as possveis ligaes entre
exposio a campos de baixas freqncias e o risco de cncer entre trabalhadores do
setor eltrico. O primeiro estudo deste tipo realizado por Milham (1982) 50, que
utilizou uma base de dados fundamentada em atestados de bito, inclua tipos de
trabalho e informaes sobre a mortalidade por cncer. Como mtodo para avaliar a
exposio, considerado impreciso, Milham classificou os tipos de atividade de
acordo com a exposio presumida a campo magntico. Assim, encontrou um
33
excesso de risco para a leucemia entre os trabalhadores do setor eltrico. Em outro
estudo, Savitz e Ahlbom (1994) 51 utilizaram bases de dados similares; os tipos de
cncer para os quais foram notados riscos elevados variaram nos diversos estudos,
particularmente quando foram caracterizados por subtipos de cncer. Foram
relatados aumento de risco para vrios tipos de leucemia e tumores de tecido
nervoso, e em alguns casos, para cncer de mama feminino e masculino 52 - 55.
Trs outros estudos tentaram superar algumas das deficincias em trabalhos
anteriores, medindo a exposio a campos de baixa freqncia no local de trabalho e
levando em conta a durao da jornada de trabalho 56 - 58. Foi observado um elevado
risco de cncer entre os indivduos expostos, sendo que o tipo de cncer variou de
um estudo para o outro. Floderus e col. (1993) 56, verificaram uma associao
significativa com a leucemia; Theriault e col. (1994) 57 tambm notaram uma
associao positiva, embora fraca e no significativa. Savitz e Loomis (1995) 58, no
observaram nenhuma ligao. Para os subtipos de leucemia, houve uma
inconsistncia ainda maior, mas o nmero de pacientes includos na anlise foi
pequeno. Floderus e col. (1993) 56, acharam um excesso de glioblastoma
(astrocitoma III-IV) no tecido nervoso, enquanto Theriault e col. (1994) 57 e Savitz e
Loomis (1995) 58, acharam somente evidncias sugestivas de um aumento de glioma
(astrocitoma I-II).
As trs concessionrias de energia eltrica que participaram do estudo de
campos magnticos realizado por Theriault e col. (1994) 57, tambm analisaram os
dados relativos a campos eltricos. Comparando trabalhadores do grupo controle e
trabalhadores com leucemia numa das concessionrias, notaram que esses ltimos
34
possivelmente teriam sido mais expostos a campos eltricos. A associao foi mais
forte num grupo que havia sido exposto a uma combinao de campos eltricos e
magnticos intensos 59. Numa segunda concessionria, os pesquisadores no
encontraram nenhuma associao entre leucemia e exposio cumulativa a campos
eltricos no local de trabalho, mas algumas das anlises mostraram uma associao
com o cncer de crebro 60. Foi tambm relatada uma associao com o cncer de
clon; porm, em outros estudos, com grande nmero de trabalhadores das
concessionrias, no foi encontrado este tipo de cncer. Na terceira concessionria,
no foi observada nenhuma associao entre campos eltricos intensos e cncer do
crebro ou leucemia, mas este estudo foi pouco abrangente e com menor
possibilidade para detectar pequenas alteraes, caso estivessem presentes 61.
Estudos de coorte de trabalhadores de companhias eltricas examinaram a
mortalidade por doena cardiovascular. O primeiro estudo 61 foi conduzido com
20.000 trabalhadores de uma companhia eltrica em Quebec, no Canad. A
exposio a campos eltricos e magnticos de 60 Hz foi avaliada por meio de uma
matriz de exposio ocupacional. Entre os expostos, a taxa de mortalidade foi
geralmente menor do que a taxa nos grupos de no expostos, incluindo a
mortalidade por doenas cardiovasculares. Savitz e col. (1999) 62, acompanharam
cerca de 139.000 trabalhadores de uma empresa fornecedora de energia. Os
resultados revelaram que a mortalidade por doenas cardiovasculares e isquemia foi
menor na coorte de estudo do que na populao americana, porm mortes por
arritmias cardacas e infarto agudo do miocrdio foram relacionadas s exposies
crescentes a campos eltricos e magnticos entre 5 e 20 anos anteriores morte.
35
Alguns estudos buscaram relacionar a exposio a campos eletromagnticos e
distrbios psiquitricos, como suicdio 61, 63, 64, e depresso 65 - 70.
Estudos epidemiolgicos sobre efeitos na gravidez em mulheres trabalhando
com monitores de vdeo no tm fornecido nenhuma evidncia consistente 71 - 74. Por
exemplo, estudos combinados, comparando mulheres grvidas que usam monitores
de vdeo, com mulheres que no usam, no revelaram nenhum excesso de risco de
aborto espontneo ou malformao congnita 72. Dois outros estudos concentraram-
se em medidas reais dos campos eltricos e magnticos emitidos por monitores de
vdeo: um estudo sugeriu uma associao entre campos magnticos de baixa
freqncia e aborto 75, enquanto o outro no verificou tal associao 76. De um
estudo que incluiu um grande nmero de casos, com alto ndice de participao e
uma detalhada avaliao das exposies 77, resultou que nem o peso ao nascer, nem
a taxa de crescimento intra-uterino tinham relao com qualquer exposio a
campos de baixa freqncia. Conseqncias adversas no foram associadas aos
nveis mais altos de exposio. As medies de exposio incluram a capacidade de
corrente das linhas de transmisso fora das residncias, medies de exposio
individual por 7 dias, medies nas residncias por 24 horas, relatrios individuais
sobre o uso de cobertores eltricos, colches com gua aquecida e monitores de
vdeo. As informaes, em sua maioria, no apiam uma associao entre exposio
ocupacional a monitores de vdeo e efeitos nocivos reproduo 73, 74.
A despeito do grande nmero de estudos empreendidos para descobrir os efeitos
biolgicos dos campos eltricos e magnticos de freqncias extremamente baixas,
poucos estudos sistemticos definiram os limiares para os campos que produzem
36
perturbaes significativas nas funes biolgicas. Est bem estabelecido que
correntes eltricas induzidas podem estimular tecidos nervosos e musculares
diretamente, desde que a densidade da corrente induzida exceda valores limiares 74,
78, 79.
Muitos estudos tm sugerido que a transferncia de sinais eltricos fracos na
faixa de baixas freqncias, envolve interaes com a membrana celular,
conduzindo a respostas bioqumicas citoplasmticas, que, por sua vez, implicam
mudanas em estados funcionais e de proliferao das clulas. A partir de modelos
simples do comportamento de clulas individuais em campos fracos, foi calculado
que o sinal eltrico, na regio extracelular, deve ser maior que aproximadamente 10
- 100 mV.m-1 (correspondente a uma densidade de corrente induzida de 2 20
mA.m-2), para exceder o nvel de rudo endgeno fsico e biolgico, em membranas
celulares 80. Evidncias tambm sugerem que vrias propriedades estruturais e
funcionais das membranas, podem ser alteradas em resposta a campos de baixa
freqncia induzidos, de valor igual ou abaixo de 100 mV.m-1 81, 82. Alteraes
neuroendcrinas (por exemplo: supresso da sntese noturna de melatonina), foram
observadas em resposta a campos eltricos induzidos de 10 mV.m-1, ou menos,
correspondentes a densidades de corrente induzidas de aproximadamente 2 mA.m-2,
ou menos 74, 83.
Foi observado que campos eltricos e correntes induzidas em nveis excedendo
aqueles de sinais endgenos bioeltricos presentes nos tecidos, causam numerosos
efeitos fisiolgicos que aumentam em severidade quando a densidade de corrente
induzida aumenta 74, 84. Na faixa de densidades de corrente de 10 a 100 mA.m-2, tem
37
sido relatados efeitos nos tecidos e mudanas nas funes cognitivas do crebro 41,
85. Os limiares para estmulo neuronal e neuromuscular so excedidos quando a
densidade da corrente induzida ultrapassa valores de 100 ou vrias centenas de
mA.m-2, para freqncias entre 10 Hz e 1 kHz. As densidades de corrente limiares
aumentam progressivamente nas freqncias abaixo de vrios hertz e acima de 1
kHz. Finalmente, nas densidades de corrente extremamente altas, com valor acima
de 1 A.m-2, podem ocorrer efeitos srios e potencialmente letais, tais como
extrasstole cardaca, fibrilao ventricular, espasmo muscular e falha respiratria. A
severidade dos efeitos sobre tecidos e a probabilidade de serem irreversveis
aumentam com a exposio crnica a densidades de corrente induzidas acima do
nvel de 10 a 100 mA.m-2 . Portanto, parece ser apropriado limitar a exposio
humana a campos que induzem densidades de corrente no maiores que 10 mA.m-2
na cabea, pescoo, e tronco, numa faixa de freqncias de poucos hertz at 1 kHz.
Um aspecto importante na avaliao dos efeitos de campos eletromagnticos a
possibilidade de efeitos teratognicos e no desenvolvimento, porm at o momento
no h evidncias cientficas publicadas de que campos de freqncias baixas
tenham efeitos adversos em mamferos, no seu desenvolvimento embrionrio ou
logo aps o nascimento 74, 86, 87. Alm do mais, evidncias atualmente disponveis
indicam que mutaes somticas e efeitos genticos no so resultados provveis da
exposio a campos eltricos e magnticos de freqncias abaixo de 100 kHz 88.
Existem numerosos relatos na literatura sobre efeitos in vitro de campos de
baixas freqncias nas propriedades das membranas celulares (transporte de ons e
interao de mitgenos com receptores superficiais em clulas) e mudanas em
funes celulares e propriedades de crescimento (por exemplo, o aumento de
38
proliferao e alteraes no metabolismo, expresso gnica, biossntese de protena
e atividades enzimticas) 74, 82, 83, 88, 89.
Nascimento e col. (2003) 90, submeteram E.coli, em caldo glicosado, a campo
eletromagntico de 5G, gerado por fonte de tenso alternada de 60 Hz, por 8 horas, e
observaram menor valor de glicose residual e maior turbidez no grupo exposto,
sugerindo estimulao do sistema de transporte de glicose, como a Difuso
Facilitada ou por ressonncia ciclotrnica e o aumento do crescimento pelo
encurtamento da lag phase e estimulao da log phase.
Uma considervel ateno foi dirigida aos efeitos de campos de baixa
freqncia sobre o transporte de Ca++ atravs de membranas celulares e a
concentrao intracelular deste on 91 - 93; RNA mensageiro e padres de sntese de
protena 94 - 98, e atividade de enzimas como ornitina descarboxilase (ODC) que so
relacionadas proliferao de clulas e promoo de tumores 99 - 102.
Os resultados de estudos em laboratrio projetados para detectar danos no DNA
e em cromossomos, mutaes e aumento na freqncia de transformaes, no
demonstraram nenhuma evidncia que campos de baixa freqncia causem alterao
na estrutura do DNA e cromatina, e no so esperados efeitos mutacionais e de
transformao neoplsica 74, 85, 103, 104. A falta de efeitos na estrutura dos
cromossomos sugere que campos de baixas freqncias, se que tm algum efeito
no processo de carcinognese, mais provvel que ajam como promotores do que
como iniciadores, ocasionando a proliferao de clulas geneticamente alteradas,
mais do que propriamente causando leso inicial em DNA ou cromatina. Uma
influncia no desenvolvimento do tumor poderia ocorrer por meio de efeitos
39
epigenticos desses campos, tais como as alteraes nos caminhos de sinalizao
celulares ou expresso gnica. O foco de estudos recentes tem sido, portanto, no
sentido de descobrir possveis efeitos de campos de baixas freqncias sobre fases
de promoo e progresso de desenvolvimento de tumores, aps seu incio,
provocado por um carcingeno qumico. Estudos de crescimento de clulas de
tumores in vitro e o desenvolvimento de tumores transplantados em roedores, no
proporcionaram nenhuma evidncia significativa de possveis efeitos carcinognicos
da exposio a campos de baixas freqncias 74.
Diversos estudos, de aplicao mais direta a cncer humano, envolveram testes
in vivo para determinar as atividades promotoras dos campos magnticos de
baixas freqncias em tumores na pele, fgado, crebro e nas mamas de roedores.
Trs estudos de promoo de tumor na pele 105 - 108, no demonstraram nenhum
efeito da exposio contnua, ou intermitente, a campos magnticos de 50/60 Hz, em
promover tumores induzidos quimicamente.
Experincias sobre o desenvolvimento de focos neoplsicos no fgado iniciados
por carcingeno qumico e promovido por ster de forbol em ratos parcialmente
hepatectomizados, no revelaram nenhuma promoo ou efeito de co-promoo pela
exposio a campos de 50 Hz variando em intensidade de 5 a 500 mG 109, 110.
Estudos de desenvolvimento do cncer de mama em roedores tratados com um
iniciador qumico, sugeriram um efeito de promoo de cncer pela exposio a
campos magnticos de 50/60 Hz, com intensidades na faixa de 0,1 a 300 G 111 - 116.
Estas observaes levaram hiptese de relacionar o aumento da incidncia de
tumores nos ratos expostos a campos, com a supresso de melatonina pineal
40
induzida pelos campos e um conseqente aumento dos nveis de hormnios
esterides e do risco de cncer de mama 117, 118.
Para a International Agency for Research on Cancer (IARC), os resultados dos
estudos para campos magnticos de freqncia extremamente baixa (ELF)
evidenciam que uma associao entre campos eltricos e leucemia infantil
inadequado para avaliao, ou seja, a avaliao dos estudos de qualidade
insuficiente, no h consistncia ou poder estatstico que permita apresentar
concluso de presena ou ausncia de associao causal entre exposio e cncer ou
no h dados de cncer humano avaliveis. No entanto, classifica os Campos
Magnticos de Freqncia Extremamente Baixa (ELF) como possivelmente
carcinognicos para seres humanos (GRUPO 2B), ou seja, o agente possivelmente
carcinognico para humanos 119.
Perante tantas incertezas e falta de resultados significativos, faz-se necessrio a
contnua investigao de possveis efeitos adversos ou danos potenciais a sistemas
biolgicos, na tentativa de auxiliar estudos mais complexos.
Deste modo, a utilizao de bioindicadores de poluio ambiental pode
apresentar-se como uma ferramenta de grande utilidade na obteno de resultados que
possam sinalizar respostas mais plausveis e de maior consistncia cientfica.
41
I.6 Bioindicadores de poluio ambiental
Com o desenvolvimento industrial surgiram palavras novas em nosso
vocabulrio. Algumas j tm seu significado incorporado em nosso dia-a-dia, como
poluente e poluio. Entretanto, identificar e mensurar o efeito de poluentes no
ambiente exige, na maioria das vezes, um esforo multidisciplinar. Avaliar o
comportamento da poluio no ambiente, por meio do monitoramento da sua ao
em organismos vivos um tpico novo nas cincias ambientais, que tem sido
chamado de biomonitoramento ou bioindicao: um estmulo ambiental, assim
como um estmulo produzido por um poluente, provoca reaes no organismo vivo
e pode acarretar vrias alteraes em seu funcionamento. Nos mtodos da
bioindicao, o comportamento do organismo perante a um poluente utilizado na
avaliao da qualidade desse ambiente. O monitoramento feito por meio de mtodos
fsico-qumicos aborda o tipo e a intensidade de fatores, inferindo eventualmente
sobre os efeitos biolgicos. Na bioindicao so obtidas informaes sobre os
efeitos desses fatores no sistema biolgico, podendo-se eventualmente inferir sobre
sua qualidade e quantidade. A rea de monitoramento biolgico jovem, tendo a
Europa como palco principal de desenvolvimento de estudos nessa rea, com
enfoque na avaliao da poluio atmosfrica. No Brasil essa metodologia comea a
despertar interesse para as questes referentes avaliao de impacto ambiental 120.
Os indicadores ou marcadores de efeito podem ser definidos como alteraes
mensurveis, de natureza bioqumica e/ou fisiolgica, em um sistema biolgico
qualquer, que, dependendo de sua magnitude podem ser consideradas como
42
sinalizadoras em potencial de um agravo sade, ou mesmo de uma doena j
estabelecida. Essa definio compreende sinais bioqumicos ou celulares de
disfuno tecidual, sinais fisiolgicos de disfuno em sistemas ou aparelhos
orgnicos, ou at mesmo, sem ser considerado diretamente como um efeito adverso,
representar e sinalizar um dano em potencial para a sade 121.
O termo indicador, em ecologia, refere-se a um organismo cuja presena (ou
ausncia) em determinada rea, serve como indicao da existncia de certas
condies ambientais, como por exemplo, a poluio 122.
Bioindicadores podem ser definidos como organismos ou grupo de organismos
que respondem variao dos distrbios ambientais por meio de alteraes nas suas
funes vitais ou composio qumica e podem ser usados para a avaliao da
extenso das mudanas na atmosfera. O bioindicador um organismo, parte de um
organismo ou uma comunidade, compreendendo um ou vrios itens de informaes
sobre a qualidade do ambiente ou parte dele. Em contraste, o biomonitor um
organismo, ou parte de um organismo ou uma comunidade, compreendendo um ou
muitos itens de informaes sobre ambos, a quantidade e a qualidade da
contaminao ambiental. Desta maneira, a avaliao ambiental por meio de
bioindicadores, possui a caracterstica qualitativa baseada na resposta biolgica de
um organismo vivo que revela a presena ou ausncia de contaminantes com a
ocorrncia de sintomas ou respostas mensurveis 123.
O uso de bioindicadores vegetais de genotoxidade parece representar uma
alternativa simples, eficiente, rpida e de baixo custo para avaliar o potencial
genotxico de agentes contaminantes ambientais, permitindo inclusive, a difuso de
43
tcnicas de biomonitoramento in situ e testes in vivo em locais que disponham
apenas de condies bsicas de investigao. Alm disso, os bioensaios vegetais
permitem avaliar a genotoxidade de substncias qumicas simples a misturas
complexas, o que de suma importncia na avaliao da poluio atmosfrica
urbana 124.
Diversas espcies de vegetais superiores h muito vm sendo investigadas,
sendo reconhecidamente sensveis a substncias genotxicas e adequadas para
monitorizao ambiental 124, sendo recomendado seu uso pela Organizao Mundial
de Sade 125 e pelo Programa de Genotoxidade da Agncia de Proteo Ambiental
dos Estados Unidos 126.
I.6.1 Tradescantia como bioindicador de poluio
Plantas superiores proporcionam valiosos sistemas de ensaios genticos para
screening e monitoramento de poluentes ambientais. So reconhecidos como
excelentes indicadores de efeitos citogenticos e mutagnicos de contaminantes
qumicos ambientais e so aplicveis para a deteco de mutagnese ambiental tanto
para ambientes internos quanto externos. Comparaes entre sistemas de ensaios
genticos com plantas e no-plantas, indicam que os ensaios genticos com plantas
superiores tm alta sensibilidade 127.
Dois ensaios considerados ideais para monitoramento in situ e testes de
agentes mutagnicos no ar e na gua, so o ensaio do pelo estaminal com
Tradescantia para mutao e o ensaio de microncleos com Tradescantia para
44
aberraes cromossmicas. Ambos os ensaios podem ser usados em testes in vivo
e in vitro 127.
Outros ensaios de genotoxicidade com plantas superiores que tm grande
nmero de marcadores genticos ou dados e so tambm altamente convenientes
para testar agentes genotxicos incluem Arobidopsis thaliana, Allium cepa,
Hordeum vulgare, Vicia fava e Zea mays, s para destacar alguns exemplos.
Desde os primrdios dos estudos da atividade gentica de compostos qumicos e
agentes fsicos, vrias espcies e clones do gnero Tradescantia tm sido utilizados
como organismos experimentais, em virtude de uma srie de caractersticas
genticas favorveis. Apresentando apenas seis pares de cromossomos grandes e
facilmente observveis, clulas de quase todas as partes da planta, da ponta da raiz
ao tubo polnico em desenvolvimento, fornecem material excelente para estudos
citogenticos 127.
Como conseqncia do uso intenso de Tradescantia em estudos genticos,
encontrou-se uma srie de caractersticas que permitem a deteco de agentes que
afetam a estabilidade do genoma. Pelo menos quatro dessas caractersticas foram
selecionadas como indicadores em bioensaios de avaliao de toxicidade gentica.
Dois desses ensaios, o da mitose em ponta de raiz e o do tubo polnico, so ensaios
de aberrao cromossmica nos quais se observam deformaes morfolgicas
visveis nos cromossomos 128. Um terceiro, o ensaio da mutao para clula cor-de-
rosa em pelo estaminal (Trad-SHM) 129, um teste de mutao mittica pontual que
se baseia na expresso de um gene recessivo para a cor da flor em plantas
heterozigotas. O quarto ensaio um teste citogentico que se baseia na formao de
45
microncleos (Trad-MCN) que resultam da quebra cromossmica nas clulas
meiticas geradoras do plen 130.
Essa quebra ocorre preferencialmente em locais prximos aos centrmeros,
sugerindo que eventos mutacionais e tenses mecnicas durante a espiralao dos
cromossomos durante a replicao, devam estar envolvidos 131, 132.
Estudos sobre o genoma de Tradescantia iniciaram-se com os trabalhos
pioneiros de Sax e Edmonds (1933) sobre o gametfito masculino de T. reflexa,
quando foram descritas as vrias fases do desenvolvimento do micrsporo e
determinados os perodos e o ritmo dos eventos meiticos. Primeiramente,
determinou-se que cromossomos meiticos eram mais suscetveis quebra que
cromossomos mitticos; e, mais importante, cromossomos em diviso eram ao
menos dez vezes mais susceptveis que aqueles em repouso. Em segundo lugar, as
quebras no se distribuam aleatoriamente nos cromossomos. Estes conceitos de
temporalidade e sensibilidade tornaram-se extremamente importantes na seleo de
bioindicadores para mutagnese, uma vez que a sincronia no desenvolvimento
celular e a preciso nos perodos de recuperao aps os tratamentos foram dois
fatores decisivos para o desempenho destes bioensaios. A maior suscetibilidade dos
cromossomos meiticos quando comparados aos mitticos foi mais tarde
confirmada em um estudo da influncia da falta de oxignio na meiose em
T.paludosa 133. Esta pesquisa representou a primeira tentativa de observao de
microncleos nas clulas me do plen como indicadores diretos de fragmentao
cromossmica. Uma taxa espontnea de 0,87% de clulas contendo microncleos
foi definida para T.paludosa, aumentando para 8,0% em clulas expostas a
anaerobiose nos estgios iniciais da prfase 134.
46
O ritmo dos estgios da meiose foi ainda melhor caracterizado em um estudo da
diferenciao das anteras de T.paludosa. Aproximadamente 24 horas se passaram
para compleio do ciclo meitico, permitindo a definio do perodo de
recuperao apropriado entre a exposio das inflorescncias a agentes txicos e sua
fixao para anlise do nmero de microncleos, conseqentemente da atividade
genotxica 135.
O emprego do ensaio Trad-MCN para o monitoramento de agentes
clastognicos ambientais foi primeiramente proposto aps estudos envolvendo
agentes pr-mutagnicos (benzo--pireno) e localidades poludas. Uma grande
vantagem percebida nestes estudos foi a de que nenhuma atividade enzimtica
externa era necessria para ativar os agentes pr-mutagnicos, dado que o aparato
enzimtico continuava totalmente funcional nos talos extrados das plantas e
expostos aos tratamentos 136, 137.
A abundante informao sobre a gentica e o desenvolvimento da Tradescantia
oferece uma slida estrutura de suporte para seu uso como um bioindicador para
ensaios de toxicidade gentica ambiental 127. Microncleos nas clulas me dos
gros de plen so facilmente observveis, permitindo um baixo grau de incerteza
nas avaliaes, e diminuindo a subjetividade presente no reconhecimento de
aberraes cromossmicas; enquanto a induo de mutaes para rosa em clulas
dos pelos estaminais oferece um indicador somtico sensvel de mutagnese.
Adicionalmente, os ensaios com Tradescantia tm sido valiosos nos estudos de
sinergismo entre agentes qumicos e entre estes e outros agentes genotxicos como
radiaes ionizantes, uma propriedade valiosa de riscos genotxicos em vrios tipos
de estudos 138.
47
II OBJETIVOS
II. 1 Objetivo geral
Testar a sensibilidade de um sistema biolgico exposio a campos
magnticos.
II. 2 Objetivos especficos
Testar a sensibilidade da Tradescantia pallida como um bioindicador para
exposio a campos magnticos de freqncia extremamente baixa;
Testar o bioensaio Trad-MCN com a Tradescantia pallida frente a
diferentes doses de campos magnticos de freqncia extremamente baixa e
desta forma estabelecer uma curva dose-resposta.
48
III MATERIAL E MTODOS
III. 1 Tradescantia pallida
Nome Cientfico: Tradescantia pallida (Rose) D. R. Hunt cv. Purprea Boom.
Angiospermae da Famlia Commelinaceae.
Nomes populares: Trapoeraba roxa, Corao roxo e Trapoerabo, entre outros.
uma planta herbcea, prostada, suculenta, de 15 a 25 centmetros de altura,
com folhas e flores roxas e purbescentes, ornamental, nativa da regio da Amrica
do Norte e Central (Mxico e Honduras) e classificada em 1975 139, 140.
As folhas da T. pallida adquirem a tonalidade roxa caracterstica quando a
planta cultivada em ambientes com boa incidncia de raios solares. Tambm
apresenta pouca tolerncia a baixas temperaturas de inverno; multiplica-se por
estacas e por diviso da planta; suas sementes no so utilizadas diretamente para
multiplicao, mas, quando levadas por diversos agentes, podem germinar em
lugares inesperados. utilizada como forrao e em macios, bem como em
jardineiras como planta pendente com terra enriquecida e de boa fertilidade e com
material orgnico, mantida mida 140.
A T. pallida, particularmente, tem sido muito utilizada para estudos
citogenticos, evidenciados por meio do teste do microncleo 141 - 151.
49
III. 2 Bioensaio de microncleo com Tradescantia pallida (Trad-MCN)
O bioensaio Trad-MCN consiste em um conjunto de procedimentos de
exposio de inflorescncias jovens de Tradescantia a agentes contaminantes, que
culmina com a estimativa da freqncia de microncleos em clulas mes de gros
de plen na forma de ttrades. Sua realizao permite, assim, a determinao do
potencial clastognico de meios contaminados por tais agentes 137.
Microncleos so fragmentos acntricos de cromossomos lesados na prfase I
da meiose, durante a formao de gros de plen. Esses fragmentos so expulsos do
ncleo e aparecem como pequenos ncleos visveis no citoplasma nas ttrades de
gros de plen. A formao e a visualizao de microncleos ao longo do processo
da meiose esto ilustradas na figura 5.
Figura 5. Esquema da meiose em Tradescantia 152.
50
Nesse estudo foram utilizadas hastes de 15 centmetros de inflorescncias
jovens, colhidas nos jardins da Faculdade de Medicina da Universidade de So
Paulo, 24 horas antes do incio da exposio.
Para cada exposio foram coletadas 50 hastes de inflorescncias jovens,
imediatamente encaminhadas ao Instituto de Eletrotcnica e Energia da
Universidade de So Paulo, situado no campus central na Cidade Universitria, onde
uma sala do Laboratrio de Compatibilidade Eletromagntica havia sido
previamente escolhida e preparada para o experimento. Nessa sala no havia
nenhuma fonte de emisso de qualquer tipo de campo magntico que pudesse
interferir no experimento, assegurando desta forma, que as doses de exposio
foram emitidas somente pela aparelhagem eltrica especialmente montada para o
experimento.
Todo o experimento, ou seja, a aplicao das trs diferentes doses de CEM foi
conduzido na mesma sala e nas mesmas condies pr-estabelecidas.
Ao chegar ao local do experimento, as hastes foram divididas em dois copos
bquer, imersas em gua deionizada, 25 hastes em cada copo, e permaneceram sob
constante aerao produzida por uma bomba de aqurio simples, durante 24 horas
para que se adaptassem ao meio ambiente do experimento, conforme figura 6.
51
Figura 6. Hastes de inflorescncias jovens em perodo de
adaptao/recuperao, sob aerao.
Arquivo prprio
Aps o perodo de 24 horas de adaptao, a gua deionizada foi substituda por
soluo nutritiva de Hoagland 1:3 (v/v), e um dos copos bquer com 25 hastes
permaneceu no mesmo local como controle, e o outro foi transferido para o interior
da bobina, na mesma sala onde ocorreram as exposies, por oito horas, conforme a
figura 7.
52
Figura 7. Hastes prontas para a exposio, em copo bquer no interior da bobina.
Arquivo prprio
Foram definidas trs doses de exposio, de acordo com os limites
estabelecidos pela norma ICNIRP 20 para exposio ao pblico e para exposio
ocupacional. Os limites definidos para o estudo foram 416mG, metade da dose
limite para exposio do pblico, 833mG, dose limite para exposio do pblico em
geral e 4160 mG, dose limite para exposio ocupacional.
As 25 hastes, pr-adaptadas, ficaram expostas a cada uma das diferentes doses
durante oito horas. Nesse perodo, medidas de fluxo magntico eram tomadas
periodicamente, tanto do interior da bobina, quanto em diferentes pontos da sala,
para a certificao de que no estivesse havendo interferncias de outros CEM que
53
no os produzidos pela aparelhagem especialmente montada. Como a intensidade de
fluxo magntico diminui com a distncia da fonte, todo o experimento pde ser
alocado na mesma sala, porm com distncias seguras avaliadas por medies
peridicas.
Aps cada perodo de exposio a aparelhagem eltrica era desligada e as hastes
transferidas para o local da adaptao, onde permaneciam outras 24 horas em
recuperao, novamente em constante aerao, juntamente com as 25 hastes
controle. Este perodo necessrio para que a meiose progrida e as clulas me dos
gros de plen atinjam a fase de ttrade nos botes jovens das inflorescncias.
Aps este perodo os botes florais foram destacados das hastes e fixados em
soluo de cido actico e etanol 1:3 (v/v).
Todas as amostras foram codificadas e transferidas para o Laboratrio de
Poluio Atmosfrica Experimental do Departamento de Fisiopatologia
Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo, a fim de
serem tratadas conforme o protocolo proposto por Ma em 1981, conforme mostra a
figura 8.
As exposies foram realizadas em seis semanas, ou seja, as hastes foram
colhidas s segundas-feiras pela manh, deixadas em adaptao por 24 horas,
expostas s teras-feiras, durante 8 horas, deixadas em recuperao por mais 24
horas e fixadas nos finais de tarde das quartas-feiras; as trs ltimas semanas
serviram para a repetio do experimento a fim de aumentar o nmero de amostras e
alcanar o tamanho estatisticamente desejado.
54
Figura 8. Esquema ilustrativo da tcnica de preparo da lmina com clulas na fase
de ttrades 137.
Para cada grupo de exposio e de controle foram selecionados botes de
inflorescncias que continham anteras com gros de plen na forma de ttrades.
Essa seleo foi feita em lmina de microscpio ptico num aumento de 100 X. As
anteras destes botes foram separadas e maceradas sobre a lmina em soluo de
corante aceto-carmin. Aps eliminao dos debris, colocou-se uma lamnula e
aqueceu-se levemente em lamparina a lcool para fixao. O excesso de corante foi
eliminado com uma leve presso sob folhas de papel absorvente.
A seguir, o nmero de microncleos foi contado em um grupo aleatrio de 300
ttrades por lmina, em microscpio ptico, sob aumento de 400 X. As freqncias
de microncleos foram obtidas dividindo-se o nmero de microncleos pelo nmero
total de ttrades contadas, sendo expressas em nmero de microncleos por 100
ttrades. Todas as leituras foram feitas de maneira cega, ou seja, sem que o tcnico
soubesse a codificao usada nos grupos de exposio.
55
III. 3 Aparelhagem eltrica utilizada para o experimento
Para a gerao das diferentes doses de exposio dos campos magnticos na
freqncia de 60 Hz foi confeccionada, pelos engenheiros do Laboratrio de
Compatibilidade Eletromagntica do Instituto de Eletrotcnica e Energia da
Universidade de So Paulo, uma bobina com armao quadrada, de madeira, de 40
centmetros de lado, envolvida por 18 voltas de fio condutor de energia eltrica de 4
milmetros de dimetro.
Esta bobina foi ligada, em srie, a um Ampermetro (aparelho que mede a
corrente eltrica em ampres (A)), a um gerador de corrente eltrica e a um Variac
(aparelho transformador/variador de voltagem, tipo VME-366, monofsico com
freqncia de 60 Hz e potncia mxima de 1,5 kVA) que estabelece uma tenso,
utilizada para a gerao do campo magntico previsto. Conforme Figuras 9, 10 e 11.
Esta aparelhagem foi alocada numa sala previamente escolhida para o
experimento, assegurando assim, que nenhuma outra fonte de CEM pudesse
interferir nas medidas desejadas.
Tomou-se o cuidado de manter as luzes da sala sempre apagadas e todo o
material utilizado para acomodar os equipamentos era de madeira, que um mal
condutor de eletricidade.
56
Figura 9. Aparelhagem eltrica composta por um ampermetro (1), um gerador
de corrente eltrica (2) e um Variac (3).
Arquivo prprio
57
Figura 10. Aparelhagem eltrica (ampermetro, gerador e Variac) ligada em
srie, por fio condutor, bobina contendo as hastes em exposio.
Arquivo prprio
58
Ampermetro
Bobina
Transformador
Variac
Na rede de 110 V para B = 416,5 m G e B = 833 mG
A
Variac
Transformador 1
Transformador 2
Ampermetro
Bobina
Na rede de 220 V para B = 4,165 GFonte de Tenso
Fonte de Tenso
A
Figura 11a. Representao grfica da aparelhagem eltrica
59
Para a primeira exposio, codificado como Grupo 416, foi estabelecida uma
tenso de 12,16 Volts no Variac, ligado ao gerador de corrente, que transforma a
tenso em corrente eltrica, ligado ao ampermetro medindo 0,86 A. Este circuito,
ligado em srie bobina, produziu uma dose de campo magntico de 416,5mG (
3% do valor medido) conferido por um medidor isotrpico EFA-300 Wandel
Goltermann (Figura 12).
Figura 12. Medidor Isotrpico
Arquivo prprio
60
Na segunda exposio, Grupo 833, foi estabelecida uma tenso de 24 Volts no
Variac, o ampermetro mediu 1,73 A, para a produo de uma dose de campo
magntico de 833mG ( 3% do valor medido).
Finalmente, na terceira exposio, Grupo 4160, foi estabelecida uma tenso de
165 Volts, com 8,50 A, para produo de uma dose de campo magntico de
4160mG ( 3% do valor medido).
Durante os perodos de exposio, os valores das doses dos campos magnticos
foram medidos periodicamente, tanto no local onde as hastes estavam expostas, ou
seja, no centro da bobina, quanto no local em que elas permaneceram como
controles. Alm das medidas dos valores de exposio, tambm foram controlados
os valores de campo em diferentes distncias da bobina e em diferentes pontos da
sala.
III. 4 Anlise estatstica
Foi feita a anlise descritiva da freqncia de microncleos nos quatro grupos de
exposio, avaliando a sua distribuio em relao as mdias, medianas, percentis e
desvios-padro.
O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para avaliar se os dados
apresentavam uma distribuio normal. O teste de Levene foi usado para checar a
homocedasticidade das variveis.
Para investigar a diferena entre os grupos de exposio, foi aplicado o teste de
Kruskal-Wallis e, para identificar o grupo de exposio que apresentou diferena, foi
aplicado o teste de comparaes mltiplas de Tukey.
61
IV RESULTADOS
A tabela 5 apresenta os tamanhos das amostras (N), as mdias, as medianas, os
percentis 25 e 75, os desvios-padro, os valores mnimos e mximos dos Grupos
Controle, 416mG, 833mG e 4160mG.
Pela anlise descritiva pode-se observar que os valores mdios aumentam
conforme aumenta a dose de exposio, sendo que o grupo de exposio com 4160
mG apresentou uma mdia quase 100 % maior que os outros grupos. Em relao s
medianas e percentis o comportamento foi semelhante.
Tabela 5. Anlise descritiva dos grupos expostos s diferentes doses de campo
magntico.
Grupos (mG) Controle 416 833 4160