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Idiot Mag nº 25 MAR.14

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Idiot Mag nº 25 MAR.14 com: Roteiro + Ver, Ler e Ouvir // Atualidade: Situação Ucrânia; Slackline; Dois Homens e Um Gato Pugilista // Cinema // Artista de Capa: Colorblind Collective // Isto e Aquilo: Jorge Teixeira // Eletrónica: Synopsys // Intervenção: A Adolescência Afinal Acaba Quando?; Apenas Precisamos de 15 Minutos // Homogeneo: I Just Want The Simple Things // La Fouinographe // Provocarte: Os Bordados da Joana

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6 EDITORIALJ.M.Coutinho

14 ATUALIDADESituação na

Ucrânia

24 ATUALIDADESlackline

32 CINEMA

35 IDIOTAS AO PALCO

40 ELETRÓNICASynopsys

48 HOMOGENEOI Just Want

Simple Things

56 LA FOUINIGRAPHE

65 CRÓNICAGuia de Um Jovem...

10 VROTEIRO +VER, OUVIRE LER

18 ARTISTA DE CAPAColor Blind Collective

28 ATUALIDADEZez

34 IDIOTA DE RUA

36 ISTO E AQUILOJorge Teixeira

46 INTERVENÇÃOA AdolescênciaAcaba Quando?

54 INTERVENÇÃOApenas Precisamosde 15 Minutos

62 PROVOC’ARTEOs Bordados da Joana

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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 3

Direcção: João Cabral // Nuno Dias

Textos: Ana Meira

Ana Catarina RamalhoAna Luísa Carvalho

Bernardo AlvesBruno MansoCarmo Pereira

Carolina HardCandyMariana VazNuno Dias

Nuno Di RossoPatrícia (Pseudónimo)

Ricardo BrancoRui de Noronha Ozório

Tiago MouraTish

Design:João Cabral // Nuno Dias

IDIOT, Gabinete de Design®Capa:

Color Blind CollectiveFotografia:

Aline FournierLígia Claro

Video:CTRL N

Rita Laranjeira

Todos os conteúdos são da responsabilidade de:

IDIOT, Gabinete de Design ®

Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico

(*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

[email protected]

www.IDIOTMAG.com

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Nuno Dias // D

ireto

rJoão Cabral // Diretor

Tiago Moura // Editor

Catarina Ramalho // Redatora

Vânia Sousa // Promotora

Tish //

Editora

Lígia Claro // Fotó

grafa

Nuno Di Rosso // Redator

Bruno Manso // RedatorBernardo A

lves // R

edator

Mariana Vaz // Redatora

Ana Meira

// Redato

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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5

Rui de Noronha Ozorio // Editor Flora Neves /

/ Redato

raCarmo Pereira // Editora

Aline Fournier //

Fotógrafa

Carolina HardCandy // Redator

Ricardo Branco // Redator

Ana Luisa Carvalho //

Redatora

Mariana Oliveira // Video

Rita Laranjeira

// Video

André Queirós // Redator

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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7

DEDICAMOS ESTA EDIÇÃO A:J. M. Coutinho RibeiroEU TENHO MUITOS TRAUMAS. MAS HÁ UM QUE ME PERTURBA SOBREMANEIRA: O NOME. MELHOR: O FACTO DE NÃO TER NOME. OU MELHOR AINDA: A DIFICULDADE COM QUE OS OUTROS ENFRENTAM O FACTO DE EU NÃO TER NOME.

SE EU ME CHAMASSE MIGUEL, ERA MIGUEL E PRONTO. OU PEDRO. OU JOÃO. OU ERNESTO. MAS NÃO. OS MEUS PAIS, IMBUÍDOS DO MAIS SÃO DOS SENTIMENTOS, OLHARAM PARA MIM QUANDO EU NASCI E ACHARAM QUE EU TINHA CARA DE VAGAMENTE JOAQUIM E DE VAGAMENTE MANUEL. POR NÃO TEREM TEMPO PARA ESCOLHER, HÁ QUE REGISTAR-ME COMO JOAQUIM MANUEL. ELES NUNCA ME FALARAM SOBRE O ASSUNTO, MAS EU ACHO QUE FOI ASSIM. IMAGINE-SE: JOAQUIM MANUEL!

NOS PRIMEIROS ANOS, A COISA RESOLVEU-SE COM ALGUMA FACILIDADE. EU ERA O QUIM MANEL. NEM SÓ QUIM, NEM SÓ MANEL. E AINDA HOJE, PARA OS AMIGOS QUE VÊM DE ENTÃO, EU SOU O QUIM MANEL. PARA A FAMÍLIA TAMBÉM, DESCONTANDO AS MINHAS TIAS MAIS NOVAS QUE RESOLVERAM O TRAUMA COM UM MANOLO.

QUANDO SAÍ DO MARCO, ACHEI QUE NÃO DEVIA SER MAIS QUIM MANEL. O MANOLO TAMBÉM NÃO ME PARECIA. MAS NÃO FUI CAPAZ DE OPTAR ENTRE O JOAQUIM E O MANUEL. USAR OS DOIS NOMES ESTAVA FORA DE QUESTÃO, SOBRETUDO PORQUE COMECEI A ESCREVER NOS JORNAIS E ASSINAR COM JOAQUIM MANUEL COUTINHO RIBEIRO OCUPAVA DUAS LINHAS. NA DÚVIDA, APONTEI PARA COUTINHO RIBEIRO. ACHEI QUE ERA SUFICIENTEMENTE EXCLUSIVO PARA NÃO CRIAR CONFUSÕES, ATÉ PORQUE O MEU IRMÃO (QUE SE CHAMA JOÃO CÉLIO, MAS É O CÉLIO) NÃO ESTAVA NO SEGMENTO.

A PARTIR DAÍ, INSTITUCIONALIZOU-SE O COUTINHO. PASSOU A SER UMA ESPÉCIE DE PRIMEIRO NOME (COM ALGUMA VARIANTES: PEQUENO COUTO, DIZIA O FIEL; PETIT COUTAIN, DIZIA O KIKI). FICA MAL, EU SEI, MAS FOI ASSIM QUE ACONTECEU COM UMA ENORME NATURALIDADE. EM COIMBRA, EU ERA O COUTINHO. NO PORTO, TAMBÉM. PARA OS COLEGAS MAIS PRÓXIMOS, SOU O COUTINHO; PARA OS OUTROS, O COUTINHO RIBEIRO.

CLARO QUE O PROBLEMA RESSURGE QUANDO A INTIMIDADE SE APERTA. OS HOMENS NÃO LIGAM MUITO A ISSO, MAS AS MULHERES SÃO MAIS DADAS A ESSES PRECIOSISMOS. E QUANDO A INTIMIDADE É MUITA, REALMENTE NÃO FICA MUITO BEM UM AMO-TE COUTINHO. É POUCO POÉTICO. DEMASIADO COMERCIAL, EU ACHO. A MINHA EX-MULHER RESOLVEU O ASSUNTO TRATANDO-ME POR NI - TAL COMO EU A TRATAVA -, MAS ISSO FOI ANTES DE EU TER TODOS OS DEFEITOS DO MUNDO. AGORA, PARA ALGUMA AMIGAS, SOU O JOAQUIM. PARA OUTRAS O MANUEL. OU SÓ MANEL. E HÁ AINDA QUEM QUEIRA DAR UM TOM MAIS ÍNTIMO E ME TRATE POR MANÉ. GRRRRR.

O TRAUMA CRESCE TODOS OS DIAS. O QUE É LEGÍTIMO. E SUGERE-ME UMA DÚVIDA: DEVO MUDAR DE NOME? QUE TAL HERMENEGILDO? É UM NOME FORTE, INCONFUNDÍVEL, É NOME DE COMANDANTE. E DE SANTO. E DE MÁRTIR. VÁ, MAS DEIXEM-SE DE COISAS: É HERMENEGILDO E PONTO FINAL. NÃO SE LEMBREM DEPOIS DE COMEÇAREM A TRATAR-ME POR DIMINUTIVOS, TIPO GIL OU COISAS DO GÉNERO, QUE EU NÃO ALINHO EM PALHAÇADAS. //J.M. COUTINHO

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Até 22 de março, o CALE-se – Festival In-ternacional de Teatro acontece em Gaia. Ter-mina no mês do teatro com uma homenagem à atriz Fernanda Lapa.

O FANTAS está de vol-ta até dia 9 de março. Serão exibidos mais de 200 filmes, sendo que 10 se tratam de antestreias mundiais. Serão exibidos, por ce-lebrarem 75 anos da sua estreia, os filmes O Feiticeiro de Oz e Tudo

Ana Catarina Ramalho

Este mês não podes perder um dos maiores eventos do ano. A Idiot Mag faz dois anos de existência e, para co-memorar com todos os leitores, abrirá as portas da Exponor de 13 a 16 de Março. Naquela que será a semana mais idio-ta de sempre, - leia-se idiota como referência para fazedores de ideias -, a Idiot Week contará com exposições, mos-tras, workshops de arte urbana, arte urbana ao vivo, street dance e dj’s, entre outros. A Idiot abre-te as por-tas, não hesites e entra!De 28 de fevereiro a 24 de junho está patente em Serralves a primeira retrospetiva da artista Mira Schendel, numa organização entre Ser-ralves, o Tate Modern e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. De 6 a 9 de março o Eros Porto – Salão Eró-tico do Porto está de volta à Exponor, com a promessa de trazer mais novidades e dife-renças perante as ante-riores edições.As Inaugurações Simul-tâneas em Bombarda surgem no dia 8 de mar-ço, serão as primeiras de 2014, e prometem uma ótima tarde entre novas exposições, performan-ces, concertos. //

A 30 de março tem lugar, pela primeira vez, no Eu-roparque de Santa Maria da Feira, o Festival para Gente Sentada. Na sua 10ª Edição, podemos ver e ouvi You Can’t Win, Charlie Brown, The Veils, Walter Benjamin e Gisela João. Os Best Youth atuarão no dia 22 de março no Pequeno Auditório do Rivoli Teatro Municipal. O ciclo de música, O Som das Estrelas, que os recebe, irá fazer um ano de existência no próximo mês de abril.

No âmbito do Porto de Encontro – À Conversa com Escritores da Porto Editora, Teolinda Gersão estará à conversa no dia 23 de março, pelas 17 horas, na Biblioteca Mu-nicipal Almeida Garrett.

o Vento Levou. Para lá do cinema, também te-rão lugar exposições de artes plásticas, de foto-grafias e conferências.Durante todos os dias deste mês, no Teatro Campo Alegre, tem lugar o Ciclo Ingmar Bergman. Com um ho-rário bem simpático: 18h30/ 22h (sábado), 15h30 (domingo).

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PUBLICIDA

DE

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NEBRASKA. Alexander Payne (As Confis-sões de Schmidt”, “Sideways”) traz-nos a aventura de Woody Grant numa viagem ao Nebraska para reclamar um prémio, contra a vontade da família. Relutante, o seu filho decide acompanhá-lo nesta viagem onde os laços fraternais se vão consolidar. Com Bruce Dern (premiado em Cannes como melhor actor, em 2013) Will Forte e June Squibb.

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PUBL

ICID

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E

HISTÓRIAS ROCAMBOLESCAS DA HISTÓ-RIA DE PORTUGAL, de João Ferreira. “Milagres que nunca existiram, um filho que bate na mãe, um irmão que bate noutro irmão, execuções e assassinatos num país de brandos costumes, heróis que afinal não foram assim tão bonzi-nhos, reis loucos num país de loucuras, aliados piores que o pior dos inimigos, batalhas vitoriosas com uma mãozinha divina ou grandes desastres militares, traições e conspirações de vão de esca-da, um rei com gosto por freiras, outro impotente que não conseguia satisfa-zer a mulher, um governo que nem cinco minutos durou, um atentado onde tudo correu mal e o visado saiu ileso, um di-tador temível que resistiu 40 anos no poder até cair de uma cadeira de lona... “ in Bertrand Livreiros // Tish

Depois do primeiro single “Cold Day”, 4 de Março é o dia do lançamento do EP de Black Milk, “GLITCHES IN THE BREAK”. Esperem vibes soulfull e o storytelling do costume.

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SITUAÇÃO NA

A UCRÂNIA VIVE UMA DAS PIORES CRISES INSTITUCIONAIS DA SUA HISTÓRIA. OS PROTESTOS QUE OCORREM DESDE NOVEMBRO TÊM DEIXADO UM RASTO DE SANGUE, VIOLÊNCIA E DESTRUIÇÃO NO PAÍS.

Ana Luisa Carvalho

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A Ucrânia declarou indepen-dência a 24 de Agosto de 1991, ainda na ressaca da derrocada do bloco soviético. O processo político de independência foi tranquilo, ao contrário do pro-cesso económico. Na década de 90, a Ucrânia viveu o maior pro-cesso de empobrecimento que um país (sem guerra) sofreu, ao longo do século XX. Foram dez anos de recessão económica. Um país empobrecido, em crise económica e dividido politica-mente, era este o cenário em que se encontrava a Ucrânia no início do século XXI. Neste cenário, a divisão política oscila entre o nacionalismo extremo e os “russistas” extremos, que querem ver o país novamente sob domínio russo. A Rússia nunca viu com bons olhos a aproximação da Ucrâ-nia ao ocidente, e exemplo dis-so foi a crise no fornecimen-to de gás natural da Rússia à Ucrânia em 2006 e em 2009, durante governos ucranianos pró-ocidente. No entanto, esses gover-nos, de Yulia Tymoshenko e Yushchenko, foram marcados pela corrupção e pela crise eco-nómica de 2008. Foi neste cenário de crise que Viktor Yanukovich venceu as eleições presidenciais de 2010, quebrou com os gover-nos pró-ocidente anteriores e promoveu a aproximação ao regime de Putin.

E chegamos a 2013 e à situação actual. A recusa de Yanukovich em assinar um acordo de livre comércio e associação política entre a Ucrânia e a União Eu-ropeia não caiu bem entre os ucrania-nos, porque ao não assinar o acordo Ya-nukovich preferiu aceitar o aceno que a Rússia de Putin lhe fez e virar costas à cooperação com a União Europeia que os ucranianos tanto desejam.Esta decisão desencadeou uma onda de manifestações e violência, com os manifestantes a ocuparem o centro de Kiev. Mas a reacção de Yanukovich às manifestações não poderia ter sido pior, pois reprimiu os protestos e con-seguiu incentivos financeiros na ordem dos 11 mil milhões por parte do gover-no de Putin para além da promessa de uma redução no preço do gás. Esta situação provocou os nacionalis-tas ucranianos, e deu protagonismo aos sectores mais extremistas, por-que para os nacionalistas de extrema--direita ucranianos, qualquer coisa é melhor que a Rússia.Para piorar a situação, em Janeiro, Ya-nukovich promulgou uma lei anti terro-rismo para tentar reprimir as manifesta-ções. O resultado foi que os protestos e a repressão policial foram-se tornando mais violentos, até se chegar ao estado actual, onde a possibilidade da Ucrânia viver uma guerra civil parece cada vez mais uma certeza.A onda de violência começou na ter-ça-feira (18 de Fevereiro) quando os manifestantes começaram a marchar para o Parlamento. Os Berkut, as for-ças especiais da polícia ucraniana, blo-quearam o possível assalto ao Parla-mento e lançaram um contra-ataque para tomar o acampamento. Nessa noite morreram pelo menos 26 pesso-as entre manifestantes e polícia. Na manhã seguinte, as forças especiais tinham conquistado metade do acam-pamento. A situação pareceu voltar a acalmar, com os Berkut a desmontarem as barricadas da zona que tinham con-

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quistado enquanto, que do outro lado, os manifestantes gritavam que não re-cuariam mais.A situação agravou-se na manhã de quinta-feira (20 de Fevereiro). Em pou-cos minutos pelo menos 60 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. As forças especiais tiveram que recu-ar e abandonaram as posições que ti-nham recuperado no dia anterior. Os dois lados voltaram às suas posições iniciais, três dias e 86 mortos depois. Mas, no meio disto tudo será que exis-tem os bons e os maus? Não, existem os bárbaros e os bárbaros que recorrem a balas verdadeiras e a franco atira-dores para fazer prevalecer o lado da sua facção. Ou seja, todos lutam com o que tiverem à mão, sem restrições nem preocupações perante quem lhes aparece pela frente, seja a polícia, se-jam manifestantes ou apenas civis que nada têm a ver com este conflito. E ao contrário do que vem sendo dito, os manifestantes não são na sua maioria de extrema-direita. São simplesmente manifestantes descontentes e fartos dos partidos políticos, da corrupção e da falta de oportunidades. Neste conflito, para além desta ques-tão política existe já quem defenda que esta batalha é agora entre a Rússia e o Ocidente. Apesar de a afirmação estar correcta, no conflito ucraniano existem já vários outros conflitos que se estão a sobrepor e a vários níveis. E são eles:

>> O conflito entre a Rússia e o Oci-dente pela influência na Ucrânia. >> O conflito nacional entre Yanouko-vich e a oposição pelo controlo do país. >> O conflito social entre os políticos e os cidadãos que não se sentem re-presentados nem pelo presidente nem pela oposição. >> E o conflito civil entre grupos da extrema-direita nacionalista e a popu-lação de língua russa da zona leste do país e da região autónoma da Crimeia.

Relativamente ao presidente Yunuko-vich, este está desaparecido desde o dia 22 de Fevereiro, porque não só deixou de ter legitimidade dentro da Ucrânia, como fora dela. Mas o seu de-saparecimento está também relacio-nado com o escalar de violência nas ruas de Kiev, onde “snipers” da polícia atiraram contra os manifestantes e provocaram dezenas de mortos e fe-ridos. Por causa desta situação Viktor Yanukovich é agora procurado pela po-lícia sob a acusação de assassínio em massa de pessoas inocentes. Nos últimos dias, os deputados to-maram algumas decisões, como a da libertação da antiga primeira-ministra Yulia Timochenko e marcaram eleições para 25 de Maio. Não se sabe qual é o futuro das ma-nifestações nem o que se irá passar daqui para a frente, mas sem a inter-venção da comunidade internacional, qualquer cenário poderá vir a ser ca-tastrófico. A Ucrânia é um país muito importante para a Europa, não só por-que conta com a maior produção agrí-cola da Europa, mas sobretudo, porque 60% do gás que a Rússia transporta para a Europa passa por território ucra-niano. A possibilidade de uma guerra civil colocaria em risco a produção agrí-cola do país, mas também os gasodu-tos que passam pelo país.

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Com o banho de sangue que se vi-veu, a situação é imprevisível. Os confrontos continuam, apesar da as-sinatura de um acordo de paz. Será já tarde para conter a fúria dos oposi-tores radicais do regime, que querem acabar com a influência russa que ainda existe na Ucrânia? A situação parece estar mais calma agora, mas ainda é cedo para dizer que tudo parece ter acabado. //

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ARTISTAS DE CAPA:

COLLECTIVE

ESTUDARAM NA ESAD DAS CALDAS, ELA É DE PORTIMÃO E VIVE EM LISBOA HÁ 4 ANOS. ELE É DA CAPITAL ONDE VIVE HÁ 33, APAIXONADO PELA LUZ, BOÉMIA E PELAS RUELAS. TAMARA ALVES, 30 ANOS, E JOSÉ CARVALHO SÃO O COLECTIVO COLORBLIND CONVIDADO A ILUSTRAR A EDIÇÃO PRIMAVERIL. E COR NÃO FALTA. NADINHA.Tish

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Idiot – Quando é que se apaixonaram pela ilustração e pelo graffiti? Tamara - Desde que me lembro que de-senho e pinto, os meus pais são artistas e cresci no melhor ambiente possível para experimentar, riscar e sujar-me com materiais. A minha avó costuma dizer que se eu tivesse dentro de um poço continuava a pintar. Praticamente não tive muita escolha, desenhar era só o que eu queria fazer desde sempre. Acho que a paixão pelo graffiti surgiu como a paixão que tenho pela cidade, pelo simples facto de parecer algo que me era distante, quase como um sonho (ir a NY por exemplo), tudo relacionado com a urbe, hip-hop, breakdance, gra-ffiti, sempre foi algo que me aliciou. O facto de não o fazer nas ruas fez com que transportasse esse estilo para as telas e ilustração, e aos poucos (quan-do podia e arriscava) nas paredes, até que se tornou na principal área em que trabalho e o que mais gosto de fazer. Zé - O meu interesse surgiu por in-

fluência do meu pai, ele desenhava e fotografava bastante e essa vonta-de dele acabou por me contagiar de uma forma muito inocente e bastante novo. Comecei a pintar mais a sério a partir dos 15 anos, foi quando o gra-ffiti entrou na minha vida e me mos-trou um mundo para além do papel e das telas, embora gostasse e gos-to bastante de desenhar em papel, o prazer que descobri ao pintar uma parede, fez com que encarasse uma vida de artista plástico de uma forma mais real e não como hobby. A aven-tura começou em 1996 com mais 2 amigos, decidimos invadir as paredes das cidades com a nossa vontade pic-tórica de nos afirmarmos num mundo que estava a despertar em Lisboa e subúrbios, artistas como Youth, Seven ou Obey foram uma grande influência para ter começado a pintar. Ainda hoje tenho memória de um tag do Youth em Algés que me mostrou o poder da caligrafia como arte.

Wool LX Factory Open Day, fotografia Pedro Seixo Rodrigues

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diot - E um dia cruzam as vossas lingua-gens num colectivo artístico…Tamara - Depois de algumas pinturas em murais interiores e algumas inter-venções exteriores, surgiu um convi-te quando me mudei para Lisboa (em 2010) para pintar um mural com mais 3 artistas, um dos quais era o José Carvalho. Percebemos que temos os dois um estilo parecido no que toca à nossa visão de arte urbana e de nos exprimirmos com as latas de spray e tentamos misturar trabalho (uma das nossas referências principais é o co-lectivo Herakut) e perceber até que ponto poderia funcionar e o resul-tado tem sido incrível. Além de que muito do que sei e faço devo-o ao Zé.

Idiot - E bebem ambos das mesmas re-ferências artísticas?Tamara – Eu admiro Bernard Buffet, Basquiat, Swoon, Conor Harrington, Herakut, entre muitos outros. Zé - A minha primeira referência foi sem dúvida Van Gogh, depois mais tarde fui-me deixando influenciar por outros artistas como Jasper Jo-nhs, Sheppard Farey, Swoon...

Idiot - E como colectivo, conseguem definir uma linguagem própria?Tamara - Acho que aos poucos começá-mos a perceber que o meu traço rígido e a audácia e talento como o Zé mistu-ra as cores era o que nos diferenciava. Eu enquanto artista individual tenho um trabalho com pouca cor, mais rude, o Zé trabalha as cores como ninguém, muitas vezes nem sequer tem traço de contor-no. Aos poucos acho que conseguimos a nossa fórmula de trabalho. Sempre representamos animais nos nossos tra-balhos, usamos o “tag” como padrão e forma de preenchimento, e começamos por aí, usar um elemento em comum e o que melhor fazemos que nos diferencie.Zé - Acho que o que melhor define o meu es-tilo pessoal é o uso da cor para criar o caosNunca fui muito agarrado a um traço que defina o meu desenho, penso que o meu trabalho vive substancialmente da cor e do ruído que gosto de criar nas minhas imagens.

Walk & Talk, Açores

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MR.DHEO FEDOR

GODMESS

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Idiot - A quem tiram o chapéu?Tamara - Enquanto colectivo, a He-rakut sem dúvida! É difícil juntar tra-balho e fazê-lo tão bem como eles fa-zem, é de louvar. Zé - São muitos os nomes que posso ci-tar, mas de momento tenho uma gran-de admiração em Portugal pelo Gonçalo Mar e o Korleone. Lá fora, artistas como Okuda ou Liquen têm tido uma grande influência no meu trabalho.

Idiot – E o que vos inspira?Zé - É um bocado cliché, mas o que mais me inspira é a vida, a minha e a dos outros.Tento expressar essa mesma vida que observo, as formas diferentes que te-mos de a percorrer, faço uso do retrato e da vida da natureza, para mim a vida é isso mesmo, uma natureza que expe-riencia e cresce a cada momento. Uma pessoa ou um animal nunca são iguais todos os dias.

Evento “Holy Spray”

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Idiot – Querem partilhar com os idiotas os vossos planos e objectivos artísticos?Tamara - Enquanto criadores acho que a escala é sempre um desafio. O objec-tivo é trabalhar a uma escala cada vez maior e quanto mais viajarmos (para espalhar a cor pelo mundo) melhor!Zé - Pintar, pintar, criar, cada vez mais!

Idiot – E Portugal está bem e recomenda--se nesse sentido?Tamara - Portugal está a tornar-se num dos pontos de referência mundial de arte urbana, isto é fantástico, mais trabalho, mais trabalho pago, respei-to pelos artistas e mais respeito por um estilo que sempre foi considerado marginal… (e não me levem a mal, mas acho que faz parte do graffiti ser ilegal, e vai sempre haver arte ilegal a surgir pelas parede, faz parte da sua nature-za - é como a história da tartaruga e do escorpião). Lisboa é o melhor sítio do país de momento para ser artista urba-no, devido ao apoio da CML, dos vários projectos existentes que dão oportu-nidade ao artista de trabalhar, mostrar trabalho e conhecer outros artistas.Zé – Eu acho que o fenómeno do graffi-ti e arte urbana foi o melhor que acon-teceu ao panorama artístico português nos últimos 100 anos.

Idiot - Que eventos vos marcaram mais até hoje?Tamara - Enquanto Colorblind, acho que ir aos Açores foi sem dúvida mar-cante. Ninguém sai daquele festival in-diferente (Walk & Talk). Pessoalmente foi uma experiência incrível, mas tam-bém porque tenho imensas vertigens (vai ficando melhor), mas trabalhámos a uma altura de 8 m de altitude e a pri-meira meia hora foi terrível. Depois da ponte 25 de Abril isto não é nada, 12 metros e sem operador de grua...

Idiot - Ilustrar a Idiot não deu vertigens mas foi no mínimo…. divertido?Tamara - Ilustrar a Idiot é sempre diver-tido, a malta é divertida e impecável. Acho que Colorblind mostra que tem o estilo cada vez mais definido e esta-mos ansiosos por pegar numa destas ilustrações e ir pintá-la na rua!Zé - Foi um bocado idiota, com canetas sem tinta e latas sem spray, foi espec-tacular, espero poder voltar a repetir! //

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É A PERGUNTA QUE CADA VEZ MAIS PESSOAS FAZEM E CUJA RESPOSTA PODEM ENCONTRAR DE 13 A 16 DE MARÇO DURANTE A IDIOTWEEK NA EXPONORDESPORTO, HOBBY, ESTILO DE VIDA, TERAPIA, MEDITAÇÃO, O SLACKLINE É UMA ATIVIDADE COM VÁRIOS SABORES PARA DIFERENTES GOSTOS E DESCREVÊ-LA COMO ANDAR EM CIMA DE UMA CORDA PRESA A DUAS ÁRVORES, É TÃO ELUCIDATIVO COMO DIZER QUE UM IPHONE SERVE PARA FAZER CHAMADAS.

Mariana Vaz

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Mariana Vaz

Algo entre o desporto e a diversão, as origens do slackline são ainda um tanto ao quanto baças. A arte de se equilibrar em cima de uma linha é já um conceito antigo que remonta às artes circenses. Sabe-se no entanto que foi no começo dos anos 80 que a prática do Slackline enquanto modalidade urbana popular apareceu ligada a uma comunidade de praticantes de escalada que, quer por lazer quer para prática de equilíbrio, começa a montar entre postes, árvores ou qualquer outro objeto protuberante capaz de suportar o seu peso, cordas baixas para em cima delas se equilibrar percorrendo pequenos trajetos em li-nha reta. Com o tempo a atividade vai ganhando adeptos, evolui, e os peque-nos passeios suspensos rapidamente se convertem num carnaval de saltos, acro-bacias, rodopios, manobras, e mortais. As cordas, roldanas e arneses de esca-lada são substituídos por materiais me-nos técnicos e mais fáceis de montar por um leigo à medida que o desporto ganha um maior número de praticantes. Mais fáceis de montar e menos dispen-diosas, as cintas de carga, conveniente-mente disponíveis em qualquer camião de transporte por perto, são adaptadas e o Slackline começa a espalhar-se um pouco por todo o mundo.

A modalidade chega então a Portugal há cerca 3 anos através de alguns pio-neiros que se aventuram a trazer para fora de portas o que viram nos vídeos da internet. André Guedes Vaz não só foi um deles como é um dos fundado-res da única loja nacional da modalida-de, a Monkeybiz, que para alem de ven-der material específico ainda promove encontros, atividades e workshops.“Eu particularmente quando conheci o Slackline fiquei maluco, ia todos os dias para o parque da cidade sozinho por-que não havia mais ninguém... Depois de abrir a loja comecei a trabalhar com as redes sociais o que permitiu que os outros praticantes isolados se fossem conhecendo e juntando. Hoje já temos um grupo de Slackline - Porto e quando publico no Facebook que vou para o Parque raramente acabo sozinho.”Parte do magnetismo deste despor-to é a sua versatilidade. Há variantes para todos os gostos preferências e objetivos, como o Yogaline para quem o simples yoga já não constitui um desafio de equilíbrio e concentração suficiente, o Longline cuja dificuldade assenta em percorrer distancias cada vez maiores sobre a linha, passando pelo Waterline que consiste em cami-

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nhar ao longo da fita mas sobre água até ao mais aventureiro Trickline que trata a linha como um trampolim.A progressão é rápida e desenvolver cada vez mais estas artes torna-se facilmente um vício. André começou há 3 anos com simples passos e hoje já confortável no mais rebuscado Tri-ckline cativa inúmeros iniciantes atu-ando em eventos desportivos como campeonatos de surf e escalada um pouco por todo o pais.“A sensação é de que estamos a voar ..Lembro-me de que experimentei a um Sábado, no Parque da Cidade e no dia seguinte às 9 horas da manhã estava a comprar o material para montar. De-pois, para aí durante 3 meses acho que treinei todos os dias depois do trabalho porque assim que começas a dar os pri-meiros passos evoluis em todos os trei-nos. Ou porque consegues dar mais um passo, ou porque te consegues virar ou virar e baixar...é super gratificante.”Mas nem tudo é diversão , quem pra-ticar slackline regularmente correr também o risco de estar a beneficiar a sua saúde física e mental. O tipo de exercício necessário a esta prática não só melhora o equilíbrio e postu-ra como é conhecido por fortalecer os ligamentos nas articulações ao ponto de ser utilizado como fisioterapia em casos de rotura. Da mesma forma, o aumento da capacidade de concentra-

ção e alivio do stress parecem igual-mente ser consequências colaterais destas andanças.“Isto permite evadires-te completa-mente, como obriga a muita concen-tração uma pessoa acaba por ter de esquecer os problemas. Para teres de-sempenho tens de te concentrar.” Para quem quer começar André Gue-des Vaz sugere antes de mais a inte-gração num dos muitos grupos de Sla-ckline espalhados pelo pais.“Podes-te juntar a uma comunidade de slackline, como por exemplo o Slackline Porto, de certeza que serás bem rece-bida e assim podes experimentar com o material de outras pessoas antes de estares a comprar seja o que for.”Existem já comunidades espalhadas um pouco por todo o pais , Évora, Al-garve, Setúbal, Lisboa, Castelo Branco, Covilhã... são apenas alguns exemplos do que se está a tornar cada vez mais uma tendência, mas para quem não ti-ver um núcleo perto de si, é possível adquirir uma linha de iniciação online por cerca de 50 eur na Monkeybiz as-sim como toda a informação necessá-ria aos interessados na modalidade. Basta procurar em www.monkeybiz--slackline.com ou na página do Face-book . E para quem mal pode esperar para começar a andar na corda bamba é já de dia 13 a 16 a demonstração na IdiotWeek. na Exponor. //

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JÁ ALGUMA VEZ IMAGINARAM UM GATO A VOAR COM UMA LUVA DE BOX CALÇADA? SE A RESPOSTA É POSITIVA, LAMENTO INFORMAR-VOS QUE NÃO FORAM OS PRIMEIROS. HÁ CERCA DE DOIS MESES, A EMPRESA PORTUENSE ARTBIT LANÇOU NA APPLE STORE UM JOGO QUE PARTE PRECISAMENTE DESSA IMAGEM: CHAMA-SE ZEZ E JÁ ALCANÇOU OS TOPS EM 150 PAÍSES.Carolina Hardcandy

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Para quem não conhece, os criadores descrevem--no, de modo bastante sumário: “É um gato que está no ringue, vai lutar contra um robô granda-lhão, e é impulsionado para cima. Quantas mais combinações de três ou quatro robôs em linha fizeres mais sobes e de-pois mais explosivo é o teu murro”. O objetivo fi-nal é, então, o de ajudar o gatinho amarelo a dar uma tareia ao robô mal-vado e, para isso, embar-camos numa viagem de 60 segundos alucinan-tes entre fileiras de pe-quenos robôs coloridos que devemos combinar. Dito desta forma, parece simples. E é mesmo. Não são necessários gran-des tutoriais ou truques rebuscados e, por isso, ZEZ é acessível para todos que tenham um iphone / ipad e um mi-nuto para se divertirem.Fui conhecer os homens que inventaram o gato: Pedro Ribeiro, programa-

dor e fundador da Artbit e Zez Vaz, o animador que deu vida às personagens do jogo. Pedro trabalhava como enge-nheiro eletrotécnico quando começou a fazer alguns jogos para Android como passatempo. No entanto, “os jogos co-meçaram a ficar cada vez melhores e mais complicados, a roubar mais tempo, e eu cheguei à conclusão que estava a gostar mais de fazer os jogos do que do meu trabalho mesmo, então decidi que ia despedir-me e dedicar-me a 100%. Lancei o primeiro jogo feito exclusiva-mente como programador e foi aí que decidi dar o nome Artbit a esta ‘coisa’”. Fundada a empresa, era necessário en-contrar alguém que se encarregasse do aspeto visual, que “fizesse a coisa bo-nita”, e foi aí que se juntou o animador, “quando o Zez se juntou, posso dizer que a Artbit apareceu realmente”. Quando pergunto qual era a ideia ini-cial, dizem-me que pretendiam “fazer um jogo muito simples, muito rápido de desenvolver e que tivesse um ape-lo para toda a gente”. Aquilo que pen-saram que demoraria três ou quatro meses a criar acabou por levar mais de um ano. Durante esse período, de-dicaram-se inteiramente ao projeto e este teve tanto de gratificante quan-to de exaustivo: “Fazer algo que apele a toda a gente é incrivelmente difícil, simplificar sem tornar uma experiên-cia quase infantil é muito complicado e foi isso que sugou a maioria do tem-po”. Apesar do processo extremamen-

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te trabalhoso, confessam que, por ve-zes, queriam fazer alguns testes e às tantas reparavam que estavam a jogar apenas por prazer (“era aí que sabía-mos que o jogo estava porreiro”). Quanto áquilo que os influencia, os criadores disparam em várias direções. Sobre jogos, referem aqueles simples e viciantes, como o Fruit Ninja. Também falam dos desenhos animados da Car-toon Network, do Dragon Ball, de comé-dia (“a comédia acabou por entrar ali, o jogo tem o seu humor”) e até do punk. Não é difícil identificar reminiscências da ética DIY na postura que assumem acerca do trabalho que desenvolvem. Pergunto-lhes se conseguem identifi-car-se com o rótulo que tanto tem sido usado no nosso país, o de “jovens em-preendedores”. Pedro Ribeiro respon-de-me que, “no sentido de sair da nossa zona de conforto e arriscar um bocado, sim, é isso que estamos a fazer. Identi-fico-me com as pessoas que tentaram safar-se por si próprias”. Zez Vaz acres-centa: “Isto é a minha banda, agora. Um gajo faz estas coisas em vez de ter uma banda. Eu acho que não sei ser de outra maneira. A liberdade criativa é das me-lhores coisas que podes ter”. Assumem o seu amor pela cidade do Porto (“O Porto acabou por ter ali uma assinatura no jogo, não foi por acaso”), mas não escondem que o local também tornou o processo de desenvolvimen-to do jogo mais solitário, uma vez que não conheciam, à data, ninguém que estivesse por perto a trabalhar no mes-mo. Saído da Invicta, ZEZ conservou o seu espírito e conquistou jogadores por todo o Mundo. O gato amarelo e os robôs que o acompanham parecem mesmo ter atingido um soft spot no coração daqueles que já os conhecem. Ss reviews são várias e são bastante positivas. Até o Kotaku, uma espécie de bíblia entre os gamers, declarou pu-blicamente o seu fraquinho por ZEZ, numa entusiasta crítica intitulada “For-get The Candy Crush Clones, This Ma-tch Game Is Like No Other”.

O feedback favorável que estão a re-ceber não significa, no entanto, que tenham dado o trabalho por termina-do. Revelam que, embora existam já planos de projetos futuros, estão ainda concentrados no jogo que lançaram e prometem um update que irá “incluir uma componente social para partilhar pontuações e puxar pela vontade de bater a pontuação máxima”. Durante o processo de criação, pensavam que ZEZ seria “o início ou o fim da Artbit”.

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Tudo indica que será apenas o princí-pio do sucesso, embora não escondam que o retorno financeiro “ainda tenha de sofrer uma reviravolta brutal” para compensar os esforços. Sobre o co-meço risonho junto do público, escla-recem: “tivemos algumas sortes, mas nós apontámos para isso. Acabámos por conseguir o que pretendíamos, foi planeado e correu bem”. Consideram que um dos melhores elo-gios que recebem é o de ouvir alguém

dizer “eu nunca jogo nada e adoro jogar ZEZ!” (situação onde, aliás, me incluo). Nunca escrevi sobre jogos e se o faço hoje não é por acaso. Num tempo em que ouvimos falar diariamente de cri-se, desemprego e falta de perspetivas e oportunidades para os mais jovens, é reconfortante saber que há aqui, tão perto de nós, quem arrisque fazer aqui-lo de que gosta e consiga cumprir os seus objetivos. ZEZ ainda agora come-çou e já é uma história com final feliz. //

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Crítica por:Ricardo Branco

A GRANDE BELEZA de Paolo Sorrentino (2013)

A câmara viaja em travellings e enqua-dramentos irreverentes, os actores gri-tam e fazem barulho, um coro e uma voz específica. Ostentação de riqueza, sítios belos e um azul do mar demasia-do atraente. Um circo. O homem Felinia-no. A herança nota-se, mas não resulta. A Grande Beleza figura nas listas de melhores filmes de 2013 e chega agora às salas de cinema portuguesas.Paolo Sorrentino queria criar La Dolce Vita dos tempos modernos - ele próprio fala dessa modernização durante o filme através duma escritora falhada - cha-mou-lhe La Grande Bellezza e encheu esta análise à sociedade de Roma de re-ferências eruditas e imagens esplendo-

rosas. Não pegou numa qualquer cama-da social, mas sim no créme de la créme: o verdadeiro estatuto do rico fare niente. A profissão é comum a todos: são ricos e presunçosamente - até falaciosamente - vivem numa bolha de falsa superiorida-de porque têm dinheiro e leram Proust.O nosso protagonista vive à custa dos louros do único romance que escreveu, romance esse a que deu o nome de algo parecido com “o aparato do homem” e é precisamente isso que nos aparece nesta longa metragem: nada mais que o aparato; esse mesmo aparato que fez de Fellini (irrefutavelmente) um gran-de cineasta, em Sorrentino torna-se simplesmente pretensioso e demasia-do artificial. Ele quer equiparar-se aos grandes, mostrar que pode reinventar os seus pais como Antonioni e Pasolini também, mas essa obsessão acaba por trai-lo e concluir naquilo que podíamos chamar de “A Vazia Vida”.Um protagonista que nos guia na sua li-nha de pensamento com uma narração castradora e um segredo que guarda até ao desenlace que afinal não era assim tão importante. Uma frustração, uma his-tória de que Flaubert queria escrever um livro sobre nada, mas em vão; mas Paolo Sorrentino está de parabéns por isso, fez um bem filmado filme sobre nada.

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UM NOVO FÔLEGO de Drake Doremus (2014)

Uma fixação oral, uma boca e uma res-piração calma. Um piano, um violonce-lo e uma vida virada de pernas para o ar. A paixão não se chega bem a sen-tir, trata-se antes da busca intensiva por uma mudança.Depois do aclamado Like Crazy, Dore-mus volta a trabalhar com Felicity Jones que dá de novo vida a uma estudante britânica que vem de intercâmbio estu-dar para a América. Neste novo filme o caso é diferente, trata-se de ser acolhi-da por uma família e tornar-se colega da filha de um casal de classe média alta - é precisamente aí que surge o conflito.Keith, o pai de família, (que é brilhan-temente representado por Guy Pe-arce) está a passar por uma crise de meia idade - perfeitamente justificá-vel quando percebemos que ele é um músico cujos sonhos falharam e se encontra aprisionado numa vida que a sua mulher desejou para ele: um emprego estável como professor que o agonia e que Keith despreza.O título em português Um Novo Fôlego

remete-nos para a clarificação da me-táfora que o original Breathe In repre-sentava: referência a um exercício de respiração que Sophie (Felicity) o incita a fazer no intuito de o relaxar: é ela o novo fôlego na vida de Keith e não são os nervos que o sufocam, mas a sua mulher e a sua própria vida. Ela fica logo caída por ele como se por um complexo de Édipo: e o interesse dele aumenta a cada conversa que par-tilham - ela interessa-se por ele e pela felicidade dele. Ela orgulha-se dele duma forma que o resto da família não o faz. E a tentação é perigosa, a mo-notonia frustrante e o desejo está tão reprimido como a vida de Keith.Drake Doremus apresenta-nos um filme realizado nos mesmos tons indie do seu cinema americano - a cor é bonita como em Like Crazy, mas a emoção menos in-tensa e talvez uma história menos in-teressante. A crueldade continua lá e a preocupação narrativa parece semelhan-te: mexer no que está estanque meten-do o dedo na ferida, para mais tarde nos trazer de volta ao início - completando um círculo perfeito, como num romance. Um realizador promissor, preocupado em captar a tensão com a sua câmara e a fa-zê-lo também ele com um fôlego novo. //

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A Idiot encontrou a Vanessa Silva de 22 anos no Modatex, uma escola de moda, onde muitos idiotas passeiam as suas ideias criativas nos corredores. A Vanessa está a estudar Alfaiataria e diz que está a adorar. mas o seu objetivo é estudar Design de Moda. Veio de com-boio de Viana do Castelo para o Porto para poder estudar aquilo que mais gosta de fazer. Neste momento, só respira os ares de Viana aos fins de semana. Quer seguir uma vida profissional na área da moda e, quem sabe, não deixar mor-rer a tradição dos alfaiates. Outra das suas paixões é o desenho a caneta Bic, e posso-vos dizer que a caneta na sua mão desliza sobre o papel, onde deixa linhas desarrumadas mas bonitas, tendo um trabalho final interessante. Não se esqueçam do nome desta nos-sa idiota porque ainda vai dar muito que falar. // Bruno Manso

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Tal como anunciei no mês passado, estiveram em cena Coriolano e Como Queiram, ambos de Shakespeare, o que veio acentuar esta tendência úl-tima de encenação de textos do autor inglês. A que se deve, no entanto, esta tendência? Será causa dos tempos que correm ou será uma tentativa de chamar público ao teatro?É de conhecimento mundial que William Shakespeare é o pai da língua ingle-sa, mas a sua existência está envolta numa atmosfera de mistério, visto que nem todos concordam sobre a sua vida. A verdade é que, existindo ou não, foi um dos responsáveis pelo enriqueci-mento do léxico inglês, introduzindo cerca de seis mil novas palavras.Esta tendência que se tem vindo a ge-rar, de encenação de textos de gran-des mestres, preocupa-me por duas razões. Uma porque é uma tentativa de chamar a atenção do público. Uma tentativa algo fútil esta de chamar a atenção através da sonância e impor-tância de um nome, mas a verdade é que muitas vezes ainda se vive de aparência e ir ao teatro ver um ‘shakes-peare’ acaba por nos tornar ‘chiques e inteligentes’ aos olhos dos outros. Por outro lado, esta tendência pode muito bem estar relacionada com a cri-se que atinge os bolsos de todos e da cultura em particular. Neste país onde nem um ministério da cultura existe, os que lutam por ela lutam com pou-co. Uma das armas é, assim, contornar a situação e encenar autores cujos direitos estejam caducados e não se tenha de pagar a mais por isso. E, às

vezes, é mesmo isso o que faz de uma peça, ser uma grande peça. Já sem os ideais renascentistas de enaltecimento ao Homem, mas já na corrente modernista, este mês é de ressalvar a presença de Fernando Pessoa no teatro. Durante o mês de março será este o nome que irá ser ouvido e as perguntas acima assom-bram-me novamente. Será que se não houvesse esta crise na cultura, estaríamos agora a encenar textos de novos dramaturgos? Ou con-tinuaríamos nesta tentativa de fazer do passado o novo presente?Certo é que o Mosteiro de São Bento da Vitória recebe, de 12 a 16 de mar-ço, O Segundo Raio de Luz de Luar que trabalha sobre a vida e obra de Fernando Pessoa através do teatro e dança. O Teatro Nacional São João apresenta a reposição da peça Turis-mo Infinito de António M. Feijó, de 13 a 26 de março, com uma encenação de Ricardo Pais. Os heterónimos e algu-mas personagens de Pessoa voltam ao palco, numa das peças mais profun-das e espetaculares peças que já vi. E para celebrar o Dia Mundial do Teatro, Ricardo Pais encena Al Mada Nada a partir de Almada Negreiros, uma peça que promete ser dinâmica já que con-ta com a participação dos Momentum Crew. Neste dia de comemoração o Teatro Carlos Alberto recebe, em es-treia absoluta, O Filho de Mil Homens, com base no romance homónimo de Valter Hugo Mãe, após um laboratório de criação proporcionado pelo Teatro Bruto. // Ana Catarina Ramalho

A ARTE DA FÉNIX RENASCIDANO MÊS PASSADO ASSISTI A UMA DAS RAZÕES PELAS QUAIS ME APAIXONEI PELO TEATRO – A CAPACIDADE QUE A MESMA PESSOA TEM DE CONSEGUIR ESCREVER PEÇAS EM DIFERENTES TONS, COM TEMAS E CENÁRIOS COMPLETAMENTE OPOSTOS.

Teatro Car-los Albertofotografia João Tuna

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FOTOGRAFIA À LUZ DE JORGE TEIXEIRAtexto: Mariana Vaz

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DE CURIOSO A PROFISSIONAL, FOI COM A NOITE QUE JORGE TEIXEIRA VEIO À LUZ. FOTÓGRAFO AUTODIDATA HÁ 8 ANOS, PARTIU DA FOTOGRAFIA DE EVENTOS NOTURNOS PARA DAR INÍCIO A UM PORTEFÓLIO ÚNICO E ORIGINAL QUE TODOS OS DIAS ATRAI A ATENÇÃO DE NOVOS SEGUIDORES DENTRO E FORA DO PAÍS.

Inevitável. Ao longo da história muitos foram aqueles que sentiram o chama-mento do meio artístico... O enleio da serpente, o canto da sereia, aquele momento em que o padre deixa bati-na e crucifixo para seguir outras mais veementes paixões... “Nada disto estava planeado. O meu rumo era totalmente diferente... Quan-do disse aos meus pais que queria fa-zer fotografia nem me levaram a sério.”Acabado o 12º ano, Jorge Teixeira, ainda de tenra idade, visionava uma carreira promissora no campo da programação informática. Mas foi nessa altura que o seu caminho se cruzou com uma das pri-meiras máquinas fotográficas digitais. Fascinado pela tecnologia e dono de um olhar curiosamente peculiar, Jorge deixa-se levar pelas delícias da recém chegada. Tornam-se inseparáveis. Com todo o poder dos seus 4 Megapixeis, a sua nova câmara proporciona-lhe horas e horas de disparos gratuitos, sem mais nenhuma consequência ulterior que não a diversão, a aprendizagem e os aperfeiçoamentos técnicos.“Não ia para nenhum sítio sem a má-quina. Comecei a fotografar concertos e bandas nacionais. Fazia umas coisas engraçadas para a altura: fotos com exposição lenta, arrastamentos... e depois a edição.”O seu estilo foi maturando com a prática e daí até à fotografia de eventos notur-nos (clubbing) foi um pequeno salto. Jor-ge estreou-se como fotógrafo residente no clube Indústria, no Porto, o que lhe deu oportunidade para lidar mais de per-to com novas caras, temas e situações. Seguem-se outras grandes casas no-turnas - como o Pacha, através do qual começa a colaborar com a Idiot Mag, e

o Twins - que muito contribuem para a popularidade dos seus trabalhos. ”As pessoas gostam do resultado e passam a palavra. No clubbing a abor-dagem é mais fácil, mais direta, para além de que me dá oportunidade de fa-zer uma edição mais característica do meu estilo pessoal”.Nutrido por uma forte influência cine-matográfica e por trabalhos de nomes nacionais e internacionais da fotogra-fia como Orlando Gonçalves, Frederico Martins, José Ferreira, Mert & Marcus, Terry Richardson, entre outros, ao fim de 8 anos como fotografo profissio-nal, Jorge Teixeira conta já com um portefólio bastante diverso. Reporta-gens de eventos, fotografia de moda, catálogos, editoriais, books, fotogra-fia artística... tudo com o seu cunho pessoal que transforma cada vez mais clientes satisfeitos em fãs. “Não tenho nenhum marco especial na minha carreira. Quando depois de aca-bar um trabalho com um cliente, ele volta, isso para mim é que é especial.”Iluminação simples, natural, um look puro e clean... Luz, momento, tempo, tema, pessoas são a matéria prima do seu mundo, descodificados em aber-turas, velocidades, distancias focais e outras tais especificações que, juntas, pugnam por uma imagética sincera e verdadeira, muito própria e caracterís-tica do fotógrafo.

“TENTO FUGIR AO ESTÚDIO, O ESTÚDIO VAI CONTRA O MEU TRABALHO.”

Mas que o trabalho artístico não são só rosas já todos o sabem e o trabalho artístico freelance, em época de cri-

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se, então só mesmo quem está nele é que pode ter o privilégio de apreciar por inteiro toda a gama de vicissitu-des que se lhe opõem das mais varia-das formas. “Trabalhos fotográficos em freelan-ce nunca são fáceis, nem em Portu-gal nem em lado nenhum, aliás como qualquer trabalho artístico. O mais importante é ter os conhecimentos certos e ideias novas, passar a pala-vra e não desistir!”Na verdade, a madrasta da fotografia digital oferece com uma mão mas tam-bém esbofeteia avidamente de régua em punho com a outra. A vantagem de não existirem custos de material con-sumível (rolos de filme, papel fotográ-fico..) rapidamente se torna alvo de exploração, uma vez que muitos clien-tes exploram jovens fotógrafos para fazer trabalhos não pagos. “Não se começa a fotografar de bor-la. O cliente vai sempre retirar lucro do nosso trabalho e isso é altamen-te injusto.”

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Da mesma forma, a pandemia ciber-náutica de fotógrafos amadores só vem acrescentar entropia a um merca-do que ainda não percebe muito bem a diferença entre um trabalho profissio-nal e outro amador, e que apenas está interessado no baixo custo. “Há muita gente que tem um filho ou sobrinho com uma boa máquina e que fotografa em automático. Não tiram partido da câmara e cortam qualquer possibilidade de desenvolver algo mais estilístico e criativo. Eu não faço trabalhos mais comerciais, como casa-mentos, porque também sei que não sou o melhor para os fazer. Não é o meu tipo de técnica. Para tudo é preci-so uma técnica específica.”Há ainda muito para explorar no tra-

balho de Jorge Teixeira. Fotografia de viagem será o próximo passo. Inspi-rado pelo legado do fotografo portu-guês Joel Santos, também Jorge não consegue esconder a vontade de par-tir mundo fora ao encontro de novos lugares e expressões. ” Adoro viajar, e aliar isso à fotogra-fia era fantástico! O simples facto de andar pela rua de máquina ao peito é incrível. Fotografar o dia-a-dia, as pes-soas, fotografar isto e aquilo...” //

Enquanto não perdemos Jorge Teixeira pelo mundo, encontrem-no online em:- www.jorgeteixeira.com - www.face-book.com/JorgeTeixeira.Photographywww.behance.net/JorgeTeixeiraDotCom

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HÁ 3 ANOS COM O TECHNO NOS OUVIDOS

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HÁ 3 ANOS COM O TECHNO NOS OUVIDOS

MAIS DE 4 DÉCADAS SEPARAM O NASCIMENTO DO ESTILO ELETRÓNICO MAIS PURO DE SEMPRE E O SURGIMENTO DA SYNOPYS PROD. ASSIM COMO DE DETROIT CHEGOU AO RESTO DO MUNDO, O TECHNO PROPAGA-SE PELO NORTE DE PORTU-GAL PELAS MÃOS DA PRODUTORA, QUAL AM-BICIOSO JUAN ATKINS NOS CONFINS DAS SUAS PRODUÇÕES ENTRE SINTETIZADORES E SONS DE ALMA COMPUTADORIZADA. BENDITA SEJA ESSA TUA OUSADIA, Ó MESTRE ATKINS, QUE DO GÉLI-DO CENÁRIO INDUSTRIAL DA CIDADE AMERICANA CRIASTE O QUE HOJE FAZ DANÇAR A 120 BPMS OS VERDADEIROS AMANTES DA MÚSICA MAIS VI-BRANTE DE SEMPRE.

Na época em que o excesso de syn-ths domina, o repetitivo diferencia-se e o trabalho da produtora e promotora bracarense ganha forma em espaços à medida da sua ambição mas sem-pre, de olhos postos nos artistas de verdadeiro espírito eletrónico. Des-provida de protagonismo comercial, a vontade de honrar a cultura techno é o que mais tem agitado o crescimen-to da Synopsys Prod pela equipa de Marisa Martins, a mentora do projeto.

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Já lá vão 4 anos de trabalho intenso e festas regulares com artistas interna-cionais que ultrapassam o patamar do conceito mais tradicional da danceflo-or para um nível mais profundo: o da real experiência musical. Assim têm sido os “arraiais eletrónicos” promovi-dos pela produtora, com nomes como Alberto Pascual, Jeroen Search , Hobo e a mais recente aposta para a próxi-ma festa de dia 28 de março no Gare Porto, Exium, a transportar para outro universo a necessidade de dançar até que o corpo não possa mais. Outros conceitos são ainda o motor que faz mover a Synopsys Prod. As festas Music Makers e Subculture que presenteiam os mais diversos produ-tores nacionais e o agenciamento de talentos emergentes do mundo da te-chno e da house como Bruno Tinoco, Sepypes, João Ferraz, Whyzen e a mais recente parceria com Pedro Vasconce-los, são outras razões que tornam a Synopys Prod numa das promotoras com mais potencial dentro da atual cena eletrónica. // Filipa Nascimento

Nunocarneiro

DJDA NI

NunoDI ROSSO

SKINNIES

palco: PUBLICIDADE

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WWW.RUM.PT

Desde 2010 que Nuno Di Rosso comprova a ligação existente entre os vários estilos de música. todas as sextas a partir das 22 podemos contemplar a natural polivalência que define o registo do autor. São duas horas de uma viagem ao universo de Nuno di Rosso, que debita, propositadamente, os vários caminhos da busca incessante de um melómano, pela qual se tem vindo a pautar anos a fio.

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Constrói e desconstrói a perspectiva histórica da música de dança, sem nunca descurar a importância de grandes rótulos indevidos, como a soul, o funk, o house, o hip-hop, o disco, o techno entre todos os outros que, de alguma forma, se conectam entre eles.

Para quem já se habituou às suas actuações como dj, o resultado define-se pela provocação de uma verdadeira revelação àqueles que insistem em determinar fronteiras, e como uma ligação com os mais atentos.

Isto é Connected.

PPUBLICIDA

DE

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ESTAVA EU A LER UMA DAQUELAS REVISTAS DEDICADAS AO PÚBLICO FEMININO (AQUELA QUE É FELIZ NO NOME), QUANDO ME DEPAREI COM UM PEQUENO ARTIGO ONDE SE FALAVA DA ADOLESCÊNCIA. SEGUNDO O TAL ARTIGO, O PERÍODO DA ADOLESCÊNCIA AGORA VAI ATÉ AOS 25 ANOS, E NÃO ATÉ AOS ANTERIORES 18 ANOS. ORA CÁ ESTÁ UMA COISA QUE DESCONHECIA! ENTÃO AQUELA IDEIA QUE TODOS TEMOS DE QUE AOS 18 ANOS JÁ SOMOS ADULTOS, NÃO É REAL?

Ana Luisa Carvalho

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Está bem que ainda não me sustento sozi-nha, dependo dos meus pais, mas daí a ser considerada adolescente ainda vai muito. Seguindo a mesma linha de raciocínio, se aos 25 anos somos ainda adolescentes, en-tão quando é que vamos entrar na chama-da terceira idade? Aos 80, aos 90, ou até mesmo aos 100? A explicação para esta “nova descoberta” é que os psicólogos chegaram a esta con-clusão após terem analisado a maturidade emocional, o desenvolvimento hormonal e a actividade cerebral dos jovens e perce-beram que tudo se alterou. Como afirma a psicóloga britânica Laverne Antrobus: “Os jovens ainda precisam de uma quantidade considerável de apoio e ajuda para além dos 18 anos”. E por isso, resolveram fazer uma nova divisão da adolescência.Assim sendo, a adolescência agora divide-se em três fases: o início (entre os 12 e os 14 anos), o meio (entre os 15 e os 17 anos) e o final (entre os 18 e os 25 anos). Mas porquê os 25 anos? Segundo a tal psicó-loga britânica, o desenvolvimento cognitivo das pessoas continua até aos 25 anos, assim como o desenvolvimento hormonal, a maturi-dade emocional e a imagem que cada um faz de si próprio. Só aos 25 anos é que o nosso cérebro está desenvolvido completamente. Na minha opinião, tudo depende da maturi-dade ou do sentido de responsabilidade de cada um. Hoje em dia, os jovens perderam a aspiração pela independência e tendem a ser cada vez mais infantilizados, o que faz com

que a permanência em casa dos pais dure até mais tarde, ao contrário do que se passava antigamente quando os jovens procuravam sair o mais depressa possível da casa dos pais, para terem a sua própria independência. Hoje em dia existem dois tipos de jovens: os que não querem deixar a adolescência para trás, e outros que querem romper com os pais e tornarem-se adultos, mas que têm muitas dificuldades em cortar os laços familiares.Neste sentido, a cultura da infantilização acabou por intensificar também, o sentimen-to da dependência passiva, prejudicando a condução dos relacionamentos adultos. Este efeito cumulativo da infantilização é visto como responsável por este fenómeno. Os pais “prendem” cada vez mais as suas crianças. É-lhes difícil deixá-las viver as experiências do mundo real, pelo contrário, tendem a isola-las dessas mesmas experi-ências por muito tempo. A perda da aspiração pela independência e o medo de viver sozinho originou uma mu-dança cultural que fez com que a adolescên-cia agora se estenda até aos vinte e muitos anos. Mas isso pode vir a prejudicar os jo-vens de diversas maneiras. E é aqui que entra a psicologia, cujo papel é reforçar este tipo de passividade, impotência e imaturidade e tentar normalizar a situação. Mas agora deixo uma pergunta. Com ta-manha actividade hormonal, e com a ado-lescência a durar mais do que se pensava, como é que iremos nós saber quando atingi-mos realmente a idade adulta? //

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I JUST WANT THE SIMPLE THINGStexto: Tiago Moura

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A CADEIA TELEVISIVA NORTE AMERICANA HBO ANUNCIOU RECENTEMENTE A RENOVAÇÃO CONTRATUAL DA LOOKING, SÉRIE DE ANDREW HAIGH QUE SEGUE OS DIAS DE TRÊS AMIGOS E AS SUAS AVENTURAS AMOROSAS. A SÉRIE TEM RECEBIDO CRÍTICAS POR SER MONÓTONA, MAS OUTROS LOUVAM A SUA HONESTIDADE EM MOSTRAR PERSONAGENS LGBT DIFERENTES DO QUE O ESPETADOR ESTÁ HABITUADO A ASSISTIR.

texto: Tiago Moura

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Hoje em dia, devemos perguntar se é suficien-te a simples inclusão ou se devemos ques-tionar a qualidade da referência. Tanto no panorama norte-americano (o maior mercado televisivo ocidental) como na nossa própria televisão, a presença de figuras LGBT já não é uma montanha a escalar, mas uma situação que a repetição vem a suavizar o estranha-mento. Entre a programação diária das princi-pais estações, somos capazes de apontar (não literalmente, porque isso é feio) alguém per-tencente à comunidade LGBT: de personagens de telenovelas ou séries, dos seus atores e atrizes, de apresentadores e apresentadoras e até concorrentes de reality shows, já não exis-te a questão de se poder ignorar a sua exis-tência. Contudo, é altura de começar a ques-tionar o modo como os meios de comunicação social, e principalmente os produtos de ficção, representam a comunidade LGBT.Se no mundo anglo-americano esta é já uma questão para qual os espetadores e a crítica estão mais sensibilizados (o que não signifi-ca que sejam mais sensíveis), é uma situação recente para a nossa cultura. Nos últimos dois anos, a SIC e a TVI colocaram em horário nobre (e em produções nacionais) diferentes perso-nagens que são, em parte, exatamente isso: diferentes. Tanto em Sol de Inverno como em O beijo do escorpião, as principais telenovelas das duas estações, existe um casal gay em di-ferentes etapas da sua relação: na produção da SIC, Ângelo Rodrigues e Rui Neto desempe-nham um casal de jovens pais e a sua narrativa dentro da telenovela desenrolará num drama jurídico sobre a custódia da filha adotiva, após a morte de uma das personagens; por outro lado, na TVI, Vítor Silva e Costa e Pedro Carva-lho interpretam um casal recluso, onde a sua narrativa passa por muitos encontros fortuitos e tórridos q.b. De sublinhar, também, Lourenço Cunha, concorrente da Casa dos Segredos 4, que ao revelar ser transexual deu uma enorme visibilidade ao tema.Não sendo estes os únicos casos de persona-gens LGBT, os casais homossexuais das tele-novelas já referidas demonstram a bipolarida-de no modo de representação a que estamos habituados, principalmente em produções fic-tícias: por um lado existe o lado pedagógico, em que o principal foco narratológico do casal

de Sol de Inverno enfatiza o ato de exposição de uma realidade diferente, mas forçosamen-te normal. Não é uma estratégia errada, por-que não nos podemos esquecer que o princi-pal objetivo de um programa televisivo é obter audiências (e, na atual conjuntura, um casal gay com uma criança adotiva é algo capaz de chamar muitos espetadores), mas tal como acontece na produção da TVI, onde as perso-nagens de Vítor Silva e Costa e Pedro Carva-lho são ferramentas de choque através da sua sexualidade, acaba por ser uma representação redutiva, pois ambos concentram-se em pon-tos isolados. Podendo isto não passar por uma escolha deliberada dos argumentistas, pois normalmente estas personagens ocupam um papel secundário na ação e nunca há espaço suficiente para desenvolver eloquentemente todas as personagens, um problema que pode resultar da repetição destas escolhas criativas é a criação de chavões ou estereótipos em tor-

Ângelo Rodrigues e Rui Neto

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no da comunidade LGBT.Trata-se, então, novamente, de uma questão de espaço. Não um espaço reivindicativo da inclusão ou das suas diferenças (quase relem-brando as vagas iniciais do feminismo), mas um espaço que permita a representação fluída da sua identidade. Ao virar do século, a RTP foi pioneira nesta questão, ao exibir séries foca-das em personagens homossexuais, onde era dado espaço para mostrar mais que a sua se-xualidade e questões com ela relacionada. Fa-lamos de Sete Palmos de Terra, de Alan Ball, de Diferentes como nós e A letra L, todas trans-mitidas pela RTP2, onde as personagens não eram interessantes por serem homossexuais, mas por serem personagens multifacetadas. No início de 2014, a HBO estreou Looking. Criada por Andrew Haigh, realizador do acla-mado filme Weekend, a série apresenta-nos o dia a dia de Patrick, Agustín e Dom, três amigos de São Francisco. Dada a sua estru-

tura, a série tem vindo a ser comparada a uma versão gay de Girls, mas enquanto que na série de Lena Dunham assistimos ao pri-meiro e duro choque com a idade adulta e as suas vicissitudes, em Looking acompanhamos personagens mais maduras (e Andrew Haigh tem vindo a saber tirar proveito dessa mes-ma maturidade). Looking, ainda sem data de estreia em Portugal, tem recebido críticas por ser monótona e as suas personagens não se-rem familiares aos seus espetador, mas não será isto resultado, também, da constante representação de personagens LGBT como escapes sexuais ou veículos vazios de propa-ganda política? Mesmo em séries como Dife-rentes como nós era dado um enorme ênfase aos encontros sexuais das personagens, por isso é surpreendente que seja dado espaço para mostrar que uma personagem homos-sexual gosta tanto de ficar sentado no sofá a comer porcaria, a um sábado, como o res-to do mundo. Este tipo de retrato acaba por ser tão ou mais provocante, hoje em dia, que um episódio inteiro dedicado à exploração do fetiche de uma personagem em pedir que os seus companheiros urinem em cima dele.Mais, e tal como aconteceu em Weekend, An-drew Haigh tem consciência da existência de detalhes, naturais do universo LGBT, que são ferramentas enormes na construção de uma personagem credível ao espetador informado: descobrir se o companheiro é passivo ou ativo ou perguntar se a família sabe que é homosse-xual são alguns exemplos, mas que não são re-presentados, e que a sua nova produção aborda sem aquela necessidade de quebrar a quarta parede, à la Alfie, e assegurar o espetador que aquilo é assim e que não deve ter medo. O fulgor do movimento LGBT em reclamar por igualdade de direitos deve passar, também, pela igualdade no modo como é representada ficcionalmente, uma vez que, e em relação aos moldes da televisão portuguesa, os casos atu-ais passam maioritariamente pelo estereótipo do camp ou de uma libido exacerbada. Não foi o realizador Stanley Kubrick que declarou que tudo o que possa ser imaginado pode ser fil-mado? Talvez a utopia da normalidade social possa ser mais rapidamente alcançada se pri-meiro for pintado o quadro aos que não são capazes de o imaginar. //

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GALERIA DE STREET ART DE CEDOFEITA BY:

RUA DE CEDOFEITA 455, PORTODAS 10H ÀS 22H

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http://www.youtube.com/watch?v=cZBS-OYcztw

PUBL

ICID

AD

E

Galeria Street Art Cedofeita by Idiot Mag“Uma mostra permanente de arte urbana com alguns dos melhores criadores nacionais” in Time Out fev.14

VÊ O VÍDEO AQUI:

Em exposição: Hazul | Fedor | Mots | Alma | Go Mes | Virus | Mr.Dheo | Youth One | Eime | Draw | Maniaks | Third | Laro Lagosta | Eky One

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“In the future everybody will be world famous for fifteen minutes”.

Ana Margarida

Meira

Andy Warhol

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Em 1968, quando Andy Warhol apresenta a sua primeira exposição retrospetiva interna-cional no Moderna Museer em Estocolmo, o catálogo da exposição continha a mais famo-sa apreciação do artista. Esta é a premissa que se transforma em introdução e conclusão da ideia exposta neste texto: hoje, já esta-mos no “futuro” de Warhol, em que qualquer pessoa é famosa, pelo menos uma vez na vida, durante um breve espaço de tempo. Bem, se estão a pensar que os nossos pais ou nossos avós não terão esse bright moment, desenganem-se. Quantos de vocês não puse-ram os vossos pais ou avós nas vossas redes sociais e os vossos amigos virtuais e/ou reais acharam certamente amoroso? Posto assim, pode dizer-se que sim; atualmente, vive--se na realidade que Warhol previu (e muito bem). Vai analisar-se esta situação por dois (e os únicos que existem como consequência de uma análise) prismas: o lado positivo e o lado negativo desta realidade. Por um lado, a liberdade de expressão. A ti-rada a ferro e fogo, suada e renhida, deseja-da e malfadada, o artigo 37º da Constituição da República Portuguesa, a nossa liberdade de expressão. Não é por isto que se lutou durante centenas de anos? Pela liberaliza-ção da comunicação e da informação, pela democratização dos meios, pela eliminação da censura por parte de organismos gover-namentais (ou pelo menos na maior parte dos países ocidentais). Foi exatamente por isto. É, exatamente, por isto que existem milhares de formas através das quais as

pessoas se podem expressar, manifestar os seus desejos mais sórdidos e os seus pen-samentos mais contraditórios, a forma como veem o mundo, ou simplesmente partilhar íntimas partes do seu “eu” social num qual-quer meio público, para que todos possam compartilhar do seu ser. Assim analisando, viva à democracia. Agora, a visão negativa. Globalização, demo-cratização, liberalização. Conceitos demasia-damente abrangentes para que seja possível compreendê-los na essência da sua plenitu-de. Quantas pessoas utilizam as redes so-ciais como diário pessoal, quantos blogues existem com conteúdos desnecessariamente públicos, quantas pessoas utilizam a internet, a televisão, a rádio, para exprimir opiniões manifestamente preconceituosas, desinte-ressantes e muitas vezes castradoras. Numa tentativa desesperada, ainda que incons-ciente muitas vezes, de virar os holofotes da fama para si mesmo (ainda que por apenas 15 minutos), a identidade social aparece-nos cada vez mais trabalhada, mais mascarada, mais “social” do que “individual”.Mas hoje, nós, queremos ser resultado de um extenso trabalho social, guiando as nossas orientações pela crítica pública que nos ali-menta a “fama doméstica”? Qual é o limite que teremos que impor para delinear o limi-te do que somos, para o que os outros proje-tam que seremos? Warhol tinha toda a razão. Previdente, artista alimentado pelas luzes da ribalta, não coexistia com a possibilidade de genuinidade. E nós? //

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Aline Fournierwww.lafouinographe.com

Kyle Cassel

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Sylvie Bourban, jazz vocalistRecording of “aussi pour les petits Vol. II” in New-Yorkhttp://www.sylviebourban.com/

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Sylvie Bourban , Magda Giannikou

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TODOS OS MESES RECEBEMOS DA IDÍLICA SUIÇA AS FOTOS DE UMAS DAS MAIS PROMISSORAS FOTOGRAFAS DA ATUALIDADE. ALINE FOURNIER VEM A PORTUGAL EM ABRIL E VAI FOTOGRAFAR PARA A IDIOT MAG. TEMOS UM PASSATEMPO PARA PROCURA DE MODELOS EM: WWW.FACEBOOK.COM/IDIOTMAG.

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Tuesday Sakurahttps://www.facebook.com/tuesdaysakura

Kaleidoscope SoundUnion City, New Jersey

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JOANA VASCONCELOS

NÃO PRECISA DE MUITAS

APRESENTAÇÕES. SABEMOS QUE

NASCEU EM PARIS, TEM POUCO MAIS DE 40 ANOS E

É UMA CONSIDERADA ARTISTA CONTEMPORÂNEA NO PANORAMA

NACIONAL E INTERNACIONAL.

Por Rui de Noronha Ozorio

OS BORDADOS DA JOANA!

fotografia: Horta do Rosário

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É, para nós, portugueses, um orgulho imenso sabermos que uma Portuguesa (mesmo que parisiense) seja a primeira mulher a expor no Palácio de Versalhes e que leva (ao estilo grandioso da embaixada manuelina a Roma) um cacilheiro português para a Bienal de Ve-neza. Ficamos cheios de orgulho e de pátria e de tudo! Contudo, devo confessar, não aprecio a sua obra. Não obstante, fico feliz pelo suces-so que esta nossa compatriota conquista pelo mar e por terra nesta nossa Europa velhinha. E não gosto do seu trabalho por que razão? A Arte e os movimentos artísticos andam a par das sociedades. Como tal, hoje temos uma so-ciedade pobre, constantemente em crise, em que o verde do capitalismo tenta, arduamente, manter-se ligado às máquinas. Vivemos numa sociedade de relógios, horários, subsídios, de esgotamentos e depressões. Respiramos o ar poluído de um nevoeiro cerrado que não nos deixa ver o caminho, nem o precipício, nem o futuro e foscamente o presente. Habitamos numa comum sala de espelhos apontada ao nosso umbigo, cujo cordão não reconhece a própria mãe. Comemos e bebemos num estádio

de futebol, onde os jogos de fome são reais, cruéis e inevitáveis. Basicamente, a sociedade é um nado morto e um morto a nado, tão só pelo facto de não sabermos mais nascer, nem sabermos mais nadar!A Arte contemporânea, como lhe chamam (apesar das outras todas o terem sido nas suas épocas), é o reflexo mais fiel da socie-dade que temos. Assim, é uma arte vazia em que o facilitismo é o patrocínio e a pobreza o mecenato. A Arte contemporânea é uma não--arte, ou no máximo, uma arte de fachada, um segredo colorido e conceptual que esconde uma caixa oca pronta a consumir. A Joana é alguém que, com sucesso e apoios muitos, tem conseguido espelhar bem esse conceito. A obra da Joana assenta, exactamen-te, na apropriação das realidades do quotidia-no, como também, na descontextualização de obras de outros artistas (e não se trata sequer de cadáveres esquisitos à maneira surrealista). Assim, a Joana cria o que vê e recria o que al-guém já havia criado séculos antes de si, ven-dendo (propositadamente ou não) uma criação que não é, de todo, sua. Mas a Joana também

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tem outro mérito: o mérito de ver as suas obras nascidas por artesãos que, perpetuamente na sombra, fazem dela uma artista ainda maior!A Joana é, também, uma artista que representa nas suas criações o papel da mulher, e como tal, faz candelabros com tampões, sapatos com tachos de cozinha ou até mesmo instalações com ferros de engomar e peças encapadas com bordados (que são aplaudidos dentro e fora de Portugal). A mulher Vasconceliana é, portanto, doméstica e passa o dia entre a higiene íntima, o croché, a cozinha e a lavandaria! No entanto, poderei estar a ser injusto, e o facto da utilização destes utensílios seja mesmo uma forma de criticar o estabelecido na sociedade machista (que já não o é tanto quanto parece) em que vivemos. Mesmo assim, pa-rece-me uma ideia fácil e vazia, nada nova e ultrapassada de fazer uma crí-tica de género, mas cada um com as suas opções publicitárias. Desde há muitos anos que convivo, aprecio e procuro arte e artistas, que

descubro gente que tem ideias e as concretiza, lhes dá vida pelas próprias mãos. E estas pessoas quem são? Não sabemos! A sociedade não quer que sejam conhecidos. Os governos não querem subsidiar quem faz arte ao serviço do belo, mas quem faz arte ao serviço dos interesses políticos, quem produz ideias ao serviço do consumo imediato que distrai e engana. Entris-teço todos os dias mais um pouco sem-pre que atendo ao panorama artístico contemporâneo; enraiveço mais um bocado quando percebo que a demo-cratização da arte serviu para fomen-tar o vazio e não para levar a estética a todos os que não tinham acesso a ela! Estamos perante uma insustentável li-mitação intelectual que, infelizmente, ainda não tem os dias contados!Até lá, até ao dia em que possamos acordar… sempre é melhor ir dar um passeio pela colecção Berardo, lem-brarmo-nos das mulheres tradicionais e tirar umas ideias para uns casaqui-nhos com a elevada ideia artística/re-creativa dos bordados da Joana! //

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I JUST CAN’T STAND TO SEE YOU LEAVING: Não saber o que dizer é uma sensação horrível. Eu não sou avesso a silêncios com significado, mas sou fiel crente que a palavra certa, no momento certo, pode ajudar. Mas, às vezes, não há mesmo nada a dizer. Num estranho momento cósmico, acordei uns sába-dos atrás com uma daquelas chamadas que trazem más notícias e durante o telefonema estava o raio da Beyoncé a cantar Heaven couldn’t wait for you vezes e vezes sem conta. O pai de uma das minhas pesso-as preferidas no mundo inteiro tinha falecido e ela estava a pedir que fôssemos estar com ela. Quando chegámos, um pouco mais tarde, perto dela havia um fosso entre mim e ela. Eu sentia que devia fazer algo, dizer algo, enquanto a abraçava, mas não havia abso-lutamente nada que pudesse fazer ou enunciar que ajudasse a sua situação, por isso tentei estar presen-te o máximo possível. Quando ela nos explicou o que havia sucedido, à porta da capela mortuária, o único nó que se formou na sua garganta foi quando falou que não sabia se o pai a conseguira ouvir. Segunda feira seguinte, voltei da hora do almoço e

preparava-me para sentar em frente ao computador quando um som terrível veio do fundo do corredor: o avô de uma colega estava perto de falecer. Não tendo uma enorme ligação com ela, deixei que outros tomassem conta e tentar estar presente. Quando ela nos explicou o que se passara, ela só conseguia bal-buciar que a última vez que tinha estado com ele, ti-nham discutido e que tinham virado costas zangados um com o outro. Costuma-se pregar que a morte faz-nos repensar a nossa própria vida e, neste caso, ambas as situações fizeram-me pensar no que ficaria por dizer. E eis que um medo nasceu em mim: o que é que eu não a X devia dizer?Recentemente, estivemos todos juntos. Ela falou so-bre o pai e falou de como estava a lidar com a situa-ção e eu, novamente, não soube dizer nada, por isso tentei estar presente, mas fiquei surpreendido com a reserva de forças emocionais que possuímos. Ela era ela, apesar de tudo, apesar não o ser mais, porque algo do género deixa marcas. Tudo deixa marcas e não vale a pena comparar cicatrizes.Ouvi-la descrever o leque de emoções e situações ri-dículas que havia passado, nos últimos dias, do mais doloroso ao mais mundano, fez-me admirá-la ainda mais e questionar, em parte, se ela não seria algum tipo de super-herói. Mais que tudo, fez-me extrema-mente orgulhoso e grato por a conhecer.Se eu tivesse de lhe dizer algo era isso. //

UM GUIA DE UM JOVEM FRACASSO PARA SE TORNAR NUM ADULTO EXCELENTECrónica: Tiago Moura

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