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Intensivo Modular Diurno CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Civil Professor: Nelson Rosenvald Aulas: 33 e 34 | Data: 22/04/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Teoria subjetiva da responsabilidade civil 1.1 Ato ilícito 1.1.1 Antijuridicidade 1.1.2 Imputabilidade 1.2 Culpa 1.2.1 Distinções entre ato ilícito culposo e abuso do direito 1. Teoria subjetiva da responsabilidade civil A teoria da responsabilidade subjetiva é dividida em quatro pressupostos: (i) ato ilícito; (ii) culpa; (iii) dano e (iv) nexo causal. 1.1 Ato ilícito A base da teoria subjetiva da responsabilidade civil se encontra no art. 927, CC – é radicada no ato ilícito. CC, art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Com efeito, o ato ilícito é dividido em dois elementos: antijuridicidade e imputabilidade. 1.1.1 Antijuridicidade Comportamento antijurídico é aquela conduta comissiva ou omissiva contrária ao direito que viola o sistema jurídico. Quando se fala de antijuridicidade, o que se tem em mente é: se há uma conduta que ofende o direito, temos que lembrar do neminem laedere (ninguém pode prejudicar os outros), isto é, existe um dever em sociedade de não prejudicar os outros na esfera pessoal ou patrimonial. Acontece que no direito civil não temos algo que é pertinente ao direito penal e ao direito administrativo, pois nestes, para haver ilicitude, não basta que o comportamento seja contrário ao direito, requer-se ainda a TIPICIDADE (subsunção da conduta à norma). No direito civil, por outro lado, a antijuridicidade dispensa a tipicidade, pois há uma CLÁUSULA GERAL DE LICITUDE, isto é, significa que no direito privado o ilícito é NORMA ABERTA (imprecisa, de conteúdo vago). CC, art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária (antijuridicidade), negligência ou imprudência, violar direito (neminem laedere) e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

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Intensivo Modular Diurno CARREIRAS JURÍDICAS

Damásio Educacional

MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Civil Professor: Nelson Rosenvald

Aulas: 33 e 34 | Data: 22/04/2015

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Teoria subjetiva da responsabilidade civil 1.1 Ato ilícito 1.1.1 Antijuridicidade 1.1.2 Imputabilidade 1.2 Culpa 1.2.1 Distinções entre ato ilícito culposo e abuso do direito

1. Teoria subjetiva da responsabilidade civil A teoria da responsabilidade subjetiva é dividida em quatro pressupostos: (i) ato ilícito; (ii) culpa; (iii) dano e (iv) nexo causal. 1.1 Ato ilícito A base da teoria subjetiva da responsabilidade civil se encontra no art. 927, CC – é radicada no ato ilícito.

CC, art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Com efeito, o ato ilícito é dividido em dois elementos: antijuridicidade e imputabilidade. 1.1.1 Antijuridicidade Comportamento antijurídico é aquela conduta comissiva ou omissiva contrária ao direito que viola o sistema jurídico. Quando se fala de antijuridicidade, o que se tem em mente é: se há uma conduta que ofende o direito, temos que lembrar do neminem laedere (ninguém pode prejudicar os outros), isto é, existe um dever em sociedade de não prejudicar os outros na esfera pessoal ou patrimonial. Acontece que no direito civil não temos algo que é pertinente ao direito penal e ao direito administrativo, pois nestes, para haver ilicitude, não basta que o comportamento seja contrário ao direito, requer-se ainda a TIPICIDADE (subsunção da conduta à norma). No direito civil, por outro lado, a antijuridicidade dispensa a tipicidade, pois há uma CLÁUSULA GERAL DE LICITUDE, isto é, significa que no direito privado o ilícito é NORMA ABERTA (imprecisa, de conteúdo vago).

CC, art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária (antijuridicidade), negligência ou imprudência, violar direito (neminem laedere) e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

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1.1.2 Imputabilidade Imputar é atribuir a alguém um comportamento antijurídico. Pergunta: quem é a pessoa imputável? Imputável é aquela pessoa a quem se pode atribuir (censurar) um comportamento antijurídico. Pode-se atribuir um comportamento antijurídico àquela pessoa que tenha DISCERNIMENTO (cujo comportamento é censurável – sanidade + maturidade = discernimento). Assim, o imputável é aquele que tem mais de 18 anos e não seja portador de transtornos mentais. Portanto, aquele sujeito menor de 18 anos ou portador de transtornos mentais, caso pratique um ato antijurídico, não comete ato ilícito.

Elemento objetivo (antijuridicidade): o que o sujeito fez? Qual o fato?

Elemento subjetivo (imputabilidade): quem fez? Ex.: imagine que “D” tenha um filho “J” com 12 anos de idade. O “J” pega o carro e atropela “N”. “J” praticou conduta antijurídica? Sim. “N” pode ajuizar ação de responsabilidade civil contra “J”? Não, porque ele é inimputável. Contudo, “D” pode ser demandado? Sim. Excepcionalmente existe a chamada RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA OU RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DE TERCEIRO (relação de subordinação entre quem praticou o ato e por quem o responsável se responsabiliza).

CC, art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

Os pais podem alegar que não houve culpa in vigilando com vistas a afastar a responsabilidade civil? Não, porque a responsabilidade civil indireta é OBJETIVA, independente da existência de culpa.

CC, art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

O sobredito dispositivo adotou a TEORIA DA SUBSTITUIÇÃO, ou seja, todo o ato antijurídico praticado pelo incapaz é substituído pelo seu responsável. Vejamos o Enunciado 451, CJF – a responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida.

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Pode haver a alegação pelos responsáveis legais com fundamento na impenhorabilidade do bem de família a fim de afastar a responsabilidade civil? Caso o ilícito seja de natureza civil é possível afastar a responsabilidade. Porém, se o ilícito tiver repercussão penal, não se pode aplicar a proteção do bem de família. Veja o Informativo 524, STJ, de 28 de agosto de 2013:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. No âmbito de execução de sentença civil condenatória decorrente da prática de ato ilícito, é possível a penhora do bem de família na hipótese em que o réu também tenha sido condenado na esfera penal pelo mesmo fundamento de fato. A Lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem de família como instrumento de tutela do direito fundamental à moradia. Por sua vez, o inciso VI do art. 3º desse diploma legal estabelece que “a impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”. O legislador, ao registrar a exceção, não tratou do caso de execução de título judicial civil decorrente da prática de ato ilícito, ainda que devidamente apurado e cuja decisão tenha transitado em julgado. Nesse contexto, pode-se concluir que o legislador optou pela prevalência do dever do infrator de indenizar a vítima de ato ilícito que tenha atingido bem jurídico tutelado pelo direito penal e que nesta esfera tenha sido apurado, sendo objeto, portanto, de sentença penal condenatória transitada em julgado. Dessa forma, é possível afirmar que a ressalva contida no inciso VI do art. 3º da referida lei somente abrange a execução de sentença penal condenatória — ação civil ex delicto —, não alcançando a sentença cível de indenização, salvo se, verificada a coexistência dos dois tipos, as decisões tiverem o mesmo fundamento de fato. Precedente citado: REsp 209.403-RS, Terceira Turma, DJ 5/2/2001. REsp 1.021.440-SP, Min. Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/5/2013. Agora imagine que os pais aleguem insuficiência econômica e o filho tenha condições financeiras satisfatórias. Nesse caso, a vítima pode ingressar com ação de responsabilidade civil diretamente contra o incapaz? Pode. Qual o fundamento jurídico que atrai a responsabilidade civil do incapaz? O fundamento que atrai a excepcional responsabilidade civil do incapaz é a EQUIDADE – a preocupação do CC é com a vítima, em homenagem ao princípio da reparação integral. Desse modo, a equidade reside no fato de que o incapaz responderá pelo dano causado, mas tal responsabilidade será SUBSIDIÁRIA e MITIGADA. Com efeito, SUBSIDIÁRIA significa que só será possível atingir o patrimônio do incapaz, desde que os pais (responsáveis) comprovem que não têm condições econômicas para arcar com a responsabilidade civil.

CC, art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

Imagine que “N” ajuíza ação contra “D” (pai). Se o “N” tem suspeitas que os pais não têm patrimônio, haverá um LITISCONSÓRCIO EVENTUAL (cumulação imprópria de pedidos) – o pedido principal será dirigido contra os responsáveis e, caso fique comprovado na sentença que os responsáveis não tem patrimônio, na sentença o juiz condenará os pais, porque há ato ilícito, dano e nexo causal. Porém, ao magistrado constatar que os pais não têm condições econômicas (e o filho detém), o juiz fixa a responsabilidade do incapaz. Por fim, o magistrado

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determina a proporção da participação de cada um na indenização. Cabe ressaltar que a participação do MP é obrigatória nesse processo.

NCPC, art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior.

A responsabilidade do incapaz é MITIGADA, porque incide uma exceção ao princípio da reparação integral – o juiz, excepcionalmente, ao condenar um menor ou dotado de transtornos mentais, o valor desta reparação será mitigado.

CC, art. 928, parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

Esse dispositivo assegura a proteção ao mínimo existencial do incapaz. Imagine que “D” (pai) tem um filho de 15 anos. “D” emancipa o filho. Após a emancipação, o filho agride “N”. A vítima ingressa com ação de responsabilidade civil contra quem? A vítima pode demandar contra o filho. Não obstante essa emancipação seja um ato jurídico válido, ela é RELATIVAMENTE INEFICAZ perante a vítima, porque apesar de haver emancipação, a vítima pode demandar contra os pais (litisconsórcio passivo facultativo). Aduz o Enunciado 41, CJF - a única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil Agora imagine que o casal conjugal faliu. Ainda assim existe a dupla parental, ou seja, apesar do divórcio, o poder de família continua sendo conjunto – não exime o outro (aquele que detém o direito de visita, apenas) da responsabilidade pelos atos antijurídicos praticados pelos filhos. Portanto, o dispositivo abaixo não está em consonância com a melhor interpretação.

CC, art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

Imagine que a vítima escolha a mãe na ação de responsabilidade civil. Não seria injusto a mãe pagar a indenização se ela não estava em poder do filho? Sim. Desse modo, nada impede que, posteriormente à condenação, ela ajuíze ação regressiva contra o cônjuge, podendo haver discussão de culpa. Estabelece o Enunciado 450, CJF – considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos genitores.

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Veja o Informativo 515, STJ de 03 de abril de 2013:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO PELO FILHO MENOR EM FACE DE SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDA EM AÇÃO PROPOSTA UNICAMENTE EM FACE DE SEU GENITOR COM FUNDAMENTO

NA RESPONSABILIDADE DOS PAIS POR ATO ILÍCITO QUE TERIA COMETIDO. O filho menor não tem interesse nem legitimidade para recorrer da sentença condenatória proferida em ação proposta unicamente em face de seu genitor com fundamento na responsabilidade dos pais pelos atos ilícitos cometidos por filhos menores. O art. 499, § 1º, do CPC assegura ao terceiro prejudicado a possibilidade de interpor recurso de determinada decisão, desde que ela afete, direta ou indiretamente, uma relação jurídica de que seja titular. Assim, para que seja admissível o recurso de pessoa estranha à relação jurídico-processual já estabelecida, faz-se necessária a demonstração do prejuízo sofrido em razão da decisão judicial, ou seja, o terceiro deve demonstrar seu interesse jurídico quanto à interposição do recurso. O CC, no seu art. 932, trata das hipóteses em que a responsabilidade civil pode ser atribuída a quem não seja o causador do dano, a exemplo da responsabilidade dos genitores pelos atos cometidos por seus filhos menores (inciso I), que constitui modalidade de responsabilidade objetiva decorrente do exercício do poder familiar. É certo que, conforme o art. 942, parágrafo único, do CC, “são solidariamente responsáveis com os autores, os coautores e as pessoas designadas no art. 932”. Todavia, o referido dispositivo legal deve ser interpretado em conjunto com os arts. 928 e 934 do CC, que tratam, respectivamente, da responsabilidade subsidiária e mitigada do incapaz e da inexistência de direito de regresso em face do descendente absoluta ou relativamente incapaz. Destarte, o patrimônio do filho menor somente pode responder pelos prejuízos causados a outrem se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Mesmo assim, nos termos do parágrafo único do art. 928, se for o caso de atingimento do patrimônio do menor, a indenização será equitativa e não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependam. Portanto, deve-se concluir que o filho menor não é responsável solidário com seus genitores pelos danos causados, mas, sim, subsidiário. Assim, tratando-se de pessoa estranha à relação jurídico-processual já estabelecida e não havendo demonstração do prejuízo sofrido em razão da decisão judicial, configura-se, na hipótese, a carência de interesse e legitimidade para a interposição de recurso. REsp 1.319.626-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013. Existe algum caso em que o incapaz tem responsabilidade civil DIRETA? Quando o incapaz já tem 12 anos de idade e, como adolescente pratica ato infracional, o juiz pode eleger como medida socioeducativa a responsabilidade civil direta (art. 116, ECA).

ECA, art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.

Aduz o Enunciado 40, CJF – o incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária ou excepcionalmente como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das medidas socioeducativas ali previstas. Suponha que o filho atropelou “N”, e o pai pagou pelos danos morais e patrimoniais. O pai tem direito de regresso contra o filho? Em tese sim. Porém, o legislador não assenta esse direito de regresso ao ascendente, nos termos do art. 934, CC:

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CC, art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.

1.2 Culpa (lato senso) Culpa no direito civil seria a mesma coisa que no direito penal? Não. A culpa no direito civil é uma CULPA LATO SENSO: é aquela que abrange a culpa estrito senso, bem como o dolo. Dolo é o comportamento antijurídico intencional. A culpa estrito senso, todavia, é a conduta antijurídica não intencional, mas que por negligência ou leviandade causa um resultado antijurídico. Por que o direito civil adotou a culpa lato senso? Porque a regra é a finalidade REPARATÓRIA – não interessa a gradação da culpa, mas sim a extensão do dano.

CC, art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Ex1.: marido agredi violentamente esposa, gerando lesões corporais leves (dolo). Ex2.: arma de policial dispara acidentalmente, suprimindo vida de terceiro (culpa levíssima). Em qual dos dois casos merece uma fixação de indenização maior? O segundo, pois o direito civil não analisa se o fato advém de dolo ou de culpa, mas a extensão do dano. Ex3.: imagine que em razão da violência das agressões, a mulher vem a óbito. Ex4.: arma de policial dispara acidentalmente, suprimindo vida de terceiro (culpa levíssima). Em qual dos dois casos merece uma fixação de indenização maior? A fixação será IGUAL, pois o resultado morte adveio em ambos. Essa resposta é TECNICAMENTE CORRETA, mas pela equidade está equivocada, pois não podemos entender como justo um sujeito que agiu com dolo de matar responder (patrimonialmente) de forma igual ao outro que agiu com culpa. Diante disso, o CC criou a REDUÇÃO EQUITATIVA DA REPARAÇÃO, reduzindo o quantum indenizatório. Isso ocorre nos casos em que o dano for enorme e a culpa for levíssima.

CC, art. 944, parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

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Obs.: o juiz nunca pode aumentar a indenização mesmo que o dolo (culpa) seja extremo e o dano mínimo. Nesses casos desproporcionais, o juiz reduzirá o quantum indenizatório com o objetivo de não transferir “a desgraça do ofensor para o ofendido”. Preconiza o Enunciado 457, CJF – a redução equitativa da indenização tem caráter excepcional e somente será realizada quando a amplitude do dano extrapolar os efeitos razoavelmente imputáveis à conduta do agente. Superada as questões acima expostas, vejamos outra. Ato ilícito NÃO é sinônimo de culpa (a culpa pode complementar o ato ilícito), uma vez que existem comportamentos antijurídicos desprovidos de culpa. Imagine que “D” faz contrato de empréstimo no valor de 10 mil reais com uma instituição financeira, cujo pagamento ficou acordado para o dia 22 de novembro. No dia 22 o débito está em 18 mil reais. Isso é um ato ilícito? É ato ilícito, porque a instituição financeira praticou o chamado ATO ILÍCITO POR ABUSO DE DIREITO. O abuso de direito ocorre quando o titular de um direito subjetivo exerce-o de forma desproporcional.

CC, art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Quais as distinções entre o ato ilícito culposo e o ato ilícito derivado pelo abuso do direito? 1.2.1 Distinções entre ato ilícito culposo e abuso do direito 1ª distinção

ATO ILÍCITO CULPOSO ABUSO DO DIREITO

Subjetivo Objetivo

O ato ilícito culposo do art. 186 é SUBJETIVO, enquanto que o ato ilícito do art. 187 é OBJETIVO. Quando uma pessoa mata, estupra ou furta, o ato ilícito é culposo – a pessoa só é condenada se ficar provado que ao comportamento antijurídico se soma ao elemento psicológico / anímico (intencional). Ao passo que o abuso de direito é ato ilícito objetivo, porque basta provar que alguém exerceu o direito subjetivo de forma desproporcional. Leciona o Enunciado 37, CJF – a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.

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2ª distinção

ATO ILÍCITO CULPOSO ABUSO DO DIREITO

Ilegalidade Ilegitimidade

O ato ilícito culposo é qualificado pela ilegalidade, porque quando se estupra, furta ou mata, a pessoa viola formalmente uma norma. O abuso de direito, por outro lado, é um ilícito qualificado pela ilegitimidade. No abuso do direito o agente não viola formalmente uma regra, mas viola materialmente o sistema (viola os limites éticos do ordenamento jurídico – princípios da boa-fé, solidariedade, quebra da igualdade material). Portanto, no ato ilícito SUBJETIVO (art. 186, CC), a antijuridicidade é genética. Obs.: no perímetro que medeia o proibido do permitido há o abuso do direito, que é tanto quanto proibido (antifuncional).

A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade (S. 382, STJ).

3ª distinção

ATO ILÍCITO CULPOSO ABUSO DO DIREITO

Disposição legal Caso concreto

No ato ilícito culposo, a própria norma diz que o ato é contrário ao direito. Contudo, o ato ilícito OBJETIVO é qualificado a posteriori pelo juiz no caso concreto – o abuso de direito é CLÁUSULA GERAL (norma imprecisa cuja criação será paulatinamente construída pelos Tribunais). Veja o informativo 551, STJ de 03 de dezembro de 2014: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. REAJUSTE DE MENSALIDADE DE SEGURO-SAÚDE EM RAZÃO DE ALTERAÇÃO DE

FAIXA ETÁRIA DO SEGURADO. É válida a cláusula, prevista em contrato de seguro-saúde, que autoriza o aumento das mensalidades do seguro quando o usuário completar sessenta anos de idade, desde que haja respeito aos limites e requisitos estabelecidos na Lei 9.656/1998 e, ainda, que não se apliquem índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia o segurado. Realmente, sabe-se que, quanto mais avançada a idade do segurado, independentemente de ser ele enquadrado ou não como idoso, maior será seu risco subjetivo, pois normalmente a pessoa de mais idade necessita de serviços de assistência médica com maior frequência do que a que se encontra em uma faixa etária menor. Trata-se de uma constatação natural, de um fato que se observa na vida e que pode ser cientificamente confirmado. Por isso mesmo, os contratos de seguro-saúde normalmente trazem cláusula prevendo reajuste em função do aumento da idade do segurado, tendo em vista que os valores cobrados a título de prêmio devem ser proporcionais ao grau de probabilidade de ocorrência do evento risco coberto. Maior o risco, maior o valor do prêmio. Atento a essa circunstância, o legislador editou a Lei 9.656/1998, preservando a possibilidade de reajuste da mensalidade de seguro-saúde em razão da mudança de faixa etária do segurado, estabelecendo, contudo,

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algumas restrições a esses reajustes (art. 15). Desse modo, percebe-se que ordenamento jurídico permitiu expressamente o reajuste das mensalidades em razão do ingresso do segurado em faixa etária mais avançada em que os riscos de saúde são abstratamente elevados, buscando, assim, manter o equilíbrio atuarial do sistema. Posteriormente, em razão do advento do art. 15, § 3º, da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) que estabelece ser “vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade”, impõe-se encontrar um ponto de equilíbrio na interpretação dos diplomas legais que regem a matéria, a fim de se chegar a uma solução justa para os interesses em conflito. Nesse passo, não é possível extrair-se do art. 15, § 3º, do Estatuto do Idoso uma interpretação que repute, abstratamente, abusivo todo e qualquer reajuste que se baseie em mudança de faixa etária, mas tão somente o aumento discriminante, desarrazoado, que, em concreto, traduza verdadeiro fator de discriminação do idoso, por visar dificultar ou impedir a permanência dele no seguro-saúde; prática, aliás, que constitui verdadeiro abuso de direito e violação ao princípio da igualdade e divorcia-se da boa-fé contratual. Ressalte-se que o referido vício – aumento desarrazoado – caracteriza-se pela ausência de justificativa para o nível do aumento aplicado. Situação que se torna perceptível, sobretudo, pela demasiada majoração do valor da mensalidade do contrato de seguro de vida do idoso, quando comparada com os percentuais de reajustes anteriormente postos durante a vigência do pacto. Igualmente, na hipótese em que o segurador se aproveita do advento da idade do segurado para não só cobrir despesas ou riscos maiores, mas também para aumentar os lucros há, sim, reajuste abusivo e ofensa às disposições do CDC. Além disso, os custos pela maior utilização dos serviços de saúde pelos idosos não podem ser diluídos entre os participantes mais jovens do grupo segurado, uma vez que, com isso, os demais segurados iriam, naturalmente, reduzir as possibilidades de seu seguro-saúde ou rescindi-lo, ante o aumento da despesa imposta. Nessa linha intelectiva, não se pode desamparar uns, os mais jovens e suas famílias, para pretensamente evitar a sobrecarga de preço para os idosos. Destaque-se que não se está autorizando a oneração de uma pessoa pelo simples fato de ser idosa; mas, sim, por demandar mais do serviço ofertado. Nesse sentido, considerando-se que os aumentos dos seguros-saúde visam cobrir a maior demanda, não se pode falar em discriminação, que somente existiria na hipótese de o aumento decorrer, pura e simplesmente, do advento da idade. Portanto, excetuando-se as situações de abuso, a norma inserida na cláusula em análise – que autoriza o aumento das mensalidades do seguro em razão de o usuário completar sessenta anos de idade – não confronta o art. 15, § 3º, do Estatuto do Idoso, que veda a discriminação negativa, no sentido do injusto. Precedente citado: REsp 866.840-SP, Quarta Turma, DJe 17/8/2011. REsp 1.381.606-DF, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio De Noronha, julgado em 7/10/2014. Estabelece o Enunciado 414, CJF – a cláusula geral do art. 187 do Código Civil tem fundamento constitucional nos princípios da solidariedade, devido processo legal e proteção da confiança, e aplica-se a todos os ramos do direito.

NCPC, art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte;

QUESTÃO Ano: 2015 / Banca: PUC-PR / Órgão: PGE-PR / Prova: Procurador do Estado Com relação à responsabilidade civil no direito civil brasileiro contemporâneo, é CORRETO afirmar que:

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a) O abuso do direto pressupõe logicamente a existência do direito, embora o titular se exceda no exercício dos poderes que o integram. Assim, quem alega a ausência de direito não pode validamente alegar a existência de abuso de direito. E quem pretende indenização pelos danos decorrentes do exercício abusivo de direito deve comprovar a culpa neste exercício abusivo de um direito existente. b) Como a responsabilidade civil da Administração Pública é objetiva, não se lhe aplicam as excludentes de responsabilidade por ausência de nexo de causalidade entre a conduta e o dano ou por inexistência de dano. c) Em regra, o fundamento da responsabilidade civil extracontratual no direito brasileiro é uma atuação cul- posa. Excepcionalmente, poderá haver imputação pelo risco. d) Na responsabilidade civil contratual, a violação de deveres laterais impostos pelo princípio da boa-fé, tais como os deveres mútuos de proteção, lealdade, informação e assistência, não gera o dever de indenizar perdas e danos, mas tão somente a anulação do contrato. e) Nos casos de deferimento judicial de indenização por danos morais decorrentes de ato ilícito, os juros de mora contam-se a partir da citação. Resposta: alternativa “c”