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Intensivo Modular Diurno CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Civil Professor: Nelson Rosenvald Aulas: 45 e 46 | Data: 20/05/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO RESPONSABILIDADE CIVIL 2. Teoria objetiva da responsabilidade civil 2.2 Cláusula geral de responsabilidade objetiva 2.2.2 Responsabilidade civil objetiva pelo fato da coisa 2.2.2.2 Responsabilidade civil objetiva pelo fato da coisa inanimada 2.2.3 Responsabilidade civil por fato próprio 2.3 Teorias do risco da atividade 2.3.1 Teoria do risco proveito 2.3.2 Teoria do risco criado 2.2.2.2 Responsabilidade civil objetiva pelo fato da coisa inanimada Imagine que “x” está andando debaixo de um prédio e a marquise despenque em sua cabeça. Nessa situação, a responsabilidade civil por coisa inanimada se chama responsabilidade civil pelo DANO INFECTO, que se dá quando o que cai é um prédio ou parte desse prédio. Nessa situação, quem se responsabiliza é o proprietário, porque como se trata de uma falha estrutural do bem, a responsabilidade recai sobre o seu titular. CC, art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. A responsabilidade do art. 937 pelo dano infecto é OBJETIVA. Entende a balizada doutrina que o art. 937 configura responsabilidade objetiva, pois se houve a queda de parte do prédio é evidente que o reparo deixou de ser realizado. Portanto, não há que se provar culpa. Estabelece o Enunciado 556, CJF – a responsabilidade civil do dono do prédio ou construção por sua ruína, tratada pelo art. 937 do CC, é objetiva. Quem mais pode se responsabilizar pela queda dos prédios? Construtor e incorporador. CC, art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo. O prazo de 5 anos do art. 618 NÃO é prazo de responsabilidade civil, mas prazo de garantia do construtor pelos vícios da construção. Assim, se houver dano, o prazo é de 10 anos, a contar da data do acidente. Sabemos que a responsabilidade civil do médico é subjetiva. Então suponha que “D” vai a uma clínica dermatológica. Ocorre que o equipamento do dermatologista falha, causando uma lesão no rosto (falha do

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Intensivo Modular Diurno CARREIRAS JURÍDICAS

Damásio Educacional

MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Civil Professor: Nelson Rosenvald

Aulas: 45 e 46 | Data: 20/05/2015

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO RESPONSABILIDADE CIVIL 2. Teoria objetiva da responsabilidade civil 2.2 Cláusula geral de responsabilidade objetiva 2.2.2 Responsabilidade civil objetiva pelo fato da coisa 2.2.2.2 Responsabilidade civil objetiva pelo fato da coisa inanimada 2.2.3 Responsabilidade civil por fato próprio 2.3 Teorias do risco da atividade 2.3.1 Teoria do risco proveito 2.3.2 Teoria do risco criado

2.2.2.2 Responsabilidade civil objetiva pelo fato da coisa inanimada Imagine que “x” está andando debaixo de um prédio e a marquise despenque em sua cabeça. Nessa situação, a responsabilidade civil por coisa inanimada se chama responsabilidade civil pelo DANO INFECTO, que se dá quando o que cai é um prédio ou parte desse prédio. Nessa situação, quem se responsabiliza é o proprietário, porque como se trata de uma falha estrutural do bem, a responsabilidade recai sobre o seu titular.

CC, art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

A responsabilidade do art. 937 pelo dano infecto é OBJETIVA. Entende a balizada doutrina que o art. 937 configura responsabilidade objetiva, pois se houve a queda de parte do prédio é evidente que o reparo deixou de ser realizado. Portanto, não há que se provar culpa. Estabelece o Enunciado 556, CJF – a responsabilidade civil do dono do prédio ou construção por sua ruína, tratada pelo art. 937 do CC, é objetiva. Quem mais pode se responsabilizar pela queda dos prédios? Construtor e incorporador.

CC, art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo.

O prazo de 5 anos do art. 618 NÃO é prazo de responsabilidade civil, mas prazo de garantia do construtor pelos vícios da construção. Assim, se houver dano, o prazo é de 10 anos, a contar da data do acidente. Sabemos que a responsabilidade civil do médico é subjetiva. Então suponha que “D” vai a uma clínica dermatológica. Ocorre que o equipamento do dermatologista falha, causando uma lesão no rosto (falha do

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equipamento). A responsabilidade do médico é objetiva ou subjetiva? A responsabilidade é OBJETIVA pelo fato da coisa inanimada. Estabelece o Enunciado 460, CJF – a responsabilidade subjetiva do profissional da área da saúde, nos termos do art. 951 do Código Civil e do art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor, não afasta a sua responsabilidade objetiva pelo fato da coisa da qual tem a guarda, em caso de uso de aparelhos ou instrumentos que, por eventual disfunção, venham a causar danos a pacientes, sem prejuízo do direito regressivo do profissional em relação ao fornecedor do aparelho e sem prejuízo da ação direta do paciente, na condição de consumidor, contra tal fornecedor. Vejamos outros desdobramentos. Suponha que “N” empreste um carro a “D”. Ocorre que “D” atropela “X”. Sabemos que “X” tem ação contra “D” pela teoria subjetiva. E o “N”, que é dono do carro, também se responsabiliza de forma objetiva perante a vítima? Sim.

Contudo, o prof. Nelson discorda desse entendimento. Amparado em doutrina dominante, entende-se que “N” transfere a custódia (guarda) do carro a “D”. Assim, ao transferir a guarda, qualquer acidente que “D” tenha causado, somente “D” se torna responsável. Aplica-se, portanto, a TEORIA DA GUARDA. Diferente se “N” empresta o carro para uma pessoa que se sabe não ter habilitação, menor de 18 anos ou até mesmo o empréstimo do carro em más condições de uso (ex.: freio ruim, pneu careca etc) – nesse caso, a responsabilidade recai sobre o proprietário, sendo ela subjetiva. 2.2.3 Responsabilidade civil por fato próprio É a responsabilidade do transportador pelo fato próprio (somente se exonera se provar que houve fortuito externo ou fato exclusivo da vítima). E se “D” resolve dar uma carona a um amigo e no meio do caminho bate o carro, vindo o amigo a quebrar o braço. Ele então ajuíza ação contra “D”. A responsabilidade de “D é objetiva ou subjetiva? SUBJETIVA, porque se trata de transporte gratuito (liberalidade).

CC, art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.

O dispositivo aduz que basta que a vítima demonstre ao juiz que “D” agiu com culpa (qualquer culpa), mesmo culpa leve. Essa culpa pode ser leve na responsabilidade subjetiva. Esse destaque é importante, porque antes do CC vigorava a seguinte súmula:

NO TRANSPORTE DESINTERESSADO, DE SIMPLES CORTESIA, O TRANSPORTADOR SO SERA CIVILMENTE RESPONSAVEL POR DANOS CAUSADOS AO TRANSPORTADO QUANDO INCORRER EM DOLO OU CULPA GRAVE (S. 145, STJ).

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Essa súmula que exigia demonstração de dolo ou culpa perdeu a eficácia com a edição do CC, porque se o art. 736 diz que transporte gratuito não é contrato, qualquer culpa é suficiente para gerar a responsabilidade subjetiva do transportador. Imagine que “D” resolve mudar da cidade “x” para a “y”. Determinado corretor dispõe a transportá-lo, gratuitamente, para mostrar apartamentos. No trajeto há uma colisão, lesando “D”. A responsabilidade do corretor é OBJETIVA. Mas por que objetiva se o transporte é gratuito? Esse é um transporte gratuito interessado. Transporte gratuito interessado é aquele em que o transportador não recebe remuneração direta, mas indireta.

CC, art. 736, parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas.

No mesmo sentido, o transporte de ônibus gratuito de idoso – a responsabilidade da transportadora é OBJETIVA (transporte gratuito interessado).

Lei 10.741/03, art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares.

Ademais, estabelece o Enunciado 559, CJF – observado o Enunciado 369 do CJF, no transporte aéreo, nacional e internacional, a responsabilidade do transportador em relação aos passageiros gratuitos, que viajarem por cortesia, é objetiva, devendo atender à integral reparação de danos patrimoniais e extrapatrimoniais. Dando sequência ao estudo, vejamos.

CC, art. 927, parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

C) Ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem Essa previsão insere uma CLÁUSULA GERAL DO RISCO – cláusula geral é uma norma que o legislador cria de forma imprecisa. “Cláusula geral do risco” significa que mesmo que a lei seja silente, se há uma atividade em que o juiz perceba no caso concreto ser de risco inerente, o magistrado pode afirmar que há um risco exacerbado e aplicar a teoria objetiva da responsabilidade civil. Quando ocorre risco da atividade?

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Ocorre quando a atividade que causou o dano é de ALTO ÍNDICE DE DANOSIDADE. Portanto, risco da atividade é aquela que pela própria natureza, estrutura (essência) ou meios empregados causa danos maiores em sociedade (há uma acentuada potencialidade lesiva). Ex.: exploração de derivados de petróleo, farmácia, explosivos, substâncias tóxicas, medicamentos etc. Para o concurso não afirme “atividade de risco” – o correto é risco da atividade (risco inerente ou próprio da atividade, independente de quem esteja a frente dela) – porque atividade de risco passa a impressão equivocada de que a pessoa realiza a atividade de forma negligente, com falta de cautela etc. D) Implicar riscos para os direitos de outrem Significa que o risco da atividade NÃO é inerente apenas às pessoas envolvidas na atividade, mas um risco capaz de causar danos a toda sociedade. Veja o Enunciado 446, CJF – a responsabilidade civil prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do Código Civil deve levar em consideração não apenas a proteção da vítima e a atividade do ofensor, mas também a prevenção e o interesse da sociedade. Ex.: alguém anda pela rua e, nesse momento, explode um posto de combustível (a responsabilidade é objetiva contra o posto, pois está exposta a uma atividade de risco). Defende-se que os juízes apliquem a cláusula geral de responsabilidade objetiva alicerçada em doutrina e em dados objetivos (padrão empírico).

A alíquota de contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) é aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro (S. 351, STJ).

Com efeito, NÃO confunda risco da atividade com: (i) defeito da atividade: o defeito da atividade é aplicado para o CDC, conforme art. 14 (defeito do serviço) – ocorre quando há periculosidade adquirida (imputação objetiva pelo defeito do serviço). O defeito induz a uma antijuricidade.

CDC, art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Por outro lado, no CC quando se fala de “risco da atividade” basta provar que a atividade danosa é de risco inerente. (ii) perigo da atividade

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Isso porque, para que haja aplicação da teoria objetiva, basta que o risco da atividade seja exacerbado, mesmo que a atividade não seja perigosa. Perceba que atividade de cadastramento em bancos de dados (ex.: nome negativado) ou atividade de protesto de títulos de crédito não são perigosas. Contudo, em que pese não sejam perigosas, tais atividades ensejam responsabilidade objetiva pela teoria do risco. Preconiza o Enunciado 448, CJF – a regra do art. 927, parágrafo único, segunda parte, do CC aplica-se sempre que a atividade normalmente desenvolvida, mesmo sem defeito e não essencialmente perigosa, induza, por sua natureza, risco especial e diferenciado aos direitos de outrem. São critérios de avaliação desse risco, entre outros, a estatística, a prova técnica e as máximas de experiência. Leciona o Enunciado 553, CJF – nas ações de responsabilidade civil por cadastramento indevido nos registros de devedores inadimplentes realizados por instituições financeiras, a responsabilidade civil é objetiva. Obs.: a responsabilidade civil do provedor está disciplinada nos art. 18 e 19, Lei 12.965/14.

Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.

Veja o Informativo 558, STJ de 06 de abril de 2015:

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE POR OFENSAS PROFERIDAS POR INTERNAUTA E VEICULADAS EM PORTAL DE NOTÍCIAS.

A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários, postados nesse campo, que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do marco civil da internet (Lei 12.965/2014). Inicialmente, cumpre registrar que, de acordo com a classificação dos provedores de serviços na internet apresentada pela Min. Nancy Andrighi no REsp 1.381.610-RS, essa sociedade se enquadra nas categorias: provedora de informação – que produz as informações divulgadas na Internet –, no que tange à matéria jornalística divulgada no site; e provedora de conteúdo – que disponibiliza na rede as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação –, no que tocante às postagens dos usuários. Essa classificação é importante porque tem reflexos diretos na responsabilidade civil do provedor. De fato, a doutrina e a jurisprudência do STJ têm se manifestado pela ausência de responsabilidade dos provedores de conteúdo pelas mensagens postadas diretamente pelos usuários (REsp 1.338.214-MT, Terceira Turma, DJe 2/12/2013) e, de outra parte, pela responsabilidade dos provedores de informação pelas matérias por ele divulgadas (REsp 1.381.610-RS, Terceira Turma, DJe 12/9/2013). Não obstante o entendimento doutrinário e jurisprudencial contrário à

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responsabilização dos provedores de conteúdo pelas mensagens postadas pelos usuários, o caso em análise traz a particularidade de o provedor ser um portal de notícias, ou seja, uma sociedade cuja atividade é precisamente o fornecimento de informações a um vasto público consumidor. Essa particularidade diferencia o presente caso daqueles outros julgados pelo STJ, em que o provedor de conteúdo era empresa da área da informática, como a Google, a Microsoft etc. Efetivamente, não seria razoável exigir que empresas de informática controlassem o conteúdo das postagens efetuadas pelos usuários de seus serviços ou aplicativos. Todavia, tratando-se de uma sociedade que desenvolve atividade jornalística, o controle do potencial ofensivo dos comentários não apenas é viável, como necessário, por ser atividade inerente ao objeto da empresa. Ademais, é fato notório, nos dias de hoje, que as redes sociais contêm um verdadeiro inconsciente coletivo que faz com que as pessoas escrevam mensagens, sem a necessária reflexão prévia, falando coisas que normalmente não diriam. Isso exige um controle por parte de quem é profissional da área de comunicação, que tem o dever de zelar para que o direito de crítica não ultrapasse o limite legal consistente no respeito à honra, à privacidade e à intimidade da pessoa criticada. Assim, a ausência de qualquer controle, prévio ou posterior, configura defeito do serviço, uma vez que se trata de relação de consumo. Ressalte-se que o ponto nodal não é apenas a efetiva existência de controle editorial, mas a viabilidade de ele ser exercido. Consequentemente, a sociedade deve responder solidariamente pelos danos causados à vítima das ofensas morais, que, em última análise, é um bystander, por força do disposto no art. 17 do CDC. Saliente-se que, tratando-se de uma sociedade que desenvolva atividade jornalística, não se pode admitir a ausência de qualquer controle sobre as mensagens e comentários divulgados, porque se mesclam com a própria informação, que é o objeto central da sua atividade econômica, devendo oferecer a segurança que dela legitimamente se espera (art. 14, § 1º, do CDC). Cabe esclarecer que o marco civil da internet (Lei 12.965/2014) não se aplica à hipótese em apreço, porque os fatos ocorreram antes da entrada em vigor dessa lei, além de não se tratar da responsabilidade dos provedores de conteúdo. Consigne-se, finalmente, que a matéria poderia também ter sido analisada na perspectiva do art. 927, parágrafo único, do CC, que estatuiu uma cláusula geral de responsabilidade objetiva pelo risco, chegando-se a solução semelhante à alcançada mediante a utilização do CDC. REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/3/2015, DJe 30/3/2015. Superada essas questões, vejamos outras. Pergunta: o profissional liberal pode se submeter ao parágrafo único do art. 927 (responsabilidade objetiva)? É matéria polêmica. Porém, entende-se que sim. Sabemos que o médico tem responsabilidade subjetiva, nos termos do art. 14, §4º, CDC. Contudo, disciplina o artigo abaixo:

CDC, art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.

Perceba que esse dispositivo é uma cláusula de abertura do CDC com todo o ordenamento jurídico (diálogo de fontes) – há uma dialética entre CC e CDC. Dessa forma, aplica-se a norma mais favorável ao caso concreto (art. 927, parágrafo único, CC). Vejamos outra questão.

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CC, art. 944, parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Esse dispositivo é aplicado na teoria subjetiva. Contudo, é possível estender a aplicação desse artigo à teoria objetiva? Alguns autores fazem uma interpretação literal do art. 944, parágrafo único, sustentando ser o dispositivo apenas aplicável à teoria subjetiva. Com base nessa interpretação, há o seguinte enunciado: Enunciado 46, CJF – a possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano[,] não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva. (Alterado pelo Enunciado 380 - IV Jornada) Contudo, o prof. discorda do Enunciado acima, pois poderia ensejar um desestimulo à eficiência. Portanto, prevalece o seguinte enunciado: Enunciado 380, CJF - atribui-se nova redação ao Enunciado n. 46 da I Jornada de Direito Civil, pela supressão da parte final: não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva. Passemos a outras análises.

CC, art. 927, parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

O que é atividade? Atividade é um PROCESSO – quem causa um dano está no exercício de um processo constante de atos. Qual é a teoria do risco adotado (atividade normalmente desenvolvida)? Há duas teorias e ambas são aplicadas. 2.3 Teorias do risco da atividade 2.3.1 Teoria do risco proveito Traduz a ideia de que uma pessoa que realiza atividade só pode ser responsabilizada pela teoria do risco, desde que obtenha proveito econômico (atividade empresarial)

A EMPRESA LOCADORA DE VEÍCULOS RESPONDE, CIVIL E SOLIDARIAMENTE COM O LOCATÁRIO, PELOS DANOS POR ESTE CAUSADOS A TERCEIRO, NO USO DO CARRO LOCADO (S. 492, STF)

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2.3.2 Teoria do risco criado Enfaticamente defendida por Caio Mario da Silva Pereira. Para a teoria do risco, basta que no caso concreto a atividade crie um risco para uma coletividade indeterminada de pessoas. Mesmo que a atividade não seja profissional, empresa ou econômica, a responsabilidade é objetiva. Ex.: entidade beneficente (mesmo que não tenha finalidade de proveito econômico) responde pelos riscos criados. Ex.: prancha do surfista colide em terceiro (atividade biológica) – o fato de introduzir um risco para um indeterminado número de pessoas é suficiente para gerar a teoria do risco criado. Obs.: perceba que essa teoria amplia a teoria da responsabilidade objetiva (maior acesso ao poder judiciário) e enaltece a dignidade da pessoa humana. Aduz o Enunciado 447, CJF – as agremiações esportivas são objetivamente responsáveis por danos causados a terceiros pelas torcidas organizadas, agindo nessa qualidade, quando, de qualquer modo, as financiem ou custeiem, direta ou indiretamente, total ou parcialmente. QUESTÃO Ano: 2015 / Banca: FCC / Órgão: MANAUSPREV / Prova: Procurador Autárquico Analise as proposições abaixo, a respeito da responsabilidade civil: I. O médico, em regra, responde civilmente somente se o autor da ação fizer prova de dolo ou culpa. II. O pai é objetivamente responsável pelos danos decorrentes de culpa do filho menor que estiver sob sua autoridade e companhia. III. Não se responsabiliza o incapaz se os seus responsáveis tiverem obrigação de fazê-lo e dispuserem de meios suficientes para tanto. Está correto o que se afirma em a) I e III, somente. b) III, somente. c) I, II e III. d) I e II, somente. e) II e III, somente. Resposta: alternativa “c”.