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r e v b r a s o r t o p . 2 0 1 6; 5 1(6) :621–629 SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA www.rbo.org.br Artigo de Revisão Impacto femoroacetabular José Batista Volpon Universidadede São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Departamento de Biomecância, Medicina e Reabilitac ¸ão do Aparelho Locomotor, Ribeirão Preto, SP, Brasil informações sobre o artigo Histórico do artigo: Recebido em 18 de dezembro de 2015 Aceito em 7 de janeiro de 2016 On-line em 13 de julho de 2016 Palavras-chave: Quadril Anatomia Impacto femoroacetabular Artroscopia Osteotomia r e s u m o O impacto femoroacetabular (FAI) é condic ¸ão de caracterizac ¸ão relativamente recente; decorre de relac ¸ões anatômico-funcionais anormais entre a região proximal do fêmur e o acetábulo, associadas a movimentos de repetic ¸ ão, que acarretam lesões no labrum e na cartilagem acetabular. As alterac ¸ões são representadas pela retroversão acetabular ou diminuic ¸ão da altura entre a borda lateral da cabec ¸a e o colo femoral. Além disso, o impacto femoroacetabular pode ser secundário a fraturas do colo do fêmur com consolidac ¸ão viciosa ou decorrer de osteotomias pélvicas que provocam o retrodirecionamento do ace- tábulo. Essas anomalias levam ao contato femoroacetabular patológico que origina forc ¸as de impacto e cisalhamento durante os movimentos do quadril. Em consequência, lesão labral e artrose precoce. O diagnóstico é feito pela sintomatologia típica, sinais radiográficos e ressonância magnética. O tratamento fundamenta-se na correc ¸ão das anomalias anatô- micas, reparo do labrum e remoc ¸ão da cartilagem lesada. Entretanto, necessidade de conhecer melhor a evoluc ¸ão natural da afecc ¸ ão, principalmente nos indivíduos assintomá- ticos, bem como resultados do tratamento em longo prazo. © 2016 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´ e um artigo Open Access sob uma licenc ¸a CC BY-NC-ND (http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/). Femoroacetabular impingement Keywords: Hip Anatomy Femoroacetabular impingement Arthroscopy Osteotomy a b s t r a c t The femoroacetabular impingement (FAI) is as condition recently characterized that results from the abnormal anatomic and functional relation between the proximal femur and the acetabular border, associated with repetitive movements, which lead labrum and acetabular cartilage injuries. Such alterations result from anatomical variations such as acetabular retroversion or decrease of the femoroacetabular offset. In addition, FAI may result from acquired conditions as malunited femoral neck fractures, or retroverted acetabulum after pelvic osteotomies. These anomalies lead to pathological femoroacetabular contact, which in turn create impact and shear forces during hip movements. As a result, there is early Trabalho desenvolvido no Departamento de Medicina, Biomecânica e Reabilitac ¸ão do Aparelho Locomotor, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil. E-mails: [email protected], [email protected] http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2016.01.008 0102-3616/© 2016 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´ e um artigo Open Access sob uma licenc ¸a CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

Impacto femoroacetabular · impacto femoroacetabular causado por alterac¸ão da transic¸ão cefalocervical é mais comum entre os homens entre 20-30 anos.16 Por outrolado,oimpactocausadoporalterac¸ões

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SOCIEDADE BRASILEIRA DEORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA

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rtigo de Revisão

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osé Batista Volpon

niversidadede São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Departamento de Biomecância, Medicina e Reabilitacão do Aparelhoocomotor, Ribeirão Preto, SP, Brasil

nformações sobre o artigo

istórico do artigo:

ecebido em 18 de dezembro

e 2015

ceito em 7 de janeiro de 2016

n-line em 13 de julho de 2016

alavras-chave:

uadril

natomia

mpacto femoroacetabular

rtroscopia

steotomia

r e s u m o

O impacto femoroacetabular (FAI) é condicão de caracterizacão relativamente recente;

decorre de relacões anatômico-funcionais anormais entre a região proximal do fêmur e

o acetábulo, associadas a movimentos de repeticão, que acarretam lesões no labrum e na

cartilagem acetabular. As alteracões são representadas pela retroversão acetabular ou

diminuicão da altura entre a borda lateral da cabeca e o colo femoral. Além disso, o impacto

femoroacetabular pode ser secundário a fraturas do colo do fêmur com consolidacão

viciosa ou decorrer de osteotomias pélvicas que provocam o retrodirecionamento do ace-

tábulo. Essas anomalias levam ao contato femoroacetabular patológico que origina forcas

de impacto e cisalhamento durante os movimentos do quadril. Em consequência, há lesão

labral e artrose precoce. O diagnóstico é feito pela sintomatologia típica, sinais radiográficos

e ressonância magnética. O tratamento fundamenta-se na correcão das anomalias anatô-

micas, reparo do labrum e remocão da cartilagem lesada. Entretanto, há necessidade de

conhecer melhor a evolucão natural da afeccão, principalmente nos indivíduos assintomá-

ticos, bem como resultados do tratamento em longo prazo.

© 2016 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Publicado por Elsevier Editora

Ltda. Este e um artigo Open Access sob uma licenca CC BY-NC-ND (http://

creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

Femoroacetabular impingement

eywords:

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natomy

a b s t r a c t

The femoroacetabular impingement (FAI) is as condition recently characterized that results

from the abnormal anatomic and functional relation between the proximal femur and the

acetabular border, associated with repetitive movements, which lead labrum and acetabular

emoroacetabular impingement cartilage injuries. Such alterations result from anatomical variations such as acetabular

ase of the femoroacetabular offset. In addition, FAI may result from

rthroscopy retroversion or decre steotomy acquired conditions as malunited femoral neck fractures, or retroverted acetabulum after

pelvic osteotomies. These anomalies lead to pathological femoroacetabular contact, which

in turn create impact and shear forces during hip movements. As a result, there is early

� Trabalho desenvolvido no Departamento de Medicina, Biomecânica e Reabilitacão do Aparelho Locomotor, Faculdade de Medicina deibeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.

E-mails: [email protected], [email protected]://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2016.01.008102-3616/© 2016 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este e um artigo Open Accessob uma licenca CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

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labrum injury and acetabulum cartilage degeneration. The diagnosis is based on the typical

clinical findings and images. Treatment is based on the correction of the anatomic anoma-

lies, labrum debridement or repair, and degenerate articular cartilage removal. However,

the natural evolution of the condition, as well as the outcome from long-term treatment,

demand a better understanding, mainly in the asymptomatic individuals.

© 2016 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Published by Elsevier Editora

Ltda. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license (http://

Introducão

Em passado recente, havia um grupo de pessoas jovens, comantecedentes ou não de afeccão prévia do quadril, que se quei-xava de dor na região inguinal, durante ou após atividadesfísicas ou depois de longos períodos sentadas. Paradoxal-mente, o exame físico era pobre e as radiografias interpretadascomo de aspecto normal ou, eventualmente, apresenta-vam alteracões compatíveis com sequelas de doenca prévia,como Legg-Perthes ou epifisiólise, mas que não explicavama sintomatologia à luz do conhecimento da época. Comoconsequência, não havia diagnóstico e terapêutica especí-fica e a recomendacão era tratamento sintomático, comrestricão de atividades físicas. Entretanto, em alguns casos,em longo prazo, havia evolucão para degeneracão articular1,2

e o diagnóstico era de osteoartrose primária (ou idiopática).Hoje, sabe-se que muitas dessas pessoas apresentavam aafeccão atualmente denominada impacto femoroacetabular(femoroacetabular impingement [FAI]). No início, apenas descritacom base no exame clínico, radiografias simples e achadoscirúrgicos, passou a ter mais subsídios com os achados deressonância magnética e artroscopia.3–6

O conceito atual é que o impacto femoroacetabular é umacondicão que resulta do contato anormal entre a cabeca dofêmur e a borda acetabular, que leva a um conflito mecânicocausador de microtraumatismos aplicados no labrum e car-tilagem acetabular que provocam lesões nessas estruturas.7

Geralmente o impacto decorre de alteracões na transicãocolo-cabeca e/ou no acetábulo. Entretanto, pode ocorrer emquadris morfologicamente normais, mas que são submetidosa grandes demandas físicas associadas a repetidos movimen-tos de flexão.8,9

Entretanto, a nocão de impacto no quadril não é nova. Umadas antigas referências a essa condicão é atribuída a Smith--Petersen,10 em 1936, que a descreveu como resultante dochoque do colo femoral contra o acetábulo e identificou ascausas como provenientes de alteracões femorais ou aceta-bulares. São lúcidas suas observacões que identificam que acausa da dor dos pacientes era o conflito mecânico entre o colofemoral e a margem do acetábulo, que resultava em artritetraumática. Esse mesmo autor cunhou o termo impingementpara explicar o mecanismo etiopatogênico e apresentou pro-posta de tratamento cujos fundamentos são aplicados aindahoje.10 Murray,11 em 1965, identificou casos de osteoartriteprimária associados à relacão anormal entre cabeca e colofemorais a que ele chamou tilt deformity. Depois, a condicão

foi descrita com maior ênfase por Harris.12

Contudo, o interesse pela afeccão foi renovado em 1991por Ganz et al.,13 como causa de dor e disfuncão do quadril.

creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

Esses autores apresentaram casos em que havia associacãode dor e limitacão de movimentos, após fratura do colo dofêmur viciosamente consolidada. As radiografias motravam,nas adjacências do colo femoral, saliência óssea que era gol-peada contra a porcão anterior do acetábulo (dois casos) ouposterior (quatro casos) aos movimentos do quadril. Maistarde, Strehl e Ganz14 acrescentaram 11 casos com impactoanterior, também decorrentes de fratura. Depois, foi obser-vado que a condicão poderia ocorrer em casos sem história detraumatismo, em pessoas com uso exagerado do movimentode flexão do quadril, no esporte ou no trabalho.9

Atualmente, o conceito de impacto femoroaceta-bular está bem estabelecido e seu tratamento evoluiusignificativamente.1,2,15–17 Desde então, o número de artigossobre o assunto tem crescido exponencialmente.15,18 Nosúltimos anos o tema foi abordado várias vezes na RevistaBrasileira de Ortopedia.4,8,19–23

Fisiopatologia

A articulacão do quadril é do tipo bola e soquete e seus movi-mentos requerem rolamento da cabeca femoral no acetábulo.O impacto surge quando essa harmonia de movimentos é alte-rada, o que resulta em bloqueio mecânico dos últimos grausde movimentos da cabeca femoral, o que faz com que gol-peie a borda lateral do acetábulo e cause microtraumatismosregionais. As estruturas mais afetadas são o labrum e a regiãoanterolateral da cartilagem articular do acetábulo e as forcaslesivas traduzem-se por compressão e cisalhamento.

No quadril normal, além da cobertura adequada da cabecado fêmur pelo acetábulo, é importante existir a concavi-dade ou recuo (offset) cervicocefálico, isto é, a diferenca dealtura entre o colo do fêmur e a borda esférica da cabecafemoral (fig. 1A). Esse desnível é importante porque asse-gura que haja acomodacão do colo em relacão à periferiado acetábulo para propiciar os últimos graus de movimento(fig. 1B). A diminuicão do offset provocada pela perda daesfericidade da cabeca femoral é causada por extensão anô-mala da epífise proximal do fêmur principalmente na regiãoanterossuperior15 (coxa recta). Essa extensão pode ser umresquício filogenético24 ou surgir como resposta à práticaexcessiva de esportes durante a maturacão esquelética.25 Emoutros casos, a etiologia do FAI pode ser evidente, como emsequelas de fraturas do colo do fêmur,14 doenca de Perthes,26

epifisiólise,27 coxa vara9 etc.O impacto pode surgir quando o recuo está diminuído, ou

mesmo invertido, pela presenca de saliência no colo do fêmur,que irá golpear a margem do acetábulo à flexão e rotacãointerna do quadril (fig. 2A). Esse tipo de efeito chama-se cam e

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Figura 1 – Ilustracão das particularidades anatomofuncionais da juncão cervicocefálica do quadril. A - o desnível ou recuo(offset) do colo do fêmur em relacão à borda livre da cabeca femoral (d). B - os movimentos normais da cabeca no acetábuloocorrem quando a junta é concêntrica, isto é, há coincidência entre os centros geométricos do acetábulo e cabeca femoral.Isso permite o rolamento harmônico da cabeca femoral dentro do acetábulo. O desnível cervicocefálico (d) permite ampliaros últimos graus de movimento. (Desenho adaptado de Emary28).

atéoclaa

rdapdav

Fcflgf

deformidade que lhe dá origem é em cabo de pistola (pis-ol grip).9,22 Em casos de pequenas protrusões, o dano inicial

primariamente na cartilagem acetabular e causa abrasãou laminacão, pois a parte protrusa penetra no acetábulo,isalha a cartilagem articular e, pelo mesmo mecanismo,esa o labrum.28 Assim, a maioria das lesões condrais docetábulo ou labrais no impacto tipo cam são localizadosnterossuperiormente.1,2

Quando as anomalias são predominantemente acetabula-es o efeito é do tipo pincer16,28,29 (fig. 2B). Essas alteracõesecorrem de casos com coxa profunda ou protrusa, em que

cabeca femoral está excessivamente contida pelo acetábulo,30

or retroversão acetabular, que pode ser constitucional, ou

e osteotomias pélvicas, como a de Salter ou tríplice.31 Existe,inda, a possibilidade, menos frequente, de excesso de ante-ersão acetabular.

igura 2 – Ilustracão dos tipos de bloqueio de movimento nos caefalocervical, ou sua inversão, a cabeca femoral golpeia a bordaexão associada à rotacão interna e/ou aducão (efeito cam). B - qolpeado contra a borda acetabular e causa lesão do labrum (efeiemoral é forcada contra borda posterior do acetábulo, o que leva

Finalmente, alteracões acetabulares e do fêmur podem coe-xistir (impacto misto).5

Exame físico – Diagnóstico

O impacto femoroacetabular causado por alteracão datransicão cefalocervical é mais comum entre os homens entre20-30 anos.16 Por outro lado, o impacto causado por alteracõesacetabulares ocorre mais na mulher de meia-idade.32

Sintomatologia

A dor na região do quadril, quer seja anterior ou posterior, podeser manifestacão de várias afeccões regionais, são importan-tes para o diagnóstico correto o histórico detalhado e testes

sos de impacto femoroacetabular. A - na ausência do recuo lateral do acetábulo nos últimos graus de movimento deuando o acetábulo é profundo ou retrovertido o colo éto tipo pincer). Em sequência, por contragolpe, a cabeca

à lesão labral adicional. (Desenho adaptado de Emary28).

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Figura 3 – Testes clínicos de impacto. A - para o impacto anterior o quadril é flexionado 90◦ aduzido e rodado internamente.B - para o impacto posterior o membro inferior a ser avaliado é colocado fora da mesa de exame, estendido, abduzido

ear a

e rodado externamente. Ambas manobras devem desencad

semiológicos, além de imagens. O diagnóstico precoce do FAIpode ser um desafio, pois que muitas pessoas apresentamsintomas insidiosos, radiografias com aspecto aparentementenormal, ou com leves alteracões, e a sintomatologia pode coe-xistir com afeccões de estruturas próximas.33

O indivíduo com FAI anterior queixa-se principalmente dedor crônica incomodativa na região da virilha, de início insi-dioso, longa duracão e pioria progressiva. Agudizacões podemocorrer quando há excessos físicos. O paciente típico é adultojovem,16 muitos deles praticantes de esportes que envolvemflexão do quadril.8,34 A dor pode ser constante, intermitente,em repouso, e interferir com o sono, seja ao impedi-lo ou pro-vocar o acordar.

Além da sintomatologia clássica na virilha, pode associar--se dor na face anterior da coxa, região trocantérica, e mesmona face interna do joelho, desencadeada ou piorada por ativi-dades físicas que envolvem flexão do quadril ou sentar-se porperíodos prolongados.33

O impacto posterior manifesta-se por dor na região glú-tea, lombossacral ou face posterior da coxa,33 associada amovimentos ou posicões em extensão e abducão do quadril.Entretanto, quando já há artrose secundária, tanto no impactoanterior como posterior, a dor se torna mais grave, mais típicade degeneracão articular e, geralmente, leva ao abandono deatividades físicas.

No exame físico pode existir atrofia da coxa e discretaclaudicacão. Os últimos graus de movimentos do quadril sãolimitados, o teste de Trendelenburg pode ser positivo e os tes-tes de impacto são positivos em 88,8% dos casos.33

O exame físico objetivo deve ser direcionado para o aco-metimento das várias estruturas da região. Quando a dor foranterior devem ser consideradas: hérnia inguinal, bursite dopsoas, pubalgia, bursite trocantérica, degeneracão ou roturada porcão tendínea do glúteo médio e FAI. Há associacão posi-tiva entre hérnia inguinal e FAI e as duas condicões podemcoexistir, principalmente no atleta.35

Para pesquisa do impacto anterior deverá ser feito o testeque o reproduz: o indivíduo é colocado em decúbito dorsal eo quadril afetado é flexionado 90◦, aduzido em torno de 20◦,e, nessa posicão, é feita a rotacão interna. Esse teste, para

dor habitual da pessoa.

ser positivo, deve reproduzir a dor normalmente experimen-tada pelo paciente23,28 (fig. 3A). A movimentacão global doquadril geralmente está preservada, exceto nos últimos grausde rotacão e flexão. Em casos de grande impacto há maiorlimitacão da flexão que, às vezes, é possível apenas se for asso-ciada à rotacão externa (sinal de Drehmann). Quando ocorreartrose ou protrusão acetabular, vários movimentos podemestar significativamente afetados.

Os impactos posteriores causam dor na região glútea eo diagnóstico diferencial inclui as condicões mais frequen-tes nessa localizacão, como artrite sacroilíaca, fratura porestresse do sacro, lesão dos músculos isquiotibiais, síndromedo trocanter maior, síndrome do piriforme, bursite isquiá-tica, impacto isquiofemoral e disfuncão crônica do assoalhopélvico.36

O teste para impacto posterior deve ser feito com o quadrilem extensão, discreta abducão e rotacão externa.28 Para facili-tar essas manobras, o membro inferior a ser testado deve ficarsem apoio, fora da mesa de exame (fig. 3B).

Imagens

Alteracões morfológicas da região proximal do fêmurEmbora as radiografias simples não mostrem todos os

casos de perda da esfericidade da cabeca femoral, se foremfeitas várias incidências essa possibilidade fica diminuída.

O aspecto mais marcante das alteracões femorais é a defor-midade em cabo de pistola, sinônimo da perda da esfericidadeda cabeca femoral (coxa recta) e diminuicão do recuo cefalo-cervical. Essas anomalias já podem ser vistas na radiografiaanteroposterior da bacia (fig. 4A), com o cuidado de manter oquadril em rotacão interna de 15◦, para evitar falso positivos.28

Entretanto, o perfil do colo é a posicão mais adequada paravisualizar a juncão colo-cabeca (fig. 4B). Isso pode ser obtidopela clássica incidência de Lauenstein (posicão de rã) ou peloperfil alongado do colo (Dunn) em 45◦ ou 90◦ de flexão (são

equivalentes).37 O perfil alongado de Dunn pode ser substi-tuído pelo perfil cross table.38 Geralmente, há necessidade detodas essas incidências, com opcão entre a cross table e o perfilalongado.
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Figura 4 – Radiografias de bacia com alteracões em casos de impacto femoroacetabular. A - Na região proximal do fêmuresquerdo há deformidade típica em cabo de pistola, com retificacão da esfericidade da porcão anterossuperior da cabecafemoral (seta escura). Nesta radiografia há proeminência maior da espinha isquiática que sugere retroversão acetabularassociada (cabeca de seta branca). B - radiografia do mesmo paciente na posicão de Lauenstein mostra que há diminuicãod disponentes ao impacto (setas pretas).

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Figura 5 – Mesmo indivíduo da figura anterior. Radiografiaem perfil do colo com medida do ângulo alfa. Édeterminado o centro da cabeca femoral. A partir desse

o recuo cabeca-colo em ambos os lados, com alteracões pre

O recuo cervicocefálico pode ser avaliado pela medida dongulo alfa de Nötzli,39 originalmente descrito para imagense ressonância magnética, mas que foi adaptado para radio-rafias em perfil alongado. Esse ângulo pode variar com idade

gênero, incidência, mas, grosso modo, é considerado nor-al até 50 graus.37 A figura 5 mostra o tracado desse ângulo.e maneira semelhante, pode ser tracado o ângulo posterior,omeado beta.40

A complementacão da série radiográfica do quadril é feitaelo falso perfil de Lequesne e Sèze,41 que serve para visua-

izar a região anterossuperior do quadril, local frequente deegeneracão articular inicial. Alguns sinais menores podemstar presentes, como ossificacão da borda do acetábulo eequenas lesões císticas no colo (casos de efeito pincer).

lteracões acetabulares

avaliacão do acetábulo é feita com a radiografia antero-osterior da bacia. Uma radiografia pélvica bem posicionada

mplica, além das simetrias da asa do ilíaco e forames obtura-os, distanciamento de 2-3 cm da projecão do cóccix à sínfiseúbica.42 São identificadas as bordas anterior e posterior docetábulo, que devem ser divergentes em direcão caudal. Emasos de retroversão, essas linhas aproximam-se e mesmo seruzam (cross over sign)30,40 (fig. 6). Entretanto, o diagnósticoode ser falseado pela inclinacão pélvica.43 Pode-se observar,ambém, proeminência exagerada da espinha isquiática44 essimetria do forame obturado.

As coxae protrusa e profunda podem ser quantificadas naadiografia anteroposterior da bacia, com a medida do ânguloentrolateral de Wiberg. Quando esse ângulo está acima de0◦ considera-se que o quadril esteja em risco de impacto emexão7 (fig. 7A e B). O excesso de cobertura pode ser visto na

ncidência de Lequesne e Sèze, que permite boa visualizacãoa região anterossuperior da cabeca femoral, local onde sur-

em as primeiras degeneracões articulares.

Embora a tomografia computadorizada possa avaliar aransicão cabeca-colo, ela não mostra as partes moles e

ponto é tracada uma reta até o limite da porcão esférica dacabeca femoral e outra ao longo do centro do colo. O ânguloentre as duas retas é denominado alfa (normal até 50◦).

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Figura 6 – Radiografia de um modelo de bacia com reparosmetálicos na borda acetabular. No lado direito foi simuladaa osteotomia de Salter, com uma cunha de 20◦. Aosteotomia causa retroversão do acetábulo, que pode serobservada pelo cruzamento das bordas anterior e posteriordo acetábulo (cross over sign) (seta), proeminênciada espinha isquiática (cabeca de seta) e assimetria

Os princípios do tratamento cirúrgico são corrigir as deformi-

dos forames obturados.

cartilaginosas, além de implicar grande dose de radiacão.Mesmo para alteracões ósseas sutis na transicão femoroa-cetabular ela apresenta limitacões intrínsecas.45 Assim, nãodeve ser usada como rotina para o diagnóstico do FAI. Entre-tanto, é útil quando for importante a quantificacão da versãoacetabular.46

A ressonância magnética com sequências radiais tornou--se de grande valia, pois mostra com detalhes a porcão óssea eo labrum, além de permitir, com precisão, o tracado do ânguloalfa.39 Avalia, também, a esfericidade da cabeca femoral e acartilagem articular.

O protocolo estabelece imagens ao longo do eixo cabeca--colo, obtidas a cada intervalo de 10◦ a 30◦. O labrum normaltem aspecto triangular, margens definidas e baixo sinal em T1e T2, é contínuo, com a insercão na borda óssea do acetábulo,

Figura 7 – Radiografias em casos de coxa profunda (A) e coxa protrcefálico é maior e há abaulamento na linha iliopúbica.

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exceto por um pequeno hiato na região anteroinferior do ace-tábulo. Um labrum degenerado apresenta sinal aumentado emT2. A rotura expressa-se como uma banda linear de alto sinalno labrum ou na cartilagem acetabular. Em casos de impactocrônico tipo pincer, podem aparecer ossificacões locais. Asalteracões de cartilagem aparecem em regiões adjacentes aolabrum porque há continuidade entre as duas estruturas.47

Tratamento

Quando a sintomatologia é típica e o diagnóstico firmado peloexame de imagens, é consenso que deva ser feita intervencãopara prevenir o início ou impedir o avanco da osteoartrose.15

Tratamentos com manipulacão (quiropraxia) e fisioterapiapodem piorar a sintomatologia.28 Entretanto, fica difícil esta-belecer o tratamento quando a artrose já está avancada. Nessacondicão deve-se considerar a possibilidade de artroplastia,mas isso depende do perfil do paciente, do tipo de sintomato-logia e do grau de incapacidade. Mesmo assim, um tratamentocirúrgico menos agressivo, geralmente artroscópico, com reti-rada dos bloqueios, desbridamento ou reparo do labrum edesbridamento articular, pode propiciar alívio, principalmenteem pessoas mais jovens.

Não há consenso se devem ser tratadas pessoas assinto-máticas apenas com base na imagem48 ou aquelas em que foiconstatada lesão assintomática isolada do labrum.49 A morfo-logia FAI corresponde a uma série de parâmetros diagnósticoscom base em imagens estáticas, enquanto que o impactofemoroacetabular é um complexo dinâmico que resulta dealteracões morfológicas associadas a atividades que impli-cam movimentacões específicas do quadril.50 Isso vale dizerque muitos indivíduos apresentam imagens sugestivas de FAI,mas sem qualquer sintomatologia clínica.51

Tratamento cirúrgico

dades anatômicas, desbridar e/ou reinserir o labrum e removera cartilagem degenerada.29 Geralmente o tratamento cirúrgicodá bons resultados.6,8,49,52

usa (B). Nesse último caso a gravidade do encarceramento

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mpacto tipo camuando a deformidade principal for coxa vara com impactoecundário, o tratamento tem por base corrigir o ângulo cer-icodiafisário. Geralmente isso é suficiente para afastar oolo da região de impacto, mas é recomendável, pelo mesmocesso cirúrgico, abordar a transicão colo-cabeca e observariretamente se persiste o impacto com a manobra de flexão-aducão-rotacão interna do quadril. Em caso positivo, deve-seemover a porcão saliente.

Quando o impacto for provocado primariamente pela sali-ncia na transicão colo-cabeca (coxa recta), a parte salienteeverá ser ressecada e feita a escultura do recuo cefalocer-ical (condro-osteoplastia). Nessa mesma cirurgia são feitoseparos e/ou desbridamentos do labrum e da cartilagem arti-ular. Esses procedimentos podem ser alcancados por trêsbordagens principais: acesso aberto com luxacão do quadril,ssociacão de artroscopia e miniartrotomia e pela artroscopia.s três métodos são efetivos em melhorar a dor e funcão e sãorocedimentos seguros.52

uxacão cirúrgica do quadrilssa técnica foi descrita por Ganz et al.13,53 e considerada oadrão ouro para o tratamento dos impactos tipo cam. Entre-anto, apresenta maiores complicacões relacionadas com asteotomia do fêmur52 e demanda treinamento e experiência.ermite a abordagem de todos os componentes patológicosresentes, com feitura de condro-osteoplastia adequada eesbridamento da cartilagem, que, entretanto, não deve serxagerado, pois o limite para resseccão da espessura do colo é0%. Mais do que isso pode ocorrer fratura.54 O labrum deve seresbridado e reinserido, é importante sua preservacão, poisxerce efeito selante no quadril. Quando o labrum for irrecu-erável ou inexistente, pode ser tentada a reconstituicão comubstitutos como fáscia lata, flexores do joelho ou ligamentoedondo,55 mas essas técnicas são consideradas experimen-ais.

rtroscopia e artrotomia por miniacesso anteriorm 2005, Clohisy e McLure29 descreveram a dupla aborda-em para os casos de impacto tipo cam. Primeiramente, éeito o inventário artroscópico do quadril, seguido de desbri-amento do labrum e da cartilagem articular, se necessário.erminada a artroscopia, através de pequena incisão ante-ior, o espaco de Smith-Petersen é aprofundado,10 a cápsula éberta e feita a osteoplastia. Essa técnica dá resultados compa-áveis a outras, mas apresenta incidência significativa de lesãoo nervo cutâneo lateral da coxa.52 Além disso, à medida queá treinamento na técnica artroscópica, os autores tendem abandonar o acesso aberto.

ratamento artroscópicosse método é de uso crescente, com índices de sucesso queariam de 67% a 90%.7 A correta abordagem das alteracões éeita unicamente pela via artroscópica, segue os passos padro-

izados para tal procedimento.6 Com prática e familiaridade éossível desbridar o labrum e a cartilagem articular, bem comoemover o excesso de osso, de forma a recuperar o formatosférico da cabeca femoral (coxa rotunda). As complicacões são

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aquelas comuns à artroscopia do quadril e incluem lesão donervo cutâneo lateral da coxa e paresia do ciático.

Impacto tipo pincerQuando o impacto for causado predominantemente pela máorientacão do acetábulo, isso deve ser corrigido por osteoto-mia periacetabular, que é procedimento bastante efetivo,56

mas de difícil execucão, e deve ser reservado para profissionaisexperientes. As publicacões sobre os resultados com o uso datécnica são escassas, porque no impacto por retroversão ace-tabular a sintomatologia é mais tardia, de modo que quandohá osteoartrose secundária o tratamento é pela artroplastia.

Consideracões finais

O impacto femoracetabular é entidade clínica bem definida,em que há alteracões morfológicas, constitucionais ou adqui-ridas que, associadas a movimentos de repeticão do quadril,podem levar à lesão do labrum e da cartilagem acetabu-lar, com artrose subsequente. A sintomatologia expressa-sepor dor e limitacão de movimentos, que pioram progressiva-mente, e o tratamento efetivo é pela correcão cirúrgica dasanomalias anatômicas. Entretanto, mais estudos são neces-sários para definir bem a populacão de risco, aqueles quedevem ser tratados e qual a melhor abordagem, em temos detratamento.52 Assim, seguimentos maiores tornam-se neces-sários não somente para avaliar resultados, mas também paraconhecer melhor a evolucão natural da afeccão.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

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