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PAULO NADER IMPACTO NOS INDICADORES BÁSICOS EM SAÚDE APÓS A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO MAIS MÉDICOS EM UM MUNICÍPIO CATARINENSE Itajaí (SC) 2017

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PAULO NADER

IMPACTO NOS INDICADORES BÁSICOS EM SAÚDE APÓS A

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO MAIS MÉDICOS EM

UM MUNICÍPIO CATARINENSE

Itajaí (SC)

2017

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE E

GESTÃO DO TRABALHO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

PAULO NADER

IMPACTO NOS INDICADORES BÁSICOS EM SAÚDE APÓS A

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO MAIS MÉDICOS EM

UM MUNICÍPIO CATARINENSE

Dissertação submetida à Universidade do Vale do

Itajaí como parte dos requisitos para a obtenção

do grau de Mestre em Saúde e Gestão do

Trabalho

Orientador: Prof.ª Dra. Luciane Peter Grillo

Coorientador: Prof. Dr. Leo Lynce Valle de

Lacerda

Itajaí (SC)

Novembro de 2017

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FICHA CATALOGRÁFICA

Irene Albino – CRB 14ª/1114

N125i

Nader, Paulo, 1982-

Impacto nos indicadores básicos em saúde após a implantação do Projeto Mais Médicos em um

município catarinense. [manuscrito] / Paulo Nader. – Itajaí, 2017.

39 f. : il., color.

Inclui lista de figuras, gráficos, abreviaturas e siglas.

Referências: p. 38-39.

Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí, Programa de Pós-Graduação - Mestrado

Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, Área de Concentração em Saúde da Família, 2017.

“Orientadora: Prof.ª Dr.ª Luciane Peter Grillo”.

“Coorientador: Prof. Dr. Leo Lynce Valle de Lacerda”.

1. Saúde pública. 2. Serviços de saúde. 3. Indicadores de saúde – Brasil. I. Grillo, Luciane Peter.

II. Lacerda, Leo Lynce Valle de. III. Título.

CDU: 614.2

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IMPACTO NOS INDICADORES BÁSICOS EM SAÚDE APÓS A IMPLANTAÇÃO

DO PROJETO MAIS MÉDICOS EM UM MUNICÍPIO CATARINENSE

Paulo Nader

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Saúde e Gestão

do Trabalho, Área de Concentração Saúde da Família e aprovada em sua forma final pelo

Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da

Universidade do Vale do Itajaí.

_______________________________________________

Professora Stella Maris Brum Lopes, Doutora

Coordenador do Programa Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho

Apresentado perante a Banca Examinadora composta pelos Professores:

______________________________________

Prof.ª Dra. Luciane Peter Grillo (UNIVALI)

Presidente orientador

______________________________________

Prof. Dr. Leo Lynce Valle de Lacerda (UNIVALI)

Coorientador

______________________________________

Prof.ª Dra. Tatiana Mezadri (UNIVALI)

Membro Interno

______________________________________

Prof.ª Dra. Luciane Coutinho de Azevedo Campanella (FURB)

Membro Externo

Itajaí (SC), 21, junho de 2017.

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Dedico esse trabalho primeiramente a Deus e a todas as

pessoas que acreditam e lutam por um Sistema Único de

Saúde inclusivo, de qualidade, resolutivo e

principalmente humanizado.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente ao meu Senhor e Salvador Jesus Cristo que me concede todos os dias o fôlego

de vida através da sua Maravilhosa Graça e Misericórdia, e me ajudou a vencer mais um

desafio da minha vida. Não conseguiria expressar em palavras o meu Amor e Gratidão a tudo

que Ele faz na minha vida. A Ele seja tributado Toda Honra, Toda Glória e Todo meu Louvor.

A minha Linda e Abençoada Esposa Ana Paula Finckler Nader, que acreditou no meu sonho e

esteve presente em todos os momentos da minha caminhada neste projeto, me auxiliando e

principalmente tendo paciência e sendo compreensiva nos momentos mais difíceis.

A minha Família, na qual fui agraciado e abençoado por Deus por nascer em uma Família tão

abençoada, Mãe Silvia, Pai Anderson, Vó Terezinha e Neiva, meus Irmãos Renata e Douglas,

Sobrinhos, Tios.

Aos meus Abençoados Pastores e Líderes que me auxiliaram e direcionaram com o mais

importante, “a rica Palavra de Deus”.

Aos meus Colegas de trabalho que me ajudaram no meu Projeto, Michele França e em

especial a minha amiga, conselheira, e muitas vezes Mãezona Secretária de Saúde Márcia

Regina de Oliveira Freitag.

A cada Mestre que me auxiliou cada um com a sua contribuição para formar este cidadão.

A todas as pessoas especiais que passaram na minha vida e com as suas bondades me

ajudaram a crescer e acreditar que tudo é possível àquele que Crê.

Aos meus Amigos de Mestrado que estenderam a suas mãos para me ajudar, que Jesus

retribua em dobro tudo.

Aos meus Professores, Mestres e Doutores do Mestrado que contribuíram muito para o meu

crescimento principalmente como cidadão.

Aos meus queridos e Admirados Professores e militantes do SUS que tanto sonhamos, Rita

Gabrielle de Cássia e Marco Aurélio da Rós que numa linda tarde de conversa e com poucas

palavras me ajudaram a enxergar uma realidade até então oculta na minha vida, mais

importantíssima para o meu crescimento pessoal.

A minha comprometida e muito sábia em suas orientações e colocações Orientadora Luciane

Peter Grillo, e ao meu Co-orientador, amigo e conselheiro Leo Lynce Valle de Lacerda.

Obrigado pela grandiosa contribuição em meu crescimento como pessoa.

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IMPACTO NOS INDICADORES BÁSICOS EM SAÚDE APÓS A IMPLANTAÇÃO

DO PROJETO MAIS MÉDICOS EM UM MUNICÍPIO CATARINENSE

Paulo Nader

Junho/2017

Orientadora: Luciane Peter Grillo, Pós Doutora.

Área de Concentração: Saúde da Família.

Número de Páginas: 40.

RESUMO: O Programa Mais Médicos foi criado após intenso debate junto à sociedade e

com o desafio de diminuir o déficit e a carência de profissionais médicos no mercado de

trabalho, alocar médicos nas áreas mais pobres e vulneráveis do país, ampliando o acesso,

implantando e interiorizando os cursos de formação médica, aumentando a oferta de vagas,

principalmente nas regiões de interiores e melhorando a infraestrutura das unidades de saúde.

O Programa contempla o Projeto Mais Médicos para o Brasil e Projeto de Cooperação Mais

Médicos visando ampliar e melhorar a estrutura da atenção básica. O objetivo do presente

estudo foi identificar o impacto do Projeto Mais Médicos nos indicadores da atenção básica

em um município catarinense e comparar com os dados nacionais e estaduais. Utilizou-se o

Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde, o e-SUS Atenção Básica, o

Contrato Organizativo de Ação Pública da Saúde e o Programa de Melhoria do Acesso e da

Qualidade da Atenção Básica, tendo como referência os anos de 2012 e 2015. As variáveis

selecionadas foram consultas médicas em atenção básica, consultas de pré-natal, consultas

(agendadas, de cuidado continuado, de urgência e espontâneas), cobertura populacional

estimada pelas equipes de atenção básica, proporção de internações por condições sensíveis à

atenção básica, razão de internações clínico-cirúrgicas de média complexidade e população

residente, razão de exames citopatológicos do colo do útero em mulheres de 25 a 64 anos,

proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais consultas de pré-natal e proporção de

parto normal. O estudo identificou que a partir da implementação do Projeto Mais Médicos

houve um aumento significativo nas consultas de cuidado continuado (p <0,0001), uma

diminuição nas consultas espontâneas (p <0,0003), na proporção de consultas médicas em

atenção básica de 1,36 em 2012 para 1,10 em 2015 e estabilidade nas relacionadas à de pré-

natal. Com relação às consultas, quando comparadas com os estratos Florianópolis, Santa

Catarina e Brasil o município de Camboriú apresentou situação intermediária, porém com

relação aos outros indicadores avaliados apresentou resultados positivos relevantes, como

queda de aproximadamente 30% na proporção de internações por condições sensíveis à

atenção básica, de 42% de internações clínico-cirúrgicas de média complexidade e aumento

aproximado de 22% na razão de exames citopatológicos do colo do útero, e 10% na proporção

de nascidos vivos e de 48% de parto normal. Ainda é cedo para medir com exatidão os

impactos trazidos pelos médicos alocados na cidade pelo Projeto, mas a melhoria nos

indicadores de saúde já é perceptível e estes resultados permitirão aprimorar o planejamento

das ações em saúde neste município.

Palavras-chave: Sistema Único de Saúde. Atenção Primária à Saúde. Estratégia Saúde da

Família. Indicadores Básicos de Saúde.

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IMPACTS ON BASIC HEALTH INDICATORS AFTER THE IMPLEMENTATION OF THE

MORE DOCTORS PROGRAM IN A MUNITICPALITY OF SANTA CATARINA

Paulo Nader

June2017

Supervisor: Luciane Peter Grillo, Post Doctor.

Area of Concentration: Family Health.

Number of Pages: 40.

ABSTRACT: The More Doctors Program was created after intense debate with society, with

the challenge of reducing the shortage of medical professionals in the labor market, allocating

doctors in the poorest and most vulnerable areas of the country, expanding access,

implementing and bringing Medical training courses to interior regions, increasing the offer of

places, particularly in the interior regions, and improving and expanding the infrastructure of

health facilities. The Program includes the Medical Doctors Project for Brazil and the More

Doctors Cooperation Project, aimed at broadening and improving the basic healthcare

structure. The objective of the present study was to identify the impacts of the More Doctors

Project on basic healthcare indicatorsin a municipality of Santa Catarina, and compare them

with national and state data. The information systems used were: the Outpatient Information

System of the Unified Health System, e-SUS Basic Care, Organizing Contract for Public

Health Action and the Program for Improving Access and Quality of Primary Care, taking the

years of 2012 and 2015 as reference. The selected variables were medical consultations in

basic healthcare, prenatal visits, consultations (scheduled, continuing care, emergency, and

spontaneous), population coverage estimated by the primary care teams, proportion of

hospital admissionsfor conditions sensitive to primary healthcare, ratio of medium-complexity

clinical and surgical hospitalizations and resident population, the ratio of cytopathological

examinations of the uterine cervical in women aged 25 to 64 years, the proportion of live

births to mothers with seven or more prenatal consultations, and the proportion of natural

childbirth. The study identified that since the implementation of the More Doctors Project,

there has been a significant increase in the consultations of continued and spontaneous

healthcare, a decrease in the proportion of medical consultations in basic healthcare, and

stability in those related to prenatal care. Regarding consultations, when compared with the

Florianópolis, Santa Catarina and Brazil strata, the municipality of Camboriú presented an

intermediate situation, but in relation to the other indicators evaluated, it presented significant

positive results, such as the decrease of around 30% in the proportion of hospitalizations due

to conditions sensitive to primary healthcare and of 43% in medium-complexity clinical-

surgical hospitalizations, and an increase of around 22% in the ratio of cytopathological

examinations of the uterine cervical, of 10% in the proportion of live births, and of 48% in the

percentage of natural child births. It is still too early to accurately measure the impacts of the

project, but the improvement in health indicators is already noticeable, and these results will

allow better planning of health actions in this city.

Keywords: Unified Health System. Primary Health Care. Family Health Strategy. Primary

Health Status Indicators.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 - PMMB: Projeto Mais Médicos para o Brasil; PCMM: Programa de

Cooperação Mais Médicos .................................................................................. 26

Tabela 1 - Médias (intervalos de confiança) do número de consultas médicas

entre as Estratégias Saúde da Família que receberam e as que não

receberam médicos do Projeto Mais Médicos e do Projeto de

Cooperação Mais Médicos de acordo com o tipo de consulta,

Camboriú, 2016. .................................................................................................. 29

Tabela 2 - Número de consultas médicas e consultas de pré-natal na Atenção

Básica realizadas e proporção em relação à população entre os anos de

2012 e 2015, Camboriú, Florianópolis, Santa Catarina e Brasil. ........................ 30

Figura 1 - Variação nos indicadores de saúde entre 2012 e 2015, Camboriú,

Florianópolis, Santa Catarina e Brasil. ................................................................ 31

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LISTA DE ABREVIATURAS

AB - Atenção Básica

ABS - Atenção Básica à Saúde

AMAQ - Auto avaliação para Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

COAP - Contrato Organizativo de Ação Pública da Saúde

ESF - Estratégia de Saúde da Família

DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

MS - Ministério da Saúde

NASF - Núcleo de Apoio a Saúde da Família

OMS - Organização Mundial da Saúde

PMA2 - Produção e Marcadores para Avaliação

PMAQ - Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica.

PMM - Programa Mais Médicos

PMMB - Projeto Mais Médicos para o Brasil

PCMM - Projeto de Cooperação Mais Médicos

PNAB - Política Nacional de Atenção Básica

Requalifica UBS - Programa de Requalificação das Unidades Básicas de Saúde

SIA - Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde

SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica

SUS - Sistema Único de Saúde

UBS - Unidade Básica de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 12

1.1.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 12

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................... 13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 14 2.1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ......................................................................................... 14

2.2 ATENÇÃO BÁSICA ......................................................................................................... 14

2.3 PROGRAMA MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL ......................................................... 16

2.4 INDICADORES DE SAÚDE ............................................................................................ 19

2.4.1 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES .................................................................................. 23

3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 26 3.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................ 26

3.2 LOCAL DO ESTUDO ....................................................................................................... 26

3.3 PROGRAMAS E INDICADORES UTILIZADOS ........................................................... 27

3.4 ASPECTOS ÉTICOS ......................................................................................................... 27

3.5 ANÁLISE DE DADOS ...................................................................................................... 28

4 RESULTADOS .................................................................................................................... 29

5 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 32

6 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 37

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1 INTRODUÇÃO

A 8ª Conferência Nacional de Saúde foi um marco para a criação do Sistema Único

de Saúde (SUS), resultando no relatório fundamental para a elaboração dos artigos 196 a 200

presentes na Carta Magna de 1988 (Constituição Federal de 1988), (BRASIL, 1988). O SUS

foi regulamentado pela Lei 8080 de 19 de Setembro de 1990 (dispõe sobre as condições para

a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes) e pela Lei 8142 de 28 de Dezembro de 1990 (dispõe sobre a participação da

comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos

financeiros na área da saúde) (BRASIL, 2000a). É considerada a maior conquista social no

Brasil até a presente data.

O SUS é a principal política pública de saúde do país e possui três níveis de

complexidade: a Atenção Básica ou Primária; Média Complexidade ou Atenção Secundária; e

Alta Complexidade ou Terciária. A Atenção Básica tem a função de ser a principal porta de

entrada do sistema e o contato preferencial dos usuários, sendo a ordenadora de todas as redes

de atenção e cuidado, orientado pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do

vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da

humanização, da equidade e da participação social (BRASIL, 2012).

O Programa Mais Médicos, que em um de seus eixos contempla o Projeto Mais

Médicos para o Brasil (PMMB) e o Projeto de Cooperação Mais Médicos (PCMM), está

inserido na Atenção Básica e foi criado em julho de 2013 por meio de parceria entre os

Ministérios da Saúde e da Educação, por meio da Medida Provisória n.º 621, que foi

convertida na Portaria 1.369/2013 e, no mês de outubro deste mesmo ano, convertida na Lei

Federal n.º 12.871. Este Programa, portanto, visa à melhoria do atendimento aos usuários do

SUS, alocando médicos para regiões onde há escassez ou ausência desses profissionais e

aprimorando as estruturas físicas das unidades básicas de saúde com investimentos voltados

para construção, reforma e ampliação de unidades básicas de saúde, e também

proporcionando novas vagas de graduação e residência médica (BRASIL, 2013). Além de

ampliar o acesso, busca melhorar e humanizar a qualidade do atendimento, com médicos que

se fixam no mínimo por três anos em uma comunidade, criando e aumentando o vínculo com

os usuários e, consequentemente, melhorando os indicadores de saúde locais (BRASIL, 2015).

Na atenção básica, em todo país, a produção gerada pelos profissionais envolvidos nas

ações de saúde e a utilização de informações sobre saúde se processam em um contexto

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complexo de relações institucionais, compreendendo variados mecanismos de gestão e

financiamento. Vistos em conjunto, devem refletir a situação sanitária de uma população e

servir para a vigilância das condições de saúde (REDE, 2008).

Estes indicadores são ferramentas essenciais para realização de um diagnóstico

quantitativo das ações realizadas pelos profissionais que trabalham ou que estão ligados direto

ou indiretamente à saúde. A disponibilidade de informação, apoiada em dados válidos e

confiáveis, é uma condição essencial para a análise objetiva da situação sanitária e para a

tomada de decisões baseadas em evidências, por meio da qual os profissionais envolvidos

podem utilizá-la para planejar e realizar a programação das ações em saúde (REDE, 2008).

O presente estudo buscou identificar o impacto do Projeto Mais Médicos para o Brasil

e do Projeto de Cooperação Mais Médicos nos indicadores da atenção básica no município de

Camboriú, Santa Catarina, e compará-lo com os dados nacionais e estaduais. No processo de

trabalho da atenção básica, os indicadores de saúde são sinalizadores da realidade e da

efetividade das ações realizadas pelos profissionais. No entanto, em sua maioria, são pouco

utilizados como ferramenta de planejamento pelos trabalhadores da área da saúde. O estudo

justifica-se por tratar de um Projeto recente e polêmico na época, cujos médicos com

formação no exterior passaram a ter seus diplomas revalidados no país, com autorização para

exercerem suas atividades profissionais, e pela escassez de publicações relacionadas a este

tema.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Identificar o impacto do Projeto Mais Médicos para o Brasil e do Programa de

Cooperação Mais Médicos nos indicadores da atenção básica no município de Camboriú.

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1.1.2 Objetivos específicos

Avaliar os indicadores de saúde selecionados entre as estratégias de saúde da

família que receberam e as que não receberam profissionais do Projeto Mais

Médicos;

Comparar os indicadores de saúde antes e após a implantação do Projeto Mais

Médicos no município de Camboriú;

Comparar os indicadores de saúde do município de Camboriú com os dados

estaduais e nacionais.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988 por meio da Constituição Federal

e foi regulamentado pela Lei 8080\90, com o objetivo de disponibilizar, por meio de políticas

públicas, uma saúde pública gratuita e de qualidade para toda população. É direcionado pelos

princípios da universalidade, em que todos os cidadãos brasileiros têm direito ao acesso à

assistência à saúde nos três níveis de estrutura: Atenção Básica ou Primária à Saúde,

caracterizada como porta preferencial de entrada, sendo este o primeiro contato do indivíduo,

da família e da comunidade com o sistema de saúde, prestada pelas Unidades Básicas de

Saúde (UBS); Atenção Secundária à Saúde é direcionada por ações de saúde que utilizam

tecnologias de média complexidade e tem sua assistência prestada principalmente nos

ambulatórios de especialidades e por hospitais de pequeno porte; e a Atenção Terciária à

Saúde, sendo esse nível prestado pelos hospitais de grande porte, os quais utilizam estruturas

maiores e tecnologias mais modernas.

Outro princípio é o da integralidade, ou seja, a garantia do tratamento integral e

resolutivo em todos os níveis de complexidade, reconhecendo que se deve tratar as pessoas

como um todo; e a participação social, que também é um princípio fundamental do SUS,

sendo a população representada por meio dos Conselhos e das Conferências de Saúde, com

caráter participativo, fiscalizador e deliberativo (CORDOBA, 2013).

2.2 ATENÇÃO BÁSICA

A Atenção Básica, conhecida popularmente pelas unidades básicas de saúde (UBS) ou

postos de saúde, deve-se configurar como porta de entrada preferencial e principal do SUS.

Dentro de uma política de saúde hierarquizada, a Atenção Básica deve ser a ordenadora do

acesso aos serviços de saúde e reguladora das redes de atenção à saúde, caracterizada por um

conjunto de ações e de cuidados de saúde no âmbito individual e coletivo, voltada para

promoção, proteção da saúde e prevenção, com ênfase nas ações de prevenção. Ela deve ser o

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primeiro e preferencial contato dos usuários, o centro de articulação e comunicação com toda

a rede de atenção à saúde, sendo a rede estruturada e caracterizada pela atenção primária,

secundária e terciária. Sendo assim, é fundamental que a atenção básica ou primária se oriente

pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado,

da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da

participação social (BRASIL, 2012).

A primeira denominação, Programa Saúde da Família (PSF), surgiu como proposta

voltada para o vínculo e cuidado da saúde das famílias, tendo o agente comunitário de saúde

como o principal elo entre a unidade básica de saúde e as famílias. No ano de 2006, o

programa passa a ser denominado Estratégia Saúde da Família (ESF). Segundo o Ministério

da Saúde (2006), a alteração de programa para estratégia tem como foco expansão,

qualificação e consolidação da atenção básica por favorecer uma reorientação do processo de

trabalho com maior potencial de aprofundar os princípios, as diretrizes e os fundamentos da

atenção básica, além de fortalecer, por meio das ações de saúde desenvolvidas por toda a

equipe, o vínculo entre unidade de saúde, profissionais e comunidade (CORDOBA, 2013).

Essa nova estratégia busca favorecer e qualificar uma nova orientação do processo de

trabalho na atenção básica, ampliando a resolutividade e o impacto na situação de saúde das

pessoas e da coletividade, sendo articuladora da integralidade do serviço e do atendimento

prestado a toda população; também deve fornecer estruturas físicas e humanas qualificadas

para desenvolver práticas humanizadas e acolhedoras e propiciar uma importante relação

custo-efetividade (BRASIL, 2012).

Uma equipe de ESF na sua formação mínima é composta por médico, enfermeiro,

técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde, podendo ainda compor a equipe

odontólogo, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social e outros. Cada equipe se responsabiliza

pelo acompanhamento de uma média de três mil pessoas e passa a ter corresponsabilidade no

cuidado à saúde das pessoas da sua área de abrangência. A atuação das equipes ocorre

principalmente nas UBS, nas residências, nos espaços sociais e coletivos e na mobilização da

comunidade, além de trabalhar com território definido e população adscrita sobre sua

responsabilidade, podendo intervir diretamente nos fatores de risco aos quais a comunidade

está exposta, prestando assistência integral, permanente e de qualidade, realizando atividade

de educação e de promoção da saúde (BRASIL, 2012).

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2.3 PROGRAMA MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL

No decorrer dos anos e com o aumento da população no Brasil, gerou-se um

importante déficit de profissionais médicos, principalmente nos interiores, nas regiões

afastadas das grandes metrópoles e nas regiões mais pobres e menos desenvolvidas do país.

Com essa realidade e com a chamada marcha dos prefeitos para Brasília em 2013, com o tema

“cadê o médico”, o governo federal foi pressionado a buscar uma solução a este problema que

agravava ainda mais a estrutura da saúde pública no país, levando o governo a tomar atitudes,

como a criação de um programa que atendesse as reivindicações não só dos prefeitos, mas de

toda a população, sendo criado então o Programa Mais Médicos. A realidade do Brasil era de

uma proporção de médicos por habitante, significativamente inferior à necessidade da

população e do SUS, principalmente, quando só analisavam as regiões de interior e de maior

pobreza. Esses médicos estavam mal distribuídos no território, estando na sua maioria

distribuídos nas regiões metropolitanas e mais desenvolvidas, de modo que as áreas e as

populações mais pobres e vulneráveis eram as que, proporcionalmente, contavam com um

número muito inferior de profissionais médicos, sendo que em muitas cidades sequer tinham

um médico residindo e trabalhando no seu território, deixando grandes contingentes

populacionais sem acesso à consulta médica (BRASIL, 2015).

Nos anos de 2002 a 2012, segundo dados do Ministério da Saúde, o país formou

menos médicos do que a demanda anual de empregos na área dos setores públicos e privados,

o que agravou ainda mais a situação, que a cada ano aumentava o deficit desses profissionais.

O total de médicos formados em todas as escolas do Brasil foi 65% da demanda do mercado

de trabalho, tendo nesse período um deficit de 53 mil médicos, gerando um grande problema

para as gestões municipais, que tinham uma imensa dificuldade em contar com o seu quadro

de médicos e com suas equipes de ESF completas. Esta situação causa um problema social de

grande impacto em toda a população descoberta desses profissionais, que justificava a sua

concentração nas grandes metrópoles pela falta de infraestrutura urbana, que influenciava

diretamente na contratação desses profissionais e tendo ainda que leiloar salários e abrir mão

de cargas horárias para atrair esses profissionais para os municípios menores (BRASIL,

2015).

Além de o Brasil apresentar uma proporção insuficiente de médicos para as

necessidades da população e para as demandas de ofertas de emprego, e esses profissionais

estarem mal distribuídos no território, estando na sua maior parte concentrados nos grandes

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centros e nas capitais das 27 unidades da Federação, 22 estavam abaixo da média nacional,

cinco estados das regiões Norte e Nordeste tinham o indicador de menos 1 médico/1.000

habitantes. O Estado de Santa Catarina, no ano de 2012, contava com uma média de 1,69

médicos/1.000 habitantes, estando abaixo da média nacional, que era de 1,83 médicos/1.000

habitantes e abaixo da meta do Programa Mais Médicos, que utiliza como referência países

desenvolvidos e com um sistema de saúde público e universal, como o Reino Unido, que tem

uma média de 2,7 médicos/1.000 habitantes. O Estado de São Paulo tem a maior

infraestrutura urbana e tem o maior orçamento da Federação, possuía a terceira melhor

proporção nacional de médicos (2,49 médicos/1.000 habitantes). A iniquidade maior se

manifesta quando se percebe que, quanto menor e mais pobre, mais precárias as condições

sociais, econômicas, sanitárias e de infraestrutura da região e do município, maior será a

necessidade de médico e de uma equipe de ESF completa e maior é a escassez deste

profissional, ficando ainda mais inflacionado o mercado de trabalho médico da região

(SANTOS; PINTO, 2008).

Com essa realidade, o Governo Federal criou o Programa Mais Médicos, que está

inserido na Atenção Básica, sendo uma política pública, que em conjunto com várias ações e

iniciativas visam ampliar e melhorar a estrutura da Atenção Básica.

O Programa está regulamentado pela Lei Federal n.º 12.871/2013. No capítulo I das

disposições gerais, o Art. 1º refere:

É instituído o Programa Mais Médicos, com a finalidade de formar recursos

humanos na área médica para o SUS e com os seguintes objetivos: diminuir a

carência de médicos nas regiões prioritárias para o SUS, a fim de reduzir as

desigualdades regionais na área da saúde, fortalecer a prestação de serviços de

atenção básica em saúde no País, aprimorar a formação médica no País e

proporcionar maior experiência no campo de prática médica durante o

processo de formação, ampliar a inserção do médico em formação nas

unidades de atendimento do SUS, desenvolvendo seu conhecimento sobre a

realidade da saúde da população brasileira, fortalecer a política de educação

permanente com a integração ensino-serviço, por meio da atuação das

instituições de educação superior na supervisão acadêmica das atividades

desempenhadas pelos médicos, promover a troca de conhecimentos e

experiências entre profissionais da saúde brasileiros e médicos formados em

instituições estrangeiras, aperfeiçoar médicos para atuação nas políticas

públicas de saúde do País e na organização e no funcionamento do SUS e

estimular a realização de pesquisas aplicadas ao SUS (BRASIL, 2015).

No Art. 2º, observam-se as seguintes ações:

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Reordenação da oferta de cursos de Medicina e de vagas para residência

médica, priorizando regiões de saúde com menor relação de vagas e médicos

por habitante e com estrutura de serviços de saúde em condições de ofertar

campo de prática suficiente e de qualidade para os alunos, estabelecimento de

novos parâmetros para a formação médica no País, e promoção, nas regiões

prioritárias do SUS, de aperfeiçoamento de médicos na área de atenção básica

em saúde, mediante integração ensino-serviço, inclusive por meio de

intercâmbio internacional. (BRASIL, 2015).

O Projeto Mais Médicos para o Brasil está instituído no âmbito do Programa Mais

Médicos e oferece médicos com formação nas instituições de educação superior brasileiras

com diplomas revalidados no País; médicos formados em instituições de educação superior

estrangeiras, por meio de intercâmbio médico internacional, sendo que a prioridade para

seleção e a ocupação das vagas ofertadas no âmbito do projeto foi para os médicos formados

em instituições de educação superior brasileiras ou com diplomas revalidados no País,

inclusive os aposentados. Caso as vagas não fossem ocupadas por esses profissionais, seriam

selecionados os médicos brasileiros formados em instituições estrangeiras com habilitação

para exercício da medicina no exterior, e médicos estrangeiros com habilitação para exercício

da medicina no exterior. A coordenação desses profissionais ficou a cargo dos Ministérios da

Educação e da Saúde, que disciplinaram por meio de ato conjunto a forma de participação das

instituições públicas de educação superior e as regras de funcionamento do Projeto, incluindo

a carga horária, as hipóteses de afastamento e os recessos. O Projeto também oferece curso de

especialização para instituição pública de educação superior para aperfeiçoamento dos

médicos participantes e envolve atividades de ensino, pesquisa e extensão, as quais têm

componente assistencial, mediante integração ensino-serviço, sendo que esse aperfeiçoamento

teve prazo de até 3 (três) anos, prorrogável por igual período, caso ofertadas outras

modalidades de formação, contando com um supervisor profissional médico, que é

responsável pela supervisão profissional do médico; e um tutor acadêmico, que é um docente

médico responsável pela orientação acadêmica, conforme definido em ato conjunto dos

Ministros da Educação e da Saúde (BRASIL, 2013).

O Projeto de Cooperação Mais Médicos conta com a participação dos médicos

intercambistas que apresentaram atribuições, como diploma expedido por instituição de

educação superior estrangeira; e para obter a habilitação para o exercício da medicina no país

de sua formação, o médico tem que possuir conhecimento em língua portuguesa, regras de

organização do SUS e protocolos e diretrizes clínicas no âmbito da Atenção Básica, além de

exercer a medicina exclusivamente no âmbito das atividades de ensino, pesquisa e extensão

do Projeto Mais Médicos para o Brasil, dispensada, para tal fim, nos 3 (três) primeiros anos de

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participação e a revalidação de seu diploma. O médico intercambista estrangeiro inscrito no

Projeto Mais Médicos para o Brasil tem o visto temporário de aperfeiçoamento médico pelo

prazo de 3 (três) anos, prorrogável por igual período, também é contemplado com o seu

deslocamento custeado integralmente pela União, e recebe um valor referente à bolsa-

formação e de ajuda de custo definido em ato conjunto pelos Ministérios da Educação e da

Saúde (BRASIL, 2013).

É muito debatido e questionado pelos médicos e profissionais da saúde que não

adianta ter médicos e equipes de ESF, se as instalações em que eles atendem não são

adequadas e nem suprem as necessidades da população. Assim, após o levantamento desse

problema, o Programa Mais Médicos também criou o Requalifica UBS, referente à

qualificação da infraestrutura das UBS, o qual está vinculado e articulado ao Programa Mais

Médicos. Este Programa está permitindo a realização de reformas, construções e ampliações

de 26 mil UBS. O investimento em nível nacional chega a mais de R$ 5 bilhões,

contemplando mais de 5 mil municípios em todo território nacional (BRASIL, 2015).

No município de Camboriú foram construídas uma Academia de Saúde, sete novas

unidades de saúde e reforma de duas unidades. O município recebeu do Ministério da Saúde,

pelo Programa Requalifica UBS para as obras de construção das Unidades de Saúde, o total

de 4.617.000,00 (quatro milhões seiscentos e dezessete mil reais).

2.4 INDICADORES DE SAÚDE

Os indicadores de saúde são ferramentas fundamentais para a visualização concreta

das ações desenvolvidas na atenção básica. Eles geram informações apoiadas em dados

válidos e confiáveis por meio das produções geradas nas unidades básicas de saúde pelos

profissionais que desempenham suas atividades, sendo isso condição essencial para a análise

objetiva da situação sanitária, ajudando nas tomadas de decisões baseadas em evidências e

para a programação de ações de saúde. Os indicadores de saúde foram desenvolvidos para

facilitar a quantificação e a avaliação das informações produzidas com tal finalidade e para

ajudar no planejamento das ações em saúde (REDE, 2008).

Os indicadores de saúde são gerados pelos três níveis governamentais de atenção

ligados à gestão do SUS e também outros setores de governo, que produzem informações

relativas à saúde. Essas instituições são as de ensino e pesquisa, agências não governamentais,

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organismos internacionais, associações técnico-científicas e instâncias de controle social,

conforme expostos em termos gerais. Pode-se dizer que os indicadores são medidas-síntese

que contêm informações importantes e de relevância sobre determinadas condições, atributos

e dimensões do estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde (REDE,

2008).

A alimentação regular consistente e em tempo oportuno dos sistemas de informação

constitui uma responsabilidade de todos os profissionais e gestores do SUS, sendo um

importante critério de planejamento e qualidade da Atenção Básica.

Espera-se que os resultados dos indicadores reflitam em planejamento das ações e em

algumas medidas de esforços das equipes de saúde e da gestão na melhoria da qualidade da

atenção básica. A avaliação dos indicadores mostrará se há coerência entre o desempenho das

equipes e a conformidade de suas ações, com o objetivo de melhorar os padrões de qualidade

da Atenção Básica (BRASIL, 2011).

Na Atenção Básica e no SUS a informação é fundamental para a democratização da

Saúde e o aprimoramento do planejamento e da sua gestão. Também a informatização das

atividades realizadas dentro de diretrizes tecnológicas adequadas é de extrema importância

para a descentralização das atividades de saúde, com isso aumenta a viabilização do controle

social sobre a utilização dos recursos disponíveis por meio dos conselhos municipais de saúde

e conselhos estaduais. Para alcançar tais objetivos, foi criado o Departamento de Informática

do SUS, o DATASUS. A partir de 2011, o DATASUS passa a integrar a Secretaria de Gestão

Estratégica e Participativa (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Os indicadores de saúde estão relacionados à função do profissional médico na

Atenção Básica, sendo eles:

- Consultas agendadas: é toda consulta realizada com agendamento prévio. É oriunda

da demanda espontânea ou por agendamento direto na recepção e da equipe de saúde, após ser

avaliada e descaracterizada a urgência, podendo ser agendada para atendimento no dia

seguinte à procura. Podem-se citar como exemplos: casos de lesões de pele, sem sinais

flogísticos ou infecciosos; queixas inespecíficas de fadiga; cansaço; cefaleia crônica; mudança

ou início de medicação anticoncepcional; renovação de receita de acompanhamento de

doenças crônicas sem sinais ou sintomas de alterações fisiológicas; etc. (BRASIL, 2013).

- Consultas de cuidado continuado: são consultas que constituem ações programáticas

individuais, direcionadas para os ciclos de vida, doenças e agravos prioritários, as quais

necessitam de um acompanhamento contínuo, como o cuidado dispensado às gestantes, às

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pessoas com doenças crônicas, às crianças; ou um acompanhamento de uma doença no qual

necessite de retornos; etc. (BRASIL, 2013).

- Consultas de urgência: é o atendimento realizado ao usuário quando há possibilidade

de agravamento do quadro ou o risco de vida, determinando a necessidade de assistência

imediata para alívio do sofrimento físico e/ou psíquico, recuperação do estado de saúde,

estabilização/suporte de vida e/ou encaminhamento a outro ponto da rede quando necessário.

Como exemplos, podem-se citar casos de dor torácica, cólicas renais, ferimentos com perda

excessiva de sangue, sintomas e/ou sinais neurológicos, urgência hipertensiva, etc. (BRASIL,

2013).

- Consultas espontâneas: pode-se dizer que não há um conceito definido, mas uma

consulta de demanda espontânea deve contemplar uma escuta qualificada, refere-se à escuta

realizada no momento em que o usuário chega ao serviço de saúde, relatando queixas ou

sintomas percebidos por ele. Durante o acolhimento, o profissional, quando possível, irá

resolver o caso por meio de orientação, ou caso contrário, deverá ser realizada a classificação

de risco e de análise de vulnerabilidade para que sejam tomadas as devidas providências,

como um agendamento de consulta para o mesmo dia ou data posterior, ou uma orientação. O

usuário também pode dar entrada na unidade de saúde com sinais e sintomas que caracterizem

uma consulta de urgência e emergência. Neste caso, caberá ao profissional de saúde que

estiver no acolhimento com habilidade necessária priorizar o atendimento e junto a equipe

realizar as manobras e as condutas necessárias para estabilizar o mais rápido possível o

usuário (BRASIL, 2013).

- Número de consultas médicas (SUS) por habitante: tem como fórmula de cálculo o

número total de consultas médicas apresentadas ao SUS, dividido pela população total

residente, ajustada para o meio do ano. Esse indicador tem como fonte o Sistema de

Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS) e mede a relação entre a produção de

consultas médicas no SUS e a população residente na mesma área geográfica. O conceito de

consultas apresentadas propicia a obtenção de um dado mais aproximado do total de consultas

efetivamente realizadas na Atenção Básica, e seu uso serve para subsidiar e ajudar nos

processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas públicas voltadas para a assistência

médica de responsabilidade do SUS e das equipes de ESF (REDE, 2008).

- Cobertura de consultas de pré-natal: seu indicador serve para mostrar a distribuição

do percentual de mulheres com filhos nascidos vivos segundo o número de consultas de pré-

natal, realizadas no SUS, em uma população residente em determinado espaço geográfico no

ano considerado (REDE, 2008).

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- Cobertura populacional da Atenção Básica: este indicador é calculado tendo como

referência as equipes de saúde da família, que atuam em áreas geográficas definidas e com

populações adstritas, contendo até 4000 pessoas para cada equipe, sendo 3000 a média

recomendada, podendo ainda este número ser menor, de acordo com o risco e a

vulnerabilidade social da população coberta (BRASIL, 2012).

- Proporção de internações por condições sensíveis à atenção básica: o indicador de

proporção de internações por condições sensíveis à atenção básica avalia a proporção das

internações mais sensíveis à atenção básica em relação ao total das internações clínicas

realizadas para os residentes de um município. Este indicador representa um conjunto de

problemas de saúde que pode ser melhorado com ações e atividades voltadas para a prevenção

de doenças, o diagnóstico e o tratamento precoce de doenças agudas, controle e

acompanhamento de doenças crônicas, tendo como consequência a redução de internações

hospitalares (ALFRADIQUE et al., 2009).

- Proporção internações clínico-cirúrgicas de média complexidade: o indicador de

internações clínico-cirúrgicas avalia a relação entre o número de internações clínico-

cirúrgicas de média complexidade destinada a residentes, em um território, com

financiamento pelo SUS, indicado por meio da Autorização de Internação Hospitalar

(BRASIL, 2013).

- Razão de exames citopatológicos do colo do útero em mulheres de 25 a 64 anos: o

exame citopatológico do colo do útero é um indicador que contribui na avaliação do alcance

da população alvo às ações de prevenção do câncer do colo do útero por meio de seu

rastreamento. O Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama é um

programa instituído pelo Ministério da Saúde e tem como objetivo reduzir a mortalidade por

cânceres de colo de útero e as repercussões físicas, psíquicas e sociais desses cânceres na

mulher brasileira, por meio da oferta de serviços para prevenção e detecção em estágios

iniciais da doença e de suas lesões precursoras e do tratamento e reabilitação das mulheres

(BRASIL, 2013).

- Proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais consultas de pré-natal: o uso

do indicador avalia o acesso e a qualidade da assistência pré-natal ao parto, supondo que uma

boa assistência aumente o percentual de partos normais. Serve para analisar variações

geográficas e temporais da proporção de partos normais, identificando situações de

desigualdade e tendências que demandem ações e estudos específicos que contribuam na

análise da qualidade da assistência ao parto e das condições de acesso aos serviços de saúde

no contexto do modelo assistencial adotado (BRASIL, 2013).

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- Proporção de parto normal: o parto normal está relacionado a menores taxas de

complicações do parto e do recém-nascido e permite avaliar a qualidade da assistência

prestada. O Ministério da Saúde, por meio do Programa Rede Cegonha, contempla um

incentivo ao parto normal, através do parto humanizado, uma vez que o aumento excessivo de

partos cesáreos, acima do padrão de 15% definido pela Organização Mundial de Saúde

(OMS), pode refletir um acompanhamento inadequado do pré-natal e/ou indicações

equivocadas do parto cirúrgico em detrimento do parto normal (BRASIL, 2013).

2.4.1 Sistemas de Informações

Os sistemas de informações são ferramentas que auxiliam na identificação da

situação sanitária de um município, sendo um fator importante de ajuda no planejamento das

ações em saúde (REDE, 2008), tendo o município de Camboriú explorados neste trabalho os

seguintes sistemas:

O Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIASUS) é um importante

instrumento em que todas as ações desenvolvidas na Atenção Básica geram uma produção

que é alimentada no sistema. Ele criado em 1992 e implantado a partir de julho de 1994 nas

Secretarias Estaduais e, logo após, em 1996, foi largamente implantado nas Secretarias

Municipais de Saúde, gerando então a chamada gestão semiplena, regulamentada por meio

das Normas Operacionais Básicas 96. Em 1997, o aplicativo passou a processar, além dos

tradicionais Boletins de Produção Ambulatorial (BPA), um documento numerado e

autorizado, chamado Autorização de Procedimento de Alta Complexidade, conhecido no SUS

como APAC. Cada município possui um teto financeiro pactuado com conselhos intergestores

regionais, em que cada um pactua um teto financeiro para procedimentos de alta

complexidade. Mensalmente, o DATASUS-RJ gera arquivos para tabulação, contendo os

atendimentos e os procedimentos informados pela Atenção Básica de cada município, com

isso, complementando as informações do Sistema de Informação Hospitalar do SUS, que

fornece ao SAS/DRAC os valores do Teto de Financiamento a serem repassados para os

gestores (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

O e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) é uma estratégia do Departamento de Atenção

Básica para reestruturar suas informações em nível nacional. Esta ação está alinhada com a

proposta mais geral de reestruturação dos Sistemas de Informação em Saúde do Ministério da

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Saúde, entendendo que a qualificação da gestão da informação é fundamental para ampliar a

qualidade no atendimento à população. A estratégia e-SUS AB faz referência ao processo de

informatização qualificada do SUS em busca de um SUS eletrônico (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2014).

O Contrato Organizativo da Ação Pública (COAP) é um instrumento da gestão

compartilhada que tem a função de definir, entre os entes federativos (município, estado e

federação), as suas responsabilidades e pactuações no SUS. Ele permite, a partir de uma

região de saúde, uma organização dotada de unicidade conceitual, com diretrizes, metas e

indicadores, todos claramente explicitados e que devem ser cumpridos dentro de prazos

estabelecidos. O contrato garantirá uma gestão compartilhada dotada de segurança jurídica,

transparência e solidariedade entre os entes federativos, sendo que esses elementos ajudaram

no processo que amplia a garantia da efetividade do direito à saúde da população brasileira,

sendo ela discutida nas três esferas da gestão, chamando-se de tripartite. Pode contribuir,

segundo o Ministério da Saúde, para uma gestão pública e democrática (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2011).

O Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ – AB)

tem como objetivo incentivar os gestores a melhorar a qualidade dos serviços de saúde

oferecidos aos cidadãos nas UBS, por meio de várias ações que serão avaliadas por meio de

um instrumento de planejamento e serão desenvolvidos pelas equipes de Atenção Básica à

Saúde. O Programa tem como diretriz a construção de parâmetros para comparação de

equipes de saúde da Atenção Básica, estimulando o processo contínuo de melhoramento dos

padrões e dos indicadores de acesso e de qualidade que envolvam a gestão, o processo de

trabalho e os resultados alcançados pelas equipes de saúde da Atenção Básica. Busca, ainda,

ter transparência em todas as suas etapas, envolvendo os gestores de todas as esferas de

governo junto aos trabalhadores da saúde, com o objetivo de implementar e melhorar a

Atenção Básica por meio de um conjunto de estratégias de qualificação, acompanhamento e

avaliação do trabalho das equipes de saúde. O Programa tem como meta garantir um padrão

de qualidade por meio de uma comparação nacional, regional e local de maneira que permitirá

uma maior transparência e efetividade das ações governamentais direcionadas à Atenção

Básica em saúde, desenvolvendo uma cultura de negociação que irá implicar uma gestão de

recurso direcionado pelas metas e resultados alcançados, além de ter um caráter voluntário

que serve para estimular a melhoria do acesso na Atenção Básica. O Programa disponibiliza

recursos financeiros de incentivo federal, por meio do Piso da Atenção Básica variável, no

bloco da Atenção Básica, disponível através do Fundo Nacional de Saúde, para os municípios

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participantes que atingirem melhora no padrão de qualidade no atendimento, sendo que as

equipes bem avaliadas poderão receber até R$ 11 mil a mais por mês. A avaliação dos

profissionais de saúde/equipe é composta por três instrumentos. Primeiro, o uso de um

instrumento denominado de Autoavaliação para Melhoria do Acesso e da Qualidade da

Atenção Básica (AMAQ), que serve para que a própria equipe avalie o trabalho que

desenvolve nas unidades de saúde, correspondendo a 10% da nota de avaliação. O segundo

instrumento refere ao desempenho e aos resultados dos 24 indicadores de saúde firmados no

momento em que a equipe entrou no Programa, sendo responsável por 20% da nota de

avaliação. Por fim, o instrumento chamado avaliação externa, que engloba a gestão, a

infraestrutura e as ofertas de serviços prestados pelos profissionais de saúde, correspondendo

a 70% da nota de avaliação (BRASIL, 2011).

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 TIPO DE ESTUDO

Este estudo foi do tipo quantitativo-observacional com recorte retrospectivo

transversal.

3.2 LOCAL DO ESTUDO

O local da pesquisa foi a cidade catarinense de Camboriú, com uma população

estimada em 62.361 habitantes (IBGE, 2012).

O município, antes do PMMB, contava com doze ESF e doze profissionais médicos. A

primeira adesão ao PMMB foi em 2013, com dois profissionais médicos, sendo um cubano,

do PCMM, e um brasileiro, do PMMB. No período de 2013 a 2015, houve um aumento dos

profissionais do PMMB e PCMM no município, que passou a possuir 10 unidades de saúde

da família (UBS) e dezessete equipes de ESF implantadas, com 6 médicos do PMMB e 2 do

PCMM e 9 médicos com formação no Brasil e que não fazem parte do PMMB e PCMM.

Os profissionais médicos foram distribuídos nas UBS como demostrado no Quadro 1.

Quadro 1 - PMMB: Projeto Mais Médicos para o Brasil; PCMM: Programa de Cooperação

Mais Médicos Unidade Básica de

Saúde

Estratégia Saúde da

Família PMMB PCMM

Médicos fora dos

Projetos

Areias Areias I e II Areias I e II (2)

Cedro Cedro I e II Cedro I e II (2)

Central Central I e II Central I e II

Conde Vila Verde Conde I e II Conde I (1) Conde I

Macacos Macacos I Macacos I

Monte alegre Monte Alegre I, II e III Monte alegre III (1) Monte alegre I, II

Santa Regina Santa Regina I Santa Regina I

São Francisco São Francisco I São Francisco I (1)

Taboleiro Taboleiro I e II Taboleiro II (1) Taboleiro I

Rio Pequeno Rio Pequeno I Rio Pequeno I

TOTAL 17 6 2 9

Fonte: Ministério da Saúde, DATASUS - Cnes (2016).

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3.3 PROGRAMAS E INDICADORES UTILIZADOS

As variáveis e os respectivos sistemas de informações avaliados foram selecionados

por estarem diretamente ligados às atividades do profissional médico e contemplaram os anos

de 2012 e 2015, antes e após o PMM, conforme segue:

Consultas (agendadas, de cuidado continuado, de urgência e espontâneas)- e-SUS

Atenção Básica;

Consultas médicas em Atenção Básica e de pré-natal-Sistema de Informação

Ambulatorial do Sistema Único de Saúde - SIA;

Cobertura populacional estimada pelas equipes de Atenção Básica-Contrato

Organizativo de Ação Pública da Saúde - COAP;

Proporção de internações por condições sensíveis à Atenção Básica - COAP;

Razão de internações clínico-cirúrgicas de média complexidade e população

residente - COAP;

Razão de exames citopatológicos do colo do útero em mulheres de 25 a 64 anos e a

população da mesma faixa etária - COAP;

Proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais consultas de pré-natal-

Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ)

(dados somente dos municípios de Camboriú e Florianópolis);

Proporção de parto normal - PMAQ (dados somente dos municípios de Camboriú

e Florianópolis).

3.4 ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do

Vale do Itajaí (UNIVALI), pois contemplava a análise de informações que não são de acesso

livre (proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais consultas de pré-natal e

proporção de parto normal) e aprovado com protocolo de número 1.645.330.

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3.5 ANÁLISE DE DADOS

Os dados coletados foram comparados entre os diferentes estratos: nacional (Brasil),

estadual (Santa Catarina), municipal (Camboriú) e da capital Florianópolis e verificadas as

diferenças por meio de testes de proporção. A análise foi realizada pelo Programa Stata,

versão 13, por meio de análise de covariância ao nível de 5%.

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4 RESULTADOS

A Tabela 1 mostra as variáveis relacionadas aos tipos de consultas entre as equipes de

Estratégia Saúde da Família (ESF) que receberam e as que não receberam o Projeto Mais

Médicos (PMM) e o Projeto de Cooperação Mais Médicos (PCMM) no ano de 2015 em

Camboriú. Observa-se que, com relação às consultas de cuidado continuado, as equipes que

receberam médicos dos projetos apresentaram média significativamente mais elevada e nas

consultas espontâneas houve uma queda quando comparada com as que não foram

contempladas.

Tabela 1 - Médias (intervalos de confiança) do número de consultas médicas entre as

Estratégias Saúde da Família que receberam e as que não receberam médicos do

Projeto Mais Médicos e do Projeto de Cooperação Mais Médicos de acordo com o

tipo de consulta, Camboriú, 2016.

Tipo de Consulta Projetos Mais Médicos e Cooperação Mais Médicos

P Sim (n=8) Não (n=9)

Agendada 104,4 (89,2-119,6) 104,0 (89,7-118,4) 0,1092

Cuidado continuado 42,9(34,9-50,8) 20,6 (13,1-28,1) <0,0001

Urgência 13,3 (8,9-17,7) 9,4 (5,3-13,6) 0,1794

Espontânea 167,4(148,0-186,7) 288,2 (270,0-306,4) 0,0003

Nota: teste t de Student ao nível de 5%.

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde, e-SUS (2016).

A proporção de consultas médicas e de pré-natal na Atenção Básica realizada no

município estudado, na capital Florianópolis, no Estado de Santa Catarina e no Brasil nos

anos de 2012 e 2015 encontra-se na Tabela 2. Todas as proporções das consultas médicas em

2015, quando comparadas a 2012, decresceram significativamente entre os estratos, exceto

Florianópolis, que aumentou significativamente. Com relação às consultas de pré-natal, os

estratos Camboriú, Florianópolis e Santa Catarina mantiveram as proporções de consultas,

porém em 2015 o estrato nacional (Brasil) aumentou significativamente.

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Tabela 2 - Número de consultas médicas e consultas de pré-natal na Atenção Básica

realizadas e proporção em relação à população entre os anos de 2012 e 2015,

Camboriú, Florianópolis, Santa Catarina e Brasil.

Estratos 2012 2015

População Número Proporção População Número Proporção

Consultas médicas

Camboriú 62.361 88.789 1,36 74.434 82.034 1,10*

Florianópolis 433.158 265.496 0,61 469.690 380.869 0,81*

Santa Catarina 6.383.286 10.863.473 1,70 6.819.190 10.702.442 1,57*

Brasil 193.976.530 203.163.201 1,05 204.482.459 197.145.306 0,96*

Consultas pré-natal

Camboriú 65.520 7.156 0,11 74.434 7.865 0,11

Florianópolis 433.158 33.291 0,08 469.690 39.417 0,08

Santa Catarina 6.383.286 593.465 0,09 6.819.190 608.792 0,09

Brasil 193.976.530 20.966.261 0,11 204.482.459 26.499.477 0,13*

Nota: teste de comparação entre proporções ao nível de 5%.*p<0,0001.

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde, SIA (2016).

A Figura 1 mostra a variação nos indicadores de saúde entre 2012 e 2015. Observa-se

que no município de Camboriú houve uma queda na proporção de internações por condições

sensíveis à Atenção Básica e da razão de internações clínico-cirúrgicas de média

complexidade. Por outro lado, aumentaram: a razão de exames citopatológicos do colo do

útero em mulheres de 25 a 64 anos, a proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais

consultas de pré-natal e a proporção de parto normal quando comparados aos outros estratos

analisados.

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-60,0% -40,0% -20,0% 0,0% 20,0% 40,0% 60,0%

PartoN

Nvivos

ExCito

IMedC

ICSAB

Cobertura

Camboriú Florianopolis SC Brasil

Figura 1 - Variação nos indicadores de saúde entre 2012 e 2015, Camboriú, Florianópolis,

Santa Catarina e Brasil. Nota: Cobertura: Cobertura populacional estimada pelas equipes de Atenção Básica; ICSAB: Proporção de

internações por condições sensíveis à Atenção Básica; IMedC: Razão de internações clínico-cirúrgicas de média

complexidade e população residente; ExCito: Razão de exames citopatológicos do colo do útero em mulheres de

25 a 64 anos e a população da mesma faixa etária; NVivos: proporção de nascidos vivos de mães com sete ou

mais consultas de pré-natal; PartoN: proporção de parto normal.

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde, DATASUS (2016).

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5 DISCUSSÃO

Os resultados do presente estudo mostraram que as equipes de ESF que receberam o

Projeto Mais Médicos para o Brasil (PMMB) e o Projeto de Cooperação Mais Médicos

(PCMM) apresentaram uma média menor nas consultas espontâneas e uma média

significamente mais elevadas nas consultas de cuidado continuado, quando comparadas com

as equipes de ESF que não foram contempladas com o Projeto Mais Médicos e o Projeto de

Cooperação Mais Médicos. Esta diminuição nas consultas espontâneas e aumento nas

consultas de cuidado continuado podem ser atribuídos à fixação do profissional médico nas

unidades básicas de saúde da comunidade e, consequentemente, à diminuição da rotatividade

destes profissionais, contemplando um dos objetivos deste Programa

(BRASIL, 2013).

Resultados semelhantes foram encontrados por Lima et al. (2016), avaliando a produção de

consultas e encaminhamentos médicos e das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF)

realizada na Atenção Básica no Brasil com o enfoque no Programa Mais Médicos e por

Alencar et al. (2016), que evidenciaram que, após a inserção deste Programa, aumentou o

número de consultas, de visitas domiciliares e de atendimentos prestados a pacientes

portadores de Tuberculose e Hanseníase, além de melhorar outros indicadores da Atenção

Básica avaliados, contribuindo para identificar o impacto deste Programa em um município

do sertão central nordestino. No caso do município de Camboriú, com a chegada de oito

profissionais médicos pelo PMMB e do PCMM, ocupou-se praticamente a metade das vagas

de médicos nas dezessete equipes de ESF no município, contribuindo para diminuição dessa

rotatividade.

Com o aumento do tempo desse profissional trabalhando em uma comunidade, espera-

se melhorar o vínculo entre o médico, a equipe de saúde e a comunidade, resultando em um

aumento da resolutividade dos tratamentos realizados e, por consequência, uma melhora na

saúde das pessoas. O vínculo longitudinal pode ser definido como a relação terapêutica entre

usuário e profissionais da equipe de Atenção Básica em saúde ao longo do tempo, que se

traduz na utilização da unidade de saúde como fonte regular de cuidado para os vários

episódios de doença, cuidados preventivos e reabilitação. Desta maneira, a longitudinalidade

contribui para diagnósticos e tratamentos mais precisos, diminuição dos custos da atenção e

maior satisfação do usuário (CUNHA; GIOVANELLA, 2011).

As proporções das consultas médicas na Atenção Básica no município de Camboriú

apresentaram um decréscimo no período estudado, mesmo com o aumento da população de

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62.361 em 2012 para 74.434 em 2015 e por conta das equipes de Estratégia Saúde da Família,

passando de 12 equipes em 2012 para 17 equipes em 2015. Esta queda provavelmente se deve

ao aumento da resolutividade na assistência e nos tratamentos ofertados para a população e na

melhora da estrutura da Atenção Básica.

Com relação à proporção de consultas de pré-natal na Atenção Básica, manteve-se

estável em Camboriú, no Estado de Santa Catarina e no Município de Florianópolis, com um

aumento apenas na proporção referente ao Brasil. Mesmo com esta estabilidade na proporção,

no município de Camboriú se observou um aumento no número de consultas de pré-natal, de

7.156 em 2012 para 7.865 em 2015. Esse aumento pode ser atribuído à ampliação da cobertura

das equipes de ESF no município, pela queda da rotatividade e pela fixação do profissional

médico do PMMB nas equipes de ESF, mesmo com estes trabalhando oito horas semanais a

menos que os médicos que não fazem parte dos projetos.

O indicador de proporção de internações por condições sensíveis à Atenção Básica é

um importante indicador que avalia a proporção das internações mais sensíveis à Atenção

Básica em relação ao total das internações clínicas realizadas para os residentes de um

município. Seu uso serve para analisar a efetividade do cuidado e a resolutividade na Atenção

Básica, assim como o desenvolvimento de ações de regulação do acesso às internações

hospitalares. Taxas de internações elevadas por condições sensíveis à Atenção Básica e o

excesso de hospitalização em uma população podem indicar importantes problemas de acesso

ao sistema de saúde ou de sua efetividade, deficiência na cobertura dos serviços e baixa

resolutividade da Atenção Básica (ALFRADIQUE et al., 2009).

Resultados encontrados por Lima et al. (2016) dizem que um estudo realizado em

Florianópolis no período de 2002 a 2007 apontou que houve uma melhora significativa nos

resultados após a qualificação e a melhora na estrutura da Atenção Básica e incentivo da

mesma como porta de entrada para o sistema de saúde, com o qual é evidenciada

resolutividade de mais de 80% dos problemas que chegam à unidade primária e,

consequentemente, a redução de internações por causas sensíveis é significativa, chegando a

24,65% a menos. Outro ponto avaliado no estudo foram as internações por doenças

cardiovasculares, que reduziram em um percentual de 6,7% 2002 a 2007. O município de

Camboriú apresentou resultado positivo relevante nesse indicador, com uma queda

significativa na proporção de internações por condições sensíveis à Atenção Básica de

aproximadamente 30%.

O indicador de internações clínico-cirúrgicas tem como diretriz garantir, por meio do

atendimento na média complexidade, o acesso da população a serviços de qualidade, com

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equidade e em tempo adequado ao atendimento das necessidades de saúde, mediante

aprimoramento da política de Atenção Básica e da atenção especializada. Este indicador

identifica situações de desigualdade e tendências que demandem ações e estudos específicos,

contribui na avaliação da adequação do acesso à atenção hospitalar clínico- cirúrgica de média

complexidade, segundo as necessidades da população atendida (BRASIL, 2013).

O município de Camboriú apresentou resultado positivo relevante no indicador de

razão de internações clínico-cirúrgicas de média complexidade e população residente, com

uma queda significativa na proporção de aproximadamente 42%.

O encaminhamento da Atenção Básica para os serviços especializados representa um

desafio nos municípios que apresentam menor tecnologia. Esta queda sugere uma melhor

resolutividade da Atenção Básica, evidenciando, provavelmente, a incorporação de

procedimentos de pronto atendimento e ampliação de práticas regularmente realizadas.

Resultados semelhantes foram encontrados por Lima et al. (2016). Especificamente no

município de Camboriú, ações priorizando a ampliação e o fortalecimento da Atenção Básica

foram realizados entre 2012 e 2015, como: 1) aumento de 12 para 17 equipes de ESF em três

anos; 2) construção de cinco novas UBS, sendo quatro delas com o porte quatro, referente à

maior estrutura de UBS do SUS, e uma de porte três; 3) implantação do Programa Mais

Médicos e da residência médica em saúde coletiva e saúde da família (aquisição de mais dois

médicos residentes); 4) dois Núcleos de Apoio ao Saúde da Família (NASF) e de uma

academia de saúde (modalidade ampliada que desenvolve atividade física e ações voltadas à

promoção e à prevenção); e 5) ampliação da assistência com mais duas equipes de saúde para

atender à saúde do trabalhador, em horário estendido para o período noturno.

Cunha e Giovanella (2011) relataram que, apesar da dificuldade em mensurar a

eficácia do vínculo longitudinal nas ações em saúde, considera-se que esta pode ser observada

nos estudos que mostram uma forte associação entre continuidade do cuidado e resultados

positivos, como: na taxa de internações e maior satisfação do usuário.

O presente estudo também mostra que aumentou a razão de exames citopatológicos do

colo do útero em mulheres de 25 a 64 anos no município de Camboriú, enquanto em todos os

outros extratos, Florianópolis, Santa Catarina e Brasil houve uma queda. Este indicador

contribui na avaliação do alcance da população-alvo às ações de prevenção do câncer do colo

do útero por meio de seu rastreamento. No processo de trabalho da Atenção Básica são

desenvolvidas ações de promoção de saúde voltadas às mulheres, acompanhadas pela equipe

de saúde ao longo da sua vida. Esses momentos podem ser utilizados para a disseminação da

necessidade e da importância da realização dos exames e da sua periodicidade e ainda para a

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identificação dos sinais de alerta que podem levar ou significar câncer. Nesse processo, é

fundamental que a equipe conheça a sua população, por meio do cadastro sistemático de todos

os usuários da sua área de abrangência e da sua população adscrita. O controle do câncer de

colo de útero depende de uma Atenção Básica qualificada, organizada e resolutiva, integrada

com os demais níveis de atenção e complexidade, sendo com isso a forma mais eficaz de

combater a doença e diminuir a sua incidência e mortalidade (BRASIL, 2013); (MS, 2012).

A proporção de nascidos vivos, um dos indicadores analisados que apresentou melhor

resultado para Camboriú quando comparado com a capital Florianópolis, representa o

percentual de nascidos vivos de mães residentes que fizeram sete ou mais consultas de pré-

natal, em determinado município e período, com relação ao total de nascidos vivos de mães

residentes no mesmo município e período. Esse indicador está implantado na Atenção Básica

e mede a cobertura do atendimento pré-natal de gestantes, identificando situações de

desigualdades e tendências que demandam ações e estudos específicos e contribui para a

análise das condições de acesso da assistência pré-natal e qualidade em associação com outros

indicadores, tais como taxa de mortalidade materna e infantil, incidência de sífilis congênita,

entre outros (BRASIL, 2013).

Neste trabalho, o município de Camboriú demonstrou também melhor desempenho do

que Florianópolis para o indicador proporção de parto normal, o qual está relacionado a

menores taxas de complicações do parto tanto para a mãe quanto para o recém-nascido, além

de proporcionar para mãe uma recuperação pós-parto mais eficaz e rápida e ainda permitir a

avaliação da qualidade da assistência prestada, uma vez que o aumento excessivo de partos

cesáreos acima do padrão de 15% definido pela Organização Mundial de Saúde - OMS

(MINISTÉRIO DA SAÚDE\IDSUS) pode refletir um acompanhamento inadequado ou em

uma deficiência na assistência prestada às gestantes no pré-natal e também indicações

equivocadas do parto cirúrgico em detrimento do parto normal.

O presente estudo mostra, portanto, que aumentou a razão de exames citopatológicos

do colo do útero, a proporção de nascidos vivos e de parto normal. Estes resultados positivos

refletem as ações desenvolvidas pelo município neste período, acrescentando as relacionadas

à promoção da saúde e qualificação/aumento da oferta das consultas de pré-natal nas UBS. É

imprescindível o constante aprimoramento do conhecimento e da prática dos profissionais

para desenvolver as ações de educação em saúde. Esse trabalho compete à equipe

multiprofissional e aos gestores, que, em conjunto com a participação popular, devem buscar

a transformação e melhores condições de vida da comunidade assistida na ESF. Compreende-

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se que o processo de planejamento de educação em saúde não deve ser individualizado e

envolve estratégias, recursos e gestão (ANDRADE et al., 2013).

Dentre os limites do estudo, destaca-se a inconsistência do banco de dados

disponibilizado pelo Ministério da Saúde, devido à dificuldade de processamento das

informações e à dificuldade na digitação e na tabulação dos dados do Programa e-SUS, tanto

pelos municípios como pelo Ministério da Saúde, provavelmente por ser um programa

recente, disponibilizado aos municípios, pelo Ministério da Saúde. O município de Camboriú

implantou o e-SUS no final do ano de 2013, sendo que após a implantação o Programa passou

por várias atualizações, aperfeiçoamentos e novas versões. Muitos municípios catarinenses

ainda se encontram em fase de implantação e outros ainda não aderiram.

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6 CONCLUSÕES

O presente estudo identificou que, a partir da implementação do PMMB e do PCMM,

o município de Camboriú melhorou a sua estrutura e aumentou a oferta de serviços na

Atenção Básica, resultando no aumento significativo das consultas de cuidado continuado e

em uma queda nas espontâneas, uma diminuição na proporção de consultas médicas em

Atenção Básica e estabilidade nas relacionadas às de pré-natal. Em relação às consultas,

quando comparadas com os estratos Florianópolis, Santa Catarina e Brasil, o município de

Camboriú apresentou situação intermediária, porém, em relação aos outros indicadores

avaliados, apresentou resultados positivos relevantes, como a queda na proporção de

internações por condições sensíveis à Atenção Básica, de internações clínico-cirúrgicas de

média complexidade e aumento na razão de exames citopatológicos do colo do útero, na

proporção de nascidos vivos e de parto normal.

Ainda é cedo para medir com exatidão os impactos trazidos pelo contingente de

médicos alocados neste município pelo Projeto Mais Médicos para o Brasil, mas a melhoria

nos indicadores de saúde já é perceptível. A presença estável do profissional médico na

Atenção Básica, por meio do PMMB, contribuiu para melhoria do acesso aos serviços de

saúde, considerados imprescindíveis para a resolutividade e a integralidade do cuidado em

saúde.

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