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In Gouveia, A.; Souza, A.; Tavares, T. Políticas Educacionais: conceitos e debates. Curitiba: Appris, 2011. Capítulo I: Estado, Política e Sociabilidade Marcos Alexandre Ferraz Quando se procura iniciar um debate sobre o conceito e o papel do Estado Moderno, o senso comum, e, em alguns momentos, o pensamento acadêmico delimitam um campo semântico, e por que não dizer cognitivo, que destaca a reflexão sobre um lócus privilegiado de poder e uma função gerencial, reguladora ou política de fixação dos parâmetros de igualdade, assim como das ações para melhor promovê-la. Não é de se estranhar, portanto, que o Estado seja o objeto por excelência da Ciência Política, do Direito Administrativo e de áreas de conhecimento prático no exercício de políticas públicas, como a Educação, a Saúde, a Economia, o Serviço Social, entre outras. Entretanto, é sempre de maneira, um tanto quanto tangencial, que o Estado se apresenta no interior do debate sociológico. Ou seja, raramente o Estado é central para o pensamento do sociólogo. Talvez, porque a Sociologia se ocupe de objetos aparentemente mais nobres como as relações sociais, a ação social, as estruturas sociais, a revolução social, a divisão do trabalho, a identidade coletiva, a estratificação social, entre tantos outros. Como uma produção fundamentalmente sociológica, este texto não tem a pretensão de romper com esta tradição disciplinar. Mas, ao tentar reunir, em uma mesma reflexão, Estado, sociabilidade e política, se esforçará por buscar um sentido sociológico de interconexão entre estes três fenômenos na experiência cultural e mesmo de classe dos indivíduos. Estado, neste contexto, de alguma forma ainda será um lócus privilegiado de poder. Também será uma instituição capaz de agir organizadamente – seja de forma administrativa ou política – sobre as desigualdades que cortam determinada sociedade. Mas fundamentalmente, será uma instituição capaz de intervir 1 sobre a sociabilidade, ou porque não dizer, sobre a construção dos parâmetros de solidariedade entre os indivíduos. 1 O verbo intervir não tem aqui um significado moral de ação autoritária, no sentido de contrapor Estado e indivíduo como tanto gosta o pensamento liberal. Com este verbo busca-se apenas a neutralidade de

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In Gouveia, A.; Souza, A.; Tavares, T. Políticas Educacionais: conceitos e debates.

Curitiba: Appris, 2011.

Capítulo I: Estado, Política e Sociabilidade

Marcos Alexandre Ferraz

Quando se procura iniciar um debate sobre o conceito e o papel do Estado

Moderno, o senso comum, e, em alguns momentos, o pensamento acadêmico

delimitam um campo semântico, e por que não dizer cognitivo, que destaca a reflexão

sobre um lócus privilegiado de poder e uma função gerencial, reguladora ou política de

fixação dos parâmetros de igualdade, assim como das ações para melhor promovê-la.

Não é de se estranhar, portanto, que o Estado seja o objeto por excelência da Ciência

Política, do Direito Administrativo e de áreas de conhecimento prático no exercício de

políticas públicas, como a Educação, a Saúde, a Economia, o Serviço Social, entre

outras. Entretanto, é sempre de maneira, um tanto quanto tangencial, que o Estado se

apresenta no interior do debate sociológico. Ou seja, raramente o Estado é central

para o pensamento do sociólogo. Talvez, porque a Sociologia se ocupe de objetos

aparentemente mais nobres como as relações sociais, a ação social, as estruturas

sociais, a revolução social, a divisão do trabalho, a identidade coletiva, a estratificação

social, entre tantos outros.

Como uma produção fundamentalmente sociológica, este texto não tem a

pretensão de romper com esta tradição disciplinar. Mas, ao tentar reunir, em uma

mesma reflexão, Estado, sociabilidade e política, se esforçará por buscar um sentido

sociológico de interconexão entre estes três fenômenos na experiência cultural e

mesmo de classe dos indivíduos. Estado, neste contexto, de alguma forma ainda será

um lócus privilegiado de poder. Também será uma instituição capaz de agir

organizadamente – seja de forma administrativa ou política – sobre as desigualdades

que cortam determinada sociedade. Mas fundamentalmente, será uma instituição

capaz de intervir1 sobre a sociabilidade, ou porque não dizer, sobre a construção dos

parâmetros de solidariedade entre os indivíduos.

1 O verbo intervir não tem aqui um significado moral de ação autoritária, no sentido de contrapor Estado

e indivíduo como tanto gosta o pensamento liberal. Com este verbo busca-se apenas a neutralidade de

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O debate que se propõe não se iniciará pelo Estado, mas pela sociabilidade e

pela solidariedade que unem diferentes indivíduos em sociedade. Entende-se

sociabilidade, no rastro dos escritos de Simmel2. Não há sociedade sem interações

entre indivíduos. No entanto, os padrões destas interações, em outras palavras, sua

forma, podem se desprender dos conteúdos e interesses individuais que as motivaram.

É a valorização, até mesmo lúdica, da forma das interações sociais, independente do

seu conteúdo, que o autor denomina sociabilidade. Ou seja, a sociabilidade é a

cristalização e a valorização de padrões de interação independente do sucesso que os

mesmos possam proporcionar para a conquista de interesses individuais.

Por outro lado, quando se fala sobre solidariedade3, não está em jogo nenhum

sentimento ou característica inata do ser humano. O conceito sociológico de

solidariedade distancia-se de qualquer conceito religioso ou cristão que a associa a

bondade humana, como características inerentes ao indivíduo. Não se trata de um

atributo moral ou uma virtude dos seres humanos. Solidariedade tem o sentido de um

complexo sistema de direitos e deveres que unem homens e mulheres de modo

durável, independente de suas diferenças e individualidades específicas. Assim, se o

conceito de sociabilidade remete a Simmel e a forma das interações sociais;

solidariedade remete a Durkheim e a coesão de uma sociedade.

Nestes termos, tanto a sociabilidade como a solidariedade são resultantes de

processos sociais e históricos concretos, incorporando os conflitos, as contradições, as

disputas e os consensos entre os sujeitos, sejam individuais ou coletivos. Quase

desnecessário dizer que não há uma sociabilidade a-histórica que perpasse toda a

humanidade. Da mesma maneira, os laços que mantém a solidariedade de um grupo

social podem variar infinitamente, na dependência de estruturas sociais precisas. Em

conformidade com os objetivos que esse texto se propõe, há que se perguntar,

logicamente, em que termos se apresentam a sociabilidade e a solidariedade em um

mundo moderno.

caracterizar um processo em que Estado e indivíduo não se opõem como pólos, mas constituem partes de um todo e se relacionam sob influências recíprocas. 2 Para um debate sobre o conceito de sociabilidade ver SIMMEL, 2006. Em especial o capítulo 3, em que

o autor apresenta a coqueteria e o jogo erótico como exemplos de sociabilidade. 3 Para o conceito de solidariedade ver Durkheim, 1999.

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Entre as diversas formas de se caracterizar a modernidade, Giddens (1991)

remete a uma questão de desencaixe das relações sociais. Em sociedades modernas,

as relações sociais se libertam dos contextos face to face; do aqui e do agora. Este

desencaixe possibilita uma sociabilidade em termos abstratos, posto que o conteúdo

das interações não necessita remeter a nenhuma experiência prévia, compartilhada

entre os atores. A forma, muitas vezes quase vazia de conteúdo, garante a viabilidade

das relações. Concomitantemente, a solidariedade se liberta dos seus aspectos

puramente locais e comunais, possibilitando uma solidariedade mais ampla, seja

nacional, de classe ou universal.

O desencaixe das relações sociais, de Giddens, contempla tanto a passagem da

solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica durkheimiana, fruto da intensa

divisão do trabalho social; como a substituição do valor de uso pelo valor de troca e a

transformação das relações sociais em mercadoria da tradição marxista, resultado da

concretização do modo de produção capitalista4. O que está em jogo é a substituição

de uma sociabilidade e uma solidariedade de base comunal, em que os indivíduos

dividem uma história e uma experiência compartilhada, por sociabilidades e

solidariedades que se constituem sobre sistemas abstratos e, muitas vezes, mediados

por estruturas altamente institucionalizadas, que possibilitam a convivência e a

colaboração entre indivíduos estranhos entre si. Estas relações sociais desencaixadas –

prossegue o autor britânico – precisam se reencaixar5, através de sistemas

institucionais, que dê estabilidade para a ausência de conteúdo comum. É neste

contexto, que se faz necessário compreender duas instituições fundamentais da

sociabilidade e da solidariedade moderna: o Mercado e o Estado.

Para inverter título e subtítulo, pode-se dizer que, ao discutir as origens de

nossa época, Polanyi (2000) não teve dúvidas em classificar o advento da economia de

mercado como a Grande Transformação. E economia de mercado, para o autor, é um

sistema auto-regulável de mercados, em termos ligeiramente mais técnicos, é uma

economia dirigida pelos preços do mercado e nada além dos preços do mercado

4 Ver Marx, 1998.

5 Para Giddens são dois os sistemas capazes de reencaixar as relações sociais modernas: As Fichas

Simbólicas e os Sistemas Peritos. Ver GIDDENS, 1991. Em trabalho anterior procurei explorar os meios de comunicação de massa como sistemas de desencaixe e reencaixe de relações sociais, em um contexto de disputas políticas na esfera pública. Ver FERRAZ, 2000.

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(POLANYI, 2000, p. 62). O que ocorre no século XIX, para o autor, é que, com a

hegemonia do mercado, pela primeira vez, na história da humanidade, a economia se

torna auto-suficiente. Livre, portanto, de outras amarras sociais. É evidente que

qualquer sociedade, em qualquer período histórico, só conseguiu sobreviver tendo um

amplo sistema econômico. No entanto, antes do liberalismo do século XIX, todos os

sistemas econômicos6 estavam submetidos a um conjunto de obrigações sociais que

ligavam os indivíduos em comunidades.

Neste sentido, a economia de mercado tornou-se uma força avassaladora que

desmontou, significativamente, as relações sociais herdadas tanto do feudalismo,

como das sociedades de corte. É este aspecto destrutivo do mercado que a obra de

Marx tão bem desvenda do ponto de vista da economia política. E que Polanyi coloca

acentos sociais singulares. Entretanto, o aspecto destrutivo se fez acompanhar por um

processo de reordenação tanto da sociabilidade, como da solidariedade. Para

Durkheim, por exemplo, o mesmo mecanismo social que impulsiona um individualismo

exacerbado e egoísta, também ativa a valorização do indivíduo sobre o coletivo,

possibilitando o aparecimento dos direitos humanos. Em resumo, podem-se apontar,

ao menos, duas características revolucionárias ligadas ao mercado: o rompimento com

a sociabilidade tradicional e a circulação pública das identidades.

Ao debater o assalariamento, ou seja, nos termos deste texto, o mercado de

trabalho livre, Gorz registra o núcleo da questão que aqui se tenta salientar:

Se os filhos de agricultores abandonaram os campos e se as mulheres reivindicam o direito de trabalhar, é porque o trabalho assalariado, por restritivo e desagradável que possa ser sob outros aspectos, liberta do encerramento numa comunidade restrita onde as relações interindividuais são relações privadas, fortemente personalizadas, regidas por uma relação de forças móvel, chantagens afetivas, obrigações impossíveis de formalizar (GORZ, apud. FITOUSSI & ROSANVALLON, 1999, p. 117).

Gorz consegue, em um mesmo movimento, perceber o rompimento com a

sociabilidade tradicional e a circulação pública das identidades. O primeiro fica

evidente na fala do autor francês, pois o trabalho assalariado significa a possibilidade

6 Polanyi descreve quatro princípios básicos a ancorar diferentes sistemas econômicos: Princípio de

Domesticidade, Princípio de Reciprocidade, Princípio Redistributivo e Princípio de Mercado. Dentre estes, os três primeiros são fundamentalmente princípios não econômicos, visto que se sustentam sobre compromissos sociais entre os indivíduos e a sociedade. Por outro lado, o Princípio de Mercado é puramente econômico, visto que regulado apenas pela oferta e procura.

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de liberdade frente a todos os aspectos autoritários e limitadores da sociabilidade

familiar. Enquanto a sociabilidade tradicional se caracteriza pela impossibilidade de

formalização e se abre para as diversas formas de chantagens afetivas – visto que

regulada fortemente pelas vontades –, o assalariamento pressupõe uma formalização

que define deveres e direitos, diminuindo o conteúdo casuístico ou oportunista nas

interações sociais. Mas este é o sentido mais evidente e explícito da fala de Gorz.

Igualmente, ela contém um significado que não se mostra tão abertamente. A

liberdade, frente ao que Gorz chamou de comunidade restrita, significa a circulação

em um mundo amplo e público em que as diferenças se explicitam, causando tanto o

conflito como o diálogo. As múltiplas identidades, sejam individuais ou coletivas, se

tornam públicas e a construção de qualquer parâmetro de solidariedade se transforma

qualitativamente. Entre indivíduos culturalmente diferentes, a solidariedade se torna

um desafio abstrato de construção de objetivos e interesses comuns, apesar das

assimetrias culturais prévias. Da proximidade, simplesmente afetiva, se passa a

construção social de projetos políticos que consolidem uma identidade que mantenha

uma coletividade coesa sem, necessariamente, um passado comum entre seus

membros.

Mas o limite destas sociabilidade e solidariedade, forjadas pelo mercado, se

apresenta em seu processo de mercantilização das relações sociais. A sociabilidade e a

solidariedade familiar ou comunal são capazes de construir uma rede social de apoio

que previne cada um de seus indivíduos contra os azares da vida cotidiana. Assim,

acidentes de trabalho, invalidez, orfandade, velhice, falta de acesso à educação são

questões que o auxílio mútuo consegue, em pequenas comunidades, remediar sem

colocar em colapso a reprodução social. A reciprocidade entre os indivíduos de um

mesmo grupo familiar ou vicinal é suficiente para prover todos os vitimados pelos

acidentes da vida social.

A sociabilidade e a solidariedade geradas no interior do mercado, contudo,

ainda que mais amplas e abstratas, não constituem o mesmo grau de reciprocidade

entre os indivíduos. Assim, é incapaz de gerar uma rede de socorro mútuo suficiente

para enfrentar os vários percalços das trajetórias individuais. É neste preciso sentido,

que a questão da pobreza, ou a questão social, como diz Castel (1998), é um fenômeno

eminentemente moderno. O enfrentamento destas questões, no contexto de uma

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sociedade moderna, só se tornou possível, portanto, em um nível ainda mais abstrato

de construção da solidariedade. É neste ponto que o Estado Moderno se consolida

como instituição capaz de regular novos direitos e deveres. Direitos e deveres que vão

além do simples contrato mercantil, transformando o Estado em mediador de

solidariedades nacionais.

Consequentemente, ainda que se possa tentar sustentar que, em sua origem, o

Estado, tanto absolutista como burguês, tenha se comportado como instituição

exclusivamente opressora, logo, portadora dos interesses de uma única classe social. A

partir dos diversos conflitos sociais e da representação política que as classes

subalternas, pouco a pouco, conquistaram, ao longo dos últimos três séculos, o Estado

se transformou em elemento fundamental para desmercantilizar as relações sociais.

Nestes termos, ainda que não se possa falar em um Estado anti-burguês, pode-se

compreendê-lo como uma instituição não essencialmente burguesa7, e sim clivada de

interesses. Interesses que se organizaram ao redor das diversas possibilidades de

constituir e distribuir um fundo público.

Nas palavras de Oliveira (1998), a constituição de um fundo público no interior

do Estado, não apenas auxilia na desmercantilização das relações sociais, mas também

produz um processo de reconhecimento da alteridade dos interesses em sociedade. É

nestes termos que, o autor, posteriormente, falará na dialética entre a privatização do

público e da publicização do privado (OLIVEIRA, 1999). Mas, neste momento, basta

compreender o caráter plural do Estado e o reconhecimento dos diferentes interesses

de classe que o institui, assim como este impacto sobre a sociabilidade que unem os

indivíduos.

[...] as condições da regulação contemporânea, fundamentalmente perpassada e estruturada pelo fundo público, diluem uma única razão de Estado, substituindo-a pelas razões particulares que ligam o fundo público a cada movimento ou a cada capital, ou a cada condição específica da reprodução social, incluindo-se aí a reprodução da força de trabalho e a sociabilidade geral (OLIVEIRA, 1998, p. 43).

Isto faz do Estado não apenas um lócus de poder, mas um espaço de disputa

pela hegemonia política e pelos parâmetros da sociabilidade de uma sociedade.

7 Para este debate entre Estado burguês e um Estado que não é mais essencialmente burguês seria

necessário acompanhar as discussões habermasianas sobre esfera pública burguesa e esfera pública não-burguesa, o que fugiria dos objetivos deste texto. Ver HABERMAS, 1984.

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Entretanto, esta disputa não se trava como um simples embate de forças sociais que

se enfrentam em um vazio institucional, mas de forças sociais que se enfrentam em

um espaço institucional altamente organizado e racionalmente estruturado. Como

ensinou Weber (1994), enquanto instituição, o Estado se consolida como detentor do

monopólio legítimo da violência e como portador de um corpo burocrático de

servidores especializados. Estas características não se limitam a descrever

fotograficamente a estrutura do Estado, mas revelam a dimensão da sua legitimidade,

enquanto poder social.

Esta legitimidade de poder burocrático, racional-legal, garante seu caráter

universal e público. Logo, ainda que perpassadas por diversas disputas e interesses

privados, suas decisões atingem indistintamente as diferentes classes ou grupos

sociais. É somente, através do Estado, que ações ou decisões políticas são

universalizáveis. E, nesta exata medida, suas decisões universalizáveis requerem um

jogo político estável e que projete confiança futura entre atores sociais tão diferentes.

O processo político, no Estado moderno, adquire, assim, características bastante

precisas. Segundo Poggi (1981), cinco características são fundamentais para o

funcionamento do Estado moderno: civilidade, pluralidade de focos, metas irrestritas,

controvérsia e centralidade das instituições representativas8.

Civilidade: O exercício de governo sempre implica em algum controle dos meios

de coerção, e como já registrado acima, no Estado Moderno, é fortalecido o

monopólio legítimo desta coerção. No entanto, a fantástica ampliação do aparelho de

Estado torna a preocupação com os mecanismos de coerção um elemento um tanto

quanto localizado e pontual em meio a todas as suas atividades. Dentre todas as

funções exercidas pelo Estado Moderno, apenas as funções militar e de polícia estão

diretamente vinculadas ao aparato coercitivo. A maior parte das funções do executivo

(administração, saúde, educação, assistência, infra-estrutura), assim como todas as

atividades desempenhadas pelo legislativo, se desprendeu daquele aparato de

coerção. Consequentemente, todas as decisões fundamentais, que dizem respeito à

deliberação sobre as atividades do Estado, assim como ao seu financiamento, estão

conectadas a amplas redes de deliberação não coercitivas.

8 Toda a argumentação que se segue nos próximos parágrafos é devedora explícita da obra de Poggi

(1981).

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Da mesma forma, pouco a pouco, ao longo da história, as diversas oposições, às

lideranças políticas estabelecidas, foram sendo institucionalizadas, diminuindo,

sensivelmente, tanto a repressão violenta às idéias divergentes, quanto as tentativas

de tomada do poder político, à força. Também questões impossíveis de serem

negociadas, por se fundarem sobre idéias absolutas e totalizantes – como os conflitos

religiosos, por exemplo – foram remetidas para a esfera privada, reduzindo a tensão

do espaço público. Todo este processo fez com que o exercício do poder se

desmilitarizasse, tornando-se mais civil. Não é mera coincidência o fato dos

parlamentos democráticos serem maciçamente ocupados por representantes civis, e

não militares. Isto, contudo, não impede que o Estado ainda utilize da força e da

violência, quando a elite política estabelecida se sinta de alguma forma ameaçada

pelas camadas subalternas, principalmente em momentos de intensa mobilização

popular.

Pluralidade de Focos: Como instituição mediadora da sociabilidade moderna, as

atividades de Estado, ainda que organizadas em um aparelho unitário, contemplam

uma infinidade de focos. Do financiamento explícito da reprodução do capital, ao

combate dos impactos de uma catástrofe natural, são inumeráveis as ações

empreendidas através do Estado. Também são incontáveis os seus órgãos, cargos e

níveis hierárquicos. Isto possibilita diferentes pontos de acesso ao processo decisório.

Assim, setores diferentemente especializados da sociedade ocupam-se de decisões e

políticas específicas de cada setor do aparelho estatal. Ainda que pertencentes a uma

mesma classe social ou grupo ideológico, atores de pontos diferentes da estrutura do

Estado tendem a se colocar em constante conflito. Visto que seus objetivos imediatos

não são concordantes.

Por exemplo, as prioridades dos Ministérios do Planejamento ou da Fazenda

raramente são coincidentes com aquelas que mobilizam os Ministérios da Saúde, do

Transporte ou da Educação. Da mesma maneira, os objetivos perseguidos e

contemplados em nível nacional, muitas vezes se chocam com aqueles que se

expressam nos níveis estaduais e municipais. Principalmente, quando se observa o

modelo federativo brasileiro. E por fim, interesses representáveis no Executivo e no

Legislativo podem ser inconciliáveis, mesmo quando se olha para dentro de um único

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partido. Esta pluralidade promove o envolvimento de grupos sociais cada vez mais

vastos no processo político.

Metas Irrestritas: Se hoje o Estado se apresenta como uma instituição plural e

com alto grau de civilidade, o seu nascimento é fundamentalmente marcado pela sua

característica coerciva. Assim, sua primeira forma de mediação da sociabilidade foi a

repressão e a violência contra as camadas populares, em um esforço pela manutenção

dos privilégios tradicionais das categorias dirigentes. A linguagem, portanto, pela qual,

indivíduos e grupos se dirigiam ao Estado Absolutista, e, mesmo antes dele, ao Sistema

Feudal de Governo, era o apelo aos costumes e à tradição. No Estado Moderno, a

linguagem do privilégio é, paulatinamente, substituída pela linguagem do direito

positivo.

A universalidade do poder racional-legal é variável, ao longo do tempo, e capaz

de expansão infinita. Nestes termos, o poder não é mais exercido em nome da

manutenção de privilégios de setores específicos, por mais amplos que estes venham a

ser. Ao contrário, o exercício do poder se orienta para alvos cada vez mais abstratos,

como o bem-estar geral de um povo ou a felicidade do indivíduo. Em nome desses

alvos, metas e objetivos podem ser legitimamente revisados, em função do equilíbrio

político entre as classes sociais e dentro de regras previamente acordadas. Para

traduzir na forma de uma expressão temporal. O poder não se legitima em nome de

um passado, mas em nome do futuro.

Controvérsia: Em um contexto de metas irrestritas, de pluralidade de focos e de

civilidade, uma arena pública de debate se torna incontornável, assim como

mecanismos de controle sobre a ação do Estado. O desdobramento lógico é que,

mesmo dentro de parâmetros institucionalizados, limitados ou regulamentados, a

controvérsia não é simples concessão às vozes opositoras, mas elemento constitutivo,

e não menos importante, para o regular funcionamento do processo político do Estado

Moderno. Sem o confronto de opiniões se tornaria impossível o funcionamento do

aparelho de Estado, em sua complexidade atual.

Centralidade das Instituições Representativas: Em um país como o Brasil, no

qual o papel do Executivo, muitas vezes, parece se sobrepor ao Parlamento, é quase

ingênuo destacar as instituições representativas parlamentares. No entanto, enquanto

a função do Executivo é fundamentalmente prática, no sentido de realização e

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condução de políticas públicas definidas; ao Parlamento cabe o papel de constituir

maiorias, consensos, opiniões. Ainda que se votem os projetos que o Executivo deseja,

somente se vota, após a construção de uma maioria política parlamentar, em relação à

proposta do Executivo. A centralidade do Parlamento é incontornável, quando se olha

sob a perspectiva do desenvolvimento do processo político. A função do Parlamento é

tradicionalmente definida como legisladora e fiscalizadora das ações do Executivo. Não

são menores estas funções, pois não há lei sem um consenso ou maioria parlamentar.

E não há Executivo democraticamente instituído que não se movimente no interior

desta legalidade, fruto do consenso parlamentar.

Mas a função do Parlamento é ainda mais significativa, pois vai além de fixar os

parâmetros legais em que o Executivo pode se movimentar. Ao se constituir como um

espaço institucional da fala, da palavra; o Parlamento não apenas dá voz para a

pluralidade de demandas que ecoa da sociedade, como as processa, construindo

consensos entre demandas díspares. Como membro de um partido, de uma maioria,

de um bloco ou de uma oposição, espera-se de um parlamentar que este não apenas

expresse suas opiniões e princípios – ou mesmo as idéias de sua base política –, mas

que seja capaz de negociá-las no interior das idéias mais amplas e comuns do coletivo

que ele integra. O parlamento é central no sistema porque não transmite

simplesmente impulsos políticos originados alhures; ele produz impulsos políticos na

medida em que processa as orientações do eleitorado que representa (POGGI, 1981, p.

121).

Os resultados desta ação não são simples negociatas ou conchavos, como

adora salientar o jornalismo político brasileiro. Ao contrário, esta ação projeta

consensos que transbordam do Parlamento para bases sociais organizadas ao redor

dos parlamentares, diminuindo a violência dos conflitos sociais e dando estabilidade

para uma sociabilidade ampla, assim como para as atividades propriamente de

governo, alojadas no Executivo. Por fim, o parlamento tanto realimenta a opinião

pública, quando se coloca na posição de crítico do Executivo, como é fonte de

formação de novas lideranças capazes tanto de formular soluções inovadoras para os

problemas sociais, como de assumir responsabilidades públicas.

Diante destas características do processo político, torna-se evidente que o

Estado não apenas representa um lócus de poder ou um agente de governança de

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políticas públicas. Ao contrário, é central para a sociabilidade e a solidariedade

moderna, na exata medida em que é a instituição capaz de mediar o processo, que

Oliveira (1999) chamou, de privatização do público e publicização do privado. Ainda

que toda demanda atendida pelo Estado possa atingir determinados grupos

específicos – e neste preciso sentido é sempre uma privatização do público –, a

formação de um consenso para atendê-la implica em uma publicização do privado.

Esta publicização do privado significa que os interesses privados, em um regime

democrático, não podem e não devem ser atendidos clandestinamente. E deve se

compreender que eles se tornam clandestinos tanto quando não se mostram, como

quando se plasmam em um suposto interesse geral ou nacional, que interdita a

circulação das diferenças.

Talvez, um exemplo possa tornar mais compreensível, o raciocínio de Oliveira.

Um problema, que desafia a sociedade e o Estado brasileiro hoje, é a universalização

da educação infantil. Em princípio, não há brasileiro ou brasileira que se oponha a

resolução do problema. No entanto, quanto do fundo público é necessário para

enfrentar tal questão? Quais são as outras políticas públicas que devem ser

abandonadas ou negligenciadas para que o aporte financeiro necessário esteja

disponível? Quais são os grupos sociais que terão suas demandas adiadas ou não

atendidas?

O caráter universal de tal política, caso fosse plenamente executada, é literal,

visto que todas as crianças abaixo de cinco anos teriam sua vaga em um centro de

educação infantil. Portanto, todo brasileiro ou brasileira menor de cinco anos seria

diretamente beneficiado por tal política, assim como todo brasileiro ou brasileira

adulto que tenha ou pretenda ter filhos. Resta o seguinte problema. Tal política atende

interesses de brasileiros ou brasileiras adultos que não têm, nem pretendem ter

filhos? Diretamente, não. Isto significa que parte do fundo público, composto com os

impostos e taxas, também pagos por brasileiros e brasileiras sem filhos, não serão

utilizados diretamente para políticas públicas que os beneficiem.

Sob esta perspectiva, todas as políticas públicas, que não atendam indistinta e

diretamente todos os brasileiros e brasileiras (desnecessário dizer que estas políticas

são quase inexistentes), são formas de privatizar o público. Privatização do público,

portanto, não se resume a venda de empresas estatais ou a terceirização dos serviços

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públicos. Toda política pública, financiada com o fundo público – ou seja, fruto da

contribuição da riqueza gerada por toda a população –, que atende um segmento

específico da população, é uma forma de privatização do público. E isto independe da

justiça, da legitimidade ou do alcance da política em questão.

Entretanto, em um Estado democrático, em que o processo político seja

pautado pela civilidade, pluralidade de focos, metas irrestritas, controvérsia e

centralidade das instituições representativas, tal privatização do público não se

realizará sem uma relação dialética com uma concomitante publicização do privado.

Exposta, principalmente, à civilidade, à controvérsia e à centralidade das instituições

representativas; a privatização do público só é passível de ser operada na proporção

em que os interesses privados são explicitados, confrontados e debatidos. Assim, em

regimes democráticos, para se privatizar o público – e isto é sempre parte do processo

político – é necessário publicizar o privado e, através de amplos consensos sociais,

deliberar sobre como, quando e sob qual hierarquia de importância, os diversos

interesses privados serão atendidos.

Se o vigor de um sistema democrático pode ser verificado pela sua capacidade

de privatizar o público e publicizar o privado, resta compreender através de qual

linguagem tal processo é conduzido. Não há outra linguagem no Estado Moderno que

não seja a racional-legal. É através do direito que se processa a divisão legítima entre

as partes em sociedade. Mas ao se tratar de uma divisão entre partes, propriamente

de uma redistribuição, não é nos direitos civis e nos direitos políticos que se encontra a

condução deste processo. A estes direitos cabem salvaguardar os direitos do indivíduo,

enquanto uma mônada. É nos direitos sociais, ou seja, no que cabe a cada

coletividade, que se encontra a linguagem pela qual se processa a privatização do

público e a publicização do privado.

Ao se falar em direito ao trabalho, à saúde, ao salário igual por trabalho igual,

ao repouso, ao lazer, à previdência social em caso de velhice, doença ou desemprego,

à educação e em tantos outros, está se processando politicamente a distribuição

pública do fundo público (o pleonasmo é intencional), e não instituindo formas de

privilégios como propagandeiam alguns arautos da lei da selva. Os direitos sociais,

como Ewald (1986) identificou, ao estudar a lei sobre acidentes de trabalho na França

do século XIX, são a tradução pela qual uma sociedade reconhece o seu dever para

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com os azares individuais de cada um de seus membros. Assim se estabelece os

parâmetros do justo e do injusto, para a distribuição das partes. É nesta mesma

perspectiva que Telles (1999) compreende os direitos sociais.

Para além das garantias formais inscritas na lei, os direitos estruturam uma linguagem pública que baliza os critérios pelos quais os dramas da existência são problematizados em suas exigências de equidade e justiça. E isso significa um certo modo de tipificar a ordem de suas causalidades e definir as responsabilidades envolvidas, de figurar diferenças e desigualdades, e de conceber a ordem das equivalências que os princípios de igualdade e de justiça supõem, porém como problema irredutível à equação jurídica da lei, pois pertinente ao terreno conflituoso e problemático da vida social (TELLES, 1999, p. 178).

Esta formulação exposta por Telles significa que as experiências individuais de

azares cotidianos são traduzíveis, pelos direitos sociais, em uma linguagem pública que

tem significado político para todos os demais grupos sociais. É a passagem do micro ao

macro, da ausência de médico no posto de saúde do meu bairro ao orçamento

municipal votado, todo final de ano, na Câmara de Vereadores. Faz esta tradução

porque institui o consenso ao redor de quais demandas são justas ou injustas.

Concomitantemente, possibilita àqueles, que não fazem parte da divisão pré-

estabelecida, reivindicar suas partes.

Nas palavras de Rancière (1996), os direitos sociais são a linguagem para a

produção do dissenso, instaurando a política. Se ao Estado, através dos direitos sociais

e do debate no parlamento, cabe a produção do consenso que confere equilíbrio a

distribuição entre as partes; é pela produção do dissenso, que a linguagem dos

mesmos direitos sociais confere aos novos atores, que a política se instaura, reabrindo

sempre o jogo das metas irrestritas. É por isso que Lefort (1987) irá diferenciar uma

sociedade democrática e o totalitarismo, justamente pela presença de um espaço

público atravessado pela consciência do direito a ter direitos. Não é por estar inscrito

na Lei, que um direito se efetiva. Mas por estar na Lei, um direito abre o universo da

reivindicação política.

É sob este prisma, de uma cultura do direito a ter direitos, que se faz necessário

inquirir a realidade da sociedade brasileira. Sociedade complexa e polissêmica, em que

a negação do dissenso parece ser a regra, em planos tão diferentes, como a

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sociabilidade, o mercado de trabalho ou a institucionalidade. Sociedade complexa e

injusta, que, para Paoli e Telles,

[...] garante os direitos políticos democráticos, mas não consegue fazer vigorar a lei, os direitos civis e a justiça no conjunto heterogêneo da vida social, subtraídos que são por circuitos paralelos de poder que obliteram a dimensão pública da cidadania, repõem a violência e o arbítrio na esfera das relações privadas, de classe, gênero e etnia [...] (PAOLI & TELLES, 2000, pp. 103-104).

Sociologicamente, é possível procurar por estes circuitos paralelos de poder,

que interrompem o processo de efetivação dos direitos sociais no Brasil, no mínimo,

nas três esferas anteriormente sugeridas: a esfera institucional, a esfera da

sociabilidade e a esfera do mercado de trabalho.

Francisco de Oliveira (1999) apresenta, em um rápido cálculo matemático, que,

entre 1930 e 1990, além da ditadura de Vargas e da ditadura militar de 1964, o Brasil

viveu uma sequência de golpes e tentativas fracassadas de golpes, que perfaz uma

média de um atentado à democracia, a cada três anos. Esta rápida conta já demonstra,

quase que automaticamente, o circuito de poder autoritário que interrompe,

continuamente, a validade dos direitos no plano institucional brasileiro. Mas o cálculo

de Oliveira, por questões inerentes ao seu próprio debate, contempla apenas o Brasil

industrializado. Pode-se recuar ao início da história nacional, e ainda assim, a

democracia institucionalizada será uma exceção.

Os períodos colonial e imperial, nem com muita boa vontade, poderiam ser

classificados como democráticos. Na Primeira República, nem a metade dos

presidentes conseguiram concluir seus mandatos integralmente. Entre aqueles que o

fizeram, muitos tiveram que apelar para o estado de sítio. À Primeira República se

segue a Ditadura de Vargas. E no curto período democrático, que vai de 1946 a 1964,

tem que se contabilizar a clandestinidade do Partido Comunista Brasileiro em 1947 (o

que demonstra o limite da democracia sob a Presidência de Eurico Gaspar Dutra); o

suicídio de Vargas em 1954 (motivado pela contínua possibilidade de golpe); a

tentativa de impedir a posse de Juscelino (que após assumir viria, ainda em seu

primeiro ano de governo, decretar a prisão domiciliar do general Juarez Távora,

adversário derrotado nas eleições de 1955); a renúncia de Jânio Quadros em 1961; a

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instauração do parlamentarismo para impedir que o poder chegasse às mãos de João

Goulart, no mesmo ano; e, por fim, o golpe, propriamente dito, em 1964.

Esta interrupção contínua da institucionalidade democrática é a obliteração do

processo de publicização do privado, restando apenas a privatização do público, que,

solitariamente, é sempre o fim do dissenso e o sepultamento da política. Um Estado,

no qual o espaço para a controvérsia é reduzido, ou mesmo inexistente em alguns

momentos, realimenta uma sociabilidade autoritária, e o circuito de poderes paralelos

a interromper a constituição de uma cidadania pública é continuamente intensificado.

Nestes termos, o papel do Estado, no processo de desmercantilização das relações

sociais, não se efetiva.

Mas esta contínua interrupção na institucionalidade brasileira não é um mal

intrínseco a estrutura de Estado, como uma sociologia bipolar e vulgar, que separa

completamente Estado e mercado, poderia sugerir. Não se trata de separar o Estado,

como pólo de todos os nossos vícios (o patrimonialismo, o compadrio e a corrupção) e

o mercado como o centro das virtudes (a modernidade, a meritocracia, a

concorrência). Definitivamente, não se trata de contrapor o mito da brasilidade

malemolente e o mito paulista do motor da nação9. Esta persistente e contínua

interrupção se encontra na incapacidade de articulação entre Estado e sociedade

(principalmente, deve ser considerada a elite política desta sociedade) para aceitar e

incorporar novos atores, falas e demandas sociais.

Prado Jr.10 (2004) interpretou esta dificuldade pela coexistência entre uma

realidade colonial contemporânea ao capitalismo mercantil, portanto, partícipe de

uma economia de mercado, com um modo de produção que repousava sobre o

trabalho escravo – a negação do mercado de trabalho. Florestan Fernandes (1987), por

seu turno, sustentou a impossibilidade da revolução burguesa em terras brasileiras,

visto que a precoce aliança entre burguesia ascendente e oligarquia decadente

produziu uma revolução econômica, sem a contrapartida da revolução política que

9 Para uma leitura sobre os impasses brasileiros, hoje, sob uma perspectiva de confronto entre o mito

brasileiro e o mito paulista, ver o excelente trabalho de SOUZA, 2009. 10

Esta maneira de se tomar o pensamento de Caio Prado Jr. Florestan Fernandes, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, ainda que revisitando os escritos originais dos mesmos, é devedora direta da leitura que Francisco de Oliveira (1999) faz destes clássicos.

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propunha o liberalismo clássico. Nesta chave interpretativa, Estado e mercado

colaboram, igualmente, para a consolidação de uma individualidade, sem civilidade.

Mas os clássicos da sociologia nacional delegaram outras chaves, igualmente

eficazes, para se compreender a atávica dificuldade em reconhecer a legitimidade do

dissenso político. No plano da sociabilidade privada, Gilberto Freyre (2006) e Sérgio

Buarque de Holanda (2006) evidenciam práticas sociais que teimam em não

reconhecer a alteridade. Paralelamente a valorização da miscigenação como a grande

virtude nacional, Freyre é contundente ao interpretar a prática de anulação do outro,

contida nas relações escravocratas. Da proibição de cultos africanos à banalidade da

violência sexual, passando por todos os métodos de punição do corpo que reprimiam

qualquer forma de discordância; a cultura do “Sabe com que está falando?” se

estabeleceu como regra de toda autoridade.

No mesmo ritmo, a expertise da proximidade do homem cordial (HOLANDA,

2006) é a negação de qualquer formalidade que possa revelar a universalidade dos

direitos. Portanto, a informalidade, o compadrio, o patrimonialismo – ou mesmo, o tão

famoso jeitinho brasileiro – operam, sob o registro da sempre valorizada cordialidade,

obscurecendo os limites entre vontades pessoais e formas de dominação privada, sem

qualquer mediação pública, sujeitas, assim, a todas as chantagens e coerções.

Por fim, resta a herança de quatro séculos de escravidão que moldou um

mercado de trabalho, no qual, o princípio de subordinação – essência do direito do

trabalho (SUPIOT, 1994) – é sistematicamente travestido de servidão, e a burla do

contrato de trabalho torna-se recorrente, tanto pela parte patronal, como pelo

trabalhador (CARDOSO, 2003). Esta reunião – de uma democracia política tantas vezes

interrompida, da quase impossibilidade de uma revolução burguesa, da cordialidade

que nega, sistematicamente, a alteridade e de um mercado de trabalho, em que ainda

sobrevivem algumas das piores práticas do passado escravocrata – explicita o tamanho

do desafio político e social que o país enfrenta, desde o seu retorno ao regime

democrático, há cerca de duas décadas e meia.

Mas estas duas décadas e meia trouxeram algum alento a tão maltratada idéia

de cidadania nos trópicos. A modernização do mercado capitalista sem a sua

contrapartida clássica da revolução burguesa encontrou seus limites de mover a

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economia, sem produzir inclusão política11, em fins do regime ditatorial. As grandes

greves de 1978, 1979 e 1980 – as quais Sader (1988) descreveu como os novos

personagens que entravam em cena – significaram a instalação do dissenso, na exata

medida em que revelaram novos personagens e novas pautas, no tabuleiro político

nacional. Trabalhadores urbanos, através de lideranças e instituições sindicais

renovadas, juntamente com infinitos outros movimentos sociais que tensionaram toda

a década de 1980 (Movimento Sanitarista, Movimento contra a Carestia, Fórum de

Defesa da Escola Pública, Associações de Bairros, etc...), estabeleceram bases para

uma Constituição mais democrática, que passou a fornecer diversos espaços

institucionais que não negam, a priori, o dissenso.

Desta forma, os anos de 1970 e 1980 deixaram, ao menos, duas contribuições

como seu legado para a democracia do Brasil do século XXI: 1) a independência de

atores sociais novos, com demandas novas e capazes de formalizarem publicamente

estas demandas, escapando da teia do homem cordial, sempre avessa a alteridade; e

2) um quadro institucional mais permeável ao reconhecimento e tratamento destas

demandas, conferindo estabilidade ao conflito democrático de representação de

interesses. A vitalidade do movimento social brasileiro, nas respectivas décadas,

amplia a civilidade e a pluralidade de focos do processo político nacional. Par e passo,

a nova institucionalidade, que emana da Constituição de 1988, possibilita equilíbrio ao

jogo de metas irrestritas, assim como viabiliza o exercício da controvérsia nas

instituições representativas, sem grandes sobressaltos.

Entretanto, se sob a ótica do poder de fala dos movimentos sociais e da

estruturação de um espaço formal, em que esta fala possa reverberar, a abertura dos

anos de 1990, no Brasil, foi promissora, pois era o fruto das conquistas das

mobilizações das décadas anteriores; a desestruturação das relações de trabalho e a

desmontagem do aparelho de Estado foram o lado perverso da última década do

século XX. Os anos de 1990 coincidiram com o ápice de dois fenômenos que permitem,

a Oliveira (1999), caracterizar o neoliberalismo, em terras brasileiras, como um

totalitarismo político. Estes dois fenômenos, seguindo o autor supracitado, são a perda

11

Sob diferentes óticas, vários autores registram a relação entre a consolidação do parque industrial automotivo e o desenvolvimento das condições sociológicas necessárias para o amadurecimento de um movimento sindical vigoroso e massivo. Ver ALMEIDA, 1975; HUMPHREY, 1982; OLIVEIRA, 2005; RODRIGUES, 1970.

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de centralidade do trabalho e um processo de intensa subjetivação da acumulação do

capital, [...] que expressa a privatização do público, ou, ideologicamente, uma

experiência subjetiva de desnecessidade, aparente, do público (OLIVEIRA, 1999, p. 57).

Não cabe aqui, em função dos interesses que norteiam o texto e,

principalmente, do espaço reservado ao mesmo, adentrar ao debate sobre a perda de

centralidade do trabalho12. Basta lembrar que a formalização das relações de trabalho

é base, no ocidente, para o desenvolvimento dos direitos sociais e de tudo que os

mesmos significam no processo político democrático. Logo, o significado sociológico da

perda desta centralidade é a fragilização dos espaços da política13.

Mas, se faz necessário dedicar maior atenção ao segundo fenômeno registrado

por Oliveira: a experiência subjetiva de desnecessidade, aparente, do público. Como

foi argumentado até aqui, o Estado Moderno, através do fundo público (OLIVEIRA,

1998), é mediador da sociabilidade, por atuar desmercantilizando as relações sociais e

promovendo o reconhecimento da alteridade. Neste sentido, o Estado do Bem-Estar14

transformou-se no modelo melhor acabado deste processo, ainda que imperfeito e

insuficiente. O problema é que, apesar de ser fruto de um conflito político – porque

não dizer, um conflito de classe – que se materializou em direitos sociais, a

longevidade do Estado do Bem-Estar produziu, nas últimas décadas, o processo de sua

própria naturalização.

Esta naturalização se efetiva na proporção inversa em que o conflito histórico,

que deu origem a determinados direitos, se distancia no tempo. Ou seja, o fruto da

conquista coletiva perde a historicidade de luta de uma classe ou grupo social e se

apresenta como privilégio ou direito subjetivo, sendo, apenas, individualmente

percebido. Assim, o caráter, muitas vezes, administrativo do exercício dos direitos, os

descolam da base material do conflito e passam a ser fontes de percepção de uma

desnecessidade do público.

12

A referência fundamental para o início deste debate é OFFE, 1989; mas o escopo da discussão é bem mais amplo, tendo enfoques sociológicos, econômicos e políticos diversos. Sobre este assunto, sob diferentes abordagens teóricas, pode-se, além de OFFE, consultar BOYER, 1990; CASTEL, 1998; FERRAZ, 2011; FITOUSSI & ROSANVALLON, 1999; GORZ, 1987; HABERMAS, 1987; MARKERT, 2002; SILVA, 2004, SUPIOT, 1994 e TELLES, 2001. 13

Para um debate sobre o significado político da perda de centralidade do trabalho nos conflitos trabalhistas ao redor dos acordos coletivos, ver FERRAZ, 1006. 14

Sobre o Estado de Bem-Estar ver o já citado OLIVEIRA, 1998; além de FIORI, 1997 e ESPING-ANDERSEN, 1991.

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Mas não é apenas a relação individualizada com os direitos que sugerem,

ideologicamente, a aparente desnecessidade do público. Oliveira chama de

experiência subjetiva de desnecessidade, aparente, do público, também, ao

movimento que leva o indivíduo a se auto-retratar como responsável pela riqueza do

Estado, sem tocar no papel central do Estado no processo de reprodução social. Talvez

seja melhor dar a palavra ao próprio Oliveira:

A privatização do público é uma falsa consciência de desnecessidade do público. Ela se objetiva pela chamada falência do Estado, pelo mecanismo da dívida pública interna, onde as formas aparentes são as de que o privado, as burguesias emprestam ao Estado: logo, o Estado, nessa aparência, somente se sustenta como uma extensão do privado. O processo real é o inverso: a riqueza pública, em forma de fundo, sustenta a reprodutibilidade do valor da riqueza, do capital privado. Esta é a forma moderna de sustentação da crise do capital, pois anteriormente, como nos mostrou a Grande Depressão de trinta, assim como todas as crises anteriores, o capital simplesmente se desvaloriza (OLIVEIRA, 1999 p. 68)

E o autor não se detém nesta esfera da relação entre indivíduo e Estado. As

experiências subjetivas, das diversas camadas da burguesia nacional, produzem uma

sociabilidade cotidiana cada vez mais privatizada, que acaba por reforçar o fenômeno.

Com exemplos esta afirmação pode ficar mais compreensível. Os filhos e jovens da

burguesia brasileira crescem, hoje, no interior de condomínios fechados, onde apenas

se relacionam com membros da sua própria classe. Ao atingirem a idade escolar,

escolas privadas, que não permitem a presença de nenhuma alteridade social, os

acolhem e uma nova socialização é feita, novamente no interior da própria classe. Seu

lazer e práticas de consumo são filtrados por padrões de mercado que segmentam os

diversos shoppings, e, mais uma vez, inibem o contato inter-classes. O resultado é,

que, quando adulto, sua relação com o Estado só pode se materializar na visão de uma

grande empresa. Portanto, extensão do seu próprio escritório.

Ou seja, sob olhos privatizantes, porque alheios a alteridade, o Estado se

transforma em um espaço puramente técnico e administrativo. Se o Estado não é

puramente o lócus do poder. Tampouco é apenas um aparelho gerencial, em que

qualquer conflito político, seria a prova de seu atraso e ineficiência. Talvez por isso, por

este olhar de pouca afeição a alteridade, a sociologia brasileira tenha gasto tantas

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linhas para substituir o conceito de burocracia, pelo conceito de tecnocracia15, nos

estudos sobre o Estado brasileiro. Se em Weber a burocracia é fundamentalmente um

conceito para explicar a legitimidade da dominação, logo é de poder e de política que

se trata; o conceito de tecnocracia esvazia o debate sobre a dominação legal entre

classes e o transforma em uma discussão sobre as hierarquias técnicas no interior do

aparelho de Estado.

Sob todas estas facetas, a falsa impressão de desnecessidade do público é a

forma mais contemporânea de privatização do público, sem a consequente

possibilidade de publicização do privado. É a experiência privada do mundo, sem

vislumbrar a alteridade. É a experiência privada do mundo que sepulta a fala, o

dissenso e a política. Com estas questões, torna-se possível colocar ponto final neste

texto. Mas também há a possibilidade de se colocar alguns pontos de interrogação.

Como pensar, hoje, no Brasil, o acesso aos direitos sociais, como saúde,

educação, previdência, trabalho, lazer e cultura, em uma realidade repleta de

virtuosidades como instituições democráticas relativamente sólidas, setores

organizados da sociedade capazes de exercer de modo contínuo a representação de

interesses, espaços públicos propícios para o exercício da pluralidade de focos e da

controvérsia; mas ao mesmo tempo; em uma realidade transpassada por tradições

que rejeitam a alteridade, como o golpismo político, a cordialidade e a escravidão,

assim como as novas formas de interditar o debate público, através de processos

contemporâneos de experiências subjetivas de desnecessidade do público? Em outras

palavras, e para fazer uma questão mais direta e menos repleta de vírgulas e pontos e

vírgulas. Como privatizar o público e publicizar o privado no atual estágio das relações

políticas e sociais brasileiras?

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15

Sobre tecnocracia ver PEREIRA, 1972; e PEREIRA & MOTTA, 1980.

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