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Inez, Tomás, Manel, Joaquim, João e Francisco · — Porque a tal Charlene vai contratar-nos. Aposto que vai! Um monitor aproximou-se e eles calaram-se imediatamente, fin- ... eles

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Aos queridíssimosInez, Tomás, Manel, Joaquim, João e Francisco

Capítulo 1

Charlene Leão

— Já chegou a Marlene?— Não é Marlene, é Charlene.— Que raio de nome!— Deixa lá o nome. Se ela nos contratar, em vez de trabalharmos

de graça, sempre ganhamos alguma coisa para as férias.As gémeas foram espreitar à janela ansiosas por verem chegar a

senhora que tinha contactado o clube Foto Natureza para saber se

havia alguém disponível para trabalhar com ela durante alguns dias.— Será velha ou nova?— Não sei. Mas deve ser gorda — disse a Luísa. — Charlene é

nome de mulher gorda, não achas?— Talvez — respondeu a Teresa. — Gorda, de cara bolachuda e

cabelo loiro com madeixas vermelhas.— E unhas pintadas da mesma cor.Chico estava a cortar papel com uma lâmina afiada perto da ja-

nela onde as gémeas se tinham empoleirado. Ouviu o que diziam e meteu-se na conversa.

— Daqui a nada estão a dizer que a mulher tem mau hálito... Ain-da não a viram e já lhe fizeram o retrato.

— São efeitos do curso de fotografia — comentou o João.— Olhem lá, se vocês não fazem nada senão conversar, ainda cor-

rem connosco do clube Foto Natureza — lembrou o Pedro. — Te-mos de apresentar tarefas prontas.

— Ora! Amanhã já cá não estamos.— Porquê?— Porque a tal Charlene vai contratar-nos. Aposto que vai!Um monitor aproximou-se e eles calaram-se imediatamente, fin-

gindo não pensar senão no trabalho que tinham em mãos. Disfarça-damente cruzavam olhares e sorrisos.

— Ai o clube Foto Natureza! — suspirou o Chico impaciente. — Se eu soubesse...

A ideia de se inscreverem naquele clube tinha sido do Pedro. En-contrara o anúncio na Internet, era barato, parecia giro e dava para se entreterem naqueles primeiros dias de férias em que não tinham programa nenhum. Ao princípio todos acharam graça. Aprenderam a trabalhar com máquinas fotográficas profissionais, os truques para fotografar plantas minúsculas e insectos em pleno voo, a revelar ro-los inteiros em câmara escura com tinas e líquidos, como nas lojas. Mas começavam a ficar fartos de fazer sempre a mesma coisa e o monitor, que também parecia estar farto deles, tinha-se tornado rí-gido e chato. As gémeas foram as primeiras a querer desistir e iam

dizer isso mesmo quando chegou a notícia: uma amiga do monitor--chefe chamada Charlene Leão precisava de contratar pessoas que soubessem fotografar para substituírem os ajudantes dela, que iam de férias. E pagava muito bem. O monitor falou no assunto, mas o resto da malta do clube Foto Natureza já tinha outros projectos, só eles é que estavam livres, aceitaram e as famílias autorizaram.

— Se ela nos quiser, resolvemos dois problemas de uma vez só: ganhamos dinheiro para gastar no resto das férias e pomo-nos a an-dar deste clube, sem termos de confessar que não aguentamos mais!

— Olha, Chico! Olha! — chamou o João. — Aposto que é aquela brasa que vem ali!

Penduraram-se todos na janela e viram sair de uma carrinha de nove lugares uma rapariga nova, gira, magra, de jeans e top que lhe deixava o umbigo à mostra.

— Ela devia chamar-se «Charlene Leoa» — comentou o Chico. — Já viram a cabeleira?

— Foi a única coisa em que acertámos — disse a Luísa. — É loira.— E tem juba.— Mas será ela?Era. E todos a adoraram desde o primeiro minuto porque se mos-

trou simpatiquíssima, porque ofereceu um pagamento estupendo e porque também simpatizou logo com eles.

— Que bom! Três rapazes e duas raparigas, dá-me imenso jeito, sabem? Há muito que fazer e tenho pouco tempo. Vocês querem mesmo vir comigo? Que bom! Que bom!

— Quando é que começamos? — perguntou o Chico. — Amanhã?Charlene sorriu bem-disposta.— Se vocês quiserem até podem começar hoje mesmo.Chico atirou a tesoura e o papel de fotografia para cima da mesa e

limpou as mãos uma à outra como quem pensa «Desta já me safei!».— Melhor ainda. Diga lá o que é que vamos fazer.— O que vão fazer é o que aprenderam aqui.— Sempre serviu para alguma coisa — cochicharam as gémeas.— Quer fotografias de moscas, aranhas ou formigas?

Ela tornou a rir.— Não. Eu ando a fazer um estudo sobre os jardins portugueses

que têm labirintos.— E há muitos? — perguntou o João. — Nunca vi nenhum.— Se calhar já viste mas não reparaste. São jardins com arbus-

tos plantados muito juntinhos e cortados de maneira a parecerem muros verdes, muros de folhas. Geralmente as plantas são buxos e formam caminhos. Uns têm saída e outros não. A pessoa, quando entra, tem de andar à procura do caminho certo para poder sair.

— Então é como alguns passatempos das revistas e jornais.— Exacto.— E vale a pena estudar isso?— Para mim, vale imenso. É a minha especialidade.Hesitou um instante a pensar se devia ou não alongar-se nas ex-

plicações, mas preferiu dar uma informação que de certeza os entu-siasmaria.

— O jardim que vamos estudar é numa quinta fabulosa que tem um palacete com mais de cem anos. O labirinto foi plantado pouco depois de construírem a casa e diz-se que está envolvido num misté-rio que nunca ninguém conseguiu desvendar — como os olhos deles luziram, Charlene acrescentou, baixando um pouco a voz: — Então que tal? Querem ir comigo hoje mesmo dar uma primeira vista de olhos no labirinto misterioso?

— Queremos! — responderam em coro.— Só há um problema — disse o João — é que nós temos lá fora

os nossos cães.— E qual é o problema?— Não podemos sair e deixá-los no clube.— Claro que não. Tragam-nos.— O das gémeas é um pequeno caniche mas o meu é um pastor-

-alemão — informou um pouco a medo.— Mas obedece-te?— Obedece radicalmente. Faz tudo o que lhe digo.— Então, pronto. Enquanto eu arrumo o assunto com os moni-

tores, vocês vão buscar os cães para nos pormos a andar. Quero que vejam o labirinto misterioso antes do pôr do Sol!

Capítulo 2

A misteriosa Quinta do Labirinto

Quando o jardineiro abriu os portões de ferro e entraram na Quin-ta do Labirinto pareceu-lhes tudo muito misterioso. A casa enorme, pintada de cor-de-rosa e com algumas manchas de humidade en-tre as janelas, aparecia por trás de árvores gigantescas. Um vento leve agitava os ramos que, no seu balançar, projectavam sombras de feitios esquisitos pelo chão. Um pavão branco atravessou o relvado soltando um guincho estridente, «a... a... aú...». Por entre a folha-

gem vislumbraram uma casinha de tijolo ao fundo do jardim com as paredes cobertas de hera e uma janela redonda onde todos julgaram ver uma cara bolachuda a espreitar.

— Então? Gostam?— Eu gosto, e nunca estive num sítio assim — disse o Pedro.— Por isso é que tem graça — acrescentou o Chico. — Apetece

explorar.— E descobrir mistérios — rematou o João.— Parece que mistérios aqui não faltam, vocês vão ver.Charlene estacionou em frente à porta principal, saltou da carri-

nha e foi puxar uma corrente de ferro, que accionou um badalo. O «blão... blão» sobrepôs-se aos leves murmúrios da folhagem.

— Venham — chamou. — Mas como não sabemos se a condessa gosta de cães é melhor deixá-los na carrinha.

Eles saíram do carro de nariz no ar, com vontade de absorverem tudo o que tinham pela frente de uma vez só.

— Olha o feitio das janelas! Acabam em bico!— E as chaminés?— Devem ser lareiras.— Acham que há lareiras nos quartos? — Talvez.O ruído de passos sobre as pedrinhas do jardim fê-los virar a ca-

beça. E foi assim que conheceram a dona da casa. Era velha, magra, alta, e vestia de roxo a condizer com os olhos de um estranho azul brilhante e arroxeado. Sorria-lhes e o sorriso também tinha qual-quer coisa de estranho por ser pensativo, enigmático.

Charlene avançou para ela de mão estendida.— Como está, senhora condessa? Eu sou a Charlene Leão...O sorriso da condessa tornou-se mais aberto e respondeu quase

como se estivesse a gozar:— Eu já calculava. É você e os seus ajudantes. Não pensei que

fossem tão novos.Faial, aborrecido por ficar de fora do encontro, pôs-se a ladrar fu-

riosamente e a agitar a cabeçorra diante do vidro. A condessa ergueu

as sobrancelhas.— Trouxeram cães? — Hã... sim, mas eles já param de ladrar.— Solta-os — disse a condessa como se não tivesse ouvido.— Quer que os solte?— Quero. Preciso de saber se nos entendemos bem ou não. Geral-

mente os cães obedecem-me, mas é sempre melhor fazer o teste e, de preferência, ao pé dos donos.

Chico abriu a porta. Os cães saltaram cá para fora e a condessa chamou-os estalando os dedos. Faial e Caracol corresponderam ao chamamento e ela afagou-os com a mão pálida de dedos compridos, onde brilhava um anel de ouro que tinha uma pedra verde encimada por uma minúscula coroa de conde.

— Bom, parece que fizemos amizade à primeira vista, não há pro-blema, venham comigo. Vou mostrar-lhes a casa onde ficam instala-dos enquanto cá estiverem.

As gémeas e os rapazes cruzaram olhares. Tinham pensado que o contrato era para irem e virem todos os dias, mas se a senhora os queria lá, melhor!

— Será na casinha de tijolo? — perguntou a Teresa em voz baixa.— Não. Essa fica para o outro lado.De facto, a senhora caminhava em direcção às traseiras do palace-

te. Num passo invulgarmente firme e despachado para uma pessoa daquela idade, contornou a esquina do casarão e avançou ao longo de uns canteiros com flores a falar baixinho como se pensasse em voz alta.

— Foi boa ideia... hum... até dá jeito e...Baixou tanto a voz que não se percebeu a última palavra. Só a

Luísa julgou ter captado qualquer coisa do género «pode ser que assim me sinta menos insegura». Ficou em pulgas para comentar com os amigos. Mas eles iam dispersos, pasmados com o ambiente. Pedro deteve-se no alpendre a olhar para um painel de azulejos que tinha uma cena pintada. E que cena! Um cavaleiro com cara de sol a oferecer um ramo de estrelas a uma dama com cara de lua. E um

castelo. Mas nas janelas da torre do castelo quem espreitava não eram pessoas, eram macacos!

Chico e João iam mais à frente e foram os primeiros a ver o lago imenso cheio de água esverdeada com plantas à tona e peixes encar-nados gordíssimos. A seguir ao lago, lá estava o labirinto de arbus-tos, tão grande, tão grande, que parecia não ter fim.

A tarde caía. Os últimos raios de Sol punham reflexos dourados na água e faziam rebrilhar um telhado de lousa oculto entre o arvo-redo.

— Isto parece um quadro!Para o quadro ficar completo, dois corvos pretos grasnaram insis-

tentemente. «Crau... crau...» e uma cadela de pêlo branco e sedoso que era quase do tamanho do Faial aproximou-se caminhando deva-gar, serena e vaidosa como a dona.

— É a Soraia — disse a condessa. — Adora ter companhia e dá-se bem com todos os cães.

As lambidelas que os três já trocavam entre si confirmava o que dizia.

— Vocês ficam nas antigas cocheiras que mandei arranjar para hóspedes.

A construção era giríssima. Baixa, comprida, tinha portas sufi-cientemente largas para dar entrada a cavalos e carruagens. A se-nhora tacteou um vaso, retirou da terra uma chave antiga e abriu a porta.

— Aqui agora é a sala. Mandei transformar as manjedouras em armários e usei as rodas das carroças para fazer uma mesa.

Eles olhavam em volta, encantados porque era facílimo imaginar por trás de cada canto e de cada móvel o que tinha ali estado antes da transformação. Chico até pensou que ainda cheirava a palha de cavalo, mas talvez fosse impressão momentânea.

— Há vários quartos e também há camas encaixadas no sítio onde se penduravam as selas e os chicotes. Vou deixá-los à vontade para se instalarem. Depois passem lá por casa e se quiserem, jantam comigo.

Eles ficaram atrapalhadíssimos com medo de estragarem o pro-

grama se dissessem que não tinham pensado lá dormir. Mas Charle-ne salvou a situação.

— Senhora condessa, nós hoje vínhamos só apresentar-nos e co-nhecer a quinta. Tínhamos pensado instalar-nos amanhã.

— Muito bem. Eu dou ordem para vos receberem. Comigo não contem antes do meio-dia.

Estendeu-lhes a chave e fez menção de se retirar.— Se quiserem, dêem uma vista de olhos, e depois, quando saí-

rem, reponham a chave no vaso.— Com certeza, obrigada!— Então, até amanhã. Eu nunca almoço, por isso convido-vos

para jantar.Assim que ela saiu, começaram a falar todos ao mesmo tempo,

comentando a sorte que era poderem ficar ali.— Achas que a mãe deixa?— Tem de deixar!— E vocês?— Eu, cá por mim, garanto que fico. Se os meus pais quiserem

trago-os cá para verem o palacete. Não acredito que me proíbam de dormir numa quinta destas!

— E eu vou pôr a minha avó de cabeça a andar à roda quando lhe contar que eu e o Faial estamos íntimos da condessa do Labirinto!

— Ó João, estás enganado — disse Charlene divertida. — Labirin-to é o nome da quinta. A senhora é a condessa de Milreu.

— Melhor ainda!— E chama-se Eleonora.— Eu por mim vou usar esse nome — decidiu o Pedro — chego a

casa e digo aos meus pais: «Sabem quem me convidou para passar uns dias? Foi a Eleonora, a condessa de Milreu!»

Todos riram, contentíssimos com a perspectiva de explorarem aquela quinta misteriosa de dia e de noite. Chico até já queria ir num instante a casa para convencer a família a deixá-lo ficar nessa mesma noite, mas a Charlene disse-lhe que não.

— Agora, que já combinámos vir amanhã, é amanhã.

Escurecera quase por completo e na excitação da conversa nem tinham acendido as luzes. De repente pareceu-lhes ouvir um ruído do lado de fora da casa e voltaram-se para a janela estreita e com-prida que rasgava a parede por cima das antigas manjedouras. Ao lusco-fusco e através dos vidros um pouco sujos não se via bem, mas a todos pareceu captar a sombra de uma cabeça que se afastou rapi-damente. Luísa sentiu um arrepio.

— A senhora há bocado disse que se sentia insegura.— Não ouvi.— Nem eu.— Pois não. Falou muito baixo e só eu é que estava ao pé dela.— Percebeste mal.— Não percebi. Tenho a certeza.— Olha lá, achas que se ela se sentisse insegura vivia sozinha neste

casarão?— Ela não vive sozinha — disse a Charlene. — Há o jardineiro,

há-de haver criados.— E o marido?— Marido, não. É viúva.— E filhos?— Isso não sei.— Com filhos ou sem filhos, se tivesse medo, contratava guardas.

Uma pessoa que tem esta quinta, também tem muito dinheiro e pode contratar quem lhe apetecer.

O raciocínio prático de Chico tinha lógica, mas Luísa continuava hesitante.

— Eu vi passar alguém por trás da janela.— Isso também eu vi e é natural — disse o Chico. — Pode ser um

criado. O filho do jardineiro ou outra pessoa qualquer que trabalhe para a condessa.

— Sim, tens razão.Teresa olhou a irmã e sentiu o mesmo vago desconforto. Mas a

nenhuma delas apetecia instalar-se cheia de medo numa cocheira transformada em casa. Por isso, optaram por acender a luz e pensar

noutra coisa.— Vamos escolher o nosso quarto?

Capítulo 3

Spoc... spoc... e um desmaio

Fotografar o labirinto não era pêra doce. De muito perto, só se viam ramos e folhas, nem se percebia o que era. De longe, as plantas pareciam um simples muro de verdura.

— Assim não dá — tinha dito Charlene. — A única maneira é dividirem-se. Os rapazes vão subir ao telhado do casarão. Não há perigo porque à volta de cada chaminé há uma plataforma onde podem colocar as máquinas e fotografar o labirinto visto de cima,

de várias perspectivas. Vá, acelerem!— E nós?— Vocês ficam comigo e começam por explorar o interior do labi-

rinto. Levam papel quadriculado e lápis para desenhar os percursos que dão saída. Mas não as quero juntas. Separadas, despacham-se melhor. Tu, Luísa, segues pela direita e a Teresa vai pela esquerda.

As gémeas obedeceram e embrenharam-se nos corredores forma-dos por arbustos verdes tão altos e compactos que elas desapareciam no meio.

— Isto faz um bocado de impressão — disse a Teresa quando ain-da estavam suficientemente perto para se poderem ouvir.

— Eu fico com falta de ar aqui enfiada no meio das plantas. Não sei se aguento.

— Faz um esforço, Luísa. Não estás fechada num elevador, tens ar por cima da cabeça.

Teresa já se tinha distanciado e as barreiras de folhagem abafa-vam-lhe a voz. Luísa inspirou fundo, olhou para o céu e o facto de poder alongar a vista até às nuvens brancas que corriam ligeiras ajudou-a a ganhar coragem.

«Ora vamos lá», pensou. «Este caminho que escolhi terá saída ou vou andar às voltas até chegar a um beco?»

As pernas tremiam-lhe e sentia a garganta seca. Enquanto as gémeas tentavam desenhar os caminhos do labirinto,

os rapazes tentavam convencer a cozinheira a mostrar-lhes o cami-nho para o telhado. Mas a mulher hesitava.

— A senhora condessa não me deu essas ordens e não lhe posso ir perguntar porque ainda está ocupada.

— Pois, mas nós não podemos esperar.Pedro observou de soslaio a figura gorducha, de bata aos qua-

drados cor-de-rosa e avental com bolso enorme. Tinha cara de não pensar em mais nada senão em comidas.

«Se eu lhe falar no almoço, talvez a convença», pensou.Fez um sinal discreto aos amigos e chegou-se ao fogão.— Que bem que cheiram as suas panelas! — exclamou, levantan-

do uma tampa. — Hum... como é que se chama?— Laurinda.Pedro riu-se e explicou amavelmente:— Eu estava a perguntar o nome do cozinhado, que cheira bem e

deve ser uma delícia.Então ela riu também, satisfeita com o elogio.— Arroz de perdiz! — anunciou a mulher triunfante. — É o prato

preferido da senhora condessa.Pedro aproveitou a embalagem e os amigos tiveram de se virar de

costas para não rir, enquanto ele discutia com a cozinheira rissóis de camarão, croquetes, pastéis de bacalhau, torta de laranja e leite--creme.

— Se continuam assim, combinam abrir um restaurante — cochi-charam o Chico e o João.

Daí a pouco, ainda a falar de mousse de chocolate, já a mulher os encaminhava para uma escada de caracol que dava acesso ao sótão. E eles subiram de máquinas à tiracolo, admirando-se por serem tão grossas as paredes daquele casarão.

— Que colosso!— Achas que por dentro das paredes há passagens secretas?— Se calhar há. — Temos de perguntar à condessa.Antes de sair para o telhado, Chico bateu com os nós dos dedos

na parede do sótão e o som entusiasmou-o.— Parece oca. Ora ouçam.De punho fechado repetiu o gesto. «Spoc... spoc...»— Há passagens secretas de certeza! — exclamou o João, entusias-

mando-se também. — Se procurássemos uma entrada?— Agora não — disse o Pedro. — Se a Charlene não nos vê apare-

cer no telhado e lhe dizemos que preferimos procurar esconderijos, despede-nos imediatamente. Deixem isso para depois.

Com mil cuidados içaram-se para as plataformas junto às chami-nés. Ali de cima viam muito bem o jardim, o lago, um pequeno bos-que e as gémeas circulando devagar dentro do labirinto. Charlene