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INFECÇÃO URINÁRIA E GRAVIDEZ Na gestação, a infecção urinária (IU) se reveste de grande importância e interesse em razão de sua elevada incidência nesse período especial da vida da mulher. É a terceira intercorrência clínica mais comum na gestação, acometendo de 10 a 12% das grávidas. A maioria destas infecções ocorre no primeiro trimestre da gravidez, 9% sob a forma de infecção urinária baixa (cistite) e 2% como infecção urinária alta (pielonefrite). A infecção urinária cria várias situações doentias e contribui para a mortalidade materno infantil. COMO OCORRE? As infecções urinárias são causadas por bactérias da flora intestinal que contaminam o trato urinário. As bactérias são encontradas na urina quando se rompe o equilíbrio entre a defesa do organismo e a sua virulência. Normalmente na gravidez, a urina é mais rica em nutrientes (açúcar e aminoácidos), o que propicia um meio de cultura mais rico, facilitando o crescimento das bactérias. Também ocorre, normalmente, na gravidez, uma dilatação do trato urinário, criando condições de estase urinária (urina parada) que favorece o crescimento bacteriano e a instalação da infecção urinária. O aumento do útero, ao ocupar mais espaço, pode obstruir parcialmente o ureter e criar condições de estase urinária. A estase é um mecanismo complicador e favorecedor de IU nas grávidas. SINTOMAS Os sintomas surgem e se definem de acordo com o tipo de infecção que se estabeleceu no trato urinário da grávida. Há quatro tipos de infecção, descritos a seguir: BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA. É definida como a presença de proliferação bacteriana na urina, em grávida que não apresenta sintomas ou queixas urinárias, provavelmente, porque não está ocorrendo lesão e agressão à mucosa do trato urinário. Na gravidez, a incidência de bacteriúria assintomática é da ordem de 4 a 7%. Nas grávidas diabéticas, a incidência é maior, em torno de 12 a 14%, e nas mulheres que já tiveram IU antes de engravidar, é de 18 a 20 %. É interessante observar que a metade (50%) das bacteriúrias assintomáticas se tornam sintomáticas até o final da gestação. INFECÇÃO URINÁRIA BAIXA. É também chamada de cistite. A contaminação e agressão bacteriana são restritas à bexiga. Caracteriza-se, principalmente por ardência ao urinar (disúria), urgência para urinar, freqüência aumentada (polaciúria), dor suprapúbica e, algumas vezes, sangue no término da micção ou no exame de urina. PIELONEFRITE AGUDA. É a infecção urinária que ocorre no rim, também chamada de infecção urinária alta. Caracteriza-se pela contaminação ascendente da uretra até o rim. Ocorre em aproximadamente

Infecção urinária e gravidez

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Page 1: Infecção urinária e gravidez

INFECÇÃO URINÁRIA E GRAVIDEZ

Na gestação, a infecção urinária (IU) se reveste de grande importância e interesse

em razão de sua elevada incidência nesse período especial da vida da mulher. É a terceira

intercorrência clínica mais comum na gestação, acometendo de 10 a 12% das grávidas. A maioria

destas infecções ocorre no primeiro trimestre da gravidez, 9% sob a forma de infecção urinária

baixa (cistite) e 2% como infecção urinária alta (pielonefrite). A infecção urinária cria várias

situações doentias e contribui para a mortalidade materno infantil.

COMO OCORRE?

As infecções urinárias são causadas por bactérias da flora intestinal que contaminam

o trato urinário. As bactérias são encontradas na urina quando se rompe o equilíbrio entre a defesa

do organismo e a sua virulência. Normalmente na gravidez, a urina é mais rica em nutrientes

(açúcar e aminoácidos), o que propicia um meio de cultura mais rico, facilitando o crescimento das

bactérias. Também ocorre, normalmente, na gravidez, uma dilatação do trato urinário, criando

condições de estase urinária (urina parada) que favorece o crescimento bacteriano e a instalação

da infecção urinária.

O aumento do útero, ao ocupar mais espaço, pode obstruir parcialmente o ureter e

criar condições de estase urinária. A estase é um mecanismo complicador e favorecedor de IU

nas grávidas.

SINTOMAS

Os sintomas surgem e se definem de acordo com o tipo de infecção que se

estabeleceu no trato urinário da grávida.

Há quatro tipos de infecção, descritos a seguir:

BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA.

É definida como a presença de proliferação bacteriana na urina, em grávida que não

apresenta sintomas ou queixas urinárias, provavelmente, porque não está ocorrendo lesão e

agressão à mucosa do trato urinário. Na gravidez, a incidência de bacteriúria assintomática é da

ordem de 4 a 7%. Nas grávidas diabéticas, a incidência é maior, em torno de 12 a 14%, e nas

mulheres que já tiveram IU antes de engravidar, é de 18 a 20 %. É interessante observar que a

metade (50%) das bacteriúrias assintomáticas se tornam sintomáticas até o final da gestação.

INFECÇÃO URINÁRIA BAIXA.

É também chamada de cistite. A contaminação e agressão bacteriana são restritas à

bexiga. Caracteriza-se, principalmente por ardência ao urinar (disúria), urgência para urinar,

freqüência aumentada (polaciúria), dor suprapúbica e, algumas vezes, sangue no término da

micção ou no exame de urina.

PIELONEFRITE AGUDA.

É a infecção urinária que ocorre no rim, também chamada de infecção urinária alta.

Caracteriza-se pela contaminação ascendente da uretra até o rim. Ocorre em aproximadamente

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2% das grávidas, geralmente no último trimestre. Apresenta-se, clinicamente, com início abrupto

ou súbito, comprometendo muito o estado geral da grávida com febre, calafrios, dor lombar

intensa, náuseas e vômitos. A presença das toxinas liberadas pelas bactérias pode desencadear

o trabalho de parto pelo aumento das contrações uterinas.

Por esta razão, a pielonefrite aguda na grávida pode ser responsabilizada por

abortamento, trabalho de parto prematuro, hipertensão arterial gestacional, óbito fetal e até mesmo

morte materno fetal nos casos de infecção severas e generalizadas. A grande maioria das

pielonefrites agudas ocorre depois das infecções bacterianas assintomáticas, daí a importância de

se descobrir as IU assintomáticas, que podem redundar em pielonefrite.

PIELONEFRITE CRÔNICA

É a fase crônica das infecções renais anteriores que deixaram lesões ou cicatrizes

nos rins. Geralmente, não apresentam sintomas, mas podem estar acompanhadas de hipertensão

arterial. Com a gravidez, a hipertensão pode se tornar severa e piorar a função renal; com isto, o

estado de saúde da mãe e do feto se alteram.

COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO

A suspeita diagnóstica de IU se dá pelos sintomas de: micção freqüente, ardência,

urgência, dor lombar, náuseas, vômitos, sangue na urina e febre.

Para toda a gestante deve-se sempre solicitar de 3 em 3 meses exames de urina

e urocultura. Com estes cuidados, procuramos descobrir as infecções urinárias assintomáticas e

tratá-las precocemente.

No exame comum de urina, o sedimento urinário apresenta um número

aumentado de leucócitos, acompanhados de sangue e albumina na urina.

Considera-se infecção urinária quando a cultura de urina é positiva, ou seja, com

mais de 100.000 bactérias por mililitros de urina. A urina para cultura deve ser colhida pelo jato

médio com técnica de antissepsia adequada. As grávidas principalmente no 3º trimestre

contaminam a urina muito facilmente, por esta razão é importante que a coleta seja bem feita para

evitar erros na interpretação da urocultura.

O diagnóstico de lesões do rim na IU é feito pela ultra-sonografia (ecografia), que

é uma investigação não invasiva e que permite a avaliação anatômica do rim, como malformações

e tamanho renal, pode também, mostrar cálculos e obstruções. Poderá ocorrer que a paciente

tenha sinais clínicos de IU, mas as uroculturas são negativas. Quando isto ocorrer deve-se

procurar outras infecções, por outros microorganismos como Chlamydia, Herpes, Candida

albicans, Tricomoníase e outros.

COMO SE FAZ O TRATAMENTO?

Constatada a IU na grávida, ela deve ser imediatamente tratada para evitar

complicações, como infecção generalizada, abortamento, parto prematuro, hipertensão

gestacional e piora de anemia.

O tratamento deve basear-se no antibiograma. O médico deve escolher

antibióticos que não sejam prejudiciais ao feto e a medicação deve ser usada pelo menor tempo

possível, mas num período suficiente para ter a segurança de um tratamento adequado e eficaz.

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COMO FAZER A PREVENÇÃO

Nas gestantes que têm IU recorrente, pode-se usar medicações preventivas por um

longo período. Recomenda-se uma ingestão abundante de líquidos e, nas micções, procurar

sempre o esvaziamento completo da bexiga.