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120 INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR AROLDO FERREIRA LEÃO, poeta, potiguar, nasceu em Parnamirim/RN a 12 de outubro de 1967. Desde os 15 anos de idade escreve com freqüência, já contando com mais de 10.000 poemas escritos, que espera algum dia possam ser avaliados e pesquisados. É formado em Engenharia Elétrica, com ênfase em eletrônica, pela UFRN(Universidade Federal do Rio Grande do Norte) em Natal/RN e também obteve créditos de Mestrado, na UFPB(Universidade Federal da Paraíba) em Campina Grande/PB. Começou a publicar seus primeiros trabalhos no jornalzinho cultural Vôo Primeiro de Uma Arribação em Natal/RN na década de 80. Possui seis livros de poesias publicados, respectivamente: A Trilogia da Dor, 1995; Carta a Tio João Cordeiro, 1996; Alfabetizando a Alma, 1997; Presságios, 1997; Sisuda Acidez, 1998 e A Janela do Sótão, 1998. Está no prelo seu mais recente trabalho intitulado Impactos Azuis, livro de poesias, especificamente contendo 100 poemas que procuram resgatar a essência das coisas e . Aparece em cinco antologias, respectivamente: Novos Poetas no Rio Grande do Norte, 1990, livro organizado pela Fundação José Augusto com 43 poetas ganhadores de um concurso literário realizado em 1989 em Natal/RN; Um Dia a Poesia, 1996, livro e vídeo, organizados por Ayres Marques em Natal/RN; Poética Ribeirinha- Antologia Literária de Petrolina-1995, 1998, livro organizado por Elisabet Gonçalves Moreira em Petrolina/PE; Coletânea do Conselho do Clube dos Escritores Piracicaba, 1998, organizado pelo próprio Clube junto à C. N. Editoria em Piracicaba/SP; I Antologia Nau Literária, 1999, organizada pela Editora Komedi com vários

INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR - Aroldo Ferreira Leão ::aroldoferreiraleao.com.br/livros/harmonia.pdf ·  · 2011-03-18INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR AROLDO FERREIRA LEÃO, poeta, potiguar,

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INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR

AROLDO FERREIRA LEÃO, poeta, potiguar, nasceu em Parnamirim/RN a 12 de outubro de 1967. Desde os 15 anos de idade escreve com freqüência, já contando com mais de 10.000 poemas escritos, que espera algum dia possam ser avaliados e pesquisados. É formado em Engenharia Elétrica, com ênfase em eletrônica, pela UFRN(Universidade Federal do Rio Grande do Norte) em Natal/RN e também obteve créditos de Mestrado, na UFPB(Universidade Federal da Paraíba) em Campina Grande/PB. Começou a publicar seus primeiros trabalhos no jornalzinho cultural Vôo Primeiro de Uma Arribação em Natal/RN na década de 80. Possui seis livros de poesias publicados, respectivamente: A Trilogia da Dor, 1995; Carta a Tio João Cordeiro, 1996; Alfabetizando a Alma, 1997; Presságios, 1997; Sisuda Acidez, 1998 e A Janela do Sótão, 1998. Está no prelo seu mais recente trabalho intitulado Impactos Azuis, livro de poesias, especificamente contendo 100 poemas que procuram resgatar a essência das coisas e . Aparece em cinco antologias, respectivamente: Novos Poetas no Rio Grande do Norte, 1990, livro organizado pela Fundação José Augusto com 43 poetas ganhadores de um concurso literário realizado em 1989 em Natal/RN; Um Dia a Poesia, 1996, livro e vídeo, organizados por Ayres Marques em Natal/RN; Poética Ribeirinha- Antologia Literária de Petrolina-1995, 1998, livro organizado por Elisabet Gonçalves Moreira em Petrolina/PE; Coletânea do Conselho do Clube dos Escritores Piracicaba, 1998, organizado pelo próprio Clube junto à C. N. Editoria em Piracicaba/SP; I Antologia Nau Literária, 1999, organizada pela Editora Komedi com vários

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COMENTÁRIO SOBRE O SONETO E UMA REFERÊNCIA AO LIVRO A JANELA DO SÓTÃO

não sei o que percorre a ciência dum sonetista ao produzir (ou entrar em estado de produção de) sua arte. nos demais poetas, cônscios, percorrem técnicas de produzir sonetos. a princípio é postulado a todos poetas, sonetistas ou não, a insistente constância de criar, seja sob originalidade singular na maioria dos aspectos que se propõe a conceber (ou apenas nos aspectos estilísticos), ou sob paráfrase implícita (uma vez não mero reprodutor de imagens e/ou vislumbrador de paisagens), ou sob transgressão de tradições (para novas conquistas dentro do conhecido ou por evasão de conceitos). em seguida, é inevitável percorrer o poeta, sempre cônscio, os modelos clássicos de soneto, seja sob a forma italiana (dois quartetos e dois tercetos, e sua inversão espanhola, dois tercetos e dois quartetos) ou sob a forma inglesa (uma duodécima e um dístico). daí, as acepções conquistados, das medidas decassilábicas sob heróicos ou sáficos, ou mesmo livres (qual fez Vinícius de Moraes, por exemplo), quanto das medidas alexandrinas quanto das nuanças septassilábicas. ainda sobre as possibilidades estruturais, incorrem as rimas abba abba cde cde, abba abba cdc dcd etc. o que se considera, e mais importa, é que o soneto é sempre formal, embora não seja cruamente aquela forma lírica completamente fixa, há de se considerar que produzir um soneto numa estrofe de catorze versos chama atenção a uma consideração que se diga de avulsa, na contemporaneidade. produzir sonetos transcendeu, assim, a desenvolver um poema formalmente premeditado pelo qual se apresente uma introdução (ou proposição), um desenvolvimento e uma conclusão (vezes por outra com desfecho temático ou chave de ouro no último ou dois últimos versos), mesmo a metro livro e

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ÍNDICE

BIOGRAFIA .......................................................07PREFÁCIO .......................................................09APRESENTAÇÃO ..........................................11HARMONIA DISSONANTE .............................13PASSO A PASSO ..........................................15MINHA CORRERIA ..........................................16SEMPRE .......................................................17PRESENÇA DISFORME .............................18INÓXIOS SENTIMENTOS .............................19PASSEIO .......................................................20EU ....................................................................21INTUIÇÃO .......................................................22PARTIRAM-SE ..........................................23TORMENTOS .......................................................24COMUTAÇÃO.......................................................25ENQUANTO .......................................................26O TÉDIO.................................................................27PRESSÁGIOS .......................................................28DESCULPOU-SE ..........................................29PELO TANTO .......................................................30VIA-SE .......................................................31SOU ....................................................................32NAQUILO .......................................................33CAMINHOS FECHADOS .............................34EVIDÊNCIAS .......................................................35ESPANTADO .......................................................36SILÊNCIO VOCAL ..........................................37VERDADEIRO ..........................................38NOITES .......................................................39COESÃO .......................................................40ESSÊNCIAS .......................................................41VELHO APERREIO ..........................................42VERSOS .......................................................43

A Isabela, minha filha, de olhar doce e inquieto como minha alma;

A Corrinha, que quando deu à luz a Isabela me deu mais quinhentos anos na alma;

A Dona Guidinha, minha sogra, mais mãe do que sogra, que me ensinou ser possível navegar com humildade no coração dos aflitos;

A Dona Nicinha, o anjo-da-guarda meu e de Corrinha, que com tanta espontaneidade me revelou um dia, num olhar, que a vida têm a espiritualidade de todas as coisas que a compõem;

A Dona Dorinha, esposa de Seu Raimundo, falecido em julho de 1999, por saber ser sempre sincera.

CANSADO

Cansado de ser quem nunca chegouA ser, feriu-se com a lucidezDos seus instintos, viu-se na soezConvicção desunida e alicerçou

Em si mesmo a demência que tocouNa sua fria dor de uma só vez.Despolinizou-se, ávido e sem tez,Através dos aromas vãos, moldou

No tempo a íntima angústia dos perdidosNa fotossíntese erma dos escuros.Algo despedaçou-o em muitos nítidos

Pedaços impossíveis de juntar,Colocou-o nos sonsos tons impuros,Naturalmente viu-o sem se achar.

07114

BIBLIOGRAFIA

I. Livros

a) A Trilogia da Dor, Edição do AutorGráfica Mandacaru, Petrolina/PE, 1995;

b) Carta a Tio João Cordeiro, Edição do AutorGráfica Franciscana, Petrolina/PE, 1996;

c) Alfabetizando a Alma, Edição do AutorGráfica Tribuna do Sertão, Petrolina/PE, 1997

d) Presságios, Edição do AutorGráfica Tribuna do Sertão, Petrolina/PE, 1997;

e) Sisuda Acidez, Clube dos Escritores PiracicabaC.N. Editoria, Piracicaba/SP, 1998;

f) A Janela do Sótão, Editora MandacaruGráfica Mandacaru, Petrolina/PE,1998.

II. Antologias

a) Novos Poetas no Rio Grande do Norte,Fundação José AugustoGráfica Manimbu, Natal/RN, 1990;

b) Um dia A Poesia, Ayres MarquesGráfica Santa Maria, Natal/RN, 1996;

09112

PREFÁCIO

Uma destas estafantes tardes de verão...Chego em casa e encontro originais poéticos de

um livro, e um recado: “Um moço chamado Aroldo pediu que você fizesse um prefácio para o seu novo livro...” Surpreso com o elevado grau de confiança demonstrado pelo poeta ao deixar-me as suas jóias e por me achar capaz de uma apreciação de sua obra, aguçou-me a expectativa de conhecer os poemas e o seu autor!!

Dia seguinte é feita a apresentação, só que a esta altura já o conhecia através dos traços e versos reveladores da sua inquieta e inquiridora personalidade: “O verdadeiro poeta se torna refletido por inteiro em suas criações”. Com o presente que este me fez, dias após, de uma coleção dos seus livros já publicados, confirmou-se-me o que eu entendera. Sua poesia desnuda e expõe a alma de uma dessas pessoas que já nasce com o “destino” da busca, da procura de si mesmo nos meandros da vida e de conhecer a verdadeira face do ser humano, tão ardilosamente oculta pelas máscaras que se vão sendo sobrepostas existência afora. A inquietação , a pressa de respostas a perguntas que lhe vêm de longe, lá de dentro do seu subconsciente, faz com que respostas/interrogativas se multipliquem e esbarrem em forma de poesia. É o lato sensu do ser interiorizado com o ser exterior metamorfoseando-se em pura arte. Aroldo se apresenta, para si próprio, como um grande ponto de interrogação! Aroldo Ferreira Leão nasceu poeta e algo de marcante está ainda para lhe acontecer. Entendi isto ao ler o que lhe vai n'alma já a partir

DIVAGAÇÕES

Divagações coesas rebuscamOs olhares que chegam e ofuscamNossas estranhas luzes brilhandoNo espaço heterogêneo do brando

Sorriso recatado. PorçõesDe melancolia, ocas razõesDesmioladas, tornam nossosIntensos aperreios insossos

Alimentos servidos à mesaNo horário putrefato da ilesaReação tão nutrida de fatos

Aborrecidos. Móveis pacatosPés andam por montanhas deixandoRastros que aos poucos vão nos juntando.

11110

APRESENTAÇÃO

Nos caminhos tortuosos do mundo em que vivemos minha alma procura a essência dela mesma, investiga suas deformidades e claridades, distribui, na instantaneidade dos fenômenos que a envolvem, as incertas atitudes dos seres dispostos a transporem as barreiras sujas da vida. Algo me prende a solidão dos infinitos, me dissolve na magnética ação das ilusões atemporais. Estou rodeado de inquietações, transitam em mim sinais de desgostos ancestrais, visões crepusculares dos instantes que me deixaram na contramão das idéias e sentimentos. Há uma tensão me movendo de encontro às visceralidades, abrindo o leque metafísico de minhas assombrações e construindo em meu opaco ser os alicerces espirituais que, no tempo certo, me erguerá aos patamares elevados da compreensão e da sabedoria. Insossos pensamentos me transformam num homem à busca de si mesmo, me recriam nos sons de uma Harmonia Dissonante tocada por mãos calejadas de nunca se descobrirem inteiramente. Fantasmas me reencontram unido aos senões das mentes ternamente divididas entre os silêncios e as dores dos universos atormentados pelas circunstâncias que os oprimem e os definem num indeterminado número de coisas sem sentido. Indagações e surpresas me envolvem, me consolidam nas incertezas, me tornam um indivíduo estarrecido diante dos confusos indícios de amarguras em meu ser. Na presente obra, constituída de cem sonetos, metrificados de oito a dez sílabas, venho procurando ampliar a idéia da criação do soneto que já teve início no

NOBRES ANGÚSTIAS

Nobres angústias, pobres vidasCirculando em insandecidasVisões arcaicas. RefraçõesDo mundo, velhas reflexões

Dominando os isolamentosDoídos. Rotos elementosPaparicando alguns defeitosSublimes desses rarefeitos

Silêncios sempre conflitantes.Percalços chegam em distantesIdéias soltas nos possantes

Temores turvos, taciturnos.Estrelas pousam nos noturnosAmores cíclicos, soturnos.

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BEM SABES

Bem sabes que és ilimitado,Mas te descobres fraco vendoTuas agruras tantas. SendoTu um sonhador inveterado,

Alguma coisa suja de ávidoSentimento único, estás sóE assim terás que virar póNo dia da morte do cálido

Intuito póstumo daquelesDesejos tidos numa relesComoção plena de deslizes.

São inumanas cicatrizesQue te atordoam fomentandoTeu lado empírico, até quando?!

HarmoniaDissonante

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PASSO A PASSO

Passo a passo, ínfimo, refezAs abluções sujas da vida.Coordenou-se na guaridaDe si mesmo, íntimo da vez

Surgida no tempo atravésDesses instantes de incontidaReação vária. Amou a nítidaImpressão do mundo em viés,

Distribuiu na alma os soluços Onipresentes, velhos, ruços,Jogados no caos das razões

Desencontradas. EncontrouNo universo o que não sobrouDas circunstâncias sem senões.

DISTANTE DE MIM

Distante de mim a vida flui,Organiza-se em dúvidas mortasDe imponderâncias, traz as comportasAbertas da dor que me dilui

Na saudade total. ReconheçoAs paredes erguidas nas casasSem portas, os destinos de asasSempre em movimento e, então, mereço

Ponderar-me no mais absolutoVácuo procurando as peripéciasDo pensamento num resoluto

Problema retratado na lógicaContumaz das pacíficas, néscias,Noções livres como a flor pudica.

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SEMPRE

Sempre enxergou as coisas às avessas,Contrariou a si mesmo, morreuPensando no improvável modo dessasSituações tortas. Entendeu

Tardiamente as lógicas das pressasQue desnorteiam o eco fariseuDas razões monetárias. Nas compressasDo tempo envolveu as causas do orfeu

Som desajeitado, único, vital.Dissimulou-se auscultando o abissalSegredo dos degredos mais hostis,

A impaciência insana das sutisCongregações de um ser entregue ao sãEnsejo agrupado em uma dor vã.

METICULAÇÕES

Meticulações vibram nas ligeirasFugas que nos alteram em certeirasAtitudes canhestras. Dóceis mundos,Perdidos na era de tantos imundos

Afetos, reconhecem as inteirasÍndoles cujas forças são matreirasImpaciências ralas. VagabundosRondam ruas, esquinas, vãos, rotundos

Caminhos disfarçados pela dorDa contingência que nos atormentaSorumbaticamente. O dissabor

Dos entraves pesados aceleraVariados intentos, sedimentaOs elos vivos de quem nada espera.

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INÓXIOS SENTIMENTOS

De meus inóxios sentimentosNasceram os isolamentosFluentes do meu ser. IntentosProliferaram-se em momentos

Assustadores, refundiramA consciência, conduziramA impaciência pro amplo, uniramPlenos consensos, repartiram

As sensações descoloridasDos pesadelos. AtrevidasPercepções têm poentes vidas

Solares sempre transformandoO tempo num sonho brilhandoAtravés de um sorriso brando.

SUSTOS

Sustos amedrontaram-no, calaram-noIndiscutivelmente, procuraram-noNos entraves velozes como nósDifíceis de amarrar aos soltos pós

Das estradas sozinhas. Corroeu-seDe maldade, entregou-se a si, perdeu-seEnsimesmado com a palidezDe tantos pensamentos numa tez

Frontal cada vez menos singular.Duvidou-se, partiu-se na felinaCrença volátil, no divagar

Mundano dos espíritos paridosPela energia cíclica da sinaDos destinos soturnos, atrevidos.

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EU

Poço profundo de incertezas,O desconexo lado mortoDas ilusões nessas fraquezasDa alma, o ligeiro modo absorto

De refazer as sutilezasClaras daquele desconfortoVisceral, a dor das destrezasSonsas, o caos do cais sem porto,

A correria dos meninosOlhando os velhos desatinosDas contingências inumanas,

As confusões serenas, tímidas,Das mãos que acenam aguerridasPara os delírios não sacanas.

DESTEMPERO

Estamos fadados ao destempero,Às dores da inútil pendenga cíclica,A fuga lunática pelo esmero,Ao místico lado da causa rica

De herméticos brados possessivos.Contamos nos dedos a caridadeQue de nós provém, nossos aflitivosSuplícios desmontam toda acuidade

Dos frívolos choques candidamenteDispersos nas fúteis misantropiasEstáticas, soltam, numa demente

Astúcia coeva, a totalidadeDas metas que nos deixam como guiasDe seres visados pela saudade.

PARTIRAM-SE

Partiram-se as expectativas,Abriram-se as veredas pródigasDas projeções dessas esquivasDesconexões ternas, amigas.

Sobraram más noções ativasArticulando áureas intrigasAtravancadas nas nocivasCoincidências meio antigas.

Consumou-se o ato temporário,A vocação visionáriaDo coração sempre operário

Da bondade. Em tudo flui rarosOrvalhos vindos na vasta áriaCantada com gestos avaros.

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PERSISTÊNCIA

Por mais que persistisse encadeavaEm si mesmo a tortura dos chistososCidadãos timoratos, procriavaInternamente os góticos dolosos

Atos incomuns, via as insondáveisTentações dominadas pelas fétidasObrigações danosas. IncuráveisSonhos modificavam-no em contidas

Posturas aguerridas transmitindoAos seus instintos lúdicos o lindoOrvalhar das manhãs que não existem,

Os argumentos falhos de um diálogoFranco de indagações sinceras. Logo,O planeta é dos que lutam, insistem.

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COMUTAÇÃO

Os sons comutam no infinito,Procuram móveis convicçõesDespedaçadas em atritosPostiços. Âmagos aflitos

Viajam no eco não ilícitoDa correria nas liçõesQue nos agrupam aos bonitosSentidos tidos em conflitos

Diversos. Místicas fusõesCerebrais quebram ilaçõesIncongruentes, afugentam

Essas simplórias confusõesAlicerçadas nos porõesSujos dos fatos que se inventam.

PROSSEGUIR

Muitos prosseguem na caminhada,Outros tantos consomem a estradaPor si próprios num conto-de-fadaFalso, presenciando uma dada

Sentença que de tão isoladaDesnorteou o siso da ilhadaPreocupação máxima. AtadaAos deslizes está minha ousada

Ligeireza serena, a atiradaOpinião teimosa meladaCom o açúcar de toda cocada

Vendida numa feira suada,Completa de coisas como buchada,Rapadura, batata e feijoada.

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O TÉDIO

O tédio consumiu-te, isolou-te.Nada sobrou de ti, mantivesteNo espírito o bailar do cipresteSolto ao vento sem fim. Norteou-te

A visceral razão que acendesteNas entranhas. O sonho apressou-teNa direção da vida, roubou-teDa cicatriz que sempre soubeste

Administrar. Eternas surpresasBurilaram as cores ilesasDo abandono, cerraram o instante,

Petrificaram o mar agônicoDo desmantelo idoso e antagônico,Sondaram o eixo do impulso errante.

EXPLORO

Exploro minha insanidadeObservando a intranqüilidadeDo corre-corre na cidadeDos meus instintos. A verdade

Ainda não conheço, vivoDa incerteza ébria, do incisivoCorte imprudente nesse ativoSemblante meio tonto, esquivo.

Existe em mim mortas pegadasDescarriladas nas estradasSem trilhos, vidas em minguadas

Situações tortas, cadênciasQue se situam em anuênciasTotais, tais quais loucas vivências.

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DESCULPOU-SE

Pelas palavras que nunca disse,Desculpou-se. Refez sua própriaIgnorância, aliou-se a simplóriaSensação dos perdidos. Se ouvisse

Os segredos do tempo e sentisseA dor da reação vasta, inglória,Dos gestos acabados na históriaDo mundo, morreria. Se visse

A realidade oca dos parcosSentimentos impuros, fariaDas coisas uma vã poesia.

Lançou-se como as flechas nos arcosQue sempre apontam para os mistériosE atingem murchos alvos bem sérios.

PAISAGEM

Além do teu olhar a paisagemModifica-se e tua visagemRamifica-se pela dosagemQue te acelera para a pastagem.

Estás nos solos sem estiagem,Na correria de uma viagemPra lugar nenhum. A vadiagemProcura-te no dia de imagem

Contrariada, na defasagemDas horas, no fervor da engrenagemDa alma que se vê na picotagem

Dos temores sãos. A carruagemDo desejo oco tem a plumagemDe vastas dores numa moagem.

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VIA-SE

Via-se eternamente sozinhoFluindo nos caminhos atadosAos destinos impuros. SentiaInteriormente o desalinho

De quem percebeu tarde o carinhoInútil dos orvalhos cansadosDas manhãs. Não sabia que iriaEsgotar-se de amar, já novinho,

Os vazios dos medos caladosPelas noites contínuas. QueriaColigir a fé de um descaminho,

A essência leviana dos bradosOuvidos na demente distânciaRepleta de algo insosso, doidinho.

HUMANOS

Humanos, vis, matam-se, ocultam-seNo lado mau de tudo, avultam-seEm temporais arquitetadosNos tristes temas afanados

Da ilusão. Tornam-se impostoresFundamentados nos temoresDotados de alvas artimanhasQue nos comprimem como aranhas

Em suas redes. Ardilosos,Nunca respeitam os bondosos,Extinguem muitas esperanças,

Consomem os sérios intentosDe estarmos bem, com pensamentosFortes, munidos de bonanças.

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NAQUILO

Naquilo que vês tuas encharcadasNecessidades líricas, abarcasOs segredos fraternos dessas arcasDesencontradas no tempo, fechadas

Nesses entraves dos baús de marcasAntigas postas por mãos enfadadasDe pegar nas fricções atrapalhadas.Ventanias vêm cíclicas nas parcas

Situações plurais arrefecidasPelas inanições desenxabidasDos seres que se passam por faquir.

Apressados intuitos torpedeiamAs fornicações acres, incendeiamOs mistérios de um tônico porvir.

RESÍDUOS

As coisas modificam os resíduosDe dor que sobram dentro dos olharesResignatários. Vozes, tons assíduosRestauram cantorias seculares,

Protegem os suplícios que detêmMeus defasados íntimos degredosSombrios. Estragados ecos põemImpaciência nos turvos torpedos

Sensoriais, esperam elevar-meSutilmente, são rios a levar-mePelas veredas das altas montanhas

Perdidas na saudade que abrigouOs contextos do mundo e norteouAs antigas dissídias das entranhas.

3586

EVIDÊNCIAS

O tempo desmente as evidências,Corrompe a natureza banalDo verso com ou sem reticências.Contemplo a coerência frugal

Das veredas repletas de ausênciasPerfumadas pelo estro ruralDe todas as inúteis cadênciasVitais. Sinto diante do mal

O medo taciturno dos ímpetosAgregados aos nobres afetos,A força verdadeira das cegas

Atitudes que de tão piegasAfunilam intensos segredosCarcomidos por tolos enredos.

QUERIA

Queria apenas navegarSem mágoas ou iras, viverTranqüilo a mística do mar,Ver o horizonte de seu ser

Modificado pra melhorAtravés do fluente vaiE vem das ondas. O maiorDos passatempos de quem sai

Para enfrentar o bailar de águasSalgadas, longe de qualquerPessoa, é ter que corrrer léguas

Sentindo o puro ar do infinito,A lucidez de entardecerE anoitecer com o bendito.

3784

SILÊNCIO VOCAL

Teu peito encarcerado em ti mesmoAmargura o silêncio vocalDos instintos sutis. Lutas, a esmo,Procurando encontrar-te no aval

Das incertezas que repercutemNa tua solidão divagante.Aflitos diálogos discutemA mesmice de tudo, a ultrajante

Necessidade solta nos medosPluralmente dispersos em lêvedosSentimentos impuros, afeitos

À teatralidade da vida,À capenga ilusão esquecidaNos entraves dos sonhos desfeitos.

O CAIS

O cais jamais chegado trazA paz tenaz ao meu fugazArdor de pôr algum fervorNum coração onde o torpor

Circula forte e coagulaA gula de viver, a nulaExpectativa da assertivaViva de toda construtiva

Intuição. A vocaçãoÉ a coesão da sensaçãoQue escorre livre, mas socorre

A ilusão de uma apariçãoBoba, a fricção da mão em vãoQue corre apática e não morre.

3982

NOITES

Noites dissolvem velhos pensamentos,Recriam as imagens avoengasDos medos ruidosos. ElementosSingulares descobrem as pendengas

Desconexas das simples criaturasAbraçadas por sensos viscerais.Espiritualmente temos durasBatalhas a vencer, contextuais

Desejos ruminando nos estômagosDo tempo, desiguais modos de acharOs eólicos breus desses estragos

Causados através das ventaniasQue se propagam vivas ao luar,Que desmoronam as casas dos párias.

DESENTENDEU-SE

Desentendeu-se, faleceuDe tédio, foi-se para o céuDos sós. Viu-se, de novo, ao léu,Errante humano, ímpio plebeu

Atrelado ao que se perdeuDe paz nos rostos sem o véuDa maldade. Ímpar, fez-se réuDas contingências, padeceu

Nas percepções celestiais.Morreu, sutil, mais uma vez.Prosseguiu nessas desiguais

Intenções póstumas, nos aisSilenciosos e desfezPrantos hostis, fenomenais.

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ESSÊNCIAS

A vida desloca-se nas essênciasDos passos refeitos na escuridão.Segredos desunem as aparências,Refazem instantes, acham a mão

Arteira das vívidas convergênciasBuscando os fenômenos da ilusão.Intuitos agrupam inconseqüências,Retornam aos córregos pela ação

Humana daqueles contentamentosDispersos nos âmagos isolados.Visíveis apelos descontrolados

Aumentam o peso desses intentosQue cercam propósitos ajuntadosNa firme conduta dos desalmados.

ATADO

Estou atado às incompreensões,Aos vícios eternos das ilaçõesReais. Sucumbo ante ternos perdõesEtéreos, surpresas que unem visões

Renhidas. Pegadas fragmentam tontosCaminhos avaros, meros confrontosIrmãos das sentenças falhas em pontosBem próximos dos indivíduos prontos

Pra amarem a débil perturbaçãoCansada. Neurônios estão no sótãoDas mentes entregues a hesitação

Normal dos combates amedrontados.Temores retocam lábios calados,Contêm o asco dos nervos abalados.

4378

VERSOS

Versos consomem-me, congregamMeus irreais sensos atônitos.Sãos desestímulos agregamAs disfunções de alguns conflitos

Pululando em ritmos difusos.Ligeiros atos recicladosNa dor norteiam os abusosDas almas presas aos ilhados

Espaços mortos de si mesmas.Somos antigas velhas lesmasSeguindo sem prumo no rumo

Da perfeição, seres abertosÀs tempestades, aos incertosConhecimentos de todo humo.

PORÇÕES

Porções de penúrias atraem rugasAtrozes, mortalhas incandescentesBrilhando através das abertas fugasContínuas. O peso dos atraentes

Marasmos patéticos refaz tácitosInteiros problemas visionários,Conduz a beleza pelos conflitosPlurais, instigantes, desses hilários

Esboços traçados por influentesCabeças ausentes do mundo em gratosOlhares totais. Muitos artefatos

No espírito criam as decadentesIdéias obtidas nas mentes vívidasNum sôfrego amor de reações tímidas.

4576

QUANDO TU CALAS

Quando tu calas sinto em tiA presença ínvia dos sentidosQue abraçam minha pena. SeTens olhos soltos, comovidos,

Deves conter na alma o sagüiErrante nos vales perdidosDessas florestas cheias deVida e silêncios. Incontidos

Laços humanos unem teusCansaços rítmicos, são breusFluindo na solidez lúdica

Das reações atemporaisDo mundo, anosos rituaisEnfeitiçados numa fé única.

TORMENTOS

Tormentos aglutinam os pacatosVestígios que nos fundem aos ilhadosMomentos totalmente alicerçadosNos dissabores. Há bastantes fatos

Invadindo os espaços sideraisDas coisas flutuantes, construídasCom as mãos do destino. EnvelhecidasSensações adormecem nos sinais

Virtuais dos ensejos deslocadosNessas reminiscências insensatas.Vacilos momentâneos, ajustados

Às imprecisões, tornam os alentosMais plenos em litúrgicas cantatasDispersas nos minúsculos intentos

4774

INTERMITÊNCIA

A intermitência dos virtuaisEnsejos redefinem pluraisOlhares atracados ao caisDas insatisfações. Surreais

Raciocínios vêm, magistrais,Englobando a doçura dos maisPuros conhecimentos. FrugaisPercepções aglutinam os ais

Do mundo todo, tornam reaisOs gestos reciclados tais quaisAs nobres conjunturas normais

Que nada ensinam ou dizem. SaisAdoçam o sabor das ruraisSensações atuais, joviais.

PSICOSES

Psicoses voluntárias trazem místicasDeliberações aos tensos apelosQue nos ensinam a tocar raros celosDesafinados. Dóceis canções plácidas

Determinam os tons das altruísticasSandices glaciais, tornam os gelosDe nosso mundo interno em desmantelosDúbios. Loucas noções descobrem vívidas

Maneiras de fugirmos das angústiasE mantermos no espírito as astúciasSem convicção de eólicas virtudes

Chatas. Corremos a vida toda emUma pressa disforme, suja, semInspiração, repleta de atos rudes.

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POEMA INSANO

Polidos modos atreladosAos traços vãos, sorrisos fracosMoldados nos rostos marcadosPelos silêncios dos macacos.

Pólipos loucos indivíduosCansados, tortos, desunidosNos movimentos sãos, inócuos.Típicos brados aguerridos,

Amados medos corriqueiros,Sensos abertos, mandingueiros.Suados laços afogados

Nos rios secos, poluídos,Sujos, imundos, refundidosAos soltos córregos dos prados.

MORREU

Morreu de amar, dissociou-seDas suas próprias convicções.Não se venceu, divorciou-seDa solidão, porém, ações

Extras uniram-no a avoenga Amiga de todas as horas.Brigou com tudo numa arengaAbissal, íntima. Viu floras

E faunas, mágicas, nascendoE depois, únicas, morrendo.Sorveu o aroma da saudade

Com a plural perplexidadeDe quem ouviu as ressonânciasDos ecos livres das ganâncias.

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ERGÁSTULOS

Ergástulos do espírito, nósDifíceis de acertar, desesperosDesunindo os soluços apósTantas lágrimas nos destemperos

Do dia-a-dia. Humanos são sós,Eternos animais não sinceros,Crianças varrendo os sujos pósDe seus pés ancestrais, lero-leros

Cheios de ingratidão, viciososCaminhos imperfeitos, porososJuízos soltos nas dicções

Malditas, frágeis coraçõesDesmantelados, sombras tortas,Sonsas mudanças meio mortas.

ACÚMULOS

Acúmulos de vazios, sonorosEstímulos bem doentios. Perto De tudo está o mímico desconsertoUnido aos tenazes ímpares coros

Vagando no indício das confusõesJá céleres e bestiais. ExplícitosAnseios agrupam vários conflitosDispéticos, moldam as reuniões

De alguns movimentos exagerados,Arrumam as malas da alta agoniaPartindo por vales desvinculados

De nossos espíritos. AfastadosSegundos enxergam a terapiaInsana das mentes jamais usadas.

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MOTINS

Impróprios motins chegam, aglutinamOs desacertos do ser, desmotivamSemblantes ajoujados pelas tensasImaginações livres das intensas

Posturas más. Verbais mentes atinamAs opiniões dos prantos que ativamConfidências ocultas em imensasInsanidades postas nas propensas

Ações sofisticadas. SofrimentosLibertam os sentidos, dão alentosPara as divagações surpreendentes.

Minúcias cerebrais estabilizamOs termômetros que conscientizamNossas necessidades iminentes.

PERTENÇO

Pertenço ao improvável, a loucuraCorroída de incertos paradigmasTaciturnos. Possuo alguns estigmasReciclados na tétrica impostura

Enfeitiçada de gostos insossos.Construo os alicerces dos absurdos,Revitalizo minhas dores nos fossosSem fundo de mim mesmo. Somos surdos

Homens de gritos secos, abaladosPelo atropelo insano das visagensPerdidas no horizonte em enfadados

Realces naturais. Meus destemidosAis proliferam no sonho as imagensPerfeitas de quasímodos sons nítidos.

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AINDA

Ainda dormimos no berço sujoDe toda possível imperfeiçãoAguda. Perdemos o sonho em cujoTeor derramamos nossa fração

Contínua de rápidas conclusõesPrensadas nas máquinas ajustadasPor mãos inseguras, já nas prisõesDas ásperas índoles recatadas.

Estamos nos fracos desejos leigos,Nas fases dantescas dos rostos meigos,Nos tons improváveis das transições.

Alguma coisa única reconstróiO tenso momento que se destróiEm rápidas bobas observações.

CORREU RISCOS

Correu riscos pensando que um diaPoderia vir a ser perfeito,Reascendeu, doente, o defeitoDa chama sem gás. Viu a ousadia

Indiscreta das almas polidasNas constatações, nos abrasantesCaminhos virtuais cheios de ávidasSurpresas solitárias. Errantes

Sentidos burilaram-no em típicosAchados psicodélicos, deramAos seus sorrisos os pesos tísicos

Das ocasiões tortas, uniramSuas convicções tenras, prenderamTodas as artimanhas que o abriram.

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SOZINHOS CORAÇÕES

Sozinhos corações se perdem emIndícios assustados, organizamOs tormentos e sempre se humanizamPercebendo que são sonhos além.

Dilaceradas fúrias redefinemSensações, as feridas cicatrizamAo léu. Contextos débeis pluralizamRegurgitações álgidas, porém

Quentes de impaciências. InverídicosConhecimentos tornam os pudicosSeres desnorteados por intensos

Degredos viscerais. A rapidezDos intrigantes sisos vãos talvezDistribua na alma ávidos tons tensos.

TORRENTES

Torrentes de enigmáticas imagensAncestrais, atrações estarrecidas,Averiguações sísmicas, mensagensAbaladas por lápides polidas

Nos desgostos da vida que se vai.Surpresas desagregam o equilíbrioInvoluntário, o sonho distraiAs perspectivas num compasso sóbrio.

Atemporalidades rediscutemAs fantasias que jamais teremos,Modificam os medos, repercutem

Nos meus distúrbios tísicos. TernurasImplodem velhas dores, nem sabemosAinda de nós mesmos, vãs figuras.

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LARGAS VISÕES

Largas visões, deslocamentosDissimulados, negros modosDe encarar os isolamentosDo ser. Atípicos engodos

Condicionam-nos aos lentosPrincípios díspares. Nos lodosDessas paredes vãs há atentosSinais de vida, meios cômodos

De vermos a força das erasEm todas as nosssas quimeras.Somos risíveis criaturas

Acobertadas pelas durasProvas reais do dia-a-dia,Maldade que sempre se cria.

ARREPENDEU-SE

Arrependeu-se de ser gente,Comoveu-se, em sossego, comO decadente amor presenteNos dias de hoje. Fez-se bom

Como os orvalhos matinais,Enxergou, lúcido, as inúmerasSofridas vidas, animaisQuerendo o pão das primaveras.

Duvidou das incoerências,Penalizou-se pelos atosMaus que o deixaram nas demências

Visionárias. Desuniu-se,Articulou-se nos ingratosEspaços pálidos, mentiu-se.

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ENDEREÇO DO AUTOR PARA CORRESPONDÊNCIA

Rua Antônio Santana Filho, 600CentroPetrolina/PE56.300-000

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INFORMAÇÕES INTERESSANTES

* Dio Fonseca é designer;

* Jamesson Buarque é poeta e formado em Letras pela FFPP (Faculdade de Formação de Professores de Petrolina). Lançou em 1998 o livro de poemas Os Delírios;

* J. Mildes é poeta e jornalista. É de sua autoria a letra da música Lavadeiras do Angari cuja melodia pertence a Edésio Santos que, com certeza, foi seu melhor intérprete;

* O Clube dos Escritores de Piracicaba é uma entidade literária que engloba escritores de todas as partes do país e, inclusive, do exterior. Aroldo Ferreira Leão pertence ao Conselho Acadêmico ocupando a cadeira de nº 30 que tem como patrono o poeta Brasílio Machado;

* Aroldo Ferreira Leão pertence também a UBE (União Brasileira dos Escritores) de São Paulo.

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escritores brasileiros em Campinas/SP. Aroldo também escreve crônicas, contos, romances, textos para teatro. Em breve estará publicando seu primeiro livro de crônicas denominado Silêncios Atemporais, uma coletânea com 100 crônicas escritas em diversos jornais e revistas da região Petrolina/Juazeiro, entre os quais destaca: Jornal Folha Verde, Jornal de Juazeiro, Correio do Sertão(extinto), Gazzeta Regional, Máscaras-Jornal de Artes, O Cerveja-Jornal, Revista Com Você, Art Pop Zine- Revista Cultural, Jornal do São Francisco e Jornal da Cidade. O poeta possui um acervo com mais de 300 canções de sua própria autoria, nos estilos mais variados, passando pelo forró, samba, rock e já se prepara para este ano lançar seu primeiro CD intitulado Sacolejos, Desejos, Manejos e Arpejos, uma coletânea com 14 forrós que buscam dinamizar e melhorar o conceito desta espécie de música no país. Atualmente, Aroldo desempenha a função de Auditor Fiscal na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, em Juazeiro/BA, desde março de 1994 após conseguir aprovação em concurso público realizado em outubro de 1993. A partir de outubro de 1998 passou a fazer parte do Conselho Acadêmico do Clube dos Escritores Piracicaba, ocupando a cadeira de nº30 que tem como patrono o poeta Brasílio Machado.

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Gráfica Mandacaru

Clube dos Escritores Piracicaba

11902

PROJETO GRÁFICODIAGRAMAÇÃO, ARTE FINALTalentos Strategic MarketingDio Fonseca Fones: (0**74) 811 3703 (0**74) 9997 8607

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COPYRIGHT©AROLDO FERREIRA LEÃO

Impresso no Brasil - 1999

rima branca. Independente da forma que se apresenta, mesmo ciente de que sempre formal é o soneto, a sua chama de atenção me é reportada pelo enjambement, que Rimbaud e Jorge de Lima tão bem praticaram, a exemplo. contudo, não tão avultamente quanto nosso Aroldo Ferreira Leão. Aroldo, expressivamente geométrico qual os poetas cubistas (Pessoa, a priori) e duma matematicidade filosófica notória deixa isso bem determinado em a janela do sótão, sua penúltima coletânea de sonetos.

A morteSem norteNem sulÉ azul

Escura.A agruraDo medoVem cedo

No marDe um ímparDesejo

ParadoNo nado Adejo. (A morte in a janela do sótão, p. 86)

Jamesson Buarque

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INDIGESTOS .......................................................79ATADO .......................................................80SOCIEDADE .......................................................81DESENTENDEU-SE ..........................................82DIAS DE CHUVA ..........................................83O CAIS .......................................................84MERO ANIMAL ..........................................85QUERIA .......................................................86INCERTA INTENÇÃO..........................................87RESÍDUOS .......................................................88PROSSIGO .......................................................89HUMANOS .......................................................90TODOS .......................................................91PAISAGEM .......................................................92A POESIA .......................................................93EXPLORO .......................................................94CABAIS MELANCOLIAS .............................95PROSSEGUIR .......................................................96ÊXODOS EVASIVOS ..........................................97PERSISTÊNCIA ..........................................98IMPRECISOS SEGUNDOS .............................99DESTEMPERO ........................................100HÁ ..................................................................101SUSTOS .....................................................102RESSENTIMENTOS ........................................103METICULAÇÕES ........................................104REFLEXOS .....................................................105DISTANTE DE MIM ........................................106PERTO DO FIM ........................................107BEM SABES .....................................................108SECRETOS SENSOS ........................................109NOBRES ANGÚSTIAS ...........................110A VIDA PASSOU ........................................111DIVAGAÇÕES.....................................................112TUA ALMA .....................................................113CANSADO .....................................................114

CIP - Brasil. Catalogação-na-FonteCâmara Brasileira do Livro, SP

869.1L438h LEÃO, Aroldo Ferreira, 1967 - Harmonia Dissonante / Aroldo Ferreira Leão - Petrolina: Gráfica Mandacaru, 1999. 124p;il.,(Biblioteca da Fac. de Form. de Professores de Petrolina / PE; Poesia, 7)

1. Poesia Brasileira. I. Título.

MGBS-BFFPP CDD-869.1 CDU-869.0(81)1

ISBN 99-0001

Índice para Catálogo Sistemático1.Poesia: Século 20: Literatura Brasileira 869.12.Século 20: Poesia: Literatura Brasileira 869.1

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...Uma saudade enorme, comeDeita e dorme no meu coração.Remédio indicado pra quem está erradoÉ pedir perdão. ... Nossa conversa linda tem segredoAinda para um século ou mais.

LUÍS BANDEIRA

A vida que me cerca não é vida.É a morte travestida...Quase sempre disfarçada.É uma colcha de retalhosComposta por mil atalhosCujo fim é sempre o nada.

SILVÉRIO DA COSTA

... Abacateiro serás meu parceiro solitárioNeste itinerário de leveza pelo ar.

GILBERTO GIL

Sim, deve haver o perdão para mim.Se não nem sei qual será o meu fim.

CARTOLA

Em Mangueira quando morre um poeta Todos choram.Vivo tranqüilo em Mangueira porqueSei que alguém há de chorar quando eu morrer.

NÉLSON CAVAQUINHO

ÍNDICE

BIOGRAFIA .......................................................07PREFÁCIO .......................................................09APRESENTAÇÃO ..........................................11HARMONIA DISSONANTE .............................13PASSO A PASSO ..........................................15MINHA CORRERIA ..........................................16SEMPRE .......................................................17PRESENÇA DISFORME .............................18INÓXIOS SENTIMENTOS .............................19PASSEIO .......................................................20EU ....................................................................21INTUIÇÃO .......................................................22PARTIRAM-SE ..........................................23TORMENTOS .......................................................24COMUTAÇÃO.......................................................25ENQUANTO .......................................................26O TÉDIO.................................................................27PRESSÁGIOS .......................................................28DESCULPOU-SE ..........................................29PELO TANTO .......................................................30VIA-SE .......................................................31SOU ....................................................................32NAQUILO .......................................................33CAMINHOS FECHADOS .............................34EVIDÊNCIAS .......................................................35ESPANTADO .......................................................36SILÊNCIO VOCAL ..........................................37VERDADEIRO ..........................................38NOITES .......................................................39COESÃO .......................................................40ESSÊNCIAS .......................................................41VELHO APERREIO ..........................................42VERSOS .......................................................43

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TUA ALMA

Tua alma esperneia em ti no centroDas indagações que te abrem, dentroDo teu corpo fadado ao vulgarDistúrbio preenchido pelo ar

Sonoro dos momentos silentes.Existem nos teus laços ardentesAs prisões por nada, os fingimentosCoerentes de alguém com tormentos

Modificados pela ternuraAtrelada ao real coraçãoAmarfanhado por uma usura

Idiota. Remotas clarezasIluminam as linhas no chãoDa recordação vil, sem certezas.

c) Poética Ribeirinha,Antologia Literária de Petrolina - 1995,Elisabet Gonçalves MoreiraUniversidade de Pernambuco, Recife/PE, 1998;

d) Opúsculo do Conselho do Clube dos Escritores Piracicaba,C.N. Editora, Piracicaba/SP, 1998;

e) I Antologia Nau Literária,Editora Komedi, Campinas/SP, 1999.

III. LIVROS A PUBLICAR

a) Impactos Azuis (Poesia)

b) O Espelho dos Labirintos (Poesia)

c) A Alquimia do Impreciso (Poesia)

d) Silêncios Atemporais (Crônicas)

e) O Quarto de Teobaldo (Conto-Romance)

f) O Incerto Tom das Quimeras (Crônicas)

g) Os Olhos da Solidão (Poesia)

h) O Hálito da Aurora (Poesia)

i) Vestígios do Infinito (Contos)

j) A Trilogia da Dor - Parte Final (Poesia)

l) A Correria do Nada (Poesia)

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A VIDA PASSOU

A vida passou por ti, procurasteRespirar esses ares tortuososDos loucos vendavais meio porosos.Sofreste pela vida que forjaste,

Algo retirou de tuas entranhasAs artes cavernosas das sentençasExtraviadas em fortes doençasFugidias. Sincopadas artimanhas

Entrelaçaram teu abandonadoEspírito, mudaram o afastadoSonho magnetizado por conselhos

Fatalistas. Monótonas tendênciasAglutinaram parvas convergênciasTotalmente espalhadas nos tons velhos.

das aberturas dos poemas que compõem este seu sétimo livro. E esta mesma leitura o leitor poderá fazer no texto que me foi possível montar utilizando os títulos de parte das poesias desta sua obra. Vejamos:

“EU SOU SEMPRE(inquiridor de ) PRESSÁGIOS, (da) PRESENÇA DISFORME (de) TORMENTOS O TÉDIO!

MINHA CORRERIA PROVOCA CABAIS MELANCOLIAS (e ) SECRETOS SENSOS, VERDADEIRO SILÊNCIO VOCAL!

EXPLORO A POESIA PASSO A PASSO; PASSEIO ESPANTADO (pelas) ESSÊNCIAS (das) EVIDÊNCIAS (dos) CAMINHOS FECHADOS, ENQUANTO PROSSIGO (em) DIVAGAÇÕES, INÓXIOS SENTIMENTOS (de) ÊXODOS EVASIVOS. (Sou) REFLEXOS (da) PERSISTÊNCIA (de) TODOS (os) HUMANOS!”

Não é à toa que este seja o sétimo livro do poeta Leão. 7 é número cabalístico de afirmação esotérica, portal de entrada para um novo ciclo que bem poderá ser o seu encontro com a fonte desvendadora de mistérios!

Planeta Azul. Uma segunda-feira de verão.

J. MILDES

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SECRETOS SENSOS

Secretos sensos paralisamO irretratável, ventos visamBalançar as redes pendentesDa ilusão. Mentes decadentes

Procuram certas coerênciasDispersas em tolas carênciasIlustrativas. IndomadosDegredos podam os enfados

Tipicamente divididosPelos fragmentos parecidosCom a perene sensação

Estarrecida. VisuaisLimites bem paradoxaisCongregam nossa atenção.

meu sexto livro, A Janela do Sótão, onde há cem sonetos metrificados de uma a sete sílabas. Então, em Harmonia Dissonante, amplio o conceito criativo do soneto de oito a dez sílabas e no livro, que brevemente será publicado, A Alquimia do Impreciso, crio cem sonetos que recebem metrificação de onze e doze sílabas, fechando, dessa forma, o ciclo dos sonetos clássicos na forma italiana(dois quartetos e dois tercetos). Pretendo lançar também livros com sonetos livres, sonetos clássicos na forma inglesa(três quadras e um dístico), sonetos clássicos na forma espanhola(dois tercetos e dois quartetos) perfazendo a casa dos mil sonetos lançados entre todas as formas acima citadas. Acredito que, a partir de todas essas criações, eu possa estar contribuindo, sem qualquer demagogia, com o enriquecimento literário de nossa língua. O tempo dirá se sim ou se não. O tempo sempre nos acha soltos em nossas angústias e imperfeições, nos modela com os pincéis da vida que nos sucumbe, nos visualiza na dor apressada e esquizofrênica dos dias atuais. O tempo é a vida e a morte de tudo.

O Autor

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PERTO DO FIM

Perto do fim o início temComeço, lágrimas refletemA eterna luta de quemRecria dentro de si a além

Vontade da alma a percorrerIncoerentes vícios. SerTudo atrai a dor de perderInstantes lúdicos e ter

Que entender vastas emoçõesDesvinculadas das tensõesÍntimas tão cheias de ações

Primordiais. DesconcertantesConceitos mui itinerantesTraçam perfis intolerantes.

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REFLEXOS

Reflexos do tempo nos ermosSilêncios frágeis formam termosInvariáveis, realizamOs sonhos que teatralizam

Nossas farsantes presunçõesSisudas. Rôo assombraçõesE visuais consensos rústicos,Atrelo-me aos males acústicos,

Passeio por conhecimentosAssociados às vigíliasUnificadas nas azias

Vindas nos quentes elementosMantidos num inchado estômagoAtravés de algo em que me estrago.

MINHA CORRERIA

A minha correria descansaNo meu coração, flui na demênciaImpaciente da questão mansaVinda na brevidade da essência

De qualquer lucidez. Guardo os bradosPardos que chegarão na anuênciaDos sentidos unidos aos fadosCantados pelas vozes da ausência,

Redescubro os momentos arfadosNa agonia reinante da ardênciaDas azias concisas. Bailados

Atemporais constroem a dançaUniversal da doce cadênciaRica de ações já sem aliança.

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RESSENTIMENTOS

Ressentimentos incendeiamAcasos presos aos quebrantos,Isolam as sombras dos mantosDa escuridão, vêem, permeiam

Distantes vidas diluídasNas convicções. RelapidadasConveniências unem dadasTeses cortadas por sentidas

Indiferenças, desconhecemLúgubres tons ancestrais, tecemAs artimanhas dos injustos.

Insanidades dialogamCom os mistérios, desafogamCertos cansaços dos vetustos.

PRESENÇA DISFORME

A presença disforme dos instantesFragmenta as esperanças, trai infantesSentimentos perdidos em pedantesGestos cantarolados nas distantes

Paisagens vinculadas às errantesMontanhas descontínuas, abrasantes.Inanimados ventos sopram antesE depois das razões tonitruantes.

Quasímodas maneiras inconstantesRefazem os distúrbios conflitantesQue nos deixam inúteis, intratantes.

Visões irrefutáveis são jusantesChegando nas ações alucinantesDos desencontros plenos, ruminantes.

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Há os que não têm ninguém, outros têm, mas,Vivem a solidão das sombras. MuitosTêm e não têm, diluem seus fortuitosAmores, em ligeiros dolos, nas

Vibrantes ilusões tão corporais.Existenciais tatos armazenamConfusas abstrações parvas, acenamPara os temperamentos anormais.

Sugestivos disparates carinhososRetocam a harmonia dos decorososRostos bem performáticos, ligados

Aos consensos brilhantes, às fusõesArquitetadas por constataçõesSimples, aos sentimentos mais errados.

PASSEIO

Passeio pelo inconsciente,Reflito sobre o inexistente.Recorro, tenso, ao comoventeApelo nobre que candente

Traz o sutil elo pendentePro destemido ato plangente.Algo acelera a confluenteNoção aberta no fluente

Rio dos sons. InfelizmenteSou imperfeito, decadente.Aprisiono a una demente

Impressão rota e totalmenteInsegura. O asco do olhar renteA dor fulmina o instante urente.

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IMPRECISOS SEGUNDOS

Imprecisos segundos fatalizamO inesperado, tombam adianteDiante de um futuro acachapante.Vontades aglutinam-nos, deslizam

Nos reencontros, fundem-nos ao módicoFingimento acoitado pelo rápidoToque de mãos matreiras. O impudicoSentimento, que nos corta num ríspido

Desconforto mundano, magnetizaO imprudência, o fulgor que centralizaAs evidências curvas da didática

Assombração criada por vultososDesarranjos libertos dos ditososIntuitos ajustados à dor tática.

INTUIÇÃO

A intuição despenteadaOlha a agonia do movimentoDistribuído na abafadaConvicção tosca e sem alento.

A morte cria o absurdo roto,O desgosto íntimo do instanteParalisado numa fotoTirada à luz da confiante

Introspecção desajeitada.O tempo ignora a sina aladaDos bons espíritos nas garras

Do consumismo universal.Estamos todos no irreal,Na fuga perra, sem amarras.

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ÊXODOS EVASIVOS

Êxodos evasivos contêmMonotonias vívidas, vêmChegando num ritmo hábil, sestroso.Viagens longas deixam o anoso

Lodo do esquecimento nos lívidosDescampados sequer percorridos.Valiosos conceitos difusosCegam certos olhares confusos,

Veiculam canções com rés, dós,Sublimes e congregam no cósDas calças da verdade a cintura

Das fustigações que fundamentamOs elos usuais, apoquentamA incongruência de uma loucura.

TORMENTOS

Tormentos dizem que possuoNo espírito o sonho imperfeitoDo cidadão humano, inócuo.Viajo pelo olhar suspeito

Do pensamento em que flutuoProcurando o velho conceitoTorto de estar em tudo. AtuoNo sincopado alheio leito

Das ilusões, abraço a dorCom a energia de quem senteEm si a demente incoerente

Percepção lúdica, maiorQue alguns silêncios buriladosNos dias mais desencantados.

9526

CABAIS MELANCOLIAS

Amarguras, cabais melancoliasRetiraram-no da realidade,Deixaran-no sozinho nas inérciasDe toda nostalgia sem idade.

Desconexas atônitas maneirasDe viver reduziram-no aos pacíficosPlanos de um dia, quem sabe, em certeirasAtitudes, vencer os males típicos

Que o atormentaram. Só constantemente,Descobriu-se maduro pra silenteVocação de um menino descontente.

Debruçou-se sobre esses parapeitosDas janelas do além, nalguns defeitosMultiformes, parvos e suspeitos.

ENQUANTO

E enquanto tu seguias eu ficavaCom minha solidão, silenciavaMeus ávidos instintos, procuravaOs elos transtornados do que estava

Perturbando teus sonhos, mendigavaO fenômeno cíclico da travaIrreal da alma que se apoquentavaNo drama do dia-a-dia, deixava

Para trás o fim de quem espiavaO ocaso de uma forma bem eslava,Refazia em paz a sisuda cava

Que resplandecia e me retratavaNa cadência das coisas, procuravaAssociar o senso que me atava.

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A POESIA

A poesia é meu alimento.Vôo na direção da belezaEterna, procuro a realezaDos mistérios, o absorto rebento

Que me trará a altivez da humildade.Os versos investigam-me, queremO silêncio maior dos que feremA si próprios com a claridade

Dos sóis fantasiados de luas.O poema é a atenção de contínuasMentes entrelaçando-se, cruas,

Associando prantos, temoresDesgovernados por incoloresAções esmiuçadas nas flores.

PRESSÁGIOS

O poeta vem, claro de presságios,E se dilui nos hábitos, procuraA tonante noção que descosturaAs imprecisões. Típicos adágios

Desmentem suas lágrimas na escuraVocação de um ser solto em apanágiosMinimalistas. Próximos contágiosEnterram o óbvio e põe a futura

Doença de querer eternamenteVersejar nas mãos dos pactos malsãos.Indícios generosos contêm sãos

Ímpetos que aceleram a atraenteVisão reformulada pelas gratasMudanças asquerosas, insensatas.

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TODOS

Todos destroem a todos, quemHá de sobreviver no terrorEspiritual de hoje, na dorIlimitada que não convém

A ninguém, no covil de abnegadosChorando em desespero contínuo?!Contundentes absurdos, num fátuoMomento de avidez , têm parados

Sinais virtuais soltos nos sólidosContentamentos fracos. ContidosPropósitos derramam na sã

Perspectiva a terrena ilusãoDe um imodesto fato malsão,Tosco, nascido numa manhã.

PELO TANTO

Pelo tanto de amor que se perdeuDos teus olhos e uniu prudentes velhosPressentimentos vívidos. Pelo euQue desequilibrou certos parelhos

Movimentos ingratos transformandoA alma em torpes cadências inumanas,Pelo abandono múltiplo do brandoEnvolvimento cheio de planas

Percepções intuitivas. Pelo teuProfundo dissabor sempre buscandoA estrada que jamais te será dita,

Pelo instante do tímido sandeuAtrapalhado em si mesmo sambandoDe uma maneira tosca mas bendita.

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PROSSIGO

Prossigo só, meus versos sabemDisso. Duvido desses seresSem amor, dos sonhos que cabemNa palma da mão. Meus deveres

Para com o mundo padecemNa minha vã desarmoniaVital, nos medos que apodrecemAlguma tísica ousadia

Com o pavor das agoniasViscerais. Venho das históriasJamais contadas, concretizo

Inutilmente os almejadosFins por mim já sempre esperados,Estou no ermo e nele deslizo.

SOU

Sou uma espécie de atropelos,Sinceros portos mortos. Me untoCom os sons ternos do conjuntoVocal do espírito, vejo elos

Invadindo os prismas singelosDa alma vil livre do defuntoPróprio. Desloco-me no assuntoDifuso, entendo os apelos

Dos corações mais solitários.Consumações rondam-me em váriosEstágios, pousam nas aparências

Que nos confundem como sósiasMal parecidos com o fútilMovimento ante a dor inútil.

8734

INCERTA INTENÇÃO

Diluído na incerta intençãoQue modificou minhas atentasDecisões declináveis, sou lentasConquistas levianas. Então,

Entenda-se, não presto. ErmitãoInveterado, dores isentasFormam essas batalhas sangrentasDiante das quais vivo a função

De procurar-me e nunca me aterÀs inconstâncias do meu espírito.Fragmentos de sossego vêm ver

O aperreio mascado, latente,Das apoquentações de um malditoLangor juntado ao que está ausente.

CAMINHOS FECHADOS

Caminhos que se fecham, desníveisAcelerados nos modos fúteisDe encararmos algumas horríveisCoisas. Visões perturbam os táteis

Soluços de um dedo em compatíveisGestos dualizados. ArráteisMedidas da dor checam visíveisSinais afugentados, dizíveis

Palavras meteóricas, dóceisCaricaturas de velhos fósseisHumanos. Todos nós temos seis

Sentidos a roubar nossas fáceisDeduções abissais pelas leisDos livros que jamais vós releis.

8536

MERO ANIMAL

Átomos, células, moléculas,O homem mantém-se solitário,Mero animal com várias féculasRondando seu imaginário

Pensante. Díspare, tentadoA cometer erros eternos,Acobertado pelo enfado,Vincula-se aos olhos maternos

De um jeito sempre apiedado.Pressente, logo, o inusitado,A dissipada disciplina

Que, num tonto ímpeto, afunilaSonsos desterros e aniquilaO atrevimento que o domina.

ESPANTADO

Espantado com as indagaçõesViscerais dos desejos, atreladoÀs contundências tolas das razõesImpuras, controlado pelo lado

Empírico daquelas pretensõesSacrossantas, sentiu-se maltratado,Indignado, discrente, sem cançõesPara acalentar seu ser apressado.

Movimentou-se nas intuições,Não percebeu a tempo as convicçõesDos outros. Reviu, tolo e desajeitado,

As muitas variadas impressõesMantidas sob a luz das ilusões,Sucumbidas no verso atafulhado.

8338

DIAS DE CHUVA

Dias de chuva têm os hálitosQue apaziguam velhos gritosInteriores, breves ritosAdocicados pelos mitos

Da hipocrisia deste mundoNosso. Há o mistério profundoCercando as gotas num rotundoMovimento alvo de um imundo

Testemunhar desvinculadoDos vendavais, atormentadoPelo poder tosco do brado

Inadequado. Águas possuemA sutileza de quem vemChegando num bailado zen.

VERDADEIRO

O verdadeiro sonho atraiO sublime, o almejado haicaiCriado com o vem e vaiDas coisas. A saudade sai

Pelas esquinas e distraiO olho, de alguém, que se contraiCandidamente tímido. AiDe nós, anímicos, sem pai

Nem mãe, sós, fúteis, sujos: CaiSobre o desejo que retraiNossos sentidos o elo que trai

A maldição do ínvio banzaiDesajustado. O homem extraiDe si os segredos de um xangai.

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SOCIEDADE

Nossa sociedade corrompeA todos, até mesmo a ela própria.Má, estúpida, cobra a dor inglóriaDo bom cidadão, perde-nos, rompe

Com os amores puros. Tirana,Busca atrapalhar os mais fraternosSonhos, deseja que os hodiernosDias sejam vividos na insana

Luta pelo alimento, saúde,Vestuário, trabalho. A virtude,A conduta correta é esquecida

Em prol de uma anormal violênciaQue traz o desespero, a demênciaPra quem, cordial, quer paz na vida.

COESÃO

Comprometeu-se com a coesãoDos sentimentos postos na fusãoIntinerante da constataçãoAbafada pela alva convicção

Das noções reles, más. Toda visãoExpande, retrai, nossa hirta alusãoAo barulho da frágil sensaçãoRetratada em alguma reação

Enérgica dos ecos nos vazios...Isolou-se pensando nesses friosGlaciais, procurando os armistícios

Fatigantes dos pactos moderadosModelados nos eitos acopladosDos lugares perdidos, desazados.

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INDIGESTOS

Espaços preenchem meus indigestosVazios com a dor das ignorâncias.Intactos passados destroem restosDe ânimos presentes, futuras vias

De tráfegos límpidos e serenos.Impróprias ações refutam as dádivasQue crivam no ser coesos fenômenosLigados aos tatos das coisas vivas.

Incensos perfumam minha secretaTensão uniforme, tornam-me ascetaEscuro, notívago. Balbucio

Nas horas querendo vastos limitesOcultos, astutos simples palpitesCingidos por mentes num ato sóbrio.

VELHO APERREIO

A alma soluça no velho aperreioDe sempre, procura o desconhecido,A meta inatingível, o oco enleioReproduzido no semblante lívido,

A força que produz as amarguras,A saudade de todos os momentos,O amor ilimitado que traz purasSituações aos típicos alentos

De nossos corações impacientes,As maneiras complexas de vivermosSem nos acharmos, os sobreviventes

Estímulos provindos dos famintosInstintos difundidos pelos ermosCíclicos das prisões nos labirintos.

7744

OS DIAS

Os dias necessitam dos vestígiosDe nossas imprudências, recolocamNas entranhas limites e solstíciosQue de tão permanentes realocam

As transformações da alma num casebreHumildemente feito de bondade.Temporais depressivos têm a febreDas imperfeições, a complexidade

Esquisita dos loucos pormenoresIncontestáveis. São enormes doresConsumindo o planeta, vis pavores

Rondando a existência íntima das fortesEmoções retratadas pelos cortesOpacos dos ardis sensos das mortes.

IRRESOLUTO

Irresolutos tinos visNada contêm, desaceleramAs contingências, chegam, geramOs dissabores mais hostis.

O mundo voa pelos ares,Continuamos imperfeitos.O sol brilha e nossos defeitosApenas nos tornam vulgares,

Cidadãos pouco habituadosCom a beleza dos aladosSonhos humildes, vinculados

Aos corações sempre sinceros.Viver cria os ímpetos meros,Recicla intuitos e entreveros.

7546

PRETENDIA

Pretendia vencer o imponderadoLado de tantas lutas sem quaisquerSentidos, o pavor desajeitadoDas inconveniências. Tinha o ser

Entregue às tempestades, ao polidoInstinto navegante dos atoresAtrapalhados com o divididoGesto representado pelas cores

Das incertezas. Via a lucidezDos semblantes sutis, alimentadosPela insensatez de quem se desfez

Em lágrimas e pra sempre sentiuNa pele o efeito meigo dos caladosAfetos que a ninguém desiludiu.

CORTES

Cortes na alma unem os mistériosDe cada um de nós, são complexosIntentos psíquicos, amplexosSem braços, métodos bem sérios

De encarar a realidade.Vagos espíritos procuramAs circunstâncias da dor, curamSeus próprios males na verdade

Que ainda nem conhecem. FatosDesequilibram, atormentamAs percepções turvas dos tatos

Desintegrados na avidezIgnóbil das mentes que inventamFugas e algum sonho soez.

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PÁLIDA FACE

Tua pálida face reflete Aflições bem reais, perigososEsforços disfarçados na inerteImpressão concentrada em idosos

Pensamentos surgidos no intensoAgrupamento de átomos postosNum corpo frágil, néscio, imensoDe argumentos e tolos desgostos.

Decisões refutáveis desviamOs ruídos que nos aliviamDas mesmices totais, corriqueiras.

Intuitos fatalizam os medos,Congregam nossos parcos segredos,Desmantelam as coisas inteiras.

FLUIDOS ATOS

Fluidos atos malsãos, insensatosMétodos de espalhar pelos porosAs inseguras forças dos chorosSem necessidade. Ébrios abstratos

Poemas modificam ingratosRuídos ressoando nos corosDe vozes inauditas. CanorosPássaros sobrevoam, intatos,

Vales, campos, estradas, caminhosProcurando os abrigos dos portosAbandonados pelos sozinhos

Marinheiros serenos, inúteis.O universo dá abrigo a seus mortosE vivos, torna as coisas duráveis.

7150

SEGUIR

E seguir sem saber para onde,E manter nos olhos a incertaDúvida que provoca, apertaO coração indo num bonde

Por quaisquer trilhos metafísicos.E duvidar desses instantesDesagregados, refutantes,E buscar dentro dos empíricos

Gestos normais os desmantelosInerciais de algumas cíclicasAparições. E crer nos elos

Que impacientam nossos laçosHereditários em políticasAssociadas aos bagaços.

TUA DOR

Tua dor olha-te em deslize,Traduz teu vácuo solitário,Torna-te triste, salafrárioDe emoções torpes. Na valise

Do tempo estás, quem concretizeSeus próprios sonhos buscas, várioE inconcistente. Tu és hilário,Uma silente incerta crise

Testemunhada pelos escurosQue te dominam. Há monturosInvadindo, em degredos trágicos,

O esconderijo refratárioDesses sobejos no contrárioMovimento híbrido, sem tópicos.

6952

SEDIMENTOS

Sedimentos da dor, elementosAgourentos lançados à sorteDos inválidos, táteis intentosReagrupando o insólito corte

Profundamente sôfrego. VentosDerrubam os pesares, a morteQue estanca ocas sangrias, os lentosPassos de alguém elétrico, forte.

Estranhas contundências descobremAs metas isoladas, encobremO silêncio prudente dos pés

Flutuando no inóspito chãoAbarrotado de pedras tãoPontudas quanto o olhar de viés.

LIMITES PACÍFICOS

A dor eterniza as esperanças,Redescobre limites pacíficos,Indícios pontuados em líricosSinais vindos nos sons das andanças

Pelas estradas calmas. HerançasDa alma procuram sempre fluídicosPensamentos lançados dos místicosMontes naturalmente. Bonanças

Refazem o equilíbrio dos justos,Controlam mecanismos adustosNo terreno sagrado das fossas

De um Edgar Allan Poe. Temos nossasInúmeras razões de mantermosEm nós tudo e nem nos conhecermos.

6754

REAÇÃO TÍMIDA

Navego numa solidãoCompreensiva, distribuo,Com efusão, a reaçãoTímida do ermo fogo-fátuo

Sepulcral, solto na noçãoAlveolar do caso inócuo.Casulos se abrem à visãoImponderada desse vácuo

Que nos fulmina livremente.Prisões algemam os estrosMais insolúveis em canhestros

Deslocamentos. O atraentePulsar das íntimas açõesMás produz hirtas percepções.

NÃO SABES

Não sabes de ti, de nada sabes.Tu, impiedosamente, não cabesNas tuas agonias. Tens ávidosTemores perturbando os sentidos,

Gerando divisões. Mesmo que babesTeu talento invulgar e te gabesDe possuí-lo vens dos partidosDestinos compactados, contidos.

Ninguém entenderá esses suplíciosQue avançam sobre temas propíciosA criação de tantas agruras.

A recordação das desventurasRetira das montanhas os vôosMantidos firmes pelos enjôos.

6556

TORNOU-SE

Tornou-se malsão de uma forma lúdica,Rondou os caminhos de um jeito fraternoE uniu-se aos deslizes de um modo eterno.Sentiu-se vilão de uma maneira única,

Feriu-se parando num gesto tímido,Humilde. Foi-se em um tique confusoQue sempre trouxe um trejeito difusoA sua mente ímpia como um sestro híbrido.

Nasceu dessa cinza jogada no átrioDe todo abandono atirado ao maisSedento desejo arremessado, ínvio,

Por vales serenos. Morou no vícioArtrítico, sempre habitou nos aisCom a luz de quem residiu num lírio.

ANTES E DEPOIS

O antes e o depois trazem saudadesAssisadas, acendem a turvaOcasião discreta. Na curvaDe alguns pressentimentos, há a idade

Dos ventos, os segredos raptadosDas névoas de toda hirta manhãDesassistida pela luz vãDesses sóis não centrais, afastados

Dos sôfregos sinais planetários.Universos estão englobadosPor mistérios, ruídos moldados

Nas galáxias compostas de váriosDesenhos de candentes estrelasCadentes que pinto em aquarelas.

6358

DESACOSTUMOU-SE

Vil, desacostumou-se consigoPróprio, sujou-se com os segredosInábeis de alguém cheio de ledosProjetos. Procurou-se no abrigo

Pacífico das mentes danosas,Nessas escapatórias prolixasDe alguém desnorteado. PorosasNoções manifestaram-se em fixas

Visões inquebrantáveis, apáticosPressentimentos dignos dos mágicosReencontros instáveis, fluídicos.

Irrefutáveis gestos caladosGeraram sonhos sós, sincopadosEnsejos meramente enfadados.

O CAIS DO CAOS

O cais do caos, o medo sôfrego,A fuga presa ao pesadeloSilencioso. O feito trôpegoTraz conjecturas num apelo

Cadenciado, desagregaA soberana cor da telaCuja moldura tem a gregaConcepção sábia que nivela

Nossos fantasmas. DissecadosImpulsos ralos, ancoradosAos meus ocultos e indomados

Tinos, revelam encantadasRazões repletas de paradasDisfunções bem desarranjadas.

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PRISMA

Dentro do prisma de indecisõesQue marcou a existência de seusÁtomos, viu-se atado aos judeusViajantes tormentos. Cisões

Profundas repartiram-no em muitasQuestões sempre intrigantes, deixaram-noSozinho investigando o eu, acharam-noDeprimido, agarrado às fortuitas

Indagações doídas, vazias.Encheu-se de alusões, elementosPessoalmente toscos, histórias

Fundamentadas nos leilõesMoleculares dos passamentosTristonhos, sem senões nem refrões.

VACILOS

Vacilos da alma, repentinosAgrupamentos envolvendoA placidez dos desatinosIncomuns. Raptos refazendo

A angústia tácita das pobresIdéias líricas ouvidasNos titubeios dessas nobresDicções duráveis, destemidas.

Vínculos douram as urgências,Possibilitam duelarmosCom nossas velhas aparências.

Minúcias tecem os instantes,Descobrem que se agarrarmosAs percepções somos farsantes.