108
INSTITUTO OSWALDO CRUZ Mestrado em Biologia Parasitária EFEITO DOS INIBIDORES DE ASPÁRTICO PROTEASE DO HIV SOBRE Leishmania amazonensis LIVIA DE OLIVEIRA SANTOS Rio de Janeiro 2009 TESE MBP -IOC* L.O. SANTOS 2009

INSTITUTO OSWALDO CRUZ Mestrado em Biologia Parasitárialivros01.livrosgratis.com.br/cp112843.pdf · O sub-reino Protozoa agrupa alguns protozoários de reconhecida importância médica,

Embed Size (px)

Citation preview

INSTITUTO OSWALDO CRUZ

Mestrado em Biologia Parasitária

EFEITO DOS INIBIDORES DE ASPÁRTICO PROTEASE DO HIV SOBRE Leishmania amazonensis

LIVIA DE OLIVEIRA SANTOS

Rio de Janeiro 2009

TESE MBP -IOC* L.O. SANTOS 2009

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

ii

INSTITUTO OSWALDO CRUZ

Pós-Graduação em Biologia Parasitária

LIVIA DE OLIVEIRA SANTOS

Efeito dos Inibidores de Aspártico Protease do HIV sobre Leishmania amazonensis

Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz

como parte dos requisitos para obtenção do título

de Mestre em Ciências.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Alves

RIO DE JANEIRO

2009

iii

INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Biologia Parasitária

AUTOR: Lívia de Oliveira Santos

EEITO DOS INIBIDORES DE ASPÁRTICO PROTEASE DO HIV

SOBRE LEISHMANIA AMAZONENSIS

ORIENTADOR (ES): Prof. Dr. Carlos Roberto Alves

Aprovada em: 16/04/2009

EXAMINADORES:

Prof. Drª. Alda Maria da Cruz - Presidente Prof. Drª. Suzana Côrte-Real Faria Prof. Drª. Helena Carla Castro

Rio de Janeiro, 13 de Julho de 2009

iv

Dedicatória

Em memória de meu pai,

que amei cada minuto da minha vida

e a quem dedico esta conquista.

v

Agradecimentos

A Jesus, pelos caminhos que percorri sob sua orientação e proteção e a Deus por tudo que tenho conquistado e por estar ao meu lado em todos os momentos da minha vida. Ao meu orientador, Dr. Carlos Roberto Alves, cujo apoio e compreensão foram essenciais para o desenvolvimento deste trabalho. A Drª Constança Britto por ter me recebido de braços abertos em seu laboratório. A todos os amigos do laboratório, sem exceções, e em especial a Dani, Karina, Bernardo, Chico, Leo, Camilinha, Lívia U., Thaisinha, Larissa, Louise e Clarinha pelo carinho especial. A Ellen e Bianca, que tanto me ajudaram neste trabalho e que me elegeram como “chefinha”, mas que na verdade eu as elegi como minhas amigas do coração. A Drª Claudia Masini d`Avila Levy e Marta Helena Branquinha de Sá por terem dado a mim a oportunidade de iniciar na vida científica. Tudo que hoje sei devo a vocês. Minhas orientadoras do coração, acima de tudo. A minha amiga querida, Fernanda de Aquino Marinho, por sua amizade verdadeira, pelos momentos de risadas, pelos momentos de desabafo, pelas horas dispensadas no auxílio à elaboração deste trabalho. Sua amizade é uma das coisas mais valiosas na minha vida. Ao Dr André Luís e a Drª Cristina Motta, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo apoio no desenvolvimento da pesquisa, bem como pelo auxílio na análise e interpretação dos experimentos. Ao corpo docente e discente e a secretaria do Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária, pelos conhecimentos compartilhados e pelo zelo e auxílio constante ao aluno. A Fiocruz pelo apoio financeiro e pela oportunidade de estar em uma instituição tão séria e competente. A todos do Laboratório de Bioquímica de Insetos por serem sempre tão solícitos e permitirem o uso de seus aparelhos. A Jaime Augusto Neto, meu companheiro e meu amigo, sobretudo, sempre presente ao meu lado, por me incentivar, apoiar e acreditar nos meus sonhos e, ainda mais, por ter me ajudado a transformá-los em realidade. Te amo! Aos meus pais, irmã e avó, com quem sei que sempre poderei contar e a quem amo incondicionalmente. Obrigado a todos de coração!

vi

Epígrafe

"A dúvida é o princípio da sabedoria”

(Aristóteles)

vii

Sigas e abreviaturas:

AIDS/SIDA: Acquired Immunodeficiency Syndrome (síndrome da imunodeficiência humana)

DAN: Diazo-acetyl-norleucinemethylester (Diazoacetil-DL-norleucina metil ester)

DMEM: Dulbecco’s modified Eagle’s medium (Meio eagle modificado por Dulbecco)

DMSO: Dimetilsulfóxido

DNA/ ADN: Deoxyribonucleic acid (ácido desoxirribonucléico)

gp63: Glicoproteína 63

GPI: Glicosilfosfatidilinositol

HIV: Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana)

IC50: Concentração inibitória

IL-10: interleucina-10

IP/r: Inibidor/ritonavir

IPs: Inibidores de proteases

IPs-HIV: Inibidores de protease do HIV

kDa: kilodalton

kDNA: DNA do cinetoplasto

LCD: Leishmaniose cutânea difusa

LM: Leishmaniose mucocutânea

LV: Leishmaniose visceral

mA: Miliampere

MSP: Major surface peptidase (principal peptidase de superfície)

MTT: (bromidrato de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazolio)

NK: Natural Killer

OMS: Organização Mundial da Saúde

PAHO/WHO: Pan American Health Organization/World Health Organization

PBS: Solução salina tamponada com fosfato

PSP: Promastigote surface peptidase (peptidase de superfície de promastigota)

RFLP: Restriction fragment length polymorphism

rpm: Rotação por minuto

SAG: Gluconato de antimônio e sódio

SAP: Secreted aspartic protease (aspártico protease secretada)

SDS: Sodium dodecyl sulfate (dodecil sulfato de sódio)

SDS-PAGE: SDS - polyacrilamide gel electrophoresis (Eletroforese em gel de poliacrilamida

contendo SDS)

viii

SFB: Soro fetal bovino

TARV: terapia anti-retroviral de altamente efetiva

TGF-β: Transforming growth factor-β (fator transformador do crescimento-β)

TH2: T helper 2

TNF-α: Tumor necrosis factor-α (fator de necrose tumoral- α)

V: Volts

ix

INSTITUTO OSWALDO CRUZ

EFEITO DOS INIBIDORES DE ASPÁRTICO PROTEASE DO HIV

SOBRE LEISHMANIA AMAZONENSIS

RESUMO/ABSTRACT

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Livia de Oliveira Santos

O protozoário Leishmania é o agente etiológico da leishmaniose, doença cuja

patogenicidade ainda não é bem compreendida. A terapêutica atual para a leishmaniose é pouco eficaz devido à toxicidade dos agentes terapêuticos disponíveis e à emergência de resistência aos medicamentos. Além disso, os países e regiões endêmicas são economicamente pobres e têm sua situação agravada devido ao aumento do número de casos de co-infecção Leishmania-HIV, devido à sobreposição das epidemias da Aids e da leishmaniose. No presente trabalho, foi investigado o efeito dos inibidores de aspártico protease do HIV (IPs-HIV) sobre a proliferação, ultraestrutura e diferenciação de Leishmania amazonensis. Além disso, foi avaliado o efeito dessas drogas sobre a interação com macrófagos, a atividade de aspártico protease e a expressão de proteases clássicas, que estão diretamente envolvidas na patogênese do parasito. Todos os IPs-HIV foram capazes de diminuir o crescimento do parasito de uma forma dose-dependente, especialmente nelfinavir e lopinavir, com o IC50 correspondendo a 15,12 µM e 16,47, respectivamente. Análises por microscopia eletrônica revelaram que o tratamento com os inibidores causou mudanças profundas na ultraestrutura do flagelado, o encolhimento do citoplasma, aumento do número de inclusões lipídicas e núcleo intimamente envolto pelo retículo endoplasmático, bem como a condensação da cromatina, sendo esta última observação um indicativo de morte por apoptose. Os IPs-HIV não foram capazes de inibir a diferenciação do parasito da forma promastigota para amastigota nas condições utilizadas neste estudo, porém foram capazes de inibir diretamente a atividade de aspártico proteases contra substratos específicos em extratos brutos do parasito. O tratamento de formas promastigotas com os IPs-HIV antes da interação induziu a uma redução drástica dos índices de associação com macrófagos murinos. O pós-tratamento também interferiu no desenvolvimento intracelular de L. amazonensis nos macrófagos, como avaliado, nos ensaios onde os IPs-HIV foram adicionados a culturas de células previamente infectadas. Apesar de todos estes efeitos benéficos, os inibidores induziram a um aumento na expressão de cisteíno proteases b (cpb) e da metaloprotease (gp63), dois fatores de virulência bem caracterizados de Leishmania spp. Diante da sobreposição leishmaniose/HIV, é fundamental compreender as sofisticadas interelações entre Leishmania, HIV e macrófagos. Além disso, há muitas questões não resolvidas, no que diz respeito ao tratamento de pacientes co-infectados com Leishmania-HIV, por exemplo, a eficácia do tratamento destinado a controlar cada patógeno nesses indivíduos continua indefinido. Os resultados in vitro apresentados adicionam novos conhecimentos sobre o vasto espectro de eficácia do IPs-HIV sobre patógenos oportunistas e sugerem que estudos adicionais devem ser realizados sobre os efeitos sinérgicos dos compostos classicamente utilizados no tratamento da leishmaniose e os inibidores da protease do HIV em macrófagos co-infectados.

x

ABSTRACT Leishmania is the etiologic agent of leishmanisais, a protozoan disease whose

pathogenic events are not well understood. Current therapy for leishmaniasis is suboptimal due to toxicity of the available therapeutic agents and the emergence of drug resistance. Furthermore, endemic countries and regions are economically poor. Compounding these problems is the increase in the number of cases of Leishmania-HIV coinfection, due to the overlap between the AIDS epidemic and leishmaniasis. In the present work, we have investigated the effect of HIV aspartyl peptidase inhibitors (PIs) on the Leishmania

amazonensis proliferation, ultrastructure, differentiation, interaction with macrophage cells, aspartyl protease activity and expression of classical proteases, which are directly involved in the Leishmania pathogenesis. All the HIV PIs impaired parasite growth in a dose-dependent fashion, especially nelfinavir and lopinavir, with an IC50 corresponding to 15,12 and 16,47, respectively. PIs treatment caused profound changes in the leishmania ultrastructure as shown by transmission electron microscopy, including cytoplasm shrinking, increase in the number of lipid inclusions and some cells presenting the nucleus closely wrapped by endoplasmic reticulum, as well as chromatin condensation, which is suggestive of apoptotic death. The PIs were not able to inhibit the promastigote-amastigote differentiation of Leishmania

amazonensis under the conditions used in this study, b ut were able to directly inhibit the activity of aspartyl proteases over specific

substrates. The pre-treatment of promastigote forms with PIs drastically reduced the association indexes during the interaction with murine macrophage cells. As well, PIs interfere with the intracellular development of Leishmania in macrophages, assessed by adding PIs in previously infected cells. Despite all these beneficial effects, the PIs induced an increase in the expression of cysteine peptidase b and the metallopeptidase gp63, two well-known virulence factors expressed by Leishmania spp. In the face of leishmaniasis/HIV overlap, it is critical to further comprehend the sophisticated interplays among Leishmania, HIV and macrophages. In addition, there are many unresolved questions related to the management of Leishmania-HIV-coinfected patients. For instance, the efficacy of therapy aimed at controlling each pathogen in coinfected individuals remains largely undefined. The results presented herein add new in vitro insight into the wide spectrum efficacy of HIV PIs and suggest that additional studies about the synergistic effects of classical antileishmanial compounds and HIV PIs in macrophages coinfected with Leishmania and HIV-1 should be performed.

xi

Lista de figuras Introdução Fig 1...........................................................................................................................................2 Fig 2...........................................................................................................................................3 Fig 3...........................................................................................................................................5 Fig 4...........................................................................................................................................6 Fig 5...........................................................................................................................................8 Fig 6.........................................................................................................................................10 Fig 7.........................................................................................................................................14 Fig 8.........................................................................................................................................21 Fig 9.........................................................................................................................................22 Fig 10.......................................................................................................................................23 Resultados Fig 11.......................................................................................................................................35 Fig 12.......................................................................................................................................36 Fig 13.......................................................................................................................................37 Fig 14.......................................................................................................................................38 Fig 15.......................................................................................................................................39 Fig 16.......................................................................................................................................40 Fig 17.......................................................................................................................................41 Fig 18.......................................................................................................................................44 Fig 19.......................................................................................................................................45 Fig 20.......................................................................................................................................46 Fig 21.......................................................................................................................................47 Fig 22.......................................................................................................................................49 Fig 23.......................................................................................................................................50 Fig 24.......................................................................................................................................52 Fig 25.......................................................................................................................................54 Fig 26.......................................................................................................................................56

xii

Índice:

I. Introdução.................................................................................................................. 1

1. Família Trypanosomatidae.......................................................................................... 1

2. Leishmania e Leishmanioses....................................................................................... 4

3. Co-infecção Leishmania-HIV..................................................................................... 9

4. Tratamento das leishmanioses..................................................................................... 12

5. Proteases...................................................................................................................... 13

6. Proteases em Leishmania............................................................................................ 15

7. Inibidores proteolíticos como quimioterápicos........................................................... 18

8. Inibidores de Protease do HIV.................................................................................... 19

9. Ação dos Inibidores de Protease do HIV sobre patógenos oportunistas..................... 23

II. Justificativa............................................................................................................... 25

III. Objetivo geral.......................................................................................................... 26

1. Objetivo específico...................................................................................................... 26

IV. Metodologia............................................................................................................. 27

1. Materiais...................................................................................................................... 27

2. Cepa utilizada e condições de cultivo......................................................................... 27

3. Obtenção de isolados infectivos.................................................................................. 27

4. Ensaio de inibição da multiplicação............................................................................ 28

5. Ensaio de inibição da diferenciação dos parasitos de promastigota para amastigota in vitro.............................................................................................................................

28

6. Microscopia eletrônica de transmissão....................................................................... 29

7. Avaliação da atividade enzimática através de dosagem.............................................. 29

8. Ensaio de viabilidade do parasito................................................................................ 30

9. Avaliação do perfil de proteases por SDS-PAGE com gelatina e por immunoblotting...............................................................................................................

31

10. Ensaio de viabilidade de macrófagos........................................................................ 32

11. Ensaio de interação Leishmania-macrófago (Pré-tratamento).................................. 32

12. Ensaio de interação Leishmania-macrófago (Pós-tratamento).................................. 33

13. Análises estatísticas................................................................................................... 33

V. Resultados................................................................................................................. 34

VI. Discussão.................................................................................................................. 57

VII. Conclusões.............................................................................................................. 67

VIII. Anexo.................................................................................................................... 68

IX. Bibliografia.............................................................................................................. 80

1

I. Introdução

1. Família Trypanosomatidae

O sub-reino Protozoa agrupa alguns protozoários de reconhecida importância médica,

veterinária e agropecuária. A família Trypanosomatidae, classificada neste grupo, possui

membros que parasitam um grande espectro de organismos, atingindo desde protozoários,

rotíferos, nematóides, anelídeos, moluscos, artrópodes e plantas, até vertebrados de quase

todas as classes (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos), incluindo o homem (Rey, 2008).

Os microrganismos desta família possuem características ultraestruturais típicas, como

flagelo único contendo uma complexa estrutura paraflagelar; mitocôndria única e ramificada

que percorre todo o corpo celular, que contém uma região com acúmulo de DNA,

denominada cinetoplasto; os glicossomos, que compartilham algumas funções metabólicas

com peroxissomos de outros organismos e que contém as enzimas da via glicolítica, e

microtúbulos subpeliculares associados à membrana plasmática (De Souza, 2002).

Os gêneros pertencentes a esta família são tradicionalmente classificados baseados em

dois critérios: formas evolutivas e ciclo de vida. Quanto a este último critério, são divididos

em tripanossomatídeos heteroxênicos e monoxênicos. Os monoxênicos são aqueles que

possuem apenas um hospedeiro durante o seu ciclo de vida, como Leptomonas, Crithidia,

Blastocrithidia, Herpetomonas e Rhynchoidomonas, e três gêneros recentemente propostos,

Wallaceina, Angomonas (Brandão et al. 2001) e Strigomonas (revisto por Santos et al, 2007).

Já os tripanossomatídeos heteroxênicos, representados pelos gêneros Trypanosoma,

Leishmania, Sauroleishmania, Endotrypanum e Phytomonas, são aqueles que possuem um

ciclo de vida complexo envolvendo mais de um hospedeiro (revisto por Santos et al, 2007)

(Figura 1). Quanto à forma evolutiva, os tripanossomatídeos podem apresentar mais de uma

morfologia celular durante o ciclo de vida, que se distinguem pelo aspecto geral da célula,

presença ou ausência de flagelo extracelular e posição do complexo flagelo - bolsa flagelar -

cinetoplasto em relação ao núcleo (Vickerman & Preston, 1976) (Figura 2).

Dentro da família Trypanosomatidae existem dois gêneros que assumem grande

importância médica, são estes: Trypanosoma, responsável pelas tripanossomíases americana

(Doença de Chagas) e africana (Doença do sono) e Leishmania, responsável pelas

leishmanioses tegumentares e viscerais (Calazar) (Rey, 2008).

2

Figura 1. Ciclos de vida dos gêneros de tripanossomatídeos. No grupo dos heteroxênicos, os

tripanossomatídeos alternam entre hospedeiros invertebrados e vertebrados (setas vermelhas)

ou plantas (setas verdes). O desenvolvimento dos monoxênicos ocorre em um único

hospedeiro invertebrado (seta azul-escuro), embora tripanossomatídeos de insetos possam ser

encontrados em plantas, e relatos recentes descrevem a presença destes tripanosomatídeos em

vertebrados (setas azul-claras). Os gêneros de tripanossomatídeos de insetos que foram

recentemente propostos estão realçados em cinza (adaptado de Santos et al, 2007).

3

Figura 2. Principais formas evolutivas encontradas nos gêneros da família Trypanosomatidae

(adaptado de Sousa, 2000).

promastigota opistomastigota paramastigota epimastigota

tripomastigota coanomastigota amastigota esferomastigota

4

2. Leishmania e Leishmanioses

As leishmanioses humanas compreendem doenças com um largo espectro de

manifestações clínicas, as quais variam desde lesões cutâneas autolimitantes até o

envolvimento visceral severo, podendo levar ao óbito (revisto por Handman and Bullen,

2002). Estima-se que haja uma prevalência de 12 milhões de indivíduos infectados no mundo

e que 2 milhões de novos casos ocorram a cada ano, dos quais 1,5 milhão sejam de

leishmaniose cutânea e 500 mil de leishmaniose visceral. Além desses números alarmantes,

estima-se que cerca de 350 milhões de pessoas encontrem-se em risco de adquirir a infecção

(PAHO/WHO, 2007).

Os agentes responsáveis pelas leishmanioses humanas são protozoários flagelados do

gênero Leishmania, que se caracterizam por apresentarem duas formas evolutivas principais

durante seu ciclo de vida. As formas amastigotas são intracelulares, e encontradas no

hospedeiro mamífero, e as promastigotas, são encontradas no insetor vetor da doença, o

flebotomíneo (Figura 3). Nas infecções do inseto vetor, gênero Phlebotomus no Velho Mundo

(África, Ásia e Europa) e Lutzomyia no Novo Mundo (Américas) (Shaw et al., 1987), podem

ser reconhecidos diferentes estágios da forma promastigota. Cada um destes estágios se

caracteriza por alterações morfológicas e funcionais, destinadas a garantir a sobrevivência do

parasito no flebotomíneo (Kamhawi, 2006).

No hospedeiro mamífero, os promastigotas metacíclicos fazem o primeiro contato com

componentes do sangue e células do sistema fagocítico mononuclear (Dominguez & Torano,

2001). Os promastigotas são rapidamente fagocitados por macrófagos do tecido, sendo

inicialmente mantidos dentro de um compartimento denominado fagossoma, que mais tarde se

funde com o lisossoma para formar o fagolisossoma, onde ocorre a diferenciação do parasito

para as formas amastigotas que residem e se multiplicam dentro do compartimento ácidíco do

fagolisossoma (Cohen-Freuea et al., 2007). Subsequentemente, ocorre a lise da célula

hospedeira com a liberação dos parasitos que podem infectar outros fagócitos adjacentes e por

via hematogênica alcançar tecidos além do ponto inicial da infecção (baço, fígado, medula

óssea ou linfonodos). O ciclo se completa quando um inseto vetor pica o hospedeiro

vertebrado infectado e ingere as formas amastigotas, que então atingem o tubo digestório,

onde novamente se diferenciam em promastigotas (revisto por Handman and Bullen, 2002)

(Figura 3).

5

Figura 3. Ciclo de vida de Leishmania sp. e suas formas evolutivas (Adaptado de

Chappuis et al, 2007).

As vastas manifestações clínicas das leishmanioses parecem resultar de uma

combinação das propriedades do parasito, como infectividade e patogenicidade, e dos diversos

fatores do hospedeiro vertebrado, como idade, predisposição genética, estado imunológico,

entre outros. A expressão de fatores de virulência, propriedades antigênicas, entre outros, e a

manifestação da doença variam ainda mais dependendo da espécie de Leishmania (Murray et

al., 2005).

6

No homem, a doença se apresenta em duas formas clínicas principais: Tegumenar

(cutânea simples, cutânea difusa e mucosa) e visceral (Figura 4). A leishmaniose cutânea

simples, frequentemente evolui para a cura espontânea no Velho Mundo, mas quando as lesões

são múltiplas e incapacitantes, com cicatrizes desfigurantes, cria um estigma estético para o

paciente. Sua forma mais grave, a leishmaniose recidiva, é muito difícil de tratar, de longa

duração, também sendo destrutiva e desfigurante. A leishmaniose cutânea difusa ocorre em

indivíduos com deficiência na resposta imune celular, sua gravidade é devido às lesões

disseminadas, que nunca curam espontaneamente. Além disso, os pacientes estão sujeitos a

recaídas após o tratamento com qualquer um dos fármacos utilizados atualmente. A

leishmaniose mucosa, provoca a destruição intensa da cavidade oro-nasal e da faringe,

também provocando lesões desfigurantes e mutilações da face. A leishmaniose visceral,

também conhecida como “Calazar”, é a forma mais grave da doença, sendo quase sempre fatal

quando não tratada. Esta doença caracteriza-se por febres oscilantes, perda de peso,

esplenomegalia, hepatomegalia e/ou linfadenopatia e anemia. Após a recuperação, o paciente

pode desenvolver uma forma de leishmaniose cutânea crônica conhecida como Pós-calazar, a

qual geralmente requer um tratamento longo e dispendioso (Desjeux, 2004).

Figura 4. As principais formas clínicas da leishmaniose, da esquerda para a direita:

Tegumentar (cutânea simples, cutânea difusa, mucocutânea) e visceral. Extraído

de:[http://www.nethealthbook.com/articles/leishmaniasis.php], acessado em 12/01/2009.

As espécies de Leishmania estão organizadas em dois subgêneros: Leishmania e

Viannia (Shaw, 1994). Estes dois subgêneros são classificados com base na localização do

parasito no intestino do vetor. Membros do subgênero Leishmania desenvolvem-se nas regiões

pilórica e do intestino médio (desenvolvimento suprapilário), enquanto as espécies do

subgênero Viannia desenvolvem-se na região posterior do intestino (desenvolvimento

peripilário) (Lainson & Shaw 1979, 1987; revisto por Corrêa, Brazil & Soares, 2005). Além

7

disso, análises de isoenzimas são utilizadas para definir os complexos de espécies dentro de

cada subgênero (Rioux et al., 1990; Zhang et al., 2006).

A classificação das espécies no gênero Leishmania baseou-se inicialmente em critérios

ecobiológicos, tais como vetores, distribuição geográfica, tropismo, propriedades antigênicas e

manifestação clínica. No entanto, análises bioquímicas e moleculares mostraram que a

classificação de espécies baseada apenas nesses critérios nem sempre são satisfatórios para

agrupar os flagelados de acordo com suas similaridades genéticas e, portanto, outros critérios

passaram a ser utilizados para auxiliar a classificação das espécies de Leishmania, tais como

perfil de isoenzimas, sondas de DNA e anticorpos monoclonais espécie-específicos, análises

de RFLP (restriction fragment lenght polymorfism) e perfil de polimorfismo exibido pelo

kDNA (Cupolillo et al., 1998; revisto por Bañuls, Hide & Prugnolle, 2007).

No Brasil, a leishmaniose visceral é causada por Leishmania (L.) chagasi (sinonímia

L. infantum), já a leishmaniose tegumentar americana é causada por diferentes subgêneros e

espécies de Leishmania, sendo as mais importantes no Brasil: Leishmania (L.) amazonensis,

Leishmania (V.) guyanensis e Leishmania (V.) braziliensis (Ministério da Saúde, 2008). O

parasito L. amazonensis, foco deste estudo, é um dos principais causadores da leishmaniose

tegumentar americana em áreas endêmicas (Rangel & Lainson, 2003). A infecção causada por

L. amazonensis pode ser caracterizada por lesões cutâneas múltiplas e progressivas, resistência

à quimioterapia e anergia de células T específicas.

Em 1945, foi relatado pela primeira vez um caso de leishmaniose cutânea difusa

anérgica (LCD) no Brasil (revisto por Silveira, Lainson & Corbett, 2005). A partir de 1948,

autores venezuelanos descreveram alguns casos desse tipo de leishmaniose tegumentar

(revisto por Silva, 1996). Esta forma distinta de leishmaniose tegumentar americana foi

considerada, por muito tempo, uma variação clínica da infecção por L. braziliensis (revisto por

Silveira, Lainson & Corbett, 2005), porém através de estudos posteriores sobre a morfologia,

bioquímica e comportamento do parasito em culturas in vitro e em animais de laboratório, foi

demonstrado que o parasito seria um membro do complexo mexicana, recebendo a

denominação Leishmania mexicana amazonensis, salientando a sua importância médica como

a causa da LCD, uma forma potencialmente incurável da leishmaniose tegumentar americana

(Lainson & Shaw, 1972). Em uma revisão subsequente da classificação das espécies de

Leishmania neotropicais, Lainson & Shaw, em 1987, nomearam o organismo como L.

amazonensis, dentro do subgênero Leishmania (revisto por Silveira, Lainson & Corbett, 2005).

No continente americano, a leishmaniose é causada por diferentes espécies de

Leishmania e a infecção por L. amazonensis, em particular, produz um amplo espectro de

formas clínicas. As manifestações clínicas compreendem desde o envolvimento cutâneo

8

simples, forma mais comum da doença, até a forma cutânea difusa. A Leishmaniose cutânea

difusa (LCD) é uma manifestação rara da doença caracterizada pela presença de nódulos, ao

invés de lesões ulceradas, com abundância de macrófagos parasitados e ausência de resposta

imunológica mediada por células T. No Brasil, a LCD está concentrada nas regiões Norte e

Nordeste, com maior número de casos notificados no Estado do Maranhão. O parasito L.

amazonensis também já foi isolado de pacientes com leishmaniose visceral (LV) e de

pacientes com leishmaniose mucocutânea (LM), entretanto, no Brasil, essas duas

manifestações clínicas são tipicamente causadas por L. chagasi e L. braziliensis,

respectivamente (Oliveira et al., 2007).

A área geográfica onde o flagelado L. amazonensis se encontra estende-se por toda

Bacia Amazônica (compreendendo a parte brasileira, e possivelmente os países vizinhos) bem

como outros territórios, inclusive Maranhão, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo,

também existem relatos nas ilhas Trinidad (Antilhas) (Rey, 2008). Descobertas recentes

indicam que este parasito está ampliando sua distribuição geográfica no Brasil, contribuindo

para quadros clínicos incomuns da doença em novas áreas de transmissão (Azeredo-Coutinho

et al., 2007) (Figura 5).

Figura 5. Mapa do Brasil mostrando a distribuição das principais espécies de Leishmania na

transmissão da leishmaniose tegumentar americana em 2005, com a adição de um caso por L.

amazonensis, recentemente descrito no Rio de Janeiro (Ministério da Saúde/Serviço de

Vigilância em Saúde/2007).

9

3. Co-infecção Leishmania-HIV

O surgimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) levou à

reemergência e, principalmente, ao aumento da incidência de doenças ligadas à

imunossupressão celular, causadas por micobactérias, fungos e protozoários. Inicialmente, as

principais doenças infecciosas relacionadas à aids foram a micobacteriose, histoplasmose,

pneumocistose, toxoplasmose, a criptococose e a candidíase. Em regiões onde a tuberculose

estava controlada, começaram registros de novos casos da doença, bem como relatos de

apresentações atípicas da doença de Chagas e da leishmaniose visceral (Lindoso, 2006).

O primeiro caso de leishmaniose associada à infecção com o vírus da imunodeficiência

humana (HIV) foi relatado em 1985, na Espanha, a partir de então, o número de casos

aumentou rapidamente no Sul da Europa. Atualmente, casos de co-infecção já foram relatados

em trinta e cinco países. No entanto, o impacto real da co-infecção Leishmania-HIV é

provavelmente subestimado em âmbito mundial, devido a deficiências nos sistemas de

vigilância (revisto por Alvar et al., 2008). O fato da leishmaniose não estar incluída entre as

doenças associadas a aids contribui para a escassez de informações. Por esta razão, a partir de

1998, a OMS, em colaboração com o programa para aids das Nações Unidas, criou uma rede

de vigilância ativa para determinar a real dimensão deste problema (revisto por Cruz et al,

2006). Quatro países são os principais envolvidos em casos de co-infecção no Sul da Europa,

são eles: França, Itália, Portugal e Espanha. O maior número de casos foi detectado na

Espanha, o que pode estar relacionado com a reativação de infecções assintomáticas, devido a

uma maior sobreposição geográfica entre a leishmaniose e a infecção pelo HIV, quando

comparada com a de outros países da região. No entanto, infecções recém-adquiridas têm sido

relatadas entre usuários de drogas injetáveis que partilham seringas infectadas. Em função da

sobreposição das duas doenças, casos de co-infecção têm se expandido para outros regiões do

mundo (Figura 6) (Alvar et al., 2008).

10

Figura 6. Mapa com a distribuição da Leishmaniose no mundo ( ) e países que

reportaram a co-infecção Leishmania-HIV ( ) em 2001 (Cruz et al, 2006).

A maioria dos casos de co-infecção Leishmania-HIV é descrita em adultos infectados

por HIV-1. Contudo, também têm sido reportados casos de co-infecção em pacientes HIV-2.

Nestes pacientes, a leishmaniose visceral é causada principalmente por L. infantum e L.

donovani (Alvar et al., 1997) e mais raramente por L. aethiopica (Berhe, Hailu & Gemetchu,

1995). Espécies que causam leishmaniose cutânea como L. braziliensis (Da-Cruz et al., 1992;

Romero, Taranto & Malchiodi, 2004), L. tropica (CDC, 1992; Magill et al., 1993) e L. major

(Gillis et al., 1995) também têm sido descritas como responsáveis por casos de co-infecção, de

acordo com a área geográfica afetada (revisto por Cruz et al., 2006). Várias espécies de

Leishmania dermotrópicas como L. braziliensis, L. mexicana e L. amazonensis têm sido

identificadas como o agente etiológico da leishmaniose visceral, enquanto variantes

viscerotrópicas de L. chagasi têm sido encontradas em lesões cutâneas ou pele saudável de

pacientes HIV positivos (revisto por Alvar et al, 2008).

A maioria dos casos de co-infecção registrados na América do Sul acontece no Brasil,

onde a incidência de aids aumentou de 0,8 casos por 100 mil habitantes em 1986 para 12,3

casos em 2001. Porém, os esforços aplicados na prevenção e tratamento da doença têm

ajudado a manter uma prevalência adulta nacional estável em torno de 0,5% desde 2000. Dos

150.000 casos de leishmaniose cutânea relatados de 2001 a 2005, 150 (0.1%) pacientes tinham

co-infecção com HIV. Neste mesmo período, 16.210 casos de leishmaniose visceral foram

relatados no Brasil, sendo que 315 (2%) eram pacientes co-infectados com HIV (revisto por

11

Alvar et al, 2008). Dos pacientes co-infectados, 53% e 29% dos casos foram relatados nas

regiões nordeste e sudeste, respectivamente. As formas clínicas da leishmaniose encontradas

nos casos de co-infecção são 43% mucocutânea, 37% visceral e 20% cutânea (Rabello, 2003),

padrão clínico que difere daquele encontrado no sul da Europa, onde a leishmaniose visceral

típica representa 87,3% dos casos de co-infecção, os casos atípicos devido a colonizações

intestinais, pulmonares ou outras, respondem por 7,1% dos casos, além da leishmaniose

cutânea, 4,8%, mucocutânea, 0,3% e casos combinados de leishmaniose visceral e cutânea,

0,2% (Desjeux & Alvar, 2003).

Uma vez que o parasito e o vírus se desenvolvem na mesma célula alvo, os

macrófagos, é plausível conceber que uma série de interações aconteça na célula hospedeira.

Nesse contexto, estudos recentes demonstram que a proteína Tat do HIV-1 regula a replicação

em macrófagos humanos tanto de Leishmania como de Blastocrithidia culicis, um

tripanossomatídeo monoxênico, de forma que os protozoários podem multiplicar-se de duas a

três vezes mais rápido, respectivamente, nos macrófagos infectados com HIV-1. A proteína

Tat recombinante é capaz de anular o efeito leishmanicida induzido pelo interferon-gama

(IFN-γ), o que permite a replicação de Leishmania mesmo na presença desta citocina (Barreto-

de-Souza et al., 2006; 2008). Se por um lado o HIV parece facilitar ou promover o

desenvolvimento de leishmaniose, por outro, a co-infecção pode potencializar a progressão

para a aids. Por exemplo, em pacientes co-infectados há uma taxa mais elevada de células T

CD3+ expressando CCR5, uma proteína ligada à membrana que está envolvida na entrada de

HIV-1 em células susceptíveis (Nigro et al., 2007). Além disso, o principal antígeno de

superfície de Leishmania, o LPG, pode induzir a ativação do HIV em monócitos com infecção

latente (revisto por Wolday, 1999). Além disso, foi recentemente relatado que o

estibogluconato de sódio, droga utilizada atualmente no tratamento da leishmaniose, induz o

aumento nos transcritos de HIV-1 e a replicação do vírus em células T CD4 positivas e em

histoculturas de Timo, o que pode trazer implicações clínicas para o tratamento da

leishmaniose em indivíduos infectados pelo HIV-1 (Barat et al., 2006). O parasito também é

capaz de promover o aumento de transcritos de HIV-1, e consequentemente a produção de

vírus, tanto na co-infecção de culturas ex vivo de tecido tonsilar humano, como em culturas de

macrófagos, podendo o aumento da produção de HIV-1 estar ligado à alta produção de

citocinas pro-inflamatórias induzidas pelo protozoário, como TNF-α e IL-1α (Zhao,

Papadopoulou & Tremblay, 2004a; 2004b).

12

4. Tratamento das leishmanioses

As drogas empregadas atualmente no combate das doenças parasitárias surgiram a

partir de programas de seleção empíricos. No entanto, a identificação das diferenças

bioquímicas e metabólicas entre os parasitos e seus hospedeiros mamíferos fornece

indubitavelmente uma alternativa razoável para o desenvolvimento de novos agentes

quimioterapêuticos (Taylor et al., 1994). A primeira linha de medicamentos utilizada no

tratamento da leishmaniose visceral é composta de antimoniais pentavalentes (antimoniato de

N-metilglucamina e gluconato de antimônio e sódio), com os quais é feito o tratamento

padrão. Os antimoniais, que têm sido utilizados no tratamento das leishmanioses desde o início

do século passado, produzem no hospedeiro uma ampla diversidade de efeitos colaterais, que

variam desde fraqueza, náuseas, vômitos, anorexia, tontura, palpitação, insônia, nervosismo,

cefaléia e febre, até artralgias, mialgias, dores abdominais, choque pirogênico, manifestações

clínicas de Herpes Zoster latente, insuficiência renal aguda e arritmias. Além disso, a

administração é por via parenteral, e por longos períodos, e em todas as áreas endêmicas do

mundo tem sido observada a resistência do parasito aos medicamentos (Rey, 2008). Por

exemplo, foi observado que L. donovani evade os efeitos citotóxicos da terapia com

antimoniais pentavalentes, pelo aumento do efluxo da droga através da superexpressão de

proteínas da membrana pertencentes à superfamília de transportadores ABC (“ATP-binding

cassette”) (Singh, 2006). A ausência de resposta ao primeiro tratamento tem sido constatada

em 8% dos casos na Índia, 5% na China e 2% no Quênia (Rey, 2008). A segunda linha de

medicamentos ou terapia alternativa utilizada no tratamento da leishmaniose é composta de

pentamidinas (diamidinas aromáticas) ou anfotericina B, que também apresentam sérios

efeitos colaterais e são de aplicação intravenosa. As pentamidinas destinam-se a tratar os casos

resistentes aos antimoniais e à anfotericina B ou nos casos de recidiva (Rey, 2008).

Outras modalidades de tratamento que não são normalmente empregadas no Brasil, ou

por serem menos eficazes, ou por não estarem disponíveis, ou pelo preço elevado são: a

miltefosina, as formulações lipídicas da anfotericina B e o alopurinol. A miltefosina é uma

alquilfosfocolina desenvolvida originalmente como um quimioterápico antineoplásico, e que é

reconhecida como a primeira droga oral para o tratamento da leishmaniose, com uso

recomendado para leishmaniose visceral na Índia e Etiópia, e para a leishmaniose cutânea na

Colômbia e Bolívia (revisto por Berman, 2008). Esta droga possui poucos efeitos colaterais,

porém seu custo é extremamente elevado. As formulações lipídicas da anfotericina B

apresentam efeitos colaterais mais brandos que a formulação original deste quimioterápico

(Pal, Manadal & Duttagupta, 2001; Sundar, 2001; Singh & Sivakumar, 2004), e o alopurinol

13

apresenta raros efeitos tóxicos, porém é menos ativo quando metabolizado no organismo (Rey,

2008). Recentemente, a resistência a pentamidinas tem sido reportada, bem como as

dificuldades no tratamento de pacientes imunodeprimidos, pela aids por exemplo, nos quais as

drogas convencionais são menos eficazes e doses mais altas e períodos prolongados de

tratamento são necessários (revisto por Santos et al., 2008).

O custo do medicamento é um fator extremamente limitante uma vez que a

leishmaniose é considerada uma doença dos menos favorecidos economicamente: a doença foi

descrita em 88 países, 72 dos quais são países em desenvolvimento e 13 destes são os menos

desenvolvidos do mundo. Apesar dos enormes esforços, é difícil prever os efeitos exatos da

leishmaniose na saúde pública, uma vez que diversos casos não são reportados ou são

diagnosticados erroneamente (WHO, 2006). No Brasil, em casos de co-infecção Leishmania-

HIV o tratamento recomendado é o mesmo utilizado em pacientes imunocompetentes. Os

antimoniais pentavalentes são as drogas de escolha. As alternativas disponíveis na rede pública

para o tratamento das leishmanioses são a anfotericina B e o isotionato de pentamidina. Nos

indivíduos co-infectados a terapia antiretroviral é indicada, mas o início do tratamento anti-

retroviral poderá ser instituído após o início do tratamento para leishmaniose, quando já

houver melhora dos parâmetros clínicos e laboratoriais (Ministério da Saúde, 2007). As co-

infecções com HIV estão aumentando mundialmente, porém não há tratamento e iniciativas

específicas na busca de novas terapias, e o tratamento de formas complexas de co-infecção

Leishmania-HIV ainda é inadequado (Alvar, Croft & Olliaro, 2006).

5. Proteases

As proteases, peptidases ou peptídeo-hidrolases são um grupo amplo e diversificado de

enzimas, de ocorrência geral, que podem ser encontradas nos mais diversos sistemas

biológicos, tais como plantas, animais e microrganismos. Essas enzimas desempenham papéis

fundamentais em quase todos os fenômenos biológicos e compreendem cerca de 2% do total

de proteínas presentes em todos os tipos de organismos. Várias dessas enzimas são de

importância médica, com algumas sendo utilizadas como alvo quimioterápico, tendo a seu

favor anos de análises bioquímicas, o que permitiu a descrição detalhada do seu mecanismo de

catálise, especificidade por substratos e correlação entre estrutura e função. Provavelmente,

sabe-se mais sobre a bioquímica e estrutura das proteases do que de qualquer outra família de

enzimas (McKerrow et al, 2008).

Classicamente, as peptidases são classificadas baseadas em três critérios principais, são

eles: tipo de reação catalisada; natureza química do sítio catalítico e as relações referentes a

14

sequência de aminoácidos e a estrutura da proteína (Barrett, Rawling & O`Brien, 2001). Em

relação a este último critério, o sequenciamento completo do genoma de diversos

microrganismos, levou a uma modernização do sistema de classificação das proteases, pela

necessidade de abranger o diversificado repertório catalítico encontrado na natureza, e de

catalogar e sistematizar a grande quantidade de informação produzida ao longo dos anos,

particularmente na última década (Page & Di Cera, 2008). Dessa forma, foi criado o sistema

MEROPS (http://merops.sanger.ac.uk), que agrupa as enzimas em famílias de acordo com a

homologia na sequência de aminoácidos. Por sua vez, as famílias de mesma origem ancestral

são agrupadas em clãs. Este tipo de informação é determinado pela estrutura terciária das

enzimas (Barrett, Tolle & Rawlings, 2003). Quanto ao tipo de reação catalisada, as proteases

são classificadas de acordo com a posição de clivagem do substrato (Schechter e Berger, 1967;

1968). Por este critério, as proteases são divididas em endoproteases, que degradam ligações

peptídicas internas do substrato, e exoproteases, que degradam ligações peptídicas nas

extremidades amino- ou carboxi- terminal, sendo subdivididas em aminoproteases e

carboxiproteases (revisto por Hooper, 2002). As aminoproteases podem liberar um único

resíduo de aminoácido (aminopeptidase), um dipeptídeo (dipeptidases) ou um tripeptídeo

(tripeptídeo-peptidases). As carboxiproteases atuam no terminal C da cadeia peptídica e

liberam um único aminoácido ou um dipeptídeo (Rao et al., 1998). De acordo com a natureza

química do sítio catalítico, as proteases podem ser também classificadas em seis grandes

classes: aspártico proteases, cisteíno proteases, glutâmico proteases, metalo proteases, serino

proteases e treonino proteases (Figura 7) (Xu et al., 2008).

Figura 7. Esquema de classificação das proteases quanto ao tipo de reação catalisada e a

natureza química do sítio ativo (adaptado de Bond & Butler, 1987).

aminopeptidasesHH22NN

COOHCOOH

dipeptidasesTripeptídeo-peptidases

peptidilpeptidasescarboxiproteases

endoproteases COOHCOOH

dipeptidases

...

HH22NN

COOHCOOH

COOHCOOH...

carboxiproteases

NH2

COOH

NH2

COOH

exoproteasesendoproteases

aminoproteases

serino proteasescisteíno proteasesaspártico proteasesglutâmico proteasestreonino proteasesmetalo proteases

NH2

COOH

NH2

COOH

NH2

COOH

(proteinases)

í

NH2

COOH

Proteases

HH22NN

COOHCOOH

í -

COOHCOOH...

HH22NN

COOHCOOH

COOHCOOH...

NH2

COOH

NH2

COOH

í

NH2

COOH

NH2

COOH

NH2

COOH

í

NH2

COOH

Proteases

aminopeptidasesHH22NN

COOHCOOH

dipeptidasesTripeptídeo-peptidases

peptidilpeptidasescarboxiproteases

endoproteases COOHCOOH

dipeptidases

...

HH22NN

COOHCOOH

COOHCOOH...

carboxiproteases

NH2

COOH

NH2

COOH

exoproteasesendoproteases

aminoproteases

serino proteasescisteíno proteasesaspártico proteasesglutâmico proteasestreonino proteasesmetalo proteases

NH2

COOH

NH2

COOH

NH2

COOH

(proteinases)

í

NH2

COOH

Proteases

HH22NN

COOHCOOH

í -

COOHCOOH...

HH22NN

COOHCOOH

COOHCOOH...

NH2

COOH

NH2

COOH

í

NH2

COOH

NH2

COOH

NH2

COOH

í

NH2

COOH

Proteases

15

Nos tripanossomatídeos, as proteases desempenham um papel fundamental na

interação parasito-hospedeiro, uma vez que, estão envolvidas com a invasão pela degradação

de tecido conjuntivo; com a degradação de proteínas do citoesqueleto durante invasão ou

ruptura das células do hospedeiro; com o escape ou modulação do sistema imunológico por

degradação ou ativação de moléculas do sistema imune; com a invasão de células hospedeiras;

com a intervenção na coagulação sanguínea e com o sistema fibrinolítico do hospedeiro, que

dependem de reações em cascata catalisadas por proteases; e com a variabilidade antigênica do

parasito (revisto por McKerrow et al., 1993; Sajid & McKerrow, 2002; McKerrow, 2006).

Além de serem importantes fatores de virulência nos tripanossomatídeos, as proteases

também estão envolvidas em eventos cruciais do ciclo de vida destes microrganismos, tais

como remodelação do parasito durante a transição de um estágio de vida para outro e ativação

ou degradação de enzimas ou proteínas regulatórias do parasito, além de participarem no

processamento de proteínas para fins nutricionais (revisto por McKerrow et al., 1993; Sajid &

McKerrow, 2002).

6. Proteases em Leishmania

Das seis classes de proteases, as metalo e as cisteína proteases são as mais comumente

detectadas nos tripanossomatídeos (Branquinha et al., 1996; Santos et al., 2005). No entanto,

proteases pertencentes às classes serino, treonina e aspártico também têm sido identificadas

(Burleigh et al., 1997; Paugam et al., 2003; Silva-Lopez & Giovanni-De-Simone, 2004; Alves

et al., 2005; Valdivieso et al., 2007). Em Leishmania spp., dentre os fatores moleculares que

contribuem para a virulência e patogênese dos parasitos, destaca-se uma metalo protease de

60-65 kDa, denominada MSP (major surface peptidade), gp63, leishmanolisina ou PSP

(promastigote surface peptidase), que é a glicoproteína mais abundantemente expressa na

superfície dos promastigotas (Bordier, 1987; revisto por Yao, Donelson & Wilson, 2003).

Esta glicoproteína, ligada à membrana por uma âncora de glicosilfosfatidilinositol

(GPI) (Bordier et al., 1986), é expressa em grande quantidade na superfície da forma

promastigota, infectiva ao inseto (fase logarítmica de crescimento), tem sua expressão

aumentada nas formas promastigotas metacíclicas infectivas ao homem (fase estacionária de

crescimento), e tem um baixo, porém detectável, nível de expressão na forma amastigota

intracelular (Medina-Acosta et al., 1989; Frommel et al., 1990; McGwire & Chang, 1994;

Hsiao et al, 2008). A gp63 tem sido implicada na resistência à lise mediada pelo sistema

complemento, adesão e invasão dos macrófagos, proteção da degradação dentro do

fagolisossomo de macrófagos, e inibição da quimiotaxia de monócitos e neutrófilos (revisto

16

por Yao, Donelson & Wilson, 2003). Mais recentemente, foi descrito que a gp63 promove a

evasão da morte apoptótica mediada por peptídeos antimicrobianos (Kulkarni et al, 2006) e

inibe a proliferação de células NK (Natural Killer) (Lieke at al., 2008).

As espécies de Leishmania, especialmente aquelas que fazem parte do complexo

mexicana, também expressam altos níveis de cisteíno proteases. As cisteíno proteases mais

bem caracterizadas são as similares a catepsina L (CPA e CPB) e as similares a catepsina B

(CPC), que são enzimas encontradas nos megassomas, organelas descritas como grandes

lisossomos, compostos basicamentede de cisteíno proteases, específicas do estágio amastigota

(revisto por McKerrow et al, 2006). Os genes responsáveis pela codificação destas cisteíno

proteases de baixa massa molecular (cpa, cpb e cpc) já foram identificados em diversas

espécies de Leishmania. Através da geração de mutantes nulos para cada um destes genes, foi

demonstrado que o papel da CPB talvez seja facilitar a diferenciação de promastigota para

amastigota e/ou facilitar a evasão do ataque microbicida do macrófago (revisto por Frame,

Mottram & Coombs, 2000; Mottram, Coombs & Alexander, 2004). Além disso, verificou-se

que a CPA não é essencial para a replicação de L. infantum, mas é importante para a interação

parasito-hospedeiro (Denise et al., 2006) e que a remoção dos genes ou inibição das cisteino

proteases CPA e CPB em L. mexicana não somente interfere na via de autofagia que ocorre

durante a diferenciação para promastigotas metacíclicos e amastigotas, como também impede

a metaciclogênese e transformação para amastigotas, fortalecendo a hipótese de que a

autofagia é requerida para a diferenciação celular (Williams et al., 2006).

O nível de expressão ou diversidade de isoenzimas CPB é importante para a virulência

do parasito, o que explica a presença de múltiplas cópias em tandem de genes cpb (Denise et

al., 2003). Outros estudos demonstraram que o início da doença é mais demorado em

linhagens de L. mexicana deficientes para os genes cpa e cpb. Além disso, a comparação

destas linhagens com o parasito selvagem demonstrou a formação de lesões menores, menor

carga parasitária em hamsters, a multiplicação mais lenta das formas promastigotas em

cultura, e uma infectividade menor em células fagocíticas mononucleares humanas, além de

induzirem uma produção de níveis menores das citocinas IL-10 e TGF-ß, que estão associadas

com a resposta do tipo Th2. Estes dados sugerem que o uso de Leishmania viva,

geneticamente atenuada, pode conferir imunidade protetora (Saravia et al., 2006). Além disso,

é valido ressaltar que sequências peptídicas da região COOH-terminal das CPs têm sido

avaliadas como potencial imunorregulador na leishmaniose cutânea (Alves et al., 2001; 2004).

A presença de uma serino protease de 60 kDa foi identificada na superfície celular de

L. (L.) amazonensis, assim como na membrana de compartimentos intracelulares do parasito

(Morgado-Diaz et al., 2005); e ainda, estudos de inibição sugerem a presença de uma outra

17

serino protease extracelular de 56 kDa, inibida por cálcio e manganês e ativada por zinco, que

difere de todas as proteases já conhecidas e caracterizadas deste flagelado (Silva-Lopez,

Coelho & De Simone, 2005). Recentemente, identificou-se a presença de uma serino protease

em uma cepa de L. donovani (Choudhury et al., 2008) com as mesmas características

bioquímicas daquelas identificadas em L. amazonensis (Silva-Lopez, Coelho & De Simone,

2005).

Poucas proteases são reconhecidas como oligopeptidases. Essas enzimas

aparentemente desempenham funções críticas especializadas, como a modificação e destruição

de peptídeos mensageiros (Andrade et al., 1998). As serino oligopeptidases do grupo das prolil

peptidases clivam, na sua grande maioria, peptídeos após resíduos de prolina. Um subgrupo

menor dessa família cliva substratos no lado carboxila de resíduos de aminoácidos básicos, e

esta subfamília é denominada serino oligopeptidase B. Proteases pertencentes a este subgrupo

foram identificadas em L. major e L. amazonensis, e nos tripanossomas: Trypanosoma brucei,

Trypanosoma cruzi, Trypanosoma evansi e Trypanosoma congolense (Andrade et al., 1998;

Morty et al., 1999, 2005; revisto por Coetzer, Goldringa & Husona, 2008).

As aspártico proteases, foco deste estudo, estão divididas em várias famílias e

geralmente funcionam em condições ácidas. Este último aspecto limita a função das aspártico

proteases a alguns locais específicos nos diferentes organismos, o que faz com que a

ocorrência desta classe proteolítica seja menos abundante do que a de outros grupos de

proteases (Dash et al., 2003). Apesar disso, as aspártico proteases têm sido isoladas e

estudadas em uma ampla gama de organismos, desde vertebrados até plantas, fungos,

parasitos, retrovírus, e mais recentemente em bactérias (Hill & Phylip, 1997; James, 1998;

Dash et al., 2003; Takahashi et al., 2006; Alves et al., 2005; Valdivieso et al., 2007; Pinti et

al., 2007). Nos ultimos anos, as aspártico proteases têm recebido atenção como alvos para

intervenção farmacêutica visto a sua participação em vários processos fisiológicos e

patológicos importantes (Eder et al., 2007). Os principais exemplos são: o envolvimento da

renina na hipertensão, da catepsina D na metástase do câncer de mama e da protease do HIV

na AIDS (Dash et al., 2003).

As aspártico proteases ainda não estão bem caracterizadas na família

Trypanosomatidae. Em Leishmania major, essas enzimas parecem processar peptídeos de 28

kDa em lisossomas e contribuir para a degradação de cadeias invariáveis em células

apresentadoras de antígenos de ratos infectados (Zhang et al., 2000). Além disso, a atividade

de aspártico protease diminui durante a transformação de promastigotas para amastigotas em

L. amazonensis (Alves et al., 2005). Esta atividade enzimática também já foi descrita em

frações solúveis de promastigotas de Leishmania mexicana, sendo capaz de degradar um

18

substrato sintético específico para aspártico proteases do tipo catepsina D (Valdivieso et al.,

2007).

As proteases dos parasitos são de considerável interesse para pesquisa porque podem

proporcionar informações sobre a bioquímica e a biologia do parasito, assim como esclarecer

algumas facetas da interação parasito-hospedeiro. Uma vez que essas enzimas desempenham

uma série de funções críticas e essenciais para os parasitos, as peptidases são alvo para a

produção de agentes quimioterápicos (revisto por McKerrow, 1999; Vendeville et al., 2002;

Bal et al., 2003).

7. Inibidores proteolíticos como quimioterápicos

O desenvolvimento de inibidores efetivos e a descoberta de seu mecanismo de ação

podem ter influência significativa sobre estratégias terapêuticas. Desta forma, inibidores

proteolíticos têm surgido como drogas alternativas para o uso na quimioterapia de diversos

processos patológicos, como: câncer (Shaw et al., 1990; Craik et al., 1995; Zhou et al., 2002),

desordens inflamatórias (como artrite reumatóide), respiratórias (como asma) (Tanaka et al.,

1995; Fath et al., 1998), cardiovasculares (como hipertensão) (Kleinert et al., 1992; Hoover et

al., 1995; Simoneau et al., 1998), e neurodegenerativas (como mal de Alzheimer) (Vassar et

al., 1999; Hong et al., 2002). Os inibidores da aspártico protease do HIV (IPs-HIV) na

quimioterapia da AIDS constituem, indubtavelmente, o exemplo de maior impacto e sucesso

da abordagem de inibição da atividade proteolítica como forma de controlar um patógeno.

Além dos IPs-HIV empregados no tratamento da aids, outros inibidores de aspártico proteases

têm sido explorados como possíveis agentes terapêuticos, como os inibidores da plasmepsina,

para o tratamento da malária, e inibidores das SAPs (secreted aspartic peptidases), para o

tratamento da candidíase (revisto por Dash et al., 2003). Inibidores peptideomiméticos vêm

sendo desenvolvidos e testados quanto a inibição de SAPs purificadas de diferentes espécies

de Candida (Pichová et al., 2001; Majer et al., 2006). Já a plasmepsina IV, tem sido estudada

como uma enzima crítica para o desenvolvimento de inibidores para o tratamento da malária,

pelo fato de ter homologia na sequência de aminoácidos entre as quatro plasmepsinas

responsáveis por degradar a hemoglobina (Nguyen et al., 2008). Estudos de triagem, síntese e

avaliação têm identificado derivados não peptídicos que são capazes de matar os parasitos in

vitro através da inibição de proteases (Sharma, 2007).

Além dos inibidores de aspártico proteases, outras classes de inibidores, como por

exemplo, os inibidores de cisteíno proteases têm mostrado sua eficácia na terapêutica

experimental de algumas doenças causadas por tripanossomatídeos. Recentemente, foi

19

reportado que um inibidor da cruzipaína, denominado K777, é capaz de proteger cachorros de

danos no coração durante a infecção por T. cruzi (Barr et al., 2005) e que inibidores de cisteíno

proteases induzem a regressão no tamanho da lesão quando administrados em camundongos

previamente desafiados com L. major (Selzer et al., 1999). Informações estruturais sobre o

sítio ativo do receptor (ou protease) e seleção de moléculas concebidas com ferramentas de

bioinformática contribuem para a concepção de inibidores potentes e seletivos. A química

combinatória possibilita tanto a descoberta de novas moléculas para serem testadas (Dash et

al., 2003).

8. Inibidores de Protease do HIV

No HIV-1, como em todos os retrovírus, a produção da doença inevitavelmente requer

uma partícula viral com uma protease ativa. A protease do HIV é uma enzima pertencente à

classe das aspártico proteases, que consiste em uma proteína de 99 aminoácidos. No ciclo de

replicação do HIV-1, uma proteína precursora ou poliproteína é sintetizada. Esta poliproteína é

composta de proteínas estruturais (proteínas Gag) e enzimas, incluindo a transcriptase reversa,

a integrase, e a própria protease. A clivagem da poliproteína é necessária para a formação de

partículas infecciosas, na fase final do ciclo. As células contendo o DNA proviral do HIV-1

que não produzem uma protease funcional produzem partículas virais, porém estas são

imaturas e não infecciosas (Figura 8) (revisto por Eron, 2000).

A família das aspártico proteases possui dois grupos β-carboxi aspartil no sítio ativo.

Estes grupos são responsáveis por catalisar a hidrólise das ligações peptídicas. Um resíduo

aspartil auxilia na adição de uma molécula de água à carbonila da amida do substrato,

formando um intermediário tetraédrico que possui grande afinidade pelo sítio catalítico. Após

a formação deste intermediário, ocorre a quebra da ligação C-N com a formação de um ácido

carboxílico e de uma amina primária. Substâncias químicas que mimetizam este intermediário

tetraédrico impedem a hidrólise do substrato e, consequentemente, o ciclo do vírus HIV é

interrompido (Cunico, Gomes & Vellasco Junior, 2008).

Atualmente existem dez drogas disponíveis comercialmente que tem como alvo a

protease do HIV, nove delas representam estórias de sucesso no desenvolvimento racional de

moléculas peptídeo miméticas, ou seja, inibidores que se baseiam na homologia de sequências

de sítios de clivagem do substrato na poliproteína viral. O único inibidor não peptídeo

mimético da protease do HIV é o Tipranavir, o qual não possui qualquer semelhança com

peptídeos de substratos da enzima e que foi descoberto com a otimização da ligação de 4-

hidroxicomarina e 4-hidroxi-2-pirona (Tsantrizos, 2008).

20

A introdução da terapia antiretroviral de alta potência (TARV), no final de 1995 e

início de 1996, nos Estados Unidos e Oeste da Europa, mudou drasticamente o curso da

infecção pelo HIV. Esta terapia caracteriza-se pela introdução de inibidores proteolíticos ao

coquetel de tratamento pré-existente, composto por inibidores da transcriptase reversa

(análogos e não-análogos de nucleotídeos), inibidores de fusão e inibidores de entrada

(AIDSinfo, 2007). Este coquetel envolve o uso de pelo menos três agentes de duas classes

distintas de antiretrovirais: um inibidor de protease em combinação com dois inibidores de

transcriptase reversa nucleotídicos ou um inibidor de transcriptase reversa não nucleotídico

(Mastrolorenzo et al., 2007). A primeira geração de inibidores de protease do HIV (IPs-HIV)

desenvolvida compreende as drogas: saquinavir, ritonavir, indinavir, nelfinavir e amprenavir, e

a segunda geração: fosamprenavir (uma prodroga do amprenavir), lopinavir, atazanavir,

tipranavir e darunavir (Figura 9) (Mastrolorenzo et al., 2007; Hughes, Barbera & Nelsona,

2008; FDA, 2008).

O Saquinavir foi o primeiro IP-HIV a ser licenciado, em dezembro de 1995, para

terapêutica do HIV. A droga funciona simulando o estado de transição da protease do HIV e

foi desenvolvido antes dos dados de cristalografia da protease do vírus estarem disponíveis.

Apesar de representar um avanço importante até então, sua baixa biodisponibilidade oral

mostrou-se desvantajosa e a resistência ao composto foi logo identificada. A partir deste fato,

as pesquisas se concentraram na descoberta de agentes com maior potência e melhor

biodisponibilidade oral. O desenvolvimento dos IPs-HIV passou então a ser baseado nos dados

fornecidos pela estrutura terciária da peptidase, obtida pela cristalografia de raios-X (Figura

10). Dentre eles incluí-se o indinavir, ritonavir, nelfinavir, lopinavir e amprenavir.

Posteriormente, os esforços foram empenhados no desenvolvimento de drogas com menor

impacto sobre o metabolismo lipídico e maior atividade contra variantes resistentes às drogas.

Estes esforços conduziram à descoberta do atazanavir, tipranavir e darunavir. O amprenavir

foi modificado para dar origem ao fosamprenavir, que possui uma melhor absorção após a

administração oral (revisto por Martinez-Cajasa & Wainberg, 2007).

O composto ritonavir é usado, principalmente como um impulsionador em associação

com outros IPs. Os inibidores de protease potencializados com ritonavir (IP/r) oferecem maior

barreira genética à resistência do que os inibidores de transcriptase reversa análogos de

nucleosídeo. Fosamprenavir, atazanavir e lopinavir em associação com ritonavir têm sido

recomendados como esquema inicial da terapia antiretroviral para pacientes não submetidos a

tratamentos anteriores (AIDSinfo, 2008).

21

Figura 8. Esquema resumido do ciclo da replicação viral com as etapas em que atuam os

medicamentos disponíveis no mercado (Souza & Almeida, 2003).

22

Figura 9. Fórmula estrutural dos inibidores proteolíticos da aspártico protease do HIV

(extraído de: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=pccompound), acessado em

25/01/2008.

Nelfinavir

Saquinavir Indinavir Fosamprenavir

Darunavir

Atazanavir

Ritonavir

Tipranavir

Amprenavir Lopinavir

23

Figura 10. Esquema mostrando a estrutura tridimensional da protease do HIV-1. Em A: as

duas subunidades iguais da protease (em azul e verde), os domínios da enzima (setas brancas)

e seu sítio ativo; Em B, os dois resíduos aspartil (em vermelho) (extraído de:

http://www.callutheran.edu/Academic_Programs/Departments/BioDev/omm/hiv_protease/mol

mast.htm, acessado em 02/02/2009.

9. Ação dos Inibidores de Protease do HIV sobre patógenos oportunistas

Nos pacientes com aids, a incidência, morbidade e mortalidade das co-infecções virais,

bacterianas, fúngicas e parasitárias diminuiu drasticamente após o início da TARV (Terapia

Antiretroviral), por volta de 1996 (Palella et al., 1998; Pozio & Morales, 2005). Embora na

maioria dos casos, estas melhorias tenham sido atribuídas à recuperação da imunidade do

hospedeiro, melhorias nas infecções oportunistas foram demonstradas, mesmo na ausência de

recuperação imunológica (Mele et al., 2003).

Hoegl e coloboradores (1998) publicaram um caso de um paciente que recebia a terapia

TARV e se recuperou da infecção por Candida albicans, mesmo mantendo uma baixa

contagem de celulas CD4+, sugerindo o efeito direto da terapia sobre este patógeno. Em outro

estudo, um paciente HIV positivo com criptosporidiose, e contagem de células CD4+ em torno

de 33 células/µl (paciente saudável: 800 a 1500 células/µl), rapidamente recuperou-se da

infecção após o início da terapia antiretroviral, na qual indinavir foi incluído, apesar da

contagem de células CD4+ ter aumentado somente para 84 células/µl (revisto por Pozio &

Morales, 2005). Estas observações levaram à hipótese de que os IPs-HIV teriam um efeito

direto sobre as infecções oportunistas, o que já foi demonstrado para Pneumocystis carinii,

Candida albicans, Cryptosporidium parvum, Toxoplasma gondii, Plasmodium falciparum

(revisto por Pozio & Morales, 2005), Fonsecaeae pedrosoi (Palmeira et al., 2008), Leishmania

major e Leishmania infantum (Savoia et al, 2005; Trudel et al., 2008).

Sítio ativo

Bordas (flaps)

interdigitações entre folhas beta

N e C terminaisResíduos aspartil

Sítio ativo

Bordas (flaps)

interdigitações entre folhas beta

N e C terminaisResíduos aspartilA B

24

A possível eficácia dos IPs-HIV contra infecções oportunistas pode ser explicada por

sua ação antinflamatória (Tovo, 2000), sua capacidade de bloquear o proteassoma celular

(Andre et al., 1998) e promover apoptose (Gaedicke et al., 2002). Além disso, tem sido

demonstrado um efeito sinérgico entre as drogas rotineiramente utilizadas contra as infecções

oportunistas e os IPs-HIV (Hommer, Eichholz & Petry, 2003; Casolari et al., 2004). Um

exemplo de aplicação prática da sinergia entre as diferentes drogas é a diminuição das doses

dos antimicóticos, que possuem muitos efeitos colaterais, no tratamento de infecções fúngicas

em indivíduos HIV positivos (Casolari et al., 2004).

Estudos indicam que o sucesso da resposta terapêutica na co-infecção Leishmania-HIV

está inversamente relacionada à carga viral anterior ao tratamento (Berhe et al., 1999). Outro

fato que também parece claro é que os pacientes que não recebem o TARV têm mais

possibilidades de desenvolver a patologia da leishmaniose e mostram um maior risco de falha

terapêutica no tratamento da AIDS, assim como de recaídas clínicas e parasitológicas (Alvar et

al., 1997, 2008; Pintado & López-Vélez, 2001; Pintado et al., 2001; Cruz, 2006). Além disso,

na ausência da TARV, a taxa de letalidade durante o tratamento da leishmaniose visceral era

de 24% (Alvar et al., 2008).

Embora a prevalência da leishmaniose visceral tenha diminuído desde a introdução do

TARV, tem havido um aumento na taxa de reativação da doença, o que pode ser explicado

pelo aumento da sobrevida induzida pelo tratamento. Desta forma, casos em que o TARV não

conseguiu impedir a LV também têm sido descritos. Na Espanha, 17 indivíduos HIV-positivos

em TARV com dois inibidores nucleosídicos da transcriptase reversa e um inibidor de

protease, experimentaram um primeiro episódio de LV, e cinco deles tiveram uma ou mais

recidivas. Uma pessoa HIV-positiva em TARV com o inibidor de protease indinavir, e com

uma contagem de células T CD4 + de 422 células µl-1, sofreu dois surtos de leishmaniose

cutânea causados por L. infantum cinco anos após um episódio de LV, que havia sido tratado

com anfotericina B por um ano e esplenectomia. Em uma mulher HIV-positiva com histórico

de LV, um episódio de leishmaniose cutânea pós-calazar foi documentado um ano após o

início do TARV, na qual foi incluído o indinavir. Um estudo realizado na Espanha entre os

indivíduos com infecção por L. infantum mostrou que, embora a contagem de células T CD4 +

durante episódios clínicos da LV fossem significativamente menores em indivíduos que não

recebem TARV, em comparação com aqueles que receberam o tratamento, ambos os grupos

tinham contagens de células T CD4 + inferiores a 200 células µl-1 (Revisto por Pozio e

Morales, 2005).

25

II. Justificativa

A quimioterapia utilizada no tratamento da leishmaniose é de baixa eficácia, pois os

fármacos geram severos efeitos colaterais, desde fraqueza até insuficiência renal aguda e

arritmias, principalmente devido à similaridade estrutural entre os microrganismos causadores

da doença e células humanas. As enzimas proteolíticas participam em processos biológicos

normais, e também são importantes fatores no desenvolvimento de inúmeras doenças humanas

causadas por parasitas, inclusive a leishmaniose. Inibidores de protease do HIV têm se

mostrado eficazes na diminuição da incidência, morbidade e mortalidade em pacientes co-

infectados com Leishmania e HIV. Neste contexto, os IPs-HIV, disponíveis comercialmente,

podem ser avaliados com o objetivo de se obter uma quimioterapia com curta duração, de

administração oral, mais potente e com baixo custo para o tratamento da leishmaniose.

26

III. Objetivo geral

Os objetivos deste trabalho são determinar os efeitos dos inibidores de aspártico

protease do HIV sobre a taxa de multiplicação, a diferenciação, a ultraestrutura celular e o

processo infeccioso em Leishmania amazonensis, associado com a inibição pelos IPs-HIV da

atividade das aspártico peptidases.

1. Objetivos específicos

1.1. Avaliar o efeito dos IPs-HIV sobre a taxa de multiplicação das formas promastigotas de

Leishmania amazonensis;

1.2. Determinar o IC50 das drogas que influenciam a taxa de multiplicação do parasito;

1.3. Determinar a influência dos IPs-HIV sobre a diferenciação do parasito;

1.4. Verificar o efeito dos IPs-HIV sobre a atividade enzimática de aspártico proteases no

extrato bruto das formas promastigotas de L. amazonensis;

1.5. Verificar possíveis alterações ultraestruturais nas formas promastigotas tratadas com os

IPs-HIV;

1.6. Determinar o efeito do pré- e pós-tratamento com os IPs-HIV sobre a interação com

macrófagos;

1.7. Determinar o efeito dos IPs-HIV sobre o perfil de proteases através de zimografia e

immunoblotting.

27

IV. Metodologia

1. Materiais

Os inibidores de protease do HIV (IPs-HIV) foram adquiridos das seguintes empresas:

Hoffmann-La Roche AG (Grenzach-Wyhlen, Germany) (Saquinavir e Nelfinavir), Merck

Sharp & Dohme GmbH (Haar, Germany) (Indinavir), Abbott Laboratories (Abbott Park, IL,

USA) (Lopinavir) e GlaxoSmithKline (NC, USA) (Amprenavir). O anticorpo monoclonal

anti-α-tubulina, o anticorpo secundário anti-IgG de coelho conjugado a peroxidase, soro

albumina bovina (BSA), dimetilsulfóxido (DMSO), soro fetal bovino inativado (SFB),

brometo de 3[4,5-dimetiltiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazolio (MTT), ditiotreitol (DTT), iodeto de

propídeo e meio Schneider foram obtidos da Sigma Chemical Co. (St Louis, USA).

Constituintes de meio, componentes de tampão, reagentes usados em eletroforese e

imunoblotting foram obtidos da Bio-RAD (Califórnia, USA). O anticorpo policlonal anti-cpb,

produzido contra cisteíno protease de Leishmania mexicana, foi cedido pelo Dr. Mary Wilson

(Department of Internal Medicine, Biochemistry, Microbiology and Epidemiology, Program in

Molecular Biology, University of Iowa, USA), e o anti-gp63, produzido contra gp63 de L.

mexicana, foi cedido pelo Dr. Peter Overath (Max-Planck-Institut für Biologie, Abteilung

Membranbiochemie, Germany).

2. Cepa utilizada e condições de cultivo

Os promastigotas de Leishmania (L.) amazonensis, cepa MHOM/BR/77/LTB0016,

foram obtidos da Coleção de Leishmaniose (Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ,

Brasil), e mantidos através de repiques semanais em garrafas de cultura de 25cm2 contendo

meio Schneider pH 7,2, suplementado com 10% de SFB a 26 ºC até o crescimento do parasito

(CEUA L-0006/07).

3. Obtenção de isolados infectivos

Para a manutenção da infectividade, a cepa de Leishmania amazonensis foi inoculada

em fêmeas de camundongos da linhagem BALB/c. Aproximadamente 1 × 107 parasitos,

obtidos da fase estacionária de crescimento, foram lavados, resssuspensos em tampão PBS

(tampão fosfato 20 mM, 150 mM NaCl, pH 7.2) estéril, e inoculados nas patas traseiras dos

camundongos. A cada 15 dias, o tamanho da pata foi aferido, com o auxílio de um paquímetro

28

de precisão de décimo de milímetro, para o controle da infecção. Cerca de 3 meses após o

inóculo, os animais foram sacrificados e os tecidos das patas foram macerados em meio

DMEM acrescido de 200 UI de penicilina e 200 µg/ml de estreptomicina). O produto deste

macerado foi inoculado em garrafas de cultura contendo 10 ml de meio Schneider,

suplementado com 20% de SFB e mantidos a 26°C até o crescimento dos parasitos.

4. Ensaio de inibição da multiplicação

Foi analisado o efeito sobre a taxa de multiplicação das formas promastigotas de L.

amazonensis de cinco inibidores distintos de aspártico protease do HIV (amprenavir, indinavir,

lopinavir, nelfinavir e saquinavir) e de um inibidor clássico de aspártico proteases (pepstatina

A). Os promastigotas foram contados em câmara de Neubauer e ressuspensos em meio

Schneider a uma concentração final de 5 × 107 promastigotas viáveis/ml. A viabilidade foi

verificada pela motilidade e exclusão do corante vital azul de tripan. O inibidor foi adicionado

à cultura em concentrações finais que variaram de 15 a 500 µM (partindo de uma solução

estoque de 20 mM em DMSO diluída seriadamente no meio de cultura). Diluições do DMSO

correspondentes às utilizadas na preparação das drogas serviram como controle. Após 24, 48,

72 e 96 horas de incubação a 26 ºC, o número de promastigotas viáveis foi quantificado por

contagem dos parasitos em câmara de Neubauer. A viabilidade foi verificada pela motilidade e

exclusão do corante vital azul de tripan. O IC50 (concentração mínima da droga capaz de

causar uma redução de 50% na sobrevivência/viabilidade do parasito em comparação com as

culturas sem o inibidor) foi determinado após 48 horas para os inibidores mais efetivos. Esses

valores foram determinados por análises de regressão linear do número de promastigotas

viáveis versus o log da concentração da droga, empregando o programa Sigma Plot para

windows versão 8.0 SPSS Inc, copyright 1986-2001.

5. Ensaio de inibição de diferenciação dos parasitos de promastigota para

amastigota in vitro

Promastigotas recém isoladas de infecção experimental em camundongos BALB/c e

criopreservadas foram recuperadas e cultivadas em meio Schneider pH 7,2 (suplementado com

10% de SFB, 200 UI de penicilina, 200 µg /ml de estreptomicina) e mantidos a temperatura de

26 ºC por quatro dias, para padronização da curva de crescimento. A diferenciação de

promastigota para amastigota foi induzida pela mimetização in vitro do ambiente do

hospedeiro vertebrado, através da acidificação do meio e aumento da temperatura. Para tal,

29

1,0x107 promastigotas/ml, obtidas de fase estacionária de crescimento, foram incubadas em

meio Schneider pH 5,5, suplementado com 20% de SFB, a 32 ºC por 24-96 h (Alves et al.,

2005). Os parasitos foram incubados na ausência ou presença de nelfinavir, amprenavir e

lopinavir nas concentrações equivalentes ao IC50 e a porcentagem de formas amastigotas-

promastigotas foi determinada por observação microscópica.

6. Microscopia eletrônica de transmissão

Os promastigotas (1 × 108) foram incubados na presença ou ausência de nelfinavir e

lopinavir na concentração do IC50 por 2, 4, 6, 8, 12 e 24 horas e então fixadas por 12 horas à 4

ºC em tampão cacodilato 0,1 M (Sigma) com 2,5% de glutaraldeído (Sigma), pH 7,2. Após a

fixação, as células foram lavadas em tampão cacodilato e pós-fixadas por 1 hora com tampão

cacodilato contendo tetróxido de ósmio 1%, ferrocianeto de potássio 0,8% e CaCl2 5 mM

(Sigma). As células foram então lavadas no mesmo tampão e desidratadas em concentrações

crescentes de acetona (50%, 70%, 90% e duas vezes 100%). Em seguida, o material foi

infiltrado por aproximadamente 12 horas em resina epóxi (Epon) diluída em acetona 1:1. Após

este período, o material foi infiltrado em resina Epon pura, onde permaneceu por cerca de 6

horas e depois foi incluído em resina Epon pura em poços de placa específica para inclusão,

onde ocorreu a polimerização a 60 ºC em forno (Biomatic) por 48 horas. Cortes ultrafinos

foram montados sobre grades de cobre de 300 mesh, coradas com acetato de uranila 5% e

citrato de chumbo e então observadas em microscópio eletrônico de transmissão Zeiss 900

(Zeiss, Oberkochen, Germany).

7. Avaliação da atividade enzimática através de dosagem proteolítica

O extrato do parasito foi obtido de acordo com metodologia descrita previamente (Alves

et al., 2005). Os promastigotas (1 × 109) foram centrifugados e lavados 3 vezes com PBS pH

7,2. As células foram ressuspensas em 1 ml de Tris–HCl 10 mM, pH 6,8, contendo 1% de

CHAPS (3-[(3-colamidopropil)-dimetilamonio]-1-propanosulfonato) e submetidas a ciclos

repetidos de congelamento e descongelamento. Os extratos foram mantidos por 40 minutos

em freezer e então centrifugados por 30 minutos, 30.000× g a 4 °C. O sobrenadante obtido foi

aliquotado, mantido em freezer a -70 ºC por até 4 dias. A concentração de proteínas foi

determinada de acordo com o método de Lowry et al., (1951), usando BSA como padrão. As

leituras foram feitas em cubeta de quartzo no espectrofotômetro (Ultrospec 1100 pro;

Amersham Biosciences, UK) com o comprimento de onda de 617 nm.

30

Para o ensaio de atividade enzimática, cerca de 10 µg do extrato bruto dos parasitos

foram incubados (37 °C, 60 minutos) com 2 µM de substrato fluorogênico específico para

aspártico protease do HIV-1 (Arg-Glu(EDANS)-Ser-Gln-Asn-Tyr-Pro-Ile-Val-Gln-

Lys(DABCYL)-Arg e para Renina (Arg-Glu(EDANS)-Ile-His-Pro-Phe-His-Leu-Val-Ile-His-

Thr-Lys(DABCYL)-Arg) em um volume final de 60 µl, em tampão de ativação (acetato de

sódio 0.1 M, cloreto de sódio 1 M, EDTA 1mM , DTT 1 mM, DMSO 10%, BSA 1mg/ml, pH

4,7) ( Matayoshi et al., 1990). Para os ensaios de inibição, o extrato bruto foi pré-incubado (25

°C, 5 minutos) com os inibidores de aspártico protease do HIV (nelfinavir e amprenavir 1 e 10

µM, lopinavir 0,1; 1 e 10 µM) e um inibidor clássico de aspártico proteases (Pepstatina A 1

µM). A variação da fluorescência foi monitorada durante 60 minutos e a velocidade da reação

calculada usando a fórmula v = [s – so]/(t - to), onde v = velocidade, [s - so] = concentração de

substrato final subtraída da concentração de substrato inicial e (t - to) = tempo final subtraído

do tempo inicial. Os ensaios foram controlados verificando a auto-liberação do conjugado

fluorogênico nos mesmos intervalos de tempo. A atividade enzimática foi expressa em

fluorescência do produto gerado (EDANS) por minuto por miligrama de proteína (abs min -1

mg ptn -1). A fluorescência foi medida continuamente em fluorímetro (SpectraMax Gemini

xps, Molecular Devices, CA, USA) a 340 nm de excitação e 490 nm de emissão.

8. Ensaio de viabilidade do parasito

Após a contagem dos parasitos em câmara de Neubauer o número de células foi

ajustado para uma concentração final de 1 × 106 em 100 µl na presença ou ausência dos IPs-

HIV em concentrações que variaram de 50 a 250 µM. As células foram incubadas por 1 a 4

horas, centrifugadas, lavadas duas vezes com PBS e incubadas durante 15 minutos em uma

solução contendo 3 mM de iodeto de propídeo diluído em tampão de marcação (Tris 100 mM,

pH 7,4, NaCl 150 mM, 1 mM de CaCl2, 0,5 mM MgCl2). Para controle de morte celular, uma

alíquota dos parasitos foi aquecida a 100 oC por 5 minutos, e tratada com a solução de iodeto

de propídeo. A detecção da viabilidade foi determinada em citômetro de fluxo (FACS Calibur,

Becton Dickinson Immunocytometry System, San Jose, CA, USA), empregando o software

Cell Quest iPro (BD Immunocytometry. Systems, San Jose, CA). As populações celulares

analisadas foram reconhecidas por meio das propriedades de espalhamentos frontais – FSC – e

dos espalhamentos laterais – SSC das mesmas. A fluorescência vermelha do iodeto de

propídeo foi mensurada a 585±42nm (FL2).

31

9. Avaliação do perfil de proteases por SDS-PAGE com gelatina e por

immunoblotting

Os promastigotas (1 × 108 células) foram incubados com os IPs-HIV por 4 horas a 26

ºC na concentração de 100 µM. Os parasitos tratados mantiveram mais de 90% das células

viáveis, de acordo com a metodologia descrita acima. As formas promastigotas tratadas ou não

com os IPs-HIV foram lisadas pela adição de tampão de amostra para SDS-PAGE (Tris 125

mM, pH 6,8, SDS 4%, glicerol 20% e azul de bromofenol 2%). Em cada “slot” foi aplicado o

extrato do parasito correspondente a 5 x 106 células e a eletroforese (cuba de eletroforese

vertical, Bio Rad) foi realizada a 60 mA, 4 ºC por 2 horas. Após a eletroforese, o SDS foi

removido por incubação com Triton X-100 2,5 % por 1 hora. Subsequentemente, os géis

foram incubados em tampão fosfato de sódio 50 mM, pH 5,5, suplementado com DTT 2 mM a

37 ºC. Após incubação por 48 horas, os géis foram lavados 2 vezes com água destilada,

corados por 2 horas com azul de comassie R-250 em metanol-ácido acético-água (50:10:40), e

descorados “overnight” em solução contendo metanol-ácido acético-água (5:10:85). Os géis

foram secos, fotografados e a densitometria dos halos de degradação foi realizada empregando

o programa Scion Image (Scion Corporation, base don NIH for MacIntosh by Wayne

Rasbanol, NIH, USA).

Alternativamente, o extrato dos parasitos obtido como descrito acima foi adicionado de

β-mercaptoetanol 10%, seguido de desnaturação a 100 ºC por 5 minutos, e as proteínas foram

separadas eletroforeticamente (SDS-PAGE 12%), e posteriormente transferidas a 4 ºC, 100

V/300mA por 2 horas para membranas de nitrocelulose (0,22 µm). A membrana foi bloqueada

em solução de 5% de leite em pó desnatado diluído em PBS contendo Tween 20 0,5% por 1

hora em temperatura ambiente. As membranas foram então lavadas 3 vezes (10 minutos cada)

com solução de lavagem (5% de leite em pó desnatado diluído em PBS) e incubadas por 2

horas com os seguintes anticorpos policlonais: anti-cpb (1:1000), anti-gp63 (1:2000) e o

anticorpo monoclonal anti-α-tubulina (1:500). O anticorpo secundário utilizado foi o anti-IgG

de coelho conjugado a peroxidase (1:20000) seguido da imunodetecção por

quimioluminescência. A massa molecular relativa dos polipeptídeos reativos foi calculada por

comparação com padrões de peso molecular. Os filmes de raio-x foram fotografados e a

densitometria das bandas reativas foi realizada empregando o programa Scion Image (Scion

Corporation, base don NIH for MacIntosh by Wayne Rasbanol, NIH, USA).

32

10. Ensaio de viabilidade de macrófagos

O efeito dos IPs-HIV sobre a viabilidade de macrófagos murinos foi avaliada pelo

ensaio de MTT, conforme descrito previamente (Dutta et al., 2006). Macrófagos peritoniais de

fêmeas de camundongo BALB/c (6 a 8 meses de idade) foram coletados em PBS gelado e 5 ×

105 células foram colocadas para aderir em microplacas de 96 poços por 1 hora a 37 °C, em

atmosfera de 5% de CO2. As células não aderidas foram removidas através de lavagem com

PBS, e os poços foram preenchidos com meio DMEM suplementado com 10% de SFB. Os

macrófagos foram então incubados com concentrações crescentes dos IPs-HIV (1,56 a 25

µM), em triplicata. Após 24 horas, o meio foi retirado, o MTT adicionado (5mg/ml em PBS,

50 µg/poço) e as células incubadas por 3 horas ao abrigo de luz, a 37 ºC. As microplacas

foram subsequentemente centrifugadas a 190 g por 7 minutos, o sobrenadante foi removido e o

“pellet” dissolvido em 200 µl de DMSO. A absorbância foi mensurada em leitor de ELISA a

490 nm (Bio-Tek Instruments). Os macrófagos incubados sem a droga foram utilizados como

controle. As concentrações dos IPs-HIV capazes de manter 95% da viabilidade dos

macrófagos foram utilizadas nos ensaios de interação. Os experimentos foram realizados de

acordo com protocolos aprovados pelo Comitê Institucional de Uso e Cuidado com Animais

da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

11. Ensaio de interação Leishmania-macrófago (Pré-tratamento)

Os promastigotas foram pré-tratados por 1 hora com os inibidores em concentrações

que variaram de 50 a 250 µM. Após esse período, os parasitos foram contados em câmara de

Neubauer e as concentrações capazes de manter 90% do número de células viáveis em relação

ao controle foram utilizadas no ensaio de interação. Os parasitos foram então pré-tratados

com os IPs-HIV por 1 hora com concentrações subinibitórias da droga (50 e 100 µM de

nelfinavir e lopinavir; 100 e 200 µM de amprenavir) e adicionados às placas contendo a

cultura de macrófagos. Após 1 hora de interação, as células foram fixadas em metanol, coradas

com Giemsa, desidratadas em soluções de acetona progressivamente substituídas por xilol e a

montagem das lâminas feita com Permount. A porcentagem de macrófagos infectados foi

determinada pela contagem de pelo menos 200 células em cada lamínula da triplicata. O índice

de associação foi obtido multiplicando-se a porcentagem de macrófagos infectados pelo

número de amastigotas por macrófagos infectados (Palmeira et al., 2008).

33

12. Ensaio de interação Leishmania-macrófago (Pós-tratamento)

Promastigotas obtidos da fase estacionária de crescimento foram lavados com PBS,

contados em câmara de Neubauer e adicionados as placas de 24 poços contendo lamínulas de

vidro com os macrófagos aderidos. Os parasitos foram adicionados em uma proporção

parasito/macrófago de 10:1, e incubados por 2 horas a 37 ºC em uma atmosfera de 5% de CO2.

Os parasitos livres foram removidos por lavagens sucessivas com PBS. Posteriormente, as

células infectadas com Leishmania foram tratadas por 24 horas com os IPs-HIV que tiveram

efeito sobre a multiplicação dos promastigotas, com concetrações finais de 6,25, 12,5 e 25 µM

de nelfinavir e 3,125, 6,25 e 12,5 µM de amprenavir e lopinavir (concentrações dos IPs-HIV

que mantem 95% da viabilidade dos macrófagos). Após a interação, as células foram lavadas

com PBS a 37 ºC, as lamínulas de vidro foram fixadas com metanol e coradas como descrito

acima.

13. Análises estatísticas

Todos os experimentos foram realizados no mínimo em triplicata e repetidos pelo

menos 2 vezes. Os dados foram analisados estatisticamente usando o teste t de Student usando

o programa Sigma Plot 2002 (SPSS Incorporated). Os valores de P iguais ou inferiores a 0,05

foram considerados estatisticamente significativos.

34

V. Resultados

1. Efeito dos inibidores de protease do HIV sobre a taxa de mutiplicação de

Leishmania amazonensis

Com o objetivo de avaliar se os inibidores de aspártico protease do HIV têm efeito

sobre a taxa de multiplicação das formas promastigotas de L. amazonensis, os IPs-HIV

(nelfinavir, lopinavir, amprenavir, saquinavir e indinavir), na concentração de 50 µM, foram

adicionados às formas promastigotas (5 × 107 células) e o crescimento celular in vitro foi

monitorado por 4 dias. Somente lopinavir e nelfinavir reduziram significativamente a taxa de

multiplicação do parasito, na concentração de 50 µM, a partir de 48 horas de cultivo (P < 0,05)

(Figura 11). A partir desta análise preliminar, cada inibidor foi testado na faixa de

concentração apropriada, ou seja, concentrações maiores que 50 µM para amprenavir,

indinavir e saquinavir e menores que 50 µM para nelfinavir e lopinavir. Todos os IPs-HIV

inibiram a multiplicação do parasito de forma dose-dependente (Figuras 12-16), porém a

diferença de susceptibilidade do parasito a cada inibidor foi marcante. O nelfinavir e o

lopinavir induziram a uma redução significativa na taxa de crescimento celular a partir de 48

horas nas concentrações acima de 25 µM (Figuras 12 e 13). O IC50 após 48 horas foi 15,12 ±

1,1µM e 16,47 ± 0,8 µM, respectivamente. O amprenavir a 250 µM também reduziu

significativamente (P≤ 0,05) a multiplicação do parasito após 48 horas de incubação. Com esta

droga a 500 µM, observou-se a morte predominante do parasito (Figura 14). O IC50 após 48

horas correspondeu a 62,0 µM ± 2,1 µM. O Indinavir alterou significativamente a taxa de

multiplicação do parasito somente na maior concentração e após 72 horas de cultivo (Figura

15). Já o saquinavir mesmo na maior concentração usada não diminuiu significativamnete a

proliferação do parasito (Figura 16). A pepstatina A, um inibidor clássico de aspártico

proteases, foi testado em paralelo para fins comparativos. Este inibidor diminuiu de forma

significativa o crescimento do parasito a 50 µM (Figura 17). O DMSO, solvente utilizado para

diluir as drogas, não afetou significativamente a multiplicação do parasito em relação ao

controle (Figuras 11-17).

35

Figura 11. Efeito dos inibidores de protease do HIV sobre a taxa de multiplicação de

Leishmania amazonensis. Os promastigotas (5 × 107 células) foram incubados a 26 ºC por 96

horas na ausência ou presença de amprenavir, saquinavir, nelfinavir, lopinavir e indinavir na

concentração de 50 µM. Os inibidores foram adicionados no dia 0 e as células foram contadas

diariamente em câmara de Neubauer. O dimetilsulfóxido foi utilizado na diluição

correspondente a concentração de 50 µM das drogas. Os resultados representam a média de

dois experimentos independentes, realizados em triplicata. As barras indicam o desvio padrão.

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 107

Controle

DMSO

Amprenavir

Saquinavir

Nelfinavir

Lopinavir

Indinavir

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 107

Controle

DMSO

Amprenavir

Saquinavir

Nelfinavir

Lopinavir

Indinavir

36

Figura 12. Efeito de nelfinavir sobre a taxa de multiplicação de Leishmania amazonensis. Os

promastigotas (5 × 107 células) foram incubados a 26 oC por 96 horas na ausência ou presença

de nelfinavir em concentrações variando de 15 a 50 µM. O inibidor foi adicionado no dia 0 e

as células foram contadas diariamente em câmara de Neubauer. O dimetilsulfóxido foi

utilizado na diluição correspondente a maior concentração da droga. Os resultados

representam a média de dois experimentos independentes, realizados em triplicata. As barras

indicam o desvio padrão.

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

Controle

DMSO

15 µM

20

25

30

50

µM

µM

µM

µM

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

Controle

DMSO

15 µM

20

25

30

50

µM

µM

µM

µM

37

Figura 13. Efeito de lopinavir sobre a taxa de multiplicação de Leishmania amazonensis. Os

promastigotas (5 × 107 células) foram incubados a 26 oC por 96 horas na ausência ou presença

de lopinavir em concentrações variando de 15 a 50 µM. O inibidor foi adicionado no dia 0 e as

células foram contadas diariamente em câmara de Neubauer. O dimetilsulfóxido foi utilizado

na diluição correspondente a maior concentração da droga. Os resultados representam a média

de dois experimentos independentes, realizados em triplicata. As barras indicam o desvio

padrão.

Lopinavir

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Controle

DMSO

15 µM

20

25

30

50

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

µM

µM

µM

µM

Lopinavir

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Controle

DMSO

15 µM

20

25

30

50

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

µM

µM

µM

µM

38

Figura 14. Efeito de amprenavir sobre a taxa de multiplicação de Leishmania amazonensis.

Os promastigotas (5 × 107 células) foram incubados a 26 oC por 96 horas na ausência ou

presença de amprenavir em concentrações variando de 50 a 500 µM. O inibidor foi adicionado

no dia 0 e as células foram contadas diariamente em câmara de Neubauer. O dimetilsulfóxido

foi utilizado na diluição correspondente a maior concentração da droga. Os resultados

representam a média de dois experimentos independentes, realizados em triplicata. As barras

indicam o desvio padrão.

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Controle

DMSO

50

100

250

500 µM

µM

µM

µM

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Controle

DMSO

50

100

250

500 µM

µM

µM

µM

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

39

Figura 15. Efeito de indinavir sobre a taxa de multiplicação de Leishmania amazonensis. Os

promastigotas (5 × 107 células) foram incubados a 26 oC por 96 horas na ausência ou presença

de nelfinavir em concentrações variando de 50 a 500 µM. O inibidor foi adicionado no dia 0 e

as células foram contadas diariamente em câmara de Neubauer. O dimetilsulfóxido foi

utilizado na diluição correspondente a maior concentração da droga. Os resultados

representam a média de dois experimentos independentes, realizados em triplicata. As barras

indicam o desvio padrão.

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

Controle

DMSO50

100

250

500 µM

µM

µM

µM

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

Controle

DMSO50

100

250

500 µM

µM

µM

µM

40

Figura 16. Efeito de saquinavir sobre a taxa de multiplicação de Leishmania amazonensis. Os

promastigotas (5 × 107 células) foram incubados a 26 oC por 96 horas na ausência ou presença

de saquinavir em concentrações variando de 50 a 500 µM. O inibidor foi adicionado no dia 0 e

as células foram contadas diariamente em câmara de Neubauer. O dimetilsulfóxido foi

utilizado na diluição correspondente a maior concentração da droga. Os resultados

representam a média de dois experimentos independentes, realizados em triplicata. As barras

indicam o desvio padrão.

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Controle

DMSO

50

100

250

500 µM

µM

µM

µM

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Controle

DMSO

50

100

250

500 µM

µM

µM

µM

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

41

Figura 17. Efeito da pepstatina A sobre a taxa de multiplicação de Leishmania amazonensis.

Os promastigotas (5 × 107 células) foram incubados a 26 oC por 96 horas na ausência ou

presença de pepstatina A em concentrações variando de 25 a 100 µM. O inibidor foi

adicionado no dia 0 e as células foram contadas diariamente em câmara de Neubauer. O

dimetilsulfóxido foi utilizado na diluição correspondente a maior concentração da droga. Os

resultados representam a média de dois experimentos independentes, realizados em triplicata.

As barras indicam o desvio padrão.

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

Controle

DMSO25

50

100

µM

µM

µM

4

5

6

7

8

9

10

0 24 48 72 96

Tempo (h)

Número de promastigotasx 10

7

Controle

DMSO25

50

100

µM

µM

µM

42

2. Efeito dos inibidores sobre a diferenciação de formas promastigotas para

amastigotas de L. amazonensis:

As formas promastigotas dos parasitos (1 × 107 células/ml) foram incubadas em

condições que mimetizam o ambiente da célula hospedeira (pH 5,5 e temperatura a 32 ºC) para

induzir a diferenciação in vitro para as formas amastigotas. A fim de observar o efeito dos IPs-

HIV sobre a diferenciação, os compostos que tiveram efeito marcante sobre a proliferação

celular (nelfinavir, lopinavir e amprenavir) foram testados nas concentrações correspondentes

ao IC50 e a duas vezes o IC50: nelfinavir: 15,12 e 30,24 µM; lopinavir: 16,47 e 32,94 µM;

amprenavir: 62,0 e 124 µM. Os IPs-HIV não foram capazes de interferir na diferenciação dos

parasitos, sob estas condições experimentais.

3. Efeito dos IPs-HIV sobre a atividade enzimática de aspártico proteases de L.

amazonensis:

Através do emprego de substratos peptídicos seletivos para aspártico protease do HIV-

1 [Arg-Glu(EDANS)-Ser-Gln-Asn-Tyr-Pro-Ile-Val-Gln-Lys(DABCYL)-Arg] e para renina

[Arg-Glu(EDANS)-Ile-His-Pro-Phe-His-Leu-Val-Ile-His-Thr-Lys(DABCYL)-Arg] foi

possível demonstrar a presença de atividade de aspártico protease nos extratos de

promastigotas de L. amazonensis. A figura 18 mostra a degradação do substrato para aspártico

protease do HIV em pH 4,7 pelas proteínas solúveis de L. amazonensis e pela Pepsina, uma

aspártico protease conhecida, ao longo de 20 minutos (Figura 18). A partir deste resultado, a

degradação dos substratos para a protease do HIV e para a renina foi comparada sob as

mesmas condições experimentais. Apesar do peptídeo sintético para renina ter sido mais bem

hidrolisado do que o substrato para aspártico protease do HIV-1, a diferença não foi

estatisticamente significativa (Figura 19).

Em seguida, para caracterizar a atividade proteolítica detectada, o extrato de L.

amazonensis foi incubado com os IPs-HIV e pepstatina A. Inicialmente, todos os inibidores

na concentração de 1 µM foram testados com o substrato do HIV-1. O lopinavir e a pepstatina

A inibiram drasticamente a degradação do substrato em 91,5 % e 83,5 %, respectivamente. Já

com o substrato para renina, apenas pepstatina A foi capaz de inibir a atividade enzimática na

concentração de 1 µM. Apartir desses dados, avaliamos o efeito sobre a hidrólise do substrato

para aspártico protease do HIV-1, de concentrações dez vezes maiores de nelfinavir e

amprenavir. Os resultados indicaram que nelfinavir a 10 µM reduziu a atividade proteolítica

em 98 %, enquanto amprenavir não exerceu nenhum efeito. Tendo em vista a drástica inibição

43

por lopinavir a 1 µM, testamos concentrações menores deste composto, que não foi capaz de

inibir a degradação do substrato a 0,1 µM (Figura 20).

O substrato para renina não teve a degradação inibida por nenhum IP-HIV a 1 µM.

Apenas nelfinavir na concentração de 10 µM foi capaz de interferir na hidrólise do substrato

(64,6 % de inibição) (Figura 21).

44

Pepsina Extrato total de

L. amazonensis

0

20

40

60

80

100

120

Atividade enzim

ática (abs min

-1 m

g ptn

-1)

Figura 18. Detecção da atividade de aspártico protease no extrato bruto das formas

promastigotas de L. amazonensis e de uma enzima pura (Pepsina) contra substrato específico

para aspártico protease do HIV-1 [Arg-Glu(EDANS)-Ser-Gln-Asn-Tyr-Pro-Ile-Val-Gln-

Lys(DABCYL)-Arg]. A atividade do extrato protéico solúvel de L. amazonensis (10 µg) foi

determinada a 37 oC em pH 4,7 por 20 minutos, conforme descrito na metodologia. Os

resultados representam a média de dois experimentos independentes, realizados em

quadruplicata. As barras indicam o erro padrão.

45

Figura 19. Comparação da degradação dos substratos específicos para a protease do HIV-1

[Arg-Glu(EDANS)-Ser-Gln-Asn-Tyr-Pro-Ile-Val-Gln-Lys(DABCYL)-Arg] ou renina [(Arg-

Glu(EDANS)-Ile-His-Pro-Phe-His-Leu-Val-Ile-His-Thr-Lys(DABCYL)-Arg)]. por L.

amazonensis. A atividade do extrato protéico solúvel de L. amazonensis (10 µg) foi

determinada a 37 oC em pH 4,7 por 20 minutos, conforme descrito na metodologia. Os

resultados representam a média de dois experimentos independentes, realizados em

quadruplicata. As barras indicam o erro padrão.

0

5

10

15

20

25

30

HIV-1 Peptidase Renina

Unidades Arbitrárias de Fluorescência

Substrato para aspártico protease do HIV-1

Substrato para Renina

0

5

10

15

20

25

30

HIV-1 Peptidase Renina

Unidades Arbitrárias de Fluorescência

Substrato para aspártico protease do HIV-1

Substrato para Renina

46

Controle Nel

10 µM

Nel

1 µM

Amp

10 µM

Amp

1 µM

Lop

1 µM

Lop

0,1 µM

PepA

1 µM

0

20

40

60

80

100

120

Atividade enzim

ática (abs min

-1 m

g ptn

-1)

Figura 20. Inibição da atividade de aspártico protease de L. amazonensis pelos IPs-HIV e

pepstaina A empregando substrato específico para aspártico protease do HIV-1 [Arg-

Glu(EDANS)-Ser-Gln-Asn-Tyr-Pro-Ile-Val-Gln-Lys(DABCYL)-Arg]. O extrato protéico

solúvel de L. amazonensis (10 µg) foi incubado por 5 minutos a 25 oC na presença ou ausência

(controle) de nelfinavir, amprenavir, lopinavir e pepstatina A (como indicado) e

posteriormente procedido o ensaio de atividade enzimática em pH 4,7 por 20 minutos,

conforme descrito na metodologia. Os resultados representam a média de dois experimentos

independentes, realizados em quadruplicata. As barras indicam o erro padrão.

47

Controle Nel

10 µM

Nel

1 µM

Amp

10 µM

Amp

1 µM

Lop

10 µM

Lop

1 µM

PepA

1 µM

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Atividade enzim

ática (abs m

in-1 m

g ptn

-1)

Figura 21. Inibição da atividade de aspártico protease de L. amazonensis pelos IPs-HIV e

pepstaina A empregando substrato específico para renina [(Arg-Glu(EDANS)-Ile-His-Pro-

Phe-His-Leu-Val-Ile-His-Thr-Lys(DABCYL)-Arg)]. O extrato protéico solúvel de L.

amazonensis (10 µg) foi incubado por 5 minutos a 25 oC na presença ou ausência (controle) de

nelfinavir, amprenavir, lopinavir e pepstatina A (como indicado) e posteriormente procedido o

ensaio de atividade enzimática em pH 4,7 por 20 minutos, conforme descrito na metodologia.

Os resultados representam a média de dois experimentos independentes, realizados em

quadruplicata. O controle é indicado como 100%. As barras indicam o erro padrão.

48

4. Efeito dos IPs-HIV sobre a ultraestrutura de L. amazonensis:

Tendo em vista a eficácia dos IPs-HIV sobre a taxa de mutiplicação de L. amazonensis,

principalmente nelfinavir e lopinavir, avaliou-se o efeito destes inibidores na ultraestrutura de

L. amazonensis, por microscopia eletrônica de transmissão. A morfologia de células não-

tratadas (Figura 22 e 23; A) foi comparada com a ultraestrutura do protozoário tratado com os

inibidores (Figura 22, B-I; Figura 23; B-E). Os resultados mostraram pedaços de membrana

sendo liberados em toda a superfície celular (Figura 22; B-E cabeça de setas), incluindo a

membrana do flagelo (Figura 22; D cabeça de setas), após 4 horas de tratamento usando

concentrações correspondentes ao IC50 (15,12 µM para nelfinavir e 16,47 µM para lopinavir).

As células tratadas com nelfinavir mostraram também uma retração do citoplasma (Figura 22;

B, E �), um alto número de vesículas que, de acordo com sua eletrodensidade, provavelmente

correspondem a compartimentos ricos em lipídeos (Figura 22; E-F v) ou acidocalcissomas

(Figura 22; G �). As células tratadas com ambas as drogas apresentaram seus núcleos

intimamente envoltos por retículo endoplasmático (Figura 22; G-H e Figura 23; E setas

pretas), mitocôndria túrgida (Figura 22; F cabeça de seta branca) e estruturas similares à

mielina (Figura 22; H seta maior). Após 24 horas de tratamento, algumas alterações

visualizadas foram exclusivamente induzidas pelo inibidor lopinavir, como vesículas com

tamanho aumentado (Figura 23, B �) além de vários blocos de cromatina condensada

próximos ao envelope nuclear (Figura 23; B-D setas brancas). Esta alteração é sugestiva de

morte celular induzida por apoptose. Ainda com 24 horas de tratamento, foi possível verificar

uma desorganização total da ultraestrutura celular, culminando com a morte do parasito, como

observado tanto para nelfinavir quanto lopinavir (figura 22, I).

49

Figura 22. Alterações ultraestruturais em Leishmania amazonensis induzidas pelo

tratamento com nelfinavir. Os parasitos (1 × 108 celulas) obtidos de fase log de cultivo foram

inoculados em meio estéril na ausência (A) ou presença (B−I) de nelfinavir a 15,12 µM (IC50),

incubadas por 4 (B−E), 6 (F−G), 8 (H) e 24 horas (I), e processadas para microscopia

eletrônica de transmissão. Algumas alterações ultraestruturais foram evidenciadas tanto com

nelfinavir como com lopinavir, e são ilustradas com os parasitos tratados com nelfinavir, como

indicado no texto. As letras minúsculas significam: c−cinetoplasto; f−flagelo; m−mitocôndria

e n−núcleo. Pedaços de membrana (B-E-D cabeça de setas); retração do citoplasma (B, E �),

vesículas (E-F v) ou acidocalcissomas (G �), núcleos intimamente envoltos por retículo

endoplasmático (G-H), mitocôndria túrgida (F cabeça de seta branca) e estruturas similares à

mielina (H seta maior),

50

Figura 23. Alterações ultraestruturais em Leishmania amazonensis induzidas pelo

tratamento com lopinavir. Os parasitos (1 × 108 celulas) obtidos de fase log de cultivo foram

inoculados em meio estéril na ausência (A) ou presença (B−E) de lopinavir a 16,47 µM (IC50),

incubadas por 24 (B−D) e 6 horas (E) e processadas para microscopia eletrônica de

transmissão. As alterações ultraestruturais em B, C e D foram evidenciadas exclusivamente

com lopinavir. As letras minúsculas significam: c−cinetoplasto; f−flagelo; m−mitocôndria e

n−núcleo. Núcleos intimamente envoltos por retículo endoplasmático (E setas pretas)

vesículas com tamanho aumentado (B �), blocos de cromatina condensada próximos ao

envelope nuclear (B-D setas brancas).

51

5. Efeito dos IPs-HIVsobre a interação de Leishmania com macrófagos (pré-tratamento)

O efeito do tratamento das formas promastigotas com os IPs-HIV antes da interação

com macrófagos é mostrado na figura 24. Inicialmente, os inibidores nelfinavir, lopinavir e

amprenavir que mostraram maior efeito sobre a proliferação in vitro, foram incubadas por 1

hora com os inibidores nas concentrações que variaram de 50 a 250 µM, em intervalos de 50

µM. Nos experimentos de interação, foram utilizadas apenas as concentrações capazes de

manter mais de 95% dos parasitos viáveis, como observado através da sua morfologia,

motilidade, contagem em câmara de neubauer e exclusão de iodeto de propídeo. A partir deste

ensaio, as formas promastigotas foram tratadas por 1 hora com concentrações sub-inibitórias

dos IPs-HIV, que foram posteriormente removidos por lavagem. Os parasitos foram colocados

para interagir com os macrófagos por 1 hora, e após esse período, os flagelados livres foram

removidos e as células incubadas por mais 2 horas, e o índice de associação foi determinado.

O inibidor que causou uma redução mais drástica no índice de associação de L. amazonensis

com macrófagos foi nelfinavir, com um perfil de inibição dose-dependente, onde a inibição

aumentou de 86 % para 93 %, em relação ao controle, nas concentrações de 50 e 100 µM.

Quando os parasitos foram pré-tratados com amprenavir a 100 ou 200 µM, os índices de

associação foram, respectivamente, 75 % e 81% menores quando comparados ao controle. O

lopinavir não apresentou um perfil de inibição dose-dependente tão proeminente, ficando em

torno de 80% tanto para 50 µM como para 100 µM (Figura 24).

52

Figura 24. Efeito do tratamento das formas promastigotas de Leishmania amazonensis com os

IPs-HIV antes da interação com macrófagos. Os promastigotas de L. amazonensis foram

tratados ou não (controle), com nelfinavir, amprenavir ou lopinavir (como indicado) durante 1

hora antes da interação parasito-macrófago e, em seguida, as células foram lavadas com PBS.

O parasito manteve sua viabilidade nestas condições experimentais (como descrito na

Metodologia). Os macrófagos foram, então, infectados com as formas promastigotas por 1

hora a 37 ° C, e as monocamadas foram lavadas com PBS para a remoção dos parasitos livres.

O índice de associação foi determinado após 2 horas de infecção por microscopia de luz,

contando pelo menos 200 células de cada triplicata. Cada barra representa a média ± erro

padrão de pelo menos três experimentos independentes.

Association Index

0

10

20

30

40

50

60

70

controlecontrolenelfinavirnelfinavir amprenaviramprenavir lopinavirlopinavir

5050 100100 100100 200200 5050 100100 µµMM

IPsIPs

P P < 0.05< 0.05

Índ

ice

de

asso

ciaç

ão d

e L

. am

azo

nen

sis

com

mac

rófa

go

s (%

)

Controle 50 100

Nelfinavir

100 200

Amprenavir

50 100

lopinavir

µM

IPs

70

60

50

40

30

20

10

0

Association Index

0

10

20

30

40

50

60

70

controlecontrolenelfinavirnelfinavir amprenaviramprenavir lopinavirlopinavir

5050 100100 100100 200200 5050 100100 µµMM

IPsIPs

P P < 0.05< 0.05

Índ

ice

de

asso

ciaç

ão d

e L

. am

azo

nen

sis

com

mac

rófa

go

s (%

)

Controle 50 100

Nelfinavir

100 200

Amprenavir

50 100

lopinavir

µM

IPs

Association Index

0

10

20

30

40

50

60

70

controlecontrolenelfinavirnelfinavir amprenaviramprenavir lopinavirlopinavir

5050 100100 100100 200200 5050 100100 µµMM

IPsIPs

P P < 0.05< 0.05

Índ

ice

de

asso

ciaç

ão d

e L

. am

azo

nen

sis

com

mac

rófa

go

s (%

)

Controle 50 100

Nelfinavir

100 200

Amprenavir

50 100

lopinavir

µM

IPs

70

60

50

40

30

20

10

0

53

6. Efeito dos IPs-HIV sobre a interação de Leishmania amazonensis com macrófagos

(pós-tratamento)

Primeiramente, foi testado o efeito isolado dos inibidores sobre a viabilidade dos

macrófagos peritoniais de camundongo BALB/c através do ensaio com MTT. Um efeito

deletério significativo foi observado somente para lopinavir a 25 µM, enquanto amprenavir,

também nesta concentração, ficou no limite entre os efeitos não tóxicos e a toxicidade para os

macrófagos (Figura 25, A). A partir destas observações, foram utilizadas concentrações dos

IPs-HIV, que mantivessem, mais de 95% dos macrófagos viáveis durante 24 horas de

tratamento para os ensaios de interação de L. amazonensis com macrófagos na presença dos

inibidores. Os macrófagos foram pré-infectados com L. amazonensis por 1 hora, os parasitos

não aderidos ou internalizados foram removidos, e a cultura foi então tratada com nelfinavir,

lopinavir e amprenavir por 24 horas. Os resultados evidenciaram que todos os IPs-HIV

testados reduziram de forma significativa a sobrevivência intracelular de L. amazonensis nos

macrófagos, de maneira dose dependente (Figura 25). Os inibidores amprenavir e lopinavir, já

na concentração de 3.125 µM, mostraram uma redução do índice de associação de 20% e 60%,

respectivamente. Com a concentração de 6.25 µM houve uma redução do índice de associação

de 23% para nelfinavir, 35% para amprenavir e 75% para lopinavir. O lopinavir a 12.5 µM

reduziu drasticamente o índice de associação em torno de 90 %, assim como nelfinavir, que

promoveu, aproximadamente, uma inibição de 70% na concentração de 25 µM.

54

Figura 25. Toxicidade dos IPs-HIV sobre macrófagos peritoniais de camundongo BALB/c e

susceptibilidade dos parasitos intracelulares aos IPs-HIV. Inicialmente, os macrófagos (1 x 105

células) foram incubados em placas de 96 poços durante 24 horas na ausência ou na presença

de diferentes concentrações (como indicado) de nelfinavir, amprenavir e lopinavir. Após este

período, a viabilidade das células de macrófagos foi determinada espectrofotometricamente a

490 nm, através de ensaio de MTT. A linha pontilhada separa o gráfico em duas porções: < ou

≥ a 95% dos macrófagos viáveis. O controle representa os macrófagos sem inibidor (A). Os

macrófagos foram infectados com promastigotas de Leishmania amazonensis por 1 hora a 37 °

C, seguido de exaustiva lavagem com PBS e, em seguida, a interação foi incubada por mais 24

horas na ausência (controle), ou na presença de nelfinavir, amprenavir ou lopinavir. O índice

de associação foi determinado por microscopia de luz, contando pelo menos 200 células de

cada triplicata. O controle é indicado como 100%. Cada barra representa a média ± erro

padrão de pelo menos três experimentos independentes (B).

ABS 490

0,0

0,5

1,0

1,5

2,01.562 µM3.125 µM6.25 µM12.5 µM25 µM

Controle NelfinavirNelfinavir AmprenavirAmprenavir LopinavirLopinavir

A

% Association index

0

20

40

60

80

100

120

6.256.25 12.512.5 µµMM2525 3.123.12 6.256.25 12.512.5 3.123.12 6.256.25 12.512.5controlecontrole

NelfinavirNelfinavir AmprenavirAmprenavir LopinavirLopinavir

BP P < 0.05< 0.05

Controle

Índice de associação de

L. amazonensiscom macrófagos (%)

1.562 µM3.125 µM6.25 µM12.5 µM25 µM

Absorbância490

Nelfinavir Amprenavir Lopinavir

Nelfinavir Amprenavir Lopinavir

Controle

IPs

ABS 490

0,0

0,5

1,0

1,5

2,01.562 µM3.125 µM6.25 µM12.5 µM25 µM

Controle NelfinavirNelfinavir AmprenavirAmprenavir LopinavirLopinavir

A

ABS 490

0,0

0,5

1,0

1,5

2,01.562 µM3.125 µM6.25 µM12.5 µM25 µM

Controle NelfinavirNelfinavir AmprenavirAmprenavir LopinavirLopinavir

A

% Association index

0

20

40

60

80

100

120

6.256.25 12.512.5 µµMM2525 3.123.12 6.256.25 12.512.5 3.123.12 6.256.25 12.512.5controlecontrole

NelfinavirNelfinavir AmprenavirAmprenavir LopinavirLopinavir

BP P < 0.05< 0.05

Controle

Índice de associação de

L. amazonensiscom macrófagos (%)

1.562 µM3.125 µM6.25 µM12.5 µM25 µM

Absorbância490

Nelfinavir Amprenavir Lopinavir

Nelfinavir Amprenavir Lopinavir

Controle

IPs

55

7. Efeito dos IPs-HIV sobre o perfil de proteases em Leishmania através de zimografia e

immunoblotting.

Nesta parte dos experimentos, o objetivo foi avaliar se o estresse celular induzido pelos

IPs-HIV poderia levar a uma mudança no padrão de produção de proteases por L.

amazonensis. Sendo assim, as células foram incubadas por 4 horas na presença de nelfinavir,

lopinavir e amprenavir a 100 µM e seu perfil proteolítico avaliado por zimografia. Nestas

condições experimentais, no mínimo 95% dos parasitos mantiveram sua viabilidade, como

observado através de sua morfologia, motilidade, contagem em câmara de neubauer e exclusão

de iodeto de propídio. O perfil proteolítico de L. amazonensis, determinado através de

zimografia, é composto por cisteíno e metaloproteases (Yao et al., 2003; Mottram et al., 2004).

A comparação da expressão das proteases por SDS-PAGE, de parasitos incubados por 4 horas

com os IPs-HIV, revelou que uma metaloprotease de 63 kDa e as cisteíno proteases de baixo

peso molecular, tiveram suas atividades aumentadas.

Tendo em vista a importância das metalo proteases e císteino proteases,

particularmente a gp63 e cpb, como fatores de virulência em Leishmania, objetivou-se

determinar a influência dos IPs-HIV sobre a produção dessas proteínas pelo parasito, através

da análise por western blotting dessas moléculas empregando anticorpos contra gp63 e cpb.

Com este intuito, as proteínas de L. amazonensis foram separadas eletroforeticamente,

transferidas para uma membrana de nitrocelulose, e incubadas com os anticorpos anti-gp63 e

anti-cpb. Os resultados demonstraram um aumento na expressão dessas moléculas (Figura 26).

Em todas as análises empregadas, lopinavir foi o inibidor que promoveu o efeito mais

pronunciado. Como controle, o western blotting foi revelado com anticorpo anti-α-tubulina, o

qual não mostrou diferença entre as drogas e o controle (Figura 26).

Análises de densitometria mostraram uma diferença estatisticamente significativa entre

o controle e parasitos tratados com amprenavir e lopinavir para a gp63 e com todos os

inibidores para a cpb (Figura 26).

56

Figura 26. Efeito dos IPs-HIV sobre o perfil de proteases de Leishmania amazonensis

cultivada na ausência (controle), ou na presença de nelfinavir, amprenavir e lopinavir. SDS-

PAGE-gelatina: Os géis contendo 5 × 106 promastigotas tratadas por 4 horas com cada

inibidor a 100 µM, foram incubados a 37 ºC por 48 horas, em 50 mM de tampão fosfato de

sódio (pH 5,5) suplementado com 2 mM de DTT . Os números à esquerda indicam a massa

molecular relativa dos halos de digestão expressos em kilodaltons (kDa). Immunobloting:

anticorpos anti-gp63 ou anti-cpb foram empregados para detectar moléculas gp63 e cpb,

respectivamente, no extrato celular total de L. amazonensis tratadas por 4 horas com cada

inibidor a 100 µM; o anticorpo monoclonal anti-tubulina foi utilizado como um controle da

quantidade de amostra no gel. Os gráficos representam as medições densitométricas dos halos

de degradação observados na zimografia. Os valores representam média ± erro padrão de três

medições independentes. Análises densitométricas foram realizadas utilizando os

polipeptideos reativos detectados nos ensaios de immunobloting (dados não mostrados). O

símbolo � denota sistemas tratados com os IPs-HIV que tiveram diferença significativa nas

unidades densitométrica em relação ao controle (P <0,05).

66 66 kDakDa

17 17 kDakDa

31 31 kDakDa

200 200 kDakDa

gp63gp63

cpbcpb

��������

��������

��������

��������tubulinatubulinacontrole

controle

nelfinavir

nelfinavir

amprenavir

amprenavir

lopinavir

lopinavir

controle

controle

nelfinavir

nelfinavir

amprenavir

amprenavir

lopinavir

lopinavir

SDSSDS--PAGEPAGE--GelatinaGelatina

ImmunoblottingImmunoblotting

Densitometric Units

0

5000

10000

15000

20000

0

1000

2000

3000

4000

5000control

nelfinavir

amprenavir

lopinavir

gp63gp63 cpbcpb

66 66 kDakDa 31 31 kDakDa 17 17 kDakDa

� �

Unidades densitométricas controle

nelfinaviramprenavirlopinavir

66 66 kDakDa

17 17 kDakDa

31 31 kDakDa

200 200 kDakDa

gp63gp63

cpbcpb

��������

��������

��������

��������tubulinatubulinacontrole

controle

nelfinavir

nelfinavir

amprenavir

amprenavir

lopinavir

lopinavir

controle

controle

nelfinavir

nelfinavir

amprenavir

amprenavir

lopinavir

lopinavir

SDSSDS--PAGEPAGE--GelatinaGelatina

ImmunoblottingImmunoblotting

Densitometric Units

0

5000

10000

15000

20000

0

1000

2000

3000

4000

5000control

nelfinavir

amprenavir

lopinavir

gp63gp63 cpbcpb

66 66 kDakDa 31 31 kDakDa 17 17 kDakDa

� �

Unidades densitométricas controle

nelfinaviramprenavirlopinavir

57

VI. Discussão

A leishmaniose é uma doença tropical negligenciada (WHO, 2007), e a pandemia da

AIDS tem contribuído para a mudança do perfil desta doença no mundo (Alvar et al., 1997).

O número de co-infecções Leishmania-HIV tem aumentado de forma considerável,

especialmente devido à sobreposição de ambas epidemias (Alvar et al., 2008). Além disso, o

impacto real da co-infecção Leishmania-HIV é provavelmente subestimada em escala global

devido à deficiência nos sistemas de vigilância. O fato da leishmaniose não estar incluída entre

as “doenças oportunistas associadas à aids” contribui para a escassez de informações (Cruz et

al., 2006). A infecção pelo HIV pode aumentar o risco de desenvolvimento da leishmaniose

visceral na ordem de 100 a 1000 vezes em áreas endêmicas (Alvar et al., 2008). Além disso, a

visceralização de cepas de Leishmania classicamente cutâneas, como Leishmania

amazonensis, tem sido observada (Barral et al., 1986, 1987; Ramos-Santos et al., 2000; revisto

por Alvar et al., 2008). A infecção pelo HIV também reduz a probabilidade de sucesso da

quimioterapia, e aumenta acentuadamente a probabilidade de reativação da doença (Gradoni et

al., 1996; Lopez-Velez et al., 1998). Ao mesmo tempo, a leishmaniose visceral promove a

progressão clínica para AIDS e o desenvolvimento das condições que caracterizam a doença.

Ambas as enfermidades exercem um efeito sinérgico danoso sobre a resposta imune celular

pois compartilham o mesmo alvo celular do sistema imunológico, isto é, células do sistema

fagocítico mononuclear (Alvar et al., 2008).

Pacientes com infecção pelo HIV têm vivido por mais tempo e com melhor qualidade

de vida como resultado da introdução do TARV, que se caracteriza por esquemas que

consistem da combinação de inibidores de protease com pelo menos duas outras drogas

antiretrovirais (Andrews & Friedland, 2000; Pernerstorfer-Schoen et al., 2001). Os IPs-HIV

ligam-se competitivamente ao sítio de clivagem da aspártico protease do HIV-1. Eles tornam a

enzima não funcional e levam à liberação de partículas virais não infecciosas e imaturas (Saag

& Schooly, 1998). Além disso, foi demonstrado que os IPs-HIV têm efeitos vantajosos sobre

infecções oportunistas causadas por fungos patogênicos, e também por alguns protozoários,

principais causadores de morbidade e mortalidade em indivíduos com AIDS. Estes efeitos são

devidos à restauração do sistema imunológico do hospedeiro e também a uma ação direta

desses compostos sobre os patógenos oportunistas. Apesar da clara sobreposição da pandemia

da AIDS com a endemia da leishmaniose, algumas particularidades da epidemiologia,

patogênese, profilaxia, e especialmente do tratamento da co-infecção Leishmania-HIV são

pouco claras à indefinidas (WHO, 2007; Marques et al., 2007). Neste contexto, o presente

estudo foi realizado com o intuito de avaliar a influência de diferentes IPs-HIV sobre o

58

protozoário parasito L. amazonensis, com foco nos efeitos sobre a atividade enzimática de

aspártico proteases, proliferação do parasito, ultraestrutura, interação com células hospedeiras

e expressão de fatores de virulência.

As formas promastigotas de L. amazonensis foram cultivadas com pepstatina A,

nelfinavir, indinavir, saquinavir, lopinavir e amprenavir e a taxa de multiplicação do parasito

analisada ao longo de 96 horas. O inibidor pepstatina A promoveu uma forte redução da

multiplicação de L. amazonensis. Apesar deste dado indicar indiretamente, que aspártico

proteases de L. amazonensis possam ser um alvo em potencial para o emprego de inibidores

dessa classe enzimática no tratamento das leishmanioses, drogas semelhantes à pepstatina A

não são usadas clinicamente devido ao seu metabolismo no fígado e a rápida eliminação do

sangue (Rüchel, Ritter & Schajrinski, 1990). Os inibidores nelfinavir e lopinavir inibiram

acentuadamente a multiplicação do parasito a 25 µM, em contraste com os outros inibidores

testados, que só apresentaram efeitos significativos em concentrações consideravelmente

maiores. Deve-se notar que o efeito inibitório dos IPs-HIV in vitro foi observado em

concentrações substanciais (na faixa de µM), bem mais altas do que as necessárias para a

inibição da protease do HIV (na ordem de nM) (Flexner, 1998). Este dado provavelmente

reflete uma afinidade bem menor dessas drogas para alvos ainda não identificados em

Leishmania quando comparada com sua alta afinidade à protease do HIV (Flexner, 1998).

Os protozoários do gênero Leishmania são um grupo biologicamente diverso de

microrganismos. Estudos taxonômicos de isolados de Leishmania indicam uma grande

diversidade dentro do gênero (Cupolillo et al., 2001), e a diversidade genética pode ter um

impacto direto sobre propriedades relevantes dos organismos, incluindo manifestações clínicas

distintas e susceptibilidade a drogas (Chang, Akman & Nielsen, 1999). Desta forma, é

esperado que o efeito dos IPs-HIV sobre espécies de Leishmania responsáveis por

leishmaniose visceral ou mucosa seja bastante distinto. De fato, Savoia e colaboradores

(Savoia, Allice & Tovo, 2005) relataram o IC50 para promastigotas de Leishmania major na

faixa de 10 µM para indinavir e saquinavir após 24 horas de crescimento, enquanto

Leishmania infantum, que causa leishmaniose visceral, foi inibida somente parcialmente (em

torno de 30%) na concentração mais alta testada dessas drogas (50µM) e somente após 72

horas de crescimento (Savoia, Allice & Tovo, 2005). Recentemente, Trudel e colaboradores

(Trudel et al., 2008) relataram o efeito de nelfinavir, ritonavir e saquinavir sobre a taxa de

multiplicação de promastigotas de L. infantum. Nenhuma alteração significativa na taxa de

multiplicação do parasito foi observada nas concentrações até 25 µM, após 72 horas de

incubação (Trudel et al., 2008).

59

No presente trabalho, o indinavir somente alterou significativamente a taxa de

multiplicação do parasito após 72 horas de cultivo e na concentração de 500 µM, ao contrário

do que foi observado em L. major por Savoia e colaboradores, que relataram um efeito

inibitório com concentração 10 vezes menor do que a utilizada neste trabalho. O saquinavir,

corroborando com os resultados de L. infantum (Trudel et al., 2008), não diminuiu de forma

significativa a taxa de multiplicação do parasito mesmo na maior concentração utilizada. Esses

dados reforçam as diferenças de susceptibilidade aos IPs-HIV das diferentes espécies de

Leishmania. Além disso, uma cepa de Leishmania donovani, resistente ao estibugluconato de

sódio, é igualmente susceptível aos IPs-HIV quando comparada a uma cepa sensível,

sugerindo que a resistência ao quimioterápico para leishmaniose não resulta em uma

resistência cruzada aos IPs-HIV (Trudel et al., 2008).

O gênero Leishmania compreende protozoários parasitos com ciclo de vida complexo,

envolvendo estágios distintos de desenvolvimento. Esses diferentes estágios representam uma

adaptação às mudanças ambientais encontradas pelos parasitos dentro de seus hospedeiros: um

mamífero, para o qual eles são patogênicos, e um inseto vetor (Besteiro et al., 2007). Durante a

transição entre os ambientes extra e intracelular, a Leishmania é exposta a mudanças

ambientais importantes, que vão desde variações na disponibilidade de nutrientes, pH,

temperatura, bem como na disponibilidade de oxigênio. A estratégia adotada pelos parasitos

para sobreviver a essas mudanças é o desenvolvimento de formas altamente adaptadas e

especializadas (Besteiro et al., 2007). Alguns dos marcadores estágio-específicos mais bem

definidos incluem as proteases, algumas das quais são associadas com a virulência de

Leishmania em mamíferos (Mottram et al., 2004). Recentemente, foi demonstrado que a

atividade de proteases é profundamente alterada durante o processo de diferenciação (Alves et

al., 2005). Tendo em vista a possibilidade de envolvimento de aspártico proteases no processo

de diferenciação de Leishmania, o efeito dos IPs-HIV foi testado sob condições específicas

que mimetizam o ambiente celular do hospedeiro mamífero, porém sob as condições

experimentais utilizadas neste estudo, não foi possível detectar interferência dos IPs-HIV neste

processo. É possível que aspártico proteases possam ter suas funções voltadas para etapas que

precedem a diferenciação ou que sejam reguladas negativamente em formas amastigotas

(Alves et al., 2005). É importante ressaltar também que as concentrações empregadas das

drogas podem ter sido insuficientes em função de uma possível baixa afinidade com o alvo,

uma vez que os IPs-HIV não foram especificamente desenhados para um alvo em Leishmania.

A eficiência dos IPs-HIV em tratar infecções parasitárias pode estar associada à sua

capacidade de modular ou bloquear o proteassoma celular ou promover apoptose (Pozio &

Morales, 2005). Alternativamente, eles poderiam atuar diretamente sobre aspártico proteases

60

produzidas pelos protozoários. Esta classe proteolítica já foi descrita em L. amazonensis

(Alves et al., 2005) e L. mexicana (Valdivieso, Dagger & Rascón, 2007). Recentemente,

também foi demonstrado que diazoacetil-DL-norleucina metil éster (DAN), um inibidor de

aspártico protease, reduz significativamente a multiplicação de promastigotas de Leishmania

mexicana. Apesar de parecer razoável assumir que aspártico proteases e/ou o proteassoma de

Leishmania sejam o alvo dos IPs-HIV, a possibilidade de efeitos indiretos sobre L.

amazonensis devem ser considerados, como efeitos tóxicos generalizados ou não específicos

sobre os parasitos. Neste contexto, a observação por microscopia eletrônica de transmissão

dos parasitos expostos a nelfinavir ou lopinavir revelou algumas alterações peculiares nas

estruturas vitais da célula, como estruturas celulares internas e membrana citoplasmática,

sugerindo prejuízos metabólicos irreversíveis que culminaram com a morte celular do parasito.

Algumas alterações observadas em L. amazonensis, tais como aumento no número de

vesículas e envolvimento do núcleo por retículo endoplasmático, são sugestivos de autofagia.

Dados recentes indicam a existência de diferentes formas de morte celular programada. Além

da bem caracterizada morte celular por apoptose, a autofagia também tem sido descrita em

células eucariotas (Kissová et al., 2006). A autofagia é um processo de degradação normal que

existe em todas as células eucarióticas e é estimulado em resposta a uma série de estresses

ambientais, os quais necessitam do uso do mecanismo autofágico para possibilitar a

sobrevivência celular (Dunn, 1994; Seglen & Bohley, 1992). A autofagia envolve o

“sequestro” de organelas citoplasmáticas ou citosol dentro de membranas duplas, criando

autofagossomas (também denominados vacúolos autofágicos). Os autofagossomas

subsequentemente se fundem com endossomas e eventualmente com lisossomas, criando então

autofagolisossomas ou autolisossomas. No lúmem dessas estruturas tardias, enzimas

lisossomais operam a baixo pH e catabolizam o material autofágico (Levine & Klionsky,

2004; Shintani & Klionsky, 2004). Níveis basais de autofagia são responsáveis pela regulação

de eventos essenciais nas células e, portanto uma melhor sobrevivência das células, enquanto

que níveis anormais de autofagia podem ser responsáveis pela morte celular (Shintani &

Klionsky, 2004). Até o momento, os eventos responsáveis pela desregulação da atividade

autofágica não foram bem caracterizados (González-Polo et al., 2005). Além disso, em

contraste com as células de mamíferos, o processo autofágico em organismos unicelulares é

pouco estudado. Por fim, o acúmulo de vacúolos autofágicos pode preceder a morte celular

por apoptose (González-Polo et al., 2005). Curiosamente, o crescimento de Leishmania na

presença de lopinavir por 24 horas exibe uma condensação de cromatina, a qual é um dos

indicadores de apoptose. Por estas razões, seria interessante explorar mais a fundo o

mecanismo de morte celular induzido pelos IPs-HIV em Leishmania.

61

Em infecções oportunistas pelo fungo patogênico Cryptococcus neoformans, o

indinavir inibe de forma seletiva a produção de alguns fatores de virulência, tais como urease e

protease. Adicionalmente, indinavir também interfere na formação da cápsula polissacarídica,

o principal fator de virulência produzido por este microrganismo (Monari et al., 2005). Em

Candida albicans, estudos bioquímicos demonstraram que os IPs-HIV foram capazes de inibir

diretamente as aspártico proteases secretadas por este fungo (Munro & Hube, 2002). Andrews

e colaboradores, em 2006, também relataram que as enzimas plasmepsina II e IV de

Plasmodium falciparum foram diretamente inibidas pelos IPs-HIV, saquinavir, ritonavir, e

lopinavir (Andrews et al., 2006). Neste contexto, nosso objetivo foi avaliar se os IPs-HIV

induziriam a alguma mudança na expressão de proteases por L. amazonensis. Com o passar

dos anos, ficou claro que as proteases de tripanossomatídeos patogênicos desempenham um

importante papel em diversas etapas da infecção no hospedeiro, tais como: adsorção,

penetração, sobrevivência intracelular, replicação, diferenciação, infectividade, evasão da

resposta imune e nutrição. Os tripanossomatídeos apresentam um amplo e variado conjunto de

proteases extracelulares e/ou intracelulares, as quais regulam a expressão de funções

específicas requeridas nos estágios de vida do parasito (Vermelho et al., 2007).

As espécies de Leishmania contêm múltiplas atividades de cisteíno proteases

intracelulares altamente ativas e uma metaloprotease abundantemente expressa na superfície

do parasito, denominada gp63 ou leishmaniolisina (Mottram, Coombs & Alexander, 2004;

Vermelho et al., 2007; Yao et al., 2003). A maioria dos estudos até agora têm sido feitos com

apenas três tipos de cisteíno proteases designadas como CPA, CPB e CPC (Mottram, Coombs

& Alexander, 2004). A geração de mutantes nulos para os genes cpa, cpb e cpc em L.

mexicana forneceu o primeiro suporte genético para o papel de cisteíno proteases de

Leishmania na virulência do parasito, e consequentemente sua validade como alvo para drogas

(Mottram, Coombs & Alexander, 2004). De acordo, cisteíno proteases são expressas

preferencialmente em promastigotas virulentos, em oposição a promastigotas avirulentos de L.

amazonensis (Soares et al., 2003). As múltiplas enzimas CPBs têm importantes papéis

imunomodulatórios para facilitar a infecção pelo parasito. As Amastigotas de L. mexicana

deficientes na produção de CPB, embora tão infectivos para os macrófagos in vitro quanto o

tipo selvagem do parasito, têm capacidade reduzida de induzir o crescimento da lesão em

camundongos BALB/c. Além disso, mutantes para cpa mostraram-se menos infectivos que

mutantes para cpb, sugerindo que CPA também é um fator de virulência, além de ter

sobreposição de funções com CPB. Juntos cpa, cpb1 e cpb2 (isoformas de cpb) são expressos

em promastigotas metacíclicos, que são as formas infectivas de Leishmania para os mamíferos

(revisto por Mottram, Coombs, Alexander, 2004).

62

A gp63 também está envolvida na virulência de Leishmania. A expressão desta enzima

aumenta em promastigotas metacíclicos e a gp63 pode ser um dos ligantes envolvidos na

interação do parasito com sistemas de defesa do hospedeiro, incluindo componentes do

sistema complemento e da superfície de macrófagos. Esta enzima também pode ter um papel

na sobrevivência intracelular de amastigotas dentro de fagolisossomas. Porém, dados de

“knockout” para gp63 são conflitantes, visto que a restauração dos níveis de expressão da

gp63, ao mesmo nível das cepas selvagens, devolve apenas parcialmente a capacidade

infectiva do parasito em macrófagos, assim como sua sensibilidade ao complemento e a

capacidade de formar lesões. As possíveis explicações para essa observação são que a gp63

contribui parcialmente para a sensibilidade ao complemento e que outros fatores são

necessários para a restauração completa da virulência e para complementar a resistência do

parasito. Finalmente, a perda total da molécula pode contribuir para uma perturbação da

superfície de Leishmania, fazendo com que o parasito fique mais vulnerável à lise mediada

pelo sistema complemento (Yao, Donelson & Wilson, 2003).

Desta forma, em contraste à visão de que os IPs-HIV conduziriam à uma redução dos

níveis de protease, como descrito para fatores de virulência em fungos, como Cryptococcus

neoformans (Monari et al., 2005), Pneumocystis carinii, Candida albicans (revisto por Pozio

& Morales, 2005), Fonsecaeae pedrosoi (Palmeira et al., 2008), o presente estudo revelou um

aumento significativo na expressão destas moléculas quando os parasitos foram sujeitos à ação

dos IPs-HIV antes da extração das proteínas. Curiosamente, um efeito similar foi descrito

quando L. amazonensis foi tratada com partenolida, uma lactona sesquiterpeno purificada de

extratos hidroalcoolicos de partes aéreas de Tanacetum parthenium (Tiuman et al., 2005).

Tendo em vista que as cisteíno proteases, CPA e CPB de L. mexicana são essenciais para

autofagia e diferenciação do parasito (Williams, Tetley & Coombs, 2006), e levando-se em

consideração que promastigotas tratados com os IPs-HIV apresentaram alterações

ultraestruturais que assemelham-se a processos autofágicos, o aumento da produção de

proteases poderia estar correlacionado com este processo. Alternativamente, a atividade

exocítica intensa observada na região da bolsa flagelar em promastigotas tratados com

nelfinavir e lopinavir poderiam indicar um processo de exacerbação da produção de proteínas

pela célula como tentativa de sobrevivência. Contudo, a maior expressão de fatores de

virulência não foi acompanhada pelo aumento da capacidade de infecção, como evidenciado

nos experimentos de interação.

As aspártico proteases foram isoladas e estudadas de uma gama de organismos,

variando desde vertebrados, plantas, fungos, parasitos, retrovírus e bactérias. Essas enzimas

têm despertado interesse devido ao seu papel em doenças humanas como, o envolvimento da

63

renina na hipertensão, da catepsina D na metástase do câncer de mama, da β-Secretase na

doença de Alzheimer, das plasmepsinas na malária, da peptidase do HIV-1 na AIDS e das

aspártico proteases secretadas em infecções por Candida (revisto por Dash et al., 2003). Além

disso, recentemente, foi demonstrada e caracterizada atividade de aspártico proteases em L.

amazonensis e L. mexicana através do uso combinado de inibidores e substratos cromogênicos

e fluorogênicos específicos para esta classe de enzimas (Alves et al., 2005; Valdivieso, Dagger

e Rascón, 2007).

Com o objetivo de detectar atividade de aspártico protease em promastigotas de L.

amazonensis e avaliar se os IPs-HIV são capazes de inibir diretamente esta(s) enzima(s),

substratos fluorogênicos específicos para aspártico protease do HIV-1 e para a renina foram

utilizados. O substrato de ambas enzimas é uma seqüência de peptídeo sintético que contém o

sítio de clivagem (Tyr-Pro) para a protease do HIV e o sítio (Leu-Val) para a renina, bem

como dois aminoácidos covalentemente modificados para a detecção da clivagem (Matayoshi

et al., 1990). Ambos substratos foram degradados pelo extrato protéico de L. amazonensis,

porém o substrato para renina teve uma taxa de hidrólise um pouco mais acentuada. A

pepstatina A, um inibidor clássico de aspártico proteases, inibiu fortemente a atividade

enzimática a 1µM, ao contrário do que foi relatado por Valdivieso e colaboradores, que não

detectaram qualquer inibição da aspártico protease de L. mexicana por pepstatina A a 5 µM,

porém foi verificada a completa inibição por outro inibidor de aspártico proteases, o DAN

(Valdivieso, Dagger e Rascón, 2007). Porém, diferenças de sensibilidade a inibidores de

aspártico proteases já vem sendo descritas para outros organismos como bactérias e

nematódeos (Oda et al., 1987; Toogood et al., 1993, 1995; Sato et al., 1993). Esse resultado

também sugere a possibilidade de diferença dessas enzimas dentro do próprio gênero

Leishmania. Os IPs-HIV nelfinavir e lopinavir também foram capazes de inibir a atividade

enzimática de Leshmania amazonensis, mostrando que as aspártico proteases em Leishmania

são um alvo em potencial para esses inibidores e que estudos adicionais são necessários para

melhor caracterizar essas proteases, e para tentar identificar o alvo intracelular dos IPs-HIV.

Curiosamente, a inibição enzimática por lopinavir e nelfinavir, a 1 e 10 µM, respectivamente,

se mostrou muito mais proeminente nos ensaios realizados com o substrato para aspártico

protease do HIV-1 do que para o substrato da renina. Essa diferença acentuada no percentual

de inibição enzimática para os ensaios realizados com diferentes substratos, talvez esteja

relacionada à degradação por aspártico proteases diferentes, que exibem afinidade distinta

pelos IPs-HIV.

A infecção murina é um dos melhores modelos experimentais caracterizados para o

estudo da interação Leishmania-células hospedeiras de mamíferos (Pereira & Alves, 2008).

64

Dados de infecção de macrófagos peritoneais de camundongo por L. amazonensis revelaram

que parasitos pré-tratados com inibidores de protease têm índices de associação

consideravelmente menores em comparação aos sistemas controle, com parasitos não tratados.

Estes dados sugerem a interferência nas etapas iniciais da infecção de macrófagos, assim como

na modulação de fatores de virulência ainda não identificados ou por efeitos tóxicos não

específicos diretos dos inibidores nas formas promastigotas. Deve-se destacar que estes perfis

inibitórios da interação não foram causados pela diminuição da viabilidade celular de L.

amazonensis, uma vez que controles de viabilidade foram realizados como, observação de

motilidade, contagem em câmara de neubauer e exclusão do iodeto de propídeo.

Anteriormente, foi demonstrado que as atividades de aspártico, metalo e serino proteases são

reguladas negativamente durante a transformação induzida por choque térmico de

promastigotas para amastigotas in vitro (Alves et al., 2005). Contudo, a identificação do

mecanismo molecular pelo qual os IPs-HIV interferem na interação com células de mamíferos

ainda é uma questão em aberto. É possível que aspártico proteases estejam envolvidas nas

etapas iniciais da interação com macrófagos e/ou na diferenciação dos parasitos. Contudo, o

efeito dos IPs-HIV na diferenciação não foi constatado nas concentrações utilizadas neste

trabalho.

A efetividade de inibidores contra Leishmania pode depender da fase de

desenvolvimento do parasito. Por exemplo, amastigotas de L. mexicana em desenvolvimento

dentro de macrófagos durante a infecção humana são mais sensíveis à lactacistina, um inibidor

de proteassoma, do que promastigotas que se desenvolvem em meio de cultura (Robertson,

1999), o que pode ser explicado pela ação distinta das drogas sobre promastigotas isolados e

amastigotas no ambiente intracelular, ou pela concentração das drogas pelos macrófagos. A

fim de avaliar se o mesmo acontece com os IPs-HIV, o efeito de nelfinavir, amprenavir e

lopinavir sobre a multiplicação de Leishmania no interior das células alvo foi verificado. As

concentrações da droga empregadas neste ensaio não mostraram toxicidade direta sobre

macrófagos e reduziram drasticamente o índice de associação. A maneira como atuam os

inibidores, seja diretamente sobre os amastigotas, ou indiretamente, através da modulação da

capacidade do macrófago de matar o parasito, permanece uma questão em aberto. Além disso,

os macrófagos poderiam concentrar níveis elevados dos IPs-HIV. Por exemplo, foi mostrado

para L. chagasi, que concentrações mais elevadas da droga são necessárias para interferir no

desenvolvimento de amastigotas axênicos quando comparados com amastigotas intracelulares

(Trudel et al., 2008). Em adição, mesmo as menores doses necessárias para inibir o

desenvolvimento de amastigota são mais elevadas do que aquelas necessárias para a inibição

da progressão do HIV em humanos. No entanto, deve-se considerar que o TARV consiste de

65

uma combinação de medicamentos anti-retrovirais, e a farmacodinâmica de um modelo in

vitro é muito diferente do que ocorre em seres humanos. Além disso, os IPs-HIV foram

projetados para se ajustarem a protease viral e podem, assim, ter uma baixa afinidade para

aspártico proteases de L. amazonensis. Estudos adicionais in vivo podem ajudar a elucidar essa

questão, e também mais esforços devem ser direcionados para encontrar novos inibidores que

sejam mais específicos para as enzimas do parasito.

No Brasil, as forma clínica encontrada em casos de co-infecção é majoritariamente

visceral. Em face da distribuição da leishmaniose no Brasil, sua expansão para importantes

cidades e sua sobreposição com indivíduos infectados pelo HIV, é importante entender as

sofisticadas inter-relações entre Leishmania, HIV e macrófagos. Além disso, existem várias

questões não resolvidas relativas à conduta com pacientes co-infectados. Por exemplo, a

eficácia da terapia visando o controle de cada patógeno em indivíduos co-infectados

permanece indefinida. Os resultados apresentados neste estudo indicam que L. amazonensis é

susceptível aos IPs-HIV, e acrescentam mais um microrganismos à lista de patógenos

oportunistas susceptíveis a esses compostos. Dessa forma, seria interessante avaliar o efeito

sinérgico de compostos antileishmania clássicos e os IPs-HIV em macrófagos co-infectados

com Leishmania e HIV-1. Estas buscas são relevantes especialmente, em meio a descoberta

de que o estibogluconato de sódio pode estimular a replicação do HIV-1 in vitro (Barat et al.,

2007), e que a infecção por Leishmania também aumenta a replicação do HIV-1 (Zhao,

Papadopoulou & Tremblay, 2004; Zhao et al., 2006), do mesmo modo que macrófagos co-

infectados permitem um crescimento maior de Leishmania, em comparação com macrófagos

livres do HIV-1 (Barreto-de-Souza et al., 2006). O efeito do HIV-1 em facilitar a progressão

da infecção da leishmânia nos macrófagos é bem ilustrado pelo fato de Blastocrithidia culicis,

um protozoário tipicamente não patogênico, ser capaz de infectar macrófagos infectados com

HIV-1 (Barreto-de-Souza et al., 2008).

Por fim, foi recentemente relatado que promastigotas de L. infantum só aumentam a

replicação do HIV-1 em macrófagos derivados de monócitos nas etapas finais da curva de

produção do vírus, mas também, surpreendentemente, é observada uma redução na produção

de HIV-1 durante os dias iniciais após a infecção. Este efeito primário é causado pela inibição

da entrada do vírus dentro dos macrófagos através da ação da lipofosfoglicana (LPG), o

principal glicolipídeo de superfície dos promastigotas de Leishmania, o que sugere o

estabelecimento de interações complexas em células hospedeiras que são comuns ao HIV e a

Leishmania (Garg et al., 2008). Nesse contexto, o estudo das aspártico proteases em

Leishmania spp. se faz importante para a melhor compreensão da patogenia da leishmaniose e

66

da co-infecção com HIV, além de gerar conhecimentos para a otimização da quimioterapia nos

pacientes co-infectados.

67

VII. Conclusões

• O tratamento de Leishmania amazonensis com os IPs-HIV (nelfinavir, lopinavir, e

amprenavir) promoveu a queda da proliferação celular, especialmente quando concentrações

mais elevadas das drogas foram utilizadas.

• Os IPs-HIV foram capazes de causar alterações ultraestruturais marcantes, tais como,

aumento de vesículas, encolhimento de citoplasma, condensação de cromatina, aumento de

retículo em volta do núcleo e intensa liberação de pedaços de membrana, o que culminou com

a morte celular.

• Análises bioquímicas revelaram que a expressão de proteases em Leishmania

amazonensis, comprovadamente fatores de virulência, tais como gp63 e cpb, foi aumentada

após o tratamento do parasito com os IPs-HIV.

• A atividade de aspártico protease foi detectada contra substratos específicos e inibida

pelos IPs-HIV, o que sugere que estas enzimas possam ser um alvo potencial para estes

compostos.

• Nos ensaios de interação, o índice de associação do parasito com macrófagos foi

reduzido, tanto no pré-tratamento, quanto no pós-tratamento com os IPs-HIV, mostrando que

de alguma forma, esses inibidores interferem na relação parasito-hospedeiro, quer seja,

diretamente sobre o parasito, quer seja pela modulação da ação dos macrófagos.

• Considerados em conjunto, os resultados indicam que os IPs-HIV podem ser

quimioterápicos promissores no tratamento da leishmaniose. Isto porque, estas drogas parecem

interferir no metabolismo de Leishmania amazonensis e nas relações de interação entre o

parasito e sua célula hospedeira.

68

VIII. Anexo:

1. Produção bibliográfica relacionada à dissertação de mestrado 1.1. Artigo publicado

Santos, L.O., Marinho, F.A., Altoé, E.F., Vitório, B.S., Alves, C.R., Britto, C., Motta, M.C., Branquinha, M.H., Santos, A.L.S., d`Ávila-levy, C.M. 2009. HIV Aspartyl peptidase inhibitors interfere with cellular proliferation, ultraestructure and macrophage infection of Leishmania amazonensis. 1.2. Trabalhos selecionados para apresentação oral em congressos, simpósios ou

seminários Simpósio Jovem Cientista do Cone Sul 2009. trabalho aceito para apresentação oral no congresso brasileiro da sociedade de bioquímica e biologia molecular (SBBq). Simpósio Jovem Cientista do Cone Sul 2009. Santos, L.O., Marinho, F.A., Altoé, E.F., Vitório, B.S., Alves, C.R., Britto, C., Motta, M.C., Branquinha, M.H., Santos, A.L.S., d`Ávila-levy, C.M. 2009. HIV Aspartyl peptidase inhibitors interfere with cellular proliferation, ultraestructure and macrophage infection of Leishmania amazonensis.

1.3. Trabalhos publicados em anais de congressos

Santos, L.O., Branquinha, M.H., Santos, A.L.S., Britto, C., Alves, C.R., Martins, L.Z., Vitório, B.S., d`Ávila-levy, C.M. 2008. Effect of HIV protease inhibitors on promastigote forms os Leishmania amazonensis. In: XXXVII Reunião anual da sociedade brasileira de bioquímica e biologia molecular (SBBq). Águas de Lindóia.

Santos, L.O., Martins, L.Z., Vitório, B.S., Motta, M.C., Britto, C., Branquinha, M.H., Santos, A.L.S., Alves, C.R., d`Ávila-levy, C.M. 2008. Antileishmanial activity of HIV protease inhibitors. In: XXIV Reunião da sociedade de protozoologia e XXXV Reunião para pesquisa básica em doença de chagas (SBPz). Águas de Lindóia. Santos L.O. 2008. Atividade leishmanicida de inibidores de protease do HIV. In: Bienal de pesquisa, XVI Raic. Rio de Janeiro.

Santos, L.O., Branquinha, M.H., Santos, A.L.S., Alves, C.R., d`Ávila-levy, C.M. 2007. Effect of nelfinavir and indinavir on promastigote forms of Leishmania amazonensis. In: XXII Reunião anual da sociedade brasileira de protozoologia (SBPz), Caxambu.

80

IX. Bibliografia:

Aidsinfo, Offering information on HIV/AIDS Treatment, Prevention and Research [homepage

na Internet]. Rockville: US Department of health and human services; c2007. [acesso em 2008 Dez 15]. Treatment of HIV Infection; [aproximadamente 2 telas]. Disponível em: http://www.niaid.nih.gov/factsheets/treat-hiv.htm

Aidsinfo, Offering information on HIV/AIDS Treatment, Prevention and Research [homepage

na Internet]. Rockville: US Department of health and human services; c2008. [acesso em 2008 Dez 15]. Panel on Antiretroviral Guidelines for Adults and Adolescents. Guidelines for the use of antiretroviral agents in HIV-1-infected adults and adolescents; [aproximadamente 2 telas]. Disponível em: http://www.aidsinfo.nih.gov/contentfiles/adultandadolescentgl.pdf.

Alvar J, Aparicio P, Aseffa A, Den Boer M, Cañavate C, Dedet JP et al. The Relationship

between Leishmaniasis and AIDS: the Second 10 Years. Clin Microbiol Rev. 2007; 21(2): 334-59.

Alvar J, Cañavate C, Guitérrez-Solar B, Jiménez M, Laguna F, López-Vélez R et al.

Leishmania and human immunodeficiency virus coinfection: the first 10 years. Clin Microbiol Rev. 1997; 10(2): 298-318.

Alvar J, Croft S, Olliaro P. Chemotherapy in the treatment and control of leishmaniasis. Adv

Parasitol. 2006; 6: 223-274. Alves CR, Benevolo-De-Andrade TC, Alves JL, Pirmez C. Th1 and Th2 immunological

profile induced by cysteine proteinase in murine leishmaniasis. Parasite Immunol. 2004; 26(3): 127-35.

Alves CR, Corte-Real S, Bourguignon SC, Chaves CS, Saraiva EM. Leishmania

amazonensis: early proteinase activities during promastigote-amastigote differentiation in vitro. Exp. Parasitol. 2005; 109(1): 38-48.

Alves CR, Pontes de Carvalho LC, Souza AL, De Simone SG. A strategy for the

identification of T-cell epitopes on Leishmania cysteine proteinases. Cytobios. 2001; 104(405): 33-41.

Andrade ASR, Santoro MM, Melo MN, Mares-Guia M. Leishmania (Leishmania)

amazonensis: Purification and enzymatic characterization of a soluble serine oligopeptidase from promastigotes. Exp Parasitol. 1998; 89(2): 153-160.

André P, Groettrup M, Klenerman P, de Giuli R, Booth BL Jr, Cerundolo V, Bonneville M,

Jotereau F, Zinkernagel RM, Lotteau V. An inhibitor of HIV-1 protease modulates proteasome activity, antigen presentation, and T cell responses. Proc Natl Acad Sci U S A. 1998; 95(22): 13120-4.

Andrews KT, Fairlie DP, Madala PK, Ray J, Wyatt DM, Hilton PM et al. Potencies of human

immunodeficiency virus protease inhibitors in vitro against Plasmodium falciparum and in vivo against murine malaria. Antimicrob Agents Chemother. 2006; 50(2): 639-48.

81

Andrews L, Friedland G. Progress in HIV therapeutics and the challenges of adherence to antiretroviral therapy. Infect Dis Clin North Am. 2000; 14(4): 901-28.

Azeredo-Coutinho RB, Conceicao-Silva F, Schubach A, Cupolillo E, Quintella LP, Madeira

MF et al. First report of diffuse cutaneous leishmaniasis and Leishmania amazonensis infection in Rio de Janeiro State, Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2007; 101(7): 735-7.

Bal G, Van der Veken P, Antonov D, Lambeir AM, Grellier P, Croft SL et al. A

Prolylisoxazoles: potent inhibitors of prolyloligopeptidase with antitrypanosomal activity. Bioorg Med Chem Lett. 2003; 13(17): 2875-8.

Bañuls AL, Hide M, Prugnolle F. Leishmania and the leishmaniases: a parasite genetic update

and advances in taxonomy, epidemiology and pathogenicity in humans. Adv Parasitol. 2007; 64:1-109. Review.

Barat C, Zhao C, Ouellette M, Tremblay MJ. HIV-1 replication is stimulated by sodium

stibogluconate, the therapeutic mainstay in the treatment of leishmaniasis. J Infect Dis. 2007; 195(2): 236-45.

Barr SC, Warner KL, Kornreic BG, Piscitelli J, Wolfe A, Benet L, McKerrow JH. A cysteine

protease inhibitor protects dogs from cardiac damage during infection by Trypanosoma

cruzi. Antimicrob Agents Chemother. 2005; 49(12): 5160-1. Barral A, Badaró R, Barral-Netto M, Grimaldi G Jr, Momem H, Carvalho EM. Isolation of

Leishmania mexicana amazonensis from the bone marrow in a case of American visceral leishmaniasis. Am J Trop Med Hyg 1986; 35: 732-4.

Barral A, Pedral-Sampaio D, Grimaldi G Jr, Momen H, McMahon-Pratt D, Ribeiro de Jesús

A, et al. Leishmaniasis in Bahia, Brazil: evidence that Leishmania amazonensis produces a wide spectrum of clinical disease. Am J Trop Med Hyg 1991; 44: 536-46.

Barreto-de-Souza V, Pacheco GJ, Silva AR, Castro-Faria-Neto HC, Bozza PT, Saraiva EM et

al. Increased Leishmania replication in HIV-1-infected macrophages is mediated by tat protein through cyclooxygenase-2 expression and prostaglandin E2 synthesis. J. Infect. Dis. 2006; 194(6): 846–54.

Barreto-de-Souza V, Xavier Medeiros T, Machado Motta MC, Bou-Habib DC, Saraiva EM.

HIV-1 infection and HIV-1 Tat protein permit the survival and replication of a non-pathogenic trypanosomatid in macrophages through TGF-beta1 production. Microbes Infect. 2008; 10(6): 642-9.

Barrett AJ, Rawlings ND, O'Brien EA. The MEROPS database as a protease information

system. J Struct Biol. 2001; 134(2-3):95-102. Barrett AJ, Tolle DP, Rawlings ND. Managing peptidases in the genomic era. Biol Chem.

2003; 384(6): 873-82. Berhe N, Hailu A, Gemetchu T. Human immunodeficiency virus and recurrence of cutaneous

leishmaniasis long after healed localized cutaneous leishmaniasis due to Leishmania

aethiopica. Trans R Soc Trop Med Hyg. 1995; 89(4): 400-1.

82

Berhe N, Wolday D, Hailu A, Abraham Y, Ali A, Gebre-Michael T et al. HIV viral load and response to antileishmanial chemotherapy in co-infected patients. AIDS. 1999; 13(14): 1921-1925.

Berman JJ. Treatment of leishmaniasis with miltefosine: 2008 status. Expert Opin Drug Metab Toxicol. 2008; 4(9): 1209-16.

Besteiro S, Williams RA, Coombs GH, Mottram JC. Protein turnover and differentiation in

Leishmania. Int J Parasitol. 2007; 37(10): 1063-75. Review. Bond JS, Butler PE. Intracellular proteases. Annu Rev Biochem. 1987; 56: 333-64. Bordier C, Etges RJ, Ward J, Turner MJ, Cardoso de Almeida ML. Leishmania and

Trypanosoma surface glycoproteins have a common glycophospholipid membrane anchor. Proc Natl Acad Sci U S A. 1986; 83(16): 5988-91.

Bordier C. The promastigote surface protease of Leishmania. Parasitol Today. 1987; 3(5):

151-3. Brandão AA, Miranda A, Degrave WM, Sousa MA. The heterogeneity of choanomastigote-

shaped trypanosomatids as analyzed by their kDNA minicircle size: taxonomic implicaitons. Parasitol Res. 2000; 86 (10):809-12.

Branquinha MH, Vermelho AB, Goldenberg S, Bonaldo MC. Ubiquity of cysteine- and

metalloproteinase activities in a wide range of trypanosomatids. J Eukaryot Microbiol. 1996; 43(2): 131-5.

Burleigh BA, Caler EV, Webster P, Andrews N. A cytosolic serine endopeptidase from

Trypanosoma cruzi is required for the generation of Ca+2 signaling in mammalian cells. J Cell Sci. 1997; 136(3): 609-20.

Califórnia Lutheran University [homepage na Internet]. Califórnia: c2009 [acesso em 2009

fev 02]. HIV-1 protease; [aproximadamente 2 telas]. Disponível em: http://www.callutheran.edu/Academic_Programs/Departments/BioDev/omm/hiv_protease/molmast.htm

Casolari C, Rossib T, Baggio B, Coppic A, Zandomeneghic G, Rubertoc AI et al. Interaction

between saquinavir and antimycotic drugs on C. Albicans and C. Neoformans strains. Pharmacol Res. 2004; 50(6): 605–10.

Cazzulo JJ, Stoka V, Turk V. The major cysteine proteinase of Trypanosoma cruzi: a valid

target for chemotherapy of Chagas disease. Curr Pharm Des. 2001; 7(12): 1143-56. CDC (Centers for Disease Control). Viscerotropic leishmaniasis in persons returning from

operation Desert Storm 1990-1991. Morbid Mortal Wkly Rep. 1992; 41(8): 131-4. Chang KP, Akman L, Nielsen JS. Leishmania virulence and genetic heterogeneity. Clin

Dermatol. 1999; 17(3): 269-73. Review. Chappuis F, Sundar S, Hailu A, Ghalib H, Rijal S, Peeling RW et al. Visceral leishmaniasis:

what are the needs for diagnosis, treatment and control? Nat Rev Microbiol. 2007; 5(11):873-82. Review.

83

Choudhury R, Bhaumik SK, De T, Chakraborti T. Identification, purification, and characterization of a secretory serine protease in an Indian strain of Leishmania donovani. Mol Cell Biochem. 2009; 320(1-2): 1-14.

Coetzer THT, Goldringa JPD, Husona LEJ. Cellular proteolysis Oligopeptidase B: A

processing peptidase involved in pathogenesis. Biochimie. 2008; 90(2): 336-344. Cohen-Freuea G, Holzerb TR, Forneyb JD, McMaster WR. Global gene expression in

Leishmania. Int J Parasitol. 2007; 37(10): 1077-86. Corrêa JR, Brazil RP, Soares MJ. Leishmania (Viannia) lainsoni (Kinetoplastida:

Trypanosomatidae), a divergent Leishmania of the Viannia subgenus--a mini review. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2005; 100(6): 587-92.

Craik M, Debouck C. In: Perspectives in drug discovery and design. McKerrow JH, James

MNG, editors. Leiden: ESCOM. 1995; 2: 1-125. Cruz I, Nieto J, Moreno J, Canavate C, Desjeux P, Alvar J. Leishmania/HIV co-infections in

the second decade. Indian J Med Res. 2006; 123(3): 357-88. Cunico W, Gomes CRB, Vellasco WT Jr. HIV – recentes avanços na pesquisa de fármacos.

Quim Nova. 2008; 31(8): 2111-7. Review. Cupolillo E, Aguiar Alves F, Brahim LRN, Naiff MF, Pereira LO, Oliveira-Neto MP et al.

Recent advances in the taxonomy of the new world leishmanial parasites. Med Microbiol Immunol. 2001; 190(1-2): 57-60.

Cupolillo E, Momen H, Grimaldi G Jr. Genetic diversity in natural populations of New World

Leishmania. Mem Inst Oswaldo Cruz. 1998; 93(5): 663-8. Da-Cruz AM, Machado ES, Menezes JA, Rutowitsch MS, Coutinho SG. Cellular and

humoral immune responses of a patient with American cutaneous leishmaniasis and AIDS. Trans R Soc Trop Med Hyg. 1992; 86: 511-512.

Dash C, Kulkarni A, Dunn B, Rao M. Aspartic peptidase inhibitors: implications in drug

development. Crit Rev Biochem Mol Biol. 2003; 38(2): 89-119. Review. De Araújo Soares RM, Santos ALS, Bonaldo MC, Braga AF, Alviano CS, Angluster J et al.

Leishmania (Leishmania) amazonensis: differential expression of proteinases and cell-surface polypeptides in virulent and avirulent promastigotes. Exp Parasitol. 2003; 104(3-4): 104-12.

De Souza W. Special organelles of some pathogenic protozoa. Parasitol Res. 2002; 88(12):

1013-1025. Review. Denise H, McNeil K, Brooks DR, Alexander J, Coombs GH, Mottram JC. Expression of

multiple CPB genes encoding cysteine proteases is required for Leishmania mexicana virulence in vivo. Infect Immun. 2003; 71(6): 3190-5.

Denise H, Poot J, Jimenez M, Ambit A, Herrmann DC, Vermeulen AN et al. Studies on the

CPA cysteine peptidase in the Leishmania infantum genome strain JPCM5. BMC Mol Biol. 2006; 7: 42-55.

84

Desjeux P, Alvar J. Leishmania/HIV co-infections: epidemiology in Europe. Ann. Trop. Med.

Parasitol. 2003; 97: 3–15. Desjeux P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comp Immunol Microbiol

Infect Dis. 2004; 27(5): 305-18. Dominguez M, Torano A. Leishmania immune adherence reaction in vertebrates. Parasite

Immunol. 2001; 23: 259-65. Dunn WA Jr. Autophagy and related mechanisms of lysosome-mediated protein degradation.

Trends Cell Biol. 1994; 4(4): 139–43. Dutta A, Bandyopadhyay S, Mandal C, Chatterjee M. Development of a modified MTT assay

for screening antimonial resistant field isolates of Indian visceral leishmaniasis. Parasitol Int. 2005; 54(2): 119-22.

Eder J, Hommel U, Cumin F, Martoglio B, Gerhartz B. Aspartic proteases in drug discovery.

Curr Pharm Des. 2007; 13(3): 271-85. Review. Eron JJ Jr. HIV-1 protease inhibitors. Clin Infect Dis. 2000; 30(2): 160-70. Review. Fath M, Wu X, Hileman R, Linhardt R, Kashem M, Nelson R et al. Interaction of secretory

leukocyte protease inhibitor with heparin inhibits proteases envolved in asthma. J Biol Chem. 1998; 273: 13563-9.

FDA, U.S. Food and Drug Administration [homepage na Internet]. Silver Spring: US

Department of health and human services; c2008. [acesso em 2008 Dez 18]. Drugs used in the treatment of HIV infection; [aproximadamente 2 telas]. Disponível em: http://www.fda.gov/oashi/aids/virals.html

Flexner C. HIV-protease inhibitors. N Engl J Med. 1998; 338(18): 1281-1292. Frame MJ, Mottram JC, Coombs GH. Analysis of the roles of cysteine proteinases of

Leishmania mexicana in the host-parasite interaction. Parasitology. 2000; 121(Pt 4): 367-377.

Frommel TO, Button LL, Fujikura Y, McMaster WR. The major surface glycoprotein (GP63)

is present in both life stages of Leishmania. Mol Biochem Parasitol. 1990; 38(1): 25-32. Gaedicke S, Firat-Geier E, Constantiniu O, Lucchiari-Hartz M, Freudenberg M, Galanos C. et

al. Antitumor effect of the human immunodeficiency virus protease inhibitor ritonavir: induction of tumor-cell apoptosis associated with perturbation of proteasomal proteolysis. Cancer Res. 2002; 62: 6901-8.

Garg R, Lodge R, Descoteaux A, Tremblay MJ. Leishmania infantum promastigotes reduce

entry of HIV-1 into macrophages through a lipophosphoglycan-mediated disruption of lipid rafts. J Infect Dis. 2008; 197(12): 1701-8.

Gillis D, Klaus S, Schnur LF, Piscopos P, Maayan S, Okon E, Engelhard D. Diffusely

disseminated cutaneous Leishmania major infection in a child with acquired immunodeficiency syndrome. Pediatr Infect Dis. 1995; 14(3): 247-9.

85

González-Polo RA, Boya P, Pauleau AL, Jalil A, Larochette N, Souquère S et al. The

apoptosis/autophagy paradox: autophagic vacuolization before apoptotic death. J Cell Sci. 2005; 118(14): 3091-102.

Gradoni L, Scalone A, Gramiccia M, Troiani M. Epidemiological surveillance of

leishmaniasis in HIV-1-infected individuals in Italy. AIDS. 1996; 10(7): 785-91. Handman E, Bullen DV. Interaction of Leishmania with the host macrophage. Trends

Parasitol. 2002; 18(8): 332-4. Hill J, Phylip L. Bacterial aspartic proteinases. FEBS Lett. 1997; 409(3): 357–360. Hoegl L, Thoma-Greber E, Rocken M, Korting HC. Shift from persistent oral

pseudomembranous to erythematous candidosis in a human immunodeficiency virus (HIV)-infected patient upon combination treatment with an HIV protease inhibitor. Mycoses. 1998; 41(5-6): 213-7.

Hommer V, Eichholz J, Petry F. Effect of antiretroviral protease inhibitors alone, and in

combination with paromomycin, on the excystation, invasion and in vitro development of Cryptosporidium parvum. J Antimicrob Chem. 2003; 52(3): 359–64. Corrigido e republicado: J Antimicrob Chemother. 2003; 52(3): 535.

Hong L, Turner RT, Koelsch G, Shin D, Ghosh AK, Tang J. Crystal structure of memapsin 2

(β-secretase) in complex with an inhibitor OM00-3. Biochem. 2002; 41: 10963-7. Hooper NM. Proteases: a primer. Essays Biochem. 2002; 38: 1-8. Review. Hoover D, Lefker B, Rosati R, Wester R, kleinman E, Bindra J et al. Discovery of inhibitors

of human rennin with high oral biovailability. Adv Exp Med Biol. 1995; 362: 167-80. Hsiao CH, Yao C, Storlie P, Donelson JE, Wilson ME. The major surface protease (MSP or

GP63) in the intracellular amastigote stage of Leishmania chagasi. Mol Biochem Parasitol. 2008; 157(2): 148-59.

Hughes A, Barber T, Nelson M. New treatment options for HIV salvage patients: an overview

of second generation PIs, NNRTIs, integrase inhibitors and CCR5 antagonists. J Infect. 2008; 57(1): 1-10. Review.

James M (editor). Structure and function of aspartic protease: retroviral and cellular enzymes.

Plenum Press. New York; 1998. Kamhawi S. Phlebotomine sand flies and Leishmania parasites: friends or foes? Trends

Parasitol. 2006; 22(9): 439-45. Kissová I, Plamondon LT, Brisson L, Priault M, Renouf V, Schaeffer et al. Evaluation of the

roles of apoptosis, autophagy, and mitophagy in the loss of plating efficiency induced by Bax expression in yeast. J Biol Chem. 2006; 281(47): 36187-97.

Kleinert H, Stein H, Boyd S, Fung A, Baker W, Verburg K et al. Discovery of a well-

absorbed, efficatious rennin inhibitor, a-74273. Hypertension. 1992; 20: 768-75.

86

Kulkarni MM, McMaster WR, Kamysz E, Kamysz W, Engman DM, McGwire BS. The major surface-metalloprotease of the parasitic protozoan, Leishmania, protects against antimicrobial peptide-induced apoptotic killing. Mol Microbiol. 2006; 62(5): 1484-97.

Lainson R, Shaw JJ. Evolution, classification and geographical distribution. In: Killick-

Kendric R, Peters W, editores. The Leishmaniases in Biology and Medicine. London: Academic Press; 1987. p. 1-120

Lainson R, Shaw JJ. Leishmaniasis of the New World: taxonomic problems. Brit Med Bull.

1972; 28: 44-48. Lainson R, Shaw JJ. The role of animals in the epidemiology of South American

leishmaniasis. In: Lumsden WHR, Evans DA, editores. Biology of the Kinetoplastida. Vol. 2, London and New York: Academic Press; 1979. p. 1-116.

Levine B, Klionsky DJ. Development by self-digestion: molecular mechanisms and biological

functions of autophagy. Dev Cell. 2004; 6(4): 463–77. Lieke T, Nylén S, Eidsmo L, McMaster WR, Mohammadi AM, Khamesipour A, Berg L,

Akuffo H. Leishmania surface protein gp63 binds directly to human natural killer cells and inhibits proliferation. Clin Exp Immunol. 2008; 153(2): 221-30.

Lindoso, JA. Comportamento Oportunista das Leishmanioses/Opportunistic Behavior of

Leishmaniosis. BEPA. 2006; 3(32): 8-12. Lopez-Velez R, Perez-Molina JA, Guerrero A, Baquero F, Villarrubia J, Escribano L et al.

Clinicoepidemiologic characteristics, prognostic factors, and survival analysis of patients coinfected with human immunodeficiency virus and Leishmania in an area of Madrid, Spain. Am J Trop Med Hyg. 1998; 58(4): 436-43.

Magill AJ, Grögl M, Gasser RA Jr, Sun W, Oster CN. Visceral infection caused by

Leishmania tropica in veterans of Operation Desert Storm. N Engl J Med. 1993; 328(19): 1383-7.

Majer F, Pavlícková L, Majer P, Hradilek M, Dolejsí E, Hrusková-Heidingsfeldová O,

Pichová I. Structure-based specificity mapping of secreted aspartic proteases of Candida parapsilosis, Candida albicans, and Candida tropicalis using peptidomimetic inhibitors and homology modeling. Biol Chem. 2006; 387(9): 1247-54.

Marques N, Cabral S, Sá R, Coelho F, Oliveira J, Saraiva da Cunha JG et al. Visceral

leishmaniasis and HIV infection in the HAART era. Acta Med Port. 2007; 20(4): 291-8. Martinez-Cajas JL, Wainberg MA. Protease inhibitor resistance in HIV-infected patients:

molecular and clinical perspectives. Antiviral Res. 2007; 76(3): 203-21. Review. Mastrolorenzo A, Rusconi S, Scozzafava A, Barbaro G, Supuran CT. Inhibitors of HIV-1

protease: current state of the art 10 years after their introduction. From antiretroviral drugs to antifungal, antibacterial and antitumor agents based on aspartic protease inhibitors. Curr Med Chem. 2007; 14(26): 2734-48. Review.

Matayoshi ED, Wang GT, Krafft GA, Erickson J. Novel fluorogenic substrates for assaying

retroviral proteases by resonance energy transfer. Science. 1990; 247(4945): 954-8.

87

McGwire B, Chang KP. Genetic rescue of surface metalloproteinase (gp63)-deficiency in Leishmania amazonensis variants increases their infection of macrophages at the early phase. Mol Biochem Parasitol. 1994; 66(2): 345-7.

McKerrow JH, Caffrey C, Kelly B, Loke P, Sajid M. Proteases in parasitic diseases. Annu

Rev Pathol. 2006; 1: 497-536. Review. McKerrow JH, Rosenthal PJ, Swenerton R, Doyle P. Development of protease inhibitors for

protozoan infections. Curr Opin Infect Dis. 2008; 21(6): 668-72. Review. Mckerrow JH, Sun E, Rosenthal PJ, Bouvier J. The proteases and pathogenicity of parasitic

protozoa. Annu. Rev. Microbiol. 1993; 47: 821-853. Mckerrow JH. Development of cysteine protease inhibitors as chemoterapy for parasitic

diseases: insights on safety, target validation, and mechanisms of action. Int J Parasitol. 1999; 29(6): 833-7.

Medina-Acosta E, Karess RE, Schwarz H, Russell DG. The promastigote surface protease

(gp63) of Leishmania is expressed but differentially processed and localized in the amastigote stage. Mol Biochem Parasitol. 1989; 37(2): 263-73.

Mele R, Morales MA, Tosini F, Pozio E. Indinavir reduces Cryptosporidium parvum infection

in both in vitro and in vivo models. Int J Parasitol. 2003; 33(7): 757-64. Ministério da Saúde. [homepage na Internet]. Brasília D.F.: Serviço de Vigilância em Saúde;

c2007 [acesso em 2008 Dez 16]. Manual de controle da leishmaniose tegumentar americana; [aproximadamente 3 telas]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lta_2ed.pdf.

Ministério da Saúde. [homepage na Internet]. Brasília: Serviço de Vigilância em Saúde;

[acesso em 2008 Dez 16]. Vigilância em saúde; [aproximadamente 3 telas]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?Idtxt=27239.

Monari C, Pericolini E, Bistoni G, Cenci E, Bistoni F, Vecchiarelli A. Influence of indinavir

on virulence and growth of Cryptococcus neoformans. J Infect Dis. 2005; 191(2): 307–11. Morgado-Diaz JA, Silva-Lopez RE, Alves CR, Soares MJ, Corte-Real S, De Simone SG.

Subcellular localization of an intracellular serine protease of 68 kda in Leishmania (Leishmania) amazonensis promastigotes. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2005; 100(4): 377-83.

Morty RE, Lonsdale-Eccles JD, Morehead J, Caler EV, Mentele R, Auerswald EA et al.

Oligopeptidase B from Trypanosoma brucei, a new member of an emerging subgroup of serine oligopeptidases. J Biol Chem. 1999; 274(37): 26149-26156.

Morty RE, Pelle R, Vadasz I, Uzcanga GL, Seeger W, Bubis J. Oligopeptidase B from

Trypanosoma evansi. A parasite peptidase that inactivates atrial natriuretic factor in the bloodstream of infected hosts. J Biol Chem. 2005; 280(12): 10925-10937.

Mottram JC, Coombs GH, Alexander J. Cysteine peptidases as virulence factors of

Leishmania. Curr Opin Microbiol. 2004; 7(4): 375-381.

88

Munro CA, Hube B. Anti-fungal therapy at the HAART of viral therapy. Trends Microbiol. 2002; 10(4): 173-7.

Murray HW, Berman JD, Davies CR, Saravia NG. Advances in leishmaniasis. Lancet. 2005;

366: 1561–77. NCBI [homepage na Internet]. Rockville Pike (Bethesda): National Center for Biotechnology

Information; [atualizada em 2009 jan 8; acesso em 2009 jan 25]. Pubchem compoud; [aproximadamente 2 telas]. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=pccompound.

Nguyen JT, Hamada Y, Kimura T, Kiso Y. Design of potent aspartic protease inhibitors to

treat various diseases. Arch Pharm (Weinheim). 2008; 341(9): 523-35. Review. Nigro L, Rizzo ML, Vancheri C, La Rosa R, Mastruzzo C, Tomaselli V et al. Med Microbiol

Immunol. 2007; 196(4): 253-5. Oda K, Sugitani M, Fukuhara K, Murao S. Purification and properties of a pepstatin-

insensitive carboxyl proteinase from a gram-negative bacterium. Biochim Biophys Acta. 1987; 923(3): 463-9.

Oliveira JPC, Fernandes F, Cruz AK, Trombela V, Monteiro E, Camargo AA et al. Genetic

diversity of Leishmania amazonensis strains isolated in northeastern Brazil as revealed by DNA sequencing, PCR-based analyses and molecular karyotyping. Kinetoplastid Biol Dis. 2007; 6: 5.

Page MJ, Di Cera E. Evolution of peptidase diversity. J Biol Chem. 2008; 283(44): 30010-4. Pal S, Mandal A, Duttagupta S. Studies on stibanate resistant Leishmania donovani isolate of

Indian origin. Indian J Exp Biol. 2001; 39(3): 249-54. Palella FJ Jr, Delaney KM, Moorman AC, Loveless MO, Fuhrer J, Satten GA et al. Declining

morbidity and mortality among patients with advanced human immunodeficiency virus infection. HIV Outpatient Study Investigation. N Engl J Med. 1998; 338(13): 853-60.

Palmeira VF, Kneipp LF, Rozental S, Alviano CS, Santos AL. Beneficial effects of HIV

peptidase inhibitors on Fonsecaea pedrosoi: promising compounds to arrest key fungal biological processes and virulence. PLoS ONE. 2008; 3(10): 3382.

Pan American Health Oganization (PAHO) [homepage na Internet]. Washington D.C.:

Regional Office of the World Health Organization; c2007-2009 [acesso em 2009 jan 28]. Leishmaniasis: 2007 Update; [aproximadamente 3 telas]. Disponível em: http://www.paho.org/English/AD/DPC/CD/leish-2007.htm.

Paugam A, Bulteau AL, Dupouy-Camet J, Creuzet C, Friguet B. Characterization and role of

protozoan parasite proteasomes. Trends Parasitol. 2003; 19(2): 55-9. Pereira BA, Alves CR. Immunological characteristics of experimental murine infection with

Leishmania (Leishmania) amazonensis. Vet Parasitol. 2008; 158(4): 239–55. Pernerstorfer-Schoen H, Jilma B, Perschler A, Wichlas S, Schindler K, Schindl A et al. Sex

differences in HAART-associated dyslipidaemia. AIDS. 2001; 15(6): 725-34.

89

Pichová I, Pavlícková L, Dostál J, Dolejsí E, Hrusková-Heidingsfeldová O, Weber J et al. Secreted aspartic proteases of Candida albicans, Candida tropicalis, Candida parapsilosis and Candida lusitaniae. Inhibition with peptidomimetic inhibitors. Eur J Biochem. 2001; 268(9): 2669-77.

Pintado V, López-Vélez R. Visceral leishmaniasis associated with human immunodeficiency

virus infection. Enferm Infecc Microbiol Clin. 2001; 19(7): 353-7. Pintado V, Martín-Rabadán P, Rivera ML, Moreno S, Bouza E. Visceral leishmaniasis in

humanimmunodeficiency virus (HIV)-infected and non hivinfected patients. Medicine. 2001; 80(1): 54-73.

Pinti M, Orsi CF, Gibellini L, Esposito R, Cossarizza A, Blasi E et al. Identification and

characterization of an aspartyl protease from Cryptococcus neoformans. FEBS Lett. 2007; 581(20): 3882-6.

Pozio E, Morales MA. The impact of HIV-protease inhibitors on opportunistic parasites.

Trends Parasitol. 2005; 21(2): 58-63. Review. Rabello A, Orsini M, Disch J. Leishmania/HIV co-infection in Brazil: an appraisal. Ann.

Trop. Med. Parasitol. 2003; 97(1): 17–28. Ramos-Santos C, Hernández-Montes O, Sánchez-Tejeda G, Monroy-Ostria A. Visceral

leishmaniosis caused by Leishmania (L.) mexicana in a Mexican patient with human immunodeficiency virus infection. Mem Inst Oswaldo Cruz 2000; 95: 733-7.

Rangel EF, Lainson R. Ecologia das Leishmanioses. In: Rangel EF, Lainson R.

Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 291-305. Rao MB, Tanksale AM, Ghatge MS, Deshpande VV. Molecular and biotechnological aspects

of microbial proteases. Microbiol Mol Biol Rev. 1998; 62(3): 597-635. Review. Rey L. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais. Rio

de Janeiro: Guanabara koogan; 2008. Rioux JA, Lanotte G, Serres E, Pratlong F, Bastien P, Perieres J. Taxonomy of Leishmania.

Use of isoenzymes. Suggestions for a new classification. Ann Parasitol Hum Comp. 1990; 65(3): 111-25. Review.

Robertson CD. The Leishmania mexicana proteasome. Mol Biochem Parasitol. 1999; 103(1):

49–60. Romero HD, Taranto NJ, Malchiodi EL. American tegumentary leishmaniasis associated with

AIDS in Argentina. Medicina (B Aires). 2004; 64(1): 47-50. Rüchel R, Ritter B, Scha¡rinski M. Modulation of experimental systemic murine candidosis

by intravenous pepstatin A. Zentralbl Bakteriol. 1990; 273(3): 391-403. Saag MS, Schooly RT. Antiretroviral chemotherapy. In: Remington J, Schwartz MN,

editores. Current Clinical Topics in Infectious Disease. Boston: McGraw Hill; 1998. p. 154–79.

90

Sajid M, McKerrow JH. Cysteine proteases of parasitic organisms. Mol Biochem Parasitol. 2002; 120(1):1-21. Review. Corrigido e republicado: Mol Biochem Parasitol. 2002; 121(1): 159.

Santos AL, d'Avila-Levy CM, Elias CG, Vermelho AB, Branquinha MH. Phytomonas

serpens: immunological similarities with the human trypanosomatid pathogens. Microbes Infect. 2007; 9(8): 915-921. Review.

Santos ALS, Abreu CM, Alviano CS, Soares RMA. Use of proteolytic enzymes as an

additional tool for trypanosomatid identification. Parasitology. 2005; 130 (1): 79-88. Santos DO, Coutinho CE, Madeira MF, Bottino CG, Vieira RT, Nascimento SB et al.

Leishmaniasis treatment--a challenge that remains: a review. Parasitol Res. 2008; 103(1): 1-10.

Saravia NG, Escorcia B, Osorio Y, Valderrama L, Brooks D, Arteaga L et al. Pathogenicity

and protective immunogenicity of cysteine proteinase-deficient mutants of Leishmania

mexicana in non-murine models. Vaccine. 2006; 24(19): 4247-4259. Sato K, Nagaib Y, Suzukic M. Purification and partial characterization of an acid proteinase

from Dirofilaria immitis. Mol Biochem Parasitol. 1993; 58(2): 293-9. Savoia D, Allice T, Tovo PA. Antileishmanial activity of HIV protease inhibitors. Int J

Antimicrob Agents. 2005; 26(1): 92– 4. Schechter I, Berger A. On the active site of proteases. 3. Mapping the active site of papain;

specific peptide inhibitors of papain. Biochem Biophys Res Commun. 1968; 32(5): 898-902.

Schechter I, Berger A. On the size of the active site in proteases. I. Papain. Biochem Biophys

Res Commun. 1967; 27(2): 157-62. Schilling RMD. NetHealthBook.com [homepage na Internet]. Kelowna (Canadá): NetHealth

Holdings Inc.; c2008 [atualizada em 2009 jan 10; acesso em 2009 jan 12]. Leishmaniasis; [aproximadamente 2 telas]. Disponível em: http://www.nethealthbook.com/articles/leishmaniasis.php.

Seglen PO, Bohley P. Autophagy and other vacuolar protein degradation mechanisms.

Experientia. 1992; 48(2): 158–72. Selzer PM, Pingel S, Hsieh I, Ugele B, Chan VJ, Engel JC et al. Cysteine inhibitors as

chemotherapy: lessons from a parasite target. Proc Natl Acad Sci U.S.A. 1999; 96: 11015-22.

Sharma A. Malarial protease inhibitors: potential new chemotherapeutic agents. Curr Opin

Investig Drugs. 2007; 8(8): 642-52. Review. Shaw E. Cystenyl proteinases and their selective inactivation. Adv Enzymol Relat Areas Mol

Biol. 1990; 63: 271-347.

91

Shaw JJ, Lainson R, Ryan L, Braga RR, McMahon-Pratt D, David JR. Leishmaniasis in Brazil: XXIII. The identification of Leishmania braziliensis braziliensis in wild-caught neotropical sandflies using monoclonal antibodies. Trans R Soc Trop Med Hyg. 1987; 81(1): 69-72.

Shaw JJ. Taxonomy of the genus Leishmania: present and future trends and their

implications. Mem Inst Oswaldo Cruz. 1994; 89(3):471-478. Shintani T, Klionsky DJ. Autophagy in health and disease: a double-edged sword. Science.

2004; 306(5698): 990–5. Silva D. Leishmaniose anérgica hansenóide no Estado do Pará, Brasil. Na Bras Dermatol.

1996; 71(3): 253-6. Silva-Lopez RE, Coelho MG, De Simone SG. Characterization of an extracellular serine

protease of Leishmania (Leishmania) amazonensis. Parasitology. 2005; 131(1): 85-96. Silva-Lopez RE, Giovanni-De-Simone S. Leishmania (Leishmania) amazonensis: purification

and characterization of a promastigote serine protease. Exp Parasitol. 2004; 107(3-4): 173-82.

Silveira FT, Lainson R, Corbett CE. Further observations on clinical, histopathological, and

immunological features of borderline disseminated cutaneous leishmaniasis caused by Leishmania (Leishmania) amazonensis. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2005; 100(5): 525-34.

Simoneau B, Lavallee P, Anderson PC, Bailey M, Bantle G, Berthiaume S et al. Discovery of

non-peptidic P2-P3 butanediamide rennin inhibitors with oral efficacy. Bioorg Med Chem. 1999; 7: 489-508.

Singh N. Drug resistance mechanisms in clinical isolates of Leishmania donovani. Indian J

Med Res. 2006; 123(3): 411-22. Singh S, Sivakumar R. Challenges and new discoveries in the treatment of leishmaniasis. J

Infect Chemother. 2004; 10(6): 307-15. Souza MV, Almeida MV. Drogas anti-HIV: passado, presente e perspectivas futuras. Quim

Nova. 2003; 26(3): 366-72. Sundar S. Drug resistence in Indian visceral leishmaniasis. Trop Med Int Health. 2001; 6(11):

849-54. Takahashi S, Ogasawara H, Hiwatashi K, Hori K, Hata K, Tachibana T et al. A novel D-

aspartyl endopeptidase from Paenibacillus sp. B38: purification and substrate specificity. J Biochem. 2006;139(2): 197-202.

Tanaka RD, Clark JN, Warne RL, Abraham WM, Katsuoka K. Mast cell tryptase: a new

target for therapeutic intervention in asthma. Int Arch Allergy Immunol. 1995; 107: 408-9.

Taylor MC, Kelly JM, Chapman CJ, Fairlamb AH, Miles MA. The structure, organization,

and expression of the Leishmania donovani gene encoding trypanothione reductase. Mol Biochem Parasitol. 1994; 64(2): 293-301.

92

Tiuman TS, Ueda-Nakamura T, Garcia Cortez DA, Dias Filho BP, Morgado-Díaz JA, de Souza W et al. Antileishmanial activity of parthenolide, a sesquiterpene lactone isolated from Tanacetum parthenium. Antimicrob Agents Chemother. 2005; 49(1): 176–82.

Toogood HS, Prescott M, Daniel RM. A pepstatin-insensitive aspartic proteinase from a

thermophilic Bacillus sp. Biochem J. 1995; 307 ( Pt 3): 783-9. Tovo PA. Highly active antiretroviral therapy inhibits cytokine production in HIV-uninfected

subjects. AIDS. 2000; 14(6): 743-4. Trudel N, Garg R, Messier N, Sundar S, Ouellette M, Tremblay MJ. Intracellular survival of

Leishmania species that cause visceral leishmaniasis is significantly reduced by HIV-1 protease inhibitors. J Infect Dis. 2008; 198(9): 1292-9.

Tsantrizos YS. Peptidomimetic therapeutic agents targeting the protease enzyme of the human

immunodeficiency virus and hepatitis C virus. Acc Chem Res. 2008; 41(10): 1252-63. Valdivieso E, Dagger F, Rascón A. Leishmania mexicana: identification and characterization

of an aspartyl proteinase activity. Exp Parasitol. 2007; 116(1): 77-82. Vassar R, Bennett BD, Babu-Khan S, Mendiaz EA, Denis P, Teplow DB et al. β-secretase

cleavage of Alzheimer’s amyloid precursor protein by the transmembrane aspartic protease BACE. Science. 1999; 286: 735-41.

Vendeville S, Goossens F, Debreu-Fontaine MA, Landry V, Davioud-Charvet E, Grellier P et

al. Comparison of the inhibition of human and Trypanosoma cruzi prolyl endopeptidases. Bioorg Med Chem. 2002; 10(6): 1719-29.

Vermelho AB, Giovanni-de-Simone S, d' Avila-Levy CM, Santos ALS, Melo ACN, Silva FP

Jr et al. Trypanosomatidae peptidases: a target for drug development. Curr Enz Inhib. 2007; 3(1): 19–48.

Vickerman K, Preston TM. Comparative cell biology of the kinetoplastids flagellates. In:

Lumsdem WHR, Evans DA, editores: Biology of the Kinetoplastida. New York: Academic Press; 1976. p. 35-130.

Williams RA, Tetley L, Mottram JC, Coombs GH. Cysteine peptidases CPA and CPB are

vital for autophagy and differentiation in Leishmania mexicana. Mol Microbiol. 2006; 61(3): 655-674.

Williams RA, Tetley L, Mottram JC, Coombs GH. Cysteine peptidases CPA and CPB are

vital for autophagy and differentiation in Leishmania mexicana. Mol Microbiol. 2006; 61(3): 655–674.

Wolday D, Berhe N, Akuffo H, Britton S. Leishmania-HIV interaction: immunopathogenic

mechanisms. Parasitol Today. 1999; 15(5): 182-7. World Health Organization (WHO). [homepage na Internet]. Geneva: Special Programme for

Research and Training in Tropical Diseases (TDR); c2009. [acesso em 2008 Dez 15]. Leishmaniasis; [aproximadamente 4 telas]. Disponível em: http://www.who.int/tdr/svc/diseases/leishmaniasis.

93

Xu X, Yu D, Fang W, Cheng Y, Qian Z, Lu W, Cai Y, Feng K. Prediction of peptidase category based on functional domain composition. J Proteome Res. 2008; 7(10): 4521-4.

Yao C, Donelson JE, Wilson ME. The major surface protease (MSP or GP63) of Leishmania

sp. Biosynthesis, regulation of expression, and function. Mol Biochem Parasitol. 2003; 132(1): 1–16.

Zhang T, Maekawa Y, Yasutomo K, Ishikawa H, Fawzy Nashed B, Dainichi T et al.

Pepstatin A-sensitive aspartic proteases in lysosome are involved in degradation of the invariant chain and antigen-processing in antigen presenting cells of mice infected with Leishmania major. Biochem Biophys Res Commun. 2000; 276(2): 693-701.

Zhang WW, Miranda-Verastegui C, Arevalo J, Ndao M, Ward B, Llanos-Cuentas A,

Matlashewski G. Development of a genetic assay to distinguish between Leishmania

viannia species on the basis of isoenzyme differences. Clin Infect Dis. 2006; 42(6): 801-9. Zhao C, Papadopoulou B, Tremblay MJ. Leishmania infantum enhances human

immunodeficiency virus type-1 replication in primary human macrophages through a complex cytokine network. Clin Immunol. 2004b; 113(1): 81-8.

Zhao C, Papadopoulou B, Tremblay MJ. Leishmania infantum promotes replication of HIV

type 1 in human lymphoid tissue cultured ex vivo by inducing secretion of the proinflammatory cytokines TNF-alpha and IL-1 alpha. J Immunol. 2004a; 172(5): 3086-93.

Zhao C, Thibault S, Messier N, Ouellette M, Papadopoulou B, Tremblay MJ. In primary

human monocyte-derived macrophages exposed to Human immunodeficiency virus type 1, does the increased intracellular growth of Leishmania infantum rely on its enhanced uptake? J Gen Virol. 2006; 87(Pt 5): 1295–302.

Zhou H, Zheng C, Zou G, Tao D, Gong J. G1-phase specific apopitosis in liver carcinoma cell

line induced by copper-1, 10-phenanthroline. Intern J Biochem Cell Biol. 2002; 34: 678-84.

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo