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MULHER: SOLTE SUA VOZ! O MINISTÉRIO PÚBLICO QUER OUVIR. NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

Íntegra do Projeto

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MULHER: SOLTE SUA VOZ!

O MINISTÉRIO PÚBLICO QUER OUVIR.

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

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MULHER: SOLTE SUA VOZ!

O MINISTÉRIO PÚBLICO QUER OUVIR.

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RECEBI FLORES HOJE

Não é meu aniversário ou nenhum outro dia especial.

Tivemos nosso primeiro desgosto noite passada e ele me disse muitas coisas cruéis que, na verdade, me

ofenderam, mas eu sei que ele está arrependido e não falou sério, porque me mandou flores hoje.

Não é nosso aniversário ou nenhum outro dia especial.

Noite passada ele me jogou contra a parede e começou a enforcar-me. Parecia um pesadelo, mas nos

pesadelos nós acordamos e sabemos que não é real.

Levantei esta manhã dolorida, com dores por todos os lados, mas eu sei que ele está arrependido, porque

me mandou flores hoje.

E não é algum dia santo ou nenhum outro dia especial.

A noite passada ele me bateu novamente e ameaçou matar-me. Nem a maquiagem ou a blusa com mangas

compridas podia esconder os cortes e golpes que me ocasionou desta vez. Não pude ir ao trabalho hoje,

porque não queria que me vissem ou percebessem alguma coisa, mas eu sei que ele está arrependido,

porque me mandou flores hoje.

E Não era o Dia das Mães ou nenhum outro dia... a noite passada ele voltou a me bater, mas desta vez foi

muito pior.

Se conseguir deixá-lo o que vou fazer? Como eu sozinha poderia me separar diante das crianças? O que

acontecerá se nos faltar dinheiro?

Tenho tanto medo! Dependo tanto dele, temo deixá-lo. Mas sei que ele está arrependido, porque me

mandou flores hoje.

Hoje é um dia muito especial. É o dia do meu funeral. A noite passada por fim conseguiu matar-me.

Bateu-me até à morte.

Se pelo menos... se eu tivesse me valorizado.... tivesse tido a força de deixá-lo...

Se tivesse buscado e recebido ajuda... hoje não haveria recebido flores.

Autor Desconhecido

Page 3: Íntegra do Projeto

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER DA CIRCUNSCRIÇÃO DE

ITAPECERICA DA SERRA – REDE PROTETIVA DE DIREITOS

SOCIAIS Nº 03 – ATO DO PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA Nº

005/2011 – PGJ, DE 10 DE FEVEREIRO DE 2011 (Pt. nº 20.206/2010),

nos termos do Ato Normativo nº 671/2010 – PGJ-CPJ, de 21 de

dezembro de 2010:

Artigo 1º - Fica criado o NÚCLEO 3 da Rede de

Atuação Protetiva de Direitos Sociais, compreendendo as seguintes

Promotorias de Justiça:

a) Promotoria de Justiça de Cotia: 1º e 3º Promotores de Justiça;

b) Promotoria de Justiça de Embu: 1º Promotor de Justiça;

c) Promotoria de Justiça de Embu-Guaçu;

d) Promotoria de Justiça de Itapecerica da Serra: 2º Promotor de Justiça;

e) Promotoria de Justiça de Itapevi: 1º Promotor de Justiça.

f) Promotoria de Justiça de Taboão da Serra: 1º e 2º Promotores de

Justiça.

Artigo 2º - O NÚCLEO 3 atuará tendo como meta o

desenvolvimento de políticas públicas na proteção dos direitos da mulher.

Artigo 3º - Este Ato entrará em vigor na data de sua

publicação.

Elaboração:

Maria Gabriela Prado Manssur - Promotora de Justiça de Embu-Guaçu-

SP, Secretária do Núcleo de Combate à Violência Doméstica e Familiar

contra a Mulher da Circunscrição de Itapecerica da Serra e Membro da

COPEVID –Comissão Permanente de Promotores da Violência Doméstica

e Familiar contra a Mulher, do Grupo Nacional de Direitos Humanos

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

3

APRESENTAÇÃO

Considerando a necessidade de padronizar e uniformizar o

atendimento das vítimas de violência doméstica nos Distritos Policiais e

nas Delegacias Especializadas; considerando a necessidade de harmonizar

e padronizar o atendimento das vítimas no Ministério Público, bem como

medidas adotadas e andamento dos processos e considerando a REDE

PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 03, que criou o Núcleo de

Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher na

Circunscrição de Itapecerica da Serra, cuja atividade homogênea e em

conjunto deve caracterizar-se pela atuação de Promotores de Justiça na

prática de atos de orientação, investigação, implementação de políticas

públicas e de instrução criminal, diretamente ou em parceria com outras

Instituições, apresento a Vossa Excelência:

SUGESTÕES PARA APLICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS DA LEI MARIA

DA PENHA E RECOMENDAÇÕES PARA ATUAÇÃO DAS

PROMOTORIAS INTEGRANTES DO NÚCLEO DE COMBATE À

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILAR CONTRA A MULHER-

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA - REDE PROTETIVA

SOCIAL Nº 3

Agradecimentos:

Lindinalva Rodrigues Dalla Costa - Promotora de Justiça do MT- Coordenadora da

COPEVID

Silvio Amaral Nogueira de Lima – Promotor de Justiça do MS – Membro da COPEVID

Fabiana Dal’mas Rocha Paes – Promotora de Justiça de Votorantim-SP

Maria Amélia Santos Alencar– Coordenadora dos Direitos da Mulher - Taboão da Serra

Raquel Conceição Dos Santos- estagiária do Ministério Público-SP

Haline Barreto Afonso e Martha Maria Silva Russo - Oficiais de Promotoria-SP

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

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ÍNDICE

1. RECOMENDAÇÕES PARA DELEGACIAS- pg. 5

2. RECOMENDAÇÕES PARA PREFEITURA – pg.14

3. CONVÊNIO COM OAB OU DEFENSORIA PÚBLICA PARA

ASSISTÊNCIA JURÍDICA DA VÍTIMA – pg. 17

4. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – pg. 19

5. ENCAMINHAMENTO DAS VÍTIMAS AOS SERVIÇOS SOCIAIS – pg.36

6. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO – pg. 60

7. ATOS DO PGJ, MATÉRIAS IMPORTANTES, ACOMPANHAMENTO

LEGISLATIVO, PRINCIPAIS DECISÕES, LEGISLAÇÃO ATUAL-pg.61

8. MODELOS – pg.113

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RECOMENDAÇÕES PARA AS DELEGACIAS DE POLÍCIA NOS

CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER

1)Anotar na autuação, no campo destinado à NATUREZA do delito, que se

trata de VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (para que o distribuidor não remeta os

autos à Vara Criminal Comum ou ao JECRIM).

2)NÃO elaborar TC – Termo Circunstanciado -, mesmo que a pena seja

inferior a dois anos. (Nos crimes de ameaça, lesão corporal, desobediência às

medidas protetivas etc., relacionados à Lei Maria da Penha, é obrigatória a

instauração de INQUÉRITO POLICIAL – (fundamento: não se aplica a Lei

9099/95, vide inc. VII, art. 12 da Lei 11.340/06 e seu art. 41, que afastou a

lei 9099/95).

3)Anotar sempre se se trata de Pedido de Medida Protetiva ou de Inquérito

Policial, juntando-se, em ambos os casos, o boletim de ocorrência, que deverá

conter:

a) qualificação da ofendida e do agressor, informando o vínculo

existente entre eles, idade, escolaridade, profissão, se possuem filhos

em comum e idade dos filhos,

b) oitiva da ofendida e eventuais testemunhas;

c) oitiva do agressor, se presente na Delegacia de Polícia;

d) representação da vítima e, se menor de idade, de seu

representante legal,

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e) descrição sucinta dos fatos, relatando, se possível, a

verossimilhança dos fatos,

f) determinação de diligências necessárias, e:

4) No caso de se tratar de Pedido de Medida Protetiva:

a) Oferecer à vítima as medidas protetivas de urgência previstas no artigo

22, 23 e 24, da Lei 11.340/03.

b) Anotar sempre os números dos telefones da vítima e de seus

familiares, visando agilizar sua localização para eventual audiência de

justificação.

c) Anotar a renda familiar da vítima; se ela tem condições financeiras de

constituir advogado; se ela quer seja assistida por Defensor Público.

d) FOTOGRAFAR as lesões apresentadas pela vítima, já por ocasião do

registro da ocorrência; tomando-se por termo o consentimento da

mesma.

e) Encaminhar a vítima imediatamente ao Pronto Socorro mais próximo,

para constatação das lesões, devendo juntar ao procedimento o relatório

médico, que funcionará como um laudo provisório de comprovação da

materialidade dos fatos (artigo, 12, § 3º, da Lei 11340/06: serão

admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos

fornecidos por hospitais e postos de saúde).

f) Relatar, sumariamente, as circunstâncias e gravidade do fato, bem

como as impressões pessoais do Delegado, para dar subsídio ao

Promotor de Justiça e ao Juiz de Direito, quando da análise do pedido

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de medidas protetivas (importantíssimo, evitando, assim, que a vítima

seja novamente chamada na Promotoria de Justiça para justificar o

pedido, principalmente nos casos de ameaças e outros crimes que não

deixam vestígios).

g) Nos crimes de ameaça colher elementos, quando da lavratura do B.O.,

acerca da seriedade do mal pronunciado, fazendo constar se a vítima

alterou ou não sua rotina de vida em razão de tais fatos.

Se modificou sua rotina de vida, especificar as alterações, tais

como: a) deixou de freqüentar os lugares .......; b)- trocou número de

telefone; c)- mudou de residência; d)- passa pelos locais públicos em

estado de alerta; e)- toma os cuidados...... ao sair de casa para o trabalho,

etc.”

h) Nos crimes contra a dignidade sexual, tendo como vítima mulher menor

de 14 anos, chamar sempre REPRESENTANTE DO CONSELHO

TUTELAR para acompanhar o depoimento da menor e a confissão do

investigado/indiciado, quando houver.

i) Lembrar sempre de oferecer à vítima as medidas de proteção que

cabem à Autoridade Policial executá-las (vide art. 11 da Lei 11340/06),

consignando o fato no ofício de encaminhamento ao Juízo ou no termo

de ciência dos direitos concedidos pela Lei à ofendida.

j) Quando o pedido de medida protetiva for para deixar de frenquentar

determinados lugares, ESPECIFICAR quais são os lugares e sua

localização (ex., residência da genitora da vítima, rua....; padaria, sita

na rua......; local de trabalho da vítima, rua........);

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k) Quando o pedido de medida protetiva for de afastamento de familiares,

dizer o nome deles, IDADE, vínculo de parentesco e local onde

residem.

l) Encaminhar os autos ao Poder Judiciário no prazo máximo de 48 horas

(art. 12, inciso III, da Lei nº 11340/06)

m) Se a vítima NÃO desejar medida de proteção, tomar por termo sua

manifestação, do qual deverá constar todas as medidas protetivas

disponíveis, a fim de que não haja qualquer dúvida acerca da

cientificação de seus direitos conferidos pela Lei 11.340/2006, fazendo-

a assinar o termo e rubricar todas as folhas.

Motivo: muitas vítimas tem comparecido à

Promotoria para solicitar medidas de proteção, afirmando que não foram

cientificadas de seus direitos, quando estiveram na delegacia.

n) Tomar por termo a representação em qualquer crime, no ato do

comparecimento da vítima à Delegacia, evitando, assim, que a vítima

seja novamente chamada na Delegacia de Polícia ou Promotoria de

Justiça para oferecer representação, prejudicando o seu direito de

proteção, mesmo que seja expediente de medida protetiva.

o) No caso de IDOSO – lembrar de oferecer as medidas protetivas às

vítimas de maus tratos, violência física e psicológica por parte dos

familiares, em cumprimento à Lei Maria da Penha, que abrange toda

mulher, independentemente da idade.

5) No caso de se tratar de Inquérito Policial, além das recomendações acima

descritas:

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a) Propiciar que as vítimas sejam atendidas pelo IML, no mesmo

dia do registro da ocorrência, para o exame de corpo de delito, sem

prejuízo da tirada de fotografias das lesões por ela apresentadas quando

do seu comparecimento ao D.P. e de seu encaminhamento ao Pronto

Socorro e ao Hospital mais próximo, para constatação imediata das

lesões;

b) colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do

fato e de suas circunstâncias;

c) ouvir o agressor e testemunhas;

d) ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua

folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de

prisão ou registro de outras ocorrências policiais;

e) remeter, no prazo legal, os autos de inquérito policial ao juiz e

ao Ministério Público.

6) Quando da lavratura do B.O., se não houver testemunha presencial,

consignar testemunhas indicadas pela vítima que de, alguma forma,

tiveram conhecimento dos fatos, seja por meio da ofendida, seja através de

visualização das lesões apresentadas pela vítima; ou testemunhas que saibam

informar sobre o comportamento agressivo do investigado/indiciado

motivo: muitos inquéritos relatados têm retornado à delegacia

para ouvida de testemunhas que tiveram conhecimento do fato por meio

indireto.

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7) Se a vítima comparecer, para o registro da ocorrência policial,

acompanhada, OUVIR o acompanhante como testemunha, mesmo que não

seja presencial.

8) Dar prioridade no andamento dos inquéritos relativos aos delitos de

violência doméstica e familiar contra a mulher (par. único, art. 33 da Lei

11.340/06),

9) No caso de B.Os lavrados por crimes de DESOBEDIÊNCIA às medidas

protetivas, remeter cópia, no prazo de até 48 hs, ao juiz e ao Ministério

Público, (finalidade: revisão das medidas protetivas; decretação da prisão

preventiva nos autos principais ou revogação de algum benefício, bem como

necessidade de verificar se vítima corre perigo de vida e precisa ser colocada

em abrigo), independentemente da lavratura do auto de prisão em flagrante

delito, termo circunstanciado ou inquérito policial.

10) No caso de a vítima comparecer na Delegacia de Polícia apenas para

registrar a ocorrência e renunciar ao direito de representação, colher por termo

a renúncia. Nestes casos, não há a necessidade de instauração inquérito

policial, porém é imprescindível encaminhar o expediente diretamente ao

Ministério Público, com o carimbo “Vítima não Representou”, para análise

das providências cabíveis, seja para comparecimento da vítima no gabinete do

Promotor de Justiça, seja para requerer designação da audiência prevista no

artigo 16, da Lei 11.340/06, ou para outras providências necessárias que serão

analisadas pelo Promotor de Justiça.

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11) Nos casos de prisão em flagrante do agressor, observar se realmente é

caso de arbitramento de fiança, tendo em vista a gravidade dos fatos, a

concessão ou não de fiança anterior, bem como se o agressor possui

antecedentes criminais, inclusive pela prática de violência contra a mulher.

12) Nos casos de arbitramento de fiança, procurar arbitrá-la em valor alto e

encaminhar com urgência os autos ao Juízo, para ciência do Ministério

Público de que um agressor preso em flagrante está solto, para as medidas

cabíveis.

13) Considerando que o Legislador, visando coibir e prevenir a Violência

Doméstica e Familiar contra Mulher, alterou o Código de Processo Penal,

admitindo a prisão preventiva nos crimes apenados com DETENÇÃO (tais

como AMEAÇA, LESÃO CORPORAL DE NATUREZA LEVE),

independentemente de contar o investigado/indiciado com condenação

anterior por crime doloso, com trânsito em julgado, ou de ser vadio ou de

identificação duvidosa, dispondo no art. 20 da Lei 11.340/06, que em

qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão

preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do

Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial,

inclusive nos casos de descumprimento de medida protetiva anteriormente

concedida, na ocasião da lavratura do Boletim de Ocorrência, representar pela

prisão preventiva do agressor, se entender presentes os requisitos previstos no

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artigo 312 e seguintes do Código de Processo Penal e no artigo 313, inciso IV,

do Código de Processo Penal.

14) Solicitar ao Delegado de Polícia que apresenta à vítima uma lista

contendo as medidas protetivas que estão à disposição dela, para que ela

assinale quais medidas protetivas entende necessárias, conforme artigos 22,

23 e 24, da Lei nº 11340/03, conforme abaixo discriminado:

Aos ____/____/____ compareceu a vítima qualificada no boletim de

ocorrência de nº_________, onde se achava presente o Doutor Delegado de

Polícias, tomando ciência dos seus direitos conferidos pela Lei nº 11340/06,

requerendo, a saber:

( ) suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao

órgão competente;

( ) afastamento do lar, domicílio ou local de conveniência com a ofendida;

( ) proibição de aproximação da ofendida, de seus familiares, das

testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

( ) proibição de contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por

qualquer meio de comunicação;

( ) proibição de freqüência a determinados lugares, a fim de preservar a

integridade física e psicológica da subscritora;

( ) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, condicionada

à ouvida da equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

( ) prestação de alimentos provisórios ou provisionais;

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( ) encaminhamento da subscritora e seus dependentes a programa oficial ou

comunitário de proteção ou de atendimento;

( ) recondução da subscritora e seus dependentes ao respectivo domicílio,

após afastamento do agressor;

( ) determinar o afastamento da subscritora do lar, sem prejuízo dos direitos

relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

( ) determinar a separação de corpos;

( ) determinar a restituição dos bens indevidamente subtraídos pelo agressor à

ofendida;

( ) proibição temporária de direitos para celebração de atos de compra, venda,

locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;

( ) suspensão das procurações conferidas pela subscritora ao agressor;

( ) prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e

danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar

contra a ofendida;

( ) não deseja exercer no momento os direitos acima mencionados.

__________________________ ____________________________

Assinatura da vítima Assinatura da Autoridade Policial

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2. RECOMENDAÇÕES PARA AS PREFEITURAS

Considerando o artigo 8º da Lei nº 11340/03, no sentido de

adotar medidas integradas de prevenção, cujas políticas públicas visam

coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, é imprescindível

haver uma atuação integrada do Ministério Público, Poder Público e

Entidades Não Governamentais.

Nesse contexto, há a necessidade de desenvolver:

a) parcerias e Convênios com as Prefeituras, visando a criação de

Centro de Referência da Mulher e Casa Abrigo, bem como a

inclusão das vítimas e agressores em programas de reabilitação

social, com a colaboração da Assistência Social dos Municípios

b) parcerias e Convênios com as Prefeituras, visando a inserção dos

agressores em programas para tratamento de dependências

químicas e de álcool, com a colaboração da Secretaria de Saúde

dos Municípios;

c) parcerias e Convênios com as Prefeituras e Secretaria da

Educação, visando a promoção e a realização de palestras, cursos,

oficinas, campanhas educativas de prevenção da violência

doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar

e à sociedade em geral, e a difusão da Lei nº 11340/06 e dos

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instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres, visando,

especialmente, a conscientização da sociedade sobra a importância do

tema.;

d) parcerias e Convênios com as Prefeituras, visando a promoção de

programas educacionais que disseminem valores éticos de

irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana, com a

perspectiva de gênero e de raça ou etnia;

e) solicitação junto à Secretaria da Segurança Pública da Criação de

Delegacias de Defesa da Mulher nos Municípios em que ainda

não há Delegacia Especializada, implementando atendimento

policial especializado para as mulheres;

f) solicitação da aplicação das verbas públicas junto à Secretaria da

Justiça e da Defesa da Cidadania, para desenvolver ações que

visam coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, de

acordo com o Projeto Básico Integral do Pacto Estadual de

Enfrentamento à Violência contra as Mulheres – SP

g) parcerias e convênio com a Secretaria do Trabalho e Empresas

Privadas para inclusão do agressor e vítima no mercado de

trabalho

h) outras medidas e providências que entender necessárias;

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Para tanto, sugerimos a instauração de um Inquérito Civil e da

realização de um Termo de Ajustamento de Conduta, já realizados pela

Promotora de Justiça de Votorantim, Dra. Fabiana Dal´mas Rocha Paes,

conforme modelos que consta do item “8.MODELOS”, modelos nº 1 e 2.

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3. CONVÊNIO COM OAB OU DEFENSORIA PÚBLICA PARA

ASSISTÊNCIA JURÍDICA DA VÍTIMA

Conforme o artigo 27, da Lei nº 11340/06, em todos os atos

processuais, cíveis, criminais, a mulher em situação de violência doméstica

deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no artigo 19,

da citada Lei.

No mesmo sentido, o artigo 28, determina que é garantido a

toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso as

serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos

termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico

e humanizado.

Até o presente momento, não há, salvo na Capital, nenhum

Juizado Especializado em Violência Doméstica no Estado de São Paulo, o

que significa que muitos Juízes não deferem os pedidos de medidas

protetivas de âmbito civil quando pleiteadas no âmbito criminal,

juntamente com as medias protetivas de urgência de âmbito criminal de

afastamento do lar, proibição de aproximação e contato com a vítima e

pedido de prisão preventiva (pedidos mais comuns).

Desta forma, há a necessidade de firmar um acordo com a

Defensoria Pública ou com a OAB (Assistência Judiciária) nas Comarcas

em que não há Defensoria Pública, para atendimento judicial das vítimas,

no que concerne ao pleito das medidas cíveis, que necessitam de instrução

probatória mais ampla que a de medidas protetivas de caráter criminal,

como por exemplo: alimentos provisórios ou provisionais, guarda de filhos,

separação, divórcio, partilha de bens, etc.).

Tal providência também é necessária nos casos em que a

vítima manifestou expressamente seu desejo em não representar contra o

autor dos fatos, tampouco pleiteou medidas protetivas de urgência, mas

necessita de medidas judiciais no âmbito cível.

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Por fim, tal medida também é imprescindível nos casos em que

os crimes cometidos contra a vítima somente se processam mediante ação

penal privada, para o devido ajuizamento da queixa-crime (injúria, calúnia

e difamação).

Nesses casos, há a necessidade de extrair uma cópia do

boletim de ocorrência e das medidas protetivas pleiteadas, encaminhadas

para a Defensoria Pública ou OAB, mediante ofício, solicitando

atendimento para as vítimas.

Seguem, no item “8. MODELOS”, modelo da parceria com a

Defensoria Pública ou OAB e modelos para encaminhamento da vítima à

Defensoria Pública ou OAB , para atendimento (modelos nº 3, 4 e 5).

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4. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A. CADASTRO DOS CASOS

O artigo 26, inciso III, da Lei nº 11340/06, prevê a existência

de um cadastro padronizado sobre os casos de violência doméstica e

familiar contra a mulher, para a realização de estatísticas e colocação da

vítima em rede protetiva de atendimento.

Tal providência é necessária para que o Ministério Público

apresente, perante os órgãos públicos, privados e imprensa, seja no Estado

de São Paulo, seja em cada um de seus Municípios, estatística mensal e

anual dos casos violência doméstica e familiar contra a mulher, incluindo

tipo de crime, perfil da vítima e do agressor, providências tomadas e

demais desdobramentos processuais.

Essa estatística muito auxiliará na determinação de metas para

o enfrentamento à violência contra a mulher, bem como para inserção das

vítimas e familiares em rede de apoio;

Portanto, assim que os boletins de ocorrências, procedimentos

cautelares, inquéritos policiais ou autos de processos forem encaminhados

ao Ministério Público, deverão ser cadastrados.

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Sugere-se, pois, que mensalmente, cópia de todos os cadastros

sejam encaminhados para a Secretaria do Núcleo, que fará a compilação

dos cadastros e encaminhará para o CAO Criminal, CAO Cível e

Corregedoria a estatística de crimes de violência doméstica no âmbito da

circunscrição.

Segue, no item “8. MODELOS”, modelo nº 6, sugestão de

cadastro de cada caso de violência doméstica, para ser adotado nas

Promotorias.

B. TRAMITAÇÃO DOS AUTOS NO MINISTÉRIO PÚBLICO

Tanto o boletim de ocorrência sem representação, tanto quanto

o procedimento de medida protetiva e o inquérito policial devem ser

sempre remetidos ao Ministério Público para as providências cabíveis.

O pedido de medida protetiva, que tem o prazo de 48 horas

para chegar ao Ministério Público, deve ser insaturado em autos apartados,

pois se trata de uma medida cautelar de natureza penal (procedimento

cautelar de medidas protetivas).

Após se manifestar sobre as medidas protetivas e na mesma

manifestação, o promotor de justiça requererá o apensamento dos autos de

medida protetiva ao inquérito policial.

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O inquérito policial deverá ser concluído no prazo legal e

remetido ao Ministério Público, juntamente com os autos da medida

protetiva, para as providências cabíveis.

Ao chegar ao Ministério Público, os autos de inquérito policial

já estarão concluídos e o promotor decidirá se é caso de arquivamento, se é

caso de diligências ou de oferecimento de denúncia.

C. BOLETIM DE OCORRÊNCIA SEM REPRESENTAÇÃO

Há vítimas que comparecem nas Delegacias de Polícia e

apenas dão a notícia do crime ao Delegado de Polícia, no entanto,

expressam, naquele momento, o desejo de não representar contra o autor

dos fatos.

O que fazer nesses casos, pois muitos Delegados se negam a

instaurar inquérito policial por falta de condição de procedibilidade?

A sugestão é de que, mensalmente, todos os boletins de

ocorrência que foram lavrados, mas que não deram origem à instauração de

inquérito policial, sejam remetidos os Ministério Público, com um carimbo

“NÃO REPRESENTOU”, para análise do Promotor de Justiça.

Já com o boletim de ocorrência, o Promotor de Justiça

verificará :

1)se é caso de arquivamento, aguardando-se o prazo decadencial;

2)se é caso de determinar a instauração de inquérito policial ou requerer

alguma medida protetiva para a vítima (vítima está visivelmente com

medo de representar contra o autos dos fatos ou sofrendo algum tipo de

coação ou ameaça); ou

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3) se é o caso de intimá-la a comparecer na Promotoria de Justiça para

verificar se ela necessita de alguma orientação ou encaminhamento para a

rede protetiva.

É interessante, também, que no prazo de seis meses ( em que a

vítima poderá se retratar da renúncia à representação) , realize-se uma

espécie de “audiência pública”, intimando-se todas as vítimas que não

ofereceram representação, para serem orientadas pelo Promotor de Justiça

e, se assim desejarem, naquele ato, representarem contra o autor dos fatos

ou requererem o que de direito.

D. PROCEDIMENTO CAUTELAR DE MEDIDAS

PROTETIVAS

Ao receber os autos do pedido de media protetiva

encaminhados pela Delegacia de Polícia, após autuação do Poder

Judiciário, O Ministério Público se manifestará sobre os pedidos, dando

parecer favorável ou não, ou requerendo o que entender conveniente e

oportuno, ainda que a vítima não tenha se manifestado a respeito.

Os pedidos de medida protetivas estão dispostos no artigo 22,

23 e 24 da Lei nº 11340/06, entre elas:

1.SUSPENSÃO DA POSSE OU RESTRIÇÃO DO PORTE DE ARMAS

2. AFASTAMENTO DO LAR, DOMICÍLIO OU LOCAL DE CONVIVÊNCIA COM A OFENDIDA

3. PROIBIÇÃO DE APROXIMAÇÃO DA OFENDIDA, DE SEUS FAMILIARES E DAS TESTEMUNHAS

4.PROIBIÇÃO DE CONTATO COM A OFENDIDA, SEUS FAMILIARES E TESTEMUNHAS POR

QUALQUER MEIO DE COMUNICAÇÃO

5. PROIBIÇÃO DE FREQÜENTAÇÃO DE DETERMINADOS LUGARES A FIM DE PRESERVAR A

INTEGRIDADE FÍSICA E PSICOLÓGICA DA OFENDIDA

6.RESTRIÇÃO OU SUSPENSÃO DE VISITAS AOS DEPENDENTES MENORES

7. PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISIONAIS OU PROVISÓRIOS

8.ENCAMINHAMENTO A PROGRAMA OFICIAL OU COMUNITÁRIO DE PROTEÇÃO OU DE

ATENDIMENTO

9.RECONDUÇÃO DA OFENDIDA E DE SEUS DEPENDENTES AO RESPECTIVO DOMICÍLIO, APÓS

AFASTAMENTO DO AGRESSOR

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10.AFASTAMENTO DO LAR, SEM PREJUÍZO DOS DIREITOS RELATIVOS A BENS, GUARDA DOS

FILHOS E ALIMENTOS

11.SEPARAÇÃO DE CORPOS

12.RESTITUIÇÃO DE BENS INDEVIDAMENTE SUBTRAÍDOS PELO AGRESSOR

13. PROIBIÇÃO TEMPORÁRIA PARA A CELEBRAÇÃO DE ATOS E CONTRATOS DE COMPRA,

VENDA E LOCAÇÃO DE PROPRIEDADE EM COMUM, SALVO EXPRESSA AUTORIZAÇÃO

JUDICIAL

14.SUSPENSÃO DAS PROCURAÇÕES CONFERIDAS PELA OFENDIDA AO AGRESSOR

15.PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO PROVISÓRIA

16.OUTRA(S)

Seguem, no item “ 8. Modelos”, os modelos de nº 7, que

trazem vários pareceres favoráveis às medidas protetivas.

E. PEDIDO DE INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO

CAUTLEAR

Há casos em que a vítima comparece diretamente na

Promotoria de Justiça para registrar ocorrência, seja porque não tem

conhecimento de que necessita dirigir-se á delegacia, seja porque foi seja

encaminhada pelo Conselho Tutelar, Centro de Referência da Mulher,

Pronto Socorro, Hospital, OAB, ou por algum outro órgão público ou não

governamental, ou até mesmo, porque o Delegado, por algum motivo, não

aceitou registrar a ocorrência.

Nesses casos, o Promotor, percebendo a verossimilhança das

alegações e a urgência do caso, poderá requerer a instauração de

procedimento cautelar, diretamente ao Juiz de Direito, instruindo com os

documentos que estiver ao seu alcance.

Page 25: Íntegra do Projeto

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24

Se não houver comprovações das lesões, sugere-se a tirada de

fotografias da vítima na própria Promotoria de Justiça, com a sua anuência

expressa, ou encaminhá-la imediatamente para o Pronto Socorro, Hospital

ou Posto de Saúde mais próximo, requerendo a imediata remessa de um

laudo ou prontuário médico, comprovando as lesões, para instrução do

procedimento).

Já instruído o procedimento, solicitar, se o caso, as medidas

protetivas pertinentes, prisão preventiva ou quaisquer outras medidas de

urgência para proteção da mulher.

Em seguida e no próprio pedido, poderá requisitar a imediata

instauração de inquérito policial para apuração dos fatos.

Seguem, no item “8. MODELOS”, modelos de instauração de

pedido de providências, modelos nº 8 .

F. PEDIDO DE PRISÃO PREVENTIVA

Diante da constatação de que as mulheres vem, ao longo dos

séculos, sendo reiteradamente vitimizadas no âmbito da unidade doméstica

e familiar ou em relação íntima de afeto, foi editada a Lei n. 11.340/06, que

instituiu mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar

contra a mulher, o Legislador, visando coibir e prevenir a Violência

Doméstica e Familiar contra Mulher, alterou o Código de Processo Penal,

admitindo a prisão preventiva nos crimes de violência doméstica,

independentemente de contar o investigado/indiciado com condenação

Page 26: Íntegra do Projeto

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anterior por crime doloso, com trânsito em julgado, ou de ser vadio ou de

identificação duvidosa, dispondo no art. 20 da Lei 11.340/06, que:

“Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução

criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de

ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da

autoridade policial.”

No mesmo sentido, o artigo 313, incido IV, do Código de

Processo Penal estabelece que, uma vez presentes os requisitos do artigo

311 e 312 do Código de Processo Penal, será admitida a decretação da

prisão preventiva nos crimes dolosos:

“se o crime envolver violência doméstica e familiar

contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das

medidas protetivas de urgência”.

Desta forma, se o agressor descumprir as medidas protetivas,

além de insurgir no crime de desobediência, poderá ser preso

preventivamente, por conta dos artigos acima mencionados.

Além disso, nos casos de maior gravidade, como tentativas de

homicídios, abusos sexuais, agressões gravíssimas e reiteradas agressões e

ameaças contra a mulher, se presentes os requisitos do artigo 312, do

Código de Processo Penal, o Promotor de Justiça, independente da natureza

do crime, pode requerer a prisão preventiva do agressor, com fulcro no

artigo 20, da Lei nº 11.340/06.

Seguem, no item “8. MODELOS”, alguns modelos de pedido

de prisão preventiva. (modelos nº 9).

Page 27: Íntegra do Projeto

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G. INQUÉRITO POLICIAL E PROVIDÊNCIAS CABÍVEIS

O inquérito policial deverá ser concluído no prazo legal e

remetido ao Ministério Público, juntamente com os autos da medida

protetiva, para as providências cabíveis.

Ao chegar ao Ministério Público, os autos de inquérito policial

já estarão concluídos e o promotor decidirá se é caso de arquivamento, se é

caso de diligências ou de oferecimento de denúncia.

Se for caso de denúncia, não requerer a audiência do artigo

16, da Lei nº 11340/06, pois este artigo determina que somente deve haver

essa audiência se a vítima renunciar expressamente ao direito de

representação após a instauração de inquérito policial, para ratificá-la em

juízo.

O objetivo deste artigo é o de verificar se a vítima está

desistindo do direito de ver o autor dos fatos processando de livre e

espontânea vontade ou por estar sofrendo qualquer tipo de violência, seja

física, psicológica, moral ou sexual.

Não obstante, muitos juízes estão designando esta audiência,

de ofício ou a requerimento do Ministério Público, antes de receber a

denúncia, para que a vítima OFEREÇA REPRESENTAÇÃO OU

RATIFIQUE a representação ofertada, medida esta que é totalmente

desnecessária e contrária aos direitos da vítima.

Isto porque o objetivo da Lei é evitar é que a vítima passe pelo

constrangimento de ser chamada em Juízo para dizer se, de fato, deseja

representar contra o autor dos fatos.

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27

Aliás, sobre este tema, já se manifestou o STJ:

A - "HABEAS CORPUS . LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE

LESÃO CORPORAL LEVE. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE

REPRESENTAÇÃO. TESE DE FALTA DE CONDIÇÃO DE

PROCEDIBILIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. INEQUÍVOCA

MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DA VÍTIMA.

OFERECIMENTO DE NOTITIA CRIMINIS PERANTE A

AUTORIDADE POLICIAL. VALIDADE COMO EXERCÍCIO DO

DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. INEXIGIBILIDADE DE

RIGORES FORMAIS. PRECEDENTES. PLEITO DE

CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DO SURSIS PROCESSUAL.

IMPOSSIBILIDADE. NÃO-INCIDÊNCIA DA LEI 9.099/95.

Há o argumento utilizado por alguns juízes de que necessitam

chamar a vítima em juízo antes do recebimento da denúncia, pois, se

receberam a denúncia, esta vítima não poderá mais desistir.

De fato, o artigo 16 prevê que:

“ Nas ações penais públicas condicionadas à

representação da ofendida de que trata esta Lei, só será

admitida a renúncia à representação perante o juiz, em

audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do

recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”

Porém, para evitar a designação desta audiência, que,

obviamente leva muitas vítimas a desistirem de seus processos, devido ao

tempo decorrido desde a data dos fatos e ao constrangimento a que são

submetidas, a sugestão é a de aguardar o prazo decandencial de seis meses

da data dos fatos, mantendo os autos na Promotoria de Justiça (para

controle do próprio promotor) antes de oferecer a denúncia, para aguardar

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eventual comparecimento espontâneo da vítima na Delegacia de Polícia ou

na própria promotoria, retratando-se da representação.

Decorrido, o prazo, oferecer denúncia e requerer o imediato

recebimento.

Caso ainda haja a designação da audiência do artigo 16, há a

necessidade de impetração de recurso, cujo modelo segue no item

“8. MODELOS”, modelo nº 10.

Da mesma forma, não há necessidade de o Promotor de Justiça

intimar a vítima para comparecer na Promotoria de Justiçam, apara ratificar

a representação anteriormente ofertada, pois sua manifestação de vontade

em processar criminalmente o autor dos fatos é inequívoca e expressa,

desde o seu comparecimento na Delegacia de Polícia.

Nesse sentido, o STJ também já se manifestou:

...De outro lado, quanto à tese de nulidade do procedimento ante a

ausência de designação da audiência prevista no artigo 16 da Lei nº

11.340/06,

também não assiste razão à impetrante.

Veja-se o teor do referido artigo:

"Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à

representação da ofendida de que trata esta Lei, só será

admitida a renúncia à representação perante o juiz, em

audiência especialmente designada com tal finalidade, antes

do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público."

Com efeito, extrai-se desse dispositivo que a obrigatoriedade da

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audiência em Juízo se dá tão somente se houver prévia manifestação

expressa ou

tácita da vítima que evidencie a intenção de se retratar antes do

recebimento da

denúncia, o que não se verificou no caso dos autos.

Em outras palavras, não é necessário que o Juiz de primeiro grau

designe audiência antes de receber a denúncia em todos os casos de ação

penal

pública condicionada para que a vítima ratifique ou renuncie à

representação.

A razão desta audiência é justamente para que o magistrado possa

analisar acerca da real intenção da vítima em se retratar da

representação, ou seja,

para garantir a livre e espontânea manifestação da ofendida.

Ante o exposto, em consonância com o parecer do douto Ministério

Público Federal, denego o habeas corpus.

Por outro lado, ocorrendo a renúncia da vítima, a qual deve ser

ratificada em juízo antes do recebimento da denúncia, é caso de extinção da

punibilidade e do autor dos fatos, com fulcro no artigo 107, V, do Código

Penal.

Caso contrário, ocorrendo o recebimento da denúncia, o feito terá seu

trâmite normal, até sentença final.

Seguem, no item “8. MODELOS”, algumas denúncias (modelos nº

11).

H. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

O artigo 41 da Lei Maria da Penha prevê que:

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“Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar

contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº

9099 de 26 de setembro de 1995.”

Não obstante, muitos juízes e promotores de justiça estão

aplicando a suspensão condicional do processo, por ser uma medida mais

benéfica ao agressor e por haver um acompanhamento da situação de

violência pelo Poder Judiciário e Ministério Público pelo prazo de dois

anos, seja através de cursos de readaptação do agressor, que pode ser uma

das condições judiciais da suspensão, seja por outra condição de cunho

assistencial que possa ser cumprida em determinadas comarcas.

Ocorre que nem todos os sistemas judiciários possuem aparato

e equipe multidisciplinar para acompanhamento assistencial do período de

prova.

Outrossim, a suspensão condicional do processo resumir-se-á

à mera formalidade de o agressor comparecer ao fórum mensalmente e

assinar o termo de comparecimento, o que não se pode admitir nos casos

de violência doméstica, pois gera insegurança jurídica e sensação de

impunidade na vítima e sociedade.

Portanto, sugere-se que o Ministério Público, que é o titular da

ação penal, não ofereça proposta de suspensão condicional do processo, por

expressa vedação legal.

Nesse sentido, já se manifestou o STF, recentemente:

HABEAS CORPUS 106.212 MATO GROSSO DO SUL

RELATOR :MIN. MARCO AURÉLIO

PACTE.(S) :CEDENIR BALBE BERTOLINI

IMPTE.(S) :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

PROC.(A/S)(ES) :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

R E L A T Ó R I O O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Adoto a título de relatório as informações prestadas pela Assessoria: Em 27 de agosto de 2007, o paciente foi denunciado como incurso nas penas do artigo 21, cabeça, do Decreto-Lei nº

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3.688/41 – contravenção penal de vias de fato. Em 12 de janeiro de 2009, acabou condenado à pena de quinze dias de prisão simples, substituída por restritiva de direitos consistente na prestação de serviços à comunidade, em observância ao artigo 41 da Lei nº 11.340/06 (proibição de aplicação da Lei nº 9.099/95 – lei da violência doméstica contra a mulher). Contra a sentença foi interposta apelação perante o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul. A defesa sustentou, preliminarmente, a não observância do artigo 89 da Lei nº 9.099/95, discorrendo sobre a Lei nº 11.340/06 e apontando o descabimento da vedação prevista no artigo 41 desse diploma. Requereu o retorno do processo à origem para viabilizar ao órgão do Ministério Público o oferecimento do benefício da suspensão condicional. No mérito, alegou não estar o conjunto probatório apto a respaldar o decreto condenatório, asseverou haver ocorrido legítima defesa e pleiteou a aplicação do princípio favorável ao réu, com a consequente absolvição. O Tribunal de Justiça não conheceu da questão preliminar e negou provimento ao recurso. Consignou terem ficado devidamente provadas, no processo, tanto a materialidade do

HC 106.212 / MS delito como a autoria. No habeas corpus formalizado no Superior Tribunal de Justiça, sob o nº 144.769/MS, a defesa reafirmou as teses aduzidas na apelação, buscou o deferimento de liminar para suspender os efeitos da sentença penal condenatória e do acórdão alusivo ao recurso e, no mérito, pediu a anulação do referidos atos jurisdicionais bem como a volta do processo à origem para o Ministério Público pronunciar-se sobre a suspensão condicional. O Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, relator, não acolheu o pleito de concessão de medida acauteladora, por entender ausentes o sinal do bom direito e o perigo de demora. A Quinta Turma do Tribunal indeferiu a ordem. Assentou a aplicação do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 e, evocando precedente do Supremo – Habeas Corpus nº 86.007/RJ, relator Ministro Sepúlveda Pertence –, explicitou a inadequação, no caso, do benefício da suspensão condicional do processo, ante a superveniência da decisão penal condenatória. Mediante esta impetração, a Defensoria Pública da União pretende infirmar o mencionado acórdão. Reitera as questões arguidas nas instâncias judiciais já percorridas e requer a declaração de inconstitucionalidade do artigo 41 da Lei nº 11.340/06, determinando-se o retorno do processo ao Juízo e a abertura de vista ao Ministério Público visando definir a

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suspensão referida. Instada a manifestar-se, a Procuradoria Geral da República discorre sobre o artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar a aplicação da Lei dos Juizados Especiais Criminais por não consistir a violência doméstica contra a mulher em delito de menor potencial ofensivo, argumenta sobre a necessidade de proteção da família, diz da conformidade da chamada “Lei Maria da Penha” com a Carta Federal e defende a constitucionalidade da norma citada. Opina pelo indeferimento da ordem.

2 HC 106.212 / MS Observo que a sentença e o acórdão da apelação concernem tão somente ao artigo 21 do Decreto-Lei nº 3.688/41, não havendo remissão ao artigo 129, § 9º, do Código Penal a que se refere o acórdão do habeas corpus impetrado perante o Superior Tribunal de Justiça, cuja cópia foi encaminhada eletronicamente.

Lancei visto no processo em 9 de março de 2011, liberando-o para ser julgado no Plenário a partir de 17 seguinte, isso objetivando a ciência da impetrante. É o relatório. 3 HABEAS CORPUS 106.212 MATO GROSSO DO SUL

V O T O O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – A família mereceu proteção especial da Constituição de 1988 – Capítulo VII do Título VIII – Da Ordem Social. A união estável entre o homem e a mulher é considerada como entidade familiar – artigo 226, § 3º, da Carta. Ante esse contexto e a realidade notada, veio à balha a Lei nº 11.340/2006, cujo objetivo principal é coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do artigo 226 do Diploma Maior: Art. 226.[...] [...] § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

O artigo 7º da citada lei revela o que se entende como violência doméstica e familiar contra a mulher: não é só a violência física, mas também a psicológica, a social, a patrimonial e a moral. Deu-se concretude ao texto constitucional, com a finalidade de mitigar,

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porquanto se mostra impossível dissipar por completo, o que acontece Brasil afora. O paciente foi condenado presente o artigo 21 do Decreto-Lei nº 3.688/41 – prática de vias de fato. A Defensoria Pública da União insiste no afastamento do disposto no artigo 41 da Lei nº 11.340/06, afirmando o conflito com o texto constitucional. O móvel seria o tratamento diferenciado. Ocorre que este veio a ser sinalizado pela própria Carta Federal no que buscada a correção de rumos. Mais do que isso, conforme o artigo 98, inciso I, do Diploma Maior, a definição de infração penal de menor potencial ofensivo, submetendo-a ao julgamento dos juizados HC 106.212 / MS especiais, depende de opção político-normativa dos representantes do povo – os Deputados Federais – e dos representantes dos Estados – os Senadores da República. No caso, ante até mesmo o trato especial da matéria, afastou-se, mediante o artigo 41 da denominada “Lei Maria da Penha”, a aplicabilidade da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aos delitos – gênero – praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. Eis o teor do preceito: “Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995”. Dirão que o dispositivo contém referência a crime e não a contravenção penal, não alcançando as vias de fato. Fujam à interpretação verbal, à interpretação gramatical, que, realmente, seduzindo, porquanto viabiliza a conclusão sobre o preceito legal em aligeirado olhar, não consubstancia método seguro de hermenêutica. Presente a busca do objetivo da norma, tem-se que o preceito afasta de forma categórica a Lei nº 9.099/95 no que, em processo-crime – e inexiste processo-contravenção –, haja quadro a revelar a violência doméstica e familiar. Evidentemente, esta fica configurada no que, valendo-se o homem da supremacia de força possuída em relação à mulher, chega às vias de fato, atingindo-a na intangibilidade física, que o contexto normativo pátrio visa proteger. Tenho como de alcance linear e constitucional o disposto no artigo 41 da Lei nº 11.340/2006, que, alfim, se coaduna com a máxima de Ruy Barbosa de que a “regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam... Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria

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desigualdade flagrante, e não igualdade real”. O enfoque atende à ordem jurídico-constitucional, à procura do avanço cultural, ao necessário combate às vergonhosas estatísticas do desprezo às famílias considerada a célula básica que é a mulher. Bem andaram o Juízo, o Tribunal de Justiça e o Superior Tribunal de Justiça, estes dois últimos ao manterem o quadro decisório formalizado, que resultou na aplicação da pena de quinze dias de prisão simples substituída por restritiva de direitos consistente na prestação de serviços 2 HC 106.212 / MS à comunidade, aliás mera advertência a inibir a reiteração de prática das mais condenáveis. Indefiro a ordem, declarando a constitucionalidade do artigo 41 da Lei nº 11.340/06, cuja importância para a preservação dos interesses maiores da sociedade e equipara-se, se é que não suplanta, à dos avanços ocorridos com o Código Nacional de Trânsito, o Código de Defesa do Consumidor e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

I. DEBATES OU ALEGAÇÕES FINAIS

É importante frisar que, nos debates ou nas alegações finais, o

promotor deve requerer, juntamente com a condenação, a manutenção das

medidas protetivas, pelo menos até o trânsito em julgado da decisão e até o

final cumprimento da pena.

Isso permite que, proferida uma sentença, ainda que

absolutória, a vítima continue a ser protegida pela lei, pois a extinção do

processo com ou sem julgamento de mérito não retira da vítima o direito de

ser protegida.

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Tal medida também é importante tendo em vista as baixas

penas previstas para os crimes de lesão corporal leve e ameaça, os mais

comuns em matéria de violência doméstica.

Seguem, no item “8. Modelos”, modelos de alegações finais,

requerendo a subsistência das medidas protetivas. (modelo nº 12).

É óbvio que se a vítima, em audiência, disser que reatou com o

companheiro, desnecessário o pedido de medidas protetivas (infelizmente

isso costuma acontecer).

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36

5. ENCAMINHAMENTO DAS VÍTIMAS AOS SERVIÇOS SOCIAIS

–REDE PROTETIVA

Dispõe o artigo 9º da Lei nº 11.340/06 que a assistência à

mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de

forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei

orgânica da Assistência Social, no Sistema único de Saúde, no Sistema

único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de

proteção e, emergencialmente, quando for o caso.

No mesmo sentido, o artigo 35, da citada Lei reza que:

“A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,

poderão criar e promover, no limite das respectivas competências:

I- Centros de atendimento integral e multidisciplinar para

mulheres e respectivos dependentes em situação de violência

doméstica e familiar;

II- Casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes

menores em situação de violência doméstica e familiar contra a

mulher;

III- Delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde

e centros de perícia médico-legal, especializados no atendimento

á mulher em situação de violência doméstica e familiar ;

IV- Programas e campanhas de enfrentamento à violência

doméstica e familiar;

Page 38: Íntegra do Projeto

37

V- Centro de educação e de reabilitação para os agressores

Considerando a situação da mulher que se encontra

vitimizada pela violência doméstica, é fundamental, ao ter contato com os

fatos, verificar se é a hipótese de oferecer proteção à essa vítima,

encaminhando-a aos serviços sociais, através de uma rede protetiva.

Esta rede refere-se à atuação articulada entre as

instituições/serviços governamentais/não governamentais e a comunidade,

visando a ampliação e melhoria da qualidade do atendimento. A

constituição da rede de atendimento busca dar conta da complexidade da

violência contra as mulheres e do caráter multidimensional do problema,

que perpassa diversas áreas, tais como: a saúde, educação, a segurança

pública, a assistência social, cultura, entre outros, coordenado pelos

organismos de políticas para as mulheres.

Resumo dos principais serviços sociais a serem oferecidos

às vítimas e seus dependentes (rede protetiva):

1) Atendimento Psicológico: verificar eventual necessidade da vítima

em ser encaminhada para atendimento de um psicólogo, quando se

mostrar confusa ou extremamente fragilizada;

2) Atendimento Médico: a vítima, após ser agredida, pode necessitar de

tratamento médico, devendo ser avaliada por um clínico geral,

Page 39: Íntegra do Projeto

38

ginecologista, ortopedista e, inclusive, dentistas, dentre outras

especialidades;

3) Assistência Social; verificar se a vítima necessita ser colocada em

um abrigo, se necessita de bolsa-família, cesta básica, tratamento de

drogadição ou alcoolismo, etc.

4) Mercado de trabalho: muitas vezes, a vítima não tem emprego, sendo

dependente financeiramente de seu agressor, razão pela qual se faz

necessária a inclusão desta mulher no mercado de trabalho, por meio

de cursos profissionalizantes e até mesmo vaga em empresas

integrantes da rede da Promotoria;

5) Abrigo: em alguns casos, a vítima corre perigo, sendo ameaçada pelo

seu agressor e familiares, ocasião em que, deverá ser encaminhada,

juntamente com seus dependentes, a um abrigo próprio de proteção

ás vítimas de violência familiar;

6) Necessidade dos filhos: a vítima, normalmente, é a mãe e dona de

casa, tendo como agressor, o pai. Dessa forma, os filhos deste casal

sofrem muito ao ver constantes e graves discussões, agressões e

ameaças, necessitando, também, de amparo. É necessário verificar

se os filhos estão matriculados em estabelecimento estudantil, se

também necessitam de auxílio psicológico, social, se necessitam de

Page 40: Íntegra do Projeto

39

algum tratamento médico, ou até mesmo encaminhamento para

abrigos etc.

Toda a Circunscrição deve ter sua rede protetiva, que nada

mais é que um conjunto de informações acerca de instituições,

estabelecimentos, órgãos governamentais e não governamentais, que,

previamente contatados, aceitam e prestam serviços de apoio às vítimas de

violência doméstica.

Segue, abaixo, a rede protetiva da circunscrição de

Itapecerica da Serra, para apoio às Promotorias de Justiça e às Vítimas

de Violência Doméstica e Familiar.

REDE PROTETIVA DA CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA

SERRA

CASA ABRIGO - SÃO PAULO – Capital

INSTITUIÇÃO CASA DAS MULHERES MADRE CRISTINA

(MARIA, MARIA)

Endereço Rua Comendador Nestor Pereira, 77 Canindé (seguir a

marginal, após estádio da Portuguesa 1º. direita, 1º.

direita e 1º. esquerda)

Telefone 3313-6067 / 3316-1475 / 3313-4920 Edgar

(Coordenador)

Page 41: Íntegra do Projeto

40

INSTITUIÇÃO COMVIDA

Endereço 3º DDM Av. Corifeu de Azevedo Marques, 4300 2º andar

Jaguaré Prédio 93 DP das 09h00 às 19h00

[email protected]

Telefone

3768-4664 Sandra DDM / 9436-7670 Marlene (diretora

do abrigo) / 8362-9614 Antonia / 7175-5709

Nancy 8733-2233

INSTITUIÇÃO ESPAÇO DA COMUNIDADE (Fundação

Comunidade da Graça)

Endereço Rua Salvador do Vale, 09 Vila Formosa

Telefone 7807-0373 Luciana ou Paula 7807-2778

INSTITUIÇÃO CASA MARIA DA PENHA

Endereço Ponto de Referência: Av. Guarapiranga, alt. 1265 ao lado

da Sub. Prefeitura M.Boi Mirim (Posto de Gasolina

Petrobras)

Telefone 8252-0155 Fátima 7717-3515 8322-0717 Sueli

INSTITUIÇÃO CASA ABRIGO FALA MULHER /

www.falamulher.org.br

Endereço Rua dos Estudantes, 281 Liberdade / Fone: 3271-7099

Zilda (Liberdade)

Page 42: Íntegra do Projeto

41

Endereço Rua Ferreira de Almeida, 23 Casa Verde / Fone: 3858-

8279 Vanessa

INSTITUIÇÃO AMPARO MATERNAL (Mulher grávida em situação

de risco social - não pode levar os filhos)

Endereço Rua Loefgreen, 1901 Vila Clementino

Telefone 5089-8281/ 5089-8277 Fabiana ou Renata

INSTITUIÇÃO CASA HELENIRA REZENDE DE SOUZA

NAZARETH

Endereço Encaminhamento via Casa Eliane de Grammont

Telefone 5549-0335 dias úteis – das 09h00 ás 17h00 Marta

INSTITUIÇÃO SEMPRE VIVA

Telefone 3819 – 3876 Maria Fernanda

INSTITUIÇÃO ELIANE DE GRAMONT

Telefone 5549 – 9339 / 5549 – 9335 Cristina

INSTITUIÇÃO LIGA SOLIDÁRIA

Telefone 37819615

37819864

30170630

30170623

Page 43: Íntegra do Projeto

42

INSTITUIÇÃO PROJETO CASA DA MAMÃE

Endereço Encaminhamento via fundação Francisca Franco

Telefone 3120-2342 ramal 24/ 3259-8347 Sieila (Gerente Social),

dias úteis, 08h00 às 17h00

e-mail: [email protected]

INSTITUIÇÃO CASA MARTA E MARIA

Endereço Rua Catumbi, 427 Belenzinho (trav. Av. Celso Garcia)

Telefone (11) 2692-4416 Zanaide (Assistente Social) ou Edwirges

[email protected]

[email protected]

INSTITUIÇÃO MARIA MARIA

Telefone (11) 3313 – 6067

INSTITUIÇÃO CENTRO ACOLHIDA LEDA ESTEVES

Telefone (11) 3251 – 0402

INSTITUIÇÃO VIVENDA

(11) 3326 – 6880

INSTUITIÇÃO VIVÊNCIA

Telefone (11) 3327 – 1722

Page 44: Íntegra do Projeto

43

ALBERGUE – São Paulo – Capital

INSTITUIÇÃO NOVA ESPERANÇA

Telefone (11) 2272 – 2950

INSTITUIÇÃO LAR DE NAZARÉ

Telefone (11) 2292 – 6552

INSTITUIÇÃO CENTRO DE ACOLHIMENTO II REENCONTRO

Endereço Rua Promotor Gabriel Netuzzi Peres, 81 Santo Amaro

Telefone 5523-8546 Odete (pernoite)

Esperança (p/ homens) Fone: 5548-2672

INSTITUIÇÃO LAR TRAVESSIA

Endereço Rua Cláudio Soares, 144 Pinheiros

Telefone 3815-2407 Adalgiza (Assistente Social)

INSTITUIÇÃO CASA SÃO CAMILO

Endereço Rua Ivai, 187 Tatuapé (Trav. Celso Garcia altura nº.

3.500)

Telefone 2294-8025

Albergue Masculino 2941-4393

INSTITUIÇÃO LAR DE NAZARÉ (ALBERGUE DE

Page 45: Íntegra do Projeto

44

ACOLHIMENTO A FAMÍLIA)

Endereço Av. Brig. Machado, 279 Brás

Telefone 2292-6552/56 / 6292-6552

INSTITUIÇÃO ALBERGUE BORACEIA

Endereço Av. Norma Pieruccini Gianotti, 77 Barra Funda

(moradores s/ criança)

Telefone 3392-1055

CASA ABRIGO – Grande São Paulo / Interior

INSTITUIÇÃO ASSOCIAÇÃO LUA NOVA

Endereço Rua Cel. José de Barros, 47

Telefone (15) 3232-7567 escritório / (15) 3281-5182 casa abrigo /

Raposo Tavares sentido Araçoiaba no pedágio pegar a

direita km 112 sentido araçoiabinha seguir 2km até

empresa Tecnigel entrar 1º esq. seguir até o telefone

público

INSTITUIÇÃO VEM MARIA SANTO ANDRÉ

Endereço

Telefone 4992-2936 Nair / 8101-1484 Suzane / 9150-7295

INSTITUIÇÃO CASA ABRIGO SEAMUV (Seção de Atendimento e

Acolhida à Mulher Vitima de Violência)

Endereço

Page 46: Íntegra do Projeto

45

Telefone (13) 3219-6769 Santos

INSTITUIÇÃO CAMPINAS SARAEME

Endereço

Telefone (19) 3735-0161

INSTITUIÇÃO CASA ABRIGO SÃO CARLOS

Endereço

Telefone (16) 3371-2296 ramal 112 Solange

CASA ABRIGO – Grande São Paulo / Interior

INSTITUIÇÃO CASA ABRIGO SÃO BERNARDO DO CAMPO

Endereço

Telefone 4332-9091 Cristina (Assistente Social)

INSTITUIÇÃO INSPETORA FÁTIMA

Telefone (11) 8118- 0843 / (11) 5894-4625

Instituições Governamentais e Não Governamentais

INSTITUIÇÃO SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS PARA

MULHERES

Site www.spm.gov.br

Page 47: Íntegra do Projeto

46

email [email protected]

Telefone (61) 2104 – 9381

INSTITUIÇÃO INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO

Telefone 3266 – 5434 Marisa

INSTITUIÇÃO COORDENADORIA DA MULHER –

PREFEITURA DE SÃO PAULO

email [email protected]

Telefone 3113 – 9770

INSTITUIÇÃO INSTITUTO AVON

Telefone 5546 – 7938

INSTITUIÇÃO UNIFEM

Telefone (61) 3038 – 9290

INSTITUIÇÃO CONSELHO ESTADUAL DA CONDIÇÃO

FEMININA

Telefone 3221 -6374 / 2973 – 9596

Page 48: Íntegra do Projeto

47

______________

INSTITUIÇÃO

Endereço

Telefone

Email:

____________________________________________

NÚCLEO ESPECIALIZADO DE PROMOÇÃO E

DEFESA DOS DIREITOS DA MULHER DA

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO

PAULO

Rua Boa Vista, nº 103- Centro-SP

(11) 31010155 ou (11) 31018457

[email protected]

Telefones Úteis da Circunscrição de Itapecerica da Serra

Município Sede EMBU GUAÇU

INSTITUIÇÃO Delegacia de Polícia

Endereço Rua Independência, 50 Centro, Cep: 06900 – 000

Telefone (11) 4661 – 2199

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Rua Coronel Tenório de Brito, 458, Centro Cep: 06900 –

000

Telefone (11) 4662 – 7350

INSTITUIÇÃO Centro de Referência da Mulher

Page 49: Íntegra do Projeto

48

Endereço Rua Inácio Pires de Morais, 218, Centro Cep: 06900 –

000

Telefone (11) 4661 – 2424 / Rita coordenadora do CRASS e CRM

INSTITUIÇÃO OAB – 86 ª Subseção de Itapecerica da Serra

Endereço Praça Ivan Braga de Oliveira, s/nº, Centro, Térreo do

Centro Cultural

Telefone (11) 4661 – 1296 Email:

[email protected] Presidente: Neuza

Penha Gava Otero

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça

Endereço Praça Ivan Braga de Oliveira, s/nº - Térreo do Centro

Cultural

Telefone (11) 4661 – 3722

Município ITAPECERICA DA SERRA

INSTITUIÇÃO Delegacia de Polícia (Abrange os municípios de

Juquitiba e São Lourenço da Serra)

Endereço Av. Dona Anila, 45, Centro Cep: 06850 – 000

Telefone (11) 4666 – 2556 / 4666 – 2545

INSTITUIÇÃO 1º DP de Itapecerica da Serra – Jardim Jacira

Endereço Rua Monteiro Lobato, 438, Jardim Jacira Cep: 06864 –

170

Page 50: Íntegra do Projeto

49

Telefone (11) 4669 – 3080 / 4669 – 3456

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Av. Eduardo Roberto Daher, 1135, Centro Cep: 06850 –

040

Telefone (11) 4668 – 9000

INSTITUIÇÃO Centro Referência de Assistência Social – Parque

Paraíso

Endereço Av. dos Itapecericanos, 392, Parque Paraíso

Telefone (11) 4165 – 1991 (Coordenadora Edineiva) / 4666 –

1026 (Coordenadoria)

INSTITUIÇÃO OAB – 86 ª Subseção (Abrange os municípios de

Juquitiba e São Lourenço da Serra)

Endereço Rua Major Matheus Rotger Domingues, 59 Cep: 06850 –

850

Telefone (11) 4666 – 3904

Email: [email protected] Presidente:

Neuza Penha Gava Otero

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça (Abrange os municípios de

Juquitiba e São Lourenço da Serra)

Endereço Rua Major Matheus Rotger Domingues, 155 Cep: 06850

– 000

Page 51: Íntegra do Projeto

50

Telefone (11) 4667 – 4455 / 4666 – 4599

Município ITAPEVI

INSTITUIÇÃO Delegacia de Polícia

Endereço Av. Ferez Nascif Chaluppe, 69, Centro

Telefone (11) 4141 – 3315 / 4141 – 5236

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Av. Pres. Vargas, 405, Vila Nova

Telefone (11) 4143 – 7500

INSTITUIÇÃO Secretaria de Assistência Social e Cidadania

Endereço Rua Escolástica Chaluppe, 154, Centro Cep: 06653 –

050

Telefone (11) 4143 – 9700 Email:

[email protected]

INSTITUIÇÃO OAB – 198ª Subseção

Endereço Rua Isola Belli Leonardi, 40 Cep: 06694 – 110

Telefone (11) 4141 – 4842 / 4142 - 7608 Email:

[email protected] Presidente: Cristiane Valéria de

Queiroz

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça

Page 52: Íntegra do Projeto

51

Endereço Estrada do Itaqui, 81 Cep: 06690 – 110

Telefone (11) 4141 – 4000 / 4141 – 2888 (Fax)

Município EMBU

INSTITUIÇÃO Delegacia de Defesa da Mulher

Endereço Rua Belo Horizonte, 289, Centro Cep: 06803 – 440 –

Ponto de Referência: Praça Histórica

Telefone (11) 4781 – 1431 – Horário de Atendimento: das 9h às

18h dias úteis

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Rua Andronico dos Prazeres Gonçalves, 114, Centro

Cep: 06850 – 040

Telefone (11) 4785 – 1555 (Câmara Municipal)

INSTITUIÇÃO Centro de Referência da Mulher

Endereço Rua Dona Bernardina, 37, Jardim Arabutã, Centro –

Ponto de Referência: Delegacia de Defesa da Mulher e

Tefefônica

Telefone (11) 4704 – 0238 – Assistente Social: Cristina

INSTITUIÇÃO Centro Referência Especializado de Assistência Social

Endereço Avenida João Paulo II, 1799, Jardim Casa Branca

Telefone (11) 4781 – 5896 (Simone) / 4785 – 3642 (Secretaria de

Assistência Social)

Page 53: Íntegra do Projeto

52

INSTITUIÇÃO OAB – 215ª Subseção

Endereço Rua Almeida Junior, 27 Cep: 06803 – 300

Telefone (11) 4704 – 6079 / 4704 – 2428 Email:

[email protected] Presidente: Carlos Alberto

Cardoso de Camargo

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça

Endereço Rua João Batista Medina, 333, Vila Salim Cep: 06840 –

000

Telefone (11) 4704 – 1662 / 4241 – 7381 / 4704 – 5185 (Fax)

Município COTIA

INSTITUIÇÃO Delegacia de Defesa da Mulher

Endereço Rua Turmalina, 99, Jardim Nomura Cep: 06717 – 085 –

Ponto de Referência: ao lado da Prefeitura Municipal

esquina do Banco Itaú

Telefone (11) 4616 – 9098 – Horário de Atendimento: das 9h às

18h dias utéis

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Avenida Profº Manoel José Pedroso, 1347, Jardim

Nomura Cep: 06717 – 100

Page 54: Íntegra do Projeto

53

Telefone (11) 4616 – 0466

INSTITUIÇÃO Secretaria Municipal da Mulher

Endereço Avenida Profº Manoel José Pedroso, 1231, Jardim

Nomura Cep: 06717 – 100

Telefone (11) 4148 – 8607 – Secretária: Angela

INSTITUIÇÃO OAB – 108ª Subseção

Endereço Avenida Santo Amaro, 77, Bairro: Portão Cep: 06716 –

710

Telefone (11) 4148 – 3393 / 4148 – 3433 Email:

[email protected] Presidente: José Fontana Junior

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça

Endereço Avenida Profº Manoel José Pedroso, 1806 Cep: 06700 –

000

Telefone (11) 4703 – 3982 / 4703 – 7589 (Fax)

Município TABOÃO DA SERRA

INSTITUIÇÃO Delegacia de Defesa da Mulher

Endereço Estrada das Olarias, 670, Jardim Guaciara Cep: 06783 –

000

Telefone (11) 4138 – 3409 – Horário de Atendimento: das 9h às

18h dias utéis

Page 55: Íntegra do Projeto

54

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Praça Miguel Ortega, 439, Parque Assunção

Telefone (11) 4788 – 5300

INSTITUIÇÃO Coordenadoria dos Direitos da Mulher

Endereço Praça Miguel Ortega, 506, Parque Assunção

Telefone (11) 4788- 5378 / 4788 – 5659 Email:

[email protected]

Coordenadora: Dra. Maria Amélia Santos Alencar

Email: [email protected]

INSTITUIÇÃO Centro de Referência da Mulher

Endereço Rua Joaquim Faustino de Camargo, 140

Telefone (11) 4137 – 2368

INSTITUIÇÃO OAB – 211ª Subseção

Endereço Rua Lázaro Coelho dos Santos, 138 Cep: 06767 – 270

Telefone (11) 4787 – 3694 / 4701 – 3682 Email:

taboã[email protected] Presidente: Acácio Luiz

Cleto

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça

Endereço Rua Mario Latorre, 96 Cep: 06767 – 230

Page 56: Íntegra do Projeto

55

Telefone (11) 4135 – 3132 / 4787 – 3814 (Fax)

Município VARGEM GRANDE PAULISTA

INSTITUIÇÃO Delegacia de Polícia

Endereço Rua Profº Valdecir Campestre, 282, Centro

Telefone (11) 4158 – 3212 / 4158 – 1149

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Praça da Matriz, 75, Centro

Telefone (11) 4158 – 8800

INSTITUIÇÃO Secretaria de Assistência Social

Endereço Rua Benedito A. de Oliveira, 13, Centro – Ponto de

Referência: próximo ao campo de futebol

Telefone (11) 4158 – 1452 – Diretora: Alice / Secretária: Fátima-

INSTITUIÇÃO OAB – Subseção de Cotia

Endereço Avenida Bela Vista, 140, Jardim Bela Vista – Ponto de

Referência: em frente ao fórum

Telefone (11) 4158 – 5427 / 4148 – 3393 Email:

[email protected] Presidente: José Fontana Junior

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça

Endereço Avenida Bela Vista, 123, Centro Cep: 06730 – 000

Page 57: Íntegra do Projeto

56

Telefone (11) 4159 – 1692

Município JUQUITIBA (tal município não possui Delegacia de

Polícia, Fórum, Promotoria de Justiça e OAB, este é

assistido por Itapecerica da Serra)

INSTITUIÇÃO Delegacia de Polícia (Itapecerica da Serra)

Endereço Av. Dona Anila, 45, Centro Cep: 06850 – 000

Telefone (11) 4666 – 2556 / 4666 – 2545

INSTITUIÇÃO 1º DP de Itapecerica da Serra – Jardim Jacira

Endereço Rua Monteiro Lobato, 438, Jardim Jacira Cep: 06864 –

170

Telefone (11) 4669 – 3080 / 4669 – 3456

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Rua Jorge Victor Vieira, 63, Centro

Telefone (11) 4681 – 4311

INSTITUIÇÃO Secretaria de Promoção Social

Endereço Avenida Juscelino K. de Oliveira, 633, Centro Cep:

06950 - 000

Telefone (11) 4681 – 4227

INSTITUIÇÃO OAB – Subseção de Itapecerica da Serra –

Page 58: Íntegra do Projeto

57

Atendimento em Juquitiba

Endereço Avenida Juscelino K. de Oliveira, 633, Centro Cep:

06950 - 000

Telefone (11) 4681 – 4227 – Atendimento: todas as segundas-

feiras das 9h às 10h30

Email: [email protected] Presidente:

Neuza Penha Gava Otero

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça - Itapecerica da Serra

Endereço Rua Major Matheus Rotger Domingues, 155 Cep: 06850

– 000

Telefone (11) 4667 – 4455 / 4666 – 4599

Município SÃO LOURENÇO DA SERRA (tal município não

possui Delegacia de Polícia, Fórum, Promotoria de

Justiça e OAB, este é assistido por Itapecerica da

Serra)

INSTITUIÇÃO Delegacia de Polícia (Itapecerica da Serra)

Endereço Av. Dona Anila, 45, Centro Cep: 06850 – 000

Telefone (11) 4666 – 2556 / 4666 – 2545

INSTITUIÇÃO 1º DP de Itapecerica da Serra – Jardim Jacira

Endereço Rua Monteiro Lobato, 438, Jardim Jacira Cep: 06864 –

170

Page 59: Íntegra do Projeto

58

Telefone (11) 4669 – 3080 / 4669 – 3456

INSTITUIÇÃO Prefeitura Municipal

Endereço Rua Honório Augusto de Camargo, 05, Centro

Telefone (11) 4687 – 1069

INSTITUIÇÃO Centro de Referência de Assistência Social

Endereço Rua Roberto Fadleo Daher, 450, Centro Cep: 06950 -

000

Telefone (11) 4686 – 4054 / 4687 – 1051 (Gislene)

INSTITUIÇÃO OAB – Subseção de Itapecerica da Serra –

Atendimento em São Lourenço da Serra

Endereço Rua Honório Augusto de Camargo, 05, Centro

Telefone (11) 4686 –2156 – Atendimento: todas as quartas-feiras

das 9h às 10h30

Email: [email protected] Presidente:

Neuza Penha Gava Otero

INSTITUIÇÃO Promotoria de Justiça - Itapecerica da Serra

Endereço Rua Major Matheus Rotger Domingues, 155 Cep: 06850

– 000

Telefone (11) 4667 – 4455 / 4666 – 4599

Page 60: Íntegra do Projeto

59

DENÚNCIAS – Telefones e Emails

180 – Disque Denúncia – Central de Atendimento à Mulher

190 – Polícia Militar

(11) 3119 – 9000 – Ministério Público de São Paulo

(11) 4661 – 3722 – Promotoria de Embu Guaçu Sede do Núcleo de Combate

à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher Circunscrição de

Itapecerica da Serra – Rede Protetiva de Direitos Sociais nº 3

Email: [email protected]

(11) 4788 - 5378 - Sede do Centro de Referência da Mulher do Núcleo de

Violência Doméstica e Familiar contra Mulher da Circunscrição de

Itapecerica da Serra

Email de denúncia anônima do Ministério Público de São Paulo:

[email protected]

Page 61: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

60

6.MATERIAL DE DIVULGAÇÃO

O Ministério Público do Estado de São Paulo está

providenciando material de divulgação do combate à violência doméstica e

familiar contra a mulher e da Lei Maria da Penha, tanto para ser utilizado

pelos Promotores de Justiça, quanto pela comunidade de uma forma geral.

Tal material engloba cartilhas, folders, banners, cartazes, canetas, etc, para

distribuição nas Prefeituras, Escolas, Universidades, Fóruns, OAB,

Câmaras Municipais, Delegacias, Pronto Socorros, Postos de Saúdes,

Hospitais, CREAS, CRASS, CAPS, etc, com o objetivo de orientar e

conscientizar a sociedade na necessidade de combater a violência contra a

mulher.

Caso seja necessário, a Secretaria de Política para Mulheres

coloca à disposição material de divulgação da Lei Maria da Penha. Basta

fazer o requerimento através do site: [email protected]

Page 62: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

61

7. ATOS DO PGJ, MATÉRIAS IMPORTANTES,

ACOMPANHAMENTO LEGISLATIVO, PRINCIPAIS DECISÕES,

E LEGISLAÇÃO ATUAL

A. Atos do Procurador Geral de Justiça do Estado de São Paulo

1.Avisos de 30/11/2009

Nº 716/2009 – PGJ

O Procurador-Geral de Justiça, no uso de suas atribuições e,

por solicitação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça

Criminais, considerando que a Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) deve ser

interpretada de forma a dela se extrair a máxima proteção à mulher em

situação de violência doméstica e familiar (artigo 226, § 8º, da

Constituição da República e artigo 4º, da Lei 11.340/06),

Considerando, neste contexto, que a narrativa do fato, em tese,

criminoso pela mulher à Autoridade Policial obriga, desde logo, a

instauração de inquérito policial, bem como sua posterior remessa ao Poder

Judiciário e ao Ministério Público, nos termos do artigo 12, inciso VII, da

Lei 11.340/06;

Considerando, por fim, que o artigo 12, inciso VII, da Lei

11.340/06 é especial e posterior ao artigo 5º, §4º, do Código de Processo

Penal,

Recomenda aos membros do Ministério Público com

atribuições criminais que sempre zelem pela instauração de inquéritos

policiais em relação aos expedientes que apuram crimes abrangidos pela

Lei 11340/06 (Lei Maria da Penha); Recomenda, outrossim, que tão logo

haja o deferimento de medidas protetivas de urgência, sejam elas

Page 63: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

62

cientificadas à autoridade Policial, mediante requerimento do membro do

Ministério Público ao Juízo de Direito que as concedeu.

2.DIÁRIO OFICIAL DO DIA 11 DE FEEVREIRO DE 2011.

A - Subprocuradoria-Geral de Justiça Institucional:

ATO Nº 005/2011 – PGJ, DE 10 DE FEVEREIRO DE 2011

(Pt. nº 20.206/2010)

Cria o NÚCLEO 3 da Rede de Atuação Protetiva de Direitos

Sociais, nos termos do Ato Normativo nº 671/2010 – PGJ-CPJ, de 21 de

dezembro de 2010.

O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA, no uso de suas

atribuições legais, RESOLVE editar o seguinte Ato:

Artigo 1º - Fica criado o NÚCLEO 3 da Rede de Atuação

Protetiva de Direitos Sociais, compreendendo as seguintes Promotorias de

Justiça:

a) Promotoria de Justiça de Cotia: 1º e 3º Promotores de

Justiça;

b) Promotoria de Justiça de Embu: 1º Promotor de Justiça;

c) Promotoria de Justiça de Embu-Guaçu;

d) Promotoria de Justiça de Itapecerica da Serra: 2º Promotor

de Justiça;

e) Promotoria de Justiça de Itapevi: 1º Promotor de Justiça.

f) Promotoria de Justiça de Taboão da Serra: 1º e 2º

Promotores de Justiça.

Artigo 2º - O NÚCLEO 3 atuará tendo como meta o

desenvolvimento de políticas públicas na proteção dos direitos da mulher.

Artigo 3º - Este Ato entrará em vigor na data de sua

publicação.

Page 64: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

63

3.MP e governo intensificam combate à violência doméstica

O Ministério Público brasileiro, a Secretaria Nacional de

Políticas para as Mulheres e o Ministério da Justiça vão intensificar a

proteção às mulheres que são vítimas de violência doméstica e familiar e

buscar efetivar a punição dos agressores com base na Constituição e na Lei

Maria da Penha.

Para atingir esses objetivos, um protocolo de cooperação foi

assinado em março, em Brasília, entre o Conselho Nacional dos

Procuradores-Gerais dos Estados e da União (CNPG), Ministério Público

Federal (MPF), Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP),

Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Ministério da Justiça, por meio

da Secretaria de Reforma do Judiciário.

A cooperação técnica entre o Ministério Público e os órgãos

do governo federal vai reforçar a atuação integrada entre as várias

instituições e permitirá o desenvolvimento de ações conjuntas para o

máximo aproveitamento das informações disponíveis nos bancos de dados

que auxiliem o combate à violência doméstica.

Núcleos de combate a esse tipo de crime e Promotorias

Especializadas no Enfrentamento da Violência Doméstica e Familiar contra

a Mulher nos Ministério Públicos Estaduais serão ampliados e fortalecidos,

de acordo com o protocolo firmado. Além disso, os Ministérios Públicos

dos Estados e do Distrito Federal, o Ministério Público Federal, a

Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Secretaria de Reforma do

Judiciário irão realizar encontros periódicos para planejar o enfrentamento

do problema.

“A atuação integrada, com intercâmbio de informações e

esforços conjuntos, vai possibilitara otimização do combate aos crimes de

violência contra a mulher, um problema grave no Brasil e que merece toda

a atenção do Ministério Público”, destaca o procurador-geral de Justiça do

Estado de São Paulo e presidente do CNPG, Fernando Grella Vieira.

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Nesse esforço conjunto, o CNPG vai adotar medidas para que

os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal comuniquem à

Secretaria de Políticas para as Mulheres o fluxo de encaminhamento das

denúncias e reclamações registradas na Central de Atendimento à Mulher e

na Ouvidoria da SPM para os MPs. Também vai definir com a SPM um

protocolo de procedimentos para encaminhamento das notícias de violência

contra a mulher diretamente para a Promotoria de Justiça que terá

atribuição de examinar o caso concreto. Registros de casos e processos nos

MPs estaduais e do Distrito Federal serão unificados para alimentar

estatísticas e divulgação dos dados referentes à aplicação da Lei Maria da

Penha.

Já o Ministério Público Federal vai zelar pela celeridade na

tramitação das ações penais, recursos e incidentes processuais no Superior

Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar

a impunidade dos agressores de mulheres. Signatário do acordo, o CNMP

vai desenvolver, entre outras medidas, políticas de atuação no âmbito do

Ministério Público para a promoção dos direitos das mulheres e para

prevenir e combater a violência praticada contra elas.

Pelo acordo, a Secretaria de Reforma do Judiciário do

Ministério da Justiça vai apoiar o fortalecimento e a criação de Promotorias

de Justiça e de Núcleos Especializados em violência Doméstica e Familiar.

Caberá à Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres estabelecer

diretrizes claras e objetivas para os serviços da rede de atendimento à

mulher sob risco de violência doméstica e familiar.

Assinaram o convênio o procurador-geral da República,

Roberto Gurgel; o presidente do CNPG e procurador-geral de Justiça de

São Paulo, Fernando Grella Vieira, e a ministra da Secretaria de Políticas

para as Mulheres, Iriny Lopes.

Também estiveram presentes à cerimônia o secretário interino

de Reforma do Judiciário do ministério da Justiça, Marcelo Vieira de

Campos; a conselheira do Conselho Nacional do Ministério Público Sandra

Lia Simon, e as promotoras de Justiça do MP de São Paulo Silvia Chakian

de Toledo Santos e Valéria Diez Scarance Fernandes Goulart, ambas do

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Juizado Especial da Família, e Maria Gabriela Prado Manssur, de Embu-

Guaçu, todas com atuação no combate à violência doméstica contra a

mulher.

B. Matérias importantes

1.PARLAMENTARES PEDEM A INSTAURAÇÃO DE UMA

CPMI PARA INVESTIGAR A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA

MULHER

Objetivo é eliminar a resistência de alguns juízes

brasileiros. Muitos são declaradamente contrários e outros, ainda que

ironicamente, escrevem em seus despachos trechos que atacam a

legitimidade da lei

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) ultima

preparativos para compor a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

(CPMI) destinada a apurar a violência contra a mulher no Brasil.

A CPMI, um dos maiores anseios da bancada feminina no

Congresso, será formada por 11 deputados e 11 senadores, e também

investigará, num prazo de 180 dias, denúncias de omissão de autoridades

policiais e integrantes do Judiciário na aplicação da Lei Maria da Penha.

O objetivo é eliminar a resistência de alguns juízes

brasileiros. Muitos são declaradamente contrários e outros atacam a

legitimidade da lei.

"Será o início de uma jornada jamais vista pelo cumprimento

da Lei Maria da Penha", anunciou a deputada.

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Ela propôs, em audiência da bancada feminina com a ministra da

Secretaria Especial de Políticas para a Mulher, Iriny Lopes, que o Senado

e a Câmara se unam, antes de compor a CPMI, e promovam uma

comissão geral para ouvir os argumentos dos presidentes dos tribunais de

justiça nos estados.

O objetivo é eliminar a resistência de alguns juízes

brasileiros. Muitos são declaradamente contrários e outros, ainda que

ironicamente, escrevem em seus despachos trechos que atacam a

legitimidade da lei.

"Qual juiz não sabe que, na esfera criminal, a lei proíbe punir

o agressor com pagamento em cestas básicas? E na esfera cível, não

sabem os magistrados que a lei determina a adoção das medidas protetivas

de urgência? Ora, a lei é clara ao obrigar o agressor a manter distância da

mulher", explicou a deputada.

"Na prática, isso não acontece e muitas vidas são ceifadas

por omissão", concluiu.

A CPMI é apenas um dos recursos de que a bancada

feminina dispõe contra o despacho de alguns magistrados - a maioria de

primeiro grau - que insistem em tratar a agressão a mulheres como crime

de baixo potencial ofensivo.

"É como se tratassem a mulher como pessoa de segunda

categoria", criticou a ministra Iriny Lopes.

Sob o ponto de vista administrativo, acrescenta a ministra, "é

preciso acabar, em alguns tribunais, com essa novela da falta de pessoal

qualificado e orçamento insuficiente para cumprir a lei".

Perpétua lembra que em seu estado de origem existe a

harmonia entre executivo e judiciário, o que possibilitou, a criação, no

Acre, da primeira vara de combate a crimes domésticos totalmente

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automatizada no país.

Mas, no geral, ela reconhece que há estados que não

avançam por que "adotam o jogo de empurra com os tribunais, o que não

leva a nada".

A deputada lembra que há nos tribunais superiores cerca

de 340 recursos em análise questionando decisões baseadas na Lei Maria

da Penha.

Um dos julgamentos mais polêmicos foi provocado pelo

Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Lá, os ministros entenderam que "é necessária a presença

da mulher na delegacia durante a denúncia por maus tratos e agressão".

Nesse caso, o Ministério Público Federal (MPF) recorreu

da decisão, apoiado pelas deputadas. "Iremos ao STJ e ao STF (Supremo

Tribunal Federal). Temos a nosso favor uma lei aprovada, sancionada e

cuja legitimidade é inatacável", concluiu.

"Não me conformo com o que disse um delegado da 7ª

Delegacia de Polícia, em São Paulo, para quem se for destacar policiais

para todos os registros de ameaça (às mulheres), não sobrariam policiais.

Essa afirmação demonstra o total descaso da autoridade policial com a

vida das mulheres, numa expressão totalmente anticonstitucional", disse a

deputada Janete Pietá (PT-SP), coordenadora da bancada feminina e

proponente da CPMI.

Perpétua Almeida diz que tem testemunhadas muitas

experiências do cumprimento da lei.

Um dos relatos mais impressionantes envolve uma mulher

pobre, que residiu por muitos anos na zona rural do Vale do Juruá, no

Acre.

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De tanto ser violentada pelo companheiro, foi submetida a

ajuda psicológica e psiquiátrica, uma proteção necessária do estado.

Certo dia, no início do ano passado, durante uma visita

de Perpétua Almeida a uma casa de amparo a mulheres violentadas de

Cruzeiro do Sul, esta senhora reconheceu a voz da deputada de uma

entrevista concedida muito tempo atrás na Rádio Difusora Acreana.

Em cadeia estadual, a deputada lembrava o número que

toda vítima de maus tratos deveria ter em casa para pedir proteção.

A mulher gravou este telefone e combinou com o filho

menor: "na próxima vez que ele me bater, você corre e avisa prá polícia".

E assim aconteceu. O filho adolescente caminhou por

horas até chegar a telefone público mais próximo, chamou a polícia e o

marido agressor foi preso.

2.ÍNDICE DE ASSSASSINATOS DE MULHERES NO

BRASIL É QUATRO VEZES MAIOR QUE A MÉDIA

INTERNACIONAL

Uma mulher é assassinada a cada

duas horas no Brasil, que está em

12º lugar no ranking mundial de

homicídios de mulheres. As

denúncias de violência contra

mulheres cresceram 65% no

primeiro trimestre de 2010, em

relação a 2009.

Foram divulgados números a respeito do assassinato de

mulheres no Brasil baseado em estudo feito pelo Instituto Sangari.

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A pesquisa foi feita com análise de dados do Sistema Único de

Saúde (Datasus) nos anos de 1997 a 2007. Nestes dez anos, 41.532

mulheres morreram vítimas de homicídio o que é um índice de 4,2

assassinatos por 100 mil habitantes.

Segundo dados do instituto este estudo é um apêndice de

um trabalho maior que está sendo realizado que é o Mapa da Violência

no Brasil 2010.

As taxas de assassinatos femininos no Brasil são mais

altas do que da maioria dos países europeus em que os índices não

ultrapassam 0,5 por 100 mil habitantes.

Os que lideram a lista são África do Sul, com 25

assassinatos por 100 mil habitantes e Colômbia, com 7,8 por 100 mil.

O estudo mostra que algumas cidades brasileiras registram

índices mais altos. Em 50 municípios, os índices de homicídio são

maiores que 10 por 100 mil habitantes. O Espírito Santo ocupa o

primeiro lugar, com índices de 10,3 assassinatos de mulheres por 100

mil habitantes.

Na pesquisa, São Paulo é o quinto Estado menos violento

do Brasil, com índice de 2,8 por 100 mil habitantes.

Esta é uma maneira de manter metade da classe trabalhadora

brasileira ser ainda mais oprimida e subjugada.

Desta maneira, a burguesia consegue amordaçar este setor

importante, que são as mulheres, cerca de metade da população, para a

mobilização da classe trabalhadora

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3.DEZ MULHERS SÃO MORTAS POR DIA NO BRASIL

Média registrada em dez anos fica

acima do padrão internacional;

motivação geralmente é passional

Em dez anos, dez mulheres foram

assassinadas por dia no Brasil. Entre

1997 e 2007, 41.532 mulheres

morreram vítimas de homicídio –

índice de 4,2 assassinadas por 100 mil

habitantes. Elas morrem em número e proporção bem mais baixos do que

os homens (92% das vítimas), mas o nível de assassinato feminino no

Brasil fica acima do padrão internacional.

A morte da advogada Mércia Nakashima comoveu o Brasil.

Os resultados são um apêndice, ainda inédito, do estudo Mapa da

Violência no Brasil 2010, do Instituto Zangari, com base no banco de

dados do Sistema Único de Saúde (Datasus).

Os números mostram que as taxas de assassinatos

femininos no Brasil são mais altas do que as da maioria dos países

europeus, cujos índices não ultrapassam 0,5 caso por 100 mil habitantes,

mas ficam abaixo de nações que lideram a lista, como África do Sul (25

por 100 mil habitantes) e Colômbia (7,8 por 100 mil).

Algumas cidades brasileiras, como Alto Alegre, em

Roraima, e Silva Jardim, no Estado do Rio, registram índices de

homicídio de mulheres perto dos mais altos do mundo. Em 50 municípios,

os índices de homicídio são maiores que 10 por 100 mil habitantes. Em

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compensação, mais da metade das cidades brasileiras não registrou uma

única mulher assassinada em cinco anos.

Outro contraste ocorre quando são comparados os Estados

brasileiros. Espírito Santo, o primeiro lugar no ranking, tem índices de

10,3 assassinatos de mulheres por 100 mil habitantes. No Maranhão é de

1,9 por 100 mil. “Os resultados mostram que a concentração de

homicídios no Brasil é heterogênea. Fica difícil encontrar um padrão que

permita explicar as causas”, afirma o pesquisador Julio Jacobo Wiaselfisz,

autor do estudo.

São Paulo é o quinto Estado menos

violento do Brasil, com índice de 2,8

por 100 mil habitantes. Mas a taxa é

alta se comparada à de Estados

americanos, como Califórnia (1,2) e

Texas (1,5). “Quanto mais machista a

cultura local, maior tende a ser a

violência contra a mulher”, diz a

psicóloga Paula Licursi Prates,

doutoranda na Faculdade de Saúde

Pública da Universidade de São Paulo,

onde estuda homens autores de

violência.

Para aumentar a visibilidade do problema e intimidar a ação

dos agressores, a aprovação da Lei Maria da Penha, em 2006, foi

comemorada pelas entidades feministas por incentivar as mulheres a

denunciar crimes de violência doméstica, garantindo medidas de proteção

para a mulher e punições mais duras e rápidas contra agressores.

Mas a nova lei não impediu o assassinato da cabeleireira

Maria Islaine de Morais, morta em janeiro diante das câmeras pelo ex-

marido, alvo de oito denúncias. Nem uma série de outros casos que todos

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os dias ganham as manchetes dos jornais.

Ainda são raros os estudos de casos que analisam as

motivações de assassinos que matam mulheres. De maneira geral, homens

se matam por temas urbanos como tráfico de drogas e desordem territorial

e os crimes ocorrem principalmente nas grandes cidades. Mulheres são

mortas por questões domésticas em municípios de diferentes portes.

“No caso das mulheres, os assassinos são atuais ou antigos

maridos, namorados ou companheiros, inconformados em perder o

domínio sobre uma relação que acreditam ter o direito de controlar”,

explica Wânia Pasinato Izumino, pesquisadora do Núcleo de Estudo da

Violência da USP.

Em um estudo das motivações de 23 assassinatos contra

mulheres ocorridos nos cinco primeiros meses deste ano e investigados

pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Paulo

(DHPP), em 25% dos casos o motivo foi qualificado como torpe.

São casos como negativas de fazer sexo ou de manter a

relação. Em 50% das ocorrências, o motivo foi qualificado como fútil,

como casos de discussões domésticas. Houve 10% de mortes por motivos

passionais, ligados a ciúmes, por exemplo, e 10% relacionado ao uso ou à

venda de drogas.

“Por serem ocorrências domésticas, às vezes a prevenção a

casos como esses são mais difíceis”, afirma a delegada Elisabete Sato,

chefe da divisão de Homicídios do DHPP.

4.STF declara constitucionalidade do artigo 41 da Lei Maria da

Penha

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Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal

Federal (STF) declarou, nesta quinta-feira (24), a constitucionalidade do

artigo 41 da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que afastou a

aplicação do artigo 89 da Lei nº 9.099/95 quanto aos crimes praticados

com violência doméstica e familiar contra a mulher, tornando impossível

a aplicação dos institutos despenalizadores nela previstos, como a

suspensão condicional do processo.

A decisão foi tomada no julgamento do Habeas Corpus

(HC) 106212, em que Cedenir Balbe Bertolini, condenado pela Justiça de

Mato Grosso do Sul à pena restritiva de liberdade de 15 dias, convertida

em pena alternativa de prestação de serviços à comunidade, contestava

essa condenação. Cedenir foi punido com base no artigo 21 da Lei 3.688

(Lei das Contravenções Penais), acusado de ter desferido tapas e

empurrões em sua companheira. Antes do STF, a defesa havia apelado,

sucessivamente, sem sucesso, ao Tribunal de Justiça do Estado de Mato

Grosso do Sul (TJ-MS) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

No HC, que questionava a última dessas decisões (do

STJ), a Defensoria Pública da União (DPU), que atuou em favor de

Cedenir no julgamento desta tarde, alegou que o artigo 41 da Lei Maria da

Penha seria inconstitucional, pois ofenderia o artigo 89 da Lei 9.099/95.

Esse dispositivo permite ao Ministério Público pedir a

suspensão do processo, por dois a quatro anos, nos crimes em que a pena

mínima cominada for igual ou inferior a um ano, desde que o acusado não

esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime.

A DPU alegou, também, incompetência do juízo que

condenou Cedenir, pois, em se tratando de infração de menor poder

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ofensivo, a competência para seu julgamento caberia a um juizado

criminal especial, conforme previsto no artigo 98 da Constituição Federal

(CF), e não a juizado especial da mulher.

Decisão

Todos os ministros presentes à sessão de hoje do Plenário – à

qual esteve presente, também, a titular da Secretaria Especial de Políticas

para Mulheres, Iriny Lopes – acompanharam o voto do relator, ministro

Marco Aurélio, pela denegação do HC.

Segundo o ministro Marco Aurélio, a constitucionalidade do

artigo 41 dá concretude, entre outros, ao artigo 226, parágrafo 8º, da

Constituição Federal (CF), que dispõe que “o Estado assegurará a

assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando

mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”.

O ministro disse que o dispositivo se coaduna com o que

propunha Ruy Barbosa, segundo o qual a regra de igualdade é tratar

desigualmente os desiguais. Isto porque a mulher, ao sofrer violência no

lar, encontra-se em situação desigual perante o homem.

Ele descartou, também, o argumento de que o juízo

competente para julgar Cedenir seria um juizado criminal especial, em

virtude da baixa ofensividade do delito. Os ministros apontaram que a

violência contra a mulher é grave, pois não se limita apenas ao aspecto

físico, mas também ao seu estado psíquico e emocional, que ficam

gravemente abalados quando ela é vítima de violência, com

consequências muitas vezes indeléveis.

Votos

Ao acompanhar o voto do relator, o ministro Luiz Fux disse

que os juizados especiais da mulher têm maior agilidade nos julgamentos

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e permitem aprofundar as investigações dos agressores

domésticos, valendo-se, inclusive, da oitiva de testemunhas.

Por seu turno, o ministro Dias Toffoli lembrou da

desigualdade histórica que a mulher vem sofrendo em relação ao homem.

Tanto que, até 1830, o direito penal brasileiro chegava a permitir ao

marido matar a mulher, quando a encontrasse em flagrante adultério.

Entretanto, conforme lembrou, o direito brasileiro vem

evoluindo e encontrou seu ápice na Constituição de 1988, que assegurou

em seu texto a igualdade entre homem e mulher.

Entretanto, segundo ele, é preciso que haja ações

afirmativas para que a lei formal se transforme em lei material. Por isso,

ele defendeu a inserção diária, nos meios de comunicação, de mensagens

afirmativas contra a violência da mulher e de fortalecimento da família.

No mesmo sentido votou também a ministra Cármen

Lúcia, lembrando que a violência que a mulher sofre em casa afeta sua

psique (autoestima) e sua dignidade. “Direito não combate preconceito,

mas sua manifestação”, disse ela. “Mesmo contra nós há preconceito”,

observou ela, referindo-se, além dela, à ministra Ellen Gracie e à vice-

procuradora-geral da República, Deborah Duprat. E esse preconceito,

segundo ela, se manifesta, por exemplo, quando um carro dirigido por um

homem emparelha com o carro oficial em que elas se encontrem, quando

um espantado olhar descobre que a passageira do carro oficial é mulher.

“A vergonha e o medo são a maior afronta aos

princípios da dignidade humana, porque nós temos que nos reconstruir

cotidianamente em face disto”, concluiu ela.

Também com o relator votaram os ministros Ricardo

Lewandowski, Joaquim Barbosa, Ayres Britto, Gilmar Mendes, Ellen

Gracie e o presidente da Corte, ministro Cezar Peluso. Todos eles

endossaram o princípio do tratamento desigual às mulheres, em face de

sua histórica desigualdade perante os homens dentro do lar.

O ministro Ricardo Lewandowski disse que o legislador,

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ao votar o artigo 41 da Lei Maria da Penha, disse claramente que o crime

de violência doméstica contra a mulher é de maior poder ofensivo. Por

seu turno, o ministro Joaquim Barbosa concordou com o argumento de

que a Lei Maria da Penha buscou proteger e fomentar o desenvolvimento

do núcleo familiar sem violência, sem submissão da mulher, contribuindo

para restituir sua liberdade, assim acabando com o poder patriarcal do

homem em casa.

O ministro Ayres Britto definiu como

“constitucionalismo fraterno” a filosofia de remoção de preconceitos

contida na Constituição Federal de 1988, citando os artigos 3º e 5º da

CF. E o ministro Gilmar Mendes, ao também votar com o relator,

considerou “legítimo este experimento institucional”, representado pela

Lei Maria da Penha. Segundo ele, a violência doméstica contra a mulher

“decorre de deplorável situação de domínio”, provocada, geralmente, pela

dependência econômica da mulher.

A ministra Ellen Gracie lembrou que a Lei Maria da

Penha foi editada quando ela presidia o Conselho Nacional de Justiça

(CNJ) e ensejou um impulso ao estabelecimento de juizados especiais da

mulher.

Em seu voto, o ministro Cezar Peluso disse que o artigo

98 da Constituição, ao definir a competência dos juizados especiais, não

definiu o que sejam infrações penais com menor poder ofensivo. Portanto,

segundo ele, lei infraconstitucional está autorizada a definir o que seja tal

infração.

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C. Acompanhamento Legislativo

1.SENADO APROVA FIM DA REPRESENTAÇÃO E DA

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CASOS DE

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Pessoas acusadas de terem cometido

crime de violência doméstica contra a

mulher poderão perder o direito a

suspensão do processo. A Comissão de

Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ)

aprovou, em caratér terminativo , projeto

(PLS 49/11) com esse teor, que agora vai

à Câmara dos Deputados.

A suspensão condicional de processo -

ou sursis processual - pode ser proposta

em crime com pena mínima de até um

ano, quando o acusado não tenha

praticado outro crime e atenda requisitos previstos no artigo 7º do Código

Penal. Com a proposta (PLS 49/2011), a senadora Gleisi Hoffmann (PT-

PR) quer incluir as agressões domésticas no rol de impedimentos à

aplicação da suspensão.

Conforme a autora, a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) já

previa que o autor de agressão familiar não poderia ter seu processo

suspenso. No entanto, no final de 2010, decisão do Superior Tribunal de

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Justiça concedeu essa possibilidade a um acusado de violência doméstica,

com base na Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/1995).

Para fazer valer a norma já prevista na Lei Maria da Penha

e evitar novas interpretações em favor do agressor, Gleisi Hoffmann

propôs explicitar a proibição também na Lei dos Juizados Especiais.

A relatora, senadora Marta Suplicy (PT-SP), não só apoiou

a iniciativa da colega como incluiu emenda acrescentando a essa mesma

lei dispositivo assegurando que a abertura de processo contra acusado de

violência doméstica pode ocorrer sem a representação da vítima, podendo

ser motivada pelo poder público.

As senadoras consideram que as medidas contidas no

projeto aprovado na CCJ mantêm a intenção original da Lei Maria da

Penha, de assegurar "tratamento diferenciado e mais rigoroso para crimes

cometidos no âmbito das relações domésticas" e evitam a redução do

alcance dessa lei por meio de interpretações do Judiciário.

A preocupação da senadora [Gleisi Hoffmann] é evitar que

as punições previstas na Lei Maria da Penha sejam diminuídas por juízes

machistas, que interpretam a lei conforme seu machismo e inutilizam as

conquistas obtidas com a lei - frisou a relatora.

Por sugestão do senador Pedro Taques (PDT-MT), Marta

Suplicy acatou emenda de Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), prevendo

que, nas localidades onde não existam juizados especiais para atender

casos de violência doméstica, as ações penais que tratam de casos dessa

natureza terão prioridades de julgamento sobre as demais, exceto pedidos

de habeas corpus e mandados de segurança.

Os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO), Marcelo

Crivella (PRB-RJ) e Eduardo Suplicy (PT-SP) manifestaram apoio à

proposta.

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2.PROJETO DE LEI Nº

Altera os arts. 147 e 129, §9º do Código Penal

Ameaça

Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou

qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

§ 1º - se o crime for praticado nas hipóteses de violência doméstica e

familiar contra a mulher, segundo dispõe a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de

2006:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

§ 2º - Somente se procede mediante representação.

Violência Doméstica

Art. 129 § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,

irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou,

ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de

hospitalidade:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

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JUSTIFICATIVA

A violência doméstica e familiar contra a mulher é uma realidade

que assola e angustia a sociedade brasileira.

O Brasil vem adotando constantes medidas para prevenir, punir e

erradicar tal tipo de violência, no afã de garantir os direitos humanos das

mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares, resguardando-as de

toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão, como previsto na Lei nº 11.340/06.

Na dicção do art. 7º, “e” da Convenção de Belém do Pará (Decreto nº

1973, de 01/08/1996), o Brasil assumiu o dever de, in verbis:

“e. tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas,

para modificar ou abolir leis e regulamentos vigentes ou modificar

práticas jurídicas ou consuetudinárias que respaldem a persistência

e a tolerância da violência contra a mulher;”

Como é cediço, os crimes de ameaça e lesão corporal leve são

aqueles mais praticados em âmbito nacional contras as mulheres, capitulados na

Lei Maria da Penha como formas de violência física e psicológica.

Sucede, contudo, que a penalização de tais crimes não tem atendido

aos reclamos da sociedade brasileira, no seu anseio de repressão e prevenção

social, dada a pena cominada aos mesmos, que, por demais branda no seu limite

mínimo, não cumpre seu esperado papel inibitório.

Atualmente, para o crime de ameaça, o Código Penal prevê a pena de

detenção mínima de 1 (um) mês e máxima de 6 (seis) meses, podendo ser

substituída apenas por multa, não importando o contexto em que a ameaça foi

levada a efeito.

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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81

No que concerne ao crime de lesão corporal leve, o art. 129,§9º do

Código Penal prevê pena de detenção mínima de 3 (três) meses e máxima de 3

(três) anos

Sabe-se que, para a fixação da pena-base, ponto de partida do

processo trifásico de dosimetria da pena, deverá o magistrado atentar para a

culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os

motivos, as circunstâncias e conseqüências do crime, bem como o

comportamento da vítima, conhecidas como “circunstâncias judiciais” (art. 59

do Código Penal).

Ocorre que a jurisprudência pátria firmou entendimento de que, no

processo de dosimetria da pena, a regra consiste na fixação da pena no seu

grau mínimo, somente podendo ser elevada a pena-base quando sobejamente

demonstrado no caso concreto que estão presentes os elementos autorizadores de

sua majoração, ou seja, a presença das circunstâncias judiciais acima

mencionadas, reconhecidas em desfavor do condenado.

Nesse sentido, cita-se:

“HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO DE DROGAS.

DOSIMETRIA DA PENA. INIDONEIDADE DA

FUNDAMENTAÇÃO JUDICIAL APRESENTADA PARA

JUSTIFICAR ALGUMAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS TIDAS

POR DESFAVORÁVEIS. PRECEDENTES.

1. O julgador deve, ao individualizar a pena, examinar com

acuidade os elementos que dizem respeito ao fato, para aplicar, de

forma justa e fundamentada, a reprimenda que seja necessária e

suficiente para reprovação do crime. Não pode o magistrado

sentenciante majorar a pena-base fundando-se, tão-somente, em

referências vagas, genéricas, desprovidas de fundamentação

objetiva para justificar a exasperação.

2. No que se refere à culpabilidade do agente, aos motivos e às

consequências do crime, não se verifica fundamentação idônea no

decisum condenatório, já que elementos ínsitos à própria

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82

configuração do delito não podem ser considerados para a

exasperação da pena-base.

3. A sentença também não fez nenhuma menção a fato concreto

que embasasse a conclusão desfavorável acerca da conduta social

do agente.

4. Quanto à personalidade do criminoso, o Superior Tribunal de

Justiça já se posicionou no sentido de que esta não pode ser

valorada negativamente se não existirem, nos autos, elementos

suficientes para sua efetiva e segura aferição pelo julgador.

5. Assim, mostra-se válido o aumento da pena-base apenas em razão

dos maus antecedentes do acusado, reconhecidos em face de sentença

condenatória transitada em julgado, e da quantidade da droga

apreendida (quase 3 Kg de "maconha").

6. Habeas corpus concedido para, mantida a condenação do Paciente,

reformar a sentença de primeiro grau e o acórdão impugnados, tão-

somente na parte relativa à dosimetria da pena, nos termos

explicitados.”

(HC 113.327/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,

julgado em 19/10/2010, DJe 06/12/2010).

“PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 12 DA LEI Nº 6.368/76

(ANTIGA LEI DE TÓXICOS). DOSIMETRIA. PENA-BASE

ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO

INADEQUADA.

I - A pena deve ser fixada com fundamentação concreta e vinculada,

tal como exige o próprio princípio do livre convencimento

fundamentado (arts. 157, 381 e 387 do CPP c/c o art. 93, inciso IX,

segunda parte da Lex Maxima). Ela não pode ser estabelecida acima

do mínimo legal com supedâneo em referências vagas e dados não

explicitados (Precedentes do STF e STJ).

Page 84: Íntegra do Projeto

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83

II - In casu, verifica-se que a r. decisão de segundo grau apresenta

em sua fundamentação incerteza denotativa ou vagueza,

carecendo, na fixação da resposta penal, de fundamentação

objetiva imprescindível, utilizando-se, dentre outras, de

expressões como "A culpabilidade do réu é elevada, pois sua

conduta recebe da lei e da sociedade alta carga de

reprovabilidade", "Os motivos que levaram o réu à prática do

crime em estudo são reprováveis (...)", e "As conseqüências do

crime são maléficas.".

III - Ainda, não havendo elementos suficientes para a aferição da

personalidade do agente, mostra-se incorreta sua valoração

negativa a fim de supedanear o aumento da pena-base

(Precedentes).

Habeas corpus concedido para fixar a pena definitiva do paciente em

03 (três) anos e 4 (quatro) meses de reclusão.”

(STJ - HC 165590/TO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA

TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 23/08/2010);

“HABEAS CORPUS. PENAL. PECULATO DESVIO.

INIDONEIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO JUDICIAL

APRESENTADA PARA JUSTIFICAR A PENA-BASE ACIMA DO

MÍNIMO LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS DESFAVORÁVEIS

REFERENTES À PERSONALIDADE DO AGENTE E MOTIVOS

DO CRIME. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.

1. Inadmissível o magistrado sentenciante majorar a pena-base

fundando-se, tão-somente, em referências vagas, genéricas,

desprovidas de fundamentação objetiva para justificar a

exasperação.

2. Esta Corte Superior de Justiça já se posicionou no sentido de

que a personalidade do réu só pode ser considerada desfavorável

se existirem, nos autos, elementos suficientes e que efetivamente

possam levar o julgador a uma conclusão segura sobre a questão.

Page 85: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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3. O intuito de enriquecer ilicitamente é elementar do tipo penal de

peculato, logo, não pode ser considerado como circunstância judicial

desfavorável ao condenado para elevar pena-base.

4. A despeito do afastamento dos elementos indevidamente inseridos

na sentença condenatória, ainda remanesce a valoração negativa,

devidamente fundamentada, da culpabilidade e das consequências do

crime, circunstâncias judiciais que autorizam a exasperação da pena-

base em patamar acima do mínimo fixado.

5. Ordem parcialmente concedida para, mantida a condenação do

Paciente, reformar a sentença condenatória e o acórdão impugnado, no

tocante à dosimetria da pena, nos termos do voto.”

(HC 118.448/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,

julgado em 02/09/2010, DJe 27/09/2010).

Desse modo, na imensa maioria dos casos em que há condenação por

tais delitos, a pena é aplicada, invariavelmente, no seu grau mínimo, trazendo

para a vítima e para toda a sociedade uma incômoda sensação de impunidade.

Impõe-se, assim, a presente alteração legislativa, para dar maior

efetividade ao combate à violência doméstica contra a mulher, com uma justa

punição aos que põe em prática tal tipo de violência.

Brasília-DF, de de

3.Proposta de alteração legislativa - Lei 11.340/2006 (Lei

Maria da Penha)

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da

ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação

perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,

antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Parágrafo único. A audiência a que se refere o caput deste artigo não é

condição de procedibilidade para o recebimento da denúncia e somente

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será designada quando a ofendida, expressa e espontaneamente,

manifestar interesse em retratar da representação formulada antes do

recebimento da denúncia.

Justificativa

O presente projeto de lei se destina a esclarecer controvérsia instalada

acerca da audiência estabelecida no artigo 16 da Lei 11.340/2006 (Lei

Maria da Penha). O dispositivo supracitado foi inserido na lei a fim de dar

maior proteção à mulher vítima de violência doméstica e familiar que, após

ter ofertado representação criminal na delegacia de polícia, retornasse

buscando obstar a persecução penal.

A audiência tem o propósito de entender a motivação da ofendida e

apurar se não há qualquer espécie de constrangimento moral nessa decisão.

Entretanto, verifica-se que referida audiência tem sido realizada com

propósito diverso ao estabelecido na legislação, pois, tem representado

maior obstáculo à apuração das infrações penais doméstico-familiares.

A audiência tem sido interpretada como etapa obrigatória por muitos

juízes e tribunais e designada ex officio, determinando-se a convocação

compulsória das mulheres a fim de que ratifiquem, em juízo, o interesse em

processar seus agressores, inclusive, alçando referido ato à condição de

procedibilidade para o recebimento da denúncia e determinando a nulidade

de milhares de processos, inclusive anulando ações em fase de alegações

finais ou com sentença já proferida.

O objetivo da Lei Maria da Penha foi exatamente de afastar a violência

doméstico-familiar da esfera do privado, elevando-a a matéria de interesse

público do Estado Brasileiro diante da grave lesão aos direitos humanos da

mulher, de modo que estabelecer referida audiência como ato obrigatório

implica em induzir a vítima à retratação, devolvendo-se a ela a completa

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86

responsabilidade pelo processamento de seu agressor, exatamente o que a

lei pretendeu coibir quando afastou a competência do Juizado Especial

Criminal.

Ao conferir caráter compulsório a referida audiência está se

restabelecendo, pela via transversa, a praxe antes existente nos Juizados

Especiais Criminais, popularmente conhecida como “retirada da queixa”,

já que o sistema quase automático de registro de ocorrências com posterior

arquivamento apenas será transferido das delegacias de polícias para as

salas de audiência judiciais. Ou seja, retoma-se a prática afastada pelo

legislador, agora com maiores custos de processamento.

Com efeito, o caráter compulsório da audiência representa enorme gasto

público com a apuração dos ilícitos por meio de inquéritos policiais e

oferecimento de denúncias que não serão sequer apreciados pelo Poder

Judiciário, de modo que o agressor sequer terá notícia da acusação havida

contra si, pois, sua citação somente ocorrerá após a audiência e em caso de

persistência da vítima.

Ainda, importa observar que o desperdício de recursos públicos será

também patente com a obstrução da já sobrecarregada pauta do Poder

Judiciário, com a designação, em intervalos de cinco a dez minutos, de

audiências que se tornarão meras retratações em série, sendo que o

processamento e julgamento das ações penais restantes sofrerão atraso

injustificável que poderá resultar em maciça prescrição.

Finalmente, é de reconhecer a urgência na tratativa da problemática,

haja vista que milhares de processos em fase final estão sendo

anulados por juízes e tribunais com a adoção desse entendimento, o

que representará em desconstrução de todo o trabalho realizado nos

últimos quatros em torno da questão dos direitos humanos da mulher

no Brasil.

D. Decisões Importantes

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1. RELATOR :MIN. MARCO AURÉLIO

PACTE.(S) :CEDENIR BALBE BERTOLINI

IMPTE.(S) :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

PROC.(A/S)(ES) :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

R E L A T Ó R I O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Adoto a título de

relatório as informações prestadas pela Assessoria:

Em 27 de agosto de 2007, o paciente foi denunciado como

incurso nas penas do artigo 21, cabeça, do Decreto-Lei nº

3.688/41 – contravenção penal de vias de fato. Em 12 de janeiro

de 2009, acabou condenado à pena de quinze dias de prisão

simples, substituída por restritiva de direitos consistente na

prestação de serviços à comunidade, em observância ao artigo

41 da Lei nº 11.340/06 (proibição de aplicação da Lei nº 9.099/95

– lei da violência doméstica contra a mulher).

Contra a sentença foi interposta apelação perante o

Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul. A defesa

sustentou, preliminarmente, a não observância do artigo 89 da

Lei nº 9.099/95, discorrendo sobre a Lei nº 11.340/06 e

apontando o descabimento da vedação prevista no artigo 41

desse diploma. Requereu o retorno do processo à origem para

viabilizar ao órgão do Ministério Público o oferecimento do

benefício da suspensão condicional. No mérito, alegou não estar

o conjunto probatório apto a respaldar o decreto condenatório,

asseverou haver ocorrido legítima defesa e pleiteou a aplicação

do princípio favorável ao réu, com a consequente absolvição.

O Tribunal de Justiça não conheceu da questão preliminar

e negou provimento ao recurso. Consignou terem ficado

devidamente provadas, no processo, tanto a materialidade do

HC 106.212 / MS

delito como a autoria.

No habeas corpus formalizado no Superior Tribunal de

Justiça, sob o nº 144.769/MS, a defesa reafirmou as teses

aduzidas na apelação, buscou o deferimento de liminar para

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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88

suspender os efeitos da sentença penal condenatória e do

acórdão alusivo ao recurso e, no mérito, pediu a anulação do

referidos atos jurisdicionais bem como a volta do processo à

origem para o Ministério Público pronunciar-se sobre a

suspensão condicional. O Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,

relator, não acolheu o pleito de concessão de medida

acauteladora, por entender ausentes o sinal do bom direito e o

perigo de demora. A Quinta Turma do Tribunal indeferiu a

ordem. Assentou a aplicação do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 e,

evocando precedente do Supremo – Habeas Corpus nº 86.007/RJ,

relator Ministro Sepúlveda Pertence –, explicitou a

inadequação, no caso, do benefício da suspensão condicional do

processo, ante a superveniência da decisão penal condenatória.

Mediante esta impetração, a Defensoria Pública da União

pretende infirmar o mencionado acórdão. Reitera as questões

arguidas nas instâncias judiciais já percorridas e requer a

declaração de inconstitucionalidade do artigo 41 da Lei nº

11.340/06, determinando-se o retorno do processo ao Juízo e a

abertura de vista ao Ministério Público visando definir a

suspensão referida.

Instada a manifestar-se, a Procuradoria Geral da

República discorre sobre o artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a

afastar a aplicação da Lei dos Juizados Especiais Criminais por

não consistir a violência doméstica contra a mulher em delito

de menor potencial ofensivo, argumenta sobre a necessidade de

proteção da família, diz da conformidade da chamada “Lei

Maria da Penha” com a Carta Federal e defende a

constitucionalidade da norma citada. Opina pelo indeferimento

da ordem.

2

HC 106.212 / MS

Observo que a sentença e o acórdão da apelação

concernem tão somente ao artigo 21 do Decreto-Lei nº 3.688/41,

não havendo remissão ao artigo 129, § 9º, do Código Penal a

que se refere o acórdão do habeas corpus impetrado perante o

Superior Tribunal de Justiça, cuja cópia foi encaminhada

eletronicamente.

Page 90: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

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Lancei visto no processo em 9 de março de 2011, liberando-o para ser

julgado no Plenário a partir de 17 seguinte, isso objetivando a ciência da

impetrante.

É o relatório.

HABEAS CORPUS 106.212 MATO GROSSO DO SUL

V O T O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – A família

mereceu proteção especial da Constituição de 1988 – Capítulo VII do

Título VIII – Da Ordem Social. A união estável entre o homem e a mulher

é considerada como entidade familiar – artigo 226, § 3º, da Carta. Ante

esse contexto e a realidade notada, veio à balha a Lei nº 11.340/2006, cujo

objetivo principal é coibir a violência doméstica e familiar contra a

mulher, nos termos do § 8º do artigo 226 do Diploma Maior:

Art. 226.[...]

[...]

§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na

pessoa de cada um dos que a integram, criando

mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas

relações.

O artigo 7º da citada lei revela o que se entende como violência

doméstica e familiar contra a mulher: não é só a violência física, mas

também a psicológica, a social, a patrimonial e a moral. Deu-se

concretude ao texto constitucional, com a finalidade de mitigar,

porquanto se mostra impossível dissipar por completo, o que acontece

Brasil afora.

O paciente foi condenado presente o artigo 21 do Decreto-Lei nº

3.688/41 – prática de vias de fato. A Defensoria Pública da União insiste

no afastamento do disposto no artigo 41 da Lei nº 11.340/06, afirmando o

conflito com o texto constitucional. O móvel seria o tratamento

diferenciado. Ocorre que este veio a ser sinalizado pela própria Carta

Federal no que buscada a correção de rumos. Mais do que isso, conforme

o artigo 98, inciso I, do Diploma Maior, a definição de infração penal de

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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90

menor potencial ofensivo, submetendo-a ao julgamento dos juizados

HC 106.212 / MS

especiais, depende de opção político-normativa dos representantes do

povo – os Deputados Federais – e dos representantes dos Estados – os

Senadores da República. No caso, ante até mesmo o trato especial da

matéria, afastou-se, mediante o artigo 41 da denominada “Lei Maria da

Penha”, a aplicabilidade da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aos

delitos – gênero – praticados com violência doméstica e familiar contra a

mulher. Eis o teor do preceito: “Aos crimes praticados com violência

doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena

prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995”.

Dirão que o dispositivo contém referência a crime e não a

contravenção penal, não alcançando as vias de fato. Fujam à interpretação

verbal, à interpretação gramatical, que, realmente, seduzindo, porquanto

viabiliza a conclusão sobre o preceito legal em aligeirado olhar, não

consubstancia método seguro de hermenêutica. Presente a busca do

objetivo da norma, tem-se que o preceito afasta de forma categórica a Lei

nº 9.099/95 no que, em processo-crime – e inexiste processo-contravenção

–, haja quadro a revelar a violência doméstica e familiar. Evidentemente,

esta fica configurada no que, valendo-se o homem da supremacia de força

possuída em relação à mulher, chega às vias de fato, atingindo-a na

intangibilidade física, que o contexto normativo pátrio visa proteger.

Tenho como de alcance linear e constitucional o disposto no artigo 41

da Lei nº 11.340/2006, que, alfim, se coaduna com a máxima de Ruy

Barbosa de que a “regra da igualdade não consiste senão em quinhoar

desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam... Tratar

com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria

desigualdade flagrante, e não igualdade real”. O enfoque atende à ordem

jurídico-constitucional, à procura do avanço cultural, ao necessário

combate às vergonhosas estatísticas do desprezo às famílias considerada

a célula básica que é a mulher.

Bem andaram o Juízo, o Tribunal de Justiça e o Superior Tribunal de

Justiça, estes dois últimos ao manterem o quadro decisório formalizado,

que resultou na aplicação da pena de quinze dias de prisão simples

substituída por restritiva de direitos consistente na prestação de serviços

2

HC 106.212 / MS

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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91

à comunidade, aliás mera advertência a inibir a reiteração de prática das

mais condenáveis.

Indefiro a ordem, declarando a constitucionalidade do artigo 41 da

Lei nº 11.340/06, cuja importância para a preservação dos interesses

maiores da sociedade e equipara-se, se é que não suplanta, à dos avanços

ocorridos com o Código Nacional de Trânsito, o Código de Defesa do

Consumidor e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

2.HABEAS CORPUS Nº 136.825 - RJ (2009/0096603-0)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ

IMPETRANTE : MARCO AURÉLIO ASSEFF E OUTRO

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO

PACIENTE : CARLOS EDUARDO BOUÇAS DOLABELLA FILHO

EMENTA

HABEAS CORPUS . LEI MARIA DA PENHA. ART. 129, § 9.°, DO

CÓDIGO PENAL. PLEITO DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DO

SURSIS

PROCESSUAL. IMPOSSIBILIDADE. NÃO-INCIDÊNCIA DA LEI N.º

9.099/95. ORDEM DENEGADA.

1. O art. 41 da Lei n.º 11.340/06 afastou a incidência da Lei 9.099/95

quanto aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a

mulher, independentemente da pena prevista, o que acarreta a

impossibilidade

de aplicação dos institutos despenalizadores nela previstos, como a

suspensão

condicional do processo. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

2. Habeas corpus denegado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

QUINTA

TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas

taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem. Os Srs.

Ministros Napoleão Nunes

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NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

92

Maia Filho, Jorge Mussi, Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do

TJ/AP) e Gilson Dipp votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 04 de novembro de 2010 (Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ-Relatora

3. Superior Tribunal de Justiça

3.HABEAS CORPUS Nº 96.601 - MS (2007/0296925-4)

RELATOR : MINISTRO HAROLDO RODRIGUES

(DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/CE)

IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO

GROSSO DO

SUL

ADVOGADO : ELIZABETH FÁTIMA COSTA - DEFENSORA

PÚBLICA

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO

GROSSO DO

SUL

PACIENTE : ADEMIR CIRIACO DUARTE (PRESO)

EMENTA

HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LESÕES

CORPORAIS LEVES. LEI MARIA DA PENHA. AÇÃO PENAL

PÚBLICA CONDICIONADA. REPRESENTAÇÃO.

PRESCINDIBILIDADE DE RIGOR FORMAL. AUDIÊNCIA

PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI 11.340/06.

OBRIGATORIEDADE APENAS NO CASO DE MANIFESTAÇÃO

DE INTERESSE DA VÍTIMA EM SE RETRATAR.

1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no

julgamento do REsp nº 1.097.042/DF, ocorrido em 24 de fevereiro

do corrente ano, firmou a compreensão de que, para propositura

da ação penal pelo Ministério Público, é necessária a

representação da vítima de violência doméstica nos casos de

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REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

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lesões corporais leves, pois se cuida de ação penal pública

condicionada.

2. A representação não exige qualquer formalidade específica,

sendo suficiente a simples manifestação da vítima de que deseja

ver apurado o fato delitivo, ainda que concretizada perante a

autoridade policial.

3. A obrigatoriedade da audiência em Juízo, prevista no artigo 16

da Lei nº 11.340/06, dá-se tão somente no caso de prévia

manifestação expressa ou tácita da ofendida que evidencie a

intenção de se retratar antes do recebimento da denúncia.

4. Habeas corpus denegado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas

taquigráficas a seguir, por maioria, denegar a ordem de habeas corpus, nos

termos do

voto do Sr. Ministro Relator. Vencida a Sra. Ministra Maria Thereza de

Assis Moura.

Os Srs. Ministros Og Fernandes e Celso Limongi (Desembargador

convocado do TJ/SP) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Documento: 11901668 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado -

DJe: 22/11/2010 Página 1 de 2

E. PACTO E LEGISLAÇÃO ATUAL

1. Pacto Nacional para o Enfrentamento a violência contra as

mulheres

O pacto nacional de enfrentamento a violência contra as

mulheres estabelece no eixo 1 das políticas públicas o fortalecimento da

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REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

94

rede de atendimento e a implementação da Lei Maria da Penha conforme

texto a seguir:

A violência contra as mulheres se expressa de diversas formas

– doméstica (física, psicológica, sexual, patrimonial, moral), assédio

sexual e tráfico de pessoas - e atinge mulheres independente de orientação

sexual, classe social, raça, etnia, religião, etc. Dada a magnitude e a

multidimensionalidade da questão, faz-se necessária a constituição de uma

rede de atendimento às mulheres em situação de violência que integre

diferentes áreas envolvidas com a violência contra as mulheres (em

especial: a justiça, a segurança pública, a saúde e a assistência social).

Além disso, o Pacto busca garantir a implementação da Lei Maria

da Penha (Lei 11.340/06) a qual exige, para seu cumprimento, ações que

articulem todas as instituições responsáveis e conscientizem a população

sobre os direitos das mulheres.

a) Fortalecimento da Rede de Atendimento

• Ampliação dos serviços especializados da rede de atendimento à mulher

em situação de violência – Centros Especializados de Atendimento à

Mulher em situação de violência (Centros de Referência de Atendimento à

Mulher, Núcleos de Atendimento à Mulher, Centros Integrados da

Mulher), Casas Abrigo, Casas de Acolhimento Provisório, Dele gacias

Especializadas de Atendimento à Mulher, Núcleos da Mulher nas

Defensorias Públicas, Promotorias Especializadas, Juizados Especiais de

Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Posto de Atendimento

Humanizado nos aeroportos (tráfico de pessoas);

• Formação de profissionais das áreas de segurança pública, saúde,

educação e assistência social, bem como de operadores de direito, na

temática de gênero e de

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violência contra as mulheres;

• Criação e aplicação de normas técnicas nacionais para o funcionamento

dos serviços de prevenção e assistência às mulheres em situação de

violência;

• Promoção do atendimento qualificado às mulheres em situação de

violência nos Centros de Referencia de Assistência Social (CRAS) e nos

Centros Especializados de Assistência Social (CREAS);

• Difusão do conteúdo dos tratados internacionais e garantia de sua

aplicação;

• Consolidação e ampliação da Central de Atendimento a Mulher – Ligue

180;

• Promoção de ações educativas e culturais que desconstruam estereótipos

de gênero e mitos em relação à violência contra a mulher;

• Promoção de ações para incorporação das mulheres em situação de

violência no mercado de trabalho;

• Ampliação do acesso à justiça e à assistência jurídica gratuita;

• Efetivação da notificação compulsória nos serviços de saúde;

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• Promoção da mobilização social para enfrentamento da violência a

partir de projetos capitaneados pelo governo federal;

• Promoção e realização de campanhas educativas de prevenção da

violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público

escolar e à sociedade em geral, com destaque para aquelas voltadas às

mulheres rurais e para a Campanha 16 Dias de Ativismo pela Não

Violência contra as Mulheres;

• Capacitação de profissionais da rede de atendimento incorporando a

cultura como um vetor de qualificação do atendimento;

• Definição e implantação das diretrizes nacionais de abrigamento às

mulheres em situação de violência.

2. 14 LEI 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.

Cria mecanismos para coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher,

nos termos do §8º do art. 226 da

Constituição Federal, da Convenção

sobre a Eliminação de Todas as Formas

de Discriminação contra as Mulheres e

da Convenção Interamericana para

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97

Prevenir, Punir e Erradicar a Violência

contra a Mulher; dispõe sobre a criação

dos Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher; altera o

Código de Processo Penal, o Código

Penal e a Lei de Execução Penal; e dá

outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso

Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da

Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as

Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para

Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados

internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre

a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;

e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de

violência doméstica e familiar.

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,

orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza

dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe

asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência,

preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual

e social.

Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício

efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação,

à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à

cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e

comunitária.

§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os

direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e

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familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições

necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput.

Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a

que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres

em situação de violência doméstica e familiar.

TÍTULO II

DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 5º

Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e

familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que

lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano

moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de

convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as

esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada

por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços

naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientação sexual.

Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma

das formas de violação dos direitos humanos.

CAPÍTULO II

DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

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CONTRA A MULHER

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,

entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe

cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,

constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância

constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,

exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a

constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não

desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a

induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade,

que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao

matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,

chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de

seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que

configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,

instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou

recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure

calúnia, difamação ou injúria.

TÍTULO III

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA E FAMILIAR

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CAPÍTULO I

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

Art. 8º

A política pública que visa coibir a violência doméstica e

familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de

ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de

ações não-governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público

e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência

social, saúde, educação, trabalho e habitação;

II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras

informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia,

concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência

doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a

serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das

medidas adotadas;

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e

sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados

que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo

com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no

inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as

mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;

V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção

da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público

escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de

proteção aos direitos humanos das mulheres;

VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros

instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou

entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a

implementação de programas de erradicação da violência doméstica e

familiar contra a mulher;

VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda

Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos

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101

órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de

raça ou etnia;

VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores

éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a

perspectiva de gênero e de raça ou etnia;

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino,

para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e

de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a

mulher.

CAPÍTULO II

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA E FAMILIAR

Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e

familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as

diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema

Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras

normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o

caso.

§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em

situação de violência doméstica e familiar no cadastro de programas

assistenciais do governo federal, estadual e municipal.

§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e

familiar, para preservar sua integridade física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da

administração direta ou indireta;

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o

afastamento do local de trabalho, por até seis meses.

§ 3º

A assistência à mulher em situação de violência doméstica e

familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do

desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de

contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente

Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

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102

(AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos

de violência sexual.

CAPÍTULO III

DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica

e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da

ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao

descumprimento de medida protetiva de urgência deferida.

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e

familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de

imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto

Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo

ou local seguro, quando houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de

seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os

serviços disponíveis.

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a

mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar,

de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos

no Código de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a

representação a termo, se apresentada;

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II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e

de suas circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente

apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas

protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da

ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua

folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de

prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao

Ministério Público.

§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial

e deverá conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela

ofendida.

§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º

o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em

posse da ofendida.

§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários

médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.

TÍTULO IV

DOS PROCEDIMENTOS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

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Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e

criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a

mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo

Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso

que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal,

poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e

pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas

decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário

noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis

regidos por esta Lei, o Juizado:

I - do seu domicílio ou de sua residência;

II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;

III - do domicílio do agressor.

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da

ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação

perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,

antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e

familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação

pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento

isolado de multa.

CAPÍTULO II

DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

Seção I

Disposições Gerais

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao

juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:

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105

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgência;

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência

judiciária, quando for o caso;

III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências

cabíveis.

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo

juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.

§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de

imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do

Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.

§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou

cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de

maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaçados ou violados.

§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da

ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas

já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus

familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução

criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de

ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da

autoridade policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso

do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de

novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos

ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão,

sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público.

Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou

notificação ao agressor.

Seção II

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106

Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a

mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao

agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas

de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com

comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de

dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a

ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,

fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer

meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a

integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida

a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de

outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da

ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser

comunicada ao Ministério Público.

§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor

nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei no 10.826,

de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão,

corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e

determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do

agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena

de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o

caso.

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107

§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência,

poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.

§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o

disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de

janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Seção III

Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras

medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitário de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos

direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,

liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à

ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de

compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa

autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por

perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e

familiar contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os

fins previstos nos incisos II e III deste artigo.

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CAPÍTULO III

DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas

causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e familiar

contra a mulher.

Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras

atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,

quando necessário:

I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação,

de assistência social e de segurança, entre outros;

II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de

atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, e

adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no

tocante a quaisquer irregularidades constatadas;

III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a

mulher.

CAPÍTULO IV

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em

situação de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de

advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.

Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica

e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência

Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante

atendimento específico e humanizado.

TÍTULO V

DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

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Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de

atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais

especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.

Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras

atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer

subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública,

mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de

orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados para a

ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos

adolescentes.

Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais

aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de profissional

especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento

multidisciplinar.

Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta

orçamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção da

equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes

Orçamentárias.

TÍTULO VI

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica

e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências

cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de

violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do

Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas

criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput.

TÍTULO VII

DISPOSIÇÕES FINAIS

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110

Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar

contra a Mulher poderá ser acompanhada pela implantação das curadorias

necessárias e do serviço de assistência judiciária.

Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios

poderão criar e promover, no limite das respectivas competências:

I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e

respectivos dependentes em situação de violência doméstica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em

situação de violência doméstica e familiar;

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e

centros de perícia médico-legal especializados no atendimento à mulher em

situação de violência doméstica e familiar;

IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica

e familiar;

V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.

Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus programas às diretrizes e

aos princípios desta Lei.

Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos

nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Ministério Público e

por associação de atuação na área, regularmente constituída há pelo menos

um ano, nos termos da legislação civil.

Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado

pelo juiz quando entender que não há outra entidade com

representatividade adequada para o ajuizamento da demanda coletiva.

Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar contra a

mulher serão incluídas nas bases de dados dos órgãos oficiais do Sistema

de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o sistema nacional de dados e

informações relativo às mulheres.

Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do

Distrito Federal poderão remeter suas informações criminais para a base de

dados do Ministério da Justiça.

Page 112: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

111

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no

limite de suas competências e nos termos das respectivas leis de diretrizes

orçamentárias, poderão estabelecer dotações orçamentárias específicas, em

cada exercício financeiro, para a implementação das medidas estabelecidas

nesta Lei.

Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras

decorrentes dos princípios por ela adotados.

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar

contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei

no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941

(Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte inciso

IV:

“Art. 313. .................................................

................................................................

IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar

contra a mulher, nos termos da lei específica, para

garantir a execução das medidas protetivas de

urgência.” (NR)

Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei no 2.848, de 7

de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a seguinte

redação:

“Art. 61. ..................................................

.................................................................

II - ............................................................

.................................................................

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de

relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade,

ou com violência contra a mulher na forma da lei

específica;

........................................................... ” (NR)

Page 113: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

112

Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940

(Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 129. ..................................................

..................................................................

§ 9º

Se a lesão for praticada contra ascendente,

descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com

quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,

prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de

coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

..................................................................

§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será

aumentada de um terço se o crime for cometido contra

pessoa portadora de deficiência.” (NR)

Art. 45. O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de

Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 152. ...................................................

Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica

contra a mulher, o juiz poderá determinar o

comparecimento obrigatório do agressor a programas

de recuperação e reeducação.” (NR)

Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após sua

publicação.

Brasília, 7 de agosto de 2006; 185º da Independência e 118º

da

República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Dilma Rousseff

Page 114: Íntegra do Projeto

113

8. MODELOS DE PEÇAS

MODELOS Nº 1 E 2: Inquérito Civil e Termo de Ajustamento de Conduta –pg.114

MODELO Nº 3: Termo de Acordo OAB e Defensoria Pública –pg. 133

MODELO Nº 4: Encaminhamento da vítima à OAB – defensor área cível- pg. 135

MODELO Nº 5: Encaminhamento da vítima à OAB – defensor ação penal

privada-pg. 136

MODELO Nº 6: CADASTRO – pg. 137

MODELO Nº 7: Pareceres de Medidas Protetivas – pg. 139

MODELO Nº 8: Instauração de Procedimento Cautelar – pg. 146

MODELO Nº 9: Pedidos de Prisão – pg. 149

MODELO Nº10: Recursos contra decisão que designar aud. do art. 16 – pg. 157

MODELO Nº 11: Denúncias – pg. 198

MODELO Nº 12: Alegações finais- pg. 238

Page 115: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

114

MODELOS Nºs: 1 e 2

Inquérito Civil

Termo de Ajustamento de Conduta

Page 116: Íntegra do Projeto

115

MODELO Nº 1

PORTARIA DE INQUÉRITO CIVIL N°

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, pela

Promotora de Justiça que esta subscreve, com fundamento nos artigos 127

e 129, incisos II e III, da Constituição da República, no artigo 25, inciso IV,

letras "a" e "b", da Lei Federal n. 8.625/93, no artigo 91 da Constituição do

Estado, no artigo 103, inciso VIII, da Lei Complementar Estadual n.

734/93, com fundamento, ainda, nos artigos 37 e 39, da Constituição da

República, e artigo 115 da Constituição do Estado.

01. Considerando que nos termos do artigo 25, da Lei n.11.340/06, o

Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e

criminais, decorrentes da violência doméstica e familiar contra as crianças,

adolescentes e a mulher.

02. Considerando que nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente,

em seu artigo 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em

geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a

efetivação de direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,

ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. A garantia

compreende: a) primazia de receber proteção em quaisquer

circunstância; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de

relevância pública; c) preferência na formulação e na execução de políticas

Page 117: Íntegra do Projeto

116

sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas

áreas relacionadas com à proteção à infância e juventude.”

03. Considerando que cabe ao Ministério Público requisitar força policial

e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de

segurança, dentre outros, nos exatos termos do artigo 26, inciso I, da Lei n.

11.340/06.

04. Considerando, ainda, que os Municípios promoverão a adaptação de

seus órgãos e de seus programas às diretrizes e princípios da Lei n.

11.340/06.04.

05. Considerando, ainda, o disposto na Constituição Federal:

art. 1º, inciso III: "A República Federativa do Brasil, formada pela união

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se

em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:... III - a

dignidade da pessoa humana;"

art. 3º: "Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; ... III - erradicar a

pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,

idade e quaisquer outras formas de discriminação."

art. 5º caput: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País

Page 118: Íntegra do Projeto

117

a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:"...

§ 1º: "As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

aplicação imediata"

§ 2º: "Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem

outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos

tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja

parte."

06. Considerando, ainda, que o Estado Brasileiro ratificou os principais

instrumentos internacionais na defesa dos direitos humanos das crianças e

das mulheres, quais sejam, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a

Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra

a Mulher (1979); a Declaração de Viena (1993); a Declaração sobre a

Eliminação da Violência contra a Mulher (1993); a Convenção de Belém

do Pará (1995); a Declaração de Beijing (1995) e o Protocolo Facultativo à

Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra

a Mulher (2002).

07. Considerando, ainda, o disposto no artigo 226: ”A família, base da

sociedade, tem especial proteção do Estado: Parágrafo 8º, O Estado

assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a

integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de

suas relações.”

Page 119: Íntegra do Projeto

118

08. Considerando que no Município de Votorantim não há abrigo para

atendimento às crianças, aos adolescentes, juntamente com as mulheres

vítimas de violência doméstica, bem como a ausência de mecanismos, ou

seja, de infra-estrutura suficiente na rede Municipal de atendimento para

coibir a violência no âmbito das relações familiares, em especial a

violência doméstica praticada contra crianças e adolescentes.

09. E também com fundamento no artigo publicado em agosto de 2008, no

site do Ministério Público do Estado de São Paulo, na página do CAO-

CRIM, bem como no site do Ministério Público da Bahia, com o título, O

Ministério Público e os desafios na proteção aos Direitos Humanos das

Mulheres de autoria desta subscritora:

“Os direitos humanos pertencem a todos nós e por isso são

considerados universais e inalienáveis. Estes direitos já não

podem ser vistos pela nossa sociedade e, principalmente pelos

operadores do direito, como “direito de presos” ou “criminosos”.

O conteúdo dos direitos humanos é bem mais amplo, pois inclui

uma grande variedade de áreas, como o direito das pessoas com

deficiência, dos idosos, dos índios, das crianças, dentre outros.

O Ministério Público é órgão indispensável ao sistema

internacional e nacional de proteção aos direitos humanos. Uma

das áreas vitais na atuação Ministerial consiste na defesa dos

direitos humanos das mulheres.

Page 120: Íntegra do Projeto

119

No plano do direito internacional, existem diversos instrumentos

que são úteis para o desenvolvimento e proteção dos direitos

humanos das mulheres, como os acordos, os tratados, os

protocolos, as resoluções e os estatutos. Estes instrumentos foram

desenvolvidos com o passar dos anos, destacando-se, na proteção

dos direitos humanos das mulheres: a Carta das Nações Unidas

(1945); a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de

Discriminação contra a Mulher (1979); a Declaração de Viena

(1993); a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a

Mulher (1993); a Convenção de Belém do Pará (1995); a

Declaração de Beijing (1995) e o Protocolo Facultativo à

Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de

Discriminação contra a Mulher (2002).

O sistema internacional de direitos das mulheres necessita de

muito aprimoramento. De fato, a existência de um conjunto de

normas, não vem impedindo que mulheres do mundo todo

continuem sendo constantes vítimas de violações destes direitos.

No Brasil, estima-se que de cada 100 mulheres, 15 já foram

vítimas de algum tipo de violência doméstica (os dados são da

pesquisa de opinião do DataSenado, 2007). Atos violentos que

afetam principalmente mulheres são muitos e representam uma

grave forma de discriminação contra a mulher, como a mutilação

genital, homicídio passional, violência contra as mulheres nos

presídios, violência contra as mulheres em decorrência de

conflitos armados e tráfico de mulheres para prostituição.

Page 121: Íntegra do Projeto

120

...

O Brasil ratificou a maioria dos instrumentos de proteção à

mulher. As obrigações assumidas pelo Brasil, por meio de

tratados internacionais, devem servir de guia para a atuação dos

Promotores de Justiça. Os critérios estabelecidos pelas decisões

das comissões internacionais são importantes para as seguintes

finalidades: 1) gerar debates internos acerca do sistema jurídico e

apontar as falhas; 2) estimular o desenvolvimento de novas

políticas públicas preventivas; 3) inspirar a criação de novas

leis, como por exemplo, a Lei Maria da Penha. Em que pese

algumas críticas justas formuladas por juristas brasileiros, a Lei

11.340/06 (Maria da Penha) representa um avanço na proteção

das mulheres vítimas de violência. A batalha para o

desenvolvimento dos direitos humanos das mulheres no Brasil

necessita de um melhor aparelhamento do Ministério Público, do

Poder Judiciário e da Polícia, bem como planos de ações

conjuntos entre os diversos órgãos do governo.”

Instauro o INQUÉRITO CIVIL para apurar eventual omissão da

Municipalidade de Votorantim, quanto à criação de mecanismos e infra-

estrutura na rede de atendimento Municipal para coibir a violência no

âmbito das relações familiares. Inclusive, a inexistência de local adequado

local para abrigamento das crianças/adolescentes e da mulher. Assim

também a falta de veículo para levar as crianças e mulheres

hipossuficientes, vítimas de violência doméstica, à Delegacia de Polícia,

Page 122: Íntegra do Projeto

121

bem como encaminhá-las ao atendimento médico, quando necessário. A

falta de infra-estrutura para transporte ao IML de Sorocaba para realização

de eventual exame de corpo de delito. Assim também o fato de que o

CREAS atende apenas as vítimas de violência sexual. Por fim, a falta de

realização de palestras para a orientação às vítimas e aos infratores.

Determinando, desde logo, as seguintes providências:

a- oficie-se ao Prefeito Municipal, com cópia da Portaria, a fim de que, no

prazo de 60 (sessenta) dias, manifeste-se;

b- nomeio para secretariar os trabalhos o Oficial de Promotoria Sr. Ronaldo

de Oliveira Prado;

c- registre-se, autue-se e informe-se a instauração desta Portaria ao Centro

de Apoio de Direitos Humanos e ao Centro de Apoio da Infância e

Juventude, por meio de email;

d- envie cópia desta Portaria à OAB de Votorantim, apenas para ciência e

eventuais sugestões da Ordem dos Advogados do Brasil. Prazo de 60 dias;

e- oficie-se ao Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e ao

Conselho Tutelar, com cópia desta Portaria, apenas para ciência e eventuais

sugestões. Prazo de 60 dias;

f- oficie-se à Delegacia da Mulher solicitando as seguintes informações:

número de BOs de violência doméstica nos anos 2009/2010; quais as

Page 123: Íntegra do Projeto

122

ocorrências mais freqüentes; se existem casos freqüentes na Delegacia de

Polícia que demandariam o imediato abrigamento; bem como se houve

casos em que a violência doméstica culminou com prática de tentativa ou

de homicídio contra as crianças, adolescentes e a mulher (indicando

número de BO, se possível e nome das partes); se há no Município de

Votorantim uma rede de atendimento às crianças, aos adolescentes e

mulheres vítimas de violência doméstica; se há no Município de

Votorantim palestras voltadas aos infratores de violência doméstica e às

vítimas, bem como faça eventuais sugestões. Prazo de 30 dias;

g- oficie-se ao Pró-mulher, na Rua Beijamim Adame, 172, Parque Bela

Vista ([email protected]). Prazo 60 dias, para que informe o

seguinte:

1) se atendem a diversas crianças, adolescentes e mulheres;

2) se recebem verba municipal;

3) se existem demandas para o imediato abrigamento de crianças,

adolescentes e mulheres;

4) se as(os) trabalhadoras(ES) desta OCIP são voluntárias(os);

5) quais as sugestões teria a OCIP ao poder público Municipal para

incrementar as políticas públicas de atendimento às crianças, aos

adolescentes e mulheres vítimas de violência doméstica.

h) oficie-se à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, por

meio do Exmo. Senhor Procurador Geral de Justiça, solicitando-se as

seguintes informações:

Page 124: Íntegra do Projeto

123

1) O número de Boletim de Ocorrências relacionados à violência doméstica

no Estado de São Paulo (desde 2006, até a presente data), bem como no

Município de Votorantim? Se existe cadastro Estadual dos casos de

violência doméstica? Em caso positivo, solicitando-se cópia.

2) Quais as ocorrências de violência doméstica mais freqüentes?

3) Qual o número de Delegacias da Mulher no Estado de São Paulo?

4) Qual o número de abrigos para crianças e mulheres no Estado de São

Paulo vítimas de violência doméstica?

5)Se existe um Programa Estadual de atendimento à crianças e mulheres

vítimas de violência doméstica? Em caso positivo, onde funciona e de que

forma?

6) Se existe local no Estado de São Paulo programa de palestras

ministradas para vítimas e infratores? Em caso positivo de que forma

funciona?

7) Se existe no Estado de São Paulo equipe de atendimento multidisciplinar

para a orientação, encaminhamento e prevenção e outras medidas, voltados

para as crianças, adolescentes, mulheres, infratores e familiares (artigo 30,

da Lei n. 11340/06)? Se positivo, em que local e de que forma?

i) Oficie-se à Receita Federal, solicitando informações, em razão de

reportagem recente na televisão, se é possível a doação de veículos

apreendidos na fronteira do Brasil, com os países do sul, para entidades

assistenciais como, por exemplo, o Conselho Tutelar ou outro órgão

público. Em caso positivo, de que forma o pedido pode ser feito? Prazo de

30 dias.

Page 125: Íntegra do Projeto

124

Votorantim, 7 de junho de 2010.

FABIANA DAL'MAS ROCHA PAES

3ª Promotora de Justiça de Votorantim

Page 126: Íntegra do Projeto

125

MODELO Nº 2

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

(INQUÉRITO CIVIL N.º 12/2010)

Aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de dois mil e onze, às 16 horas,

na 3ª Promotoria de Justiça de Votorantim, Estado de São Paulo, reuniram-

se o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO,

representado pela Excelentíssima Senhora Doutora FABIANA DAL ´MAS

ROCHA PAES, 3ª Promotora de Justiça de Votorantim, e o

MUNICÍPIO DE VOTORANTIM, neste ato representado pelo Prefeito

Municipal, Excelentíssimo Senhor Doutor CARLOS AUGUSTO

PIVETA, doravante denominado compromitente, e passou-se a celebrar o

presente termo de compromisso para a produção de efeitos na esfera civil:

DA SITUAÇÃO RECONHECIDA:

Considerando a necessidade de aperfeiçoamento da rede de atendimento às

crianças, adolescentes e mulheres vítimas de violência doméstica;

Considerando que o Poder Executivo Municipal reconhece a

obrigatoriedade política de apoio à proteção à infância e a juventude, bem

como às mulheres em situação de violência doméstica, as quais figuram

Page 127: Íntegra do Projeto

126

como prioridade Constitucional e Legislativa;

Considerando que com a devida infraestrutura para atendimento das

crianças, adolescentes e mulheres vítimas de violência doméstica estará

beneficiando a sociedade em todos os aspectos relativos ao

desenvolvimento das futuras gerações;

Considerando que a rede de atendimento às crianças, adolescentes e

mulheres não é apenas uma experiência comunitária, mas uma imposição

Constitucional e legal, em especial com a edição da Lei nº 11.340/06;

Considerando que o apoio e a proteção à infância e a juventude, bem como

às mulheres que estejam em situação de discriminação por meio da prática

de violência doméstica, devem figurar obrigatoriamente entre as

prioridades dos governantes;

Considerando que no Direito da Criança e do Adolescente, bem como das

mulheres vítimas de violência doméstica, a ausência ou a insuficiência de

recursos coloca a política pública em situação irregular;

Considerando o aumento do quadro de violência doméstica, abandono e

conhecida situação de risco pelos quais passam as crianças, adolescentes e

mulheres de VOTORANTIM, oriundos, principalmente, do aumento da

marginalização, desestrutura familiar, abuso no uso de álcool e drogas;

Considerando que nos termos do artigo 25, da Lei n.11.340/06, o

Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e

criminais, decorrentes da violência doméstica e familiar contra as crianças,

adolescentes e a mulher.

Page 128: Íntegra do Projeto

127

Considerando que nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente, em

seu artigo 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e

do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação de

direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,

ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária. A garantia compreende:

a) primazia de receber proteção em quaisquer circunstância; b) precedência

de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c)

preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas; d)

destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com à

proteção à infância e juventude.

Considerando que cabe ao Ministério Público requisitar força policial e

serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de

segurança, dentre outros, nos exatos termos do artigo 26, inciso I, da Lei n.

11.340/06.

Considerando, ainda, que os Municípios promoverão a adaptação de seus

órgãos e de seus programas às diretrizes e princípios da Lei n.

11.340/06.04.

E também com fundamento no artigo publicado em agosto de 2008, no site

do Ministério Público do Estado de São Paulo, na página do CAO-CRIM,

bem como no site do Ministério Público da Bahia, com o título, O

Ministério Público e os desafios na proteção aos Direitos Humanos das

Mulheres de autoria desta subscritora:

Page 129: Íntegra do Projeto

128

“Os direitos humanos pertencem a todos nós e por isso são

considerados universais e inalienáveis. Estes direitos já não

podem ser vistos pela nossa sociedade e, principalmente pelos

operadores do direito, como “direito de presos” ou “criminosos”.

O conteúdo dos direitos humanos é bem mais amplo, pois inclui

uma grande variedade de áreas, como o direito das pessoas com

deficiência, dos idosos, dos índios, das crianças, dentre outros.

O Ministério Público é órgão indispensável ao sistema

internacional e nacional de proteção aos direitos humanos. Uma

das áreas vitais na atuação Ministerial consiste na defesa dos

direitos humanos das mulheres.

No plano do direito internacional, existem diversos instrumentos

que são úteis para o desenvolvimento e proteção dos direitos

humanos das mulheres, como os acordos, os tratados, os

protocolos, as resoluções e os estatutos. Estes instrumentos foram

desenvolvidos com o passar dos anos, destacando-se, na proteção

dos direitos humanos das mulheres: a Carta das Nações Unidas

(1945); a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de

Discriminação contra a Mulher (1979); a Declaração de Viena

(1993); a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a

Mulher (1993); a Convenção de Belém do Pará (1995); a

Declaração de Beijing (1995) e o Protocolo Facultativo à

Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de

Discriminação contra a Mulher (2002).

Page 130: Íntegra do Projeto

129

O sistema internacional de direitos das mulheres necessita de

muito aprimoramento. De fato, a existência de um conjunto de

normas, não vem impedindo que mulheres do mundo todo

continuem sendo constantes vítimas de violações destes direitos.

No Brasil, estima-se que de cada 100 mulheres, 15 já foram

vítimas de algum tipo de violência doméstica (os dados são da

pesquisa de opinião do DataSenado, 2007). Atos violentos que

afetam principalmente mulheres são muitos e representam uma

grave forma de discriminação contra a mulher, como a mutilação

genital, homicídio passional, violência contra as mulheres nos

presídios, violência contra as mulheres em decorrência de

conflitos armados e tráfico de mulheres para prostituição.

...

O Brasil ratificou a maioria dos instrumentos de proteção à

mulher. As obrigações assumidas pelo Brasil, por meio de

tratados internacionais, devem servir de guia para a atuação dos

Promotores de Justiça. Os critérios estabelecidos pelas decisões

das comissões internacionais são importantes para as seguintes

finalidades: 1) gerar debates internos acerca do sistema jurídico e

apontar as falhas; 2) estimular o desenvolvimento de novas

políticas públicas preventivas; 3) inspirar a criação de novas leis,

como por exemplo, a Lei Maria da Penha. Em que pese algumas

críticas justas formuladas por juristas brasileiros, a Lei 11.340/06

(Maria da Penha) representa um avanço na proteção das

mulheres vítimas de violência. A batalha para o desenvolvimento

Page 131: Íntegra do Projeto

130

dos direitos humanos das mulheres no Brasil necessita de um

melhor aparelhamento do Ministério Público, do Poder Judiciário

e da Polícia, bem como planos de ações conjuntos entre os

diversos órgãos do governo.”

E, por fim, considerando que, na atual conjuntura sócio-econômica,

somente o aparelhamento e dignificação material e moral dos serviços é

que possibilitarão o incremento qualitativo e quantitativo de tais quadros,

com amplo interesse pessoal e técnico na execução futura deste mister,

acordam as partes que:

CLÁUSULA PRIMEIRA: O COMPROMITENTE, no prazo de 30 dias,

juntara ao inquérito civil o comprovante do funcionamento de um núcleo

de atendimento à mulher vítima de violência doméstica e seus filhos, em

local adequado e autônomo, isto é, com sede de uso próprio, deverá haver,

no mínimo, sala de espera, quartos para abrigamento, espaço para cursos e

salas individualizadas para o atendimento;

CLÁUSULA SEGUNDA: O COMPROMITENTE disponibilizará, quando

necessário, um veículo da frota Municipal, em perfeitas condições de

segurança e de uso, para utilização preferencial no atendimento das

ocorrências urgentes como o deslocamento de vítimas ao IML para

realização de exames, ficando o COMPROMITENTE responsável pela

manutenção e abastecimento do veículo;

CLÁUSULA TERCEIRA: O COMPROMITENTE, firmará convênio em

anexo, onde constarão a forma de atendimento integral à mulher por meio

da OCIP Pró-Mulher, conforme instrumento anexo. Após o prazo do

convênio compromete-se o Município a continuação deste serviço por esta

Page 132: Íntegra do Projeto

131

ou outra entidade. O Município garantirá a internação provisória nesta ou

em outra entidade, em situação de urgência;

CLÁUSULA QUARTA: O COMPROMITENTE providenciará a

realização de cursos, palestras, conferências, seminários, no âmbito

municipal, visando o aperfeiçoamento e a recuperação dos infratores, por si

ou por meio de conveniados;

CLÁUSULA QUINTA: O Poder Público Municipal já possui dotação

orçamentária para implementação de programa de combate à violência

doméstica em Votorantim, tratado neste TAC;

CLÁUSULA SEXTA: O COMPROMITENTE, passados 60 dias dos

prazos fixados no presente termo, deverá comprovar nesta Promotoria de

Justiça o cumprimento das obrigações assumidas;

CLÁUSULA SÉTIMA: No caso de descumprimento de alguma cláusula do

presente Termo de Ajustamento, o Ministério Público ajuizará ação

executiva de obrigação de fazer, visando compelir o Município de

VOTORANTIM a executar o acordo celebrado, valendo, desde já, o

presente, como título executivo extrajudicial, independentemente de

notificação prévia;

CLÁUSULA OITAVA: No caso de descumprimento de alguma cláusula

do presente Termo de Ajustamento, o Ministério Público ajuizará ação

executiva, visando compelir o Município de VOTORANTIM a executar o

acordo celebrado, valendo, desde já, o presente, como título executivo

extrajudicial, independentemente de notificação prévia, pelo que os

Page 133: Íntegra do Projeto

132

acordantes fixam o valor de R$ 200,00 (duzentos e reais), como multa

diária, por dia de descumprimento da presente Avença, sem prejuízo da

execução da obrigação de fazer;

CLÁUSULA NONA: Fica ressalvado ao Ministério Público o direito de,

em caso de descumprimento do acordo, executar simultaneamente a multa

e a obrigação de fazer;

CLÁUSULA DÉCIMA: O compromitente reconhece as obrigações

assumidas no presente ajuste como de relevante interesse social, fixando-se

o Foro de VOTORANTIM como competente para eventuais litígios cíveis,

envolvendo a execução e cumprimento do presente acordo;

FABIANA DAL´MAS ROCHA PAES

3ª Promotora de Justiça de Votorantim

CARLOS AUGUSTO PIVETA

Prefeito Municipal de Votorantim

Professora Marilene Niewman Oliveira

Secretário de Cidadania João Soares de Queiroz

Page 134: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

133

MODELO Nº 3

TERMO DE ACORDO

OAB E DEFENSORIA PÚBLICA

MODELO Nº 4

Encaminhamento da vítima à OAB

questões cíveis

MODELO Nº 5

Encaminhamento da vítima à OAB

Ação penal privada

Page 135: Íntegra do Projeto

134

Modelo nº 3

TERMO DE ACORDO

Comparece nesta Promotoria de Justiça a Dra. Neuza Penha Gava

Otero, Presidente da OAB Subseção 86º, Itapecerica da Serra (ou o

representante da Defensoria Pública) e esclarece que autoriza e que

concorda com o envio de ofício pelo Ministério Público de Embu-Guaçu

para a OAB- Assistência Judiciária (ou Defensoria Pública), a fim de que

seja indicado advogado para pleitear os direitos da mulher vítima de

violência doméstica no que diz respeito às questões cíveis, como separação,

divórcio, guarda de filhos, partilha de bens, alimentos, ou para ajuizamento

de queixa-crime, nos crimes que se processam mediante ação penal

privada.

Esclarece que há necessidade de enviar, juntamente com o ofício, o

boletim de ocorrência, pedido das medias protetivas, bem como dados

qualificativos da vítima e endereço e telefone para contato.

De acordo: Dra. Neuza Penha Gava Otero, Presidente da OAB Subseção

86º, Itapecerica da Serra (ou representante da Defensoria Pública)

Embu-Guaçu, 12 de agosto de 2010.

Maria Gabriela Prado Manssur

Promotora de Justiça

Page 136: Íntegra do Projeto

135

Modelo nº 4.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE EMBU GUAÇU

Embu Guaçu, 18 de maio de 2011.

Inquérito Policial ou B.O. nº:

Ilustríssima Senhora,

Conforme acordo celebrado entre esta Promotoria

de Justiça e Vossa Senhoria, venho, pelo presente, encaminhar a senhora

Claudenice Alves dos Santos, R.G. nº 39.620.552-5, residente na Rua...,

telefone ..., vítima de Violência Doméstica, para que lhe seja nomeado

defensor para defesa de seus interesses na área cível. Seguem cópia do

Boletim de Ocorrência e termo de pedido das medidas protetivas.

Requeiro, ainda, sejam informadas as

providências tomadas a esta Promotoria de Justiça no prazo de 30 (trinta)

dias.

Sendo o que se apresenta para o momento, renovo

protestos de elevada estima e distinta consideração.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

À Ilustríssima Senhora

NEUSA PENHA GAVA OTERO

DD. Presidente da 86ª Subsecção Ordem dos Advogados do Brasil

Page 137: Íntegra do Projeto

136

Modelo nº 5:

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE EMBU GUAÇU

Embu Guaçu, 18 de maio de 2011.

Inquérito Policial ou B.O. nº :

Ilustríssima Senhora,

Conforme acordo celebrado entre esta Promotoria

de Justiça e Vossa Senhoria, venho, pelo presente, encaminhar cópia do

boletim de ocorrência e termo de audiência da senhora Elady Gonsaga da

Silva, R.G. nº 10703914-SP, residente na Rua Voluntários do Amor, 270,

Pq São Paulo, tel. 98093391, vítima de Violência Doméstica, para que lhe

seja nomeado defensor para defesa de seus interesses, tendo em vista que

os fatos narrados se apuram mediante ação penal privada, com a devida

propositura de queixa-crime.

Requeiro, ainda, sejam informadas as

providências tomadas a esta Promotoria de Justiça no prazo de 30 (trinta)

dias.

Sendo o que se apresenta para o momento, renovo

protestos de elevada estima e distinta consideração.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

À Ilustríssima Senhora

NEUSA PENHA GAVA OTERO

DD. Presidente da 86ª Subsecção Ordem dos Advogados do Brasil

Page 138: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

137

MODELO Nº 6

CADASTRO

Page 139: Íntegra do Projeto

138

DOC. Nº 6 : CADASTRO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

B.O. SEM REPRESENTAÇÃO Nº

AUTOS MEDIDA PROTETIVA Nº

AUTOS IP Nº

PROCESSO Nº

DATA DOS FATOS:

VÍTIMA

NOME:

IDADE:

PROFISSÃO /ESCOLARIDADE:

VÍNCULO COM O AGRESSOR:

AGRESSOR

NOME :

IDADE:

PROFISSÃO/ESCOLARIDADE:

ANTECEDENTES:

CRIME:

FLAGRANTE: SIM ( ) NÃO ( )

FIANÇA: SIM ( ) NÃO ( )

REPRESENTAÇÃO: SIM ( ) A FLS.: ____ NÃO( )

COMPARECIMENTO NA PROMOTORIA: SIM ( ) EM: NÃO ( )

PRISÃO PREVENTIVA:

REQUERIDA: SIM ( ) NÃO ( )

DEFERIDA: SIM ( ) NÃO ( )

MEDIDAS PROTETIVAS: PLEITEADAS: SIM ( ) NÃO ( )

QUAIS:

DEFERIDAS: SIM ( ) NÃO ( )

AUDIÊNCIA DO ART.16 LEI Nº 11.340/06:

RATIFICAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO: SIM ( ) NÃO ( )

RENÚNCIA EM JUÍZO: SIM ( ) NÃO ( )

DENÚNCIA EM :

CRIMES CONSTANTES DA DENÚNCIA:

ALEGAÇÕES FINAIS:

DECISÃO JUDICIAL:

SENTENÇA CONDENATÓRIA: SIM ( ) NÃO ( )

PENA APLICADA

REGIME

MEDIDAS PROTETIVAS NA SENTENÇA: SIM ( ) QUAIS: NÃO ( )

RÉU PODE RECORRER EM LIBERDADE: SIM ( ) NÃO ( )

SURSIS: SIM ( ) - CONDIÇÕES: NÃO ( )

RECURSO MP: SIM( ) NÃO( ) RECURSO DEFESA:SIM ( ) NÃO ( )

DEMAIS PROVIDÊNCIAS DO MP:

Page 140: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

139

MODELOS Nº 7

PARECERES MEDIDAS PROTETIVAS

Page 141: Íntegra do Projeto

140

VARA DISTRITAL DE EMBU-GUAÇU

Autos nº 06/2011

MMa JUÍZA:

Considerando as declarações da vítima, sua

manifestação em representar o autor dos fatos, bem como a gravidade das

circunstâncias, requeiro sejam concedidas as medidas pleiteadas, com o

objetivo de proteger a mulher e impedir que a violência, seja moral, seja

física, se repita e cause danos irreparáveis, requeiro sejam deferidas as

medidas protetivas pleiteadas, determinando o afastamento do lar ao

autor dos fatos, proibindo-o de se aproximar da vítima, de manter

contato com ela, bem como de frequentar certos lugares, nos termos do

art. 22, II, III, ‘a’, ‘b’, ‘c’, da lei no 11.340/06.

Caso sejam deferidas requeiro, oficie-se à

Delegacia de Polícia e intime-se à vítima dando-lhes ciência do

deferimento daquelas.

Page 142: Íntegra do Projeto

141

Requeiro, ainda, cobre-se com máxima urgência

o exame de corpo de delito realizado pela vítima e junte-se aos autos.

Embu Guaçu, 18 de Maio de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

RAQUEL CONCEIÇÃO DOS SANTOS

Estagiária do Ministério Público de São Paulo

Page 143: Íntegra do Projeto

142

VARA DISTRITAL DE EMBU GUAÇU

Autos no 05/2011

MMa JUÍZA:

Considerando as declarações da vítima, sua

manifestação em representar o autor dos fatos, confome se observa a fls.

07/08, bem como a gravidade das circunstâncias e, por fim, tendo em vista

que a concessão das medidas não irá prejudicar direito de nenhuma das

partes envolvidas, tendo em vista que já estão separadas de fato, requeiro

sejam concedidas as medidas de proibição de aproximação e de contato,

com a vítima, como forma de protegê-la e evitar que situações mais graves

ocorram, nos termos do art. 22, III, “a” e “b” da lei no 11.340/06.

Caso sejam deferidas as medidas protetivas

pleiteadas acima requeiro, oficie-se à Delegacia de Polícia e intime-se à

vítima dando-lhes ciência do deferimento daquelas.

Embu Guaçu, 18 de Maio de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

RAQUEL CONCEIÇÃO DOS SANTOS

Estagiária do Ministério Público de São Paulo

Page 144: Íntegra do Projeto

143

AUTOS Nº 891/10

MM. Juíza:

Considerando o termo de declarações de fls. que seguem em anexo e

tendo em vista:

1) Que no momento das agressões, em 20 de novembro de 2011, a

vítima somente não se encontrava em sua residência, pois foi

obrigada a de lá fugir, uma vez que o autor dos fatos se recusava a

sair de casa e lá permanecia agredindo a vítima e seus filhos menores

de idade;

2) A vítima somente se encontrava na residência de sua tia, que se

localiza na mesma rua que sua casa, por recomendação do Delegado

e, até que a Justiça retirasse o autor dos fatos do local, pois se lá

permanecesse, continuava a correr risco de vida;

3) Que a residência do então casal foi adquirida com o dinheiro comum

do casal e que esta vítima está com a guarda de fato de seus dois

filhos menores, que estão morando “de favor” na residência de sua

tia;

4) Que mesmo intimado da decisão de Vossa Excelência, de não manter

contato com a vítima, o autor dos fatos desrespeitou tal decisão e,

ainda, debocha da vítima;

Page 145: Íntegra do Projeto

144

5) Que a Lei 11340/06, em seu artigo 23, inciso II, determina a

recondução da ofendida e de seus pertences ao respectivo domicílio,

após o afastamento do agressor;

Diante da gravidade dos fatos, da situação de risco em

que a vítima e seus filhos menores se encontram, bem como diante da

situação de desigualdade constata entre as partes, uma vez que, mesmo

sendo o agressor, mesmo trabalhando com renda superior a dois salários

mínimos por mês e mesmo não exercendo a guarda ou qualquer

responsabilidade em relação aos seus dois filhos menores, o autor dos fatos,

SR. JOÃO CORREIA DE BARBOSA permaneceu no lar familiar, que

também, pertence à sua então convivente e filhos e de lá, continua a

praticar crimes contra a mulher,

Requer o Ministério Público, em caráter de urgência:

1) Seja determinado o afastamento do agressor do lar, nos termos do

artigo 22, inciso II, da Lei 11340/06;

2) Seja a vítima, juntamente com seus pertences e filhos menores,

reconduzidos ao lar, localizado na rua Manoel Rodrigues , nº 83,

Cipó, Embu Guaçu, nos termos do artigo 23, inciso II, da Lei

11340/06;

3) Caso sejam deferidas as medidas protetivas pleiteadas requeiro,

oficie-se à Delegacia de Polícia e intime-se a vítima dando ciência do

deferimento das medidas protetivas supra mencionadas.

Page 146: Íntegra do Projeto

145

Após, requeiro nova vista para as demais

providências, inclusive para eventual pedido de prisão preventiva, tendo em

vista a notícia de descumprimento das medidas protetivas de urgência

deferidas por Vossa Excelência.

Embu-Guaçu, 10 de janeiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

PROMOTORA DE JUSTIÇA

Page 147: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

146

MODELO Nº 8

INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO

CAUTELAR

Page 148: Íntegra do Projeto

147

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIRETO DA

VARA DISTRITAL DE EMBU GUAÇU – COMARCA DE

ITAPECERICA DA SERRA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO

PAULO, pela promotora de justiça que esta subscreve, no uso de suas

atribuições legais, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência,

considerando o teor do incluso termo de declarações, requerer sua autuação

pelo cartório Criminal como MEDIDA PROTETIVA - LEI MARIA DA

PENHA.

Considerando que segundo relato da própria vítima, e

tendo em vista que a vítima compareceu nesta Promotoria de Justiça após ter

saído da Delegacia de Polícia e disse que o Delegado a incentivou a não

representar contra o autor dos fatos, mas que está com medo e resolveu

comparecer neste gabinete e representar contra o autor dos fatos;

Considerando a gravidade dos fatos e o risco de vida a o

qual a vítima está exposta, tendo sua liberdade de ir e vir restringida pela

conduta do autor dos fatos, sendo necessária a pronta atuação do Ministério

Público e do Poder Judiciário para fazer cessar a violência psicológica a qual

está submetida a vítima;

Considerando que a Lei Maria da Penha prevê

mecanismos que coíbem a violência contra a mulher e a protege de situações

como a do caso em tela e, por fim

Considerando que a concessão das medidas protetivas de

urgência não irá prejudicar direitos, uma vez que as partes já estão separadas

de fato,

Page 149: Íntegra do Projeto

148

Requeiro:

1) A concessão das medidas protetivas de urgência

previstas no artigo 22, inciso III, alíneas “a” e “b” da

Lei 11.340/06, e;

2) Oficie-se à Delegacia de Polícia requisitando a

imediata instauração de inquérito policial para

apuração dos fatos, nos termos do artigo 12, da Lei

11340/06.

Após, requeiro nova vista para as providências cabíveis

Termos em que,

Pede Deferimento.

Embu Guaçu, 20 de janeiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 150: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

149

MODELO Nº 9

PEDIDOS DE PRISÃO

PREVENTIVA

Page 151: Íntegra do Projeto

150

(prisão preventiva pelo descumprimento da medida

preventiva)

Vara Criminal da Comarca de Embu Guaçu

Autos nº 938/10

MMª. Juíza:

Os presentes autos tratam de pedido de medida protetiva

instaurados para se apurar a prática de crimes de ameaça, injúria e lesão

corporal, formulados pela vítima Andréia Maria da Silva, tendo como autor

dos fatos Itamar Custodio Cardoso Pires.

Segundo o que se apurou, a vítima conviveu maritalmente

com Itamar por três anos. Desta união não tiveram filhos. Com o rompimento

da relação, Itamar inconformado com a separação passou a ameaçar a vítima

de morte, bem como a lhe perseguir em seu trabalho.

Diante de tais fatos, a vítima compareceu na Delegacia de

Polícia e no Ministério Público de Embu Guaçu, onde ofertou representação

contra Itamar a fl. 13, narrou os fatos e requereu as medidas protetivas de

urgência previstas no artigo 22, inciso III, “a,” e “b”, da Lei n. 11340/06, as

quais foram deferidas por este Digníssimo Juízo a fls. 16, em 20 de dezembro

de 2010.

Não obstante, a vítima compareceu na Delegacia de

Polícia no dia 08 de janeiro de 2011, mas na delegacia não havia nenhum

registro de ocorrência anterior. Esta foi orientada se caso o agressor voltasse a

lhe importunar novamente que ligasse para 190. Ocorre que, Itamar voltou a

se aproximar da vítima, a qual ligou três vezes para o 190 e não obteve auxílio

policial. Não obstante, no dia 14 de janeiro de 2011, a vítima se dirigiu a esta

Promotoria de Justiça, declarou que, o autor dos fatos não deixou de procurá-

la, mesmo após ter sido intimado das medidas protetivas, pois continua indo à

Page 152: Íntegra do Projeto

151

sua casa e ao seu local de trabalho, um salão de beleza, o qual começa a

proferir palavras de baixo calão consistentes em: “Vagabunda, puta,

prostituta, etc.”, bem como lhe disse que o oficial de justiça havia levado a

intimação para ele, mas que não estava nem ai.

Outrossim, verifica-se que além da nova ofensa ao

preceito legal, o autor dos fatos incorreu em crime de desobediência, uma vez

que desrespeitou decisão deste Digníssimo Juízo, em total desrespeito à Lei,o

que, por si só, enseja a prisão preventiva.

Desta forma diante da constatação de que as mulheres

vem, ao longo dos séculos, sendo reiteradamente vitimizadas no âmbito da

unidade doméstica e familiar ou em relação íntima de afeto, foi editada a Lei

n. 11.340/06, que instituiu mecanismos para coibir e prevenir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, e, tendo em vista que, segundo relato da

vítima, o investigado já a agrediu e a ameaçou diversas vezes, bem como

constantemente tem ofendido sua honra e considerando que o Legislador,

visando coibir e prevenir a Violência Doméstica e Familiar contra Mulher,

alterou o Código de Processo Penal, admitindo a prisão preventiva nos crimes

de violência doméstica, independentemente de contar o investigado/indiciado

com condenação anterior por crime doloso, com trânsito em julgado, ou de ser

vadio ou de identificação duvidosa, dispondo no art. 20 da Lei 11.340/06,

que:

“Em qualquer fase do inquérito policial ou da

instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor,

decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério

Público ou mediante representação da autoridade policial.”

No mesmo sentido, o artigo 313, incido IV, do Código de

Processo Penal estabelece que, uma vez presentes os requisitos do artigo 311

e 312 do Código de Processo Penal, será admitida a decretação da prisão

preventiva nos crimes dolosos:

Page 153: Íntegra do Projeto

152

IV_ se o crime envolver violência doméstica e familiar

contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das

medidas protetivas de urgência.

Requeiro, COM URGÊNCIA, seja decretada a prisão

preventiva de ITAMAR CUSTODIO CARDOSO PIRES nos termos do

art. 312 313, inciso IV, do CPP.

Presente está o “fumus boni iuris” necessário para a

decretação da prisão. Com efeito, há indícios suficientes de autoria e prova da

materialidade dos fatos, conforme boletim de ocorrência e termo de

declarações da vítima.

Em relação ao “periculum in mora” que autoriza a

presente medida cautelar, vejamos:

Trata-se de delito de extrema gravidade, que atenta contra

a segurança da mulher, aliado ao fato de que o investigado valeu-se do

emprego de grave ameaça contra a pessoa, agredindo sua ex-convivente bem

como a ameaçando. O autor dos fatos demonstrou estar desequilibrado e

transtornado, fato este que merece atenção especial do Ministério Público e do

Poder Judiciário, pois demonstra que poderá vir a cometer crime mais grave.

Portanto necessária a sua prisão preventiva para evitar que a sociedade e a

vítima sejam expostos a riscos desnecessariamente, a fim de garantir a

ordem pública.

Salienta-se, por fim , que, caso o denunciado permaneça

solto, poderá ameaçar a vítima de morte ou pressionar psicologicamente as

testemunhas, tendo em vista que, conforme acima mencionado, o indiciado é

pessoa perigosa, pois ameaçou um cliente do salão de morte dizendo para ele

não voltar mais no salão, tampouco falar com a vítima. É cediço salientar que

o agressor adentrou no estabelecimento comercial onde a vítima trabalha e

juntamente com outros indivíduos não identificados, ameaçou tal pessoa com

Page 154: Íntegra do Projeto

153

emprego de arma de fogo. Ademais, há a necessidade da presença do

denunciado em Juízo, para conveniência da instrução criminal.

Pelo exposto, requeiro a prisão preventiva de

ITAMAR CUSTODIO CARDOSO PIRES nos termos do art. 312 e 313,

inciso IV, do CPP.

Após, requeiro imediata vista dos autos principais para

oferecimento de denúncia, no prazo legal.

Embu Guaçu, 25 de janeiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

PROMOTORA DE JUSTIÇA

RAQUEL CONCEIÇÃO DOS SANTOS

ESTAGIÁRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Page 155: Íntegra do Projeto

154

(prisão preventiva pela gravidade do crime)

Vara Criminal da Comarca de Embu Guaçu

Autos nº 133/11

MM. Juiz:

Tratam os presentes autos de pedido de medida

protetiva instaurado para se apurar a prática de crime de tentativa de

homicídio e tentativa de aborto, lesão corporal e ameaça no âmbito

doméstico, incidindo, assim a Lei Maria da Penha.

Segundo o que se apurou, a vítima e o autor dos

fatos convivem em união estável por aproximadamente 7 sete anos, sendo que

desta união adveio o nascimento de uma criança, atualmente com seis anos de

idade, estando a vítima grávida do segundo filho do casal.

É dos autos que o comportamento do denunciado

sempre foi agressivo, porém a vítima sentia muito medo em denunciá-lo,

expondo sua vida e a vida de seus filhos a extremo risco.

Na data dos fatos, conforme conta da denúncia,

FRANCIMAR ALVES VIANA tentou matar a vítima, e provocar aborto,

além de espancá-la e ameaçá-la de morte. Temerosa, a vítima não acionou a

polícia, até porque os familiares do autor dos fatos a impediu, o que fez com

que a vítima fugisse para Embu-Guaçu, na residência de sua genitora, vindo a

solicitar auxílio ao Ministério Público desta Comarca.

Page 156: Íntegra do Projeto

155

A vítima abandonou sua residência, seu emprego e

encontra-se atualmente escondida, uma vez que, mesmo após os fatos, o

denunciado a telefonou por mais de trinta vezes e a ameaçou de morte.

A vítima está visivelmente desesperada e teme pela

sua vida e de sua filha menor de idade, além de estar grávida de seis meses.

Por outro lado, o autor dos fatos não trabalha, não

possui residência fixa (reside com a genitora) e possui vasta folha de

antecedentes criminais, além de ser viciado em bebida alcoólica e fazer uso de

entorpecentes.

Salienta-se que a vítima comparece nesta Promotoria

de Justiça constantemente e diz que está com medo de que algo possa

acontecer com ela e com seus filhos, informando que não irá mais voltar para

Itaquaquecetuba.

Desta forma diante da constatação de que as mulheres

vem, ao longo dos séculos, sendo reiteradamente vitimizadas no âmbito da

unidade doméstica e familiar ou em relação íntima de afeto, foi editada a Lei

n. 11.340/06, que instituiu mecanismos para coibir e prevenir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, e, tendo em vista que, segundo relato da

genitora das vítima, o denunciado a está ameaçando e considerando que o

Legislador, visando coibir e prevenir a Violência Doméstica e Familiar contra

Mulher, alterou o Código de Processo Penal, admitindo a prisão preventiva

nos crimes de violência doméstica, aliado ao fato de que o denunciado

cometeu crime hediondo contra a vítima e colocou em riso a vida de seus

filhos, aliado ao fato de que, pelo que se depreende das declarações da

vítima, a vem torturada ao longo de sete anos, e dispondo o art. 20 da Lei

11.340/06, que:

“ Em qualquer fase do inquérito policial ou da

instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor,

Page 157: Íntegra do Projeto

156

decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério

Público ou mediante representação da autoridade policial.”

Presente está o “fumus boni iuris” necessário para a

decretação da prisão. Com efeito, há indícios suficientes de autoria e prova

da materialidade dos fatos, conforme declarações da vítima nesta Promotoria

de Justiça, boletim de ocorrência, relatório médico dando conta da gravidez

da vítima e de suas agressões, além da FA do denunciado juntada aos autos.

Em relação ao “periculum in mora” que autoriza a

presente medida cautelar, vejamos:

Trata-se de delito de extrema gravidade, que atenta

contra a segurança e a liberdade da mulher e de sua prole, aliado ao fato de

que o réu enocntra-se em cumprimento de pena em regime aberto, e, mesmo

assim, tentou matar sua companheira, em total desrespeito às leis e ao Poder

Judiciário. Salienta-se, por fim , que o réu personalidade depravada e

perigosa, demonstrando que solto poderá constranger a vítima e testemunhas,

bem como cometer mal maior, em total prejuízo da garantia da ordem

pública e conveniência da instrução criminal, bem como para assegurar a

futura aplicação da lei, pois não trabalha, não tem residência fixa, faz uso

de drogas e possui péssimos antecedentes criminais.

Ante o exposto, requeiro, COM URGÊNCIA, seja

decretada a prisão preventiva de FRANCIMAR ALVES VIANA nos

termos do art. 312 e 313 do CPP.

Embu Guaçu, 22 de fevereiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 158: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

157

MODELO Nº 10

RECURSO CONTRA DECISÃO QUE DESIGNAR

AUDIÊNCIA ARTIGO 16

Page 159: Íntegra do Projeto

158

EXCELENTÍSSIMA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE CAMPO GRANDE/MS

(Rese antes do recebimento da denúncia)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, por seus Promotores de Justiça subscritores, com fundamento no artigo 581, I e VIII do Código de Processo Penal, interpõe RECURSO EM SENTIDO ESTRITO contra a sentença que determinou a extinção da punibilidade com consequente rejeição de

denúncia, diante da realização da audiência estabelecida no artigo 16 da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), na qual foi colhida a retratação da mulher em situação de violência.

Pugna o Ministério Público pelo recebimento e processamento

do presente recurso, remetendo-se os presentes autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul para reapreciação da matéria, caso não efetivado o juízo de retratação.

Campo Grande, 31 de janeiro de 2011.

ANA LARA CAMARGO DE CASTRO SILVIO AMARAL NOGUEIRA DE LIMA PROMOTORA DE JUSTIÇA PROMOTOR DE JUSTIÇA

Page 160: Íntegra do Projeto

159

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

COLENDA TURMA CRIMINAL EMÉRITOS JULGADORES

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, por

seus Promotores de Justiça subscritores, vem à presença de Vossas Excelências, com fulcro no artigo 581, I e VIII, do Código de Processo Penal apresentar suas RAZÕES EM RECURSO EM SENTIDO ESTRITO contra a sentença que determinou a extinção da punibilidade com consequente rejeição de denúncia, diante da realização da audiência estabelecida no artigo 16 da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), na qual foi colhida a retratação da mulher em situação de violência, nos termos que se seguem.

FUNDAMENTAÇÃO DO INCONFORMISMO MINISTERIAL

A magistrada respalda seu posicionamento no tocante ao cabimento da retratação da mulher em situação de violência doméstico-familiar, tanto no crime de lesões corporais de natureza leve quanto na contravenção penal de vias de fato, em recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça no REsp Repetitivo 1097042 (por maioria de votos predominou entendimento quanto à necessidade de representação da vítima nos crimes de lesão corporal leve envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher), bem como, em recentes julgados do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul que reconhecem a obrigatoriedade da realização da audiência do artigo 16 de Lei 11.340/2006.

Verifica-se, porém, a ocorrência de equívoco de interpretação

quanto à extensão do REsp Repetitivo 1097042, conforme se demonstrará.

Page 161: Íntegra do Projeto

160

A questão jurídica que no REsp Repetitivo 10970472 limita-se, originalmente, a atribuir necessidade de representação em crime de lesão corporal doméstico-familiar de natureza leve, foi, equivocadamente, alçada à imposição da realização da audiência do artigo 16 de Lei 11.340/2006, vale dizer, ao chamamento compulsório, sob pena de nulidade, de todas as mulheres em situação de violência doméstico-familiar para comparecimento em Juízo a fim de confirmar representação já formulada perante a autoridade policial e se manifestar (novamente) quanto ao interesse no processamento do agressor.

Ainda que se admita que o crime de lesões corporais doméstico-

familiares de natureza leve e a contravenção penal de vias de fato sejam de ação penal pública condicionada à representação, tal circunstância não se confunde com a compulsoriedade da audiência do artigo 16.

Com efeito, basta representação da ofendida para o

processamento da ação penal condicionada, sendo despiciendo chamá-la em juízo para ratificar a representação encartada nos autos.

A audiência do artigo 16 não é ato processual obrigatório,

destina-se apenas a verificar ser livre e desimpedida a intenção de a vítima retratar-se, ou seja, na hipótese de a vítima haver sinalizado previamente desejo de obstar o seguimento da persecução penal, que essa manifestação ocorra, em regra, na presença da autoridade judiciária, que, ao menos em tese, deveria assegurar ser livre de pressões sociais e coações familiares.

Em momento algum o legislador da Lei 11.340/2006 pretendeu

submeter a mulher em situação de violência a novo constrangimento, de ser chamada em juízo para reiterar posição já manifestada na delegacia, até porque, a toda evidência, referido ato processual ex officio acaba sendo percebido como indução à retratação e justamente se equivale às tentativas conciliatórias que eram típicas do Juizado Especial Criminal, por força da Lei 9.099/1995, e que precisamente o legislador da Lei Maria da Penha quis afastar. Essa foi a mens legis e a mens legislatoris que, agora, se quer ignorar.

Não há previsão legal dessa etapa processual, que caracteriza

completa inversão do espírito da Lei Maria da Penha, que tinha no seu artigo 16 uma previsão de maior proteção à mulher em situação de violência, um suporte para que ela, apresentando prévio, mas oscilante desejo de interromper a investigação e a persecução penal, fosse correta e detidamente esclarecida em juízo, com a devida atenção ao seu caso específico e não chamada em audiência seriada para ser reindagada sobre a certeza da intenção de processar seu agressor.

A simples leitura do texto da lei já demonstra o seu sentido:

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Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à

representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

A audiência não se designa para ratificar representação e, sim, para colher, em casos específicos, a retratação.

As palavras do legislador são muito claras - audiência especialmente designada.

A audiência não é, portanto, a rotina. Não é regra a sua realização. Ela é especialmente designada quando há um fato específico que a impulsiona, que não é outro senão a prévia manifestação da mulher no sentido de pretender a retratação da representação já formulada perante a autoridade policial.

Interpretar a lei em sentido diverso seria imaginar que a Lei Maria da Penha é uma lei suicida, que foi, em tese, criada para facilitar o trajeto da mulher na persecução dos atos de violência contra si, eliminando etapas burocráticas e garantindo maior proteção, mas que, ao fim, teria criado, em si própria, mecanismo de neutralização.

Não seria outra coisa o artigo 16, se interpretado como etapa obrigatória, que um dispositivo autofágico da Lei Maria Penha para criar óbice a sua aplicação.

Nunca é demais apontar a incoerência e inviabilidade do caráter obrigatório do referido artigo sob o ponto de vista do custo social e orçamentário-financeiro das instituições públicas.

Representaria absurdo desperdício de recursos públicos a hipótese de manutenção de delegacias especializadas, como é o caso da DEAM em Campo Grande/MS, instaurando, diligenciando, produzindo elementos em milhares de inquéritos policiais, com posterior remessa ao Ministério Público, que, igualmente, mantém promotorias especializadas na matéria, para elaboração de milhares de denúncias, tudo a fim de produzir papéis inúteis, sem qualquer valor antes da realização da audiência.

O inquérito e a denúncia não serão apreciados pelo juiz antes da audiência; a vítima sequer deles toma conhecimento, porque recebe unicamente a intimação para ir em juízo ratificar representação; e o acusado, muito menos, uma vez que somente será citado para a ação penal se a mulher ratificar a representação.

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Se essa fosse a intenção do legislador, não haveria necessidade de se adotar sistemática diferente daquela havida nos JECs, afastando os delitos de violência doméstica e familiar contra a mulher do conceito de menor potencial ofensivo e obrigando o inquérito e a denúncia. Se essa fosse a intenção do legislador, o mero registro da ocorrência deveria ser encaminhado a Juízo para ratificação da vítima e, somente nesse caso, a investigação e a posterior ação penal seguiriam.

Aliás, essa é a praxe ilegal adotada em várias Comarcas do interior do Estado de Mato Grosso do Sul, pois, uma vez que se adota o artigo 16 como obrigatório, muito rapidamente se vê que não faz sentido algum que a autoridade policial e o promotor de justiça trabalhem em vão.

O custo dessa atividade inútil é inestimável, uma vez que é certo que a maioria esmagadora das vítimas, por motivos variados, não tem forças para assumir sozinha a responsabilidade pelo processamento do seu agressor, já que se encontra sob enorme pressão psicológica e o fator sociocultural da submissão da mulher está arraigado em seu inconsciente.

A implantação do caráter obrigatório ao artigo 16 na Capital deverá, então, implicar em extinção da vara e das promotorias especializadas, devolvendo-se a pouca quantidade de processos restantes às criminais residuais. Não faz sentido algum, nem do ponto de vista da probidade administrativa e nem do ponto de vista ambiental, a adoção dessa prática que se destina exclusivamente a arquivar papel.

A adoção do caminho mais fácil nesse caso não é admissível, ainda que nessa quadra histórica, quando as Instituições sofrem notórias pressões por produção estatística, conforme se vê das metas e mutirões estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Entretanto, o arquivamento em massa de feitos criminais, ainda que produza estatísticas de eficiência, não é compatível com a missão institucional do Ministério Público e nem do Poder Judiciário.

É certo que a designação ex officio da audiência do artigo 16, por si só, representará a redução de cerca 90% do volume de feitos da vara, estoque que nos últimos quatro anos tem oscilado em torno de quatro a seis mil feitos. Tal montante representa cerca de 35% das ações penais em trâmite na Comarca de Campo Grande (contando-se a produção de 8 promotorias criminais residuais, 4 de Júri, 3 ambientais, 2 consumeristas e 3 de patrimônio público).

Dessa forma, no plano estatístico, é mister considerar que 35% do volume de feitos criminais em trâmite na Capital deriva da atuação exclusiva de

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apenas dois promotores, os ora subscritores, o que confirmaria a viabilidade gerencial do acolhimento da interpretação da magistrada que, embora completamente equivocada e desfocada do espírito da lei, seria bastante cômoda.

Cumpre reconhecer que, durante os meses de julho e agosto, os próprios subscritores se viram tentados a ceder ao forte esquema do sistema, o que representaria a redução radical do volume de trabalho que tem sido insano nos últimos quatro anos.

Ocorre que referida postura revelou-se incompatível com a missão do Ministério Público, que não é empresa privada em busca de estatística e produtividade, mas Instituição destinada à proteção da sociedade e do Estado de Direito.

O entendimento ora guerreado não foi acolhido exatamente por, ao fim, violar a consciência dos subscritores, que verificaram, com a nova rotina estabelecida, que em pouco tempo, apesar da diminuição da carga profissional, estariam desonrando a nobre função que exercem.

A jurisprudência tem enfrentado a questão da não-obrigatoriedade da audiência mencionada no artigo 16 da Lei Maria da Penha e, nesse sentido, os julgados do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e do próprio Superior Tribunal de

Justiça: TJRJ - PROCESSO 0018947-38.2007.8.19.0007 (2009.050.03254) DES. SIRO DARLAN DE OLIVEIRA - Julgamento: 24/08/2010 - SÉTIMA CAMARA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE AMEAÇA QUALIFICADO PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. SENTENÇA QUE JULGA PROCEDENTE O PEDIDO CONTIDO NA DENÚNCIA PARA CONDENAR O RÉU PELA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO PELO ARTIGO 147 DO CP [...] RECURSO DEFENSIVO ARGÜINDO COMO PRELIMINARES A NULIDADE DO FEITO A PARTIR DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA ANTE A NÃO DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA ESPECIAL PREVISTA NO ART. 16 DA LEI 11.340/06 [...] PRELIMINARES QUE SE REJEITAM. A AUDIÊNCIA DE QUE TRATA O ART. 16 DA LEI MARIA DA PENHA NÃO É UM ATO OBRIGATÓRIO, DEVENDO A PARTE MANIFESTAR INTERESSE EM SE RETRATAR PARA QUE O MAGISTRADO REALIZE O ATO, ANTES OBVIAMENTE DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, NÃO SE VISLUMBRANDO NO CASO CONCRETO QUE A VÍTIMA TENHA MANIFESTADO DESEJO DE SE RETRATAR DA REPRESENTAÇÃO, [...]

TJDFT - Classe do Processo : 2008 06 1 000008-3 APR - 0000008-12.2008.807.0006 (Res.65 - CNJ) DF

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Registro do Acórdão Número : 433984 Data de Julgamento : 08/07/2010 Órgão Julgador : 2ª Turma Criminal Relator : SÉRGIO ROCHA Disponibilização no DJ-e: 21/07/2010 Pág. : 221 APELAÇÃO CRIMINAL - LESÃO CORPORAL PRATICADA EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER - CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 11.340/06 - DOSIMETRIA DA PENA. 1. A LEI MARIA DA PENHA (11.340/06) É CONSTITUCIONAL PORQUE SE TRATA DE AÇÃO AFIRMATIVA E O DISCRIME SE DÁ EM RAZÃO DA MAIOR VULNERABILIDADE DA VÍTIMA, COMO OCORRE NOS DELITOS CONTRA MENOR DE IDADE E CONTRA IDOSO. 2. A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16 DA LEI N. 11.340/06 NÃO É IMPOSTA PELA LEI, OCORRENDO APENAS QUANDO HÁ NOTÍCIA, NOS AUTOS, DA INTENÇÃO DE RENÚNCIA DAS VÍTIMAS. 3. A LEI N. 11.340/06, EM SEU ART. 17 VEDA A SUBSTITUIÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENA EXCLUSIVA DE MULTA. 4. DEU-SE PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DO RÉU, PARA REDUZIR A PENA APLICADA. TJDFT - Classe do Processo : 2009 00 2 013741-2 RCL - 0013741-29.2009.807.0000 (Res.65 - CNJ) DF Registro do Acórdão Número : 403207 Data de Julgamento : 14/01/2010 Órgão Julgador : 1ª Turma Criminal Relator : EDSON ALFREDO SMANIOTTO Disponibilização no DJ-e: 01/03/2010 Pág. : 148 Ementa

RECLAMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - NULIDADE PROCESSUAL - LESÕES CORPORAIS - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LEI MARIA DA PENHA (11.343/2006) - RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO - NECESSIDADE DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16 DA LEI 11.340/2006. O LEGISLADOR, NO ARTIGO 16 DA LEI Nº 11.340/2006, NÃO INSTITUIU UM PRÉ-REQUISITO PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA EM RELAÇÃO A CRIMES TRATADOS PELA REFERIDA LEI. A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE QUE TRATA O ARTIGO 16, DA LEI MARIA DA PENHA, NÃO SE DÁ EM TODOS OS PROCESSOS, MAS TÃO SOMENTE NAQUELES EM QUE A OFENDIDA, ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, MANIFESTAR INTERESSE DE RENUNCIAR À REPRESENTAÇÃO. OU SEJA, A RENÚNCIA SOMENTE SERÁ ADMITIDA APÓS AUDIÊNCIA, PERANTE O JUIZ.

TJMT - Número: 817

Ano: 2009 Magistrado DES. PAULO DA CUNHA HABEAS CORPUS - CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER - ART. 147, CAPUT, C/C O ART. 61, INCISO II, ALÍNEA “F”, AMBOS DO CÓDIGO PENAL - PRETENDENDO O SOBRESTAMENTO DO FEITO - ADUZ QUE A AUTORIDADE ACOIMADA COATORA NÃO DEVERIA TER RECEBIDO A DENÚNCIA, DANDO PROSSEGUIMENTO AO PROCESSO SEM A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI Nº. 11.340/2006, SOB A ALEGAÇÃO DE QUE SERIA ESTA A OPORTUNIDADE ÚNICA PARA A VÍTIMA RETRATAR-SE DA

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REPRESENTAÇÃO - INADMISSIBILIDADE - AUDIÊNCIA PRELIMINAR QUE SÓ DEVE SER DESIGNADA QUANDO A VÍTIMA MANIFESTAR VOLUNTARIAMENTE O DESEJO DE RENUNCIAR ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - ORDEM DENEGADA. Em nenhum momento, a Lei Maria da Penha cogitou-se de impor realização de audiência preliminar para a ofendida ratificar a representação ou confirmar o seu interesse no prosseguimento. Somente havendo pedido expresso da ofendida ou evidência da sua intenção de retratar-se, e desde que antes do recebimento da denúncia, é que designará o juiz audiência para, ouvido o ministério público, admitir, se o caso, a retratação da representação. Nada impede que a vítima, por livre e espontânea vontade, procure a Justiça para encerrar o caso, todavia, deverá fazê-lo antes do recebimento da denúncia. Depois do início do processo, a responsabilidade estatal será exclusiva para apurar a notícia criminosa e aplicar a lei penal como de direito. Ordem denegada.

TJMT - Número: 818

Ano: 2009 Magistrado DES. LUIZ FERREIRA DA SILVA HABEAS CORPUS - LESÃO CORPORAL E AMEAÇA C/C A LEI MARIA DA PENHA - TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL - ALEGADA FALTA DE PROCEDIBILIDADE PARA A PERSECUÇÃO PENAL - AUSÊNCIA DE CONFIRMAÇÃO, EM JUÍZO, DA REPRESENTAÇÃO QUANTO AO CRIME DE AMEAÇA - INSUBSISTÊNCIA - INTELIGÊNCIA DO ART. 16 DA LEI N. 11.340/06 - CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE - WRIT DENEGADO. A Lei n. 11.340/06, também conhecida como Lei Maria da Penha, não prevê a necessidade de que a vítima confirme, em juízo, a representação oferecida na fase policial, porque embora o art. 16 da referida lex realmente disponha sobre a possibilidade de retratação, não exige a convalidação do ato representativo como forma de condição de procedibilidade da ação penal instaurada em desfavor do paciente. Destarte, não estando evidenciado no habeas corpus o constrangimento ilegal deduzido na impetração, é imperiosa a denegação do writ constitucional.

TJRS RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DESNECESSIDADE DE RATIFICAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO COMO CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE DA AÇÃO PENAL. O art. 16 da Lei Maria da Penha não exige a ratificação da representação, mas apenas a ratificação da retratação (renúncia) da representação, de modo que, somente quando demonstrado interesse da ofendida em retratar a representação - o que não se verifica no caso em apreço - é que caberia a designação da audiência preliminar. Assim, não havendo fundamento legal para a exigência de confirmação da representação, não pode o não comparecimento da vítima, em juízo, para ratificar a representação, implicar em obstáculo ao prosseguimento da ação penal. PROVERAM O RECURSO. UNÂNIME. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70033222803, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone Sanguiné, Julgado em 22/04/2010)

O Superior Tribunal de Justiça já havia sinalizado nesse sentido no HC 151.505-ES, no RHC 23.047-MG e no RHC 23.786-DF, mas, em recente julgado, publicado em 22 de novembro de 2010, no HC 96601-MS, oriundo do nosso Estado, tornou clara a questão:

HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LESÕES CORPORAIS LEVES. LEI MARIA DA PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA

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CONDICIONADA. REPRESENTAÇÃO. PRESCINDIBILIDADE DE RIGOR FORMAL. AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI 11.340/06. OBRIGATORIEDADE APENAS NO CASO DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE DA VÍTIMA EM SE RETRATAR. 1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 1.097.042/DF, ocorrido em 24 de fevereiro do corrente ano, firmou a compreensão de que, para propositura da ação penal pelo Ministério Público, é necessária a representação da vítima de violência doméstica nos casos de lesões corporais leves, pois se cuida de ação penal pública condicionada. 2. A representação não exige qualquer formalidade específica, sendo suficiente a simples manifestação da vítima de que deseja ver apurado o fato delitivo, ainda que concretizada perante a autoridade policial. 3. A obrigatoriedade da audiência em Juízo, prevista no artigo 16 da Lei nº 11.340/06, dá-se tão somente no caso de prévia manifestação expressa ou tácita da ofendida que evidencie a intenção de se retratar antes do recebimento da denúncia. 4. Habeas corpus denegado.

O inteiro teor do julgado é completamente elucidativo:

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ⁄CE): Cuida-se de habeas corpus impetrado em favor de Ademir Ciriaco Duarte, denunciado pela suposta prática de crime de lesão corporal de natureza leve no âmbito familiar, previsto no artigo 129, § 9º, do Código Penal, apontada como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul.

Busca a impetração o "trancamento da ação penal por falta de condição de procedibilidade, visto que o crime de lesão corporal leve é de ação pública condicionada, ou seja, a denúncia só pode ser oferecida e recebida, com a representação das partes, e em audiência judicial especialmente designada para esse fim, à luz da norma consubstanciada no artigo 16 da Lei nº 11.340⁄2006" (fl. 5).

A liminar foi indeferida pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima, antigo relator, à fl. 78.

Dispensada as informações, a douta Subprocuradoria-Geral da República, ao manifestar-se (fls. 81⁄84), opinou pela denegação da ordem.

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Posteriormente, os autos foram atribuídos à minha Relatoria (fl. 102).

É o relatório.

VOTO

O SENHOR MINISTRO HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ⁄CE) (RELATOR): Inicialmente, cabe registrar que a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.097.042⁄DF, ocorrido em 24 de fevereiro do corrente ano, firmou a compreensão de que, para propositura da ação penal pelo Ministério Público, é necessária a representação da vítima de violência doméstica nos casos de lesões corporais leves, pois se cuida de ação pública condicionada. O julgado restou assim ementado:

"RECURSO ESPECIAL REPETITIVO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. PROCESSO PENAL. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DAVÍTIMA. IRRESIGNAÇÃO IMPROVIDA. 1. A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública condicionada à representação da vítima. 2. O disposto no art. 41 da Lei 11.340⁄2006, que veda a aplicação da Lei 9.099⁄95, restringe-se à exclusão do procedimento sumaríssimo e das medidas despenalizadoras. 3. Nos termos do art. 16 da Lei Maria da Penha, a retratação da ofendida somente poderá ser realizada perante o magistrado, o qual terá condições de aferir a real espontaneidade da manifestação apresentada. 4. Recurso especial improvido." (REsp nº 1097042⁄DF, Relator para Acórdão o Ministro JORGE MUSSI, DJe de 21⁄5⁄2010.)

Entendo, contudo, que tal representação não depende de qualquer formalidade específica, sendo suficiente a simples manifestação da vítima de que deseja ver apurado o fato delitivo, ainda que concretizada perante a autoridade policial.

Nesse sentido:

A - "HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO. TESE DE FALTA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. INEQUÍVOCAMANIFESTAÇÃO DE VONTADE DA VÍTIMA. OFERECIMENTO DE NOTITIA CRIMINIS PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL. VALIDADE COMO EXERCÍCIO

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DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. INEXIGIBILIDADE DE RIGORES FORMAIS. PRECEDENTES. PLEITO DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DO SURSIS PROCESSUAL. IMPOSSIBILIDADE. NÃO-INCIDÊNCIA DA LEI 9.099⁄95. 1.A representação, condição de procedibilidade exigida nos crimes de ação penal pública condicionada, prescinde de rigores formais, bastando a inequívoca manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal no sentidode que se promova a responsabilidade penal do agente, como evidenciado, in casu, com a notitia criminis levada à autoridade policial, materializada no boletim de ocorrência. 2.Por força do disposto no art. 41 da Lei 11.340⁄06, resta inaplicável, em toda sua extensão, a Lei 9.099⁄95. 3.Ordem denegada." (HC 130.000⁄SP, Relatora a Ministra LAURITA VAZ, DJe de 8⁄9⁄2009.) B - "PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 214, C⁄C 224, ALÍNEA A, DO CÓDIGO PENAL. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA. REPRESENTAÇÃO. DESNECESSIDADE DE RIGOR FORMAL. CRIME HEDIONDO. PROGRESSÃO DE REGIME. POSSIBILIDADE. INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ART. 2º DA LEI Nº 8.072⁄90 DECLARADA PELO STF. REQUISITOS. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO PRÉVIA PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO. AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. I - Em se tratando de crime de ação penal pública condicionada, não se exige rigor formal na representação do ofendido ou de seu representante legal, bastando a sua manifestação de vontade para que se promova a responsabilização do autor do delito. II - O Pretório Excelso, nos termos da decisão Plenária proferida por ocasião do julgamento do HC 82.959⁄SP, concluiu que o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072⁄90 é inconstitucional. III - Assim, o condenado por crime hediondo ou a ele equiparado pode obter o direito à progressão de regime prisional, desde que preenchidos os demais requisitos. IV - Decorridos mais de cinco anos da extinção da pena da condenação anterior e a prática do novo delito, deve ser afastada a agravante da reincidência (art. 64, inciso I, do CP). Ordem parcialmente concedida." (HC 86.232⁄SP, Relator o Ministro FELIX FISCHER, DJU de 5⁄11⁄2007.) C - "RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL. REPRESENTAÇÃO. REGISTRO DE OCORRÊNCIA PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL. VALIDADE. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO APELO. O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que o simples registro da ocorrência perante a autoridade policial equivale a representação para fins de instauração da instância penal. Recurso conhecido e provido." (REsp nº 541807⁄SC, Relator o Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJU de 9⁄12⁄2003.)

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No caso, disse o Tribunal de Justiça: "Quanto à tese de ausência de representação, consoante sobressai dos autos, às fls. 11, 12 e 13, consta, respectivamente, Boletim de Ocorrência, laudo referente às lesões corporais sofridas pela vítima e Termo de Declaração desta, demonstrando, com tal procedimento, a inquestionável vontade de ver seu agressor processado. A intenção da vítima para que o delito fosse apurado já foi demonstrada, e devem ser consideradas válidas, para tanto, as declarações firmadas nesse sentido perante a autoridade policial. Além disso, é cediço que a representação, como condição de procedibilidade, prescinde de rigor formal, e basta a demonstração inequívoca da vontade do ofendido, de que sejam tomadas providências em relação ao fato e àresponsabilização do autor, sendo, portanto, aceitável formulação perante a autoridade policial, ainda que essa se dê em forma de Boletim de Ocorrência e Termo de Declaração. (...) Assim, entendo que a vítima, ao procurar a Delegacia de Polícia Civil e registrar Boletim de Ocorrência, prestar Declarações e se submeter a exame de corpo de delito, demonstra de maneira inequívoca a vontade de representar contra seu agressor." (fls. 72⁄73)

Assim, conforme visto no acórdão atacado, restou demonstrada a inequívoca intenção da vítima no sentido de que se promova a responsabilidade penal do ofensor, notadamente pelo registro do Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia, bem como por ter se submetido a exame de corpo de delito a fim de comprovar a materialidade do suposto crime, ausente, portanto, o alegado constrangimento ilegal nesse ponto.

De outro lado, quanto à tese de nulidade do procedimento ante a ausência de designação da audiência prevista no artigo 16 da Lei nº 11.340⁄06, também não assiste razão à impetrante.

Veja-se o teor do referido artigo:

"Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público."

Com efeito, extrai-se desse dispositivo que a obrigatoriedade da audiência em Juízo se dá tão somente se houver prévia manifestação expressa ou tácita da vítima que evidencie a intenção de se retratar antes do recebimento da denúncia, o que não se verificou no caso dos autos.

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Em outras palavras, não é necessário que o Juiz de primeiro grau designe audiência antes de receber a denúncia em todos os casos de ação penal pública condicionada para que a vítima ratifique ou renuncie à representação.

A razão desta audiência é justamente para que o magistrado possa analisar acerca da real intenção da vítima em se retratar da representação, ou seja, para garantir a livre e espontânea manifestação da ofendida.

Ante o exposto, em consonância com o parecer do douto Ministério Público Federal, denego o habeas corpus.

É como voto.

Assim é que, diante de todo o exposto, conclui-se que o relevo social e as expectativas geradas pela Lei Maria da Penha não podem ser ignorados pelo Ministério Público, que cumpre o papel de defensor da ordem jurídica.

É sabido que a Lei Maria da Penha não encontrou campo fácil de

aceitação em uma sociedade patriarcal, diga-se, sociedade em que, culturalmente, as mulheres são subordinadas aos homens e o patriarcado existe como forma de dominação familiar, de modo que não se consegue aplicá-la de forma retilínea.

As questões relativas à mulher sempre foram relegadas à esfera do

privado e a Lei Maria da Penha teve justamente como objetivo a desconstrução desse conceito e a ruptura desse paradigma. A Lei Maria da Penha pretendeu dar visibilidade ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher, elevá-lo à condição de violação de direitos humanos e estabelecê-lo como de interesse social e político.

A violência de gênero é impregnada por um conceito genérico de

masculinidade como posição de domínio, culturalmente tão poderoso e também arraigado ao inconsciente feminino que não permite um exercício livre do direito de escolha e a compreensão da abrangência da violação dos direitos humanos.

É, portanto, relevantíssimo que os operadores do Direito dimensionem a responsabilidade que carregam consigo diante da Lei Maria da Penha, que é instrumento de transformação social, desenhado pelo legislador para retirar a violência do âmbito interna corporis da unidade doméstica e familiar e apresentá-lo ao crivo judicial sob às luzes dos direitos humanos e do interesse republicano.

E não se pode imaginar que essa transformação ocorra do dia para

a noite e que os operadores do Direito venham a se despir prontamente de suas

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convicções mais profundas que, igualmente, são frutos da referida estrutura patriarcal que está em ruptura, daí porque muitas interpretações controversas, tamanhas reações jurídico-passionais e acentuada tendência à flexibilização e ao retrocesso, tanto é assim que se submetidas questões da lei ao escrutínio colegiado de promotores e de juízes para elaboração de enunciados é quase certo que o resultado será de reinterpretar a lei ao ponto de não aplicá-la ou equipará-la ao JEC, uma vez que esse é o caminho natural em razão das constantes cobranças de metas e de estatísticas para extinção de feitos.

É certo que os operadores do Direito ainda estão se debatendo

para delinear os contornos da Lei Maria Penha e estão revirando suas próprias trajetórias e se renovando no exercício de cidadania, mas devem saber que não se pode, além de certa medida, sob as balizas do justo e razoável, flexibilizá-la, sob pena de obliterá-la, aniquilando, juntamente com a lei, a oportunidade de provocar a sociedade a rever seus destinos.

Finalmente, é relevante acrescer que, em 24 de março de 2011, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade de seu Plenário, no julgamento do HC 106.212-MS, afirmou a constitucionalidade integral do artigo 41 da Lei Maria da Penha, afirmando o Ministro Marco Aurélio: “[...] Presente a busca do objetivo da norma, tem-se que o preceito afasta de forma categórica a Lei nº 9.099/95 [...]”.

A condicionalidade da ação penal para o crime

de lesões corporais (e por interpretação extensiva para a contravenção penal de vias de fato) foi prevista exclusivamente na Lei 9.099/1995, para a sistemática do Juizado Especial Criminal.

O Supremo Tribunal Federal revelou com a

postura adotada no supracitado habeas corpus forte inclinação ao julgamento procedente da ADIn 4424, da Procuradoria-Geral da República, que justamente pugna a reversão do entendimento do Superior Tribunal de Justiça no REsp Repetitivo 1097042, e o reconhecimento da

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incondicionalidade da ação penal nos crimes de lesão corporal (e contravenções penais de vias de fato) em hipótese de violência doméstico-familiar contra a mulher.

Desse modo, o prosseguimento nas extinções

com base no artigo 16, revela-se duplamente equivocado. Primeiro, diante de todos os argumento já lançados quanto à não obrigatoriedade e, segundo, em razão de estarem sendo maciçamente arquivados processos de ação penal pública incondicionada, conforme indica o Supremo Tribunal Federal.

PREQUESTIONAMENTO

O Ministério Público expressamente prequestiona a matéria legal

e constitucional em torno da presente causa, a fim de repelir juízo de admissibilidade negativo, com fundamento na ausência de prequestionamento em instância inferior.

Como sobredito, a audiência do artigo 16 não é ato processual

obrigatório previsto na Lei Maria da Penha e, ao contrário, caracteriza completa

inversão da mens legis e da mens legislatoris, uma vez que induz à retratação e restabelece sistemática dos Juizados Especiais Criminais que se pretendeu repelir.

Dessarte, não há dúvida de que está a tratar-se de tema a ser

decidido em última instância, e o Tribunal de Justiça do Estado, caso não seja julgado procedente o recurso, violará a norma do artigo 16 da Lei 11.340/2006, hipótese na qual haverá interesse na abertura de instância para o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, inciso III, alíneas “a” e “c” da CR/1988). Eis a redação dos referidos preceitos legais:

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

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Ainda, estará o Tribunal a quo dando ao mencionado dispositivo legal interpretação divergente da que lhe tem sido atribuída pelo Superior Tribunal de Justiça, ex vi especialmente do HC 96601-MS, citado na íntegra no tópico anterior, e por outros Tribunais - DFT/MT/RJ/RS - conforme os julgados citados no tópico anterior e os seguintes:

HABEAS CORPUS Nº 151.505 - ES (2009/0208236-4) RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ IMPETRANTE : THIAGO PILONI - DEFENSOR PÚBLICO IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PACIENTE : JOSE SILVA NASCIMENTO DECISÃO Vistos etc. Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de JOSÉ SILVA NASCIMENTO, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo que denegou a ordem originária, nos seguintes termos: "HABEAS CORPUS. CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LESÃO CORPORAL DOLOSA LEVE QUALIFICADA (ARTIGO 129, § 9º, DO CÓDIGO PENAL). DESRESPEITO ÀS NORMAS PREVISTAS NOS ARTIGOS 12, 16 E 22 DA LEI 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA). VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOCORRÊNCIA. REVOGAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR. IMPOSSIBILIDADE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. EXISTÊNCIA DE SUPORTE PROBATÓRIO MÍNIMO QUE LEGITIMA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. OBRIGATORIEDADE DA REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI 11.340/2006. ANULAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS A PARTIR DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE. ATO PROCESSUAL NÃO OBRIGATÓRIO. AUDIÊNCIA QUE SOMENTE DEVERÁ OCORRER SE A VÍTIMAMANIFESTAR INTERESSE EM SE RETRATAR DA REPRESENTAÇÃOANTERIORMENTE OFERTADA. ORDEM DENEGADA. 1. Nos delitos relativos à violência doméstica, como o crime de lesão corporal no âmbito familiar contra a mulher são cometidos, na maioria das vezes, longe dos olhos de qualquer testemunha, uma vez que normalmente são praticados no interior da residência onde moram o casal. Por essa razão, a providência de inquirir testemunhas - como dispõe o inciso do artigo 12 da Lei 11.340/2006 - acaba não sendo possível, constituindo a palavra da vitima elemento probatório de relevante valor, configurando indício suficiente de autoria para embasar a justa causa para a propositura da ação penal. 2. Além disso, o trancamento da ação penal pela via estreita do habeas corpus, em razão de sua excepcionalidade, somente será viável quando for possível verificar, sem a necessidade de analisar o conjunto probatório, a atipicidade do fato imputado na denúncia, a ausência de indícios da autoria ou, ainda, a presença de causas que extinguem a punibilidade. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 3. Impossível o trancamento da ação penal quando a inicial acusatória imputa fato penalmente típico, descrevendo todas as suas circunstâncias, apoiando-se em indícios de autoria e na prova da materialidade do delito, inexistindo qualquer causa de extinção da punibilidade.

4. O fato da ação penal ser pública condicionada à representação da vítima não autoriza concluir que a audiência, prevista no artigo 16 da

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Lei 11.340/2006, é ato obrigatório. A referida audiência somente deve ocorrer se a vítima manifestar interesse em se retratar, caso em que o Magistrado realizará tal ato antes, obviamente, do recebimento da denúncia. 5. Ordem denegada." (fl. 22)

TJDFT - Classe do Processo : 2007 09 1 024130-2 APR - 0024130-17.2007.807.0009 (Res.65

- CNJ) DF

Registro do Acórdão Número : 407468

Data de Julgamento : 18/02/2010

Órgão Julgador : 2ª Turma Criminal

Relator : ROBERVAL CASEMIRO BELINATI

Disponibilização no DJ-e: 26/03/2010 Pág. : 258

APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE AMEAÇA CONTRA EX-ESPOSA. PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA PRÉVIA. NÃO OBRIGATORIDADE. REJEIÇÃO. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. PALAVRA DA VÍTIMA. RELEVÂNCIA PROBATÓRIA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. A AUSÊNCIA DA AUDIÊNCIA PRÉVIA ESTABELECIDA NO ARTIGO 16 DA LEI Nº. 11.340/2006 NÃO ENSEJA NULIDADE DO PROCESSO, PORQUE NÃO SE TRATA DE PROCEDIMENTO OBRIGATÓRIO QUANDO NÃO HÁ QUALQUER ESBOÇO DA INTENÇÃO DE A VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE SE RETRATAR.

2. IN CASU, A VÍTIMA COMPARECEU PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL E ASSINOU TERMO DE REPRESENTAÇÃO CONTRA O RÉU, ALÉM DE REQUERER MEDIDAS PROTETIVAS. EM JUÍZO, CONFIRMOU AS AMEAÇAS SOFRIDAS E RATIFICOU O REQUERIMENTO DO PEDIDO DE AFASTAMENTO DO LAR E DE PROIBIÇÃO DE APROXIMAÇÃO DO RECORRENTE, RAZÃO PELA QUAL NÃO SE VERIFICA MÁCULA NO PROCESSO.

3. EM CRIMES PRATICADOS NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR, A PALAVRA DA VÍTIMA ASSUME ESPECIAL RELEVÂNCIA. ASSIM, DIANTE DA CONSONÂNCIA DAS DECLARAÇÕES PRESTADAS PELA VÍTIMA COM A PROVA TESTEMUNHAL COLHIDA EM JUÍZO, COMPROVANDO A AUTORIA E MATERIALIDADE DO CRIME DE AMEAÇA, NÃO HÁ QUE FALAR EM ABSOLVIÇÃO.

4. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO, MANTENDO A SENTENÇA QUE CONDENOU O APELANTE NAS SANÇÕES DO ARTIGO 147, DO CÓDIGO PENAL, C/C A LEI Nº. 11.340/2006, APLICANDO-LHE A PENA DE 03 (TRÊS) MESES E 15 (QUINZE) DIAS DE DETENÇÃO, A SER CUMPRIDA EM REGIME INICIAL ABERTO, SUBSTITUÍDA POR UMA PENA RESTRITIVA DE DIREITO, CONSISTENTE EM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE.

TJMT - Número: 37263 Ano: 2010 Magistrado DES. GÉRSON FERREIRA PAES

HABEAS CORPUS - CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER - ART. 147, CAPUT, C/C O ART. 61, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL - PRETENDIDO SOBRESTAMENTO DO FEITO - PORQUE A AUTORIDADE COATORA NÃO DEVERIA TER RECEBIDO A DENÚNCIA, DANDO PROSSEGUIMENTO AO PROCESSO SEM A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI Nº. 11.340/2006, SOB A ALEGAÇÃO DE QUE SERIA ESTA A OPORTUNIDADE ÚNICA PARA A VÍTIMA RETRATAR-SE DA REPRESENTAÇÃO - INADMISSIBILIDADE - AUDIÊNCIA PRELIMINAR QUE SÓ DEVE SER DESIGNADA QUANDO A VÍTIMA MANIFESTAR VOLUNTARIAMENTE O DESEJO DE RENUNCIAR ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - ORDEM DENEGADA. Em nenhum momento, a Lei Maria da Penha cogitou-se de impor realização de audiência preliminar para a ofendida ratificar a representação ou confirmar o seu interesse no prosseguimento. Somente havendo pedido expresso da ofendida ou evidência da sua intenção de retratar-se, e desde que antes do recebimento da denúncia, é

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que designará o juiz audiência preliminar para, ouvido o ministério público, admitir, se for o caso, a retratação da representação. Nada impede que a vítima, por livre e espontânea vontade, procure a Justiça para encerrar o caso, todavia, deverá fazê-lo antes do recebimento da denúncia. Depois do início do processo, a responsabilidade estatal será exclusiva para apurar a notícia criminosa e aplicar a lei penal como de direito. Ação constitucional julgada improcedente.

TJRJ - Processo : 0005142-80.2006.8.19.0030 (2009.050.05869) DES. SUIMEI MEIRA CAVALIERI - Julgamento: 24/11/2009 - TERCEIRA CAMARA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL. LEI MARIA DA PENHA. LESÕES CORPORAIS. PRELIMINARES DE NULIDADE PROCESSUAL AFASTADAS. PROVA SUFICIENTE PARA CONDENAÇÃO. REDUÇÃO DA PENA-BASE. IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO POR PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. 1) O disposto no art. 16 da Lei 11.340/06 destina-se às hipóteses em que a vítima manifesta, ainda na fase extrajudicial, o desejo de retratar-se. Visa conferir maior tutela à vítima – muitas vezes compelida a voltar atrás em função da própria violência a qual se submete - daí porque a lei somente admite a validade da retratação na presença do juiz. Portanto, inexiste necessidade de designação de audiência quando a vítima não manifestar a intenção de retratar-se. [...]

TJRS - EMENTA: CORREIÇÃO PARCIAL. LEI MARIA DA PENHA. A AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16, DA LEI 11.340/06, NÃO É ATO OBRIGATÓRIO, DEVENDO SER DESIGNADO CASO MANIFESTE A VÍTIMA INTERESSE EM RENUNCIAR À REPRESENTAÇÃO, E ESPECIALMENTE PARA ESTE FIM. SEM MANIFESTAÇÃO NO SENTIDO DA RENÚNCIA, SEQUER HÁ NECESSIDADE DE SUA REALIZAÇÃO. CORREIÇÃO PARCIAL MINISTERIAL PROVIDA, PARA SUSPENDER O REALIZAR DA SEGUNDA AUDIÊNCIA DESIGNADA PARA O MESMO FIM. (Correição Parcial Nº 70030750418, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Newton Brasil de Leão, Julgado em 16/07/2009) Desse modo, caso o recurso seja improvido, faz-se necessário que

essa Colenda Turma Criminal se manifeste de forma expressa e clara acerca dos preceitos normativos do artigo 16 da Lei 11.340/2006.

Ademais, verifica-se que eventual improvimento do recurso pelo e. Tribunal de Justiça também importa em negar vigência ao princípio da proporcionalidade (art. 5º, §2º, CR/1988) sob o prisma do garantismo positivo, bem como, ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CR/1988); ao princípio de que a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais (art. 5º, XLI, CR/1988); e ao dever do Estado de coibir e prevenir a violência no âmbito das relações familiares (art. 226, § 8º, CR/1988). E nesse caso haverá interesse na abertura de instância para o Supremo Tribunal Federal (art. 102, inciso III, alínea “a”, CR/1988).

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Explica Paulo Bonavides 1: “O princípio da proporcionalidade é, por conseguinte, direito positivo em nosso ordenamento constitucional. Embora não haja sido ainda formulado como ‘norma jurídica global’, flui do espírito que anima em toda sua extensão e profundidade o § 2º do art. 5º, o qual abrange a parte não-escrita ou não expressa dos direitos e garantias da Constituição, a saber, aqueles direitos e garantias cujo fundamento decorre da natureza do regime, da essência impostergável do Estado de Direito e dos princípios que este consagra e que fazem inviolável a unidade da Constituição. Poder-se-á enfim dizer, a esta altura, que o princípio da proporcionalidade é hoje axioma do Direito Constitucional, corolário da constitucionalidade e cânone do Estado de direito, bem como, regra que tolhe toda a ação ilimitada do poder do Estado no quadro juridicidade de cada sistema legítimo de autoridade.”

E da mesma forma, caso o recurso não seja provido, faz-se necessário que essa Colenda Turma Criminal se manifeste de forma expressa e clara acerca dos supracitados preceitos constitucionais, pois haverá interesse na abertura de instância para o Supremo Tribunal Federal (art. 102, inciso III, alínea “a”, CR/1988).

PEDIDO

O Ministério Público pugna ao e. Tribunal de Justiça a REFORMA

DA SENTENÇA DE QUE DECRETOU A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE COM CONSEQUENTE

REJEIÇÃO DE DENÚNCIA, DETERMINANDO-SE O RECEBIMENTO DA EXORDIAL ACUSATÓRIA

E O NORMAL PROSSEGUIMENTO DO FEITO, haja vista que a audiência determinada, de forma compulsória, para fim do artigo 16 da Lei 11.340/2006 é ato processual ilegal e vicia a livre vontade da mulher, induzindo à retratação.

E, ainda, uma vez formulado prequestionamento explícito para eventual exercício da via recursal ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, pugna o Parquet pelo ostensivo enfrentamento da negativa de vigência aos supracitados dispositivos legais e constitucionais pelo e. Tribunal de Justiça.

Campo Grande/MS, 31 de janeiro de 2011.

ANA LARA CAMARGO DE CASTRO SILVIO AMARAL NOGUEIRA DE LIMA PROMOTORA DE JUSTIÇA PROMOTOR DE JUSTIÇA

1 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 396.

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EXCELENTÍSSIMA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE CAMPO GRANDE/MS

(Rese depois do recebimento da denúncia)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, por seus Promotores de Justiça subscritores, com fundamento no artigo 581, I , VIII e XIII, do Código de Processo Penal, interpõe RECURSO EM SENTIDO ESTRITO contra a sentença que determinou a nulidade integral do processo e a extinção da

punibilidade com conseqüente rejeição de denúncia, diante da realização da audiência estabelecida no artigo 16 da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), na qual foi colhida a retratação da mulher em situação de violência.

Pugna o Ministério Público pelo recebimento e processamento

do presente recurso, remetendo-se os presentes autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul para reapreciação da matéria, caso não efetivado o juízo de retratação.

Campo Grande, 31 de janeiro de 2011.

ANA LARA CAMARGO DE CASTRO SILVIO AMARAL NOGUEIRA DE LIMA PROMOTORA DE JUSTIÇA PROMOTOR DE JUSTIÇA

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

COLENDA TURMA CRIMINAL EMÉRITOS JULGADORES

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, por

seus Promotores de Justiça subscritores, vem à presença de Vossas Excelências, com fulcro no artigo 581, I, VIII e XIII, do Código de Processo Penal apresentar suas RAZÕES EM RECURSO EM SENTIDO ESTRITO contra a sentença que determinou nulidade integral do processo e a extinção da punibilidade com conseqüente rejeição de denúncia, diante da realização da audiência estabelecida no artigo 16 da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), na qual foi colhida a retratação da mulher em situação de violência, nos termos que se seguem.

FUNDAMENTAÇÃO DO INCONFORMISMO MINISTERIAL

A magistrada respalda seu posicionamento no tocante ao cabimento da retratação da mulher em situação de violência doméstico-familiar, tanto no crime de lesões corporais de natureza leve quanto na contravenção penal de vias de fato, em recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça no REsp Repetitivo 1097042 (por maioria de votos predominou entendimento quanto à necessidade de representação da vítima nos crimes de lesão corporal leve envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher), bem como, em recentes julgados do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul que reconhecem a obrigatoriedade da realização da audiência do artigo 16 de Lei 11.340/2006.

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Verifica-se, porém, a ocorrência de equívoco de interpretação quanto à extensão do REsp Repetitivo 1097042, conforme se demonstrará.

A questão jurídica que no REsp Repetitivo 10970472 limita-se, originalmente, a atribuir necessidade de representação em crime de lesão corporal doméstico-familiar de natureza leve, foi, equivocadamente, alçada à imposição da realização da audiência do artigo 16 de Lei 11.340/2006, vale dizer, ao chamamento compulsório, sob pena de nulidade, de todas as mulheres em situação de violência doméstico-familiar para comparecimento em Juízo a fim de confirmar representação já formulada perante a autoridade policial e se manifestar (novamente) quanto ao interesse no processamento do agressor.

Ainda que se admita que o crime de lesões corporais doméstico-

familiares de natureza leve e a contravenção penal de vias de fato sejam de ação penal pública condicionada à representação, tal circunstância não se confunde com a compulsoriedade da audiência do artigo 16.

Com efeito, basta representação da ofendida para o

processamento da ação penal condicionada, sendo despiciendo chamá-la em juízo para ratificar a representação encartada nos autos.

A audiência do artigo 16 não é ato processual obrigatório,

destina-se apenas a verificar ser livre e desimpedida a intenção de a vítima retratar-se, ou seja, na hipótese de a vítima haver sinalizado previamente desejo de obstar o seguimento da persecução penal, que essa manifestação ocorra, em regra, na presença da autoridade judiciária, que, ao menos em tese, deveria assegurar ser livre de pressões sociais e coações familiares.

Em momento algum o legislador da Lei 11.340/2006 pretendeu

submeter a mulher em situação de violência a novo constrangimento, de ser chamada em juízo para reiterar posição já manifestada na delegacia, até porque, a toda evidência, referido ato processual ex officio acaba sendo percebido como indução à retratação e justamente se equivale às tentativas conciliatórias que eram típicas do Juizado Especial Criminal, por força da Lei 9.099/1995, e que precisamente o legislador da Lei Maria da Penha quis afastar. Essa foi a mens legis e a mens legislatoris que, agora, se quer ignorar.

Não há previsão legal dessa etapa processual, que caracteriza

completa inversão do espírito da Lei Maria da Penha, que tinha no seu artigo 16 uma previsão de maior proteção à mulher em situação de violência, um suporte para que ela, apresentando prévio, mas oscilante desejo de interromper a investigação e a persecução penal, fosse correta e detidamente esclarecida em juízo, com a devida atenção ao seu caso específico e não chamada em audiência seriada para ser reindagada sobre a certeza da intenção de processar seu agressor.

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A simples leitura do texto da lei já demonstra o seu sentido:

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

A audiência não se designa para ratificar representação e, sim, para colher, em casos específicos, a retratação.

As palavras do legislador são muito claras - audiência especialmente designada.

A audiência não é, portanto, a rotina. Não é regra a sua realização. Ela é especialmente designada quando há um fato específico que a impulsiona, que não é outro senão a prévia manifestação da mulher no sentido de pretender a retratação da representação já formulada perante a autoridade policial.

Interpretar a lei em sentido diverso seria imaginar que a Lei Maria da Penha é uma lei suicida, que foi, em tese, criada para facilitar o trajeto da mulher na persecução dos atos de violência contra si, eliminando etapas burocráticas e garantindo maior proteção, mas que, ao fim, teria criado, em si própria, mecanismo de neutralização.

Não seria outra coisa o artigo 16, se interpretado como etapa obrigatória, que um dispositivo autofágico da Lei Maria Penha para criar óbice a sua aplicação.

Nunca é demais apontar a incoerência e inviabilidade do caráter obrigatório do referido artigo sob o ponto de vista do custo social e orçamentário-financeiro das instituições públicas.

Representaria absurdo desperdício de recursos públicos a hipótese de manutenção de delegacias especializadas, como é o caso da DEAM em Campo Grande/MS, instaurando, diligenciando, produzindo elementos em milhares de inquéritos policiais, com posterior remessa ao Ministério Público, que, igualmente, mantém promotorias especializadas na matéria, para elaboração de milhares de denúncias, tudo a fim de produzir papéis inúteis, sem qualquer valor antes da realização da audiência.

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O inquérito e a denúncia não serão apreciados pelo juiz antes da audiência; a vítima sequer deles toma conhecimento, porque recebe unicamente a intimação para ir em juízo ratificar representação; e o acusado, muito menos, uma vez que somente será citado para a ação penal se a mulher ratificar a representação.

Se essa fosse a intenção do legislador, não haveria necessidade de se adotar sistemática diferente daquela havida nos JECs, afastando os delitos de violência doméstica e familiar contra a mulher do conceito de menor potencial ofensivo e obrigando o inquérito e a denúncia. Se essa fosse a intenção do legislador, o mero registro da ocorrência deveria ser encaminhado a Juízo para ratificação da vítima e, somente nesse caso, a investigação e a posterior ação penal seguiriam.

Aliás, essa é a praxe ilegal adotada em várias Comarcas do interior do Estado de Mato Grosso do Sul, pois, uma vez que se adota o artigo 16 como obrigatório, muito rapidamente se vê que não faz sentido algum que a autoridade policial e o promotor de justiça trabalhem em vão.

O custo dessa atividade inútil é inestimável, uma vez que é certo que a maioria esmagadora das vítimas, por motivos variados, não tem forças para assumir sozinha a responsabilidade pelo processamento do seu agressor, já que se encontra sob enorme pressão psicológica e o fator sociocultural da submissão da mulher está arraigado em seu inconsciente.

A implantação do caráter obrigatório ao artigo 16 na Capital deverá, então, implicar em extinção da vara e das promotorias especializadas, devolvendo-se a pouca quantidade de processos restantes às criminais residuais. Não faz sentido algum, nem do ponto de vista da probidade administrativa e nem do ponto de vista ambiental, a adoção dessa prática que se destina exclusivamente a arquivar papel.

A adoção do caminho mais fácil nesse caso não é admissível, ainda que nessa quadra histórica, quando as Instituições sofrem notórias pressões por produção estatística, conforme se vê das metas e mutirões estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Entretanto, o arquivamento em massa de feitos criminais, ainda que produza estatísticas de eficiência, não é compatível com a missão institucional do Ministério Público e nem do Poder Judiciário.

É certo que a designação ex officio da audiência do artigo 16, por si só, representará a redução de cerca 90% do volume de feitos da vara, estoque que nos últimos quatro anos tem oscilado em torno de quatro a seis mil feitos. Tal

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montante representa cerca de 35% das ações penais em trâmite na Comarca de Campo Grande (contando-se a produção de 8 promotorias criminais residuais, 4 de Júri, 3 ambientais, 2 consumeristas e 3 de patrimônio público).

Dessa forma, no plano estatístico, é mister considerar que 35% do volume de feitos criminais em trâmite na Capital deriva da atuação exclusiva de apenas dois promotores, os ora subscritores, o que confirmaria a viabilidade gerencial do acolhimento da interpretação da magistrada que, embora completamente equivocada e desfocada do espírito da lei, seria bastante cômoda.

Cumpre reconhecer que, durante os meses de julho e agosto, os próprios subscritores se viram tentados a ceder ao forte esquema do sistema, o que representaria a redução radical do volume de trabalho que tem sido insano nos últimos quatro anos.

Ocorre que referida postura revelou-se incompatível com a missão do Ministério Público, que não é empresa privada em busca de estatística e produtividade, mas Instituição destinada à proteção da sociedade e do Estado de Direito.

O entendimento ora guerreado não foi acolhido exatamente por, ao fim, violar a consciência dos subscritores, que verificaram, com a nova rotina estabelecida, que em pouco tempo, apesar da diminuição da carga profissional, estariam desonrando a nobre função que exercem.

A jurisprudência tem enfrentado a questão da não-obrigatoriedade da audiência mencionada no artigo 16 da Lei Maria da Penha e, nesse sentido, os julgados do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e do próprio Superior Tribunal de

Justiça: TJRJ - PROCESSO 0018947-38.2007.8.19.0007 (2009.050.03254) DES. SIRO DARLAN DE OLIVEIRA - Julgamento: 24/08/2010 - SÉTIMA CAMARA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE AMEAÇA QUALIFICADO PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. SENTENÇA QUE JULGA PROCEDENTE O PEDIDO CONTIDO NA DENÚNCIA PARA CONDENAR O RÉU PELA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO PELO ARTIGO 147 DO CP [...] RECURSO DEFENSIVO ARGÜINDO COMO PRELIMINARES A NULIDADE DO FEITO A PARTIR DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA ANTE A NÃO DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA ESPECIAL PREVISTA NO ART. 16 DA LEI 11.340/06 [...] PRELIMINARES QUE SE REJEITAM. A AUDIÊNCIA DE QUE TRATA O ART. 16 DA LEI MARIA DA PENHA NÃO É UM ATO OBRIGATÓRIO, DEVENDO A PARTE MANIFESTAR INTERESSE EM SE

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RETRATAR PARA QUE O MAGISTRADO REALIZE O ATO, ANTES OBVIAMENTE DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, NÃO SE VISLUMBRANDO NO CASO CONCRETO QUE A VÍTIMA TENHA MANIFESTADO DESEJO DE SE RETRATAR DA REPRESENTAÇÃO, [...]

TJDFT - Classe do Processo : 2008 06 1 000008-3 APR - 0000008-12.2008.807.0006 (Res.65 - CNJ) DF Registro do Acórdão Número : 433984 Data de Julgamento : 08/07/2010 Órgão Julgador : 2ª Turma Criminal Relator : SÉRGIO ROCHA Disponibilização no DJ-e: 21/07/2010 Pág. : 221 APELAÇÃO CRIMINAL - LESÃO CORPORAL PRATICADA EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER - CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 11.340/06 - DOSIMETRIA DA PENA. 1. A LEI MARIA DA PENHA (11.340/06) É CONSTITUCIONAL PORQUE SE TRATA DE AÇÃO AFIRMATIVA E O DISCRIME SE DÁ EM RAZÃO DA MAIOR VULNERABILIDADE DA VÍTIMA, COMO OCORRE NOS DELITOS CONTRA MENOR DE IDADE E CONTRA IDOSO. 2. A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16 DA LEI N. 11.340/06 NÃO É IMPOSTA PELA LEI, OCORRENDO APENAS QUANDO HÁ NOTÍCIA, NOS AUTOS, DA INTENÇÃO DE RENÚNCIA DAS VÍTIMAS. 3. A LEI N. 11.340/06, EM SEU ART. 17 VEDA A SUBSTITUIÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENA EXCLUSIVA DE MULTA. 4. DEU-SE PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DO RÉU, PARA REDUZIR A PENA APLICADA. TJDFT - Classe do Processo : 2009 00 2 013741-2 RCL - 0013741-29.2009.807.0000 (Res.65 - CNJ) DF Registro do Acórdão Número : 403207 Data de Julgamento : 14/01/2010 Órgão Julgador : 1ª Turma Criminal Relator : EDSON ALFREDO SMANIOTTO Disponibilização no DJ-e: 01/03/2010 Pág. : 148 Ementa

RECLAMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - NULIDADE PROCESSUAL - LESÕES CORPORAIS - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LEI MARIA DA PENHA (11.343/2006) - RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO - NECESSIDADE DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16 DA LEI 11.340/2006. O LEGISLADOR, NO ARTIGO 16 DA LEI Nº 11.340/2006, NÃO INSTITUIU UM PRÉ-REQUISITO PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA EM RELAÇÃO A CRIMES TRATADOS PELA REFERIDA LEI. A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE QUE TRATA O ARTIGO 16, DA LEI MARIA DA PENHA, NÃO SE DÁ EM TODOS OS PROCESSOS, MAS TÃO SOMENTE NAQUELES EM QUE A OFENDIDA, ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, MANIFESTAR INTERESSE DE RENUNCIAR À REPRESENTAÇÃO. OU SEJA, A RENÚNCIA SOMENTE SERÁ ADMITIDA APÓS AUDIÊNCIA, PERANTE O JUIZ.

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TJMT - Número: 817

Ano: 2009 Magistrado DES. PAULO DA CUNHA HABEAS CORPUS - CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER - ART. 147, CAPUT, C/C O ART. 61, INCISO II, ALÍNEA “F”, AMBOS DO CÓDIGO PENAL - PRETENDENDO O SOBRESTAMENTO DO FEITO - ADUZ QUE A AUTORIDADE ACOIMADA COATORA NÃO DEVERIA TER RECEBIDO A DENÚNCIA, DANDO PROSSEGUIMENTO AO PROCESSO SEM A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI Nº. 11.340/2006, SOB A ALEGAÇÃO DE QUE SERIA ESTA A OPORTUNIDADE ÚNICA PARA A VÍTIMA RETRATAR-SE DA REPRESENTAÇÃO - INADMISSIBILIDADE - AUDIÊNCIA PRELIMINAR QUE SÓ DEVE SER DESIGNADA QUANDO A VÍTIMA MANIFESTAR VOLUNTARIAMENTE O DESEJO DE RENUNCIAR ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - ORDEM DENEGADA. Em nenhum momento, a Lei Maria da Penha cogitou-se de impor realização de audiência preliminar para a ofendida ratificar a representação ou confirmar o seu interesse no prosseguimento. Somente havendo pedido expresso da ofendida ou evidência da sua intenção de retratar-se, e desde que antes do recebimento da denúncia, é que designará o juiz audiência para, ouvido o ministério público, admitir, se o caso, a retratação da representação. Nada impede que a vítima, por livre e espontânea vontade, procure a Justiça para encerrar o caso, todavia, deverá fazê-lo antes do recebimento da denúncia. Depois do início do processo, a responsabilidade estatal será exclusiva para apurar a notícia criminosa e aplicar a lei penal como de direito. Ordem denegada.

TJMT - Número: 818

Ano: 2009 Magistrado DES. LUIZ FERREIRA DA SILVA HABEAS CORPUS - LESÃO CORPORAL E AMEAÇA C/C A LEI MARIA DA PENHA - TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL - ALEGADA FALTA DE PROCEDIBILIDADE PARA A PERSECUÇÃO PENAL - AUSÊNCIA DE CONFIRMAÇÃO, EM JUÍZO, DA REPRESENTAÇÃO QUANTO AO CRIME DE AMEAÇA - INSUBSISTÊNCIA - INTELIGÊNCIA DO ART. 16 DA LEI N. 11.340/06 - CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE - WRIT DENEGADO. A Lei n. 11.340/06, também conhecida como Lei Maria da Penha, não prevê a necessidade de que a vítima confirme, em juízo, a representação oferecida na fase policial, porque embora o art. 16 da referida lex realmente disponha sobre a possibilidade de retratação, não exige a convalidação do ato representativo como forma de condição de procedibilidade da ação penal instaurada em desfavor do paciente. Destarte, não estando evidenciado no habeas corpus o constrangimento ilegal deduzido na impetração, é imperiosa a denegação do writ constitucional.

TJRS RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DESNECESSIDADE DE RATIFICAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO COMO CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE DA AÇÃO PENAL. O art. 16 da Lei Maria da Penha não exige a ratificação da representação, mas apenas a ratificação da retratação (renúncia) da representação, de modo que, somente quando demonstrado interesse da ofendida em retratar a representação - o que não se verifica no caso em apreço - é que caberia a designação da audiência preliminar. Assim, não havendo fundamento legal para a exigência de confirmação da representação, não pode o não comparecimento da vítima, em juízo, para ratificar a representação, implicar em obstáculo ao prosseguimento da ação penal. PROVERAM O RECURSO. UNÂNIME. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70033222803, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone Sanguiné, Julgado em 22/04/2010)

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O Superior Tribunal de Justiça já havia sinalizado nesse sentido no HC 151.505-ES, no RHC 23.047-MG e no RHC 23.786-DF, mas, em recente julgado, publicado em 22 de novembro de 2010, no HC 96601-MS, oriundo do nosso Estado, tornou clara a questão:

HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LESÕES CORPORAIS LEVES. LEI MARIA DA PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA. REPRESENTAÇÃO. PRESCINDIBILIDADE DE RIGOR FORMAL. AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI 11.340/06. OBRIGATORIEDADE APENAS NO CASO DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE DA VÍTIMA EM SE RETRATAR. 1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 1.097.042/DF, ocorrido em 24 de fevereiro do corrente ano, firmou a compreensão de que, para propositura da ação penal pelo Ministério Público, é necessária a representação da vítima de violência doméstica nos casos de lesões corporais leves, pois se cuida de ação penal pública condicionada. 2. A representação não exige qualquer formalidade específica, sendo suficiente a simples manifestação da vítima de que deseja ver apurado o fato delitivo, ainda que concretizada perante a autoridade policial. 3. A obrigatoriedade da audiência em Juízo, prevista no artigo 16 da Lei nº 11.340/06, dá-se tão somente no caso de prévia manifestação expressa ou tácita da ofendida que evidencie a intenção de se retratar antes do recebimento da denúncia. 4. Habeas corpus denegado.

O inteiro teor do julgado é completamente elucidativo:

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ⁄CE): Cuida-se de habeas corpus impetrado em favor de Ademir Ciriaco Duarte, denunciado pela suposta prática de crime de lesão corporal de natureza leve no âmbito familiar, previsto no artigo 129, § 9º, do Código Penal, apontada como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul.

Busca a impetração o "trancamento da ação penal por falta de condição de procedibilidade, visto que o crime de lesão corporal leve é de ação pública condicionada, ou seja, a denúncia só pode ser oferecida e recebida, com a representação das partes, e em audiência judicial especialmente designada para esse fim, à luz da norma consubstanciada no artigo 16 da Lei nº 11.340⁄2006" (fl. 5).

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A liminar foi indeferida pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima, antigo relator, à fl. 78.

Dispensada as informações, a douta Subprocuradoria-Geral da República, ao manifestar-se (fls. 81⁄84), opinou pela denegação da ordem.

Posteriormente, os autos foram atribuídos à minha Relatoria (fl. 102).

É o relatório.

VOTO

O SENHOR MINISTRO HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ⁄CE) (RELATOR): Inicialmente, cabe registrar que a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.097.042⁄DF, ocorrido em 24 de fevereiro do corrente ano, firmou a compreensão de que, para propositura da ação penal pelo Ministério Público, é necessária a representação da vítima de violência doméstica nos casos de lesões corporais leves, pois se cuida de ação pública condicionada. O julgado restou assim ementado:

"RECURSO ESPECIAL REPETITIVO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. PROCESSO PENAL. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DAVÍTIMA. IRRESIGNAÇÃO IMPROVIDA. 1. A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública condicionada à representação da vítima. 2. O disposto no art. 41 da Lei 11.340⁄2006, que veda a aplicação da Lei 9.099⁄95, restringe-se à exclusão do procedimento sumaríssimo e das medidas despenalizadoras. 3. Nos termos do art. 16 da Lei Maria da Penha, a retratação da ofendida somente poderá ser realizada perante o magistrado, o qual terá condições de aferir a real espontaneidade da manifestação apresentada. 4. Recurso especial improvido." (REsp nº 1097042⁄DF, Relator para Acórdão o Ministro JORGE MUSSI, DJe de 21⁄5⁄2010.)

Entendo, contudo, que tal representação não depende de qualquer formalidade específica, sendo suficiente a simples manifestação da vítima de que deseja ver apurado o fato delitivo, ainda que concretizada perante a autoridade policial.

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Nesse sentido:

A - "HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO. TESE DE FALTA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. INEQUÍVOCAMANIFESTAÇÃO DE VONTADE DA VÍTIMA. OFERECIMENTO DE NOTITIA CRIMINIS PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL. VALIDADE COMO EXERCÍCIO DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. INEXIGIBILIDADE DE RIGORES FORMAIS. PRECEDENTES. PLEITO DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DO SURSIS PROCESSUAL. IMPOSSIBILIDADE. NÃO-INCIDÊNCIA DA LEI 9.099⁄95. 1.A representação, condição de procedibilidade exigida nos crimes de ação penal pública condicionada, prescinde de rigores formais, bastando a inequívoca manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal no sentidode que se promova a responsabilidade penal do agente, como evidenciado, in casu, com a notitia criminis levada à autoridade policial, materializada no boletim de ocorrência. 2.Por força do disposto no art. 41 da Lei 11.340⁄06, resta inaplicável, em toda sua extensão, a Lei 9.099⁄95. 3.Ordem denegada." (HC 130.000⁄SP, Relatora a Ministra LAURITA VAZ, DJe de 8⁄9⁄2009.) B - "PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 214, C⁄C 224, ALÍNEA A, DO CÓDIGO PENAL. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA. REPRESENTAÇÃO. DESNECESSIDADE DE RIGOR FORMAL. CRIME HEDIONDO. PROGRESSÃO DE REGIME. POSSIBILIDADE. INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ART. 2º DA LEI Nº 8.072⁄90 DECLARADA PELO STF. REQUISITOS. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO PRÉVIA PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO. AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. I - Em se tratando de crime de ação penal pública condicionada, não se exige rigor formal na representação do ofendido ou de seu representante legal, bastando a sua manifestação de vontade para que se promova a responsabilização do autor do delito. II - O Pretório Excelso, nos termos da decisão Plenária proferida por ocasião do julgamento do HC 82.959⁄SP, concluiu que o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072⁄90 é inconstitucional. III - Assim, o condenado por crime hediondo ou a ele equiparado pode obter o direito à progressão de regime prisional, desde que preenchidos os demais requisitos. IV - Decorridos mais de cinco anos da extinção da pena da condenação anterior e a prática do novo delito, deve ser afastada a agravante da reincidência (art. 64, inciso I, do CP). Ordem parcialmente concedida." (HC 86.232⁄SP, Relator o Ministro FELIX FISCHER, DJU de 5⁄11⁄2007.)

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C - "RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL. REPRESENTAÇÃO. REGISTRO DE OCORRÊNCIA PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL. VALIDADE. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO APELO. O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que o simples registro da ocorrência perante a autoridade policial equivale a representação para fins de instauração da instância penal. Recurso conhecido e provido." (REsp nº 541807⁄SC, Relator o Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJU de 9⁄12⁄2003.) No caso, disse o Tribunal de Justiça: "Quanto à tese de ausência de representação, consoante sobressai dos autos, às fls. 11, 12 e 13, consta, respectivamente, Boletim de Ocorrência, laudo referente às lesões corporais sofridas pela vítima e Termo de Declaração desta, demonstrando, com tal procedimento, a inquestionável vontade de ver seu agressor processado. A intenção da vítima para que o delito fosse apurado já foi demonstrada, e devem ser consideradas válidas, para tanto, as declarações firmadas nesse sentido perante a autoridade policial. Além disso, é cediço que a representação, como condição de procedibilidade, prescinde de rigor formal, e basta a demonstração inequívoca da vontade do ofendido, de que sejam tomadas providências em relação ao fato e àresponsabilização do autor, sendo, portanto, aceitável formulação perante a autoridade policial, ainda que essa se dê em forma de Boletim de Ocorrência e Termo de Declaração. (...) Assim, entendo que a vítima, ao procurar a Delegacia de Polícia Civil e registrar Boletim de Ocorrência, prestar Declarações e se submeter a exame de corpo de delito, demonstra de maneira inequívoca a vontade de representar contra seu agressor." (fls. 72⁄73)

Assim, conforme visto no acórdão atacado, restou demonstrada a inequívoca intenção da vítima no sentido de que se promova a responsabilidade penal do ofensor, notadamente pelo registro do Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia, bem como por ter se submetido a exame de corpo de delito a fim de comprovar a materialidade do suposto crime, ausente, portanto, o alegado constrangimento ilegal nesse ponto.

De outro lado, quanto à tese de nulidade do procedimento ante a ausência de designação da audiência prevista no artigo 16 da Lei nº 11.340⁄06, também não assiste razão à impetrante.

Veja-se o teor do referido artigo:

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"Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público."

Com efeito, extrai-se desse dispositivo que a obrigatoriedade da audiência em Juízo se dá tão somente se houver prévia manifestação expressa ou tácita da vítima que evidencie a intenção de se retratar antes do recebimento da denúncia, o que não se verificou no caso dos autos.

Em outras palavras, não é necessário que o Juiz de primeiro grau designe audiência antes de receber a denúncia em todos os casos de ação penal pública condicionada para que a vítima ratifique ou renuncie à representação.

A razão desta audiência é justamente para que o magistrado possa analisar acerca da real intenção da vítima em se retratar da representação, ou seja, para garantir a livre e espontânea manifestação da ofendida.

Ante o exposto, em consonância com o parecer do douto Ministério Público Federal, denego o habeas corpus.

É como voto.

Assim sendo, não há que se falar em chamar à ordem o feito e anulá-lo desde a data do recebimento da denúncia, pois, a audiência a que se refere o artigo 16 não é obrigatória, de modo que não havia nulidade nos autos que ensejasse o cancelamento do recebimento da exordial acusatória, quanto mais pelo juízo a quo, ao qual sequer é permitida essa reapreciação, conforme jurisprudência consolidada:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RECONSIDERAÇÃO DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PROCEDÊNCIA. Os requisitos autonzadores da propositura da ação foram afendos quando do recebimento da denúncia Impossibilidade de revogação em primeira instância. Suficientes indícios de autoria e materialidade delitiva. Decisão afastada. Determinação de prosseguimento da ação. Recurso provido. (TJSP; RSE 990.09.338305-5; Ac. 4503188; Praia Grande; Segunda Câmara de Direito Criminal; Rel. Des. Almeida Sampaio; Julg. 10/05/2010; DJESP 28/06/2010)

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RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. LESÃO CORPORAL LEVE. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. ARTIGOS 16 E 41 DA LEI Nº 11.340/2006. NECESSIDADE DE REPRESENTAÇÃO. DENÚNCIA RECEBIDA. POSTERIOR REVOGAÇÃO. ILEGALIDADE. O artigo 41 da Lei nº 11.340/2006, ao excluir a aplicação da Lei nº 9.099/95, pretendeu, somente, vedar a aplicação dos institutos despenalizadores nela previstos. Não foi intenção do legislador afastar a aplicação do artigo 88 da Lei nº 9.099/1995, que condiciona a ação penal concernente à lesão corporal leve e à lesão corporal culposa à representação da vítima, tanto que esta é prevista no art. 12, I, in fine, da Lei nº 11.340/2006. Não se exige forma rígida para a oferta da representação na ação penal pública condicionada. Suficiente a manifestação inequívoca da vontade da vítima de ver processado o agente do crime. Não havendo decadência do direito de representar e estando presente a condição de procedibilidade exigida pelo art. 88 da Lei nº 9.099/95 aplicável ao caso, deve ter prosseguimento a persecução criminal. Recebida a denúncia, não mais possível a realização de audiência específica para eventual retratação da representação, porque esta só pode ser manifestada antes do recebimento da inicial. Admitida a acusação, despacho irrecorrível, não é legítimo que o juiz, exceto nas questões de ordem pública, o reconsidere para rejeitá-la, decidindo questão meritória, o que implica inobservância aos princípios constitucionais da legalidade e do devido processo legal. Recurso provido. (TJDF; Rec. 2008.01.1.016568-7; Ac. 408.295; Primeira Turma Criminal; Rel. Des. Mario Machado; DJDFTE 24/03/2010; Pág. 133)

Assim é que, diante de todo o exposto, conclui-se que o relevo

social e as expectativas geradas pela Lei Maria da Penha não podem ser ignorados pelo Ministério Público, que cumpre o papel de defensor da ordem jurídica.

É sabido que a Lei Maria da Penha não encontrou campo fácil de

aceitação em uma sociedade patriarcal, diga-se, sociedade em que, culturalmente, as mulheres são subordinadas aos homens e o patriarcado existe como forma de dominação familiar, de modo que não se consegue aplicá-la de forma retilínea.

As questões relativas à mulher sempre foram relegadas à esfera do

privado e a Lei Maria da Penha teve justamente como objetivo a desconstrução desse conceito e a ruptura desse paradigma. A Lei Maria da Penha pretendeu dar visibilidade ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher, elevá-lo à condição de violação de direitos humanos e estabelecê-lo como de interesse social e político.

A violência de gênero é impregnada por um conceito genérico de

masculinidade como posição de domínio, culturalmente tão poderoso e também arraigado ao inconsciente feminino que não permite um exercício livre do direito de escolha e a compreensão da abrangência da violação dos direitos humanos.

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É, portanto, relevantíssimo que os operadores do Direito dimensionem a responsabilidade que carregam consigo diante da Lei Maria da Penha, que é instrumento de transformação social, desenhado pelo legislador para retirar a violência do âmbito interna corporis da unidade doméstica e familiar e apresentá-lo ao crivo judicial sob às luzes dos direitos humanos e do interesse republicano.

E não se pode imaginar que essa transformação ocorra do dia para

a noite e que os operadores do Direito venham a se despir prontamente de suas convicções mais profundas que, igualmente, são frutos da referida estrutura patriarcal que está em ruptura, daí porque muitas interpretações controversas, tamanhas reações jurídico-passionais e acentuada tendência à flexibilização e ao retrocesso, tanto é assim que se submetidas questões da lei ao escrutínio colegiado de promotores e de juízes para elaboração de enunciados é quase certo que o resultado será de reinterpretar a lei ao ponto de não aplicá-la ou equipará-la ao JEC, uma vez que esse é o caminho natural em razão das constantes cobranças de metas e de estatísticas para extinção de feitos.

É certo que os operadores do Direito ainda estão se debatendo

para delinear os contornos da Lei Maria Penha e estão revirando suas próprias trajetórias e se renovando no exercício de cidadania, mas devem saber que não se pode, além de certa medida, sob as balizas do justo e razoável, flexibilizá-la, sob pena de obliterá-la, aniquilando, juntamente com a lei, a oportunidade de provocar a sociedade a rever seus destinos.

Finalmente, é relevante acrescer que, em 24 de

março de 2011, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade de seu Plenário, no julgamento do HC 106.212-MS, afirmou a constitucionalidade integral do artigo 41 da Lei Maria da Penha, afirmando o Ministro Marco Aurélio: “[...] Presente a busca do objetivo da norma, tem-se que o preceito afasta de forma categórica a Lei nº 9.099/95 [...]”.

A condicionalidade da ação penal para o crime

de lesões corporais (e por interpretação extensiva para a

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contravenção penal de vias de fato) foi prevista exclusivamente na Lei 9.099/1995, para a sistemática do Juizado Especial Criminal.

O Supremo Tribunal Federal revelou com a

postura adotada no supracitado habeas corpus forte inclinação ao julgamento procedente da ADIn 4424, da Procuradoria-Geral da República, que justamente pugna a reversão do entendimento do Superior Tribunal de Justiça no REsp Repetitivo 1097042, e o reconhecimento da incondicionalidade da ação penal nos crimes de lesão corporal (e contravenções penais de vias de fato) em hipótese de violência doméstico-familiar contra a mulher.

Desse modo, o prosseguimento nas extinções

com base no artigo 16, revela-se duplamente equivocado. Primeiro, diante de todos os argumento já lançados quanto à não obrigatoriedade e, segundo, em razão de estarem sendo maciçamente arquivados processos de ação penal pública incondicionada, conforme indica o Supremo Tribunal Federal.

PREQUESTIONAMENTO

O Ministério Público expressamente prequestiona a matéria legal

e constitucional em torno da presente causa, a fim de repelir juízo de admissibilidade negativo, com fundamento na ausência de prequestionamento em instância inferior.

Como sobredito, a audiência do artigo 16 não é ato processual

obrigatório previsto na Lei Maria da Penha e, ao contrário, caracteriza completa

inversão da mens legis e da mens legislatoris, uma vez que induz à retratação e restabelece sistemática dos Juizados Especiais Criminais que se pretendeu repelir.

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Dessarte, não há dúvida de que está a tratar-se de tema a ser decidido em última instância, e o Tribunal de Justiça do Estado, caso não seja julgado procedente o recurso, violará a norma do artigo 16 da Lei 11.340/2006, hipótese na qual haverá interesse na abertura de instância para o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, inciso III, alíneas “a” e “c” da CR/1988). Eis a redação dos referidos preceitos legais:

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Ainda, estará o Tribunal a quo dando ao mencionado dispositivo legal interpretação divergente da que lhe tem sido atribuída pelo Superior Tribunal de Justiça, ex vi especialmente do HC 96601-MS, citado na íntegra no tópico anterior, e por outros Tribunais - DFT/MT/RJ/RS - conforme os julgados citados no tópico anterior e os seguintes:

HABEAS CORPUS Nº 151.505 - ES (2009/0208236-4) RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ

IMPETRANTE : THIAGO PILONI - DEFENSOR PÚBLICO IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PACIENTE : JOSE SILVA NASCIMENTO DECISÃO

Vistos etc. Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de JOSÉ SILVA NASCIMENTO, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo que denegou a ordem originária, nos seguintes termos: "HABEAS CORPUS. CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LESÃO CORPORAL DOLOSA LEVE QUALIFICADA (ARTIGO 129, § 9º, DO CÓDIGO PENAL). DESRESPEITO ÀS NORMAS PREVISTAS NOS ARTIGOS 12, 16 E 22 DA LEI 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA). VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOCORRÊNCIA. REVOGAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR. IMPOSSIBILIDADE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. EXISTÊNCIA DE SUPORTE PROBATÓRIO MÍNIMO QUE LEGITIMA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. OBRIGATORIEDADE DA REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI 11.340/2006. ANULAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS A PARTIR DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE. ATO PROCESSUAL NÃO OBRIGATÓRIO. AUDIÊNCIA QUE SOMENTE DEVERÁ OCORRER SE A VÍTIMAMANIFESTAR INTERESSE EM SE RETRATAR DA REPRESENTAÇÃOANTERIORMENTE OFERTADA. ORDEM DENEGADA. 1. Nos delitos relativos à violência doméstica, como o crime de lesão corporal no âmbito familiar contra a mulher são cometidos, na maioria das vezes, longe dos olhos de

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qualquer testemunha, uma vez que normalmente são praticados no interior da residência onde moram o casal. Por essa razão, a providência de inquirir testemunhas - como dispõe o inciso do artigo 12 da Lei 11.340/2006 - acaba não sendo possível, constituindo a palavra da vitima elemento probatório de relevante valor, configurando indício suficiente de autoria para embasar a justa causa para a propositura da ação penal. 2. Além disso, o trancamento da ação penal pela via estreita do habeas corpus, em razão de sua excepcionalidade, somente será viável quando for possível verificar, sem a necessidade de analisar o conjunto probatório, a atipicidade do fato imputado na denúncia, a ausência de indícios da autoria ou, ainda, a presença de causas que extinguem a punibilidade. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 3. Impossível o trancamento da ação penal quando a inicial acusatória imputa fato penalmente típico, descrevendo todas as suas circunstâncias, apoiando-se em indícios de autoria e na prova da materialidade do delito, inexistindo qualquer causa de extinção da punibilidade.

4. O fato da ação penal ser pública condicionada à representação da vítima não autoriza concluir que a audiência, prevista no artigo 16 da Lei 11.340/2006, é ato obrigatório. A referida audiência somente deve ocorrer se a vítima manifestar interesse em se retratar, caso em que o Magistrado realizará tal ato antes, obviamente, do recebimento da denúncia. 5. Ordem denegada." (fl. 22)

TJDFT - Classe do Processo : 2007 09 1 024130-2 APR - 0024130-17.2007.807.0009 (Res.65

- CNJ) DF

Registro do Acórdão Número : 407468

Data de Julgamento : 18/02/2010

Órgão Julgador : 2ª Turma Criminal

Relator : ROBERVAL CASEMIRO BELINATI

Disponibilização no DJ-e: 26/03/2010 Pág. : 258

APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE AMEAÇA CONTRA EX-ESPOSA. PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA PRÉVIA. NÃO OBRIGATORIDADE. REJEIÇÃO. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. PALAVRA DA VÍTIMA. RELEVÂNCIA PROBATÓRIA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. A AUSÊNCIA DA AUDIÊNCIA PRÉVIA ESTABELECIDA NO ARTIGO 16 DA LEI Nº. 11.340/2006 NÃO ENSEJA NULIDADE DO PROCESSO, PORQUE NÃO SE TRATA DE PROCEDIMENTO OBRIGATÓRIO QUANDO NÃO HÁ QUALQUER ESBOÇO DA INTENÇÃO DE A VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE SE RETRATAR.

2. IN CASU, A VÍTIMA COMPARECEU PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL E ASSINOU TERMO DE REPRESENTAÇÃO CONTRA O RÉU, ALÉM DE REQUERER MEDIDAS PROTETIVAS. EM JUÍZO, CONFIRMOU AS AMEAÇAS SOFRIDAS E RATIFICOU O REQUERIMENTO DO PEDIDO DE AFASTAMENTO DO LAR E DE PROIBIÇÃO DE APROXIMAÇÃO DO RECORRENTE, RAZÃO PELA QUAL NÃO SE VERIFICA MÁCULA NO PROCESSO.

3. EM CRIMES PRATICADOS NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR, A PALAVRA DA VÍTIMA ASSUME ESPECIAL RELEVÂNCIA. ASSIM, DIANTE DA CONSONÂNCIA DAS DECLARAÇÕES PRESTADAS PELA VÍTIMA COM A PROVA TESTEMUNHAL COLHIDA EM JUÍZO, COMPROVANDO A AUTORIA E MATERIALIDADE DO CRIME DE AMEAÇA, NÃO HÁ QUE FALAR EM ABSOLVIÇÃO.

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4. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO, MANTENDO A SENTENÇA QUE CONDENOU O APELANTE NAS SANÇÕES DO ARTIGO 147, DO CÓDIGO PENAL, C/C A LEI Nº. 11.340/2006, APLICANDO-LHE A PENA DE 03 (TRÊS) MESES E 15 (QUINZE) DIAS DE DETENÇÃO, A SER CUMPRIDA EM REGIME INICIAL ABERTO, SUBSTITUÍDA POR UMA PENA RESTRITIVA DE DIREITO, CONSISTENTE EM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE.

TJMT - Número: 37263 Ano: 2010 Magistrado DES. GÉRSON FERREIRA PAES

HABEAS CORPUS - CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER - ART. 147, CAPUT, C/C O ART. 61, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL - PRETENDIDO SOBRESTAMENTO DO FEITO - PORQUE A AUTORIDADE COATORA NÃO DEVERIA TER RECEBIDO A DENÚNCIA, DANDO PROSSEGUIMENTO AO PROCESSO SEM A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI Nº. 11.340/2006, SOB A ALEGAÇÃO DE QUE SERIA ESTA A OPORTUNIDADE ÚNICA PARA A VÍTIMA RETRATAR-SE DA REPRESENTAÇÃO - INADMISSIBILIDADE - AUDIÊNCIA PRELIMINAR QUE SÓ DEVE SER DESIGNADA QUANDO A VÍTIMA MANIFESTAR VOLUNTARIAMENTE O DESEJO DE RENUNCIAR ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - ORDEM DENEGADA. Em nenhum momento, a Lei Maria da Penha cogitou-se de impor realização de audiência preliminar para a ofendida ratificar a representação ou confirmar o seu interesse no prosseguimento. Somente havendo pedido expresso da ofendida ou evidência da sua intenção de retratar-se, e desde que antes do recebimento da denúncia, é que designará o juiz audiência preliminar para, ouvido o ministério público, admitir, se for o caso, a retratação da representação. Nada impede que a vítima, por livre e espontânea vontade, procure a Justiça para encerrar o caso, todavia, deverá fazê-lo antes do recebimento da denúncia. Depois do início do processo, a responsabilidade estatal será exclusiva para apurar a notícia criminosa e aplicar a lei penal como de direito. Ação constitucional julgada improcedente.

TJRJ - Processo : 0005142-80.2006.8.19.0030 (2009.050.05869) DES. SUIMEI MEIRA CAVALIERI - Julgamento: 24/11/2009 - TERCEIRA CAMARA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL. LEI MARIA DA PENHA. LESÕES CORPORAIS. PRELIMINARES DE NULIDADE PROCESSUAL AFASTADAS. PROVA SUFICIENTE PARA CONDENAÇÃO. REDUÇÃO DA PENA-BASE. IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO POR PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. 1) O disposto no art. 16 da Lei 11.340/06 destina-se às hipóteses em que a vítima manifesta, ainda na fase extrajudicial, o desejo de retratar-se. Visa conferir maior tutela à vítima – muitas vezes compelida a voltar atrás em função da própria violência a qual se submete - daí porque a lei somente admite a validade da retratação na presença do juiz. Portanto, inexiste necessidade de designação de audiência quando a vítima não manifestar a intenção de retratar-se. [...]

TJRS - EMENTA: CORREIÇÃO PARCIAL. LEI MARIA DA PENHA. A AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16, DA LEI 11.340/06, NÃO É ATO OBRIGATÓRIO, DEVENDO SER DESIGNADO CASO MANIFESTE A VÍTIMA INTERESSE EM RENUNCIAR À REPRESENTAÇÃO, E ESPECIALMENTE PARA ESTE FIM. SEM MANIFESTAÇÃO NO SENTIDO DA RENÚNCIA, SEQUER HÁ NECESSIDADE DE SUA REALIZAÇÃO. CORREIÇÃO PARCIAL MINISTERIAL PROVIDA, PARA SUSPENDER O REALIZAR DA SEGUNDA AUDIÊNCIA DESIGNADA PARA O MESMO FIM. (Correição Parcial Nº 70030750418, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Newton Brasil de Leão, Julgado em 16/07/2009)

Page 197: Íntegra do Projeto

196

Desse modo, caso o recurso seja improvido, faz-se necessário que essa Colenda Turma Criminal se manifeste de forma expressa e clara acerca dos preceitos normativos do artigo 16 da Lei 11.340/2006.

Ademais, verifica-se que eventual improvimento do recurso pelo e. Tribunal de Justiça também importa em negar vigência ao princípio da proporcionalidade (art. 5º, §2º, CR/1988) sob o prisma do garantismo positivo, bem como, ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CR/1988); ao princípio de que a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais (art. 5º, XLI, CR/1988); e ao dever do Estado de coibir e prevenir a violência no âmbito das relações familiares (art. 226, § 8º, CR/1988). E nesse caso haverá interesse na abertura de instância para o Supremo Tribunal Federal (art. 102, inciso III, alínea “a”, CR/1988).

Explica Paulo Bonavides 1: “O princípio da proporcionalidade é, por conseguinte, direito positivo em nosso ordenamento constitucional. Embora não haja sido ainda formulado como ‘norma jurídica global’, flui do espírito que anima em toda sua extensão e profundidade o § 2º do art. 5º, o qual abrange a parte não-escrita ou não expressa dos direitos e garantias da Constituição, a saber, aqueles direitos e garantias cujo fundamento decorre da natureza do regime, da essência impostergável do Estado de Direito e dos princípios que este consagra e que fazem inviolável a unidade da Constituição. Poder-se-á enfim dizer, a esta altura, que o princípio da proporcionalidade é hoje axioma do Direito Constitucional, corolário da constitucionalidade e cânone do Estado de direito, bem como, regra que tolhe toda a ação ilimitada do poder do Estado no quadro juridicidade de cada sistema legítimo de autoridade.”

E da mesma forma, caso o recurso não seja provido, faz-se necessário que essa Colenda Turma Criminal se manifeste de forma expressa e clara acerca dos supracitados preceitos constitucionais, pois haverá interesse na abertura de instância para o Supremo Tribunal Federal (art. 102, inciso III, alínea “a”, CR/1988).

PEDIDO

O Ministério Público pugna ao e. Tribunal de Justiça a REFORMA

DA SENTENÇA DE QUE DECRETOU A NULIDADE DO PROCESSO E A EXTINÇÃO DA

PUNIBILIDADE, DETERMINANDO-SE O NORMAL PROSSEGUIMENTO DO FEITO, haja vista que a audiência determinada, de forma compulsória, para fim do artigo 16 da Lei

1 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 396.

Page 198: Íntegra do Projeto

197

11.340/2006 é ato processual ilegal e vicia a livre vontade da mulher, induzindo à retratação.

E, ainda, uma vez formulado prequestionamento explícito para

eventual exercício da via recursal ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, pugna o Parquet pelo ostensivo enfrentamento da negativa de vigência aos supracitados dispositivos legais e constitucionais pelo e. Tribunal de Justiça.

Campo Grande/MS, 04 de abril de 2011.

ANA LARA CAMARGO DE CASTRO SILVIO AMARAL NOGUEIRA DE LIMA PROMOTORA DE JUSTIÇA PROMOTOR DE JUSTIÇA

Page 199: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

198

MODELOS Nº 11

DENÚNCIAS

Page 200: Íntegra do Projeto

199

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO

DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE EMBU GUAÇU

Autos nº 680/10

Consta do incluso inquérito policial que, no dia 22

de maio de 2010, por volta de 23h e 40min, na rua Inácio Pires de Morais,

nº12, Centro, neste Município de Embu-Guaçu, BRUNO FELIPE ALVES

DOS SANTOS, qualificado a fls. 02, valendo-se das relações familiares,

ofendeu a integridade corporal de sua ex-namorada, a vítima Daiane

Decezare, causando-lhe as lesões corporais descritas no relatório médico de

fls. 10 e exame de corpo de delito de fls. 32.

Consta, ainda, que, durante o período

compreendido entre fevereiro e agosto de 2010, neste Município de Embu-

Guaçu, BRUNO FELIPE ALVES DOS SANTOS, qualificado a fls. 02,

valendo-se das relações familiares, por várias vezes, ameaçou de causar

mal injusto e grave, a sua ex- namorada, a vítima Daiane Decezare.

Consta, ainda, que durante o período

compreendido entre 10 de junho de 2010 e 30 de agosto de 2010, neste

Município de Embu-Guaçu, BRUNO FELIPE ALVES DOS SANTOS,

qualificado a fls. 02, desobedeceu ordem judicial, consistente no

descumprimento das medidas protetivas de proibição e aproximação e

contato com a ofendida, por qualquer meio, nos termos do artigo 22, inciso

III, alíneas “a” e “b”, da Lei nº 11343/2006 .

Page 201: Íntegra do Projeto

200

Segundo o que se apurou, desde fevereiro de

2010, a vítima rompeu o namoro com BRUNO, após três anos de

relacionamento. Ocorre que Bruno não se conformou com o rompimento

do namoro e desde então passou a perseguir a vítima, ameaçando-a de

morte, chegando, inclusive, a lesioná-la. Todas as vezes que foi ameaçada

ou agredida, a vítima efetuou boletim de ocorrência (fls. 02/04; 03 do

apenso; 13/15 do apenso; 28/30 do apenso; 03/04 do apenso).

É certo que no dia 22 de maio de 2010, BRUNO

avistou a vítima no interior de um veículo. Inconformado, foi ao seu

encontro, a retirou do carro à força e passou a arrastá-la no chão,

provocando-lhe ferimentos nos braços e nas costas, conforme laudo de

exame de corpo de delito de fls. 32. Policiais militares compareceram no

local dos fatos e prestaram socorro, encaminhando-a ao Pronto Socorro e

posteriormente à Delegacia de Polícia.

Consta, também, que no período compreendido

entre janeiro e agosto de 2010, o denunciado telefone insistentemente para

a vítima e a ameaça de morte, dizendo que não tem nada a perder e que se

ela a encontrar com outra pessoa, irá matá-la. É dos autos, inclusive, que a

vítima precisou mudar sua rotina por conta das constantes ameaças, uma

vez que o denunciado a espera na porta da faculdade, bem como na porta

de seu trabalho, ocasiões em que passa a xingá-la, a agarrá-la pelos braços

e a dizer que se ela procurar a polícia, irá dar um tiro na cara dela. Em uma

das ocasiões, BRUNO chegou a falar que irá dedicar os últimos dias de sua

Page 202: Íntegra do Projeto

201

vida para perturbar e infernizar a vítima e sua família, dizendo que não irá

preso, pois irá fazer alguma coisa antes.

Diante de tais fatos, em 26 de agosto de 2010, a

vítima compareceu na Delegacia de Polícia e no Ministério Público de

Embu-Guaçu, narrou os fatos e requereu as medidas protetivas de urgência

previstas no artigo 22, inciso III, “a, e “b”, da Lei n. 11340/06, as quais

foram deferidas por este Digníssimo Juízo a fls. 16, do apenso n. 652/10,

em 27 de agosto de 2010. O autor dos fatos foi intimado da concessão das

medidas em 28 de agosto de 2010, conforme se verifica a fls. 20.

Não obstante, BRUNO desobedeu a ordem

judicial e passou a procurar a vítima, seja por telefone fixo, seja por

telefone celular. Daiane compareceu na Delegacia de Polícia em 30 de

agosto de 2010 e declarou que o autor dos fatos não deixou de procurá-la e

voltou a fazer ameaças por telefone, tendo, inclusive, apresentado na

Delegacia de Polícia gravação de sua conversa com BRUNO, onde ele a

ameaça dizendo que “vai dar um tiro na cabeça dela e após se matar”,

conforme se depreende do teor das declarações e do boletim de ocorrência

de fls. 28/30. do apenso).

Em razão da desobediência à ordem juidical e

reiteração no de crime de violência contra a mulher, foi requerida a prisão

preventiva do denunciado, com fulcro no artigo 20, da Lei nº 11.340/06 e

Page 203: Íntegra do Projeto

202

no artigo 313, inciso IV, do Código de Processo Penal, o que foi deferido

por este Digníssimo Juízo, a fls. 32/33.

Diante do exposto, denuncio BRUNO FELIPE

ALVES DOS SANTOS como incurso no artigo 129, 9º, do Código

Penal, bem como nos artigos 147, por várias vezes e artigo 330, ambos

do Código Penal, requerendo que, recebida e autuada esta, seja ele

notificado a se defender e após, recebida, citado, ouvindo-se as pessoas ao

final arroladas e interrogado, observando-se o rito previsto nos artigos 396

e seguintes do Código de Processo Penal, valendo-se dos preceitos da Lei

Maria da Penha naquilo que couber, até final condenação, lançando-lhe o

nome no rol dos culpados após o trânsito em julgado.

Rol:

1. Daiane Decezare, vítima (fls. 03);

2. Fátima Decezare, mãe da vítima (fls. 03)

3. Tatiane Decezare, fls. 29, do apenso

4. Humberto Andrade Campos, PM, fls. 02

5. Paulo Henrique de Barros, PM, fls. 03

6. Rogério Carlos Cirino, Escrivão de Polícia

Embu Guaçu, 9 de Setembro de 2010.

Maria Gabriela Prado Manssur

Promotora de Justiça

Page 204: Íntegra do Projeto

203

Autos nº680/10

MMa JUÍZA:

1. Ofereço denúncia em separado contra BRUNO

FELIPE ALVES DOS SANTOS

2. Requeiro FA e certidões do que constar em nome

do denunciado;

3. Requeiro seja recebida, em conjunto com esta, a

denúncia oferecida contra BRUNO FELIPE

ALVES DOS SANTOS que se encontra na

contra-capa dos autos 158/09, apensos a estes.

4. Requeiro oficie-se à Douta Autoridade Policial

requerendo o formal indiciamento do denunciado;

5. Considerando que o réu encontra-se preso

provisoriamente, requereiro seja designada

audiência de instrução, interrogatório, debates e

julgamento com a devida celeridade.

6. Requeiro cobre-se a perícia realizada na gravação

efetuada pela vítima, conforme b.o. de fls. 28/30

do apenso.

Page 205: Íntegra do Projeto

204

7. Por fim, reitero o pedido de prisão preventiva do

denunciado, pois subsistem os fundamentos por

mim lançados a fls. 23/26, do apneso.

Embu-Guaçu, 9 de Setembro de 2010.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

PROMOTORA DE JUSTIÇA

Page 206: Íntegra do Projeto

205

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO

DA VARA DISTRITAL DE EMBU-GUAÇU

Inquérito Policial no 126/10

Consta do incluso inquérito policial, que no dia

16 de janeiro de 2010, no período noturno, no interior da residência situada

na Rua Silvio de Oliveira, 81, Vila Cristina, nesta cidade, ANGELO

SELVINI, qualificado a fls. 16, valendo-se das relações domésticas,

ofendeu integridade corporal de sua genitora Celeste Barbosa Selvini,

produzindo-lhe as lesões descritas no laudo a ser juntado posteriormente.

Consta, ainda, que nas mesmas circunstâncias

supra, ANGELO SELVINI, qualificado a fls. 16, valendo-se das relações

familiares, ameaçou de causar mal injusto e grave a sua genitora Celeste

Barbosa Selvini.

Apurou-se que a vítima e o denunciado, mãe e

filho, conviviam na mesma residência. Ocorre que ANGELO é usuário de

drogas e quando está em abstinência torna-se muito agressivo, xingando-a

de “velha horrorosa” e “puta” e proferindo ameaças, como forma de

compeli-la a lhe dar o dinheiro da aposentadoria para comprar substâncias

entorpecentes.

Page 207: Íntegra do Projeto

206

É dos autos que, no dia dos fatos, ANGELO,

transtornado, tentando obter dinheiro para a compra das drogas, puxou uma

faca que estava na mão de sua genitora provocando-lhe um corte.

Ante o exposto, denuncio ANGELO

SELVINI, como incurso no art. 129, § 9o, do Código Penal, requerendo

que, recebida e autuada esta, seja ela notificada a se defender e após,

recebida, citado, ouvindo-se as pessoas ao final arroladas e interrogado,

observando-se o rito previsto nos artigos 396 e seguintes do Código de

Processo Penal, valendo-se dos preceitos da Lei Maria da Penha naquilo

que couber, até final condenação, lançando-lhe o nome no rol dos culpados

após o trânsito em julgado.

Rol:

1) Celeste Barbosa Selvini, vítima, fls. 08

2) Carlos Eduardo Alves, escrivão de polícia, fls. 05

Embu Guaçu, 18 de maio de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 208: Íntegra do Projeto

207

Autos nº 126/10

MMa Juíza:

1- Ofereço denúncia em separado

2- Requeiro cobre-se o laudo de exame de corpo de delito realizado na

vítima.

Embu Guaçu, 18 de maio de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 209: Íntegra do Projeto

208

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA

VARA ÚNICA DO FORO DISTRITAL DE EMBU GUAÇU - COMARCA

DE ITAPECERICA DA SERRA

Autos n.º 35/11

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no

dia 29 de dezembro de 2010, por volta das 20h30min, na Rua André Stuck, n.º

556, Filipinho, nesta cidade, MARCOS ROBERTO DE ANDRADE,

qualificado a fls. 25, agindo com manifesto ânimo homicida, por motivo fútil,

com emprego de meio cruel, mediante dissimulação e com utilização de recurso

que impossibilitou a defesa da vítima, matou a vítima Sirleide Nascimento de

Brito, conforme laudo de exame necroscópico a ser juntado aos autos.

Conforme o apurado, a vítima era casada com o irmão

do denunciado, sendo que na data dos fatos, o então casal já estava separado.

Page 210: Íntegra do Projeto

209

Ocorre que a vítima e o denunciado passaram a manter um relacionamento

amoroso e, por conta de desentendimentos, o denunciado resolveu matar a vítima.

Desta forma, no dia dos fatos, dissimulando sua

intenção homicida, MARCOS marcou um encontro com Sirleide no local dos

fatos, por volta das 20 horas. Durante o encontro, o casal se desentendeu,

iniciando-se uma discussão. O denunciado, então, empurrou a vítima por duas

vezes, fazendo com que ela batesse sua cabeça e costas na parede, sendo que, no

segundo empurrão, a vítima acabou perdendo a consciência e desmaiou.

Enquanto a vítima estava desmaiada, MARCOS arrastou

a vítima para uma construção, sem que houvesse ninguém por perto. Em seguida

dirigiu-se a um matagal próximo dali onde pegou uma corda que ele próprio havia

deixado dias antes, enquanto planejava a morte da vítima. Ato contínuo, o

denunciado retornou ao local onde a vítima permanecia desmaiada e fez um nó na

corda, passando-a pelo pescoço de Sirleide. A outra extremidade da corda foi

amarrada numa viga do telhado da construção onde estavam, de modo a deixá-la

suspensa no ar, vindo a enforcá-la, o que causou a morte da vítima.

Após tais fatos, o denunciado fugiu do local e lá deixou

o corpo da vítima, fazendo crer que esta havia se suicidado. Não obstante, dois

dias depois, fugiu para a casa de seu irmão em Sorocaba, sendo encontrado em

decorrência de uma denúncia anônima, ocasião em que confessou a prática do

homicídio.

Page 211: Íntegra do Projeto

210

O crime supra foi praticado por motivo fútil, já que

MARCOS tirou a vida da vítima apenas por causa de uma discussão. Outrossim,

o crime foi cometido com emprego de meio cruel, asfixia mecânica por

enforcamento, o que causou um sofrimento desnecessário à vítima.

Por fim, o crime foi cometido mediante dissimulação e

recurso que dificultou a defesa da vítima, uma vez que Sirleide foi atraída pelo

denunciado para o local dos fatos para conversarem, sem saber da intenção

homicida dele, que já a aguardava com uma corda, sendo que foi enforcada e

morta quando já estava desacordada, sem meios de se defender.

Diante do exposto, denuncio MARCOS ROBERTO

DE ANDRADE como incurso no art. 121, § 2º, II, III e IV, do Código Penal,

razão pela qual requeiro que, r. e a. esta, seja instaurado o devido processo penal,

nos termos do artigo 406 e seguintes do Código de Processo Penal, prosseguindo-

se até final pronúncia, para que seja julgado e condenado pelo E. Tribunal do Júri.

Page 212: Íntegra do Projeto

211

Rol:

1) Antonio Eduardo Andrade – fls. 08

2) Marcos Rogério do Nascimento – fls. 10 (PM)

3) Maiara Nascimento de Brito –fls. 12/14

4) Ana Paula dos Santos – fls. 15

5) Pedro Paulo de Almeida - fls. 16 (PM)

6) Tony Ricardo Dantas de Oliveira – fls. 17 (PM)

Embu Guaçu, 13 de janeiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

PROMOTORA DE JUSTIÇA

Page 213: Íntegra do Projeto

212

Autos 35/11

MMª Juíza:

1. Ofereço denúncia em separado em quatro laudas impressas

somente no anverso;

2. Requeiro a juntada da folha de antecedentes do denunciado,

assim como certidões do que nela eventualmente constar;

3. Requeiro cobre-se, com urgência, a vinda dos laudos

faltantes;

4. Por fim, requeiro a decretação da Prisão Preventiva de

MARCOS ROBERTO DE ANDRADE, tendo em vista presentes os requisitos

do artigo 311 e seguintes do Código de Processo Penal.

Presente está o “fumus boni iuris” necessário para a

decretação da prisão. Com efeito, há indícios suficientes de autoria e prova da

materialidade dos fatos, conforme boletim de ocorrência e sobretudo as

declarações do denunciado que, em todas as oportunidades em que foi ouvido,

confessou ter matado Sirleide.

Page 214: Íntegra do Projeto

213

O mesmo se pode dizer com relação ao “periculum in mora”

que autoriza a presente medida cautelar, vejamos:

Trata-se de homicídio triplamente qualificado, considerado

hediondo, delito este de extrema gravidade, que atenta contra a segurança da

coletividade, já que o denunciado friamente assassinou a vítima, por motivo fútil,

utilizando-se para tanto de meio cruel (asfixia mecânica por enforcamento) e

mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, que estava desmaiada

quando MARCOS a enforcou. Ressalte-se, dessa forma, a personalidade violenta

de MARCOS, que, segundo as declarações da testemunha Maiara (fls. 12/13), já

vinha perseguindo a vítima dias antes do crime. Uma pessoa violenta e perigosa

como o denunciado, representa grande risco para a sociedade, não podendo, em

hipótese alguma, ser mantido solto. Portanto, necessária a sua prisão preventiva

para evitar que a sociedade seja exposta a riscos desnecessariamente, a fim de

garantir a ordem pública.

Bastassem tais argumentos, trata-se de denunciado que

fugiu logo que soube que o corpo da vítima havia sido descoberto, sendo

localizado, apenas, por meio de uma denúncia anônima , que o indicou como o

autor do crime e disse onde ele se escondia. Assim, presume-se que MARCOS

tem a intenção de furtar-se das conseqüências de suas condutas. Portanto, como

forma de assegurar a aplicação da lei penal, requer-se a sua prisão preventiva.

Page 215: Íntegra do Projeto

214

Salienta-se, por fim, que há a necessidade da presença

do denunciado em Juízo, para conveniência da instrução criminal, o que poderá

não ocorrer caso o denunciado seja posto em liberdade, pois certamente tentará

fugir novamente. Soma-se a isso o fato de que o denunciado mostrou-se pessoa

fria e violenta, que poderá ameaçar as testemunhas do caso com a finalidade de

ser absolvido, pois já mostrou ele ser capaz de fazer tudo para resguardar seus

interesses. Dessa forma, se o denunciado for solto, a colheita de provas em Juízo

restará prejudicada, pois poderá ele fugir e não participar da instrução criminal ou

pressionar as testemunhas para depor a seu favor.

Ademais, cumpre ressaltar que o crime de homicídio

qualificado (no caso, triplamente qualificado) é considerado hediondo, conforme

o inciso I do artigo 1º da Lei 8.072/90. A crueldade e violência na prática

criminosa descrita nos autos e a periculosidade do sujeito também justificam a

prisão preventiva (STJ, HC 77, 6ª Turma, DJU 27/11/89, p. 17575). Aliás, neste

sentido também decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo:

“Justifica-se a prisão preventiva se, na prática dos

hediondos delitos que lhe são imputados, revelou o acusado

torpeza, perversão, malvadez, cupidez ou insensibilidade

moral” (RT 158/321). No mesmo sentido: STF-ECRIM

107.597. DJU 19/08/88, p. 20263, STJ-RHC 9, DJU

Page 216: Íntegra do Projeto

215

28/08/89, p. 13681, TJSTJ 8/154 e RHC 190, 6ª Turma, DJU

04/09/89, p. 14044.

Diante do exposto, o Ministério Público pede e espera a

decretação da prisão preventiva de MARCOS ROBERTO DE ANDRADE.

Embu Guaçu, 13 de janeiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

PROMOTORA DE JUSTIÇA

Page 217: Íntegra do Projeto

216

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO

DA VARA DISTRITAL DE EMBU-GUAÇU – COMARCA DE

ITAPECERICA DA SERRA.

Autos nº 819/10

Consta do incluso expediente, que no dia 25 de outubro

de 2010, por volta de 3h e 45min, na rua Basílio da Silva, nº 41, Jardim

Procresso, neste Município, JOÃO BATISTA ALVES LOPES,

qualificado nos autos a fls. 18, com evidente ânimo homicida, por motivo

fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima, tentou matar

sua companheira Auzuneide Maria Varjão Santos Lopes, somente não

consumando o delito por circunstâncias alheias à sua vontade.

Apurou-se que a vítima e o denunciado são casados por

aproximadamente 20 anos e desta relação adveio o nascimento de três

filhos, com idades de 9, 13 e 17 anos. Durante todo esse tempo de

convivência, a vítima constantemente foi agredida pelo denunciado, porém

não deu andamento ao processo criminal para não “desestruturar a

família”.

Page 218: Íntegra do Projeto

217

Ocorre que na data dos fatos, após o denunciado ter ingerido

bebida alcoólica, passou a discutir com a vítima, devido ao fato desta não

ter entregue troco aos clientes do bar que ambos mantém para sustento da

família. Em seguida, passou a xingar a vítima, proferindo as seguintes

ofensas: “puta”, “lá fora eu arrumo melhor do que você”, “vai tomar no

cú”, ofensas estas realizadas na frente dos clientes. Ato contínuo, o

denunciado aproximou-se da vítima e com a intenção de matá-la, passou a

enforcá-la, apertando fortemente seu pescoço e empurrando-a contra a

parede até que ficasse praticamente sem ar.

Não satisfeito, com uma das mãos, apoderou-se de uma faca

e disse que iria matar a vítima, após ter dado um chute em sua canela,

tentando imobilizá-la, ocasião em que a vítima conseguiu segurar a lâmina

da faca que o denunciado portava. Porém, em ato ainda mais cruel, JOÃO

BATISTA puxou a faca propositadamente, ferindo gravemente a palma das

mãos da vítima. Ocorre que num momento de distração, a vítima conseguiu

desvencilhar-se das agressões e correr para a residência de sua inquilina,

onde buscou auxílio. A polícia foi acionada por um dos filhos da vítima

que lá compareceu e acabou por dar voz de prisão em flagrante delito ao

denunciado, bem como acompanhou a vítima à Delegacia de Polícia , onde

foram tiradas as fotografias a fls. 06/08, que comprovam as agressões

sofridas pela vítima.

O crime de tentativa de homicídio foi cometido por motivo

fútil, tendo em vista que o denunciado assim agiu, pois a vítima não

entregou o troco aos clientes do bar.

Page 219: Íntegra do Projeto

218

O crime foi cometido por meio cruel, uma vez que

enforcar e esfaquear causa um sofrimento desnecessário à vítima.

E, por fim, o crime de tentativa de homicídio foi

cometido por recurso que dificultou a defesa da vítima, tendo em vista que

o denunciado, pelo simples fato de ser homem e fisicamente mais forte que

AUZENEIDE e valendo-se de momento em que esta estava praticamente

desfalecida, após ter sido enforcada ainda tentou esfaqueá-la, impedindo-a

de se defender das agressões.

Ante o exposto, denuncio JOÃO BATISTA ALVES

LOPES, como incurso no artigo 121, parágrafo 2º, incisos II, III e IV,

c.c. artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, requerendo que,

recebida e autuada esta, seja ele citado e interrogado, prosseguindo-se nos

demais atos processuais de acordo com o rito previsto nos artigos 394/497

do Código de Processo Penal, ouvindo-se a vítima e as testemunhas abaixo

arroladas, até final condenação.

Page 220: Íntegra do Projeto

219

Rol:

Vítima: Auzuneide Maria Varjão Santos Lopes– fls.03

1. Humberto Liberato Ribeiro, PM, fls. 04

2. Ederson Veloso Gomes, PM, fls. 04

3. Maria Helenice Marinho de Sousa Faria, fls. 04

4. Filho de 17 anos da vítima

Embu Guaçu, 18 de maio de 2011.

Maria Gabriela Prado Manssur

Promotora de Justiça

Page 221: Íntegra do Projeto

220

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO

DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE EMBU GUAÇU

Autos nº 865/10

Consta do incluso inquérito policial que, no dia 10

de novembro de 2010, por volta das 17h40m, na Rua Santo Antônio, nº 26,

Centro, nesta cidade, RODRIGO PEREIRA DOS SANTOS SILVA,

qualificado a fls. 15, valendo-se das relações familiares, ameaçou de

causar mal injusto e grave a sua companheira Rafaela dos Santos Oliveira.

Consta, ainda, que nas mesmas circunstâncias de

data e local, RODRIGO PEREIRA DOS SANTOS SILVA, qualificado

a fls. 15, praticou vias de fato contra a sua companheira Rafaela dos Santos

Oliveira.

Por fim, consta, ainda, que nas mesmas

circunstâncias, RODRIGO PEREIRA DOS SANTOS SILVA,

qualificado a fls. 15, injuriou Perciliana Sotero Santana, ofendendo-lhe a

dignidade e o decoro, utilizando-se, para tanto, de elementos referentes à

sua raça, cor e etnia.

Page 222: Íntegra do Projeto

221

Segundo apurado, o denunciado convive

maritalmente com a vítima Rafaela, sendo que a relação entre ambos

sempre foi desarmoniosa, pois RODRIGO é pessoa violenta e possessiva.

No dia dos fatos, o denunciado dirigiu-se ao salão

de beleza onde sua companheira trabalha, a fim de buscá-la. O denunciado

chegou ao local bastante alterado, chamando pela vítima Rafaela, que não

pôde sair naquele momento. O denunciado, sentindo-se contrariado,

começou a gritar, dizendo para ela: “Caralho, olha a hora, eu vim te buscar

e você não sai!”, em tom ameaçador, como se fosse agredí-la, caso não

saísse.

Neste momento, a vítima Rafaela foi conversar

com o denunciado, ocasião em que este investiu contra ela, a fim de agredí-

la, caso ela não saísse logo do trabalho. Foi então que a vítima Perciliana,

vendo que o denunciado ia agredir Rafaela, resolveu interferir, separando o

denunciado de sua companheira. RODRIGO, enfurecido, passou a proferir

palavras de baixo calão para Perciliana, dizendo: “Sua macaca, neguinha

do caralho”, repetindo, por diversas vezes, tais ofensas.

Salienta-se que RODRIGO já ostenta

antecedentes por crime da mesma natureza.

Page 223: Íntegra do Projeto

222

Diante do exposto, denuncio RODRIGO

PEREIRA DOS SANTOS SILVA como incurso nos artigos 140, § 3º e

147, ambos do Código Penal e artigo 21 do Decreto-Lei 3.688/41,

requerendo que, uma vez autuada esta, seja ele citado para se ver processar

até final julgamento e condenação, ouvindo-se, no decorrer da instrução

criminal, as testemunhas abaixo arroladas.

Rol:

1. Rafaela dos Santos Oliveira, vítima (fls. 11);

2. Perciliana Sotero Santana, vítima (fls. 13);

3. Ailton de Souza dos Santos, Guarda Civil Metropolitano (fls. 07);

4. Cláudio Batista dos Santos, Guarda Civil Metropolitano (fls. 09);

5. Evanilde Araújo Pereira (fls. 10).

Embu Guaçu, 09 de dezembro de 2010.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 224: Íntegra do Projeto

223

Autos n.º 865/10

MMa JUÍZA:

1. Ofereço denúncia impressa em 03 (três) laudas.

2. Considerando as declarações da vítima, sua

manifestação em representar o autor dos fatos, bem como o histórico de

agressividade do denunciado, que se mostra violento com sua companheira

desde o início do relacionamento (o que é de conhecimento de todos que

conhecem o casal) e, por fim, tendo em vista que a concessão das medidas

não irá prejudicar direito de nenhuma das partes envolvidas, requeiro seja

concedida a medida pleiteada de proibição de aproximação e contato com a

ofendida, fixando-se limite mínimo, bem como o afastamento do autor do

lar conjugal, a fim de preservar a integridade física e psicológica da vítima,

evitando, assim, que situações mais graves ocorram caso o autor dos fatos

seja posto em liberdade, nos termos do art. 22, II, III, „a‟, „b‟ e „c‟ da Lei no

11.340/06.

Embu Guaçu, 09 de dezembro de 2010.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR Promotora de Justiça

Page 225: Íntegra do Projeto

224

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO

DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE EMBU GUAÇU

Autos nº 921/10

Consta do incluso inquérito policial que, no dia 27

de novembro de 2010, por volta das 19h30m, na Rodovia José Simões

Louro Júnior, km 37, Jardim Progresso, nesta cidade, ISAIAS PEDROSO

DE OLIVEIRA, qualificado a fls. 15, entrou e permaneceu, contra a

vontade de quem de direito, em casa alheia.

Consta, ainda, que nas mesmas circunstâncias de

data e local, ISAIAS PEDROSO DE OLIVEIRA, qualificado a fls. 15,

valendo-se das relações familiares, ofendeu a integridade corporal de seu

filho Cleberson Tobias de Oliveira e de sua ex-companheira Cátia Tobias

de Oliveira, causando-lhes lesões corporais, cuja natureza será esclarecida

pelo laudo do exame de corpo de delito, a ser juntado oportunamente.

Por fim, consta que nas mesmas circunstâncias,

ISAIAS PEDROSO DE OLIVEIRA, qualificado a fls. 15, valendo-se

Page 226: Íntegra do Projeto

225

das relações familiares, ameaçou de causar mal injusto e grave a sua ex-

companheira Cátia Tobias de Oliveira.

Segundo apurado, o denunciado conviveu

maritalmente com a vítima Cátia por cerca de dez anos, sendo que o casal

se separou há dois anos, em razão da agressividade do denunciado. Do

relacionamento, nasceram quatro filhos, dentre eles a vítima Kleberson.

No dia dos fatos, o denunciado dirigiu-se à casa

onde residem as vítimas e, sem hesitar, ali entrou, mesmo sem a permissão

de sua ex-mulher. Lé chegando, foi até o quarto, onde estava a vítima

Kleberson brincando com sua irmã mais velha, momento em que, sem

motivo, ISAIAS desferiu um tapa violento no rosto de Kleberson, que,

segundo consta, ficou com um hematoma na face em razão da agressão.

Ao perceber que o denunciado agredia seu filho,

Cátia resolveu intervir em defesa de Cleberson. Nesse momento, ISAIAS

começou a gritar com ela, dizendo: “vou te matar”, ocasião em que ele

também apertou os braços dela e puxou seus cabelos.

As vítimas, amedrontadas, saíram da residência e

buscaram ajuda com vizinhos. O acusado permaneceu na residência,

fechando a porta e dizendo à Cátia: “se você entrar, eu te mato”. Foi

solicitado apoio policial, que, depois de longo tempo, conseguiu tirar o

denunciado da residência das vítimas e lhe dar voz de prisão em flagrante.

Page 227: Íntegra do Projeto

226

Diante do exposto, denuncio ISAIAS PEDROSO

DE OLIVEIRA como incurso nos artigos 129, § 9º (por duas vezes), 147 e

150, todos do Código Penal, requerendo que, uma vez autuada esta, seja

ele citado para se ver processar até final julgamento e condenação,

ouvindo-se, no decorrer da instrução criminal, as testemunhas abaixo

arroladas.

Rol:

1. Francis Almeida Araújo, PM (fls. 07);

2. Humberto Liberato Ribeiro, PM (fls. 09);

3. Aline Tobias de Oliveira, (fls. 10);

4. Cátia Tobias de Oliveira, (fls. 12)

Embu Guaçu, 14 de dezembro de 2010.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 228: Íntegra do Projeto

227

Autos n.º 921/10

MMa JUÍZA:

1. Ofereço denúncia impressa em 03 (três) laudas;

2. Requeiro cobre-se a vinda dos laudos dos exames

de corpo de delito realizados nas vítimas;

3. Por fim, considerando as declarações da vítima, sua

manifestação em representar o autor dos fatos, bem como o histórico de

agressividade do denunciado, e, ainda, tendo em vista que a concessão das

medidas não irá prejudicar direito de nenhuma das partes envolvidas,

requeiro seja concedida a medida de proibição de aproximação e contato

com a ofendida, fixando-se limite mínimo, bem como o afastamento do

autor do lar conjugal, a fim de preservar a integridade física e psicológica

das vítimas, e dos outros filhos do casal, evitando, assim, que situações

mais graves ocorram caso o autor dos fatos seja posto em liberdade, nos

termos do art. 22, II, III, „a‟, „b‟ e „c‟ da Lei no 11.340/06.

Embu Guaçu, 14 de dezembro de 2010.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 229: Íntegra do Projeto

228

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO

DA VARA DISTRITAL DE EMBU-GUAÇU – COMARCA DE

ITAPECERICA DA SERRA.

Autos nº 502/10

Consta do incluso expediente, que no dia 29 de junho de

2010, por volta de 22h no interior da residência localizada na Viela

Aldineia Aparecida Manuel, nº 58, Parque São Lucas, Embu-Guaçu,

ROSALVO BARRETOSBALBINO DA SILVA, qualificado nos autos

a fls. 04, com evidente ânimo homicida, por motivo torpe, meio cruel e

recurso que dificultou a defesa da vítima, tentou matar sua ex-companheira

Valéria de Cássia Ferreira Barretos, somente não consumando o delito por

circunstâncias alheias à sua vontade.

Consta, ainda, que logo após os fatos supra, no interior

do Pronto Socorro do Cipó, neste Município de Embu-Guaçu, ROSALVO

BARRETOS BALBINO DA SILVA, qualificado nos autos a fls. 04,

desacatou o Guarda Municipal Maurício Chaves de Rezende, funcionário

público no exercício da função.

Page 230: Íntegra do Projeto

229

Consta, ainda, que logo após os fatos supra, no interior

do Pronto Socorro do Cipó, neste Município de Embu-Guaçu, ROSALVO

BARRETOSBALBINO DA SILVA, qualificado nos autos a fls. 04,

opôs-se à execução de ato legal, mediante violência ao Guarda Municipal

Maurício Chaves de Rezende, funcionário competente para executá-lo.

Consta, ainda, que no período compreendido entre 15 de

janeiro de 2010 e 29 de junho de 2010, neste Município de Embu-Guaçu,

ROSALVO BARRETOS BALBINO DA SILVA, qualificado nos autos

a fls. 04, desobedeceu a ordem legal deste Digníssimo Juízo, conforme fls.

22 dos autos do apenso do inquérito policial nº 102/10, cujas cópias

seguem nestes autos.

Consta, por fim, que no período compreendido entre 7

de julho e 16 de julho de 2010, neste Município de Embu-Guaçu,

ROSALVO BARRETOS BALBINO DA SILVA, qualificado a fls. 04,

usou de grave ameaça contra a vítima Valéria, com o fim de favorecer

interesse próprio em processo judicial.

Apurou-se que a vítima e o denunciado são casados por

aproximadamente 10 anos e desta relação adveio o nascimento de um filho

menor de idade Dérick Ferreira Barreto, nascido aos 14 de março de 2000.

Durante todo esse tempo de convivência, a vítima constantemente foi

agredida e ameaçada pelo denunciado, somente não registrando ocorrência

por temer o comportamento de ROSALVO, por ser ele pessoa violenta,

influente e conhecida na cidade. Ou, quando Valéria registrava a

Page 231: Íntegra do Projeto

230

ocorrência, era novamente ameaçada por ROSALVO e, temendo por sua

vida e de seu filho, acabava por se retratar.

Ocorre que, na data de 14 de janeiro de 2010, a vítima

compareceu nesta Promotoria de Justiça e narrou novo crime de ameaça e

agressões cometidos por ROSALVO contra sua pessoa, conforme se

verifica dos autos de inquérito policial nº 102/10. Na ocasião, Valéria

requereu as medidas protetivas da Lei Maria da Penha, no sentido de

afastar ROSALVO do lar e impedir que ele dela se aproximasse ou

mantivesse contato, nos termos do artigo 22, inciso II e III, alíneas “a” e

“b”, da Lei nº 11.340/06, as quais foram concedidas. Não obstante,

ROSALVO não cumpriu a determinação judicial e, em total afronta ao

Poder Judiciário, continuou a freqüentar a casa da vítima, obrigando-a,

inclusive, a manter relações sexuais com ele, ameaçando-a de morte caso

voltasse a comunicar tais fatos á Justiça.

Porém, em 29 de junho de 2010, ROSALVO e Valéria

iniciaram nova discussão quando estavam no interior do veículo da vítima

e, ao chegaram na porta da residência,de Valéria, esta impediu ROSALVO

de lá adentrar e lhe disse que só sairia do carro se ROSALVO fosse

embora. Indignado, ROSALVO abriu a porta do automóvel, agarrou a

vítima pelos braços e pelo cabelo e a arrastou até o interior da residência,

causando-lhe as lesões descritas no laudo a ser oportunamente juntado aos

autos, cujas fotografias das agressões seguem a fls. Em seguida e não

satisfeito, ROSALVO resolveu matar Valéria e aproveitando que a vítima

já se encontrava lesionada e enfraquecida, apanhou no interior de seu

Page 232: Íntegra do Projeto

231

veículo uma garrafa pet contendo gasolina e jogou o combustível sobre o

corpo de Valéria, com o intuito de, em seguida, atear-lhe fogo.

Ocorre que, no momento em que ROSALVO distanciou-se

da vítima para procurar um fósforo, o filho do então casal conseguiu

solicita ajuda de seus avós que imediatamente lá adentraram e impediram

que ROSALVO ateasse fogo na vítima. É dos autos que os pais de Valéria

a colocaram embaixo do chuveiro, e como esta apresentava estar prestes a

desmaiar, levaram-na para o Pronto Socorro local.

Apurou-se que ROSALVO os seguiu com seu veículo e,

no interior do Pronto Socorro, continuou a agredi-la, mesmo esta em total

estado de inconsciência,, desferindo-lhe tapas no rosto. Foi necessário o

comparecimento de guardas municipais no local, que determinaram que o

denunciado parasse com as agressões e se retirasse. Contrariado,

ROSALVO virou-se para um deles e passou a ofendê-lo, com as seguintes

palavras. “seu merda” “seu bosta”, “você não é ninguém”, “vai se fuder”,

“vai tomar no cu” “seu filho da puta”. Ato contínuo, os guardas municipais

deram voz de prisão ao denunciado, o qual resistiu à ordem dos mesmos,

entrando em luta corporal com eles, sendo necessário o uso de força física e

algemas para contê-lo.

É dos autos que o denunciado foi conduzido à Delegacia de

Polícia e lá foi arbitrada fiança ao mesmo, no valor de R$ 1.000,0 , tendo

ele pago e se livrado solto. Ocorre que o Ministério Público não concordou

com a fiança arbitrada pelos motivos expostos a fls. 22/25 e requereu a

Page 233: Íntegra do Projeto

232

prisão preventiva de ROSALVO, a qual foi deferida por este Digníssimo

Juízo, tendo sido o denunciado encaminhado ao CDP de Itapecerica da

Serra.

Por fim, apurou-se que, as testemunhas protegidas indicadas

nesses autos compareceram nesta Promotoria de Justiça em 16 de julho de

2010 e informaram que ROSALVO está fazendo uso de um aparelho

celular de dentro do presídio onde se encontra, ameaçando de morte a

vítima e dizendo que e ela não “retirar” a representação feita contra ele, ela

vai pagar ainda mais caro os dias em que ele ficou na prisão, o que fez

com que ela assinasse a recusa à representação de fls. 17 do apenso, para

favorecê-lo neste processo criminal. Informaram as referidas testemunhas

que temem por suas vidas e requereram proteção da Justiça.

O crime de tentativa de homicídio foi cometido por motivo

torpe tendo em vista que o denunciado assim agiu, pois resolveu vingar-se

da vítima pelo fato de ela tê-lo representado perante a Justiça e, em posse

de uma decisão judicial, tê-lo impedido de entrar em casa.

O crime foi cometido por meio cruel, uma vez que atear

fogo para matar causa um sofrimento desnecessário à vítima.

E, por fim, o crime de tentativa de homicídio foi

cometido por recurso que dificultou a defesa da vítima, tendo em vista que

o denunciado, pelo simples fato de ser homem e fisicamente mais forte

Page 234: Íntegra do Projeto

233

Valéria e , valendo-se de momento em que esta estava praticamente

desfalecida, após ter sido agredida, impediu-a de se defender das agressões.

Ante o exposto, denuncio ROSALVO

BARRETOSBALBINO DA SILVA, como incurso no artigo 121,

parágrafo 2º, incisos I, III e IV, c.c. artigo 14, inciso II, ambos do

Código Penal e nos artigos 329, 330, 331 e 344, todos do Código Penal,

requerendo que, recebida e autuada esta, seja ele citado e interrogado,

prosseguindo-se nos demais atos processuais de acordo com o rito previsto

nos artigos 394/497 do Código de Processo Penal, ouvindo-se a vítima e as

testemunhas abaixo arroladas, até final condenação.

Rol:

Vítima: Valéria de Cássia Ferreira Barretos– fls.04

1. Hdson Cruz de Aguiar- Guarda Civil Metropolitano- fls. 05

2. Maurício Chaves de Rezende, Guarda Civil Metropolitano- fls. 05

3. Testemunha Protegida nº 01

4. Testemunha Protegida nº 02

5. Testemunha Protegida nº 3

Embu Guaçu, 18 de maio de 2011.

Maria Gabriela Prado Manssur

Promotora de Justiça

Page 235: Íntegra do Projeto

234

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO

DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE EMBU GUAÇU

Autos nº 757/2010

Consta do incluso inquérito policial que, no dia 23

de setembro de 2010, por volta de 7h e 30min, na rua Romualda Colmenero

de Parra, nº 305, Vila Cristina, nesta cidade, LEANDRO LUCAS ALVES

DE SOUZA, qualificado a fl. 18, valendo-se das relações familiares,

ofendeu a integridade corporal de sua irmã Suzana Alves dos Anjos,

conforme receituário de fls. 15 e fotografias de fls. 16.

Segundo apurado, a vítima, de apenas 16 anos, e o

denunciado são irmãos e residem na mesma residência, uma vez que seus

pais são falecidos. É dos autos que o denunciado é dado ao uso de

substânicas entorpecentes “crack” e constantemente vende os objetos e

bens de sua residência para adquirir droga.

Ocorre que na data dos fatos, após uma discussão

devido ao fato de a vítima não querer entregar dinheiro para seu irmão

adquirir droga, o denunciado passou a quebrar os móveis da residência. Em

Page 236: Íntegra do Projeto

235

seguida, o denunciado apoderou-se de um par de tênis da vítima,

provavelmente para trocá-lo por droga, ocaisão em que a vítima tentou

impedi-lo. Insatisfeito, o denunciado desferiu-lhe um tapa no rosto da

vítima, causano-lhe uma queda e provocando-lhe uma luxação em seu

cotovelo. No momento em que a vítima estava no chão, o denunciado ainda

puxou seus cabelos e pisou no cotovelo machucado.

Os policiais militares foram chamados e

conduziram a vítima e o denunciado para a Delegacia de Polícia. Diante

dos fatos, foi dada voz de prisão ao denunciado.

As medidas protetivas previstas no artigo 22, II e

22 III, alíneas “a” e “b”, da Lei 11340/03 foram deferidas a fls. 36/37.

Representação da vítima a fls.36/37.

Diante do exposto, denuncio LEANDRO

LUCAS ALVES DE SOUZA como incurso no artigo 129, §9º, do Código

Penal, requerendo que, recebida e autuada esta, seja ele notificado a se

defender e após, recebida, citado, ouvindo-se as pessoas ao final arroladas e

interrogado, observando-se o rito previsto nos artigos 396 e seguintes do

Código de Processo Penal, valendo-se dos preceitos da Lei Maria da Penha

naquilo que couber, até final condenação, lançando-lhe o nome no rol dos

culpados após o trânsito em julgado.

Page 237: Íntegra do Projeto

236

Rol:

1. Suzana Alves dos Anjos, vítima (fl. 06)

2. Márca Rodrigues Rosa, Conselheira Tutelar

3. Maurício José da Silva, PM, FLS. 03

4. Odair Reimberg Guizzi, PM, fls. 05

Embu Guaçu, 13 de outubro de 2010.

Maria Gabriela Prado Manssur

Promotora de Justiça

Page 238: Íntegra do Projeto

237

Autos n.º 757/2010

MMª. JUÍZA:

1. Ofereço denúncia em separado impressa contra

EDSON LUZ SILVA, em 03 (três) laudas somente no anverso.

2. Requeiro a vinda de FA e certidões no que constar

no nome do denunciado.

3. Requeiro cobre-se o exame de cropo de delito.

Embu Guaçu, 18 de Maio de 2011.

Maria Gabriela Prado Manssur

Promotora de Justiça

Page 239: Íntegra do Projeto

NÚCLEO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CIRCUNSCRIÇÃO DE ITAPECERICA DA SERRA

REDE PROTETIVA DE DIREITOS SOCIAIS Nº 3

238

MODELOS Nº 12

ALEGAÇÕES FINAIS

Page 240: Íntegra do Projeto

239

VARA DISTRITAL DE EMBU GUAÇU

Autos n.º 51/2010

Autora..: JUSTIÇA PÚBLICA

Réu.....: ANGELO SELVINI

MEMORIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

MMª. JUÍZA:

ANGELO SELVINI, qualificado nos autos, está

sendo processado como incurso no artigo 129, § 9º (com a redação dada

pela Lei 11.340/06), por duas vezes, e artigo 140, “caput”, ambos do

Código Penal, porque no dia 23 de fevereiro de 2009, por volta da 01h, na

Rua Silvio de Oliveira, nº 81, Vila Cristina, neste município, prevalecendo-

se de relações domésticas e de coabitação, ofendeu a integridade corporal

da sua genitora Celeste Barbosa Selvini, agredindo-a com socos e chutes,

provocando-lhe lesões corporais. É dos autos, ainda, que o réu, em 16 de

janeiro de 2010, no período noturno, no mesmo endereço, nesta cidade,

Page 241: Íntegra do Projeto

240

prevalecendo-se de relações domésticas e de coabitação, ofendeu a

integridade corporal de sua genitora Celeste Barbosa Selvini.

Segundo o apurado, o réu e a vítima residiam no

mesmo endereço, sendo Celeste mãe de ANGELO. Em 23 de fevereiro de

2009, o réu chegou em casa muito violento, sob o efeito de drogas, e

passou a desferir socos nos braços e costas da vítima, bem como chutes em

suas pernas, causando-lhe lesões corporais.

Posteriormente, no dia 16 de janeiro de 2010, o

réu, novamente violento, puxou uma faca que estava na mão de sua

genitora, provocando-lhe um corte entre os dedos, chamando-a de “puta” e

ameaçando-a de agressões físicas a fim de obter o dinheiro de sua

aposentadoria.

O réu é usuário de drogas e, quando está com

crise de abstinência, fica muito nervoso e profere ameaças contra a vítima,

afirmando que os traficantes a matariam caso ela não pagasse suas dívidas

de drogas.

A denúncia foi recebida em 29 de janeiro de

2010, a fls. 26, ocasião em que foi decretada sua prisão preventiva. O réu

foi citado e apresentou defesa preliminar (fls. 48). Em audiência de

instrução, foi deferido o pedido de instauração de incidente de sanidade

mental e de dependência químico-toxicológica. Foi ouvida a vítima (fls. 74)

Page 242: Íntegra do Projeto

241

e uma testemunha de acusação (fl. 75), passando-se ao interrogatório do

réu, a fls. 76/79.

É um breve resumo do ocorrido.

O pedido contido na denúncia deve ser julgado

procedente e o réu condenado, uma vez que demonstradas a

materialidade e a autoria do delito imputado.

A materialidade do crime está devidamente

comprovada pelos boletins de ocorrência a fls. 04/06 e 22/23, laudo de

exame de corpo de delito de fls. 61, bem como pelas declarações da vítima

e da testemunha.

A autoria também é certa.

Com efeito, o caso é grave e exige atenção. Trata-

se de uma senhora de 65 anos de idade que, há anos, vem sendo agredida

por seu filho, ora réu, um homem de 30 anos de idade, forte, viciado em

“crack” e que não trabalha, nem nunca trabalhou. A vítima era

constantemente ameaçada de morte por seu filho, que a coagia a lhe

entregar dinheiro para custear seu vício, caso contrário, os traficantes a

matariam. Não fosse só, o réu, que ficava o tempo todo em casa, já que não

trabalhava, proferia diversas palavras de baixo calão contra a pessoa que

Page 243: Íntegra do Projeto

242

lhe criou e lhe deu afeto, chamando sua mãe de “puta”, “velha acabada”,

dentre outras expressões que humilhavam a vítima, diariamente.

Nesse sentido foram todas as manifestações da

vítima, a fls. 07, 17/18 e 74, sempre demonstrando intenso sofrimento em

decorrência da agressividade física e psicológica perpretada por seu filho

em relação a ela.

A testemunha Carlos Eduardo Alves confirmou os

fatos, reconhecendo o réu como sendo agressor contumaz de sua mãe.

Narra que a vítima compareceu por várias vezes na Delegacia de Polícia,

mas tinha medo de fazer boletim de ocorrência, com receio do que seu

filho, nervoso, poderia fazer com ela.

Por fim, vale ressaltar que o próprio réu, a fls. 77,

em seu interrogatório judicial, confessou ter agredido sua mãe, em

fevereiro de 2009. Quanto ao fato ocorrido um ano depois, o réu não negou

a agressão, tentou apenas justificá-la, alegando que sua mãe se cortou pois

não estaria prestando atenção. Não negou que a humilhava – preferiu dizer

que “não se recordava”, o que é não é crível. Admitiu que travava diversas

discussões com a vítima, e que, sendo usuário de crack, acaba ficando

agressivo e intolerante.

Frise-se, Excelencia, que o réu confessou que

desde os seus 15 anos de idade agride sua mãe, e que fazia uso do

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243

dinheiro dela para pagar suas dívidas com drogas, e que, certa vez,

empurrou sua mãe de tal maneira que ela bateu a cabeça na parede.

Ressalte-se, ainda, que a perícia realizada no

réu demonstrou que ele é PLENAMENTE IMPUTÁVEL para o delito

descrito na denúncia, não sendo ele portador de quaisquer disturbios

metais ou de dependência a psicofarmos de importância médico legal

(fls. 49 do apenso).

De acordo com o laudo médico legal, temos que o

réu não possui qualquer doença ou vício que o torne incapaz de entender o

caráter ilícito de suas atitudes. Assim, conclui-se que ANGELO tinha

plena consciência do que fazia com sua mãe, demonstrando, então, ser uma

pessoa de má índole, ruim, agressivo e de péssimo caráter, haja vista fazer

tudo o que ele fez com sua mãe, que, segundo o próprio réu, “era super-

protetora, o queria sempre junto” (fls. 78).

Mister salientar que a intervenção do Ministério

Público e do Poder Judiciário, neste caso, foi pontual e acertada, pois, caso

contrário, poderíamos não mais contar com a presença da vítima Celeste

Barbosa Selvini em nossas vidas, que tanto solicitou e suplicou a ajuda do

Estado, o que, diga-se de passagem, deveria atender a todas as mulheres na

mesma situação, evitando-se, assim, casos como o de Elisa Samudio e

Mércia Nakashima.

Page 245: Íntegra do Projeto

244

Diante do exposto, o Ministério Público

entende comprovados os fatos descritos na denúncia, requerendo seja

a presente ação penal julgada procedente em todos os seus termos.

No tocante à aplicação da pena, verifico que o réu

não ostenta maus antecedentes. Porém, diante da gravidade e

circunstâncias dos fatos, bem como do período em que perduraram as

agressões, trazendo inúmeros prejuízos à vítima, seja no campo moral seja

no material, nos termos do artigo 59, do Código Penal, requeiro seja a pena

base fixada acima do mínimo legal. Há agravante prevista no artigo 61,

inciso II, “h”, já que cometido contra maior de 60 (sessenta) anos. A

Atenuante de confissão não poderá incidir, uma vez que o réu não

confessou todos os fatos a ele imputados, tentando dar “justificativas” à

agressão cometida com o uso de uma faca. Não há causas de aumento ou

diminuição.

Anoto que o regime de pena a ser cumprido

deverá ser o fechado. Isto porque, réu demonstrou ser periculoso, bem

como ostenta ódio pela vítima, sobretudo quando está drogado, o que

ocorre constantemente, podendo vir a matá-la a qualquer momento,

considerando a agressividade dele a sua força frente a uma senhora de

idade. É cediço salientar que os crimes ocorridos no âmbito doméstico são

friamente planejados por seus autores. Pode-se citar por exemplo o caso da

cabeleleira Maria Islaine de Moraes que foi covardemente assissinada por

Page 246: Íntegra do Projeto

245

seu ex-marido com sete disparos de arma de fogo. Por tal motivo, o

legislador autorizou a prisão preventiva nos casos de crime apenado com

detenção se presentes os requisitos da prisão preventiva e para garantir

proteção à vítima, com mais razão e “a forciori”, por conta de uma sentença

penal, que confirma a periculosidade do réu, também permite que o regime

a ser fixado em sentença seja o fechado.

Neste sentido, o artigo 33, do Código Penal

dispõe que a pena do crime de detenção deverá ser cumprida em regime

semi-aberto ou aberto, salvo necessidade de trasnferência ao regime

fechado. Ou seja, admite exceções.

Já as alíneas “b” e “c” do mesmo artigo

dispõe que o réu poderá iniciar o cumprimento da pena em regime aberto

ou semi-aberto, se não for reincidente.

E ainda, o §3º do citado artigo 33 menciona

que deverão ser observados os critérios descritos no artigo 59 do Código

Penal para fixação do regime.

Ora, em sendo o réu e possuindo

circunstâncias desfavoráveis, não há dúvidas de que o regime a ser fixado

para cumprimento da pena é o FECHADO, tanto para a segurança da

vítima quanto para segurança da própria sociedade, pois seu

Page 247: Íntegra do Projeto

246

comportamento pode se repetir com outras vítimas. Esta foi a intenção do

legislador quando alterou o Código de Processo Penal e nele inseriu o

inciso IV, do artigo 313.

Observo que, pelos mesmos motivos, não

poderá fazer jus à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas

de direitos.

Por fim, considerando a necessidade da

proteção da vítima dos presentes autos, bem como do amparo dado

pela Lei nº 11.340/06, tendo em vista as circunstâncias judiciais

desfavoráveis e considerando a necessária proteção da vítima, aliado

ao fato de que a vítima, senhora de idade, é agredida quase que

diariamente pelo réu, que a humilha e se apropria de seu dinheiro,

requeiro sejam deferidas e confirmadas por sentença, as medidas

protetivas no sentido de afastá-lo da residência da vítima, além de

evitar contato e aproximação com ela, nos termos do artigo 22, incisos

II e III, alíneas “a” e “b”, da Lei n. 11340/06, ficando expresso que o

descumprimento ensejará crime de desobediência, em total proteção à

vítima de violência de gênero. Ressalto, ainda, a necessidade de que o

réu mantenha-se afastado da vítima em uma distância de, no mínimo,

50 KILOMETROS, ou seja, fora do município de Embu Guaçu, o que

se faz necessário não apenas em decorrência do réu ser pessoa

agressiva com sua própria mãe, mas também pelo fato de que ele,

usuário de “crack”, possui dívidas com traficantes que, não

Page 248: Íntegra do Projeto

247

conseguindo pagamento do réu, certamente ameaçariam alhguém

próximo dele, no caso, sua mãe, ora vítima.

Ante o exposto, requeiro que a presente ação

penal seja julgada PROCEDENTE para se condenar ANGELO SELVINI,

como incurso no artigo 129, § 9º (com a redação dada pela Lei 11.340/06),

por duas vezes, e artigo 140, “caput”, ambos do Código Penal, nos termos

da denúncia, lançando-lhe o nome no rol dos culpados após o trânsito em

julgado da condenação.

Embu Guaçu, 28 de fevereiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

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248

VARA DISTRITAL DE EMBU GUAÇU

Autos n.º 502/10

Autora..: JUSTIÇA PÚBLICA

Réu....: ROSALVO BARRETOS BALBINO DA SILVA

ALEGAÇÕES FINAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO

MMª. JUÍZA:

ROSALVO BARRETOS BALBINO DA SILVA,

qualificado nos autos, está sendo processado como incurso no artigo 121, §

2º, incisos I, III e IV, c.c. o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal e

nos artigos 329, 330, 331 e 344, todos do Código Penal, porque no dia 29

de junho de 2010, por volta de 22h no interior da residência localizada na

Viela Aldineia Aparecida Manuel, nº 58, Parque São Lucas, Embu-Guaçu,

com evidente ânimo homicida, por motivo torpe, meio cruel e recurso que

dificultou a defesa da vítima, tentou matar sua ex-companheira Valéria de

Cássia Ferreira Barretos, somente não consumando o delito por

circunstâncias alheias à sua vontade;

porque, ainda, logo após os fatos supra, no interior do Pronto

Socorro do Cipó, neste Município de Embu-Guaçu, desacatou o Guarda

Municipal Maurício Chaves de Rezende, funcionário público no exercício

da função;

porque, também, logo após os fatos supra, no interior do

Pronto Socorro do Cipó, neste Município de Embu-Guaçu, opôs-se à

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

249

execução de ato legal, mediante violência ao Guarda Municipal Maurício

Chaves de Rezende, funcionário competente para executá-lo;

porque no período compreendido entre 15 de janeiro de 2010 e

29 de junho de 2010, neste Município de Embu-Guaçu, desobedeceu a

ordem legal deste Digníssimo Juízo, conforme fls. 22 dos autos do apenso

do inquérito policial nº 102/10, cujas cópias seguem nestes autos;

,por fim, porque no período compreendido entre 7 de julho e

16 de julho de 2010, neste Município de Embu-Guaçu, usou de grave

ameaça contra a vítima Valéria, com o fim de favorecer interesse próprio

em processo judicial.

Oferecida e recebida a denúncia, a fls. 67, em 23 de julho de

2010, foi o réu citado a fls. 97. O defensor ofereceu defesa prévia (fls.

110/114). Durante a instrução a vítima, seis testemunhas de acusação e

duas testemunhas de defesa foram ouvidas , passando-se ao interrogatório

do réu (fls. 146/167),

Os autos vieram para alegações finais.

É o relatório.

NO MÉRITO

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

250

Requeiro seja ROSALVO BARRETOS

BALBINO DA SILVA pronunciado, nos termos do artigo 413, do Código

de Processo Penal, para ser submetido a Julgamento pelo Egrégio Tribunal

do Júri de Embu Guaçu.

Apurou-se que a vítima e o denunciado são

casados por aproximadamente 10 anos e desta relação adveio o nascimento

de um filho menor de idade Dérick Ferreira Barreto, nascido aos 14 de

março de 2000. Durante todo esse tempo de convivência, a vítima

constantemente foi agredida e ameaçada pelo denunciado, somente não

registrando ocorrência por temer o comportamento de ROSALVO, por ser

ele pessoa violenta, influente e conhecida na cidade. Ou, quando Valéria

registrava a ocorrência, era novamente ameaçada por ROSALVO e,

temendo por sua vida e de seu filho, acabava por se retratar.

Ocorre que, na data de 14 de janeiro de 2010, a

vítima compareceu nesta Promotoria de Justiça e narrou novo crime de

ameaça e agressões cometidos por ROSALVO contra sua pessoa, conforme

se verifica dos autos de inquérito policial nº 102/10. Na ocasião, Valéria

requereu as medidas protetivas da Lei Maria da Penha, no sentido de

afastar ROSALVO do lar e impedir que ele dela se aproximasse ou

mantivesse contato, nos termos do artigo 22, inciso II e III, alíneas “a” e

“b”, da Lei nº 11.340/06, as quais foram concedidas. Não obstante,

ROSALVO não cumpriu a determinação judicial e, em total afronta ao

Poder Judiciário, continuou a freqüentar a casa da vítima, obrigando-a,

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

251

inclusive, a manter relações sexuais com ele, ameaçando-a de morte caso

voltasse a comunicar tais fatos á Justiça.

Porém, em 29 de junho de 2010, ROSALVO e

Valéria iniciaram nova discussão quando estavam no interior do veículo da

vítima e, ao chegaram na porta da residência,de Valéria, esta impediu

ROSALVO de lá adentrar e lhe disse que só sairia do carro se ROSALVO

fosse embora. Indignado, ROSALVO abriu a porta do automóvel, agarrou

a vítima pelos braços e pelo cabelo e a arrastou até o interior da residência,

causando-lhe as lesões descritas no laudo a ser oportunamente juntado aos

autos, cujas fotografias das agressões seguem a fls. Em seguida e não

satisfeito, ROSALVO resolveu matar Valéria e aproveitando que a vítima

já se encontrava lesionada e enfraquecida, apanhou no interior de seu

veículo uma garrafa pet contendo gasolina e jogou o combustível sobre o

corpo de Valéria, com o intuito de, em seguida, atear-lhe fogo.

Ocorre que, no momento em que ROSALVO

distanciou-se da vítima para procurar um fósforo, o filho do então casal

conseguiu solicita ajuda de seus avós que imediatamente lá adentraram e

impediram que ROSALVO ateasse fogo na vítima. É dos autos que os pais

de Valéria a colocaram embaixo do chuveiro, e como esta apresentava estar

prestes a desmaiar, levaram-na para o Pronto Socorro local.

Apurou-se que ROSALVO os seguiu com seu

veículo e, no interior do Pronto Socorro, continuou a agredi-la, mesmo esta

em total estado de inconsciência,, desferindo-lhe tapas no rosto. Foi

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

252

necessário o comparecimento de guardas municipais no local, que

determinaram que o denunciado parasse com as agressões e se retirasse.

Contrariado, ROSALVO virou-se para um deles e passou a ofendê-lo, com

as seguintes palavras. “seu merda” “seu bosta”, “você não é ninguém”, “vai

se fuder”, “vai tomar no cu” “seu filho da puta”. Ato contínuo, os guardas

municipais deram voz de prisão ao denunciado, o qual resistiu à ordem dos

mesmos, entrando em luta corporal com eles, sendo necessário o uso de

força física e algemas para contê-lo.

É dos autos que o denunciado foi conduzido à

Delegacia de Polícia e lá foi arbitrada fiança ao mesmo, no valor de R$

1.000,0 , tendo ele pago e se livrado solto. Ocorre que o Ministério Público

não concordou com a fiança arbitrada pelos motivos expostos a fls. 22/25 e

requereu a prisão preventiva de ROSALVO, a qual foi deferida por este

Digníssimo Juízo, tendo sido o denunciado encaminhado ao CDP de

Itapecerica da Serra.

Por fim, apurou-se que, as testemunhas protegidas

indicadas nesses autos compareceram nesta Promotoria de Justiça em 16 de

julho de 2010 e informaram que ROSALVO está fazendo uso de um

aparelho celular de dentro do presídio onde se encontra, ameaçando de

morte a vítima e dizendo que e ela não “retirar” a representação feita

contra ele, ela vai pagar ainda mais caro os dias em que ele ficou na

prisão, o que fez com que ela assinasse a recusa à representação de fls. 17

do apenso, para favorecê-lo neste processo criminal. Informaram as

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

253

referidas testemunhas que temem por suas vidas e requereram proteção da

Justiça.

O crime de tentativa de homicídio foi cometido

por motivo torpe tendo em vista que o denunciado assim agiu, pois

resolveu vingar-se da vítima pelo fato de ela tê-lo representado perante a

Justiça e, em posse de uma decisão judicial, tê-lo impedido de entrar em

casa.

O crime foi cometido por meio cruel, uma vez

que atear fogo para matar causa um sofrimento desnecessário à vítima.

E, por fim, o crime de tentativa de homicídio foi

cometido por recurso que dificultou a defesa da vítima, tendo em vista que

o denunciado, pelo simples fato de ser homem e fisicamente mais forte

Valéria e , valendo-se de momento em que esta estava praticamente

desfalecida, após ter sido agredida, impediu-a de se defender das agressões.

A materialidade dos crimes está perfeitamente

demonstrada pelos documentos juntados aos autos, declarações das vítimas

e testemunhas, bem como pela ficha de atendimento de fls. 101/103,

fotografias de fls. 14/17, documento de fls. 104/107, documento de fls.

215, 216, bem como conforme boletim de ocorrência de fls. 04/06,

boletimde corrência de fls. 49, documento de fls. 54, boletim de ocorrência

de fls. 80/82, boletim de ocorrência de fls. 83/84, boletim de coorrência de

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

254

fls. 85/87, boletim de ocorrência de fls. 88/90, boletim de ocorrência de fls.

91/92.

Saliento que de acordo com o parágrafo 3º, do

artigo 12, da Lei 11340/06, serão admitidos como meio de prova os laudos

ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. Desta

forma, considerando todos os documentos avima indicados, que

comprovam cabalmente a materialidade delitiva, deixo de requerer exame

de corpo de delito indireto, pois como titular da ação penal, o Ministério

Público se dá por satisfeito com as provas já produzidas.

Nesse sentido, recentes julgados do STJ:

“...O Ministério Público Federal opinou pelo não-conhecimento do recurso

(fls. 3.446/3.457)

Não merece prosperar o apelo, uma vez que, tendo o Tribunal de origem

afirmado a existência de inúmeros elementos que comprovam a

materialidade e autoria do delito, a pretensão recursal demandaria o

reexame da matéria fático-probatória contida nos autos, procedimento

inviável na instância especial, a teor do enunciado sumular 7 desta Corte.

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

255

Ainda que ultrapassado o óbice apontado, o acórdão impugnado encontra-

se em harmonia com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no

sentido de que "O exame de corpo de delito direto pode ser suprido, quando

desaparecidos os vestígios sensíveis da infração penal, por outros

elementos de caráter probatório existentes nos autos, notadamente os de

natureza testemunhal ou documental" (HC 23.898/MG, Rel. Min. FELIX

FISCHER, Quinta Turma, DJ de 24/2/2003). No mesmo sentido, os

seguintes precedentes:

HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. LAUDO

PERICIAL. NULIDADES. INOCORRÊNCIA.

1. "Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem

desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta."

(artigo 167 do Código de Processo Penal).

2. É incompatível com o âmbito angusto do habeas corpus a

pretensão de reexame de prova.

4. Habeas corpus parcialmente conhecido e denegado.

(HC 37.900/RJ, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, Sexta Turma,

DJ 1º1/8/2005)

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. JÚRI. HOMICÍDIO

QUALIFICADO CONSUMADO E TENTADO. EXAME DE CORPO DE

DELITO NÃO REALIZADO. PROVA TESTEMUNHAL.

SUPRIMENTO. ART. 167 DO CPP. OFENSA AO PRINCÍPIO DA

SOBERANIA DOS VEREDICTOS. TEORIA DAS NULIDADES

PROCESSUAIS. ARTS. 563 E 565 DO CPP. ARGÜIÇÃO DE

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

256

NULIDADE QUE NÃO APROVEITA AO RÉU. AUSÊNCIA DE

PREJUÍZO.

1. A simples ausência de laudo de exame de corpo de delito da

vítima não tem o condão de conduzir à conclusão de inexistência de provas

da materialidade do crime, se nos autos existem outros meios de prova

capazes de convencer o julgador quanto à efetiva ocorrência do delito,

como se verifica na hipótese vertente. Aplicação do art. 167 do CPP.

2. Hipótese em que o apelo defensivo foi acolhido para excluir da

condenação a qualificadora do motivo fútil. Pretensão de declaração de

nulidade para que a questão seja reapreciada pelo Júri Popular.

3. Eventual declaração de nulidade do acórdão da apelação, em face

do disposto no art. 593, § 3º, do Código de Processo Penal, somente

poderia ser levada a efeito se requerida pela parte à qual aproveita, no caso,

o Ministério Público, uma vez que a reforma da decisão de primeiro grau

deu-se em favor do réu.

4. Não logrando a impetração demonstrar qualquer prejuízo concreto

ao Paciente, a teor do disposto no art. 563 do Código de Processo Penal,

que consagra na lei processual pátria o princípio pas de nullité sans grief,

não há como declarar a nulidade do decisum.

5. Ordem denegada.

(HC 33.300/RJ, Rel. Min. LAURITA VAZ, Quinta Turma, DJ 9/5/2005).

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

257

A autoria também emerge dos autos. Tanto na

fase policial quanto em juízo, os depoimentos produzidos são

convincentes.Senão, vejamos.

O réu negou a prática de todos os crimes ao qual

está sendo acusando, alegando que na data dos fatos Valéria embriagou-se

e partiu para cima dele, sendo ela que fez as agressões em si própria. Disse

que sua cunhada o acusou porque não gosta dele. Disse que Valéria

desmaiou pois seus pais a deixaram cair no chão. E que a sua cunhada

(irmã da vítima) a arrastou por 15 metros. Negou as agressões contra os

guardas. Disse que não se recorda de ter feito ameaças ao Ministério

Público, porém disse que não nega que não tenha feito.

A vítima Valéria, ouvida a fls. 148, em Juízo

informa que viveu casada com o réu por cerca de 10 anos, sendo que desta

união adveio o nascimento de um menino. Disse que sofre agressões físicas

e verbais do réu. Informou que na data dos fatos desacordada no Hospital,

não se recordando se levou uns tapas de Rosalvo. Disse que perdeu as

contas de quantas vezes apanhou de Rosalvo. Disse que já foi na Delegacia

de Polícia e já fez uns quatro boletins de ocorrência contra Rosalvo, por

agressões. Disse que chegou a enforcá-la. Confirmou que compareceu no

Ministério Público para registrar a ocorrência.

A testemunha protegida de fls. 153 disse ter 10

anos. Informou que seu pai já bateu na sua mãe até ela desmaiar, sendo que

ele já chegou a enforcá-la. Disse que no dia dos fatos seu pai arrancou a

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

258

vítima do carro e já colocou fogo na casa. Disse que foi ao Ministério

Público e ninguém nunca o obrigou a nada, tudo o que disse foi de livre e

espontânea vontade.

A testemunha protegida de fls. 154 disse que

compareceu ao Ministério Público para falar que Valéria estava sendo

agredida por Rosalvo. Ele bateu nela de tal forma que Valéria foi parar no

hospital . Disse que Valéria não larga Rosalvo porque ele a ameaça. Disse,

ainda, que mesmo preso, Rosalvo continua ameaçando sua outra filha.

Informou que na data dos fatos Rosalvo arrastou sua filha pelos cabelos,

tanto que ela machucou as costas, que foi batendo na escada. Confirmou

que Rosalvo jogou fogo na vítima e foi pegar o fósforo, mas seu marido

conseguiu impedi-lo. O filho da vítima já lhe contou que Rosalvo tentou

matar a mãe com uma faca. Disse , inclusive, que o filho de Valéria já deu

uns murros no pai para impedi-lo, pois ele estava enforcando a sua mãe, ora

vítima. Disse que Valéria veio diretamente ao Ministério Público, pois

estava com medo de chantagens e com medo do réu. Disse que Valéria tem

medo do réu. Disse que certa vez seu pai o procurou e disse, Vó, meu pai

disse que vai me furar três vezes para ferir a minha mãe.

A testemunha protegida de fls. 158, confirmou

que na data dos fatos, presenciou Valéria sendo banhada para retirar a

gasolina de seu corpo, tendo em vista que Rosalvo derramou uma garrafa

com dois litros de gasolina em Valéria. Disse que Rosalvo dizia que iria

matar a vítima, que estava desacordada e já estava machucada nas costas,

pois ele já havia batido nela. Disse que Valéria foi levada ao hospital pelos

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

259

pais, com a ajuda de terceira pessoa. Disse que Rosalvo mandou cartas para

vítima, dizendo que iria estuprar a depoente e que todos iriam pagar,

dizendo que a família era maldita. Valéria tem muito medo dele. Disse que

Valéria apresenta a patologia comum das vítimas de violência doméstica

que sofrem agressões e depois ficam com dó. Disse que Valéria perdeu a

confiança na Delegacia e por isso foi procurar o Ministério Público. Disse

que foi ao Ministério Público, posteriormente, por solicitação da vítima.

Disse que sua irmã lhe contou que Rosalvo fez ligações para ela do presídio

a ameaçando de morte. Disse que Rosalvo fez ameaças à depoente através

de cartas do PCC. Disse que tem muito medo do réu e que sequer consegue

dormir a noite. Disse que na data dos fatos, duas irmãs de Rosalvo a

ameaçaram na porta do Fórum.

Os Guardas Municipais que atenderem a

ocorrência no Pronto Socorro de Embu-Guaçu informaram, a fls. 151/152

que presenciaram o réu agredindo a esposa no próprio leito e que os

xingaram de “guardas de merda”, “filhos da puta” . Disseram que o réu

falou que “quando essa vagabunda sair daqui vai dar para mim de novo”

(referindo-se à esposa).

As testemunhas de defesa nada souberam sobre os

fatos, apenas trazendo aos autos informações sobre a conduta social do réu.

Page 261: Íntegra do Projeto

Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

260

As provas colhiodas nos autos demonstram que os

fatos ocorreram exatamente como descritos na denúncia, devendo o réu ser

pronunciado.

Caso contrário, a Justiça assinará e entregará

ao réu e à sociedade um atestado de que, quem joga gasolina no copro

da esposa para depois atear fogo, agride a esposa na frente do próprio

filho, tentando enforcá-la, , não tem a intenção de matar. E, portanto,

mesmo ameaçando a vítima, a família dela e o membro do Ministério

Público do presísido em que se encontra, está livre de um julgamento

pelo Tribunal do Júri, garantia constitucional de todo cidadão (e toda

cidadã).

Seria um incentivo à violência contra

tantas mulheres que são vitimizadas no Brasil e no mundo e não

possuem voz ativa, seja pela vergonha, seja pela piedade, seja pela fala

dependência econômica e psicológica a que são sbmetidas, de

denunciarem seus algozes.

Sem dizer que, no caso em tela, o réu

somente não matou a vítima pois seus pais lá chegaram e impediram as

agressões. Ou, quem sabe, a vítima somente esteja viva hoje, pois o réu

enncontra-se preso.

Não fosse só, Excelência, é certo que o réu

estava, ao longo de 10anos de convivência, matando a vítima aos poucos,

até que a esta não restasse um mínimo de dignidade para fazer valer seus

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

261

direitos de mulher e ter a coragem (ainda que momentânea, diga-se de

passagem), de comparecer perante a um Promotor de Justiça e narrar os

fatos.

É certo que a morte da vítima somente

foi evitada pela ação contundente, firme, imparcial e escorreita do

Ministério Público e da Justiça que, no caso em tela, aplicou e faz valer

os dispositivos da Lei Maria da Penha em total proteção à VALÉRIA

DE CÁSSIA FERREIRA BARRETOS, vítima de violência doméstica.

Presentes, da mesma forma, as

qulificadoras do meio cruel, do motivo fútil e do recurso que dificultou a

defesa da vítima, conforme acima narrado

Neste panorama, a pronúncia é de rigor, nos

termos da denúncia.

É de se lembrar que a finalidade da

pronúncia não é um juízo da culpabilidade, mas sim, da admissibilidade da

denúncia, nos termos em que foi formulada. Sob esta visão, é de rigor que a

atual conduta do réu seja levada ao Tribunal do Júri, este sim habilitado a

dizer se houve ou não o liame subjetivo entre ele e a conduta delitiva. Vale

aqui citar :

“A lei exige para a pronúncia indícios de autoria, sendo desnecessária

prova plena. Desde que os autos ofereçam dados tangíveis e apreciáveis

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Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

262

vinculando o fato ora apontado como delituoso à determinada pessoa ou

pessoas, inegável a ocorrência de indícios de autoria” (TJSP, RT 569/326).

“Revestindo-se a decisão de pronúncia de simples juízo de procedibilidade,

não se faz indispensável a certeza da criminalidade do acusado, mas mera

suspeita jurídica decorrente de indícios de autoria. Não há portanto, na

pronúncia confronto meticuloso e profunda valoração da prova, mesmo por

isso poderia traduzir-se na antecipação do veredicto sobre o mérito da

questão, matéria de competência do Tribunal do Júri e não do Juízo de

instrução” (TJSP - RSE 190.377 - 3/3 - Taubaté - Rel. Ângelo Gallucci).

Do exposto, requer-se, nos termos do art. 408 do

Código de Processo Penal, seja o réu ROSALVO BARRETOS BALBINO

DA SILVA pronunciado como incurso no artigo 121, § 2º, incisos I, III e

IV, c.c. o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal e nos artigos 329,

330, 331 e 344, todos do Código Penal, para julgamento pelo Egrégio

Tribunal do Júri de Embu Guaçu.

Por fim, considerando que o réu esteve preso

durante toda a instrução criminal, por conta de uma sentença de pronúncia,

com mais razão, deverá ser mantido no cárcere, pois subsistem os artigos

previstos no artigo 311 e 312 do Código de Processo Penal, senão vejamos.

Ninguém garante que solto, o réu não procure a

vítima para terminar de cometer o crime que, por circunstâncias alheias à

sua vontade, não terminou, podendo vir a matá-la e, ainda, vingar-se de sua

prisão.

Page 264: Íntegra do Projeto

Promotoria de Justiça de Embu Guaçu

263

E mais. Como se pode observar nos presentes

autos, o réu possui extremo poder sobre a vítima, sem contar no apelo

emocional que exerce sobre o filho menor, o que se pode comprovar pela

leitura das cartas juntadas aos autos. Solto, o réu poderá intimidar ainda

mais a vítima e testemunhas, de tal forma que as impeça de depor em

Plenário, para a garantia da ordem pública e para a conveniência da

instrução, prejudicando a produção de provas e impedindo a realização da

Justiça.

Frisa-se que o réu ameaçou esta Promotora de

Justiça, bem como familiares da vítima, sendo necessária a sua prisão para

a segurança e preservação do membro do parquet e dos familiares da

vítima.

Destarte, a manutenção da prisão processual é

medida que se impõe para garantia da ordem pública e segurança da vítima

e testemunhas, para conveniência da instrução processual em plenário, bem

como para ssegurar a aplicação da lei Penal, e é o que ora se requer, nos

exatos termos dos artigos 311 e 312, e inclusive, do artigo 313, inciso IV,

todos do Código de Processo Penal.

Embu-Guaçu, 7 de Dezembro de 2010.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

Page 265: Íntegra do Projeto

264

VARA DISTRITAL DE EMBU GUAÇU

Autos n.º 322/10

Autora..: JUSTIÇA PÚBLICA

Réu.....: ALEXANDRE MATELLA

MEMORIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

MMª. JUÍZA:

ALEXANDRE MATELLA, qualificado nos

autos, está sendo processado como incurso no artigo 147 do Código Penal,

porque no dia 09 de abril de 2010, por volta de 07h e 30min, na Rua Boa

Vista, numeração incerta, Centro, neste Município de Embu Guaçu,

valendo-se das relações familiares, ameaçou de causar mal injusto e grave,

a sua ex- convivente, a vítima Maria Joana Cavalcanti

A denúncia foi recebida em 14 de junho de 2010,

a fl. 21. O réu foi citado e apresentou defesa preliminar (fls. 29/35). Em

Page 266: Íntegra do Projeto

265

audiência de instrução foi ouvida a vítima (fl.82) e uma testemunha de

acusação (fl. 83), passando-se ao interrogatório do réu, a fls. 84/86.

É um breve resumo do ocorrido.

O pedido contido na denúncia deve ser julgado

procedente e o réu condenado, uma vez que demonstradas a

materialidade e a autoria do delito imputado.

Segundo o que se apurou, a vítima e o réu

viveram em união estável por 20 anos, e desta união adveio 02 filhas. Há

cerca de 05 anos, pois o convívio se tornou “insuportável”, a vítima

resolveu se separar de ALEXANDRE.

Na data dos fatos, ALEXANDRE encontrou,

ocasionalmente, a vítima na rua e ali passou a proferir ameaças de morte

contra ela, acusando-a de ter sido a responsável pela separação dele e da

sua atual namorada.

Na audiência prevista no art. 16 da Lei nº

11.340/06, Maria Joana reiterou seu desejo em representar o réu,

consignando que ele continuava a proferir ameaças de morte, dizendo que

ela está “com os dias contados”, inclusive seguindo-a quando vai trabalhar

(fl. 20).

Page 267: Íntegra do Projeto

266

A materialidade do crime está devidamente

comprovada pelo boletim de ocorrência a fls. 03/04, declarações da vítima

na audiência do artigo 16 da Lei nº 11.340/06 a fl. 20 dos autos em apenso,

bem como pelo depoimento da vítima e da testemunha de acusação.

A autoria também é certa.

O réu, em Juízo, negou os fatos imputados a ele

na exordial acusatória. Disse não o porquê da vítima o ter acusado. Disse

que a vítima não se conforma do fato dele ter rompido o relacionamento

existente entre ambos. Disse que sua namorada, na data dos fatos, é sua

atual companheira. Disse que o inconformismo da vítima decorre de sua

atual companheira ser mais jovem que a vítima.

Ora Excelência, não cabe prosperar a versão

dada pelo réu. Ele não é merecedor de credibilidade alguma, haja vista

que até o acontecimento da audiência do artigo 16 da Lei nº 11.340/06 este

proferia ameaças de morte contra a vítima. Ademais, sua versão é muito

simplória e não justifica sua negativa quanto a autoria do crime que lhe é

imputado.

Confirmando as alegações do réu e os fatos

descritos denúncia, estão os depoimentos da vítima e da testemunha.

Page 268: Íntegra do Projeto

267

Com efeito, a fl. 82, a vítima Maria Joana

informou que viveu em união estável com o réu por 20 anos, tiveram 02

filhas, uma com 12 anos e a outra com 06 anos de idade. Disse que estão

separados há 06 anos. Disse que, na data dos fatos, estava descendo para o

travalho quando foi abordada pelo réu. Disse que ALEXANDRE estava a

sua espera. Disse que o réu lhe ameaçou de morte, dizendo que ia matá-la

porque sua namorava havia brigado com ele por culpa da vítima. Disse que

começou a andar rápido, mas foi alcançada pelo réu que estava conduzindo

um motociclo. Disse que o réu ficou conduzindo o motociclo do seu lado e

proferiu a seguinte ameaça: “Vou lhe matar. Você vai ver.” Disse que

quando estava na Delegacia de Polícia registrando a ocorrência,

ALEXANDRE apareceu e novamente lhe ameaçou, dizendo: “Veja bem o

que você vai fazer, pois eu vou te matar.” Disse que, após ter sido

intimada do deferimento das medidas protetivas deferidas em seu favor,

todas as vezes que as filhas ficam com ele, ela as busca no portão e o réu

lhe olha de forma intimidativa, visto que seu olhar é ameaçador.

O escrivão de polícia, ouvido a fl. 83, informou

que a vítima compareceu na Delegacia de Polícia a fim de registrar uma

ocorrência contra o réu.

Excelência, pela análise dos autos, verifica-se

que, ficou evidenciado que: sem motivo aparente o réu ameaçou a

vítima de morte, bem como demonstrou total desrespeito para com a

Justiça, visto que seguiu a vítima até a Delegacia de Polícia, enquanto

esta registrava a ocorrência e lhe ameaçou novamente. Não fosse isso,

Page 269: Íntegra do Projeto

268

após o deferimento das medidas protetivas deferidas ele voltou a lhe

importunar lhe seguindo quando esta se dirigia ao trabalho, assim

como lhe ameaçava de morte, conforme declarações da vítima a fl. 20

nos autos em apenso, em sede de audiência do artigo 16 da Lei nº

11.340/06.

Mister salientar que a intervenção do Ministério

Público e do Poder Judiciário, neste caso, foi pontual e acertada, pois, caso

contrário, poderíamos não mais contar com a presença da vítima Maria

Joana em nossas vidas, que tanto solicitou e suplicou a ajuda do Estado, o

que, diga-se de passagem, deveria atender a todas as mulheres na mesma

situação, evitando-se, assim, casos como o de Elisa Samudio e Mércia

Nakashima.

Diante do exposto, o Ministério Público

entende comprovados os fatos descritos na denúncia, requerendo seja

a presente ação penal julgada procedente em todos os seus termos.

No tocante à aplicação da pena, verifico que o réu

não ostenta maus antecedentes. Porém, diante da gravidade e

circunstâncias dos fatos, bem como do período em que perduraram as

ameaças, trazendo inúmeros prejuízos à vítima, seja no campo moral seja

no material, nos termos do artigo 59, do Código Penal, requeiro seja a pena

base fixada acima do mínimo legal. Não há agravantes nem atenuantes,

tampouco causa de aumento ou diminuição de pena.

Page 270: Íntegra do Projeto

269

Anoto que o regime de pena a ser cumprido

deverá ser o fechado. Isto porque, réu demonstrou ser periculoso, bem

como ostenta ódio pela vítima e só está esperando o momento certo para vir

com todo furor contra ela. É cediço salientar que os crimes ocorridos no

âmbito doméstico são friamente planejados por seus autores. Pode-se citar

por exemplo o caso da cabeleleira Maria Islaine de Moraes que foi

covardimente assissinada por seu ex-marido com sete disparos de arma de

fogo. Por tal motivo, o legislador autorizou a prisão preventiva nos casos de

crime apenado com detenção se presentes os requisitos da prisão preventiva

e para garantir proteção à vítima, com mais razão e “a forciori”, por conta

de uma sentença penal, que confirma a periculosidade do réu, também

permite que o regime a ser fixado em sentença seja o fechado.

Neste sentido, o artigo 33, do Código Penal

dispõe que a pena do crime de detenção deverá ser cumprida em regime

semi-aberto ou aberto, salvo necessidade de trasnferência ao regime

fechado. Ou seja, admite exceções.

Já as alíneas “b” e “c” do mesmo artigo

dispõe que o réu poderá iniciar o cumprimento da pena em regime aberto

ou semi-aberto, se não for reincidente.

Page 271: Íntegra do Projeto

270

E ainda, o §3º do citado artigo 33 menciona

que deverão ser observados os critérios descritos no artigo 59 do Código

Penal para fixação do regime.

Ora, em sendo o réu e possuindo

circunstâncias desfavoráveis, uma vez que já descumpriu decisão

judicial, conforme se observa a fl. 20 dos autos em apenso, não há dúvidas

de que o regime a ser fixado para cumprimento da pena é o FECHADO,

tanto para a segurança da vítima quanto para segurança da própria

sociedade, pois seu comportamento pode se repetir com outras vítimas.

Esta foi a intenção do legislador quando alterou o Código de Processo

Penal e nele inseriu o inciso IV, do artigo 313.

Observo que, pelos mesmos motivos, não

poderá fazer jus à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas

de direitos.

Por fim, considerando a necessidade da

proteção da vítima dos presentes autos, bem como do amparo dado

pela Lei nº 11.340/06, tendo em vista as circunstâncias judiciais

desfavoráveis e o fato de o réu ter, novamente, descumprido ordem

juidicial e considerando a necessária proteção da vítima, aliado ao fato

de que Maria Joana, em audiência, narrou que TODAS AS VEZES

QUE BUSCA AS FILHAS NO PORTÃO, O RÉU LHE OLHA DE

FORMA AMEAÇADORA, VISTO QUE O RÉU SEMPRE FOI

AGRESSIVO, requeiro sejam deferidas e confirmadas por sentença, as

Page 272: Íntegra do Projeto

271

medidas protetivas no sentido de evitar contato e aproximação com a

vítima, nos termos do artigo 22, inciso III, alíneas “a” e “b”, da Lei n.

11340/06, ficando expresso que o descumprimento ensejará crime de

desobediência, em total proteção à vítima de violência de gênero.

Ante o exposto, requeiro que a presente ação

penal seja julgada PROCEDENTE para se condenar ALEXANDRE

MATELLA, como incurso no artigo 147, por várias vezes do Código Penal,

nos termos da denúncia, lançando-lhe o nome no rol dos culpados após o

trânsito em julgado da condenação.

Embu Guaçu, 14 de fevereiro de 2011.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

RAQUEL CONCEIÇÃO DOS SANTOS

Estagiária do Ministério Público

Page 273: Íntegra do Projeto

272

VARA DISTRITAL DE EMBU GUAÇU

Autos n.º 680/10

Autora..: JUSTIÇA PÚBLICA

Réu.....: BRUNO FELIPE ALVES DOS SANTOS

MEMORIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

MMª. JUÍZA:

BRUNO FELIPE ALVES DOS SANTOS,

qualificado nos autos, está sendo processado como incurso no artigo 129,

§9º, no artigo147, por va´rias vezes e artigo 330, todos do Código Penal,

porque no dia 22 de maio de 2010, por volta de 23h e 40min, na rua Inácio

Pires de Morais, nº12, Centro, neste Município de Embu-Guaçu, valendo-

se das relações familiares, ofendeu a integridade corporal de sua ex-

namorada, a vítima Daiane Decezare, causando-lhe as lesões corporais

descritas no relatório médico de fls. 10 e exame de corpo de delito de fls.

32 e porque no período compreendido entre fevereiro e agosto de 2010,

neste Município de Embu-Guaçu, valendo-se das relações familiares, por

Page 274: Íntegra do Projeto

273

várias vezes, ameaçou de causar mal injusto e grave, a sua ex- namorada, a

vítima Daiane Decezare e, por fim, porque durante o período

compreendido entre 10 de junho de 2010 e 30 de agosto de 2010, neste

Município de Embu-Guaçu, desobedeceu ordem judicial, consistente no

descumprimento das medidas protetivas de proibição e aproximação e

contato com a ofendida, por qualquer meio, nos termos do artigo 22, inciso

III, alíneas “a” e “b”, da Lei nº 11343/2006 .

A denúncia foi recebida em 14 de setembro de

2010, a fls. 40. O réu foi citado e apresentou defesa preliminar (fls. 55/58).

Em audiência de instrução foi ouvida a vítima (fls.122/125) três

testemunhas de acusação (fls. 126/128) e seis testemunhas de defesa (fls.

129/135), passando-se ao interrogatório do réu, a fls. 138/144).

É um breve resumo do ocorrido.

O pedido contido na denúncia deve ser julgado

procedente e o réu condenado, uma vez que demonstradas a

materialidade e a autoria dos delitos imputados.

Segundo o que se apurou, desde fevereiro de

2010, a vítima rompeu o namoro com BRUNO, após três anos de

relacionamento. Ocorre que Bruno não se conformou com o rompimento

do namoro e desde então passou a perseguir a vítima, ameaçando-a de

morte, chegando, inclusive, a lesioná-la. Todas as vezes que foi ameaçada

Page 275: Íntegra do Projeto

274

ou agredida, a vítima efetuou boletim de ocorrência (fls. 02/04; 03 do

apenso; 13/15 do apenso; 28/30 do apenso; 03/04 do apenso).

É certo que no dia 22 de maio de 2010, BRUNO

avistou a vítima no interior de um veículo. Inconformado, foi ao seu

encontro, a retirou do carro à força e passou a arrastá-la no chão,

provocando-lhe ferimentos nos braços e nas costas, conforme laudo de

exame de corpo de delito de fls. 32. Policiais militares compareceram no

local dos fatos e prestaram socorro, encaminhando-a ao Pronto Socorro e

posteriormente à Delegacia de Polícia.

Consta, também, que no período compreendido

entre janeiro e agosto de 2010, o denunciado telefone insistentemente para

a vítima e a ameaça de morte, dizendo que não tem nada a perder e que se

ela a encontrar com outra pessoa, irá matá-la. É dos autos, inclusive, que a

vítima precisou mudar sua rotina por conta das constantes ameaças, uma

vez que o denunciado a espera na porta da faculdade, bem como na porta

de seu trabalho, ocasiões em que passa a xingá-la, a agarrá-la pelos braços

e a dizer que se ela procurar a polícia, irá dar um tiro na cara dela. Em uma

das ocasiões, BRUNO chegou a falar que irá dedicar os últimos dias de sua

vida para perturbar e infernizar a vítima e sua família, dizendo que não irá

preso, pois irá fazer alguma coisa antes.

Diante de tais fatos, em 26 de agosto de 2010, a

vítima compareceu na Delegacia de Polícia e no Ministério Público de

Page 276: Íntegra do Projeto

275

Embu-Guaçu, narrou os fatos e requereu as medidas protetivas de urgência

previstas no artigo 22, inciso III, “a, e “b”, da Lei n. 11340/06, as quais

foram deferidas por este Digníssimo Juízo a fls. 16, do apenso n. 652/10,

em 27 de agosto de 2010. O autor dos fatos foi intimado da concessão das

medidas em 28 de agosto de 2010, conforme se verifica a fls. 20.

Não obstante, BRUNO desobedeu a ordem

judicial e passou a procurar a vítima, seja por telefone fixo, seja por

telefone celular. Daiane compareceu na Delegacia de Polícia em 30 de

agosto de 2010 e declarou que o autor dos fatos não deixou de procurá-la e

voltou a fazer ameaças por telefone, tendo, inclusive, apresentado na

Delegacia de Polícia gravação de sua conversa com BRUNO, onde ele a

ameaça dizendo que “vai dar um tiro na cabeça dela e após se matar”,

conforme se depreende do teor das declarações e do boletim de ocorrência

de fls. 28/30. do apenso).

Em razão da desobediência à ordem juidical e

reiteração no de crime de violência contra a mulher, foi requerida a prisão

preventiva do denunciado, com fulcro no artigo 20, da Lei nº 11.340/06 e

no artigo 313, inciso IV, do Código de Processo Penal, o que foi deferido

por este Digníssimo Juízo, a fls. 32/33.

A materialidade dos crimes está devidamente

comprovada pelo relatório médico de fls. 14, pelo laudo de exame de corpo

de delito de fls. 32, pelos boletins de ocorrência juntado aos autos a fls.

Page 277: Íntegra do Projeto

276

03/04 do apenso, fls. 02/04 dos autos pricipais, fls. 03 do apenso, fls. 13/15

do apenso, em especial pelo boletim de ocorrência de fls. 28/30, do

apenso, pela carta de fls. 145, datada de 05/11/2010, endereçada a

Daiane, bem como pelo depoimento da vítima e das testemunhas de

acusação.

A autoria também é certa.

O réu, em Juízo, negou os fatos imputados a ele

na exordial acusatória. Disse que desde o início do namoro o

relacionamento sempre foi muito conturbado. Disse que após Daiane se

desentender com a mãe dele, foi morar na casa de sua namorada. Sempre

conviveram muito juntos. Disse que rompeu o rleacionamento uma vez e

por gostar muito de Daiane a procurou para tenatr reatar o namoro, mas

acha que Daiane se sentiu ameaçada e fez um B.O. Disse que em setembro

do ano passado voltaram e passaram a viver normalmente. Porém, em

fevereiro voltaram a brigar e acabaram por romper o relaciomaneto. Nega

agressões contra Daiane e diz que ela que quebrou todo o seu carro, uma

vez que brigaram. Afirma que já foi ao trabalho de Daiane sem avisar, pois

queria conversar com ela. Um policial que estava lá o avistou, chamou um

policial militar e foi conduzido à Delegacia de Polícia. Disse que certa vez,

foi a uma festa em Itapecerica da Serra e Daiane, ao vê-lo na festa, foi ao

seu encontro, ocasião em que segurou os braços da vítima, porém ela se

soltou e se jogou no chão, vindo a se lesionar nas costas. Disse que acredita

qeu Daiane esteja sendo manipulada por alguém, por um eventual

namorado, para prejudicá-lo. Disse que nesse dia levou chutes do irmão da

Page 278: Íntegra do Projeto

277

vítima. No entando, confirmou que após ter recebido a intimação das

medidas protetivas, por volta do dia 30, ligou para Daiane para saber o que

estava acontecendo. E mesmo depois de preso, mandou uma carta para

Daianae.

Ora Excelência, mesmo sem analisar o

depoimento das vítimas e das testemunhas, verifica-se que o próprio réu

ainda, que indiretamente, confessou, em seu interrogatório, a prática dos

fatos. Senão, vejamos:

Crime de ameaça: fls. 140: “... Mas tinham uma

vida normal até o aniversário dela, que rompeu e acabou. Neste tempo

procurou Daiane porque gostava muito dela e queria reatar o namoro, era

sua primeira namorada e tinha um afeto maior. Ela se sentiu ameaçada ,

não sabe porque tinha outro namorado, e fez um b.o.”

Fls. fls. 141: “...algumas vezes

ia até o trabalho dela para conversar sem ligar, pois o relacionamento

deixou vários ramos, várias dúvidas. Certa vez estava lá, tinha um policial

civil à paisana, chamou um policial militar, foi até a Delegacia, acredita

que o patrão da vítima, que era namorado dela que chamou, ela disse que a

ameaçou, mas não era nada disso.”

Page 279: Íntegra do Projeto

278

Crime de agressão: fls. 141”...... quando viu ela a

segurou pelos braços e ela se jogou no chão. Esclarece que a segurou

pelo braço porque ela fez menção que ia sair para não ouvi-lo.”

Crime de desobediência: fls. 142: “Foi intimado

por volta do dia 30 de que não poderia se aproximar de Daiane. Telefonou

para Daiane, porque gostaria de saber dela o que estava acontecendo.

Depois de preso mandou ainda uma carta para Daiane através de sua

mãe (fls. 145).

Confirmando as alegações do réu e os fatos

descritos denúncia, estão os depoimentos da vítima e das testemunhas.

Com efeito, a fls. 122,a vítima DAIANE informou

que em maio de 2010, já tinha terminado com o réu, ocasião em que estava

em uma praça no interior de um veículo e o réu dela se aproximou, com

muita raiva , abriu a porta do carro, e a puxou para fora. Chegou a cair no

chão, machucando o braço no asfalto. Em seguida o réu a arrastou

novamente e foi para trás do carro, oportunidade em que seu irmão

apareceu, impedindo que o réu continuasse a agredi-la. Porém o réu

chegou a puxá-la fortemente pelos cabelos. Informou que após a separação,

BRUNO ainda ligava insistentemente para ela, o que fez com que perdesse

dois emprego. BRUNO A procurava pois queria reatar. Diante da recusa

da vítima, o réu a ameaçava dizendo que se ela não fosse dele não seria de

mais ninguém e dizia que se ele fosse preso, a mataria, como a toda família

dela. Que iria dar um tiro na cabeça dela e depois na dele, que iria acabar

Page 280: Íntegra do Projeto

279

com tudo. Esclarece a vítima que começou a fazer boletins de ocorrência e

a pedir ajuda. Chegou a obter a concessão, em seu favor, das medidas

protetivas para que BRUNO ficasse afastado dela, mas ele descumpriu,

uma vez que fez o pedido na quarta e no sábado BRUNO entrou em contato

com a vítima, lhe ameaçando e questionando o porque de ser processado

sem defesa e se fosse preso, quando saísse, iria acabar com toda a família

da declarante, daria um tiro na cabeça da vítima e depois na da dele. Um

dia, na frente da faculdade, BRUNO foi ao seu encontro e a agrediu e

puxou seus cabelos. Informa que BRUNO ligava insistentemente no

escritório e acabou perdendo o emprego, pois ele a perseguia. Confirma

que enviou diversas cartas para BRUNO, porém na época em que eram

namorados, pois quando terminaram a relação, não enviou mais nada .

Porém BRUNO não se conformava com a separação. Sabe que a família de

BRUNO inclusive estava procurando uma ajuda psicológica para BRUNO

para poder aceitar a separação. Apresenta na oportunidade uma carta em

que a mãe de Bruno lhe enviou, escrita por BRUNO da cadeia. Disse que

as vezes BRUNO chegava a ligar de 35 a 50 vezes, durante uma madrugada

inteira. Informou que procurou o Ministério Público solicitando ajuda, pois

não tem mais sossego, não pode ir a nenhum lugar sozinha, sua vida

acabou, chegou a perder empregos e abandonar a faculdade, pois acredita

que BRUNO possa cumprir com suas promessas. Informou, por fim, que

quando BRUNO sair da prisão,ainda terá muito medo dele, pois não confia

nele, mantendo o que disse até o momento e afirma que não se retrata de

nada, aguardando JUSTIÇA.

Page 281: Íntegra do Projeto

280

A mãe da vítima, ouvida a fl.s 126, confirmou os

fatos narrados pela sua filha Daiane. Disse que BRUNO nunca agrediu sua

filha na sua frente, mas passou a prestar atenção, pois as vezes sua filha

chegava em casa machucada, com o olho roxo e ela dava desculpas. Passou

a pressionar a filha e ela começou a chorar e lhe contou sobre as agressões,

dizendo que o motivo era ciúmes. Acompanhou sua filha na Delegacia de

Polícia por várias vezes. Chegou conversar com Bruno por várias vezes,

mas ele não atendia, ele se afastava, mas depois voltava a procurá-la, não a

deixava em paz. Diante das ameaças, passou a acompanhar, juntamente

com seu marido, todos os passos de Daiane, com medo de que algum mal

maior pudesse acontecer a ela, pois sentiu que sua filha estava correndo

risco de vida. Compareceu com Daiane no Ministério Público e solicitaram

ajuda. Ouviu a gravação da ligação de BRUNO para Daiane após a

concessão das medidas protetivas, ocasião em que BRUNO a estava

ameaçando.

O policial militar a ouvido a fls. 127 reconheceu o

réu em audiência e disse que recebeu um chamado sobre ocorrência de

agressão e ao chegar ao local, visualizou o réu e a vítima.

O escrivão de polícia, ouvido a fls. 128, informou

que a vítima já havia comparecido na Delegacia de Polícia umas 4 ou 5

vezes, dando notícia de violência doméstica praticada por seu ex-

Page 282: Íntegra do Projeto

281

namorado, ocasião em que orientou a vítima a comparecer no Ministério

Público.

As testemunhas de defesa nada souberam

informar sobre os fatos, apenas confirmando que réu e vítima mantiveram

relacionamento amoroso por aproximadamente 3 anos.

Ainda que tentaram distorcer a realidade dos

fatos, não conseguiram comprovar que, na data em que o réu puxou a

vítima do carro e a agrediu, foi a vítima quem o agrediu; e os hematomas

por ela apresentados foram feitos porque ela bateu as costas em uma

árvore. Essas versões estão totalmente dissociadas da realidade dos fatos,

tendo em vista o depoimento da testemunha, a comprovação das lesões de

Daiane a fls. 32 e a ausência de lesões em BRUNO a fls. 33, na data dos

fatos.

Aliás, se esta fosse a verdade, porque somente

agora, mesmo tendo BRUNO sido preso, é que estas testemunhas

compareceram em Juízo para dar nova versão aos fatos. Salienta-se que

desde o início do presente processo BRUNO é acompanhado por advogado

constituído, de renome e que, sabedor de fatos que pudessem, em tese,

inocentá-lo, não mediria esforços para obter tal resultado, inclusive em

homenagem ao princípio da ampla defesa. Mas nada fizeram. Apenas

vieram em Juízo tentar dissimular a verdade dos fatos. Porém, em vão, pois

suas versões são conflitantes entre si e contrária às provas produzidas nos

autos, razão pela qual devem ser elas desconsideradas.

Page 283: Íntegra do Projeto

282

Importante frisar que a genitora do réu, ouvida a

fls. 132, informou que acompanhou o relacionamento do réu e da vítima.

Informa que BRUNO estava apaixonado pela vítima, chegando a fazer

coisas que ele nem poderia fazer, como um débito de R$ 18 mil em seu

cartão de crédito. Confirmou que teve acesso aos autos e que verificou que

há uma gravação de BRUNO para Daiane, a ameaçando, mesmo após a

concessão das medidas protetivas. Informou que chegou a procurar Daiane

e pedir apara que ela desistisse da representação.

Excelência, pela análise dos autos, verifica-se

que, ficou evidenciado que: após ter agredido a vítima por várias

vezes, por ciúmes, Daiane resolver separar-se de Bruno; inconformado,

BRUNO passou a persegui-la e a ameaçá-la, o que causou diversos

transtornos à vítima como perda de emprego, abandono da faculdade e

mudança de rotina, pois acreditava que BRUNO pudesse cumprir as

ameaças. A vítima, acreditando estar em situação de risco, apoiada

por seus familiares, procurou o Ministério Público, que requerer as

medias protetivas em seu favor, as quais forma concedidas por este

Digníssimo Juízo. Mesmo ciente das medidas protetivas de que não

poderia se aproximar da vítima e nem de manter contato com ela por

nenhum meio ( não é crível que um indivíduo tão inteligente, com

tantos cursos e diplomas, não saiba ler e interpretar uma simples

decisão judicial), acabou por entrar em contato telefonico com Daiane ,

oportunidade em que a ameaçou e, consequentemente, descumpiru

ordem judicial e foi preso.

Page 284: Íntegra do Projeto

283

É de se observar também, que a paixão

apresentada por BRUNO pela vítima é patológica e necessita de

tratamento, uma vez que já prejudicou por demais a vida de ambos e poderá

transformar-se em algo ainda mais grave, o que precisa ser evitado, não

somente com medidas judiciais, mas também com a assistência psicológica

e médica necessária.

Da simples leitura dos autos concluiu-se que o réu

não assume seus próprios atos, sua conduta e o rompimento do

relacionamento. Por outro lado, os imputa à vítima, sem qualquer

fundamento ou prova, alegando que, em cada momento em que ela o

denunciou por ameaça ou agressão, Daiane estava namorando um

delegado, se patrão ou um investigador de polícia, pessoas estas que a

pressionaram para prejudicá-lo.

Por outro lado, a vítima mostrou-se moça séria,

comprometida , que conta com o apoio de sua família, não pode ver sua

vida interrompida pelo simples fato de que não desejar continuar em um

relacionamento violento e tumultuado. É necessário que sua vontade seja

respeitada, como mulher e como cidadã, pois além da proteção da Lei

Maria da Penha, a Constituição Brasileira prevê a liberdade de expressão,

liberdade de escolha e a liberdade de ir e vir.

Mister salientar que a intervenção do Ministério

Público e do Poder Judiciário, neste caso, foi pontual e acertada, pois, caso

Page 285: Íntegra do Projeto

284

contrário, poderíamos não mais contar com a presença da vítima DAIANE

em nossas vidas, que tanto solicitou e suplicou a ajuda do Estado, o que,

diga-se de passagem, deveria atender a todas as mulheres na mesma

situação, evitando-se , assim, casos como o de Elisa Samudio e Mércia

Nakashima.

Diante do exposto, o Ministério Público

entende comprovados os fatos descritos na denúncia, requerendo seja

a presente ação penal julgada procedente em todos os seus termos.

No tocante à aplicação da pena, verifico que o réu

não ostenta maus antecedentes. Porém, diante da gravidade e

circunstâncias dos fatos, bem como do período em que perduraram as

agressões, trazendo inúmeros prejuízos à vítima, seja no campo moral seja

no material, nos termos do artigo 59, do Código Penal, requeiro seja a pena

base fixada acima do mínimo legal. Não há agravantes nem atenuantes,

tampouco causa de aumento ou diminuição de pena.

Anoto que o regime de pena a ser cumprido

deverá ser o fechado. Isto porque, se o legislador autorizou a prisão

preventiva do réu no caso de crime apenado com detenção se presentes os

requisitos da prisão preventiva e para garantir proteção à vítima, com mais

razão e “a forciori”, por conta de uma sentença penal, que confirma a

periculosidade do réu, também permite que o regime a ser fixado em

sentença seja o fechado.

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Não fosse só, o réu mesmo preso e sob a

decisão que concedeu as medidas protetivas, acabou por, novamente,

descumprir a ordem judicial e entrou em contato com a vítima, enviando-

lhe carta do estabelecimento prisional.Assim, não merece credibilidade da

Justiça.

Neste sentido, o artigo 33, do Código Penal

dispõe que a pena do crime de detenção deverá ser cumprida em regime

semi-aberto ou aberto, salvo necessidade de trasnferência ao regime

fechado. Ou seja, admite exceções.

Já as alíneas “b” e “c” do mesmo artigo

dispõe que o réu poderá iniciar o cumprimento da pena em regime aberto

ou semi-aberto, se não for reincidente.

E ainda, o §3º do citado artigo 33 menciona

que deverão ser observados os critérios descritos no artigo 59 do Código

Penal para fixação do regime.

Ora, em sendo o réu e possuindo

circunstâncias desfavoráveis, uma vez que já descumpriu decisão

judicial, não há dúvidas de que o regime a ser fixado para cumprimento da

pena é o FECHADO, tanto para a segurança da vítima quanto para

segurança da prórra sociedade, pois seu comportamento pode se repeit r

Page 287: Íntegra do Projeto

286

com outras vítimas. Esta foi a intenção do legislador quando alterou o

Código de Processo Penal e nele inseriu o inciso IV, do artigo 313.

Nesse sentido PROCESSUAL PENAL -

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO - AMEAÇA E LESÃO

CORPORAL - OFENSA A DISPOSITIVOS DA LEI Nº 11.340/2006 -

PRISÃO PREVENTIVA FUNDAMENTADA - CUSTÓDIA

NECESSÁRIA - REITERAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE

MEDIDAS PROTETIVAS IMPOSTAS - CONTUMÁCIA DO

AGENTE NA PRÁTICA DE DELITOS NO ÂMBITO FAMILIAR

CONTRA A MULHER - PRETENDIDA LIBERDADE PROVISÓRIA

- ALEGADO EXCESSO DE PRAZO - INOCORRÊNCIA - FEITO

NA FASE DE ALEGAÇÕES FINAIS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

- APLICAÇÃO DA SÚMULA 52 DO STJ - CONSTRANGIMENTO

ILEGAL NÃO CARACTERIZADO - ORDEM DENEGADA. Com a

vigência da Lei nº 11.340/2006, ao lado das previsões nela expressadas,

da possibilidade da prisão preventiva, incluiu no Código de Processo

Penal, em seu artigo 313, IV a pertinência da custódia, mesmo em se

tratando de crime apenado com detenção, desde que envolva a conduta

violência doméstica e familiar contra a mulher, para garantir a

execução das medidas protetivas e a integridade física da vítima e de

seus familiares. Não há falar-se em constrangimento ilegal por excesso

de prazo quando o feito tenha alcançado a fase das alegações finais a

serem apresentadas pelo Ministério Público. (TJMT. Habeas Corpus

95580/2009. Primeira Câmara Criminal. Relator DES. PAULO INÁCIO

DIAS LESSA. Publicado em 29/09/09)

Page 288: Íntegra do Projeto

287

E ainda:

HABEAS CORPUS - LEI MARIA DA PENHA - PRISÃO EM

FLAGRANTE - INDEFERIMENTO DE LIBERDADE PROVISÓRIA -

CONSTRANGIMENTO ILEGAL -INOCORRÊNCIA - REITERAÇÃO

CRIMINOSA - PERICULOSIDADE EVIDENTE - ORDEM

DENEGADA. Restando presentes a materialidade do delito e contundentes

indícios de autoria, inexiste constrangimento ilegal na decisão que

fundamentadamente indefere pedido de liberdade provisória objetivando a

garantia da ordem pública, a integridade física da vítima, bem como a

conveniência da instrução criminal. Não é de se conceder em sede de

habeas corpus pedido de liberdade provisória ao paciente preso em

flagrante, em razão da prática de crime de ameaça contra ex convivente,

contra quem, anteriormente por vezes, praticou a mesma conduta. A

simples alegação de que o paciente é trabalhador e tem residência fixa, não

tem o condão de anular a cautela da medida. (TJMT. Habeas Corpus

89061/2009. Primeira Câmara Criminal. Relator DES. JUVENAL

PEREIRA DA SILVA. Publicado em 29/09/09)

Observo que, pelos mesmos motivos, não

poderá fazer jus à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas

de direitos, tampouco ao direito de recorrer e liberdade.

Page 289: Íntegra do Projeto

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Por fim, considerando a necessidade da

proteção da vítima dos presentes autos, bem como do amparo dado

pela Lei nº 11.340/06, tendo em vista as circunstâncias judiciais

desfavoráveis e o fato de o réu ter, novamente, descumprido ordem

juidicial e considerando a necessária proteção da vítima, aliado ao fato

de que DAIANE, em audiência, narrou que CONTINUA A TEMER

BRUNO, POIS NÃO CONFIA NELE, requeiro sejam deferidas e

confirmadas por sentença, as medidas protetivas no sentido de evitar

contato e aproximação com a vítima, nos termos do artigo 22, inciso

III, alíneas “a” e “b”, da Lei n. 11340/06, ficando expresso que o

descumprimento ensejará crime de desobediência, em total proteção à

vítima de violência de gênero.

Ante o exposto, requeiro que a presente ação

penal seja julgada PROCEDENTE para se condenar BRUNO FELIPE

ALVES DOS SANTOS, como incurso no artigo 129, § 9º, artigo 147, por

várias vezes e artigo 330, todos do Código Penal, nos termos da denúncia,

lançando-lhe o nome no rol dos culpados após o trânsito em julgado da

condenação.

Embu Guaçu, 17 de Dezembro de 2010.

MARIA GABRIELA PRADO MANSSUR

Promotora de Justiça

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