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Outsiders - estudos de sociologia do desvio - íntegra

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Colecao

ANTROPOLOGIA SOCIAL

diretor: Gilberto Ve1ho

• 0 Riso e 0Risfvel

Verena Alberti

• A Teoria Vivida

Mariza Peirano

• Outsiders

Howard S. Becker

· Cultura e Razao Pratica

· Hist6ria e Cultura

· IIhas de Hist6ria· Metaforas Hist6ricas e

Relidades Mfticas

Marshall Sahlins

• Antropologia Cultural

Franz Boas

• 0 Espfrito Militar

• Evolucionismo Cultural

• Os Militares e a Republica

Celso Castro

· Os Mandarins Milagrosos

Elizabeth Travassos

• Da Vida Nervosa

Luiz Fernando Duarte

· Antropologia Urbana

· Desvio e Divergencia

· Individualismo e Cultura

· Projeto e Metamorfose

· Rio deJaneiro: Cultura,

Polftica e Conflito

· Subjetividade e Sociedade

• A Utopia Urbana

Gilberto Velho

• Bruxaria, Oraculos e Magia

entre osAzande

E.E. Evans-Pritchard

• Garotas de Programa

Maria Dulce Gaspar

• Nova Luz sobre

a Antropologia

• Observando 0Isla

Clifford Geertz

· PesquisasUrbanas

Gilberto Velho e

Karina Kuschnir

• 0 Cotidiano da Polftica

Karina Kuschnir

· 0 Misterio do Samba

· 0 Mundo Funk Carioca

Hermano Vianna• Cultura: um Conceito

Antropol6gico

Roque de Barros Laraia

· Bezerra da Silva:

Produto do Morro

Leticia Vianna• Autoridade &Afeto

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Howard s . Becke r

Outs idersEstudos de socioLogia do desv io

Traducao:

M aria Luiza X . de A. B orges

Revisao tecn ica :Karin a Ku schnir

I F C S /U F R J

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T i tu lo o r ig in aL :

Outsiders

( Stu di es i n th e S od olo gy o f D e via nc e)

T ra du ca o a uto riz ad a d a e di. ;a o n orte -a me ric an a

pubL ica da em 1991 po r T he Free Press, um a divisa o

d a S im on & Sch uster, Inc ., de N ova Y ork , E UA

Copyright © 1963, T he Free Press of G Lenc oe

C o py ri gh t r en o vad o © 1991, H ow ard S . B eckerC opyrig ht do C apitu lo 10, "A tero ria da ro tu la ca o rec on side ra da " © 1973,

H ow ard S . B ec ker

C o py ri gh t d o p re fa c io © 2005, H ow ard S. B ec ker

C op yrig ht d a e dir;a o e m L in gu a p ortu gu es a © 2009:

Jo rg e Z ah ar E dito r L tda .

ru a M e xic o 3 1 so bre Lo ja

20031-144 R io de Janeiro , R J

teL .: (21) 2108-0808/ fax : (21) 2108-0800

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site: www.zahar .com.br

T o do s o s d ir eito s r es er va do s.

A repro duca o na o-au toriz ada desta publicac ao , no to do

ou em pa rte, co nstitui vio lacao de direitos autorais . (L ei 9 .610/98)

C ap a: B ru na B e nv eg nu

Ilu stra ca o d a c apa : © S te ve W in te r/G etty Im ag es

CIP-Brasi l . Ca t a l oqacao-na- font e

S in d ic a to N a ci o na l d o s Ed it or es d e L i vr os , R J .

B e cke r, Howa rd Sau l, 1928-

B 3560 Outsiders: estudos de soc iolog ia do desvio / Howard S . B ecker;

trad uca o M a ria L uiz a X . de B org es; revisac tec nica K arin a K u sc hnir. -

1 .ed . - R io d e Ja neiro : Jo rg e Z ah ar E d. , 2008.

(An tr opo log i a s oc ia l )

T ra du ca o d e: O ut si de rs: s tu di es i n t he s oc io lo g y o f d ev ia nc e

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As vez es nao tenho tanta certeza de quem tern

o direito de diz er quando uma pessoa esta Louca

e quando nao . As vezes penso que nenhum de nos e

to taLmente Louco e que nenhum de nos e totaLmente

sao ate que nosso equiL ibrio dig a eLe e desse jeito.

E co mo se nao im po rtasse 0 qu e 0 sujeito faz , mas a

form a como a maioria das pessoas 0 vi! quando eL e f az .

W IL LIA M F AU LK NE R, E nq ua nto e u a go nizo

(S ao P au Lo , M a n da rim , 2 00 1, tra du ca o d e WL ad ir D u po nt).

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Sumario

Pre/ado, 9

1

Out s i d e r s , 15

D efin ic oes de desvio , 17

D esvio e as reacoes dos outros, 21

R eg ras de q uem ?, 27

2T ipos d e d esvio: u rn m od elo sequendal, 31

Mo deL os sirnultaneo e seqilenciaL de desvio , 33

Carr ei ra s de sv ian te s, 36

3

To rn an d o-s e u r n usuario d e r na co nh a, 51

A pren der a tec nic a, 55

Aprender a perceber os efeitos, 57

Aprender a gostar dos efeitos, 61

4U so d e r naconha e controle social, 69

Fornecimento, 71

SigiLo, 76

MoraLidade , 82

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Mu sic o e "q ua dra do ", 94

Re arr oe s a o c on flito , 100

Iso la men to e a uto -se qre qa ca o, 105

6Ca rr e ir as n um g ru p o o cu p ac io na l d e s vi an te :

o musico d e cas a n otu rn a, 111

"Panelinh as" e sucesso , 112

P ais e e sp osa s, 123

7As regras e su a imposi~ao, 129E sta qio s d e irn po sic ao , 136

Urn caso iLustra tivo : a L ei da T ributacao da M a conh a, 141

8

Empr ee n d ed o re s mo r ai s, 153

C ria do res d e re gra s, 153

o destino das cruz adas mora is, 157

Im po sitores de regras, 160D esvio e empreendimento : urn resumo , 167

9o e stu do d o d esv io : p roble mas e s im pat ias , 169

10

A teor ia d a rotula~ao recons iderada , 179

o desvio co mo a rrao c oletiva, 183

A desrn istific ac ao do desvio , 189

P ro blema s mo ra is , 194

Conclusao, 206

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Pref6do*

Ou ts iders nao inventou 0 campo do que hoje se chama "desvio".

Outros estudiosos ja haviam publicado ideias semelhantes (em

especial Edwin Lemert e Frank Tannenbaum, 1ambos mencionados

neste livro). Mas Ou ts iders diferiu de abordagens anteriores em

varios aspectos. Para comecar, foi escrito de maneira muito mais

clara que 0 texto academico usual. Nao me cabe nenhum merito

nisso. Tive bons professores, e meu mentor, Everett Hughes, que

orientou minha dissertacao e com quem depois colaborei estrei-

tamente em varies projetos de pesquisa, era fanatico pela escrita

clara. Ele considerava inteiramente desnecessario usar termos

abstratos, vazios, quando havia palavras simples que diriam a

mesma coisa. E me lembrava disso com frequencia, de modo que

meu reflexo foi sempre procurar a palavra simples, a frase curta,

o modo declarativo.

Alern de ser mais compreensivel que grande parte dos textos

sociol6gicos, metade de Ou ts iders consistia em estudos empiricos,

relatados em detalhe, de t6picos "interessantes" para a geracao de

estudantes que ingressava entao nas universidades norte-ameri-

canas, em contraste com teorizacoes mais abstratas. Escrevi sobre

rmisicos que trabalhavam em bares e outros locais modestos,

tocando uma musica que tinha uma especie de aura rornantica, e

escrevi sobre a maconha que alguns deles fumavam, a mesma ma-

conha que muitos daqueles estudantes experimentavam e de cujos

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10 Outsiders

vidas, fizeram de Outsiders uma obra que os professores, muitos

dos quais partilhavam 0interesse dos alunos por drogas e musica,

gostavam de indicar em seus cursos. 0 livro assim se tornou uma

especie de texto-padrao em cursos para estudantes jovens.

Mais uma coisa acontecia na epoca , A sociologia atravessava

uma de suas "revolucoes" peri6dicas, em que estruturas te6ricas

mais antigas eram reavaliadas e criticadas. Naquele tempo, no

inicio dos anos 1960, os sociologos estudavam tipicamente 0

crime e outras formas de transgressao perguntando 0 que levava

as pessoas a agirem daquele modo, violando normas comumente

aceitas e nao levando vidas "normals'; como diziam todas as nossas

teorias, em que haviam sido socializados, inclusive para aceita-las

como 0modo segundo 0qual se deveria viver.As teorias da epoca

variavam naquilo que consideravam as principais causas desse

tipo de comportamento anti-social, como consumo excessivo

de alcool, crime, uso de drogas, rna conduta sexual e uma longa

lista de contravencoes, Alguns atacavam as psiques das pessoas

que se comportavam mal - suas personalidades tinham falhas

que as faziam cometer essas coisas (0 que quer que fossem "essascoisas"). Outros, mais sociol6gicos, culpavam as situacoes em que

as pessoas se viam e que criavam disparidades entre 0 que lhes

haviam ensinado a almejar e sua real possibilidade de alcancar

esses premios, Iovens da classe trabalhadora - a quem haviam

ensinado a acreditar no "sonho americano" de mobilidade social

ilimitada e depois se viam refreados por empecilhos socialmente

estruturados, como a falta de acesso a educacao, que tornariam

a mobilidade possivel- poderiam entao "apelar para" metodos

desviantes de mobilidade, como 0 crime.

Essas teorias, porem, nao soavam verdadeiras para sociologos

de uma nova geracao, menos conformistas e mais criticos com refe-

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Prefacio 11

em abordagens marxistas para a analise dos efeitos patol6gicos do

capitalismo. Alguns - e fui urn deles - encontraram uma base fir-

me em teorias sociol6gicas fora demoda, que de certa forma ficaram

esquecidas quando os pesquisadores abordaram 0campo do crime

e do que era entao chamado de "desorgan i zacao social':

Em poucas palavras, a pesquisa nessas areas da vida social

fora dominada por pessoas cuja profissao e cujo trabalho diario

consistiam em resolver "problemas socials" atividades que criavam

dificuldade para alguern em condicoes de fazer alguma coisa a

respeito. Assim, 0 crime se tornava por vezes urn problema para

alguem resolver. (Nem sempre, porque muitos crimes eram, como

sempre foram, tolerados, visto que era muito dificil dete-los ou

que muitos lucravam com eles.) Esse "alguern" era em geral uma

organizacao cujos membros cuidavam daquele problema em tem-

po integral. Assim, 0 que veio a se chamar de sistema de justica

criminal- a policia, os tribunais, as prisoes - recebeu conven-

cionalmente a tarefa de extirpar 0 crime ou pelo menos conte-lo,

Eles montaram 0aparato de comb ate e contencao do crime.

Como em todos os grupos profissionais, as pessoas nessasorganizacoes de justica criminal tinham seus pr6prios interesses e

perspectivas a proteger. Parecia-lhes 6bvio que a responsabilidade

pelo crime pertencia aos criminosos, e nao havia duvida quanta a

quem eram eles:as pessoas que suas organizacoes haviam apanhado

e prendido. E sabiam que 0problema de pesquisa importante era:

"Por que as pessoas que identificamos como criminosos fazem as

coisasque identificamos como crimes?" Essaabordagem levou -as-

e aos muitos sociologos que aceitavam esta como a questao de pes-

quisa importante - a confiar enormemente, para a compreensao

do crime, nas estatisticas que essas organizacoes geravam: a taxa

de criminalidade era calculada com base nos crimes denunciados

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Havia na tradicao sociol6gica uma abordagem alternativa

cujas raizes remontavam ao famoso dito de W.1. Thomas: "Se os

hom ens definem situacoes como reais, elas sao reais em suas con-

sequencias,"? Isto e,aspessoas agem com base em sua compreensao

do mundo e do que ha nele. Formular os problemas da ciencia

social dessa maneira torna problematica a questao de como as

coisas sao definidas, dirige a pesquisa para a descoberta de quem

esta definindo que tipos de atividade e de que maneira. Nesse caso,

quem esta definindo que tipos de atividades como criminosas e

com quais consequenciasi Pesquisadores que trabalhavam nessa

tradicao nao aceitavam que tudo que a policia dizia ser crime

"realmente" 0 fosse. Pensavam, e sua pesquisa confirm ava, que

ser chamado de criminoso e tratado como tal nao tinha conexao

necessaria com qualquer coisa que a pessoa pudesse realmente ter

feito. Era possivel haver uma conexao, mas ela nao era automatica

ou garantida. Isso significava que a pesquisa que usava as estatisticas

oficiais estava cheia de erros, e a correcao desses erros podia levar

a conclusoes muito diferentes.

Outro aspecto dessa tradicao insistia em que todos os envol-vidos numa situacao contribuiam para 0 que acontecia nela. A

atividade de todos devia fazer parte da investigacao sociol6gica.

Assim, as atividades das pessoas cujo trabalho era definir 0crime e

lidar com ele integravam 0"problema do crime': e urn pesquisador

nao podia simplesmente aceitar 0que diziam por seu significado

manifesto, ou usar isso como base para trabalho posterior. Embora

contrariando 0senso comum, isso produzia resultados interessan-

tes e originais.

Ou ts iders seguiu esse caminho. Nunca pensei que fosse uma

abordagem nova. Tratava-se antes do que faria urn born soci6logo,

seguindo as tradicoes do oficio. E comum hoje dizer que toda nova

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Prefacio 13

Comec ei fa la nd o s ob re c rim e . M a s a g ora , n o p ara g ra fo a nte rio r,

m e nc io ne i e sta a re a d e tra ba lh o c om o fo ca liz ad a n o "d esv io " E ssa e

um a mu da nc a sig nific ativ a. E la re dire cio na a a te nc ao p ara u rn p ro -

blem a m ais gera l do que a questao de quem co mete c rim e. E m vez

d is so , le va -n o s a o lh a r p ara to do s o s tip os d e a tiv id ad e, o b se rv an do

qu e em tod a p a rt e p es so a s e n vo lv id a s em a c ao c o le ti va d ef in em c e rta s

c o isa s c omo " er ra da s" q ue n ao d ev em s er fe ita s, e g er alm e nte tom am

m edid as pa ra im ped ir q ue se fa ca 0 q ue fo i a ssim d efin id o. D e fo r-

m a a lg um a essa s a tiv ida des sera o to da s c rim ino sa s - em q ua lq uer

s en tid o d a p a la v ra . A lguma s r eg r as s ao r es tr ita s a g r up o s e sp ec if ic o s:

ju de us q ue o bse rv am o s p rin cip io s d e s ua re lig ia o n ao d ev em c om e r

a lim en to s q ue n ao se ja m kosher , ma s o s d em a is sa o liv re s p a ra fa z e-

10 .As re gra s d os e sp orte s e d os jo g os sa o sem elh a nte s: n ao im p orta

c om o v oc e m o va um a p e< yad o x ad re z, c on ta nto q ue e ste ja jo ga nd o

x ad re z c om a lg uem q ue le va a s r eg ra s a se rio , e q ua lq ue r sa nc ao p ela

v io la ca o d as r eg ra s v ig o ra a pe na s n a c omun id ad e d o x ad re z . D e ntro

d essa s c om u nid ad es, p orem, o pe ram o s m e sm o s tip o s d e p ro ce sso

de fa bric ac ao d e reg ra s e d e dete cc ao do s q ue a s v io la m.

N uma o u tr a d ire ca o , c er to s c ompo rtam en to s s er ao c o ns id era -do s in co rreto s, m as nenh um a lei se a plic a a eles e nem h a q ua lq uer

s is tem a o rg a niz a do p ara d ete cta r o s q ue in fr in g em a r eg ra in fo rm a l.

A lg un s d esse s c om p orta m en to s, em a pa re nc ia triv ia is, p od eria m

ser visto s c om o infra co es d e reg ra s de etiq ueta (a rro ta r o nde na o

dev eria mo s, p or ex em plo ). F ala r so zin ho na rua (a m en os q ue v oc e

esteja seg ura ndo urn telefo ne c elula r) sera visto c om o inc om um

e lev ara a s pesso as a a ch a-lo u rn p ouc o esq uisito , m as, n a m aio ria

d as v ez e s, n ad a s er a fe ito c om re la ca o a is so . O c as io n alm e nte , e ss as

acoes fo ra do com um inc itam de fa to os ou tro s a conduir que

voce pode ser urn "do ente m enta l': e nao apenas "g ro sseiro " ou

" es qu is ito ". N e ss e c as o, sa nc o es p o dem e ntr ar em jo g o , e le i v a i v o c e

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14 Outsiders

urn metodo comparativo de descobrir urn processo basico que

assumia muitas formas em diversas situacoes, sendo que apenas

uma delas e criminosa. As varias formulacoes que propusemos

atrairam muita atencao e varias criticas, algumas das quais foram

respondidas no ultimo capitulo desta versao revista de Ou ts iders .

Ao longo dos anos, porem, produziu-se ampla bibliografia em

torno dos problemas de "rotulacao" e "desvio" e nao reexaminei

o livro para leva-la em consideracao,

Se fizesse essa revisao, daria grande peso a uma ideia que Gil-

berto Velho,0eminente antropologo urbano brasileiro, acrescentou

a mistura," a qual, a meu ver, elucida certas ambiguidades que

criaram dificuldade para alguns leitores. Sua sugestao foi reorientar

ligeiramente a abordagem, transformando-a num estudo do pro-

cesso de acusacao, de modo que suscitasse essas perguntas: quem

acusa quem? Acusam-no de fazer 0 que? Em quais circunstancias

essas acusacoes sao bem-sucedidas, no sentido de serem aceitas

por outros (pelo menos por alguns outros)?

Nao continuei a trabalhar na area do desvio. Mas encontrei

uma versao ainda mais geral do mesmo tipo de pensamento que

e util no trabalho que venho realizando ha muitos anos na socio-

logia da arte. Problemas semelhantes surgem ali, porque nunca

esta claro 0que e ou nao "arte" e os mesmos tipos de argumento

e processo podem ser observados. No caso da arte, claro, ninguem

se incomoda se 0que faz e chamado de arte, de modo que temos 0

mesmo processo visto no espelho. 0 r6tulo nao prejudica a pessoa

ou a obra a que e aplicado, como acontece em geral com r6tulos

de desvio. Em vez disso, acrescenta valor.

Com isso quero dizer apenas que 0 terreno que eu e outros

mapeamos no campo do desvio ainda esta vivo e e capaz de gerar

ideias interessantes a serem pesquisadas.